Jornal Unicom

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JORNAL EXPERIMENTAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNISC - SANTA CRUZ DO SUL VOLUME 20 - nº 1/novembro 2013


O catecismo de Carlos Zéfiro

EDITORIAL

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EXPEDIENTE Editor chefe: Demétrio de Azeredo Soster ¹ Editora: Diana Azeredo² Sub-editora Liese Scher Berwanger³ Reportagem: Ana Paula Severo 4 Ani Camila Jantsch5 Augusto Dalpiaz6 Daniela Lemes7 Diana Azeredo Diogo Paz Guilherme Bica8 Leandro Junhkerr Porto9 Liese Scher Berwanger Lucas Dalfrancis10 Thiago Burger11 Veridiana Guimarães12 Wiliam Reis Projeto gráfico: Mirian Flesch13 Editor de Rádio: Wiliam Reis Editor de Online: Leandro Junhkerr Porto

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Editor de Fotografia: Veridiana Guimarães Produtor: Guilherme Bica Revisores: Ani Camila Jantsch Daniela Lemes Promotores de ação: Lucas Dalfrancis Ani Camila Jantsch Foto de capa: Fábio Goulart Making of: Veridiana Guimarães Ilustração: Márcio Meyer

Este Jornal foi produzido na disciplina de Produção em Mídia Impressa, sob a supervisão do professor Demétrio de Azeredo Soster. Impressão: Grafocem Tiragem: 500 exemplares

* Adivinha quem não esteve presente no dia da foto e teve quer inserido através de montagem? 7

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R.: *Ana Paula Servero e Lucas Dalfrancis. R.: **William Reis e Diogo Paz.

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Não que a escolha do tema tenha sido unanimidade na turma, mas a missão foi assumida por todos. Não que o assunto nos fosse estranho, mas organizá-lo em formato de narrativa jornalística era desafiador. Risos, bochechas vermelhas, olhares curiosos, receios, dúvidas, desejos... Cada repórter foi, aos poucos, criando intimidade com a edição. O jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social da Unisc, novamente, decidiu ousar. Afinal, não há assunto que não possa ser tratado pelo Jornalismo e essa é a ideia central dessa proposta. Pornografia: É doença? Será que é pecado? Pode dar cadeia? O que tem a ver com a pedofilia? Entre casais, aprimora o desejo? Quem já ouviu falar em “pornochanchada”? Quando a Literatura se torna pornográfica? História em quadrinhos para maiores de idade? Passou o momento de êxtase da indústria pornô? E o que Raquel Pacheco tem a dizer sobre Bruna Surfistinha? Que se abram as próximas páginas! Nelas, matérias, crônicas, contos, fotos, ilustrações e histórias em quadrinhos compõem nossa experiência como um jornal produzido por estudantes curiosos, dispostos a fazer o melhor. Além dessas páginas, aguardamos sua visita no Blog do Unicom e no Facebook. Na internet, oferecemos conteúdos complementares em formato de áudio e vídeo. Ali, nos sentimos, digamos, mais à vontade, para compartilhar bastidores de produção, descobertas, opiniões e curiosidades extras. Finalizamos a primeira edição deste segundo semestre de 2013. Eis aqui o resultado de meses de trabalho na busca por colocar em prática o que já aprendemos sobre Jornalismo. Planejamos, questionamos, agendamos entrevistas, insistimos, repensamos, tentamos outra abordagem, escrevemos, corrigimos... agimos como repórteres, mantendo em mente você, querido leitor, que representamos diante de nossos entrevistados e para o qual nos dirigimos agora, oferecendo um pouco de nós mesmos. Agradecemos ao Márcio Meyer, que nos emprestou sua dedicação e seu talento com as tirinhas deste Unicom. Agradecemos à colega Daiana Stockey Carpes que nos incentivou a perceber além dos nossos próprios olhos, orientando todo o trabalho da audiodescrição de cinco matérias desta edição. Agradecemos a parceria com as disciplinas de Fotografia em Jornalismo, coordenada pelo professor Rafael Hoff, e Jornalismo Online, da professora Cristiane Lindemann. E, por fim, agradecemos o apoio da Agência A4 e dos demais mestres e funcionários que nos auxiliaram neste caminho. Valeu por apostarem seu tempo nesse projeto e nos ajudarem a transformar esse sonho em realidade! Este é o Unicom Pornô, muito prazer!

** E sempre tem alguém que acaba esquecendo de fazer a foto. Adivinha quem faltou? 1

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Revistinhas clandestinas, tiras eróticas, gibis para adultos. Conheça o cara que foi responsável pela transgressão das histórias em quadrinhos VERIDIANA GUIMARÃES REPORTAGEM FOTOGRAFIA

No filme A Desforra da Titia, de 1995, o personagem Edu alimenta seu imaginário libidinoso com as histórias em quadrinhos. Apesar de parecer um tanto inusitado, esse costume não condiz apenas com ficção. No Brasil pré-revista Playboy, os quadrinhos pornográficos atingiram seu auge nos anos 70. Antes disto, na década de 50, um homem, conhecido pelo pseudônimo de Carlos Zéfiro, já se dedicaria a escrever e desenhar sobre “conteúdos adultos”. Famosas entre os jovens da época, as revistinhas de Zéfiro eram responsáveis pela iniciação sexual da maioria dos jovens. Ironicamente, as publicações ficaram conhecidas como “catecismos”. A explicação parece lógica: elas eram escondidas dentro de publicações religiosas. Sim, Zéfiro ousava ao ilustrar cenas que apresentavam homens e mulheres (e também alguns animais) nas mais diversas situações. Tal audácia se consagrou. Mestre clandestino, mitológico, venerado... seus seguidores ainda o mantêm na memória. Esse é o cara. Se é que entendem. Ficou tão popular que temos diferentes publicações que abordam sua trajetória. A arte sacana de Carlos Zéfiro e Os alunos sacanas de Carlos Zéfiro são alguns dos títulos. Na última obra citada, Joaquim Marinho nos esclarece que a clandestinidade, a rapidez das vendas e a alta demanda de mercado provocaram queda na qualidade de seus desenhos. Já o publicitário e jornalista Jose Arlei Cardoso prefere acreditar que ele criou um estilo próprio, mara-

vilhoso, tanto que foi amplamente copiado. Ainda ressalta que, considerando a situação da época, Zéfiro conseguiu alcançar resultados os quais propôs. “... papel barato, desenhos em uma cor e formato de revista bem fino e pequeno, ideal para esconder entre os livros ou cadernos. Como eram quadrinhos proibidos e ilegais (para a moral da época), eram precisos em passar sua “mensagem” e conquistar uma legião de apreciadores, principalmente entre os adolescentes”, conta Arlei. Vistos como imoralidade pelas famílias católicas, os quadrinhos eróticos eram vendidos clandestinamente em locais como barbearias e bancas de jornal. Isso diz bastante sobre as pressões que o autor sofreu, responsáveis por mantê-lo no anonimato até 1991, quando a revista Playboy revelou a verdadeira identidade de Carlos Zéfiro. Tratava-se de um funcionário do Departamento Nacional de Imigração. Alcides Aguiar Caminha temia perder o emprego por causa da antiga Lei 7.967 que regia o funcionalismo público. Esse é o ‘cara’

PORNOGRAFIA ILUSTRADA

OPINIÃO

Posturas jornalísticas

Suzana aprecia ‘gibis’ eróticos desde os 15 anos que enlouquece as titias e os titios. Ele é responsável pela transgressão das histórias em quadrinhos. Para aqueles que não conheciam, prazer este é Carlos Zéfiro.

Gibis que fizeram sucesso Existem aqueles que lembram até hoje do sucesso dos “gibis adultos”, como é o caso de secretária Suzana Beatriz Dattein, 48 anos. Ela conta que chegou a folhar os gibis pornográficos dos primos. Na época com 15 anos, acreditava que os primos não sabiam sobre estas espiadelas. Mas agora... Para aqueles que, como Suzana, apreciam este tipo de pornografia, passados mais de 70 anos do surgimento do “catecismo”, a Editora Peixe Grande busca resgatar esta cultura com a coleção “Quadrinhos Sacanas - Os Herdeiros de Carlos Zéfiro”, com a organização de Toninho Mendes, editor, jornalista e poeta.

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A polêmica indústria pornográfica está em crise, e a internet é o seu algoz

INDÚSTRIA

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Acontece que o cinema pornô por muito tempo se colocou como a porta de entrada para os conteúdos adultos. Durante anos as fitas VHS eram a única saída de um casal que buscava fugir da rotina ou de um adolescente que “roubava” um filme para assistir àquilo que lhe era proibido. Nessa época, os filmes pornôs eram exibidos nas telas de cinemas. Agora, na era digital, por mais absurdo que possa parecer, “na primeira vez que vi um vídeo pornô eu deveria ter uns 11 anos e foi por meio de VHS de uma locadora. Não sei ao certo quem pegou, mas obviamente não era para

eu ter assistido”. É o que conta o bancário, Mario Cezar Andrade, 27 anos, de Porto Alegre, que assume ainda assistir “a alguma coisa” na internet. A crise de direitos autorais, vivida na era digital, afetou mais ainda a indústria pornô. A maioria das pessoas que procura esse serviço prefere a discrição, pois só o fato de não ter de ir a um local público e evitar qualquer tipo de constrangimento pesa para que aumente o consumo de vídeos na internet. Em função disso, a venda de DVDs caiu aproximadamente 22% só nos Estados Unidos. A proprietária de uma locadora, em Rio Pardo, Izabella Zarpellon, avaliou a queda brusca do faturamento em seu estabe-

lecimento. “Eu terminei com a minha seção na locadora; por lei eu tinha de manter um espaço separado e isso acabava me causando prejuízo, pois não valia o espaço que ocupava. Já me desfiz de praticamente todos os filmes”, conta. Segundo Izabella, o faturamento do conteúdo adulto não chegava a 1% em sua loja, circunstância que justifica o fim do investimento. Segundo o site especializado Internet Pornography Stats, US$ 2.840 dólares foram gerados a partir de sites pornográficos, em contrapartida duzentos e sessenta sites do gênero são criados a cada dia em todo mundo. Em compensação, a venda de DVDs pornográficos caiu 22% apenas em 2012. Esses números comprovam a verdadeira mudança no consumo desses produtos. Agora a internet gratuita e o download de vídeos de forma rápida e fácil comandam o mercado. A grande mãe das produções pornográficas, a outrora poderosa indústria americana apenas reflete a fase de vacas magras, onde o setor luta para se reinventar. Através dos seus representantes, a indústria se viu obrigada a pedir auxílio do governo para evitar a falência. O pedido gerou constrangimentos e a bancada religiosa exerceu forte pressão no governo americano, que acabou recuando. O setor ainda é prejudicado por aquilo que se chama de moralidade virtual. Exemplo: os fãs de um grupo musical fiel aos seus ídolos

podem comprar um DVD e preservar os seus direitos autorais principalmente em questão de respeito. Já na pornografia é difícil encontrar alguém que considere imoral baixar um vídeo de conteúdo adulto na internet. Segundo a psicóloga, Mara Freitas, sexo e pornografia ainda são assuntos considerados tabus dentro da nossa sociedade e é normal que as pessoas tendem a se preservar na busca desses conteúdos no mundo da tela de um computador, onde existe a falsa tendência de isolamento. Também é complicado para a própria indústria exigir moral e bons costumes de seus seguidores. Segundo o site Porno Industry Statistics desde o ano 2000 ocorreram 16 suicídios e 34 mortes por overdose entre atores e atrizes do cinema adulto. A grande sacada é que a indústria pornográfica está enfrentando um concorrente, que teoricamente deveria ser um aliado: a tecnologia. E se a indústria não buscar alternativas para reinventar-se corre o risco de ter o seu fim. Por mais que seja um ambiente bastante controverso, ela ainda traz algo de melhor se comparada ao novo mercado que cada vez cresce mais em vídeos amadores, muitas vezes sem autorização dos participantes ou mesmo de adolescentes e até crianças que pouco sabem o que realmente significa um vídeo postado na rede. Afinal é tudo muito fácil, é “só baixar na internet”.

