JORNAL EXPERIMENTAL DO CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA UNISC - SANTA CRUZ DO SUL - VOLUME 33 Nº 3 AGO/SET 2016 - EDIÇÃO ESPECIAL
CRÉDITO: VANESSA COSTA
EDITORIAL Um jornal que também é daqui Na sua 29ª edição, a Feira do Livro de Santa Cruz do Sul retorna à Praça Getúlio Vargas e não poderia faltar no evento o Unicom, jornal-laboratório do Curso de Comunicação Social da Universidade de Santa Cruz do Sul, tradicionalmente produzido pelos alunos do núcleo de jornalismo da Agência Experimental A4. Em sintonia com o tema desse ano, “Ler o que é daqui”, a publicação explora as particularidades da região. Nele você irá conhecer locais de formação e qualificação de escritores e um pouco da história das Academias Literárias existentes no Rio Grande do Sul. As produções locais também foram abordadas em nossas reportagens, a partir de escritores da região e do Estado, de projetos que levam a literatura para a vida das pessoas, seja através de livros, revistas ou quadrinhos. E, claro, contamos para você um pouco mais sobre a patrona desta edição da Feira, Diana Corso, e da homenageada, Valquíria Ayres Garcia. Um jornal plural como o Unicom, e que reconheça a importância do seu espaço, só é possível quando todos se unem em prol do jornalismo. Aproveitando que os repórteres – todos alunos da Unisc – são de cidades distintas, buscamos trazer essas particularidades para as reportagens, como no caso da matéria sobre as bibliotecas públicas municipais. Da capital ao interior, nossa equipe percorreu a estrada para trazer um conteúdo diverso – o que já é marca do nosso jornal. Desejamos a você uma boa leitura e convidamos todos para acompanhar a cobertura completa da 29ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul pelo site hipermidia.unisc.br/ 29feiradolivro.
Você é um artista, sim Andressa Bandeira*
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urante algum tempo eu tive vergonha de dizer que eu era escritora. Às vezes uma galera me dizia “tu é contista” ou “tu escreve, né!? Que legal!” e eu ficava toda sem jeito e recusava os “títulos”. Hoje eu percebo que isso é uma besteira. Ora, eu não escrevo? Eu não faço contos? Eles podem não ser clássicos ou best sellers - na verdade, só um deles já foi realmente publicado -, mas se eu escrevo e amo o que eu faço e agrado a um público, mesmo que pequeno, então sou escritora, sim. E não é uma questão de pretensão ou, como dizem por aí, de “se achar”. Se tu coloca teu coração e energia naquela pintura, naquela música, naquele texto, então, sim, tu é um pintor, um músico ou um escritor. Tu não precisa do aval de milhões, tua alma já decidiu. E isso que importa. Caso o reconhecimento de um grande público venha, ele será, obviamente, muito bem vindo por qualquer artista, em qualquer área. Mas a questão é que o reconhecimento não te faz artista, isso tu já é. É isso que importa, de verdade. Tomara chegue um dia, em breve, espero, em que a gente aprenda a incentivar mais o que é produzido na nossa cidade, região e estado. Essa postura vai fazer um grande bem para artistas, munícipios e toda a comunidade. Afinal, artistas eles já são, só falta um empurrãozinho para que a arte deles chegue em todos os lugares que merecem. *Jornalista, desde 2011 escreve contos no blog Um café e um Conto.
A poesia é o pulso da vida Paola Severo*
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escritor sobradinhense Ryan Mainardi, de 29 anos, escreve sobre as angústias do ser em ‘Poema Limpo’ (Editora Schoba, 64 páginas), onde ele de certa forma responde ao ‘Poema Sujo’, de Ferreira Gullar, a quem dedica o livro. Assim como eu seus livros posteriores, Palimpsesto (2013, romance) e Metâmeros (2016, contos), o autor conta de forma autobiográfica sobre sua rotina, trancado em um apartamento na cidade de Porto Alegre, cercado pela fumaça dos cigarros e garrafas vazias de vinho, atormentado pelas idas e vindas dos amores. Neste local, ele observa pela janela a decadência da cidade, refletindo sobre uma existência artística brutal. E brutais são seus poemas. As palavras ferem, é impossível não se identificar, nem sair magoado após algumas páginas. A verdade machuca, e a realidade é o que todos nós mais tememos; a compreensão da insignificância dos seres humanos frente à grandiosidade da vida e do universo. Apesar da pouca idade, o autor externa um tipo de amargura de quem viveu – e sofreu – muito. Assim, o ‘Poema Limpo’ acaba sendo um forma de purificação para um mundo feio e sujo, para uma existência manchada pela dúvida. Uma obra bela, porém cheia de angústia e medo, assim como a vida. *Jornalista, escreve sobre livros no jornal Gazeta do Sul e no blog Uma Leitora.
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DE VOLTA AO CORAÇÃO DA CIDADE Expectativa da organização é de que o retorno à Praça Getúlio Vargas dê mais visibilidade ao evento Por Caroline Fagundes Pieczarka
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m setembro de 2016, a 29ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul está de volta à Praça Getúlio Vargas. Após ter sido transferida para o Parque da Oktoberfest em 2015, o evento retorna ao coração da cidade, onde foram realizadas a maioria das suas edições. Segundo Roberta Pereira, gerente do Serviço Social do Comércio (Sesc) de Santa Cruz do Sul, a ideia de mudar o local surgiu ainda no ano passado, mas se concretizou recentemente, após negociações em relação à estrutura da praça. “Para a Comissão Organizadora, a praça é o espaço mais adequado para a
Feira, com maior acesso para as pessoas e mais visibilidade. Claro que existem pontos negativos, como estacionamento e segurança, mas acreditamos que isso possa ser contornado com ações de todos os envolvidos e parceria com a Prefeitura”. Outra novidade desta edição é o período de duração do evento, que normalmente ocorria em dez dias e este ano será realizado em sete dias. O motivo de tal mudança é que em agosto ocorreu a 1ª Festa Literária de Santa Cruz do Sul, que reuniu autores locais em escolas que se candidataram a participar. Conforme Roberta, a ação consiste em um batepapo envolvendo alunos e a presença de dois autores e um mediador. Para tanto, as escolas tiveram de se preparar para recebê-los, lendo suas obras e realizando pesquisas que mobilizaram os estudantes. “A ideia foi valorizar os talentos literários locais e já fazer uma divulgação da Feira do Livro”, afirma a gerente do Sesc. Também com o intuito de valorizar a literatura local é que foi definido
o tema da 29ª edição da Feira, Ler o que é daqui. Escolhida como patrona, Diana Corso é psicanalista, colunista do jornal Zero Hora e autora de obras como Fadas no Divã: psicanálise nas histórias infantis e Psicanálise na Terra do Nunca: ensaios sobre a fantasia. Homenageada nesta edição, Valquíria Ayres Garcia é natural de Cachoeira do Sul, mas reside em Santa Cruz do Sul e há muito tempo é presença confirmada no evento como contadora de histórias para o público infantil. Entre suas obras estão O sapo Sapofe, Amor de dinos e A bruxa Roxilda. A relevância de suas obras literárias, bem como o trabalho que fazem em prol do livro e da literatura são citados como critérios para a escolha dos dois nomes de destaque da Feira do Livro. Para a edição de 2016 desta festa cultural que visa promover e estimular a leitura, 17 livreiros estarão participando e a estimativa de público gira em torno de 25 mil pessoas. Em 2015, junto ao Parque da Oktoberfest, o público total foi de 23,5 mil pessoas, 18 livreiros integraram-se ao evento e 12.550 livros foram vendidos.
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PATRONA
“SOU MESMO UMA PSICANALISTA QUE ESCREVE”
Diana Corso aborda temas cotidianos, como filmes, infância, família, loucura e drogas; recebeu o prêmio Açorianos na categoria crônicas em 2015 Por Madhiele Scopel
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e olhos claros e cabelos curtos, a portoalegrense Diana Corso recebeu com emoção o convite para ser patrona da 29ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul. Produzindo para veículos como Zero Hora, Vida Simples, Mente & Cérebro, Correio da Associação Psicanalítica de Porto Alegre (APPOA) e outras publicações especializadas, o desejo da primeira obra começou a consolidar-se. Em 2005 o então projeto tornou-se um livro intitulado Fadas no divã: psicanálise nas histórias infantis, que Diana assina com seu marido, Mário Corso, também escritor e psicanalista, o qual foi finalista do Prêmio Jabuti. Em 2014, ela publicou Tomo conta do mundo: conficções de uma psicanalista, composto de crônicas e ensaios, vencedor dos prêmios de Livro do Ano 2015 da Associação Gaúcha de Escritores (AGES) e do prêmio Açorianos na categoria Crônica, no mesmo ano. Conforme Diana, a maior parte de suas inspirações para escrever vem do divã. Em entrevista à A4 - Agência Experimental de Comunicação, ela falou sobre processo criativo, carreira e outras abordagens literárias e até pessoais.
