Refletindo o Poder Î Quase sempre me vejo a questionar os reais motivos
que levam pessoas a buscarem o estrelato (sentarem nos melhores lugares) seja ele nas artes, política, trabalho, vida social, enfim, nas diversas áreas que o ser humano esteja envolvido. É comum vermos pessoas engajadas em alcançar o sucesso, mesmo que seja necessário ultrapassar as barreiras dos valores morais e éticos que se situam como obstáculos a este ideal. É interessante que essa busca desenfreada não acontece em uma determinada camada social, ela é constante em todos os seguimentos da sociedade. O que muda é simplesmente o grau para o qual é direcionada a ambição de cada 1
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um. O político que almeja a Presidência da República não difere do mais simples funcionário que deseja galgar os mais altos postos de sua empresa. O bem e o mal ocupam o mesmo espaço e são determinantes na avaliação das motivações que estão por trás de todas as nossas decisões. Não é, absolutamente errado o político almejar ser eleito para o mais alto posto na hierarquia de um governo e, nem o cidadão comum querer reconhecimento pelo seu trabalho e ser promovido para um cargo, o qual lhe traga satisfação pessoal e melhores ganhos. Acredito que o desejo de progredir é inerente ao homem e o acomodamento é decisivo para a sua destruição como pessoa. Porém, a motivação por trás do anseio é a razão da nossa preocupação. O que motiva o coração daquele que quer ser eleito, ou aquele que deseja subir degraus em sua empresa? Há por trás de toda pretensão, quer ela seja direcionada para a realização do mal ou, para o bem, a consumação de um objetivo oriundo do caráter existente em nosso “eu”. Existe dentro de todos nós, uma constante batalha entre o que é certo e o que é errado. E, o vencedor deste duelo, será o que determinará nossa motivação para alcançar o objeto do nosso desejo. O político ou o simples funcionário de uma empresa qualquer, serão guiados pelo que rege as suas existências para alcançarem a realização dos seus ideais. A motivação que nos leva a desejarmos a concretização dos nossos sonhos, é determinante para aquilatarmos o seu valor. Existe valor real em quem desmedidamente usa o mal como uma ferramenta para sobrepujar seus semelhantes em uma disputa para ocupar um cargo ou uma posição? A motivação correta é determinante para a obtenção da valorização de um desejo, porque nela estará inserido o valor de tudo o que alcançamos.
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Quando, após usarmos todos os recursos disponíveis existentes dentro de cada um de nós para obtermos o que nos propusemos, devemos ter a conscientização de que tanto os políticos como o simples funcionário ocupam cargos e posições que invariavelmente continuarão existindo dentro do contexto político e empresarial, por várias gerações que ainda poderão estar por vir. Já o ocupante destes cargos é passageiro; ele não irá se perpetuar porque tudo tem o seu final, não existem exceções, todos deixam de exercer a função que um dia desempenharam. A busca da realização pessoal em todas as áreas e camadas sociais advém dos primórdios da humanidade e faz parte da nossa natureza e, esta é a causa primeira dos nossos infortúnios. Foi pelo desejo de um príncipe em ocupar o lugar do Rei que a insatisfação pelo que realizamos se enraizou em nosso ser. Quando finalmente atingimos o alvo, o que deveria ser o êxtase é abafado pelo vazio que parece ser constante em nosso existir. O novo envelhece num repente e nos deixa a sensação de querer mais. Outra vez nos voltamos para novos sonhos, novos desejos, novas realizações. Até quando iremos atrás do que parece jamais será palpável? Mesmo ao atingir o ápice, quando chegamos ao fim de todos os degraus e onde não há mais o que se alcançar, descobrimos que não existe recompensa dentro de nós. Estamos como no início e como já galgamos tudo, como preencher o espaço dentro de nós que ainda anseia por novas conquistas? Todas as riquezas e honras que podemos adquirir não podem aniquilar a natureza do homem natural que não se satisfaz com o pouco e nem com o muito. Com uma sede insaciável o egocentrismo do homem está sempre querendo mais. Ressaltamos assim, como é triste a realidade para quem chega ao topo e não encontra o almejado sucesso. 3
