Abismo Humano 14

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ABISMO HUMANO 2 0 1 4

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index

Editorial........................................................... 4 Manifesto......................................................... 5 Labirintos Prosaicos.................................... 6 Maria Cecília Coutinho............................................... 6 Texto Ajardinado.......................................................... 7 Depois dos Pães e dos Peixes................................... 8 Flauta de Pã...................................................... 9 José Carlos Martinho da Silva.................................. 9 Ana Carolina Martins................................................. 10 Captações Imaginárias.............................. 12 Rute Pascoal................................................................. 12 Jaime Neves................................................................. 14 Luís Bernardino........................................................... 15 Marco Bravo................................................................. 17 A. Mimura.....................................................................20 Débora Duarte............................................................22 Monabe4....................................................................... 26 Ruínas Circulares........................................ 28 Entrevista a Mara d’Eleán........................................28 Entrevista O Pórtico................................................... 32 Entrevista Sven Wu Wei............................................34 Arautos Sonoros......................................... 36 Entrevista Pedro Code..............................................36 Transmissões da Cena Experimental Francesa.40

Equipa Editorial André Consciência - João Diogo - Nuno Boavida Assinatura abismohumano@gmail.com Domínios Label: abismohumano.bandcamp.com Fórum: s13.invisionfree.com/AbismoHumano Rádio Abismo Humano: radioabismohumano.blogspot.com

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Editorial 4

A

Associação de Artes “Abismo Humano” dedica-se ao aproveitamento da tendência artística presente nas novas camadas jovens e a integrar, junto da arte, os valores locais, bem como ao entretenimento, educação e cultura de forma a ocupar os espaços livres na disposição dos seus associados. Para tal a associação compromete-se a contactar vários artistas, tanto na área da pintura, da literatura, escultura, fotografia, cinematográfica, ilustração, música e artesanato, de forma a expor as suas obras tanto num jornal de lançamento trimestral, consagrado aos sócios, como na organização de eventos, como tertúlias, exposições, festas temáticas, concertos e teatros. A associação das artes compromete-se igualmente a apoiar o artista seu colaborador, com a montagem de, por exemplo, bancas comerciais e com a divulgação do trabalho a ser falado, inclusive lançamentos, visando assim proteger a arte do antro de pobreza ingrata e esquecimento que tantas vezes espera as mentes criativas após o seu labor. Os eventos, que são abertos ao público, servem inclusive o propósito de angariar novos sócios, sendo que é privilégio do sócio, mediante o pagamento da sua quota, receber o jornal da associação, intitulado de “Abismo Humano”. Este jornal possui o objectivo de divulgar as noticias do meio artístico bem como promover os muitos tipos de arte, dando atenção à qualidade, mais do que à fama, de forma a casar a qualidade com a fama, ao contrario do que, muitas vezes, se pode encontrar na literatura de supermercado. Afiliada às várias zonas comerciais de cariz artís­tico, será autora de promoção às mesmas, deixando um espaço também para a história, segundo as suas nuances artísticas, u­ nindo a vaga jovem ao conhecimento e à experiência passada.


2. O Abismo Humano toma o compromisso de mostrar o que têm tendência a permanecer oculto por via da exclusão social, e a elevar o abominável ao estado de beleza, sempre na condição solene e contemplativa que caracteriza o trabalho da inteligência límpida e descomprometida. 3. O Abismo Humano dedica-se a explorar as entranhas da humanidade, e é essencialmente humanista, ainda que esgravatando o divino, e divino é o nome do abismo no humano. 4. O Abismo Humano é um espaço para os artistas dos vários campos se darem a conhecer, e entre estes, preferimos as almas incompreendidas nos meios sociais de maior celebridade. 5. O Abismo Humano é um empreendimento e uma actividade da Associação de Artes, e por isso tomou o compromisso matrimonial para com as gémeas Ars e Sophia, duas amantes igualmente sôfregas (impávidas), insaciáveis (de tudo saciadas) e incondicionais (solo fértil à condição). 6. O Abismo Humano compromete-se a estudar o intercâmbio da vida e da morte, da alegria e da tristeza, do amor partilhado e da desolação impossível, das quais o Abismo Humano é rebento. 7. Como membro contra-cultura, o Abismo Humano dedica-se à destruição da ignorância que cresce escondida, no seio das subculturas, cobrindo-as à sombra do conformismo e da futilidade. 8. Retratamos a tremura na mão do amor, a noite ardente, e a dança dos que já foram ao piano do foi para sempre.

MANIFESTO

1. O Abismo Humano compromete-se a apresentar a sapiência, o senso artístico, e o cariz cultural e civilizacional presente no gótico contemporâneo tanto como nas suas raízes passadas.

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† Labirintos Prosaicos † 1. prenúncio de um sol em virgem

entre outonos e primaveras saturno repousa seus anéis nas mãos da donzela apolínica. as tulipas são colhidas brevemente, entre aurora e orvalho. suspiros apaixonados de um coração flamejante. a donzela caminha descalça no bosque. recorda das cartas enamoradas. seu cativo está distante. nas pradarias gélidas do leste. a tarde cai lânguida - no horizonte violeta de um pôr-do-sol esquecido. folhas secas dançam. do oeste larga um sopro. da nuca carrega o perfume de jasmim e orquídeas. ao consorte - agoniza de saudade. a amada deleita-se em láudano - seu portal para o encontro onírico. sedas foscas nas janelas. silhuetas miúdas correm em círculo. riem - retrato de outros dias. na sala mesa posta. cinco cadeiras ocupadas. pérolas unidas em fio - para celebrar as bodas. caminho trilhado. fusão eterna. amálgama no infinito.

2. caduceu de hermes.

musa coroada

absinto amarelo de açúcar queimado. sem água. na artemísia as fadas despertam. elas decidem o que deve ser feito! na vida, há que se considerar a opinião das fadas. sim, as fadas do absinto. das asas pequenas - espirais. abrem-se portais! música prenuncia a madrugada sedenta de êxtases alquímicos. os deuses sabem dançar! e dançam loucamente entre fadas coroadas de hera. os deuses sabem dançar! sândalo e mirra evaporam em fumaças espirais. abrem-se portais! os deuses sabem dançar! mantra circular de cisne e harpia. cítara - cordas frouxas. vibração sincrônica aos sussurros absortos. sudário dos ponteiros pausados - fadas e deuses temperam o líquido de metálicas espirais. abrem-se portais!

3. cavaleiro sereno na sua hibridez evoca o astrólogo. entre niilismo e mística a dúvida pisciana pairava. ouve sobre graus e aspectos, prenúncios e pressupostos. premissas. as efemérides anunciam: é hora de plutão agir, algo de si partirá em breve. recua. sede esotérica saciada. cala-se por meia ampulheta. contempla a árvore alta, após: a janela de vidros empoeirados. sutil pigarro sobe à boca. engole. macio e drástico. lentes apoiadas no nariz belicoso: reflexo da pitonisa em transe. recorda do poema expressionista. recorda da rosa azul impossível - uma lótus anil com o ‘shin’ se abre sobre a fronte tácita. sinal de que o tempo é vindouro, logo a espada estará empunhada. cabeças serão troféus. como buddha - matará aquele que ainda se é, mas não necessita ser. espelho dócil do escudo: singela coroa translúcida - visão de sua vitória.

Maria Cecília Coutinho Nasceu e reside em Curitiba, Paraná, Brasil. É astróloga e estuda Filosofia na FAE. Escreve no blog Apologia de Hécate. www.apologia-de-hecate.blogspot.com

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† Labirintos Prosaicos † Texto ajardinado...

Tinhas, então, o tempo seguro nas mãos. Eram cinco as pontas da estrela que rodava nas mãos, mostradas ao tempo, pai do mistério e avô dos deuses mais antigos. Um lustre de prolíferas esferas girava sobre si mesmo. Seguravas a transparência de um círculo de lua que te mostrava a armilar alquimia do fogo. A saudade a futurar-se amanhã. Havia taças de fidelíssimos licores que escorriam das nuvens e se afastam em capelas de tanta e tanta peregrinação de rosas, que as janelas verdes dos jardins verdes de outrora se abriam ao perfume de uma novíssima gota. Tinhas o texto colado à saliva dos dias, e a humidade das bocas era um arco que se fechava no infinito ventre das fecundas manhãs. Não eram de Cronos as saturninas vozes. Eram vulcânicas as paisagens da voz, soltavam fogo à sombras dos dragões. Buscavam a morte por não poder ser vida tanta, o que a boca pedia. E o canto dos pássaros vibrava assustado acima das asas dos corvos que morriam antes de nascer. O reino era das pombas o sinal de quem se reconhece no sonho que em nós sonha, o sonhado sossego de sopradas sabatinas de uma brisa que cantasse longe. Dum canto que se ouvisse dentro da côncava forma das costelas da hora. Os anjos sobre a pele macia das rosas suspendiam jardins no deserto de uma saudosa constelação de arcos de voltas e de rosas. Havia um pretérito imperfeito inscrito numa capela de futuro impróprio. Ardiam chamas que devastavam jardins. Um terrível combate faiscava nos cascos de uma sepulta pedra cúbica. Havia jardins onde chovia muito e onde os cavalos molhavam os astros, como se fosse, o tempo todo, inverno. Chovia em madrugadas longe onde as bétulas eram a brisa de um pródigo bosque. Os bosques são perigosos aos lobos, soltam caminhos à inocência, onde harpejam asas. São relâmpagos de fulgor na táctil vibração das tardes por onde caem os sóis de tantos dia claros. O mesmo Sol que é Olho da cegueira extrema. Fecham-se as cortinas sob a pálpebra dos céus. Uma lua atira o fulgor dos seus brilhos ao reflexo da folha amarelecida de um outono nascido na voz. Dá a volta às estações a pele nodosa dos textos. Cobre-se de jardins a argêntea face do tempo, e solta o seu carro em chamas o que o incêndio lavra. Para que tudo arda, nada inflama. O tempo, ao devorar-se, dá à Saudade a Origem de tudo quanto será o que não foi e mais o poder ser, que o é, sem ser. Maria Saramento

