Ultimato Josué - 5 razões para adorar

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Copyright©2018 por João Martimiano Filho Todos os direitos reservados por: A. D. Santos Editora Al. Júlia da Costa, 215 80410-070 Curitiba – Paraná – Brasil +55(41)3207-8585 www.adsantos.com.br editora@adsantos.com.br

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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP) Filho, João Martimiano.

Ultimato Josué: cinco razões para adorar ao que se assenta no trono / João Martimiano Filho – A.D. Santos Editora, Curitiba,

2018. 304 páginas. ISBN – 978.85.7459-492-0 1. Bíblia, Teologia

1ª Edição: Novembro / 2018. Proibida a reprodução total ou parcial, por quaisquer meios a não ser em citações breves, com indicação da fonte.

Edição e Distribuição:

CDD 220


Agradecimentos

Ao pastor André Correa pela dedicação, cuidado e apoio.

À Alcance Pinhais pela recepção calorosa e pela enorme diferença que vocês fazem na vida das pessoas que estão ao redor de vocês. Aos meus professores Gelci Colli pela orientação quando este livro era ainda um trabalho de conclusão de curso na faculdade de Teologia e a professora Gleyds Domingues pelas conversas sobre educação e cosmovisão. Ao meu amigo João Paulo S. Silva pelo investimento de tempo e pelo incentivo de sempre. Por ele eu já estaria no meu centésimo livro. Ao pastor Anderson Cruz da Alcance Curitiba pela disposição de sempre

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Dedicatória

Em memória de meu pai João Martimiano que completou com honra a missão de cuidar da sua família e de viver uma fé não fingida.

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Prefácio

Quando leio algum livro que me oferece reflexão e ensino, fico

impressionado com Deus por dar tamanha inspiração aos homens. Confesso também, como um leitor assíduo, que alguns livros que chegaram às minhas mãos não foram lidos, por não despertarem em mim interesse. Penso que, quando um livro é inspirado por Deus, ele nos atrai a leitura. Embora, algumas vezes, temos a identificação com o tema ou com o autor, devemos sempre visar a inspiração dada por Deus. Lembrando que todas as coisas me são lícitas, mas nem todas edificam!

Algumas pessoas julgam os livros pela capa, outras pelo título, mas a diferença de fato está no conteúdo. Nesse livro, João Filho de forma prática, nos mostra o significado da verdadeira adoração. O ser humano foi criado com um propósito: buscar e adorar ao único Deus verdadeiro! No mundo existem tantos deuses falsos, e é fato que precisamos reconhecer a quem devemos prestar adoração. O Deus verdadeiro busca os verdadeiros adoradores.

Agradeço ao amigo João, por escrever essas verdades. A todos, uma boa leitura. André Corrêa

Pastor na Comunidade Alcance Pinhais

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Prólogo

COMO COMEÇAR UM LIVRO? – O gato deitou sobre o tapete.

– O quê? – perguntei meio que sem entender o que Beatriz quis dizer. E ela com um sorriso maroto interrompeu a nossa caminhada matinal e apenas ria da minha confusão.

– Oras – ela prosseguiu – você me perguntou como deveria começar o seu livro não é mesmo? Então eu simplesmente joguei a pergunta: o que você acha de começar um livro com esta frase ‘o gato deitou sobre o tapete’. Agora eu gostaria que você me respondesse. – Bem. É uma frase sem graça.

– Exatamente. E por que acha isso?

Para ser sincero eu não sabia exatamente onde ela queria chegar com aquela pergunta, mas resolvi continuar – ‘O gato deitou sobre o tapete’. Essa frase não tem um conflito, ela não mexe com a imaginação e nem desperta a curiosidade.

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– Acertou na mosca! – Beatriz pareceu gostar da resposta. – Mas isso não é o pior – continuou ela. – O pior é que a frase não promove uma ação.

– Hum! E por que você acha que não provocar ação é o pior de tudo? – Meu Deus do céu, João! Ponha esta cabecinha para pensar– ela disse enquanto me dava dois cascudos na cabeça e retomava a caminhada. – você quer escrever um livro não é mesmo? Um livro que a pessoa leia e depois pense consigo mesma: ‘legal, esse livro até que é bom, não é um bom livro’. Um bom livro precisa deixar quem o lê inquieto. Ele deve incomodar e fazer a pessoa se remexer. O seu leitor precisa dizer: ‘E agora, o que eu faço com isso tudo?’ Acenei positivamente. Eu concordava com aquilo. – O livro trata de adoração, certo? – Certo.

– Então, dizer que todo ser humano é um adorador é a mesma coisa que dizer que o gato deitou sobre o tapete. A pessoa pensa ‘legal, grande coisa. Se todo mundo adora por que me incomodar? Isso é algo normal’. Esta frase não exige ação, nem tomada de atitude. Mas e se a gente mudar a minha frase sobre o gato e começar ela assim: ‘o gato deitou sobre o tapete do cachorro’? – parei um pouco para pensar e depois trouxe à tona a obviedade daquela frase para ela ouvir. parei um pouco para pensar e depois trouxe à tona a obviedade daquela frase

– Uau, Bia! Não sei se estou entendendo o que quer dizer, mas na minha cabeça este último detalhe fez toda a diferença. x

– Por que diz isso? – Ela jogou um olhar penetrante em minha direção. Um olhar que há muito eu já conhecia e queria dizer ‘isso, continue, quero ouvir o que tem para dizer’. Ela sempre colocava esta expressão no rosto quando estava diante de uma explicação


de um dos seus alunos. Bia era formada em letras e a literatura sempre foi a sua paixão. Por isso em matéria de como escrever um livro eu tinha “A” especialista para me ajudar. Tudo o que eu tinha que fazer era ouvir os seus conselhos e pôr em prática aquilo que ela me transmitia. E por isso mesmo tentei dar a maior atenção à sua pergunta:

– A frase fez diferença porque o gato agora não é só mais um gato. Ele é um gato abusado que veio para provocar um cachorro. Agora, sim. Isso mexe com a minha imaginação. Estou aqui pensando, será que era um cachorro bravo e grande ou era pequeno e assustado? Eles moravam na mesma casa? O que aconteceu depois que o dono do tapete veio tirar uma soneca? Eles brigaram ou o gato saiu em disparada? – As folhas à frente rodopiavam com o vento gelado do outono e minha imaginação rodopiava em sintonia com elas. Beatriz apenas se divertia com aquela conversa. – Se você quiser que leiam o seu livro até o fim e que ele ajude as pessoas a agirem você precisa tornar este livro algo mais pessoal. – E como eu faria isso?

– Bem, vamos ver. – Bia pensou um pouco – Você disse existem milhares de deuses por aí não é mesmo? – Certo.

– Então que tal colocarmos aí uma pergunta? Se de repente ao invés de você começar com a frase ‘todo ser humano é um adorador’ você começar o livro assim ‘Todo ser humano é um adorador. Qual deus você escolhe adorar?’ Acho que causaria mais impacto e também teria mais chances de levar uma pessoa a tomar uma decisão. – Uau! Falar com quem entende do assunto é outra coisa! – Ao falar pude ver as maçãs do seu rosto corarem – A pergunta teve o efeito de jogar a responsabilidade para cada pessoa de

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forma individual, não é mesmo? – Ela sorriu quando percebeu que entendi a ideia. – Gostei disso também, Bia. Vou começar o livro bem deste jeito que você propôs.

– Olha só! Que bom que pude ajudar. – Ela exclamou com um tom de satisfação na voz. – Não se esqueça de vir me mostrar ele quando estiver terminado, hein?

– Pode deixar. A gente volta a conversar sobre isso quando eu terminar – com um aceno ela deu a deixa para corrermos enquanto chamávamos o vento para sair volteando em nosso redor.

