Contato, edição para setembro de 2017: Aprendendo e crescendo

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MUDE SUA VIDA.

O PRIMEIRO DIA Prepare-se para estar despreparado!

Nossa âncora aguenta

Uma constante na qual podemos depender

Você, eu e a mudança

Três dicas para lidar com as incertezas

MUDE O MUNDO.


Volume 18, Número 9

C O N TATO P E S S OA L Para aprender e crescer As crianças são aprendizes naturais. Contanto que suas necessidades básicas sejam atendidas, sua sede de novas informações e experiências é sem limites. Se estiverem felizes, tiverem coisas interessantes para fazer e lugares seguros para fazê-las, ainda melhor. A neurociência indica que 90% do desenvolvimento do cérebro da criança ocorre em um ritmo extremamente rápido nos cinco primeiros anos de vida. Absorve informações e habilidades a partir do que vê e ouve os outros fazerem e pelas próprias tentativas e erros. Cada cena, cheiro, som e sensação tem um impacto. Muito antes de colocar o pé em uma sala de aula, seus neurônios estão construindo redes, sua cognição está expandindo, as habilidades de linguagem estão se desenvolvendo e assim formam a base para vida de aprendizagem. Mas para muitos, essa torrente de aprendizagem se transforma em um fluxo suave e, eventualmente, um fio de água. A vida acontece. O estresse e as responsabilidades obscurecem nossas mentes, de forma que nosso crescimento e aprendizagem são relegados em favor de coisas que parecem mais importantes — ou mais urgentes. Gandhi disse: “Aprenda como se fosse viver para sempre.” Apesar de nosso tempo na Terra ser limitado, não devemos parar de crescer e aprender. Parte de encontrar e sustentar a felicidade é permanecer aberto às coisas novas, o que nem sempre é fácil. Alguns dos melhores momentos da vida giram em torno de aprender algo, por menor seja. Momentos “lâmpada acesa”, como Maria descreve em seu artigo nas páginas 4 a 6, podem melhorar incrivelmente nossas vidas físicas e o crescimento espiritual é capaz de renovar nossa visão e fé, como Joyce destaca nas páginas 8 e 9.

Contamos com uma grande variedade de livros, além de CDs, DVDs e outros recursos para alimentar sua alma, enlevar seu espírito, fortalecer seus laços familiares e proporcionar divertidos momentos de aprendizagem para os seus filhos. Para obter informações sobre a Contato e outros produtos criados para a sua inspiração, visite nossa página na internet ou contate um dos distribuidores abaixo.

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Samuel Keating Gentian Suçi

© 2017 Activated. Todos os direitos reservados. Impresso no Brasil. Tradução: Mário Sant'Ana e Tiago Sant'Ana.

Espero que você desfrute desses e de outros artigos nesta edição da Contato.

A menos que indicado o contrário, todas as referências às Escrituras foram extraídas da “Bíblia

Mário Sant’Ana Editor

Sagrada” — Tradução de João Ferreira de Almeida — Edição Contemporânea, Copyright © 1990, por Editora Vida.

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Há apenas uma fundação segura: um genuíno e profundo relacionamento com Jesus Cristo, que o guardará por toda e qualquer tribulação. Por mais violentas que sejam as tempestades, você permanecerá firme se você permanecer em Seu amor — Charles Stanley (n. 1932)

por Anna Perlini Quando meu pai me apresentou a 6ª sinfonia de Beethoven,1 sem dúvida estava tentando incutir em mim sua paixão pela música clássica. Eu era muito criança, mas ainda me lembro com grande clareza daquele dia. No início, a peça descrevia com sutileza um cenário bucólico, enquanto eu, feliz, brincava aos pés de meu pai. Quando passou a expressar uma mudança na paisagem dos céus como o aparecimento de nuvens, fiquei um pouco apreensiva e cheguei mais perto dele. Quando soaram os trovões, os relâmpagos surgiram e a sensação escalou para a de uma tempestade potente, grande e assustadora, corri para os braços 1. Escute a 6ª sinfonia de Beethoven online aqui: https://www.youtube.com /watch?v=LHmWoAj4al0. 2. http://www.perunmondomigliore.org/

