Órgão Oficial da Associação Brasileira de Imprensa – Julho/Setembro de 2004 – Nº 296
CONSELHO FEDERAL DE JORNALISMO
Villas-Bôas Corrêa Amicucci Gallo
Em reunião do Conselho Deliberativo, em 27 de setembro, a Associação Brasileira de Imprensa resolveu rejeitar integralmente o projeto de lei que propõe a criação do Conselho Federal de Jornalismo e lutar por sua retirada da pauta de discussões do Congresso Nacional, por entender que o projeto fere a Constituição em diversos pontos, sendo o principal deles o artigo 220, que diz que nenhum dispositivo legal pode constituir embaraço ao livre exercício
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da liberdade de imprensa. A ABI entende que valores fundamentais à sustentação da democracia não podem ser relativizados, conforme sugeriu o Ministro Luiz Gushiken ao declarar que apesar de a liberdade de imprensa ser um “valor definitivo”, na sociedade nada é absoluto. Em audiência pública na Comissão de Educação do Senado Federal, o Presidente da Casa, Maurício Azêdo, afirmou que o projeto concede “poderes imperiais” ao Conselho Federal de Jornalismo, deixando clara a posição da entidade, que é radicalmente contra o CFJ. Páginas 3, 4, 5, 6 e 7
Antônio Nery
“Passada a turbulência dos meses iniciais com o desgaste das contradições refletido na queda dos índices de popularidade, o alívio de êxitos inegáveis no controle da inflação e da discreta retomada do desenvolvimento, o Governo resolveu acertar as contas com os seus críticos e providenciar o reforço no policiamento da imprensa”. Página 6
Mário Oliveira
Página 9
EMPRESA
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O Brasil na ABI
IMPRENSA
Em reportagem de Vânia Lopes, a cobertura do maior evento do calendário de comemorações regionais da Amazônia – a festa do Boi de Parintins. Páginas 34 e 35
O jornalista Alberto Dines analisa a difícil relação entre os paradigmas da imprensa e as exigências de um mercado cada vez mais agressivo. “Há uma retaguarda que se comporta como se estivesse na época de Chateaubriand”. Página 8 Amicucci Gallo
Página 00
A festa da imprensa na ABI “Nos meus muitos anos de sócio, nunca vi um ato da ABI com tanta gente e com tanta expressão”, declarou emocionado o jornalista José Gomes Talarico, um dos mais antigos sócios da quase centenária Casa, sobre a solenidade de posse da nova diretoria e comemorativa do Dia da Imprensa, em 1º. de junho deste ano. Além das mais de 700 pes-
soas que assinaram os livros de presença, enviaram mensagens autoridades como o Presidente da República, que se fez representar pelo Secretário de Comunicação, jornalista Ricardo Kotscho, ministros de Estado e jornalistas que não puderam deixar o fechamento de suas edições para participar da sessão solene. Páginas 25, 26, 27, 28, 29 e 30
Nesta edição Chico Caruso • Carlos Eduardo Lins da Silva • Carlos Jurandir • Glória Alvarez • João Máximo • Joseti Marques • Luiza Mariani • Maria Cecília Ribas Carneiro • Maurício Azêdo • Rubem Mauro Machado
DE JULHO A SETEMBRO, 320 JORNALISTAS E ESTUDANTES DE JORNALISMO SOLICITARAM FILIAÇÃO À ABI – PÁG. 36
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Jornal da ABI
Julho/Setembro de 2004
NESTA EDIÇÃO Gushiken e o sólido que se desmancha no ar DIRETORIA – MANDATO 2004/2007 Presidente: Maurício Azêdo Vice-presidente: Milton Temer Diretor Financeiro: Aristélio Andrade Diretor Social: Domingos Meirelles Diretor Administrativo: Fichel Davit Chargel Diretor de Cultura e Lazer: João Máximo Diretora de Jornalismo: Joseti Marques
JOSETI MARQUES
COMISSÃO DE SINDICÂNCIA Berta Nutels, Maria Inês Duque Estrada, Tamar Castro, Ely Moreira, Maurílio Ferreira.
Violência, censura, impunidade e CFJ
COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO Alberto Dines, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho, Paulo Totti. COMISSÃO DE LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOS José Gomes Talarico, Orpheu Santos Salles, Ariosto da Silva Pinto, Mário Augusto Jakobskind, Altenir Santos Rodrigues, Yaci Nunes , Germando Oliveira Gonçalves, Italo de Saldanha da Gama, Irene Cristina Gurgel do Amaral, Maria Cecília Ribas Carneiro, Adalberto Diniz, Anísio Félix, Paulo Parisi. CONSELHO CONSULTIVO Chico Caruso, Ferreira Gullar, José Aparecido de Oliveira, Miro Teixeira, Teixeira Heizer, Ziraldo, Zuenir Ventura. CONSELHO FISCAL Jesus Antunes - Presidente, Aziz Ahmed - Secretário, Adriano Barbosa, Altenir Santos Rodrigues, Eduardo Rocha, Luiz Carlos de Oliveira, Zilda Ferreira. CONSELHO DELIBERATIVO – 2004-2005 Presidente: Carlos Alberto Caó Oliveira. 1º Secretário: Lênin Novaes. 2º Secretário: Nilo Marques Braga. Conselheiros efetivos (2004-2007) Antonieta Vieira dos Santos, Arthur da Távola, Cid Benjamin, Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Héris Arnt, Irene Cristina Gurgel do Amaral, Ivan Cavalcanti Proença, José Gomes Talarico, José Rezende, Marceu Vieira, Paulo Jerônimo, Roberto M. Moura, Sérgio Cabral, Teresinha Santos. Conselheiros efetivos (2003-2006) Antonio Roberto da Cunha, Aristélio Travassos de Andrade, Arnaldo César Ricci Jacob, Carlos Alberto Caó Oliveira dos Santos, Domingos João Meirelles, Fichel Davit Chargel, Glória Sueli Alvarez Campos, João Máximo, Jorge Roberto Martins, Lênin Novaes de Araújo, Moacir Andrade, Nilo Marques Braga, Octávio Costa, Vitor Iorio, Yolanda Stein. Conselheiros efetivos (2002-2005) Alberto Dines, Ana Arruda Callado, Antonio José Ferreira Libório, Araquém Moura Roulien, Beatriz Santa Cruz, Carlos Arthur Pitombeira, Carlos Chagas, Federico Carlo Utzeri, Ítalo de Saldanha da Gama, Jorge Milton Temer, Lygia Maria Collor Jobim, Mario Antonio Barata, Maurício Azêdo, Milton Coelho da Graça. Conselheiros suplentes (2004-2007) Adalberto Diniz, Aluísio Maranhão, Ancelmo Gois, André Louzeiro, Jesus Chediak, José Gorgulho, José Louzeiro, Lílian Nabuco, Luarlindo Ernesto, Marcos de Castro, Marcus Barros Pinto, Mario Augusto Jakobskind, Marlene Custódio, Maurílio Ferreira, Yaci Nunes. Conselheiros suplentes (2003-2006) Antônio Avellar C. Albuquerque, Antônio Callegari, Antônio Henrique Lago, Antonio Roberto Salgado da Cunha, Domingos Augusto G. Xisto Cunha, Hildeberto Lopes Aleluia, José Carlos Rego, Lorimar Macedo Ferreira, Marco Aurélio B. Guimarães, Marcus Antônio M.de Miranda, Mauro dos Santos Vianna, Pery de Araújo Cotta, Rogério Marques Gomes, Rosângela Soares de Oliveira, Rubem Mauro Machado. Conselheiros suplentes (2002 –2005) Adalberto Correa de Oliveira, Afonso César Gentil de Magalhães Costa, Anísio Félix dos Santos, Beatriz de Oliveira Santa Cruz Lima Chargel, Carlos Alberto Caó Oliveira, Geraldo da Conceição Lopes, Jesus Edgard M. Catoira, Leda Acquarone de Sá, Marcos Tristão Chargel, Maria do Perpetuo Socorro Vitarelli, Osmar Amicucci Gallo, Paulo Parisi Rappoccio, Rosa Alonso Simon Garcia, Ubirajara Moura Roulien.
A bênção de Lena 3
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JOÃO MÁXIMO
A íntegra do projeto de lei que cria o Conselho Federal de Jornalismo 4
Associação dos Correspondentes Estrangeiros quer mais debate nacional 17
Os sete pecados capitais do Conselho Federal de Jornalismo
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Brizola e o capitão Rodrigo
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Assessorias e redações – uma relação nem sempre fácil 22
CARLOS JURANDIR
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RUBEM MAURO MACHADO
GLÓRIA ALVAREZ
Quem tem ABI não precisa de DIP
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VILLAS-BÔAS CORRÊA
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A ABI diz não Empresa X Imprensa: qual o lugar da crítica?
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ENTAREVISTA COM ALBERTO DINES
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Crivella recorre à ABI em nome da ética
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Prensa Latina fecha acordo com Inverta para atuar no Brasil
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Getúlio – um desconhecido Um ato para ensinar a viver em liberdade
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Poerner lança nova edição de “O Poder Jovem”
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ABI mobilizada em apoio ao MP
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Mário Cunha, aquele que conhecia o gênero humano 15 MAURÍCIO AZÊDO
A grandeza de Mário Cunha
MARCUS BARROS PINTO
Informação: radiografia de um mercado em crise
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LUIZA MARIANI
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CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
Lembrança de Hélio Silva
Na fonte, em primeira mão ENTREVISTA COM VITOR IORIO
Jornalismo e orçamento: inimigos ou parceiros? 23
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MARIA CECÍLIA RIBAS CARNEIRO
Rádio Nacional – Reinauguração traz de volta velhos tempos
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Repórter mostra em livro que dinheiro fala mais alto nas eleições
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Uma reparação pelos traumas da tortura
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A grande noite de gala da ABI
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O Brasil aparece na ABI – Caprichoso e Garantido
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VÂNIA LOPES
Jornalistas de todo o Brasil associam-se à ABI pela internet
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Aprovadas 60 propostas de filiação
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Associação Brasileira de Imprensa Fundada em 7 de abril de 1908.
JORNAL DA ABI Rua Araújo Porto Alegre, 71, 7° andar. Telefone: (21) 2220-3222 / 2282-1292 CEP 22.030-010 – Rio de Janeiro – RJ (jornal@abi.org.br) Editora: Joseti Marques Assistente de edição: Raquel Ferraz Editoração: Osvaldo Moreira da Silva Impressão: Gráfica Lance – R. Santa Maria, 47 – Cidade Nova – Rio de Janeiro, RJ.
Jornalista responsável: Maurício Azêdo As reportagens e artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do Jornal da ABI.
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Jornal da ABI
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CONSELHO FEDERAL DE JORNALISMO
Gushiken e o sólido que se desmancha no ar
JOSETI MARQUES
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penas o poder absoluto acredita que pode administrar e indeferir na sociedade o que tem caráter de “valor definitivo”. Essa é a mais simples conclusão que se pode tirar da advertência feita aos jornalistas pelo Ministro da Secretaria de Comunicação de Governo e de Gestão Estratégica, Luiz Gushiken, a propósito da criação de uma autarquia para controle da imprensa: “Vocês são profissionais que sabem os limites da ação, sabem que a liberdade de imprensa é um valor definitivo na democracia, mas sabem também que numa sociedade nada é absoluto”. Embrulhado neste papel, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva assinou e encaminhou para publicação no Diário Oficial o projeto de lei que propõe a criação do Conselho Federal de Jornalismo. “Sou favorável à criação do Conselho Federal de Jornalismo, porque entendo que isso será bom
para o País”, afirmou. Para a Fenaj, que elaborou e vem lutando pelo projeto, um mimo no Dia do Jornalista; para a grande maioria da categoria, um presente de grego. A polêmica proposta, cujo texto explicita a intenção de controle e supervisão da imprensa e do trabalho do jornalista – sobre o qual, aliás, recai o elaborado conjunto de ônus e sanções que o projeto prevê –, juntou-se à contestação geral contra outro projeto, igualmente identificado como autoritário e cerceador, de criação da agência de controle da produção de cinema e televisão, a Ancinave. As reações indignadas de jornalistas, juristas e intelectuais de diversas áreas reuniram tendências as mais diversas sob a mesma bandeira de protesto contra o que se anunciava como a pior investida contra a liberdade de imprensa desde os tempos da ditadura. N a edição de Veja de 18 de agosto, o Procurador da República Luiz Francisco de Souza, a quem se atribuíam vazamentos de informações no Governo FHC para municiar os adversários do PT, afirmou que “a liberdade de imprensa, a liberdade cultural e a liberdade do Ministério Público são essenciais e devem ser ampliadas. Cercear a imprensa e o Ministério Público é caminhar para o autoritarismo ”. No extremo oposto, o ex-Ministro das Comunicações, Luiz Carlos Mendonça de Barros, lembrou que já sofreu nas mãos da imprensa, referindo-se ao caso do grampo no BNDES quando da privatização da Telebrás, mas que mesmo assim prefere “esse problema do que outro muito maior, que é uma sociedade com controle de informações.” O presente de grego acabou saindo pela culatra, quando deixou transparecer o perfil autoritário e centralizador de autoridades do Governo. Logo após os primeiros debates sobre o texto do projeto, quando ficou evidente o caráter de controle e cerceamento que a proposta impunha, descobriu-se que o texto havia sido alterado na Casa Civil, antes de ser enviado ao Congresso, aumentando o poder de punição do Conselho. Embora a assessoria de imprensa da Casa Civil tenha
admitido a interferência “para melhorar técnica e redacionalmente o texto ”, o Presidente da Fenaj, Sérgio Murillo de Andrade, disse que o projeto “não tem uma vírgula ” que não seja de responsabilidade da Fenaj: “Em conversa com técnicos, fomos limpando. Somos responsáveis pelas virtudes e pelos equívocos ”, declarou. O Ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, já era simpático à idéia de controle da imprensa, conforme deixou claro na exposição de motivos que assinou e enviou ao Presidente Lula no dia 27 de maio. Em sua argumentação, diz que a “criação de um conselho para fiscalização do exercício da profissão de jornalista é, portanto, instrumento fundamental para a construção de uma comunicação social submetida ao interesse público e aos princípios da responsabilidade social ”. Já o Ministro José Dirceu atribuiu à oposição políticopartidária e à política eleitoral a reação à proposta da Fenaj, que vinha sendo flagrantemente apadrinhada pelo Governo. O Chefe da Casa Civil disse ainda que os que estão contra o CFJ querem “ganhar no grito ” e “cercear o debate ”, afirmando que “se alguém abrir aqui uma revista ou outra vai pensar que o governo está montando uma conspiração ”. Resta perguntar: qual revista? A Veja, a Época ou a IstoÉ? A capa de Época de 16 de agosto traz, muito pelo contrário, uma reportagem sobre o Orkut, uma sociedade virtual, sem controle e sem imprensa. Veja de 18 de agosto explicita a polêmica da semana em um título direto: “A tentação autoritária – as investidas do governo do PT para vigiar e controlar a imprensa, a televisão e a cultura”. A revista IstoÉ traz na capa uma reportagem exclusiva que mostra “como o mau jornalismo transformou US$1 mil em US$1 milhão e levou à cassação, em 1993, de um forte candidato a Presidente do Brasil”, o então Presidente da Câmara dos Deputados Ibsen Pinheiro. Os fatos que sustentam – ou não – a reportagem de IstoÉ foram as armas com que se digladiaram as duas revistas, na busca da reparação da credibilidade ofendida ou da consolidação de posição no mercado. Mas é preciso notar como no mínimo estranha a coincidência de o assunto vir à tona exatamente quando o Governo e uma federação de baixa representatividade entre os jornalistas – mas com cinco dos seus sete diretores ligados de alguma forma ao Governo e ao PT – elaboram um tamanho retrocesso na ainda jovem democracia nacional. O “mau jornalismo” ocorreu há 11 anos e foi revelado à “vítima” pelo “mau jornalista” arrependido há quatro anos. Por que somente naquele contexto e naquele exato momento o assunto aparece como reportagem exclusiva? O próprio Ibsen Pinheiro declarou, na ocasião, que não achava que o caso merecesse pedido de reparação. Merecendo ou não, a sociedade que os tecnocratas mantêm fora do debate se encarregou de fazê-lo nas urnas, dando a Ibsen a mais expressiva votação nas últimas eleições para a Câmara de Vereadores de Porto Alegre.
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Jornal da ABI
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A íntegra do projeto de lei que propõe a criação do CFJ O texto, assinado pelo Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi encaminhado ao Congresso Nacional em 5 de agosto de 2004
Cria o Conselho Federal de Jornalismo-CFJ, institui o Código de Ética e altera a legislação sobre o exercício da profissão de jornalista. Art. 1º Ficam criados o Conselho Federal de Jornalismo - CFJ e os Conselhos Regionais de Jornalismo - CRJ, autarquias dotadas de personalidade jurídica de direito público, com autonomia administrativa e financeira. § 1º O CFJ e os CRJ têm como atribuição orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de jornalista e da atividade de jornalismo, zelar pela fiel observância dos princípios de ética e disciplina da classe em todo o território nacional, bem assim pugnar pelo direito à livre informação plural e pelo aperfeiçoamento do jornalismo. § 2o O CFJ terá sede e foro em Brasília e jurisdição em todo o território nacional. § 3º Cada CRJ terá sede e foro na capital do Estado ou de um dos Estados de sua jurisdição, a critério do CFJ. Art. 2º Compete ao CFJ: I - zelar pela dignidade, independência, prerrogativas e valorização do jornalista; II - representar em juízo, ou fora dele, os interesses coletivos ou individuais relativos às prerrogativas da função dos jornalistas, ressalvadas as competências privativas dos sindicatos representativos da categoria; III - editar e alterar o seu regimento, o Código de Ética e Disciplina, as resoluções e os provimentos; IV - estabelecer as normas e procedimentos do processo disciplinar; V - supervisionar a fiscalização do exercício profissional em todo o território nacional; VI - colaborar com o aperfeiçoamento dos cursos de jornalismo e comunicação social com habilitação em jornalismo; VII - autorizar, pela maioria absoluta dos seus membros, a oneração de bens imóveis; VIII - promover diligências, inquéritos ou verificações sobre o funcionamento dos CRJ em todo o território nacional e adotar medidas para a melhoria de s ua gestão; IX - intervir nos CRJ em que se constate violação a esta Lei ou às suas resoluções, nomeando composição provisória para o prazo que fixar; X - cassar ou modificar, de ofício ou mediante representação, qualquer ato de órgão ou autoridade do CFJ contrário a esta Lei, ao regimento, ao Código de Ética e Disciplina ou às resoluções e provimentos, ouvida a autoridade ou órgão em causa; XI - reexaminar, em grau de recurso, as decisões dos CRJ nos casos previstos no regimento; XII - definir e instituir os símbolos privativos dos jornalistas; XIII - resolver os casos omissos nesta Lei e nas demais normas pertinentes ao CFJ, assim como aqueles relativos ao exercício da profissão de jornalista e da atividade de jornalismo; XIV - fixar e cobrar de seus inscritos as anuidades e os preços por serviços; XV - fixar normas sobre a obrigatoriedade de indicação do jornalista responsável por material de conteúdo jornalístico publicado ou veiculado em qualquer mei o de comunicação; XVI - definir as condições para inscrição, cancelamento e suspensão da inscrição dos jornalistas, bem como para revisão dos registros existentes; e XVII - estabelecer as condições para a criação e funcionamento das seções dos CRJ. Parágrafo único. A intervenção de que trata o inciso IX deste artigo depende de prévia aprovação de dois terços dos membros do CFJ, garantido ao CRJ o amplo direito de defesa. Art. 3º Compete aos CRJ: I - editar seu regimento e resoluções; II - criar e regulamentar o funcionamento das suas seções, nas condições estabelecidas pelo CFJ; III - reexaminar, em grau de recurso, as decisões dos respectivos presidentes; IV - exercer a fiscalização do exercício da profissão de jornalista e da atividade de jornalismo; V - fiscalizar a aplicação da receita, deliberar sobre o seu balanço e as suas contas, bem como sobre os das suas seções; VI - fixar tabelas de honorários válidas nas respectivas jurisdições; VII - deliberar sobre os pedidos de inscrição, cancelamento e suspensão da inscrição dos jornalistas, bem como de revisão dos registros existentes; VIII - manter cadastro atualizado de jornalistas inscritos; e IX - emitir a carteira de jornalista, válida como prova de identidade para todos os fins legais em todo o território nacional, na qual serão efetuadas anotações relativas às atividades do portador. Parágrafo único. Os CRJ exercerão supletivamente, nas respectivas jurisdições, as competências e funções atribuídas ao CFJ nesta Lei, nas resoluções e nos provimentos. Art. 4º Todo jornalista, para exercício da profissão, deverá inscrever-se no CRJ da região de seu domicílio, atendendo às condições estabelecidas pela legislação. Art. 5º No exercício da profissão, o jornalista deve pautar sua conduta pelos parâmetros definidos no Código de Ética e Disciplina, mantendo independência em qualquer circunstância. Parágrafo único. O Código de Ética e Disciplina deverá regular também os deveres do jornalista para com a comunidade, a sua relação com os demais profissionais, o dever geral de urbanidade e, ainda, os respectivos procedimentos disciplinares, observado o disposto nesta Lei. Art. 6º Constituem infrações disciplinares, além de outras definidas pelo Código de Ética e Disciplina:
I - transgredir seus preceitos; II - exercer a profissão quando impedido de fazê-lo, ou facilitar, por qualquer meio, o seu exercício aos não inscritos ou impedidos; III - solicitar ou receber de cliente qualquer favor em troca de concessões ilícitas; IV - praticar, no exercício da atividade profissional, ato que a lei defina como crime ou contravenção; V - deixar de cumprir, no prazo estabelecido, depois de regularmente notificado, determinação emanada pelos CFJ ou CRJ, em matéria de sua competência; e VI - deixar de pagar aos CRJ as anuidades a que esteja obrigado. Art. 7º As penas aplicáveis por infrações disciplinares são as seguintes: I - advertência; II - multa; III - censura; IV - suspensão do registro profissional, por até trinta dias; e V - cassação do registro profissional. Parágrafo único. O CFJ estabelecerá os procedimentos administrativos para aplicação das penas previstas neste artigo. Art. 8º O poder de punir disciplinarmente os inscritos no CFJ compete, exclusivamente, ao CRJ em cuja jurisdição tenha ocorrido a infração. Art. 9º O processo disciplinar pode ser instaurado de ofício ou mediante representação de qualquer pessoa interessada ou entidade de classe dos jornalistas. § 1º O processo disciplinar tramitará em sigilo, só tendo acesso às informações e documentos nele contidos as partes e seus defensores. § 2º Ao representado será assegurado amplo direito de defesa, podendo acompanhar o processo em todos os termos, pessoalmente ou por procurador. § 3º Após a defesa prévia, caso se convença do descabimento da representação, o relator deverá requerer fundamentadamente o seu indeferimento e conseqüente arquivamento ao Presidente do respectivo CRJ. § 4º Compete exclusivamente aos Presidentes dos CRJ a decisão de arquivamento nos termos do § 3o. Art. 10 Caberá recurso ao CFJ de todas as decisões definitivas não unânimes proferidas pelos CRJ, ou, sendo unânimes, que contrariem esta Lei, o Código de Ética e Disciplina, decisão ou resolução do CFJ ou dos CRJ, bem como seus regimentos. Parágrafo único. Além das partes, o Presidente do CRJ é legitimado a interpor o recurso previsto neste artigo. Art. 11 Todos os recursos têm efeito suspensivo, exceto quando se tratar de processos relativos a eleições ou a inscrições obtidas com falsa prova. Art. 12 Os Presidentes do CFJ e dos CRJ prestarão, anualmente, suas contas ao Tribunal de Contas da União. § 1º Após aprovação pelo respectivo plenário, as contas dos CRJ serão submetidas ao CFJ para homologação. § 2º As contas dos CRJ, devidamente homologadas, e as do CFJ serão submetidas à apreciação do Tribunal de Contas da União. § 3º Cabe aos Presidentes do CFJ e de cada CRJ a responsabilidade pela prestação de contas. Art. 13 Constituem rendas dos CFJ e CRJ as doações, legados, rendimentos patrimoniais ou eventuais, taxas, anuidades, multas e outras contribuições. Parágrafo único. Constitui título executivo extrajudicial a certidão passada pelo CRJ competente relativa a crédito previsto neste artigo. Art. 14 Os empregados do CFJ e dos CRJ são regidos pela Consolidação das Leis do Trabalho. Art. 15 A organização, estrutura e funcionamento do CFJ e dos CRJ, bem assim as normas complementares do respectivo processo administrativo serão disciplinados em seus respectivos regimentos. Parágrafo único. Cabe ao CFJ dirimir as questões divergentes entre os CRJ, no que respeita ao processo disciplinar, baixando normas complementares que unifiquem os procedimentos. Art. 16 Até noventa dias após a posse da primeira composição do CFJ, a competência para a emissão da carteira de identidade profissional, prevista na Lei no 7.084, de 21 de dezembro de 1982, permanecerá com a Federação Nacional dos Jornalistas Profissionais - FENAJ. Art. 17 A primeira composição do CFJ será provisória, contando com dez jornalistas profissionais efetivos e dez suplentes, indicados pelo Conselho de Representantes da FENAJ, e tomará posse em até sessenta dias após a publicação desta Lei. § 1º O mandato dos conselheiros provisórios a que se refere este artigo terá a duração necessária para organizar a eleição de cinco CRJ. § 2º Caso o mandato provisório ultrapasse dois anos, o Conselho de Representantes da FENAJ indicará nova composição, nos moldes do caput, para ultimar a eleição dos cinco Conselhos Regionais. Art. 18 Enquanto não instalados os CRJ, suas atribuições serão exercidas pelo CFJ. Art. 19 Esta Lei entra em vigor na data da sua publicação.
