JORNAL EXPERIMENTAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNISC - SANTA CRUZ DO SUL VOLUME 27 nº 2 JULHO/2015
Editorial UM JORNAL SEMPRE INOVADOR O semestre chegou ao fim. E, com ele, mais uma edição do Unicom novinha saindo do forno. Depois de escrevermos um jornal temático, utilizando como conceito central a “estrada” como sinônimo de transformação, de mudança, nosso último desafio na disciplina de Produção em Mídia Impressa foi fazer uma publicação onde cada aluno poderia escrever sobre o que bem entendesse, mas tendo em mente que sua matéria dialoga com um propósito central, mais largo, como em uma redação. Era hora, portanto, de colocar a criatividade e o faro jornalístico uma vez mais para trabalhar. As dúvidas, é claro, sempre surgem neste momento. Sobre o que eu vou escrever? Será que minha pauta vai render? Minha fonte não me responde, o que eu faço? Como fazer algo que seja diferente do que já foi feito até hoje em quase duas décadas de Unicom? Essas quatro perguntas foram muito ouvidas ao longo do semestre. As três primeiras são relativamente fáceis de serem resolvidas. Afinal, somos estudantes de Jornalismo, e sempre é possível encontrar uma saída. A última pergunta, porém, é mais complicada de se chegar a um resultado diferente. O Unicom é produzido há 17 anos. Centenas de acadêmicos já tiveram a oportunidade de escrever no jornal. Logo, inovar não é uma tarefa nada fácil no âmbito da publicação. Mas nós podemos fazer algo diferente? A resposta é sim. Podemos fazer. E fizemos. Pela primeira vez, e estas são algumas das marcas mais visíveis de nossa “personalidade”, implantamos o QRCode na publicação e teremos uma inédita coluna social em um jornal-laboratório. Além disso, uma vez mais, em consonância com o espírito do Unicom, elaboramos uma capa criativa, e, claro, seguimos contamos grandes histórias por meio das reportagens. Novidades que coincidem também com um momento histórico no curso de Comunicação Social da Unisc. A partir de agosto, já estará em funcionamento nossa nova sede.. Tudo isso para tornar o Unicom um jornal cada vez mais atrativo.
Amanda Risso REPÓRTER E REVISORA
Cleonice Goerck REPÓRTER E REVISORA
Felipe Kroth REPÓRTER E EDITOR DE FOTOGRAFIA
Francieli Graff REPÓRTER E EDITORA MULTIMÍDIA
Julianne Wagner REPÓRTER E EDITORA MULTIMIDIA
Maíra Farinon REPÓRTER E PRODUTORA
Paola Severo REPÓRTER E REVISORA
Roberta Kipper REPÓRTER E REVISORA
Expediente UNISC - Universidade de Santa Cruz do Sul Av. Independência, 2293 - Bairro Universitário Santa Cruz do Sul - CEP 96815-900
Eduardo Finkler REPÓRTER
Impressão Grafocem Tiragem 500 exemplares Capa Andressa Bandeira e Roberta Kipper
Frederico Silva EDITOR GRÁFICO
Guilherme Graeff SUB-EDITOR
Contracapa Andressa Bandeira e Roberta Kipper
Blog: blogdounicom.blogspot.com Fanpage: facebook.com/unicom2014
Mateus Souza REPÓRTER E EDITOR
Natany Borges REPÓRTER E PRODUTORA
Este Jornal foi produzido na disciplina de Produção em Mídia Impressa, ministrada pelo professor Demétrio de Azeredo Soster. Colaboração dos alunos da disciplina de Jornalismo Impresso II e demais acadêmicos do Curso de Comunicação Social, que escreveram textos opinativos. Volume 27 - n° 2 - Julho/2015 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA
ERRATA
Rodrigo Kampf REPÓRTER E PRODUTOR
Suilan Conrado REPÓRTER E REVISORA
Ao contrário do que foi publicado na edição passada do Unicom 2015/1, na página 32, foi publicado de maneira incorreta o sobrenome da repórter Suilan. A grafia correta é ‘Conrado’. Pedimos desculpas pelo erro.
JORNAL UNICOM 03
Demétrio Soster EDIT0R-CHEFE
Curso de Comunicação Social - Jornalismo Bloco 15 Sala 1506 Telefone: (51) 3717-7383 Coordenador do Curso: Hélio Etges
Divulgação/CaseMKT
Projetos Sociais: vínculo entre empresa e sociedade Há inúmeras empresas, ONGs, equipe e familiares. O primeiro evento Conheça ações que beneficiam à instituições que oferecem algum tipo de ocorreu em outubro de 2014. Neste ano, sociedade e trazem reconhecimento ao projeto para a comunidade na qual estão o primeiro evento foi em maio, quando as negócio
CLEONICE GOERCK REPORTAGEM
inseridas. Este número não para de crescer. De acordo com a última edição da Pesquisa Ação Social das Empresas (Pase), realizada pelo Ipea em 2006, 69% das empresas privadas brasileiras realizam ações sociais. No Vale do Rio Pardo essa realidade não é diferente. Apesar de muitas empresas realizarem projetos sociais, poucas fazem divulgação, e muitas preferem não falar sobre. Para essa reportagem, entramos em contato com seis empresas, destas apenas duas se dispuseram a participar. O Instituto Saint Gallen, que presta serviço de acompanhamento oncológico há oito anos em Santa Cruz do Sul, é um exemplo. Entre um atendimento e outro, partiu da equipe a ideia de organizar encontros que integrassem pacientes,
pacientes foram convidadas a participar de um curso de automaquiagem. De acordo com coordenadora de enfermagem do Instituto, Geovana Onofrio, as ações tem como intuito proporcionar momentos de lazer e principalmente de integração, já que os atendimentos aos pacientes são feitos de forma individual, em salas separadas. Como o primeiro evento deste ano acabou envolvendo mais as mulheres, no dia 2 de junho, quando foi realizado outro encontro, a atividade foi mais abrangente. Em parceria com o curso de Tecnologia em Estética e Cosmética da Universidade de Santa Cruz do Sul, Unisc, os participantes puderam conhecer mais sobre Terapias Integrativas. A ideia do Instituto é de realizar estes eventos
No Vale do Rio Pardo, os números do projeto não param de crescer. Neste ano já foram atendidas 70 escolas, em sete municípios, totalizando 748 crianças. Já existem planos para novos projetos dentro do programa, como a criação de cooperativas escolares. De acordo com o Gerente de Relacionamento do Sicredi Vale do Rio Pardo, Marco Antônio da Rocha, essa nova metodologia dá aos estudantes a oportunidade de vivenciar a cooperação. Estes dois exemplos são apenas uma parte dos projetos sociais desenvolvidos pelas empresas da região. Mas o que faz esse número ser tão grande? Podemos afirmar que alguns motivos são os incentivos fiscais que muitos recebem, mas além disso, a
empresa passa a ser vista com olhos olhos pela comunidade. Esses projetos atraem reconhecimento, podem conquistar clientes e consumidores e atrair colaboradores que se identificam com as causas. Projetos sociais, muitas vezes, trazem mais reconhecimento do que grandes investimentos de ações de marketing ou propaganda. De acordo com Anna Peliano, autora do livro Bondade ou interesse: como e porque as empresas atuam na área social, publicado em 2001, a motivação das empresas é complexa e interdependente. Podem ser questões como o espírito humanitário, a vontade de dar, de retribuir benefícios recebidos. Ajudar gratifica.
JORNAL UNICOM 05
mensalmente. Outro exemplo de empresa que presta serviços sociais na região do Vale do Rio Pardo é o Sicredi. A cooperativa oferece, entre outros, o Programa A União Faz a Vida, que começou em 1994, com o objetivo de difundir os princípios de cooperação e cidadania. Os esboços deste projeto surgiram em 1992, após uma visita ao Uruguai, onde os dirigentes do Sicredi ficaram impressionados com o conhecimento de um garoto de 11 anos que os recebeu em uma Cooperativa Escola. A partir disso, houve a parceria com o Centro de Desenvolvimento e Pesquisa sobre Cooperativismo da Universidade do Vale do Rio dos Sinos, com o intuito de desenvolver um programa de educação.
Sicredi/Divulgação
05 JORNAL UNICOM 07
O dia amanhece na roça Quando Mansinha e Meca dão o sinal, dona Lilian já sabe: é hora da ordenha JULIANNE WAGNER REPORTAGEM
Julianne Wagner
ral, Mansinha e Meca já se posicionam. Mansinha, como o nome sugere, analisa quieta a movimentação de dona Lilian. Uma filha obediente. Meca, no entanto, é uma mistura de curiosidade e personalidade forte. E o seu mugido de insatisfação para com a demora do café da manhã confirma essa afirmação. Com uma pelagem marrom brilhante, Meca abusa da boa aparência. Aos 13 anos, já tem 11 herdeiros. “Ela pula a cerca e vai...”, justifica seu Danilo. “A Meca arruma namorado sozinha”, complementa dona Lilian. As vacas da raça zebu são nascidas e criadas na propriedade, distante três quilômetros do centro de Candelária. O que antes era interior, conhecido como Linha Boa Vista, agora é Rua Botucaraí. Calçamento ainda não tem, mas a inauguração de fábricas nos arredores estimula a compra de terrenos e a construção de moradias. De interiorano restou somente os hábitos de candelarienses como seu Danilo e dona Lilian.
No tempo da produção recorde Dos 63 anos de vida de dona Lilian, mais de 40 foram dedicados à criação de gado leiteiro. Logo no início da lida, no auge da produção, ela e o marido comercializavam cerca de 70 litros de leite por dia. Na época, os agricultores tinham cinco vacas. Apenas um dos animais produzia aproximados 25 litros do alimento. Grande parte da produção
era congelada em cubos e entregue ao caminhão, que fazia o transporte do alimento até uma indústria de Santa Cruz do Sul. Hoje, o número de vacas diminuiu, o que representa uma consequente queda na produtividade. O que antes eram cinco animais, agora são dois; 70 litros leite vendidos diariamente? Que nada! Agora, a produção dificilmente ultrapassa os 10 litros, ou, se preferir, cinco litros de garrafas pet. A venda do leite, assim como a ordenha, é manual: os clientes fixos, a maioria da vizinhança, vão até a propriedade, dispostos a pagar R$ 1,50 pelo litro de leite. A queda no lucro não desestimula o casal, que é aposentado e também aposta na criação de porcos e no plantio de milho e soja. Quando tem terneiro novo, são feitas duas ordenhas por dia: pela manhã e à tardinha. A refeição reforçada de pasto caseiro com milho quebrado é servida antes da ordenha e também à noite. Uma rotina de mais de 40 anos que sobrevive ao corre-corre da “vida na cidade”. E enquanto o prazer pela lida prevalecer, mesmo diante dos feriados sem pausa para descanso, sempre haverá um seu Danilo e uma dona Lilian, com suas vaquinhas leiteiras no meio do campo úmido em uma manhã fria. E os passos do vizinho continuarão apressados na estrada de chão. Ele tem de bater o ponto na fábrica.
