DIVULGAÇÃO
COMEÇAM AS COMEMORAÇÕES DO CENTENÁRIO Comissão de Honra reúne personalidades como Tony Ramos (à esquerda) e Zuenir Páginas 7, 8, 9, 10, 11, 12, 13, 14 e 15
Órgão oficial da Associação Brasileira de Imprensa
Jornal da ABI
326 FEVEREIRO 2008
ANA CAROLINA FERNANDES/FOLHA IMAGEM
O CALVÁRIO DA REPÓRTER ELVIRA LOBATO
QUEREM ESMAGÁ-LA POR DIZER A VERDADE
Jornalista percorre uma via-crúcis imposta por mais de 60 ações ajuizadas pela Igreja Universal do Reino de Deus. Páginas 26, 27, 28, 29, 30 e 31 e Editorial Terror multiplicado na página 2
Ação de Miro dá cartão vermelho à Lei de Imprensa Páginas 24 e 25
Comissão de Anistia faz sessão na ABI Reunião julga processos de jornalistas há anos sem decisão. Página 32
AUGUSTO BOAL
ESPECIALIDADE
Queremos o Nobel da Paz para o criador do Teatro do Oprimido
Noronha e outros bambas expõem os segredos da cobertura esportiva
Páginas 19
Páginas 3, 4 e 5
ARCOZELO RETOMA SONHO DE PASCHOAL PREFEITURA DE PATY DO ALFERES VAI RECUPERAR A ALDEIA DO CRIADOR DO TEATRO DO E STUDANTE DO B RASIL. P ÁGINA 19
LANCE! FAZ UM GOL CONTRA O PODEROSO CHEFÃO DA CBF O JORNAL CONSEGUE DERROTAR NA JUSTIÇA O NOSSO MAIOR CARTOLA, QUE COSTUMA GANHAR TODAS AS AÇÕES JUDICIAIS. P ÁGINA 25
LE MONDE DIPLOMATIQUE CONQUISTA BOM ESPAÇO EDIÇÃO NACIONAL DO INFLUENTE JORNAL FRANCÊS CONSOLIDA SUA POSIÇÃO NO MERCADO EM QUE SE LANÇOU AGORA. PÁGINA 18
Editorial
TERROR MULTIPLICADO A PESADA CARGA DE AÇÕES AJUIZADAS contra veículos de comunicação de vários Estados por agentes e fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus constitui uma das mais intoleráveis ofensas já perpetradas contra a liberdade de informação no País em qualquer tempo, mesmo em comparação com o que se fez de arbítrio nesse campo, e foi demasiado, durante o regime militar. Destituída de qualquer compromisso com a legalidade, a ditadura impôs férrea censura à liberdade de expressão e de criação artística de forma abusivamente descarada, para o fim de preservar e prolongar seu domínio de terror. Agora, para espanto de quantos se preocupam com a plenitude e indenidade das instituições e franquias democráticas estabelecidas pela Constituição de 1988, um setor da sociedade busca o caminho enviesado do acesso ao Poder Judiciário para tentar impor silêncio aos meios de comunicação. Estamos diante de grave irrisão: a de ver a Justiça acionada para impor a ilegalidade, a transgressão das normas constitucionais. Desde o primeiro momento em que se tornou pública a ameaça representada por esse conjunto de ações, a ABI declarou sua solidariedade com os alvos da investida repressora – os jornais Folha de S. Paulo e sua repórter Elvira Lobato, O Globo e Extra, do Rio, e A Tarde, de Salvador, e sua agência de notícias – e expressou sua severa
Associação Brasileira de Imprensa
condenação aos autores da manobra concebida e orquestrada pelo comando superior da Igreja Universal, seu estado-maior, que urdiu, programou e executou o monte de ações liberticidas. Em tudo ficou visível a perversidade demoníaca da tentativa de inibição e supressão da liberdade de informação: o baixo valor atribuído aos pedidos de indenização por dano moral, o qual permitiria a multiplicação ao infinito das ações pertinentes; a estruturação e redação idênticas dos textos das petições submetidas à Justiça; a apresentação dos pleitos em juizados de pequenas causas, nos quais a parte ré é liminarmente declarada vencida se não comparecer à audiência inaugural do processo; o ajuizamento das ações numa vintena de Estados e, nestes, em Municípios muito afastados das capitais. Para ferir de morte a liberdade de informação, os autores da conspiração tiveram como catapulta a sonegação do direito de ampla defesa e do contraditório prescrito na Carta Constitucional. Conforta saber e registrar com ênfase que, ao contrário do que tem acontecido com postulações de imposição de censura prévia acatadas sobretudo por magistrados de primeira instância, nestes processos a Justiça tem fulminado as pretensões dos autores e assinalado, com forte tom recriminatório, a má-fé presente em tais litigâncias.
Nesta Edição Entram em campo notícias e opiniões História: As neves do Monte Castelo
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Lembrança: A presença de Mário Barata A grande música no nosso show do centenário
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CONSELHO CONSULTIVO Chico Caruso, Ferreira Gullar, José Aparecido de Oliveira (in memoriam), Miro Teixeira, Teixeira Heizer, Ziraldo e Zuenir Ventura. CONSELHO FISCAL Luiz Carlos de Oliveira Chesther, Presidente; Argemiro Lopes do Nascimento, Secretário; Adriano do Nascimento Barbosa, Arthur Auto Nery Cabral, Geraldo Pereira dos Santos, Jorge Saldanha e Manolo Epelbaum. CONSELHO DELIBERATIVO (2007-2008) Presidente: Fernando Barbosa Lima 1º Secretário: Lênin Novaes 2º Secretário: Zilmar Borges Basílio Conselheiros efetivos (2005-2008) Alberto Dines, Amicucci Gallo, Ana Maria Costábile, Araquém Moura Roulien, Arthur José Poerner, Audálio Dantas, Carlos Arthur Pitombeira, Conrado Pereira (in memoriam), Ely Moreira, Fernando Barbosa Lima, Joseti Marques, Mário Barata (in memorian), Maurício Azêdo, Milton Coelho da Graça e Ricardo Kotscho. Conselheiros efetivos (2006-2009) Antônio Roberto Salgado da Cunha, Arnaldo César Ricci Jacob, Arthur Cantalice, Aziz Ahmed, Cecília Costa, Domingos Augusto Xisto da Cunha, Domingos Meirelles, Fernando Segismundo, Glória Suely Alvarez Campos, Heloneida Studart (in memoriam), Jorge de Miranda Jordão, Lênin Novaes de Araújo, Márcia Guimarães, Nacif Elias Hidd Sobrinho e Pery de Araújo Cotta. Conselheiros efetivos (2007-2010) Artur da Távola, Carlos Rodrigues, Estanislau Alves de Oliveira, Fernando Foch, Flávio Tavares, Fritz Utzeri, Jesus Chediak, José Gomes Talarico, José Rezende Neto, Marcelo Tognozzi, Mário Augusto Jakobskind, Orpheu Santos Salles, Paulo Jerônimo de Sousa, Sérgio Cabral e Terezinha Santos. Conselheiros suplentes (2005-2008) Anísio Félix dos Santos (in memoriam), Edgard Catoira, Francisco Paula Freitas, Geraldo Lopes (in memoriam), Itamar Guerreiro, Jarbas Domingos Vaz, José Amaral Argolo, José Pereira da Silva, Lêda Acquarone, Manolo Epelbaum, Maria do Perpétuo Socorro Vitarelli, Pedro do Coutto, Sidney Rezende, Sílvio Paixão e Wilson S. J. Magalhães. Conselheiros suplentes (2006-2009) Antônio Avellar, Antônio Calegari, Antônio Carlos Austregésilo de Athayde, Antônio Henrique Lago, Carlos Eduard Rzezak Ulup, Estanislau Alves de Oliveira, Hildeberto Lopes Aleluia, Jorge Freitas, Luiz Carlos Bittencourt, Marco Aurélio Barrandon Guimarães (in memoriam), Marcus Miranda, Mauro dos Santos Viana, Oséas de Carvalho, Rogério Marques Gomes e Yeda Octaviano de Souza. Conselheiros suplentes (2007-2010) Adalberto Diniz, André Moreau Louzeiro, Arcírio Gouvêa Neto, Benício Medeiros, Germando de Oliveira Gonçalves, Ilma Martins da Silva, José Silvestre Gorgulho, Luarlindo Ernesto, Luiz Sérgio Caldieri, Marceu Vieira, Maurílio Cândido Ferreira, Yacy Nunes e Zilmar Borges Basílio.
Adesão de Hélio Fernandes: Diga ao povo que aceito Centenário da ABI deveria ser comemorado como feriado nacional, diz Cícero Sandroni
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Le Monde Diplomatique agora em português Maranhão cria Prêmio Neiva Moreira
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Apoio ao Nobel da Paz para Boal Arcozelo retoma obras do sonho de Paschoal
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COMISSÃO DE SINDICÂNCIA Ely Moreira, Presidente; Carlos di Paola, Jarbas Domingos Vaz, Maria Ignez Duque Estrada Bastos e Maurílio Cândido Ferreira.
Como a sociedade se organizava no princípio do século 20? Japiassu manda seu Jornal dos Jornais
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COMISSÃO DE ÉTICA DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO Alberto Dines, Arthur José Poerner, Cícero Sandroni, Ivan Alves Filho e Paulo Totti.
Edgar Rodrigues, libertário em dois mundos Um suplemento raro para a Biblioteca Bastos Tigre
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Na série Arquivinho, Nélson Rodrigues
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SEÇÕES ACONTECEU NA ABI L IBERDADE DE IMPRENSA
DIREITOS HUMANOS
VIDAS
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DIRETORIA – MANDATO 2007/2010 Presidente: Maurício Azêdo Vice-Presidente: Audálio Dantas Diretor Administrativo: Estanislau Alves de Oliveira Diretor Econômico-Financeiro: Domingos Meirelles Diretor de Cultura e Lazer: Jesus Chediak Diretor de Assistência Social: Paulo Jerônimo de Sousa (Pajê) Diretor de Jornalismo: Benício Medeiros
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Filmes brasileiros, opção do Cine ABI Em dois Estados, o totalitarismo da censura prévia
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Cartão vermelho para a Lei de Imprensa Lance! vence Teixeira na Justiça
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A Universal declara guerra à imprensa e ao direito de defesa Elvira Lobato: Fui agredida!
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Justiça pune o Grupo Tortura Nunca Mais A chibata continua?
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A ABI, cenário de julgameno da anistia O AI-5 faz 40 anos
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Gerchman, o diagramador banido Marco Aurélio, o Jangada do samba, craque do jornalismo
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Lysandro, 22 anos a serviço da ABI Patarra, um que não fazia jornalismo bem comportado
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Aziz e Calegari na homenagem a Benedicto de Barros
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COMISSÃO DE LIBERDADE DE IMPRENSA E DIREITOS HUMANOS Audálio Dantas, Presidente; Arthur Cantalice, Secretário; Arcírio Gouvêa Neto, Daniel de Castro, Germando de Oliveira Gonçalves, Gilberto Magalhães, Lucy Mary Carneiro, Maria Cecília Ribas Carneiro, Mário Augusto Jakobskind, Martha Arruda de Paiva, Orpheu Santos Salles, Wilson de Carvalho, Wilson S. J. Magalhães e Yaci Nunes.
Jornal da ABI Rua Araújo Porto Alegre, 71, 7º andar Telefone: (21) 2220-3222/2282-1292 Cep: 20.030-012 Rio de Janeiro - RJ (jornal@abi.org.br) Editores: Francisco Ucha e Maurício Azêdo Projeto gráfico, diagramação e editoração eletrônica: Francisco Ucha Apoio à produção editorial: Ana Paula Aguiar, Fernando Luiz Baptista Martins, Guilherme Povill Vianna, José Ubiratan Solino, Maria Ilka Azêdo e Solange Noronha. Diretor responsável: Maurício Azêdo Impressão: Taiga Gráfica Editora Ltda Avenida Dr. Alberto Jackson Byington, 1808, Osasco, SP As reportagens e artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do Jornal da ABI.
ESPECIALIDADE HIDDEN SIDE
A SUDERJ INFORMA: ENTRAM EM CAMPO NOTÍCIAS E OPINIÕES Repórteres esportivos, antes marginalizados, ganham pouco a pouco o devido reconhecimento profissional, mas ainda sofrem preconceitos. POR R ODRIGO CAIXETA
Durante muito tempo, os jornalistas esportivos sofreram preconceito em relação aos profissionais de outras editorias. Nos anos 30, aos focas que chegavam às redações sobravam a cobertura de esportes, polícia e Carnaval. Na época, a imprensa esportiva era malvista e dizia-se que os que se dedicavam a ela não precisavam ter muita cultura nem bagagem intelectual. Os próprios donos de jornais costumavam dizer que escrever sobre esportes era atividade lúdica, algo longe de ser profissional.
Com o surgimento de estrelas como Pelé e Garrincha, para ficarmos apenas no Brasil, os jornalistas esportivos ganharam certo status, embora seus salários continuassem defasados em relação aos das demais editorias. No entanto, a área exige profissionais especializados. Não basta ter paixão por esportes, embora este seja o pontapé inicial. A maior parte do noticiário é sobre futebol, mas faltam especialistas em outros temas de destaque, como a ginástica olímpica e o vôlei, que acabam sendo comentados por atletas e ex-atletas nas emissoras de rádio e tv.
Imparcialidade: essencial Assim como todas as editorias, a de Esportes exige esforço, independência, imparcialidade e criatividade. Sérgio Noronha, comentarista da TV Globo, começou na revista O Cruzeiro e passou por grandes jornais, como Diário Carioca, Correio da Manhã e Jornal do Brasil, e pelas rádios JB, Globo e Tupi. Para ele, a experiência só se adquire após muito tempo: — Em início de carreira, o repórter deve aceitar qualquer tipo de trabalho. Mesmo quando se é profissional qualificado, é preciso ter o mínimo de respaldo para garantir uma vaga. Para
fazer uma análise mais crítica é necessário tempo de profissão, vivência; por isso os repórteres recém-saídos da faculdade não têm essa capacidade. Sérgio Noronha diz que a cobertura esportiva da tv é diferente da feita pelo jornal. A imprensa enfrenta a televisão “com colunistas e material mais analítico, pois tem mais tempo para produção; no entanto, a tv faz uma cobertura mais rica”. E recomenda: — É bom que se tenha boa memória, o que não é meu caso. Todo repórter, quando vai fazer uma cobertura, deve fazer uma boa pesquisa, resgatar momentos históricos para análises e Jornal da ABI 326 Fevereiro de 2008
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ESPECIALIZAÇÃO A SUDERJ INFORMA: ENTRAM EM CAMPO NOTÍCIAS E OPINIÕES
comparações. Com isso, ele vai armazenando dados na cabeça.
dispõem de um lastro que só o tempo de carreira dá.
Faltam boas histórias Paulo César Vasconcelos, apresentador da ESPN Brasil e colunista do Lance!, avalia as diferentes formas de cobertura: — Acredito que a cobertura das tvs muitas vezes está na frente da feita pelos jornais, que estão passando por um momento de transição. Eles perdem para a televisão na instantaneidade e precisam ser mais precisos na informação, devidamente qualificada por bons textos e matérias exclusivas. As editorias de Esporte sofrem com a falta de boas histórias. Muitas vezes, sinto a ausência de um bom pauteiro. Às faculdades de Comunicação cabe oferecer boa formação para os repórteres, que, diz Paulo César, devem ter algumas características indispensáveis: — Não creio que eles saiam preparados para análises, pois é preciso queimar etapas. O peso dos livros é fundamental. O gosto pela leitura e pela informação tem que pautar o comportamento do novo e do velho profissional. Paulo César também considera o conhecimento geral um requisito importante: — Não se trata de boa memória. Chamo isso de interesse, necessário em qualquer área. O repórter de Política precisa saber quem foi o Ranieri Mazzili; o de Economia, o Otávio Gouvêa de Bulhões; e o de Cultura, o papel do Frank Capra. O que muitos consideram excentricidade ou feito não passa de obrigação.
Sem marginalização André Gonçalves, repórter da Rádio Brasil, tem pouco tempo no veículo, mas acumula experiência e dinamismo, qualidades que o levaram à atual empresa. Como os colegas, ele discorda da visão marginalizada dos profissionais do Esporte. E vai mais longe, afirmando: — Quem faz esporte escreve para qualquer segmento no jornalismo. Agora, experimente colocar um jornalista de Política para escrever sobre um Flamengo x Vasco. Com certeza ele ficará perdido! O jornalista esportivo tem condições de escrever para qualquer editoria. Sempre estamos preparados. Para André, a cobertura do rádio interfere nos demais veículos: — O rádio é imediato e influencia não só o jornal, mas também a tv. Por exemplo, o Momento esportivo, programa do qual participo, traz entrevistas em primeira mão. Na maioria das vezes, o Globo esporte não mostra no ar o que o ouvinte da Rádio Brasil já sabe naquele momento. E o que você lê no jornal foi ao ar no rádio no dia anterior. André não considera que um narrador esportivo precisa ter memória de elefante. É aí então que as pesquisas de jornais entram em cena. Para ele, o bom narrador é aquele que corre atrás de suas informações e tem capacidade de contextualizá-las com a partida, mas também é preciso algo mais: — Trabalhar com o esporte no rádio é um dom, esta é a palavra-chave, mas, obviamente, o esforço, a dedicação e o profissionalismo são importantes também. Fernando Nardini, cujo primeiro emprego foi em rádio, considera que o veículo dá uma capacidade de improviso incrível, que faz falta na tv. Já Paulo César Vasconcelos diz que o rádio perdeu espaço na mesma proporção em que a tecnologia avançou, “embora não exista meio mais veloz”. Apesar de considerá-lo uma ótima escola, Paulo César, no entanto, acredita que o jornal ainda é a melhor de todas.
Os tempos mudaram Nas redações há 25 anos, Paulo César Vasconcelos já passou por grandes veículos, como a Rádio Nacional, a Rede Globo e os jornais Última Hora, O Globo e JB. Sobre a discriminação do repórter de Esportes em relação às demais editorias, ele garante: — Já houve mais preconceito. Acho que o jornalista esportivo, em outras épocas, contribuiu para esta imagem. Hoje, apesar de uma manifestação aqui e outra ali, ele é tratado com mais respeito. De uma geração mais nova, Fernando Nardini, ex-apresentador do Esporte total, da Band, foi contratado recentemente pela Rede Record como repórter do Fala, Brasil, para cobrir a área em que se especializou. Aos 27 anos, trabalha em tv desde 1998. Na sua opinião, existe sim o preconceito de que o repórter esportivo é menos preparado: — Além disso, ele é menos valorizado também. Normalmente, quem conhece política tem também noções de economia e de outros setores cobertos pela imprensa. Acredita-se por aí que quem faz esporte é bitolado só em esporte. Fazer o quê? Isso é papo furado, mas acho que já foi mais perceptível. Fernando lembra também das exigências para quem almeja uma vaga na profissão: 4
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Silvio Barsetti – na foto, ao lado de Zagalo – concorda em que a maioria dos repórteres da área não se interessa por outro assunto, senão o esporte, e muitos não têm o hábito de ler.
— Evidentemente, em primeiro lugar, é preciso ser jornalista. Falar inglês é muito importante; ter conhecimentos de computador e internet, também. A experiência conta demais. É difícil jovens recém-formados serem contratados para começar do zero. Quando acontece algo assim, há a preferência de se formar o profissional dentro da emissora desde o estágio. O preparo dos estudantes começa antes da faculdade, diz Fernando, e o candidato ao jornalismo esportivo, as-
pressão de que o repórter esportivo não está a par de outros assuntos. Cultura geral e atualidade têm que estar presentes em qualquer profissional, seja ele esportivo ou não. Trabalhando com radiojornalismo esportivo há dez anos, Rafael começou a carreira na Rádio Relógio Federal, cobrindo futebol de salão, passou pelas emissoras Carioca, FM Ilha, Brasil e Tupi e desde 2002 está no Sistema Globo de Rádio. Para ele, o veículo é a melhor escola:
“Se você quer rotina, vá trabalhar em banco.”
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sim como nas demais editorias, não deve esperar por uma vida tranqüila: — Se você quer rotina, vá trabalhar em banco. Um grande passo é colocar na cabeça que jornalista não tem horário, feriado, fim de semana... Daí em diante, se tiver bom texto e muita vontade e disposição, além de algum conhecimento da área, certamente se dará bem. A melhor escola Na opinião de alguns profissionais, o rádio é considerado a maior escola para os jornalistas esportivos. O imediatismo e o improviso são características essenciais para uma boa cobertura. Rafael Marques, repórter da Rádio Globo, é incisivo quando o assunto é a alegação de que o repórter de Esportes não é bem preparado: — É uma acusação totalmente infundada. A maior prova disso é que os repórteres esportivos quase sempre são requisitados para cobrir eleições, Carnaval, ou qualquer outro evento que exija um corpo maior de profissionais em ação. O problema é que, pela especificidade da função, surge a im-
— Transmitir um evento esportivo dá ao profissional know-how para exercer qualquer tarefa ao microfone. No futebol, mais especificamente, você desenvolve o improviso, a rapidez de raciocínio, a sensibilidade jornalística, a capacidade de descrição e a habilidade de dar peso à notícia através da voz, entre outras. Rafael entende que, ao sair da faculdade, os estudantes devem ter quatro características: conhecimento básico da profissão, feeling, conceitos claros de ética profissional e, acima de tudo, disposição para aprender. Ele também alerta os novatos para a influência que a cobertura radiofônica pode ter na imprensa: — A cobertura na mídia falada, pela aproximação do fato com o tempo real, muitas vezes antecipa informações que podem ganhar uma conotação mais analítica na mídia impressa. É notório que o contexto atual equipara os veículos no que tange ao caráter crítico, mas o maior entrave para um foca adotar a postura analítica é a falta de um “estabelecimento” profissional. Ou seja, a opinião precisa ser dada por críticos que
Para Rafael Marques, repórter esportivo tem cultura e atua em outras editorias.
Influência da televisão Sílvio Barsetti, editor-assistente da sucursal Rio de O Estado de S. Paulo, destaca dois requisitos que os estudantes devem trazer da faculdade: conhecimentos básicos nas áreas de ciências sociais e políticas e texto. Sobre a influência da cobertura da tv sobre o jornal, diz: — Tem relevância, ainda mais com a transmissão dos jogos de futebol, esporte que predomina nessa editoria nos jornais brasileiros. É comum repórteres de jornais recorrerem a ima-
DIVULGAÇÃO
A rotina dos jornais Os jornais, encarregados de fazer uma cobertura mais completa dos jogos, seguem uma rotina de atividades. Antônio Maria, repórter e colunista de O Globo, descreve o dia-a-dia da Redação: — Os repórteres de Esportes são setoristas de cada clube e normalmente já sabem a pauta do dia seguinte, pois têm uma programação preestabelecida. Há também os repórteres que fazem matérias especiais e ficam em stand-by. Geralmente, às sextas-feiras acontece uma reunião de pauta entre repórteres e editores para discutir o que sairá no fim da semana seguinte. Quando o repórter faz uma cobertura pela manhã, não sabe o tamanho do texto, da foto, da legenda etc. Quando sai à noite, porém, já sabe o tamanho da matéria, pois tem um rascunho do leiaute da página. Maria tem autonomia para editar seus textos. E o importante é que ele tenha credibilidade, que saiba ouvir, checar e afirmar que a informação é procedente. Ele cobriu todas as Copas do Mundo desde 1974, começou no Jornal do Brasil em 1969 e lá permaneceu até 1988, quando foi para O Globo. Com sua experiência, conta como deve ser pautada a reportagem: — O noticiário da tv é imediato. O repórter de jornal deve estar ligado no diferencial que a televisão não mostrou, deve dar uma angulação diferente ao fato, um enfoque mais atrativo. Assim, ele ganha pontos com o leitor que está sempre em busca de uma informação mais precisa. Antônio Maria considera que o repórter esportivo normalmente é bempreparado porque, além de viver o momento da notícia, não se limita à competição em si: — A paixão do torcedor faz que muitos deles se tornem violentos. As torcidas organizadas estão sempre se confrontando e o assunto foge da área esportiva e se torna notícia policial. O futebol e seus dirigentes são investigados por CPIs. Existe também o lado comportamental do próprio atleta. Descobre-se, por exemplo, que um deles é músico. Vale matéria que não tem nada com o futebol. Abel, por exemplo, toca música clássica. Por isso, o repórter de Esportes é dos mais preparados, até pelas seguidas viagens nacionais e internacionais que faz.
Paulo César Vasconcelos acha que as editorias de Esporte devem buscar matérias exclusivas e ressentem-se de um pauteiro criativo para apontar boas histórias.
gens de tv para elaborar um ou outro texto. Jornalista há 18 anos, Sílvio cobriu as Copas da Itália e da Coréia do Sul e Japão e a Olimpíada de Sidney. Para evitar a reprodução de notícias iguais, ele aponta uma alternativa: — Os jornais precisam de mais criatividade nas pautas. De certa forma, já existe uma produção diária de material analítico. O caderno de Espor-
cius de Moraes e tantos outros não têm a mínima importância. A busca de alternativas Com a experiência de quem já viveu mais de 35 anos em redações, especialmente no Dia e no Jornal dos Sports, e cobriu algumas Copas do Mundo, Wilson de Carvalho, membro da Comissão de Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos da ABI, acha
“O rádio é ótima escola, mas o jornal é a melhor.” ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○ ○
tes do Estadão passou a ter recentemente um colunista diário, que normalmente aborda o tema futebol. E as críticas dos jogos (de futebol, basquete, vôlei etc.) são cada vez mais analíticas. Sobre a afirmação de que o repórter de Esportes é menos preparado, ele fala: — Não é preconceito. Em geral, ele não tem interesse em nenhum assunto que não seja esporte. E a maioria não lê nada, acha que Machado de Assis é museu, que Clarice Lispector, Guimarães Rosa, Rubem Braga, Viní-
que o jornalismo exige vocação, sensibilidade e criatividade: — Esta profissão só se aprende verdadeiramente nas redações, de preferência em jornais diários, embora hoje já não haja a disputa pelo furo de reportagem, que praticamente deixou de existir com a internet. Há jornal que espera o site do outro publicar para não ser furado. E aí pode-se dizer que praticamente tudo se copia, especialmente através das burocráticas assessorias de imprensa. Sobre a cobertura esportiva, Wilson adverte:
— A tv certamente reduz a venda dos jornais, principalmente quando transmite os jogos. Aliás, a mídia insiste em repetir no dia seguinte o que a tv já mostrou. Deveria buscar outras alternativas, e elas existem. Uma delas é a reportagem especial, o fato a mais que a tv não deu, mas é preciso saber fazer. Outra questão levantada por Wilson é a falta de preparo de alguns narradores esportivos: — Eles precisam pesquisar antes de uma transmissão para não dizer besteiras. Já ouvi coisas como “o Fla x Flu é o clássico dos milhões” — na verdade, é o das multidões; o dos milhões é Vasco x Flamengo. Nesse aspecto, o nível está muito baixo, há muita irresponsabilidade. Na tv, praticamente só o Luiz Alberto, da Globo, faz pesquisa e informa tudo sobre os jogadores e a partida em si. Os demais, com poucas exceções até mesmo para os veteranos, dizem muita bobagem; informam errado, o que é pior. Não se cobra mais responsabilidade, até porque há muitos editores que não sabem nada. Os critérios mudaram para a escolha de comando de uma Redação, daí os absurdos que lemos e ouvimos diariamente. Guerra no Kuwait A editoria de Esportes também tem seus momentos de tensão fora dos campos ou quadras. Iata Anderson, assessor da Suderj, conta que foi levado pelas circunstâncias a fazer jornalismo esportivo, embora, quando garoto, pensasse em ser correspondente internacional. Ele recorda um fato marcante vivido no início dos anos 90: — Sonhava cobrir guerras, enfim, alguma coisa mais emocionante. Em 1991, estava na Arábia Saudita, trabalhando como preparador físico no Hilal, em Riyad, quando os aliados resolveram expulsar Saddam Hussein do Kuwait, que ele havia invadido. Os mísseis acabaram estourando na cidade no momento em que eu estava no aeroporto. Era a invasão dos aliados. O aeroporto foi evacuado e fiquei perdido na multidão, sem destino, como num filme-catástrofe. Nem passaporte eu tinha para me identificar. Em sua memória, ficaram as imagens dos scuds riscando o céu, alguns derrubados pelos patriots dos americanos, que para ele mais pareciam fogos de artifícios: — Só o que pude fazer, e assim mesmo clandestinamente, foram algumas reportagens para rádios e entrevistas com Leda Nagle e Eliakim Araújo — o contrato determinava que eu não podia mandar notícias jornalísticas para o Brasil. Foi meu único dia de correspondente internacional, cobrindo uma guerra. E não era sonho. Reportagem publicada no Site da ABI em 16 de maio de 2005, cujo conteúdo pedagógico tem valor permanente. Paulo César Vasconcelos, um dos entrevistados, integra atualmente a equipe do SporTV.
