Informativo de umbanda nº 18

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Orixás e Cultos, Informativo de Umbanda, nº 18 – Julho de 2017.

Pesquisa e texto: Alan C. Moreira DISTRIBUIÇÃO GRATUITA

As religiões de matrizes africanas no Brasil está em um processo de autoconstrução em que as discussões sociopolíticas presente em suas origens estão sendo resgatada e dando um novo significado aos cultos e a liturgia. Significado esse que por muito tempo foi enquadrado dentro da concepção eurocêntrica que inseriu dentro dos cultos de matriz africana elementos presentes no cotidiano católico e no espiritismo Frances de Allan Kardec, logo os sincretismos foram inevitáveis como é observado na presença dos santos católicos, a figura de Jesus Cristos e até mesmo o diabo, já quanto ao espiritismo Kardecista, a ideia de espírito evoluído e espírito atrasado também ajudaram a construir e a classificar algumas das manifestações espirituais que ocorriam nas religiões afrodescendentes principalmente as religiões de maiores sincretismos como a Umbanda, o Catimbó, a Cabula, a Quimbanda e outras. Oliveira (2012. p. 1) identifica que nas duas últimas décadas os movimentos sociais em busca por direitos de igualdade religiosa, rompe a hegemonia das religiões no Brasil e as de matrizes africanas ascender nesse cenário, mesmo que ainda não usufruam plenamente de tal prerrogativa. Percebe-se também que os estudos das religiões de matrizes africanas não se limitam apenas ao meio acadêmico embora ainda seja a maioria. Alguns templos já desenvolvem estudos próprios com a vantagem de trazer um olhar interno e doutrinário aos estudos que se diferencia da visão de muitos autores que analisavam apenas sobre a ótica histórica, social e

apenas sobre a ótica histórica, social e antropológica e se que pensavam na visão esotérica. Tomando essas ponderações como verdade, algumas mudanças nos cultos e nas interpretações das divindades ou entidades dentro dos templos de religiões afrodescendente foram possíveis e claro que isso de forma positiva ou pelo menos de forma a exteriorizar a essência mais próximo do que constituía os cultos. Como estamos em um processo de reconstrução, traços de concepções antigas ainda estão longe de desaparecer por completo das religiões afrodescendente, isso é, caso seja possível algum dia isso acontecer, mas no momento os valores e autonomia adquirida pela maioria das comunidades religiosas de matrizes africanas já é suficiente para a mudança do cenário religioso no Brasil.

Assim descreve Pierre Verger (2002. p. 78); “Exu faz o erro virar acerto e o acerto virar erro. É numa peneira que ele transporta o azeite que compra no mercado; e o azeite não escorre dessa estranha vasilha. Ele matou um pássaro ontem, com uma pedra que somente hoje atirou. Se ele se zanga, pisa nessa pedra e ela põe-se a sangrar. Aborrecido, ele senta-se na pele de uma formiga. Sentado, sua cabeça bate no teto; de pé, não atinge nem mesmo a altura do fogareiro”. equipeorixasecultos@gmail.com


atinge nem mesmo a altura do fogareiro”. Essa narrativa trazida por Verger demonstra o tanto quanto Èṣù pode ser complexo e controverso ao mesmo tempo, mas não por incapacidade de sustentar tais atribuições que a ele foram dadas, mas por ser capaz de se auto refazer tanto quanto for necessário para assumir seu mistério, seu campo de atuação. Èṣù também é identificado por Verger (2002) e Carneiro (1991. p. 70) como Elegbará, ou Bará (nação Jeje), Aluvaiá ou Bombojira (para nação de Angola) Èṣù Môjubá, Èṣù Ékéçã, Èṣù Barabô, Èṣù Tibiriri, Èṣù Tiriri, Èṣù Lònã, Èṣù Juá, Èṣù Maromba, Èṣù Pavenã, Èṣù Kôlôbô, Èṣù Laalu, Èṣù Jeto, Èṣù Agbô, Èṣù Larôye, Èṣù Inan, Èṣù Odara, Chefe Cunha, Maioral ou Èṣù Obasin (quando chegou a Ifé) ou Èṣù Alákétu (após tornar-se rei de Ketu) e ainda de Èṣù Akesan (por supervisionar as atividades comerciais da cidade de Oió), Èṣù Elèpo (dono do azeite de dendê), Èṣù Eéèdu (dono do carvão), Èṣù Aláàdi (dono do óleo de amendoeira de palma), Compadre, Homem da Rua ou das Encruzilhadas. Prandi (2005) classifica Èṣù como incomensurável já que ele é o portador das orientações e ordens, o porta voz do mundo dos Oriṣas (ọrun) com o mundo dos humanos (ayê) principalmente por meio de consultas oraculares. Èṣù tudo sabe, tudo ouve e tudo transmite, conhece todas as fórmulas, todas as magias, não faz distinção entre aqueles que se deve prestar serviço nem ter preferência entre um o outro, tem o poder de quebrar tradições, por regras em questões, romper a normas, também possui o poder de interferir nos acontecimentos do mundo incluindo o cotidiano dos seres humanos com fenômenos da natureza, ou seja, nada acontece sem o mensageiro e o transportado.

