EDITORIAL
CHARGE
ILUSTRAÇÃO
Jornalismo para além da experimentação
OPINIÃO Ana Luiza Rabuske
Pepe Fontanari Mariana Pellegrini
prof. Demétrio Soster EDITOR
Quando falamos em jornalismo feito por jornalistas em formação, somos impelidos a pensar em experimentação; em um lugar onde os alunos devem, sobretudo, experimentar, haja vista que, no mercado de trabalho, terão pouco espaço para experimentações.
CHEFE
REPORTAGEM E PRODUÇÃO
JORNALISMO
Essa perspectiva é boa, mas perigosa. Ela é interessante porque permite liberdade desde os primeiros passos, mas ruim devido ao fato de a experimentação não prescindir da sólida formação teórica e da experiência, e de esta ser condição para a realização daquela. Significa, então, que devemos fazer igual ao que todos fazem para somente então fazermos diferente? Não necessariamente.
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Se o resultado disso tudo é bom? Sintam com seus próprios sentidos.
Para todo e qualquer gaúcho
Henrique Scherer EDIÇÃO DE ARTE E PUBLICIDADE
ANA LUIZA RABUSKE
Ele é quente, e tem o poder do aconchego. Vive no outono, no inverno, na primavera e, até mesmo no verão. Passa de mão em mão, e naquela que para, transforma-se em fonte de vitalidade. Para uns, saboroso. Para outros, sem graça, insosso. É por ele que muitos se reúnem e é nele que encontram energias para continuar e recuperar o dia. Para os cariocas, esquisito. Para os nordestinos, um tanto quanto bizarro. Já para os gaúchos, não existem palavras que o descrevam. Ele pode ser utilizado em grupos ou a sós. O que jamais muda é a sensação do frescor, do sabor, da aproximação. Nada se compara ao poderoso chimarrão. A Dona Maria, o Seu Francisco, o Alaor do açougue, a Diva do mercadinho, o vendedor de vassouras, a estudante Natália, e até o Pedrinho que joga futebol no campinho
da esquina, todos têm admiração pelo chimarrão. Seja na escola, em casa, no trabalho, Semana Farroupilha ou em uma tarde ensolarada de domingo. Ele sempre está presente. Todos os dias. A todo momento. Não há quem resista a um gole da bebida mais apreciada pelos gaúchos. Quente, verde, viva. O “chima”, como é carinhosamente chamado por muitos, é o ponto principal de uma roda de amigos, do encontro da família e da reunião na escola. Além de saboroso, ele une, aproxima, torna a conversa bem mais descontraída. Sagrado para muitos, foi inventado dele até os “10 mandamentos”. Entre as regras, estão: não mexas na bomba; e não deixes um mate pela metade. Por todos os aparatos, acaba se tornando um ritual diário na vida da maioria de seus adeptos. Com morro
alto, com morro baixo, cuia larga, cuia pequena, erva com açúcar ou sem açúcar, bomba em detalhes de prata, não importa. Possuindo cuia, erva-mate, bomba e uma água no ponto, está feita a maravilha! Hábito sempre foi e continuará sendo. Tanto pra Judite quando pra tia Lúcia. Mania, vício, costume, tara. De tudo um pouco. Para um bom gaúcho, o chimarrão é símbolo incontestável do cotidiano e permanecerá assim pelo resto dos dias. Dentre tantos hábitos incomuns por aí vistos, ele se torna um dos mais apreciados. Como já dizia a música: “Puxa um banco e senta que tá na hora do chimarrão; É o sabor do pampa de boca em boca, de mão em mão; Puxa um banco e senta, vem cá pra roda de chimarrão; Ele aquece a goela e de inhapa a alma e o coração...”
Rosibel Fagundes Giusepe Fontanari
Ao meio dia, almoçava no trabalho; não tinha outra opção. Depois, pegava o jornal para saber as notícias. Fora alfabetizado até a 5ª série, mas a vida se encarregou de lhe ensinar o resto. Não se estressava no trabalho, não sentia rancor nem discutia com o patrão. Apenas fazia sua função da melhor forma. Ao chegar em casa, a carranca tomava conta. Sentava no sofá, enquanto
EDIÇÃO MULTIMÍDIA, REPORTAGEM E REVISÃO
Luciana Bastos
FOTOGRAFIA
REPORTAGEM
ÁUDIO E VÍDEO
Bruna Travi
Nairo Orlandi
Patrícia Parreira
Pedro Garcia
PROJETO GRÁFICO E REPORTAGEM
Luis Habekost CINEGRAFISTA
Anderson Rohr
Joel Haas FINALIZAÇÃO DE VÍDEO
Géferson Kern
RENAN SILVA
João não tinha nome. Era mais um Silva pela multidão. Trabalhava o dia inteiro. Não ganhava mal, mas aos 60 anos ainda era forçado a subir escadas, trepar em árvores, cuidar dos níveis de amônia. “Forçado” não é o termo correto, ele gostava daquilo. Ensinava os mais jovens, mas a contragosto. Queria mesmo era que sentissem sua falta. Não tirava férias, preferia trabalhar. No frigorífico, não era apenas outro João. Sentia-se bem, talvez até feliz.
REPORTAGEM
Vanessa Kannenberg
Além do terceiro toque E João acordava ao terceiro toque do despertador. No relógio, 5h30min. O chefe da sala de máquinas de um frigorífico devia chegar às 7h no local, para dar o exemplo. Preparava o café da manhã: na térmica, café com leite; em um saquinho, alguns biscoitos. A diabetes o fizera acostumar-se com pouco sabor nas refeições. Mas não abria mão do café com leite de cada dia. Antes de sair, o beijo na esposa.
ARTE
a cusca lambia seus dedos. Após o banho, jantar e JN. A essa hora, a carranca já havia passado. Deitava-se antes da novela, enquanto a esposa arrumava a cozinha. Assistiam a uma parte da novela. Ele roncava, ela baixava o volume da TV. Acordava para ir ao banheiro e ao voltar para a cama o dia terminava oficialmente. Dormir era nada mais que esperar pelo próximo dia, na esperança de que fosse, outra vez, tudo igual.
Pablo Melo
Marília Gehrke
CRIAÇÃO DA VINHETA
EXPEDIENTE UNISC– Universidade de Santa Cruz do Sul Av. Independência, 2293 Bairro Universitário Santa Cruz do Sul – RS CEP 96815-900 Brasil
BLOG Curso de Comunicação Social Jornalismo Bloco 15 – Sala 1506 Telefone: 51 3717-7383 Coordenadora do curso: Fabiana Piccinin
Jornal produzido na disciplina de Produção em Mídia Impressa, coordenada pelo professor Demétrio Soster, no primeiro semestre de 2010.
Impressão Graphoset Tiragem 500 exemplares DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
Para saber mais sobre o processo por trás do jornal e conferir fotos exclusivas da produção: blogdounicom.blogspot.com
QUEM É QUEM
OPINIÃO
No segundo, o “para além delas”, referimo-nos aos exercícios de multimidialidade, convergência e interdisciplinaridade; marcas do Unicom.
SUB-EDITORA, REVISÃO E REPORTAGEM
EDITORA E REPORTAGEM
CRÔNICAS
Renan Silva
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No primeiro caso, ao ser jornal, exercitamos esta instância por meio de um exercício muito rigoroso das técnicas editoriais, organizacionais e gráficas.
Luana Backes
Marília Nascimento
Amanda Mendonça
Emilin Grings
HÁBITOS
HÁBITOS
Preferimos pensar, no Unicom, que a melhor opção é o caminho do meio; um jornal que seja, antes de qualquer coisa, um jornal, mas que, ao mesmo tempo, transcenda esta condição por meio da experimentação em suas páginas e para além delas.