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Agência A4: Diana, o que te levou a cursar Psicologia? Quais foram as motivações? Diana Corso: Pois veja só, eu realmente pensava que queria Ciências Sociais ou Artes Cênicas, que eram a segunda e terceira opção no vestibular, pois nunca me ocorreu que passaria na primeira opção, que era Psicologia. As escolhas respondiam às minhas paixões, a questão política, do fim da ditadura, era central para mim nos anos de chumbo, por isso me interessava pelas teorias sociais, e amava o teatro. Sou extremamente tímida e só pensar num palco me punha as pernas a tremer, assim como pouco formatada para os estudos teóricos e a vida acadêmica, o destino escolheu certo por mim. Na época já era fascinada pela psicanálise, já tinha passeado por alguns textos de Freud no segundo grau, mas fora isso não tinha muita ideia do que se aprendia no curso. Fui descobrindo aos poucos, embora a psicanálise sempre tenha sido o eixo, e hoje não me imagino capaz de fazer outra coisa do que dedicar-me aos pacientes. A4: Quando você começou a escrever e contribuir com o campo da literatura? Diana: Quando jovenzinha participava de publicações das instituições em que trabalhei, escrevia casos, iniciava-me no manejo da teoria, nunca imaginei que escreveria de outra forma do que essa, em publicações específicas da área. Foi com o Mário, meu marido, que começamos a sonhar em escrever para um público maior. Somos encantados pela arte do ensaio, que vive na tríplice fronteira entre a literatura, a experiência e a teoria, assim como pela busca da clareza. Não sabíamos que faríamos
isso com tanto afinco. Quase sem dar-nos conta, começamos a querer opinar sobre acontecimentos, filmes, tendências, infância, família, loucura, drogas, enfim, os assuntos pipocavam e nossa vontade de escrever não esmorecia. Descobrimos que a ficção, assim como a possibilidade de explicar a psicanálise e o inconsciente através dela, funcionava com um grau de empatia maior. Não se tratava de abordar histórias e personagens como casos clínicos, mas sim de interpretar as histórias como se fossem sonhos nossos. A ideia de fazer um livro foi chegando de mansinho, o assunto só podia ser a interpretação da nossa vivência mais forte, a parentalidade e as histórias que animaram nossas meninas, àquela altura já saindo da infância. A partir dos ensaios feitos por nós dois foi consolidando-se o desejo de empreender algo de
“Nunca vivi um sem o outro, sempre tenho na cabeça as colunas e algum livro no prelo. Não sei como seria a vida sem isso.” Diana Corso
tiro maior. Esse projeto acabou tornando-se um livro: Fadas no divã: psicanálise nas histórias infantis, publicado em 2005, cuja pesquisa absorveu cinco anos de trabalhos forçados. Em 2001, um telefonema da Claudia Laitano iniciou-me na vida de colunista na Zero Hora. Quase morri de nervosismo, mas comecei e nunca
mais parei. Anos depois somou-se a experiência de alguns anos na revista TPM, onde aprendi a escrever com mais irreverência e atualmente na Revista Vida Simples, que tem me ensinado a ser mais leve. O Mário virou colunista também. Juntos fizemos mais um livro sobre ficção e psicanálise – Psicanálise na Terra do Nunca: ensaios sobre a fantasia – publicado em 2010. Escrever virou um vício do casal. Somos adictos. A4: Sua inspiração provém de estudos ou das histórias de pacientes? Diana: A maior parte dela nasce da clínica, do divã, mas principalmente daquele no qual me deito. A crônica, que é o estilo para o qual minhas colunas acabaram pendendo, é efetiva somente ao tratar de um assunto que produz uma vibração interior em quem escreve, ela tem que ser tocante. Quanto às histórias dos pacientes, as que acabo contando, sempre com autorização deles, apesar de transformadas para proteger-lhes a privacidade, são escolhidas por serem particularmente importantes para mim também. Não consigo ser ilustrativa, só posso escrever enquanto reação a uma inquietação e como forma de elaborar essa coceira que certa questão está me dando. Atualmente o teclado também é meu divã.
opinam e por vezes alteram. A escrita na família Corso é um ofício. A parte da investigação, das descobertas de teses e assuntos a desenvolver, os debates com amigos e colegas, as reescritas a partir das sugestões e orientações de nossos interlocutores, fazem dos livros experiências mais profundas e prolongadas. Nunca vivi um sem o outro, sempre tenho na cabeça as colunas e algum livro no prelo. Não sei como seria a vida sem isso.
A4: Você é colunista da Zero Hora e da Revista Vida Simples. Além disso, escreveu livro de crônicas e de análises. Mas, afinal, qual a sua preferência? É escrever livros, crônicas ou colunas? Diana: Há quinze anos escrevo crônicas semanalmente, já não sei como é viver sem fazê-lo. É cansativa a busca incessante do assunto e do ponto de vista para abordálo. Os livros são mais divertidos porque é possível entrar a fundo em cada assunto e escrever a dois, o que permite melhorar o estilo, complementando-se, corrigindo-se, discutindo e até brigando e tentando ser mais humildes. Nos textos individuais também nos ajudamos, mexemos no escrito um do outro e atualmente nossas filhas, uma psicóloga e uma jornalista, também
A4: Com os livros Fadas no Divã: psicanálise nas histórias infantis e Psicanálise na Terra do Nunca: Ensaios sobre a fantasia, você e seu marido Mário Corso, foram finalistas do Prêmio Jabuti. Você esperava tanto reconhecimento? Como você avalia este episódio? Diana: As indicações, assim como as premiações recebidas com os outros livros, foram para nós uma carinhosa surpresa, pois são um reconhecimento vindo de quem trabalha com livros, com literatura, com ensaios, e é profissional dessa arte. É importante, pois não ficamos sabendo se o que dizemos impacta aos que se debruçam sobre temas similares. Outra surpresa que nos impactou tanto quanto os prêmios, foi a intensa vendagem dos nossos livros. Dou cada autógrafo com entusiasmo
de principiante. Acho que vai ser assim para sempre, pois embora seja tratada como escritora, o que me honra muito, acho que sou mesmo uma psicanalista que escreve. A4: Como foi receber o convite para ser Patrona da 29ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul? Qual sua expectativa para o evento? Costuma frequentar a Feira nesta cidade e em outras do interior do estado? Diana: Nunca pensei em ser patrona de uma feira de livros. Como portoalegrense cresci adorando a Feira e esperando por ela como se fosse parte da primavera – os livros florescem junto com os jacarandás em nossa cidade. Já trabalhei em editoras, nas bancas, enfim, feiras do livro são parte de minha vida. Quanto às de outras cidades, apenas tive alguma relação com a Feira do Livro de Canoas. Fora isso, a vida cotidiana no consultório me impede de maiores circulações ao encontro dos leitores, não posso bagunçar a agenda tanto assim, por isso acabo dosando as viagens, tanto regionais quanto nacionais. O convite de Santa Cruz foi muito emocionante e despertou-me para a cidade. Presto atenção agora, como se tivesse passado a fazer parte da minha intimidade.
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HOMENAGEADA
Escritora nutre amor e carinho pela profissão que exerce, voltada ao público infanto-juvenil, e defende a valorização dos escritores locais Por Juceila Bueno
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s primeiros passos como escritora evidenciaram que tudo que envolvesse a arte poderia abrir muitas portas para Valquíria Ayres Garcia. Ela escrevia livros à mão, memorizava e pedia para contar a história em escolas. Os pedidos eram aceitos e os espaços abertos para a narração criativa da autora. “Toda a vida participei de cursos e oficinas ligados à arte e literatura. Fui me construindo de uma maneira livre e certa de que era isso que queria pra minha vida”, conta. A homenageada da 29ª Feira do Livro transita pelas artes plásticas como pintura, escultura e instalação. Tem formação em Pedagogia e trabalha na Biblioteca Pública de Santa Cruz do Sul. Desenvolve vários projetos de leitura e pintura, e conta suas histórias em instituições de ensino, empresas e palcos de feiras de livros. Valquíria é natural de Cachoeira do Sul e reside em terras santa-cruzenses desde 2000. Publicou seis títulos voltados ao público infanto-juvenil: O sapo Sapofe, Amor de dinos, A vaca amarela, A bruxa Roxilda, A dúvida cruel e Tem uma estrela na palma da tua mão. Em entrevista à A4 - Agência Experimental de Comunicação, a escritora falou sobre suas inspirações, seu trabalho e sua alegria com o convite recebido.
