Como Entender os Textos Mais Polêmicos da Bíblia – Evangelhos Sinóticos

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Introdução

Muitos estudantes da Bíblia estavam aguardando por

uma obra como essa em Língua Portuguesa. Além disso, ministros religiosos e líderes eclesiásticos têm procurado obras que respondam a questões difíceis, e até mesmo consideradas polêmicas, exaradas nos textos da Bíblia. As Sagradas Escrituras possuem um caráter dicotômico1: sua mensagem de salvação é tão simples, que qualquer ser humano pode compreender; por outro lado, a Bíblia possui textos muito difíceis de serem entendidos e explicados. Por causa dessa lacuna no meio cristão brasileiro é que nasceu COMO ENTENDER OS TEXTOS MAIS POLÊMICOS DA BÍBLIA – Evangelhos Sinóticos, que pretende ser, acima de tudo, um material de consulta para pastores, ministros, líderes da igreja em geral e cristãos que gostam de ler e compreender melhor as Escrituras. Os Evangelhos Sinóticos possuem uma profunda riqueza ao narrar a vida, a pregação e o ministério de Jesus Cristo, o enviado de Deus para redimir a humanidade. No entanto, verificar-se-á através que existem diversos textos que são de difícil compreensão: qual a data do nascimento de Jesus Cristo? A estrela de Belém: que astro era esse? Quais os mitos e realidades sobre os magos do oriente? Por que Jesus tratou a estrangeira 1

Dicotômico: caráter duplo, ambiguo de algo ou alguém.

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como um cachorro? Por que Jesus conseguiu curar o cego só em etapas? Havia mesmo um galinheiro na casa de Anás e de Caifás? Que galo era esse que cantou antes de Pedro trair Jesus, se não havia galo naquela região? Por que a genealogia de Jesus é diferente em Mateus e Lucas? Por que o Espírito Santo levou Jesus para ser tentado pelo diabo no deserto? O que Jesus quis dizer com o camelo e agulha? Como explicar três dias e três noites se Jesus morreu na sexta e ressuscitou no domingo? E o que é a blasfêmia contra o Espírito Santo? Muitas explicações sobre esses temas têm sido oferecidas; entretanto, devemos ter uma mente aberta e pronta para receber informações novas e submetê-las a considerações ponderadas para confirmar ou não a sua veracidade. Nosso objetivo é tratar com coerência esses temas, a fim de apresentar a melhor resposta para o texto e a questão em debate. A esperança é que você aproveite da leitura desse estudo para conhecer melhor os textos sagrados; as polêmicas que os envolvem, para que cada possa examinar com esmero e mais eficazmente as questões bíblicas que causam dificuldades na interpretação e dúvidas em geral. Que este material venha contribuir grandemente para o fortalecimento do verdadeiro discípulo de Cristo e que inúmeras vidas sejam edificadas, para a glória de Deus.

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1. A DATA

DO NASCIMENTO DE JESUS CRISTO



O

Natal é um feriado comemorado anualmente em 25 de Dezembro nos povos cristãos ocidentais. Nos países eslavos e ortodoxos cujos calendários eram baseados no calendário juliano, o Natal é comemorado no dia 7 de janeiro. O Natal é o centro dos feriados de fim de ano e da temporada de férias, sendo, no Cristianismo, o marco inicial do Ciclo do Natal que dura doze dias. No entanto, a data de comemoração do Natal não é coincidente com o aniversário real de Jesus e foi inicialmente escolhida para se sobrepor a um festival histórico romano que coincidia com o solstício de inverno no Pólo Norte. A palavra “natal” do português já foi ‘nâtâlis’ no latim, derivada do verbo ‘nâscor’ (nâsceris, nâscî, nâtus sum) que tem o sentido de “nascer”. De ‘nâtâlis’ do latim, evoluíram também ‘natale’ do italiano, ‘noël’ do francês, ‘nadal’ do catalão, ‘natal’ do castelhano, sendo que a palavra ‘natal’ do castelhano tem sido progressivamente substituída por ‘navidad’ como nome do dia religioso. Já a palavra ‘Christmas’ do inglês evoluíu de 5


