Além muros jan fev mar 2017

Page 1

Ano 08 | Edição 13 | jan/ fev/ mar 2017

ESPECIAL MULHER Detentas realizam o sonho da maternidade dentro do cárcere

CONVÊNIO

Detentos irão realizar serviços de marcenaria no Mangal das Garças

EDUCAÇÃO

No Pará mais de 50 detentos são aprovados no Enem

Artista plástica norte-americana conhece o trabalho da Coostafe

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 1


ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO DA SUPERINTENDÊNCIA DO SISTEMA PENITENCIÁRIO DO ESTADO DO PARÁ Editor de conteúdo Timóteo Lopes Editora responsável Walena Lopes Reportagem Aline Saavedra, Laís Menezes, Guillianne Dias, Timóteo Lopes Diagramação & Arte Rivanildo Lima Revisão Walena Lopes Fotografia Akira Onuma, Anderson Silva, Carlos Sodré - Ag./PA, Claudio Santos - Ag./PA, Thiago Gomes DISTRIBUIÇÃO ELETRÔNICA, PERIODICIDADE TRIMESTRAL Imagens e ícones por freepik.com Assessoria de Comunicação Social - SUSIPE Rua Tamoios, 1592 – Batista Campos CEP 66010 105 – Belém, PA Fone:. (91) 3239 4229 / 3239 4230


Editorial

O

lá, a revista Além Muros está de volta com um formato diferente e notícias trimestrais da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará. Você vai poder acompanhar os projetos voltados à educação e trabalho, com o objetivo de reabilitar e ressocializar os presos custodiados pelo Estado do Pará, garantindo assim, o direito a cidadania e o apoio para aqueles que desejam recomeçar. No primeiro trimestre de 2017 a Escola de Administração Penitenciária desenvolveu cursos de capacitação direcionados aos docentes para a formação de Agentes Penitenciários que atuam nas casas penais de todo o Estado. Além da formação dos servidores, os presos do Sistema Penal, também contaram com cursos de capacitação e formação, oferecidos com o apoio de parceiros como o Senar e Senai. No Complexo Penitenciário de Santa Izabel um ônibus-escola foi levado até os detentos para a formação de padeiros. No Centro de Recuperação Feminino, em Ananindeua, as detentas tiveram a oportunidade de realizar cursos como o de jardinagem e pedreiro de alvenaria. Em destaque, a visita da artista plástica norte- americana Liza Lou, que através do Instituto Humanitas360 irá desenvolver projetos de arte junto à detentas que fazem parte da Coostafe, primeira cooperativa formada por presas no Brasil que funciona dentro do Centro de Recuperação Feminino. Na saúde iniciamos o ano sendo o primeiro estado do país a instituir o “Dia D”, em combate a tuberculose, com campanhas voltadas para a prevenção e tratamento da doença junto aos presos de todas as unidades penais do Estado. Confira ainda, na coluna “Entre Aspas”, entrevista com a médica psiquiatra Natalia Timerman, autora do livro “Desterros”, que fala da sua experiência como psiquiatra do Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário de São Paulo, no Carandiru.

Esperamos que você aproveite a leitura!

André Luiz de Almeida e Cunha SUPERINTENDENTE DA SUSIPE

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 3


12

CAPA Artista plástica norte-americana conhece o trabalho da Coostafe

4|

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


24

Entre aspas

Sumário

Entrevista Natalia Timermam médica psiquiatra, mestre em psicologia clínica pela USP, psicoterapeuta em formação e desde 2012 trabalha no Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário de São Paulo, no Carandiru, fala da importância do cuidado e tratamento humanizado à pessoas privadas de liberdade.

06 FORMAÇÃO

51 CAPACITAÇÃO

09 FORMAÇÃO

54 CAPACITAÇÃO

16 RESSOCIALIZAÇÃO

58 DEDICAÇÃO

20 CONQUISTADO A LIBERDADE

64 EDUCAÇÃO

28 PARCERIA

68 EDUCAÇÃO

30 SEGURANÇA

72 RESULTADO

35 SEGURANÇA

76 ESPECIAL MULHER

38 CIDADANIA

80 SAÚDE

42 SERVIDOR

86 ORGÂNICOS

46 CONVÊNIO

90 INCLUSÃO SOCIAL

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA CAPACITA DOCENTES DA SUSIPE

SENAI CAPACITA DETENTOS COM CURSO DE PANIFICAÇÃO EM ÔNIBUS-ESCOLA

PARCERIA COM O SENAR OFERECE CURSO DE JARDINAGEM PARA DETENTAS DO CRF

PROJETO CONQUISTANDO A LIBERDADE ,BENEFICIOU MAIS DE 50 MIL JOVENS EM 2016

SUSIPE DESTINA CAMINHÃO PARA COLETA DE LIXO NO COMPLEXO DE SANTA ISABEL

MAIS DE MIL PRESOS SÃO MONITORADOS POR TORNOZELEIRAS NA RMB

CORREGEDORIA PENITENCIÁRIA ESTIMULA MUDANÇA NA CONDUTA DE SERVIDORES PENAIS

MUTIRÃO CARCERÁRIO BENEFICIA PRESOS DO COMPLEXO DE SANTA IZABEL

COLUNA QUEM FAZ A SUSIPE

DETENTOS IRÃO REALIZAR SERVIÇOS DE MARCENARIA NO MANGAL DAS GARÇAS

CENTROS DE PANIFICAÇÃO EM UNIDADE PRISIONAIS OFERECEM CAPACITAÇÃO PROFISSIONAL

DETENTAS COLOCAM EM PRÁTICA CURSO DE ALVENARIA

DOS QUASE 15 MIL PRESOS NO PARÁ, 20% TRABALHAM DENTRO OU FORA DOS PRESÍDIOS

ARCA DA LEITURA USA LIVROS PARA PROMOVER A INCLUSÃO DE DETENTOS

NO PARÁ MAIS DE 50 DETENTOS SÃO APROVADOS NO ENEM

EDUCAÇÃO DE PRESOS NO PARÁ ESTÁ ACIMA DA MÉDIA NACIONAL

DETENTAS REALIZAM O SONHO DA MATERNIDADE DENTRO DO CÁRCERE

PARÁ É O ÚNICO ESTADO A INSTITUIR DIA D DE COMBATE À TUBERCULOSE NOS PRESÍDIOS

PROJETO “VEM PRA FEIRA” COMERCIALIZA PRODUTOS CULTIVADOS POR DETENTOS

PROGRAMA CREDCIDADÃO OFERECE CRÉDITO A EX-DETENTOS

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 5


FORMAÇÃO

ESCOLA DE ADMINISTRAÇÃO PENITENCIÁRIA

capacita docentes da Susipe Por Walena Lopes

A

Escola de Administração Penitenciária (EAP) iniciou a primeira atividade do ano de 2017 com o curso de formação de docentes e

elaboração de plano de aula e plano de ensino, voltado para servidores da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe). Participaram do curso 40 alunos, de várias casas penais da capital e interior, além de servidores de órgãos que atuam na segurança pública e auxiliam na capacitação de novos servidores. O curso faz parte da programação e planejamento anual da escola, que tem como objetivo preparar e reciclar os professores para a formação e capacitação de novos servidores que irão atuar em diversos setores dentro do sistema penal. “Esse é um momento para alinharmos a proposta pedagógica da Escola para o ano de 2017. Nosso resultado foi bem efetivo no ano de 2016. Nossa meta para este ano é que possamos atingir 40% de servidores penitenciários de todo o estado, tanto na educação à distância quanto na educação presencial”, analisa a diretora da EAP, Soliane Guimarães.

6|

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


Nosso resultado foi bem efetivo no ano de 2016. Nossa meta para este ano é que possamos atingir 40% de servidores penitenciários de todo o estado, tanto na educação à distância quanto na educação presencial” Analisa a diretora da EAP, Soliane Guimarães.

Ano passado, a EAP alcançou

exercer melhor essa função”, avalia.

Atuando no sistema penal há

resultados positivos, por meio

Nas aulas, os docentes aprenderam

22 anos, o diretor da Central

de ações inovadoras, como a

sobre

de Triagem da Cidade Nova

Educação

(EAD),

de aula e plano de ensino para

(CTCN),

1.385

elaboração de conteúdos que

a

servidores fossem capacitados, ao

serão ministrados aos alunos,

ferramenta fundamental para

dar celeridade e segurança dentro

tendo em vista, o embasamento

as normas e procedimentos

do processo administrativo.

teórico e metodológico da EAP.

do sistema penal. “Precisamos

“Estou

nos

contribuindo

à

Distância para

que

elaboração

muito

de

planos

satisfeita

em

Afonso

Ligório,

capacitação

como

identificar

vê uma

com

o

Para o diretor da Central de

conhecer e dialogar com colegas

nosso cargo e com a nossa

Triagem Metropolitana III (CTM

que trabalham no sistema penal.

função

III), Kleverton Firmino, essa é uma

Estamos

e

penitenciário. A capacitação

iniciativa muito importante para

trocando experiências de docente

é um processo continuado. É

instruir melhor os novos agentes

para docente. Nessa disciplina

muito importante que a escola

que irão atuar dentro das casas

eles estão aprendendo a montar

permaneça nessa política de

penais. “Estamos nos preparando

estratégias para deixar as aulas

capacitação

para ministrar aulas para futuros

mais dinâmicas e interessantes,

pois precisamos acompanhar

agentes penitenciários. Por isso, é

com o intuito de estimular e

as mudanças e nos preparar

importante que possamos reciclar

formar os servidores para que

para que possamos instruir e

nosso

aprender

possam exercer com qualidade

capacitar da melhor forma os

novas metodologias e ter base

suas funções”, disse a professora

novos servidores”, conclui.

mais fundamentada e teórica para

Roseane Souza.

conhecimento,

aqui

conversando

dentro

do

aos

sistema

docentes,

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 7


FORMAÇÃO

8|

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


COM CURSO DE PANIFICAÇÃO EM ÔNIBUS-ESCOLA

Por Laís Menezes

C

om o objetivo de oferecer oportunidades de profissionalização para os internos custodiados no Hospital Geral Penitenciário (HGP), a

Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe), em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai), realiza um curso de panificação visando novas oportunidades no mercado de trabalho aos detentos. Um ônibus do Senai equipado com sala de aula e uma cozinha industrial, levou à casa penal, localizada no Complexo Penitenciário de Santa Izabel, todo material necessário para a capacitação. O treinamento, com duração de um mês, sendo 15 dias de aulas teóricas e a outra metade dedicada à prática, conta com 16 participantes. Durante o curso os internos aprendem a produzir diversos tipos de pães, como o francês, pão de leite, italiano, ciabata e integral, allém de pães doces e bolos.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 9


Única mulher da turma, a interna

Ao término do curso, de 200

a reinserção dos internos. As

Nilda Rocha, de 54 anos, já tem seu

horas/aula, os detentos serão

parcerias com as instituições

pão preferido. “Nunca tinha feito

certificados como profissionais

para capacitar os detentos é

pão, não tinha experiência nessa

em

essa

essencial. Nas oficinas e cursos,

área e gostei muito de aprender a

qualificação, poderão trabalhar

percebemos que eles se sentem

fazer o pão integral, achei o mais

como auxiliares em panificadoras,

mais motivados e criam novas

gostoso. Quando eu for pra casa,

confeitarias ou mesmo abrir o

expectativas de vida”.

com certeza, vou fazer pão para toda

próprio negócio. “Este é um dos

a família”, afirmou.

nossos objetivos: pensar na vida

A

do interno fora do HGP. Melhorar

aproximadamente

O chefe de cozinha e instrutor

a autoestima e incentivar o

população

de panificação do Senai, Márcio

caráter empreendedor”, ressaltou

Estado inserida em atividades

Nascimento,

ressaltou

a coordenadora pedagógica do

educacionais.

os

se

Hospital, Suely Carvalho.

de 2016, a Coordenadoria de

internos

interessados

que

mostraram

em

adquirir

panificação.

Com

os

Susipe

conta 20%

carcerária

com da do

Ate dezembro

Educação Prisional registrou 1.157

ensinamentos. “É a primeira vez

Esta é a primeira vez que os

internos da Susipe regulares no

que ensino em uma unidade

internos

estudo

prisional e o que percebi é que eles

Penitenciário recebem um curso

ensino fundamental e médio),

têm muito interesse em aprender.

profissionalizante. Arthur Leandro

1.158 no estudo não formal

Nas aulas teóricas, perguntavam o

dos Santos, de 30 anos, está

(cursos livres, aulas de dança,

tempo inteiro. E na hora da prática

no HGP há 11 meses e disse

violão), e 267 internos receberam

foi que eles ficaram mais felizes,

que já tinha feito uma oficina de

cursos de capacitação com mais

pois viram os pães saindo bonitos

artesanato dentro da unidade.

de 60 horas/aula.

e gostosos”, avaliou.

