Revista horizonteS n °1

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EDIÇÃO 1 JANEIRO DE 2021

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sumário

EXPEDIENTE Edição Geral Profª Ângela Felippi

Editorial

10 anos para mudar o mundo

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Entrevista

Desafios marcam a implementação dos ODS

Edição Grasiel Grasel

Revisão Kimberly Lessing Marília Schuh Gabriel Rodrigues

Comentário

Praticar o hábito de ler é essencial

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Reportagem

Práticas e terapias alternativas ajudam a diminuir o consumo de medicamentos

Projeto Gráfico e Diagramação Paula Schoepf Pietra Marques

Redação Ana Clara Seberino Adrieli Wrasse Bianca da Silva Bruno Bica Gabriel Rodrigues Grasiel Grasel João Valter Passos Joice Freisleben Kimberly Lessing Luana Figueiredo Madhiele Scopel Marília Schuh Paula Schoepf Pablo Vargas de Melo

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Reportagem

Agroecologia: saúde e sustentabilidade da produção ao consumo

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Reportagem

Hortas urbanas familiares e coletivas contribuem para cidades mais sustentáveis

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Entrevista

Conselho articula desenvolvimento sustentável na região

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Reportagem

Como salvar o planeta de uma crise climática

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Reportagem

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Energia solar, existe luz no fim do túnel Reportagem

horizonteS Universidade de Santa Cruz do Sul - Unisc Av. Independência, 2293Bairro: Universitário Santa Cruz do Sul/RS

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Cultura como direito

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Crônica

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O jeitinho brasileiro de fazer arte Reportagem

Mulheres empreendedoras, realizem-se

Cursos de Comunicação Social Jornalismo de Revista I

Reportagem

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Educação profissionalizante: investir, hoje, no futuro do país

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10 ANOS PARA MUDAR O MUNDO Grasiel Grasel grasielfg@gmail.com

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m setembro de 2015 representantes de diversos países do mundo chegaram em um consenso para responder uma pergunta que não poderia mais esperar: como continuar desenvolvendo a humanidade diminuindo o caráter predatório do avanço humano sobre a natureza e seus semelhantes? Com isso, foram apresentados os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), 17 metas globais capazes de nos fazer continuar avançando enquanto mantemos os olhos voltados para pautas importantes. Os ODS são parte da resolução estabelecida pela Assembleia Geral das Nações Unidas que ficou conhecida como Agenda 2030, um documento que visa oferecer soluções para alguns dos principais problemas que ainda assolam o planeta até o início da terceira década deste milênio. Alguns destes objetivos, claro, ainda estão longe de serem alcançados no Brasil, mas ao menos o país tem uma direção para a qual olhar nos próximos anos. Neste sentido, os colegas (foto abaixo) que se uniram para lançar esta publicação na disciplina de Jornalismo de Revista I, ministrada pela professora Ângela Felippi, passaram a olhar para a realidade de suas localidades em busca de evidências de que suas comunidades já caminham em direção aos objetivos da Agenda 2030. Se tentarmos definir, portanto, a “área de abrangência” do conteúdo da horizonteS seriam os municípios de Santa Cruz do Sul, Vera Cruz, Cachoeira do Sul e Roca Salles, onde residem nossos colegas. Contrariando uma lógica do jornalismo pelo benefício do fazer de uma revista laboratorial, portanto, não temos um público específico no qual tentamos impactar com o conteúdo da revista. Este não é um problema, no entanto, não apenas por esta ser uma publicação experimental, mas também pelo fato de

que os ODS são globais, podem e devem ser buscados em todos os lugares do mundo e em todas as esferas, seja na nacional, estadual, regional ou municipal. Vale também destacar o impacto negativo que o ano de 2020 causou nessa corrida pelo desenvolvimento sustentável. Graças ao estrago causado pela Covid-19, regiões do mundo que já se encontravam em situação crítica tendem a piorar, ampliando a pobreza extrema e fazendo com que o mapa da fome volte a ser uma preocupação mesmo onde já não era mais. Pouco ou nada se sabe sobre o quão eficaz será a humanidade em lidar com o descarte de tantos EPIs e suas embalagens, assim como os milhões de seringas que deverão ser utilizadas a nosso favor. Em nível nacional o cenário também é desolador. Enquanto minimiza os perigos de uma pandemia global que já matou mais de 1,6 milhão de pessoas, o Presidente da República segue “abrindo a porteira” para a degradação da Amazônia e do Pantanal, comprometendo não apenas o meio ambiente, mas prejudicando também vidas indígenas que frequentemente são alvo de ataques. De sustentável este governo não vem apresentando nada, portanto, ainda mais se estivermos tratando de desenvolvimento. Que a horizonteS sirva muito mais do que um laboratório para estudantes de jornalismo, mas também como uma fonte de inspiração aos nossos caros leitores para que busquem formas de criar ou participar de iniciativas que caminhem na direção da Agenda 2030. Para além da necessidade de nossos governantes buscarem dispositivos legais e incentivos para que os ODS sejam atingidos, de nada eles adiantarão se não houver aceitação e adesão da população, que será a verdadeira mola propulsora das mudanças necessárias para a humanidade como um todo.

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DESAFIOS MARCAM A IMPLEMENTAÇÃO DOS ODS Brasil está entre os 10 países que mais consomem medicamentos no mundo; diversas atividades buscam mudar este cenário

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s Objetivos de Desenvolvimento Sustentável, ou simplesmente ODS, são propostas estruturadas a partir da Organização das Nações Unidas (ONU) com a finalidade de extinguir a pobreza extrema, proteger o planeta e assegurar que todos os seres humanos tenham acesso a meios de desenvolvimento digno e que tenham seus direitos cumpridos e respeitados. Compondo a Agenda 2030 para o planeta, os ODS estão dispostos em 17 objetivos com 169 metas a serem atingidas até o final desta década, diretrizes pactuadas por os quase 200 países membros da ONU ainda em 2015 e que os orientam a direcionar suas políticas públicas para o desenvolvimento sustentável. Doutora em Sociologia, Tanise Dias Freitas (foto) pesquisa e dá consultoria com temas relacionados aos ODS. Na condição de profissional que capacita gestores para a implantação de políticas públicas que convirjam com a Agenda 2030, Tanise Freitas falou para horizonteS explicando da importância do alinhamento entre governo federal, estaduais e municipais, para fazerem valer as ações propostas. O alinhamento auxilia na efetividade da Agenda, assim como na captação de recursos financeiros, vindos de organismos internacionais, empresas, fundações ou recursos destinados à isenção tributária, como na união dos demais recursos em políticas comuns. A falta de alinhamento e as descontinuidades das políticas voltadas ao desen-

volvimento sustentável estão entre os principais desafios do cumprimento da Agenda. A Agenda 2030 não cabe apenas aos entes públicos, mas também à iniciativa privada e à sociedade civil organizada, que podem e devem fazer parte, porque o desenvolvimento sustentável se atinge no conjunto da sociedade, afirma a socióloga, que tem pós-doutorado em Desenvolvimento Regional e atua por meio consultoria a municípios, empresas e organizações em diagnósticos e avaliações de projetos. Em escala global, organismos internacionais adotaram os ODS como norteadores de parte de suas ações, com o Banco Mundial, o Banco Interamericano de Desenvolvimento, a Organização para a Alimentação e Agricultura (FAO-ONU), o Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD-ONU), a Organização Mundial da Saúde e outras. Muitos são grandes financiadores de projetos pelo mundo. Para a obtenção de auxílios destas organizações, os projetos feitos nos países precisam seguir inúmeras regras e elencar diversos dados como indicadores de monitoramento, indicadores de avaliação, quem irá fazer as ações, quanto tais ações custarão, identificando o público-alvo, objetivos a curto, médio e longo prazo, sendo finalizado pela avaliação de profissionais externos que não estejam ligados com o projeto. Tantas demandas necessitam de qualificação, tempo e investimento dos gestores que planejam a implementação de ações. A perseguição aos ODS, segundo Tanise, não é um problema apenas quantitativo, mas também qualitativo. A intenção de fazer parte da Agenda e promover ações requer qualificação, com o envolvimento de profissionais que entendam do assunto e saibam as abordagens ideais. O planejamento para cumprir a Agenda 2030 tem que ser multidisciplinar e multisetorial, com cruzamento das ações entre os setores, pois muitos objetivos são relacionados. Da mesma forma, enfatiza a entrevista, é preciso ter continuidade no pacto com os ODS, mesmo com

Imagem: Arquivo Pessoal/ Tanise Dias Freitas

Grasiel Grasel grasielfg@gmail.com Joice Freisleben joicefreisleben@hotmail.com


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PRATICAR O HÁBITO DE LER É ESSENCIAL Bruno Bica brunobica1212@outlook.com

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uantos livros por ano você costuma ler? Uma das coisas que mais pode trazer conhecimento a uma pessoa é a leitura de um ou vários livros. Quanto mais ler, mais sabedoria ela irá consumir. Porém, vivemos em um país que a cada ano podemos perceber um índice de leitura bem baixo. A pesquisa Retratos da Leitura no Brasil é a responsável por analisar o comportamento leitor da população, sendo ela a única a fazer isso nacionalmente. A pesquisa possui cinco edições desses estudos, realizadas em 2001, 2007, 2011, 2015 e 2019. E um dado muito preocupante foi o que mostrou a diminuição de muitos leitores no país, com 4,6

milhões a menos em 2019 com relação a 2015. Um movimento que pode auxiliar na ampliação da leitura é o das bibliotecas públicas ou comunitárias, responsáveis por prestar um excelente serviço às pessoas, no que diz respeito ao incentivo da leitura. Parte dessas bibliotecas tem, como algumas de suas funções, disponibilizar, para quem tiver o interesse de ler, o empréstimo de um ou mais livros, liberar acesso à internet para que as pessoas possam fazer pesquisas, além de também possuírem um ambiente de leitura de livros, revistas, jornais, entre outras obras literárias.

LER SEM SAIR DE CASA Em tempos de pandemia, fica complicado para algumas pessoas saírem de casa para irem até uma livraria comprar um livro ou ir até uma biblioteca retirar por empréstimo algum livro. Um dado surpreendente de antes da pandemia foi a alta da venda dos e-books (livro em formato digital) no Brasil, que aumentou em 115% de 2016 até 2019, conforme mostrou a pesquisa da Nielsen junto à Câmara Brasileira do Livro e o Sindicato Nacional dos Editores de Livros. Porém, como vivemos em país muito desigual economicamente, é muito difícil que todos possam pagar por livros, que às vezes acabam saindo muito caros. Existem sites que disponibilizam milhares de e-books gratuitos, como, por exemplo, a Amazon, enorme empresa americana. Disponibilizando vários gêneros de livros, e também com diferentes idiomas, eles levam à leitura para vários lugares do mundo.

Além da Amazon, existem vários sites para você fazer a leitura grátis digital, como por exemplo também o Open Library, que já possui mais de 1 milhão de títulos para baixar e ler. Para encontrar mais lugares que possam baixar livros gratuitamente, leia mais em https://catracalivre.com.br/ educacao/15-sites-para-baixar-livros-gratuitamente/ Seja por qualquer uma dessas maneiras de ter acesso a livros que já foram citadas, ler nunca é demais, a cada leitura feita podemos aprender mais e adquirir muito conhecimento. Além disso, incentivar as pessoas que estão ao nosso redor pode ser muito benéfico para elas, mas também para si mesmo, afinal, poder comentar sobre livros já lidos é uma ótima forma de trocar conhecimento. Além de tudo, um livro é algo que você pode guardar para sempre, ao invés de comprar algo que possa ser descartado depois, não contribuindo com o ambiente e o desenvolvimento sustentável. 5

Imagem: CHUTTERSNAP/Unsplash

as trocas de governo. No Brasil, por exemplo, o governo federal atual não renovou o acordo para o cumprimento da Agenda, fazendo com que as políticas federais, desde 2019, não sejam mais pautadas para implementação dos ODS. Por outro lado, Tanise lembra que mesmo assim, estados e municípios podem, e muitos o fazem, elaborar e implementar políticas voltadas para as metas dos ODS. O quadro leva a outro grande desafio dos ODS, o desconhecimento da Agenda 2030, explica a entrevistada. Tanto por parte de muitos governos, como dos cidadãos, falta conhecimento de como planejar ações que vão ao encontro dos ODS, assim como de cobrar a sua realização. Por outro lado, a consultora lembra que o Brasil já atingiu várias metas, como ter mais de 90% das crianças na escola, ter um sistema de saúde público e universal como o SUS, manter uma democracia e a liberdade de expressão. Mas há outras tantas a atingir, assim como o esforço de manter as metas conquistadas, conclui. Tanise salienta que “existem sim, muitos desafios, mas muitas metas já foram alcançadas, pois muito vem sendo feito em políticas públicas desde em governos anteriores”. Alcançar os ODS é também responsabilidade individual dos cidadãos. Ações como a separação do lixo, a equiparação salarial e o respeito aos diferentes gêneros, orientações sexuais e religiões faz parte da busca pela vida sustentável no planeta. A sociedade civil desenvolve papel importante na compreensão dos ODS e cobrando para que tais ações sejam implementadas, afirma a entrevistada.


