A derrota da natimorta MP 232 de Palocci
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Jornal da ABI Órgão Oficial da Associação Brasileira de Imprensa
Abril de 2005 • Número 299
Um precioso e insubstituível acervo de documentos da História do Brasil está em processo de deperecimento e de lesões irreparáveis em conseqüência da inépcia do Presidente da Fundação Biblioteca Nacional, o marchand Pedro Corrêa do Lago, que confessou ao assumir que nada entendia de administração pública. Servidores da BN denunciam que peças de valor cultural inestimável (à esq.) correm o risco de desaparecimento se Corrêa do Lago continuar à frente da oitava biblioteca do mundo. Páginas 9, 10 e 11
Na sentença de Kajuru, o ovo da serpente A ABI está apreensiva com o recrudescimento do cerco à imprensa, denunciado na nossa edição anterior. Condenações como a de Jorge Kajuru mostram a gestação do ovo da serpente. Páginas 2 e 23
Um chocolate da Chapa Prudente A Chapa Prudente de Moraes teve quase o dobro dos votos das duas rivais na eleição do terço do Conselho da ABI. Página 18, 19 e 20
CARLOS MORAES
Memória ameaçada DÁ MEDO, SIM! A cobertura exige uma audácia serena, sem arrebatamentos nem presepadas: o time da Cidade, editoria fundamental em qualquer diário, vai a áreas da pesada e enfrenta crises, tiroteios, inundações. “Muitas vezes, trabalhamos com medo”, diz um dos ases desse time. Páginas 3, 4, 5 e 6
Apolônio Apolônio comove platéia em ato por Paulo de Castro. Páginas 28 e 32
Ruy Mesquita O diretor do Estadão faz 80 anos, feliz na janela do mundo. Página 12
Sidney Rezende Vereadores e deputados homenageiam o pioneiro da Rádio CBN. Página 13
Oscar Niemeyer Convidado, ele aceitou projetar a sede da ABI em Brasília. Página 17
POLÊMICA A cartilha do politicamente
correto em análise de Joseti Marques • Página 8
Jornal da ABI EDITORIAL
Está em gestação o ovo da serpente. A Justiça o ceva Em sua edição anterior, o JORNAL DA ABI deu o necessário relevo ao clima de cerco à imprensa e aos jornalistas que se instalou no País, transformando o serviço público de prestação de informações à sociedade e o exercício da atividade dos profissionais do setor numa aventura sujeita a riscos, entre os quais o de perda da vida, da incolumidade física e da liberdade. Além das violências praticadas por agentes do poder político e do poder econômico local, são os jornalistas alcançados por sentenças judiciais que agridem o Estado de Direito Democrático instituído pela Constituição Cidadã de 5 de outubro de 1988, a qual, apesar de mutilada e desfigurada por reformas antidemocráticas e anti-sociais, é ainda a moldura das instituições que ordenam a vida nacional. Nesse campo temos conhecido inadmissíveis retrocessos nos últimos anos, com as 127 ordens judiciais de censura prévia emitidas entre fevereiro de 1999 e fevereiro de 2005 pelo Brasil afora, como anotou nosso consócio jornalista e advogado alagoano João Marcos Sabará de Carvalho. São demasias totalitárias a que se soma agora a condenação do jornalista Jorge Kajuru, vítima de uma decisão de um juiz de Goiânia que promove uma deportação ao contrário. Radicado em São Paulo, onde trabalha, Kajuru foi compelido por seu julgador a diariamente, às oito horas da noite, recolher-se a um albergue judicial de Goiânia, para cumprir a pena impiedosa e surrealista postulada por poderoso empresário de comunicação de Goiás.Às violências, como essa, juntam-se absurdos, como o da proibição de simples menção em noticiário jornalístico do nome da prefeita de Boa Vista, capital de Roraima, determinada pela Justiça local. A ABI está atenta e apreensiva. O ovo da serpente está em gestação e é a Justiça que o ceva.
ERRATA Na edição número 298, houve erro na legenda da página 21: a jornalista italiana Giuliana Sgrena sobreviveu ao ataque ao carro que a transportou após libertada por seus seqüestradores. Quem morreu foi um agente que a protegeu com seu corpo.
NESTA EDIÇÃO O time da Cidade
Paulo Mota Lima - O centenário de um jornalista de combarte 7 Um pouco além do ‘politicamente correto’
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Pensamentos e ações
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A mordaça em tempos democráticos
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Comissão de Reparação aprecia 52 processos
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Má administração ameaça a memória nacional
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Salários de fome na Pasta de Gil
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Um privilégio de Ruy Mesquita
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Leitura, essencial para a soberania
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Sidney Rezende em noite de medalhas
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ABI comemorou com música e alegria os seus 97 anos
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Projeto de Niemeyer para a ABI no DF
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Chocolate na eleição do Conselho
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Cavalcânti, o brasileiro esquecido
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A morte inglória da MP 232
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A moda pega
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Kajuru condenado a exílio em Goiás
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O último cafajeste foi um grande careta
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O pobre Haiti, visto de dentro
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Noite de tributo a Paulo de Castro
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Miranda, exemplo de patriota
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Apolônio. A memória viva de um tempo de sonho e heroismo 32
Rezende, Marceu Vieira, Paulo Jerônimo, Roberto M. Moura, Sérgio Cabral e Teresinha Santos
Associação Brasileira de Imprensa DIRETORIA - MANDATO 2004/2007 Presidente: Maurício Azêdo Vice-presidente: Diretor Administrativo: Diretor Econômico-Financeiro: Diretor de Assistência Social: Domingos Meirelles Diretor de Cultura e Lazer: Diretora de Jornalismo: Joseti Marques CONSELHO CONSULTIVO Chico Caruso, Ferreira Gullar, José Aparecido de Oliveira, Miro Teixeira, Teixeira Heizer, Ziraldo e Zuenir Ventura CONSELHO FISCAL Jesus Antunes-Presidente, Aziz Ahmed-Secretário, Adriano Barbosa, Altenir Santos Rodrigues, Eduardo Rocha, Luiz Carlos de Oliveira e Zilda Ferreira
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Conselheiros efetivos (2003-2006 ) Antonio Roberto da Cunha, Aristélio Travassos de Andrade, Arnaldo César Ricci Jacob, Carlos Alberto Caó Oliveira dos Santos, Domingos João Meirelles, Fichel Davit Chargel, Glória Sueli Alvarez Campos, João Máximo, Jorge Roberto Martins, Lênin Novaes de Araújo, Moacir Andrade, Nilo Marques Braga, Octávio Costa, Vitor Iorio e Yolanda Stein Conselheiros efetivos (2002-2005) Alberto Dines, Ana Arruda Callado, Antonio José Ferreira Libório, Araquém Moura Roulien, Beatriz Santa Cruz, Carlos Arthur Pitombeira, Carlos Chagas, Federico Carlo Utzeri, Ítalo de Saldanha da Gama, Jorge Milton Temer, Lygia Maria Collor Jobim, Mario Antonio Barata, Maurício Azêdo e Milton Coelho da Graça Conselheiros suplentes (2004-2007) Adalberto Diniz, Aluísio Maranhão, Ancelmo Gois, André Louzeiro, Jesus Chediak, José Silvestre Gorgulho, José Louzeiro, Lílian Nabuco, Luarlindo Ernesto, Marcos de Castro, Mário Augusto Jakobskind, Marlene Custódio, Maurílio Ferreira e Yaci Nunes
CONSELHO DELIBERATIVO (2004-2005) Presidente: Carlos Alberto Caó Oliveira dos Santos 1 º Secretário: Lênin Novaes de Araújo 2 º Secretário: Nilo Marques Braga
Conselheiros suplentes (2003-2006) Antônio Avellar C. Albuquerque, Antônio Calegari, Antônio Henrique Lago, Antonio Roberto Salgado da Cunha, Domingos Augusto G. Xisto da Cunha, Hildeberto Lopes Aleluia, José Carlos Rego, Lorimar Macedo Ferreira, Luiz Carlos de Souza, Marco Aurélio B. Guimarães, Marcus Antônio M. de Miranda, Mauro dos Santos Vianna, Pery de Araújo Cotta, Rogério Marques Gomes, Rosângela Soares de Oliveira e Rubem Mauro Machado
Conselheiros efetivos (2004-2007) Antonieta Vieira dos Santos, Arthur da Távola, Cid Benjamin, Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Héris Arnt, Irene Cristina Gurgel do Amaral, Ivan Cavalcanti Proença, José Gomes Talarico, José
Conselheiros suplentes (2002-2005) Adalberto Correa de Oliveira, Afonso César Gentil de Magalhães Costa, Anísio Félix dos Santos, Beatriz de Oliveira Santa Cruz Lima Chargel, Carlos Alberto Caó Oliveira dos Santos, Geraldo
da Conceição Lopes, Jesus Edgard M. Catoira, Leda Acquarone de Sá, Marcos Tristão Chargel, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Osmar Amicucci Gallo, Paulo Parisi Rappoccio, Rosa Alonso Simon Garcia e Ubirajara Moura Roulien COMISSÃO DE SINDICÂNCIA Berta Nutels, Ely Moreira, Maria Ignês Duque Estrada, Maurílio Ferreira e Tamar de Castro COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO Alberto Dines, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti COMISSÃO DE LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOS Adalberto Diniz, Altenir Santos Rodrigues, Anísio Félix, Ariosto da Silva Pinto, Germando Oliveira Gonçalves, Irene Cristina Gurgel do Amaral, Italo de Saldanha da Gama, José Gomes Talarico, Maria Cecília Ribas Carneiro, Mário Augusto Jakobskind, Orpheu Santos Salles, Paulo Parisi Rappoccio e Yaci Nunes
Jornal da ABI Rua Araújo Porto Alegre, 71, 7º andar Telefone: (21) 2220-3222/2282-1292 Cep:22.030-010 Rio de Janeiro - RJ (jornal@abi.org.br) Diretor responsável: Maurício Azêdo Editora: Joseti Marques Projeto gráfico, diagramação e editoração eletrônica: Francisco Ucha Impressão: Gráfica Lance Rua Santa Maria, 47 - Cidade Nova - Rio de Janeiro, RJ. As reportagens e artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do Jornal da ABI.
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Jornal da ABI COTIDIANO José Reinaldo Marques
O TIME DA CIDADE
CARLOS MORAES
Em meio a balas perdidas e confrontos entre policiais e bandidos, repórteres retratam o cotidiano do cidadão e colecionam histórias de uma editoria de alto risco
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ARQUIVO O GLOBO
por exemplo, a Editoria de Política a opinião de editores, a está fisicamente no Rio, mas as noEditoria de Cidade é a tícias estão em Brasília; as notícias que mais contribui da Editoria Nacional, pelo Brasil para a formação de um afora. Nesse caso os editores não esjornalista. O repórter de Cidade é tão tão perto da reportagem. Na reum faz-tudo: de matéria de comporalidade, a Editoria de Cidade é uma tamento a matérias policiais. Seja lente de aumento, porque mesmo qual for o veículo – televisão, rádio, as notícias consideradas pequenas jornal, revista, internet –, a obrigatona Editoria Rio se tornam grandes, riedade de lidar com assuntos gerais porque a maioria absoluta dos nosfaz com que o profissional, ao longo sos leitores – não posso citar númedos anos, desenvolva uma capacidaros precisos –são moradores do Rio. de muito especial de apurar e aborTemos uma venda forte fora do dar com precisão a notícia dentro dos estado e também no exterior, mas mais variados temas. O Globo tem uma tradição forte na O repórter das editorias locais cobertura de cidade. também deve aliar a característica Para a repórter Maiah Menezes, de bom observador da cidade onde que cobre a área de administração trabalha com a aptidão para encapública na Editoria Rio do jornal, o rar situações de risco no cumprique diferencia o repórter da Editoria mento da função. Que o digam os de Cidade das demais é que o temrepórteres Nathaly Ducoulombier, da redação do SBT no Rio de Janeiro, e Carlos Moraes, repórter-fotográfico do jornal O Dia. Os dois jornalistas estiveram literalmente na linha de tiro durante reportagens que acompanhavam a ação da polícia em favelas do Rio. O editor-chefe da Editoria Rio do jornal O Globo, Paulo Motta, diz que a diferença entre a Cidade e as demais editorias está no fato de as equipes de reportagem atuarem mais próximas da edição: – Nesse caso é possível interagir com a equipe de reportagem o tempo inteiro. Paulo Motta, editor-chefe da Editoria Rio de O Globo: Num jornal como O Globo, Na Cidade, reportagem e edição trabalham juntas
po da apuração é o tempo da notícia. Ou seja: o tempo real. Tudo pode acontecer, a qualquer momento. Na editoria Cidade o repórter pode ser mandado para um encontro entre autoridades ou para o morro. Ela conta que isso é muito comum nas editorias que cobrem o factual das cidades. A Editoria Grande Rio do jornal O Globo funciona com um editorchefe, um editor-adjunto, três editores-assistentes, um chefe e dois subchefes de reportagem, um pauteiro à noite e outro pela manhã, e cerca de 30 repórteres. O editor-chefe da Rio, como a chamam seus jornalistas, considera que as equipes formam “times”: – O time de Polícia e Justiça, chamado de Pol; o time de Geral, que faz tudo; o time de Comportamento, que é o menor; o time que cobre Infra-Estrutura, como obras e parte do funcionamento da cidade, urbanismo etc.; e temos ainda o time de administração pública, que se encarrega da cobertura dos Governos estadual e municipal e das Casas Legislativas. Os “times” participam da decisão sobre o que vai ser publicado no dia seguinte, através das reuniões de pauta, e também, por incrível que pareça, o que vai ser “notícia” ao longo do ano. Em reuniões trimestrais são discutidas as matérias especiais, ou “cavadas”, como diz Paulo Motta. Essas matérias podem ser publicadas em série ou até mesmo em suplementos e cadernos especi-
ais. Dessas reuniões participam repórteres, editores, chefes de reportagem, pauteiros e diagramadores, que debatem desde o conteúdo das matérias até a parte visual, fotografias e infográficos. O resultado dessa organização tem dado bons resultados. Ano passado o jornal ganhou o Prêmio Esso de Jornalismo com uma dessas matérias “cavadas”. O jornalista Antônio Werneck, um dos mais destacados repórteres de Cidade, passou um ano investigando o tráfico de drogas nos quartéis das Forças Armadas e publicou uma reportagem especial que acabou levando à descoberta da infiltração de bandidos nos concursos para as Forças Armadas: – O primeiro passo foi fazer um levantamento dos inquéritos feitos pela Auditoria Militar, um aspecto que a imprensa de maneira geral explora mal. Estudamos os processos instaurados pelo Ministério Público Militar. Outro ponto que me chamou a atenção foi o número de apreensões de armas pela Secretaria de Segurança Pública do Rio. Cruzando os dados, daí a chegar à matéria foi uma questão de observação. Percebemos, inclusive, que ao contrário do que se pensava, a maioria das armas usadas pelos bandidos é de fabricação nacional e não estrangeira. E essas armas são desviadas dos quartéis das Forças Armadas —, conta o repórter. A publicação da matéria levou o Ministério Público Militar federal a criar um grupo de trabalho para in-
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das matérias, os jornais têm mais tempo de análise e a vantagem de o assunto já ter sido mostrado na televisão e no rádio. Quando compra o jornal, o leitor já teve contato com uma notícia que já é de conhecimento geral. Isso numa cobertura considerada normal, que não seja um furo de reportagem. As opiniões sobre a qualidade da cobertura de cidade pelos jornais do Rio e de São Paulo são divergentes, concordando em apenas um ponto: ambos se consideram muito bons, lembrando até mesmo a velha disputa entre cariocas e paulistas. Para os jornalistas cariocas, os jornais do Rio têm mais tradição na cobertura de cidade do que os diários de São Paulo. E os de São Paulo acham que dedicam mais espaço à cidade: – A imprensa de São Paulo, como não tem tradição de cobrir Cidade, CARLOS MORAES
vestigar o envolvimenmais elaboradas, que to de militares com o serão publicadas se os desvio de armas nos assuntos factuais não quartéis. Antonio Werforem suficientes para neck também foi repórcobrir a edição. Se nada ter e editor de política de especial acontece, do JB; tem 25 anos de muitas vezes essas maprofissão, 18 dos quais térias passam a ser as nas editorias de Cidade principais do caderno; dos grandes jornais cageralmente são matéririocas. Ele diz que o seas que exigem um ingredo de um repórter vestimento maior de para conseguir as grantoda a equipe. des matérias “está no Para produzir o notiPara Werneck (acima), a grande matéria exige senso de observação senso apurado de obsere boas fontes. Ou sorte?, como teve Moraes ao fazer a foto ao lado. ciário da cidade, cada vação, no trabalho de veículo – jornal, TV, ráComo todos os jornais, O Dia pesquisa de campo e nas boas fondio, internet – atua numa faixa prótem uma equipe que trabalha de tes que os jornalistas devem saber pria e por isso não é possível, na opicultivar ao longo dos anos”. madrugada. Segundo a editora, no nião dos editores, dizer que veículo E a Cidade tem-se destacado. Em trabalho dessa equipe o mais difícil tem a melhor atuação. Márcia Glo2005, os repórteres Paulo Marqueiro é a adaptação ao horário: gowiski acha que o noticiário vai e Elenilce Bottari ganharam um prê– Quando a vida desses profissisempre variar conforme o dia e de onais entra na fase do sono, o resto mio do Instituto Brasileiro de Ciacordo com o veículo, mas afirma do mundo está acordando. A equiências Criminais, de São Paulo, na que o rádio e a TV têm sido mais categoria Direitos Humanos, com pe só sai para aquilo que é realmenfelizes em reportagens de serviço. uma reportagem que relatava o drate importante. Os outros assuntos Já o jornalista Paulo Motta consima das pessoas cujos parentes foou viram pauta para o dia-a-dia ou dera que as rádios e os canais de teram mortos por causa da violência. notas – diz Elaine. levisão atingem um público muito Em São Paulo a redação da ediA reportagem os fez passar dois maior do que os jornais e revistas. toria do caderno Cidades do jornal meses em cemitérios, levantando 50 – Para mim cada um tem o seu mil atestados de óbitos para mosO Estado de S. Paulo tem 17 repórnicho. A televisão fala para um pútrar quem eram os órfãos da violênteres, um editor-chefe, uma subediblico muito maior e um público cia do Rio. A matéria, que foi publitora, dois chefes de reportagem e mais aberto. Por exemplo, os aparecada num caderno de 12 páginas, dois jornalistas que eles chamam de lhos de televisão são ligados de “fechadores”. Há também uma rendeu ao jornal o Prêmio Esso de Imbariê (distrito do Município de equipe de seis pessoas para os caCriação Gráfica pelo trabalho da Duque de Caxias, na Baixada Fludernos de bairro, que estão ligados diagramadora Renata Maneschy. minense) a São Conrado (Zona Sul No jornal O Dia, as matérias que à estrutura do caderno Cidades. Seda cidade). O rádio também tem sairão na edição do dia seguinte são gundo a editora Márcia Glogowiski, essa característica. Os jornais têm decididas em duas reuniões: uma de a editoria tem uma boa organizaque ser comprados em bancas. Agoção para planejamento de matérias pauta e outra de consolidação. Tora, em termos de aprofundamento dos os editores e os editores-executivos participam das reuniões. As DEPOIMENTO Nathaly Ducoulombier pautas abordam desde os chamados fait divers, como a vida de artistas, tevê e jornal acabou descendo um No meio do tiroteio, a assuntos duros, como o setor de pouco até uma casa, que ainda estatransportes. salvaram-se todos, menos va em construção, e alguns policiais – Tratamos mais de assuntos que também entraram. aquele blazer vermelho tenham apelo popular, que interesA casa já tinha paredes e um tesam diretamente ao cotidiano das Era mais um dia de trabalho e a lhado de amianto, mas não tinha japessoas ou aquilo que é muito grave, pauta de interessante não tinha nelas. Ouvíamos os tiros do lado de como fraude na compra de remédinada. O então Governador Marcelo fora, mas por falta de experiência eu os. Além disso, cobrimos o compornão fazia a menor idéia de onde eles Allencar faria uma visita a um policivinham. Foram pelo menos 15 mial que estava internado em um hostamento da cidade e de seus moranutos de agonia, que pareceram hopital de Niterói por ter sido ferido em dores, como a nova moda das algeum confronto com bandidos. A imras. Quando conseguimos sair da mas da Luma de Oliveira, ou os pinprensa acompanhava, não pela visicasa, vimos as marcas das balas nas gentes de celular – diz Elaine Gagliata em si, mas tínhamos alguma coiparedes. Um tiro de fuzil perfurou o none, editora de Cidade de O Dia. teto de um dos carros de reportagem. sa para repercutir com o governador Na opinião de Elaine, o repórter Uma colega do jornal O Globo, a Alba e no hospital talvez conseguíssemos deve ter curiosidade, iniciativa e esValéria, brincava dizendo que a culgravar a entrevista. crever bem. Ela diz que os jornalisA Polícia Militar resolveu fazer uma pa era de um blazer vermelho que tas que pretendem trabalhar na Geoperação no Morro da Lagoinha, tameu usava. Era só tirá-lo do armário ral, para começar, precisam ter pelo bém em Niterói, e os jornalistas que para ter confusão. No hospital, dumenos noção do funcionamento da rante a visita ao policial, ela falou: estavam na tal visita acabaram indo cidade, ler de tudo, porque tudo aca“Ih, lá vem a Nathaly com o blazer junto. Entramos atrás da polícia, tudo vermelho...”. aparentemente calmo. Foi no alto do ba na Geral. morro, um descampado, que a situaArgumentei que dessa vez não ti– Temos uma cobertura muito ção começou a complicar. Lembro nha problema. “Não vai ter tiroteio particular, que não pode ser chata, aqui dentro do hospital , né?” Depois dos policiais correndo, atirando em dimas também tem que dar aquele desse episódio, aposentei de vez reção aos bandidos, e nós tentando serviço que não é exatamente diveruma das peças de roupa de que mais nos esconder atrás dos carros de retido, e precisa ter idéias de pautas gostava. portagem. Um grupo de jornalistas de diferentes e criativas – diz.
prefere ressaltar a violência no Rio, quando eles têm mais violência que aqui. Lá, hoje em dia, há cerca de 200 seqüestros, muito mais do que no Rio, e eles não publicam. Isso é uma tática de avestruz que vai dar problemas a São Paulo – declarou o editor de O Globo. Não é o que acha Márcia Glogowiski, que enfatiza a quantidade de cadernos dedicados à cidade pelo jornal em que trabalha: – Para começar, temos há 15 anos um caderno específico para a cidade. Eu ajudei a conceber esse caderno, que visa justamente a tratar dos problemas urbanos. Hoje, ele circula como Cidades na primeira edição e Metrópole na segunda. E tem uma coluna que se chama São Paulo Reclama para problemas individuais ou mais restritos a pequenos grupos.
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Jornal da ABI
Repórteres arriscam a vida pela notícia, ganham prêmios, mas sentem medo como qualquer um Em dezembro do ano passado, uma jornalista carioca liga para uma amiga, também jornalista. Deu-se o seguinte diálogo: – Oi, Nathaly, tudo bem? Do outro lado da linha, sem muito tempo para explicar o que estava acontecendo, Nathaly respondeu: – Não posso falar agora... estou no meio do fogo cruzado... pensei que era da Redação... A personagem dessa história, Nathaly Ducoulombier, tem 12 anos de profissão e atualmente é repórter do SBT, no Rio de Janeiro, onde há cinco anos faz cobertura de Cidade. O trabalho de reportagem em que Nathaly e sua equipe passaram momentos de tensão acon-
o perigo existe e o jornalista conhece – diz Nathaly Ducoulombier. Situações como a que a repórter do SBT experimentou no Morro dos Macacos já se repetiram em duas outras ocasiões: uma no Complexo do Alemão e outra no Morro da Lagoinha, em Niterói (RJ). – No Morro da Lagoinha as equipes de reportagem ficaram presas em uma casa com a polícia. Os tiros vinham de fora. Jornalista que trabalha na Geral acompanha muitas operações da polícia. Mas em TV, como não temos setoristas como em jornal,
tas — nas últimas 10 edições do Prêmio Esso de Fotojornalismo, pelo menos em sete vezes a criminalidade foi o tema das matérias vencedoras — a criminalidade afetou bastante o trabalho da imprensa. Na madrugada de 24 de junho de 2002, quando bandidos atiraram contra o prédio da Prefeitura do Rio, os repórteres-fotográficos do jornal O Globo registraram a movimentação de bandidos armados nos Mor-
prensa em algumas ocasiões poderia livrá-lo, por exemplo, de um caso de tortura. Não se trata de dizer que a imprensa era aliada do bandido. Nunca houve aliança do jornalismo com os criminosos, mas havia o seguinte: respeitem o nosso trabalho, porque nós também vamos denunciar a violência policial ou qualquer outro comportamento errado — conta o jornalista, afirmando que não existe mais respeito ao trabalho da imprensa e que hoje os jornalistas estão sendo proibidos de traba-
FOTOS: CARLOS MORAES
A sote do fotógrafo Carlos Moares em seqüência iniciada na página anterior: ele pôs a máquina fora do helicóptero e disparou, sem olhar o visor. Registrou assim a prisão de dois jovens que depois seriam mortos por PMs. Isso lhe valeu o Prêmio Esso.
teceu durante uma operação policial no Morro dos Macacos, em Vila Isabel, Zona Norte do Rio. Em meio à troca de tiros entre policiais e traficantes, a equipe teve que procurar abrigo para não ser atingida. Prudência e precaução sempre foram boas indicações para os profissionais da imprensa, principalmente para aqueles que diariamente se vêem envolvidos em matérias policiais. Desde a morte do jornalista Tim Lopes, assassinado por traficantes do Complexo do Alemão, há cerca de três anos, quando fazia uma reportagem para a TV Globo, os códigos de sobrevivência das equipes de reportagem foram reforçados e o jornalista que faz cobertura de Cidade atua como um soldado em zona de guerra: está sempre em estado de alerta. – Acho que a profissão de jornalista, num certo sentido, sempre foi um pouco arriscada, mas com o tempo o repórter aprende a se proteger. É claro que você quer estar no meio da notícia, mas o limite para
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corremos menos perigo. Nem sempre estamos em matéria de polícia —, diz a repórter. Os setoristas, repórteres que atuam em áreas destacadas por assuntos, como Comportamento, Administração Pública, Polícia, Cidade, normalmente são designados para essa função de acordo com as necessidades do veículo. Há casos em que os repórteres pedem para ser escolhidos, como é o caso das equipes que cobrem a área de polícia. Neste caso o que vale é a aptidão. Dependendo do veículo, os repórteres podem até ser transferidos de um setor para outro, a critério da chefia. Embora a violência da cidade venha rendendo prêmios aos jornalis-
ros da Coroa e da Mineira, no Centro do Rio, de onde teriam partido os tiros. No dia seguinte à publicação das fotos, o jornal recebeu ameaças de que o prédio seria metralhado. Durante dois dias a polícia ficou de plantão nas dependências do jornal. Esse tipo de incidente é o que o jornalista Paulo Motta considera a “ameaça física” que ronda os profissionais da imprensa. – Eu me lembro de que subia morros na década de 80, quando era repórter do Jornal do Brasil. Não havia um morro onde eu não entrasse. O repórter entrava com o carro do jornal e era respeitado. Até porque o bandido sabia que a presença da im-
No dia seguinte à publicação das fotos, o jornal recebeu ameaças de que o prédio seria metralhado.
