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“O nosso tempo de entrega médio são 10 dias. Antes eram 30”

Pulverizadores Rocha

A renovação levada a cabo na fábrica e a introdução de um sistema de produção diferente que revolucionou o funcionamento da empresa. A opção por manter a verticalização de todo o processo fabril como garantia da qualidade. A lógica que orienta o Departamento de Inovação e Desenvolvimento.

Entrevista com Sérgio Oliveira, Marketing Technician da Pulverizadores Rocha.

A Pulverizadores Rocha nasceu em 1946 com o fabrico de pulverizadores manuais de dorso. Sete décadas depois é uma referência nacional no setor da maquinaria agrícola. A fábrica, instalada em Milheirós, Maia, numa zona industrial onde já floresceu a indústria têxtil, beneficiou desde 2015 de uma considerável expansão e renovação. A nova organização da fábrica baseou-se na introdução de um novo sistema de produção, o Lean Production System, passando a Pulverizadores Rocha a fabricar apenas para as encomendas que tem em carteira.

“Em 2015 tomámos a decisão de, mantendo as infraestruturas no mesmo local, aumentar a área e reformulá-la, tirando partido dos armazéns vizinhos que foram ficando disponíveis. Aproveitámos também este investimento que fizemos em infraestruturas de raiz para montar tudo de acordo com os princípios do Lean Production System, mudando todo o fluxo da nossa vida fabril. Desde essa altura até agora, todos os procedimentos foram monitorizados e melhorados diariamente”, explicou Sérgio Oliveira.

Assim, a montagem passou para uma nova área de 4000 m 2 e a logística para uma área de 3800 m 2 . No somatório das áreas novas com as que já existiam, a empresa ficou com uma área total de 13.500 m 2 . “A par do novo armazém para a montagem, onde está também instalado o Departamento de Engenharia e o de Inovação e Desenvolvimento, investimos no edifício da Área de Logística. Esta está dividida em duas áreas: interna, que alimenta a nossa linha de montagem, e externa, que engloba tudo o que fazemos a nível de expedições de produto acabado, basicamente, peças e acessórios. Também ela funciona com os princípios do Lean Production System”.

O que é a Metodologia Lean?

A metodologia Lean resulta de uma integração de métodos e ferramentas desenvolvidos na década de 90 no setor industrial e, em particular, na indústria automóvel, onde a Toyota desenvolveu o “Toyota Production System”.

O Lean Production System centra-se na eliminação/combinação/redução das atividades que não acrescentam valor e que geram desperdício e custos para a empresa.

Produzir por encomenda para entregar em 10 dias

A adoção dos princípios do sistema de produção que vai buscar as suas raízes à Toyota, teve como objetivo aumentar a produtividade da empresa. Para isso, a Pulverizadores Rocha contou com a ajuda do Instituto Kaizen, nomeadamente na fase de implementação. “Quando criámos o processo de implementação da Metodologia Lean, em conjunto com o Instituto Kaizen, fizemos vários cursos internos com equipas multidisciplinares.

Num deles, por exemplo, fizemos um “jogo” onde tínhamos de montar 10 fichas elétricas e havia duas opções: montar as dez de forma seguida ou ficha a ficha. Este exemplo é paradoxal do que, para nós, Rocha, resulta: é muito mais proveitoso montar máquina a máquina do que máquinas em série. Explico porquê: antes da introdução desta Metodologia, para sermos eficientes, precisávamos de produzir 30 máquinas em série de um determinado modelo, mas só tínhamos encomendas em carteira para 10. Mas para satisfazer aquelas 10 encomendas tínhamos, na mesma, de produzir as 30, ficando com 20 em stock. Ou seja, produzíamos máquinas para as quais não tínhamos clientes. Por outro lado, tinha, na mesma, clientes à espera de encomendas de modelos diferentes que não entravam em produção enquanto aquelas 30 não terminassem de ser produzidas”, elucidou Sérgio Oliveira.

Cada operador pode verificar as instruções de montagem das várias ordens de fabrico, através de vídeos elucidativos.

