Parte
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Como Implantar
Capítulo I
Como e por que implantar Grupos Pequenos “Foi Deus quem deu dons às pessoas. Escolheu alguns para serem apóstolos, outros para profetas, outros para evangelistas e ainda outros para pastores e mestres da Igreja. Ele fez isso para preparar o povo de Deus para o serviço cristão, a fim de construir o corpo de Cristo. Desse modo todos nós chegaremos a unidade na nossa fé e no nosso conhecimento do Filho de Deus. E assim seremos pessoas maduras, pois cresceremos até alcançar a altura espiritual de Cristo”. Efésios 3:11-14
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Introdução: Uma estratégia divina No meio cristão, na atualidade, é impossível fingir que algo não está acontecendo. Desde o início da década de 80 o mover do Espírito Santo de Deus tem se feito sentir de maneira intensa. Estratégias visando uma vida cristã de maior profundidade têm sido adotadas. A explosão do evangelho em nosso país e no mundo não aconteceu por acaso. Um verdadeiro insight divino, simultâneo, aconteceu. Assim como no início da era cristã, o compartilhar dos ensinamentos de Jesus voltou a acontecer nos lares. Cada casa tornou-se um lugar aberto para encontros, uma oportunidade para evangelismo, para compartilhar da Palavra de Deus e para vínculos de amizade. Um ministério voltado para o desenvolvimento de relacionamentos significativos, para o fortalecimento de laços de amizade e amor; um ministério onde o pastoreio mútuo ganhou dimensões perdidas há muito tempo. A célula é a menor unidade estrutural do ser vivo e o corpo humano tem cerca de 100 trilhões de células! A célula é capaz de manifestar as propriedades de um ser vivo, ela é capaz de sintetizar seus componentes, de crescer e multiplicar-se. Todos os seres vivos são compostos desta unidade fundamental, desde as mais simples estruturas unicelulares (bactérias e protozoários) até os mais complexos (seres humanos e plantas). Por todas as características e propriedades de uma célula, não deve nos causar espanto ou admiração o fato da palavra ter sido empregada para definir uma estratégia onde o esforço individual somado aos demais é essencial para o desenvolvimento e crescimento da igreja. Desenvolvimento e crescimento saudável, diga-se de passagem. Mas a terminologia não é tão importante quanto a ação. Muitas igrejas denominaram os seus Grupos Pequenos de 3
acordo com a realidade local: NEB – Núcleo de Estudo Bíblico, Grupos Familiares, Grupos de Crescimento, etc. A terminologia fica à escolha, mas o importante mesmo é usar esta estratégia divina para a igreja do século XXI. Nestes dias onde a Internet transforma a comunicação em virtual e superficial, Deus quer estabelecer comunhão com o ser humano criado e tão amado por Ele. Deus deseja se revelar por meio de pessoas que realmente se importam com você. Dias de experimentar a vontade de Deus, que é boa, perfeita e agradável.
Por que implantar Grupos Pequenos? Grupos Pequenos são uma grande estratégia para edificar a igreja, mas é preciso que antes de sua implantação as igrejas definam quais os valores básicos desejam alcançar. Se essa definição de valores não acontece, o risco de desilusão, frustração, fracasso e desistência é grande. Antes de qualquer atitude é preciso muito tempo investido em oração; tempo investido em consultas e conversas com a liderança e os membros da igreja. Impressionados com o grande e aparentemente fácil crescimento das igrejas em Grupos Pequenos, muitos pastores e líderes decidem sozinhos “decretar” que a partir de data tal a igreja estará em Grupos Pequenos ou células. Este ponto de partida autoritário pode ser o detonador do fracasso. Declarar claramente qual é o propósito, de modo que cada pessoa saiba onde os Grupos Pequenos se enquadram na estratégia e na visão geral da igreja é fator preponderante para iniciar o processo de implantação. Mas por que implantar esta estratégia em igrejas históricas? 4
Durante a Reforma Protestante, Martim Lutero e outros reformadores batalharam para que a Bíblia fosse lida, conhecida e praticada. Eles lutaram para que a Escritura Sagrada fosse o único código de fé e prática. Eles ousaram lutar contra o poder da Cúria Romana para defender verdades que se achavam soterradas por crenças e dogmas que iam contra os ensinamentos bíblicos. Em nossos dias, a igreja que se reúne semanalmente, nos lares, indica uma retomada aos primórdios da vida cristã, quando por um motivo ou por outro as casas eram o principal lugar de cultuar a Deus. Mas para quê encontros nos lares se temos o templo? Para estabelecer e fortalecer vínculos de amizade, de união fraternal, para evangelismo por amizade, para pastoreio mútuo e para discipulado. Nos últimos 20 anos, no Brasil, passamos