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Copyright©2014 por Zacarias de Aguiar Severa
Coordenação editorial: Priscila Laranjeira
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Revisão ortográfica: Roberto Carlos de Carvalho Gomes
A.D. SANTOS EDITORA Al. Júlia da Costa, 215 80.410.070 – Curitiba – Paraná – Brasil 55 (41) 3207-8585 www.adsantos.com.br editora@adsantos.com.br
Capa: Adilson Proc Diagramação e projeto gráfico: Adilson Proc Impressão e acabamento: Gráfica Nova Letra
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) SEVERA, Zacarias de Aguiar Manual de Teologia Sistemática – Revisado e Ampliado / Zacarias de Aguiar Severa – Curitiba : A.D. Santos Editora, 2014. 16x23 cm. ; 424p. ISBN 978-85.7459-055-X CDD: 230 1. Teologia Sistemática; 2. Teologia Cristã 2ª Edição: Julho / 2014 – 1.000 Exemplares 6ª Reimpressão: 1.000 Exemplares
Proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios a não ser em citações breves, com indicação da fonte.
Edição e Distribuição:
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Prefácio
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urante dezesseis anos tive o privilégio de ensinar Teologia Sistemática no curso de bacharelado em Teologia no Seminário Teológico Batista do Paraná, onde foi também Reitor durante quase treze anos. Como professor, fui preparando resumos das matérias que eu ensinava, aprimorando-os a cada ano. No mesmo período de docência, cursava o mestrado em Teologia Sistemática na Faculdade Teológica Batista de São Paulo; e, como tarefa acadêmica daquele curso, preparei uma Apostila de Teologia Sistemática, que por três anos serviu de texto para os meus alunos do bacharelado. Com a Apostila em circulação, alunos e ex-alunos e também colegas do magistério teológico começaram a me incentivar para que eu convertesse aquele material em livro. Como livro, aquele trabalho seria mais útil, podendo ser aproveitado por um número maior de estudantes de Teologia e também por obreiros e líderes das igrejas. Mas não me animei em trabalhar no preparo do livro até que uma editora, que conhecia o material, se prontificou a publicá-lo. Comecei, então, a rever o que já tinha escrito e a complementar alguns tópicos, tendo em vista um livro que servisse como um Manual de Estudo de Teologia Sistemática, tanto para estudantes do curso superior em Teologia como para obreiros já formados e cristãos em geral que desejam conhecer mais profundamente as verdades básicas da fé cristã. O resultado de todo esse trabalho é este livro, que expõe o conteúdo e o significa das verdades fundamentais reveladas na Palavra de Deus, para formação e firmeza doutrinária e espiritual dos que lideram o povo de Deus e de todos aqueles que têm interesse de aprofundar-se no conhecimento das verdades cristãs. Não há nada original neste livro. Como professor, não tive por objetivo fazer teologia, mas estudar e ensinar o que já estava pronto. Pesquisei os autores mais autorizados a que tinha acesso, fiz o arranjo mais didático
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possível, tendo em vista, principalmente, estudantes de Teologia e obreiros. O que é pessoal no livro é apenas o esforço para pesquisar os autores, escolher e colocar a matéria numa ordem que me pareceu mais lógica e de forma mais acessível para os leitores. Quero expressar minha gratidão aos ex-alunos e colegas pelo incentivo que me deram na produção desta obra. O meu reconhecimento também ao Dr. John Scott Horrell, meu ilustre professor e um dos meus orientadores no curso do mestrado, pela orientação e encorajamento nos estudos e na preparação da Apostila de Teologia Sistemática, que foi o primeiro passo significativo na direção deste Manual. De modo muito especial, meu reconhecimento e gratidão à minha esposa, Marisan Quintanilha Severa, que me incentivou e me deu total apoio, de modo que me foi possível tempo, entusiasmo e persistência para este trabalho. Minha parcela de dívida também aos filhos, Liana Cristina, Ricardo e Cláudia Regina, que ao seu modo me estimularam a que escrevesse. A todos estes, sou devedor nesta obra. Meu desejo é que este trabalho contribua para um maior e melhor conhecimento da razão da nossa fé, para a formação de uma consciência mais cristã, para uma vida mais firme e segura nas verdades eternas reveladas na Escritura, não se deixando mover por ensinos heterodoxos e pelo relativismo da pós-modernidade. Enfim, que este trabalho edifique o povo e glorifique a Deus. Curitiba, setembro de 1999 Pastor Zacarias de Aguiar Severa
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Prefácio à Segunda Edição
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epois de quase quinze anos de circulação da primeira edição do Manual de Teologia Sistemática, com várias reimpressões, apresento agora o novo Manual de Teologia Sistemática, revisado e ampliado. Durante esse tempo, desde a primeira edição do livro até agora, continuei estudando Teologia e servindo na obra de Deus. De 2000 a 2007, pastoreei com tempo integral a Igreja Batista do Cajuru, em Curitiba. Em 2009 e 2010, fiz um segundo curso de mestrado em Teologia na Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC). Li também vários livros novos de Teologia, lançados no Brasil nos sete últimos anos. Em 2009 voltei a lecionar Teologia na Faculdade Teológica Batista do Paraná, onde já havia serviço como Professor por dezesseis anos, e como Diretor por 13 anos, quando ainda era Seminário. Continuo na mesma Instituição como Professor, lecionando no curso de graduação, tanto no presencial quanto no à distância. O novo Manual de Teologia Sistemática, revisado e ampliado, não acrescenta nenhum capítulo novo, além dos treze da primeira edição, mas coloca novos parágrafos, modifica a redação em alguns pontos, acrescenta novas referências bibliográficas, e faz novos arranjos da matéria, melhorando a sua organização e apresentação. O Manual contém o conteúdo da disciplina Teologia Sistemática, que normalmente é oferecida num curso de graduação em Teologia. O livro foi preparado para ajudar os estudantes universitários nessa disciplina. Mas ele está redigido em linguagem simples, numa forma bem didática, de modo que se torna acessível a qualquer um que queira conhecer mais profundamente as verdades da fé cristã. Assim, este Manual pode ser utilizado nas igrejas, em classes da Escola Bíblica Dominical, ou em cursos especiais. Reitero aqui minha gratidão feita no prefácio da primeira edição, com relação à minha esposa, Marisan Quintanilha Severa, pelo incentivo
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e apoio nos estudos e na docência teológica. Minha gratidão também aos meus três filhos: Liana Cristina, Ricardo e Cláudia Regina, pelo convívio e valorização que dão ao meu trabalho. Nesta segunda edição, posso fazer menção também aos meus seis netos, que Deus me deu nesse período de tempo: Henrique, Lucas, Thiago, Luise, Isabelle e Raphael. Todos estes têm sido para mim motivo de alegria e inspiração no viver e servir, com reflexo também na produção desta obra. A eles desejo ardentemente o conhecimento das verdades referidas neste livro. Agradeço também A. D. Santos Editora, pelo incentivo na preparação deste material, publicação e circulação da primeira edição, tornando a obra conhecida em várias partes do Brasil, e agora, pelo interesse de fazer o mesmo, e de forma ainda mais aprimorada, com esta nova edição. Por fim, o reconhecimento de que “há um só Deus, o Pai, de quem todas as coisas procedem e para quem vivemos; e um só Senhor, Jesus Cristo, pelo qual todas as coisas existem e por meio de quem também existimos (1Co 8.6). Portanto, ao Pai e ao Filho, toda honra e glória. E ao Seu povo, minha parcela de contribuição na forma deste Manual de Teologia Sistemática, revisado e ampliado. Curitiba, janeiro de 2014 Zacarias de Aguiar Severa