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Jornal da ABI
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CONSELHO FEDERAL DE JORNALISMO
Os sete pecados capitais CFJ tem como inimiga a Constituição
CARLOS JURANDIR
À
1º – A Constituição violada
diferença de atividades como as dos médicos, engenheiros ou químicos, por exemplo, que têm repercussão na vida humana e no meio ambiente, a dos jornalistas, relacionada ao direito de informar, afeta a formação das consciências, não podendo, portanto, ser objeto de qualquer tipo de coerção ou condicionamento. Quando, de acordo com o projeto do Conselho Federal de Jornalismo, será função dos conselheiros “orientar, disciplinar e fiscalizar” a atividade de informar cabe a indagação: orientar em quê e como? Também na prerrogativa de “fi xar normas sobre a obrigatoriedade de indicação do jornalista responsável por material de conteúdo jornalístico publicado ou veiculado em qualquer órgão de informação”, esbarra o projeto em outras impropriedades, como a de estimular o dedurismo e representar, no fundo, uma espécie de Ato Institucional da época da ditadura, quando se propõe a “definir as condições para inscrição, cancelamento e suspensão da inscrição dos jornalistas, bem como para revisão dos registros existentes”. Baseados em instrumentos semelhantes, os militares que usurparam o poder em 1964 cassaram os registros dos jornalistas Antônio Callado e Leo Guanabara, decisão revogada por intervenção da ABI. Em ambos os aspectos do projeto de criação do Conselho Federal de Jornalismo, há violação da disposição constitucional segundo a qual ninguém é obrigado a fazer ou não fazer senão em virtude
deixe de pagar a anuidade, por estar desempregado, por exemplo, pode vir a ter cassado seu registro. Já os dez membros efetivos e dez suplentes do conselho, recebendo jetons por sessão, constituirão mais uma burocracia remunerada, nada mais, nada menos que pelegos com a missão de “orientar” o exercício da atividade profissional. Em seu amontoado de inconstitucionalidades e extravagâncias, o projeto chega a incorrer em inadequações de linguagem ao dizer, por exemplo, que competirá ao conselho “pugnar” pelo direito à livre informação plural e pelo aperfeiçoamento do jornalismo, como se fosse um time de futebol, que pugna sempre pelo melhor resultado, ou uma associação, que sempre pugna pelos interesses dos associados. É de se perguntar também se os jornalistas foram consultados a respeito desse órgão fiscalizador de sua profissão, mesmo tendo sido proposto pela Fenaj. Tais autarquias, conseqüências de deturpação da função sindical, longe de servirem à proteção democrática dos profissionais que deveriam representar, acabam se transformando em espaço de ampla corrupção. Reconhecida a condição de jornalista, são os códigos de ética profissional ou as leis em vigor que podem reger a atividade profissional. Também cabe perguntar: em que medida o novo órgão beneficiará a categoria dos jornalistas, além do que já é da competência da ABI, da Fenaj e dos sindicatos? Tudo indica que será criada uma nova casta de burocratas, irremovíveis após a conquista do aparelho.
2º – O condicionamento das consciências 3º – Um novo AI-5 4º – O controle do jornalismo 5º – Um novo imposto sindical
6º – A criação de uma casta de burocratas 7º – Um espaço de ampla corrupção da lei (artigo 5o da Constituição). Mas a síntese da inconstitucionalidade do projeto está no inciso IV do artigo 3o, que estabelece como prerrogativa do futuro Conselho “exercer a fiscalização do exercício da profissão de jornalista e da atividade do jornalismo”, ou seja, do produto da atividade jornalística, a reportagem, o comentário, a fotografia. Dispõe-se portanto a ser um órgão de controle da profissão, batendo de frente com o artigo 220 da Constituição, segundo o qual nenhum dispositivo legal pode constituir embaraço ao livre exercício da liberdade de imprensa. Aprovado tal projeto, os jornalistas serão obrigados a pagar anuidades ao CFJ como condição para o exercício da profissão, o que significa a criação de novo imposto sindical indireto. Caso
Violência, censura, impunidade e CFJ
A
violência contra jornalistas, censura e invasão de jornais, o projeto de criação do Conselho Federal de Jornalismo e o debate sobre as atribuições do Ministério Público ocuparam as reuniões da Comissão de Direitos Humanos em julho, agosto e setembro. Em julho, realizou-se na Casa ato público em defesa do MP, presidida pelo presidente Maurício Azedo, com a participação de representantes da Ordem dos Advogados do Brasil e procuradores de Justiça. A Comissão recordou a violência havida há anos no Estado da Bahia, quando foram assassinados jornalistas e cometidas agressões de toda ordem contra a imprensa, sem que se registre qualquer tipo de punição contra os responsáveis. Sobre o projeto do CFJ, que o Governo transformou em mensagem ao Congresso, a comissão informou que se trata de antiga postulação da Federação Nacional de Jornalistas . Informada a respeito, a ABI não tomou posição. Diretores de órgãos de comunicação a princípio se manifestaram contra, devido ao registro para o exercício da profissão e as regras sobre ética. Desde o começo, entretanto, a OAB, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil e o Ministério Público são contra o projeto. A Comissão apontou ainda as omissões no projeto relacionadas à própria ABI e associações de imprensa não sindicais, como as entidades de rádio, televisão, publicidade e propaganda. Os integrantes apoiaram decisão
do presidente Maurício Azedo de determinar a realização de estudos em colaboração com outras instituições, enviados como subsídio ao Congresso Nacional. Em agosto, registrou-se a decisão do juiz federal de Minas Gerais que resultou na invasão do jornal O Tempo, do Município de Betim, e prisão de seu diretor. A ação foi condenada pelo ministro do Supremo Tribunal Sepúlveda Pertence, o governador Aécio Neves, o Sindicato de jornalistas de Minas e a ABI. O juiz federal de Marília (SP) expediu mandado de notificação ao editor José Ursílio de Souza, do Diário de Marília, concedendo liminar à petição do PMDB local que pretendia interferir na linha editorial. O jornal anunciou que iria impetrar recurso ao Tribunal Superior Eleitoral. A Comissão, presidida por José Gomes Talarico, é integrada pelos jornalistas Adalberto Diniz, Altenir Rodrigues, Anísio Félix, Artur Nery Cabral (vice-presidente), Ariosto da Silva Pinto, Elisabeth Vilela da Costa, Germando de Oliveira Gonçalves, Irene Cristina Gurgel Amaral, Ítalo de Saldanha da Gama, Mário Augusto Jacobskind, Maria Cecília Ribas Carneiro, Nacif Elias Sobrinho, Paulo Parisi Rappoccio, Yaci Nunes. Orpheu Santos é consultor jurídico e Victor Iorio é delegado junto aos órgãos de direitos humanos.
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Jornal da ABI
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CONSELHO FEDERAL DE JORNALISMO
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ão é apenas a notória inexperiência administrativa do Presidente Lula e de grande parte de sua equipe que justifica a mania de criar conselhos a torto e a direito, o gosto pelas viagens domésticas e nos giros internacionais, da profusão de discursos com a muleta do texto preparado pelos seus redatores e das arengas improvisadas, com os adornos das metáforas de tempero popular. Passada a turbulência dos meses iniciais com o desgaste das contradições refletido na queda dos índices de popularidade, o alívio de êxitos inegáveis no controle da inflação e da discreta retomada do desenvolvimento, o Governo resolveu acertar as contas com os seus críticos e providenciar o reforço no policiamento da imprensa. Nesse ninho suspeito chocou o ovo da desastrada proposta, encaminhada ao Congresso, da criação do Conselho Federal de Jornalismo com funções definidas em três verbos precisos: orientar, disciplinar e fiscalizar as atividades jornalísticas. Vamos arrancar a máscara da hipocrisia e reduzir os eufemismos do resto do pudor a sua exata significação: o que o governo propõe é pura e simplesmente a censura à imprensa. Inspirou-se nos exemplos históricos mais recentes, do Departamento de Imprensa e Propaganda, o DIP de famigerada memória da ditadura ostensiva do Estado Novo de Getúlio Vargas à censura castradora nas diferentes fases dos quase 21 anos da ditadura militar. Convertido à necessidade de submeter a imprensa ao domínio do bridão que intimida e castiga, misturou alhos com bugalhos e expeliu o tal Conselho que esperneia debaixo da saraivada de condenações. Tentemos colocar um mínimo de racionalidade
Quem tem
não precisa de DIP VILLAS-BÔAS CORRÊA na mixórdia. A imprensa não é o paraíso dos santos e anjos nem o inferno do capeta. Com o saudável ímpeto investigativo que revolve as entranhas dos escândalos que grassam em todas as áreas, comete os excessos condenáveis da leviandade das denúncias sem a cuidadosa seleção das informações, precipita-se na quebra indiscriminada do sigilo protegido pela lei de contas bancárias, de gravações de conversas telefônicas e demais topadas indefensáveis. Mas, é suspeita a conclusão de que os desmandos reclamam a criação de novos órgãos repressores. O que não falta são saídas na lei para enquadrar os excessos na legislação penal, em geral nos crimes de injúria e difamação.
oJ pO iR nN iA ãL o I “Qualquer coisa que fale em controle, em orientação, inclusive punições – porque o artigo fala em punições; decididas por quem? quem vai formar esse conselho, qual vai ser o critério? – é absolutamente inadmissível”. SANDRO VAIA, Editor-chefe de O Estado S. Paulo
“Um órgão criado para fiscalizar, para orientar e para disciplinar, que estes são os verbos, isto é cerceamento, significa cerceamento da liberdade de imprensa, não há a menor dúvida”. MÁRCIO SABINO, Redator-chefe de Veja.
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É a mais pura e imaculada verdade que tais processos costumam dar em nada, com os réus escapando pelas cordas dos recursos infinitos à disposição dos advogados e que empurram os prazos até a prescrição. O que é verdade não apenas para os crimes de imprensa, mas para todos os acusados com recursos para contratar os serviços profissionais de advogados competentes. Cadeia não é feita para rico ou mesmo para o remediado. Compete ao Governo, ao Congresso e ao Judiciário, em ação conjunta, tapar as brechas nos códigos que envelheceram até a caducidade. As propostas de reforma empilham-se às dúzias nos arquivos da Câmara e do Senado. E não parece interessar ao governo nem ao Legislativo sacudir a poeira e tocar a revisão de urgência reconhecida. Quanto ao Conselho Federal de Jornalismo, a categoria está em condições de dispensá-lo em sumário e veemente repúdio. Pois órgão da classe, com tradição, legitimidade, importância já possuímos e mobilizada para a recuperação do seu patrimônio e da sua autoridade. A Associação Brasileira de Imprensa – a veterana e tradicional ABI – rejeita o CFJ com o bolor da ditadura e o jeito de filhote do DIP. Não por acaso, o primeiro órgão da classe a condenar o Conselho foi a ABI, através das sensatas e enérgicas declarações do seu presidente, Maurício Azedo. Se o Governo gosta de censura, comece por mirar-se no espelho e corrigir os vazamentos no telhado doméstico. A mais ativa fonte de fofocas, intrigas e fuxicos do País é o Palácio do Planalto. E seus anexos.
d T Ao Ss
“A iniciativa é a mais inábil e desatinada produzida na esfera da imprensa por um governo desde a volta da democracia, em 1985”. ALBERTO DINES, Editor do site Observatório de Imprensa
“Quem vai definir o que é um erro jornalístico? É uma profissão que lida com subjetividade, que lida com demandas da sociedade, lida com emoções. Realmente, é muito subjetivo você definir quando um jornal ou uma revista ou um órgão de imprensa ou uma televisão errou em uma determinada cobertura ou prejudicou alguém”. MERVAL PEREIRA, Colunista de O Globo
“Tem todas as características que representam cerceamento à liberdade de imprensa, ao estabelecer punição a jornalistas e o controle de empresas de comunicação”. Associação Nacional de Jornais - ANJ
“O governo Lula tem duas cabeças: uma de dia e outra de noite. De dia são democratas (...) de noite aparece a cabeça do velho stalinismo, o desejo de controlar tudo”. ARNALDO JABOR, Cineasta e colunista de O Globo
“A idéia de fiscalização pode representar também uma idéia de coerção, de condicionamento, que a ABI entende incabíveis nas relações entre o Poder Público e a comunidade jornalística. Trata-se de um órgão burocrático que nada vai acrescentar à defesa dos direitos dos jornalistas e ao aperfeiçoamento do processo de difusão de informações e de manifestação de opinião do país. Acho que um projeto que nada acrescenta aos jornalistas, à vida social e ao país”. MAURÍCIO AZÊDO, Presidente da ABI
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O Senador Hélio Costa, ao centro, preside a Comissão de Educação que discute o CFJEducação do Senado . À direita,o Presidente da ABI, Maurício Azêdo
A ABI DIZ NÃO A opinião da Casa é exposta em audiência pública no Senado
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jornalismo trabalha no campo imaterial das idéias e não pode, como outras profissões, ser objeto de regulação, disciplina e fiscalização, como previsto no projeto – disse o Presidente da ABI, jornalista Maurício Azêdo, que reafirmou a posição “radicalmente contrária” da entidade ao estabelecimento do Conselho Federal de Jornalismo, em audiência pública sobre o assunto promovida dia 15 de setembro pela Comissão de Educação do Senado Federal (CE). A ameaça à liberdade de
expressão foi a base da argumentação de Maurício Azêdo, para quem o projeto concede “poderes imperiais” ao CFJ. O Vice-Presidente da Associação Nacional dos Editores de Revistas (Aneer), Murillo de Aragão, considerou a proposta “confusa e inoportuna”, uma vez que, em breve, começará a ser discutida a reformulação da legislação sindical, o que poderá ter efeitos sobre as normas que regem os conselhos profissionais. O Presidente da Associação Bra-
sileira de Emissoras de Rádio e Televisão (Abert), José Inácio Pizani, criticou o projeto por estabelecer que o CFJ oriente e fiscalize o exercício da profissão, sem antes enumerar os princípios, direitos e deveres desses profissionais. Ele disse ainda que possíveis abusos dos jornalistas deveriam ser examinados pelo Poder Judiciário. – O projeto possui nítida intenção de controle da atividade jornalística, que deve seguir livre e independente – sustentou. O projeto de criação do Conselho
Federal de Jornalismo (CFJ), que recebeu críticas pela possibilidade de limitação da liberdade de imprensa, poderá ser substituído por um texto incorporando sugestões de entidades ligadas ao setor. “Um substitutivo é importante e viável, mas queremos que o Legislativo não nos negue o direito a ter um conselho profissional” – disse o Presidente do Sindicato dos Jornalistas Profissionais de Minas Gerais, Aloísio Lopes, que também ocupa o cargo de Primeiro-Secretário da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj). Na opinião de Lopes, o novo texto poderia excluir expressões que pudessem dar margem à interpretação de que a proposta limitaria a liberdade de imprensa. Para ele, o que a categoria pretende é criar um órgão autônomo, desvinculado do Governo, e retirar do Ministério do Trabalho a atribuição de registrar os profissionais habilitados, além de transformar o atual Código de Ética em norma legal. A perspectiva de se chegar a um texto de entendimento também foi mencionada pelo representante da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Hermann Assis Baeta. Ele falou sobre a possibilidade de se corrigirem expressões contidas no texto, mas observou que a criação do Conselho não constituiria “nenhum absurdo” e nem poderia ser considerada inconstitucional. O presidente da Fenaj, Sérgio Murillo de Andrade, disse que a proposta de criação do CFJ é dos jornalistas e resultou de anos de debates em encontros da categoria. Ele incluiu entre os objetivos do projeto a definição de regras de acesso à profissão, uma vez que muitos jornalistas atualmente trabalhariam sem a habilitação adequada, e a fiscalização do exercício da profissão – e não do conteúdo produzido pelos jornalistas. Por proposta do Conselheiro Artur da Távola, o Conselho da ABI manifestou-se contra a idéia de substitutivo e reafirmou sua posição: é contra o projeto, com ou sem remendos.
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Na fonte, em primeira mão “Curioso, inquieto e questionador, o jornalista é um profissional que tem sede de saber. Tendo a informação como instrumento de trabalho, ele precisa estar sempre atualizado e disposto a rever permanentemente seu papel na sociedade.” Tal constatação serviu de inspiração para o jornalista e professor Vitor Iorio conceber o Projeto ABI Educar, uma iniciativa que compreende formação continuada, cursos livres e estudos independentes, todos voltados para o jornalista. Lançado este A nova diretoria da ABI, empossada recentemente, tem um propósito muito firme de fazer com que a Casa do Jornalista recupere a sua representatividade diante dos jornalistas e dos estudantes de comunicação social. Neste sentido, o que representa o projeto ABI Educar, que está sob a sua coordenação, para este esforço? — Vitor Iorio: A ABI está retomando seu lugar como a Casa do Jornalista, um espaço onde estudantes, jornalistas recém-formados e veteranos podem se encontrar para trocar experiências, avaliar a atuação da mídia, acompanhar a repercussão do trabalho jornalístico, discutir as questões nacionais e profissionais. Desses encontros, espera-se resgatar a identidade do jornalista como ator social de representação política. Ou, quem sabe, até repensar o seu papel neste novo cenário tão cheio de desafios. Nesse sentido, o Projeto ABI Educar representa novas possibilidades de encontro -- e encontros com a perspectiva de crescimento profissional. O Projeto atua em várias frentes, oferecendo cursos, palestras, debates e formação acadêmica continuada. Todas estas iniciativas estão voltadas tanto para os jornalistas profissionais como para os estudantes de Comunicação. Queremos oferecer aos veteranos a oportunidade de arejar idéias, rever conceitos, conhecer novas especializações, preparar-se para os desafios da profissão. Queremos também acolher na ABI os futuros jornalistas e os recém-formados das escolas de Comunicação. Só no Rio, são mais de 18 escolas, fora Niterói, Petrópolis, Teresópolis e outras cidades do Estado. Queremos trazer sangue novo para a ABI para renová-la com o vigor destes jovens e, em troca, proporcionar a eles um contato com a experiência profissional. Como funciona o projeto? — Vitor Iorio: O Projeto ABI Educar se desdobra em quatro iniciativas: os Cursos Livres, o Quinta às Cinco, a Formação Continuada, e o Temas em Debate. O primeiro começa no dia 4 de outubro, o segundo estreou dia 16 de setembro, e os dois últimos ficam para 2005. Nos Cursos Livres, jornalistas especializados vão dar aulas
mês, o projeto espera mobilizar sócios e não-sócios da Casa do Jornalista e revitalizar a instituição, conquistando o jovem jornalista interessado em aprimoramento profissional. “A proposta de educação permanente oferecida pela ABI vem preencher uma importante lacuna tanto para os jornalistas veteranos como para os recém-formados, ou mesmo para os alunos de Comunicação”, comenta o coordenador do projeto, doutor em Comunicação e Cultura.
sobre suas especializações, à luz de suas experiências profissionais. Para os estudantes de Comunicação, por exemplo, é uma oportunidade de ter contato com o trabalho do jornalista, complementando a abordagem acadêmica da faculdade. Os Cursos Livres se destinam tanto aos sócios como aos não-sócios da ABI. A cada mês será oferecida uma série de oito cursos. Os de setembro já estão em andamento. Os Cursos Livres vão continuar ao longo de 2005. Haverá apenas uma interrupção para o recesso do final de ano. Dentro ainda dessa primeira fase do Projeto ABI Educar, lançado no dia 16 de setembro com o jornalista Milton Temer falando sobre a “A ética da informação” e teve escritor e jornalista Sérgio Cabral como palestrante dia 23 de setembro, com o tema “ O multimídia Ary Barroso”o “Quinta às Cinco”, que são encontros semanais com 17 profissionais de renome em diferentes áreas do saber para discutir, à luz da sua autoridade intelectual, o tema “Brasil de Hoje”. São ao todo 34 horas de palestras dirigidas a alunos de Comunicação de todas as faculdades do Rio e Niterói. Essas palestras são gratuitas para os estudantes de comunicação: eles devem se inscrever junto à coordenação de sua faculdade. Dezoito escolas de Comunicação foram convidadas e cada uma tem direito a selecionar de 20 a 30 alunos para participar do projeto. O aluno que completar 75% de freqüência ganha o certificado ABI. No elenco de palestrantes podemos destacar não só o presidente e o vice-presidente da ABI, Maurício Azêdo e Milton Temer, como também João Máximo, Emir Sader, Ancelmo Góis, Aloísio Teixeira, Carlos Nelson Coutinho, Carlos Lessa, Joel Rufino, Muniz Sodré, Beatriz Resende, Cícero Sandroni, Villas-Bôas Correia, Eloy Fernandes y Fernandes, Salete Macalóz, Sérgio Cabral e Silvio Tendler. É um timaço. Este é apenas o primeiro módulo. Em 2005 tem mais. A Formação Continuada será uma pós-graduação lato sensu com corpo docente de doutores, patrocinada pelo FAT e com certificado UFRJ. O curso terá duração de 30 meses e o certificado será conferido mediante apresentação de uma dissertação. Serão oferecidas 30
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Vitor Iorio
vagas (algumas possivelmente terão bolsa de estudo) preenchidas após um exame de seleção. A Formação Continuada, no entanto, só vai ser implantado em 2005. Você citou três projetos que estão incluídos nesta iniciativa maior que se chama ABI Educar... — Vitor Iorio: É, tem um quarto, que é o “Temas em Debate”, que começará, provavelmente, em março de 2005, com debates sobre vários temas, como violência, energia, futebol, esporte, ideologia, enfim, vários temas nacionais... Vamos reunir, a cada evento, quatro profissionais para debater sobre um tema. Será um painel de opiniões e visões singulares oferecido para sócios e não-sócios da ABI. Ou seja, não são temas exclusivamente de ordem jornalística. É a busca de uma formação mais ampla, mais completa possível... — Vitor Iorio: Exatamente. Eu diria que o Projeto ABI Educar pretende oferecer uma formação crítica, baseada na associação do saber acadêmico com o saber profissional. O jornalista recém-formado vai perceber que é importante para ele sair da faculdade e passar pela ABI. O jornalista pro-
fissional também vai ter a ABI como um espaço para reciclagem, para refrescar e atualizar o saber acadêmico adquirido há tanto tempo. Este cruzamento de experiências e interesses vai revigorar a Casa do Jornalista. Além disso, o Projeto ABI Educar, ao trazer estudantes e novos jornalistas, vai certamente promover uma renovação do quadro de associados da ABI. É uma necessidade ampliar este quadro para que a ABI seja sempre representativa dos jornalistas brasileiros e possa sempre manter atualizada sua visão sobre o jornalismo, sobre o jornalista e sobre o papel de ambos na sociedade. Você, sendo profissional da academia, que tem uma experiência dentro da universidade, propôs essas iniciativas a partir de qual sensibilidade, de qual visão do aluno que está saindo ou passando pela universidade? Estão sendo propostos esses cursos e palestras em função de determinadas deficiências de formação que os cursos de Comunicação não estão conseguindo resolver? — Vitor Iorio: Não diria propriamente que o Projeto ABI Educar estaria tentando suprir deficiências no ensino da Comunicação. Diria que as escolas de Comunicação estão equivocadamente investindo na formação técnica do aluno, quando sua verdadeira missão é instrumentalizar os estudantes com um saber que lhes permita pensar sobre sua profissão, olhar criticamente a realidade a partir de um profundo conhecimento das ciências sociais e refletir sobre o impacto que o uso de diferentes técnicas de jornalismo têm sobre a sociedade. Não cabe às faculdades forjar operários da Comunicação. O jornalista não pode ser visto como um operador de câmera, um digitador de textos, um mero organizador de dados sob a lógica da pirâmide invertida. Esta é uma deformação própria da economia de mercado levada desastrosamente para o setor de ensino. O pensamento não deve se render aos caprichos do mercado, mas as escolas, que vivem da matrícula de seus alunos, tendem a satisfazer o interesse tecnicista dos alunos e a fabricar jornalistas para atender às necessidades dos veículos. Sua tarefa, no entanto, é muito mais nobre, até porque dificilmente as faculdades conseguem acompanhar a velocidade tecnológica exigida pelo mercado de trabalho. À ABI também não cabe proporcionar formação acadêmica, nem treinamento prático. A Casa do Jornalista, repito, é um espaço de encontros, de trocas de experiências em que o estudante de comunicação terá a oportunidade de Continua ...
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aprender a partir do testemunho de jornalistas mais experientes, a partir do relato de suas trajetórias profissionais, a partir das reflexões que o dia-a-dia da redação lhes descortina. O Projeto ABI Educar foi concebido para proporcionar a partilha das diversas visões que o jornalista tem do jornalismo. Mas se por um lado há a preocupação com o estudante, o Projeto ABI Educar também visa o profissional que já está no dia-a-dia. Qual proposta de formação o projeto tem para este profissional que está no batente? — Vitor Iorio: O jornalista é, por vocação, um ser curioso, inquieto, questionador. É um profissional que tem sede de saber. E, a cada dia, ele é desafiado pelo dinamismo dos acontecimentos, pela velocidade da apuração, pela pluralidade de versões, pelas transformações que redesenham a cada momento o perfil político, sociológico e psicológico do mundo, das comunidades e das personagens. Por isso, digo que não bastam a vocação, a sensibilidade, a experiência, o diploma: o jornalista tem que ter
Formação continuada a preços acessíveis humildade e grandeza para reconhecer que é preciso aprender sempre. O jornalista responsável e consciente de seu papel na sociedade sabe que não pode se fechar na redação, que precisa estar antenado com a reflexão contemporânea sobre o mundo e sobre o próprio exercício do jornalismo. Constato isto freqüentemente quando encontro meus ex-alunos nas redações. A maioria lamenta que não tem conseguido ler, estudar ou se dedicar à reflexão depois que saiu da faculdade e ingressou na rotina estressante do trabalho. Logo, pode-se concluir que estudar é bom sempre e faz falta. Estudar não tem absolutamente nenhum tipo de impedimento: nem de idade, ou do fato de já estar formado, ou de já estar trabalhando. O Projeto ABI Educar foi concebido com base nestas constatações e obteve, logo de início, o compromisso da ABI de ofere-
cer aos jornalistas de todas as idades e em qualquer estágio da carreira a oportunidade de se aprimorar, atendendo as necessidades dos profissionais e respeitando suas disponibilidades de horário e seus orçamentos. É preciso destacar que, diferentemente das ofertas do ensino particular, os cursos da ABI têm custo baixíssimo, isso quando não são gratuitos. O que podem esperar os estudantes de comunicação social e os jornalistas de outras regiões do país fora do Rio de Janeiro? — Vitor Iorio: Nós estamos muito interessados em, já no ano que vem, estudar a possibilidade de implantar o Projeto ABI Educar à distância. Isto já está sendo tratado. É preciso, no entanto, estabelecer detalhadamente as condições de funcionamento em cada unidade exter-
Julho/Setembro de 2004 na para que a idéia possa reproduzir o sucesso da iniciativa carioca. Você espera que essa seja a contribuição da ABI para um jornalismo melhor? — Vitor Iorio: Acho que a ABI, nos seus quase 100 anos, está preocupada em corresponder aos anseios dos jornalistas. Antes de participarmos da direção da Casa do Jornalista, realizamos um seminário para conhecer qual a ABI que os jornalistas queriam. No seminário e na pesquisa de opinião realizada paralelamente aos debates, ficou claro que a “ABI que nós queremos” é uma casa participativa, uma ABI de todos os jornalistas do país. Queremos chegar em todo canto do Brasil com cursos, discussões, palestras-aula; queremos chegar a todo jornalista e dizer: aqui você não só tem a sua associação de categoria, como você tem aqui jornalistas como você que estão pensando, discutindo, refletindo para poder proporcionar uma formação continuada que permita o exercício de um jornalismo melhor.
