JORNAL EXPERIMENTAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNISC - SANTA CRUZ DO SUL VOLUME 34 - N° 2 - JULHO/2017
EDITORIAL
O LADO SORTIDO DO UNICOM Depois de algumas semanas de muita correria e trabalho nasce o segundo Unicom do semestre. Alertamos que você leitor, vai se apaixonar pelas reportagens. Elas são narrativas do cotidiano, de pessoas assim como nós, que lutam e batalham diariamente por uma vida melhor, por uma música excelente, o lazer, e para que os dias de outros seres humanos sejam de mais felicidade. E a busca por esse objetivo nos levam aos mais sortidos caminhos. São histórias que encontramos aqui, em Santa Cruz do Sul, e em outras cidades. Momentos que as vezes passam despercebido aos nossos olhos, mas que são mais que reais, são inspiradores. É caso da matéria A arte que eleva vidas, que fala sobre as pessoas que vivem especificamente da sua arte, como a música e malabares. Os relatos irão surpreender o leitor. Essa edição continua com a interdisciplinaridade, pois os alunos de Produção em Mídia Impressa, onde o Unicom é propriamente realizado, e responsáveis pela elaboração de conteúdo do jornal, uniram-se novamente à turma de Editoração em Jornalismo, responsáveis pelo planejamento visual.
Uma boa leitura a todos. Os editores. 2
EXPEDIENTE Demétrio de Azeredo Soster
Fabrine Kesseler
Subeditora e repórter
Subeditora multimídia e repórter
Gabriel Girardon
Letícia Matarazzo
Mariana Amorim
Natália Lau Coimbra
Nathiele Droese
Professor e editor Chefe
Repórter
Monique Rodrigues
Editora de fotografia e Repórter
Repórter
Editora multimídia e repórter
Francelli Castro
Repórter
Editora e repórter
Turma de Produção em Mídia Impressa, ministrada pelo professor Demétrio de Azeredo Soster. Vitória C. Rocho
Repórter
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Av. Independência, 2293 – Bairro Universitário Santa Cruz do Sul – CEP 96815-900
Volume 34 – nº 2 - Junho/2017 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
Curso de Comunicação Social – Jornalismo Bloco 16 Sala 1612 Telefone: 3717-7383 Coordenador do Curso: Hélio Afonso Etges
Este jornal foi produzido em parceria entre as disciplinas de Produção em Mídia Impressa e Editoração Eletrônica em Jornalismo.
Impressão Gráfica Grafocem Tiragem 500 exemplares Redação, produção e edição Turma de Produção em Mídia Impressa, ministrada pelo professor Demétrio de Azeredo Soster Ilustração e capa Núcleo de Arte e Cultura Unisc - Fotografia Nathiele Droese e Demétrio de Azeredo Soster - Conceito Vitória C. Rocho - Conceito/Editoração
ERRATA Erramos Por um lapso, publicamos a frase abaixo sem referenciar o texto que lhe inspirou. O texto original pertence a Adriana Valéria da Silva Freitas e Ceci Vilar Noronha, publicado no artigo Idosos em instituições de longa permanência: falando de cuidado. “É preciso refletir sobre tais instituições. Essas casas são lugares ricos para se observar a maneira de viver a velhice, onde são encontradas inúmeras histórias sobre o conceito de ser idoso.” Tal frase encontra-se na reportagem A casa que ninguém vê, mas se faz necessária na página 7 do jornal Unicom Alteridade: espaço que o outro ocupa no mundo em que vivemos. Pedimos desculpas pelo erro.
Diagramação Turma de Editoração Eletrônica em Jornalismo, ministrada pelo professor Willian Fernandes Araújo.
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Diagramação Turma de Editoração Eletrônica em Jornalismo, ministrada pelo professor Willian Fernandes Araújo
Thales Augusto Hohl
Chefe de diagramação
Sub-chefe de diagramação
Antonio Carlos dos Santos Madeira
Caelen Correa Vargas
Fernanda Pinheiro Souto Oliveira
Gabriel Rodrigues da Silva
Germano Augusto Seidel Piedade
Isadora Beck Schuck
Josué Leôncio Posselt
Leonardo de Paula Pereira
Rosana Wessling
Julia Agostine Abich
Lucas Nunes dos Santos
Kelvin Alves Azzi
Milena Konzen
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Foto: Divulgação
Vitória C. Rocho
Ficção que conscientiza
Narrativas em série
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s seriados são de grande popularidade no universo das mídias digitais, porém a arte da narrativa ficcional se originou muito antes disso, ainda do mito e da lenda, dos quais nasceu o teatro em rituais e celebração aos deuses. Em seguida, surgiu o conto popular que consolidou o campo da ficção ainda que tivesse conotação religiosa. Tais formas de relato passaram a ser registradas em forma escrita, concretizando a ideia da narrativa literária. A partir desse ponto, destaca-se o folhetim, gênero que deu origem à narrativa ficcional seriada, que conquistava o interesse do público pelos próximos capítulos ao interromper história no clímax. Neste ponto, a utilização acentuada do bem e do mal era comum e causava o apego emocional e fidelização do público. Este formato se manteve durante os adventos do rádio, da TV e, mas recentemente, da internet. A narrativa ficcional seriada se desenvolveu, adaptando-se para as mídias das novas gerações e este novo cenário aproveitou as vantagens das mídias digitais para enriquecer a experiência da
serialização e imersão fantasiosa. Mas afinal, por que assistimos seriados? Obviamente, a indústria cultural nos cerca com o produto visando o lucro sobre o material midiá tico. Porém, a ficção é um discurso e já que somos moldados a partir do que vemos e ouvimos dentro do nosso cotidiano, as séries também nos influenciam a partir dos textos, imagens e efeitos sonoros presentes nas estruturas narrativas instigantes. Acabamos por crescer com referências de uma cultura na qual a inteligência supera a força e digitais podem ser retiras do ar, mas toda essa ficção aguçou nossa mentalidade. De repente monstros e ciência forense já não eram mais o suficiente e voltamos nosso olhar para a sociedade novamente. Percebemos um mundo estranho, que dá um passo para frente e dois para trás, acompanhamos presidentes caindo e outros sendo eleitos, guerras contra países e contra o machismo, vimos pessoas tomarem um lado e acabamos sendo obrigados a fazer o mesmo e, então, a sociedade passou a ser interessante mais uma vez.
Há uma simulação da vida, uma compreensão da nossa realidade a partir da qual é construído um mundo próprio para a história, com suas regras e limitações Porém, os seriados não foram deixados de lado, pelo contrário. Com elementos que nos seduzem as séries nos passam uma visão da realidade e seus produtores já tomaram essa consciência. As séries evoluíram juntamente com o cenário mundial e vimos nascerem séries sobre política, como House of Cards, séries sobre comunicação e jornalismo, como News Room, e acompanhamos o nascimento de
dezenas de séries que possuíam enredos centrais e secundários com o objetivo de fazer o público conhecer e refletir sobre as mais diversas causas – feminismo, racismo, comunidade LGBT, apropriação cultural, alienação tecnológica e por aí vai. Há uma simulação da vida, uma compreensão da nossa realidade a partir da qual é construído um mundo próprio para a história, com suas regras e limitações, e que podemos explorar a partir de nossos notebooks. Isso se chama representação e é o que faz com que nos apeguemos a essas produções e nos possibilita aprender com elas. Representar algo normalmente se apoia em um conjunto estético que criar um universo crível e no qual possamos nos espelhar, dessa forma, tudo o que se passa nesse cosmo inventado acaba por nos tocar mais intimamente. Essa estrutura permite acesso a uma verdade sensível e nos envolvemos nas histórias e com os personagens, acabamos por ter sentimentos reais por algo ficcional. Investimos passionalmente e é por isso que os seriados possuem uma importância social tão grande. Deixamos que as produções televisivas se tornassem exemplos para nós, modelos de vida e de sociedade, e elas acabaram por se tornar nossas professoras. Passando conhecimento, instigando a reflexão, despertando traços de revolta e passando uma sabedoria estranhamente atual e necessária. Uma educação muito mais sensível do que pedagógica. Penny Dreadful, por exemplo, nos ensina o que é a morte. Devemos temê-la ou aceitá-la? Até onde a ciência ou a religião podem interferir ou explicar? Já Supernatural nos apresentou um mundo polarizado entre o bem o mal e se desenvolveu mostrando que esses parâmetros nem sempre estão corretos e que enfrentamos o mundo cada um a sua maneira. Em Skins há um bando de adolescentes perdidos que tentam ter bons momentos em suas vidas regulares enquanto pensam em uma saída para um futuro próspero e independente, dilema este bastante similar com a realidade da juventude de qualquer tempo. Orphan Black indaga o corpo humano e a complexidade de apenas existirmos. Até que ponto a medicina tem direito de discutir o que é certo ou errado para um indivíduo e até que ponto somos propriedades de outros? O leque de personagens de riqueza étnica, sexual e de gênero que Sense8 traz é fantástico.