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Sumário

Agradecimentos_____________________________________iii Dedicatória_________________________________________ v Prefácio___________________________________________ vii Prólogo____________________________________________ ix 1a Parte – ADORAÇÃO E COSMOVISÃO_____________ 15 Ultimato Josué ____________________________________ 17 O Que é Adoração_________________________________ 37 Adorando Um e Rejeitando Outros____________________ 53 O Deus que Eu Sirvo Norteia a Minha Cosmovisão_______ 65 2a Parte – RAZÕES PARA ADORAR_________________ 79 Guerra de Cosmovisões e o Apocalipse de João __________ 81 Essência_________________________________________ 93 Criação_________________________________________ 119 Interlúdio: Queda_________________________________ 149

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Redenção_______________________________________ 157 Glorificação_____________________________________ 189 Governo________________________________________ 219 Amém__________________________________________ 245 3a Parte – SOBRE A VERDADE_____________________ 247 Pós-Modernismo__________________________________ 249 Evidências da verdade_______________________________ 267 Epílogo: O Que Fareis de Jesus Chamado O Cristo?_____ 289 Referências Bibliográficas____________________________ 299

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1a Parte

ADORAÇÃO E COSMOVISÃO “Agora, pois, temei ao Senhor, e servi-o com sinceridade e com verdade; e deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais além do rio e no Egito, e servi ao Senhor. Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor” ( Js 24.14-15).



Ultimato Josué

Todo ser humano é um adorador. E em meio a tantos milha-

res de deuses, qual deus você escolhe adorar?

As Escrituras apresentam no final do livro de Josué uma cena na qual os israelitas precisavam fazer uma escolha. Nela este experiente líder reúne toda a multidão e apresenta-lhes as razões pelas quais adoravam a Deus: a aliança feita com seus antepassados, a fidelidade e a provisão que até aquele mesmo dia tinha sido demonstrada a eles. Então, depois de relembrar esta aliança ele lhes cobra uma posição sobre qual deus iriam servir. “Agora, pois, temei ao Senhor, e servi-o com sinceridade e com verdade; e deitai fora os deuses aos quais serviram vossos pais além do rio e no Egito, e servi ao Senhor. Porém, se vos parece mal aos vossos olhos servir ao Senhor, escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais; porém eu e a minha casa serviremos ao Senhor” ( Js 24.14-15). Não é em vão que Josué escolhe servir ao Senhor. Existiam razões. E antes de chamá-los para um compromisso pessoal que é a pergunta feita no final do seu discurso, elas são apresentadas ( Js 24.1-13).

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Nem toda decisão é fácil de ser tomada. Algumas delas são cruciais e podem mudar toda a nossa vida. A decisão de deixar um emprego estável, para assumir outro que é instável, porém mais rentável, a pessoa com quem vamos casar, o nome para dar aos filhos, etc. Escolher a que deus servir é uma decisão que vai muito além do último suspiro de vida, é uma decisão para toda uma eternidade. Ela muda não só a sua vida, ela muda todo o seu futuro desde esta vida.

Ultimato Josué

Josué sabia disto e, por isso, não deixou que este compromisso pessoal fosse negligenciado. Josué dá um ultimato ao povo de Israel. Eles caminharam ao lado de Deus porque este mesmo Deus havia jurado aos seus antepassados que estaria com eles no Egito e lhes levaria de volta à Terra Prometida (Gn 46.4). Agora que a promessa havia sido cumprida eles precisavam escolher se Deus continuaria a ser o seu Senhor ou se eles escolheriam outro.

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Quando Josué diz “eu e a minha casa serviremos ao Senhor” não estava querendo impor nada à sua família. Ele não iria obrigar os seus filhos e nem a sua esposa a servirem ao seu Deus, mas ele iria instruí-los por meio das Escrituras. Josué era o discípulo mais próximo de Moisés, o legislador de Israel e havia aprendido bastante. Na lei encontrava-se o mandamento de se ensinar a palavra de Deus aos filhos dia após dia até que eles pudessem escolher também por si só. Era isso que Josué estava fazendo. Ele estava se comprometendo a ensinar a sua família sobre o verdadeiro Deus. Você também precisa fazer uma escolha. Não há ninguém que cedo ou tarde, consciente ou inconscientemente possa deixar de lado esta decisão. Mesmo quando alguém não se preocupa com este fato e resolve ignorá-lo está decidindo. Pergunte a qualquer casal. Quando um dos cônjuges resolve ficar em silêncio diante da fala do outro, ainda assim aquele que se aquietou deu uma resposta. Uma resposta que provavelmente será entendida pelo seu companheiro. O mundo hoje possui milhares de pessoas que se abstêm


de pensar sobre isso, no entanto elas estão decidindo. E uma decisão impensada provavelmente não seja a melhor decisão.

Um dia eu me deparei com esta pergunta e tive que fazer uma escolha. Aos sete anos de idade fui parar em uma igreja evangélica um tanto que arrastado pelos meus pais. Certo, não fui arrastado de forma literal é claro, mas não me deram muitas opções naquela época. Uma criança de sete anos não tem muita noção do que faz em um ambiente religioso se não for pela mediação de um adulto, mas fico contente de eles terem me levado a este lugar, pois aprendi um pouco sobre o “caminho que deveria andar”. Aos quinze anos, eu como muitos outros adolescentes que conheci nesta fase, resolvi sair da igreja. Eu não estava lá por uma decisão, estava lá por comodidade. Meus pais me levaram, fiz amigos e com o passar do tempo ir à igreja se tornou conveniente. Mas com um pouco mais de idade resolvi me aventurar por um mundo que até então era desconhecido para mim. Tinha as casas noturnas, a bebida em excesso, a bagunça. E neste período fui apresentado a diversos deuses. Tudo era novo e legal, porém eu queria mais. Eu não estava satisfeito com nada que experimentava. Aos dezenove anos voltei. Estava estudando para o concurso da ESA – Escola de Sargentos das Armas. Naquele ano eu estava cumprindo serviço obrigatório e fiquei fascinado com a possibilidade de continuar no quartel. Em casa estudando sozinho na sala comecei a imaginar o futuro e as possibilidades que as forças armadas poderiam trazer. Pensei comigo: “se eu passar neste concurso vou poder comprar meu carro, minha casa e cuidar da minha família”. Foi quando escutei uma voz: “busque em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e as demais coisas vos serão acrescentadas”. Fiquei perturbado. Que coisa estranha era aquela? Alguém me citou o texto de Mateus capítulo seis e versículo trinta

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A MINHA DECISÃO PESSOAL

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e três. A voz era audível. Não era uma impressão, como se alguém tivesse falado, alguém realmente tinha falado. Voltei meus pensamentos mais uma vez para os estudos e conforme continuo lendo automaticamente penso igual da outra vez: “se eu passar neste concurso vou poder comprar meu carro, minha casa e cuidar da minha família”. Mais uma vez escuto: “busque em primeiro lugar o Reino de Deus e a sua justiça e as demais coisas vos serão acrescentadas”. Fiquei realmente assustado. Só não me escondi debaixo da mesa porque uma vez que tinha sido criado na igreja eu sabia como eram estas coisas e não era a primeira vez que eu ouvia algo assim. Perguntei se era minha mãe que estava falando comigo. A resposta foi um alto e redondo “não”. Ela estava no quarto assistindo Faustão. Era um domingo, 18h30min. Resolvi arriscar e perguntar para Deus se era Ele: “Deus, é o Senhor que está falando comigo”. – Confesso que o maior medo era que Ele realmente respondesse alguma coisa. Imaginar que está ficando louco até que vai, mas saber que o próprio Deus estava falando comigo, isso era assustador – A resposta para a minha pergunta foi imediata: “Se arrume e vá para a igreja”. Foi uma ordem expressa. Mais do que depressa, chamei a minha mãe para ir comigo, mas ela respondeu que estava tarde para começar a se arrumar. Era verdade. Já estava em cima da hora do culto e nós costumávamos ir a igreja sede da Assembleia de Deus que ficava no Centro Cívico. Isso era longe e como estávamos sem carro iria demorar muito até chegar lá. O culto começava as 19h, seria impossível chegar a tempo. Eu disse para Deus: “Ah Deus, está tarde. Deixa para outro dia”. Comecei a aprender naquele dia que o Soberano não deixa para o outro dia aquilo que Ele deseja fazer hoje. Comecei a aprender porque na mesma hora Ele disse: “Eu não quero que você vá lá, quero que você vá aqui”. Era uma igreja que ficava a uma quadra de distância. Antes de começar a ir para a igreja sede eu frequentava esta Assembleia no bairro, então sabia que a ordem era para ir ali mesmo. E na hora que fui dizer para minha mãe para irmos nesta ela gritou do