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CRÉDITO: JUCEILA BUENO
ARTE E LITERATURA PERPASSAM O TRABALHO DE VALQUÍRIA AYRES GARCIA
Agência A4: Como surgem as ideias para escrever os livros? Em que momento? Valquíria Ayres Garcia: As ideias surgem nos mais variados momentos, quando estou viajando ou quando tenho um sonho e acordo inspirada para escrever sobre ele. Coloco meus amigos em várias histórias, uma maneira de homenageá-los. A4: Existe diferença em contar histórias para adultos e para crianças? Valquíria: Existe, sim, uma maneira de contar diferenciada. Com as crianças é preciso ter mais paciência, usar uma entonação na voz diferente. Antes de contar a história faço brincadeiras para prender a atenção. Não gosto de dividi-los em faixas etárias. Acho muito importante exercitar o público infantil para que no futuro possa ser mais participativo, possa ser uma plateia com respeito e interatividade com os artistas. Essa formação de plateia acredito ser muito importante; o respeito e educação com a pessoa que está contando uma história ou palestrando. A4: Qual a importância da tua caracterização na hora de contar histórias? Acredita que possa estimular os ouvintes? Valquíria: Acredito que influencie sim, mas não consigo usar caracterização de bruxa, por exemplo, para contar toda uma história, acho que me limito muito àquele momento, e é muito difícil usar caracterização para tudo. Mas levo uma alegoria junto e me coloco como uma escritora que conta histórias.
A4: Quais são os desafios que você encontra no seu trabalho? Valquíria: Sou tão apaixonada pelo o que eu faço que não vejo desafios. O maior desafio para todos os artistas é o tempo, todos nós gostaríamos de ter mais tempo para trabalhar e desenvolver nossa arte. A4: Atualmente, você desenvolve sua profissão como artista plástica? Valquíria: Reuni todas as minhas esculturas na sala de casa, para ficar apreciando. Tenho muitas ideias, estou sempre começando algum trabalho, mas a continuidade do trabalho na escultura não é fácil, porque exige tempo. E como trabalho 40 horas na Biblioteca [Pública de Santa Cruz] fica mais difícil, mas aos poucos consigo conciliar e não deixar totalmente de lado.
Valquíria Ayres Garcia escrevia livros à mão, memorizava e pedia para contar a história em escolas.
A4: Qual a função que você exerce na Biblioteca Pública de Santa Cruz do Sul? Valquíria: Trabalho recebendo os leitores, no empréstimo e sugestão de livros, na contação de histórias e desenvolvimento de oficinas. Uma em especial que é sobre pintura, ligada ao projeto “Pintando na biblioteca”,
abrange seis turmas e é bacana para as pessoas conhecerem a instituição. Quando fazem a inscrição para a oficina de pintura já são convidados a fazerem a carteira da biblioteca. A4: É a primeira vez que você é homenageada em uma feira do livro? Qual a sensação? Valquíria: Já fui homenageada muitas vezes por outras feiras do livro do interior e de outras escolas. Recebi homenagens maravilhosas, desde o primeiro livro até o mais recente. Já me esperaram com esculturas de personagens, produzidas por alunos e pais, com criações muito ricas. Esse convite é recebido com muito amor e carinho. Acho muito importante esse momento para mim, porque demonstra que está mudando um pouco o olhar sobre a literatura infanto-juvenil, que já foi considerada uma arte menor. Acredito que hoje esse panorama tenha mudado porque é um trabalho de muito tempo, não é uma questão de momento. A4: O que você acha do tema da Feira do Livro de 2016, que busca valorizar os escritores locais? Valquíria: Acho muito importante, pois é claro que devemos ter um olhar geral, universal, mas devemos principalmente valorizar o que é nosso, revelar e incentivar, pois dependemos um dos outros, seja como incentivo, como energia para continuar. Acredito que vivemos numa rede de pessoas e profissionais, e devemos aproveitar esse olhar especializado para evoluirmos. Acho muito legal que as pessoas da cidade tenham essa oportunidade e esse incentivo.
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TRADIÇÃO GAÚCHA
UM NOVO OLHAR DAS HISTÓRIAS CLÁSSICAS
Inspirado na literatura infantil clássica, cachoeirense cria livros ambientados no Rio Grande do Sul, disseminando cultura e incentivando a leitura Por Giovana Brasil
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maioria das crianças começa a ler as primeiras palavras e os pais já pensam em comprar um livro de contos de fadas. Quem nunca leu um clássico como Cinderela ou O gato de botas? Pois bem, agora as histórias clássicas da literatura ganharam uma adaptação aos costumes gauchescos. A ideia surgiu a partir da constatação de que não se encontravam livros que falassem do povo gaúcho para o público infantojuvenil. Por que não suprir essa falta mesclando histórias clássicas e os hábitos rio-grandenses? Esta foi a pergunta que levou o cachoeirense Rodrigo Keller, juntamente com uma equipe multidisciplinar, a criar o projeto Reino Grande do Sul. Depois de mais ou menos seis meses de pesquisa sobre como as prendas e peões se vestem, se portam, quais rituais praticam, bem como acerca de peculiaridades típicas de
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cada região do Estado, os profissionais criaram o Reino Grande do Sul, onde princesas e príncipes dão o lugar para prendas e peões viverem suas aventuras em um mundo de fantasias, dividido em sete províncias regionais e uma província da capital. Há, em média, duas histórias para cada província e seus títulos lembram os clássicos infantis, compondo a coleção Prendas e Peões. São elas: Prenderella, Gato de Bombacha, Prenda de Neve, Sulliver, Prenda Adormecida, João e a Plantação de Arroz, A Prenda e a Fera, Peão dos Bosques, Prenda de Tranças, Zorrilho, A Prenda Sereia, Os Três Ginetes, Prendahontas, Dom Quitério de la Fronteira, Capitão dos Rios e Prenda dos Pampas. As fábulas têm suas bases nos contos que todos conhecemos, mas com a introdução dos costumes gaúchos e uma certa peculiaridade rio-grandense. A Bela e a Fera da Disney, por exemplo, apresenta uma Bela com cabelos castanhos e pele bem branca; já a personagem de A Prenda e a Fera, da coleção Prendas e Peões, apresenta uma prenda negra. Na adaptação de Pocahontas também encontramos traços singulares. A narrativa se passa na Província das Missões e a Prendahontas tem traços indígenas. Outra versão que muda bastante é a do clássico João e o Pé de Feijão, que se torna João e a Plantação de Arroz; nesta história, o personagem João é um “piazito” que vive na cidade de Cachoeira do Sul (capital nacional
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do arroz), na Província dos Vales, e encontra as soluções dos problemas em um lugar muito inusitado. A Prenda de Tranças, cuja crônica se passa na mesma província, mas em Santa Cruz do Sul, traz em sua essência coisas típicas da cidade, como as cucas. Além dos cenários e dos costumes, as narrativas utilizam a linguagem característica da respectiva província. E não é só quem tem contato com a cultura gauchesca que vai gostar das histórias e compreendê-las; todos os
As fábulas têm suas bases nos contos que todos conhecemos, mas com a introdução dos costumes gaúchos e uma certa peculiaridade rio-grandense.
livros contam com um glossário com a explicação dos termos utilizados pelos personagens. Considerando que a coleção é voltada mais para o público infanto-juvenil, também foi criada uma coleção de bonecos que são confeccionados manualmente por alguns artesãos de Cachoeira do Sul, terra do idealizador e da maior parte dos envolvidos no projeto.