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‘Christes maesse’ (‘Christ’s mass’) que quer dizer missa de Cristo. Como adjetivo, a palavra “natal” significa também o local onde ocorreu o nascimento de alguém ou de alguma coisa. Como festa religiosa, o Natal, comemorado no dia 25 de dezembro desde o Século IV pela Igreja ocidental e desde o Século V pela Igreja oriental, celebra o nascimento de Jesus e assim é o seu significado nas línguas neo-latinas. As igrejas ocidentais adotaram o dia 25 de dezembro para o Natal e o dia 6 de janeiro para a Epifania que significa “manifestação”. Nesse dia comemora-se a visita dos Magos. Muitos historiadores localizam a primeira celebração do Natal em Roma, no ano 336 d.C., fazendo alusão ao almanaque romano. Obviamente, há muito tempo se sabe que o Natal tem raízes pagãs. Por causa de sua origem não-bíblica, no século XVII essa festividade foi proibida na Inglaterra e em algumas colônias americanas. Quem ficasse em casa e não fosse trabalhar no dia de Natal era multado. Mas os velhos costumes logo voltaram, e alguns novos foram acrescentados. O Natal voltou a ser um grande feriado religioso em muitos países. O impacto econômico do Natal é um fator que tem crescido de forma constante ao longo dos últimos séculos em muitas regiões do mundo. Como a troca de presentes e muitos outros aspectos da festa de Natal envolvendo cristãos e não cristãos alavancou um aumento exagerado da atividade econômica em grande parte do mundo, a festa tornou-se um acontecimento significativo e um período chave de vendas para os varejistas e para as empresas.

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1. A data do nascimento de Jesus Cristo

1.1 Qual o Ano em que Jesus Nasceu? A data de nascimento de Jesus é muito discutida pelos

estudiosos bíblicos. A data foi erroneamente calculada pelo monge Dionísio, o Pequeno, no século VI. Na verdade, Jesus deve ter nascido em 6/7 antes do início da era cristã. Alguns pesquisadores dão muita ênfase à questão da data do nascimento de Jesus, como se houvesse aí problemas sérios, que afetariam as bases do Cristianismo; existiria um erro de cálculo que a Igreja só teria aceito após 1400 anos. Este erro é de menor importância, pois não afeta a mensagem do Evangelho. Os pesquisadores procuraram retificar o cálculo nos últimos séculos. Por conseguinte, tal erro não foi ocultado ao público e foi abordado em obras impressas e divulgadas. Todavia, como se trata de assunto erudito, ligado a documentos gregos e latinos da história do Império Romano antigo, a data do nascimento de Jesus não costuma ser objeto de pregações. No século VI, Dionysius Exiguus, a serviço do Papa João I, determinou a data de nascimento de Jesus como havendo ocorrido há 532 anos. O ano que se iniciou logo após essa data passou a ser considerado o ano 1 de nossa era (1º Anno Domini Nostri Jesu Christi). Em 525 aproximadamente, esse monge por nome Dionísio, o Pequeno, concebeu a computação do ano do nascimento de Jesus que se tornou definitiva de então por dian7


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te. Eis o seu raciocínio: conforme Lucas 3.1, Jesus iniciou a sua vida pública no 15º ano do reino de Tibério César, o que equivaleria ao ano 782 da fundação de Roma. Ora, segundo Lucas 3.23, “Jesus tinha mais ou menos trinta anos quando foi batizado” ou no início da sua pregação. Em consequência, Dionísio descontou de 782 (= ano 15º de Tibério) os 29 anos completos de Jesus e chegou à conclusão de que Jesus nascera no ano de 753 da fundação de Roma. Por isto o ano de 753 ficou sendo o ano 1º da era cristã, ou seja, o ano 1 d.C. Como se vê, este cálculo é assaz sumário e extremamente superficial, não levando em conta todos os elementos fornecidos pelo Evangelho para se estabelecer a data do nascimento de Cristo. A consciência deste erro não aflorou de imediato entre os estudiosos, mas havia de se tornar clara especialmente na época moderna, quando os pesquisadores da história são ciosos de exatidão. A vasta bibliografia posterior sobre o assunto bem mostra que o erro de Dionísio, o Pequeno, era do conhecimento dos cristãos muito antes que a imprensa tratasse do assunto em nossos dias. Na verdade, o texto mais indicado para se estabelecer a data do nascimento de Cristo é o de Mateus 2.16, onde se lê que Herodes, querendo exterminar Jesus, mandou matar todos os meninos de dois anos para baixo na Judeia. Ora, Herodes morreu no ano de 749/750 de Roma ou no ano 4 a.C., segundo fontes fidedignas; donde se vê que Jesus nasceu antes de 4 a.C. ou entre 4 e 6/7 a.C. Considerando-se que Jesus nasceu algum tempo antes da morte de Herodes, o Grande, isto coloca-nos, obviamente, numa data anterior ao ano em que Herodes morreu, ou seja, antes do ano 4 a.C. Sabendo-se que este morreu no ano 4 antes de Cristo, então Jesus só pode ter nascido em 6 antes de Cristo ou antes. Segundo a Bíblia, algum tempo antes de morrer, Herodes mandou matar os meninos de Belém até aos 2 anos de idade, 8


