Gentil Lopes - TEORIA DA RELATIVIDADE ONTOLOGICA E EPISTEMOLOGICA (Versão atualizada Fevereiro 2017)

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´ TEORIA DA RELATIVIDADE ONTOLOGICA E ´ EPISTEMOLOGICA Gentil, o iconoclasta

1a edi¸c˜ao

Boa Vista-RR Edi¸c˜ao do autor 2016


c 2016 Gentil Lopes da Silva Copyright

Todos os direitos reservados ao autor 1 ed. 2016 Site do autor → www.profgentil.com.br email → gentil.iconoclasta@gmail.com

Editora¸ c˜ ao eletrˆ onica e Diagrama¸ c˜ ao: Gentil Lopes da Silva Capa: Gentil Lopes da Silva

Ficha Catalogr´ afica S586d

Silva, Gentil Lopes da Teoria da Relatividade Ontol´ ogica e Epistemol´ ogica. / Gentil Lopes da Silva.-- 1.ed.− Boa Vista, 2016 x, 194 p. il. E-book [Pseud^ onimo: Gentil, o iconoclasta.] ISBN 978-85-63979-10-0 1. 3. 5.

Filosofia. 2. Matem´ atica. F´ ısica. 4. Consci^ encia. Gentil, o iconoclasta. I. T´ ıtulo.

CDU:511

(Ficha catalogr´afica elaborada por Bibliotec´ aria Zina Pinheiro CRB 11/611)

Na capa constam algumas pinturas do artista peruano Pablo Amaringo (1943-2009). Amaringo retrata em suas pinturas as viagens c´osmicas, os processos de cura, a fauna e flora amazˆ onicas e o cotidiano dos rituais de consagra¸c˜ ao da Ayahuasca − tamb´em conhecida como planta mestra ou planta professora.

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Pref´ acio 100 anos depois da Teoria da Relatividade Geral de Einstein, surge a nossa Teoria da Relatividade Ontol´ogica e Epistemol´ogica (TROE), a qual fundamentada em um u ´nico postulado afirma que tanto o existir quanto a verdade s˜ ao relativos a um referˆencial, a um observador. Em outras palavras, aqui defendemos a tese de que nada no Universo possui existˆencia absoluta, ou ainda: “nada existe por si mesmo”; tudo o que existe, reiteramos, existe em rela¸c˜ ao a um referˆencial. Ademais, n˜ ao existe uma verdade absoluta, de outro modo, “toda verdade guarda uma rela¸ca ˜o sensitiva ou racional com a inteligˆencia humana”. Uma cita¸c˜ ao famosa do fil´ osofo Immanuel Kant ´e: A realidade, tal como ela ´e, em sua essˆencia (noumeno) ´e incognosc´ıvel, ou seja, n˜ ao podemos conhecˆe-la. Portanto, jamais conhecemos as coisas em si (noumeno), mas somente tal como elas nos aparecem (fenˆ omenos). (Immanuel Kant/Cr´ıtica da Raz˜ao Pura)

Na TROE mostramos que o eminente fil´ osofo, neste curto enunciado, comete dois equ´ıvocos, primeiro, “n˜ ao existe uma realidade tal como ela ´e ”, isto ´e, independente de um observador; segundo, “n˜ ao existe uma ‘coisa em si’ dos objetos ”. Um outro tema de extrema relevˆancia para v´arias disciplinas cient´ıficas da atualidade (neurobiologia, filosofia, ciˆencias cognitivas, lingu´ıstica, inteligˆencia artificial, etc.) diz respeito `a Consciˆencia; aqui, atualmente, nos encontramos frente a uma verdadeira Torre de Babel, os pesquisadores n˜ ao se entendem, n˜ ao conseguem chegar a um denominador comum − por sinal, nem desconfiam de qual seja este denominador comum. Na TROE damos o diagn´ ostico (isto ´e, dizemos por quˆe os cientistas est˜ ao batendo a testa contra o muro) e apontamos um caminho promissor para o estudo da Consciˆencia. Muitas quest˜ oes filos´ oficas na f´ısica e na matem´ atica foram debeladas por uma simples mudan¸ca de perspectiva, isto ´e, a partir do momento em que algu´em decidiu olhar a mesma quest˜ao a partir de um novo ˆangulo; foi precisamente isto que fizemos com uma quest˜ao que tem desafiado grandes pensadores ao longo da hist´ oria da humanidade: a morte. Esta ´e uma outra quest˜ ao explorada dentro da teoria da relatividade ontol´ogica, no u ´ltimo cap´ıtulo do livro, “A morte ´e mais uma ilus˜ ao criada pela mente humana”, ao tem existˆ encia real, em si”. defendemos isto mesmo: que “a morte n˜ Depois de chegarmos a esta revolucion´ aria conclus˜ao nos deparamos na literatura com outros pesquisadores afirmando o mesmo, por exemplo, o cientista Robert Lanza, um respeitado pesquisador norte-americano, professor adjunto do Instituto Regenerativo de Medicina da Universidade de Wake Forest, na sua teoria do biocentrismo. Gentil, o iconoclasta Boa Vista-RR, 15 de novembro de 2016. 3


Tabela de C´ odigos Todo o universo atual da inform´ atica e computa¸c˜ao s´ o ´e poss´ıvel porque utilizamos dois s´ımbolos (estados) “0” e “1”. Por exemplo, veja como o teclado do seu computador − ou celular − ´e codificado. Caracter

C´ odigo

Caracter

C´ odigo

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00111100

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X

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Z

01011010

A seguir vemos o diagrama de blocos de uma calculadora. Entrada 7

8

9

4

5

6

1

2

3

+

0

Saida

CPU

Codificador

Teclado

ր

Decodificador

ր

00110001 00101011 00110010

00110011

Display

4


Sum´ario

1 Postulado, o germe de uma teoria 1.1 As bizarras consequˆencias de um postulado . . . . . . . . . . 1.2 A r´egua quˆantica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

9 18 21

2 Teoria da relatividade ontol´ ogica 2.1 O postulado da teoria da relatividade ontol´ogica 2.1.1 A estrutura cognitiva de referˆencia . . . . 2.1.2 Di´alogo entre Einstein e Tagore . . . . . . 2.2 Deus existe? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.3 O que existe? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2.4 O Nada: a massa de modelar do universo . . . .

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37 38 38 39 46 48 51

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3 Teoria da relatividade epistemol´ ogica 3.1 O postulado da teoria da relatividade epistemol´ogica 3.2 O que ´e a verdade? . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3.2.1 A epistemologia do Vazio . . . . . . . . . . . 3.3 O postulado de Nagarjuna . . . . . . . . . . . . . . . 3.4 A lei de Deus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . .

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67 68 73 74 78 83

4 Contributo ao enigma da Consciˆ encia 4.1 O mist´erio da consciˆencia . . . . . . . 4.2 Uma Prova do C´eu . . . . . . . . . . . 4.3 DMT-Ayahuasca . . . . . . . . . . . . 4.4 A filosofia da vacuidade . . . . . . . .

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101 103 104 105 114

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131 . 140 . 150 . 152 . 158 . 161

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5 A morte ´ e mais uma ilus˜ ao criada pela mente 5.1 . . . E no meio do caminho tinha uma pedra . . 5.2 O problema da indu¸c˜ ao vulgar . . . . . . . . . 5.3 Outros vision´ arios, ou loucos . . . . . . . . . . 5.4 Resumo do cap´ıtulo . . . . . . . . . . . . . . . 5.5 Conclus˜ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5

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6 A equa¸ c˜ ao que confundiu a mente dos mais brilhantes matem´ aticos por s´ eculos: (−1) · (−1) = 1 171 6.1 Como se resolveu um impasse de 1500 anos? . . . . . . . . . . 176 6.2 A ambiguidade do zero . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180 ´ necess´aria uma mudan¸ca de perspectiva . . . . . . . . . . . 183 6.3 E 6.3.1 Onde encontra-se o erro capital dos pensadores? . . . 184 6.3.2 Adendo: O efeito devastador de uma gaiola . . . . . . 186

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EP´ISTOLA PREAMBULAR (De Giordano Bruno) PARA O ILUSTR´ISSIMO SENHOR MICHEL DE CASTELNAU Se eu, ilustr´ıssimo Cavaleiro, manejasse o arado, apascentasse um rebanho, cultivasse uma horta, remendasse um fato, ningu´em faria caso de mim, raros me observariam, poucos me censurariam, e facilmente poderia agradar a todos. Mas, por eu ser delineador do campo da natureza, atento ao alimento da alma, ansioso da cultura do esp´ırito e estudioso da actividade do intelecto, eis que me amea¸ca quem se sente visado, me assalta quem se vˆe observado, me morde quem ´e atingido, me devora quem se sente descoberto. E n˜ ao ´e s´o um, n˜ ao s˜ao poucos, s˜ao muitos, s˜ao quase todos. Se quiserdes saber porque isto acontece, digo-vos que a raz˜ ao ´e que tudo me desagrada, que detesto o vulgo, a multid˜ao n˜ ao me contenta, e s´o uma coisa me fascina: aquela, em virtude da qual me sinto livre em sujei¸c˜ao, contente em pena, rico na indigˆencia e vivo na morte; em virtude da qual n˜ ao invejo aqueles que s˜ao servos na liberdade, que sentem pena no prazer, s˜ao pobres na riqueza e mortos em vida, pois que tˆem no pr´oprio corpo a cadeia que os acorrenta, no esp´ırito o inferno que os oprime, na alma o error que os adoenta, na mente o letargo que os mata, n˜ ao havendo magnanimidade que os redima, nem longanimidade que os eleve, nem esplendor que os abrilhante, nem ciˆencia que os avive. Da´ı, sucede que n˜ ao arredo o p´e do ´ arduo caminho, por cansado; nem retiro as m˜aos da obra que se me apresenta, por indolente; nem qual desesperado, viro as costas ao inimigo que se me op˜oe, nem como deslumbrado, desvio os olhos do divino objeto: no entanto, sinto-me geralmente reputado um sofista, que mais procura parecer subtil do que ser ver´ıdico; um ambicioso, que mais se esfor¸ca por suscitar nova e falsa seita do que por consolidar a antiga e verdadeira; um trapaceiro que procura o resplendor da gl´oria impingindo as trevas dos erros; um esp´ırito inquieto que subverte os edif´ıcios da boa disciplina, tornando-se maquinador de perversidade. Oxal´a, Senhor, que os santos numes afastem de mim todos aqueles que injustamente me odeiam; oxal´a que me seja sempre prop´ıcio o meu Deus; oxal´a que me sejam favor´aveis todos os governantes do nosso mundo; oxal´a que os astros me tratem tal como `a semente em rela¸ca˜o ao campo, e ao campo em rela¸ca˜o `a semente, de maneira que apare¸ca no mundo algum fruto u ´til e glorioso do meu labor, acordando o esp´ırito e abrindo o sentimento ` aqueles que n˜ ao tˆem luz de intelecto; pois, em verdade, eu n˜ ao me entrego a fantasias, e se erro, julgo n˜ ao errar intencionalmente; falando e escrevendo, n˜ ao disputo pelo amor da vit´oria em si mesma (pois que todas as reputa¸co˜es e vit´orias considero inimigas de Deus, abjectas e sem sombra de honra, se n˜ ao assentarem na verdade), mas por amor da verdadeira sapiˆencia e fervor da verdadeira ´ isto que ir˜ especula¸ca˜o me afadigo, me apoquento, me atormento. E ao comprovar os argumentos da demonstra¸ca˜o, baseados em racioc´ınios v´alidos que procedem de um ju´ızo recto, informado por imagens n˜ ao falsas, que, como verdadeiras embaixadoras, se desprendem das coisas da natureza e se tornam presentes `aqueles que as procuram, patentes ` aqueles que as miram, claras para todo aquele que as aprende, certas para todo aquele que as compreende. Apresento-vos agora a minha especula¸ca˜o acerca do infinito, do universo e dos mundos inumer´aveis. Excerto do livro: ACERCA DO INFINITO, DO UNIVERSO E DOS MUNDOS (Giordano Bruno). Giordano Bruno (1548-1600) foi queimado vivo em 1600 pelo Papa (Pont´ıfice) “representante m´ aximo de Deus sobre a Terra” .

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Cap´ıtulo

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Postulado, o germe de uma teoria Quando o esp´ırito se apresenta `a cultura cient´ıfica, nunca ´e jovem. Ali´as ´e bem velho, porque tem a idade de seus preconceitos. Aceder `a ciˆencia ´e e aceitar rejuvenescer espiritualmente, ´ uma brusca muta¸ c˜ ao que contradiz o passado. (Gaston Bachelard/grifo nosso)

Introdu¸ c˜ ao: Existem pensamentos que, aos meus ouvidos, soam como verdadeira ´ o caso deste do eminente Bachelard. S˜ poesia, proporcionam deleite. E ao pensamentos que conseguem encerrar − em curto espa¸co − uma alta densidade de ensinamentos, n˜ ao triviais. Na minha atividade de magist´erio tenho constatado quase que diariamente a veracidade e precis˜ao destas palavras. Apenas para contextualizar, ontem mesmo estava tentando ensinar a meus alunos o que ´e um n´ umero. A dificuldade − e que dificuldade! − se devia umero ao processo de ao arraigado preconceito de se vincular a ideia de n´ ´ grande o n´ contar e medir. E umero de preconceitos com que os alunos chegam `a Universidade, e isto torna-se um grande obst´ aculo ao aprendizado. Certa feita, ao iniciar o estudo de vetores, disse-lhes: esque¸cam tudo o que vocˆes sabem (ou pensam que sabem) sobre este assunto, pois isto ser´ a um obst´ aculo. Um outro ensinamento precioso − de ouro − ´e: “aquele que deseja ter acesso ` a ciˆencia deve estar preparado para aceitar uma brusca ´ com este esp´ırito que o leitor muta¸ ca ˜o que contradiz o passado”. E dever´ a adentrar ` as p´ aginas do presente livro.

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O que ´ e uma teoria? “A ciˆencia n˜ ao passa do bom senso exercitado e organizado” (Aldous Huxley) A Academia Nacional de Ciˆencias dos EUA define uma teoria como sendo “uma explica¸c˜ ao plaus´ıvel ou cientificamente aceit´avel, bem fundamentada, que explica algum aspecto do mundo natural. Um sistema organizado de conhecimento aceito que se aplica a uma variedade de circunstˆancias para explicar um conjunto espec´ıfico de fenˆomenos e predizer as caracter´ısticas de fenˆomenos ainda n˜ ao observados”. O dicion´ ario Michaelis On-line define teoria como sendo uma “hip´ otese j´a posta ` a prova, no mundo real, confirmada e, assim, aceita por cientistas orientados e experimentados no assunto; est´ a, por´em, sempre sujeita a modifica¸c˜ ao de acordo com novas descobertas”. Uma teoria cient´ıfica representa o conhecimento cient´ıfico tido como mais correto, e se comp˜ oe de hip´ oteses test´ aveis, e hip´ oteses que foram testadas, al´em de fatos que as evidenciam. As teorias n˜ ao s˜ ao transformadas nunca em leis ou verdades definitivas. Elas podem ser abandonadas ou aperfei¸coadas pelas evidˆencias descobertas pela investiga¸c˜ao cient´ıfica. Al´em disso, as teorias s˜ ao usadas para fazer previs˜ oes que mais tarde s˜ ao testadas ou investigadas em laborat´ orio ou na natureza, e que tamb´em servem para refutar as teorias ou aumentar a confian¸ca que temos nelas.

As teorias s˜ ao constitutivas tanto da matem´ atica quanto da f´ısica moderna, a seguir o cientista Stephen Hawking nos fala da importˆ ancia de uma teoria: N˜ ao h´ a, por´em, como discernir o que ´e real no universo sem uma teoria. Assumo por isso o ponto de vista, j´ a qualificado de simpl´ orio ou ingˆenuo, de que uma teoria da f´ısica ´e nada mais nada menos que um modelo matem´ atico que usamos para expressar os resultados de observa¸co ˜es. Uma teoria [verdade] ´e boa se for um modelo elegante, se descrever uma ampla classe de observa¸co ˜es, e se previr o resultado de novas observa¸co ˜es. N˜ ao faz sentido ir al´em disso, perguntando se ela corresponde ` a realidade, porque, independentemente de uma teoria, n˜ ao sabemos o que ´e realidade. (Stephen Hawking) Colocamos em destaque: Independentemente de uma teoria, n˜ ao sabemos o que ´ e realidade.

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O que ´ e um postulado? Para o objetivo que temos em vista neste livro ´e muito importante que o leitor entenda o que ´e um postulado, bem como qual o seu papel no desenvolvimento de uma teoria. Para fixar as ideias iniciemos por uma analogia bem elementar sobre o papel de um postulado. Um edif´ıcio ´e construido sobre uma base, uma funda¸c˜ ao, um alicerce. De modo similar, uma teoria cient´ıfica ´e construida sobre uma base, sobre um alicerce; este alicerce ´e o que denominamos de um postulado. Resumindo: Um postulado ´e o alicerce − ponto de partida − sobre o qual vamos construir uma certa teoria cient´ıfica. Apenas a t´ıtulo de exemplo, a geometria plana de Euclides fundamentase em cinco postulados, dentre eles: Postulado 1: Pode-se tra¸car uma reta ligando quaisquer dois pontos.

A

A

B

B

Postulado 5: “Por um ponto p exterior a uma reta r, considerados em um mesmo plano, existe uma u ´nica reta paralela `a reta r ”:

r

r sp

sp

Este u ´ltimo postulado ´e tamb´em conhecido como “o postulado das paralelas ”.

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A Teoria da Relatividade de Einstein est´ a fundamentada em dois postulados, quais sejam∗ : Postulado 1: As leis da f´ısica s˜ ao as mesmas em qualquer sistema † de referˆ encia inercial. Postulado 2: A velocidade da luz no v´ acuo ´ e sempre a mesma em qualquer sistema de referˆ encia inercial e n˜ ao depende da velocidade da fonte. Nota: Em realidade ´e imposs´ıvel encontrar um sistema de referˆencia inercial, posto que sempre h´ a algum tipo de for¸ca atuando sobre os corpos, mas sempre ´e poss´ıvel encontrar um sistema de referˆencia no qual o problema que estamos estudando se pode tratar como se estivessemos em um sistema inercial. Em muitos casos, supor um observador fixo na Terra ´e uma boa aproxima¸c˜ ao de um sistema inercial. Suponhamos um observador O fixo em rela¸c˜ao ao solo, e um vag˜ao movendo-se com velocidade constante v em rela¸c˜ao ao solo.

u

v ·

q O

·

Tanto o observador O como o pr´ oprio vag˜ao podem ser tomados como referˆenciais inerciais. Para o objetivo que temos em vista neste livro ´e de extrema importˆ ancia que o leitor compreenda bem o que ´e − e o que n˜ ao ´e − um postulado. A seguir tentaremos esmiu¸car o “alcance” de um postulado. Um postulado precisa ser evidente ou intuitivo? N˜ao, um postulado pode at´e mesmo ir de encontro ao senso comum; como ´e o caso do segundo postulado de Einstein, enunciado acima. A bem da verdade, ainda hoje em dia − decorrido mais de um s´eculo − encontramos f´ısicos que n˜ ao “engolem” este postulado de Einstein. ∗

Teoria da Relatividade Especial ou Restrita, publicada em em 1905. Registre-se tamb´em que, em 1915, Einstein publicou a Teoria da Relatividade Geral, uma generaliza¸c˜ ao da teoria anterior. † Referencial inercial ´e um sistema de referˆencia em que corpos livres (sem for¸cas aplicadas) n˜ ao tˆem o seu estado de movimento alterado, ou seja: corpos livres n˜ ao sofrem acelera¸c˜ oes quando n˜ ao h´ a for¸cas sendo exercidas. Tais sistemas ou est˜ ao parados ou em movimento retil´ıneo uniforme uns em rela¸c˜ ao aos outros.

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Um postulado ´ e verdadeiro? Um postulado n˜ ao ´e nem verdadeiro nem falso − se fosse, n˜ ao seria um postulado −. Ademais, nenhuma quantidade de “experimentos” (verifica¸c˜oes) ´e suficiente para validar um postulado, isto ´e, torn´ a-lo verdadeiro. Por exemplo, vou enunciar o seguinte postulado:

Amanh˜ a o sol nascer´a Perguntamos: Este postulado ´e verdadeiro ou falso? Respondemos: Esta afirma¸c˜ ao n˜ ao ´e nem verdadeira e nem falsa. Embora seja verdade que o sol tenha nascido milhares e milhares de vezes, n˜ ao podemos afirmar que amanh˜a suceder´ a o mesmo. Com efeito, podemos exibir in´ umeras raz˜ oes pelas quais isto poder´ a deixar de ser verdade, por exemplo, se um meteorito se chocar com a Terra arrancando-a de sua ´orbita. Qual a origem de um postulado? Um postulado cient´ıfico n˜ ao se origina de nenhum “livro supostamente sagrado” e n˜ ao ´e devido a nenhum “profeta supostamente iluminado”. Um postulado cient´ıfico se origina na mente de algum homem. Por exemplo, os postulados da geometria euclidiana se originaram na mente de Euclides; os postulados da Teoria da Relatividade de Einstein se originaram na mente de Einstein; os postulados da Teoria dos N´ umeros, na matem´ atica, se originaram na mente de algum matem´ atico, ´e simples assim. Somos obrigados a aceitar um postulado? Ningu´em ´e obrigado a aceitar qualquer postulado cient´ıfico, nem mesmo os da matem´ atica. Um postulado cient´ıfico n˜ ao apela para sua f´e, mas para sua raz˜ ao. Diferentemente dos postulados religiosos, um postulado cient´ıfico n˜ ao ´e aceito por causa da autoridade de quem o proferiu. Por exemplo, o segundo postulado de Einstein − enunciado anteriormente (p. 12) − a princ´ıpio foi questionado por uma plˆeiade de f´ısicos − e ainda ´e at´e hoje. Na constru¸c˜ ao de algumas teorias matem´ aticas n˜ ao ´e raro matem´ aticos rejeitarem postulados enunciados por outros matem´ aticos. 13


O que acontece se recusamos um dado postulado? Bem, se se trata de um postulado cient´ıfico n˜ ao acontece nada, por outro lado, se se trata de um postulado religioso vocˆe poder´ a ser perseguido∗ ou at´e mesmo ir para o inferno. A salva¸ca˜o s´o pode ser conseguida por meio dele, Jesus, pois n˜ ao h´ a no mundo inteiro nenhum outro que Deus tenha dado aos seres humanos por meio do qual possamos ser salvos. (Atos 4:12)

Postulado religioso: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ningu´em vem ao Pai, sen˜ ao por mim.”

Como dissemos, vocˆe ´e livre para aceitar ou n˜ ao um postulado cient´ıfico, caso vocˆe o rejeite a u ´nica coisa que acontece ´e que, por uma quest˜ao de coerˆencia, vocˆe deve ficar de fora da “brincadeira” (teoria). Vejamos uma analogia: as regras de um jogo qualquer (xadrez, futebol, basket, etc.) n˜ ao s˜ ao nem verdadeiras nem falsas, s˜ ao apenas postuladas, caso vocˆe n˜ ao aceite alguma das regras vocˆe fica de fora da brincadeira. Contextualizando, suponhamos que vocˆe n˜ ao concorda que no futebol o arremesso lateral deve ser cobrado com as m˜ aos, mas com os p´es. Neste caso vocˆe dever´ a criar um “novo jogo de futebol” para vocˆe, adotando seu novo postulado. Guardadas as devidas propor¸c˜oes ´e assim mesmo que acontece com alguns postulados da f´ısica e da matem´ atica, dando origem a v´arias Escolas nestas disciplinas; por exemplo, a matem´ atica, em seus fundamentos, dividese em v´arias Escolas: Logicismo, Intuicionismo (Construtivismo), Conjuntista, Formalismo, realismo matem´ atico, etc. Existe um eminente matem´ atico holandˆes − L.E.J Brouwer (1881-1966) − que rejeitou alguns postulados da matem´ atica cl´assica, e at´e da l´ogica aristot´elica; n˜ ao teve outra sa´ıda, teve que inventar uma l´ogica e uma matem´ atica para si mesmo, fundou uma nova Escola (Construtivismo). N˜ ao podemos ent˜ ao for¸car algu´em atrav´es da raz˜ ao a aceitar argumentos, que ele mesmo n˜ ao os tenha aceitado. “Tudo o que podemos fazer numa conversa¸ca ˜o na qual n˜ ao h´ a concordˆ ancia [. . . ] ´e seduzir nosso interlocutor a aceitar como v´ alidas as premissas b´ asicas que definem o dom´ınio no qual nosso argumento ´e operacionalmente v´ alido”. (Humberto Maturana)

Nota: “premissas b´ asicas ” equivale a postulados, em nosso contexto. ∗

Lembramos que o cientista Giordano Bruno (1548-1600) ao discordar de um postulado religioso foi queimado vivo em uma fogueira; Galileu ao negar o postulado de que o sol gira em torno da Terra foi preso e s´ o n˜ ao teve o mesmo fim tr´ agico de Giordano porque retratou-se de sua “heresia”. Ainda hoje, em nossos dias, o “rebelde” ´e punido.

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Os exemplos dados a seguir provam que os intr´epidos e audazes − diferentemente dos conformistas e pusilˆanimes − s˜ ao os que criam na matem´ atica, nas demais ´ areas n˜ ao deve ser muito diferente. At´e o in´ıcio do S´eculo XIX um dos postulados b´ asicos da matem´ atica era a comutatividade do produto de dois n´ umeros a e b quaisquer: a·b =b·a O matem´ atico irlandˆes William Rowan Hamilton (1805-1865) travou uma batalha psicol´ ogica contra este postulado por cerca de dez anos, por fim decidiu ignor´ a-lo, por conta deste seu ato de “rebeldia” criou uma nova esp´ecie de n´ umeros: os quaterni˜ oes∗ . Dois outros postulados da multiplica¸c˜ao num´erica eram a associatividade e distributividade (em rela¸c˜ ao `a adi¸c˜ao): a · (b · c) = (a · b) · c

a · (b + c) = a · b + a · c

e

Eu (Gentil, o iconoclasta) decidi desobedecer a estes dois postulados em seguida criei uma nova esp´ecie de n´ umeros a qual denominei: N´ umeros hipercomplexos 3D Nota: Alguns anos depois encontro na internet uma aplica¸c˜ao para estes n´ umeros na gera¸c˜ ao de fractais 3D, por exemplo:

Nota: Publiquei um artigo na internet − N´ umeros hipercomplexos 3D − cuja u ´ltima vers˜ ao foi datada em 18.05.2007, em abril de 2013 me deparo na internet com o artigo “Hypercomplex Fractals” do inglˆes Daniel White’s (publicado em novembro de 2007), no qual ele − de modo independente, creio − tamb´em cria os n´ umeros Hipercomplexos 3D e aplica-os na gera¸c˜ao dos fractais 3D. Digitando no youtube “fractais 3D” o leitor vai encontrar muitos v´ıdeos com anima¸c˜ ao. ∗

Onde n˜ ao vale a propriedade comutativa para a multiplica¸c˜ ao. Hoje os quaterni˜ oes possuem aplica¸c˜ oes em v´ arios ramos da ciˆencia: mecˆ anica, geometria, f´ısica matem´ atica, com grande relevo na anima¸c˜ ao em 3D e na rob´ otica.

15


A geometria euclidiana (a que se estuda nos n´ıveis fundamental e m´edio) reinou absoluta por mais de dois milˆenios at´e que em meados do s´eculo XIX alguns matem´ aticos decidiram questionar a legitimidade do 5o postulado de Euclides (p. 11), ao abandonar este postulado surgiram as assim chamadas geometrias n~ ao-euclidianas,

registramos que foi uma destas geometrias (n˜ ao-euclidianas) que Einstein adotou para desenvolver sua Teoria da Relatividade Geral. E a f´ısica do alto do seu pedestal? Poderia-se imaginar que a f´ısica por tratar da realidade (“realidade”) se colocaria ` a margem desta multiplicidade de interpreta¸co ˜es. Ledo engano, nem mesmo a f´ısica est´ a imune a dissidˆencias, se um f´ısico discorda de um postulado de uma dada teoria, ele substitui este postulado e desenvolve uma nova teoria; por exemplo, (apenas) a f´ısica quˆantica comporta muitas interpreta¸c˜ oes te´ oricas, veja: (1) Ondulat´ oria Realista. (2) Corpuscular Realista.

F´ısica Quˆantica

(3) Dualista Realista. (4) Dualista Fenomenalista. (5) Corpuscular Fenomenalista.

Nota: Alguns f´ısicos poderiam argumentar que a melhor teoria ´e sempre aquela que melhor se “harmoniza com a realidade”. Objetamos: isto seria verdade partindo-se do pressuposto que existe uma realidade independente, e se n˜ ao existe? Reveja Hawking, p. 10. Certamente, estou convidando a uma mudan¸ca da filosofia. Porque se a filosofia ´e feita na suposi¸ca ˜o de que pode fazer reflex˜ oes sobre uma realidade independente, est´ a desconhecendo o fenˆ omeno humano. (Humberto Maturana/neurobi´ologo chileno, cr´ıtico do realismo matem´atico)

16


Postulados religiosos Ora, se at´e a matem´ atica e a f´ısica est˜ ao sujeitas a esta “volatilidade” toda, o que dizer das religi˜ oes? Se as dissidˆencias na ciˆencia contam-se `as dezenas, nas religi˜ oes contam-se aos milhares. Um novo Deus Um dos postulados judaico-crist˜ ao ´e o de que Deus ´ e pessoal, isto ´e, possui atributos humanos tais como: Amor, Miseric´odia, Bondade, Ira, etc. Ap´os alguns anos de pesquisa e reflex˜oes − com liberdade de pensamento (isto ´e importante, decisivo) − fui for¸cado a rejeitar este postulado, com isto criei um novo Deus (concep¸c˜ao), que n˜ ao possui atributos humanos, nenhum sequer. (ver p. 80)

www.profgentil.com.br gentil.iconoclasta@gmail.com

17


1.1

As bizarras consequˆ encias de um postulado Tudo isso, que `a primeira vista parece excesso de irraz˜ao, na verdade ´e o efeito da finura e da extens˜ao do esp´ırito humano e o m´etodo para encontrar verdades at´e ent˜ ao desconhecidas. (Voltaire)

Introdu¸c˜ ao Em nossos dias somente um cientista ingˆenuo estaria em busca da verdade. Em particular, o matem´ atico se satisfaz apenas em “jogar o jogo”, ´e uma forma de arte. Um artista − poeta, pintor, escultor, m´ usico, etc. − n˜ ao est´ a preocupado se o que ele faz ´e ou n˜ ao verdadeiro, isto n˜ ao importa. ∗ ´ simples de entender : se uma teoria cient´ıfica est´ E a fundamentada em postulados e n˜ ao sendo estes verdadeiros, logo, tudo o que deriva de um postulado n˜ ao pode ser (absolutamente) verdadeiro. Nota: Se quisermos, alternativamente podemos dizer que um postulado ´e convencionalmente verdadeiro, o que significa que ele passa a ser verdadeiro somente para aquele grupo que adere ao postulado. Para aquele que rejeita um postulado, ele n˜ ao ´e verdadeiro, evidentemente. Isto acontece muito na f´ısica e na matem´ atica. Por outro lado, as religi˜ oes (“mestres”, “gurus”, “iluminados”, etc.) ainda insistem nas “verdades” porque elas podem ser vendidas aos incautos. Quantos “mestres”, quantas institui¸c˜oes n˜ ao sobrevivem na Terra `as custas de uma suposta verdade? Agora, a ciˆencia, os cientistas falam de buscar a verdade. Eu n˜ ao lhes disse isso. O que faz com que algu´em seja um cientista ´e a paix˜ ao pelo explicar, n˜ ao pelo buscar a verdade. Quando os cientistas falam de buscar a verdade, certamente est˜ ao na objetividade sem parˆenteses. Para mim a verdade n˜ ao interessa. E n˜ ao me interessa porque cada vez que se fala da verdade, o que se escuta ´e uma referˆencia a uma realidade independente do observador. E eu sei, por esta reflex˜ ao, que isto ´e uma suposi¸ca ˜o que n˜ ao tem fundamento. [. . . ] Certamente, toda afirma¸ca ˜o ´e v´ alida no dom´ınio de validade especificado pelas coerˆencias que a constituem.† . (p. 52) ∗

Nota: Quando argumento, via de regra tenho em mente a matem´ atica e a f´ısica, n˜ ao ´e dif´ıcil concluir que para as demais disciplinas cient´ıficas n˜ ao ´e muito diferente. † Maturana R., Humberto. Cogni¸c˜ ao, ciˆencia e vida. / Ed. UFMG, 2001.

18


Bom senso? . . . o que vem a ser bom senso? Uma vez abandonada a ilus˜ ao da verdade, existe uma outra ilus˜ ao − ao do bom t˜ao perniciosa quanto − que deve tamb´em ser rejeitada: a ilus˜ senso. Refiro-me ao bom senso na investiga¸c˜ao cient´ıfica, ou melhor: na aprecia¸c˜ ao dos resultados de uma pesquisa. Como j´a foi dito, vocˆe ´e livre para aceitar ou rejeitar qualquer postulado, agora supondo que vocˆe admita um dado postulado, vocˆe ter´ a que aceitar as consequˆencias deste postulado − por mais “absurdas” ou bizarras que sejam. Pelo ao menos ´e assim que se faz ciˆencia. Quando daqui pra frente me referir a algo “absurdo” (com ou sem aspas) ou bizarro, estarei me referindo a algo que fere o “bom senso”. Ou ainda, fere (insulta) o “senso comum” do leitor leigo, haja vista que matem´ aticos e f´ısicos lidam com estes “absurdos” com muita naturalidade − mas nem sempre foi assim, nos prim´ordios mesmo os cientistas ficavam embasbacados (incr´edulos) com certos resultados de suas pesquisas. O grande matem´ atico russo Georg Cantor ao se deparar certa feita com um resultado de suas pesquisas, exclamou: Eu vejo, mas n˜ ao acredito!. Com o objetivo de preparar o esp´ırito do leitor para os “absurdos” que advir˜ao da teoria da relatividade ontol´ ogica − a ser desenvolvida oportunamente − ´e que exibiremos alguns resultados bizarros, colhidos na f´ısica e na matem´ atica. Poderia optar por exemplos da f´ısica quˆantica, no entanto, vou me ater ` a teoria da relatividade de Einstein. ´ E importante que o leitor tenha em mente que os “absurdos” apresentados a seguir decorrem da admiss˜ao dos dois postulados apresentados na p´ agina 12. c~ ao do tempo 1 o ) Dilata¸ At´e o final do s´eculo XIX toda a humanidade, n˜ ao excetuando os cientistas Isaac Newton e Galileu, acreditava que o tempo transcorria da mesma forma para todos, indistintamente.

Veio Einstein e mudou esta cren¸ca arraigada, diz ele: um rel´ ogio parado e outro em movimento v˜ao marcar tempos diferentes. 19


2 o ) Contra¸ c~ ao do espa¸ co At´e o final do s´eculo XIX toda a humanidade, n˜ ao excetuando os cientistas Isaac Newton e Galileu, acreditava que o comprimento de um objeto era o mesmo independente se ele estava em repouso ou em movimento.

Veio Einstein e mudou esta cren¸ca arraigada, diz ele: um objeto em movimento tem seu comprimento diminuido! 3 o ) A bizarra adi¸ c~ ao de Einstein At´e o final do s´eculo XIX toda a humanidade, n˜ ao excetuando os cientistas Isaac Newton e Galileu, acreditava que sempre 1 + 1 = 2,

Contra¸ c~ ao da Aritm´ etica

1+1 < 2 V =

v+u 1 + v·u c2

veio Einstein e mudou esta cren¸ca arraigada, diz ele: “um mais um pode ser menor que dois”, isto ´e,

1+1<2 A isto se acrescenta que todo s´ımbolo ´e ambivalente e at´e mesmo polivalente, no sentido de que ele pode significar uma pluralidade de realidades diversas e mesmo contradit´ orias. (L´eon Bonaventure) Nota: Para a prova desta desigualdade veja p´ agina 35.

20


1.2

A r´ egua quˆ antica

Como dissemos, nosso objetivo neste cap´ıtulo ´e apenas preparar o esp´ırito do leitor para o que vir´a posteriormente, quando tratarmos da teoria da relatividade ontol´ ogica e epistemol´ ogica. Para mostrar que n˜ ao apenas a f´ısica mas tamb´em a matem´ atica insulta nosso senso comum, poderiamos exibir muitos exemplos de algumas ´areas da matem´ atica, no entanto, escolheremos apenas uma denominada topologia; ademais, estaremos transformando as f´ormulas em figuras, para que a exposi¸c˜ao seja acompanhada pelo leigo em matem´ atica. Medindo distˆ ancias Dados dois pontos em um plano, como a seguir, A

B

a matem´ atica admite n˜ ao apenas uma mas v´arias maneiras de se medir a distˆ ancia entre estes dois pontos. Apenas para contextualizar tentaremos convencer o leitor de que surgem de maneira natural diferentes modos de se medir a distˆ ancia entre estes pontos. De outro modo: em matem´ atica (e tamb´em na f´ısica) n˜ ao existe uma u ´nica maneira de se medir distˆ ancias. Em outras palavras, a r´egua vendida em nossas livrarias, ou as trenas vendidas em nosso com´ercio, n˜ ao s˜ ao os u ´nicos instrumentos de medida. Vejamos um exemplo trivial do nosso dia a dia: o t´ axi. Suponhamos que algu´em queira se deslocar (em um t´axi) do ponto A ao ponto B − separados por uma esquina − e que o ponto B esteja a uma distˆ ancia de quatro unidades para a direita e trˆes unidades abaixo do ponto A, assim: A

A

4

5

•B

3

•B

Pois bem, existem duas distˆ ancias entre os pontos A e B: a que ´e seguida pelo taxista, 4 + 3 = 7; e a que seria mais econˆ omica para o passageiro (“em linha reta”): 5. 21


Se o leitor refletir um pouco se dar´ a conta de que vez ou outra, mesmo numa simples caminhada, teremos que optar (por uma quest˜ao de conveniˆencia) por uma ou outra destas duas distˆ ancias − como por exemplo, ao “cortar caminho”. Resumindo, entre os pontos A e B no plano a seguir

A

A

B

B

− Distˆancia usual (euclidiana)

− Distˆancia do t´axi

mostramos dois modos de medir a distˆ ancia entre os mesmos. Na verdade, podemos ter muitas alternativas para medir a distˆ ancia entre dois pontos em um conjunto qualquer. Um detalhe importante a ser observado ´e que do ponto de vista da matem´ atica, isto ´e, da l´ ogica, todas as distˆ ancias gozam do mesmo status. Ou ainda, n˜ ao existe uma distˆ ancia mais ou menos verdadeira que outra, existe sim uma mais conveniente que outra para um determinado prop´ osito. Acontece, no que diz respeito `as distˆ ancias, o mesmo que ocorre no ambito das geometrias euclidiana e n˜ ˆ aoeuclidianas. A geometria de Euclides n˜ ao ´e nem mais nem menos verdadeira que as outras, pode ou n˜ ao ser a mais conveniente a determinados prop´ositos. Einstein ao formular sua Teoria da Relatividade Geral utilizou uma das geometrias n˜ ao-euclidianas. Via de regra, uma distˆ ancia em matem´ atica ´e dada por uma f´ ormula. Para os nossos prop´ositos, podemos associar a uma distˆ ancia uma r´egua, por ancia euclidiana exemplo, ` a distˆ ancia usual − tamb´em conhecida como distˆ − associamos a r´egua usual, veja:

0

1

2

3

4

5

6

7

- R´ egua euclidiana

22

8

9

10


A r´ egua quˆ antica A r´egua que vai nos interessar ´e esta:

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0

- R´ egua quˆ antica egua quˆ antica − por raz˜ oes que ficar˜ ao claras a qual denominamos de r´ logo mais. Esta r´egua serve para medir a distˆ ancia entre um ponto qualquer do intervalo num´erico [ 0, 1 [ para a origem, veja este intervalo geometricamente: 1 4

1 2

p

0

3 4

p

p

1

De outro modo: 0,25

p

0

0,1

p

0,2

p

0,75

p

0,3

p

0,4

p

0,5

p

0,6

p

0,7

p

p

0,8

p

0,9

1

Qu^ antica

Usual

Na figura a seguir colocamos as duas r´eguas − usual e quˆantica − lado a lado para efeitos de compara¸c˜ ao, veja:

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0

Nota: Reescalonamos (dividimos por 10) a r´egua usual, para efeitos de compara¸c˜ ao. Observe que a r´egua quˆantica coincide com a r´egua usual s´ o at´e a metade, a partir da´ı as duas diferem radicalmente. 23


A leitura na r´egua quˆantica funciona assim: se o ponto encontra-se na primeira metade do intervalo a leitura ´e feita da esquerda para a direita, se o ponto encontra-se na segunda metade do intervalo a leitura ´e feita da direita para a esquerda. A segunda metade da r´egua ´e a imagem especular (por um espelho) da primeira metade. Depois de apresentar o “santo” vamos mostrar os milagres O oposto de uma verdade ´e mentira, mas o oposto de uma verdade profunda pode muito bem ser outra verdade profunda. (Niels Bohr/f´ısico)

Para mostrar que a matem´ atica n˜ ao tem o menor respeito por nosso senso comum, vamos agora exibir alguns milagres (sem aspas): 1o ) Na figura a seguir assinalamos trˆes pontos no intervalo num´erico [ 0, 1 [ : A

t

q1

0

B

C

t

t 1

2

Pois bem, segundo a “l´ogica euclidiana” o ponto A encontra-se mais pr´ oximo da origem que os pontos B e C. O ponto B encontra-se mais afastado que o ponto A, por´em mais pr´ oximo que o ponto C, o mais afastado da origem. Podemos at´e provar isto matematicamente, veja: 1 2

A

0

t

p

B

C

t

t

0,5

0,6

1

ր

Origem 0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,7

0,8

0,9

1

Esta r´egua nos fornece diretamente a distˆ ancia de um ponto qualquer do intervalo [ 0, 1 [ ` a origem. Ent˜ao dA = 0, 4 , dB = 0, 6

e

dC = 0, 8

Ou seja, dA < dB < dC . At´e aqui tudo redondinho, de acordo com o nosso querido bom senso.

