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Vinhos & Gourmet
Exportações de vinhos portugueses continuam a crescer
As vendas de vinhos portugueses para o exterior ultrapassaram os 925 milhões de euros no ano passado, o que traduz um crescimento de 8,11% face ao período homólogo de 2020, de acordo com os números reportados pela ViniPortugal. Frederico Falcão, presidente do organismo, acredita que as exportações continuarão a crescer e avança algumas alterações na estratégia de promoção, face à atual insegurança no leste europeu.
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Texto Susana Marques smarques@ccile.org Fotos DR
AViniPortugal, Associação interprofissional do Vinho, que promove a imagem de Portugal enquanto produtor de vinhos, através da marca “Vinhos de Portugal/Wines of Portugal”, chegou a apontar o ano de 2022 como aquele em que as exportações de vinho português ultrapassaria pela primeira vez os mil milhões de euros, no entanto a guerra na ucrânia, obriga a rever a estratégia de promoção dos vinhos portugueses e abala o otimismo relativamente aos números. Portugal foi em 2021 o quinto fornecedor de vinho para o mercado russo, que apre sentava sucessivos crescimentos na importação de rótulos portugueses. Frederico Falcão, presidente da ViniPortugal, sublinha a representatividade deste mercado: “As exportações diretas para o mercado Russo atingiram os 10,98 milhões de euros em 2021(+34,50%), representando 1,19% das nossas exportações totais. No entanto, temos conhecimento que muita exportação para países periféricos da Rússia têm como destino final este último país. Estimamos que a Rússia importe anualmente, direta e indiretamente, cerca de 35 milhões de euros de vinho português. O Vinho do Porto, a região dos Vinhos Verdes e o Alentejo são as principais regiões exportadores para a Rússia, em exportação direta.” desconhecem-se ainda quais as implicações que a gerra na ucrânia terá no crescimento nas exportações do setor vinícola: “As exportações diretas para o mercado ucraniano atingiram os 3,3 milhões de euros em 2021, representando 0,36% das nossas exportações totais. Ainda estamos a analisar o impacto de queda dos dois mercados (russo e ucraniano). Antes desta situação a previsão era de crescimento entre 5-6%, sendo neste momento uma incógnita. tudo dependerá do impacto em outros países e do tempo de resolução do conflito.”
Recorde-se que as exportações de vinho português têm batido sucessivos recordes. de acordo com os dados divulgados pela ViniPortugal, “em 2021 registou-se um aumento de 8,11% em valor nas exportações comparativamente com o período homólogo de 2020, tendo ultrapassado os 925 milhões de euros”. Este valor corresponde a 328 milhões de litros de vinho, segundo informa o instituto do Vinho e da Vinha (iVV). A ViniPortugal salienta “o crescimento das exportações nos mercados dos Estados unidos da América (+13,08%), alemão (+13,46%) e brasileiro (+8,65%)”, em contraste com as quebras nos mercados angolano e sueco, que “registaram decréscimos de, respetivamente, -7,4% e -4,06%”.
Relativamente aos mercados que têm sido palco de ações de promoção da ViniPortugal, “a Polónia foi o país que registou um maior crescimento percentual, aumentando 19,54% no ano de 2021 (ultrapassando os 30,98 milhões de euros), seguida pela Alemanha que aumentou 13,46% (ultrapassando os 54,67 milhões de euros) e dinamarca, com um aumento de 6,68% (para os 22,97 milhões de euros)”. de realçar a recuperação das vendas para o mercado chinês: “Para a china foram exportados 14,27 milhões de
euros, um crescimento de 9,55% face a 2020 e uma recuperação, dado que em 2020 este mercado tinha decrescido”.
Frederico Falcão faz um balanço positivo do ano de 2021: “Estamos bastante satisfeitos com estes resultados. Este grande crescimento das vendas em valor (de 8,11%) quase duplicou o crescimento de 2020, com grande crescimento em novos mercados, mas também um grande crescimento das exportações para os nossos mercados tradicionais.”