lhar em favelas, sendo até mesmo vítimas da criminalidade. O repórter-fotográfico Carlos Moraes, de O Dia, conta que para fazer o seu trabalho em favelas, sem risco, é obrigado “a pedir licença” aos traficantes. Ele diz que por diversas vezes enfrentou o perigo na realização de uma reportagem: – Já passei pela situação de traficantes do Morro da Mineira colocarem o cano da pistola no meu ouvido. No Morro Dona Marta, em Botafogo, traficantes me encurralaram nas escadarias e atiraram na minha direção. Tive que me esconder embaixo do carro. Um dos tiros atingiu o pneu. Com mais de vinte anos de profissão, Carlos Moraes conquistou o Prêmio Esso de Fotojornalismo 2004 pela seqüência de fotos que realizou sobre uma ação da polícia no Morro da Providência, no Centro do Rio. A pauta de Carlos Moraes era acompanhar uma equipe da Core, Coordenadoria de Recursos Especiais da Polícia Civil numa favela no subúrbio. Moraes ia junto com um grupo
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Jornal da ABI “Tive medo quando os bandidos atiraram em nossa direção várias vezes” cendo a favela com um corpo sendo carregado num tapete: – Estava no banco de trás quando vi a movimentação de policias na entrada do morro e o delegado que nos acompanhava ficou preocupado conosco (os jornalistas) e pediu reforço por terra; enquanto isso eu fazia as fotos. Tive medo quando os bandidos atiraram em nossa direção várias vezes – relembra. Os homens que estavam sendo
acuados pelos policiais morreram duas horas depois no Hospital Souza Aguiar, no Centro do Rio, e, segundo a polícia, eram traficantes. Por causa da publicação das fotos o delegado que comandava a operação e mais seis policiais foram afastados de suas funções. O fotógrafo Carlos Moraes passou a sofrer ameaças e foi obrigado a sair de férias. Apesar dos cuidados, o jornalista não se intimidou, pois acha que “repórter-fotográfico tem que ter sensibilidade e um bom conhecimento da sua cidade para, além de mostrar suas belezas, denunciar as suas mazelas”. Para a jornalista Márcia Glogowski é difícil avaliar o quanto a violência afetou o trabalho da imprensa: — Afeta quando um repórter sofre um seqüestro-relâmpago, como aconteceu com um dos nossos na
Veja e as Vejinhas
Apostando no local para consolidar o nacional A revista Veja foi uma das primeiras publicações semanais a criar um suplemento exclusivo para a cobertura de cidade, há 20 anos, quando lançou a Veja São Paulo, em setembro de 1985. Com uma circulação semanal de 170 mil exemplares, a tiragem da revista hoje mais que dobrou e é o segundo maior faturamento publicitário da Editora Abril, atrás apenas de Veja nacional. — A Veja São Paulo foi lançada para oferecer ao leitor de Veja uma opção de leitura; e para o anunciante, uma alternativa segmentada de publicidade — afirma Carlos Maranhão, diretor de redação da Vejinha na capital paulista. Segundo o jornalista , uma pesquisa realizada pela Editora Abril revelou que cerca de 45% dos assinantes de Veja lêem a publicação regional antes da revista nacional. A Veja Rio chegou às bancas em 1991, e vai fazer quatorze anos em agosto. O diretor de redação da publicação carioca, Fábio Rodrigues, acredita que o principal argumento para a implantação dos suplementos foi a necessidade de criar um vínculo regional com o leitor. — Uma revista nacional como a Veja não tem espaço para tratar
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de temas mais locais, que são importantes ou curiosos exclusivamente para moradores de uma determinada região. Assim, além de atender a este leitor, as regionais ainda servem para fazer a marca Veja ficar mais próxima deles —, comenta. A redação de Veja Rio é composta por um diretor editorial (Fábio Rodrigues), dois editores gerais (Cristina Grillo e Sérgio Garcia), um responsável pelo roteiro (Pedro Tinoco), um editor de arte (Geraldo Moura) e outros 12 jornalistas, um deles diagramador e os demais “essencialmente repórteres”, conta Rodrigues. A revista é toda feita (apurada, escrita e diagramada) no Rio:
— Fazemos uma reunião de pauta às sextas-feiras e, a partir dela, começamos a produção. Trabalhamos com uma agência de fotógrafos, a Strana, que nos atende com quase todo o material fotográfico. Da equipe de repórteres, uma parte se dedica primordialmente ao roteiro e outra exclusivamente às matérias. Mas há sempre a possibilidade de intercâmbio. Cotidianamente os repórteres do roteiro fazem matérias e, eventualmente, os repórteres do que chamamos cabeça da revista colaboram com o roteiro. Para Rodrigues, as diferenças entre o jornalismo local de uma revista e de um jornal vão além da simples questão de espaço e periodicidade: — Em Veja Rio agregamos às matérias típicas de cidade aquelas que saem normalmente em segundos cadernos. Ou seja, há uma mistura de cultura, lazer, comportamento e questões da cidade. A principal diferença está em qual o público que o veículo busca. A idéia é fazer um produto mais popular ou buscar um leitor mais elitizado? Isto já determina que tipo de matérias será enfatizado. E há várias questões em uma cidade enorme como a nossa — diz ele.
NIELS ANDREAS/AE
de policiais em um helicóptero, quando o aparelho quase foi atingido por disparos de fuzis e metralhadoras vindos do Morro da Providência. Um delegado que estava no helicóptero começou a gritar para que ele se abaixasse. O fotógrafo deixou apenas o braço de fora e disparou a máquina, fazendo as fotos sem olhar no visor. Somente quando retornou à redação é que Moraes, ao ver a seqüência das fotografias, constatou que ali havia mais do que o registro da ação de criminosos desafiando a polícia: as fotos denunciavam que dois moradores do morro, desarmados, estavam sendo intimidados por policiais, que depois aparecem des-
Márcia Glogowiski, do Estadão: Matérias mais elaboradas suprem a pauta escassa
primeira quinzena de fevereiro deste ano. De resto rende pautas, muitas pautas. O repórter do jornal O Estado de S. Paulo que sofreu o seqüestro chama-se Marcelo Onaga. Ele acabara de sair da redação do jornal, por volta das nove da noite, e quando falava com a namorada pelo celular na Avenida Sumaré, uma das mais movimentadas de São Paulo – teve o carrro interceptado pelos seqüestradores. Os bandidos, dois homens armados, entraram no carro. Um deles ficou ao volante e o outro sentou-se com Marcelo no banco de trás. Rodaram durante meiahora com o repórter. Num cruzamento, o carro de Marcelo emparelhou com uma viatura da polícia. Os criminosos ficaram nervosos, mas o jornalista manteve a calma e disse a eles que ficassem tranqüilos pois não iria sinalizar para os policiais. Depois de rodar pelas ruas do Centro de São Paulo, os assaltantes abandonaram o repórter com seu carro, levando apenas cartões de crédito e dinheiro. Não rendeu matéria, mas o caso mostra que o jornalista é um cidadão como qualquer outro que está do lado de lá da notícia, e que a violência está para todos: – Somos vítimas como todos, infelizmente, mas com o agravante de passarmos eventualmente a algozes. Não é raro a imprensa ser culpada pela repercussão que os crimes têm. A sociedade é vítima da violência e a imprensa é parte dessa sociedade. Mas as autoridades muitas vezes se acham vítimas da imprensa – diz a repórter Maiah Menezes. Apesar das situações de risco e das ameaças que já sofreu, a repórter acha que todo jornalista deveria começar na profissão pela Editoria de Cidade: – Ser repórter sem ter aprendido a trabalhar na Editoria de Cidade teria sido o mesmo que ser médico sem ter tido a experiência de trabalhar na emergência de um hospital. É uma especialização nas generalidades às vezes fascinantes do cotidiano – conclui.
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Jornal da ABI LEMBRANÇA Sérgio Motta Lima • Luiz Viegas de Motta Lima
PAULO MOTA LIMA O centenário de um jornalista combatente O jornalista Paulo Mota Lima, antigo sócio militante da ABI, teria completado no dia 4 de abril cem anos de existência. Paulo faleceu em novembro de 2002. Filho de tradicional família alagoana, nasceu em Viçosa, AL. Seu pai, farmacêutico, era praticamente o médico da região, conhecido como Dr. Mota, e tem ainda hoje rua com seu nome na cidade natal. Estimado pela população, principalmente pelos mais humildes, não cobrava consulta e ainda fornecia medicamentos gratuitamente. Paulo chegou ao Rio de Janeiro em 1922, com 17 anos de idade, disposto a seguir a carreira militar, mas foi desestimulado por uma tia materna. Abraçou o jornalismo, levado por seus irmãos mais velhos, Rodolfo e Pedro. Trabalhou em diversos órgãos da imprensa carioca, como O Imparcial, A Esquerda, esta dirigida por seu irmão Pedro, e A Nação, de Maurício Lacerda e Leônidas de Resende. Em 1924, com os irmãos Rodolfo e Pedro, participou do jornal clandestino 5 de Julho, editado por Antônio Bernardo Canellas, apoiando a Coluna Prestes e combatendo o governo autoritário do Presidente Artur Bernardes. Paulo, então com 19 anos, era o encarregado da distribuição da folha, e corria o risco de ser preso pela polícia política de então. Em 1935, foi convidado pela direção do jornal Folha do Povo, do Recife, PE, para substituir o redator Rubem Braga. O jornal apoiava a Aliança Nacional Libertadora – ANL. Com a insurreição de novembro de 1935, ocorrida nos Estados do Rio Grande do Norte e Pernambuco e no Rio de Janeiro, Paulo foi preso e torturado, em 1936, pela polícia política do Recife. Depois de passar pela Casa de Correção na capital pernambucana, foi transferido para o presídio de Fernando Noronha, onde permaneceu até 1942, quando veio para presídio no Rio de Janeiro, na Rua da Relação, de onde saiu mediante indulto. Em Fernando de Noronha, o diretor do presídio era Nestor Veríssimo e o médico que atendia aos internos chamava-se Dr. Hilo Lins e Silva, primo do grande jurista Evandro
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Lins e Silva. O Dr. Hilo é, até hoje, sócio militante da ABI. Paulo teve vários companheiros em Fernando de Noronha, dentre os quais se destacaram, pela estima, Gregório Bezerra e Iguatemi Ramos. Paulo e Gregório eram os responsáveis pelo coletivo e dividiam as tarefas da horta comunitária da prisão. Ao sair da prisão, indultado, Paulo recebeu imediato convite de Samuel Wainer para colaborar na revista Diretrizes, órgão inovador na imprensa carioca e que depois se transformou em jornal diário. Em 1945, convidado por seu irmão Pedro, Paulo deixou Diretrizes para ser o Secretário da Tribuna Popular, jornal do qual participaram figuras de destaque como Carlos Drummond de Andrade, Álvaro Moreyra, Aydano do Couto Ferraz,
Dalcidio Jurandir, Rui Facó, Astrojildo Pereira e Graciliano Ramos. Além de suas funções na redação dos jornais, Paulo também se destacou como repórter. Em 1946, no antigo Palácio Tiradentes, Câmara dos Deputados na época, Paulo foi repórter parlamentar e conviveu na bancada de imprensa com renomados jornalistas como Heráclio Sales, Murilo Melo Filho, Hélio Fernandes, Villas-Bôas Corrêa e Carlos Lacerda. Fez toda a cobertura da Constituinte de 1946 e com a eleição de Luís Carlos Prestes para o Senado Federal passou a conviver mais estreitamente com o líder político do PCB. Tantas eram as tarefas desempenhadas por Paulo que algumas pessoas pensavam fosse ele secretário pessoal de Prestes. Foi nessa ocasião que ele testemunhou
o primeiro encontro de Prestes com o Presidente Getúlio Vargas, anos depois de este ter entregue aos nazistas Olga Benário, mulher de Prestes, morta numa câmara de gás de um campo de concentração. Prestes aguardava o elevador do Palácio Monroe, na Cinelândia, antigo prédio do Senado Federal, já demolido, quando Getúlio desembarcou acompanhado por um ajudante de ordens. O encontro foi fortuito e causou surpresa para ambos, que apenas se cumprimentaram com aceno de cabeça. O golpe militar de 1964 encontrou Paulo como redator de dois jornais: Gazeta de Notícias e Luta Democrática. Procurado pela polícia da época, Paulo deixou de comparecer às redações e ficou residindo, por alguns meses, na casa de seu irmão mais velho, Joaquim Mota Lima Filho, e, depois, na casa da mãe de seu amigo e colega Heráclio Sales. Apesar da perseguição, Paulo permaneceu no País e passou a colaborar nos mesmos jornais, sob pseudônimo. A família Mota Lima uniu-se à do ator Brandão Filho, famoso desde os tempos áureos da Rádio Nacional. O irmão de Paulo, Rodolfo, casou-se com uma tia de Brandão, de nome Laura, e outro irmão, Joaquim, com a irmã de Brandão, Isaura. Paulo, na juventude, fez muita amizade com Brandão Filho e seus irmãos Orlando e Afonso. Em certa ocasião, Paulo e Brandão Filho subiram a pé até o Corcovado, para testar a resistência. Paulo e Pedro encaminharam um sobrinho, Álvaro Mota Lima, filho de Joaquim e Isaura, na imprensa carioca, chegando ele a ser um dos fundadores do jornal Última Hora, de Samuel Wainer. Paulo Mota Lima sempre foi eleito para o Conselho Deliberativo e participou, como Diretor, de todos os mandatos do Presidente Barbosa Lima Sobrinho. Pouco antes de falecer, aos 97 anos de idade, foi distinguido com o título de Sócio Benemérito, pelos relevantes serviços prestados à ABI por mais de meio século. A modéstia pessoal não permitia, à primeira vista, que se visse em Paulo Mota Lima o grande profissional e patriota brasileiro dos mais ilustres.
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Jornal da ABI POLÊMICA
Um pouco além do ‘politicamente correto’ Joseti Marques A edição de uma cartilha intitulada Politicamente Correto, pela Secretaria Especial de Direitos Humanos, desaconse-lhando o uso de expressões com conotações consideradas pejorativas contra determinados grupos sociais acaba de prestar um enorme desserviço à sociedade e aos pesquisadores da ciência dos discursos. Desserviço não pela bobagem inócua que a cartilha representa, mas por ter ensejado a enxurrada de desqualificações sobre a séria questão da linguagem pelo megafone da imprensa. Quanto mais ampliadas, mais rapidamente as bobagens tendem a se consolidar. Ressalvando a qualificação moral dos personagens desse enredo – o Ministro Nilmário Miranda é homem de longa folha de serviços prestados a causas nobres na defesa dos direitos da sociedade, bem como a imprensa em seus quase 200 anos –, o que fica patente é o desconhecimento do assunto em que ambos se meteram: o Ministro, que tem que assumir a responsabilidade pelo desastre empreendido pelo corpo técnico de seu ministério; e a imprensa, que abordou a questão de maneira superficial, fazendo opção pelo viés jocoso que a história realmente comporta. Pesquisadores em universidades do mundo todo têm-se debruçado sobre a forma como a sociedade verbaliza seu cotidiano e sua história, produzindo estudos e teses que visam a colaborar para que, entre outros aspectos, esta mesma sociedade se torne menos excludente. Os estudos de Análise de Discursos ganharam fôlego nos anos 60 do século XX, tributários da Lingüística, do Marxismo e da Psicanálise. Muitas vertentes foram surgindo, mas partem de um princípio comum de que as palavras e expressões do cotidiano são constituídas por um sentido histórico e ideológico que muitas vezes se apaga ao longo do tempo, mas que continua repercutindo para além do acontecimento que o gerou. Por exemplo, a expressão “para inglês ver ”, que guarda um cenário amplo que remete a um dos episódios mais cruéis da história da escravidão. Último país a abolir o tráfico de escravos, o Brasil ludibriava autoridades inglesas que fiscalizavam os mares para coibir a prática, mantendo cargas de produ-
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tos nas áreas mais visíveis dos navios, enquanto camuflava a verdadeira carga: africanos que morriam sufocados às centenas, escondidos nos porões. “Para inglês ver” fala de uma história de genocídio, embuste e dissimulação que a simples extirpação da palavra jamais poderá corrigir – nem no passado, nem no presente. Uma outra história exemplar: em reportagem no jornal Folha de S. Paulo de 1º. de junho de 1994, o então candidato à Presidência da República, Fernando Henrique Cardoso, disse em discurso de campanha no interior de São Paulo que “tinha um pé na cozinha”. O assunto teve grande repercussão e Fernando Henrique negou ter usado as expressões, atribuindo o caso a uma falha de reportagem. O jornal rebateu a crítica, mostrando que gravara a fala do candidato. Cinco anos de-
deiros, colhido por Joaquim Nabuco, sobre como funcionava o pensamento escravocrata em relação às negras: “a parte mais produtiva da propriedade escrava é o ventre gerador”, diz o manifesto. O fato de o candidato à Presidência da República referir-se a essa parte de sua biografia como apenas tendo lá um “pé” – coisa de visita sorrateira, fugidia, que não se inscreve na ordem da descendência e do parentesco – é que confirma e atualiza, através do tempo, a posição histórica da protagonista indireta do relato. Astúcias da linguagem, que guarda o sentido apesar da opacidade a que o tempo relega o acontecimento. Uma espécie de “esquecimento” a que os analistas de discursos chamam esquecimento ideológico – o modo pelo qual os indivíduos são afetados pela ideologia, retomando sentidos preexistentes.
brasileiros nesta área. Em 1997, o Departamento de Ações SócioEducativas do Estado do Rio e Janeiro–Degase, em convênio com a Universidade do Estado do Rio de Janeiro–Uerj promoveu uma série de debates com diversos segmentos da sociedade, inclusive a mídia, para tentar encaminhar projetos de políticas públicas para a infância e a juventude, notadamente para os jovens em “conflito com a lei”. A expressão “em conflito com a lei”, em 1997, referia-se às crianças abandonadas nas ruas e que, em 1993, na época da chacina da Candelária, eram chamadas de “pivetes” pela imprensa e pela sociedade. Um das muitas recomendações resultantes desses encontros dizia respeito à linguagem. Não que a mudança da palavra fosse gerar a mudança da realidade, mas conseguir transmutar, na compreensão dos indivíduos, os “pivetes” em crianças que realmente eram certamente ajudou a mobilizar a sociedade para cobrar das autoridades públicas soluções mais humanas e efetivas. Se de 1993 para cá a realidade melhorou ou se apenas se produziram ONGs e políticas públicas para “inglês ver ” é uma outra história,
O fato é que tanto o sociólogo quanto o jornalista indicaram, em seus discursos, de que lado da História percebem os rumores de um passado de senzala. pois, em maio de 1999, a revista Época publica o resultado de uma pesquisa sobre a árvore genealógica de Fernando Henrique, agora já como Presidente da República em segundo mandato. Diz o texto: “Não foi por demagogia que o presidente Fernando Henrique Cardoso colocou seu pé na cozinha durante a campanha presidencial. (...) Depois de vasculhar cartórios, arquivos paroquiais, inventários e testamentos, a pesquisadora [Marta Amato], de 52 anos, não tem dúvida: “A bisavó do presidente era mulata, e sua trisavó, negra”. O texto da reportagem defende apenas o fato de não ser “demagogia” a declaração do então candidato à Presidência. O que nem Fernando Henrique, nem o jornalista que escreveu o texto se deram conta foi de que atualizaram, no discurso, a imagem de uma mulher espoliada de sua humanidade por ser negra. A tradução do sentido da frase poderia ser: “pé na cozinha” = ato libidinoso ou estupro contra mulher negra e por isso na condição de escrava (ou subalterna), cuja função mais comum é a de cozinheira. O clássico Casa Grande & Senzala, de Gilberto Freyre, reproduz os termos de um manifesto de fazen-
Tanto o jornalista quanto o candidato à Presidência partiram de um consenso sobre o significado implícito na expressão “pé na cozinha”, que é repetida ao longo do tempo com um ar de sonsa malícia – o jornalista, quando se atém mera e simplesmente à necessidade de comprovação da veracidade da informação sobre o candidato ter mesmo lá o “pé”; e Fernando Henrique, quando relata sua origem a partir desta observação. O fato é que tanto o sociólogo quanto o jornalista indicaram, em seus discursos, de que lado da história percebem os rumores de um passado de senzala. São questões ideológicas históricas que ao se colocarem na sombra do esquecimento repercutem insuspeitas na linguagem comum. O candidato-sociólogo não sabia que o que ele falou queria dizer tanto; o jornalista também não. A repetição nos discursos correntes atualiza e revitaliza esses compromissos históricos, afirmam os pesquisadores, alguns deles bastante comemorados pela mídia, como Pierre Bourdieu, Michel Foucault, Umberto Eco, apenas para ficar nos estrangeiros e não incorrer em injustiça ao deixar de citar algum dos muitos e brilhantes pesquisadores
mas a sociedade já não tolera como solução o extermínio de “crianças”, da mesma forma como olhava com indiferença o extermínio de “pivetes”, palavra que a imprensa aboliu de seu vocabulário. Os sábios de plantão do Governo Lula parecem ter escutado o galo cantar, mas, sem saber onde, mandaram logo produzir uma cartilha para disciplinar o galinheiro; e a imprensa, no combate firme às manifestações autoritárias e descabidas que vez ou outra despontam das hostes técnicas da administração petista, atirou no que viu e acertou o que não viu. Resta saber o que faziam na equipe os 31 membros das universidades federais, onde há muita gente séria que sabe que o problema não está nas palavras, mas nos acontecimentos que lhes insuflam o sentido. Com a tal Cartilha, o que o Governo propôs pode ser comparado a uma espécie de chacina dos discursos: metralhar as palavras para ver se a realidade se comporta. E é lamentável que o contratado para consumar o ato tenha sido um jornalista, aliás, Vice-Presidente do Sindicato dos Jornalistas do Distrito Federal, ao soldo de R$ 5 mil reais.
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Jornal da ABI ENSAIO
Pensamentos e ações
A mordaça em tempos democráticos
Bernardino Capell Ferreira
A liberdade de imprensa ameaçada e seus reveses nos últimos três anos
Venceu a Chapa Prudente de Moraes, neto. Elegeram-se os membros dos Conselhos Deliberativos e Fiscal, com a vitória da atual Diretoria, representada pelo seu Presidente Maurício Azëdo, o qual terá que continuar a decidir sobre as questões que lhe venham a ser apresentadas, além das que fez constar do magnífico trabalho tão bem capitulado em seu Relatório, apresentado em Assembléia da ABI em 28 do mês próximo passado, às vésperas das eleições. Ao pretender dar uma segura estrutura à ABI, livrando-a dos “achaques” econômicos-financeiros demonstrados no documento retrocitado, tão bem delineado, o Presidente Maurício Azêdo terá que usar de um “tour de force” auxiliado por todos os consócios da ABI, digo todos, sim, porque, a meu ver, eleitos pela maioria, quaisquer que tenham sido os nossos confrades, representarão eles a essência e a conjunção dos mesmos ideais pela grandiosidade da nossa Associação. Que tivessem havido oposições a esta ou aquela Chapa, tudo muito bem! Esse é o papel político-social dos regimes democráticos, mas oposições conscienciosas, escudadas em fatos observados e fidedignos, e não em invencionices calcadas em calúnias, forjicadas de adjetivos aguçados de insultos que só retratam a desvalorização dos seus autores. Cumpre ao Conselho não tolher a discussão proveitosa, a crítica leal, a censura comedida, as quais se inspiram na consciência cultura e educação, origens de todos os progressos sociais, não deixando, contudo, de reprimir e considerar abusivas quaisquer demonstrações de violências orais ou escritas, motivadas muitas vezes por paixões inconfessáveis e mesquinhas, já que não se torna difícil estabelecer-se uma linha de conduta ética que separe distintamente o uso do abuso e o lícito do ilícito. Aceitei o convite para, como suplente, na Chapa Diretas Já participar do honroso pleito, uma vez que os demais componentes eram todos eles jornalistas de alto gabarito e particulares amigos. Encerrado o pleito, o que devemos fazer? Cruzar os braços e aguardarmos novas eleições, ou estendermos os braços aos companheiros vitoriosos, aos quais devemos ajudar para a obtenção do que desejamos em comum? Evidentemente, só esta última opção é válida e digna de homens que pertencem a uma elite privilegiada, consócios de verdadeiro dever de promoverem a evolução política administrativa que se espera na ABI. Temos muita coisa a enfrentar! Garantida a sustentabilidade econômico-financeira da ABI e normalizados os pagamentos de débitos que tenham ocorrido em datas anteriores, voltar-se-á sua Administração para o desenvolvimento de ações normativas que venham a espelhar as suas grandezas. Havemos de propagar no âmbito da sociedade brasileira e mesmo fora dela as razões principais da existência da Associação Brasileira de Imprensa, avocando para ela a organização e planejamento de uma nova estrutura ligada à própria evolução da imprensa, acompanhando a sua tecnologia e seus novos horizontes, a fim de que venha a poder usá-la como atrativo de novos jornalistas, os quais buscarão certamente na ABI o seu epicentro profissional, desde que esta se prepare para tal mister. Lembremo-nos dos jovens! Eles precisam de ser conhecidos e por nós profissionais amparados. Passemos para os iniciantes tudo aquilo que aprendemos na luta por nossos ideais, pois que glórias nos serão facultadas ao sentirmos que nessa magnífica simbiose de gerações de jornalistas que se sucedem estará indelével a nossa participação quando a História contar os nossos feitos. A ABI se reencontrará como a universidade primordial da imprensa viva, zelosa, altaneira, livre, independente, guardiã permanente da sua própria imagem, protegida sempre pela lucidez, cultura e inteligência dos seus filiados, irmanados que estarão pelos princípios que norteiam o verdadeiro jornalista.