24


Agora, vamos substituir a r´egua do “bom senso” pela r´egua quˆantica e ver o que acontece, ent˜ ao: 1 2

A

0

p

B

C

t

t

t

0,4

0,5

0,4

1

ր

Origem 0

0,1

0,2

0,3

0,3

0,2

0,1

0

Esta r´egua nos fornece diretamente a distˆ ancia de um ponto qualquer do intervalo [ 0, 1 [ ` a origem. Ent˜ ao: dA = 0, 4 , dB = 0, 4

e

dC = 0, 2.

De outro modo, dA = 0, 4 = dB

e

dC = 0, 2 < dA

Em palavras: Contrariando a r´egua euclidiana, a r´egua quˆ antica nos diz que os pontos A e B, na figura acima, est˜ ao a uma mesma distˆ ancia da origem, e, “o que ´e pior”, ela nos diz que o ponto C est´ a mais pr´ oximo da origem que o ponto A . . . pasm´em!

O quadrado quˆ antico Utilizando a r´egua quˆantica podemos tamb´em calcular distˆ ancias em um “hipercubo” (cubo em qualquer dimens˜ao); por exemplo, em um quadrado de lado unit´ ario, como a seguir: 0

1

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0

0 0

1 0,1

0,2

0,3

0,4

25

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0


O que estamos chamando de quadrado quˆ antico ´e o quadrado de lado unit´ ario, acima, quando usamos a r´egua quˆantica para medir a distˆ ancia entre dois de seus pontos. 2o ) Um objeto (ponto) em v´arios lugares ao mesmo tempo. Para enunciar o pr´ oximo milagre, necessitaremos de uma defini¸c˜ao: Defini¸ c˜ ao 1. Diremos que um ponto p encontra-se em uma regi˜ ao R, contida no quadrado quˆ antico, se e s´ o se sua distˆ ancia para essa regi˜ ao for nula. De posse desta defini¸c˜ao podemos provar matematicamente que a origem do quadrado quˆantico (p = 0) encontra-se em quatro lugares ao mesmo tempo. 1

1

R4

R3

R1

R2

2 3

Quadrado quˆ antico 1 3

s 0

1

0

1 3

2 3

1

A origem encontra-se ao mesmo tempo nas quatro regi˜ oes em destaque na figura da direita. De outro modo: a distˆ ancia da origem para qualquer uma destas regi˜ oes ´e igual a zero. Nota: Observe que n˜ ao estamos especificando uma unidade para o lado do quadrado. Tanto pode ser 1 cent´ımetro, quanto 1 metro, quanto 1 kilˆometro, quanto 1 ano-luz, n˜ ao importa. N˜ ao-localidade O milagre acima pode ser considerado como uma prova matem´ atica da plausibilidade de um fenˆomeno comum na f´ısica quˆantica, a n˜ ao-localidade. 1

Em nosso contexto, significa que a origem est´ a “conectada” a cada uma das quatro regi˜ oes da figura. Podemos provar que a raz˜ ao da “n˜ ao-localidade” da origem se deve a que existe uma “onda” de centro nela que intercepta as quatro regi˜ oes, como na figura ao lado.

sr 0

26

1


3o ) Em nosso quadrado quˆantico podemos simular matematicamente um outro bizarro fenˆomeno da f´ısica quˆantica, qual seja: “El´etrons que se movem de A para B sem nunca passar entre esses pontos.” Antes de exibir o pr´ oximo milagre precisamos apresentar alguns conceitos. Conjuntos conexos por caminhos Considere o quadrado ao lado. Fixando arbitrariamente dois pontos no mesmo, podemos un´ı-los por um tra¸ co cont´ınuo. De outro modo, sentando a ponta de um l´apis em um dos pontos podemos atingir o outro sem levantar a ponta do l´ apis.

r

co cont´ınuo descrito pelo l´apis ´e O nome t´ecnico (matem´ atico) do tra¸ caminho e um objeto com tal propriedade, no caso o quadrado, ´e chamado de conjunto conexo por caminhos. Enfatizamos: o tra¸co deve ser cont´ınuo. Outra maneira de exprimir a conexidade de um espa¸co ´e dizer que se pode passar de um qualquer de seus pontos para outro por um movia no¸ca ˜o de espa¸co mento cont´ınuo, sem sair do espa¸co. Isto nos leva ` conexo por caminhos. (Elon Lages/grifo nosso) Observe que podemos at´e mutilar o quadrado de alguns modos,

s

s s s

s

s

e mesmo assim ainda conseguimos ligar dois pontos quaisquer “sem levantar a ponta do l´ apis” − Ou seja, o quadrado n˜ ao perde a propriedade de conexidade por caminhos. Entretanto, isto nem sempre ocorre, veja: Na mutila¸c˜ ao ao lado retiramos a “ter¸ca” parte central do quadrado original. Agora ´e imposs´ıvel ligar pontos de lados opostos por um tra¸co cont´ınuo; isto ´e, sem levantar a ponta do l´ apis (sem sair da regi˜ ao remanescente).

27

s

s


Nota: Estamos considerando que a mutila¸c˜ao anterior tenha sido realizada no “quadrado euclidiano”, este: 1

1

0,9

0,8

0,7

0,6

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1 0

0 0

1 0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

1

O quadrado (“universo”) euclidiano ´e o que podemos chamar de “quadrado do bom senso”, ou ainda, “universo do senso comum”. Nosso objetivo agora ser´ a referendar matematicamente a afirmativa da f´ısica quˆantica − j´a comprovada em laborat´ orio − de que “el´etrons se movem de A para B sem nunca passar entre esses pontos.” Mais precisamente, provaremos que isto ´e poss´ıvel para um ponto geom´etrico, e raciocinamos: se isto ´e poss´ıvel para um ponto, que ´e indimensional, n˜ ao temos por que duvidar de que seja poss´ıvel para uma entidade f´ısica. Para trazer a citada assertiva quˆantica para o dom´ınio da matem´ atica precisamos de duas defini¸c˜oes:

Defini¸ c˜ ao 2 (Transitar). Diremos que um objeto pode transitar entre duas (ou mais) regi˜ oes se existe um caminho ligando este objeto a qualquer ponto destas regi˜ oes.

Defini¸ c˜ ao 3 (Transitar sem passar por pontos interm´edios). Diremos que um objeto transita (ou pode transitar) entre duas regi˜ oes disjuntas − sem passar por pontos interm´edios − quando existe um caminho ligando este ponto a qualquer outro ponto destas regi˜ oes e, caminho este, totalmente contido nestas regi˜ oes. Nota: Disjuntas significa sem nenhum ponto em comum, sem intersec¸c˜ao.

28


Se todos estamos de acordo com estas defini¸c˜oes ent˜ao decorre que: Um ponto quˆ antico pode transitar entre duas regi˜ oes sem passar pelos pontos interm´edios.∗ Como um exemplo, podemos mover o ponto quˆantico p, na figura a seguir, A

p

t 0

2 3

1 3

p

B 1

de A para B, sem passar pelo hiato central. Este milagre pode ser visto ainda de uma outra perspectiva: se o leitor nos fornecer dois pontos quaisquer na figura a seguir, As 0

Bs 2 3

1 3

1

como os pontos A e B, por exemplo; sentando a ponta de um l´apis no primeiro ponto conseguimos tra¸car uma linha cont´ınua at´e o segundo ponto, sem cruzar o hiato central − e sem abandonar a figura, constituida pelos dois peda¸cos de reta. Podemos realizar este milagre em duas ou mais dimens˜oes, por exemplo, em duas fica assim: Dados dois pontos quaisquer na figura ao lado − como A e B, por exemplo − sentando a ponta de um l´ apis no primeiro ponto podemos un´ı-los por um tra¸ co cont´ınuo, sem levantar a ponta do l´ apis e sem abandonar a figura, constituida pelos quatro retˆ angulos. Ou ainda: podemos mover o ponto A pelas quatro regi˜ oes da figura sem que ele passe pelos interst´ıcios.

1 Bs

r 0

A s 1

Nota: Todos estes milagres podem ser realizados no quadrado quˆantico, e n˜ ao no euclidiano (“senso comum”). Isto s´ o ´e poss´ıvel em raz˜ ao do formato da “onda” de centro na origem (p. 26), o formato desta onda depende essencialmente da r´egua quˆantica. O formato desta onda no quadrado euclidiano restringe-se somente ` aquele do quadradinho inferior esquerdo (p. 26). ∗ Estamos considerando como um ponto quˆ antico um ponto do intervalo unit´ ario, do quadrado (ou hipercubo) quˆ antico.

29


Interregno: Quando descobri o quadrado quˆantico (11.09.2008), tal como o matem´ atico Cantor exclamei: Eu vejo, mas n˜ ao acredito!. Por oportuno, um eminente matem´ atico brasileiro, at´e com trˆ ansito internacional, (Prof. Dr. Carlos Gustavo T. de A. Moreira − IMPA/RJ), esteve aqui em minha Universidade, por ocasi˜ ao da IX Semana de Matem´atica (26 a 30/10/2015), quando eu disse a ele que o conjunto a seguir,

0

1 3

2 3

1

´e conexo por caminhos, ele tamb´em n˜ ao acreditou; a princ´ıpio, em tom de brincadeira (ironia), disse que eu havia “mudado a matem´ atica”, insisti, posteriormente ele se convenceu e me deu raz˜ ao. Reiteramos: Um conjunto qualquer ´e conexo por caminhos quando dados dois quaisquer de seus pontos co cont´ınuo totalmente contido no conjunto. podemos un´ı-los por um tra¸ A prova rigorosamente matem´ atica de todos estes feitos − a quem interessar possa − pode ser encontrada em um livro que publiquei no ano 2013, o qual encontra-se dispon´ıvel na internet. ([2])

Acho que muita gente vai se bene´ claro e com muificiar com este livro. E tos exemplos e aplica¸c˜oes interessantes. Parab´ens por ver seu grande esfor¸co coroado. (Ubiratan D’Ambr´osio/USP)

Nota: Neste cap´ıtulo n˜ ao apresentamos todos os milagres que realizamos com a r´egua quˆantica, outros constam neste livro.

Novamente os postulados A validade (legitimidade) da r´egua quˆantica para se medir a distˆ ancia entre dois pontos fundamenta-se em alguns postulados matem´ aticos, os postulados que definem o que ´e uma distˆ ancia (da´ı o selo do Inmetro). Para se ter uma ideia, se fecharmos o buraquinho `a direita do intervalo (i.e., se incluirmos o 1), a r´egua quˆantica deixa de representar uma distˆ ancia − fere um dos postulados −, todo o “universo quˆantico” colapsa (desaba). Estes fenˆomenos paradoxais − absurdos, bizarros, ou como se decida cham´ a-los − n˜ ao s˜ ao meras “invencionices” da f´ısica e matem´ atica abstratas, mas residem no pr´ oprio cerne da Natureza. 30


Uma vez, Einstein afirmou que, se a mecˆ anica quˆ antica fosse correta, o mundo seria louco. Einstein tinha toda raz˜ ao − o mundo realmente ´ e louco. (Daniel Greenberg/f´ısico)

Como mais um exemplo de que o mundo realmente ´e louco (n˜ ao respeita nosso senso comum, entenda-se), citamos:

Um fenˆ omeno quˆ antico que escandalizou o mundo cient´ıfico de ent˜ ao foi o da quebra da simetria especular (paridade P ): existem part´ıculas subatˆ omicas que tˆem a mesma aparˆencia se refletidas num espelho∗ ; o que est´ a em perfeito acordo com o “bom-senso”. Acontece que em 1956, os f´ısicos sino-americanos Chen Ning Yang e Tsung-Dao Lee provaram a existˆencia de objetos (neutrinos) que quando “refletidos num espelho”, produziam sob invers˜ ao uma imagem imposs´ıvel, ou seja, que n˜ ao existe na natureza; melhor dizendo trocavam de “natureza”! ‡ Esta descoberta foi t˜ ao chocante (contra-intuitiva) que os dois cientistas foram desacreditados por f´ısicos do quilate do prˆemio nobel Wolfgang Pauli, que escreveu uma carta aos dois afirmando duvidar da descoberta. Em meu entendimento, n˜ ao precisamos descer ao mundo microsc´opico das part´ıculas quˆanticas para dar-nos conta de que o mundo realmente ´e louco; a n´ıvel macrosc´opico, por exemplo, considero a transforma¸ca˜o de uma lagarta em borboleta, uma “loucura”. Ainda segundo minha vis˜ao, um outro universo pr´ odigo em loucuras ´e o dos seres vivos, em particular o das estruturas marinhas; observe que “loucura” ´e a diversidade de seres marinhos. Nota: Veja bem, n˜ ao ´e o fato de a ciˆencia eventualmente explicar um fenˆomeno que ele deixa de ser bizarro. A prop´osito, um fenˆ omeno da biologia ´e explicado dentro de alguma teoria, e se vocˆe for perscrustar, em algum momento o bi´ ologo assume algum postulado, o que significa que sua explica¸c˜ ao n˜ ao ´e absolutamente confi´ avel. Em poucas palavras, basta dizer que a biologia n˜ ao sabe o que ´e vida! ∗ Uma analogia: se observamos (num espelho) os n´ umeros 8 e 0 ou as letras H e X veremos estes mesmos objetos. Dizemos que os mesmos conservam a paridade P (simetria especular). ‡ Uma analogia: se observamos (num espelho) as letras b e p veremos que elas n˜ ao se conservam: b torna-se d e p torna-se q ; dizemos que estes objetos n˜ ao conservam a paridade P .

31


A r´egua quˆantica, sobre o conjunto [ 0, 1 [ , deriva da seguinte f´ormula: d(x, y) = min |x − y|, 1 − |x − y|

d ´e uma m´etrica (distˆ ancia) em [ 0, 1 [ . min significa menor. Dados dois pontos x e y, ambos no intervalo [ 0, 1 [, entre chaves obteremos dois valores, escolhemos o menor deles como sendo a distˆ ancia entre os pontos x e y. Por exemplo, d(0; 0, 4) = min |0 − 0, 4|, 1 − |0 − 0, 4| = min 0, 4; 0, 6 = 0, 4 d(0; 0, 6) = min |0 − 0, 6|, 1 − |0 − 0, 6| = min 0, 6; 0, 4 = 0, 4 d(0; 0, 8) = min |0 − 0, 8|, 1 − |0 − 0, 8| = min 0, 8; 0, 2 = 0, 2 p

0

p

B

t

t

p

p

C

p

t

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

p

1

0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0

0

p

A

p

p

O leitor poder´ a “digerir” melhor o funcionamento desta r´egua se imaginar que ela produz uma curvatura no espa¸co, digo, no intervalo [ 0, 1 [. Imagine este intervalo feito de arame flex´ıvel, curve-o segundo um c´ırculo: 1 0

1 0

1 0 C

p1

2

2

s 1 4

p

p1

3 4

p

1 4

p

3 4

p

p

1 4

p

3 4

s B

p

1 2

s A

Na figura da direita assinalamos os pontos A, B e C da figura acima. Nota: A rigor a m´etrica (r´egua) quˆantica n˜ ao curva o intervalo unit´ ario. Vejamos uma analogia: Ao redor de um im˜ a existe um campo magn´etico que “curva o espa¸co” em sua volta. A presen¸ca do campo altera a geometria − ou m´etrica − da regi˜ ao em volta do im˜ a. Por´em, o pr´ oprio im˜ a n˜ ao ´e curvado. De igual modo, a presen¸ca da m´etrica (distˆ ancia, r´egua) quˆantica no universo [ 0, 1 [ ´e respons´ avel pela “geometria” da estrutura [ 0, 1 [, r´egua , que ´e curva. 32


Padres, pastores, papas, etc. s˜ ao todos desonestos O nosso objetivo agora ´e mostrar que os l´ıderes religiosos de modo geral s˜ ao desonestos, n˜ ao s˜ ao confi´ aveis; ou ainda: s˜ ao prestidigitadores quando trata-se de interpretar as “ Sagradas Escrituras”. O que chamamos de desonesto (ou pusilˆanime, ou lˆ anguido), em nosso contexto, ´e o indiv´ıduo que adota um postulado, no entanto, rejeita alguma de suas consequˆencias, por n˜ ao lhe parecer “politicamente correto”. Antes, veja bem, como matem´ atico meu papel ´e deduzir conclus˜oes v´alidas a partir de postulados, se estas conclus˜oes v˜ao ferir suscetibilidades, apenas tenho a lamentar. N˜ao apenas os postulados da f´ısica e da matem´ atica conduzem a conclus˜oes bizarras mas tamb´em os da teologia. Dentre in´ umeros poss´ıveis vou escolher apenas dois a t´ıtulo de ilustra¸c˜ao. 1o ) A salva¸ca˜o s´o pode ser conseguida por meio dele, Jesus, pois n˜ ao h´ a no mundo inteiro nenhum outro que Deus tenha dado aos seres humanos por meio do qual possamos ser salvos. (Atos 4:12)

Postulado religioso: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ningu´em vem ao Pai, sen˜ ao por mim.”

Todo aquele que aceita este postulado − se for honesto − ter´ a que chegar `a bizarra conclus˜ao de que todos os povos de outras religi˜ oes do mundo ir˜ ao para o inferno, veja uma pequena amostra destes infelizes, Bahai, Hindu´ısmo, Gnosticismo, Espiritismo (Kardecista), Jainismo, Confucionismo, Sufismo, Tao´ısmo, Xinto´ısmo, Tenrikyo, Juda´ısmo, Islamismo, Zoroastrismo, etc. Santo Agostinho (patrono da Igreja), coerente com este postulado, afirmava que o destino das crian¸cas que morriam sem serem batizadas era o inferno! − Esta dedu¸c˜ ao est´ a correta, parab´ens ao doutor Agostinho! Agostinho defendeu uma s´erie de cren¸cas estritas e rigorosas. Ele pensava, por exemplo, que crian¸cas que morressem sem terem sido batizadas n˜ ao entrariam no c´eu, e que sofreriam a eterna condena¸ca ˜o no inferno. (Dr. Jeremy Stangroom)

33


2 o ) O Filho de Deus pode mentir! Todo aquele que aceita como postulado: Jesus ´ e Filho de Deus, se for honesto, ter´ a que for¸cosamente concluir que o Filho de Deus mentiu! Com efeito, Jesus mentiu a respeito de sua segunda volta `a Terra. Em verdade vos digo que alguns h´ a, dos que aqui est˜ ao, que n˜ ao provar˜ao a morte at´e que vejam vir o Filho do homem no seu reino. (Mt 16 : 28)

Em verdade vos digo que alguns dos que est˜ ao aqui n˜ ao morrer˜ ao sem terem visto o reino de Deus vir com poder! (Mc 9 : 1)

Ademais,

“Eis que cedo venho. . . ” (Ap. 22:12)

Ora, naqueles dias, depois daquela afli¸ca ˜o, o sol se escurecer´ a, e a lua n˜ ao dar´ a a sua luz. E as estrelas cair˜ ao do c´eu, e as for¸cas que est˜ ao nos c´eus ser˜ ao abaladas. E ent˜ ao ver˜ ao vir o Filho do homem nas nuvens, com grande poder e gl´ oria. [. . . ] Na verdade vos digo que n˜ ao passar´ a esta gera¸ca ˜o sem que todas estas coisas aconte¸cam. Passar´ a o c´eu e a terra, mas as minhas palavras n˜ ao passar˜ ao. (Mc. 13:24-31) A gera¸ c˜ ao a qual Jesus se refere passou e com ela as palavras de Jesus tamb´ em passaram, n˜ ao obstante, os c´ eus e a terra permanecem.

Estas s˜ ao as bizarras consequˆ encias de um postulado! ∗

No lugar da verdade ou da realidade, temos unicamente o limitado discurso humano, os sistemas de cren¸ca e os atos de interpreta¸ca ˜o que cada um de n´ os faz na pris˜ ao da linguagem ou da cultura. Desafiar essas pretensas “verdades”, desconstruir as suposi¸co ˜es nas quais elas se ap´ oiam, ´e a tarefa da nossa ´epoca. (Danah Zohar, f´ısica e fil´osofa/[?], p. 172)

Eu (Gentil, o iconoclasta) estou apenas cumprindo minha parte nesta “tarefa da nossa ´epoca”. Adendo: Um dos nossos objetivos neste cap´ıtulo foi ilustrar, com exemplos da matem´ atica e da f´ısica, que a “verdade” ´e tudo aquilo que um determinado grupo de homens decide o que seja. Reiteramos: na ciˆencia, o que seja − ou o que vem a ser − a verdade ´e decidida por um grupo de homens; ora, se ´e assim na ciˆencia, na religi˜ ao deveria ser diferente? Apenas um tolo (para n˜ ao dizer idiota) diria que os homens da religi˜ ao seriam inspirados por Deus e os da ciˆencia pelo demˆ onio, ´e simples assim! 34


A bizarra adi¸ c˜ ao de Einstein

(p. 20)

Suponhamos um observador O fixo em rela¸c˜ao ao solo, e um vag˜ao movendo-se com velocidade constante v em rela¸c˜ao ao solo. Dentro do vag˜ao h´ a uma bola que se move com velocidade u.

u

v ·

q O

·

Sendo assim, Galileu nos diz que: V = v + u. Onde, V : velocidade da bola para o observador no solo. Einstein, respaldado em seu segundo postulado (p. 12), corrigiu a adi¸c˜ao de Galileu da seguinte forma: v+u V = v·u 1+ 2 c Onde c = 3 · 108 (m/s) ´e a velocidade da luz. Tomando u = v = 1 teremos, Adi¸c˜ ao de Galileu : 1 + 1 = 2. Adi¸c˜ ao de Einstein : 1 + 1 < 2. De fato, V =

(1.1)

1+1 <2 1·1 1+ (3 · 108 )2

Claro, os f´ısicos argumentariam que “para todos os fins pr´ aticos ” 10−16 = 0, e a´ı as duas adi¸c˜ oes coincidem. Primeiro que neste caso arredondamento ´e uma op¸c˜ ao, n˜ ao somos obrigados a tal. Segundo, n˜ ao trata-se de arredondamento, ´e uma quest˜ ao conceitual. Por exemplo, “para todos os fins pr´ aticos ” π = 3, 14159265359, entretanto conceitualmente o n´ umero da esquerda ´e irracional e o da direita racional. A f´ısica de Newton-Galileu n˜ ao ´e um caso particular da de Einstein. Observe que s´ o existe uma maneira de obter 1 + 1 = 2 na f´ısica de Einstein, devemos fazer 10−16 = 0, o que implicaria 1 = 0 (multiplicando por 1016 ). Logo, estabelecemos (na f´ısica de Einstein): Se 1 + 1 = 2 ent˜ ao 1 = 0. Mas isto equivale a: Se 1 6= 0 ent˜ao 1 + 1 6= 2. Nota: A rigor, deveriamos usar um outro s´ımbolo para a adi¸c˜ao de Einstein em (1.1), no entanto, ´e comum na matem´ atica utilizarmos um mesmo s´ımbolo (+) para adi¸c˜ oes distintas. 35


Que seria a tua felicidade, ´ o grande astro, se nËœ ao tivesses aqueles que iluminas! ( Nietzsche/Zaratustra)

36


Cap´ıtulo

2

Teoria da relatividade ontol´ogica Poder-se-ia at´e afirmar que a realidade subatˆ omica, enquanto inobserv´ avel, n˜ ao ´e constituida de objetos, mas de rela¸co ˜es, e que as part´ıculas individuais n˜ ao existem como entidades f´ısicas reais. Somente possuem significado dentro da totalidade das rela¸co ˜es que mantˆem com as demais entidades, sobretudo com a consciˆencia do observador. (Marcelo Malheiros)

Introdu¸ c˜ ao: A internet nos traz v´arios significados (acep¸c˜oes) para a palavra ontoao porque sentimos a necessidade de delimitarmos a acep¸c˜ao que logia, raz˜ teremos em mente neste livro: 1 o ) Ontologia significa “estudo do ser”. A palavra ´e formada atrav´es dos termos gregos “ontos” (ser) e “logos” (estudo, discurso). Consiste em uma parte da filosofia que estuda a natureza do ser, a existˆ encia e a realidade, procurando determinar as categorias fundamentais e as rela¸c˜oes do “ser enquanto ser”. Seu estudo engloba quest˜ oes como qual o significado de ser e a existˆencia de determinadas entidades − concretas ou abstratas. 2 o ) A ontologia ´e um aspecto da metaf´ısica que procura categorizar∗ o que ´e essencial e fundamental em determinada entidade. 3 o ) Metaf´ısica, segundo o dicion´ ario, ´e o componente da filosofia que trata da natureza fundamental da realidade e do ser. Ent˜ao, sendo assim, ontologia ´e o componente da metaf´ısica que trata do natural, do real e do fato de existir dos entes. ∗ Categoriza¸c˜ ao ´e o processo pelo qual ideias e objetos s˜ ao reconhecidos, diferenciados e classificados.

37


2.1

O postulado da teoria da relatividade ontol´ ogica

Para desenvolver a teoria da relatividade ontol´ ogica − doravante abreviada por TRO − adotaremos o seguinte postulado∗ : “Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´ e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, independentemente dos meios pelos quais seja conhecido. Objetos percebidos, ou entidades observ´ aveis, existem em rela¸ c˜ ao ` as faculdades sensoriais ou sistemas de medi¸ c˜ ao pelos quais s˜ ao detectados − n˜ ao de modo independente no mundo objetivo.” Qual a origem e o por que deste postulado? Este enunciado eu o encontrei no livro Dimens˜ oes escondidas do autor Alan B. Wallace (ver [1]). Ap´os refletir durante tempo suficiente, observ´ a-lo de v´arias perpectivas, confront´a-lo com algumas situa¸c˜oes, decidi adot´ a-lo; e, na verdade, foi a motiva¸c˜ao principal para que eu decidisse escrever o presente livro. Como enfatizamos `a exaust˜ao no primeiro cap´ıtulo, ningu´em ´e obrigado a aceitar qualquer postulado − nem mesmo os da matem´ atica ou da f´ısica −, um postulado apela para sua raz˜ ao, n˜ ao para sua f´e. Ademais, como dissemos, nenhuma quantidade de experimentos (verifica¸c˜ oes) ´e suficiente para validar um postulado. Esta raz˜ ao tamb´em se deve a que qualquer “experimento” que se realize na superf´ıcie da Terra − e at´e fora dela − est´ a sob a “influˆencia de infinitas vari´ aveis”, e, em raz˜ ao disto, n˜ ao podemos garantir que as mesmas vari´ aveis estar˜ ao presentes, com a mesma “intensidade”, na repeti¸c˜ao de um dado fenˆomeno. Como j´a dizia o velho s´ abio, “Ningu´em se banha duas vezes no mesmo rio” (Her´aclito).

2.1.1

A estrutura cognitiva de referˆ encia

N˜ao obstante, podemos exibir raz˜ oes para mostrar a racionalidade (plausibilidade) de um postulado, ´e o que faremos agora. Antes, vejamos uma outra cita¸c˜ ao do livro de Wallace que, de certa forma, podemos ver como uma primeira decorrˆencia de nosso postulado, qual seja† Todos os fenˆ omenos [tanto percept´ıveis quanto conceituais] podem ser postulados como existentes apenas em rela¸ c˜ ao a uma estrutura cognitiva de referˆ encia. (Wallace/[1], p. 97 )

O termo “conceito” tem origem a partir do latim “conceptus” (do verbo concipere) que significa “coisa concebida” ou “formada na mente”. (Publica¸c˜ ao eletrˆ onica) † Cogni¸ c˜ ao ´e o ato ou processo de conhecer, que envolve aten¸c˜ ao, percep¸c˜ ao, mem´ oria, racioc´ınio, ju´ızo, imagina¸c˜ ao, pensamento e linguagem.

38


Antes de mais nada, podemos entender como um exemplo de uma “estrutura cognitiva de referˆ encia” (doravante abreviada por ECR) a mente humana, ou a mente de um animal. Podemos dizer que uma ECR ´e uma estrutura que processa informa¸co ˜es. Num sentido figurado, uma ECR ´e um referˆencial − ´e similar ao referˆencial da teoria da relatividade de Einstein. Vamos exibir agora alguns “experimentos” com a finalidade de fornecer maiores subs´ıdios para que o leitor adira ao postulado, ou n˜ ao.

2.1.2

Di´ alogo entre Einstein e Tagore

Na tarde de 14 de julho de 1930, o cientista Albert Einstein recebia em sua residˆencia, em Caputh, Alemanha, Rabindranath Tagore∗ , para um di´ alogo informal o qual ficou registrado nos apontamentos de Tagore que, posteriormente, publicou-o com o t´ıtulo “A Natureza da Realidade”. Iniciamos o di´ alogo com uma pergunta de Einstein − o leitor que se interessar pelo di´ alogo completo poder´ a encontr´ a-lo na internet. Apenas para situar: Einstein acredita que a verdade e a beleza s˜ ao independentes do homem, Tagore, ao contr´ ario, diz que n˜ ao.

× E: De modo que a verdade ou a beleza n˜ ao s˜ ao, segundo isso, independentes do homem? T: N˜ao. E: Se se extinguisse a esp´ecie humana, deixaria, pois, de ser belo o Apolo de Belvedere? T: Assim o creio. E: Estou de acordo com sua concep¸c˜ao de beleza, mas n˜ ao com a que sustenta acerca da verdade. T: Por que n˜ ao? A verdade realiza-se mediante o homem. ∗

Apolo

Rabindranath Tagore nasceu a 7 de Maio de 1861 na cidade de Calcut´ a, a antiga capital da ´India. Poeta, dramaturgo, fil´ osofo, pintor, m´ usico e core´ ografo. A edi¸c˜ ao inglesa, traduzida e comentada por ele pr´ oprio, de uma obra sua em Bengali, o Gitanjali (“Can¸c˜ ao de oferendas” ou “Oferenda L´ırica”, 1912) fez com que Tagore ganhasse o Prˆemio Nobel de Literatura de 1913, pela primeira vez atribuido a um n˜ ao-ocidental.

39


Coment´ ario: Observe que Tagore ´e lacˆonico, conciso, em suas respostas. Einstein, a princ´ıpio acreditando ser a beleza e a verdade independentes do homem, ´e c´elere em tentar se recompor do equ´ıvoco cometido no que diz respeito ` a beleza, no entanto no que diz respeito `a verdade continua teimando, sem entender. N˜ao temos certeza se Einstein de fato compreendeu a “teoria da relatividade est´etica”. Permitam-me fazer um desenho para ver se o Einstein compreende. Ent˜ ao, senhor Einstein, se se extinguisse a esp´ecie humana e se uma sapa visse uma imagem do Tom Cruise, quem o senhor achar que ela acharia mil vezes mais belo, Tom Cruise ou o seu sapo? − Quem o senhor acha que ela escolheria para o pai dos seus filhos?

Reciprocamente, se um sapo tivesse que optar entre a Jimena Navarrete e sua sapa, para uma eventual lua de mel, quem o senhor acha que ele escolheria? − supondo que o crit´erio fosse a mais bela. Continuemos a aula, digo, o di´ alogo: E: N˜ao posso comprovar cientificamente que a verdade deva conceber-se como uma verdade de valor, com independˆencia da humanidade; mas creioo assim firmemente. T: Segundo a filosofia indiana, existe Brama, a verdade absoluta, que n˜ ao pode ser concebida pela inteligˆencia humana isolada, nem tampouco descrita com palavras, [. . . ] Por´em, tal verdade n˜ ao pode pertencer `a ciˆencia. A natureza da verdade que tratamos ´e uma aparˆencia; quer dizer; aquilo que aparece como verdade a inteligˆencia humana, e ´e, portanto, humano, podendo-se-lhe chamar maia ` ou ilus˜ ao. E: [. . .] Por exemplo, se n˜ ao estivesse ningu´em nesta casa, nem por isso deixaria de estar aqui esta mesa. T: A ciˆencia demonstrou que a mesa, como objeto s´ olido, ´e uma aparˆencia, e, por conseguinte, isso que a mente humana percebe como tal mesa n˜ ao existiria se n˜ ao existisse a mente humana. Deve reconhecer-se, ao mesmo tempo, que o fato de que a u ´ltima realidade f´ısica da mesa n˜ ao seja outra coisa que uma multid˜ ao de centros isolados de for¸cas el´etricas em revolu¸c˜ao, pertence tamb´em ` a mente humana. (Grifo nosso) 40


Eu acho que a culpa nem ´e do Einstein, ´e do pr´ oprio Tagore que n˜ ao sabe explicar direito. Deixa eu fazer mais uma figurinha para ver se o Einstein entende. Como n˜ ao tenho a imagem de uma mesa ao microsc´opio irei substitu´ı-la por um pernilongo, sem perda de generalidade. Na ilustra¸ca˜o a seguir,

(Caixa)

Pernilongo Pernilongo

(Gedankenexperiment) Einstein e um pequeno robˆ o (com uma lupa/zoom) observam um mesmo pernilongo que se encontra dentro de uma caixa. Perguntamos: quando os dois n˜ ao est˜ ao mais olhando para dentro da caixa, qual o pernilongo que l´a permanece? Aquele que Einstein vˆe ou aquele que o robˆ o vˆe? Ou ainda: qual o pernilongo verdadeiro? Se, eventualmente, o leitor n˜ ao acertar de primeira, n˜ ao se sinta desmerecido por isto. Veja que dificuldade para o Einstein acompanhar o racioc´ınio do Mestre Tagore. Observe que, n˜ ao obstante Einstein ter sido o pai da teoria da relatividade, ele n˜ ao compreende as trˆes teorias da relatividade que ogica, Tagore desfila diante dele, quais sejam: teoria da relatividade ontol´ teoria da relatividade epistemol´ ogica e teoria da relatividade est´etica. 41


Retomando, a primeira consequˆencia bizarra do nosso postulado ´e: nem o pernilongo que Einstein enxerga, nem o pernilongo que o robˆ o “enxerga” existe na “realidade”, isto ´e, independentemente das respectivas ECR. Convidamos o leitor a refletir novamente sobre a seguinte consequˆencia do nosso postulado: Todos os fenˆ omenos [tanto percept´ıveis quanto conceituais] podem ser postulados como existentes apenas em rela¸ c˜ ao a uma estrutura cognitiva de referˆ encia. Alternativamente, podemos afirmar que o pernilongo que Einstein vˆe, existe apenas em rela¸c˜ ao com a mente de Einstein − no seu “referencial”−, ou ainda, em rela¸c˜ ao ` a ECR de Einstein. Se preferirmos podemos substituir o robˆ o em nossa experiˆencia por um animal. Papagaios Psicod´ elicos: Temos trˆes receptores de cor nos olhos (para verde, azul e vermelho). Ent˜ ao essas trˆes s˜ao as nossas cores prim´ arias − e a combina¸ca˜o entre elas cria as cores do nosso mundo. Os papagaios (e outras esp´ecies de aves, peixes e r´epteis) tˆem quatro receptores: os nossos mais um dedicado ao ultravioleta. A combina¸ca˜o desses quatro cria um mundo estupidamente mais colorido que o nosso − um mundo t˜ ao dif´ıcil de imaginar quanto uma realidade com quatro dimens˜oes, em vez das trˆes que agente conhece. (Super Interessante/out. 2012)

O que vemos do mundo real n˜ ao ´e o mundo real intocado, mas um modelo do mundo real, regulado e ajustado por dados sensoriais − um modelo que ´e constru´ıdo para que seja u ´til para lidar com o mundo real. A natureza desse modelo depende do tipo de animal que somos. Um animal que voa precisa de um modelo de mundo diferente do de um animal que anda, que escala ou que nada. Predadores precisam de um modelo diferente dos das presas, embora seus mundos necessariamente se sobreponham. O c´erebro de um macaco precisa ter uma programa¸ca ˜o capaz de simular um labirinto tridimensional de galhos e troncos. O c´erebro de um notonect´ıdeo n˜ ao precisa de um programa em 3D, j´ a que mora na superf´ıcie de um lago na Fatland de Edwin abbott. O software para construir modelos do mundo de uma toupeira ´e adaptado para uso subterrˆ aneo. (Richard Dawkins/Bi´ologo)

42


Vejamos mais alguns exemplos de que “mudando a estrutura cognitiva de referˆencia” a forma de existir (ou perceber) muda. A seguir, como vocˆe vˆe uma formiga, ao centro e ` a direita como um microsc´opio vˆe:

A seguir, como vocˆe vˆe uma vespa, `a direita como um microsc´opio vˆe:

A seguir, como vocˆe vˆe uma uma aranha, `a direita como um microsc´opio vˆe:

Os fenˆ omenos s˜ ao organizados pelo nosso aparelho perceptivo e cognitivo, (Immanuel Kant/fil´osofo) sendo assim em parte dependentes do sujeito.

43


A potˆ encia (poder) de um postulado Observe que o postulado da TRO refere-se n˜ ao apenas a fenˆomenos perceptiveis (f´ısicos) como tamb´em a fenˆomenos conceituais∗ , vamos ilustrar a potˆencia deste postulado resolvendo uma quest˜ao que vem sendo debatida h´ a milˆenios (desde Plat˜ ao) por filos´ ofos e matem´ aticos: Os n´ umeros e, mais geralmente a matem´ atica, existem independentemente do homem? Segundo nosso postulado, existir significa existir em rela¸c˜ao a uma ECR, logo, nem os n´ umeros e nem a matem´ atica existem independentemente do homem, ´e simples assim!. Bem, esta quest˜ ao que vem sendo debatida h´ a milˆenios, enfatizamos, j´a encontra-se decidida dentro da TRO, no entanto, para aqueles leitores que ainda n˜ ao se decidiram a favor do nosso postulado vamos abordar esta mesma quest˜ ao de uma outra perspectiva, por uma analogia com o xadrez. Suponhamos, por hip´ otese de trabalho, que um meteorito atingisse a Terra e dizimasse todos os homens da face do planeta, menos alguns bebˆes e alguma tribo ind´ıgena. Na cena a seguir vemos, ao centro, um tabuleiro com as pe¸cas do xadrez

a esquerda a suposta tribo ind´ıgena, `a direita um bebˆe remanescente. ` Pergunto: nestas circunstˆancias o xadrez ter´ a desaparecido da face da terra?

?

∗ O termo “conceito” tem origem a partir do latim “conceptus” (do verbo concipere) que significa “coisa concebida” ou “formada na mente”. (Publica¸c˜ ao eletrˆ onica)

44


A resposta ´e um rotundo sim!, uma vez que o xadrez n˜ ao se constitui nas pe¸cas propriamente mas em suas regras. Nota: Que um ind´ıgena e um bebˆe tenham o potencial para vir a jogar xadrez, n˜ ao resta d´ uvida, mas a quest˜ao em foco n˜ ao ´e esta. A quest˜ao ´e, repito, o xadrez ter´ a desaparecido? A t´ıtulo de refor¸co, suponhamos que desejamos jogar xadrez mas n˜ ao dispomos das pe¸cas, apenas do tabuleiro. N˜ao h´ a o menor problema:

feij˜ao → Rei arroz → pe˜ oes

.. .

.. .