JORNAL UNICOM 07
Cumprimentos; roda de chimarrão; bate-papo: “o taxista me disse que ‘caiu’ geada...”. No televisor, o noticiário da manhã mostra as cidades do Rio Grande do Sul que registraram temperaturas negativas na madrugada de terça-feira, 16 de junho de 2015. Nos fundos da casa, o silêncio predomina. Na mente, uma pergunta se forma: “que horas eles disseram que começa o trabalho?”. A estrada de chão em frente à residência está movimentada: são pés, bicicletas, motos e carros que andam rumo à empresa Calçados Beira Rio, em Candelária. Na terra molhada, passos pesados se destacam. Está na hora! O relógio se aproxima das 7h15min. A agricultora Lilian de Oliveira deve ser pontual. Caso contrário, Mansinha e Meca podem se aborrecer e prejudicar a produção diária de leite. Mas não basta esperar que os ponteiros estejam nas posições exatas. Antes de dona Lilian colocar as mãos nas tetas das vacas (e não na ‘pepeca’, como eu imaginava aos dois anos de idade), é necessário todo um ritual, que envolve uma conversa amigável e, principalmente, comida de qualidade. “Elas comem pasto caseiro com milho quebrado”, anuncia Danilo de Oliveira, de 72 anos, companheiro de Lilian nas vidas amorosa e profissional. A refeição é equivalente ao nosso prato de arroz, feijão e carne. Tão logo o pasto é colocado no cur-
Julianne Wagner
Amanda Risso
Ao persistirem os sintomas, consulte um palhaço O trabalho voluntário de quem leva sorrisos aos hospitais AMANDA RISSO REPORTAGEM
O corredor longo e claro não nega o aspecto de tensão do local. Quem está dentro do quarto, ouve música e risadas. Aos poucos, os pacientes deixam suas camas e com os olhos atentos descobrem a surpresa: é dia dos Doutores Só Riso fazerem uma visita ao hospital. Amigos há muitos anos, os Doutores Só Riso, são palhaços que trabalham voluntariamente. Para eles levar a alegria aos pacientes é o principal remédio. As visitas acontecem nas mais diversas alas do hospital: pediatria, oncologia, obstetrícia, entre outras. Há dez anos surgiu o palhaço Kiko. Com vários cursos circenses e um coração enorme ele e mais outros amigos fundaram os Doutores Só Riso. Hoje já estão presentes em mais de oito cidades. Onde os chamam, eles fazem o maior esforço para comparecer e tornar o dia de crianças e adultos melhor. A ideia iniciou em comunidades carentes. Os palhaços iam uma vez por semana fazer brinca-
deiras e animar as crianças no turno inverso da aula, procurando levar sempre a esperança, por onde quer que fossem. Aos poucos eles, foram aprimorando as técnicas e passaram a utilizar outros elementos. Novos integrantes começaram a participar do grupo: um trouxe violão, outro a sua voz, outro malabares e assim foram introduzindo novas técnicas para a apresentação. O número de palhaços que já passou pelo grupo foi grande. Por conta do trabalho, casa e filhos, muitos acabam desistindo ou diminuindo o ritmo de apresentações. Mas para Kiko, o projeto é como uma missão que ele precisa cumprir, todos os dias. “É como diz o ditado “rir é o melhor remédio””, comenta o palhaço sorrindo. Acompanhar os palhaços é uma experiência divertida e cheia de emoção. A cada visita, uma nova história para contar. Histórias essas, que muitas vezes são tristes, porém seus personagens têm vontade de sobra para prestigiar e
atenção de todos. Chega vez de visitar a ala pediátrica. Os ouvidos atentos dos pequenos se voltam para a música que vem do corredor. Os olhinhos brilham de alegria ao ver tantas cores e tanta animação. Aos poucos, todos se dirigem a uma pequena sala, cheia de brinquedos. Lá, todos se acomodam da maneira que podem. Os soros, os braços enfaixados e as máscaras de oxigênio, são deixados de lado por um momento e apenas as risadas permanecem. “Dá uma risadinha” e então começa o espetáculo de alegria no hospital. As crianças com Brincar é o melhor remédio grande esforço batem palmas, cantam e A psicóloga clínica Aline Badch Rosa sorriem. Entre as músicas, várias brinfala que a melhora do paciente é percep- cadeiras acontecem, todas chamando tível após cada visita dos Doutores. “A um voluntário para participar, que pode alegria sem dúvidas é um dos melhores ser um paciente ou os pais, que para as remédios. Ajuda o cérebro a liberar en- crianças são os mais engraçados. As ridorfina e serotonina, que são hormônios sadas ganham mais força quando o pai responsáveis pela sensação de prazer e ou a mãe caem nas graças das brincafelicidade. Eles dão uma sensação de le- deiras divertidas dos doutores. A pequena Caroline Rappke de apeveza e bem-estar, e ainda ajudam a prenas 8 anos, conhece bem o ambiente venir doenças causadas pelo estresse.” hospitalar. Desde cedo crises convulsiexplica Aline. Após o acolhimento, os doutores vas fazem parte da vida da menina. Só saem cantarolando e despertando a que desta vez o que trouxe ela para cá
foi outro motivo: uma forte infecção urinária que a deixou de cama. A emoção não fica escondida no rosto da mãe e da avó. “Eles terem vindo aqui foi muito legal, porque a Carol estava revoltada, não queria a visita de ninguém. Ela chora bastante porque quer ir para casa logo. Tá sendo bem difícil” desabafa a mãe emocionada. Mesmo em um momento difícil para a família, a pequena Carol dá um show de alegria e animação. Na hora do espetáculo dos palhaços, com uma voz fina e calma, ela se destaca. Uma menina pequena, loira e com um roupão rosa, que serve para se esconder do frio, faz um pedido especial: “canta a música Livre Estou”, fala Caroline. Surpresos todos se preocupam, pois não sabiam a letra, mas imediatamente a pequena puxa o ar e começa a cantar a sua música predileta. Imediatamente o palhaço Joãozinho pega seu violão e começa a tocar para acompanhar a menina. Junto dele, a palhaça Mafalda também canta e encanta todos com sua linda voz. Aos poucos outras vozes se misturam, formando um belo coral. Uma das enfermeiras que estava passando, parou
JORNAL UNICOM 09
cantar junto com os palhaços. Ao chegar ao hospital, já caracterizados, os personagens cumprimentam e brincam com todos os funcionários que encontram pelo caminho. A chegada deles, que tem data programada em alguns hospitais, já é aguardada por todos. A primeira parada é na sala de preparação, como eles chamam. Lá, psicólogas e assistentes sociais trabalham em conjunto com os palhaços. O apoio dos hospitais e casas de saúde é fundamental para um bom trabalho.
Amanda Risso
Aqui a única ordem é a brincadeira! Os pacientes do hospital se divertem com as visitas dos Doutores Só Riso.
Amanda Risso
para cantar junto com os pequenos. A música já é conhecida, pois faz parte de um filme infantil. Mas mais do que isso, a letra traz uma mensagem especial, “livre estou, livre estou, eu saí para não voltar”. E livre está a menina Sara Melo Ruas, de 7 anos. A pequena recebeu uma bela notícia depois do espetáculo: a alta hospitalar. Esse é o momento mais aguardado por todos que estão há dias no hospital e que, para Sara, foi um momento tranquilo, já que o motivo que a levou a internação foi uma pequena queda no colégio. A mãe de Sara, Ana Paula de Melo,
conta que já conhecia o trabalho dos palhaços. “Eu acho o trabalho deles muito lindo; é uma maneira de alegrar as crianças. Todas estavam muito felizes, dava pra ver no rosto de cada uma”, enfatiza. Com muitos abraços, fotos e alguns pedidos “palhaço, tu pode ir ao meu quarto me dar tchau?” os voluntários vão se despedindo aos poucos dos pacientes. O momento traz uma sensação única para o palhaço Kiko. “Sempre é muito emocionante. A gente acompanha os médicos do hospital, e vemos que existe uma ajuda mútua. Eles já entram nos quartos sorrindo. O palhaço quebra a
monotonia do ambiente e ajuda a animar a todos, isso que é legal né?”. O dia para os palhaços ainda vai ser bem agitado. Afinal, conseguir se manter em um projeto voluntário precisa de trabalho redobrado externamente. O palhaço Kiko parte para a próxima aventura. Levar a alegria é seu lema. Seja em aniversários, festas infantis ou outros eventos, os palhaços estão sempre dispostos a levar a alegria por onde passam. E quanto ao pessoal que recebeu a visita do Doutores Só Riso? Esses com certeza renovaram as energias e estão cheios de esperança, prontos para encarar mais um dia de recuperação.
JORNAL UNICOM 11
Divulgação
Um mundo de religiosidade bem perto de nós A rotina das monjas beneditinas no interior de Santa Cruz do Sul SUILAN CONRADO REPORTAGEM
No interior de Santa cruz do Sul, distante apenas 10 quilômetros do centro da cidade, existe um mosteiro chamado Santíssima Trindade. A construção, cuja torre lembra a de um castelo, fica no topo de um cerro na localidade denominada Linha Travessa. Ao percorrer a estrada de terra que leva até o mosteiro, pode-se observar algumas casas solitárias e uma pequena mercearia. O gado e os cavalos pastam tranquilamente pelos terrenos. A sensação é de que o tempo passa devagar por ali. No fim da estrada, dobra-se a direita e sobe-se o morro. A vista verde e o silêncio invadem a alma: é como se se estivesse a milhas e milhas de qualquer outro lugar. Na porta de entrada, ouvem-se vozes e o choro de um bebê. Tocar a campainha é uma opção, mas a visita não foi anunciada previamente. Como será a recepção? Ao perambular pelo jardim, nota-se uma irmã limpando uma fonte d água. Ela se chama Dilma Barbosa. Foi en-
carregada de tirar o limo que teima em esverdear a estátua angelical do chafariz. Dilma tem 30 anos e ainda não veste o hábito, pois está em formação para se tornar monja. O processo leva 7 anos. Ela começa a relatar a rotina do local quando surge outra monja no pátio. A irmã Isabel Teixeira Souza, 63 anos, que é baiana. Ela stá no mosteiro desde sua fundação, em 25 de janeiro de 1997. Recebe os visitantes de braços abertos e com um sorriso no rosto. É tarde de sábado, e o bebê o qual se ouviu o resmungo, é de uma amiga que foi fazer uma visita. Sim, as onze monjas que vivem ali podem receber e também podem visitar.