Brasil está entre os 10 países que mais consomem medicamentos no mundo; diversas atividades buscam mudar este cenário

Imagem: Reprodução Internet

Saúde e Bem-Estar

PRÁTICAS E TERAPIAS ALTERNATIVAS AJUDAM A DIMINUIR O CONSUMO DE MEDICAMENTOS

Cultura do consumo do medicamento.

Marília Schuh mariliaschuh@hotmail.com

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uinto país com o maior território do mundo, o Brasil, segundo dados do Conselho Federal de Farmácia, também integra outro top 10: o de países que mais consomem medicamentos no planeta. Hoje, o país ocupa o sexto lugar no ranking, ficando atrás de nações como Rússia, Estados Unidos e China – que, aliás, em termos de território, são maiores que o Brasil. Ainda, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), no mundo a indústria farmacêutica movimenta até cerca de 300 bilhões de dólares por ano. Este é um fato que pode ser explicado porque o consumo de medicamentos hoje no país já se tornou cultural. Quase todo mundo tem ou conhece alguém que tenha uma “farmacinha” em casa; seja ela aquela caixa dentro do armário da cozinha, uma gaveta no armário do banheiro, e até mesmo a própria bolsa ou carteira que são carregados no dia a dia.

Quem, afinal, nunca tomou um remédio, por conta própria, para dor de cabeça? Ou, porque um amigo/conhecido disse que era eficaz, você também experimentou? Muitos destes medicamentos, inclusive, já passaram da data de validade, mas continuam lá e geralmente seguem sendo utilizados uma que outra vez. Além disso, o fácil acesso a medicamentos - tendo em vista que muitos não precisam nem de receita para ser adquiridos nas farmácias - e, em contraponto, o difícil e precário acesso à saúde pública e a boas condições de vida, também contribuem para isso. De acordo com estimativas da OMS, cerca de 50% dos brasileiros usuários de medicamentos o faz de forma incorreta. Outro fator que pesa na hora de se automedicar é o acesso fácil e rápido a informações, através da internet, por exemplo. Antes, estas informações só poderiam ser descobertas através de uma con-

sulta médica. Especialistas ressaltam, contudo, que os medicamentos representam um avanço importante da ciência, principalmente para doenças graves ou crônicas, como doenças cardiovasculares, hepatite, diabetes, hipertensão e câncer. É o uso que se faz dos remédios, no entanto, que merece atenção.

SEMANA DO USO RACIONAL DE MEDICAMENTOS Instituída em 2014, sob a Lei nº 14.627/14, a Semana do Uso Racional de Medicamentos acontece, no Rio Grande do Sul, sempre entre os dias 5 e 11 de maio, todos os anos. Faz parte do calendário oficial de eventos do estado. Através de uma série de eventos e atividades, o período visa alertar sobre os riscos de se automedicar e conscientizar a população a respeito da correta utilização de medicamentos.


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O QUE ESTÁ SENDO FEITO PARA MUDAR ESTE CENÁRIO? Este uso de forma indevida, em excesso ou quando não há necessidade, potencializado pelo difícil acesso a boas condições de vida e aos serviços de saúde pública do país, não traz nenhum tipo de benefício para a saúde. Na Europa e nos Estados Unidos, o uso incorreto de medicamentos é a terceira maior causa de morte, em decorrência, muitas vezes, de efeitos colaterais e intoxicações; perdendo apenas para doenças cardiovasculares e câncer. Já no Brasil, segundo pesquisa realizada pelo Ministério da Saúde, a automedicação levou para o hospital mais de 60 mil brasileiros entre os anos de 2010 e 2015 – período em que foi feita a análise. Com isto, propostas para diminuir o consumo de remédios no

país estão sendo colocadas em prática nos últimos anos. Entre os recursos, o governo busca controlar e até vender de forma fracionada alguns medicamentos nas farmácias; além de melhor informar a população, através de campanhas publicitárias, publicações na internet e até mesmo através da Semana do Uso Racional de Medicamentos (veja box), instituída em 2014 e que ocorre sempre entre os dias 5 a 11 de maio, todos os anos. Até a Organização das Nações Unidas (ONU) incentiva as pessoas a buscarem mais qualidade de vida, saúde e bem-estar. Em 2015, os 193 países membros da ONU - entre eles, o Brasil – concordaram e se predispuseram a ir em busca do cumprimento dos

17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030. Destes objetivos, fazem parte melhorar a saúde e o bem-estar da população, promovendo “a saúde mental e o bem-estar” e reforçando “a prevenção e o tratamento do abuso de substâncias”. Para saber mais sobre os outros ODS, acesse o QR Code abaixo.

COMO EU POSSO MUDAR ESTE CENÁRIO NA MINHA SOCIEDADE? Um dos motivos, aliás, que mais levam as pessoas a se automedicarem, quando o assunto é bem-estar e saúde mental, por exemplo, está diretamente relacionado com a forma de vida de cada indivíduo. Num mundo onde tudo acontece ao mesmo tempo, no qual as pessoas recebem informações de todos os lados e estão em vários lugares ao mesmo tempo – principalmente por causa das redes sociais, internet e conectividade de forma geral -, fica difícil manter a calma e não deixar a ansiedade dominar. E a ansiedade é, de acordo com a terapeuta ocupacional Marina Severo Jantsch, um dos principais motivos que levam as pessoas a tomarem remédios por conta própria ou de maneira excessiva e incorreta. Segundo a profissional, já se tornou cultura em nosso país, e também no mundo, a autome-

dicação. “As pessoas querem se anestesiar de tudo. Então, se eu estou ansioso, eu não quero sentir esse sentimento, não quero essa reação no meu corpo, quero me privar; então vou me medicar”, exemplifica. A ansiedade, contudo, também pode ser boa em alguns casos. “Inclusive nos torna muito prudentes, nos faz nos antecipar em determinadas situações, nos ajuda a nos orientar e nos planejar melhor. Então ela não é de todo mau, pode ser boa também”, afirma Marina. Portanto, se a ansiedade pode ser algo bom, “por que a gente quer se livrar desse sentimento?” A terapeuta ocupacional responde: “porque não queremos aprender a lidar com ele”. Conforme a profissional, ainda é importante ressaltar que o medicamento vai tratar, no todo, os sintomas apresentados, o que o

corpo manifesta, e não a causa do problema. “E, se não tratarmos a causa, a origem do problema, ele vai permanecer sempre ali, e só tende a aumentar”, frisa ela. De acordo com Marina, nada exclui o diagnóstico da necessidade do medicamento. “Mas a gente pode minimizar, fazendo com que interfira o menos possível em nossa vida, para que possamos ter qualidade de vida”, declara. No entanto, como combater o consumo excessivo e incorreto de medicamentos? Hoje, já existem inúmeras formas de tratamentos e atividades práticas, muitas vezes coletivas - como ioga, meditação, acupuntura, ginástica, pilates, entre outras -, que podem ser realizados no dia a dia de forma frequente e natural, e que, afinal, ajudam a ter uma vida mais saudável. São os chamados tratamentos alternativos. 7


Imagem: Reprodução Internet

Em Venâncio Aires, município do Rio Grande do Sul, a Secretaria de Saúde já atua com o objetivo de modificar essa cultura de automedicação e consumo de remédios de forma excessiva e incorreta, através do projeto de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde (PICs), aplicado na cidade. Conforme explicam o Secretário de Saúde do município, Ramon Schwengber, e a psicóloga e residente em saúde coletiva pela Escola de Saúde Pública, Nívia Duarte, a Secretaria de Saúde, juntamente com os grupos de educação em saúde, atuam também na prevenção, com grupos de atividade física e dança, principalmente voltado ao público feminino. “É de extrema importância o fortalecimento dessas práticas, já que elas contribuem para o processo de educação em saúde da população, ampliando o olhar para o contexto e particularidade de cada indivíduo; não somente focando na doença, mas priorizando a promoção da saúde”, ressalta Ramon. Na cidade, os tratamentos alternativos mais procurados pela população são auriculoterapia é um dos ramos da acupuntura destinado ao tratamento das enfermidades físicas e mentais por meio de estímulos nos pontos nervosos da orelha -, meditação, grupos de dança e atendimento psicológico (foto).

E SERÁ QUE FUNCIONA MESMO?

Anticoncepcionais; Anti-inflamatórios; Analgésicos; Antibióticos; Descongestionantes nasais.

Imagem: Reprodução Internet

QUAIS SÃO OS MEDICAMENTOS QUE OS BRASILEIROS MAIS CONSOMEM?

Quem é adepta de uma das inúmeras opções de práticas mais naturais, que prometem mais saúde e melhora do bem-estar, da saúde mental e da qualidade de vida, é Emilly Schaff, de 18 anos. Praticante de meditação e reike há mais de três anos, Emilly relembra que tudo começou porque não se sentia mais bem consigo mesma. “Sentia as coisas com muito mais intensidade, principalmente as coisas ruins que aconteciam ao meu redor”, conta. Em decorrência de alguns acontecimentos pessoais durante sua infância e adolescência, como bullying, por exemplo, a jovem revela que isso pesou muito durante seu crescimento e amadurecimento. Tanto, que, ao não conseguir esquecer e deixar para trás os xingamentos, insultos e o sentimento de exclusão por questões de aparência, ela desenvolveu um quadro de ansiedade, síndrome do pânico e, por fim, depressão. “Fiz acompanhamento psicológico e psiquiátrico. Cheguei a tomar dois tipos de remédios antidepressivos. Foi importante, para mim, fazer esse tratamento com a ajuda dos remédios. Mas eu sabia que o remédio não ia me curar, só iria diminuir os sintomas, as cri-

ses”, reforça ela. Foi por interesse de saber como curar os sintomas de uma vez por todas que Emilly chegou até as terapias alternativas. “Quando percebi que precisava de ajuda profissional para aprender a lidar com o misto de sentimentos ruins que eu tinha, comecei a pesquisar sobre psicologia e terapeutas”, relata a jovem. Os resultados foram extremamente positivos.“Hoje vivo em paz, me respeito e respeito os meus sentimentos também. Aprendi a me priorizar, me amar, não me criticar. Hoje eu tenho força de vontade, ânimo para correr atrás dos meus sonhos, e não desistir. Não desistir de mim”, revela Emilly. O estilo e a qualidade de vida de Emilly mudaram tanto que hoje ela é estudante de terapias holísticas, extremamente interessada em saber mais sobre estas práticas alternativas. Seu plano, para um futuro próximo, é começar a cursar Psicologia e, desta forma, ajudar outras pessoas. “Espero poder ajudar alguém através disso, assim como um dia fui ajudada, assim como um dia fui salva”, reflete a jovem.


Consumo e Produção Responsável

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AGROECOLOGIA: SAÚDE E SUSTENTABILIDADE DA PRODUÇÃO AO CONSUMO

Na produção agroecológica, a adubação é feita com recursos encontrados na própria propriedade, garantindo alimentos sadios e nutritivos

Kimberly Lessing kimberlylessing@outlook.com

N

ão gostava de trabalhar com agrotóxicos e se sentia mal após aplicá-los na lavoura. Foi esse o motivo que levou o agricultor familiar santa-cruzense Perci Darcísio Frantz, 47 anos, morador de Linha São Martinho, a abandonar a cultura do tabaco há cerca de 28 anos. Assim, começou a produzir alimentos com base nos princípios da agroecologia, caracterizada pelo não uso de agroquímicos, os quais, segundo dossiê publicado em 2015 pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), podem causar intoxicações, doenças crônicas e alguns tipos de câncer, além de poluir a água, o solo e o ar. Hoje, Frantz se dedica à fruticultura, produzindo basicamente

banana e cítricos, e trabalha com mais tranquilidade por não precisar lidar com produtos perigosos. “Quem está produzindo não se intoxica e para quem consome é ainda mais importante. Você compra esse alimento para que te traga saúde. Se está contaminado não vai fazer o efeito que se espera”, explica ele. O produtor agroecologista recebe assessoria técnica de profissionais autônomos da área, bem como da Emater/RS-Ascar. Associado à Cooperativa dos Produtores de Venâncio Aires (Cooprova) e à Cooperativa Regional de Alimentos Santa Cruz (Coopersanta), há seis anos possui o Sistema Participativo de Garantia da Rede Ecovida de Agroecologia,

certificação orgânica que o ajuda a comprovar a procedência dos alimentos e garantir a inserção no mercado. Quem também possui essa certificação é o casal Lori e Clécio Weber, de Vila Santa Emília, em Venâncio Aires. Os dois se dedicam à produção agroecológica há cerca de 30 anos e, procurando práticas alternativas de agricultura, conheceram o Centro de Apoio e Promoção da Agroecologia (Capa). Ligada à Igreja Evangélica Luterana no Brasil (IECLB) e com atuação nos estados do sul do Brasil, a ONG incentiva práticas agrícolas econômica e ecologicamente sustentáveis, oferecendo assessoria técnica para as famílias do campo. 9

Imagem: Arquivo Pessoal/Perci Darcísio Frantz.