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Sumário 1 – INTRODUÇÃO I. O QUE É TEOLOGIA...................................................................... 2 A. Definição. ............................................................................... 2 B. Distinção entre Teologia e Estudos Afins. .................................... 4 II. IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA TEOLOGIA............................... 6 A. Negação da Importância da Teologia. ......................................... 6 B. Razões da Importância da Teologia............................................. 7 III. DIVISÃO E MÉTODO DA TEOLOGIA.......................................... 9 A. Divisão da Teologia.................................................................. 9 B. Métodos da Teologia................................................................ 11 2 - REVELAÇÃO E ESCRITURA I. A REVELAÇÃO DE DEUS............................................................. 15 A. Conceito e Necessidade da Revelação........................................ 15 B. Revelação Geral...................................................................... 16 C. Revelação Especial.................................................................. 20 II. AS ESCRITURAS......................................................................... 25 A. A Formação da Bíblia. ............................................................ 25 B. A Inspiração das Escrituras...................................................... 27 C. A Inerrância das Escrituras...................................................... 34 D. A Autoridade das Escrituras. ................................................... 39
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3 - DEUS I. A CRENÇA NA EXISTÊNCIA DE DEUS. ....................................... 43 A. A Crença, um Fenômeno Universal.......................................... 43 B. Argumentos Racionais da Existência de Deus............................. 44 C. A Existência de Deus na Bíblia. ................................................ 47 D. Posições Divergentes Acerca de Deus........................................ 47 II. A NATUREZA DE DEUS. ............................................................ 49 A. Podemos Conhecer o Ser de Deus?........................................... 49 B. Transcendência e Imanência de Deus........................................ 50 C. A Ideia Cristã de Deus............................................................. 52 III. OS ATRIBUTOS DE DEUS.......................................................... 53 A. Conceito e Classificação dos Atributos. ..................................... 53 B. Atributos Naturais de Deus...................................................... 54 C. Atributos Morais de Deus........................................................ 60 4 - A TRINDADE I. A DOUTRINA DA TRINDADE NA HISTÓRIA.............................. 67 A. Antes da Reforma................................................................... 68 B. Depois da Reforma................................................................. 69 II. A TRINDADE NAS ESCRITURAS. ............................................... 70 A. O Monoteísmo Bíblico............................................................ 70 B. Indícios da Trindade no Antigo Testamento............................... 70 C. A Trindade no Novo Testamento............................................. 73 III. INTERPRETAÇÃO DA DOUTRINA. .......................................... 77 A. Interpretações Inadequadas..................................................... 77 B. Considerações Importantes...................................................... 78 5 - AS OBRAS DE DEUS I. OS PLANOS DE DEUS.................................................................. 83 A. Conceito............................................................................... 83 B. Base Bíblica............................................................................ 85 C. Características dos Planos de Deus............................................ 87 D. Os Planos de Deus e a Liberdade Humana................................. 88
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II. A CRIAÇÃO................................................................................ 90 A. Base Bíblica da Criação. .......................................................... 91 B. O Princípio da Criação............................................................ 92 C. A Criação dos Seis Dias........................................................... 93 D. O Propósito da Criação........................................................... 98 E. Teorias Divergentes a Respeito da Criação. ............................... 101 F. Implicações da Doutrina da Criação........................................ 103 III. A PROVIDÊNCIA DIVINA....................................................... 104 A. A Preservação da Criação...................................................... 105 B. O Governo de Deus. ............................................................. 106 C. O Problema do Mal............................................................... 110 6 - OS ANJOS I. EXISTÊNCIA E NATUREZA DOS ANJOS..................................... 115 A. A Crença na Existência dos Anjos............................................ 116 B. A Natureza dos Anjos. ........................................................... 116 II. ORGANIZAÇÃO DE SERVIÇOS DOS ANJOS.............................. 119 A. Ordem dos Anjos.................................................................. 119 B. Serviço dos Anjos. ................................................................. 121 III. OS ANJOS MAUS...................................................................... 122 A. A Queda dos Anjos. .............................................................. 122 B. Os Demônios na Bíblia........................................................... 125 C. As Atividades dos Demônios. .................................................126 7 - O HOMEM. ...................................................................................129 I. A ORIGEM DO HOMEM............................................................ 130 A. A Narrativa Bíblica............................................................... 130 B. Questões Relativas à Origem do Homem. ................................. 132 C. Teorias Divergentes Acerca da Origem do Homem.................... 135 D. A Unidade da Raça Humana. ................................................. 137 E. A Origem da Alma................................................................. 139
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II. A NATUREZA CONSTITUTIVA DO SER HUMANO.................. 140 A. A Explicação Tricotomista...................................................... 141 B. A Explicação Dicotomista.......................................................142 C. A Pessoa Humana como Unidade. .......................................... 145 III. A IMAGEM DE DEUS NO HOMEM........................................... 145 A. A Questão na História............................................................146 B. Base Bíblica da Imagem de Deus..............................................146 C. Aspectos da Imagem de Deus.................................................. 147 8 - O PECADO.................................................................................... 151 I. A NATUREZA DO PECADO........................................................ 151 A. Terminologia........................................................................ 151 B. Conceito de Pecado. .............................................................. 152 II. ORIGEM E CONSEQUÊNCIAS DO PECADO.............................. 155 A. Queda da Humanidade no Pecado........................................... 