Identidade - O Reino Grande do Sul contém um brasão que foi elaborado com a junção de elementos característicos do estado gaúcho, como cavalo, cuia (que representa o chimarrão), Cruzeiro do Sul, plantação, ferradura etc. Também tem uma bandeira, que foi inspirada nas cores do Estado – o verde representa os pampas, o vermelho a força e a coragem e o amarelo as riquezas. Rodrigo Keller, proprietário da editora Edibook e idealizador do Reino Grande do Sul, relata que o projeto tomou grandes proporções. Os primeiros exemplares, lançados em setembro de 2015, já venderam mais de cinco mil cópias e os lançamentos mais atuais estão chegando nos mesmos números. Os livros são encontrados em várias livrarias do Estado e também são vendidos pelo site do Reino (www.reinograndedosul. com.br) para leitores de todo o país. Keller comenta que já foram entregues livros em Brasília, Mato Grosso e até no exterior, como, por exemplo, na Califórnia (EUA). Gaúchos que vivem longe, mas que não querem perder o vínculo com a cultura ou que desejam mostrar aos filhos e amigos como são nossos costumes, têm procurado pelos livros. A editora tem um cuidado todo especial com a entrega dos exemplares, que são envoltos por um envelope personalizado com um carimbo com o seguinte dizer: “entregue a cavalo”. O público dá um retorno voluntário na FanPage do projeto na rede social Facebook. Na página podemos ver vários comentários de mães contentes por seus filhos estarem interessados em leitura, adultos encantados com as histórias e até mesmo relatos de que algumas crianças criaram o gosto pela leitura a partir de algum dos livros da coleção – em especial
porque encontraram coisas que estão presentes no seu dia a dia, como a cuca ou o chimarrão. O retorno positivo é gratificante, segundo Keller, especialmente porque na era digital é difícil ter um número tão expressivo de exemplares impressos vendidos. Oito livros já foram lançados e a previsão é de que outros sete estejam no mercado até o final deste ano. Mas o último volume do acervo não representa o fim do projeto. Prendas e Peões é apenas uma das coleções que integram o Reino Grande do Sul e o idealizador revela que muita história boa ainda será publicada. “A próxima coleção já está no forno e terá narrativas inéditas. Futuramente vão surgir mais adaptações de aventuras infantis como Chapeuzinho Vermelho e algumas outras. O retorno do público foi tão gratificante que não pretendemos parar nessa série”, destaca Keller. Ele conta que alguns escritores gaúchos ficaram empolgados com a ideia e querem que suas histórias também façam parte do Reino. A cultura riograndense agradece.
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CRIAÇÃO
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QUADRINHOS, EXPRESSÃO E ARTE
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Com fortes influências em John Romita e Alex Ross, artistas conceituados no mundo dos HQs,
Sobre sua trajetória, o artista ressalta viver em constante aprendizado. “Comecei muito cedo e nunca parei, me dediquei muito, desenhava todos os dias, estudei muito por conta, tanto que a transição de estudante para profissional nem lembro, é uma estrada longa e ainda falta muito para caminhar, mas sempre buscando evolução”, analisa o desenhista.
O Armandinho se popularizou quando, no dia da tragédia na Boate Kiss, Alexandre Beck tornou coletivo os seus sentimentos através de uma tirinha que viralizou nas redes sociais.
Você conhece o Armandinho? Há quem diga que ele surgiu a partir de um planejamento. Mas não foi bem assim. O Armandinho é um personagem das histórias em quadrinhos criado “no susto”. Seu idealizador, o agrônomo, publicitário e ilustrador Alexandre Beck, em meados de 2009, trabalhava para um jornal diário, onde desenhava as tiras denominadas “República”. Tais ilustrações falavam de assuntos relacionados ao meio estudantil e os personagens eram inspirados nos amigos da faculdade de Beck.
17 de maio de 2010, a última tira da “República” foi publicada, juntamente com a primeira do Armandinho, na época ainda sem nome. Conforme Beck, o Armandinho se popularizou a partir do Facebook, quando, no dia da tragédia na Boate Kiss, em Santa Maria (2012), ele tornou coletivo os seus sentimentos através de uma tirinha que viralizou nas redes sociais, transformando-o em um dos ilustradores mais conhecidos na web. No ano seguinte, Beck criou o livro do Armandinho, que hoje está na sua oitava edição, contando a Edição Zero.
Em determinada tarde, um editor do jornal ligou para o artista pedindo três tiras que iriam ilustrar uma matéria sobre economia para pais e filhos. A reportagem sairia no jornal do dia seguinte – portanto, Beck tinha poucas horas para fazer a ilustração. Foi quando ele pegou o desenho de um menino que já havia criado para outra ocasião, fez os traços representando as pernas dos pais e enviou para a redação. O jornal e o público aceitaram muito bem o personagem. E o mais importante: o próprio Alexandre sentiu-se feliz com aquele menino que viria a ser batizado de Armandinho. Então começou a pensar em um futuro para o menino de cabelos azuis. Em
Segundo o autor, já há planos para a Edição Oito e Nove. Atualmente, as tiras do personagem são publicadas em todos os jornais do Grupo RBS, bem como na página do Armandinho no Facebook. Além da imprensa do Sul do país, a criação de Beck já foi veiculada na Folha de São Paulo, especialmente no Caderno Folhinha, hoje extinto.
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istas por algumas pessoas como produto destinado ao público infantil, atualmente as Histórias em Quadrinhos (HQs) vêm sendo encaradas de modo diferente. Embora ainda exista preconceito ou desconhecimento, os leitores estão aderindo a essa forma de leitura, pois passaram a perceber que esse gênero também apresenta inúmeras qualidades literárias, apesar das peculiaridades que o diferenciam de outros livros. Na Feira do Livro de Santa Cruz do Sul os quadrinhos têm um espaço especial, já que desde 2012 é realizado, paralelo ao evento, o Encontro de Quadrinistas e Fãs de HQs, que abrange atividades voltadas para essa área, como bate-papos com autores, oficinas e lançamentos de obras. Além disso, os fãs têm a oportunidade de conhecer profissionais de todo o País, pois a cada ano os organizadores trazem diferentes nomes reconhecidos no mercado. Entre desenhos, tiras, cartoons e charges, vários artistas da região conseguem alcançar o seu espaço no mercado até serem reconhecidos nacional e internacionalmente. Exemplo disso é o desenhista Matias Streb, cuja produção inclui ilustrações
De fã a artista Tudo começou nos primeiros cinco anos de vida, quando o ilustrador Matias Streb se inspirava em quadrinhos como O Homem Aranha e A Turma da Mônica para fazer seus próprios desenhos. De lá para cá o artista veio se aprimorando na produção das HQs, utilizando principalmente em suas criações a técnica da aquarela. Aos 29 anos de idade, Streb trabalha na Dínamo Studio, de Porto Alegre, onde produz sketchcards – cartões de personagens – para as renomadas editoras Marvel e DC Comics. Atualmente ilustra para séries como The Walking Dead e Game of Thrones. Ele desenha os personagens, porém, precisa da autorização dos atores para poder publicar, o que além de ser uma grande responsabilidade o mantém em contato constante com os profissionais da série.
Streb lançou a revista Alexandria e participou de publicações das revistas Tempestade Cerebral, Lorde Kramus, Subversos e Quadrix. Atua como professor de desenho em escolas e no Atelier Livre Municipal de Cachoeira do Sul, e participa de feiras do livro pelo Estado desde 2007, trocando experiências com estudantes e outros profissionais da área. Também costuma frequentar a ComicCON RS – maior convenção de quadrinhos e cultura pop do Rio Grande do Sul – onde tem contato com dubladores e grandes ilustradores de HQs das quais é fã. CRÉDITO: DIVULGAÇÃO
Por Karolaine Pereira Monique Rodrigues
para as maiores empresas no ramo das HQs do mundo, como Marvel e DC Comics. E também o ilustrador Alexandre Beck, que ficou famoso pela criação do personagem Armandinho, que já possui quase um milhão de seguidores nas redes sociais.
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As histórias quadrinizadas também se apropriam de recursos literários, conquistam públicos diversos e ganham espaço na Feira do Livro
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Encontro de Quadrinistas e Fãs de HQs, que integra a programação da Feira do Livro de Santa Cruz do Sul, terá um formato diferente neste ano. Agora passará a ser um Maratona Cultural e contará com outras atrações além de quadrinhos. Serão mais de 12h de literatura, games, cinema, animação, seriados, músicas e cosplay (atividade na qual os participantes se fantasiam de personagens). O evento, que passa a ser denominado Bah + Quadrinhos + Cultura , iniciará no final da tarde de 9 de setembro e se estenderá até a manhã de 10 de setembro de 2016.
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CONHECIMENTO
LITERATURA E VALORIZAÇÃO DA CULTURA NO INTERIOR DO RS
Por Nathana Redin
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anifestação artística dos povos, a literatura tem nas palavras seu instrumento de demonstração da realidade. É por meio dos escritos que se tem a oportunidade de desvendar os conhecimentos e a cultura de determinada sociedade. Também é uma forma de registro de fatos e vivências de um período histórico. Com o intuito de resgatar e preservar esses quesitos, foram criadas instituições que atuam de acordo com sua abrangência – tratase das academias literárias. A Academia Brasileira de Letras (ABL), fundada em 20 de julho de 1897, no Rio de Janeiro, baseou-se nos moldes da Academia Francesa. Composta por 40 membros efetivos e perpétuos e 20 membros correspondentes, serviu de modelo para a criação das academias literárias no País e tem como objetivo o cultivo da língua e da literatura nacionais. Professora aposentada e colunista do Jornal Gazeta da Serra, Eda Piccinin Bridi descreve a ABL como a expressão da arte “fina” de escrever e que, segundo a professora, “reúne imortais dos mais apurados talentos, cada um representando um ‘pedaço’ do Brasil e suas riquezas culturais.” No Rio Grande do Sul, este projeto teve início com a fundação, em 1º de dezembro de 1901, da Academia Rio-
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premiação. A cada três edições do evento era lançado um livro com os textos vencedores, o que para ele também estimulou a fundação da Academia.
