MERCADO DOS PINHÕES - ANÁLISE E DIAGNÓSTICO

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MERCADO DOS PINHÕES introdução

Com o objetivo final de conceber um projeto de intervenção para o edifício tombado MERCADO DOS PINHÕES e o seu entorno, realizamos uma análise qualitativa, uma vez que esse projeto não deve afetar a paisagem da área, deixando intacto o valor histórico da região. Uma das abordagens foi a leitura do estado atual de uso e apropriação do espaço, buscando compreender a importância do edifício para a área. Outra, foi o estudo dos gabaritos, onde foi possível entender uma hierarquização dos edifícios no entorno com relação ao objeto em estudo. Por fim, estudamos os conceitos sobre a preservação do edifício histórico, do ponto de vista geral, iniciado com o seu tombamento organizado em forma de processo jurídico e sobre a recuperação integral desses objetos valorizados que não pode se realizar senão a partir do entendimento de seu papel na dinâmica urbana da cidade e da percepção de sua importância.

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MERCADO DOS PINHÕES No final do século XIX, Fortaleza passava por um processo de modernização urbana acarretado pela revolução industrial que acabava por impulsionar a capital para uma posição de destaque político e econômico. O crescimento econômico era impulsionado principalmente pela crescente comercialização de algodão com a Europa, dado que, com a guerra de secessão nos EUA e consequente interrupção do fornecimento desse material, os países europeus tiveram de buscar estabelecer contato com outros mercados que também comercializassem essa matéria prima.

foto: ricardo sabadia

apresentação do edifício

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Nesse contexto surge a idéia da construção de um mercado público que utilizasse a mais nova inovação tecnológica, o ferro, e se adequasse aos novos preceitos de sanitarismo.

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04 01. época da inauguração; 02. fotografia do princípio do século passado, nota-se o estado de abandono do edifício; 03.a nova implantação de arte do mercado, na Praça Visconde de Pelotas 04. pouco antes do processo de restauração

O Mercado da Carne foi inaugurado em 18 de abril de 1897, durante a gestão de Guilherme César da Rocha, tendo as obras se iniciado em 05 de junho do ano anterior. O Mercado, fonte de orgulho para o fortalezense da época, segundo mostram os relatos, teve sua estrutura completamente pré-fabricada em ferro, na França. Era, originalmente, composto de dois pavilhões unidos pelas laterais em através de uma circulação coberta, denominada «avenida». O projeto levava em consideração o aproveitamento das condições naturais de ventilação e iluminação, tendo sido projetado por franceses e ingleses para climas semelhantes ao da capital. Com o passar do tempo o Mercado vai progressivamente perdendo suas funções até que, em 1937, através do decreto de lei nº 52 de 19 de dezembro da Câmara municipal, é autorizado o desmonte do mercado da carne e sua transferência (antes situado na Praça Carolina, não mais existente) para dois outros pontos: a primeira parte vai para a Praça Visconde de Pelotas («Praça dos Pinhões») e a segunda para a Praça de São Sebastião e posteriormente para a Aerolândia.

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05 foto: ricardo sabadia

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Junto a esse crescente intercâmbio comercial com a Europa estabeleceu-se também um intercâmbio (ou ainda a importação) de aspectos culturais europeus e um canal direto de comunicação com esses países, fazendo com que ocorresse a divulgação mais rápida de informações sobre o que por lá acontecia, como a utilização de novos produtos nas edificações, os novos serviços de correio ou telefonia. Esse intercâmbio de informações, aliado ao crescimento econômico da cidade, acelerou seu desenvolvimento urbano à criação de planos e posturas a serem adotadas para ordenar o crescimento da cidade. Fortaleza sofre então uma série de transformações de ordens sanitária e estrutural.

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05 e 06- fotos das condições atuais do imóvel, após o processo de restauração sofrido pelo imóvel, ocorrido em 1998, com recursos provenientes de um convênio realizado entre a EMBRATUR (Empresa Brasileira de Turismo) e a Prefeitura Municipal de Fortaleza.


MERCADO DOS PINHÕES análise do entorno

.sistema viário

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O Mercado dos Pinhões se localiza na Praça Visconde de Pelotas (popularmente conhecida como Praça dos Pinhões), entre as ruas Nogueira Acioli e Gonçalves Ledo, delimitadas pelas ruas Tenente Benévolo e Pereira Filgueiras. Seus principais acessos se dão também por essas ruas, em especial pela Nogueira Acioli e Gonçalves Ledo que interligam o sítio às avenidas Dom Manuel, Monsenhor Tabosa e Santos Dumont.

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Em um nível mais detalhado, a circulação viária nas imediações do edifício e da praça e o acesso local a esses dois elementos se dá de forma ocasional sem privilegiar as visuais do edifício e meio confusa, dada a má sinalização horizontal e vertical das vias.

