Puxaram Meu Tapete Mas Deus Não Me Defendeu!

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Primeiras Palavras Com frequência tenho me deparado com colegas e amigos pastores magoados, ressentidos e desgostosos com o ministério. Estão feridos por causa de atitudes de alguns irmãos que fazem parte do rebanho por eles pastoreado. Esse fato me faz lembrar os enfrentamentos vivenciados pelo apóstolo Paulo quando de sua prisão. Paulo, o maior apóstolo que o cristianismo do mundo já conheceu, sentiu-se só, traído, abandonado e até mesmo injustiçado por aqueles que se diziam irmãos. Sua desolação ocorreu exatamente no momento em que ele tanto precisava de Deus e do apoio dos irmãos. Aqueles que outrora fizeram parte do seu convívio, agora, o deixaram só. Os cooperadores do ministério viraram as costas a Paulo, demonstrando seu maior amor e interesse pelas coisas deste mundo. No Antigo Testamento, Jó viveu experiência desse tipo, quando abandonado pelos seus amigos Zofar, Beldade e Elifaz. Jó, servo reto, fiel e temente a Deus, não escapou da 1


zombaria de sua própria esposa: “Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus, e morre” (Jó 2:9). Numa visão meramente humana, o sofrimento de Jó teria conotação de omissão de Deus, pois, sendo íntegro, Deus não poderia permitir tamanha desgraça ao ponto de perder tudo o que possuía. Por esse e por outros motivos, este livro, desde a Numa visão meramente escolha do título, pretenhumana, o sofrimento de levar a profunda rede Jó teria conotação de omissão de Deus, pois, flexão visando entender sendo íntegro, Deus não melhor as razões pelas poderia permitir tama- quais servos fieis não fonha desgraça ao ponto ram poupados de lutas e de perder tudo o que aflições. Aliás, Deus senpossuía. do conhecedor das virtudes e dos fracassos humanos, como poderia ter permitido tamanho sofrimento para servos íntegros como Jó? Como Deus teria permitido que Satanás, usando de suas artimanhas, puxasse o tapete de homens como Jó, Paulo e outros, sem defendê-los? Acredita-se que, na atualidade, esse fato tem se repetido inúmeras vezes, produzindo 2


suas vítimas. Aliás, é perceptível o sofrimento de muitos pastores, missionários e demais membros, cujos corações estão machucados e feridos. Dir-se-á que os pastores e obreiros estão vivendo em situações-limites1 (situações estas que até certo ponto parecem ser insuperáveis), no exercício de seus ministérios. Mudou-se o cenário, mas as atitudes impensadas de vários membros em nossas igrejas têm feito suas vítimas. Assim, partindo de minhas experiências pastorais, quero partilhar algumas inquietações, na intenção de ajudá-lo a superar com grandeza os desafios de vida, pois Deus não desampara os seus filhos, isto é, Sua presença é permanente, conforme o relato de salmista: “Ainda que meu pai e minha mãe me desampararem, o Senhor me acolherá” (Salmo 27:10). Este livro, composto de cinco capítulos, traz em resumo como as coisas acontecem no interior das igrejas. Não se trata, aqui, de um fato isolado, pois minhas andanças pelo mun1

Situações-limites é um conceito usado pela 1ª vez por Karl Jaspers e está presente na literatura da pedagogia freireana, referindo-se às situações que até certo ponto parecem difíceis de ser superadas. 3


do e pelo Brasil afora me habilitam a descrever a aflição que assombra pastores, missionários e líderes de várias denominações. Em meu gabinete pastoral, repetidas vezes atendo colegas pastores, homens e mulheres íntegros que com instância demonstram certa indignação e me dizem: “Zambissa, tudo estava tranquilo. Minha permanência na igreja para o ano seguinte estava certa. A igreja vai bem, mas apesar disso alguns não me querem. Colocaram-me à disposição. Estou muito triste. Não é dessa forma que eu gostaria de sair. O meu ministério acabou. E, agora, o que eu faço? O que deveria fazer para permanecer no ministério que Deus me deu? Eu só sei ser pastor, como agir?” Diante de tantas indagações, espera-se que esta leitura suscite outros questionamentos que poderão ser compreendidos com o auxílio do Espírito de Deus, por ser Ele o nosso intercessor e, também, o nosso assistente em nossas fraquezas (Romanos 8:26-28). E que durante a leitura o Senhor libere o óleo da unção capaz de cicatrizar as feridas ocultas da alma advindas de atitudes conscientes ou in4


conscientes das pessoas. Que o Senhor lhe conceda um coração perdoador em nome do Senhor Jesus. Simão Alberto Zambissa - Autor

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1 TUDO ESTAVA CERTINHO E, AGORA, TUDO MUDOU

Sabemos que todas as coisas cooperam para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu coração (Romanos 8:28).

No ministério pastoral da pós-modernidade tudo é surpresa. Nada está decidido. Os relacionamentos interpessoais são descartáveis, a palavra não tem mais valor e a ética desapareceu no convívio com as pes- O cristianismo moderno soas. Tudo é passageiro e deixou-se envolver pelas artimanhas diabólicas nada mais é duradouro. deste mundo. O amor O cristianismo mo- desapareceu e a Palavra derno deixou-se envolver de Deus, que outrora pelas artimanhas diabóli- norteava o estilo de vida de muitos cristãos, cas deste mundo. O amor transformou-se numa desapareceu e a Palavra de simples poesia. Deus, que outrora norteava o estilo de vida de muitos cristãos, transformou-se numa simples poesia. O que se 7