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HISTÓRIA
As neves do Monte Castelo Foi num fevereiro, de 1945, lutando num frio de 20 graus negativos, que os pracinhas brasileiros ganharam uma batalha decisiva na campanha da Itália. POR P AULO R AMOS DERENGOSKI
No dia 21 de fevereiro de 1945 a cobra fumou no alto das montanhas dos Apeninos Italianos. Era um frio pavoroso e a bandeira verde e amarela com o lema positivista contrastava com o sangue derramado sobre a neve. A II Grande Guerra Mundial se aproximava do fim e o Brasil tinha sido um dos poucos países latinoamericanos a combater nazistas em seu próprio terreno. A conquista da Itália pelas forças multinacionais aliadas havia sido dificílima. Os alemães eram mestres na área da defesa, retirando-se organizadamente de ponto forte em ponto forte. Ainda mais que eram comandados pelo Marechal Kesselring (o Risadinha), um combatente duro com experiência em várias frentes. Alias, digase de passagem que parte dos comandantes alemães não eram nazistas, ao contrário. Mas se curvaram à popularidade e ao carisma de Hitler. De ponto rochoso em ponto rochoso, os aliados foram avançando pela península. A conquista mais difícil havia sido Monte Cassino, quando uma unidade polonesa, com muitas perdas, adentrou no enclave fortificado. Mas a conquista da Cota 977 (Monte Cas-
telo) pelos pracinhas brasileiros abriu caminho para a 10ª Divisão de Montanha norteamericana além de Della Torraccia. O ataque havia sido procedido pelos aviões do Senta a Pua, pilotos fantásticos como Nero Moura, Rui Moreira Lima, Dornelles e outros. Por terra, a artilharia de Cordeiro de Farias não havia deixado pedra sobre pedra. E o famoso 1° Regimento de Infantaria galgava as escarpas geladas. Alguns pracinhas, como os serranos mais acostumados ao frio, tiravam os capotes para mostrar coragem. Mal sabiam eles que próximo dali (cem anos em 1849) a catarinense Anita Garibaldi havia morrido, também pela libertação da Itália. Em 22 de fevereiro os brasileiros entravam em Abetaia e depois prosseguiam para Castelnuovo, Zocca, Fornovo e a mais sangrenta de todas as batalhas: Montese, em 14 de abril de 1945, às vésperas da capitulação inimiga, quando cerca de 400 pracinhas morreram. Lutando em 20 graus abaixo de zero,
sem roupas adequadas, os brasileiros entre os quais muitos lageanos, ajudaram na grande ofensiva aliada de 1945. Não esqueceremos tais fatos pois a palavra Liberdade o vento leva em estrondos pelos vales, montanhas, serras, planícies e planaltos. Os sinais luminosos da vitória eram apenas três
estrelas verdes na neve enlameada, brilhavam mais que o luar a se refletir sobre as cruzes brancas dos jardins de pedra dos que lá ficaram. Que os poderosos do momento, espertos mas ignorantes da História, arrojem a fronte ao pó diante dos que se sacrificaram pela Pátria.
LEMBRANÇA
A PRESENÇA DE MÁRIO BARATA POR WALTER ZANINI
A imagem que nos permanece viva de Mário Barata vai além do autor dos múltiplos textos que marcaram a sua atuação proeminente por mais de meio século na arte brasileira – do historiador, do crítico, do esteta – e abrange a sua figura jovem e dinâmica – física e intelectualmente – que, ao lado das funções de professor, demonstrava uma profunda dedicação às inúmeras entidades a que se associara ou trazia sua colaboração. Claro que era o todo indissolúvel de uma trajetória que sabia unir a pesquisa às tarefas de sua comunicação constante e esperada, em colóquios e conferências. Mas alguma coisa de especial e exemplar encontrávamos nele, no espírito e energia de suas intervenções fluentes e precisas, e não falamos 6
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disso sob a emoção do mestre e colega que acabamos de perder. Coubera-lhe inaugurar, ainda que solitariamente, uma nova fase de estudos da arte no País com o rigor da formação científica adquirida no Institut d’Art et d’Archéologie da Universidade de Paris, terminada a Segunda Guerra Mundial. [Mas, ainda hoje, nos debatemos com a ausência de uma disciplina de graduação de grande complexidade, paradoxalmente só acreditada oficialmente a partir de níveis mais adiantados]. Participante dos primeiros encontros que fizeram surgir o International Council of Museums–Icom, sempre relacionou a atividade teórica da arte à concretude das coleções. Foi membro-fundador e secretário da Associação Brasileira de Críticos de Arte– ABCA-AICA. Por décadas devotou-se
ao Comitê Brasileiro de História da Arte–CBHA-CIHA, um de seus criadores e um homem de equipe. Reencontramos sem cessar o historiador e connaisseur e a percepção do crítico – manifestos na sensibilidade de uma escritura de intrínseca qualidade. A problemática mais interior da formulação artística acompanhava-se da atenção dada a condições sociais geradoras, como no caso do admirável enfoque do século XIX da História Geral da Arte no Brasil, uma época de sua predileção. Coube-lhe a responsabilidade da revisão e atualização da Arquitetura Barroca do Brasil, de Germain Bazin, ao ser reeditada. Sua tese na antiga Universidade do Brasil versou sobre três séculos de azulejaria no País. Os artigos,
como os das seções que manteve na imprensa, não o envolveram menos na arte moderna e contemporânea. Não será nada fácil estender-se sobre todos os seus predicados. Walter Zanini é crítico de arte e membro da Associação Brasileira de Críticos de Arte–ABCA. Este texto foi publicado originalmente no órgão de divulgação da ABCA.
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COMEMORAÇÕES
O Show do Centenário terá apresentações de Paulinho da Viola e de Karabtchevsky e a Orquestra Petrobras Sinfônica.
A GRANDE MÚSICA NO NOSSO SHOW DO CENTENÁRIO A ABI se engalana para festejar os seus 100 anos: a programação começa com um recital de peças de VillaLobos com arranjos jazzísticos e atinge seu clímax com a apresentação da Orquestra Petrobras Sinfônica, sob a regência do Maestro Isaac Karabtchevsky, e de Paulinho da Viola, no espaço artístico e cultural mais nobre do Rio, o Teatro Municipal. Um concerto com a interpretação de obras de Villa-Lobos com arranjos jazzísticos foi programado para abrir às 12h30min do dia 1 de abril,no Palácio Itamaraty do Rio, as comemorações do centenário da ABI, que transcorre no dia 7. O roteiro do recital, aberto ao público, com entrada franca, e que integra o projeto Música no Museu da
Casa França-Brasil, inclui a apresentação do Quarteto Bruce & Villa’s Voz, com Bruce Henri no contrabaixo, Leo Ortiz no violino, Fernando Moraes no piano e Ricardo Costa na percussão e bateria. Foi por iniciativa de seu Presidente, Embaixador Marcos Coimbra, que a Casa França-Brasil dedicou o recital aos 100 anos da ABI. Além desse concerto, a primeira semana da programação do centenário inclui uma sessão da Academia Brasileira de Letras em homenagem à ABI, às 17h30min do dia 3, no Petit Trianon, e o Show do Centenário, com a participação da Orquestra Petrobras Sinfônica, sob a regência do Maestro Isaac Karabtchevsky, e de Paulinho da Viola,às 20h do dia 7, no Teatro Muni-
cipal. Para essa sessão de gala foram convidados o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o Governador Sérgio Cabral e personalidades de diferentes setores da vida social, entre as quais dezernas das cerca de 160 que aceitaram o convite para integrar a Comissão de Honra do Centenário da ABI. ABL, anistia, selo A sessão especial da Academia Brasileira de Letras promove homenagens a ex-Presidentes da ABI, a começar por seu fundador, o catarinense Gustavo de Lacerda, cuja trajetória será descrita por seu biógrafo, o jornalista e escritor Moacir Pereira, também catarinense, que virá de Florianópolis especialmentepara o ato.
A seguir, o jornalista, professor e historiador Fernando Segismundo, o único ex-Presidente da ABI vivo, falará sobre Herbert Moses, com o qual começou a trabalhar muito jovem, em 1936; Villas-Bôas Corrêa, decano da crônica política do País, discorrerá sobre Prudente de Moraes, neto, com o qual trabalhou na reportagem política desde o final dos anos 40; Cícero Sandroni, Presidente da Academia, prestará homenagem a Barbosa Lima Sobrinho, que foi três vezes Presidente da ABI, a última de 1978 a 2000, quando faleceu, e teve Sandroni como um dos principais companheiros de Diretoria. Encerrando a sessão, o acadêmico, jornalista e escritor Murilo Mello Filho falará sobre a atuação da ABI ao longo destes 100 anos. Jornal da ABI 326 Fevereiro de 2008
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No dia 4, a partir das 10h, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça realiza na sede da ABI sessão de julgamento de processos de jornalistas e de viúvas de jornalistas, entre as quais as de George de Barros Cabral, Julieta Moreira Cabral, e Octávio Malta, Olga Gomes Malta, ambas de 84 anos. A abertura do ato será feita pelo Ministro Tarso Genro, com a presença do Presidente daComissão de Anistia, Paulo Abrão Pires Júnior, que em seguida dirigirá a sessão de julgamento. No dia 7, às 11h, no Edifício Herbert Moses (Rua Araújo Porto Alegre, 71), sede da ABI, será lançado o selo comemorativo do centenário, em ato para o qual foi convidado o Presidente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos-ECT, Carlos Henrique Custódio. A emissão foi determinada pelo Ministro das Comunicações, Senador Hélio Costa, na quota a que o titular do Ministério tem direito. O selo põe em relevo a figura de Gustavo de Lacerda e a imagem da sede da ABI, primeiro marco da moderna arquitetura brasileira, construído entre 1936 e 1938 e tombado em 1984 pelo Instituto do Patimônio Histórico e Artístico Nacional-Iphan.
NOSSA COMISSÃO DE HONRA A presença de Oscar Niemeyer em sua Presidência e o prestigio da ABI, por sua fecunda trajetória em defesa das liberdades, asseguraram à nossa Comissão de Honra do Centenário invejável expressão, como demonstra a enunciação de seus integrantes. São eles: GOVERNADORES DE ESTADOS SÉRGIO C ABRAL F ILHO LUIZ HENRIQUE DA SILVEIRA MEMBROS DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS ANA M ARIA M ACHADO ANTÔNIO O LINTO ARIANO S UASSUNA ARNALDO N ISKIER CARLOS H EITOR C ONY CÍCERO S ANDRONI EVARISTO DE M ORAES F ILHO IVAN J UNQUEIRA J OÃO U BALDO R IBEIRO J OSÉ E. MINDLIN J OSÉ S ARNEY LYGIA F AGUNDES T ELLES MARCOS V INÍCIOS V ILAÇA MOACYR S CLIAR MURILO M ELO F ILHO NÉLIDA P IÑON NÉLSON PEREIRA DOS S ANTOS PAULO C OELHO JORNALISTAS ADÍSIA S Á ALBERTO D INES ANA A RRUDA C ALLADO ANCELMO G ÓIS ARMANDO N OGUEIRA ARTHUR P OERNER AZIZ A HMED CARLOS C HAGAS CARLOS L EMOS CHICO C ARUSO CID M OREIRA CLOVIS R OSSI DÍDIMO P AIVA DORA K RAMER EDGAR R ODRIGUES ELIANE C ANTANHÊDE ERCY P EREIRA T ORMA EVANDRO T EIXEIRA FÁBIO P ROENÇA D OYLE FÁTIMA B ERNARDES FERNANDO C ALAZANS FERREIRA G ULLAR FICHEL D AVIT C HARGEL FLÁVIO T AVARES
HÉLIO F ERNANDES J AGUAR J ÂNIO DE F REITAS J OAQUIM C AMPELO M ARQUES J OHNNY S AAD J ORGE DE M IRANDA J ORDÃO J OSÉ A LVES PINHEIRO J ÚNIOR J OSÉ H AMILTON RIBEIRO J OSÉ M ARIA RABÊLO J OSÉ R OBERTO M ARINHO L AN LÚCIO F LÁVIO P INTO LUÍS E RLANGER LUIS F ERNANDO V ERÍSSIMO LUIZ L OBO LUIZ M ÁRIO GAZZANEO MANOLO E PELBAUM MARCOS DE C ASTRO MÁRIO DE M ORAES MILTON T EMER MOACIR P EREIRA MOACYR W ERNECK DE C ASTRO NAHUM S IROTSKY N ANI NÉLSON S IROTSKY NILSON L AGE DOM P AULO EVARISTO ARNS PAULO M ARKUM PAULO P ATARRA ( IN MEMORIAM ) RAIMUNDO COELHO N ETO RAUL M ARTINS B ASTOS RENATO G UIMARÃES ROBERTO C IVITA ROBERTO M UYLAERT RODOLFO F ERNANDES RUBEM A ZEVEDO LIMA RUY M ESQUITA RUY P ORTILHO SÉRGIO DE S OUZA ( IN MEMORIAM ) SÉRGIO M URILO DE ANDRADE SILIO B OCCANERA TÃO GOMES P INTO TEODOMIRO B RAGA VILLAS -B ÔAS C ORRÊA WALTER F IRMO WASHINGTON N OVAES WILLIAM B ONNER Z IRALDO ZUENIR V ENTURA
MARCELO C ERQUEIRA NILO B ATISTA SÉRGIO B ERMUDES INTELECTUAIS, ARTISTAS EOUTROS MEMBROS DA SOCIEDADE CIVIL ALDIR B LANC ALFREDO B RITTO AMIR H ADDAD ANA B OTAFOGO ANA M ARIA M AGALHÃES ANTONIO CANDIDO DE MELLO E SOUZA ARTHUR M OREIRA L IMA AUGUTO B OAL BEATRIZ M ILHAZES BETH C ARVALHO CACÁ D IEGUES C ARLA C AMURATI CARLOS A LBERTO T ORRES CARLOS Z ÍLIO DALAL A CHCAR DORIVAL C AYMMI FERNANDA M ONTENEGRO F ERNANDO P AMPLONA FRANCIS H IME GERALDO S ARNO GILBERTO G IL GUGUTA B RANDÃO HANS D ONNER HAROLDO C OSTA HERMÍNIO B ELLO DE C ARVALHO ÍTALO R OSSI J OÃO B OSCO J OÃO GUALBERTO DE C. MENESES J OÃO M OREIRA S ALLES J OEL R UFINO DOS S ANTOS J OSÉ C ARLOS S USSEKIND J OSÉ W ILKER LUIZ C ARLOS B ARRETO LYDIO INTROCASO BANDEIRA DE MELLO MARCELLO A LENCAR MARCO N ANINI MARIA B ONOMI MARIÊTA S EVERO MARÍLIA P ÊRA NELLY MARTINS FERREIRA CANDEIAS NIZAN G UANAES OTHON B ASTOS PAULINHO DA V IOLA RAYMUNDO DE O LIVEIRA REGINA D UARTE REGINALDO D UTRA RUY O HTAKE SABINO M. B ARROSO SERGIO R EZENDE SÍLVIO T ENDLER TIZUKA Y AMAZAKI TOMIE O HTAKE TONY R AMOS VLADIMIR C ARVALHO WALTER S ALLES ZELITO V IANNA
moração do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa (8 de maio), instituído pela Unesco. Tema: Nova Lei de Imprensa; DIA 8 DE MAIO, às 19h30min, no Teatro Ney Soares, Rua Diamantina, 463, Lagoinha, Belo Horizonte, MG, em Belo Horizonte, cerimônia de abertura do III Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo-Abraji, dedicado este ano a homenagem ao centenário da ABI e que se estenderá até o dia 10 de maio; DIA 19 DE MAIO, no plenário do terceiro andar do Edifício-Sede da Ordem dos Advogados do Brasil, SAS, Lote l, Bloco M, Brasília, DF, homenagem do Conselho Pleno da OAB ao centenário da ABI. Saudação oficial pela OAB: Conselheiro Vitalício Marcello Lavénère Machado, ex-Presidente do Conselho Federal da Ordem. Em São Paulo A programação contará ainda com atos em São Paulo em datas a serem fixadas: reunião extraordinária do Conselho Municipal de Educação da capital, de iniciativa do Presidente do CME, João Gualberto Meneses, membro da Comissão de Honra do Centenário; sessão especial do Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo, por iniciativa de sua Presidente, Nelly Candeias, também integrante da Comissão de Honra; homenagem na Faculdade de Comunicação das Faculdades Integradas Alcântara Machado.
Até março de 2009 A programação do Centenário, ADVOGADOS E JURISTAS que se estenderá até março de ALCYONE B ARRETTO ANTÔNIO MODESTO DA S ILVEIRA 1909, com variadas iniciativas, BENEDITO C ALHEIROS B OMFIM como exposições, seminários e CARLOS ROBERTO SIQUEIRA CASTRO CELSO DA SILVA S OARES edição de publicações e obras, inDALMO DE A BREU D ALLARI clui nas primeiras semanas os seFÁBIO K ONDER C OMPARATO GEORGE F RANCISCO T AVARES Comissão Catarinense guintes eventos: GOFFREDO DA S ILVA TELLES J ÚNIOR Uma programação especial tamDIA 9 DE ABRIL, às 16h, no AuHUMBERTO J ANSEN M ACHADO J OSÉ AFONSO DA SILVA bém será realizada em Florianópoditório Machado de Assis da Biblilis, sob a coordenação de uma cooteca Nacional do Rio de Janeiro, missão criada por decreto do Goabertura do ciclo 2008:Estudos Covernador Luiz Henrique da Silveira para memorativos do Projeto Quarta às requerimento de realização da Sessão; DIA 17 DE ABRIL, sessão especial da a comemoração do centenário da ABI, Quatro, com exposição do tema ABI: DIA 16 DE ABRIL, às 16h, no AudiAcademia Paulista de Letras em homesob a presidência do Secretário de Comomentos de tensão e de esperança tório Machado de Assis da Biblioteca nagem ao centenário da ABI; municação Social do Governo do Estado pelo Presidente da ABI, jornalista Nacional, segunda sessão do Projeto DIA 24 DE ABRIL, às 10h, no Senae participação da Associação CatarinenMaurício Azêdo; Quarta às Quatro dedo Federal, sessão solene em homenase de Imprensa-ACI, que está planejanDIA 10 DE ABRIL, às dicada ao tema Os gem à ABI convocada por requerimendo a realização de uma série de eventos. 16h, na sede da Or100 anos da Associação to de iniciativa do Senador Inácio Ardem dos Advogados Brasileira de Imprensa, ruda (PCdoB-CE); Patrocínio e apoio do Brasil-Seção do Estendo como conferenDIA 29 DE ABRIL, às 10h, na Câmara O Show do centenário, a mais destado do Rio de Janeicista o jornalista Vidos Deputados, realização da III Contacada das comemorações programaro, homenagem à ABI llas-Bôas Corrêa; ferência Legislativa de Liberdade de das pela ABI, conta com o patrocínio durante a sessão do DIA 16 DE ABRIL, às Imprensa, iniciativa da Associação Nado Governo do Estado do Estado do Conselho Seccional 18h30min, na Câmara cional de Jornais-ANJ, Sociedade InteRio de Janeiro, da Rede Globo de Teda OAB-RJ; Municipal do Rio de ramericana de Imprensa-Sip e Organilevisão, de Furnas Centrais Elétricas e D IA 11 DE ABRIL , Janeiro, Sessão Solene zação das Nações Unidas para a Eduda Petrobras e o apoio da Odebrecht às 18h30min, na Asde entrega à ABI do cação, a Ciência e a Cultura-Unesco, S.A e do Banco Bradesco. sembléia Legislativa Conjunto de Medalhas com co-patrocínio da ABI e em comedo Estado do Rio de de Mérito Pedro ErnesJaneiro, Sessão Soleto, concedidas por rene destinada à entrequerimento de autoria A COMISSÃO EXECUTIVA ga à ABI da Medalha Um dos nomes de nossa Comissão do Vereador Stepan Formada por associados e diretores, a Comissão Executiva do Centenário tem a seguinte Tiradentes, concedicomposição: Artur da Távola, Benício Medeiros, Cecília Costa, Domingos Meirelles, Estanislau de Honra, o jornalista e escritor Nercessian (PPS), tamOliveira, Fernando Barbosa Lima, Francisco Paula Freitas, Jesus Chediak, José Gomes Talarico, da por proposta do Murilo Mello Filho discursará sobre bém autor do requeriMarcelo Tognozzi, Maria Inês Duque Estrada Bastos, Mário Barata (in memoriam), Marlene da Deputado André do a atuação centenária da ABI em mento de realização Silva, Milton Coelho, Miro Teixeira, Paulo Jerônimo de Souza, Pery Cotta, Ricardo Kotscho, Rodolfo sessão especial da ABL. da sessão; PV, também autor do Konder, Sérgio Cabral, Silvestre Gorgulho e Tarcísio Holanda, sob a presidência de Maurício Azêdo. 8
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Diga ao povo que aceito
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A ADESÃO DE HÉLIO FERNANDES À COMISSÃO DE HONRA DO CENTENÁRIO DA ABI
Diretor da Tribuna da Imprensa faz uma paráfrase de Dom Pedro I no Dia do Fico e se integra à Comissão presidida por Niemeyer.
Não existe no mundo nada mais reverenciado e odiado que a Liberdade de Imprensa. Em 1647, vendo 2 jornalistas cobrindo as sessões da Câmara dos Comuns, o deputado Proudhon, da Irlanda, revelando extraordinária visão, afirmou: “Está surgindo o Quarto Poder”. Fora dos Três Poderes clássicos (que vinham da Inglaterra do ano de mil e 100, na Constituição do “Rei João sem Terra”, que vigora até hoje), não existia mais nada. Antes de Gutemberg e a sua invenção dos tipos móveis que possibilitaram a fabricação das máquinas de imprimir, existiam jornais de 4 páginas feitos à mão, literalmente. Eram compostos na “caixa” de tipos, penosamente, com extrema dificuldade. Durante 400 anos não existia mais do que isso, até que foi impressa a primeira Bíblia, já nas máquinas de Gutemberg. A partir de 1876, com a invenção do telefone, de 1882, com o telégrafo sem fio, e finalmente em 1894, com a invenção do rádio que revolucionaria tudo, surgiria a
TRIBUNA DA IMPRENSA
m artigo repassado de erudição e com o aguerrimento habitual, o jornalista Hélio Fernandes anunciou publicamente sua adesão à Comissão de Honra do Centenário da ABI. Em longo artigo na Tribuna da Imprensa, Hélio fez com bom humor uma alusão ao Imperador Dom Pedro I no célebre Dia do Fico: Em nome da Liberdade, na ABI, “diga ao povo que aceito”. Em seu fundamentado artigo, publicado na edição da Tribuna do dia 16 de janeiro, Hélio evoca o surgimento da imagem da imprensa como o Quarto Poder, em 1647, na Câmara dos Comuns, na Grã-Bretanha, faz a exaltação da liberdade de imprensa e denuncia a censura prévia a que foi submetido por decisão judicial. No texto, que é publicado agora na íntegra nesta edição do Jornal da ABI, Hélio Fernandes faz comentários sobre a ABI, sobre a liberdade de imprensa e sobre os 100 anos do arquiteto Oscar Niemeyer, Presidente da Comissão de Honra que ele passou a integrar:
Liberdade de Imprensa, implantando o império total da comunicação, praticamente juntando tudo. Depois de Gutemberg, Marconi (Guglielmo Marconi) foi o precursor de tudo. Fez experiências com o telefone, abandonou, deixando a glória com Graham Bell. Tentou o telégrafo sem fio, tendo conseguido se fazer ouvir apenas a 10 metros de distância, passou para o rádio, cuja existência anunciou oficialmente em 1894. Foi um avanço extraordinário, fundou e dirigiu a BBC e depois a Rádio do Vaticano. Na maior e mais espetacular campanha que já houve no Brasil, a “Civilista” de Rui Barbosa, candidato a presidente do República em 1910, não existia nenhum meio de comunicação. O rádio ainda não chegara ao Brasil, a televisão só passaria a se impor a partir da Segunda Guerra Mundial, os jornais eram apenas boletins de anúncios ou “folhas” sem qualquer importância.
Imaginem a “Campanha Civilista”, com Rui combatendo as três mais poderosas e mais atuantes forças da época (Exército, Igreja e Partido Republicano, o único existente), dispondo dos meios de comunicação que existem hoje, e constatarão a mudança que haveria na História brasileira. Por outro lado, imaginem a comunicação no mundo sem Liberdade de Imprensa, e concluiríamos que não teria havido progresso algum. Fora das guerras, localizadas ou globais, não houve maior combate, repúdio e tentativa de silêncio do que o que sofreu a Liberdade de Imprensa. Esta se colocou no meio do mais formidável tiroteio pela defesa dos grandes interesses de grupos e pessoas. É evidente, compreensível e natural que muitos órgãos se desviaram do caminho da grandeza, da generosidade e da solidariedade com o povo, decidiram enriquecer. E enriqueceram mesmo. Mas hoje quero
tratar apenas dos que não traíram a Liberdade de Imprensa e ficaram sempre ao lado da coletividade. Abandonarei aqui os que enriqueceram vendendo a própria convicção que jamais tiveram. Estas considerações têm um motivo: a idéia do presidente da ABI, Maurício Azêdo, de fazer comemoração homenageando a imprensa livre, juntando a coincidência de 3 números que totalizam 100. Em abril, os 100 anos da ABI. A criação de uma Comissão de 100 personalidades que comandarão o espetáculo. E colocar como presidente dessa Comissão o arquiteto Oscar Niemeyer, única unanimidade nacional, que está sendo ovacionado pelos 100 anos de idade. Esses três fatos darão repercussão indispensável à imprensa (jornais) e aos outros meios de comunicação (rádios, revistas e televisão), fora os surgidos do avanço impressionante da tecnologia. Não podem ser incluídos como jornalismo, mas têm direito à Liberdade de Imprensa, à vida, à voz e até ao voto. Todos estão precisando de apoio à LIBERDADE, cada vez mais atacada e até atingida. Liberdade de Imprensa é tão importante para a sobrevivência da Democracia que a famosa PRIMEIRA EMENDA da única e brilhante Constituição dos EUA proíbe que essa Liberdade seja atingida e qualquer jornalista possa ser preso e condenado por “DELITO DE OPINIÃO”, mesmo estando errado. PS- Extraordinária a idéia do presidente da ABI. E como Maurício Azêdo me pede que escreva publicamente se concordo em fazer parte dessa Comissão dos 100, o que posso responder? Em defesa da Liberdade, na ABI, de onde fui conselheiro por 18 anos e só deixei quando Barbosa Lima morreu, e presidida por Oscar Niemeyer, nenhuma dúvida, “diga ao povo que aceito” PS 2- Principalmente neste momento em que um juiz me proibiu de escrever sobre a Souza Cruz, outro, substituto, PROÍBE qualquer palavra sobre o Desembargador Zveiter. Que República. Que justiça. E que LIBERDADE DE IMPRENSA. Jornal da ABI 326 Fevereiro de 2008
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COMISSÃO DE HONRA
Centenário da ABI deveria ser comemorado como feriado nacional, diz Cícero Sandroni Ninguém deixaria de trabalhar, ressalva o Presidente da Academia Brasileira de Letras, que concebe o feriado como motivo de festa pelo bom combate que a Casa travou nestes 100 anos. Ao comunicar à Casa que aceitou o convite para integrar a Comissão de Honra do Centenário da ABI, o jornalista e escritor Cícero Sandroni, Presidente da Academia Brasileira de Letras, declarou que “o século de vida da Associação Brasileira de Imprensa deveria ser comemorado como um feriado nacional, mas com uma diferença
dos outros: ninguém deixaria de trabalhar”, por uma razão – os jornalistas sempre trabalham todos os dias, mesmo nas datas nacionais ou religiosas”. Sandroni, que lembra que é sócio da ABI há quase 40 anos (ele ingressou na Casa em 22 de outubro de 1974), diz que “ao contemplar os cem anos de vida a ABI pode ter cer-
CÍCERO SANDRONI
nas prisões, foram torturados e assassinados. A própria ABI sobreviveu a ataques terroristas e passou anos sob permanente ameaça de fechamento e ocupação de suas instalações. Sinto-me honrado com o convite para participar da Comissão e fico, como sempre, à disposição dos colegas, para toda e qualquer tarefa que me for atribuída, na condição de simples servidor — o que sempre fui —, nos quase quarenta anos de sócio da Casa do Jornalista.”