Para ingressar na Academia o critério principal de avaliação são as publicações literárias e a escolha é feita através de votação secreta.
Ações - Segundo o atual presidente da entidade, o veterinário Luciano Turcato, a mesma desenvolve atividades voltadas ao incentivo da leitura em escolas, onde realizam-se palestras, e em Feiras do Livro pelo Estado. Os membros escreveram duas coletâneas ( Vertentes - 2011 e Vertentes 2 - 2015), nas quais abordam diferentes temáticas e gêneros textuais e servem de estímulo para os próprios. Ainda participam como membros da Academia Rio-Grandense de Letras, da qual Turcato é o representante. Para Eda Piccinin Bridi a entidade, da qual também é membro, é a expressão de um grupo de “amantes” das letras, cuidadoso e unido, para vivenciar e expressar a arte de escrever, de criar, de poetar, de evocar o belo. “A Academia tem presente que a arte de escrever agrega autênticas amizades, que amam as letras, tanto as que fazem construções com as letras quanto as que as apreciam.” Lisboa também enaltece a instituição, afirmando que, “para
Sobradinho, por ser uma cidade pequena, ter uma Academia em atividade e com muita produção cultural literária, é algo de se levar para o resto da vida, por se tratar de algo que está frutificando”. Para ele, a única coisa que muda o futuro de uma pessoa é o seu conhecimento e esta entidade tem este como um de seus objetivos. Conforme o jornalista e membro da Academia, Hélio Scherer, os membros reúnem-se mensalmente para tratar de assuntos ligados à cultura, educação e literatura num modo geral. Ao formular o estatuto e regimento interno, basearam-se em estatutos de outras academias. Lisboa e Turcato consideram que a entidade possui uma difusão da cultura e por isso estão buscando fazê-la não só nas letras, mas ampliar como se havia pensado no início. É composta por pessoas simples que gostam da leitura, da escrita. Para eles, é difícil encontrar em uma cidade do porte de Sobradinho uma quantidade de produção literária, de música e outras formas de demonstração cultural, sendo que a instituição se tornou o lugar para oportunizar tudo isso. Desenvolvimento - Diretora de Cultura e Turismo de Sobradinho, a professora Ingrid Hermes ressalta a importância da entidade para o município e região. “Esta vem trazer mais força ao movimento cultural e principalmente aos escritores da região. É um grupo que precisa ser valorizado e apoiado, pois eleva nosso padrão de produções culturais e integra nossos escritores difundindo suas produções.” Sobre a importância da leitura em nossas vidas, Turcato enfatiza: “quem lê consegue se expressar melhor, consegue ser dono de seu
pensamento e melhor decidir sobre suas escolhas. A Academia é um complemento de pessoas que tem um bom diálogo, um bom conhecimento, uma boa cultura e se uniram para formalizar uma academia que era algo carente na região”. Lisboa complementa dizendo que somente a cultura e o conhecimento podem dar a qualquer pessoa a capacidade de fazer uma escolha independente, sem influência externa, cada um escolher seu próprio caminho. Para ingressar na entidade o critério principal de avaliação é possuir publicações literárias, mas sem restringir quem tem vontade de escrever. É realizada uma pré-seleção, respeitando, ainda, um critério de limite de membros. Apresenta-se currículo e a escolha é feita através de votação secreta, não apenas por indicação. A substituição do membro/ cadeira ocorre após seu falecimento ou desligamento.
Membros Honorários Índio Cândido Narciso Nilo Sebastiany (In Memoriam) Ovidio Antonio Bavaresco (In Memoriam) Projetos da Academia Centro Serra de Letras em andamento - Livro As Personalidades Ilustres do Centro Serra do Rio Grande do Sul, que retrata personalidades, nomes importantes nos diversos segmentos da sociedade do Centro Serra através de suas biografias. Ainda sem data prevista para lançamento. - Formação de uma banda da Academia, pois a maioria dos integrantes tem habilidade com instrumentos musicais e composição. - Incentivo às Feiras do Livro na região. - Reativação do Conselho de Cultura. - Apoio a diversas iniciativas culturais. CRÉDITO: ARQUIVO ACADEMIA CENTRO SERRA DE LETRAS
Academia Centro Serra de Letras, de Sobradinho, estimula produções para fortalecer autores e artistas locais
Grandense de Letras. A composição da entidade é de 40 membros efetivos eleitos a partir de critérios de mérito e relevância na cena literária gaúcha. No 1º Congresso das Academias de Letras do Rio Grande do Sul, realizado no final de 2015, estiveram representadas 22 entidades, sendo a grande maioria localizada em grandes centros urbanos. Na região central do Estado, mais precisamente no município de Sobradinho, a cerca de 230 quilômetros da capital, encontra-se a Academia Centro Serra de Letras. Fundada em 17 de julho de 2009, é composta por 25 membros efetivos e perpétuos, dos quais 20 residentes no Centro Serra e cinco correspondentes. Sua criação foi sugerida pelo ex-reitor da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e ex-deputado federal, Ruy Pauletti, a Índio Cândido, entusiasta do mundo da literatura e membro honorário da Academia Centro Serra de Letras. De acordo com o membro da Academia e funcionário público Gerson Lisboa, diretor da Casa da Cultura do município na época, após a sugestão reuniram-se alguns dos atuais membros da entidade e começaram a pensar em nomes que pudessem integrar o projeto. Debatida a ideia, a princípio, cogitou-se que, ao invés de ser uma academia de letras, fosse uma academia cultural. A criação desta entidade possibilitou novos projetos literários e culturais no município, sendo que muitos estão interligados e levaram ao surgimento de outros. Pouco tempo antes da criação da entidade, Lisboa lembra a instauração do Concurso Literário Jornalista Valacir Cremonese, que instiga cidadãos de qualquer naturalidade a escreverem textos dos mais diversos gêneros para serem agraciados com
Membros da Academia Centro Serra de Letras Lauro Carlos Sebastiany Eda Piccinin Bridi Clara Luiza Montagner Hélio Scherer Juscélia Da Cas Miguel Limberger Luciano Turcato Gerson Lisboa Henrique Rui Lindner Cesar Roberto Brixner João Riél M. N. V. de Oliveira Brito Lisielle Zanella Alda Madalena dos Santos Ezequiel Redin Eduardo Luiz Zago Christiane Branco Barbosa Larissa Scherer Terezinha Laner
Alguns dos membros da Academia Centro Serra de Letras no lançamento do livro Vertentes 2
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APERFEIÇOAMENTO CRÉDITO: ARQUIVO PESSOAL
CRÉDITO: ARQUIVO PESSOAL
CRÉDITO: VISUAL HUNT
A ARTE DE APRE(E)NDER A LITERATURA
Cursos e oficinas oferecem, além de técnicas de redação e qualificação, uma oportunidade de aprendizado sobre o universo literário Por Gabriel Girardon
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uando se pensa em escritores, provavelmente vêm em mente grandes nomes do passado, que fizeram a história da literatura brasileira e mundial. Talvez a maioria deles já não esteja entre nós, mostrando que as referências estão longe dos tempos atuais. Entretanto, fugindo do âmbito do conhecimento geral, fortemente ancorado em nomes tradicionais e reconhecidos, existem espaços contemporâneos criados com o objetivo de formar profissionais da escrita. E melhor: há muitos interessados nisso. Por isso é importante que os leitores tenham noção de que todos os anos centenas de pessoas se tornam escritores, continuando a alimentar – e renovar – a literatura brasileira.
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Escolas especializadas buscam, em diversos lugares do Estado, suprir as demandas nessa área. A Metamorfose Cursos, por exemplo, é uma agência de produção, organização e divulgação de cursos presenciais e online, com sede em Porto Alegre. Oferece desde experiências mais simples, com duração de três meses, abordando conceitos básicos, até o chamado Curso Livre de Formação de Escritores. De longa duração, com aulas semanais, esta opção promove o contato com escritores profissionais, além de cada participante produzir um livro, do gênero que escolher – obra que pode, ao final do curso, ser publicada. Questionado sobre a importância de formar profissionais da escrita, o diretor do curso, Marcelo Spalding, que, além de escritor, é também jornalista e professor, afirma: “Desenvolver a escrita é importantíssimo para nós, pessoalmente, e para a sociedade. Até porque ao trabalharmos a escrita, estamos trabalhando a leitura, a expressão e a comunicação. Tornamo-nos cidadãos mais ativos, participativos e conscientes. Damos vazão a nossa voz”. Ele ainda é enfático ao dar uma dica a quem deseja ser escritor. “Costumo dizer que tenho três dicas infalíveis para quem quer ser escritor: ler, ler e ler. A leitura é, sem dúvidas, fundamental, e também
cursos ou oficinas de escrita que permitam ao participante aproveitar melhor suas leituras”. A comprovação de que os cursos e oficinas são importantes e eficientes vem dos próprios alunos. Natural de Porto Alegre, Cláudia de Villar, 44 anos, é formada em Letras e leciona desde 2004 na Escola Estadual de Ensino Fundamental Anita Garibaldi, na capital gaúcha. Possui dez livros publicados, sendo nove para o público infanto-juvenil. No ano passado, iniciou o curso de Formação de Escritores, o qual considera um “curso completo”. Apesar de ser graduada em Letras, o curso lhe permitiu ter outro olhar sobre a literatura – menos rígida e mais “humana”, segundo ela. Quanto à sua escrita, pôde perceber que ainda cometia alguns deslizes e os corrigia, na tentativa de 100% de acerto.