Do nascer ao por do sol A rotina das monjas começa com o canto do galo. Elas despertam todos os dias às 5h15min da manhã, fazem a higiene, vestem o hábito e às 5h45min partem para a primeira oração. A capela é simples: duas mesas compridas de
madeira com cadeiras para as monjas, e uma mesa com cadeira no centro da sala sobre um tapete, para a madre, uma espécie de mãe das irmãs. Imagens de Jesus Cristo e velas compõem o ambiente, que conta ainda com um púlpito. O lugar lembra muito uma sala de estudos. Cada uma tem seu assento e seus livros de oração. Elas rezam juntas até às 7h quando partem para o café da manhã. Café com leite, pão, frutas. Depois do desjejum, pausa para mais uma oração. Por volta das 9h podem seguir para as oficinas de artesanato, bricolagem, licores e doces. Cada uma é designada para uma função. Os produtos são colocados à venda em uma pequena lojinha aberta a comunidade. A renda é destinada para a ampliação do mosteiro, que já está em andamento. A cada dia, uma monja é responsável por fazer o almoço e a janta. Elas almoçam às 11h45min e depois podem repousar até 14h30, quando então fazem mais uma reza em conjunto. No decorrer da tarde as quatro monjas que estão em processo de formação recebem aulas das irmãs veteranas do mosteiro. Quando o sol começa a desbotar no horizonte, elas já se preparam para a missa, pois, religiosamente às 17h30, tocam os sinos: é o toque de recolher para a capela de orações. Depois de uma hora reunidas na capela, elas seguem para a janta, servida às 18h30. Satisfeitas de corpo e alma, às 19h, elas podem desfrutar da “hora do recreio”. Nesse momento, as monjas podem conversar sobre quaisquer assuntos. Vale falar sobre as notícias do jornal e da internet (sim, elas têm assinatura de jornal e acesso a internet), sobre o
tempo, sobre um livro. Não que durante o dia sejam proibidas de conversar, mas é importante que se mantenham focadas em suas tarefas. Porém, esse momento mais descontraído tem hora para acabar: às 20h elas fazem a última oração e às 20h30 partem para o que chamam de celas, que são os quartos. Uma cama simples, um criado mudo e uma janelinha com vista para a natureza, são tudo de que precisam para descansar.
Uma folga por mês As monjas não têm direito a férias, mas se precisarem podem pedir uma licença para visitar a família. No mosteiro da Santíssima Trindade, há monja de todos os cantos do Brasil: gaúchas, catarinenses, paulistas, piauienses e por aí a fora. Elas contam com uma folga por mês. Esse dia pode ser usado a livre escolha: vale passear na cidade, visitar amigos, entre outras coisas. As compras no supermercado são feitas por uma irmã específica, que é quem também faz os serviços de banco e lotérica. Apostas? não! as irmãs não tem esse costume, mas pagar contas são uma necessidade real, como de qualquer outra família. Para se locomover até a cidade, elas compartilham dois carros, embora nem todas tenham habilitação para dirigir. A irmã Isabel explica que, caso haja necessidade de ir ao médico, por exemplo, elas vão. “A vida aqui não é tão rígida quanto algumas pessoas podem pensar. Não estamos presas, estamos retiradas,” afirma. Do que será que Isabel mais sente falta? Antes de virar monja, há quase 20 anos, ela trabalhava como enfermeira em um grande hospi-
tal de Salvador. Quando conta sua história, o sorriso cerra seus olhos brilhantes. Como monja, ela não pode exercer a profissão que tanto ama. Relembra que teve vários namorados, chegou até a ser pedida em casamento, mas um dia acordou e decidiu que não queria mais viver aquela vida. Largou tudo, enfrentou a resistência da família e se tornou monja beneditina da Ordem de São Bento. Contudo, ela assegura que nem mesmo o amor à profissão a faria desistir de sua missão. Para ela e suas irmãs, o ritual de orações não é visto como um sacrifício, mas como prazer. “É um encontro diário com Deus”, garante Isabel. Quando nos damos por conta, o sol já começa a se despedir. O frio chega de mansinho, alertando que a noite será gelada. Dá para perceber no olhar de Isabel, uma mulher tão simples e tão culta, o quanto ela é feliz naquele mundo regido por orações e privações. Os sinos então anunciam: 17h30min, hora da missa, hora de partir. No momento de deixar o mosteiro, uma leve nostalgia paira no ar, tal qual a fumaça da chaminé. É curioso pensar que por mais tempo que se viva numa cidade, nunca será suficiente para descobrir tudo o que ela guarda. Um mundo de religiosidade, ideologias e convicções muito próprias. Um mundo tão perto e tão longe dos 125 mil habitantes de Santa Cruz do Sul. Um mundo que vale a pena ser descoberto e respeitado. Ao descer a colina, já sentimos falta da paz que emana daquele templo. Ainda bem que todos podem fazer visitas e se hospedar lá. Ficou curioso? Ligue para o número (51) 3715 -6805 Ramal 220 e converse com uma monja. Ela vai te receber de braços abertos.
Suilan Conrado
Arquivo Pessoal JORNAL UNICOM 13
Turma da Vita Esporte é composta, hoje, por cerca de 80 pessoas
O lado social das corridas Passam das 18 horas de segundaGrupos de treinos coletivos reúnem aspirantes a atletas que buscam mais do -feira e o som alto de dois espaços do Parque da Oktoberfest afasta o frio inque saúde e bem-estar. Eles querem tenso que paira sobre Santa Cruz do Sul. ampliar os círculos de convivência São “baladas” escolhidas a dedo pelos
NATANY BORGES REPORTAGEM
alunos de dois grupos de corrida em Santa Cruz do Sul que têm suas sedes situadas no local: o Vita Esportes e o Caminhão com Rádio. As trilhas sonoras cujos estilos vão do axé, passam pelo sertanejo e alcançam os hits do momento, embalam os alongamentos ao mesmo tempo em que concedem aquele “gás” para que os aspirantes a atletas deem a largada a mais um dia de treino. “O nosso foco aqui é alegria e bem-estar. Impossível alguém ingressar no grupo e não fazer novas amizades”, comenta um dos coordenadores do Caminhão com Rádio, o professor Jorge Peçanha. E a afirmação parece mesmo fazer sentido. À medida que os membros chegam ao “estande” destinado para a concentração do grupo antes da partida, homens, mulheres e até casais brincam e descontraem em um espaço onde as gargalhadas são notadas a metros de distância. Integração que não distingue
faixa etária, afinal após aliar a rotina do trabalho com os treinos até três vezes por semana, a autônoma Roselei Klafke Baumhardt, de 46 anos, incentivou o marido e as próprias filhas de 13 e 18 anos a ingressar. “No início eu pensava que não iria conseguir”, lembra. Mas tanto “chegou lá”, que hoje procura contagiar as pessoas ao seu redor, a fim de que pratiquem o esporte e sejam mais um membro “Caminhão com Rádio”. Envolvimento este que, aliado à prática de exercícios com muitas pitadas de animação, se transforma em uma combinação não apenas boa. É um encontro que ela prioriza em seu dia-a-dia e sente falta quando não o tem. A afirmação é compartilhada pela colega de corrida e agora amiga, Daiana Beckemkamp, 26. Enquanto preocupa-se em realizar um alongamento bem feito, já que naquele dia não sabia, mas iria estrear os seus primeiros sete quilômetros ininterruptos de corrida, a professora relata que mesmo o objetivo não sendo o resultado, o treino em grupo estimula novos desafios. “O interessante é que, independente da forma como
Evolução a cada treino Diferente dos casos de Roselei e Daiana que antes de ingressar no grupo Caminhão com Rádio penavam para completar apenas uma volta na pista do Municipal (o equivalente a 400 metros), o funcionário da Unisc, Charles Airton Bernardini, 33, incluiu a corrida como mais uma das atividades físicas que pratica durante a semana. Dono de um condicionamento físico preparado para enfrentar o mundo das corridas, o novato no grupo Vita Esportes afirma que buscou os treinos de fim de tarde com a intenção de ampliar os círculos de amizade e gozar de momentos em que esquece da rotina intensa de trabalho e estudos. “Para mim a corrida ou qualquer outro esporte é sinônimo de saúde mental. Foi com essa perspectiva que me incluí à turma do Vita há três meses”, diz em tom de empolgação. O que não esperava, entretanto, é que a execução dos treinos resultasse – em tempo recorde - um lugar ao podium. Ele arrebatou a quinta colocação no Circuito Santa Cruz Corridas de Rua – 2ª etapa, prova de três quilômetros. “À medida que você vai adquirindo condicionamento físico e praticando o esporte em grupo, você vai sendo naturalmente
desafiado. Querendo ou não sempre buscamos evoluir e superar metas”, diz. Mais do que a medalha ou os vários quilômetros os quais hoje consegue alcançar, entretanto, Bernardini é enfático ao afirmar que a convivência foi o melhor “presente” que o Vita pôde oferecer. Isto porque acredita ter no grupo, um espaço em que alia positividade e otimismo. Uma combinação perfeita para que possa seguir a rotina de maneira leve e com aquela saúde transbordando em disposição e muitos sorrisos. “São novas amizades de diferentes idades e profissões e que, sobretudo, estão sempre animadas”, concretiza. Assim como no Caminhão com Rádio, o Vita Esportes também oferece diferentes tipos de assessoramentos. Segundo o professor e um dos coordenadores do grupo na ativa há quase três anos, Henrique Didoné, para os iniciantes, por exemplo, percursos que intercalam corridas e caminhadas são os mais indicados. Já para aqueles que possuem melhor preparo físico, a dica é Daiana e Roselei: superação nos cumprir os itinerários que incluem até percursos mais de 10 quilômetros, sempre com a orientação dos professores. “Muitas muAfinal, por que Caminhão com lheres que iniciaram no grupo não corRádio? riam nem um minuto. Hoje participam de rústicas e comNão basta ser apenas animado. O pletam percursos de até 16 quilômetros”, Caminhão com Rádio ainda é dono de destaca, orgulhoso das alunas. um nome pra lá de peculiar. Que reOutra atração que estimula os corlação o veículo e o equipamento capaz redores a persistirem em seus treinos de transmitir músicas teriam com a são as rústicas espalhadas mundo afora. corrida? Pois o professor Peçanha resSegundo Didoné a nova “sensação” enponde. “Foi apenas uma coincidência tre os participantes do grupo é a prode circunstâncias”. Acontece que a tal cura por provas tanto no Brasil, como nomenclatura é oriunda de um “debaem outros países. “Teve gente que já foi te” entre parceiros de corrida, grupo o para o Rio de Janeiro, Minas Gerais e até qual integrava o seu filho mais velho, Europa. É um combo que inclui a ativiJuliano Peçanha. Eis que após particidade física e, claro, visitas aos lugares parem de uma rústica em Porto Aleturísticos”, explica. gre, em um momento de descontração, um dos integrantes do grupo lembrou o fato de o pai ser caminhoneiro no Como participar passado. À época, entretanto o veículo não possuía rádio. Logo, o melhor Os interessados em participar que poderia lhe acontecer, seria ter dos grupos de corrida e caminhadas um “caminhão com rádio” a fim de que Caminhão com Rádio e Vita Esporte, pudesse ganhar uma companhia nas dois dos seis grupos de corrida prelongas viagens. “Como estavam em um sentes em Santa Cruz do Sul hoje, ambiente de maratonas, muitas eram podem se deslocar ao Parque da as meninas bonitas e bem cuidadas Oktoberfest nas segundas, quartas “se é que me entende” que passavam e sextas-feiras, sempre à tardinha, pelo local. Logo, assim que uma destas entre às 18 e 19 horas. “beldades” cruzou pelo grupo, um deEm ambos os grupos uma menles disparou: “mas essa mulher é mesalidade é cobrada a fim de que os lhor do que caminhão com rádio”, lemalunos tenham acompanhamento bra aos risos. E foi então que o grupo profissional. de corrida criado pela família Peçanha Mais informações podem ser e que começava a dar, literalmente, os obtidas pelo telefone (51) 9913.5556, primeiros passos, foi batizado. E segue com Jorge Peçanha ou (51) 8198.6145, há dois anos, proporcionando momencom Henrique Didoné. tos de alegria e satisfação a quem nele se integra.
