PALAVRA FINAL
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NICOLA TINGAS*
DESAFIOS PARA O BANCO CENTRAL EM AMBIENTE DE INCERTEZA FISCAL
D
esde que a economia brasileira e mundial básica de juros ao patamar do IPCA 2021 de 9,30 % começaram a se recuperar do histórico atualmente projetado. tombo de 2020, houve evidência de que Esse é um importante passo para resgatar a retomada ocorre de forma desigual entre oferta influência nas expectativas de inflação do mercado e e demanda econômicas, com maior fragilização buscar suavizar essa curva inflacionária ascendente. de parte da população de baixa renda no mundo. Mas, aumentos complementares de juros poderão As assimetrias econômicas ao longo dos ocorrer em 2022 porque a inflação está com baixa meses de retomada desigual, como um “efeito flexibilidade descendente, e ainda poderá ameaçar gangorra”, evidenciaram gargalos de oferta de o teto da meta inflacionária de 5,0% (3,5% + 1,5%). componentes de produção, energia, transportes Adicionalmente, a incerteza fiscal e o populismo marítimo e rodoviário com a enorme alta no eleitoral promoveram desvalorização cambial preço de combustíveis fósseis. No Brasil, houve do real mais elevada que a de seus pares. As impacto também no preço da alimentação por perspectivas para 2022 são de volatilidade, alta das commodities agrícolas. incerteza e baixo crescimento econômico. De A inflação oficial, medida pelo IPCA, ultrapas- fato, o Banco Central tem um triplo desafio e sou 10% em 12 meses, com forte disseminação limitadas condições para superação. f na maioria de seus componentes. A remarcação de preços ocorre por Evolução Juros x Inflação (Ex-post) 11,00 pressão de custos, insumos, mão 10,00 de obra, defasagens de preços reIPCA - var. % 12 meses lativos e crescentes indícios de inér9,00 Taxa de Juros Selic % a.a. cia inflacionária. 8,00 A rápida ascensão inflacionária ao 7,00 longo do ano de 2021 criou gap de 6,00 4% entre IPCA 12 meses e SELIC do 5,00 mesmo mês (vide no gráfico o mês de 4,00 setembro). O Banco Central teve que iniciar forte alta de juros. A decisão de 3,00 elevar a SELIC de 6,25% (patamar que 2,00 indica esses 4% defasados perante 1,00 a inflação) em 1,50% em outubro e indicar mais 1,50% para o COPOM dez/19 mar/20 jun/20 set/20 dez/20 mar/21 jun/21 set/21 dez/21 de dezembro e posicionar a SELIC em 9,25%, o que aproxima a taxa Fontes: IBGE, BACEN. Elaboração do autor. (*) Nicola Tingas é consultor econômico da Acrefi. | Concluído em 1.11.2021
financeiro#125 outubro 2021