Na calada da noite Angelita Borges*

O batom vermelho-hemorragia foi se aproximando lentamente. Atrás dele, havia aqueles lábios... ah, aqueles lábios que hipnotizavam, mas que também davam espaço para os olhos carnívoros. Então apareciam os cachos. E os olhos. E a boca. E os seios. E os olhos. E a boca. E aquele par de seios que saltavam do decote. E logo, o batom se transformou em palavras, que voaram doces até os ouvidos dele. Provocantes. Luxuriantes. Que palavras mesmo? Porque a mão dela deslizava pela camisa, e, audaciosa, já abria o primeiro botão. E ele queria se conter, mas queria se entregar, mas queria pegá-la de jeito e mostrar alguns truques que já tinha aprendido, mas queria descobrir do que ela era capaz, mas paralisou diante daquele batom vermelho de sangue que escorria, diante daqueles olhos que o comiam de cima a baixo e de baixo para cima – como é melhor, meu bem?

INDÚSTRIA

DIOGO PAZ REPORTAGEM FOTOGRAFIA

“É só baixar da internet”. Uma das frases-símbolo das novas gerações acostumadas com as facilidades que a grande rede pode gerar para quem procura consumir qualquer trabalho virtualmente seja vídeo, foto, música ou texto. Num passado não muito distante, programas televisivos e radiofônicos só tinham uma chance de serem assistidos, exatamente no momento de sua transmissão e nada mais se podia fazer. Mas o que essa introdução tem a ver com uma eventual crise na indústria pornográfica no Brasil e no mundo? Absolutamente tudo.

CONTO

A indústria pornô no divã

Ele suou frio quando o batom dela encostou pela primeira vez no último botão da camisa. Estava perto, ah... como ela já estava perto! Só que a desgraçada fez o batom se curvar na cara. E os olhos sanguessugas... Deus, aqueles olhos o fizeram arder! E ela, sorrindo, então mudou de ideia e decidiu colocar um pouco de batom nos lábios dele também. E foi aí que ela disse um número. Sussurradinho bem gostosinho no ouvido dele. Um número. O número dela. Ele ficou sério. Olhou enviesado para a mulher. Que audácia! Mas ela continuava sorrindo, com a boca nos olhos. Toc, toc, toc. - Meu filho, você está bem? – toc, toc, toc. Saiu um “ã?” bem assim mesmo sem norte nem sul. Depois ele se retratou o que pôde e disse: - Claro, mãe... estou... Os lençóis não teriam tanta certeza. Credo, já eram quinze pras sete! Malditas segundas-feiras! Maldita escola que o fazia levantar cedo. Mas escondido em algum lugar da vida, estava aquele nome: Stella Devonne. *Acadêmica de Comunicação Social Habilitação Jornalismo / UNISC Autora de Stella Devonne, publicado pela Editora Kazuá / SP

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O 69 e a pornochanchada Um dia a pornografia já foi cômica e inocente. E o melhor: do jeitinho brasileiro

RETRÔ

DIVULGAÇÃO FOTOGRAFIA

Imagens picantes vêm ganhando cada vez mais espaço. A principal semelhança entre elas é o apelo para a sexualidade

Filmes atraíam atrizes, pela promessa de sucesso “descascar a banana”. Uma produção bizarra como essa custou 40 milhões de cruzeiros, mas rendeu 500, levando 4,7 milhões de pervertidos aos cinemas. O segredo do baixo custo de produção era baseado no slogan: “Uma câmera na mão e um casal nu na cama”, que era seguido por meio do mínimo de cenário exigido, com cenas gravadas em apartamentos próximos à Boca. Já no elenco era comum abrir um jornal paulistano nos anos 70 e encontrar anúncios que prometiam carreiras de sucesso para corpos de mulheres jovens. Iludidas pelo sonho traçado, os “produtos indispensáveis”, para uma pornochanchada eram submetidos a cachês medíocres e atuações receptivas aos caprichos de diretores, afinal, mulheres como Vera

Fischer e Helena Ramos foram exemplos de sucesso. E aí, nessa lista dos atores que atingiram o estrelato e possuem a pornochanchada no currículo, pode-se incluir Antônio Fagundes, Lima Duarte, Sônia Braga (foto) e Regina Casé. Todo esse sonho acabou no início dos anos 80, quando foi decretado o fim da obrigatoriedade das cotas de exibição de fitas nacionais, a popularização do videocassete no Brasil e a exibição de filmes de sexo explícito nos cinemas. Vulgar, cômico e grosseiro ao mesmo tempo, o “rala e rola” sem mostrar nada demais da pornochanchada fez com que milhares de pessoas se reunissem em uma sala de cinema para descascar, ou melhor, desfrutar em grupo de um bom filme com cenas de sexo.

MIRIAN FLESCH ENSAIO ILUSTRAÇÃO

Elas olham com amor. Eles observam com prazer. Ambos ficam atônitos. Aquilo magnetiza o seu olhar. Por alguns minutos, eles vivem num mundo imaginário, onde o desejo é fruto da fantasia. Erotismo, pornografia, sensualismo, todos se fundam na ilusão: na necessidade de satisfazer o instinto humano. Essas imagens vêm ganhando cada vez mais espaço no mundo atual. Difundidas por meio de desenhos, esculturas e literatura e, mais recentemente, por intermédio da fotografia e do cinema, a principal semelhança entre elas, é o apelo para a sexualidade. Apelo este que atrai tanto homens quanto mulheres, em seus mais diversos canais, seja na internet, na televisão ou nas revistas. O conteúdo pornográfico, erótico e sensual, embora muito semelhante, tem suas peculiaridades. No erótico e no sexy, o sexo não é um objeto visual, mas é estimulado pela mente. O tipo de paixão que o erotismo e o sensualismo despertam lembra sutileza, tensão sensual implícita, mas não abertamente exibida. Eles lidam com a ficção e a fantasia, abrindo portas para um sentimento de afeto, carinho, afinidade. Jorge Leite Júnior (2006) define erotismo como algo sublime, espiritualizado, delicado, sentimental e sugestivo, diferente da pornografia, que simplesmente transforma o sexo num produto de consumo. Nela, ele é exibido tal qual acontece, sem cortes, nem mistério. “Evoca

um conceito mais carnal, sensorial, comercial e explícito”, comenta Leite Júnior (2006). A grosso modo, serve para estimular o apetite sexual. Mas, tanto o pornográfico, como o erótico e o sexy, lidam com o real ausente das pessoas. O que nos faz parar e pensar: por que as pessoas apelam para isso? O que leva alguém a assistir a um filme pornô, ler um romance erótico ou olhar uma revista sexy? Curiosidade? Preferência? Ou necessidade? Talvez as três causas sejam válidas. Tudo depende do espectador. Para Nuno César Abreu (1996), a fantasia erótica ou pornográfica representa uma “interminável e desesperadora busca do desejo e a possibilidade de sua realização através do imaginário”. Conforme Abreu, tanto homens como mulheres recorrem a isso para satisfazer o instinto humano. Ao entrar em contato com este imaginário, eles saciam os seus desejos. A escolha por determinado material varia de pessoa para pessoa. Algumas mantêm preferência por algum produtor, ator ou atriz. Outras optam por filmes com os mais diversos fetiches e posições sexuais. Independente do porquê foi escolhido, aquele material simboliza uma realização para o espectador. Ao entrar em contato com estas fantasias, o consumidor sai da sua realidade e entra num mundo ficcional, onde todos os seus anseios se tornam plenos. Portanto, assistir a um vídeo pornô, folhear uma revista erótica ou sensual, muito mais que deixar o consumidor atônito e estimular o prazer, representa um momento de euforia e aprendizado, que preenche a vida daquele ser humano.

ENSAIO

WILLIAM REIS REPORTAGEM

O ano de 69, por coincidência, pontua o início do gênero, exclusivamente do cinema brasileiro, chamado de pornochanchada. Esse tipo de filme pornô pode ser considerado como a era “softcore” ou até mesmo inocente da pornografia. As cenas exibidas não mostravam as “coisas” dos atores, o que hoje pode parecer careta, mas, naquela época, esse tipo de contracenação de casais gerava filas e mais filas nas bilheterias, conhecidas por dar voltas nos quarteirões. As cenas de sexo, onde não rolava sexo (explicitamente pelo menos), sofreram uma forte censura, que ainda nos anos 70 teve cerca de cem títulos cassados por causa do conteúdo considerado ofensivo. O gênero, que foi popularizado pela nudez e pelos palavrões, era ancorado em São Paulo no Bairro da Luz, vulgarmente conhecido por “Boca do Lixo”. As produções eram financiadas por produtoras independentes e até mesmo por comerciantes locais que estavam de olho no alto poder de lucro da pornochanchada. A inocência fazia parte do povo e da pornografia brasileira comparada às produções atuais. “Coisas Eróticas”, uma das grandes produções do gênero, continha uma cena onde o protagonista de uma das histórias contracenava sentado no “trono” com uma revista masculina nas mãos. Após terminar o número 2, o ator se limpa, dá um sorrisinho suspeito e aprecia as modelos da revista embaixo do chuveiro, através do ato conhecido popularmente como

A capacidade humana de desejar

Referências LEITE JÚNIOR, Jorge. Das maravilhas e prodígios sexuais: pornografia bizarra como entretenimento. São Paulo. Annablume: 2006. ABREU, Nuno César. O olhar pornô: A representação do obsceno no cinema e no vídeo. Campinas SP. Mercado das Letras, 1996.