Maria Saramento (MS|jds|SS) Nasceu em Torres Novas, 9 de Novembro de 1954. É licenciada em Português/Francês pela Universidade de Évora, possui o grau de Mestre em Literaturas Românicas Modernas e Contemporâneas com a dissertação sobre a temática da Natureza em Fernando Pessoa, pela FSCH da Universidade Nova de Lisboa. Exerce a profissão de Professora do Ensino Básico e Secundário em Évora. Tem colaboração dispersa em jornais e revistas nacionais e estrangeiros. Do autor (poesia): Escrita na Pele, Ed. Gesto-Arte, Évora, 1980; Água na Pedra [colectivo], Ed. Gesto-Arte, Évora, 2004; Poetas Alentejanos do Século XX [antologia], 1984; Ao Piano do Tempo, in Margens [colectivo], Ed.P&R, Lisboa, 1992; Memória das Naus, Átrio, Lisboa, 1999; Duplo Olhar [colectivo], Aríon, Lisboa, 1997; O Silêncio e as Vozes, Aríon, Lisboa, 1999; 3 Poetas 30 poemas [colectivo], Ed. de autor, Torres Novas, 2007; Antologia de Poetas Torrejanos, Ed. Ponte do Raro, Torres Novas, 2008. Integra a equipa do Conselho editorial da Revista Cultura Entre Culturas, desde 2010 até à presente data. Colabora em diversos blogues. Criou dois blogues pessoais, actualmente desactivados, Saudades do Futuro e Jardim de Saudades. |…| Poesia é mistério, é respiração e é trânsito. É ponte e é silêncio que busca e reinventa o indizível Mistério que existe em cada coisa que Há. É como que a escuta de uma melodia antiquíssima que se lembra vagamente da fonte, sendo ela mesma eco do seu som. É errância e via: errância dentro e fora de si mesma; via e trânsito entre mundos. O poeta é, neste sentido, o Processo, o Vaso e a Obra de uma Alquimia Saudosa. Por isso mesmo, um texto nasce e morre no mais alto e fundo grito, e sussurra, em silêncio sagrado, o som de tudo quanto houve, há e haverá.

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† Labirintos Prosaicos † Depois dos Pães e dos Peixes Os homens, as pulgas e as ratazanas se assemelham nisto: que hoje estão vivos mas amanhã estarão mortos, irremediavelmente mortos, e para sempre. Campos de Carvalho – A Lua vem da Ásia

foto de Juliana Botão

Lisa Alves

brasileira, nasceu em 1981, escritora de contos e poesias. É colunista das Revistas: Ellenismos e Mallarmargens. Vai lançar esse ano Almagene. Escreve no blog A Fábula de um Mundo Real [lisaallves.blogspot.com.br] Contatos: lisaallves@gmail.com Blog: lisaallves.blogspot.com.br Facebook: www.facebook.com/lisaallves

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Dentro da escuridão percebo contornos futuros – dois fetos de humanidade gravitam no lado oeste: Deixem-nos entrar, deixem-nos entrar! Eu vi, tinha doze anos, e aos treze fui vestida pela cegueira. Meu nome não tem significado, sou notável pelo que descobri. Até hoje me interrogam: “Como era? Você sentiu medo?”. Eu era a menina que atravessava a ponte com os pães, e do meu lado havia o outro que carregava os peixes. Seguíamos até um determinado ponto, não tínhamos licença para conversar, perguntar ou até mesmo cancelar a entrega. Eu atirava tudo pelo buraco, e o menino responsável pelos peixes também o fazia. Na minha vila as pessoas acendiam velas para mim, e toda terça-feira eu recebia guloseimas: doces de goiaba, bananada, figo e arroz doce. Milagre! Milagre! – gritavam do lado de fora. Eu não compreendia, mas sabia que era conveniente compreender. Meu criador tinha nome curioso, contava que nasceu lá dentro do buraco, o mesmo buraco que eu atirava os pães e o filho da Conceição atirava os peixes. Dizia que lá a comida nascia no solo e, quando não nascia, havia extermínios, por isso era tão importante transpor a ponte com as provisões. Eu atravessava de bom grado, não era trabalhoso e, além do mais, era só uma vez ao dia. Por muitos anos levei os pães. Eu já era um mito – falavam na vila que eu seria eternamente uma criança, diziam que o tempo não me machucaria e que um dia eu seria uma menina divina. Meu criador ria, explicava que eram fanáticos e não conheciam nada sobre ofícios, tarefas e dedicação. A verdade é que eu não me sentia atraída por matérias sobre milagres, eternidade e missão divina. Eu queria mesmo era saber mais sobre a organização social das formigas, sobre a metamorfose de invertebrados e o que induzia um gato a perseguir um rato. Milagres eram divertidos, as pessoas me olhavam como se eu fosse especial, mas para mim era só recreação. Um dia, desses que agir inversamente nos faz sentir livres, eu decidi atirar pão por pão dentro da fenda, e não todos de uma só vez como era de praxe. Por conta disso consegui ouvir clamores vindos de seu interior: Conmiseratio! Merhamet! Meu Criador me orientou no passado a respeito de nunca praticar algo similar. Falou de seqüelas, karmas e sobre como algumas criaturas se comportavam a qualquer sinal de disputa: “Lembre-se: um pão de cada vez pode ser o estopim para a guerra.” Guerra era uma expressão abstrata, pensar em guerra era como refletir a palavra ofuscamento, ambas eram impossíveis de figurar. As palavras gritadas ali dentro causaram uma indiscrição impossível de conter. Eu carecia ver, eu necessitava mirar as bocas que diariamente alimentava e, além disso, me revelar. Infiltrei metade do corpo no buraco, rocei as criaturas com o dedo, mas elas não podiam me sentir. Chamei por elas, nem me deram ouvido – só almejavam os pães, jaziam famintas e com um aspecto enfermo. No meio de tantos elementos, um encarou-me com candura e devoção. Perguntei-lhe se conseguia me notar e ele gritou: Eli, Eli, lamá sabactâni! E foi assim que a ponte irrompeu e eu nunca mais consegui enxergar.


† Flauta de Pã † Sintra 03/22/2013 Doze badaladas do Sino da Igreja, O Sol bate, num grito de galo vermelho Sobre o ferro liso e comprido, tingido A ferrugem, como um colo materno, Ou será a melancolia de um domingo solarengo, Vazio e solitário? Vidros partidos, como fragmentos Desconexos de um puzzle interno, Demasiado cansado para as peças reunir, Eu levanto a cabeça à fria brisa e Escuto o canto de um passarinho. Soltam-se os passageiros e eu embarco adormecido, Os sinos dobram e no seu oco retinir, Eu sinto a minha sorte, Deito-me, no conforto dos dedos de sol, E fecho os olhos – adormeço. Um vermelho liquido invade-me E pairo como uma gaivota no veludo Negro que há dentro – Azul profundo – mergulho e desapareço.

Arrábida 03/22/2013 Se com uma pá escavassem Um buraco no céu cinzento E ouro líquido daí se derramasse, Perceberias como é lindo o pôr-do-sol Que eu vi. Não interessa tudo o resto, caminho Sozinho que percorri... Que importa tudo o resto, os sapatos Gritando contra o chão. Que importa. Tudo se alinha – como o destino Até as montanhas faz abrir, Até o Sol o Céu rasgar, E eu aqui negro e cinzento A trovejar – só eu o desalinho.

Idiossincrasias 03/22/2013 Eu apresento-te o desconhecido Não como abstracção de Algo que decorre aqui e Ali no teu quotidiano, mas Como algo concreto: uma Massa Fisica que podes sentir e Alquimizar.

José Carlos Martinho da Silva Licenciado em Sociologia na FCSH. Trabalha como Terapeuta e Formador desde 2006.

Corvo 12/05/2012 A humanidade é uma ilha, Que a ave serpente ama com o olhar. Cada escama a alma de um animal. Agora a humanidade é escondida de si mesma. Um baú escuro no fundo do oceano. As serpentes perdidas e deformadas pelo medo. Esquecidas do voar. Não fazendo, Na ampla paisagem, Ervas doiradas, E telhados escamados, O corvo retorna.

A Má Semente 12/05/2012 Se não posso ser, Uma elegante árvore Na floresta, Então que seja a má semente. Que por demasiado amor à pedra, Eu rompa persistentemente Os muros.