de papai, que sussurrou para me tranquilizar: “Não se preocupe, filha. A tempestade vai passar. Vê? Já está acabando. A música está mudando.” De vez em quando, ouvíamos de novo a sinfonia — às vezes, porque eu pedia. Sorríamos e ríamos juntos quando a música voltava a nos evocar sensações bucólicas depois de um movimento mais turbulento. Com os anos, a garotinha cresceu e a sexta sinfonia de Beethoven perdeu espaço para muita música pop. Então chegaram as tempestades bem reais da vida. Durante um momento especialmente tumultuado, alguém me deu um CD dessa sinfonia e tudo se repetiu. Chorei quando vi que meu pai sabia todo o tempo o que me esperava: dias pacíficos, tempestades assustadoras e paz novamente. Era como se ele

quisesse me preparar para o que eu encontraria na vida. Os braços de meu Pai Celeste sempre foram muito reconfortantes e presentes, mesmo quando eu não tinha meu pai terreno por perto. Ambos me ajudaram a ficar firme e manter a esperança quando tudo ao meu redor era caos e confusão, porque nenhuma tempestade dura para sempre e muitas vezes são seguidas de céus ainda mais azuis do que antes. Ainda hoje, quando ouço essa obra em particular, derramo algumas lágrimas. Não há como evitar. É a música tema de minha vida. Anna Perlini é cofundadora da organização humanitária Per un Mondo Migliore 2, ativa na região da antiga Iugoslávia desde 1995.  ■ 3


Você está correndo atrás ou se antecipando? por Maria Fontaine, adaptação

Quase todo mundo é bem ocupado. Diariamente, temos mais no que pensar e cuidar do que cabe em um dia. Queremos estar no controle de nossas vidas, mas, pelo menos no meu caso, é difícil determinar prioridades entre o que quero e o que preciso, de forma que meus dias costumam ter mais atividades do que nele cabem. O problema não é apenas que minha lista de afazeres é excessivamente longa, mas preciso ser mais eficiente. Caso contrário, fico correndo atrás dos problemas, tentando ficar em dia com as coisas, em vez de ter uma vida mais gratificante como é possível, se estivermos em sincronia com Jesus. Cada um tem seu próprio conjunto de responsabilidades, desafios grandes, pequenos e um fluxo interminável de coisas a 4

serem feitas — as quais, se não tratadas adequadamente, muito facilmente se acumulam para formar situações estressantes de grandes proporções. Muitas vezes, quando as dificuldades se acumulavam e surgiam complicações imprevistas ou inesperadas relacionadas ao trabalho e à vida, eu caía em um ciclo descendente. Então, preferia ignorar as questões menos urgentes porque não me pareciam críticas naquele momento. Mas, quando menos percebia, um daqueles pequenos problemas que eu deixara de lado tinha se tornado algo muito maior, exigindo mais tempo e atenção. Minha reação natural então era tentar resolver o problema em suas novas dimensões, que, muitas vezes, produziam mais perdas e causavam mais danos,

tomando ainda mais tempo para chegar à solução. Nesse momento, eu repetia o erro de ignorar todos os outros pequenos problemas que, obviamente, continuavam surgindo durante a nova emergência. É um dilema de muitas pessoas atarefadas. Esse padrão de só enfrentar os problemas quando eles crescem, em vez de no início, pode parecer inevitável, mas não é. Não precisamos passar a vida correndo atrás, estressados, apagando incêndios e avassalados pela constante espiral de “dívidas com problemas”. Tenho estado mais atenta às situações enquanto ainda são pequenas e mais fáceis de administrar. Mudei meu modo de agir, meu estilo de trabalho e modo de viver para “evitar e prevenir”, em vez de estar constantemente


administrando crises. Isso é progresso. Foi preciso mudar em várias áreas e adotar nova mentalidade em relação a tudo no meu dia a dia. Exige esforço consciente enfrentar as questões conforme surgem, ou, ainda melhor, prever situações potenciais e estar preparada para cortar o mal pela raiz. Às vezes, falta-me autodisciplina. Não é fácil parar um trabalho ou interromper algo interessante, para cumprir a agenda. Estava de tal forma concentrada em uma coisa que deixava passar todas as outras que deveria fazer. No final, eu estava correndo para cuidar das outras coisas, o que gerava pressão e estresse. E essa pressão extra muitas vezes resultava em erros que demandavam ainda mais do meu tempo.