Estou voltando para Casa do Pai não seguindo por uma estrada de tijolos amarelos, como no caso de Doroty em “O Mágico de Oz”. Nesta história de busca e autoconhecimento a protagonista junto com os seus amigos descobrem que já possuíam tudo o que precisavam: coragem para o Leão, cérebro para o Espantalho e um coração para o Homem de Lata. Se já tenho tudo o que preciso por que contar com a ajuda do mágico fanfarão, não é mesmo? Contudo, o poder de voltar para casa não está em mim ao contrário do que se percebe na história. Não depende dos meus esforços – coragem; não depende da minha inteligência – cérebro; e não depende dos meus sentimentos ou bondade – coração. Estou voltando, mas por uma trilha feita de sangue. Alguém morreu por mim para me permitir conhecer o caminho. Sem esta trilha eu estaria perdido, mas este rastro de sangue brilhou na escuridão tal como o farol no meio do mar e por meio dele eu encontrei o caminho para Deus. Em cerca de quatro anos que fiquei fora não havia pisado em igreja uma única vez, quer dizer, não que não tivesse tentado. Uma vez eu estava com muita vontade de ir a um culto, não sei por que, mas queria. Como fui criado em uma Assembleia de Deus e lá terno é uma roupa meio que comum, obviamente eu tinha o meu. Estava um pouco velho e desbotado, mas deveria servir. Tomei banho, coloquei o terno, peguei a minha Bíblia - tudo como mandava a tradição – e fui. Entrei no ônibus e encontrei um amigo – o Roberto. Ele tirou muito sarro por me ver usando roupa social – eu também tiraria – nós íamos na balada todo final de semana. Sendo assim jeans era o único tipo de roupa aceitável. Depois de quase ter um ataque cardíaco por me ver daquele jeito ele me perguntou aonde eu ia. Disse que ia para a igreja – mais um segundo ataque de riso – Quando as lágrimas dele secaram e os seus pulmões para-

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quarto: “só se for para ir aqui”. – Penso que foi Deus falando com ela também. Resultado, entrei lá e voltei para Deus. Minha jornada de fé começou naquele dia 15 de julho de 2001 e estou trilhando por este caminho até o dia de hoje.

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ram de doer ele me convidou para ir ao 1250, uma balada que era ponto obrigatório para todos os jovens nos anos 90 em Curitiba. Depois de uma longa discussão fui vencido quando ele se propôs a pagar duas caipirinhas. Isso mesmo que você ‘ouviu’ duas caipirinhas. Elas tinham sobre mim o mesmo efeito que os bezerros de ouro de Jeroboão tinham sobre os israelitas na época do reino dividido – mas sobre isso eu vou falar mais para frente - O problema, além de perder o culto, foi que quando cheguei lá era a noite do Halloween e para todos os efeitos quem me via achava que eu, com a Bíblia na mão estava fantasiado de pastor. Hoje o Roberto é cristão. Dei muitas risadas com ele sobre esta história uma década depois dela acontecer. Durante os quatro anos que fiquei fora, dos 15 aos 19 aprontei muito e pequei na mesma medida. A vida longe da responsabilidade de servir ao Senhor era leve e interessante, mas chegou o dia em que fui confrontado com a verdade e a necessidade de escolha. E neste dia, assim como Josué eu escolhi servir ao Senhor.

NÓS ESCOLHEMOS NO QUE CREMOS

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“Nosso cérebro é uma máquina de crença” diz Michael Shermer1, psicólogo e historiador da ciência. Segundo ele somos seres feitos para crer e ele ilustra isso com um exemplo.

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África, três milhões de anos atrás. Você é um hominídeo e está andando pelas savanas quando de repente ouve um barulho atrás da mata. Ao olhar ela está se mexendo. Você fica suspenso por um instante e pensa: o barulho na mata é apenas o vento ou o barulho é um animal feroz pronto para atacar? Qual será a sua decisão? Se você associar ‘barulho’ a ‘animal’ você se afasta, procura outro caminho e continua vivo. Bem pode ser que não fosse um animal, mas a precaução não o matou. Se você passasse ali 100 vezes nas 100 você ficaria vivo. Mas talvez você associe ‘barulho’ a ‘vento’ e 1 Shermer, Michael. Cérebro e Crença. São Paulo: JSN Editora, 2012


Como você pode ver Shermer parte da ideia de Darwin que evoluímos com o passar do tempo, algo que claro, muitos cientistas não concordam e nem as Escrituras. Mas, por que eu usei o exemplo de Shermer para dizer que todos cremos se acredito no que a Bíblia ensina? Primeiro porque mesmo sendo cético quanto à fé em Deus ele diz que todos têm a necessidade de crer em alguma coisa, não importa o que seja. E segundo porque com este exemplo do hominídeo ele diz que devemos escolher no que crer. O que fica para se pensar não é o processo histórico e evolucionário pelo qual viemos a crer – se é que houve um processo assim – o que conta é que hoje, neste exato momento em que lê este conteúdo você precisa crer em algo.

Existe em nós uma necessidade de crer. O cérebro precisa da crença para nos manter vivos. Fazemos milhares de associações o dia inteiro. Esta é uma das formas como nosso cérebro trabalha a crença. Associamos ‘nuvens escuras’ a ‘fortes ventos’ e surge a crença de que mais tarde vai ter temporal, assim ao sair de casa pegamos o guarda chuva. Associamos ‘velocidade’ e ‘distância’ e surge a crença de que dará tempo de atravessar a rua antes que o carro nos atropele. Isto é tão comum no nosso dia a dia que não paramos para perceber que isto são crenças. Chamamos isso na escola de física,

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continue o seu caminho em frente. Bem pode ser que você esteja errado. Você passaria ali 100 vezes e talvez sobrevivesse apenas a 50% delas, pois tem só metade de chances de estar certo. Com o passar do tempo somente os crédulos que acreditaram no animal atrás da mata iriam sobreviver. Eles iriam criar a aldeia dos crédulos, se cercariam da crença de que atrás da mata existe um animal e estabeleceriam uma cultura relacionada a isso. Eles iriam colocar placas avisando sobre o animal no meio do caminho, eles iriam andar de sobreaviso e com uma faca presa à cintura, afinal, para eles ali existe um animal. Hoje, como fruto da evolução, os incrédulos desapareceram por não terem se adaptado a este ambiente hostil e nós, eu e você, somos descendentes daqueles que creram.