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† Flauta de Pã † Poemas incluídos no livro “Uykusuz Venus–dos confins da vigília”, por Ana Carolina Martins

como eu continuo a lembrar-me de ti como eu continuo a lembrar-me de ti como ainda me lembro do pátio restaurado do cheiro a vinho azedo e a filtros arrancados com os dentes pelos machos fumadores inertes no campo do dever verdadeiros carneiros contando com bronquites crónicas que não os sufocam porque não podem ou com pénis erectos que se forçam a uma entrada bruta na vagina da criação

1999

Ana Carolina Martins Estudou Estudos Artísticos na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, especializou-se em cinema e, mais tarde, entrou para o Mestrado de Estudos Literários e Culturais na mesma Instituição. Tem em mãos uma tese na área dos Estudos Comparatistas intitulada “A Corte no Norte – as narrativas da ausência”, visando estudar vários planos narrativos (efectivos ou hipotéticos), como se a obra fosse composta por um multiverso, no qual imagem e palavra convivem em narrativas (in)comuns e paralelas. Durante os anos académicos, fez parte dos grupos de teatro CITAC e AR-Exploratório das Artes. Em 2011, foi comunicadora no II Congresso Internacional “Criadores Sobre Outras Obras” da Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa com os seguintes artigos: “A Corte do Norte: identidade e ausência” e “Dead Man: discursos reescritos”. Entre 2012 e 2013, seleccionou alguns dos poemas que escreveu entre 1999 e 2013 e publicou recentemente o resultado desse trabalho, um livro intitulado “Uykusuz Venus – dos confins da vigília”. www.sitedacarolina.com

Está frio. O teu olhar sopra um vento que me corta e queima o meu [rosto deformado pelo espelho. Sangras, mas ninguém vê. Vais morrendo... lentamente... compassadamente... por abandono. O teu coração foi empacotado... abandonado... rejeitado... dilacerado. Amado pelo mesmo amor que recusas E está frio. E o teu olhar continua a lançar o vento que me corta e me [queima e a tua voz abraça‐me... agudamente... sem cortes... mas só isso. o frio continua... continuo com frio. E o teu olhar... que dardeja um vento cortante, explode num grito ensurdecedor que me engole e me deixa escorregar para perto de ti. Vês-me. Morta. Cortada. Esventrada. Pelo maldito olhar que não controlas.

tromba Foste insistindo para que a garganta secasse a raiva. o que consegui foi disparar-te um pano frio na tromba o azeite a escorrer-me pelo peito a terra agarrada que estava nos tornozelos a não me deixar ir a dúvida a empatar-me o coração e tu e a tua tromba sem reacção a enxotarem-me

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† Flauta de Pã † Poemas inéditos de Ana Carolina Martins

354. Abri-lhe as goelas Eram de aço Debrucei-me por instantes E acabei corroída pelo ácido do baço Como se não fosse suficiente Ainda vivi Uns meros segundos Para perceber que estavas A cuspir A fingir Não na minha cara Mas nas minhas costas Sempre foste um cobarde.

351. a tua falta de vontade alastra-se ao meu ser apetece-me gritar-te “Vê o que fizeste!” deixaste que descesse sobre mim o adultério a malícia o pecado orgástico e eu sobre ti deixei escorregar cera a arder da vela que minha avó acendeu para que deus me perdoe para que lúcifer seja brando para que a sociedade não me chame puta.

346. o tempo do sangue que nos meteu nisto deveria estar sinalizado: “A-SINTO: com todas as interpretações possíveis existentes no dicionário da rede” assim a sabedoria brindar-nos-ia com-o costume com a secura instrutiva e nossos braços assim afastar-se-iam de uma só vez arrancados à ferida morta

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† Captações Imaginárias †

‘Nú’, 2013

RUTE PASCOAL

Carvão e pastel seco sobre papel - 29,7 x 42,0 cm

Nasceu em Setúbal a 1 de Abril de 1992. As artes em geral sempre foram a sua paixão mas teve desde muito cedo um gosto especial pelo desenho. Em 2006 entrou para um grupo de teatro amador e desde então que este tem sido sempre um hobbie constante no seu dia-a-dia, sendo que atualmente faz parte do ATA (Ação Teatral Artimanha) do Pinhal Novo. A fotografia começou também a fazer parte da sua rotina desde há uns anos para cá e além de fazer alguns trabalhos pessoais está de momento a colaborar como fotógrafa e repórter no website Ruído Sonoro. Encontra-se no 3º ano da Licenciatura em Pintura na Faculdade de Belas-Artes de Lisboa e faz trabalhos como freelancer nas áreas de Pintura, Desenho e Fotografia. FACEBOOK: www.facebook.com/rutepascoal.artwork DeviantArt: rutepascoal.deviantart.com

‘Nú 3’ 2013 Carvão e pastel seco sobre papel - 29,7 x 42,0 cm

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† Captações Imaginárias †

‘Nú 2’ 2013 Carvão sobre papel - 29,7 x 42,0 cm

‘...e abro a janela de todos os meus sentidos deixando que tudo o que era teu desapareça contigo’, 2013 Aguarelas e tinta da china sobre papel - 21 x 29,7 cm

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† Captações Imaginárias † jaime neves Pintura a óleo 40x60 cm, feito para a exposição de artes visuais “Sintonia das Artes”, na Vila Alva, em Sintra.

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† Captações Imaginárias †

luis Bernardino Não há muito para referir sobre mim enquanto “artista”, pois não me considero um, nem gosto dessa etiqueta.
Posso dizer que sou o Luis Bernardino, nasci em 1995 e estou no primeiro ano da Faculdade de Belas Artes de Lisboa. Gosto de desenhar e de há três anos para cá que decidi melhorar o meu nível de desenho, e assim o irei fazer até ao final da minha vida, porque a parte boa da arte é não ter um topo e nós podermos tentar sempre ser melhores, desde que façamos por isso. Estes trabalhos são todos eles tradicionais, feitos com vários riscadores sobre cartão e folha, e variam entre alguns mais trabalhados e outros mais expressivos e rápidos. Tenho outros trabalhos com diferentes técnicas e temas que podem ver e seguir em: luisovo.deviantart.com

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† Captações Imaginárias †

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† Captações Imaginárias † Marco Bravo É um artista visual, ilustrador, animador e designer graduado pela Escola de Belas Artes da UFRJ. No seu estúdio no Rio de Janeiro trabalha desde os anos 1990 em projetos de arte; recebeu várias distinções nesse campo e tem no portfólio trabalhos em cinema, televisão, jornais, revistas, livros, etc. Criado num período económico, social e politico tenso preferiu a atmosfera Underground para escapar da falta de liberdade e justiça; A meio da crise, refugia-se em culturas alternativas à situação. PunkRock, Banda Desenhada, Grafite, Filmes B, Cinema de Animação, Zines, Esoterismo, etc. A partir desse ponto cria um universo particular que se materializa em uma pintura contemporânea com inspiração gótica e barroca. Atualmente cursa o mestrado em Pintura na Universidade do Porto e utiliza a sua experiência para desenvolver um projeto que discute e integra três pontos distintos: A arte dos retratos; as figuras antropomórficas; e o conceito de Vanitas revisado e atualizado, que serve de amalgama para os dois primeiros tópicos. O retrato é uma pintura tradicional que, não obstante, esteve sempre presente nos momentos chave das grandes reformas da arte; já as figuras mutantes aparecem como tema constante desde o alvorecer da cultura humana; e o Vanitas, pintura de género, nascida da natureza morta muito festejada no passado, continua a dar sinais de sua presença em diversos aspectos da contemporaneidade com a sua mensagem e carga moralizantes. A questão fundamental gira em torno da possibilidade de encontrar uma intercessão entre esses pontos onde teoria e prática se funde. Para construir a sua poética, o artista, tem produzido retratos de figuras híbridas com a intenção de dissertar sobre os paralelos gerados a partir dessas imagens, assim como desenvolver uma prática pictórica diretamente ligada às metáforas que o tema antropomórfico sugere como, por exemplo: Misturas, miscigenação, metamorfose, mutações, etc. Para gerar a tracção necessária para o desenvolvimento do trabalho, a investigação conduz aos territórios da mitologia, antropologia, psicologia e até mesmo a neurociência, tecendo paralelos menos óbvios e literais no seu conteúdo ao pretender abarcar o inconsciente humano e as suas relações metafísicas com a natureza animal.

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† Captações Imaginárias †

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† Captações Imaginárias †

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† Captações Imaginárias † A. Mimura É um artista contemporâneo internacionalmente reco­ nhecido. O seu trabalho não é fácil pois atravessa-se de expressionismo e erotismo criando uma linguagem única que permanece provocadora e simultâneamente firme perante o observador. Na linha de Ernest Ludwig Krichner, Oskar Kokoschka, Otto Dix, Wassily Kandinsky, Egon Schiele, James Ensor, Munch, Picasso, etc, o trabalho de Mimura vai além da mera sensação da realidade, oferecendo uma visão das impressões psicológicas do dia-a-dia tocadas pelo fogo da metafísica. https://www.facebook.com/ArtistMimura?ref=tn_tnmn

Lyrical Singer

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Serie I of Abyssal Creatures Esta é a primeira série de criaturas abismais: agrada-me a sua estranheza. Uso aguarela e tinta mas não toquei ainda a essência do que pretendia. Talvez quando pintar um talhante nesta linguagem toque a essência desta ideia.

Birth Angel


† Captações Imaginárias † Untitled 1

Master of Paralell Portal

Untitled 2

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† Captações Imaginárias †

débora duarte “A fotografia é a poesia da imobilidade: é através da fotografia que os instantes deixam-se ver tal como são.” Peter Urmenyi

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† Captações Imaginárias †

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† Captações Imaginárias †

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† Captações Imaginárias †

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† Captações Imaginárias † FOG THE fog comes on little cat feet. It sits looking over harbor and city on silent haunches and then moves on. Carl Sandburg

monabe4 “Ama gatos, o báltico e Dark Ambient.” https://www.facebook.com/MonaBe4PhotoArt

