Copyright2012 por Josadak Lima. Todos os direitos em língua portuguesa reservados por:
Capa: Igor Braga Imagem capa: Site: sxc.hu
A. D. SANTOS EDITORA Al. Júlia da Costa, 215 80410-070 - Curitiba - Paraná - Brasil +55(41)3207-8585 www.adsantos.com.br editora@adsantos.com.br
Diagramação: Manoel Menezes Revisão ortográfica: Priscila R. A. Laranjeira Impressão e acabamento: Gráfica Impressul
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) LIMA. Josadak O Padrão do Mestre – Princípios para discipular com excelência – Série Conversas Sobre Discipulado / Josadak Lima – Curitiba: A. D. SANTOS EDITORA, 2010. 88 p. ISBN – 978.85.7459- 272-5 1. Liderança cristã
2. Discipulado CDD – 253-2
1ª Edição: Abril / 2012 – 1.500 exemplares. Proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios a não ser em citações breves, com indicação da fonte.
Edição e Distribuição:
APRESENTAÇÃO DISCIPULADO – O PADRÃO DO MESTRE – foi elaborado visando o discipulado de líderes no contexto da igreja local. Este livro é o segundo de uma série focada em Treinamento de Discípulos, baseada nos capítulos 13 a 17 do Evangelho de João. Os outros títulos são: Frutificação que permanece, e Orientação Espiritual e Um projeto de vida. Jesus inicia uma conversa sobre discipulado no capítulo 13 de João, continua nos capítulos 14, 15 e 16. Esse diálogo enfatiza a posição dos discípulos em relação a Deus, e o que Jesus esperava deles, depois de sua morte. Uma leitura cuidadosa destes capítulos de João mostra que Jesus sabia que estava passando suas últimas horas na companhia de seus amados seguidores. Isto ressalta a importância desta conversa vagarosa e enfática na mesa do Cenáculo. Jesus precisava equipar bem seus discípulos com recursos espirituais, para que eles fossem capazes de prepararem na fé as futuras gerações. Então, Jesus dedicou esse tempo precioso aos temas vitais para o treinamento e capacitação dos discípulos, tendo em vista a missão futura deles. Que Deus nos inspire e ajude nos estudos dos capítulos 13 e 14 de João, nos estimulando na jornada do discipulado. Josadak Lima i
ii
ÍNDICE CAPÍTULO 1 _______________________________________________ 1 O estilo de vida marcado pelo amor doador CAPÍTULO 2 ______________________________________________ 11 Um coração ensinável CAPÍTULO 3 ______________________________________________ 21 Seguindo o exemplo do Mestre CAPÍTULO 4 ______________________________________________ 31 O falso discípulo CAPÍTULO 5 ______________________________________________ 41 Prioridades de um discípulo CAPÍTULO 6 ______________________________________________ 51 Encorajamento restaurador CAPÍTULO 7 ______________________________________________ 59 Conduzindo pessoas ao conhecimento de Deus CAPÍTULO 8 ______________________________________________ 73 O discipulador como pacificador
iii
iv
CAPÍTULO 1
O ESTILO DE VIDA MARCADO PELO AMOR DOADOR
1 Um pouco antes da festa da Páscoa, sabendo Jesus que havia chegado o tempo em que deixaria este mundo e iria para o Pai, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim. 2 Estava sendo servido o jantar, e o Diabo já havia induzido Judas Iscariotes, filho de Simão, a trair Jesus. 3 Jesus sabia que o Pai havia colocado todas as coisas debaixo do seu poder, e que viera de Deus e estava voltando para Deus; 4 assim, levantou-se da mesa, tirou sua capa e colocou uma toalha em volta da cintura. 5 Depois disso, derramou água numa bacia e começou a lavar os pés dos seus discípulos, enxugando-os com a toalha que estava em sua cintura. João 13.1-5
Desde o início do seu ministério Jesus atraiu muitos seguidores. Ele selecionou e treinou um grupo especial de doze homens. Primeiro, convocou quatro (Mc 1.16-20), e, em segui-
1
Padrão do Mestre
da, convidou aos demais para o seguirem. Eram homens rudes, não muito cultos, aparentemente com poucas possibilidades. Foi esse grupo que chegou a conhecê-lo melhor e acompanhá-lo por três anos nas atividades ministeriais diárias. O evangelho de João, do capítulo 13 ao 17, se constitui mais detidamente, nas últimas instruções de Jesus a esse grupo íntimo de discípulos. Os estudiosos chamam estes cinco capítulos de João como “Sementeira das Epístolas”, pois praticamente todas as principais doutrinas desenvolvidas nas cartas do Novo Testamento estão originalmente presentes nas instruções que Jesus deu na Última Ceia. Alguns chamam estes capítulos do evangelho de João de discurso, outros os denominam de sermão, mas eu prefiro chamá-los de conversa. O discipulado não acontece pelo viés do discurso, mas do diálogo, pela conversação. Nesta longa conversa de Jesus com seus discípulos houve espaço para perguntas e comentários diversos. Eles fizeram sete perguntas a Jesus. A primeira foi feita por Pedro, quando Jesus se aproxima dele para lavar-lhes os pés: “Senhor, vais lavar os meus pés?”. O discipulado não acontece pelo viés do discurso, mas do diálogo, pela conversação.