transportado. Para os Iorubás, era e ainda continua a ser muito importante ter numerosas proles, já que o sexo estava também relacionado com fatores sociais de sobrevivência coletiva e perpetuação das linhagens, clã ou cidade, para tanto era necessário que os homem tivesse muitas esposas e vida sexual regular. Èṣù é o Oriṣa fálico, Oriṣa da sexualidade e da virilidade masculina e por isso, Èṣù sempre foi bem aceito e reverenciado entre os Iorubás (Prandi, 2005). Para Verger (2002) Èṣù dualiza o bem e o mal em sua essência podendo ser extremamente rigoroso com aqueles que não lhe oferece agrados com oferenda ou sacrifício despejando contra o insolente todas as catástrofes e mazelas, ou ser extremamente bondoso com aqueles que lhe oferece agrados de suas vontades sendo prestativo e serviçal e Verger acrescente que essa característica de Èṣù torna o mais humanos dos Oriṣas, ou seja, nem completamente bom, nem completamente mau. Várias dessas características descritas por Verger foram compartilhadas por Edson Carneiro, porem para o autor, Èṣù não é um Oriṣa e sim um criado, um intermediário entre os homens e os Oriṣas, ou seja, se for preciso fazer algo para determinado Oriṣa, antes deve-se despachar Èṣù que Carneiro define o verbo despachar como enviar, mandar, destinar a Èṣù como pratica ritualística de inicio de qualquer ritual (Carneiro, 1991. p. 68-69). Èṣù como Oriṣa ou divindade é o guardião das pessoas, casas e dos templos, além de intermediar orum com aye, ou seja, sem Èṣù não há comunicação, sem Èṣù não se pode fazer nada. Verger ainda alerta que para não haja mal-entendido entre os seres humanos e os deuses é necessário que seja feito oferenda a Èṣù (Verger, 1981). Prandi (2001. p. 52-53) relata uma lenda de


Prandi (2001. p. 52-53) relata uma lenda de Èṣù, em que ele foi o causador de uma grande desavença entre uma família real que não lhe prestou as homenagens devidas. De forma trapaceira e cruel Èṣù colocou esposa contra marido, marido contra o filho e filho contra pai tudo acabou em uma grande tragédia apenas para que Èṣù se sentisse vingado. Em uma lenda de Oxalufã (Olúfon) Èṣù aparece três vezes para importuná-lo, pois Èṣù suja as vestes de Oxalufã e acaba por fazer a viagem deste Oriṣa mais demorada que realmente deveria ser, com isso é evidenciando o caráter travesso e sarcástico de Èṣù (Prandi, 2001. p. 519-521). Rubens Saraceni traz uma proposta diferente quando trata de Èṣù (Exu), já que ele faz a leitura deste Oriṣa inserido uma concepção teológica e não na perspectiva história ou antropológica comum a alguns autores como os supracitado realizaram. Para Saraceni (2008) Èṣù foi o primeiro estado da criação, pois Èṣù corresponde ao vazio absoluto, existente no exterior de Ọlọrun e tudo exteriorizado por Ọlọrun, ganha sustentação em Èṣù, portanto Èṣù é o primeiro Oriṣa se manifesta junto à criação e por isso deve ser o primeiro Oriṣa a ser invocado e oferendado, pois sem Èṣù, não existe nada que não seja Ọlọrun. Saraceni aprofunda e disserta afirmando que o vazio é o que permite a individualização da matéria, ou seja, se não houvesse o vazio, as matérias se fundiriam formando uma única massa. Essa característica de individualizar-se pertinente a cada matéria é uma das qualidades divina de Èṣù que permite que cada criação de Ọlọrun além de ser individualizar, também se diferencie como o que acontece, por exemplo, com nosso espírito. Todos as pessoas são formados pelo plasma, ainda sim permanece individualizado pelo mistério de Èṣù.