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LIESE BERWANGER REPORTAGEM

ENTRE CASAIS

VERIDIANA GUIMARÃES FOTOGRAFIA

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Ele tira a calcinha com os dentes e a deixa no sofá. O caminho até o quarto é cheio de obstáculos, que são transpostos com a velocidade do desejo. Já sobre a cama, ela arranca a cueca de forma voraz, rasga o tecido ao meio. Acaba a luz. O que, até então, era êxtase, transforma-se rapidamente em desapontamento. Logo, no entanto, a menina que chamaremos de Flávia se dá conta que, agora, é com ela. Não há mais restrições internas que a façam ter vergonha de dar sequência à cena a que estavam assistindo na tevê até há pouco. Muito pelo contrário. Aliada à escuridão da madrugada escaldante, a jovem de 23 anos, possui, agora, as regras do jogo em suas mãos. Mas poucos sabem que até há pouco tempo a banda não tocava assim. Roberto (faz de conta que o nome é esse, ok?), 24, seu namorado, não pressionava Flávia, cuja timidez a impedia de apimentar a relação sexual do casal. Na verdade, quem quis mudar foi ela. Afinal, são mais de cinco anos de namoro, tempo que já certifica a empatia e a confiança entre ambos. “Foi com o auxílio

de filmes pornôs que percebi que não precisava ter vergonha de me entregar; pelo contrário, passei a me inspirar nas performances das atrizes e isso melhorou nosso relacionamento sexual”, conta. O comportamento de Flávia é benéfico para a relação? Na avaliação da psicóloga santacruzense Angélica Marmitt, sim, desde que “a pornografia sirva para estimular o casal na medida certa; para apimentar e sair da rotina”. Por outro lado, “em excesso ela acaba prejudicando o relacionamento”. Obedientes a essa recomendação, Flávia e Roberto mantêm o respeito entre ambos e, segundo eles, entre quatro paredes, não há nada que um faz que o outro não goste. Pelo contrário, “há um diálogo muito aberto para entender e conhecer cada vez mais as preferências um do outro”. A harmonia entre o casal é fundamental também nos momentos de divergência. Sexo anal, por exemplo, ainda não é consenso. Flávia teme a dor; mais que isso, que a sensação ruim se sobressaia ao prazer, tão caro, tão necessário. E por conta disso, a iniciativa dele de tentar fazer, acaba cortando o tesão de Flávia, basicamente porque ela não tem coragem de ir até o fim. “Preferiria muitas vezes continuar a ‘vibe’ que estava rolando e fazer sexo normalmente,

É só começar Letícia Lorensini*

aproveitando o êxtase, do que cortar o clima em tentativas frustradas de fazer sexo anal.” Em palestra na Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) no dia 9 de setembro, a sexóloga Laura Muller enfatizou que não há regras impostas para um bom relacionamento. No seu livro “Altos Papos sobre Sexo dos 12 aos 80 Anos”, ela diz que para todas as práticas sexuais faz quem gosta, faz quem sente vontade. “O gostoso é quando a gente respeita os próprios limites e os da pessoa que está ao lado, mas também quando se abre para experimentar coisas novas. E sempre até onde cada um achar que pode – e deve- ir”. Exemplo disso é o casal candelariense Francisca, 29, e João, 30 – os nomes foram igualmente trocados. Ele assiste a filmes pornôs. Ela, não. Num primeiro momento isso pode parecer estranho e desigual. Mas para eles não é. O casal quebra as regras. Francisca acredita que “a prática faz com que o desempenho de João na cama aumente. E não é esse o motivo que nos leva a discussões”. Também nesse sentido, Angélica Marmitt salienta que o bacana é o casal entrar em um consenso. “É

importante que os dois entendam o porquê da diferença e tentem achar soluções para a situação. O que não pode ser feito é exigir que o parceiro tenha o mesmo interesse”. Levando em conta as recomendações, é possível, então, aliar a pornografia ao estímulo sexual dos relacionamentos. Afinal, entre quatro paredes tudo é permitido para satisfazer um desejo. Aliado a isso, insira respeito. E bom apetite. Vício - O que pode trazer prazer a uns, pode se tornar problema a outros. Angélica Marmitt ressalta que o uso exagerado da pornografia traz sérios problemas. Isso ocorre, segundo ela, quando uma das partes do casal ou ambas não conseguem se estimular ou sentir prazer, sozinhas. “Quando se percebe isso está mais do que na hora de procurar ajuda, seja através de terapia individual ou de casal”, pondera. Angélica frisa que a situação, quando fora do controle, pode se tornar um vício. “A pessoa enquadrada nesse caso deve ser tratada como em qualquer outro vício, como drogas, por exemplo, através de psicoterapia, a fim de que se possa entender o porquê da dependência e como estancar ou diminuir o comportamento”, explica.

Saudades da época em que eu acreditava que os bebês vinham pela cegonha. Demoramos alguns anos para entender que nascemos de uma gozada e, após entendermos isso, vemos o mundo com outros olhos. Até porque pensar que nossos pais fazem sexo não é nada divertido, né? É fato que a partir do momento em que começamos a perguntar para os mais velhos “O que é sexo?” ,“O que é tesão?”, “O que é masturbação?”, nos tornamos seres sedentos e curiosos pela arte da penetração, do prazer e das novas experiências. Há quem se faz de bobo, não fala sobre o assunto, tem vergonha... Mas no fim das contas, sempre viramos animais selvagens na hora do vai-e-vem. “Broxei”, “Abre mais”, “Opa, buraco errado”, a maioria das pessoas já passou por situações do gênero, mas tem vergonha de admitir certos constrangimentos e/ou prazeres sexuais.

ENTRE CASAIS

Profissionais do assunto relacionam a busca pelo prazer com a prática do consenso

CRÔNICA

Gostoso é quando o casal respeita seus limites

Lembremos que existem as mais variadas situações e os fetiches mais loucos na vida de cada pessoa. A sociedade precisa parar de impor limites e regras no prazer. Há quem ame sexo ao ar livre, outros praticam o Kama Sutra inteiro, alguns gostam de chupar pés, outros são mais clássicos ficando apenas no frango assado e era isso. É preciso admitir que nós somos seres sexuais e que precisamos disso pra aliviar os estresses da vida. Afinal, nada melhor, após um dia ruim, do que um orgasmo daqueles, certo? Então lhes pergunto: por que ter vergonha de falar sobre isso? Nós somos fruto disso, não tem por que evitar, fugir ou se privar do ato. O sexo é feio? É. É sujo? É. Fede? Sim. E é isso que faz ele tão bom. Dentro de um quarto, entre duas pessoas (três, quatro...) vale tudo. A moral é sentir prazer, sem tabu e sem vergonha. Faça o que te satisfaz. Se inspirar naquela pornochanchada e partir pro abraço, pro beijo e pro algo a mais. Afinal, transar e gozar é só começar. Ah, e quando não tiver ninguém, lembre-se: nossas mãos servem para muita coisa.

*Acadêmica de Comunicação Social Habilitação Produção em Mídia Audiovisual

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Os diversos tons da literatura proibida

LITERATURA

ANI CAMILA JANTSCH REPORTAGEM FOTOGRAFIA

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Torturada, amarrada, chicoteada, marcada, treinada para ser uma escrava sexual. O nome dela é O. Uma fotógrafa de moda de Paris que aprendeu a estar sempre disponível para o sexo. A cada nova experiência, sentia mais prazer. Essa é “A História de O”, livro de 1954, escrito por Anne Desclos, sob o pseudônimo Pauline Réage. Outra safada do mundo da literatura é Anastacia Steele, essa sim, muito conhecida entre a mulherada. Ela também se rendeu a uma relação de sexo e tortura. Extremamente mais leve se comparada a de O, mas cheia de submissão. Quando o soft pornô “Cinquenta Tons de Cinza” foi lançado no Brasil, uma onda de postagens sobre a relação ardente entre Anastacia e o poderoso Christian Grey tomaram conta do Facebook. O sucesso do intitulado “pornô para mamães” leva a crer que as mulheres estavam ansiosas por esse tipo de obra mais picante, não é mesmo? Textos que as fizessem fantasiar, excitar e depois, colocar em prática, por que não? Na opinião da escritora e estudante de jornalismo da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Angelita Borges, “nós pensamos em sexo sim, daí a necessidade de sempre ter um parceiro ou vários”. Para ela, esse “revolucionário” da obra talvez se dê porque a autora tirou de baixo das cobertas e estendeu na

janela da sala o desejo de inúmeras pessoas. Com 20 anos de idade, Angelita Borges escreveu um livro que conta a história da prostituta Stella Devonne, nome que dá título à obra. Stella seguiu a prostituição porque precisava de dinheiro. Mas, segundo Angelita, “ela também gosta de ser desejada e se sentir sexy”. Nisso, a moça se mete em várias encrencas devido à “profissão”. Há assassinatos e vários crimes. A jovem escritora tem como uma de suas inspirações ninguém menos que Rubem Fonseca. O cara defende fielmente a pornografia em suas narrativas. Desse autor ela cita especialmente o livro Buffo & Spallanzani. “Me deixou chocada com a intensidade da trama na época em que li e foi quase um soco no meu estômago”, ressalta Angelita. Caso “Cinquenta Tons de Cinza” não tenha surtido em você aquele tesão, muito menos algo parecido com que Angelita sentiu ao ler Rubem Fonseca, a boa notícia é que a literatura pornográfica e erótica reserva livros em tons muito mais escuros, principalmente no quesito sexo, masoquismo e crimes. Enquanto o Cinquenta Tons é água morna, as obras de Rubem Fonseca são águas ferventes. Ele usa e abusa da pornografia. Para quem critica, ele manda o recado no

conto “Intestino Grosso”: “imoral, sujo e ofensivo é a maneira como milhares de brasileiros vivem”. Por esse motivo, em suas narrativas, Rubem menciona os dentes das pessoas, pois o seu estado é um indicador do estatuto social do indivíduo. O autor deixa de lado o “mimimi” e utiliza uma linguagem direta. “A metáfora surgiu por isso, para os nossos avós não terem de dizer – ‘foder’”, ressalta o autor. Ao mesmo tempo, Rubem mistura um tom de ironia ao seu texto. Danusa tirou a roupa e ficou de calcinha e sutiã. Tirei as cuecas. “Vamos fazer uma brincadeirinha?” “Vamos tirar essa cuequinha?” Tirei as cuecas. “Você quer que eu dê um beijinho nele?”. As falas são da obra A Grande Arte, de 1984. O livro conta a história do assassinato de duas prostitutas, no Rio de Janeiro. Não é, de modo algum, gratuito o fato de os crimes envolverem moças que cobram por sexo, pois abre espaço para a referência sexual nas obras. O próprio termo pornografia deriva da prostituição, do grego pornos (prostituta) + grafo (escrever). Nessa leva de escritores pornográficos sem meias-palavras, que misturam sexo, bom humor e ironia, está Juliana Frank, autora de Quenga de Plástico. Jou, como é conhecida, criou a personagem Leysla Kedman, ex-atriz pornô que narra com detalhes suas peripécias sexuais através de “pornosofias”,

com ela mesma denomina. A escritora também sofreu preconceitos. “As pessoas acham que, porque escrevi na primeira pessoa, sou a personagem”, conta. Com uma riqueza de detalhes, Leysla abre sua vida na obra, principalmente, suas pernas. “Leysla é uma mulher libertina”, diz Juliana. Nada de escritores atuais, entre uma de suas inspirações está Hilda Hilst. Com obras encharcadas de sexo, numa época em que palavras, gestos e atitudes só eram cabíveis aos homens, Hilda Hilst e a poetisa Safo podem ser consideradas muito mais “saidinhas” do que E.L. James, autora de «Cinquenta Tons de Cinza». Em 1982, Hilda iniciou a sua fase pornográfica com “A obscena senhora D”, narrativa considerada por muitos como “vulgar” ou de baixo calão. Mas assim como Rubem Fonseca, a escritora não ligava para as críticas. Ainda bem, porque hoje é considerada uma ícone da literatura pornô. Agora, quer mais “safada” do que a própria escritora que deu origem à palavra? Safo, uma poeta grega que teria relações com suas discípulas, nasceu no século VII a.C., em Lesbos. Através dela também surgiu uma palavra que faz parte de todas as culturas: lesbianismo. Se obras regadas a sangue e muito esperma lhe interessam, não pode deixar de ler o cara mito em

obras desse estilo. Já imaginou 48 pessoas se enclausurarem durante quatro meses em um castelo para praticar as mais devassas orgias? É o que se passou na cabeça de um dos autores mais polêmicos da história, Marquês de Sade (1740-1814), ao escrever clandestinamente um de seus livros de maior impacto: “Os 120 dias de Sodoma”. A obra foi escrita quando o libertino foi encarcerado pela primeira vez, no castelo de Vincennes, após ser denunciado por uma prostituta por flagelações. Do seu nome surgiu a palavra sadismo, prática sexual que consiste em obter prazer com a dor e o sofrimento de outra pessoa. Alguns de seus personagens desejavam sofrer gozando, e se fazem chicotear ou molestar durante o ato sexual. Em outra obra polêmica, “Justine”, Sade escreve sobre a vida de uma moça ingênua e defensora do bem que se envolve em crimes e depravações. O mundo da pornografia não exclui o da boa literatura. Pode até assustar no começo, bater aquela certa vergonha, principalmente para quem não está acostumado com esse tipo de leitura, mas, depois de alguns capítulos, você passa a desencadear reações bem diferentes. Esse tipo de obra ajuda a estimular a libido e a imaginação. Depois dessa só tenho uma para dizer: Relaxa, leia e goze.