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A transitoriedade é letal para a natureza humana. A constatação de que nada se perpetua, acarreta uma evolutiva frustração dentro de nós. Somos guiados por desejos de conquistas e, no entanto, elas não nos satisfazem plenamente. Então sucessivamente, o homem se volta para outras direções, novas idealizações, outros projetos, buscando a razão da sua existência. Ele deixa de enxergá-la e gozá-la não na carne, mas no espírito. A satisfação pessoal está na motivação advinda não dela mesma, mas do bem que se pode realizar para a coletividade depois de alcançado o objetivo final. Certamente o presidente que cumpriu o seu mandato ou o funcionário que chegou a aposentadoria terá o deleite nas boas obras que pôde realizar através das suas conquistas. Todo o fascínio e glamour que a obtenção de um cargo de liderança exerce sobre a vida do homem, se dissipam na rotina do seu exercício. Pela natureza humana o êxtase está na busca do objetivo. Querer ser é mais que o próprio ser. E,enquanto no exercício da liderança o “eu” estiver no comando, a recompensa será um peso e não um prêmio pelos esforços dispendidos na sua obtenção. O tempo medido se encarrega de mostrar a realidade; ela pode ser cruel àqueles que buscam ser jubilados somente pelas aparências e não pelas obras em favor da coletividade. O que permanece para quem exerce a liderança, não é o encanto pessoal do líder, mas o seu trabalho em favor da organização a que está sujeito. Ninguém é lembrado pelo seu charme, pelo seu poder organizacional, pelo carisma que exerce junto aos seus liderados, mas, é reverenciado não só pelos seus feitos, porém muito mais pelo legado que deixou. Adolf Hitler foi um dos maiores líderes da história; o seu poder de persuasão, seu carisma, sua capacidade administrativa, sua liderança são inquestionáveis. No entanto, o que ele 4
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representa para a humanidade? Seu nome é motivo de repulsa, traz nojo à mente; não acrescentou nada de bom ao mundo e é vergonha para uma nação. Esta liderança não será esquecida jamais. Quem, em sã consciência quer ocupar este lugar? Josef Stalin foi um grande líder da antiga União Soviética e o período que a comandou ficou conhecido como Stalinismo. Porém, o seu legado durou pouco, porque Nikita Khrushchov renegou o seu legado, à custa dos crimes cometidos por Stalin em sua busca pelo poder. Hoje nem mesmo a União Soviética como nação existe mais, ela se dissipou, não passa de uma triste lembrança de um tempo de autoritarismo, dores e sofrimentos para o povo. O seu legado em nossos dias, são formas de governo que ainda insistem em uma forma fracassada de liderança. Hugo Chaves, Fidel Castro, Evo Morales e tantos outros, são oriundos de uma escola que não vingou, porquanto não passou pelo crivo do povo, assim como passam todos os governos que insistem em fórmulas que se posicionam contra as leis espirituais idealizadas pelo Rei do Universo. Exemplo disso são os países do Oriente Médio e da África do Norte em que seus cidadãos se insurgiram contra os governos autoritários que perduravam por várias décadas, tais como Iraque, Egito, Tunísia, Líbia, Síria, Sudão... É impossível enumerar os líderes que nada acrescentaram de bom à humanidade, pois como uma praga emergente eles surgem dia após dia em todos os continentes. Isso acontece porque não se satisfazem em se perpetuarem como bons líderes, em fazer o melhor para o povo; antes, buscam satisfazer o seu ego, o qual não se contenta com o pouco, eles querem o “muito” e isso implica em: domínio, poder, reconhecimento, honras e glórias. Esta é a bandeira de quem se sujeita à