Agora aproveitou a oportunidade

do

Hospital

Geral

formal

(alfabetização,

para receber uma capacitação

10 |

O detento José Marinho, de 47

profissional gratuita. “Eu gostei

anos, contou que se identificou

bastante. Isso nos dá uma chance

tanto com o curso que pretende

de sair daqui e conseguir competir

investir

no

no mercado de trabalho”.

quando

ganhar

ramo

alimentício

a

liberdade.

“Gostei muito de aprender as

De acordo com o diretor em

técnicas para fazer pães. Estou só

exercício do HGP, Wolber Anderson

esperando a minha avaliação no

Oliveira Campos, o índice de

Enem. Quero entrar na faculdade

reincidência é um dado que será

de Engenharia de Alimentos ou

combatido por meio desse tipo de

Gastronomia”, garantiu.

ação. “A nossa missão é trabalhar

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

Eu gostei bastan dá uma chance de e conseguir com mercado de tr

Interno Arthur do


nte. Isso nos e sair daqui mpetir no rabalho”

os Santos

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 11


RESSOCIALIZAÇÃO

ARTISTA PLÁSTICA norte-americana conhece o trabalho da Coostafe

12 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


Por Walena Lopes

A

artista

plástica

norte-

americana Liza Lou e a presidente

Humanitas360,

do

Instituto

Patrícia

Marino,

visitaram o Centro de Reeducação Feminino

(CRF),

em

Ananindeua

(Região Metropolitana de Belém), nesta quinta-feira (23), para conhecer o

trabalho

desenvolvido

por

detentas da Coostafe (Cooperativa Social de Trabalho Arte Feminina Empreendedora),

a

primeira

cooperativa formada exclusivamente por mulheres presas no Brasil. Em quase quatro anos de existência, suas atividades já atenderam mais de 200 internas no Estado.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 13


Peças produzidas pelas internas do projeto

plástica norte-americana Liza Lou, que tinha interesse em trabalhar com as detentas. Então, viemos em busca dessas presas, pois já conhecíamos o trabalho desenvolvido dentro da cooperativa”, contou Patrícia Marino. Durante a visita, a artista plástica conheceu Liza Lou e Patrícia Marino querem

o trabalho das internas e os produtos

mais informações sobre o trabalho de

confeccionados na cooperativa. Liza Lou,

reintegração social desenvolvido com

que nos últimos anos desenvolve uma

as mulheres no CRF. A parceria com o

linha de trabalho baseada em conceitos

Instituto Humanitas360, por meio da

de confinamento e proteção, pretende

assinatura de um Termo de Cooperação

com eessa parceria aprender mais sobre

Técnica com a Superintendência do

as mulheres que fazem parte da Coostafe

Sistema Penitenciário do Estado (Susipe)

e, juntas, pensarem em como fazer arte

permitirá

dentro da prisão.

a

captação

de

recursos

financeiros, além de atrair novos parceiros para a realização de projetos e trabalhos desenvolvidos pela Coostafe. “Estamos conhecendo as peculiaridades e especialidades do trabalho que é desenvolvido

dentro

desse

presídio

feminino no Pará. Nosso trabalho é articular o encontro entre as partes envolvidas, e quem tenha interesse em participar e se engajar em projetos que visam à melhoria de pessoas em situação de risco. Trouxemos para o Pará a artista

Quero aprender sobre elas e com elas. Perceber quais são as sua necessidades o que gostam de faze assim podermos, juntas, encontrar meio de trazer beleza e arte para de deste cenário, além de desenvolv cada vez mais, as habilidades que e noto que existem aqui” Disse a norte-americana.

14 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


HABILIDADES

NOVO HORIZONTE

“Estou aqui com o coração aberto para escutar,

A interna Maria Domingas, que trabalha na

aprender e me aprofundar em tudo o que

cooperativa, está animada em fazer parte

estou podendo perceber e conhecer deste

desse projeto, pois nunca imaginou criar

lugar e destas mulheres. Quero aprender sobre

obras de arte, e nem mesmo ter contato com

elas e com elas. Perceber quais são as suas

uma artista plástica internacional. “Vejo que

necessidades o que gostam de fazer, e assim

as coisas, cada dia mais, estão mudando

podermos, juntas, encontrar um meio de trazer

aqui dentro. Poder aprender com uma

beleza e arte para dentro deste cenário, além

pessoa que vem de outro país nos possibilita

de desenvolver, cada vez mais, as habilidades

uma alegria muito grande. Com mais este

que eu já noto que existem aqui”, disse a norte-

conhecimento eu vou poder trabalhar

americana.

melhor, e dar continuidade ao que eu faço aqui quando voltar para a minha vida lá fora”,

Para a diretora do CRF, Carmen Botelho, essa é

ressaltou.

a oportunidade de a Coostafe apresentar para o mundo o trabalho desenvolvido na cooperativa,

Para a diretora do Instituto Humanitas360,

além de estimular a geração de emprego e

a parceria deve resultar em um projeto de

renda para as mulheres recomeçarem a vida

valorização e responsabilidade social. “Nosso

após o cumprimento da pena.

Instituto fica muito satisfeito em participar e promover iniciativas e ideias que visam

“Precisamos mobilizar a sociedade para

valorizar e abrir caminhos de oportunidades

uma mudança de pensamento, ao ver que

para cidadãos que se encontram em um

as pessoas que estão aqui são capazes de

nicho esquecido da sociedade. Nossa

produzir algo belo, e que através do trabalho

proposta é articular com o poder público, a

são capazes de mudar a sua perspectiva

sociedade civil e a iniciativa privada e, juntos,

de vida, mudar a sua conduta social. Essas

assumir uma corresponsabilidade cívica

mulheres precisam ser sentir úteis, pois

com essas pessoas. Elas não deixaram de

acreditamos que uma nova chance seja uma

ser cidadãs, apenas estão privadas de sua

nova oportunidade de vida”, afirmou a diretora.

liberdade”, frisou Patrícia Marino.

m as er, e r um entro ver, eu já

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 15


RESSOCIALIZAÇÃO

16 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


PARCERIA COM O SENAR OFERECE CURSO DE

PARA DETENTAS DO CRF Por Aline Saavedra

P

lantar, colher, podar e fazer florescer. Estes são alguns dos cuidados que 20 internas do Centro de Reeducação Feminino (CRF) estão

aprendendo no curso profissionalizante de jardinagem realizado pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), em parceria com a Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe). Para as internas, o conteúdo vai muito além do cuidado com o jardim, elas querem também fazer florescer uma nova oportunidade em suas vidas. O curso de jardinagem teve duração de uma semana, com carga horária total de 40 horas e é ministrado por um engenheiro agrônomo do Senar. Nas aulas práticas, as detentas aprendem sobre o manuseio do solo, como fazer o corte e a poda, cuidados com a terra, adubo e a água que devem ter em cada recipiente que receberá o plantio, além de noções de paisagismo.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 17


Selma

Coelho,

45

anos,

de liberdade tem um significado

possibilitar a eles maneiras de

trabalhava na roça antes de ser

especial. “O interesse e a

se sustentar quando estiver em

presa. Apesar do contato com

dedicação

é

liberdade. Por meio da educação

a agricultura, cuidar de plantas

muito maior. Para eles, o curso

e cursos de capacitação ele

nunca tinha sido um hábito. “Eu

significa uma mudança de vida

já sai do cárcere com a mente

estou amando o curso, só fico

porque ao final eles recebem o

modificada para ter uma vida

triste porque é só uma semana.

certificado e podem conseguir

pautada no trabalho de forma

Estou muito feliz em conhecer

um emprego ou trabalharem por

honesta.

os tipos de plantas, saber como

conta própria. O que eu gosto

passam por este processo

cortar e podar”, contou.

sempre de falar é que tudo o

dificilmente voltam a ser presos

que a gente vê ao nosso redor

por cometer um ato ilegal”,

Além de capacitar e melhorar a

é paisagem e que nós somos

finalizou.

autoestima, o curso proporciona

capazes de modificar por meio

a elas a esperança de uma

do conhecimento, assim como

Em 2016, 845 internos e internas

vida diferente da qual tinham

nossas vidas”, afirmou.

do sistema penitenciário do Pará

em

aprender

antes de serem presas. “É

Os

internos

foram qualificados pelo Senar

muito gratificante saber que

Para Ivaldo Capeloni, diretor de

com a parceria. O curso de

aqui dentro do CRF eu estou

Reinserção Social da Susipe,

jardinagem é o segundo curso

me qualificando. Eu vou me

a parceria com o Senar para a

profissionalizante desenvolvido

empenhar cada vez mais para

qualificação profissional dos

no CRF, em 2017. Em janeiro, a

fazer disso o meu sustento.

detentos tem contribuído para

unidade prisional realizou um

Quero plantar e vender as mudas

a redução da reincidência no

curso de panificação para 40

quando estiver livre”, afirmou a

sistema prisional.

internas.

interna Sandra Souza, 40. “As

parcerias

são

muito

O engenheiro agrônomo José

importantes por prover estes

Elton Silva Matos já realizou

meios de qualificação ao interno,

cursos e oficinas para diversos

que é também objetivo da

públicos e revelou que transmitir

Susipe. Quando o detento está

conhecimento à pessoa privada

sob nossa custódia temos que

É muito gratificante saber que aqui dentro do CRF eu estou me qualificando. Eu vou me empenhar cada vez mais para fazer disso o meu sustento. Quero plantar e vender as mudas quando estiver livre. Afirmou a interna Sandra Souza.

18 |

que

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


Revista AlÊm Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 19


CONQUISTANDO A LIBERDADE

O

projeto Conquistando a Liberdade

(CRRTA), realizada na Delegacia de Polícia

encerrou o ano de 2016 com 104

Civil da cidade. “Pra mim está sendo ótimo.

edições realizadas em 19 municípios

Fazer parte do projeto é bom porque a ajuda

paraenses e três distritos de Belém. As ações

a gente a ocupar a mente com outras coisas

foram levadas a escolas, centros comunitários,

e sentir que está sendo útil. Estou aprendendo

associações e outras instituições sem fins

muitas coisas e aprendizado nunca é demais”,

lucrativos, alcançando um público estimado em

comenta.

50 mil crianças e adolescentes. Desenvolvido pela Superintendência do Sistema Penitenciário

Dentro do projeto Conquistando a Liberdade é

do Estado do Pará (Susipe), o projeto tem como

desenvolvida também outra iniciativa, o projeto

objetivos a reintegração da pessoa presa ao

“Papo di Rocha”, que é a roda de conversa

convívio da sociedade por meio do trabalho

mediada por um técnico do sistema prisional

voluntário e, ao mesmo tempo, atuar de forma

onde o interno relata a jovens estudantes

preventiva junto ao público jovem para alertá-

as circunstâncias que o levaram à prisão,

los sobre os perigos das drogas e da violência.

suas impressões da vida no cárcere e suas expectativas para quando ganhar a liberdade.

As atividades do projeto foram realizadas

Após a entrevista, os participantes do bate-

nos municípios de Abaetetuba, Ananindeua,

papo têm a oportunidade de fazer perguntas e

Altamira, Benevides, Capanema, Quatipuru,

esclarecer dúvidas. A edição de número 104 foi

Cametá,

realizada na Escola Estadual de Ensino Médio

Itaituba,

Paragominas,

Marabá,

Redenção,

Mocajuba,

Conceição

do

Raymundo Martins Vianna, em Belém, onde os

Araguaia, Salinópolis, Santa Isabel, Tomé-Açu,

alunos ouviram atentos ao relato do interno do

Tucuruí, Terra Alta, além da capital, Belém, e

regime domiciliar Antônio Gleidson da Silva.

dos distritos de Icoaraci, Outeiro e Mosqueiro. O trabalho voluntário é proporcionado aos internos do regime fechado, semiaberto e domiciliar. Joaquim Souza, de 60 anos, participou da edição coordenada pelo Centro de Recuperação Regional de Tomé-Açu

“Pra mim está sendo ótimo. Fazer parte do projeto é bom porque a ajuda a gente a ocupar a mente com outras coisas e sentir que está sendo útil. Estou aprendendo muitas coisas e aprendizado nunca é demais. Disse o interno Joaquim Souza

20 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


PROJETO CONQUISTANDO A LIBERDADE BENEFICIOU

MAIS DE

50 MIL

JOVENS EM 2016

Por Aline Saavedra

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 21


“Papo di Rocha”, que é a roda de conversa mediada por um técnico do sistema prisional onde o interno relata a jovens estudantes as circunstâncias que o levaram à prisão, suas impressões da vida no cárcere e suas expectativas para quando ganhar a liberdade.