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02 legendas: 1 centro dragão do mar de arte e cultura 2 praça cristo redentor 3 igreja seminário da prainha 4 igreja de santa luzia 5 praça visconde de pelotas 6 colégio militar 7 praça da bandeira

01 e 02. vistas diurna e noturna da rua coligada ao mercado, seus diferentes usos, fluxos e públicos nos diferentes turnos. 03. estacionamento do Mercado, conformação e sinalização confusas.

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MERCADO DOS PINHÕES análise do entorno

.uso e ocupação do solo

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A configuração do espaço urbano decorre de múltiplos fatores: a forma e as tipologias de ocupação e uso do solo urbano, e a ocupação espontânea, influenciadas pelo mercado imobiliário, pelo sistema viário e transportes, pela topografia, pela disponibilidade de redes de infraestrutura, equipamentos e serviços. Para analisar o uso e ocupação do solo, foram criadas as seguintes categorias: residencial, comercial, serviço, misto (residencial e comercial), misto (residencial e serviço), misto (comercial e serviço), espaço público (praça) e abandonado.

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Em relação à taxa de ocupação, quase todo o entorno ocupa 100% do solo, pois geralmente não há recuos. Como mostra o mapa ao lado, existe uma diversidade enquanto ao uso no entorno do Mercado dos Pinhões. Não há uma predominância clara, porém é notável que o terreno abandonado aparece em uma escala muito maior.

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Legenda: Residencial Comercial Serviço Misto (Residencial e Comercial) Misto (Residencial e Serviço)

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Misto (Comercial e Serviço) Espaço Público: Praça Abandonado

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01. exemplar de uso residencial; 02. exemplar de uso comercial; 03. exemplar de serviço; 04. exemplar de uso misto.

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1mapa de uso e ocupação do solo s/escala


MERCADO DOS PINHÕES análise do entorno

.gabaritos Gabarito é o parâmetro que limita a altura das edificações. Tem finalidade paisagística, na maioria das vezes. 02

As categorias em relação ao número de pavimentos utilizadas foram: de 1.0 à 1.5, de 2.0, de 2.5 à 3.0 e de 3.5 à 4. 01

É interessante notar que a predominância na altura dessa área é de 2 pavimentos. O que equivale dizer que o Mercado dos Pinhões está valorizado por ser mais alto, e também por ser centralizado.

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Na praça, as copas das árvores chegam a certa altura considerável, tornando o edifício um pouco escondido para quem atravessa a Rua Gonçalves Ledo.

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Legenda: (nº de pavimentos) 1.0 à 1.5 2.0 2.5 à 3.0 3.5 à 4.0

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01. exemplar de 1.0 à 1.5 pavimentos; 02. exemplar de 2.0 pavimentos; 03. exemplar de 2.5 a 3.0 pavimentos; 04. exemplar de 3.5 a 4.0 pavimentos.

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1mapa de gabaritos s/escala


MERCADO DOS PINHÕES análise do entorno

.conflitos Para uma melhoria do espaço público e uma maior preservaçào do patrimônio histórico, não só do edifício tombado, mas de todo o seu entorno, é preciso recuperar a arquitetura original de qualidade, intervindo em edifícios descaracterizados e conflitantes. 01

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Consideramos edifícios descaracterizados aqueles que sofreram intervenções que corromperam sua arquitetura inicial, principalmente os que tiveram suas fachadas modificadas.

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Consideramos edifícios conflitantes aqueles que não se enquadram e não se encaixam na paisagem geral, que se destacam negativamente, de pobre arquitetura .

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Legenda: (localização de edifícios descaracterizados ou conflitantes) descaracterizados conflitantes

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01, 02 e 04. modificação de fachadas e uso de elementos que degradam a arquitetura original; 03. terreno de grande potencial e porte sem uso.

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1mapa de edifícios descaracterizados s/escala


MERCADO DOS PINHÕES análise entorno

.aspectos legais O Plano Diretor Participativo de Fortaleza prevê uma política de proteção do patrimônio cultural do município, ressaltando a elaboração de legislação específica para as chamadas Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio Paisagístico, Histórico e Cultural, as quais recebem, cada uma , um plano específico. A legislação específica volta-se tanto para a edificação em si como para o seu entorno, de modo a privilegiar a visualização do edifício. Constam no PDP diretrizes gerais da política de proteção, que definem as características das edificações, monumentos, obras e paisagens a serem preservados. Seguem, respectivamente, os conceitos de patrimônio cultural e de bens materiais, segundo o PDP (que apresenta também a definição e medidas de proteção para bens imateriais): "Entende-se por patrimônio cultural o conjunto de bens móveis e imóveis, de natureza material e imaterial, portadores de referência à identidade, à ação, e à memória dos diferentes grupos da sociedade.» "Bens materiais são todas as expressões de cunho histórico, étnico, artístico, arquitetônico, arqueológico, paisagístico, urbanístico, científico e tecnológico, incluindo as obras, objetos, documentos, edificações, ruínas, lugares, paisagens e os demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais.» Tais diretrizes prevêem proteção, preservação, conservação, recuperação, restauro, fiscalização do patrimônio cultural de interesse artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico, auxiliados por ações articuladas entre órgãos do Município, Estado e União, além da capacitação contínua do corpo técnico municipal. Um dos traços mais fortes desta política de proteção é o caráter participativo que ela propõe, mediante aproximação entre comunidade e patrimônio, seja ele material ou imaterial. Isto, com o intuito de estimular o reconhecimento do valor cultural do Patrimônio pelos cidadão. Está previsto, também, o fomento e incentivo à educação patrimonial.