.. .

milho → torres

podemos substituir as pe¸cas por cereais. Por exemplo, um caro¸co de feij˜ ao far´a o papel de rei, os pe˜ oes ser˜ ao substituidos por gr˜ aos de arroz, as torres por caro¸cos de milho, etc., jogamos do mesmo jeito. Reiteramos, o xadrez se constitui por suas regras, n˜ ao por suas pe¸cas. De igual modo, a matem´ atica, em particular os n´ umeros, se constitue por suas regras, n˜ ao pelos s´ımbolos adotados. Tem mais: afirmamos que se, na suposta hecatombe, todos os livros de matem´ atica ficassem preservados nas bibliotecas (ou nos computadores), ainda assim a matem´ atica teria desaparecido da face do planeta A raz˜ ao ´e que faltaria uma mente (c´erebro) para decodificar os s´ımbolos constantes nos livros de matem´ atica. Vejamos uma analogia, na figura ao lado vemos uma p´ agina de matem´ atica escrita em chinˆes. Perguntamos: isto ´e matem´ atica para o leitor? Tem algum significado? De igual modo acontece com um livro de matem´ atica (em portuguˆes) relativamente `a ECR de um ind´ıgena e um bebˆe, isto ´e, n˜ ao existe ali matem´ atica nenhuma, ´e simples assim!

45


2.2

Deus existe?

Uma outra quest˜ ao que vem sendo debatida h´ a milˆenios e que podemos decidir confortavelmente dentro da TRO ´e sobre a existˆencia de Deus. De fato, Deus ´e, no m´ınimo, um fenˆomeno conceitual, sendo assim est´ a contemplado pelo postulado da TRO. Sendo mais expl´ıcito: Deus n˜ ao pode ser concebido fora de uma estrutura cognitiva de referˆencia; ou ainda: Deus s´ o existe em rela¸c˜ ao a uma ECR. Uma analogia: assim como o pernilongo que comparece na figura da p´ agina 41 ´e uma constru¸c˜ao da mente de Einstein, de igual modo todo Deus ´e uma constru¸c˜ao da respectiva ECR. Substitua o pernilongo por Deus, Einstein por um Hindu e o robˆ o por um crist˜ ao, veja: (Caixa)

D eu

s

Pernilongo Pernilongo

(Gedankenexperiment)

´ a mente de Einstein que cria o pernilongo que ele vˆe, ´e a mente do E Hindu que cria o Deus que ele vˆe; ´e a “mente” do robˆ o que cria o pernilongo que ele vˆe, ´e a mente do crist˜ ao que cria o Deus que ele vˆe, ´e simples assim. Todas, reitero, s˜ ao apenas e t˜ao somente formas de percep¸c˜ao! − sem nenhuma rela¸c˜ ao com a “realidade” de Deus. Reflita novamente sobre o postulado da TRO: “Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, independentemente dos meios pelos quais seja conhecido.”

˜ E ´ O TAL REAL O TAO QUE PODE SER DESCRITO NAO (Lao-Ts´e) Assim como seria insensatez (ou desonestidade) de Einstein afirmar que a sua forma de percep¸c˜ ao de um pernilongo ´e superior `a do robˆ o, de igual modo ´e insensato (ou desonesto) um crist˜ ao afirmar que a sua forma de percep¸c˜ ao de Deus ´e superior `a do Hindu − ou a qualquer outra. 46


Deste modo conseguimos explicar os milhares de Deuses (concep¸c˜oes) sobre a face da Terra, veja: Bahai Hindu´ısmo Gnosticismo Jainismo Confucionismo Sufismo

Deus

Tao´ısmo Xinto´ısmo Tenrikyo Juda´ısmo Islamismo Cristianismo Zoroastrismo .. .

Todas estas formas de concep¸c˜oes da divindade, reiteramos, s˜ ao t˜ao somente formas de percep¸c˜ ao das respectivas estruturas cognitivas de referˆencia. At´ e a aritm´ etica ´ e dependente de uma ECR Foi o que vimos no cap´ıtulo 1 (p. 20), para a ECR de Galileu, 1 + 1 = 2, j´a para a ECR de Einstein 1 + 1 < 2,

1+1=2

1+1 <2 47


2.3

O que existe?

Independentemente de uma teoria, n˜ ao sabemos o que ´e realidade.

Qualquer um que sabe tudo sobre nada sabe tudo. (Leonard Susskind/f´ısico)

(Stephen Hawking/f´ısico)

Uma relevante quest˜ao que perspassa v´arias disciplinas filos´ oficas e cient´ıficas ´e esta:

O que na realidade existe? A t´ıtulo de ilustra¸c˜ ao, encontramos em um artigo da internet o seguinte∗ : E, em decorrˆencia disto, podemos perguntar: − a existˆencia de algo que se apresenta, depende unicamente do fato de o estarmos percebendo? Ou ainda: − a existˆencia de algo depende de nossa existˆencia? Parece ´ obvia a resposta, mas n˜ ao ´e t˜ ao simples assim. Esta milenar quest˜ ao ´e f´acilmente respondida − resulta ´obvia − se admitirmos o postulado da TRO, veja: “Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´ e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, independentemente dos meios pelos quais seja conhecido. Objetos percebidos, ou entidades observ´ aveis, existem em rela¸ c˜ ao ` as faculdades sensoriais ou sistemas de medi¸ c˜ ao pelos quais s˜ ao detectados − n˜ ao de modo independente no mundo objetivo.” Fundamentados neste postulado, respondemos afirmativamente as duas quest˜ oes levantadas no artigo citado. E mais geralmente, `a quest˜ao: O que existe?, respondemos: Nada. Nada existe independentemente de uma ECR. Nada existe absolutamente no Universo, ou ainda, nada existe de forma independente, tudo surge de rela¸c˜ oes. Observe que nossas respostas n˜ ao envolvem tergiversa¸c˜oes, palrice, nem mais nem menos, s˜ ao objetivas!. A prop´osito, como enfatizamos j´a no primeiro cap´ıtulo, ningu´em ´e obrigado a aceitar um postulado, no entanto, qualquer um pode tentar refutar um postulado − e consequentemente demolir (implodir) toda a teoria alicer¸cada naquele postulado. No caso da TRO aqui desenvolvida, ´e f´acil implod´ı-la: basta exibir algo (algum objeto, conceito, etc.) que exista absolutamente, isto ´e, sem depender de uma ECR, ´e simples assim! ∗ ` REALIDADE ONREALIDADES MISTAS – DA REALIDADE TANG´IVEL A ´ TOLOGICA/Silvia Laurentiz, Escola de Comunica¸c˜ oes e Artes, USP.

48


Por oportuno, dentro da TRO refutamos toda a ontologia cl´assica, veja por que: Ontologia (do grego ontos “ente”(ser) e logos, estudo discurso) ´e a parte da metaf´ısica que trata da natureza, realidade e existˆencia dos entes. Estamos afirmando: N˜ao existe “natureza, realidade e existˆencia dos entes”. N˜ao existe uma realidade independente do observador, isto ´e, de uma ECR. Uma cita¸c˜ ao famosa do fil´ osofo Immanuel Kant ´e esta: A realidade, tal como ela ´e, em sua essˆencia (noumeno) ´e incognosc´ıvel, ou seja, n˜ ao podemos conhecˆe-la. Portanto, jamais conhecemos as coisas em si (noumeno), mas somente tal como elas nos aparecem (fenˆ omenos). (Immanuel Kant/Cr´ıtica da Raz˜ao Pura)

Pois bem, dentro da TRO torna-se muito f´acil objetar ao fil´ osofo: n˜ ao existe uma realidade “tal como ela ´e ”; ademais, n˜ ao existe uma “coisa em si”. Perguntamos: qual a “coisa em si” de um pernilongo, seria a que Einstein percebe? seria a que o robˆ o percebe? ou seria uma outra? qual? N˜ao ´e dif´ıcil entender por que n˜ ao existe a “coisa em si” de qualquer objeto “material”. Com efeito, todos s˜ ao constituidos de a´tomos, estes, por sua vez, das part´ıculas subatˆomicas, a´ı ´e s´ o invocar a cita¸c˜ao em ep´ıgrafe deste cap´ıtulo: Poder-se-ia at´e afirmar que a realidade subatˆ omica, enquanto inobserv´ avel, n˜ ao ´e constituida de objetos, mas de rela¸co ˜es, e que as part´ıculas individuais n˜ ao existem como entidades f´ısicas reais. Somente possuem significado dentro da totalidade das rela¸co ˜es que mantˆem com as demais entidades, sobretudo com a consciˆencia do observador. (Marcelo Malheiros)

Ou seja, a n´ıvel subatˆomico n˜ ao existe mais a “identidade de um elemento”, neste n´ıvel tudo se dissolve, por assim dizer. J´ a foi dito que nenhuma analogia ´e perfeita. Vejamos uma grosseira analogia, n˜ ao obstante, pertinente ao contexto. Considere os objetos feitos de massa de modelar, estes n˜ ao possuem uma “identidade fixa”, a “coisa em si” das infinitas possibilidades ´e a massa de modelar, mas esta n˜ ao possui uma “identidade pr´ opria”, no sentido de que ela n˜ ao tem uma forma particular (r´ıgida), embora possa assumir a forma de qualquer objeto. O que vem a ser esta “massa de modelar” na estrutura do Universo ´e o que veremos na pr´ oxima sec¸c˜ao. 49


A no¸ca ˜o de Wheeler de um universo participativo foi ligada ao princ´ıpio antr´ opico, que afirma que o universo ´e desse jeito porque estamos aqui. Isso implica que, enquanto os humanos veem o universo por meio de conceitos humanos, que impomos ` a nossa experiˆencia, estamos sempre envolvidos num universo antropocˆentrico − estamos no centro do universo que habitamos e exploramos. John Wheeler Isso n˜ ao quer dizer que o universo, at´e mesmo todos os outros seres conscientes, n˜ ao existisse antes do surgimento da vida como a conhecemos, ou que v´ a desaparecer quando a esp´ecie humana extinguir-se. Apenas o universo como o concebemos, como existindo no passado, presente e futuro, vai desaparecer. De modo mais geral, todos os mundos poss´ıveis somem simultˆ aneamente com o desaparecimento das estruturas cognitivas de referˆencia dentro das quais s˜ ao apreendidos. Os mundos experiˆenciados por outros seres conscientes continuar˜ ao a existir em rela¸ca ˜o a eles. Nesse sentido, os observadores cocriam os mundos em que residem. ([1], p. 109/grifo nosso)

Para constatar − em um caso particular − que isto ´e verdade basta reconsiderar a figura de Einstein, o robˆ o e o pernilongo (p. 41). Se o robˆ o ou o Einstein (o ser humano) desparecesse da face do planeta a respectiva forma de percep¸c˜ ao de um pernilongo concomitantemente tamb´em desapareceria. Obviamente que estas conclus˜oes se aplicam em v´arios contextos, como mais um exemplo, observe a figura a seguir: (Caixa)

D eu

s

Pernilongo Pernilongo

(Gedankenexperiment)

Se os hindus ou crist˜ aos desaparecessem, a respectiva forma de percep¸c˜ao do que seja Deus tamb´em desapareceria da face da Terra. As outras formas (p. 47) continuariam.

50


2.4

O Nada: a massa de modelar do universo Observemos mais uma vez o postulado da TRO, veja:

“Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´ e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, independentemente dos meios pelos quais seja conhecido.” Ora, se “Tudo ´e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade ”, raciocinando por indu¸c˜ ao∗ vamos concluir que a origem de tudo “´e desprovida de natureza inerente pr´ opria, ou identidade ”, a esta origem de tudo ´e o que denominaremos de “Nada” ou “Vazio”. Enfatizamos: O Nada − que ´e a origem de tudo − na teoria da relatividade ontol´ ogica, ´e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade. O Nada n˜ ao ´e “algo”, n˜ ao ´e um “ser”, posto que est´ a desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, reiteramos. Alternativamente, podemo tomar a assertiva,

“O Vazio, a origem de tudo” como um segundo postulado na TRO que estamos construindo. Para mostrar que este postulado n˜ ao ´e arbitr´ario − ou que tem uma fundamenta¸c˜ao − vamos arrolar alguns testemunhos a favor do mesmo: osofo 1 o ) Marcelo Malheiros/Fil´ ´ importante assinalar que a no¸ca E ˜o de que o Nada, ou o Vazio, ´e fonte de energia − e de energia inesgot´ avel − est´ a perfeitamente de acordo com o esquema b´ asico de pensamento inerente ` a mecˆ anica quˆ antica. A id´eia de que h´ a infinitos estados de energia negativa e positiva, e sobretudo a especula¸ca ˜o de que um estado neutro de energia (o vazio), mediante uma flutua¸ca ˜o quˆ antica decorrente da instabilidade do vazio, do princ´ıpio de indetermina¸ca ˜o de Heisenberg, pode dar nascimento a uma grande onda de energia positiva e outra negativa (cuja soma seja zero), ´e uma cogita¸ca ˜o que hoje tem sido seriamente considerada pelos f´ısicos te´ oricos mais representativos da atualidade (Stephen Hawking, Roger Penrouse, Alan Guth, Paul Davies, John Gribbin, Heinz Pagels e muitos outros). A hip´ otese de que o Universo surgiu do Nada, a partir de uma simples oscila¸ca ˜o ou perturba¸ca ˜o do vazio, foi pela primeira vez sugerida pelo f´ısico americano Tryon em 1969. ([6], p. 164) ∗ A indu¸c˜ ao ´e o racioc´ınio que, ap´ os considerar um n´ umero suficiente de casos particulares, conclui uma “verdade” geral. As aspas significam verdade consensual.

51


2 o ) Um matem´ atico Charles Sanders Peirce (Cambridge, 10 de setembro de 1839 — Milford 19 de abril de 1914), foi um fil´osofo, cientista e matem´atico americano. Filho do matem´atico, f´ısico e astrˆonomo Benjamin Peirce, Charles, sob influˆencia paterna, formou-se na Universidade de Harvard em f´ısica e matem´atica, conquistando tamb´em o diploma de qu´ımico na Lawrence Scientific School.

O livro “O Conceito de Continuidade em Charles S. Peirce”∗ trata de l´ ogica e filosofia da matem´ atica. Apresenta uma se¸c˜ao sobre cosmogonia que a mim surpreendeu pelo fato de um l´ogico, filos´ ofo e matem´ atico puro tamb´em colocar o Vazio (Nada) como fundamento do Universo. Do livro:

O Nada Inicial

(p. 290)

Um dos objectivos das cosmologias ´e a origem do universo, a qual, no entanto, fica usualmente inexplicada. O princ´ıpio de continuidade obriga a ir para al´em dessa origem: obriga a compreender a passagem da n˜ ao existˆencia ` a existˆencia. “Existˆencia” designa aqui o nosso universo actual e as rea¸c˜ oes materiais entre os objectos que o comp˜ oe. Deve-se ir para l´a dessa existˆencia e conjecturar um processo evolutivo anterior a` pr´ opria origem. Resulta da´ı que a cosmologia peirceana ´e tamb´em uma cosmologia do universo anteriormente ` a sua existˆencia. [. . . ] H´a, pois, um processo evolutivo anterior `a existˆencia. Globalmente, Peirce distingue nele dois momentos: um “nada ca´otico” e um nada ainda ´ nesse Nada primitivo que devemais primitivo que esse nada ca´otico. E mos come¸car por nos concentrar. O Nada primitivo ´e um estado em que “o universo n˜ ao existia”, um “absoluto nada”. Contudo, esse Nada absoluto tem propriedades not´ aveis na medida em que a totalidade do nosso universo actual j´a se encontra nele em germe; com efeito, ele representa a totalidade das possibilidades. Colocamos em destaque: Contudo, esse Nada absoluto tem propriedades not´ aveis na medida em que a totalidade do nosso universo actual j´ a se encontra nele em germe; com efeito, ele representa a totalidade das possibilidades.

Ψ

∗ Por Ant´ onio Machado Rosa. Funda¸c˜ ao Calouste Gulbenkian (Funda¸c˜ ao para a Ciˆencia e a Tecnologia)/Dezembro de 2003.

52


3 o ) F´ısica quˆantica Metaforicamente, como eu sugeri, podemos pensar o v´ acuo como um vasto mar; e tudo quanto existe − as estrelas, a Terra, as ´ arvores, n´ os e as part´ıculas de que somos feitos −, como ondas nesse mar. Os f´ısicos denominam tais “ondas” − n´ os e tudo quanto existe − “excita¸co ˜es” ou “flutua¸co ˜es” do v´ acuo. (Danah Zohar/F´ısica)

opria Ciˆencia 4 o ) A pr´ Na Super Interessante de fevereiro de 2011 saiu uma reportagem ´ poss´ıvel criar mat´ com t´ıtulo: E eria a partir do nada. Cientistas descobrem como extrair part´ıculas do vazio − sem depender de nenhuma mat´eria-prima da natureza. Nada se cria, tudo se transforma. Essa lei da f´ısica pode estar sendo ultrapassada por um grupo de pesquisadores da Universidade de Michigan, que diz ter descoberto um meio de gerar mat´eria a partir do v´ acuo − popularmente conhecido como “nada”. Isso seria poss´ıvel porque, na verdade, o que n´ os chamamos de nada n˜ ao ´e um vazio absoluto. Est´ a cheio de part´ıculas de mat´eria e antimat´eria, que se anulam mutuamente. A novidade ´e que os pesquisadores descobriram um jeito de separ´ a-las [. . .] 5 o ) F´ısico Tomemos ent˜ ao um espa¸co sem mat´eria, “vazio”. A f´ısica quˆ antica mostra que, mesmo neste caso, flutua¸co ˜es de energia existem. O nada tem uma energia associada. Sendo assim, part´ıculas podem surgir dessas flutua¸co ˜es, mat´eria brotando do nada. Em 1948, H. Casimir, um f´ısico holandˆes, propˆ os que as flutua¸co ˜es do v´ acuo provocariam uma for¸ca atrativa entre duas placas met´ alicas. O efeito foi confirmado: por incr´ıvel que pare¸ca, a energia do nada foi medida re´ sempre bom lembrar que o vazio est´ a cheio de centemente no laborat´ orio. E energia. (Marcelo Gleiser/F´ısico)(grifo nosso) 6 o ) F´ısico Contradit´ orio? A nova ciˆencia explica: a base da existˆencia ´e, ao mesmo tempo, plena de possibilidades, sim, mas as possibilidades n˜ ao s˜ ao “coisas”, e por isso tamb´em podem ser chamadas de nada. (Amit Goswami)

53


7 o ) S´ abio Lao Ts´e

O Nada, ber¸co de todos os poss´ıveis Nas profundezas do Insond´ avel Jaz o Ser. Antes que c´eu e terra existissem, J´ a era o Ser Im´ ovel, sem forma, O V´ acuo, o Nada, ber¸co de todos os Poss´ıveis. Para al´em de palavra e pensamento Est´ a Tao, origem sem nome nem forma, A Grandeza, a Fonte eternamente borbulhante, O ciclo do Ser e do Existir.

(Lao Ts´e/Tao Te Ching)

8 o ) Filosofia budista O princ´ıpio da incerteza de Heisenberg sugere que viola¸co ˜es do princ´ıpio da conserva¸ca ˜o da energia podem ocorrer por causa de flutua¸co ˜es espontˆ aneas e imprevis´ıveis do v´ acuo que ´e o espa¸co. Isso foi legitimado por in´ umeros experimentos. De acordo com a mecˆ anica quˆ antica, a energia pode surgir do nada por um breve instante; quanto menor o intervalo, maior o desvio de energia. [. . . ] sugere que o v´ acuo pode n˜ ao estar preenchido apenas de energia ponto-zero, que pode ser medida objetivamente com t´ecnicas da f´ısica, mas tamb´em permeado de consciˆencia, que pode ser experiˆenciada subjetivamente com t´ecnicas de introspec¸ca ˜o. (Wallace/[1], pp. 53, 54)

Coloco em destaque (sobre o v´acuo): “. . . mas tamb´em permeado de consciˆencia, que pode ser experiˆenciada subjetivamente com t´ecnicas de introspec¸c˜ao.” Nota: Esta experiˆencia (consciˆencia do v´acuo) j´a realizei in´ umeras vezes − “com t´ecnicas de introspec¸c˜ao” −, assim ´e que este livro, que o leitor tem em m˜ aos, ´e fruto de um processo colaborativo entre este autor e a referida consciˆencia do v´acuo − pelo ao menos assim creio.∗ (p. 108) ∗

Por vezes acontece de algu´em est´ a trabalhando em um problema e, ao amanhecer, sem nenhum esfor¸co, tem um insight (ideia) “do Nada” que lhe permite resolver o problema. Eu digo que esta solu¸c˜ ao (insight) veio da “consciˆencia do v´ acuo”.

54


Em minha concep¸c˜ ao, esta ´e a raz˜ ao do conte´ udo do postulado da TRO, “Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´ e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, independentemente dos meios pelos quais seja conhecido.” ou seja, “tudo ´e desprovido de natureza inerente pr´ opria” por que tudo se origina do Vazio, Ele pr´ oprio desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade. Uma analogia para que nos fa¸camos melhor entender: Os sonhos, nosso c´erebro − durante os sonhos − cria os mais fant´asticos cen´ arios (“universos”), estes cen´ arios “s˜ ao desprovidos de natureza inerente, de identidade”, em nossa analogia. De igual modo ocorre com isto que chamamos “realidade”, tanto l´ a, quanto aqui, s˜ ao tudo constru¸c˜oes da mente, sonhos.

A espantosa capacidade de simula¸c˜ ao da mente Neste exato momento s˜ ao 03 : 56h da manh˜a, levantei-me da cama para redigir esta parte desta p´ agina por conta de um sonho que acabei de ter − decidi n˜ ao esperar at´e o amanhecer do dia para aproveitar que o sonho ainda encontra-se fresco em minha mente. Pois bem, o que me deixou impressionado no sonho foi a sua “realidade” no que diz respeito ` a “textura da realidade”, digo, no sonho, as coisas, as cores, etc., me pareciam t˜ ao reais, que eu repeti por diversas vezes (no sonho): n˜ ao, isto n˜ ao pode ser um sonho! n˜ ao pode ser, ´e tudo muito real! S´ o convenci-me de que realmente era um sonho quando acordei. Esta n˜ ao foi a primeira vez que tive sonhos desta natureza. De outra feita, estava consciente de que estava sonhando, decidi durante o sonho realizar algumas experiˆencias, como por exemplo esfreguei um pano na pele para sentir o tato, tudo perfeitamente real! Isto mesmo, dormindo meu c´erebro conseguia simular o sentido do tato de modo t˜ao real quanto se eu estivesse acordado. Lembrando da “vis˜ ao dos papagaios” e de Richard Dawkins (p. 42) concluimos, com precis˜ao cient´ıfica, que a realidade ´ e uma fun¸ c˜ ao da mente. Quero dizer: a realidade f´ısica na qual existimos e vivemos nada mais ´e que uma constru¸c˜ ao da mente: os sonhos est˜ ao a´ı para testemunhar da incr´ıvel (estupenda) capacidade da mente de simular “realidades”. Adendo: Segundo entendo, as pessoas que ainda n˜ ao se deram conta de que esta “realidade” na qual vivemos ´e mais uma constru¸c˜ao da mente (um sonho) ´e porque ainda est˜ ao dormindo, n˜ ao despertaram.

55


Como estas quest˜ oes filos´ oficas s˜ ao delicadas, sutis − e relevantes −, deixa eu tentar contribuir com uma ilustra¸c˜ao (analogia). Existe uma experiˆencia na f´ısica na qual um prisma ao receber a Luz branca a decomp˜oe em um espectro de frequˆencias, “as sete cores do arco´ıris ” , assim: Vermelho Alaranjado Amarelo

Luz Branca

Verde (Prisma)

Azul Anil Violeta

Pois bem, em nossa analogia, esta luz branca ´e a Consciˆencia do v´acuo − referida ` a p´ agina 54 −, o prisma ´e a mente do homem; as cores, s˜ ao tudo o que o homem produz, em particular os n´ umeros, a matem´ atica, ciˆencias, artes, etc. − e tamb´em as guerras.

Literatura Guerras N´ umeros Azuis

Produtos da mente

Artes (Mente) consci^ encia do homem

        

Luz Branca

       

N´ umeros Matem´ atica F´ısica

Consciˆencia

V´ acuo

“A mente ´e a verdadeira natureza das coisas ”

(Zen budismo)

Tudo veio a ser. N˜ ao h´ a fatos eternos nem verdades absolutas. (Nietzsche)

Da´ı por que dizer-se que consciˆencia e objeto s˜ ao binˆ omios insepar´ aveis, correlativos e complementares do que denominamos realidade. Real ´e aquilo que existe em uma (ou para uma) consciˆencia e de acordo com a estrutura condicionada e condicionadora dessa mesma consciˆencia. Procurar saber o que seja a realidade (o objeto de investiga¸ c~ ao) independentemente da consciˆencia e de nosso aparato cognitivo-sens´ıvel n˜ ao tem sentido, pois precisamos da consciˆencia para pensar nessa suposta “realidade independente”, que ser´ a sempre, ` a propor¸ca ˜o que a pensamos, uma realidade para “uma” consciˆencia, uma realidade pensada. (Marcelo,[6], p. 22) 56


Plat˜ ao e o “Mundo das ideias” Na filosofia de Plat˜ ao encontramos duas realidades diferentes que envolvem o ser humano, o Mundo das Ideias e o Mundo das Sombras, conhecido tamb´em como Mundo dos sentidos. O mundo sens´ıvel ´e apenas uma c´opia do mundo ideal; o objeto da ciˆencia deve ser o mundo real das Ideias. Para Plat˜ ao, o mundo real (sens´ıvel) apenas reflete um mundo puro de entidades perfeitas, imut´ aveis e eternas; em particular, os conceitos matem´ aticos. A filosofia de Plat˜ ao teve, e ainda tem, grande influˆencia na concep¸c˜ao filos´ ofica de cientistas e matem´ aticos; raz˜ ao porque decidimos incorporar em nosso trabalho este adendo. Em nossa concep¸c˜ ao, n˜ ao existe um Mundo das Ideias, o que existe ´e o V´acuo; este V´acuo (“Oceano”) de fato cont´em todas as possibilidades, todavia, apenas em potˆencia. As “Ideias” surgem da intera¸ca˜o entre o V´acuo e a mente do homem, vejamos isto na ilustra¸c˜ao:

Artes (Mente)

Ideias

“Luz Branca”

        

Ψ

       

N´ umeros Matem´ atica F´ısica

V´ acuo

Literatura Guerras N´ umeros Azuis

Reiteramos, n˜ ao existe um “Mundo das Ideias”, existe o V´acuo com todas as suas potencialidades, em especial as ideias, entretanto, sem o “prisma” estas ideias n˜ ao veem ` a existˆencia. Uma analogia: ao contr´ ario do que a quase totalidade dos homens imagina, o sol n˜ ao brilha, o sol n˜ ao emite luz, emite ondas eletromagn´eticas que ao interagirem com o olho humano resulta em luz. Mesmo que um grande n´ umero de pessoas olhem um carro de bombeiro e o vejam como vermelho, isso n˜ ao significa que a cor exista independentemente das faculdades visuais delas. (Alan Wallace/Fil´ osofo)

57


A luz existe apenas como uma potencialidade na onda, entretanto, sem a mente, “´e mesmo que nada!”.

          

           

Sol

Assim como a luz surge nesta intera¸ c~ ao...

         

          

V´acuo

Mente

Φ

qualquer ideia surge nesta intera¸ c~ ao.

Querer, como quer Plat˜ ao, que existam ideias independentemente da mente ´e como querer que exista luz sem o olho, ou som sem o ouvido. A n˜ ao ser que Plat˜ ao admita que o Demiurgo possua atributos humanos, tais como pensamentos e desejos. Se for este o caso, sua filosofia resvala para o misticismo e pouco diferir´ a das teologias comuns.

No Nada as possibilidades contradit´ orias s˜ ao simultˆ aneas, e por isso se anulam reciprocamente. O Nada ´e, assim, a totalidade simultˆ anea das possibilidades contradit´ orias. (Marcelo Malheiros/[6], p. 43)

58

0

0

0

1 0

0 1

0 0

1 0

1 0

0 1

1 0

0 1

1 1

1

1

1


Adendo: O cientista Stephen Hawking escreveu: N˜ ao h´ a, por´em, como discernir o que ´e real no universo sem uma teoria. Assumo por isso o ponto de vista, j´ a qualificado de simpl´ orio ou ingˆenuo, de que uma teoria da f´ısica ´e nada mais nada menos que um modelo matem´ atico que usamos para expressar os resultados de observa¸co ˜es. Uma teoria [verdade] ´e boa se for um modelo elegante, se descrever uma ampla classe de observa¸co ˜es, e se previr o resultado de novas observa¸co ˜es. N˜ ao faz sentido ir al´em disso, perguntando se ela corresponde ` a realidade, porque, independentemente de uma teoria, n˜ ao sabemos o que ´e realidade. (Stephen Hawking) Colocamos em destaque: Independentemente de uma teoria, n˜ ao sabemos o que ´ e realidade.

Perguntamos: Ser´ a que existe uma realidade independentemente de uma teoria? N˜ao seria a teoria que cria a realidade? De outro modo: a mente humana cria a teoria e a teoria cria a realidade; ou seja, a mente est´ a por tr´ as de tudo. Parece absurdo? Paradoxal? Observe quantas teorias para fundamentar a f´ısica quˆantica:

(1) Ondulat´ oria Realista. (2) Corpuscular Realista.

F´ısica Quˆantica

(3) Dualista Realista. (4) Dualista Fenomenalista. (5) Corpuscular Fenomenalista.

Cada teoria destas n˜ ao corresponderia a uma realidade? Por tr´ as destas teorias existem postulados (ou axiomas), que n˜ ao s˜ ao verdadeiros (nem falsos), como j´a salientamos; logo, ` aquele postulado (teoria) que vocˆe aderir ´e a realidade que vocˆe est´ a criando (aderindo). Uma analogia, ´e como se cada esp´ecie de animal criasse uma “teoria” para si, dando origem a realidades distintas, veja: O que vemos do mundo real n˜ ao ´e o mundo real intocado, mas um modelo do mundo real, regulado e ajustado por dados sensoriais − um modelo que ´e constru´ıdo para que seja u ´til para lidar com o mundo real. A natureza desse modelo depende do tipo de animal que somos. Um animal que voa precisa de um modelo de mundo diferente do de 59


um animal que anda, que escala ou que nada. Predadores precisam de um modelo diferente dos das presas, embora seus mundos necessariamente se sobreponham. O c´erebro de um macaco precisa ter uma programa¸ca ˜o capaz de simular um labirinto tridimensional de galhos e troncos. O c´erebro de um notonect´ıdeo n˜ ao precisa de um programa em 3D, j´ a que mora na superf´ıcie de um lago na Fatland de Edwin abbott. O software para construir modelos do mundo de uma toupeira ´e adaptado para uso subterrˆ aneo. (Richard Dawkins/Bi´ologo)

Observe, “Predadores precisam de um modelo diferente dos das presas, embora seus mundos necessariamente se sobreponham.” Estas teorias da f´ısica quˆantica s˜ ao realidades que se sobrep˜oem, sem que uma seja necess´ariamente mais real (“verdadeira”) que as demais. Uma outra analogia, volto novamente ao Einstein e o robˆ o,

(Caixa)

Pernilongo Pernilongo

(Gedankenexperiment)

ficar discutindo qual “teoria” (percep¸c˜ao) corresponde a` verdadeira realidade de um pernilongo − se a do Einstein ou a do robˆ o − ´e pura perda de tempo. Independente de uma teoria (isto ´e, das respectivas ECR’ s) n˜ ao sabemos qual ´e a “realiadade” (essˆencia) de um pernilongo − a bem da verdade, n˜ ao existe, ` a medida que formos nos aprofundando na an´ alise (ampliando o zoom) o “pernilongo” se desfaz, perde sua identidade, que existe apenas de uma dada perspectiva. ´ o que acontece com as part´ıculas subatˆomicas (ep´ıgrafe, p. 37). E

60


Uma experiˆ encia que prova que at´ e aquilo que vocˆ e ver e toca, ´ e uma constru¸c˜ ao da sua mente Vamos mostrar uma experiˆencia que prova que mesmo aquilo que vemos e tocamos com o nosso dedo pode ser, ´e, uma ilus˜ ao construida por nossa mente e, portanto, n˜ ao tem existˆencia “l´a fora”. Ent˜ ao, considere uma pequena esfera presa `a extremidade de um barbante, girando, assim:

De uma outra perspectiva,

ω = 2πf

ω

Aumentando a velocidade (frequˆencia) de rota¸c˜ao, em dado momento vocˆe vai observar um “c´ırculo de mat´eria”. E mais: em uma dada frequˆencia de rota¸c˜ ao, em qualquer lugar do c´ırculo que vocˆe tocar com o dedo, vai topar com mat´eria. Mas como pode ser isto? A princ´ıpio n˜ ao tinhamos apenas um “ponto de mat´eria”? Espero ter convencido o leitor de que a mente pode dar consistˆencia, “realidade” , at´e ` aquilo que n˜ ao existe. Lembra da gravidez psicol´ ogica? O mais importante: este ´e, precisamente, o n´ıvel de “realidade” dos objetos religiosos, das cren¸cas religiosas, s˜ ao tudo constru¸c˜oes da mente. 61


Tudo o que existe surge na dependˆ encia de uma estrutura A f´ısica precisa limitar-se ` a descri¸ca ˜o das rela¸co ˜es entre as percep¸co ˜es. A coisa em si n˜ ao lhe ´e acess´ıvel, apenas as rela¸co ˜es entre as coisas. (J¨ urgen Neffe/PhD em bioqu´ımica) Pretendemos enfatizar que o postulado da TRO aplica-se numa mir´ıade de contextos, os mais diversos poss´ıveis, veja novamente: “Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´ e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, independentemente dos meios pelos quais seja conhecido. Objetos percebidos, ou entidades observ´ aveis, existem em rela¸ c˜ ao ` as faculdades sensoriais ou sistemas de medi¸ c˜ ao pelos quais s˜ ao detectados − n˜ ao de modo independente no mundo objetivo.” Ora, se tudo o que apreendemos − perceptiva ou conceitualmente − ´e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, ent˜ao, como tudo surge e se sustenta?

          

A luz surge nesta intera¸ c~ ao

O sol n˜ ao emite luz

           

c˜ ao de Respondemos: Tudo surge e se sustenta dentro de uma rela¸ dependˆ encia, dentro de uma estrutura. Por exemplo, a luz n˜ ao tem existˆencia independentemente do olho (transdutor), ´e a estrutura olho que faz com que surja o fenˆomeno luz.

Observe que desta perspectiva (estruturas) cai por terra a no¸c˜ao de “causa e efeito”. Perguntamos:

qual a causa da luz? qual a causa do som? 62


Existem religi˜ oes que, para ludibriar os incautos, auto-intitulam-se “cient´ıficas”, acontece que muitos conceitos cient´ıficos adotados em uma ´epoca, caem por terra em s´eculos posteriores, as “religi˜ oes cient´ıficas” n˜ ao se atualizam em seus dogmas. Vejamos um exemplo, cai por terra uma das “provas” da existˆencia de Deus, que invoca a no¸c˜ao de causalidade. Por exemplo, − O Livro dos Esp´ ıritos 4. Onde podemos encontrar a prova da existˆ encia de Deus? − Num axioma que aplicais ` as vossas ciˆencias: n˜ ao h´ a efeito sem causa. Procurai a causa de tudo o que n˜ ao ´e obra do homem e vossa raz˜ ao vos responder´a. Coment´ ario de Kardec: Para crer em Deus ´e suficiente lan¸car os olhos `as obras da cria¸c˜ ao. O universo existe; ele tem, portanto, uma causa. Duvidar da existˆencia de Deus seria negar que todo efeito tem uma causa, e avan¸car que o nada pˆ ode fazer alguma coisa. O Argumento da causa primeira Talvez o mais simples e o mais f´acil de compreender-se seja o argumento da Causa Primeira. (Afirma-se que tudo o que vemos neste mundo tem uma causa e que, se retrocedermos cada vez mais na cadeia de causas, acabaremos por chegar a uma Causa Primeira, e que a essa Causa Primeira se d´ a o nome de Deus). Esse argumento, creio eu, n˜ ao tem muito peso hoje em dia, em primeiro lugar porque causa j´a n˜ ao ´e bem o que costumava ser. Os fil´ osofos e os homens de ciˆencia tˆem martelado muito a quest˜ao de causa, e ela n˜ ao possui hoje nada que se assemelhe `a vitalidade que tinha antes; mas, `a parte tal fato, pode-se ver que o argumento de que deve haver uma Causa Primeira ´e um argumento que n˜ ao pode ter qualquer validade. [. . .] Se tudo tem de ter uma causa, ent˜ao Deus deve ter uma causa. Se pode haver alguma coisa sem uma causa, pode muito bem ser tanto o mundo como Deus, de modo que n˜ ao pode haver qualquer validade em tal argumento. Este, ´e exatamente da mesma natureza que o ponto de vista hindu, de que o mundo se apoiava sobre um elefante e o elefante sobre uma tartaruga, e quando algu´em perguntava: “E a tartaruga?” , o indiano respondia: “Que tal se mud´ assemos de assunto?”. O argumento, na verdade, n˜ ao ´e melhor que este. N˜ao h´ a raz˜ ao pela qual o mundo n˜ ao pudesse vir a ser sem uma causa; por outro lado, tampouco h´ a qualquer raz˜ ao pela qual o mesmo n˜ ao devesse ter sempre existido. N˜ao h´ a raz˜ ao, de modo algum, para se supor que o mundo teve um come¸co. A id´eia de que as coisas devem ter um come¸co ´e devido, realmente, ` a pobreza de nossa imagina¸c˜ao. Por conseguinte, eu talvez n˜ ao precise desperdi¸car mais tempo com o argumento da Causa Primeira. (Bertrand Russel/Porque N˜ ao Sou Crist˜ ao) 63


´ a estrutura que confere a identidade de um elemento E N˜ao podemos perder de vista que ´e a estrutura que legitima um “indiv´ıduo”, por exemplo, voltando ao jogo de xadrez no qual substituimos as pe¸cas por cereais,

feij˜ao → Rei arroz → pe˜ oes

.. .

.. .

.. .

milho → torres

um mero caro¸co de feij˜ ao, na estrutura xadrez torna-se um rei. Como mais um exemplo da “metamorfose” conferida pela estrutura, o Brasil est´ a empestado de ratazanas (bandidos) que, ao ingressarem na estrutura pol´ıtica, tornam-se “vossa excelˆencia”:

Assim como um mero caro¸co de feij˜ ao torna-se um “rei” ao ingressar na estrutura xadrez, bandidos tornam-se “vossa excelˆencia” ao ingressar na estrutura pol´ıtica brasileira.

64


Assim como um mero caro¸co de feij˜ ao torna-se um “rei” ao ingressar na estrutura xadrez, bandidos tornam-se pastores de ovelhas e homens ungidos por “Deus”, ao ingressarem em uma estrutura religiosa: - Eu n˜ ao tenho onde reclinar minha cabe¸ca. (Jesus) (Os bandidos trocaram o rev´olver pela B´ıblia!)

Reflitamos novamente sobre o postulado da TRO, veja: “Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´ e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade.” Tanto os bandidos que grassam na pol´ıtica quanto os lobos vestidos em ao desprovidos de natureza inerente pele de cordeiro das religi˜ oes, s˜ ao exercem nenhum “mandato divino”. O que d´ a suspr´ opria, ou seja, n˜ tenta¸c˜ao a esta corja − estrutura − por um lado ´e o n´ıvel de inconsciˆencia das massas, por outro, o oportunismo das aves de rapina (abutres), ´e s´ o isto! Para implodir uma estrutura basta eliminar as causas que a sustentam. Basta uma retrospectiva pela hist´ oria humana para vermos que ´e assim mesmo. Onde encontram-se hoje os poderosos imp´erios do passado? Onde encontram-se hoje os poderosos imperadores do passado? A estrutura chave (capital) a ser demolida chama-se ego, trataremos disto oportunamente. Transcender o ego n˜ ao ´e uma aberra¸ca ˜o mental nem uma alucina¸ca ˜o psic´ otica, sen˜ ao um estado ou n´ıvel de consciˆencia infinitamente mais rico, mais natural e mais satisfat´ orio do que o ego poderia imaginar em seus vˆ oos mais desatinados de fantasia. (Ken Wilber/O Espectro da Consciˆenca, p. 21) 65


Adendo: Na p´ agina 60 o cientista Richard Dawkins escreveu: “Predadores precisam de um modelo diferente dos das presas, embora seus mundos necessariamente se sobreponham. Os animais − por suas diferen¸cas cerebrais − vivem em mundos distintos, embora sobrepostos. Da mesma forma acontece com os seres humanos, vivem em mundos distintos (incluindo a cultura e religi˜ ao) embora sobrepostos. Na p´ agina 146 um dos objetivos que um m´ıstico se colocou foi o de “lutar contra todos os tipos de estupidez, quaisquer que fossem as conseq¨ uˆencias”. Um objetivo nobre, reconhe¸co, no entanto, sou menos exigente, n˜ ao luto contra a estupidez pela estupidez, pois, segundo entendo, ser est´ upido ´e um direito do ser humano, por que n˜ ao? Minha indigna¸c˜ao se volta contra os charlat˜ aes e bandidos, tanto da pol´ıtica quanto das religi˜ oes − n˜ ao vejo diferen¸ca. Minha indigna¸c˜ao se volta contra os lobos vestidos em pele de cordeiro. Ademais, sinceramente, penso que todos os ateus e materialistas s˜ ao dignos de admira¸c˜ ao e respeito pela coragem com que encaram a vida, est˜ ao dispostos ao “sacrif´ıcio”, digo, segundo eles tudo termina aqui. N˜ao dobraram a espinha buscando consolo nas fantasias religiosas; digo fantasias pois que n˜ ao resitem ` a mais tˆenue das l´ogicas. Tenho visto um sem-n´ umero de cientistas e intelectuais que abrem m˜ ao da raz˜ ao da mais elementar das l´ ogicas “por um pedacinho do para´ıso”, tˆem medo de raciocinar, s˜ ao covardes, n˜ ao merecem respeito. S˜ ao os mendigos do para´ıso.