O que dizer de uma personagem negra e dreadlocks roxos com três pais e uma mãe? E, por fim, e talvez o exemplo mais claro dessa lista: Black Mirror, que dá um soco no estomago em cada episódio com futuros utópicos e desconcertantes que estão assustadoramente próximos de nós e nossa alienação tecnologica.
Deixamos que as produções televisivas se tornassem exemplos para nós, modelos de vida e de sociedade, e elas acabaram por se tornar nossas professoras. Passando conhecimento, instigando a reflexão, despertando traços de revolta e passando uma sabedoria estranhamente atual e necessária.
A partir de seriados cada vez mais interativos, com múltiplos caminhos e linhas narrativas, é possível perceber visões de mundo diferentes que acabam por nos fazer ver e pensar de maneiras mais ampla e atenta. Cada discussão presente nas produções não possui o objetivo de ensinar, mas são exemplos e causam reações. Por isso a representatividade nas séries é importante, pois sem isso precisaríamos sofrer todas as dores do mundo para saber como é sentilas e combate-las.
Fotos: Divulgação
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Foto: Arquivo Pessoal (Antônio Silva)
Lê Matarazzo
Quando a vida imita a arte
No embalo dos covers musicais
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egundo o dicionário informal, 'cover' significa aquele que tem semelhança com alguém ou a cópia de alguma forma. Diz-se do indivíduo que é ou se faz sósia de alguém, geralmente para alguma atividade profissional. Pra se ter uma ideia do que é cover, podemos utilizar o programa Domingão do Faustão, que em dezembro de 2016 apresentou para seus telespectadores o quadro “ Os imitadores”. A cada domingo, três grandes estrelas da música são interpretadas por candidatos de todo o país. A atração tem chamado a atenção do público, tanto pela semelhança na voz dos candidatos quanto na caracterização deles. O filosofo Alemão Friedrich Nietzsche costumava dizer: “toda a arte e toda a filosofia podem ser consideradas como remédios da vida”. E nessa mesma onda de arte podemos nos deleitar com a gaúcha Kelly Carvalho, que percebeu que poderia ser mais que uma ouvinte da cantora Amy Winehouse. Com 18 anos Kelly cantava em um coral chamado Vocal em cena. Além de possuir características físicas
muito similares ás de Amy, era quando ela soltava o gogó que surpreendia mais ainda quem a assistia. O reflexo de Kelly no espelho atingia agora um público que se via um tanto quanto perplexo com a semelhança entre as duas. Além do figurino, do típico cabelão preto ostentado por um vantajoso topete, até a maneira que Kelly movimentava o seu corpo lembrava a cantora britânica. Amy fazia parte da identidade de Kelly. Em maio de 2015 a banda Mr Soul nascia e no mês de setembro dava seus primeiros passos neste universo musical. Desde então, o grupo já tocou em 18 casas noturnas do Rio Grande do Sul, sem falar que Kelly também participou de um programa no canal SBT justamente por ser muito parecida com Amy. Kelly destaca que ser cover de alguém é como passar a viver um pouco da vida do artista. É absorver, todo o seu legado, e não se limitar somente as performances, é de certa forma retratar nos gestos, na voz, um pouco do sentimento que Amy transpassava para o seu público. Com 29 anos, Kelly não vive só com a
música, ela é monitora em uma rede municipal da cidade de Estrela.
Toda arte e toda filosofia podem ser consideradas como remédios da vida
Entretanto, não classifica o seu trabalho de sósia como um hobby, até por que todo mundo que é fã se identifica com o que ela diz: “Amy faz parte dos meus dias, seja pela sua musicalidade ou pela sua essência. Doo o meu tempo a este “trabalho” com o maior prazer do mundo. ” Para este ano, a Mr Soul está se remontando para fazer apresentações em teatros. A ideia é mostrar a história dos álbuns de Amy, sendo o primeiro álbum “Frank”, após “Back to Black” e por fim “Lioness”. Esta repaginada que a banda trás, promete emocionar ainda mais seus expectadores. E neste clima de nostalgia, surge a banda
Foto: Arquivo Pessoal (Kelly Carvalho)
Bleach Nirvana Cover. Assim como Amy, o líder do Nirvana saiu de cena de maneira prematura. Em 8 de abril de 1994, Kurt foi encontrado sem vida em sua casa em Seattle. Há 18 anos atrás, em Porto Alegre no Rio Grande do Sul, Antônio Silva e alguns amigos iniciaram um projeto de banda Cover do Nirvana. Chamada de Blew, nos primórdios da carreira, hoje é Bleach. Composta por Antônio Silva que é vocalista e guitarrista; Paulo Guimarães como baixista e Christ Oliveira na batera e backing vocal. Para Antonio, a oportunidade de ser um cover é a realização de um sonho; O dele, que sempre foi ser músico. Com o incentivo de um colega, ele aprendeu a tocar guitarra, e como bom tiete que foi do Nirvana, aprofundou- se no contexto geral trazido até então pelos músicos. O processo para encarnar esta banda, tão característica por suas letras intensas, foi muito além dos famosos “vestidos com sutiãs” usado pelo vocalista em suas apresentações, eles precisaram se dedicar a um trabalho de composição muito grande. Antonio ressalta que até os erros propositais que Cobain fazia ao vivo, tornava o Nirvana tão diferente em relação às outras bandas da época; eles eram sempre únicos. O conceito de cover supera qualquer definição que o dicionário sugere. A Bleach nos apresenta um novo paradigma: “ Com essa atividade de reviver o Nirvana fica também a nossa homenagem pelo que a banda significou e nos trouxe ao que somos e fazemos hoje.
A Bleach já percorreu as principais casas de shows da capital, em diversas cidades do interior do Sul, assim como cidades de Santa Catarina. Os maiores shows da banda contam com públicos de até duas mil pessoas, tendo não somente público "surpresa" como também o público fiel, já cativo pelo grupo. Seguindo as inf luências sonoras do Nirvana, assim como a personificação de seu ídolo, a Bleach está quase comemorando o seu 18º aniversário. E com a maioridade conquistada a única previsão que os seus componentes tem é de fazer o máximo de shows possíveis e continuar empolgando os seus admiradores. E Santa Cruz do Sul, cidade tão conhecida pela sua tradicional Oktoberfest, não fica de fora deste cenário. Em dezembro geralmente acontece o “Dia Beatle”. Este evento é marcado por apresentações de bandas covers em tributo aos Beatles. Sem fechar aspas, o mundo dos Covers não se estende somente a bandas que terminaram por algum motivo, mas também aquelas que ainda estão na ativa. São esses covers que nos permitem um tele transporte, tanto faz a época, o fato é que ora trilham saudade, ora novidade.
Foto: Arquivo Pessoal (Kelly Carvalho)
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Foto: Monique Rodrigues
Monique Rodrigues
Ritmo e poesia na pista
Jovens de diversas classes sociais deixam as diferenças de lado e reúnem-se em prol do rap
O
movimento Hip Hop vem tomando conta da sossegada Santa Cruz do Sul. Isso por que, na calada da noite, em pelo menos um sábado a cada mês, acontece a Batalha da Pista. Unidos pelo gosto musical em comum, jovens fazem da pista de skate um palco para demonstrações artísticas. Com menos de seis meses de atividades, o evento dedicado às rimas reúne em média 400 jovens. Todos a postos para o duelo. E suas armas são apenas suas vozes, pois essa batalha é de rap. É sábado, 21hs da noite e a Praça Deputado Siegfried Heuser, mais conhecida como Praça da Estação Férrea, está abarrotada. Talvez algum desavisado que caminhe por ali se assuste com a quantidade de gente presente. Afinal, de acordo com o dia e o horário, seria mais natural que aquela multidão ocupasse as diversas casas noturnas da cidade. Entretanto, o que agrada esses jovens é a liberdade encontrada na rua e fazer dela palco para arte. As disputas funcionam de forma simples. Basta fazer a inscrição, que é
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gratuita, pouco antes do início das atividades. Após o sorteio, cada um sabe o seu oponente. Por ser uma batalha de Rap e as rimas serem improvisadas, vale quase tudo. As únicas coisas expressamente proibidas são ofensas e preconceito. De resto, basta apenas soltar a voz. Enquanto uns cantam, outros dançam. A única regra é se divertir. O estudante de Relações Públicas da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) Pedro Santos resolveu unir o conhecimento adquirido em sala de aula com seu amor pela Cultura Hip Hop. Santos sentiu a necessidade de organizar eventos - uma das habilidades de sua futura profissão, que proporcionassem a aproximação de todas as culturas de rua. No início, ele idealizou junto com o grupo União de Rua, pertencente ao coletivo Ateliê Vivencias Urbanas (AVU), a Batalha da Pista. Hoje em dia, a organização fica a cargo de Santos, Lucas de Deus e mais cinco amigos, que dão continuidade a essas disputas.