João Cléber Caramez
Siga-nos em: @JornalUnicom
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A vida escrita por meio de cartas e diários Pessoas como Loiva Kohl, 55 anos, não abrem mão de escrever; são hábitos adquiridos desde há muito e que se transformaram em um estilo de vida
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O tempo passa e os hábitos mudam. Ao lado da máquina de costura, sua ferramenta de trabalho há quase quatro décadas, Loiva traça as linhas que registram o cotidiano. Este hábito de escrever se transformou há oito anos em um diário, onde não escreve os compromissos do dia. Todas as manhãs, quando tem mais tempo, ela faz o seu mate e senta para escrever o que aconteceu no dia anterior. Além disso, agradece a Deus o dia que começa, anota o clima: algo que faz nos últimos cinco anos. O dia de Loiva é como uma caixa de presente que abrimos e nos revela uma grande surpresa. Coloca o dia nas mãos de Deus, para quem sempre agradece. É desse jeito que começou essa história de relatar os principais momentos de sua vida. A maior razão para o hábito é que ela “sempre gostou de escrever para se entender porque é uma terapia”. Tudo o que sentia, repassava para o papel. Os sentimentos a faziam escrever e, hoje, sua vida está equilibrada. A maior parte dos registros são sobre coisas felizes. Assim aprendeu a viver um dia de cada vez e se surpreende pelo mesmo. Ama-
tanto com sentimentos de alegria, como de tristeza.” Seus pensamentos deslizam pelas mãos e rabiscam qualquer papel avulso ao seu alcance ou nos cadernos onde anota medidas e faz seus desenhos, e até em capas de livros. Em tudo tem alguma coisa escrita. Ela salienta que “o hábito de escrever sempre lhe ajuda a se conhecer e se entender, é importante para sua auto-estima, alimento para a própria alma”. Escrever se tornou uma forma de dialogar com si mesma. Houve uma época muito difícil em sua vida, onde “escrever foi uma auto-ajuda, pois escrevia falando para Deus, o que resultou em uma coleção de blocos somente com orações. Assim vejo hoje”.
Os dias para sempre nos diários Com suas experiências, Loiva sabe ouvir muito. Quando era jovem, as possibilidades de entrar em uma universidade eram difíceis. Então, não conseguiu estudar psicologia, área que gosta muito.”Como trabalho em casa, tenho contato com muitas pessoas e adoro isso porque posso trocar experiências. Amo a minha profissão. Com 18 anos, já fazia as primeiras costuras”. A filosofia também é uma área que lhe agrada, porque serve de resposta para muitas coisas que acontecem na vida das pessoas. Outra coisa que nunca tinha pensado e passou a se questionar duran-
te a entrevista: para quem ficarão os diários? Loiva assume que não se preocupa com isso, mas se for para ficar com alguém, que seja alguém que valorize. “Deus sabe”. Segundo Loiva, isso tudo pode render livros, contos, pode servir para a história da família. “Meus sobrinhos, quando descobriram o costume de escrever, passaram a se interessar e quem sabe eles sigam esse caminho também.” Uma grande curiosidade ainda pairava no ar: alguém já leu o seu diário? Ela diz que não. Já mostrou algumas passagens para outras pessoas, mas na maioria das vezes somente para tirar dúvidas sobre datas, acontecimentos e variações do clima. Loiva prova pela sua escrita que existem ciclos em nossas vidas e eles se repetem. Além disso, os diários servem como um tira-dúvidas, já que “esquecemos muitas coisas como os aniversários, casamentos. Eu mesma faço a releitura de certas passagens. Percebo os momentos difíceis e os bons e fico feliz”. Loiva descobriu que tudo isso foi importante para chegar até aqui. “A vida sempre ensina e sei disso por que registrei.” Ela aprendeu muito e tem sempre a aprender, por isso continuará a escrever. E revela um segredo: “Foi um desafio contar sobre o meu hábito de escrever. Rendeu páginas. Eu agora tenho que relatar sobre você nas páginas do diário. Fica a recomendação: guarde e anote tudo e sempre escreva. Esse hábito é
importante para o jornalista porque pode resultar em livros, e material para isso não lhe faltará”. A mensagem que ela deixa é “ter um diário e cultivar isso é descobrir que cada dia é único. Por isso, escrevo. Sempre”. Com certeza, nesses dias que frequentei sua casa para entrevistá-la, ficará algum registro sobre esse repórter nas páginas do querido diário.
Agências experimentais. Não é só o papel e a caneta que fazem parte do cenário dos registros de Loiva. Uma máquina de costura, tesoura, manequins e tecidos também. Além do tradicional chimarrão, um companheiro diário.
Onde se entra aprendendo e se sai realizando.
ROTINA
ROTINA
Novos hábitos, velhos costumes
nhã, tudo pode ser diferente do que imaginamos. Loiva ressalta que, além do diário, qualquer momento é hora de escrever. Podem ser pensamentos, poesias, letras de música, entrevistas do rádio, dicas domésticas, declarações, sentimentos de felicidade, de amor, de otimismo, várias anotações que podem ser úteis. Existem muitos desenhos, principalmente esboços criados para fazer peças de roupa depois. Dá para perceber que ela anota de tudo, inclusive o que parece desimportante: hoje ela valoriza mais o que escreve. Pergunto sobre a vontade de criar um blog, mas responde que nunca sentiu. Diz que escreve para si, não pensa em expandir para algo público. Não seria a mesma coisa. O prazer para ela é pegar a caneta e escrever no papel. Mas uma coisa ela gostaria que existisse: “uma forma de nossa mente estar conectada ao computador para que ele fizesse os registros automaticamente.” Já que nossa memória falha em certos aspectos, o diário funciona “como um site que abrimos e as coisas antigas estão arquivadas lá e podemos acessar a hora que quisermos”. É assim que compara seu diário com o formato da internet. Como costureira, Loiva diz que pode ouvir e trocar experiências com muitas pessoas. “Escrever me fascina. É uma forma de me expressar e de impulsionar o meu interior,
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amiga está em Curitiba e quem sabe ela não irá visitá-la em uma próxima oportunidade? Pela internet, sempre se comunicam.
HÁBITOS
HÁBITOS
JOÃO CLÉBER CARAMEZ REPORTAGEM E FOTOGRAFIA
A entrevista não acontece da forma convencional. Loiva Kohl, costureira de 55 anos, prefere responder por meio da escrita sobre seu hábito. Paulo Coelho, o escritor, ajuda-lhe a explicar o porquê: “Escrevo sempre e acho muito importante escrever, um papel e uma caneta operam milagres, curam dores, consolidam sonhos, levam e trazem a esperança perdida”. Nem poderia ser diferente. A vida de Loiva tem sido escrita por meio de cartas desde que era jovem, quando ainda morava no interior de Vale do Sol. Nessa época, quando tinha seus 17, 18 anos, a função de Loiva no grupo de jovens da Igreja da Confissão Luterana que frequentava era muito especial: ela era encarregada de escrever textos com mensagens direcionadas aos jovens. Loiva era líder do grupo e preparava os cultos voltados às crianças. Também lembra que, na época, o diálogo com os amigos era feito principalmente por cartas. Nelas, os sentimentos apareciam expressos pela escrita. E se perpetuavam. E quanto aos e-mails e mensagens instantâneas; atrapalham demais? Pelo contrário: ajudam a conservar amizades com as quais se correspondia há 34 anos, nos intercâmbios que fazia por meio do grupo de jovens. Só que de forma mais rápida. Loiva foi até para Goiânia meses atrás, para visitar uma amiga do tempo de juventude. Uma outra
JORNALISMO PRODUÇÃO EM MÍDIA AUDIOVISUAL PUBLICIDADE E PROPAGANDA RELAÇÕES PÚBLICAS s hipermidia.unisc.br/a4
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Mais que uma casa geriátrica, um novo lar Alguns chegam para ficar um mês, e acabam passando o resto dos dias no Hospital Beneficente de Sinimbu. A nova vida exige rotinas diferenciadas LUANA BACKES REPORTAGEM E FOTOGRAFIA
guia de seu plano de saúde preenchem os espaços vazios. Suas roupas ficam em dois roupeiros diferentes, um para as de verão outro para as de inverno. Sobre um deles está uma foto do dia do casamento dos seus pais, do tempo em se casava de preto. “Você sabe por que não era branco? Eu não sei”. Na hora de ser fotografada, Dona Maria não dispensa o pente cor de rosa, que também fica sobre a mesinha. Maria passa os dias lendo. Lê o que tiver em mãos. Jornais, livros de cantos religiosos e novenas. “Eu sabia tudo, mas esqueci, aí quando leio eu lembro.” Às vezes ouve rádio. A televisão, um dos principais contatos com o mundo exterior, ela só assiste à noite. Gosta de telejornais e de programas que lhe ensinam alguma coisa. “Aprendo muito com a tv.” Tenta acompanhar a evolução do mundo e percebe que muita coisa mudou. Porém, coisas consideradas banais são motivo de tristeza. “Como está o dia, está nublado? Não consigo ver o céu daqui.” Mas de um hábito ela não abre mão: tomar banho de chuveiro, mesmo que precise de auxílio para isso. “Não gosto de tomar banho na cama; de chuveiro é muito melhor.”