Natany Borges
se dá o desempenho de cada pessoa, um participante puxa o outro e isso resulta numa convivência pra lá de harmoniosa. Todos se ajudam”, define. No total, cerca de 40 pessoas integram o Caminhão com Rádio. Todos, de acordo com o professor Jorge Peçanha, em busca de qualidade de vida. Os treinos que duram cerca de uma hora, e são mesclados entre itinerários percorridos na rua e na própria pista do Parque Municipal. Mas ele e os próprios alunos garantem: treino bom, é treino na rua. Para isso, todo cuidado é pouco, tanto que as corridas do lado de fora do Parque são acompanhadas por, no mínimo, um professor e um monitor. Soma-se a isso, as orientações verbais acerca dos cuidados com os desníveis das calçadas entre outros obstáculos que podem ser encontrados pelo caminho. Nada, entretanto, que faça a turma perder o fôlego. Pelo contrário. Conforme Roselei Klafke, a rua figura o local preferido de todos os corredores, justamente por apresentar, a cada itinerário, novas “atrações” para se observar. “Tu começas notar detalhes que antes passavam despercebidos”. Um esporte que além de proporcionar saúde, bem-estar, entre outros inúmeros benefícios, amplia a relação de seus praticantes com a própria cidade.
A vontade dos habitantes de uma região para transformar um massacre em documentário e assim manter viva a história dos monges barbudos EDUARDO FINKLER REPORTAGEM
Em 1938 ocorreu um dos fatos mais marcantes do estado do Rio Grande do Sul: o massacre dos monges barbudos, isto aconteceu na região da Bela Vista, na época pertencente ao município de Soledade. Os monges eram um grupo de religiosos, que usavam barba como sinal de espeito ao próximo. Os ensinamentos teriam iniciado através de uma figura mítica, o monge João Maria (confira no box), sua doutrina era: somente a rezar, curar doenças por meio de benzimentos e ervas. Os seguidores do monge também incentivavam a população ficar longe de insumos agrícolas, venenos, etc. Isto fez muitos colonos abandoarem a fumicultura, principal fonte de renda da região, que faria os grandes vendedores de tabaco falir. Por ser um lugar isolado e de difícil acesso (levavam-se dias a cavalo para chegar a capital). O povo da época viu nesses monges uma espécie de lideres a se seguir. Isso chamando a atenção das autoridades e do governo de Getúlio Vargas, que acabou massacrando os monges, num dos episódios mais sangrentos da época. O entorno do massacre dos seguidores dos monges teve muitas versões ao longo dos anos, mas, em todas elas,
há certas concordâncias. Este massacre teria ocorrido por diversos fatores: Primeiro o governo, em segundo o docente na Universidade de Santa Maria (UFSM) o Professor de Ciências políticas, Djalma Cremonese o constante combate com a coluna Prestes, que após a segunda guerra mundial trazia a ideologia comunista (o governo acreditava que os monges apoiariam Prestes). Pessoas ensinando uma forma alternativa de vida, fazendo a população reunir-se. Isto aos olhos do governo parecia à tentativa de realizar “um golpe” de estado. Isso teria servido de pretexto para o extermínio dos monges, em plena semana santa. As autoridades da época locomoveram-se até onde o grupo de monges pregava e mataram diversos seguidores do grupo. Sabendo desta injustiça, em 2004 Gilmar Rogério Wendell descobriu por meio do programa a Voz do Brasil um projeto, que visava contar histórias de cidades de pequeno porte. Ele relembra que começou a fazer reuniões para incentivar as pessoas a participarem de um documentário. “Eu ia explicando que não haveria remuneração para ninguém, pois havia ganhado um financiamento mínimo do governo e isto foi muito bem
JORNAL UNICOM 15
Arquivo Pessoal / Gilmar Wendel
A saga de um povo para preservar sua história
entendido por todos”. Ele ressalta que houve cerca de 300 pessoas participantes no documentário. Somente mobilizar a comunidade não bastaria, pois Gilmar precisava escrever a sua versão. Então baseou-se no trabalho do professor Djalma Cremonese, Carlos Vagner, e outros autores. Gilmar Wendell optou pelo trabalho do professor Djalma pelo fato dele ser natural da região Centro Serra (parte central do Rio Grande do Sul). Atualmente o docente da UFSM , Professor Djalma Cremonese relatou ter necessitado de quase quatro anos para produzir um “livrinho”, pois, como gosta de dizer, “é um pequeno livro de entrevistas que ficou documentado”. Quando recebeu o convite do Gilmar Wendel. Cremonense relembra: ter ficado muito feliz em poder participar e ajudar. Porém, os méritos do documentário ele atribuiu ao Gilmar e ao pessoal que auxiliou para a existência do documentário. O docente ainda contou que “havia muito silêncio em todas as instituições da região. Ninguém falava nada, nem os professores, nem a igreja, nem os sindicatos dos trabalhadores rurais”. Como nasceu muito perto da Bela Vista (atualmente localizado no município de Segredo). Recorda-se de quando pequeno minha e sua vó dizia que os “monges”
passavam em frente das suas casas causando um grande medo nas crianças, e a vovó amedrontava seus filhos dizendo que iria “entregá-los” aos Barbudos. Essas informações foram essenciais tanto para o livro como para o filme, Djalma Cremonese relata que auxiliou passando informações para o roteiro e dando as entrevistas. “É um bom documentário em todos os sentidos, principalmente pela mobilização de toda a comunidade, que abraçou a causa. Não pensei que iria mobilizar tantos indivíduos acredito que havia uma sede, um grito de justiça que precisava ser dado”, salientou. Com o pouco do dinheiro que sobrou de todo o projeto, Gilmar Wendell teve que encontrar uma produtora que topasse auxiliar nas filmagens, Contudo, o dinheiro era pouco, fazendo com que ele tirasse dinheiro do bolso para finalizar o filme. Faltando apenas dez dias para a entrega do documentário, Gilmar e sua equipe não haviam gravado nada. Praticamente não dormiram neste período, mas apesar das dificuldades, ele recorda que “foi durante a seca, o calor era infernal é claro. E também havia o fato dos atores serem, em sua maioria colonos. Eles poderiam estar tristes pela safra não ter ido bem, mas não, estavam lá dando o melhor de si para sair um bom
documentário”. O processo de gravação ocorria de manhã num município e à noite em outro. Então, a equipe percorria mais de 60, 70 quilômetros sendo um processo continuo durante os dias de gravação. Como era o diretor do documentário, Gilmar acompanhou todo o processo de edição durante três dias, não havia um roteiro ou falas, era tudo de certo modo, muito improvisado. Ele conta que chegava para quem iria filmar e dizia o que precisava ser feito, “No entanto havia alguns personagens, e estes tinham algum texto”. O documentário termina com as autoridades ainda na região e perseguindo os remanescentes do movimento mesmo após o massacre, Tarcísio Fiuza, um dos líderes, foi morto em frente à sua casa e carregado num pedaço de madeira para que todos vissem o que aconteceria, caso continuassem seguindo os monges barbudos. O contabilista Francisco Telöken participou do documentário como delegado responsável pela matança dos monges. Ele relata “Comecei a filmar às 6 da manhã no município de Lagoa Bonita. As filmagens foram até às 11 da manhã. Repetimos a cena muitas vezes. Nesta parte do documentário, pelo que me recordo, participaram em torno de 200 pessoas”. Arquivo Pessoal/Gilmar Wendel
so regional. A mãe de Gilmar Wendel, Maria Gessi Grohe Wendel, também participou do documentário fazendo o papel de camponesa, para auxiliar o filho e estimulá-lo. “Ele quase não dormiu. Tivemos que fazer tudo para auxiliá-lo. Eu achei muito trabalho para pouco tempo de documentário, mas foi uma grande emoção poder ver o meu filho realizar o sonho dele fazer um filme sobre os monges barbudos”. A prima de Gilmar Graziela Leticia Wendel também participou “tentamos retratar tudo que aconteceu com nossos antepassados.
Foi uma situação emocionante para comunidade. Os monges, em minha opinião, não estavam errados, pois eles tentavam passar uma forma mais saudável de vida, longe do fumo, fato que irritou as autoridades da época, algo em que a comunidade do Centro Serra jamais esquecera graças ao Gilmar Wendel”.
