Informativo de umbanda orixás e cultos nº 16 novo formato

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Orixás e Cultos, Informativo de Umbanda, nº 16 – Julho de 2017.

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Confira: • Ogum, além do ferro • Pontos Cantados • Ogan na Umbanda • Sincretismo Religioso • Caboclo Flecheiro


CONTEÚDO DO INFORMATIVO • Ogum além do ferro. • Centro Espírita Pai Vicente de Angola, ponto de resistência sociorreligioso no estado do Espírito Santo. • As diferentes nações africanas e seus respectivos grupos étnicos. • Sincretismo Religioso que associa as divindades africanas como os santos católicos. • Gira de caboclo na Umbanda • Oração

em

forma

de

canção

Umbanda • Quem são os Ogãs na Umbanda.

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Orixás e Cultos, Informativo de Umbanda, nº 16 – junho de 2017

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Nº 16 A marca da Umbanda capixaba

Prezadas irmãs e prezados irmãos de fé O Informativo Orixás e Cultos teve sua reestreia no dia 01 de janeiro deste ano com a proposta de reafirmar ações que visasse a promoção e valorização das religiões de matriz africana por meio de dialogo aberto com a missão de tornar os religiosos de qualquer religião afro-brasileira, em protagonista de sua jornada. Entretanto, os membros da equipe e basicamente formado por Umbandistas e simpatizantes da religião de Umbanda e de acordo com a pesquisa inicial do publico com maior chance de ser atendido por esse projeto, que por critérios lógicos, eram e continuam sendo os conhecidos e mais próximos da equipe organizadora, o informativo ganhou o status de informativo de Umbanda. Isso foi necessário para atender o principal discernimento do projeto que visa o empoderamento do religioso e esse processo não poderá ser possível caso o individuo retrate outra religião, exceto quando for resultado de pesquisa. Partindo do pressuposto que a maioria dos leitores sejam Umbandista, afirmação difícil de ser feita uma vez que o informativo é disponibilizado via website e aplicativos de smartphone, assegurar que todos os que recebem são praticantes ou simpatizantes com a religião de Umbanda não é tarefa fácil, porem a ausência do retorno por parte dos religiosos e simpatizante das demais religiões afro-brasileiras, fomenta o direcionamento do conteúdo trabalhado para Umbanda. Em contra partida, estamos tentando aumentar nossa rede de contato e parceiro a fim de articular conteúdo de outras religiões e fazer mérito ao nome da iniciativa Orixás e Cultos. Com isso pensamos ter deixado clara à proposta inicial do projeto e ratificamos nosso compromisso com todos os demais religiosos de religiões afrodescendentes, e aguardamos a oportunidade de abranger maior número de religiões possível nos futuros informativo a partir da adesão de novos membros de outras religiões afrodescendentes. Em tempo, acreditamos não termos desamparados as demais religiões de matriz africana, pois o site Orixás e Cultos fornece material didático para a pesquisa bibliográfica de vários autores consagrado no meio religioso como Edison Carneiro, Pierre Verge, Nina Rodrigues, Reginaldo Prandi, dissertação e teses que municia o estudante para avanço nas pesquisas com material direcionado e bem conceituado.


QUEM SÃO E O QUE FAZEM A EQUIPE DO ORIXÁS E CULTOS Primeiramente a equipe é formada por voluntários praticantes ou não de alguma religião de matriz africana (na atual formação todos são praticantes ou simpatizantes de Umbanda) e por meio de texto, imagens, dialogo, empréstimo de materiais (livros, câmeras fotográficas e assessórios etc.) prestam algum tipo de serviço a iniciativa Orixás e Cultos. Em geral cada edição temos pessoas fixo, ou seja, aqueles que estão em todas as ações e edições ou colaboradores pontuais que são os que fornece serviço para determinada ação ou edição do Informativo de Umbanda. QUAIS OS SERVIÇOS REALIZADOS PELO ORIXÁS E CULTOS

Parte da gravação do documentário da sacerdotisa de Umbanda dona Helena no Centro Espirita São Cosme e São Damião – 60/12/2016

O trabalho que desprende maior atenção já que é feito com certa periodicidade é o Informativo de Umbanda, mas também está sendo realizado do documentário com a sacerdotisa dona Helena Viana do Centro Espírita São Cosme e São Damião no bairro de Ilha das Flores em Vila Velha, além de parceria com instituições e espaços culturais visando a produção de novos documentários e eventos culturais e educacionais para a promoção da religião, articulação para a criação de estudo doutrinário, realização de oficinas.

QUEM SÃO AS INSTITUIÇÕES OU ORGANIZAÇÕES PARCEIRAS DO ORIXÁS E CULTOS As instituições entram como equipe que pode ser fixa ou pontual, porem dentro da necessidade de cada projeto, todas possuem ações especificas e determinante para cada intervenção. São elas o Ateliê Odé, O espaço Cultural Ser Mente, o Centro Espírita São Cosme e São Damião, o Centro Espirita Pai Vicente de Angola, Centro Espirita Xangô e Ogum, Centro Espírita Vovó Catarina entre outros.


Pesquisa e texto: Alan C. Moreira

Ogum é uns dos principais Orixás masculinos cultuados nas religiões de matriz africana no Brasil e em Cuba. As diferentes formas de cultuar Ogum estão intrinsecamente ligado a um sistema de classificação que ora classifica-o de acordo com os mitos e lendas oriundo dos africanos aqui desembarcados em sua totalidade decorrência do tráfico de escravizados, ora assimilação com outro Orixá ou ponto de força natural que citaremos mais a frente. As religiões que assumem os mitos e lendas, não fazem apenas como forma de culto ao antepassado como é geralmente mencionado, e se assim for, então podemos saber que tal associação contribui para o resgate da ancestralidade e da valorização sociorreligioso dos Ilês (moradia em Ioruba) que também é uma forma de resistência ao esquecimento a qual a cultura africana foi condenada no Brasil a fim de apagar cada vez mais o afro do brasileiro. Em algumas outras religiões como a Umbanda, os mitos e lendas sobre os Orixás não são adotados e por vez até combatida por ser interpretadas como crendices ou como uma forma de combate aos traços feiticista e animista que alguns entendem que essas lendas trazem para a religião. Essa ultima afirmação pode ser facilmente observadas em algumas vertentes da religião que tem sua origem orientada pela “desafricanização da Umbanda” também conhecida como “o embranquecimento da Umbanda” (década de 50 a 70) acrescentada de algumas literaturas como a do medico etnólogo Nina Rodrigues. Para tanto, vejamos então a visão africana de Ogum adotado pelas religiões de Nação; O nome Ogum (Ògún) é sinônimo de guerra para os Iorubás (consultar dicionário em Iorubá) e pode ser chamado de Gun ou Gu para os Ewe-fons (Jejes), de Sumbo ou

Gu para os Ewe-fons (Jejes), de Sumbo ou Nkôce Mukumbe para os Angolanos e Congolenses (CARNEIRO, 1991. p. 66, 72 e 73). Segundo Silva (2005. p. 71), Ogum é o filho mais velho de Odùdùa que foi o fundador da cidade conhecida na época de Ilê Ifé (cidade santa para os Nagôs) e tornou-se o obá (rei) de Iré após destronar o regente da cidade embora não tenha assumido o comando de Iré empossando seu filho como ministro regente da cidade, com tudo, ainda era o Oníìre. Também é relatada uma regência temporária de Ogum a Ilê Ifé em um período que seu pai não enxergava, devolvendo o trono a Odùdùa quando retoma a visão. Entre as inúmeras lendas que envolveram Ogum, algumas delas o renderam títulos ou nomes como o de Omíìre (O rei de Iré [Verge. 2002. p. 44]), Toby Odé (o primeiro caçador), Ògúnjájá ou Ògúnjá (Ogum come cachorro [Verge. 2002. p. 44], associação de Ogum e Yemanjá [Pessoa, 2004]), Ògún Méjeje lodê Irê (Ogum das sete partes de Irê [Verge. 1997. p.13]), Ogum Alagbedé (Ogum, o ferreiro [Discovery, 2015?. p. 31]), Ogum Alakorô (dono da pequena coroa) entre outros.

Assentamento de Ogum na entrada do Centro Espírita Pai Vicente de Angola no bairro de Ilha da conceição Vila Velha. Imagem: Alan Moreira – 22/04/2017


Para Carneiro (1991. p. 66) Ogum é o Orixá do Ferro e sua ferramenta é um feixe de pequenos instrumentos de lavoura como o machado, foice, enxada, pá, picareta e é sincretizado na Bahia como Santo Antônio, capitão do Exercito nacional. Ogum é o dono da estrada e divide as encruzilhadas com seu irmão Exu (Esú) e deve ser cultuado em lugar aberto. Ogum tem sua morada no mato onde também tira todo seu sustento. Verger (2002. p. 45) descreve Ogum como o deus do ferro e dos ferreiros e todos que se utilizam desse metal para realização de seus ofícios. Em uma lenda de Ogum (DISCOVERY, 2015?. p.30-31), ele descobre o ferro após perfazer uma oferenda. A lenda conta que Ogum foi orientado a coletar uma quantidade de areia escura de uma área erodida e submeter essa areia ao aquecimento. Após esse ritual, Ogum observou que a areia se solidificou, tornando-se então o material mais resistente que conhecia maleável suficiente para produzir artefatos diversos. Ogum é o único representante dos duzentos Orixás IgbáImlé (deuses da direita) existente já que os demais foram destruídos por Olodumaré (ou Olorum) por má conduta, tornando-se o guia e condutor dos quatrocentos Orixás IrunImlé (deuses da esquerda). Veste-se de màrìwò que é uma vestimenta feita da folha do dendezeiro que os ilês asé (candomblés) penduram sobre as janelas e a porta de entrada. É o primeiro a ser cortejado logo após Exu por ser o senhor dos caminhos. Assim anuncia o Babalorixá Ajaunde Luiz Roberto Ramos no documentário Raízes Sagradas (2014) [...] aqui no nosso barracão, não podemos dar um facão na mão de Ogum porque a palavra “Pá” em nossa nação (Jeje) significa mata, então existe uma cantiga que diz; Ogum pá, lele

nossa nação (Jeje) significa mata, então existe uma cantiga que diz; Ogum pá, lele pá, Ogum pá ejé que significa Ogum mata, então se deixarmos um facão amolado na mão de Ogum e tiver outro Ogum na sala, eles vão brigar, até um mata o outro, [...] em uma parte da dança, a Ekedi teve que esticar um alá (pano branco) para que Ogum não passasse, pois a cantiga estava dizendo para Ogum Matar. Ogum é filho de Iemanjá e irmão de Oxossi (Òsóósí) que compartilha varias lenda uma delas que atribui a ele o titulo de Toby Odé (segundo a lenda foi Ogum que ensinou Oxossi a caçar) e como já mencionado, irmão também de Exu. Reza a lenda que Ogum forjou sua própria espada do metal extraído do fundo da Terra, ele que criou e produziu as primeiras ferramentas e armas e ensinou a humanidade a utiliza-la, sendo então, referenciado como o Orixá da tecnologia e da evolução humana no conhecimento e descoberta (JUNIOR, 2014. p. 91). Nos ilês é referenciado como o Orixá protetor junto a Exu, destemido, aquele que vai para guerra e volta vencedor, o dono do abé (faca para rituais de sacrifício). Ogum é aquele que abre o caminho para os demais passar, aquele que defende os fracos e pune os injustos. Assim relata Verger [...] Antes de desaparecer, entretanto, ele pronunciou algumas palavras, ditas durante uma batalha, “Ogum aparece imediatamente em socorro daquele que o invocou”. Porém essas palavras não podem ser usadas em outras circunstâncias, pois, se não encontrar inimigos diante de si, é sobre o imprudente que Ogum se lançará (VERGER, 2002. p. 45). Lembra o Babalorixá Alexandre D’Ogun do Ilé Asé Ogun Lakeye Osimolé no documentário Xiré dos Orixás, [...] Ogum após matar o rei de Iré e tornar-se o


Oferenda a Ogum na entrada do Centro Espirita São Cosme e São Damião e Vila Velha. Imagem: Alan Moreira – 03/12/2016

após matar o rei de Iré e tornar-se o Omíìre, só foi permitido usar uma coroa pequena e assim foi chamado de Ogun Alakoro. Sendo ele o Orixá do ferro e da tecnologia, também é Ogum que impulsiona toda a vontade de vencer, toda a gana de vitória, porque Ogum é o Orixá que abre caminhos. Ogum está diretamente ligado ao fogo porque Ogum é o próprio movimento e o movimento é quente. A natureza do filho de Ogum é sempre guerrear, são pessoas perseverantes, aquelas pessoas que não desiste nunca, que não se prende a uma pessoa só ou um lugar, ele é a própria pessoa do mundo e a pessoa que luta incessantemente até sua vitória, são pessoas fieis e sempre justas, pois esse Orixá é muito severo, por isso devemos ter cuidado até o que pedimos a Ogum, pois se Ogum julgar injusto o pedido, ele se volta contra que o solicitou. O Babalorixá complementa falando que a espada é símbolo de proteção, virilidade, força e masculinidade. [...] Ogum gosta de fartura, muita comida. Ogum matou muita gente, mas também matou muita fome, ou seja, antes de ser temido, Ogum é muito amado (Xiré dos Orixás).