Batalhas essas que, segundo Santos, vem trazendo mais adeptos ao rap e ao mesmo tempo conectando pessoas de diversas localidades. Como, por exemplo, Rappers de São Leopoldo e até da capital paulista já visitaram Santa Cruz do Sul e participaram do evento.
O que agrada esses jovens é a liberdade encontrada na rua e fazer dela palco para arte
Santos orgulha-se de expressar o que já vivenciou com essas batalhas. Como ele mesmo conta, há um misto de classes sociais na pista o que proporciona uma interação com diferentes vivências. Isso tudo além de toda a experiência adquirida, tanto por eles quanto
pelos rappers. Todo evento é feito com captação de patrocínio. Desde as caixas de som até os prêmios são frutos de apoio de alguns lojistas que gostaram da ideia e resolveram de alguma forma apoiar. “Essa transformação do coletivo eu acho que é a principal história legal. É uma coisa de mexe com todos os nichos e de fato une as pessoas. Isso é demais!
Mulheres nas rimas
Em sua grande maioria, o movimento Hip Hop é composto por homens, mas não somente por eles. Há diversas mulheres que participam das batalhas, como é o caso de Lisyane de Souza, também estudante de Relações Públicas e da colunista Sara Rohde. Juntas, elas integram um grupo de rap feminista, as Predominas. As letras, em sua maioria, são de protesto, resistência e revolução. Presenças confirmada nas batalhas, as duas servem de inspiração para outras mulheres e representam o rap de Santa Cruz do Sul em diversos festivais pelo estado. O grupo Predominas vem desde 2008 conquistando espaço na cena Hip Hop. Ao longo desses anos, elas já gravaram diversos videoclipes e estão prestes a lançar o seu primeiro C.D. E o grupo está aumentando. Segundo Lisyane a ideia é convidar mais mulheres para integrarem o grupo e com isso dar vez e voz para mais pessoas que também clamam por mudanças. “Já passei por muitas fases difíceis e o rap me sustentou como pessoa, me fez e
faz evoluir, é a minha fortaleza, a minha energia vital de transformação onde eu vivo, respiro e transbordo, sou completamente apaixonada pelo Hip-Hop”, pondera Lisyane. Para participar das batalhas é muito simples. Basta acompanhar os eventos presentes nas redes sociais ou encaminhar uma mensagem diretamente no perfil de um dos organizadores. Atualmente há venda de bebidas e lanches para o público que assiste o evento, o que acabou resultando em fonte de renda para alguns. Nas batalhas não há distinção de cor, sexo nem religião e há lugar para todos.
O que pensam os frequentadores: Bianca Soares, estudante “As batalhas unem todas as pessoas que curtem o movimento, independente do estilo, todas se misturam e ficam na mesma vibe. Me sinto muito a vontade e sei que essas batalhas vieram para ficar. ”
Sara Rohde, colunista e rapper
"Eu estou no movimento há muito tempo, hoje faço parte do Predominas e da Banca 51 e também estou desenvolvendo meu trabalho solo. O Rap em Santa Cruz sempre foi forte... sempre teve movimento. Antigamente ainda havia muito preconceito em cima, hoje já vejo mais portas abertas. E com esse evento da pista vejo muitas pessoas, muitos
jovens, cada vez mais participando. Nesse evento da pista vi pais, crianças, adultos e jovens, todos curtindo. As pessoas envolvidas percebem que é um evento bonito, forte e só atrai cultura a todos."
Sérgio Felício, professor de dança
"Acho muito interessante esse movimento de empoderamento da cultura urbana para Santa Cruz do Sul. Essas batalhas vão aumentar cada vez mais os adeptos ao movimento. Eu danço profissionalmente há cerca de oito anos, tanto dança clássica, quanto street dance, vivo disso. E me sinto muito feliz em ver o movimento cada vez mais forte."
Júlia Vargas, estudante
"Curto Rap desde que morei em São Paulo, há três anos. Aqui está aumentando espaço para mulheres fazerem rap e esses eventos assim estão dando vez e fazendo as pessoas refletirem e pensarem no próximo. Temos que ver além do nosso umbigo e rap é isso, é aproximação."
Lucas de Deus Gonçalves, estudante e organizador da Batalha da Pista
"Eu acredito que a Batalha da Pista está unindo as pessoas. Elas vão realmente para o movimento. Seja dançando, cantando ou assistindo, quem vai até lá pode interagir e fazer mais amizades. Ver o evento assim, tão lindo é a realização de um sonho."
Foto: Zé Corrêa
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Foto: Francelli Castro
Francelli Castro
A arte que eleva vidas
Artistas não medem esforços para superar desafios
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ito horas diárias, ou 40 horas semanais. Um trabalho fixo, um salário que é o mesmo há anos, mas que de quando em vez sobe, mas não é sempre. Ter aquela satisfação profissional, que acaba em frustração, em alguns casos, em outros em querer aproveitar a vida após a aposentadoria, e, às vezes, nem conseguir. Opa, mas essa não é a vida dos nossos personagens. Eles fazem seus horários, trabalham com que gostam, e principalmente, unem prazer e trabalho ao mesmo tempo. Eles são músicos e artistas de rua. Killy Freitas, músico e compositor, diz que sua vida sempre foi a música, seus pais, desde a infância, o incentivaram, até por que assim como ele mesmo diz, “não fui eu que escolhi a música, foi a música que me escolheu”. A veia musical esteve sempre presente, e com o passar dos anos, assumi a música como profissão. Muitas questões são postas em jogo, um diploma ou seguir carreira, mas sempre a música falou mais alto. “Eu fiz vestibular para economia, algo nada
a ver comigo, mas não segui carreira, tentei outras coisas, mas não deu certo, voltei para a música”, brinca. Apesar de ter tentado cursar a faculdade, Killy conta que gostaria de experimentar outras carreiras, e desenvolver outras habilidades, uma outra linguagem que não seja a artística. “Gastronomia é uma profissão que eu admiro bastante, assim como quem trabalha com construção civil, o que não deixa de ser um tipo de arte”, brinca. Como qualquer profissão, principalmente, ao chegar na vida adulta, há sempre aquela história de “como vou sobreviver, sustentar minha família”, como saber agir, principalmente morando em uma cidade pequena do interior do estado como Santa Cruz do Sul, e viver de música. “É um desafio enorme, pois ainda aqui existe algumas dificuldades, mas eu consegui me estabelecer vivendo de música, nunca precisei sair da minha cidade, fiz aventuras, fui para Europa levar meu trabalho, e também países da América Latina, onde me doei por completo no
meu trabalho”, relembra Killy. Há mais de 20 anos, Killy dá aulas de música, toca em bares, festas, faz show, não só na cidade natal, mas em algumas cidades do Estado, sempre vivendo da música, levando ela não só como estilo de vida, mas fazendo da música sua vida.
A arte me proporciona muitas coisas, conhecer pessoas nas cidades que frequento
O que não é diferente para o também músico Guinther Bender, que há mais de 30 anos, toca na banda Viúva Negra, e falar um pouco das dificuldades que atualmente vem acontecendo em relação ao estilo de música “rock”, na cidade de
Santa Cruz. “Infelizmente, é um estilo de música que dentro da nossa cidade vai perdendo um pouco espaço, com esses novos estilos, funk, sertanejo universitário, que vem surgindo no mercado”, comenta. Mas que sempre se dá um jeito. Mesmo com esses novos estilos, ele e a banda, sempre estiveram entre as mais pedidas, não só em barzinhos na cidade, quando é apresentação solo, mas em muitos casamentos, festas, quando a banda é chamada, ela se adequa ao mercado música, sem perder suas origens, que vem desde Roberto Carlos a Guns n’ Roses. “A música em si, ficou mais pop, principalmente com o novo estilo de comercialização dela, por aplicativos, não se compra mais CD’s como antigamente”, brinca. E para quem está começando a vida na música em especial, a dica que tanto o Guinther como Killy, que tocam juntos na Viuva Negra, é, persistir, não importando o seguimento que a pessoa escolhe, o importante é estar sempre inovando.