O FACTOR DEUS

´ SARAMAGO Por JOSE

[. . .] De algo sempre haveremos de morrer, mas j´a se perdeu a conta dos seres humanos mortos das piores maneiras que seres humanos foram capazes de inventar. Uma delas, a mais criminosa, a mais absurda, a que mais ofende a simples raz˜ ao, ´e aquela que, desde o princ´ıpio dos tempos e das civiliza¸c˜ oes, tem mandado matar em nome de Deus. J´ a foi dito que as religi˜ oes, todas elas, sem excep¸c˜ao, nunca serviram para aproximar e congra¸car os homens, que, pelo contr´ ario, foram e continuam a ser causa de sofrimentos inenarr´aveis, de mortic´ınios, de monstruosas violˆencias f´ısicas e espirituais que constituem um dos mais tenebrosos cap´ıtulos da miser´avel hist´ oria humana. Ao menos em sinal de respeito pela vida, dever´ıamos ter a coragem de proclamar em todas as circunstˆancias esta verdade evidente e demonstr´ avel, mas a maioria dos crentes de qualquer religi˜ ao n˜ ao s´ o fingem ignor´ a-lo, como se levantam iracundos e intolerantes contra aqueles para quem Deus n˜ ao ´e mais que um nome, nada mais que um nome, o nome que, por medo de morrer, lhe pusemos um dia e que viria a travar-nos o passo para uma humaniza¸c˜ ao real. Em troca prometeram-nos para´ısos e amea¸caramnos com infernos, t˜ ao falsos uns como os outros, insultos descarados a uma inteligˆencia e a um sentido comum que tanto trabalho nos deram a criar.

66


Cap´ıtulo

3

Teoria da relatividade epistemol´ogica As explica¸co ˜es cient´ıficas n˜ ao se referem ` a verdade, mas configuram um dom´ınio de verdade, ou v´ arios dom´ınios de verdades conforme a tem´ atica na qual se dˆeem. (Humberto Maturana/Cogni¸ca˜o, ciˆencia e vida)

Introdu¸ c˜ ao: A internet nos traz v´arios significados (acep¸c˜oes) para a palavra episao porque sentimos a necessidade de delimitarmos a acep¸c˜ao temologia, raz˜ que teremos em mente neste livro: 1 o ) O termo “Epistemologia” vem do grego e pode ser traduzido como “estudo do conhecimento” ou “teoria do conhecimento”. Em termos gerais, portanto, n˜ ao h´ a diferen¸ca entre Epistemologia e Teoria do Conhecimento. 2 o ) Epistemologia ´e a disciplina tradicional da filosofia, tamb´em conhecida por “Teoria do Conhecimento”, que trata de problemas como “o que ´ e o conhecimento?”, “o que podemos conhecer?”, “qual ´ e a origem do conhecimento?”, “como justificamos as nossas cren¸ cas?”, envolvendo um conjunto de no¸c˜ oes relacionadas entre si, como “conhecer”, “perceber”, “prova”, “cren¸ ca”, “certeza”, “justifica¸ c˜ ao” e “confirma¸ c˜ ao”, entre outras. 3 o ) A Epistemologia estuda a origem, a estrutura, os m´etodos e a validade do conhecimento, e tamb´em ´e conhecida como teoria do conhecimento e relaciona-se com a metaf´ısica, a l´ogica e a filosofia da ciˆencia.

67


Neste cap´ıtulo estaremos delimitando ainda mais nosso objetivo, nos interessa dissertar sobre a verdade, e, para isto, nosso balizamento ser´ ao que ´e verdade nas disciplinas f´ısica e matem´ atica, notadamente.

3.1

O postulado da teoria da relatividade epistemol´ ogica

Para desenvolver a teoria da relatividade epistemol´ ogica − doravante abreviada por TRE − podemos adotar o mesmo postulado da TRO, qual seja: “Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´ e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, independentemente dos meios pelos quais seja conhecido. Objetos percebidos, ou entidades observ´ aveis, existem em rela¸ c˜ ao ` as faculdades sensoriais ou sistemas de medi¸ c˜ ao pelos quais s˜ ao detectados − n˜ ao de modo independente no mundo objetivo.” A justificativa para esta escolha encontra-se no termo em destaque acima. De in´ıcio, o que podemos afirmar a respeito da verdade? Ora, se o existir ´e dependente de uma estrutura cognitiva de referˆencia, com mais raz˜ ao ainda, a verdade ´e dependente de uma ECR. Em poucas palavras: ´ RELATIVA! A VERDADE E

O nosso posicionamento se harmoniza como o do bi´ ologo Humberto Maturana, citado ` a p´ agina 18: Agora, a ciˆencia, os cientistas falam de buscar a verdade. Eu n˜ ao lhes disse isso. O que faz com que algu´em seja um cientista ´e a paix˜ ao pelo explicar, n˜ ao pelo buscar a verdade. Quando os cientistas falam de buscar a verdade, certamente est˜ ao na objetividade sem parˆenteses. Para mim a verdade n˜ ao interessa. E n˜ ao me interessa porque cada vez que se fala da verdade, o que se escuta ´e uma referˆencia a uma realidade independente do observador. E eu sei, por esta reflex˜ ao, que isto ´e uma suposi¸ca ˜o que n˜ ao tem fundamento. [. . . ] Certamente, toda afirma¸ca ˜o ´e v´ alida no dom´ınio de validade especificado pelas coerˆencias que a constituem. Colocamos em destaque o trecho que se harmoniza com o postulado da TRE, veja: cada vez que se fala da verdade, o que se escuta ´e uma referˆencia a uma realidade independente do observador. E eu sei, por esta reflex˜ ao, que isto ´e uma suposi¸ca ˜o que n˜ ao tem fundamento. 68


Na TRE estabelecemos a seguinte defini¸c˜ao: Defini¸ c˜ ao 4 (Verdade). Uma proposi¸ca ˜o ´e verdadeira se puder ser demonstrada dentro de uma teoria. Uma teoria (p. 10) est´ a fundamentada em um ou mais postulados, um postulado, a rigor, n˜ ao ´e nem verdadeiro nem falso, no m´ aximo podemos consider´a-lo convencionalmente verdadeiro, logo, tudo o que deriva de um postulado ´e tamb´em convencionalmente verdadeiro. Uma verdade ´e dependente de uma ECR, logo, mudando-se a estrutura cognitiva de referˆencia a verdade tamb´em muda; ´e o que iremos ver agora numa s´erie de exemplos, confirmando com isto o que afirma Maturana: Certamente, toda afirma¸ c˜ ao ´ e v´ alida no dom´ınio de validade especificado pelas coerˆ encias que a constituem. O oposto de uma verdade ´e mentira, mas o oposto de uma verdade profunda pode muito bem ser outra verdade profunda. (Niels Bohr/f´ısico)

1 o ) Perguntamos: Qual o pernilongo verdadeiro? Qual o Deus verdadeiro? (Caixa)

D eu

s

Pernilongo Pernilongo

(Gedankenexperiment)

Para Einstein ´e o pernilongo captado por sua ECR, ´ıdem para o robˆ o; para um Hindu Deus ´e aquilo que ´e apreendido por sua ECR, ´ıdem para um crist˜ ao; ´e simples assim. 69


2 o ) Perguntamos: Qual o resultado da seguinte adi¸c˜ao,

1+1

?

Respondemos: depende da ECR, para a mente de Galileu o resultado ´e 1 + 1 = 2, se a mente ´e a de Einstein, ent˜ao 1 + 1 6= 2. (p. 47)

1+1 =2

1+1<2

3 o ) Considere a figura a seguir:

(p. 24)

A

t

q1

0

B

C

t

t 1

2

´ verdade que o ponto A encontra-se mais pr´ Perguntamos: E oximo da origem que o ponto C ? Respondemos: depende da estrutura cognitiva de referˆencia. Se a ECR ´e a do geˆometra Euclides isto ´e verdade, 1 2

A

0

t

p

B

C

t

t

0,5

0,6

1

ր

Origem 0

0,1

0,2

0,3

0,4

0,7

0,8

0,9

1

Por outro lado, se a ECR ´e a do iconoclasta, a´ı resulta falso, podemos at´e provar isto matematicamente, veja: (p. 25) 1 2

A

0

p

B

C

t

t

t

0,4

0,5

0,4

1

ր

Origem 0

0,1

0,2

0,3

70

0,3

0,2

0,1

0


4 o ) Perguntamos: ´e verdade que a soma dos ˆangulos de um triˆ angulo ´e 180 o ? A verdade neste caso, como sempre, depende da ECR considerada.

Para a ECR de Euclides ´e verdade que a soma dos ˆangulos de um triˆ angulo o ∗ vale 180 , j´a para as ECR’s de Lobachevsky e Riemann isto n˜ ao ´e verdade. 5 o ) Considere o quadrado de lado 1200 km (ou anos-luz), a seguir, 1200

1200

R4

R3

R1

R2

800

400

s 0

0

1200

400

800

1200

No “universo euclidiano” ´e verdade que a distˆ ancia da origem, 0, para as regi˜ oes R2 e R4 vale 800 km, j´a no “universo quˆantico” isto ´e mentira, pode ser provado matematicamente que a distˆ ancia da origem para qualquer uma das quatro regi˜ oes da figura vale 0 km (´e nula). O oposto de uma verdade ´e mentira, mas o oposto de uma verdade profunda pode muito bem ser outra verdade profunda. (Niels Bohr/f´ısico)

Cremos que estes exemplos s˜ ao suficientes para levarmos Maturana um pouco mais a s´erio: Certamente, toda afirma¸ c˜ ao ´ e v´ alida no dom´ınio de validade especificado pelas coerˆ encias que a constituem. ∗ Ivanovich Lobachevsky (1793-1856) e Bernhard Riemann (1826-1866) publicaram a descoberta de geometrias n˜ ao-euclidianas.

71


A prop´osito, podemos ver a afirma¸c˜ao do f´ısico Niels Bohr, “O oposto de uma verdade ´e mentira, mas o oposto de uma verdade profunda pode muito bem ser outra verdade profunda”. como uma franca discordˆancia da L´ ogica. Digo, Bohr discorda de um postulado basilar da l´ ogica aristot´elica, que ´e a Lei do Terceiro Exclu´ıdo que afirma “para qualquer proposi¸ca ˜o, ou esta proposi¸ca ˜o ´e verdadeira, ou sua nega¸ca ˜o ´e verdadeira”. Um matem´ atico de primeira linha, − L.E.J Brouwer (1881-1966) −, tamb´em rejeitou este postulado bimilenar, inclusive contrapondo-se ` a posi¸c˜ao de outros eminentes matem´ aticos, a exemplo de David Hilbert (1862-1943). ∗ ∗ ∗

O segundo argumento para a rejei¸c˜ao do TEX [Lei do Terceiro Exclu´ıdo] que ´e objeto de nosso estudo ´e a no¸c˜ao de existˆencia. As matem´ aticas construtivistas divergem da matem´ atica cl´assica principalmente no que concerne a no¸c˜ ao de existˆencia, pois enquanto para esta u ´ltima a existˆencia de um objeto matem´ atico ´e assegurada por uma realidade independente da mente, para os intuicionistas a existˆencia de um objeto matem´ atico s´ o ´e poss´ıvel quando ´e analisada em termos de constru¸c˜oes mentais, rejeitando a existˆencia transcendental dos objetos matem´ aticos. Neste sentido “existe” ´e sinˆ onimo de “pode ser constru´ıdo”, e a exigˆencia de uma constru¸c˜ao mental para a afirma¸c˜ ao da existˆencia dos objetos matem´ aticos legitimaria a rejei¸c˜ ao da validade do TEX para dom´ınios infinitos de julgamento. [. . . ] Outra no¸c˜ ao matem´ atica reformulada pelo Intuicionismo, a fim de legitimar a rejei¸c˜ ao do TEX, ´e a no¸c˜ao de infinito. Para os intuicionistas, a concep¸c˜ ao cl´ assica do conceito de infinito estaria amparada na cren¸ca indubit´avel na validade do TEX. Pois na matem´ atica Cl´ assica o infinito ´e entendido como atual. Isto significa, em poucas palavras, que o infinito pode ser concebido como uma entidade completa, acabada: todos os seus elementos podem ser pensados num ato u ´nico, ou ainda, o infinito como objeto. A cren¸ca no infinito como totalidade acabada, como um objeto matem´ atico, legitimaria o uso do TEX. A alega¸c˜ao de Brouwer ´e que a matem´ atica cl´ assica seria favor´ avel ao TEX por tratar dom´ınios infinitos usando o mesmo racioc´ınio usado em opera¸c˜ao em dom´ınios finitos. A fim de combater esta compreens˜ao cl´assica, o Intuicionismo desenvolve sua no¸c˜ao matem´ atica de infinito entendendo-o como potencial, ou seja, um processo atrav´es do qual um n´ umero cresce, impossibilitando a cren¸ca indubit´avel na validade universal do TEX, uma vez que seria humanamente imposs´ıvel verificarmos caso a caso um conjunto que est´ a sempre a crescer. Desta forma, os intuicionistas afirmam a validade do TEX apenas para dom´ınios finitos, devido a nossa capacidade de verificar neste caso se (A ∨ ¬A).∗ ∗ FONTE: A Rejei¸ca˜o do Princ´ıpio do Terceiro Exclu´ıdo e suas Consequˆencias na Aritm´etica de Heyting/Jackeline Nogueira Paes. (Disserta¸ca˜o)

72


3.2

O que ´ e a verdade?

L´ ogicos, matem´ aticos e filos´ ofos, atrav´es de argumentos ultra-eruditos, sofisticados, j´a tentaram − ao longo dos s´eculos − captar a essˆencia da verdade, isto ´e, responder ` a pergunta “O que ´e a verdade?”. Talvez possamos aqui tentar uma modesta contribui¸c˜ao a respeito desta relevante e decisiva quest˜ ao. A nossa resposta n˜ ao envolve nenhum grau de sofistica¸c˜ ao, ´e bem elementar e compreens´ıvel a qualquer homem de boa vontade, dizemos que: Verdade ´ e tudo aquilo que um determinado grupo de homens decide o que seja. Esta nossa “ingˆenua” defini¸c˜ ao se estriba em extensas observa¸c˜oes tanto no ˆambito da matem´ atica quanto no da f´ısica − conforme exemplificamos de sobejo no primeiro cap´ıtulo deste livro. Ora, se assim se d´ a na matem´ atica e na f´ısica, por que nas outras disciplinas cient´ıficas teria que ser diferente? E mais geralmente: por que teria que ser diferente na teologia ou filosofia? Reiteramos: Toda (suposta) verdade que se possa ouvir, que se possa ler, necess´ariamente passou pela mente de algum homem, a estrutura cog´ necess´ario que se entenda que toda verdade ´e uma nitiva de referˆ encia. E das “cores” ap´ os o prisma (mente humana): Absoluto Luz Branca (Consciˆencia)

(Mente)

n

Ψ

Verdades

No Absoluto (V´acuo, infinito, etc.) n˜ ao existe nenhuma verdade (“cor”), as cores ap´ os o prisma s˜ ao as diversas verdades: da matem´ atica, da filosofia, da l´ogica, da religi˜ ao, etc. Em acr´escimo, no ˆ ambito das religi˜ oes existem os espertos e os tolos, os ingˆenuos; os espertos s˜ ao todos aqueles que se auto-intitulam “porta-vozes do Deus Alt´ıssimo” − os que negociam lotes no paraiso (padres, pastores, rabinos, papas, etc.) −, os espertos s˜ ao os que programam (como se programa um robˆ o) os tolos para acreditarem na “Palavra de Deus” (B´ıblias), de onde emanam todas as leis, todas as verdades! Pergunto: quando os idiotas ser˜ ao extintos da face do planeta? − N˜ao importa se estes idiotas trajam palet´ o e gravata, se s˜ ao professores universit´ arios, se s˜ ao psicol´ ogos ou psiquiatras, n˜ ao podemos fazer distin¸c˜ao entre idiotas, se ilustres (diplomados) ou iletrados, idiota ´e idiota, ponto!. 73


3.2.1

A epistemologia do Vazio

A verdade absoluta, n˜ ao passa do resultado de um conformismo absoluto. (Paul Feyerabend/fil´osofo da ciˆencia)

Lembramos que na sec¸c˜ao 2.4 (p. 51) escrevemos a respeito do Vazio: Enfatizamos: O Nada − que ´e a origem de tudo − na teoria da relatividade ontol´ ogica, ´e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade. O Nada n˜ ao ´e “algo”, n˜ ao ´e um “ser”, posto que est´ a desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, reiteramos. Lembramos Maturana: Certamente, toda afirma¸ c˜ ao ´ e v´ alida no dom´ınio de validade especificado pelas coerˆ encias que a constituem. Daqui deduzimos que n˜ ao existe uma verdade absoluta. A partir da p´ agina 69 mostramos cinco exemplos de que a verdade ´e dependente de uma ECR. A raz˜ ao para isto, em nossa TRE, ´e que o Nada∗ n˜ ao ´e uma estrutura cognitiva de referˆencia, n˜ ao processa informa¸c˜oes, n˜ ao encontramos nenhum referencial no Nada, a partir do qual possamos enunciar qualquer verdade absoluta. O que seria uma verdade absoluta? Durante algum tempo procuramos por uma defini¸c˜ao para verdade absoluta. Fomos buscar inspira¸c˜ao numa proposi¸c˜ao de Tagore, no di´ alogo com Einstein, referido ` a p´ agina 39, diz ele: Se alguma verdade existe que n˜ ao guarde nenhuma rela¸ca ˜o sensitiva ou racional com a inteligˆencia humana, ser´ a igual a zero, enquanto formos n´ os seres humanos. (Rabindranath Tagore) Posto isto, definimos: Defini¸ c˜ ao 5 (Verdade absoluta). Uma verdade absoluta seria aquela que n˜ ao guarda nenhuma rela¸ca ˜o sensitiva ou racional com a inteligˆencia humana. Toda verdade diz respeito ao universo das constru¸c˜oes humanas, n˜ ao cremos que o homem seja absoluto no Universo. Ademais, veja Dawkins, p. 42. Dito isto, o leitor seria capaz de exibir uma − pelo ao menos uma − verdade absoluta? ∗

Podemos cham´ a-lo tamb´em de Absoluto, posto que, segundo Peirce: “Contudo, esse Nada absoluto tem propriedades not´ aveis na medida em que a totalidade do nosso universo actual j´ a se encontra nele em germe; com efeito, ele representa a totalidade das possibilidades.” (p. 52)

74


A seguir, ilustramos atrav´es de uma analogia, como toda verdade passa pela mente humana (ECR),

Filosofia (Mente)

Lembramos:

Biologia Semi´otica Sociologia

Verdades

“Luz Branca”

        

Ψ

       

Teologia Matem´ atica F´ısica

V´ acuo

(p. 52)

Contudo, esse Nada absoluto tem propriedades not´ aveis na medida em que a totalidade do nosso universo actual j´ a se encontra nele em germe; com efeito, ele representa a totalidade das possi(Peirce) bilidades. A Luz Branca cont´em em si “todas as cores”, em potˆencia (germe), no entanto, estas cores s´ o se tornam reais ao passar pelo prisma.

Sugest˜ ao de Leitura − A Pot^encia do Nada (O VAZIO INCONDICIONADO E A INFINITUDE DO SER) Uma propriedade not´ avel (fundamental) do Vazio ´e que “Ele” ´e incondicionado, o que tamb´em pode ser entendido como “infinita liberdade”, sem v´ınculos; esta ´e a raz˜ ao pela qual “Ele” se desdobra na infinitude do ser. Se houvesse alguma “verdade” no Vazio − o que chamariamos de uma verdade absoluta − esta funcionaria como uma esp´ecie de atrator do Universo, impedindo desta forma as mir´ıades e mir´ıades de manifesta¸c˜ oes que observamos apenas no nosso “insignificante” planeta Terra. Se o Vazio n˜ ao fosse incondicionado, livre de restri¸c˜ oes, o Universo n˜ ao teria sido poss´ıvel. O Vazio n˜ ao ´e uma ECR, n˜ ao processa informa¸c˜oes. Tudo existe nele como germe, em potˆencia. Esse poder infinito ´e o poder incondicionado do Nada, o poder de ser qualquer coisa condicionada, mas sempre de forma sucessiva. Da´ı surge o tempo. (A Potˆencia do Nada/[6])

75


´ este Nada que os crentes chamam de Deus, ´e este Deus que os E ateus chamam de Nada. (O iconoclasta) Ademais, este Deus (Nada) n˜ ao possui atributos humanos, tais como: amor, bondade, miseric´ordia, ira, etc.

“Luz Branca”

(Mente) (ECR)

Ira Depress˜ ao Felicidade Tristeza

        

Ψ

       

Amor Miseric´ ordia Bondade

V´ acuo

Produtos da mente

Tudo isto s˜ ao atributos humanos que o homem projeta naquilo que ele acredita que seja Deus; todo Deus, reiteramos, ´e uma constru¸c˜ao humana. Toda concep¸c˜ ao do que seja Deus ´e uma constru¸c˜ao da ECR de algum homem. Tudo encontra-se − inclusive os atributos citados − no Absoluto (Nada), apenas que em germe (potˆencia). Veja isto na analogia a seguir:

Um mestre diz que aquele que falar de Deus atrav´es de qualquer semelhan¸ca, fala de modo simpl´orio Dele. Mas falar de Deus atrav´es do ‘Nada’; ´e falar dele corretamente. Quando a alma unificada entra na total auto-abnega¸ca˜o, encontra Deus como um Nada. (Zen budismo)

A prop´osito, h´ a anos atr´ as fiz uma pesquisa na internet sobre os “atributos divinos” − ` a ´epoca eu ainda acreditava em tais atributos −, encontrei muitos artigos, de eruditos doutores, inclusive. Hoje, para a minha ECR atual, tais artigos n˜ ao tˆem nenhum valor (por mais eruditos que sejam), uma vez que, como entendo, Deus (Vazio, Nada, Absoluto) n˜ ao possui atributos. Agora, ´e claro, uma das raz˜ oes de tais “atributos” ´e produzir disserta¸c˜oes e teses de doutorado nas faculdades de teologia, ´e manter todas estas institui¸c˜ oes parasit´arias em funcionamento. Antes que se apresente qualquer obje¸c˜ao a este meu posicionamento, lembro que meus argumentos est˜ ao fundamentados em postulados explicitamente enunciados, e que, desde o primeiro cap´ıtulo deste livro, deixei claro que ningu´em ´e obrigado a aderir a qualquer postulado. A minha obje¸c˜ao aqui ´e que as teologias (religi˜ oes) n˜ ao fazem o mesmo, pelo contr´ ario, obrigam as incautas ovelhas a aceitarem suas “verdades” at´e com a amea¸ca do inferno, isto tudo em pleno S´eculo XXI . . . pasm´em! Isto ´e desonestidade, isto ´e uma afronta, um acinte `a dignidade humana!

76


Diferen¸ ca entre criar e gerar Dissemos que tudo emerge do Vazio (Matriz), no entanto, o Vazio n˜ ao cria, mas sim gera. A diferen¸ca ´e que criar − que ´e um atributo humano − pressup˜ oe planejamento, tomada de decis˜ oes, isto n˜ ao faz parte da natureza do Vazio, “Ele” n˜ ao ´e uma ECR. Uma analogia, uma m˜ ae gera um filho, ela n˜ ao o cria, no sentido de planej´ a-lo, de deliberar. Uma semente gera uma ´arvore. Na Natureza o V´acuo gera part´ıculas. Portanto, diferentemente dos Deuses das religi˜ oes, o Vazio n˜ ao ´e criador (“arquiteto”, “designer”), mas sim gerador. Vejamos mais uma analogia,

          

           

Sol

A luz ´ e gerada a partir desta combina¸ c~ ao

         

0

          

1

O “universo humano” ´e gerado nesta combina¸c˜ao.

V´acuo

Mente

0

Ψ 1

Na figura superior, nem o olho e nem o sol criam a luz − no sentido de planej´a-la −, mas ela ´e gerada na combina¸c˜ao olho ↔ sol. O vazio, n˜ ao ´e o “arquiteto do Universo”, n˜ ao ´e o “designer inteligente”, uma vez que “Ele” n˜ ao ´e inteligente. Simplesmente contribui com um dos “p´ olos” da cria¸c˜ao. “O Absoluto cont´em todo o experienci´ avel. Mas sem o experimentador eles s˜ ao como nada. Aquilo que faz a experiˆencia poss´ıvel ´e o Absoluto. Aquilo que a faz atual ´e o Ser.” (Sri Nisargadatta Maharaj)

77


3.3

O postulado de Nagarjuna

Acredito que ´e poss´ıvel se reconhecer um s´ abio iluminado por apenas um de seus pensamentos. O pensamento a seguir, de um monge indiano (s´ec. II-III) por nome Nagarjuna, me causou uma esp´ecie de fasc´ınio tanto ´e que decidi conferir-lhe o status de um postulado, afirma ele: Se eu tivesse qualquer posi¸ca ˜o te´ orica, ent˜ ao eu teria problemas; mas j´ a que n˜ ao tenho qualquer posi¸ca ˜o te´ orica, ent˜ ao n˜ ao tenho qualquer problema. Nagarjuna afirma (postula) que qualquer posicionamento te´ orico (p. 10) ´e suscet´ıvel de questionamento, e isto se confirma, de sobejo, em todos os ramos da ciˆencia, em particular da f´ısica e da matem´ atica. Por exemplo, veja em quantas Escolas se divide a matem´ atica em seus fundamentos:

Logicismo Intuicionismo, Construtivismo

Matem´atica

Conjuntista Formalismo Realismo matem´ atico .. .

para citar apenas as principais. A f´ısica, por seu turno, divide-se em tantas outras Escolas, veja:

(1) Ondulat´ oria Realista. (2) Corpuscular Realista.

F´ısica Quˆantica

(3) Dualista Realista. (4) Dualista Fenomenalista. (5) Corpuscular Fenomenalista.

As teologias, dividem-se em milhares de “Escolas” (religi˜ oes, ver p. 47). Tudo isto s˜ ao confirma¸c˜oes do postulado de Nagarjuna.

78


Agora veja leitor, se podemos discordar das teorias matem´ aticas, das teorias da f´ısica, que, por sinal, s˜ ao “comprovadas” experimentalmente em “aceleradores de part´ıculas”, − seus produtos s˜ ao manipulados diariamente por todos −, pois bem, por que n˜ ao podemos discordar das “teorias e postulados” das religi˜ oes? O postulado de Nagarjuna afirma que sim. A t´ıtulo de uma mera ilustra¸c˜ao da potˆencia deste postulado, alguns posicionamentos te´ oricos de Jesus (isto mesmo, o “Filho de Deus”) acarretam problemas, ´e s´ o uma quest˜ ao de encontrarmos a perspectiva apropriada, sen˜ ao vejamos: Disse ele: “Eu sou o caminho, e a verdade, e a vida. Ningu´em vem ao Pai, sen˜ ao por mim.” Aqui eu poderia apontar v´arios problemas com esta “posi¸c˜ao te´orica” de Jesus. Pra come¸car n˜ ao existe um u ´nico caminho (ver p. 47), como ´ isto o tamb´em n˜ ao existe uma u ´nica verdade − existem perspectivas. E que a realidade escancara frente a meus olhos, e eu n˜ ao sou cego. Veja: Certamente, toda afirma¸ c˜ ao ´ e v´ alida no dom´ınio de validade (Maturana) especificado pelas coerˆ encias que a constituem. Portanto, esta arrogante afirma¸c˜ao de Jesus, s´ o vale dentro do cristianismo, acontece que o cristianismo n˜ ao ´e tudo o que h´ a. Esta ´e a mais perigosa loucura de grandezas, que “nunca” existiu sobre a terra; abortos de santarr˜ oes e de embusteiros come¸caram a a¸cambarcar as id´eias de “Deus”, de “verdade”, de “luz”, de “esp´ırito”, de “amor”, de “sabedoria”, de “vida”, como se estas id´eias fossem de certo modo o sinˆ onimo do seu pr´ oprio ser, para estabelecer a separa¸ca ˜o entre ele e o “mundo”; raqu´ıticos judaicos, em grau superlativo maduros para toda a esp´ecie de manicˆ omios: valorizaram as coisas conforme o seu crit´erio, como se o crist˜ ao fosse o sentido, o sol, a medida e o “´ ultimo Ju´ızo” de tudo o mais . . . (Nietzsche/O Anticristo) Vejamos mais um posicionamento te´orico de Jesus: − “Ent˜ ao Pedro, aproximando-se dele, disse: Senhor, at´e quantas vezes pecar´ a meu irm˜ ao contra mim, e eu lhe perdoarei? At´e sete? ” (Mt 18:21-22) Jesus lhe disse: N˜ ao te digo que at´e sete, mas at´e setenta vezes sete. Como entendo, esta ´e apenas uma frase de efeito proferida por Jesus. De fato, a experiˆencia demonstra que perdoar indefinidamente n˜ ao ´e aconselh´ avel em muitas situa¸c˜ oes; primeiro que isto pode ser um incentivo a que o beneficiado continue cometendo seus erros; segundo, para merecer ser perdoado “setenta vezes sete ” como preconiza Jesus, este meu irm˜ ao estaria se esfor¸cando pelo ao menos o m´ınimo para n˜ ao continuar errando? Como perdoar “setenta vezes sete ” pol´ıticos bandidos que, por suas mal´eficas a¸c˜ oes, tornam-se assassinos? Surrupiam empregos de pais de fam´ılia . . . como Jesus? 79


− “Ao que te ferir numa face, oferece-lhe tamb´em a outra; e, ao que te houver tirado a capa, nem a t´ unica recuses.” (Lc 6:29) Esta ´e mais uma frase de efeito (para impressionar) de Jesus, que eventualmente pode ser aplicada mas sempre com parcimˆonia. Com efeito, observamos nos diversos quadrantes da Terra que ditadores e pol´ıticos esbofeteam a cara do povo por dez, quinze e vinte anos, por vezes quando morrem seus filhos ocupam seus lugares e o jugo continua, ainda assim o povo deve “oferecer a outra face”? Aconselhar entregar tamb´em a t´ unica `aquele que rouba a capa, s´ o n˜ ao conhecendo os pol´ıticos e pastores brasileiros. . . parece piada! Moral de rebanho. De outra feita Jesus sentenciou: (Mt 12:30) − Quem n˜ ao ´e comigo, ´e contra mim; e quem comigo n˜ ao ajunta espalha. Veja bem, em minhas sinceras buscas espirituais − via bastante leitura, reflex˜ ao, medita¸c˜ ao − me deparei com outras “cosmologias” que a mim satisfizeram mais que a de Jesus. Decidi n˜ ao juntar com ele, s´ o n˜ ao entendo por que estou espalhando. Onde fica meu livre arb´ıtrio? Isto n˜ ao parece arrogˆ ancia e intolerˆ ancia por parte de Jesus? Tudo isto se explica tendo em conta que “o reino de Jesus n˜ ao ´e deste mundo”. Finalmente, vejamos agora uma posi¸ca ˜o te´ orica do Ap´ostolo Paulo: − Mas, ´ o homem, quem ´es tu, que a Deus replicas? Porventura a coisa formada dir´ a ao que a formou: Por que me fizeste assim? Ou n˜ ao tem o oleiro poder sobre o barro, para da mesma massa fazer um vaso para honra e outro para desonra? (Rm 9:20-21) Este argumento vale para o Deus concebido pela ECR dele, Jav´e. Com efeito, um oleiro de fato pode fazer do mesmo barro um pinico para depositar merda e um vaso para colocar flores, tudo bem. Agora, quando se trata de seres humanos − com consciˆencia e sentimentos −, a´ı ´e diferente. Esta seria a mesma l´ ogica de um traficante de drogas que decidisse ter dois filhos: um para enviar ` a universidade e outro para sucedˆe-lo no tr´ afico, ele teria este direito?. Apenas para demonstrar, em um contexto ligeiramente diferente, a potˆencia do postulado de Nagarjuna, e, ademais, como a verdade depende essencialmente de uma estrutura cognitiva de referˆencia, ou¸camos um pouco da hist´ oria b´ıblica do justo J´ o. Inicialmente Deus vangloria-se (orgulho, jactˆancia, vaidade) diante de Satan´ as: A´ı o Senhor disse: − Vocˆe notou o meu servo J´ o? No mundo inteiro n˜ ao h´ a ningu´em t˜ ao bom e honesto como ele. Ele me teme e procura n˜ ao fazer nada que seja errado. [. . . ] Satan´ as respondeu: − Ser´ a que n˜ ao ´e por interesse pr´ oprio que J´ o te teme? Tu n˜ ao deixas que nenhum mal aconte¸ca a ele, ` a sua fam´ılia e a tudo o que ele tem. Aben¸coas tudo o que J´ o faz, e no pa´ıs inteiro ele ´e o homem que tem mais cabe¸cas de gado. Mas, se tirares tudo o que ´e dele, ver´ as que ele te amaldi¸coar´ a sem nenhum respeito. 80


Senhor disse a Satan´ as: − Pois bem. Fa¸ca o que quiser com tudo o que J´ o tem, mas n˜ ao fa¸ca nenhum mal a ele mesmo. Coment´ ario: Observe que Deus pega corda de Satan´ as e, por uma quest˜ao de ego, isto ´e, para ganhar a aposta, neste “Fa¸ca o que quiser com tudo o que J´ o tem ”, inclui os sete filhos e trˆes filhas de J´ o, os quais foram todos assassinados. Antes Deus havia dito que Satan´ as n˜ ao deveria tocar no pr´ oprio J´ o, posteriormente, Satan´ as enfia mais corda em Deus, ´ s´ Satan´ as respondeu: − E o tocar na pele dele para ver o que acontece. As pessoas n˜ ao se importam de perder tudo desde que conservem a pr´ opria vida. Agora, se estenderes a m˜ ao e ferires o corpo dele, ver´ as como ele, sem nenhum respeito, te amaldi¸coar´ a. E o “Deus imut´ avel” pega mais corda de Satan´ as e muda sua decis˜ ao anterior, permitindo que o justo J´ o seja atingido: Senhor disse a Satan´ as: − Pois bem. Fa¸ca o que quiser com J´ o, mas n˜ ao o mate. A´ı Satan´ as saiu da presen¸ca do Senhor e fez com que o corpo de J´ o ficasse coberto de feridas horr´ıveis, desde as solas dos p´es at´e o alto da cabe¸ca. Ap´os toda esta trapalhada que o Deus judaico-crist˜ ao espalhou, o caro leitor n˜ ao se apresse em tach´ a-lo de insensato, n˜ ao, ele deu a J´ o outros sete filhos homens, e quanto as filhas? Ora, o que um Deus n˜ ao pode fazer? Pois bem, restitui-lhe trˆes filhas muito mais bonitas que as anteriores! ao havia mulheres t˜ ao lindas como as filhas “No mundo inteiro n˜ (J´o 42:15) de J´ o.” Conclus˜ao: Das duas uma, ou essa hist´ oria de J´ o foi inventada ou o Deus judaico-crist˜ ao ´e louco, insensato! Crist˜aos: a cabe¸ca n˜ ao foi feita para separar as orelhas! Retomando, segundo o postulado de Nagarjuna, a posi¸c˜ao te´orica de que o “Deus” judaico-crist˜ ao ´e o u ´nico Deus verdadeiro acarreta problemas. Com efeito, do exposto anteriormente, minha tese ´e a de que este “Deus” e Satan´ as eram amigos, talvez uma mesma entidade. Mas tem mais: O livro b´ıblico de Ju´ızes (cap. 11) relata o caso de uma mo¸ca virgem que ´e sacrificada ao “Deus” crist˜ ao. A quem interessar possa, existe um livro, cujo pdf encontra-se dispon´ıvel na internet − Resposta a J´ o do eminente C.G. JUNG −, que faz uma an´ alise do livro de J´ o. N˜ao sei por que este livro n˜ ao ´e adotado nas faculdades de teologia.

81


Neste livro Jung raciocina: Que Deus seria este que preferisse imolar o pr´ oprio Filho a perdoar com magnanimidade as suas criaturas, mal aconselhadas e desencaminhadas por Satan´ as? Que pretenderia demonstrar com este sacrif´ıcio cruel e arcaico do Filho? Porventura seu amor? Ou o seu car´ ater implac´ avel? (C.G. JUNG/Resposta a J´o, p. 60 ) Referindo-se ao contexto do livro de J´ o, Jung afirma: − De fato, Jav´e tudo pode e se permite, sem pestanejar um momento. Ele ´e capaz de projetar, com impassibilidade f´errea, o seu pr´ oprio lado sombrio ´ capaz de apelar e permanecer inconsciente disto, `a custa do ser humano. E para o seu poder supremo e promulgar leis que para ele significam menos do que o ar. Os assass´ınios, os mortic´ınios n˜ ao lhe causam preocupa¸c˜ao, e quando lhe d´ a na veneta ´e capaz igualmente de, qual um senhor feudal, ressarcir generosamente os danos provocados pelas suas ca¸cadas nos campos de cereais dos servos: “Perdeste os teus filhos, as tuas filhas e os teus escravos? N˜ao h´ a de ser nada; eu te darei outros em troca, e melhores dos que os primeiros.” (p. 27) Quanto a “leis que para ele significam menos do que o ar ”, o eminente psic´ ologo tem inteira raz˜ ao. De fato, o mesmo Deus que ordenou “N˜ ao matar´ as”, tamb´em ordenou: “Disse o Senhor a Mois´es: Toma todos os cabe¸cas do povo e enforca-os ao Senhor diante do sol, e o ardor da ira do Senhor se retirar´ a de Israel.” (Nm 25:4)

N˜ao sei por que este livro n˜ ao ´e adotado nas faculdades de teologia. Retomando, vejam a diferen¸ca de percep¸c˜ao de distintas estruturas cognitivas de referˆencia, com respeito a este “Deus”: (Caixa)

Pernilongo

Iconoclasta

Pernilongo

(Gedankenexperiment)

82


3.4

A lei de Deus Tudo isso, que `a primeira vista parece excesso de irraz˜ao, na verdade ´e o efeito da finura e da extens˜ao do esp´ırito humano e o m´etodo para encontrar verdades at´e ent˜ ao desconhecidas. (Voltaire)

Aceder ` a ciˆencia ´e rejuvenescer espiritualmente, ´ e aceitar uma brusca muta¸ c˜ ao que contradiz o passado. (Gaston Bachelard)

Muito j´a se disse e muito j´a se escreveu sobre “A Lei de Deus” nas mais diversas religi˜ oes e teologias ao redor do mundo.

Ao apresentar as bizarras consequˆencias de um postulado, no primeiro cap´ıtulo, dissemos que estavamos apenas preparando o esp´ırito do leitor para as bizarras consequˆencias do postulado da TRO e TRE. Agora − mais do que antes − vamos necessitar que o leitor re´ una toda a sua coragem para mais uma bizarra consequˆencia do nosso postulado. Medite novamente: “Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´ e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, independentemente dos meios pelos quais seja conhecido. Objetos percebidos, ou entidades observ´ aveis, existem em rela¸ c˜ ao ` as faculdades sensoriais ou sistemas de medi¸ c˜ ao pelos quais s˜ ao detectados − n˜ ao de modo independente no mundo objetivo.” Dentro da TROE (teoria da relatividade ontol´ ogica e epistemol´ ogica), que estamos construindo neste livro, como vemos a quest˜ao da “Lei de Deus?” 83


Ora, a partir deste postulado n˜ ao ´e dif´ıcil concluir que:

N˜ ao existe Lei de Deus, existe lei do homem! Isto mesmo! Reiteramos: o que quer que estes autores (mestres, gurus, padres, pastores, papas, etc.) tenham proferido a respeito da “Lei de Deus”, est˜ ao equivocados. Estas “Leis de Deus” se originaram da pr´ opria cabe¸ca deles, s˜ ao desejos, aspira¸c˜oes, proje¸c˜oes da mente humana. Como dissemos, isto est´ a claro a partir do postulado da TROE, no entanto, para aqueles que ainda n˜ ao aderiram ao postulado, vamos mostrar outros argumentos. Inicialmente, observe as imagens:

          

           

Sol

Assim como a luz surge nesta intera¸ ca ~o...