Crivella recorre à ABI em nome da Ética Candidato considerou-se vítima de perseguição de O Globo na cobertura da campanha eleitoral Sentindo-se perseguido e agredido pelo noticiário de O Globo durante a campanha eleitoral para Prefeito da Cidade do Rio de Janeiro, o Senador Marcelo Crivella, candidato ao cargo pelo Partido Liberal-PL, solicitou uma audiência à Diretoria da ABI para apresentar uma representação contra o jornal, sob a alegação de violações da ética jornalística. Em sua sessão ordinária de 9 de setembro, a Diretoria da ABI ouviu o parlamentar, que expôs suas queixas em relato que se estendeu por cerca de 40 minutos. – No momento em que a ética no jornalismo ocupa o debate nacional, quero levar pessoalmente essas denúncias à Associação Brasileira de Imprensa e à Federação Nacional dos Jornalistas –, disse o Senador Crivella em extenso comunicado sob o título – Nota do Senador Marcelo Crivella à imprensa –, na qual acrescentava: – Quero ainda conclamar todos os órgãos de comunicação corretos deste País a se unirem a mim nesta cruzada em defesa da democracia, da ética eleitoral e da liberdade de imprensa com responsabilidade.
Os materiais entregues à ABI pelo Senador foram encaminhados pela Diretoria ao Diretor de Redação de O Globo, jornalista Rodolfo Fernandes, e aos membros da Comissão de Ética Jornalística da Casa, jornalistas Alberto Dines, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti, com pedido para que se manifestassem sobre a exposição de Crivella. O expediente com esse fim foi firmado em 28 de setembro, após comunicação feita pela Diretoria ao Conselho Deliberativo em sua sessão ordinária de setembro, realizada na véspera. No encontro com os diretores da ABI, o Senador Crivella expôs questões relatadas na documentação entregue à Casa, como os diálogos que manteve em dias seguidos com uma repórter de O Globo, Elenilce Bottari, que em determinado evento da campanha, numa entrevista coletiva, quis saber dele se considerava que o candidato César Maia (PFL) estava de salto alto – isto é, como na gíria esportiva, se já estava se considerando vencedor e desdenhava dos concorrentes. – Eu disse à jornalista que não
responderia à questão, que não considerava pertinente, digna de qualquer comentário. No dia seguinte, em outro evento da campanha eleitoral, a mesma repórter voltou a repetir a pergunta. Tentei evitar responder, mas finalmente, por delicadeza, diante da insistência da jovem, decidi oferecer uma resposta genérica. Disse-lhe que considerava o candidato César Maia um homem amadurecido, já perto da senectude e suficientemente sensato para não perder o respeito pelos concorrentes. Contou o Senador que no dia seguinte, 8 de julho, foi surpreendido pelo tom e pelos títulos dados ao diálogo com a jornalista. Na primeira página, O Globo deu a chamada “Crivellla, de 47, chama César, de 59, de velho”. Na página interna, a matéria recebeu o seguinte título: “Crivella atira em César e atira na terceira idade”. Crivella, que compareceu à ABI com os jornalistas Jacques Galinkin e Luiz Erthal, de sua Assessoria de Imprensa, anunciou que, além de representar contra O Globo junto à ABI e à Fenaj, adotaria várias medidas legais contra o jornal:
1. pedido de instauração de inquérito da Polícia Federal para apurar suposto crime de quebra de sigilo fiscal na Receita Federal do Rio de Janeiro; 2. processo civil e criminal contra O Globo por calúnia, difamação e injúria, cuja indenização será doada integralmente à Fazenda Nova Canaã, em benefício das crianças pobres do sertão (da Bahia); 3. entrega desta denúncia ao Ministério Público Eleitoral, com pedido de investigação por crime de manipulação eleitoral; 4. entrega desta denúncia ao Ministério Público Eleitoral, com pedido de investigação para crime eleitoral de abuso do poder econômico e uso indevido de meio de comunicação; 5. pedido de direito de resposta pela Lei de Imprensa; 6. tudo isso sem prejuízo de todas as medidas judiciais cabíveis e representações que a coligação Todos pela Paz apresentou e ainda apresentará ao Tribunal Regional Eleitoral; 7. encaminhamento desta denúncia ao Ministério Público Federal.
MEMÓRIA DO ESPORTE, UM SHOW DE BOLA COM JOSÉ REZENDE, NO ABI ONLINE – WWW.ABI.ORG.BR
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C O M A P A L AV R A , A L B E R T O D I N E S
EMPRESA X IMPRENSA Qual o lugar da crítica? A demissão dos jornalistas Alberto Dines, pelo Jornal do Brasil, e de Jorge Kajuru, pela Bandeirantes, lançou ao centro do ringue uma velha questão que tomou conta dos debates, pelo menos na internet, durante o mês de julho – existe imprensa fora da empresa? No caso Dines/JB, a linha tênue que, ao invés de separar, amarra essas duas instâncias acabou por iluminar uma outra e urgente discussão: qual o lugar da crítica, quando o objeto é a imprensa? O caso Kajuru/Band, embora também se enquadre na polêmica relação da imprensa com a empresa, evidencia uma outra questão: a liberdade de imprensa – ou seja, a liberdade de a imprensa cumprir o contrato simbólico que rege suas relações com a sociedade. A figura do jornalista ganha contornos muito nítidos quando esse contrato é
de alguma forma prejudicado. O jornalista não é a garantia de uma imprensa comprometida com o cidadão, embora seja o fiel depositário de seus interesses. Neste ponto, a presença incômoda e oportunista do natimorto Conselho Federal de Jornalismo presta um serviço. No rastro da discussão, quem sabe encontraremos o bisturi sutil que separe as siamesas imprensa/empresa sem que uma das duas venha a morrer? No início de julho, o Jornal da ABI conversou com Alberto Dines sobre a complicada relação entre empresa e imprensa, quando ainda não pairava sobre a cabeça dos jornalistas a idéia obtusa de que “orientar, disciplinar e fiscalizar o exercício da profissão de jornalista e da atividade de jornalismo” são as ferramentas ideais para se garantir a ética. Amicucci Gallo
JOSETI MARQUES Você acredita que possa mesmo haver uma imprensa livre de pressões da empresa? — Alberto Dines: Claro que pode. Não sei se no Brasil isso é factível e imediato. Mas se é possível existir uma imprensa sem pressões da empresa em outros países – EUA, Inglaterra, França, Alemanha, Espanha –, se é possível existir um jornalismo livre das pressões da empresa jornalística, é sinal de que nós estamos um pouquinho atrasados. É claro que tem setores do Brasil que estão, digamos, na vanguarda. Já podem se equiparar a certos países fora daqui. Mas há uma retaguarda – empresa jornalística que se comporta como se estivesse na época do Chateubriand ou até antes ainda. No artigo que levou à sua demissão do JB, onde você faz a crítica da cobertura dos jornais cariocas sobre a chacina na Casa de Custódia, o jornal Extra aparece como tendo feito uma cobertura melhor até do que a do O Globo... — Alberto Dines: Não. Eu acho que, inclusive, eles jogaram bem, quer dizer, cada um fez uma cobertura num estilo determinado. Eu só acho – e aí é uma questão pessoal minha, opinião – que a cobertura do Extra foi mais intensa. Acho que teve até resultados melhores e é uma pena que O Globo não tenha feito isso. Não porque um venda mais do que o outro, porque parece que eles se equivalem hoje. Mas é porque O Globo circula nacionalmente, num circuito de modificadores de opinião que são as classes mais prósperas. E sobretudo circula em Brasília. Quer dizer, se O Globo tivesse feito, na sua linguagem, aquilo que o Extra fez, o efeito dessa denúncia seria muito maior.
Alberto Dines, Editor do site Observatório de Imprensa
Mas por que você acha que isso não ocorreu, se O Globo e o Extra são do mesmo grupo? — Alberto Dines: Eles procuraram – eu não sei; aí é uma suposição minha – adaptar os estilos aos respectivos jornais. Eu acho que o Globo seria mais eficiente se tivesse feito um trabalho mais intenso. Eu não digo melhor, porque foi bom o do Globo também. Mas mais intenso. Pode ter sido um erro de avaliação. Eles acharam que cada jornal tem seu estilo e aí... Mas, também, não posso garantir. Posso apenas dizer o seguinte: que este material do Extra no jornal do porte, da circulação de O Globo teria derrubado o Garotinho ou pelo menos ter iniciado um processo de impeachment contra ele.
Acha realmente que existe lugar para a crítica na imprensa brasileira? — Alberto Dines: Esse é um problema que eu diria que não está resolvido, não é? E não é só no âmbito dos jornais. Aí precisamos também ver com os coleguinhas, os que representam os donos de jornais, que esses são até mais rigorosos, mais intransigentes, não aceitam a crítica, não querem discutir porque eles são os donos. Você poderia dizer que já trabalhou em algum jornal onde a liberdade fosse plenamente garantida? — Alberto Dines: Não. Porque quando trabalhei em jornal, em redações normais, a crítica à imprensa es-
tava começando, em 75, na Folha de S. Paulo. E eu me lembro que um dia eu fiz uma crítica à Folha e o Cláudio Abramo, que dirigia o jornal, teve que segurar uma verdadeira rebelião, porque não queriam que saísse. Eu fiz uma crítica, eu diria até insignificante... Fazia um ano da reforma do jornal e, além da página de Opinião, não tinham acrescentado muita coisa ainda na parte jornalística. O pessoal ficou na maior irritação e o Cláudio Abramo teve que fazer uma concessão às bases e publicou a minha nota desse tamanhinho. Inclusive ficou gritante, porque a coluna toda tinha um corpo e essa nota, no meio da coluna, ficou com o corpinho menor. Foi a forma que ele encontrou para contentar as bases, mas os jornalistas não gostam de ser criticados, não gostam... De que forma o leitor poderia colaborar para tornar o trabalho da imprensa mais eficiente? — Alberto Dines: Não sei. Fazer grupo de discussão. Eu acho que há coisas a serem pensadas. Mas eu acho que é indispensável estender o debate sobre a imprensa a todos os segmentos sociais. Todos. De preferência aqueles que representam entidades grandes. Começa por cima e vai se espalhando na base da pirâmide. Eu acho que é só isso, porque de resto não há o que se fazer. Não adianta punir, não adianta pedir censura. Claro, eu acho que tem algumas medidas que o governo pode tomar com relação à mídia eletrônica, porque são concessões públicas. E aí este governo tem sido um banana. Acha que a internet pode ter um papel definidor de uma nova imprensa, ou de pelo menos de uma imprensa mais crítica? — Alberto Dines: Teve. Nesse caso da minha demissão do JB teve. A repercussão foi impressionante, pela internet. Em questão de duas horas estava em todos os sites. Estavam me telefonando, pedindo declarações. Criou uma bola de neve. Isso numa sexta-feira, véspera de um fim de semana, em que está todo mundo querendo fechar as edições. Me procuraram no sábado, no domingo. Eu acho que o caminho para o grande debate passa, obrigatoriamente, pela internet. A não ser que, de repente, algum editor de jornal perceba que tem aí uma oportunidade para ele se diferenciar. E, também, eu não digo só para se discutir a imprensa, mas discutir tudo mais abertamente, propor mais transparência. Sobre o Brizola, por exemplo: o Brizola morreu na segunda-feira e em pouco mais de uma semana ninguém discutiu o Brizola aí na mídia. Discutiram Proconsult, sim. Mas Brizola e a mídia, o homem que soube usar a mídia, confrontando a mídia, isso ninguém fez. E olha, que eu faço muitas restrições ao Brizola. Mas nesse caso ele soube usar e decidir quem vai dar a última palavra. Ele sempre deu a última palavra.
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Pessoal da Varig dirige SOS à ABI Crise nas relações de trabalho na empresa faz pilotos, engenheiros e mecânicos de vôo e comissários de bordo pedirem a mediação da ABI junto às autoridades do Governo Federal As associações de trabalhadores da Varig – pilotos, engenheiros e mecânicos de vôo e comissários de bordo – recorreram à ABI em busca de apoio à luta que travam há mais de dois anos contra a empresa, que demitiu 31 pilotos em fevereiro de 2002, alegando justa causa para as dispensas, e depois, em setembro seguinte, demitiu mais 32 pilotos, em represália aos questionamentos que a Associação dos Pilotos – Apvar fez acerca do débito da empresa com o Aerus, o fundo de pensão de seus empregados. Em três visitas que fizeram à Diretoria da ABI, dirigentes das três associações relataram uma série de violências praticadas pela empresa contra os seus empregados, entre as quais uma típica do período mais feroz da repressão da ditadura militar: a afixação de cartazes com fotografias dos pilotos demitidos nos aeroportos do País, expondo-os ao escárnio público. Passados mais de dois anos, a Varig não cessou as perseguições: em julho passado, ela comunicou que a partir de agosto suspenderia o desconto em folha das parcelas relativas à Associação dos Comissários de Vôo, entre estas as relativas a planos de saúde. Esse desconto era feito em folha há 32 anos, o que demonstra a virulência com que a Varig agora resolveu agir. APELO A DIRCEU
Diante das denúncias, a ABI dirigiu longa e minuciosa exposição ao Ministro Chefe da Casa Civil da Presidência da República, Deputado José Dirceu, pedindo-lhe que interviesse junto aos Ministros do Trabalho, Ricardo Berzoini, e da Defesa, José Viegas, ao qual é vinculado o Departamento de Aeronáutica Civil – DAC, para que promovessem iniciativas visando à cessação das violências da Varig. Dias após a manifestação da ABI, as associações dos funcionários da Varig foram recebidas por autoridades do Ministério do Trabalho: depois de muito tempo, rompia-se o gelo do Governo em relação à crise nas relações de trabalho na Varig. No expediente que dirigiu ao Ministro José Dirceu, a ABI assinalou que sua intervenção no episódio, após os apelos que os funcionários da Varig lhe dirigiram, não constituiu nenhuma exorbitância em relação à destinação da entidade, que após o golpe militar de 1º de abril de 1964 transformou a sua tradicional Comissão de Defesa da
Liberdade de Imprensa em Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e dos Direitos Humanos, que teve destacada atuação nesse último campo sobretudo nos anos 70. As práticas adotadas pela Varig, como a de expor retratos de pilotos demitidos em áreas de aeroportos – tal como fazia o regime militar, que exibiu entre outros retratos o do então líder estudantil José Dirceu –, constituem na visão da ABI inadmissível violação dos direitos sociais e dos direitos humanos de seus trabalhadores e tornam não só legítima mas necessária a intervenção da Casa do Jornalista. DIVERGÊNCIA
A denúncia encaminhada a Dirceu pela ABI gerou crítica de eminente sócio da Casa, o jornalista Aziz Ahmed, membro do Conselho Fiscal da ABI, que, em nota sob o título Desvio de rota (coluna Confidencial, Jornal do Commercio, 23 de agosto de 2004, página A-4), censurou a atuação do Presidente da ABI, por considerá-la impertinente e constituir solidariedade a “uma categoria que nada tem a ver com aquela de que é legítimo representante”. Segundo Ahmed, tal posição teria sido adotada “sem ouvir a Diretoria ou o Conselho Administrativo”.* Também o Presidente da Varig, Carlos Luiz Martins, criticou a intervenção da ABI, “que se limitou a dar crédito a uma única fonte”. A observação de Ahmed de que a posição do Presidente fora assumida sem ouvir os órgãos de direção da Casa foi contestada pelo Presidente da ABI, em carta dirigida ao jornalista, que não publicou os esclarecimentos prestados e também não voltou mais ao assunto. Também o Presidente da Varig, que divulgara antes de chegar à ABI a carta a esta endereçada que ensejou a nota de Ahmed, não mais se pronunciou sobre o assunto nem respondeu à carta que a ABI lhe dirigiu em 27 de agosto saudando a sua decisão de se colocar à disposição da Casa “para os esclarecimentos sobre esta ou qualquer outra questão”. Nessa carta a ABI manifestou a convicção de que “o diálogo poderá conduzir à superação de problemas que – não há como negar – perturbam as relações entre a Varig e numerosos segmentos de seus funcionários”. A Associação de Pilotos da Varig, de seu lado, expressou seu reconhecimento à ABI por sua intervenção no
episódio. Em carta firmada por seu Presidente, Rodrigo Della Pasqua Marocco, a Apvar dirigiu esta palavras à ABI: “Foi com muita emoção que tomamos conhecimento da mensagem encaminhada pela ABI às autoridades e lideranças políticas brasileiras, bem como aos Presidentes da Varig e do Conselho de Curadores da Fundação Ruben Verta. Suas palavras nos deram a certeza de que a Associação Brasileira de Imprensa de hoje é a mesma instituição que enfrentou corajosamente a
ditadura e lutou pelo restabelecimento da democracia e das liberdades políticas em nosso país. Nossa luta continua em várias frentes. O Deputado Tarcísio Zimmermann (PT-RS), presidente da Comissão do Trabalho na Câmara Federal, vem tentando agendar uma audiência dos trabalhadores da Varig junto ao Ministério do Trabalho e temos certeza de que a carta enviada pela ABI será um importante instrumento de apoio à nossa causa neste encontro. Esteja certo, companheiro, que os trabalhadores da Varig não esquecerão a ajuda daqueles que nos têm estendido a mão durante estes tempos turbulentos que estamos passando. Por favor apresente a toda a sua Diretoria os nossos mais profundos sentimentos de reconhecimento. Sinceramente (a) Rodrigo Della Pasqua Marocco, Presidente.” Desde a primeira visita de líderes dos trabalhadores da Varig à Diretoria da ABI, a crise das relações de trabalho na empresa tem sido divulgada no site da Casa (www.abi.org.br), que publicou inúmeros textos a esse respeito. É improcedente a alegação de que as decisões da ABI no caso foram adotadas à revelia da Diretoria e do Conselho Deliberativo. Para se obter confirmação, basta acessar o site da ABI.
Prensa Latina fecha acordo com Inverta para atuar no Brasil
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m cerimônia dia 29 de julho na ABI, a agência de notícias Prensa Latina, criada pelo revolucionário cubano Ernesto Che Guevara, firmou acordo com a Inverta Cooperativa de Trabalhadores em Serviços Editoriais e Noticiosos para abertura de escritório no Brasil. No mesmo dia, às 18h, houve palestra do Cônsul-Geral de Cuba, Carlos Trejo. A solenidade de assinatura teve como testemunhas, além de Carlos Trejo, o Presidente da ABI, jornalista Maurício Azêdo, o editor da Inverta e representante no Brasil do jornal Granma Internacional, Aluísio Pampolha Bevilaqua, e Ronaldo do Livramento Coutinho, pós-graduado em Direito Ambiental pela UERJ. Após a cerimônia foi realizado um jantar de adesão no restaurante do Círculo Militar, na Praia Vermelha. Com ênfase para a América Latina e Caribe, mas também material noticioso da Europa, Estados Unidos e África, a agência vai funcionar na Rua Regente Feijó, nº 49, 2º andar, Centro do Rio.
RICARDO NOBLAT, FRITZ UTZERI, RUBEM MAURO MACHADO, ROBERTO M. MOURA E MUITOS OUTROS, NO ABI ONLINE www.abi.org.br
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m Getúlio desconhecido e surpreendente, sobretudo para os 58 estudantes do curso de História da Universidade Veiga de Almeida que, atendendo a uma recomendação do Professor Paulo Sérgio Miranda, compareceram à ABI para assistir à sessão Vargas: Olhares da Imprensa, realizada em 23 de agosto em memória do ex-Presidente, que é Presidente de Honra da Casa. É que os expositores – Villas-Bôas Corrêa, decano da crônica política do País, Carlos Heitor Cony, membro da Academia Brasileira de Letras, e Milton Temer, Vice-Presidente da ABI – escolheram ângulos pouco usuais para oferecer um perfil de Getúlio – como era chamado e venerado pelo povão – ou de Vargas – como o tratavam e tratam os historiadores e analistas políticos – à platéia que se comprimia na Sala Belisário de Souza, no sétimo andar da ABI. Muita gente acompanhou de pé a sessão, por subestimação, pela própria ABI, do interesse que o evento despertaria, como despertou. Entre os presentes, um antigo colaborador de Vargas, Guilherme Arinos, que trabalhou com ele ainda bem mocinho; a Professora Maria Cecília Ribas Carneiro, que o conheceu pessoalmente, logo após se formar na primeira turma de Jornalismo da Faculdade Nacional de Filosofia (ver texto à página 25); José Gomes Talarico, decano do Conselho da ABI e que conheceu o ex-Presidente quando estudante, nos anos 30, em São Paulo; uma sobrinha-neta de Getúlio, Edith Maria Vargas, Presidente da Casa do Pequeno Jornaleiro, instituição fundada pela primeira-dama Darci Vargas; um filho (engenheiro Luiz Osvaldo Norris Aranha) de um dos maiores amigos de Getúlio, o ex-Chanceler Osvaldo Aranha. Além destes, representantes políticos do trabalhismo, como o ex-Deputado federal Vivaldo Barbosa e o Deputado estadual Paulo Ramos, este chamado para integrar a mesa, assim como Arinos e Edith Maria Vargas. A primeira surpresa da sessão foi fruto da vivência e da pesquisa de Villas-Bôas Corrêa, que contou a impressão que lhe causaram as quatro visitas que fez a Getúlio em seu retiro de São Borja, após ser deposto da Presidência da República, em 20 de outubro de 1945. O repórter Márcio Beck anotou o depoimento de Villas para a bela reportagem que fez sobre o evento para o Jornal do Commercio (Debate mostra lado menos conhecido de Getúlio, JC, 24 de agosto, página A-10): “Encontrei-o acompanhado somente de Gregório e de peões da fazenda. Fiquei espantado em ver como Getúlio estava vivendo de forma miserável. O quarto dele era como o de um estudante pobre. Ele voltou para sua terra para um exílio que não sabia quanto tempo ia durar. Foi para lá esperar o tempo passar.” Após esse relato introdutório. Villas deixou perplexa a assistência,
Um desconhecido Um retrato pouco visto do ex-Presidente traçado por Villas-Bôas, Cony e Temer na sessão in memoriam “Vargas: Olhares da Imprensa”, promovida pela ABI AMICUCCI GALLO
Azêdo observa Cony, durante palestra ao lado de Edith Vargas e o Deputado Paulo Ramos AMICUCCI GALLO
Afonso Arinos (à direita), assessor de Getúlio em 1954, com Villas-Bôas Corrêa AMICUCCI GALLO
Temer (à esq.): “Getúlio volta, porque estamos vivendo na contradição de todas essas lutas”
pois devassou e anotou o Diário mantido pelo Presidente de 1937 a 1942 e editado em 1995 pela Siciliano e a Fundação Getúlio Vargas, compondo dois grossos volumes, para dali
pinçar arrebatamentos amorosos do autor dos registros. Ao longo de largo trecho, Villas pinçou as referências de Getúlio à sua enamorada, cujo nome ele não menciona ainda
que ofereça um pista para revelá-lo –– era sua bien aimée, sua bem amada, que Villas, por elegância, refere apenas como Aimée mas que Márcio Beck, como repórter que procura ir fundo, cita como “Aimée de Heeren –– que seria sua amante na década de 30 e hoje, nonagenária, mora em Paris”. Já Cony, que há muito pesquisa a vida e a obra de Getúlio e publicou livros sobre o tema, contestou que Getúlio fosse um oportunista, político que se aproveitasse de situações para empolgar o poder. Ele foi, sim, um político de oportunidades, que as aproveitava quando estas surgiam, com freqüência pela incapacidade ou impossibilidade de chefes militares, como os Generais Eurico Dutra e Góis Monteiro, assumirem o poder após ações que engendraram e comandaram. Diz Márcio Beck em sua reportagem: “Para o jornalista Carlos Heitor Cony, o papel dos colaboradores de Vargas –– como Lindolfo Collor, Maurício Cardoso e Osvaldo Aranha –– na opção pelo confronto com as forças de Washington Luís em 1930 é subestimado. Sem deixar de condenar as perseguições políticas e torturas promovidas pela polícia política chefiada por Filinto Müller, Cony lembrou que o período mais violento do governo foi de 1935 a 1937, quando foi necessário sufocar tentativas de golpe por parte dos comunistas e dos integralistas.” “Criou-se aí um ódio visceral ao comunismo. De 1937 em diante, com a Constituição apelidada de “Polaca”, o País entrou numa rotina ditatorial. Não estou com isso eximindo Getúlio, mas ele não tinha restrições à democracia. Não era um ditador no sentido clássico da palavra, mas um homem de oportunidades. A ditadura caiu na mão dele. Se pudesse, teria governado de outra maneira.” Márcio Beck diz que o último dos expositores, Milton Temer, Vice-Presidente da ABI, procurou contextualizar a homenagem ao presidente que cometeu suicídio há exatos 50 anos, relacionando-a com a oposição à globalização e o que chamou de ‘processo de desmonte do Estado-nação’. Após observar que Temer “lembrou que o voto feminino, férias remuneradas, estabelecimento do salário-mínimo e organização sindical foram iniciativas de Vargas”, Márcio Beck reproduz a essência de uma das conclusões do expositor: “No contexto atual, Getúlio volta porque estamos vivendo na contradição de todas essas lutas. É um processo que começou com Collor, aprofundou-se com Fernando Henrique Cardoso e está prosseguindo no Governo Lula, com laivos de um mandonismo crescente herdado do ambiente sindical, não diria nem autoritarismo.” As intervenções no “Vargas: Olhares da Imprensa” foram gravadas pela ABI, que está estudando a forma de colocá-las à disposição do corpo social assim que possível.