1. A data do nascimento de Jesus Cristo

de acordo com o tempo que apareceu a “estrela” aos magos. (Mateus 2.1, 16-19). Era seu desejo livrar-se de um possível novo “rei dos judeus”, pois Herodes era cognominado de “rei dos Judeus”. Como houve aproximadamente de um a dois anos entre o decreto da morte dos infantes e sua morte, o ano do nascimento de Jesus Cristo ficaria provavelmente no ano 7 ou no máximo, no ano 8 a.C. Outra ajuda que temos para facilitar a localização da data do nascimento de Jesus foi que este ocorreu quando José foi a Belém com sua família para participar do recenseamento. Segundo a Bíblia, antes do nascimento de Jesus, Octávio César Augusto decretou que todos os habitantes do Império fossem se recensear, cada um à sua cidade natal. Isso obrigou José a viajar de Nazaré, na Galileia, até Belém, na Judeia, a fim de registar-se com Maria, sua esposa. Os romanos obrigaram o recenseamento de todos os povos que lhes eram sujeitos a fim de facilitar a cobrança de impostos, o que se tornou numa valiosa ajuda na localização temporal dos fatos, uma vez que este decreto ocorreu exatamente 4 anos antes da morte de Herodes, ou seja, no ano 8 a.C. Entretanto, os Judeus tomaram providência no sentido de dificultar qualquer tentativa por parte dos ocupantes romanos em contar o seu povo, pelo que, nas terras judaicas este recenseamento ocorrera um ano depois do restante do império romano, ou seja no ano 7 a.C.. Em Belém, onde Jesus nasceu, o recenseamento ocorreu no oitavo mês, pelo que se concluiu que, Jesus nascera provavelmente no mês de Agosto do ano 7 a.C. Os Evangelhos não tratam explicitamente da cronologia da natividade de Jesus. Isto se explica pelo fato de que os evangelistas não tinham a intenção de escrever relatos cronísticos ou biográficos (no sentido moderno destes termos); os Evangelhos 9


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são, sim, o eco da pregação dos Apóstolos, os quais se preocupavam mais com a mensagem ou a Boa Nova do que com questões científicas de cronologia.

1.2. Por que o 25 de dezembro? Nos relatos bíblicos não encontramos nenhuma referên-

cia sobre a data do nascimento de Jesus. Naquela época os calendários eram muito confusos. Os antigos calendários romanos tinham, às vezes, semanas de quinze dias e meses de dez dias, de acordo com a vontade do Imperador reinante. O povo em geral não conhecia as datas de nascimento, casamento ou falecimento. Não existem registros históricos a respeito de “Festas de Aniversário” na Antiguidade. A pergunta que se faz é a seguinte: por que foi escolhida a data de 25 de dezembro no século IV para se comemorar o nascimento de Jesus, sendo que ela não é a data real do acontecimento? A resposta está no fato de que a Igreja entendeu que devia cristianizar as festividades pagãs que os vários povos celebravam na época do solstício de inverno. O dia 25 de dezembro foi adotado para que a data coincidisse com a festividade romana dedicada ao Natalis Invictis Solis, ou seja, o “nascimento do deus sol invencível”, que comemorava o solstício de inverno. No mundo romano, era extremamente famosa a Saturnália, festividade em honra ao deus Saturno, comemorada de 17 a 22 de dezembro; era um período de alegria e troca de presentes. 10