Box 1 Saiba + Onde se encontram obras relatando a história dos monges barbudos:
Divulgação
O documentário feito por Gilmar Wendell encontra-se no site do movimento dos pequenos agricultores (MPA) http://www.mpabrasil.org.br/bibliotecas/ videos/o-grito-de-bamo-monges-barbudos. O livro escrito por Carlos Wagner e André Pereira está disponível para a venda em: https://www.estantevirtual.com.br/mod_perl/cart.cgi/ adicionar?livro=144832363 Livro do professor Djalma Cremonese está disponível gratuitamente pelo site: http://www.capitalsocialsul.com.br/capitalsocialsul/arquivos/mt/artigos/Livromongesbarbudos-.zip Documentário feito pela RBS TV exibido no programa Curtas Gaúchos http:// globotv.globo.com/rbs-rs/curtas-gauchos-especiais-de-sabado/v/reveja-o-curta-os-monges-barbudos/2332102/
JORNAL UNICOM 17
Arquivo Pessoal/Gilmar Wendel
Francisco atribui esta cooperação em virtude da vontade de se preservar a história dos municípios da região “Quanto ao meu papel, penso que o delegado da época deveria ter agido de outro jeito, mas esforcei-me para atuar da melhor forma possível”. Telöken ainda afirma que o documentário foi um sucesso muito grande na região, chegando a ser exibido em rede nacional pela TV Cultura, além de sido feitos trabalhos acadêmicos, documentários, matérias jornalísticas e a posterior exibição em ginásios de esportes, escolas, clubes, entre outros locais, tornando-se um verdadeiro suces-
Latuff/Reprodução
O legado da extinta Ipanema FM Durante 32 anos as ondas da 94.9 emitiram música boa, opiniões, cultura e liberdade. Hoje a rádio está calada, mas o sua história é eterna RODRIGO KAMPF REPORTAGEM
Com dez anos de idade, um garoto – que como eu, amava os Beatles e os Rolling Stones – buscava em meio as tralhas de seus pais uma antiga antena. Ao achar aquilo que procurava, estampou um sorriso de orelha a orelha em seu rosto. Correu até o quarto e, em um som que já devia ter três vezes a sua idade, a instalou. Ligou o aparelho e prontamente sintonizou a estação 94.9. Quando, das caixas saiu o grito de “lá em casa continuam, os mesmos problemas. Lá em casa continuam, me perturbando. Lá em casa continuam, me enchendo o saco”, o protagonista desta história saiu cantando e dançando esta clássica da banda gaúcha Garotos da Rua. Depois daquele dia nunca mais mexeu no botão sintonizador. Por anos, ouviu todas as eternas canções que eram emitidas das tão únicas ondas de rádio que a 94.9 emitia. Conheceu bandas, cantou junto clássicos, ouviu atentamente opiniões e, principalmente, viveu intensamente o que a velha antena tra-
zia ao seu quarto. O garoto cresceu, e o rádio evoluiu. Logo podia ouvir sua estação preferida enquanto dirigia um carro. Também acessava um site para escuta-la sem interferência. Dava bom dia para o locutor da manhã, almoçava com as canções do meio dia, passava a tarde bem informado e dava boa noite para quem era responsável pela programação da madrugada. Em uma segunda-feira de outono, quatorze anos depois do dia em que a antena foi achada, a rádio se calou e um pouco daquele garoto morreu. Foi o fim da Ipanema FM, uma gigante da cultura alternativa brasileira. A emissora, fundada em 1983 pelo Grupo Bandeirantes, foi um marco para a música gaúcha e nacional. Apesar de seu legado permanecer vivo, quem hoje sintoniza a 94.9 esperando ouvir aquele clássico dos Beatles ou aquela novidade que só lá era possível ouvir, se decepcionará em perceber que o sonho acabou. Pode parecer clichê, mas a Ipane-
peto de botar o bloco na rua, e botamos! A rádio era sintonizada, da mesma forma que os ouvintes eram, compartilhávamos dos mesmos gostos e interesses e, assim, fomos conquistando os jovens e o espaço dentro de uma cena que era muito fechada na época”, relembra a radialista. Um dos principais diferenciais que ela traz é o fato de a Ipanema dar voz aos ouvintes, coisa que quase não acontecia naquela época. “A diferença para as outras rádios era da água pro vinho. Desde o estilo de locução, passando pelo repertório e, principalmente, o tratamento com o público. Nosso ouvintes davam dicas, levavam discos e nos mantinham informados sobre tudo o que estava rolando pela cidade. Era uma verdadeira rede”, conta. Em 1985 Katia criou o programa Clube do Ouvinte, onde os ouvintes literalmente iam na rádio e tocavam o que queriam. “Eu só explicava o roteiro. Nessa época muita gente legal se dispôs a ir ao estúdio, compartilhar seus discos e artistas preferidos. Tivemos programas memoráveis.” Com o público e os radialistas em sintonia, falando a mesma língua e curtindo os mesmos gostos, foi se criando uma nova cena cultural no estado. A rádio tocava de tudo, desde o rock and roll, o blues e o heavy metal, até o jazz,
o MPB, o funk e o rap. Mas o carro chefe na programação inevitávelmente era o rock gaúcho. “As bandas do estado estavam conectadas com a Ipanema, todas daquela época se envolviam com a rádio. TNT, Cascavelletes, Garotos da Rua, Engenherios do Hawaii, Urubu Rei, Fluxo, Graforréia... todas! Nessa época chegamos a ser segundo lugar no Ibope, e a partir da divulgação desses músicos, consolidamos muitos no mercado. Tinha uma receptividade muito grande do público. E, tendo público, surgiram lugares para tocar, estúdios para gravar e um circuito em todo o Rio Grande do Sul para receber essas bandas. Criou-se uma cena.” Assim a rádio e o rock gaúcho cresceram, mas sem se vender. Katia destaca que existia um sentimento de ser uma rádio autoral, com cada um expressando sua individualidade no microfone. Cada locutor, explica ela, tinha seu jeito e nenhum subestimava a inteligência do ouvinte. “Se criou um culto. Quem gostava da Ipanema não tinha como se adaptar a outra rádio, éramos muito diferentes.” E a Ipanema não foi apenas influente na questão musical. Além de ter uma abertura muito grande para todas as expressões artísticas, como teatro, cinema, literatura e artes plásticas, também tratava no ar de temas raramente abordados em rádio, como ecologia,
JORNAL UNICOM 19
ma foi mais que uma rádio. Os ouvintes eram mais do que ouvintes, eram ipanêmicos. E, lá, a música era mais do que só música. Era vida! Mas o que fez essa rádio ser tudo isso? Como a 94.9 revolucionou a cultura gaúcha e manteve vivo o radialismo livre no Rio Grande do Sul por tanto tempo? A comunicadora Katia Suman, que comandava a programação da noite quando a Ipanema começou e permaneceu nela por muitos anos, destaca uma série de fatores para esta ter sido A rádio. “Éramos verdadeiros, totalmente fora dos padrões radiofônicos da época. Além disso, tínhamos um excelente repertório musical, bem melhor do que qualquer outra rádio que eu havia ouvido na minha vida.” Mas Katia destaca principalmente o fato da Ipanema ser a rádio certa na hora certa para Porto Alegre. Em 1983 a longa ditadura militar estava acabando e a juventude brasileira urrava por liberdade. Assim uma história começou, com jovens que queriam ser livres se expressando em microfones. Além disso, fora do estúdio, a música gaúcha e nacional viva um grande momento, com uma geração de ouro surgindo e revolucionando o país inteiro. “Nós potencializamos o rock gaúcho como também o rock gaúcho nos potencializou. Mas foi tudo muito orgânico, tínhamos um ím-
Arquivo Pessoal
Arquivo Pessoal
economia, política e direitos humanos. “Essa era nossa pauta, falávamos abertamente de tudo. Questionávamos o mundo, de uma certa forma. Lembro que na primeira eleição para prefeito de Porto Alegre, fizemos entrevistas e debates com os candidatos. Uma coisa que até hoje é estranha para uma rádio FM”, exalta Katia. E o fato da Ipanema fugir do tradicional, não tocando os hits das bandas que estavam em alta, investindo em músicos em ascendência e muitas vezes apresentando ao público todas as faixas de um disco, tornou a rádio uma referência nacional. “Apenas a Fluminense FM, do Rio, era assim. Não existia outra rádio no Brasil nesse estilo. Isso tornou o público gaúcho mais antenado e crítico. Um dia um Hebert Viana, do Paralamas, veio tocar aqui e se surpreendeu como os gaúchos conheciam todas as canções do disco novo da banda. Isso era a Ipanema”, afirma a radialista. A rádio alternativa não apenas se tornou viável economicamente, como chegou a dar muito lucro em um certo momento. E isso tem uma importância histórica para o estado e principalmente para o rock gaúcho. As bandas, conta Katia, chegaram a lotar o Gigantinho (que na época tinha capacidade para 17 mil pessoas), apenas tocando suas músicas autorais. “Era ina-
creditável. Hoje ninguém mais faz isso.”
Cria da casa Um jovem rockeiro que cursava engenharia química ouviu a Ipanema começar em Porto Alegre e, quando soube que Katia Suman havia iniciado um projeto em que o ouvinte poderia fazer um programa, decidiu vencer o medo e ir até o estúdio da rádio apresentar um especial sobre um de seus ídolos: Lou Reed. Tempos depois, com muitos programas já apresentados, Cagê Lisboa foi contratado para trabalhar na rádio, onde ficou de 1988 até 1995. “Foi minha primeira rádio. Me apaixonei por aquilo, larguei tudo o que tinha e entrei de cabeça nesse mundo”, conta. O radialista, que viveu os dois últimos anos da Ipanema, relembra dos tempos áureos da rádio e de como lá ele se encontrou. “A Ipanema não tinha essa história de voz padrão de locutor. Lá cada uma falava de maneira natural, o que era muito diferente do habitual da época.” Cagê relembra que ele pode dar suas opiniões, passar seus conhecimentos e tomar partido em discussões importantes, principalmente pelo fato da rádio nunca ter tido rabo preso com ninguém. Mais recentemente, conta que a rádio precisou se readaptar depois da ex-
plosão da música digital, mas que mesmo assim sempre deu certo financeiramente. “As gravadoras nós odiavam. Lembro de trazerem o segundo disco do Legião Urbana e pedirem para tocarmos a música de trabalho, Tempo Perdido. Eu ouvi e falei ‘não, vou tocar essa aqui, Eduardo e Mônica’. Fazíamos isso com todos e dava certo, tocávamos o que gostávamos e não o que era mandado.” A Ipanema, para Cagê, deixou um legado não só para Porto Alegre, mas para todo o Brasil. Mostrou que era possível a rádio emitir opiniões e tomar partidos, sem seguir uma linha editorial imposta pelas grande corporações. E foi por isso que o país inteiro ficou chocado quando soube de seu fim. “O Camisa de Vênus esteve em Porto Alegre pouco depois do fim da Ipanema e fez um discurso emocionado falando sobre a rádio. Todos respeitavam e sabiam do tamanho que ela tinha”, lamenta Cagê. A Ipanema, oficialmente, não acabou. Passou para a internet. Mas, para o radialista, isso é ridículo. “Eu me recuso a ouvir. Aquilo não é a Ipanema. Eles dispensaram toda a equipe, a rádio ficou sem sentido. Só rola música e vinheta. A Ipanema não funciona assim”, exalta. A rádio acabou, infelizmente. “O ouvinte não é burro, eles estão subestimando. Talvez ela ressuscite um dia, mas a Ipanema hoje está morta.”
