A morte do cozinheiro

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A Morte do

Cozinheiro Allan Pitz


A morte do cozinheiro

Copyright © 2010 Above Publicações Primeira edição, Março - 2010 Editor Responsável Uziel de Jesus Revisão Alexandra Resende Capa Melissa Roncete Diagramação e acabamento Above Publicações www.aboveonline.com.br Impresso na gráfica Magnus Todos os direitos reservados pelo autor. É proibida a reprodução parcial ou total sem a permissão escrita do autor.

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Apresentação É verdade, eu matei o cozinheiro. Em momento algum deste livro negarei que matei o sórdido cozinheiro com minhas próprias mãos de escrever versos. Havia motivo claro em saciar-se com a sua morte, morte de quem por carne e gozo objetou-se ao incomensurável amor que me tornava tão puro. Eu estripei-o com suas facas imundas de trabalho banal, e escalpelei por mimo infantil, de criança brincalhona, ao ver os índios e escalpes na TV. Matei o demônio com noventa facadas, cultivando um novo demônio sanguinário em mim, portanto não negarei ter feito a coisa mais maravilhosa que eu poderia fazer por minha inconsequência gloriosa naquele momento: Eu matei o cozinheiro. A morte do cozinheiro já deve ser considerada uma das obras literárias mais 3


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intensas e atuais sobre a dor de cotovelo e o ciúme. De forma singular o autor nos guia sem medo até o amor doente de Luiz Aurélio e as psicoses novas da recente solidão induzida. A derrota do ”eu” exaltado, o abandono, e a morte que pede lugar ao descontentamento puramente egoísta caminham livres. Vemos um jogo de querer e não poder, que desenrola o frágil espírito do ser humano desiludido de amor. Usando a mescla de linguagens necessária em sua abordagem diferenciada, Allan Pitz atormenta os corações abalados neste livro memorável e instigante, fazendo enxergar com outros olhos a parte considerada cruel de uma trágica história romântica.

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Sumรกrio Parte 1 .......................................... 07 Parte 2 .......................................... 11 Parte 3 .......................................... 15 Parte 4 .......................................... 19 Parte 5 .......................................... 21 Parte 6 .......................................... 35 Parte 7 .......................................... 41 Parte 8 .......................................... 49 Parte 9 .......................................... 59 Parte 10 ........................................ 73 Conheรงa o Autor ........................... 79 5


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Parte 1 É verdade, eu matei o cozinheiro. Em momento algum deste livro negarei que matei o sórdido cozinheiro com minhas próprias mãos de escrever versos. Havia motivo claro em saciar-se com a sua morte, morte de quem por carne e gozo objetou-se ao incomensurável amor que me tornava tão puro. Eu estripei-o com suas facas imundas de trabalho banal, e escalpelei por mimo infantil de criança brincalhona, ao ver os índios e escalpes na TV. Matei o demônio com noventa facadas, cultivando um novo demônio sanguinário em mim, portanto não negarei ter feito a coisa mais maravilhosa que eu poderia fazer por minha inconsequência gloriosa naquele momento: Eu matei o cozinheiro. Pergunte-me o gosto e responderei: É doce. O gosto de matar um canalha daquela estirpe é o doce do doce, não há doçura 7


A morte do cozinheiro equivalente que possa superar. Dizia pelas ruas que lhe mostrou o que seria um homem de verdade em múltiplos aspectos, que a desvirginou por achismos de suposto aperto, um médico de azeitonas e temperos dando veredictos intrauterinos, suponho. O canalha sorria de um amor legítimo, desconhecido, e julgava-se ufanoso por superar hipoteticamente esse amor anônimo aos seus olhos humanamente torpes. E dizia que levaria a noivinha para deleite de outros porcos imundos em seu chiqueiro... Ouvi dizer. Cartas anônimas com letras de recortes. Telefonemas macabros que te trazem coisas de madrugada. Disseram-me que por vezes o coxo a embebedava, retirava-lhe as forças poucas, e depois de ver a magra vencida de tudo, possuía suas carnes com a fúria de um renomado estuprador de cadeia. Se outros aproveitavam? É claro, o cozinheiro era muitíssimo generoso em depositar doses dopantes em seus pratos deliciosos, aliado ideal para o álcool excessivo, e assim os mais chegados poderiam desfrutar de sua propriedade erótica sob qualquer volúpia, pois era exatamente assim que o cozinhei8


Allan Pitz ro vulgar a observava: Uma propriedade sexual exclusiva. No entanto, ela não via o canalha tosco da forma que me diziam as sombras, ela amava férvida, com idolatria religiosa o próprio algoz! E nem ao menos falava comigo para dar-me o inenarrável prazer da voz escondida, eu era o único grande vilão de sua vida. Por quê?