Muitas recordações vêm à tona durante a entrevista. Quando menina, logo após o jantar, Maria e os irmãos cantavam músicas alemãs com o pai. Hoje não é difícil ouvi-la assobiando melodias antigas. Ela também canta, e é nesse momento que a alegria toma conta de seu semblante. Então, Dona Maria rejuvenesce. Volta a ser aquela menina com sonhos. Quando volta ao presente, vê que conquistou seu principal objetivo: ser enfermeira. Orgulha-se ao contar que sempre fez um bom trabalho, que conseguiu ajudar muita gente. Fica decepcionada ao lembrar que naquela época tinha que fazer tarefas que hoje não são feitas por técnicos em enfermagem. “Antes, quando morria alguém, eu tinha que vestir para o enterro, e meu salário não aumentava. Hoje as funerárias cobram caro pra fazer isso.” As alegrias de Dona Maria surgem aos poucos. Toda semana ela caminha rumo à sua liberdade. Com a ajuda do fisioterapeuta, dá alguns passos que a levam até a porta do hospital. A felicidade de sentir o vento bater no rosto só não é maior do que ver o céu azul. Dia feliz é aquele em que não há nuvens.
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Em junho de 1933, com apenas 14 leitos, foi inaugurado o Hospital Beneficente Sinimbu. Em 1972 uma nova ala foi criada, com geriatria e maternidade. Hoje, sua fachada é assim.
O hospital tem, em média, 20 residentes na ala geriátrica. Geralmente os idosos ficam ali por indicação médica. O dia dos moradores começa às sete horas da manhã com o banho. Ao longo do dia fazem sete refeições. A adequação à rotina e aos horários é a parte mais difícil do processo. A grande maioria dos idosos não caminha, e alguns já sofrem de demência. Alguns recebem visitas dos familiares, porém, nem todos têm essa alegria. Muitos pacientes os veem somente no dia do pagamento.
FACES DE DONA MARIA
NOVA VIDA
NOVA VIDA
A ALA GERIÁTRICA
O valor da internação varia de acordo com a opção do tipo de quarto, com banheiro ou sem, com televisão ou não. Muitos usam sua própria aposentadoria para arcar com as despesas, sem deixar ônus aos parentes. As visitas dos alunos das escolas locais e de membros de igrejas amenizam a solidão que abala a todos. Os visitantes cantam músicas acolhedoras e encorajadoras. Para os que não falam o português, são entoadas músicas alemãs. Há os que chegam para ficar um mês, como é o caso do Seu Ênio. Hoje, aos 78 anos, já está lá há um ano e dois meses. Com problemas de saúde, deixou a mulher e a filha em casa. Gosta do quarto e do atendimento. Considera o tratamento recebido e as instalações muito “chiques”. Passa o dia assistindo televisão e reconhece que se estivesse em casa estaria fazendo o mesmo. Lamenta ter abandonado sua vida profissional. “Sempre fiz de tudo, hoje estou aqui, sem poder fazer nada.” Seu Ênio foi alfaiate, no tempo em que suas mãos ainda respondiam aos seus comandos. A característica que todos têm em comum é a de não querer incomodar. Têm receio de importunar familiares, enfermeiras e médicos. Sentemse como se sempre estivessem atrapalhando. Os dias próximos aos do aniversário são os mais difíceis, pois os idosos ficam mais emotivos e qualquer conversa sobre suas vidas acaba em lágrimas. Ali todos sonham com o retorno às suas casas, suas vidas. Relembram como deixaram a residência e contam o que irão fazer quando voltarem. Tudo o que mais querem é retomar a antiga rotina, o que inclui o aconchego da família e a tão estimada liberdade.
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Alguns minutos se passam e Maria é novamente carregada pelo médico, e volta para seu quarto. As visitas da família deixam Dona Maria alegre, sentindo-se amada. Solteira e sem filhos, ela conta com o carinho dos sobrinhos. Orgulha-se ao falar de cada um. Faz questão de contar o que cada um faz e suas características. Quando a levam para passear a alegria parece não caber dentro do peito. Relata o passeio com o entusiasmo de uma criança, como se fosse a um parque de diversões. Na tentativa de melhorar a qualidade de vida dos residentes, a psicóloga Carina Bublitz encoraja os idosos a praticarem o artesanato. Começaram com o croché. Dona Maria não gostou da ideia. Começou, fez alguns pontos e parou. Durante um passeio com a família, a esposa de seu sobrinho terminou o trabalho para ela. Maria voltou ao hospital com a toalha pronta, e até serviu de modelo para as outras. No entanto, deixa claro que gosta de ler e não quer saber de outra atividade. Agora, conta aos risos, teme que tenha que praticar o tricot.
HÁBITOS
HÁBITOS
PEDRO GARCIA FOTOGRAFIA
O passado de Dona Maria Dorfey tem sabor de iogurte, da época em que ia ao supermercado comprar o que quisesse para comer. Hoje, aos 84 anos, moradora da ala geriátrica do Hospital Beneficente Sinimbu há cinco, já não tem a liberdade de que tanto se orgulhava. De todos os hábitos os quais teve que deixar para trás, sente muito a falta de ir e vir sozinha, com suas próprias pernas. Mesmo assim, o sorriso, sua marca registrada, só dá lugar às lágrimas quando fala sobre sua situação atual. As paredes frias do prédio perdem força diante do aconchego da poltrona de Maria. O cobertor e o travesseiro a protegem do frio que se anuncia com a garoa que insiste em tomar conta do mundo lá fora. Sem caminhar há seis anos devido a um acidente de trânsito, Dona Maria tem uma amiga inseparável: sua mesinha de cabeceira. Sem poder se locomover, ela deixa tudo o que precisa por perto. O rosário, companheiro de orações, fica junto da sua pomada para as mãos. Os óculos, parceiros de muitas leituras, estão sempre próximos do controle remoto da televisão. A água, o pote de bolachinhas de água e sal e o
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MARÍLIA GEHRKE
BRUNA TRAVI
Por que os homens olham tanto para o bumbum das mulheres? EMILIN GRINGS
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Foto-hábitos
A competição é amadora, mas os atletas ouvem o seu técnico como em uma partida entre profissionais No domingo não pode faltar aquele chimarrão
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ENSAIO
Domingo: sol, suor e bola de borracha
HÁBITOS
PEPE FONTANARI ILUSTRAÇÃO
FONTE DO ENSAIO: PEASE. Allan e Bárbara. Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor? Rio de Janeiro: Sextante, 2000.
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Nada melhor do que uma boa leitura para recarregar as baterias
NAIRO ORLANDI
nham não serem notadas. As mais depressivas se sentem feias. Tem até uma frase que diz: “Mulher que nunca ouviu elogio ao passar em uma construção não é mulher que se preze”. Por falar em mulheres, e elas olham para a parte traseira dos homens? Sim. Mas são mais discretas porque a visão periférica feminina é superapurada. Assim, não é preciso virar a cabeça. Este fato se justifica também porque, para as mulheres, o corpo não importa muito. É claro que a beleza física chama a atenção. Porém, para elas, os receptores sensoriais estão nos ouvidos. Por isto, elas gostam de palavras doces. Muitas mulheres chegam a fechar os olhos quando o homem que a ama sussurra palavras carinhosas aos seus ouvidos. Portanto, se o seu namorado, marido ou companheiro está sempre reparando no glúteo das outras, seja franca. Pergunte o que ocorre. Se ele responder que não tem nada demais nisto, não encane. É só um hábito masculino proveniente da falta de visão periférica e do instinto biológico próprio dos homens.