Francielli Graff JORNAL UNICOM 21
Desejo de salvar vidas O ato de se declarar doador de órgãos e tecidos pode mudar a vida de muitas pessoas que não tem outra opção, basta deixar esse desejo expresso para os seus familiares FRANCIELI GRAFF REPORTAGEM
Já pensou que pode salvar mais de uma vida ao se declarar doador de órgãos? Pois é, mesmo não pensando nisso, você pode sim, fazer com que muitas pessoas vivam através desse gesto. E se todos os órgãos puderem ser doados, um doador pode salvar ou melhorar a vida de vinte e cinco pessoas. Mas para isso, tem que manifestar esse desejo e conversar com seus familiares enquanto ainda vive, porque a sua voz será a sua família. O Hospital Ana Nery, de Santa Cruz do Sul, tem uma equipe de Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecido para Transplante o (CIHDOTT), para auxiliar a família de todos os pacientes que entram no Hospital. Essa equipe tem contato direto com os responsáveis pelo paciente e por isso, quando é constatada a morte encefálica, e a equipe entra em contato com a família, eles já recebem melhor, por já conhecerem. O CIHDOTT do Hospital Ana Nery é formado pela psicóloga Sheryl Andreatta, que atua no mesmo há quase três anos, por um Assistente Social e por enfermeiros, que são responsáveis em responder a todas as dúvidas da família, com relação à doação de órgãos e tecidos. Para constatar a morte encefálica, o médico realiza os primeiros exames,
se for confirmado que o paciente está morto, eles já entram em contato com a família, porém são feitos mais dois exames para ter a confirmação. Mas esses outros exames não é o mesmo médico que a realiza. Se ainda assim o resultado for confirmado como morte encefálica, notifica-se a família e só então é que a equipe da Comissão Hintra-Hopitalar entra em contato com os responsáveis para saber se eles aceitam e concordam com a doação de órgãos e tecidos. Este ano no Hospital Ana Nery duas pessoas foram doadoras. É importante destacar que o Ana Nery não transplanta, somente faz a captação, e para a mesma, é uma equipe da Central do Rio Grande do Sul que se desloca até Santa Cruz, e conta com o auxilio da equipe técnica do Hospital Ana Nery para realizar o procedimento. Desde o momento em que é feito o primeiro exame no paciente, para constatar que ele está morto, até a realização da captação dos órgãos e o transplante, é o Sistema Único de Saúde o (SUS) que paga todas as despesas. Já o Hospital Santa Cruz, em 2014, notificou cinco casos de morte encefálica, e três deles foram doadores. Já neste ano foram duas notificações à Central de Transplantes, mas sem captação dos órgãos. Um dos casos tinha contra indica-
ção por histórico de câncer e o outro não recebeu a autorização da família para doar. O Hospital Santa Cruz também possui uma equipe do CIDOTT. No Hospital esta comissão gerencia o processo de captação de órgãos, detectando os potenciais doadores e viabilizando o diagnóstico de morte encefálica de acordo com a Resolução do Conselho Federal de Medicina, por existirem alguns critérios para um paciente se tornar doador após o óbito. O paciente para poder ser um doador precisa ter o diagnóstico de morte encefálica. Nestes casos, existe um protocolo seguido pela casa de saúde. Exames clínicos e de diagnóstico de imagem complementar podem confirmar o óbito do paciente, diagnosticando a morte encefálica. Após a confirmação, a equipe do CIDOTT notifica a Central de Transplantes do Estado do Rio Grande do Sul sobre o caso que possibilita a doação. Nos casos em que é autorizada a doação, os processos de captação e de transplante dos órgãos são feitos por uma equipe da Central de Transplantes do Rio Grande do Sul. Os profissionais que trabalham com esses casos vêm de Porto Alegre para captação dos órgãos. Após essa etapa, os transplantes são realizados na capital. O Hospital Santa Cruz realiza somente o transplante de córneas. Segundo informações da enfermeira coordenadora do CIDOTT do Hospital Santa Cruz, Fernanda da Cunha Salvi, a equipe está desenvolvendo ações educativas sobre o funcionamento do programa e a importância do gesto de doar, em parceria com outros veículos de comu-
nicação. Ampliando assim a divulgação e conhecimento dos processos, através de palestras informativas, campanhas alusivas e capacitações. E para as pessoas que tem dúvidas sobre a doação de órgãos em vida, ela é possível sim. Claro que a doação só é feita em casos de órgãos que forem duplos, como o rim, ou de parte do fígado e do pulmão, como foi o caso de Moises Sadi Morais, morador de Gramado Xavier. Morais doou parte do pulmão esquerdo para um primo, e nos conta como foi que decidiu ser doador. “Eu decidi ser doador porque o Arthur não tinha outra opção, só o transplante mesmo. E um doador já tinha desistido, eu fiquei sabendo e resolvi doar.” conta Morais. Ao termino da cirurgia, conta que ficou muito feliz ao saber que tudo tinha ocorrido bem. “o sentimento foi de alivio, a gente se sente muito bem. É um sentimento que não tem explicação.” salienta Morais. Mas além de ter doado metade do pulmão esquerdo em vida, Morais também se declarou doador de órgãos e tecido depois da morte. “eu quero ser doador depois de morto, a minha família já sabe e concorda.” afirma. Morais conta que mesmo tendo doado parte do pulmão em vida, ele não teve problemas de saúde por decorrência dessa doação, conta que vive uma vida normal. Segundo a lei hoje, no Brasil, com relação à doação de órgãos e tecido em vida, as pessoas já podem doar para um familiar próximo, e se não for familiar através de uma autorização judicial já se pode realizar a doação. Em caso de morte, somente com a autorização da
família.Nos últimos anos, o Hospital Ana Nery tem feito uma divulgação interna com os seus funcionários sobre a doação de órgãos. Para que os mesmos comentem com suas famílias e com a comunidade na qual estão inseridos, divulgando assim a informação. A psicóloga Sheryl, do Hospital Ana Nery comenta que “apesar de para a família ser um processo muito sofrido, o ato de doação de órgãos e de esse gesto salvar muitas vidas, faz com que se torne muito bonito.” Segundo dados divulgados no Registro Brasileiro de Transplantes (RBT), Veículo Oficial da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos (ABTO), neste trimestre de 2015, comparado com o ano de 2014, houve queda na taxa de potenciais doadores notificados que passou de 14,2 para 13,3 por milhão de pessoa (pmp). A taxa de doadores efetivos prevista em 2007 para este ano de 17 pmp não será obtida, e foi alterada para alcançar entre 15 a 15,5 pmp, com uma taxa de notificação mínima de 50 pmp. O número de transplantes renais realizados caiu 7,6%, sendo a queda de 20,3% com doador vivo e de 3,4% com doador falecido. Segundo o RBT essa taxa de transplante renal com doador vivo 5,4 pmp é a menor dos últimos 20 anos. Os transplantes cardíacos estão praticamente estáveis tendo uma queda de 1%, já os transplantes de pâncreas tiveram uma queda de 24% e de pulmão um aumento de 19%. Porém o transplante de córneas continuam a diminuir, 59,8 pmp. Veja no infográfico abaixo quais órgãos e quantos foram doados nesse primeiro trimestre de 2015.
Infogr.am
Crônicas
Tempo para falar sobre a falta de tempo ANDRESSA BANDEIRA
LUIZA ADORNA
Tempo anda tão impaciente comigo que parece que ele não me ajuda, é sempre hora do próximo chá, como diria o Chapeleiro Maluco. Só que eu não tenho tempo nem de lavar a louça do passado. Parece que o tempo brigou não só com o Chapeleiro Maluco e seus companheiros de mesa de chá, mas com todo mundo com quem eu tenho contato. Ninguém tem tempo para nada. Só para reclamar, como eu, que não tem tempo. Assim a gente vai levando, reclamando do fim de tudo antes que acabe. Até que, enfim, o fim chega. Aí eu respiro fundo e começo tudo de novo. Tudo em cima da hora. Como diria o Coelho Branco de Alice no País das Maravilhas, “já é tarde!”, e eu nem lavei a louça do último chá.
12h26min. Como em raras vezes, o ônibus chegava mais cedo. Quatro minutos antes do previsto e nove antes do normal. Peguei minha mala cor-de-rosa e entreguei para o cobrador que já nem me pergunta mais para onde vou. Mala guardada, agora era só encarar uma pequena e lerda fila até a porta do ônibus. Desatenta em relação às coisas que me rodeavam, provavelmente pensando no final de semana, de repente minha atenção fixou-se na senhora de cabelo armado e sorriso largo que descia rápido demais do ônibus para ter a idade que eu acreditava que tinha. Os fios de seu cabelo loiro esbranquiçado contrastavam com sua roupa escura. Vi seus olhos brilharem ao encontrar algo na minha direção. Antes mesmo de eu conseguir virar para tentar descobrir mais um pouco a respeito daquela felicidade gostosa, uma pequena senhora de cabelos negros passou por mim. Seus passos curtos eram recompensados por uma rapidez tão adolescente que me confundia. Tenho certeza que se ela tivesse algo em mãos, teria atirado para qualquer lado ao encontrar a dona dos cabelos brancos e sorriso largo. As duas se abraçaram de um modo que eu, mesmo sem saber ao certo a ligação que possuem, sorrisse feito uma boba. Um abraço tão amigável, um sentimento de irmandade que poderia ser sentido até mesmo pelo coração mais frio e inconstante. Enquanto a loira alta abraçava a morena baixa, fiquei as observando e quase como num filme, consegui imaginar as duas, cinquenta anos mais novas, se abraçando ao passarem no vestibu-
lar ou comemorando o aniversário de 15 anos. Sei lá... Mesmo sem saber, eu sentia que aquelas duas idosas de almas tão jovens viveram muito tempo juntas quando adolescentes. Podia perceber que aquele carinho era fruto de anos de convivência. As duas se conheciam de verdade. No sentido de saber tudo à respeito mesmo. Com certeza, cada uma delas sabe o primeiro amor que a outra teve. O primeiro beijo que levou e as lutas que passou naquela fase divertida e confusa. Aquela irmandade percebida me fez pensar nas minhas amigas e no quanto as quero perto de mim no meu futuro. Quero ter ao meu lado, quando estiver judiada pelos anos, pessoas que saibam o que passei e me entendam como ninguém. É uma sensação rara perceber afetos que sobrevivem a uma vida toda. E, perceber isso, me dá ainda mais vontade de cuidar daqueles que tenho ao meu lado e guardo em meu coração. As duas ainda se abraçavam, balançando-se para os lados, quando escutei uma voz agradável pedir: “Sua passagem, moça”. Tirei os olhos da cena das amigas saudosas e virei na direção de onde o som vinha. Enxerguei a pupila do senhor que me pedia o bilhete segurado, firmemente, pelas minhas mãos. O entreguei, ele fez o que tinha que fazer, e disse: “Paraíso então... Vai com Deus, minha menina”. Eu agradeci e pedi em oração para que não apenas eu fosse com Deus, mas também ele, as senhoras que tiveram um passado feliz e todos aqueles que cuidam das relações do presente pensando nas mesmas no futuro.