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† Captações Imaginárias †

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† Ruínas Circulares † Entrevista Mara D’Eleán AH: Olá Mara. * sorri * Mara D’Eleán: Olá André! AH: Sabemos que és recém-licenciada em Arte-Multimédia pela Faculdade de Belas-Artes da Universidade de Lisboa, o que foi para ti o mais cativante neste percurso e o mais desafiante? MDE: Entrei para Belas-Artes com a ideia de poder ampliar os meus conhecimentos artísticos e, de certo modo, tentar encontrar a minha marca enquanto artista. O mais cativante diria que foi a possibilidade de conhecer uma série de ferramentas, as quais tive a oportunidade de experimentar e perceber de que modo poderia utilizá-las na minha expressão. E no fundo penso que é para isso que serve todo o ensino artístico. O mais desafiante no meu percurso por Belas-Artes foi o ter de lidar com um ensino que não lida muito bem com a arte figurativa mas é antes, bastante conceptual e abstracta. Tive a oportunidade de incluir alguns trabalhos do género no meu portefólio e foi sem dúvida uma experiência desafiante e que me fez crescer imenso. AH: A fotografia é uma das vertentes que tens vindo a explorar mais recentemente e contas já com duas exposições no ano de 2013. Queres falar-nos um pouco sobre elas? MDE: Para além de ter explorado essa vertente muito por alto na faculdade, este ano senti necessidade de explorar a fotografia um pouco mais. A minha primeira exposição foi no Barreiro, onde moro, e partiu da iniciativa de apoiar um pouco o movimento artistico na cidade. Então criei um casting online para modelos femininas, onde selecionaria sete delas para integrar no meu trabalho. Depois marcámos datas e fizemos dois dias de sessões dentro do bar onde iria à partida expor as fotos finalizadas. O tema foi o retrato glamour onde Makeup, Styling e foto foram feitos por mim. O resultado das fotos remete quase à sensualidade presente nos ícones femininos das décadas de ouro, anos 40 e 50, hollywoodescas. A segunda exposição partiu da iniciativa dos Opus Diabolicum, quarteto de violoncelistas , que tem actuado com os Moonspel. Eu fiquei responsavel pela videoarte do concerto que eles estavam a preparar para o dia 31 de Outubro, Halloween, no Teatro Ibérico. Os videos exploravam uma carga simbólica que acompanhava a música e a dança das Ignis

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† Ruínas Circulares †

Fatuus Luna. À exposição junta-se uma carga simbólica, paralela à poesia explorada pelos movimentos das bailarinas Soraya Moon e Mary Nemain, que figuram as imagens e ainda poemas de Baudelaire retirados da obra “As flores do Mal”, acrescentando ao espectador diferentes formas de interpretação. As imagens, em sequência, exploram uma viagem que reflecte um ciclo, uma metamorfose, um regresso ao interior que se espelha em matéria. AH: Porquê Baudelaire? MDE: Quando mostrei as fotos prontas aos membros dos Opus, o André e o Tiago, ao verem a foto da flor perguntaram-me se conhecia a obra “As Flores do Mal” de Baudelaire, uma vez que as fotos visualmente lhes transmitiram algo que os fez lembrar de tal. Eu desconhecia a obra, apesar de já me ter deparado com alguns textos do autor. Automaticamente senti que tinha de ler o livro para compreender o que eles sentiam com as fotos que lhes fizeram lembrar da obra. E foi com surpresa que, ao ler , me aprecebi que ao integrar pequenos excertos da obra poderia proporcionar ao espetador diferentes formas de ver as fotografias, ou mesmo complementá-

-las, acrescentado-lhes diferentes formas de cinematográfico. De onde vem esta misintrepretação simbólica. tura explosiva de elementos e que mensagem procuras transmitir? AH: Os temas que gostas de explorar tocam MDE: Ui, meter isto por palavras é difícil *risos* muitas vezes o fantástico e os mundos Sou muito sonhadora, vivo num mundo imaimaginários. A tua visão é clara e densa, ginário muito meu, marcado por uma infância com um toque sensual que se torna até repleta de um imaginário denso. As primeiras

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† Ruínas Circulares † imagens que comecei por desenhar retratavam elfos e fadas. Aos doze anos queria transformar o meu quarto numa floresta. Acho que todo o gosto que desenvolvi pela arte foi numa tentativa de transmitir e expressar ao meu redor todo um mundo fantástico muito meu. Sou apaixonada pelo belo e por tentar aperfeiçoar tudo à minha volta visualmente. Comecei pelo desenho, desenvolvi para a pintura digital, na tentativa de transmitir mundos e personagens. O cinema também me trouxe esse fascínio e mais recentemente a fotografia, onde percebi que podia adaptar e construir toda uma imagem e depois captá-la. Todo o visual e cenários são pensados, bem como a edição de modo a transmitir uma intenção. AH: * sorriso * MDE: Daí que ando a pensar seriamente em explorar a área de direcção artística e design de produção no cinema, esse é um plano que poucos. E porque a área do design de produçao moda. Encontras alguma diferença entre está ainda suspenso algures no futuro, mas se o e direcção de arte é uma àrea que não é muito o tipo de criação que te envolve na maquiexplorada em termos de ensino por cá. lhagem e por exemplo o envolvimento no fizesse seria fora do país. trabalho ilustrativo ou fotográfico em si? AH: Também incluis nas tuas sessões fotoAH: Porquê fora do país? MDE: Porque infelizmente temos um país que gráficas o teu trabalho de Makeup Artist, MDE: É completamente diferente. Talvez o que não apoia o cinema e os recursos são muito área na qual actuas como profissional, una as áreas seja a intenção de aperfeiçoar algo. tendo maquilhado para cinema, tv e Uma vez que, falando na makeup, é algo que

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† Ruínas Circulares † não, penso que o que me define é o não ser definida por nenhuma vertente em especial. Limito-me a sentir e a experimentar consoante o meu estado de espirito e o que o produto me transmite AH: Uma vez que também és modelo fotográfico e tens realizado alguns trabalhos como actriz, qual a principal diferença entre estar atrás e à frente de uma câmara? MDE: Gosto de encarnar personagens, então tanto a representação como a parte de modelo seguem a mesma permissa, embora uma delas seja numa prática mais estática que fica congelada num momento. O estar atrás da câmara é também interessante porque sou eu que acabo por controlar toda a imagem e a sua composiçao. Penso que, na minha relação com os modelos, acabo por conseguir compreender e ajudar melhor na postura que devem assumir para determinado fim. E uma coisa que prezo ao máximo durante as sessões é sentir que transmito calma e à-vontade para que a interacção seja verdadeira e isso se sinta no resultado final. Já me perguntaram o que preferia, se era estar atrás ou à frente da câmara, e sinceramenre gosto igualmnte dos dois mundos. Outra coisa que acaba por ser interessante por frequentar ambos é poder discutir ideias com os fotografos do ponto de vista criativo, uma vez que também sei o que é estar do outro lado.

traz ao de cima a beleza que já estava presente na pessoa. A minha mãe é esteticista e lembro-me de quando estava no gabinete dela, com uns 4 anos de idade, ver uma caixa com uma flor pintada no topo. Lembro-me de reparar que quando a minha mãe abria a caixa as senhoras ficavam automaticamente mais bonitas. Mas lembro-me de pensar na altra que afinal elas já eram bonitas quando entraram no gabinete, mas agora eu conseguia ver melhor a beleza delas. Dei por mim a pensar que aquela caixinha teria pózinhos mágicos dentro dos frascos. então o fascínio pela makeup veio daí também, acredito que todas as mulheres são bonitas à sua maneira. e o olhar do maquilhador tem de conseguir captar os pontos fortes para trazer à superfície essa beleza.

AH: O teu trabalho fotográfico mais recente conta com a participação da criadora Angélica Elfic, da Elfic Wear, pioneira na criação de indumentária ligada ao fantástico e ao steampunk, também ela participante na revista Abismo Humano. Como foi trabalhar com a Angélica? MDE: Foi absolutamente fantástico! Ambas sentimos que todo o processo fluiu muito bem, tinhamos as mesmas linhas de ideias e ficámos igualmente satisfeitas com todo o trabalho final. Para além de que, somos ambas apaxionadas pelo fantástico. É uma colaboração que ambas concordamos em voltar a repetir em projectos futuros!

AH: Com formação também em Design, trabalhas na criação de logótipos e design de comunicação, tendo vindo a ganhar o primeiro lugar num concurso internacional com outros designers. Para ti, o que caracteriza um bom logótipo? MDE: Um bom logótipo é caracterizado por conseguir captar, de forma clara a essência da No futuro, Mara diz-se receptiva a novos e marca em questão. desafiantes projectos, espera poder vir a explorar ainda mais o seu trabalho criativo, AH: *risos* MDE: *risos* As respostas divergem porque nor- procurando novas abordagens e experiênmalmente cada designer tem um conceito dife- cias que a superem, em constante curto-cirrente de estilo. Gosto de experimentar diferentes cuito de exigência consigo própria. Podemos tipos de abordagens e o meu visual depende acompanhar grande parte do seu trabalho muito do que a marca me transmite. Se tenho na página do Facebook em : www.facebook.com/EleanArt. um estilo definido enquanto designer? Penso que

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† Ruínas Circulares † ENTREVISTA O Pórtico

http://portico2.blogspot.pt/ O Pórtico é um portal que se destina a divulgar eventos, notícias, locais, música e outros temas de interesse para o movimento gótico português, à semelhança do que se faz noutros países. Na número 14 da revista Abismo Humano a equipa decidiu entrevistar estes nossos amigos de longa data. O resultado é como se segue:

Abismo Humano: Como é organizar um portal de divulgação de grande abrangência dentro do meio? Qual o foco principal: a comunidade já existente ou os curiosos e simpatizantes? Katrina a Gótika: Gostaria de começar por sublinhar que as minhas respostas reflectem as minhas opiniões pessoais e de modo algum pretendem representar as de outros participantes no Pórtico. O Pórtico foi concebido para que todos pudessem participar com total independência e liberdade. Não sei qual é a abrangência do Pórtico. Está lá para quem quiser consultar: veteranos, curiosos, simpatizantes, inimigos, agentes da CIA... A quem possa interessar. AH: Nas vossas palavras, foi afirmado que “o projecto, humilde e despretensioso, surgiu em finais de Agosto de 2006 para suprir a falta de um único site de informação organizada e concisa que apenas e só cobrisse temas que interessassem ao movimento em Portugal: festas, concertos, lojas, fóruns, outros sites, e tudo o resto que se mostrasse relevante” e ainda “o movimento, em Portugal, sempre viveu muito de se pertencer a grupos fechados de onde a informação só passava para conhecidos directos ou indirectos. Resultado, muitas vezes os eventos aconteciam e ninguém sabia que tinham existido.” Desde então surgiram outras iniciativas de divulgação, novos organizadores e núcleos recentes ou renovados. Como sentem que o movimento gótico tem evoluído - ou regredido em Portugal a nível da iniciativa cultural?