Conheça iniciativas de produção e consumo conscientes em prática no Vale do Rio Pardo


O núcleo de Santa Cruz do Sul do Capa orienta as atividades dos produtores agroecológicos do Vale do Rio Pardo associados à Cooperativa Regional de Agricultores Familiares Ecologistas (Ecovale), da qual Lori é a atual presidenta.Desde 2012, na propriedade do casal o carro-chefe é a agroindústria de derivados de cana-de-açúcar, com produção de açúcar mascavo, melado e schmier colonial, comercializados na loja da cooperativa Ecovale. Também plantam milho, feijão e hortifrútis. “Dá em torno de 50 a 70 variedades durante o ano, de acordo com a sazonalidade”, conta Weber sobre a diversidade de espécies que ameniza os impactos das intempéries climáticas. Tanto na produção agroecológica de Lori e Clécio, quanto na de Frantz, o investimento financeiro é mínimo – as sementes para o plantio são crioulas e o combate às pragas e doenças é feito por meio de controles biológicos, caldas repelentes e adubos encontrados na própria propriedade. Assim, a agroecologia proporciona

segurança alimentar e soberania nutricional, além de não agredir o meio ambiente. Devido a esse conjunto de fatores, conforme Lori, a produção agroecológica requer mais mão de obra. “O pessoal usa veneno, nós o contrário. É tudo com a enxada”, conta a agricultora sobre o controle de ervas daninhas. Frantz, por outro lado, vem desenvolvendo técnicas de manejo que diminuem o trabalho braçal. Praticamente todos os nutrientes necessários para o desenvolvimento das espécies frutíferas são obtidos por meio da decomposição da matéria orgânica, que ocorre no local. Um exemplo disso é a adubação das bananeiras, cujas folhas são trituradas pelo piolho-de-cobra, um animal invertebrado, com o corpo alongado e cheio de anéis. Depois, esses minerais são usados para fertilizar as próprias plantas que lhes deram origem. Nesse sentido, Frantz diz que os agroecologistas têm autonomia e precisam saber lidar com as adversidades. “Muitas vezes, tu tens que ser meio cientista para resol-

ver o problema, já que tem todo um trabalho focado em produzir convencional”, relata o agricultor. Nessa lógica, segundo Luiz Rogério Boemeke, engenheiro agrônomo do Capa, o maior insumo da agroecologia é o conhecimento. “A agroecologia pressupõe que as pessoas entendam os processos que estão fazendo”, explica. Por isso, antes da pandemia de Covid-19, Lori e Clécio participavam ativamente de encontros sobre agroecologia. “A gente encontra outros produtores, um estimula o outro e descobre novidades”, diz Weber. Assim, a produção de alimentos com base nos princípios da agroecologia vêm crescendo nos últimos anos. De acordo com a Federação Internacional de Movimentos da Agricultura Orgânica (Ifoam), o Brasil é o líder no ramo na América Latina. Em dez anos, entre 2007 e 2017, a área destinada aos alimentos orgânicos no território brasileiro cresceu mais de 204 mil hectares.

ORIGENS DO MOVIMENTO AGROECOLÓGICO frente ao processo de reabertura política. Nesse contexto, surgem as ONGs, entre as quais está o Capa, comprometidas com a promoção da agroecologia e financiadas pelas igrejas. Dessa forma, a década de 1980 foi de construção de uma agricultura alternativa ao modelo implantado a partir da década de 1950, pela Revolução Verde. Os agricultores familiares tornaram-se protagonistas em espaços de experimentação de diversas alternativas técnicas e de organização social como no desenvolvimento de práticas de adubação orgânica, na produção e na guarda de sementes e no resgate do conhecimento sobre as plantas medicinais.

Imagem: Arquivo Pessoal/Perci Darcísio Frantz.

No Brasil, o movimento agroecológico possui forte ligação com a Igreja Católica e a Igreja Evangélica de Confissão Luterana no Brasil (IECLB). As Comunidades Eclesiais de Base (CEBs), na década de 1960, mesmo em meio à ditadura militar, favoreceram a organização popular no campo. Assim, as igrejas eram também um espaço de reflexão e análise das questões coletivas, ajudando a planejar ações de enfrentamento dos problemas da comunidade, motivo pelo qual buscavam a viabilização social e econômica da agricultura familiar. Iniciativas como essas motivaram os movimentos sociais que se organizaram na década de 1980, em uma conjuntura favorável

PARA SABER QUAIS AS ENTIDADES QUE COMPÕEM A ARTICULAÇÃO EM AGROECOLOGIA DO VALE DO RIO PARDO (AAVRP) ACESSE O QR CODE ABAIXO:


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QUEM FOMENTA A AGROECOLOGIA NO VALE DO RIO PARDO? A produção agroecológica, além de proporcionar mais saúde para quem produz e para quem consome e evitar a contaminação ambiental devido ao não uso de produtos químicos, confere maior autonomia para o agricultor por este não depender de insumos externos à propriedade. Assim, Frantz, por exemplo, não está sofrendo com a escassez ou a falta de insumos durante a pandemia de Covid-19, ao contrário dos grandes produtores rurais, dependentes de implementos agrícolas vindos do exterior e atrelados a sistemas de crédito internacionais. “A agricultura insumista depende do petróleo que é vinculado ao dólar, então sofre esse impacto”, explica Boemeke. Desse modo, a agroecologia proporciona não só a sustentabilidade ambiental, mas também a social e a econômica. Para fomentá-la, existem, em nível nacional, a Política Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica e o Plano Nacional de Agroecologia e Produção Orgânica, construídos com a participação efetiva de instituições públicas e representantes da sociedade civil. Além disso, no Rio Grande do Sul, existe a Lei n° 14.486, a qual institui a Política Estadual de Agroecologia e de Produção Orgânica. Mesmo assim, segundo Jaime Miguel Weber, engenheiro agrônomo e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Unisc, tais políticas públicas e programas de fomento à agroecologia conservam limitações. “Não basta ter programas e políticas para a agroecologia e a produção orgânica se as ações dos governos não são compatíveis e eficientes para que tenham êxito na sua operacionalização”, diz Weber. Nesse sentido, o movimento

agroecológico ainda enfrenta um grande desafio: garantir a disponibilidade de alimentos produzidos sem o uso de agroquímicos para toda a população. “Isso é muito mais uma decisão política ao invés de não ser possível tecnicamente, porque os exemplos são vários e há uma geração que conhece os impactos da agricultura agroquímica”, explica Boemeke. A carência de políticas públicas, segundo o engenheiro agrônomo, é evidenciada pelo estímulo à produção convencional, que se dá, entre outros fatores, por meio da crescente liberação de agrotóxicos pelo governo brasileiro. Agravando a situação, incentivos como o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) sofreram o impacto da pandemia de Covid-19. Em nível regional, as prefeituras da região que mantinham projetos com o Capa e custeavam a assessoria técnica prestada pela ONG aos agricultores familiares suspenderam os contratos. Apesar das dificuldades, um marco para o Vale do Rio Pardo é a existência, desde 2000, da cooperativa Ecovale, a qual possui, hoje, 52 associados de Santa Cruz do Sul, Venâncio Aires, Vale do Sol, Candelária, Rio Pardo e Cachoeira do Sul. Mais tarde, em

“ Não basta ter programas e políticas

para a agroecologia e a produção orgânica se as ações dos governos não são compatíveis e eficientes para que tenham êxito na sua operacionalização. Jaime Miguel Weber, engenheiro agrônomo.

2013, instituições que fomentam a agricultura familiar e a agroecologia fundaram a Articulação em Agroecologia do Vale do Rio Pardo (AAVRP), composta, atualmente, por 22 entidades. “A articulação possibilita que a gente aproxime as agendas, que as entidades se percebam em um coletivo um pouco maior”, diz João Paulo Reis Costa, coordenador da AAVRP e da Escola Família Agrícola de Santa Cruz do Sul (Efasc). As forças unidas entre entidades como as que compõem a AAVRP têm impulsionado a agroecologia. Segundo dados disponibilizados pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), já são 3.579 estabelecimentos de produção orgânica registrados no Rio Grande do Sul e 102 no Vale do Rio Pardo. No entanto, segundo Weber, a produção agroecológica é diferente da orgânica. “A agroecologia tem alguns princípios que levam em consideração um conjunto de relações: as entre as pessoas, as com o meio ambiente, as de trabalho, as familiares e geracionais e as com o consumidor”, explica Weber. Assim, o produtor orgânico pode ser reconhecido pela legislação, mas não levar em conta os princípios da agroecologia em sua propriedade. De acordo com dados do Sistema de Planejamento da Emater/ RS-Ascar de 2020, são 10.003 famílias praticando a agricultura de base ecológica no Rio Grande do Sul e 630 famílias no Vale do Rio Pardo. Como estes dados foram obtidos a partir de ações realizadas pela Emater, estima-se que os números sejam ainda mais expressivos, tendo em vista que há também outras organizações comprometidas com o fomento da agroecologia na região. 11


DA LAVOURA PARA O CONSUMIDOR A família de Adriano Vanderlei Kern, 37 anos, produz alimentos sem agrotóxicos em sua propriedade localizada em Linha General Osório, interior de Santa Cruz do Sul. Duas vezes por semana, ele os comercializa na feira orgânica da cooperativa Ecovale. Feiras como esta aproximam produtores e consumidores, conectando-os ao seu entorno. “É muito bom porque cria confiança ao longo do tempo e tu consegue olhar no olho das pessoas”, diz Kern. Na pandemia, os feirantes também estão recebendo pedidos por Whatsapp e realizando tele-entregas. De acordo com Kern, a crise sanitária e humanitária aumentou a procura por alimentos agroecológicos. Uma das clientes da feira é a instrutora de Yoga e empresária Martina Krause, que consome produtos orgânicos há mais de 25 anos. “Comecei para ser parceira consciente do planeta e não somente usuária e acredito na alimentação saudável para nossa

saúde física e mental. Também por respeito ao agricultor, para este trabalhar em um solo livre de toxinas”, relata Martina. Outra consumidora preocupada com a segurança alimentar de sua família é a aposentada Inga Schmidt Muller. “A natureza fornece a alimentação adequada para a saúde e nós consumimos. Também não olhamos o preço, porque achamos que estas pessoas que produzem esses alimentos devem ser valorizadas”, diz a aposentada. Algumas empresas também estão engajadas com a causa, entre as quais está a Mercur, que, em 2011, uniu forças com a Ao Ponto, prestadora de serviços de alimentação, Capa e Ecovale. “Entendemos que estamos respeitando todas as formas de vida e contribuindo para uma melhor qualidade de vida. Assim, auxiliamos também que futuras gerações possam usufruir de um planeta mais saudável”, diz João Carlos Kipper Trinks, um dos coorde-

nadores da empresa. Atualmente, os alimentos orgânicos são servidos todos os dias nos refeitórios das duas unidades industriais da Mercur em Santa Cruz do Sul. Na região do Vale do Rio Pardo, os alimentos produzidos com base nos princípios da agroecologia podem ser encontrados, de acordo com a AAVRP, em 15 feiras, algumas das quais são agroecológicas e outras mistas. Há também as lojas especializadas no ramo, como a da cooperativa Ecovale e a Empório dos Orgânicos, e a comercialização em alguns supermercados e armazéns como o Armazém Orgânicos e Naturais. No entanto, o consumidor precisa ficar atento, pois lojas de produtos naturais não necessariamente possuem alimentos orgânicos à disposição de seus clientes. Há ainda aqueles que preferem adquirir seus alimentos diretamente com produtores de sua confiança.

Fundada em 2009, a Efasc oferece o Ensino Médio Técnico em Agricultura, com a formação fundamentada na pedagogia da alternância para jovens rurais do Vale do Rio Pardo. Mantida pela Associação Gaúcha Pró-Escolas Famílias Agrícolas (Agefa), 30 parceiros públicos e privados e 200 famílias que compõe a associação, a instituição possui 254 egressos e 109 jovens em formação, entre os quais está a aluna do 1º ano Saori Bechert Kern, 16 anos. Seu pai, Adriano Vanderlei Kern, conta que a jovem possui uma área experimental na propriedade da família, onde produz hortaliças e coloca em prática os conteúdos da escola. “Ela está se especializando com técnicas que nós não conhecemos. Estamos

aprendendo junto com ela”, diz Kern (foto). Em 2019, fruto dos encontros da AAVRP nasce o Bacharelado em Agroecologia e a Especialização em Agroecologia e Produção Orgânica, oferecidos pela Universidade Estadual do Rio Grande do Sul (Uergs) em parceria com a Agefa. De acordo com Costa, a criação de novas oportunidades de estudo é muito importante. “Essa é uma preocupação que a Agefa tem, rompendo a ideia de que o jovem do campo só vai ficar por exclusão. Pelo contrário, ele só vai ficar no campo se tiver opção”, explica o coordenador da Efasc. Assim, a educação apresenta-se como uma das possibilidades para conter o êxodo rural e desconstruir o estereótipo do campo como lugar de atraso.

Imagem: Pixabay

AGROECOLOGIA NA SALA DE AULA


Cidades e Comunidades Sustentáveis

horinzonteS - edição 1

HORTAS URBANAS FAMILIARES E COLETIVAS CONTRIBUEM PARA CIDADES MAIS SUSTENTÁVEIS Em um século eminentemente tecnológico, estendido ao setor agrícola de alimentos, algumas ações simples são essenciais para um mundo sustentável e mais solidário João Valter Passos jvspassos0208@hotmail.com

morando na cidade. Esse é o caso do fotógrafo e locutor Ederson Medina. Ele planta tomates em uma pequena porção de terreno na cidade de Santa Cruz do Sul. Entusiasmado, relata: “Sempre gostei de lavoura. Me criei ajudando a tia da minha mãe no interior.” O gosto por cultivar vem de longe e ele só não planta mais por falta de tempo. Porém, segue com o hábito de, ao menos, produzir para o consumo da família e de forma orgânica. Feliz, Ederson apresenta seu pequeno, mas bem cuidado espaço de plantio. A intenção é um dia aumentar o espaço plantado, bem como a variação de produtos. Ele considera essas pequenas ações importantes para uma alimentação mais saudável e, de certo modo, para um mundo mais sustentável. “Acho que todos nós deveríamos ter pelo menos uma área para plantar temperos e outras coisas”, finaliza.