Jornalista e Acadêmico, Rio de Janeiro, RJ
“O século de vida da Associação Brasileira de Imprensa deveria ser comemorado como um feriado nacional, mas com uma diferença dos outros: ninguém deixaria de trabalhar. Por uma razão: os jornalistas sempre trabalharam todos os dias, mesmo nas datas nacionais ou religiosas. E trabalharam para informar ao mesmo tempo em que, pela opinião independente, pelas análises, comentários, sátiras, críticas, reportagens, caricaturas, ensaios, “sueltos”, “várias”, manchetes e artigos de fundo, contribuíram para a formação do País. Barbosa Lima Sobrinho afirmava que a História do Brasil estava intimamente ligada à História da Imprensa brasileira, pela ativa participação dos jornalistas nos principais eventos da nossa trajetória, desde a independência, a abolição da escravatura e a proclamação da república. Com a fundação da ABI em 1908, os jornalistas encontraram a sua Casa e desde então todos aqueles que participaram ativamente da nossa História receberam na ABI o apoio indispensável para a livre circulação das idéias e fizeram dela, na feliz definição de Edmar Morel, a trincheira da liberdade. Ao contemplar os cem anos de vida a ABI pode ter certeza de que combateu o bom combate, pela preservação do direito fundamental à informação e à opinião, pela volta do regime democrático quando os golpes de força aboliram-no do País e pela permanente defesa dos direitos humanos. Centenas de jornalistas associados à ABI participaram deste combate, sofreram 10 Jornal da ABI 326 Fevereiro de 2008
teza de que combateu o bom combate, pela preservação do direito fundamental à informação e à opinião, pela volta do regime democrático quando os golpes de força aboliram-no do País e pela defesa permanente dos direitos humanos”. Além da declaração de Sandroni, esta edição do Jornal da ABI reproduz em ordem alfabética de au-
CÍCERO SANDRONI
toria as manifestações de outras personalidades que integram a Comissão de Honra do Centenário. A lista completa dos membros da Comissão e as declarações com que distinguiram a ABI serão publicadas na revista com o programa do Show do Centenário e, também, em próximas edições do Jornal da ABI.
organização de mim mesmo e de meu trabalho, dedicado à construção de uma sociedade mais justa e mais confortável. Os valores representados por esta organização são valores que uso para nortear minha vida, e orientar minha participação na vida do País. Ser agora chamado para fazer parte desta Comissão de Honra me honra muito. De tantos reconhecimentos, este é daqueles que mais enaltecem. Grato e atento, sempre (a) Amir Haddad.”
ANCELMO GÓIS ALBERTO DINES
Jornalista, Rio de Janeiro, RJ
Jornalista, São Paulo, SP
“Irrecusável o convite para integrar a Comissão de Honra dos festejos do centenário de fundação da nossa ABI. Considero-o um galardão. Será um privilégio participar das homenagens a esta instituição impar na vida nacional à qual orgulho-me de pertencer há mais de meio século. A ABI não é apenas a Casa do Jornalista, é também a Casa da Cultura, monumento vivo à democracia, escola de civismo e cidadania.”
AMIR HADDAD Teatrólogo e Diretor Teatral/ Rio de Janeiro, RJ
“Desde minhas primeiras recordações de jovem adolescente, despertando para os direitos e deveres da cidadania, que a sigla ABI povoa minha memória. Ao longo da minha historia pessoal, ela sempre esteve associada ao que de melhor o País cultivava, como respeito, responsabilidade cívica e vocação democrática inabaláveis. Hoje não dissocio mais esta
ALBERTO DINES
AMIR HADDAD
“Durante a ditadura militar, na gestão de Prudente de Morais, neto, a ABI conseguiu evitar a minha prisão (na época, outros companheiros jornalistas, entre os quais o meu companheiro Maurício Azêdo, atual presidente, eram barbaramente torturados). O meu testemunho pessoal tem apenas a intenção de mostrar aos mais jovens o papel que esta Casa, a minha Casa, desempenhou nos anos de trevas em defesa do Estado de Direito. Como o doutor Prudente e depois com Barbosa Lima Sobrinho, a ABI foi decisiva para o restabelecimento das liberdades públicas – minhas e de todo o nosso povo. Vida eterna para a ABI!”
ANTONIO CÂNDIDO Escritor e Professor, São Paulo, SP
ANCELMO GÓIS
“Recebi a correspondência na qual me informa sobre os eventos destinados a comemorar o Centenário da Associação Brasileira de Imprensa e
tem a bondade de me convidar em termos atenciosos para integrar a Comissão de Honra ligada ao mesmo. Agradeço e aceito muito honrado o convite, feliz pela oportunidade de me associar ao reconhecimento público de uma entidade que tem dignificado o exercício da inteligência no Brasil e do espírito em face das prepotências. Muito atenciosamente (a) Antonio Candido de Mello e Souza.” ARTHUR POERNER
ARTHUR POERNER Jornalista, Rio de Janeiro, RJ
“Recebo como especial homenagem e deferência o convite que me fez para integrar a Comissão de Honra do Centenário da nossa Associação Brasileira de Imprensa, entidade cuja trajetória é parte indissociável da história das lutas pela democracia em nosso País. Associado da ABI desde 1964, tenho a honra de fazer parte da sua Comissão de Ética dos Meios de Comunicação e, embora licenciado, do seu Conselho Deliberativo. Participei, além disso, de muitas das suas campanhas democráticas e nacionalistas. Durante a ditadura militar, também fui delas beneficiário, com a recuperação do passaporte ainda durante o exílio e, afinal, com a volta ao Brasil em decorrência da anistia pela qual ela tanto batalhou. Não poderia deixar de mencionar aqui o empenho da sua Comissão de Liberdade de Imprensa e Direitos Humanos, sob a direção do companheiro José Gomes Talarico, no caso do refrigério que significou para mim a reconquista do passaporte na Alemanha, após o longo período em que só tive a identificar-me um documento de apátrida da Onu e uma providencial carteirinha do glorioso Clube de Regatas do Flamengo, por sinal, diga-se de passagem, muito prestigiado às margens do Reno. Com os votos de sucesso para as comemorações do Centenário e o fraternal abraço do (a) Poerner.”
CARLOS CHAGAS Jornalista, Brasília, DF
AZIZ AHMED
CARLOS CHAGAS
CID MOREIRA
AZIZ AHMED Jornalista, Rio de Janeiro, RJ
“É com muita alegria que aceito participar da Comissão de Honra do Centenário da ABI.
A instituição centenária foi feliz em escolher para presidí-la uma outra instituição igualmente centenária do País, o emblemático Oscar Niemeyer, figura que dá uma dimensão de grandeza a qualquer grupo a que se proponha integrar. Com mais de 45 anos de militância ininterrupta nesta profissão, considero a ABI, por ser a Casa do Jornalista, a minha casa, por direito adquirido ao longo da carreira. Verdadeira fortaleza de defesa da democracia e dos direitos à liberdade de vida e de expressão, é dever de todo jornalista ter pela ABI respeito e veneração.(a) Aziz Ahmed.”
DALAL ACHCAR
“Envio outra vez a comunicação da honra que é, para mim, integrar a comissão do centenário. Estarei no Rio quando convocado. Sobre a ABI, haveria um universo a discorrer. Com muita satisfação, durante 18 anos fui o representante da ABI em Brasília, sucedendo o saudoso Pompeu de Sousa. Como professor de História da Imprensa, na Universidade de Brasília, durante 25 anos, já aposentado, pude dedicar horas a fio à exegese da ABI. Buscava interessar os alunos desde a fundação, como Caixa de Pecúlio para jornalistas, iniciativa de Gustavo de Lacerda. Na primeira reunião já se fez sentir a má-vontade e a pressão dos patrões, donos de jornal, porque apenas quatro jornalistas ousaram comparecer. Tem sido sempre assim, com variações. Os proprietários de jornal, fora as exceções de sempre, não são jornalistas. Ou, se foram, transformaramse quase todos em empresários, geralmente de mil outras atividades, se bem sucedidos. Também acontece o contrário: empresários de mil outras atividades costumam travestir-se de donos de jornal, adquirindo empresas. Estes e aqueles, com o mesmo objetivo, de colocar a notícia a serviço de seus interesses. Outra realidade que nós, jornalistas, precisamos enfrentar refere-se às empresas familiares. Quando acontece de um jornalista fundar ou adquirir um
jornal, ótimo. Ele cultivará a informação precisa e correta quase sempre. O diabo é que os anos passam. Se o colega tem filhos, um poderia ter sido excelente engenheiro. Outro, músico de primeira linha. Quem sabe um deles daria excelente padeiro? No entanto, todos se julgam também jornalistas. Uma ou duas gerações depois, o jornal vai atrás da vaca, quer dizer, para o brejo. Quantos exemplos tivemos de lamentar, o presidente Maurício Azêdo, eu e tantos outros hoje velhos jornalistas... De qualquer forma, não haverá que esmorecer. A ABI continua sendo a Casa da Liberdade. Penou, sofreu, foi perseguida e ainda é vista de soslaio por muitos proprietários da mídia. Tanto faz. Sem jornalistas, não se faz um jornal. Já sem proprietários... (a) Carlos Chagas.”
CID MOREIRA Jornalista e Locutor, Rio de Janeiro. RJ
”Quero agradecer o convite para fazer parte da Comissão de Honra das celebrações dos 100 anos da ABI. Estou honrado pela lembrança do meu nome por tão séria e respeitada instituição. Eu, que trabalho há mais de 60 anos na profissão de comunicador, tenho acompanhado o desenvolvimento da ABI e posso afirmar, com certeza, o quanto seus conceituados associados têm colaborado para tornar o nosso País mais humano, democrático e justo. Um grande abraço a todos e, mais uma vez, agradeço. (a) Cid Moreira.”
DALAL ACHCAR Coreógrafa e Bailarina, Rio de Janeiro, RJ
“Agradeço e aceito muito sensibilizada o convite que me faz para participar da Comissão de Honra do Centenário desta brilhante instituição que é a ABI. Sinto-me muito honrada em fazer parte desta comissão, pois a ABI é para todos nós um marco de excelência na prática da democracia e uma referência na orientação dos caminhos que o Brasil deve trilhar.
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Coloco-me à disposição e mais uma vez agradeço. Cordialmente (a) Dalal Achcar”
DALMO DE ABREU DALLARI Professor e Jurista,São Paulo, SP
“Recebi seu atencioso Ofício ABI PRES n° 1.269-2007, datado de 8 deste mês, comunicando-me que a Diretoria da Associação Brasileira de Imprensa houve por bem convidar-me para integrar a Comissão de Honra das comemorações do Centenário dessa importante e tradicional entidade, cabendo a Presidência da Comissão à figura notável de brasileiro e humanista que é Oscar Niemeyer. Muito sensibilizado pela extraordinária deferência, aceito o convite, sumamente honroso, ficando muito grato pela oportunidade de acompanhar bem de perto, ao lado de figuras eminentes, que respeito e admiro, as comemorações do Centenário dessa entidade, cuja história se inscreve nas páginas mais relevantes das lutas travadas no Brasil em defesa da liberdade, da democracia e da dignidade humana. Com renovados agradecimentos pela generosa distinção que me é concedida, externo a Vossa Senhoria e à digna Diretoria da Associação Brasileira de Imprensa as expressões de meu respeito e minha admiração. Atenciosamente (a) Dalmo de Abreu Dallari.”
DÍDIMO PAIVA Jornalista, Belo Horizonte, MG
“Digníssimo presidente da Associação Brasileira de Imprensa (ABI) Rio de Janeiro, Aceito com muito orgulho fazer parte da Comissão de Honra do Centenário da nossa entidade. Parabenizo o bom companheiro por ter convidado Oscar Niemeyer para presidente da Comissão do Centenáro. Continuo na mesma linha do movimento sindical-jornalístico do qual participamos na luta contra a ditadura militar (1964-1985), apesar de saber que poderíamos ser presos, torturados, assassinados ou “desaparecidos”, como aconteceu com centenas de companheiros nossos. Relembro que em 8 de maio de 1964, em nome do SJMG e vários intelectuais mineiros, coube-me a honra de redigir o manifesto Terror Cultural, protestando contra a violência ditatorial e exigindo o restabelecimento da legalidade constitucional no País. Recordo também que fui autor do manifesto contra a Lei de Segurança Nacional, a atual Lei de Imprensa (1967), em vigor até hoje, e a Constituição outorgada pelo regime militar do Marechal Castelo Branco (dezembro de 1966), conforme publicaram resumos os principais jornais do Rio e São Paulo. 12 Jornal da ABI 326 Fevereiro de 2008
Devo muito do que pude fazer às lições que aprendi com você e outros companheiros, como João Paulo Pires Vasconcelos (João Monlevade), Luiz Inácio Lula da Silva, Washington Melo, meu sucessor na presidência do Sindicato dos Jornalistas de Minas Gerais; Délio Rocha, MG; Mauro Santayana; bem como co-autor do Código de Ética do Jornalista (1985), aprovado na Assembléia Geral da ABI e Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), realizada na sede do BNDES, no Rio de Janeiro, como se pode ler no livro O Jornalista, de autoria da professora e jornalista Adísia Sá, da Universidade Federal do Ceará (UFCE). É com muita honra e prazer que aceito a minha designação para a Comissão de Honra. Com forte abraço do amigo e colega (a) Dídimo Paiva”
DALMO DE ABREU DALLARI
DÍDIMO PAIVA
imensa, de ver no seu convite um fruto dos já mais de cinqüenta anos de minha ligação inseparável com a Imprensa, como Jornalista Profissional. A grandeza da verdade contida na frase “100 Anos de Luta pela Liberdade”, que a ABI agora associa de direito ao nome, exprime também esta outra verdade: o Centenário da Associação Brasileira de Imprensa, muito além do aniversário marcante de uma entidade de relevo, é um fato histórico nacional, no mais rigoroso e pleno sentido de tal expressão. Passar da comemoração íntima, que por certo faria, e ter o meu nome associado à celebração do Centenário da ABI é uma honra e uma compensação. Pelas quais sou muito agradecido. Cordialmente, o colega (a) Jânio de Freitas.”
JOÃO BOSCO Compositor e cantor, Rio de Janeiro, RJ
FÁBIO PROENÇA DOYLE Jornalista, Belo Horizonte, MG
“Aceito, com justo orgulho, o seu amável convite para integrar a Comissão de Honra do Centenário da nossa ABI, eterna e imbatível trincheira da democracia e da liberdade de expressão. Como ex-Presidente da AMI – Associação Mineira de Imprensa, sei muito bem o sacrifício que nos impõe dirigir e manter viva e com dignidade uma entidade da expressão da ABI, que você comanda com desvelo, ética e independência. Estou à sua disposição para colaborar no que for possível para o maior brilho do centenário. Abraços (a) Fábio Proença Doyle.”
FÁBIO PROENÇA DOYLE
HANS DONNER
JORGE DE MIRANDA JORDÃO Jornalista, Rio de Janeiro, RJ
FERNANDO PAMPLONA Cenógrafo, Rio de Janeiro, RJ
“Aceitando, com honra, minha indicação para o conselho da ABI, quero afirmar que poucas vezes na minha vida senti tanto orgulho esquecendo o sentido pejorativo que essa palavra pode conter. É com orgulho, meu irmão e amigo de fé, que aceito fazer parte da Comissão de Honra do Centenário da ABI. Com respeito amizade e alegria (a) Fernando Pamplona.”
“Com o espírito elevado, aceito e agradeço a distinção que se traduz nesse convite para participar da Comissão de Honra da ABI no ano em que se comemora o seu glorioso centenário. Sempre vigilante e atenta quanto aos rumos democráticos em nosso País, à ABI coube, principalmente, o papel de manifestar e divulgar o pensamento da sociedade brasileira, sem exceção. A liberdade da imprensa é a liberdade do pensamento. Abraço afetuoso (a) João Bosco.”
JOÃO BOSCO
“Durante 51 anos de trabalho na redação de diferentes jornais do País, fui testemunha da atuação da ABI na defesa incondicional da liberdade da imprensa, o que implica necessariamente na liberdade de nosso povo. E esta atuação se deu sempre, até nos momentos em que a nossa liberdade foi ameaçada. Por isso, é com orgulho e emoção que recebo – e aceito – o convite para integrar a Comissão de Honra do Centenário da Associação Brasileira de Imprensa. Abraços (a) Jorge de Miranda Jordão.”
JOSÉ ROBERTO MARINHO Jornalista, Rio de Janeiro, RJ
HANS DONNER Design, Rio, RJ
“O convite para integrar a Comissão de Honra do Centenário de uma instituição da importância da ABI é uma honra para qualquer pessoa deste País. Imagine esta honraria multiplicada mil vezes para entender o que ela significa para mim. Ainda mais com o Niemeyer na presidência, é de verdade muita gentileza desta terra maravilhosa comigo. Obrigado de coração. (a) Hans Donner.”
JORGE DE MIRANDA BRANDÃO
JÂNIO DE FREITAS Jornalista, Rio de Janeiro, RJ
“Dizer do significado de integrar a Comissão de Honra do Centenário da Associação Brasileira de Imprensa, para a qual recebo o seu convite, seria falar dos sentimentos de que todos os convidados compartilhamos. Aos meus, porém, envolve a emoção particular, e
“É com grande satisfação que recebemos o honroso convite para integrar a Comissão de Honra do Centenário da Associação Brasileira de Imprensa, nossa querida ABI. Dar o merecido relevo a essa notável instituição, com um calendário de eventos à altura dos seus 100 anos, significa contribuir para tornar ainda mais fortes os pilares da nossa democracia, criando condições para uma sociedade mais democrática e justa. São históricas as contribuições da
ABI nesses campos, e temos convicção de que essa Casa deve desempenhar um papel cada vez mais importante no futuro em nossa complexa e diversa sociedade: uma sólida referência, uma voz possante, não apenas em defesa da liberdade de imprensa e de expressão, mas das liberdades democráticas em geral. Não poderia, nessa ocasião, deixar de lembrar, embora saiba ser do conhecimento do colega, os laços da família Marinho e dos veículos das Organizações Globo com a ABI, estreitados não apenas pelos relevantes serviços prestados ao País por essa agora centenária instituição, mas também pela participação ativa, de décadas, iniciada com meu avô, Irineu Marinho. E tendo, posteriormente, prosseguimento com a entrada de meu pai, Roberto, como sócio, em abril de 1924. Temos, nos arquivos de Roberto Marinho, cerca de uma centena de documentos que refletem seu ativo envolvimento com a agenda da nossa Imprensa, indo desde assuntos administrativos da associação até questões relativas à formação de novas entidades de jornalistas, e mais ainda, da defesa da liberdade de imprensa, entre outros temas. Vale destacar ainda que Herbert Moses, companheiro de fundação de A Noite e de O Globo com meu avô, teve o privilégio de presidir a ABI de 1931 a 1964. Portanto, é com muito orgulho que agradeço, também em nome de meus irmãos, Roberto Irineu e João Roberto, tão significativo convite, realçado pela oportunidade de participar de uma notável Comissão presidida por Oscar Niemeyer. Será uma honra participar dessa grande empreitada. Cordialmente, (a) José Roberto Marinho.”
JOSÉ ROBERTO MARINHO
MARCO NANINI Ator, Rio de Janeiro, RJ
LÚCIO FLÁVIO PINTO
Jornalista, Rio de Janeiro, RJ
LUÍS ERLANGER
MARCO NANINI
Jornalista, Belém, PA MARCOS DE CASTRO
MARIA BONOMI
LUÍS ERLANGER Jornalista, Rio de Janeiro, RJ
“Mais do que um convite ou mesmo uma convocação, a gentileza desse gesto representa uma homenagem. Porém daquelas que qualquer sujeito com um mínimo de bom-senso deve se questionar sobre o merecimento. Ainda mais diante do gabarito do time dos outros convidados. Fique o
“Agradeço o convite, aceitando-o com honra. Esforcei-me em manter os ideais e objetivos que contribuem na exaltação do papel da imprensa e da comunicação em geral na construção de uma sociedade democrática e justa. Cordialmente (a) Marco Nanini.”
MARCOS DE CASTRO
LÚCIO FLÁVIO PINTO “É com muita honra que aceito integrar a comissão do centenário da nossa Associação Brasileira de Imprensa. Entendo o seu convite como a lembrança do compromisso que todos temos com a nossa Amazônia, para que continue nossa. Conte comigo para o que puder ser útil por essa data tão importante, para nós, jornalistas, e para todos os brasileiros. Um abraço (a) Lúcio Flávio Pinto.”
companheiro à vontade de fazer uso dessa vaga para profissional de maior relevância. Mas, sobrando espaço, terei o maior orgulho de participar como humilde soldado nesta luta permanente pela liberdade de expressão. Abraço (a) Luís Erlanger.”
MARIÊTA SEVERO
“Recebi com alegria e muita emoção sua correspondência sobre o centenário de nossa ABI. Quando falo em alegria e emoção, creia, não estou passando para o papel palavras vãs. Expresso um sentimento do coração. Aprendi a amar a ABI desde pequeno, pois por essa casa passaram meus primos mais velhos Luís e Moacyr Werneck de Castro, que me deram força para que eu me filiasse à Casa, quando me iniciei na profissão. Depois, porque nossa Associação tem mantido, desde que passei a fazer parte dela, posições irrepreensíveis, com presidentes como Prudente de Morais, neto (o velho Dr. Pruda), e Barbosa Lima Sobrinho. Nem me furto a afirmar com tranqüilidade que Você entra nessa lista como digno sucessor dessa gente. Creio que não é preciso acrescentar nada para dizer que aceito, comovido, o inesperado convite que Você me fez para participar da Comissão de Honra dos festejos do Centenário, a ser comemorado no ano de 2008 para o qual caminhamos rapidamente. É claro que discordo sinceramente daquilo que Você chamou de “forte expressão” em nosso campo profissional, mas também não vou me alongar aqui arrotando humildade. Discordo, na batata, e pronto. Finalmente, devo acrescentar que, se o convite foi honroso, mais ainda me honra o fato de pertencer a uma Comissão presidida pela figura admirável de Oscar Niemeyer, com quem tive ocasião de conviver no tempo da ditadura militar, levados por nossos saudosos amigos comuns Ivan Alves (o Pato Rouco) e João Saldanha. Sua presidência, sei disso, também quebra formalismos e burocracias. Assim, espero que esta cartinha, que leva o calor da amizade, sirva também como declaração oficial por escrito, de aceitação, que Você me solicitou em sua correspondência. Com o abraço amigo, do seu, sempre, (a) Marcos de Castro.”
MARIA BONOMI Artista Plástica, São Paulo, SP
“Antes de mais nada, peço perdão pela demora em responder, posto que me encontrava no exterior e somente agora vosso ofício ABI.PRES nº 1.216/ 2007, de 26 de setembro de 2007, me chegou às mãos. Sinto-me profundamente lisonjeada com vosso convite para integrar a Comissão de Honra das comemorações do Centenário de vossa excelsa instituição. É uma honra infinita representar a área das artes visuais ao lado dos insignes convidados. Mas também honradíssima por estar sob a Presidência do ilustre arquiteto Oscar Niemeyer, desta Comissão. Portanto, coloco-me à vossa disposição para todas as questões necessárias e eventuais providências, sendo que, no momento, estou seguindo para Curitiba, exatamente para o Museu Oscar Niemeyer, onde terei uma individual de grande porte. Comunique-me, por favor, minha comoção pelo convite a todo o corpo social da ABI. Cordialmente (a) Maria Bonomi.”
MARIÊTA SEVERO Atriz, Rio de Janeiro, RJ
“É com muita alegria que aceito o convite para integrar a Comissão de Honra do Centenário da ABI, orgulhosa de participar das comemorações dessa data histórica. Sou admiradora dessa entidade, da sua luta permanente pela liberdade, do que ela representa para a sociedade brasileira. A liderança tantas vezes exercida pela ABI inspirou a todos os que participaram dessas lutas, possibilitando os avanços que certamente alcançamos ao longo de nossa história na construção de uma sociedade democrática e justa. A imprensa, representada pela bela história da ABI, merece as homenagens dos que atuam em todos os campos da vida social brasileira. Cordialmente, (a) Mariêta Severo.”
MARÍLIA PÊRA Atriz, Rio de Janeiro, RJ
“Obrigada pela indicação de meu nome para a Comissão de Honra nas comemorações do primeiro centenário da ABI. Quando eu tinha oito ou nove anos, comecei a fazer parte de um grupo de jovens e crianças que se apresentavam em recitais de piano, em todos os finais de ano na ABI. Essa é, portanto, minha memória mais remota e mais terna desse local. Aceito o convite agradecida e desejo muitas alegrias futuras para o novo centenário da ABI. Cordialmente (a) Marília Pêra.” Jornal da ABI 326 Fevereiro de 2008
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MOACYR WERNECK DE CASTRO Jornalista, Rio de Janeiro, RJ
“Considerando que a idade por si só não é critério para integrar a Comissão de Honra do Centenário da ABI, mas que essa Comissão tem como presidente o centenário Oscar Niemeyer, aceito com alegria a sua participação. Vou completar 93 anos em fevereiro. Naquele remoto ano de 1934, em junho, tinha sido promulgada a nova Constituição brasileira e eu ia comemorá-la com minha estréia no jornalismo profissional. Tinha sido escalado pelos veteranos Aparício Torelly, o Barão de Itararé, e Oswaldo Costa para fazer a cobertura pelo Jornal do Povo de uma reunião sindical que ia acontecer no Sindicato dos Garçons, na Rua dos Arcos, à qual compareci de gravata e chapéu, como era de praxe na época. Fui convidado para a mesa, começando logo a tomar notas, compenetradamente. De repente a sessão foi interrompida pela polícia e começaram as prisões, a pancadaria e tiros ecoaram, dissolvendo a reunião, considerada “comunista”. E lá foi o jovem repórter passando por um corredor polonês rumo à Polícia Central. Um protesto foi logo encaminhado à ABI pelo também jornalista Luiz Werneck de Castro, irmão mais velho do preso, de que tomou conhecimento o então presidente da entidade, Herbert Moses. Mencionando o direito assegurado pela nova Constituição, dizia Luiz: “Creio que basta a simples enumeração deste fato para comprovar a enormidade do processo de repressão do ministro da Justiça, Sr. Vicente Rao”. A solicitação foi atendida, e fui posto em liberdade. E concluía Herbert Moses: “Não obstante reitero o desejo da ABI de auxiliá-lo em tudo o que for necessário, prestando ao seu irmão toda assistência e solidariedade”. Moses era um conservador que levava a sério seu cargo. E foi assim que aprendi a honrar o nome da Associação Brasileira de Imprensa. (a) Moacyr Werneck de Castro.”
NAHUM SITOTSKY Jornalista,Tel Aviv, Israel
”Foi curta nota de Herbert Moses a Roberto Marinho o meu bilhete de entrada no jornalismo há 64 anos, 1943. Não dá para esquecer o nome da maternidade da profissão nem o da escola onde se aprendeu desde o alfabeto aos princípios de como tentar compreender o mundo: a ABI e O Globo. O Brasil ainda é um país sem consideração pela sua história e suas grandes figuras. O pequenino Moses foi dos gigantes. Ousou desde o estilo do nosso edifício às atitudes de defesa de colegas e da profissão sempre alvos dos que ambicionam controlar o que 14 Jornal da ABI 326 Fevereiro de 2008
se pensa e se expressa. Ao me apresentar a Roberto Marinho, grande empresário das comunicações, sempre atualizado, leal a seus colaboradores e suas equipes, outra grande figura da nossa história, me encaminhou para a vida interessante, de grandes aventuras e momentos inesquecíveis que vivo até hoje. De editor de publicações e sempre um repórter. Tudo a partir de uma primeira visita à nossa Casa do adolescente em busca de um futuro que não lhe foi negado. Abraço (a) Nahum Sirotsky.”
MARÍLIA PÊRA
PAULO EVARISTO ARNS Jornalista e Cardeal, São Paulo,SP
“Muita honra! Aceito, embora no momento o médico não me permita viajar. Atenciosamente (a) Paulo Evaristo Card. Arns.”
REGINA DUARTE
MOACYR WERNECK DE CASTRO
Atriz, São Paulo, SP
”Feliz com a indicação do meu nome ao lado das mais expressivas figuras do cenário artístico nacional, venho por meio desta aceitar, honrada, o convite para participar das comemorações dos 100 anos desta valorosa Associação. Esperando poder contribuir de toda forma para o sucesso dos eventos, aproveito a oportunidade para exaltar a importância da ABI na vida do nosso País; instituição que sempre se notabilizou pela defesa da democracia e da liberdade de expressão. No aguardo de mais informações sobre a expectativa de vocês no que se refere à minha participação, despeço-me gratificada pela deferência. (a) Regina Duarte.”
RUY OHTAKE
NAHUM SITOTSKY
PAULO EVARISTO ARNS
Arquiteto, São Paulo, SP
“Aceito, honrado, o convite da Associação Brasileira de Imprensa para integrar a Comissão de Honra do Centenário. Uma honra porque a trajetória da ABI tem se pautado pelas mais significativas posições em prol da democracia, pela firmeza das colocações e pela permanente ética na sua condução. Assim, a comemoração dos 100 anos da Associação deverá ser saudada como um marco importante na luta pela liberdade. Abraço cordial (a) Ruy Ohtake.”