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pode esperar do cristianismo atual, indagamos? É possível transformar nossas igrejas em comunidades terapêuticas? Eu creio nisso, pois tenho esperança no porvir de dias melhores. Trata-se de uma utopia possível. Conheço vários amigos e colegas pastores decepcionados no ministério. Homens e mulheres que decidiram dedicar suas vidas ao serviço do Reino, mas estão tristes, magoados e frustrados porque passaram por dificuldades e não obtiveram apoio de ninguém. Sentiram-se desamparados por Deus e pelas pessoas. E isso tem gerado revolta, não só dos pastores, mas também das esposas e filhos. A tristeza é maior quando nos deparamos com pessoas que realmente viveram intensamente o ministério e, hoje, estão abandonadas à sua sorte pelos amigos que outrora se diziam amá-las. Quando me deparo com os servos de Deus que estão nessa condição, me vem à mente a história de um homem chamado Jó. Um homem reto, temente a Deus e que se desvia do mal (Jó. 1:1-3). Jó, um homem cristão e exemplar, porém abandonado à sua sorte. O mais triste é 8


Puxaram o meu tapete, mas Deus não me defendeu

que Deus sabia de tudo que se passava com Jó e nada fez para defendê-lo (Jó 1:6-12). É estranho, porque Deus tinha o conhecimento da presença de Satanás no meio do Seu povo, mas não impediu a desgraça contra Jó. Pelo contrário, instigou Satanás a agir como lhe conviesse (Jó 1:6-12). Movidos pela racionalidade pergunta-se: que Deus é esse que vê o sofrimento do seu povo e nada faz em prol dele? Será que Deus torce pela desgraça de seus eleitos? A situação de Jó tornou-se ainda grave porque sua luta deixou de ser externa e passou a ser interna, isto porque sua esposa entrou em ação para lhe pedir a renúncia da fidelidade a Deus: “Ainda conservas a tua integridade? Amaldiçoa a Deus e morre” (Jó 2:9). Diante dessa triste realidade, vivida por Jó, tem-se a sensação de que Deus só defende os injustos. Fazem o que querem contra os pastores e servos, mas Deus nada faz para defendê-los. Por esse motivo, muitos buscam promover a justiça com as próprias mãos, o que não é correto. A esse respeito a maior lição de como se tornar servo foi ensinada pelo 9


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próprio Mestre. Jesus foi tentado, caluniado, difamado e injustiçado de todas as maneiras, mas não se defendeu. Simplesmente pediu a seu Pai para que perdoasse os seus agressores: “Pai perdoe-lhes porque não sabem o que fazem” (Lucas 23:34). Não é nenhuma novidade que quando se passa por lutas e aflições, o sentimento de abandono torna-se muito forte. Foi assim que eu me senti em um determinado momento do meu ministério. Quando tudo parecia caminhar bem, isto é, estando no meu oitavo ano do pastorado de uma determinada igreja. Levantou-se uma minoria dentre os irmãos, fazendo campanha contra minha permanência naquela igreja. Essa minoria não queria que eu fosse reconduzido para o pastorado para o ano seguinte. Minha permanência foi confirmada pela assembleia por uma maioria absoluta. Apesar disso meu coração não estava em paz, pois havia tomado conhecimentos dos nomes daqueles que queriam interromper o projeto de Deus para aquela igreja e, consequentemente, do meu ministério. É importanJesus foi tentado, caluniado, difamado e injustiçado de todas as maneiras, mas não se defendeu.

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Puxaram o meu tapete, mas Deus não me defendeu

te dizer que os referidos irmãos, até então não haviam exercido nenhuma função de liderança, antes do meu pastorado. Formei-os líderes e, agora, se levantaram contra mim. Que decepção! Nessas horas só me lembrava da história de Judas Iscariotes quando traiu o Mestre. Como foi difícil encarar uma atitude tão estranha no meio de uma comunidade que dizia amar o seu pastor, que na ocasião era eu. Para mim, o discurso da irmandade estava longe de ser verdadeiro e prático. Não obstante, o comportamento dos irmãos mostrou claramente o que dominava seus corações. Apóstolo Lucas diz: “[...] porque a boca fala do que está cheio o coração” (Lucas 6:45). Confesso que minha reação naquele momento era a de vingança, pois os que se opuseram a minha permanência são os mesmos que elogiavam meus sermões e direta ou indiretamente foram por mim ajudados. Ao vivenciar momentos como esses, conclui que o pastorado tinha se tornado injusto comigo. Cheguei até a pensar que Deus era defensor da impunidade. Pois não casti11


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gou os opositores que se levantaram contra o servo do Senhor. Permitiu ao servo fiel enfrentar humilhações de maneira inesperada. Indagava-me: “O ministério vai bem, porque a igreja está vivendo tempos de crescimento. Por que, então, passar por humilhação tamanha?” Com essa e outras perguntas sentia-me completamente abandonado. Na minha concepção humana, o meu ministério havia chegado ao fim, porque o ocorrido tinha ares de derrotas e fracassos. Pensava ainda: Neste mundo, muitas vezes, aqueles que zombam de Deus, escarnecem da verdade, pisam a justiça, corrompem os inescrupulosos, torcem a lei e esmagam os indefesos, prosperam e aqueles que andam na retidão são afligidos e injustiçados2. Felizmente, hoje, quando olho para trás, só tenho a dizer: Deus nunca me abandonou. Ele não abandona os seus filhos. Ele se preocupa com os seus filhos, mesmo não os poupando de angústias e aflições. Diz o salmista: “Ainda que meu pai e a minha mãe me desampararem, Deus me acolherá” (Salmos 27:10). 2 12

Fala do Reverendo Hernandes Dias Lopes, extraída no seu sermão intitulado Milênio e Juiz final.


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