Outro exemplo é o da Silvana Drum, moradora do bairro Faxinal, em Santa Cruz do Sul. Ela aproveita cada centímetro de um espaço lateral do terreno com o cultivo de hortaliças para o consumo da família e vai logo destacando os benefícios: certeza de um alimento mais saudável, não precisar comprar, o aproveitamento dos resíduos orgânicos que iriam para o lixo, a presença de pássaros, borboletas, tornando o espaço mais agradável e natural. Aos poucos, essa percepção, está crescendo. Está saindo do próprio pátio e encontrando espaços públicos e/ou privados, com as hortas coletivas, que também são uma forma de se relacionar socialmente com vizinhos, aproximando pessoas e ideias, tornando o convívio mais harmonioso. Assim é o espaço de cultivo dos moradores da rua do Riacho, também em Santa Cruz do Sul. O relato é da moradora e participante do projeto, Lismara Gularte.

Imagem: Arquivo Pessoal/Lismara Gularte.

N

a minha memória, ainda estão o cheiro e a imagem das frutas, legumes e verduras, cobertas pelo orvalho e a certeza de serem produtos cultivados de forma natural. Essa visão que me vem à mente é da horta de minha mãe, lá pelos anos 1980. Tudo produzido em um espaço bem menor do que uma quadra de futebol de salão. Saudade desse tempo e a percepção de que, apesar de nem ter ideia, minha mãe participava de um movimento, não oficial, de pessoas que queriam um mundo mais sustentável e com alimentos saudáveis. Ela fez a parte dela. Em um século eminentemente tecnológico, estendido ao setor agrícola de alimentos, algumas ações simples são essenciais para um mundo sustentável e mais solidário. Entre essas ações está a implantação de hortas nas cidades, seja em casas, apartamentos ou em pequenos espaços otimizados. Todos somos responsáveis pelo planeta. O resultado: alimentos saudáveis que podem ser consumidos e compartilhados. Também contribuem para a preservação da fauna. Os pássaros, por exemplo, que também podem servir como propagadores e impulsionadores dessa produção, levando as sementes para mais lugares. É uma grande cadeia formada de pequenos elos que juntos ajudam na melhora do ambiente. Como uma terapia, mas também como uma saída para a produção de alimentos saudáveis para manter uma sociedade sadia, temos exemplos de pessoas que têm seu espaço de cultivo, mesmo

Espaço de convivência e lazer dos moradores da rua do Riacho

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Segundo ela, a horta de uso coletivo teve início com o objetivo de dar melhor uso para um espaço que é público. Por ser uma rua sem saída, procurou-se otimizar o “canto” da rua para construir uma espécie de praça. Foi limpo e posto balanços, bancos, gramado e plantado flores. E, claro, uma horta. No começo, tudo muito modesto, mas com o tempo foi crescendo e aumentando a variedade cultivada. Isso ocorreu especialmente devido ao pai de uma moradora ter se mudado de uma casa para um apartamento, fato este que o fazia ter a necessidade de estar mais próximo a terra, “mexer” na terra, assim, passou a se dedicar ainda mais pela horta, como

forma de estar em contato com a natureza. Essa dedicação chamou a atenção e fez com que mais moradores passassem a contribuir e participar, tornando-o também um espaço social de interação entre os vizinhos. Animada, nossa entrevistada segue contando que há uma infinidade de produtos que podem ser consumidos de acordo com a disponibilidade. Salsinha, cebolinha, espinafre, cenoura, alface, chás e flores, as mais diversas. Tudo isso à disposição dos moradores. Tudo fresquinho. Tudo orgânico. A compostagem é utilizada como adubo, ou seja, o resíduo orgânico produzido pelas sobras de alimentos e frutas, por exemplo, em vez de irem para o

lixo e aterros sanitários, torna-se adubo natural. A horta que fornece alimentos para as pessoas da rua também é um banquete para pássaros e macacos que são vistos pelo local apreciando as frutas, especialmente os mamões, quando maduros. Uma cadeia interessante no meio ambiente. Um dos objetivos para breve é organizar um cronograma de cuidado e de contribuição para a manutenção do espaço, pois os moradores sentem que este se torna cada vez mais relevante e necessário, especialmente para as crianças, que adoram o local e poderão aproveitá-lo cada vez mais, conforme Lismara.

Imagem: Arquivo Pessoal/Lismara Gularte.

PALAVRAS E OLHARES ESPECIALIZADOS: PERSPECTIVAS SÃO BOAS

Produtos fresquinhos a disposição dos moradores

Para a jornalista e pesquisadora na área de comunicação ambiental da Universidade do Vale do Taquari (Univates), Jane Mazzarino, “é estratégico as cidades retornarem a essa prática das hortas, que era uma prática que sempre teve no início das cidades, quando as pessoas migravam muito da área rural e mantinham essa conexão com essa forma de ter acesso aos alimentos”. Conforme Jane, isso foi se perdendo com o tempo e com a praticidade de encontrar os alimentos nos mercados da cidade. Agora, um novo momento está surgindo e pede novas formas de consumo. Para ela, as cidades inteligentes e sustentáveis, um conceito muito em debate atualmente, tem nas hortas e pomares condições estratégicas para revigorar os espaços verdes e permitir uma nova relação com o entorno da casa, esquecido por muito tempo pela falta de hábito e de tempo. Esse contato provoca, como destaca Jane, descobertas a respeito da “temporalidade das coisas”, o


plantio, a floração, o fruto, a semente, a chegada dos pássaros e insetos. Um ecossistema atrelado a outros ecossistemas. Aprender a manter tudo isso de forma natural, sem o uso de agrotóxicos, torna o ambiente mais sustentável. Para a pesquisadora, não se trata apenas de uma moda. É uma tentativa de convivência mais harmoniosa com a natureza e auxiliar na alimentação mais saudável e, em certa instância, ajuda no combate à fome. É uma tendência, está em crescimento e já existem municípios que têm legislação sobre isso, que prevê a construção de hortas comunitárias, inclusive contando com o apoio de universidades, caso da Universidade do Vale do Taquari (Univates), onde Jane dá aulas, através do Grupo de Pesquisa Comunicação, Educação Ambiental e Intervenções que trabalha na busca de tecnologias para contribuir com os municípios e torná-los mais sustentáveis. Ela acredita, porém, que os grandes problemas sociais do mundo, como a fome, não serão resolvidos apenas com o cultivo de hortas urbanas - para isso, é necessário a implementação de políticas públicas mais abrangentes -, mas essa é uma alternativa que colabora para a interação entre as pessoas, que passam a ocupar os espaços públicos para produzir de forma mais comunitária. Atitudes que, somadas, permitem novas possibilidades de integração e colaboram na busca de solução para a própria questão da fome, por exemplo. Conversamos também com o engenheiro agrônomo e doutorando no Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Regional da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Jaime Miguel Weber. Para ele, a preocupação com a produção e a qualidade dos alimentos tem se tornado um dos grandes desafios para a humanidade. Há uma busca de alternati-

horinzonteS - edição 1 vas para que não falte alimentos e para que estes sejam de qualidade e cheguem à mesa das pessoas. Hoje, existe o exagero no consumo de produtos industrializados e ultra processados e isso tem ligação com diversas doenças. Ele segue destacando que essa preocupação com a alimentação está posta nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU), definidos em 2015. Um conjunto de ações que pretende acabar com a pobreza, proteger o planeta e assegurar que as pessoas tenham paz e prosperidade. As metas são acabar com a fome até 2030, alcançar segurança alimentar, melhoria da nutrição e também a promoção de uma agricultura sustentável. A ampliação das hortas nos centros urbanos, segundo Weber, pode ter papel fundamental nesse sentido, pois, por meio delas, se poderá produzir alimentos naturais, utilizando os resíduos orgânicos como adubo, “através de processos de compostagem em pequena escala, evitando gasto energético de transporte e desperdício desses resíduos que podem ser reciclados de forma bastante simples, ou que este resíduo orgânico acabe em aterros sanitários, causando outros problemas ambientais”, destaca. A produção local para consumo, e mesmo para a possível venda do excedente, evitaria um grande custo nos alimentos que de outro modo teriam que ser trazidos de outras partes do país ou mesmo de fora dele, através de transporte que se utilizam de combustíveis fósseis. O custo disso, segundo weber, é muito alto, além de o alimento perder qualidade nos deslocamentos e nos processos de armazenagem. “Poderia se pensar em utilizar em torno de 30% das áreas dos gramados, dos arbustos (substituir por frutas) e do cultivo de

flores na cidade, para cultivo de alimentos, com um programa de distribuição de sementes e mudas e com orientação para a produção de adubo orgânico a partir de compostagem do resíduo”, Sugere. Enfim, “apostar em programas municipais de produção de alimentos em áreas urbanas que contemple a conscientização das pessoas, assistência técnica, distribuição de sementes e mudas, entre outros, a partir da formação de equipes técnicas municipais interdisciplinares. Ainda é um tema pouco discutido e com experiências bastante limitadas”, explica. Weber vê uma tendência de crescimento no cultivo de hortas urbanas, mas ainda falta apoio para impulsionar e motivar as pessoas a produzirem. Embora apareçam nos programas de governo, falta a efetivação. O que se vê de mais concreto até esse momento, neste sentido, são as hortas nas escolas. São pedagógicas, pois estimulam as crianças a se preocuparem com a produção e a importância da qualidade dos alimentos, com o manejo de resíduos orgânicos e com a preservação da biodiversidade. Ele acredita, no entanto, que o quadro está mudando e, aos poucos, formuladores de políticas públicas e instituições de ensino e pesquisa estão buscando uma maneira de promover a produção de alimentos na área urbana. “Possivelmente, um diagnóstico preliminar nos municípios pode impressionar a respeito desse grande potencial de produção de alimentos que tem os municípios e que não é utilizado”, aponta. Esperançoso e otimista, Jaime Weber salienta que já existem muitas iniciativas individuais de pessoas que tem seu espaço de cultivo em suas casas com bons resultados e conclui dizendo que espera que essas experiências se multipliquem cada vez mais. 15


CONSELHO ARTICULA DESENVOLVI

Corede/VRP vem atuando para articular n Grasiel Grasel grasielfg@gmail.com

E

nquanto muito se discute sobre como nações, países e entes federativos podem continuar evoluindo de maneira sustentável, um olhar que de forma alguma tem sido ignorado é o da perspectiva regional. Pelo menos não no Vale do Rio Pardo, onde atua o Corede/VRP. Os conselhos regionais são um espaço plural de debate, articulação e decisão sobre assuntos ligados ao desenvolvimento sustentável, sendo atualmente 22 no Estado. Eles não possuem, portanto, caráter executor, capaz de definir por si só o destino de recursos, mas atuam fortemente influenciando caminhos a serem seguidos através do Fórum dos Coredes, das Consultas Populares, dentre outros. Os denominados Coredes foram criados no Rio Grande do Sul através da lei nº 10.283, de 17 de outubro de 1994, que em seu texto base define que a sustentabilidade deve ser um de seus princípios norteadores. Heitor Álvaro Petry é presidente do Conselho Regional de Desenvolvimento do Vale do Rio Pardo, um dos importantes órgãos da região que têm trazido ao debate o tema da sustentabilidade. A Consulta Popular, que é um dos mais importantes trabalhos realizados anualmente pelos Coredes, ajuda a definir o destino de importantes recursos vindos do governo estadual para iniciativas que visam fomentar o desenvolvimento da região. Na edição de 2020, a pauta que definiu o destino dos investimentos foi o desenvolvimento sustentável no campo, tendo como vencedor o programa que busca fortalecer e fomentar a produção, industrialização e comercialização da agricultura familiar. Para entender um pouco melhor sobre como funciona um Corede e como tem sido a atuação do órgão que responde pelo Vale do Rio Pardo, conversamos com Petry, que nos conta sobre como os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável tem norteado seu trabalho. Revista horizonteS - O Corede possui uma importância muito grande por propor uma participação maior da população na tomada de decisões sobre os rumos que a região vai tomar. Existe alguma forma do Corede garantir que estes rumos sigam por caminhos sustentáveis? Heitor Álvaro Petry - Não há como um Conselho garantir rumos, pois não se trata de instância executora, mas certamente é uma instância que, através do debate e decisões, contribui para inspirar rumos seja no setor público seja no setor privado.

Heitor Álvaro Petry

horizonteS - Em que medida o papel articulador dos conselhos regionais dialoga com as propostas dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU? Qual a concepção de desenvolvimento que norteia o Corede? Heitor Álvaro Petry - O Corede tem perfeita harmonia, identificação e compromisso tangente aos ODS. Quando preconiza e atua pelo desenvolvimento sustentável, resta entendimento objetivo que isso se identifica com os ODS, porque em última instância está focado em elevar o padrão e a qualidade de vida das pessoas, inclusive com mais justiça social e fortalecimento econômico com a integração de respeito aos cuidados ambientais. Neste conceito podemos considerar o tríplice botton do desenvolvimento sustentável: econômico, social e ambiental. Este compromisso está bem claro nos objetivos dos Conselhos e também dentro do planejamento estratégico ao esboçar uma carteira de projetos.