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João Marcos Carvalho Ao presidir a histórica sessão do Congresso Nacional de 5 de outubro de 1988, na qual foi promulgada a atual Constituição, o deputado Ulisses Guimarães fez um curto e veemente discurso que sintetizava o pensamento de todos os brasileiros que combateram a ditadura militar implantada em 1º de abril de 1964 e que perdurou por 21 longos anos. “A Constituição – disse Ulisses – certamente não é perfeita. Ela própria o confessa ao admitir a reforma. Dela se pode discordar, divergir. Descumpri-la, jamais! Afrontá-la, nunca! Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito: rasgar a Constituição, trancar as portas dos parlamentos, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitéA censura rio. (...) Tenho ódio à ditadura. Ódio e prévia está sendo utilizada nojo (...) A sociedade foi Rubens Paiva, para proteger não os facínoras que o mataram”. interesses de Além dos esbirros pessoas que se da ditadura, o recado de Ulisses tinha consideram como alvo os golpisintocáveis tas de plantão. Aqueles que sempre espreitam nas sombras por uma oportunidade para atropelar o processo democrático. Afinal, a historiografia nacional é rica em registros de quarteladas e golpes de mão que nos legaram períodos autoritários em que a censura, a prisão arbitrária, a tortura, o assassinato e o exílio viraram política de governo. Mas o que certamente não passava pela cabeça do velho parlamentar era que a Constituição, que ele chamou de “cidadã”, fosse aviltada e vilipendiada por membros do Judiciário. Logo do Judiciário, Poder encarregado de protegê-la e fazer com que ela seja obedecida, cumprida e respeitada. Nos últimos três anos, a sociedade brasileira vem assistindo ao recrudescimento de uma prática que se imaginava extinta desde o momento em que a Constituição de 1988 passou a vigorar. Trata-se da volta da censura, que, com velocidade espantosa, vem atingindo publicações regionais e nacionais. Ao contrário dos
tempos da ditadura militar, quando ela era feita através dos “gorilas” enviados pelos quartéis, a censura agora é exercida por desembargadores e juízes que, lançando mão de artifícios jurídicos, “aprenderam” o caminho para burlar a Carta Maior – que, ironicamente, veda qualquer tipo de censura, garantindo ao povo brasileiro o direito à informação, além de prever punição a quem conspira contra a liberdade de manifestação ou pensamento. O que chama a atenção nessa caminhada ao retrocesso institucional é que a maioria esmagadora das decisões judiciais, censurando publicações ou programas de rádio e de TV, não visa a combater a programação de baixo nível que infesta a mídia, mas sim proteger interesses subalternos de forças políticas locais. Quem examinar essas decisões irá verificar que, a pretexto de defender a honra de pessoas ou grupos, a censura prévia está sendo utilizada para que a sociedade seja impedida de ter acesso a informações jornalísticas que mostram falcatruas de certos figurões que fazem parte e/ou orbitam em torno dos três Poderes da República. Em outras palavras, certos magistrados utilizam-se da censura prévia para proteger interesses de pessoas que se consideram intocáveis ou de sobas a que se rendem ou se associam. Pior: essa malandragem jurídica já chegou ao conhecimento até mesmo de políticos corruptos, empresários inescrupulosos e policiais truculentos de pequenos e pobres municípios perdidos neste vasto país. Essa gente vem recorrendo com freqüência a esse expediente toda vez que fica sabendo que determinados veículos de comunicação estão prestes a publicar matérias sobre suas traquinagens. A censura prévia já é uma realidade escancarada praticada por um número cada vez maior de magistrados descomprometidos com o Estado Democrático, cuja tara é encontrar cada vez mais atalhos para apunhalar a Constituição, principalmente no que se refere ao artigo 5º, que trata das liberdades individuais e coletivas. O que estarrece mais ainda é o fato de tudo isso estar acontecendo em pleno regime democrático e, pasmem, com omissão e o silêncio cúmplice da maioria dos parlamentares governistas que, quando na oposição, usavam a tribuna como trincheira contra os pregadores da lei da mordaça. Raquítica, tímida e pálida também tem sido a posição da Fenaj (Federação Nacional dos Jornalistas),
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Jornal da ABI que diante da gravidade do quadro tem-se limitado a emitir notas de protesto. Dela se esperavam reações mais contundentes, indignadas e até mesmo iradas. Coisas mais compatíveis com a história da combativa CUT (à qual é filiada), como passeatas, comícios de protesto e outros atos talvez mais revolucionários. Esse comportamento letárgico talvez encontre explicação no fato de a Fenaj ter gastado muita energia com a campanha que visava a empurrar goela abaixo da sociedade brasileira o projeto neofascista do Conselho Federal de Jornalismo. Como a pretensão foi fragorosamente derrotada pela reação dos jornalistas comprometidos com a democracia, talvez ela agora desperte para o problema, e reaja à censura com o vigor que o Brasil espera dela. Mas enquanto isso não acontece, está mais do que na hora de a ABI, a OAB, a CNBB, a UNE e outras entidades com histórico de lutas contra o arbítrio se mobilizarem numa frente única para barrar a volta de um passado de trevas. Caso contrário, o Estado de Direito estará terrivelmente comprometido, levando de roldão a liberdade de expressão e outras conquistas. É nesse sentido que a Constituição de 1988 representa um divisor de águas entre o antigo regime totalitário e o período de redemocratização do País, marcando, dessa forma, uma época que tem como modelo de atuação do Estado o respeito incondicional aos direitos fundamentais. Por isso mesmo, o sistema constitucional dos direitos fundamentais, previsto no artigo 5o da Carta, com os eventuais acréscimos do parágrafo 2º, reflete, em rigor e em larga medida, a própria essência da Consti-
tuição e a retomada do processo de democratização e da garantia do cidadão contra abusos e arbitrariedades no exercício do Poder Público. Como bem diz o ministro Marco Aurélio Mello, do Supremo Tribunal Federal, os direitos fundamentais são hoje verdadeiros princípios estruturantes da organização e do funcionamento do Estado, “valores objetivos que servem como norte da atuação estatal em seus mais diferentes níveis: no Legislativo, formam um catálogo de princípios e garantias que informam e direcionam toda a atividade de criação das normas de nosso ordenamento jurídico e de concretização dos preceitos constitucionais; no Executivo, mostram-se como verdadeiros limites ao exercício do poder administrativo, servindo como trincheiras de proteção da liberdade do cidadão; no Judiciário, refletem a base e o fundamento necessário da compreensão e interpretação de nossas normas, evitando que a atividade jurisdicional se transforme em medidas discricionárias ou providências ilegítimas de opções políticas pautadas em escolhas pessoais dos juízes”. A liberdade de expressão é o bem maior das sociedades democráticas. A censura, em suas diversas formas – direta ou indireta, prévia ou posterior, administrativa ou judicial –, tem merecido, no correr dos anos, a preocupação e o repúdio dos povos. A Carta de 1988 resgatou as bases do Estado Democrático de Direito, a partir da restauração concreta de um sistema de valores e princípios de direitos fundamentais que hoje constitui a verdadeira essência de uma sociedade plural e democrática. Nesse sentido, a eficácia plena dos direitos fundamentais previstos no artigo 5º da Constituição, bem como de outros
direitos advindos do regime e de tratados internacionais, na forma do parágrafo 2º desse mesmo artigo 5º, é condição essencial para a consolidação e amadurecimento de nossas instituições políticas e para a conservação e promoção da democracia. Democracia, na definição de Marco Aurélio Mello, significa assegurar a formação e a boa captação da opinião pública; significa garantir a soberania popular, para que os rumos do Estado acompanhem fidedignamente os resultados e as manifestações dessa soberania. “Para tanto, o sistema constitucional brasileiro prevê vários institutos e mecanismos que têm por finalidade concretizar o princípio democrático, de maneira a torná-lo algo vivo, presente e eficaz”. A importância do princípio vai além. A liberdade de expressão serve como instrumento decisivo de controle da atividade governamental e do próprio exercício de poder. Esta dimensão foi até mesmo a fonte histórica da conquista e do desenvolvimento de tal liberdade. À proporção que se forma uma comunidade livre de censura, com liberdade para exprimir os pensamentos, viabiliza-se a crítica desimpedida, mesmo que contundente, aos programas de governo, aos rumos políticos do País, às providências da administração pública. Enfim, torna-se possível criticar, alertar, fiscalizar e controlar o próprio exercício dos mandatos eletivos. Este fato foi largamente lembrado pelo insigne e já citado ministro Marco Aurélio em recente comentário a respeito do tema: “Quando somente a opinião oficial pode ser divulgada ou defendida, e se privam dessa liberdade as opiniões discordantes ou minoritárias, enclausura-se a sociedade em uma
JUSTIÇA
Comissão de Reparação avalia 52 processos Prossegue o exame dos pleitos de reparação moral de vítimas da ditadura presas em órgãos do Estado do Rio A Comissão Especial de Reparação da Secretaria de Estado de Direitos Humanos apreciou, no dia 19 de abril, 52 processos de cidadãos que pleiteiam o pagamento de indenização a título de reparação moral por prisões e torturas sofridas em dependências do Governo do Estado do Rio de Janeiro entre 1º de abril de 1964, data do golpe militar, e 15 de agosto de 1979. Um dos presentes à reunião foi o Presidente da ABI, Maurício Azêdo, que representa a Casa na comissão instituída pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos. Foram deferidos os pedidos de Solange Lourenço Gomes (falecida), Paulo Magalhães Pinheiro da Costa (falecido), José Monteiro da Silva, Geraldo
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Duarte Lisboa Lobo, José Medeiros de Oliveira, José Maria Cavalcante (falecido), João Damasceno Faria Smith, Bernardino Rodrigues Barbosa, Aurea Celeste de Moura Chlebnicek, Setembrino Dias Lacerda, Dalton Godinho Pires, Pedro Ricardo da Costa Coimbra (falecido), Jaime Bizzotto, João Carlos Reis Horta, João Cândido da Silva Junior, Manoel Edivaldo da Silva, José Custódio de Souza (falecido), Nilson Ferreira da Silva, Herval Arueira (falecido), Yoshio Ide, Januário José Pinto de A. Oliveira (falecido), Wagner Joaquim Hardoim Mendonça, Mário dos Santos, Jovanildo Gilberto Savastano, Luiz Ferreira de Castro, Regina Maria Toscano Pereira, Iza Guerra Labelle, Maria Helena Malta Rezende, Maria de Fátima Oliveira Setúbal, Henrique João Cordeiro Filho, Joel Vasconcelos Santos (falecido), Abelardo Rosa dos Santos, Ariceu Vieira, Ladislau Alves da Silva, Aquiles Ferrari, Armanildo da Silva Nunes,
redoma que retira o oxigênio da democracia e, por conseqüência, aumenta-se o risco de ter-se um povo dirigido, escravo dos governantes e da mídia, uma massa de manobra sem liberdade”. Em seus quase 97 anos de existência, a ABI sempre defendeu que a defesa da proteção e a garantia da autonomia individual devem ser constantes, já que a livre manifestação de pensamento é uma expressão da individualidade e da liberdade. Ao longo de sua história, a ABI, através de seus presidentes, fez questão de ressaltar que proteger a liberdade não é somente se manifestar em favor da liberdade de consciência e de expressão, mas principalmente lutar continuamente contra quem quiser restringi-la. Dezessete anos após a promulgação da atual Constituição, a Nação está suficientemente madura para não permitir que sua Lei Maior seja violada nos preceitos que asseguram aos brasileiros seus direitos fundamentais, conquistados literalmente com sangue, suor e lágrimas. Neste contexto, nunca é demais lembrar o artigo 5º, enfocando o inciso XIV, que diz: “é assegurado a todos o acesso à informação e resguardado o sigilo da fonte, quando necessário ao exercício profissional”; e o XLI, que lembra: “a lei punirá qualquer discriminação atentatória dos direitos e liberdades fundamentais”. Defender intransigentemente estes princípios é um dever fundamental não só para jornalistas, mas para todos os que enxergam a democracia como bem universal. João Marcos Carvalho é jornalista e historiador. e-mail: carvalhojm@ibest.com.br
Ubirajara Muniz (falecido), Uberahy Francisco Gonçalves e José Tominez. Foram indeferidos os processos de Ivo Mendes Morem, Márcio de Castro Morem, Waldemir Figueiredo Nóboa, Natanael José da Silva, Anna Lúcia Melgaço Leal Silva, Aldino Moreira de Miranda, Alberto Ramires da Costa e João Fortunato Vidigal (falecido). Entre os processos indeferidos figura o de Geraldo Rodrigues dos Santos, o Geraldão, antigo dirigente do Partido Comunista Brasileiro, relatado pelo representante da ABI, que lamentou ter de dar parecer pelo indeferimento. Graças ao aparato de segurança montado pelo PCB, Geraldão nunca foi preso durante a ditadura militar. Com isso, sua postulação não atendeu a dois requisitos essenciais da Lei n° 3.744/2001, que instituiu a reparação: o de ter sido preso por motivação política e ter padecido tortura física ou moral em dependência do Governo do Estado do Rio de Janeiro. O representante da ABI formulou pedidos de vista de dois processos: os de Arlindo Ferreira Guimarães e Annice Dib, que voltam à pauta da reunião de maio da Comissão.
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Jornal da ABI DENÚNCIA
Má administração ameaça a memória nacional Inépcia da gestão Corrêa do Lago não comove o Ministro Gilberto Gil O mais importante acervo documental do País, depositado na Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro, está ameaçado de deperecimento e de lesões irreparáveis como consequência do desmazelo que domina a gestão da Fundação Biblioteca Nacional, confiada pelo Ministro da Cultura, Gilberto Gil, ou por alguém que fez tal escolha por ele, a um diligente colecionador e competente marchand de obras raras, Pedro Corrêa do Lago, que assiste impassível à lenta e irremediável corrosão de um patrimônio material e cultural acumulado durante quase dois séculos. Além de desatento à importância desse acervo, Corrêa do Lago permanece indiferente ao destino do mais fiel registro da evolução histórica do País, as coleções de periódicos, que ele pretende transferir – promovendo uma espécie de deportação – para um prédio da área do cais do Porto sem condições de acolhê-las. Para isso, conta com a submissa conivência de servidores da alta hierarquia da Fundação Biblioteca Nacional, que coonestam, justificando-as, as decisões nocivas imaginadas por seu chefe eventual. A denúncia do estado do patrimônio da Biblioteca Nacional e das ameaças que sobre este pesam foi feita por funcionários da instituição, que, mesmo sob o risco de represálias, como as que atingiram servidores qiualificados após a divulgação dessa incúria, empreendem um esforço para sensibilizar a área cultural e intelectual do País, na esperança de conseguir chamar a atenção das autoridades da União, que até agora se mostram tolerantes e igualmente coniventes, pela omissão ou pela incompetência, para a necessidade de uma intervenção saneadora e salvadora. Uma obra de redenção que deveria começar pela substituição de Corrêa do Lago, antes que a casa caia. Elaborado há dois anos, como síntese de um seminário interno cuja desvalia foi liminarmente proclamada pelo marchand a quem entregaram a Biblioteca Nacional, o diagnóstico feito pelos servidores da BN é publicado na íntegra pelo JORNAL DA ABI, que reproduz também parte do impressionante documentário fotográfico produzido pelos trabalhadores da Biblioteca Nacional, retrato de um desmazelo a que é preciso pôr cobro, enquanto é tempo. (Maurício Azêdo)
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ISTO É UMA VERGONHA! Num país civilizado e cioso da importância dos seus bens culturais a exibição de imagens como estas, levantadas pelos funcionários da Biblioteca Nacional, encheriam de vergonha os administradores públicos: o estado da primeira edição de Casa Grande & Senzala, de 1933, e sua edição inglesa (à esquerda); obras que se decompõem no armazém de periódicos, cabos elétricos que ameaçam coleções centenárias.
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Jornal da ABI
Lago confessou que nada entendia de administração pública
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Nós, servidores da Fundação Biblioteca Nacional - FBN convivemos há dois anos com a administração Pedro Corrêa do Lago. No início, motivados pela mudança de governo, oferecemos à nova gestão um presente que qualquer novo dirigente gostaria de ganhar, principalmente depois das afirmações do recém empossado presidente da FBN sobre sua ignorância na administração pública: um seminário interno sobre o órgão, onde buscaríamos resgatar a motivação e a auto-estima de nosso corpo funcional, tão abalado por tantas razões. Para o novo presidente seria uma oportunidade ímpar de se inteirar sobre a FBN e também se entrosar com os servidores, de maneira tal que poderíamos ter uma maravilhosa e inédita fase de construção, em um harmonioso ambiente de trabalho e de aprimoramento dos serviços prestados à sociedade.
Um valioso instrumento que se torna inócuo pelo desinteresse dos que deveriam ser os mais interessados. Desinteresse esse que se mostrou uma das principais características da administração Pedro Corrêa do Lago. A seguir apresentamos alguns dos inúmeros problemas agravados ou gerados pela atual direção, que não dá o devido valor ao patrimônio e que também despreza os servidores da FBN, interessados em exercer com responsabilidade sua função diante da sociedade: a guarda e a preservação do acervo da Memória Nacional.
Divisão de Obras Gerais A Divisão de Obras Gerais, que tem por missão difundir e tornar acessível aos usuários as monografias depositadas na Biblioteca Nacional através da Lei de Depósito Legal, não está cumprindo o seu papel. Existem hoje cerca de 35 mil livros tratados tecnicamente que o cidadão encontra nos catálogos de pesquisa on-line, mas não pode ter acesso a eles, por falta de espaço nos armazéns onde deveriam estar localizados. Os técnicos da FBN – bibliotecários, pesquisadores, especialistas em preservação, etc. - tentam, desde o início da gestão Pedro Corrêa do Lago, debater e solucionar essa questão, mas não conseguem O desmazêlo continuado condena peças valiosas, singulares. a atenção da direção. O resultado são livros Eis que, para nosso espanto e empilhados e espalhados pelos canfrustração, a idéia foi bombardeatos, nos corredores dos armazéns, da pelo novo gestor com comentáatrás ou sobre armários, poltronas, rios de explícita contrariedade. Reumesas dos servidores, há anos. nidos em assembléia, diante do “balExistem nos armazéns graves prode-de-água-fria”, os servidores deciblemas de infiltrações, objetos de diram então transformar o que sevárias reclamações e comunicados, riam 4 dias de seminário em um sem que haja qualquer movimento único dia de encontro chamado de da diretoria no sentido de tomar proFórum dos Servidores da FBN, orvidências eficazes. ganizado pela Associação dos trabalhadores da Instituição. Apesar de Divisão de Informação reduzido ao mínimo,o debate proDocumental duziu um documento encorpado A Divisão de Informação Docuque foi encaminhado à presidência. mental, que presta atendimento à Passados esses 2 anos, todas as exdistância aos usuários residentes posições contidas no relatório final, fora do Rio de Janeiro, inclusive de dezenas de páginas, não foram exterior, e recebe em média 3 mil base para qualquer providência por solicitações de pesquisas por ano, parte do corpo dirigente da FBN. tem deixado de cumprir o seu pa-
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Vista panorâmica do Centro de Processamento Técnico, onde jazem sobre os arquivos centenas de livros à espera de espaço adequado nas estantes
pel em função do seu quadro funcional reduzidíssimo: de 14 servidores no passado, hoje só restam 4. Divisão de Publicações Seriadas A Biblioteca Nacional possui a maior coleção de publicações seriadas do País, com vários títulos só aqui existentes, e também recebe, através da Lei de Depósito Legal, em torno de 3.800 fascículos e 50 títulos novos mensalmente. O Armazém de Periódicos não dispõe de espaço para o crescimento das coleções e há muito se planeja a criação da Hemeroteca Nacional, no prédio anexo. Pequenas obras efetuadas nesse espaço alternativo até o momento não o dotaram das condições mínimas necessárias para abrigar esse tipo de acervo. É precipitada a transferência nessas condições, à revelia de todos os pareceres contrários de quem entende e trabalha com o assunto há décadas. Recentemente, a Coordenadora da área, servidora federal efetiva, que, junto com sua equipe, questionava a direção e tentava defender o trabalho e o acervo, foi, como de praxe para esses casos, exonerada. Processamento Técnico No 3º andar da FBN, Coordenadoria de Serviços Bibliográficos, há hoje cerca da 35 mil obras (livros e folhetos) devidamente tratados tecnicamente (catalogados e classificados) que poderiam estar à disposição dos leitores, se não fosse a falta de espaço nos armazéns para a sua localização.
Por negligência da direção da FBN, livros já catalogados não estão disponíveis aos usuários
O quadro se agrava se considerarmos que, em dezembro de 2004, foi sancionada pelo Presidente da República a atualização da Lei do Depósito Legal (a anterior era de 1907), que acarretará o recebimento de um número bem maior de livros, folhetos, periódicos, revistas, etc. A atropelada e desordenada transferência de acervo para o prédio anexo é a única proposta da administração. Em meio ao caos, a direção da Instituição se esforça para receber doações volumosas de coleções estrangeiras, rapidamente alocada sem espaço próprio, desalojando obras nacionais e tornando-as fora de consulta. Área de Informática e procedimentos jurídicoadministrativos decorrentes Administrações anteriores foram responsáveis pelo desmantelamento da equipe técnica na área de informática – servidores especiali-zados foram afastados por defenderem plataformas de trabalho mais eficientes, seguras e de custo incomparavelmente inferior -, inclusive provocando a saída de vários destes servidores da Fundação. A administração Pedro Corrêa do Lago segue pelo mesmo caminho. Impede que os técnicos efetivos que ainda restam na FBN trabalhem, excluindo - os de suas funções, e terceiriza essas tarefas à revelia de vários pareceres que são totalmente ignorados. Um afastamento que ameaça, pela falta de manutenção, trabalhos já desenvolvidos e uma
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Jornal da ABI
Salários de fome na Pasta de Gil Em manifesto pouco divulgado pela grande mídia, os servidores da área da Cultura, a área do Ministro Gilberto Viajando Gil, revelam que percebem salários de fome: um servidor de nível superior ganha R$ 565 por mês. Em greve há dois meses, eles denunciam sua situação no Manifesto a seguir.
Acima, acervo raro do Século XVIII acondicionado em caixas de papelão e exposto à luz solar. À direita, coleção Mário Pedrosa, no 5º andar, “protegida” das infiltrações por plásticos
terceirização que gera produtos que não funcionam. A gestão Pedro Corrêa do Lago também age com clara negligência diante de processos jurídico/administrativos (sindicâncias), em sua maioria abertos pela própria administração com objetivo único de punir o servidor que questiona, para avaliação específica de conduta. Processos que, no seu desenrolar, sempre apontam a necessidade de uma maior investigação quanto aos procedimentos administrativos – afastamentos de profissionais, compras, contratos, terceirizações desnecessárias, etc. -, e que são, por isso, Depósito de periódicos para envio ao prédio anexo, constantemente sem condições de guarda e preservação. “engavetados”. Instalações de uso comum Outro ponto a ser ressaltado é a desatenção da atual administração da Biblioteca Nacional com os servidores e os usuários. Exemplo disso é o fato do banheiro masculino do 2º andar, de uso comum (servidores/ leitores),estar há mais de 1 ano indisponível (“em obras”), sobrecarregando os outros banheiros, que já sofrem pela falta constante de material de higiene (papel sanitário, toalhas de papel, sabonete, etc). Nas sacadas as muretas rachadas ameaçam os que passam pela Avenida Rio Branco. No 5º andar do prédio, obras urgentes de reforma para abrigar as novas e luxuosas instalações da Presidência da Fundação foram iniciadas sem a preocupação com o bemestar dos servidores que ali tinham o seu refeitório. Estes são apenas alguns dos problemas reais da FBN na gestão Pedro Corrêa do Lago. Uma gestão que já nos mostrou ser irremediavelmen-
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MANIFESTO DOS SERVIDORES DA CULTURA “A cultura brasileira vive um ano de glórias em Paris enquanto os funcionários da área, Ministério da Cultura e suas vinculadas – Iphan, Funarte, Biblioteca Nacional, Fundação Palmares estão em greve no Brasil. Por que estamos em greve? • Nossos salários estão congelados desde 1995; • Não temos Planos de Carreira e por isso a área há 20 anos não se renova.
Diários Oficiais retirados de seus lugares por ordem da direção para dar lugar a coleções estrangeiras
valioso acervo da maior biblioteca da América Latina e 8ª do mundo. Neste documento de denúncia, além de alertar a todos, objetivamos uma renovação administrativa,uma nova direção que dialogue e trate com o devido respeito os profissionais, servidores efetivos, e que traga, na essência de suas decisões, com correção e legalidade, a compreensão clara da finalidade da Fundação Biblioteca Nacional: a guarda e a preservação da Memória Nacional para todos os cidadãos, do presente e do futuro. Pedimos a atenção e o apoio de toda a sociedade. Estado das muretas sobre a Avenida Rio Branco é uma ameaça aos cidadãos que passam logo abaixo
te incapaz de travar com o servidor da FBN uma relação construtiva. Portanto, no exercício pleno de nossa função diante da sociedade, temos o dever de lutar contra uma equivocada direção que coloca em sério risco o Patrimônio Público e o
Rio de Janeiro, março de 2005 Servidores da Biblioteca Nacional em assembléia. ASBN – Associação dos Servidores da Biblioteca Nacional Núcleo de Base do SINTRASEF/FBN (Sindicato dos Trabalhadores do Serviço Público Federal no Rio de Janeiro)
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O que fazemos? • O Iphan é o responsável pela preservação de monumentos históricos e patrimônio cultural em todo o País; • A Funarte desenvolve projetos nas áreas de artes visuais, teatro, dança, ópera e circo, música popular e erudita, documentação em arte e preservação de acervos fotográficos; • A Biblioteca Nacional, a oitava biblioteca do mundo, cuida de um dos mais importantes acervos bibliográficos, iconográfico e documental; • O Centro Técnico Audiovisual oferece apoio técnico a projetos de cinema e vídeo; • A Fundação Cultural Palmares formula e implanta políticas públicas que têm como objetivo potencializar a participação da população negra no processo de desenvolvimento da cultura brasileira. Os funcionários destas instituições são técnicos altamente qualificados e especializados, que amam seu trabalho, mas estão cada vez mais impossibilitados de exercê-lo em condições satisfatórias, pois os salários aviltados não lhes permitem suprir suas mínimas necessidades de subsistência, reciclagem e atualização do conhecimento, prejudicando assim a qualidade de atendimento ao público. Técnicos de nível superior com 20 anos de experiência, com Mestrado, Doutorado e Pós-graduação, têm hoje vencimentos básicos de R$565,45, que, somados às gratificações, atingem, no máximo, cerca de R$1.500,00, enquanto funcionários públicos como os deputados federais dizem não poder viver som salários de R$12.000,00, mais R$15.000,00 de verbas indenizatórias. Hoje a cultura possui o menor orçamento do Poder Executivo e seus servidores os menores salários do serviço público. Esta é a nossa vergonhosa realidade. Queremos salários dignos, criação de um Plano de Carreira específico para a área da cultura e concurso público para a renovação dos quadros técnicos. Por favor repassem estas informações.”
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Jornal da ABI GENTE
Um privilégio de Ruy Mesquita “Minha vantagem sobre os jovens é ter estado na janela do mundo desde o início” O jornalista Ruy Mesquita, diretor do jornal O Estado de S. Paulo, completou 80 anos no dia 16 de abril, dizendo que se sente um privilegiado porque, em 56 anos de jornalismo, pôde acompanhar “como observador e comentador fatos marcantes e significativos da História da Humanidade”. — Minha única vantagem sobre os jovens jornalistas, com toda a modéstia, é ter estado na janela do mundo desde o início. Pude acompanhar todo o processo político da História da Humanidade, desde a Segunda Guerra Mundial, passando pela unificação européia, a emancipação política no Brasil, na África, a vitória da democracia na Guerra Fria contra o totalitarismo — orgulha-se ele. Ruy Mesquita é herdeiro de uma das mais tradicionais empresas jornalísticas do País: o Grupo Estado, que controla a Rádio Eldorado, o Jornal da Tarde e O Estado de S. Paulo, fundado por seu avô Júlio Mesquita. A notoriedade da família Mesquita na imprensa surgiu no período do Império, com A Província de S. Paulo, fundado em 4 de janeiro de 1875. Em janeiro de 1890, quando o Brasil virou República, o jornal em que Júlio Mesquita trabalhava e assumiria em seguida passou a se chamar O Estado de S. Paulo. Ruy Mesquita diz orgulhar-se da tradição do Estadão de sempre se pôr ao lado das causas democráticas: — Até hoje o jornal não fez outra
Leitura, essencial para a soberania A informação deve chegar a todos, diz Domingos em Sergipe O Diretor de Assistência Social da ABI, Domingos Meirelles, participou, no início de abril, do Seminário Estadual de Jornalistas do Sergipe, em Aracaju. Em sua intervenção, Domingos chamou a atenção para a importância da leitura como instrumento de inclusão social e de democratização do conhecimento. Repórter especial e apresentador da Rede Globo, Domin-
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coisa, mesmo quando foi confiscado por Getúlio, em junho de 1940. Meu avô foi um militante político, dissidente do Partido Republicano por causa da falta de compromisso dos dirigentes da Primeira República com os propósitos que os levaram ao poder. Desde então, o jornal dedicouse às lutas brasileiras pela verdadeira democracia, como foi em 1969. Agora, finalmente, não há mais ameaças ao processo democrático. Com bom humor e vitalidade, Ruy conta que sua rotina diária começa
antes das sete da manhã, em casa, e se estende até o fim da tarde, na redação do Estadão: — Às 6h, inicio meu expediente deitado na banheira, lendo os jornais de São Paulo e outros grandes do País, fazendo as primeiras anotações dos assuntos políticos, econômicos etc. de que vamos tratar. Às 9h30min, começo a falar com os editorialistas por telefone. Às 12h30min ele chega ao Estadão para a primeira reunião com os editorialistas. O jornal tem como re-
gra a publicação de três editoriais por edição, mas são produzidos de seis a sete editoriais por dia: — A minha função é cuidar da unidade de redação e estilo. Há casos em que refaço o texto, pois fui editorialista até 1995, no tempo do Jornal da Tarde, quando vim para a redação do Estado de S. Paulo. Ardente defensor da mídia impressa, Ruy não esconde a sua preocupação com o futuro dos jornais, que, segundo ele, devem se preocupar com o aprofundamento das matérias: — A crise provocada pela internet não é somente do Brasil. A folha impressa não havia sofrido influência negativa do rádio e da TV. Há uma pesquisa dos norte-americanos que mostra uma tendência cada vez maior de os jovens lerem menos jornal. Digo que o futuro dos jornais tradicionais depende de eles se transformarem em leitura obrigatória dos setores mais influentes da sociedade. Favorável aos avanços dos processos de comunicação, Ruy ressalta apenas que os jornais são um documento da História, pois lidam com temas e questões que não são novidade, como a causa palestina: — A diferença do jornal é situar a notícia no tempo e no espaço da História, para que o leitor possa entender o processo e não se perder. Novidade nos jornais de hoje, só mesmo na seção de falecimento.
gos lembrou que em 1917 os anarquistas já sustentavam, através do jornal A Plebe, a tese de que o cidadão comum devia não só aprender a ler e a escrever, mas ser também um homem culto. Eles defendiam que o saber não podia ser privilégio das classes dominantes.— O conhecimento não pode ser monopólio das elites. Em vez de trafegar horizontalmente pela pirâmide social, atendendo aos interesses do poder, deve circular verticalmente, beneficiando todas as classes sociais. Para Domingos, o conhecimento é um patrimônio do ser humano que deve ser partilhado com toda a sociedade.— Quem lê articula melhor seu pensamento. Não só hierarquiza idéias e valores, como se expressa com mais clareza e tem uma visão mais nítida do mundo em que vive. No século XVIII, a China era considerada um dos países mais avançados, pois já conhecia a imprensa muito antes de Gutemberg. Segundo Domingos, a grande tragédia brasileira é não ser uma nação leitora.