“Desenvolver a escrita é importantíssimo para nós, pessoalmente, e para a sociedade”. Marcelo Spalding, diretor da Metamorfose Cursos
Luiz Antônio de Assis Brasil: há mais de três décadas formando escritores
Jairo Back, 48 anos, vivencia experiência semelhante. Formado em Economia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), começou no ano passado fazendo dois cursos online de curta duração – um de escrita de não ficção e outro de ficção. Ainda em 2015 iniciou um curso presencial de criação literária, e, neste ano, uma oficina de contos e crônicas. Ele afirma que as práticas online lhe trouxeram conhecimento especializado, além de relembrar conceitos esquecidos, e que a presencial lhe agrega muito na convivência com colegas e profissionais. Conta ainda que, por ter oportunidade e incentivo de exercitar sua escrita, pôde sentir que a criação literária era algo possível, já que trata-se de um mundo totalmente novo para ele, por ser formado e atuar em outra área. Outras opções - O StudioClio, também localizado na capital gaúcha, visa contemplar os desejos de quem quer aprender um pouco sobre literatura. O instituto de arte e humanismo realiza atividades há mais de uma década, com variadas ofertas de cursos. O professor e escritor gaúcho Luís Augusto Fischer ministra uma oficina literária com duração de 15 semanas, com encontros semanais. Focado no
Luís Augusto Fischer ministra oficina de criação no StudioClio, em Porto Alegre/RS
trabalho de texto, sob variadas temáticas, o curso acolhe pessoas que almejam ler e escrever melhor. Com um detalhe peculiar: alguns alunos são idosos, já aposentados, mostrando que não há limite de idade para aprender. Basta vontade e dedicação. Fischer também dá uma dica para quem deseja ingressar no meio literário: “Escrever bastante, ler bastante, oferecer seus textos para leitores, ouvir suas impressões, e acima de tudo descobrir se escrever é realmente algo decisivo para a vida; vale a pena insistir, mesmo com todas as dificuldades que podem aparecer”.
“(...) e acima de tudo descobrir se escrever é realmente algo decisivo para a vida: vale a pena insistir, mesmo com todas as dificuldades que podem aparecer”. Luís Augusto Fischer, professor e escritor gaúcho
Outro caso que exemplifica a formação de escritores, talvez o
mais emblemático, vem do escritor Luiz Antonio de Assis Brasil. Com 71 anos, Assis Brasil, que também é professor universitário, possui 19 obras lançadas. Sua oficina literária é referência no quesito formação de escritores, com mais de três décadas de trabalho. Dezenas de escritores já passaram por suas classes, e o número só tende a aumentar. Questionado sobre a importância de formar escritores, Assis Brasil afirma que o profissional deixou de ser um amador remunerado, que hoje é profissional na plenitude do termo, e que a cada vez há mais espaço para essa qualificação. Por fim, como nos outros casos, é objetivo e direto ao indicar o que é melhor para quem quer ser escritor: “Ler, ler e ler. Escutar os juízos dos outros (que sejam sinceros e competentes) sobre o que escreve. E, sendo possível, frequentar um curso de escrita criativa”. Portanto, há inúmeras opções para aprender literatura – seja sobre ela, seus autores e tipos de textos, seja para lê-la ou escrevêla. Para o público comum, ser escritor pode ainda parecer algo estranho, talvez diferente para a atual realidade. Porém, ainda há quem invista nesse meio, seja de forma simples e amadora, ou mesmo profissionalmente. Isso faz com que se mantenha viva a cultura literária.
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PERSPECTIVA
Saiba mais sobre a revista
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la teve sua primeira publicação em 2012, quando ainda se chamava Revista Nua e Crua – sem receios, à flor da pele. Já nas edições seguintes, a coordenadora do projeto, Marli Silveira, optou por intitular a revista apenas de À Flor da Pele, simbolizando um sentimento das mulheres detentas. Neste ano a publicação chega
ENTRE GRADES, MUROS E POEMAS
na sua quarta edição. Desde 2012 ela é lançada na Feira do Livro de Santa Cruz do Sul (exceto em 2015, quando o lançamento foi realizado na Câmara de Vereadores do município). Marli Silveira já foi premiada pela grande responsabilidade social que seu projeto representa, dando novas perspectivas à vida
das detentas. Em 2016 venceu o 8º Prêmio Viva Leitura, na categoria Cidadão Promotor de Leitura, com o case À Flor de Pele. Além da coordenadora, são apoiadores do projeto: Instituto Padre Reus, Conselho Municipal da Mulher, Editora Alcance e a Comissão de Cidadania e Direitos Humanos da AL/RS.
Através das palavras, constitui-se um novo sentido na vida daquelas que, por vezes, desacreditam o futuro Por Karolaine Pereira
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isso aconteça na vida das detentas do presídio é a escrita. Já no primeiro ano de projeto, nasceu a revista À Flor da Pele, composta por poemas redigidos pelas mulheres, que pretendem tocar as pessoas, dando uma nova visão sobre aquelas que antes eram ignoradas pela sociedade. Para além de chegar aos leitores, a revista quer mostrar que as mulheres encarceradas são muito mais que estatísticas, elas são humanas que, por meio das palavras, conseguem dar um novo significado a suas vidas. Através dos poemas (ver ao lado), as mulheres transformam seus sentimentos em frases, nas quais conseguem revelar as suas histórias, ilusões, desilusões, saudades ou até mesmo angústias. O objetivo em todas as publicações é dar voz e ouvir àquelas que não são vistas e nem ouvidas pela sociedade. Servir como instrumento para as detentas compartilharem suas raivas, seus amores, suas angústias, suas saudades ou o que elas queiram expressar. E, principalmente, deixar latente o olhar para além da penitenciária, fazendo com que as mulheres revivam seus sonhos e sintam-se capazes de traçar um novo caminho.
Aos meus filhos Quando estou só neste lugar E sorvo, desesperado, A minha esponja de fel Meu pesar parece eterno E acho horrível estes trilhos Do mundo egoísta e cruel Mas vendo-me entre meus filhos Com um deles de cada lado: Samuel, Gabriel e Esther Mudam em flores as brasas Duas asas que me arrastam para o céu. (Detenta do Presídio Regional de Santa Cruz do Sul, 2015)
Sonhos
Sombra Eu era menos que sombra Eu era menos que um gemido E tudo com teu amor, dentro de mim Puseste tanta luz, tanta piedade Que ando clareando as outras sombras Que ando aliviando outros gemidos
Tenho ânsia de encontrar-lhe de conversar contigo dizer o que penso e o como sofro por isso, ensina-me a ver, em todos os instantes dos meus dias na primeira fase que eu encontrar no caminho no primeiro olhar que me for dirigido na primeira vez que eu escutar, no primeiro aperto de mão No vento que me toca de leve na água cristalina que me serve, no sol que beija meu rosto, na beleza da noite silenciosa e amiga.