155 B. As Consequências do Pecado. .................................................158 III. A TRANSMISSÃO DO PECADO................................................ 161 A. A Universalidade do Pecado. .................................................. 161 B. Entendimentos que Negam a Herança do Pecado. .....................162 C. Entendimentos que Afirmam a Herança do Pecado. ..................164 9 - CRISTO......................................................................................... 167 I. PREPARAÇÃO DO MUNDO PARA A VINDA DE CRISTO. .......... 167 A. A Preparação na História de Israel.......................................... 168 B. A Preparação entre as Nações ................................................. 170 II. CRISTOLOGIA NA HISTÓRIA. .................................................. 172 A. Correntes Cristológicas nos Primeiros Séculos........................... 172 B. A Conclusão de Calcedônia..................................................... 175 C. De Calcedônia até Hoje.......................................................... 176 III. A NATUREZA DE CRISTO........................................................ 177 A. A Natureza Divina.. ............................................................... 177 B. A Natureza Humana.............................................................. 178 C. A União das Duas Naturezas em Cristo.................................... 181
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IV. OS ESTADOS E OS OFÍCIOS DE CRISTO.................................. 186 A. Os Estados de Cristo............................................................. 186 B. Os Ofícios de Cristo............................................................... 193 V. A EXPIAÇÃO DE CRISTO. ........................................................ 198 A. A Necessidade da Expiação.................................................... 198 B. O Significado da Morte de Cristo.............................................199 C. Temas Básicos da Expiação.................................................... 203 10 - SALVAÇÃO................................................................................ 207 I. O FUNDAMENTO DA SALVAÇÃO............................................ 207 A. A Graça de Deus.................................................................. 207 B. A Eleição Divina................................................................... 208 C. O Chamado de Deus..............................................................214 II. A NATUREZA DA SALVAÇÃO. .................................................216 A. O Significado da Salvação.......................................................216 B. Os Estágios da Salvação......................................................... 218 III. O COMEÇO DA SALVAÇÃO. .................................................. 220 A. Conversão (Arrependimento e Fé).......................................... 220 B. União com Cristo................................................................. 223 C. Regeneração........................................................................ 225 D. Justificação.......................................................................... 227 E. Adoção. .............................................................................. 229 IV. DESENVOLVIMENTO DA SALVAÇÃO.................................... 230 A. Santificação . ....................................................................... 230 B. A Perseverança dos Salvos. .................................................... 233 V. A CONSUMAÇÃO DA SALVAÇÃO........................................... 236 A. Redenção do Corpo.............................................................. 237 B. Nova Habitação.................................................................... 237 C. Vida de Glória no Reino de Deus............................................ 238
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11 - ESPÍRITO SANTO........................................................................241 I. NATUREZA DO ESPÍRITO SANTO..............................................241 A. Terminologia....................................................................... 242 B. O Espírito Santo, um Ser Pessoal............................................. 243 C. O Espírito Santo, um Ser Divino............................................. 244 II. ETAPAS NO MINISTÉRIO DO ESPÍRITO SANTO...................... 244 A. No Antigo Testamento. ........................................................ 244 B. Nos Evangelhos.................................................................... 246 C. Em Atos e Epístolas.............................................................. 246 III. BATISMO E PLENITUDE NO ESPÍRITO SANTO....................... 249 A. O Batismo no Espírito Santo.................................................. 249 B. A Plenitude do Espírito Santo................................................. 255 IV. A OBRA DO ESPÍRITO SANTO NA VIDA CRISTÃ.................... 259 A. No Início da Vida Cristã........................................................ 259 B. Na Continuação da Vida Cristã. ..............................................261 V. OS DONS ESPIRITUAIS.. ........................................................... 262 A. Dons e Talentos................................................................... 262 B. Os Dons na Bíblia................................................................. 263 12 - IGREJA........................................................................................ 271 I. A NATUREZA DA IGREJA........................................................... 271 A. O Sentido do Termo “Igreja”. ................................................ 272 B. Nomes Bíblicos da Igreja. ...................................................... 279 II. A IDENTIDADE DA IGREJA. .................................................... 286 A. Marcas da Verdadeira Igreja. ................................................. 286 B. Igreja, Israel e o Reino de Deus............................................... 292 III. FUNDAÇÃO E ORGANIZAÇÃO DA IGREJA............................ 297 A. A Fundação da Igreja............................................................ 297 B. A Organização da Igreja. ....................................................... 299 C. Filiação e Desfiliação na Igreja................................................ 303 D. As Funções da Igreja............................................................. 306
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IV. OFICIAIS E GOVERNO DA IGREJA........................................... 315 A. Oficiais da Igreja. .................................................................. 315 B. Governo da Igreja................................................................. 322 C. Disciplina da Igreja............................................................... 325 V. AS ORDENANÇAS DA IGREJA. ................................................ 330 A. Conceito de Ordenanças. ...................................................... 330 B. Batismo................................................................................ 331 C. Ceia do Senhor. ................................................................... 335 VI. DESAFIOS E DESTINO DA IGREJA. ......................................... 338 A. Desafios da Igreja................................................................. 339 B. Destino da Igreja. ................................................................. 343 13 - AS ÚLTIMAS COISAS. ................................................................ 345 I. INTRODUÇÃO.......................................................................... 345 A. Conceito de Escatologia. ....................................................... 345 B. Lugar e Propósito da Escatologia............................................. 346 C. Dimensões da Escatologia...................................................... 348 D. Destaques na História da Escatologia...................................... 350 II. ESCATOLOGIA INDIVIDUAL................................................... 355 A. Morte Física. ....................................................................... 355 B. A Vida Após a Morte. ........................................................... 359 C. O Estado Intermediário......................................................... 364 III. A SEGUNDA VINDA DE CRISTO............................................. 370 A. Promessa e Natureza da Segunda Vinda................................... 371 B. Os Sinais dos Tempos. .......................................................... 372 C. O Propósito da Segunda Vinda. ............................................. 375 D. Atitudes Corretas em Face da Segunda Vinda. ......................... 376 IV. A QUESTÃO DO MILÊNIO.......................................................377 A. O Pré-milenismo. ................................................................ 378 B.O Pós-milenismo. ................................................................. 381 C. O Amilenismo..................................................................... 383