JORNAL UNICOM 23
Quando um passado feliz é reconhecido
Fim de semestre. Fim das aulas. Fim dos prazos. Fim das provas finais. Fim da paciência. Fim da imunidade. O desafio é sair vivo e conseguir realizar tudo o que precisa antes que se esgote o tempo. Mas relaxe: o fim nem sempre é ruim, como diria Fernando Anitelli e sua trupe do Teatro Mágico: “o fim é belo, incerto, depende de como você vê”. Eu o vejo incerto, porém, isso não o impede de ser belo. Das coisas que tem fim e mais me preocupam é justamente o tempo. Céus, como ele voa, corre, nada, e a gente mal aproveita, mal vê. A maioria do meu tempo sou eu reclamando que não tenho tempo. Eu não me ajudo, certo? Certo. No entanto, parece que nos últimos anos ele anda mais veloz e mais impaciente.
Banda Brilha Som / Divulgação
Dançando contra a maré As bandas de baile, muito comuns no Sul do Brasil, mantêm o espaço delas, mesmo diante da atual hegemonia sertaneja FELIPE KROTH REPORTAGEM.
muitas delas tomam cerveja. O público se organiza como quase sempre, muitos ficam nas proximidades das paredes, formando uma espécie de círculo e deixando o centro para o que vai ser chamado de pista de dança. No centro, várias cabeças sobem e descem e andam de um lado a outro, praticamente no mesmo ritmo. Todos vestem roupas de festa. Esta cena, com muitas ou poucas variações, se repete em toda a Região Sul do Brasil. Variam horário — às vezes a festa ocorre durante o dia — e local — às vezes em um ginásio ainda com cheiro de churrasco e/ou galinhada —, mas uma coisa é quase certa: neste evento há uma banda tocando. Não uma banda de rock, nem uma big band de jazz ou qualquer outra coisa. Em muitos lugares do Sul do Brasil, dizer apenas “banda” só pode se referir a um estilo: a banda de baile, que muitos chamam de “bandinha”. O principal ritmo tocado por esses grupos é a marchinha: rápida, geralmente animada e relativamente fácil de dançar. As apresentações de bandas
em muitos casos não são referidas como “shows”. Não porque não sejam shows, mas porque a característica é outra, o objetivo é outro. As bandas de baile não só se apresentam nas festas, elas animam as festas. Em muitos casos elas quase são a festa. Não é raro ver eventos com a mesma banda “a noite toda”. São três, quatro ou mais horas de música ao vivo, com o mesmo grupo. Uma apresentação tão longa dificilmente poderia ser formada só por músicas da própria banda e nem mesmo por um só estilo de música. Assim, o estilo eclético no palco é uma característica forte do segmento. “É um desafio que a gente tem também, que é em cada lugar que a banda se apresenta tirar um raio-x daquele público, do que está acontecendo nas rádios e tentar adequar nosso repertório para aquela realidade. A gente tem que fazer isso em todos os lugares que a gente toca”, explica Xandi Gonçalves, vocalista da Banda Porto. “Nos nossos bailes a gente faz as nossas músicas, são 17 discos gravados, mas não deixa de fazer o sertanejo que tá rodando nas rádios”, conta Olmar Kul-
nos pôsteres e, em alguns casos, até nas capas dos discos. O ônibus da Banda Brilha Som, por exemplo, tem 15 camas, sala e ainda sobra espaço para carregar todo o equipamento de som e luz necessário para os shows. “Tu ter um quatro eixos quer dizer ‘nossa!, a banda é ótima, é grande’. Porque é o cartão de visita. É a mesma coisa que chegar bem vestido”, destaca o vocalista Olmar Kulmann. “Então, para chegar no salão, tu até vê as pessoas tirando foto com o ônibus. É diferente, chama atenção. É um investimento grande que a banda tem, mas vale pelos olhos do público. Um ônibus bonito, plotado, chama muita atenção”, afirma. Os ônibus são importantes para a banda e também para os fãs. Eles são tema, inclusive, de uma página do Facebook, a Ônibus de Bandas, que tem cerca de cinco mil curtidores. A fanpage publica fotos dos veículos, mas também notícias sobre as bandas, muitas enviadas pelos próprios artistas e suas equipes. Para o criador e administrador da página, Jian Fabrício, os ônibus são as Mais que meio de transporte, “casas de estrada” das bandas. “A grande diferença é que muitos famosos têm um cartão de visita mais dinheiro e preferem às vezes pagar Quase ninguém se importa com como vans e outros meios. Assim, nem andam as bandas de rock, de sertanejo, os can- com os outros profissionais na viagem, tores de funk vão para os shows. Nas apenas sobem fazem o show e somem”, bandas, no entanto, o meio de transporte explica. Jian tem 25 anos e não é músico, é parte da banda, aparecendo inclusive
nem produtor. Ele trabalha no setor financeiro de uma empresa, em Capanema, no sudoeste do Paraná. A relação dele com as bandas é de fã, desde pequeno. “Quando eu era criança, na casa da minha vó, no Rio Grande do Sul, só tocava bandas, praticamente. Eu adorava! Também tenho primos que tocam no Terceira Dimensão”, conta. “Amo bailes, amo as músicas. Aí nasceu a ideia, que no início era brincadeira, de fazer uma página ligando tudo isso, mas voltada principalmente para a minha paixão, que são os ônibus”, explica. O fã e administrador da página Ônibus de Bandas, no entanto, tem se decepcionado com algumas bandas. “Muitas fazem coisas sem cabimento. A banda é grande, ganha reconhecimento na Região Sul do Brasil e na mídia nacional. Mas aí, quando se apresenta em um programa nacional, toca forró!”. Jian não foi o único que se decepcionou. “Eu que tenho a página e um grupo no Whatsapp semelhante, vi muitos falarem que foi palhaçada”, relata.
JORNAL UNICOM 25
mann, um dos vocalistas da Banda Brilha Som. “Nosso repertório é 60% ou 70% de tudo o que toca em rádio, em termos de sertanejo, música nacional e até alguma coisa de internacional. O baile é montado assim, mas no disco a gente leva nosso estilo, que é tocar marcha. Claro que a gente grava batidões, até para poder fazer algo nosso no baile. Tu não vai tocar um baile só com marchas, então vai andando conforme a época”, completa. As bandas de baile têm uma série de características bastante próprias. A maior parte das marchinhas tem linhas de contrabaixo muito semelhantes — algumas bandas de menor porte chegam até a substituir o baixista por uma base pré-gravada em um teclado. Os metais sempre têm grande destaque — pode faltar guitarra, mas que não falte um trompete ou saxofone. A grande maioria das bandas tem ônibus impressionantes; bonitos, coloridos e imponentes veículos, cobertos com a identidade visual da banda e muitas vezes assustadoramente bem equipados por dentro.
São tempos difíceis Das dez músicas mais tocadas no Brasil, na semana entre 8 e 15 de junho, segundo a Billboard, dez eram canções ditas sertanejas. Do 11 ao 20 no Top 100, mais uma vez, todas as músicas são
Banda Brilha Som / Divulgação
Banda Brilha Som / Divulgação
do estilo sertanejo. A primeira posição não ocupada por uma canção sertaneja é a 22, onde está o cantor americano Ed Sheeran, seguido de mais quatro posições de camisa xadrez e calça apertada, até o funk de Anitta, na posição 27. Na primeira semana do mês, até o dia 8, a situação é bem semelhante. São rankings como esse que definem, em grande parte, a programação das rádios comerciais. Rankings como esse têm abrangência nacional e ignoram as características de cada região. Não é culpa deles, é claro. Mas definir sucesso por estas listas de músicas mais tocadas uniformiza a música comercial. Para muitas partes do “sistema”, ou da indústria, isso é positivo. Mas alguém sai perdendo. Para os membros das bandas, os prejudicados são eles. A opinião é quase unânime; a hegemonia do sertanejo tirou espaço das bandas. É provável que tenha tirado espaço de quase todos os estilos. “Acho que a geração nova não está mais conhecendo muito o estilo de banda porque, de uns anos para cá, em virtude do sertanejo universitário ter ‘tomado conta’, as rádios acabaram diminuindo tanto o espaço que a nova geração não sabe mais o que é o estilo e não estão mais indo nos bailes”, afirma Xandi Gonçalves. Para o vocalista da Banda Porto, a perda de espaço comercial das bandas
é resultado de uma série de fatores. “O que aconteceu com a Boate Kiss foi o começo de tudo. Aquilo fez com que muitas casas fechassem, por não ter condições de ficarem abertas, devido à burocracia imposta. Além disso, com a Lei Seca, as pessoas pararam de ir em muitos lugares, por não poder beber. Em muitos lugares teve blitz no final dos bailes e algumas pessoas foram pegas no bafômetro. Essas pessoas não vão mais no baile, porque ficou traumatizante. Outro aspecto que acho muito relevante para o estilo ter ‘decaído’ um pouco, é o endividamento da população. Então as pessoas tem que optar entre ir para festa, ou pagar a prestação da casa, do carro. Aquelas que saíam todas as semanas, agora, de repente, escolhem apenas um final de semana para ir”. Até o início de 2015 a Banda Porto, que tem 16 anos de história, se chamava Porto do Som. Segundo Xandi, o grupo não mudou de nome, apenas tentou facilitar as coisas e diminuir as confusões — a banda era muitas vezes chamada de Pôr do Sol, entre outras coisas. A decisão, no entanto, também tem relação com o mercado restrito para o estilo. “A banda não trocou o nome, a gente simplesmente abreviou o nome. A gente oficializou o que está na boca da galera há muito tempo. A gente também achou que ‘Porto’ é um nome mais genérico, até para poder entrar em rádios que tem um
certo ‘preconceito’ com banda de baile”. Olmar Kullman concorda que o espaço das bandas diminuiu. “A Brilha Som teve uma ótima fase, por volta do ano de 2005, quando as bandas, em geral, estavam melhores, em termos de baile, música tocando em rádio. Hoje em dia, tem uma onda muito grande de sertanejo que acaba, não digo tomando espaço, tem espaço para todo mundo, porém vem muito mais forte a era sertaneja. Então acaba que em vez de rodar uma música de banda, roda sertanejo”. Apesar da má fase, as bandas mantém uma média considerável de apresentações. Tanto a Brilha Som quanto a Banda Porto tocam, em média, pelo menos quatro bailes por semana. O sistema Connect Mix, que registra a execução de músicas em mais de cinco mil rádios, confirma o domínio do sertanejo entre as mais tocadas no Sul do Brasil no mês de maio. No entanto, uma música de banda aparece no 33º lugar; é Alô Segurança, da Banda Passarela. No Top 100 de maio, no Sul, aparece ainda a Banda San Marino, com a música Vaza, na posição de número 88. Não se sabe o futuro da música, muito menos o das bandas de baile. O panorama pode não ser positivo, mas é certo que as bandas ainda têm sua força e seu espaço e que muita gente no sul do país vai querer continuar dançando e se divertindo, independente do que aconteça.