“A introdução desta metodologia permitiu-nos produzir apenas o que temos encomendado e darmos uma resposta mais rápida aos clientes.”

Sete anos depois, os resultados não podiam ser mais satisfatórios. “O nosso lead time (tempo de entrega) médio atual são 10 dias, quando antes da introdução deste sistema estava nos 30 dias. Ao nível da percentagem de entregas que fazemos na data em que dissemos ao cliente que o faríamos, passámos de 55% para 90%. O stock e o espaço para armazenamento também reduziram bastante”.

Espaço que ficou livre acolherá ferramentas de topo

Fazendo jus a um dos princípios seguidos pela empresa, a melhoria constante, o passo seguinte ao nível da fábrica é a melhoria da Área da Metalomecânica. “Ao nível dos processos tudo está implementado como desejamos. Agora vamos dar o passo seguinte, ampliando o espaço. Pela reconversão de um armazém com 2000 m 2

que se destinava ao produto acabado, e que ficou livre devido à estratégia de produzir apenas para as encomendas, ficará disponível uma parte para a metalomecânica. Nesta nova área instalaremos toda uma gama de ferramentas de topo, autónomas, inclusivamente a alimentação das mesmas, para o corte a laser, dobragem, e soldadura, de forma a aumentarmos a produtividade e reduzir a dependência de mão de obra. Em setembro devem estar prontas todas estas alterações”.

Verticalização de todo o processo

Uma das particularidades da Pulverizadores Rocha é a concentração na sua unidade de fabrico de todas as etapas produtivas. “Temos o processo completamente verticalizado, com exceção de uma parte do tratamento de superfície. Temos a metalomecânica, onde fabricamos o chassis, a fábrica de plástico ou roto moldagem, onde fabricamos os reservatórios em polietileno, e depois temos a montagem. Fazemos todos os processos”, explicou Sérgio Oliveira.

Esta opção, que não é unânime na indústria, optando várias empresas pela subcontratação de algumas fases, foi tomada no início da empresa. No entanto, ainda recentemente, voltou a ser tema de conversa internamente. “Voltámos a analisar o tema e aquilo que concluímos é que é a única forma de conseguirmos garantir com certeza absoluta a qualidade de todos os nossos componentes. Por exemplo, ao termos a metalomecânica conseguimos garantir que esta trabalha de acordo com os padrões de qualidade que queremos para o nosso produto. Claro que fazendo fora é possível fazer controlos, mas, da nossa experiência, concluímos que era mais seguro fazer em casa. O caso do polietileno, foi uma decisão estratégica tomada na altura em que os reservatórios dos pulverizadores deixaram de ser fabricados em cobre e, posteriormente, latão, na década de 70. Estando em Portugal, estávamos a uma distância grande dos principais fabricantes, localizados sobretudo em Itália. Por isso, decidimos fabricar este tipo de componentes e, uma vez iniciado o processo, foi evoluindo e hoje temos uma unidade autónoma e independente onde fabricamos para nós, Rocha, mas também para fora, para outras áreas de atividade que não a agrícola”.

Inovação e Desenvolvimento

“Para onde vai evoluir a Agricultura?”, é a questão do “milhão de euros” e o motivo pela qual a Pulverizadores Rocha decidiu intensificar o investimento na área da Inovação e Desenvolvimento. “Para nós é fundamental porque entendemos que a Agricultura vai sofrer uma mudança muito grande e, dentro desta, a área principal da empresa, a pulverização, também terá alterações significativas”, referiu Sérgio Oliveira recordando o objetivo da UE de reduzir a aplicação de fitofármacos.

“O Departamento de Inovação e Desenvolvimento foi durante muitos anos uma área do Departamento de Produção. Em 2017 decidimos torná-lo independente porque, se queremos criar inovações disruptivas, não podemos estar condicionados com problemas atuais e futuros de produtos existentes. É liderado pelo nosso engenheiro sénior, José Carlos, que é assessorado por três elementos. Trabalham, atualmente, todos para as nossas três áreas de produto (pulverização, distribuidores e equipamento para a vinha), mas a nossa ideia é ter um chefe de produto para cada uma das áreas”, sintetizou.