individualizado pelo mistério de Èṣù. Èṣù para Saraceni está à esquerda dos demais Oriṣas e por consequência a esquerda dos humanos e desta forma, Èṣù lida com os aspectos irascíveis, com o ego e o caos dos humanos. Èṣù é o vazio e o externo, portanto ele é tratado do lado de fora. Èṣù junto à Ọxalà (Òriṣànlá) são os únicos presente em todos os lugares, Èṣù com o vazia a ser preenchido e que será organizado após a instalação dos caos e Ọxalà com a criação dos mundos e dimensões. As encruzilhadas como ponto de força de Èṣù, trata-se de uma metáfora para se referir a duas realidades que sem encontra e é lá onde realmente está o ponto de força de Èṣù, portanto Èṣù está exatamente onde a água do mar se encontra com a areia ou com a pedra na praia, ou a água do rio e as margem de sua nascente, leito ou sua foz, na divisa de uma mata a outra, ou de um território a outro, ou seja, onde a encontro de duas realidades, ali estará Èṣù e os seus guardiões que serão citados mais adiante. Para Alexandre Culmino, Èṣù e aquele que bate de frente, é o Oriṣas das provocações porque ele atinge o ego das pessoas, por isso ele é um orixá provocador e a única coisa que ofende os seres humanos e o ego, ou seja, se fosse tirado dos humanos o ego, não haveria a ofensa, não haveria as brigas. Cumino pondera e lembra que a cultura africana é muito anterior a do cristianismo e as característica irascíveis de Èṣù associados a sua representatividade fálica foi algo totalmente desconhecido pelo universo da lógica católica que por ocasião, era regida pelas mensagens de paz e racionalidade e qualquer coisa diferente disso, era interpretado como algo não divino, mas precisamente como diabólico. Verger descreve que nos barracões de religião de nação


religião de nação antes de iniciar a cerimônia chamado de xirê dos Oriṣas fazem sempre o padê (ou ipadê) que segundo o autor e a tradução de encontro em Iorubá que no caso, o encontro é com Èṣù o mensagem dos outros deuses a fim de acalmá-lo e obter a promessa que Èṣù não atrapalhará a cerimônia. Para Verger, nos barracões de Ketu o padê é realizado pela Iyamorô que é auxiliada pelas dagã e sidagã (filhas mais velhas da casa) e pode ser constituído de alguns cânticos em honra a Èṣù e oferta de farofa amarela (mistura de farinha e dendê), cachaça e azeite-de-dendê depositado fora do barracão ao ter inicio o xirê, ou pode apresentar-se de forma mais elaborada com sacrifício de animais de quatro patas como carneiro, cabra, bode, tartaruga acompanhado de animais de duas patas como galo e pombo isso é claro, ao amanhecer. Assim esclarece o autor que trata-se de uma cerimônia completa. EXU NA UMBANDA Sempre é importante ressaltar que a Umbanda embora seja uma religião de matriz africana e acolheu para si, vários fundamento e princípios das religiões de Nação aqui citadas de Candomblé principalmente a de origem Banto provavelmente das religiões sincréticas posteriores ao antigo Calundu, ainda sim, a Umbanda adota uma interpretação própria dos Orixás (nessa parte do texto, optou-se pela utilização do “x” em acordo com a escrita do povo de Umbanda) e diferentes formas de cultuá-los. Como ainda não foi mencionado nos informativos anteriores, o Calundu como revela Mattos (2013. p. 156) foi uma pratica religiosa que realizavam rituais de curandeirismo e uso de ervas com a ajuda dos métodos de adivinhação e possessão