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natureza humana e se deixa manusear por artimanhas diabólicas. Ao atingirmos um objetivo traçado, mesmo este sendo alcançado pela motivação correta, não devemos permitir que o vislumbre do cargo ou da posição, nos faça perder o rumo. O foco deve ser preservado e este consiste em anular o próprio eu. Pois, se assim não for o nosso eu irá requerer uma contínua busca por novas realizações e uma notoriedade que é cíclica; ela só existe no momento em que se “é” ou se “está”, deixando de subsistir a partir do instante que nos afastamos do cargo ou da posição que ocupamos. Esta é a diferença entre o líder sábio e o que é ignorante: “A capacidade de absorver tudo o que vem junto com o sucesso”. O líder exemplar se destacará quando a sua busca pelo reconhecimento for embasada em atributos morais saudáveis, nitidamente voltados à organização e não ao seu fortalecimento pessoal, o qual é transitório e não tem consistência. Junto a este “prestígio”, está patente o afloramento de sentimentos negativos que invariavelmente seguem o mau líder. Este é o perigo que o líder imbuído de boas realizações corre, ao se deixar levar por sentimentos, como a inveja pelas realizações do seu próximo. Para rebatermos este sentimento que só traz aflição ao nosso espírito é imprescindível que o líder não caminhe sozinho; a cumplicidade nos fortalece e não dá margem para creditarmos a vitória unicamente a nossa competência pessoal. Dada a momentânea ocupação de um cargo ao qual estamos sujeitos, devemos considerar o processo sucessório que pode não ter um tempo determinado para começar. Considerado um grande estadista brasileiro, Tancredo Neves galgou todos os degraus necessários para ocupar o mais alto cargo do governo, porém, mesmo sendo eleito, sequer ocupou o 6
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seu lugar. Este exemplo nos dá a dimensão da necessidade de prepararmos ou deixarmos as condições necessárias para quem irá nos suceder. O fato de considerarmos que, quem irá nos suceder pode estar caminhando ao nosso lado, não pode nos fazer impedir o seu crescimento dentro da organização. O mau líder costuma diminuir os talentos que estão à sua volta e isso, além de não impedir que haja uma sucessão, põe em risco todo o projeto para a concretização da visão organizacional. É corriqueiro à liderança se valer de artifícios a fim de aprovar o seu reinado. A opressão, mediante a violação dos direitos e da justiça é típica neste aspecto. Governantes mundiais e lideranças ocupacionais são pródigas neste quesito, eles não vêm dificuldades em oprimir, subjugar e obrigar o seu próximo a servir aos seus propósitos. Mal sabem eles que a lei da superioridade é finita e, mesmo o que exerce um cargo elevado, tem acima de si uma sentinela observando suas atitudes. O comando que deseja ser aprovado e ter o abono sobre todas as suas atitudes não precisa usar o terrorismo como forma de afirmação; as suas atitudes voltadas para o bem serão o “selo de qualificação” que confirmarão o seu governo e o seu vigia não o desqualificará. O grande líder é o que ama, reconhece e dá valor à sua organização. Ele sabe que a valorização do trabalho e dos seus frutos, é impulsão para a expansão do próprio negócio. O desenvolvimento deve alcançar a todos, pois se houver prioridades pessoais em detrimento do coletivo, fatalmente não se chegará a resultados expressivos e, o pequeno destaque advindo da glória solitária não satisfará o seu íntimo. Anseio pessoal é uma fórmula eficaz para enredar o líder ou o candidato à liderança, o qual no seu delírio não enxerga o mal que faz a si próprio, buscando na sua ignorância satisfazer o seu ego. 7
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O pregador em seu livro descreve a lei da imutabilidade de todas as coisas, elas vêm e vão, em constante movimento. Nada existe de novo que não tenha sido criado no principio. Mesmo as grandes invenções não são novidades na mente de Deus. Ele é o grande “Autor e Consumador” de tudo o que é realizado sobre a face da Terra. Ao creditarmos a obra por nós realizada à nossa capacidade mortal, estamos roubando a paternidade Dele que as criou. Isso é correr atrás do vento: buscar a valorização do que, pela nossa pequenez, jamais iremos conseguir. Se você tem um cargo, seja ele importante ou mesmo apenas um que ocupe espaço na organização, direciona sua estada ali na busca incessante para satisfazer os desejos de quem é seu superior. A posição que ocupa no momento faz parte da sua vontade, ele está usando sua vida e isso é por si só, motivo de grande júbilo. Realização imensurável é servir ao Rei, o dono do nosso negócio, porque só assim, estaremos correndo atrás do que é palpável e é real. Í
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