Percebi que precisava de lembretes. Orei e tive a ideia de usar um timer para saber que horas parar cada projeto e começar o seguinte. Sim, sei que é uma solução simples. Por que não pensei nisso antes? Bem, é impressionante como coisas simples bem à nossa frente podem passar despercebidas, até levarmos a sério o que precisamos mudar e orarmos sobre o que fazer. Usar bem o tempo não é o mesmo que se manter ocupado. Precisamos ter uma vida equilibrada, o que inclui momentos em que nos concentramos no trabalho e tempos de descontração e lazer para desanuviarmos a cabeça das obrigações do dia a dia. Eu tinha o hábito, por exemplo, de continuar trabalhando à noite até a

hora de deitar, mas vi que isso era ineficiente. O trabalho realizado tarde da noite não era produtivo e exigia, no mínimo, o mesmo esforço do feito em outras horas. Eu precisava investir tempo em relaxar para deixar de “correr atrás” do problema de não dormir o suficiente. Trabalhar até a hora de deitar me deixava com a mente tão ocupada que me deixava com insônia, o que me custava uma ou duas horas de sono. Investir tempo para relaxar antes de me deitar melhorou várias questões de saúde que só estavam piorando pela falta de sono. Relaxar antes de deitar para dormir é essencial para um sono de qualidade, que, por sua vez, é fundamental para a saúde física, mental e espiritual. Ficar pensando no trabalho até a hora de 5


dormir nos impede de descansar adequadamente e as horas de sono não têm o mesmo efeito restaurador. Esse princípio de evitar problemas, grandes e pequenos é importante para todos em todos os aspectos da vida. Seus resultados se manifestam na produtividade, finanças, segurança, saúde, testemunho e paz de espírito. Li um bom artigo1 sobre como problemas pequenos podem ganhar grandes proporções se não lidarmos com eles. O texto gira em torno de um casal que admitia a necessidade de passar tempo em família, mas que não conseguia encaixar, no 1. Ver https://well.blogs.nytimes.com /2016/03/10/how-asking-5-questions -allowed-me-to-eat-dinner-with-my -kids/?_r=0. 6

seu horário, um jantar harmonioso com os filhos. No final, ambos estavam diante de um volume crescente de complicações que começavam a se acumular no início do seu dia de trabalho e cresciam até fazer com que fosse quase impossível para as pessoas chegarem em casa a tempo para jantar juntos. Sabiam que estavam perdendo a oportunidade preciosa de passar esse tempo com os filhos. A solução foi chegarem à raiz do problema e evitá-lo. Ironicamente, foi algo que nunca imaginaram. Uma pequena falta de previsão estava causando uma reação em cadeia durante seus dias que os forrados de afazeres e sempre correndo atrás do prejuízo. Depois que pararam para ver a razão do problema, bastaram alguns simples

passos para evitá-los e alcançarem sua meta de suprirem o que a família precisava. Há muitos outros exemplos que eu poderia citar, mas imagino que vocês também tenham alguns de suas próprias experiências. Cultivar novos hábitos e fazer ajustes pode tornar o seu dia a dia muito mais produtivo, efetivo e menos estressante. Por que não fazer um balanço e listar as áreas em que poderia assumir as rédeas da situação para ter mais qualidade de vida, sem estresse e a frustração de viver correndo atrás dos problemas! Maria Fontaine e seu marido, Peter Amsterdam, são diretores de A Família Internacional, uma comunidade cristã.  ■


por Chris Mizrany

FAZENDO O BALANÇO

Não acho que a palavra “planilha” deixe ninguém emocionado ou jubilante, nem mesmo os maiores planejadores e os burocratas mais exímios e experientes. Entretanto, nesta semana precisei reconfigurar uma de nossas planilhas, à qual adicionei algumas funcionalidades, tais como a totalização automática das saídas de um mês, estoque remanescente, categorização de produtos, etc. Uau! Que emocionante! Travei uma batalha de quase uma hora para definir a fórmula principal. Para começar, algumas células simplesmente “se recusavam” a participar da equação, a categorização dos itens produzia somas divergentes e por aí vai! Por fim, tornei-me o orgulhoso criador de uma planilha mais completa e útil. E sabe o que aprendi nesse penoso processo? Só estará

certo se tudo estiver certo. Não adiantava uma fórmula quase certa, ou fazer gambiarras lógicas para chegar ao resultado que eu queria, mas bem que tentei! A bendita fórmula só funcionou quando todo o resto estava correto e em ordem. Aí sim, a coisa ficou bonita! Assim é a vida! Os elementos espirituais, físicos e emocionais precisam estar nos seus devidos lugares para que tudo funcione como tem que ser. Do contrário, não obteremos os resultados corretos. A única maneira de termos uma vida cheia de propósito é mantê-la em ordem. Descobri então, tarde demais, a vantagem de se manter uma lista de funções e fórmulas pré-definidas (aritméticas, lógicas, financeiras etc.) que possam ser aplicadas até mesmo por quem não entende muito de planilhas. E existe um Livro Excelente, repleto de conselhos e sabedoria