TOMIE OHTAKE Artista Plástica, São Paulo, SP REGINA DUARTE
RUY PORTILHO Jornalista,Rio de Janeiro, RJ
“Para quem, como eu, teve a felicidade de tê-lo como um dos mais marcantes professores da já longa trajetória que percorro dentro da profissão, é para mim motivo de orgulho aceitar o seu convite para
integrar a Comissão de Honra da ABI, na véspera do ano em que a instituição comemora o centenário de criação. Quando penso na ABI, não consigo deixar de associá-la à sua corajosa atuação numa tarde sombria da década de 70 em que você assumiu a palavra perante um reduzido grupo de colegas para condenar em nome da entidade o assassinato do companheiro Vladimir Herzog, ocorrido um dia antes nos porões do Doi-Codi de São Paulo. Era ao mesmo tempo uma homenagem post-mortem ao jornalista que fora martirizado em nome de princípios que hoje nos cabe manter vivos, através da ABI, mas principalmente tornou-se naquela época um brado aflito de revolta contra o desprezo dos governantes por princípios e valores dos mais comezinhos inerentes ao ser humano. Como repórter do “Jornal da Tarde” procurei registrar cada uma de suas palavras, as quais, com as limitações impostas pela censura de então, acabaram transcritas em parte na edição do dia seguinte. Ficou-me a lição de ver um companheiro da sua estatura que não se abalou com ameaças veladas ou ostensivas e levou adiante a tarefa de mostrar que os inconformados não estavam dispostos a se calar e que as poucas vozes daquela época de sombras e horrores se transformaram num brado uníssono de exaltação à liberdade depois. Formar-me hoje ao lado de quem com tamanha coragem ousou contestar as atitudes dos poderosos governantes de então só me traz alegria e contentamento. Pertencer à Comissão de Honra da ABI é para mim um motivo de engrandecimento da carreira que abracei com os mesmos princípios que você, com os seus exemplos, me ensinou a respeitar e venerar. Aceito pois esse honroso convite e coloco-me desde logo à sua disposição e da presidência da Comissão, em boa hora entregue a esse extraordinário ser humano, Oscar Niemeyer, o mais belo projeto que Deus erigiu em terras brasileiras. Um abraço do amigo. Atenciosamente (a) Ruy Portilho.”
RUY OHTAKE
“A comemoração do centenário da fundação de uma entidade como a ABI-Associação Brasileira de Imprensa é motivo de grande orgulho para o País, tendo em vista a excepcional atuação que teve em prol da livre manifestação, condição fundamental para a democracia. Portanto, ser convidada para fazer parte da Comissão de Honra, além de se contituir numa surpresa, é uma generosidade muito grande, pois, apesar de hoje todos utilizarem o computador indiferentemente, o meu
essa importante e fundamental instituição brasileira. Espero poder estar com todos no próximo dia 7 de abril de 2008, aí na festa da ABI. Atenciosamente (a) Tony Ramos.”
TOMIE OHTAKE
VILLAS-BÔAS CORRÊA Jornalista, Rio de Janeiro, RJ
TONY RAMOS
VILLAS-BÔAS CORRÊA
“Acabo de receber seu convite para integrar a Comissão de Honra a ser constituída na comemoração do centenário da nossa associação de classe. Fiz questão de responder sem um instante de hesitação. Como já declarei de público, mais de uma vez, considero que a ABI atravessa uma fase brilhante em meio às suas notórias dificuldades. A sua administração, que acompanho à distância, a meu ver distingue-se pela harmoniosa combinação de eficiência e dedicação no empenho de solução de velhos e novos problemas, com a linha política correta e democrática que, ao mesmo tempo que exprime e defende as posições majoritárias da categoria que representa, abre o espaço para a livre manifestação, respeitosa e digna, dos seus críticos ou filiados de partidos ou correntes de oposição. Pois, a ABI não é um partido nem uma seita ideológica, mas a Casa de portas abertas para o livre debate de idéias no amplo leque da democracia. Com a estima e os agradecimentos do associado e venerando colega, a um ano de completar sessenta anos de ininterrupta atividade como jornalista profissional. (a) Villas-Bôas Corrêa.”
ZUENIR VENTURA
ZUENIR VENTURA instrumento original é o pincel, não a caneta dos jornalistas. Quero dizer que aceito com toda a honra e agradeço fazer parte desta Comissão para a comemoração do centenário da ABI-Associação Brasileira de Imprensa. Atenciosamente (a) Tomie Ohtake.”
TONY RAMOS Ator, Rio de Janeiro, RJ
“Através deste, confirmo e agradeço o convite honroso que me foi feito, para participar da Comissão de Honra das festividades do centenário da ABI,
Jornalista, Rio de Janeiro, RJ
“Não só aceito o seu convite para participar da Comissão de Honra do Centenário da nossa ABI, como me sinto honrado em ter sido distinguido com o que considero ser um privilégio e uma generosa homenagem. Poder comemorar esses 100 anos de luta pela liberdade já seria por si só um prêmio para mim. Poder fazer isso como participante de uma Comissão presidida pelo grande Oscar Niemeyer é a glória. Com um abraço fraterno e os meus agradecimentos à Diretoria e a você especialmente. (a) Zuenir Ventura.”
HOMENAGEM
Diálogo, da Souza Cruz, dá destaque ao centenário “A Casa da liberdade de expressão”. Assim é chamada a ABI na revista Diálogo, editada pela Souza Cruz, em reportagem que aborda o centenário da entidade. A revista destaca a ABI como uma instituição consolidada na defesa das liberdades de imprensa e de expressão e cita a contribuição da Souza Cruz para a imprensa no País. Entrevistado pela Diálogo, o Presidente da ABI, Maurício Azêdo, lembra que a Souza Cruz teve um papel importante no desenvolvimento da imprensa periódica no Brasil”. Maurício se refere à Revista Souza Cruz, editada entre 1916 e 1937 e considerada “um dos principais veículos de propagação da cultura do Brasil: — A publicação contava com a participação de importantes colaboradores, como Lima Barreto, e hoje é uma das
preciosidades da Biblioteca Bastos Tigre, da ABI. De acordo com a reportagem, que menciona também Herbert Moses, Presidente da ABI entre 1931 e 1964, a ligação da Souza Cruz com a ABI não se limita à revista. A empresa participou do primeiro aporte para a criação do Site da ABI, reafirmando uma relação que, segundo Maurício Azêdo, vem de longa data, pois a companhia “prestou colaboração destacada a iniciativas importantes, como a comemoração do centenário de Bastos Tigre, primeiro bibliotecário formado no Brasil e patrono da nossa biblioteca”. A Revista Souza Cruz era dirigida por Moses, que comandou a publicação a partir de 1916, uma década e meia antes de assumir a Presidência da ABI.
Jornal da ABI 326 Fevereiro de 2008
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Aconteceu na ABI DIVULGAÇÃO
Filmes brasileiros, opção do Cine ABI Tradição de mais de 50 anos, o cinema nacional ganhará programação especial no ano do centenário. POR MÁRCIA MARTINS E IGOR WALTZ
CinBeI A
16 Jornal da ABI 326 Fevereiro de 2008
Lara, de Ana Maria Magalhães, e Hércules 56, de Sílvio Da-Rin (abaixo): a produção nacional foi prestigiada com sessões e debates no Cine ABI, em 2007.
diu a obra e fez a emoção tomar conta do Auditório Oscar Guanabarino. Cada sessão do Cine ABI foi muito mais do que a apresentação de um filme. Os cineastas privilegiaram o espaço que a ABI dedica à exibição de produções nacionais e compareceram em sua grande maioria: Ana Maria Magalhães trouxe Lara; Luiz Rosemberg, os curtas Hollywood sem filtro, Dinheiro e Memórias; Paulo César Saraceni apresentou três produções: Arraial do Cabo, Nosso Senhor Oxalá e Integração racial. Fernando Barbosa Lima e Sônia Garcia encantaram a platéia com Ziraldo — O eterno menino maluquinho”. Do cineasta Sérgio Muniz foi exibido Você pode dar um presunto legal. O diretor Sílvio Da-Rin prestigiou a platéia após a apresentação de Hércules 56 com um bate-papo animado, con-
tando como foi feito o documentário sobre o seqüestro do embaixador norte-americano Charles Burke Elbrick, em 1969. Helena Ignez apresentou o filme O signo do caos, do marido Rogério Sganzerla. Zelito: balanço
Zelito Viana, um dos grandes nomes do Cinema Novo brasileiro e cofundador da Mapa Filmes do Brasil Ltda, contou um pouco à platéia sobre a situação da cultura e do cinema no Brasil. Romance e traição também estiveram presentes na tela do Cine ABI com Romance proibido, de Ademar Gonzaga. O requinte da produção foi ressaltado pela filha do cineasta, Alice Gonzaga. A diretora Conceição Senna compareceu à exibição de seu filme Brilhante, que contou ainda com DIVULGAÇÃO
O Projeto Cine ABI foi a grande vedete cultural da entidade em 2007, com a exibição de filmes nacionais, às segundasfeiras, para uma platéia de associados, cineastas, exibidores e amantes do cinema, que freqüentaram o Auditório Oscar Guanabarino, para apreciar as sessões de cinema do projeto criado e desenvolvido pela Diretoria de Cultura e Lazer da Casa. O ciclo recomeçará em maio, com a exibição de Rio, 40 graus, de Nélson Pereira dos Santos, obra-prima inspiradora do Cinema Novo, o movimento estético e cultural voltado para a realidade brasileira. — O Cine ABI cultiva uma tradição de que a ABI se orgulha e que é reconhecida pelos realizadores e produtores da área cinematográfica, tanto é que as sessões organizadas pelo Diretoria de Cultura e Lazer têm contado com grande participação nos debates que são realizados no Auditório Oscar Guanabarino — diz o Presidente da ABI, Maurício Azêdo. Muitas novidades estão reservadas para este ano de 2008. Com o intuito de oferecer maior disponibilidade aos espectadores, o Cine ABI vai mudar de dia e será apresentado sempre às quintas-feiras, às 19h. O Diretor de Cultura e Lazer Jesus Chediak diz que o ano do centenário da entidade terá programação especial: — Vamos fazer um período exibindo filmes temáticos. E é claro que no ano do centenário da ABI e do bicentenário da imprensa do Brasil teremos sessões especiais em homenagem a essas duas datas históricas. Iremos passar nos meses de abril e maio filmes que mostram a imprensa no cinema. O jornalista e crítico cinematográfico Dejean Magno Pellegrin foi convidado para dar apoio a esta homenagem à imprensa. Ele foi o criador da edição especial do Jornal da ABI nº 316, publicada em 2007, que mostra a relação entre a produção cinematográfica e o jornalismo. A reportagem foi resultado de minucioso trabalho de Dejean, que é fã e estudioso do cinema e tem no currículo a participação na criação da Cinemateca do
Museu de Arte Moderna-Mam do Rio de Janeiro. Música, política, a história do País, futebol, amor. Todos esses assuntos foram tema das 20 sessões do Cine ABI ao longo de 2007, cujo principal objetivo foi proporcionar debates e reflexão sobre o cinema brasileiro. O projeto, idealizado por Chediak, estreou no dia 11 de junho com o filme A paz é dourada, de Noílton Nunes, que, ao lado de Sérgio Santeiro, é um dos curadores do Cine ABI. Nélson Pereira dos Santos foi o convidado especial da noite e relembrou os grandes eventos que presenciou no Auditório da ABI, como a campanha pela redemocratização do País e a realização do 2º Congresso Brasileiro de Cinema, nos anos 50. Três irmãos de sangue, dirigido e roteirizado pela jornalista Ângela Patrícia Reiniger, teve a sua pré-estréia aberta ao público no dia 7 de agosto no Cine ABI. O documentário sobre a vida dos irmãos Betinho, Henfil e Chico Mário teve grande platéia, que aplau-
a presença do marido, o cineasta Orlando Senna. A luta de Darci Ribeiro, no início dos anos 60, para criar e implantar a Universidade de Brasília e as agressões sofridas pela UnB — desde o golpe militar de 64 até os acontecimentos de 68, quando o campus foi ocupado por tropas militares — foi mostrado em Barra 68, sem perder a ternura, de Vladimir Carvalho. Antes da exibição o cineasta conversou com a platéia sobre o cinema nacional. O diretor Penna Filho exibiu Um craque chamado Divino, que conta a trajetória de Ademir da Guia, filho do lendário Domingos da Guia. Cacá Di-
egues acompanhou a exibição do seu filme Nenhum motivo explica a guerra, que conta a história do grupo cultural AfroReggae, que nasceu em uma favela carioca. Walter Carvalho deu uma aula sobre cinema no dia da apresentação do seu filme Cazuza — O tempo não pára, com co-direção de Sandra Werneck. Não faltou também espaço para o cinema alternativo gaúcho, ou cinema de desconstrução do Flõ, Festival do Livre Olhar, que participou com cinco curtas-metragens, mostrando que o Cine ABI tem espaço para debate eclético. A programação do Cine ABI em 2007 foi encerrada com as exibi-
Jesus Chediak, Diretor de Cultura e Lazer da ABI, diz que o ano do centenário terá programação especial no Cine ABI.
Tradição reforçada pelo Cineclube Macunaíma O Cine ABI é a iniciativa mais recente da Diretoria de Cultura e Lazer para valorizar o cinema nacional, mas a Casa sempre cultivou uma importante relação com a Sétima Arte ao longo de sua trajetória. A história da ABI é marcada pelo compromisso de defender, estimular e difundir a cultura, e nesse contexto o cinema sempre foi um evento de destaque. Grande marco na história do circuito de cinema alternativo do Rio de Janeiro, o Cineclube Macunaíma foi fundado em 1973 por jornalistas sócios da ABI, entre eles o atual Presidente da Casa, Maurício Azêdo, e o ex-Diretor Fichel Davit Chargel. O Cineclube se destacou por sua programação, que valorizava o cinema de arte e principalmente o cinema produzido no Brasil. Em 1974, o Cineclube Macunaíma exibiu programação composta por percentual significativo de filmes nacionais, índice jamais igualado por nenhuma instituição comercial ou cultural da época. Por sua tela passaram grandes obras do Cinema Novo, como Deus e o Diabo na Terra do Sol e Terra em Transe, ambas de Glauber Rocha. Depois de cada sessão eram promovidos debates acalorados e encontros com a intelectualidade. Durante quase 12 anos, o Macunaíma foi o cineclube de atividade mais regular na cidade do Rio de Janeiro, sempre apresentando grandes obras do cinema aos sábados, às 21h, e posteriormente às 18h30. Entre os clássicos internacionais exibidos estão Moinho de Pó, de Alberto Lattuada, Dom Quixote, de Grigori Kozintzev, e Milagre em Milão, de Vittorio De Sica, sem contar, é claro, o obrigatório Cidadão Kane, de Orson Welles, e o comovente Hiroshima Meu Amor, de Alain Resnais. Apesar da repressão política e a censura imposta pelo regime militar, o Cineclube Macunaíma sempre manteve ousadia, exibindo filmes soviéti-
Mesmo com grande limitação de acervo, o Cineclube Macunaíma exibiu com regularidade obras marcantes do cinema, como o genial Cidadão Kane, de Orson Welles
cos em plena época de Guerra Fria. Entre as obras, destaca-se o filme de animação russo Flor de Pedra, de 1946, dirigido por Aleksandr Ptushko. Mesmo assim, muitos filmes não conseguiram escapar do crivo da ditadura, que censurou diversos deles. Este foi o caso de Roma de Fellini, em que a cena que mostrava um desfile de trajes eclesiásticos foi cortada; e do americano Amargo Pesadelo, do qual cenas de estupro foram censuradas. A vez das crianças Em 1974, o Cineclube Macunaíma passou a ter também uma programação voltada para crianças de três a dez anos. Durante a série Sessão de Criatividade, que acontecia aos domingos, a partir das 10h, eram exibidos desenhos animados, comédias de Charles Chaplin e aventuras de faroeste. Após o término do filme, eram distribuídos lápis de cor e papel para que as crianças pudessem fazer desenhos sobre o que assistiram. A idéia da Sessão de Criatividade era estimular a espontaneidade das crian-
ças e constituía então iniciativa única no Rio de Janeiro. Com a colaboração de Cosme Alves Neto, na época diretor da Cinemateca do Mam, a sessão era alternativa de lazer para as crianças, além do circuito comercial, que durante os anos 1970 e 1980 não oferecia muitas opções ao público infantil. Para criar a programação do Criatividade havia certa dificuldade: a maior parte dos filmes exibidos era cedida pelas cinematecas do Consulado da Alemanha Ocidental, Canadá e Holanda, além de filmes do acervo da Cinemateca do Mam, que tinha preciosos filmes de animação produzidos nos então países socialistas, espeialmente a Bulgária e a União Soviética. De Godard ao Oriente Médio Apesar da limitação do acervo, criado graças ao esforço dos cineclubistas, o Cineclube Macunaíma sempre pôde contar com a colaboração da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio, que cedia filmes de sua coleção para serem exibidos durante as sessões, como Acossado e O Demônio
ções de Soldado de Deus, de Sérgio Sanz, e do filme Presépios, dirigido por Emmanuel Cavalcanti. Jesus Chediak considera que a heterogeneidade da programação torna a discussão do cinema brasileiro ainda mais ampla. O Diretor de Cultura e Lazer da ABI lembrou que foram os próprios cineastas que escolheram os filmes exibidos: – Foi uma forma que encontramos para homenageá-los. O mais importante disso tudo é lembrar que o projeto foi criado para a reflexão do cinema nacional e também para aproximar os diretores de quem ama as produções nacionais.
das 11 horas, de Jean-Luc Godard. Além disso e muito antes da criação do Cineclube Macunaíma, a ABI sediou exibições da Cinemateca, organizadas pelo aficcionado por cinema Dejean Magno Pellegrin, e, depois, eventos como o Rio Cine 1981, no qual foram exibidos o documentário moçambicano Estas são as armas, de Murilo Sales, e os angolanos Adeus à hora da partida, de Francisco Henriques, e No caminho das estrelas, de Antonio Ole. Um dos fundadores da Cinemateca do Mam e hoje grande freqüentador e debatedor das atuais sessões do Cine ABI, Pellegrin estudou cinema na Sorbonne e é crítico cinematográfico. Ele relembra um pouco do tempo das exibições na ABI: — Fui um dos fundadores da Cinemateca, quando ela ainda era Cinema do Museu de Arte Moderna, na década de 1950. As primeiras atividades do departamento de Cinema do Mam aconteceram no auditório da ABI. Essa é uma relação antiga. Agora estamos conversando com a Diretoria de Cultura e Lazer sobre um ciclo de filmes sobre o jornalismo no cinema. A ABI também abriu as portas para cinema produzido no Oriente Médio. Desde a década de 1950, membros da comunidade árabe e israelense fizeram do Auditório Oscar Guanabarino, no 9º andar, um lugar de reunião para apreciar os filmes de seus países de origem. Com o advento da televisão as exibições ficaram cada vez mais escassas, e o período de glória das grandes sessões cinematográficas só foi retomado com a fundação do Cineclube Macunaíma, já na década de 1970. Em setembro de 2006, filmes árabes e israelenses foram exibidos novamente na ABI, com uma programação especial. Os documentários Desde que você foi embora, do palestino Issa Freiji; e Estrada 181, fragmentos de uma viagem Israel—Palestina, do israelense Eyal Sivan e do palestino Michel Hheleifi, mostraram um pouco da complexidade da situação conflituosa no Oriente Médio, retratando a vida e o apartheid social na Palestina e nos territórios ocupados.
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COMPETIÇÃO VEÍCULOS
Le Monde Diplomatique agora em português Em poucos meses, tiragem da sua edição nacional chega a 12 mil exemplares. POR V AGNER R ICARDO
No rastro das publicações irmãs feitas em mais de 30 países, o Le Monde Diplomatique Brasil pavimenta de vez sua expansão no mercado nacional. O suplemento, lançado em agosto do ano passado no País, já tem tiragem mensal de 40 mil exemplares e começou 2008 com uma média de vendas de 12 mil unidades, nível considerado muito bom, especialmente porque não houve qualquer publicidade do novo veículo. Na Argentina, por exemplo, onde há nove anos os leitores são brindados com edições mensais do Le Monde Diplomatique, as vendas hoje atingem, em média, 20 mil exemplares, depois do pico de 24 mil durante o auge da crise econômica sofrida pelo país vizinho, há seis anos atrás. Le Monde Diplomatique é publicado em quatro continentes (Europa, América, Ásia e África) e tem 36 edições mensais impressas, perfazendo uma tiragem total de 1,5 milhão de exemplares, afora as 33 edições eletrônicas: — Não precisamos fazer nenhuma pesquisa de viabilidade econômica. Tínhamos uma clara percepção de que havia um mercado potencial para este tipo de publicação, destinada a atender a formadores de opinião, como intelectuais, doutores, mestres e alunos de pós-graduação, afora pensadores sociais e jornalistas — diz o editor do Le Monde Diplomatique Brasil, José Tadeu Arantes, que tem 30 anos de profissão. Publicado mensalmente, Le Monde Diplomatique era originalmente encartado no diário francês Le Monde, até tornar-se autônomo da empresa-mãe e ganhar o mundo, com uma linha editorial exclusiva: — Não há influência do Le Monde na linha editorial do Le Monde Diplomatique — explica Arantes. Fórmula consagrada No Brasil a publicação repete a fórmula consagrada nos demais países onde ganhou versão própria. Ou seja, 70% de seu conteúdo são traduções das edições do Le Monde Diplomatique francês e os outros 30% ficam a cargo de colaboradores de notório saber residentes em cada país. E os temas abordados, informa o editor brasileiro, incluem as grandes questões políticas, geopolíticas, sociais, econômicas, culturais e filosóficas: — O objetivo é oferecer matérias analíticas aos leitores. Para tanto, as
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pautas são encomendadas com bastante antecedência, em média dois meses antes da futura edição, para que nossos colaboradores tenham tempo suficiente de esgotar os temas propostos na edição local. Arantes confirma que a publicação teve uma acolhida muito promissora no mercado brasileiro, com 8 mil bancas vendendo o periódico em território nacional. Em seu entendimento, a publicação aproveita-se de um vácuo editorial que havia no País: – De fato, não há nada equivalente por aí. O que mais se aproxima é a revista Caros Amigos, mas as propostas são bem diferentes. Em conseqüência de sua originalidade, Arantes acredita que são muito positivas as perspectivas da publicação. — Podemos dizer que ainda estamos numa fase de implantação do veículo. Mas o bom desempenho obtido até aqui não deixa dúvidas de que ele vai se consolidar no mercado nacional. Cidadania planetária Do ponto de vista ideológico, a edição brasileira segue também o movimento de uma cidadania planetária perseguida pelo “dna francês”: – A idéia é de se bater muito em prol da ampliação da democracia, capaz de acolher as múltiplas e contraditórias reivindicações da sociedade. A meta é debater uma sociedade mais eqüitativa, com mais liberdade — explica Arantes. No editorial de estréia do Le Monde Diplomatique Brasil, Arantes escreve que o Brasil não tem a tradição de olhar de forma abrangente a conjuntura global. Menos ainda, acrescenta,
consolidou-se entre nós uma visão alternativa ao enfoque da grande mídia norte-americana, cuja credibilidade ficou seriamente abalada com a cobertura da guerra do Iraque — “nosso jornal pretende estimular reflexões profundas a partir da construção de uma visão multilateral da cena planetária”. Daí a seleção rica de temas das edições, que inclui a participação feminina nos movimentos agrários e os efeitos de séculos de escravidão no continente africano, além dos cadernos da América Latina. Apesar da predominância de reportagens da edição francesa, Arantes afirma que existe um esforço em apresentar como matéria de capa um tema instigante da realidade nacional, como as questões ambientais, econômicas, políticas, culturais e, sobretudo, sociais: — Nem sempre é possível ter uma matéria de capa com temas específicos do Brasil. Em contrapartida, tendo em vista a parceria com a redação argentina do Le Monde Diplomatique, é possível dispor de algum tema ligado à América Latina. Diferencial Um elenco de colaboradores é outro diferencial da publicação. Boa parte deles faz parte do Conselho Editorial do jornal, o que é importante para a variedade de assuntos apresentados aos leitores — “contamos com nomes respeitáveis do cenário intelectual, artístico, científico e político brasileiro”, assinala Arantes. Esta característica é um salvo-conduto para que, depois de assinaturas e vendas em banca, a publicação passe a buscar maior respaldo publicitário. A idéia de lançar a edição brasileira do Le Monde Diplomatique reuniu as forças de duas instituições: o Instituto Polis, responsável pela edição impressa; e o Instituto Paulo Freire, que cuida da versão eletrônica. A cada edição, três textos são publicados simultaneamente em papel e na internet. Os demais são disponibilizados no site 40 dias após o lançamento nas bancas. A edição eletrônica exibe ainda, na seção Primeira página, dossiês especiais, que oferecem ao leitor artigos publicados em números anteriores do jornal, mas que conservam a atualidade. Cada dossiê é apresentado por um texto produzido pela Redação brasileira, que atualiza as informações e as associa a fatos recentes e relevantes.
Maranhão cria Prêmio Neiva Moreira Uma dotação total de R$ 27.500 para as sete categorias da disputa. Até 31 de agosto estarão abertas as inscrições para o I Prêmio Neiva Moreira de Jornalismo, iniciativa da revista Nossa Imprensa, com o apoio da ABI, com patrocínio das Secretarias de Estado de Cultura e de Comunicação Social do Maranhão e de empresas da iniciativa privada. A premiação tem como objetivo principal estimular o desenvolvimento da imprensa maranhense, identificando e premiando os melhores trabalhos jornalísticos nas modalidades Jornalismo Impresso, Cartum, Fotojornalismo, Radiojornalismo, Telejornalismo, Webjornalismo e Jornalismo Universitário. Haverá também uma premiação especial do júri, denominada Grande Prêmio Neiva Moreira de Jornalismo, que irá homenagear jornalistas que, pelo esforço pessoal e profissional, tenham se destacado na carreira. As indicações para esse prêmio especial serão dos membros do júri. O I Prêmio Neiva Moreira de Jornalismo tem o valor total de R$ 27.500,00, que será distribuído nas diversas categorias indicadas pelo regulamento. Serão selecionados trabalhos veiculados no período de 1º de outubro de 2007 a 31 de agosto de 2008, que tenham sido regularmente inscritos pelos seus autores ou empresas jornalísticas. Dispõe o regulamento que a autoria dos trabalhos deverá estar autenticada pela assinatura da matéria, imagem ou voz do autor; em caso de material não-identificado, por meio de uma declaração expressa do editor ou responsável pelo veículo ao qual está vinculado o trabalho inscrito. Os materiais jornalísticos com mais de uma autoria deverão fazer constar os nomes dos parceiros na ficha de inscrição, devendo ser eleito um representante para o caso de o produto vir a ser finalista ou vencedor. Imagens, fotografias e outros trabalhos deverão ter sido produzidos por profissionais brasileiros ou radicados no Estado do Maranhão. Os trabalhos deverão ser entregues, pessoalmente ou via correio, até 31 de agosto, na sede da revista Nossa Imprensa, na Avenida Senador Vitorino Freire, Lote 01, Qd. 36, Edifício Jonas Martins Soares, bairro Areinha, São Luís (MA), CEP. 65010 — 650. Os trabalhos enviados pelo correio deverão ser postados em sedex (o comprovante de postagem valerá como documento de entrega) até à data-limite.
MARCOS D'PAULA/AGENCIA ESTADO/AE
JUSTIÇA
APOIO AO NOBEL DA PAZ PARA BOAL A ABI pede o prêmio para o criador do Teatro do Oprimido. A ABI manifestou ao The Norwegian Nobel Committee (Comitê Norueguês do Prêmio Nobel) o seu apoio à candidatura do teatrólogo Augusto Boal ao Prêmio Nobel da Paz 2008. Em mensagem ao Comitê, a ABI diz que a indicação de Boal faz justiça “a um pensador, criador e artista que tem oferecido notável contribuição à cultura e à causa da paz no mundo inteiro desde 1971, quando foi obrigado a se exilar em razão das perseguições políticas”. Entre as grandes criações artísticas de Augusto Boal neste século está o Teatro do Oprimido, que vem sendo adotado em mais de 70 países por centenas de grupos de áreas como educação, pedagogia, trabalhos sociais e políticos, saúde, cultura e defesa dos direitos humanos. Por esse motivo, a ABI considera que “o Teatro do Oprimido é o Teatro do Diálogo”, pois dá voz aos cidadãos em várias partes do mundo para reafirmar sua identidade. A ABI afirma ainda que a importância dos grupos do Teatro do Oprimido que se formaram ao redor do mundo é destacada na ajuda que prestam a milhões de indivíduos “na afirmação de sua cidadania em lutas contra o racismo, sexismo, trabalho escravo e todas as formas de desrespeito aos inalienáveis direitos humanos”.
Projeto teatral de Augusto Boal deu voz às comunidades de diversas partes do mundo.