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Foto: Ignácio Ferreira
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Poerner lança nova edição de ‘O Poder Jovem’
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Rosinha: É preciso ajudar o ex-detento para não voltar ao crime
Um ato para ensinar o preso a viver em liberdade A Governadora Rosinha Garotinho assina em seminário na ABI decreto que muda a destinação do prédio onde morreram 31 presos rebelados
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ABI foi o cenário da assinatura de um importante ato de modificação da destinação da Casa de Custódia de Benfica, cujo nome ficara associado, em junho passado, a uma rebelião desencadeada em 31 de maio que provocou a morte de 31 presos. Na sessão de abertura do Fórum de Debates Cidadania, Criminalidade e Ressocialização, realizado no Auditório Oscar Guanabarino, no nono andar da ABI, em 12 de agosto, a Governadora do Estado do Rio, Rosinha Garotinho, assinou um decreto que transformou a Casa de Custódia no Centro de Observação e Reintegração Social, o qual acolherá pessoas que estão entrando no sistema penitenciário ou dele saindo para lhes proporcionar a orientação de médicos, advogados, psicólogos e assistentes sociais. – Queremos preparar essas pessoas para que elas não voltem à vida do crime – disse a Governadora Rosinha Garotinho, que presidiu a sessão inaugural do Fórum de Debates, promovido pela Secretaria de Estado de Administração Penitenciária e pela ABI, que indicou dois expositores do temário: a jornalista Sylvia Moretzsohn, que discorreu sobre Criminalidade – Crime e Sociedade, e o jornalista Francisco Pedro do Coutto, que expôs o tema Criminalidade – Causas, Concausas e Fatores Predisponentes — Etiologia do Crime. Pelo decreto, os presos na iminência de cumprimento da pena terão assistência, nos últimos três meses de privação da liberdade, para regularização de seus documentos, treinamento profissional e conhecimento das opor-
tunidades de trabalho. Primeiro expositor do Fórum, após a assinatura do decreto, o Secretário de Estado de Segurança Pública, Anthony Garotinho, informou que os presos que deixarem o sistema penitenciário, cumpridas as penas, serão monitorados por um sistema integrado de informática, que reunirá as informações das bases de dados da Secretaria de Segurança, da Secretaria de Administração Penitenciária e da Vara de Execuções Penais. O Fórum de Debates contou com sessões pela manhã e à tarde, a primeira delas mediada pelo Procurador-Geral de Justiça do Estado do Rio, Antônio Vicente da Costa Júnior, e na qual intervieram o Desembargador Álvaro Mayrink da Costa, Presidente do Fórum Permanente de Execução Penal da Escola de Magistratura do Estado do Rio de Janeiro, e o Deputado Geraldo Moreira, Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembléia Legislativa do Estado, além da jornalista Sylvia Moretzsohn. Na sessão da tarde, mediada pelo Presidente da ABI, fizeram exposições o Defensor Público Geral do Estado, Marcelo de Menezes Bustamante, o Juiz da Vara de Execuções Penais do Estado do Rio, Carlos Augusto Borges, e o jornalista Francisco Pedro do Coutto. Coube o encerramento ao Secretário de Estado de Administração Penitenciária, Astério Pereira dos Santos, que discorreu sobre o tema Ressocialização — A Pena Privativa de Liberdade — A Prisionização e apresentou um vídeo com as modificações operadas no sistema penitenciário do Estado na sua gestão.
jornalista e escritor carioca Arthur Poerner lançou dia 27 de julho, na ABI, o livro O Poder Jovem: História da Participação Política dos Estudantes Brasileiros (364 páginas, R$ 43,00). A quinta edição, revisada, ampliada e atualizada, conta todas as articulações do movimento estudantil desde o Brasil-Colônia até o Governo Lula. Editado logo após o assassinato do secundarista Edson Luís Lima Souto – em 1968, no Centro do Rio de Janeiro, durante manifestação de estudantes contra a ditadura militar –, o livro foi um dos primeiros da lista de publicações proibidas com o Ato Institucional n° 5, através de portaria do Ministro da Justiça, Alfredo Buzaid. Uma edição clandestina foi impressa pelos estudantes na gráfica da PUC de São Paulo, em 1977. A terceira edição só pôde sair com a abertura política, em 1979. A quarta foi publicada há nove anos, em São Paulo, pelo Centro de Memória da Juventude. A quinta edição traz a história da participação política estudantil desde a captura do corsário francês Jean-François Duclerc no Rio, em 1710, até o encontro da diretoria da UNE com o Presidente Lula, em outubro passado. Outra novidade é o prefácio do Ministro da Coordenação Política e Assuntos Institucionais da Presidência, Aldo Rebelo. O Poder Jovem é o terceiro livro de Poerner, também professor de Jornalismo da UERJ, letrista e bacharel em Direito. No próximo ano, o autor, nascido em 1939, completa 40 anos de engajamento pelas liberdades democráticas, na literatura e jornalismo. Ele iniciou a carreira de jornalista no Jornal do Commercio (1962); foi diretor da Folha da Semana e redator do Correio da Manhã (1963-70).
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Durante a ditadura, exilou-se na Alemanha, onde continuou exercendo a profissão como redator e locutor da Voz da Alemanha, de Colônia, correspondente do Pasquim (Rio) e da revista IstoÉ (São Paulo). Ao voltar ao Brasil, foi editor de cultura da TV Globo, além de colaborador da revista Cadernos do Terceiro Mundo e dos jornais Estado de S. Paulo, JB e Pasquim21. Foi membro do Conselho Administrativo da ABI. Atualmente, é colaborador do Jornal de Copacabana e, eventualmente, do Jornal do Brasil. Também é membro titular do PEN Clube do Brasil. Letrista, teve como parceiros os sambistas Candeia, João do Vale e Baden Powell. Foi presidente, no Rio, do Sindicato dos Escritores e da Fundação Museu da Imagem e do Som (MIS). Por causa dos seus livros e artigos, Poerner foi preso político e exilado, além de ter os seus direitos políticos suspensos por 10 anos pelo general Castelo Branco.
A ABI mobilizada em apoio ao MP
m parceria com outras entidades representativas de segmentos da sociedade, a ABI promoveu no último dia 9 de agosto, em seu auditório, na Rua Araújo Porto Alegre, 71, 9º andar, Centro, ato em defesa das atribuições investigatórias do Ministério Público. O ato, aberto ao público, teve a finalidade de chamar a atenção da população para o perigo que representa a supressão dos poderes investigatórios do Ministério Público.
A ABI entende que apoiar o Ministério Público, quando se levantam dúvidas a respeito da legitimidade de seu poder de investigar, significa defender os interesses da sociedade, principalmente em relação ao combate ao crime e à corrupção no País, já que as investigações conduzidas diretamente pelo Ministério Público têm-se mostrado, na nossa história recente, meio de grande eficácia na luta contra a impunidade.
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Mário Cunha, aquele que conhecia o gênero humano ANTÔNIO NERY
MAURÍCIO AZÊDO Discreto, avesso a estrelismos, sem o nome a figurar na assinatura de matérias, Mário Cunha era respeitado no meio profissional dos jornalistas, mas desconhecido pelo grande público leitor dos jornais, que nunca soube que ele foi um dos mais destacados responsáveis pelo levantamento e divulgação de informações sobre os crimes praticados contra os direitos humanos durante a ditadura militar. A atuação que desenvolveu nesse campo, sobretudo ao longo dos anos 70, quando a repressão alcançou o clímax de ferocidade, não era ignorada, porém, por quantos sofriam as violências do regime, que sabiam onde encontrar apoio para a denúncia que poderia salvar vidas: a Sucursal Rio de O Estado de S. Paulo, na Rua da Quitanda, 3, 8˚ andar, de que Mário Cunha era Secretário de Redação. Era freqüente ali a presença, em busca de informações, de mulheres resolutas, decididas, como Iramaya Benjamim, mãe dos jovens Cid e César Benjamim, que padeciam horrores nas prisões do regime, e Zilda Xavier Pereira, mãe dos jovens Yúri e Alex Xavier Pereira, mortos pela repressão em São Paulo, e ela própria vítima de sevícias da repressão. O Estadão, assim como o Jornal da Tarde, vespertino do Grupo Mesquita, encontrava-se sob censura prévia, mas a determinação de seus diretores, Júlio de Mesquita Neto e Rui Mesquita, era de que as equipes de reportagem e de edição não se dobrassem às restrições do regime e não praticassem a autocensura, como faziam outros jornais importantes. Essa orientação era transmitida aos jornalistas do Estadão em todo o Brasil pelo comando da redação central de São Paulo, integrado por Fernando Pedreira, Diretor de Redação, Oliveiros Ferreira, RedatorChefe, e Raul Martins Bastos, Chefe do Departamento de Sucursais e Correspondentes do Estadão, que mantinha uma equipe numerosa de jornalistas nas principais capitais do País. No Rio, o trabalho jornalístico da equipe do Estadão era comandado por Villas-Bôas Corrêa, Diretor da Sucursal, e por Mário, Secretário de Redação, que cumpriam com zelo e competência as instruções de São Paulo. Mário chegava à Redação por volta das 9h da manhã e podia encerrar a
Jornalista Mário Cunha, responsável pela introdução do sublead na técnica original do jornalismo
jornada no comecinho da noite, quando assumia o Subsecretário Antônio Carlos de Carvalho, mas raramente cessava sua atividade antes das 8 ou 9 horas da noite. Ele acompanhava com extrema atenção o trabalho dos repórteres, orientando-os na montagem dos textos, lendo as matérias produzidas, ora elogiando o resultado do trabalho, ora reclamando de tal ou qual insuficiência. Por vezes o repórter desanimava na elaboração de uma matéria, por saber que ela estava condenada ao veto do censor e seria substituída por estrofes de Os Lusíadas, de Camões, que o Estadão publicava em substituição aos textos impugnados. Mário convencia o companheiro a fazer o melhor, seguindo a orientação de São Paulo: não se poderia deixar de produzir qualquer matéria e transmiti-la para São Paulo, por telex – era o tempo do telex nas redações – ou por malote, sob o pretexto de que seria vetada pelo censor. Além de comandar a coleta e o tratamento das informações, Mário desen-
volvia ele próprio, embora dispensado de fazê-lo, o cultivo de fontes pessoais, que lhe permitiam subsidiar o trabalho dos repórteres no Rio ou elaborar relatórios especiais, reservados, para a direção do jornal em São Paulo. Ele mantinha contatos permanentes com importantes membros da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, que realizava com discrição e silêncio o difícil trabalho de defesa das vítimas da ditadura e de apoio às suas famílias, assim como cultivava o relacionamento com correspondentes da imprensa estrangeira em atividade no País. Entre esses destacavam-se Leonardo Greenwood, correspondente do Los Angeles Times, e Charles Vanhecke, do Le Monde, que também freqüentavam a Sucursal do Estadão. Mário estabeleceu com Greenwood um relacionamento tão afetuoso que os dois se tornaram compadres: Greenwood, inglês, fez questão de que Mário lhe batizasse o filho nascido no Brasil. Mário tinha o entendimento de
que o jornalismo tem um papel social a cumprir e deve ser praticado com depurado senso ético. Na visão dele, o jornalista não pode ser um alienado, um ser despolitizado, desatento à influência ou repercussão que o seu trabalho pode alcançar na vida social. Daí o seu engajamento na denúncia da ditadura e em questões que marcaram a sua passagem e a de Villas-Bôas Corrêa pela Sucursal Rio do Estadão, como a defesa do meio ambiente e da paisagem da Cidade do Rio de Janeiro, nas quais, naqueles anos 70, o jornal dos Mesquita teve um empenho que não se via na imprensa do Rio, então comprometida com a especulação imobiliária dos Sérgio Dourado & Cia. e dos Gomes de Almeida Fernandes. Um exemplo: o Pão de Açúcar e todos os morros que integram a vertente Sul do Maciço da Tijuca, à exceção do Morro de São João (Morro dos Cabritos), dado como perdido, foram tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional-Iphan como coroamento de uma campanha jornalística promovida pela Sucursal Rio do Estadão. Antes de se ligar ao Estadão, no qual trabalhou 20 anos, Mário teve prolongada atuação no Jornal do Commercio do Rio de Janeiro. Nascido em 6 de janeiro de 1933, ele se iniciou na profissão com pouco mais de 24 anos, talvez atraído para o jornalismo por seu irmão Geraldo, que era redator do Senado Federal e Secretário de Redação do JC, então com a Redação sob o comando de Luís Paulistano. Responsável, com Danton Jobim e Pompeu de Sousa, pela introdução na imprensa brasileira da técnica jornalística norteamericana do lead, à qual ele acrescentou criadoramente o sublead inexistente na técnica original, mestre de uma geração de jornalistas que saltaram do Diário Carioca para atuação de relevo na imprensa e na televisão, Paulistano logo percebeu a potencialidade do jovem repórter Mário Cunha, contribuiu para o seu aperfeiçoamento profissional e lhe confiou missões relevantes. Por proposta de Mário, o Jornal do Commercio passou a publicar uma vez por semana uma página dedicada aos temas de Ciência & Tecnologia, iniciativa pioneira na imprensa do Rio de Janeiro, então desapercebida da importância dessas questões. O responsável pela página, para a qual se desdobrava como repórter e produtor, propondo e recolhendo artigos de eminentes colaboradores, era o jovem Mário Cunha, que merecia a confiança de destacados cientistas, como José Leite Lopes, Haiti Moussatché, Herman Lentz, Masao Goto, entre outros – alguns, por sinal, alcançados poucos anos depois pelo chamado Massacre de Manguinhos, demitidos do Instituto Osvaldo Cruz por um ministro macartista, Francisco de Paula Rocha Lagoa; Leite Lopes, físico de reputação internacional, foi perseguido e compelido ao exílio. Era de se ver o entusiasmo com que cada aparecimento de Ciência & Tecnologia era saudado por Mário, Paulistano e Octávio Thyrso (Octávio Continua ...
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Thyrso Lúcio Cabral de Andrade, Diretor de Redação do JC), na roda de redatores e repórteres. Eles viam na criação coordenada por Mário não apenas uma página de jornal, mas o embrião de uma política, já que o dono do Jornal do Commercio, o Professor Francisco Clementino de San Tiago Dantas, fora eleito deputado federal pelo PTB de Minas Gerais, estava fadado a ter grande peso na vida política, dada a sua elevada dimensão intelectual, e era, no fundo, um dos estimuladores do apoio do JC à área científica. Se alçado no poder, essa área mereceria o melhor de sua atenção. Na página Ciência & Tecnologia apostava também o Professor José Leite Lopes, que, embora com pouco mais de 30 anos, já despontava, por sua expressão como físico, como um dos líderes do setor de ciência e tecnologia. O pioneirismo do velho Jornal do Commercio durou pouco, porque em meados de 1959 o centenário jornal foi vendido por San Tiago Dantas ao jornalista Assis Chateaubriand, o que resultou na saída de Paulistano antes mesmo da transmissão do comando do jornal ao seu novo dono. Informado da transação, Paulistano fechou a edição do dia seguinte, vestiu o paletó e se mandou, para não mais voltar. Ele já havia trabalhado com Chateaubriand em O Jornal e abominava os métodos de Chatô como patrão, jornalista e empresário. Assim que soube da venda do jornal, anunciou que iria embora: Com Chateaubriand, disse, eu não trabalho nunca mais. Paulistano foi substituído pelo seu principal redator, Isaac Axcelrud, que passou a ser o segundo na Redação do JC e o seu primeiro executivo. A direção do jornal fora entregue por Chateaubriand a Carlos Rizzini, festejado jornalista dos Diários Associados. Axcelrud não manteve a página de Ciência & Tecnologia e designou Mário Cunha para outras funções. Um dia convocou Mário para lhe dar o roteiro de suas novas atribuições, dentro de um plano, disse, de “dinamização do jornal”. Mário deveria ir no começo da tarde à
Ele foi pioneiro no Rio na cobertura de ciência repartição tal para levantar as notícias do dia, passar na Sunab (Superintendência Nacional de Abastecimento, órgão de controle dos preços de diversos setores da economia), para saber quais as decisões adotadas, acompanhar o final da sessão da Câmara dos Vereadores, na Cinelândia, ligar para a Redação a fim de saber se havia alguma cobertura a fazer e só então tomar o caminho da Redação. Mário era muito irreverente, dizia as mais finas ironias sem alterar o tom da voz, apenas inquirindo o interlocutor com seus olhos claros. Ao ouvir a descrição de Axcelrud, foi direto: – Meu caro, você não quer dinamizar o jornal. Você quer é me dinamizar, e sem aumento de salário. “Meu caro” eram expressões que Mário usava com freqüência quando fazia um relato, promovia uma contestação ou comentava algum fato que contivesse um elemento de surpresa ou de decepção. Após ouvir a descrição que lhe faziam, ele fechava a conversa com uma frase pronunciada ora com mágoa, ora com desalento, ora com indignação: – Meu caro, você não conhece o gênero humano. Ele conhecia, dirigente e líder que era da equipe que ele e Villas-Bôas comandavam na Sucursal do Estadão e que em diferentes momentos contou na coordenação ou reportagem com Alberto Rajão, Antônio Aragão, Antônio Carlos de Carvalho, Carlos Chicarino, Celso Pinna, Daniel Baptista de Assumpção, Eduardo Barbosa, Elcy Góis, Eustáquio Augusto dos Santos, Fabiano Vilanova Machado, Ferreira Gullar, Geraldo Pedroza, Gilson Athayde, Gilson Campos, Hamilton Pequeno, Herval Faria, Ítalo Ramos, Ivan Alves, Jerônimo Jorge, Léo Guanabara, Luiz Valério Meinel, Luiza
Helena Sampaio Mariani, Magda Soares Sparano, Mário Rodriguez, Mariza Gibson, Maurício Azêdo, Maurício Menezes, Moura Reis, Nelson Brittes Lemos, Paulo Stein, Plínio Santos, Raul Quadros, Sérgio Cabral, Sérgio Galvão, Sérgio Pereira Luz, Sônia Meinberg, Teixeira Heizer, Thereza Cesário Alvim; batucando as teclas do telex com incrível mestria e velocidade, Amílcar Ferreira, Dickson Diogo Lessa de Sousa, Maurício Monteiro e Paulo Amílcar Martins; como contínuos, Haroldo Luiz Gonçalves, Lauro de Castro e Nílton dos Santos . Mário trabalhou também 20 anos no Jornal do Commercio, pois no começo de sua vida profissional ainda era possível que o jornalista se dedicasse a mais de um veículo, o que lhe permitia trabalhar na mesma época para o Estadão. Com a crescente profissionalização do jornalismo, foi-se desligando do JC até se dedicar com exclusividade e em tempo integral ao Estadão. Ele trabalhou também no Correio da Manhã, na TV Globo, na Radiobrás e na Folha Dirigida. Foi também Assessor de Imprensa do Deputado Ulisses Guimarães, Presidente do PMDB, na campanha Diretas Já. Ao falecer, a 12 de julho passado, aos 71 anos, editava o periódico Terceiro Tempo, que ele criara há 12 anos para se dedicar a uma causa cada vez mais espinhosa: a defesa dos direitos dos aposentados. Durante longo tempo Mário se fez conhecido como Mário Cunha, como era chamado pelos companheiros mais antigos, aqueles que o conheceram ainda como jovem repórter de Luís Paulistano. Ele teve de alterar o nome por força das dificuldades que a simplicidade antiga lhe impunha: para abrir um crediário ou fazer as mais modestas operações de crédito, tinha de tirar uma infinidade de certidões negativas,
Julho/Setembro de 2004 porque era infindável, por exemplo, a lista de “Mários Cunha” no índex do Serviço de Proteção ao Crédito-SPC e em cadastros bancários. Mário resolveu então adotar um antigo nome de família e passar a se chamar Mário Gigliotti da Cunha e, no jornalismo, Mário da Cunha, como o chamavam os amigos mais recentes. Na prolongada vinculação com o Estadão Mário afeiçoou-se de forma profunda ao primeiro diretor que conheceu na Sucursal, Prudente de Morais neto, figura extraordinária a quem ele devotava grande admiração e de quem merecia o mesmo carinho e o qual lhe dedicava ilimitada confiança. Foi Mário quem convenceu Prudente de Morais neto a aceitar a presidência da ABI num momento em que a entidade, desfalcada pela morte de Danton Jobim, se via diante das ameaças e desafios impostos pelo recrudescimento da repressão do regime militar. Prudente aceitou, com a condição de que Mário assumisse, como assumiu, o cargo de Primeiro Secretário. Na corajosa, intensa e decisiva participação que teve, ao lado de Audálio Dantas, então Presidente do Sindicato dos Jornalistas no Estado de São Paulo, na histórica reação ao covarde assassinato de Vladimir Herzog, em 25 de outubro de 1975, Prudente teve a seu lado um conselheiro sensato e firme: Mário Cunha. Meu último contato pessoal com Mário se deu no dia 2 de junho, quando ele me telefonou para comentar, com orgulho, o êxito da Sessão Solene de Posse da Diretoria da ABI, realizada na véspera. Ele e Villas-Bôas foram merecidamente chamados a compor a Mesa da Sessão, mas isso não o envaidecia: o que o sensibilizara especialmente fora o perfil sumário que apresentamos do Doutor Prudente, como o chamávamos com respeito. Voltei a ver Mário num leito do Hospital da Ordem Terceira do Carmo, dias depois, mas já então não nos falamos: ele mergulhara na lenta agonia que logo acabaria por arrebatá-lo ao nosso convívio, deixando-o apenas no carinho da nossa memória.
A grandeza de Mário Cunha LUIZA MARIANI
E
screver a respeito de Mário Cunha é falar de amizade, solidariedade e lealdade. Do profissional competente, todos sabemos. Mas quem trabalhou na sucursal carioca de O Estado de S. Paulo durante os chamados anos de chumbo conheceu estes valores, no ambiente de redação construído pelo Mário, então secretário do jornal. A equipe era pequena, escolhida a dedo. Nós, da reportagem, éramos poucos e entusiasmados com o trabalho. O ambiente na redação era ótimo. Sabíamos rir e brincar, apesar das dificuldades impostas pela ditadura que, para nós, da reportagem, vinham também das ameaças diárias de prisão, mal chegávamos num gabinete oficial e anunciávamos O Estado de S. Paulo. Tínhamos uma ordem de São Paulo, que Mário nos repassava: “Apura e escreve tudo que o Dr. Júlio (Mesquita) segura”. O modo como ele dizia isso nos deixava confiantes para o enfrentamento diário com a ditadura. Mário reconhecia os problemas e cuidava da equipe de um modo muito pessoal. Dependendo do grau de dificuldade que qualquer um de nós tivesse enfrentado na rua, levantava da cadeira e fazia questão de nos oferecer um
cafezinho. Ele tinha coragem para enfrentar a pressão que vinha dos militares. Nunca entregou qualquer um de nós. Certa vez eu estava fazendo uma reportagem na OAB quando recebi um telefonema do Antonio Carlos, chefe de reportagem do Estadão, recomendando que eu ficasse por lá porque soldados do I Exército haviam invadido a redação armados, levando preso o Mário Cunha, por causa de uma informação, publicada em minha matéria naquele dia. Uma hora depois outro telefonema da redação. Haviam soltado o Mário e eu já podia voltar. O que fez a grandeza de Mário Cunha foi a sabedoria para conviver com as diferenças e liderar a equipe com amizade, respeito. E mais ainda. Foi um grande profissional porque soube formar sua equipe. Era exigente quanto ao comportamento do pessoal. Eu considerava natural aquele ambiente na redação, no convívio com jornalistas como Villas-Bôas, Ferreira Gullar, Maurício Azêdo, Teixeira Heizer, Nelson Lemos. Hoje sou capaz de reconhecer a coragem de Mário para enfrentar as dificuldades e oferecer à sua equipe um espaço de convivência com aqueles valores, hoje difíceis de se encontrar. Tenho saudades daquele tempo. Trago comigo saudade do meu amigo e gratidão pelo que ele nos proporcionou.
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A bênção de Lena JOÃO MÁXIMO É fácil entender por que os sambistas de raça – Nei Lopes em primeiro lugar – adoravam Lena Frias. Mais fácil ainda é explicar por que nós, repórteres e redatores que também trabalhávamos nisso que tão pomposamente chamam de “jornalismo cultural” tínhamos grande admiração por ela. Lena era das poucas escribas de sua geração a merecer reconhecimento como figura exemplar de uma atitude que, perdoem-me o clichê, bem pode ser definida como resistência. Toda a sua breve vida, tristemente encerrada a poucos dias da posse da nova diretoria da ABI, foi de permanente resistir a tudo que maculasse ou simplesmente arranhasse as bases, as raízes de nossa melhor cultura popular. Rigorosamente verdadeiro. Lena sabia de tudo: de samba, de jongo, de festas tradicionais (escreveu um belo livro sobre o assunto), das manifestações folclóricas as mais diversas e, mais que tudo, de aspectos da cultura negra. Tão resistente que, no seu último emprego, ao se ver cerceada em sua maneira de pensar (e de escrever), demitiu-se, mesmo precisando de cada centavo para enfrentar a doença que já consumia. Quantos iriam tão longe? Lembro-me perfeitamente da primeira e da última vez em que nos falamos. A primeira, em 1979, quando ela pranteava a morte de um namorado que, tanto quanto ela, era um resistente. Com ele, Lena perdia não só um parceiro no amor, mas também um cúmplice na luta pela sobrevivência da música tradicional na grande imprensa. O namorado, meu amigo, deixara em sua passagem pela vida alguns feitos admiráveis: ter ajudado a ressuscitar o choro, ter brigado pela valorização do samba, ter produzido o primeiro LP de Cartola, um septuagenário cujo gênio permanecia inédito em disco. Lena participou de tudo aquilo, não só como inspiração ao namorado, mas como atuante. Escrevia algumas de melhores matérias que seu jornal publicava, às vezes de má vontade, pois a idéia de sofisticação que os editores alimentavam era a música branca da classe média, o roquinho da moda, os hits vindos de fora. São fundamentais os textos de Lena sobre Candeia, Paulinho da Viola, Élton Medeiros, Dona Ivone Lara, todos sambistas de raça. A última vez que a vi foi aqui, no 12o andar da ABI. Convocada por mim, ela concordou em pagar as mensalidades atrasadas para se juntar a nós, do movimento Prudente de Moraes, neto. Mal lembrava a mulata bonita, de sorriso encantador, que enfeitava as redações por onde passava. Mas orgulhava-se de não ser por essa beleza que se impusera nos tais “cadernos de cultura”, e sim pela qualidade do texto (preciosístico, segundo alguns, mas sempre atraente, informativo, defensor de boas causas, a cultura popular brasileira vista como coisa sagrada). Infelizmente, a doença não permitiu que Lena cumprisse a promessa de voltar a trabalhar pela ABI, da qual tinha sido conselheira.