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V. RESSURREIÇÃO E JULGAMENTO FINAL................................. 386 A. Ressurreição do Corpo.......................................................... 386 B. O Julgamento Final................................................................ 391 VI. OS ESTADOS FINAIS............................................................... 397 A. O Estado Final dos Ímpios..................................................... 397 B. O Estado Final dos Salvos. ..................................................... 400 BIBLIOGRAFIA. ............................................................................... 405
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Capítulo 1
INTRODUÇÃO
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em-vindo ao estudo da teologia. Estudar teologia significa buscar conhecimento logicamente ordenado acerca de Deus e seus desígnios. É uma tarefa que demanda esforço e persistência, mas o resultado é compensador. O profeta Oséias apelou ao povo de Israel para que buscassem continuamente o conhecimento de Deus, e fez menção dos benefícios que receberiam: “Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor; como o sol nascente, a sua vinda é certa; ele virá a nós como a chuva, como a primeira chuva que rega a terra” (Os 6.3). Através do profeta Jeremias, Deus afirma que a maior glória para o ser humano é entendê-lo e conhecê-lo: “Assim diz o Senhor: Não se glorie o sábio na sua sabedoria, nem o forte na sua força, nem o rico nas suas riquezas. Mas quem se gloriar, glorie-se nisto: em me entender e me conhecer, pois eu sou o Senhor, que pratico a fidelidade, o direito e a justiça na terra, porque me agrado dessas coisas” (Jr 9.23,24). Jesus Cristo declarou que o conhecimento de Deus significa vida eterna. “E a vida eterna é esta: que conheçam a ti, o único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, que enviaste” (Jo 17.3). Nas passagens acima citadas, temos a indicação da importância do conhecimento de Deus. Naturalmente, não se trata de um mero saber a respeito de Deus, mas sim de um conhecimento que envolve vivência pessoal com ele. É com esta convicção e com esta perspectiva que estudamos teologia.
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I. O que é Teologia Muitos têm uma concepção um tanto negativa de teologia. Argumentam que o que importa para o cristão é a fé, a vida prática, o serviço cristão. Sem dúvida, esta é uma ideia equivocada de teologia e da própria vida cristã. Precisamos, portanto, primeiro esclarecer o que é teologia, para depois tratarmos do seu conteúdo.
A. Definição A palavra “teologia” vem do grego (theós, Deus, e logos, palavra, assunto, tratado), e significa, literalmente, tratado ou palavra acerca de Deus. Mas não basta saber apenas o sentido etimológico da palavra; precisamos entender o que realmente significa teologia. Seguem duas definições para serem consideradas. A primeira é de Strong, uma definição clássica e sucinta, que diz: “Teologia é a ciência de Deus e das relações entre Deus e o universo”.1 A outra é de Millard Erickson, para quem teologia “é o estudo, a análise e a declaração cuidadosa e sistemática da doutrina cristã”.2 Vamos considerar três aspectos dessas definições. 1. A teologia como ciência. A palavra “ciência”, empregada na teologia por Strong e por outros, não tem o mesmo sentido de quando é usada para as ciências naturais, como a física e a biologia, por exemplo. Na teologia, a palavra “ciência” tem sentido mais amplo, assim como é usada para as ciências humanas, como a psicologia, a sociologia, a história, e outras, querendo indicar conhecimento adquirido mediante critérios que asseguram a validade de tal conhecimento. Neste sentido se diz que teologia é ciência. Clodovis Boff argumenta que o que a teologia tem em comum com outras ciências é o modelo formal, caracterizado pelos seguintes traços: criticidade, sistematicidade e dinamicidade. Ou seja, a teologia é um saber crítico, que procura criar um corpo de saber unificado, e que tende sempre a crescer, tanto em extensão quanto em compreensão.3 STRONG, A. H. Teologia sistemática. São Paulo: Hgnos, 2007, v.1, p. 29. ERICKSON, Millard J. Introdução à teologia sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2007, p. 16. 3 BOFF, Clodovis. Teoria do método teológico. Petrópolis: Vozes, 1999, p. 90-96. 1 2
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Introdução | 3
Millard J. Erickson identifica quatro critérios tradicionais do conhecimento científico que precisam estar presentes na teologia para que esta seja considerada ciência. São eles: 1) objeto definido de estudo; 2) método para investigar o objeto em questão e para verificar suas declarações; 3) objetividade, no sentido de que o estudo lida com fenômenos externos à experiência imediata do pesquisador, sendo, portanto, acessível à investigação de outros; e 4) coerência entre as proposições do objeto em questão, de modo que o conteúdo forme um corpo definido de conhecimento, não uma série de fatos desconexos.4 Portanto, teologia é ciência na mediada em que ela representa um conhecimento adquirido mediante critérios utilizados em estudos científicos e que, por isto, ela tem as características do saber científico. Entretanto, a teologia é também uma reflexão que depende da fé, isto é, de se crer naquilo que está testemunhado nas Escrituras. Porém, não se trata de uma fé cega, destituída de fundamentos racionais, sem qualquer comprovação. Ao contrário, a fé cristã é nutrida com as verdades reveladas e testemunhas nas Escrituras, verdades que são comprovadas em parte pelo crente em sua experiência de vida (Hb 11.1), e são explicitadas, racionalmente, de maneira ordenada e convincente na teologia. Portanto, teologia é a fé cristã vivenciada levada a conceitos. 2. O campo de estudo da teologia. A teologia se ocupa de Deus e suas relações com o universo. Ela não trata apenas de Deus em si, mas também de suas obras e seus desígnios, podendo abranger toda e qualquer realidade, desde que esta seja considerada na perspectiva de Deus e seus desígnios. Contudo, o assunto principal da teologia, como bem expressou Karl Barth, é “Deus na história de suas ações”.5 Pannenberg também ressalta Deus como o assunto principal e centralizador da teologia ao afirmar que na histórica do pensamento cristão “Deus é o ponto de referência unificador de todos os objetos e temas que são tratados na teologia, e neste sentido, então, ele é naturalmente o objeto da teologia em si”.6
ERICKSON, Millard J. Op. cit., p. 18. BARTH, K. Introdução a teologia evangélica. São Leopoldo: Sinodal, 1981, p. 8. 6 PANNENBERG, W. Teologia sistemática. São Paulo: Academia Cristã/Paulus, 2009, v. 1, p. 30.