CULTURA
Arcozelo retoma obras do sonho de Paschoal A Aldeia criada por ele poderá instalar oficinas de teatro e cursos de artesanato. FOTO ARQUIVO/AE
POR V AGNER R ICARDO
Um ano após a comemoração do centenário do produtor, crítico, autor e diretor teatral Paschoal Carlos Magno, que foi lembrado em dezembro em evento na ABI, o Centro Cultural da Aldeia de Arcozelo, criado por ele, deverá iniciar este ano nova etapa de obras e, com isso, cumprir o ideário de Paschoal: ser centro permanente de atividades artísticas, talvez o de maior dimensão na América Latina. A meta é concluir a reforma do casarão de 54 quartos, da capela de São Francisco e da Sala de Música Padre José Maurício Nunes Garcia e destinar as novas áreas na realização de cursos permanentes no próximo ano. Junto com as obras, a revitalização vai prestar nova série de homenagens a Paschoal Carlos Magno, que também foi poeta, romancista e diplomata de carreira. Paschoal é, contudo, mais lembrado como um dos nomes de maior importância na trajetória do teatro brasileiro, que destacou por meio da imprensa. Por isso o projeto pretende distribuir novas placas com menção ao nome de Paschoal Carlos Magno e redistribuir melhor o acervo do intelectual. Paschoal, entre outras iniciativas, foi responsável direto pela descoberta do ator Sérgio Cardoso, que se consagrou
Centro Cultural criado por Paschoal Carlos Magno, ganha obras de revitalização.
a partir da encenação de Hamlet, de William Shakespeare. Outras iniciativas de Paschoal para o fortalecimento do teatro foram a fundação, em 1938, da Casa do Estudante do Brasil, e a criação do Teatro Experimental do Negro, em 1944. Em 1952, instalou em sua casa, em Santa Teresa, o Teatro Duse, destinado a encenar novos autores. As novas obras, orçadas em R$ 6,5 milhões, serão viabilizadas pela Funarte em parceria com a Sociedade de Amigos da Aldeia do Arcozelo. Na opinião do Diretor de Cultura de Paty do Alferes, Marcelo Mourão, elas reforçarão o sonho de Paschoal de tornar a Aldeia de Arcozelo um centro permanente de realizações artísticas. Oficinas de teatro, exposição de artes plásticas, cursos de artesanato serão algumas das novas atividades que estarão disponíveis nas gôndolas da Aldeia de Arcozelo, informa Marcelo Mourão: — A idéia é não só a recuperação do prédio, mas sim de ter espaços para atividades permanentes, afirma ele. A nova etapa de reformas, destaca Mourão, coloca de vez uma pá de cal na histórica crise da Aldeia de Arcozelo em grande parte dos anos 80, encerrada com a revitalização iniciada pelo Governo de José Sarney no final daquela década. A Aldeia de Arcozelo fica em Paty do Alferes, no Estado do Rio de Janeiro. O complexo ocupa 57 mil metros quadrados, dos quais 10 mil de área construída, abrigando teatro ao ar livre (Itália Fausta), teatro fechado (Renato Viana), salas de exposição e de música, biblioteca e outros espaços para várias atividades. A Aldeia é administrada pela Funarte, órgão vinculado ao Ministério da Cultura. Jornal da ABI 326 Fevereiro de 2008
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Existe algo em comum entre a ABI e a Petrobras: as duas ajudam a impulsionar o País.
A Petrobras se orgulha de fazer parte dos 100 anos da ABI, uma instituição fundamental na luta pela liberdade de imprensa, pelo progresso e por inúmeras conquistas.
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PESQUISA
Como a sociedade se organizava no princípio do século 20? Arquivo Nacional inicia levantamento sobre as entidades criadas entre 1903 e 1916. POR V AGNER R ICARDO
Disposto a derrubar, em parte, a tese de que o brasileiro não se associa e, ao mesmo tempo, empenhado em demonstrar como a sociedade e as universidades não têm uma idéia clara dos benefícios deixados pelas associações civis do início do século XX, o Professor Vitor Fonseca, do Arquivo Nacional, iniciou um trabalho que resultará na publicação do Guia das Associações Cariocas, cobrindo o período entre 1903 e 1916. O objetivo é não só quantificar as entidades de personalidade jurídica irritantes na época, mas também disponibilizar seus acervos para estudiosos, universidades e organizações sociais. Os dados da pesquisa serão disponibilizados inicialmente na internet e, depois, publicados em livro no prazo máximo de um ano e meio. A ABI, que festeja seu centenário este ano, foi a primeira entidade a responder ao questionário do Arquivo Nacional que serve de base para o Guia. No caso das instituições extintas, o plano é identificar os detentores dos documentos, para que permitam o acesso dos pesquisadores. A idéia do Guia cristalizou-se a partir da tese de doutorado defendida no ano passado, no programa de Pós e História da Universidade Federal Fluminense por Vitor Fonseca, que queria es-
tudar, entre outras coisas, em que medida tinha ou não fundamento a afirmação da intelectualidade do início do século XX de que o brasileiro é insolidário, o que seria uma das razões de o País não dar certo. Para dar base ao estudo, Fonseca avaliou a documentação existente no 1º Ofício de Registro de Títulos e Documentos sobre o período entre 1903 e 1916, último ano antes da vigência do Código Civil, que impôs mudanças nas regras de formação das associações civis, em 1º de janeiro de 1917. Além do professor, participa da Coordenação do projeto a professora Ismênia Martins, do Departamento de História da Uff. O historiador Guilherme de Miranda é o responsável pela pesquisa. Fonseca diz que o movimento associativo no País foi o embrião de uma série de direitos adquiridos pela sociedade: — As uniões estáveis, por exemplo, só recentemente foram reconhecidas em lei, mas já eram validadas nas associações no início do século passado, bem como, em seus pleitos, o direito de voto dos analfabetos, algo só reconhecido na Constituição de 1988. O conceito de Defensoria Pública é também inspirado nas associações civis; Tiradentes foi defendido por um advogado pago pela Santa Casa de Misericórdia — lembra.
Vitor Fonseca e Guilherme de Miranda: pesquisa alerta sobre a necessidade de preservar acervos das associações.
Até o advento do Código Civil de 1917, existiam 668 entidades com personalidade jurídica, revela o professor, acrescentando que o número de associações atuantes à época devia ser bem maior. Isso porque muitas, tendo em vista os custos maiores das entidades com personalidade jurídica, só justificável para aquelas que tinham um mínimo de patrimônio, não requisitavam seu registro: — O 1º Ofício tinha entre outras atribuições a de registrar associações com personalidade jurídica. Porém, como isso implicava despesas elevadas, só fazia sentido para quem tinha algum patrimônio para administrar. Ficavam de fora, entre outras, entidades pastorais e clubes de futebol. Fonseca relata que mesmo assim havia uma grande variedade de associações, com foco em atividades culturais, religiosas, beneficentes e, sobretudo, de auxílio mútuo, que prestavam serviços equivalentes aos da atual Previdência pública:
— Naquela época, estas associações cumpriam um importante papel. Cabia a elas amparar seus associados, caso fossem presos, ficassem doentes ou envelhecessem — diz ele, que prevê que o acesso aos acervos das instituições permitirá aos estudiosos uma clara idéia de quais eram os anseios da sociedade no início do século passado. Nesse primeiro momento, o Guia ficará restrito às entidades com personalidade jurídica, “porque seu acervo documental pode ser mais facilmente encontrado”. Mas, dependendo da acolhida, a idéia é ampliar o escopo da pesquisa, incluindo as entidades surgidas a partir de 1917: — Acho que, indiretamente, nosso trabalho de localização de documentos contribuirá para despertar a atenção sobre a necessidade de preservação dos arquivos das associações, mesmo daquelas cujo acervo ainda não tem a importância histórica e social reconhecida.
MENSAGEM
A CNBB agradece a homenagem a Dom Aloísio “Palavras da ABI expressam brilhantemente a importância atuação de Dom Lorscheider”. Em mensagem firmada por seu Presidente, Cardeal Dom Geraldo Lyrio Rocha, a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil agradeceu a manifestação de pesar da ABI pelo passamento do Cardeal Dom Aloísio Lorscheider, Presidente da CNBB de 1971 a 1975 e de 1976 a 1979, no dia 23 de dezembro passado. Dom Geraldo Lyrio Rocha, que é Arcebispo de Mariana, MG, diz que as palavras da Casa “expressam brilhantemente o reconhecimento da ABI pela importante atuação que teve Dom Aloísio em favor da Igreja e do Brasil”. A ABI também recebeu mensagem de agradecimento do Bispo Auxiliar do Rio de Janeiro, Dom Dimas Lara Barbosa, que aproveitou para fazer um convite para que a Casa integre um grupo que elabora um projeto de lei de iniciativa popular para coibir candidatura de pessoas condenadas por crimes dolosos, mesmo em casos de recursos às instâncias superiores para rever as condenações. Inicialmente, uma comissão formada por quatro membros do Movimento de 22 Jornal da ABI 326 Fevereiro de 2008
Combate à Corrupção Eleitoral, lançado pela OAB nacional, avalia uma proposta, inspirada em prática adotada pelo TRERJ, para elaborar o projeto de lei, que poderá incluir ainda temas como democracia direta (plebiscitos e referendos) e ainda “alguma coisa sobre a reforma política”. A intenção é obter 1 milhão de assinaturas para que o projeto seja avaliado pelo Congresso Nacional. Dom Dimas afirma que na atual conjuntura o movimento em prol do projeto deverá receber adesões com grande facilidade. Ele lembra que para aprovação em concursos públicos se exige a ficha policial limpa do candidato e entende que este princípio deve valer para os cargos eletivos. Na correspondência enviada à ABI, Dom Dimas assinala que, no lançamento do MCCE, em 19 de novembro do ano passado, relatou aos presentes à iniciativa da Casa nesse plano, ao referirse ao lançamento do Comitê Municipal Contra a Corrupção Eleitoral, instalado em setembro do ano passado no Edifício Herbert Moses, nossa sede.
Espectador reclama de letreiros da televisão Em e-mail enviado à ABI, o cidadão comum João Batista Silva de Almeida, morador do Rio, acusou os canais de televisão de desrespeitar o público ao conceder tempo insuficiente para a leitura dos caracteres com o nome de seus entrevistados e a atividade que exercem. Ele pede às emissoras mais consideração e respeito tanto aos seus convidados quanto aos espectadores. Almeida pede também que a ABI oriente as tvs para que revejam esse tempo e o aumentem o suficiente para sua leitura na íntegra. Em e-mail em resposta a seu apelo, a ABI esclareceu que não tem esse poder, mas informou que transmitiria a mensagem à Associação Brasileira de
Emissoras de Rádio e Televisão–Abert, que tem influência junto à direção das emissoras. A ABI divulgou a reclamação em seu site, para que os profissionais empenhados na produção de programas jornalísticos levem em consideração a queixa do espectador. A mensagem de João Batista Silva de Almeida tem o seguinte teor: “Há alguns anos tenho relutado em enviar-lhe esta mensagem. Há muitos anos tenho observado que as emissoras de tv têm um comportamento deselegante na edição das matérias que vão ao ar. Quando uma personalidade dá uma entrevista e a emissora insere o gc (gerador de caracteres), informando o
nome e a atividade do entrevistado, o tempo é insuficiente para a leitura do telespectador. Este procedimento é altamente desrespeitoso para com o entrevistado, agente principal da entrevista, e ao telespectador, o qual é o gerador da audiência. As emissoras deveriam ter maior consideração e respeito tanto ao entrevistado, quanto aos telespectadores. Sugestão: A ABI oriente as emissoras (para que) revejam este tempo e o aumentem o suficiente para que os telespectadores possam fazer a leitura na íntegra. Antecipadamente, ficolhe grato com a apreciação e a acolhida à sugestão. (a) João Batista Silva de Almeida, cidadão da Cidade do Rio de Janeiro.”
Liberdade de imprensa
Em dois Estados, o totalitarismo da censura prévia Juízes do Estado do Rio e do Paraná impõem a rolha a veículos de comunicação, confirmando a convicção da ABI de que o Judiciário é hoje o maior inimigo da liberdade de imprensa no Brasil. Em declaração divulgada no dia 10 de janeiro, a ABI condenou a censura prévia imposta a seis emissoras de televisão e quatro jornais do Rio pelo Juiz Joaquim Domingos de Almeida Neto, do 9° Juizado Especial Criminal, bem como o veto à presença do Governador Roberto Requião na TV Educativa do Paraná, determinado pelo Desembargador Federal Edgard Lippmann Júnior. As decisões, diz a ABI, ofendem gravemente o texto constitucional. O pronunciamento da ABI tem o seguinte teor: “A Associação Brasileira de Imprensa lamenta ter de se manifestar mais uma vez para condenar a censura prévia imposta a veículos de comunicação por duas decisões de magistrados de diferentes Estados, as quais contêm grave agressão à Constituição da República, que em seu artigo 220, parágrafo 2°, veda em preceito nítido e incisivo “toda e qualquer censura de natureza política, ideológica e artística”
A primeira dessas decisões foi prolatada pelo Juiz Joaquim Domingos de Almeida Neto, do 9° Juizado Especial Criminal da Comarca da Capital do Estado do Rio de Janeiro, que proibiu seis emissoras de televisão e quatro jornais de veicularem qualquer referência aos três estudantes que agrediram um grupo de prostitutas num ponto de ônibus na Barra da Tijuca, numa manifestação de barbárie e de desrespeito à pessoa humana que chocou a opinião pública não apenas no Estado, mas em todo o País. Ao proibir qualquer referência aos nomes dos autores de tão repugnante delito, os quais foram condenados à pena alternativa de trabalhar como garis, o Juiz Joaquim Domingos de Almeida Neto ofende a Constituição, ignorando a disposição mencionada, e devolve o País aos tempos do autoritarismo, que a Nação superou com a promulgação da Constituição de 5 de outubro de 1988.
A ABI condena projeto que veda a exposição de publicações Vereador do Paraná pensa em desestimular a violência com uso de legislação inconstitucional. Em comunicado enviado à ABI, o Presidente do Poder Legislativo de Campo Mourão-PR, Vereador Eraldo Teodoro de Oliveira, pediu parecer da Casa sobre o Projeto de Lei nº 184/07, de sua autoria, que dispõe sobre a proibição da exposição pública “de material que incentive a violência nas bancas de revistas, jornais e em placas de publicidade e similares no âmbito do Município” O Vereador entende que a medida visa a auxiliar no combate à violência e “é pertinente, pois o material fica invariavelmente colocado em local de grande circulação de pedestres, entre eles crianças e jovens estudantes que circulam diariamente na cidade”. Na resposta encaminhada à Câmara Municipal de Campo Mourão, em 15 de janeiro, a ABI, mesmo considerando louvável o propósito de coibir a violência, considera que o projeto de lei é inconstitucional. Diz seu opinamento: “Ilustre Presidente Dr. Eraldo Teodoro de Oliveira Em atenção ao seu Ofício 4.138/
2007-GAB-PRES, de 10 de dezembro passado, informo-lhe que esta Associação Brasileira de Imprensa considera inconstitucional o Projeto de Lei n° 184/2007, de sua iniciativa, que ‘dispõe da proibição da exposição pública de material que incentive a violência, nas bancas de revistas, jornais e em placas de publicidade ou similares no âmbito do Município de Campo Mourão e dá outras providências’. Embora altamente louvável o propósito que inspirou a elaboração da proposição, visando a desestimular a prática de violência, o Projeto de Lei n° 184/ 2007 colide com a disposição contida no parágrafo 2° do artigo 220 da Constituição da República, que declara que ‘é vedada a censura política, ideológica e artística’. Objetivamente, uma lei com essa determinação incorrerá na vedação que a Carta Magna estabelece. Felicitando-o pela sua preocupação de deter o que possa incentivar a violência, peço-lhe que aceite as expressões do nosso elevado apreço. (a) Maurício Azêdo, Presidente.”
A Carta Constitucional instituiu o Estado de Direito Democrático, duramente golpeado por essa decisão judicial. Embora revestida de considerações pertinentes sobre o uso de uma emissora do Poder Público no interesse político de governantes que a têm sob seu império, igualmente passível de repúdio pela ABI é a decisão do Desembargador Federal Edgard Lippmann Júnior, da Justiça Federal no Paraná, que proibiu o Governador Roberto Requião de utilizar a TV Educativa do seu Estado para manifestações do interesse de sua administração. Ainda que se reconheça, como acentua esse magistrado, que um governante não pode utilizar uma emissora pública em seu benefício político, a decisão do Desembargador Lippmann Júnior tem a mesma conotação de censura prévia e, como a do magistrado da Justiça fluminense, entra em forte colisão com o texto constitucional. Agra-
vam o teor draconiano desse despacho inconstitucional as pesadas penas pecuniárias impostas ao Governador no caso de violação da determinação judicial. Ao impor multa de R$ 50.000,00 àquilo que define como “cada promoção pessoal ou agressão proferida” e sua elevação a R$ 200.000,00 para a hipótese de reincidência, o autor da decisão oferece uma idéia do absurdo de que esta se reveste, sem precedente nem mesmo nos ásperos tempos da ditadura militar. A ABI espera que os órgãos de comunicação do Estado do Rio e o Governo do Estado do Paraná recorram dessas decisões, que configuram mais uma vez aquilo que a ABI tem assinalado nos freqüentes pronunciamentos que infelizmente tem sido chamada a emitir nos últimos tempos: o Poder Judiciário é atualmente o maior inimigo da liberdade de imprensa no Brasil. (a) Maurício Azêdo, Presidente.”
JORNAL DO LITORAL DE SP ABRIGA TEXTO DISCRIMINATÓRIO Alertada pela OAB, a ABI lamenta mau uso da liberdade de imprensa por um colunista de periódico da região. Em expediente firmado por seu Presidente, Luiz Tadeu de Oliveira Prado, a 136ª. Subseção da Ordem dos Advogados do Brasil em São Paulo, com jurisdição nas cidades de São Sebastião e Ilhabela, denunciou à ABI que o jornal Imprensa Livre circulou em sua edição de 24-25 de novembro passado com um texto “cujo teor é altamente discriminatório, além de incentivar a discriminação contra os homossexuais, usando palavras de baixo calão, com texto pornográfico e ofensivo a estes”. A Subseção da OAB-SP juntou ao seu expediente cópia da coluna Canal zap de Imprensa Livre, a qual inclui entre as efemérides que registra a morte do cantor inglês Fred Mercury, ao qual atribui “atividades bem abichonadas”, além de empregar outras expressões de mau gosto em relação ao artista. O jornal circulou em pelo menos cinco cidades do Litoral Norte de São Paulo: São
Sebastião, Ilhabela, Caraguatatuba, Ubatuba e Bertioga. Em resposta, a ABI informou à OAB-SP que “compartilha a indignação causada à 136ª. Subseção São Sebastião/Ilhabela da Ordem dos Advogados do Brasil de São Paulo e lamenta que a liberdade de informação e de opinião seja utilizada em manifestação tão reprovável”. Diz ainda a ABI que não lhe cabe “qualquer ação para promoção de medida que escape ao âmbito da ética jornalística, mas instituições representativas da cidadania, como essa Subseção da OAB-SP, podem dirigir-se ao Ministério Público do Estado de São Paulo pleiteando a adoção dos procedimentos cabíveis diante desse mau uso da liberdade de imprensa”. A ABI enviou cópia da resposta ao Diretor de Imprensa Livre, André Luiz Valente Mendes, que não respondeu ao expediente nem acusou o seu recebimento.
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Liberdade de imprensa FÁBIO POZZEBOM/ABR
Miro Teixeira propôs a revogação da Lei de Imprensa e lembrou que em muitos países a legislação existe para obrigar o Estado a fornecer informações.
CARTÃO VERMELHO PARA A LEI DE IMPRENSA O Deputado Miro Teixeira expôs no Conselho Deliberativo da ABI as razões que o levaram a pleitear no Supremo Tribunal Federal a declaração da inconstitucionalidade da Lei de Imprensa, proposta que o STF deferiu, ratificando liminar concedida pelo Ministro Carlos Ayres Brito. Suspensos 22 artigos da Lei. Autor da proposta de revogação da Lei da Imprensa (Lei nº 5.250/67), por ele definida como o “último entulho autoritário da ditadura”, o Deputado Miro Teixeira (PDT-RJ) fez ampla exposição na reunião de fevereiro do Conselho Deliberativo da ABI, realizada no sdia 29, sobre sua iniciativa de postular no Supremo Tribunal Federal a revogação desse texto legal, editado em 9 de fevereiro de 1967, sob a ditadura militar. Miro, que atendeu a convite do Presidente do Conselho, Fernando Barbosa Lima, falou para casa cheia e no fim de sua exposição dialogou com membros do Coselho, aqui e ali divergindo de opiniões expostas. À mesa da sessão tiveram assento o Presiden-te da ABI, Maurício Azêdo, o 1º Secretário do Conselho, Conselheiro Lênin 24 Jornal da ABI 326 Fevereiro de 2008
Novaes, e o Conselheiro Carlos Rodrigues, secretário ad hoc. Ao se referir à decisão dos Ministros do Supremo, que, por maioria, na véspera, referendaram a liminar que suspendeu a vigência de 22 dos 77 artigos da Lei de Imprensa, Miro demonstrou otimismo quanto ao resultado final do julgamento, a se realizar seis meses após a decviosão agora adotada. — Acho que a Lei de Imprensa já está revogada. No início da exposição Miro lembrou que há muito tempo vem chamando a atenção sobre o caráter restritivo da Lei de Imprensa: — Já há muitos anos nós manifestamos essa perplexidade diante da existência no Brasil democrático de uma Lei de Imprensa restritiva, que não existe mais em nenhum outro país do mundo. Uma
nação que se pretende democraticamente desenvolvida não pode punir ou controlar a manifestação do pensamento e a divulgação das opiniões. Miro, que é jornalista e membro do Conselhio Consultivo da ABI, lembrou também que a idéia da revogação total da Lei de Imprensa lhe ocorreu no ano passado, durante a realização da sessão especial na Câmara dos Deputados que comemorou os cem anos da ABI: — Na hora da sessão comemorativa do Centenário, fiz uma convocação aos companheiros, ao Maurício Azêdo e aos parlamentares, para que nós nos aplicássemos na revogação da Lei de Imprensa. Disse Miro que houve receptividade à proposta inclusive do Presidente da Câmara, Deputado Arlindo Chinaglia (PT-SP), mas o debate no Legislativo
acabou se revelando infrutífero: — É porque estamos no ambiente das autoridades que querem se proteger. As coisas acabam ficando inertes e aí a explicação está em Maquiavel, quando diz que “as novas leis são muito perigosas: aqueles que são protegidos pelas leis atuais têm horror de modificá-las e aqueles que serão beneficiados não se mobilizam porque não têm noção”. Como é no mundo Informou o Deputado que vem acompanhando as deliberações da Onu sobre a avaliação da qualidade da democracia nos diferentes países e a liberdade de manifestação do pensamento e percebeu que há cerca de oito anos esses fatores são considerados para se medir a qualidade da democracia de uma nação.
— Que outro país do mundo tem uma Lei de Imprensa? Mais nenhum. A Inglaterra fez em 1982 uma autoregulamentação. Lá, fazendo um resumo meio engraçado, não importa se a Rainha tem um caso com o capitão da Guarda. Passa a importar se ela tomar decisões por conta desse caso; aí passa a ser assunto de interesse jornalístico e público. Mesmo os tablóides ingleses que têm uma tradição de escândalos começaram a perder leitores pra valer e estão mudando de linha. Porque do regime da plena liberdade surge a plena responsabilidade, e o cidadão passa a não comprar porcaria. Pelas contas de Miro atualmente mais de 70 países têm uma legislação de imprensa que é o oposto da Lei nº 5.250/67: — A legislação no mundo todo obriga o Estado a fornecer informações. O direito à informação não é exclusivo do jornalista ou do veículo, é do cidadão.
Alegria e orgulho No fim da reunião, ao se referir à iniciativa que o próprio Miro considera uma causa, Maurício Azêdo disse: — A ABI recebeu com especial satisfação o empenho do Deputado Miro Teixeira e a decisão do Supremo Tribunal Federal e tem repisado isso nas manifestações que tem sido chamada a fazer nos mais variados pontos do País. Além dessa alegria, a ABI pode manifestar, como instituição, o seu orgulho de essa questão ter sido suscitada por um jornalista, membro da nossa comunidade profissional, um eminente integrante desta Casa, que nos honra como integrante do Conselho Consultivo. Afirmando que a ABI se considera parte desta postulação vitoriosa, Maurício complementou: — A ABI festeja os resultados obtidos e estende o seu tapete vermelho em homenagem a esse competente parlamentar, advogado e jornalista que é o Deputado Miro Teixeira.
A entidade chama a atenção para a perseguição a jornalistas e blogueiros. A organização Repórteres sem Fronteiras divulgou relatório em 13 de fevereiro chamando a atenção para a situação da China, que vai sediar as próximas Olimpíadas, em agosto. Diz o documento que enquanto o mundo estiver ligado nos Jogos centenas de profissionais da imprensa e blogueiros estarão presos, pois a polícia local tem ordem para atacar quem questionar a realização do evento esportivo no país, onde, além disso, sempre que um jornalista é libertado outro é detido em seu lugar. A RSF considera que as autoridades chinesas não parecem dispostas a “algum gesto significativo no terreno dos direitos humanos” e só o Comitê Olímpico In-
ternacional acredita na boa vontade dos políticos locais. A Repórteres sem Fronteiras também alerta para a possibilidade de fraude nas eleições marcadas pa-ra este ano em alguns países que não admitem jornalismo independente. Entre eles o Paquistão e a Rússia, com eleições marcadas para fevereiro e começo de março, respectivamente. Ameaças Em relação ao Brasil, a RSF informa que o país apresenta problemas no mapa da liberdade de imprensa e justifica a classificação negativa que lhe atribui com o registro de dois assassinatos de jornalistas no ano passado. Luiz Carlos Barbon Filho, cronista do
semanário Jornal do Porto e do diário JC Regional, foi morto em 5 de maio, em Porto Ferreira, no interior paulista. Ele havia denunciado práticas ilícitas de alguns políticos e acusado empresários e funcionários públicos do Município de envolvimento em casos de abuso sexual de adolescentes. O relatório destaca também o atentado sofrido pelo repórter do Correio Braziliense Amaury Ribeiro Júnior, em setembro, quando investigava o crime organizado no entorno de Brasília. E lembra que o Brasil ainda não conseguiu acabar com as agressões violentas nem com as tentativas de atentado contra a imprensa, representadas por medidas de censura prévia. Como possível ferramenta contra isso, a RSF cita o anteprojeto de lei que prevê a revogação de uma herança do regime militar: a Lei de Imprensa, instituída em 1967.
Lance! vence Teixeira na Justiça Juíza não viu teor ofensivo em texto de crítica ao dirigente da CBF. A Justiça julgou improcedente a ação criminal movida pelo Presidente da Confederação Brasileira de Futebol, Ricardo Teixeira, contra o jornalista Walter Mattos Júnior, dono do jornal Lance!, devido à publicação do texto Da CPI do futebol à CPI do mensalão, que o querelante julgou difamatória “com real intenção de ofender a sua honra”. O artigo — em que a direção de Ricardo Teixeira é criticada — foi publicado inicialmente na edição de O Globo de 31 de julho de 2005. No dia seguinte, saiu no Lance!, assinado por Walter Mattos Júnior. Um dos trechos destaca como o Presidente da CBF “passou a ser tolerado nas mais altas instâncias do poder (com Lula em viagens ao Haiti, em reuniões palacianas sorridentes e sabe-se mais onde) num toma-lá-dá-cá perverso para a cena nacional”. A Juíza Cláudia Fernandes Bartholo Suassuna, do II Juizado Especial Criminal da Comarca da Capital, entendeu que o texto de Walter Júnior não comete injúria nem difamação contra a honra de Teixeira. Em sua sentença, a magistrada afirma que, “apesar de reconhecer ser a presente crítica desfavorável e desagradável ao querelante, não se trata de abuso de um direito, principalmente por não ter a mesma descido ao insulto ou palavras de baixo calão, mas sim de
FABIO POZZEBOM/ABR
Vitória da sociedade O Vice-Presidente da ABI, Audálio Dantas, cumprimentou Miro Teixeira, dizendo que sua vitória é dos jornalistas e de toda a sociedade brasileira. Aproveitou também para perguntar sobre a necessidade de uma outra Lei de Imprensa, “com certas especificidades não contempladas em profundidade no Código Penal, como o direito de resposta e a responsabilidade dos meios de comunicação” . Respondeu Miro que não há necessidade de nova legislação: — Essa matéria, o direito de resposta, está toda definida no Código Civil. A Constituição determina, assegura, e o Código Civil dá o caminho. Pois quando se fala no direito de resposta já se está falando praticamente da decisão judicial. Está tudo lá, assegurado no art. 5º da Constituição.
A RSF DE OLHO NA CHINA
Ricardo Teixeira perde ação criminal cuja sentença afirma o que o Presidente da CBF insiste em não reconhecer: crítica desfavorável não é abuso de direito.
um direito constitucional exercido pelo querelado”. Ao comentar o resultado do julgamento, Walter Mattos Júnior disse ao ABI Online: — Recebi a notícia com satisfação, porque o artigo é denso, com teor de crítica alto, mas está incurso no processo de liberdade de expressão. Por causa da publicação desse texto, Ricardo Teixeira moveu duas ações contra o dirigente do Lance!: uma cri-
minal, na qual foi derrotado; outra cível, com valor indenizatório de R$ 9 mil, em que já obteve vitórias em primeira e segunda instâncias. Com base no artigo constitucional que assegura a liberdade de expressão, Walter Júnior vai recorrer da decisão e está empenhado em apresentar um recurso ao Superior Tribunal de Justiça, em Brasília. Para isso, pediu parecer da Associação Nacional dos Jornais–ANJ e da ABI.