ANDERSON ROHR
uma desculpa para o olhar grosseiro de alguns homens, é apenas uma explicação de que nessa hora é a biologia que está em atividade. Essa seria a resposta científica para o fascínio dos homens pelas bundas. Quando acompanhadas por eles, as mulheres não gostam de ver os seus reparando nas outras. Se um casal está passeando na rua e em direção vem uma garota que a mulher julga ser bonita, ela rapidamente localiza a “ameaça” com a sua bela visão periférica a curta distância. Após, se compara com a rival e, em geral, se sente em desvantagem. Se o homem por acaso notar a outra, para as mais ciumentas é briga na certa. Por mais que o olhar dele seja discreto, o bate-boca começa. Porém isso nem sempre incomoda as mulheres. O fato se inverte quando elas são o alvo do olhar. As mulheres gostam de ser elogiadas e admiradas pelos homens. Faz bem à autoestima. Elas já estão acostumadas com este hábito que nem se aborrecem com isto. As mulheres estão tão habituadas com o olhar malicioso deles que estra-
HÁBITOS
que são mais discretos, admiram quando o bumbum está a sua frente. Mas todos olham. Este hábito dos homens de não serem discretos ao admirar “a preferência nacional” tem explicação científica. É que eles têm visão periférica pouco apurada. Por isto, para ver bem uma bunda têm que se virar. Mas, por que este fascínio tão grande pela parte dorsal traseira do tronco humano feminino? Quando eles olham, parece que nunca a viram antes. Eles param de piscar e a boca se enche de saliva. O cerébro dos homens, de acordo com a sua estrutura, sente atração pelo que vê. Quando eles olham para uma mulher na rua não quer dizer que ele queira levá-la imediatamente para cama. Essa atração é do instinto dos homens. Afinal, ele nem conhece a que passou e não pensa em começar um relacionamento com ela. O que interessa não é a personalidade da mulher e sim seus atributos físicos. O mesmo ocorre quando os homens olham revistas masculinas. Eles querem só admirar. O que está exposto aqui não é
GÉFERSON KERN
Uma mulher passa. Os homens olham. Não importa se é bonita ou feia. Ser gorda, magra, baixa, alta, também não faz diferença. Eles não olham o rosto, às vezes não veem nem todo o corpo. Apenas uma parte dele: a porção musculosa da parte dorsal traseira do tronco feminino, ou seja, os glúteos. Na gíria: bumbum ou bunda. Para “admirar” bem essa parte do corpo delas, eles até viram a cabeça. Os mais ousados fazem comentários, que nem sempre são a respeito do traseiro. Os elogios são para a dona da bunda. Assovios também fazem parte do repertório deles. Tudo vale para chamar a atenção daquela que os deixou babando. Todo homem já olhou com maldade para uma bunda feminina. Mulher que nunca viu seu namorado, marido ou companheiro, dando aquela olhada para o bumbum de outra, que atire a primeira pedra. Se uma fêmea está passando, não tem erro. É olhar para os olhos dos machos ao redor que você saberá exatamente onde eles se encontram: pousados, agarrados, quase despindo a pobre. Têm alguns
9 Aproveitar a tarde sobre duas rodas
Leonardo Brasiliense,
bit.ly/unileo
E a literatura, como se encaixa nessa tua nova fase? u não abandonei a literatura, mas eu estou de férias dela neste momento. Um livro meu acabou de sair em fevereiro (Whatever, editora Artes e Ofícios) e em abril sai outro (Três dúvidas, Companhia das Letras). Nessa história de esperar editora, definir se aceita ou se não aceita, quando vai publicar... Acabou acontecendo que eu tenho mais um original pronto. Por isso que eu estou meio de férias da literatura e não estou escrevendo no momento. Estou me dedicando a esta história do cinema. E também à fotografia...
E
A
Tu consideras a fotografia, a literatura e o cinema como hábitos teus? Hábitos no sentido de coisas que tu não largaria. ão sei... Eu já larguei tudo. Parece fácil largar as coisas falando assim, né?! Eu acho que (as artes) são modos de me expressar. Eu toco guitarra desde os 15 anos de idade, que é um jeito de fazer “barulho”. E eu acho que a literatura também entrou nessa história de fazer algum barulho, de colocar pra fora alguma coisa. E o cinema é a mesma coisa. Só que eu acho que o cinema sempre esteve lá, desde os primeiros contos, porque sempre os escrevi baseado em imagens e cenas. Mas um dia eu me dei conta:
N
“Bah! eu queria mesmo era escrever pra cinema”. Eu não sei muito bem o que dizer que é hábito meu... Sei que não gosto da palavra hobby. Eu acho que hobby é algo que tu faz pra passar o tempo, quando tu tens tempo livre. Mas eu não faço assim. É como eu sinto a coisa. Então quais seriam os teus hábitos? u tenho umas boas manias em relação ao trabalho, que eu já tinha desde quando eu comecei a escrever até com a fotografia agora. Eu não consigo pensar em fazer alguma coisa muito impulsiva. Eu sempre faço um bom planejamento antes. Essa seria a minha mania mais permanente. Ainda tem a história de que sempre escrevi de madrugada, não consigo escrever de noite. Eu durmo cedo e acordo às 5h da manhã. Ai eu escrevo das 5h até às 7h30, quando eu vou pro serviço.
LEONARDO BRASILIENSE Era a primeira pergunta de uma das primeiras entrevistas que dei para o lançamento do meu primeiro livro de contos. Uma rádio universitária em Porto Alegre. O cara sai lascando: me fale algo sobre a Série Narrativas da WS Editor. Ora, tudo o que eu precisava saber sobre a Série Narrativas da WS Editor era que o meu livro fora publicado na Série Narrativas da WS Editor, o que mais? Mas foi muito instrutivo, porque ali eu vi que o Tom Jobim era quem estava certo: não importava o que o entrevistador perguntasse, ele falava do assunto que quisesse. Ou isso, ou o engasgo.
E
E quando és pego desprevenido? í a gente improvisa. Nesses momentos entra em cena o guitarrista. Na guitarra eu só improviso.
A
Falando em guitarra, como tu te relacionas com a música? u tive uma banda quando comecei a tocar, aos 15 anos. E depois sempre toquei sozinho. E hoje eu
E
nem tenho vontade de ter banda. Primeiro que eu acho que quem tem mesmo vontade de ter banda, tá disposto a ganhar dinheiro com isso, quer investir tempo e dinheiro nisso. Ai tem que achar quem queira tocar sem compromisso. Segundo que tem que achar alguém que goste das mesmas coisa que tu. Alguém que ouça Korn, Velvet Revolver e jazz ao mesmo tempo e que toque comigo... É meio complicado. É verdade que tu não fostes um leitor assíduo quando criança – como geralmente foram os escritores? u só me alfabetizei quando eu entrei para a faculdade, com Guimarães Rosa e Machado de Assis. Fui uma criança que vivia grudado na televisão, não tinha hábito de leitura, não. Meu negócio era filme. Assistir à Sessão da Tarde era obrigatório.
E
E hoje em dia tu lês bastante? oje em dia leio bastante, mas menos que um tempo atrás. Com esta história de estudar roteiros, eu assisto filmes todas as noites.
H
A tua opção por escrever mini-
contos se deve à mudança de hábitos das pessoas nesse mundo tão veloz? u acho que o mini-conto tem bastante espaço hoje em função disso, porque as pessoas estão com a vida muito agitada e estão dedicando menos tempo à leitura, para coisas mais demoradas como um bom “romanção” de 500 páginas. Mas eu não escrevi mini-contos por isso. Eu escrevi mini-contos pra valer mesmo entre 1994 e 96, depois comecei a escrever contos. Eu voltei há pouco porque recebi alguns convites, inclusive de uma editora, em 2005, que originou o “Adeus conto de fadas”. Mas eu não sou de escrever mini-contos. São coisas que tiveram a sua época e depois foi meio que por encomenda e alguns eu escrevo pra colocar no site pra ele não ficar muito parado. Mas não é a minha atividade principal nem é o que eu gosto mais de fazer. E nem de ler. Eu sou um leitor de “romanção”.
E
Nesse sentido, tu achas que esses hábitos que mudaram com a velocidade são corretos? u acho que as pessoas estão numa crise em relação ao tempo. Estão fazendo muita coisa ao mesmo tempo – quem sou eu pra falar – e estão se dedicando pouco
E
para coisas mais demoradas. E nessa rapidez toda a riqueza se perde. Não tem mini-conto que se compare a um “romanção”. Só que tu tem que parar e ler. Larga a internet um pouco e vai ler. Vale a pena. Eu tenho uma certa resistência com essas coisas. Já pensou em fazer algum curso de graduação ou prefere ser autodidata? uto-didata é uma palavra meio estranha... Mas quanto à aula penso que o “cara” vai me dar uma aula de 50 minutos e nesse tempo eu li umas cinco vezes aquela quantidade de informação. Eu não estou falando mal dos cursos, mas é que... Eu durmo em aula. Preciso admitir. Na faculdade eu já dormia.
A
Dormir em aula seria um hábito do qual tu queres te livrar? ão. Eu gosto.