LITERATURA

Para quem gosta de estimular a imaginação, a literatura erótica ou pornográfica é capaz de causar êxtase com alguns parágrafos

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Diário de uma reportagem não tão bem sucedida POR GUILHERME BICA, LEANDRO PORTO E THIAGO BÜRGER VERIDIANA GUIMARÃES FOTOGRAFIA

19 DE AGOSTO

26 DE AGOSTO Nessa noite fria de segunda-feira acontece a definição das pautas para a edição Pornô do Unicom. Uma a uma elas vão se esgotando. Observamos, atônitos, o ataque faminto dos colegas às pautas disponíveis. Mas nós queremos uma em especial. Ou melhor, ela nos quer. E finalmente está definido. Temos a tarefa de penetrar profundamente nos bastidores da produção de um filme pornô. É algo que, sem dúvidas, nos mostrará uma vertente do jornalismo que até então nunca cogitamos investigar. A sorte abriu-nos suas pernas.

DIÁRIO

27 DE AGOSTO Empolgados por uma das reportagens mais desafiadoras de nossa ainda jovem atuação jornalística, e por um tema que mexe com as lembranças adolescentes de qualquer guri, vamos propor nossa ideia para o Editor-Chefe e Professor, Demétrio de Azeredo Soster. E vamos direto ao ponto. Queremos presenciar em loco uma produção de um filme pornográfico, suas nuances, o que geralmente fica escondido. Contar e explicitar, com a maior fidelidade possível, desprovidos de preconceitos, quem são as pessoas que atuam nesse meio. É isso. Para nossa alegria recebemos carta aberta, para ir aonde for necessário atrás de uma boa história.

28 DE AGOSTO Começa nossa procura por produtoras, via Facebook, sites... Nas conversas com amigos, familiares, professores e conhecidos, uma pergunta se torna inevitável, já natural: Tu conheces alguma produtora pornô? A resposta, depois de algumas gargalhadas, é sempre a mesma: não. Após pesquisas, surge o primeiro contato via e-mail com as produtoras Sexxxxy e Buttman.

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13h: E como diria Giovanni Improta, personagem vivido pelo ator José Wilker na novela Senhora do Destino: “O tempo ruge, a Sapucaí é grande”. A resposta por e-mail não veio e estamos partindo para as ligações. Em uma página no Facebook encontramos o que seria um suposto número de telefone da produtora Sexxxy, localizada na cidade de São Paulo. 13h30min: A primeira tentativa foi frustrada. Na segunda, após alguns ajustes na operação, uma voz feminina, suave e doce: - CVV, Centro de Valorização da Vida, boa tarde?! Ops, engano. Realmente, o CVV não é nosso objetivo. Em mais duas tentativas, trocamos números de DDD, mas o telefonema insiste em cair no Centro de Valorização da Vida. Os deuses conspiram contra nossa reportagem. 14h30min: Na internet conseguimos o telefone da produtora Buttman. 14h45min: Ligação à produtora Buttman, pela qual conseguimos o contato por e-mail de Leandro Moran. O repórter Guilherme Bica envia e-mail para Moran. A esperança reascende. 15h30min: Somos chatos, insistentes, sedentos por uma boa história. E por isso, mais uma vez buscamos nossa introdução nos confins do submundo pornográfico, que parece nos recusar, como atores de pequenos dotes penianos e ejaculação precoce. Tentamos novamente a ligação para a produtora Sexxxy. Talvez por erro na digitação do código de área, mais uma vez o telefonema é direcionado para o Centro de Valorização da Vida. Alguém deseja que valorizemos nossas vidas. Será um presságio sobre nossa possível viagem?

02 DE SETEMBRO 15h: Recebemos uma resposta de Leandro Moran. Todas as produções da Butmann, segundo ele, hoje são terceirizadas. Na assinatura da resposta de Leandro, dois telefones, um fixo e um celular. Será o momento de nossa penetração nesse obscuro meio? 16h: Tentamos ligação para os dois números. Em vão. O celular nem chama, o fixo, até toca, mas a ligação é direcionada para caixa de mensagem após um tempo. Mas que inferno! 16h30min: Os dois incansáveis e já desajustados repórteres mandam nova mensagem eletrônica para Leandro Moran, solicitando alguns contatos no meio pornô. 16h40: Respiramos pornografia. E os olhos já cansados, mareados de tanta putaria, deixaram passar uma informação importante contida na assinatura do e-mail de Moran. A empresa Erotik & Magik. Vamos buscar alguma forma o contato. Descobrimos a existência de uma empresa praticamente homônima, Erotic Magic, que possui um site na web. Ligamos, mas por lá não há nenhum sócio com aquele nome. Leandro Moran também não retornaria mais nossos contatos. Frustração, retornamos ao marco zero.

09 DE SETEMBRO Aflição. Recebemos a notícia de que a produtora Brasileirinhas fechou. Nossas possibilidades de fontes mais “tradicionais” ou conhecidas no mundo pornô estão se esgotando. A descrença bate à porta do repórter Leandro Porto. Incessantemente, como um mantra ele berra “vai dar tudo errado!”. Como a Brasileirinhas pôde fechar? O império do pornô nacional! Em que mundo estamos?! 16 DE SETEMBRO 19h30min: Durante a produção em sala de aula, uma decisão drástica. Encorajados pelo Editor-Chefe Demétrio Soster, e pressionados pelo tempo escasso para produção, a súplica pelo Facebook: “Alguém aí conhece uma gravadora de filmes pornográficos, ou pessoa (s) que trabalhe (m), ou trabalharam, nela? Caso sim, mandem para este e-mail ou inbox”. Pois é, estamos desesperados e o que menos importa nesse momento é nossa já frágil reputação. 19h50min: Leandro Porto, Guilherme Bica e nosso Editor-Chefe Demétrio Soster (em solidariedade) têm a nítida noção de que colocaram suas “caras a tapa”. A mensagem pelas redes sociais tomou ampla repercussão, com as mais diversas interpretações e abriu precedentes para gozações, galhofas e comentários ridicularizadores. Além disso, rendeu algumas mensagens e propostas indecorosas e impublicáveis aqui nas páginas de nosso querido e amado Unicom. 20h15min: Agora somos um trio. Ganhamos o reforço do colega Thiago Bürger. Sua outra pauta não enrijeceu nem à base de viagra. E Bürger, para quem não conhece, é um admirador autêntico e franco discutidor do tema pornografia. 21h30min: Enfim a recompensa, uma luz no fim do túnel. Sabe aquela recuperação depois de uma broxada? Pois é. Sentimos os seios da pornografia quentes e entumecidos em nossas mãos. As publicações no Facebook renderam o e-mail de Clayton Nunes da produtora Brasileirinhas (que até então, inocentemente acreditávamos estar fechada) e também de Mayara Medeiros da produtora XPLASTIC. Voltamos à ação. 17 DE SETEMBRO 10h20min: Mayara Medeiros da XPLASTIC nos retorna. Pede carinhosamente que liguemos outro dia. 19h55min: Recebemos a resposta de Clayton Nunes. Ele se mostra receptivo a nossa proposta de abordagem, mas nos explica que, por problemas com jornalistas anteriormente, agora só responde perguntas por escrito. Porra, mais alguma coisa pode dar errado?!

18 DE SETEMBRO 14h: Leandro Porto e Guilherme Bica ligam para Mayara Medeiros. Leandro portando o telefone usa de todos os seus argumentos e persuasão para convencê-la a receber os dois jovens jornalistas em sua produtora. Pra variar, mais problemas. A produtora Xplastic não possui estrutura física, ou seja, todos os filmes e produções acontecem em locações. Mais preocupante do que isso são as exigências para que a equipe de reportagem possa participar das filmagens. Segundo Mayara, em geral, os atores se sentem desconfortáveis com essa espécie de intervenção jornalística no set. E até poderiam cobrar mais caro. Além disso, o restante de sua equipe precisa aceitar os “intrusos”. Mayara pede que seja enviado um perfil de quem possivelmente visitaria as gravações. Ela pessoalmente vai encaminhar aos diretores de suas produções.

DIÁRIO

É o tão esperado dia: depois de algumas conversas e discussões finalmente a definição do tema da edição monotemática do Jornal Unicom. Queremos um tema chocante, que não peque pela falta de ousadia. Aliás, a palavra pecado bate de frente com o tema escolhido: Pornografia, um assunto que provoca e ainda é tratado por muitos como tabu. Até porque, a origem grega do termo, PORNOGRAPHOS, significa literalmente «escrever sobre prostitutas». Não há mais saída. É a hora desses 14 estudantes de jornalismo desvendarem os mistérios que rondam o mundo da pornografia.

29 DE AGOSTO

19 DE SETEMBRO 20h56min: Mayara da Xplastic nos retorna. Nossos olhos brilham, os corações descompassam, tesos de esperança. Mas ela apenas nos diz ter encaminhado os perfis aos diretores de seus filmes. Mayara, por que nos iludir assim? 21 DE SETEMBRO Tentamos contato com Clayton Nunes por telefone. Nada feito, ele não pôde nos atender. Após os primeiros contatos avançarem, a dificuldade para se visitar uma produção de filme pornográfico persiste. E nossos prazos praticamente inviabilizam qualquer viagem e construção de matéria em tempo hábil. Por que a pornografia nos recusa?! 23 DE SETEMBRO Recuperados do baque de não mais produzir a pauta como imaginado, os três sedentos repórteres pornô voltam seus esforços no sentido de ao menos conseguir boas respostas sobre esse curioso e quase inacessível mundo. Nas páginas seguintes você confere as respostas de Mayara Medeiros, da Produtora XPLASTIC, e de Clayton Nunes, da Brasileirinhas.