22 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


Muitos conhecem ou já conheceram alguém que já esteve preso. Porém, por vergonha ou como forma de defesa, essas pessoas não comentam nada sobre o que é realmente estar preso. E para que todos saibam a verdade e pensem melhor nas escolhas que vão tomar na vida é que buscamos mostrar a realidade do cárcere, focando na prevenção, com o objetivo de esclarecer que o crime sempre traz prejuízos e consequências ruins” Destacou Ercio Teixeira assessor do projeto

Para o assessor de Projetos Especiais da Susipe, Ercio Teixeira, o projeto mostra a realidade de quem vive dentro dos presídios. “Muitos conhecem ou já conheceram alguém que já esteve preso. Porém, por vergonha ou como forma de defesa, essas pessoas não comentam nada sobre o que é realmente estar preso. E para que todos saibam a verdade e pensem melhor nas escolhas que vão tomar na vida é que buscamos mostrar a realidade do cárcere, focando na prevenção, com o objetivo de esclarecer que o crime sempre traz prejuízos e consequências ruins”, destacou Ercio. Para 2017, a expectativa é que o projeto alcance um público ainda maior, seja na capital ou nos municípios do interior. “Estamos buscando parcerias para que mais pessoas e internos sejam beneficiados, além de fortalecer o engajamento com as casas penais de todo o estado. Só assim podemos continuar a executar este projeto, que traz benefícios para todos que participam deste trabalho”, conclui Ercio Teixeira.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 23


Entre aspas

Entrevista com

Natalia Timerman

“Como é que as pessoas se acostumam à prisão e o que significa isso?” Foi essa pergunta que serviu de ponto de partida para que Natalia Timerman escrevesse “Desterros”, seu livro de estreia recém-publicado pela Editora Elefante. A autora é médica psiquiatra, mestre em psicologia clínica pela USP, psicoterapeuta em formação e desde 2012 trabalha no Centro Hospitalar do Sistema Penitenciário de São Paulo, no Carandiru, na zona norte da capital paulista, o único lugar que atende os mais de 230 mil homens e mulheres encarcerados em todo o estado. 24 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


Ao longo do livro, chama a atenção a

Ainda nesse sentido, a maneira que você

maneira como você destina seu olhar aos

lida com os presos é uma exceção dentro

presos: com cuidado, atenção, diferente da

do sistema carcerário, não? Como você vê

brutalização habitual que costumamos ver

a maneira que os presos são normalmente

– e que você cita na própria obra. Qual a

tratados pelos profissionais que trabalham

importância de continuarmos encarando os

diretamente com eles? Por que você

detentos como seres humanos, não como

conseguiu “escapar” dessa brutalização?

bichos ou pessoas inferiores?

Se a maneira como eu lido com os presos

Meu esforço foi justamente esse: o de que

é uma exceção, isso acontece por conta da

os presos fossem retratados como gente,

própria estrutura da prisão como instituição

com história própria. Foi isso o que primeiro

total, um conceito que eu abordo brevemente

me chamou a atenção quando comecei

no livro (e que é o lugar onde se vive

a trabalhar na prisão: eu estava diante de

integralmente em companhia de pessoas que

pessoas comuns. Encarar os detentos como

não se escolheu, com uma rotina determinada

seres humanos é importante simplesmente

por um sistema de regras alheio à vontade

porque é assim que os seres humanos

de cada um). Os agentes penitenciários, por

devem ser tratados. Ter que se esforçar para

exemplo, também fazem parte disso, apesar

isso dá a noção da aberração a que eles são

de entrarem e saírem todos os dias; eles

expostos, mostra a grande lacuna de empatia

também são submetidos a essas regras por

que o livro tenta preencher. Esta aberração,

ter de fazer com que se cumpram. Na prisão,

que é tratar alguém como bicho ou como se

a individualidade deve ser aparada, os gestos

fosse inferior, não afeta só um lado, afeta

devem ser contidos no trato com quem não

ambos. Primeiro porque a brutalização é

está preso, e também entre os presos há

mútua; segundo, porque o que acontece com

um conjunto bastante complexo de regras

qualquer pessoa diz respeito à humanidade

implícitas a serem seguidas. Não sei se

toda, ao menos enquanto possibilidade. E

posso dizer que escapei dessa brutalização.

também porque aquelas pessoas sairão da

Acho que não. Minha escuta mudou ao longo

prisão e devolverão à sociedade, de alguma

do tempo, minha disponibilidade e abertura

forma, o tratamento recebido.

nos atendimentos também. Talvez o livro seja justamente uma tentativa de barrar esse movimento de embrutecimento que acontece com todos que estão presos e ao seu redor.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 25


Do modo que o sistema prisional está

do hospital penitenciário e voltaram não muito

estruturado hoje no país, há chance de algum

tempo depois de novo psicóticos, ou com piora

preso ser reabilitado para o convívio em

da tuberculose, ou da Aids, por terem parado o

sociedade?

tratamento na unidade prisional de origem.

Uma pessoa que está presa tem que, sob vários aspectos, deixar de ser si mesma. Ela precisa deixar sua família, seus amigos, seu mundo, seus pertences e até mesmo seus gestos do lado de fora dos muros. Nessas condições, é

No livro você também se coloca contrária à atual política de combate às drogas. Qual o caminho ideal que você enxerga para esse assunto?

muito pouco provável, para não dizer impossível,

A atual política de combate às drogas, em

que alguém se torne uma pessoa melhor ou

nome desse combate, dessa guerra, deixa

se reconcilie com a própria história. O tempo

de ver muita coisa. Deixa de ver que, em toda

na prisão não é frutífero: não é um tempo de

a história da humanidade, não houve uma

estudo ou trabalho (a não ser como exceção,

sociedade sequer sem indivíduos que se

e ainda assim, muito pouco qualificado). Além

utilizassem de substâncias como forma de

disso, quem está preso quase inevitavelmente

escapar da realidade. Ou seja: de antemão,

adentra o mundo do crime, em vez de sair

parece ser uma guerra cara e perdida, que

dele. São muitos os relatos que escutei de

perde também a possibilidade de refletir

gente que não tinha envolvimento com o crime

sobre o significado da presença das drogas

organizado antes da prisão, ou de gente que

ao longo dos tempos e sobre a possibilidade

começou a usar drogas a partir da experiência

de regular seus usos. A atual política de

do encarceramento. O oposto do que se deveria

combate às drogas deixa de ver também que

esperar de uma suposta reabilitação.

é uma guerra desigual, de cartas marcadas, em que só pobres e pretos sofrem as

Por outro lado, a impressão é que, para quem

consequências; e que é uma engrenagem que

sofre de algumas doenças, é mais fácil receber

se retroalimenta, pois o tráfico é sustentado

atendimento estando na prisão do que se

pelo crime organizado e esse combate causa

estivesse do lado de fora, precisando ser

superlotação das prisões controladas pelo

atendido pelo SUS. É isso mesmo?

mesmo crime organizado, o que nos leva

Sim, é isso mesmo. Já escutei algumas vezes de pacientes paraplégicos, por exemplo, que, se estivessem fora, dificilmente estariam recebendo tratamento de reabilitação motora como o que recebem no hospital. Com outras doenças isso acontece também, mas nem sempre é assim. Não é raro eu presenciar a angústia de colegas diante da impossibilidade de realizar algum exame agendado há muito tempo por falta de escolta, ou diante de pacientes que saíram bem

26 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

de novo à pergunta sobre a possibilidade de reabilitação em cadeias abarrotadas de gente. A atual política de combate deixa também de se perguntar, por fim, se o dano causado pela prisão ao indivíduo, à sua família e à sociedade, não é maior que o dano causado pela droga, ou ao menos se não deveria haver outras formas de se lidar com essa questão, como encarar alguns usos como problema de saúde e não de polícia.


costurar sentidos, os meus e os dos outros, está mais frágil, mas por isso mesmo mais verdadeira, Livro “DESTERROS” histórias de um hospital-prisão

porque os sentidos escapam sempre. “A culpa por cada crime que quem está na prisão cometeu e não cometeu pertence

Como o trabalho na prisão impacta no seu

também a quem não está preso.. E vice-

psicológico? Quais as diferenças que ele

versa. Por isso a necessidade de se contar

provocou na Natalia de antes desse trabalho

a história dos homens que não somos nós.

e na Natalia de hoje?

Para que tenham rosto e para que sua

Não posso dizer que trabalhar na prisão me impactou apenas negativamente, porque isso não seria verdade. Aprendo muito. Aprendo

culpa pertença à humanidade. O que não significa redenção desta culpa”. Poderia falar um pouco mais sobre isso?

sobre doenças, aprendo sobre as pessoas,

O capítulo de onde vem esta citação tem

aprendo sobre mim. A prisão é feita para apartar

uma epígrafe de Emmanuel Levinas que

pessoas da sociedade, mas o que acontece lá diz

fala do rosto. O rosto é único, individual,

respeito a todo mundo. Muitas vezes é pesado,

nos define, mas é também extremamente

mas muitas vezes é um trabalho comum, porque

frágil e exposto. Nossa riqueza e pobreza

nos acostumamos, assim como os presos se

condensadas. E isso para cada um: o todo

acostumam ao encarceramento. Isso me fez

da humanidade compreendido por essas

pensar, e foi o embrião do livro: como é que as

especificações singulares, significantes

pessoas se acostumam à prisão, e o que significa

de quem se é. Os rostos, que pertencem,

isso? No caso de quem está preso, significa, aí

então, à humanidade. Assim como as

sim, a perda da possibilidade de liberdade; e no

histórias, retalhos de vida que formam

caso de quem trabalha lá, o embrutecimento.

o tecido da ação humana. Um dizendo

Mas sempre há novas pessoas, e novas histórias,

respeito a outro, compondo essa trama

e uma até milagrosa possibilidade de renovação,

de ser humano e que, só através dela,

que no livro está personificada através de

nos permite ser tocado pela vida e pela

Donamingo, a angolana presa por tráfico que

história de quem não sou eu. Se eu posso

teve um filho estando presa. A história dela e

ser tocado pela narrativa de uma vida que

de seu filho tem uma força incrível; não é fácil,

não é minha, ela me diz respeito de alguma

mas não deixa de ser bela. Como a história de

forma, me pertence enquanto possibilidade

muita gente ali. Isso alimenta meu trabalho e

humana. E aí cabem também os crimes

me nutre também como pessoa – e foi também

e as culpas. Mas para isso, as histórias

o motor do livro: uma beleza insistente. A

precisam ser contadas, para que caibam

Natalia de antes era mais ingênua, encantada.

na abrangência do que é ser homem. O que

A Natalia de hoje também embruteceu, mas não

não significa que um indivíduo deixará de

perdeu completamente a possibilidade de se

ser culpado pelo crime que cometeu, ou

surpreender diante dessa insistência. A linha de

seja, não significa redenção dessa culpa.

Via UOL - Blog Página Cinco / Por Rodrigo Casarin

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 27


PARCERIA

SUSIPE DESTINA CAMINHÃO PARA COLETA DE LIXO NO COMPLEXO DE SANTA ISABEL Por Giullianne Dias

A

Superintendência do Sistema Penitenciário (Susipe) firmou convênio com a Prefeitura de Santa Isabel do Pará para reduzir os

impactos ambientais causados pelo despejo de resíduos sólidos no Complexo Penitenciário do município, que hoje abriga oito unidades prisionais. A Susipe fez a doação de um caminhão compactador de lixo, com capacidade para 18 toneladas, à prefeitura, para que a coleta seja feita semanalmente e os dejetos, destinados de forma adequada. Por dia são produzidas cerca de três toneladas de lixo em todo o Complexo Penitenciário de Santa Izabel, que custodia mais de 2,7 mil mil detentos. O serviço de coleta começou a ser feito nesta quarta-feira (25).O termo de cooperação foi assinado pelo prefeito de Santa Isabel, Evandro Watanabe, e o superintendente da Susipe, André Cunha. É o primeiro convênio que a Susipe assina em 2017, e de acordo com o termo de cooperação, o caminhão compactador de lixo vai fazer a coleta dos resíduos no interior do Complexo Penitenciário de Santa Isabel três vezes por semana e também vai ser usado na coleta regular do município.

28 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

No município está prisional de todo Pará, então, não é m produzir alguma a população local. usava caçambas e para fazer a coleta, serviço te

Destacou André Cu


“Essa é uma parceria muito importante, que irá

Para André Cunha, a doação do caminhão tem o

beneficiar diretamente a população de Santa

objetivo de melhorar a qualidade de destinação

Isabel, pois esse caminhão será usado dentro

do lixo e contribuir para a preservação do

do Complexo Penitenciário e no serviço de

meio ambiente. “No município está localizado

coleta de lixo na área central do município,

o maior complexo prisional de todo o sistema

em benefício da população. Por dia, em Santa

penitenciário do Pará, então, não é mais do

Isabel, são produzidas cerca de 50 toneladas

que a nossa obrigação produzir alguma forma

de lixo”, disse o prefeito.

de compensação para a população local.