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no cotidiano de hábito, mas no fundo é uma crença. Você não sai por aí calculando a umidade do ar e nem a velocidade do vento, assim como não pega uma trena para medir a distância entre você e o carro. Agimos porque acreditamos. É automático. No exemplo de Shermer o hominídeo escolheu em que crer, mas não escolheu se iria crer. Não foi a crença que o fez pensar que o movimento da mata era um animal e a falta da crença o fez pensar que era o vento. Não. Ele creu que era o vento em uma situação e creu que era o animal em outra. A diferença entre um caso e outro é o que o hominídeo inseriu em um dos exemplos ‘intenção’. Se o que balançou a mata foi o vento, então não houve um agente intencional por trás disto, ao contrário, era apenas uma força da natureza agindo cegamente, mas se quem balançou a mata foi um animal, então houve um agente intencional na história. Isto conforme o autor “não se trata apenas de uma teoria para explicar por que as pessoas acreditam em coisas estranhas, mas de uma teoria para explicar por que as pessoas acreditam em coisas.”2 (p. 76) Vamos a um exemplo do contexto religioso. Você faz uma breve oração perguntando algo a Deus, por exemplo: ‘Devo procurar um emprego?’ Você abre a sua Bíblia de forma aleatória e bate o olho em um trecho. O versículo que você leu corresponde àquilo que você perguntou. É Provérbios 6.9: “Vai ter com a formiga, ó preguiçoso, considera os seus caminhos e seja sábio”. Você crê que foi um agente intencional – Deus – ou crê que foi obra do acaso? Percebe como isto funciona? Suponha que não exista um meio de saber o que é e o que não é real. Eu digo suponha porque nós os cristãos acreditamos que este meio exista. Então não sabemos no que podemos ou não podemos acreditar. A Bíblia abriu no lugar certo: foi Deus ou o acaso? O universo veio a existir: foi Deus ou o acaso? Sendo assim como saberemos se Deus existe, ou melhor, dizendo por que deveríamos crer em Deus se Ele pode não ser verdade? 2 SHERMER, Michael. Cérebro e Crença. São Paulo: JSN Editora, 2012. P. 76


Segundo Shermer vamos crer em uma coisa ou em outra pelo custo que aquela crença nos impõe. Vamos ao hominídeo mais uma vez. Imagine que você é ele. Pese na balança: qual o custo de você acreditar que foi um animal que mexeu a mata e qual o custo de acreditar que foi o vento? Se acreditar que foi um animal o custo será pouco. Você acredita que está sendo observado, então recua, vai por outro caminho e isto lhe custou uns poucos minutos a mais de caminhada. Qual o custo de acreditar que é o vento? Muito ou nada. Se for o vento não lhe custou nada porque você seguirá em frente e não perderá um segundo sequer, mas se for um animal isso lhe custará tudo.

A APOSTA DE PASCAL

Imagine primeiro que Deus existe. Se vivermos uma vida cristã e no futuro descobrirmos que Ele realmente existe teremos um ganho infinito – a vida eterna. Se vivermos uma vida de forma não cristã, nossa perda é infinita – a condenação eterna.

Imagine agora que Deus não existe. Se vivermos uma vida pautada pelos princípios cristãos e descobrirmos no futuro que Ele não existe nossa perda é pequena. Deixaremos de aproveitar algumas garotas a menos, umas centenas de litros de cerveja, e o que mais? Algumas noites mal dormidas? Mas se vivermos de uma forma não cristã e Deus não existir nosso ganho também é pequeno. É só adicionar na conta os itens que foram tirados ali em cima: garotas, cerveja e noites mal dormidas.

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Blaise Pascal, filósofo francês nascido em 1623 d.C., traz um argumento em forma de aposta. De acordo com ele podemos apostar se Deus existe ou não.

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O argumento pode ser posto em um quadro como este logo abaixo3. Na primeira coluna aparece o modo como a vida será vivida. Na segunda e terceira coluna os ganhos ou as perdas caso Deus exista e eu apostei contra ou a favor desta ideia. Modo de viver Deus cristão existe Levar uma vida cristã Ganho – recompensa e acreditar que Deus infinita. Perda – existe pouca ou nenhuma (no máximo abstenção de alguns prazeres mundanos) Não levar uma vida Ganho – nenhum. cristã e não acreditar Perda - infinita que Deus existe

Deus cristão não existe Ganho – nenhum

Perda – pouca ou nenhuma (no máximo abstenção de alguns prazeres mundanos) Ganho – aproveitar um pouco mais os prazeres mundanos Perda – nenhuma.

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Como você pode ver, se eu escolher acreditar e viver de acordo com isso, ganho muito caso Ele exista e não perco nada. Caso eu resolva acreditar que Ele não existe, mas estiver errado, ganho pouco (em termos terrenos), mas perco muito. O único jeito de ter perdas ou ganhos infinitos é se Ele existir. Se não existir tudo acaba com o último suspiro, mas de qualquer forma você não terá perdido muito se escolheu seguir algo que não existe e nem terá ganho significativo também.

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É claro que existem críticas quanto a esta aposta como, por exemplo, o fato de alguém servir a Deus pela recompensa, ou pelo fato de que filosoficamente não se pode provar a existência de Deus. Certo, isso é correto. Contudo, isso me lembra de quando Jesus se coloca em pé diante de uma multidão que estava no Templo para uma festa. Eles se reuniam ali para celebrar a Festa dos

3 Adaptado do livro BRUCE, Michael; BARBONE, Steven (orgs.) Os cem argumentos mais importantes da filosofia ocidental: uma introdução concisa sobre lógica, ética, metafísica, filosofia da religião, ciência, linguagem, epistemologia e muito mais. São Paulo: Cultrix, 2013, p tal a tal


Eu estava conversando com alguns amigos que passaram pela universidade. Eles estavam contando que nos cursos que fizeram os professores os incentivavam a largar a sua crença religiosa e, seguindo os seus impulsos, eles deveriam fazer tudo aquilo que tinham vontade, pois a crença religiosa, segundo eles, era limitadora e o Deus a quem os religiosos serviam não existia. É uma aposta bem alta, diga-se de passagem, mas ela é baseada em quê? Você precisa ter muita convicção para dizer que Ele não existe, afinal como Pascal nos mostrou, o único jeito de ter ganhos ou perdas infinitas é se Ele existir. A incoerência é enorme. Quando Ele não existe a aposta é alta – a nossa vida – mas o prêmio é baixíssimo – uma vida sem regras religiosas. Qualquer jogador experiente saberia, não vale a pena apostar esta mão.

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Tabernáculos – uma festa típica do povo judeu onde com tantas pessoas reunidas sempre faltava água. – Então, no último dia da festa, no dia que o povo estava mais sedento Ele se coloca no meio da multidão e grita “se alguém tem sede venha a mim e beba” ( Jo 7.37). Ora, eles tinham sede e Jesus lhes oferece água. A lógica pede que eles fossem até lá para ver se Ele tinha realmente a água. Se tivesse seriam gratos, se não tivesse poderiam chamá-lo de mentiroso. Simples. Contudo, ao invés de irem conferir eles começaram a debater entre eles “Então muitos da multidão, ouvindo esta palavra, diziam: Verdadeiramente este é o Profeta. Outros diziam: Este é o Cristo; mas diziam outros: Vem, pois, o Cristo da Galiléia? Não diz a Escritura que o Cristo vem da descendência de Davi, e de Belém, da aldeia de onde era Davi? Assim entre o povo havia dissensão por causa dele” ( Jo 7.40-43). E se fosse você? Sua reação seria ficar discutindo sobre a sua fala ou seria ir até Jesus para ver se Ele saciava a sua sede?

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DOIS GRANDES FATORES DA ESCOLHA DA RELIGIÃO Quando alguém faz uma escolha importante, faz tendo razões para tal não é mesmo? O que nos motiva a escolher determinada profissão? Casas ou carros? Cidade para morar ou número de filhos? Estas escolhas não são tomadas de modo aleatório. Seria estranho ver uma pessoa jogando uma moeda para cima e escolhendo algo assim tão importante contando apenas com a sorte. O único ser medonho que faz isso é o inimigo do Batman, Harvey Dent, mais conhecido como “Duas Caras”, mas este personagem, convenhamos, era louco. As razões para escolhermos alguns destes elementos acima se baseiam em segurança, bem-estar, comodidade, amizade, felicidade. E por que escolhemos um deus? Esta também é uma escolha séria. Talvez a mais séria que alguém tenha que tomar.

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Josué ao lembrar o povo que eles tinham que decidir vai ao fundo de uma questão que desde aquele tempo até hoje parece ser um dos principais fatores que levam à escolha de um deus: pais e meio social. “Escolhei hoje a quem sirvais; se aos deuses a quem serviram vossos pais, que estavam além do rio, ou aos deuses dos amorreus, em cuja terra habitais”.