preservação do patrimônio, aliadas a medidas de fiscalização preventiva para a proteção das edificações. O estímulo ao uso dessas edificações se daria mediante incentivos fiscais, instrumentos urbanísticos e apoio técnico especializado. Os usos propostos são atividades como turismo, lazer, educação cultura, e serviços. Para eleger as Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio Paisagístico, Histórico, Cultural e Arqueológico, são avaliados os seguintes aspectos: • referência histórico-cultural; • importância para a preservação da paisagem e da memória urbana; • importância para a manutenção da identidade do Município ou de algum de seus bairros; • valor estético, formal ou de uso social, com significação para a coletividade; • representatividade da memória arquitetônica, paisagística e urbanística; • tombamento federal, estadual e municipal. São os instrumentos aplicados nestas Zonas: • direito de preempção; • direito de superfície; • tombamento; • transferência do direito de construir; • estudo de impacto de vizinhança (EIV); • estudo ambiental (EA).

O PDP determina o incentivo do uso das edificações históricas, desde que compatíveis com a preservação do bem, assim como determina também a compatibilização do desenvolvimento econômico e social com a

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MERCADO DOS PINHÕES análise do edifício

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planta baixa s/escala

.o edifício O Mercado dos Pinhões é um exemplo de construção em que edifício e estrutura se confundem. A estrutura não é apenas um componente do edifício, mas é, praticamente, ele mesmo. E já por ser tão marcante, tão importante, é muito natural que, sendo executada por uma grande empresa francesa, sua característica fundamental seja a precisão. Esta seria a palavra que melhor definiria a obra, no que concerne à parte estrutural. Aparentemente, para a montagem da obra, não foram previstos mecanismos de ajuste que permitissem retificar medidas, e todos os sistemas mecânicos de fixação estão perfeitamente ajustados. Composto por uma nave central e duas laterais, o edifício tem uma estrutura vertical que apresenta dezesseis colunas internas de ferro fundido e vinte e oito colunas externas, do mesmo material.

2fachada leste s/escala

A estrutura horizontal é formada por tesouras semi-elípticas de ferro laminado, aparafusadas às colunas. Quatro dessas tesouras compõe o conjunto de cada linha estrutural, formando um pórtico. Compondo o contraventamento do edifício, temos vigas retas que se encontram nas fachadas laterais, fazendo parte dela os suportes para as venezianas de madeira. Estão distribuídas em três linhas, que, ao mesmo tempo, funcionam como vitrais. Anteriormente à primeira restauração, a coberta era feita de fibrocimento, mas foi inteiramente substituída pela feita de chapas metálicas, que encontramos atualmente. Por ser visivelmente acessível para o exterior, e muito amplo, o Mercado dos Pinhões apresenta forte potencialidade para abrigar diversas atividades, como as que se encontram ali atualmente (a feirinha matinal, e as apresentações de chorinho às sextas à noite). Apesar de não estar abandonado, há uma série de eventos que poderiam acontecer ali, desde que uma intervenção revitalizadora, tanto do Mercado como, especialmente, do entorno, tornasse tudo mais viável.

3corte transversal s/escala

.bibliografia CAPELO FILHO, José; SARMIENTO, Lídia. Mercado do Ferro: notas sobre a restauração do Mercado dos Pinhões. Fortaleza: Oficina de Projetos, 2003. KÜLH, Beatriz Mugayar. Arquitetura do Ferro e arquitetura ferroviária em São Paulo: reflexões sobre a preservação. São Paulo: Atelier Editorial: FAPESP: Secretaria da Cultura, 1998. Carta de Burra. Conselho Internacional de Monumentos e Sítios - ICOMOS. Burra, 1980.

FONTE: Mercado do Ferro: Notas sobre a restauração do Mercado dos Pinhões.

Carta de Veneza. II Congresso Internacional de Arquitetos e Técnicos dos Monumentos Históricos. Veneza, 1964. Plano Diretor Participativo de Fortaleza, PDP-FOR, 2008.

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