1. A data do nascimento de Jesus Cristo

O dia 25 de dezembro era tido também como o do nascimento do misterioso deus persa chamado Mitra, o Sol da Virtude. Assim, a Igreja, em vez de proibir as festividades pagãs, forneceu-lhes um novo significado, e uma linguagem com roupagem cristã. As alusões dos cristãos ao simbolismo de Cristo como “o sol de justiça” (Malaquias 4:2) revelam a fé da Igreja não no “Deus sol invencível”, mas naquele que é Deus eterno, infinito, indizível, indescritível, inimaginável, feito homem para nossa salvação. Os Celtas, por exemplo, tratavam o Solstício do Inverno, em 25 de dezembro, como um momento extremamente importante em suas vidas. O inverno ia chegar, longas noites de frio, por vezes com poucos gêneros alimentícios e rações para si e para os animais, e não sabiam se ficariam vivos até a próxima estação. Faziam, então, um grande banquete de despedida no dia 25 de dezembro. Seguiam-se 12 dias de festas, terminando no dia 6 de Janeiro. Em Roma, o Solstício do Inverno também era celebrado muitos séculos antes do nascimento de Jesus. Os Romanos o chamavam de Saturnálias (Férias de Inverno), em homenagem a Saturno, o Deus da Agricultura, que permitia o descanso da terra durante o inverno. Em 274 o Imperador Aureliano proclamou o dia 25 de dezembro, como “Dies Natalis Invicti Solis” (O Dia do Nascimento do Sol Inconquistável). O Sol passou a ser venerado. Buscava-se o seu calor que ficava no espaço muito acima do frio do inverno na Terra. O início do inverno passou a ser festejado como o dia do Deus Sol. Portanto, as evidências confirmam que, num esforço de converter pagãos, os líderes religiosos adotaram a festa que era celebrada pelos romanos, o “nascimento do deus sol invencível” (Natalis Invistis Solis), e tentaram fazê-la parecer “cristã”. Para certas correntes místicas como o Gnosticismo, por exemplo, a data é perfeitamente adequada para simbolizar o Natal, por 11


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considerarem que o sol é a morada do Cristo Cósmico. Segundo esse princípio, em tese, o Natal do hemisfério sul deveria ser celebrado em junho. Para nós, habitantes do Hemisfério Sul, há menos razões ainda para se comemorar o Natal no dia 25 de dezembro. Nessa data vivemos os primeiros dias do verão e não do inverno. Porém, herdamos as tradições cristãs que vieram do Hemisfério Norte. Mesmo assim vale celebrar este ato de amor maravilhoso de Deus: Jesus veio ao mundo e inaugurou uma nova vida entre nós. Esse é o motivo da nossa festa. Vamos juntos, povos do norte e do sul, celebrar e festejar o Natal de Cristo, a chegada do amor de Deus ao mundo! Um detalhe importantíssimo sobre essa questão é que a Bíblia diz que os pastores estavam nos campos cuidando das ovelhas na noite em que Jesus nasceu. O mês judaico de Kislev, correspondente aproximadamente à segunda metade de novembro e primeira metade de dezembro no calendário gregoriano era um mês frio e chuvoso. O mês seguinte é Tevet, em que ocorrem as temperaturas mais baixas do ano, com nevadas ocasionais nos planaltos. Isto é confirmado pelos profetas Esdras e Jeremias que afirmavam não ser possível ficar de pé do lado de fora devido ao frio. Esse é o período referente ao final de dezembro e começo de janeiro. Entretanto, o evangelista Lucas afirmou que havia pastores vivendo ao ar livre e mantendo vigias sobre os rebanhos à noite, perto do local onde Jesus nasceu. Como estes fatos seriam impossíveis para um período em que seria impossível ficar de pé ao lado de fora em função do frio, logo Jesus não poderia ter nascido no dia em que o Natal é celebrado, e sim na primavera ou no verão. Por isso, a maioria dos estudiosos consideram que Jesus não nasceu dia 25 de dezembro, a menos que a passagem de Lucas que narra o nascimento de Jesus tenha sido escrita em linguagem alegórica. 12