O sustento que vem das ruas
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nem só de música vive o artista, não é mesmo? Existem no mundo diversos tipos de artes, e uma delas é os malabaristas. Juba, que é natural de Porto Alegre, mostra sua arte nas esquinas das ruas Marechal Floriano e Senador Pinheiro Machado, e está a alguns meses em Santa Cruz, e vê que durante este período, em nenhum momento as pessoas o viram de forma distorcida. “Aqui eu tenho uma boa receptividade, as pessoas aceitam bem, nunca ninguém me olhou atravessado, “rola” mais preconceito com o pessoal de fora, chileno, argentino”, contou. Cinco anos trabalhando com malabares é um tanto que “perigoso”, pois ele utiliza eles com uma tocha de fogo, Juba fala, que desde que começou, sempre priorizou a sua segurança, pois sabe que
brincar com fogo não se deve (crianças não façam isso em casa), e é dessa forma que ele sustenta a família, que aumentou a uns meses, e o bebê sempre o acompanha no colo da mãe que é artesã. Sendo a arte de rua, seu único ganhapão, juba conta que sabendo organizar se vive tranquilamente. “A arte me proporciona muitas coisas, conhecer pessoas, nas cidades que frequento, tiro um bom dinheiro não só nos malabares com tochas, pois isso chama atenção dos motoristas e sempre contribuem, e também faço tatuagens, pulseiras, anéis artesanais, dá para viver bem, é só sabe controlar os gastos”, brincou. Como viaja bastante, e fica durante meses na mesma cidade, sempre que volta para algumas delas, as amizades acolhem ele e a família. Esse é um bom exemplo de que viver de arte dá certo.
Foto: Francelli Castro
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Foto: Núcleo de Arte e Cultura da UNISC
Nathiele Droese
Os acordes acima dos números
Manter uma orquestra em períodos de crise econômica é um desafio diário para músicos e maestros
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omo disse Ludwig van Beethoven, milhares de pessoas cultivam a música; poucas, porém têm a revelação dessa grande arte. Essa é uma das frases que com certeza muitos músicos levam no seu dia a dia. Conforme o site significados.com.br, a música clássica tem como finalidade a diversidade da instrumentação. Por ser representada sob a forma de ópera, sinfonia e/ou outros tipos de segmentos musicais, é classificada como gênero erudito. No Rio Grande do Sul, há pelo menos nove orquestras espalhadas pelo estado, como também há ainda grupos em formação, variando entre seus três polos principais, Orquestra de Câmara, Filarmônica, Sinfônica. Porém, como todo brasileiro sabe e sofre com a crise econômica que se alastra pelo país, as orquestras do estado não ficam de fora desse problema, pois precisam buscar por meio de novos recursos a manutenção e funcionamento de suas atividades. De acordo com o site Brasil de Fato, sofremos por dois anos consecutivos de queda acentuada no Produto Interno Bruto (PIB),
no ano de 2015, houve 3,8% de queda e, em 2016, as projeções indicam algo em torno de 3,5%. Já para 2017, as expectativas giram em torno de seu crescimento mínimo de 0,5%, situação de imobilidade econômica. Segundo o maestro da Orquestra de Câmara da Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc), Leandro Schaefer, de 37 anos, regendo há 16 anos, ministrar uma orquestra neste período conturbado, exige muita responsabilidade, entrega total à música, companheirismo, amizades, estudo e trabalho, muito trabalho. “A música me mantém vivo, feliz, animado. É o meu propósito de vida. No entanto, é um desafio manter uma orquestra. O caminho deve ser a pluralidade de meios de captação de recursos para que a crise afete o mínimo possível”, enfatiza Leandro. Schaefer ainda ref lete sobre as orquestras que acabam “fechando as portas” por conta da falta de estabilização financeira. “Penso que é muito triste para todos. Para os músicos, para o público; é uma grande perda de qualidade de vida das pessoas. É eliminar
a possibilidade de reproduzir o que o ser humano tem de mais belo: a sua arte”. Leandro ainda frisa que é um grande desafio manter uma orquestra, mas antes de fechá-la, deve-se esgotar todas as possibilidades e tentativas de mantê-la ativa.
"A música me mantém vivo, feliz, animado. É meu propósito de vida" Leandro Schaefer
Para o maestro da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre, a Ospa, onde trabalha desde 2015, Evandro Matté, de 47 anos, administrar uma orquestra é um trabalho complexo que envolve a elaboração da temporada artística, de seus repertórios, dos maestros e solistas convidados, além da gestão mais geral, na qual, busca-se soluções como,
por exemplo, os espaços apropriados de apresentação e ensaios. “Por isso, diante da crise do país, procuramos novas formas de preservar a orquestra, que caminha para seus 67 anos de atuação, sendo a mais antiga do país em atividades ininterruptas”, ressalta Matté. Evandro enfatiza que a Fundação Ospa considera lamentável que orquestras brasileiras fechem as portas, pois, afinal, trata-se de uma perda para o patrimônio cultural de nosso país. A educação e a cultura andam de mãos dadas, portanto, a sociedade perde como um todo. Para o maestro com trabalho, criatividade e vontade política é possível renovar o interesse pela música e promover a cidadania através da arte. Contudo, este contratempo financeiro não atinge somente aos maestros que tentam de todas as maneiras renovar a esperança e os fundos para a orquestra, mas também aos músicos integrantes da mesma. Na visão de David Barros Garcia, de 32 anos, músico há 20 anos, administrar uma orquestra é muito fácil, basta boa vontade e querer fazer acontecer, no entanto, se quiserem uma orquestra para gerar lucro, será impossível, pois, essa é a maior dificuldade, muitos não
pensam na cultura e sim no lucro que irão adquirir através da arte. “ É um retrocesso fechar as orquestras, pois os pilares da formação do ser humano é a educação e a cultura”, realça David. Jamille Padoin, de 29 anos, e musicista desde os 8 anos de idade, acompanha nos últimos meses, a situação complicada que algumas orquestras do estado passaram e passam, por conta da situação financeira, algumas delas até acabaram por fechar as portas. A musicista considera isto um desserviço tanto para os profissionais quanto para a comunidade o encerramento das atividades. “Os recursos são difíceis sim de se conseguir e manter, porém, vê-se o esforço que a Unisc e tantas outras instituições tem feito para que a música de qualidade e a arte permaneçam presentes e vivas na comunidade”, conclui Padoin. A desestabilização financeira não é um problema isolado do nosso estado para a arte. Recentemente vimos algumas reportagens em vários portais de notícias, relatando o drama que os músicos da Orquestra Sinfônica Brasileira (OSB) estão enfrentando. Sem receber salários por aproximadamente sete meses os integrantes organizaram
concertos para arrecadar fundos, sendo que, a orquestra corre o risco de fechar
É um grande desafio manter uma orquestra, mas antes de fechá-la, deve-se esgotar todas as possibilidades.
pela falta de patrocinadores e a perda de apoio do Governo Federal. Qualquer setor sofrerá com a crise econômica do nosso país. Entretanto, é preciso buscar novos recursos, para que de alguma forma possam se resgatar meios para sustentar sua arte e seu propósito.
Ospa vê que com trabalho, criatividade e dedicação política é possível promover a cidadania através da arte Foto: Mariana Serena
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Foto: Pexels
Fabrine Kesseler
Doença que chega sem hora marcada
Estimativas indicam que existam cerca de 65 mil pessoas com Lúpus no Brasil; a maioria delas são mulheres
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ocê já ouviu algo sobre o Lúpus? Se a resposta for sim, provavelmente, deve ter recebido apenas a seguinte explicação: “É uma doença autoimune”. O que nem todos sabem é que o Lúpus pode ocorrer em pessoas de qualquer idade, raça e sexo, porém as mulheres são muito mais acometidas, principalmente entre 20 e 45 anos. Então, gostaria de ir um pouco mais a fundo na definição dessa doença que é tão pouco conhecida pela sociedade e que merece um destaque devido sua complexidade. Há 21 anos, a vida de Évelin Janner tomou novos rumos quando foi diagnosticada com “Lúpus Eritematoso Sistêmico”, uma doença que não tem cura e que pode afetar órgãos e células sanguíneas. Foi aos 6 anos de idade que a doença começou a se manifestar. Após seus pais perceberem a presença de manchas roxas em seu corpo, foi realizado um hemograma (exame que efetua a contagem dos elementos do sangue) e o resultado mostrou que Évelin estava com apenas duas mil plaquetas, ou seja, quase morrendo. Quando os valores se
encontram abaixo das 10.000 plaquetas/uL há risco de morte, pois pode ocorrer sangramentos espontâneos. A menina loira, com olhos vibrantes e sorriso encantador nasceu em Cachoeira do Sul. Foi na cidade natal que começou a ganhar diversos concursos de beleza. O futuro promissor nas passarelas encerrou cedo; não devido à doença, mas por descobrir que estava grávida, aos 16 anos. Iniciou-se uma nova etapa da sua vida. Não foi difícil pela idade, mas pelas inúmeras complicações que a doença poderia causar durante a gestação. Os remédios tinham que ser tomados corretamente, caso contrário poderiam causar má formação no feto. “A gravidez foi na fé”, enfatiza Évelin, pois os cuidados deveriam ser redobrados. É importante destacar que mulheres portadoras do Lúpus podem engravidar, mas é aconselhável que a doença esteja controlada, justamente devido ao número de remédios utilizados durante o tratamento. Hoje, com 27 anos, Évelin já enfrentou diversas complicações causadas pela
doença, entre elas derrame Pleural (acúmulo excessivo de líquido no espaço criado entre o pulmão e a membrana externa que o cobre), inflamações em diversos órgãos, anemias graves, artrite, arritmias, infecções, trombose e transfusões. As internações quase que mensais, tornaram-se pequenas perto de tudo que sofreu devido a doença.
