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“Construir uma máquina para a vida é um trabalho de equipa”
GALUCHO
Nuno Gama Lobo, CEO da Galucho desde março deste ano, e responsável pela Operação da fábrica desde 2019 recebeu abolsamia para uma entrevista sobre a reformulação da unidade de fabrico que resultou num aumento de produtividade de 30%, “apenas possível graças ao trabalho de equipa”. Os planos para o curto e o médio prazo da empresa também foram temas abordados.
"A primeira coisa que faço é dar uma volta completa à fábrica e falar com os chefes de produção. Ver as linhas de produção, verificar se há algum problema. É uma gestão que gosto de fazer, bastante pessoal e próxima.”
E foi precisamente por esta rotina que iniciámos a nossa entrevista com Nuno Gama Lobo, CEO da Galucho desde março deste ano. Formado em Direito, o novo CEO da empresa de São João das Lampas, entrou em 2017 para a empresa como responsável pela parte financeira CFO, acumulando depois com a pasta da Gestão, Negócios e Operações em 2019.
Outra das grandes alterações implementadas foi a alteração da lógica do plano de produção: produz-se por plano e não por encomenda. Esta medida teve uma repercussão imediata, reduzindo o prazo médio de entrega em 1/3, estando agora nos 48 dias. O plano é feito através da análise dos anos passados e resulta num stock de produto acabado valorizado em metade do existente com a lógica anterior.
Ainda no interior, mas chegados já à parte da pintura, Nuno Gama Lobo, fez uma paragem mais longa para explicar que esta é a área que terá mais alterações até ao final do ano. “É onde mais podemos aumentar a produtividade neste momento. Estamos a rever processos e já teremos melhorias visíveis no processo de pintura e qualidade do produto final no primeiro trimestre do próximo ano”, vincou.
Também a zona exterior foi alvo de remodelações, de forma a permitir mais e melhor arrumação de stock, utilizando no parque de reboques o método FIFO (First In, First Out). “Nos últimos dois meses aproveitámos para reorganizar o parque externo, arrumando-o por tipo de equipamento, criando uma zona nova só para resíduos, e outra apenas para produto acabado circulante agrícola. Assim, temos neste momento três parques distintos dentro da fábrica: reboques e cisternas agrícolas, maquinaria agrícola, e equipamentos de transporte. Esta tripartição facilita não apenas a gestão do parque, como também permite um controlo visual mais rápido e eficiente. Todos os equipamentos são inspecionados pela Qualidade. Nada sai sem estar a 100%. Este passo adicional introduzido em novembro de 2020, já teve reflexos na redução do número de de reclamações. É um processo de melhoria continua que queremos cada vez mais promover, para prestarmos um serviço de ainda maior qualidade e cada vez mais eficiente aos nossos clientes”, explicou.
Em jeito de conclusão sobre o tema da fábrica, Nuno Gama Lobo traçou os próximos passos. “O nosso objetivo ao nível do fabrico é incrementar ainda mais a qualidade do produto acabado. Temos, do ponto de vista estrutural, máquinas com muita qualidade, temos feito melhorias ao nível do design e de acabamentos finais, e é precisamente nestes últimos e na pintura que queremos melhorar ainda mais. A fábrica é um organismo vivo, um trabalho que nunca acaba e, por isso, teremos de estar sempre a evoluir. Temos que continuar a modernizar-nos, porque um dos desafios do futuro continuará a ser a escassez de mão de obra especializada em todas as empresas industriais da Europa, e a resposta que a Galucho procura é através da inovação, da robotização e da automação de processos. Onde esta aposta se traduzir em aumento de produtividade e de qualidade do produto final, a Galucho apostará forte”.
Como aumentar a produtividade em 30%
Uma fábrica nem sempre é sinónimo de arrumação e limpeza. Não é o caso da Galucho. De “cara lavada”, com ruas largas, sinalização, áreas sequenciais e zonas específicas para arrumação dos desperdícios, o aspeto limpo e arrumado tem sido alvo de elogios de quem visita a fábrica sintrense. “Todas as pessoas têm ficado surpreendidas”, enalteceu Nuno Gama Lobo.
“Aquilo que fizemos foi repensar a organização e a arrumação da fábrica, sequenciando os trabalhos. Conseguimos juntar todas as linhas por tipo de produto, juntando equipas e otimizando processos”, começou por explicar. “Esta alteração deu-nos um aumento de produtividade muito grande. Comparando com 2017, temos menos 90 colaboradores e produzimos mais 30% (número de unidades e capacidade de produção)”.
A par da reorganização da unidade, a empresa continua a investir na robótica, não só através da compra de novos equipamentos, mas, sobretudo da recuperação de robots que se encontravam inoperantes. “Grande parte do investimento que fizemos em robótica foi não só a adquirir novos robots, mas também a restaurar equipamentos que já cá estavam. Temos também um novo robot para soldar chassis que nos permite duplicar a capacidade de produção, que passou de 13h para 5h. Estamos a passar toda a soldadura manual para robotizada. O objetivo é em cinco anos ter 95% da soldadura robotizada. Olhando apenas para a secção de soldadura e basculante da área de transportes, tivemos um aumento de produtividade de 300% - em 2019 fazíamos 7 unidades por mês e ao dia de hoje fazemos 28.”