dos métodos de adivinhação e possessão ocorrido no século 17 e 18 que para Lopes (2008. P. 98) foi uma reorganização do espaço chamado “casas de dar fortuna” que se tornou para o autor [...] mais complexa tanto no panteão das divindades cultuadas quanto na hierarquia sacerdotal e na ritualística. Voltando para o assunto, em toda via, Exu na Umbanda ou Catiço, ou Povo da Rua, Povo da Esquerda, sempre se tratou de espíritos desencarnado que chegam aos terreiro na condição de entidade em linha de trabalho especifico da corrente astral de Umbanda ou por meio de uma extensão, ou seja, por meio da Quimbanda que alguns defendem que pode ser organizado em linha de trabalho dependente da Umbanda ou uma linha de trabalho isolada com graus hierárquico bem definido é independente da organização da Umbanda. Quando tratamos de Quimbanda dependente, as diversas informações que aparecem indica que se trata de uma linha de trabalho dentro da corrente astral de Umbanda em que os Exus e Pombagiras (equivalente ao Exu porem feminino) estão organizados para execução de algumas tarefas sobre comando e fiscalização de outras entidades ou Orixás e os mesmos ficam restritos sobre as ordens que lhes são dadas pelos seus superiores. Vale destacar que para o par feminino de Exu identificado na Umbanda como Pombagira ou raríssimas vezes de Lebara, possivelmente seja uma releitura do nome de nome Bombonjira (Carneiro, 1991. p. 73) ou de Elegbará ou Legbará do mesmo autor citado e de outros como Verger (2002). Na Umbanda, Exu não representam a figura central do terreiro, apenas compõe o egrégora das entidades de Umbanda necessário para o trabalho espiritual que geralmente está relacionado à proteção da casa ou da corrente


à proteção da casa ou da corrente mediúnica ou consulentes, executores de ações cármica ou das leis divinas, guardiões, zeladores de mistérios, assuntos amorosos e financeiros e raríssimas vezes problemas de saúde a não ser que seja causado por obsessores e Quiumbas. Já na Quimbanda independente como o nome já faz presumir, trata-se da manifestação de Exus e as Pombagiras em que eles e elas são as figuras centrais da religião cabendo apenas obediência para um Exu maior tratado de Exu Maioral ou Exu Rei. Nessa organização espiritual existem algumas vertentes de Quimbanda similar as vertentes na Umbanda chamadas de; Quimbanda Xambá, Quimbanda Mossurubi ou Mussurimim e a Quimbanda Luciferiana. Essas são as Quimbandas mais populares, mas não são as únicas. Porem na Umbanda há vertentes que não emprega o nome da linha de Exus e Pombagiras de Quimbanda, tão pouco a reconhece a Quimbanda como uma religião e para essas vertentes, a linha de Exu é uma das ferramentas divina para a execução da caridade. Segundo Saraceni, Exu entidade desenvolve trabalhos nos templos de Umbanda como consultor aconselhando, orientando nas mais variadas situações tudo a partir de uma visão particular que Saraceni define como sendo de origem cósmica e dentro de seu senso de oportunismo. Assim descreve o autor; [...] Exu escreve reto em linhas tortas; escreve torto em linhas retas e escreve torto em linhas tortas. Só não consegue escrever reto em linhas retas... porque tem "duas cabeças", sendo que uma é instintiva e a outra, emotiva; uma é movida por suas necessidades e a outra, por seus interesses. As "duas cabeças" de Exu representam sua natureza dual, que ora o instiga a satisfazer suas necessidades, ora o induz a satisfazer as necessidades alheias.

necessidades alheias. [...] Por isso, se Exu for assentado na tranqueira de uma tenda, ele tem de ser servido e saudado ritualmente antes da abertura dos trabalhos; — Exu é o mais humano dos mistérios de Umbanda, porque assimila tudo o que seu médium vibra em seu íntimo. E se assim é, é porque Exu é "especular" (semelhante a um espelho) e reflete em si a natureza emotiva do seu médium, por meio da qual ele se manifesta quando incorpora. Saraceni também correlaciona o médium com seu Exu em uma relação que define também como refletor especular do médium passa a exteriorizar muitas colocações de seu Exu. Na Umbanda, os Exus recebem nomes característicos de sua falange em que está orientado. Alguns sacerdotes de Umbanda como fundador do Templo Escola Casa de Lei Alan Barbieri, ou o sacerdote Adérito Simões fundador do Templo Sete Montanhas do Brasil discorre sobre o nome dos Exus e seu campo de atuação, assim como o Orixá sustentador que para Barbieri e o Orixá que dará suporte para que a entidade exercer sua função dentro de um determinado ponto de força, exemplo; um Exu das Almas é sustentado pelo Orixá Omulú ou Obaluayê, assim como um Exu da encruzilhada, será sustentado por Ogum. Adérito Simões concorda com Barbieri e acrescenta que o primeiro nome também é o que define sua falange e o classifica como sendo de um ou outro Orixá. Exemplo: um Exu por nome de Tranca Rua é um Exu da falange de Ogum. Quando esse Exu Tranca Rua é classificado como sendo das Almas, ou cemitério, ele terá dois Orixás sustentadores que no caso do exemplo citado é Ogum e Omulú/Obaluayê.