         

          

V´ acuo

Mente

Ψ

qualquer “Lei de Deus” surge nesta intera¸c˜ao.

       

Ψ

“Luz Branca”

(Mente) (ECR)

− As “Leis de Deus” s˜ ao produtos da mente humana. 84

        

V´ acuo

“Leis de Deus”

Ou ainda, de uma outra perspectiva:


Adendo: Todos os “autores da Lei de Deus” foram v´ıtimas do seguinte embuste: eles escreveram a partir da mente, do ego. O que ´e o ego? Quando chegamos ao mundo somos uma tela em branco (Consciˆencia), a sociedade, a cultura se encarrega de pintar o ego − o desenho na tela. O ego (a mente) ´e isto, um feixe de condicionamentos culturais.

O mundo de vocˆes ´e um mundo criado pelo ego; o mundo de vocˆes ´e um mundo projetado. Vocˆes est˜ ao usando o mundo real como uma tela e projetando nela as suas pr´ oprias ideias. (Osho) ´ por isto que um autor cat´ E olico (ou protestante) vai escrever sobre uma “Lei de Deus”, um autor esp´ırita vai escrever sobre uma outra “Lei de Deus”, um autor indiano vai ainda escrever sobre uma terceira “Lei de Deus”, um autor chinˆes vai ainda escrever sobre uma quarta “Lei de Deus”, etc. Perguntamos: ´e dif´ıcil exergar esta obviedade? Um poeta autˆ entico n˜ ao est´ a presente, ele abre caminho para a poesia fluir dele. E o mesmo acontece com a m´ usica e a dan¸ ca, a escultura e a arquitetura, sobre tudo o que ´ e belo. Se elas sa´ırem de um estado meditativo, n˜ ao s˜ ao produtos do ego. (Osho) Os produtos do ego v˜ ao ser muito vulgares. Seus deuses n˜ ao podem ser diferentes de vocˆe. Quem os cria? Quem lhes determina o tamanho, a forma e a cor? Vocˆe os cria, vocˆe os esculpe; eles tˆem olhos como vocˆe, tˆem nariz como vocˆe − e tˆem uma mente, tal como vocˆe! O Deus do Antigo Testamento diz: − Eu sou um Deus cheio de ira! Se n˜ ao seguir meus mandamentos, eu destruirei vocˆe. Vocˆe ser´ a jogado no fogo do inferno pela eternidade. E como eu sou ciumento − Deus fala − n˜ ao v´ a prestar culto a mais ningu´em. N˜ ao vou tolerar isso. − Quem criou um Deus assim? S´ o pode ter sido a partir do seu pr´ oprio ci´ ume, da sua pr´ opria ira, que vocˆe criou essa imagem. Ela ´e proje¸ca ˜o ´ um eco seu e de mais ningu´em. E o mesmo sua, uma sombra sua. E acontece com todos os deuses de todas as religi˜ oes. (Osho) ´ por isto que dentro da TROE vocˆe pode pegar todas estas “Leis de E Deus” e envi´a-las para a lixeira:

85


Mas . . . ent˜ ao n˜ ao existem as “Leis da Natureza”? Respondemos: “Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´ e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, independentemente dos meios pelos quais seja conhecido.” A este respeito, vejamos o importante testemunho de um f´ısico: Na F´ısica moderna, uma atitude muito diferente veio a ` tona. Os f´ısicos, hoje em dia, apercebem-se do fato de que todas as suas teorias dos fenˆ omenos naturais − inclusive as “leis” que descrevem − s˜ ao cria¸co ˜es da mente humana; s˜ ao propriedades do nosso mapa conceitual da realidade, e n˜ ao propriedades da pr´ opria realidade. (Capra/T.F., p. 214) Vejamos ainda, o importante testemunho de um matem´ atico-fil´ osofo: Muitas coisas que consider´ avamos como leis naturais s˜ ao actualmente demonstradas como constituindo puras conven¸co ˜es humanas. (Bertrand Russell)

Apenas lembramos que o cientista Isaac Newton, no S´eculo XVII, apresentou um conjunto de “Leis Universais”, depois veio Einstein, no S´eculo XX, e apresentou um outro conjunto de “Leis Universais”, existem f´ısicos∗ que discordam das “Leis Universais” de Einstein. Durante s´eculos, acreditou-se que a geometria euclidiana era a “Lei Universal”, no sentido de que s´ o ela poderia ser utilizada para descrever as leis da f´ısica. Essa era a forma verdadeira de ver o mundo, defendia o fil´ osofo Immanuel Kant (1724-1804). A tese de Kant esfacelou-se quando no S´eculo XX Einstein utilizou uma geometria n˜ ao-euclidiana na constru¸c˜ao de sua teoria da relatividade geral, intimamente ligada ao espa¸co. O matem´ atico francˆes Henri Poincar´e (1854–1912), afirmava que geometria alguma, euclidiana ou n˜ ao, era verdadeira ou falsa. O espa¸co da experiˆencia emp´ırica n˜ ao tem uma estrutura geom´etrica privilegiada, podendo admitir, dependendo das circunstˆancias, at´e estruturas incompat´ıveis entre si. Retomando, agora veja leitor, se as leis da f´ısica, que s˜ ao descritas matematicamente, s˜ ao verificadas em laborat´ orio, s˜ ao simuladas computacionalmente, nada mais s˜ ao que propriedades do nosso mapa conceitual da realidade, e n˜ ao propriedades da pr´ opria realidade, como acreditar que “as leis de Deus” foram ditadas pelo pr´ oprio Deus? S´ o sendo de uma ingenuidade extrema − para dizer o m´ınimo −, para dar cr´edito aos lobos vestidos em pele de cordeiro. ∗

Andr´e Koch Torres Assis e C´esar Lattes, para citar apenas dois.

86


Ora, mas se, por exemplo, abandonarmos uma pedra na superf´ıcie da Terra ela cai, isto n˜ ao ´e uma lei da Natureza? Sim, mas n˜ ao uma “Lei de Deus”; como entendemos ´e a pr´ opria configura¸ c˜ ao de um sistema que determina as leis deste mesmo sistema, ainda aqui vale: Certamente, toda afirma¸ c˜ ao ´ e v´ alida no dom´ınio de validade especificado pelas coerˆ encias que a constituem. Parafraseando Maturana, “Certamente, existem leis oriundas do dom´ınio de validade especificado pelas restri¸co ˜es que constituem o sistema.”. Vejamos dois exemplos,

A lei no universo de Euclides de que os ˆangulos de um triˆ angulo soo mam 180 , ´e uma decorrˆencia da pr´ opria estrutura (plana) deste universo. Similarmente, a lei no universo de Lobachevsky de que os ˆangulos de um triˆ angulo somam menos que 180 o , ´e uma decorrˆencia da pr´ opria estrutura (hip´erbolica) deste universo, etc. Se lan¸carmos uma bola em uma superf´ıcie plana, a lei ´e que ela siga em linha reta; se lan¸carmos a mesma bola em uma superf´ıce curva, certamente ela se deslocar´ a segundo uma outra lei,

´e isto o que queremos dizer com “a lei ´e oriunda da estrutura (configura¸c˜ao) do espa¸co”. A prop´osito, similarmente, as leis e costumes (cultura) de qualquer sociedade na Terra s˜ ao determinadas, n˜ ao por Deus, mas pela pr´ opria estrutura e configura¸c˜ ao da sociedade, ´e por isto que estas leis − incluindo a moral − contam-se aos milhares ao redor do planeta; podendo ser contradit´ orias. 87


Retomando, pesquisando na internet o leitor vai encontrar muitos artigos dando conta de que as leis − e at´e as “constantes” da f´ısica − mudam ao longo do espa¸co-tempo. Por exemplo,

Leis da F´ısica podem variar ao longo do Universo Reda¸c˜ ao do Site Inova¸c˜ao Tecnol´ ogica − 10/09/2010 Uma equipe de astrof´ısicos est´ a propondo uma teoria que muda radicalmente a forma como entendemos o Universo. Em um artigo ainda n˜ ao aceito para publica¸c˜ ao em revistas cient´ıficas, o grupo afirma ter encontrado ind´ıcios de que as leis da f´ısica s˜ ao diferentes em diferentes partes do Universo. Constante alfa O artigo prop˜oe que uma das supostas constantes fundamentais da natureza talvez n˜ ao seja assim t˜ao constante. Pelos dados obtidos pelos pesquisadores, a constante alfa n˜ ao seria constante, mas vari´ avel, contrariando o princ´ıpio da equivalˆencia de Einstein, que estabelece que as leis da f´ısica s˜ ao as mesmas em qualquer lugar. [Imagem: Julian Berengut/UNSW]

Nota: N˜ao reproduzimos integralmente o artigo, adaptamos a diagrama¸c˜ao do texto. Em muitos contextos, os f´ısicos − tamb´em os matem´ aticos − gostam de “esconder a sujeira embaixo do tapete”. N˜ao importa se as varia¸c˜oes s˜ ao “infinitesimais”, se h´ a varia¸c˜ao − por mais “desprez´ıvel” que seja −, as leis mudam, s˜ ao outras, a exemplo das aritm´eticas de Einstein e Galileu, Contra¸ ca ~o da Aritm´ etica

1+1<2 V =

v+u 1 + v·u c2

A lei de adi¸c˜ ao de velocidades de Galileu ´e uma e a de Einstein outra, a de Galileu n˜ ao ´e um “caso particular” da lei de Einstein, como pensam alguns prestidigitadores. Isto acarreta contradi¸c˜ao l´ ogica, ver p. 35. 88


Cientistas acreditam que as leis da f´ısica mudam ao redor do Universo

Um professor da Universidade de Gales do Sul, John Webb, acredita que as leis que regem o nosso Universo s˜ ao extremamente male´ aveis Vocˆe j´ a ouviu falar da teoria do Multiverso? Algumas pessoas acreditam que h´ a v´ arios Universos, um mais maluco do que o outro, governados por suas pr´ oprias leis f´ısicas – e elas seriam exclusivas. Agora h´ a uma nova teoria que parece trazer o Multiverso um pouco mais perto: talvez as leis da f´ısica n˜ ao sejam constantes no pr´ oprio plano em que estamos. Um professor da Universidade de Gales do Sul, John Webb, acredita que as leis que regem o nosso Universo s˜ ao extremamente male´ aveis. Ele mediu o que seria a for¸ca do eletromagnetismo estimada em cerca de 300 gal´ axias e descobriu que essa ‘constante’ n˜ ao ´e a mesma em todos os lugares. Isso quer dizer, segundo ele, que as leis da f´ısica e que causaram a forma¸ca ˜o da vida como a conhecemos, podem ser um fenˆ omeno local e que, em outras areas mais afastadas do espa¸co, pode haver uma mecˆ ´ anica completamente diferente, que culminou em outras formas de vida. A varia¸ca ˜o da constante ´e ´ınfima de gal´ axia para gal´ axia (1 em 100 mil), mas para Webb, isso parece ser o suficiente. Se ele estiver correto, os astrˆ onomos precisar˜ ao descobrir novas leis f´ısicas para cada parte do espa¸co que forem estudar. (Publica¸ca˜o eletrˆ onica) Ora, n˜ ao precisamos ir aos confins do Universo, a exemplo do professor Webb, para demonstrar aquilo que pode ser demonstrado aqui mesmo em nosso quintal, isto ´e, que as leis da f´ısica (e at´e da matem´ atica) s˜ ao locais. Com efeito, considere os quadrados euclidiano e quˆantico: (pp. 25, 28) 1

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0,1

0

− Quadrado Qu^ antico

− Quadrado Euclidiano

S˜ ao dois universos com leis totalmente distintas (opostas) e que, na f´ısica, correspondem ` as f´ısicas cl´ assica e quˆantica, estas tamb´em com leis totalmente distintas. 89


Vimos anteriormente que as leis da f´ısica e matem´ atica podem mudar de lugar para lugar − s˜ ao locais. No entanto, ´e oportuno evidenciar que “um mesmo lugar” (“espa¸co observado”) pode comportar leis distintas, a depender da ECR (mente) que est´ a por tr´ as. Isto ´e frequente n˜ ao apenas na f´ısica, como, ademais, na matem´ atica e teologia. Como exemplo do que estamos afirmando, na matem´ atica basta considerar os quadrados euclidiano e quˆantico, o quadrado (“espa¸co”) ´e o mesmo, o que muda s˜ ao as leis destes “universos” em fun¸c˜ ao de que uma ´e a ECR de Euclides, outra ´e a ECR do iconoclasta. Neste caso as leis s˜ ao determinadas pelas respectivas r´eguas. Veja a figura da p´ agina anterior. Na f´ısica podemos citar as leis de NewtonGalileu e as leis de Einstein, as quais podem referir-se a um mesmo espa¸co de trabalho (espa¸co observado), por exemplo:

u

v ·

q O

·

Contra¸ c~ ao da Aritm´ etica

1+1 < 2 V =

v+u 1 + v·u c2

Na teologia, o “espa¸co de trabalho” ´e o mesmo (Deus), no entanto, as leis (rituais, livros sagrados, etc.) contam-se aos milhares. (Caixa)

D eu

s

Pernilongo Pernilongo

(Gedankenexperiment)

90


Adendo: Encontrei em um livro algo interessante, que vem confirmar o essencial de nossas afirma¸c˜ oes do presente contexto, veja: De acordo com Wheeler, a li¸c˜ao a ser aprendida dessa evolu¸c˜ ao da f´ısica ´e que a “lei n˜ ao pode ficar gravada em uma placa ou rocha por toda a eternidade. . . Tudo ´e mut´ avel”. O f´ısico Paul C.W. Davies comenta: “A esse respeito, Wheeler estava quebrando uma tradi¸c˜ ao cient´ıfica de quatrocentos anos de conside(John Wheeler) rar a natureza sujeita a leis eternas. Segundo, a pr´ opria aparˆencia real de comportamento semelhante `a lei na natureza pode estar ligada de alguma forma a nossas observa¸c˜oes da natureza − sujeito e objeto, observador e observado, entrela¸cados. Essas eram de fato ideias radicais.” (B. Alan Wallace/[1], p. 53)

A prop´osito, Allan Kardec − influenciado pela ciˆencia de seu tempo − acreditava que as leis de Deus s˜ ao perfeitas e imut´ aveis. Penso que j´a passa da hora de seus seguidores atualizarem suas b´ıblias (“codifica¸c˜ao”) posto que o Espiritismo, segundo eles, caminha de “m˜ aos dadas” com a ciˆencia. O destaque a seguir, Segundo, a pr´ opria aparˆ encia real de comportamento semelhante ` a lei na natureza pode estar ligada de alguma forma a nossas observa¸ co ˜es da natureza − sujeito e objeto, observador e observado, entrela¸ cados.

Ψ

“Luz Branca”

(Mente) (ECR/Ser)

91

        

Absoluto

       

− O Absoluto cont´em todo o experienci´avel. Mas sem o experimentador eles s˜ ao como nada. Aquilo que faz a experiˆencia poss´ıvel ´e o Absoluto. Aquilo que a faz atual ´e o Ser. (Sri Nisargadatta Maharaj)

“Leis de Deus”

´e admiravelmente confirmado pelo extraordin´ ario insight de um mestre oriental, veja:


Adendo: Teorias da aprendizagem Todo conhecimento ´e polˆemico. Antes de constituirse, deve destruir as constru¸c˜oes passadas e abrir lugar a novas ´ este movimento constru¸c˜oes. E dial´etico que constitui a tarefa da nova epistemologia.

O conhecimento cient´ıfico ´e sempre a reforma de uma ilus˜ ao. (Gaston Bachelard)

(Gaston Bachelard)

Acrescento este adendo apenas para aproveitar o contexto das “Leis de Deus” e deduzir um corol´ ario referente `as teorias da aprendizagem, tais como as de: Vygotsky, Skinner, Piaget, Ausubel, Galperin, etc. Primeiro que os entusiastas propagandistas destas teorias querem nos fazer crer que as mesmas sejam “cient´ıficas”, que suas leis da aprendizagem de fato correspondem a algo que eles descobriram “l´a fora”, ou na mente humana. Resumimos todas estas leis (teorias) como sendo meras constru¸c˜oes mentais de seus autores. Ora, se assim se d´ a com as leis da f´ısica, que s˜ ao “matematizadas, pesadas e medidas”, poderia ser diferente com estas teorias?. Observe novamente: Na F´ısica moderna, uma atitude muito diferente veio a ` tona. Os f´ısicos, hoje em dia, apercebem-se do fato de que todas as suas teorias dos fenˆ omenos naturais − inclusive as “leis” que descrevem − s˜ ao cria¸co ˜es da mente humana; s˜ ao propriedades do nosso mapa conceitual da realidade, e n˜ ao propriedades da pr´ opria realidade. (Capra/T.F., p. 214) querem os te´ oricos da educa¸c˜ao nos fazer crer que com suas teorias acochambradas fizeram “grandes descobertas” e que, por isto, somos seus devedores? Uma relevante contribui¸c˜ao para as teorias da aprendizagem podemos deduzir do postulado da TRE, veja: “Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´ e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, independentemente dos meios pelos quais seja conhecido.” Logo, reiteramos, todas as suas teorias s˜ ao desprovidas de natureza inerente pr´ opria. N˜ao correspondem a uma “realidade”. No pr´ oximo cap´ıtulo “Contributo ao enigma da Consciˆencia”, cremos estar disponibilizando poss´ıveis contribui¸c˜oes `as teorias da aprendizagem. Ademais, escrevemos um longo artigo refutando alguns posicionamentos de algumas destas teorias. Podemos repass´a-lo, a quem interessar possa. 92


Qual o problema com o Deus legislador das religi˜ oes? O Deus pessoal e legislador das teologias∗ , “imut´ avel”, cria muitos problemas insol´ uveis, mais complica que esclarece. Por exemplo, que esp´ecie de Deus criaria a seguinte “lei natural”?

Sabedoria e loucura s˜ ao qualidades baseadas em nosso julgamento. O mundo n˜ ao est´ a cheio de mil coisas que nos parecem loucas? As pessoas, em fun¸ca ˜o das quais adoramos pensar que o mundo tenha sido criado, n˜ ao s˜ ao freq¨ uˆentemente insensatas e irracionais? Os maravilhosos animais, exaltados como obras de um Deus imut´ avel, n˜ ao se alteram continuamente e n˜ ao terminam por destruir-se? (Paolo Rossi) Que Deus inteligente, s´ abio e amoroso iria divertir-se com a desgra¸ca de suas criaturas?

− Corpos mutilados e empilhados em terremoto no Haiti

(12.01.2010)

O mundo, segundo nos dizem, foi criado por um Deus n˜ ao s´ o bom, como onipotente. Antes de ele haver criado o mundo, previu toda dor e toda ´ ele, pois, respons´ ´ mis´eria que o mesmo iria conter. E avel por tudo isso. E in´ util argumentar-se que o sofrimento, no mundo, ´e devido ao pecado. Em primeiro lugar, isso n˜ ao ´e verdade: n˜ ao ´e o pecado que faz com que os rios transbordem ou que os vulc˜ oes entrem em erup¸ca ˜o. Mas, mesmo que fosse verdade, isso n˜ ao faria diferen¸ca. Se eu fosse gerar uma crian¸ca sabendo que essa crian¸ca iria ser um homicida man´ıaco, eu seria respons´ avel pelos seus crimes. Se Deus sabia de antem˜ ao os pecados de que cada homem seria culpado, Ele foi claramente respons´ avel por todas as conseq¨ uˆencias de tais pecados, ao resolver criar o homem. (Bertrand Russel/Porque N˜ ao Sou Crist˜ ao) ∗

Que ama, que odeia, que “cria leis imut´ aveis”, etc.

93


A prop´osito, existe um problema teol´ogico que desafia “todos os doutores te´ ologos ” h´ a pelo menos 2.500 anos − proposto por um dos grandes fil´ osofos da Gr´ecia antiga, Epicuro, ei-lo: Deus quer impedir o mal, mas n˜ ao consegue? Ent˜ ao ele ´e impotente. Ele ´e capaz, mas n˜ ao quer? Ent˜ ao ele ´e mal´evolo. Ele ´e capaz e quer? Donde, ent˜ ao, o mal? Enfatizo, este problema − proposto h´ a mais de 2.500 anos − vem desafiando todos os pusilˆanimes doutores te´ologos crist˜ aos h´ a s´eculos. Ao contr´ ario, o “Deus” que emerge da TROE (teoria da relatividade ontol´ ogica e epistemol´ ogica) est´ a livre de todas estas inconsistˆencias. Como j´a salientamos: o Vazio (origem de Tudo) n˜ ao ´e um “ser”, n˜ ao possui identidade, n˜ ao pensa (n˜ ao possui c´erebro para tal), n˜ ao raciocina, n˜ ao legisla. Por exemplo, o paradoxo de Epicuro n˜ ao se aplica ao Vazio. O Vazio ´ e perfeito Em um livro de l´ ogica matem´ atica∗ o autor chama a aten¸c˜ao para o seguinte fato: Curiosidade: A perfei¸ c˜ ao do Conjunto Vazio Sobre sua curiosa natureza, dizem que o conjunto vazio ´e a u ´nica coisa perfeita no universo. E o autor prova sua assertiva, assim: De fato, para ele deixar de ser perfeito, deveria conter alguma imperfei¸ca ˜o, ou algo nele que fosse imperfeito, mas ele nada cont´em! Em outras palavras, ´e logicamente imposs´ıvel apontar qualquer imperfei¸c˜ ao no Vazio, da´ı o subt´ıtulo do nosso livro “Um Deus pra homem nenhum botar defeito, mesmo que esse homem seja um ateu.”, ver p. 17. Adendo: Para ver que as leis de um determinado universo s˜ ao dependentes das ECR’s de seus habitantes, veja Dawkins, p´ agina 42. Portanto, Deus n˜ ao ´e transcendente ao universo, nem pode ter personalidade, providencia, livre vontade e prop´ ositos. [. . . ] (Espinoza) As coisas existem pela necessidade da natureza divina, sem que Deus fa¸ca nenhuma escolha. Deus n˜ ao ´e determinado por sua bondade e perfei¸ca˜o, mas pela necessidade de sua natureza. ∗

“Um Convite ` a Matem´ atica” de Daniel Cordeiro de Morais Filho.

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Espiritismo Kardecista Iconoclasta significa “aquele que desconstr´oi ´ıdolos”, e isto se d´ a, in´ que faremos agora com respeito ao clusive, por den´ uncias de imposturas. E espiritismo.

Mimetismo: ´e a capacidade que tˆem certos animais de variar a colora¸ca˜o e a forma, assemelhando-se assim ao ambiente em que se encontram. Este artif´ıcio confere vantagens tais como a prote¸ca ˜o contra poss´ıveis predadores. Vejamos alguns exemplos:

- Coruja

- Mariposa

- Gafanhoto

Segundo entendo, as obras ditas psicografadas sofrem uma esp´ecie de mimetismo, digo, adquirem as cores do ambiente e s´eculo em que foram produzidas − n˜ ao obstante seus autores proclamarem que foram ditadas por “esp´ıritos superiores”−. Foi precisamente o que ocorreu com as obras de Kardec (S´eculo XIX) e de muitos outros autores, at´e nossos dias. A prova disto ´e que estas obras, ao copiarem a ciˆencia da ´epoca, cometem os mesmos erros que esta. Por exemplo, existe um artigo na inter´ net − A F´ ISICA NO ESPIRITISMO/ Erika de Carvalho Bastone∗ − que analisa duas destas obras medi´ unicas (“Mecanismos da Mediunidade” e “Evolu¸c˜ ao em Dois Mundos”, ditadas pelo Esp´ırito Andr´e Luiz e psicografadas pelo m´edium Francisco Cˆ andido Xavier, publicadas pela F.E.B. com pref´acio de Emmanuel) e aponta v´arios erros cient´ıficos nestas obras. Posteriormente me deparei com um outro artigo − Alexandre Fontes da Fonseca – An´alise dos conceitos cient´ıficos de “A Grande S´ıntese”, de Pietro Ubaldi −, no qual o autor, tamb´em Doutor em f´ısica, aponta v´arias falhas nesta obra de Ubaldi. Em resumo: N˜ ao se pode confiar nas ditas obras oriundas de “esp´ıritos superiores”

Inclusive as de Kardec. No meu entendimento, estas obras s˜ ao frutos do c´erebro do suposto m´edium. N˜ao conhe¸co nenhuma contribui¸c˜ao cient´ıfica dada por estes “esp´ıritos superiores”. J´ a escrevi muitos livros, dentre eles alguns de matem´ atica e outros tratando de temas espirituais, como este que o leitor tem em m˜ aos, para mim n˜ ao seria dif´ıcil inventar um “esp´ırito guia”. ∗

Professora Universit´ aria e Doutora em F´ısica.

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Uma giga lorota ´ o pr´ E oprio homem que cria os valores em que acredita − e que depois vˆe neles algo de transcendente, eterno e verdadeiro. Os valores, no entanto, nada mais s˜ ao do que algo “humano, demasiado humano”. (Nietzsche)

As religi˜ oes tˆem sobrevivido at´e os dias de hoje por conta de uma giga lorota pregada aos incautos: o pecado e a consequente necessidade da salva¸ c˜ ao. Toda uma ind´ ustria parasit´aria surge por conta deste equ´ıvoco, certamente intencional. A prop´osito, reflita novamente sobre a perspicaz observa¸c˜ ao de Nietzsche: e mais importante se sentir pecador do “Para o cristianismo ´ que ser pecador.” A quest˜ ao ´e que a concep¸c˜ao de um Deus que julga e condena as suas criaturas ´e uma cria¸c˜ ao da mente de padres e pastores, este Deus, enfatizamos, s´ o existe na cabe¸ca deles e das pobres ovelhas, suas v´ıtimas. ´ suficiente lembrar, de argumentos anteriores, que as pr´ E oprias leis da f´ısica s˜ ao cria¸c˜ oes (interpreta¸c˜oes) humanas, as pr´ oprias “Leis de Deus” tamb´em s˜ ao cria¸c˜ oes humanas; como Einstein observa um pernilongo, ´e uma cria¸c˜ ao de sua mente, o que mais poderia ficar de fora? Pens amen tos ego Senti ment os

(Consciˆencia) Ju lgam entos Pens amen tos ego

(Consciˆencia) Ju lgam entos

Senti ment os

O leitor imagine este lago (oceano) sem nenhuma ondula¸ca˜o. Este ´e o Absoluto − pura Consciˆencia: “Quando n˜ ao h´ a ondula¸c˜ oes no lago da consciˆencia, a consciˆencia serve apenas como um espelho” − Esta Consciˆencia ´e pura contempla¸ca˜o, serenidade, ela n˜ ao julga (n˜ao existem pecadores). Uma perturba¸ca˜o neste pl´acido oceano gera o ego, este sim julga. Ent˜ ao, quem julga, quem decide quem ´e e quem n˜ ao ´e pecador, s˜ao os egos de pastores, padres, papas e “ap´ ostolos”.

De uma vez por todas denunciamos a estrat´egia das religi˜ oes: Elas primeiro te adoecem para depois te venderem o rem´ edio. Toda crian¸ca nasce sadia, posteriormente uma ou outra religi˜ ao a torna doente, fan´atica, cega e aleijada. Se um m´edico chega em uma cidade onde todos os seus habitantes est˜ aos sadios, o m´edico ficar´ a desempregado . . . a menos que primeiro adoe¸ca as pessoas. Esta ´e precisamente a ast´ ucia adotada pelas religi˜ oes. 96


Criando universos paralelos “Descobri coisas t˜ ao magn´ıficas que fiquei pasmo. . . Criei um novo mundo diferente a partir do nada.” (J´anos Bolyai (1802-60) a seu pai (matem´ atico Farkas Bolyai) dando conta de uma nova Geometria que acabara de criar.)

O homem tem o poder de criar universos que depois reverberam (se imiscuem) na realidade, se materializam. Ora, o universo (hominal) que vivemos nos dias atuais − incluindo as guerras, intolerˆ ancias religiosas, resultados da f´ısica, matem´ atica, etc. − ´e uma cria¸c˜ ao da mente humana. N˜ao ´e dif´ıcil se convencer disto tendo em conta que at´e o Universo f´ısico ´e uma cria¸c˜ao da ECR do homem, por exemplo, como Einstein vˆe um pernilongo, ´e uma cria¸c˜ao da sua mente. (Caixa)

Pernilongo Pernilongo

(Gedankenexperiment)

Enfatizamos, todo o universo humano (n˜ ao excetuando o f´ısico, isto ´e, aquilo que nossos olhos vˆem) ´e uma cria¸c˜ao humana, e mais: sem uma correspondˆencia com uma realidade “l´a fora”, simplesmente pelo fato de que n˜ ao existe uma realidade “l´ a fora”, isto ´e, independentemente de um observador, a ECR. Medite novamente sobre o postulado da TROE: “Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´ e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, independentemente dos meios pelos quais seja conhecido.” Esta “realidade” na qual existimos e nos movemos n˜ ao ´e muito diferente daquela dos sonhos, ambas s˜ ao constru¸c˜oes da mente, a u ´nica diferen¸ca ´e que esta nos parece “mais s´ olida”. − J´ a tive sonhos t˜ao s´ olidos quanto. 97


Assim como os matem´ aticos criaram novos universos na geometria, como os f´ısicos criaram novos universos na f´ısica e que depois moldaram a “realidade” na qual existimos, de igual modo ao longo de todo este livro estamos patenteando um novo universo poss´ıvel, em substitui¸c˜ao a todo o “universo cl´ assico”, qual deles corresponde melhor `a realidade? J´ a dissemos, n˜ ao existe uma realidade, somos n´ os mesmos que a construimos. Dentro do Universo da TROE (chamemos assim nossa proposta) podemos apresentar at´e mesmo uma solu¸c˜ ao para a morte, at´e esta ´e uma constru¸c˜ao da mente humana, como decorre do nosso postulado e como estaremos demonstrando oportunamente, no u ´ltimo cap´ıtulo deste livro. A diferen¸ca entre estas perspectivas − realidade “l´a fora” × realidade construida − ´e deveras auspiciosa para a humanidade, passa por um dos bens mais preciosos: a pr´ opria liberdade humana. Todas as religi˜ oes, e demais ideologias, n˜ ao tˆem construido sen˜ ao pris˜oes em volta do ser humano. De repente, a efic´ acia do esfor¸co matematizante ´e tal que o real se cristaliza nos eixos oferecidos pelo pensamento humano: novos fenˆ omenos se produzem. Pois ´e poss´ıvel falar sem hesita¸ca ˜o de uma cria¸ca ˜o dos fenˆ omenos pelo homem. O el´etron existia antes do homem do s´eculo XX. Mas, antes do homem do s´eculo XX, o el´etron n˜ ao cantava. Ora, ele canta nos computadores, televisores e celulares. (Gaston Bachelard/A forma¸ca˜o do esp´ırito cient´ıfico, p. 305/Par´afrase)

“Eu descobri coisas t˜ ao maravilhosas que sinto-me aturdido . . . do nada eu criei um estranho mundo novo.” (J´anos Bolyai) Nota: Pergunto: t˜ ao estranho quanto o quadrado (hipercubo) quˆantico? Nascimento da geometria n˜ ao-euclidiana Em torno de 1820, dois matem´ aticos desenvolveram, independentemente um do outro, suas teorias envolvendo o postulado das paralelas. J´ anos (ou Johann) Bolyai (1802-1860), h´ ungaro, era filho de Farkas (ou Wolfgang) Bolyai (1775-1856), [. . . ] e o outro um professor de matem´ atica russo Nicolai Ivanovich Lobatchevsky (1792-1856). Em 1823, aos 21 anos de idade, [Bolyai] deduziu – como Saccheri – conseq¨ uˆencias pouco usuais, como a de que a soma dos ˆangulos internos de um triˆ angulo poderia ser menor do que 180 o . Isso contrariava a geometria de Euclides, mas n˜ ao parecia absurdo. J´ anos Bolyai percebeu que estava inventando uma geometria nova, estranha, mas que parecia coerente. Essa foi a principal diferen¸ca entre ele e alguns de seus predecessores, como Saccheri e Lambert: a cren¸ca de que a nova geometria era uma alternativa poss´ıvel.

98


Numa carta enviada a seu pai em 3 de novembro de 1823, J´ anos escreveu que estava prestes a terminar um trabalho sobre a teoria das paralelas em que havia feito grandes descobertas e afirmou: “A partir do nada, eu criei um mundo totalmente novo”. (Grifo nosso) A natureza da geometria As u ´ltimas d´ uvidas sobre a coerˆencia interna das novas geometrias foram dissipadas pelos trabalhos do matem´ atico francˆes Henri Poincar´e (1854–1912), na d´ecada de 1880. Ele estabeleceu uma correspondˆencia entre termos da geometria n˜ ao-euclidiana e termos da geometria de Euclides, de tal modo que, tomando-se uma proposi¸c˜ao da geometria de Lobatchevsky e fazendo sua “tradu¸c˜ ao”, ela se torna uma proposi¸c˜ao v´ alida da geometria de Euclides. Essa possibilidade de tradu¸c˜ao mostra que a geometria de Lobatchevsky ´e t˜ ao coerente quanto a geometria de Euclides. Para o pr´ oprio Lobatchevsky, apenas uma geometria podia ser verdadeira, no sentido de corresponder a` realidade em que vivemos. Essa atitude ´e do tipo empirista. A geometria ´e considerada como sendo da mesma ´ uma internatureza que a f´ısica, sujeita portanto a testes experimentais. E preta¸c˜ao da matem´ atica completamente diferente da que foi adotada desde Plat˜ ao at´e o s´eculo XVIII. A filosofia de Immanuel Kant (1724-1804), que teve enorme influˆencia no pensamento cient´ıfico do in´ıcio do s´eculo XIX, afirmava pelo contr´ ario que a geometria estabelecida por Euclides era verdadeira, e que sua verdade era independente de conhecimentos emp´ıricos. Para Poincar´e, a pr´ opria pergunta “Qual das geometrias ´e verdadeira?” n˜ ao tem sentido. Seria a mesma coisa que perguntar se o sistema m´etrico decimal ´e verdadeiro e o antigo sistema inglˆes de medidas ´e falso. Um sistema de medidas ou uma geometria n˜ ao podem ser falsos ou verdadeiros. Deve ser poss´ıvel desenvolver teorias f´ısicas igualmente v´alidas utilizando tanto uma geometria quanto a outra. Por´em, em um dado contexto, pode ser mais conveniente utilizar geometria euclidiana ou n˜ ao-euclidiana. De acordo com Morris Kline, a geometria n˜ ao-euclidiana arrancou brutalmente a matem´ atica do pedestal da verdade, mas em compensa¸c˜ao deixou-a livre para vaguear. A partir do momento em que a revolu¸c˜ao de Bolyai e Lobatchevsky se completou, a matem´ atica passou a ser caracterizada por sua liberdade para explorar novas constru¸c˜oes do pensamento. Atualmente temos n˜ ao apenas v´arias geometrias, mas tamb´em v´arias teorias dos conjuntos, e at´e mesmo v´arias l´ ogicas. O reconhecimento de que a geometria de Euclides era apenas uma de muitas poss´ıveis, e que n˜ ao era “verdadeira”, mudou completamente nossa compreens˜ ao sobre a natureza da ciˆencia – e n˜ ao apenas na matem´ atica. J´ a n˜ ao existe um modelo de “certeza” que as outras ciˆencias possam imitar. (Publica¸ca˜o eletrˆ onica/As geometrias n˜ ao-euclidianas e a verdade matem´atica)

Nota: Lembramos que Einstein, para construir sua Teoria da Relatividade Geral, utilizou uma geometria n˜ ao- euclidiana. 99


O real ´ e relacional Ainda que Bachelard tenha claramente percebido a primazia das rela¸c˜oes sobre as substˆancias que caracteriza as ciˆencias naturais modernas e, talvez, at´e mesmo a l´ ogica das vis˜ oes de mundo modernas em geral – como pode ser visto no seu lema: “No princ´ıpio era a rela¸c˜ao” (Bachelard), Bourdieu recorre a Ernst Cassirer, o qual, em seu livro seminal Substˆ ancia e Fun¸ca ˜o, analisou brilhantemente a substitui¸c˜ao da l´ogica aristot´elica das substˆancias ogica funcional das rela¸co ˜es gerativas que pode ser encontrada na por uma l´ matem´ atica e na f´ısica modernas, bem como na geometria e na qu´ımica. Na medida em que a realidade dos objetos se dissolveu em um mundo de rela¸c˜ oes racionais, podemos de fato dizer, com Bachelard e Hegel, que “o real ´e racional” (Hegel), bem como, com Cassirer e Bourdieu, que “o real ´e relacional” (Bourdieu). (“O real ´e relacional”: uma an´ alise epistemol´ ogica do estruturalismo gerativo de Pierre Bourdieu/Publica¸ca˜o Eletrˆ onica)/Grifo nosso

Nota: Por nossa pr´ opria conta e risco generalizamos: N˜ ao apenas o real ´e relacional como, ademais, o abstrato tamb´em ´e relacional. Por exemplo, n´ umero ´e um conceito abstrato e ´e relacional − depende de uma estrutura. Vejamos uma aplica¸c˜ao pr´ atica do “O real ´e relacional ” na esfera das c˜ ao `as overeligi˜ oes: Os pastores (padres, papas, etc.) s´ o existem em rela¸ lhas; com efeito, se a humanidade j´a tivesse atingido um n´ıvel suficiente de consci^ encia estes parasitas da sociedade seriam totalmente desnecess´ arios; da mesma forma que o m´edico s´ o existe em rela¸c˜ao ao doente: se toda a humanidade fosse sadia, que necessidade haveria de um m´edico? O mesmo sucede com os “m´edicos da alma”, estes, reiteramos, s´ o existem em rela¸c˜ao aos doentes da alma, ´e simples assim! Ainda vamos mais longe um pouco: os Deuses do passado tinham c˜ ao `a humanidade do passado, os Deuses do presente existˆencia em rela¸ − refiro-me aos Deuses adorados por todas as religi˜ oes hodiernas − s´ o exisc˜ ao ` a humanidade atual, ao n´ıvel da consciˆencia atual das tem em rela¸ massas. Observe que estes Deuses n˜ ao existem em rela¸ c˜ ao a um ateu, em c˜ ao ao n´ıvel de consciˆencia de milhares de rela¸ c˜ ao a um budista, em rela¸ outros seres humanos na face do planeta − dentre os quais me incluo. Todas estas conclus˜oes podem ser derivadas do postulado da TROE, veja: “Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´ e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, independentemente dos meios pelos quais seja conhecido. Objetos perceas faculdades bidos, ou entidades observ´ aveis, existem em rela¸ c˜ ao ` sensoriais ou sistemas de medi¸ c˜ ao pelos quais s˜ ao detectados − n˜ ao de modo independente no mundo objetivo.” 100


Cap´ıtulo

4

Contributo ao enigma da Consciˆencia N˜ao podes encontrar a verdade com a l´ ogica se n˜ ao j´a a tens encontrado sem ela. (G.K. Chesterton/fil´osofo)

Introdu¸ c˜ ao: Consciˆencia ´e um dos temas de estudo mais importantes da atualidade, perpassa v´arias disciplinas tais como: neurobiologia, filosofia, ciˆencias cognitivas, neurologia, lingu´ıstica, inteligˆencia artificial, etc. O que faz um matem´ atico, sem nenhuma forma¸c˜ao na ´area, se atrever a tocar no assunto? E mais que isto, dedicar um cap´ıtulo do seu livro a um ´ o que estarei tema que tem desafiado os maiores especialistas da ´area? E respondendo logo mais. Inicialmente, como que uma advertˆencia, de meus estudos e reflex˜oes neste e noutros universos me dei conta de que pode-se falar de um tema − consciˆencia, alma, esp´ırito, ego, etc. −, pode-se escrever livros e mais livros, palestras, semin´arios, etc., sem se entender nada do assunto. Em resumo: pode-se at´e escrever livros e mais livros sobre um dado tema sem se entender nada, ou coisa nenhuma, sobre o mesmo. Se o leitor para o qual a publica¸c˜ao se destina tamb´em n˜ ao entende, ´e ignorante, ao fim das contas d´ a tudo na mesma, digo, o autor pensa que ensina e o leitor pensa que aprende. Apenas a t´ıtulo de ilustra¸c˜ ao a que me refiro, pode-se at´e fundar um Instituto de Pesquisa, a n´ıvel internacional, para se estudar aquilo que n˜ ao se sabe o que ´e, que se ignora. Claro, aqui caberia uma obje¸c˜ao: s´ o se pesquisa aquilo que se ignora.