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IMENTO SUSTENTÁVEL NA REGIÃO

novas formas de ver o avanço na região

Imagem: Arquivo Pessoal

horizonteS - O quão importante é a participação de instituições que possuem uma autonomia política como os Coredes na busca por um desenvolvimento mais sustentável no Brasil? Heitor Álvaro Petry - A autonomia é fundamental e indispensável, do contrário perderia o sentido, pois com influências do governo do Estado, por exemplo, seria uma mera expressão do pensamento e posição deste. É fato que, nos primeiros tempos de existência e “atuação” do Corede, a “ingerência” governamental era mais notada. Após este período, o Corede criou seu modus operandi próprio, mesmo que financiado com recursos do orçamento do Estado, atuando em harmonia com as instâncias de governo, mas com autonomia política.

horizonteS - Boa parte das ações que precisam ser tomadas para que os ODS sejam atingidos vem de decisões dos governos federal e estadual, no entanto, é necessário que surjam iniciativas da sociedade civil para tornar estes objetivos uma realidade. Na região do Vale do Rio Pardo, o Corede tem conseguido se colocar como uma organização da sociedade que promove ou articula estas iniciativas? Heitor Álvaro Petry - Talvez não de forma tão objetiva enquanto cumprimento direto dos ODS, mas sim de forma indireta. Temos procurado no colegiado sempre levar em consideração o conceito de desenvolvimento sustentável já mencionado, logo entendo que isto está afinado com os ODS de forma que principalmente os governos municipais recebam contribuições e o próprio governo estadual, visto que o PE é financiado pelo governo e é por vezes considerado nas ações e planejamento destes a partir daquilo que a sociedade regional definiu e entende.

horizonteS - Na sua visão, quais indicadores de desenvolvimento para além dos econômicos a região do Vale do Rio Pardo é frágil e pode avançar com princípios de desenvolvimento sustentável? Heitor Álvaro Petry - Este tema é um pouco mais exigente. Carece de um estudo e avaliação aprofundados, mas por exemplo, em termos gerais, nossos indicadores estão na média. Por vezes somos considerados uma região “rica” a partir do PIB e da renda média, mas temos presença de pobreza e exclusão social a serem corrigidos. Na parte ambiental, entendo que a consciência pela preservação e respeito ao meio ambiente está se aproximando da legislação e dos órgãos de fiscalização e aplicação da lei. Com efeito, em todas as áreas temos muito a evoluir. É preciso considerar, por exemplo, que, na parte social, a limitação do poder público é perceptível, mas, de outra parte, as organizações da sociedade civil e voluntariado têm uma estruturação e ação importante que merece nosso reconhecimento. Quais os limites e os desafios para o planejamento de um desenvolvimento regional no Vale do Rio Pardo que seja sustentável nos aspectos econômicos, sociais e políticos? Heitor Álvaro Petry - O desafio é ter todos engajados. Outro desafio são os parcos recursos para nossa operação bem como também os recursos dispostos para Consulta Popular que se torna desmotivador. Importante foi o governo lincar os projetos da Consulta Popular ao Planejamento Estratégico. Isto foi uma evolução importante. Desafio também é a sociedade entender cada vez mais, reconhecer em maior amplitude, o papel do Corede é entendê-lo como espaço plural capaz de dialogar e agir em prol do desenvolvimento da região. 17


Mudança Climática

COMO SALVAR O PLANETA DE UMA CRISE CLIMÁTICA

Imagem: Acervo Prefeitura Municipal de Cachoeira do Sul (Reprodução/ Divulgação)

Conheça ações de preservação ambiental em Cachoeira do Sul

Atividade de Bem com o Rio Jacuí com alunos de escolas públicas, realizada pela SMMA/ Cachoeira

Gabriel Rodrigues gabrielrodrigues@gmail.com

C

uidar e proteger o meio ambiente não é uma bandeira apenas de veganos ou ONG, mas é um dever de toda a sociedade. Afinal de contas, ter atitude ambiental e buscar formas de minimizar os impactos deixados por nós no planeta, é uma forma de proteger a natureza, a nós e o nosso futuro. No Brasil, o país mais rico em biodiversidade, a degradação ambiental é realidade e avança sobre a Floresta Amazônica, a maior floresta tropical do mundo. Para se ter ideia, conforme especialistas e estudiosos da área, os impactos ambientais afetam o planeta de várias formas e provocam estragos irreparáveis, refletindo diretamente na poluição do ar, no aumento da temperatura global e no quadro de saúde da popula-

ção, por exemplo. Diante disso, temas como crise ambiental, sustentabilidade e desenvolvimento sustentável vieram para ficar, mas ainda há muitas dúvidas e desinformação sobre a questão do meio ambiente e o que podemos fazer, efetivamente, para mudar esse cenário caótico. Dessa forma, o secretário de Meio Ambiente de Cachoeira do Sul, Alexsander Radiske, com 26 anos de atuação na área e há nove à frente da SMMA, para entender o atual quadro do meio ambiente em Cachoeira do Sul e no mundo, além de esclarecer ações e projetos desenvolvidos no município que é o quinto mais antigo do estado do Rio Grande do Sul.


Em meio à pandemia de coronavírus, Radiske frisa que este é um momento oportuno para tratarmos de assuntos ambientais e de políticas públicas. “Pesquisas recentes revelam que, com a desaceleração da economia trazida pelo isolamento social devido ao Covid-19, houve uma melhoria significativa na qualidade de vida nas cidades através da redução da

poluição do ar, redução de resíduos, rios, ruas e praias mais limpas”, enfatiza. “Isso tudo é uma demonstração de que a mudança de hábitos de consumo, a redução do uso de combustíveis fósseis e uma nova forma de produção podem resultar em benefícios para a população e principalmente para o meio ambiente”, acrescenta ele. Por outro lado, o Brasil atingiu

neste período um recorde histórico de devastação ambiental. Para se ter ideia, o desmatamento na Amazônia voltou a bater recorde e cresce 9,5% de 2019 a 2020 - a área derrubada na floresta foi a maior da última década, com mais de 11 mil quilômetros quadrados, apontam dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).

senvolver ações ecologicamente corretas”, fala o secretário, que destaca alguns destes projetos: Fórum Estudantil do Meio Ambiente (FEMA); - Concurso Fotográfico “O Meio Ambiente no Meu Ponto de Vista”; - Formação para Professores;

- Trilha Ecológica no Rio Jacuí, ECOFeira e Mostra Pedagógica “Reutilizar Brincando”; - De Bem com o Rio Jacuí; - Hortas Escolares e Melhoria de Pátios Escolares; - Reutilização da Água da Chuva; - Palestras com diversos temas ambientais locais e globais.

Imagem: Acervo Prefeitura Municipal de Cachoeira do Sul (Reprodução/ Divulgação)

PANDEMIA X MEIO AMBIENTE

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EDUCAÇÃO AMBIENTAL A SMMA desenvolve projetos ambientais em parceria com a Secretaria Municipal de Educação (SMEd) desde 2011. “Nestes projetos são envolvidos estudantes, professores e toda a comunidade escolar, pois acreditamos que é na educação que se adquire conhecimentos, atitudes, habilidades e competências para de-

Segundo Radiske, a comunidade cachoeirense é receptiva às questões relacionadas ao meio ambiente, mas há o que se fazer para melhorar. “Notamos que todos possuem consciência, trabalhos individuais e ações pontuais são realizados. A população sabe o que é certo e o que é errado em relação ao descarte de resíduos, o uso das lixeiras, a reutilização, a reciclagem, entre outros. Porém, para alguns ainda falta a atitude correta, vamos trabalhar para isso”.

“ Quanto menor o impacto ambiental,

melhor a qualidade de vida e do planeta! Alexsander Radiske, secretário de Meio Ambiente

Material desenvolvido pela SMMA/ Prefeitura Municipal de Cachoeira do Sul

A SITUAÇÃO EM CACHOEIRA

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PARA ACOMPANHAR Principais entidades ligadas à causa ambiental em Cachoeira: 1) Cooperativa Recicladores Solidários em Defesa do Meio Ambiente de Cachoeira do Sul (Cocari):

contratada pela Prefeitura Municipal, realiza a coleta de resíduos recicláveis na cidade e auxilia catadores ambulantes que sobrevivem deste material. órgão da administração pública municipal, responsável por analisar, planejar, fiscalizar e, entre outras funções, assessorar e propor medidas visando à preservação e defesa do meio ambiente. 2) Conselho Municipal de Defesa do Meio Ambiente (Condema):

3) ONG e associações de proteção aos animais (Pelo Amigo, SOS Animais e Matilha): atuam voluntariamente no combate aos maus tratos, resgate, acolhimento e tratamento dos animais em situação de risco, prioritariamente cães e gatos, além de atuar na educação ambiental. 4) Centro Municipal de Proteção Animal (Cempra): tem como finalidade prestar serviços de gestão públi-

ca voltadas à proteção dos animais e do meio ambiente.

5) Associação das Revendas de Defensivos Agrícolas da Região Centro do Estado do Rio Grande do Sul (Ardec): unidade sem fins lucrativos, presta serviço de recebimento e destinação final correta de embala-

gens vazias de defensivos agrícolas.

6) Wall-E: parceiro da SMMA, centro de descarte de resíduos eletrônicos, plásticos e em metal e vidro, com coleta gratuita.

VOCÊ SABIA? A Organização das Nações Unidas (ONU) alertou que o mundo precisa limitar o aumento da temperatura média global a menos de 1,5 graus celsius em relação aos níveis pré-industriais. Os países que assinaram o Acordo de Paris se comprometeram a frear o aquecimento do planeta que, segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), agora está quase um grau mais quente do que estava antes do processo de industrialização. Para cumprir essa meta, deve-se adotar “mudanças rápidas, de longo alcance e sem precedentes” em todas as esferas da sociedade. Entre essas medidas, estão a preservação das florestas, a redução no consumo de carne (especialmente a de carne bovina) e alimentos de origem animal (leite, queijo, etc.), a utilização de práticas sustentáveis na agricultura, redução no desperdício de alimentos e bens de consumo, o uso de carros elétricos, adoção de sistemas de energia solar fotovoltaica e isolamento térmico, entre outras. A situação pode piorar caso essas medidas imediatas não sejam tomadas pelos países, sendo esperadas, até 2100, emissões e aquecimento de 4,1 a 4,8 graus celsius, seguindo as atuais políticas 2,8 a 3,2 graus e as atuais promessas 2,5 a 2,8 graus celsius, conforme a análise da Climate Action Tracker (CAT). A Organização das Nações Unidas (ONU) prevê o risco de uma crise climática até 2040, considerando os efeitos do aquecimento global, como o degelo, a alteração do regime das chuvas, inundações e a redução da biodiversidade.


Energia Acessível e Limpa

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ENERGIA SOLAR, EXISTE LUZ NO FIM DO TÚNEL

Imagem:Arquivo Pessoal/Carlos da Rosa

Apesar de representar menos de 2% de toda a energia produzida no Brasil: a energia fotovoltaica vem se tornando referência no país

Placas instaladas em residência de Santa Cruz do Sul. Madhiele Scopel madhiscopel@gmail.com Paula Schoepf paulaschoepf11@gmail.com

A

preservação dos recursos naturais vem sendo pauta no mundo todo. E, se falando em geração de energia, a busca por fontes sustentáveis se tornou uma grande aliada quando se pensa em cuidado com a natureza. É sabido que a energia elétrica não polui o ar, mas seus impactos ambientais são enormes, levando em consideração a quantidade de água que precisa ser represada para mover as turbinas das hidrelétricas. Nesse sentido, a energia solar é aliada do meio ambiente e se torna muito rentável, principalmente nesse período de pandemia. Com o surgimento do vírus da Covid-19, no início de 2020

foram intensificados os cuidados relativos à saúde humana, sendo o isolamento social uma das formas de prevenir o contágio. Os escritórios e as salas de aulas foram trocados pelos cômodos das casas. Com isso, houve também o aumento da utilização de energia elétrica, o que gerou impacto na vida e no bolso dos brasileiros. Carlos Corrêa da Rosa, morador do bairro Universitário, em Santa Cruz do Sul, por exemplo, já havia buscado informações sobre a instalação de energia solar há cerca de um ano, mas com o tempo o assunto ficou em segundo plano, até que, em decorrência do tempo ficado em casa com o isolamento,

essa utilidade foi levantada novamente. “Em função da pandemia, da necessidade de meus familiares ficarem mais tempo em nosso apartamento, da necessidade da preparação de alimentos, e do maior número de pessoas na residência, houve um aumento no uso e no custo da energia elétrica”, Comenta Carlos. Segundo Rosa, que mora com a sua esposa e a filha em um apartamento, no inverno o custo com a energia elétrica ultrapassou o valor de R$500. Foi então que ele resolveu instalar as placas solares. Bastaram novas pesquisas para que ele encontrasse o melhor custo benefício. 21


quinto lugar em número de unidades consumidoras. De acordo com o estudo, em 2019 houve em média 13 instalações por dia, gerando uma cadeia produtiva no município. Confira o gráfico 2. Ainda conforme o estudo, a ação promovida pela cooperativa de crédito Sicredi-Vale do Rio Pardo, foi um dos elementos decisivos para desencadear a expansão dos sistemas fotovoltaicos na Região do Vale do Rio Pardo. Em 2017 eles lançaram uma linha de financiamento específica para a instalação de sistemas fotovoltaicos, seguidos posteriormente do Banrisul, que também disponibiliza financiamentos especiais. Até dezembro de 2018, foram concedidos mais de 300 financiamentos em nove municípios da região, somando 35 milhões de reais injetados na economia regional.