á localizado o maior complexo o o sistema penitenciário do mais do que a nossa obrigação forma de compensação para . Anteriormente, a prefeitura equipamentos improvisados , mas agora com o caminhão o erá mais qualidade”

Anteriormente, a prefeitura usava caçambas e equipamentos improvisados para fazer a coleta, mas agora com o caminhão o serviço terá mais qualidade”, destacou. A destinação final do lixo recolhido, dentro e fora do complexo penitenciário, é de responsabilidade da Prefeitura de Santa Isabel.

unha. Superintendente da Susipe

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 29


SEGURANÇA

O

to

mo de

1.17

eletrô

Justiç

detenç No novo

24 horas p sentenciados

prisão domiciliar

saúde ou durante a

em janeiro de 2014, o

139 mulheres através da

“No início deste ano a Susipe as

o número de dispositivos e agora

Há também um projeto que está em fa convênio com o Departamento Penitenciári

Brasília, para adquirirmos cerca de 500

serão utilizados só para as audiênc

informou Robervaldo Araújo, dire Gestor de Monitoramento.

Por Giullianne Dias

30 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


O

Núcleo Gestor de Monitoramento (NGME), da

O Núcleo tem uma área de mais de 700 m² e agora

Superintendência do Sistema Penitenciário

conta com uma casa de passagem e um hotel de

do Estado (Susipe), inaugurou um espaço

trânsito. O custo total da obra chegou a R$ 120 mil

otalmente revitalizado para o atendimento de presos

reais, e os recursos foram repassados pelo Governo

onitorados eletronicamente na Região Metropolitana

do Estado.

Belém (RMB). Atualmente, o Estado possui

70 detentos que fazem o uso das tornozeleiras

A casa de passagem terá refeitório, cozinha e sala

rônicas, um dispositivo que tem sido utilizado pela

de convívio e poderá acolher detentos que saírem

ça para reduzir a superlotação nos centros de

de alvará ou livramento condicional, que residam no

ção de todo o Brasil.

interior do Pará ou em outro Estado do país e que não tenham condições financeiras para voltar de

espaço, servidores da Susipe acompanham

por dia, a rotina de internos que foram ou progrediram para regime aberto, em

r, que possuem licença para tratamento de

as saídas temporárias na capital. Criado

o NGME monitora hoje 1.031 homens e

as tornozeleiras eletrônicas.

ase de licitação, que é um o Nacional (Depen), em

0 equipamentos, que

cias de custódia”,

etor do Núcleo

terá alojamentos feminino e masculino, para agentes penitenciários que vêm de outros municípios do Pará ou de outros Estados e que estejam a trabalho; o espaço contará com cozinha, salas administrativas e um pequeno auditório para a realização de cursos e palestras.

ssinou um contrato que duplicou

a temos 2 mil tornozeleiras.

imediato ao local onde vivem. Já o hotel de trânsito

“Os espaços já foram todos reformados, pintados e aos poucos estamos trazendo os materiais necessários para o funcionamento e alojamento das pessoas, que passarem por aqui”, explicou Robervaldo Araújo. “Aqui no novo espaço realizamos a manutenção dos equipamentos e reparos, além da colocação das tornozeleiras, com a inclusão do detento no sistema de monitoramento, além do

atendimento psicossocial”, completou o diretor.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 31


O Centro Integrado de Operações (CIOP) monitora cada detento. Quatro equipes de três agentes penitenciários se revezam no CIOP, para acompanhar o dia a dia dos detentos, através de telões que mostram a localização do preso emitidos por satélite para a central. Saída temporária - Os detentos de unidades prisionais da RMB, que recebem o benefício da saída temporária também são monitorados eletronicamente. De acordo com dados do NGME, o uso do equipamento reduziu o número de não retornos. “Em 2013, nosso índice de nãoretorno nas festas de final do ano chegou a 13,02%. Em 2014, esse percentual caiu para 7,16%, no mesmo período, com o uso das tornozeleiras. Com isso registramos um decréscimo significativo de presos que não retornaram nas saídas temporárias, pois quando eles não voltam ou chegam fora do prazo, o juiz é comunicado e eles podem ter menos dias autorizados na próxima saída ou até mesmo perder o direito ao benefício”, informou o diretor. Fabrício dos Santos Silva, de 35 anos, usa a tornozeleira eletrônica. Ele foi preso em Salinas e sentenciado há 9 anos de prisão. Cumpriu parte da pena em regime fechado e em seguida foi transferido para a Colônia Agrícola de Santa Izabel (CPASI), mas pelo bom comportamento dentro do cárcere e por trabalhar, Fabrício passou apenas 1 mês no local e o juiz decidiu conceder o uso do equipamento eletrônico.

Hoje em dia eu mudei a minha vida, sou um homem trabalhador e penso em dar um bom futuro para minha família, pois sou pai de duas meninas e também casado. Vir do cárcere é uma lição pra qualquer um deixar o mundo do crime para trás e ver que realmente não compensa.” Disse Fabrício dos Santos Silva, interno. 32 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


“Aqui no novo espaço realizamos a manutenção dos equipamentos e reparos, além da colocação das tornozeleiras, com a inclusão do detento no sistema de monitoramento, além do atendimento psicossocial.” Expicou Robervaldo Araújo diretor do NGME.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 33


SEGURANÇA

34 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


Corregedoria Penitenciária estimula mudança na conduta de servidores penais Por Aline Saavedra

A

da

instruções, tratamos de prevenção

Superintendência do Sistema

e é motivo de muito orgulho termos

Penitenciário

Estado

chegado aos quatro cantos do Estado

(Susipe) manteve, em 2016, 100% de

e saber que hoje o servidor já tem

produtividade em suas ações preventivas

outra visão e respeita a Corregedoria.

e corretivas na gestão penitenciária do

Com as atuações desenvolvidas, o

Pará com a readequação na conduta

bom servidor se sente respaldado e

de servidores e consequente redução

valorizado, o transgressor melhora de

do número processos administrativos

comportamento ou deixa de pertencer

instaurados. Em 2015, foram abertos

ao quadro funcional do órgão, e o

429 processos. Já em 2016 foram 344.

gestor se sente mais seguro e confiante

Para o corregedor-geral penitenciário,

para desenvolver sua função”, explicou

Gustavo Holanda Dias, esta redução

Gustavo Dias.

Corregedoria-Geral do

é resultado de uma atuação mais efetiva do órgão, principalmente, em

O aumento no número de visitas e

decorrência das fiscalizações nas

correições ordinárias nas unidades

unidades prisionais no interior.

prisionais do interior tem possibilitado melhores resultados no trabalho da

“A Corregedoria realizou correições

Corregedoria Geral Penitenciária (CGP).

ordinárias em 83% das unidades

Em 2016, os municípios de Abaetetuba,

prisionais do Pará em 2016, e este

Capanema,

ano não será diferente. Nós fomos

Bragança e Marituba passaram por

até o interior, fizemos inspeções,

inspeções preventivas.

Marabá,

Parauapebas,

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 35


PREVENÇÃO “Na

correição,

a

equipe

prisionais

Entre uma das principais ações

percorre os diversos setores

do Estado, desenvolvendo o

preventivas desenvolvidas pela CGP

administrativos e carcerários,

importante papel de orientação

da Susipe está o Programa Primeiro

avaliando

atividades

e prevenção. A prática de atos

Aviso, que foi inspirado no Programa

realizadas e as dificuldades

irregulares era mais propícia no

“Early Warning” das polícias dos

apresentadas.

do

interior pela distância com a sede

Estados Unidos e que tem caráter

um

administrativa e falta de abertura

preventivo e permanente com o

é

de processos que resultassem

monitoramento do servidor que

encaminhado para todos os

em medidas punitivas. Agora

apresente indícios de desempenho

setores competentes e demais

essa realidade mudou”, avalia

funcional

instituições ligadas ao sistema

Jaymerson Marques, corregedor-

programa, não há procedimento

penal apontando os problemas

penitenciário do interior.

administrativo formal, nem mesmo

as

trabalho,

Ao

é

relatório

final

emitido

propositivo

detectados

e

que

de

40

unidades

propondo

insatisfatório.

No

registro na ficha funcional, porém

soluções adequadas”, analisa o

Os mais de 300 procedimentos

o mesmo recebe um alerta e é

corregedor-geral.

administrativos

e

monitorado por três meses, podendo

concluídos pela CGP, em 2016,

se prorrogar por igual período e se

tiveram os seguintes objetos

ainda assim se fizer necessário,

como

de apuração: agressão física

ações corretivas são adotadas.

população

a detentos, tentativa de fuga

No

relatório

mais

de

são

100

avaliados

itens

estrutura

física,

carcerária,

acomodação

detentos,

procedimentos

instaurados

rebeliões

De acordo com a CGP, a necessidade

com morte, motim e outras

de se aplicar punições mais graves

equipamentos de revistas, ações

irregularidades

administrativas,

aos servidores penitenciários tem

biopsicossociais,

tais como facilitação de entrada

sido cada vez menor. Dos 101

de

de objetos ilegais (como telefones

servidores incluídos no programa

alimentação e medicações, e

celulares) e permissão de ingresso

Primeiro Aviso em 2016, 57 já

transporte

de visitantes sem cadastro nos

tiveram o seu monitoramento

centros de detenção.

finalizado,

educacionais,

dos e

atividades controle

operacional

para

audiências, entre outros.

de

presos,

óbitos,

e

destes

80,70%

apresentaram melhora na conduta “A realização dessas correições

Dos 344 processos instaurados,

profissional. “Quando o servidor é

ordinárias tem sido possível

118

a

incluído no Primeiro Aviso ele já tem

graças a lei de reestruturação

fugas de presos com rigorosa

ciência que não deve se envolver

da Susipe, que criou na estrutura

apuração acerca da conivência

em qualquer tipo de irregularidade.

da

e/ou negligência de servidores

Essa mudança de comportamento

penitenciários

casos

é gerada já de imediato logo no

69

primeiro monitoramento, o que

CGP,

regionais Região

as do

corregedorias Interior

Metropolitana.

e

da Com

foram

registrados.

relacionados

nos No

total,

essa divisão, os corregedores

servidores

algum

nos possibilita trabalhar com mais

regionais

a

tipo de punição, desde medidas

dedicação em processos que

responsabilidade pela presença

suspensivas até a exoneração

requerem mais atenção”, afirmou o

mais efetiva da CGP em mais

do cargo público.

corregedor-geral.

36 |

assumiram

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

receberam


Com as atuações desenvolvidas, o bom servidor se sente respaldado e valorizado, o transgressor melhora de comportamento ou deixa de pertencer ao quadro funcional do órgão, e o gestor se sente mais seguro e confiante para desenvolver sua função. Afirmou o corregedor-geral Gustavo Dias

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 37


CIDADANIA

MUTIRÃO CARCERÁRIO BENEFICIA PRESOS DO COMPLEXO DE SANTA IZABEL Por Laís Menezes

“Quando consultaram meu histórico aberto, mas o problema é que as min a minha saída quando chegasse a dat importante esse tipo de atendimento,

Afirm 38 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


A

Fundação Pro Paz, em parceria

atendimento, mais de 500 internos

com a Superintendência do

sejam

Sistema

coordenador do Pro Paz Cidadania,

Penitenciário

do

Estado (Susipe), realiza durante esta

beneficiados”,

ressaltou

o

Roberto Oliveira.

semana um mutirão com atendimento social, judiciário e de saúde em

O benefício chegou para o interno Aldo

todos os presídios do complexo

Miranda, de 38 anos, que depois de

penitenciário de Santa Izabel. a ação

passar cinco anos sem a carteira de

ocorreu simultaneamente nos Centros

identidade conseguiu a segunda via

de Recuperação Penitenciário do Pará

da documentação. “Eu tinha perdido

I e II - CRPPI e CRPPII.

meu documento. É muito importante, porque quando sair daqui precisarei

No CRPPI, o dia foi de atendimento

dela para tudo, inclusive para conseguir

social com a emissão de documentos

emprego”, afirmou.

como certidão de nascimento, 1ª e 2ª via, carteira de identidade, carteira de

A coordenadora de Assistência Social

trabalho digital e fotos. Mais de 100

da Susipe, Régia Sarmento, falou

internos da unidade prisional foram

sobre a importância da ação. “Esse

atendidos.

levantamento e emissão de documento é de fundamental importância para os

“É uma ação conjunta que também

presos, não só para quando ganharem

conta com o apoio de equipes das

a liberdade, mas aqui dentro da

Secretarias de Estado de Justiça e

unidade prisional, porque é necessário

Direitos Humanos (Sejudh), Secretaria

documentação para que eles sejam

de Estado de Assistência Social,

inseridos em programas de educação,

Trabalho, Emprego e Renda (Seaster),

saúde e trabalho. Além do mais, hoje

Defensoria Pública (Vara Cível) e

a Justiça exige documento para que

Polícia Civil. “Acredito que aqui dentro

os presos possam sair em liberdade”,

do complexo, somente neste tipo de

explicou.

o viram que eu tinha um benefício de progressão para o regime nhas condenações não estavam unificadas, e isso poderia prejudicar ta. Agora isso será corrigido e eu estou muito satisfeito. Acho , porque às vezes não sabemos nada sobre quando vamos sair”

mou o detento Alef da Silva Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 39


MUTIRÃO JURÍDICO Já internos custodiados no CRPPII

um interno que está bem informado

receberam ao longo do dia atendimento

de seu processo e vê que está em

jurídico realizado pela Diretoria de

andamento é muito melhor”, avaliou a

Execução Criminal (DEC) da Susipe.

analista jurídica do DEC, Cintia Rosa.