Um dia, encontrei-me com Nei Lopes, um dos maiores nomes do samba carioca. Com aquele seu jeito franco, extremado, radical de apóstolo da africaninade, perguntou-me por que não havia jornalistas negros ou mulatos nos “cadernos de cultura”. – Por que só existe uma Lena Frias? – completou. Eu devia ter respondido que só existia uma Lena Frias porque Lena Frias era única. Não pela cor morena, mas pelo que defendia. A maioria dos jovens que hoje escrevem sobre música e outros temas afins são filhos da moda e escravos da modernidade. Samba? Só se for temperado com funk. Choro? Só eletrificado. Música de raiz? Fazem coro com o que disse certa vez o nosso Ministro da Cultura: “Quem tem raiz é mandioca.” Foi a última vez que a vi, mas não a última que nos falamos. Um grande amigo comum, Luiz Paulo Horta, procurou-me um dia para dizer que Lena tinha um grande desejo: que um padre católico fosse à sua casa para lhe dar a bênção, talvez derradeira. Como era vizinho de Lena, telefonei para ela dizendo que ficasse tranqüila: eu providenciaria o padre. Sua voz era a mesma dos tempos em que a conheci, meiga, delicada, mistura de doçura com tristeza. Fui à matriz de Nossa Senhora de Lourdes, falei com o padre, passei-lhe o telefone de Lena e ele ficou de marcar a visita. Mas não deu tempo. Se Lena Frias partiu sem a bênção que queria, foi com a nossa, que devemos a ela uma luta sem trégua pela cultura brasileira.
Associação dos Correspondentes Estrangeiros quer mais debate nacional O estreitamento dos vínculos entre os jornalistas estrangeiros e brasileiros e a atuação junto às entidades representativas da imprensa brasileira, como a Associação Brasileira de Imprensa (ABI) e a Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), estão entre as prioridades da nova presidente da Associação dos Correspondentes de Imprensa Estrangeiros no Brasil (ACIE), jornalista Diana Kinch. Natural da Inglaterra, formada em literatura e idiomas, cobrindo os setores de economia, indústria, comércio exterior e commodities desde 1978 em sua terra natal, no México, e no Brasil, onde chegou em 1987, Diana é atualmente redatora para a América Latina do grupo de revistas inglesas Metal Bulletin. Trabalha como freelancer para publicações como Coffee World e The Canmaker, também da Inglaterra, e para a agência de notícias Reuters. Em substituição ao jornalista Michael Astor, correspondente da Associated Press (EUA), Diana Kinch assume a presidência da associação para uma gestão que vai até 2005. Ela já ocupou o cargo no período de 1992 a 1994. Dona de uma agenda atribulada, Diana detalhou seus projetos, entre os quais
o de ampliar o relacionamento dos jornalistas estrangeiros com a mídia brasileira e vice-versa. Ela pretende dar continuidade a projetos da gestão anterior como a realização de coletivas com personalidades de diferentes campos. A idéia é promover o maior conhecimento do Brasil e seus problemas. Para incrementar o convívio entre os sócios, Diana planeja realizar happy hours. Outra medida, diz, será a organização de seminários para melhorar o diálogo entre os profissionais estrangeiros e as assessorias, área em que às vezes falta comunicação. – Vamos dar continuidade ao prêmio de cinema, espécie de Oscar destinado à indústria cinematográfica brasileira, que hoje desperta muito interesse no exterior. A finalidade é destacar o que o Brasil tem de positivo, entre as novidades negativas que eventualmente aparecem. Há outros pontos de interesse, como o teatro e eventos culturais patrocinados por grandes empresas, que ajudam na introdução de atividades culturais em comunidades pobres e favelas, acentuando as diversidades culturais, uma característica do país.
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Brizola e o capitão Rodrigo ARQUIVO PDT
RUBEM MAURO MACHADO
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oucos homens foram tão amados e odiados quanto ele. Só isso dá a medida de Leonel Brizola, nas últimas décadas um dos marcos referenciais, queira-se ou não, da política brasileira, último remanescente da Santíssima Trindade - formada por Getúlio Vargas, João Goulart e ele - do fenômeno que se chamou “trabalhismo” e que, depois de sete décadas, aparentemente se encerra com sua morte. Ante uma figura de brilho próprio tão intenso não há como não nos sentirmos um pouco ofuscados, e isso só torna mais difícil a tentativa, já de per si dificílima, de se tentar uma avaliação o mais possível fria e isenta de sua trajetória. Mas, correndo o risco de desagradar a todos, adeptos e adversários, gostaria de consignar a visão de quem modestamente acompanhou à distância por assim dizer toda a sua viagem, do semi-anonimato de político regional a grande líder nacional, que por muito pouco não chegou ao posto máximo da República. Penso não haver dúvidas de que Brizola sempre pertenceu, com toda a sinceridade de sua alma, ao campo progressista e popular, posição que aliava a um nacionalismo intransigente, na defesa do patrimônio nacional. Só isso já nos faz creditar a ele admiração e gratidão. Por outro lado, na sua condição de ponte com o passado, trazia consigo uma bagagem de práticas e vícios antigos, inerentes a uma época em que se acreditava mais em homens providenciais do que em organização partidária na conquista de objetivos sociais. A acusação de caudilho, cunhada por seus adversários, tinha um real fundamento, na medida em que, personalista (e qual político não o é? Mas existem gradações), mostrava-se incapaz de conviver com outras lideranças fortes (como por exemplo Fernando Ferrari, para só lembrar um nome do antigo PTB) dentro da estrutura partidária; e não foi capaz de formar herdeiros para seu legado. Nesse sentido, encarnação de uma figura um tanto heróica e solitária (a famosa “solidão do poder”), líder inconteste de sua legião, empunhando a lança em riste, Brizola, não o politiqueiro igual a tantos outros dos últimos tempos mas o jovem herói das reformas de base e da Legalidade, sempre me pareceu o descendente direto de um certo capitão Rodrigo, o personagem mítico nascido da imaginação de Érico Veríssimo. Ou melhor ainda, era como se o capitão Rodrigo desertasse dos meados do século 19 e das páginas de O tempo e o vento, para desembarcar cem anos depois na realidade política gaúcha, com todas as suas qualidades e
Leonel de Moura Bizola: sempre pertenceu ao campo progressista e popular, na defesa intransigente do patrimônio nacional.
defeitos: valentia, personalismo, orgulho que muitas vezes se confunde com a arrogância, atrevimento, egoísmo e desprendimento, amor à luta; sedutor consciente de homens e, num sentido mais completo, de mulheres, estóico, aventureiro, sangue quente, quixotesco numa certa medida. Penso que o nome Rodrigo com que Érico batizou seu personagem não é um acaso, o autor parece ter feito questão de deixar evidente a sua fonte de inspiração, que operava o transplante, do poema espanhol para os pampas, da figura de El Cid, o Campeador. Aqui, em vez de mouros, o herói combate espanhóis, índios ou os soldados imperiais. Ignoro se alguma vez Brizola leu o O tempo e o vento, épico da formação da história sul-riograndense. Mas isso não é relevante. O fato é que, malgrado a parcela de sangue italiano, para o bem ou para o mal, ele parece ter incorporado o arquétipo do gaúcho típico e mítico, aquele de um tempo em que o pampa ainda não estava retalhado pelas cercas de arame farpado e os guerreiros enrolados no poncho, livres e senhores de si mesmos, podiam atravessar a cavalo as vastidões batidas pelo minuano. Neste sentido, insisto, o rótulo de caudilho com que os inimigos carimbaram Brizola não era inteiramente despropositado. Só que, ao lado da conotação pejorativa que a palavra carrega, sobretudo de autoritarismo e individualismo, ela também trazia um quê de audácia, altivez e soberania que certamente contribuiu para fascinar as multidões, ansiosas no seu desamparo por uma figura paterna que as defendesse e as conduzisse docilmente ao paraíso. Em sua extrema ambigüidade
e complexidade, Brizola tinha um pé fincado no passado, o outro firmemente ancorado no presente. Como muita gente, eu caminhei, ao longo de quatro décadas, do fascínio pelo grande líder popular e nacionalista que Leonel de Moura Brizola foi até o enorme desencanto dos últimos anos. Penso que infelizmente ele não soube envelhecer e sua trajetória é uma mostra mais do que didática dos extravios e malefícios a que o providencialismo e o pragmatismo extremado podem levar um político de propósitos honestos. Despojado por manobras da ditadura da sigla histórica do PTB, hoje convertida, segundo opinião quase consensual, em mero refúgio do que há de pior do fisiologismo, do oportunismo e da politicalha rasteira, Brizola criou o PDT. Na ânsia de expandir a nova sigla, a que atribuía um cunho socialista, não hesitou em aliar-se a alguns dos segmentos mais retrógados da cena brasileira (e isso me faz lembrar, não sei por que, um certo ex-líder sindicalista e operário muito conhecido). Assim, por exemplo, cooptou, ou foi cooptado, no Nordeste por um certo governador reconhecidamente bandido, acusado de mandar matar jornalistas. E no Sul, cá prá nós, Ademar de Barros Filho, o Ademarzinho, herdeiro em São Paulo da finada sigla do PSP, tinha tanto de socialista quanto eu de vocação eclesiástica. Nada importava, desde que pudesse se afirmar a fantasia de que o PDT existia no principal Estado do País. Esse processo de esquizofrenia política e de oportunismo eleitoreiro iria atingir seu paroxismo na crise do
impeachment de Collor. Parecendo ter perdido a antiga e afiada sensibilidade política que sempre o colocara à frente das multidões e mesmo o simples bom senso, Brizola obstinou-se em defender o energúmeno das Alagoas, mesmo quando já ficara mais do que claro que Collor chegara à Presidência não para servi-la e sim para se servir dela e quando todos nós saíamos à rua vestidos de luto para exigir o imediato afastamento do saqueador dos cofres públicos. A única explicação que consigo encontrar para tal disparate é que Brizola estava seduzido pelas falsas promessas do playboy das Alagoas de que o apoiaria nas eleições para a sua sucessão – sem saber que o plano da quadrilha colorida era de perpetuar-se no poder por no mínimo os trinta anos seguintes. Obcecado em chegar à Presidência, Brizola deixou-se cegar pelo interesse pessoal. E quando um líder fica a reboque de seus comandados, isso é o início de seu fim como figura referencial. Mas poucos dias decorridos da morte que comoveu o país, gostaria de recordar não o Brizola sem rumo da velhice mas o capitão Rodrigo da juventude deste articulista, o herói da Legalidade em 1961: ao garantir a posse de João Goulart, sobretudo com a força de sua voz emocionada proveniente do Palácio Piratini rodeado de sacos de areia, logrou adiar o golpe militar que se consumaria três anos depois e converteu-se num líder nacional. Essa figura e esse episódio, eu os invoco no meu romance A idade da paixão, lançado pela Editora José Continua ...
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Olympio, Prêmio Jabuti de 1986 e desde então esgotado. A partir da campanha da Legalidade, nossa família, pai, mãe e filhos, reunia-se inflamada, num tempo de esperanças, toda sexta-feira à noite ao pé do rádio, para ouvi-lo pregar as reformas de base, incluindo-se aí a reforma agrária, que mudariam o país. Morávamos em Santa Maria, no coração do Rio Grande do Sul, e lá pelas tantas realizou-se na cidade um congresso da Farsul, a entidade que congregava os fazendeiros gaúchos. O protocolo exigia que se convidasse para o encerramento o governador do Estado. Para surpresa nossa, Brizola concordou em comparecer à festa do inimigo. Como se safaria do aperto? Eu e meu irmão, jovens estudantes, não íamos perder essa por nada e corremos para o auditório. O presidente da Farsul, um estancieiro de Uruguaiana chamado Beregaray, fez um discurso violentíssimo, falando em “defesa com armas na mão das nossas terras contra o inimigo vermelho”, mais ou menos nesse tom. Brizola na mesa ouvia impassível. Quando chegou sua vez de falar, começou: “A base da democracia é o contraditório, a divergência de opiniões, eis por que estou aqui, para ouvi-los e apresentar meus pontos de vista…” e por aí se foi por mais de uma hora, sem que ninguém ousasse interrompê-lo. Eu e meu irmão sorríamos extasiados com sua habilidade.
Jornal da ABI
Representante de uma época em que se acreditava em objetivos sociais Eu só conversaria com Brizola uma vez. Estava casualmente em Nova York, em viagem de férias, quando soube que ele se hospedava num hotel a apenas algumas quadras de distância do meu, depois de ter sido forçado por pressões da ditadura brasileira a deixar seu refúgio no Uruguai, para se exilar nos Estados Unidos. Com a audácia que só os jovens repórteres têm, sem nada a perder, sem qualquer aviso prévio, dirigi-me a seu hotel e pedi na portaria que comunicassem minha presença. Do seu apartamento veio a resposta: que eu aguardasse um pouco. Desceu um assessor, que se identificou como Tabajara. Explicou-me que Brizola tinha um compromisso mas que gostaria de conversar comigo. Decorridos uns dez minutos, ele apareceu sorridente, vestido de terno e gravata. Durante uns 40 minutos conversamos no saguão amigavelmente, sem que ele demonstrasse qualquer tensão; mas deixou claro que não queria dar nenhuma entrevista. E de fato, ao invés de eu perguntar-lhe, foi ele que, curioso sobre a repercussão no Brasil de sua saída forçada do Uruguai, crivou-me de perguntas. Sua única preocupação era com o fato de não entender o inglês e
Destemor de um certo Capitão Rodrigo
perguntou-me com alguma ansiedade: “Você consegue entender o que eles dizem?” Isso pareceu-me um sinal de que acreditava que sua permanência ali seria longa. Depois pediu desculpas e tomou um carro rumo a seu misterioso compromisso. No dia seguinte, como prometera, deixei-lhe na recepção um exemplar que tinha comigo de meu livro de contos Jacarés ao sol.
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Só tornaria a ver Brizola muitos e muitos anos depois, no Rio, no auditório da ABI. O presidente da Guatemala e ex-líder guerrilheiro Daniel Ortega ali fazia uma palestra e Brizola estava na mesa, não mais recordo se na condição de governador do Estado. Cheguei atrasado e, enquanto incomodava uma fileira de pessoas para tomar assento, notei que, da mesa, Brizola me olhava com especial intensidade. Acho impossível que, homem que falava diariamente com dezenas de pessoas, ele pudesse tanto tempo depois ter se lembrado deste modesto redator, ainda mais num contexto tão diverso. Mas acredito que ele me identificou de alguma forma como alguém com quem em algum momento tivera algum tipo de intercâmbio e essa capacidade me surpreendeu. Pensei em procurá-lo ao fim da solenidade e recordar-lhe nosso encontro num hotel novaiorquino, mas isso acabou não sendo possível. Peço perdão por essas reminiscências pessoais. Mas para mim Brizola não foi só um líder político: com sua oratória e destemor de capitão Rodrigo redivivo, ele ajudou a me moldar no que sou e faz parte inegavelmente de minha vida, sobretudo de minha juventude.
MM é jornalista e escritor, autor, entre outros livros, de “Lobos” e “O executante”(Ed. Record).
Todas as quintas, às cinco, um grande encontro na ABI O jornalista e vice-presidente da Associação Brasileira de Imprensa, Milton Temer, abriu a série de palestras do projeto Quinta às Cinco, no auditório Belisário de Souza, no sétimo andar da sede da ABI. O tema foi Ética na Informação e Liberdade de Expressão. Um tema complexo, difícil de debater fora do contexto de cada fato, frisou Temer. A ética precisa se situar “num ambiente e num conceito onde exista a idéia de solidariedade, de fraternidade e de liberdade, porque é isso que faz o clima de emulação para o comportamento honesto diante da realidade que se enfrenta”. O jornalista e escritor Sergio Cabral, palestrante do segundo módulo Quinta às Cinco, falou sobre “o multimídia Ary Barroso” para uma platéia de jornalistas e estudantes de jornalismo. Ele afirmou que o tema de sua palestra foi uma forma de homenagear alguém que deve ser lembrado pela competência que teve em formas múltiplas de comunicação. Sérgio Cabral disse que o projeto de palestras é importante para os estudantes de jornalismo porque “a
primeira coisa que eles devem fazer, além de saber escrever bem, é ler para saber das coisas, e isso aqui ajuda muito a informar a essa garotada”. Na terceira semana do projeto, o historiador e escritor Joel Rufino falou sobre a relação entre o jornalista e as questões sociais, quando sintetizou as trajetórias profissionais de Cipriano Barata e Lima Barreto no jornalismo. Para ele, as palestras procuram compensar a defasagem que a seu ver existe na formação dos futuros profissionais, especialmente os oriundos das faculdades particulares. Joel Rufino considerou o convite para falar no Quinta às Cinco “uma tarefa”, já que se identifica com a filosofia da nova diretoria da entidade. As palestras-aulas, coordenadas por Vitor Iorio, têm reunido jornalistas, intelectuais e estudantes de Comunicação e somam 34 horas/aula para os estudantes. A entrada é franca e as inscrições podem ser feitas no próprio dia do evento. Mais informações, pelo telefone 2282-1292, de segunda a sexta, das 10h às 17h.
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ASSESSORIAS E REDAÇÕES Uma relação nem sempre fácil AMICUCCI GALLO
GLÓRIA ALVAREZ
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á indicadores de significativo crescimento dentro da área de assessorias de comunicação. Senão vejamos: 48% das empresas brasileiras criaram, nos últimos anos, diretorias de comunicação, segundo pesquisa publicada pela Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), em 2001. Na ocasião foram entrevistadas 100 empresas do Sudeste, sendo 23 dos maiores grupos brasileiros que empregam meio milhão de pessoas. E mais: a Associação Brasileira de Agências de Comunicação (Abracom) entrevistou 74 empresas associadas, em 2003, e identificou que esta amostra do mercado empregava 1.345 trabalhadores (mais 8% do que em 2002), sendo que 36,5% operavam com mais de 16 empregados. E 36% desse universo trabalhavam com uma receita que variava de R$ 500 mil a R$ 2.999 mil. Este crescimento do mercado e o reconhecimento da comunicação empresarial reforçam a tese de que a linha divisória que separa os dois lados do balcão já não é uma barreira. A imagem que se tinha do assessor de imprensa como o jornalista que não deu certo em redação também já foi apagada. Hoje, o profissional que está na redação respeita e, muitas vezes, precisa da colaboração do colega assessor para garantir material jornalístico de qualidade. Assoberbado de pautas, o repórter, muitas vezes, negocia tempo e espaço com o assessor. O divulgador insistente e despreparado do tipo “tudo por um link”, isto é, que usa como tática de aproximação o recurso de puxar qualquer tipo de conversa para ter oportunidade de “vender o seu peixe”, não tem mais lugar nessa relação. Em busca do perfil do novo profissional de comunicação e de suas relações com a mídia e com o cliente, o Jornal da ABI conversou com três jornalistas que são referências como sucesso na atividade de Assessoria de Comunicação: Marcelo Pontes, Cristina (Kiki) Moretti e Ágata Messina. Marcelo coleciona experiência na imprensa escrita como diretor de redação do JB em São Paulo e em Brasília, titular da Coluna do Castelo (JB) e do Informe JB, repórter especial da revista Veja/Recife e de O Globo, além de subeditor de Política deste jornal. Viveu, também, ricos momentos como homem de comunicação durante quatro anos (de 1999 a 2003) no cargo de Assessor Especial e Chefe da Assessoria de Comunicação do então ministro da Fazenda, Pedro Malan. Hoje, é Vice-Presidente da Companhia
Ágata Messina: transparência com jornalistas AMICUCCI GALLO
de Comunicação da Prefeitura do Rio de Janeiro, trabalhou como repórter, editora e chefe de redação da Gazeta de S.Paulo, de O Globo e das editoras Rio Gráfica e Abril. Para ela, as dificuldades que enfrenta o profissional de comunicação com a mídia são resultados de mudanças conceituais dentro das redações: – A linha que divide o comercial do editorial numa empresa de mídia está difícil de ser identificada. O editorial está sofrendo demais a influência do comercial. Mas não é um fenômeno só do Brasil. Dentro da sociedade ocidental, fazer um jornal é uma atividade empresarial como qualquer outra e tem um objetivo claro: dar lucro. Hoje, o jornal é um veículo de informação e não de formação. O jornalismo deixou de ser a expressão de uma ideologia. Mas os jornalistas precisam ser isentos, ouvir os dois lados com a mesma disposição, com imparcialidade e sem má-vontade – afirma. O DIFERENCIAL
Cristina Moretti: empresária da comunicação AMICUCCI GALLO
Marcelo Pontes: a versão da empresa
de Notícias (CDN), agência de comunicação com 17 anos de vida, cerca de 70 clientes, que emprega uma centena de jornalistas no eixo Rio – São Paulo e foi apontada como a primeira do ranking da Gazeta Mercantil em 2003. Do alto desse currículo ele afirma que o profissional de comunicação não é só um assessor de imprensa: – Ele tem que ser jornalista, RP e publicitário. Ser um agente de comunicação – diz Marcelo, confessando que, agora, está aprendendo muito com a iniciativa privada. A empresária Cristina Moretti conhece bem a iniciativa privada. Há 16 anos ela e seu marido, Ivandel Godi-
nho, criaram a agência Inpress, que é hoje a Inpress/Porter Novelli, com 60 clientes privados e públicos, que são atendidos por uma equipe de 160 profissionais no eixo Rio de Janeiro, São Paulo e Brasília. Ela lembra os preconceitos que enfrentou quando era proprietária de uma das cinco agências de comunicação que cresceram e sobrevivem, atingindo hoje um grande porte: – Era uma atividade menor. Havia o estigma do “divulgador”. Mas a relação com a mídia mudou. Há maior confiabilidade. O assessor quer dar a informação de que o jornalista necessita. A moeda de troca é a informação. Já Ágata Messina, atual Secretária
Para Marcelo Pontes, trabalhar com o setor público é diferente: – Quem paga o nosso salário, no caso, é o contribuinte. Temos de atender o governo e à imprensa, mas com muito apreço ao contribuinte. Para Ágata, transparência com o jornalista é fundamental, seja trabalhando com a comunicação de um órgão público ou privado: – Mas às vezes um fato não deve ser divulgado por não estar suficientemente maduro e pode gerar conseqüências indesejáveis. Isso justifica segurar uma informação. No caso de o jornalista estar com a notícia, a secretária confirma, se souber, e pede para segurar, se a hora da divulgação não for oportuna, negociando a exclusividade antes de anunciar para toda a mídia: – Não posso tirar a informação do jornalista, porque fico mal e meu cliente também – explica. Já a tática de Marcelo é elogiar: – O caminho mais correto é não tirar o jornalista do caminho. No meu caso, digo ‘acho que você é um excelente repórter’. É uma saída pessoal. Jamais diria que a informação não procede. Kiki assume o seu “dever com o cliente” e tenta adequar a informação que dá aos jornalistas ao interesse da empresa. – Não minto. Sou verdadeira. Mas se insistem em saber sobre algum assunto que não deve ser divulgado, digo que ainda não está disponível e mostro a gravidade de uma divulgação inoportuna. Geralmente negocio a informação exclusiva, assim que possa vir a público. Continua ...
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Rebater uma crítica infundada ou uma informação errada é uma arte com a qual o assessor de comunicação se tem que lidar com muita freqüência. Cada um tem sua saída: – O ideal é chamar o jornalista e lhe explicar. Ou mandar uma carta. Nunca tive problema de carta não publicada. É preciso saber escrevê-la. É uma arte. Precisa ser respeitosa, dirigida ao leitor do jornal. Mas a resposta tem de ser imediata. Quando um colunista recebe um desmentido dois dias depois de publicada a nota a sensação que tem é que sua informação está correta. A não ser em casos de empresa com matrizes no exterior, quando a resposta pode demorar mais um pouco – conta Marcelo Pontes. A resposta imediata a uma publicação incorreta, para Kiki Moretti , também é fundamental: – Se a gente não corrige, vira uma verdade. Opinião de jornalista não discuto, mas a informação equivocada deve ser consertada. Quanto à resposta por carta, a empresária diz que não considera eficiente: – Acho que ninguém lê. Os clientes querem o mesmo espaço para a resposta e tento explicar que só teremos se tivermos um novo gancho. Muitas vezes desaconselho. Prefiro uma ligação para o jornalista explicando que a informação está incorreta. A tática que Ágata Messina adotou quanto às respostas por carta a matérias imprecisas é radical: não desmente porque “no dia seguinte aquele jornal
Jornal da ABI
A luta para divulgar notícias positivas estará embrulhando peixe”. Segundo ela, ao responder, poderia correr o risco de ver publicada no dia seguinte uma nota reparando e, também, ironizando. – A carta não tem muita repercussão. O número de leitores é menor, embora sejam formadores de opinião. Contra uma notícia ruim se sobrepõe uma notícia boa. É só deixar passar o tempo, o assunto sair de pauta e investir numa boa nota na mesma coluna. A secretária também conta que não é usual comprar espaço ou publicar artigo para responder a jornalistas, “mesmo porque pode se transformar em peça judicial. Para isso trabalho em parceria com a Procuradoria do Município.” Já Marcelo Pontes defende o uso da “nota de esclarecimento”: – Quando uma empresa tem necessidade de contar sua versão do caso para o mercado. Por exemplo: ao se ver envolvida em escândalos. A versão da mídia nem sempre permite que o assunto seja totalmente explorado. Seja o cliente governo ou não, os três entrevistados concordam em que as relações precisam ser de absoluta sinceridade e transparência. – O assessor necessita ter todas as informações antes do jornalista e,
por outro lado, tem obrigação de dizer para o assessorado sua opinião sobre o assunto a ser divulgado. No entanto, não deve ser cúmplice do cliente. Deve orientá-lo, prestar serviço – afirma Marcelo. Para ele, o profissional de comunicação “não pode ter barreiras no conhecimento das informações estratégicas da empresa”. Esse conhecimento vai lhe dar a necessária credibilidade com os jornalistas. – Como assessor do Malan, tive todo tipo de acesso. Só me recusava a participar de conversas quando o presidente ligava, para que o ministro ficasse mais à vontade. Nas reuniões com o Banco Central também me ausentava, porque sei que as notícias vazam com facilidade e que no mercado de capitais podem interferir diretamente. Por precaução, para me proteger e para protegê-lo, não ficava presente - conta Marcelo. Ágata confirma perguntando: – Como montar uma estratégia de ação se o assessorado não passar as informações? No caso de seu atual cliente, o prefeito César Maia, o único político para quem já trabalhou e com quem está há oito anos, ela conta que é habitual ele se comunicar diretamente com muitos jornalistas.