O professor José Flavio Pessoa (2004) dissertou sobre as diversas lendas que circunda aos Orixás é uma delas, menciona a vinda de Ogum para o Brasil após ver seu povo capturado para servir de escravo. Assim ele relata; [...] Ogum após chegar de sua viagem, procura seu povo e não os encontram, tentando saber o que aconteceu foi na aldeia vizinha e indaga a um sábio ancião que sempre estava por lá e o mesmo afirma que as pessoa do povoado de Ogum, havia sido levada para o novo continente, assim, Ogum enfurecido, arranca um tronco de uma frondosa árvores (Iroko) e lança sobre o mar para resgatar seu povo. Durante a viagem, encontra-se com uma linda mulher que ao ver seu esforço, procurar saber o que lhe motivo a lançarse ao mar sobre aquela frondosa árvore. Após Ogum ter-lhe explicado, a mulher se apresenta como Yemanjá e oferece-lhe ajuda e assim aconteceu. Ogum é Yemanjá vem ao Brasil. E durante a vinda, surge então um terceiro Orixá fruto dessa união. Esse Orixá passa a ser chamado de Ogunjá (texto adaptado). Embora não seja considerado o Orixá mais atraente, Ogum viveu vários romances entre eles com Oxum (Osúm), Obá, Oia (Iansã) essas tres tornaram-se a esposa de Xangô (Verger, 1997. p. 13), Ojá (com ela teve Oxossi [Verger, 1997. p. 11]) e outras, porem foi com a Oia que ele é mais lembrado, talvez devido as sucessíveis tentativas de Ogum para puni-la (VERGER, 2002). Ogum sempre é associado ao Orixá militar, o ministro das guerras, etc. Porem essas são qualidades que Carneiro (1991. p.126) classifica com secundaria e afirma que outras qualidades de Ogum, nem sempre é evidenciada as vezes se quer mencionado. Carneiro (1991. p. 125) define Ogum como o patrono das artes manuais afirmando ainda que Ogum (Ôgún) [...] comunicou aos homens segredos que o fizeram ao mesmo tempo o deus da caça e da guerra.


mesmo tempo o deus da caça e da guerra. Em outro momento Carneiro (1991. p. 125126) assim descreve; [...] Gu (para os Jejes) que deu os instrumentos com que o homem pode construir abrigos, lavrar a terra, abater árvores pra prover-se de lenha, fazer barcos e utensílios, e triunfar sobre o inimigo. Como parte desta obrigação de ensinar ao homem o uso de instrumento, revelou o conhecimento da metalurgia do ferro. No candomblé de Caboclo na Bahia, Ogum assume diversos nomes e diferentes formas de culto; Carneiro (1981. p. 153) afirma que Ogum é festejado imediatamente a Exu tratado por Carneiro de “Homem da Rua” e recebem os seguintes nomes; Ogum Menino, Ogum Sete Espada, Ogum Sete Encruzilhada, Ogum do Cariri, Ogum da Pedra Branca, Ogum da Pedra Preta (essa qualidade de Ogum é o mais popular de todos e é o patrono do Candomblé da Goméia), Ogum Maiê, Ogum de Ronda, Ogum de lê, Ogum de Menê ou de Mêlê, Ogum Marinho.

Alexandre d’ Ogun – Ile Asé Ogun Lakaye Osimole – Documentário Xiré dos Orixás, 2015.

Edison Carneiro lembrando que o Candomblé de Caboclo já é uma religião bem miscigenada (ou deturpada na visão dele) em relação aos Candomblés mais tradicionais, os Orixás no Candomblé de Caboclo, assumem característica das difusões ameríndia e Católica. Cantiga de Ogum na nação Keto Ògúmàjó e mònriwó, alákoroàjó e mònriwó. Ògúmpalé Pa lóónón Ògúm ajo e mònriwó. Elé quifiéjé ué. Tradução Ogum mata e pode matar no caminho, Ogum é o senhor que viaja coberto de folha nova de palmeira É o senhor que toma banho de sangue Cantiga de Ogum na nação Keto Ògúnnitaeue re, Ògúnnitaewe ré, Ba Òsóósí i’ oko ri na álóòdee Tradução Ogum tem que vender as suas ervas e encontrar-se com Oxossi nos arredores da fazenda Ogum tem que vender suas ervas Cantiga de Ogum na nação Keto Ijá pé léijá Le ijá, ala akoro oniré

Mãe Florzinha de templo de Nação – Ile Asé Oni Ala Domim de São Bento/BA – 2010 – reportagem do Fantástico Rede Globo de Televisão na Serie Êxtase, Ritos Sagrados

Tradução Ele briga é chama mais briga Ele é o proprietário da coroa pequena, rei de Irê. Cantiga de Ogum na nação Keto Ògún Onirê akoro Onirê o orêgue ê Arrae Ògún Onirê o orêgue dê


Pai Eraldo – Centro Espirita Pai Vicente de Angola acervo pessoal de Mãe Juçara.

Tradução Ogum senhor de Irê é o elmo protetor traga-nos felicidade e espalha Boatos que Ogum chegou. LENDA AFRICANA Reza a lenda Ogum ao chegar a uma aldeia em que era obá falava com as pessoas, mas ninguém o respondia. Isto aconteceu sucessivas vezes, e sempre que se dirigia a um morador da aldeia só tinha silêncio como resposta. Ele achou que as pessoas da aldeia estavam zombando dele e num ato de fúria usou seu poder e matou a todos que ele pensava estarem humilhando-lhes. Um dia, ao passar por outra aldeia ele contou a um ancião o ocorrido e este lhe disse que na aldeia por onde Ogum passara as pessoas, naquela época do ano, faziam um voto de silêncio por alguns dias. Ao saber disso ele ficou enfurecido consigo e envergonhado, jurou proteger os mais fracos e todos aqueles que estivessem sofrendo injustiças, discriminações e qualquer tipo de perseguição injusta. OGUM NA UMBANDA Nunca é demasiado ratificar que a leitura dos Orixás na Umbanda e extremamente diferente da leitura e interpretação que é feito nas religiões de nação. Os mitos e lendas que moldam as praticas e os cultos dos religiosos de Nação, não é assumidos pelos Umbandistas embora em alguns momentos possam ser feito alguma referencia sutil, mas dificilmente é adotado totalmente. Na Umbanda os Orixás passaram por um processo de "imaculação" similar aos dos santos católicos muito possível devido ao forte laço com o catolicismo, desta forma determinadas características que é apresentado pelas lendas e mitos africanos não são abortado dentro dos cultos e praticas de Umbanda.

apresentado pelas lendas e mitos africanos em nada se sustenta dentro dos cultos e praticas de Umbanda. A ideia de ciúmes, intriga, violência, sexualidade e outros sentimentos e/ou conduta tão comum aos Orixás na concepção Nagô e Jeje, na Umbanda é excluída ou velada admitindo apenas as virtudes humanistas de cada Orixá como o amor, a compaixão, a cooperação, a proteção, a vigília etc. Desta forma, na Umbanda, Ogum mantém sua característica de guerreiro, porem nas guerras espiritual sendo assim, um valente cavaleiro contra as investidas do mal. É define por Saraceni (2003. p. 163) sinônimo da lei maior e ordenação divina. Ogum como no Candomblé é o senhor dos caminhos, vencedor de demanda, aquele que socorre os injustiçados e faz valer a lei. É Ogum que protege as casas e os terreiros, assim como também é quem aplica a lei a tudo e a todos. Assim relata Saraceni [...] Ogum é sinônimo de Lei e de ordem porque


Ogum é sinônimo de Lei e de ordem porque ele tanto aplica a Lei quanto ordena a evolução dos seres, não permitindo que alguém tome uma direção errada. Por isso, é chamado de “O Senhor dos Caminhos” das direções (SARACENI, 2003. p. 162). Nas Sete Linhas de Umbanda que está organizado por Orixá, Ogum é o segundo apresentado na proposta de Leal de Souza [...] sendo também caracterizado pela energia fluida de seus componentes, caboclos e pretos da África, em sua maioria, contém em seus quadros as falanges guerreiras de demanda (SOUZA, 1933. p. 52) e em 1941 as Linhas de Umbanda, foram tratadas de graus de iniciações no 1º Congresso de Umbanda que ocorreu na cidade do Rio de Janeiro, onde Ogum ocupa o 3º grau. Ao longo da história, Ogum está presente em todas as propostas das Sete Linhas apena o que muda é a ordem em que se apresenta ou a associação em que é referido como ocorreu na proposta de Lourenço, Braga (Umbanda e Quimbanda, 2º v de 1955) em que a Linha de Ogum é atribuída o caráter de Linha da Demanda e associado a São Jorge, ao anjo Samael e ao planeta Marte e na proposta de Benjamim Figueiredo (1964) que Ogum (6º na ordem de organização) e associada à ação que posteriormente seria referenciado como Lei por Saraceni.

1955) em que a Linha de Ogum é atribuída o caráter de Linha da Demanda e associado a São Jorge, ao anjo Samael e ao planeta Marte e na proposta de Benjamim Figueiredo (1964) que Ogum (6º na ordem de organização) e associada à ação que posteriormente seria referenciado como Lei por Saraceni. Depois dessas apresentações das Sete Linhas em que todas, Ogum apresenta-se como regente de uma das Linhas, a proposta que trouxe algo diferente foi à obra de Saraceni (2003. p. 162) em que organizava as Sete linhas em fatores, qualidade, atributo e atribuição em que Ogum representa o fator eólico, qualidade de lei, atributo ordenação e atribuição estimulo e ordem. Nessa classificação de Saraceni, Ogum faz par energético com Egunitá ambos com a mesma qualidade, atributos, entretanto, atribuições diferentes apenas no fator que no caso de Egunitá e energizador (SARACENI, 2003. p. 163). O campo de atuação de Ogum na Umbanda e muito abrangente devido às falanges que assume a vibração de Ogum. As maiorias dos Umbandistas concordam que na Umbanda a incorporação só ocorre de entidade, ou seja, de Caboclo, Pretos Velhos, Erês, Exus (entidade) etc., desta forma Ogum Beira Mar, Ogum Rompe Mato, Ogum Mege, Ogum Iara, Ogum de Areia, Ogum Sete Pedreira, Ogum Sete Espada, Ogum Sete Onda, Ogum Cariri, Ogum Malé, Ogum Xoroquê, Ogum Menino, Ogum de Lei, Ogum de Ronda, Ogum Matinada, Ogum do Oriente etc. são entidades que se manifestam na Umbanda na vibração do Orixá, mas não o Orixá Ogum. Assentamento de Ogum – Centro Espírita São Cosme e São Damião – 12/06/2010 – Imagem do acervo particular da centro.