eu me correspondia via CTT) que sempre viveram o gótico a sós. Éramos meia dúzia de freaks envergonhados num mar de “vanguardas” que nos apontavam e riam-se e diziam “olha, aquele tem a mania que é gótico”. A cena já não tem nada a ver com esses primeiros tempos, e ainda bem! A internet veio mudar tudo e ligar-nos ao estrangeiro, o que antes era privilégio só de alguns. Aprendeu-se muito com isso. Têm surgido projectos bem organizados e direccionados à nossa cena, tanto a nível de eventos, como a nível editorial, como a nível de questões mais comezinhas e quotidianas como ter lojas decentes onde comprar roupa e maquilhagem. Não vou citar projectos, colectivos ou individuais, temendo esquecer-me de algum, mas devemos esta actual abundância a uns quantos carolas que quiseram apostar na cena (DJs, donos de bares e lojas, organizadores de eventos...). Realizar um festival gótico, no país, como a dimensão do Entremuralhas, era algo de impensável há uns dez anos atrás, e tanto mais impensável quanto mais longe no tempo. Agora temos bares, temos lojas, temos festivais e espaços para concertos. Abundância!

vossas palavras “O nosso objectivo e gratificação é contribuir para o movimento gótico da mesma forma que o movimento gótico contribuiu para as nossas vidas.” De que forma o movimento gótico contribuiu para as vossas vidas? KG: Foi num dia muito frio, em Novembro... Pá, esquece lá isso, *risos* direi apenas que aquilo que nos foi dado pode ser avaliado na medida em que estamos dispostos a dar de volta. AH: E acreditam que um cariz comercial ou comercializante tende a danificar o seio do chamado “espírito gótico” ou a potenciá-lo? KG: O cariz comercial é necessário. É necessário para manter abertos os bares e as lojas, para vender discos, para financiar concertos. Se a pergunta é “o gótico vai alguma vez tornar-se comercial?”, então a resposta é não. Com vinte anos disto sei que é uma subcultura demasiado radical e antipática e deprimente para o comum dos mortais e qualquer modismo em torno do gótico desaparece tão depressa como apareceu. Vemos o fenómeno acontecer de vez em quando. Não pega. Não vende. Não agrada às massas. Nunca será comercial.

AH: Quais as características mais importantes para que o vosso trabalho funcione? AH: Ao publicar, como distinguem o que pertence ao conceito do Pórtico daquilo que não KG: Para fazer este trabalho é preciso estar pertence? atento ao que se passa na cena. Basicamente, não é em nada diferente de qualquer trabalho KG: É espinhoso, é muito espinhoso. É o mesmo jornalístico: é preciso conhecer as fontes e man- que perguntar “o que é gótico e o que não é ter sempre as “antenas” no ar. Depois, é preciso gótico”. Escolho principalmente seguindo o cripersistência, intuição, vontade, e muita carolice. tério da “maioria” (a “maioria” de uma pequena KG: Tem progredido. O movimento gótico comeminoria, o que torna a escolha ainda mais comçou, nos anos 80, com pessoas isoladas, muitas AH: O Pórtico é um projecto que funciona como plicada). Guio-me pelo que se faz na cena, pelo delas (as da província, por exemplo, com quem um passatempo e não tem fins lucrativos. Nas que se fala na cena, por aquilo que constato

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† Ruínas Circulares †

que os góticos têm tendência a gostar embora nem sempre seja gótico. Nesta parte já entra a experiência e o meu próprio “instinto” e gosto pessoal. Por exemplo, posso considerar que algumas das bandas que já tocaram no Entremuralhas não deviam figurar num cartaz assumidamente gótico mas admito que agradem a uma determinada franja da subcultura. Por isso digo que é preciso estar atento: ao que se passa e àquilo de que os outros gostam. AH: Ao escreverem “para ser colaborador efectivo do Pórtico é necessário, acima de tudo, ser sensível à cultura gótica. O Pórtico não é um portal de metal, nem de electrónico, nem de alternativo” afirmam de alguma forma que a cultura gótica está num género musical/sub-género de rock?. KG: Começou por ser um “filho” do punk (abastardado de muitas outras raízes, o que agora seria uma grande história). O gótico clássico é o goth rock. Neste sentido, o gótico começou por ser um sub-género do rock. Actualmente, por via de tantas influências, chamar-lhe assim é redutor. Tanto o metal, como o electrónico, como o industrial, como o alternativo, como o étnico, etc, vieram enriquecer a música gótica. No entanto, há uma linha que separa estes estilos. Uma linha por vezes muito ténue que requer a tal “sensibilidade”. O gótico é sempre depressivo, olha sempre para a morte, será sempre ruínas e noite e alguém a contemplar uma caveira e a perguntar-se “to be or not to be”. AH: Com base na vossa experiência de divulgação e da vossa vivência dentro do meio, o que acreditam ser o principal incentivo da cultura gótica? Como respira essa cultura e qual o seu motivo de vida?

KG: A pergunta mais pertinente será antes: como é que o gótico ainda respira, como é que não acabou já como tantas outras modas? Na minha opinião, desde pelo menos os Românticos, ou até antes, sempre existiu uma corrente de sensibilidade artística de cariz gótico. (Antes dos Românticos havia já uma poesia “tumular”, filosófica, inspirada nos cemitérios, na noite, na morte, naquilo a que os Românticos depois chamaram “a beleza do horrível”.) Nos anos 80 essa corrente de sensibilidade chegou à música. É um fenómeno recente apenas em termos musicais. Enquanto existir essa “sensibilidade” artística o gótico continuará a existir. Poderá, talvez, adoptar novas formas de expressão. Por enquanto, e actualmente, é a cultura gótica que melhor encarna esse estado de espírito, essa sensibilidade.

nel de comentários, sobre qualquer assunto. Na falta de argumentos as pessoas partem para o insulto. Também vês isto nos fóruns estrangeiros, é claro, mas sempre se vai conseguindo conversar. Na nossa cultura não existe esta educação para o debate, para o grande prazer do debate. Não fomos educados, na escola, a debater, mas a debitar. Fala-se com os amigos, no café, porque tendem a concordar connosco, mas fora do grupinho não se sabe conviver com ideias e opiniões diferentes. A subcultura gótica não é excepção. Piorou um pouco com o Facebook. Destruiu os fóruns, afastou as pessoas dos blogs, e não trouxe nada de igual valor a substituir. Cada vez se fala menos e se mostra mais: imagens, selfies, coisinhas bonitas. Enche o olho e esvazia o intelecto. Um maleita, como disse, não específica da cena.

AH: Qual o principal apoio de que um portal como o Pórtico necessita? AH: Algum conselho ou conselhos para os representantes da comunidade? Quer organizadores KG: Leitores. Fontes. Notícias. de eventos, divulgadores, intelectuais ou artistas? AH: De alguma forma o início do Pórtico é coincidente com o início da Associação de Artes KG: Não me agrada o termo “representantes”. “Abismo Humano” - na altura em formato de Esta é uma subcultura demasiado individuafórum que se moldava aliás a partir de um lista para reconhecer líderes ou representantes. legado de um dos vossos fundadores, e em que Cada pessoa vive a cena de modo muito pessoal. todos nós trocávamos ideias. Quais as principais Torna-se até paradoxal falar de uma comunidade diferenças, sobre o modo de se sentir o meio, que não age (e que muitas vezes não se assume) desde 2006 até aqui? como comunidade, e no entanto existe! Quanto Independentemente do número de iniciativas e à divulgação de eventos e criações, musicais ou eventos, existe maior ou menor partilha e troca outras, tenho notado que ainda existem muide ideias? tas falhas em atingir a audiência pretendida. Tirando algumas excepções exemplares, muitas KG: Infelizmente, menor. Os fóruns não funcio- vezes a divulgação não se faz em quantidade e nam. Tentou-se, mas não funcionam, e não ape- qualidade suficientes, ou com a necessária antenas no caso gótico. Existe uma falta de educação cedência, ou a informação é demasiado vaga e para o debate de ideias que é transversal a toda imprecisa. Penso que a cena só teria a ganhar se a sociedade portuguesa. Basta ver qualquer pai- estas arestas fossem limadas.