sobre vários tópicos (fé, tomada de decisões etc.), os quais podemos aplicar às nossas vidas. E ainda podemos ter um mentor paciente para nos ajudar com instruções pessoais e claras. É bom notar também que quanto mais estudamos e praticamos, mais bem preparados ficamos. Jamais terei de me debater de novo com uma folha de cálculo como fiz naquele dia. Aprendi e estou seguindo em frente. Talvez você sinta que precise fazer um balanço da sua vida, mas não sabe ao certo como ou o que fazer. Meu conselho? Não desperdice tempo e energia. Leia o Livro. Pergunte ao Mentor. Descubra da forma adequada. Chris Mizrany é web designer, fotógrafo e missionário na organização Helping Hand, Cidade do Cabo, África do Sul.  ■ 7


Superando obstAculos por Joyce Suttin As semanas anteriores haviam sido difíceis para mim e eu questionava a minha fé. Não duvidava de Deus, mas de quanta fé eu realmente tinha para enfrentar situações difíceis. O fato de estar envelhecendo também me preocupava e eu me censurava por estar ficando tão fragilizada e incapaz de acompanhar a geração mais nova. Por isso, fiquei agradecida quando minha filha, Madi, me convidou para escalar um lugar chamado Enchanted Rock (Rocha Encantada). Apesar de termos acordado cedo, não conseguimos chegar lá antes do amanhecer, como queríamos. No 1. Colossenses 1:27

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entanto, a manhã estava nublada, a temperatura ainda agradável e estávamos animadas quando começamos nossa escalada sobre os montes pedregosos. Tiramos fotos divertidas. Uma mostrava minha filha sentada no oco do que parecia uma enorme mão de pedra. Quando chegamos ao topo do segundo monte, Madi disse que tinha curiosidade de ver o que havia do outro lado, fora da trilha demarcada. Foi emocionante e estimulante encontrarmos nosso caminho por entre as formações rochosas e até nos espremermos em algumas passagens bem apertadas, procurando uma maneira de chegar ao vale, o qual parecia mais perto do que na realidade estava. O que aconteceu, então, foi de repente! Madi chegou a um declive acentuado, ao lado de uma parede

de rocha. Quando botou o pé nele, escorregou e deslizou para baixo por cerca de três metros no granito molhado, escorregadio como gelo. Ouvi o som do impacto quando ela caiu em cima de uma laje de rocha. Felizmente, ela conseguiu diminuir o impacto na parte superior do seu corpo, mas bateu o joelho com muita força na rocha. Apesar de ela não parar de dizer que estava bem, eu sabia que não estava. Do alto do declive, era possível ver seu joelho ficar roxo, inchar e eu sabia que tinha de ir até lá para conferir a situação. Achei que conseguiria descer com cuidado, mas, assim que botei o pé no declive escorregadio também caí, com força em cima da minha coxa e bati a cabeça. Ambas nos encontrávamos num lugar rochoso, sem como subir ou descer. Verificamos os machucados uma da outra e chegamos à conclusão de que o único jeito de sairmos daquela enrascada era escalando umas pedras enormes. Oramos pelo joelho de Madi e, milagrosamente, o inchaço parou. Então, vi-me diante de uma pedra da altura do meu ombro, na qual eu tinha de subir. Encontrei uma fresta


para colocar a mão, e com a ajuda de minha filha consegui me erguer e subir na rocha, para então, estender a mão para Madi fazer o mesmo. E assim fomos, uma ajudando a outra, pelas passagens apertadas e por grotões até chegarmos de volta ao topo do monte. Nessa altura, tínhamos quase esquecido as dores e comemoramos o fato de que estávamos bem e que nada de pior acontecera. Depois desse incidente, a percepção que eu tinha da minha fé mudou. Também percebi que sou muito mais forte do que achava. Uma pessoa fraca não teria se atrevido a subir aquelas

pedras. A força que senti naquele momento foi quase sobrenatural. Estava tão preocupada com minha filha e queria tanto ajudá-la a chegar a um lugar seguro, que eu sabia que era capaz de fazer qualquer coisa. Também senti a fé vencer o medo. Quando percebi que a única forma de sair dali era subindo, sabia que não podia deixar o medo me vencer. Tive de enfrentar minha fraqueza e torná-la em força; pedir que Deus me desse as forças que precisava. Um versículo que de uma forma especial

ganhou vida para mim naquele dia foi “Cristo em ti, a esperança da glória”1. Ele não é um Deus distante e, quando precisamos dEle, sentimos Seu poder em nós, capaz de superar qualquer dificuldade e obstáculo. Não precisamos nos preocupar com nossa fraqueza ou falta de fé. Suas forças estão em nós quando precisamos delas, para enfrentar quaisquer rochas ou lugares difíceis em que possamos nos encontrar. Joyce Suttin é professora aposentada e escritora. Vive em San Antonio, Texas.  ■