Não obstante, há Umbandista que afirmam que as manifestações dessas energias são de fato dos Orixás e nesse raciocínio, os nomes citados (ex. Ogum Beira Mar, Ogum Rompe Mato etc.) são qualidades do Orixá assim como ocorre no Candomblé. Também é possível ver a manifestação do Orixá na Umbanda em terreiro que praticam as vertentes da religião mais próxima do africanismo (termo usado para atribuir os cultos africanos) como a Umbanda Traçada, Umbanda Mista, Umbanda Omoloko ou pouquíssima referenciada a Umbandomblé. Nesses casos, o Orixá vem em momentos destinados resguardados para ele e manifestam-se de forma proximal ao que ocorre no Candomblé, porem de forma muito mais simples como ocorre no Templo do Vale do Sol e da Lua no Rio de Janeiro. Já para os terreiros que não segue nenhuma vertente africanista, a manifestação de Ogum e suas qualidades, também ocorre em giras ou momentos da giras especificas e a forma de apresentação do Orixá e similar às entidades de Umbanda. Costumeiramente Ogum faz movimento de combate, às vezes empunhando uma pequena espada ou uma folha de espada de são Jorge assim como nas religiões de Nação, mas ainda sim a dança é repetitiva, ou seja, não varia de acordo com o toque ou a cantiga (Pontos Cantados), ora faz movimento com os braços como se fosse uma espada. Diferentes do que acontece também nos Candomblés, Ogum na Umbanda dança com os olhos abertos, esbravejam gritos similar a de combates podendo cantar ou não, depende do terreiro. Para essa gira, todas as cantigas são em português com algumas palavras em Ioruba ou outro dialeto comum da etnia africana. Ex.: Se a sua coroa de ouro é màrìwò Ogum é tata é tata,

Devota de Ogum em preces para o Orixá – Centro Espírita São Cosme e São Damião – 29/04/2017.

A sua coroa é màrìwò.

Nesse momento é importante salientar que mesmo os que defendem que na Umbanda não ocorrem à manifestação do Orixá propriamente dita, há crença que o Orixá está presente como agente ativo das giras e no caso de Ogum, como agente executor e ordenador da Lei Maior atuando não no médium para o terreiro e sim do terreiro para os médiuns e assistências, ou seja, o processo inverso ao da incorporação onde o Orixá mediunizado (incorporado) erradia a partir do médium, as energias para a gira. O dia de culto a Ogum é a terça feira ou Quinta feira, sua cor na Umbanda é vermelho ou vermelho e branco, azul escuro ou prata. Sua oferenda pode consistir de inhame com dendê e mel, cará com dendê, feijão preto, aipim, batata-doce, frutas como manga, banana, laranja e para os terreiros que faz oferenda com carne pode ser feijoada, carne bovina com osso, e churrasco. Também se fazem oferendas com flores diversas preferencialmente cravo, bebida é cerveja branca, marafá


REFERÊNCIA BIBLIOGRAFICA • Barbosa Junior, A.; Mitologia dos Orixás –2014. 144 p. • Braga, L.; Umbanda e Quimbanda, 2º V. São Paulo. 1955. • Carneiro, E.; Candomblés da Bahia, 8° edição, Rio de Janeiro, 1991. 145 p. • ___; Negros Bantos. 2° edição, Rio de Janeiro, 18981. 115 p. • ___; Religioes Negras. 2° edição, Rio de Janeiro, 18981. 122 p. • Discovery; Umbanda e suas entidades e Orixás. 2015 (?). 96 p. • Pessoa, J. F.; Seminário de Africanidade. 2004. • Raízes Sagrada, 2004. Luiz Roberto Ramos. • Saraceni, R.; Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada. São Paulo. 2003. 341 p. • Souza, L.; O Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda. 1933. 102 p. • Verger, P. F.; Lenda africana dos Orixás. 4 edição, Salvador. 1997. 96 p. • __________; Os Orixás. 6º edição, Salvador. 2002. 296 p. • Xiré dos Orixás, 2015 (?). Alexandre D’Ogun.

Babalorixá André Luiz dos Santos – Baba Ajaunde – Documentário Raízes Sagradas, Alagoinha, 2014. cravo, bebida é cerveja branca, marafá (aguardente de cana) e vinho tinto, charuto ou cigarro de palha. As ofertas com carne para o Orixá é comum ser feita de forma sacra, ou seja, ao invés de comprar o animal abatido sem nenhum critério ou pratica sagrada para o abate, esse animal e sacramentado em locais especifico dentro de rituais próprios. Ainda é comum as criticas quanto a esse ritual tendo em vista que o sacrifício não é um ritual fundamentado na Umbanda (os que fazem, respaldam-se em influencia externa), porem a não pratica do sacrifício deve vir acompanhada de oferendas sem carne, caso contrario o sacrifício do animal ouve, só que não dentro do terreiro e em rituais sacros e litúrgicos, ou seja, deve-se oferenda-lo apenas com alimento de origem vegetal ou de origem animal que não provoque a morte do animal. No estado do Espirito Santo, Ogum é sincretizado como São Jorge e junto com a festa a Iemanjá e São Cosme e São Damião, a festa de Ogum/São Jorge é uma das mais populares nos terreiros de Umbanda. Na verdade, alguns santos católicos no Espirito Santo, parecem ter mais adeptos nas religiões de matriz africana que no próprio catolicismo, esse é o caso de São Jorge, São Cosme e São Damião, Nossa Senhora dos Navegantes, Santa Barbara, Santa Ana etc. Embora a popularidade de São Jorge esteja relacionada a Ogum, em alguns terreiros já se começa a perceber a diferença e a incorporação dos santos na visão independente do sincretismo como o que já acontece com Nossa Senhora e Jesus. São Jorge está longe de fato a ganhar independência do sincretismo a Ogum, porem a fé no santo ganha cada vez mais força, e hoje é possível ver devotos de São Jorge que fazem a relação indireta do santo ao Orixá.


Nascido no dia 17 de novembro de 1962 na cidade de Teófilo Otoni em Minas Gerais, Eraldo Souza Silva com apenas 8 anos de idade, já visitava o terreiro de Umbanda da senhora que posteriormente viria a ser sua sacerdotisa de Umbanda. Criado pela avó que não aceitava as idas do neto a centros espiritualista, o mesmo aproveitava as longas jornadas de trabalho de sua avó para ir tomar passe na casa da conhecidíssima Mãe Maria Cambista. Possivelmente com essa idade (8 anos) que Eraldo iniciou seu desenvolvimento no terreiro de Mãe Maria Cambista, porem como ocorreu de desacompanhada por um responsável a idade exata e a forma como ocorreu não é precisa. Em 1976 já com 14 anos Eraldo muda-se para o Espirito Santo para em companhia de sua avó, porem ainda não sabia o que estaria por vir em decorrência de sua missão espiritual. Desde a vinda para o município de Vila Velha até a criação do terreiro que viria a ser o Zelador e o sacerdote, Eraldo frequentou varias casa as principais citada por ele era a casa da Senhora Joaquina no bairro do Ibes onde é o atual terminal rodoviário do transcol e hoje o templo localiza-se no bairro de Vale Encantado. Também frequentou o

Vale Encantado. Também frequentou o terreiro do Caboclo Malonguinho e por ultimo do desencarnado Pai Zé Mineiro, ambos no bairro de Ataíde e todos no município de Vila Velha. Mais foi no ano de 1982 que Eraldo fundou o Centro Espírita Pai Vicente de Angola no bairro de Ilha da Conceição em Vila Velha. Assim relata à senhora Sônia Maria Alves que viveu como esposa de Eraldo por 35 anos; ”no começo era um terreiro de madeira encima do mangue, mas depois Eraldo construiu esse terreiro. Nós fomos uns dos primeiros moradores dessa rua. Na época o terreiro era pequenininho, mais depois ele aumento”. Em 1989 Eraldo retorna para Minas Gerais para terminar suas obrigações de santo e volta já confirmado para exercer a função sacerdotal de Umbanda a qual foi obstinado. Erado como já mencionado foi casado com a senhora Sônia Maria Alves a qual tiveram duas filhas, porem apenas a filha Jussara e dona Sônia que assumiu o compromisso de zelador com as funções espirituais da casa. Conta à senhora Sônia que com o desencarne de seu marido, a filha Jussara assumiu a função sacerdotal do templo e


Imagem 1: Pai Eraldo junto a esposa Dona Sônia em frente ao gongar do terreiro feito de madeira. Fonte da imagem: Acervo do Centro Espirita Pai Vicente de Angola.

assumiu a função sacerdotal do templo e assim afirma; “Jussara tem todas as condições de assumir a missão do pai, além de ter passado por todas as obrigações, ela acompanhava meu marido em todas as funções do terreiro, afinal, ela é nascida e criada dentro do terreiro, conhece cada assentamento e firmeza da casa”. Segundo a Mãe Jussara; “meu pai me deixou tudo que eu precisava para dar continuidade ao trabalho dele, ele era muito caprichoso, deixou tudo escrito em vários cadernos além de marcações e citações em vários livros e revista que ele cuidadosamente guardava e conservava com maior zelo.

Imagem 2: gongar do Centro Espírita Pai Vicente de Angola. Fonte da imagem: Acervo do Centro Espírita Pai Vicente de Angola.

Imagem 3: Mãe Maria Cambista. Sacerdotisa responsável pela iniciação de Pai Eraldo. Fonte da imagem: acervo pessoal de Mãe Jussara.


Imagem 5: Eraldo recolhido para feitura do santo na Umbanda em 1989. acervo do Centro Espírita Pai Vicente de Angola. Imagem 7: Eraldo acompanhado da sua Madria Teca e seu padrinho ´Zezé na festa da sua saída da camarinha.. Fonte da imagem: Acervo do Centro Espírita Pai Vicente de Angola.

Imagem 6: Mãe Maria Cambista. Acervo pessoal de mãe Jussara.


Além de caprichoso, meu pai era muito inteligente, fez diversas pesquisas, de assuntos diversos e deixou o caminho para que eu possa trilhar com o mesmo sucesso”. Pai Eraldo como era também conhecido, foi sem duvida um dos maiores representantes da religião de Umbanda de Vila Velha. Para ele (conta a dona Sônia) a Umbanda era o meio que tinha de amparar os necessitados. “ele defendia que o terreiro era de uso coletivo, pertencia a todos que ali viesse em busca da caridade e do conforto espiritual e não tinha diferença entre um ou outro, no centro todos eram filhos de Deus. Filho de Ogum, Eraldo realizava todos os anos a festa de Ogum no dia de São Jorge que no terreiro dele é sincretizado por Ogum. Relatou dona Sônia que os preparativos da festa iniciavam no dia que antecipava ao evento. Primeiro era realizado o sacramentado dos animais que serviriam para alimento dos membros e visitante do terreiro, tudo dentro do ritual necessário para o ser feito e no dia seguinte (dia da festa), as atividades começavam cedo. Ela afirmou que logo pela manhã iniciava a preparação da comida e só terminava na hora dos trabalhos.

Imagem 8: festa de Ogum – 2013. Fonte da imagem: Centro Espírita São Vicente de Angola.

