Teatro Evangélico – Volume 1

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1 UM NOVO NASCIMENTO

Numa pequena casa feita de madeira, no Bairro do Cafundó, Seu Orlando, bóia-fria, tem um breve diálogo com sua esposa, D. Hosana. – Muié, quanto que nóis temo de dinheiro guardado? Preciso de umas economia’ pra mór de te comprá uns presente e pros nossos fios tumém... Já tá chegano o natar. – Ô Lando, cê sabe que as coisa num tá fácir, precisamo deixá essa bobagêra de lado e comprá cumida, pois presente num enche barriga de ninguém. – É, mais ocê tumém num pode negá a alegria das niança...O Aldemirzinho, por inzempro, tá doidcho prá ganhá um “Preimobil” de forte Apache. – Faiz o siguinte, intão...Vai até a cidade e vê se arranja alguma tarefa procê ganhá um extra.


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– Tá certo, Deus vai me ajudá. Se eu arrumá dinhêro eu prometo prá São Longuinho déiz pulinho’e déiz gritinho’. Desde já vai pidino pro nosso protetor ajudá. E despedindo-se de sua companheira, seu Orlando sai à procura de alguma novidade. Chegando à cidade, procurava olhar os preços de presentes para o natal, quando uma evangelista chamada Valéria, o pára na rua e lhe entrega um convite. – Senhor, gostaria de participar de um evento natalino em nossa igreja? Será pertinho daqui, ali na igreja... O senhor conhece? – Ah, não... É dessas igrejas que só qué sabê de dinheiro, né? Mas ocê se achegô ao home errado. Tô sem um reá no borso. – Não, senhor. Apenas pregamos a salvação por Nosso Senhor Jesus Cristo, ele não está interessado no dinheiro de ninguém, mas realmente pedimos ofertas... Bom, vamos fazer o seguinte? O senhor participa de um culto e no final, nos esforçaremos para dar as respostas de todas as suas perguntas de acordo com a Palavra de Deus. – Quem sabe ôtro dia? Agora tenho que arrumá dinhêro! A sua bênça minha irmã. Ah!Ah! Seu Orlando não se importou nem um pouco com a mensagem de salvação dada pela evangelista e, retirando-se foi procurar fazer seu dinheiro extra.


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*Quando passava por um beco, fora barrado novamente, agora por um rapaz que lhe oferecera um panfletinho onde estava escrito: “Mãe Keila, resolve todos os seus problemas, venha receber seus poderes” (Ele lê em voz alta). – ‘Brigado garoto, eu tava mesmo precisando disso, onde fica essa casa? Rua do Poço sem Fundo, 666 – Bairro do Lamaçal. É perto? Bem que eu gostaria de fazer uma visita pr’ela. – O senhor conhece o Bairro do Tolo, perto da Alameda dos Sem Juízo? – Ah, sei! É a que faiz isquina co’a Travessa do Pobre Diabo, num é? – É essa mesmo, então, vai lá ainda hoje, ela atende até as seis horas... – Eu vou prá lá agorinha mermo...Tchau minino, foi a miór coisa que me aconteceu hoje... Após uma hora e meia, seu Orlando chega à tenda da Mãe Keila, que o recebeu com um enorme sorriso: – Seja bem-vindo meu senhor, entra que vou preparar um chá de ervas amargas para espantar maus espíritos... Olhando meio desconfiado, seu Orlando faz uma pergunta:


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– Olha, dona, a senhora disse que tem poder prá arresorvê quarqué pobrema, pois intão, o meu pobrema é farta de dinhêro, prá mór de comprá uns presente pros meu fio, um deles tá quere no um Preimobil de Forte Apache... – Ora, ora, ora... O senhor foi enviado pelos deuses para minha humilde casa. Estou vendo aqui que o senhor terá em suas mãos ainda hoje, uma enorme quantia de reais, só não consigo receber a revelação de onde eles virão. Ah! Vejo também que o senhor irá passear num carro muito bonito, com chofer e tudo. – Quê? Quê? Quê? Quê? Um monte de reár nas minha mão? Como? Assim, sem mais nem menos? A senhora tá de brincadêra! E ainda carro com chofer? – Não, meu senhor, eu vejo perfeitamente. O senhor com um saco de dinheiro na mão. Mas quando o senhor entrar neste carro está sem o dinheiro... – Eu vou é m’bora daqui. – São vinte reais a consulta. – Ixe! Só tenho déiz na cartêra, é só. – Quando conseguir o dinhêro revelado, você volta e me paga o resto... Assim você saberá que falei a verdade. Ainda confuso, Seu Orlando sai da tenda de Mãe Keila e volta para sua casa, mas acreditava lá no fundo que aquilo era verdade. *No caminho de sua residência, mas uma vez ele vê a irmã Valeria distribuindo seus convites;