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Liberdade de imprensa
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través de pastores e de fiéis acionados por um centro de coordenação que orquestrou esse conjunto de procedimentos judiciais, a Igreja Universal do Reino de Deus ajuizou uma infinidade ações contra a Folha de S.Paulo e contra a jornalista Elvira Lobato, repórter do jornal, em represália à publicação de uma reportagem. Além da Folha e de Elvira e também através de pastores e fiéis, a Iurd processou mais três jornais: O Globo e o Extra, do Rio, e A Tarde, de Salvador, Bahia, bem como a agência de notícias que distribui materiais desse jornal. Em extensa e minuciosa declaração emitida no dia 18 de fevereiro, a ABI condenou a iniciativa da Iurd, apontando-a como uma ameaça à liberdade de imprensa e como sonegação do direito constitucional de defesa, porque a variedade de juizados em que as ações foram impetradas impede que os jornais e a repórter exerçam com possibilidade de eficácia a sua defesa. Como as ações, por um ardil maquiavélico da Iurd, foram impetradas em Juizados de Pequenas Causas, a ausência dos réus na audiência de conciliação dá como procedentes as razões alegadas pelo autor, segundo dispõe o Código de Processo Civil. Esse risco foi enfrentado pelos jornais e pela repórter, uma vez que havia audiências marcadas no mesmo dia e na mesma hora em Municípios de diferentes Estados. Um levantamento feito pela ABI abrangendo 56 ações movidas contra a Edir Macedo e sua igreja articularam Folha, que dias depois estava transforuma série de ações consideradas de mada em ré de nais de 60, deu conta de má-fé, movidas por pastores e fiéis para que os processos foram ajuizados em 47 atingir orgãos de imprensa e jornalistas. cidades de 19 Estados. Na data da declaração da ABI, cinco ações haviam sido indeferidas no Juizado em que foram propostas; em duas delas os juízes, além de rejeitar o postulado, condenaram os requerentes ao pagamento das custas judiciais (despesas processuais, além de multas), por litigância de má-fé, com uso do Poder Judiciário de forma indevida. O site Consultor Jurídico revelou da liberdade de imprensa por esse conentão que chegava a 96 o número de junto de ações é evidenciada pelo vaações promovidas por pastores e fiéis da lor pífio da indenização por dano moUniversal, a maioria tendo como rés a ral pleiteada, que é de R$ 1.000 e só em Folha e a repórter Elvira Lobato. Tamuns poucos casos atinge R$ 10.000,00 bém foram processados os jornalistas e R$ 12.000,00. Com isso, a Universal Bruno Thys, Diretor de Redação do Exdiminui o montante do desembolso na tra, e Valmar Hupsel Filho, de A Tarde. hipótese de negação do pedido de beRepórter especial da Sucursal da nefício da justiça gratuiFolha no Rio, na qual trabalha há 22 anos, Elvira Juízes condenaram a ta, o que aliás está ocorLobato foi processada Iurd ao pagamento rendo no caso dos propela autoria da reportadas custas judiciais cessos julgados. Em artigo sob o títugem Universal chega aos por litigância de lo Onde quer chegar o 30 anos como império emmá-fé, com uso do “Complexo Uiversal” dipresarial, publicada pelo jornal na edição de 15 de Poder Judiciário de vulgado no site Comunique-se , o jornalista Míldezembro passado. No forma indevida. ton Coelho da Graça, texto, além de incluir inmembro do Conselho Deliberativo da formações sobre a receita da Iurd, ElABI, observa que a Igreja Universal do vira Lobato mostrou que a Universal é Reino de Deus está montando “um poatualmente a detentora do maior núderoso esquema de mídia jornal-tv-rámero de emissoras e retransmissoras dio, com objetivos mais políticos do que de televisão no País. religiosos”. O texto desse artigo é transNa declaração que divulgou, a ABI crito na página 28 deste Jornal da ABI. salientou que a tentativa de restrição
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“A mesma redação em quase todas as petições” Declaração da ABI disseca a tática da Iurd. É o seguinte o texto da declaração da ABI: “Como a mais antiga associação de imprensa do País e devotada desde a sua fundação, em 7 de abril de 1908, à defesa da liberdade de informação e de expressão, a Associação Brasileira de Imprensa acompanha com extremada preocupação o conjunto de ações judiciais ajuizadas contra os jornais Folha de S. Paulo e A Tarde de Salvador e contra a jornalista Elvira Lobato, repórter da Folha, por pastores e fiéis da Igreja Universal do Reino de Deus, que desencadearam contra esses órgãos e contra essa jornalista uma
campanha de intimidação e coerção sem precedentes na história da comunicação no Brasil. Ao longo de sua existência, o País conheceu a fúria repressiva do poder do Estado contra a liberdade de imprensa, como se deu sob o Estado Novo e sob a ditadura militar que nos infelicitou entre 1964 e 1985, mas jamais assistira a uma investida partida da própria sociedade civil contra a liberdade de informação com a abrangência e o conteúdo desta que se materializa nas ações judiciais armadas contra esses jornais e contra essa jornalista. Através desse procedimento, bus-
MARCO ANTÔNIO TEIXEIRA / AG. GLOBO
A UNIVERSAL DECLARA GUERRA À IMPRENSA E AO DIREITO DE DEFESA Primeiros alvos: a Folha de S. Paulo e sua repórter Elvira Lobato, O Globo e Extra, do Rio, e A Tarde, de Salvador.
cam os autores de tais ações obter a cobertura do Poder Judiciário para cercear e condicionar o exercício do direito de informação. Numa evidência de que há um cérebro e um comando a centralizar a instauração dessas ações judiciais, seus autores estão espalhados por quase 20 Estados da Federação, no caso da Folha de S. Paulo, e ajuizaram esses feitos em Municípios longínquos, numa clara demonstração de que a ação assim coordenada tem por objetivo dificultar a defesa da parte adversa. Há a nítida intenção de dificultar o direito de ampla defesa e do contraditório assegurado pela Constituição, em face da disposição da lei processual de que o alegado na inicial será tido como procedente se não houver contestação, ainda que se ressalve, nesta hipótese, a formulação de convicção própria pelo juiz.
A existência de um comando na ação liberticida fica patente também em outros aspectos desse conjunto de ações, que repetem a mesma redação em quase todas as petições, à exceção de umas poucas, fazendo a mesma descrição, exibindo os mesmos argumentos e formulando as mesmas postulações, entre as quais a concessão do benefício da justiça gratuita, para livrar os autores dos ônus materiais de sua iniciativa. Salvo um ou outro caso, em que se reclama o pagamento de indenizações por danos morais que variam entre R$ 10.000,00 e 12.000,00, os demandantes fixam o valor do pleiteado em R$ 1.000,00, para diminuir o montante de seu desembolso na hipótese de negação do pedido de benefício da justiça gratuita pelo juiz da causa. Subscritas por pastores mobilizados pela Igreja Universal como um encargo de seu ofício religioso ou por fiéis con-
vocados para tal missão, essas ações constituem em seu conjunto intolerável agressão à ordem democrática, pelo empenho em substituir o exercício de direitos consagrados pela legislação, especialmente o direito de resposta, por alternativa que, embora aparentemente abrigada pelas leis do País, subtrai o direito de ampla defesa estabelecido pela Constituição. É grave e preocupante que tal se faça sob o pálio de uma confissão religiosa, que se porá acima do olhar dissonante dos que não a professam e da visão crítica com que estes a encarem. A ABI dirige-se aos magistrados responsáveis pelo julgamento dessas ações para alertá-los acerca dos danos que o deferimento do pleiteado pode causar à democracia no País, objeto de um processo de construção ainda não encerrado e que deixou ao longo da recente História do Brasil não poucas
vítimas e não poucos mártires. Apela também a ABI aos cidadãos comuns e às instituições representativas dos diferentes segmentos da sociedade para que manifestem a esses magistrados a sua preocupação com a decisão que deverão tomar em cada causa, que não afeta apenas a Folha de S. Paulo, A Tarde e a jornalista Elvira Lobato, mas principalmente a integridade da democracia no País. Com esse fim a ABI divulgará proximamente em seu site (www.abi.org.br) os nomes desses juízes e os endereços desses juizados, para viabilizar a manifestação dos cidadãos ofendidos por essa ação antidemocrática. Por fim apela a ABI à Anistia Internacional para que desencadeie um movimento mundial de solidariedade com os jornais e a jornalista ora ameaçados. Rio de Janeiro, 18 de fevereiro de 2008 Mauricio Azêdo, Presidente.”
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Liberdade de imprensa
Onde quer chegar o “Complexo Universal”?
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WANIA CORREDO / AG. GLOBO
A Universal é uma complexa organização igreja-empresa-partido político, que também comanda o jornal semanal impresso de maior circulação do País (superior ao triplo da edição dominical do diário mais vendido do País). Em nome da liberdade de crença determinada pela República, cresceu com métodos não-convencionais de conversão e marketing, chegando em poucas décadas ao terceiro lugar em número de adeptos do País (abaixo apenas da Igreja Católica e da Assembléia de Deus). Com a obrigatoriedade do pagamento do dízimo (uma característica comum das igrejas evangélicas, mas cobrada sem o mesmo rigor pelas outras), construiu rapidamente um enorme patrimônio, que lhe permitiu construção de templos em quase todos os Municípios, alguns deles imponentes “catedrais”; a compra da Rede Record, com a simpatia da ditadura, na época interessada em deter a crescente participação de fortes setores católicos no movimento de resistência democrática; e, finalmente, adotou a prática de apoiar a eleição de parlamentares até conseguir criar um partido – o Partido Republicano Brasileiro (PRB) – hoje sob o comando formal do Vice-Presidente da República, mas sob o comando de fato do Senador Marcelo Crivella. O que chamo de “métodos não-convencionais” de conversão incluiu inicialmente até atos de violência contra “terreiros” de umbanda, que exigiram pedido de garantias à Secretaria de Segurança do Rio de Janeiro, prontamente asseguradas pelo então Secretário, General Nilton Cerqueira. Sabiamente, a Igreja Universal logo mudou sua tática e, em vez de condenar, passou a se
ANTONIOCRUZ/ABR
POR M ILTON COELHO D A GRAÇA
utilizar de exorcização, “sessões de limpeza” etc., que se tornaram práticas diárias em suas igrejas. Além de tudo isso, o Complexo Universal está há algum tempo procurando assumir um papel mais importante na mídia impressa e
Candidato à Prefeito do Rio pelo PRB, o Senador Marcelo Crivella (acima, com o Presidente Lula) tem no poder econômico e de comunicação do conglomerado pertencente ao seu tio – o bispo Macedo – uma grande arma para vencer as eleições deste ano. O partido criado pela Igreja Universal também atraiu para os seus quadros o líder comunitário, William, da Rocinha (ao lado), candidato a vereador.
online. Comprou há alguns anos o jornal mineiro Hoje em Dia e começou a imprimir em Belo Horizonte seu jornal semanal – Folha Universal – distribuído aos fiéis e usado como material de atração de novos adeptos. São freqüentes os boatos sobre tentativas de compra de outros jornais, especialmente O Dia, dono de um parque gráfico moderníssimo, mas que enfrenta óbvios problemas. O claramente articulado ataque na Justiça contra a Folha insinua sintomas de não se tratar apenas de reação intimidativa a reportagens críticas do jornal. Curiosamente, ele ocorre com o esforço da Record para se livrar do controle religioso. Os programas evangélicos estão sendo eliminados da grade – alguns deles até sendo contratados com outras emissoras. A Record procura obter uma posição cada vez mais forte nas áreas de noticiosos e entretenimento, buscando uma imagem “laica” e consolida-
ção de adversária mais forte da Globo. A montagem de um poderoso esquema de mídia jornal-TV-rádio, com objetivos mais políticos do que religiosos, merece ser cogitada no mínimo como hipótese. Não se deve esquecer que a Folha Universal toma parte ativa no debate sobre a descriminalização do aborto, naturalmente, na mesma atitude política do Complexo em relação a todos os governos – desde a ditadura até Lula, passando por Sarney, Collor e Fernando Henrique: sempre a favor. Detalhe interessantíssimo na campanha do Senador Crivella para a Prefeitura do Rio: o PRB tem como candidato a vereador um dos mais combativos líderes comunitários – William, da Rocinha – que não tinha, pelo menos até recentemente, qualquer ligação com a Igreja Universal. Um possível sinal de que a ação estritamente política também começa a ter relevo maior e independente na estratégia do Complexo.
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ELVIRA LOBATO “FUI AGREDIDA” Um depoimento dramático da repórter submetida a um processo de esmagamento. ANA CAROLINA FERNANDES/FOLHA IMAGEM
POR E UGÊNIO VICENZI
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eralmente, não se pensa nas conseqüências que uma acusação, uma calúnia, pior ainda, um processo, possam causar a uma pessoa, seja ela qual for. Em geral, no mínimo, provoca um abalo, intranqüilidade, preocupação por possíveis reações na rua, noites sem dormir. Para os mais fracos, ódio, vontade de vingança, às vezes, impulsos para uma tragédia. Principalmente por saber que não há culpa, mas até que consiga provar inocência, reparar os danos morais, entre tantos prejuízos... E quando essa pessoa tem uma família, é cumpridora exemplar de seus deveres, tem uma vida de muito amor e sucesso, como fica? Pior, claro. Nesta situação, incluímos a repórter de economia Elvira Lobato, três filhos, 54 anos de idade, 23 de Folha de S.Paulo, 35 de profissão. Sim, é ela mesma, a que foi vítima de um processo proveniente de ações impetradas por fiéis e membros da Igreja Universal, em praticamente todo o País e até em cidades cujos nomes nem figuram nos mapas brasileiros.
Dificuldades Elvira sempre se dedicou principalmente a reportagens investigativas, que demandam longo tempo de apuração, desde os anos 80, tanto nos assuntos políticos quanto econômicos. Ela destaca, a título de exemplo, reportagem publicada pela Folha, em 1986, sobre instalações de testes nucleares construídas por militares na Amazônia; uma série sobre os desmandos administrativos do ex-presidente da República Fernando Collor de Mello, em 1989, e dezenas de reportagens sobre o uso político das concessões de radiodifusão no Brasil publicadas na década de 90 e na atual. Até pela figura humana que mostrou ser, tranqüila, voltada para o bem das próprias pessoas, Elvira nos sensibilizou. Chegou a pedir para evitar a matéria, temendo, quem sabe, acirrar os ânimos. Voz um pouco trêmula em quase toda a entrevista, instantes depois de ser submetida a uma verdadeiJornal da ABI 326 Fevereiro de 2008
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Liberdade de imprensa ra sabatina numa das salas superlotadas do curso de Comunicação da PUC, na Gávea, no Rio de Janeiro. E, claro, sabatina sobre o processo inusitado. Como se fosse a entrevistadora e não o contrário, movida pelo hábito profissional, deu início à conversa com uma pergunta: — O que você quer saber? Você não ouviu a palestra? — Ok, queremos saber como você se sente, se está trabalhando normalmente, alguma preocupação na rua, algum tipo de prejuízo, como estão os processos, a família. — No início, houve preocupação, sim, principalmente de meus familiares. Mas vamos deixar isso pra lá, vai nascer um neto no próximo mês. Desde que o caso eclodiu, praticamente estou impossibilitada de exercer meu trabalho de jornalista investigativa. Faço as pautas do dia-a-dia, porque as viagens para as audiências ocupam grande parte do meu tempo e da minha emoção. Como fazer uma reportagem especial em situação como esta? Para exemplificar: num dia acordei às 4h30, porque precisava estar no Aeroporto Internacional Tom Jobim às 5h30 para ir para Porto Alegre (RS), no Sul do País. Lá chegando, viajei cinco horas e meia de carro até Jaguarão, na divisa do Brasil com o Uruguai, para uma audiência. Terminada a audiência, viajamos por duas horas, e pernoitamos na cidade de Pelotas. Na manhã seguinte, viajamos três horas, de carro, até Porto Alegre. Passei mais um dia na estrada e de aeroporto em aeroporto. — Você tem recebido ligações, quem sabe, com ameaças? — Não, nenhuma ligação. E não tem porque o próprio processo, pois não há nada ofensivo à Igreja. A reportagem não tem cunho religioso ou ideológico e não é denúncia. Quem denuncia é o Ministério Público. Nós noticiamos. Tenho certeza de que a Justiça vai entender assim e dar ganho de causa à Folha de S.Paulo. Apoio total Uma pausa, olhar direcionado para o pátio da universidade, preocupada com a filha que iria levar para casa. De novo concentrada na entrevista, em resposta à outra pergunta, diz-se gratificada com o total apoio que tem recebido de colegas de trabalho, da própria Folha de S.Paulo, de amigos e, em especial, dos familiares.
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“A estratégia maquiavélica dificulta enormemente nossa defesa e cria grande ônus para a Folha e para mim. No juizado especial, o réu pessoa física tem de comparecer às audiências para se defender. Mas é impossível, pela avalanche de ações, eu estar presente a todas as audiências.”
— Apoio total. Tem me ajudado muito, conforme acontece a qualquer ser humano. É importante nesses momentos, por mais que tenhamos uma boa estrutura. O que houve de positivo nesse episódio foi a união de jornalistas e de jornais em defesa da liberdade da imprensa, porque essa questão transcende em muito a minha pessoa. Lembro-me de ter dito ao repórter da TV Record que sou muito pequena nesta guerra judicial, e é verdade. Entidades como a ABI (Associação Brasileira de Imprensa), ANJ (Associação Nacional de Jornais), Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo), OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), denunciaram a tentativa de intimidação da imprensa nas ações movidas por pastores e fiéis da Iurd. Também houve reação de entidades internacionais como a Artigo XIX e a Cejil. — Tem evitado sair? Algum temor? — Normal. Não há o que temer. Eles mesmos vão ter serenidade para reconhecer que tudo não passou de uma matéria informativa. — Mesmo depois de ter sido mostrada na TV Record, embora em foto parada, o que a tornou conhecida nacionalmente? — Estou chateada, não havia necessidade disso. Respeito muito o trabalho do repórter. Ele (Afonso Mônaco) me ligou e eu fui delicada e respeitosa. Disse que não podia falar porque isso é uma coisa muito grande. Uma coisa é eu falar com você, que é de uma revista, outra é a TV, que fala com milhões de pessoas. Pedi que ele procurasse o departamento jurídico, porque aquilo seria outra escala. De qualquer forma, eu não imaginava que fosse sair aquela matéria que saiu (domingo, na Record). Aquilo foi uma coisa que me deixou completamente em estado de choque. Me senti profundamente agredida. Mostraram minha foto... isso me entristeceu muito. Eu não
imaginava que o jornalista pudesse fazer uma coisa dessas. Jogaram as pessoas contra mim, mostraram minha cara. Qual o objetivo disso? Eu nunca desrespeitei os fiéis, nunca falei que o dinheiro deles é sujo. Sei que eles são trabalhadores limpos. Espero que eles, os fiéis, tenham serenidade. Não sou inimiga da Igreja. Meu trabalho é informar. Eu queria entender por que fizeram aquilo comigo. — Que motivo pode ter gerado o processo? — Não sei. Prefiro não falar sobre isso, pois poderá acirrar ânimos. Só mesmo a Iurd (Igreja Universal do Reino de Deus) pode explicar. A ABI (Associação Brasileira de Imprensa) examinou os processos e disse que esse é um caso único, sem precedentes na história do jornalismo brasileiro. Eles entraram contra mim e contra a Folha em juizados especiais, também chamados de juizados de pequenas causas. Nesse tipo de instância eu, como pessoa física, tenho que estar presente. Isso seria inviável, porque, em alguns casos, há duas audiências no mesmo dia em lugares completamente diferentes. A Folha se faz representar. Não é que o caso está correndo à revelia. Estamos cuidando de todos. O jornal nomeia um jornalista ou chefe da região que vai junto com os advogados. Isso exige uma logística inacreditável de advogado para cima e para baixo.” — Você já foi vítima de algum processo? — Nunca. Só uma ação que ganhei. Surpresa Mostramos a última Folha Universal informando o “cancelamento, por parte de evangélicos, de serviços do Uol, provedor de internet do Grupo Folha”. Surpresa com a matéria, Elvira pede para verificar melhor. — Não sabia disso. Vou conversar com meus diretores.
“É vital que o Judiciário, tendo em vista o mau uso do Juizado Especial, crie uma jurisprudência que permita a unificação de ações de cunho idêntico. O segundo aspecto desse caso é o da confusão de papéis entre a Igreja Universal do Reino de Deus, a Rede Record e os jornais de propriedade de bispos da Igreja.”
30 Jornal da ABI 326 Fevereiro de 2008
— E os processos? Claro que você não po-de ir a todos ao mesmo tempo. E qual o critério para determinar a sua presença nos que você puder comparecer? Amanhã por exemplo, há mais três, certo? — Mais três, é verdade. A administração da Folha de S.Paulo é que escolhe onde vou. Nos demais, manda advogados. Fico sabendo no dia. A estratégia maquiavélica dificulta enormemente nossa defesa e cria grande ônus para a Folha e para mim. No juizado especial, o réu pessoa física tem de comparecer às audiências para se defender. Mas é impossível, pela avalanche de ações, eu estar presente a todas as audiências. Elvira Lobato voltou a demonstrar não estar gostando muito da entrevista, natural para qualquer ser humano, antes de mais nada, mas sempre muito gentil. Preferiu evitar não entrar em mais detalhes sobre o processo. Até porque parecia um pouco cansada, depois de três horas de palestra com sabatina de centenas de alunos do curso de Comunicação. Intimidação — Teria sido a ação da Iurd uma intimidação, conforme registram as inúmeras reações em todo o país, principalmente por parte da imprensa e da ABI?. Mais ainda: uma intimidação ao jornalismo investigativo?, foi a principal pergunta dos alunos de comunicação. — Repito o que venho dizendo: não denunciamos nada. Quem denuncia é o Ministério Público. A Iurd é quem pode responder. E por que quase 80 ações? E subjetivas? A avalanche de ações me surpreendeu porque desde 1994 pesquiso a propriedade dos meios de comunicação no Brasil. Fiz levantamentos semelhantes sobre os políticos donos de emissoras de rádio e de televisão, e que as utilizam como meios para se manterem no comando da política; sobre os grupos privados e sobre todas as igrejas que têm adquirido ou arrendado concessões nessa área. Também acompanhei o crescimento da Rede Record de Televisão, e por várias vezes tratei do envolvimento da Igreja Universal com o projeto de expansão da Rede Record. Em 99, publiquei extensa reportagem sobre empresas da Iurd em paraísos fiscais e sobre como estas empresas financiaram a compra de emissoras de rádio e de televisão da Record. Elvira afirma também que a Iurd sempre se negou a dar seu ponto de vis-
ta nas reportagens. Da mesma forma como fez em dezembro do ano passado, quando foi publicada a reportagem alvo desta guerra judicial. “Na ocasião, procurei a assessoria de imprensa da Igreja para que seus dirigentes se manifestassem sobre as empresas registradas em nome de bispos, e a Igreja, informada sobre os principais tópicos da reportagem, respondeu que não se manifestaria sobre o assunto.” Processos Elvira se manteve em silêncio ao mostrarmos antiga Folha Universal em que o falecido Pastor Cabral explicava o que realmente é uma seita, defendendo a Igreja de matérias publicadas nas Organizações Globo (tv e jornal). Era janeiro de 1996, época em que a TV Globo e o jornal O Globo já diziam ser a Iurd uma seita. A diferença é que não se recorreu à Justiça, na época. Em edição recente da mesma FU, de 24 de fevereiro, há um boxe em que se diz “Falar em seita é discriminar ”. A própria Folha Universal, em outra publicação também recente, fala da extinção de alguns processos contra a Folha de S.Paulo e Elvira Lobato, por falta de legitimidade. Embora, conforme garantiu um dos autores das ações, o advogado Leandro Guimarães, não ser esta a regra. Até o momento, quase 20 ações foram indeferidas para tranqüilidade da repórter de economia da Folha de S.Paulo. — O que noticiamos teve por bases as Juntas Comerciais. Só informamos. Não denunciamos e é como afirmei: a Justiça dará ganho de causa à Folha de S.Paulo, entendendo que não há nada ofensivo à Igreja. Nada. Massacre Para Elvira Lobato, o propósito da Iurd, declarado pelos advogados dos autores, é que ela seja condenada à revelia. — Felizmente, os juízes têm decidido em nosso favor. As 19 ações julgadas até este momento nos foram favoráveis, e dois autores foram condenados por litigância de má-fé. Mas, mesmo que ganhemos todas as ações o custo para mim e para a Folha será muito alto. As ações que chegaram a meu conhecimento até agora foram movidas na primeira quinzena de janeiro. Continuo sendo notificada de ações iniciadas naquele período, em localidades remotas do País, com audiências marcadas até setembro.