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Parte 2 Nunca saberei se as verdades foram ditas ou se somente os venenos foram depositados, mas eu não poderia permitir que a sonhada noiva virginal de outrora fosse tratada como um animal abatido por aquele ser humano tão vulgar, aquele abominável chiste intruso e ”matável”. Era a minha esposa! Não foi no papel, mas dividimos a mesma cama por três anos! Sem contar a gestação interrompida num trágico aborto espontâneo... Nossa pequena família. Então ela voltou à confortável residência de sua mãe rançosa... E os abutres a viram, no retorno traumático à masmorra, como uma separada experiente a ser devorada com mais facilidade e vigor pelos garanhões. Ela com tantas opiniões distorcidas, tantas pestes nos calcanhares a morder-lhes em meu nome, não poderia outro senão a desconfiança... E no fim, a incrédula dis11


A morte do cozinheiro tância total. Porém, antes que eu construísse forma concreta nos sonhos sádicos de cortar os frágeis pulsos derrotados, Carmem gritou meu nome... Foi num sonho, claro, mas a alma pura que conheci trajando o velho uniforme escolar me acenava em desespero nítido, e dizia-me que tudo fora um grande erro de jovens apaixonados, passaríamos uma borracha, e continuaríamos nossa família sonhada daqui pra frente. Nossa família! Ela apareceu-me em sonho, um dia antes da data escolhida para dar fim a esta vida de tanto sofrer. Um sinal. Não teria que ser eu o morto desta história, deveria morrer o núcleo da nossa dor, deveria morrer o foco aproveitador de toda a questão nossa, deveria morrer, evidente, o breve demônio intruso. Eu, entendedor da nobre missão adquirida, deveria viver para proteger meu pequeno anjo e matar o demônio invasor custe o que custar. A certeza de que realmente mataria o cozinheiro sórdido rendeu-me grata noite de sono. Acha que sabe alguma coisa sobre a dor de cotovelo? Ciúmes? Desesperança? Esqueça, porque ninguém sabe realmente 12


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o que pode fazer a dor de cotovelo... Nem que o ciúme cru pode lhe digerir as tripas vez por outra. Quatro anos de doutrina burra no topo da falsa inteligência, quatro anos isolado no lixo acompanhando a destruição dos meus sonhos mais queridos. No computador eu via sua felicidade aparente, seus passeios, suas novas declarações de amor... Eu via as fotos cínicas e sentia falta de mim nas imagens bobas cotidianas, era o meu braço em sua cintura, claro, era minha boca em sua face! E todos sempre estavam em lugares lindíssimos, aprazíveis, verdes, festeiros; eu habitava um lugar tosco e mal acabado, um quartinho sofrível e úmido como meu rosto choroso. Mesmo quartinho nos fundos da casa de minha mãe. Mesmo quartinho que refletia minha derrota interna. Eles eram felizes! Felizes, diziam as vozes! Como eu queria voar para longe daquele lugar de tantas lembranças sofridas, o cheiro dela ainda impregnava as paredes mortas de esperar por nada... Ou seria minha imaginação a querer-me morto? Ou vivo? Ela nunca voltaria para meu cemitério-domicílio. Nunca. Criou uma nova verdade salvadora. Certeza fraca; podre como a minha raiz.

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Parte 3 As madrugadas eram as mais terríveis pecadoras em fila induzida de extrema-unção, serpentes a esperar o momento exato para sucumbir-me num bote preciso e fatal. As noites reflexivas me levavam aos velhos cenários sob os sorrisos mórbidos da lua: As decisões equivocadas, as brigas, os motivos, as perseguições tolas ao pobretão, os erros... Relembro a Dama e o Vagabundo, Continua...

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