Gráfico 2

Produzido pelas jornalistas através dos dados coletados.

de de Santa Cruz do Sul (Unisc), no Rio Grande do Sul, a produção de energia solar passou de 6 kW, em 2013, para 32.000 kW em 2018, com uma média de 4,4 novas unidades consumidoras conectadas dia. Dados mais recentes da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (ABSOLAR), mostram que a potência instalada de geração solar fotovoltaica no país apresentou crescimento de cerca de 1 GW entre janeiro e maio de 2020. Segundo dados da ANEEL (até dezembro de 2018), o Rio Grande do Sul está em terceiro lugar no ranking dos estados com maior penetração de energia fotovoltaica, sendo Santa Cruz do Sul o município que lidera o ranking estadual no número de conexões e em potência instalada. Em relação ao Brasil, Santa Cruz está em

Gráfico 1

Fonte: adaptado de ANEEL (2018).

Com um pouco mais de dois meses de utilização desse tipo de energia, Carlos nota a diferença, a parcela de mais de R$500 passou para R$72, uma baixa de aproximadamente 85% no valor pago pela energia. Como a instalação foi financiada, a parcela paga por ele pelo financiamento é de R$230, somado com a taxa da energia de R$72, sua despesa é em média R$300,00 ao mês. Ainda assim, Carlos teve uma baixa de 44% no valor da energia. E, após pago o financiamento, as placas terão uma “sobrevida” de aproximadamente 15 anos. Nesse período, ele volta a pagar somente o valor da taxa. Confira a reprodução de custos, com base nos gastos e investimento do Carlos (Gráfico 1). Assim como Rosa, mais brasileiros optaram por investir em energia limpa e renovável. De acordo com pesquisa realizada na Universida-

PROCESSO DE INSTALAÇÃO E UTILIZAÇÃO DA ENERGIA SOLAR O primeiro passo para quem está pensando em investir nesse tipo de energia é entender a sua conta de luz atual. De acordo com o eletricista industrial, Marci Alves Machado, o cálculo base de custo para saber quantas placas solares serão necessárias para abastecer a residência ou empresa é realizado através da média anual de kWh. O Engenheiro Eletricista, Elieser Bastos explica que é necessário avaliar a conta de energia do cliente. “A conta nos informa o histórico de consumo, onde é calculado a média de 12 meses. Existem outros fatores importantes para

o cálculo do dimensionamento, como a potência do módulo, a irradiação do local, orientação do telhado (norte, leste e oeste), tipo de telhado e angulação. Para um consumo de 400kWh/ mês, utilizando módulos com potência de 400W, resultaria em um sistema de 10 módulos, ou seja, potência do sistema de 4,0kWp. Este exemplo foi calculado pensando em uma situação ideal”, explica. Neste sistema, conforme Bastos, é necessário o investimento de aproximadamente R$16 mil e o período para que se comece a pagar somente a taxa de energia, é

de aproximadamente quatro anos e meio. Contudo, é indicado que você procure alguma empresa que forneça o serviço e seja especializada nessa área, eles darão todo o suporte em relação ao investimento, instalação e cuidados. Assista ao vídeo no QR Code.


horinzonteS - edição 1

RUMO AO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

U

sar dos recursos naturais sem danificar o meio ambiente é o desejo de grande parte da população. Se falando em energia sustentável, na região Sul do país o recurso mais utilizado é a energia solar, em sua maioria, instalada através do investimento de empresas ou pessoas físicas. Mas, e quanto às pessoas que não têm condições de investir nesse recurso? Como elas podem contribuir para um desenvolvimento sustentável se nem oportunidade para isso elas têm? Adotado no ano de 2015 - por 193 países membros da Organização das Nações Unidas (ONU) – a agenda 2030 contempla os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODSs) e, dentre eles, o objetivo número sete tem como uma de suas metas “assegurar o acesso universal, confiável, moderno e a preços acessíveis a serviços de energia”. O Brasil é um dos países que fez parte desse acordo. Nossos estados e cidades estão trabalhan-

do para entregar essas metas. Mas como isso está funcionando na prática? De acordo com o secretário de Agricultura e Meio Ambiente de Vera Cruz/RS, Diego Halmenschlager, existem projetos de investimentos em energia renovável voltados a prédios públicos. “A prefeitura de Vera Cruz elaborou o projeto que consiste na implantação de usinas de geração de energia fotovoltaica ON GRID (conectado à rede de distribuição elétrica), em 27 unidades consumidoras do município de Vera Cruz, incluindo Secretarias, ginásios, Centro Administrativo, EMEI’s, unidades de saúde e a Estação de Tratamento de Água – ETA (Centro)”, pontua Diego. A instalação dessas placas está prevista para o mês de dezembro deste ano. Segundo Halmenschlager, essas fontes solares auxiliarão na economia das contas de luz do município e a prefeitura municipal

de Vera Cruz prevê o retorno do valor investido em curto prazo, num período de 5 anos. Em relação à população, o secretário diz que “no momento não há nenhuma legislação municipal que prevê este incentivo. No entanto, a prefeitura pretende realizar maior divulgação quanto a alternativa de geração de energia fotovoltaica nas Feiras de Produção do município”.

SAIBA MAIS Segundo estudo realizado pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), a primeira microusina fotovoltaica de Santa Cruz do Sul foi projetada e instalada pela empresa Solled Energia, em junho de 2014, para uma clínica médica, de lá pra cá, os municípios da região resolveram investir mais na tecnologia.

ENERGIA SOLAR, BENEFÍCIOS: Casas que possuem energia solar fotovoltaica instalada podem gerar a sua própria energia renovável e, assim, economizar até 95% do valor da sua conta de luz; Sistemas fotovoltaicos valorizam a propriedade; Quanto mais energia solar instalada no Brasil, menor é a necessidade de utilizarmos as usinas termelétricas, que possuem um custo maior e, consequentemente, menor será a inflação na conta de luz; A indústria de energia solar no Brasil gera milhares de empregos todos os anos; A energia solar é totalmente renovável; A energia solar é infinita; Não faz barulho; Não polui; Possui mínima necessidade de manutenção; Baixo custo, considerando a vida útil de um sistema fotovoltaico; Fácil de instalar; Pode ser usado em áreas remotas onde não existe energia. Fonte:Portal Solar

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Os desafios do cenário cultural em Santa Cruz do Sul seguem o que é apontado em pesquisas pelo Brasil: embora cultura seja direito, nem sempre essa é a realidade

Imagem: Pablo Melo

Redução das Desigualdades

CULTURA COMO DIREITO

Parque da Oktoberfest é um dos poucos espaços amplos para eventos do município Ana Clara Seberino anacseberino@gmail.com Pablo Vargas de Melo pablovargasdemelo@gmail.com

T

odo brasileiro tem direito ao acesso à cultura e ao lazer defendido pelo artigo nº 215 da Constituição. O acesso às fontes de cultura nacionais e a valorização e difusão das manifestações culturais são instituídos pela carta magna, mais que isso, a cultura e o lazer são necessidades humanas. Na Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948, a menção à cultura emerge no artigo 27º: todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da comunidade, de fruir as artes e de participar dos avanços científicos e de seus benefícios.

Desde janeiro de 2019, início do governo de Jair Bolsonaro, o Brasil deixa de ter um Ministério da Cultura, tornando-se este uma Secretaria Especial, dentro do Ministério do Turismo. O desmonte da Cultura atinge a sociedade como um todo, já que o acesso e a democratização de bens e expressões culturais é defendida por lei. Gabriela Felten da Maia, doutoranda em antropologia social, explica que pensar cultura como política pública não diz respeito apenas a realização de atividades como shows e apresentações para o público. A cultura deve ser pensada e entendida como lugar de valoriza-

ção das expressões públicas como história, identidade e memória de cada grupo, construindo e constituindo uma coletividade dentro de identificações étnicas raciais, por exemplo. As expressões culturais como Oktoberfest e Enart, por exemplo, têm o caráter de valorização cultural em que as pessoas utilizam trajes típicos, danças e a culinária como forma de lembrança. Entretanto, como explica Maia, existem outros tipos de expressões culturais como o Slam e o Grafite como expressão cultural urbana. Nesses casos, a crítica social e o caráter contestatório são fortemente marcados.


horinzonteS - edição 1 Assim como na Oktoberfest, a arte urbana também traz uma forte significação de memória e identidade dos grupos que já foram, muitas vezes, marginalizados. Como lembra Maia, em muitos momentos da história, expressões e produções culturais foram reprimidas. No Brasil, durante a ditadura militar, obras de arte, músicas e produções audiovisuais foram censuradas por estarem em desacordo com a ideologia estatal da época. No regime nazista, milhares de livros foram queimados, pois não correspondiam com as ideias genocidas do regime. Segundo a psicóloga Carolina Schünke de Almeida, a cultura tem

um papel importante na construção do indivíduo como parte da sociedade: “A cultura é o reflexo da sociedade em seus sentimentos, reflexões, ações e visão crítica da própria existência. A arte, por exemplo, incentiva a transformação das pessoas através das capacidades inventivas, contribuindo para a formação de indivíduos mais conscientes de si e dos outros”. Almeida ainda afirma que a cultura contribui para a promoção da saúde mental ao estimular a subjetividade do ser humano de uma forma que propicia autonomia e oxigena ideias. “Na falta desse acesso, o ser humano não tem, por vezes, um

“porto seguro” mental; um lugar para reabastecer, se libertar. Falta um espaço de sublimação e terapêutica”, completa a psicóloga. O parágrafo 3º do artigo 215 da Constituição aponta que a lei estabelecerá o Plano Nacional de Cultura visando o desenvolvimento cultural do país e à integração das ações do poder público que conduzem a: defesa e valorização do patrimônio cultural brasileiro; produção, promoção e difusão de bens culturais; formação de pessoal qualificado para a gestão da cultura em suas múltiplas dimensões; democratização do acesso aos bens de cultura; valorização da diversidade étnica e regional.

PRODUÇÃO, PROMOÇÃO E DIFUSÃO DE BENS CULTURAIS E VALORIZAÇÃO DA DIVERSIDADE ÉTNICA E REGIONAL Em Santa Cruz do Sul, poucos eventos culturais são abertos ao público. Entre eles, o Brique da Praça, que reúne, aos sábados, artesãos locais e, aos domingos, entidades, venda de antiguidades e produtos de alimentação, na praça Getúlio Vargas. Na mesma praça uma vez por ano, ocorre também a Feira do Livro, que além da presença dos livreiros, conta com diversas apresentações como: música, contação de histórias e teatro. Outro evento oferecido gratuitamente pela prefeitura é a Christkindfest, que traz diversas apresentações durante o mês de dezembro, culminando na chegada do Papai Noel, também na mesma praça. O carnaval de rua tradicional, com desfiles de escolas de samba da cidade, não obteve apoio da prefeitura desde 2016. A partir de 2019, a prefeitura, junto com outros apoiadores, realiza o carnaval em outro formato na rua Borges de Medeiros, no centro, sob o nome de “Bailinho da Borges”, que conta com atrações como bandas de marchinhas de carnaval e barracas de bebidas e alimentação de estabelecimentos do centro da cidade. Outras festas de grande porte também acontecem na cidade. Porém, o acesso às mesmas é mediante o pagamento de entradas, mesmo com o apoio da prefeitura. No caso da Oktoberfest (que só tem entrada franca no primeiro dia), o preço varia de acordo com o dia ou a atração. No mesmo parque acontece, em novembro, o Enart (Encontro de Artes de Tradição Gaúcha), evento que evidencia a cultura tradicionalista gaúcha.

CURIOSIDADES

1) Não há a seção “cultura” entre os links prin-

cipais dos portais de notícias mais relevantes de Santa Cruz do Sul. Vê-se apenas a seção “cinema” ou “cinema e séries”, ademais, as pautas culturais costumam se diluir na seção variedades.

2)

Em 2019 foi inaugurada a Secretaria de Cultura no município de Santa Cruz do Sul. Antes disso, não havia uma pasta específica para o setor.