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3. O tipo de estudo. Conforme já foi citado nas palavras de Erickson, teologia “é o estudo, a análise e a declaração cuidadosa e sistemática da doutrina cristã”. Por doutrina cristã entende “a declaração das crenças mais fundamentais do cristão”.7 Portanto, não é qualquer estudo sobre Deus que pode ser chamado de teologia. Para ser teologia, o estudo deve envolver a análise e a declaração cuidadosa e unificada daquilo que a Escritura como um todo ensina sobre os tópicos fundamentais da fé cristã. Concluímos dizendo que teologia é um estudo criterioso acerca de Deus e suas relações com o mundo, envolvendo análise e declaração cuidadosas das verdades mais fundamentais do cristianismo, formando um todo ordenado e consistente. Para ser relevante, a teologia deve ser exprimida no idioma contemporâneo, no contexto da cultura geral e relacionada com a maneira de viver do homem. Daí o seu caráter dinâmico na sua forma de expressão e na sua aplicação. A verdade é a mesma que foi revelada nas Escrituras, mas a aplicação dela pode variar no tempo e no espaço, dependendo em parte da cultura de cada povo e do seu momento histórico.
B. Distinção entre Teologia e Estudos Afins Para melhor compreensão do que é teologia, vamos ainda observar a distinção que há entre a teologia e algumas disciplinas que têm estreita relação com ela. 1. Teologia e religião. A palavra religião vem de religare8 (ligar de novo), com o significado de religar o homem a Deus. Em sentido amplo, o termo religião é usado para expressar a crença na existência de um poder ou princípio sobrenatural do qual depende o ser humano e ao qual se deve respeito e obediência. Em outras palavras, religião designa a vida do homem nas suas relações com o poder soberano e sobrenatural do universo. A religião baseia-se em diferentes conceitos da realidade sobrenatural e assume formas distintas que materializam a religião na vida prática de cada grupo social.
ERICKSON, M. Op. cit., p. 15. Alguns entendem que a palavra religião se origina de relegere (considerar, rever, retomar o caminho). Mas o mais provável é que ela venha de religare.
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A religião cristã tem seu fundamento na revelação especial de Deus encontrada nas Escrituras, e por isto suas ideias acerca da divindade e seus desígnios são mais desenvolvidos, bem como a maneira do homem relacionar-se com a realidade sobrenatural. Strong expõe que, na perspectiva cristã, “Religião, em sua ideia essencial, é vida em Deus, vivida no reconhecimento de Deus, em comunhão com Deus e sob o controle do Espírito de Deus, que habita o homem”.9 A teologia está intimamente relacionada com a religião, mas dela se distingue. A teologia ocupa-se em entender e explicar o conteúdo doutrinal da religião, aquilo que se crê e se pratica. A relação da teologia com a religião é semelhante a que há entre a botânica e a vida das plantas: a botânica estuda a vida das plantas, mas é distinta dela. Ou como a astronomia que trata do universo sideral e dos corpos celestes, mas não se confunde com o universo nem com os corpos celestes. Portanto, a teologia estuda e expõe de modo coerente as verdades que o ser humano procura vivenciar e expressar em atitudes e ações religiosas, mas não se confunde com a religião. A teologia surge da necessidade de se explicar o que se crê na religião. Primeiro vem a religião, depois a teologia. Esta ilumina racionalmente aquela e a fortalece com sua fundamentação lógica. 2. Teologia e apologética. A apologética ocupa-se com a defesa racional das verdades cristãs. Ela pode ser definida como “um discurso sistemático e argumentativo na defesa da origem e da autoridade da fé cristã”.10 O propósito da apologética é justificar a religião cristã diante das ideias contrárias e provar sua veracidade. Para isto, ela inclui tanto argumentos positivos em defesa do cristianismo quanto rebate as críticas levantadas contra a fé cristã. O propósito da teologia é outro: conhecer e expor o conteúdo e o significado da fé cristã para fins práticos. A teologia até pode incluir argumentos apologéticos, isto é, defender sua posição frente a ideias contrárias, mas este não é o seu papel principal.
STRONG, A. H. Op. cit., 2997, v. 1, p. 61. HOOVER, A. J. In: Enciclopédia histórico-teológica da igreja cristã. São Paulo: Edições Vida Nova, v. 1, 1988, p. 99.
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3. Teologia e filosofia da religião. A filosofia da religião investiga, com métodos próprios, os aspectos mais gerais do fenômeno religioso. Trata de problemas como a origem, a natureza e a função da religião na vida do homem. Procura descobrir a verdade e o valor da interpretação religiosa no mundo. Quanto à teologia, a sua maior consideração é com os aspectos práticos da religião na vida, e busca interpretar o cristianismo mais em minúcias, abrangendo todo o conteúdo doutrinal da religião, com base nas Escrituras. 4. Teologia e ética cristã. A ética cristã investiga as obrigações morais do homem à luz da revelação bíblica. Em outras palavras, trata do conjunto de princípios e valores fundamentados na revelação cristã que permitem ao indivíduo orientar sua conduta no mundo.11 Ela expõe o significado do cristianismo para a vida moral do homem. Na teologia muitas vezes observamos o efeito ético de uma doutrina, mas este não é o único objetivo, e nem sempre o principal interesse imediato ao considerar-se uma doutrina. Portanto, a teologia está bem relacionada com todas essas disciplinas, mas delas se distingue essencialmente; e devemos lembrar essas distinções.