de 16 milhões para 40 milhões de evangélicos. Recentes pesquisas afirmam que somos atualmente 30% da população brasileira. Esse crescimento no número dos evangélicos, chamado de explosivo, infelizmente não tem sido sentido na sociedade. Há 30 anos, quando alguém dizia professar a fé evangélica isso fazia diferença. Ser cristão evangélico queria dizer algo. Ser cristão era sinônimo de seriedade, honestidade e de bom caráter. De lá pra cá muita coisa mudou e não foi para melhor. A explosão dos evangélicos fez com que muita gente se declarasse como tal, independente de ser ou praticar. As igrejas cresceram e esse verdadeiro boom ocasionou templos cheios, mas muitas pessoas sem conhecimento e sem profundidade na Palavra de Deus. Nesse momento, em todo o mundo, surgem Grupos Pequenos como estratégia. A implantação de Grupos Pequenos deve acontecer porque as pessoas da igreja consideram o propósito de Grupos Pequenos uma maneira de uma pessoa interessada ligar-se aos outros. Outros ministérios são considerados maneiras igualmente válidas para desenvolvimento de um relacionamento 5
cristão realmente significativo, mas esta estratégia engloba uma série de outras, tais como compartilhamento da Palavra de Deus, parceiros de oração, pastoreio mútuo, evangelismo por amizade, discipulado e relacionamento. Os erros e acertos de outras igrejas podem acontecer quando da implantação em sua igreja, por isso mais uma vez recomendamos oração: ore muito, envolva outros nesse processo de oração em busca da vontade de Deus. Provavelmente em sua igreja ou comunidade de fé já existam grupos despontando. Há mulheres que oram, há homens que estudam a Palavra de Deus, há adolescentes comprometidos e os jovens são uma verdadeira bênção. Então, por que implantar? Para fortalecimento, para ampliação da estrutura e para crescimento espiritual saudável. A Igreja do Novo Testamento foi o resultado da transição da instituição do judaísmo centrado num local geográfico (Israel), numa cidade (Jerusalém), num templo (casa de Deus), num sacerdócio limitado a uma tribo (Levi) e num dia específico de adoração (Sábado), com a finalidade exclusiva de preservação da instituição com os seus ritos, preceitos e leis, para um movimento leve, ágil e penetrante, sem centralização num local geográfico. Como isso aconteceu? Por meio de Jesus que deu a seguinte ordem: “Ide por todo mundo e fazei discípulos de todas as nações.” Quando o mundo passou a ser o alvo, todas as cidades passaram a ser importantes. O templo em Jerusalém deixou de ser o único local de adoração e celebração. As casas como as de Lídia, Áquila e Priscila, Filemon, Ninfa, etc. passaram a ser igrejas. Todo cristão passou a fazer parte do sacerdócio real. Todos os dias são dias para louvor e adoração e nós somos o templo do Espírito Santo de Deus. Jesus foi o protagonista desta mudança. É com Ele que devemos aprender.
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Alguns pontos importantes a serem considerados: O ministério de Jesus levou aproximadamente três anos e meio. Valores arraigados não são mudados facilmente. Investe-se tempo para a mudança. Cada ser humano é a soma de experiências passadas e é preciso mudança para que novas experiências sejam acrescentadas à nossa vida. Veja alguns exemplos bem simples: a) Pessoas que trabalharam 20, 25, 30 anos como vendedores, pensam que só sabem ser vendedores. É preciso uma mudança (muitas vezes drástica, como perder o emprego) para que eles encarem novas possibilidades. Mesmo assim, o mais comum é a pessoa tentar novamente ser um vendedor. b) Determinadas famílias moraram em uma determinada cidade, em um determinado bairro durante toda a vida. Ali fizeram amigos, conheceram o comércio, os médicos, os dentistas, os filhos se acostumaram com as escolas próximas, mas aí surge a necessidade de uma mudança. E agora, o que fazer? Programar a mudança. Preparar-se para a mudança. Nesta preparação, fazemos algumas novas mudanças, tais como: limpeza das estantes, jogar fora o que não serve mais, comprar novos móveis, trocar de carro, etc.
O Ministério de Jesus teve resultados muito significativos. Ele fez discípulos e estes fizeram novos discípulos, até que cento e vinte pessoas estivessem prontas para receber a unção do Espírito Santo no Pentecostes para “lançar” o movimento chamado de igreja. Todo o judaísmo legalista teve que ser substituído por um estilo de vida demonstrado por Jesus com base na salvação pela graça, mediante a fé (Efésios 2:8 e 9). Hoje, existem alguns pastores que estão implantando Grupos Pequenos, logo após um fim de semana de treina7
mento, sem levar em consideração a necessidade de assimilação de novos valores. Infelizmente, este sistema, na maioria dos casos, dá errado. Precisamos aprender com Jesus.