A Mãe Jussara lembra que na festa de Ogum era muita fartura, pois como ela disse; meu pai não gostava de “nada pouco”. Ele se dedicava muito para esse e os outros trabalhos, era o dia todo em função disso. Era banho, orações, as oferendas, tudo para o sucesso dos trabalhos”. Outras festas muito populares era a festa de Exu em agosto e a festa de Cosme e Damião em setembro. A Mãe Jussara e a dona Sônia relataram que na festa de Exu era a mesma coisa que para Ogum. As funções iniciavam no dia anterior da festa com o sacramento ritualístico dos animais utilizado para o preparo da refeição dos membros e visitantes e no dia seguinte era a preparação dos alimentos, dos banhos e obrigações e das oferendas etc. - Eram muita gente e como meu pai (assim relatou Mãe Jussara) não gostava de festa a noite toda em respeito aos vizinhos, no dia seguinte, a festa continuava. Dona Sônia afirmou que no dia seguinte


Imagem 9: assentamento de Ogum na porta de entrada do Terreiro. Ponto de firmeza da casa conta a Iyalorixá Jussara. Foto: Alan Christian Moreira

seguinte era normal reunir os membros e visitante para determinar de comer e beber o que havia sobrado da festa. Meu marido fechava o terreiro (assim relata dona Sônia) e então a festa começava. Às vezes eu entrava na cozinha para preparar alguma coisa, mas era apenas isso. Nessa festa do dia seguinte que era de dia, podia contar musica tocar pandeiro, comer e beber a vontade”. A festa de Cosme e Damião, sem duvida era a mais tradicional da região. Eram vários sacos de balas entregues no dia. As criançadas não saiam de nossa porta (diz dona Sônia). A entrega de bala era o dia todo, porem a noite que era de fato a festa. Além das balas, também tinha os bolos, refrigerantes, brincadeira e claros, os nossos Erês. Também foi relatado pela Mãe Jussara a gira de Puri (Eru); quando meu pai chamava os Puris, eles viam e era oferecido

Imagem 10: firmeza de São Cosme e Damião e Erê. Foto Yasmim Ferreira.


oferecido carne crua e vinho no chão, pois era assim que ele fazia. Entre as linhas de trabalho que ocorria no terreiro, havia a linha do oriente que era regido pelo Cigano Dionizio (entidade de Pai Eraldo). Relatou dona Sônia que tanto os guias com a roupagem fluida de Cigano quanto os ciganos carnais eram muito comum no terreiro tendo em vista que Eraldo detinha uma estreita relação com os ciganos e participou de vários eventos da comunidade dos ciganos além de realizar acampamentos em diversas cidades. Relataram a Mãe Jussara e dona Sônia que embora fossem essas as três principais festas que ocorria no terreiro, não eram as únicas. Segundo a Mãe Jussara, Pai Eraldo gostava de fazer a festa das entidades e dos Orixás no dia do Santo de sincretismo na Umbanda e algumas obrigações fora do terreiro também era normal como o que ocorria na praia em

Imagem 11: Assentamento de Yemanjá. Foto: Yasmim Ferreira.

Imagem 12: Quarto de atendimento - gongar da linha do Oriente. Imagem de Santa Sara no centro do Gongar. Foto: Alan Christian Moreira.


homenagem a Iemanjá no dia 2 de fevereiro (sincretizada por Nossa Senhora dos Navegantes), nas cachoeiras em homenagem a Oxum no dia 8 de dezembro (sincretizado por Nossa Senhora da Conceição) , nas matas em homenagem a Oxóssi no dia 20 de janeiro (sincretizado como São Sebastião) ou em outra data que fosse pertinente a casa e da mesma forma a Exu e Pomba-Gira no dia 13 de agosto ou em outra data. Era feita homenagem com festa a Preto Velho no dia 13 de maio (abolição da escravatura), a Santa Sara e ao Povo Cigano no dia 24 de maio, pai Xangô no dia 24 de junho (sincretismo a São João Batista), a Nossa Senhora da Penha no dia 12 de outubro, Marinheiro no dia 13 de dezembro (Santa Luzia) e obrigações mais simples a Nanã no dia 26 de julho, a Iansã no dia 4 de dezembro, a Boiadeiro e Baiano em data não oficiais.

Imagem 13: Firmeza de Preto Velho. Foto Alan Christian Moreira.

Baiano em data não oficiais. No nosso terreiro trabalhamos com as giras de Preto Velho, Caboclo, Boiadeiro, Baiano, Marinheiro, Erê, Exu, Pomba Gira e Oriente. Meu Pai trabalhava com o Preto Velho Pai Vicente de Angola e Pai Benedito, Caboclo Sete Folhas, Pena Branca e Vence Demanda, com o Boiadeiro Manoel da Serra, com o Baiano Dominguinho, com o Marinheiro Gentil e Martin Pescador, Erê Marquinho, Exu Tranca Rua da Encruzilhada, Exu Cancela e o Cigano Dionizio. Quando indagado a Mãe Jussara sobre a responsabilidade que assumiu ao aceitar a função sacerdotal e os desafios que ira enfrentar ela assim respondeu; - “fico muito feliz em poder dar continuidade ao serviço sócio espiritual que meu pai


serviço sócio espiritual que meu pai prestava nessa casa”. Para mim é uma grande honra assumir a casa e ver que todo o trabalho dele não foi junto ao seu corpo físico e que da semente que ele plantou e colheu frutos, ainda está produzindo para as próximas gerações. Já quanto ao desafio, não vejo nenhum além do cotidiano, tenho gratidão. Não temos tantos médiuns como tínhamos na época de meu pai e nem tantos recursos, mais com a força de Deus e dos Orixás, vamos conseguir vencer essa e as demais batalhas que virão.

Despedida de Pai Eraldo Quem era Eraldo - Dona Sônia: Eraldo além de ser um bom marido, também era um excelente pai. Nunca deixou faltar nada para nossa família, esteve presente em todos os momentos. Ajudou minhas filhas, ajudava os vizinhos e amigos, viveu uma vida em prol da caridade e o respeito com a vida. Como ele descobriu a doença - Dona Sônia: logo após ele retornar de uma viagem de Minas Gerais, Eraldo que sofria de trombose, foi também acometido por uma embolia pulmonar que quase lhe matou, então ele foi transferido para outro hospital onde fez uma tomografia e após a biopsia o médico diagnosticou câncer pulmonar. Quinze dias após a internação, ele desencarnou na sala de cirurgia. O médico até questionou o fato já que ele não possuía nenhum vicio como tabagismo e etilismo, mas como ele mesmo acreditava isso era doença espiritual. Então no dia 23 de abril de 2015, Eraldo Souza Silva, aos 52 anos faleceu. No dia de seu Orixá. Ele fez algum pedido - Dona Sônia em lagrimas relata: sim, ele me pediu que acontecesse o que acontecesse que eu nunca deixasse de dar balas para as crianças dele no dia de Cosme e Damião e que cuidasse de seu Ogum.

Imagem 14: Pai Eraldo, dona Sônia e a jovem Jussara (atual Zeladora). Foto do acervo do Centro Espírita Pai Vicente de Angola.

O que Pai Eraldo deixou de herança trás? - Mãe Jussara: mais do que esse terreiro. Meu pai deixou para mim a maior coisa que um pai pode deixar para um filho que é o bom exemplo. Não tenho que


Imagem 15: gira de Cigano. Acervo do Centro Espírita Pai Vicente de Angola

que é o bom exemplo. Não tenho que reclamar de meu Pai, hoje o que eu sou dentro e fora da Umbanda, agradeço primeiramente a Deus e depois ao meu pai e mãe.

pai e mãe. O Centro Espirita Pai Vicente de Angola atualmente acumula 34 anos de existência e sem duvida, o templo espiritualista agora regido pela sacerdotisa Jussara Alves de Souza e a senhora Sônia compõe entre outros grandes, um ponto de resistência e autoafirmação das religiões de Matrizes africana no estado do Espírito Santo principalmente para a comunidade Umbandista. Defensor da Umbanda, Pai Eraldo foi uns dos grandes nomes da contemporaneidade da religiosidade de Umbanda e abriu portas para muitos outros religiosos poderem se fundamentar além da propagação da religião em um espaço sócio religioso de referencia ritualístico e tradição. Embora tenha partido muito cedo, Pai Eraldo não deixo de existir, pois da semente que ele plantou, germinou lindos arbustos que hoje somados, formaram frondosas árvores que já frutificam. Muito mais que um templo de Umbanda, o Centro Espírita Pai Vicente de Angola é um marco na história da Umbanda do Espírito Santo e deve servir


história da Umbanda do Espírito Santo e deve servir de referencia para a atual e as futuras gerações de Umbandistas. O Centro Espírita Pai Vicente de Angola está localizado na Rua da Conceição, 189, no bairro de Ilha da Conceição no município de Vila Velha. As giras acontecem todas as sextas feira a partir das 19:30. Contato: (27) 996.530.614 (27) 997.435.286 Facebook Centro Espírita Pai Vicente de Angola. _________________________________________________________________________ Pesquisa e texto: Yasmim Ferreira _________________________________________________________________________


AS DIFERENTES NAÇÕES AFRICANAS E SEUS RECEPTIVOS GRUPOS ÉTNICOS SINCRETISMO RELIGIOSO QUE ASSOCIA AS DIVINDADES AFRICANAS COM OS SANTOS CATÓLICOS No Brasil, a escravatura ocorrida no período colonial (século XIV ao XIX), muitos grupos étnicos africanos foram enviados para várias partes do país com as mais diversas finalidades (agrícola e pecuária, engenho, mineração, metalurgia, serviços domésticos etc.). Nos dois primeiros séculos da colonização brasileira, o país adotava como principal estratégia economia o cultivo agrícola principalmente de cana de açúcar e o engenho, a extração de madeira e conquistas de terra ocupada pelos nativos (ALBUQUERQUE e FILHO, 2006. p. 40). Assim os escravizados aqui chegados vieram principalmente para trabalhar nas fazendas.

Segundo o professor Jose Flavio Pessoa (2004), a nação “Banta” era formada por mais de 400 grupos étnicos com varias línguas diferentes. Os atravessadores de escravos como estratégia de dominação, misturavam esses grupos étnicos para dificultar a comunicação entre eles e assim impor sua autoridade para com os escravizados (ALBUQUERQUE e FILHO, 2006. p. 44).

África do Sul originou o maior numero de pessoas para o serviço escravocrata na época (século XIV até meados do século XVIII). E esses negros eram tratados de Bantos oriundos principalmente do reino de Congo (não confundir com o atual país de Congo), Angola, Congo, Dongo e a Região de Benguela. Os Bantos que aqui chegavam eram identificados de acordo com o porto que embarcavam e não pelo grupo étnico que pertencia de fato como cita Lopes (2008. p. 44). Os negros da costa viam principalmente dos portos de Luanda e Benguela e contra-costa (região banhada pelo oceano Índico) nos portos de Moçambique (Zambeze e Limpopo) Cabida e Mombaça. No Brasil os portos que recebiam esses africanos eram principalmente os portos do Rio de Janeiro e Salvador e a partir desses, eram distribuídos pelo Brasil (Lopes, 2008. p. 31). Muito embora esses africanos fossem oriundos de uma mesma nação (Banto), eram formados por diferentes grupos.

imagem 1: Principais portos de embarque para a travessia atlântica de africanos escravizada para os portos Brasileiros.