3) A lei Aldir Blanc que prevê auxílio finan-

ceiro ao setor cultural durante a pandemia foi sancionada apenas em agosto, somente cinco meses após a parada do setor. Dividido em quatro categorias: Subsídios Espaços Culturais; Premiação Trajetórias Culturais; Aquisição de Bens, Serviços e Eventos Culturais e Fomento à Cultura - Produção Artística e Cultural, os recursos somam um total de 1 milhão e 70 mil reais, contemplando até 141 artistas ou empresas. 25


DEMOCRATIZAÇÃO DO ACESSO AOS BENS DE CULTURA E DEFESA E VALORIZAÇÃO DO PATRIMÔNIO CULTURAL BRASILEIRO A democratização do acesso à cultura é defendida por lei, entretanto, grande parte dos brasileiros sequer reside em municípios em que há presença de uma sala de cinema. Em 2019, um levantamento da Ancine apontou que quase 90 milhões de brasileiros vivem em cidades que não têm cinema. Ao observar mais de perto, é possível perceber que brasileiros com menor grau de escolaridade têm ainda mais dificuldade de acessar cinemas e museus, por exemplo. Segundo o IBGE, aproximadamente metade dos brasileiros com menor grau de instrução vivia em municípios que não têm cinema, 40,3% em municípios sem museu e 39,7% em cidades sem teatro. Além do grau de escolaridade, a diferença também aumenta quando analisada a etnia: 44%

dos pretos ou pardos residiam em cidades sem salas de cinema, enquanto 35% dos brancos viviam em municípios sem a presença de cinemas. Essas diferenças também são possíveis de serem visualizadas em outras manifestações culturais: nos museus, os brancos eram 25,4%, já a população preta e parda, 37,5%. Nos teatros ou salas de espetáculo eram 35,2% pretos ou pardos ante 25,8% para brancos. Em 2018, a Folha de São Paulo realizou o levantamento Cultura nas Capitais. De acordo com os dados, o cinema lidera o ranking de frequência, somando 64% das estimativas. Logo em seguida, aparecem os shows e festas populares. Teatro e museus apresentam a mesma porcentagem: nas 12 capitais em que foi realizada a pesquisa, ambas atividades aparecem com 31% de frequência.

Além disso, a Folha também questionou o tipo de atividade que as pessoas realizavam: gratuitas ou pagas. 32% dos respondentes afirmaram frequentar apenas atividades gratuitas e 40% disseram frequentar mais atividades gratuitas do que pagas. A questão econômica não deve ser desconsiderada quando analisados os números. Em Santa Cruz do Sul, onde se tem dois cinemas, o ingresso da sessão 2D custa R$20,00 (inteira) e R$10,00 (meia). Já a sessão 3D custa R$28,00 (inteira) e R$14,00 (meia). Museus e teatros também aparecem como atividades culturais nas pesquisas do IBGE e da Folha. Em Santa Cruz do Sul, a presença de tais espaços e espetáculos não é muito expressiva.

Imagem: Pablo Melo

MUSEUS E EXPOSIÇÕES O Museu do Colégio Mauá é um dos únicos do gênero na cidade. O acervo possui peças arqueológicas da região (a maioria são artefatos históricos referentes a imigração alemã; etnográficas de grupos indígenas do Amazonas e do Mato Grosso, adquirido sob permuta dentro do Projeto Rondon, na década de 70; numismática; ciências naturais; pequena pinacoteca de artistas locais; coleção de armas. O museu tem foco principalmente na parte educacional: a maioria dos visitantes são turmas de escolas. O

preço do ingresso para estudantes é de R$1,50 e para o público em geral o preço é de R$3,00. O museu se encontra na Rua Marechal Floriano, número 274, no centro de Santa Cruz do Sul. Outro espaço cultural é a Pró-Cultura - Casa de Artes Regina Simonis (foto). O espaço é destinado para exposição de manifestações artísticas e culturais com ênfase nas artes plásticas. A Casa de Arte visa a promoção, divulgação e incentivo à arte, mantendo a cultura viva, em âmbito municipal e regional. Além das exposições, a Casa de Arte promove oficinas e cursos. As exposições são temporárias e o público tem acesso gratuito. O espaço se encontra na Rua Marechal Floriano, número 651, no centro de Santa Cruz do Sul.


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Imagens: Escola de teatro (Ins)pirados

TEATROS

Assim como os museus, os espaços destinados a apresentações teatrais são poucos. O Teatro do Colégio Mauá é o que conta com a maior estrutura na cidade. Fica junto à estrutura da escola e possui capacidade para receber 711 pessoas. Além das produções desenvolvidas pelo Colégio, o espaço também recebe espetáculos externos. O Grupo de Teatro Espaço Camarim foi fundado em 2002 e se encontra no centro da cidade, na Rua Marechal Floriano, número 331. O local conta com palco italiano, plateia (com espaço para 200 pessoas), salas para oficinas, biblioteca e camarim. A escola de teatro (Ins)Pirados surgiu em 2007 na cidade de Venâncio Aires, mudando para Santa Cruz do Sul em 2010. Na época, as aulas e apresentações ocorriam no Centro de Cultura Jornalista Francisco José Frantz, na antiga estação férrea da cidade. Em 2018, o grupo conseguiu adquirir seu próprio espaço com o intuito de também trazer profissionais de outras áreas da arte, criando e fomentando o movimento artístico da cidade. Paola Simonetti, atriz e professora do (Ins)Pirados, conta que

a intenção da companhia sempre foi descentralizar a arte e tornar o teatro menos elitizado, também levando-o para espaços em que não havia sua presença: “é preciso desmistificar a ideia do teatro como um espaço elitizado, às vezes as pessoas se sentiam intimidadas por acreditarem que deveriam usar uma roupa formal em grandes casas de espetáculos, por exemplo, e isso precisa mudar”. Simonetti contou que sente a população santacruzense engajada com o teatro. Em todos os eventos promovidos pelo Grupo (Ins)Pirados, as pessoas buscam pela apreciação da arte. Entretanto, a atriz afirma acreditar que ainda faltam políticas públicas concretas que democratizam o acesso a eventos como o teatro na cidade. Mesmo com a inauguração da Secretaria de Cultura, a atriz acredita que ainda faltam ações concretas que valorizem a cultura na cidade. Ela reconhece que a criação da pasta é de extrema importância, porém, quer ver ações que visem resultados reais. Além das políticas públicas para levar a cultura a todas as camadas da sociedade, Paola também cita

a falta de incentivo à categoria: “existe um incentivo, porém ele ainda se faz muito presente na parte da cultura germânica pela cidade. Esse incentivo vem muito com a ideia de que cultura em Santa Cruz é apenas Oktoberfest e Enart”. Para Simonetti, essa ideia deve ser mudada, já que a cidade possui uma grande diversidade artística com profissionais muito qualificados em diversas áreas dentro da cultura. Ela cita que a arte de rua com o hip hop, grafite, a dança, música, teatro e até mesmo o circo devem ser vistos e valorizados. A atriz ainda contou sobre a diferença no modo de operação durante a pandemia de Covid-19. A classe artística foi uma das primeiras a parar e, como expôs Simonetti, uma das últimas a voltar segundo as normas municipais. “Nunca imaginamos fazer aulas online justamente porque o teatro é a troca, a energia, o contato e o olho no olho”, afirmou. Porém, a necessidade de manter o espaço e o grupo fez com que o (Ins)Pirados tivesse que remodelar a forma de dar aula após terem sido pegos de surpresa. 27


MÚSICA perceptível o aumento da procura por instrumentos musicais (foto). Inclusive pelos de maior preço. “Acho que, pelo fato das pessoas não estarem gastando com viagens (por conta da pandemia), nem com saídas a bares e lancherias, resolveram ocupar seu tempo livre aprendendo a tocar um instrumento”, conta Alex.

Imagem: Pablo Melo

Neste inusitado ano, a procura por consertos de instrumentos foi impressionantemente grande, segundo o Luthier (profissional que conserta instrumentos), Claudenir Pedroso, ou “Drurys”, como ele prefere ser chamado, “pessoas que tinham esquecido o violão num canto, por anos, apareceram lá na luthieria pedindo para que eu arrumasse para eles”, comenta. A venda de instrumentos novos alavancou no mundo inteiro com a pandemia. Em Santa Cruz do Sul, não foi diferente. Alex Mentz, atendente da maior loja de instrumentos da cidade, conta que foi muito

FORMAÇÃO DE PESSOAL QUALIFICADO PARA A GESTÃO DA CULTURA EM SUAS MÚLTIPLAS DIMENSÕES Jair Giacomini, professor do curso de Produção em Mídia Audiovisual da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), conta que o audiovisual no Brasil passa por um dos piores momentos no que diz respeito a financiamentos. “A política de perseguição ao cinema e ao audiovisual implantada pelo governo Bolsonaro está sendo catastrófica para todo o setor. Há, por exemplo, editais que já deveriam ter liberado os recursos e, se o compromisso tivesse sido honrado, as produções já estariam em andamento, gerando empregos e renda. Se nem o que já deveria ter sido pago, imagine-se o lançamento de novos editais e programas de fomento. É um cenário desolador”, desabafa. Além disso, o professor ainda expõe que em Santa Cruz do Sul não há uma política municipal de incentivo ao setor audiovisual, entretanto, há uma crescente produção na cidade. Giacomini explica que o curso universitário existe há 18 anos formando profissionais da

área que, consequentemente, aumentam o número de produtoras na região que ampliam a produção e qualidade dos filmes. “Também temos os filmes produzidos no próprio curso da Unisc, que têm conquistado seleções e premiações em mostras e festivais Brasil afora”, salienta o professor. A formação de profissionais qualificados na área é indispensável para que o setor cresça, como exibe Jair Giacomini. Por fim, o professor universitário ainda cita os eventos que visam a formação de plateia na cidade: entre eles, o Festival Santa Cruz de Cinema, de âmbito nacional, e a Mostra em Cartaz circular a produção acadêmica de filmes para a comunidade. Ambos eventos são gratuitos e contribuem para a disseminação das produções locais e para a democratização da cultura na região. Embora exista uma lei que defenda a democratização do acesso a produções culturais, diver-

sidade étnica e incentivo à cultura, ao analisar a cena nacional, e assim a santa-cruzense, é possível observar que as políticas públicas deixam a desejar. O acesso à cultura ainda é enxergado como luxo e não como bem essencial. Como dito, as expressões culturais não são apenas uma forma de entretenimento, mas também de identificação e resgate histórico. O fim do Ministério da Cultura deixa um questionamento: de que forma estamos formando e deixando um legado como nação? O Brasil é um país com uma pluralidade cultural admirável e Santa Cruz do Sul não é diferente. O que se está dizendo para a população quando apenas um tipo de expressão é valorizada? Ao poder público cabe criar oportunidades e fiscalizá-las para que todo brasileiro possa ter pleno acesso à cultura e todos os grupos culturais e étnicos tenham espaço para se expressarem.


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O JEITINHO BRASILEIRO DE FAZER ARTE Ana Clara Seberino anacseberino@gmail.com

O

cinema hollywoodiano sempre teve grande impacto na vida dos brasileiros, o sonho de vida americano vendido pelos Estados Unidos se faz presente até hoje nas telas brasileiras e está sempre no topo das salas de cinema. Entre os filmes mais assistidos nos cinemas, é comum o campeão de bilheteria ser estadunidense como Vingadores: Ultimato, de Joe e Anthony Russo, e Avatar, de James Cameron, que levaram multidões de brasileiros aos cinemas. Crescemos assistindo a produções da Walt Disney Pictures, sonhando em sermos princesas, príncipes, heróis e heroínas. Na adolescência, queremos escolas com armários nos corredores, ônibus amarelos, líderes de torcidas e jogadores de futebol americano. O Clube dos Cinco e Curtindo a Vida Adoidado, dos anos 1980, já levaram milhares de adolescentes a assistirem uma realidade que não condizia com a brasileira. Afinal, você já viu alguma escola daqui com detenção? O primeiro longa-metragem produzido no Brasil foi exibido em 1914. O Crime dos Banhados tinha mais de duas horas de duração e foi produzido pelo português Francisco Santos. Após, a cena audiovisual brasileira passou por altos e baixos, até chegarmos ao cenário atual: em 2010, o Plano Nacional de Cultura do governo federal estabeleceu como meta lançar 150 filmes por ano em 2020. A meta foi ultrapassada em 2017, três anos antes do prazo, com 160 filmes lançados e um público de 17 milhões de pessoas. Em 2018, o número de filmes pulou para 171 e o público chegou a alcançar 23 milhões de espectadores. Por muito tempo, a cultura brasileira foi deixada de lado pelos próprios brasileiros. Importou-se músicas, filmes e séries que são distantes da nossa história como nação. E não que seja errado consumir produções norte-americanas ou europeias, por exemplo. Entretanto, a qualidade de filmes brasileiros, tantas vezes criticada pela própria população, não pode ser negada: Cidade de Deus, de Fernando Meirelles, teve quatro indicações ao Oscar em 2004; Fernanda Montenegro foi in-

dicada para concorrer como melhor atriz por Central do Brasil, por exemplo. Em Santa Cruz do Sul, o Festival Santa Cruz de Cinema teve sua primeira edição em 2018. Com o intuito de premiar obras audiovisuais de todo Brasil, o evento teve 614 filmes inscritos em 2019 na Mostra Competitiva de 21 estados brasileiros. Além da Mostra Olhares Daqui, com os filmes produzidos pelos acadêmicos de Produção em Mídia Audiovisual da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc). O evento é realizado pelos Cursos de Comunicação Social da universidade, pelo Sesc e Pé de Coelho Filmes e patrocinado pela JTI e pela Unimed do Vale do Taquari e Rio Pardo. As produções audiovisuais exibidas nas três edições do Festival (2018, 2019 e 2020) conseguem se aproximar do público, contar histórias parecidas com as nossas, é possível se enxergar na tela e nas narrativas. A sétima arte imita a vida e consequentemente influencia a forma como enxergamos o mundo em que vivemos. E vivemos no Brasil. É necessário valorizarmos a nossa cultura, valorizarmos o jeitinho brasileiro de fazer cinema, de fazer arte, de comemorarmos a nossa diversidade cultural, celebrarmos que, mesmo com pouco incentivo, os profissionais da área entregam trabalhos impecáveis. E não apenas como forma de entretenimento, mas também como críticas sociais aos problemas que o nosso país enfrenta diariamente e deve ser denunciado. Enxergar Marias, Joãos, Gabrielas, Anas, Pedros, Carlos, Josés, Camilas e Lucianos tem um impacto diferente quando ligo a televisão. Um dos papéis da cultura é trazer a identificação, o resgate histórico e a diversidade étnica e regional, o cinema brasileiro faz também com que entendamos o papel da cultura na nossa vida. Prestigie o cinema local, valorize a riqueza das produções culturais nacionais, se enxergue na tela, ouça o seu sotaque e veja o seu cotidiano. Veja o jeitinho brasileiro de fazer, e muito bem, arte.