Todos que alcançam o sucesso em uma grande empreitada resolvem os problemas à medida que aparecem … Não param diante dos obstáculos que encontram. — W. Clement Stone (1902–2002) Para nossa fé ser fortalecida, não devemos nos esquivar das oportunidades em que ela será posta à prova, pois é pela provação que ela se tornará mais forte. — George Müller (1805–1898) Não lute com as próprias forças, mas lance-se aos pés do Senhor Jesus, confie que Ele está com você e trabalha a seu favor. Lute em oração, deixe a fé encher seu coração — então você será forte no Senhor e na força do Seu poder. — Andrew Murray (1828–1917) 9


O PRIMEIRO DIA por Elsa Sichrovsky

“Por mais que você se prepare — advertiu-me meu amigo — o primeiro dia na universidade será uma experiência tremenda.” Não entendia muito bem como algo tão inócuo como uma universidade poderia ter esse efeito, mas lhe garanti que eu tinha me dado bem no Ensino Médio e que não estava nem um pouco preocupada com o Superior. Assim que desembarquei na estação do metrô, parti cheia de firmeza, com o mapa do campus na mão, em direção à minha primeira aula. Eu não havia parado para entender o mapa nem dei muita atenção às placas indicativas, pelo que fiquei zanzando por duas horas em uma universidade que se gaba de ter 11 campi. Por fim, cheguei à minha classe, quinze minutos antes do fim da aula. Desanimada, fiquei ali sentada, lembrando das palavras do meu amigo. Depois de pedir informações a alguns estudantes, consegui localizar 10

a sala onde assistiria à próxima aula, minha primeira de um curso introdutório de linguística. Vi uma mulher sentada em um banco no lado de fora, vestindo camiseta e calça jeans e imaginei que fosse alguém da zeladoria do prédio. Ao entrar na sala, havia outra mulher que estava vestindo uma blusa, saia preta e salto alto, escrevendo no quadro. A professora, imaginei. Ela se dirigiu à turma fazendo um rápido teste oral e uma pesquisa. Então, a que eu vira lá fora abriu a porta e se apresentou: Professora Dra. Lee, uma eminente linguista. Em seguida, apresentou-nos sua assistente: a mulher de saia! Outras surpresas me aguardavam na aula seguinte, introdução à Literatura Ocidental. Atenta, anotei as datas, fatos e números, mas nada disso se mostrou de qualquer valor. No fim da primeira aula, encontreime em um grupo com dez pessoas que jamais vira, com a tarefa de

produzir uma peça completa, com trilha musical, figurino, palco, etc. — tudo em duas semanas! Obviamente, no fim do semestre, eu sabia onde ficavam os melhores recantos no campus para estudar, o grupo conseguiu apresentar a peça de teatro e aprendi que os professores podem se vestir como bem entenderem. Quando paro para lembrar, nostálgica, de minhas dificuldades iniciais no nível superior, sei que certamente não foram minhas últimas experiências de “novata”. Apesar de produzirem desconforto, situações assim podem me provocar a crescer em ousadia, se, no processo, eu aprender a operar sem minhas antigas redes de proteção e muletas. Melhor ainda, a maturidade adquirida ultrapassam as mancadas de caloura. Elsa Sichrovsky é escritora freelance. Vive com sua família em Taiwan.  ■


A perseveranca compensa por Jessica Roberts

Como pode atestar qualquer mãe que tentou fazer seu filho de dois anos ficar sentado até o fim de uma refeição, a concentração das crianças não dura muito tempo. Entretanto, há momentos na vida de cada criança em que o desejo inato de se desenvolver a leva a aprender uma habilidade, como apanhar um objeto pequeno com seus dedinhos roliços, engatinhar ou caminhar. Esses aprendizados requerem grande concentração, esforço e muito tempo, comparado ao pouco que ela já viveu. Também exigem bastante dos músculos que recém começaram a aprender a coordenar e que mal têm força para sustentar o peso da própria criança. Recentemente, quando me mudei para este país, passei por um período difícil de adaptação. Tentei me dedicar ao trabalho voluntário, mas senti que não estava me saindo muito bem. Em um determinado momento, por exemplo, envolvi-me em uma campanha para arrecadar