No primeiro século da escravidão dos africanos, também foi forte a diáspora dos negros da África ocidental por meio do comercio e isso perdurou por todo o período do trafico de africano no transatlântico a ponto da região do Golfo de Benin (sudeste da atual Nigéria) ser conhecida como costa dos escravos (ALBUQUERQUE e FILHO, 2006. p. 26). Portugal sobre o domínio Espanhol (União Ibérica) ver o cenário econômico e comercial do


Brasil diferente e essa diferença ocasiona em

imagem 2: modelo de embarcação para o tráfico de africanos para o Brasil. Ogot, 2010. p. 111.

fundamentais para a governança do Brasil como o Banco do Brasil, a Casa da Moeda, a Junta Geral do Comercio o Supremo Tribunal. Com essa alteração politica no Brasil, refletiu em mudanças econômicas que viabilizou a colônia a deixar de ser um país principalmente agrícola para ser também um país com aspecto urbano próximos das grandes cidades e nas capitais. Nos meados do século XVIII as capitais como Salvador, Recife, São Luiz, São Paulo eram polos extremamente urbanizados e muito bem estruturados (PESSOA, 2004; LOPES, 2008. p. 44-49).

certa liberdade para o comercio de escravizados para o Brasil e a vinda dos negros de minas (nome atribuído aos africanos da região ocidental) começa ser direto (LOPES, 2008. p. 44-49) para o país além da centralização (ALBUQUERQUE e FILHO, 2006. p. 28). Para Mattos (2013. p. 64) o sistema colonial consistia em; a colônia oferecer produtos orgânicos e metais preciosos para as metrópoles e esse devolvia em produtos manufaturados. O Brasil como grande propriedade de monocultura escravista provinha para Portugal Pau-Brasil (séc. XV), açúcar (séc. XVI e XVII), ouro (séc. XVIII) e café (XIX) e em contrapartida era retribuído de mão de obra escrava. E importante ressaltar que esse sistema de serviços e produtos, era o que movimentava o comercio de ambos os países, embora, outros produtos e serviços assim como outros países também participavam desse processo. No começo do século XIX com a soberania de Napoleão Bonaparte e a pressão exercida pelo seu império a europa, forçou a coroa portuguesa migra para o Brasil primeiro para Salvador em 1807 e posteriormente para o Rio de Janeiro (1808) promovendo a colônia carioca o status de Reino Unido de Algarves. A partir dai o D. João instituiu alguns ministérios e estabeleceu órgãos

Imagem 3: característica étnica dos diferentes grupo de africanos.

Marca étnica africana, segundo o viajante alemão. Rugendas. Ogot. p. 47. Uma das formas de identificar os grupos étnicos que chegaram ao Brasil eram as característica física resultado do fenótipo e de de-terminados ri-tos de passagem como desenhos ou pequenas mutilações principalmente nas extremidade do corpo.


Isso ocasionou o interesse do Brasil por africanos oriundos da costa dos escravos (negros de minas) da região dividiam em Iorubas (formados principalmente pelas cidades-estados de Oio, Ketu, Egba, Ijesá, Ilé Ifé, Ire etc.) e o reino de Daomé (Ewe-fon) já que falavam variações do mesmo idioma e cultuavam alguns deuses em comum, dividiam o mesmo território que era do sudoeste da atual Nigéria e o sudeste da Republica de Benim (ALBUQUERQUE e FILHO, 2006. p. 26). Diferente do que ocorreram com os Bantos, os Iorubas e Daomeanos tiveram sua distribuição restrita ao norte do Brasil principalmente na Bahia, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Maranhão (PESSOA, 2004), isso justifica a predominância da cultura Jeje-Nagô entre as religiões de matriz africana no norte do país como o dialeto, as divindades e a concepção sociorreligiosa nas comunidades afrodescendentes. A ideia de falta de cultura dos povos africanos presente no imaginário popular brasileiro e o pensamento da boçalidade que acreditava ser característica dos negros escravizados no país em nada se sustenta na praticas, pois na maioria das culturas africana o desenvolvimento comercial e econômico era extremamente avançado. Embora a oralidade fosse a principal forma de comunicação intra étnicas, a escrita era comum a quase todas as etnias e algumas se destacava em área da ciência como matemática, astrologia, arquitetura, metalurgia e mecânica que para Lazaro Cunha (2012) foi uma das maiores contribuições dos povos africanos para o conhecimento cientifico e tecnológico universal. Através de seu ensaio com dissésseis páginas, Cunha cita o cientista e clínico egípcio Imhontep que para ele, foi o primeiro a utilizar as principais técnicas básicas da medicina, odontologia e farmacologia entre cirurgia cerebral e catarata, mumificação, prótese

dentaria etc. isso a três mil anos antes de Cristo (p. 6). No século XII entre a nação Dogon situada ao Oeste do antigo reino Mali e ao sul do deserto do Saara, localizava-se a antiga a Faculdade de Astronomia e Matemática de Timbuktu (p. 8). Entre 1500 a 2000 anos atrás, os Haya (Tanzânia perto do lago Vitória) produzia aço em temperatura superior ao dos europeus e a tecnologia aplicada metalúrgica não restrigiu-se apenas nessa região como cita Cunha, também foi identificado tecnologia similar em Ruanda e Uganda (p. 9). Além das pirâmides, outra obra arquitetônica se destaca na África. As ruinas de Zimbábue datada entre os séculos XI e XII demonstra similaridade como os sítios históricos de Macchu Picchu e Cuzco no Peru (p. 10).

Imagem 5: Ilustração do método de mumificação realizado pelos egípcios. Rogério Nunes. Super Interessante, 2003. P. 48.

Imagem 6: Diagrama de um arquiteto egípcio, provavelmente da terceira dinastia. No desenho, são utilizados coordenadas retangulares para desenhar uma curva. Desenhos: Van Sertima (1983, p. 77).

Assim cita Martinho Afonso de Souza em uma carta enviada a Portugal; Catunda (cidade do território Ioruba) é uma cidade bela e bem


projetada com arquitetura extremamente interessante e ruas bem feitas, esgoto e é tão bonita como Marceia na França (PESSOA, 2004). Os africanos escravizados que sobreviviam à travessia do atlântico por meio dos tumbeiros (modelo de embarcação que favorecia o transporte dos africanos em grande quantidade) eram amontoados em estaleiros, limpos já que na travessia não tomavam banho, recebiam alimentação e alguns cuidados para poderem ser comercializado, pois negro desnutrido, desidratado, ferido e apático, não tinha valor comercial para os compradores de escravizados. Escravizadas novas ou virgens eram comercializada de forma diferente e também tinha maior valor.

Imagem 8: lavoura de cana de açúcar. Ogot, 2006. p. 70.

Imagem 9: Senhor de escravizados observando o trabalho escravo. Ogot. 2006. p. 73. Imagem 7: armazém de comercio de escravos menores. Albuquerque e Filho, 2006. p. 57.

Alguns podiam viver semanas nesses estaleiros a fim de recuperarem suas condições normais. Os escravos mesmo sendo conhecidos de acordo com o local de embarque no continente africano, no Brasil eram misturados com outros grupos étnicos para garantir a dominação. Até hoje é muito difícil reconhecer os grupos étnicos que aqui chegaram, e a destruição dos arquivos por Rui Barbosa no dia 13 de maio de 1889 ajudou bastante, embora tenha sido uma pequena parte de todos os registros.

Imagem 10: fila de escravizado sendo levados para a colheita de café. Ogot. 2006. p. 79.


Mesmo como foi a forma de identificação dos africanos no Brasil, era importante conhecer ao menos a nação que vinha (Ewe-fon, Iorubá, Banto), pois para o comprador obter escravizados familiarizados com o tipo de serviço que executaria auxiliava na produção, mesmo porque alguns possuíam técnicas muito mais avançadas que os portugueses na agricultura, na pecuária, mineração e metalurgia. Algumas cidades africanas eram referencia no tipo de produção que o Brasil desenvolvia, entre os bantos principalmente os Angolanos e Congolenses, a agricultura e a pecuária era de melhor serventia para os donos de escravizado. Como já citado, a mudança politica e econômica do país e as descoberta de minério e pedras preciosas, além do crescente comercio do país resultado da colonização, a partir do século 18 já se organizava na colônia importantes famílias algumas até da alta corte portuguesa, escravizados com conhecimento de atividade de manufaturação, de metalurgia, alvenaria e atividades domestica, já eram de suma importância e na África Sudaneses que os escravocratas buscavam o produto (no caso o escravizado) para atender a mão de obra brasileira. Porem com a vinda de forma expressiva dos Sudaneses ao Brasil e a restrição desses grupos (Iorubás e Ewe-fon [Jeje]) ao nordeste brasileiro a comunicação entre esses grupos foi inevitável, pois as maiorias falavam ou conhecia do dialeto Iorubá, isso justifica porque no Brasil o Iorubá é uma língua viva para muitos descendentes africanos e nas religiões de nação aqui no brasil. Já em outras regiões onde o dialeto Iorubá não era a língua que representava a nação, foi perdida parcial e em alguns casos, totalmente perdida como ocorreu com o dialeto Kimbundo ou Chócue para os Angolanos, Kicongo para os Congolenses, Tsonga para os Moçambiques.

Outros dialetos também chegaram ao Brasil, mas não foram tão expressivos quanto os citados. Nesse local em que a resistência à língua e o dialeto não foram tão bem sucedidos quanto o Iorubá, os africanos mesmo com a língua Portuguesa se organizado e conseguira reconstruir praticas e costumes populares de sua terra natal e recriaram uma parte da África no Brasil.

Edison de Souza Carneiro era etnólogo e escritor Brasileiro especializado em temas afrobrasileiro e militante do Partido Comunista Brasileiro (PCB) a partir da década de 1930. Escreveu importantes livros sobre o tema “religiões de matriz africana” com Candomblé da Bahia e Religiões Negras, Negros Bantos. Fonte da imagem: wikipedia.

Raimundo Nina Rodrigues foi um medico legista, psiquiatra, professor, escritor, antropólogo, etnólogo, sexologista, higienista, biógrafo, epidemiaologista brasileiro. Como antropólogo e etnólogo desenvolver trabalhos importantes no estudo dos negros no Brasil. Embora seus estudos é considerado racista, contribuiu muito com a concepção da existência principalmente no que ser refere à religiosidade de matriz africana. Fonte da imagem; Wikipedia.

As religiões africanas tratadas pelos antigos estudiosos da cultura africana de africanistas (entre os pesquisadores podemos destacar Nina Rodrigues, João do Rio, Edson Carneiro) eram muito mais que a simples manifestação da fé e culto ao divino, também era a forma que os africanos tinham de resgatar valores africanos perdido na diáspora e torna tangíveis suas


crenças (socioespiritual), algo que claro, para os colonizadores em especial os atravessadores de escravizados e os donos de escravizados, não era possível por subestimar a capacidade de organização dos africanos e crioulos (filhos de africanos nascidos no Brasil). Mas o que os colonos não imaginaram era a capacidade que os cativos africanos desenvolveriam de se relacionarem uns aos outros em culturas a ponto de formatar uma nova África aqui no Brasil, e assim eles fizeram. A Religião oficial no período Imperial e nas primeiras décadas da Republica Federativa do Brasil era a Católica Apostólica Romana, logo, a fé nas divindades que alguns grupos étnicos (em geral os Iorubás, Ewe-fons e os Bantos) africanos trouxeram para o Brasil, não puderam ser cultuado e eram usados como uma forma de justificar a escravidão, pois na visão da igreja, a escravidão era o meio que os portugueses tinham de purificar os africanos por meio do trabalho e da obrigatoriedade da fé católica. Em resposta a tal proibição, os africanos criaram um sistema de reconhecimento de suas divindades pelos santos católicos por assimilação algumas rigorosas e outras nem tanto. Desta forma, quando se cultuava algum santo católico o que estava por trás desses cultos eram a devoção e a Orixás e as Yiabas, e isso sem duvidas foi um processo determinante para que a fé nas divindades africana pudesse ser perpetuada para os seus descendentes.

Hoje encontramos algumas religiões de matriz africana que não utilizam-se de tais comparações, pois entende que isso na época foi necessário, porem hoje só trás lembranças de um passado de repressão e omissão e continuar com esse processo só aperta as amarra que insiste em se manter nos pés e mãos dos praticantes das religiões afrodescendentes. Porem para algumas religiões, essa relação ainda é tão forte, que às vezes é impossível identificar em uma cerimônia ou em um ponto cantado de quem realmente está se cultuando, já que algumas religiões o catolicismos já faz parte dos cultos (orações rezadas nas igrejas, símbolos utilizados no catolicismo como a cruz, bíblia e o batismo na água). Exemplo de ponto cantado na Umbanda Ô viva Oxossi ê, Meu São Sebastião, Oxossi e um caboclo, Morado La do sertão. Observe que nesse ponto, Oxossi orixá oriundo da cultura étnica dos Iorubás (rei de Ketu) é também nomeado com São Sebastião, santo católico nascido em Roma sem nenhuma relação com o Orixá africano. Esse e outros pontos ajudam a manter vivo o sincretismo relacionando os santos católicos com as divindades trazidos para o Brasil pelos africanos no período colonial (século XVI a XIX).