— Para constituirmos um país justo, rico e culto, é fundamental que a informação escrita seja acessível a todos. A leitura alarga os horizontes do homem comum. A população precisa se familiarizar com o livro, o jornal, a revista e o computador, pilares básicos da sociedade moderna da informação. Nações como Canadá, Inglaterra, Itália e França desenvolveram políticas públicas de incentivo à leitura e hoje implantaram programas destinados exclusivamente à terceira idade. No Brasil, a maior parte da população não cultiva o hábito da leitura e faltam estímulos do Governo para reverter esse quadro: — Há uma conspiração do silêncio, no sentido de manter a sociedade brasileira inculta, ingênua e desinformada. O Brasil devia desenvolver políticas públicas de criação de redes de bibliotecas, espaços nobres de reflexão, para estimular o gosto pela leitura.Um grande indicador dessa tragédia é a diminuição das tiragens
dos jornais. Em 1930, o Rio de Janeiro tinha uma população em torno de 1,2 milhão de habitantes e cerca de 30 periódicos circulavam pela cidade. Havia ainda os periódicos dos operários, como A Plebe (anarquista), A Luta de Classes (trotskista) e A Classe Operária (comunista) e pequenos jornais voltados para os trabalhadores de indústrias de tecidos como América Fabril e Fábrica Corcovado - diz ele, apontando que o Brasil inteiro tem menos livrarias que Buenos Aires: — É um dado que merece reflexão. O Brasil só poderá ser considerado uma nação desenvolvida e moderna se conseguir reverter esse quadro assustador. A leitura deve ser entendida como garantia de soberania nacional. Sem ela, perdemos nossa identidade política. Esse processo de empobrecimento cultural do Brasil, com um número cada vez maior de nãoleitores, representa grave ameaça para o seu futuro. O que dizer de uma nação que tem mais cadeias do que bibliotecas?
“Acompanhei todo o processo político da História da Humanidade desde a Segunda Guerra Mundial”, festeja o diretor do Estadão.
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MÉRITO
Sidney Rezende em noite de medalhas
FOTOS JOSÉ CARLOS VELOSO
Jornal da ABI
Câmara Municipal e Assembléia Legislativa concedem suas principais honrarias ao pioneiro da Rádio CBN Amigos, jornalistas, antigos companheiros do rádio e autoridades lotaram o Auditório Oscar Guanabarino, na noite de 11 de abril, para homenagear o jornalista Sidney Rezende, agraciado com a Medalha de Mérito Pedro Ernesto, concedida pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro, e a Medalha Tiradentes, conferida pela Assembléia Legislativa do Estado (Alerj). O Presidente da ABI, Maurício Azêdo, conduziu a cerimônia, acompanhado à mesa pelo Vereador Edson Santos (PT-RJ), o Deputado Paulo Pinheiro (PT-RJ), o Secretário estadual de Direitos Humanos, Coronel Jorge da Silva, o Secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Marcelo Itagiba, o Desembargador Siro Darlan, titular da 10ª. Vara Cível do Rio de Janeiro, e Nilo Félix, Subsecretário estadual de Turismo. Todos os que discursaram fizeram questão de ressaltar a importância de Sidney Rezende como comunicador e a imparcialidade e modéstia que são uma marca da sua trajetória profissional. Emocionado, o homenageado lembrou a infância pobre em Mato Grosso do Sul e a vinda com a família para o Rio de Janeiro, agradeceu a presença na platéia dos irmãos, Renato e Vera, e dos filhos, Maria Clara e Francisco, e fez questão de citar o carinho que recebeu de pessoas humildes das comunidades de Vigário Geral e da Rocinha, que durante todo o dia o felicitaram. Sidney citou um a um, prestando-lhes a homenagem da sua gratidão, os companheiros de profissão que o ajudaram no começo de sua carreira. Após receber as comendas, Sidney fez um agradecimento especial a Maurício Azêdo — de quem lembrou “as
lutas por valores essenciais, como os direitos humanos” — pela oportunidade de receber a homenagem na ABI. — Muito obrigado pelas palavras gentis que recebi. Elas somente aconteceram porque todos estão na minha Casa, que é o símbolo de que se quer o País aberto, franco e plural. Para Maurício, a homenagem a Sidney é especial para o quadro social da Associação e para a comunidade jornalística: — É um momento muito grato para a ABI a oportunidade de prestar homenagem a um dos grandes profissionais em atividade. Tivemos também o orgulho de ver que o nosso convite para a homenagem a esse companheiro lotou o auditório. A ABI deu mais uma prova de que é uma entidade viva e estuante de vitalidade, rejuvenescida, e para nós da Diretoria, que trabalhamos incansavelmente com esse objetivo, isso é muito gratificante, porque conforta verificar o bom resultado do nosso esforço, dos nossos cansaços e também das nossas esperanças. Comprovando os comentários de que a sobriedade é uma de suas principais características, Sidney fez questão de ressaltar que o mais importante é “a possibilidade de se estar ao lado da boa causa, da boa idéia, das coisas certas”. — E hoje nós tivemos uma noite do bem aqui, com as pessoas comungando um espírito positivo. É claro que as glórias e premiações sinalizam se você está no caminho certo ou não, mas não é o mais importante, com todo o respeito àqueles que me concederam estas honrarias. Hoje nós tivemos aqui uma bela oportunidade de união, com todo mundo remando do mesmo lado.
O PORQUÊ DA HOMENAGEM
“Como jornalista, Sidney Rezende tem demonstrado muita capacidade, que é o mínimo que se exige de um profissional, além de um sentimento de amor muito grande pela cidade do Rio de Janeiro e pela população carioca. Por isso tem tudo a ver com a figura e com a história do Pedro Ernesto. Já estava na hora de o Município do Rio de Janeiro conceder a sua comenda maior ao cidadão Sidney Rezende”. Vereador Edson Santos
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“Para nós do Parlamento, que somos ouvintes do Sidney Rezende, foi uma honra muito grande poder homenagear um jornalista íntegro e independente. Homenageá-lo é poder homenagear a democracia brasileira, a qualidade do rádio e o espaço democrático que todos os parlamentares têm tido por meio do trabalho dele. Um jornalista completo e experiente. Acho que fizemos nosso dever e a população do Estado do Rio de Janeiro concorda plenamente em oferecer a Medalha Tiradentes a Sidney Rezende”. Deputado Paulo Pinheiro
Sidney contou que quando criança simulava um programa: O Show do Sidney.
Um profissional; apenas isso Em muitas oportunidades, Sidney tem emprestado o seu conhecimento e prestígio como mestre-de-cerimônias dos grandes eventos ocorridos na Associação, como na solenidade de posse da atual Diretoria e, mais recentemente, na celebração do 80º aniversário do cartunista Lan. Professor da Faculdade de Comunicação da Puc-RJ e âncora da Rádio CBN, na TV Sidney Rezende apresenta os programas Bom-Dia Rio, da Rede Globo, e Conta-Corrente, da GloboNews. Jornalista há 20 anos, já trabalhou nas rádios Jornal do Brasil, Panorama e Roquete-Pinto e nas TVs Bandeirantes, Manchete e Educativa. Sobre a homenagem, ele diz: — É uma honra, sempre, ser reconhecido por sua comunidade. Para mim, ser lembrado pelo Vereador Edson Santos e pelo Deputado Paulo Pinheiro, parlamentares atuantes e sérios, é motivo de orgulho. Confesso também que me enche de emoção esta cerimônia ser realizada na ABI. Esta Casa é um templo da resistência contra o autoritarismo e a prepotência. Sou um democrata e fico à vontade neste ambiente. Outro motivo de emoção, também, é a expectativa de poder estar com grandes amigos. A Medalha de Mérito Pedro Ernesto foi criada em outubro de 1980 para homenagear aqueles que mais se destacam na comunidade. A indicação do escolhido é feita por meio de requerimento de um vereador e votada em Plenário. Já a Medalha Tiradentes é concedida a personalidades nacionais e estrangeiras que, de qualquer forma, tenham prestado serviços ao Estado, ao Brasil ou à humanidade. Barbosa,líder e exemplo Para Sidney, com Barbosa Lima Sobrinho a ABI conseguiu recuperar seu ideal de defesa da classe jornalística.— A abertura política foi uma conquista do povo brasileiro, mas com ela muitos setores desmontaram a organização interna necessária para construir o futuro. Neste sentido, a ABI também perdeu força. A sorte foi termos Barbosa Lima Sobrinho como líder reto e decente. Agora, esta chama está acesa com Maurício Azêdo, com sua história de luta e honradez.
O jornalista considera que ainda existe um novo caminho a ser trilhado.— Cabe-nos ajudar a fazer isso. Os pilares foram fincados, a construção foi erguida, os ideais foram disseminados, mas agora precisamos de rumos mais definidos. Isso não cabe exclusivamente à atual Diretoria, e sim aos profissionais do setor. Modesto, ele afirma que, apesar do reconhecimento e do prestígio alcançados no meio jornalístico, não se considera um ícone do radiojornalismo brasileiro.— Um dos maiores elogios que recebi na vida foi de um velho companheiro jornalista, já de cabelos brancos e pensando em se aposentar, mesmo que seus quase 70 anos não estivessem traduzidos na face. Ele me disse: “Sidney, você é profissional.” É assim que eu gostaria de ser lembrado: como um profissional, apenas isso. Trabalho diariamente visando a alcançar este objetivo. O projeto que “toca notícia” Um dos idealizadores da CBN, Sidney conta que a idéia da emissora nasceu de um encontro com José Roberto Marinho num evento no Clube de Engenharia.— Ele me perguntou se eu era o Sidney Rezende do programa Encontro com a Imprensa, da Rádio Jornal do Brasil, e emendou com o convite: “Você não gostaria de participar de um projeto no Sistema Globo?”. Na época, segundo lembra, as rádios brasileiras de FM não dedicavam muito espaço ao jornalismo.— Nunca haviam feito um programa jornalístico na história da FM no Brasil. Fui conversar com José Roberto na Rádio Globo. Diante da sua mesa de trabalho, via um jovem educado e seguro de um novo projeto e, ao meu lado direito, um profissional que foi fundamental na construção da CBN: Jorge Guilherme. Ele foi o primeiro contratado pelo que então era chamado de Globo Rádio Notícias e eu fui o segundo. A base do primeiro Jornal da CBN é mantida até hoje. — Fizemos o piloto, que estreou na antiga Rádio Eldorado, e ficamos no ar um mês. Só depois nasceu a CBN. Eu fui o primeiro apresentador e a programação nasceu e foi concebida no Rio de Janeiro. Em São Paulo havia resistência à idéia. Tivemos grandes lutas internas para que o projeto continuasse. Uma das marcas de Sidney Rezende é sua maneira de conduzir as entrevistas, várias delas com grandes personalidades brasileiras — Luís Carlos Prestes, Tom Jobim, Aurélio Buarque de Holanda, Nássara, entre outros.Ele revela que se sente mais à vontade no rádio que na televisão: — Sinto que na TV não sou aceito como sou. Atualmente, Sidney tem-se dedicado também à carreira de escritor — seu livro mais recente, Deve ser bom ser você, lançado pela Futura, já vendeu mais de 10 mil exemplares e o próximo, ele adianta, será sobre Comunicação: — Estou devendo um trabalho voltado para a área.
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Jornal da ABI AQUELE ANO DE 1908
ABI comemorou com música e alegria os seus 97 anos A Associação Brasileira de Imprensa comemorou a passagem dos seus 97 anos, no dia 7 de abril, com um presente de muita alegria e emoção para todos os associados que compareceram à festa no nono andar do edifício-sede da entidade. Com o grande auditório repleto, um som perfeito e um ar condicionado que tornava o ambiente extremamente agradável, a pianista Maria Teresa Madeira apresentou um recital com um repertório selecionado entre os maiores sucessos da música brasileira e internacional à época da fundação da Associação Brasileira de Imprensa. Na abertura do evento, o Presidente Maurício Azêdo fez breve e apaixonado discurso, cujos trechos mais marcantes apontavam na direção da união e da dedicação, atributos fundamentais para se levar adiante causas como a construção de uma instituição de defesa dos jornalistas como a ABI, obra de um grupo de visionários liderados por Gustavo de Lacerda. Maurício agradeceu também as muitas mensagens de congratulações, como as en-
viadas pelos governadores de São Paulo, Santa Catarina e do Rio Grande do Norte. Em seguida, o Presidente da ABI chamou ao palco a pianista Maria Teresa Madeira, que apresentou o belíssimo espetáculo Aquele Ano de 1908, comovendo a platéia com músicas de Chiquinha Gonzaga (Abre alas, Atraente, Plangente, Corta jaca e Bionne), Sinhô (Jura), Scott Joplin (The entertainer e Mapple leaf rag) e
Nossa saudação “A Associação Brasileira de Imprensa quer agradecer com a maior largueza de gratidão a presença de todos quantos atenderam ao nosso convite para este singelo ato de comemoração dos 97 anos de existência desta Casa do Jornalista. A singeleza do ato não diminui a importância histórica e artística de que ele se reveste. Primeiro, pela escolha do repertório, em que têm dimensão especial dois dos maiores criadores musicais de nosso país, Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga, que dominavam o processo criativo na Cidade e no País naquele ano de 1908 em que o jornalista catarinense Gustavo de Lacerda, repórter de O Paiz, reuniu um pequeno grupo de visionários para criar uma instituição de defesa dos jornalistas, naqueles tempos em que não havia sindicatos, leis protetoras do trabalho e garantia de qualquer natureza contra violências do poder político e do poder econômico. A expressão deste ato é magnificada pela escolha da intérprete que ouviremos em seguida, a pianista Maria Teresa Madeira,
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Ernesto Nazareth (Batuque, Escorregando, Odeon e Fon fon), títulos marcantes do início do século XX. A apresentação foi pontuada por informações curiosas e interessantes sobre a época, extraídas de uma pesquisa feita pela pianista especialmente para a ocasião. Ao final da apresentação, a platéia, aplaudindo entusiasmada, pediu e teve o bis: Vôo da Mosca, uma das músicas consagradas do repertório de Jacob do Bandolim. Ainda sob calorosos aplausos, Maria Teresa recebeu uma corbeille do Diretor de Assistência Social da ABI, Domingos Meirelles. No saguão do auditório, os convidados, jornalistas em sua maioria, cumprimentavam os colegas. Adolfo Martins, Presidente do Grupo Folha Dirigida, falou sobre a importância histórica da Associação: — Esta comemoração simboliza a tradição de uma instituição que desfraldou, desde o primeiro dia de existência, a bandeira da liberdade de expressão, das liberdades públicas. A cada
virtuose que, em seu denso repertório, concedeu grande e merecido relevo às criações de Ernesto Nazareth e Chiquinha Gonzaga, numa prova de sua adesão aos valores mais genuínos da criação musical e da cultura do País. A obrigação de ser breve, como seremos, não nos priva do exercício do dever de registrar as mensagens de congratulações pelo aniversário da ABI que nos foram enviadas pelos Governadores de São Paulo, Geraldo Alckmin, de Santa Catarina, Luiz Henrique da Silveira, e do Rio Grande do Norte, Wilma Maria de Faria, assim como do Vereador Stepan Nercessian, da Câmara Municipal do Rio de Janeiro; do Presidente da Legião da Boa Vontade, jornalista José de Paiva Neto; da historiadora Cybelle de Ipanema, Presidente do Instituto Histórico e Geográfico da Cidade do Rio de Janeiro; do Presidente e do Primeiro-Secretário da Associação dos Jornais do Interior de São Paulo, Luiz Carlos Paes Vieira e Alberto Talauskas; e do empresário Álvaro de Barros, diretor da Camélia Flores, companheiro querido sempre presente em bons e maus momentos, e especialmente naqueles mais gratos ao seu temperamento,
ano, o aniversário da ABI revigora o seu compromisso e, ao mesmo tempo, simboliza o seu passado de lutas bravas e heróicas em momentos especialmente difíceis. Vim aqui aplaudir a ABI como um modesto jornalista que tem uma grande admiração por tudo o que ela faz pela nossa classe e pelo País.
Quando a ABI foi fundada, em 1908, lembrou o Presidente, não havia leis de proteção do trabalho.
como este. Agradecemos em especial a presença muito honrosa para nós dos jornalistas Adolfo Martins e Afonso Faria, Diretores do Grupo Folha Dirigida, com o qual a ABI mantém parcerias em importantes iniciativas. Encerrando, renovamos o agradecimento a esta notável artista brasileira, Maria Teresa Madeira, ao nosso companheiro Jorge Roberto Martins, que teve a sensibilidade de convidá-la para este recital, e aos funcionários da ABI que, em meio à indiferença de uns poucos, contribuíram para o êxito deste evento. A todos os presentes, o muito obrigado desta venerável Associação Brasileira de Imprensa.”
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Jornal da ABI SONHO Seu companheiro Afonso Faria, Diretor da Folha Dirigida, complementou: — O aniversário da ABI é sempre um marco para o jornalismo brasileiro. Com essa tradição de 97 anos de lutas, defendendo as liberdades democráticas, enfrentando momentos difíceis com Barbosa Lima Sobrinho, Fernando Segismundo, Maurício Azêdo atualmente e outros grandes líderes, é sempre uma festa de que nós, jornalistas, devemos participar com muito carinho. Também esteve presente à festa a Presidente da Associação dos Cor-
Niemeyer disse ao Presidente da ABI que fará mais do que o projeto da sede de Brasília: vai pedir a cessão do terreno ao Governador Roriz.
respondentes de Imprensa Estrangeira (ACIE) no Brasil, Diana Kinch, que destacou as bandeiras defendidas pela Casa: — Para uma entidade como a ABI, completar 97 anos é uma prova de que as instituições jornalísticas do Brasil são firmes e fortes. A Associação está de parabéns, porque sempre representa a independência, a liberdade de imprensa, a pluralidade de opiniões. É muito importante entrosar as atividades da ACIE e da ABI para que todos cresçam juntos, com um jornalismo independente e livre.
Projeto de Niemeyer para a ABI no DF A idéia partiu de Silvestre Gorgulho, Chefe da Representação da ABI em Brasília
Em nome da ABI, o Diretor Domingos Meirelles agraciou com flores o belo desempenho de Maria Teresa.
Maria Teresa, jovem mestra Bacharel em piano pela Escola de Música da UFRJ e mestre em Piano (Performance e Pedagogia) pela Universidade de Iowa, Estados Unidos, Maria Teresa Madeira participou de vários projetos de teatro musicado no Brasil, entre os quais se destacam a remontagem de Forrobodó, ganhador do Prêmio Mambembe de 1995, e um espetáculo sobre Chiquinha Gonzaga. A pianista foi também responsável pela gravação de toda a trilha sonora da minissérie Chiquinha Gonzaga, da Rede Globo. Após passar três anos excursionando pelos Estados Unidos, divulgando a música brasileira, Maria Teresa, que estudou com Miguel Proença, Luiz Eça, Sergei Dorensky, Jacques Klein, Laís Kauffman e Carmen Prazzini entre outros, tem participado como solista de vários
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eventos importantes, juntamente com orquestras como a Sinfônica Brasileira, a Petrobras Pró-Música e a Sinfônica da Escola de Música da UFRJ. Toda a sua discografia é dedicada à música brasileira: Solo brasileiro (1995, Rio Arte Digital); Sempre Nazareth (com Pedro Amorim, 1997, Kuarup Discos); Chiquinha Gonzaga — Mestres brasileiros (1999, Sonhos e Sons); Melodia sentimental (com Olivia Byington, 1987, Continental); H. J. Koellreuter 70 (1985, Funarte); A obra de José Vieira Brandão (1995, Conservatório Brasileiro de Música); II Concurso Jovens Intérpretes da Música Brasileira (álbum duplo, 1984, Funarte). Maria Teresa impressionou o público pela naturalidade com que explicou cada peça que executaria, demonstrando segurança e rigor em suas pesquisas.
O arquiteto Oscar Niemeyer anunciou, no dia 13 de abril, sua disposição de fazer o projeto arquitetônico para a construção da sede da ABI em Brasília, sem qualquer ônus para a entidade. “Faço o projeto e o ofereço à ABI como contribuição a uma instituição que tem antigo e sólido compromisso com a liberdade”, disse Niemeyer, que é sócio da ABI há mais de 50 anos, desde o tempo em que criou, dirigiu e editou a revista Módulo, a mais importante publicação de arquitetura já feita no País. Niemeyer manifestou seu propósito em reunião com o presidente da ABI, Maurício Azêdo, ao qual fez questão de receber imediatamente, menos de 24 horas após o pedido de encontro que lhe foi formulado pelo chefe da Representação da ABI em Brasília, jornalista Silvestre Gorgulho. Revelou Niemeyer que não se limitará a fazer o projeto e doá-lo à ABI: ele é amigo do Governador do Distrito Federal, Joaquim Roriz, ao qual vai fazer um apelo para que faça a doação de um terreno de propriedade do DF para a construção da nova sede. Azêdo informou a Niemeyer que a idéia da construção da sede da ABI em Brasília partiu do jornalista Silvestre Gorgulho, que considera necessária uma presença mais forte da entidade junto aos Poderes da República e a outras instituições da sociedade civil que contam com sede em Brasília, como a Ordem dos Advogados do Brasil. A
ABI, porém, não deixará de contar com a sede no Rio de Janeiro, que tem grande densidade histórica e constitui importante marco da arquitetura contemporânea brasileira e mundial. — Junto com o prédio do hoje chamado Palácio Gustavo Capanema, projetado a partir de um traço do arquiteto franco-suíço Le Corbusier — lembrou Niemeyer —, a sede da ABI constitui o ponto de partida da arquitetura moderna no Brasil. O prédio foi concebido pelos jovens arquitetos Marcelo e Milton Roberto na segunda metade dos anos 30 e apresentava já então soluções criativas e originais que até hoje causam admiração — disse Niemeyer. O Presidente da ABI relatou a Niemeyer que ainda hoje o prédio da ABI desperta interesse no exterior, como demonstrou a recente visita feita ao Edifício Herbert Moses, denominação do prédio, por numerosa turma de estudantes de Arquitetura da Universidade de Cottbus, cidade próxima a Berlim. Sob a orientação das professoras Margret Becker e Christiane Rathje, os universitários alemães percorreram vários andares da sede da ABI, que impressionou a jovem Nadine Stecklina pela evidência de que no Brasil há preocupação com a preservação da identidade original das edificações. Durante o encontro, Niemeyer e Azêdo evocaram alguns amigos comuns, como os falecidos jornalistas Ivan Alves e Mário Cunha, aos quais o arquiteto se referiu com muita ternura, contando episódios de que ambos participaram. — Esses dois eram homens de muito valor, patriotas, lutadores empenhados na transformação social — disse Niemeyer.
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Jornal da ABI VOTAÇÃO
CHOCOLATE A Chapa Prudente de Moraes vence a disputa para a renovação do terço do Conselho Deliberativo da ABI
JOSÉ CARLOS VELOSO
NA ELEIÇÃO DO CONSELHO al r o it le e to n o fr n o c o d s Os bastidore
O dissenso Inúmeros associados não entenderam a razão da formação da Chapa João Saldanha, articulada pelos Diretores Fichel Davit e Aristélio Andrade e encabeçada pelo então Vice-Presidente Milton Temer, todos integrantes da chapa vitoriosa na eleição de 2004, a Prudente de Moraes, ao lado de outros Diretores, como Maurício Azêdo, Presidente, Joseti Marques, Diretora de Jornalismo, e Domingos Meirelles, Diretor de Assistência Social. O grupo dissidente jamais expôs com clareza a razão de seu inconformismo, embora o jornal de campanha da Chapa João Saldanha publicasse um texto com referências a um suposto autoritarismo do Presidente Maurício Azêdo, além de menção a igualmente suposto mecenato do empresário Alberto Ahmed, proprietário do jornal Povo e aliado do grupo na eleição de 2004 e nas primeiras semanas da nova administração
Membros eleitos na Chapa Prudente de Moraes, neto
Sob a faixa, que enfureceu o comando da Chapa João Saldanha, ativos militantes da Chapa Prudente: Martha Arruda, Ucha, Barroso, Hélio Mathias, Maurício, Domingos, Modesto da Silveira e Joseti Marques
Conselho Deliberativo EFETIVOS Maurício Azêdo Alberto Dines Amicucci Gallo Ana Maria Costábile Araquém Moura Arthur Poerner Audálio Dantas Carlos Arthur Pitombeira Conrado Pereira Ely Moreira Fernando Barbosa Lima Joseti Marques Mário Barata Milton Coelho da Graça Ricardo Kotscho
Segismundo, ex-Presidente, com Maurício: ele não fez segredo de que votou na Chapa Prudente, sua adversária em 2004 AMICUCCI GALLO
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aos cargos que ocupavam na Diretoria: Milton Temer, Vice-Presidente; Aristélio Andrade, Diretor Econômico-Financeiro; Fichel Davit Chargel, Diretor Administrativo, e João Máximo, Diretor de Cultura e Lazer, que se afastara desse cargo em janeiro, por motivos pessoais. Também renunciou o Coordenador de Formação Continuada da Diretoria de Jornalismo, Conselheiro Vítor Mário Iório, que ocupava esse cargo por designação da Diretoria, e não por eleição. A renúncia coletiva foi depois formalizada em declaração encaminhada à Mesa da Assembléia, quando se iniciava a apuração da eleição, no dia seguinte.
JOSÉ CARLOS VELOSO
Foi um chocolate, como diz a gíria esportiva para definir as vitórias amplas, esmagadoras. Pela larga maioria de 184 votos, a Chapa Prudente de Moraes, neto venceu em 29 de abril a eleição para a renovação do terço do Conselho Administrativo da ABI, com quase o dobro dos votos atribuídos à Chapa João Saldanha, que recebeu 76 votos, e à Chapa Diretas Já, que obteve 26 –– menos, aliás, que o total de 37 candidatos nela inscritos. Como na tradição e na forma do Estatuto, a Assembléia-Geral Ordinária Anual da ABI dividiu-se em duas etapas, a primeira, no dia 28, dedicada à discussão do Relatório da Diretoria e do Parecer do Conselho Fiscal sobre as Contas da Casa e à apresentação de propostas, recomendações e moções. Já nesse primeiro dia ficou clara a ampla vantagem da Chapa Prudente de Moraes sobre a sua principal adversária. Presentes 107 associados, o mais alto quórum registrado em Assembléias-Gerais nos últimos anos, as discussões prolongadas provocaram a saída de muitos associados, premidos por compromissos profissionais e pessoais. Postos a votos, o Relatório da Diretoria e o Parecer do Conselho Fiscal foram aprovados por 51 votos a dois, com oito abstenções – – seis delas dos líderes da Chapa João Saldanha, que tiveram assim a primeira demonstração do seu isolamento. Antes mesmo que fosse suspensa essa etapa da Assembléia, os integrantes da Chapa João Saldanha comunicaram ao Presidente da Mesa, Conselheiro Ivan Cavalcanti Proença, que estavam renunciando
SUPLENTES Anísio Félix Chico Paula Freitas Edgard Catoira Geraldo Lopes Itamar Guerreiro Jarbas Domingos Vaz José Amaral Argolo José Pereira da Silva (Pereirinha) Lêda Acquarone Manolo Epelbaum Maria Vitarelli Pedro do Coutto Sidney Rezende Sílvio Paixão Wilson Magalhães
Conselho Fiscal Adriano Barbosa Hélio Mathias Henrique João Cordeiro Filho Jesus Antunes Jorge Saldanha Luiz Carlos Oliveira (Chester) Miro Lopes
O carinho de Lindolfo, AC Carvalho e Adriano acompanha Milton Salles até à urna.
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Jornal da ABI AMICUCCI GALLO
JOSÉ CARLOS VELOSO
JOSÉ CARLOS VELOSO
Hélio Fernandes, com Domingos Meirelles: foi a primeira vez que voltou à ABI após o falecimento de Barbosa Lima Sobrinho.