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Talvez você conheça pessoas que seguem este ou aquele deus pela tradição familiar. Quando alguém aceita uma determinada crença porque seus pais a aceitaram talvez estejam adotando uma fé que nem mesmo os seus genitores sabem o porquê a estão seguindo. “Eu sou porque meu pai era e o pai do meu pai também”. Essa frase eu acredito que soa muito familiar. Em algumas famílias este modo de escolher até que funciona porque todos ali seguem um padrão, tanto o pai quanto a mãe possuem uma crença semelhante. Porém, existem famílias que o pai segue uma crença e a mãe outra. Neste caso o filho fica sem saber se deveria seguir a


crença de quem ele gosta mais ou de quem põem comida na mesa, ou ainda a de quem é mais influente. A mesma coisa pode acontecer quando, por exemplo, dois primos se encontram. Cada um segue a crença dos seus pais, cada um acredita que o seu deus é o único verdadeiro, mas no final das contas cada um está indo por um caminho diferente. Não acredito que qualquer que seja a escolha esta estará correta. Isso não funcionava nem em provas do colégio. Marcar qualquer opção e dizer que o que vale é a intenção não o fará passar de ano. Existem opções certas e existem opções erradas.

O discurso amplamente difundido por aí nos últimos anos é que o importante é que a que a minha escolha pessoal me deixe feliz e confortável. Neste caso o que poderíamos dizer é que a fé funciona apenas como um placebo que visa amenizar as dores e injetar uma dose de esperança em corações desejosos de algo que seja maior do que nós mesmos. Outro fator determinante na escolha de um deus tem sido a sociedade. A sociedade é formada por diferentes aspectos então vamos ver o local de nascimento, a moda e o ambiente em que ela se encontra.

Para muitas pessoas o local de nascimento determina o deus que esta pessoa servirá. Assim a crença de uma pessoa em um deus pode ser uma se ela nasce no Brasil ou outra se nasce na China. Em um país como a Índia é pouco provável que alguém tenha uma religião diferente da do vizinho do lado. Lá 80% das pessoas são hinduístas, porém em um país como Singapura as crenças podem

O que é adoração e as cosmovisões

Se aceito que o meu deus pode ser algo pessoal para mim e a minha família e não necessariamente para a família do meu primo, estarei relativizando este deus. Se cada um pode ter o deus que quiser, a bem da verdade, o que estamos dizendo é que no fundo no fundo todas as crenças são igualmente verdadeiras e que no fim das contas, talvez nem haja uma verdade.

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ser muito diversas. Então, se alguém nasce aqui ou ali o seu destino automaticamente será passar a eternidade ali ou lá?

Ultimato Josué

Para outras pessoas o que irá determinar o deus que ela seguirá será a religião da moda ou da maioria. As convicções de uma sociedade mudam constantemente. Deveria a minha convicção em um deus mudar da mesma forma que a sociedade? Ou eu deveria, para não ficar à margem da sociedade, abraçar o deus que ela abraça? As últimas décadas apresentaram um crescimento radical de adeptos de práticas e de religiões orientais visando a ligação com o transcendente. Isto não é novo, mas agora as religiões e filosofias orientais têm conquistado milhares de adeptos. O fato de estas crenças estarem em ascensão não faz com que elas estejam corretas e nem erradas, pois não é o número de adesão que faz delas verdades e sim o que elas pregam.

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Existem aqueles que irão determinar a sua fé pelo ambiente em que se encontram. Imagine o ambiente de uma faculdade. Em muitas instituições universitárias é quase consenso que Deus não existe. Sendo assim os apelos – e pressão – a que os jovens são submetidos são inúmeros. Os professores são vistos como aqueles que detêm o conhecimento, o que por si só já significa muita coisa. A ideia de que os professores são exemplos intelectuais a seres seguidos vem desde cedo. Eu sei disso porque sou professor de crianças e às vezes as ouço falar que quem tem razão somos nós os seus professores e não os seus pais. Os livros que os alunos leem são os mesmos que de uma forma ou outra influenciaram os professores. E por fim existem os colegas. Estar perto dos colegas de classe é um forte atrativo para jovens que querem sentir-se parte de um grupo. Desta forma milhares de jovens renunciam suas crenças após entrarem numa instituição universitária porque lá, segundo consta é o berço do conhecimento e a sepultura da fé.


OUTROS FATORES QUE NOS LEVAM A ESCOLHER Além destes dois fatores que Josué levanta, existem ainda outros tantos que faz com que as pessoas tomem uma decisão. Vamos pontuar alguns deles.

Assista a um comercial de TV no qual estejam tentando vender uma marca. Frequentemente, se a empresa que contratou o comercial tem dinheiro, quem irá fazer a venda será um artista. O artista é mais recomendável que uma pessoa estranha justamente porque ele transmite o carisma e a sensação de serem próximos de nós. Ficamos apegados a ele. O artista vende o produto muito mais do que uma pessoa estranha. O mesmo serve para a religião. Pessoas famosas que seguem esta ou aquela religião podem se tornar ‘missionárias’ pelo simples fato de anunciarem qual a sua fé – ou ausência dela. Mas, não são só artistas. Pode ser alguém importante em seu círculo social. No debate entre ateus e cristãos geralmente é envolvido o nome de pessoas de prestígio para somar como destaque para um ou outro lado. Dawkins, um ateu militante, diz “Einstein às vezes invocava o nome de Deus (e ele não é o único cientista ateu a fazer isso), dando espaço para mal-entendidos por parte de adeptos do sobrenaturalismo loucos para interpretá-lo mal e reclamar para o seu time pensador tão ilustre”4. 4 DAWKINS, Richard. Deus um delírio. Companhia das Letras, 2013, p. 36.

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• Primeiro – o fator de influência. Pessoas influentes muitas vezes têm servido de norte para que outros tomem esta decisão. E aqui a religião do artista da TV ou do astro de Hollywood conta muito. O carisma dos atores e a falsa ideia de que estes estão sempre de bem com a vida faz com que muitos ouçam e confiem no que eles dizem.

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Segundo – o fator sentimento. Se alguém entra em determinado ambiente religioso e sente algo esta pessoa acredita que Deus ou alguma entidade pode estar entre eles. Desta forma a fé é determinada por aquilo que se sente. Se este for o fator principal na hora da escolha, aqueles deuses que requerem que seus seguidores se autoflagelem com chicotes ou andem por cima de brasas de fogo na beira da praia terão larga vantagem, pois estes adoradores sentem muita coisa mesmo! A célebre frase do Cristianismo “Jesus te ama” para muitos pode ter um efeito transformador. Conheço pessoas que entregaram a vida a Cristo por meio destas simples palavras e estão seguindo-o até hoje, mas talvez o sentimento por si só não seja um fator muito confiável.

Ultimato Josué

Sentimentos são uma montanha russa. Lewis5 ao referir-se sobre este fator irá dizer que os sentimentos mudam constantemente, especialmente naqueles dias em que surge uma mulher casada diante dos nossos olhos ou quando aparece a oportunidade de ganhar dinheiro de forma ilícita. Nesta hora os nossos sentimentos se voltam contra a nossa fé subjugando-a a fim de aniquilar a moral e podermos, enfim, cometer o adultério ou o roubo.

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• Terceiro – o fator prosperidade. É um poderoso fator que leva as pessoas a tomarem uma decisão. Existe uma teologia que prega que ser rico é o objetivo final da fé cristã ou pelo menos é um indício de que a pessoa está no caminho certo. Os israelitas são um bom exemplo. Moisés havia conduzido o povo de uma terra árida como o Egito e os colocou na porta de Canaã. Josué os fez entrar. Canaã era uma terra com fauna e flora muito mais abundante do que a terra dos faraós. A população daquela região poderia seduzir os israelitas com a questão dos benefícios. Eles mostrariam o quanto eram prósperos e como os seus deuses os havia abençoado. Não é à toa que Deus se encarrega de alertar Moisés quanto a este perigo . 5 LEWIS, C.S. Cristianismo Puro e Simples. (2005, p. 51)


• Quarto – o fator experiência pessoal. Frequentemente elas também são levadas em consideração na hora da escolha. Uns aderiram à fé pelo fato de o seu marido ter tido uma promoção no emprego, outros vão abraçar aquela crença porque alcançaram uma cura e que a atribuíram a determinado deus. Escute algumas conversas de pessoas falando sobre sua fé ou a fé de amigos de amigos. Quase sempre haverá um relato de algo sobrenatural que foi atribuído a uma divindade e, por conta disso, aquela pessoa se vinculou a uma religião.

