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Delicadeza e inclusão

Um ensaio fotográfico transformou a vida de Maria Paula Vieira. Aos 18 anos, no primeiro ano de Jornalismo, aceitou o convite de uma colega para atuar como modelo. O trabalho descortinou uma Maria que ela não conhecia, muito distante daquela menina com a autoestima minada por anos de rejeição e bullying. As imagens revelaram sua verdadeira natureza e o impacto foi tão grande que a fez decidir seguir a trilha da fotografia.

Com suporte da família e estímulo dos amigos, desafiou os olhares enviesados daqueles que duvidavam de seu potencial, tornando­se a primeira fotógrafa cadeirante a se consolidar no mercado artístico brasileiro.

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Maria, que sofre de uma doença genética rara, conta que teve o privilégio de conviver com professores inspiradores, sempre incentivando­a a estudar e a aprimorar a sua técnica. Ao concluir o curso, em 2014, deu vazão a uma de suas outras facetas, a empreendedora, transformando o hobby em profissão. Ela já sabia que o foco de sua câmera estaria voltado ao corpo feminino, sobretudo os invisibilizados por fugirem dos padrões estéticos, mas nos primeiros dois anos, buscando firmar seu nome, clicou não só mulheres como casais, famílias, bebês. “Enfrentei o preconceito, a ideia de que pessoas com deficiência não são talentosas, o estranhamento de ver uma fotógrafa em uma cadeira de rodas”, conta Maria.

Supera O

A sua habilidade em retratar as pessoas com delicadeza venceu a discriminação e os prejulgamentos. Ciente de sua função social, somou à sua bagagem o papel de criadora de conteúdo digital e ativista dos direitos das pessoas com deficiência no Brasil, além de modelo e atriz. Com seu trabalho, hoje Maria ajuda a empoderar mulheres oprimidas por uma sociedade que insiste em julgar e desvalorizar o diferente. Lançando mão da sutileza e do afeto, a fotógrafa cria ensaios intimistas, privilegiando a luz natural, os tons frios, os detalhes, os pequenos gestos. “Procuro entender quem é aquela mulher que estou fotografando, criar conexões, trabalhando num ambiente acolhedor para que ela não só se sinta à vontade, quanto se reconheça nas imagens.” mpvfotografia.com.br

Todo esse cuidado rompeu os limites do trabalho comercial e entre o final de 2020 e o início de 2021 aconteceu sua primeira exposição individual, Mães Invisíveis, que percorreu algumas estações do Metrô em São Paulo. “Uma amiga cadeirante engravidou e me chamou para fotografá­la. Me dei conta de que normalmente a gente vê fotos de mães com filhos deficientes. Vi então a oportunidade de mostrar mães cadeirantes, com deficiência auditiva, visual, autistas, para mostrar a potência dessas mulheres com seus filhos”, diz Maria. No total, 10 mulheres participaram da exposição, com curadoria da própria fotógrafa.

Ainda no começo de 2021 ela foi curadora da mostra coletiva Elas por Elas na estação Trianon­Masp, com 20 fotógrafas clicando umas as outras. A próxima já está engatilhada. Extrapolando o universo feminino, tem como tema cicatrizes, e a expectativa é de que aconteça ainda em 2023.

Instagram: maaria_vieira

Por: Tânia Galluzzi

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