101


Conscienciologia Digo, como se vai fundar um instituto para se estudar aquilo que ningu´em sabe o que ´e? N˜ao seria o caso de cegos guiando cegos? Por exemplo, a Conscienciologia: A Ciˆ encia da Consciˆ encia:

Perguntamos: O que ´ e consciˆ encia? Eles respondem: “A Conscienciologia ´e o termo proposto pelo m´edico e pesquisador brasileiro Waldo Vieira (1932-2015) para definir a nova ciˆencia dedicada ao estudo da consciˆencia, que, dentre outros termos, ´e aquilo o que se denomina por ego, alma, esp´ırito, essˆencia, eu, individualidade, personalidade, pessoa, self, ser ou sujeito.” Ent˜ ao, ´e isso, a Conscienciologia confunde consciˆencia com ego, alma, personalidade, etc., coloca tudo em um balaio s´ o − e bate no liquidificador. Para quem n˜ ao tem a m´ınima no¸c˜ao do que seja consciˆencia vai questionar o quˆe? Fica por isto mesmo, vamos continuar pesquisando . . . na dire¸c˜ao errada. Eles fingem que ensinam, o leitor pensa que aprendeu. Confundir todos estes conceitos − como faz o fundador da Conscienciologia (A Ciˆencia da Consciˆencia) − ´e um dos erros mais elementares, ´ como confundir a tela (Consciˆencia) com a proje¸c˜ao sobre a prim´ario! − E tela (ego). Ou o Oceano (Consciˆencia) com a onda sobre o Oceano (ego). Deformamos o real porque o apreendemos espontaneamente atrav´es de nossas impress˜ oes sens´ıveis, de nossos desejos, nossas paix˜ oes, nossos interesses, nossos h´ abitos, em suma, atrav´es de tudo aquilo que nos confina nesse reino de ilus˜ oes em que, impotentes para ver os objetos cujas sombras n˜ ao passam de sombras, ignoramos que elas s˜ ao sombras e as tomamos por realidade. (Simone Manon/Plat˜ao) 102


4.1

O mist´ erio da consciˆ encia

O mist´erio da consciˆencia, ´e o t´ıtulo de um dos livros de um renomado cientista: Ant´ onio Rosa Dam´ asio (Lisboa, 25 de fevereiro de 1944) ´e um m´edico neurologista, neurocientista portuguˆes que trabalha no estudo ´ prodo c´erebro e das emo¸c˜ oes humanas. E fessor de neurociˆencia na Universidade do Sul da Calif´ornia. Contribuiu de maneira decisiva para as pesquisas interdisciplinares em ciˆencias cognitivas, neurofilosofia, neurobiologia da mente e do comportamento, sobretudo nas ´ areas da emo¸c˜ ao, tomada de decis˜ ao, mem´ oria, comunica¸c˜ao, criatividade e consciˆencia. Pois bem, antes de iniciar a leitura de “O mist´erio da consciˆencia” (pdf de 690 p´ aginas) e tendo em conta que meu tempo dispon´ıvel era escasso, pois estava trabalhando na reda¸c˜ ao do presente livro, disse a mim mesmo que iria lˆe-lo at´e onde encontrasse uma afirma¸c˜ao que eu estivesse em condi¸c˜oes de refutar. N˜ao necessitei ir muito longe, encontrei o que procurava j´a na p´ agina 46, eis: Minha resposta a essa cr´ıtica: se a “autoconsciˆencia” for considerada “consciˆencia com um sentido do self ”, ent˜ ao toda a consciˆencia humana ´e necessariamente abrangida por esse termo − n˜ ao existe nenhum outro tipo de consciˆencia, at´e onde sei. (Ant´ onio Dam´asio)

Neste ponto podemos discordar do autor. Defendemos a existˆencia de uma outra modalidade de consciˆencia humana, sem um sentido de self, ou ainda, um tipo de consciˆencia desprovida de identidade, ego, self, etc. Voltaremos a este ponto daqui a pouco. Em um outro livro − E o c´erebro criou a mente − Dam´ asio confessa: Deve existir uma raz˜ ao para escrever um livro. Este foi escrito para recome¸car. Estudo a mente e o c´erebro humanos h´ a mais de trinta anos, e j´ a escrevi sobre a consciˆencia em artigos cient´ıficos e livros. Mas fui ficando insatisfeito com minha exposi¸ca ˜o do problema, e uma real reflex˜ ao sobre descobertas relevantes, em novos e velhos estudos, mudou minhas ideias, em especial sobre duas quest˜ oes: a origem e a natureza dos sentimentos e o mecanismo por tr´ as da constru¸ca ˜o do self. (Ant´ onio Dam´asio)

103


4.2

Uma Prova do C´ eu

Uma Prova do C´eu, ´e o t´ıtulo de um dos livros de um renomado cientista: Eben Alexander III (nascido em dezembro de 1953 em Charlotte, Carolina do Norte, EE.UU.) ´e um neurocirurgi˜ao estadunidense, professor da Escola de Medicina de Harvard e autor do best seller Prova do C´eu: A jornada de um neurocirurgi˜ ao ` a vida ap´ os a morte. O Dr. Eben Alexander, que foi autor ou coautor de mais de 150 artigos para revistas dirigidas a especialistas, e apresentou as conclus˜oes de suas pesquisas em mais de 200 conferˆencias m´edicas ao redor do mundo, aos 54 anos foi v´ıtima de uma meningite bacteriana grave, ficou em coma por sete dias, neste estado embarcou numa jornada por um mundo completamente estranho, sem consciˆencia da pr´ opria identidade, esta experiˆencia o levou a questionar tudo em que acreditava at´e ent˜ao. Afinal, como neurocirurgi˜ao, ele sabia que o que vivenciou n˜ ao poderia ter sido uma mera fantasia produzida por seu c´erebro, que estava praticamente destru´ıdo. Pois bem, em seu livro o Dr. Eben relata, Eu estava conhecendo uma dimens˜ ao da consciˆencia que existia completamente ` a parte das limita¸co ˜es de meu c´erebro f´ısico. Minha experiˆencia me mostrou que a morte do corpo e do c´erebro n˜ ao ´e o fim da consciˆencia. (Eben Alexander/p. 22) Isto contradiz a afirma¸c˜ao de Dam´asio referida anteriormente. Mais `a frente o Dr. Eben continua: Consciˆencia, mas consciˆencia sem mem´ oria nem identidade – como um sonho em que vocˆe sabe o que est´ a acontecendo em volta, mas n˜ ao tem ideia de quem ou o que vocˆe ´e. (p. 50/grifo nosso) Vamos nos concentrar na afirma¸c˜ao em destaque acima, que, como j´a frisamos, entra em choque com o que afirma o outro neurocientista: Minha resposta a essa cr´ıtica: se a “autoconsciˆencia” for considerada “consciˆencia com um sentido do self ”, ent˜ ao toda a consciˆencia humana ´e necessariamente abrangida por esse termo − n˜ ao existe nenhum outro tipo de consciˆencia, at´e onde sei. (Ant´ onio Dam´asio)

104


No cap´ıtulo 31 (p. 191) do seu livro o Dr. Eben escreve: Uma a uma, analisei as hip´ oteses que eu sabia que meus colegas teriam levantado para “explicar” o que havia acontecido comigo. Em uma destas hip´ oteses, ele considera: Ent˜ ao havia o fenˆ omeno hipot´etico conhecido como “libera¸ca ˜o de DMT”. Nesta situa¸ca ˜o, a glˆ andula pineal, reagindo ` a press˜ ao de uma amea¸ca concreta ao c´erebro, produz uma substˆ ancia chamada DMT (ou N,Ndimetiltriptamina). A DMT ´e estruturalmente similar a ` serotonina e pode provocar uma experiˆencia psicod´elica muito intensa. N˜ ao tive nenhuma experiˆencia com a DMT, mas j´ a ouvi dizer que ela pode produ˜es zir um efeito psicod´elico dos mais potentes – talvez at´e com implica¸co genu´ınas para o nosso entendimento do que a consciˆencia e a realidade verdadeiramente s˜ ao. (Eben/p. 194/grifo nosso) Quanto a esta hip´ otese, ele conclui: Entretanto a por¸ca ˜o do c´erebro que a DMT atinge ´e o neoc´ ortex, que, no meu caso, n˜ ao poderia ser afetado simplesmente porque estava “ausente”. Portanto, em termos de “explica¸ca ˜o” para o que houve comigo, a “libera¸ca ˜o de DMT” n˜ ao ´e muito prov´ avel, assim como as outras principais hip´ oteses que poderiam justificar minha experiˆencia, e pela mesma raz˜ ao elementar. Os alucin´ ogenos afetam o neoc´ ortex, e o meu neoc´ ortex n˜ ao estava dispon´ıvel. (Eben/p. 194)

4.3

DMT-Ayahuasca

Ora, ´e precisamente neste ponto que eu me concedo o direito de me intrometer nesta hist´ oria da consciˆencia. A dimetiltriptamina, cuja abreviatura ´e DMT, ´e o princ´ıpio ativo do ch´ a conhecido como ayahuasca. Fa¸co uso desta substˆancia h´ a trinta anos − minha primeira experiˆencia deu-se em 1986 −, nos u ´ltimos dez anos a tenho utilizado para medita¸c˜ao. O que o Dr. Eben suspeita, isto ´e, n˜ ao tem certeza, ˜es genu´ınas para o nosso entendimento do que “talvez at´e com implica¸co a consciˆencia e a realidade verdadeiramente s˜ ao.” ap´ os dez anos de experiˆencias, observa¸c˜oes, conjecturas, pesquisas, eu tenho certeza que sim. Esta ´e a raz˜ ao pela qual me sinto seguro em refutar a posi¸c˜ao do eminente neurocientista Ant´onio Dam´asio, conforme o fiz na p´ agina 103. Ao mesmo tempo me sinto seguro em concordar com o Dr. Eben oria nem sobre a existˆencia de uma “Consciˆencia, mas consciˆencia sem mem´ identidade”; ´e tamb´em por esta raz˜ ao que considero um erro prim´ario cometido pela Conscienciologia confundir Consciˆencia com ego. Calma, vamos arrolar argumentos e mais argumentos no sentido de fundamentar nossa tese. 105


Antes de mais nada, observe que um diferencial relevante entre a minha experiˆencia da “Consciˆencia, sem ego, sem identidade” − e at´e prescindindo da mente, do c´erebro − ´e que a minha experiˆencia pode ser repetida, pode ser controlada − ´e o que tenho feito nos u ´ltimos anos.

Uma singela met´ afora “Costuma-se dizer que, quando algu´em busca um tesouro que por qualquer motivo n˜ ao est´ a destinado a ele, o ouro e as pedras preciosas se convertem diante de seus olhos em carv˜ ao e pedras vulgares.” (Ren´e Gu´enon) (O Reino da Quantidade e os Sinais dos Tempos)

Antes de prosseguir, vejamos uma met´ afora. Considere um Dr. cientista munido dos mais sofisticados equipamentos de u ´ltima gera¸c˜ao, em busca do precioso diamante da Consciˆencia,

?

n˜ ao obstante toda a sua “parafern´ alia eletrˆ onica”, este diamante est´ a t˜ao bem escondido, que s´ o o indiozinho analfabeto sabe como chegar l´a, n˜ ao ´e uma quest˜ao de equipamentos de u ´ltima gera¸c˜ao, mas de caminho. Estudo a mente e o c´erebro humanos h´ a mais de trinta anos, e j´ a escrevi sobre a consciˆencia em artigos cient´ıficos e livros. Mas fui ficando insatisfeito com minha exposi¸ca ˜o do problema, e uma real reflex˜ ao sobre descobertas relevantes, em novos e velhos estudos, mudou minhas ideias. (Ant´ onio Dam´asio/Dr. cientista)

106


Este indiozinho analfabeto, desprovido de m´eritos acadˆemicos, e que, n˜ ao obstante, pode apontar o caminho para o tesouro sou eu, o iconoclasta. “N˜ao tive nenhuma experiˆencia com a DMT, mas j´a ouvi dizer que ela pode produzir um efeito psicod´elico dos mais potentes – talvez at´e com implica¸c˜oes genu´ınas para o nosso entendimento do que a consciˆencia e a realidade verdadeiramente s˜ ao.” (Dr. Eben Alexander/Neurocientista) Sobre a “realidade” j´a falamos nos dois cap´ıtulos anteriores.

Uma experiˆ encia n˜ ao ´ e suficiente para validar uma teoria N˜ao acredite, experimente! Este ´e um bord˜ ao muito utilizado pela Conscienciologia. A nossa tese ´e a de que uma experiˆencia, por si s´ o, n˜ ao ´e suficiente para validar (autenticar) uma teoria. O fato de vocˆe ter tido uma certa experiˆencia isto n˜ ao lhe credencia a propor uma teoria, a defender uma tese. Apenas a t´ıtulo de refor¸co, as experiˆencias na f´ısica quˆantica, por exemplo, est˜ ao a´ı, a olhos vistos, envolvem simula¸c˜oes computacionais, aceleradores de part´ıculas, etc., o produto destas experiˆencias encontram-se hoje onipresentes em nosso dia a dia, entretanto, na hora de elaborar uma teoria veja no que d´ a,

(1) Ondulat´ oria Realista. (2) Corpuscular Realista.

F´ısica Quˆantica

(3) Dualista Realista. (4) Dualista Fenomenalista. (5) Corpuscular Fenomenalista.

Li em um livro∗ que “Existem dezenas de interpreta¸co ˜es diferentes da Teoria Quˆ antica”. Ora, esta observa¸c˜ao se aplica tanto `as minhas experiˆencias com a ayahuasca, quanto `as conclus˜oes da experiˆencia do Dr. Eben. Estamos cˆ onscios disto. ∗

Conceitos de F´ısica Quˆ antica/Osvaldo Pessoa Junior.

107


Um pouco de minhas experiˆ encias Apenas a t´ıtulo de contextualiza¸c˜ao farei um pequeno relato de minhas experiˆencias de medita¸c˜ao (induzidas pela ayahuasca) e, posteriormente, tentarei justific´ a-las, enquadr´ a-las em uma teoria. Ent˜ ao, h´ a cerca de dez anos atr´ as decidi utilizar a ayahuasca para meditar, talvez este ente´ ogeno me ajudasse a compreender o que era esta tal de medita¸c˜ ao de que os m´ısticos tanto falam. Cerca de um ou dois anos depois comecei a colher alguns resultados, mas sem poder avali´ a-los uma vez que n˜ ao possuia um ponto de referˆencia, nenhum mestre a me orientar. Meu trabalho era solit´ ario. Pois bem, sem saber o que fazer com minhas experiˆencias fui levado a pesquisar paralelos em livros. Encontrei uma perfeita harmonia entre minhas experiˆencias e algumas das literaturas budistas, em particular como interpretadas pelo m´ıstico Osho. Dentre o espectro de minhas experiˆencias destacarei as relacionadas ao vazio. Enfatizo: fui levado a focar no tema do vazio − a dar prioridade ao vazio − n˜ ao a partir de leituras, de teorias, mas, ao contr´ ario, a experiˆencia do vazio ´e que me levou `a literatura a respeito do tema. O vazio que decorre da medita¸c˜ao, como entendo, significa “n˜ ao mente”, isto ´e, ausˆencia de mente, ausˆencia de pensamentos, de sentimentos, julgamentos, etc. Um estado de “pura consciˆencia meramente contemplativa”. Quando n˜ ao h´ a ondula¸co ˜es no lago da consciˆencia, a consciˆencia serve apenas como um espelho refletindo tudo isso − as estrelas, as arvores, os pass´ ´ aros, as pessoas, tudo isso −, simplesmente reflete isso, sem nenhuma distor¸ca ˜o, sem nenhuma interpreta¸ca ˜o, sem carregar consigo seus preconceitos. (Osho/Zen/Cultrix) De minhas experiˆencias com o aux´ılio da ayahuasca me dei conta de que existem “intensidades de vazio”, uma analogia para que eu me fa¸ca melhor compreender.

Uma lˆ ampada brilha com uma certa intensidade o sol brilha com intensidade bem maior. De modo an´ alogo existe um vazio − falo de sensa¸c˜ao − com a intensidade de uma lˆ ampada e existe um vazio com a “intensidade do sol”, potˆencia. Nota: O que ´ e medita¸ c˜ ao? − A quem interessar possa sugerimos o v´ıdeo https://www.youtube.com/watch?v=g-HKcURN1v0 108


Uma outra analogia, observe uma formiga vista a olho nu e vista ao microsc´opio:

(Consciˆencia)

Minha medita¸c˜ ao com a ayahuasca “amplifica” o vazio − a exemplo de um microsc´opio. Pois bem, retomando, olhando por tempo suficiente para o sol o que poder´ a acontecer? Podemos perder a vis˜ao, ficar cegos. An´alogamente, entrando num estado de vazio − “com a potˆencia do sol” − o que certamente acontece? Vocˆe simplesmente desaparece, deixa de existir . . . pasm´em!! Como assim? Deixa eu explicar-lhes, novamente com o aux´ılio de uma analogia − ´e s´ o como podemos falar destas coisas. O que ´e o ego? o que ´e isto que chamamos de “eu”? Imagine uma tela em branco

Em nossa analogia esta tela em branco (Consciˆencia) somos n´ os quando nascemos. Ao longo do tempo vamos construindo um desenho nesta tela, que se d´ a em fun¸c˜ ao de nossas rela¸c˜oes com a fam´ılia, colegas de escola, sociedade em geral, etc. Pois bem, este desenho somos n´ os, ´e o que denominamos de ego. Veja: O homem ´e o art´ıfice do seu destino: tem que arrostar o esfor¸co de criar a si mesmo. (Pietro Ubaldi) O mundo de vocˆes ´e um mundo criado pelo ego; o mundo de vocˆes ´e um mundo projetado. Vocˆes est˜ ao usando o mundo real como uma tela e projetando nela as suas pr´oprias id´eias. (Osho)

109


Observe que o seu “desenho” de crian¸ca n˜ ao existe mais, foi alterado muitas vezes ao longo da sua da vida. Vocˆe n˜ ao ´e mais a mesma pessoa de 15 anos atr´ as − supondo que vocˆe n˜ ao seja um crente, claro. Pois bem, ent˜ ao, quando eu atinjo um estado de vazio com a intensidade do sol, o que acontece? Eu simplesmente desapare¸co, deixo de existir,

Medita¸ca˜o

(Gentil)

(Estado de Vazio)

´ como se tivessemos apagado o desenho com uma borracha. A ayahuasca E ´e a borracha que deleta o ego (identidade). ´ precisamente aqui que tomo a liberdade de discordar do Dr. Dam´asio E (e da Conscienciologia), vejam: Minha resposta a essa cr´ıtica: se a “autoconsciˆencia” for considerada “consciˆencia com um sentido do self ”, ent˜ ao toda a consciˆencia humana ´e necessariamente abrangida por esse termo − n˜ ao existe ne(Ant´ onio Dam´asio) nhum outro tipo de consciˆencia, at´e onde sei. O estado de Consciˆencia ´a direita na figura a seguir,

Medita¸ca˜o

(Gentil)

Pura Consciˆencia

(N˜ao-existˆencia)

´e precisamente o estado que o Dr. Dam´asio ignora, e ´e precisamente aquele referido pelo Dr. Eben, Eu estava conhecendo uma dimens˜ ao da consciˆencia que existia completamente ` a parte das limita¸co ˜es de meu c´erebro f´ısico. Minha experiˆencia me mostrou que a morte do corpo e do c´erebro n˜ ao ´e o fim da consciˆencia. (Eben Alexander/p. 22) Esta experiˆencia do Dr. Eben, j´a realizei dezenas e dezenas de vezes, ´e e amparada nela que escreverei o pr´ oximo cap´ıtulo deste livro “A morte ´ mais uma ilus˜ ao criada pela mente”. 110


Vejamos mais duas analogias, isto ´e, por duas outras perspectivas, como o ego (identidade) ´e deletado, enviado para a lixeira: Pens amen tos ego

(Consciˆencia)

Julga

ment os

Senti ment os

Imagine um Oceano sem nenhuma ondula¸ca˜o, este seria a Consciˆencia sem identidade − desconhecida pelo Dr. Dam´asio. O ego surge (se manifesta) de uma excita¸ca˜o neste pl´acido Oceano, esta excita¸ca˜o ´e quem produz atributos tais como pensamentos e toda esp´ecie de sentimentos. ´ aqui onde entra a medita¸ca˜o. E Atrav´es da medita¸ca˜o conseguimos diminuir paulatinamente a amplitude destas ondas (pensamentos) at´e que as mesmas desapare¸cam, sejam extintas; com isto o ego some e com ele: desejos, ang´ ustias, medos (inclusive da morte), ansiedades, etc.

O Oceano de Consciˆencia − de cuja excita¸c˜ao surge o ego (identidade) − pode ser referido como a Consciˆencia do V´acuo, reveja uma figura do cap´ıtulo 2,

Literatura Guerras N´ umeros Azuis

Produtos da mente

consciˆencia (Mente) consci^ encia do homem

        

Luz Branca

       

N´ umeros Matem´ atica F´ısica

Consciˆencia

V´ acuo

A Consciˆencia do V´acuo ´e a Consciˆencia sem identidade, o Dr. Dam´asio refere-se ` a consciˆencia ap´ os o prisma, o Dr. Eben refere-se `a Consciˆencia antes do prisma, esta n˜ ao possui uma identidade (ego). Quando n˜ ao h´ a ondula¸co ˜es no lago da consciˆencia, a consciˆencia serve apenas como um espelho refletindo tudo isso − as estrelas, as arvores, os pass´ ´ aros, as pessoas, tudo isso −, simplesmente reflete isso, sem nenhuma distor¸ca ˜o, sem nenhuma interpreta¸ca ˜o, sem carregar consigo seus preconceitos. (Osho/Zen/Cultrix) Toda fala, toda a¸ca ˜o, todo comportamento s˜ ao flutua¸co ˜es da consciˆencia. Toda a vida emerge e ´e mantida na conciˆencia. O universo inteiro ´e a express˜ ao da consciˆencia. A realidade do universo ´e um oceano ilimitado de consciˆencia em movimento. (Maharishi Mahesh Yogi) 111


Uma outra analogia, no estado de Consciˆencia sem identidade, “vocˆe” ´e apenas o observador, como um lago que “observa” a lua,

(Mente) Observador (“Vocˆe”)

Por oportuno, este ´e o objetivo da medita¸c˜ao, passar do estado ap´ os o prisma (mente, pensamento, ondula¸c˜ao), para o estado antes do prisma, onde n˜ ao existem pensamentos, nenhum sequer. N˜ao existindo pensamento, n˜ ao existe ego, n˜ ao existe identidade, ´e a este estado (sem mente, antes do prisma) que o Dr. Eben se refere: Eu estava conhecendo uma dimens˜ ao da consciˆencia que existia completamente ` a parte das limita¸co ˜es de meu c´erebro f´ısico. Minha experiˆencia me mostrou que a morte do corpo e do c´erebro n˜ ao ´e o fim da consciˆencia. (Eben Alexander/p. 22) Vejamos ainda uma u ´ltima analogia, com o intuito de diferenciar as duas consciˆencias ` as quais nos referimos: aquela atrelada ao ego (self), referida pelo Dr. Dam´ asio, e aquela sem identidade, referida pelo Dr. Eben, Usamos a met´ afora da metamorfose da lagarta em borboleta. No casulo (ego) est´ a o primeiro tipo de consciˆencia, libertandonos do casulo adentramos no segundo tipo de Consciˆencia, sem identidade, sem ego (self); isto, ficou para tr´ as, foi descartado junto com o casulo. Minha medita¸c˜ao com a ayahuasca derrete a cera do casulo (ego). Ademais, tenha em conta que o ego (identidade) nada mais ´e que um conjunto de rea¸c˜ oes qu´ımicas no c´erebro, pelo ao menos isto ´e o que defendem alguns neurocientistas, por exemplo, na edi¸c˜ao da Revista Veja de 4 de julho de 2012, o cientista Francis Crick − o mesmo que descobriu a forma de h´elice dupla da m´ olecula da vida, o DNA − proferiu:

Vocˆe, suas alegrias e tristezas, suas mem´ orias e ambi¸co ˜es, sua no¸ca ˜o de identidade e seu livre-arb´ıtrio nada mais s˜ ao do que a intera¸ca ˜o de um vasto conjunto de c´elulas nervosas . . . 112


Traduzindo, o ego (identidade) ´e como se fosse um arquivo (qu´ımico) armazenado no c´erebro, atrav´es da medita¸c˜ao consigo enviar este arquivo para a “lixeira”,

Medita¸ca˜o

Pura Consciˆencia

Flutua¸ca˜o

(“lixeira”) (Gentil)

(N˜ao-existˆencia)

(Gentil)

posteriormente consigo recuper´ a-lo de volta. A seguir, o neurobi´ologo Maturana afirma que a mente (onde reside o ego, identidade) ´e uma rela¸c˜ao: A pergunta “Onde reside a consciˆencia?” seria significativa se a mente fosse uma entidade, no entanto esta se constitui como uma rela¸ca ˜o. Encara-la como uma entidade independente levaria a um “processo que obscureceria sua origem”. (p. 212) (A Ontologia da Realidade – Humberto Maturana)

Em resumo, o ego ´e um fenˆomeno (flutua¸c˜ao) e como tal ´e desprovido de natureza inerente pr´ opria, lembramos o postulado da TROE, “Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´ e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, independentemente dos meios pelos quais seja conhecido.” O ego ´e tal como a luz, a luz ´e “desprovida de natureza inerente pr´ opria”.

Assim como o v´ acuo ´e considerado “vazio”, mas, ao mesmo tempo, ´e a fonte da qual toda esp´ecie de part´ıculas surge, a mente ´e essencialmente “vazia” no sentido de que desafia a descri¸ca ˜o absoluta. Entretanto, todos os pensamentos, emo¸co ˜es e sensa¸co ˜es perpetuamente surgem a partir dessa base indefin´ıvel e incompletamente conhecida. [. . . ] Como a natureza de sua mente ´e a vacuidade, vocˆe possui a capacidade potencialmente ilimitada de vivenciar uma variedade de pensamentos, emo¸co ˜es e sensa¸co ˜es. Mesmo os mal-entendidos sobre a vacuidade n˜ ao passam de fenˆ omenos que surgem da vacuidade! (Publica¸ca˜o eletrˆ onica)

113


4.4

A filosofia da vacuidade

Enfatizamos anteriormente que uma experiˆencia n˜ ao serve de prova para validar uma teoria. Reiteramos, nem mesmo as experiˆencias da f´ısica, veja novamente: (1) Ondulat´ oria Realista. (2) Corpuscular Realista.

F´ısica Quˆantica

(3) Dualista Realista. (4) Dualista Fenomenalista. (5) Corpuscular Fenomenalista.

Sendo assim, o que serviria para validar uma teoria?. Lembramos do postulado de Nagarjuna, (p. 78) Se eu tivesse qualquer posi¸ca ˜o te´ orica, ent˜ ao eu teria problemas; mas j´ a que n˜ ao tenho qualquer posi¸ca ˜o te´ orica, ent˜ ao n˜ ao tenho qualquer problema. Sendo assim, a realidade nua e crua ´e que nada podemos fazer para provar uma dada teoria. No entanto, nem tudo est´ a perdido, existem alguns crit´erios pelos quais podemos nos guiar para legitimar (grau de confiabilidade) ou descartar certas candidatas a teorias s´erias. Um destes ´e o seguinte: N˜ ao vamos pois hesitar em considerar como erro − ou como inutilidade espiritual, o que ´e mais ou menos a mesma coisa − toda verdade que n˜ ao fa¸ca parte de um sistema geral. (Gaston Bachelard) Um crit´erio bastante razo´ avel para se aplicar a uma “candidata a verdade”, crit´erio este corroborado pelo seguinte: Os sonhos s˜ ao particulares, a verdade n˜ ao ´e particular. A verdade n˜ ao pode ser particular − ela n˜ ao pode ser minha ou sua, n˜ ao pode ser dos crist˜ aos ou dos hindus, nem dos indianos ou dos gregos. A verdade n˜ ao pode ser particular. Os sonhos s˜ ao particulares. Tudo o que ´e particular, n˜ ao se esque¸ca, pertence necessariamente ao mundo dos sonhos. A verdade ´e um c´eu aberto; ´e para todo o mundo, ´e uma s´ o. (Osho/Consciˆencia)

Para facilitar a comunica¸c˜ao reuniremos estes dois crit´erios em um s´ oe o denominaremos crit´erio BO (Bachelard-Osho).

114


No meu entendimento, uma boa teoria ´e como uma ´arvore que esparrama suas ra´ızes em v´arias dire¸c˜ oes, est´ a fincada em um solo seguro,

Uma boa teoria, no seu subsolo, ´e uma ramifica¸c˜ao que se interconecta − possui pontos de intersec¸c˜ ao − com “teorias long´ınquas”; enfim, uma boa teoria n˜ ao vem abaixo com uma “leve brisa” (argumentos, l´ogica). Agora, envidaremos esfor¸cos para demonstrar que o essencial de nossas teses (argumentos) neste livro, satisfaz ao crit´erio BO, e ´e como uma ´arvore fincada em solo seguro, n˜ ao obstante − paradoxalmente − este solo seja o Vazio, o Nada. Algu´em j´a viu um engenheiro levantar um edif´ıcio sobre o Nada?. . . para quem construiu a r´egua quˆantica, vai-se duvidar de quˆe?. Ent˜ ao, inicialmente lembramos ao leitor os oito ´ıtens citados a partir da p´ agina 51, os quais resumimos no seguinte fluxograma,

Vazio F´ısica Quˆantica

L´ogica Matem´atica

Filosofia

Filosofia Budista

Filosofia Matem´atica

Filosofia Tao´ısta

Medita¸c˜ao

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Mas, no momento nosso objetivo ´e fundamentar a afirmativa do Dr. Eben de que existe uma consciˆencia “extracorp´ orea”, Eu estava conhecendo uma dimens˜ ao da consciˆencia que existia completamente ` a parte das limita¸co ˜es de meu c´erebro f´ısico. Minha experiˆencia me mostrou que a morte do corpo e do c´erebro n˜ ao ´e o fim da consciˆencia. (Eben Alexander/p. 22) contrariamente ao que afirma o Dr. Dam´asio, como j´a mencionamos. Ent˜ao, 1 o ) Filosofia budista O princ´ıpio da incerteza de Heisenberg sugere que viola¸co ˜es do princ´ıpio da conserva¸ca ˜o da energia podem ocorrer por causa de flutua¸co ˜es espontˆ aneas e imprevis´ıveis do v´ acuo que ´e o espa¸co. Isso foi legitimado por in´ umeros experimentos. De acordo com a mecˆ anica quˆ antica, a energia pode surgir do nada por um breve instante; quanto menor o intervalo, maior o desvio de energia. [. . . ] sugere que o v´ acuo pode n˜ ao estar preenchido apenas de energia ponto-zero, que pode ser medida objetivamente com t´ecnicas da f´ısica, mas tamb´em permeado de consciˆencia, que pode ser experiˆenciada subjetivamente com t´ecnicas de introspec¸ca ˜o. (Wallace/[1], pp. 53, 54)

Coloco em destaque (sobre o v´acuo): “. . . mas tamb´em permeado de consciˆencia, que pode ser experiˆenciada subjetivamente com t´ecnicas de introspec¸c˜ao.” Ora, uma destas t´ecnicas de introspec¸ca ˜o foi a que utilizei servindo-me da ayahuasca, como acertadamente prognosticou o Dr. Eben, “N˜ ao tive nenhuma experiˆencia com a DMT, mas j´ a ouvi dizer que ela pode produzir um efeito psicod´elico dos mais potentes – talvez at´e com implica¸co ˜es genu´ınas para o nosso entendimento do que a consciˆencia e a realidade verdadeiramente s˜ ao.” o 2 ) O Testemunho de um Mestre Para que a realidade seja, as ideias de ‘eu’ e ‘meu’ dever˜ ao desaparecer. Elas desaparecer˜ ao se vocˆe permitir. Ent˜ ao seu estado normal e natural reaparece; nele vocˆe n˜ ao ´e nem o corpo nem a mente, nem o ‘eu’ nem o ‘meu’, mas est´ a num estado totalmente diferente de ser. ´ a pura Consciˆencia de ser, sem ser isso ou aquilo, sem qualquer auE toidentifica¸ca ˜o com nada em particular ou em geral. Nesta pura luz da consciˆencia n˜ ao h´ a nada, nem sequer a ideia de nada. H´ a apenas luz. (Artigo ‘Eu’ e ‘Meu’ s˜ao Ideias Falsas (Sri Nisargadatta Maharaj))

Nota: Isto bate com minhas experiˆencias.

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3 o ) O Testemunho de um Mestre O texto a seguir fala de Rigpa um estado de consciˆencia claro e desperto, sem identidade. No “Rigpa ngotr¨ o tcher thong rangdrol”, o rigpa ´e assim representado: Quando os pensamentos se esvaeceram sem deixar tra¸co algum, Nesse frescor aonde os pensamentos a vir ainda n˜ ao apareceram, No instante onde se estabelece o modo natural sem artif´ıcios, Eis aqui esta consciˆencia dos tempos comuns, E desde que fixeis vosso olhar sobre v´ os mesmos, Esse olhar que n˜ ao tem nada para “ver” des´ agua sobre a claridade, Rigpa em sua evidˆencia, nu e l´ımpido; ´ uma pura vacuidade onde nada de particular existe, E Onde claridade e vazio s˜ ao indivis´ıveis, Nem ´e eterno, pois que nada existe verdadeiramente, Nem ´e o nada, pois que ele ´e claro e vivo. Ele n˜ ao se reduz ao um, estando presente e consciente em tudo, Ele n˜ ao ´e o m´ ultiplo, porque ele tem um u ´nico sabor na inseparabilidade. Tal ´e esse rigpa natural, e nada al´em. (Longchenpa) (pp. 154, 153)

Nota: Isto bate com minhas experiˆencias. Compare isto, Nem ´ e eterno, pois que nada existe verdadeiramente, Nem ´ e o nada, pois que ele ´ e claro e vivo. Com o postulado da TROE , “Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´ e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, independentemente dos meios pelos quais seja conhecido.” Como complemento, sugerimos ao leitor o seguinte v´ıdeo∗ : https://www.youtube.com/watch?v=XtEkgTezB1k oximo cap´ıtulo daremos outros exemplos. 4 o ) No pr´ ∗

Jorge Handabaka - El Vacio y la No Mente

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O a¸ cu ´ car ´ e doce, e o bacuri? Veja, n˜ ao temos a pretens˜ao de ter provado nada ao leitor, mesmo porque sabemos que n˜ ao trata-se de uma quest˜ao de prova, mas de provar, Simplesmente proferir as palavras “o a¸cu ´car ´e doce” n˜ ao produz a experiˆencia, mas se for degustado, descobre-se que o seu sabor ´e doce. Do mesmo modo, simplesmente proferir a palavra “vacuidade” n˜ ao produz a experiˆencia, mas atrav´es da medita¸ca ˜o o seu sabor ´e experienciado. (Maitreya)

Uma analogia: Deixa eu falar-lhes sobre uma saborosa fruta que eu experimentei quando morei em Bel´em-PA, o bacuri: Bacuri: Uma fruta um pouco maior que uma laranja, cont´em uma polpa branca agridoce, de aroma agrad´ avel e sabor intenso, lembra o cupua¸cu, etc.

O leitor poderia at´e ler livros e mais livros sobre o bacuri, ou, quem sabe, at´e cursar uma faculdade de agronomia e defender tese sobre o mesmo. Com tudo isto, faltaria a experiˆencia, o saborear. De igual modo acontece com a experiˆencia da Consciˆencia sem identidade, da Consciˆencia ´ por isto que os neurocientistas a negam, do Vazio, sem suporte f´ısico. E por que nunca a experimentaram. Como convencer um cego de que as cores existem?. Observem novamente esta imagem:

?

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Por que afirmei que o diamante da Consciˆencia est´ a t˜ao bem escondido que os pesquisadores jamais chegar˜ ao l´a? − Que n˜ ao ´e uma quest˜ao de parafern´alia eletrˆ onica (“equipamenteos”). A raz˜ ao ´e simples: Todo pesquisador pesquisa com a mente! Aqui reside o problema − no caso da Consciˆencia, bem entendido. Para se atingir a Consciˆencia (a Matriz) ´e necess´ario deixar a mente de lado, se livrar da mente. Me parece que isto tem a ver com o que Chesterton quis dizer,

N˜ao podes encontrar a verdade com a l´ogica se n˜ ao j´a a tens encontrado sem ela. (G.K. Chesterton/fil´osofo)

´ isto poss´ıvel? (deletar a mente). Bem, posso afirmar que sim porque E tenho experimentado isto. Este livro que o leitor est´ a lendo, tamb´em aquele citado na p´ agina 17, foi escrito em parte afastando a mente. A prop´osito, existe uma outra forma pela qual a informa¸c˜ao nos chega, sem ser pela mente, ´e quando nos encontramos em um estado de pura Consciˆencia, a Consciˆencia do V´acuo, veja:

O Absoluto cont´em todo o experienci´ avel. Mas sem o experimentador eles s˜ ao como nada. Aquilo que faz a experiˆencia poss´ıvel ´e o Absoluto. Aquilo que a faz atual ´e o Ser. (Sri Nisargadatta Maharaj)

Ego

→ Deleta a mente

Nesta ilustra¸c˜ ao, o raio de Luz Branca (incolor) que incide no primeiro prisma ´e a Consciˆencia do V´acuo, do outro lado ela se abre nos pensamentos (cores, ego, mente, consciˆencia), no entanto, atrav´es da medita¸c˜ao eliminamos as cores e voltamos ao puro estado de Consciˆencia (sem identidade, ego, ´ aqui, neste estado, que tamb´em podemos aprender, sem mente! self). E “A mente n˜ ao ´e vocˆe, ´e outro. Vocˆe ´e apenas um observador” (Osho)

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Retomando, neste momento me desculpo perante o leitor pela forma como conduzir certas passagens do presente cap´ıtulo, de forma incisiva e contundente; ´e que j´a lidei com alguns “doutores donos da verdade”, me dei conta de que alguns s˜ ao arrogantes, intransigentes e, n˜ ao raro, preconceituosos. Apenas para contextualizar, o fundador da Concienciologia (a Ciˆencia da Consciˆencia),

em um dos seus v´ıdeos, como um estouvado, afirma qua a ayahuasca ´e uma “droga como outra qualquer”. Se assim ´e, h´ a trinta anos me utilizo desta droga, e, por conta disto, afirmo que o Dr. Waldo comete um erro elementar ao confundir Consciˆencia com ego, como ele o faz em seus espessos volumes. “A Conscienciologia ´e o termo proposto pelo m´edico e pesquisador brasileiro Waldo Vieira (1932-2015) para definir a nova ciˆencia dedicada ao estudo da consciˆencia, que, dentre outros termos, ´e aquilo o que se denomina por ego, alma, esp´ırito, essˆencia, eu, individualidade, personalidade, pessoa, self, ser ou sujeito.” Talvez se o Dr. Antonio Dam´asio tivesse tido a ben¸c˜ao de cruzar com a ayahuasca − supondo que n˜ ao seja preconceituoso −, teria confirmado a suspeita do Dr. Eben, “N˜ao tive nenhuma experiˆencia com a DMT, mas j´a ouvi dizer que ela pode produzir um efeito psicod´elico dos mais potentes – talvez at´e com implica¸c˜oes genu´ınas para o nosso entendimento do que a consciˆencia e a realidade verdadeiramente s˜ ao.” e talvez n˜ ao tivesse sido necess´ario escrever, Deve existir uma raz˜ ao para escrever um livro. Este foi escrito para recome¸car. Estudo a mente e o c´erebro humanos h´ a mais de trinta anos, e j´ a escrevi sobre a consciˆencia em artigos cient´ıficos e livros. Mas fui ficando insatisfeito com minha exposi¸ca ˜o do problema, e uma real reflex˜ ao sobre descobertas relevantes, em novos e velhos estudos, mudou minhas ideias, em especial sobre duas quest˜ oes: a origem e a natureza dos sentimentos e o mecanismo por tr´ as da constru¸ca ˜o do self. (Ant´ onio Dam´asio)

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Budismo, vacuidade e ayahuasca Preliminarmente esclare¸co que n˜ ao sou budista, nunca estive na ´India ou em qualquer outro pa´ıs, com o prop´osito de aquisi¸c˜oes espirituais (peregrina¸c˜oes). Neste contexto, nunca estive em nenhum mosteiro, nem mesmo arredei o p´e do meu quintal. Por outro lado, n˜ ao tenho o menor interesse em defender ou fazer apologia da ayahuasca, ap´ os trinta anos de trabalho com esta planta mestra n˜ ao vejo a necessidade de “defendˆe-la” seja perante quem for. No entanto, tenho visto alguns mestres ensinando a seus disc´ıpulos que a ayahuasca ´e uma “droga como qualquer outra”; neste caso, tendo a oportunidade vou me manifestar, n˜ ao para “defendˆe-la”, reitero, mas para que estes disc´ıpulos conhe¸cam uma outra vers˜ ao da quest˜ao. Um de tais mestres j´a citei anteriormente (Waldo Vieira), dois outros s˜ ao: Divaldo Franco e Raul Teixeira, ambos do espiritismo kardecista. Para citar um quarto, tenho em m˜ aos o livro “O que faz vocˆe ser um Budista? ” do mestre Dzongsar Jamyang (Editora Pensamento), na p´ agina 95 ele afirma: Com certeza, existem infinitas maneiras de acordar deste sono. Mesmo substˆ ancias como o peiote e a mescalina podem dar uma vaga no¸ca ˜o do aspecto ilus´ orio da “realidade”. No entanto, uma droga n˜ ao pode proporcionar um despertar pleno, simplesmente porque esse despertar ´e dependente de uma substˆ ancia externa e, quando acaba o efeito da mescalina, a experiˆencia acaba junto. No que diz respeito ` a “droga” ayahuasca afirmo que isto ´e uma inverdade. Primeiro que ela n˜ ao fornece uma “vaga no¸c˜ao”, segundo que a “experiˆencia n˜ ao acaba junto”. Por exemplo no livro cuja capa encontra-se na p´ agina 17 relato uma experiˆencia dez dias depois de consumada. Este livro, ´e resultado de minhas experiˆencias com a ayahuasca, lembro de experiˆencias de anos atr´ as. (ver p. 190) Ademais, o que ´e “externa” o que ´e “interno”?, o princ´ıpo ativo da ayahuasca (DMT) ´e produzido no c´erebro humano; saberia ele − de experiˆencia − o que ´e “um despertar pleno”?