Como Jesus mudou os valores? 1. Com trabalho duro e oração – Jesus “suou” a camisa. No Novo Testamento aprendemos que o próximo deve ser amado como amamos a nós mesmos. Jesus pregou e ensinou por meio de seu exemplo pessoal. Ele teve compaixão da multidão; curou os doentes, amou e cuidou das crianças, etc. Jesus orou diariamente, e muito, pedindo ao Pai Celeste força e orientação para fazer a sua vontade. A mudança começa de cima para baixo. Acredite, a mudança começa na vida do pastor, pois é ele quem terá que “dividir” ou, ao menos, compartilhar a sua liderança. 2. Recrutando seus líderes – Jesus escolheu seus doze mais próximos para discipular pessoalmente depois ampliou o número para setenta ao enviá-los de dois em dois e, finalmente, os cento e vinte no cenáculo. Não há mágica nos números escolhidos por Jesus, mas eles funcionaram! 3. Vivendo uma fase de protótipos – Antes de recrutar mais gente, Jesus trabalhou apenas com um grupo pequeno: seus discípulos. Antes que os Grupos Pequenos sejam uma realidade em sua igreja, alguns protótipos podem e devem ser implantados e testados. Nos protótipos é possível perceber a importância dos laços que se formam por meio do pastoreio mútuo. É possível perceber a riqueza de oportunidades para o evangelismo de parentes, vizinhos e amigos. Os protótipos são um tempo para ajustes, para conhecimento e para ver se vale à pena fazer a transição. 8
4. Pregando sobre os valores antes da visão – Jesus ensinou valores. E que valores! Amor, bondade, humildade, mansidão, serviço, fidelidade. Não adianta ficarmos falando da visão de uma igreja com Grupos Pequenos se antes não afirmarmos e reafirmamos os seus valores. Muitos ouvem falar que a igreja do Novo Testamento funcionava nas casas e “torcem o nariz”. “Não queremos este modelo, não queremos que nossa privacidade seja invadida”. “Mas por que reuniões nas casas? Por que reuniões de Grupos Pequenos? É tão bom ser mais um na multidão... Assim não me comprometo”. Falar muito da visão antes de viver os valores cria uma expectativa que leva à frustração. Não prometa antes de poder cumprir. 5. Não mudando as estruturas antes da hora – Jesus ensinou, demonstrou, viveu. Depois fez a mudança. Ele pregou em casas (quando curou o aleijado levado pelos quatro amigos, por exemplo), pregou nos montes, dentro de um barco. Muitos pastores e líderes entusiasmam-se com algo novo e saem correndo para mudar tudo. Acabam com os programas na igreja e frustram crianças, adolescentes, jovens, adultos, terceira idade. Quando a estrutura de Grupos Pequenos estiver delineada e implantada, o medo de que os demais ministérios acabem passará. Algumas estruturas serão fortalecidas e outras, provavelmente, deixarão de existir. “Como alguém tira um osso seco de um cachorro? Mostrando a ele um suculento bife.” O exemplo pode ser forte, mas deixa claro que apesar de existir algo melhor em vista não queremos abrir mão do que já conquistamos. “Seguro morreu de velho.” “Mas quem não arrisca não petisca.” A sequência ideal dos acontecimentos deve ser: Valores ⇒ Visão ⇒ Estratégia ⇒ Estrutura
6. Não desprezando quem ainda não entendeu – Jesus não menosprezou e nem desprezou a ninguém. Desde 9
doutores da lei até os mais humildes ele ensinou com amor, com respeito, aceitando-os apesar e por suas limitações. Alguns líderes não conseguem passar a visão aos seus liderados e, quando estes não a entendem, eles os menosprezam, os deixam de lado. Alguns fazem com que os liderados se sintam como se fossem de segunda categoria; isso não é justo, nem bíblico. “Não por força, nem por violência.” O Espírito Santo convence por meio do amor, da tolerância e serviço e não por meio da arrogância presunçosa. 7. Antes de começar, planeje – Nada de mudanças radicais sem planejamento estratégico. “Quem falha em planejar, planeja falhar”. Os valores são fundamentais e, se forem vivenciados o acréscimo médio de uma igreja com Grupos Pequenos será de 25% a 35% ao ano. Ao redor do mundo isso já está acontecendo. Queremos crescimento espiritual e numérico expressivo ou não queremos crescer? E muito mais do que crescimento, teremos qualidade e profundidade no discipulado.
Recursos para a mudança • • • • • •
Lembre-se: Trabalhe o material primeiro com os supervisores, líderes e vice-líderes. Muitos materiais podem ser usados nas classes existentes na igreja. Informações muito raramente causam mudança de valores. O que causa mudança? Oração. Evangelismo por amizade. Vida de Corpo. 10