I NTRODUÇÃO Até pouco tempo atrás, os acampamentos e retiros eram vistos, por alguns grupos, como eventos para crianças, adolescentes e jovens, que aconteciam somente no carnaval, como uma estratégia para se retirar da cidade. Porém, nos últimos anos, as lideranças das igrejas, principalmente da área de Educação Cristã, têm percebido a importância dessa ferramenta na edificação de várias faixas etárias e em diversas áreas da vida. Hoje, encontramos retiros e acampamentos para casais, mulheres, homens, terceira idade, empresários, crianças, e a continuidade dos tradicionais encontros focados nos jovens e adolescentes. Com o uso dessa ferramenta pelos educadores cristãos e uma abrangência focada nessa área, têm sido frequentes, ainda, encontros visando às áreas de finanças, educação de filhos, cura e libertação, liderança, casamento, noivado, evangelismo e treinamentos diversos. Além desses, nos últimos anos tivemos um novo movimento dos retiros de dois dias, chamados de “Renasce”, “Quebrando correntes”, “Celebrando a Vida”, “Restauração” e os famosos “Encontro com Deus”, todos bem focados em cura interior, libertação e contemplação. Para tanto, esse material apresentará uma estrutura macro de acampamentos e retiros a qual pode ser aplicada, em maior ou menor escala, para qualquer faixa etária e para qualquer tipo de grupo. A maioria das pessoas, ao lançar-se nesse ministério, centraliza todos seus esforços nas atividades a serem desenvolvidas, quando, na verdade, o programa é apenas e tão somente a expressão prática dos objetivos que se quer alcançar. Por isso esse mate1
rial, antes de mostrar várias formas práticas para realizar um retiro ou um acampamento, irá encaminhar o leitor a montar um planejamento com objetivos e conhecimento de causa bem definidos. É importante lembrar que, embora retiros e acampamentos possam alcançar bons resultados, o retiro e o acampamento são somente mais uma estratégia, entre tantas outras como congressos, workshops, conferências, etc. Realizar um acampamento ou um retiro não é uma tarefa fácil e o seu sucesso está muitas vezes ligado a alguns pequenos pontos que facilmente passam despercebidos. Embora esse livro não tenha o objetivo de esgotar o assunto, cremos que através da nossa experiência lhe proporcionaremos orientações seguras que, associadas a sua criatividade e imaginação, o ajudarão a realizar grandes eventos e a se prevenir de surpresas negativas durante e após a realização deles.
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P REPARANDO O E VENTO
PROPÓSITOS Antes de montarmos um planejamento ou sairmos à procura de um lugar para realizar um acampamento ou retiro, é necessário saber o que queremos, quais resultados esperamos alcançar. Dentre os propósitos que podem ser alcançados com esse tipo de evento estão: a) Comunhão: Levar as pessoas a fortalecerem seus relacionamentos, pois estarão um tempo maior juntas. b) Evangelismo: Levar as pessoas a um lugar onde elas possam se desligar das pressões do dia a dia e aceitar a Jesus como seu Salvador pessoal. 3
c) Avivamento: Levar as pessoas a uma imersão na palavra e na oração para viverem uma vida de santificação e avivamento. d) Cura interior e libertação: Levar as pessoas a uma imersão na palavra, na oração e no ouvir da voz de Deus para, nesse tempo a sós com Ele, trabalharem perdão, cura interior e libertação espiritual. e) Mordomia: Levar as pessoas a observarem a natureza criada por Deus e a entender em sua responsabilidade como mordomos das coisas criadas. f) Ensino: Levar as pessoas a conhecerem mais a palavra e focarem em um assunto específico como finanças, mordomia do corpo, mordomia da natureza, casamento, namoro ou até mesmo aprofundamento em conhecimento teológico. Entenda porquê um evento de longo prazo (três ou mais dias) e retirado pode alcançar esses propósitos: a) Maior tempo de exposição a relacionamentos saudáveis. b) Maior tempo de exposição à palavra, à oração e à reflexão em grupo e individual. c) Desintoxicação das pressões de grupo, da mídia e do inimigo. d) Quebra da rotina. e) Maior disposição para ouvir a voz de Deus. f) Impossibilidade de agenda paralela ao foco do evento, como interrupções por outras pessoas, celulares tocando e etc. Por esses motivos é consenso entre a maioria dos líderes, pastores e educadores cristãos que os acampamentos ou retiros são 4
uma grande contribuição para a edificação e restauração dos cristãos.