Pesquisa e texto: Alan Christian Moreira REFERENCIA BIBLIOGRÁFICA  Albuquerque, Wlamyra R. de, Filho, Walter Fraga; Uma história do negro no Brasil , Salvador: Centro de Estudos AfroOrientais; Brasília: Fundação Cultural Palmares, 2006. 322 p.  Cunha, Lázaro; Contribuições dos povos africanos para o conhecimento cientifico e tecnológico universal. 2012 (?). 16 p. disponível em <htpp://www.acaoeducativa.org.br> acessado em 15/11/2016.  Lopes, Nei; História e Cultura Africana e Afro-descendente, São Paulo: Barsa Planeta, 2008. 144 p.  Mattos, Regiane Augusto de; História e Cultura afro-brasileira. 2° edi., 2° reimpressão, São Paulo. 2013. 217 p.  Pessoa, José Flavio – seminário de africanidade, 2004.  Ogot, Bethwell Allan; História geral da África, V: África do Século XVI ao XVIII, Brasília: UNESCO, 2010. 1192 p.


Umbanda Além dos Muros é um projeto idealizado pela Yialorixá Eliane D’Ogum zeladora da Tenda de Umbanda Caboclo Sete Flecha e Pai Joaquim de Aruanda com o proposito de praticar a caridade e combater o preconceito e a intolerância religiosa. Muitas pessoas julgam a Umbanda sem conhecer seus fundamentos e esse “pré-conceito” só será combatido de verdade quando as pessoas conheceram os trabalhos de caridade praticados por um terreiro de Umbanda tradicional. Como muitos tem medo de ir a um terreiro buscar ajuda e ou não tem acesso, nós resolvemos levar a Umbanda além dos muros. Inicialmente o projeto vai cadastrar famílias carentes para distribuir doações (roupas. Alimentos, medicamentos e etc.), mas as ações vão muito, além disso: através de doações, vamos estruturar uma cozinha solidária na qual serão preparadas refeições para moradores de rua. Também serão realizadas visitas e doações a asilo e orfanatos. Para maiores informações, entre em contato conosco através do e-mail: contatotucsfpja@gmail.com Para cadastrar famílias, http://migre.me/wHTo3

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Pesquisa e Texto: Alan Christian Moreira

Desde o advento do Caboclo das Sete Encruzilhadas que para muitos marcou o inicio da expressão religiosa popularmente conhecida no Brasil como Umbanda, ou o seu retorno como afirma Silva (1997. p. 63-64) as manifestações de entidades ditas caboclos e caboclas traçam as rotinas dos terreiros de Umbanda. É fato que a gira de Caboclo não surgiu junto ao advento citado, pois já havia manifestações de Caboclos em outras religiões como o que ocorre na Bahia e no Rio de Janeiro nos chamados Candomblé de Caboclo, ou o que ocorria no final do século XIX e começo do XX no Rio de Janeiro à Macumba Carioca, ou em São Paulo a Macumba Paulista. Também era possível (registro de 1900 por D. João Batista Correia Nery, primeiro bispo do Espírito Santo) nessa época encontra fáceis os terreiros de Cabula no Espírito Santo, hoje restrito basicamente em Conceição da Barra e São Mateus (MARCIEL, 1992. p. 51). Anterior manifestações religiosas citadas, já era registrado em Pernambuco a partir do século XVII o Adjunto da Jurema ou o Catimbó. Na Umbanda, os caboclos são espírito humano que viveram encarnados no plano físico e passaram pelo processo normal de desencarno, manifesta-se por intermédio dos médiuns exibindo o arquétipo de índio brasileiro. Atuam como guias de luz, protetores e executores da chamada Lei Divina, lei esta, que arquitetou o arcabouço fundamental das praticas religiosas designadas a corrente astral regente na Umbanda, porem o termo “Caboclo” pode abrange outras entidades. Em algumas casas de nação que cultua o espirito também chamado de “encantado” e até mesmo alguns poucos terreiros de Umbanda, tratam as entidades chamadas de Boiadeiro e Baiano como sendo Cab

de Boiadeiro e Baiano como sendo Caboclo. Em geral o termo Boiadeiro é uma forma genérico de classificar as entidades (ou encantados) com arquétipo do sertanejo, os trabalhadores de minas de metais ou pedras e outros, já os Baianos são todas as entidades com o arquétipo do nordestino alguns até com estreita relação com os Pretos Velhos ora como escravo ora como feitor ou o capitão do mato e outros apenas brasileiros independente da pigmentação da pele, mas que apresenta o arquétipo das entidades presente no espiritualismo que geralmente são as entidades excluídas socialmente. Para os templos que usam o termo Caboclo de forma ampla, então surge a classificação de Flecheiros ou Caboclo de Pena para designar os Caboclos com arquétipo de índio.

Imagem da Concepção Artística do Caboclo das Sete Encruzilhadas apresentado no Livro As Origens da Umbandas – I. 2013. p. 10.


Zélio Fernandino de Morais, As Origens da Umbanda. 2013. p. 164 Antonio Elezer Leal de Souza - As Origens da Umbanda II. 2013. p. 12

As giras de Caboclo são normalmente organizadas nas chamadas Sete Linhas de Umbanda que varia de acordo com o seguimento Umbandistico que rege cada templo. E importante ressaltarmos aqui, que Linhas de Umbanda não é a mesma coisa de Linha de Trabalhos que nesse estudo será tratado de gira de Umbanda. Na maioria dos estudos de Umbanda sobre o tema, a gira de Caboclo Flecheiro (ou a Linha de Trabalho de Caboclo) é orientada pela Linha de Oxóssi (Orixá sustentado dentro da Sete Linhas de Umbanda), porem não se deve confundir o Orixá gerente de linha com Orixá regente do guia (entidade), pois um guia pode ser regido por um Orixá e pertence a gira de outros, ex.: Beira Mar, Sete Espada, Matinada, Tamoio, Pena Vermelha, Sete Caminhos, Pantera Negra, Rompe Nuvem, Ubirajara etc. (guias de Ogum); Sete Pedreiras, Sete Cachoeiras, Sete Pedras, Sete Montanhas, Treme Terra, Tupã, Cobra Coral, Caramuru, Arranca Toco, Pedra Preta etc. (guias de Xangô); Urubatão da Guia, Ubirajara, Tamandaré, Yacamim etc. (guias de Oxalá), porem todos esses e outros que não citaremos compõe a gira de Caboclo regida como já mencionado pela Linha de Oxossi. A regência que as entidades recebem dos Orixás está relacionada com o campo de atuação que a entidade vai desenvolver seus trabalhos dentro da gira. Desta forma temos a seguinte proposta de Linha de Umbanda (atualmente mais aceita entre o movimento Umbandistico); a) Linha Religiosa, da fé ou Oxalá, b) Linha do Amor, D’Água ou Iemanjá, c) Linha da Justiça ou Xangô, d) Linha das Demandas, Ação ou Lei, ou de Ogum, e) Linha do Conhecimento ou Lógica, Oxóssi (onde a gira de Caboclo está organizada), f) Linha das Crianças, Ibeji ou Yori, g) Linha dos Pretos Velhos, das Almas, Yorima ou Obaluayê.


A gira de Caboclo reflete muito mais que a incorporação de praticas religiosa oriundo de outras religiões, mas sim os valores culturais e étnicos pertinentes a essas entidades. Para Maria E. Machado (1995. p. 26) a presença dos ameríndios (Caboclos e Caboclas) associados aos africanos (Pretos Velhos e Pretas Velhas) e as crianças (Êre) fazem a representação dos três grupos étnicos de maior expressão no Brasil, ou seja, índios, negros e os brancos. Outra possível interpretação relaciona-se com as fases da vida humana que pode ser divididas em três grandes momentos. A fase inicial (infância) representado pelos Êres, a fase media (adulto) representado pelos Caboclos e a fase final (ancião) pelos Pretos Velhos. A idade média que é a relacionada aos Caboclos (embora tenhamos Caboclos anciões), remete a ideia do ser maduro, conscientes dos seus atos e capaz de prover sua independência. Nessa perspectiva a gira de Caboclo é orientada para o mais alto nível de energia dentro da corrente cósmica das Leis Divinas a qual os irmãos ou irmãs merecedores conseguem alcançar a cura para o sofrimento que lhes atormentam ou a força necessária para continuar a trilhar o caminho de sua missão. Tendo base nessa perspectiva, a Gira de Caboclo regida pelo Orixá Oxóssi parece fazer sentido e se, ampararmo-nos na definição de Saraceni (2003. p. 176) em que associado a Obá (Orixá feminina do panteão africano) atuam na linha do conhecimento ou raciocínio. Assim descreve o autor; “O conhecimento é uma qualidade de Deus e Oxóssi é sua divindade unigénita, pois ele é, em sim mesmo, o conhecimento divino que ensina todos a conhecerem a si mesmos a partir do conhecimento sobre nosso Divino

do conhecimento sobre nosso Divino Criador” e é por meio do conhecimento e da razão, que os Caboclos intermediam a corrente mediúnica para a elevação espiritual e o conforto bioespiritual. Sendo os Caboclos orientados por diferentes Orixás ou até mesmo por Oxossi, detêm em si o conhecimento e as demais qualidades do campo de atuação de cada Orixá que os regem, ex.: um Caboclo de Ogum além de deter os mistérios do conhecimento e a razão oriunda da gira a qual ele se manifesta, também será orientado no campo da Ação e da Lei que é o campo de atuação de Ogum na Umbanda. Assim acontecem para os Caboclos de Xangô no campo da Justiça, aos Caboclos de Iemanjá no campo dos sentimentos e os Caboclos de Obaluayê no campo da saúde etc. As giras de Caboclos também manifestam entidade um tanto quanto intrigantes ao imaginário popular, talvez pelo fato de alimentar ideias pré-concebidas de etnias ou diferentes formas de atuação como ocorre nas falanges de entidades tratadas de “Erú” e as Cobras. Essa última há um consenso de que se trata de Caboclo como Caboclo Cobra Coral, Caboclo Jiboia, Caboclo Sucuri, porem em determinado momento são solicitados na gira (através de Pontos Cantados) e quando afloram (incorporam), pois isso pode ocorre no campo imaterial que chamamos de “invisível”, rastejam-se como cobras para descarrego da gira. Uma versão que para mim é pouco possível, mas de uma forma talvez singela pode ter influenciado essa forma de manifestação é o antigo hoje raro para não dizer extinto, o culto às serpentes mencionado por alguns autores como culto a “Dan” (CARNEIRO, 1991. p. 72). Na cultura Ewe-fon (Jeje) Dan é o nome da serpente sagrada para os Daomeanos e é o Vodum equivalente ao orixá Oxumaré


Imagem de tupã no Gongar de Umbanda – Templo Espírita São Cosme e São Damião – 14/05/2017. Foto: Alan Moreira