brinquedos e livros para crianças carentes, mas como o início foi fraco, desanimei e tive vontade de desistir. Um dia, eu brincava com Rafael, o bebê de uma colega, que tentava engatinhar fazia algum tempo. Apoiava-se nos braços trêmulos e conseguia ficar de quatro, mas não saía do lugar. Sobre as mãos e os joelhos rechonchudos, o garoto se balançava para frente e para trás, mas não avançava para chegar mais perto de um brinquedo que estivesse poucos centímetros de seu alcance. Em seus esforços, acabava se empurrando para trás, o que o deixava ainda mais longe de sua meta. Em dado momento, olhou para mim com uma carinha de quem pede: “Pegue-me no colo”. Eu podia me solidarizar com suas dificuldades, pois me sentia igualmente frustrada com a minha situação, mas sabia que todo aquele esforço estava fortalecendo seus músculos e lhe ensinando sobre seu corpo. Então o tomei nos braços, abracei-o,

procurei animá-lo um pouco, mas o recoloquei no chão. Ele tinha de aprender a engatinhar por si próprio, eu não podia fazer isso por ele. De repente, percebi a grande semelhança entre mim e aquela criança. Eu estava tentando me adaptar ao novo trabalho e entender a cultura deste país e minha reação natural tinha sido olhar para Jesus e dizer: Pegue-me no colo e me salve de tudo isto! Mas Ele sabia que aquele tempo de aprendizado, por mais difícil que fosse, me fortaleceria. Por isso, embora Seu amor estivesse sempre presente para me animar, eu deveria me esforçar e perseverar, como o filho de minha amiga. Rafael agora engatinha todo feliz para lá e para cá e está começando a tentar ficar de pé. Também estou dando meus primeiros passos no aprendizado de certas habilidades e expandindo meus horizontes. Sei que, logo, ambos estaremos de pé e correndo, se simplesmente continuarmos tentando.  ■ 11


VIDA LONGA COM JESUS por W.P. Schmidt

Meu pai viveu 101 anos e minha mãe, 99. Foram casados por 75 anos! Sobreviveram às duas Guerras Mundiais e tiveram nove filhos, dos quais, dois, os gêmeos, nascidos ao término da II Guerra Mundial, voltaram para o céu imediatamente após o parto. Tiveram também 19 netos e 19 bisnetos. Apesar do enfraquecimento do corpo provocado pela idade avançada, todos que os conheciam se impressionavam com a saúde que gozavam. Viviam em sua própria casa, com uma cuidadora, e meus irmãos e irmãs que faziam as compras, cuidavam do jardim, etc., até que se mudaram para um lar de idosos, onde passaram seus últimos meses. Eles tinham uma linda estátua de Maria, mãe de Jesus, encravada no muro da frente de sua casa, e na porta de entrada, meu pai, que era médico, colocou uma vara de Moisés com a serpente esculpida nela. Contrataram um artista que fez um mosaico de pedras coloridas na parede da varanda do quintal, retratando o primeiro milagre de Jesus, quando Ele 1. Provérbios 3:1–2 12

transformou a água em vinho. Meus pais costumavam tomar vinho cada noite. Viviam na melhor região vinícola ao longo do Reno. Eles iam até o produtor de vinho para comprar e degustar vinhos com seus amigos. Todos ganhavam uma pequena taça de vinho e diziam de que região e ano, que tipo de uva, etc, e falavam o máximo de detalhes que conseguiam adivinhar sem verem a etiqueta da garrafa. Quando meu pai se aposentou, começou a estudar história. Dizia que tinha de fazer algo para manter a mente funcionando. Como colecionava moedas e selos do Vaticano, resolveu estudar a história dos papas. Ele trabalhava cada dia no jardim para manter o corpo em movimento. Costumava dizer: “Se não fosse pelo meu jardim, eu já estaria morto faz tempo.” Minha mãe fazia caminhadas todos os dias apoiada em um andador e lia livros diariamente. Certa vez, uma amiga lhe perguntou: “Com uma família assim numerosa, a senhora deve encarar muitos