II. A IMPORTÂNCIA DO ESTUDO DA TEOLOGIA Qual a importância do estudo da teologia? Que diferença ela faz na vida do cristão e da igreja? Por que fazer um curso de teologia, como este? Na verdade, o estudo da teologia é muito importante, mas nem todos pensam assim.
A. Negação da Importância da Teologia Muitas vezes tem-se negado a importância do estudo da doutrina cristã ou da teologia, alegando-se que o que importa é a vida com Deus, a experiência ou a fé. Quais os motivos que levam a essa atitude negativa em relação ao estudo da teologia? Algumas razões podem ser apontadas aqui. ERICKSON, Millard J. Conciso dicionário de teologia cristã. Rio de Janeiro: JUERP, 1995, p. 62.
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Primeiro, a ênfase exagerada na doutrina em contraposição ao cuidado com o caráter cristão, evangelização e serviço social, que por vezes tem-se verificado na história da igreja. Naturalmente, a teologia não pode ignorar ou substituir a vida prática do cristão. Antes, o seu propósito é fundamentar intelectualmente a fé para que o cristão possa desenvolver a sua vida espiritual e ter uma atuação mais eficaz no mundo, nos diversos contextos culturais. Uma segunda razão para o desprezo da teologia é o dogmatismo sobre vários aspectos da religião, resultando daí atritos, divisão, confusão doutrinária e desinteresse pela doutrina, preferindo-se, então, os aspectos práticos da vida cristã. Entretanto, entre os teólogos que tomam as Escrituras como autoridade final para a sua elaboração teológica, em geral, não há grandes divergências, senão em aspectos de pouca importância para a fé e a vida com Deus. Nestes casos, é preciso respeitar o princípio da livre interpretação das Escrituras, manter a unidade do corpo de Cristo, sem, contudo, transigir com a verdade básica claramente ensinada na Palavra de Deus. Um terceiro motivo para o desinteresse pela teologia, e talvez o principal, é a falta de conhecimento do que seja a teologia ou doutrina, quais os seus objetivos e efeitos na vida do cristão. É preciso que se entenda que a fé cristã baseia-se em verdades ensinadas na Bíblia, quer dizer, em doutrinas (Rm 6.17), e que conhecer melhor as verdades bíblicas é imprescindível para a firmeza e o desenvolvimento da vida com Deus. Portanto, não se justifica a negação da importância do estudo da teologia. Ao contrário, conhecer teologia é de grande valor.
B. Razões da Importância da Teologia Há fundadas razões para o estudo da teologia. Destacamos aqui seis motivos, embora não sejam os únicos. Primeiro, a teologia ajuda o crente no conhecimento de Deus. O alvo de todo o cristão deve ser ficar cheio do pleno conhecimento de Deus e sua vontade, para que possa viver de maneira digna do Senhor, agradando-lhe em tudo, frutificando em toda a boa obra, fortalecido com todo o vigor (Cl 1.9-10). A teologia é a explicação coerente do conteúdo e do significado do que Deus revelou de si mesmo e de seus propósitos. Logo, o estudo da teologia ajuda o crente no conhecimento de Deus e, por conseguinte, no desenvolvimento da vida cristã. Pedro saúda seus leitores dizendo: “graça e paz vos sejam multiplicadas pelo pleno conhecimento de Deus e de Jesus nosso Senhor” (2Pe 1.2). O crescimento na graça de Deus, ou o desenvolvimento da vida espiritual está atrelado ao pleno conhecimento de Deus.
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Segundo, a teologia satisfaz a mente humana. É da natureza do ser humano querer entender aquilo que ele crê ser de relevância vital, como é o caso da religião. Se a teologia é a sistematização dos princípios, das doutrinas, das verdades básicas da religião que professamos, então, ela é indispensável para que tenhamos um conhecimento técnico e teórico daquilo que aceitamos e reputamos como sendo de absoluto valor para a existência. Não podemos separar os aspectos práticos da vida cristã dos aspectos teóricos. A vida humana requer esse lastro teórico em que repousa nossa atitude e ação. Terceiro, o estudo da teologia é uma expressão de amor e obediência a Deus. Nosso dever é amar a Deus “de todo o coração, de toda a alma e de todo o entendimento” (Mt 22.37). No estudo da teologia nós expressamos um pouco desse amor todo envolvente a Deus. Bruce Milne diz que “o estudo da doutrina é uma expressão de amor ao Senhor através de nossas mentes”.12 Cristo manda que ensinemos os crentes a “obedecer a todas as coisas” que ele ordenou (Mt 28.20), e isto demanda estudo, compreensão e exposição da Palavra de Deus: teologia, portanto. Quarto, a teologia contribui para a pureza e defesa do cristianismo. Na sua caminhada histórica, o cristianismo está sujeito a ataques e contaminações de superstições, imoralidades, pensamentos filosóficos, científicos ou religiosos que lhe são contrários. Uma teologia bem fundamentada na Bíblia é necessária para combater esses ataques e preservar a verdade cristã. O cristão tem o dever de denunciar o falso ensino e defender a verdade (1Tm 1.3,4; 3.15; Hb13.9; 2Jo 9,10). Quinto, a teologia auxilia na propagação do evangelho. Para se propagar o evangelho na sua inteireza é necessário ter alguma compreensão inteligente do seu conteúdo e significado e ser capaz de dar uma explicação inteligível da verdade a outrem. Sem uma base doutrinária segura e firme, um lastro teológico bem fundado, a igreja perde sua capacidade militante. A teologia é uma arma poderosa no ministério (Tt 1.9). Lloyd Jones afirma que “não há nada mais importante para um pregador do que ter uma teologia sistemática, conhecê-la e ser bem versado nela”, e que “Cada mensagem que brota de um texto em particular ou de uma afirmativa das Escrituras, deve ser sempre uma parte ou aspecto desse corpo total de verdade”.13 MILNE, Bruce. Conheça a verdade. São Paulo: ABU, 1987, p. 11. Citado por Paulo Anglada. Sola Scriptura – a doutrina reformada das Escrituras. São Paulo: Editora Puritanos, 1998, p.136.