“Puris na concepção artística de Johann Moritz Rugenda, sec. XIX

é o Vodum equivalente ao orixá Oxumaré para os Nagôs (Iorubas) ou uma divindade similar paras os Bantos, chamado de Angoro. Segundo Prandi (1996) o culto a Dan iniciou-se muito provavelmente no antigo Egito em que os Faraós usavam anéis e coroas com figuras de serpentes. Cleópatra adornava joias e coroas com a imagem de Dan, logo o culto inicia-se no antigo Egito até o Daomé. Em alguns Candomblés de Jeje ou JejeNagô ocorria cerimonias voltada para Dan que para os Daomeanos é representado por uma serpente que morde sua própria cauda, que representa a continuidade, pois a imagem da cobra mordendo (ou engolindo) sua causada forma um circulo e como tal, não tem começo nem fim. Já Carneiro descreve o culto a Dan (Dã) como uma forma representativa do principio de mobilidade e é considerado o encantamento dos bichos de arrasto (CANEIRO, 1991. p. 72). Quanto à falange de Erú, ainda é uma incógnita. Há muitas divergência quanto à origem da entidade e a real função da mesma, embora para maioria, a manifestação dessas entidades também está relacionada ao descarrego da gira, mas talvez a indagação mais apropriada seja, será que só manifestam-se para descarregar ou também há outro proposito. Em suma, sabemos que se trata de entidades de comportamento agressivo e rudimentar em relação aos demais Caboclos, mas quanto à origem, ainda não há uma corrente que a determine de forma satisfatória. Uma possível explicação que para mim parece ser mais coerente é o terno ser aplicado de forma pejorativa à falange de Puri e outras tribo ainda não definida como falange. Puri é o nome dado a um grupo étnico de nativos da região sudeste (principalmente no litoral


Imagem do Caboclo Puri Pena Azul entidade Chefe do Centro Espírita São Cosme e São Damião – Rua Orlando Carlos dos Santos, nº 10, Ilha das Flores, Vila Velha/ES. Foto: Alan Moreira – 03/12/2016

no litoral do Espirito Santo e Rio de Janeiro) até o século XIX. A partir do processo de colonização, as três subdivisões que constituía os Puris (Abonam, Uambori e Xamixuna) poram quase dizimados restando pouquíssimos remanescentes de Puris. Embora a história evidencie serem uma tribo pacata, apática e conformada com a condições, tornavam-se extremamente agressivos, violentos e vingativos quando enfurecidos, isso provavelmente deu origem a ideia de tribo bravos e indomáveis. Nos terreiros de Umbanda, os Puris costumam ser bastante arredios e antissociais em médiuns recém-iniciados. Valquíria (2011) descreve três formas de interpretação da palavra Eru, sendo que a primeira, que em minha opinião e a que melhor se enquadra no assunto é que “Eru” é definido como espirito mau, bravo. Desta forma, os espíritos bravos, agressivos e antissociais (em nossa atual cultura) são tratados de forma pejorativa de Eru. Paralelo a essas manifestações, alguns terreiros adotam mesclar uma gira como outras por intermédio de entidades de outras giras como as entidades da gira de Boiadeiro, Preto-velho, Baiano, Erê e raríssimas vezes Marinheiro e Exu e seu respectivo feminino. Porem é mais comum haver apenas a manifestações desta ou aquela entidade de outra gira (Boiadeiro, Preto Velho, Baiano etc.), sem ocorre de fato a gira mesclada. Quando isso ocorre, as entidades que se manifestam e harmonizam-se com a gira, pois muitos concordam que isso pode auxiliar na corrente por está inserido no campo vibracional da gira de Caboclo outra vibração, porem todos concordam que tais praticas devem ser seguida por cautela pois trata-se de entidades que vibram energeticame de forma


Obra gentilmente cedida pelo artista Ysaque Emanoel Ferreira Lima com o titulo – “Inicio da Miscigenação no Brasil”.

vibram energeticamente de forma diferente e a má condução dessa mistura pode ocasionar em ruídos energético com dano a corrente e a gira estabelecida. As giras de Caboclo como podemos perceber e utilizada para o mais variados fins, porem todos os anseios e desejo que chegam até nossos Caboclos serão atendidos não apenas pelas forças que e a energia vibrante que esses guias e as giras carregam, mas acima de tudo, pelo merecimento que cada irmão ou irmã possui. Antes de solicitar ajuda a uma entidade seja ela qual for, esteja certo do merecimento da graças que pretende alcança, pois sem o devido merecimento que não cabe ao Caboclo julgar, a graça não será alcançada. Portanto se não for digno esteja disposto a buscar o merecimento começando com o arrependimento dos erros cometidos, pois esse é o primeiro passo e diferente disso, não é possível adiantar-se no caminho que lhe foi traçado.

ESTUDO DE CASO ISSO ACONTECEU COMIGO

Imagem Ingrid Rocha – 13/05/2017. Centrão Afro – Lavagem da Escadaria da Igreja do Rosário.

Nos meus 26 anos de umbanda boa parte desse tempo exercendo a função de Ogã a casa da qual faço parte, já me deparei com inúmeras situações algumas muito desagradáveis. Das experiências que ainda habitam minhas memórias, destacarei uma delas: - Era final de tarde de um dia ensolarada de verão do ano 2010 em meu expediente de serviço quando avistei uma família que eu acreditava serem meus futuros clientes. Família esta, que sentados na calçada de sua residência, na direção que eu caminhava, na expectativa de efetuar minha intenção, me aproximei da família e os desejei boa tarde. Umbandista desde muito cedo, herdei a fé nas divindades do orum de minha avó que posteriormente viria a ser minha sacerdotisa. Carregava como de costume, um fio de contas de cores vermelha e branco em meu pescoço que são as cores de meu Orixá na Umbanda por de baixo da camisa. Estava coberto, ainda sim era possível ser visto por olhares mais atento embora não houvesse por minha parte, nenhuma intenção de escondê-la. A jovem família, pois sim, o que parecia altura é obvia, por


ser mais velho era o senhor e não aparentava mais de 30 anos, logo fixou os olhos nas contas que eu carregava no pescoço e com nítida inquietação não conseguiu conter a curiosidade e logo me indagou sobre o que ele chamou de colar diferente. Ao respondê-lo atribuindo o nome de guia ao diferente colar citado pelo senhor, ele não se conteve e continuou o questionamento, mas desta vez perguntando-me, a qual religião que eu participava. Bom, a resposta a essa altura é obvia, porem pelo olhar daquele pobre homem a minha frente, creio que esperava ouvir algo diferente, mas só teve como resposta UMBANDA. Após essa constrangedora troca de olhares me bateu uma grande preocupação. Será que perdi a minha venda? Porem o que deveria me causar preocupação real, veio depois. Não havia percebido inicialmente, mas o senhor portava em suas mãos, um livro intitulado de “ORIXÁS, CABOCLOS E GUIAS, DEUSES OU DEMONIOS?” escrito pelo Senhor Bispo Edir Macedo que de longe foi à literatura mais tendenciosa e maligna que já tive o desprazer de ler. Sem entrar em detalhes sobre essa deturpadora obra, o senhor apoiado pela família, se viu no direito de me orientar sobre o “mal” que me acompanha ocasionado pela minha escolha religiosa. Com perguntas que ele mesmo respondia (tamanha era a eloquência) sobre quem são realmente essas entidades e quais a necessidade deles sobre minha mediunidade dissertou balbuciando injurias associando nossos Orixás a demônios e feras bestiais presentes na fé dele conferindo todas as mazelas do mundo a nossos guias e protetores conspurcando ainda que os Orixás e os guias vieram para matar, roubar e destruir. Sinceramente, a fala dessa família sequer seguia uma linha de

dessa família sequer seguia uma linha de raciocínio lógico. Criou um sistema demonológico dentro de um nível hierárquico de cultos que não se enquadra em nenhum segmento de Umbanda ou do Candomblé. Ao informa-lo do erro que cometia, ele com a segurança de um Guerreiro em batalha, afirmou-me que prega apenas a verdade, isso como se ele fosse o senhoril dela. Quando pensava que não poderia ficar pior, ele me anuncia ser líder de um templo religioso. O que me lembro do livro citado do Bispo Edir Macedo, boa parte do fundamento em que ele se apoiou, está contido nessa obra, mas acredito que haja outras obras similares embora não as conheço. Tudo isso, acabou por se uma longa conversa, porem o sentimento de desrespeito não me permitiu da a costa e ignorar aquela família imediatamente, embora penso que deveria, pois o sentimento que eles me provocou “endemoniando” meus guias e protetores até hoje, não sai da minha cabeça. Volta e meia me pergunto, quantos irmãos e irmãs de fé já passaram por isso. Até onde a ignorância do individuo pode chegar a ponto de machucar tanto ao outro. É claro, que as feridas provocadas por essas pessoas hoje conhecidas como intolerantes religiosos nem sempre são físicas, embora haja vários casos de agressão até de morte no Brasil, mas é uma ferida tão profunda quanto qualquer outra. Quantos irmãos e irmãs vivem sua fé isolada da esfera familiar, profissional ou estudantil por não poder proferir sua religião, do contrario passará pela mesma situação que eu passei talvez com o agravante de ser parentes, colegas de trabalho ou escola e precisarem conviver com eles.


trabalho ou escola e precisarem conviver com eles. Porem tudo tem seu propósito e saibam que tem quem passou por algo pior. Esse raciocínio não deve ser um bálsamo aponto de ignorar os ignorantes, mas de reunir força para combater esse mal social que assola o planeta. Por mais que seja difícil e marcas são deixadas, também nos proporcionam força para continuar e o melhor exemplo disso está acontecendo agora, estou compartilhando isso com meus irmãos e irmãs que caminham comigo nessa jornada longa, mas cheias de recompensas não materiais, melhor, espirituais e creio que pode fazer a diferença para alguém que leu. Assim, já estava me esquecendo, infelizmente não conseguir efetuar a venda, mas já havia batido a meta do dia. A Garantia da liberdade de crença é o combate à intolerância religiosa. Texto: Alan Christian Moreira

GIRA DE CABOCLO NA UMBANDA REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA • Marciel, C.; Candomblé e Umbanda no Espírito Santo: Práticas Culturais Religiosas Afro-Capixaba. Vitória. 1992. 231 p. • Machado, M. E.; Umbanda: o despertar da Essência. São Paulo. 1995. 247 p. • Saraceni, R.; Doutrina e Teologia de Umbanda Sagrada. São Paulo. 2003. 341 p. • Carneiro, E.; Candomblés da Bahia, 8° edição, Rio de Janeiro, 1991. 145 p. • Walquiria, 2011. Eru. Disponível em <http://wwworixas.blogspot.com.br/2011/02/erutransferencia-despacho-e-troca-de.html> acessado em 15/11/2016. • Oliveira, E. S. C.; O Paradigma da Extinção: Desaparecimento dos Índios Puris em Campo Alegre no Sul do Vale do Paraíba. Rio de Janeiro. 2012 (?). 24 p.


Um dos elementos fundamentais nas religiões de matriz africana que está presente em todos os rituais sejam eles em locais abertos como na praia, cachoeira, mata e encruzilhada ou em espaços físicos delimitados como nos templos, as cantigas constituem uma prática sagrada necessária para a concretização das cerimônias públicas ou privadas e invocação do divino para as mais variadas finalidades. As cantigas para as religiões de matriz africana é um elo de comunicação entre o mundo sagrado (em Iorubás é chamado de Orum) e o mundo material (em Iorubá é chamado de Aye - planeta Terra) em que por intermédio desses cânticos as providencias divinas serão tomadas e as preces atendidas. As cantigas podem ser classificadas como uns dos vários elementos presentes nas religiões principalmente as africanas e as afrodescendentes (embora presuma que esteja presente em quase todas as religiões do mundo) e costumam ser acompanhadas por danças e outros rituais elementares, alguns tão fundamentais quando a própria cantiga. Temos como conceito básico de elementos nas religiões (seja qual for), os constituintes formadores das práticas religiosas, ou seja, tudo aquilo que compõe o todo, a qual é fundamentada em princípios imutáveis que promovem as diretrizes básicas que sustentas as praticas sagrada e eleva o religioso ao estagio primal de sua existência. Em outras palavras, os elementos é o que faz as coisas acontecerem. Embora os elementos sejam totalmente dependentes dos fundamentos ou princípios norteadores, os elementos é a base mais perceptível de nossa consciência religiosa, logo é mais fácil de perceber nas praticas religiosas os elementos do que os fundamentos.