Outra interpretação de Exu e Pombagira que são feitos nos terreiros de Umbanda, são os chamados “Exus e Pombagiras Mirins” que para algumas vertentes de Umbanda como a Umbanda Sagrada codificada por Saraceni em que essa manifestação espiritual ganha característica e função diferente dos chamados Exus e Pombagiras e outras apenas os classificam como Exu e Pombagira de arquétipos infantis porem como as mesmas funções que os demais, embora com arquétipo diferenciado por se tratarem de crianças. Para a Sacerdotisa Mãe Eliane D’Ogum da Tenda de Umbanda Caboclo Sete Flechas e Pai Joaquim de Aruanda, os Exus são entidades de energia mais densa que trabalham na Linha de Esquerda na Umbanda. Para a sacerdotisa, os Exus são espíritos que melhor entendem os humanos, pois conhecem nossos problemas de perto já que estão tão próximo de nosso plano terrestre e possuem característica similar a nossa explica Mãe Eliane; [...] existem os Exus e os Exus femininos que são chamados de Pombagira. [...] os Exus podem ser sérios, outros mais irônicos, alguns muito risonhos, mas sempre muito úteis em nossa gira e desenvolvimento [...] essas colocações também servem para as Pombagiras. Vaidosa, gostam de exibir suas vestes e pertences na festa de Exu onde dançam graciosamente conduzindo a todos que assistem a um clima de descontração e alegria. Na sua maioria foram mulheres comuns e anônimas. Pelo fato de contrariarem normas e costumes da época, tiveram que sobreviver à custa do próprio trabalho: muitas ganhavam a vida lendo a sorte ou ainda aquelas que fizeram da dança um meio de vida. É muito importante distinguir as Pombagiras das Quiumbas, a primeira tem um

das Quiumbas, a primeira tem um compromisso moral e espiritual com a religião, enquanto a segunda, ainda não consegue discernir entre o bem e o mal, se prestando a qualquer tipo de magia. As Pombagiras são muito diretas e francas nas palavras, auxiliam seus fieis nos casos de amor, dificuldades financeiras e sociais e de um jeito muito peculiar, aconselham e ajudam na solução desses e outros problemas. Todos os médiuns de Umbanda têm a sua Pombagira que o acompanha na atual existência, trabalham ativamente pela evolução moral e espiritual daqueles que as tratam com dedicada e respeito. Para a sacerdotisa Mãe Helena do Tempo Espírita São Cosme e São Damião Exu é proteção, segurança, Caminho aberto. Mãe Helena afirma que; [...] algumas pessoas por equivoco devido ao comportamento extrovertido e brincalhão de Exu, o comparam com o diabo e não é nada disso. Exu é trabalho, é compromisso, é segurança, é proteção, é caminhos aberto. [...] Tem aqueles que ainda pensam que os Exus e Pombagiras conduzem as pessoas a fazerem coisa errada e isso não é verdade, pois se assim fosse eu não seria uma mulher como sou, de peso e medida, honrada, tempo que estou na Umbanda e todas as entidades que trabalhei, se os Exus ou Pombagira me levasse a fazer coisas erra, até hoje estaria fazendo, pois a pessoa que não tem responsabilidade e que é errada é irresponsável e errado a vida inteira. Foi apena com dez anos que fui permitida a trabalhar com a Linha da Esquerda e de lá para cá, já trabalhei com uma falange de Pombagira e Exu. Primeiro veio Dona Esmeralda que está até hoje, mas também trabalhei com a Dona Luiz Quinze, Pombagira Faísca, Pombagira Rainha, Pombagira da Praia, Maria Medalha, Dona