Depois de já ter passado por outros cinco presídios do complexo de Santa Izabel,

Esse foi o caso do detento Alef da

totalizando mais de 500 atendimentos,

Silva, de 21 anos, que depois de ter

a expectativa é de que cerca de 200

sua situação verificada foi constatada

internos tenham a situação processual

uma pendência que poderia interferir

revisada no Centro de Recuperação

em um benefício previsto para o

Penitenciário do Pará II.

mês de abril. “Quando consultaram meu histórico viram que eu tinha

40 |

No mutirão jurídico, a equipe do DEC

um benefício de progressão para o

faz análise de prontuário dos presos

regime aberto, mas o problema é que

para verificar benefícios com prazos

as minhas condenações não estavam

próximos ao vencimento ou já vencidos.

unificadas, e isso poderia prejudicar a

A informação é repassada ao Judiciário,

minha saída quando chegasse a data.

que toma as medidas necessárias para

Agora isso será corrigido e eu estou

a execução. Dentre os benefícios estão a

muito satisfeito. Acho importante esse

progressão de regime para o semiaberto

tipo de atendimento, porque às vezes

ou aberto e a remição de pena pelo

não sabemos nada sobre quando

estudo, leitura ou trabalho.

vamos sair”, afirmou o detento.

“O trabalho que fazemos aqui é para

A Coordenadoria de Saúde Prisional

dar um apoio ao Judiciário e até à

(CSP) da Susipe também realiza um

Defensoria

contribuindo

mutirão no complexo. Os atendimentos

para que a tramitação dos processos

já beneficiaram mais de 250 presos em

corra mais rápido, pois sabemos

seis casas penais, com atendimentos

que a demanda é grande. E como

médico, de enfermagem e de psicologia,

reflexo disso a casa penal também é

além de odontológicos e testes rápidos

beneficiada, pois o comportamento de

de HIV, Sífilis, Hepatite B e C.

Pública,

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


“Esse levantamento e emissão de documento é de fundamental importância para os presos, não só para quando ganharem a liberdade, mas aqui dentro da unidade prisional, porque é necessário documentação para que eles sejam inseridos em programas de educação, saúde e trabalho. Além do mais, hoje a Justiça exige documento para que os presos possam sair em liberdade” Afirmou a coordenadora de Assistência Social da Susipe, Régia Sarmento

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 41


KÁTIA REGINA GONÇALV

46 anos. Atua na Susipe há 10 anos. Já trabalhou Hoje trabalha na Divisão de Educação Profission do ensino Profissionalizante. Graduada em Peda fez diversos cursos, entre eles, o curso de Cerim muito nos cerimoniais realizados pelo DEP, curs Recursos, que em muito colabora, para a elabora a execução de cursos aos custodiados nas uni fundamental importância, pois através dele pode de não mais reincidir, através da capacitação pr maior de empregabilidade no pós Cárcere.

SANDRA CAMPOS,

64 anos trabalha na Susipe há 26 anos. Há quatro anos está lotada na C do Servidor atuando como Assistente Social. Por 21 anos trabalhou Recuperação Silvio Hall de Moura, em Santarém. Formada em Ass do Brasil, está fazendo pós-graduação em Psicopedagogia Escolar. C Sandra, a experiência em lidar com a população carcerária foi um grand da sociedade que necessita de um atendimento que requer bom sens consolidada, pois para ela são ferramentas que ajudam no trato com ajuda necessária para que eles possam cumprir a pena e resgatar a cid atendimento, acolhimento e apoio ao servidor que está na linha de fren adquiridos nas duas pontas de atuação a engradecem e lhe dão muita s

SIMONE OLIVEIRA,

46 anos. Trabalha como Agente Administrativo n da Susipe há 23 anos. Possui vários cursos c Administração Financeira do Estado e Municípi longo de 23 anos de dedicação à Susipe, pode recursos do Sistema nos princípios da legalidade a responsabilidade na execução das tarefas é de com amor, respeito e serenidade o trabalho des pois ela sabe da responsabilidade e compromi reflete na imagem positiva para o órgão como um

ALFREDO MATOS,

21 anos iniciou suas atividades na Susipe como estagiário na Assesso de estágio finalizar ele se inscreveu no Processo Seletivo Simplifica Administrativo lotado na Assessoria de Comunicação. Hoje atua com gerenciando todas as redes sociais. Publicitário formado, já realizou vá de Mídias Sociais, Webdesigner, Informática e Assistente Administra oportunidade de emprego e representa o início da sua vida no mercado para realizar sua função que é a de manter as pessoas informadas em re sistema penitenciário do Estado.

42 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


VES,

u na Unidade Penal de Mocajuba (CRRMOC). nal (DEP) como Coordenadora Pedagógica agogia e especialista em Psicopedagogia já monial no Corpo de Bombeiros, o que ajuda so de Projetos Pedagógicos e captação de ação de projetos e busca de parcerias para idades penais. Para ela seu trabalho é de er levar aos custodiados uma oportunidade rofissional, possibilitando uma expectativa

Coordenadoria de Assistência e Valorização u como Agente Penitenciário no Centro de sistente Social pela Universidade Luterana Com tantos anos dedicados a Susipe, para de aprendizado, pois trata-se de uma parcela so, além de uma formação moral bastante m a pessoa encarcerada, possibilitando a dadania. Hoje o aprendizado se ampliou no nte com essas pessoa, esses aprendizados satisfação. Em realizá-los.

na Coordenadoria de Recursos Financeiros como: Contabilidade Pública, Sistema de ios (SIAFEM) e Relação Interpessoal. Ao e observar o controle dos investimentos e e, pois para ela, o bem público é de todos e e fundamental importância. Ela acredita que senvolvido torna-se harmonioso e eficiente, isso que possui com suas atividades que m todo.

SER

VI DOR Espaço em reconhecimento a todos os homens e mulheres que, no seu labor diário, dedicam os seus esforços, conhecimentos técnicos e experiências profissionais à nobre missão de servir à sociedade paraense.

oria de Comunicação Social, após o período ado e passou para o cargo de Assistente mo Social Media da Susipe, administrando e ários cursos, entre eles, o de Monitoramento ativo. Para ele a Susipe foi a sua primeira o de trabalho, além de adquirir aprendizado elação a tudo o que acontece de positivo no

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 43


44 |

Revista AlÊm Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


Revista AlÊm Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 45


Detentos irão realizar

SERVIÇOS DE MARCEN no Mangal das Garças Por Aline Saavedra

P

or meio do projeto Trilhas, o Parque Zoobotânico Mangal das Garças receberá o trabalho de revitalização feito por

detentos do sistema penitenciário do Estado do Pará. Eles irão construir bancos e mesas de madeira e em seguida revitalizarão toda a trilha que passa por trás dos espaços do viveiro das Aningas e do Farol de Belém. Eles também farão as substituições das peças no mirante. Um convênio assinado pelo superintendente do Sistema Penitenciário do Estado do Pará (Susipe), André Cunha, e o presidente da Organização Social Pará 2000, Fabriano Fretes, que administra o parque, oficializou a parceria. O trabalho de marcenaria será feito por três internos do regime semiaberto custodiados no Centro de Progressão Penitenciária de Belém (CPPB), já a partir do próximo dia 10 de abril. Eles irão trabalhar oito horas diárias e serão remunerados com um salário mínimo, auxílio transporte e alimentação.

46 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


NARIA

Revista AlÊm Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 47


As madeiras utilizadas para a construção e

privadas e públicas. A oportunidade que é dada ao

revitalização foram doadas pelo Instituto Brasileiro

interno significa uma vida transformada. Para nós

do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais

é um prazer enorme em assinar este convênio que

Renováveis (Ibama), totalizando 249,59m³ de

vai introduzir mais um tipo de serviço realizado

madeira, entre elas: 5,64m³ de Cumaru, 13,18m³

pelos internos do sistema penal no Mangal das

de Pequiá-Branco, 63m³ de Angelim-Vermelho e

Garças”, afirmou o superintendente da Susipe.

167,77m³ de Maçaranduba. Todo o produto foi apreendido de extração ilegal.

Este é o segundo projeto realizado entre a Pará 2000 e a Susipe. Em 2007, foi criado o projeto

48 |

As vagas oportunizadas por meio do convênio

“Transformando Vidas”, com o emprego de seis

possibilitarão uma mudança de vida aos internos,

internos da Colônia Penal Agrícola de Santa Isabel

além da qualificação profissional. “A Susipe está

(CPASI) que garantem a produção de 60 espécies

trabalhando continuamente para a ampliação

de plantas que alimentam lagartas e borboletas

do uso da mão-de-obra carcerária em iniciativas

do Parque Zoobotânico.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


O presidente da Pará 2000 avalia positivamente a

sistema penal. “Como o Mangal é um ambiente

união de iniciativas que o próprio Estado oferece,

de floresta, que necessita de manutenção

gerando economia e agregando valor social. “O

constante acreditamos que é um convênio

Estado nos oferece várias oportunidades. Este

que iremos precisar sempre. E a realização

convênio é importante por contribuir para a

deste segundo convênio com a Susipe é prova

reinserção social da pessoa presa, pois todos

de que o primeiro – realizado com os internos

que cometeram um erro devem ter uma nova

da colônia agrícola - deu certo”, revelou Vera

oportunidade de vida, além de utilizar recursos

Cascaes, gerente operacional da Pará 2000.

apreendidos para recuperação de um espaço público”, destacou Fabriano Fretes.

“A atividade fim da Susipe é fazer a custódia. Mas, só se pode recuperar o indivíduo do

Atualmente, a Susipe possui 28 contratos

regime semiaberto por meio dessas atividades”,

assinados onde a mão-de-obra carcerária é

finalizou o diretor de Reinserção Social da

utilizada, beneficiando mais de 500 internos do

Susipe, Ivaldo Capeloni.

Este convênio é importante por contribuir para a reinserção social da pessoa presa, pois todos que cometeram um erro devem ter uma nova oportunidade de vida, além de utilizar recursos apreendidos para recuperação de um espaço público” Destacou Fabriano Fretes, presidente da Pará 2000

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 49


CAPACITAÇÃO

Por Giullianne Dias

I

nternas do Centro de Reeducação Feminino (CRF), em Ananindeua, município da Região Metropolitana de

Belém, estão colocando literalmente a mão na massa e produzindo pães, bolos e pizzas, dentro do centro de panificação da casa penal. O espaço, inaugurado em dezembro do ano passado no CRF, também foi instalado na Colônia Penal Agrícola de Santa Izabel (CPASI), pela

Superintendência

do

Sistema

Penitenciário do Estado (Susipe), com o objetivo de oferecer capacitação profissional para internos custodiados nos regimes fechado e semiaberto. A iniciativa faz parte do Projeto de Capacitação Profissional e Implantação de

Oficinas

executado

Permanentes pelo

(Procap),

Departamento

Penitenciário Nacional (Depen), que em convênio com a Susipe investiu mais de R$ 300 mil, com contrapartida do Estado de quase R$ 200 mil. O projeto visa à implantação de oficinas permanentes em estabelecimentos penais e oferta cursos contínuos para pessoas em cumprimento de pena. A primeira oficina já está em andamento, com a participação de 40 detentas, divididas em duas turmas. As aulas teóricas

começaram

no

início

do

fevereiro, e agora começa a fase de aulas práticas, que vai durar cerca de 30 dias.

50 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

CENTROS DE PANIFICAÇÃO em unidades prisionais oferecem capacitação profissional


Revista AlÊm Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 51


Ant trabal mas er Eu não nã paga oportun eu sair fazia an

Contou a

APRENDIZADO “Durante as aulas elas aprendem

tinha a medida certa para nada. Aqui

também sobre empreendedorismo,

no curso nós estamos aprendendo a

adquirindo

para

fazer coisas mais complexas, como

abrir o próprio negócio após o

pães de rosa, beijo de moça, bolos

cárcere. Esse é o nosso principal

decorados. É tudo muito diferente,

objetivo. Nós fazemos com que elas

mas com calma vamos aprendendo.

percebam que têm capacidade de

Hoje, eu acho até que posso ser uma

aprender e também de colocar em

chefe de cozinha”, disse Ana Lúcia.

conhecimento

prática. Não é algo difícil, e elas têm se saído muito bem. Estão fazendo

Os centros de panificação contam

coisas deliciosas”, informa Meiry

com

Nunes, instrutora de culinária.

como masseira,

equipamentos

industriais,

forno,

cilindro

(para a mistura da massa), depósito

52 |

A interna Ana Lúcia da Silva, 47

e estufa, além de utensílios de

anos, uma das participantes da

cozinha industrial. “Esse projeto

oficina, disse que no início pensou

está sendo esperado desde 2012, e

não ser capaz de aprender, mas hoje

agora a nossa intenção é escoar a

já pensa em ter o próprio negócio.

produção, para que um dia seja feita

“Eu já cozinhava antes, mas era

a comercialização desses produtos.

aquela comida do dia a dia, só para

Tudo o que elas fazem é muito

as pessoas da minha casa. Então,

gostoso, então temos certeza que

tem muita diferença, até porque

será um sucesso”, afirmou Carmem

eu usava qualquer ingrediente, não

Botelho, diretora do CRF.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


tes de entrar aqui eu já lhava vendendo lanches, ram coisas muito simples. o tinha técnica e também ão tinha dinheiro para ar um curso. Essa é uma nidade muito boa. Quando r, vou fazer melhor do que ntes, e tenho certeza que o lucro será certo”,

a detenta Isabel Nascimento, 43 anos.