OBJETIVO

4 PRODUTOS NOVOS POR ANO

Vitor Moreira, Diretor de Produção, e Pedro Peneda, administrador, coordenam todos os processos de fabrico.

“Existem vários níveis de inovação e, na Rocha, temos o objetivo de todos os anos, lançar quatro novos produtos. Sabemos que é diferente lançar uma ou duas linhas dentro de um produto que já existe ou criar um produto completamente novo. São níveis de complexidade diferentes. Por isso, temos uma sala de monitorização onde fazemos o acompanhamento de cada projeto. Todos os anos fazemos o acompanhamento do volume de vendas gerado pelos nossos novos produtos, sendo um produto considerado novo durante dois anos”.

O I&D da Pulverizadores Rocha conta com parcerias com entidades externas, como a Faculdade de Engenharia do Porto, o INESCTEC, a Universidade de Aveiro, ou a ESAD.

À entrada da empresa somos surpreendidos por uma oliveira com mais de 650 anos.

Turbina dupla vertical

Em função do constante desenvolvimento das novas técnicas e sistemas de condução utilizados em pomares intensivos a Rocha está a desenvolver um novo ventilador com duas hélices com grande capacidade de produção de ar e baixa absorção de potência perfeitamente adaptadas à evolução e necessidades dos tratamentos fitossanitários destas explorações.

O ozono como tratamento ecológico

A agricultura, os agricultores e os fabricantes de máquinas agrícolas começaram a perceber os enormes benefícios do ozono no tratamento de culturas. A Rocha tem como objetivo desenvolver e finalizar rapidamente um projeto inovador em curso que permitirá efetuar os tratamentos das culturas minimizando os custos de produção e o impacto no meio ambiente.

A turbina dupla vertical vem responder a uma tendência crescente na fruticultura de pomares altos e apertados.

Pulverizador com barra para tratamentos em grandes áreas de cultura

A dimensão média das explorações agrícolas aumentou significativamente nos últimos anos e em correspondência direta aumentaram também as dimensões e capacidades dos tratores e alfaias.

Com o intuito de acompanhar diretamente essa evolução, a Rocha tem já em finalização um projeto para um pulverizador da linha Prime Evo com capacidade para 2000 litros e a possibilidade de receber barras de aplicação com largura de trabalho de 18 e 21 metros.

Distribuidor de adubo com sonar de detenção de árvores

O crescente e preocupante aumento do preço dos adubos associado à questão ambiental ligada ao uso excessivo dos fertilizantes que por ação da rega e chuvas irão depositar-se nos lençóis freáticos, conduziu-nos ao desenvolvimento e posterior utilização do sonar de deteção de árvores associado ao Distribuidor de Adubos. A colocação do adubo exclusivamente na base do tronco da árvore, possibilita a gestão correta do fertilizante e uma enorme redução no custo de produção. Este equipamento já se encontra em fase de testes e início da comercialização.

Recursos Humanos

O Departamento de I&D é apenas um dos reflexos do investimento em recursos humanos que a empresa iniciou bem antes. “Sendo uma empresa de 1946, tinha uma estrutura algo envelhecida e, por isso, fomo-la renovando de forma gradual. Olhando para a parte da montagem e logística, temos uma média de idades próxima dos 30 anos. Mesmo nas funções de chefia temos pessoas jovens. Ao todo somos 65 pessoas e nunca é demais reforçar que a Pulverizadores Rocha são todas elas. Há uma estrutura em que temos vindo a apostar, na qual cada um é responsável por uma área e que é o verdadeiro segredo do sucesso da empresa. Temos uma estratégia bem definida, temos objetivos que gostávamos de ver materializados, e acreditamos que ainda temos potencial de crescimento”, finalizou Sérgio Oliveira.

Autocolante com nova tecnologia que faz a fusão com o plástico polietileno em testes com resultados muito interessantes.

Por: Sebastião Marques fotografia: abolsamia

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