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– Mas tem o cuidado de me informar – ressalva. – O cliente precisa entender que somos aliados técnicos, cúmplices, e nossa opinião vale como tal – define Kiki. Por outro lado, ela diz que o assessor precisa ser firme, apontar todos os riscos de uma ação sendo que até mesmo, em determinados casos, peça que não fale com a imprensa. Segundo Kiki, as empresas privadas estão à frente na comunicação. Entendem que é uma ferramenta estratégica de negócios para posicionar a marca de sua empresa. E sabem que uma comunicação equivocada pode acabar com a imagem do seu negócio. Por isso mesmo as grandes empresas nacionais têm, no mínimo, uma gerência de Comunicação e trabalham, muitas vezes, com uma agência terceirizada. Mesmo assim ela identifica setores que estão engatinhando na área: – O setor farmacêutico começa agora a profissionalizar sua comunicação e o agropecuário ainda acha que não precisa de uma assessoria. Já na área governamental, o tema começa a ter importância porque, segundo a empresária, é uma prestação de serviço; precisam informar a população e desempenhar o papel de educadores. Kiki comenta que inúmeras ações positivas dentro dos ministérios não chegam ao público, porque as campanhas publicitárias desenvolvidas não envolvem imprensa, relacionamento com o público de interesse e serviços prestados. Glória Alvarez é assessora de Comunicação da presidência da Eletrobrás.
JORNALISMO E ORÇAMENTO
Inimigos ou parceiros? MARCUS BARROS PINTO
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m tempos não tão distantes, alguém sugeria e um editor bancava a cobertura em uma cidade distante que mobilizasse uma equipe com repórter, fotógrafo, motorista, hospedagem, alimentação. Alguém na chefia da redação assinava embaixo e tropa partia. Não havia qualquer consulta a outros departamentos. A redação era soberana. Feita a matéria (ou uma série delas, quando a viagem rendia) era só cumprir o ritual da prestação de contas. Esta parte exigia uma coleção de notas fiscais às vezes difíceis de arrancar em rincões deste país. Custo não era palavra que preocupasse os jornalistas. Era problema da empresa, de outros departamentos. Em tempos de vacas gordas, PIB crescendo, tiragem aumentando e publicidade farta, ninguém ligava. Mas o cinto começou a apertar, o faturamento a cair, o preço do papel (em dólar) a subir e as modernidades administrativas e de gestão a entrar nas redações. O primeiro contato foi arredio.Os termos usados por gente de recursos humanos, financeiro, marketing, cheios de siglas e anglicismos, eram um dialeto incompreensível. Vieram as consultorias. Empresas estrangeiras que cobravam (e ganhavam) muito organizavam imediatamente fins de semana em hotéis de luxo para dinâmicas de grupo, discursos, tabelas, gráficos para resultar tudo, basicamente em... 30% de cortes. O padrão, além de cruel, era enfadonho e burro. Jamais levou em conta o perfil de cada empresa, como juravam os “consultores”. Estes sim, fizeram fortuna. As empresas jornalísticas mais organizadas conseguiram pôr nas mãos da redação a administração do próprio orçamento. Cada editor sabe ter X para gastos anuais em pessoal, coberturas, edições especiais. E passaram a fazer orçamentos anuais, em outubro, novembro, para o ano seguinte. Um editor de esportes precisa levar em conta uma Olimpíada ou uma Copa. O de política precisava orçar, 365
dias antes, quantos profissionais alocará na cobertura de eleições municipais, já prevendo o peso de cidades como São Paulo ou Rio. A prática permitiu que determinados pedidos, antes tratados sem qualquer análise mais acurada – se tem dinheiro, vai, se não, esquece – passassem a ser avaliados desde o repórter. Ninguém mais se propôs a desperdícios. O sistema é à prova de erros? Claro que não. Há investimentos em reportagens que são feitos e, às vezes, não resultam em nada. Faz parte do risco da profissão e deve constar de qualquer orçamento tal “verba de risco”. Para desespero dos gestores e administradores que não entendem como diabos esta atividade não se compara com uma linha de montagem em que se põe alumínio de um lado e necessariamente sai uma lata no outro. A gestão do próprio orçamento afetou o exercício do jornalismo, o acesso à informação? Em primeiro lugar, reduziu o mercado de trabalho. Onde atuavam dez, o número caiu para oito, seis, e continua, em linguagem econômica, em “viés de baixa”. Em segundo lugar, quando, na cabeça de um editor, as metas se sobrepuseram num momento de decisão. Deixar de cumprir uma pauta porque a verba está no limite, pensando apenas na participação nos lucros, turva a mente e afeta a visão jornalística. Todos fazemos as contas mensais e administramos o orçamento doméstico. Uns com mais perícia que outros. Saber quanto se pode gastar determina o tamanho das pernas. E do eventual tombo. A cada ano as empresas apertam mais o cinto. As razões estão expostas nas manchetes que produzimos quase diariamente sobre a lentíssima recuperação da economia. A cada ano cresce o nível de estresse de quem administra uma redação, uma editoria, um orçamento. Sabemos todos qual é o limite: sem equipe não há produto, sem produto não há empresa. E se não somos nós, num determinado veículo, a suprir o leitor, ouvinte ou telespectador de informações, ele sai em busca de alternativas.
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Informação: radiografia de um mercado em crise CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
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m todo o mundo, a atividade jornalística atravessa um dos momentos mais difíceis de sua história. Os meios de comunicação de massa tradicionais – tanto os impressos (jornais e revistas) quanto os eletrônicos (televisão e rádio) – perdem audiência há pelo menos dez anos de modo consistente. A credibilidade pública dos veículos – mesmo os mais respeitados, do americano “The New York Times” à britânica BBC – nunca esteve tão baixa. As empresas que se dedicam a esse negócio têm enfrentado taxas de lucratividade decrescentes, em virtude tanto da diminuição de consumidores quanto de anunciantes. Fusões e aquisições têm diminuído o número de concorrentes e aumentado a consolidação horizontal, o que freqüentemente resulta em perda de qualidade e agravamento de crise de confiabilidade por parte da sociedade. A indústria reage como pode: encomenda pesquisas para descobrir por que os jovens não se sentem atraídos por seus produtos, investe em novas tecnologias, cria mecanismos para tentar recuperar o prestígio em baixa. Mas essa reação tem se revelado insuficiente, talvez porque ainda não se tenha disseminado a noção de que essa crise, ao contrário de muitas anteriores, pode ser estrutural e, portanto, requerer soluções também estruturais. No Brasil, por exemplo, os momentos de dificuldade da mídia têm sido tão corriqueiros nas últimas três décadas que seus gestores se acostumaram a adotar quase mecanicamente fórmulas que – bem ou mal – funcionaram das vezes anteriores. Em geral, a receita se resume a corte de custos, especialmente de pessoal, até que a receita retome algum ímpeto, quase sempre em função do reaquecimento da economia como um todo. Além de esse modelo não ter sido tão eficiente no passado como alguns julgam (a recuperação em investimentos raramente colocou as empresas em patamar equivalente ou superior ao que estava no início das reduções), ele claramente não será capaz de dar conta da situação atual. Uma outra saída que poderia dar algum fôlego às companhias que operam o jornalismo no Brasil (o recurso ao Estado) parece ter sido descartada após um ano e meio de complicadas negociações entre suas entidades de classe e o governo. O malogro dessas conversações é uma grande notícia para a democracia no País. Muito dificilmente o amparo
de um banco estatal poderia ter dado aos veículos jornalísticos o suporte necessário sem impedi-los de oferecer à sociedade informação independente e crítica indispensável para o aperfeiçoamento das instituições. Nenhum empréstimo do BNDES viria sem troco para o governo e tal transação seria péssima para a nação. Infelizmente, alternativa provavelmente quase tão danosa quanto esta para o futuro do jornalismo brasileiro tem sido adotada. Trata-se da transferência do controle de alguns veículos para as mãos de empresários pouco afeitos à prática específica do negócio da informação, a qual demanda – entre outras qualidades – elevado grau do que se convencionou chamar de “espírito público”. O jornalismo não é uma atividade empresarial como outra qualquer, já que ela lida com um produto de grande sensibilidade política, social, econômica e cultural, capaz de afetar rápida e profundamente a vida de uma ou mais comunidades. É preocupante constatar que os percalços econômicos estão tirando o poder de decisão sobre o conteúdo veiculado por alguns órgãos de comunicação das mãos de pessoas que – de algum modo, embora nem sempre o melhor – tinham consciência de seu papel especial na sociedade para colocá-lo nas de outros cujo compromisso quase exclusivo parece ser ou com a expansão imediata de seus lucros ou com o proselitismo religioso. O sistema de propriedade familiar que vem vigendo na indústria cultural brasileira há cerca de um século apresenta, sem dúvidas, vícios que em grande parte contribuíram para o estado atual de extremo apuro por que
passa setor. Ele tinha de ser reformulado dramaticamente se fosse continuar a existir, o que não foi feito, a não ser de modo capenga, no passado. No que diz respeito à propriedade dos meios de comunicação de massa, a principal janela de oportunidade reside na possibilidade de abertura do capital das empresas de mídia. Ela pode ser o primeiro passo para dar partida às mudanças estruturais necessárias para responder aos enormes obstáculos que se antepõem a elas. A propensão para tal saída demonstrada nas últimas semanas pela Editora Abril deve ser encarada como uma das mais importantes notícias para o jornalismo brasileiro nos últimos anos. Mas inúmeras outras alterações radicais serão necessárias para garantir ao jornalismo a sobrevivência como instrumento influente no debate público e político da sociedade. Está ficando cada vez mais ostensiva a perda de espaço para a informação séria no mercado de bens simbólicos. Os veículos jornalísticos – principalmente os impressos e, dentre estes, os jornais diários mais ainda – precisam urgentemente encontrar maneiras de atrair a atenção de segmentos demográficos que deles se afastaram. Eles precisam se mostrar relevantes para esse público, da mesma forma como o conseguiram fazer no passado para gerações anteriores. Isso exigirá não só dos donos e gerentes de empresas, mas também e talvez principalmente dos jornalistas, atitude positiva para revolucionar conceitos estabelecidos há muito tempo. Infelizmente, a regra geral na profissão é uma enorme indisposição para mudanças profundas em métodos de trabalho e princípios consagrados. Os 15 maiores jornais diários bra-
sileiros tiveram queda de circulação de 18,1% entre 2001 e 2003, segundo dados da Associação Mundial de Jornais; a imprensa só merece a confiança de 20,1% dos leitores, de acordo com pesquisa da Toledo & Associados. Estes são números gravíssimos, aos quais não adianta responder com a mera constatação de que os hábitos de consumo de comunicação mudaram com os tempos. Se não encontrar maneiras para enfrentar essas mudanças, o jornalismo vai simplesmente abdicar de seu papel histórico de formador da opinião pública. Manter os esquemas desgastados que já se provaram incapazes (do convencionalismo arcaico à distribuição de brindes) não vai ser suficiente nem mesmo para assegurar sobrevida muito longa a muitos veículos. É realmente imprescindível investigar de modo eficiente as necessidades de informação séria da audiência e como fazer para atrair e manter a sua atenção. E, acima de tudo, é indispensável estar disposto a mudar. A história dos veículos jornalísticos no Brasil nunca primou pela preocupação em ir além do mero desincumbir-se das obrigações básicas do acompanhamento cotidiano dos fatos. Desgraçadamente – e agora se sabe quão desgraçadamente – as empresas jornalísticas brasileiras nunca se preocuparam em construir instituições (como, por exemplo, o fizeram diversos dos pioneiros da imprensa de massa nos EUA) para conhecer a fundo o seu negócio, formar profissionais com espírito de transformação, propor inovações. Talvez ainda haja tempo para tanto. De outro modo, o futuro do jornalismo – especialmente no Brasil – não será dos mais brilhantes.
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Lembrança de Hélio Silva MARIA CECÍLIA RIBAS CARNEIRO
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onheci Hélio Silva quando ele era Depositário Judicial, no prédio do antigo Supremo Tribunal Federal, hoje Museu do Judiciário. No final do expediente, no gabinete de meu pai, Edgard Ribas Carneiro, Juiz da 1a. Vara da Fazenda Pública, havia um grupo de amigos que se reuniam para comentar os fatos do dia, certos processos curiosos ou absurdos. Faziam parte Luiz Gallotti, Mário Tarquínio de Souza, repórter, irmão do historiador Otávio Tarquínio de Souza, Machado Guimarães, Plínio Travassos, Temístocles Cavalcânti, Fábio de Andrade, filho do Presidente Antônio Carlos, e Hélio Silva. Eu ainda não estudara Direito, de modo que achava estranho um médico ser Depositário Judicial. Hélio também era jornalista, mas isso não me causava espanto porque meu pai também o era. Não sei em quantos jornais ele trabalhou, mas sei que meu pai entrou para a ABI em 1922. Claro que não era no prédio atual. Cercada por jornalistas eu teria, forçosamente, de acabar sendo jornalista e membro da ABI. Muitos anos depois vim a saber das dificuldades que o Hélio tinha passado após a morte do seu pai, oficial da Marinha, morto na explosão do encouraçado Aquidabã. Como o corpo de seu pai não foi encontrado, a mãe dele não teve direito à pensão. E mais ainda, seus dois irmãos mais velhos eram alunos do Colégio Militar, mas o Hélio não teve direito de ir para este colégio, porque, na época, era só para filhos de militares, e ele não tinha mais o pai. Para estudar Medicina, só o pôde fazer graças ao professor Miguel Couto, que, penalizado, pagava-lhe suas matrículas. Formado, montou um consultório no centro da cidade. Como jornalista ele começou aos 16 anos, tendo trabalhado em 18 jornais, e sempre exerceu posições de destaque, como a de Presidente do Conselho Administrativo da ABI, e recebeu vários prêmios. Exerceu por algum tempo a função de cronista parlamentar, fez amizade com políticos, principalmente da década de 30, o que lhe facilitou, futuramente, seus trabalhos de História Contemporânea. Foi Secretário da Bancada Paulista no Congresso, antes da Revolução de 30. Com a derrota de Júlio Prestes e, conseqüentemente, de Armando Sales, teve de voltar definitivamente para o Rio de Janeiro, e começar da estaca zero. Às vezes ele vinha ao Rio e ia visitar meu pai. Eu não gostava quando ele começava a criticar o Presidente Vargas, que era amigo de meu pai. Quando Hélio começou a pensar em encerrar a carreira de médico,
Principal colaboradora do historiador do Ciclo Vargas, a Professora Maria Cecília Ribas Carneiro mostra como foi penosa a trajetória de Hélio Silva, cujo centenário é comemorado neste 2004. Hélio foi presidente do Conselho Administrativo da ABI no período mais duro do regime militar.
O historiador e sua colaboradora, após a edição de 1944 – o Brasil na Guerra.
voltou-se para o jornalismo e escreveu dois longos artigos para o jornal Tribuna da Imprensa. Foi tal o sucesso que as edições do jornal logo se esgotaram. Nessa ocasião comecei, timidamente, a ajudá-lo, revisando os textos, mas não me conformando com
o fato de ele gastar tão bons assuntos para um jornal. Seus artigos teriam vida efêmera. Então insisti com ele em que juntasse o material que tinha sobre os acontecimentos políticos brasileiros para publicá-los em livros. Foi aí que ele propôs à Editora Civili-
zação Brasileira escrever 16 volumes, tal a quantidade de documentos que possuía. O primeiro foi escrito em 1960 – “A República não esperou o amanhecer”, em meio a imensas dificuldades de caráter pessoal. Esse livro, tão sofrido, tão elaborado, com 595 páginas, teve seus originais perdidos pelo editor. Hélio continuou o trabalho, com grande frustração. O segundo volume – “Sangue na areia de Copacabana”, foi logo editado, com a desculpa de que o episódio dos 18 do Forte seria mais atrativo para os leitores. O primeiro, como os originais só foram encontrados muito mais tarde, foi considerado fora de série. A coleção foi encerrada com 15 livros. Depois, quando Hélio começou a ser conhecido como historiador, outras editoras propuseram que ele escrevesse a continuação da História da República. Como muitos dos livros necessários para a consulta estavam nos Estados Unidos e o Hélio não sabia inglês (na época de estudante, os livros didáticos eram em francês e italiano), passei a ajudá-lo, cada vez mais, indo aos Estados Unidos fazer pesquisas. Segundo declaração do Senador Jarbas Maranhão, em uma reunião na ABI, após o falecimento do Hélio, o Dr. Barbosa Lima Sobrinho adiantou que foram mais de sessenta anos de dedicada colaboração e trabalho profícuo, acentuando ainda sua competência e seriedade como historiador e seu comportamento ideológico. Foi também evocada sua capacidade de luta e determinação na bravura que demonstrou, no período do militarismo, em defesa dos jornais, da liberdade de imprensa e de instituições como a própria ABI.
Maria Cecília, da turma pioneira Além de colaboradora de Hélio Silva nas pesquisas e montagem de textos da ciclópica obra do Ciclo Vargas, Maria Cecília Ribas Carneiro ostenta outro título de que se orgulha: ela integrou a primeira turma de Jornalismo formada no Rio de Janeiro pela Faculdade Nacional de Filosofia, a famosa FNFi da antiga Universidade do Brasil. Graduada no final de 1950, a turma tinha entre seus integrantes Renato Jobim, que foi Secretário do Conselho Administrativo da ABI durante muitos anos, José Calheiros Bonfim, que foi Consultor Jurídico da ABI, João Constantino Ribas, que chefiou por largo tempo a Revisão do Jornal do Brasil, Nícia Mariani, Francisco Santos Souza, Ari de Azevedo Nepomuceno, que fundou e dirigiu o Sindicato dos Jornalistas Liberais, e as irmãs Adair e Adamir Ribeiro do Vale de Araújo Lima. Tal como em nossos dias, a maior preocupação dos primeiros bacharéis em Jornalismo era a oferta de oportunidades de trabalho. Com esse fim, dirigiram ao Presidente Getúlio Vargas, logo após a sua posse, em 31 de janeiro de 1951, um memorial em que pleiteavam a criação da carreira de Jornalista nos serviços de imprensa dos ministérios e das autarquias. Getúlio recebeu a comissão de bacharéis e ouviu com atenção a leitura do memorial, feita pela representante indicada pela turma: Maria Cecília Ribas Carneiro. Um ano depois a reivindicação não estava atendida. Incumbido de estudar o pleito, o Departamento Administrativo do Serviço Público-Dasp, que cuidava das questões de pessoal do Governo Federal, informou em 25 de janeiro de 1952 a Ari Nepomuceno que havia anotado o assunto, “a fim de apreciá-lo na ocasião oportuna”.
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Reinauguração traz de volta velhos tempos
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, presente à inauguração, relembra a grandeza da Rádio Nacional
Com a presença do presidente do Lula, a inauguração das novas instalações da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, na noite de 2 de julho, foi uma festa de volta aos tempos áureos da emissora, fundada em 1936. Acompanhado da governadora Rosinha Matheus e dos ministros José Dirceu, Gilberto Gil e Luiz Gushiken, Lula assistiu
a um show de Emilinha Borba, Carmélia Alves, Cauby Peixoto e Marlene, representantes da fase áurea do rádio brasileiro - os anos 40 e 50 -, quando a Nacional chegou a ser uma das cinco maiores emissoras do mundo. A Nacional apresentava então os mais populares programas de auditório, shows de calouros, quadros hu-
morísticos e radionovelas, contando com Herivelto Martins, Ângela Maria e Orlando Silva e outros expoentes da MPB da época. As radionovelas “Em Busca da Felicidade” e “O Direito de Nascer”, por exemplo, foram alguns dos grandes sucessos da rádio que comoveram o país nos anos 40, contribuindo para fazer despontar
Julho/Setembro de 2004 no cenário teatral brasileiros nomes como Walter D’Ávila, Mário Lago, Oduvaldo Viana, Paulo Gracindo e Henriqueta Brieba. Na reinauguração, no edifício “A Noite”, na Praça Mauá, zona portuário do Rio, também se apresentaram Jamelão e Lucinha Lins, interpretando grandes sucessos do passado e abrindo as portas para os novos talentos. Além de um novo transmissor de 50 Kw, que permitirá atingir grande parte do Estado do Rio e obter um som de qualidade FM, a rádio (1.130 AM) ganhou novos estúdios (Victor Costa, Paulo Tapajós e Mário Lago), um auditório de 150 lugares (Radamés Gnatalli) e uma nova programação. O diretor da emissora, Cristiano Menezes, diz que a nova fase não significa “a volta da velha Nacional, mas o retorno ao jornalismo direcionado para o cidadão e para o espaço político brasileiro”. Garante que a programação conjugará música, entretenimento e informação. Na parte musical, haverá combinação de artistas antigos e novos, informou Agilson Menezes, diretor de Jornalismo. Serão apresentadas gravações de antigos programas de auditório, gravados no estúdio Mário Lago, o principal da emissora. A revitalização da Rádio Nacional, iniciada em janeiro de 2004, teve um custo de R$ 2,5 milhões, patrocinado pela Petrobrás. A segunda etapa de reestruturação será a construção do Museu Rádio Nacional e a recuperação do 20º andar do prédio. A reforma inclui também a recuperação do imóvel onde está instalado o parque de transmissores de Itaóca, no Município de São Gonçalo.
Repórter mostra em livro que dinheiro fala mais alto nas eleições CARLOS JURANDIR O fato de o dinheiro ser o personagem principal do processo eleitoral no Brasil já foi denunciado, há quase um século, por, entre outros, Machado de Assis e Lima Barreto. Aos dois maiores escritores brasileiros junta-se agora o repórter Maurício Dias, 57 anos, que acaba de lançar o livro Mentira das Urnas, mostrando a relação mais que direta entre a quantidade de dinheiro empenhado e a soma de votos conquistada por candidatos a cargos eletivos de todos os níveis, no Brasil, em todos os tempos. Segundo Maurício, no último pleito, em 2002, o PT conseguiu eleger o atual presidente da República porque tinha mais recursos financeiros que seu principal adversário, do PSDB. A contribuição da prefeitura de São Paulo, garante, foi decisiva para a vitória. No processo eleitoral brasileiro, de um modo geral – conta Maurício – a maior parte dos recursos vem da máquina estatal, nos três níveis – fede-
ral, estadual e municipal. Da iniciativa privada, através do caixa 2, fora os expedientes indiretos. Todos os partidos sempre entraram no jogo, inclusive os de esquerda, afirma o pesquisador. Ele garante que não desapareceu ainda a prática da fraude primária, aquela apontada por Lima e Machado, mas hoje a influência do poder econômico se sofisticou . – Com a melhora da legislação, a presença do dinheiro ficou ainda mais evidente. A prevalência do poder financeiro no processo eleitoral representa hoje o calcanhar de Aquiles da democracia. Todo mundo sabe disso, mas é preciso que se faça uma avaliação completa do impacto econômico no resultado das eleições. O voto deixou de ser um fato político para se tornar um fato econômico – afirma. Maurício Dias, com muitos anos de experiência como repórter político em algumas das principais publicações do país, trabalhou um ano no livro, consultando registros e mais de 50 livros, mas considera fundamental
a reprodução do episódio contado por Lima Barreto em seu romance Isaias Caminha. Empenhado em arranjar emprego para o sobrinho recém-chegado, o tio foi procurar o “coronel” do curral eleitoral em pleno Rio de Janeiro. Como alguém achou que o político pudesse colocar dificuldades, o coronel lembrou: “Pode ficar tranqüilo. Já levantamos muito defunto pra votar nele”. Na zona eleitoral, o rapaz se espantou: “Mas todo mundo tem a mesma letra!” O coronel: “Tiveram o mesmo professor de caligrafia”. O autor diz que seu livro não é um trabalho de denúncia, mas “uma análise política do processo de falsificação da vontade do eleitor, que jamais teve liberdade espiritual para escolher”. – A imprensa tem representado importante papel na denúncia do peso do poder econômico no resultado das urnas – acrescenta-, especialmente o uso do caixa 2, mas jamais apontou, por exemplo, que a última eleição para o Senado custou cerca de R$ 800 milhões e que a renúncia fiscal que viabi-
lizou os programas eleitorais “gratuitos” chegou a R$ 174 milhões. – O programa é gratuito, mas a população paga – diz o jornalista. A televisão encarece as eleições – argumenta o autor, os programas têm alto custo, o que estimula as velhas práticas, que não diferem muito das denunciadas pelo repórter José Vieira, em 1910, a propósito do pleito do ano anterior. Por exemplo, até hoje não há comunicação de óbitos na justiça eleitoral. É a porta aberta para a fraude. Maurício Dias começou a carreira em 1969 na Tribuna da Imprensa, indo três anos depois como repórter político para a revista Veja. Hoje correspondente no Rio da Carta Capital, passou por várias redações, como as de Senhor, Jornal do Brasil e O Globo. Na literatura, teve uma experiência com o roteiro do filme Jango, de Sílvio Tendler. O livro atual começou com uma parceria com o pesquisador Alberto Almeida, da Fundação Getúlio Vargas, com o qual iniciou um trabalho sobre as eleições de 2002.