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Empreender acaba se tornando a grande alternativa para que as mulheres possam conquistar independência

Imagens: Arquivo pessoal

Igualdade de Gênero

MULHERES EMPREENDEDORAS, REALIZEM-SE

Marlene Christmann Frantz

Amanda Viana Câmara

Lídia Schwantes

Adrieli Jordana adrielijordana@gmail.com Luana Figueiredo Barbosa figueiredoluana75@gmail.com

P

assaram-se os anos nos quais a única função da mulher era os afazeres da casa e cuidar do bem estar da família. Cada vez mais é notável como as mulheres estão ocupando cargos de chefia. Essa vontade de ocupar espaços que antes não eram ocupados por elas está mudando, e isso pode ser visto através do empreendedorismo. Em uma pesquisa realizada no final de 2018 pelo Global Entrepreneurship Monitor (GEM) em parceria com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), mostrou que, no Brasil, aproximadamente 24 milhões de mulheres são empreendedoras. Muitas vezes elas decidem abrir o seu negócio pela necessidade de aumentar sua renda, conquistar a independência financeira ou achar soluções para enfrentar o desemprego. E

foi por conta dessa última situação que Amanda Viana Câmara decidiu abrir o “Clibano”, empresa que trabalha com escondidinhos vegetarianos. Ela nos relata que a dificuldade em conseguir um emprego foi determinante para que ela abrisse seu negócio. “Fiquei desempregada exatamente no início da pandemia e o envio de currículos para as poucas vagas existentes não estava dando resultado. Foi quando cogitei empreender não só pelo aperto do momento, mas para ter um plano que funcionasse a longo prazo também”. Quando falamos do empreendedorismo, deve ser levado em conta os diferentes contextos sociais que essas mulheres estão inseridas, pois nem todas abrem o seu negócio por estarem passando por uma dificuldade financeira. Um desses exemplos é a

empreendedora Lídia Schwantes, que tem como negócio a “Bem responsabilidade Social e Sustentabilidade”, negócio esse que tem como propósito unir empresas e pessoas em torno de ideias e soluções que contribuam para o desenvolvimento social. Lídia, que é jornalista por formação, relata que sempre atuou na área de comunicação e responsabilidade social de empresas privadas e foi enquanto cursava o mestrado que decidiu ser empreendedora. “Eu fui observando como ocorriam as mudanças no mercado e a maneira como as empresas estavam se posicionando e identifiquei que não existia profissionais oferecendo serviços na área de responsabilidade social e sustentabilidade aqui na região. Então, logo depois que concluí meu mestrado, fiz uma especialização, e a partir desse movimento eu criei a Bem


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responsabilidade Social e Sustentabilidade e comecei a oferecer os meus serviços de consultoria”. Lídia se encaixa no perfil majoritário das mulheres empreendedoras do Brasil. Em uma pesquisa realizada em 2019 pelo Instituto Rede Mulher Empreendedora (Irme) com o apoio da ONU Mulheres, mostrou que 69% das empreendedoras têm graduação ou pós-graduação, contra 44% dos homens. Diferentemente deste perfil, a empreendedora e confeiteira Marlene Christmann Frantz abriu seu negócio por um sonho, a “Confeitaria Marlene”. Seu interesse pela confeitaria vem desde cedo, já que ela tinha parentes que trabalhavam no ramo, mas, como vivia em uma situação simples, ela teve que abdicar de seu trabalho e foi trabalhar como doméstica. “Como nada é fácil, não consegui seguir na minha carreira na confeitaria. Fui trabalhar em casa de família como doméstica e, depois de seis anos e meio trabalhando na casa e recebendo muitos incentivos da minha patroa, decidi engrenar no meu sonho. E, com o passar do tempo, o meu negócio foi crescendo” Uma pesquisa da Rede Mulher Empreendedora mostra que 75% das empreendedoras decidem ter um negócio somente após a maternidade. Em uma classe social mais desfavorável (classe C), esse número aumenta para 83%. E é na maternidade que as mulheres, donas de negócios ou não, têm o desafio de conciliar a vida profissional e familiar. Isso se deve pois ainda as tarefas domésticas e familiares estão sob responsabilidade da mulher. De acordo com a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD Contínua),

referente a 2019, as mulheres que trabalham dedicam em média 18,5 horas para afazeres domésticos e cuidados de pessoas da família, especialmente os filhos. Homens empregados dedicam 10,4 horas para essas atividades. A confeiteira Marlene reforça que seu maior desafio é equilibrar o seu trabalho com a responsabilidade de ser mãe. “Sem dúvidas o meu maior desafio, assim como todas

“Sem dúvidas o

meu maior desafio, assim como todas as mulheres que trabalham fora, é conciliar a vida pessoal com o meu filho recém-nascido, pois comecei somente atendendo pedidos sob encomenda. Marlene Christmann Frantz, empeendedora e confeiteira.

as mulheres que trabalham fora, é conciliar a vida pessoal com o meu filho recém-nascido, pois comecei somente atendendo pedidos sob encomenda”. A jornalista e empreendedora Lídia também pontua que a sobrecarga de trabalho como empreendedora somada com o papel da maternidade é o que mais exige dela como mulher. “A mulher traz consigo toda essa questão do cuidado que ela quer dedicar para sua família e isso acaba por alguns momentos nos sobrecarregando”. Por mais que as mulheres fazem todos esses esforços, o panorama do empreendedorismo feminino ainda apresenta suas falhas. Um estudo do SEBRAE aponta que, embora a taxa de inadimplência

entre as mulheres seja mais baixa, elas são as que mais pagam taxas de juros quando vão tomar empréstimos em bancos. Segundo o levantamento, a taxa de juros para as mulheres está em 34,6%, enquanto para os homens é de 31,8%. Já no que tange o empreendedorismo feminino regional, dados da Receita Federal MEI, responsável por fazer estatísticas sobre Microempreendedores Individuais, mostra que em Santa Cruz do Sul existem 3.329 empreendedoras, homens são 4.372. Segundo esses dados, dentre os setores nos quais há mais mulheres donas de negócio estão, em primeiro lugar, o ramo de comércio varejista de artigos de vestuários e acessórios, com 508 empreendedoras nesse segmento. Já o segundo maior é o setor de cabeleireiros, com 460, e o terceiro maior é o de atividades relacionadas com tratamentos de beleza, com 241 mulheres. Para além dos pesares, o empreendedorismo feminino se mostra uma prática em crescimento no Brasil e positiva no que se refere a atividades que estimulam a igualdade de gênero. Lídia Schwantes relata que geralmente contrata mulheres para prestarem serviços em seu negócio e reforça como a sororidade é um ponto positivo para essa igualdade. “Eu penso que para a gente alcançar a igualdade de gênero, seja no ambiente de negócios, empreendedorismo, nas próprias famílias ou instituições, nós, mulheres, precisamos olhar umas às outras com um olhar mais positivo e acolhedor. Eu penso que está em nossas mãos fazer com que as mulheres tenham mais oportunidades e que seus negócios também possam crescer.” 31


Escolas de ensino rural capacitam crianças, jovens e adultos para o mercado de trabalho Bianca Silva bianca.silva96@outlook.com

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tualmente, o Brasil tem evidenciado um grande crescimento no setor do agronegócio. Em 2019, seu PIB cresceu cerca de 3,81%. Esse valor representa cerca de 21,4% do PIB total do país, conforme dados do Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada). Dentre os segmentos, a maior parcela é do ramo agrícola, que representa cerca de 68% desse valor, seguido da pecuária, que soma 32% do total. Dados ainda baixos, comparados aos demais setores da economia, como o de serviço, que representa cerca de 75% do PIB total, e o de Indústria, que fica em torno de 18,5% da totalidade, segundo o IBGE. Para entender o futuro, devemos olhar o panorama da agricultura

brasileira no passado. Nos últimos 40 anos, a agricultura no país se desenvolveu de maneira positiva e significativa, pois adquirimos mais capacidade produtiva e produtividade. Com a modernização dos implementos e máquinas, que até então eram muito rudimentares, se consegue produzir em larga escala e melhor qualidade. Visando a contribuição para a indústria e um futuro próspero, foram criadas as escolas técnicas, voltadas ao ensino de habilidades e competências profissionais. Essa modalidade de ensino tem seu início em 1909 com a criação do Decreto nº 7566, de Nilo Peçanha (ex-presidente da República), o qual visava auxiliar os desfavorecidos em relação ao sistema da época. Na década de 60, o Brasil

atingiu o auge da modernização nesse meio e se inseriu no mercado internacional, dando importância, de fato, ao ensino técnico, que assume um papel essencial na política ideológica do país. Com a ascensão, era inteligente apostar em melhorias nessa área. No decorrer dos anos, foram sendo estruturadas, organizadas e repensadas as formas de ensinar. Levando em conta os fatores que revolucionaram o ensino agrícola, se demandou a necessidade de um profissional que pudesse atuar nesse segmento. Em entrevista, Gabriel Bianchini, 29, técnico agrícola formado pela Escola Estadual Técnico Agrícola Guaporé, relata sua motivação por ter buscado essa modalidade.

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Educação de Qualidade

EDUCAÇÃO PROFISSIONALIZANTE: INVESTIR, HOJE, NO FUTURO DO PAÍS!


de ensino: “Minha família trabalha com tabaco há pelo menos 30 anos. Iniciei cedo no campo, e via as dificuldades que meu pai e meu tio enfrentavam. Queria buscar algo que pudesse auxiliar eles de alguma maneira.” Hoje, Gabriel mantém seu emprego de tempo integral em uma empresa de tabaco de Venâncio Aires, onde trabalha há cerca de nove anos dando orientação técnica a produtores rurais, fazendo acompanhamento de plantio, entre outras funções. Além disso, Gabriel, que também é formado em Gestão Ambiental, desenvolveu seu lado empreendedor e, juntamente com um sócio, tem uma empresa de consultoria ambiental na cidade de Lajeado (foto). Mas, de que maneira esse tipo de ensino contribui para o país? Capacitando jovens e adultos para o mercado de trabalho (foto página anterior)! Dessa forma, podemos, sim, estar contribuindo com a nação para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Organização das Nações Unidas (ONU), podendo citar, a partir desse depoimento, o seguinte item da agenda: Meta 4.4: Até 2030, aumentar substancialmente o número de jovens e adultos que tenham habilidades relevantes, inclusive competências técnicas e profissionais, para emprego, trabalho decente e empreendedorismo. Élida Klamt, formada em estudos sociais, psicopedagoga e gestora, afirma categoricamente que o estudo agrícola é o futuro do país. Isso porque a demanda de um mundo sustentável tem aumentado cada vez mais. Ela, que durante sua atuação como diretora da escola agrícola Wolfram Metzler, de Venâncio Aires, sintetizou uma gestão inovadora, com uso de tecnologia, buscando uma formação para os professores e,

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horinzonteS - edição 1

claro, a parceria dos pais com a comunidade. Seu trabalho foi tão efetivo que, durante sua gestão, o crescimento dos indicadores do Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (IDEB) da escola foram notados acentuadamente. Em virtude desse trabalho diferenciado, Élida teve a oportunidade de fazer um curso de gestão na Universidade do Arizona, nos Estados Unidos. Lá, ela pôde conhecer a linha pedagógica americana, trocar experiências e compartilhar conhecimento. A região, que é atendida pela 6° Coordenadoria Regional da Educação, conta com três escolas nesse segmento. Em Encruzilhada do Sul, há a Escola Zeno Pereira Luz, que dispõe do curso de agropecuária; em Candelária, a escola Gastão Bragatti Lepage, que oferece o curso de agronegócio; e, em Venâncio Aires, a escola Wolfram Metzler capacita os alunos para o curso de agroindústria, conforme explicou o Co-

ordenador Regional de Educação do 6º distrito, Luís Ricardo de Moura. O estado do Rio Grande do Sul conta com 27 escolas agrícolas estaduais, conforme dados da Secretaria Estadual de Educação. Ainda nesse segmento, as Escolas Família Agrícola (EFA) seguem essa linha de estudo rural, geralmente em regime de alternância, que é quando o aluno vivencia os estudos na escola e posteriormente os aplica na prática, em propriedades rurais ou comunidades. Na região, contamos com duas EFAS, localizadas em Santa Cruz do Sul e Vale do Sol. Segundo a União Nacional das Escolas Famílias Agrícolas do Brasil (Unefab), há, atualmente, 145 EFAs em funcionamento, que atendem cerca de 13 mil alunos e apoiam cerca de 70 mil agricultores. Já se somam mais de 50 mil jovens formados pelas EFAS e cerca de 65% destes permanecem no campo. 33



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