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† Ruínas Circulares † Video / Mapping Performance “The Devil”

ENTREVISTA SVEN WU WEI Nasceu em 1977. Performer da dança Butoh e Terapeuta. Praticou artes marciais diferentes em 10 anos, assim como o Karaté, Kung Fu Wu Shu & Shaolin, Chi Kung e Tai Chi. Estudou em Londres em 2009, em Artes e Performance do Futurismo até ao presente, começando com a Performance Conceptual. Após isto, participou em Workshops de Performance com Teja Reba, Loup Abramovic, e Workshops de Butoh com Atsushi Takenouchi, Yumiko Yoshioka, Yuko Ota e Paulina Almeida. Desde 2009 se dedicou a diferentes tipos de Performance; Conceptual, Happening/Fluxus, Video/mapping, Interpretação e a maior paixão: Butoh. Em 2012 começa com a sua própria Companhia de Butoh, que dá o nome de “Anattabardo”. De momento, está a explorar o Teatro Físico Experimental e Cinema. Como Terapeuta, ele está sempre à procura de ir ao mais profundo de si numa consciência livre multidimensional. Carta ao Abismo Humano

A Beleza do Butoh

Antes de ter começado a dançar Butoh, o que me fascinou, foi a sua beleza. É certo que os meus conceitos de beleza não são os mesmos da maior parte das pessoas. Quando vejo alguém a fazer Butoh, que me fascine, sinto-me noutra dimensão. Algo me faz arrepiar quando é profundo, inóspito, misterioso, autêntico, espontâneo e de uma coincidência precisa do subconsciente com o gesto. Para mim a beleza da dança, não tem a ver com a exibição de uma grande capacidade física ou de gestos formatados para serem sensuais. Tem a ver com a capacidade de expor a sua alma e a sua vulnerabilidade. Uma dança que faça cair as máscaras do ego. Toda a intimidade entre o performer e o espectador partilhada. Um dar e receber que não está separado. Um crescer espiritualmente em conjunto. As vibrações estão no ar. Elas sentem-se, mesmo que não sejam entendidas. Quando a alma absorve e é tocada emocionalmente, ela vai tentar entender através do intelecto e alimentar a sua curiosidade. Digo isto, por haver pessoas que só gostam, se compreenderem. E o Butoh, não é algo para compreender e sim para sentir. Até pode haver alguém a fazer Butoh e eu sentir um vazio negativo ou até futil. Como digo às vezes, o que interessa não é a arte, mas o artista. O Butoh apenas, é uma disciplina rigorosa para a alma e talvez exija mais na direcção do que falei, anteriormente. Por essa razão, dá mais oportunidades a esse processo de

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† Ruínas Circulares † forma incisiva para o auto-conhecimento e desenvolvimento pessoal. O Butoh nasceu com princípios Iconoclastas e Não-Existencialistas, portanto a prática da dança pode ser vista como algo Eternalista, embora cada indivíduo possa ver e sentir, como desejar. Não vejo o Butoh como algo contemporâneo, mas sim intemporal! Não é uma dança que siga as normas, nem fundamentalista e, sim cada Butoca poder criar a sua própria norma, desde que tenha a sua essência autêntica. O grito da alma visceral!! A conexão com todas as forças anímicas, associadas às nossas memórias e transportadas para o gesto. O corpo usado como catárse levando à transformação das nossas forças akáshicas, usando-o como canal para a descoberta no presente de novas formas de expressão no Butoh, sem preconceitos, tabus ou qualquer limitação para crescer e evoluir. Uma completa conexão cósmica no interior de cada indivíduo. Dançar para meditar, dançar para viver. www.sven-wu-wei.com www.facebook.com/Anattabardo (Companhia de Butoh) www.facebook.com/svenwuwei.film www.facebook.com/SvenWuWei

Butoh Performance “Passion II”

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† Arautos Sonoros † Pavão Diabólico

Katrina a Gótika

“Pavão Diabólico” é o primeiro álbum do projecto homónimo lançado pela Korvustronik. Desta vez, não apenas um lançamento, mas um trabalho “que reúne os membros fundadores da Korvustronik, da Abismo Humano e da Cosa Nostra Dark Club” (informação Abismo Humano). Impossível que a audição não recorde Mão Morta nos primeiros tempos (em estilo, letras e voz) bem como bandas punk/alternativo/urbano-depressivo desse início dos anos 80, entretanto desaparecidas ou transformadas, que se apresentavam ao vivo no mítico Rock Rendez Vous. Aconselho, portanto, todos os apreciadores desta primitiva sonoridade sombria e arrastada, revisitada com elementos de mais recentes influências, a ouvir em https://korvustronik.bandcamp.com/ album/pav-o-diab-lico E ler toda a informação sobre o álbum em http://korvustronik.blogspot.pt/2013/12/pavao-diabolicoep-convertido-em-album.html

entrevista: Pedro Code

Foto: André Consciência • Entrevista: Nuno Consciência andar. Não me recordo muito bem. Comecei desde muito novo a interessar-me pela música, e quando tinha nove/dez anos a minha mãe comprou-me um orgão da Yamaha. Comecei a tentar sacar a banda sonora do filme “O Piano” e consegui. A partir daí comecei a interessar-me muito e aos treze anos entrei numa banda que eram os “Clã Mórbido”, uma banda pós-punk. Ainda muito menino e com esse mesmo sintetizador a pilhas dei o meu primeiro concerto.

Após um percurso que inclui projectos como The Code Project, Pedro Code surge com um projecto a solo que entra na alma da música alternativa, “The Dream Collision”. Íntimo como uma ilha, emocional e aquático, “The world ends, The world begins” vem dar à Abismo Humano o privilégio de representar este primeiro lançamento. Estas músicas de The Dream Collision são momentos, são pedaços de vida registados no momento em que são compostos, primando por aquilo que é genuíno. Quando é que começaste a mostrar interesse pela música? Pelo que me foi dito comecei a mostrar interesse pela música antes de começar a

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E porque é que com nove/dez anos a tua mãe te comprou esse orgão? Porque lhe pedi. Tinha uma necessidade imensa de me exprimir. Nessa fase das nossas vidas há muitas coisas que nós queremos. Eu praticava futebol, gostava de desenhar, mas a música era uma coisa forte demais para passar por mim. Não sei bem como funcionou mas chateei tanto a minha mãe que ela acabou por me comprar esse orgão e desde aí nunca mais parei. Tens músicos na família? Tive. O meu avô da parte do meu pai era pianista. Mas nunca o conheci nem nunca ouvi nada dele. A minha mãe cantava fado quando era nova mas foi proibida, porque na altura uma mulher que cantasse fado era considerada prostituta e foi proibída

pelos meus tios de cantar. São as únicas ligações que tenho à música. Esse teu avô era alguém de quem se falava em casa? Sim, mas muito depois. A minha infância eu passei sem o meu pai, portanto ele nunca me transmitiu essas ideias. Só mais tarde é que se falou nessa pessoa que tocava piano. Foi uma coincidência. Achas que foste influenciado por alguém para ouvir música? Eu acho que não. Quando fui para a primária, antes de ir para a escola, ouvia sempre um disco dos Beatles, o “Sgt Pepper’s”. Comecei a ler as letras sem ainda saber inglês. Os LP`s tinham as letras atrás, eu decorava as letras do álbum e lia aquilo todos os dias antes de ir para a escola. E de quem era esse álbum? Era da minha irmã. Também tinha de Pink Floyd, mas não gosto. Eu próprio ia aos discos, era muito voluntarioso nessas questões de música. Acho que ninguém me tentou incutir, não era preciso, nasceu comigo. Como está a música presente no dia a dia? A todo o momento (risos). Eu tenho um emprego, aliás, só posso ser músico porque


† Arautos Sonoros † tenho um emprego de que não gosto. Tenho de trabalhar. A música está presente de manhã à noite, não só em composição como em audição. Há alturas específicas em que ouves mais? No trabalho vou ouvindo uma músicas. Oiço mesmo no facebook. Hoje em dia é muito fácil, tens muita informação para que possas descobrir coisas novas. Agora já não estou bem nessa fase de descobrir, há muita coisa... Actualmente resolvi ouvir mais para trás. As minhas influências são mais anos 80. Como costumas ocupar a mente no dia a dia? Com sons, imagens...? Isso é uma pergunta difícil. Eu ocupo a minha mente com memórias, imagens e muito som. Eu componho sem ter piano. Estou no trabalho e estou a compôr, por exemplo. Componho de cabeça, lembro-me de uma ideia e às vezes até gravo para o telemóvel, batidas e sons. Brincas muito com ritmos? Sim, a compor. Só a compor? Nada de batuques por exemplo? Não. Há uma coisa engraçada, quando estou a trabalhar não oiço música. É algo que não se mistura. Há pessoas que enquanto estão a trabalhar, estão a ouvir música, mas eu faço uma coisa ou outra. Quando oiço música eu estou 100% na música, e se estiver a ouvir música não consigo trabalhar. Vou estar a voar demasiado alto para poder estar a trabalhar. Quando estás a ouvir música qual é a tua prioridade? Os ritmos, a melodia, o quê? É uma complexidade de coisas. Quando estou a ouvir música, não estou a ouvir um todo, estou a ouvir todos os bocadinhos, todos os sons, a respiração da voz. Depois de a ouvir sete ou oito vezes já a oiço toda mas, quando conheço uma música, oiço-a em parcelas. Não gosto de o fazer, mas faço-o automaticamente. Oiço a voz, o baixo, a parte rítmica, a melodia... Mas há alguma prioridade na parte que ouves? Depende, é o que for mais forte na música. Não te sei dar assim um exemplo, mas muitas vezes é o ritmo. Há estados de espírito mais propícios para ouvir música? Não preciso de estados de espírito para ouvir, ou seja, a música provoca-me o

estado de espírito. É a própria música que vai definir como me vou comportar daquele momento para a frente. Mas deve haver um critério para a primeira música que ouves? Não, normalmente oiço música melancólica. Posso estar muito bem disposto, mas é sempre aquilo que eu oiço. Às vezes mantenho o estado em que já estava, outras vezes afundo-me. Mas é tudo uma coisa controlada. Achas que prestas especial atenção aos sons do dia-a-dia? Aos barulhos? Sou muito atento aos sons, sim. Muitos deles são musicais e eu consigo encaixá-los. Por exemplo, às vezes vamos a ouvir música no carro, de vidro aberto, e há sons que envolvem o carro. Muitas vezes penso que aquele som encaixa perfeitamente naquela música, naquele momento. É uma coisa que não consigo resistir. E sem ser específicamente a ver com música, quando eras pequeno e tinhas medo ou te assustavas, era com o quê? O mesmo que me assusta hoje, a morte. É algo que me assusta imenso, porque eu gosto de viver. Apesar de ter esta vivência muito sofrida, eu adoro viver. Geralmente não assumimos, mas todos nós cultivamos este estado de alma. Aliás, eu preciso dele. Lembras-te da tua mãe cantar canções de embalar? Não. Só fado. De embalar era a minha irmã que me cantava, eu gostava imenso. Com que idade? Era muito miúdo, tenho algumas memórias. Deve ter sido até aos quatro/cinco anos. Qual é a forma como te expressas mais à vontade? A tocar e a falar com amigos. Lembras-te da primeira vez que tentaste compor? Eu não me lembro, porque sempre tentei compor. Lembro-me é da altura em que gostei tanto da banda sonora do filme “O Piano”, aliás, eu antes já gostava de música, mas naquele momento estava tão focado a querer aprender a tocar piano, que tentei aprender aquelas músicas. Mas, no geral, componho desde sempre. Nessa primeira banda em que eu entrei, a primeira coisa