PROFISSIONALIZAÇÃO Atualmente, a Susipe conta com

Com isso, 20% da população carcerária

cerca de 3 mil internos envolvidos

estão em sala de aula. A Susipe, por

em atividades educacionais, o

meio do Procap, implementará cursos

que representa um aumento de

contínuos de capacitação profissional

50% em relação a 2015. São

em 19 unidades prisionais do Estado,

1.157 detentos em educação

ainda em 2017, incluindo marcenaria,

formal;

educação

corte e costura industrial, manutenção

não formal, e 267 em cursos

de microcomputadores e fabricação

profissionalizantes.

de fraldas.

1.578

em

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 53


CAPACITAÇÃO

Detentas colocam em prática

CURSO DE ALVENARIA 54 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


Por Laís Menezes

D

epois de um mês assistindo aulas teóricas, 17 internas do Centro de Recuperação Feminino (CRF) estão colocando em prática as técnicas apreendidas

no curso de pedreiro em alvenaria estrutural, ofertado por meio de uma parceria entre a Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe) e o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec), via Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai). Literalmente com a mão na massa, as detentas aprendem sobre fundação, elevação de alvenaria, revestimento de chapisco e reboco, nivelamento de superfície, normas de alturas de vãos de portas e janelas, além de procedimentos para ordem e limpeza de material. Com a capacitação, as internas são qualificadas para o mercado de trabalho e ainda beneficiam a unidade prisional, que ganhará uma nova sala onde irá funcionar a prefeitura da casa penal. O professor de Construção Civil do Senai, Reinivaldo Malcher, explicou que diferente de quem trabalha na área sem conhecimentos técnicos, a capacitação irá garantir uma mão de obra de maior qualidade sem desperdício de material. “com o curso o aluno aprende a executar o trabalho de maneira correta, adotando os procedimentos de acordo com as normas técnicas e fazendo os traços específicos para a elevação da alvenaria. Isso traz mais qualidade à obra, sem contar que as orientações para o reaproveitamento de materiais evitam o desperdício e diminuem os gastos com a obra”, avaliou.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 55


No terceiro curso dentro da unidade prisional, Francisca Esquerdo, de 57 anos, contou que aproveita todas as oportunidades de capacitação que são oferecidas. “É muito bom para mim estar inserida em alguma atividade dentro do presídio, o que me permite ocupar a cabeça e ainda aprender um novo ofício. O trabalho nesse curso é bem puxado, mas todas damos conta, de sexo frágil não temos nada. Quem sabe quando sair para a liberdade eu não construa duas suítes na minha casa?”, comenta a detenta. Com planos de construir a própria casa ao término da pena, Raimunda Graciete do Amaral, de 49 anos, falou sobre o aprendizado em uma nova atividade. “Até fazer esse curso eu não tinha nenhuma experiência nessa área e nem mesmo acreditava que faria alguma coisa desse tipo, mas agora já estou planejando ensinar meus filhos e netos quando sair e construir a minha casa. Como já sei o que fazer vou poder economizar muito e também realizar um sonho”, declarou. Todo o material para a realização das aulas é fornecido pelo Pronatec. Em 2016, mais de mil vagas em cursos profissionalizantes foram ofertadas para detentos no Pará.

Até fazer esse curso eu não tinha nenhuma experiência nessa área e nem mesmo acreditava que faria alguma coisa desse tipo, mas agora já estou planejando ensinar meus filhos e netos quando sair e construir a minha casa. Como já sei o que fazer vou poder economizar muito e também realizar um sonho”, Declarou a interna Raimunda Graciete do Amaral, de 49 anos

56 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


Revista AlÊm Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 57


DEDICAÇÃO

DOS QUASE 15 MIL PRESOS NO PARÁ,

20% TRABALHAM

DENTRO OU FORA DOS PRESÍDIOS Por Giullianne Dias

58 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


O

Pará tem atualmente 14.824 mil presos custodiados pela Superintendência do Sistema

Penitenciário do Estado (Susipe). Deste total, 20% estão envolvidos em alguma atividade profissional, dentro ou fora das unidades prisionais. O índice está acima da média nacional que é de 16%, segundo pesquisa nacional de Informações Penitenciárias (Infopen). Fora do presídio, é através de convênios firmados entre a Susipe e órgãos públicos ou empresas privadas, que os detentos têm a primeira oportunidade de se reinserir na sociedade e entrar no

“Hoje realocado no Hospital Ophir Loyola, todos os dias eu agradeço por ter tido essa oportunidade, pois daqui tiro meu sustento e consigo ter uma vida digna” Destacou Elizeu que agora cumpre pena no regime domiciliar.

mercado de trabalho. “Lá dentro eu sempre tive bom Elizeu Braga Ramos, de 25 anos, afirma

comportamento, estudei, terminei o

que a esperança de recomeçar surgiu

ensino médio, fiz vários cursos e logo

logo depois que ele saiu da Colônia

depois eu fui indicado para trabalhar na

Agrícola de Santa Isabel (CPASI), em

Systems. Hoje realocado no Hospital

maio do ano passado. “Cometi um erro

Ophir Loyola, todos os dias eu agradeço

do qual me arrependo até hoje, mas

por ter tido essa oportunidade, pois

estando lá eu percebi o quanto eu queria

daqui tiro meu sustento e consigo ter

mudar de vida e pra isso acontecer, eu

uma vida digna”, destacou Elizeu que

precisava ter uma atitude e recomeçar

agora cumpre pena no regime domiciliar.

do zero”, disse o egresso Eliseu Braga

Ele faz planos para o futuro e diz que

Ramos, de 25 anos.

sonha com um curso superior para construir uma carreira de sucesso.

Após concluir o ensino médio dentro

“Ainda hoje eu me dedico aos meus

da CPASI e passar para o regime

estudos, tiro três dias na semana para

semiaberto, Elizeu começou a trabalhar

fazer isso e frequento aulas de um curso

na Systems Copy, empresa que realiza

técnico em administração e assim que

atividades em impressão e através de

o curso acabar eu pretendo fazer uma

um convênio firmado com a Susipe,

faculdade e conseguir um emprego

terceiriza o trabalho de egressos para

nessa área. Ainda sou solteiro e novo,

órgãos públicos do Estado e também

então posso construir muita coisa, para

para desenvolver atividades dentro do

então um dia pensar em formar uma

escritório da empresa.

família”, afirma.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 59


Para

Fabiana

Carvalho,

supervisora

que no ano passado. “Nós fechamos o ano de

administrativa da Systems Copy, trabalhar

2016 com grandes parceiros, com empresas

com egressos alterou o conceito que a

que acreditam, assim como nós, que essas

empresa tinha. “As pessoas geralmente não

pessoas têm condições de mudar de vida.

tem uma visão positiva sobre o assunto,

Hoje, nós temos 26 convênios vigentes e já

no início há um receio e um medo, mas

temos mais 10 em fase de negociação, então

quando se começa a trabalhar com eles,

esperamos que em 2017 nós possamos

se percebe que é totalmente diferente do

dar mais oportunidade de ressocialização a

que se pensa. Eles dão muito de si para o

essas pessoas”, concluiu Izabel.

trabalho e não trazem problema algum. São pessoas que tem muita chance de crescer na empresa. Atualmente, há seis egressos trabalhando conosco e sempre que houver disponibilidade, vamos chamando mais para nossa equipe”, destacou Fabiana. Segundo levantamento nacional do Infopen, em 2014, o Brasil tinha uma população carcerária de mais de 600 mil presos. Desse total, mais de 100 mil trabalham, o que corresponde a 16% da população carcerária. No Pará, hoje a Susipe tem 1.823 internos envolvidos em atividades laborativas. Destes, 1.199 fazem algum tipo de trabalho dentro da unidade prisional; 171 fazem trabalho externo e outros 453 estão desenvolvendo alguma atividade através dos convênios firmados pela Susipe. Para Izabel Ponçadilha, da Coordenadoria de Trabalho e Produção da Susipe (CTP), a quantidade de presos inseridos no mercado de trabalho em 2017 deve ser bem maior do

60 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

As pessoas geralmente não tem uma visão positiva sobre o assunto, no início há um receio e um medo, mas quando se começa a trabalhar com eles, se percebe que é totalmente diferente do que se pensa. Eles dão muito de si para o trabalho e não trazem problema algum. São pessoas que tem muita chance de crescer na empresa. Atualmente, há seis egressos trabalhando conosco e sempre que houver disponibilidade, vamos chamando mais para nossa equipe” Destacou Fabiana Carvalho, supervisora administrativa da Systems Copy


Revista AlÊm Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 61


62 |

Revista AlÊm Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


Revista AlÊm Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 63


EDUCAÇÃO

ARCA DA LEITURA

usa livros para promover a inclusão de detentos Por Walena Lopes

A

Arca da Leitura é um projeto de biblioteca móvel desenvolvido pela

Coordenadoria

de

Educação Prisional da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe)

que

tem

como

objetivo

estimular o hábito da leitura entre os internos dentro do bloco carcerário, possibilitando o contato com os livros e a ampliação do conhecimento das pessoas privadas de liberdade. O trabalho, iniciado em 2012 nos Centros de Recuperação I e II, do Complexo Penitenciário de Santa Isabel, na Região Metropolitana de Belém, conta hoje com 22 bibliotecas móveis na capital e em presídios de dez municípios do interior do estado. No projeto, uma estante móvel com 150 livros fica sob a responsabilidade de um interno, que leva o acervo até outros presos no bloco carcerário.

64 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


Revista AlÊm Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 65


Pensando em contribuir com novos horizontes e conhecimento para a população carcerária, o contador Messias Teodoro, 60 anos, procurou a Susipe e fez a doação voluntária de mais de 50 livros e 50 DVDs para que os internos possam ter contato com diversas obras literárias. “A leitura não pesa. Após ler um livro de 800 páginas você continua com o mesmo peso, mas com a cabeça diferente, mais leve e cheia de conhecimento. Com leitura as pessoas ganham consciência sobre suas atitudes e passam a tomar outra postura diante da vida. Percebem com mais clareza o que é certo e errado e procuram não fazer ao outro o que não gostaria que lhe fizessem”, diz. Dos livros doados ao acervo do projeto estão

Com leitura as pessoas ganham consciência sobre suas atitudes e passam a tomar outra postura diante da vida. Percebem com mais clareza o que é certo e errado e procuram não fazer ao outro o que não gostaria que lhe fizessem”

obras da literatura russa, de autores como Fiódor Dostoiévski e Nikolai Gogol, além de obras consagradas da literatura brasileira, entre elas “Grandes Sertões Veredas”, de

Disse Messias Teodoro, 60 anos, doador de livros.

João Guimarães Rosa, e ainda livros de Ariano Suassuna e Euclides da Cunha. Para o diretor de Reinserção Social da Susipe, Ivaldo

“Fazemos

a

seleção

dos

títulos

e

Capeloni, esta é uma excelente iniciativa para

distribuímos entre as casas penais que

que a sociedade participe de forma ativa na

atuam com o projeto, e cada unidade

reconstrução dos detentos. “Ficamos muito

tem o próprio acervo. Além de criarmos

felizes com esse tipo de iniciativa, que mostra

a oportunidade da leitura para estes

que muitas pessoas querem participar de

internos, damos treinamentos para que

forma ativa na recolocação e no incentivo à

possam servir de monitores aos internos

educação das pessoas que se encontram

que estão no regime fechado e não podem

privadas de liberdade”, analisa.

ir até a biblioteca”, explica a bibliotecária Sheila Cunha.