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Uma reparação pelos traumas da tortura A ABI dá pareceres na Comissão Especial que concederá uma indenização de caráter moral às vítimas de tortura em dependências do Estado do Rio de Janeiro durante a ditadura. Rogério Santana
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ABI deu parecer favorável ao pagamento de indenização por dano material e moral a 21 pessoas que sofreram torturas físicas e psicológicas entre 1 de abril de 1964 e 15 de agosto de 1979 em dependências de órgãos da administração direta ou indireta do Estado do Rio de Janeiro, conforme estabelecido na Lei nº 3.744, de 21 de dezembro de 2001, que dispôs sobre a instituição dessa reparação às vítimas do regime militar. Em outro processo analisado por seu representante na Comissão Especial de Reparação, o opinamento da ABI foi no sentido da baixa dos autos em diligência para complementação das informações. A Comissão Especial de Reparação foi instalada em 27 de maio passado em cerimônia sob a presidência do Governadora do Estado, Rosinha Garotinho, e foi constituída na forma do Decreto nº 31.995, que regulamentou a Lei nº 3.744/2001. Além de representantes do Governo do Estado (Secretaria de Direitos Humanos, cujo titular, Coronel Jorge da Silva, preside a Comissão, Secretaria de Ação Social, Secretaria de Justiça e Direitos do Cidadão e Procuradoria-Geral do Estado), integram a Comissão membros indicados pela Ordem dos Advogados do Brasil-Seção do Estado do Rio de Janeiro, pelo Conselho Regional de Medicina do Estado, pelo Grupo Tortura Nunca Mais e pela ABI, representada por Maurício Azêdo, designado na gestão Fernando Segismundo. Pela regulamentação da Lei nº 3.744/2001, de autoria dos Deputados Carlos Minc, Edmilson Valentim, Neca e Chico Alencar, a reparação terá um valor médio entre R$ 5.000,00 e R$ 50.000,00 a ser fixado pela Governadora do Estado, como proposto pela Comissão Especial de Reparação, que entendeu que não é possível quantificar em valores monetários, como admitia a Lei, a tortura de cada um. “Seria submeter essas pessoas a uma nova tortura. A indenização é um direito, mas a nossa preocupação maior é o resgate da História e a denúncia para evitar a impunidade”, disse a Presidente do Grupo Tortura Nunca Mais, Flora Abreu, que integra a Comissão. Até 24 de agosto passado, quando recebeu os primeiros pareceres aos processos formados na Secretaria de Estado de Direitos Humanos, a Comissão Especial de Reparação havia protocolado mais de 300 pedidos de reparação pelas torturas sofridas por cidadãos presos em dependências esta-
anos de reclusão, o livrou das penas a que foi condenado em 16 processos e inquéritos policiais militares: duas prisões perpétuas e 84 anos de reclusão. No Dops e nas prisões militares, Alex Polaris de Alverga sofreu torturas físicas e psicológicas bestiais, que ele relata com crueza em sua petição, na qual nomina alguns de seus torturadores: Inspetor Mário Borges, Jair Gonçalves Mota e Eduardo, vulgo “Norminha”. CABO DE VASSOURA
Coronel Jorge da Silva, titular da Secretaria de Direitos Humanos e Presidente da Comissão.
duais no período citado. O prazo para apresentação de novos requerimentos terminará em 27 de novembro próximo, como fixado no Decreto nº 31.995. Informações a respeito poderão ser obtidas na Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Avenida Presidente Vargas, 817, 26º andar. OS PROCESSOS
Os processos em que a ABI se manifestou favoravelmente ao pagamento da reparação são os relativos aos cidadãos Alex Polaris de Alverga; Darcy Domingues de Mello; Fernando Palha Freire; Ivan da Silva Canavarro; Jacinto Francisco Paiva Neto; João Ferreira Campos Sobrinho; Joaquim Fernando Lapoente; José Benedito de Freitas; José Moura; José Queiroz de Oliveira; Luiz Carlos Rangel Peçanha; Manoel Henrique Ferreira; Marco Antônio Azevedo Meyer; Margareth Suliman Grudzinski; Oswaldo José Vicente; Raimundo Santa Novaes; Raymundo Neves de Araújo; Rosane Reznik; Vera Joana Bornstein. Em dois processos os requerentes são sucessores ou herdeiros das vítimas das violências; no caso de João Elízio de Melo Porto, falecido, a reparação é requerida por seus filhos Cristina Pedrosa Melo Porto e João Elízio Melo Porto Filho; no caso de Mirênio Morado Lutterbach, também falecido, a requerente é sua viúva, Ina
Soares Lutterbach. No processo da requerente Tereza Cristina Denucci Martins o representante da ABI requereu diligência, para complementação da documentação constante dos autos. DENÚNCIAS
Os processos submetidos à apreciação da Comissão Especial de Reparação contêm extensos e minuciosos relatos das torturas sofridas pelos requerentes –– um suplício para os relatores, que vêem diante de seus olhos o cortejo de torpezas e brutalidades cometidas durante o regime militar. Os requerentes, como estabelecido na Lei nº 3.744/2001, anexam à sua petição uma cópia legível do relato e dos documentos que juntam ao processo, a fim de que essa documentação seja encaminhada ao Grupo Tortura Nunca Mais, para realização de um inventário dos crimes contra os direitos humanos praticados pela ditadura. Um dos processos relatados pelo representante da ABI foi o de Alex Polaris da Alverga, que esteve preso no antigo Departamento de Ordem Política e Social-Dops a partir de 12 de maio de 1971 e alternou sua privação da liberdade por prisões estaduais e presídios militares da União até 29 de novembro de 1979, quando foi libertado em conseqüência da Lei da Anistia, que, após nove
Também foi relatado pela ABI o processo de Marco Antônio Azevedo Meyer, que esteve preso no Dops a partir de 28 de maio de 1969 e foi transferido para o Presídio da Ilha Grande em 12 de junho de 1969 e ali permaneceu dois meses. Após removido para prisão militar, no Centro de Treinamento de Jericinó, e, depois, para a Penitenciária de Linhares, em Juiz de Fora, Marco Antônio foi em 16 de junho de 1979 incluído entre os presos políticos libertados e banidos do País em troca da libertação do Embaixador da Alemanha Ocidental Ehrenfied Anton Theodor Ludwig von Holleben. Em sua petição, informa Marco Antônio que sofreu torturas físicas e psicológicas no Dops, onde foi submetido a sevícias pela equipe do conhecido torturador Inspetor Mário Borges. Conta Marco Antônio: “Chegaram à atrocidade de me introduzirem no ânus um cabo de vassoura e o ‘regaram’ com uísque falsificado que se encontrava apreendido naquela dependência. Após três dias de intensas torturas fui jogado numa solitária conhecida como ratão, onde fiquei diversos dias!” Conta Marco Antônio que no Centro de Treinamento de Jericinó foi “supliciado durante cerca de sete meses pela equipe do famigerado torturador conhecido pela alcunha de ‘Capitão Guimarães’ sob a batuta do alcoólatra e então Coronel Ary Pereira de Carvalho, encarregado do inquérito policial militar (IPM)”. Em seu parecer nesse processo, diz o representante da ABI: “Registre-se que a menção ‘Capitão Guimarães’ identifica o ex-Capitão Aílton Guimarães Jorge, dirigente da Liga Independente das Escolas de Samba do Rio de Janeiro-Liesa e pessoa que desfruta do respeito das autoridades da Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, das quais é parceiro em negócios carnavalescos.”
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Como foi a emocionante Sessão de Posse da nova Fotos: Antônio Nery
A mesa da solenidade conduzida pelo Presidente do Conselho Carlos Alberto Caó Oliveira (ao centro)
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ABI viveu na terça-feira 1 de junho passado um dos mais belos momentos de sua existência quase centenária. Foi a Sessão Solene de Posse da nova Diretoria da Casa, também comemorativa do Dia da Imprensa, a qual reuniu no Auditório Oscar Guanabarino, no nono andar do Edifício Herbert Moses, uma assistência de mais de 700 pessoas, que compuseram uma platéia altamente representativa da sociedade civil, dos meios políticos, da administração pública, da cultura e da universidade. O Auditório da ABI foi total-
mente tomado pelos sócios e convidados, que ocuparam todas as poltronas e as cadeiras colocadas no fundo do salão; muitos deles se acotovelaram, de pé, entre as fileiras de poltronas, junto ao e sobre o palco e nas últimas filas de cadeiras do Auditório. Um telão teve de ser instalado no saguão do Auditório, a fim de que os convidados, sem condições de acesso ao plenário por falta de espaço, pudessem acompanhar o andamento da solenidade. – Nos meus muitos anos de sócio, nunca vi um ato da ABI com tanta gente e com tanta expressão – disse
Após a cerimônia, o coquetel no saguão repleto de convidados
emocionado o jornalista José Gomes Talarico, um dos mais antigos sócios da Casa presente à Sessão. – A Cecília Costa voltou à Redação de O Globo chorando de emoção e dizendo entre lágrimas que a gente não sabe o que perdeu por não ter ido à bela festa que a ABI promoveu – contou o jornalista Ancelmo Gois, relatando o estado emocional da colega, que compareceu à Sessão Solene e teve de voltar à Redação, para fechar o caderno Prosa & Verso, de que era editora. Entre sócios e convidados essa era a conclusão comum, presente
nas conversas travadas durante o coquetel que se seguiu à Sessão: a ABI dera uma extraordinária prova de vitalidade e de prestígio com a afluência ao ato. Sem contar as pessoas que não subiram ao nosso andar, evitando as longas filas diante de dois elevadores do saguão térreo, e as que preferiram entrar direto no Auditório, nada menos de 723 pessoas assinaram os quatro livros de presença colocados à disposição dos sócios e convidados no saguão do nono andar. Para o coração – A organização da Sessão Solene tocou o coração dos
Uma mesa de peso
A
Mesa da Sessão Solene de Posse, tendo na presidência o jornalista Carlos Alberto Caó Oliveira dos Santos, reuniu representantes dos três entes federativos da República: o jornalista Ricardo Kotscho, Secretário-Geral de Imprensa da Presidência da República; o representante da Governadora do Estado do Rio Rosinha Garotinho, jornalista Ricardo Bruno, Secretário de Estado de Comunicação Social, e o representante do Prefeito César Maia, Secretário Municipal de Trabalho e Renda da Cidade do Rio de Janeiro, Vice-Prefeito Marco Vales. Além deles tiveram assento nas três fileiras de cadeiras que se formaram para acolher convidados e sócios eminentes: Jornalista Adionel Carlos da Cunha, Assessor de Imprensa de Arquidiocese do Rio de Janeiro, representando o Cardeal Arcebispo do Rio de Janeiro, Dom Euzébio Scheid; professor e jornalista Fernando Segismundo, presidente da ABI na gestão precedente; Jorge Sanches Sosa, Cônsul-Geral do México no Rio de Janeiro; Li Zhongliang, CônsulGeral da República Popular da China; Ismael Diogo da Silva, Cônsul-Geral da República de Angola; Agustín Molina, Cônsul-Geral da Argentina no Rio de Janeiro; ex-Governador Marcelo Alencar; ex-Ministro Jamil Haddad; advogado Oscar Otávio Coimbra Argollo, representante do Presidente do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil, Roberto Antônio Busato; jornalista José Augusto Gayoso Neves, representante do Governador de Santa Catarina Luiz Henrique da Silveira; jornalista Luiz Antônio Gravatá Galvão, representante do Governador de Goiás Marconi Perillo;
Vereador Sami Jorge Haddad Abdulmacih, Presidente da Câmara Municipal do Rio de Janeiro; Conselheiro Carlos Pinna de Assis, Presidente da Associação dos Membros dos Tribunais de Contas do Brasil-Atricon; Conselheiro Thiers Montebello, Presidente do Tribunal de Contas do Município do Rio de Janeiro; Conselheiro Luiz Sérgio Gadelha Vieira, Presidente do Tribunal de Contas dos Municípios do Estado do Ceará; Professor Aloísio Teixeira, Reitor da Universidade Federal do Rio de Janeiro; Professor Nival Nunes de Almeida, Reitor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro; Professora Vera Gissoni, Chanceler da Universidade Castelo Branco; Professor Celso Niskier, Reitor da Unicarioca; engenheiro Raimundo de Oliveira, Presidente do Clube de Engenharia; advogado Wagner Cavalcânti de Albuquerque, representante do Presidente da Ordem dos Advogados do Brasil/Seção do Estado do Rio de Janeiro, Otávio Gomes; Jornalista Genton Moraes Neto, representando a família Marinho; jornalista Maurício Dinep, Presidente do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro; jornalista Suely Caldas, representante do jornalista Rui Mesquita, diretor de O Estado de S. Paulo; jornalista Alexandre Torres Amora, Vice-Presidente de O Fluminense; o empresário Alberto Ahmed, Presidente do Povo; jornalistas Villas-Bôas Corrêa, Mário Cunha, Zuenir Ventura e Ítalo de Saldanha da Gama. Sidnei Resende anunciou também a presença dos seguintes convidados, so-
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FORAM EMPOSSADOS NA SESSÃO SOLENE: Diretoria Presidente: Maurício Azêdo;
Diretoria, no Dia da Imprensa
Vice-Presidente, Milton Temer; Diretor Financeiro: Aristélio Andrade; Diretor Administrativo: Fichel Davit Chargel; Diretor Social: Domingos Meirelles; Diretor de Cultura e Lazer: João Máximo; Diretora de Jornalismo: Joseti Marques. Conselho Deliberativo/2003-06 Efetivos Antonieta Vieira dos Santos, Artur da Távola, Cid Benjamin, Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Héris Arnt, Irene Cristina Gurgel do Amaral, Ivan Cavalcanti Proença, José Gomes Talarico, José
A partir da esqueda, João Máximo, Aristélio Andrade, Milton Temer, Fichel Davit Chargel, Domingos Meirelles e Joseti Marques
Resende, Marceu Vieira, Paulo Jerônimo, Roberto M. Moura,
presentes pela sensibilidade visível em cada pormenor. Para mestre de cerimônia foi convidado o jornalista Sidnei Resende, que, com competência, segurança e presença de espírito – não tropeçou nem se deteve diante de um ou outro imprevisto e improvisou quando necessário –, comandou o andamento do ato com extrema sobriedade. Após declarar aberta a Sessão, marcada para as 17h e iniciada às 17h50min, Resende convidou autoridades e personalidades a tomarem assento à Mesa e em seguida anunciou a interpretação do Hino Nacio-
nal pela pianista Fernanda Canaud e pelo violoncelista David Chew, spalla da Orquestra Sinfônica Brasileira, que injetaram as primeiras cargas de emoção na assistência. Fernanda abriu a execução com ligeiras variações sobre o tema do Hino e depois tocou-o integralmente, aqui e ali cedendo passagem para que o violoncelo de David Chew, inglês que se apaixonou pelo Brasil e aqui se radicou, aparecesse com o destaque merecido pelo virtuose. O público acompanhou a interpretação entoando o Hino com forte teor de emoção.
licitando que se considerassem como integrantes da Mesa: Deputadas federais Jandira Feghali (PCdoB) e Luciana Genro (ex-PT-RS); Deputados estaduais Alessandro Molon (PT), André Correia (PPS), André do PV, Carlos Minc (PT), Edmilson Valentim (PC do B), Jurema Batista (PT), Luiz Paulo Corrêa da Rocha (PSDB), Paulo Ramos (PDT) e Waldeth Brasiel (PL); Conselheiros Victor Faccioni, Presidente do Tribunal de Contas do Estado do Rio Grande do Sul; Conselheiro Flávio Régis de Moura e Castro, representando o Tribunal de Contas do Estado de Minas Gerais. E ainda: Desembargadores Álvaro Mayrink da Costa, representado por sua mulher, Professora e ex-Vereadora Ludmila Mayrink; Antônio Carlos Areal, Bernardino Leituga, Letícia Sardas, Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho, Marco Aurélio Belize e Thiago Ribas Filho; Juízes Regina Célia Areal e Vladimir Santos Vistovsky; Secretário de Estado de Ação Social Fernando William; Secretária Municipal de Educação Sônia Mograbi. Mais: Vereadores Adilson Pires (PT), Edson Santos (PT), Fernando Gusmão (PCdoB), Ivan Moreira (PFL), José Moraes (PFL), Leila do Flamengo (PFL), Lucinha (PSDB), Marcelino D’Almeida (PFL), Mário del Rei (PSB) e Rubens de Andrade (PSC); jornalista Luiz Turiba, representante do Ministro da Cultura Gilberto Gil; William Salasar, Superintendente Comercial da Federação Brasileira de Bancos-Febraban, representante do Presidente Hugo Dantas Pereira.
Encerrada essa apresentação, Resende passou a presidência dos trabalhos ao Presidente do Conselho Deliberativo da ABI, jornalista Carlos Alberto Caó Oliveira dos Santos, com o qual passou a alternar intervenções. Caó anunciava os empossados, Resende informava das presenças e mensagens. Caó deu posse, sucessivamente, aos 15 membros suplentes e efetivos eleitos para o Conselho Deliberativo – um terço do total de 45 membros –, aos membros do Conselho Consultivo, do Conselho Fiscal e, por fim, da Diretoria. Um lapso de Caó provocou risos da assistência, dos integrantes da Mesa e dele próprio: no clima emocionado do ato, Caó deu a palavra ao Presidente eleito para falar em nome dos empossados antes mesmo de declarar a posse destes. Reparada a falha em meio ao bom humor geral, Maurício Azêdo leu o discurso de posse em nome da nova Diretoria. Outro momento de descontração se deu quando, com a cerimônia em andamento, uma voz reclamou em tom alto que o som do telão, no saguão, não estava ligado. De batepronto, sem se perturbar nem se desviar do roteiro da Sessão, Caó respondeu de primeira: “essa providência será adotada”. O roteiro da Sessão previa apenas dois discursos, ambos lidos: o do Presidente Caó, que iniciou o seu com uma pequena parte improvisada, e o do Presidente Maurício Azêdo. Com isso a Sessão ocorreu como se previa e desejava: densa, comovente e nada cansativa.
Sérgio Cabral, Therezinha Santos. Suplentes Adalberto Diniz, Aluísio Maranhão, Ancelmo Góis, André Louzeiro, Jesus Chediak, José Louzeiro, Lílian Nabuco, Luarlindo Ernesto, Marcos de Castro, Marcus Barros Pinto, Mário Augusto Jakobskind, Marlene Custódio, Maurílio Ferreira, Silvestre Gorgulho, Yaci Nunes. Conselho Consultivo Chico Caruso, Ferreira Gullar, José Aparecido de Oliveira, Miro Teixeira, Teixeira Heizer, Ziraldo, Zuenir Ventura. Conselho Fiscal Adriano Barbosa, Altenir dos Santos, Aziz Ahmed, Jesus Antunes, Luiz Carlos de Oliveira, Romildo Guerrante, Zilda Ferreira.
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O respeito dos três Poderes
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lém dos cumprimentos do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, a nova Diretoria da ABI recebeu mensagens de felicitações dos Chefes dos dois outros Poderes da República, Senador José Sarney, Presidente do Congresso Nacional e Chefe do Poder Legislativo, e Ministro Nélson Jobim, Presidente do Supremo Tribunal Federal e Chefe do Poder Judiciário do País. Também enviaram mensagens, entre outras autoridades e personalidades: Ministro Valmir Campelo, Presidente do Tribunal de Contas da União; Ministros Márcio Thomaz Bastos, da Justiça; Celso Amorim, das Relações Exteriores; Luiz Gushiken, de Comunicação de Governo e Gestão Estratégica; Gilberto Gil, da Cultura, e Marina Silva, do Meio Ambiente; Ministros Marco Aurélio, do Supremo Tribunal Federal; Ubiratan Aguiar, do Tribunal de Contas da União; Denise Martins Arruda, Hum-
berto Gomes de Barros, Hamilton Carvalhido e Teori Albino Zavascki, do Superior Tribunal de Justiça; Governadores do Acre, Jorge Viana; do Amapá, Waldez Góes; do Ceará, Lúcio Alcântara; do Espírito Santo, Paulo Hartung; do Paraná, Roberto Requião; do Piauí, Wellington Dias; Senador Roberto Saturnino Braga; Deputados federais Paulo Feijó e Paulo Baltazar; Presidente do Tribunal de Contas do Município de São Paulo, Conselheiro Antônio Carlos Caruso; Professor Carlos Lessa, Presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social-BNDES; empresário João Lagoeiro Barbará, Presidente em exercício da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro-Firjan; Jornalistas Roberto Irineu Marinho, das Organizações Globo; Luís Eduardo Vasconcelos, Diretor-Geral do jornal Extra; Roberto Civita, Presidente da Editora Abril; João Roberto Marinho, das Organizações Globo; Paulo Novis, Diretor de O Globo; Pedro Bial, da TV Globo.
Foto: Anônio Ne
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Na lista de presença No atropelo do excesso de convidados que faziam fila para apor suas assinaturas a um dos quatro livros de presença postos à disposição, muitos dos presentes à Sessão Solene de Posse assiA Abel Sardiña Abelardo Baldez Abílio Tozini Adalberto Diniz Adalberto N. Cândido Adilson Gonçalves Adilson Pires Adionel Carlos da Cunha Admar Branco Adolfo Martins Adriano Barbosa Afonso Celso Garcia Reis Afonso Faria Afonso Fontes Afrodizio Marques Pinheiro Ágata Messina Agustín Molina Alan Soares Alberto Ahmed Alberto Virla Alessandra do Nascimento Alessandro Molon Alexandre Torres Amora Alfredo Britto Alfredo Duarte Alice Ahmed Sleman Aloísio Teixeira Altair Baffa Altenir dos Santos Rodrigues Aluísio Maranhão Américo Moraes da Silva Amicucci Gallo Ana Arruda Calado Ana Cristina M. Vieira Ana Lucia Tenório Ana Luísa Corrêa da Costa Azêdo Ana Manuela Taveira Soares Ancelmo Gois
André Borges André Corrêa André de Paula André do PV André Louzeiro Andréa Gouvêa Vieira Andréa Mury Andrei Bastos Ângela Azevedo Ângela Cristina Monteiro Nadais Ângelo Chaves Aníbal de Andrade Anísio Félix dos Santos Anna Davies Anthony Devalle Antonieta Santos Antônio Carlos Areal Antônio Carlos Austregésilo de Athayde Antonio Carlos Flores de Moraes Antônio Castigliola Antônio Cunha Antônio de Chaigo Ribeiro Antônio Dominguez Calvo Antônio José Ferreira Libório Antonio Louro Antônio Mendes Antônio Nery Antônio Nogueira Lira Aparecida Rodrigues Azêdo Araquém Moura Roulien Arcírio B. Gouvêa Ariosto Pinto Aristélio Andrade Arlinda de Castro Arthur Bernardes Martins Arthur Cantalice Arthur da Távola Arthur Fraga Arthur Nery Cabral Arthur Poerner
naram o livro, mas sem poder indicar seu nome de forma clara, o que nos impede de citá-los. Entre os nomes identificados registramos a presença dos seguintes sócios e convidados: Ascânio Ferreira Asturino de Souza Augusto Bandeira Aziz Ahmed
B Bárbara Arruda Beatriz Bissio Beatriz de Oliveira Santa Cruz Lima Chargel Beatriz Soares Serra Benedicto de Barros Benedito Francisco Silva Bernadete Duarte Bernardino Leituga Bertha Nutels Beth Carvalho Beto Almeida Beto Matos Bianka de Jesus Bolívar Marinho Soares Meirelles Brasilo Acioly Bruno Azêdo de Jesus
C Caetano Amado Camila Clementino Lamarão Carlos Alberto Baptista Carlos Alberto Caó Oliveira dos Santos Carlos Alberto Corrêa da Costa Carlos Alberto Gonçalves Carlos Alves do Traco Carlos Arruda Carlos Arthur Pitombeira Carlos Augusto Werneck de Carvalho Carlos de Moraes Antunes Carlos Douglas Carlos Henrique de Amorim Costa Carlos Libório Carlos Meritello Carlos Müller
Carlos Pinna de Assis Carlos René Pinheiro Carlos Roberto Nathanson Carlos Roberto Ribeiro Carminha de C. e Silva Celso Niskier Celso Soares César Duarte Araújo Chico Caruso Christina Gurjão Christina Jupper Cid Benjamin Claudete Cunha Cláudia Bensimon Cláudia Chaves Cláudia dos Santos Claudia Santiago Cláudio Guerreiro Cláudio Leon Martins Cláudio Mesquita Cleidemar do Amaral Cleyber Fintelman Clóvis Neves Filho Conceição C. Alves Rossi Conde Gerard Conrado Pereira Continentino Porto Creuzely Ferreira Cristina Moura Lima Cristina Ruas
D Dady Amaral Dagmar S. Camargo Dalton Medeiros Daniel Mazola Fróes de Castro Daniel Ramalho Daniela Rossi Darcy da Mangueira David Chew Deildo Dantas Dejean Magno Pellegrin
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Fotos: Anônio Nery
Temer e Maurício festejam Beth Carvalho, sempre presente em atos progressistas.
Deli Chaves Denise Cook Denize Cellos Dilma Lima Olímpio Didi Faria da Silva Dinorá Soares Maia Diogo Azêdo Soares Diogo Pereira de Carvalho Dirce Soares da Silva Domingos Meirelles Domingos Xisto da Cunha Dulce Tupy Dulcina Corrêa da Costa Lima
E Edelson David Pereira Edeltrudes Marques da Silva Edgar Arruda Edilson Gomes Edílson Soares Edilton D. Silva Edir Meirelles Edmar Fonseca Edna Sônia Monteiro Faro Edson Santos Eduardo Bonki Eduardo Ulup Eduardo Germano Xisto da Cunha Edy Mendonça Elaine Rabelo Elca Chaves Eliana de Andrade Eliomar Coelho Elisa Motta Azêdo Elizabeth Antunes Nogueira Rodrigues Roberto Elizabeth de Souza Mendes Arraes Elizabeth Dyle Caetano Elizabeth Pavan Azêdo di Santo Elmo Evangelista Elnio Borges Elói Ferreira de Araújo Eloisa Elena L. de Abreu Elton Medeiros Emerson de Souza Franco Emir Amed Emmanuelle Corrêa da Costa Lima Érika Rodrigues Ernani Boldrin Erno Schneider Euclides Portilho Eva Spitz
Evandro Nogueira Evandro Vieira Ezna Dias Pinheiro
F Fábio de Mello Toso Fábio Goldstein Fábio Tenório Cavalcanti Fausto de Oliveira Campos Felipe Azêdo Soares Felipe Xavante Fernanda Barbosa Lima Fernanda Chaves Canaud Fernando Alberto dos Santos Fernando Alves Pedro Fernando Barbosa Lima Fernando Bueno Guimarães Fernando Câmara Fernando Gusmão Fernando Sanches Cascavel Fernando Segismundo Fernando Siqueira Fernando William Ferreira Ferreira Gullar Fichel Davit Chargel Flávio Alves Flávio Antonio Azêdo Amaral Flávio Olive Flávio Pereira Pacheco Flávio Régis Xavier de Moura e Castro Flávio Tavares Flávio Tristão Chargel Francisca Talarico Francisco Isnar de Barros Francisco de Assis Francisco de Paula Freitas Francisco Duran Francisco José Ngunza Francisco Paulo Frederico Teixeira Filho Frederico Teixeira Junior Fritz Utzeri
G Gabriela Felizardo Genésio Pereira dos Santos Geneton Moraes Neto George Roberto Partalia Geraldo Chaves Geraldo Lopes
O Conselheiro José Gomes Talarico conversa com o ex-Governador Marcelo Alencar.