Não há nada de errado em uma pessoa seguir uma crença por conta da família, da sociedade, de uma experiência pessoal ou dos sentimentos. Mas, estes fatores não são fortes por si só. Eles podem servir no início, mas não ser a base. Se esta razão pela qual a pessoa está seguindo a crença vier a ruir, a sua fé também ruirá. Se aqueles que são levados a Deus por conta de uma cura, futuramente se encontrarem novamente doentes, sua fé neste deus possivelmente vai naufragar. A escolha feita por conta da família, da sociedade e influência de artistas tem como ponto comum o fato de serem baseadas em outras pessoas tão humanas quanto eu ou você. A escolha feita por sentimento, prosperidade e experiência pessoal tem em comum o

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Hoje é comum você entrar em ambientes de culto de algumas igrejas e perceber que existe um momento separado para o testemunho financeiro. As pessoas são incentivadas nesta hora a ofertar porque “Deus não fica devendo nada para ninguém”. Mas, para, além disto, a própria prosperidade financeira em si é um atrativo que leva pessoas a uma conversão. Contudo, Deus não promete vida próspera para aqueles que o seguem. E se alguém o busca com esse interesse e não recebe a sua ‘parte’ nesse pretenso acordo, esta pessoa acaba se retirando frustrada porque a sua vida depois de convertido não mudou como ele imaginava.

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Ultimato Josué 34

fato de se basearem em torno de quem viveu esta experiência, ou seja, se baseia na própria pessoa. Quando nossa adoração se baseia em pessoas, quer seja em nós mesmos ou em outras, nossas razões para adorar se tornam rasas. Não conseguiremos entender a profundidade do que seja a adoração se os motivos se basearem em algo que esteja em nosso próprio nível. A adoração é algo maior, mais profundo, algo que transcende a nossa vida. Só entenderemos a real adoração se ela se basear na própria divindade a quem adoramos. Se a adoração é feita porque faz bem a minha vida, então, a minha vida é mais importante que a adoração, e esta acaba se tornando apenas um meio para deixar a minha vida mais confortável e tranquila. Agora se a adoração é o mais importante ela será feita independente das circunstâncias em que me encontro. A vida passará a ter propósito a partir da adoração. As razões mais fortes para adorá-lo encontram-se na própria divindade. Não adoramos porque ‘eu sou’, adoramos porque ‘Ele é’. Como já diria a letra da canção6 “nunca foi sobre nós Nem sobre o que podemos fazer. É tudo sobre Você, tudo para Você, Jesus”. A adoração a Deus é feita por tudo o que Ele é e representa. Ele é o centro e é olhando para Ele mesmo que descobrimos o quão maravilhoso é adorá-lo. Isso não tem a ver comigo e nem com você, mas com Ele. Eu vou falar mais sobre o que é adoração no próximo capítulo, mas uma das suas definições cabe aqui. A adoração é a nossa reação diante da revelação do nosso Deus. Então, se Deus se revela com um sorriso nossa reação é alegrar-se, se Ele se manifesta com seriedade nós consideramos, se Ele se revela bom nossa atitude é de gratidão. É um reflexo. Agimos de acordo com a revelação que possuímos de Deus. Quanto mais nós o conhecemos mais podemos adorá-lo. 6 Ministério Zoe


Quando no livro As Crônicas de Nárnia Lucia se reencontra com Aslan eles logo têm um diálogo: – Aslan, como você está grande!

– É porque você está mais crescida, meu bem. – E você, não?

– Eu, não. Mas, à medida que você for crescendo, eu parecerei maior a seus olhos.

OLHE PARA AS ESCRITURAS Precisamos olhar para Deus para sabermos as razões pelas quais adorá-lo, contudo, Deus jamais foi visto por alguém. A nossa esperança está em saber que Deus se revelou na pessoa de seu filho Jesus e que este é o assunto central das Escrituras. Sendo assim, se quisermos saber quais as razões pelas quais o adorar precisamos olhar para elas.

O apóstolo Pedro ao escrever sua carta faz uma importante observação quanto a isso. O texto diz assim: “De fato, não seguimos fábulas engenhosamente inventadas, quando lhes falamos a respeito do poder e da vinda de nosso Senhor Jesus Cristo; pelo contrário, fomos testemunhas oculares da sua majestade. Ele recebeu honra e glória da parte de Deus Pai, quando da suprema glória lhe foi dirigida a voz que disse: “Este é o meu filho amado, em

O que é adoração e as cosmovisões

Se a adoração é reflexo ela tem a ver mais a ver com os motivos dele e não com os nossos. Sendo assim quanto mais vamos percebendo a grandeza deste Deus mais razões teremos para adorá-lo. Deus não se resume a esfera sagrada, Ele vai além da igreja e das saudações cristãs. O Deus da filosofia e da ciência é também o Deus da ‘loucura’ e do sobrenatural. O Deus do microscópio é também o Deus do telescópio. Algumas pessoas se identificam com o Deus do poder, outros com o Deus da sabedoria, outros ainda com o Deus do cuidado. Mas Deus é isso e muito mais.

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quem me agrado”. Nós mesmos ouvimos essa voz vinda do céu, quando estávamos com ele no monte santo. Assim, temos ainda mais firme a palavra dos profetas, e vocês farão bem se a ela prestarem atenção, como a uma candeia que brilha em lugar escuro, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em seus corações” (2 Pe 1.16-19).

Ultimato Josué

Para Pedro esta experiência pessoal poderia ter sido de grande utilidade na hora de escolher, ela foi impactante. Que visão fascinante foi a que ele teve. Quando Cristo estava na Terra, levou Pedro e outros dois apóstolos para um monte e lá ele se apresentou com um aspecto divino. Se não bastasse isso eles ouviram a própria voz do Deus Pai (Mateus 17.1-8). Esta experiência talvez tenha sido a mais forte de todas as que ele podia relatar aos seus leitores, porém, Pedro fez das Escrituras o norte pelo qual ele adorava a Deus “assim temos mais firme a palavra dos profetas”. A experiência pessoal serviu para fortalecer a sua fé, mas a base se encontrava na palavra revelada aos profetas e ele incentivou os seus leitores a olharem também ela.

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O hominídeo de Shermer tinha que tomar uma decisão baseado nos seus instintos e ele teria que contar também com a sorte: vento ou animal? Com relação a Deus não precisamos de sorte, temos uma lei moral que nos diz o que é certo e errado, temos as evidências espalhadas por toda a criação, temos o Espírito do próprio Deus que nos orienta e convence e por fim temos também as Escrituras que iluminam o caminho. Sim, as Escrituras nos apresentam muitas boas razões para adorá-lo, mas antes de falar delas vamos ver o que é a adoração.