Esta é o tipo de conversa-padrão que deveria ser praticada no discipulado. “Não se trata de uma conversa que serve de modelo para uma comunicação lúcida. Mas é uma conversa-modelo para revelar a mente de Cristo e fornecer percepções sobre a dificuldade de ‘entender as coisas’ – entender como funciona o rodeio inerente na revelação e as espontâneas intimidades do amor”.1 1
PETERSON. Eugene. A Linguagem de Deus. São Paulo: Mundo Cristão, 2011.
2
Princípios para discipular com excelência
Concordo com Eugene Peterson, quando afirma que o que temos aqui é uma conversa vagarosa e repetitiva. Deus não pode se apressar nos corações humanos. Uma vida de amor e de obediência não pode entrar apressadamente nos corações humanos. Embora seus discípulos ainda não o saibam, Jesus sabe que sua vida está numa crise e que a crise está prestes a irromper. Mas, seu tom é tranquilizador, íntimo. Assim deve ser a jornada do discipulado. Jesus queria um grupo preparado espiritualmente, equipado para a tarefa de expandir o Reino de Deus, e por isto se propôs a ensiná-los, aproveitando todas as oportunidades que surgiam no cotidiano (Mc 10.17-22; 12.17-27), e extraindo o conteúdo do ensino da vida diária, e o apresentando com argumentação simples, linguagem direta e não abstrata, método adequado para a formação de discípulos (Mt 5.13; 6.28; Mc 4.3). “O discipulado é a nossa oportunidade de utilizarmos os infinitos recursos de Deus. É a chance de mudar nossa vida da mediocridade para uma vida que tenha significado. No discipulado não estamos fazendo favor a Deus. É Ele quem está nos fazendo um favor. É vital que o discípulo Deus não pode se apressar nos agarre-se a este importante corações humanos. Uma vida conceito”.2 de amor e de obediência não pode entrar apressadamente nos corações humanos.
2
HENRICHSEN, Walter. Discípulos são Feitos, não Nascem Prontos. São Paulo: Atos, 2002, p. 29
3
Padrão do Mestre
UMA EXPRESSÃO DE AMOR AO MÁXIMO Jesus havia entrado em Jerusalém no domingo e, na segunda-feira, havia purificado o templo. Terça-feira foi um dia de conflito, quando os líderes religiosos tentaram pegá-lo numa armadilha e conseguir provas para mandar prendê-lo. Estes acontecimentos estão registrados em Mateus 21 a 25. É provável que quarta-feira tenha sido um dia de descanso, mas na quinta-feira vemos Jesus e seus discípulos no Cenáculo3 (Jo 13; Mc 14.14-15; Lc 22.10-12). Esse é o dia anterior à crucificação. A noite já havia chegado. Esta é a última refeição de Jesus com os doze, um tempo de comunhão final, e um momento decisivo de seu ministério. Ele está voltado completamente ao círculo mais íntimo dos discípulos, os doze; estava consumido pelo amor por eles. Antes de deixá-los queria expressar o seu amor por eles, ao fazê-lo, de forma dramática, revelou para todas as gerações de cristãos que o fundamento de toda a vida de um discípulo de Jesus, bem como seu serviço no Reino de Deus é o amor genuíno. Por tradição, a celebração da Páscoa começava por volta das 18 horas. Quando Judas saiu da sala, com o terrível plano de entregar Jesus (v. 30), já era noite. Então, Jesus permaneceu ali com os onze por algumas horas, e dedicou esse tempo para instruir e encorajar os discípulos, em um dos mais comoventes de seus ensinamentos, que culminou com a oração intercessória por eles, e por nós.