TIPOS DE ENCONTRO
Primeiramente, é importante colocar que existem vários tipos de encontros que deverão ser realizados conforme o propósito desejado. Assim, podemos diferenciar conceitualmente acampamento, acantonamentos e acampadentros. Acampamento: proposta de evento que objetiva o aprofundamento em temas específicos, relacionamentos e o lazer e suas manisfestacões, abrangendo o âmbito físico (através de esportes, por exemplo), intelectual (desenvolvimento de alguma área de conhecimento específica), vivencial (dinâmicas de vivência em grupos) e social (promoção de relacionamento com o próximo). Stoppa (1999) afirma que o acampamento deve ser desenvolvido com base em um alvo principal de promoção de tempo hábil de descanso, de divertimento e de desenvolvimento. No acampamento tem-se um contato mais direto com a natureza, haja vista que o acampamento sempre é realizado com barracas. No caso de acampamentos cristãos, o acampamento facilita uma abordagem 5
espiritual mais integral, mais completa da espiritualidade (relacionamento com Deus, consigo mesmo, com o próximo e com a natureza). Dependendo do local facilitará o trabalho com o tema mordomia da criação e da natureza. Acantonamento: a proposta do acantonamento é a mesma do acampamento, o que os diferencia é o local onde se dorme. Nos acantonamentos se opta por dormir em algum alojamento ou quartos existente no local onde está se realizando a atividade ao invés das barracas. A abrangência do trabalho como um todo é a mesma, apenas o local onde se passa a noite é que diferencia essas duas propostas. Muitas vezes, devido a uma estrutura muito sofisticada (hotéis, hotéis fazenda, navios, etc.), perde-se a oportunidade de trabalhar temas que alcancem a integralidade do ser humano como serviço (limpeza do local, pois sempre existe uma equipe do local para execução dessas tarefas) e natureza (por ser um local mais artificial e menos rústico). Acampadentro: é usualmente limitado a um período mais curto de duração, já que a instalação, na maioria dos casos, é feita na própria igreja a fim de que o encontro seja mais “informal”. O acampadentro pode visar às mesmas abordagens do acantonamento. Porém, tende-se a enfatizar um único objetivo como, por exemplo, a comunhão. Levando todas essas informações em conta, percebemos que o termo “acampamento” é popularmente utilizado de forma errônea. O que a maior parte das igrejas e organizações promove é na verdade “acantonamentos”, haja vista que o fazemos na maioria das vezes em alojamentos, edifícios específicos e até mesmo em hotéis. Porém, visto que o termo “acampamento” é mais comumente utilizado e a forma como é entendido não prejudica a proposta e a abordagem deste livro, continuaremos a utilizá-lo em seu conceito no senso comum, para nos referirmos a acampamentos, acantonamentos e ou acampadentros. 6
RETIROS
O retiro, como o próprio nome já diz, busca retirar as pessoas, geográfica e emocionalmente, de suas vidas habituais, a fim de que reflitam e aprendam de forma profunda e especial sobre um determinado assunto e que estejam sensiveis à voz de Deus. A meditação e o retiro prolongados são as coisas mais antigas da humanidade. Há grandes exemplos de homens, de diversos tempos e lugares, que faziam retiros de 30 a 40 dias, como Moisés no alto do Sinai, Elias e o Senhor Jesus no deserto. Todos eles dedicavam tempo, em silêncio absoluto, para ouvirem a voz de Deus. Diferente de um acampamento, no retiro temos um foco muito bem definido e todas as atividades, lúdicas ou não, estão inteiramente ligadas ao objetivo. Se existir algum tempo de lazer será sempre focado no propósito principal. Oduvaldo Pereira, em seu livro “acampamento & retiro”, afirma que os retiros surgiram nas igrejas evangélicas como uma forma de manter os jovens e adolescentes afastados das festividades carnavalescas. Temos acompanhado igrejas que têm realizado pelo menos um retiro a cada dois meses focado em algum tema específico. 7
É comum durante o retiro existirem vários períodos de meditação, análise e esclarecimento. O objetivo exclusivo é se colocar sensível a escutar a voz de Deus falando ao seu ser. Cremos que uma vez que você se coloca à disposição Deus, Ele vai falar. Uma prática que tem sido comum em retiros, para que seja possível se desligar da correria do dia a dia e escutar a voz de Deus, é a prática do silêncio. Em algumas igrejas essa prática tem sido de 6 horas, em outras de 24 até 48 horas. Independente do tempo de duração, a prática do silêncio tem sido utilizada como forma de desligamento da correria do dia a dia, das conversas fora de foco e para concentração na oração e nos objetivos propostos. Percebe-se, portanto, que o que diferencia acampamento de retiro não é o local onde é feito, mas seu propósito. Um acampamento terá mais tempo livre, esportes e recreações, já o retiro será bem mais focado e enfatizará mais a palavra, os testemunhos, as orações, as dinâmicas e os jogos de representação, com menos ou quase nenhum momento em que contenham esportes e/ou brincadeiras. Sempre o acampamento terá elementos de um retiro, mas nem sempre um retiro terá elementos de um acampamento.