A guerra na ucrânia obriga a uma revisão da estratégia de promoção para 2022, observa Frederico Falcão: “A ViniPortugal tinha previsto um orçamento total de 8,3 milhões de euros, com investimentos em 21 mercados, incluindo Portugal. A nova situação política e militar na Rússia e ucrânia impede-nos de realizar ações de promoção nesses dois mercados em 2022, pelo que iremos alocar as verbas previstas para estes dois mercados nos demais mercados do plano. Vamos reforçar o investimento em outros países, estando a avaliar as alternativas que temos ao dispor. Os mercados previstos são EuA, canadá, México, Brasil, Angola, china, Japão, coreia do Sul, Polónia, Alemanha, Suíça, Bélgica, Reino unido, Suécia, Noruega, dinamarca, Espanha e França.”
Em nota dirigida aos exportadores de vinhos de Portugal, a que a agência lusa teve acesso, o iVV indicava que os produtores, exportadores, associações interprofissionais e representativas e comissões vitivinícolas com ações promocionais previstas para este ano na Rússia e na ucrânia podem realocar esses investimentos noutros mercados, anunciou o instituto da Vinha e do Vinho: “Queremos ressalvar que estão, desde já, garantidas as condições para, em sede de pedido de modificação, todos os produtores, exportadores, associações interprofissionais e representativas e comissões vitivinícolas com ações promocionais previstas na Federação Russa e na ucrânia em 2022 poderem, em alternativa, realocar esses investimentos noutros mercados de países terceiros.”
O iVV compromete-se em “ facultar alternativas de investimento nos mercados, através dos apoios consubstanciados no Plano Nacional de Apoio ao Setor Vitivinícola (PNASV)”, acrescentando que no que se refere aos Planos de Promoção para Países terceiros, no âmbito das candidaturas submetidas ao Programa 1/22, foram contabilizadas atividades promocionais na Rússia e na ucrânia que totalizam “cerca de 1.150 milhões de euros de investimento”.
Entre as alternativas apontadas pelo iVV estão Brasil, EuA e canadá, que “continuam a demonstrar uma enorme abertura para as exportações nacionais” estão entre “os mercados prioritários para as exportações dos vinhos nacionais”, já que “têm ainda franco potencial de desenvolvimento”.
O iVV aponta para 2023 a meta dos mil milhões de euros: “O momento é difícil para a Europa e Portugal. Mas não nos fará desviar da rota do bom sucesso quanto aos objetivos estipulados pelo setor para as exportações nacionais, nomeadamente o de atingirmos em 2023 o valor total de 1.000 milhões de euros de exportações.” No período de janeiro a dezembro de 2021 foram exportados 328 milhões de litros de vinho no valor de 925,6 milhões de euros.
Superavit comercial do setor aumenta
Nas contas da consultora Informa D&B, as exportações do setor do vinho em Portugal atingiram os 930 milhões de euros em 2021, o que representa um crescimento de 8,6% face a 2020. Na análise setorial, divulgada em fevereiro, a consultora destaca que o superavit comercial do setor do vinho aumentou para os 770 milhões de euros, já que as importações desceram para os 163 milhões de euros, menos 1,8% que em 2020. Nas exportações, é de realçar o protagonismo dos vinhos licorosos, com um peso de aproximadamente 40% do valor das mesmas. Só o vinho do Porto representa 35% do total das exportações. A produção de vinho também aumentou na campanha 2021-2022 para os “7,3 milhões de hectolitros, mais 14,2% do que na campanha anterior, que tinha registado uma queda de cerca de 2%”. A consultora indica ainda que “as regiões do Douro/Porto e Lisboa são as mais importantes (20% do volume total cada uma delas), à frente do Alentejo (18%), Minho (13%), e Tejo e Beiras, ambas com 10%.” Em relação à distribuição geográfica dos produtores, “existe uma clara concentração na zona Norte, onde estão sediadas cerca de 43% do número total de empresas, seguindo-se a zona Centro (31%) e o Alentejo (14%)”. O estudo revela que “depois da tendência crescente registada entre 2017 e 2019, o número de empresas em atividade no setor do vinho baixou, situando-se nas 1 373 em 2020 (-1,1%)”. Neste setor, “predominam as empresas de pequena dimensão, mantendo-se o número médio de efetivos por empresa nas 7-8 pessoas desde 2014”. Em 2020, o setor empregava “cerca de 10800 trabalhadores”, o que traduz um recuo face a 2019.