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“A pornografia é nosso prato principal” GUILHERME BICA LEANDRO PORTO JUNHKER THIAGO JACOB BURGER ENTREVISTA

ENTREVISTA

HUGO HENRIQUE FOTOGRAFIA

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Mayara Medeiros é produtora e trabalha com eventos, empresas e marcas relacionadas a arte e ao entretenimento desde 2006. É formada em Artes Visuais e já trabalhou em museus e grandes exposições. É apaixonada por comunicação e hoje esse é seu principal campo de pesquisa. A Xplastic apareceu durante o início de sua carreira como um hobbie. Para ela sempre foi um trabalho divertido e nunca sua principal fonte de renda. Com o tempo ela chegou a conclusão de que já havia desenvolvido muita coisa com a empresa e em 2011 se tornou uma das sócias. Como foi o início na produção de filmes pornográficos? Você tinha alguma afinidade com o tema? Já atuava de outra forma no meio ou aconteceu de forma mais natural? Quando comecei, nunca tinha me relacionado com o tema, apenas tinha produzido a Erotika Fair, que é a maior feira do mercado adulto, mas não tinha nenhuma cena pornô, apenas shows de strippers e etc. Mas não achei antinatural a primeira vez que assisti à gravação. É como assistir a gravação de um filme de ação, você fica empolgado vendo pessoalmente como as pessoas são capazes de tornar aquilo tão interessante no vídeo. E também como em qualquer filme, as vezes se decepciona em ver que nem tudo é de verdade (risos). Qual é a relação entre as pessoas que trabalham no meio pornô? É simplesmente profissional ou há algum envolvimento maior? Como em qualquer meio profissional existem os dois tipos de relações. Mas não se empolguem, essa ideia de que as pessoas não desligam e estão o tempo todo pensando em sexo... Isso é só mais uma fantasia clichê de filme pornô. Na realidade não tem nada muito diferente do que vemos em todos os trabalhos. De que forma são recrutadas as pessoas que atuam nos bastidores? Existe algum comprometimento contratual em relação a não divulgar o que acontece durante as gravações? A Xplastic em especial recebe cerca de pelo menos

um currículo por dia e principalmente pra atuar nos bastidores ou ser ator pornô. Gostaríamos de agregar todo mundo mas isso seria gente demais (risos) e precisamos de pessoas realmente tão apaixonadas pela execução do trabalho quanto pelo tema. O comprometimento contratual depende do projeto. Não fazemos só pornô e não fazemos só para o nosso site, temos vários clientes e fazemos entretenimento adulto em geral. A pornografia é nosso prato principal e onde começamos como empresa, mas hoje em dia fazemos tudo em conteúdo que um adulto possa consumir e isso vai principalmente pra TV. Ao menos no momento das gravações os atores precisam ter um certo envolvimento, pois trata-se de um ato íntimo, o sexo. Como se dá isso após as gravações? Geralmente trabalhamos com profissionais e eles dividem bem os dois momentos mas temos atrizes que realmente provocam uma química incrível e fica difícil terminar a cena. São as melhores cenas. Como você percebe a questão das taras e fantasias das pessoas? Ou melhor, quase todos olham ou gostam de pornografia, mas porquê não assumem? Como disse em uma das perguntas existe uma timidez e a maioria dessa timidez vem de uma ausência de sentimento de segurança pra realizar suas fantasias. Pessoalmente adoro todo tipo de fantasia e é inacreditável a quantidade de fantasias que ainda podemos descobrir. Não existe nada mais saudável do que um bom orgasmo, nada! E a forma como isso vem só cabe aos seus interessados. Não é uma obrigação assumir, só é educado respeitar. As pessoas que trabalham mais nos bastidores, em geral, assumem seu trabalho para a sociedade? Ou preferem manter isso no anonimato? Temos pessoas que trabalham em outros lugares também, estamos bem expostos e é difícil esconder, mas percebemos que geralmente precisamos de uma discrição muito mais pelos clientes dos outros trabalhos do que do empregador.

Conheça um pouco mais da produtora de maior sucesso no Brasil, a Brasileirinhas, em bate papo com Clayton Nunes

Clayton Nunes é Diretor-Executivo da Produtora Brasileirinhas. Foi bastante solícito quanto à entrevista, que inclusive, você pode ler logo abaixo. Mas ele não quer mostrar o rosto. Você pode procurar em qualquer lugar: na internet, no site da produtora, em outras reportagens...Tentamos várias vezes, insistentemente. Mas não adiantou, é uma decisão do homem. Trato de família, segundo ele. Nunes até nos enviou uma fotografia, mas ela não serviu, pois estava em baixa resolução e dizia quase nada.

GUILHERME BICA LEANDRO PORTO JUNHKER THIAGO JACOB BURGER ENTREVISTA

Como foi o inicio da Brasileirinhas? O fundador da Brasileirinhas Luis Alvarenga tinha uma locadora e vendia filmes importados na Avenida São João, centro de São Paulo. Notou então que existia uma carência por filmes adultos, uma demanda maior do que o mercado ofertava. Começou a produzir filmes em meados de 96 e não parou mais. Qual é a relação entre as pessoas que trabalham no meio pornô? É simplesmente profissional ou há algum envolvimento maior? É legal termos a oportunidade de falar sobre isto e desmistificar qualquer tabu que ainda exista. A relação com as pessoas é normal como a de qualquer outra empresa. Trabalhamos com um produto e nosso plantel é formado por profissionais que trabalham com edição de vídeo, edição de imagens, programadores e operadores de telemarketing como quaisquer outros do mercado. E nenhum deles nunca viu nenhuma atriz ou ator sem roupas pessoalmente (risos). De que forma são escolhidos os atores e atrizes? Existem pessoas que procuram a produtora querendo participar? Recebemos em média mais de 30 e-mails por dia com fotos de mulheres interessadas em participar das nossas produções. Temos em nosso site até um campo para se inscrever http://www.brasileirinhas.com.br/eu-quero-ser-uma-brasileirinha.html. Quanto a atores masculinos também recrutamos pela internet e usamos a Casa das Brasileirinhas para fazer os testes de atores. O rapaz se inscreve e levamos para a Casa das Brasileirinhas, se ele mandar bem, adicionamos ao nosso casting. Se não for recrutado

para o elenco pelo menos ele realiza a fantasia de atuar com uma atriz ou aspirante a atriz pornô. Existe ainda muito preconceito em relação ao trabalho que vocês realizam? Como você percebe que a sociedade enxerga esse trabalho? Hoje muito pouco. Quebramos muitos tabus gravando com artistas renomados como Alexandre Frota, Gretchen, Thammy, Leila Lopes, Mateus Carrieri, BBBs e outros. Prova disto é que toda versão do reality show da Rede Record que é gerida por pastores conservadores temos sempre alguém que já participou das nossas produções. Só nesta versão de a fazenda tivemos dois participantes que fizeram filmes pornôs pra gente como a Rita Cadilac e o Marcos Oliver. Já tivemos a Gretchen, a Bruna Surfistinha... Enfim é quase um pré-requisito para reality shows (risos). Criamos várias personalidades que hoje são nacionalmente conhecidas por causa do pornô como o Kid Bengala, Monica Mattos, Bruna Ferraz, Marcia Imperator, Vivi Fernandez e muitas outras. Existe uma estrutura básica no momento das gravações? Quantas pessoas em geral estão envolvidas? A equipe é mais enxuta para não constranger os atores? Sim e este é o segredo da qualidade do trabalho. Normalmente o diretor do filme é o próprio cinegrafista e fotógrafo. No setting da filmagem temos apenas um maquiador em outro ambiente bem próximo que é chamado caso haja necessidade. As pessoas que trabalham mais nos bastidores, em geral, assumem seu trabalho para a sociedade? Ou preferem manter isso no anonimato? Não existe uma regra. É mais comum os homens colocarem no Facebook que trabalham aqui e até com muito orgulho, mas até algumas funcionárias colocam sem problema algum. Quanto a indústria movimenta por ano? Vendemos algo em torno de 55 mil DVDs por mês e temos quase 7 mil assinantes nos nossos sites: brasileirinhas.com.br, casadasbrasileirinhas.com.br, sexsites. com.br, porntube.com.br, brasileirinhashd.com.br.

ENTREVISTA

Produtora explica o que rola nos bastidores da produtora Xplastic

Império dos sentidos

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CRIME

LUCAS DALFRANCIS REPORTAGEM FOTOGRAFIA

A intimidade do casal nem sempre fica entre os segredos do lençol. As relações carnais, embora corriqueiras entre pessoas saudáveis, suscitam a curiosidade e atiçam o paladar sexual de homens e mulheres do mundo todo. A prova está na concretude de 370 milhões de sites pornográficos distribuídos por todos os continentes – sendo 12% do conteúdo global disposto na web. Os vídeos alastrados pelo terreno virtual ganham mais notoriedade quando as imagens são captadas de alguém famoso ou próximo. Imagine seu vizinho sendo o astro de um filme pornô e detalhe: ele sequer foi comunicado. A narrativa se repete de tempos em tempos e quanto mais o personagem tiver distanciamento deste universo e a sua posição social não condizer com a orgia, mais rende badalação e audiência. Enquanto o zunzunzum se propaga como piolho pelas redes sociais, os envolvidos – que tiveram o vídeo exposto sem autorização – convivem com a impetuosa invasão de privacidade e a superexposição do corpo,

dos seus fetiches e da vida. Na cidade gaúcha de Vera Cruz, com aproximadamente 24 mil habitantes, o casal de namorados (que chamaremos de Marcela e Henrique) foram os atores principais desta trama proibida. Um torpedo via celular avisou Henrique, em tom de sarcasmo, que se disseminava pela internet sua performance na cama com a namorada. Perturbado, foi em busca de informações sobre o vídeo e descobriu que seu e-mail havia sido sabotado por um relacionamento amoroso do p a s s a d o. Ele filmou a transa

e enviou para a parceira via correio eletrônico; entretanto, foi o ex-romance – que ainda possuía a senha da conta virtual – que espiou pela fechadura e esparramou o vídeo caseiro na mesma intensidade de sua mágoa. Nas imagens apareciam cenas de sexo oral onde se identificava claramente a face de Marcela. “Eu fiquei extremamente constrangida e chocada, pois as pessoas viam o meu rosto e isso poderia colocar em xeque a minha credibilidade”, afirma. A psicóloga lembra o quan-

to o assunto lhe trouxe pesadelos, desequilibrou seu estado emocional e, sobretudo, afastou amigos pela ótica do juízo preconceituoso. Marcela recorda a falta de respeito por parte dos homens frente ao episódio, ao disparar cantadas e insinuações como se fosse a pervertida da pequena cidade. A moça tem encontrado alento para superar o transtorno, que gerou boataria durante o mês de julho, no posicionamento de Henrique. “É errado fazer sexo com a minha mulher? Todo mundo faz. Errado é quem compartilha esse conteúdo com objetivos maldosos”, entende. Embora a situação seja passível de queixa na polícia como crime virtual, o casal decidiu colocar

“panos quentes” no ocorrido a fim de minimizar o ti-ti-ti e passar uma borracha no tormento. “Criou-se um círculo de julgamentos como se fôssemos imorais e criminosos”, relata a moça – sem conseguir frear as lágrimas e o soluço na voz. Convicta de que deveria tomar posição sobre o fato, Marcela publicou uma declaração em seu perfil no Facebook e explicou à família a circunstância embaraçosa. Há três anos juntos, o casal ainda não percebe reflexos da veiculação no âmbito profissional e se apega no preceito de que pessoas que se amam têm o direito de fazer amor. “O incomum seria se não tivéssemos relações sexuais”, grifa o namorado.

Lei Carolina Dieckmann As punições para infratores de crimes virtuais são amparadas pelo Código Penal brasileiro. A lei 12.737/2012 entrou em vigor a partir do mês de maio deste ano, sendo apelidada de “Lei Carolina Dieckmann” – em virtude do caso da atriz que teve 36 fotos íntimas divulgadas na internet através da invasão em seu computador portátil. A nova lei classifica como delito justamente casos desta natureza: em que há sabotagem ou roubo de qualquer dispositivo conectado ou não à internet; com o objetivo de obter, adulterar ou destruir dados e informações. A lei se estabelece quando o usuário não autoriza o acesso ao aparelho ou o criminoso instala vulnerabilidades para obter a vantagem ilícita. A pena nesses casos é de três meses a um ano de detenção, além de multa. Ainda está prevista punição com três agravantes; caso haja prejuízos de ordem econômica, obtenção de conteúdo de comunicação privado (como acesso aos e-mails) e comercialização dos arquivos roubados. Assim, a pena em regime fechado pode chegar a até três anos e quatro meses de prisão. Esse período de reclusão seria o possível julgamento do infrator do caso de Marcela e Henrique, pois tiveram o conteúdo roubado de seu e-mail pessoal. A pena é considerada branda pelos juristas brasileiros.