Pombagira da Praia, Maria Medalha, Dona Maria da Esquina, e de Exu “macho” tenho o Sete Portões que é o Exu chefe de minha cabeça, Exu Toquinho, Exu Três Pinguinho Vermelho, Seu Poeira, Seu Tranca Rua e Exu Canela Roxa, todos esses Exus e Pombagira passaram pela minha cabeça e alguns ainda passam. Para a Mãe Helena as Pombagiras são mulheres alegres, que gostam do que é belo, gostam de ser divertir, gostam da noite, de farra, mas todas são muito respeitáveis e sinceras e nada mais. Em uma breve revisão bibliográfica e na experiências dos templos de Umbanda que visitei de forma breve ou assíduo na busca do culto ao Orixá Exu percebi que embora o Orixá Exu sempre estivesse presente nos rituais e nas saudações, não era uma figura reconhecida para os praticantes de Umbanda sendo mencionado apenas como entidade/espírito. A referencia do Orixá Exu só foi clara na corrente de Umbanda a partir dos esclarecimentos do já falecido sacerdote de Umbanda Rubens Saraceni por meio de sua obra doutrinarias que incluiu o livro “Orixá Exu – Fundamento do mistério Exu na Umbanda” e do curso de Teologia de Umbanda. Antes de Saraceni a leitura de Exu como Orixá não era comum, entretanto não fosse desconhecida para muitos praticantes da Umbanda, mesmo porque alguns tinham e ainda mantém certo contato com as religiões de nação, contudo, a referência na maioria dos templos de Umbanda permeava o culto a entidade Exu, até mesmos após as obras de Saraceni e a crescente corrente de Umbanda Sagrada (movimento Umbandista criado por Saraceni) que por meio de livros auxiliares e dos cursos de teologia e outros sobre Exu o culto ao Orixá Exu ainda não é tão evidente exceto em alguns rituais.

evidente exceto em alguns rituais. O principal ritual feito dentro dos terreiros de Umbanda que reflete o culto ao Orixá Exu são os rituais de despachar Exu que são feito anterior às cerimônias publica ou logo no inicio delas que alguns chamam de “padê” ou apenas despachar Exu e as saudações feitas às entidades que são saudação comum ao Orixá como Laroiê e Mojubá. Exu quanto Orixá é uma das divindades é digno de várias saudações e uma dela é o referido Mojubà que também é um titulo ao Orixá ou uma qualidade como ocorre na nação Ketu. Em ioruba, Mojubá escrito Mo jubà significa “eu me curvo”, portanto, eu me curvo a Exu e Laroiê está relacionado à mensagem, e quando unimos essas duas saudações, uma interpretação livre e possível é; “eu me curvo ao mensageiro Exu” . (Mo jubà Laroiê Exu). Segunda a analise de Exu feito por Nascimento et al (2001. p. 109) a partir dos Pontos Cantados nos templos de Umbanda 31,6% da funções atribuídas a Exu entidade está relacionado a vencer demandas, vigiar, levar mensagens, despachar Ebó, segurar a gira, defender, conduzir, fazer magia e levar o mal para o fundo do mar. Já no caso das Pombagiras, segundo os autores, 30,23% da pesquisa revela que a função das Pombagiras é comandar a madrugada, vencer demandas, carregar mandinga para o fundo do mar, corta o embaraço, vigiar, porem a pesquisa também foca quanto as característica estéticas anunciado das Pombagira como o ser moça, ser linda, menina bela, muito formosa, farrapo de chita, linda saia com sete guizos, figa de ouro, sandália de pau, saia rodada (Nascimento et al, 2001. p. 109).


109). Aqui finalizo esse artigo nas expectativas de ter trazido uma reflexão sobre o assunto Exu ou Èṣù nas diferentes concepções religiosa, ou seja, na visão de Èṣù divindade e de Exu entidade, porem não almejo nesse primeiro contato esgotar o assunto, pois sei que será uma tarefa impossível já que a religiões afrodescendentes se reconstroem a todo momento e qualquer um que queira estudar sobre a religião terá uma tarefa para toda vida e mais algumas encarnações. Desde já agradeço a todos que leram e contribuíram de alguma forma para meu compromisso no estudo das religiões de matriz africana.

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ENTREVISTA • Sacerdotisa Mãe Eliane D’Ogum da Tenda de Umbanda Caboclo Sete Flecha e Pai Joaquim de Aruanda. • Sacerdotisa Mãe Helena do Centro Espírita São Cosme e São Damião.


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