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Sexto, a teologia fundamenta a prática cristã. A doutrina é o conteúdo da fé e a base de toda a prática cristã. Em suas epístolas, o apóstolo Paulo, normalmente, antes de apelar para a prática da fé, oferece primeiro uma explicação doutrinária da verdade. O autor de Hebreus também intercala várias sessões de encorajamento e exortação após cada longa exposição doutrinária. A exposição da verdade (teologia) fundamenta e encoraja a prática da fé. Quanto mais conhecemos a verdade, tanto mais entusiasmo vamos ter por ela, e mais comprometidos com ela ficamos. Portanto, é aconselhável que antes de apelarmos para a prática cristã, se mostre primeiro a razão dessa prática. Em suma, “a teologia faz parte da essência do cristianismo”.14 Todo cristão precisa da teologia. Quanto melhor compreendermos os ensinamentos da Palavra de Deus e nos firmarmos neles, tanto mais base teremos para edificar a nossa vida espiritual e cumprir a nossa missão no mundo. Os que são chamados por Deus para serem líderes do seu povo, têm ainda mais necessidade de conhecer bem a teologia cristã, e serão os primeiros a gozar do fruto de tal conhecimento. Portanto, com esse entendimento, isto é, convencidos de que o estudo da teologia é de vital importância para o cristão, em particular, e para a humanidade, de modo geral, prossigamos nesta introdução, olhando agora para as partes da teologia e os métodos apropriados para o estudo.
III. DIVISÃO E MÉTODOS DA TEOLOGIA A. Divisão da Teologia A teologia cristã comporta quatro divisões ou ramos: teologia bíblica, teologia histórica, teologia sistemática e teologia prática. Embora esses ramos estejam relacionados entre si, contudo, eles constituem disciplinas distintas. 1. Teologia bíblica. Teologia bíblica é a parte da teologia que se ocupa com a exposição do conteúdo dos ensinos dos autores bíblicos. Sua “preocupação é estudar cada segmento das Escrituras individualmente, especialmente quanto ao seu lugar na história da revelação progressiva de Deus”.15 As principais CULVER, Robert D. Teologia sistemática, bíblica e histórica. São Paulo: Shedd Publicações, 2012, p. 24. 15 CARSON, D. A. Teologia bíblica ou teologia sistemática? São Paulo: Vida Nova, 2001, p. 22. 14
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divisões da teologia bíblica são teologia do Antigo Testamento e teologia do Novo Testamento. A teologia do Antigo Testamento pode ser subdividida em teologia do Pentateuco, teologia dos Salmos, teologia dos profetas, etc.. A teologia do Novo Testamento pode ser subdividida em teologia dos sinóticos, teologia de João, de Paulo, e outras. Pode-se ter a teologia de cada um dos autores da Bíblia. 2. Teologia histórica. Teologia histórica é o estudo do desenvolvimento doutrinário no curso da história da igreja, enfocando as origens, o progresso e as correntes doutrinárias. A teologia histórica está relacionada com a evolução do pensamento cristão. A importância de semelhante estudo para a completa compreensão da fé que hoje confessamos jamais poderá ser exagerada, porque o cristianismo é uma religião histórica. A teologia histórica pode ser dividida em teologia patrística, teologia medieval, teologia dos reformadores, teologia contemporânea, e outras teologias mais recentes. 3. Teologia sistemática. A teologia sistemática pode ser definida como “a apresentação ordenada e harmônica das verdades teológicas a fim de alcançar a unidade e a totalidade”.16 Ou, “a formulação e explicação das doutrinas do cristianismo”.17 Enfim, a teologia sistemática é a apresentação das verdades mais fundamentais do cristianismo, formando um todo harmonioso e consistente. A teologia sistemática às vezes é chamada de dogmática. Isto ocorre quando o sistema doutrinário é baseado num credo ou credos adotados por alguns grupos de cristãos. Quer dizer, teologia dogmática designa o estudo e a sistematização do conteúdo dos credos, dos símbolos e das confissões de fé que o cristianismo tem produzido em diversos momentos de sua história. Em toda e qualquer teologia sistemática há um caráter dogmático que reflete o modo de crer do teólogo ou de sua denominação. Por isto que a teologia sistemática não é completamente uniforme e homogênea. Os autores diferem em alguns aspectos, porque há pontos doutrinários que os teólogos sustentam de modo diferente. Contudo, nos aspectos mais básicos e essências da doutrina cristã, pouca divergência há entre aqueles que têm a Escritura como fonte suprema de teologia. MULLINS, Edgar Young. A religião cristã na sua expressão doutrinária. São Paulo: Hagnos, 2005, p. 18. 17 CULVER, Robert D. Op. cit. p. 47. 16
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4. Teologia prática. A teologia prática cuida da aplicação prática das verdades tratadas noutros ramos da teologia, especialmente na teologia sistemática, objetivando uma vida espiritual mais profunda. A teologia prática nos orienta como viver, como orar, como pregar, como evangelizar. Ela trata da aplicação das doutrinas na vida dos cristãos e da igreja. Inclui disciplina como teologia pastoral, teologia do evangelismo, teologia da educação cristã, teologia do culto cristão, e outras. Nosso estudo aqui é de teologia sistemática. Mas também faremos referência a aspectos da teologia histórica, bíblica e prática. As divisões acima são da teologia fundamentada nas Escrituras, chamada por alguns de teologia revelada. Mas há também a teologia natural, a que é baseada na revelação natural, quer dizer, na revelação divina dada através da natureza e na consciência humana. É a teologia própria da filosofia. Os teólogos discutem se é possível ou até que ponto se pode elaborar uma teologia com base somente na revelação natural. Sobre isto podemos dizer que a Bíblia fala de um conhecimento dado por Deus aos homens através das coisas criadas (Rm 1.19,20) e da providência divina (At 14.17), e que o ser humano tem em sua consciência algo da lei moral de Deus (Rm 2.14,15), independentemente da revelação bíblica. Contudo, é preciso ressaltar que a revelação natural, isto é, dada por meio da natureza, não é completa, pois não fala da redenção e pouco diz do caráter de Deus. E também, que o ser humano está afetado pelo pecado em sua natureza, e por causa dessa condição moral e espiritual, ele é incapaz de compreender adequadamente a revelação natural de Deus; e mesmo aquilo que ele compreende, não pratica como convém, antes, desvia-se e faz para si deuses segundo a sua imaginação (Rm 1.21-23). Por esta razão, Deus se deu a conhecer de modo especial através dos profetas e de Jesus Cristo. Assim, a única teologia válida possível é a que tem como fonte primária a Escritura.