1. A data do nascimento de Jesus Cristo

Além disso, o inverno seria um tempo especialmente difícil para Maria viajar grávida pelo longo caminho de Nazaré a Belém. A viagem de Nazaré a Belém – distância de uns 150 km – deveria ter sido muito cansativa para Maria que estava em adiantado estado de gravidez. Enquanto estavam em Belém, Maria teve o seu filho primogênito. Envolveu-o em faixas de panos e o deitou em uma manjedoura, porque não havia lugar disponível para eles no alojamento, isto é, não havia divisões disponíveis na casa que os hospedava; Maria necessitava de um local tranquilo e isolado para o parto (Lucas 2.4-8). Lucas diz que no dia do nascimento de Jesus, os pastores estavam no campo guardando seus rebanhos “durante as vigílias da noite”. Os rebanhos saíam para os campos normalmente em Abril ou Maio e eram recolhidos em Outubro. A vaca e o jumento junto da manjedoura conforme representado nos presépios, resulta de uma simbologia alegórica inspirada em Isaías 1.3 que diz: “O boi conhece o seu possuidor, e o jumento a manjedoura do seu dono; mas Israel não têm conhecimento, o meu povo não entende”. Entretanto, não há nenhuma informação fidedigna que prove que havia animais junto do recém-nascido Jesus. Eles estavam fora, nas montanhas, com os pastores. A menção de “um boi e de um jumento na gruta” não é bíblica e deve-se a alguns textos apócrifos, ou seja, livros escritos sobre Jesus, mas que não pertencem à Bíblia. Outros fatos também ajudam a estimar uma data mais exata. Conforme é relatado pelos textos bíblicos. No dia seguinte ao nascimento de Jesus, José fez o recenseamento da sua família, e um dia depois, Maria enviou uma mensagem a Isabel relatando o acontecimento. A apresentação dos bebês no templo, bem como a purificação das mulheres, teria de ocorrer até aos vinte e um dias após o parto. Jesus foi apresentado no tempo de Zacarias, e, segundo os registos locais, isso ocorreu no 13


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mês de Setembro num sábado. Sabe-se que Setembro do ano 7 a.C. teve quatro sábados: 4, 11, 18, 25. Como os censos em Belém ocorreram entre 10 e 24 de Agosto, o sábado mais provável de apresentação seria o 11 de Setembro. Logo, Jesus teria nascido em 21 de Agosto ou algum dia logo de depois de 21 de Agosto do ano 7 a.C. Visto que os Evangelhos não indicam o exato dia do mês em que Jesus nasceu, os cristãos tiveram que escolher eles mesmos a data mais oportuna para celebrar o seu nascimento. A escolha recaiu sobre o dia 25 de dezembro, já consagrado na vida do Império Romano pela “festividade do Natal do Sol invicto”. Com efeito: os adoradores do deus Sol (identificado, em vários lugares, com o Deus Mitra) celebravam naquela data o novo surto do Sol ou o alongamento dos dias após o declínio da luz solar no outono e no início do inverno (europeu). No século V, Agostinho explicava o costume já vigente, dizendo que os cristãos festejavam este dia solene não como os pagãos que estavam voltados para este Sol, mas voltados para aquele que fez este Sol. Assim, os cristãos quiseram “cristianizar” um dia festivo do calendário pagão que apresentava certa afinidade com a celebração do nascimento de Jesus, que disse: “Eu sou a luz do mundo” (João 8.12). Seria falso julgar que a festa cristã tem sua origem na mitologia pagã; as suas raízes estão na própria mensagem evangélica; apenas a escolha da data teve inspiração no calendário dos romanos, pois Jesus Cristo é na verdade a Luz que os pagãos cultuavam voltados para o astro-sol. Aqui se põe ainda uma outra pergunta: por que o Natal de Cristo tem data fixa, ao passo que a celebração da morte e ressurreição de Jesus é móvel de ano para ano? A resposta está no fato de que a festa da Páscoa tem seu calendário indicado pela 14


1. A data do nascimento de Jesus Cristo

própria Bíblia, ao passo que o Natal não (como vimos). Com efeito, o texto de Êxodo 12.1-14 determina que a Páscoa seja celebrada por ocasião da primeira Lua cheia após o equinócio da primavera (após 21/03); por conseguinte, a festa de Páscoa se prende ao ciclo da Lua, que não é o ciclo dos meses do nosso ano solar. Apenas é de notar que os cristãos, embora sigam basicamente a contagem prescrita em Êxodo 12, esperam sempre o domingo após a Lua cheia para celebrar a Páscoa, pois querem reproduzir a sequência dos dias da semana, na qual Jesus morreu e ressuscitou, conforme os Evangelhos sinóticos.

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