O tratamento do Lúpus é feito com uso de diversos medicamentos que ajudam a diminuir as crises
A moça, que desde cedo era extremamente vaidosa, em um dos momentos mais difíceis teve que entender que a vida é muito mais do que a beleza física. Quando perdeu todo seu cabelo, passou
a dar mais valor para as pequenas coisas da vida. “Quando passamos por algo assim, temos uma força incomum, talvez na hora nem percebemos o tamanho”, diz Évelin. Ir para a praia com a família ou amigos também se tornou um desafio, pois ninguém com Lúpus pode tomar sol.
A maior dificuldade em enfrentar essa doença, que por exigir medicações fortíssimas, muitas vezes alteram a imagem no espelho. Além disso, faz com que as pessoas portadoras de Lúpus sofram preconceito, pela aparência que apresentam. Às vezes acima do peso,
outras vezes muito abaixo do ideal. As mudanças na forma física geralmente são causadas pelos remédios, sendo o corticoide um deles. Esse medicamento é utilizado para suprimir os mecanismos de defesa do corpo.
Como diagnosticar: Na grande parte dos casos a doença começa a se manifestar com dores articulares, cansaço, febre baixa, aftas, falta de apetite, alterações de humor. Como ela pode confundir-se com outras doenças reumatologias é necessário um exame de contagem de plaquetas para ter a certeza do caso clínico.
Os sintomas podem variar Para Lizete Fernandes de Oliveira, 46 anos, de Santa Cruz do Sul, a doença se manifestou em 2011, de outra maneira. Dor nas articulações. Cansaço. Sonolência. Falta de ânimo. Esses foram os primeiros sintomas que fizeram com que Lizete procurasse ajuda médica. Após passar por dois médicos, foi diagnosticada com Lúpus. Funcionária de uma empresa de vestuário, na função de cortadeira, ela não tem muitas reclamações sobre a doença. No entanto, relata que em dias quentes começa a sentir dor nas
articulações. Toma os remédios diariamente e tem um cuidado especial com a alimentação. Frituras não estão presentes em seu cardápio, pois lhe causam dor no estômago. Há dois meses, Lizete refez os exames. O resultado foi a melhora em alguns aspectos da doença, no entanto, os remédios foram mantidos, sendo alterado apenas a dosagem dos mesmos. Seu maior desejo é que a doença não se torne grave, que continue do jeito que está, mesmo sabendo que não há cura. Em seguida, ela conta igualmente que
não pode ficar no sol, porque fica com o rosto vermelho e com ardência. Além disso, a exposição direta a luz solar pode provocar lesões cutâneas e também, agravamento da inflação. Como já mencionado, o Lúpus não tem cura; o tratamento a base de diversos medicamentos visa controlar as dores e promover uma melhor qualidade de vida aos portadores da doença.
Saiba mais: >> Embora a causa do Lúpus não seja conhecida, sabe-se que fatores genéticos, hormonais e ambientais participam de seu desenvolvimento. >> No Brasil, as estimativas indicam que existam cerca de 65 mil pessoas com Lúpus, sendo a maioria mulheres. Acredita-se assim que uma a cada 1.700 mulheres no país tenha a doença. >> Além do tratamento com remédios, as pessoas com Lúpus devem ter cuidado especiais com a saúde incluindo atenção com a alimentação, repouso adequado, evitar condições que provoquem estresse e atenção rigorosa com medidas de higiene. Medidas de proteção contra a irradiação solar devem ser adotadas. Também é importante a manutenção de uma atividade física regular. FONTE: Cartilha da SBR (Sociedade Brasileira de Reumatologia)
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Foto: Gabriel Girardon
Gabriel Girardon
E se Santa Cruz quisesse voltar ao auge do basquete?
A cidade que já foi campeã nacional vive hoje quase no ostracismo, tentando se reerguer um dia
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Foto: Arquivo Pessoal
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m 17 de abril de 1994, Santa Cruz do Sul escrevia seu nome na história do esporte brasileiro graças ao basquetebol. A Pitt/Corinthians derrotava Satierf/Franca, de São Paulo, e conquistava a Liga Nacional de Basquete. No entanto, 23 anos depois, a realidade do esporte na cidade é bem distinta dos áureos tempos. Hoje ocorrem disputas em nível de categoria de base, até sub-19, e master, acima de 40 anos, além de uma liga municipal amadora, que conta com oito equipes. Alexandre Cruxen lembra bem dos tempos de glória. O ex-ala-pivô, campeão nacional pela Pitt/Corinthians, fixou residência em Santa Cruz do Sul. Ele conta que, na sua época, os jogadores eram tratados como estrelas pelo povo santa-cruzense: "A gente era reconhecido na rua, nos paravam para tirar fotos
Cruxen atuando na época da Pony/Corinthians
e dar autógrafos. Eu procurava não ir muito ao supermercado, porque tinha essa dificuldade". Mas se, hoje, quisessem refazer um time profissional, o que deveria ser feito? A julgar pelo passado recente, existem várias questões. Talvez a principal delas seja econômica. Vários incentivos financeiros fizeram com que a Pitt/Corinthians chegasse ao patamar que alcançou naqueles tempos. Um, da própria empresa que dava nome ao time - mais tarde foi substituída pela Pony, tornando-se Pony/Corinthians. Muitos vinham de empresas fumageiras, historicamente o ramo mais abundante da região de Santa Cruz do Sul. Existia ainda um apoio maior da prefeitura municipal. Segundo Cruxen, o número de apoiadores variava entre dez e doze empresas. Só que esses parceiros foram
Após os 19 anos, os atletas que atuam em Santa Cruz, caso queiram seguir carreira do esporte, não podem permanecer aqui Após os 19 anos, os atletas que atuam em Santa Cruz, caso queiram seguir carreira do esporte, não podem permanecer aqui. Ou conseguem ajuda para se transferir para outros times, ou acabam tendo que encontrar outras atividades. A grande dificuldade, segundo Athos, é mesmo a falta de recursos: "A gente sabe que Santa Cruz é a capital do basquete, a comunidade gosta, mas na hora de dar aquele apoio, não se consegue". Muit as questões envolvem a montagem de uma equipe esportiva, independente da modalidade. O investimento financeiro, claro, é algo de extrema importância. Falando de basquete, o básico seriam jogadores e comissão técnica. Os valores variam conforme o projeto e a condição financeira do clube. Partimos da ideia de um time de médio porte no Brasil:
Arte: Giovani Souza
desaparecendo, mas não por vontade deles. As leis entraram em ação. Em 2000, o então Ministro da Saúde, José Serra, apresentou um projeto de lei que tornava mais rigorosa a política antitabagista no Brasil, proibindo o uso de marcas de cigarro em publicidade. Regulamentada no ano seguinte, impossibilitou qualquer empresa da região na área do fumo de patrocinar qualquer esporte. Junto a isso, na mesma época, entrou em vigor a Lei de Responsabilidade Fiscal, nas esferas municipal, estadual e federal. Assim, os gastos dos governos foram mais controlados, fazendo com que a prefeitura não pudesse mais auxiliar o Corinthians como antes. Cruxen deixa claro que a prefeitura nunca pagou os salários dos jogadores, por exemplo, mas dava suporte de outras maneiras. A cidade e o esporte tiveram, então, de acostumar-se a uma nova realidade pela falta de grandes patrocinadores. Ainda mais por conta da atual situação econômica do país, não é fácil encontrar bons apoiadores. Há poucos a nos o ba squete santa-cruzense chegou a ter um “renascimento”, disputando suas últimas competições adultas até hoje. Em 2012, contando, inclusive, com atletas americanos, o Corinthians disputou a Copa Brasil Sul, torneio que dava vaga à Super Copa Brasil e, posteriormente, ao Novo Basquete Brasil (NBB), elite do basquete nacional. Segundo Marcelo Denizar Martin, ex-jogador e diretor da equipe na época, isso foi possível graças a empresas da região que auxiliavam com comida, hospedagem, transporte e saúde. No ano seguinte, já com os recursos totalmente reduzidos, foi formado um time apenas com jogadores de Santa Cruz do Sul. Marcelo, inclusive, voltou a jogar. Com o nome de Cosseno – maior campeão da liga municipal da cidade –, a equipe disputou o Campeonato Gaúcho daquela temporada. Athos Calderaro foi o treinador daquela equipe. Hoje com 44 anos, ele jogou basquete profissional até os 35, tendo atuado por equipes do sul do país - incluindo o próprio Corinthians - e até no Uruguai. Entretanto, desde os 19 já dava treinos de basquete, alternando as funções de jogador e técnico. Após se aposentar como atleta, virou somente treinador. Nos nove anos em que está à frente do sub-17 e sub-19 do União Corinthians, conquistou oito títulos. Só que falta um time profissional.