Esta, em geral, ´e a “percep¸c˜ao” que estes mestres tentam passar de algumas “substˆancias”. No que diz respeito `a “droga” ayahuasca, afirmo que estes mestres est˜ ao mentindo. Assim como na m´ usica, na ciˆencia − e em particular na matem´ atica − existem os compositores e os int´erpretes, na matem´ atica al´em de int´erprete sou tamb´em compositor, at´e o momento j´a escrevi quatro livros de matem´ atica (na p´ agina seguinte mostro as capas de trˆes deles), dois livros na ´ area de programa¸c˜ao, e mais quatro livros na ´area de espiritualidade-filosofia (incluindo este que o leitor tem em m˜ aos), tenho recebido v´arios email’s, inclusive de professores que adotaram meus livros. Dois eminentes matem´ aticos brasileiros elogiaram trabalhos meus em ma121


tem´ atica∗ . Ademais, imagino que este livro que o leitor tem em m˜ aos possa contribuir com v´arias ´ areas do conhecimento.

Pois bem, diante do exposto, deixo aqui uma pergunta a estes mestres: como algu´em que passou 30 anos de sua vida consumindo a droga ayahuasca foi capaz de produzir todos estes livros? − Afora dezenas de artigos. Ainda tem mais: esta substˆancia ´e utilizada por milhares de pessoas por este pa´ıs afora, e tamb´em em outros pa´ıses do mundo − ´e objeto de estudos de muitos pesquisadores s´erios. Sendo assim, pergunto: Todas estas pessoas s˜ ao apenas drogadas? Segundo entendo, a verdade nua e crua passa por aqui: ´e ´obvio que estes mestres n˜ ao v˜ao falar bem de uma planta mestra, caso contr´ ario correriam o risco de perder seus disc´ıpulos! Diante das plantas mestras, correm o efetivo risco de tornarem-se desnecess´arios para seus respectivos disc´ıpulos, e a´ı v˜ao sobreviver de quˆe? Isto n˜ ao ´e uma hip´ otese minha, j´a vi acontecer. J´ a fui acusado de ser agressivo em meus escritos, acontece que na minha rispidez sou sincero, enquanto tenho visto por a´ı muitos mestres mostrando os dentes, digo sorrindo, no entanto vendendo mentiras.

Vacuidade Este ´e um dos temas de maior relevˆancia do budismo e que tem a ver com a Consciˆencia do V´acuo, isto ´e, com a Consciˆencia (Matriz) que os neurocientistas desconhecem, raz˜ ao por que acho necess´ario me alongar um pouco mais neste tema. Ademais, penso que posso contribuir com os pr´ oprios estudiosos do budismo sobre esta relevante quest˜ao. Com efeito, tenho lido muitos livros de mestres budistas, acompanhado muitas palestras em v´ıdeos, lido muitos artigos e me dei conta de que quando eles tratam do tema vacuidade o fazem de um ponto de vista apenas te´orico, eles apenas ∗

Um deles (Carlos Gustavo) cito na p´ agina 30, e outro (Ubiratan) na p´ agina 30.

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conhecem o tema de leituras e “ouvido”. Quando tentam repassar a seus ouvintes e leitores n˜ ao raro mais complicam que explicam. Por exemplo, tenho em m˜ aos o livro, “O Sentido da Vida”, de Sua Santidade, o DalaiLama: Pergunta: Como podemos entender a vacuidade de modo bem simples, sem entrar em uma filosofia excessivamente intelectualizada? Resposta: O que eu estive falando nos u ´ltimos trˆes dias n˜ ao ´e simples o bastante? A id´eia principal ´e que, quando os objetos s˜ ao procurados sob an´ alise, n˜ ao s˜ ao encontrados, mas isto n˜ ao significa que eles n˜ ao existam − significa simplesmente que falta a eles existˆencia inerente. Se vocˆe contemplar isto repetidamente, em dado momento a realiza¸ca ˜o emergir´ a. (p. 108/Editora Martins Fontes) Achei a pergunta excelente (objetiva), no entanto a resposta de Sua Santidade est´ a incompleta, no meu entendimento, claro. Veja: ao procu“A id´eia principal [da vacuidade] ´e que, quando os objetos s˜ rados sob an´ alise, n˜ ao s˜ ao encontrados, mas isto n˜ ao significa que eles n˜ ao existam − significa simplesmente que falta a eles existˆencia inerente.” Segundo entendo, esta ´e apenas uma face da moeda. Daqui a pouco mostraremos a outra face, antes, tenho a impress˜ao de que a afirma¸c˜ao de ao significa que eles n˜ ao existam − significa simSua Santidade, “mas isto n˜ plesmente que falta a eles existˆencia inerente.” resulta um tanto confusa para um ne´ ofito; ademais, entra em contradi¸c˜ao com o ensinamento de um grande mestre budista, (p. 117) Nem ´ e eterno, pois que nada existe verdadeiramente, Vamos tornar vis´ıvel a “explica¸c˜ao” do Dalai-Lama. Ent˜ ao, reflita novamente sobre a imagem do pernilongo, (p. 41) Inicialmente, esta imagem deixa claro que existir (ou como existe) depende do referencial, a estrutura cognitiva de referencia (“decodificador”). Leitor, imagine que vocˆe vai aplicando no “pernilongo” um zoom cada vez mais potente, o que terminar´ a acontecendo? Em dado momento vocˆe ver´ a apenas ´ atomos, el´etrons, pr´ otons, quarks, etc. Neste momento o pernilongo (identidade) deixar´ a de existir!

(Caixa)

Pernilongo Pernilongo

(Gedankenexperiment)

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´ desta perspectiva que o mestre Longchenpa muito acertadamente afirma E “pois que nada existe verdadeiramente”. O que est´ a em harmonia com o postulado da TROE: “Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´ e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, independentemente dos meios pelos quais seja conhecido.” A outra face da moeda, n˜ ao mencionada por Sua Santidade, ´e que existe uma outra modalidade de Vacuidade que ´e simplesmente a que um outro mestre se refere: Simplesmente proferir as palavras “o a¸cu ´car ´e doce” n˜ ao produz a experiˆencia, mas se for degustado, descobre-se que o seu sabor ´e doce. Do mesmo modo, simplesmente proferir a palavra “vacuidade” n˜ ao produz a experiˆencia, mas atrav´es da medita¸ca ˜o o seu sabor ´e experienciado. (Maitreya)

Ao contr´ ario da anterior, a apreens˜ao (entendimento) desta vacuidade n˜ ao ´e uma quest˜ ao de inteligˆencia, mas de sensa¸ c˜ ao. Vejamos isto atrav´es de trˆes ilustra¸c˜ oes: Pens amen tos ego

Vacuidade

(Consciˆencia)

Julga

ment os

Senti ment os

Quando, atrav´es da medita¸c˜ao, deleta-se o ego entra-se num estado ´ aqui que surge “A de vacuidade. E Consciˆencia”, que n˜ ao tem nada a ver com ego, self, etc.

H´a que se experimentar o “bacuri”, conforme mencionamos na p´ agina 118. Uma segunda ilustra¸c˜ao: Este Oceano, como j´a referimos, ´e um Oceano de Consciˆencia (Universal), as ondas s˜ ao os nossos pensamentos. Quando, atrav´es da medita¸c˜ao, anulamos estas ondas, ent˜ ao surge o estado de vacuidade, um estado de Pura Consciˆencia. Enfatizamos, esta modalidade de Vacuidade − a mais dif´ıcil e importante − n˜ ao depende de inteligˆencia, cultura, santidade, austeridade; n˜ ao depende de 10 ou 15 anos de clausura, meditando-se em mosteiros. Um caboclinho do mato, analfabeto, pode ating´ı-la. 124


Vejamos ainda uma terceira ilustra¸c˜ao: Consciˆencia

Ego Quando, atrav´es da medita¸c˜ ao, dissolvemos a casca do ego, ent˜ ao surge a Consciˆencia, este ´e o estado de vacuidade; objeto de nossa aprecia¸c˜ ao. Ainda: para a apreens˜ao da primeira vacuidade Casulo Vacuidade (a qual o Dalai-Lama se refere) a mente ´e necess´aria; para se atingir a segunda vacuidade, a mente torna-se um estorvo, deve ser deletada.

Enfatizamos, a imers˜ao neste estado de Vacuidade tem a ver com o relato do Dr. Eben, Eu estava conhecendo uma dimens˜ ao da consciˆencia que existia completamente ` a parte das limita¸co ˜es de meu c´erebro f´ısico. Minha experiˆencia me mostrou que a morte do corpo e do c´erebro n˜ ao ´e o fim da consciˆencia. (Eben Alexander/p. 22) ´ precisamente o estado de consciˆencia que o Dr. Dam´asio diz ignorar: E Minha resposta a essa cr´ıtica: se a “autoconsciˆencia” for considerada “consciˆencia com um sentido do self ”, ent˜ ao toda a consciˆencia humana ´e necessariamente abrangida por esse termo − n˜ ao existe ne(Ant´ onio Dam´asio) nhum outro tipo de consciˆencia, at´e onde sei. A seguir dois s´ abios referem-se ao segundo tipo de vacuidade: A chave para dissipar a confus˜ao E ficar livre da dor ´ viver com o Tao E Na terra do vazio. (Chuang Tzu)

Quando as a¸co˜es e as emo¸co˜es aflitivas cessam, ocorre a liberta¸ca˜o. As a¸co˜es e as emo¸co˜es aflitivas surgem das concep¸co˜es falsas, que por sua vez surgem das elabora¸co˜es fict´ıcias. As elabora¸co˜es fict´ıcias cessam na vacuidade.

(Nagarjuna) ´ este estado de Vacuidade o diamante que todos os budistas (e toda a E humanidade, embora sem ter consciˆencia disto) buscam.

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Nas palavras do Buda a seguir, Quando Buda atingiu, algu´em lhe perguntou: “O que vocˆe atingiu?” Ele riu e disse: “N˜ ao atingi nada, pois o que atingi sempre esteve comigo. Pelo contr´ ario, perdi muitas coisas; perdi meu ego, meus pensamentos, minha mente. . . Perdi tudo o que costumava senti que possu´ıa; perdi meu corpo, pois costumava achar que era o corpo. Perdi tudo isso e agora existo como puro nada. Mas essa ´e a minha aquisi¸ca ˜o.” (Buda/osho)

Temos mais uma confirma¸c˜ao do relato do Dr. Eben, Eu estava conhecendo uma dimens˜ ao da consciˆencia que existia completamente ` a parte das limita¸co ˜es de meu c´erebro f´ısico. Minha experiˆencia me mostrou que a morte do corpo e do c´erebro n˜ ao ´e o fim da consciˆencia. (Eben Alexander/p. 22) Enfatizo: N˜ao tenho porque ter f´e nas afirma¸c˜oes do Buda, n˜ ao sou budista, n˜ ao obstante, sei que assim ´e, posto que esta ´e tamb´em a minha experiˆencia, uma, duas, trˆes, . . . , n vezes. Na ilustra¸c˜ ao a seguir coloco a ayahuasca no mesmo n´ıvel de importˆ ancia − para as ciˆencias cognitivas − que a luneta de Galileu para a astronomia e o microsc´opio de Hooke para a biologia.

ego

Consciˆencia (Vazio)

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O Mestre e o Agricultor Finalmente gostaria de pˆ or em relevo uma u ´ltima quest˜ao: At´e que ponto pode ser considerada v´ alida uma experiˆencia induzida por uma planta de poder? − ou digna de cr´edito. Inicialmente, e mais uma vez, permitamme uma analogia: Pergunto: at´e que ponto ´e v´alida a cura de um dist´ urbio psicol´ ogico, como a esquizofrenia, por exemplo, atrav´es de um medicamento qu´ımico? Segundo o cien´ por tista Francis Crick o ego ´e qu´ımica. E isto que qu´ımica cura qu´ımica. Por outro lado, segundo Maturana, (p. 18) O que faz com que algu´ em seja um cientista ´ e a paix˜ ao pelo explicar, n˜ ao pelo buscar a verdade. ´ E isto, ´e esta paix˜ao que me move, que me levou `a ayahuasca, com a qual descobri no Vazio um sistema (explicativo) que a mim satisfaz. Ademais, n˜ ao estou buscando a santidade, tal como um monge que passa dez, quinze ou vinte anos meditando em um mosteiro. Por outro lado, minhas experiˆencias me permitem compreender discursos de muitos mestres budistas, quando dissertam sobre temas altamente abstratos (pois que encerram “contradi¸c˜oes”), como ´e o caso da vacuidade − um dos temas de mais dif´ıcil compreens˜ao. Tamb´em me permitem separar o “joio” do “trigo”, isto ´e, verdadeiros mestres de meros atores, daqueles que apenas vendem uma verdade te´orica, sem nunca a terem experimentado. Pelo que tenho lido em livros escritos por mestres budistas, muitos deles − sem falar nos monges estudantes − passam 10, 15, 20 ou mais anos meditando em um mosteiro, sem terem uma efetiva experiˆencia da “Consciˆencia Suprema” (estado de Vazio), o que eu consegui em cerca de dois anos de treinamento. Creio mesmo, admito que possa estar equivocado, que as minhas experiˆencias em deletar a mente foram at´e mais intensas que a do pr´ oprio Buda, tendo em conta que eu utilizava um “potente alucin´ ogeno”, no dizer do Dr. Eben, “N˜ao tive nenhuma experiˆencia com a DMT, mas j´a ouvi dizer que ela pode produzir um efeito psicod´ elico dos mais potentes – talvez at´e com implica¸c˜oes genu´ınas para o nosso entendimento do que a consciˆencia e a realidade verdadeiramente s˜ ao.” Finalmente, deixo a advertˆencia de que n˜ ao aconselho ningu´em a se aventurar neste tipo de experiˆencia (medita¸c˜ao induzida) sem um acompanhamento competente, posto que, nem tudo s˜ ao flores, nestes anos todos passei por maus bocados. 127


Adendo: Apenas algumas observa¸c˜oes referentes a uma cita¸c˜ao de um artigo que por acaso encontrei na internet. Neste artigo lemos: A subjetividade ´e uma dessas caracter´ısticas globais estruturais da consciˆencia: “todos os estados conscientes s´ o existem se experimentados por um agente” (Searle, 2000: 73). Discordamos, existe um estado de Consciˆencia onde n˜ ao existe um agente experimentador, onde n˜ ao existe um “eu”, self, ego, etc. Como j´a afirmei, um grande empecilho enfrentado pelos estudiosos da Consciˆencia ´e que eles s´ o conhecem a consciˆencia ap´ os o prisma, no entanto, reiteramos, existe uma consciˆencia antes do prisma, ´e esta que eles ignoram.

Literatura Guerras N´ umeros Azuis

Produtos da mente

consciˆencia (Mente) consci^ encia do homem

        

Luz Branca

       

N´ umeros Matem´ atica F´ısica

Consciˆencia

V´ acuo

O problema de todos os pesquisadores da consciˆencia qual ´e? A raz˜ ao pela qual eles nunca est˜ ao em acordo entre eles ´e que nunca conseguiram abandonar a mente (casulo). Qualquer “posi¸c˜ ao te´ orica” se origina na mente, o que s´ o confirma o postulado de Nagarjuna, p. 78.

Ego

Casulo

Consciˆencia

Vacuidade

Pelo ao menos um pesquisador s´erio levou a s´erio esta Consciˆencia a que me refiro. Ervin L´ aszl´ o (Budapeste, Hungria, 1932) ´e um fil´ osofo da ciˆencia e te´orico de sistemas. Autor de mais de 400 artigos e 74 livros traduzidos para 20 idiomas. Em 2004 e em 2005, foi ´ titunomeado para o Pr´emio Nobel da Paz. E lar do mais alto grau da Sorbonne (Doutorado), foi agraciado com quatro Ph.Ds honor´arios e numerosos prˆemios e distin¸c˜oes.

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− Fonte: Laszlo, Ervin. A ciˆencia e o campo Ak´ ashico: uma teoria integral de tudo. Ed. Cultrix, 2008. (grifo nosso) (p. 124) ˆ ´ CONSCIENCIA COSMICA Vamos agora dar outro passo em nossa explora¸c˜ao do universo in-formado: um passo que vai al´ em da consciˆ encia associada com os organismos vivos. N˜ao poderia o pr´ oprio cosmo ser dotado de algum tipo de consciˆencia? [. . .] Sir Arthur Eddington observou que “o material do universo ´e material mental [. . .] a fonte e a condi¸c˜ ao da realidade f´ısica”. [. . .] H´a, entretanto, abordagens positivas que podemos adotar. De in´ıcio, mesmo que n˜ ao possamos observar diretamente a consciˆencia no v´acuo, podemos tentar um experimento. Podemos entrar num estado alterado de consciˆencia e nos identificar com o v´acuo, o n´ıvel mais profundo e mais fundamental da realidade. Supondo que sejamos bem-sucedidos (e os psic´ ologos transpessoais nos dizem que em estados alterados as pessoas podem se identificar praticamente com qualquer parte ou aspecto do universo), ser´ a que experimentar´ıamos um campo f´ısico de energias flutuantes? Ou experimentar´ıamos assim como um campo de consciˆencia c´osmico? [. . .] Stanislav Grof descobriu que em estados de consciˆencia profundamente alterados, muitas pessoas experimentam um tipo de consciˆencia que lhes parece ser a do pr´ oprio universo. Essas experiˆencias, as mais not´ aveis obtidas em estado alterado, vˆem ` a tona em indiv´ıduos que est˜ ao comprometidos com a busca por apreender os terrenos supremos da existˆencia. Quando esses buscadores se aproximam da realiza¸c˜ao de seu objetivo, suas descri¸c˜oes daquilo que eles consideram ser o princ´ıpio supremo da existˆencia s˜ ao incrivelmente semelhantes. Eles descrevem o que experimentam como um imenso e insond´avel campo de consciˆencia dotado de inteligˆencia e de poder criador infinitos. O campo de consciˆencia c´osmica que eles experimentam ´e um estado de vacuidade c´ osmica − um vazio. ´ E isso o que eu estou tentando dizer desde cedo! Apenas fazendo um adendo, a partir de minha pr´ opria experiˆencia, ao que se afirma: O campo de consciˆencia c´ osmica que eles experimentam ´e um estado de vacuidade c´ osmica − um vazio. Isto ´e verdade, apenas que, quando a intensidade da experiˆencia ´e intensa − como descrevo na p. 110 − o “experimentador” desaparece, “como ´ precisamente aqui que insisto: se fosse uma est´ atua de gelo frente ao Sol”. E uma Consciˆencia sem um sentido do self, um puro Nada, como Buda descreve na p´ agina 126. Por isto, insisto, John Searle equivocou-se ao afirmar:

A subjetividade ´e uma dessas caracter´ısticas globais estruturais da consciˆencia: “todos os estados conscientes s´ o existem se experimentados por um agente” (Searle, 2000: 73). 129


Como este contexto ´e “altamente abstrato” sentimos a necessidade de acrescentar mais uma p´ agina de informa¸c˜oes. A bem da verdade, esta Consciˆencia sem um agente (self) n˜ ao est´ a consciente de nada, ela ´e apenas um “Observador sem objeto”, como um espelho que apenas reflete, no entanto, sem “observar”. Vejamos duas analogias: Inter

(Consciˆencia)

´ esta vibra¸ca˜o que -E gera a consciˆencia experimentada por um agente, ´e com esta consciˆencia que os estudiosos da consciˆencia distorcem tudo!

ego

O Absoluto cont´em todo o experienci´ avel. Mas sem o experimentador eles s˜ ao como nada. Aquilo que faz a experiˆencia poss´ıvel ´e o Absoluto. Aquilo que a faz atual ´e o Ser. (Sri Nisargadatta Maharaj)

e

Absoluto

ego

preta Disto rc

Searle afirma, “todos os estados conscientes s´ o existem se experimentados por um agente”, isto s´ o ´e verdade com respeito ` a consciˆencia que se origina destas ondula¸c˜oes (pensamentos), no entanto, quando conseguimos anular estas ondas − o que eu chamo de sair da mente, deletar o ego − resta ainda o pr´ oprio Oceano (Substrato, tela em branco), este ´e um estado de Consciˆencia que n˜ ao “vˆe”, apenas reflete, sem introduzir nenhuma distor¸c˜ ao (julgamento), como um espelho.

Mente

→ Deleta a mente

´ o Absoluto (Vazio, Nada) que os estudiosos da consciˆencia devem E incluir em suas equa¸c˜ oes para poder resolvˆe-las. Observe que isto foi feito pelo eminente cientista Sanders Peirce, ver p. 52. Observe que n˜ ao estamos aqui a falar de “metaf´ısica” ou “misticismo”, este estado de Consciˆencia pode ser “experienciado” por qualquer um − como “eu” fa¸co h´ a anos. 130


Cap´ıtulo

5

A morte ´e mais uma ilus˜ao criada pela mente O oposto de uma verdade ´e mentira, mas o oposto de uma verdade profunda pode muito bem ser outra verdade profunda. (Niels Bohr/f´ısico)

Introdu¸ c˜ ao: Durante mais de 2000 anos a humanidade acreditou na seguinte verdade profunda do geˆ ometra grego Euclides, Postulado 5: “Por um ponto p exterior a uma reta r, considerados em um mesmo plano, existe uma u ´nica reta paralela `a reta r ”: r

r sp

sp

inclusive um ilustre fil´ osofo, Immanuel Kant (1724-1804), defendia que a geometria de Euclides era a u ´nica geometria verdadeira, “inscrita na pr´ opria Natureza”. O que acontece se negarmos a verdade profunda enunciada pelo postulado de Euclides? Segundo o eminente f´ısico Niels Bohr, “ao inv´es de uma mentira, pode muito bem ser outra verdade profunda”. Foi o que fizeram alguns matem´ aticos em meados do S´eculo XIX e, de fato, ao negarem esta verdade profunda, n˜ ao obtiveram uma mentira, mas sim uma outra verdade profunda. 131


O 5 o postulado de Euclides (ou postulado das paralelas) foi negado de duas formas distintas: − Por um ponto exterior a uma reta n˜ ao podemos tra¸car nenhuma paralela a esta reta (geometria de Riemann). − Por um ponto exterior a uma reta, podemos tra¸car uma infinidade de paralelas a esta reta (J´ anos Bolyai (1802-1860) e Lobachevsky (1792-1856)).

Uma verdade arraigada na humanidade, n˜ ao por 2000 anos, como a de Euclides, mas por milhares de anos ´e esta: “A morte existe”. O que acontece se negarmos esta verdade profunda? Segundo o eminente f´ısico Niels Bohr, “ao inv´es de uma mentira, pode muito bem ser outra verdade profunda”. Observe o seguinte, n˜ ao se nega uma verdade profunda pelo simples desejo de negar, a nega¸c˜ao do 5 o postulado de Euclides foi precedida por s´eculos e s´eculos de reflex˜oes por partes de matem´ aticos de primeira linha. “Descobri coisas t˜ ao magn´ıficas que fiquei pasmo. . . Criei um novo mundo diferente a partir do nada.” (J´ anos Bolyai (1802-60) a seu pai (matem´ atico Farkas Bolyai) dando conta de uma nova Geometria que acabara de criar.)

Profundas quest˜ oes filos´ oficas na matem´ atica, e tamb´em na f´ısica, foram debeladas por uma simples mudan¸ca de perspectiva − ver-se o mesmo problema s´ o que de um novo ˆangulo. Neste cap´ıtulo, estaremos vendo o problema da morte de uma nova perspectiva, de um novo ˆangulo e, de fato − dentro do nosso sistema (TROE) − conseguimos debelar este enigma, e anunciamos:

A morte ´ e mais uma ilus˜ ao criada pela mente!

Lembre-se: O oposto de uma verdade ´e mentira, mas o oposto de uma verdade profunda pode muito bem ser outra verdade profunda.

132


Antes, um esclarecimento. Dediquei algum tempo de minha vida a meditar (pesquisar, refletir) sobre o tema “vida ap´ os a morte”. Uma das primeiras coisas de que me conscientizei foi a de que eu n˜ ao deveria desejar “sobreviver ap´ os a morte”, posto que este desejo recˆ ondito poderia “contaminar” (comprometer) toda a minha pesquisa − eu estava consciente de que “cada um vˆe o que quer ver”−. Levei algum tempo, via medita¸c˜ao, para conseguir me desprogramar deste desejo subrept´ıcio, inscrito na humanidade. Chegou um momento que para mim era inteiramente irrelevante sobreviver ou n˜ ao. Pois bem, ao chegar a conclus˜ao de que a morte ´e mais uma ilus˜ ao criada pela mente, tal como Bolyai, exclamei:

“Descobri coisas t˜ao magn´ıficas que fiquei pasmo. . . Criei um novo mundo diferente a partir do nada.” (Iconoclasta)

Fundamentando nossa tese Daqui pra frente s´ o nos resta defender nossa tese, ´e o que faremos por muitas perspectivas, tendo em conta a dificuldade e n´ıvel de abstra¸c˜ao do tema. Estaremos arrolando muitos argumentos, o leitor escolha aquele que melhor lhe aprouver, ou n˜ ao escolha nenhum. 1 a ) Primeiramente invocamos o postulado da TROE, “Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´ e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, independentemente dos meios pelos quais seja conhecido.” A morte ´e apreendida tanto perceptiva quanto conceitualmente, logo, a morte ´e desprovida de natureza inerente pr´ opria. Ou ainda, Todos os fenˆ omenos [tanto percept´ıveis quanto conceituais] podem ser postulados como existentes apenas em rela¸ c˜ ao a uma estrutura cognitiva de referˆ encia. (Wallace/[1], p. 97 )

A morte existe apenas em rela¸c˜ao a uma ECR, isto ´e, em rela¸c˜ao `a mente humana.

133


2 a ) Lembramos ao leitor que o pernilongo que o Einstein vˆe, (Caixa)

D eu s

Pernilongo Pernilongo

(Gedankenexperiment)

´e uma cria¸c˜ ao de sua mente, o pernilongo ´e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade. Assim como a mente cria um pernilongo, tamb´em cria a morte. − Cria n universos atrav´es dos sonhos.

3 a ) Para facilitar ao leitor a mudan¸ca de perspectiva necess´aria, observe a imagem a seguir:

Imagem M´ usica Choque (morte) Luz Branca

Luz (hardware)

(Absoluto)

Calor Vento Gelo

(C´erebro)

Eletricidade + Hardware

134


Uma mesma eletricidade fornece “vida” a v´arios hardwares (“vivificaos”), mas a eletricidade mesma n˜ ao possui vida (“identidade”). A “identidade” est´ a em cada um dos aparelhos. Apenas uma analogia, reitero. Se um aparelho (hardware) “pifa” dizemos que o “aparelho morreu”. Voltando-nos um momento para a eletricidade, dizemos que ela tamb´em morreu? A essˆencia de nossos argumentos subsequentes reside aqui: em que por uma mudan¸ca de perspectiva podemos nos ver como a eletricidade, e n˜ ao como o aparelho. Eletricidade aqui ´e uma analogia para Consciˆencia. 4 a ) Quando a lagarta “morre”, vocˆe diz que a futura borboleta tamb´em morreu?

Nota: Isto s˜ ao apenas meras analogias, temos consciˆencia de que n˜ ao estamos provando nada, no entanto, nosso objetivo ´e contribuir com uma mudan¸ca de perspectiva em rela¸c˜ ao `a “morte”.

Duas conven¸c˜ oes Para evitar repeti¸c˜ oes denominaremos a seguinte cita¸ca˜o sobre Buda de “O estado do Buda”:

                                              

                                               

Quando Buda atingiu, algu´em lhe perguntou: “O que vocˆe atingiu?” Ele riu e disse: “N˜ ao atingi nada, pois o que atingi sempre esteve comigo. Pelo contr´ ario, perdi muitas coisas; perdi meu ego, meus pensamentos, minha mente. . . Perdi tudo o que costumava senti que possu´ıa; perdi meu corpo, pois costumava achar que era o corpo. Perdi tudo isso e agora existo como puro nada. Mas essa ´e a minha aquisi¸ca ˜o.”

O Estado do Buda E a seguinte cita¸c˜ ao do cientista Francis Crick como “O espinho de Crick ”:

                                              

                                               

Vocˆe, suas alegrias e tristezas, suas mem´ orias e ambi¸co ˜es, sua no¸ca ˜o de identidade e seu livre-arb´ıtrio nada mais s˜ ao do que a intera¸ca ˜o de um vasto conjunto de c´elulas nervosas . . .

O Espinho de Crick 135


Adendo: Como se explica: perdi meu ego, meus pensamentos, minha mente. . . Perdi tudo o que costumava senti que possu´ıa; perdi meu corpo? Se explica assim: Ao perder os pensamentos (elimin´ a-los, delet´ a-los) o ego desaparece, entra-se num estado de Pura Consciˆencia: Inter ego

e

(Consciˆencia)

preta Disto rc

Uma flutua¸c˜ ao no Oceano de Consciˆencia − no qual estamos imersos − gera os pensamentos, o ego. Buda, via medita¸c˜ ao (aten¸c˜ao), consegue anular estas ondas − o que eu chamo de sair da mente, deletar o ego − resta ainda o pr´ oprio Oceano (Substrato, tela em branco), este ´e um estado de Consciˆencia que n˜ ao “vˆe”, apenas reflete, sem introduzir nenhuma distor¸c˜ ao (julgamento), como um espelho. Ademais, este Oceano de Consciˆencia n˜ ao possui atributos, n˜ ao possui sentimentos, amor, etc.

Ora, uma vez que n˜ ao existe ego, n˜ ao existe “meu” (n˜ ao existe um centro atrator), n˜ ao existindo “meu”, n˜ ao existe “meu corpo”, n˜ ao existe “minha mente”, etc. ∗

N˜ao diga “todas as pessoas s˜ ao conscientes”. Diga “h´ a consciˆencia”, na qual tudo aparece e desaparece. Nossas mentes s˜ ao simples ondas no oceano da consciˆencia. Como ondas elas vem e v˜ao. Como oceano elas s˜ ao infinitas e eternas. Conhe¸cam a si mesmos como o oceano do ser, o u ´tero de toda a existˆencia. Estas s˜ ao todas met´ aforas ´e claro. A realidade est´ a al´em de toda descri¸c˜ao. Vocˆe s´ o pode conhecˆe-la tornando-se ela.

136


Antes de prosseguir, um parˆenteses para uma observa¸c˜ao que julgo de alguma relevˆancia, no que concerne ao “o estado do Buda”. Veja bem, existem duas grandes diferen¸cas entre eu e um (eventual) mestre budista ao citar (ou fundamentar algum argumento) (n)estas palavras do Buda. Primeiro, eu n˜ ao sou budista, n˜ ao tenho porque ter f´e em qualquer coisa que Buda tenha dito. Ademais, quando adotei o pseudˆonimo de “Gentil, o iconoclasta”, decidi n˜ ao respeitar qualquer autoridade “s´ o porque ´e uma autoridade”. Por exemplo, na p´ agina 79 estou discordando de algumas afirmativas de Jesus, na p´ agina 40 estou discordando (at´e ironicamente) de Einstein, nas p´ aginas 102 e 103 estou discordando do fundador da Conscienciologia e de um erudito cientista da neurociˆencia, respectivamente. No meu livro Exuma¸ca ˜o e Julgamento de Deus questiono a legitimidade do Deus judaico-crist˜ ao (Jav´e). Obviamente que n˜ ao estou me colocando como dono da verdade, falo de argumentos. Segundo, quando eu endosso o “o estado do Buda”, n˜ ao o fa¸co de um ponto de vista meramente te´ orico, mas sim pelo fato de j´a o ter experimentado muitas vezes, conforme mencionei na p´ agina 108. Continuemos,

Dissolvendo a estrutura cognitiva de referˆ encia Na p´ agina 133, afirmamos que “a morte existe apenas em rela¸c˜ao a uma ECR, isto ´e, em rela¸c˜ ao ` a mente humana”. Bem, isto n˜ ao chega a ser uma grande novidade; a grande novidade que trago aqui ´e que podemos deletar a mente humana; ora, sendo este o referencial em rela¸c˜ao ao qual a morte existe . . . a morte deixar´ a de existir!, ´e simples assim. Este ´e precisamente o conte´ udo do “O estado do Buda”, veja: Quando Buda atingiu, algu´em lhe perguntou: “O que vocˆe atingiu?” Ele riu e disse: “N˜ ao atingi nada, pois o que atingi sempre esteve comigo. Pelo contr´ ario, perdi muitas coisas; perdi meu ego, meus pensamentos, minha mente. . . Perdi tudo o que costumava senti que possu´ıa; perdi meu corpo, pois costumava achar que era o corpo. Perdi tudo isso e agora existo como puro nada. Mas essa ´e a minha aquisi¸ca ˜o.” Aquele que existe como puro nada, n˜ ao morre, n˜ ao pode morrer, como o “nada” vai morrer? Enfatizo, j´a experimentei o estado do Buda por diversas vezes, como este ´e um estado sem mente, neste estado me dei conta de que ao criada pela mente”. Estamos falando de um “a morte ´e mais uma ilus˜ encia, isto ´e, daquela consciˆencia sem ego, “sem um estado de pura Consciˆ sentido de self ”, que o Dr. Dam´ asio desconhece e o Dr. Eben afirma: Consciˆencia, mas consciˆencia sem mem´ oria nem identidade – como um sonho em que vocˆe sabe o que est´ a acontecendo em volta, mas n˜ ao tem ideia de quem ou o que vocˆe ´e. (p. 50/grifo nosso)

137


Bem, muito j´a falamos sobre esta Consciˆencia no cap´ıtulo anterior, n˜ ao achamos necess´ario repetir os mesmos argumentos. No entanto, vejamos mais uma ilustra¸c˜ ao. Inicialmente vamos assumir que, Toda fala, toda a¸ca ˜o, todo comportamento s˜ ao flutua¸co ˜es da consciˆencia. Toda a vida emerge e ´e mantida na conciˆencia. O universo inteiro ´e a express˜ ao da consciˆencia. A realidade do universo ´e um oceano ilimitado de consciˆencia em movimento. (Maharishi Mahesh Yogi) Ademais, vamos lembrar o que ´e espectro eletromagn´etico: Luz vis´ıvel

Espectro eletromagn´ etico: ´e o intervalo completo de todas as poss´ıveis frequˆencias da radia¸c˜ao eletromagn´etica, que cont´em as ondas de r´ adio, as microondas, o infravermelho, os raios X, a radia¸c˜ao gama, os raios ultra violeta e a luz vis´ıvel ao olho humano. Diferem uma das outras quanto ao valor da frequˆencia de propaga¸c˜ao e quanto `a forma que s˜ ao produzidas. As radia¸c˜oes luminosas ocupam uma pequena faixa no espectro, sendo assim, os olhos humanos n˜ ao conseguem ver o restante das radia¸c˜ oes que comp˜ oe o espectro eletromagn´etco. ∗

Adendo: – como um sonho em que vocˆe sabe o que est´ a acontecendo em volta, mas n˜ ao tem ideia de quem ou o que vocˆe ´e. (Dr. Eben) Buda significa “aquele que despertou do sonho”. Querendo impressionar o mestre, ele [Yamaoka] disse: “N˜ ao existe mente, n˜ ao existe corpo, n˜ ao existe buda. N˜ ao existe nem melhor nem pior. N˜ ao existe nenhum mestre, n˜ ao existe nenhum aluno. N˜ ao existe dar, n˜ ao existe receber. O que n´ os pensamos que vemos e sentimos n˜ ao ´e real. Nenhuma dessas coisas aparentes realmente existe.” ´ Esse ´e o mais elevado de todos os ensinamentos, a verdade suprema. E ´ a essˆencia de toda a tradi¸c˜ao do Buda, que Buda disse que tudo ´e vazio. E disso que estamos falando quando eu converso sobre Sosan com vocˆe: tudo ´e vazio, tudo ´e simplesmente relativo, nada existe de modo absoluto. Essa ´e a mais elevada constata¸c˜ao. Mas vocˆe pode ler isso num livro e, se vocˆe a ler num livro e a repetir, ´e simplesmente uma idiotice. (Sublime Vazio/Osho)

138


Vamos tomar o espectro eletromagn´etico como uma analogia para o “espectro da Consciˆencia”. Ent˜ ao, considere a ilustra¸c˜ao:

          

  

Aqui a morte surge

           

Para estas consciˆencias a morte n˜ ao existe

   

          

           

ego

Para esta Consciˆencia a morte j´a n˜ ao existe

Come¸cando pela esquerda observamos que para um animal como o gato ou um bebˆe n˜ ao existe a morte; digo, suas “estruturas cognitivas de referˆencias” (mentes) n˜ ao comportam o conceito de morte (um bebˆe ou um gato n˜ ao pensam: “eu vou morrer”). Avan¸cando no espectro, na faixa de luz vis´ıvel surge a raz˜ ao (mente discursiva) quando ent˜ao, para esta estrutura cognitiva de referˆencia, a morte passa a existir, se faz presente. Na ilustra¸c˜ ao a esta mente chamamos de ego. O ego ´e como se fosse uma nuvem; uma “nuvem qu´ımica”, segundo Francis Crick. ` direita do espectro Buda, atrav´es da medita¸c˜ao, atinge um estado de A Consciˆencia tal que sua intensidade dissipa a nuvem do ego, isto ´e, retira (dissipa) a estrutura cognitiva de referˆencia para a qual a morte existia. Sendo assim a morte deixa de existir para essa faixa do espectro de Consciˆencia (simbolizada pelo sol na figura).

“Descobri coisas t˜ao magn´ıficas que fiquei pasmo. . . Criei um novo mundo diferente a partir do nada.” (Iconoclasta)

139


5.1

. . . E no meio do caminho tinha uma pedra

Quanto ` a morte, damos o assunto por encerrado: A morte ´e uma ilus˜ ao criada pela mente humana. Ou ainda, a morte existe no referencial da mente (ECR), e mais: este referencial pode ser transcendido, ou ainda, no referencial da Consciˆencia Pura a morte n˜ ao existe. Entretanto, com tudo isto, n˜ ao afirmamos que o ser humano sobrevive ap´ os a “morte” − ou que alguns v˜ao para o para´ıso. A coisa n˜ ao ´e t˜ao simples quanto pode parecer numa an´ alise apressada do problema; infelizmente existe uma pedra no meio do caminho. Vamos por partes, segundo entendo a pedra come¸ca se tomarmos em considera¸c˜ ao “o espinho de Crick ”: Vocˆe, suas alegrias e tristezas, suas mem´ orias e ambi¸co ˜es, sua no¸ca ˜o de identidade e seu livre-arb´ıtrio nada mais s˜ ao do que a intera¸ca ˜o de um vasto conjunto de c´elulas nervosas . . . Segundo este − e muitos outros ilustres cientistas (com os quais estamos de acordo) − n´ os somos como um arquivo (qu´ımico) armazenado no c´erebro!