problemas. Como faz para lidar com eles?” Minha mãe respondeu: “Tenho uma cômoda em casa com uma gaveta que denomino ‘gaveta da tolerância’. Quando surge um problema, eu o coloco nessa gaveta e sigo com a minha vida.” Sua amiga disse: “Mas depois de um tempo essa gaveta fica cheia, não é? E aí, o que a senhora faz?” A resposta da minha mãe: “As coisas sempre se arranjam, o que abre espaço para outras.” Ela teve muito trabalho para criar sete filhos e lidar com as maluquices de cada um de nós, mas não consigo me lembrar de uma única vez em que tenha gritado conosco. As roupas iam passando de um para o outro e nunca desperdiçávamos comida. Meus pais sempre tiveram fé em Jesus, e tenho certeza que Ele os ajudou a sobreviver às guerras, dificuldades e privações. Meu pai sempre deu o mérito a Deus pela sua fé. “É tudo pela graça de Deus!”, dizia. Alguns anos atrás, perguntei-lhes se caso tivessem a oportunidade, se gostariam de mudar alguma coisa em suas vidas. Ambos responderam imediatamente, “Nada!” Ao que meu pai acrescentou, “Temos sete filhos e nos damos bem. O que mais poderíamos querer?” Meus pais amam crianças! Quando adotamos um bebê congolês

que tinha sido abandonado, aceitaram imediatamente e gostaram da ideia Eles se amavam muito. Seu último desejo na vida foi que, quando um partisse, o outro seguisse pouco depois. E foi exatamente o que aconteceu. Faleceram com uma diferença de três semanas. Também pediram que ninguém gastasse muito dinheiro com flores, mas que fizessem doações para um hospital em Belém e para nosso projeto no Congo, onde mantemos uma escola. Lembro que meu pai certa vez disse: “ Minha mala está pronta. Estou pronto para ir.” Apesar de não ter sido fácil para eles ver um de seus filhos se tornar missionário, depois de algum tempo estavam felizes com isso e me apoiaram no meu chamado. Com certeza as orações deles me ajudaram a sair de muitas situações complicadas. As pessoas se admiravam de como eles continuavam sorrindo e brincando o tempo todo. Meu pai adorava contar piadas, uma após a outra, mesmo se repetisse algumas. Afinal de contas, ele nasceu e vive em Mainz, cidade natal de Gutenberg e famosa na Alemanha pelo seu humor. Notei que nos últimos anos ficou difícil para ele vestir sua jaqueta, e quando fui tentar ajudá-lo ele disse, “Não, obrigado, preciso fazer isto sozinho.” A Bíblia diz: “Filho meu, não te esqueças do meu ensino, e o teu coração guarde os meus mandamentos, pois eles aumentarão os teus dias, e te acrescentarão anos de vida e prosperidade.”1 Isso certamente se cumpriu na vida de meus pais. W.P. Schmidt é missionário na Europa e na África. ■ 13


VOCÊ, EU, E MUDANÇAS por Marie Alvero

Mudar pode ser algo assustador. Até mesmo as melhores mudanças têm seus aspectos negativos, desdobramentos indesejáveis e as piores mudanças têm seu lado bom. Contudo, por mais que isso esteja claro para mim, ainda tenho dificuldades de aceitar esse fato em meu coração. Gostemos ou não de mudanças, o fato é que são inevitáveis. Em todo lugar, vamos encontrar as mudanças e elas nos encontrarão. Adoro rotinas e a previsibilidade. Contudo, descobri que as coisas mais significativas e satisfatórias da minha vida resultaram de mudanças. A excelência desenvolvida em um novo campo: o resultado de uma mudança drástica. Um casamento estável e cheio de realizações: o resultado de uma mudança de grande porte — sem falar das mudanças e ajustes contínuos dessa relação. A alegria de ser mãe: outra mudança. Amizades sinceras: geralmente nasceram de mudanças. Um estilo de vida saudável: sim, porque mudei. A verdade é que minha vida seria muito mais assustadora se eu não tivesse mudado ou continuado a mudar — potencial não desenvolvido, paixões não perseguidas, dons não descobertos, verdades não aprendidas. Aqui estão algumas dicas e truques para lidar com mudanças e com o desconhecido:

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Reformule a mudança: Com frequência, resisto à mudança ou a um possível desdobramento quando minha perspectiva da situação está errada, mas uma nova 1. Malaquias 3:6 14

abordagem pode fazer a diferença. Às vezes, esse novo olhar surge quando converso com alguém que tenha uma visão mais ampliada da situação, ou quando pesquiso e entendo melhor a mudança em questão. Em outras situações, apenas espero para ver como as coisas vão acontecer.