A seleção dos livros doados para o projeto

66 |

passa por triagem e catalogação feitas por

O projeto de biblioteca móvel está

uma bibliotecária que trabalha diretamente

presente em unidades prisionais de Belém,

com os acervos dos livros que são destinados

Marituba, Santa Izabel do Pará, Castanhal,

às bibliotecas das unidades prisionais. Após

Capanema, Salinópolis, Bragança, Cametá,

a seleção e classificação dos títulos, eles são

Mocajuba, Marabá, Itaituba, Paragominas

direcionados às casas penais participantes.

e Tomé-Açu. A iniciativa da doação deve

O acervo da Arca da Leitura conta hoje com

ampliar o universo de possibilidades da

mais de 20 mil livros didáticos e paradidáticos.

leitura aos detentos.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


SERVIÇO Quem quiser doar livros ao projeto Arca da Leitura pode procurar a Coordenadoria de Educação Prisional da Susipe, em Belém, na Rua dos Tamoios, 1.592, em Batista Campos, das 8h às 14h, de segunda a sextafeira, ou ligar para o telefone (91) 3239-4245.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 67


EDUCAÇÃO

NO PARÁ MAIS DE 50 DETENTOS SÃO APROVADOS NO ENEM 58% a mais que no ano passado

Por Laís Menezes

D

epois de atingir o maior

prisional atinge novo recorde,

educacionais com qualidades

número de participação

contabilizando 57 detentos

nas unidades penitenciárias.

nas provas do Enem

aprovados no Enem PPL

Sabemos

Privadas

2016. O número representa

ainda mais incluir internos em

de Liberdade (PPL) 2016,

aumento de 58% em relação às

atividades educacionais, por

levando 720 internos para as

aprovações do ano passado.

esta ser uma das formas de

para

Pessoas

salas de aula de presídios e

68 |

que

precisamos

reinserção social. É um grande

centrais de triagem da Região

“A cada aplicação do exame,

trabalho de todos que fazem

Metropolitana de Belém e do

superamos as expectativas.

a educação no cárcere”, diz a

interior do Estado nos dois

Isso comprova que estamos

coordenadora de Educação

dias de exame, a educação

fortalecendo

Prisional, Aline Mesquita.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

as

ações


Após

os

resultados,

os

O

Presídio

Estadual

detentos serão inscritos de

Metropolitano

acordo com a pontuação

em Marituba, foi a unidade

obtida no exame para uma

prisional com o maior número

vaga na universidade pelo

de aprovações, 13 no total. Em

Programa Universidade para

segundo lugar ficou a Central

Todos (ProUni), que oferece

de Triagem Metropolitana II

bolsas parciais ou integrais

(CTM II), em Ananindeua, com

na

para

seis detentos aprovados. No

pessoas de baixa renda ou do

interior do Estado, o Centro de

Sistema de Seleção Unificada

Recuperação Agrícola Silvio

(Sisu), que oferece bolsas

Hall de Moura (Crashm) e a

de estudo na rede pública.

Central de Triagem de Marabá

Eles também poderão usar

(Ctmab) foram as casas

o resultado da prova para

penais com o maior número

obter a certificação do ensino

de

médio.

internos em cada unidade.

rede

particular

aprovados,

I

(PEM

com

I),

três

Sala de aula no Presídio Estadual Metropolitano I (PEM I), em Marituba.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 69


Fiquei muito feliz quando soube que tinha sido aprovado. Agora minha expectativa é a classificação no Sisu. Eu me inscrevi para Saneamento Ambiental como primeira opção e Estatística como segunda. Tenho o sonho de fazer uma faculdade, e quem sabe será essa a minha oportunidade” Anseia o interno Diógenes Freitas, 35 anos

70 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


Eu lia muito, tinha conteúdo,

dei, além da criação de grupos de

mas não sabia como aplicar o

assistência para fazer a coleta e

conhecimento. Foi com esses

arrecadação alimentos que ainda

aulões que tive um norte para

podem ser aproveitados”.

fazer a prova. Os professores deram muitas dicas que foram

Também custodiado no CTM II,

essenciais, como analisar muito

o interno Diógenes Freitas, 35

bem o enunciado da questão

anos, participou do Enem. Foi

e fazer uma boa interpretação.

logo na primeira tentativa que

Eles explicaram que poderíamos

fez a pontuação mais alta entre

encontra as respostas, algumas

os aprovados da casa penal,

vezes, no próprio comando, e isso

totalizando 3.086 pontos na

aconteceu mesmo”, conta.

somatória das provas. “Comecei minha preparação intensiva dois

Maior nota da redação entre

meses antes do exame. Tenho

os

II,

facilidade na área de exatas, e

contabilizando 760 pontos, o

acho que isso contribuiu para a

interno afirmou que não sentiu

minha pontuação. Fiquei muito

dificuldade para desenvolver o

feliz quando soube que tinha

tema sobre as alternativas para

sido aprovado. Agora minha

a diminuição do desperdício de

expectativa é a classificação

alimentos no Brasil. “Nesses

no Sisu. Eu me inscrevi para

dois anos que estou aqui, tenho

Saneamento Ambiental como

praticado muito a leitura, e

primeira opção e Estatística como

isso me ajudou bastante na

segunda. Tenho o sonho de fazer

hora de fazer a redação. Nesse

uma faculdade, e quem sabe

tema abordei a trajetória dos

será essa a minha oportunidade”,

alimentos, que considerei o

anseia. Caso seja classificado

principal motivo do desperdício,

para o ensino superior, o interno,

no momento do transporte e

que cumpre o regime fechado,

distribuição. O empenho de todos

dependerá de autorização judicial

para evitar isso foi a solução que

para cursar a universidade.

aprovados

do

CTM

CONQUISTA Aprovado no Enem PPL e agora com a expectativa de ingressar no ensino superior pelo Sisu, o detento Nivaldo Barros, 48 anos, fez pela segunda vez o exame na casa penal (na primeira ele não foi aprovado). Durante a preparação para a prova, ele frequentou os aulões do Pro Paz ministrados na unidade e teve a ajuda de amigos e familiares que levavam material de estudo nas visitas. Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 71


RESULTADOS

EDUCAÇÃO DE PRESOS no Pará está acima da média nacional Por Giullianne Dias

O

percentual de detentos

de 2016, 20,18% dos presos

está livre, mas principalmente

que estão dentro da

custodiados no Pará estavam

para quem está privado da

sala de aula, no Pará,

envolvidos em alguma atividade

liberdade.

é quase duas vezes maior do

educacional. Em um ano, o

a

que o índice nacional, que é de

número de alunos cresceu 50%

reinserção social do indivíduo

12,8%, segundo levantamento

nos presídios paraenses.

privado de liberdade ao meio

do Departamento Penitenciário

72 |

“A

principal

educação ferramenta

é de

social. É só por ela que é

Nacional (Depen). Dados da

Para

de

possível pensar num novo

Superintendência do Sistema

Educação Prisional da Susipe,

horizonte, após o tempo de

Penitenciário do Estado (Susipe)

Aline Mesquita, a educação é

cumprimento

apontam que em dezembro

fundamental não só para quem

cárcere”, diz.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

a

coordenadora

da

pena

no


Revista AlÊm Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 73


Segundo a Lei 12.433, de 2011, os

quem está privado de liberdade”, explica.

detentos têm o direito de reduzir a pena

“Hoje já ofertamos uma série de cursos

frequentando aulas regulares dentro da

profissionalizantes, por meio do Projeto

prisão. A cada 12 horas de frequência

de Capacitação Profissional (Procap)

escolar, reduz-se um dia de pena a cumprir.

e do Programa Nacional de Acesso ao

O Estado tem a obrigação de garantir a

Ensino Técnico e Emprego (Pronatec),

assistência à educação dos detentos.

do governo federal que capacitam

No Pará, das 44 unidades prisionais do

esses internos para o mercado de

Estado, 33 contam com salas de aula. De

trabalho. Em 2016, mais de dois mil

acordo com a Coordenação de Educação

detentos foram certificados em cursos

Prisional da Susipe, em 2016, 3.002

profissionalizantes. O estudo é, portanto,

internos terminaram o ano regularmente

uma excelente oportunidade de geração

matriculados. No mesmo período de

de emprego e renda para a população

2015, esse número era de 2.084 alunos

carcerária”, avalia Capeloni.

nas penitenciárias estaduais. Atualmente,

dos

14.876

detentos

“Tivemos o crescimento notável de quase

custodiados pela Susipe, 1.157 participam

50% no número de detentos em sala de

da educação formal (alfabetização,

aula. Além dos ensinos fundamental

ensino fundamental, médio e superior);

e médio, os detentos têm a chance de

1.578

cursar ainda o ensino profissionalizante

complementares (cursos livres, aulas de

e também o superior, fora da prisão,

dança, aulas de violão, entre outros) e

com autorização da Justiça. Hoje temos

267 fazem os cursos profissionalizantes

15 detentos que já cursam faculdade.

(cursos voltas pra formação profissional,

Nosso trabalho é garantir o acesso à

como: mecânica de motos, pedreiro,

educação do maior número possível de

alvenaria e panificação, entre outros).

participam

de

atividades

reeducandos”, destaca Aline. No Pará, as aulas do ano letivo de 2016

74 |

O diretor de Reinserção Social da Susipe,

nos presídios de todo o Estado seguem até

Ivaldo Capeloni, explica que como

março. “Com esforço e confiança a meta de

muitos detentos já passaram da idade de

universalização do ensino no sistema prisional

conclusão dos estudos, é necessário dar-

do Pará está sendo cumprida. Esperamos

lhes motivação para incentivá-los a voltar

em 2017, aumentar ainda mais o número de

para a sala de aula. “A educação formal

detentos em sala de aula e com isso contribuir

está atrelada à educação informal, então

de forma efetiva para a reinserção social dos

estamos sempre buscando uma forma

reeducandos no mercado de trabalho”, finaliza

de tornar o ensino mais interessante para

Ivaldo Capeloni.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


A educação formal está atrelada à educação informal, então estamos sempre buscando uma forma de tornar o ensino mais interessante para quem está privado de liberdade” Expica Ivaldo Capeloni, diretor de Reinserção Social da Susipe

Em 2016, mais de dois mil detentos foram certificados em cursos profissionalizantes.

“Tivemos o crescimento notável de quase 50% no número de detentos em sala de aula. Além dos ensinos fundamental e médio, os detentos têm a chance de cursar ainda o ensino profissionalizante e também o superior, fora da prisão, com autorização da Justiça. Hoje temos 15 detentos que já cursam faculdade. Nosso trabalho é garantir o acesso à educação do maior número possível de reeducandos. Destaca Aline Mesquita coordenadora de Educação Prisional da Susipe.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 75


ESPECIAL MULHER

Detentas realizam o sonho da

MATERNIDADE dentro do cárcere

Por Giullianne Dias

C

arla Maiara Gomes, 25 anos, acabou de dar à luz ao pequeno Kelvin. Cumprindo

pena por tráfico de drogas no Centro de Reeducação Feminino (CRF), em Ananindeua, Região Metropolitana de Belém, ela viu a vida começar a mudar quando descobriu que estava grávida. A detenta foi transferida para a Unidade MaternoInfantil (UMI) da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe), espaço de acolhimento criado em março de 2013 para dar às mulheres presas condições de terem o acompanhamento prénatal durante a gestação e poder ficar ao lado da criança até ela fazer um ano de idade.

76 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


“Já tenho outros filhos, mas este é o primeiro que nasce dentro do presídio. No começo tive muito medo, não imaginava como ia fazer para cuidar do meu filho. Até o dia em que conheci a UMI. Fiquei mais tranquila, porque vi que é um espaço bom para o bebê ficar, pelo menos por um tempo, até ele ir embora para casa” Diz a detenta Carla Maiara Gomes, 25 anos

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 77


Já tenho outros filhos, mas este é o primeiro que nasce dentro do presídio. No começo tive muito medo, não imaginava como ia fazer para cuidar do meu filho. Até o dia em que conheci a UMI. Fiquei mais tranquila, porque vi que é um espaço bom para o bebê ficar, pel menos por um tempo, até ele ir embora para casa” Diz a detenta Carla Maiara Gomes, 25 anos

FAMILIARIZAÇÃO

78 |

As detentas são acompanhadas desde o pré-

“Todo mês é feito o mesário do bebê, e quando

natal. Elas fazem todos os exames comuns

ele completa um ano fazemos o aniversário

a qualquer mulher grávida, para monitorar

e convidamos os avós e o pai. Quando vai

qualquer tipo de risco ao bebê. “Elas têm uma

se aproximando o desligamento da criança

caderneta, com todo o acompanhamento

da mãe, pedimos que a pessoa que vai ficar

da gestação, até o bebê nascer”, explica a

responsável passe a frequentar mais o

diretora do CRF. Quando completam um ano,

espaço, para fazer a familiarização e também

as crianças são entregues para as famílias das

para aprender as necessidades do bebê”, diz

detentas ou para os pais.