‘
A ação em Jaguarão obrigou a Folha a enviar funcionários e advogados àquela cidade por três vezes. E é apenas uma de cerca de 80 ações existentes até o momento. — Na semana anterior, fui a audiências em Venda Nova do Imigrante, no Estado do Espírito Santo, e em Conceição de Macabu, no Norte do Estado do Rio de Janeiro. Acordei às 5h, peguei um vôo no Aeroporto Internacional Tom Jobim rumo a Vitória, capital do Espírito Santo. Ao mesmo tempo, uma advogada e um funcionário da Folha de S.Paulo (que representou o jornal no julgamento) embarcaram de São Paulo para Vitória. De lá, viajamos de carro por três horas até Venda Nova do Imigrante. A audiência terminou às 17h. Pegamos novamente a estrada e viajamos mais três horas até Campos dos Goitacazes, a caminho de Conceição de Macabu, onde pernoitamos. Na manhã seguinte, viajamos duas horas, participamos da segunda audiência, retornamos para a estrada e chegamos ao Rio de Janeiro no início da noite. Exaustos. De assustar Vários aspectos assustam, afirma a jornalista: — O primeiro é que qualquer organização — religiosa, política ou outra que tiver adeptos espalhados pelo País — pode usar a mesma estratégia contra a imprensa, recorrer ao juizado especial e obrigar a gastar muito tempo e dinheiro para se defender. É uma espada sobre os jornalistas. — É vital que o Judiciário, tendo em vista o mau uso do Juizado Especial, crie uma jurisprudência que permita a unificação de ações de cunho idêntico. O segundo aspecto desse caso é o da confusão de papéis entre a Igreja Universal do Reino de Deus, a Rede Record e os jornais de propriedade de bispos da Igreja: Folha Universal, Correio do Povo (Porto Alegre, RS) e Hoje em Dia (Belo Horizonte, MG). — É uma discussão nova no jornalismo, porque a Record e os diários de Belo Horizonte e de Porto Alegre são meios de comunicação comerciais. Pergunto: Qual o interesse do bispo Edir Macedo em ter televisão, rádios e jornais comerciais? As emissoras ligadas às demais igrejas são de cunho religioso, enquanto a Record disputa a liderança no mercado comercial com a Globo e o SBT. Ficou evidente que os bispos usaram a própria Record para
Cenário das ações: Taruacá, Acre; Porangatu, Goiás; Juara, Mato Grosso; Açailândia, Maranhão A maratona nacional imposta à Folha pela Universal. Autor
Cidade
Estado
Cleber Andrade dos Santos
Taruacá
AC
Pastor Marcelo Ramos da Silva
Cruzeiro do Sul
AC
Maurício Muxió dos Santos
Xapuri
AC
Pastor Emerson de Souza Silva
Tefé
AM
Carlos André Pereira dos Santos
Bom Jesus da Lapa
BA
Francisco Carmo Fernandes Assunção
Canavieiras
BA
José Raimundo de Oliveira
Santa Maria da Vitória
BA
José Vieira Bispo dos Santos
Juazeiro
BA
Mário da Silva Garcia
Irecê
BA
Taciano Nogueira dos Santos
Paulo Afonso
BA
Pastor Francisco de Paula Sampaio Neto
Iguatu
CE
Pastor Renede Araújo de Paula
São Benedito
CE
Gleidson de Paiva Lima
Alegre
ES
Hotto Fernando Spagnol de Oliveira
Pedro Canário
ES
Wagner Panisset Turques
Venda Nova do Imigrante
ES
Pastor Aleksander Ferreira dos Santos
Porangatu
GO
Francisco Silva de Moura
Balsas
MA
Ricardo Wagner da Silva
Açaílândia
MA
Pastor Alexandro Barsante Rodrigues da Silva Uberlândia
MG
Pastor Fernando Gonçalves Ribeiro
Teófilo Otoni
MG
Pastor José Edson Tércio
Itajubá
MG
Pastor Leonel Elias de Moraes
Pouso Alegre
MG
Admilson Alves Rosa
Aparecida do Taboado
MS
Carlos Alberto Lima
Bataguassu
MS
Alfredo Soares
Sinop
MT
Dio Nessu dos Reis Barbosa
Canarana
MT
Pastor Erivalton do Nascimento
Guarantã do Norte
MT
Nivaldo Souza e Souza
Juara
MT
desencorajar a imprensa de publicar reportagens sobre o patrimônio empresarial da Iurd. Elvira testemunhou, como jornalista, nos anos 70, a censura promovida pelo regime militar. — Tive vários textos meus censurados na ocasião. Mas estamos em um regime democrático, e não posso conceber que a liberdade de expressão seja cerceada. Impacto Além das questões racionais, de seus pensamentos e das observações como jornalista, houve o impacto pessoal, diz Elvira. — Normalmente, nós, repórteres, quixotescamente, colocamos nossas emoções e nossa vida em segundo plano. Por muitas vezes, agi assim, como
“Qual o interesse do bispo Edir Macedo em ter televisão, rádios e jornais comerciais? As emissoras ligadas às demais igrejas são de cunho religioso, enquanto a Record disputa a liderança no mercado comercial com a Globo e o SBT. Ficou evidente que os bispos usaram a própria Record para desencorajar a imprensa de publicar reportagens sobre o patrimônio empresarial da Iurd.”
repórter em horário integral, em que a pauta é mais relevante que meu cotidiano e o de minha família. O repórter deve estar sempre alerta, com os nervos e a emoção prontos para um desafio. Este tem sido, resumidamente, meu lema. De minha parte, continuo na peregrinação. Tenho sido procurada por universidades e por sindicatos de jornalistas querendo ouvir meu relato sobre essa história. De repórter, passei a entrevistada e a palestrante. No que vai dar? Não sei, espero que fortaleça a imprensa. O que mais repórteres e estudantes têm perguntado à jornalista é se está arrependida por ter feito a reportagem, ou se eu a escreveria novamente. — Estou muito tranqüila em relação a isso. As ações da Iurd não contestam as informações que publiquei, sobre as empresas registradas em nomes de bispos, porque os dados foram fornecidos por Juntas Comerciais, Cartórios de Registros de Títulos e Documentos e por cadastros oficiais do Governo. Por isso, respondo que não mudarei meu comportamento por causa das ações da Igreja Universal. Fiz jornalismo, e só sei fazer jornalismo. Dessa forma — concluiu Elvira Lobato. Jornal da ABI 326 Fevereiro de 2008
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Direitos humanos
Justiça pune o Grupo Tortura Nunca Mais Denúncia de violência policial resultou em indenização de R$ 46.541,72 aos acusados. POR I GOR WALTZ
O Grupo Tortura Nunca Mais do Rio de Janeiro, entidade de defesa e promoção dos direitos humanos, foi condenado a pagar R$ 46.541,72 a quatro policiais federais, a título de danos morais. Os agentes foram denunciados em 1996 por abuso de autoridade e agressão dentro das dependências da Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro, contra Carlos Abel Dutra Garcia, funcionário da Petrobras. A notícia da denúncia foi publicada no site do Tortura Nunca Mais e o Judiciário entendeu que no texto havia uma “violação da honra” dos policiais. Apesar das denúncias de Carlos Garcia, nenhum dos quatro agentes federais foi condenado pelos crimes de abuso de autoridade e lesão corporal. Além disso, os policiais ficaram livres da sindicância administrativa instaurada no Departamento de Polícia Fe-
A chibata continua? POR M ÁRIO A UGUSTO JAKOBSKIND
João Cândido, o Almirante Negro, uma figura relevante da História brasileira, eternizado na canção de João Bosco e Aldir Blanc, continua sendo injustiçado pela Marinha e pela elite racista. Em 22 de novembro foi inaugurada nos jardins do Museu da República a estátua desse personagem, iniciativa muito justa de várias entidades, entre as quais a ABI e o Movimento pela Anistia. Para quem ainda não teve oportunidade de conhecer os fatos históricos protagonizados por João Cândido, vale lembrar que ele participou ativamente no movimento dos marujos que se mobilizaram para acabar com os castigos que vinte anos depois da abolição da escravatura a oficialidade da Marinha ainda infligia aos marinheiros. Algo inadmissível e que para terminar foi necessária a Revolta da Chibata. Em suma, nós, brasileiros, devemos fazer justiça, não apenas recordando a figura do Almirante Negro, como também dando todo apoio à iniciativa do Deputado Edson Santos (PT-RJ) para que o monumento seja colocado na Praça XV, palco da rebelião que acabou com os castigos físicos na Marinha. Aliás, originalmente, em 1993,
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deral. O Grupo Tortura Nunca Mais passou a divulgar o assunto em seu site, denunciando a impunidade dos agressores. Por causa disso os policiais recorreram à Justiça, com ações pedindo indenizações por danos morais contra o GTNM/RJ e os veículos de imprensa que divulgaram o caso. O Grupo tem promovido uma campanha para levantar o montante das indenizações. Até janeiro foram organizados dois shows de música popular, e a entidade tem contado com a ajuda de iniciativas individuais. A VicePresidente Victória Grabois Olímpio diz que existe a ameaça de penhora dos bens da instituição: — Nós estamos buscando realizar outro show. Vários músicos têm-se oferecido para participar sem cobrar cachê. Também estamos recebendo ajuda de companheiros de diversos lugares e apoio de outras entidades, mas até agora só conseguimos arrecadar cerca de R$ 26
quando foi aprovada na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, a homenagem estava prevista para a Praça XV. Foi uma iniciativa do então Vereador Edson Santos. Mas o monumento não foi erguido no local previsto. O Prefeito César Maia, talvez por pressão da Marinha ou mesmo por racismo, nunca autorizou erguer a estátua na Praça XV. Maia utilizou argumentos totalmente infundados para explicar o impedimento dizendo que a estatua não atendia a exigências técnicas para tal fim. Ou seja, o Prefeito sofismou para não ter que dizer o verdadeiro motivo do veto. Está tramitando na Câmara dos Deputados um projeto que concede anistia para o Almirante Negro. Espera-se que não seja apenas simbólica, mas que os familiares de João Cândido, que também foram afetados ao longo do tempo pela injustiça, recebam uma indenização financeira. A justiça total só será feita se isso acontecer. Se João Cândido fosse outro personagem histórico, branco, digamos, mesmo que liderasse alguma rebelião, nesta altura dos acontecimentos já teria sido anistiado, como já o foram militares que participaram, por exemplo, do movimento dos Tenentes ou em outros acontecimentos incompreendidos pelos detentores do poder. Estes fatos são importantes, pois também servem de reflexão sobre a História brasileira, que ao longo do
mil. A Justiça afirma que em caso de não conseguirmos arrecadar tudo os bens do GTNM serão penhorados. Mas o prédio que ocupamos pertence ao Governo do Estado, e aqui temos apenas alguns computadores e móveis de escritório velhos. Nada de muito interesse do Judiciário. Apesar das dificuldades financeiras, Victória Grabois afirma que o grupo continuará atuante na defesa dos direitos humanos. E para isso conta com apoio de muitos colaboradores, no Brasil e no exterior: — Temos recebido e-mails de todo o Brasil e do mundo com mensagens de apoio. Tivemos muita dificuldade de produzir a edição de dezembro do nosso jornal, que foi lançado com apenas quatro páginas. E mesmo assim, só foi possível graças à doação de um companheiro de Campinas. Essa condenação foi um ataque ao nosso direito de expressão, e de qualquer entida-
tempo tem sido contada na versão dos vencedores. Vale também uma outra reflexão, já que estamos falando em personagens negros da nossa História. O herói afrobrasileiro Zumbi foi homenageado com um feriado em 257 Municípios. O patronato, furioso, até agora faz o possível para ignorar o feriado. A Rádio CBN um dia antes do 20 de no-
de de defesa dos direitos humanos. Diz Victória que o Tortura Nunca Mais nada fez senão prestar ajuda a um sindicalista que denunciara ter sido agredido por policiais dentro da sede da Polícia Federal: — Faz parte do nosso dever denunciar qualquer um que faça vítimas de tortura. Deter uma pessoa por causa da suspeita de um crime é uma coisa, mas torturar um ser humano é algo que não iremos permitir. Fundado em 1985 por ex-presos políticos e parentes de mortos e desaparecidos no período da ditadura militar, o Grupo Tortura Nunca Mais /RJ tem sido uma das mais atuantes entidades de defesa dos direitos humanos, contra práticas autoritárias e arbitrárias dentro do Poder Público e contra a impunidade de agressores. A entidade também presta solidariedade e apoio a vítimas de agressão ou tortura e seus familiares.
vembro passado entrou na onda de forma sofisticada. Promoveu um debate, possivelmente pautado pelo patronato, para saber se nos Municípios onde aconteceria o feriado vigoraria a lei trabalhista, ou seja, se quem não seguisse o feriado municipal teria ou não que pagar hora extra, como dispõe a legislação. Só o fato de promover um debate como este já é sintomático. Feriado é feriado, não pode pairar dúvida a respeito. Por que não cumprir a lei? Por se tratar de um feriado que homenageia um personagem negro da História? Alguém já discutiu a legislação trabalhista, por exemplo, quando as cidades comemoram com feriado a sua fundação ou aqui no Município do Rio de Janeiro o dia 20 de janeiro em homenagem a São Sebastião, o padroeiro da cidade? Para acabar de vez com os pretextos, mesmo que injustificados, é o caso de o Congresso aprovar uma lei estabelecendo o dia 20 de novembro como feriado nacional. Desta forma se reconheceria uma figura da História tão importante como o alferes Tiradentes: Zumbi dos Palmares, um herói brasileiro da resistência à escravidão. E se estaria também dando um passo à frente no sentido de aproveitar a data para reflexão sobre uma prática odiosa seja ela velada ou ostensiva, o racismo. Mário Augusto Jakobskind, jornalista e escritor, é membro efetivo do Conselho Deliberativo da ABI.
A ABI, CENÁRIO DE JULGAMENO DA ANISTIA A Comissão de Anistia fará sessão especial de apreciação de requerimentos de jornalistas no nosso Auditório Oscar Guanabarino: será dia 4 de abril, a partir das 10 horas da manhã.
O AI-5 faz 40 anos POR R ODOLFO K ONDER
O regime militar imposto por um golpe, em 1964, mostrava sinais de cansaço. Grandes passeatas, nas ruas, exigiam a volta da democracia. Então, os militares mais radicais, da chamada “linha dura”, impuseram o AI-5 – o Ato Institucional n° 5. Era um golpe dentro do golpe. Intensificaram a repressão, as perseguições políticas, a censura. Restringiram com violência o pouco espaço de liberdade que ainda restava no País. Vivemos horas cinzentas, um tempo de farsa e tragédia,
KELEN MENEGARI
A Comissão de Anistia do Ministério da Justiça vai realizar na sede da ABI, no Rio de Janeiro, no dia 4 de abril, a sessão de julgamento dos processos de requerimentos de anistia formulados por jornalistas. O ato será aberto pelo Ministro Tarso Genro e integrará a programação de comemorações do centenário da ABI, que transcorrerá em 7 de abril. A realização dessa sessão no Rio foi proposta pelo Presidente da Comissão de Anistia, Paulo Abrão Pires Júnior, ao receber em audiência, no dia 22 de janeiro, uma delegação da ABI, que lhe solicitou mais rapidez na análise dos processos de jornalistas, muitos dos quais se arrastam sem decisão há quatro, cinco e até seis anos. Mais de metade desses processos, informou a ABI, são de jornalistas com mais de 80 anos de idade e dois deles têm mais de 90 anos: Moacyr Werneck de Castro, que fez 92 anos em 27 de fevereiro passado, e Fernando Segismundo Esteves, ex-Presidente da Casa, que também completou 92 anos em 5 de julho passado. “Nós queremos que esses companheiros recebam justiça em vida”, disse a ABI. Na audiência, que se estendeu por mais de uma hora, Paulo Abrão informou que, em atenção ao expediente que a ABI lhe enviou solicitando o encontro, a Comissão arrolou 65 processos de interesse de jornalistas, mais do
Plano Nacional de Alfabetização, o celebrado PNA, criado pelo Governo João Goulart no princípio de 1964, antes do golpe militar de 1º de abril, para implantação de um programa de alfabetização a partir do Método Paulo Freire, e que ainda conta com 180 pessoas que aguardam a anistia por demissão sumária de caráter político promovida há mais de 40 anos; o grupo formado por cerca de 300 moradores da região do Araguaia perseguidos e punidos sob a acusação de colaboração com a guerrilha ali desencadeada. Informou Abrão que a Comissão realizou diligências in loco na região do Araguaia, onde recolheu depoimentos de centenas de vítimas da repressão. A delegação da ABI foi formada pelo Presidente da Casa, Maurício Azêdo; pelos Conselheiros Mílton Coelho e Tarcísio Holanda, este radicado em Brasília; pela associada Maria Ignês Duque Estrada Bastos, Da esquerda para a direita: Milton, Maurício, Maria Ignêz, Paulo Abrão, Rabelo, Tarcísio e Ponce membro da Comissão de Sindicância da Casa, e pelos jornalistas Ponce de Leon e José Maria Rabelo, radicaque o total constante de listagem elade Abrão, a ABI lhe pediu que forneça dos em Minas Gerais, que viajaram de borada pela Casa, na qual figuravam a relação completa dos processos leBelo Horizonte para Brasília especial20 processos. Além dos 20 relacionavantados, para melhor acompanhamente para a audiência. dos no ofício a Abrão, a ABI menciomento de todos os casos pela Casa. Da reunião participou a Chefe de nou mais dois requerentes cujos proInformou também Abrão que a CoGabinete do Presidente da Comissão, cessos também se encontram há muimissão de Anistia dará prioridade em Kelen Menegali, que fez fotografias do to sem solução: o da jornalista Wanda suas próximas sessões, a partir de marencontro e, revelando agilidade jornalísFigueiredo de Souza, irmã do cartunisço, a três grupos específicos de requerentica, transmitiu as fotografias por e-mail ta Henfil, e o do jornalista Carlos Altes: o dos jornalistas, que totalizam os para o Site da ABI (www.abi.org.br). berto Wanderley. Diante da revelação 65 processos citados; o de integrantes do
de insegurança e medo, no Brasil daqueles anos de chumbo. Alguém ainda se lembra? Alguém se lembra da ação permanente e estúpida da censura, que golpeava jornais, revistas, estações de rádio e de televisão? Dos censores que confundiam livros sobre cubismo com propaganda de Fidel Castro? Alguém se lembra das prisões sem processo, das ameaças permanentes que pendiam sobre nossas cabeças, como espadas de fogo? Das incertezas provocadas pela falta de um Estado de Direito claro e inquestionável? De um país amordaçado, de uma sociedade amedrontada? De um mundo dominado pelo ódio? A partir de dezembro de 1968, o País mergulhou na mais completa escuridão, com o AI-5. Saiu da penumbra para entrar na escuridão. Alguns
grupos isolados pegaram em armas para combater o regime militar. Um grave equívoco. Contribuíram assim para fortalecer a repressão – e logo foram eliminados. Os defensores da democracia, na sua maioria, optaram por enfrentar a ditadura sempre pelo caminho da articulação política sem armas na mão. Foram perseguidos, presos, alguns se exilaram, outros “desapareceram”. Muitos foram mortos, como o jornalista Vladimir Herzog e o operário Manoel Fiel Filho. Outros ainda ficaram desfigurados pela humilhação e pala tortura. Nada, absolutamente nada justifica uma ditadura. Os fins não justificam os meios, como dizem alguns estúpidos defensores do autoritarismo. Ao contrário, meios imorais poluem e
conspurcam os fins, destruindo-os. Com o tempo e a resistência dos democratas, o regime perdeu força, dividido e fragilizado. Perdeu o fôlego, isolado. A economia se enfraqueceu, o setor militar mais moderado, liderado pelo Presidente Ernesto Geisel, adotou uma política de abertura, “lenta, gradual e segura”. No governo do seu sucessor, o General Figueiredo, os brasileiros finalmente reconquistaram a democracia e a liberdade. Foram vinte anos de ditadura, num mundo dominado pela Guerra Fria e numa América Latina onde o medo moldou diversos regimes de exceção. Não podemos esquecer. Ditadura, nunca mais. Rodolfo Konder, jornalista, professor e escritor, é sócio da ABI e membro da Comissão Executiva do Centenário.
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LIVROS/DOAÇÕES
Japiassu manda seu Jornal dos Jornais A publicação teve 21 edições e reuniu perfis, histórias, erros e acertos de jornalistas. POR I GOR WALTZ
A Biblioteca Bastos Tigre recebeu uma coleção de edições da revista Jornal dos Jornais, doada à ABI por Moacir Japiassu, fundador da publicação juntamente com a jornalista Márcia Lobo, sua mulher. A revista, que era voltada para o mundo jornalístico e teve apenas 21 edições, entre março de 1999 e dezembro de 2000, recebeu o Prêmio Esso de Melhor Contribuição à Imprensa. Japiassu conta que a decisão de colocar as edições para consulta do público na Bastos Tigre foi tomada durante o I Salão Nacional do Jornalista Escritor, promovido em novembro de 2007, em São Paulo, como parte das comemorações do centenário da ABI: — Durante o encontro, pude rever o querido amigo de longa data Maurício Azêdo, Presidente da Casa. Durante a conversa, falamos da revista. Azêdo a conhecia apenas de nome, pois, por absoluta falta de recursos, a publicação não conseguiu se promover; era, digamos, semiclandestina. Ficou acertado entre nós que eu mandaria uma coleção de Jornal dos Jornais para a Biblioteca da ABI. Desafios Moacir Japiassu explica que teve a idéia de uma revista que tratasse da imprensa por acreditar que os jovens que iniciavam suas carreiras “estavam um pouco abandonados”. — Durante mais de dez anos, fui colunista-fundador da revista Imprensa. Viajei pelo País para fazer palestras a estudantes de Jornalismo e notei que eles saíam das faculdades com poucos conhecimentos e assim chegavam (quando chegavam!) às redações. Não havia ali e não há, talvez não haja nunca mais, a figura daquele veterano profissional que ensinava aos focas o caminho das pedras, papel que pes-
Japiassu em foto promocional do primeiro número de sua revista.
soalmente desempenhei anos a fio. Então, pensei: por que não lançar uma revista dirigida à meninada? Jornal dos Jornais nasceu com tal objetivo. A publicação oferecia aos leitores uma visão analítica sobre a mídia, o que é possível conferir em matérias que abordam temas como mercado de
Jornal dos Jornais / Doação de Moacir Japiassu N° DA EDIÇÃO
DATA DE CAPA
Ano 1 n° 1 Março/1999
A vida do foca Mino Carta
MATÉRIA PRINCIPAL E FOTO DE CAPA
Ano 1 n° 2 Abril/1999
Alberto Dinnes recorda seus tempos de foca
Ano 1 n° 3 Maio/1999
Conheça o foca que quase apanhou do chefe: Fernando Mitre, diretor da Band
Ano 1 n° 4 Julho/1999
Fon abre o jogo: Como desci aos porões da ditadura
Ano 1 n° 5 Agosto/1999
Mauro Santayana: o foca que faz da profissão uma cachaça
Ano 1 n° 6 Setembro/1999
Saudade do comunismo / O que restou de um dos jornais mais poderosos do mundo: o Pravda
Ano 1 n° 9 Dezembro/1999
Revelamos o Boris Casoy que você não conhece
Ano 1 n° 10 Janeiro/2000
A vida de foca de um mestre do texto / Armando Nogueira
Ano 1 n° 11 Fevereiro/2000
Aventuras de Repórter / Flávio Tavares morreu duas vezes / Vida de foca: Zuenir Ventura conta tudo
Ano 2 n° 13 Abril/2000
Kotscho: a vida de foca de um repórter especial
Ano 2 n° 15 Junho/2000
O que é mesmo essa tal de liberdade de imprensa?
Ano 2 n° 16 Julho/2000
Milagre em Cuba: a imprensa elege Elian e levanta o país / Zevi Ghivelder
Ano 2 n° 17 Agosto/2000
Paiva Neto, Presidente da LBV, o maior comunicador do Brasil
Ano 2 n° 18 Setembro/2000
Vida de foca: Nirlando Beirão é mais que dez!
Ano 2 n° 19 Outubro/2000
A vida de foca de Chico Pinheiro
Ano 2 n° 20 Novembro/2000 Presidente Lula (É invenção da imprensa) Ano 2 n° 21 Dezembro/2000 Agitador toca fogo na imprensa / Sebastião Nery
MILITÂNCIA
Edgar Rodrigues, libertário em dois mundos Exilado no Brasil em 1951, esse militante anarquista continuou aqui a luta pelas transformações sociais que levaram o regime de Salazar a persegui-lo. As origens e o desenvolvimento das lutas travadas pelo movimento social no Brasil e em Portugal são os temas preferenciais do jornalista e historiador português Edgar Rodrigues, militante anarquista que vive no Brasil desde os anos 50, quando deixou seu país de origem fugindo das persegui-
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trabalho, liberdade de imprensa e a história do jornalismo, sempre em tom leve e bem humorado. As revistas trazem também entrevistas com profissionais como Mino Carta, Alberto Dines, Fernando Mitre, Wagner Carelli, Mauro Santayana, José Hamilton Ribeiro, Boris Casoy, Armando
ções do regime ditatorial salazarista. Rodrigues chegou ao Brasil em 1951, e logo empregou-se como mestre-deobras, para depois se dedicar a uma extensa pesquisa sobre documentos e informações sobre a história social portuguesa e nacional. Este trabalho resultou em diversos artigos que acabaram
publicados na imprensa e foram usados como fonte primária para mais de 50 livros que escreveu sobre o tema. Em 2007, foram dois lançamentos: Mulheres e anarquia e Lembranças incompletas, ambos editados pela Achiamé, editora libertária como ele. O primeiro, uma coletânea de artigos sobre as diversas situações da representação social feminina, é dedicado às duas mulheres mais importantes da vida do autor: sua mãe, Albina da Silva Santos, e Ondina dos Anjos da Costa Santos, “companheira de 65 anos de cumplicidade”.O outro lançamento, na opinião de Marcolino Jere-
Nogueira, Zuenir Ventura, Ricardo Kotscho, Chico Pinheiro e Sandro Vaia, que contam como foi o início de suas carreiras. — O objetivo era mostrar aos jovens que estavam estreando no jornalismo os desafios e as dificuldades da profissão. É a educação pelo exemplo. Durante anos e anos líamos entrevistas dos melhores profissionais do Brasil e ninguém lhes perguntava sobre o início da carreira — diz Japiassu. Integravam a equipe de colunistas, entre outros, Léa Maria, Josué Machado, Gabriel Priolli, Márcia Lobo, Celso Japiassu, Luiz Carlos Lisboa e o próprio Moacir Japiassu, hoje responsável pela coluna Jornal da imprenÇa, sobre gafes e erros publicados pela mídia. A idéia, lançada em 1987 na revista Imprensa, foi levada para a internet, no site Comunique-se, e manteve o espírito. — A coluna mudou de nome, mas continua quase a mesma. Passou por algumas modificações necessárias, porque agora é semanal e aberta a comentários dos leitores. Isso nos obriga a manter vigilância permanente e traz grande vantagem em relação à mídia impressa: quando o colunista comete algum erro, o que sempre acontece, é claro, pode-se corrigi-lo antes da primeira paulada de algum leitor mais atento. No nosso caso, é sempre possível botar a culpa no Janistraquis. A coleção de Jornal dos Jornais está disponível para consulta na Biblioteca Bastos Tigre (Rua Araújo Porto Alegre, 71, 12º andar — Centro do Rio), que fica aberta de 9h às 17h, de segunda a sexta-feira, e conta com um grande acervo de obras literárias e voltadas para o jornalismo, além de jornais e revistas de diferentes épocas. O espaço é aberto a sócios e não-sócios da ABI. Outras informações podem ser obtidas pelo telefone (21) 2282-1292, ramal 215, ou pelo e-mail biblioteca@abi.org.br.
Um suplemento raro para a Biblioteca Bastos Tigre Coleção reúne exemplares de cinco anos, com textos e análises de grandes escritores brasileiros. POR J OSÉ REINALDO MARQUES
A Biblioteca Bastos Tigre, da ABI, acaba de ganhar a coleção do suplemento literário Autores & Livros, que nos anos 40 circulava encartado no jornal A Manhã e era editado pelo escritor e acadêmico Múcio Leão, que ocupou a cadeira nº 20 da Academia Brasileira de Letras (ABL). A coleção contém números seriados de Autores & Livros de 1941 a 1945, com pequenas falhas nos anos de 42, 43 e 44, e foi doada à ABI pelo líder comunitário Paulo de Tarso de Oliveira, de Campo Grande, Zona Oeste do Rio, cuja família, formada por professores e pessoas ligadas à cultura, era quem colecionava o suplemento. Contou Paulo de Tarso que a coleção do suplemento começou com seu avô Júlio Camargo Nogueira, pastor da Igreja Presbiteriana, que adorava a leitura de jornais e guardava as páginas literárias para as filhas professoras, que também gostavam muito de ler e se interessavam por literatura: — Os meus parentes sempre foram ligados ao ensino e à cultura e me deram os jornais para guardar. Tudo começou com o meu avô, que era leitor assíduo do jornal A Manhã, O Jornal e Gazeta de Notícias. Eu tinha um escritório em casa, mas começou a dar cupim e fiquei sem condições para manter a coleção, sob o risco de perder tudo. Então numa conversa com o Maurício Azêdo, Presidente da ABI, ele demonstrou interesse nos suplementos para ampliar o acervo da biblioteca da ABI. Paulo é membro da Associação Cultural de Vila Santa Rita, em Campo Grande, criada para funcionar como braço cultural da associação de mora-
mias — colega de Rodrigues no movimento libertário —, é a primeira obra que trata das iniciativas libertárias entre 1930 e 2005. Ao contrário do que sugere o título, porém, Lembranças incompletas não é uma obra autobiográfica. Trata-se de um relato da militância anarquista, seus principais grupos e personagens com que Rodrigues se relacionou ao longo de sua trajetória. Uma série de documentos registra a história do movimento no Brasil e no exterior, como cópias de O Nihilista, órgão dos operários do Exército e da Marinha, de 16 de março de 1883; da edição de 28 de fevereiro de
dores local: — O nosso principal objetivo é levar a cultura à juventude desinformada, selecionando nos jornais os assuntos culturais e literários. O meu interesse por jornais começou com o incentivo de um colega que era politizado e me despertou para o que eu poderia aprender a partir da leitura dos periódicos. Adquiri alguns conhecimentos e passei a conversar sobre vários assuntos com qualquer pessoa. Dissecação de autores Autores & Livros era impresso no formato standard, ilustrado com fotos e caricaturas de grandes escritores e poetas brasileiros. nacionais. Era um su-
plemento totalmente dedicado à literatura, falando sobre a vida e a obra de determinado escritor ou poeta, além dos textos de críticos literários sobre as obras dos autores destacados nas edições. Sua edição nº 2 foi dedicada ao poeta Fagundes Varela. No editorial O grande precursor, publicado na primeira página do suplemento, Varela é saudado como pertencente à categoria dos poetas românticos, a exemplo de Castro Alves: “melhor dito, daqueles brasileiros cuja poesia romântica, por volta de meados do século XIX, con-
1835 de O Anarchista Fluminense e do Journal Officiel de La Comune de Paris, com data ilegível. Rodrigues diz que quando pensou em escrever Lembranças incompletas não tinha pretensão de resgatar todos os episódios de que tomou conhecimento ou em que se envolveu: — Mas procurei me esforçar para ser justo em meus conceitos, juízos e interpretações, a fim de não cometer equívocos que enfeiem a conduta ideológica de militantes e/ou personalidades com quem convivi, mesmo discordando de alguns, pela sua irracionalidade.