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passa rapidamente por ela, que sem dar razão para sua pressa, novamente o convida: – Senhor, Jesus te ama, vai até a igreja, receber oração. – Num dá minha fia, eu tenho uns dinhêro prá recebê. Inté. Com passos largos, seu Orlando estava ansioso para colocar as mãos no saco de dinheiro, revelado pela Mãe Keila. Quando de repente ouve sirene de polícia pelas redondezas. * Um homem encapuzado salta em sua frente e entregando-lhe um malote com um sifrão desenhado, sem nada falar, corre desesperado, jogando seu capuz próximo de seu Orlando, que sem reação fica pasmo, ao ver que aquilo era nada mais, nada menos que um saco de dinheiro, que possivelmente fora roubado de algum banco próximo. Vendo a viatura se aproximar, seu Orlando, ainda atônito, é abordado pelos policiais, que após suas desculpas, que para eles eram esfarrapadas, é levado preso. Na delegacia, o delegado prepara seu interrogatório: – Ô elemento... qual seu nome? – Sou inocente, dotô! Um sujeito jogô o dinhêro... – Calma, calma, calma... (o delegado vendo que seu Orlando não se acalmava, chamou um dos guardas, deu-lhe uma ordem) – Dá um choque nele! (seu Orlando solta um grito amedrontado!)


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Aiiiiiiiiiiiiiiiiiih! – Escute aqui seu caipira, você foi pêgo em flagrante, confessa que foi você, vamos! E já perguntei, qual seu nome? – É Orlando Pereira Figueira Parreira Nogueira (diz gritando). – Que nome esquisito... – É que sô neto de agricutôr. Meu querido vô, que Deus o tenha, botô esse nome ni mim, porque ele curtivava arves frutíf’ras. – Ah! – Por favô dotô, dêxa eu im’bora... Tenho que arrumá serviço prá comprá uns presente prá famia, eu já contei pro sinhô o que se assucedeu... Aquele disgrama de ladrão jogô esse dinhêro na minha mão. Eu nem sôbe o que fazê. – Dá outro choque nele! – (diz o delegado) – Aiiiiiiih! (chora) – Ô doutor, já recuperamos o dinheiro, deixa esse miserável ir embora, é época de natal... E me parece que ele é mesmo só um caipira que caiu numa cilada. – diz um Policial. – O que você disse? (se irrita o delegado) – Quem é você para falar alguma coisa pro delegado Tonhão? Só por causa dessa sua ousadia, policial, você vai receber um castigo. Venha cá. (Tomando o equipamento de choque da mão do outro policial, aplica-lhe o golpe.)


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– Aiiiiiiiiiih! (grita o policial) – Qué sabê de uma coisa? (Diz o delegado) eu acho que este homem é só um caipira que caiu numa cilada, já recuperei o dinheiro roubado, e afinal de contas, é época de natal. Some da minha frente, seu jeca. Saindo, seu Orlando lembrou-se da promessa que havia feito para seu “santo” e como ele (o santo) cumpriu mais ou menos o pedido, também só pagou metade da promessa. – É meu santim, eu pago só meia promessa, ô seja, só vou te dar cinco pulinho’e cinco gritinho’. Uh! Uh! Uh! Uh! Uh! Enquanto pulava no meio da rua, seu Orlando, não vendo um carro chique virando a esquina, é atropelado. Quando um senhor muito bem vestido desce do carro para socorrê-lo. – Jarbas! Vamos levá-lo agora mesmo para o hospital, ele está muito ferido! – Mas, patrão, é só um homem qualquer, prá quê dar atenção? Provavelmente é um indigente. – Deixa de ser insensível rapaz, afinal de contas foi você quem o atropelou. – Ô escória (cospe)! * E ajuda a levá-lo para dentro do carro.


