INTRODUÇÃO No Sermão da Montanha, o Senhor Jesus nos apresenta os valores que devem nortear a vida de um cristão. Por isso, esse texto é considerado a base da nossa ética, do conceito cristão de família e dos princípios que norteiam o dia a dia de alguém que teme a Deus. Um pensador evangélico chamado John Stott o definiu como a “contracultura cristã”. Isto porque nele Jesus fez muitos desafios que vão de encontro à maneira de viver da maioria das pessoas – aquilo que nos acostumamos a chamar de cultura ou civilização. Assim, a melhor maneira de definir a ética do cristianismo seria compará-la a andar na contramão pelas avenidas movimentadas da vida moderna. Muitas vezes temos até que dar trombadas com o fluxo contrário, porque a ética de Jesus colide com os valores praticados e apregoados em nome do mundo moderno e do seu estilo de vida.
No capítulo 6 do Evangelho de Mateus, dos versos 19 a 34, Jesus fala a respeito de um dos males que mais tem consumido a saúde e a alegria das pessoas em todos os tempos: a ansiedade. Você conhece alguém que nunca ficou ansioso? Pergunte às pessoas do seu relacionamento: você é ansioso? Se a pessoa disser que não, então pergunte: você nunca se preocupou com nada? Preocupação é aquela inquietação interior, ansiedade indevida e medo das circunstâncias futuras. É um sentimento nervoso e angustiante de interrogação, dúvida e vazio. Ela divide a mente a tal ponto que torna a pessoa inconstante em suas emoções. A preocupação nos faz perder a paz, antecipando o sofrimento em nossas vidas. Destrói o nosso controle emocional, altera o nosso humor e esmorece a nossa fé. Creio que o estilo de vida da maioria das pessoas na atualidade é de ansiedade e preocupação. Por isso não adianta dizer para você: 2
“Não fique ansioso”. Normalmente, quando alguém fala assim parece que isso nos irrita mais ainda e provoca maior ansiedade. É por isso que, ao condenar tal ansiedade, Jesus apresenta algumas motivações espirituais que podem nos fazer superar a pressão dos problemas que tentam nos sufocar nesta sociedade materialista, competitiva e moderna. Ele menciona as coisas que geram ansiedade na nossa vida e conta como nós podemos trabalhar com elas. Fala sobre dinheiro, trabalho, alvos, aspirações. Discorre sobre os medos que estão dentro do nosso coração e sobre o que tememos do futuro: “como é que eu vou fazer isso?” ou “como é que eu vou resolver aquela questão?” São coisas que compõem o nosso dia-a-dia. É interessante lembrar de uma parábola que Jesus ensinou e que tem muito a ver com o texto que nós vamos estudar. Jesus disse que existiam vários tipos de solos diferentes onde a semente de Deus era lançada. Falou de um solo em que existiam muitos espinhos, e quando a semente era lançada, ela germinava, nascia, crescia, mas não conseguia produzir frutos. Ficava sufocada pelos espinhos. 3
Jesus explicou esta parábola dizendo que os cuidados, preocupações e ansiedades que consomem nosso coração são esses espinhos. Eles fazem parte da nossa vida e nos impedem de viver a fé que Deus quer. A pessoa está tão envolvida e tão consumida por todas estas coisas que não acha tempo, não encontra lugar nem maneiras de desenvolver sua fé de modo a produzir frutos. Não é assim na nossa vida? Quantos já tiveram batalha nesta semana na hora de orar? De repente você se sente confuso, com o coração ansioso e preocupado com o que tem para fazer. Aparecem tantas tarefas que você não consegue cumprir, e os espinhos fazemno perder coisas tremendas que Deus pode derramar sobre a sua vida. Quero olhar para algumas motivações que Jesus nos dá para lidar com a preocupação, com a ansiedade, com esse medo e com essas pressões que fazem parte da nossa vida. Quais são, então, as motivações que Jesus tem para nós?
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VOCÊ VALE MAIS
“Por isso vos digo: não estejais ansiosos quanto à vossa vida, pelo que haveis de comer, ou pelo que haveis de beber; nem, quanto ao vosso corpo, pelo que haveis de vestir. Não é a vida mais do que o alimento, e o corpo mais do que o vestuário? Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem ajuntam em celeiros; e vosso Pai celestial as alimenta. Não valeis vós muito mais do que elas?” (BÍBLIA, N. T. Mateus 6:25-26)
ANSIEDADE... POR QUÊ?
Descansar nos braços de Deus Esta é a primeira motivação do Senhor Jesus, e tem a ver com o nosso valor aos olhos de Deus. Ela nos ensina que nós valemos muito para Deus, muito mais do que todas as coisas que angustiam o nosso coração. O sentimento que esse texto passa é que dinheiro, suprimento e segurança são preocupações que nos consomem. Todo mundo já passou por isso: o mês está chegando perto do final, você faz as contas e constata que o salário não vai dar. Ou então está contando com o fechamento de um negócio que acaba não dando certo. Vai faltar dinheiro em casa, o coração fica apertado. Um bom saldo positivo no banco ou uma poupança dariam um pouco de segurança. Quando esses recursos também não existem, provavelmente a ansiedade vai aparecer. Você percebe como são básicas as preocupações descritas nestes versículos? Jesus não está falando de qualquer coisa supérflua. Acho que não existe nada mais bá6
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sico do que comida, bebida e roupa. Jesus sabe que você precisa delas e que está preocupado com essas coisas simples da vida. Mas ele diz: “Olha, você vale mais que a comida, do que a bebida e do que a roupa. Por isso eu estou cuidando de você. Apenas descanse”. A recomendação do nosso Senhor com relação à ansiedade é de que essa preocupação consumidora não deveria tomar conta do nosso coração, e o argumento que Jesus deu é muito simples: “Veja como eu cuido das aves do céu”. Quando a gente está vivendo uma batalha de angústia, às vezes dá até raiva só de ouvir essa palavra.