Segundo Alexandre Cruxen, um valor razoável a se pagar para um bom jogador de basquete seria de 20 mil reais por mês - podendo ser menos, no caso de titulares e reservas. Outros pontos a serem vistos são de infraestrutura - ginásio para jogos, centro de treinamento, alojamentos e equipe de saúde - médico, dentista e fisioterapeuta, por exemplo. Cruxen cita uma ferramenta que poderia ser essencial para auxiliar o clube: a UNISC. Ele conta que, em 2001, levou até a UNISC um projeto que envolvia a instituição e um time de basquete. A ideia seria contar com o apoio da universidade e o clube ser a base para o trabalho dos acadêmicos da mesma. Por exemplo: estudantes da área da saúde poderiam fazer estágios dentro desta área do clube, assim como outros campos os quais o clube também pudesse oferecer. Em meio a tudo isso, uma coisa é certa: reerguer o basquete em Santa Cruz não é uma tarefa fácil. Especialmente pelo impedimento de grandes empresas da região de se envolverem. Mas ainda há como fazer. Existem outras corporações que poderiam investir. Mais pessoas que fizessem isso acontecer. É comprovado que a comunidade santacruzense admira o esporte. Só é preciso "despertá-lo". Por que não sonhar com uma volta ao cenário do basquete nacional?
*O número de jogadores no elenco é uma decisão do clube. Pensamos em 15 atletas para arredondar os valores.
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Foto: Mônica Cugnier
Mariana Amorim
Hortaliças superpoderosas em casa
Quem gosta de cultivar sua própria horta sempre encontra um jeitinho
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enira Feltez cultiva hortaliças há mais de dez anos no pátio de sua casa. Aposentada aos 60 anos, encontrou no cultivo uma forma de terapia e também uma maneira de passar o tempo. Tudo começou por ter um espaço vago nos fundos de sua residência e por já ter afinidade com a terra. Assim, não encontrou dificuldade em escolher os alimentos e também em cuidar da horta. Seus preferidos para o plantio são a alface, tomate, rúcula, salsa, orégano. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizou uma pesquisa onde aponta que os brasileiros consomem 27 quilos de hortaliças por ano. Em primeiro lugar está a batata liderando a preferência dos consumidores e em seguida o tomate e a cebola. Na lista dos 10 mais comercializados estão a cenoura, abobora, repolho, alface, chuchu, batata-doce e pimentão. Ou seja, podemos dizer que os brasileiros gostam muito de hortaliças. Cristian Rodrigues de 25 anos, trabalha como vendedor, mas em casa cuida da sua horta há dois anos. Começou a plantar em canos de forma vertical
suas mudas. No início o projeto foi realizado para incentivar o seu irmão mais novo para que ele tivesse uma ocupação no período que não estava estudando. Como não entendia nada do assunto, teve dificuldade em manter os alimentos com uma aparência bonita, por causa das lagartas, lesmas e até pássaros que apareciam e acabavam danificando um pouco seu trabalho. Seu irmão não quis saber do cultivo, mas Cristian pegou gosto pela atividade. Poder colher tudo fresquinho, saber a procedência, custo benefício e o fato de encarar como um lazer são suas motivações. Todos acabam se beneficiando dos temperos, verduras e ervas que estão no quintal com fácil alcance dos cinco integrantes da família. A estudante de relações públicas e assistente administrativa, Lisiane de Souza começou a aprender quais seriam os alimentos que conseguiria plantar no pequeno espaço do apartamento onde reside. Na região sul, alimentos como, alface, beterraba, cebolinha, cenoura, chicória, couve, salsa, podem ser cultivados durante o ano inteiro sem
nenhum problema. Aos poucos Lisiane descobriu as diversas possibilidades que o cultivo lhe proporcionaria já que é vegetariana. Os agrotóxicos também eram uma preocupação constante na sua rotina e viu os enormes benefícios em ter a sua própria horta. Os alimentos são superpoderosos e extremamente importantes para o bem estar dos nossos dias, pensando dessa forma que Lisiane não se importou com o trabalho duro de manter uma horta na sacada do apartamento e já fazem quatro anos que coloca a mão na terra.
Plantio orgânico promove a restauração e manutenção da biodiversidade
O cultivo, principalmente em espaços pequenos, pode ser realizado em vasos,
como faz Lisiane ou conforme a criatividade de cada pessoa. A bióloga Alessandra Quadros, formada pela Universidade Federal de Santa Maria, explica que, o processo de plantio realizado de forma orgânica, sem utilizar agrotóxicos acaba promovendo a
restauração e manutenção da biodiversidade. Pois, além disso, a agricultura orgânica acaba utilizando fertilizantes naturais, como adubo orgânico de compostagem, que trata-se daqueles restos de alimentos que não aproveitamos mais, uso racional de água e outras
técnicas que sejam adaptáveis à realidade local.
Fotos: Mariana Amorim
Horta cultivada no pátio da Cenira Feltez, aposentada
Cultivo em vasos no apartamento da Lisane
Horta vertical do Cristian Rodrigues
e acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA), o Brasil é o país que mais utiliza agrotóxicos na agricultura, que, além de ser extremamente prejudicial ao organismo, também é um poluente importante. Muitos países já proibiram ou restringiram muito a utilização dos agrotóxicos, por conta dos sérios danos causados por esses produtos. No caso do nosso país, o estado de São Paulo é o maior consumidor e cada brasileiro consome cerca de 5,2kg de agrotóxicos por ano. A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) fez um estudo indicando os alimentos mais contaminados, que merecem atenção especial. São eles o tomate, a melancia, cebola, pepino, abobrinha, alface, cenoura, pimentão e o melão. A nutricionista Greice Heisler de Santa Cruz do Sul, pós-graduada em nutrição clínica e esportiva pelo Instituto de Pesquisa Ensino e Gestão em Saúde (IPGS), explica que para uma alimentação mais saudável temos o mercado de orgânicos. São alimentos mais caros, mas ela deixa como sugestão que aqueles alimentos consumidos com maior frequência, seja realizado um plantio caseiro. O que acaba sendo um investimento para a própria saúde. No Brasil, seis de cada dez adultos têm excesso de peso, segundo o IBGE (e dois deles são obesos). Por esse motivo é importante que as pessoas escolham seus alimentos com cuidado para que possam manter sua saúde em dia. Greice ainda destaca que as hortaliças são conhecidas por terem um baixo teor calórico, ou seja, é bem vindo para as pessoas que desejam entrar numa dieta, mas que só elas não são o suficiente para uma alimentação equilibrada e saudável. O corpo necessita também de alimentos mais calóricos, pois precisa de energia para encarar a vvrotina diária.
Nutricionista Greice Heisler, apaixonada por sua profissão
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Atenção com os agrotóxicos!
Foto: Arquivo Pessoal (Greice Heisler)
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Foto: Natália Lau Coimbra
Natália Lau Coimbra
O auxílio do espaço virtual para um novo tipo de empreendimento
A internet como aliada para encarar o próprio negócio
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ocê já ouviu falar em e-commerce – o novo espaço de empreendimento, localizado na internet? Dentre suas mais variadas definições, o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE) classifica a modalidade como um espaço de venda e compra, realizada através da internet, a partir de dispositivos eletrônicos – como celulares e computadores - e plataformas digitais. O Ebit é uma ferramenta que mede a reputação dos vendedores, sejam atuantes em espaços físicos ou virtuais, como no caso do e-commerce. Seu mecanismo captura a opinião do público que faz suas compras nestes espaços. Os questionários que estão dispostos aos consumidores servem para compor o banco de dados da Ebit, resultando na origem das informações de cada loja. A Associação Brasileira de Comércio Eletrônico (Abcomm) divulgou no início do ano, que a expectativa era de que, em 2017, as vendas de e-commerce aumentassem cerca de 15%.