Sérgio Cabral e o Senador Sérgio Cabral Filho ouvem Walter Firmo, que não pôde votar: sua ficha, antiga, não foi localizada.
“Eu veto!” Apesar de manifestadas com veemência no âmbito do Conselho, as divergências pareciam amainadas até que, nos primeiros dias de março, os então Diretores Fichel Davit e Aristélio Andrade submeteram ao Presidente um requerimento de cessão de dependência da Casa para realização de uma reunião da Chapa Prudente de Moraes. O Presidente deferiu o pedido, mas indagou quais seriam os participantes da reunião, quais os partidários da Chapa. “Eu, você, Davit e outros companheiros”, respondeu Aristélio.
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Números de votantes das últimas eleições
290
206 187 139 112 108
1998
1999
99
2000
2001
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2002
2003
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No dia da reunião, ficou visível que a antiga harmonia entre os membros da Chapa Prudente de Moraes e da Diretoria estava na iminência de colapso, que afinal se consumou. O então Diretor Fichel Davit participou apenas de uma reunião, deixando evidente seu desagrado com o rumo das discussões para a formação da Chapa. O Diretor Aristélio, de seu lado, manifestou discordância em relação a alguns nomes propostos para a Chapa, como os dos associados Conrado Pereira da Silva, Maria Vitarelli e José Amaral Argolo. Sobre o associado Conrado, Secretário da Diretoria de Assistência Social, na qual este dá expediente durante várias horas todo dia, Aristélio foi peremptório: “Eu veto o Conrado!” Após advertido de que ele, individualmente, não detinha poder de veto, como o atribuído aos cinco países com assento permanente no Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (Estados Unidos, Rússia, Grã-Bretanha, França e China), Aristélio abandonou a reunião e passou a articular, com Fichel Davit e outros, a formação da Chapa João Saldanha, cuja denominação foi por ele proposta. Além de buscar adesões para a formação de sua chapa, o grupo levou vários partidários da Chapa Prudente de Morais em 2004 a recusar nova candidatura no pleito de 2005 para inviabilizar a formação da Chapa Prudente de Moraes. A manobra foi não apenas frustrada, como permitiu o fortalecimento da Chapa Prudente de Moraes, que, com a desistência de antigos membros, pôde incorporar à sua lista nomes da expressão de Ana Maria Costábile, Arthur Poerner, Audálio Dantas, o próprio Conrado Pereira da Silva, Ely Moreira, Fernando Barbosa Lima, Joseti Marques e Ricardo Kotscho, entre os candidatos a membros efetivos do Conselho Deliberativo; Chico Paula Freitas, Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz, José Amaral Argolo, José Pereira da Silva (Pereirinha), Manoel Epelbaum,
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da ABI, quando Ahmed se afastou da Casa. Membros do Conselho Deliberativo da ABI, porém, tinham informações sobre divergências no seio da Diretoria, como ficou claro no debate travado na reunião de fevereiro do Conselho, em que questões administrativas puseram em confronto o Presidente e o Diretor de Assistência Social, de um lado, e o Vice-Presidente, o Diretor Econômico-Financeiro e o Diretor Administrativo, do outro. Um dos centros da disputa era o controle do Jornal da ABI e do site da Casa, subordinados à Diretoria de Jornalismo, como determina o Estatuto, e objeto do interesse dos então Diretores Temer e Fichel.
Arthur Poerner, com Maurício: defecções na Chapa Prudente permitiram seu fortalecimento, como a entrada de Poerner.
Todo ano é ano de eleição O jornalista e acadêmico Cícero Sandroni votando. Ao fundo, Antônio Carlos Austregésilo de Athayde.
Pedro do Coutto, Sidney Rezende, Sílvio Paixão e Wilson Magalhães, entre os suplentes. Os patronos da Chapa João Saldanha deram um tiro no pé. Última manobra A derradeira manifestação de inconformismo dos derrotados pela Chapa Prudente de Moraes deu-se pouco antes do encerramento da Assembléia-Geral, quando o Presidente da Mesa, Ivan Cavalcanti Proença, aguardava o texto da Ata dos trabalhos, para declará-los concluídos. Designada Secretária da Mesa, como vinculada à Chapa João Saldanha, juntamente com o associado Agis Mendonça Pereira, membro da Chapa Diretas Já, a associada Antonieta Vieira dos Santos irrompeu inopinadamente no recinto da Assembléia, o Auditório Oscar Guanabarino, jogou sobre a mesa as anotações sobre o decurso da reunião até àquele momento e comunicou, irada, que não faria a Ata, encargo que lhe fora atribuído e que ela aceitara. Tentava assim essa associada criar problemas para os vitoriosos, pois a elaboração, aprovação e registro da Ata são essenciais para a legitimação do todo o processo deliberativo da Casa. Foi outro tiro no pé: com competência e paciência e o auxílio de associados, o Presidente Ivan Cavalcanti Proença redigiu a Ata e a firmou, para a produção dos fins de direito. Foi o último chocolate imposto pela Chapa Prudente de Moraes, neto.
A ABI é uma instituição tão democrática que tem eleição todo ano, no mês de abril, o mês de sua fundação, em 1908. A cada ano os sócios são chamados a eleger 15 membros efetivos e 15 membros suplentes do Conselho Deliberativo da Casa, composto por 45 membros efetivos e 45 suplentes. Tal como acontece com o Senado Federal, que numa eleição tem dois terços dos seus membros escolhidos para um mandato de oito anos e na eleição seguinte assiste à do terço restante para mandato da mesma duração, também na ABI a composição do Conselho Deliberativo se dá por etapas, com um terço eleito a cada ano para um mandato de três anos. Na eleição de 29 de abril, o corpo social elegeu 15 efetivos e 15 suplentes do Conselho Deliberativo para o triênio 2005-2008, os quais se juntam aos do terço eleito em 2003 para o triênio 2003-2006 e aos do terço escolhido para o triênio 2004-2007. Como era Até à reforma do Código Civil, a Diretoria da ABI era eleita pelo Conselho Deliberativo, então chamado de Conselho Administrativo, e não pelo voto direto dos associados, inovação imposta pelo novo Código e adotada na Casa a partir de abril de 2004. O mandato da Diretoria era então de dois anos; agora, é de três anos, inovação instituída também pela reforma determinada pelo novo Código Civil. Além do terço do Conselho Deliberativo, a eleição anual escolhe também os sete membros do Conselho Fiscal, eleitos para um mandato de um ano. No entendimento de muitos sócios, o Conselho Fiscal deveria ter mandato de três anos, tal como a Diretoria, para poder acompanhar o desempenho desta do começo ao fim do mandato. Essa mudança poderá ser examinada em eventual reforma do Estatuto, a ser proposta proximamente.
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Jornal da ABI QUEM VOTOU A
“Falsificaram minha assinatura”, diz Loureço Gomes.
Chapa Diretas Já fraudou documentos A Chapa Diretas Já, encabeçada elo associado José Teixeira Peroba, adulterou documentos do processo de registro para as eleições do Conselho Deliberativo. Como não teve tempo de obter as assinaturas de vários candidatos na declaração de autorização de inclusão de seu nome na chapa, os responsáveis pela Diretas Já utilizaram impressos de eleição anterior assinados por candidatos e promoveram uma grosseira adulteração da data, trocando o algarismo final por outro, o 5 de 2005, para completar o número de autorizações necessárias ao registro das chapas – 15 candidatos a membros efetivos do Conselho Deliberativo, 15 a suplentes e sete a membros do Conselho Fiscal. A fraude só foi descoberta na véspera da eleição, quando as chapas já estavam registradas, porque um dos associados incluídos na Chapa Diretas Já, Frederico Lourenço Gomes, ao receber o jornal de campanha da chapa do ex-Tesoureiro Peroba, estranhou a inclusão de seu nome nesta. Partidário da Chapa Prudente de Moraes na eleição de 2005, ainda que pudesse ter integrado a Diretas Já em eleição anterior, Frederico Lourenço Gomes tratou de telefonar imediatamente para a Presidência da ABI a fim de esclarecer que não integrava a Chapa Diretas Já nem iria votar nela. Informado de que essa Chapa havia apresentado declaração dele autorizando a sua candidatura, Frederico Lourenço Gomes foi claro e direto na contestação. – Eu não assinei declaração alguma. Se há algum papel com a minha assinatura, a assinatura foi falsificada. Diante da denúncia de Frederico Lourenço Gomes, a Comissão Eleitoral procedeu ao exame da documentação encaminhada pela Chapa Diretas Já e comprovou a procedência da revelação de Lourenço Gomes: no documento de autorização, o último algarismo da data 2005 estava grosseiramente adulterado. Apurou a Comissão que a mesma falsificação foi registrada nas declarações de autorização atribuídas aos candidatos João Batista de Almeida Flores, Reinaldo Santos, Antônio Nogueira Lyra, Luiz Bogéa Nogueira da Cruz e Antônio Domínguez Calvo. Esses candidatos integravam e apoiavam realmente a Chapa Diretas Já, mas não tiveram tempo de autorizar a inscrição de seu nome na Chapa no prazo fixado pela Comissão Eleitoral – 8 de abril. O comando da Chapa Diretas Já não vacilou diante da dificuldade: meteu a caneta e adulterou a data de documento originário de eleição anterior. A Comissão Eleitoral não cancelou o registro da Chapa Diretas Já por dois motivos: primeiro, pelo fato de as três chapas concorrentes já estarem registradas; segundo, porque, se determinado na véspera do pleito, o cancelamento da Chapa Diretas Já poderia dar aparência de vítimas àqueles que conceberam e executaram a fraude. O encerramento do processo eleitoral, porém, não sepulta o assunto, já que o Conselho Deliberativo, provocado por qualquer dos seus membros, pode instaurar procedimentos para apurar a fraude e punir seus autores, na forma estatutária.
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Achylles Armando J. Peret Adail José de Paula Adriano do Nascimento Barbosa Adroaldo Peixoto Garani Agis Mendonça Pereira Alessandro Rocha Fonseca Alexandre Madruga Gomes Alfredo Aurélio de Belmont Pessoa Alípio Mendes Altenir dos Santos Rodrigues Altenir Santos da Rocha Ana Maria Costabile Soibelman André Brugni Aguiar André Luiz Fernandes Andries André Luiz Lacê Lopes Andrei Bastos Anísio Félix dos Santos Antonieta Vieira dos Santos Antônio Calegari Antonio Carlos Austregésilo de Athayde Antonio Carlos de Carvalho Antônio Castigliola Antônio de Oliveira Ramos Filho Antônio Domínguez Calvo Antônio Idaló Neto Antônio José de Almeida Filho Antônio José Ferreira Libório Antônio M. Lopes Filho Antonio Modesto da Silveira Antônio Mota Carneiro Antônio Nery Antônio Nogueira Lyra Antônio Roberto Salgado da Cunha Antônio Rodrigues de Paula Filho Antônio Vivaldo de Azevedo Araquém Moura Roulien Archibaldo Deslandes Figueira Argemiro do Carmo Lopes do Nascimento Aristélio Travassos de Andrade Armando Miceli Arthur Cantalice Arthur Fraga Filho Artur Verner Aziz Ahmed
B Beatriz de Oliveira Santacruz Lima Beatriz Joana I. Bisso S. Neiva Moreira Beatriz Lore Bernardino Capell Ferreira Bertha Noevna Nutls Bruno Torres Paraíso
C Carlos Alberto Marques Rodrigues Carlos Alberto Oliveira dos Santos Caó Carlos Arthur Pitombeira Carlos Arthur Pitombeira Júnior Carlos Elpenor Frontelmo de Laet Carlos Gilberto Ferro Carlos Henrique Campany Nicolau Carlos João Di Paula Carlos Jurandir Monteiro Lopes Carlos Ruas Carlos Simões Celso Cordeiro Cícero Augusto Ribeiro Sandroni Cícero Lima Cid de Queiroz Benjamim Cidmar Branco Brandão Cleyber Fintelman de Oliveira Clóvis Assunção de Melo Conrado Pereira Ribeiro da Silva Continentino Porto
D Daniel Magela Fróes de Castro Daniela Sepúlveda Davit Soares Telles Dilahi de Queiroz Chaves Dirmar Reis Cayret de Souza Djalma Jacintho Filho Domingos Augusto Germano Xisto da Cunha Domingos João Meirelles Dulce Tupy Caldas
E Édina Silva de Moraes Eleonora Grazina Monteiro Elias Fajardo da Fonseca Elizabete Romero Eloy dos Santos Ely Moreira da Silva Elza Soares Ribeiro Érika F. Hero Werneck Ermelindo Rossa Pereira Erno Schneider Estanislau Alves de Oliveira
F Fernando Antônio Pinto Pena Fernando Figueira Milfoni Fernando Barbosa Lima Fernando João Abelha Salles Fernando José de C. Paulino Fernando Segismundo Esteves Fichel Davit Chargel
Francisco Carlos Ucha Montoto Francisco Paula de Freitas Francisco Paulino Vieira dos Santos Francisco Paulo Aragão Francisco Pedro do Coutto Francisco Silva Canavarro Frederico Lourenço Gomes
G Geraldo do Carmo Ribeiro Gerdal Renner dos Santos Germando de Oliveira Gonçalves Gilberto Francisco Braga Magalhães Gilson Monteiro Gilson Vaz Fontes Glória Suely Alvarez Campos
H Héctor Elisio Escobar Hélio Fernandes Hélio Mathias Henrique João Cordeiro Filho Heris Arnt Telles Ferreira Herval da Silva Faria Hildeberto Lopes Aleluia
I Iarly Goulart Ib Teixeira Ilma Martins da Silva Irene Cristina Gurgel do Amaral Israel Manoel da Paixão Itamar Guerreiro Ivan Cavalcanti Proença Ivan Costa Ivan L. Dias Júnior
J Jadyr Vogel Jarbas Domingos Vaz Jayme Guimarães Moraes Jefferson Salomão de Franco Jesus Edgard Mendes Catoira Jesus Soares Antunes João Batista Barroso de Menezes João Carlos Silva Cardoso João Gomes de Moraes João Máximo Ferreira Chaves Jonas Vieira Jorge Antonio Barros da Costa Jorge Milton Temer Jorge Nogueira dos Santos Jorge Nunes de Freitas Jorge Ribeiro da Silva Jorge Roberto Martins Jorge Saldanha de Araújo José Amaral Argolo José Benedicto de Assis José Carlos Rego José Cristino Costa Ferreira José de Alcântara Barbosa José Edmundo de Araújo Neto José Fernandes José Ferreira de Moraes José Gomes Talarico José Henrique Cordeiro José Jorge de Souza José Machado Silveira José Pereira da Silva José Reinaldo Belisário Marques José Rezende Neto José Teixeira Peroba Joseti Marques Xisto da Cunha Juçara Cristina Braga dos Santos Júlio Camargo da Silva
K Kátia Maria Thomas Klécio Barata Santana Kepler Alves Borges
Marco Aurélio Barrandon Guimarães - Jangada Marcos A. S. A. Mello Mattos de Castro Marcos Alexandre de Souza Gomes Marcos Antonio Mendes Miranda Marcos Tristão Chargel Maria Aparecida da Silva Maria Cecília Ribas Carneiro Maria das Dores Augusta dos Santos Maria de Souza Lima Maria do Céu Sá da Silveira Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli Maria Ignês Duque Estrada Bastos Maria Lúcia Amaral Maria Nilza Pereira da Silva Portocarrero Marilia Viana Ferreira Mário Antônio Barata Mário Augusto Jakobskind Mario Edmar Fonseca Mota Marlene Silva Martha Arruda Dias de Paiva Maurício Enéas S. Barbosa Maurílio Cândido Ferreira Milton Coelho da Graça Milton Corrêa Sales Moacyr Andrade Moacyr Bahia de Lacerda Murilo da Cunha Mello Filho Murilo Lopes Monteiro
N Nacif Elis Hidd Sobrinho Natal Wellington R. Furucho Nelson Soares de Alvarenga Neuza de Assis da Cruz Nilo Marques Braga Nilo Sérgio Silva Gomes Nivaldo Pereira
O Oliveiros Lessa Litrentos Oscar Maurício de Lima Azêdo Oséas Martinho de Carvalho Osmar Amicucci Gallo Osmar de Araújo Frazão Osvaldo Peres Maneschy
P Paulo Cavalcanti Valente Paulo Francisco Nogueira Paulo Jerônimo de Souza Paulo Roberto Gravina
R Raquel de Oliveira Santos Raul Romeu Ewerton Quadros Regina Maria de Alvarenga Bonin Renato Alves Renato Guimarães Cupertino Roberto Gouthier dos Santos Roberto Murcia Moura Rogério Fabiano da Rocha Pinto Rogério Imbuzeiro Barroso Rogério Marques Gomes Romildo de Castro Guerrante Ronaldo de Souza Reis Rosangela da Silva Machado Rubem Mauro Machado Ruth Pereira Lima Ruy Mesquita Bello
S Sérgio Cabral Santos Sérgio de Oliveira Cabral Filho Severino Mendes da Rocha Silvio Martins Paixão Solânio Barbosa Sônia Maria Ferreira Sônia Maria Nascimento Góes Sylvio Pélico Leitão Filho
L
T
Laerte Costa Gomes Lauro Lacroix Leivas Lêda Acquarone Lenin Novaes de Araújo Léo Malina Ligia Moreira Bastos Lílian Costa Nabuco dos Santos Lindolfo Machado da Rosa Loris Baena Cunha Luarlindo Ernesto da Silva Lucio Natalicio Clarindo Lucy Mary Corrêa Moreira Carneiro Luiz Alexandre Lafayete Stocker Luiz Antônio dos Santos Luiz Carlos de Oliveira Chester Luiz Carlos de Souza Luiz Fernando Taranto Martins Luiz Guilherme de O. Pinto Luiz Roberto Pio Borges da Cunha Luiz Sérgio Caldieri Luiza Helena Sampaio Corrêa Mariani Lygia Maria Collor Jobim
Tadeu de Aguiar Tamar de Castro Vieira Tatiana Magalhães Noronha Telmesso Pirassol Ruas Thadeu Ferreira dos Santos Tobias Pinheiro Trinitário Albacete de Souza
M Manoel Epelbaum Manoel José Roberto Félix Manoel Lopes Diniz Manoel Pacheco dos Santos Márcio Bueno Fereira Márcio Novotny da Purificação
U Ubirajara José dos Reis Loureiro Ubirajara Moura Roulien Ulisberto Lelot Ulisses Cláudio Lonzetti
V Valtair de Jesus Almeida Vera Helena Semyl Verônica dos Santos Coutinho Vicência Pinto Haluey Vitor Mário Iório
W Wilson Ferreira de Souza Wilson Rocha Meireles Wilson Santos Jacintho Magalhães
Y Yeda Octaviano de Souza Yolanda Stein
Z Zair Augusto Cansado Zilda Ferreira Zilmar Borges Basílio
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Jornal da ABI LIVROS
Cavalcânti sai do esquecimento
O chão de Graciliano, por Audálio
Mário Augusto Jakobskind
A coleção A Infância de..., do Instituto Callis, começou bem: com Tarsila do Amaral, por Carla Caruso, e agora Graciliano Ramos, por Audálio Dantas, lançado no início de abril, no Sesc-Pompéia, em São Paulo. O livro reconta a história do escritor quando menino, contada por ele mesmo em prosa dura e seca, e traz um relato dos medos, das angústias e da dolorosa descoberta do mundo no sertão nordestino. O projeto gráfico e as ilustrações são de Camila Mesquita e as fotos, de Tiago Santana, também autor do ensaio fotográfico O chão de Graciliano. — O projeto do livro é, na verdade, um filhote da exposição O chão de Graciliano, da qual sou o curador e que reúne imagens e documentos sobre a vida e a obra de Graciliano Ramos — conta Audálio, acrescentando que escrever sobre o autor de São Bernardo e Vidas Secas era um projeto antigo.— A obra de Graciliano me acompanha desde os primeiros passos na profissão de jornalista. Sua escrita desprovida de enfeites e de adjetivos desnecessários é um exemplo a ser seguido. No livro, Audálio conta a dificuldade que Graciliano Ramos enfrentou para aprender a ler e a escrever e como a paciência e o carinho de uma irmã e de uma professora o ajudaram a descobrir a magia das palavras. O livro é a primeira experiência do jornalista com o público infanto-juvenil.— De certa forma, é um desafio, pois escrever para crianças e jovens exige a busca de uma linguagem adequada. Acho que consegui isso sem cair naquela de que criança não entende e por isso temos que escrever em tatibitate. Já estou trabalhando em outros, como os da infância de Rachel de Queiroz e Guimarães Rosa. Nascido no interior de Alagoas, como Graciliano, Audálio Dantas sempre se interessou pela história de vida do escritor que agora mostra em livro com muita delicadeza: — Além de admiração intelectual, sou do mesmo pedaço de chão em que ele nasceu e pertencemos ao mesmo tronco familiar materno, o dos Ferreira Ferro.
H
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Embora relegado a segundo plano no Brasil, Cavalcânti — “que sempre procurou entender o povo, a cultura, o ambiente, pensar e sentir de acordo com o meio em que vivia, antes de lançar-se como diretor” — dirigiu alguns filmes no País, um deles a comédia dos anos 50 Simão, O Caolho, que teve boa aceitação popular. O comentário mais significativo sobre a injustiça do não reconhecimento de Alberto Cavalcânti pela mídia e pelo mundo cinematográfico brasileiro fica por conta de Françoise Gilbert, responsável pelo arquivo e pelos objetos pessoais do diretor: “Para o Brasil não tenho nada a declarar. Ele foi um artista conhecido internacionalmente e não somos nós que devemos falar sobre o seu trabalho ou sobre a sua vida em Paris. Cabe a vocês, brasileiros, perguntarem o porquê de essa pessoa maravilhosa jamais ter sido conhecida em sua própria terra.” É possível que, se fosse informada de que 23 anos após da morte de Alberto Cavalcânti — em 1982, aos 85 anos — o jornalista Sérgio Caldieri lançou esse importante trabalho de resgate histórico, Françoise falasse com mais carinho sobre a questão. Alberto Cavalcanti, o cineasta do mundo é leitura obrigatória para os cinéfilos e para os que quiserem conhecer uma reportagem histórica de peso — e que, de certa forma, reforça o processo de resgate no país onde nasceu esta figura de relevo da cinematografia mundial. O bairro de Campo Grande, na Zona Oeste do Município do Rio de Janeiro, pode de certa forma ser a exceção à regra dessa rotina de desconhecimento. Lá, recentemente, foi inaugurada uma escola pública com o nome do cineasta e os alunos se interessaram em conhecer melhor o personagem. Depois de reproduzirem uma foto de Cavalcanti em camisetas, pediram aos professores para terem acesso a algum filme dirigido por ele. Passaram a conhecer com mais detalhes sua vida ao terem acesso a Alberto Cavalcânti, o cineasta do mundo. AGÊNCIA O GLOBO
á muito tempo as editorias tas. Helena Wiegel, a grande atriz alede cultura estão em falta mã, última esposa do poeta, estava com um cidadão do mundo, presente. Quando eu olhava em direde nacionalidade brasileira, que se inção ao cemitério contíguo, Brecht tosere na galeria dos mais importantes mou o meu braço e me levou para diretores de cinema do planeta. Trauma janela de onde podia mostrar-se ta-se de Alberto Cavalcânti, um cao túmulo de Hegel. Hoje o túmulo do rioca que fez cinema, do bom e do poeta se encontra justamente ao lado melhor, em países como França, Indo daquele grande filósofo.” glaterra e Israel. Aqui no Brasil, ele Em um congresso de cinema realideu o pontapé inicial para a criação zado em La Sarras, Suíça, Cavalcanti da Companhia de Cinema Vera Cruz, conheceu outra figura exponencial da em São Bernardo do Campo, em 4 cultura mundial, o cineasta russo de novembro de 1949. Sergei Eisenstein. Numa época em Agora, neste início de 2005, o jorque a França estava voltada para o nalista Sérgio Caldieri conseguiu, fifascismo e as autoridades não querinalmente, resgatar este personagem esquecido Com renome no cinema mundial Cavalcânti é pela mídia e pelo cinema praticamente ignorado brasileiro, lançando o liem sua terra, o Brasil vro Alberto Cavalcânti, o cineasta do mundo pela Editora Teatral. Além de bemescrita, a reportagem histórica de Caldieri conta, em detalhes, passagens importantes da vida do cineasta que, reconhecido internacionalmente, ficou no ostracismo no Brasil por motivos inex-plicáveis — ou talvez pelo fato de nunca se ter alinhado a alguma corrente políticocultural, apesar do seu engajamento na questão social. am a permanência de Eisenstein no Em 1941, por exemplo, no auge da país, Cavalcânti, corajosamente, orgaII Guerra Mundial, Cavalcânti vivia nizou um manifesto, pedindo apoio na Inglaterra e fez uma sátira ao ditaaos diretores franceses para que o rusdor italiano Benito Mussolini com o so ficasse. O manifesto teve apenas filme Yellow Caesar, equiparado pela duas adesões: a de Jean Benoit Lévy e crítica a O Grande Ditador, de Charles a do próprio Cavalcanti. Chaplin. Caldieri lembra mais um Também arquiteto, formado na detalhe: o roteirista do filme, Michael Suíça, Cavalcânti realizou trabalhos Foot, acabou tornando-se Ministro de importantes na época do cinema Estado na Inglaterra, em 1977. Em mudo, sendo responsável por 126 filqualquer livro de cinema escrito aqui mes e ingressando no Olimpo dos Chaplin pode ser encontrado com cergrandes diretores com En rade, de ta facilidade; já Alberto Cavalcanti... 1926. Já consagrado, confirmou seu O próprio Cavalcânti conta em aguçado senso social ao dirigir Rien que suas memórias — citadas no livro de les heures, que mostra uma visão nada Caldieri mas até hoje não editadas — turística de Paris e é considerado um o encontro que teve com a mais immarco do início do realismo cinemaportante figura do teatro mundial do tográfico — na época, incomodou os século passado. O motivo foi a peça censores, que cortaram trechos do filde Bertolt Brecht, O Senhor Puntila e me, e Cavalcânti não fez por menos, seu criado Matti, que Cavalcânti acaenxertando em cada lacuna cartões bou adaptando para o cinema. Disse que diziam “parte cortada pela ceno carioca: “Nunca pude esquecer misura”. O fato produziu grande efeito nha chegada à casa do poeta, na e o filme foi liberado na íntegra, além Chausseestrasse. As janelas do salão de ter possibilitado a entrada de seu do primeiro andar estavam todas abercriador no cinema inglês.