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Escolher mudar: Em vez de deixar a mudança ser algo estranho do qual procuro me esconder e resistir até não poder mais, busco a mudança. Assim como os atletas se preparam para uma maratona pelo treino e melhoria contínua de seu desempenho, posso me preparar para mudar praticando a mudança no meu dia a dia. Essas mudanças podem ser pequenas, como uma nova receita, uma nova rotina de exercícios físicos, um novo restaurante; ou mudanças maiores, como adotar um novo hobby, mudar de carreira ou começar amizades.

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Lembrar-me do que não muda: “Eu sou o Senhor e não mudo.”1 Mude o que mudar, para o bem ou para o mal, dentro ou fora do seu controle, a soberania de Deus não muda. Tempos de mudança e incertezas podem fortalecer sua fé e dependência do amor, desvelo e providência de Deus e isso é muito bom.

Marie Alvero foi missionária na África e no México. Vive atualmente com seu marido e filhos a Região Central do Texas, nos EUA.  ■


Nossa âncora aguenta por David Brandt Berg, adaptação

As mudanças nos aproximam de Deus. “Mudanças e decadência vejo ao meu redor, oh Tu que és imutável, habita comigo.”1 Tudo muda, exceto o Senhor. Ele é o único elemento constante. Uma das circunstâncias quando isso se torna muito evidente é quando mudamos de casa, de emprego e, especialmente, quando vamos para um novo país. Ficamos acostumados com nossas casas, coisas, amigos ou hábitos ou tendemos a confiar nessas coisas. Quando empresários, professores ou estudantes vão para países estrangeiros a trabalho ou em viagens de estudo, alguns vivenciam choques culturais, por estarem acostumados a ter tudo do mesmo jeito suas vidas inteiras: o mesmo idioma, os mesmos amigos, o mesmo 1. Extraído do hino Habita Comigo, de H. Lyte, escrito em 1847. 2. Hebreus 6:18–19 NTLH

lugar para morar. De repente, essas coisas não estão mais lá. Nós, cristãos, temos uma vantagem no que diz respeito à adaptação a mudanças, porque temos uma âncora que nos mantém firmes e seguros. Temos uma Rocha sempre firme e na qual podemos confiar. De certa forma, nossas vidas não mudam, porque confiamos em Deus. Nossa Rocha nos mantém seguros e protegidos todo o tempo, por mais que as ondas nos sacudam de um lado para o outro. Independentemente do que aconteça, aonde vamos, de onde vivamos ou das condições que nos encontremos, Deus permanece estável e sempre nos guardará. Por isso, podemos ter o maravilhoso sentimento de segurança, do qual não partilham os que não têm fé, por mais que vivam no mesmo lugar, façam sempre as mesmas coisas, frequentem a mesma escola, morem na mesma casa, tenham os mesmos

animais de estimação e os mesmos amigos. O sentimento de segurança pode ser interrompido em qualquer momento e se desmoronar quando qualquer uma dessas coisas nas quais se apoiam mudar. Entretanto, “nós, que encontramos segurança nele, nos sentimos muito encorajados a nos manter firmes na esperança que nos foi dada. Essa esperança mantém segura e firme a nossa vida, assim como a âncora mantém seguro o barco.”2  ■

Caso se sinta chacoalhado pelas ondas da vida, convide Jesus para ser sua âncora. Simplesmente, peça-Lhe: Querido Jesus, por favor, entre em minha vida e me dê a segurança e estabilidade que vem de conhecer Você — independentemente do que esteja acontecendo à minha volta. Amém. 15


Com amor, Jesus

ABRACANDO DESAFIOS É difícil mudar as coisas que se tornaram parte de você. Entretanto, quando começam a atrapalhar, precisam ser questionadas, combatidas e superadas. É o que torna a mudança em algo difícil, mas, ao mesmo tempo, em algo tão maravilhosamente desafiador: você está desafiando a natureza humana, os hábitos que o mantêm fazendo as coisas de uma certa maneira. Você está mudando o curso e seguindo em uma nova direção que vai produzir frutos e crescimento. Portanto, não sinta que não vale a pena abandonar velhas rotinas e antigos hábitos. É o que faz aflorar o lutador que existe em você, a ruptura com o rotineiro e com o que você se acostumou a acreditar serem elementos imutáveis da sua personalidade ou circunstâncias, a decisão de dar meia volta e seguir na direção oposta que o fará avançar. A determinação de romper as correntes dos maus hábitos e das rotinas podem fazer surgir o que há de melhor em você, pois faz com que você se torne maior que suas circunstâncias confortáveis e busque um novo caminho, um novo desafio na vida e a promessa de coisas melhores à frente.


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