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Uma saída para a "crise" No entanto, não são apenas esses dados que mostram relevância para o assunto. Não é novidade que a crise que assola o Brasil nos últimos tempos tem atingido de forma cruel o mercado de trabalho. Em abril o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), divulgou que o desemprego já atinge 14,2 milhões de brasileiros. Em contrapartida, a cada dia que passa, surgem mais pessoas que resolveram investir e trabalhar por conta própria usando como ferramenta de investimento o e-commerce. O casal Kathlen Santana e Lucas Machado, assim como Glaura Bruna Silva, são exemplos de investimento no ramo, em Santa Cruz do Sul. Lucas e Katlhen são proprietários do Bonde Store – loja virtual de vestuário, criada por eles no início deste ano. Glaura, mais conhecida como Bêh Silva, é dona da Penteadeira da Bêh, onde comercializa cosméticos e maquiagens. Com uma página fixa no Facebook e Instagram, os jovens usam o ambiente digital
para divulgar seus produtos e conquistar a cada dia, mais clientes. Ambos já estiveram no mercado de trabalho convencional mas, foi no meio virtual que acharam uma maneira de investir no negócio próprio.
Logo fiz cursinhos sobre e-commerce, li muito sobre empreendedorismo e o momento chegou, me senti segura e fui com tudo
Sobre a decisão de empreender no e-commerce, Bêh relata que, somente no final de 2016 – quando fazia 4 meses que havia saído do último emprego – foi que se sentiu segura e decidida para começar. Apaixonada por maquiagem, viu na oportunidade uma chance para criar algo novo, que impactasse e ao
mesmo tempo suprisse a necessidade das clientes que buscam pela inovação e diversidade no ramo da make. Ao criar a lojinha, conseguiu dispor às conterrâneas as maravilhas que ela já consumia através de compras online. Logo fiz cursinhos sobre e-commerce, li muito sobre empreendedorismo e o momento chegou, me senti segura e fui com tudo, revelou. Já Kathlen, conta que a ponto de partida para investirem na Bonde Store foi o interesse por uma renda extra e o desejo que o casal tinha de trabalhar por conta. Norteada pelo amor que tinha pela moda, apostou todas as expectativas para unir o útil ao agradável. Formada, recentemente, em Publicidade e Propaganda, ela e o namorado dividem as funções para administrar o empreendimento. Pensamos que tinha que ser algo que nós gostássemos, para não ter aquele peso de um trabalho normal, diz. Referente as dificuldades de trabalhar
neste setor, Bêh relata que no começo não foi fácil conquistar a confiança do público. A própria confessa que sempre ficava com o pé atrás ao fazer compras que requeriam pagamentos por depósito bancário, por exemplo. Entretanto, com a popularidade da “lojinha” – termo carinhoso como as clientes já se referem à Penteadeira – hoje em dia a maior fonte de divulgação, depois das redes sociais, é o famoso “boca a boca”. Quando um cliente indica a gente vai atrás com toda a segurança do mundo e virtualmente sentimos falta de recomendações reais, explica Silva. Para o casal, a maior dificuldade considerada é o fato de que a loja virtual não possibilita tocar nas peças de roupa que o cliente quer comprar. No entanto, ao disponibilizar atendimento domiciliar - que ocorre tão logo o cliente vê a mercadoria no loja virtual e solicita a entrega - essa credibilidade aumenta. Silva diz desejar que a loja prospere e há planos de, de repente expandi-la ao
modo físico, também. Entretanto, para ela a execução deste projeto descaracterizaria um pouco a sua ideologia, visto que, um endereço fixo lhe demandaria mais tempo de trabalho, o que atrapalharia muito seu desempenho de atendimento na internet. O casal afirma que o desejo de ter o próprio negócio faz com que trabalhem incessantemente em busca da expansão da loja. Com apenas 4 meses de mercado, eles sonham em popularizar o investimento e, através das ferramentas do e-commerce aumentar a visibilidade da Bonde Store. Apesar da comodidade, a flexibilidade do trabalho e o baixo custo nos investimentos, nossos entrevistados garantem que para entrar na área do e-commerce é preciso estudo, organização e planejamento. O alcance proporcionado pela internet se torna insignificante se não houver disciplina e persistência.
Lucas e Kathlen, empreendedores e-commerce no ramo da moda Bêh Silva, empreendedora e-commerce no ramo de maquiagem
O que o SEBRAE indica para entrar no ramo: >> Conhecer o setor que, vem crescendo de maneira acelerada e identificar o perfil de que empreende neste setor e o perfil de que busca comprar desses vendedores. Esta é uma forma de ter uma base de como atuar e o quais expectativas ter a respeito. >> Elencar o nicho do mercado que será atendido sem perder o foco. Dessa forma será possível conhecer as oportunidades para atuar dentro do e-commerce e seguir um segmento rentável nos meios digitais. >> Planejar o empreendimento. Essa é uma das principais metas para atingir o sucesso. Planejar o site, classificar a tecnologia que a loja utilizará e criar um plano para desenvolver os negócios, são algumas das tarefas indispensáveis para quem está começando. >> Estudar e conhecer sobre as questões legais, entre elas os impostos específicos para este tipo de venda. >> Prepare-se para construir a sua loja virtual com dicas sobre layout, cores, usabilidade e outras questões. Nesse ponto, é importante conhecer também os meios de pagamento do comércio eletrônico para proporcionar vendas com segurança. >> Reconhecer o perfil dos clientes. Este é um quesito fundamental para entender o comportamento dos mesmos e adquirir estratégias que influenciem na hora de competir com o seu negócio. >> Conhecer estratégias de marketing e meios de divulgação online é extremamente relevante para a impulsionar visibilidade do empreendimento e os produtos que ele oferece. >> Por fim, o cuidado com a entrega dos produtos comercializados no seu ambiente virtual requer que você entenda de estoque no e-commerce e logística. A preocupação deve seguir no pós-venda, também.
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ENSAIO
Foto: Divulgação
Vitória C. Rocho
SEGREDOS REVELADOS Fé maculada
S
potlight – Segredos Revelados relata descobertas feitas a partir da real investigação feita por um grupo de corajosos jornalistas, ganhadores do Prêmio Pulitzer em 2003, que denunciaram uma sucessão de abusos sexuais, obrigando a Igreja Católica a prestar contas. Em janeiro de 2002, o jornal The Boston Globe publicou uma série de reportagens que chocaram o mundo. Centenas de crianças em Boston foram molestadas sexualmente por padres – certos de sua impunidade, eles agiam com o aval das autoridades religiosas, que acobertaram seus crimes por décadas. As reportagens revelaram a obscena quantia gasta pela Igreja Católica com acordos para comprar o silêncio das vítimas cujas vidas foram devastadas por pedófilos que vestiam hábito e tinham a bíblia em mãos. A denúncia abalou as estruturas da Igreja Católica e deixou milhões de
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fiéis no mundo inteiro estarrecidos, furiosos e indignados: a instituição que deveria servir e proteger a comunidade usou sua poderosa influência para se resguardar do escândalo. Este livro, que inspirou o filme indicado ao Oscar 2016 em 6 categorias e vencedor em Melhor Filme e Melhor Roteiro Original, é uma exposição violenta e importante do abuso de poder cometido por uma das mais altas esferas da sociedade. Apesar de o livro ter inspirado o filme Spotlight, a obra não mostra os detalhes dos bastidores dos repórteres nas coletas dos dados – como na adaptação cinematográfica de 2015, dirigida por Tom McCarthy –, mas se foca nas reportagens publicadas pelo The Boston Globe pela a equipe investigativa intitulada Spotlight. O prefácio do livro foi escrito pelo diretor e pelo roteirista Josh Singer responsáveis por levar a obra aos cinemas, na qual eles ressaltaram
a importância do jornalismo investigativo, principalmente neste cenário atual em que dezenas de jornais saíram de circulação e muitos jornalistas perderam seus empregos. “Esperamos que nosso filme, acompanhado do relançamento desta incrível documentação do trabalho da Equipe Spotlight do Globe, seja mais um argumento a favor da defesa do tradicional jornalismo investigativo”, assinaram Tom e Josh em 2015. Na introdução de Spotlight, o leitor descobre qual foi o gancho que levou os jornalistas a investigarem os casos. O jornal que já havia noticiado o caso antes de um padre chamado John J. Geoghan que molestara crianças e após ser afastado por licença médica, continuou fazendo mais vítimas. O Cardeal Bernard F. Law confessou que tinha sido notificado sobre os abusos cometidos, levando a equipe de reportagem a descobrir mais sobre o acobertamento
do padre pelo bispo, com a proposta de descobrir se era caso isolado ou parte de um padrão. Grande parte dos fatos e entrevistas foram relatados nas reportagens do Globe, mas a obra de 2015 trouxe material novo, como casos de abuso sexual que não tinham sido revelados e como foi o desenrolar do caso e a reação dos promotores, católicos e membros da Igreja. Padre Geoghan foi o principal predador sexual investigado pelo Globe. De acordo com o jornal, cerca de 200 pessoas declararam ter sido estupradas ou abusadas por ele e tinham registrado denúncias em 2002. Diante de um número alarmante de notificações, os jornalistas descobriram que membros da hierarquia da Igreja tentaram acobertar os casos, pagando milhares de dólares para as vítimas ficarem em silêncio. Conforme as reportagens eram publicadas, mais e mais vítimas de abusos cometidos por padres durante a infância e a adolescência entraram em contato com o jornal para contar suas histórias e o resultado foi a publicação
do livro. Além dos casos de pedofilia e abuso de jovens, as investigações também despertaram os olhares da comunidade católica para outros problemas, como o celibato, a tentativa de culpar a homossexualidade pelos abusos – sendo que garotas também tinham sido abusadas pelos padres –, a resistência para a entrada de mulheres em posições hierárquicas da Igreja e diferenças de tratamento entre padres e freiras, a falta de educação sexual para seminaristas e discussões sobre o aborto e a pílula anticoncepcional. O livro é o resultado de um trabalho jornalístico árduo, de busca pela verdade e justiça, quebrando paradigmas tão pesados como os incrustados pela religião. Em tempos onde o jornalismo flerta com a parcialidade, ler um livro como este nos dá um verdadeiro exemplo de coragem, em que profissionais conseguem fazer justiça revelando crimes tão bárbaros e evitar que milhares de novas vítimas sejam feitas, mesmo tendo que desafiar uma instituição tão forte quanto a igreja católica.