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Jornal da ABI MOBILIZAÇÃO
A MORTE INGLÓRIA DA MP 232 Resistência dos contribuintes barrou o arrocho fiscal imaginado pelo Ministro Palocci
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urou pouco mais que um verão a tentativa do Minis tro Antônio Palocci e seus subordinados da Secretaria da Receita Federal de impor o arrocho fiscal ao setor de prestação de serviços, previsto na Medida Provisória nº 232, que ganhou espaços nos meios de comunicação entre janeiro e março com o código MP 232 e terminou sepultada na Câmara dos Deputados logo em princípio de abril. Com a malsinada MP, Palocci & Cia. pretendiam impor um acréscimo nominal de 8% e real de 25% no Imposto de Renda de jornalistas e de artistas de televisão, que atualmente são obrigados pelas empresas a se registrarem como pessoas jurídicas, forma que o patronato da área encontrou de se livrar dos encargos trabalhistas, fiscais e previdenciários. Pela proposta palocciana, o IR desses contribuintes seria elevado de 32% para 40%, o que significava um aumento real de 25%, e não apenas de 8%, como aparentava. Atenta aos gravames que a MP impunha aos jornalistas, a ABI engajouse desde a primeira hora na ampla mobilização promovida por instituições da sociedade civil e da classe empresarial para derrubar a proposta do Ministério da Fazenda, que publicou a Medida no último dia do exercício de 2004, para aparente respeito ao princípio da anualidade fiscal e vigência no exercício de 2005. Foi tão apressada a iniciativa da Fazenda que a MP fixou prazo que se encerraria antes que o Congresso Nacional iniciasse a sessão legislativa deste ano. Com isso, também, a Receita Federal passaria a cobrar desde logo a majoração imposta tanto ao Imposto de Renda como à Contribuição Social Sobre o Lucro Líquido-CSLL, que grava as empresas prestadoras de serviço. Em princípio de janeiro, a ABI participou do seminário programado pelo Sindicato das Empresas Prestadoras de Serviços do Estado do Rio, cujo Presidente, Benito Paret, tomou a iniciativa de articulação da resistência à MP no âmbito do Estado do Rio de Janeiro. Em fevereiro, a ABI fez-se presente no ato público Reage, Brasil, convocado pela Associação Comercial do Rio de Janeiro e pela Assembléia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro e no qual participou da ampla mesa de coordenação dos trabalhos, presididos pelo Embaixador Marcílio Marques Moreira, Presidente da Associação Comercial, e pelo Deputado Jorge Picciani, Presidente da Alerj. Já nesse encontro ficou visível que a MP 232 teria vida curta como proposta legislativa e logo teria morte
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inglória. Na abertura dos trabalhos o Senador Sérgio Cabral Filho (PMDBRJ) rejeitou a hipótese de apresentação de emendas ao projeto do Executivo, porque estas poderiam criar um “monstrengo legislativo”. O Presidente da ABI, Maurício Azêdo, um dos últimos oradores do ato, defendeu a rejeição pura e simples da MP, como preconizara o Senador Sérgio Cabral. A Deputada Laura Carneiro (PFL) admitiu como única medida aceitável da MP a atualização dos valores da tabela do imposto de renda, a qual, assinalou, poderia ser implantada com a aprovação de um projeto de lei com essa finalidade já então em tramitação avançada no Senado Federal. Alguns dos muitos parlamentares presentes admitiam, porém, a apresentação de emendas ao projeto, caso se desenhasse a possibilidade de sua aceitação pela maioria do Congresso. O Deputado Francisco Dorneles (PP) revelou que já apresentara 11 emendas à proposição, enquanto a Deputada Jandira Feghali (PCdoB) deu conta de duas emendas que apresentou, uma das quais destinada a restabelecer um direito dos contribuintes que o projeto de Palocci pretendia suprimir: o de recorrer contra o Fisco na esfera administrativa, e não apenas no Judiciário, limitação que a MP instituía. Dois parlamentares revelaram que seus partidos havia fechado questão contra a MP. O Deputado Rodrigo Maia (PFL) informou que o Diretório Nacional do seu partido decidira que os membros de sua bancada não poderiam votar a favor da MP nem se abster de comparecer à Câmara para a votação, nem mesmo alegando viagem ao exterior ou motivo de doença, que só seria admitido em caso de operação cirúrgica grave. O Deputado Eduardo Paes (PSDB) informou que também o seu partido fechara questão contra a MP, como anunciara na véspera o Deputado Alberto Goldman (SP), ao assumir a liderança da bancada. Além do Senador Sérgio Cabral e dos Deputados Francisco Dorneles, Laura Carneiro, Jandira Feghali, Rodrigo Maia e Eduardo Paes, tiveram assento à mesa dos trabalhos, o Vice-Prefeito do Rio, Otávio Leite, e os Deputados Edson Ezequiel (PMDB), Moreira Franco (PMDB), Miro Teixeira (PT), Fernando Lopes (PMDB), Jair Bolsonaro (PFL) e Leonardo Picciani (PMDB). Compuseram ainda a mesa o Assessor Especial da Presidência da Associação Comercial Humberto Mota, o Presidente da Ordem dos Advoga-
dos do Brasil-RJ, Otávio Gomes, o Presidente da ABI e o Presidente da Federação do Comércio do Estado do Rio de Janeiro-Fecomércio, Orlando Santos Diniz. Na primeira fila da platéia, mas também considerados como integrantes da mesa, estavam vários deputados estaduais, entre os quais Alice Tamborindeguy (PSDB), Edmilson Valentim (PCdoB), Luiz Paulo (PSDB), Paulo Ramos (PDT) e Samuel Malafaia (PMDB). Em sua intervenção, o Deputado Eduardo Paes informou que elaborou um estudo sobre o impacto da MP na diminuição do nível de emprego na economia fluminense, da qual 70% são do setor de serviços. Esse ponto foi igualmente salientado pela representante das empresas de transporte de cargas, Tânia Drummond, ao revelar a preocupação das 47 mil empresas do setor, que respondem pela manutenção de 3 milhões de empregos, com os pesados ônus criados pela MP. Já o Presidente da Asssociação de Dirigentes de Empresas do Mercado Imobiliário-Ademi, Márcio Fortes, ressaltou o absurdo da taxação sobre o lucro presumido, cuja alíquota é fixada em 40% do montante do faturamento. Ele perguntou à numerosa platéia, integrada por empresários e entidades da sociedade civil: - Vocês conhecem alguma atividade que ofereça 40% de lucro sobre o valor faturado? Pois foi da premissa de uma resposta afirmativa a essa questão que partiram os autores do texto da MP. Dado o grande número de oradores inscritos ou convidados a falar
A carga tributária atual é intolerável Antes da fase de intervenções, o Presidente da Associação Comercial convidou o Presidente da OAB-RJ, Otávio Gomes, a proceder à leitura do manifesto “Reage, Brasil”, a qual foi seguida por intensos aplausos. Dizia o documento em seus pontos essenciais: 1. a pretexto de compensar alegadas “perdas de arrecadação”, a MP busca de forma autoritária e extemporânea - editada que foi , sem o mínimo de discussão prévia, no último dia de 2004 – aumentar a carga tributária incidente sobre setores-chave da economia; 2. a MP atinge especialmente o setor de serviços e o agropecuário, já onerados recentemente por sucessivos aumentos de seus tributos, e tolheria os direitos de defesa dos contribuintes-cidadãos, especialmente os das pequenas e médias empresas;
(Miro Teixeira, Bolsonaro, Fernando Lopes, Otávio Leite, Orlando Santos Diniz, Humberto Mota, Leonardo Picciani e, abrindo e encerrando a sessão, Jorge Picciani e Marcílio Marques Moreira, além dos já mencionados), a mesa concedeu o tempo de três minutos para cada intervenção, o suficiente para o Deputado Leonardo Picciani definir a MP como “um saco de maldades” e o Presidente da ABI, convidado a falar, apontar o Secretário da Receita Federal, Jorge Rachid, responsável pelo texto da MP, como empenhado em escorchar os contribuintes, como os jornalistas assalariados transformados em prestadores de serviços, que sofrem um aumento de 25% na alíquota do imposto de renda, e assim arrecadar mais para pagar os juros da dívida interna. Numa das últimas intervenções, o Deputado Edson Ezequiel informou que as autoridades do Ministério da Fazenda esperavam arrecadar com as medidas incluídas na MP R$ 1,3 bilhão em 2005 e outro tanto em 2006, o que significaria uma sangria de R$ 2,6 bilhões nos contribuintes. Ezequiel entendia que os adversários da MP deveriam trabalhar para a sua rejeição com um Plano A e um Plano B, o primeiro visando a reunir forças e votos na Câmara dos Deputados para a devolução da MP ao Poder Executivo, com a recusa, portanto, de todo o seu teor; o Plano B, prevendo a realização de estudos e reuniões que considerassem hipótese de insucesso na rejeição total da MP e definissem “as formas de atenuar sua face nefasta”.
3. a carga tributária encontra-se em nível intolerável para muitos setores e inibidor das atividades da economia em geral e voltou a se expandir em 2004, quando se estima tenha atingido nível recorde superior a 36% do produto interno bruto; 4. os gastos correntes, além de serem de qualidade altamente discutível, têm crescido tanto no item pessoal como no de custeio, em contraste com a evolução do investimento público, que “tem sido contido a níveis insuficientes até mesmo para assegurar a conservação, em padrões mínimos, da infra-estrutura do País”. Firmado pelo Embaixador Marcílio Marques Moreira e pelo Deputado Jorge Picciani, “Reage, Brasil” proclamava que “é dever das entidades de classe manifestar-se sobre temas cujo tratamento adequado e equânime, ou não, pode vir a determinar tanto o presente quanto o futuro do País e de sua sofrida população”.
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Jornal da ABI LIBERDADE DE IMPRENSA
Ao alto e no detalhe: seguranças truculentos agridem a repórter Márcia Fornari.
Depois de Luma, também a Cicarelli enseja violência Depois de Luma de Oliveira, protagonista de episódio que resultou na agressão ao repórter-fotográfico Cassiano de Souza no Txai Resort, em Itacaré, no Sul da Bahia, no final de novembro passado, foi a vez de a modelo Daniela Cicarelli, então recém-casada com o jogador Ronaldo Fenômeno, ensejar agressão a um profissional de imprensa. A vítima, em 31 de março, foi a repórter Márcia Fornari, do diário O Fluminense, de Niterói, RJ, agredida, arrastada, agarrada, empurrada e expulsa do Hospital de Clínicas da antiga capital fluminense quando cobria o atendimento à modelo, internada na clínica, com náuseas e enjôo, às nove horas da noite daquele dia. Com a habilidade de repórter de Geral, Márcia Fornari conseguiu não só entrar no Hospital como, com a ajuda de funcionários, alcançar o quarto andar do prédio, onde a Cicarelli, que chegara acompanhada de Ronaldo, era examinada e medicada. Não fora nada grave, apenas uma indisposição, que se manifestou na festa de casamento de um dos empresários do craque, Fabiano Farah, na Maison Cascade, no elegante bairro de Charitas, Zona Sul de Niterói. Seguranças e um motorista, dados como a serviço de Ronaldo, não gostaram da atuação de Márcia e a trataram com violência: dois deles, os mais exaltados dentre vários, arrebataram o celular da jornalista, rasgaram sua roupa e a jogaram no chão. Depois, arrastaram-na para fora do Hospital.
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As violências contra Márcia foram documentadas por uma equipe de reportagem da Rede TV! e pelo fotógrafo Ronnie Farias, de O Fluminense, que dedicou à ocorrência toda a metade superior da primeira página e mais de metade da página três da edição de 1 de abril. Após a agressão, Márcia Fornari prestou depoimento na 76ª Delegacia de Polícia, em Niterói, e fez exame de corpo de delito na unidade do Instituto Médico-Legal sediada em Tribobó, na antiga capital. Não há notícia de que ao registro da ocorrência se tenham seguido investigações para identificação e punição dos agressores, dois deles seguranças do jogador. A ABI expressou sua solidariedade com a jornalista e seu repúdio à ação dos agressores. Naqueles dias estava começando a circular a edição do número 298 do JORNAL DA ABI com uma matéria de capa sobre tema até então e ainda agora atualíssimo: A Imprensa Sob Cerco.
RONNIE FARIAS/O FLUMINENSE
A MODA PEGA
Kajuru condenado a exílio em Goiás O jornalista Jorge Kajuru foi pego noites, às 20 horas, à Casa do Albergade surpresa por uma decisão judicial, do Guimarães Natal, em Goiânia, além na manhã do dia 28 de abril, quando de não poder se ausentar de lá, tendo foi a Goiânia saber em que condições que comparecer a juízo para prestar incumpriria a pena a que fora condena- formações sobre suas atividades semdo em processo movido pelas Orga- pre que for chamado. A pena o arrannizações Jaime Câmara (OJC) e seu ca de seu local de residência e trabapresidente Jaime Câmara Júnior. lho, em São Paulo, onde tem contrato Kajuru foi condenado pelo crime de com o SBT e com a ESPN. difamação por ter dito, em seu proImediatamente após a confirmagrama na rádio K, ção da sentença pela que a OJC, empresa 1ª Câmara Criminal afiliada da Globo em do Tribunal de JustiGoiânia e controlaça de Goiás, os advodora dos principais gados do jornalista veículos de comunientraram com um cação da região cenpedido de habeas tral, inclusive do Discorpus, sob o fundatrito Federal, agiu de mento de que Kajumodo “oportunista” ru sofre constrangipara obter os direitos mento ilegal porque de transmissão do “a sentença e o Campeonato Goiano acórdão violaram o Kajuru em foto de seu site: juíz de Futebol em 2001. princípio do devido de Goiás lhe tira motivo de sorrir. Não que a surpreprocesso legal e da sa se constituísse no fato de ter sido ampla defesa”. Na hipótese do efeticondenado. Kajuru já respondeu “a vo cumprimento da decisão judicial, mais de 100 processos”, como ele o jornalista terá sua carreira extremamesmo diz, e ganhou todos. Ainda mente dificultada, se não totalmente restam mais sete. Poderia ter perdido encerrada, já que será obrigado a vialguns dos cem, como também esta- ver em um lugar onde a Justiça e o rá correndo o risco de perder algum poder econômico evidentemente não dos sete. Quem está na chuva sabe lhe darão oportunidades. Além disso, que pode se molhar. No entanto, o re- não guarda daquele lugar boas lempórter sempre provou na Justiça que branças: “Saí de Goiânia há quatro o que fazia era jornalismo, que pres- anos, desde que minha mulher foi escinde de autorização judicial e, mui- tuprada por crime político. Portanto, to pelo contrário, tem garantias legais não tenho nenhum vínculo com a cipara que se possa exercer sem peias. dade para voltar a morar lá”, diz ele. Mas desta vez um juiz aceitou a A punição transformou-se em argumentação de que o trabalho do uma das mais graves formas de cenrepórter não passava de um crime de sura, já que se escuda em argumendifamação. O delito certamente não tos legais e foi estabelecida por uma ficou provado. A condenação se de- das instâncias que mais deveria zeveu apenas ao fato de os advogados lar pelo direito à opinião e à inforde Kajuru terem perdido o prazo para mação. Ela repercute de maneira interpor recurso de agravo à decisão ameaçadora sobre jornalistas mais judicial de 23 de junho de 2003. Pode- jovens que se iniciam na profissão. se dizer que Kajuru perdeu por WO Não é a primeira vez que Kajuru a batalha para provar que apenas agia é atropelado pelo poder. Em junho de acordo com o direito de exercer do ano passado ele foi tirado do ar seu ofício – o que na sua profissão no meio de uma transmissão ao vivo implica exercer o sagrado dever de do Estádio Mineirão pela Band, por dizer a verdade – ao contrário do que ter criticado a falta de ingressos para denunciou o dono do conglomerado torcedores de futebol, enquanto sode comunicação de Goiás ao afirmar bravam entradas para os políticos e que ele agiu de maneira leviana e convidados que lotavam até mesmo difamatória. os acessos para deficientes. Kajuru A surpresa veio com a sentença, que foi cassado no ar pela emissora onde exorbitou os limites da punição que a trabalhava e agora é condenado em Justiça exigiria para o caso. Kajuru foi uma ação movida por um poderoso condenado a pagar uma multa e a dono da mídia. São fatos que merecumprir 18 meses de detenção em re- cem reflexão: a censura mais insidigime aberto, a partir de 28 de maio, osa é aquela que nasce das instâncificando obrigado a recolher-se todas as as que a deveriam rejeitar.
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Jornal da ABI MEMÓRIA Nilo Braga
O último cafajeste foi um grande careta Estar com Mário Saladini é sempre um grande prazer, uma alegria. Seja aonde for, até mesmo no João Batista ou no Caju, quando solenemente reverenciamos a perda de um amigo ou de alguém que admirávamos. Mesmo aí, quando o vemos, o astral muda. E passamos a correr o risco de, após a cerimônia, ficarmos cercados de copos e garrafas num boteco nas imediações do cemitério, ouvindo as últimas que ele nos conta encenando alegremente. Assim é o Saladini que conheço de priscas eras, desde quando o Rio era civilizado e não estava entregue à bandidagem como nos dias atuais e as pessoas podiam se deslocar sem nenhum perigo. Nesse tempo, o Rio era dos cariocas dos subúrbios da Central ou da Leopoldina, do Centro ou da Zona Sul, que corriam a cidade para vivê-la em todas as suas manifestações sociais e culturais. As pessoas que curtiam a noite carioca, as festas, os eventos, as coisas gostosas que a cidade lhes oferecia, conheciam-se e se respeitavam. Por isso era fácil encontrá-lo, por exemplo, ao meio-dia, no Bar Monteiro, em pleno Centro da cidade, saboreando um sanduíche de carne assada, na canoa, regado, no mínimo, por três chopinhos na pressão. Ou então, já à noitinha, comendo uma salada de batatas e frios, acompanhada de alguns espumantes chopes pretos do Bar Luiz, sempre cercado de amigos que seguiam o seu ritual, alegremente. Nasceu em São Paulo, na Bela Vista. Filho de imigrantes italianos, às duas e meia da madrugada de um domingo. “Nasci boêmio”, diz ele. O pai foi professor de grego e latim do Instituto Dante Alighieri. Fez o primário no Colégio São Vicente de Paula, mas foi expulso do colégio pelas freiras. Com a morte do pai, aos sete anos, passou a viver grandes dificuldades, tendo que trabalhar para ajudar no sustento da casa. Aos 14 anos conseguiu meios para tornar realidade um sonho que vinha acalentando há algum tempo: vir para o Rio de Janeiro. Aqui, preparou-se e ingressou no Colégio Militar. Após dois anos de internato, a conselho de um oficial professor, abandonou o colégio e foi em busca de um emprego. Procurou o Prefeito Pedro Ernesto e disse-lhe que precisava trabalhar. Acabou nomeado Auxiliar de Fiscalização do Abastecimento da Prefeitura do Distrito Federal. Ali permaneceu durante três anos, quando o sucessor do Prefeito Pedro Ernesto, Olímpio de Mello, demitiu todos os contratados pela gestão anterior. O jornalismo como profissão de fé Em 1934, ajudado por amigos, vai para a Gazeta de Notícias, por onde já tinha andado Rui Barbosa, Olavo Bilac
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entre tantos outros. Ali conviveu com Wladimir Bernardes, Vitorino de Oliveira e Astério de Campos, seus mais próximos companheiros. Dessa época, recorda Mário Saladini: — Guardo saudades. Era uma prontidão franciscana. Mas devo tudo o que sou e o que fui na vida ao fato de ter sido jornalista. Depois da Gazeta acabou indo para o Diário Carioca, de José Eduardo de Macedo Soares, que lutava pela redemocratização do País, e Horácio de Carvalho Júnior, de quem se tornou amigo. Saladini fala sobre o jornal: — O Diário Carioca era um pequeno jornal, mas de muita influência nos meios políticos. E produzia o mais moderno jornalismo, do ponto de vista de formato e redação. Adotou o lide e criou sua própria cartilha, Regras de Redação do Diário Carioca, determinando que a notícia devia ser iniciada com um resumo conciso das principais e mais recentes informações do texto —, recorda ele. Saladini lembra também de Danton Jobim, que chegou ao Diário em 1933, onde ocuparia os cargos de redatorchefe e diretor-presidente; e de Roberto Pompeu de Souza Brasil, chegado ao jornal em 1941, após ser repórter do tablóide Meio-Dia, tendo criado a coluna intitulada “A guerra dia-a-dia”, que acabou censurada pelo Departamento de Imprensa e Propaganda-DIP, de Getúlio Vargas. Lembra ainda de Carlos Lacerda, que trabalhou no jornal como free-lance, e de Hélio Fernandes, que ingressou em 1949 na editoria de esportes após ter deixado O Cruzeiro. Carlos Castello Branco, em 1950, aceitou o convite formulado por Pompeu de Souza e ficou no jornal por onze anos. Nesse mesmo ano, Armando Nogueira chegou ao Diário e trabalhou como repórter de Esportes, da Geral, e como redator e copy da primeira página. Gilson Campos, fotógrafo do caso Toneleros, Jota Efegê e Paulo Francis foram as personalidades com quem Saladini conviveu durante sua passagem pelo Diário Carioca. A seguir, foi para o Diário da Noite, um dos jornais que integravam o maior império de comunicação até então visto, criado por Assis Chateaubriand: os Diários e Emissoras Associados. Depois trabalhou em Diretrizes, o semanário criado em 1938 por Samuel Wainer, onde teve oportunidade de conhecer Jorge Amado, Francisco de Assis Barbosa, Otávio Malta, Osório Borba, Gondim da Fonseca, Rubem Braga e Joel da Silveira, entre outros. Num almoço no restaurante da ABI, em 1949, acompanhado pelos companheiros Costa Rego, Marcial Dias Pequeno e Maurício Caminha de Lacerda, Saladini soube por Marcial que fora in-
Os remanescentes do grupo dos “cafajestes” se reuniam vez por outra no quiosque situado na orla de Copacabana, em frente à Rua Hilário de Gouveia
dicado por seu amigo General Mário Gomes da Silva para servir no Escritório de Propaganda e Expansão Comercial, em Londres. A informação foi confirmada com a sua nomeação pelo Presidente Eurico Dutra. O condecorado diplomata Na capital inglesa fez-se amigo do embaixador Muniz Aragão, que na juventude fora também jornalista. Tornou-se também amigo de outras personalidades que o ajudaram muito e lá permaneceu até o início dos anos 50, quando foi indicado para servir em Lisboa na função de adido comercial, permanecendo aí durante quatro anos, onde foi agraciado com a mais alta condecoração portuguesa: a do Infante D. Henrique, no grau de Comendador. Depois mereceu a medalha D.João VI; a medalha de prata Turismo de Portugal; o título de Benemérito da Cruz Vermelha Portuguesa; a medalha Salvação a Náufragos de Portugal, e o título Sócio de Honra do Sporting Futebol Clube. Por isso, aqui no Brasil, Mário sempre foi prestigiado como sócio de honra de vários clubes portugueses. De Portugal Saladini foi para o México onde, de 1953 a 1955, exerceu o cargo de Adido Comercial e Chefe do Escritório Comercial da Embaixada. Estava no México quando Getúlio Vargas se suicidou. O Adido Militar da Embaixada era o Coronel Alvim, que recebeu ordens do Ministério da Guerra para retornar ao Brasil. O coronel Portela, aqui no Brasil, informou ao Estado Maior que tinha um ex-aluno do Colégio Militar servindo na embaixada no México. Saladini foi então indicado para substituir o coronel Alvim, passando então a acumular, por um curto período de tempo, a função de Adido Militar na Embaixada, o que o tornou o único civil a ocupar o cargo. Sua atuação no México foi da maior importância, elevando em muito o valor das transações comerciais entre os dois países, ganhando prestígio e admiração no mundo diplomático. Saladini realça a criação da Câmara do Comércio Mexicano-Brasileira e a assinatura do importante acordo entre a Sociedade Bra-
sileira de Autores, Compositores e Escritores de Música (SBACEM), e a Sociedade Brasileira de Autores Teatrais (SBAT) com as similares mexicanas. Do México foi para a França, ficando em Paris de 1955 a 1957. Foi na capital francesa que acabou conhecendo, pessoalmente, Assis Chateaubriand, no Hotel Plaza Atenée. Aproveitando o encontro, dirigiu-se a Chatô e disse que apesar de ter trabalhado em um de seus jornais nunca havia tido a honra de conhecê-lo pessoalmente. Chateaubriand respondeu: “Como, menino? Então de hoje em diante você vai me acompanhar por todo o tempo que eu estiver aqui em Paris.” E o convidou para no dia seguinte almoçarem no Tremoille. A festa de despedida da Capital Dois anos depois de retornar ao Brasil, em 1959, após completar o curso na Escola Superior de Guerra, atendendo a convite feito pelo Prefeito Cesário Alvim, Saladini passou a exercer o cargo de Diretor de Turismo e Certames da Prefeitura do então Distrito Federal, no período de 1959 a 1960. Nesse período, teve sob sua responsabilidade a organização da festa de despedida do Distrito Federal que se transferia para Brasília. Saladini recorda com emoção dos festejos que organizou: — Desfilaram todas as escolas de samba, frevos e outras organizações carnavalescas em frente ao Palácio do Catete, onde o Presidente Juscelino Kubitschek, durante quatro horas, se revelou extremamente compreensivo e brincalhão durante todo o tempo, culminando com o convite que me fez para acompanhá-lo no jantar — lembra Saladini. Em 1963, foi indicado pelo Partido Trabalhista Brasileiro para ser um dos diretores da Companhia Brasileira de Armazéns Gerais - Cibrazem, criada pelo então Presidente João Goulart. Ainda pelo mesmo PTB, do qual é um dos fundadores, foi eleito deputado estadual por três legislaturas seguidas, de1967 a 1978, quando encerrou sua vida política.
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Jornal da ABI DEPOIMENTO A memória dos cafajestes e outras histórias Segundo o Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa, cafajeste significa “pessoa sem refinamento, atrevida, que se veste com mau gosto, velhaco, mau caráter, abusado e ordinário”. Cabe saber de Saladini o porquê dessa expressão para identificar um grupo de jovens de nomes ilustres da elite e classe média da sociedade carioca. Saladini explica: — Ibrahim Sued dizia que a criação era dele. Mas afirmo, com a autoridade de presidente perpétuo do grupo, que o Clube dos Cafajeste se materializou numa festa na mansão Bensanzoni, no atual Parque Lage, ainda na década de 40. Lembro-me de que Carlos Peixoto jogou um conde italiano na piscina. De dentro d’água, o homem gritava numa mistura de português com italiano: “questo cafagesto”. Pronto, ali estava o que buscávamos. Usávamos esse nome mas, na verdade, não tínhamos nada de cafajestes. Estávamos, sim, 50 anos adiantados. Nos gabávamos de quebrar regras, tabus e preconceitos. Chocávamos naquela época, mas não fazíamos nada além do que as novas gerações andam fazendo — garante ele. As primeiras reuniões do grupo dos cafajestes foram realizadas na residência de Mário Saladini, que morava na Avenida Atlântica, sobre o desaparecido Bar Alvear e onde hoje fica o restaurante Manoel & Joaquim. De 1943 a 1951, o grupo composto por pouco mais de meia centena de jovens de Copacabana e adjacências movimentava a noite carioca com a promoção de grandes festas e bailes, no Clube Marimbás, no Copacabana Palace, na boate Vogue e outros espaços. Os ilustres nomes que se destacavam no grupo, além de Saladini, eram os de Mariozinho de Oliveira, playboy e milionário, hoje com 80 anos e vivendo em Teresópolis; Carlos Niemeyer, dono do Canal 100; Ibrahim Sued, jornalista; Carlos Eduardo de Oliveira, o Edu Comandante da Panair; Jorginho Guinle, playboy e milionário; Sérgio Porto, o cronista Stanislaw Ponte Preta; o Príncipe D. João de Orleans e Bragança; Francisco “Baby” Pignatari, playboy e milionário; Heleno de Freitas, advogado e craque de futebol; Paulo Soledade, compositor e escritor; Ermelino Matarazzo, industrial paulista residente no Rio; e Paschoal Rapuano, remador, imbatível na modalidade skiff,
que defendeu o Brasil nas Olimpíadas de Berlim, em 1936. Saladini sabe histórias deliciosas de cada um deles. De Ibrahim Sued conta que nasceu em 1924, na Tijuca, filho de imigrantes árabes. Estudou até o terceiro ano do antigo ginasial. Antes de se tornar colunista foi jornaleiro, entregador de sapataria, office boy e fotógrafo. Fazendo fotos, em 1946, aos 22 anos, despontou com um flagrante histórico quando registrou o momento em que Otávio Mangabeira, político baiano, deixava a Assembléia Legislativa do Rio e abaixou a cabeça para apertar a mão do General americano Dwight Eisenhower, comandante das tropas aliadas na Segunda Guerra Mundial e futuro Presidente dos Estados Unidos. Na foto, parecia que Mangabeira beijava a mão do General, o que gerou uma onda de protestos e gozações na imprensa. Aí começava a fama de Ibrahim Sued. Estreou como colunista social em 1951, no jornal A Vanguarda. Sua carreira teve um salto com a estréia, três anos depois, no O Globo, onde permaneceu até 1992. Criou expressões que se tornaram famosas: “bola branca”, “bola preta”, “bomba, bomba”, “sorry, periferia”, “a dama de preto passou”, “a demain, que eu vou em frente” e “de leve”, além de frases como “olho vivo, porque cavalo não desce escadas”, “em sociedade tudo se sabe”. Faleceu aos 71 anos, de infarto, em outubro de 1995. Hilária é a história de Sebastião de Carvalho Dauns y Lorena Pombal, descendente direto do Marquês de Pombal, responsável pela restauração de Lisboa. Por isso, a principal avenida da cidade tem o seu nome e até uma estátua foi erigida em sua homenagem. Quando chegou ao Rio, o descendente do Marquês foi regiamente homenageado com jantares e elegantes reuniões. Mas o nobre herdeiro, conta-nos Saladini, era um esbanjador, um jogador inveterado. E, claro, o dinheiro, com o tempo, foi escasseando. Depois de muito esbanjar em tudo que era cassino, certa noite encontra-se com Saladini, no Copa, e reclama: “Mário, quando aqui cheguei, eu era o senhor Sebastião de Carvalho Daun y Lorena Pombal. O tempo foi passando e agora só me chamam de Sebastião. Se eu demorar mais tempo vão me chamar de Tião. Já estou providenciando minha passagem de volta”. Ao que Saladini murmurou: “Faz bem, faz bem, Tião.”