N
E tem algum do qual tu gostarias de te livrar? ão. Eu tenho a impressão de que eu faço tão pouca coisa, que se eu for me livrar dessas não vou fazer nada
N
Felizmente tive que usar poucas vezes a técnica jobiniana (ah, outro que fazia isso muito bem era o Olívio Dutra, aliás, este eu nem sei se chegava a ouvir as perguntas). Mas é bom pensar rápido. Outra coisa que aprendi com o tempo é que a quantidade e a profundidade da informação que se dá depende do veículo e do tempo da entrevista. E isso daí não tem nada a ver com o entrevistador em si, mas com o público. Numa revista especializada em literatura tu podes dizer que o teu livro trata da dúvida como fator constituinte da alma humana, ali explorada em seu viés existencial e essencial. No jornal, rádio e TV a cabo, tu dizes que é a história de uma menina que não sabe se dá ou se desce. Na TV aberta basta dizer que tu estás lançando um livro novo às 19h na livraria tal, porque as pessoas só vão prestar atenção é na tua cara mesmo. Felizmente TV aberta não se interessa muito em literatura. Mas sempre que é legal mostrar a cara, pra ter assunto com os vizinhos no elevador. Bom, eu poderia terminar dizendo que dá pra escrever um livro sobre a arte de ser entrevistado. Acho até que dá, mas não eu. Porque tudo o que aprendi até hoje coube nesses parágrafos aí em cima.
PING PONG
PING PONG
LUANA BACKES FOTOGRAFIA
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Conta como que é essa história da fotografia. Como e por que se dedicar também a isto? fotografia entrou na carona do cinema, porque, em função dos filmes, comecei a pensar as coisas em termos de imagem. Aí um amigo, que é fotógrafo profissional, deu-me umas dicas sobre o que comprar, como começar a fazer as coisas... Bom, aí eu peguei gosto. No começo eu fotografava os amigos. Tipo assim, eu enchia o saco. (A pessoa) ia tomar um café comigo, então tá: nós vamos fazer foto. Agora estão surgindo outras coisas, trabalhos profissionais.
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VANESSA KANNENBERG REPORTAGEM
Desde pequeno tu fostes transferido de cidade muitas vezes por causa da profissão do teu pai. Agora que és independente, não paraste de te mudar também. Como fica a questão dos teus hábitos, é difícil adaptar-se frequentemente? ão. Eu me adapto muito rápido, não tenho problema com isso. Minha vida mudou mesmo de um ano pra cá, quando eu decidi que iria sair da Receita Federal e ia trabalhar com cinema. Então comecei a estudar roteiros de cinema, o que estou fazendo no momento, e, paralelamente, trabalho na Receita. Mas foi uma mudança, eu decidi: agora eu vou tentar fazer outra coisa da vida.
A arte de ser entrevistado
HÁBITOS
HÁBITOS
Leonardo Brasiliense começa a trabalhar às 8h e só sai às 18h da Receita Federal, onde é fiscal. No currículo, a graduação em Medicina. Da faculdade de Direito, onde esteve por dois dias, resta-lhe apenas uma vaca de pelúcia, presente dos amigos por ter passado no vestibular. O adorno permanece na estante do escritório onde guarda algumas das coisas que realmente lhe interessam: livros, roteiros de filmes e prêmios – um Açorianos e um Jabuti pelo livro Adeus conto de fadas. Ao lado ficam os equipamentos de fotografia e um notebook, cuja principal finalidade é editar fotos. No quarto, ainda, dois raros amplificadores e guitarras. Assim, seu apartamento, com poucos móveis, guarda tudo que o faz feliz. Literalmente, um desabituado escritor.
um desabituado
COLUNA
E pode ser que o pessoal do Unicom ainda corte alguma coisa na edição.
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Vidas regidas pelo badalar dos sinos e das horas Em algumas comunidades do interior do Estado, a rotina não é regulada apenas pelos relógios. Os sinos são usados como controladores de atividades
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POR DENTRO
muitas vezes compromete a veracidade dos fatos. Mas, em geral, todo jornalista precisa lidar com esta corrida indiscriminada contra o tempo. Outro ponto importante a ser ressaltado é a capacidade de socialização do jornalista. Muitos têm o hábito de cobrir as suas pautas apenas pelo telefone. E como são muitas, o tempo é curto. Uma vez que não existe integração com o restante da equipe, torna-se individualista e isolado. Com o tempo, perde o contato com o ambiente externo, fundamental para o bom exercício da atividade. As matérias perdem em fator humano em razão da habitual cobertura à distância. Deve ser considerado que os integrantes da redação têm o papel de monitorar o colega. A crítica ao semelhante é hábito comum. Muitas vezes, ela é positiva e em outras, pode ser dura. A lógica é fazer com que o trabalho seja sempre qualificado e melhor a cada dia. O almoço ou os encontros em mesa de bar são momentos para dis-
cutir assuntos da vida particular de cada um. No meio de tantos assuntos, surgem muitas conversas que podem render boas pautas. A própria observação do local é um prato cheio para que os jornalistas captem alguma coisa diferente e singular. Esse é outro hábito consagrado, já que quando encontramos algum tipo de reprodução da atividade jornalística, sempre são lembradas as reuniões de bar onde alguém tem um “estalo” repentino e registra a ideia para outro momento. Muitos leitores imaginam a figura do jornalista como senhor absoluto da informação, aquele que sabe de tudo e tem o poder de escrever o que bem entender. Mas os valores adquiridos e a maneira pessoal de ver o mundo são colocados na gaveta, dependendo de onde atua. Assim, o conteúdo escrito por esse profissional é publicado de acordo com a política editorial da empresa que representa. É um hábito arraigado nesta classe: escreve-se despido de seus próprios conceitos, e por isso os fatores psico-
lógicos devem ser considerados. Não é simples falar bem sobre batatas, caso não se goste delas. Para a rotina produtiva de um jornal funcionar de forma correta, o ambiente de trabalho precisa oferecer um conforto básico. A responsabilidade dos jornalistas perante a sociedade é grande, então a empresa deve ser bem estruturada. Problemas como a falta de veículos, em que os repórteres precisam negociar com a equipe comercial do jornal para se deslocarem juntos, instalações inadequadas ou quantidade reduzida de jornalistas para cobertura de muitas pautas, fazem com que hábitos sejam criados na redação para suprir deficiências provenientes da falta de preocupação dos donos com o bem estar de seus funcionários. Por essa razão, não convém abrir os bastidores da notícia ao público leitor, para não pôr em risco a boa imagem da empresa. Segredos internos jamais devem ser contados.
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ARTIGO
O badalar dos sinos é uma tradição portuguesa. A sua importância está na simbologia. Os sinos sempre tocam para anunciar algo: no Domingo de Páscoa, no Natal… Badalam nas festas em homenagem aos santos padroeiros. Na historia, já foi mensageiro da guerra, da paz, de boas e más notícias. Em algumas aldeias assinalavam as horas no tempo em que não havia relógios. Hoje, os sinos continuam a badalar pelas comunidades, mas em algumas regiões a tecnologia deixou de lado os braços humanos: eles são acionados por mecanismos eletrônicos. O sino nasceu católico; sua invenção foi reservada à Igreja. Os católicos dizem que os sinos indicam a presença de Deus nesse local, daí a tradição de que quando se entoa um sino, Deus observa e ouve a prece com mais atenção. O termo sino deriva do latim signum, ou sinal, e era utilizado para os rituais religiosos. Um deles era levar os fiéis à missa. Mas também anuncia casamentos, batizados e falecimentos. Toda a comunidade fica a saber mediante a melodia entoada qual o acontecimento do dia. A função do sino é justamente a oportunidade de conectar-nos, de ser um instrumento de reflexão, de meditação. Ele expressa um som único, mas variável ao contexto que lhe está sendo atribuído em determinado momento. Esse encontro da energia humana com o símbolo de metal nobre é um facilitador que nos transporta e nos conecta com uma possibilidade presente e futura. É um instrumento sagrado que carrega valores universais e que nos seus badalares indica determinadas circunstâncias. No período da manhã, às 6h, significa o despertar e às 11h30 é a hora da parada pro descanso e pra refeição. Na parte da tarde, o badalar mais tradicional é às 18h, o entardecer do sol, indica o final do dia. Os sinos meia hora antes das celebrações anunciam a missa ou culto. Toca quando há comemoração de festas de padroeiros e de falecimentos.