Apesar de todo o peso que a leitura traz, com os fatos tão duros e com narração vívida e direta, a escrita tem uma linguagem moderna, envolvente e que traz fluidez. Algo que vale ser dito é que quando estamos diante de um livro nós o fechamos e ficamos relembrando passagens do mesmo, contudo quando estamos diante de um bom livro nós não só relembramos passagens como também discutimos e refletimos sobre o que nos foi mostrado em suas páginas. Isso é o que Spotlight faz, quebra a barreira do simples entretenimento permitindo ao leitor uma reflexão a respeito do exibido. Neste caso, isso não ocorre somente por estarmos diante de um tema polêmico, mas sim pela forma como o a história foi descrita. É claro que Spotlight - Segredos Revelados não é uma leitura "agradável" e não funciona como entretenimento, mas é uma leitura importante justamente para sairmos da alienação de ler apenas histórias prazerosas e ignorarmos a realidade.
A obra não mostra os detalhes dos bastidores dos repórteres nas coletas dos dados – como na adaptação cinematográfica de 2015, dirigida por Tom McCarthy –, mas se foca nas reportagens publicadas pelo The Boston Globe pela a equipe investigativa intitulada Spotlight. O prefácio do livro foi escrito pelo diretor e pelo roteirista Josh Singer responsáveis por levar a obra aos cinemas, na qual eles ressaltaram a importância do jornalismo investigativo, principalmente neste cenário atual em que dezenas de jornais saíram de circulação e muitos jornalistas perderam seus empregos. “Esperamos que nosso filme, acompanhado do relançamento desta incrível documentação do trabalho da Equipe Spotlight do Globe, seja mais um argumento a favor da defesa do tradicional jornalismo investigativo”, assinaram Tom e Josh em 2015.
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CRÔNICA
Foto: Francelli Castro
Francelli Castro
MUNDO LOUCO, PAZ PARA POUCOS U
m lugar calmo, as folhas das árvores dançam em sincronia, as sombras que elas formam no chão, os raios de sol refletindo ao lago, se existem algo mais perfeito que isso não sei, mas são nesses momentos que vejo o quanto a natureza é perfeita. Um dia calmo, a gente para em frente à janela de casa, e apenas observa o que esta ao nosso redor, muitas das plantas do meu jardim, fui eu quem plantou, buscando deixar o mais próximo de um paraíso particular. Escolhi viver longe de toda a confusão da cidade grande, de toda aquela loucura nos posta dia a após dia. Aqui, tudo que preciso, eu tenho, se preciso de algo maior, me vou pra cidade, mas aqui, planto tudo para meu próprio consumo. Uns até me chamaram de louco, por querer viver assim, mas garanto, que em todos os meus anos de vida, só agora aprendi
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que a definição das palavras paz e felicidade. Quem me acompanha aqui é minha companheira, que por infinitas vezes tentou me fazer desistir, dizendo que morar no interior iria acabar ainda mais com a beleza da vida, mas ela não sabia quase nada de viver no campo. Quando ela vinha apenas aos finais de semana, quando chega hora de voltar para a cidade, dava “Graças a Deus”, pois iria voltar a civilização, com o tempo, ao ter que voltar para o trabalho, ela começa a se arrepender, em ter que voltar para o caos da selva de pedra. Hoje, ela mesmo diz, “conto as horas para chegar no canto de paz”. As pessoas mudam? Sim, eu mudei, ela mudou e todos aqueles que antes me chamavam de louco, agora vêm me visitar todos os finais de semana. E o melhor de tudo isso, o meu estilo de vida, a minha nova maneira de ver o mundo,
e o que ele nos dá, vez com que eu e aos que me rodeiam, buscássemos ainda mais a paz. Aqui no meu lar, eu tenho tudo que preciso, e o que me falta vou à vendinha buscar. Não preciso mais de luxo pata viver, quem vivia de mim era o luxo. O pouco que tenho me é suficiente, tudo que conquistei tudo que busquei ter e ser, aqui encontrei. Nunca diga a alguém que sair da cidade grande é loucura, loucura é viver e sobreviver num mundo louco.
CRÔNICA
Foto: Pexels
Fabrine Kesseler
CORAÇÃO LIVRE P
rocurar formas de entender o que se passa em nosso coração, às vezes se torna tão nulo, quanto discutir com uma porta. Passamos dias, semanas, meses, talvez anos, sem saber como lidar com o que sentimos. Um turbilhão de sentimentos acontecem em nosso dia a dia, sem termos controle. Quem dera se pudéssemos evitar determinadas emoções, quem dera não se apegar a quem é totalmente "apegável.” Sempre achei que mentir pra si mesmo é burrice, afinal, somos responsáveis por nossos pensamentos e atitudes. Às vezes as coisas parecem tão confusas, que não sabemos qual direção seguir. Razão ou coração? Difícil escolha. Nós, mulheres, estamos longe da realidade apresentada em filmes, na qual o príncipe encantado existe. Raros são aqueles que abrem a porta do carro, que te dão um beijo na testa, em sinal de respeito. Que te presenteiam com uma
flor, não me refiro a flores compradas, mas sim, aquelas "roubadas" em um quintal do vizinho, ou até mesmo na rua. A flor não deixa de ser flor, por ter sido retirada de outro lugar, a não ser de uma cara floricultura, o segredo está na atitude. Admiro as pessoas que amam, e são amadas, não na mesma intensidade, até porque isso é impossível. Me refiro a relacionamentos nos quais o respeito e a cumplicidade são mútuos. Admiro mais ainda, aqueles (as) que se amam em primeiro lugar, e que não se permitem sofrer por outra pessoa. Utilizar aquele termo: "Coração fechado para balanço", às vezes faz bem, e como faz. Entendo a vida de solteiro como uma fase de autoconhecimento, liberdade e paz de espírito. Ser solteiro não se define apenas em curtição, mas sim um momento de tranquilidade, no qual não é necessário estar com alguém
para ser feliz. Gosto de gente de verdade, de sentimento de verdade, de relacionamento de verdade. A mentira não me atrai. Palavras, frases, declarações clichês, não me atraem. Só mergulho em um relacionamento, quando tiver a certeza de que o sentimento não é raso, pois nem o raso me atrai. O primeiro passo para a felicidade, é estar de bem consigo mesmo, se conhecer para depois permitir que outra pessoa te conheça. A fase que estou hoje, sem dúvidas é de grande aprendizado. Me apaixonar? Quem sabe. Quando? Ninguém sabe. Ser solteira, não significa estar sozinha. Vivo um dia de cada vez, com a convicção de que a felicidade depende de nós mesmos.
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