4 minute read
Fotografia/Cesar Barreto
from Revista Abigraf 311
by Abigraf
Cesar Barreto
Fazedor de imagens
Advertisement
2
Cesar Barreto parece querer se livrar do papel de obreiro das imagens. Diz estar a caminho da aposentadoria como fotógrafo pela ausência de uma visão clara quanto ao futuro da atividade. “Sem trazer vocação para fazer ví deos, pilotar drones, intentos de mergulhar de cabeça no metaverso ou ficar na pendência de descobrir quando enfim seremos subs ti tuí dos por uma poderosa inteligência arti fi cial, tenho ganas de plantar sardinhas e pescar olivas em alguma ilha aço ria na, enquanto aguardo um vulcão salvador.”
Ranzinza, de cep cio na do com um país que maltrata os que o amam, cansado de remar contra a maré. Independente da caixinha na qual
queiramos apri sio ná-lo, o fato é que a rea li dade desmente as divagações desse ca rio ca de 64 anos, 40 dos quais dedicados exclusivamente à fotografia. Ele acaba de lançar o livro Fa róis, produzido a convite do Andrea Jakobsson Estúdio Edi to rial em parceria com a também fotógrafa Gabi Carrera e textos de Marcelo Campos. A obra, impressa pela Ipsis, se propõe a traduzir a importância histórica e a diversidade de estilos construtivos de 30 luzeiros espalhados pelo litoral brasileiro, de Norte a Sul. Cesar cuidou também do tratamento final das imagens. A atenção na pós-produção nos dá a pista do que no universo da fotografia cativou o Cesar adolescente e frequentador de um curso básico na So cie da de Fluminense de Fotografia, em Niterói. “Mentiria fragorosamente se dissesse ter havido uma identificação ime dia ta com o meio. O laboratório, contudo, me pegou de jeito e daí a fascinação deslanchou.”
Não demorou muito para Cesar tornar-se assistente em um estúdio. Sem planejamento, depois de uns 15 anos de estrada Cesar finalmente enxergou-se como fotógrafo, seguro do que poderia oferecer. Se o olhar e a técnica estavam ao seu dispor, a lida com clien tes, equipes de produção e egos inflados o desagradava. “Com o passar dos anos fui limitando meu campo de trabalho, tornando-me laboratorista, atividade que garantia sossego. Nos últimos anos transferi essa linha de atendimento para o laboratório digital, o que vem a ser muito con ve nien te para quem adotou a roça mineira e sobrevive a uma epidemia há dois anos.”
Nesse meio tempo, exposições, livros, workshops, am plia ções em PB para obras de outros fotógrafos, pre mia ções e presença em acervos
FOTOGRAFIA
3
Cesar Barreto acumula mais de quatro décadas de dedicação à fotografia, com atuação em diferentes segmentos, como ensaísta, instrutor, impressor em laboratório analógico e digital e eventual articulista em revistas especializadas.
Texto: Tânia Galluzzi
4
1 Farol de Cabo Frio – do livro “Faróis” – Andrea Jakobsson Estúdio, 2021 2 $44 – Série “Moedas de Areia”, exposta no MNBA, 2009 3 Museu Nacional da República – do livro “A Doce Revolução de Oscar
Niemeyer” – 19 Design Editora, 2007 4 Farol de Cabo Frio – do livro “Faróis” – Andrea Jakobsson Estúdio, 2021
7
de instituições como o Museu de Arte do Rio e a Coleção Masp/Pirelli. Incitado a pinçar, desses, o trabalho mais marcante, Cesar milita a favor dos amantes da impressão ao afirmar que “os projetos mais significativos são aqueles
que escapam da efemeridade e ganham forma de livro, onde minha visão se rea li za na interpretação de obras de terceiros ou de temas da própria natureza”. E daí emerge Rio Pictoresco, editado pela Casa da Palavra em 2013, seu primeiro livro autoral.
Cesar conta que o projeto nasceu da percepção de que o Rio é metrópole com uma das mais ricas ico no gra fias conhecidas, mas que nas décadas finais do século XX vinha sendo maltratada e com sé rios riscos de conservação, pois praticamente todo o acervo fotográfico recente vinha sendo feito em cor, formato pequeno ou nos la bo ra tó rios estressados das redações de imprensa. “Assumi uma linguagem totalmente clássica e adotei as câmeras de grande formato e panorâmicas, produzindo am plia ções nos melhores pa péis em PB disponíveis no mundo, as quais espero que venham a preservar por um bom tempo a afamada fotogenia ca rio ca.”
Para nosso deleite, apesar da atratividade das sardinhas e das oliveiras, Cesar Barreto continua a nos regalar com suas imagens. Que o ímpeto de criar trabalhos únicos, com as suas digitais, mantenha-se mais forte que os ventos que sopram nos Açores.
6
5 Congresso Nacional – do livro “A
Doce Revolução de Oscar Niemeyer” – 19 Design Editora, 2007 6 Meguilat – da exposição “Lusa – A
Matriz Portuguesa” – CCBB, Rio, 2007 7 Museu do Amanhã – para catálogo de abertura, 2015 8 Repolho – ensaio pessoal, circa 1990 9 Tempestade em formação no Arpoador
II – exposição “Rio Pictoresco” –
MNBA, 2000, e livro homônimo da
Editora Casa da Palavra, 2013
CESAR BARRETO www.