que eu fiz foi compor. Eles tinham seis músicas e passado um mês, tínhamos doze. Eu tinha composto seis, naquele início. Sempre compus. Porque sentes essa necessidade de compor? (risos) Vou cair num lugar comum, mas vou dizê-lo. Há gritos que são muito mais fáceis de dar se forem cantados, tocados. Há muitas coisas que são difíceis de enfrentar e, para mim, a música dá-me o suporte perfeito para poder gritar e cantar, exprimir o que sinto. Em que momentos é que escreves? Em todos. Sempre que tiver um piano perto. Quando algo muda na tua vida, achas que te incentiva ainda mais a compor? Não. Acho que não há nada externo que me faça querer compor. É tudo muito interno, percebes? Tem muito a ver com os meus estados de alma. Estou actualmente na melhor fase da minha vida e cada vez mais componho músicas melancólicas e dark, não tem a ver com nada do que me rodeia. É algo muito fechado em mim e talvez por isso, preciso de compor. Para não explodir, preciso de ir libertando isto. Mas há sentimentos onde te concentras mais para compor? Sim. Componho sobre o amor, essencialmente. Sobre saudade, sobre os momentos. Tenho muitos momentos, segundos que transformo em minutos de música. Angústia... Eu não componho sobre coisas bonitas, essas eu vivo. Gosto de viver as coisas bonitas, mas gosto de cantar as menos bonitas. Quer dizer, às vezes são bonitas, mas são melancólicas, tristes. Geralmente, é muito mais fácil para mim entrar nesse campo da solidão. Onde é que compões? É onde calhar. Geralmente é no quarto. Mas hoje, por exemplo, estava a compor na sala. Agora tenho um portátil, antes não, tinha o “iMac” no quarto e tinha de centrar tudo ali. Agora componho em qualquer lado. O ambiente é importante para compor? É. Eu integro no ambiente as pessoas. Eu não consigo compor perto de mais ninguém, senão da minha namorada. É a única pessoa na minha vida inteira, que me permite compor perto dela sem qualquer

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† Arautos Sonoros † problema. Ou assim ou sozinho. Se tivesse banda, tinha de compor com as outras pessoas, tem de haver uma ligação. Mas como trabalho sozinho, componho sozinho ou com ela. É a mesma coisa, isto de uma forma positiva claro (risos). É a única pessoa a quem consigo “gritar” antes de a todos os outros. Aliás, ela tem uma participação muito importante nos processos de criação de “The Dream Collision”. Dá-me opiniões, ouve, faz-me experimentar novas coisas. É quase como um segundo membro da banda. Tens rituais? Não. Acho que não. O meu único ritual, se se pode chamar isso, é que eu componho sempre a partir do piano. Quando começa fora do piano, corre mal. Ainda no outro dia compus uma música directamente no portátil. Ficou muito interessante. Mas hoje de manhã estive a trabalhar nela e já não achei. Liguei o piano e compus uma nova música que acho que está fantástica. Se não tinha ritual, tenho agora. Começar e acabar no piano. A inspiração, o que é? Não te sei explicar. É uma coisa que não se faz sentir. O que eu sinto constantemente é que, se tiver um piano perto de mim, vai sair algo. Os dedos têm vida própria e começam a tocar? Exactamente. Muitas vezes acontece-me e muitas vezes surge um problema. A cabeça já está à frente, já está a gravar outras coisas a seguir. Disperso-me muito, foi o que aconteceu antes de vocês chegarem e daí esta meia hora de atraso. E o teu estado de consciência? Achas que estás mais ausente por estares tão absorvido, ou estás plenamente consciente do que estás a fazer? Depende. Por vezes, tenho de me focar para descer um pouco à terra e ser metódico. Porque eu normalmente não sou nada metódico, sou um músico muito impulsivo. Outras vezes devaneio muito, não perco consciência mas, o tempo não existe. No que parece meia hora, passa um dia e eu não dou por ela. Estou absorvido e fico de volta da composição horas e horas e horas e quando dou por mim, já

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são cinco da manhã e amanhã trabalho. Não durmo, não sinto cansaço. É uma dormência boa.

tos e discos. Não foi algo pré-concebido, foi acontecendo. Quando dei por mim, o disco estava pronto.

É uma coisa catártica. Completamente.

E como sabias quando o disco estava pronto? Enganei-me duas vezes. Encerrei o disco a meio de Setembro, achei que o disco estava pronto. Dias depois, fiz uma das melhores músicas, na minha opinião, a “Save Me”, e percebi que o disco afinal, não estava pronto. Entretanto aí, encerrei realmente o disco e percebi que me tinha enganado de novo. Ou seja, a obra não está cem por cento lá, porque há pelo menos uma música que não está lá, a “Running To Nowhere”. Essa tinha de lá estar, mas já não foi a tempo. Sou muito impulsivo, não tive método nenhum, foi uma coisa muito animal, uma necessidade muito forte.

E que prazer tiras de compor? Existem duas fases. Tiro um prazer brutal de compor, sinto orgulho e muitas vezes estranheza. Como é que isto surgiu? De onde veio? E só sei a resposta quando escrevo a letra. Porque eu escrevo primeiro a música. Não escrevo letras para depois encaixar. Como sou muito impulsivo, não funciona comigo. Mas perdi-me... Estávamos a falar sobre o prazer que tiras de compor. O meu, muito egoísta, muito bom. É algo que se eu fosse uma pessoa crente, experimentaria numa igreja, mas como não sou, experimento aqui. E depois o prazer do reconhecimento dos outros. O que os outros te fazem sentir, quando gostam de uma forma genuína. Como te sentiste a compor este álbum de “The Dream Collision”? Sabias que ia ser um álbum? Não, nada disso. Eu tinha uma banda que eram os “The Code Project”, e a partir de quatro de Julho deixámos de nos ver, deixámos de tocar. Não interessa o porquê, eu nem sei bem o porquê. Tinha feito antes desse dia, duas ideias, porque tinha necessidade de ter uma coisa mais íntima, mais minha, mais piano e voz. Compus duas músicas. E eu, geralmente, componho na altura, gravo na altura e passado umas horas, lanço ao mundo. Não penso, é o que sai. Mas existia uma ideia que era uma tarefa que tinha de ser cumprida e bem? Neste caso não foi, porque não tinha decidido gravar um álbum até Agosto, quando gravei cinco ou seis músicas e percebi a consistência que tinha. E eu sou o maior crítico do meu trabalho. Nessa altura, percebi que tinha feito algo que ainda não tinha ouvido em Portugal. Nem em Portugal nem fora. Tenho muitas influências como todos nós, mas acho que criei um momento muito meu e quis aproveitar isso. A resposta das pessoas era boa, perguntavam por concer-

Quando compuseste as músicas e voltaste a ouvi-las, elas estavam como tu querias? Exactamente. A única coisa que eu faria melhor, se pudesse voltar atrás, seria apenas masterizá-las de outra forma. Como assim? A equalização global do disco. As músicas em si, não mudaria. Curiosamente, este é o único disco que compus que consigo ouvir diariamente e gosto muito de ouvir. Nos outros projectos que tinha antes, havia sempre algo que não gostava. Usas ideias ou partes de músicas que já fizeste, para construir uma nova? Não. Vou falar de novo na minha impul­ sividade. Num mês e meio construí trinta e tal músicas para “The Dream Collision”. Gravei e misturei. Mas só sairam doze. Tenho músicas que gosto imenso, mas tenho algo que me diz que elas tiveram aquele tempo mas ficaram no passado. Quando pego numa música antiga, e se tiver um teclado à frente, não consigo pegar e recauchutar. Eu faço uma nova, tenho sempre muitas ideias. Um dia penso remisturar algumas músicas de “The Code Project” e lançar um disco. Mas aí não vai ser algo impulsivo, vai ser uma coisa muito bem pensada, muito metódica. Caso contrário não. Disseste que as músicas ficam presas no passado? Sim.