Saladini (à esquerda) e Mariozinho de Oliveira têm ao centro o campeoníssimo remador rubronegro Paschoal Rapuano, em encontro ocorrido pouco antes de seu falecimento em novembro passado
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O POBRE HAITI, VISTO DE DENTRO Membros da Missão Internacional de Solidariedade contam na ABI o que viram nesse país ocupado
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embros da Missão Internacional de Solidariedade ao Haiti compareceram à ABI no dia 13 de abril para uma coletiva de imprensa na Sala Belisário de Souza, no 7º andar do Edifício Herbert Moses. Sandra Quintela, do Jubileu Sul, João Luís Pinaud, da Comunidade Confissão Luterana, e o Bispo Ariel Maia, Presidente da Confederação Nacional das Igrejas Cristãs, estiveram no Haiti entre 3 e 9 de abril, onde se reuniram com integrantes do Governo interino, de organizações sociais de direitos humanos, de embaixadas e outros organismos internacionais e da Minustah, sigla em inglês da missão da Onu de Estabilização naquele país. Os três integraram uma equipe de 20 representantes de movimentos, redes e instituições sociais, culturais e políticas da América Latina, Caribe, América do Norte e África. Sandra Quintela disse que a imagem do Haiti passada pela imprensa é diferente da real situação.— Os haitianos lutam há 200 anos por sua independência. Historicamente, as lutas pela independência foram promovidas por escravos, ao contrário do ocorrido em todos os outros países da América. O povo não está se matando, mas quer preservar sua integridade. Na coletiva, foi destacada a participação das tropas militares brasileiras, que ocupam maciçamente o território. Segundo Sandra, a opinião dos haitianos é de que não há uma guerra para justificar a presença das tropas.— A maior tropa é a brasileira, instalada em posições estratégicas. Não cabe ao Brasil desempenhar este papel num país que há tanto tempo luta por sua soberania. O Bispo Ariel Maia ressaltou a ousadia, determinação e dignidade do povo haitiano. Para ele, é difícil fazer um diagnóstico rígido sobre a situação do país, pois há forças externas prejudicando o resgate de sua dignidade.— A promessa de ajuda dos países ricos não aconteceu. Como membros de uma delegação brasileira, temos a responsabilidade de mostrar ao Presidente Lula a necessidade de o Brasil intervir nesse processo. Há um caos político, econômico e social e a imprensa deve ajudar principalmente nas relações com o nosso Governo. João Luís Pinaud considera que a possibilidade de ação do Brasil não pode se limitar ao envio de tropas militares, já que o País não pode violar a soberania e autodeterminação do Haiti. – O problema não é militar, mas de educação e apoio. Estão em jogo os princípios e as relações internacionais do país. A proposta da missão ao Governo brasileiro é fazer a desmobilização das tro-
pas e provocar a mobilização das sociedades organizadas em defesa do Haiti. Nos meses de outubro, novembro e dezembro, o Haiti estará em processo eleitoral. A missão defende a participação de organismos internacionais especialmente no período de apuração, para garantir um resultado justo. Segundo Sandra, deve haver consciência internacional para defender o país.— Há muita luta, mas também muita esperança. O nosso relatório será entregue ao Presidente, ao Ministro das Relações Exteriores e ao Congresso Nacional. Deve-se destacar que o Haiti não tem riquezas naturais, mas está bem próximo a grandes mercados consumidores. A crise no Haiti começou há pouco mais de um ano, com uma rebelião na cidade de Goinaves, que depois atingiu a capital Porto Príncipe e culminou com a queda do Presidente Jean-Bertrand Aristide, em fevereiro de 2004. O conflito levou o país a sofrer intervenção da Onu, que enviou à região forças de paz lideradas pelo Brasil. Mais de 7 mil soldados tentam conter a violência na região. A principal preocupação agora é que haja segurança para a realização das eleições, ainda em 2005. A Minustah controla o Haiti. Enviada ao país em junho de 2004, ela tem por missão estabilizar o país até à eleição de um novo Governo, que deverá assumir em 7 de fevereiro de 2006. A força de estabilização tem seu mandato renovado a cada seis meses e o Conselho de Segurança da Onu tem até o fim de maio para decidir sobre a renovação da missão. Atualmente, o país enfrenta uma grave crise econômica, social e política, com massiva pauperização da população e forte presença militar estrangeira em seu território. Segundo estatísticas, menos de 40% dos haitianos têm acesso à água potável; o analfabetismo alcança 45% da população; a proporção é de menos de uma pessoa em cada grupo de 50 com emprego fixo; e a esperança de vida caiu de 52,6 anos, em 2002, para 49,1, em 2003. De 1915 a 1934, o Haiti foi ocupado por tropas dos Estados Unidos. Uma missão da Organização das Nações Unidas ocupou o país de 1994 a 1999. Em fevereiro de 2004, iniciou-se um novo período de intervenção militar estrangeira. Esta terceira ocupação, segundo declarações de dirigentes da Onu, deve prolongar-se por mais 20 anos. A convocação da coletiva pôs em relevo um aspecto negativo do comportamento dos meios de comunicação do País: nenhum veículo importante compareceu à entrevista, que contou apenas com representantes de veículos alternativos de esquerda entre os entrevistadores. Uma prova do lamentável desprezo da grande mídia pelo mais pobre dos países do Continente, que vive no momento uma terrível tragédia nacional – um tsumani social que não comove os pauteiros e editores de jornal, rádio e televisão.
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Jornal da ABI RECONHECIMENTO
SAUDADE Rodrigo Caixeta JOSÉ CARLOS VELOSO
Medalha Austregésilo para Talarico O Conselho Estadual de Direitos Humanos, em ato público presidido pela Governadora Rosinha Garotinho na Assembléia Legislativa, em 21 de março, agraciou o jornalista José Gomes Talarico com a Medalha Austregésilo de Athayde por sua destacada atuação na defesa dos direitos humanos. Membro do Conselho Deliberativo da ABI, de cuja história participa desde 1942, Presidente da Comissão de Defesa da Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da entidade durante 53 anos e seu atual Presidente de Honra, o jornalista lembrou, em seu discurso de agradecimento, que em 1948 Austregésilo de Athayde atuava como delegado brasileiro na consolidação do primeiro projeto abrangendo os direitos pessoais, civis, políticos, sociais e econômicos aprovado pela Assembléia-Geral das Nações Unidas. Talarico também recordou o trabalho que desenvolveu em 1983, quando era líder na Assembléia Legislativa, pela aprovação do projeto que criou, no Estado do Rio de Janeiro, o Conselho de Justiça, Segurança Pública e Direitos Humanos. Ele destacou a importância da Associação Brasileira de Imprensa como “a mais antiga organização jornalística do País a defender os direitos do trabalho e dos trabalhadores e a se insurgir contra as limitações à liberdade de imprensa”. Revolucionário de 1924 em São Paulo, presidente de diretório acadêmico, fundador da União Nacional dos Estudantes e de partidos políticos como o antigo PTB e o PDT, José Gomes Talarico atuou na Organização Internacional dos Jornalistas e na Federação Latino-americana de Periodistas, entre outras organizações de jornalistas e de defensores dos direitos humanos. Também foi deputado estadual e federal. Perseguido em 1945, 1954 e 1964, foi preso 28 vezes durante a ditadura militar. Também receberam a Medalha Austregésilo de Athayde o Bispo de Duque de Caxias, Dom Mauro Morelli, o sociólogo Abdias do Nascimento, e as entidades Quilombo Valença, Defensoria Pública do Estado e o Grupo Tortura Nunca Mais (RJ).
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Apolônio de Carvalho discursa ao lado da viúva de Paulo de Castro, Ethel Brandi Cachapuz, do embaixador de Portugal e do Presidente da ABI
Noite de tributo a Paulo de Castro Uma comovente evocação do jornalista Paulo de Castro pela sua atuação como combatente da Guerra Civil Espanhola foi feita no ato-tributo em sua homenagem por Apolônio de Carvalho, que, aos 93 anos de idade, impressionou pela sua nitidez de memória acerca dos fatos que se passaram há mais de 70 anos. O tributo prestado pela ABI foi aberto pelo Presidente Maurício Azêdo e contou com uma exposição de fotos das viagens do homenageado ao redor do mundo e de sua atuação em momentos importantes da História. Além dos discursos de Maurício e de Apolônio, deram depoimentos o jor-
nalista Fernando Segismundo, o sociólogo Clóvis Brigagão e os professores Saul Fuks e Leodegário Azevedo. O acervo de imagens incluiu também cópias da certidão de nascimento de Paulo de Castro e do Ato de Acusação que o condenou a 12 meses de prisão no Porto, Lisboa, e o abaixoassinado enviado ao então Presidente Jânio Quadros, pedindo a concessão de passaporte especial para o jornalista visitar o Egito e a Alemanha Ocidental a convite de seus Governos. Paulo Brandi Cachapuz, filho de Paulo de Castro, emocionou-se com a homenagem da ABI ao seu pai: — Foi muito bom participar de
Uma vida dedicada ao jornalismo e às grandes causas sociais
seu amigo Apolônio de Carvalho. Preso ao voltar clandestinamente para Portugal, ficou detido um ano sem processo. Em 1946, exilou-se voluntariamente no Brasil, terra de sua mãe, onde começou a colaborar em jornais como o Estado de S. Paulo e Correio da Manhã. De 1950 a 1952, exerceu o cargo de secretário de redação na Tribuna da Imprensa. A partir de 1955, trabalhou como comentarista de política internacional do Diário de Notícias, publicando uma coluna diária na página de opinião do jornal. Em 1957, a convite do embaixador da França no Brasil, viajou para a Argélia. Tomou posição a favor da luta pela independência do país africano, testemunhando de perto os horrores das torturas cometidas pelos franceses em visita a um campo de refugiados na Tunísia. Em 1960, foi chefe da sucursal da agência de notícias cubana Prensa Latina no Rio de Janeiro. Foi professor de Ciência Política no Instituto Superior de Estudos Brasileiros (Iseb), instituição criada em 1955 pelo governo brasileiro e fechada pelos militares em abril de 1964. Entre 1965 e 1969, foi editorialista do principal jornal de oposição ao regime militar, o Correio da Manhã, sempre escrevendo sobre política internacional. Após o fechamento do Correio, em 1970, e do Diário de Notícias, em 1973, foi colaborador da Folha de S. Paulo e do Globo. Paralelamen-
O jornalista Paulo de Castro, nascido Francisco de Barros Cachapuz em janeiro de 1914, em Chaves, pequena cidade do Norte de Portugal, foi preso em 1934 por participar da oposição ao salazarismo nos meios universitários do Porto e deportado para a Ilha Terceira, nos Açores. Libertado em 1936, continuou seus estudos em Paris, onde freqüentou os cursos de Henri Bérgson e Lucien Laurat. Trabalhou no jornal Le Populaire e teve a oportunidade de conhecer o líder socialista e primeiro-ministro da França Leon Blum. No ano seguinte, partiu para a Espanha, alistando-se nas Brigadas Internacionais. Com a derrota do exército republicano, foi internado em campos de concentração no Sul da França. Em 1940, após a invasão da França pelos alemães, fugiu do campo de Gurs para evitar a deportação e a morte pelos nazistas, sendo recebido em Marselha, Sul da França, pelo brasileiro ex-combatente na Espanha,
uma acolhida tão calorosa como essa. É uma justa homenagem a quem tanto contribuiu para a imprensa brasileira. E as falas do Apolônio foram tocantes. Ainda mais emocionada, sua irmã Andréa mal conseguia falar: — Todas as fotos expostas foram escolhidas pela família. A biografia contada foi escrita pelo meu irmão Paulo e traça todo o caminho do meu pai, suas prisões, sua participação em movimentos importantes e seu trabalho como jornalista no Brasil. Para Maurício Azêdo, é um orgulho para a instituição fazer este tributo ao jornalista: — É um momento histórico para a ABI, com o registro tão rico de imagens desta exposição. Serviu para massagear nosso ego ao homenagear essa figura excepcional do jornalismo e da cultura brasileira. Estiveram presentes ao tributo o embaixador de Portugal, Francisco de Seixas da Costa, vindo especialmente de Brasília, além dos jornalistas Arthur José Poerner e Antonio Avellar e os comandantes Fábio Goldenstein e Marcelo Duarte, diretores da Associação de Pilotos da Varig. O final do tributo foi marcado pela apresentação do coral da Associação Scholem Aleichem, regido pela maestrina Cláudia Alvarenga, com canções alusivas à Guerra Civil Espanhola e à Revolução dos Cravos em Portugal.
te, foi professor do Centro de Estudos Afro-Asiáticos das Faculdades Cândido Mendes. Após a Revolução de 25 de abril, em Portugal, foi nomeado Conselheiro Cultural da embaixada do país no Brasil, cargo que exerceu até 1980. Nesta função, abriu o Palácio de São Clemente, no Rio de Janeiro, para conferências, recitais de música e exposições com artistas e intelectuais portugueses e brasileiros. Em seguida, trabalhou como colunista da Folha de S. Paulo e do Diário de Notícias de Lisboa. Faleceu em novembro de 1993 no Rio de Janeiro. Deixou quatro filhos: Antonio Francisco Cachapuz, professor universitário, fruto do primeiro casamento em Portugal; Paulo Brandi (historiador), José Augusto (médico, falecido em 1994) e Andréa (professora), do segundo casamento no Brasil com a professora Ethel Moretzsohn Brandi. No Brasil, publicou, em 1957, Camilo Castelo Branco (estudo crítico), editora Agir; em 1958, Terceira força, pela editora Fundo de Cultura; em 1962, Subdesenvolvimento e revolução, também pela Fundo de Cultura; Feira dos Dogmas, pela Tempo Brasileiro, em 1965; Do colonialismo de Israel à libertação da Palestina, pela Forum Editora, em 1969; Argélia, a terra e o homem, em 1971, pela Forum Editora; e Alexandre, o Grande, em colaboração com Ethel Brandi Cachapuz, em 1973, pela Editora Três.
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Jornal da ABI VIDAS
Miranda, exemplo de patriota Ato ecumênico reuniu companheiros que lembraram a trajetória política do jornalista A Associação Brasileira de Imprensa e o Movimento em Defesa da Economia Nacional-Modecon promoveram um ato em homenagem ao professor e jornalista Henrique Miranda, morto em 6 de abril passado. Nascido em 1914, Miranda foi ex-oficial a Marinha, de onde foi afastado por suas convicções políticas. Como jornalista, foi redator do jornal Emancipação, que se pautava pela defesa da economia nacional e das riquezas e interesses do País. Henrique Miranda ingressou na Associação Brasileira de Imprensa em 1949, tendo ocupado vários cargos na instituição, o último deles o de Vice-Presidente de abril de 2002 a abril de 2003. O ato de homenagem póstuma teve início com a neta do ex-vice-presidente da Associação, Andréa Miranda Bertino, convidando ao discurso os participantes da mesa Maurício Azêdo, atual Presidente da ABI, Fernando Segismundo, ex-Presidente, o Monsenhor João Vitorino Barreto de Alencar, Danton Voltaire Pereira de Souza, representante da Igreja Positivista, Regina Célia Pereira, representante da Casa Espírita Francisco de Assis, e Irene Garrido Filha, viúva do homenageado. No Salão Belisário de Souza, no 9º. andar do edifício-sede da ABI, foi montada uma exposição com fotos da vida de Henrique Miranda em família e em eventos nacionais e internacionais. O Monsenhor João Vitorino não disfarçou a emoção ao falar de Henrique Miranda: — É com muita alegria que prestamos esta homenagem com a casa cheia. É uma hora de saudade. Danton Voltaire, por sua vez, disse que Henrique sempre teve ligação com a Igreja Positivista: — Todas as quintas-feiras ele se reunia conosco para discutir os problemas brasileiros. Para nós, ele jamais morrerá, estará preservado em nossa memória. Regina Célia fez referência à doutrina espírita: — A morte é apenas uma mudança de plano. Temos certeza de que cada um tem sua própria divindade. Neste momento, Henrique está de volta ao seio do Pai. Após o Hino Nacional, Maurício Azêdo agradeceu a presença de todos e destacou as relações amistosas estabelecidas por Henrique Miranda dentro da ABI: — Ele era um dos mais devotados sócios. Dedicou-se à ABI por 55 anos. Era um dos patriotas mais destacados do País, como Barbosa Lima Sobrinho, Luís Carlos Prestes e Leonel Brizola. Tinha amor à nação e entregava-se com paixão às causas nacionais, como na campanha do “Petróleo é nosso”. Em nome da ABI, depo-
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sitamos esta homenagem a este gigante da vida nacional. O jornalista Fernando Segismundo relembrou a trajetória de Henrique Miranda, que foi vice-presidente da ABI durante sua gestão: — Ele era um ativista desde a adolescência. Dedicava-se aos problemas do País e sempre foi um homem de linha reta na luta por ideais nacionais. O Brigadeiro Rui Moreira Lima, amigo pessoal do homenageado e Presidente da Associação Democrática e Nacionalista de Militares, rememorou ações de Henrique Miranda: — Ele era o dono da palavra. Não só foi batalhador da campanha do petróleo, como participou da luta pela revogação do acordo entre o Brasil e os Estados Unidos para criação da Base de Alcântara, um enclave que seria subtraído à soberania nacional. Miranda mostrou à Adnam o texto original e depois nos trouxe a tradução do documento. Iniciou-se assim a luta pelo cancelamento do acordo, afinal conseguido. O pastor Rodrigo, da Igreja Metodista, leu trechos da Bíblia, atentando para as marcas deixadas pelo homenageado: — O importante não é o tempo que vivemos, mas como vivemos esse tem-
po de vida. Henrique marcou seu tempo e sua história. Este é um ato de gratidão ao Senhor, por tudo o que ele representou para a imprensa e o País. José Gomes Talarico, membro do Conselho Deliberativo da ABI, destacou a amizade e o respeito que todos tinham por Henrique Miranda e por sua contribuição para a Associação: — Ele foi um exemplo desprendido de defensor da liberdade, da cultura e do civismo, que deixou gravado na memória de todos a sua eficaz atuação nas campanhas de anistia, defesa do petróleo e da Amazônia. Irene Garrido Filha, viúva de Henrique Miranda, também fez referência à defesa da Amazônia: — Nesse dia tão especial, é muito importante darmos ênfase ao trabalho que Henrique desenvolveu pelo desenvolvimento daquela região. O ato, a que estiveram presentes muitos colegas jornalistas, políticos e representantes de diversas instituições, como a OAB e o IBGE, foi encerrado por Maria Augusta Tibiriçá Miranda, presidente do Modecon e ex-mulher de Henrique Miranda, com quem teve três filhos: Aloízio, Carlos Henrique (Caíque) e Maria Alice.
Uma vida em defesa da soberania nacional O professor e jornalista Henrique Miranda era também ex-oficial da Marinha, tendo sido afastado em razão de suas convicções políticas. Ingressou na Associação Brasileira de Imprensa em 1949; foi redator do jornal Emancipação, que teve papel destacado na campanha “O petróleo é nosso” e nas lutas em defesa da economia nacional e das riquezas do País. Henrique Miranda ocupou vários cargos na ABI: Primeiro-subsecretário, de 1981 a 1983; Segundosubsecretário, de 1984 a 1991; Diretor de Sede — cargo atualmente denominado Diretor-administrativo — , de 1992 a março de 2002; e Vice-presidente, de abril de 2002 a abril de 2003. Henrique Miranda morreu em 6 de abril e foi velado no dia seguinte, quinta-feira, na Capela 3 do Memorial do Carmo, no Caju, até 17h, quando seu cor-
João Alves de Sá Filho
Premiado revisor, tinha paixão pelo setor de esportes João Alves de Sá Filho nasceu no Rio de Janeiro, em 1936. Aos 23 anos entrou para a equipe de revisores do Jornal do Brasil, onde trabalhou até 1986, tendo chefiado o setor durante 20 anos. Em 87, foi chefiar a Revisão do jornal O Dia; em 90, foi subeditor da Tribuna da Imprensa; em 92, foi editor-geral do jornal A Crítica, de Manaus. Chefiou também a equipe de Comunicação do Inamps e foi chefe de Imprensa do extinto Iapas, por onde se aposentou como coordenador de Comunicação Social. Trabalhou ainda na Rede Globo, na revista Manchete e em várias editoras, entre as quais a MK Publicitá. Foi responsável pelo copidesque e revisão da revista Enfoque Gospel e ultimamente trabalhava para a Editora Textus como revisor e copidesque, além de ser editor de Esportes do jornal Imprensa Livre, da Região dos Lagos. Há 12 anos fazia parte da diretoria da Acerj — Associação de Cronistas Esportivos do Rio de Janeiro e recebeu, em 2001 e 2002, o prêmio Bola de Ouro na categoria de Revisão. Era casado há 45 anos com Jóia Scudieri de Sá. Não deixou filhos.
Cid Kling
O jornalismo prevaleceu sobre outras vocações
Henrique Miranda (de terno azul) ao lado de D. Paulo Evaristo Arns, ex-Arcebispo de S. Paulo
po foi cremado. Participaram da vigília os Deputados Jandira Feghali e Paulo Pinheiro; os ex-deputados José Frejat e Modesto da Silveira; a economista Ceci Vieira Juruá, do Conselho Regional de Economia do Estado do Rio de Janeiro; o engenheiro José Chacon de Assis, ex-presidente do Conselho Regional de Engenharia e Arquitetura do Rio de Janeiro; o sindicalista Luiz Viegas da Motta Lima; o cenógrafo Fernando Pamplona; e os jornalistas Maurício Azêdo e Fernando Segismundo, respectivamente Presidente e ex-Presidente da ABI. Entre as coroas de flores enviadas, figuravam as da ABI, do Sindicato dos Economistas, do Conselho Regional de Economia do Estado do Rio de Janeiro,
do Conselho Regional de Medicina do Rio (Cremerj); da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), da Deputada Jandira Feghali e do Partido Comunista do Brasil. A da Associação Brasileira de Imprensa tinha a seguinte inscrição: “Ao professor Henrique Miranda, exemplo de patriota, a saudade eterna dos seus companheiros na ABI.” Entre as muitas mensagens enviadas pela morte de Henrique Miranda estavam as de Lígia Prestes e Anita Leocádia Prestes, irmã e filha do líder comunista Luís Carlos Prestes, apresentando “sinceros pêsames pela grande perda do companheiro Henrique Miranda”; e as do grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro.
Cid Kling morreu de câncer, em fevereiro. Trabalhava na redação da Última Hora do Rio de Janeiro quendo o jornal foi praticamente empastelado pelos militares, após o golpe de 1964. Começara a carreira pouco antes, na própria UH, como repórter. Com a crise econômica do combativo diário dirigido por Samuel Wainer, transferiu-se para O Jornal, órgão dos Diários Associados. Cid também foi redator de A Notícia, trabalhando ao lado do hoje Deputado Fernando Gabeira. Nos anos 60, estava em O Globo, como redator e subsecretário da redação. O pauteiro era o hoje conhecido romancista Paulo Coelho. Em 1975, voltou à Última Hora, a convite de Peri Cotta, para trabalhar como editor. Chegou a chefe de redação e dirigiu o caderno UH Revista. Encerrou sua estada na UH em 1979, quando acreditou estar se despedindo do jornalismo para se dedicar exclusivamente à atividade de professor. Cinco anos depois, entretanto, voltava como redator, para trabalhar em O Dia, e, logo depois, no Jornal do Commercio, onde foi chefiar a Redação. Cid, que também era advogado e autor de livros sobre Direito, morreu aos 79 anos.
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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA Rua Araújo Porto Alegre, 71 – Castelo- Rio de Janeiro-RJ. CEP.: 20030-010 Tels.: (21) 2282-1292 Fax.: (21) 2262-3893 http://www.abi.org.br e-mail.: diretoria@abi.org.br
Este valor representa crédito contabilizado em 2004 pelo regime de competência, mas não recebido no ano. Tributos a Recuperar(2) IRRF, CSLL, PIS e COFINS
2004 2004 R$472,50 R$472,50
2003 —
Este valor representa o total das retenções feitas indevidamente não atendendo a informação da Tesouraria da ABI de que a entidade é isenta dos tributos.
ADIANTAMENTOS (2) Código Plano de Contas Antigo Código Plano de Contas Atual 121002 Adiantamentos a Empregados
112.07.002-7 Adiantamento Salário
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2003
R$5.808,65 R$5.199,59
112.07.005-1 Adiantamento – Vale Transporte R$3.210,60 R$3.080,08 112.07.006-0 Adiantamento de Despesas Total
R$ 116,60
R$116,60
R$9.135,85
R$8.396,27
Estas contas necessitam de um ajuste à sua realidade, tendo em vista que várias práticas adotadas distorcem a análise, tais como: venda de férias contabilizada como adiantamento de salário, vale transporte contabilizado como adiantamento e não descontado do empregado. Outros Créditos (2) Salário Família a Reembolsar
NOTAS EXPLICATIVAS ÀS DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS EM 31 DE DEZEMBRO DE 2004 (Em Reais)
A ABI encerrou suas atividades operacionais em 31 de dezembro de 2004, apresentando um superávit de R$175.763,69 (cento e setenta e cinco mil, setecentos e sessenta e três reais e sessenta e nove centavos). Das práticas Contábeis adotadas pela ABI no exercício findo é importante fazer os seguintes registros: DIREITOS DA ENTIDADE:
A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA - ABI, estabelecida na Rua Araújo Porto Alegre, 71 – Castelo – Rio de Janeiro – RJ, CEP: 20.030012, legalmente constituída e registrada com situação cadastral na Secretaria da Receita Federal ATIVA, CNPJ n° 34.058.917/0001-69, é uma entidade sem fins lucrativos e goza da prerrogativa concedida pela União de isenção do Imposto de Renda Pessoa Jurídica - IRPJ e Contribuição Social sobre o Lucro - CSLL, conforme art.15 da Lei n° 9.532/97. COFINS – A isenção desta contribuição está coberta pela legislação vigente até 31/01/99 (art. 6°, III, da Lei Complementar n° 70/91). A partir de 01/02/99, de acordo com os arts. 2° e 3° da Lei n° 9.718/98, a base de cálculo da COFINS foi ampliada. Porém, nos termos do art. 14, inciso X, da MP n° 1.991-16/2000, atual MP n° 2.158-35/2001, em relação aos fatos geradores ocorridos a partir de 01/02/99, as instituições de caráter filantrópico, recreativo, cultural, científico e associações isentas do imposto de renda continuaram isentas da COFINS, mas restringindo às receitas relativas às atividades próprias das entidades. PIS/PASEP - A ABI efetua regularmente os pagamentos mensais com a alíquota de 1% sobre a folha de salários, conforme legislação vigente. CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS – A isenção destas contribuições, de que tratam os arts. 22 e 23 da Lei n° 8.212/91, concedida às entidades beneficentes de assistência social, foi cancelada em 18/08/2003, pelo ATO CANCELATÓRIO DE ISENÇÃO DE CONTRIBUIÇÕES SOCIAS N° 17.001/001/2003, retroagindo a 01/01/1995. A atual administração recorreu administrativamente ao INSS em 04/11/2004, processo 35301.011197/2004-34, tendo sido indeferido. O Instituto orientou que se apresentasse recurso ao CNAS, tendo a ABI solicitado devolução do processo. Ao dar entrada no CNAS, constatou a existência do Processo n° 71010.00795/2004-17, que requer a restituição da imunidade retroativa a janeiro de 1995, porém sem decisão até a presente data. Logo, a ABI está esgotando administrativamente todos os recursos necessários para a recuperação da isenção das contribuições sociais retroativa a 01/01/1995.