Jornalista é como grande parte dos seres humanos. Um cidadão comum, com suas próprias características, e que tem vida além da redação - local ideal para construir um estereótipo de pessoa apressada e que sempre corre contra o tempo para cumprir prazos. Os produtores da notícia praticam atos que se tornam involuntários à medida que são repetidos. Considerados como hábitos, são legitimados quando fazem parte do seu cotidiano. Alguns sentem-se transtornados se os deixam de lado. A rotina jornalística propicia a aquisição de costumes. Nos momentos de folga e no final do expediente, é difícil encontrar uma cafeteira que esteja cheia na cozinha da empresa, essencial para espantar o cansaço físico e mental. Profissionais do ramo têm alto nível de estresse durante o dia de trabalho. Em consequência, adotam práticas que, inclusive, afetam a saúde, como fumar e ter má postura diante do computador durante horas seguidas. A pressa, sempre presente,
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TRADIÇÃO ANTIGA
JOÃO CLÉBER CARAMEZ
HÁBITOS
HÁBITOS
PATRÍCIA PARREIRA REPORTAGEM E FOTOGRAFIA
Quantas vezes você percebe na sua cidade que o sino de igreja toca? Você sabe porque os sinos das igrejas tocam? Há pessoas que não sabem o real significado dos sinos, mas, mesmo assim, os usam como uma espécie de relógio, uma agenda pessoal. É o caso da dona Selma Weise, 66 anos, moradora de Paraíso do Sul, região Centro do Estado. Para ela, todo dia é sagrado: quando o sino toca às 11h30, é hora de iniciar o almoço. “Sempre me coordeno pelo toque dos sinos; de manhã, quando ele bate, é hora de iniciar os preparativos do almoço. À tardinha, é hora de começar a novela das seis; já se tornou hábito”, afirma Selma. Em Agudo, não é diferente. O badalar dos sinos indica inclusive se ainda dá tempo de fazer compras no mercado ou butiques da cidade. Isso porque quando os sinos tocam, as lojas fecham suas portas. “Já é hábito, isso acontece há anos, nosso comércio tem 15 anos e sempre fechamos quando o sino toca, às 11h30”, diz a comerciante Laura Drescher, 54 anos. Já o aposentado Nilo Milbradt, 70, é o responsável por bater os sinos da Igreja Evangélica Luterana de Paraíso. Ele pratica essa atividade há 16 anos, faça chuva ou faça sol. Todos os dias, às 11h30 e ao entardecer, é a mesma rotina: “Gosto do que faço, em 16 anos sempre estive aqui. As vezes que faltei foi por motivos de saúde e minha esposa realizou o trabalho pra mim”, ressalta Milbradt. Além de tocar o sino diariamente, Milbradt também anuncia casamentos, batizados e os cultos de domingo. “Aos domingos, meia hora antes do culto, eu venho aqui e bato o sino, aí já sabem que falta pouco pra iniciar a celebração”, explica. Outra situação em que os sinos servem de referência para os hábitos da comunidade é quando alguém falece. São no total, segundo Milbradt, 18 toques do sino em caso de morte. “Se for mulher, toco o sino médio; se for homem, sino grande e, se for criança, ou adolescente, o sino menor. A comunidade sabe pelo toque do sino qual o sexo da pessoa que faleceu”, finalizou.
Hábitos nas redações
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De que planeta nós viemos? Estrangeiros deslocados de suas culturas vivem verdadeiras aventuras ao caírem de paraquedas em nossa região. O que para nós é hábito, para eles pode ser (bem) estranho
o arqui-inimigo gastronômico e até come de vez em quando. Já Katerina Pouliou desistiu da guerra antes de começá-la. Mesmo completando três anos desde que trocou a Grécia pelo Brasil, jamais experimentou feijão. Prefere manter para si e a família os hábitos alimentares mais leves que cultuavam quando ainda moravam em Atenas, antes do marido Dimitris ser transferido para a unidade local da empresa de tabaco onde trabalha. É recente a mudança do casal com os três filhos pequenos, Markos, Alexis e Lena, mas a região é uma antiga conhecida de Dimitris, já que a visitava com alguma frequência há mais de dez anos, a serviço. Ele sabia, portanto, que viria morar em um local onde a cerveja é servida bem gelada, o que lhe agrada, e ao contrário do que estava acostumado na Europa. Por outro lado, continua estranhando a fixação dos gaúchos pelo chimarrão, independente da temperatura. “Não entendo como as pessoas tomam fazendo 40 graus no verão”, confessa estupefato, e nos assiste preservar bravamente a
tradição enquanto bebe seu café gelado tipicamente grego – o que, se pensarmos bem, faz muito mais sentido. Na empresa, Dimitris diverte-se ao ver a movimentação dos funcionários com o sinal que indica o intervalo para almoço ao meio-dia. Lembra da Grécia, onde a jornada de trabalho avança até a metade da tarde quase sem parar, e as refeições ficam para depois. Ainda hoje, a família reúnese para jantar muitas vezes só depois das dez da noite. Em torno da mesa ou longe dela, os cinco falam apenas grego quando estão sozinhos, apesar de todos dominarem bem o português. Em especial as crianças, que passariam facilmente por brasileirinhos em qualquer lugar, com exceção talvez dos aeroportos, onde um detalhe cultural já causou problemas a eles. É que, em seu país de origem, as mulheres sempre mantêm o sobrenome da família mesmo depois de casadas, por isso a mãe é Pouliou, e os filhos carregam o sobrenome do pai, Takvorian. O chato é dar essas explicações a cada vez que passam
por alfândegas. “Pensam que estou sequestrando eles”, conta Katerina. Tão chato quanto é explicar às pessoas na cidade que o sotaque atípico que demonstram não significa que vieram da Argentina. Chegam até a se dirigir a eles com palavras em espanhol: “Quando falamos grego em uma loja, as pessoas nos dão tchau dizendo ‘gracias’”, relata a pequena Lena. Pior só quando, em uma farmácia, uma atendente que não conseguia distinguir a letra de uma prescrição médica, virou-se inocentemente para Katerina e soltou: “Isso aqui é grego para mim”. Para Katerina, certamente não era.
A PRIMEIRA VEZ Ao entrar atrasado na sala de aula, Natalino Lima Silva foi logo se justificando: “É que, no caminho, molhei a camisola, então tive que voltar para trocá-la por uma camisola seca”. A explicação está no fato de que ele nasceu em São Vicente, uma das ilhas do Cabo Verde, onde camisa é chamada
de camisola. Os amigos que fez ao vir estudar medicina no Rio Grande do Sul há 17 anos, quando tinha 27, também não entenderam ao que, minutos antes de um jogo de futebol, o estrangeiro pediu que alcançassem suas botas. “Que é isso, Natalino, vai jogar de botas?”, admiraram-se. Não ia, só queria suas chuteiras. Se para os europeus e a latina a cozinha brasileira não caiu bem, para este africano a mudança foi a chance de melhorar seus hábitos alimentares. Na terra de Natalino quase não chove, e por isso os vegetais são pouquíssimo frequentes nas mesas. Por outro lado, acostumar-se à carne no lugar do peixe não foi tão confortável. Quando convidado para o seu primeiro churrasco, foi esperando encontrar o que conhecia por aquilo, que seria frango assado no forno, com batatas fritas. Seu espanto ao enxergar os pedaços de carne sendo colocados na brasa foi tamanho que logo decidiu: adiaria o seu primeiro churrasco para outra ocasião. Naquela noite, não teve coragem de comer. Era estranho demais.
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sejava, com o rosto vermelho de raiva e uma certeza na cabeça: era preciso aprender a língua local. Foram necessários apenas dois meses para que conseguisse se virar não com o português mas sim com o “portunhol”, e isso não significa que já tenha domínio total das situações. “Ainda hoje entro na padaria e quando falo ficam me olhando apavorados, daí tenho que repetir mais devagar.” E ela o faz sem se incomodar, ainda mais quando tem a oportunidade de entoar algumas de suas palavras preferidas do nosso idioma, como “rapaz”, “treco” e “troço”. O que Lizzette ainda não conseguiu foi se livrar dos sete quilos que ganhou desde que chegou. Os culpados, acusa, são os doces, com os quais não estava habituada, ao menos na regularidade com a qual nós estamos. Reatar os laços com a balança talvez só não seja mais difícil do que foi abdicar de um cardápio baseado em peixe e salada, e aceitar outro baseado em carne, arroz e, principalmente, o odiado feijão. Lizzette aprendeu a conviver com
NOVOS ARES
naquele outubro de 2008. Formada em administração na Colômbia, a moça de 24 anos chegava à cidade gaúcha para assumir em uma metalúrgica a vaga que conseguira por meio de uma organização internacional de estudantes. Passados cinco meses a mais do tempo que inicialmente previra permanecer por aqui, já se considera “meio colombiana, meio brasileira”. Mas o drama em Guarulhos não foi o primeiro pelo qual passaria na condição de estrangeira, e sequer o último daquela mesma semana. Apenas alguns dias depois de acreditar que morreria de fome no Brasil, uma situação constrangedora a fez pensar que não conseguiria sequer sair de dentro de um ônibus. Quando precisou avisar à cobradora que desceria na esquina seguinte, o fez da forma que sabia: em espanhol. Só não esperava que seria tão difícil se fazer entender ao repetir “necessito bajar” (pronuncia-se “barrar”). Não foi atendida e o que ouviu de volta foi apenas uma gargalhada debochada. Lizzette desceu, mas longe do ponto onde de-
HÁBITOS
HÁBITOS
PEDRO GARCIA REPORTAGEM HENRIQUE SCHERER ILUSTRAÇÃO
“Vou morrer de fome”, pensou Lizzette Garavito, logo após trancarse em um banheiro do Aeroporto de Guarulhos, onde aterrissara há pouco. O pensamento, que a fez chorar em desespero por alguns minutos, tinha um porquê. Eram cinco horas da manhã e ela havia desembarcado de uma viagem longa, que começara em sua cidade natal Barranquilla, no norte da Colômbia, com escala na capital Bogotá. Estava cansada e faminta, mas quando pediu uma xícara de café na praça de alimentação, ninguém a compreendeu. Não sabia uma palavra de português e, ao que parecia, tampouco alguém falava espanhol ou inglês naquele lugar – nem na cafeteria, nem o policial a quem foi pedir socorro. A solução foi correr ao banheiro e tentar se lembrar o que estava fazendo ali. Por sorte, lembrou-se rapidamente. Sua jornada não havia terminado. Ainda enfrentaria um vôo até Porto Alegre e mais um trecho em estrada até Santa Cruz do Sul, onde se instalaria
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Quando o hábito vale um filme
Hábitos escritos nas estrelas ROSIBEL FAGUNDES TEXTO
Que tal relembrar alguns momentos em que o cinema se valeu de costumes bem particulares para contar grandes histórias – em mais de cem anos, não foram poucas.