† Arautos Sonoros † Quer dizer que, por exemplo, daqui a dois anos, podes já não querer tocar estas músicas que lançaste? Não. Repara, eu fiz trinta músicas e escolhi doze para o alinhamento do álbum. As outras, são as que eu sinto que lhes falta algo, e são essas que ficam no passado. As que eu escolhi para o álbum não. Como sentes a obra depois de estar terminada? Acho que está um disco muito bem concebido, muito equilibrado e perdoem-me a minha falta de modéstia, mas acho que está muito bom. Surpreende-me, porque o ouço todos os dias e gosto. Fiz exactamente o que queria fazer e fui muito mais além, até. Espero manter esta opinião no próximo. Tem a ver com a pergunta que fizeste há pouco. Tem um lugar para ele e não é parecido com nada, tem originalidade e uma estrutura muito forte. Quem conhece “The Dream Collision” ouve uma música e reconhece. A voz e os pianos, estão intrínsecos no projecto, eu consegui isso. E isso (parecer-se com algo) irritava-me imenso, porque tudo o que compus noutras bandas fazia-me lembrar outras coisas, boas ou más. Mesmo as boas me faziam lembrar Joy Division, por exemplo. “The Dream Collision” não me faz lembrar nada, e eu gosto. É mesmo eu… E só está terminado depois de mostrar aos outros? Não sei (risos). Eu fiz tudo o que não se deve fazer. Eu mostrei as músicas todas. Só há três músicas que as pessoas não conheciam. Lancei músicas às feras sem pensar. Nunca tinha misturado na minha vida. Foi a primeira vez que gravei um disco sozinho, toquei sozinho, misturei. Fiz tudo o que não se deve fazer, mas saí-me bem. Mas tiveste essa necessidade de mostrar aos outros? Sim, claro. Há músicas que nunca mostraste a ninguém? Poderia haver, mas dado que a maior parte das vezes componho perto dela, ela acaba

por ouvi-las todas. Não tenho necessidade de ficar com as músicas só para mim. Como sentes as críticas que fazem às tuas músicas? Não tive nenhuma má, ainda. É muito mais fácil dizerem-me bem, do que mal. Tive muitas críticas boas, algumas surpreenderam-me pela positiva. A crítica melhor, é quando estás a tocar duas ou três músicas ao vivo e vês a expressão nas pessoas que te estão a ouvir. Não precisam de falar. Como no concerto em Lisboa, veres as pessoas a chorar. Foi muito emotivo, impressionante. Não sabia o que devia fazer. Cheguei a um ponto em que até disse às pessoas para respirarem, para falarem. Estava tudo muito tenso. Acho que é a melhor crítica. Depois existem aquelas pessoas com quem podemos falar no “facebook”. “The Dream Collision” é um projecto que começou no “facebook”, nunca mandei para rádios ou editoras. Nem quero. Tudo o que consegui foi através de publicações que fiz no “facebook” e as pessoas foram passando. Já passei na rádio e nem sabia, o que é muito engraçado. Há vinte anos atrás, trabalhavas muito para te ouvir na rádio, era algo muito importante. Sabias sempre quando acontecia. Hoje em dia, passas na rádio e nem sabes. São pessoas que sacam os mp3s do “youtube” e enviam para amigos da rádio e depois vêm-me dizer: “olha passaste na rádio, eu tenho o podcast e depois envio-te”. Mas retomando a pergunta, as críticas foram muito boas. Dentro do tipo de som que é, dado que não é um som aberto ao negócio da música. Não ambiciono isso, mas o facto de eu saber que há muitas pessoas que sentem a intensidade das minhas músicas, é a melhor crítica que podem fazer. Não tens a necessidade de te tornar mainstream. Já toco há vinte e tal anos. Até é um medo que eu tenho, de me tornar essa coisa. Porquê? Porque é um projecto muito íntimo, muito eu, e se eu mudar a essência do que toco, para uma coisa mais pop ou mainstream, vou-me tornar a mim pop, uma pessoa que eu não sou. Já não tenho idade

para isso. A minha recompensa é só o sentir das pessoas. Dou-te um exemplo: podia ter vendido muitos mais discos a colegas meus de trabalho, que os teriam comprado só porque são meus colegas. Eu não vendi. Eu queria vender às pessoas que gostam, que sentem, percebes? Não consigo conceber a ideia de alguém comprar um disco meu para pôr a um canto, só para parecer bem. Só vendo a quem quer mesmo ter. Cem pessoas têm o teu cd, pessoas escolhidas, de certa forma. Sim, sim. Completamente. Essas pessoas que acabaram por comprar o teu cd, são uma espécie de família, são pessoas que se identificam com o teu estado de espírito e com o que tu passas na música. São pessoas que têm um bocadão grande de mim. Aquilo sou eu, e quem ouvir o cd está muito mais próximo de mim do que pode pensar. O elo de ligação é a música, para me sentir próximo de alguém, a música é o canal. É a ponte entre as pessoas. Sim, a intensidade com que as pessoas lidam com o que ouvem. Não interessa, necessariamente, se gostamos das mesmas coisas. A ponte é a música. Aliás, é o que me faz ter chegado a tanta gente. Tenho grandes amigos por causa da música. No início, não sabes bem se alguns são daquele género de pessoas que só falam contigo porque és músico, e com o passar do tempo vês que já são bons amigos. Eu sinto isso quando certas pessoas me dizem, e eu já assisti, que choram e sentem uma intensidade tremenda quando ouvem as minhas músicas. Isso aproxima-me imenso das pessoas, que é algo que não controlo e me deixa vulnerável. Quando mostras as músicas e tudo o que tu escreves é verdadeiro, estás-te a dar, estás muito vulnerável. Se alguém chegar perto de mim e criticar as minhas músicas ou letras negativamente, vai afectar-me. É algo muito meu, e eu não vou poder dizer que “não tens nada a ver com isso”, porque é claro que tem. Eu estou ali a dar-me ao mundo.

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† Arautos Sonoros † “Transmissões da cena experimental francesa” Tzolk’in - “The Sixth Sun” (Ant Zen) Data de lançamento: 7 de Junho de 2013 O quarto álbum do duo francês/belga mergulha-nos novamente na atmosfera sacrificial dos mitos aztecas, com uma breve passagem pelo famoso calendário Maia, o Tzolkin. Na ausência de um fim do mundo, coloca-nos na era do Sexto Sol, procurando um futuro melhor e despido de ilusões. A guiar este terrifico pesadelo da Amazónia está uma mistura de post-industrial tribal e um dark ambient suave, em que Nicolas van Meirhaeghe (Empusae) e Gwenn Trémorin (Flint Glass) nos transportam à recordação mística do seu antigo disco “Tonatiuh”, desembocando com as nossas últimas esperanças no altar mortuário de uma civilização decadente e destinada à extinção: a nossa, claro está. the sixth sun, de tzolk’in ant-zen.bandcamp.com ant-zen.bandcamp.com/album/the-sixth-sun

Transistor - “The Din Of Eons” (D’Autre Cordes) Data de lançamento: 19 de Agosto de 2013 Enquanto o designer de som francês Fracnk Vigroux esmaga as suas batidas estilhaçadas, condensa as suas paredes de saturação e toca com um bisturi nos circuitos enferrujados do seu radiante e ansioso post-industrial electrónico, o cantor americano Ben Miller, percursor de no wave em Destroy All Monsters e veterano do rock psicadélico, vagueia numa terra de ninguém estruturada em farpas analógicas e modulações assombradas, em luta por escapar ao peso digital. Se nada predispunha estes dois pássaros a cruzarem as espadas, agora que está feito, só nos podemos deleitar. The din of eons, de Transistor transistorband.bandcamp.com transistorband.bandcamp.com/album/the-din-of-eons

The Barfly Drummers - “The Barfly Drummers” (Laybell) Data de lançamento: 14 de Outubro de 2013 Mentor laboratorial dos aventureiros Two Left Ears, Extra Pekoe convocou uma“assembleia de tambores” para soltar o seu gosto pelo improviso electrónico pós-moderno preenchido de ritmos lúgubres e convulsos. Espraido com samples de outros tempos e evocando um imaginário paranóico, este primeiro LP força-nos a viver um pesadelo, uma Ucronia paradoxalmente brincalhona onde as ciências e a tecnologia teriam perdido as estribeiras como estes instrumentais pouco convencionais, cujo tamborilar livre, as percussões aleatórias e os sintetizadores retro-futuristicos nos transportam com a seu fluxo de saturações analógicas e poliritmos capazes de despertar os mortos. THE BARFLY DRUMMERS /// Eponymous Album [OUT NOW], de THE BARFLY DRUMMERS thebarflydrummers.bandcamp.com thebarflydrummers.bandcamp.com/album/the-barfly-drummers-eponymous-album-out-now

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† Arautos Sonoros † Preacherz Of The Savage Truth - “biZon EP” (Autoproduction) Data de lançamento: 1 de Março de 2013 Além dos temas de cover industriais que eles lançam regularmente em video clips, Patrick Bezian e Matthieu M. oferecem aqui um ponto de vista altamente crepuscular aos delírios de filme Z “biZon”. Desde a inquietante distorção de “The Phoenix” à tensão orquestral de “Should We Run?”, às guitarras ambientais e batidas rastejantes da perturbante “No More Hope” e do post-rock sintético crescente de “Escape” de que os 65daysofstatic sentiriam orgulho nos seus melhores dias, o set inteiro soa como uma revelação a este lado instrumental, deixando a esperança de ver este duo francês de Toulouse desenvolver-se brevemente num álbum de longa duração. biZon EP, de Preacherz of the Savage Truth preacherzofthesavagetruth.bandcamp.com preacherzofthesavagetruth.bandcamp.com/album/bizon-ep

Nobodisoundz - “Vibrating Movements Of Sounds EP” (Montfort Records) Data de lançamento: 4 de Janeiro de 2014 A navegar entre um ambiente fantasmagórico, field recordings claustrofóbicos e sonhos diurnos assombrados por terrores de infância, este novo EP do artista visual Philippe Neau ainda tende à abstracção e a tons de cinza como muitas das suas pinturas e filmes, o tipo de cinzento que nos lembra os velhos filmes de ficção cientifica a preto e branco dos quais a visão expressionista nos assalta ainda o subconsciente. A importância da colagem e da manipulação de som ressalta claramente neste “Vibrating Movements Of Sounds EP”, cujas camadas e texturas se animam num ballet de sombras orgânicas, evocando projecções de filmes B vintage nos quais o horror gótico se fundia com a ficção cientifica. Vibrating Movements of Sounds, de Nobodisoundz montfortrecords.bandcamp.com montfortrecords.bandcamp.com/album/vibrating-movements-of-sounds

Críticas de Rabbit das revistas francesas IRM e Des Cendres à la Cave; tradução do francês para o inglês de Ed Ward; tradução do inglês para o português de André Consciência.

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