Em entrevista com a psicóloga e sexóloga Maria Lúcia Beraldo, de Juiz de Fora, Minas Gerais, o Unicom revela razões pelas quais as pessoas se interessam por conteúdos amadores gravados por casais.

Por qual motivo as pessoas se interessam em gravar relações sexuais com o(a) parceiro(a)? Um dos motivos mais comuns está no próprio fetiche de se verem em ação: analisarem seus corpos e suas performances, como se vissem um vídeo pornô onde eles próprios são os atores. Isso em si não é um problema, desde que ambos saibam do que está acontecendo. Transar com uma pessoa e gravar sem que ela saiba é crime, que inclui violação de imagem, além de expor a pessoa intensamente sem sua autorização. Gravar cenas de sexo com outra pessoa que não sabe também se relaciona com o status de poder. Às vezes ocorre da gravação ser consensual, para distração do casal, mas devido a um rompimento, o outro(a) expõe o vídeo na rede. Isso funciona também como exercício de poder, especificamente de retaliação, vingança, onde aquilo que antes seria prazeroso de assistir se torna intensa humilhação. Principalmente no caso da mulher: quanto mais ativa ela for durante a gravação, mais humilhada será, pois há uma mudança do papel de namorada “quente” para mulher “safada”. Esta é realmente uma forma vil de profanar a dignidade de qualquer pessoa. Por isso é tão importante o cuidado. Não somente com os parceiros, mas com as próprias mídias, pois esta exposição pode partir de terceiros que tenham acesso às ferramentas digitais. Por qual razão existe essa curiosidade de ver como as pessoas transam? (ainda mais quando os envolvidos possuem distanciamento desta realidade pornográfica) Assistir a alguém fazer sexo em si já pode ser excitante, e assistir a pessoas comuns está ligada ao voyerismo (ato de assistir ao sexo sem ser visto). Pessoas comuns tornam o ato ainda mais real. No filme pornô sabemos que muitas coisas são falsas, com cenas editadas. As pessoas têm curiosidade em conhecer o sexo que os outros fazem, tanto por curiosidade quanto pra se autoavaliarem. Esta é uma área cheia de inseguranças.

CRIME

Divulgação de conteúdos íntimos de forma ilícita não se restringe a personalidades da TV

ENTREVISTA

Quando a intimidade é violentada

quadros de alturade 25,5 cm de largura x 8,2 cm

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Quando termina o prazer e começa a doença?

AUGUSTO DALPIAZ REPORTAGEM

HISTÓRIA

FÁBIO GOULART FOTOGRAFIA

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Carolina Barbosa, de 23 anos, pensa em filmes de sacanagem quando ouve a palavra pornografia. Já para Rosangela Oliveira, de 47 anos, “pornografia é todo ato sexual que é feito sem amor”. Essa é uma discussão muito complexa, pois o único animal que complica a sexualidade é o ser humano. Todos os outros agem dentro de seu instinto. Os humanos, por sua vez, precisam de invencionices sem fim para desempenhar a prática sexual, por isso, há tantas variações quando o assunto é “sacanagem”. O significado de pornogra-

fia é bastante antigo e vem de duas palavras gregas: porne, que significa prostituta, e grafein, escrever. Traduzindo, seria todo trabalho ou arte relacionado à vida da prostituta, remetendo à exploração sexual do corpo, principalmente da mulher, prática que acontece desde Roma e Grécia antiga. Em Roma, o primeiro livro clássico editado com cunho pornográfico chamava-se Arse Amatória do poeta Olvídio. Traduzindo: arte de amar. Desde o começo, a pornografia foi usada com um único objetivo:

o de provocar excitação sexual visando o lucro econômico. Segundo o psiquiatra Paulo Oleksiuk, “as pessoas que se prestavam a esse tipo de atividade, em geral, eram mulheres traumatizadas na infância ou tinham sofrido abuso sexual, estupro, e mais tarde acabavam se prestando a esse tipo de atividade como se fosse uma forma depreciativa da sexualidade”. Já de acordo com as feministas, a pornografia é uma forma de humilhar a mulher, humilhar seu corpo, que é cortado em pedaços e explorado por partes: seios, nádegas, vagina, coxas, e desvincula a pessoa do corpo. Nesse processo, a mulher deixa de ser a participante, há um desvinculamento da sexualidade com o afeto, do amor. E a mulher, segundo elas, vira um objeto de uso dos homens, do machismo, em que ele compra esse tipo de serviço. As mulheres, que se prestam a isso, buscam somente o dinheiro, e não o prazer. Segundo Freud, todo esse universo pornográfico está ligado à cena primária, que é aquela primeira visão do encontro sexual do pai e da mãe, em que a criança é proibida de assistir. Os pais tiram a criança e se trancam no quarto, lugar que até pouco tempo elas podiam desfrutar sem problemas. Até então, ela tinha acesso ao seio, depois não tem, a criança se mostrava nua, podia ver o pai e a mãe pelados, depois passa a não ver,

HISTÓRIA

Surgido na época em que começamos a ser civilizados, o tema ainda gera polêmicas

Para o psiquiatra Paulo Oleksiuk a pornografia é utilizada para provocar excitação sexual, visando o lucro a ter certa restrição, que Freud chama de repressão, contenção dos impulsos, e que isso é necessário para adaptação do homem à sociedade. Se isso não existisse, haveria a liberação dos impulsos e viraria uma anarquia, não existindo limites. Porém, mesmo necessária para civilizar o homem, essa repressão dos anseios trouxe problemas. As pessoas ficaram

reprimidas e essa curiosidade ficou no inconsciente coletivo do ser humano, fazendo com que o desejo sexual, a própria pornografia, seja muito explorada pelos adolescentes, em revistas e filmes. Exatamente por não ter ocorrido essa castração é que entre os índios não tem pornografia. O sexo é natural, olhar o corpo do pai, da mãe,

do filho é a coisa mais normal. Quanto mais proibido, mais curioso e excitante fica. Para as feministas, existe uma diferença entre a pornografia e a arte erótica. A primeira palavra seria pejorativa, degradante para a mulher. Já na arte erótica a própria mulher participa junto com seu companheiro, usando o erotismo para sentir prazer também.

Fetichismo Fetiche é o objeto de desejo a certas partes do corpo humano, podendo ser pés, mãos, dentre outros. Dependo do grau, isso pode ser considerado doença, mas de acordo com Oleksiuk, “o limite dentro da área normal e anormal é muito tênue. É muito difícil de limitar até aonde é normal e deixa de ser normal. E conforme a cultura, conforme a época tudo muda. Então essa diversidade humana de modos de pensar e de viver cria uma dificuldade muito

grande de determinar o quanto é normal e anormal. Tudo vai depender da fixação, da intensidade”. Pessoas que só conseguem ter ereção condicionada a algumas práticas, como: se esfregarem em uma calcinha, cheirar sutiã, dentre outros, podem estar com algum distúrbio. A estimulação e a fantasia podem ir a um grau cada vez maior, ao ponto em que o individuo não é mais um animal normal.

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Para os cristãos, a prática sexual é, sim, projeto de Deus. Mas... e a pornografia?

FÉ E IGREJA

relação de Deus com o ser humano e do homem com o seu próximo. Quem assiste àquele vídeo pornô na madrugada, sem roubar ou matar alguém, talvez não se considere merecedor do rótulo de pecador. Mas padre Marcelo avisa: “A proposta de vida do cristianismo é a Bíblia em tudo aquilo que ela contém e não em páginas escolhi-

das ao meu bel prazer ou que agradam a minha consciência”. Ele reflete sobre os resultados sociais da pornografia. “Todo o pecado tem uma consequência social, porque afeta não somente a mim mesmo, mas àqueles que me cercam. Será que é preciso negar as consequências sociais

do mau uso da sexualidade?”, questiona para, em seguida, citar exemplos de crimes cometidos por pessoas que não sabiam controlar seu desejo sexual. O padre também chama a atenção para casos de infidelidade conjugal, mágoa e sofrimento causados pela prática sexual fora do plano divino.

Amor e proteção Mas qual seria então a vontade de Deus para o sexo? Quem já se esforçou para proteger algo valioso talvez consiga compreender melhor. A imagem é a de um cofre arrombado. Graduado em Filosofia pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e em Teologia pela Pontifícia Universidade do Rio Grande do Sul (PUCRS), padre Marcelo usa essa imagem para comparar a sexualidade humana, representada biblicamente pela união do homem e da mulher em “uma só carne”. A partir do ato sexual, o ser humano, criado à imagem e semelhança de Deus, participa da ação criadora divina. Padre Marcelo compara o corpo a um “baú do tesouro” e explica que o relacionamento sexual é precioso e, por isso, deve ser preservado pelo casal. Seguindo esse raciocínio, entende que a pornografia viola e machuca essa intimidade. Comercializar o corpo ou a relação, provocar a cobiça em outra pessoa ou praticar o sexo “artificial e solitariamente” vai contra o plano divino. Não se trata, porém, de identificar e julgar os “peca-

dores”, mas de oferecer conhecimento e apoio a quem procura uma vida mais equilibrada e feliz. “Vivemos em um mundo extremamente sensual. Ninguém está livre”, avalia. Por isso, em seu material de catecismo, os católicos identificam sete responsáveis por proteger a integridade humana: comunicadores, pais, educadores, jovens, público, autoridade e igreja. Em atendimentos pessoais e sites como Piba e Porn to Purity (criado por um pastor exviciado em pornografia), as igrejas evangélicas também divulgam estudos bíblicos e oferecem apoio. E se é da Bíblia que vem o aviso de condenação, é de lá que também vem a garantia de socorro. Em Deuteronômio, capítulo 30, versículo 6, o povo de Deus tem a promessa de receber Dele um coração obediente. Já no livro de João, capítulo 14, versículo 16, Jesus garante que o Espírito Santo será enviado para auxiliar os cristãos na Terra. Seria até possível concluir que para cada filho pecador, tem um Deus que é Pai (pronto para amar, perdoar e capacitar).

*Os nomes foram alterados para preservar a identidade dos entrevistados

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O vai e vem da felicidade Lucas Dalfrancis*

A produção deste jornal laboratório – desde o seu batismo até a perda da virgindade – materializada em letras, figuras e calcinhas me fez gente grande. A metamorfose de moleque para homem esteve latente em todas as “posições”. No pulsar encabulado do meu coração (quando posei de cueca para um ensaio despido de pudor) e nos meus punhos trêmulos enquanto entrevistava um casal que teve cenas de sexo exibidas sem o consentimento na internet... Eis a convicção: a pornografia transformou a minha história. O tema que emudece a sociedade, esconde-se pelas alamedas sombrias do mundo e dispara de ambientes idoneamente morais virou a minha lição de casa. Descobri que a primeira chupada fizemos de chupeta: ao sugar o leite do seio da mãe. Coloqueime em debates nunca dantes matutados; como o porquê deficientes físicos são vistos como assexuados, anões compõem apenas o cenário da Branca de Neve e pessoas gordas deixam de ser cáusticas e excitantes. As testas enrugadas e os olhos grilados como bolitas eram a reação comum de todo mundo quando apresentava o tema de estudo. Na verdade, esse acanhamento mascarado se trata da maior conversa fiada da esfera terrestre. Sobre o sexo e seus fetiches, sem fazer uso de bibliografias, todos têm a mesma certeza: as pessoas fazem, gostam e gozam. Ficam eretas e úmidas ao perpetuar com engenho a mágica do amor. A ótica da pornografia é como gel lubrificante. Faz amenizar. Escorregar. E, sobretudo, ser feliz.

