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Biblioteca Mosteiro São Bento SP
from Revista Abigraf 311
by Abigraf
Texto: João Scortecci
Raridades da Biblioteca do Mosteiro de São Bento
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Biblioteca do Mosteiro de São Bento, no coração da cidade de São Paulo, teve início com a fundação do Mosteiro, em 1598. Hoje, o acervo, um dos mais antigos do Brasil, é constituído por obras impressas que revelam aspectos da cultura beneditina. Contém exemplares de livros antigos, desde incunábulos, do século XV, obras do século XVI ao XVIII, além de um grande acervo dos séculos XIX e XX, que, com as coleções de periódicos, totalizam mais de 115.000 volumes, dos mais diversos assuntos sobre Teologia, Patrística, Escritos Monásticos, História Geral, História da Igreja, História do Brasil, Filosofia, Literatura, além de outras áreas das ciências humanas. Um exemplar da “Bíblia de Gutenberg”, o pai da imprensa, datada de 1496, é o livro mais raro do acervo. Entre outras raridades da biblioteca, destacam-se: um comentário da Bíblia, em latim, de 1500; uma Bíblia em alemão, de Martinho Lutero, de 1656; a enciclopédia “História Natural do Brasil”, do médico e naturalista holandês Guilherme Piso, com ilustrações do holandês Albert Eckhout, datada de 1658 e um dos primeiros registros de fauna e flora brasileiras; os tratados do filósofo grego Aristóteles, nos idiomas grego e latim, de 1607; edições de “O Príncipe”, de Maquiavel — todas do século XIX; “Steganographia”, de 1676, obra do monge Johannes Trithemius, que trata da ocultação de mensagens e remete a escritos esotéricos e códigos; um exemplar do “Alcorão”; alguns volumes da “Encyclopédie”, de Diderot, do século XIX; “Sermões”, do Mestre Eckhart, dominicano alemão do século XIV; e um antifonal, de 1715, com resumos de salmos da Bíblia, base para o canto gregoriano.
Os primeiros registros da história dessa biblioteca são de 1750, quando as aquisições começam a aparecer em atas dos capítulos — nome dado às reuniões internas dos monges. Eram obras vindas da Europa, principalmente do antigo Mosteiro de São Martinho de Tibães, em Braga, Portugal. Na época, entre os beneditinos estava o escritor e historiador Frei Gaspar da Madre de Deus (Gaspar Teixeira de Azevedo, 1715–1800), considerado um dos primeiros historiadores de São Paulo.
“[…] pensara que todo livro falasse das coisas, humanas ou divinas, que estão fora dos livros. Percebia agora que não raro os livros falam de livros, ou seja, é como se falassem entre si. À luz dessa reflexão, a biblioteca pareceume ainda mais inquietante. Era então o lugar de um longo e secular sussurro, de um diálogo imperceptível entre pergaminho e pergaminho, uma coisa viva, um receptáculo de forças não domáveis por uma mente humana, tesouro de segredos emanados de muitas mentes, e sobrevividos à morte daqueles que os produziram, ou os tinham utilizado.”
UMBERTO ECO, EM “O NOME DA ROSA”
João Scortecci é gráfico e editor scortecci@gmail.com