Carmem Botelho.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


m s

lo r

Todos os cuidados necessários com os bebês são de responsabilidade das próprias mães. Elas dão comida e banho e trocam as roupas e fraldas dos filhos. Antes das crianças nascerem, elas ocupam o tempo fazendo cursos de artesanato e corte-costura. “Aqui a gente aprende a cuidar dos nossos filhos. Lá fora tem família para ajudar, mas aqui a gente precisa aprender a se virar. Aprendemos a fazer massagens no bebê, quando eles tiverem cólica, por exemplo, e também a amamentar”, conta a interna Carla Gomes.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 79


SAÚDE

Pará é o único estado a instituir Dia D de combate à tuberculose nos presídios Por Aline Saavedra

N

o Brasil, a cada ano

Penitenciário

Estado

de detenção da capital e do

são

(Susipe) realizou uma palestra

interior, a Susipe vem atuando

70

com os servidores do órgão

na

mil novos casos de tuberculose,

sobre a doença, além de testes

alertando sobre a importância

de acordo com o Ministério da

rápidos de HIV.

do

notificados

aproximadamente

do

Saúde. São mais propensas à

80 |

doença

as

prevenção

da

diagnóstico

doença, precoce,

capacitando os profissionais da

populações

No Pará, em 2016, 219 detentos

área da saúde e conscientizando

indígenas, moradores de rua,

custodiados pela Susipe foram

os internos sobre a importância

portadores de HIV e pessoas

diagnosticados com a doença

de manter o uso das medicações

privadas de liberdade. Nesta

nos presídios paraenses. Nos

ao longo do tratamento. A meta é

sexta-feira, 24, Dia Mundial

dois primeiros meses de 2017,

reduzir o número de ocorrências

de Combate à Tuberculose, a

o número de casos registrados

da

Superintendência do Sistema

já chega a 28. Nos 45 centros

prisionais do Estado.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

doença

nas

unidades


Diagnóstico Tosse, febre, dor de cabeça e no corpo foram os sintomas que levaram o interno Eliezer Pereira da Silva, de 36 anos, a buscar os cuidados médicos do Centro de Recuperação do Coqueiro (CRC), onde cumpre pena. Eliezer nem desconfiava, mas estava com tuberculose, uma doença infecciosa crônica, que atinge principalmente o pulmão, causada pela bactéria Mycobacterium Tuberculosis. “Eu pensei que fosse uma virose, jamais desconfiava que estava com tuberculose. Só depois que a ficha caiu. Na hora que eu soube, eu realmente fiquei com medo de que ela se agravasse mais e eu viesse a morrer”, relatou Eliezer. “Os medicamentos usados no tratamento são fornecidos pelas secretarias de saúde do município onde o paciente se encontra. Para quem está detido no interior, o exame é feito pelas secretarias de saúde local. Quando o caso é considerado mais grave, o interno é referendado para

No momento em que a pessoa chega às centrais de triagem já é feita uma avaliação, se houver suspeitas o exame é feito e, se confirmado, de imediato damos início ao tratamento. O processo de capacitação e a conscientização dos internos faz com que os profissionais da área da saúde reconheçam casos suspeitos e os internos busquem espontaneamente o médico. Se existem mais casos descobertos, com certeza são mais casos tratados e vidas salvas” Explica Adriana Silva, titular em exercício da DAB Susipe

atendimento com um especialista na rede externa de atendimento”, explica Adriana Silva, titular em exercício da Diretoria de Assistência Biopsicossocial (DAB) da Susipe. Durante o tratamento, o detento é acompanhado semanalmente pela equipe médica para verificar se houve incompatibilidade com a medicação, se caracteriza outro tipo de tuberculose ou se há a multirresistência da bactéria, quando neste caso a medicação é feita todos

PORTARIA DA SUSIPE INSTITUI ATIVIDADES EDUCATIVAS E DE PREVENÇÃO DA DOENÇA A portaria de número 762 de 2016 da Susipe institui o dia 15 de dezembro como o Dia “D” de Combate à Tuberculose no âmbito do sistema penitenciário, tornando o estado, a única unidade federativa que tem um dia alusivo ao combate da doença nos presídios do país.

os dias de forma endovenosa.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 81


ORGÂNICOS

PROJETO VEM PRA FEIRA

comercializa produtos cultivados por detentos Por Timóteo Lopes

O

projeto “Vem pra Feira”, realizado pela Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe),

em parceria com o Pro Goeldi, atraiu diversos consumidores ao museu, em busca de produtos naturais (orgânicos) cultivados por detentos na Colônia Penal Agrícola de Santa Izabel (CPASI). Foram comercializadas hortaliças, frutas, farinha, tucupi e plantas ornamentais, além de utensílios de madeira e artesanato.

82 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


A geóloga Renata Veras aproveitou a oportunidade para fazer a feira da semana. “Eu já sabia do projeto porque eu sigo o Museu em uma rede social e vi na programação que teria a feirinha hoje. Como é perto de casa, eu aproveitei para dar um pulinho aqui. Eu sempre prefiro produtos naturais e no supermercado é difícil de encontrar”, destacou a geóloga, que já sabia que os produtos eram cultivados por detentos. “É um excelente projeto. Na prisão, eles passam a maior parte do tempo ociosos, então se tiver alguma coisa pra fazer é bem melhor. Os produtos são muito bons”, avaliou.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 83


O detento Jhonatan do Nascimento

suinocultura, palmípedes e fruticultura,

trabalha em um outro projeto firmado

tudo voltado para a agricultura familiar.

pela Susipe, que utiliza a mão de obra

Nós temos uma equipe de profissionais,

carcerária para gerar emprego e renda

com técnicos agrícolas e engenheiros

aos internos. Mas, nos dias de feira

agrônomos

no museu, ele ajuda na venda dos

conhecimento aos internos e com isso

produtos e aproveita a oportunidade

eles já saem capacitados. As feiras

para rever a família.

no museu deram mais visibilidade ao

que

transmitem

seu

projeto. Estamos um sábado por mês “Eu trabalhava no projeto do borboletário

aqui e o resultado está sendo muito

do Mangal, da Secult, e agora trabalho

positivo”, afirma Reinaldo Nascimento,

na Sesan, com a podagem de plantas

coordenador do Projeto Nascente.

ornamentais nas praças da cidade. Na minha folga, aos sábados, quando me convidam para vender os produtos na feira eu sempre venho. É bom pra gente sair um pouco do cárcere. Hoje, minha irmã veio me visitar e também aproveitou para fazer umas comprinhas”, contou Jhonatan. “É muito bom para eles participarem da venda dos produtos, para se distrair e ter contato com outras pessoas. Aqui, eles também explicam pra gente que os produtos são cultivados na colônia de forma natural e sem agrotóxicos”, destacou a dona de casa Cileide do Nascimento Brito, irmã de Jhonatan.

Para quem pratica atividades físicas em torno do museu, a feira é uma oportunidade

O “Vem pra Feira” é resultado do Projeto

também para comprar presentes. O

Nascente, que capacita os internos da

estudante Gabriel Pontes foi caminhar

CPASI no trabalho com a agricultura

no museu e comprou uma roseira para

familiar. Além de alimentos mais

a namorada. “Estávamos passando aqui

saudáveis, a feira também oferece

pela frente e nos convidaram para entrar

produtos em média 20% mais baratos

na feira. Achamos o local muito bonitinho.

em relação ao preço praticado nos

Aí como o aniversário dela está chegando,

supermercados da cidade.

aproveitei para comprar um presentinho”, disse o estudante. “Eu adorei a roseira. Mas

“Toda nossa produção é livre de

esse é só o presente de aniversário, ainda

agrotóxicos.

falta o de namoro”, brincou a namorada, a

Na

CPASI,

hoje,

40

detentos trabalham com horticultura,

84 |

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

estudante Mahely Silva.


Equipe organizadora do projeto Vem pra feira no Museu Emílio Goeldi em Belém

Eu trabalhava no projeto do borboletário do Mangal, da Secult, e agora trabalho na Sesan, com a podagem de plantas ornamentais nas praças da cidade. Na minha folga, aos sábados, quando me convidam para vender os produtos na feira eu sempre venho. É bom pra gente sair um pouco do cárcere. Hoje, minha irmã veio me visitar e também aproveitou para fazer umas comprinhas” Contou Jhonatan do Nascimento

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 85


86 |

Revista AlÊm Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


Revista AlÊm Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 87


INCLUSÃO SOCIAL

PROGRAMA CREDCIDADÃO oferece crédito a ex-detentos

Por Guillianne Dias

O

CredCidadão,

quem tem pouco ou nenhum recurso

do governo do Estado -

para investir. Foi o caso de João Paulo

que abre linha de crédito

Pimentel, de 33 anos. Ele passou

microeempreendedores

e

mais de 10 anos no cárcere. Quando

passou a atender egressos da

saiu, encontrou algumas dificuldades

Superintendência

Sistema

até conseguir abrir o próprio negócio.

Penitenciário do Estado (Susipe)

“Logo que saí do presídio comecei a

desde junho deste ano - fechou

vender cosméticos. Mas ainda era

o ano com um balanço de R$ 34

algo muito pequeno para sustentar,

mil já disponibilizados para os

minha esposa, minhas 2 filhas e eu. Eu

ex-detentos. Os recursos foram

vivia agoniado e cheio de dívidas. Até

investidos em pelo menos oito tipos

as parcelas da minha casa atrasaram

de empreendimentos.

e eu fiquei com muito medo de perder

para

programa

do

a minha morada. Foi quando um

88 |

O CredCidadão estabelece linhas de

amigo me falou sobre o Credcidadão

microcrédito com baixo custo para

e eu fui atrás”, conta João Paulo.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


Revista AlÊm Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 89


Fôlego Para ele, o programa possibilitou

empreendedor começou ainda

uma mudança de vida e ainda

no presídio, em 2008. “Quando

permitiu que ele ajudasse outras

eu saí, em 2012, já tinha tudo

pessoas. “O pouco que eu tinha,

planejado, como eu ia fazer. Os

hoje se transformou em muito pra

dois primeiros anos foram muito

mim. Com o dinheiro, eu consegui

difíceis. Eu queria montar um lava

abrir um mercadinho. Agora eu

jato e comecei com apenas uma

consigo pagar minhas contas e

mangueira, lavando carros na

ainda sobra. Nesse final de ano,

frente da minha casa. Passei por

por exemplo, eu fiz uma ceia na

muitas dificuldades, mas consegui

minha casa e fiz outra no meio da

o que eu tenho hoje”.

rua, para quem quisesse participar. Não cobrei nada de ninguém. Era

Celso disse que descobriu o

só uma forma de ajudar, pois eu sei

crédito

que aqui no meu bairro tem muita

acaso, através de um funcionário

gente que não tem condições. Eu

do sistema penitenciário. Hoje

também doei brinquedos e lanches

agradece à Susipe por ter tido

para crianças carentes e fiz uma

essa oportunidade. “Eu nunca

ceia para moradores de rua. O

imaginava

pouco que eu tenho, eu consigo

cheguei. Descobri a linha de

ajudar as pessoas”.

crédito em uma das vezes que

do

Credcidadão

chegar

até

por

onde

fui à Susipe e uma pessoa me Ter o próprio negócio é o

orientou”.

sonho da grande maioria dos brasileiros. De acordo com uma

Celso já tinha planos de começar

pesquisa feita pela Amway Global

seu negócio dentro da igreja

Entrepreneurship Report, com 50

onde trabalhava. Lá havia quatro

mil entrevistados em 48 países,

terrenos e o cederam um para

82%

empreender

iniciar o lava-jato. Com o crédito,

um dia e 66% se consideram

comprou os materiais necessários.

aptos para o desafio. No resto

“Posso dizer que isso tudo foi uma

do mundo esses percentuais

renovação na minha vida. Assim

são bem menores: 56% e 46%,

como me ajudaram, agora ajudo

respectivamente.

outras pessoas”. Com Celso, 18

desejavam

egressos já vêm trabalhando.

90 |

Para Celso Fernandes, de 42

“Tenho certeza que todos também

anos, o sonho de se tornar

têm chance de crescer na vida”.

Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


Oportunidades De acordo com a diretora do CredCidadão,

Tetê

Santos,

dar

acesso a pessoas em situação de risco é um trabalho de resgate social. “É muito importante que os egressos também tenham acesso ao crédito. Essa é uma oportunidade de retomar a vida através de um negócio próprio, fazendo com que eles se integrem à família novamente e também gerem renda, melhorando a suas condições financeiras”. Avaliando

como

muito

boa

a

parceria entre o Credcidadão e a Susipe, a diretora do CredCidadão quer estender o programa a outros municípios”. Para a responsável pela Coordenação de Assistência ao Egresso e Família (CAEF) da Susipe, Neide Azevedo, que faz o cadastro dos internos e famílias para os programas de apoio ao egresso, o crédito possibilita uma grande mudança de vida. “ É uma transformação de vida. A saída do cárcere esbarra em vários

“Quando eu saí, em 2012, já tinha tudo planejado, como eu ia fazer. Os dois primeiros anos foram muito difíceis. Eu queria montar um lava jato e comecei com apenas uma mangueira, lavando carros na frente da minha casa. Passei por muitas dificuldades, mas consegui o que eu tenho hoje”.

tipos de preconceitos, e é muito difícil conseguir um emprego. Com esse crédito, eles se tornam donos do próprio negócio. Isso melhora até a autoestima dessas pessoas”.

Celso Fernandes, de 42 anos Revista Além Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017

| 91


2017

92 |

Revista AlÊm Muros - janeiro, fevereiro e março de 2017


Turn static files into dynamic content formats.

Create a flipbook
Issuu converts static files into: digital portfolios, online yearbooks, online catalogs, digital photo albums and more. Sign up and create your flipbook.