FÉ E IGREJA

DIANA AZEREDO REPORTAGEM FOTOGRAFIA

Para início de conversa, pa- das regras. Para o cristão, que crê deu que assistir a filmes e olhar dre Marcelo Carlesso reconhece: em Deus como pai, a orientação é revistas pornográficas contrariava “Se fôssemos anjos, imaculados ouvir e seguir as orientações pa- o plano divino para sua vida. Era, e puros, não estaríamos neste ternais e divinas. O sacerdote é ta- portanto, pecado. E com consemundo”. Em um planeta onde li- xativo: “A Palavra nos dá a regra, quências. “Meus relacionamentos estavam horríveis”, recorda. gar a televisão ou olhar para fora mas a Bíblia é para quem crê”. da janela pode significar dar de Para outro homem, que chaÉ lá, no capítulo 20 do livro cara com uma mulher seminua, de Êxodo, que Moisés apresen- maremos de Luiz, assistir aos quem afirmar que a pornografia é ta os Dez Mandamentos. Entre vídeos pornográficos para apripecado corre o risco de ser ridi- eles, está a proibição de come- morar a performance com as mucularizado. E crer nessa afirmação ter adultério e cobiçar a mulher lheres em motéis era um prazer é entrar em luta consigo mesmo. do próximo. Mais adiante, o texto ilusório. “A fantasia permite manMas lá seguem os cristãos, in- bíblico, no capítulo 5, versículos ter relações com quem a gente sistindo que a Bíblia orienta seu 27 e 28 de Mateus, traz a expli- quer. Eu me achava o máximo”, comportamento e que, por ser um cação de Jesus Cristo salientando reflete. Porém, o amor de Deus e projeto de Deus, a prática sexual que apenas o desejo sexual, sem a da esposa tornaram a pornogratambém está sujeita a regras. prática, também é adultério e co- fia desnecessária. “Quando se é Transgredi-las é pecar. biça. Quem crê nessas afirmações amado, isso passa para segundo plano”, afirma. O trânsito também tem leis que é um rapaz que chamaremos de precisam ser obedecidas. Atra- Rodrigo, de 23 anos. QuanA explicação pode parecer vessar o sinal vermelho é crime. do leu uma publicação da simples: o pecado atrapalha a Por mais que a sinaleira pareça Igreja Show da um incômodo para o motorista Fé, ele entenapressado, ela pode significar um alívio para o pedestre na hora de atravessar uma rua movimentada. “Seria bem melhor se não existisse o Código Penal, o Código Civil... Todos esses confrontam a minha consciência, me tiram do mundinho formado pelas convicções que criei e me confrontam com o outro que perante mim tem os mesmos direitos e deveres”, ironiza padre Marcelo. Em um relacionamento, entre pais e filhos ou namorados, também são estabeleci- Padre Marcelo: “A Palavra nos dá a regra, mas a Bíblia é para quem crê”

CRÔNICA

Cofre arrombado

*Acadêmico do Curso de Comunicação Social Habilitação em Jornalismo

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Uma doença séria e preocupante A Medicina reconhece a pedofilia como patologia

PEDOFILIA

DIANA AZEREDO FOTOGRAFIA

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ma forma favorecer a prostituição e a exploração sexual infanto-juvenil, a pena é de 4 a 10 anos de reclusão. Lisandra Carvalho, responsável pela Delegacia de Proteção a Criança e ao Adolescente de Santa Cruz do Sul, conta que atualmente no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), há crimes mais relacionados com a prática de pornografia infantil na internet, “através de fotografias, gravações, cenas que exponham crianças e adolescentes de forma pornográfica, despidos, insinuando ou mantendo relações sexuais”. Infelizmente para esses crimes as punições são brandas, pagamento de multa e reclusão de 1 a 3 anos. Quando se fala em crianças e adolescentes abusados, como Xuxa, é comum denominar o crime como pedofilia. No entanto “não temos um crime com o nome pedofilia, mas temos crimes que se enquadram no conceito de pedofilia” explica Lisandra. Presente na Classificação Internacional de Doenças (CID) com o código F65.4, pedofilia corresponde aos transtornos de personalidade causados pela preferência sexual por crianças. O psicólogo, Luis Schilling, explica que “muitas pessoas consideram pedófilo como criminoso, mas na verdade são doentes que devem ser diagnosticados e tratados”. O médico utiliza em seus pacientes

POR FREDERICO DE BARROS SILVA como tratamento terapia cognitiva comportamental, fazendo com que eles percebam o quão errados são seus atos. Muitos se indignam quando casos envolvendo pedófilos acontecem. Porém você sabia que estresse, baixa autoestima, falta de habilidades sociais são alguns dos fatores que influenciam na formação pedófila de uma pessoa? Schilling conta ainda, que fatores neurológicos e desvios de personalidades também são meios para desencadear essa doença. Para diagnosticar um pedófilo, o psicólogo explica que “deve se levar em conta alguns critérios clínicos e não necessariamente a existência do ato sexual, apenas o desejo sexual por mais de 6 meses junto com fantasias e impulsos voltados para crianças ou pré-púberes, que ainda não estão prontos para o ato sexual, além disso devem ser analisados os fatores culturais e legais do local”. Da mesma forma que é possível um pedófilo não praticar qualquer abuso sexual, os que efetivamente cometerem abuso podem não se enquadrar no diagnóstico de pedofilia. Mesmo não havendo um dado concreto, Schilling explica que a pornografia alimenta a pedofilia. Pois estimula a sexualidade infantil, aumentando assim o desejo por imagens que envolvam menores, assim como as fantasias sexuais.

Todos os caminhos pareciam me levar a aquele prédio de má manutenção. No meio da caminhada retomava meus pensamentos e motivos para estar adentrando aquela área. A calçada concentrava todos os tipos de lixos, até humanos. O bairro pobre e sujo parecia uma cidade medieval. Meus passos largos e rápidos eram avistados pela vizinhança. Os olhares receosos dentro das casas, por trás das cortinas. Eu rumei àquele prédio em ruínas, um reflexo do meu estado emocional. Coloco para dentro de mim todas as dúvidas que se agarravam nas minhas roupas desesperadas para sair. Os olhos pesados e a respiração ofegante ficavam mais fortes com o barulho dos passos naquela escada de tinta verde descascada. O primeiro andar já tinha sido percorrido e faltava mais um. A porta aberta era um convite. Os inúmeros papéis pareciam ter sido colocados a mão no chão após uma breve tormenta. Uma escrivaninha pequena enfeitava a sala, assim como um sofá jogado decorando aquela taverna. A sensação térmica apontava uns cinco graus. Pinturas nas paredes para tapar a boca delas. Aqueles muros pareciam gritar, a mesa sussurrava por alguns retalhos, o banheiro implorava por mais espaço. Tudo no diminutivo, um mini labirinto onde até mesmo as peças ali se perderam, definharam. Nada harmônico e embora tivesse vindo aqui outras vezes, nesta ocasião parecia diferente. Todos os móveis previam o meu adeus e choravam pelo abandono. Passei meus dedos suaves que se impregnaram de pó. O móvel dava a impressão de não conseguir respirar tamanha a camada de pó em cima de seus pulmões. Meu destino era a varanda. Passei despercebidamente pelo estreito corredor e o encontrei. Garrafas caídas, quebradas, jogadas. Cinzas por todas as partes. Poderia ser dele, mas eram do cigarro em seus dedos. Os olhos fortes remetiam a uma expressão de eterno alerta. Cabelos lisos penteados para trás,

ainda molhados. A regata mal cobria o tórax deixando os pelos do peito à vista. A barba desgrenhada e a rebelde sobrancelha contornavam a testa que denunciava os seus trinta e cinco anos, e eu, uma jovem de vinte e um anos. Jogou o cigarro para fora, sabia que eu odiava cigarros e o ato de fumar em si. Nenhuma palavra dita, embora aqueles olhares delatassem uma visceral ligação entre os seres encontrados naquela varandinha vagabunda. A noite passada havia sido horrível. Assim como as que antecederam essa. O calor da troca de ofensas havia instaurado um muro de acusações, moldado pelo orgulho e a indecisão como cimento. Para quebrá-lo não era necessária força, mas sim, acertar o pragmático ponto. Palavras foram jogadas como granadas naquele pesaroso conflito. Novamente outro aconteceria. Suas frases eram pontuadas com espaçosos suspiros. O primeiro a levantar o dedo e apontar, era guerra. Você quer ter um relacionamento, mas não suporta estar em um, resmunguei entre o choro compulsivo. Não é possível que agora você retome algo que já discutimos, Wladimir bradou. Se queres, vá ou me deixe ir. A minha constatação era racional. Nada é pior do que estar encurralada em um limbo. Inúmeros relacionamentos se parecem com um divisor de águas revoltosas descendo o rio. Tudo se encaminhava para um inevitável desfecho com a iminente ruptura até que as mãos dele colaram no meu braço. O toque despertara algo que já conhecia embora fosse incapaz de refutar o que traria. O vestido era somente um pano abnegado pelos braços grossos. Os calcanhares em contato, as peles se comunicando. A barba em cima do pescoço nu forçava a rendição. Aquele ogro maltrapido quase farrapo possuía um mapa de suas zonas erógenas. De costas para ele, era inevitável o beijo censurador de todas as ofensas anteriormente ditas. O silêncio consumado entre ambos

seria brutalmente quebrado pelos movimentos incessantes de afagos e beijos calorosos. O vestido se deixava levar lentamente como o desmoronamento da barreira entre ambos. A pergunta feita foi respondida na troca de olhares. A minha boca pequena recebeu outra vez um caloroso beijo seguido de um tapa na bochecha rosada. Rígido o seio nu apontava para cima ambicionando a boca terna e a companhia da barba. As calças baixas arriadas eram seguradas pelo cinto. Deitada eu esperava-o como a presa espreita o abate. A entrada rápida fez meus olhos revirarem. A respiração ofegante e as unhas procurando cavoucar as costas eram a minha resposta. Aflição e prazer. O balbucio de excitação escondido entre os olhos verdes expressivos e ostrês sulcos da testa enrugada. Seu fôlego era magistral para um homem mais velho. Puxara minhas pernas para os lados e entornara a encontrar o clitóris que fora encontrado em poucos segundos. A enorme experiência certamente fazia aquele exercício parecer fácil. As mãos percorriam os meus seios. O latente encanto pelo meu corpo se transformava em uma violenta retribuição. Ele entrava com tudo. Instantes de gozo e tudo voltava à realidade. Fazer sexo com ele se baseava em picos de adrenalina como andar em uma montanha russa formada somente por longas curvas. Nunca sabia o que sentia por mim. Não sabia diferenciar seu amor e tesão. Era impossível responder se aquilo era um caso marcado pela paixão ou uma futura história de amor. Ao menos, ele trepava bem. Deitada ao seu lado, acariciando seus cabelos despenteados meus olhos percorriam a vastidão do mundo em que nos encontrávamos. Parecíamos longe de qualquer um e qualquer coisa. Vi-me então n o espelho. As roupas maltrapilhas no chão, misturadas e quase que escondendo meu vestido. A expressão de prazer, do gozo, da-

quele inefável acontecimento. Tornei a olhá-lo. Maltrapido como um farrapo. Vi-me novamente em frangalhos. Farrapos. *Acadêmico do Curso de Comunicação Social Habilitação em Jornalismo