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Após sua internação, o Sr. Herivelton, dono de uma fazenda naquela cidade, mas que só duas vezes por ano a visitava, ficou com o nome e o endereço do seu Orlando. No hospital deixara seu telefone para pagar qualquer tratamento. Depois de ter informado D. Hosana e seus filhos Aldemirzinho, Edsinho, Robsinho, Talitinha e Silmarinha; seu Orlando recebe a visita da família, que chora desconsolada. – Pai, o que fizeram com o senhor? – Filho, ocê vai tê que ficá sem o seu Preimobil de Forte Apache, que eu prometi, pois acho que num chego nem nesse natar. – Num fala isso véio, ocê ainda tem muita vida pela frente, nossos fio percisa docê. – diz D. Hosana. – Não muié, vou passá dessa pra miór, traiz o vigário pra entregá minha arma pro Criador. Enquanto falavam, entrou no quarto a irmã Valéria, que fora orar pelos enfermos, e avistando seu Orlando foi ter com ele. – Senhor, o que aconteceu? – Ih, minha fia, eu fui atropelado, mas já tô passano dessa pra miór, vou me encontrá com Deus... – Na Bíblia está escrito: Eu sou o caminho, a verdade e a vida, ninguém vem ao Pai a não ser por mim. O senhor já aceitou Jesus como Salvador pessoal de sua alma?


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– Como assim? Sou cristão desde nascimento, ele e todos os outros santos sempre me ajudaram. Agora estou indo me incontrá cum Ele. – A Bíblia diz que Jesus não divide sua glória com ninguém, portanto, ou se pertence só a ele ou a outro. – Jesuis disse isso? – Sim, senhor. E também disse que quem não nascer de novo, jamais poderá contemplar a face de Deus um dia. – Ah, não! Eu pensei que ocês era “crente”, agora cê me fala de reencarnação. Que raio de religião é a sua? – Não, meu senhor, nascer do Espírito Santo! Tornar-se filho de Deus! Após algumas explicações, Valéria faz um apelo que resulta na conversão de seu Orlando e de toda sua família. – É, mas eu ainda tô neste hospitar, será que Jesuis vai me tirá daqui, são e sarvo? Tenho minhas desconfiança. E essa miséria em que eu vivo, ele pode me dá dinheiro tumém? – A Bíblia relata que Jesus, sendo rico se fez pobre, mas isto não significa que Ele não pode te dar prosperidade, basta você ter fé. – Bão, intão eu tenho fé que inté o natar, eu vou tê dinheiro prá comprá um monte de coisa pra minha muié, meus fio e prá mim tumém. Sabe que eu quero ganhá? Um barbeadô elétrico.


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– De hoje em diante, o senhor é mais um filho do Deus Altíssimo e pode pedir o que. quiser pra Ele, em nome de Jesus, que se for da sua vontade também, é lógico que te atenderá. Na véspera de natal, seu Orlando recebe alta do hospital, e indo feliz para sua casa, encontra-se com Sr. Herivelton, que lhe dá uma carona. No caminho, conversando, lhe faz uma proposta. Perguntou-lhe se queria morar na fazenda para ser mais um dos caseiros e tomar conta de parte de seus bois, pois havia poucos trabalhadores honestos como ele. Mais do que depressa seu Orlando aceitou o convite. Chegando em casa, corre para contar as novidades. – Muié, arrume as mala’. Nóis vamo prum lugar bão dimais! *O Sr. Herivelton, chegando-se até a humilde residência de seu Orlando, abre uma grande mala que havia deixado no carro, contendo presentes para toda a família. – É como se fosse parte do seu primeiro salário, seu Orlando, não sou eu quem estou distribuindo para sua família, mas o senhor mesmo. * A molecada ataca a mala do Sr. Herivelton e fazem uma gritaria. Olhando para os céus seu Orlando grita: – Brigado, Jesuis!


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E frequentando regularmente a igreja, seu Orlando rapidamente tornou-se um grande pregador da Palavra de Deus, onde anos mais tarde já conseguira ganhar quase todos os trabalhadores da fazenda para o Senhor Jesus.

FIM


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