Roberta Kipper JORNAL UNICOM 27
Nem sempre a compra leva à felicidade A presença de um animal de estiRelatos de quem encontrou na adoção, um meio de ajudar quem precisava, os mação em casa traz felicidade e bem estar. Bolinhas de pelo alegres, fofinhas animais.
ROBERTA KIPPER REPORTAGEM.
e cheias de vida, grandes ou pequenas, brancas, pretas, pulam e brincam o dia todo como se fossem objetos com energia infinita. Porém, ao contrário de um brinquedo de verdade, animais não possuem um botão de liga e desliga. São vidas. A adoção de animais tem se tornado uma prática muito comum entre pessoas que procuram um companheiro de quatro patas para ter em casa. Adotar um animal, além de trazer alegria ao lar, também faz muito bem para o próprio bichinho, que agora vai ter sua própria casa e não vai mais precisar viver na rua ou em um espaço onde ele se sinta abandonado e não querido. Segundo a presidente da ONG de proteção aos animais Amigo Bicho, de Venâncio Aires, Nais Elisete de Andra-
de, a cidade tem uma população canina estimada em mais de mil animais. Muitos deles possuem donos, mas mesmo assim ficam andando pelas ruas. Aos cuidados da ONG estão cerca de 60 cachorros e quatro gatos. A média de adoção por mês da entidade é de 10 a 15 animais, sendo a maioria cães. Quem adota, garante que isto é uma das melhores decisões tomadas na vida. Também posso me incluir nesta afirmação. Saber que há alguém que, mesmo você passando o dia todo fora, chegando cansado, as vezes bravo, vai estar todo faceiro te esperando, é incrível. Quem também pode sentir isto é a auxiliar administrativa Simoni Teixeira, de 26 anos. Ela adotou a Jujuba, uma cachorra que atualmente está com oito meses. A Jujuba, essa fofura loira da foto, foi abandonada no Hospital de Clínicas Veterinárias da Universidade Federal do Rio Grande do Sul em dezembro de
Arquivo Pessoal
2014. Uma conhecida de Simone cursa medicina veterinária na UFRGS e postou fotos da cachorrinha, quando a mesma foi resgatada, em uma rede social, colocando que ela estaria para adoção. “Sempre amei animais, principalmente cachorros, de todos os tipos independente de ter uma raça definida ou não, como é o caso da minha. A vontade de fazer esses bichinhos felizes, que me motivou a então adotar” ressalta Simone. E foi assim, depois de ver a publicação de que Jujuba estava precisando de um lar, que ela decidiu que a sua casa seria também a casa dela. Simone comentou sobre isso com o seu namorado, Henrique, que então, no dia 12 de dezembro de 2014, trouxe a Jujuba de Porto Alegre para Venâncio Aires. Como Simone mesmo fala, trouxe o presentinho dela. Desde este dia, começou um encantamento sem fim. Simone conta que a Jujuba só falta falar, salientando que ela é muito inteligente, ao ponto de sair correndo pelo pátio quando ouve a palavra banho, causando uma correria para ela e Henrique, que acabam tendo dificuldades para pegá-la. Ela conta que Jujuba também adora dormir com os dois na mesma cama durante toda a noite toda, parecendo uma criança. Perguntada sobre a importância da adoção, Simoni falara que acha isso muito importante: “Quem realmente ama os animais, não se importa com raça, mas a maioria dos casos de adoção são de cachorros sem raça definida, que são abandonados por isso, ou por estarem doentes, velhos, por que destruíram um objeto a qual o tutor gostava muito, e fora os que são humilhados ou agredidos brutalmente”.
Outra pessoa que também adotou, ou melhor, encontrou, literalmente, um novo amigo é o empresário e motorista Rogemar Pressler, que tem 33 anos. Ele e a família estavam voltando do interior de Venâncio Aires no dia sete de junho. Já era quase noite, estava escurecendo quando encontraram, no meio da RS 422, próximo a uma ponte, um filhote deitado no asfalto. Rogemar parou o carro, desceu e, com medo de que o animal fosse atropelado, pegou o cachorrinho, que segundo um veterinário, tem entre dois e três meses. Tão pequeno, que nem foi possível descobrir ainda a raça do animal. Após fazer uma divulgação no Facebook e não encontrar o antigo dono do cão, a indecisão de ficar com o animal se desfez. O motorista conta que, apesar de estar a pouco tempo com o cachorro, que ganhou o nome de Doki, ele já é a alegria da casa, principalmente para o filho do Rogemar, de dois anos e sete meses, que se apaixonou pelo animal. Ouvindo essas duas histórias, me dei conta de que, de certa forma, também adotei, ou melhor, acolhi dois animais em minha vida. Uma cachorra, a Jade, e um gato, o Tom. Vamos começar falando da Jade, uma mistura de pinscher com alguma outra coisa fofa. Ela entrou na minha vida lá por 2005, época em que eu tinha uns dez anos e ainda morria de medo de cachorros. Era um dia chuvoso quando eu, junto com meus pais, fomos até a cidade de Canoas busca-la na casa de uma tia minha. A Jade já tinha cerca de um ano de idade e estava para “adoção” porque seus antigos donos iriam se mudar para
um apartamento. Chegando na casa da minha tia, encontrei ela, junto com sua irmãzinha, presas no banheiro. Minha reação foi a mesma: medo. Então, meu pai pegou ela e a colocou no meu colo. Foi a amor e um sentimento de proteção, de ambas as partes, à primeira vista. Desde aquele dia ganhei uma companheira, ou melhor, uma segurança particular. O ciúme dela comigo era incrível. Onde eu ia, tinha a Jade atrás. Ela conviveu comigo até 2013, quando um câncer e a idade à tiraram de mim. Já o Tom eu ganhei de presente de uma outra tia minha. Uma vez, ao ir na casa dela, vi sua gata toda gorducha esperando filhotes. Me encantei com aquela bola de pelos enorme. Para minha total alegria, minha tia disse eu me daria um filhote, mesmo tendo outras pessoas na “fila de espera” por um gatinho. Depois disso, foram longos e ansiosos dias de aguardo. Até que, em um dia quente de dezembro do ano passado, vejo minha tia descendo do carro na casa da minha vó, que fica ao lado da minha, com uma caixa na mão. Se alguém tivesse visto minha reação naquela hora, teria pensado que eu acabava de ganhar na Mega Sena. Desde aquele dia ganhei um novo companheiro. Que vive atrás de mim ronronando e se enroscando em minhas pernas, mesmo depois de ter que tomar banho uma vez por semana e tomar remédio todos os dias, por causa de uma alergia. Eu sei que meu gordo me ama. Gordo mesmo, com menos de um ano ele tem cerca de cinco quilos. Mesmo que ele demonstre esse amor me arranhando ou dando pequenas mordidinhas.
Coluna Social MATEUS SOUZA REPORTAGEM NICOLE RIEGER FOTOS
Festa da Seacom bombou!
João Pedro Kist e Anna Silveira
Frantiesco Bolson e Alexandre Kirst
Rafael Pessoa e Fernanda Junkherr
JORNAL UNICOM 29
Matheus Oliveira, Jonathan Adam, Mayara Reckziegel e Rodrigo Johann
Foi realizada entre os dias 18 e 22 de maio a XX Semana Acadêmica do Curso de Comunicação Social da Unisc, a Seacom. A programação do evento contou com palestras e oficinas para todos os gostos. Entre os convidados para a edição deste ano, estavam o jornalista Sérgio Reis e o quadrinista Daniel HDR. Mas o que bombou mesmo foi a festa de encerramento da XX Seacom, promovida pelo Centro Acadêmico de Comunicação Social (Caco). O local não poderia ser outro, se não a Legend Music&Bar, no centro de Santa Cruz do Sul. E rolou de tudo nessa festa. Alguns dançaram muito a noite toda, outros preferiram ficar apenas curtindo uma cerveja gelada. Teve quem bebeu demais e perdeu parte da noite. Mas todo mundo se divertiu, de alguma maneira. Confira alguns registros da zoeira que foi essa festa, feitos pela acadêmica do quinto semestre de Jornalismo, Nicole Rieger. Aproveito para fazer um agradecimento especial aos também alunos do quinto semestre, Fernanda Szczecinski e Fernando Uhlmann, que colaboraram na produção, e a Amanda Risso, repórter do Unicom, que me ajudou a pensar nesta inovadora ideia, que é uma coluna social em um jornal-laboratorial.
Jonatas Stacke e Gabriela Bertagnolli
Caco de presidente novo Mais de 100 alunos votaram na eleição para a escolha da nova composição do Centro Acadêmico de Comunicação Social (Caco). Única chapa na disputa, a Chapa 1 – Seguimos Operantes, foi eleita, tendo como presidente o acadêmico do 7 semestre, Frederico Silva, que também é o diagramador do Unicom 2015 1. E pelo que o Fred disse, a nova gestão está cheia de boas ideias, incluindo a promoção de novas festas para agitar ainda mais o curso. Vamos aguardar.
Gabriel Forster, Helena Kroth e Lucas Kroth
Fernanda Kaercher, Aneline Kappaun e Ana Cláudia Prass
Presidente do Caco, Frederico Silva curtindo a festa da Seacom
Premiados! jornalismo e Radiojornalismo: Bianca Cardoso Batista (nono semestre-Jornalismo) - Produto de Comunicação Institucional Radiofônico: Camilla de Borba Beckenkamp (sétimo semestre-Relações Públicas) - Eventos e Promoções: Letícia Aguiar dos Santos (quinto semestre-Relações Públicas) e Celina Ahlert (sétimo semestre-Relações Públicas) - Produto de Comunicação Institucional Digital: Tamara Freitas (nono semestre-RP)
Os amigos Emmanuel Jardim e Douglas Azevedo
- 28ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul, com cobertura da Agência A4 - Aula Inaugural - Novas turmas dos cursos de Comunicação Social – Jornalismo e Comunicação Social – Publicidade e Propaganda - Produção de mais uma edição da Revista Exceção - Inauguração do novo bloco da Comunicação Social - E claro, mais festas
Evelin Barbosa e Aischa Garcia: que estilo!
Daiane Klein, Regina Forster, Amanda Silva, Tainara Candeloro e Lara Goetze: amigas curtindo a festa
JORNAL UNICOM 31
O Curso de Comunicação Social da Unisc conquistou cinco prêmios no Expocom, durante o XVI IntercomSul, realizado na Univille, em Joinville-SC. Estaremos muito bem representados na edição nacional do Intercom, que acontecerá no Rio de Janeiro, em outubro. Confira abaixo os ganhadores. E boa sorte na Cidade Maravilhoso, pessoal! - Produção em Jornalismo Digital: Andressa Bandeira Santana (oitavo semestre-Jornalismo) - Produção Laboratorial em Audio-
O que vem por aí no próximo semestre
Fテ。IO GOULART