O fundamento de toda a vida de um discípulo de Jesus, bem como seu serviço no Reino de Deus é o amor genuíno.
3
WIERSBE, Warren. Comentário Bíblico Expositivo. Rio de Janeiro: Central Gospel, 2008, p. 443.
4
Princípios para discipular com excelência
A mola mestra da vida de Jesus foi o amor. Tudo que Jesus fez foi por amor. A expressão “amou-os até o fim” não se trata de uma conclusão temporal, mas em grau, que se refere a “completamente”, “plenamente”, “absolutamente”; os amou com toda inteireza do amor. Jesus amou ao máximo aos doze, de forma inabalável, até a sua consumação na cruz, onde Ele ama ao extremo. “Quando foi preso ele providenciou para que os discípulos não fossem presos. Enquanto estava na cruz, ele se certificou de que João cuidaria de sua mãe A mola mestra da vida de Jesus pelos anos vindouros. Ele alcan- foi o amor. Tudo que Jesus fez çou um ladrão moribundo e o foi por amor. salvou. É espantoso que naquelas últimas horas, carregando pecados sobre si, no meio de toda aquela dor e sofrimento, ele tenha notado aquele possível discípulo pendurado próximo a ele. Jesus ama completamente, absolutamente, perfeitamente, totalmente, completamente, sem reservas. No momento em que a maioria dos homens estaria totalmente preocupada consiJesus amou ao máximo aos go, ele altruisticamente humidoze, de forma inabalável, até lhou-se a si mesmo para atena sua consumação na cruz, der as necessidades dos outros. onde Ele ama ao extremo. O genuíno amor é assim”.4 O discipulador precisa cultivar um amor doador, sendo altruísta, um amor que não procura seus interesses. Jesus amou os seus discípulos o tempo todo, embora soubesse que um deles era o traidor, outro o negaria, e todos o abandonariam na cruz. O amor sempre esteve presente nos seus relacionamentos, palavras e atitudes, suportando, tolerando, perdoando e purificando. 4
MACARTHUR, John. Como ser crente em um mundo de descrentes. São Paulo: Cultura Cristã, 2003, p. 17.
5
Padrão do Mestre
Mas, agora, sem palavras, o caráter amoroso do Mestre se torna visível e intenso. Consciente do fato de que está prestes a retornar ao Pai, e que a hora de sua morte se aproximava, não se envolveu de forma egoísta com seu sofrimento, mas encontrou lugar em seu coração para seus seguidores, e utilizou-se desse momento apropriado para expressar o máximo do seu amor, das maneiras mais gloriosas possíveis: fazendo uma refeição com eles, no lava-pés, no sermão de despedida, na oração sacerdotal e, finalmente, na cruz.
O discipulador precisa cultivar um amor doador, sendo altruísta, um amor que não procura seus interesses.
CONHECIMENTO E PRÁTICA DEVEM ANDAR JUNTOS O discípulo aprende mais pelo o exemplo do que pela transmissão de conhecimento. Jesus demonstra que o verdadeiro amor não vive de palavras, mas de atitude, e sua voz pode ser uma lágrima ou um brilho no olhar. É neste amor que guardamos nossas vidas e protegemos Jesus demonstra que o verdanossos corações.
deiro amor não vive de palavras, mas de atitude, e sua voz pode ser uma lágrima ou um brilho no olhar.
Lendo o capitulo 13 de João, percebemos que “a verdadeira história da Paixão já começa na Última Ceia de Jesus com seus discípulos. O lava-pés torna-se símbolo de toda ação de Jesus em sua Paixão. Na Paixão aperfeiçoa-se o amor de Jesus, assim como Jesus é na cruz de forma perfeita o Cordeiro de Deus que leva embora o pecado do mundo”.5 5
BOOR, de Werner. Evangelho de João II. Curitiba: Esperança, 2002, p. 63.