O Que é Adoração

Diversas

coisas podem vir à mente quando escutamos a palavra ‘adoração’. Ao se falar de uma comida, ao se falar de uma banda de rock ou de uma camisa que você gosta de usar aos fins de semana. Mas, no sentido religioso, a palavra adoração ganha uma força muito maior que engloba entre outras coisas o serviço e submissão. Quando Josué fala que os israelitas deveriam escolher a quem servir, ele os estava questionando sobre quem iriam adorar. A palavra “adorar” (Do grego proskuneo) significava “beijar”. Os gregos tinham esta ideia em mente ao se referir a seus deuses. O ato incluía o ritual de dobrar os joelhos ou prostrar-se, beijando os seus pés. A ideia era a de submissão e queria dizer “reconheço a minha inferioridade e a sua superioridade; coloco-me à sua disposição” 7. A primeira coisa que devemos ter em mente quando falamos em adoração é que existe uma distância vertical entre quem adora e quem é adorado. Não uma distância espacial, porque aquele que é adorado pode estar junto de quem adora, mas adoração remete a uma distância de posição. O adorado é maior do que aquele que adora. 7 (SHEDD, 2007, p. 19)

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Para além da posição entre quem adora e o adorado existe também a questão da intensidade. No livro de Marcos um mestre da lei questiona Jesus sobre qual seria o maior dos mandamentos e Jesus então lhe responde. “O primeiro de todos os mandamentos é: Ouve, Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas forças; este é o primeiro mandamento” (Mc 12.29-30). Adorar não é reconhecer certa superioridade e devotar algum sentimento ao objeto de culto, mas é entregar-se totalmente e sem reservas, com toda a sua vontade, todo sentimentos, razões e forças. Se a adoração precisa ser uma entrega total é impossível adorar a duas coisas simultaneamente. Não há como entregar meia alma ou meia força a um deus e entregar a outra metade a outro. Pelo menos não para o Deus cristão.

Ultimato Josué

Cristo enfatiza a palavra “todo” e isso não foi em vão. A essência da adoração é a totalidade do ser. Deus deseja que você empregue tudo neste ato. A adoração pressupõe em sua essência a ideia de um absoluto reconhecimento da dignidade do seu deus e a consequente entrega total a ele. É tudo ou nada.

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Existem quatro dimensões do ser envolvidas na adoração de acordo com a resposta de Jesus ao mestre da lei: coração, alma, entendimento e força. O coração diz respeito ao centro e ao sentido da vida física e espiritual. Se a adoração não envolve o coração então ela se torna algo sem sentido. A alma se refere à sede dos sentimentos e das emoções. Quando o adoramos com a alma os nossos sentimentos são voltados a Ele. É Dele que temos desejo, é por Ele que clamamos e esperamos é para Ele que cantamos. O entendimento fala do centro das nossas habilidades intelectuais. Pensar em como agradá-lo, em como obedecê-lo, em como sermos mais uteis a ele e em como amá-lo é uma das tarefas mais nobres a que podemos nos dedicar. E força fala do vigor e das


habilidades. Com ela perseveramos na adoração, desgastamos o nosso corpo, agimos. Com ela doamos todos os nossos talentos e os nossos recursos. É a força que nos faz levantar do sofá e fazer algo que o agrade.

Adoração também é sacrifício, mas não um sacrífico feito contra a vontade, mas um sacrifício voluntário e até desejado. De acordo com o dicionário bíblico Wycliffe8 a adoração é praticada prestando-se reverência e homenagem religiosa a Deus (ou um deus) em pensamento, sentimento ou ato, com ou sem a ajuda de símbolos e ritos. A adoração pura expressa a veneração sem fazer alguma petição, e pressupõem a auto renúncia e a entrega sacrificial a Deus [...]. Adorar de acordo com Wycliffe não é barganha. Estranhamente acomodada no centro do entendimento de muitas pessoas está a ideia de troca, como se Deus existisse para conceder dádivas àqueles que o adoram. Por causa disso é comum encontrar pessoas que acreditam que Deus tem uma dívida ou uma obrigação moral em abençoar aqueles que o buscam.

Deus não tem dívidas e nem obrigações. Ele tem direito. O direito divino de ser adorado. O direito de ser exaltado acima de todas as coisas e receber de toda e qualquer pessoa a adoração mais profunda que se lhe possa oferecer. Os patriarcas sabiam disso. Abraão, o pai da nação hebraica, quando em Gênesis 22 Deus pede o seu filho único em sacrifício, não hesita nem por um instante, foi imediatamente e levou Isaque 8 (PFEIFFER, 2003, p. 31)

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Quando se adora, tudo, sentimento, atos e atitudes, precisa estar totalmente direcionado a ele. Com paixão, com desejo, com força, com entendimento, com perseverança. Se a sua mente está adorando ela deve concentrar-se o melhor possível nisso. Se for o seu corpo cada fibra deve se envolver nessa celebração. Seus sentimentos, seus sonhos, suas paixões, tudo é Dele e deve ser entregue a Ele. É tudo ou nada.

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para ser sacrificado. Hebreus 11.19 diz que Abraão cria que Deus poderia ressuscitá-lo, mas só pode ser ressuscitado aquele que morreu e Abraão estava disposto a demonstrar a Deus uma adoração sacrificial. Davi, o grande rei de Israel quando em 1 Crônicas 21 vai procurar um terreno para levantar um templo a Deus foi interceptado por Araúna, o dono da propriedade. Araúna oferece o terreno de graça. Davi enquanto rei poderia aceitar facilmente aquela oferta, mas ao contrário ele diz: “Não darei ao Senhor aquilo que pertence a você, nem oferecerei um holocausto que não me custe nada”. Adoração é entrega e quem adora não acumula créditos. Se alguém é recompensado é por algo chamado graça, um favor imerecido do Soberano de todo o universo. Não é uma troca.

Ultimato Josué

Dentro de uma perspectiva cristã a função mais importante que uma pessoa deve desenvolver é a adoração. A adoração é mais importante que as missões, a adoração é mais importante que o louvor na igreja, é mais importante que a própria oração. Algumas pessoas ao lerem isto poderão ficar chocadas, uns por acharem que as missões ou a oração são as coisas mais importantes, outros porque acreditam que a adoração é o louvor na igreja.

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Ouve-se sempre falar da ‘grande comissão’, que é quando Cristo após ressuscitar comissiona todos os seus discípulos a irem pregar o Evangelho a todas as pessoas. Mas na verdade se lermos o texto sagrado vamos perceber que não existe um ‘grande’ envolvido nesta ordem, apenas uma ordem. Isso não faz da ordem algo menos importante, afinal quem a deu foi Cristo, mas colocar o ‘grande’ onde não tem nos faz invertermos as prioridades.

Da mesma forma a oração e os louvores na igreja. Quando amamos temos prazer de falar com a pessoa amada. A oração se é prazerosa torna-se um ato de adoração e não um peso. Quando não amamos, nossas palavras não passam de expressões vazias feitas de nós para nós mesmos. Muitas vezes o nosso falar com Deus – por meio da oração e do louvor - se torna um eterno falar dos


nossos problemas, das nossas dificuldades e aspirações. Na adoração o nosso falar com Deus é mais ‘falar para Deus’. Falar para Ele aquilo que admiramos Nele. Que Ele é lindo, que Ele é santo, que Ele é justo. A adoração é mais importante que a oração, que as missões e que o louvor porque eles não são concorrentes que andam paralelos à adoração, mas são constituintes dela. Você pode adorar sem orar e evangelizar, mas não pode fazer estes dois sem adorar.

Deus é mais glorificado em mim quando sou mais satisfeito Nele. John Piper, um dos mais profundos doutores cristãos da atualidade utiliza esta verdade como lema da sua vida. Quando estamos satisfeitos em Deus nós o alegramos. É fazendo o que Ele nos ordena com alegria, é obedecê-lo não tendo como fonte de prazer qualquer outra coisa. Em um de seus livros Piper diz: “Se a minha pregação denunciasse que Deus não tem satisfeito minhas necessidades, ela seria fraudulenta. Se Cristo não fosse a satisfação do meu coração, será que as pessoas creriam, quando eu proclamasse a mensagem Dele: “eu sou o pão da vida; o que vem a mim jamais terá fome; e o que crê em mim jamais terá sede” ( Jo 6.35)? A glória do pão consiste em que ele satisfaz. A glória da água viva está no fato de que ela sacia a sede”. Logo, a glória de Deus está em que Ele nos satisfaça a alma”.9

Uma pessoa satisfeita em Deus o adora de forma mais sublime. Quando algum cristão vive insatisfeito com sua vida em qualquer área que for ele dá a entender que sua satisfação não está em Deus 9 PIPER, Jonh. Uma vida voltada para Deus. São José dos Campos, SP: Editora fiel, p. 21

O que é adoração e as cosmovisões

Quando queremos achar o grande mandamento devemos olhar para a passagem bíblica de Marcos 12.29-30 e que também é repetida em Mateus 22.38. O maior de todos os mandamentos é amar a Deus. O amor é o coração da adoração, quando se deixa de amar a adoração acaba.