Porem devemos ter cuidado quando deixamos de analisar a religião de Umbanda dentro da perspectiva do fundamento e começamos a observar na concepção de elemento, pois uma gira de Caboclo é fundamentada no caboclo, porem os elementos que constitui a religião de Umbanda que no caso citado é o Caboclo, não o torna subelementos da gira de Caboclo e sim o próprio elemento como acontece com as cantigas. Na Umbanda, as cantigas são chamadas de Pontos Cantados e essa referencia ser faz necessário já que também temos como elemento fundamental os pontos riscados (sinais e símbolos traçados geralmente por giz que é chamado de Pemba). Os Pontos Cantados são designados para vários fins; incorporação, descarrego, harmonização, saudação, louvor, em outras palavras, os pontos cantados devem ser considerados para os adeptos de Umbanda, uma manifestação da fé que se personifica em forma de oração cantada para alcançar os objetivos desejados e unir a corrente em uma mesma vibração. As entidades que se manifestam na Umbanda, dialogam e cantam, exceto em caso doutrinário de cada templo (é comum em alguns templos de Umbanda a entidade de membros recém iniciados só expressarem verbalmente após autorização do sacerdote que pode ser após um período de tempo ou certa etapa concluída).


Os Pontos Cantados na Umbanda em geral são em português, muito embora tenham palavras do dialeto africano em Ioruba para os Nagôs, Kimbundo para os Bantos da nação de Angola; kicongo para os Congolenses e Fon para o Jeje, além de outras tantas de origem indígenas que se misturam com as palavras portuguesas ou aportuguesadas. Assim como as cantigas em Nação (pontos cantados no antigo dialeto africano citado), os pontos cantados também podem contar história de um orixá ou entidade assim como de um fato. Exemplo; Ogum partiu para guerra, Oxalá deu carta branca, Ogum venceu a guerra, Seus filhos venceram demandas Imagem 1: exemplo de Ponto Riscado de Preto Velha. Centro Espirita São Cosme e São Damião, festa de Preto Velho – 20/05/2017. Foto: Yasmim Ferreira.

Imagem 2: Ponto Riscado na firmeza de Xangô - Centro Espirita São Cosme e São Damião. 14/05/2017. Foto: Yamim Ferreira.

Esse Ponto Cantado em gira ou sessão de descarrego fala de um acontecimento que envolve o orixá Ogum a uma guerra a qual sai vencedor e por consequência, seus filhos (devotos) venceram demandas (termo usado para designar algo de ruim desejado, enviado ou contratempo), tudo sobre autorização do orixá Oxalá. Os Pontos Cantados é uma valiosíssima ferramenta que os aptos da Umbanda podem utilizar-se para alcançar o mais alto nível energético dentro dos trabalhos de Umbanda, pois associado a outros elementos comuns das sessões ou giras de Umbanda (ex. as orações, o som dos atabaques, a defumação etc.) é capaz de promover a harmonia necessária para a manifestação dos guias e mentores. É importante lembrarmos que não são todos os terreiros de Umbanda que adotam os atabaques para o desenvolvimento das giras como o que ocorre no Templo Espirita Orixalá, Mensageiro do Amo ambos em Vila Velha, Caboclo Canabibi em Vitória, porem não conheço terreiros de Umbanda que abram mão das cantigas para seus rituais públicos ou privados.


Para os terreiros que adotaram o uso do atabaque e outros instrumentos de acompanhamento para os Pontos Cantados como pandeiro, agogô, afoxé, triangulo, berimbau etc, fazem sobre a regência de percursionista alguns muitos habilidosos na pratica musical que são chamados de Ogãs. O termo Ogã (Ogan) (Jeje que significa chefe, dirigente) ou Ga (Iorubá pessoa superior, chefe) no Candomblé é destinado a homem que não entram em transe, mas possuem a intuição das divindades. Assim como os demais membros carnais dos templos, o Ogã após ser identificado e convidado a iniciar-se como Ogã do Orixá chefe da casa (ex.: se a casa for de Oxum, o Ogã e feito como sendo Ogã de Oxum), de forma similar aos demais iniciados porem dentro do preceito do Orixá da casa. Os demais membros da comunidade atribuem ao Ogã a referencia de Pai. Na nação Ketu o Ogã exerce a função de apoio doutrinário e financeiro a casa, podendo também exercer a função de Oxôgun o único exceto o Babalorixá e a Yialorixá que pode realizar o sacramento do alimento (popularmente chamado de sacrifício) ou pode exercer a função de Alagbê que são os Ogãs destinados a percutirem os atabaques. Além dessas funções para Ogã, outras também podem ser assumidas por homem que possui esse titulo como Gibonã. Em outras nações como a Angola e no Candomblé de Caboclo do tocador de atabaque é chamado de Kambono, enquanto que na nação de Jeje é chamado de Runtó. Os atabaques utilizados atualmente nos barracões de Candomblé são bem diferentes dos usados pelos seus antepassados que mais se aproximavam a tambores feitos de troncos de árvores ocas cobertas de pele de animal apenas na base de toque (Ilu). Hoje o modelo tocado mais se aproxima do usados pelos árabes, muito provável ao fato de serem comprado diferente do passado que eram

geralmente fabricados artesanalmente. A divisão quanto ao tamanho e a forma de serem percutidos ainda segue-se o de outrora que são; o atabaque Rum (grande) responsável pela marcação grave, o Rumpí (médio) responsável por fornecer a base do toque e o Lé (pequeno) usado para repique.

Imagem 3: atabaque Rum (maior), Rumbi (médio) e o Lé (menor). Centro Espirita São Cosme e São Damião. 14/05/2017. Foto: Yamim Ferreira.

Os toques variam de nação para nação, porem nas de origem Nagô, Jeje são de 16 a 20 toques diferentes e tocados com ôghidavís (vareta). Já os de nação Angola e o Candomblé de Caboclo, a percussão ocorre com as mãos podendo ser usado para determinados toque o ôghidavís e em geral não são tão numerosos quanto nos de nação Nagô e Jeje. Na Umbanda o Ogã apresenta-se mais como um oficio dentro da religião do que um titulo a ser cultuado como ocorre nas religiões de Nação. Talvez o nome mais apropriado para trata os percussionistas de atabaque na Umbanda, fosse então, Alagbê ou tocadores de atabaque, podendo ser ainda Atabaqueiros para aquele que não se importarem com a fonética e talvez também de Cambono, porem esse ultimo é destinado ao individuo que auxilia as


entidades para os trabalhos. A iniciação de Ogã assim como de todos os demais médiuns ocorrem por processo bem diferente que o nas religiões de Nação e basicamente possui a função ou oficio de percussionista (que abrange além dos atabaques, todos os demais instrumentos de percussão mencionados).

Pandeiro: formado geralmente por uma armação circula de madeira coberto por couro de boi, coelho ou gato. Berimbau: cabo de madeira esticado com uma haste de metal pressionado por uma cabaça aberta. Na Umbanda, também admite-se que, o Ogã é o escolhido dos orixás, porem a identificação para o oficio não e por meio de oráculos como ocorre nas religiões de nação e sim algo parecido com discernimento ou intuição, ou seja, aquele que tem o dom de tocar. Isso é percebido quando o futuro Ogã tem o contato com o atabaque. A resposta com o instrumento costuma ser imediato, porem um membro que não possui o dom nato de tocar o atabaque, pode após o ensinamento e treino, fazê-lo com excelência igual aos “tidos” como os “natos” tocadores de atabaques.

Imagem 4: Toque de atabaque com ôghidavís. Fonte: Canal do Yotube – Toque de atabaque (Candomblé) – Postado por Odé.

Imagem 6: Uso de pandeiro junto ao atabaque. Centro Espírita São Cosme e São Damião. 20/05/2017. Foto: Yasmim Ferreira

Imagem 5: Ogã em função no Centro Espírita Pai Vicente de Angola – 13/05/2017. Foto: Luciano

Agogô: instrumento em formato curvado de metal arrematado por duas campânulas.

A Umbanda não atribui a função de Ogã apenas aos homens, embora sejam em maioria e o transe do Ogã não é proibido, porem é indesejável sendo muito comum ao Ogã que desenvolve o transe, a suspensão do oficio para se tornar um médium de gira (o termo Ogã suspenso tem conotação diferente na Umbanda, para a nação Ketu, Ogã suspenso é


o que recebeu a iniciação) para que possa prosseguir sua mediunidade sem causar transtorno na gira com incorporação indesejada e quando isso ocorre costuma-se dizer; o santo pegou no tambor, em outras palavras, a incorporação ocorre no atabaque. Os atabaques usados nas giras de Umbandas costumam-se de madeira no modelo árabe (corpo afunilado) geralmente industrializado com a extremidade final sem cobertura. São poucos os Ogãs de Umbanda que percutem os atabaques com auxilio de ôghidavís, quando fazem, são para determinados Pontos Cantados. Em alguns terreiros além de outros instrumentos de percussão como o pandeiro, afoxé, agogô, reco-reco, cuíca, ganzá, berimbau, prato, tamborim ou casaca (ES), também é possível encontrar terreiro que utilizam congas, macumbas (um modelo de atabaque africano), tambores (muito próximo que eram utilizados pelos índios brasileiros e atualmente pelos grupos de Congos) e etc. Instrumento de corda ou sopro caso tocado harmonicamente como o atabaque, também costumam fazer parte da musicalidade. Um fato pouquíssimo referido na literatura ou nas doutrinas de Umbanda é a concepção dos Pontos Cantados serem musicas, assim como a posição do Ogã como musico, embora ambos reúnam tais atributos, mas por terem a base cravada no sacro, místico e ritualístico, a concepção de cantor e musico (percussionista) não é evidenciado. Nos terreiros de Umbanda, percebe-se também por parte dos Ogãs, certa liberdade quanto ao tipo de toque a ser percutido em que, alguns terreiros podem ser um tipo enquanto que em outros pode ser outro. Os toques mais comuns nos terreiros do estado do Espírito Santo são; Samba Cabula ou Samba de Caboclo, Nagô, Maculelê, Barravento, Ijexá, Regional. Não é difícil encontrarmos Ogãs que por critérios próprio ou institucional e raras vezes

por desconhecimento, utilizar-se apenas um ou dois toque desses citados. Quando ocorre isso, geralmente as opções são; o Samba Cabula, Nagô ou as variantes dela e/ou Regional. A maioria dos terreiros de Umbanda do Estado do Espírito Santo, não fazem oferenda ao tambor como ocorre no Candomblé onde é dito “dá de comer ao tambor” e os que fazem, costuma usar apenas alimento ou sangue de origem vegetal (o sangue referido trata-se de sumos ou seivas de plantas), porem é uma pratica comum na maioria dos terreiros de Umbanda manter uma vela acessa que é renovada sempre que acaba junto a um copo de água. Pode ser uma vela para cada atabaque ou apenas uma vela para todos. Mesmo que na Umbanda o “Ogã” seja um oficio e não um titulo (isso é claro em comparação as religiões de nação), ainda sim, ele ou ela são muito prestigiado e costuma ocupar uma posição digno de homenagem no terreiro como é cantado em um dos pontos a Ogã; Há Ogã, eu vim aqui Ogã, Eu vim aqui Ogã, Só para ter ver bater, Tambor é seu Ogã, tambor é seu. Em algumas casas de Umbanda o Ogã também ocupa a posição de Presidente que embora seja também um oficio, este é dotado de autoridade administrativa e gestão. Texto é pesquisa: Alan C. Moreira REFERÊNCIA • Carneiro; Candomblés da Bahia. 8º edição. 1991. p 83 – 84. • Freita et al. Cultura Umbandística. 1994. p. 91-92. • Orixás e Cultos, 4º edição. 2010.


Ficha Técnica Edição e Pesquisa Alan Christian Moreira Yasmim Ferreira Formatação Alan Christian Moreira Assessor Jurídico Izanildo Sabino Imagens Alan Christian Moreira

Yasmim Ferreira

Xiré dos Orixás

Raizes Sagrada

Ingrid Rocha

Centro Espírita Pai Vicente de Angola:

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