(Detenta do Presídio Regional de Santa Cruz do Sul, 2015)
CRÉDITO: IGOR FLAMEL
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or trás dos cadeados pesados, das grades enferrujadas e dos portões barulhentos do Presídio Regional de Santa Cruz do Sul, existem mulheres, jovens e senhoras que possuem sentimentos, angústias, medos, sonhos, saudades, sofrimento e felicidade. Mães que clamam por um futuro diferente ao lado de seus filhos, avós que contam os dias para saírem e verem os netos, jovens que visam um novo destino longe do crime. Pessoas que buscam esperança em uma nova chance. E apesar de todos os descasos vivenciados rotineiramente pela humanidade, ainda existem pessoas que encaram a vida do outro com a mesma importância que olham a sua – a exemplo da professora, escritora e poetiza vera-cruzense Marli Silveira. Ela dedica o seu tempo de forma voluntária para ressignificar a vida das detentas do Presídio de Santa Cruz. Através do Projeto À Flor da Pele, Marli consegue levar música, dança, leitura, poesia, saraus e diversas outras práticas culturais para dentro da penitenciária. Tais atividades abrem caminhos e despertam percepções distintas nas mulheres, pois elas encontram nas ações uma forma de ficar longe da exclusão do mundo. Sabemos que a arte é capaz de romper qualquer tipo de preconceito, formar cidadãos abnegados e, principalmente, dar um novo sentido à existência das pessoas. E a principal ferramenta que contribui para que
(Detenta do Presídio Regional de Santa Cruz do Sul, 2015)
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SANTO DE CASA FAZ MILAGRE
Autores locais contam suas histórias, falam do processo criativo e enfatizam a importância da leitura Por Caroline Silva
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prazeroso mundo da literatura, de fato, abre portas – não apenas aos leitores, que ao consumirem as obras viajam por diferentes temáticas, lugares e momentos, mas também aos autores. E as feiras de livros são excelentes oportunidades para expandir os horizontes e permitir que títulos locais se tornem conhecidos do público. Em sintonia com o tema da 29ª Feira do Livro de Santa Cruz – Ler o que é daqui – a reportagem do Unicom foi em busca dos escritores locais, contemplando nomes como Dogival Duarte, Romar Beling, Ricardo Duren, Demétrio de Azeredo Soster, Max Montiel Severo, Valquiria Ayres Garcia, Mauro Klafke, Moina Rech, Jorcenita Alves Vieira, Lya Luft, Rudinei Kopp, dentre outros. Mauro Ulrich integra este grupo e coloca a Literatura e o Jornalismo no centro de suas atenções. É autor dos livros de poemas Cellophane flowers, (2011), Fotos com poesia (2013) e Sleeping bag (2015), todos publicados pela Editora Gazeta, de Santa Cruz do Sul. Também participa de dois volumes da antologia Poetas do Vale, de Cachoeira do Sul, e das antologias de conto Nem te conto I, II e III, de Santa Cruz do Sul. Atualmente, trabalha na feitura de versos para o seu próximo livro – ainda sem título definido –, que deverá ser lançado em 2017 para
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manter a tradição de lançar algo a cada dois anos. “Tenho um carinho especial por cada um destes trabalhos. Talvez o Cellophane, por ter sido o primeiro, mais tenha me marcado. Gostei de fazer todos. Mas estou gostando mais ainda de fazer o próximo, o que ainda vai sair. Acho que é assim que funciona, né? Caso contrário, não teria graça seguir com a escrita”, comenta Ulrich.
“Ler transporta e te faz uma pessoa melhor, de conhecimento e vocabulário. Para os estudantes digo que quem lê tem sempre vantagens numa seleção profissional, por exemplo, porque se expressa melhor, seja falando ou escrevendo. Então, ler te abre portas”. Mauro Ulrich O jornalista, que foi homenageado na Feira do Livro de 2015, em Santa Cruz, conta que em casa sempre viveu rodeado de livros e de artes. “Minha mãe lê muito, as irmãs dela também; meu pai assinava vários jornais e eu ficava com os cadernos literários (o Letras e Livros, do Correio do Povo da década 80, por exemplo, foi muito importante para mim)”, lembra. Seus amigos, na infância, eram os livros, já que foi criado numa casa de dois andares no centro de São Leopoldo, onde era complicado sair para brincar. Chegou ao colégio já alfabetizado, pois aprendeu a ler com cinco anos, graças ao álbum de figurinhas da Copa do
Mundo de 1970. Ele conta que hoje lê uma média de quatro a seis livros por mês, sempre em pilhas de dez ao mesmo tempo. São biografias, crônicas, contos, romances e poesia, sua grande paixão. Para Ulrich, somos todos iguais, mas o que temos de bagagem da leitura é o que nos diferencia. “Ler transporta e te faz uma pessoa melhor, de conhecimento e vocabulário. Para os estudantes digo que quem lê tem sempre vantagens numa seleção profissional, por exemplo, porque se expressa melhor, seja falando ou escrevendo. Então, ler te abre portas”, avalia. Criatividade - O publicitário e professor universitário Rudinei Kopp também faz parte do grupo de autores locais e já viveu repetidas vezes a experiência de lançar obras suas. Ele considera que a escrita lhe dá absoluta liberdade. “Quando leciono, escrevo textos acadêmicos ou faço trabalhos em design, sempre tenho uma preocupação que diz respeito à eficiência. Com a escrita – pelo uma escrita que tenha relação com a criação literária – eu não me preocupo com isso. E fico contente com as inúmeras interpretações que um texto pode desencadear”. Sua chegada ao mundo da literatura se deu pelo caminho das crônicas. Depois disso fez alguns contos e hoje se arrisca em romances curtos. “Gosto de desafios criativos que dependam apenas de mim. Nada garante que eu siga escrevendo ou que publique um novo livro. Considero-me bem distante da excelência na escrita. Escrevo para me divertir. Se deixar de ser divertido vou parar. O caminho foi por aí: como será que é escrever? Será que tenho condições? Depende de mim? A escrita não me escolheu. Eu tomei essa decisão”, relata.
CRÉDITO: VISUAL HUNT
ESCRITA
Rudinei é autor das obras Design gráfico cambiante (2AB/Edunisc) que está na terceira edição e possui tradução em espanhol pela Ars Optika, do México; Quando o futuro morreu? (Edunisc/Editora Gazeta); Organização, juntamente com Romar Beling, das antologias de narrativas curtas Nem te conto I, II e III (Editora Gazeta); Rio dos dias (Editora Gazeta) e Oto e Isac (Editora Gazeta). Para ele, a obra Rio dos dias foi a mais prazerosa de realizar e lhe marcou bastante. “Nas antologias Nem te conto a possibilidade de usar Santa Cruz como cenário já existia, mas em Rio dos dias eu pude expandir isso e foi muito bom conseguir transformar uma série de impressões sobre a cidade em material literário. Foi também minha primeira narrativa ficcional um pouco maior, então, para mim, foi tudo um grande experimento criativo”, conta.
“A literatura tem sido, sobretudo, uma aventura criativa na qual eu tento coisas sem me importar muito com a ideia de certo ou errado. Vou fazendo e me divertindo”. Rudinei Kopp Das experiências vivenciadas no campo literário, Kopp avalia: “A literatura tem sido, sobretudo, uma aventura criativa na qual eu tento coisas sem me importar muito com a ideia de certo ou errado. Vou fazendo e me divertindo”. Depois de envolver o autor, as obras também são opções de divertimento aos leitores, que têm a oportunidade de contemplar novos lugares, vivenciar momentos e aprender com o conteúdo. Este é o objetivo da 29ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul, que tem como tema Ler o que é daqui: instigar o público a se familiarizar com as histórias dos escritores locais.
CRÉDITO: ARQUIVO PESSOAL
Mauro Ulrich
CRÉDITO: ARQUIVO PESSOAL
Rudinei Kopp
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BIBLIOTECAS PÚBLICAS
CRÉDITO: DIVULGAÇÃO
Por Monique Rodrigues Caroline Silva Karolaine Pereira Juceila Bueno Francelli Castro
Biblioteca Municipal de Venâncio Aires Fundada no dia 12 de abril de 1972 pelo prefeito Glauco Scherer,
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a Biblioteca Municipal de Venâncio Aires funcionava junto ao prédio da Prefeitura. Nesse período a biblioteca pertencia à Secretaria de Cultura e Educação, mas
quando estas duas secretarias se separaram, ficou pertencendo então à Secretaria de Cultura, para acessos da comunidade à cultura escrita, obras de arte, teatro e música. Quando a bibliotecária Rosária Garcia Costa assumiu o espaço em 2006, fez-se um levantamento dos livros e, naquele ano, havia cerca de 12 mil exemplares. Alguns ainda chegam por meio de doações, mas hoje, com cadastros, cobra-se uma taxa de no máximo R$ 5 para a renovação e esse valor é revertido em compras de livros novos. “O valor cobrado pode não ser muito, mas se formos juntando de pouco em pouco, nos ajuda a manter o acervo atualizado”, comenta Rosária. A biblioteca funciona de segunda a sexta-feira, das 7h30min às 18h, sem fechar ao meio-dia.
que acontece na biblioteca. O horário de atendimento ao público ocorre de segunda a sexta-feira, das 7h30min às 11h30min e das 13h às 17h.
horário de funcionamento pela manhã é das 8h30min às 11h30min, à tarde das 13h30min às 17h e à noite das 19h às 21h30min. Biblioteca Municipal de Herveiras CRÉDITO: CAROLINE SILVA
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valorizar o que é do próprio município faz valer a pena cada esforço que os bibliotecários têm para manter essa tradição viva. Na região dos Vales, principalmente nas cidades mais interioranas, mesmo com o advento da internet e os tão famosos e-books, a procura pelo livro físico não diminuiu. Pelo contrário, cada vez mais os pais estão transmitindo para os filhos o gosto pela leitura. Por meio de incentivo e eventos criados pelas bibliotecárias o número de frequentadores só faz crescer. Fomos às nossas cidades de origem para descobrir mais sobre as bibliotecas públicas da região. Afinal, não importa o lugar e nem o momento, a leitura é algo enriquecedor e muitas vezes um livro retirado pode abrir portas para muitos lugares desconhecidos, bem como para ampliar conhecimento acerca dos mais variados assuntos.