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e sim nas coisas que lhe faltam. Agora quando encontramos satisfação Nele não temos falta de coisa alguma. Está é a mensagem inicial do salmo 23: “o Senhor é o meu pastor e não tenho falta de nada”. Eu estou bem nos verdes pastos e estou bem no vale da sombra e da morte. Somos gratos a Ele e satisfeitos Nele. Aquela sede de satisfação é saciada. Aquela fome de algo mais acaba.

ADORANDO POR INTEIRO

Ultimato Josué

A adoração envolve toda a plenitude do ser. Coração, alma, intelecto e força. Se um destes itens falta, como por exemplo o coração, é provável que não exista adoração e sim uma atitude mecânica e vazia. Podemos falar muito sobre Deus, mas se não tiver amor, como disse o apóstolo Paulo, somos apenas como um sino que retine. Podemos empregar todas as nossas forças indo na igreja de domingo a domingo ou visitando os doentes em um hospital, mas sem o devido entendimento de que isso é para Deus nossa tarefa não passa de exercício exterior.

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A igreja de Éfeso passou por uma situação como esta. No livro do Apocalipse João escreve sete cartas endereçadas às igrejas da Ásia menor. Uma delas foi para os efésios e dizia assim. “Escreve ao anjo da igreja de Éfeso: Isto diz aquele que tem na sua destra as sete estrelas, que anda no meio dos sete castiçais de ouro: Conheço as tuas obras, e o teu trabalho, e a tua paciência, e que não podes sofrer os maus; e puseste à prova os que dizem ser apóstolos, e o não são, e tu os achaste mentirosos. E sofreste, e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome, e não te cansaste. Tenho, porém, contra ti que deixaste o teu primeiro amor. Lembra-te, pois, de onde caíste, e arrepende-te, e pratica as primeiras obras; quando não, brevemente a ti virei, e tirarei do seu lugar o teu castiçal, se não te arrependeres” (Ap 2.1-5). Os cristãos daquela região estavam empenhados em adorá-lo com a sua mente ao ponto de perceber os falsos apóstolos que esta-


Isto poderia parecer apenas um detalhe para um desavisado, mas na realidade não é. Jesus diz que eles caíram e queda significa que eles tinham pecado. A ideia é reforçada pela ordem dada a eles “arrependam-se”. Caso os cristãos daquela igreja não se voltassem para o lugar da adoração o seu castiçal – a sua luz, seria retirada. Eles andariam perdidos em meio a tantos afazeres e responsabilidades eclesiásticas tal como cegos perdidos sem saber para onde ir. Deus deseja ver em nós uma chama acessa constantemente para fazer com que as nossas atitudes de adoração tenham verdadeiro sentido. No Antigo Testamento, quando Deus dá a Moisés planos para a construção do tabernáculo, Ele dá uma lei específica para cada tipo de oferta que seria levada até ao altar. Uma delas era a lei do holocausto (Lv 1.1-17) e esta lei tem paralelos interessantes com a adoração. Em primeiro lugar, pela lei do holocausto o animal oferecido deveria ser sacrificado inteiro sem tirar-lhe nada. Já em ofertas pelo pecado, por exemplo, o animal não era sacrificado inteiro. Não tem como haver inteireza se existe pecado.

Em segundo lugar, o holocausto remete a adoração porque o ofertante faria isso voluntariamente e não por constrangimento. Deus não nos obriga a adorá-lo. Cada um tem o seu livre arbítrio para fazê-lo ou não.

O que é adoração e as cosmovisões

vam rondando a igreja. Utilizando da sua força eles empregavam a paciência e não se cansavam. Com a alma sofriam em nome do Senhor. Contudo, o coração, a essência do ser não estava empregada nas suas atitudes. Eles tinham abandonado o primeiro amor. E comumente isso acontece. Trabalhamos cada vez mais por um Deus que amamos cada vez menos. Existe em nossos cultos organização, trabalho, mensagens elaboradas, hinos bem executados, mas não existe o fogo.

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Em terceiro lugar, o holocausto exigia um animal sem defeito. A deformidade era algo que Deus não aceitaria como oferta. No que se refere à adoração a pessoa que se apresenta diante de Deus para adorá-lo precisa ansiar por uma vida íntegra, sem falhas de caráter. Por último, o holocausto deveria ser queimado no fogo, fogo este que foi aceso por Deus, mas que deveria ser mantido acesso pelo sacerdote. A ordem com relação ao fogo era: “O fogo arderá continuamente sobre o altar; não se apagará” (Lv 6.13). Diariamente devemos enquanto adoradores procurar manter a chama acessa. De nada adianta se sacrificar se não houver o fogo. De nada adianta adorar sem a paixão. Era isso que os cristãos de Éfeso estavam fazendo e era contra isso que Jesus estava protestando quando lhes dizia “arrependam-se”.

UMA ETERNA NECESSIDADE

Ultimato Josué

Todo ser humano sente a necessidade de buscar algo que o complete. Ele sente que algo está errado consigo mesmo e procura um meio para encontrar este algo e uma vez estando ligado ao divino o ser humano pode achar paz, felicidade e sentido para a vida.

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Para muitos este algo é o transcendente, o divino, para outros pode ser o aqui e agora. Todos nós sonhamos com dias melhores, pois todos temos esperança. Olhamos para a realidade de hoje e pensamos, “mas as coisas poderiam ser diferentes”. Parece que existe um vazio na alma que precisa ser preenchido. Esta é uma inquietação que teve, de acordo com as Escrituras, origem na queda, no pecado que se instalou em cada ser humano desde o Jardim do Éden. Foi esta queda que fez com que a natureza plena do ser humano se perdesse, pois com o pecado ficamos longe de Deus.


Esta busca por perfeição nada mais é do que o anseio por algo que nos faz falta. Fomos criados perfeitos e em nosso íntimo sabemos que existe algo mais do que isso. Quando encontramos este algo depositamos ali a nossa adoração. E isto com toda a força, vontade, mente e coração, afinal foi este Deus que fez extinguir o vazio que existia em si e deu sentido a uma vida que antes parecia não ter. Nas palavras de Croato: “Em tudo o que deseja e faz, o ser humano manifesta que não é um ser pleno: deve crescer biologicamente, aprender intelectualmente, preparar-se para tudo, buscar metas, melhorar a saúde, aspirar a uma vida melhor, reiniciar uma e outra vez caminhos novos; ainda na véspera da morte, sente que tem de fazer algo para ser o que ainda não é. É um ser que está sempre em busca. Essa é uma característica fundamental do ser humano”10. Estamos constantemente insatisfeitos porque origi10 CROATO, 2001, p. 42

O que é adoração e as cosmovisões

Você já assistiu ao filme “O último samurai”? Nele Nathan Algren, o personagem de Tom Cruise é um soldado americano que foi capturado por Katsumoto, o líder do exército de samurais. Chama a atenção de Algren o fato de os japoneses buscarem a perfeição em tudo. Desde o momento em que acordam até a hora de ir dormir eles querem fazer tudo de forma correta. Katsumoto passa muito tempo olhando as sakuras, as flores típicas do Japão. Em um diálogo entre os dois Katsumoto diz: “A flor perfeita é rara. Pode-se passar a vida esperando encontrar uma e ainda assim não seria um desperdício”. O filme prossegue mostrando os dilemas do soldado americano e os encantos da Terra do Sol Nascente até que chega o momento da luta decisiva entre os samurais e o exército do imperador. Quando Katsumoto é atingido e está prestes a morrer ele olha ao redor e vê centenas de flores de sakuras sendo espalhadas pelo vento. Agarrado ao seu amigo Algren tudo o que ele consegue dizer em seu último suspiro é: “...perfeitas... todas são perfeitas”.

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