CONTO

ANA PAULA SEVERO REPORTAGEM

Uma declaração choca o Brasil. “Eu fui abusada”, disse Xuxa Meneghel, em entrevista ao Programa Fantástico da Rede Globo. Emocionada, a eterna Rainha dos Baixinhos declarou que até seus 13 anos, sofreu um de seus maiores traumas: um amigo de seu pai rouba sua infância e ingenuidade. A apresentadora declara ainda que ele não foi o único. Houve também o noivo de sua avó e um amigo da família. Como você já sabe, no Brasil, este ato é considerado crime. Mas, sabia que a pena máxima é de 15 anos? De acordo com o Código Penal, estuprar vulnerável, a pena é de 8 a 15 anos. Já de algu-

Farrapos

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DANIELA LEMES ENTREVISTA DIVULGAÇÃO FOTOGRAFIA

BRUNA SURFISTINHA

ENTREVISTA Quem é Bruna Surfistinha pra ti? Desde que me aposentei na prostituição, em outubro de 2005, a Bruna se tornou meu personagem, minha criatura, um alter-ego. E a Raquel Pacheco, quem é? Sou uma mulher que busca a felicidade onde quer que ela esteja sem medo de enfrentar a vida. A Bruna Surfistinha jamais existiria sem a minha coragem. Como é ser Raquel Pacheco, depois de explodir na mídia como Bruna Surfistinha? Continuo a mesma pessoa de antes das aparições na mídia. A fama para mim é apenas um detalhe, pois os frutos que a Bruna gerou não me tornaram uma pessoa deslumbrada. Aproveito os bons momentos com os pés no chão. A única diferença é que desde agosto de 2004 (quando apareci pela primeira vez na mídia) não tenho os prazeres de uma vida anônima, pois sou reconhecida onde vou, sou observada, sou bastante criticada, mas em contrapartida, recebo carinho de pessoas que não sei quem são, mas que me tratam como se eu fizesse parte da vida delas. Aprendi a lidar com todas essas situações, consequências de toda a exposição. Como tu já dissestes em outras entrevistas, Bruna Surfistinha já foi teu nome de guerra, mas agora é personagem. Dói lembrar de algum momento dessa personagem?

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Não guardo nenhum sentimento ruim ou dor da época da prostituição. Acredito que até mesmo os piores momentos foram necessários. Em tudo o que fazemos na vida, independente da profissão, há o lado negativo, as situações ruins que precisamos encarar. Quando decidi me prostituir, sabia que não viveria num mar de rosas, mas estava disposta a encarar qualquer tipo de situação. Foi um grande desafio para mim. O que de melhor a Bruna trouxe para a vida da Raquel? Aprendi muito, tanto que em 2006, publiquei o livro ´O que aprendi com Bruna Surfistinha´, onde em cada capítulo, revelo um aprendizado. Mas de todos, o melhor foi ter aprendido a conviver com as diferenças humanas e aceitá-las sem preconceitos e julgamentos.

Hoje, tu ainda achas que a prostituição era o único caminho a seguir? Com a falta de maturidade e com a vontade de explorar um mundo que desconhecia, não consegui enxergar outro caminho naquela época. Para mim, foi sim o único caminho, o qual escolhi por espontânea vontade e resolvi enfrentá-lo sozinha.

O público em geral, sabe diferenciar Bruna de Raquel? Ou sofre muito preconceito? Após o filme e minha participação na Fazenda, a maioria das pessoas começou a me chamar de Raquel. Poucas pessoas me chamam de Bruna, então percebo que as pessoas já conseguem diferenciar.

educar meus filhos para o mundo e não para mim. O que faltou no meu relacionamento com os meus pais foi comunicação. Cresci num ambiente cheio de tabus e preconceitos. A educação que darei será diferente da qual recebi. Quero ser a melhor amiga que eles poderão ter, confidente de uma maneira que não precisarão me esconder nada. O proibido sempre foi e será mais gostoso. Tudo o que os pais proíbem os filhos fazem escondidos, muitas vezes correndo riscos. Vou ensinar o que é o certo e o errado na vida, deixando claro que pagamos duras consequências quando erramos, mas sempre respeitando o livre-arbítrio deles. Como esposa e futura mãe, o que diria para solteiros e casados que acessam conteúdos pornográficos? Considero o acesso a conteúdos pornográficos algo saudável, desde que não haja pedofilia e outras parafilias. E que o acesso não se torne um vício que prejudique a vida pessoal e profissional.

Família! É casada e quer ser mãe. Como tu achas que vai ser educar teu filho, depois de tudo que passou? Vais transmitir a ele alguma lição que aprendeu como Bruna? E algum ensinamento de teus pais? Quero ser uma mãe bem presente e liberal, vou

Tens vontade de seguir carreira de psicóloga? Já tens planos para o início? Me tornar psicóloga é um dos meus principais objetivos, já gostaria de ter iniciado a faculdade, mas por conta da vida corrida, tenho adiado. Por enquanto não conseguiria me dedicar da maneira que quero.

Se fosse hoje, no auge dos teus 17 anos, faria o mesmo? Faria tudo novamente, sim. Não consigo imaginar minha vida de uma maneira diferente de como foi, sem meus erros e acertos.

Perguntas “bate e volta”, segundo a declaração que a Raquel fez sobre “sempre fiz questão de deixar claro que, se prostituição fosse boa, eu jamais teria parado” para a revista Época. Quando a prostituição é válida? Quando a mulher se prostitui por vontade própria, porque quer e gosta de estar ali. Quando a prostituição é dolorosa? Quando a mulher está sendo explorada e obrigada a se prostituir. Ou então quando a prostituta não

aceita fazer algo que o cliente exigiu e ele diz: “Mas eu estou te pagando e você precisa fazer!”. A agressão verbal dói tanto quanto a física. Quando a prostituição é divertida? Quando rola afinidade com o cliente e a conversa flui de uma maneira gostosa, fazendo com que a garota de programa consiga conhecer um pouco mais do universo masculino. Quando a prostituição é vergonhosa? A vergonha está no fato de ser uma das profissões mais antigas e ainda não ser aceita na sociedade.

Prazer, sem-vergonha

Lucas Dalfrancis Amor, insano amor ereto. Ultrapassa a cama, os corpos e o teto. Sai das entranhas, acalora as vestes e se consome em chamas. Olhos vigilantes ao corpo, ao rosto, às faíscas do olhar que espelham desejos, sem pudor; à prática do amor. Bocados de carne vestidos em fogo, incendiados, libertos e encarcerados num só corpo. Parte-se das nuvens aos cernes profanos; os afagos têm o ânimo do desejo e o ardor da excitação se converte em mordidas, marcas e beijos. O sexo deveria estar entre as sete maravilhas do mundo; É proeza em qualquer lugar. Dentro do avião, das cavernas ou no fundo do mar. Entre os esguios, marombeiros e gordinhos. Dotados, medianos e pequeninhos... Nessa disciplina de química e encaixes o importante é estar numa das duas posições: o dominado ou o dominador; É preciso entrega, suor e concentração. É preciso ser algemado, cultuar fetiches e entrar, sem temores, em erupção. Lembre-se sempre: esta esfera é desprovida de vergonhas, portanto sem-vergonha você será o imperador da cama, dos lençóis e das fronhas.

BRUNA SURFISTINHA

Raquel Pacheco, em entrevista exclusiva ao Unicom, revela o que aprendeu com a vida

A menina que, no auge dos seus 17 anos, se tornou uma das mulheres mais corajosas e determinadas do Brasil. Com uma vontade ímpar de viver o que o mundo tem a proporcionar, ela foi atrás de tudo que fosse diferente da realidade da casa de seus pais, onde morava. Raquel Pacheco incorporou Bruna Surfistinha e viveu com e para ela durante quatro anos. Aposentada da prostituição há oito anos, ela não vê problemas em falar da sua trajetória como Bruna, sua criatura. A criadora ressalta sempre que não se arrepende de nada do que fez, pois aprendeu com seus erros e acertos a adoçar o veneno do escorpião. Hoje, com outra vida, Raquel vive dentro dos padrões considerados normais. Escritora, empresária, DJ e apegada à família, a ex-garota de programa mais famosa do País possui planos e objetivos, como se tornar psicóloga e mãe. Ela relembra de sua trajetória na prostituição como uma fase desafiadora de muito aprendizado. Confira abaixo um pouco mais da história de Bruna Surfistinha contada pela própria Raquel ao Unicom Pornô.

PROSA

Criadora e criatura: a escorpiana mais famosa do Brasil

Tu te sentias inferior a outras pessoas, sentia-te presa, até que optou pela liberdade da Bruna. O que tu dirias para as pessoas que sentem o mesmo que já sentiste? Que elas precisam ter coragem para ir atrás da felicidade onde quer que ela esteja e que não podem se importar com a opinião alheia. Quando percebemos que podemos ser ou fazer o que queremos, a vida ganha um novo sentido. Um dos nossos piores erros é viver de uma maneira apenas para alegrar os que estão ao redor, sem conseguir seguir as próprias vontades e intuição. Desejo que estas pessoas descubram os prazeres da vida.

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A pornografia e as máscaras

Leandro Junhkerr Porto e Barbara Pinto Duarte

Cleonice Sabine Goerck e Roberta Kipper

Fabio Goulart e Lucas Batista Brunetto

PROF. RAFAEL HOFF

Gregory Reis Rosa e Da niela Eloiza Cezar

Julianne Barragan Wagner e Fran cieli de Fátima Graff

Fabio Goulart e Lucas Batista Brunetto

Frederico de Barros Silva e Mateus Camargo de Souza

Letícia Lorensini dos Santos e Guilherme de Souza Graeff

Letícia Lorensini dos Santos e Guilherme de Souza Graeff

ima Graff gner e Francieli de Fát Julianne Barragan Wa

Lucas Dalfrancis e Leticia Eduarda Wacholz

Frederico de Barros Silva e Mateus Camargo de Souza

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ENSAIO FOTOGRÁFICO

ENSAIO FOTOGRÁFICO

O desafio proposto aos acadêmicos de Comunicação Social da Unisc pareceu bastante claro no início: fotografar narrativas pornográficas. Mas, afinal, o que é mesmo pornografia? Quais os limites entre o pornográfico e o erótico? A quem a pornografia incomoda? Por quê? Os acadêmicos discutiram na disciplina de Fotografia em Jornalismo II quais os valores, o status e os interditos sociais aplicados sobre o tema. No debate, a atenção mantinha vigilância sobre os filtros psicológicos, valores e moral dos próprios jornalistas. Essa última, de modo especial, se mostrou transitória e dinâmica. Num mergulho filosófico sobre a representação fotográfica da pornografia, a turma descobriu muito mais do que a tênue linha que separa a imagem jornalística da publicitária. Descobriu que a isenção do jornalista é mera ficção.

Ana Claudia Muller, Maria Regina Eichenberg e Raquel Sanmartin

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Making of


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