B. Métodos da Teologia Método é a maneira de se fazer algo. Em relação à teologia, método é o modo como é feita a investigação para que se obtenha um conhecimento seguro e certo da realidade estudada. Há vários métodos que são utilizados no estudo teológico. Cada um deles determina a natureza do sistema daquela
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teologia. Daí a importância de se adotar um método que conduza a uma teologia válida do ponto de vista bíblico. Vamos ver os principais métodos e por ultimo, um procedimento básico. 1. Os principais métodos. a) Método dedutivo. Este método deduz o sistema de princípios gerais aceitos a priori. Isto é, leva-se o sistema teológico a se acomodar a princípios filosóficos previamente aceitos. Por exemplo, se o teólogo aceita o deísmo, o panteísmo, o evolucionismo, ou o racionalismo como princípio filosófico, certamente os temas teológicos estudados serão interpretados em consonância com o princípio geral aceito. Esta é a razão de termos na historia teologias diversas que se afastaram da ortodoxia cristã. O método dedutivo pode ser usado, mas ele não é o principal, e as deduções devem ser tiradas de premissas corretas. b) Método místico. Alguns afirmam ter recebido revelações especiais de Deus, independentes das Escrituras, e com base nessas revelações têm elaborado suas teologias. Como exemplo da utilização desse método podemos citar Ellen G. White (adventista), Joseph Smith (mórmon), e até mesmo Kenneth Hagin (teologia da prosperidade). O místico depende mais de impressões internas ou subjetivas do que de autoridade e instruções externas. A experiência religiosa tem seu valor e é fundamental na teologia. Entretanto, a experiência com Deus deve ser entendida em conformidade com o ensino da Escritura. Não deve ir além, acrescentando algo novo, nem subtrair da Palavra o que é ensinado. Por exemplo, marcar o dia e a hora da volta de Jesus, como já tem sido feito por alguns, com base em alguma visão ou percepção pessoal, é contrariar o claro ensino da Palavra de Deus que diz que “quanto ao dia e à hora, ninguém sabe, nem os anjos do céu, nem o Filho, senão somente o Pai” (Mt 24.36). c) Método indutivo. Este método procura encontrar princípios gerais partindo de premissas ou dados particulares. Contrapõe-se ao método dedutivo. É usado nas ciências em geral. É o método mais adequado para o exame das Escrituras. Implica na coleção dos fatos bíblicos, sua classificação e estudo acurado do conteúdo e significado deles, determinando suas verdades fundamentais.
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2. Um procedimento básico18. Vamos agora apresentar alguns passos no estudo da teologia, relacionados com o método indutivo. Esses passos ajudam o estudante na elaboração de uma teologia bem fundamentada e contextualizada. São seis passos. a) Definir e esclarecer o problema ou a questão teológica a ser estudada, como, por exemplo, a Pessoa de Cristo, o Pecado, o Espírito Santo, a Salvação. b) Identificar as várias soluções do problema que foram sugeridas na história cristã. Isto ajuda a entender a questão nos diversos contextos históricos. c) Estudar a fonte da teologia cristã, a Bíblia, para determinar exatamente o que dizem os textos, e chegar a conclusões preliminares. d) Relacionar as conclusões preliminares com a revelação em geral e com as outras doutrinas já estabelecidas para concretizar a resposta teológica. e) Defender esta conclusão diante da oposição de outras ideias. f) Aplicar as conclusões teológicas às situações específicas da vida neste mundo. Há uma verdade divina, mas há muitas aplicações nos diferentes contextos e situações em que vive o ser humano. É preciso cuidar do método que vamos adotar, porque ele vai determinar aonde vamos chegar. Neste estudo, para os fins que temos em vista, vamos analisar os principais temas da fé cristã, servindo-nos dos melhores autores. Analisaremos os assuntos à luz da revelação bíblica, sem menosprezar as reflexões históricas, procurando explicitar as verdades de Deus para a vida hoje. Para tanto, é preciso ter a mente aberta para ouvir e questionar com o intuito de compreender melhor o que Deus revelou. Não podemos evitar completamente nossos pré-conceitos, mas podemos ter consciência deles e tentar não permitir que eles controlem nossa compreensão da verdade ensinada por Deus. Assim, sabendo já o que é teologia, sua importância e o melhor método para o estudo dela, vamos prosseguir tratando agora da fonte da teologia, isto é, a revelação bíblica. Segundo John Scott Horrell, esses passos foram elaborados por Gordon R. Lewis e Bruce A. Demarest, e constam na sua Apostila de teologia sistemática. FTBSP, 1990.
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Capítulo 2
REVELAÇÃO E ESCRITURAS
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imos na introdução o que é teologia, distinção entre ela e outros estudos afins, importância da teologia, divisão e método. Agora vamos considerar a fonte da teologia, que é a revelação de Deus nas Escrituras. Este assunto é de suma importância, pois trata de onde vamos extrair nosso conhecimento teológico. Precisamos estar bem seguros acerca da fonte do nosso entendimento.
I. A REVELAÇÃO DE DEUS A. Conceito e Necessidade da Revelação A palavra “revelação” significa desvendar o que está encoberto, tornar conhecido o que antes estava oculto. Na teologia, revelação é a manifestação que Deus faz de si mesmo e de seus propósitos aos seres humanos, dando-lhes o conhecimento dele e de sua vontade. A revelação inclui a compreensão por parte do ser humano daquilo que Deus manifesta. Se não houve compreensão, a revelação não se realizou. O que Deus revela é a si mesmo e a sua vontade, e não apenas algo acerca dele mesmo. Quer dizer, Deus se mostra presente na história e na vida de pessoas, age e manifesta seus desígnios e a sua vontade, para que essas pessoas o conheçam e vivam em comunhão com ele. A revelação é absolutamente necessária para que o homem conheça a Deus, porque Ele está acima dos pensamentos e das palavras do homem. Deus não integra a substância das coisas criadas. Ele transcende a criação,
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