“Uma empresa portuguesa não pode vender só em Portugal”
Instado a comentar onde gostaria de ver a empresa daqui a cinco anos, Nuno Gama Lobo falou sobre o património “genético” da empresa, a aposta na exportação, e sobre a gama de produto que, acredita, terá que ser expandida para tocar em áreas como a vinha ou o olival. “Daqui a cinco anos gostaria que a Galucho continuasse a ser vista como a marca de referência que é, uma empresa fiável, e duradoura. Não queremos apenas ser mais, mas também transmitir mais. Não é fácil ser inovador com 100 anos de história, mas é possível. Os 100 anos não têm que ser um peso, mas sim um orgulho. Há um passado a enaltecer e respeitar, mas que não nos deve impedir de olhar para o futuro. E, para isso, devemos fazer jus ao ADN da Galucho, do qual a inovação faz parte. Se queremos estar presentes nos grandes mercados agrícolas da Europa, que é uma aposta da Administração, temos que continuar a inovar. Uma empresa portuguesa não pode vender só em Portugal. A aposta na exportação é uma opção estratégica para nós. Será certamente uma das áreas onde concentraremos esforços do ponto de vista comercial nos próximos anos. A par de querermos manter a liderança no mercado Português, o que é vital e estratégico para nós, queremos estar presentes em mercados europeus maduros e regulares que nos obriguem a ser melhores. A agricultura está a evoluir e daqui a 10 anos não poderemos estar a vender as mesmas máquinas que vendemos hoje - algumas serão iguais, mas 20 a 30% serão diferentes. Há uma franja de equipamentos que podemos desenvolver, áreas de atividade onde queremos alargar a nossa gama de produtos, como o olival ou as árvores de fruto, mas que temos debaixo de olho, quer seja diretamente ou através de parcerias. Estamos no terreno e a melhorar todos os dias”.
Sachador para a floresta foi o primeiro fruto da equipa de I&D
Quase exclusivamente dedicado no apoio à fábrica, o departamento de engenharia da empresa encontravase limitado no que à investigação e desenvolvimento de novos produtos diz respeito. Por isso, em 2021 foi criado o Departamento de Inovação, Investigação e Desenvolvimento, dedicado única e exclusivamente a desenvolver novos produtos, tanto para a área agrícola como para os transportes. A equipa é composta por quatro engenheiros mecânicos, dois para a área agrícola e dois para a dos transportes. Procurámos pessoas com experiência na área do desenvolvimento de produtos mecanizados.
O primeiro fruto deste departamento foi lançado na Agroglobal, o sachador para a floresta mas já este ano surgirão dois novos produtos na área agrícola. “Tínhamos muita dificuldade em criar produto novo porque o nosso departamento de engenharia estava muito focado no melhoramento do produto existente e no apoio à fábrica. Assim, criámos uma equipa totalmente autónoma e independente, exclusivamente dedicada ao desenvolvimento de novos produtos. Mesmo fisicamente os departamentos estão separados. O objetivo é todos os anos ter produto novo. Lançámos o sachador para a floresta no ano passado já fruto desta equipa, e lançaremos mais dois produtos na área agrícola e dois na dos transportes durante este ano. Para 2023 já estão na calha outros dois. Queremos aumentar de forma exponencial a nossa gama para a floresta, vinha, fruta e olival. A Galucho a partir de 2021 passou a aplicar 5% do volume de negócio em Inovação & Desenvolvimento”, explicou o CEO da Galucho.
“O ano 2021 foi um ano muito bom tanto a nível nacional como internacional. Nos primeiros cinco meses de 2022 temos um crescimento de 18%. Tendo em conta todas as contingências, como a guerra e o aumento dos preços, revela que, apesar das dificuldades, temos conseguido superá-las. Em relação ao mercado nacional agrícola, o mesmo está menos dinâmico que em anos anteriores , com os Agricultores à espera da definição de novos quadros comunitários, da definição da PAC, e nós sentimos que os agricultores estão todos expectantes para avançar com novos investimentos. Acreditamos que o segundo semestre de 2022 vai ser bastante mais animado a nível nacional porque a visão do Governo terá de passar pela aposta na Agricultura. Penso que nos próximos anos veremos menos produtores na Agricultura, mas de maior dimensão. A concentração será uma tendência natural, que permitirá economias de escala”.
Construir uma máquina para a vida é um trabalho de equipa
Uma das principais preocupações da Galucho nos últimos anos tem sido a procura por quadros jovens com altas qualificações. Na opinião do CEO da empresa, só assim a empresa poderá continuar a fazer jus ao seu lema: “construir máquinas para a vida”. “A nossa estabilidade financeira permite-nos investir no nosso desenvolvimento, temos quadros com qualificações superiores ao que tínhamos e maior diversidade. Em 2017 tínhamos menos de dez mulheres nos nossos quadros, hoje temos mais de trinta e algumas em cargos de chefia e 9 nacionalidades diferentes nos nossos quadros, o que é fruto dos tempos que vivemos, mas também da aposta que estamos a fazer na internacionalização. O investimento nos Recursos Humanos está relacionado com a necessidade de ter pessoas alinhadas com a estratégia da empresa, capazes e tecnicamente preparadas para implementar as ideias propostas. Por isso, nos últimos quatro anos estivemos focados em construir uma equipa jovem mas com experiência, com vivências internacionais, e com 'fome' de fazer mais. A mistura entre gerações é muito importante numa empresa, mas a ambição tem de ser transversal a todos. Construir uma máquina para a vida é um trabalho de equipa.”
Por: Sebastião Marques fotografia: abolsamia