Disponibilidades(1) Caixa Bancos Total
2004 2004 R$ 325,56 R$ 50.378,00 R$ 50.703,56
As disponibilidades melhoraram sensivelmente comparadas ao ano de 2003, visto que a entidade corrigiu a prática de endividamento no curto prazo, via cheque especial. Cabe a ressalva de que R$26.378,20 (vinte e seis mil, trezentos e setenta e oito reais e vinte centavos) estão bloqueados em virtude de medida judicial. Créditos a Receber(2) Créditos a Recuperar
2004 R$ 8.582,02
DEMONSTRAÇÕES CONTÁBEIS As demonstrações contábeis foram elaboradas de acordo com as normas do Conselho Federal de Contabilidade, obedecendo ao cumprimento de todos os Princípios Contábeis.
2003 —
Os valores abaixo representam o total dos créditos contabilizados até maio de 2003 no valor de R$8.582,02 (oito mil, quinhentos e oitenta e dois reais e dois centavos) e não recebidos até o final do ano-base de 2004. A Administração deve decidir sobre os registros ou começar a fazer provisão para devedores duvidosos a partir do próximo exercício. Código Plano de Contas Antigo Código Plano de Contas Atual 2004
2003
121004 Valores a Regularizar
112.01.004-1 Valores a Recuperar
R$188,94
R$188,94
121005 Devedores Diversos
112.01.005-9 Devedores Diversos
R$3.393,08 R$3.393,08
121009 Cheque a Compensar
112.01.008-3 Cheque a Compensar
R$5.000,00
Total
Cheques a Apresentar(2) Cheques a apresentar SITUAÇÃO ECONÔMICO-FINANCEIRA Os indicadores de liquidez e endividamento melhoraram no ano de 2004, mas não suficientes para um real equilíbrio econômico-financeiro. A ABI enfrentou o primeiro semestre administrando com um fluxo de caixa desfavorável, captando empréstimo no mercado a curto prazo – cheque especial - para honrar as obrigações do exercício. A partir do segundo semestre, os resultados melhoram com a potencialização das receitas, através do ingresso de novos sócios, anúncios, patrocinadores e locação de áreas ociosas. Estas receitas extras reverteram o déficit projetado para 2004 em torno de R$200.000,00 para um superávit de R$175.763,69 (cento e setenta e cinco mil, setecentos e sessenta e três reais e sessenta e nove centavos). Mesmo assim, depende ainda liquidar obrigações imperiosas não cumpridas no passado, tais como: PIS sobre folha de pagamento, apropriações indébitas do IRF e contribuições do INSS retidos dos empregados. Vale ressaltar os esforços que estão sendo desenvolvidos no sentido de recuperar a titulariade de Entidade Filantrópica retroativa a janeiro de 1995, para que a ABI não tenha que reconhecer o passivo gerado com a perda da isenção das contribuições sociais.
2003 2003 R$R$ 1.619,78 1.619,78 (R$ 29.162,18) (R$ 29.162,18) (R$27.542,40) (R$27.542,40)
2003 —
Este valor representa o total pago aos empregados que serão reembolsados em processo de compensação na guia da GPS. Cabe a ressalva de que ao longo de alguns anos os valores de salário família não vinham sendo compensados e contabilizados diretamente em despesas na conta 311022 – Salário Família. Este procedimento foi prejudicial à entidade e merece uma apuração da conta visando a recuperação do crédito. Crédito de Difícil Liquidação(3) Crédito a Recuperar
2004 2004 R$125.338,37 R$125.338,37
2003 2003 R$125.338,37 R$125.338,37
O valor de R$125.338,37 (cento e vinte e cinco reais, trezentos e trinta e oito reais e trinta e sete centavos) vinha sendo apresentado no balanço até maio de 2003 no Ativo Circulante. Entretanto, como o valor, s.m.j., trata-se de vários direitos que merecem atenção jurídica e providências administrativas, a médio e longo prazos, para o seu recebimento, foi procedida uma melhor classificação em 2003 enquadrando aquele valor como REALIZÁVEL A LONGO PRAZO. Portanto, cabe à administração uma avaliação mais criteriosa para que se possa retratar na contabilidade o real valor de direito, levando em consideração o Princípio Contábil da Prudência. Ativo Permanente Imobilizado (4) 2004 2003 2004 2003 Móveis R$252.691,11 R$246.317,31 R$252.691,11 R$246.317,31 Imóveis R$338.844,81 R$338.844,81 R$338.844,81 R$338.844,81 Total R$591.535,92 R$591.535,92 R$585.162,12 R$585.162,12 Os valores do balanço patrimonial não retratam o preço real dos bens móveis e imóveis. Quanto aos valores dos imóveis, torna-se necessário uma reavaliação por perito ou empresa especializada. Para os bens móveis foi realizado um inventário físico conforme Anexo. Para regularizar a situação, os bens que constituem o ativo imobilizado deverão ser contabilizados pelo valor de custo, corrigidos pela variação da UFIR até 31 de dezembro de 1995, e ao custo histórico para os bens adquiridos a partir dessa data, e deverão ser depreciados pelo método linear em função do tempo de vida útil fixado por espécie de bens, conforme a seguir: BENS Móveis e Utensílios Máquinas e Equipamentos Computadores e Periféricos
PERCENTUAL AO ANO 10% 10% 20%
R$5.000,00
R$8.582,02 R$8.582,02
20042004 R$3.694,56 R$3.694,56
2004 2004 R$533,62 R$533,62
Cabe ressaltar que os novos bens adquiridos estão sendo contabilizados pelo valor de aquisição com controle do tempo de vida útil e depreciação, bem como, registrar que a entidade tem a necessidade de adquirir um sistema de controle de gestão dos bens.
2003 2003 R$19.158,02 R$19.158,02 OBRIGAÇÕES
Esta conta representa os cheques que estão em poder da ABI que não foram compensados.
Conta Corrente de Sócios(2) Caixa Auxílio
2004 R$4.815,00 R$4.815,00
2003 2003 R$4.815,00 R$4.815,00
Esta conta representa os valores do Caixa Auxílio emprestados aos sócios da ABI. Aluguéis e Taxas(2) Imóveis locados e cedidos
2004 2004 R$80.869,11 R$80.869,11
2003 2003 R$12.179,51 R$12.179,51
Tributos Federais (5) IRRF a Recolher
2004 2004 R$14.653,97 R$14.653,97
Este valor representa os valores históricos de retenção do imposto de renda na fonte praticado pela ABI e não recolhido. Trata-se de procedimento ilegal de Apropriação Indébita que a Administração deve priorizar uma solução de pagamento. Cabe a ressalva de que a nova administração a partir de maio de 2004 passou a adotar um procedimento de pagamento de todas as retenções. O valor retido atualizado até dezembro de 2004 totaliza R$22.412,70 (vinte e dois mil, quatrocentos e doze reais e setenta centavos), conforme Anexo.
Os valores representam o total dos créditos das contas dos imóveis locados e cedidos com pagamento de taxas do Imóvel situado à Rua Araújo Porto Alegre, 71 – Castelo, Rio de Janeiro – RJ, contabilizados pelo regime de competência. Cabe o registro que no ano de 2004 foi ampliado o Plano de Contas com detalhamento visando uma melhor gestão dos recursos.
Tributos Federais (5) ITR a Recolher
Publicidade(2) Prefeitura de Niterói Prefeitura de Nova Iguaçu Sec. Estado Comunicação Social Total
Tributos Federais (5) Retenção PIS,COFINS,CSLL Lei 10883
2004 R$ 2.400,00 R$ R$10.000,00 R$16.000,00 R$16.000,00 R$28.400,00
2003 — — — —
2003 2003 R$12.949,77 R$12.949,77
2004 2004 R$1.930,55 R$1.930,55
2003 2003 R$2.317,64 R$2.317,64
Este valor representa os valores históricos de multa pela não entrega das declarações anuais de 1998 e 1999 que foram parcelados e estão sendo pagos mensalmente. 2004 R$10,77
2003 —
Este valor representa a retenção realizada pela ABI, cumprindo a legislação vigente.
Contribuições Sociais (6) INSS Empregador a Recolher
2004 —
2003 —
Esta conta foi criada em decorrência do Ato Cancelatório de Isenção de Contribuições Sociais N° 17.001/001/2003, onde a ABI passou a ter obrigação de estar fazendo a provisão e pagamento de todas as obrigações das Contribuições Sociais do INSS. Logo, foi adotado o procedimento contábil de provisão dos valores nesta conta a partir de janeiro de 2004 sem efetuar os devidos pagamentos; visto que ainda existe recurso para recuperação da filantropia retroativa a janeiro de 1995, conforme processo nº 71010.000795/2004-17, em fase de julgamento no CNAS em Brasília. Caso o processo seja indeferido, a ABI recorrerá judicialmente. Os valores apurados até abril de 2004 e atualizados até dezembro 2004 são R$ 2.604.817,51 (dois milhões, seiscentos e quatro mil, oitocentos e dezesete reais e cinqüenta e um centavos), conforme Anexo, não foram contabilizados. Por orientação da Administração e para adotar melhor procedimento contábil, o valor do saldo da conta de R$127.270,71 (cento e vinte e sete mil, duzentos e setenta reais e setenta e um centavos), foi revertido em dezembro com o tratamento contábil de benefício obtido – renúncia fiscal. Contribuições Sociais (6) INSS Empregado a Recolher
2004 2003 2004 2003 R$141.785,18 R$120.632,79 R$120.632,79
Este valor representa os valores históricos de retenção da contribuição social do empregado pela ABI e não recolhido ao INSS. Trata-se de procedimento ilegal de Apropriação Indébita que a Administração deve priorizar uma solução de pagamento. Cabe a ressalva de que a nova administração a partir de maio de 2004 passou a adotar um procedimento de pagamento de todas as retenções. O valor retido atualizado até dezembro de 2004 totaliza R$207.642,02 (duzentos e sete mil, seiscentos e quarenta e dois reais e dois centavos), conforme Anexo. Contribuições Sociais (6) FGTS a Recolher
2004 2004 R$2.090,30 R$2.090,30
evidenciadas pela fiscalização do Ministério do Trabalho foram pagas e contribui para a redução do passivo. As demais obrigações representam autônomos, cheques a compensar e outras necessárias ao funcionamento da ABI. Cabe a ressalva de que as obrigações de empregados no mês de dezembro foram pagas no mês e contabilizadas pelo regime de caixa. 2004 Obrigações Diversas de Longo Prazo (11) 2004 R$163.080,97 Credores Diversos R$163.080,97 R$ 275,07 Valores a Regularizar R$ 275,07 R$163.356,04 Total R$163.356,04
2003 R$163.080,97 R$163.080,97 R$ R$ 275,07 275,07 R$163.356,04 R$163.356,04
Estas obrigações merecem um levantamento criterioso para que se possa retratar na contabilidade a real situação, pois ainda evidencia o saldo de maio de 2003. Patrimônio Líquido (12) Fundo Patrimonial Integralizado Fundo Caixa Auxílio Reservas para Despesas Gerais Ajuste de Exercícios Anteriores Déficit Acumulados Superávit do Exercício Total
2004 2004 20032003 R$301.357,78 R$301.357,78 R$301.357,78 R$ R$26.934,45 26.934,45 R$ 26.934,45 26.934,45 R$ R$ 26.526,57 26.526,57 R$ 26.526,57 R$ R$ 5.040,87 R$ 5.040,87 5.040,87 R$ R$229.797,47 R$229.797,47 R$229.797,47 R$175.763,69 R$175.763,69 — .. R$305.825,89 R$305.825,89 R$130.062,20 R$130.062,20
A conta Fundo Caixa Auxílio não retrata o valor apurado no Caixa Auxílio, ou seja, apresenta uma diferença de R$22.119,45 (vinte e dois mil, cento e dezenove reais e quarenta e cinco centavos). A conta Ajuste de Exercícios Anteriores merece também uma apuração. Logo, o Patrimônio Líquido aumentou em função do resultado positivo, mas não retrata a real situação patrimonial da ABI. Cabe recomendar à Administração deliberar para que se proceda aos ajustes necessários no próximo exercício.
2003 2003 R$43.625,29 R$43.625,29 FISCALIZAÇÃO
Este valor representa as obrigações de recolhimento do FGTS dos empregados contabilizados pelo regime de competência. Cabe registrar que a administração vem efetuando todos os pagamentos em dia e liquidou neste ano o parcelamento do passivo. Contribuições Sociais (6) Contribuição Sindical a Recolher
2004 2004 R$66,29 R$66,29
2003 —
Este valor representa as obrigações de recolhimento da Contribuição Sindical descontada de empregados para recolhimento ao Sindicato dos Empregados da Categoria. Contribuições Sociais (6) Contribuições Diversas a Recolher
2004 2004 R$2.012,39 R$2.012,39
2003 2003 R$1.167,11 R$1.167,11
Este valor representa as obrigações de recolhimento de Contribuições Diversas a Recolher descontadas dos empregados. Contribuições Sociais (6) INSS Autônomo a Recolher
2004 2004 R$3.726,05 R$3.726,05
2003 —
Representa os valores históricos de retenção da contribuição social dos autônomos efetuados pela ABI e não recolhidos ao INSS. Trata-se de procedimento ilegal de Apropriação Indébita que a Administração deve priorizar uma solução de pagamento. Cabe a ressalva de que a nova administração a partir de maio de 2004 passou a adotar um procedimento de pagamento de todas as retenções. O valor retido atualizado até outubro/2004 está incluído no débito apurado na planilha anexa, INSS Empregado. Contribuições Sociais (6) PIS sobre Folha a Recolher
2004 2004 R$9.852,03 R$9.852,03
2003 2003 R$7.638,75 R$7.638,75
Representa os valores históricos de obrigação de pagamento do PIS sobre folha de pagamento não recolhidos. Cabe a ressalva de que a nova administração a partir de maio de 2004 passou a adotar um procedimento de pagamento mensal destas obrigações. O valor devido atualizado até dezembro/2004 de R$15.630,11 (quinze mil, seiscentos e trinta reais e onze centavos) está demonstrado na planilha anexa.
A ABI procedeu no período à regularização (impressão, encadernação e registro dos livros diário e razão dos anos de 1995, 1996,1997, 1998, 1999, 2000, 2001 e 2002) no Registro Civil de Pessoas Jurídicas – RCPJ (cópia anexa), para cumprir exigência da fiscalização do INSS e demais legislações. Cumpre esclarecer que os livros acima referenciados foram assinados por esta Assistência Contábil para suprir omissão dos contadores anteriores visando a evitar autuações e multas à ABI. Porém foi elaborada uma planilha (anexa) que observa as providências tomadas. Para atender aos requisitos do reconhecimento da filantropia, esta Assistência Contábil desenvolveu uma metodologia de apuração dos valores gastos com gratuidade na atividade de saúde, retroativo a janeiro de 1995; de forma a compatibilizá-los com as exigências do INSS e CNAS. Este procedimento está sendo adotado pela primeira vez na contabilização deste exercício. Na área trabalhista, a ABI teve uma fiscalização do Ministério do Trabalho durante a transição para a nova administração. Na oportunidade, foi dado um ultimato para pagamento do débito de vale-transporte. Esta Assistência Contábil negociou o pagamento imediato com crédito em conta-corrente do empregado. Logo, a ABI no exercício de 2004 regularizou as pendências trabalhistas, concluindo, inclusive, o pagamento do parcelamento do FGTS dos empregados. Resta concluir uma negociação dos Acordos Coletivos dos anos de 2003 e 2004. Na esfera municipal, a ABI não sofreu fiscalização. Entretanto, cabe o registro da dívida ativa de IPTU inscrita no valor de R$330.874,58 (trezentos e trinta mil, oitocentos e setenta e quatro reais e cinquenta e oito centavos), (planilha anexa), ainda não reconhecida na contabilidade em decorrência da possibilidade de recurso na esfera judicial. Esta Assistência entregou relatório minucioso com as certidões da dívida ativa, onde constam Certidões em Cobrança Judicial – CCJ, e em fase de leilão que merecem atenção da área jurídica.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE IMPRENSA Fornecedores (7) Fornecedor a Pagar CEDAE Demais contas de fornecedores Total
2004 2003 2003 2004 R$ 70.314,78 R$171.453,62 R$ R$133.585,66 — — R$133.585,66 R$ 21.661,85 21.661,85 — R$ R$225.562,29 R$171.453,62 R$171.453,62 R$225.562,29
Este valor representa as obrigações para com fornecedores pelo fornecimento de materiais e serviços. Em 2004 foi adotada uma prática contábil de separar obrigações mensais desta conta e proceder o reconhecimento dos fornecedores na contabilização mensal, adotando o princípio da competência visando uma melhor gestão do passivo. Neste propósito, foi criada conta de todos os fornecedores habituais e transferido os valores para as respectivas contas ficando um saldo de R$70.314,78, que merece verificação para ajustar o saldo da conta à sua realidade. 2003 2004 Obrigações c/Instituições de Crédito (8) 2004 2003 R$ 0,00 Banrisul R$ 0,00 R$33.255,57 R$33.255,57 R$ R$ 812,94 Bradesco 812,94 R$ R$92,8092,80 R$ R$ 0,00 0,00 R$ Real R$8.407,32 8.407,32 R$ 812,94 Total R$ 812,94 R$ R$41.755,69 41.755,69 Este valor representa as obrigações de utilização de cheque especial. Em comparação ao ano de 2003, fica evidente que a ABI melhorou significativamente seu fluxo de caixa e liquidou as dívidas ao longo do exercício. Esta política melhorou a gestão dos recursos no curto prazo e conseqüentemente gerou um capital de giro que era inexistente. Obrigações Obrigações c/empregados (9) Outras Obrigações (10) Total
2004 2003 2004 2003 R$10.949,76R$44.305,04 R$44.305,04 R$10.949,76 R$21.376,06 R$21.376,06R$27.370,98 R$27.370,98 R$32.325,82 R$32.325,82R$71.676,02 R$71.676,02
As obrigações para com empregados decorrentes de débitos atrasados
OSCAR MAURÍCIO DE LIMA AZÊDO
SERGIO C. BARBOSA
Presidente
Contador CRC RJ 073957-O-3
Parecer do Conselho Fiscal – Gestão 2004/2005 Os Conselheiros Adriano Barbosa, Aziz Ahmed (secretário), Jesus Antunes (Presidente), Luiz Carlos de Oliveira e Zilda Ferreira, reunidos na sede da Associação Brasileira de Imprensa – sala do Conselho Fiscal /11° andar – conforme determina o estatuto da Casa do Jornalista, Capítulo VII, relatam e decidem o seguinte: Levando em consideração o Parecer Fiscal da gestão anterior (2003-2004), do Relatório do Diretor-Financeiro do mesmo ano e o documento Considerações de um Mandato, do então secretário e conselheiro da Diretoria (20022004), esclarece que alguns dos problemas existentes e deixados por diretorias anteriores foram, em parte, solucionados, pela atual Diretoria (2004-2007) e os mais graves e complexos encaminhados às suas devidas instâncias administrativa, contábil, financeira e jurídica. A previsão orçamentária de 2004, cujo déficit seria de R$ 200.000,00 (duzentos mil reais), foi revertida em um superávit de R$ 175.000,00 (cento e setenta e cinco mil reais). A perda da filantropia por parte da ABI gerou passivo de R$ 2.604.817,51 (dois milhões, seiscentos e quatro mil, oitocentos e dezessete reais e cinqüenta e um centavos) junto ao INSS, bem como outro valor por apropriação indébita (2000-2004) de R$ 220.352,30 (duzentos e vinte mil, trezentos e cinqüenta e dois reais e trinta centavos) também do INSS e do IRRF (2002/ 2004), no total de R$ 22.412,70 (vinte e dois mil, quatrocentos e doze reais e setenta centavos). Quanto ao Caixa-Auxílio (Fundo) apresenta uma diferença, talvez contábil, de R$ 22.119,45 (vinte e dois mil, cento e dezenove reais e quarenta e cinco centavos). Concomitantemente, foi realizado o exame dos Livros Contábeis, dos Documentos da Tesouraria (caixa) e Contratos de Locação com as recomendações à Diretoria e ao Jurídico quanto às garantias reais de fiadores (avalistas). Assim sendo, o Conselho Fiscal decide, por unanimidade, pela Aprovação do Balanço Geral, Ano Fiscal de 2004. Rio de Janeiro, 28 de março de 2005. Jesus Antunes Presidente Aziz Ahmed Secretário Adriano Barbosa Luiz Carlos Oliveira Zilda Ferreira Membros
APOLÔNIO A memória viva de um tempo de sonho e heroísmo
Foi com grande emoção que os parentes, amigos e antigos companheiros de Paulo de Castro ouviram o último orador da sessão em que a ABI prestou homenagem póstuma ao jornalista e escritor acolhido no Brasil, como exilado político, depois de participar da resistência à ditadura salazarista, em seu país, de combater nas brigadas de voluntários de defesa da República Espanhola e, com a derrota desta, ser internado num dos campos de concentração em que o Governo da França confinou os sobreviventes da Guerra Civil da Espanha após a vitória das forças do General Francisco Franco. É que esse orador, Apolônio de Carva“Queridos amigos e amigas, Tudo o que se poderia falar do meu querido amigo Cachapuz, chamado de Paulo de Castro no Brasil, já foi feito aqui. O seu retrato foi composto de maneira fiel e, sobretudo, marcante. Eu me atreveria a fazer, se permitissem, um pequeno adendo. Foi mostrado aqui o homem de talento, o combatente político, o historiador, o jornalista. Eu gostaria de lembrar, se vocês permitirem, como um pequeno adendo, o cidadão e, como marca principal do cidadão, o militante político, em particular, como muitos de nós, o militante de esquerda. Essa característica comum fez que peregrinássemos, em nossa juventude, por várias áreas marcadas pelos níveis mais altos das crises políticas da época, que nos víssemos ali onde o espírito de solidariedade, o espírito de contato e ao mesmo tempo a vivência comum dos povos irmãos nos tinham levado à defesa, como voluntários, da República Espanhola invadida, mutilada e, após, batida pelas forças conjugadas dos elementos ditatoriais que vinham da Itália e da Alemanha e de dentro da própria Espanha, fruto da coligação conservadora das centenas de velhos generais espanhóis, dos príncipes da Igreja, dos restos da monarquia. Tudo isso fez que fôssemos conhecer pessoalmente o nosso Cachapuz, o nosso Paulo de Castro, já com vinte e poucos anos, em condições muito especiais, como “hóspedes” do Governo francês em seus campos de concentração da área dos Pirineus. Foi num dos campos de concentração que nós viemos a conhecer-nos. E
lho, convivera com Paulo de Castro nesses campos de concentração e podia prestar, quase 70 anos depois, um depoimento sobre os verdes anos em que ambos, como milhares de combatentes de vários continentes, lutavam de armas na mão por um mundo de liberdade e justiça. Convidado para o ato pela família de Paulo de Castro, a quem se referia mais como Cachapuz, sobrenome do jovem que conhecera nesse tempo de sonho e
heroísmo, Apolônio, chegou sem alarde com sua mulher Renée, a francesinha que conheceu na Resistência Francesa, nos anos 40, e que fora sua companheira em arriscadas e audaciosas ações de enfrentamento subterrâneo com os ocupantes nazistas, e atendeu ao convite para proferir as palavras de encerramento do ato. Alto, já arcando o corpo de cerca de um metro e noventa com o peso de seus 92 anos, Apolônio surpreendeu a platéia com um improviso em que impressionou pela nitidez da memória, pela vigor da palavra, pela lucidez com que evocou o companheiro e as cau-
sas pelas quais combateram e pela esperança de um tempo melhor que ainda o move. O Tributo a Paulo de Castro está relatado na página 28 desta edição, que registra a seguir o seu momento de maior emoção: o texto integral da intervenção de Apolônio, uma figura mitológica do nosso tempo: participante, jovem tenente do Exército, da insurreição da Aliança Nacional Libertadora em novembro de 1935, combateu nas brigadas internacionais republicanas na Guerra Civil da Espanha e lutou na clandestina Resistência Francesa, na qual chegou a coronel e justificou a suprema distinção que a França lhe concedeu: a Legião de Honra. A seguir, o pronunciamento de Apolônio.
é neste aspecto que eu queria trazer a vocês um pouco do que me traz a memória. Se no quadro de História de ontem e de hoje os que me precederam de maneira muito rica marcaram a imagem da época e do homem, a memória ajuda a mostrar também os elementos mais íntimos, a análise do passado e do presente e a busca de caminhos para um futuro melhor. Neste ponto eu queria marcar, antes de tudo, uma das características flagrantes do nosso homenageado: o sentimento de família, o grande amor por sua Ethel, sua esposa, por sua Andréa, por seus filhos, e o carinho imenso que tinha pelos amigos e companheiros e o desvelo por acompanhar as suas condições e suas dificuldades dentro desses anos e dessas décadas que marcavam, já com ele aqui no Brasil, o nosso período mais próximo da clandestinidade. Dentro desse quadro eu queria lembrar o que nos unia particularmente nos meses em que vivemos juntos nos campos de concentração franceses e nas poucas vezes em que pudemos ver-nos e sentir-nos depois, já aqui, com sua presença no Brasil. Seria importante reafirmar um dos traços fundamentais de Paulo de Castro que nos foram lembrados aqui há pouco, em especial a sua condição de professor. Quando o conheci num campo de concentração francês, eu, participante da delegação de voluntários brasileiros, ele como participante da delegação portuguesa, pude sentir, no contato com ele, a profundidade de sua sede de cultura, a sua capacidade,
colhida em Portugal, mas particularmente na França, de sentir o ontem e o hoje da sociedade e poder assim acumular elementos no debate de idéias para as perspectivas do amanhã. Queria lembrar particularmente a sua visão ampla e abrangente do quadro de debate político e de confronto de idéias. Cachapuz foi, antes de tudo, uma figura aberta a compreender a imensa importância da existência do que é diferente, a imensa importância das contradições que asseguram o desenvolvimento não apenas da natureza, não apenas da sociedade, mas sobretudo do espírito de nossas consciências. Sob esse aspecto aprendi com Cachapuz uma série de ensinamentos e de lições. É verdade que na Espanha não éramos figuras isoladas. A Espanha reunia, ao lado da República traída e mutilada, o que havia de mais ardoroso no quadro dos partidários da liberdade, dos direitos humanos e da busca de uma sociedade melhor. E não apenas dentre os países vizinhos, como era o caso dele, que vinha de Portugal. Era o caso dos demais países da Europa Meridional , mas também de áreas muito longínquas, como a Malásia, como a China e a Índia, como a Austrália, como as Américas do Norte, do Centro e do Sul. Havia assim para mim, jovem de vinte e poucos anos como Cachapuz, um campo imenso de riqueza de idéias e de lições de vida para aprender. Queria lembrar finalmente, para não roubar mais tempo de vocês neste final de tão bela cerimônia, alguns elementos particulares que fizeram de Cachapuz não apenas o organizador do debate de idéias na sua equipe de voluntários portugueses. Ele dava cursos para os seus companheiros porque sabia que a His-
tória muda não apenas pela presença ativa do povo, mas na medida em que os níveis novos de consciência, nascidos do debate de idéias, ajudam a compreender a necessidade dessas mudanças. Assim, ele foi um elemento teórico que ajudou a compreender que os horizontes mais longínquos não são alvos assim inatingíveis, ao contrário, porém não podem ser alcançados da noite para o dia. Ele ensinou também que a militância política não pode ser efetiva, não pode ser criadora se não se apóia no conhecimento da realidade e ao mesmo tempo no conhecimento da História, nas lições e experiências acumuladas no ontem, no anteontem e no hoje, ainda em busca de algo melhor amanhã. Entre as lições que recebi de Cachapuz, do nosso Paulo de Castro, queria lembrar ainda a sua visão da democracia como a grande arma, o grande sistema político capaz de abrir os caminhos do amanhã. Ele me fez compreender que a democracia, em seu desenvolvimento constante, abre caminho para as sociedades melhores e mais justas e para uma sociedade superior amanhã. Quero agradecer muito a honra que me deram numa reunião que é quase uma grande família de amigos e lembrar como elemento final uma das lições mais altas que permanentemente recebi do nosso homenageado: a visão do mundo com confiança, a certeza e a confiança de que as forças do progresso, as consciências livres, os que pensam, sentem e lutam pelo privilégio de sonhar e de viver são chamados a olhar as condições mais difíceis e os momentos mais duros com um espírito novo, com a visão de confiança nos horizontes novos, com muita e muita esperança. Muito obrigado.”