CRÉDITO: IGOR FLAMEL
Equipe de reportagem da A4 - Agência Experimental de Comunicação fez mapeamento destes valiosos espaços culturais em seis municípios gaúchos
ada como pensar na infância e lembrar das séries iniciais onde a professora apresentava um novo mundo em visitas pela biblioteca da escola. Toda semana era um título novo, uma história diferente, um livro cheio de aventuras e descobertas. Aquele primeiro contato fica para a vida toda. A partir daí as docentes ensinam as crianças a apreciar a literatura e, principalmente, não julgar um livro pela capa. Afinal, quem não gosta de sentir aquele cheirinho de livro e desvendar o que há dentro de cada um? Seja ele velho ou novo, a sensação de estar em contato com um outro mundo faz abrir as fronteiras do pensamento. Espaços propícios para tal experiência são as bibliotecas públicas municipais, onde é possível descortinar obras e recordar a época de escola. Por meio de cursos, palestras ou grupos de leitura,
CRÉDITO: JUCEILA BUENO
GUARDIÃS DE OBRAS E DE INCONTÁVEIS HISTÓRIAS
Biblioteca Municipal de Vera Cruz Biblioteca Municipal de Rio Pardo A Biblioteca Pública de Vera Cruz foi criada em 12 de junho de 1960, pelo primeiro prefeito da cidade, Nestor Frederico Henn, e foi inaugurada em 1961, um ano depois da fundação da cidade. Os primeiros livros chegaram por meio do Ministério da Educação, e hoje o número do acervo ultrapassa os 15 mil exemplares. Deste montante, 15% são voltados a obras infantis e juvenis. Ao chegar no local, os leitores são recebidos pelo bibliotecário Roberto Carlos Cardoso e as possiblidades de imersão no mundo da leitura são muitas. Junto ao prédio que abriga a biblioteca, há uma sala de cinema com disposição para 30 pessoas. Além da possiblidade de uso dessa ferramenta, os visitantes podem agendar horários para realização de outras tarefas lúdicas voltadas ao incentivo à leitura, como teatro de fantoches, entre outros. As redes sociais têm sido aliadas na divulgação e incentivo de todas as atividades. Através de uma página no Facebook é possível ter acesso a tudo
A biblioteca Pública Ernesto Protásio Wunderlich, do município de Rio Pardo, foi criada em 1940 com a intenção de valorizar a cidade a partir de diversos objetos antigos colecionados pelo morador Biagio Soares Tarantino. O espaço passou por diversos pontos diferentes da cidade, e hoje está localizado no Centro Regional de Cultura Rio Pardo. A coordenação é feita pela professora Sirlei Lobo Ferreira e pela bibliotecária Muriel Thurmer. Juntamente com a Biblioteca Pública, está instalada a Biblioteca Infantil Marina Rezende de Quadros, que recebeu este nome em homenagem à professora Marina, uma das maiores incentivadoras de leitura para crianças nas escolas da cidade. As bibliotecas contam com dois projetos literários: “Entrando na Roda de Leitura” e “Hora do Conto”. Ambos têm como objetivo despertar nas crianças e jovens o gosto pela leitura e pela produção textual. Tais iniciativas já renderam prêmios para o espaço. O
Há cerca de 60km de Santa Cruz do Sul, em Herveiras, os moradores não deixam a leitura de lado nem mesmo com a chegada da internet na localidade. Dentre os cerca de três mil habitantes, muitos colocam os livros como prioridade – atitude despertada, em grande medida, pela Biblioteca Municipal Professor Areny Claas. Segundo a bibliotecária estagiária Janine Rodrigues, atualmente existem cerca de 800 leitores ativos e fiéis à leitura. “Os leitores são bastante assíduos, mas o número de cadastros decaiu um pouco com a chegada da internet na nossa cidade”, destaca Janine. A instituição, criada em 6 de maio de 2008, sempre esteve instalada no mesmo lugar e todos os livros que constam no acervo foram recebidos através de projetos do Ministério da Cultura. O horário de atendimento ao público da Biblioteca Municipal é das 8h30min às 16h.
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CRÉDITO: MONIQUE RODRIGUES
CRÉDITO: GIOVANA BRASIL
EXPEDIENTE
Caroline Fagundes Pieczarka Edição e reportagem
Caroline Silva Reportagem
Cristiane Lindemann Coordenação
Francelli Castro Reportagem
Gabriel Girardon Reportagem
Giovana Brasil Reportagem
Guilherme Graeff Edição
Juceila Bueno Reportagem
Karolaine Pereira Reportagem
Lúcio Amaral Diagramação
Madhiele Scopel Reportagem
Monique Rodrigues Reportagem
Biblioteca Municipal de Cachoeira do Sul
Biblioteca Municipal de Santa Cruz do Sul Na cidade de Santa Cruz do Sul, a Biblioteca Pública Municipal foi inaugurada em 21 de dezembro de 1998 e leva o nome da professora santa-cruzense Elisa Gil Borowski. Com mais de 11.500 livros cadastrados, a biblioteca, localizada junto ao prédio da Secretaria da Educação, busca por meio de oficinas atrair cada vez mais a comunidade. Segundo o bibliotecário Jair Teves, responsável pelo acervo desde 2001, entre os projetos que mais atraem o público estão “A hora do
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conto”, ministrada pela escritora Valquiria Ayres, além de oficinas de xadrez e de pintura. A biblioteca possui o maior acervo literário de xadrez de bibliotecas públicas do Estado e mesmo com a forte influência da internet na vida das pessoas, a procura por livros físicos não diminuiu – pelo contrário, cada vez mais os pais levam seus filhos pequenos para a biblioteca e ensinam o hábito da leitura. O espaço fica aberto ao público de segunda à sexta-feira, das 8h às 11h30 e das 13h30 às 18h. Doações de livros e materiais são bem-vindas e podem ser encaminhadas ao local.
Em Cachoeira do Sul, a Biblioteca Pública Municipal Dr. João Minsenn é vista como um ponto turístico do município. Inaugurada em 8 de março de 1947 em um ato presidido pelo então prefeito municipal Ciro da Cunha Carlos, a biblioteca já teve diversos endereços pela cidade. Mas em 14 de dezembro de 1998 foi transferida para o atual prédio, na rua 7 de Setembro, onde foi inaugurada a Casa de Cultura Paulo Salzano Vieira da Cunha, juntamente à biblioteca. Por estar localizada no centro da cidade, o fácil acesso permite que a biblioteca esteja sempre lotada. O acervo inicial foi formado com obras adquiridas por um grupo de integrantes do Rotary com apoio do Prefeitura Municipal. Além de mais de 40.000 livros disponíveis no acervo, junto à biblioteca se encontra o Atelier Livre Municipal, um local com capacidade para mais de duas mil pessoas onde acontecem diversas apresentações multiculturais.
UNISC - Universidade de Santa Cruz do Sul Av. Independência, 2293 - Bairro Universitário Santa Cruz do Sul - CEP 96815-900 Curso de Comunicação Social - Jornalismo Bloco 16 Sala 1612 Telefone: 3717-7383 Coordenador do Curso: Hélio Etges Impressão Lupagraf Nathana Redin Rachele Reportagem
Tiragem 500 exemplares Capa Agência A4 - Núcleo PP Diagramação Lúcio Amaral
Este jornal foi produzido pelos monitores, voluntários e estagiários da A4 Agência Experimental de Comunicação - Núcleo de Jornalismo, sob a supervisão da professora Cristiane Lindemann. Acompanhe o conteúdo produzido pela nossa equipe durante a 29ª Feira do Livro de Santa Cruz do Sul através do site hipermidia.unisc.br/29feiradolivro. Volume 33 - nº 3 - Ago/Set 2016 DISTRIBUIÇÃO GRATUITA Acompanhe o Unicom nas redes sociais blogdounicom.blogspot.com facebook.com/unicomjornal @jornalunicom
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Valquíria Ayres Garcia Realização
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