Sócio colaborador da ABI, à qual se associou em 25 de julho de 1978, Edgar Rodrigues chegou ao Brasil trazendo metade do livro Na inquisição do Salazar já rascunhada. Aqui, diz, encontrou “liberdade e companheiros muito cultos, com muita projeção na vida brasileira, como o José Oiticica”, e teve oportunidade de assistir a reuniões da Ação Direta, que servia como mentora de ações de grupos anarquistas. Foi a partir dessas experiências que começou a escrever artigos para jornais e, mais tarde, livros. (José Reinaldo Marques)
dizia com os estados da alma do País”. O editorial acrescentava que o que mais impressionava em Fagundes Varela era o drama do sentimento brasileiro, “procurando sua libertação expressional”, que, na opinião do caderno, começa a nascer no País com o nacionalismo que provocou a independência e a abdicação de Pedro I. Inédito e autobiográfico Autores & Livros” oferecia aos leitores uma edição ampla e variada de excelente substância literária. Em suas páginas figuravam contos, poemas e artigos de autores como Alphonsus de Guimaraens, Afonso Schmidt, além de estudos e crônicas de Adalgisa Nery, Antônio Austregésilo, Vinícius de Moraes, Raimundo Magalhães Júnior, Clementino Fraga e Pedro Calmon, entre outros. Às vezes os leitores eram surpreendidos com textos inéditos, como uma sextilha encontrada nos arquivos da ABL que pertencera a Lúcio Mendonça e não fora publicada até então em livro: Eu sou pequena, trigueira Como a rolinha faceira Como a linda Iassanã. Meus olhos negros esquivos São mais brilhantes e vivos Que os olhos da minha irmã (...) Também se destaca o artigo autobiográfico de Artur Azevedo contando o desejo de se tornar um autor de teatro: “Desde os mais verdes anos, manifestei certa vocação para o teatro e, se não foram meus pais, teria com certeza abraçado a arte dramática”, escreveu. Azevedo lembra que aos oito anos de idade organizava “espetáculos de súcia” com os meninos da sua idade, e diz que ficava radiante de alegria todas as vezes que tinha acesso a uma comédia ou a um drama na biblioteca do pai, onde, segundo ele, encontravam-se bons livros, muitos em francês, idioma que aprendeu, desde cedo, a ler e a traduzir com facilidade. No artigo, ele conta a própria história: “um comediógrafo sem teatro, sem artistas, sem público, que chegou infelizmente aos 47 anos (1901) sem realizar o seu sonho de literatura e arte”.
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DOCUMENTO
Na série Arquivinho, Nélson Rodrigues A edição número 4 da coleção reúne preciosos materiais sobre o jornalista, escritor e teatrólogo. Nelson Rodrigues e sua máquina de escrever: lançamento resgata obra do dramaturgo e inclui peças gráficas como o cartaz original da peça Toda nudez será castigada.
perda quase total da visão, em decorrência de hemorragia intra-ocular; a prisão do filho Nelsinho, durante a ditadura; a deficiência da filha Daniela, que nasceu cega e surda. — Ainda que o drama fosse a matéria-prima de sua arte, Nélson não conseguia extravasar as tragédias pessoais — analisa Cláudio. — Ele se mantinha inconformado. Contudo, seguia adiante, bradando a máxima: “Se os fatos são contra mim, pior para os fatos.” DIVULGAÇÃO
"A obra de arte, quando nasce, precisa encontrar oposição; é preciso que ela desagrade, que irrite, que dilacere.” Quem reconheceu algo de rodriguiano no ar acertou. A frase é do jornalista, escritor e dramaturgo Nélson Rodrigues, tema do quarto volume da Coleção Arquivinhos, que traça um panorama da obra de grandes e saudosos escritores brasileiros. A trajetória de Nélson Rodrigues está reunida em 14 peças gráficas, um dvd com depoimentos inéditos do autor dados ao Museu da Imagem e do Som, uma entrevista com a atriz Fernanda Montenegro, vasta iconografia e textos assinados por Sábato Magaldi, Barbara Heliodora, Arnaldo Jabor, Armando Nogueira e Cláudio Melo e Souza. Fruto de minuciosa pesquisa da edito“nostalgia de espelho” ou “perfil de ra e escritora Lélia eu também virei personaLord Byron” — recorda. Coelho Frota, o novo gem de seus contos publiA vida pessoal do dramaturgo foi volume dos Arquivicados na coluna A vida marcada por sucessivas tragédias. A nhos resgata a mecomo ela é, da Última Hora. morte levou cedo parte da família — o mória do dramaturMeu personagem fazia irmão Roberto, assassinado; o pai, em go: — Conseguimos parte do círculo periférico depressão profunda, logo em seguida; concluir a pesquisa após um ano de das histórias; já Oto e Hélio eram obrio irmão caçula Jofre, de tuberculose, muito trabalho. Como o material estagatórios. Nélson criava situações abaos 21 anos; o irmão Paulinho, soterva disperso, foi preciso recorrer a inúsurdas, divertidas, embaraçosas, e nos rado junto com esposa e filhos quanmeros acervos, instituições e colaboraincluía nas tramas. O Oto se aborrecia do o apartamento onde moravam dedores. Todos os itens do Arquivinho se extremamente, mas eu achava engrasabou. Mais tarde, Nélson enfrentou a completam, e é emocionante ouvir a çado quando ele se referia a mim como voz de Nélson no depoimento gravado para o MIS, em julho de 1967 — conta Lélia, criadora da coleção. Palavras ao MIS: crítica e bom humor Para escrever os textos, a equiA genialidade do dramaturgo pontua cada frase do depoimento que pe selecionou pessoas que conviNélson Rodrigues deu ao MIS em 1967. Há momentos de crítica ácida, veram com Nélson, como os jorescárnio e bom humor sobre temas que vão desde as belezas do Rio de nalistas Armando Nogueira e Janeiro ao sexo. Estes são alguns exemplos: Cláudio Melo e Souza, ou ainda que tiveram com ele vínculos cri“Eu me sinto profundamente carioca. (...) Tenho realmente ativos e profissionais, como Aresta fidelidade apaixonada ao lugar onde vivo.” naldo Jabor — que filmou o longa Toda nudez será castigada — e “Eu escrevi a história de um adultério que Fernanda Montenegro, que encoterminou com o marido esfaqueando a adúltera.” mendou ao dramaturgo o texto (sobre a primeira crônica, escrita aos 7 anos, de Beijo no asfalto e viveu no cinepara um concurso escolar) ma a Zulmira de A falecida. Cláudio Melo e Souza,que as“Eu abominava aquelas coisas e me julgava sina a coordenação do volume, o último dos cães quando saía de um desses conviveu com a verve dramática rendez-vous. O sexo só faz desgraçados e pulhas.” e a crítica despudorada do escri(sobre as primeiras experiências sexuais, aos 13 anos, tor: — Conheci Nélson Rodrigues na Rua Benedito Hipólito, Centro do Rio). no final da década de 50, quando “O sujeito deixa de existir, deixa de ser, durante eu era um jovem copidesque do Jornal do Brasil. Coincidências feuma viagem. Acho a viagem a mais empobrecedora, lizes me aproximaram de pessoa mais burra das experiências humanas. O nosso as que eram amigas dele, como querido Otto, na Escandinávia, não foi reconhecido Hélio Pellegrino, Oto Lara Rezende e Fernando Sabino. Assim como por um mísero bacalhau.” estes e outros amigos do Nélson, 36 Jornal da ABI 326 Fevereiro de 2008
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POR C LÁUDIA S OUZA
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O diagramador banido Com um senso estético intolerante, Adolfo Bloch demitiu seu paginador e o jogou no campo das artes plásticas. POR MAURÍCIO A ZÊDO
Se não fosse um acidente no seu diaa-dia de trabalho na Redação de uma das revistas da Bloch Editores, o jovem carioca Rubens Gerchman não faria a carreira que o tornaria um dos mais destacados artistas plásticos brasileiros contemporâneos e que o levou a merecida projeção internacional, com obras, exposições e atividades não apenas no Brasil, mas também na Argentina, México, Estados Unidos, Canadá, Portugal, França, Bélgica, Alemanha e Japão, entre outros países, como registra a enciclopédia Wikipedia. Com o curso de Desenho feito em aulas noturnas em 1957-1958 no Liceu de Artes e Ofícios do Rio de Janeiro, instituição de educação artística freqüentada pelos estudantes pobres, Gerchman cavou oportunidades de trabalho como diagramador de revistas e de editoras e a esse mister se dedicou durante os oito anos seguintes, até que o tal acidente o fez enveredar por todo o sempre pelo campo da criação artística. Com a reputação de antigo aluno da Escola Nacional de Belas-Artes, onde estudou xilogravura com Adir Botelho em 1960, num curso que abandonaria no ano seguinte, participante da Bienal de São Paulo de 1965 e da Mostra Opinião-65 realizada no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, Gerchman trabalhava em 1966 na revista Jóia, do Grupo Bloch, sob a direção de Roberto Châtel Vasconcelos, diretor de publicação, e de Jairo Régis dos Reis, chefe de Redação, e já desfrutava de excelente reputação. Os dois admiravam seu talento e estimulavam suas ousadias, ainda que comedidas. Jóia era uma revista feminina, basicamente de moda, e não comportaria arrebatamentos de criatividade, mas não rejeitava certas inovações. Uma das criações do jovem Rubens foi recebida como tal pelo dono da empresa, Adolfo Bloch, que todo dia percorria com regularidade as redações das diferentes publicaões da Casa, a começar por sua menina dos olhos, a revista Manchete, dirigida por Justino Martins, que ele arrancara de Paris, onde Justino se radicara há anos após trabalhar em publicações do Rio Grande do Suil, sua terra. Na visita que fez
certa manhã à Redação de Jóia, Seu Adolfo, como era chamado, ferveu de indignação ao ver um caderno de 16 páginas já impresso em que Gerchman, na sua avaliação, se excedera em licença de criação. A reportagem tratava dos super-heróis das histórias em quadrinhos e Gerchman, ao diagramála, concebeu os heróis em preto-ebranco e reproduziu alguns deles em tamanho que ultrapassava a mancha da revista – isto é, o espaço destinado a impressão. O longo braço de um deles, o Capitão América talvez, ia além da beira da página. Era esse um dos exageros que exasperara Seu Adolfo. Com sua voz ao mesmo tempo gutural e fanhosa, Seu Adolfo explodiu em um dos seus costumeiros acessos de raiva – com freqüencia ele trincava nos dentes os cromos de fotografias de que não gostava, cuspia-os à distância, sob o olhar páciente e no fundo irônico de Justino, e os expulsava da edição em fechamento. Diante dos super-heróis de Gerchman ele decretou sentenças irrevogáveis: — Isso é muito feio, é horrível. Joga esses cadernos todos no lixo. Não quero isso na minha revista. Joga fora também esse Gerchman, que não sabe fazer revista. O caderno de 16 páginas, impresso às dezenas de milhares, foi para o lixo. Gerchman, não. Foi demitido, pensou em acionar a Bloch na Justiça do Trabalho, conquistou colegas da Redação para depor como suas testemunhas, mas o diretor jurídico da empresa, Paulo Pelicano, espécie de pára-choque de demasias do gênero de Seu Adolfo, convenceu-o a aceitar um acordo e dar o conflito por encerrado. Gerchman concordou. Foi assim banido do jornalismo e pôde entregar-se para sempre, até falecer em 29 de janeiro passado, em São Paulo, aos 66 anos, à carreira para a qual o empurrou a fúria do senso estético de Adolfo Bloch.
A criatividade como diagramador o tirou do jornalismo para lançá-lo, definitivamente, no mundo das artes plásticas.
O pai da Lindonéia, a Gioconda suburbana Após deixar o jornalismo, Gerchman dedicou-se integralmente à criação artística. Um ano depois da explosão de cólera de Adolfo Bloch, ele ganhou o Prêmio Viagem do Salão Nacional de Arte Moderna e pôde se mandar para os Estados Unidos, onde viveu e trabalhou entre 1968 e 1972, realizou inúmeras exposições e foi um dos fundadores do Museu Latino-Americano do Imaginário. Assumindo posições da vanguarda artística da época, participou com uma série de casas-roupas do Fashion Show Poetry Event, provocativa mostra idealizada por jovens poetas americanos e de que participavam, entre outros, o criativo Andy Warhol, que despontava para a fama, o irlandês Les Levine e Robert Plate. Informa a Wikipédia que o jornalista, escritor e historiador Rui Castro registra que Gerchman trabalhou, na volta, numa revista de fotonovelas e compôs então a serigrafia A Bela Lindonéia, A Gioconda do Subúrbio, inspirada numa leitora de fotonovelas que morreu aos 18 anos sem conhecer o amor. A criação de Gerchman teria inspirado Caetano Veloso a compor a canção Lindonéia, uma das principais do Tropicalismo. Em 1967, após deixar a Bloch, Gerchman organizou na Galeria G-4, do Rio, a primeira exposição individual
de Hélio Oiticica e participou da mostra Nova Objetividade Brasileira, com Aluísio Carvão, Oiticica, Glauco Rodrigues, Ivan Serpa, Flávio Império, Roberto Magalhães, Ferreira Gullar, Geraldo de Barros, Sérgio Ferro, gente que vai enriquecer e influenciar a arte nas décadas seguintes. Desde então, alia a criatividade ao ímpeto de fazer. A paixão do jornalismo leva-o a uma aventura nesse campo, como um dos fundadores e diretor da revista de vanguarda Malas-artes, publicação sob o comando de Mário de Aratanha com um conselho editorial integrado por ele, Carlos Vergara, Waltércio Caldas, Cildo Meireles e Carlos Zílio, entre outros. A revista não dura muito, circula com edições irregulares apenas nos anos 19751976 e não o impede de dirigir, a partir de 1975 e até 1978, o Instituto de Belas-Artes, que ele transformaria na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, responsável pela formação de inúmeros artistas. Inquieto, o antigo diagramador vive nos Estados Unidos de 1968 a 1972; radica-se em São Paulo de 1972 a 1975; trabalha nos Estados Unidos e no México entre 1978 e 1980 e dá aulas na Universidade Nacional do México; passa um ano em Berlim, a partir de 1982, como artista-residente convidado pelo Deutsche Akademischer Austauschdienst Kütler Program; expõe e trabalha nos dez países arrolados pela Wikipedia; deixa o bloco carnavalesco Simpatia é quase amor, de Ipanema, no qual desfilava, reproduzir em suas camisetas de levantamento de fundos uma das imagens da série Beijos, exposta em São Paulo em 1989. Sua vida intensa e infatigável é abreviada por um tipo raro de câncer de que morreu no Hospital Albert Einstein, em São Paulo. (MA)
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Marco Aurélio, o Jangada do samba, craque do jornalismo Misto de compositor e de editor de jornal, ele tinha um sobrenome que lhe daria sofisticação, mas adorava ser chamado pelo apelido com que assinava suas criações musicais. POR MAURÍCIO A ZÊDO
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arteiro do antigo Departamento dos Correios e Telégrafos, antecessor da atual ECT, repórter de Geral, redator e editor de textos de diferentes editorias, do esporte à economia, compositor popular e talentoso autor de sambas-enredo, ator eventual de teatro, repentista de sambas de partido-alto, em que se improvisam versos ao som das batida da palma das mãos, o fluminense Marco Aurédlio Guimarães, aliás torcedor do Flamengo, podia ostentar sofisticado sobrenome, que lhe daria um acento francês, um tom esnobe, sobretudo em sua Niterói, onde nasceu. Era um Barrandon, Marco Aurélio Barrandon Guimarães, mas a partir de determinado momento preteriu não apenas o Barrandon, mas também o portuguesíssimo Guimarães, e se fixou no apelido que fazia questão de proclamar e que acabou incorporando ao próprio nome jornalístico. Tornara-se o Jangada, Marco Aurélio Jangada, como constava até do expediente do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, no qual trabalhou como Coordenador de Redação até poucas semanas antes de falecer, abatido por um câncer impiedoso, em 24 de janeiro passado. Marco ainda não era o Jangada quando se iniciou no jornalismo, como repórter da Tribuna da Imprensa, num tempo em que, ainda jovem, cumpria dupla e árdua jornada de trabalho. Cedíssimo, de manhã, ele punha a tiracolo, no seu corpão então magro e comprido de l metro e 90, a sacola de correspondência dos Correios, tomava nas mãos os maços de cartas e pacotes que nelas cabiam e se punha a bater de porta em porta, endereço por endereço, seriíssimo e responsável em seu ofício de carteiro. No começo da tarde, corria para a Redação da Tribuna, para encarar as pautas da Geral, dar o plantão na Editoria de Polícia, atender leitores e comissões de reivindicações sociais. Foi assim durante anos e anos, até que, com o reconhecimento de sua qualificação, por seu domínio do idioma e da técnica jornalística e por sua impressionante capacidade de trabalho, pôde iniciar a ascensão profissional, como redator copidesque, editor, comandante de editorias e de redação. Pouco a pouco os companheiros foram absorvendo a denominação que ele preferia: Jangada. — Pô, eu sou o Jangada, me chama de Jangada.
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Da Tribuna Marco foi para o Jornal dos Sports, depois para a Redação recém-criada da nascente revista esportiva Placar, em São Paulo, onde viveu alguns anos, até retornar ao Rio para se vincular com competência e forte ligação afetiva ao Jornal do Commercio de Ibanor Tartarotti, Aziz Ahmed, Antônio Calegari, Jorge Chaves, Jairo Paraguassu; o JC da equipe que o resgatou de possível desastre, como veículo e como empresa, após a pesada saraivada da execução de ações trabalhistas ajuizadas contra o falecido O Jornal e que encontravam no remanescente dos Diários Associados no Rio, o centenário JC, a segura fonte de pagamento das indenizações, no montante de milhões, devidas aos funcionários privados do emprego. Marco participou dessa reconstrução; no princípio, sem o apelido; mais tarde, impondo-o como natural.
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Jangada talvez proviesse do tempo em que Marco comandava os desfiles de uma pequena escola de samba de subúrbio, a Unidos da Vila São Luís, uma escolinha do Grupo 2 que costumava chegar em 12º lugar dentre 18 concorrentes, para a qual compôs nos anos 60 um primor de samba-enredo, uma obra-prima dedicada ao tema Y-Juca Pirama de Gonçalves Dias, em que citava versos do poeta maranhense e lhes emprestava pungência superior à do original, ao dizer que “Y-Juca Pirama foi marco de fama”, que de Gonçalves Dias ele herdou uma sentença cruel, “dizendo ao guerreiro aos seus pés/Tu, covarde, meu filho não és!”. Talvez datasse o apelido do tempo em que, já distante da Unidos da Vila São Luís, ele se integrou em 1966-1967 ao grupo de fundadores da Unidos de Lucas, fruto da fusão da Aprendizes de Lucas, a escola de Austeclínio Silva e Élton Medeiros, com a Unidos da Capela, do mestre do tamborim Gargalhada e que já no desfile de estréia assombraria o público com um samba-enredo antológico, festejando o dia em que, por obra da Lei Áurea assinada pela regente Princesa Isabel, “uma voz na varanda do Paço ecoou/Meu Deus, meu Deus, está extinta a escravidão!” Marco estava nesse cortejo, como um dos mestres de harmonia, em que a jovem Unidos de Lucas despontou em quinto lugar. Sem ele, sua querida Unidos da Vila São Luís caía para o Grupo 3. Foi com a disposição de fixar o apelido Jangada que Marco Aurélio se radicou em São Paulo, no começo de 1970.
Depois do trabalho em Placar, onde editava a seção de cartas dos leitores Camisa 12, que se tornaria a mais lida da revista, Marco tratava de se enturmar com o pessoal da terra. Morador do conhecido Edifício Redondo, no começo da Rua da Consolação, perto do Teatro de Arena, ponto de freqüência diária do teatrólogo Plínio Marcos, Marco logo estabeleceu grande e fraterna amizade com o autor de Navalha na Carne, que, originário de Santos e conhecedor do bas-fond da cidade praiana, se encantou com o novo amigo, pelo seu jeito malandro, irreverente, iconoclasta, e com ele fez parcerias em criações musicais e depois em retretas teatrais. Plínio chegou a transformar Marco em ator teatral em pequenas montagens que improvisava de esquetes compostos em cima da perna e de trechos de suas peças. Marco, desinibido, percorria bares e pontos da boemia de São Paulo ajudando Plínio a vender rústicas edições que este fazia para levar algum para casa. Plínio tinha grande repertório de peças mas sobrevivia com dificuldades: a Censura impedia a montagem de seus textos. Com a unção do apelido por Plínio Marcos e por amigos compositores de São Paulo de que se tornou camarada, Marco Aurélio revelou e promoveu talentos que descobrira em suas andanças pelas rodas de samba da cidade. Era com grande entusiasmo que se referia a compositores como Talismã, um dos muitos que ele conheceu e dos quais se tornou parceiro. A saudade da vivência na Unidos da Vila São Luís e na Unidos de Lucas levou-o a se enfronhar nas escolas de samba de São Paulo, para as quais sugeria enredos, colaborava na criação dos sambas a serem apresentados nos desfiles, retocava composições, tanto carnavalescas como de meio de ano,
ensinava como puxar um samba num desfile – puxar, não; interpretar, como retifica mestre Jamelão da Estação Primeira de Mangueira –, como montar e conduzir uma escola de samba na concentração e na pista. Haverá entre os artistas populares que viveram essa época muitas testemunhas da contribuição que Marco Aurélio ofereceu para que as escolas de samba de São Paulo e seus desfiles atingissem o esplendor que têm agora e da atração que exercem sobre crescentes faixas de público. Esse é um inventário a ser feito e uma história a ser contada; estima-se que Marco tenha deixado anotações, registros e documentos que permitam um perfil mais preciso e longo do personagem que ele criou: o Jangada.
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paixonado por futebol, torcedor do Flamengo, como já revelado, Marco Aurélio era no fim dos anos 60 o mais qualificado analista dos clássicos que o Jornal dos Sports cobria todos os domingos no Maracanã. Ele tinha sólidos conhecimentos de táticas do futebol, acompanhava as partidas sem exagero de anotações, salvo as essenciais – o momento dos gols e de fatos que interviessem no resultado –, e escrevia de um fôlego só cinco ou seis laudas (180 linhas) impecáveis na forma e na análise. Ainda não era o Jangada, nem aspirante a técnico de futebol. Capaz de explosões diante de um texto malfeito, de uma matéria malapurada, Marco Aurélio sabia também ser didático, formador de novos profissionais. Da explosão passava com facilidade ao chiste, à tirada de humor, à manifestação de solidariedade e de carinho. Era com controlada satisfação que atendia a um chamado assim: — Jangada, olha aqui este texto. Marco Aurélio Guimarães, que nasceu em 3 de novembro de 1932, era sócio da ABI desde 22 de fevereiro de 1994 e ingressou na Casa por proposta que tive a honra de subscrever. Eleito suplente do Conselho Deliberativo para o mandato 2003-2006, foi reeleito no ano passado para o mandato 2006-2009. Ele deixa viúva Maria Lúcia de Castro, com a qual teve uma filha, Bárbara Vicente Guimarães.
Lysandro, 22 anos a serviço da ABI Os associados da ABI perderam em 22 de fevereiro um dos mais dedicados integrantes do corpo de profissionais dos serviços de saúde da Casa: o cirurgião dentista Lysandro Villasboas da Andrade, que há 22 anos mantinha consultório no Pavimento Pedro Ernesto, no sexto andar do Edifício Herbert Moses, sede da ABI. O Dr. Lysandro, como era chamado com carinho pelos associados, esta-
va afastado de seu consultório desde abril de 2007, por força de uma enfermidade que lhe impôs várias internações e uma complexa cirurgia no esôfago. Sua última internação foi no Hospital São Bernardo, na Barra da Tijuca, onde faleceu. Através de sua Diretoria de Assistência Social, a ABI manifestou pesar à família do Dr. Lysandro, em intenção do qual fez oficiar missa de sétimo dia na Igreja de Santa Luzia.
REPARAÇÃO
Aziz e Calegari na homenagem a Benedicto de Barros convidados com bebida, salgadinhos e o encanto de seus relatos e seus comentários sobre questões jurídicos e sobre sua densa experiência como um dos mais antigos e destacados militantes do foro do Rio. Dono de sólida cultura jurídica e literária, Benedicto também expressava suas opiniões sobre esses campos. Aziz Ahmed era um dos interlocutores pelo qual Benedicto tinha mais carinho. No discurso sob a placa do logradouro, Aziz Ahmed destacou não apenas as virtudes pessoais de Benedicto de Barros, como, além da generosidade, sua competência como advogado e seu talento como escritor e poeta, mas igualmente a contribuição que ele ofereceu ao Estado do Rio e à Cidade do Rio de Janeiro. Procurador por concurso do Estado, Benedicto criou a Revista da Procuradoria-Geral do Rio de Janeiro e, mais tarde, como Presidente do Conselho de Contribuintes do Município do Rio de Janeiro no Governo Marcelo Alencar, a Revista Tributária do Município do Rio de Janeiro. Encerrado o mandato de Marcelo Alencar e com a saída de Benedicto do Conselho de Contribuintes, a revista deiBenedicto de Barros recebeu homenagens de seus xou de ser publicada. Avesso a atos que contracompanheiros do Jornal do Commercio – Aziz Ahmed e Antônio Calegari –durante cerimônia que reuniu riem seu temperamento ininúmeros amigos em Pedra de Guaratiba. trospectivo e por natureza recatado, o jornalista Antônio homenagem, como relatou o Jornal da Calegari, Diretor do Jornal do CommerABI na edição citada, constou da inaucio, abriu exceção em seus hábitos paguração da placa de denominação da ra participar da cerimônia em homeRua Benedicto de Barros em Pedra de nagem a Benedicto, com o qual manGuaratiba, na Zona Oeste, com a qual tinha no JC, quando ele ia entregar ele teve forte ligação afetiva desde pessoalmente seus artigos, animadas 1958, quando comprou um sítio lá sidiscussões sobre questões da área jutuado, até seu falecimento, em feverídica e da adminitração pública no reiro de 2005. âmbito da União, dos Estados e dos Aziz Ahmed foi um dos oradores da Municípios. Calegari ouviu com fresingela cerimônia realizada no dia 12 qüência de Benedicto fundamentadas de novembro, a qual reuniu numeroexposições sobre as formas de aumenso grupo de amigos de Benedicto de tar a arrecadação estadual, especialBarros. Aziz que foi Diretor de Redamente a do imposto sobre circulação ção do Jornal do Commercio, no qual de mercadorias e serviços-icms, tema atualmente é titular da coluna Confisobre o qual ele apresentou proposidencial, teve fraterno relacionamento ções ao Governador Marcelo Alencar, com Benedicto não apenas no jornal, outro de seus amigos presentes à cemas também fora do trabalho. Toda rimônia em Pedra de Guaratiba e, coquarta-feira à noite, como numa espémo registrou o Jornal da ABI, que tamcie de ritual, Aziz e outros amigos de bém discursou na homenagem. BeneBenedicto, entre os quais o advogado dicto de Barros acolheu Marcelo em Paulo Nonato, reuniam-se na residênseu escritório de advocacia quando cia dele para conversas que se esteneste retornou do exílio nos Estados diam por horas a fio. Benedicto, hoUnidos e na Europa, no começo dos mem generoso, prodigalizava seus anos 70. Numa omissão de que agora se desculpa e corrige, o Jornal da ABI deixou de registrar em sua edição de dezembro passado (número 324, página 44) que entre os presentes à homenagem ao jornalista e advogado Benedicto de Azevedo Barros se encontravam os jornalistas Aziz Ahmed e Antônio Calegari, seus amigos e companheiros do Jornal do Commercio, no qual Benedicto colaborava como um dos articulistas da Editoria de Direito e Justiça. A
ALÍBIO PEREIRA
Jornalista audacioso, Patarra teve que se esconder da repressão depois de publicar a famosa entrevista com Luís Carlos Prestes na revista Realidade, em 1968 (acima). Sua coragem, porém, foi premiada com o Esso de Jornalismo.
Patarra, um que não fazia jornalismo bem-comportado O jornalismo brasileiro perdeu em janeiro uma de suas maiores expressões: no dia 21 morreu em São Paulo, aos 74 anos, Paulo Patarra, vítima de câncer na garganta. A pedido do próprio jornalista seu corpo foi doado à faculdade de Medicina da USP, para estudos. Em virtude disso a família dispensou cerimônias fúnebres. Patarra descobriu a doença, provocada por 61 anos de tabagismo, no início do segundo semestre de 2007. Durante sua internação hospitalar, em uma entrevista ao ABI Online concedida a Gil Campos, ele fez esta revelação: “Fumei perto de 1 milhão de cigarros. Fiz as contas.” Membro do Partido Comunista Brasileiro–PCB entre 1957 e 1960, durante o Governo Juscelino Kubitschek (1956-1961) Patarra foi preso ao ser flagrado pichando a frase “Anistia para Prestes”, que vivia na clandestinidade desde a cassação de seu mandato de senador pelo antigo Distrito Federal, em 1947. Em 1968, fez uma entrevista com Luís Carlos Prestes que mereceu capa da revista Realidade.
Considerada uma das principais da trajetória profissional de Patarra, a reportagem lhe rendeu um Prêmio Esso de Jornalismo — bem como sete meses escondido em um hotel no Guarujá, São Paulo, por conta da Editora Abril. Isto porque no mês em que a revista circulou foi editado o AI-5, e ele temia ser preso e torturado pelos militares para revelar o paradeiro de Prestes. Nascido em São José dos CamposSP, em 21 de outubro de 1933, Patarra tinha 20 anos quando estudou no Seminário de Cinema do Masp, ao mesmo tempo em que cursava o Centro de Preparação dos Oficiais da Reserva–CPOR do Exército. Começou o curso de Ciências Sociais na USP, mas não concluiu. Em 1956, foi expulso do curso de Jornalismo da Cásper Líbero, acusado de encabeçar um movimento grevista. Tinha a fama de “jornalista maldito”, termo que atingiu toda sua equipe na revista Realidade, pelo caráter audacioso do jornalismo que fazia, destoante do padrão comportado da mídia da época. Jornal da ABI 326 Fevereiro de 2008
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