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de cerejas. Ao menos é o que mostrou o pouco conhecido Terra Sem Pão (1932), de Luís Buñuel. Por outro lado, os gregos parecem ter comida em quantidade suficiente para alimentar famílias numerosas como a apresentada no gozadíssimo Casamento Grego (2002). Enquanto os europeus barulhentos assam carneiro em uma fogueira na frente de casa, americanos comem cheesecake e tomam café na sala de estar, em um silêncio tedioso. Além de bem-humorado, o contraponto é inteligente. Vale a pena. Quando o assunto é guerra, os hábitos tornam-se mais delicados e menos engraçados. Pense em alguém cujo trabalho é desarmar bombas todos os dias (Guerra ao Terror, 2010). Ou então em quem é designado a notificar uma pessoa que seu filho ou marido morreu em conflito na noite anterior (O Mensageiro, 2010). Pense ainda no quanto uma experiência de guerra pode interferir nos hábitos de um sujeito ao regressar para casa (Os Melhores Anos de Nossas Vidas, 1946). Complicado. Nem preciso dizer que filmes de época são prato cheio, cada qual relativo à determinado momento da História, resgatando práticas que se perderam no tempo. Mas o cinema já dá conta das lógicas modernas, e Amor Sem Escalas (2010) é exemplo. O protagonista é um cara que vive a maior parte de sua vida dentro de aviões. Sua rotina baseia-se em vencer a burocracia dos aeroportos, comunicar-se à distância e relacionar-se de maneira superficial, sem apegar-se a nada ou ninguém. Tudo o que é bem “dos nossos tempos”. Tempos esses que, assim como o local onde se está e o contexto que se impõe, dialogam diretamente com os hábitos que se apresentam – como tentei provar com esse breve apanhado de títulos. O bom é que, independente de qualquer coisa, o cinema permanece para (nos fazer) enxergá-los.
Geminianos opinam até mesmo quando não são consultados. Falam inclusive quando estão dormindo. São tão desconfiados, que antes de sair de casa perguntam para todos como está sua roupa.
Sabe aquelas pessoas que têm o hábito de se apegar à recordações? É o caso. Cancerianos guardam tudo, desde papéis de bombom até cartas.
Leoninos têm o hábito de dar ordens. São perfeccionistas e têm mania por limpeza e de organização - para o desespero dos colegas de trabalho.
Virginianos são dotados de hábitos estranhos. Costumam não deixar o chinelo virado e as canetas são organizadas conforme a cor. Ficam nervosos quando alguma coisa está fora do lugar.
Librianos combinam tudo, desde uma roupa até o cardápio do dia. Não saem de casa se a blusa não estiver combinando com a calça e o sapato, por exemplo.
Os escorpianos são misteriosos, possuem o hábito de não falar tudo o que sabem sobre determinado assunto. A ideia é deixar as pessoas mais curiosas.
Capricornianos sentam sempre no mesmo lugar no sofá. Acreditam em crenças e miticismo. Possuem o hábito de guardar coisas velhas como papéis,contas e bilhetes.
Sagitarianos possuem o hábito de dar sugestões e conselhos para os outros. Porém, às vezes acabam ofendendo e magoado. São perfeccionistas e possuem mania de organização.
Aquarianos têm o hábito de comprar coisas diferentes para chamar a atenção, uma calça cheia de bolsos, um sapato colorido, pois acreditam que são pessoas originais.
Pacienciosos, piscianos pensam muito antes de falar e tomar qualquer decisão. São sonhadores. Alguns possuem o hábito de utilizar a música como terapia e não dispensam o rádio até na hora do banho.
Muito além do mural.
ZODÍACO
Crisântemos Tardios (1939) é um filme capaz de marcar por inúmeros aspectos. A mim, marcou principalmente por que ensinou que no Japão se come melancia com sal. Lembro com clareza da cena: ele propõe a ela que comam melancia; após fatiar, ele esfrega os dedos cobertos de sal pela polpa vermelha da fruta, e os dois devoram cheios de vontade aquela estranha combinação. De fato, a mistura é comum e praticada até hoje pelos moradores do país asiático. Esquisito? Só para nós. Boa parte do século e pouco de existência do cinema encontrou razão na singularidade de contextos imaginados ou reconstruídos – e, consequentemente, do que nos interessa aqui, que são hábitos peculiares. No caso, o cardápio agridoce é apenas um detalhe da história. Mas há uma vastíssima filmografia que se debruça justamente sobre o que é comum apenas para uma pequena minoria. Aliás, minoria que pode ser, de fato, restrita, como por exemplo os povos indígenas do extremo norte do planeta, conhecidos como esquimós. É realmente curioso assistir à emblemática cena do documentário Nanook (1922), em que uma família de esquimós canadenses constrói um iglu para, dentro dele, dormirem todos nus e amontoados, debaixo de um grande cobertor improvisado com as próprias vestes. Não sem antes trocarem beijos de boa noite. Em tempo: beijar para eles é sinônimo de esfregar os narizes. Já no norte da Espanha, mais especificamente em uma localidade chamada Las Hurdes, o cenário não é tão simpático de se conferir. Miseráveis, os moradores preservam costumes como usar a mesma água poluída de um riacho para lavar roupas e dar de beber à crianças pequenas. Por se tratar de uma região inóspita para a agricultura, o povo é habituado à períodos regulares de escassez de comida, durante os quais vivem à base
Taurinos possuem o hábito de simplesmente não mudar de hábito. Ou seja, preferem sentar sempre no mesmo lugar à mesa, passar pelo mesmo caminho e não sair de casa antes de ler o jornal.
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PEDRO GARCIA RESENHA CINEMATOGRÁFICA
Arianos têm o hábito de serem sempre os primeiros a se manifestar. São conhecidos também por estarem sempre no “mundo da lua”. “Quem?” e “onde?“ são perguntas frequentes.
HÁBITOS
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AMANDA MENDONÇA ILUSTRAÇÃO
MARIANA PELLEGRINI ILUSTRAÇÕES
Para saber as novidades, recados e oportunidades do Curso de Comunicação Social da UNISC, acesse Comunicar, o blog da coordenação.
comunicacord.blogspot.com
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Frentista não, vendedora de pista O dia de Júlia Santos, 28 anos, inicia cedo: às 6h30, se divide entre as tarefas de casa, o emprego de frentista em um posto de Rio Pardo e as aulas de habilitação. Em breve, ela poderá dirigir carros como aqueles que abastece e calibra os pneus todos os dias, há quatro anos. MARÍLIA NASCIMENTO REPORTAGEM LUCIANA BASTOS FOTOGRAFIA
Segunda-feira, 5 de abril
6h30 Acordo com o celular despertando, é hora de levantar, 6h30 O celular desperta mais um dia. Levanto ainda com preciso acordar minha filha, Kauana, para ir à escola. sono, chamo minha filha e arrumo-a para escola, tomamos café e a coloco na van para ir a aula. 7h Coloco minha filha na van, volto para casa, me arrumo e vou para aula de habilitação. 7h Saio para o posto. Hoje faço outro horário. 10h Já estou de volta em casa, arrumo meus serviços de 7h30 Chego no posto e de cara já vejo um grande movimendona de casa, faço o almoço, tomo um banho e vou to. Há clientes esperando na pista e meus colegas para o posto. estão todos ocupados. Começo abastecendo o caminhão de um amigo, conversamos um pouco, confiro 11h50 Chego no posto onde trabalho há quatro anos. É muito água e óleo. Convenço ele a participar de uma das bom estar aqui, tenho amigos e colegas. Começo a tranossas promoções, faço o cadastro dele online, e lhe balhar. Procuro sempre atender bem os meus clientes, dou uma revista do mês de abril com várias promocom bastante atenção e um sorriso no rosto. Hoje o ções e produtos de pronta entrega. Volto a atender movimento está calmo, ainda mais que estamos sem o outros clientes e também tento convencê-los a parcalibrador. Ele está para ser consertado, mas acho que ticipar das promoções. vai demorar.