Geraldo Nunes Geraldo Rodrigues dos Santos Getúlio Dantas Gilberto Magalhães Gilberto Nahum Gilson Campos Glauco de Oliveira Glória Alvarez Glória dos Santos Glória Márcia Percinoto Gondim Cunha Guguta Brandão Guilherme Povill Vianna Gutemberg Alves do Traco
H Hamilton Sbarra Heber Trinta Filho Heitor Manuel Pereira Heliete Vaitsman Hélio Contreiras Hélio dos Santos Hélio Fernandes Filho Heloisa Montenegro Heloneida Studart Héris Arnt Hildeberto Aleluia Hildebrando Lucena Pessoa Hilo Lins e Silva Hugo Sandes Humberto Carneiro Santos
I Ilma Martins da Silva Ilmar Gastão de Carvalho Indayá Marques Ingrid Ferraz Iracy Rodrigues Azêdo Irene Cristina Gurgel do Amaral Irineu Sabino dos Santos Isabel Cristina Souza F. Oliveira Ismael Diogo da Silva Ítalo de Saldanha da Gama Ivan Accioly Ivan Alves Filho Ivan Cavalcânti Proença Ivan Gorito Mauriti Ivan Moreira Ivanir dos Santos
J J. Paulo da Silva Jackson Saboya Jacques Galinkin Jair Lins Netto Jamil Haddad Janaína dos Santos Jandyra Lopes Barreto da Costa Januário Barbosa Jayme Guimarães Moraes Jean Rey Jeff Thomas Jefferson Salomão de Franco Jessé Brandão Jesus Antunes Jesus Chediak Joana Meirelles João Barreto Pereira da Costa João Carlos Bezerra de Mello João Carlos de Araújo Santos João Duque Estrada Meyer João Eduardo Meirelles João Luís Chaves João Máximo João Pinto Joaquim José Castellões Joel Rufino dos Santos Joelina Cândida Alves Corrêa Jordan Amora Jorge Alexandre Jorge Ricardo Alves Traco Jorge Roberto Martins Freitas Jorge Marques da Silva Jorge Sánchez Sosa Jorge Steinhilber José Antônio Gerheim José Antônio Martins José Augusto Gayoso Neves José Baptista José Carlos de Assis José Carlos Netto José Carlos Rego José Carlos Veloso José Constant José Cosme Gama e Silva José Cristino Costa Ferreira José Cunha José da Costa Andrade José de Moraes Correia Neto José de Souza José Eberienos Assad José Fernandes José Fernandes Júnior
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Fotos: Anônio Nery
Ferreira Gullar, Maurício Azêdo e Joel Rufino dos Santos (à esquerda). Acima, o Conselheiro Sérgio Cabral, também empossado na noite de festa, cumprimenta o novo Presidente da Casa dos Jornalistas
José Francisco A. da Silva José Gomes Talarico José Guerra Neto José Gil Diegues Netto José Louzeiro José Luiz Patrola José Paulo de M. Moraes José Plínio Monteiro José Rezende José Ribamar Frazão Filho José Roberto Gomes Corrêa Joseti Marques Juateh Calvoza Juçara Viana Gama e Silva Júlio Brandão Júlio Camargo Julio César de F. Lobo Júlio César Nascimento Jurema Batista Jussara Azêdo de Oliveira Justino Lopes da Silva Justo de Carvalho Silva
K Kátia G. da Cunha Kenzo Pavanelli Kiko Alves
L Laís de Silveira Martins Léa Mara da C. Silva Leila do Flamengo Lênin Novaes Léo Bosco Grigg Pedrosa Léo Lince Leocádia Queiroga Leonardo de Salles Pereira Leonardo M. Modesto Leonardo Germano Xisto da Cunha Leonel Kaz Leonor Guedes Letícia Furtado Letícia Sardas Li Rong Li Zhongliang Lia Hermont Blower
Lídia Pena Ligia Bastos Lílian Nabuco Lincoln Martins Loris Baena Cunha Lu Gondim Luarlindo Ernesto da Silva Lucia Ãngela Gluzman Lucia Helena Pinto de Barros (Lucinha) Lucia Knoplech Lucia Maria Vieira Assad Luciana Genro Luciano Gonçalves dos Santos Lucy Mary Carneiro Ludmila Mayrink Luís Edgard Andrade Luís Turiba Luisa Parente Luiz Antônio Gravatá Galvão Luiz Carlos Almeida Luiz Carlos Barreto Lopes Luiz Carlos de Oliveira Luiz Carlos de Souza Luiz Carlos Francisco dos Santos Luiz Carlos Vieira Luiz di Santo Luiz Fernando Ribeiro de Carvalho Luiz Henrique Lima Luiz Marzullo Luiz Paulo Corrêa da Rocha Luiz Paulo Machado Luiz Pinguelli Rosa Luiz Roberto Gonçalves Luiz Sérgio Gadelha Vieira Luiza Mariani Lygia Santos
M Manin Fukelman Manoel Antônio Queiroz Monteiro Manoel Sérgio Valim Manolo Epelbaum Maria Cecília Ribas Carneiro Marcelino D’Almeida Marcello Alencar Marcelo Auler Marcelo Cerqueira
Marcelo Duarte Marcelo Godinho Marcelo Jasmin Marcelo Pereira Cunha Marceu Vieira Márcia Abrahão Márcia Barreto Márcia Cavalcânti de Albuquerque Márcia Costa Cerqueira Márcia Della Libera do Nascimento Drumond Márcia Leal de Freitas Márcia Moura Márcia Vera Vasconcellos Márcio Azevedo Márcio Baptista Nogueira Márcio Marsillac Marco Agostini Marco Antonio P. de Andrade Marco Aurélio Belize Marco Valles Marcos Alexandre de S. Gomes Marcos Cilos Marcos de Castro Marcos Franco Marcos Vinício Gomes Pedro Marcus Barros Pinto Marcus Paulo Araújo de Freitas Margareth Santiago Maria Carolina de Souza Maria Clara Capiberibe Azêdo Maria Cristina Estevez Negrão Maria Cunha Lima Maria da Conceição Borges Maria da Conceição Vieira Ferreira Maria de Fátima Fernandes Lopes Maria de Fátima Pereira dos Santos Maria de Lourdes da Silva Teixeira Maria do Céu Simões da Silveira Maria Helena Modesto Vieira Maria Helena Paixão Maria Ignez Duque Estrada Bastos Maria Ilka Corrêa da Costa Azêdo Maria Isabel P. Bremer Maria Isabel Rodrigues Azêdo Maria José Baldez Maria José Calvet Maria Luiza Franco Busse
Maria Luíza Niemeyer Maria Náustria Albuquerque Maria Rios Maria Socorro de Freitas Leite de Franco Marilena Balsa Marilia Barros Castellões Marília Vidal Salles Marilka Corrêa da Costa Lannes Azêdo Marina Meirelles Marinilda Néri de Oliveira Mário Andrioli Mário Augusto Jakobskind Mário Cunha Mário Del Rei Mário da Silva Guatter Mário Gustavo Rollas Mário Roberto Marisa Bastos Mariza Costa Cerqueira Marlene Custódio Marlene da Silva Marly Gedeão Koplin Marly Gomes de Andrade Marta Varela Marylena Barreiros Salasar Maura de Queiroz Monteiro Maurício Azêdo Maurício Dinep Maurício Menezes Mauriclia da S. Galvão Maurílio Ferreira Mauro Dias de Macedo Mauro Vianna Maysa Machado Miguel Jorge Mila Carril Milena Piraccini Duchiade Milton Coelho da Graça Milton Pina Milton Temer Mirane Albuquerque Miriam Nabuco Moacir Santos Moisés Celeman Mônica dos Santos Pinto Mônica Garcia de Moraes Moyses Aichenblat
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Uma virada, em 20 dias
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Foto: Anônio Nery
êxito da Sessão Solene de Posse foi o resultado do trabalho de numeroso grupo de associados que, a partir da posse administrativa da Diretoria, no dia 13 de maio, se empenharam na organização do ato. Em apenas 20 dias a nova Diretoria promoveu mudanças importantes no Edifício Herbert Moses, sede da ABI. Sob o comando de Alberto Ahmed, presidente do jornal Povo, e com recursos por ele oferecidos, a ABI promoveu a pintura e a reparação do Auditório Oscar Guanabarino e de seu saguão, a reforma dos sanitários do nono andar e a reparação e limpeza, de alto a baixo, da fachada do Edifício. Árvores da Rua Araújo Porto Alegre foram podadas para liberar os andares inferiores do prédio de galhos que retinham a sujeira e invadiam as varandas. Além do esforço, a comissão revelou criatividade e bom gosto. Glória Alvarez sugeriu que as poltronas do auditório fossem revestidas de uma capa, providência que deu especial brilho ao recinto; Alberto Ahmed propôs que se estendesse um tapete vermelho no hall térreo, desde a entrada até aos
elevadores, e no nono andar, entre os elevadores e a entrada do auditório; Domingos Meirelles providenciou a colocação de viçosas e vistosas plantas no hall térreo, no que contou com contribuição de Ahmed, que também mandou plantas. Glória Alvarez e Jorge Roberto Martins participaram com paciência do planejamento e organi-
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Nacif Elias Sobrinho Neila Carril Nelson Bernardes Nestor Rocha Neuza C. Fraga Neylor Toscano Nides de Freitas Nilo Braga Nilza Portocarreiro Nival Nunes de Almeida Nivaldo Pereira Norma Freire
O Odeth Vieira da Rocha Olga Amélia Olga Fernandes da Silva Orlando Fernandes Orlando Oliveira Orpheu Salles Oscar Otávio Coimbra Argollo Osvaldo Luiz Felisberto de Carvalho Osvaldo Moreira da Silva Osvaldo Moreira da Silva Filho Oswaldo dos Santos
P Padre Max Rodrigues Paula Menezes Toso Paulo Carpenter Paulo César Gomes Paulo César Rabelo Paulo Gomes Neto Paulo Jerônimo Paulo Malta Paulo Marcos Valentim Alves Lugão Paulo Meireles Paulo Roberto dos Santos Paulo Sérgio Costa Paulo Sette Pedro do Couto Pedro Eduardo de Oliveira Pedro F. de Castilho Petrônio Malachini Ponce de Leon
O Secretário de Imprensa Ricardo Kotscho, Amicucci Gallo, Ancelmo Gois, Fernando Barbosa Lima, Marly Andrade, Fichel Davit e Milton Temer.
Radamés Vieira Rafael Carneiro Monteiro Raimundo de Oliveira Raimundo Porfírio Costa Ramon Azêdo de Oliveira Raul Farias Lima Raul Ismar Regina Célia Silva Areal Regina Lunière Reinaldo de Jesus Cunha Reinaldo G. M. Velho Filho Reinaldo Leal Renata Gonçalves da Silva Renato Aragão Renato de J. O. Barone Renato Francisco da Silva Ricardo Bruno Ricardo Galeano Ricardo Kotscho Ricardo Latgé de Azevedo Ricardo Maranhão Ricardo Rabelo Ricardo Veiga Cabral Roberto B. Fernandes Roberto de Castro Barbosa Roberto M. Moura Roberto Silva Roberto Vasconcelos Rodrigo Farias Lima Rodrigo G. Brandão Rodrigo Morais Rodrigo Santa Rosa de Paula Rogério Lessa Benermand Romildo Guerrante Ronaldo David Aguinaga Ronaldo Serra Rosa Sanches Rosa Tobinaga Rosah Rosas Rosália Zamith Malachini Rosana Duran Rosane Braga Rosângela Amorim Rosangela Motta Rosina Gioconda Cavaliere Segismundo Rossidélio Lopes da Fonte Rubem Mauro Machado
zação da expedição de convites: ao todo foram enviados cerca de 1.500. Ahmed cuidou da contratação do telão; João Máximo convidou Fernanda Canaud para executar o Hino Nacional ao piano; Fernanda, por sua vez, convidou David Chew para a execução do Hino ao violoncelo. Participaram da comissão de or-
ganização do evento Alberto Ahmed, Antonieta Vieira dos Santos, Domingos Meirelles, Domingos Xisto, Fichel Davit Chargel, Glória Alvarez, João Máximo, Jorge Roberto Martins, José Rezende, Joseti Marques, Lênin Novaes, Marlene Custódio, Maurício Azêdo, Milton Temer, Tamar de Castro e Victor Iorio.
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Rubens Andrade Rui Pizarro Ruth Lima Ruy Bello
S Salete Maria Polita Maccalóz Sami Jorge Haddad Abdulmacih Sandra Martins Sebastião Nery Sérgio Cabral Sérgio Caldieri Sérgio Lima Sérgio Ponce de León Sérgio Rabelo Sérgio Tadeu Sampaio Lopes Severino Mendes da Rocha Sidnei Resende Silvestre Gorgulho Sílvio Freire de Moraes Silvio Martins Paixão Simone Barreto Simone de Souza Azevedo Solange Perdigão Solange Policarpo Fernandes Leal Sônia Góes Sônia Mograbi Sônia Toledo Sueli Dantas Suely Caldas Sun Renan
T Tales de Albuquerque Montebello Tamar de Castro Tatiana Germano Xisto da Cunha Teixeira Heizer Terezinha Germano da Cunha Thereza Cristina Tavares Therezinha Santos Thiago Ribas Filho Thiers Montebello Tony Marins
U Ulisses Cláudio Lonzetti Ulisses Laurindo
Valquimar Reis Fernandes Vanúsia Borges Basílio Vera Gissoni Vera Lúcia Cunha Vera Müller Verônica Costa Victor José Faccioni Villas-Bôas Corrêa Vilmar Brito Virgínia Maria Pavan Azêdo Vitor Iório Vivaldo Barbosa Vivian Stefani Viviane Pavan Azêdo di Santo Viviane Povill Vladimir Santos Vistovsky Voltaire Júnior
W Wagner Cavalcanti de Albuquerque Waldeth Braziel Walter Maia Wanderley dos Santos Washington Azevedo Washington Rope Wellington Faria Santos William T. Salasar Wilson de Carvalho Wilson Rocha Meirelles
Y Yaci Nunes Yoni Holanda Cavalcante
Z Zeina Ahmed Sleman Banholi Zélio Teixeira Zilda Ferreira Zilmar Borges Basílio Zuenir Ventura Zuleide Faria de Melo
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Fotos: Mario Oliveira
Jornalistas do mundo todo fazem a cobertura do espetáculo conhecido como a Ópera da Amazônia, na Ilha de Parintins, com uma platéia de cerca de 100 mil pessoas.
A cobertura da maior festa da Amazônia VÂNIA LOPES, DE MANAUS
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ode uma festa de interior, que surgiu numa pequena cidade em meio a uma floresta, a 365 quilômetros da capital mais próxima, adquirir ares de espetáculo grandioso, capaz de movimentar durante três dias cerca de cem mil pessoas e trezentos jornalistas do mundo inteiro? Quem já viu ou cobriu o Festival de Parintins se surpreendeu. E confirma que sim. O que os artistas de Parintins apresentam na arena do Bumbódromo faz jus à extensão do maior Estado brasileiro. A convicção é do jornalista alemão Karsten Thurau, correspondente para a América Latina da emissora de TV
ZDF, que pela primeira vez cobriu a festa. Encarregado de produzir um documentário sobre o Festival de Parintins, que será exibido em toda a Europa, Karsten não resistiu à comparação com o carnaval do Rio de Janeiro. “Parintins é dez vezes melhor. Em termos de grandiosidade, são semelhantes. Mas a luz, os cenários, que mudam a cada música, sem contar a espontaneidade das pessoas, são de contagiar”, explica ele. Outro ponto que marca a diferença e a predileção pela manifestação folclórica amazonense é a participação das torcidas, aqui denominadas galeras.
Julho/Setembro de 2004
Jornal da ABI
O desfile grandioso dos carros iluminados levanta as galeras na torcida.
UMA RIVALIDADE ORGANIZADA
A cada quadro, em que o boi apresenta uma música, cenários e personagem que integram as lendas do boi bumbá, a galera da agremiação participa, com pequenos adereços de mão e passos coreografados ou não. No momento da apresentação do “boi contrário”, fica expressamente proibida qualquer manifestação da galera rival, sob pena de a agremiação perder pontos. “Ou seja, a torcida pode somar ou retirar pontos e, não raro, participa muito, sendo considerada item importante no festival. Isso é fantástico”, admira-se o jornalista, que usou como foco de sua cobertura a rivalidade entre as agremiações, estabelecendo como contraponto um torcedor humilde e uma figura mais abastada. Espécie de ópera amazônica, o Festival de Parintins acontece durante os dias 28, 29 e 30 de junho, e tem como astros os bois Garantido e Caprichoso. Vermelho e branco, e o coração, são símbolo e cores do Garantido. No lado Caprichoso, é lei suprema vestir de azul e branco e, melhor ainda, afixar uma estrela, que identifica o bumbá azul. Nos dias de festa, a cidade divide-se em duas, com a paixão alucinada pelos bois escancarando nas ruas e placas de sinalização. Ok. Isso, muita gente já sabia. O que espantou alguns jornalistas, como o correspondente do jornal carioca Extra, Leslie Leitão, é que a rivalidade e paixão são levadas aos extremos, a ponto de marcas mundiais, como a CocaCola, patrocinadora do festival (só para lembrar uma), subverter a própria logomarca. Parintins é o único lugar do mundo em que a placa da coca adquire inéditos tons azul e branco no lado Caprichoso da galera. UM RÍTMO CONTAGIANTE
Inédito também foi o depoimento colhido por quem já se acostumou tanto com a beleza do Festival de Parintins, que só faz se emocionar com as danças, os personagens e o rufar dos tambores dessa gente da selva. Gente como a jornalista Peta Cid, parintinense, que mora praticamente dentro do Bumbódromo, correspondente do jornal “O Estado do Amazonas” na ilha, e que só de cobertura do festival acumula 15 anos, isso fora o tempo em
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As alegorias valorizam os personagens da floresta amazônica.
alegorias, torcidas, pajelança de sincretismo cultural, onde a cultura cabocla se confundia com os ritos indígenas. É um show contagiante que caminha, evolui, mas não deixa de resgatar as raízes”, analisa ela. Tudo lindo e maravilhoso, quando, terminado o festival, ela teoriza a respeito da evolução que bois alcançam a cada ano, tendo em vista que se trata de um espetáculo que hoje ganhou o mundo. Agora, se a jornalista, oriunda daquelas famílias tradicionais envolvidas diretamente na criação de uma das agremiações, está cobrindo o festival, a isenção sucumbe à paixão desmedida. Segundo Peta, durante a apresentação, dentro do Bumbódromo, a coisa muda de figura. “Na arena, você não segura a emoção, se envolve, se desespera até quando as coisas dão erradas. Nos dois últimos anos, eu não me sacrifiquei tanto em nome do trabalho e fui ser item galera. Deixei a cabine dos repórteres, abandonei o microfone da rádio em que trabalho na hora da apresentação do Caprichoso e fui para a galera, literalmente”, conta Peta. Beleza, cor e alegria nos adereços e fantasias.
A redação do Diário, distante da agitação da festa.
que ela mesma era personagem da festa. “O parintinense recriou um ritmo contagiante, com base no bumba-meu-boi do Maranhão, mas com passos e danças muito peculiares, hoje adotadas como identidade cultural do Amazonas. Em quase 100 anos, 39 de realização do Festival Folclórico de Parintins, outros personagens foram sendo introduzidos, toadas, ritmos,
ENTRE A RAZÃO E A EMOÇÃO
Tanta loucura extravasada, porém, guarda para o pós-desfile o momento de lucidez. “Mas há um limite entre o amor que sinto pelo boi e o que eu escreveria sobre a apresentação. Na galera eu gritei, cantei, vibrei, fiz tudo o que tenho direito. Mas na hora de escrever, sabia muito bem o que deveria falar sobre a apresentação, erros, acertos, etc”, ressalva Peta Cid. Nas palavras de Peta, herdeira de berço da paixão pelo boi, definir o que move os parintinenses e encanta os que vem de fora é quase impossível. “É simplesmente Parintins, lugar que por si só é um mistério, um encantamento, paixão que transcende, exerce influência e transforma o pacato cidadão no mais ousado artista, idealizador de criaturas fantásticas, de espetáculos que vão além do imaginável. Será necessário entrar nas entranhas dos sentimentos mais profundos para tentar descobrir de onde vem a força que sustenta e embala o sonho do povo da Ilha.”
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Jornal da ABI
Jornalistas de todo o País associam-se à ABI pela internet A ABI lançou uma campanha por novos sócios em meados de julho, disponibilizando um formulário eletrônico no site, para preenchimento e envio pela internet. As respostas vieram do País inteiro, chegando a mais de 250 propostas em menos de um mês. O primeiro jornalista a se manifestar foi o repórter fotográfico Daniel Augusto Jr., de São Paulo. Ele justificou a presteza na resposta à carta-convite com um irônico bom-humor: “Como está difícil jornalista arranjar emprego, a gente fica pesquisando na internet e acaba respondendo primeiro”. A centésima proposta chegou em menos de 72 horas após a emissão do comunicado. A assessora de imprensa Cíntia Pereira Jardim, de Porto Alegre, ficou feliz em saber que completou a primeira centena de novos sócios e disse que o importante é ter uma ABI forte para os jornalistas e para toda a sociedade, não apenas regionalmente, mas em âmbito nacional. Até o momento de fechamento desta edição, já contabilizávamos 320 novos sócios.
“Amo a minha profissão e me senti orgulhosa ao receber a proposta da ABI, instituição que sempre teve participação na história do país. Não pensei duas vezes para responder ao chamado da Casa do Jornalista”.
forma de dar a minha contribuição é fazendo parte da Casa do Jornalista”. BENEDITO FRANCISQUINI, diretor de redação da Editora Tribuna do Vale Ltda. (Santo Antônio da Platina/PR)
“Associar-se à ABI é fundamental para os profissionais jornalistas, havendo necessidade de uma maior conscientização dos próprios jornalistas quanto a isso. Até porque a união é que determina a força da categoria.”
ROSE DUARTE, editora e apresentadora da TV Gazeta (Vitória/ES)
“Assim como a Academia Brasileira de Letras está para a literatura, a Associação Brasileira de Imprensa está para a Comunicação Social. A ABI é uma entidade renomada, em prol de uma comunicação séria, informativa e com promoção humana”. CARLOS HUGUENEY BISNETO, diretor da HB Produções Ltda. (Uberlândia/MG)
“É importante que o profissional de comunicação não fique restrito apenas aos sindicatos de classe do seu estado”. VERÔNICA PACHECO, diretora da empresa Toda Comunicação (Curitiba/PR)
“Associar-se à ABI é uma forma de tentar unir os profissionais de jornalismo, visto que os sindicatos não atendem satisfatoriamente às expectativas da classe”. MARCELLO ANTUNES DA SILVA, editor da Revista Rumos dos Desenvolvimentos (Brasília/DF)
“A ABI é uma entidade forte, representativa, suprapartidária e sempre assumiu uma postura de defesa da ética“. SEBASTIÃO PINHEIRO DE SOUZA, editor-chefe do Jornal de Tocantins
“ É um orgulho vir a pertencer à ABI, por conhecer a história de luta da ABI, com destaque para o período do regime militar. Embora a Associação tenha vivido um período de esquecimento nos últimos anos, cabe a nós, jornalistas, contribuir para a recuperação de sua imagem. E a melhor
CHAGAS PEREIRA, editor do jornal O Estadão do Norte (Porto Velho/RO) Adams Filho
“Associando-me à ABI, vejo a possibilidade de melhorar o mercado jornalístico, que está sendo tomado por profissionais descredenciados que desprestigiam aquele profissional que fez o curso de jornalismo.”
NELSON RUBEN, editor responsável do Jornal Gazeta e Gazeta em Revista (Torres/RS)
“Nunca deixei de acompanhar a trajetória da ABI que sempre apoiou, incondicionalmente, os profissionais da categoria”. HILÁRIO DA SILVA GOMES, editor-chefe do jornal O Repórter Regional (Sarandi/PR)
“Venho acompanhando a trajetória da ABI, que é conhecida nacionalmente por ser uma entidade que tem representatividade e luta pela liberdade de imprensa”. MOZART LUNA, coordenador e editor de municípios de O Jornal (Maceió/AL)
“É uma forma de congraçamento, ampliação da rede de jornalistas para criar um intercâmbio. Associando-me à ABI aumentarei o contato com os coleguinhas”. LAURA MATOS LUCENA, editora da Folha do Estado (Cuiabá/ MT).
Julho/Setembro de 2004
Aprovadas 60 propostas de filiação Em suas sessões ordinárias de maio, julho e agosto, o Conselho Deliberativo da ABI aprovou as propostas de filiação de 60 candidatos a sócio. O contingente mais expressivo foi apreciado na sessão de 30 de agosto, quando o Conselho aprovou cinco propostas para ingresso na categoria Efetivo, 28 para a de Colaborador e quatro de transferência para Efetivo. Mês a mês, foram estas as propostas aprovadas: Maio Categoria Efetivo: Gesy Haddad Tápias Dabrowska, Guilherme Ferreira Mattos, Haroldo Andrade Júnior, José Antônio Abdala Neto, Oleglier de Andrade e Sônia Máximo Barros. Categoria Colaborador: Alfredo Ênio Duarte, Almir Galdino da Silva, José Hilário de Freitas e Souza, Luciano Mariniello Teixeira, Paulo Roberto Fortuna e Vinícius de Carvalho Araújo. Julho Categoria Efetivo: Benedito Feliciano de Souza, Carlos André Osório Carneiro, Felipe Lopes Guimarães, Flávio Augusto Loureiro Schmidt, Francisco Paulo Aragão, Gabriel Santana Fajardo da Fonseca, Jorge Nogueira dos Santos, Lauro da Silva Soares, Luiz Carlos de Carvalho Nora, Nivaldo Pereira, Teresa Cristina Bucher e Victor Emmanuel Ribeiro de Souza. Categoria Colaborador: Antônio Renato Aragão, Evaldo Haddad Fenerich (Hucho Haddad) e Maria Thelma Gaspar de Oliveira Aragão. Agosto Categoria Efetivo: Beatriz Rocha Pereira dos Santos, Gláucio Justino Figueiredo, José Carlos de Sant´Ana Souza, Marcelo Antunes da Silva, Maurício Antônio do Nascimento e Ruy de Mesquita Bello. Transferência para Efetivo: Bernardino Capell Ferreira, Geraldo José de Andrade, João José Bracony e Osvaldo Medina Gil. Categoria Colaborador: Achylles Armando Jalul Peret, Afrodízio Marques Pinheiro, Álvaro Vieira Franquini, Anilton Loureiro da Silva, Bolívar Ripolli, Carlos Eduardo Tavares da Silva Júnior, Cícero Henrique de Oliveira Souza, Darcy Bernardo Filho, Elaine Costa Sampaio, Francisco Emanuel Índio do Brasil SantAnna de Abreu, Francisco Rafael Cardoso, Geraldo Luiz Cantanheda Iglesias, Januário Marcondes Sannini, Jorge do Nascimento Campos, José Ângelo Cardoso, José Robson dos Santos Adão, Márcia Regina Teixeira Porolla, Márcio Alexandre M. Gualberto, Marco Aurélio de Faria Luz, Marcos Antônio dos Santos, Marcos Marcelino Silva, Maria Cristina Chaves, Marli Burgardt, Paulo César Ronque, Roberto Rabat Chame, Sandra Jaqueline da Silva Lourenço Pinto, Washington Luiz Pinto Machado e Wellington Ferreira da Rocha.