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P LANEJANDO O E VENTO
Cremos que diferenciar corretamente acampamento de retiro é fundamental, uma vez que temos esses dois tipos de eventos acontecendo nas igrejas atualmente. Agora vamos para algo essencial depois da definição dos propósitos e do tipo de encontro a ser realizado: o planejamento do evento. Geralmente as pessoas querem saber como fazer o programa do evento, mas o programa é tão somente a consequência de um bom planejamento. Antes de tudo, precisamos saber com quem vamos trabalhar, quais são as nossas metas, quais são os nossos alvos, o que queremos com o grupo que iremos trabalhar, para a partir daí definirmos o programa. O programa nada mais é do que uma metodologia usada para alcançarmos nossos objetivos. Vamos começar por alguns passos importantes para definição dos objetivos e depois chegaremos no programa propriamente dito. 9
PÚBLICO ALVO – PERFIL O primeiro passo a ser tomado antes da realização de um encontro é a definição do público alvo, de quem serão as pessoas que estarão no encontro. Muitas das orientações que lhes serão passadas podem variar, em alguns detalhes, dependendo do perfil de pessoa que se pretende atingir. Por isso, é necessário conhecer a realidade das pessoas que estarão no encontro.
FAIXA ETÁRIA E GRUPO Alguns exemplos de públicos alvos definidos são: crianças, juniores ou pré-adolescentes (9 a 12 anos), adolescentes (13 a 17), jovens (18 a 23), jovens profissionais (24 a 30), adultos solteiros (30 para cima), homens, mulheres, casais, casais sem filhos, casais com filhos, terceira idade (acima dos 60) e por aí vai. Essa categorização por idades, contudo, varia de igreja para igreja, tendo em vista que existem igrejas em que os jovens têm entre 16 e 30 anos, por exemplo. A definição do grupo promoverá diferenças na estrutura da programação, na abordagem dos cultos e até mesmo na formação da equipe.
CRENÇAS
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É importante ter a percepção das crenças do grupo. Se o grupo é composto por pessoas somente da sua igreja isso será fácil, porém, se você tiver pessoas convidadas aleatoriamente essa percepção ficará mais difícil. Se for um encontro evangelístico é importante saber qual a religião dos acampantes. Isso terá grande relevância, por exemplo, na programação do encontro, na elaboração das devocionais e na formação da equipe de conselheiros que, no caso de um evento evangelístico, por exemplo, devem estar preparados para receber esses visitantes, conhecê-los e apresentá-los a Salvação e vida no Senhor Jesus Cristo através de cada atividade que ocorrer naquele tempo de encontro. É importante destacar que os acampamentos em sua maioria contarão com o público misto. Sendo assim, é muito importante desenvolver um foco abrangente em todos os eventos para que se alcance e atinja a cada acampante, independentemente do que causou a sua vinda.
SÓCIO-CULTURAL Outro ponto que deve ser relevante na análise do perfil do grupo para o qual se organiza o evento é a condição social e cultural. É importante ter em mente essa realidade principalmente para estabelecer o conteúdo das atividades, preleções, ilustrações e formas de abordagem dos acampantes. Se não tenho percepção da realidade social e cultural, posso, por exemplo, reunir um grupo de adolescentes de 14 a 18 anos que já está envolvido no mercado de trabalho ou que vive uma realidade de necessidade de trabalho cedo e, erroneamente, me comunicar com eles usando linguagem, ilustrações e exemplos para adolescentes de classe média alta que somente começam a trabalhar após os 19 anos de idade. Outro exemplo é reunir adultos não casados, em que a maioria é divorciada, e focar a mensagem como se todos ali nunca tivessem sido casados. 11
Errar na forma de se comunicar com o grupo pode comprometer o objetivo que se quer alcançar. Isso pode acontecer com homens, mulheres, casais e etc. Por isso ter uma percepção melhor da realidade social e cultural vai ajudar a focar melhor a programação e o conteúdo das atividades. É importante também ter a percepção do nível de escolaridade, dos hábitos de leitura e hábitos de lazer. Por isso, quando o evento abranger pessoas desconhecidas ou que sejam de outras igrejas, a elaboração de um questionário para levantamento do perfil do grupo é essencial. Os conhecimentos das condições sócio-culturais do grupo também é imprescindível para a escolha do local. A não ser que seja através de doação, obviamente não é viável propor uma estada numa estância para um grupo de adolescentes de uma comunidade mais carente, por exemplo. Deve-se sempre levar em consideração a média da situação econômica daquele grupo e, dentro desse padrão, oferecer o que há de melhor. Outro ponto de extrema valia e que cabe muito bem a uma equipe que já está acostumada a promover acampamentos é realizar um acampamento para crianças de casas-lares, por exemplo, ou para jovens de uma instituição de reabilitação, mediante obtenção de doação dos alimentos e materiais necessários. É claro que isso vai depender da experiência dessa equipe, mas a capacitação vem com o realizar de um projeto como esse. Muitas vezes pensamos que são necessários uma grande estrutura ou muito dinheiro para realizar um acampamento para um grupo sem condições financeiras para contribuir, mas a verdade é que a essência do melhor que um acampamento tem a oferecer não está nos recursos ou entretenimento, mas na motivação e intenção na promoção daquele evento.
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