14h Chego em casa para um pequeno intervalo. Almo- 9h30 Volto para casa. É hora do intervalo, lavo algumas peças de roupa e já começo a fazer o almoço. Tenho que ço com minha filha, revisamos as tarefas da escola, deixá-lo pronto para o esposo e a filha que chegarão ao olhamos televisão juntas, dou banho nela e volto para meio dia. o trabalho. 11h Tomo um banho e volto ao trabalho. 16h30 Volto ao trabalho a pé. Chegando, dou uma conferida
HÁBITOS
20h Começo a recolher as bacias e mangueiras que usamos para limpar os parabrisas dos clientes. Os extintores também têm que ser guardados na loja. Hoje convenci alguns clientes a fazerem o cartão do posto e assim ganham descontos e prazos para pagar. 22h Fecho o posto. Meu esposo foi me buscar de moto. 22h20 Já estou de banho tomado, janto e lavo a louça. Depois vou para o quarto contar historinhas para a minha filha, ela dorme e eu a levo para o seu quarto. Agora preciso descansar, o dia foi movimentado e amanhã com certeza também será.
17h Saio do posto e vou para uma reunião na escola da minha filha. O assunto tratado foi o plano de alfabetização para primeira e segunda série. Minha filha está na primeira série e está adorando o projeto Alfa e Beta.
10h Chego em casa, tomo um café, lavo umas roupas e ainda tenho que fazer o almoço.
com o posto.
8h Saio para a aula de habilitação, hoje eu tô que tô. Devia ter transferido essa aula.
11h30 Me arrumo e vou para o posto. No caminho encontro uma conhecida e conversamos um pouco. 12h Começo a trabalhar, como de costume, ofereço nossas promoções aos clientes. Uns aceitam facilmente; outros ficam com receio. Mas, mesmo assim, nosso posto tem conseguido boas metas. 13h40 Volto para casa, almoço com a minha filha. Ela não quer desagradar nem a mim e nem a meu esposo, por isso almoça com os dois, duas vezes. 14h30 Reviso as tarefas de aula com a Kauana. Dou um picolé para ela e olhamos um pouco de televisão. 14h40 Saio para ir à igreja. Participo semanalmente das novenas milagrosas da minha igreja. Acho que todos deveriam ter esse momento com o Senhor, adoro estar em sua casa e sentir a presença dele. 16h Volto para a casa, pego algumas coisas e vou para o posto. 16h30 Chego no trabalho e assumo meu caixa. O dia está movimentado, os clientes continuam procurando pelo calibrador que ainda está no conserto. Alguns clientes já se acostumaram com as promoções e chegam pedindo para se cadastrar.
14h Chego em casa e vou almoçar. Quase sempre minha filha almoça de novo comigo. Depois dou uma olhada nos cadernos dela, vejo que tem tema por fazer e já a ajudo.
19h30 Começo a recolher as bacias e mangueiras, faltam algumas horas para fechar o posto.
15h Brinco um pouco com a Kauana, montamos um quebra-cabeça, assim me divirto.
23h Já estou de banho tomado, e também já jantei. A Kauana já está dormindo e eu vou descansar, o dia, como o de costume, foi movimentado.
DIÁRIO
22h Fechamos o posto e eu mais uma vez saio para a minha caminhada de volta para casa. No caminho encontro meu esposo, o Jandro, que veio me buscar de moto. Legal. Vai me poupar uma caminhada, que a essas horas da noite faz uma enorme diferença. Depois de meia hora já estou em casa, jantando, conversamos um pouco. Depois conto algumas histórias para a Kauana, ela dorme. Agora vou descansar também.
Sexta-feira, 9 de abril de 2010
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16h30 Chego no posto e, como o de costume, preciso fazer a conferência dos produtos da loja. Logo começo a atender os clientes. Ainda estamos sem o calibrador. Mesmo assim temos bastante movimento, atendo os clientes e já aproveito para cadastrá-los nas promoções.
6h30 Acordo com o celular despertando. É hora de levantar. Levanto e tomo um banho bem quentinho para me alertar. Acordo minha filha e a arrumo para a escola, logo embarco ela na van.
9h30 Volto para casa, lavo umas peças de roupa, passo a vas19h30 Chego em casa, tomo banho e dou banho na Kauana. Já soura na casa e faço o almoço. começo a fazer a janta. 11h Tomo um banho e saio para o trabalho. Vou a pé. Como 20h Jantamos e logo vamos para o quarto. Conto uma hisa cidade é pequena, faço várias paradas para convertória para a filhota e ela dorme. Aproveito que saí do sar com os conhecidos. trabalho mais cedo para descansar. 11h50 Chego no posto e imediatamente começo a atender os clientes. Nosso posto não tem serviços de lavagem e troca de óleo, mas a calibragem dos pneus é constante, Quinta-feira, 8 de abril fazemos sempre que somos solicitados. 6h30 Acordo com o toque de despertar do celular. Em segui14h Chego em casa para um intervalo, almoço e lavo a louda, chamo a Kauana. Arrumo-a para a escola e embarça. Ainda ajudo a Kauana nas tarefas, e olho um pouco co a menina na van. de televisão com ela. 8h Saio de casa para a minha aula de habilitação. 15h Tomo café com a filhota e logo saio para o trabalho. 10h Chego em casa, tomo um café e já começo a fazer o al16h30 Chego no posto, que hoje está bem movimentado. Logo moço. Dou uma arrumada na casa e saio para o trabacomeço a ajudar meus colegas a atender os clientes. lho. Temos aqui uma maquininha portátil, uma espécie de sistema online, que podemos carregar. É o centro 11h50 Chego no posto. Por enquanto o movimento está calmo. Mas aos poucos os nossos clientes vão chegando, das atenções aqui. Quando não está com um está com e eu procuro atendê-los sempre bem e com um sorriso outro. Usamos para passar cartões e também para cano rosto. dastrar os clientes nas promoções oferecidas. Temos metas a atingir para depois conquistarmos ótimas 13h40 Saio para um pequeno intervalo e vou para casa com premiações. meu irmão, que trabalha no mercado que tem junto
FACES DE JÚLIA
HÁBITOS
DIÁRIO
16h Hora do banho dela, tomamos café juntas e eu preciso voltar para o posto.
nos produtos do posto e começo a atender os clientes. 11h30 Chego no posto e vou conferir os óleos e lubrificantes As promoções que o posto proporciona nos incentivam da loja. Essa conferência é feita toda a vez que trocaa oferecer serviços que vão além do abastecimento. mos o caixa. Começo a abastecer vários carros e motos, muitos deles são clientes passageiros de outras 22h Fechamos o posto. Hoje volto para casa a pé, o Centro cidades, que são bem atendidos na esperança que um está vazio. Chego em casa, tomo um banho e janto. Midia eles voltem aqui. Outros, no entanto, são aqueles nha filha já está dormindo. clientes fiéis, que vêm sempre que precisam de nossos serviços. Terça-feira, 6 de abril
6h30 Acordo e arrumo minha filha para a escola. Hoje é dia de malhar um pouco. Vou numa academia aqui perto de casa mesmo, faço uma hora e meia de musculação.
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Quarta-feira, 7 de abril
22h Fecho o posto. Vou para casa a pé.
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Hábitos estranhamente comuns VANESSA KANNENBERG REPORTAGEM MARIANA PELLEGRINI ILUSTRAÇÕES
Escovar os dentes andando
a para ir e d a l e g a Abrir
pensar
au m e n t a d o o que fez
Contar casos
usado de volt o a na ca r o f s ó f ixa r a Guard
o Cantar músicas bregas no chuveir