6
Princípios para discipular com excelência
A tarefa de lavar os pés estava incluída entre as tarefas mais humilhante do século I. Os escravos judeus não tinham que lavar os pés uns dos outros; isto era um trabalho somente para escravos gentios, para as mulheres e as crianças... O ato de Cristo, portanto, no contexto do judaísmo do século I, era verdadeiramente chocante – um exemplo completamente surpreendente de humildade que deve ter causado uma impressão profunda e duradoura nos seus seguidores.6 O amor de Jesus e a sua humildade são inseparáveis. O amor torna-se visível em sua ternura e ações de humildade. Após tirar seu manto e, tomar a toalha e cingir-se, Jesus ficou vestido como um escravo, e passou a ensinar, O amor de Jesus e a sua humilem total silêncio, uma grande dade são inseparáveis. O amor lição da genuína humildade, torna-se visível em sua ternura como prova do genuíno amor, e ações de humildade. curvado diante dos discípulos, lavando os pés de pessoas gananciosas, ciumentas e egoístas.
A QUESTÃO DO PODER É possível que Jesus e os discípulos estivessem chegando de Betânia. Era normal, depois de uma viagem os pés das pessoas ficarem cobertos de poeira. Ao chegarem ao Cenáculo, lugar escolhido para celebrar o ritual da Ceia, não encontraram nenhum escravo para fazer o serviço de lavar os pés. Alguém dos doze deveria se candidatar para o serviço, ou no mínimo deveriam dividir a tarefa. Mas, Jesus sabia o que se passava na mente dos discípulos naquele momento. Um texto paralelo (Lc 22. 6
RICHARDS, Lawrence. Comentário Histórico-Cultural do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2007, p. 229.
7
Padrão do Mestre
24-26) indica que a linha de pensamento dos discípulos era outra: estavam brigando sobre quem deveria ser o maior. Era a briga pelo poder. Havia um espírito competitivo no coração de cada um deles. Possivelmente, essa disputa pode ter sido quanto à ordem em que deveriam tomar lugar à mesa no ritual da Ceia. O poder é algo sedutor. Especialmente o poder sobre seres humanos. A sede pelo poder desperta e alimenta nos homens os sentimentos mais primitivos. Foi Ricardo Gondim quem disse que pelo fato das pessoas serem agentes morais, o uso do poder pode ter contornos positivos e negativos. O filosofo Francês Michel Foucault afirmou: “O poder possui uma eficácia produtiva, uma riqueza estratégica, uma positividade. E é justamente esse aspecto que explica o fato de que tem como alvo o corpo humano, não para suplicá-lo, mutilá-lo, mas para aprimorá-lo, adestrá-lo”. O meu amigo Cícero Bezerra, em seu excelente livro Conversas sobre Jesus, diz que “pensar em poder faz com que pensemos em ação, em escolhas, e no fato de que sempre devemos relacionar estes atos com outros... O poder pode destruir ou criar. O poder que destrói exige ascendência; requer controle absoluto. Ele destrói relacionamentos; destrói o dialogo; destrói a integridade”. Bezerra arremata: quanto maior for o poder, tanto maior será a influência. O ser humano, na busca de domínio, tem exercido as mais diferentes formas de poder: sobre a natureza, sobre pessoas, poder religioso e poder político. Dependendo do caráter do indivíduo, haverá diferentes formas ou apresentações do poder. Se tivermos uma pessoa de bom caráter, o poder será exercido em favor dos outros. Se tivermos uma pessoa de má
8
Princípios para discipular com excelência
índole, o poder será expresso de uma forma manipuladora e maléfica. A forma de nos livrarmos dos descaminhos do poder começa pela consciência que devemos ter de nós mesmos e do nosso chamado. Devemos ser capazes de nos submetermos a uma tarefa subserviente, doando-nos aos nossos semelhantes mais próximos. João 13 mostra que Jesus estava consciente de quem Ele era: Sua origem e grandeza, Seu poder e destino. Todavia, exerceu humildemente o papel de servo. Observe que Jesus não apenas estava vestido como escravo, estava também fazendo o trabalho de um escravo. ————
9
Padrão do Mestre
APLICAÇÃO PESSOAL 1. João 13.1 diz que Jesus amou os discípulos “até o fim”. O que isso significa? ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ 2. Como isso se demonstra em sua vida em relação às pessoas que você discipula? ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________ ___________________________________________________
10