Para Deus você vale muito mais Imagine: você está enrolado em dívidas, com as contas atrasadas. Vai a Deus em oração, coloca tudo isso diante dele e o Senhor diz: “Olha como eu cuido das aves do céu! Elas não semeiam, não colhem, não guardam nada no celeiro para amanhã, não têm alimento guardado lá no ninho. Elas vivem cada dia e buscam o necessário para aquele dia, e eu as alimento todos os dias”. 7
ANSIEDADE... POR QUÊ?
E Jesus disse assim: “Se o Pai eterno cuida das aves, será que ele não pode cuidar e não vai cuidar de você? Lembre-se: você vale muito mais do que as aves!” Quando eu penso nisso, começo a lembrar como Deus tem dito que nós valemos muito mais. Ele afirma isso a cada um de nós, e às vezes nós nos esquecemos. A Bíblia ensina que Deus atribuiu a nós um valor tão grande que ele se esvaziou da sua glória, encarnou-se e habitou aqui na terra. Não para fazer um passeio turístico, mas para nos salvar. Ele tomou o nosso lugar na cruz do Calvário e morreu por nós. Ele desceu ao Hades – o lugar dos mortos, o inferno –, arrancou a chave da morte e do inferno das mãos de Satanás e ressuscitou no terceiro dia, porque nós valemos muito aos olhos do Senhor! Você vale muito! Se você começar a olhar a sua história, vai encontrar momentos em que ficou desesperado, achou que não viveria para ver o dia seguinte. Parecia que o mundo tinha acabado. Mas, de repente, o Deus que cuida das aves dos céus cuidou de você. Procure recordar-se dessas 8
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situações aparentemente intransponíveis, em que a misericórdia e a graça de Deus fizeram acontecer coisas que ninguém imaginava. Lembrar delas é como ouvir a própria voz de Deus repetindo: “Você é importante! Você vale demais para mim!” Eu me lembro de um casal que, há algum tempo, vivia uma batalha muito grande. Um dia o marido encontrou-se comigo e contoume que estava andando pela rua e viu cair da carroceria de um caminhão um saco. Uns grãos ficaram espalhados pelo chão e as aves começaram a descer para comê-los. Quando viu aquilo, ele lembrou da Palavra de Deus, e disse: que Deus tremendo, fez os grãos caírem do caminhão para dar de comer às aves. A Palavra de Deus diz: não andeis ansiosos pelo pão. Aquele moço estava desempregado e entendeu que Deus cuida da ave a ponto de fazer cair aquele saco no meio do caminho. E Deus então não cuidaria dele? É claro que sim, e esse é o exemplo que nós encontramos na Palavra de Deus. 9
ANSIEDADE... POR QUÊ?
Duas senhoras me contaram, com muita alegria, que Deus tem multiplicado a sua comida. Elas cozinham, pensando que aquela comida vai dar para duas pessoas. Mas aparecem mais duas e o alimento é suficiente para as quatro. Uma olha para a outra e pergunta: “O que está acontecendo?” Elas se lembraram daquela história do Velho Testamento, em que não acabava a farinha da panela e nem o azeite da botija. Deus cuida de nós! Sabe por quê? Porque eu e você valemos muito aos olhos dele, valemos demais! Deus tem as suas maneiras de fazer com que nós entendamos o seu cuidado. Quando o povo de Israel saiu do Egito, estava acostumado a uma coisa: a escravidão. Aquelas pessoas estavam acostumadas a trabalhar não para ganhar dinheiro ou para fazer aquilo de que gostavam, mas só para ganhar a comida de cada dia. Só isso. Os seus senhores, seus algozes, garantiam a comida – comida de escravo, podia não ser muito gostosa, mas eles tinham o alimento de cada dia. O sonho de liberdade estava 10
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no coração deles e eles foram para o deserto. Parecia que tinham alcançado a liberdade, mas aí então eles começaram a se tornar escravos das suas preocupações. “Agora no deserto nós vamos morrer de fome, temos liberdade, mas vamos morrer de fome”, diziam. E Deus mandava todos os dias o maná. Quando faltava água, Deus a fazia brotar da rocha, e quando eles queriam comer carne, apareciam as codornizes e eles podiam ter mais do que poderiam manter naquele calor do deserto. Deus queria ensinar, mas demorou quarenta anos para eles aprenderem que o Senhor é quem cuida de nós. Porque nós valemos muito para ele. É interessante perceber que Deus só nos coloca no lugar em que mana leite e mel, a terra prometida, depois que nós aprendemos quem cuida de nós. Aquele povo levou quarenta anos para entender que quem sustenta, quem ampara, quem resolve, quem faz milagres é o Pai eterno. Quarenta anos! E muitos de nós somos que nem eles. 11