   Vocˆe, suas alegrias e tristezas,    suas mem´orias e ambi¸co˜es,   

sua no¸ca˜o de identidade [. . . ] Vocˆe ´e um arquivo codificado quimicamente:  nada mais s˜ao do que a intePerguntamos: um arquivo roda (´e executado)    ra¸ca˜o de um vasto conjunto de   sem um hardware que o decodifique?  c´elulas nervosas. (“O Espinho de Crick”)

E agora? como chutar esta pedra para fora do caminho? − supondo-se que isto seja poss´ıvel. Eu examinei esta quest˜ao por muito tempo. At´e o momento s´ o consegui enxergar uma trilha, onde n˜ ao existe a pedra. Primeiro h´ a que se perguntar: como Buda afirma que perdeu o ego, pensamentos, mente . . . tudo isso e agora existe como puro nada?, no entanto ele esta a´ı, conversando com seus disc´ıpulos! Como pode ser isto? Estaria Buda mentindo, querendo apenas se autoafirmar perante seus disc´ıpulos? Numa an´ alise apressada pode ser que sim, mas inicialmente observe, Buda n˜ ao era um padre, n˜ ao era um pastor, n˜ ao era um papa.

140


Penso que as grandes quest˜ oes da vida, n˜ ao podem ser resolvidas adstritas a uma “l´ ogica linear”, por uma “mente euclidiana”. Da´ı todo nosso empenho no primeiro cap´ıtulo para preparar o esp´ırito do leitor para as antinomias que iriam surgir nos cap´ıtulos subsequentes, como ´e o caso deste. Ainda vou insistir mais um pouco: quando falo da experiˆencia do Buda (“o estado do Buda”) n˜ ao estou falando de uma experiˆencia ocorrida h´ a milhares de anos em um pa´ıs distante, n˜ ao, n˜ ao estou falando desta, estou falando de minha pr´ opria experiˆencia, que, por acaso coincide com a do Buda. Pois bem, minha sensa¸c˜ao de n˜ ao existˆencia era muito intensa, e n˜ ao raras vezes, at´e sofrida. Lembre-se que eu utilizava um “potente alucin´ ogeno”, no dizer do Dr. Eben, “N˜ao tive nenhuma experiˆencia com a DMT, mas j´a ouvi dizer que ela pode produzir um efeito psicod´ elico dos mais potentes – talvez at´e com implica¸c˜oes genu´ınas para o nosso entendimento do que a consciˆencia e a realidade verdadeiramente s˜ ao.” E eu pr´ oprio me questionava, se eu n˜ ao existo, como eu posso estar conversando com as pessoas? − Isto acontecia com frequˆencia. A resposta que eu encontrei, at´e o momento, encontra-se no Campo Ak´ ashico, referido `a p´ agina 129. Eu, particularmente, identifico este Campo com um Campo de Consciˆencia − desprovido de ego, de identidade. Estamos de acordo com o cientista Ervin Laszlo (p. 129) de que no universo nenhuma informa¸c˜ ao ´e perdida. No meu entendimento atual, estas informa¸c˜ oes (inclusive da nossa mem´ oria), ficam armazenadas neste “Campo de Consciˆencia”. Corroborando o presente contexto, vejam o que encontrei em um livro: ´ ´ A MEMORIA FICA REALMENTE NO CEREBRO? Atualmente h´ a cientistas analisando a proposi¸ca ˜o de que as lembran¸cas n˜ ao est˜ ao realmente armazenadas no c´erebro. Descobriu-se que se for removida uma parte do c´erebro onde parecia estar localizada uma lembran¸ca, ela ainda pode persistir! Onde ela est´ a armazenada? Talvez em algum lugar na escala de Planck, ou no que algumas pessoas chamariam de “registros ak´ ashicos”. O c´erebro pode ser apenas um instrumento para buscar essas lembran¸cas dentro do universo. Ele pode ser o armazenamento local, o disco local em rela¸ca ˜o ao disco r´ıgido c´ osmico onde todas as lembran¸cas est˜ ao armazenadas. ([7], p. 135)

141


Adendo Mas a quest˜ ao que talvez continue a incomodar-nos na teoria do renascimento ´e o fato de ela implicar a existˆencia da consciˆencia sem suporte f´ısico. Para o Budismo, existem v´arios n´ıveis de consciˆencia, que v˜ao do mais comum − aquele a que estamos habituados − at´e um n´ıvel extremamente sutil. “Distinguem-se v´arios n´ıveis de consciˆencia: grosseira, sutil e extremamente sutil. O primeiro corresponde ao funcionamento cerebral. O segundo ao que chamamos intuitivamente a consciˆencia, ou seja, entre outras, a faculdade que a consciˆencia tem de examinar a si pr´ opria, de se interrogar sobre a sua pr´ opria natureza e de exercer o livre-arb´ıtrio. Neste n´ıvel est˜ ao tamb´em inclu´ıdas as diversas tendˆencias acumuladas no passado. O terceiro n´ıvel, o mais essencial, ´e chamado ‘luminosidade fundamental do esp´ırito’. Corresponde a uma capacidade cognitiva pura que n˜ ao funciona no modo dual sujeito-objeto e na qual n˜ ao existem pensamentos discursivos.” [. . . ] Portanto, o Budismo reconhece n´ıveis de consciˆencia que n˜ ao dependem de um suporte f´ısico, dos quais o mais profundo ´e a luminosidade primordial, n˜ ao dual, que ´e constante. Embora a consciˆencia de base esteja sempre presente, a atividade dos n´ıveis de consciˆencia mais superficiais tem tendˆencia para encobri-la. Quando morremos e a atividade da nossa consciˆencia mais superficial cessa, a lumi´ ela que tem o potencial de um novo nosidade primordial manifesta-se. E estado de existˆencia consciente. (Do livro: A Arte da Vida - Os fundamentos do Budismo/Tsering Paldr¨on)

Nota: Minhas experiˆencias relatadas neste livro ocorrem neste terceiro n´ıvel de consciˆencia: “Corresponde a uma capacidade cognitiva pura que n˜ ao funciona no modo dual sujeito-objeto e na qual n˜ ao existem pensamentos discursivos.” Dou testemunho de que isto ´e verdade. Vejamos uma analogia com o aux´ılio da figura a seguir,

Terceiro N´ıvel

Segundo N´ıvel

- Uma vibra¸ca˜o no Terceiro N´ıvel gera o Segundo N´ıvel, o do pensamento discursivo; aqui se origina o ego, a identidade pessoal.

Num estado profundo de medita¸c˜ao, vamos do segundo n´ıvel para o terceiro n´ıvel. Quando cessam as ondula¸c˜oes (pensamentos) ent˜ao perdemos a identidade pessoal (ego), somos apenas O Observador. Reveja as figuras nas p´ aginas 111 e 130. 142


“Computa¸c˜ ao em nuvem” A Computa¸ca ˜o em nuvem (cloud computing) ´e uma tecnologia que permite acesso remoto a programas (softwares), arquivos e servi¸cos por meio da internet.

O armazenamento de dados ´e feito em servi¸cos que poder˜ ao ser acessados de qualquer lugar do mundo, a qualquer hora, n˜ ao havendo necessidade de instala¸c˜ ao de programas ou de armazenar dados. O correio eletrˆ onico ´e um exemplo disto pois seus email’s juntamente com arquivos ficam armazenados remotamente para que vocˆe possa acess´ alos de qualquer lugar do mundo − onde se tem acesso `a internet. Pois bem, a novidade que trago aqui ´e que a Natureza (ou o Universo, como se queira) j´a traz em si esta possibilidade de “computa¸c˜ao em nuvem”. Esta ´e mais uma analogia pela qual pretendo justificar: O c´erebro pode ser apenas um instrumento para buscar essas lembran¸cas dentro do universo. Ele pode ser o armazenamento local, o disco local em rela¸ca ˜o ao disco r´ıgido c´ osmico onde todas as lembran¸cas est˜ ao armazenadas. (p. 141) A “computa¸c˜ ao em nuvem” d´ ar-se no terceiro n´ıvel de consciˆencia, como descrito no adendo da p´ agina 142. De outro modo: posso afirmar que o essencial deste livro (que o leitor tem em m˜ aos) foi escrito utilizando esta t´ecnica de “computa¸ca ˜o em nuvem”.

Um ligeiro questionamento Se os budistas j´a sabem disto h´ a milˆenios, por que os neurocientistas n˜ ao se associam a eles para alavancarem suas pesquisas? N˜ao, eles preferem ficar batendo a cabe¸ca contra o muro: Deve existir uma raz˜ ao para escrever um livro. Este foi escrito para recome¸car. Estudo a mente e o c´erebro humanos h´ a mais de trinta anos, e j´ a escrevi sobre a consciˆencia em artigos cient´ıficos e livros. Mas fui ficando insatisfeito com minha exposi¸ca ˜o do problema, e uma real reflex˜ ao sobre descobertas relevantes, em novos e velhos estudos, mudou minhas ideias, em especial sobre duas quest˜ oes: a origem e a natureza dos sentimentos e o mecanismo por tr´ as da constru¸ca ˜o do self. (Ant´ onio Dam´asio)

143


Admito que eu possa at´e estar equivocado, mas penso que muitos deles (n˜ ao todos) s˜ ao arrogantes, preconceituosos e autossuficientes; eles n˜ ao querem se misturar com os caboclinhos do mato, analfabetos, eles s˜ ao “os Doutores cientistas”, “N˜ao tive nenhuma experiˆencia com a DMT, mas j´a ouvi dizer que ela pode produzir um efeito psicod´ elico dos mais potentes – talvez at´e com implica¸c˜ oes genu´ınas para o nosso entendimento do que a consciˆencia e a realidade verdadeiramente s˜ ao.” Eu j´a afirmei e reitero: os “Doutores cientistas” nunca v˜ao topar com o diamante da Consciˆencia,

?

n˜ ao obstante s´eculos de pesquisa, por uma simples raz˜ ao, repito: eles pesquisam com a mente! − Veja que paradoxal!

Terceiro N´ıvel

- Os Doutores cientistas devem sair deste Segundo N´ıvel para o Terceiro n´ıvel, o Segundo (mente) n˜ ao raro distorce, deforma. (Neste n´ıvel n˜ ao v˜ao conSegundo N´ıvel seguir se entender)

Veja que interessante, n˜ ao menos que extraordin´ ario (Terceiro N´ıvel): Corresponde a uma capacidade cognitiva pura que n˜ ao funciona no modo dual sujeito-objeto e na qual n˜ ao existem pensamentos discursivos. 144


− Encontro entre um caboclinho do mato e um Dr. cientista da consciˆ encia ([5], p. 102) Nota: O caboclinho do mato ´e o m´ıstico Osho (Drs. cientistas tˆem preconceitos contra m´ısticos) − Leia com aten¸c˜ao e tire suas conclus˜oes. QUANDO, NO PRIMEIRO DIA, EU ENTREI NA AULA DE FILOSOFIA DA UNIVERSIDADE, encontrei o Dr. Saxena pela primeira vez. Eu s´ o senti um grande amor e respeito por pouqu´ıssimos professores. Esses dois foram os meus mais amados professores − os Drs. S.K. Saxena e S.S. Roy − e pela simples raz˜ ao de eles nunca me tratarem como a um aluno.

Quando entrei na aula do Dr. Saxena no primeiro dia, com minhas sand´alias de madeira, ele olhou um tanto intrigado. Viu as sand´alias e disse: “Por que vocˆe est´ a usando sand´alias de madeira? Elas fazem barulho demais.” Eu respondi: “Simplesmente para manter a minha consciˆencia alerta.” Ele disse: “Consciˆencia? Vocˆe est´ a tentando manter sua consciˆencia alerta de outras maneiras tamb´em?” Respondi: “Nas vinte e quatro horas do dia eu estou tentando fazer isso, de todas as maneiras poss´ıveis: andando, sentado, comendo, mesmo dormindo. E quer o senhor acredite ou n˜ ao, ultimamente tenho conseguido estar consciente e alerta mesmo durante o sono.” Ele disse: “A turma est´ a dispensada − e vocˆe venha comigo `a minha sala.” A classe inteira pensou que eu havia criado problemas para mim mesmo j´a no primeiro dia. Ele me fez entrar em sua sala e tirou da prateleira um livro que continha sua tese de doutorado, escrita trinta anos antes. Era sobre a conciˆencia. Ele disse: “Tome-o. Este livro foi publicado em inglˆes e muitas pessoas aqui na ´India pediram permiss˜ao para traduz´ı-lo para o hindi − grandes acadˆemicos que conheciam inglˆes e hindi perfeitamente bem. Mas n˜ ao dei permiss˜ao a nenhum deles porque a quest˜ao n˜ ao ´e se eles conhecem bem o idioma ou n˜ ao; estou procurando um homem que saiba o que ´e a consciˆencia − e posso ver nos seus olhos, no seu rosto, pela maneira como vocˆe respondeu . . . vocˆe tem de traduzir este livro.” ´ uma tarefa dif´ıcil porque n˜ Eu disse: “E ao conhe¸co muito bem o inglˆes e tamb´em n˜ ao conhe¸co muito bem o hindi. [. . . ]” Ele respondeu: “N˜ao se preocupe − eu sei que vocˆe ser´ a capaz de traduzi-lo.”

Eu disse: “Se o senhor confia em mim, farei o melhor que puder. Mas preciso avis´a-lo de que, se eu encontrar algo errado no livro, colocarei uma nota editorial explicando como o erro dever´ a ser corrigido. Se eu sentir falta de alguma coisa, tamb´em colocarei uma nota de rodap´e dizendo que falta algo e, a seguir, a parte que est´ a faltando.”

Ele disse: “Concordo com a sua proposta. Eu sei que est˜ ao faltando muitas coisas. Mas vocˆe me surpreende: nem sequer olhou o livro, nem sequer o abriu. Como vocˆe sabe que est˜ ao faltando coisas neles?” 145


Respondi: “S´ o de olhar para o senhor. Da mesma maneira que, s´ o de olhar para mim, o senhor pode ver que sou a pessoa certa para traduzi-lo, eu posso ver perfeitamente, Dr. Saxena, que o senhor n˜ ao foi a pessoa certa para escrevˆe-lo!” Ele gostou tanto que contou para todo mundo! Toda a universidade soube desse di´ alogo que aconteceu entre n´ os dois. Nos dois meses das f´erias de ver˜ ao seguinte, traduzi o livro e preparei as tais notas editoriais. Quando lhe mostrei as notas, apareceram l´agrimas de alegria em seus olhos. Ele disse: “Eu sabia perfeitamente bem que estava faltando algo no livro, mas n˜ ao conseguia imaginar o que era pois me faltava pr´ atica. Apenas tentei coligir todas as informa¸c˜oes sobre a consciˆencia que existem nas escrituras orientais. Coletei muitas delas e, depois, a partir disso, comecei a classific´alas. Levei quase sete anos para concluir a minha tese.” Realmente, ele tinha feito um grande trabalho acadˆemico − mas s´ o acadˆemico. Eu disse: “Ele ´e s´ o acadˆemico, n˜ ao ´e o trabalho de um meditador. E eu fiz todas essas notas − dizendo que este livro s´ o podia ter sido escrito por um acadˆemico, e n˜ ao por um meditador.” Ele olhou para todas aquelas p´ aginas e me disse: “Se vocˆe tivesse sido um dos examinadores da minha tese, eu n˜ ao teria conseguido o doutorado! Vocˆe descobriu exatamente os trechos nos quais eu tinha d´ uvidas; mas aqueles tolos que a examinaram n˜ ao suspeitaram de nada. A tese foi bastante elogiada.” Ele foi professor nos Estados Unidos durante muitos anos e seu livro era realmente um monumental trabalho acadˆemico; e ningu´em o criticara, ningu´em havia apontado para aquelas quest˜oes. Sendo assim, perguntei-lhe: “Agora, o que o senhor vai fazer com a tradu¸c˜ao?” Ele disse: “Eu n˜ ao posso publicar. Encontrei finalmente um tradutor − mas vocˆe ´e mais um examinador do que tradutor! Vou guardar a tradu¸c˜ao, mas n˜ ao a posso publicar. Com as suas notas e os seus coment´arios editoriais, minha reputa¸c˜ ao ficar´ a destru´ıda − mas concordo com vocˆe. De fato”, ele completou, “se estivesse no meu poder, eu ia conferir a vocˆe um doutorado e apenas pelas suas notas editoriais e suas notas de rodap´e, porque vocˆ descobriu exatamente os trechos que somente um meditador pode descobrir; aquele que n˜ ao medita n˜ ao tem meios de os descobrir.” Desse modo, toda a minha vida, desde o come¸co, esteve voltada para duas coisas: nunca permitir que algo pouco inteligente me fosse imposto, lutar contra todos os tipos de estupidez, quaisquer que fossem as conseq¨ uˆencias, e ser racional e l´ogico at´e o fim. Esse era um dos lados, que eu usava com todas as pessoas com quem entrava em contato. E a outra era absolutamente privada, s´ o minha: tornar-me cada vez mais atento, de modo que eu n˜ ao acabasse sendo apenas um intelectual. (Grifo nosso) Nota: Em todas as atividades humanas, existem os enganadores mas tamb´em os s´erios, cabe ao Dr. cientista saber reconhecer o m´ıstico s´erio. 146


E a pedra no meio do caminho? Na p´ agina 140 escrevemos: “Entretanto, com tudo isto, n˜ ao afirmamos que o ser humano sobrevive ap´ os a morte − ou que alguns v˜ao para o para´ıso”. Ap´os todos estes argumentos, ainda continuamos pensando assim! E mais: em correla¸c˜ ao com o “espinho de Crick” n˜ ao creio que o ego (casulo) sobreviva ap´ os a morte orgˆ anica. O casulo (incrusta¸c˜oes, “agregados”) ´e qu´ımica, e qu´ımica n˜ ao sobrevive sem um organismo (ou c´erebro). Veja na ilustra¸c˜ ao:         

Vocˆe, suas alegrias e tristezas, suas mem´ orias e ambi¸c˜ oes, sua no¸c˜ ao de identidade e seu livre-arb´ıtrio nada mais s˜ ao do que a intera¸c˜ ao de um vasto conjunto de c´elulas nervosas . . .

O casulo (ego) sendo qu´ımica n˜ ao sobrevive `a morte f´ısica. No entanto, ao contr´ ario dos ateus e materialistas, tenho raz˜ oes para admitir que a morte n˜ ao ´e o fim de tudo, posto que existe a Consciˆencia. O ateu olha para o ego (identidade, casulo) e diz: este n˜ ao sobrevive ` a morte orgˆ anica. Estamos de acordo com o ateu. Nos diferenciamos, por´em, em que eu olho para a cris´ alida (protoconsciˆencia) e digo: esta pode sobreviver `a morte orgˆ anica.

te Es

mo

rre

Ego

Protoconsciˆencia

Consciˆencia

N˜ ao morre

No adendo da p´ agina 142 lemos: Embora a consciˆencia de base esteja sempre presente, a atividade dos n´ıveis de consciˆencia mais superficiais tem tendˆencia para encobrila. Quando morremos e a atividade da nossa consciˆencia mais superficial ´ ela que tem o potencial cessa, a luminosidade primordial manifesta-se. E de um novo estado de existˆencia consciente. Tendo em conta minhas experiˆencias no “o estado do Buda”, de momento fico com esta explica¸c˜ ao. Nota: Ademais, entendo que se o homem “adentrasse o para´ıso” com seu ego, o tornaria numa outra terra − mesmo se este homem fosse um religioso de carteirinha. 147


Resumindo o enigma morte

1) A mente surge de uma flutua¸c˜ao do Vazio (Oceano de Consciˆencia (Matriz, Absoluto)) ego

Julga

ment os

S e n t i ment os

(Consciˆencia)

Pens amen tos

2) A morte existe para a mente

(2 o N´ıvel)

(Quando vocˆe dorme a morte n˜ ao existe para vocˆe)

Terceiro N´ıvel

Segundo N´ıvel

- A morte existe quando a mente se manifesta (ego), no Terceiro N´ıvel de Consciˆencia (sem mente) a morte n˜ ao existe, este ´e “O estado do Buda”.

(p. 135)

3) Dissolvendo a mente (origem do ego, da morte)

          

Aqui a morte surge

           

2 o N´ıvel

Para estas consciˆencias a morte n˜ ao existe

  

   

1 o N´ıvel

          

           

ego

Para esta Consciˆencia a morte j´a n˜ ao existe

3 o N´ıvel (p. 142)

148


A (re)conquista do para´ıso Ent˜ ao disse o Senhor Deus: Eis que o homem ´e como um de n´ os, sabendo o bem e o mal; ora, pois, para que n˜ ao estenda a sua m˜ ao, e tome tamb´em da ´ arvore da vida, e coma, e viva eternamente, O Senhor ´ Deus, pois, o lan¸cou fora do jardim do Eden, para lavrar a terra, de que fora tomado. (Gn 3: 22-23) Temos uma nova vers˜ ao (par´ afrase) para a “queda” e consequente expuls˜ao do homem do para´ıso. Observe a ilustra¸c˜ao:

eg o

Expulso do para´ıso

          

  

Aqui a morte surge

           

Nesta faixa de frequˆencia a morte n˜ao existe, ´e o para´ıso.

   

              

               

ego

Para esta Consciˆencia a morte j´ a n˜ao existe

(Reconquista do para´ıso)

1o

3 o N´ıvel

N´ıvel

Existe dentro do homem, em virtude de sua constituic¸˜ao, um ego, um eu inferior - um Satan´as, bem como um anjo. (Bah´aull´ah/Profeta)

- Espectro da Consciˆencia

2 o N´ıvel

De fato, tudo est´ a na mente: o mundo, o conhecimento, a ignorˆancia, o sofrimento, a dor e o prazer e, num certo sentido, o pr´ oprio universo. (Marcelo Malheiros/fil´ osofo)

O para´ıso − aquele do mito b´ıblico − n˜ ao foi um lugar geogr´ afico, mas sim um estado de consciˆencia, que corresponde a certa fase da infˆancia; aquela do “bolo de areia”, do “dinheiro de folha de ´arvores”, etc. . . . que tempos bons aqueles! . . . ´e o para´ıso, sem d´ uvida! Posteriormente a consciˆencia entra numa outra faixa do espectro, o ego torna-se proeminente, surge o sentimento de separa¸c˜ao, aqui o homem toma consciˆencia da morte. Na faixa da direita do espectro o homem consegue derrotar a mente (origem do ego), a morte deixa de existir.

O Absoluto cont´em todo o experienci´ avel. Mas sem o experimentador eles s˜ ao como nada. Aquilo que faz a experiˆencia poss´ıvel ´e o Absoluto. Aquilo que a faz atual ´e o Ser. (Sri Nisargadatta Maharaj)

149

Ego

→ Deleta a mente


5.2

O problema da indu¸ c˜ ao vulgar

Opera¸co ˜es no dom´ınio finito, quando estendidas ‘at´e o infinito’ se esboroam. (O iconoclasta) At´e o s´eculo XVII havia um tipo de erro cometido inclusive por ilus´ o que tres matem´ aticos, a exemplo de Pierre de Fermat (1601-1665). E estamos denominando de “o problema da indu¸ca ˜o vulgar”. Em que consiste o “erro da indu¸c˜ ao vulgar”? Este erro consiste em se observar um dado fenˆomeno um n´ umero finito de vezes e da´ı se concluir uma lei geral, v´alida “para todo o universo”. Nosso objetivo nesta se¸c˜ao ´e mostrar que todo homem (todo ser humano) est´ a sujeito a inadvertidamente (displicentemente) cometer o erro da indu¸ca˜o vulgar, nos mais diversos ramos do conhecimento: matem´ atica, filosofia, teologia, epiritualidade, etc., etc. Antes vamos ilustrar com um exemplo da matem´ atica e um da f´ısica, como a observa¸c˜ ao de um dado fenˆomeno − n˜ ao importa o n´ umero de vezes − n˜ ao nos autoriza a enunciar uma verdade absoluta (geral). o oes decimais dos n´ umeros reais. 1 ) As representa¸c˜ Pode-se provar matematicamente que quando se obt´em a expans˜ ao decimal de uma fra¸c˜ ao nesta expans˜ ao sempre vai surgir um per´ıodo∗ , por exemplo: 1 = 0, 33333333 . . . 3

−→

per´ıodo : 3

25 = 0, 25252525 . . . 99

−→

per´ıodo : 25

Pode-se provar tamb´em que na expans˜ ao decimal de um n´ umero irracional nunca vai aparecer um per´ıodo, por exemplo, √ 2 = 1, 41421356237 . . . √ 3 = 1, 73205080757 . . . π = 3, 14159265359 . . . Suponhamos que um estudante de computa¸c˜ao ingˆenuo tente provar a um matem´ atico que π ´e um n´ umero irracional. Ele faz um programa para imprimir π com, digamos, trezentas casas decimais, assim: ∗

Um grupo de d´ıgitos que se repete. A representa¸c˜ ao decimal de um n´ umero racional pode ser considerada infinita e peri´ odica (ex. 1/4 = 0, 25 = 0, 25000 . . .), enquanto que a ao peri´ odica. representa¸c˜ ao decimal de um n´ umero irracional ´e sempre infinita e n˜

150


π = 3,14159 26535 89793 23846 26433 83279 50288 41971 69399 37510 58209 74944 59230 78164 06286 20899 86280 34825 34211 70679 82148 08651 32823 06647 09384 46095 50582 23172 53594 08128 48111 74502 84102 70193 85211 05559 64462 29489 54930 38196 44288 10975 66593 34461 28475 64823 37867 83165 27120 19091 45648 56692 34603 48610 45432 66482 13393 60726 02491 41273 nosso ingˆenuo estudante mostra ao matem´ atico que n˜ ao ocorre nenhum per´ıodo nesta expans˜ ao e que, “portanto π ´e um n´ umero irracional! ”. O matem´ atico diz-lhe que n˜ ao est´ a satisfeito com sua “prova” de que π ´e um n´ umero irracional. Como nosso hipot´etico estudante ´e ingˆenuo, de outra feita ele leva ao matem´ atico uma listagem com “um trilh˜ ao de casas decimais de π”− e ainda assim n˜ ao encontrou nenhum per´ıodo −. O matem´ atico elogia todo seu esfor¸co mas, mesmo assim, reprova sua “prova”. Com d´ o do estudante, o matem´ atico diz-lhe que n˜ ao importa o n´ umero (finito) de experimentos que ele fa¸ca, isto n˜ ao prova que π ´e um n´ umero irracional, posto que: Opera¸ co ˜es no dom´ınio finito, quando estendidas ‘at´ e o infinito’ entram em colapso. Este ´e um exemplo de indu¸c˜ ao vulgar, o tipo de indu¸c˜ao que n˜ ao vale na matem´ atica, n˜ ao possui legitimidade matem´ atica. Vejamos agora um exemplo de indu¸c˜ ao vulgar na f´ısica. Indu¸c˜ao vulgar ou emp´ırica, pode ser. 2 o ) Suponhamos que um ingˆenuo estudante de f´ısica abandone uma pedra mil vezes e, em todas elas, ele observa que a “pedra cai”. Nosso hipot´etico ingˆenuo estudante enuncia a seguinte “lei universal”: aonde quer que se esteja neste Universo, ao se abandonar uma pedra ela cai! Seremos for¸cados a discordar do nosso ingˆenuo estudante no sentido de que a sua lei n˜ ao vale universalmente; esta lei, que foi observada bilh˜ oes e bilh˜ oes de vezes na superf´ıcie da terra, n˜ ao vale no Vazio, no V´acuo. Nota: Se se abandona uma pedra em algum lugar do Universo onde existe o v´acuo (digo, inexiste influˆencia gravitacional) esta pedra n˜ ao vai “cair”. E o que tudo isto tem a ver com a morte? Respondemos: N˜ao importa o n´ umero de vezes que vocˆe tenha observado a morte sobre o planeta terra; esta lei (“a morte existe”) n˜ ao vale no “Vazio”, no “V´acuo”; esta lei ´e um mero exerc´ıcio de indu¸c˜ ao vulgar, n˜ ao tem legitimidade matem´ atica! Ilustres matem´ aticos ao longo dos s´eculos tˆem cometido erros elementares de matem´ atica por n˜ ao terem observado a simples regra: Opera¸ co ˜es no dom´ınio finito, quando estendidas ‘at´ e o infinito’ se esboroam. 151


5.3

Outros vision´ arios, ou loucos

Transcender o ego n˜ ao ´e uma aberra¸ca ˜o mental nem uma alucina¸ca ˜o psic´ otica, sen˜ ao um estado ou n´ıvel de consciˆencia infinitamente mais rico, mais natural e mais satisfat´ orio do que o ego poderia imaginar em seus vˆ oos mais desatinados de fantasia. (Ken Wilber/O Espectro da Consciˆenca, p. 21)

Introdu¸ c˜ ao Lembramos a seguinte informa¸c˜ao, Adendo p. 142, “O terceiro n´ıvel, o mais essencial, ´e chamado ‘luminosidade fundamental do esp´ırito’. Corresponde a uma capacidade cognitiva pura que n˜ ao funciona no modo dual sujeito-objeto e na qual n˜ ao existem pensamentos discursivos.”,

Terceiro N´ıvel

Segundo N´ıvel

- Uma vibra¸ca˜o no Terceiro N´ıvel gera o Segundo N´ıvel, o do pensamento discursivo; aqui se origina o ego, a identidade pessoal.

foi neste n´ıvel que pela primeira vez “me veio”, num ´atimo (sem pensamentos discursivos), que a morte ´e uma cria¸c˜ao da mente. Em seguida, eu mesmo (flutua¸c˜ ao) cheguei a duvidar disto. N˜ao, n˜ ao pode ser, exclamei! . . . Posteriormente, ap´ os algumas pondera¸c˜oes, tudo foi se encaixando, tornando-se perfeitamente coerente, l´ogico, n˜ ao a l´ogica euclidiana, claro. Isto † foi em maio de 2014, de l´a pra c´a (10.11.2016) fui colecionando outros vision´ arios (ou loucos, como se queira) que, como eu, defendem a mesma tese de que a morte ´e uma cria¸c˜ao da mente, meu objetivo nesta se¸c˜ao ´e arrolar outros depoimentos que corroboram nossa tese. acil ver atrav´es desse tipo de fic¸co ˜es, por´em muitas 1 o ) Talvez seja muito f´ outras, como a separa¸ca ˜o entre a vida e a morte e a existˆencia de um mundo objetivo “l´ a fora”, s˜ ao muito mais dif´ıceis de penetrar. A raz˜ ao ´e porque temos sofrido uma completa lavagem cerebral ministrada por pais e pares bem intencionados mas que tamb´em haviam sido submetidos a ` lavagem cerebral, e passamos a confundir uma descri¸ca ˜o do mundo com o pr´ oprio mundo tal como ´e em sua realidade sem nome e sem car´ ater, em sua vacuidade. (Ken Wilber/O Espectro da Consciˆenca, p. 185)/Grifo nosso † O essencial deste cap´ıtulo foi retirado de um outro livro meu, aquele que comparece na p´ agina 17.

152


2 o ) A seguir uma transcri¸c˜ ao do artigo eletrˆ onico “Sem” y “Rigpa”∗ (Sogyal Rimpoch´e/Peor para el Sol)

A descoberta ainda revolucion´ aria do budismo ´e que a vida e a morte est˜ ao na mente, e em nenhum outro lugar. A mente se revela como base universal da experiˆencia; criadora da felicidade e criadora do sofrimento, criadora do que chamamos vida e do que chamamos morte. A mente tem numerosos aspectos, por´em existem dois que se destacam. O primeiro ´e a mente ordin´ aria, a que os tibetanos chamam sem. Um mestre a define assim: “Aquilo que possui consciˆencia diferenciadora, aquilo que possui um sentido de dualidade, isto ´e, que elege ou rejeita algo externo, isso ´e a mente. Fundamentalmente, ´e aquilo que podemos associar com um “outro”, com qualquer “algo” que se percebe como distinto do observador. Sem ´ e a mente dualista, discursiva e pensante, que s´ o pode funcionar em rela¸ c˜ ao a um ponto de referˆ encia externo projetado e falsamente percebido. [. . . ] De certo ponto de vista, sem ´e bruxuleante, inst´ avel e ´ avida, sempre se imiscui em assuntos alheios; sua energia se consome ao se projetar para fora. [. . . ] uma in´ercia auto-protetora, penalizando a si mesma, uma calma p´etrea feita de h´ abitos arraigados. Sem ´e t˜ ao astuta quanto um pol´ıtico corrompido, c´eptica e desconfiada, perita em ast´ ucias e trapa¸cas, “engenhosa nos jogos de engano”, como Jamyang Khyentse es´ dentro da experiˆencia desta sem ca´ creveu. E otica, confusa, indisciplinada e repetitiva, esta mente ordin´ aria, aonde uma e outra vez sofremos as mudan¸cas e a morte. Em seguida est´ a a natureza mesma da mente, sua essˆ encia mais ´ıntima, que ´ e sempre e absolutamente imune ` a mudan¸ ca e a morte. Ela se acha oculta dentro de nossa pr´ opia mente, nossa sem, envolta e velada pelo r´ apido fluxo de nossos pensamentos e emo¸co ˜es. Mas, assim como uma forte rajada de vento pode dispersar as nuvens e revelar a luz do sol resplandecente e a imensid˜ ao do c´eu, igualmente alguma inspira¸ca ˜o pode nos revelar flashes desta outra natureza da mente. Esses vislumbres podem ser de diferentes graus e intensidades, mas todos proporcionam alguma luz de compreens˜ ao, significado e liberdade. Isso ocorre porque a natureza da mente ´e por si a pr´ opria ra´ız da compreens˜ ao. Em tibetano a chamamos Rigpa, uma consciˆencia primordial, pura e imaculada, que ´e ao mesmo tempo inteligente, cognoscitiva, radiante e sempre desperta. Se poderia dizer que ´e o conhecimento do pr´ oprio conhecimento. N˜ ao se deve cometer o erro crasso de imaginar que a natureza da mente se resume apenas ` aquela da mente ordin´ aria. De fato, ´e a natureza do todo. Nunca ´e demais enfatizar que conhecer a natureza da mente resulta em conhecer a natureza de tudo o mais.

O texto completo e original encontra-se em espanhol, esta ´e uma livre tradu¸c˜ ao.

153


Sem e Rigpa: dois estados da mente O que vem a seguir, nesta p´ agina, foi transcrito de um artigo da internet: O VE´ICULO DO ATIYOGA OU DZOGCHEN. “Rigpa ´e um estado de presen¸ca claro e desperto que transcende a mente pensante comum. Ele ´e como o sol que aparece quando as nuvens dos pensamentos se afastam. Rigpa ´e n˜ ao-composto, n˜ ao tem come¸co nem fim. Em sua essˆencia ele ´e primordialmente puro [kadag] e sem elabora¸c˜oes, o que chamamos ainda vacuidade. Mas em sua natureza, ele ´e luminosidade espontaneamente presente [lhundrup]. Esses dois aspectos s˜ ao indissoci´aveis. Do ponto de vista de rigpa, a mente conceitual sem, as paix˜oes, etc., n˜ ao s˜ ao sen˜ ao um jogo oriundo de sua criatividade luminosa. H´a, pois uma imensa diferen¸ca entre mente comum, sem e rigpa. Sem ´e um epifenˆomeno de rigpa, uma simples fun¸c˜ao da claridade e de seu movimento. Rigpa ´e um estado claro e sem distra¸c˜oes onde nenhum apego ´e poss´ıvel. Nesse estado, tudo que surge n˜ ao ´e mais que uma exibi¸c˜ao sem finalidade e dissolve-se sem deixar tra¸co, como uma vaga no oceano ou um desenho sobre a ´agua. Comparamos tradicionalmente rigpa a um espelho. O espelho tem duas caracter´ısticas: ele ´e vazio em si-mesmo, e simultaneamente ele tem potencialidade de refletir claramente todas as esp´ecies de aparˆencias, belas ou feias. Essas aparˆencias, vis´ıveis no espelho, s˜ ao incapazes de o sujar, pois ele permanece vazio por essˆencia. [. . . ] Rigpa ´e nossa condi¸c˜ao natural, nosso modo de ser u ´ltimo e primordial. Um u ´ltimo ponto importante a prop´osito de rigpa. Na nossa condi¸c˜ao comum, n´ os n˜ ao conhecemos rigpa, e somente sem nos parece ser a mente. Nos textos, falamos em procurar a “natureza da mente”, semny. Descobrir a natureza da mente ´e descobrir que sem n˜ ao tem realidade, que ela ´e vazia de existˆencia pr´ opria, que ela n˜ ao tem origem, nem lugar, nem destino. Mas isso ainda n˜ ao ´e rigpa. Rigpa ´e apresentado ao disc´ıpulo no momento preciso quando a mente comum ´e temporariamente dissolvida. [. . . ]”.

Sem

Rigpa

Sem

Rigpa

Nota: A ilustra¸c˜ ao ´e nossa, n˜ ao consta no artigo original.

154


3 o ) A morte ´ e s´ o uma ilus˜ ao criada pela nossa consciˆ encia Robert Lanza, um respeitado pesquisador norte-americano, defende que a morte n˜ ao existe, afirmando que esse evento n˜ ao passa de uma ilus˜ ao criada pelas nossas mentes. “O mist´erio da vida e da morte n˜ ao pode ser ´ mais examinado visitando Gal´ apagos ou olhando em um microsc´opio. E profundo”, afirma. Professor adjunto do Instituto Regenerativo de Medicina da Universidade de Wake Forest, Lanza ´e um proponente do biocentrismo. A ideia do Professor ´e a de que, ao inv´es do Universo criar a vida, ele ´e na verdade um produto de nossa consciˆencia. Esta afirma¸c˜ ao parte das recentes declara¸c˜oes p´ ublicas onde Robert Lanza sustenta a hip´ otese de que a morte nada mais ´e do que um ilus˜ ao da nossa consciˆencia que, por sua vez, se encarrega de determinar a forma e o tamanho de todos os objetos do Universo. De acordo com Lanza: “a vida ´e . . . apenas a atividade de carbono e uma mistura de mol´eculas; vivemos durante um certo tempo e depois apodrecemos sob a terra”. No entanto, a morte, segundo o pesquisador, apenas existe para n´ os, porque os humanos anteriores “nos ensinaram a acreditar que morremos”. Neste sentido, a morte n˜ ao seria nada mais do que uma teoria sem fundamentos e que n˜ ao pode ser comprovada. Sua teoria sobre o biocentrismo prop˜oe que n˜ ao existem raz˜ oes para acreditar que a morte deva ser t˜ ao terminal como se acredita. E a biologia, ou seja, a vida, cria a realidade do Universo, e n˜ ao vice-versa. Desta maneira, a morte, como um corte terminal, n˜ ao pode existir. Apesar disso, Lanza admite que o corpo morre, o que ´e irrefut´ avel. Por´em, isso n˜ ao ´e suficiente para explicar a existˆencia da morte. Se realmente o espa¸co e o tempo s˜ ao ferramentas na nossa mente, coordenadas pela nossa consciˆencia, ent˜ ao a imortalidade existe de fato em um mundo sem limites de espa¸co e tempo. ´ − Texto extra´ıdo de uma publica¸c˜ao eletrˆ onica − Site “MUITO ALEM DAS PALAVRAS E SENTIDOS”. Mas a evolu¸ca ˜o n˜ ao acaba na mente, espera ser libertada em algo maior, em uma consciˆencia espiritual e supramental. Portanto, n˜ ao h´ a raz˜ ao para colocar limites ` as possibilidades evolutivas tomando nossa organiza¸ca ˜o ou status atual como definitivo. (Sri Aurobindo/Caboclinho do mato)

155


4 o ) Qual ´ e exatamente sua atitude em rela¸ c˜ ao ` a morte? Essa ´e minha atitude em rela¸c˜ao `a morte: ela ´e a maior piada que existe. A morte nunca aconteceu; ela n˜ ao pode acontecer pela pr´ opria natureza das coisas, porque a vida ´e eterna. A vida n˜ ao pode terminar; ela n˜ ao ´e uma coisa, ´e um processo. N˜ao ´e algo que come¸ca e termina; n˜ ao tem in´ıcio nem fim. Vocˆe sempre esteve aqui em diferentes formas, e sempre estar´ a aqui ´ assim que um buda vive em diferentes formas ou, finalmente, sem forma. E na existˆencia: ele se torna sem forma. Ele desaparece totalmente da forma densa. A morte n˜ ao existe; ela ´e uma mentira – mas parece muito real. Apenas parece muito real, mas n˜ ao o ´e. Parece assim porque vocˆe acredita demais em sua existˆencia separada. O fato de acreditar que vocˆe est´ a separado da existˆencia ´e que proporciona realidade `a morte. Abandone essa ideia de estar separado da existˆencia e a morte desaparece. [. . . ] Esta ´e minha atitude em rela¸c˜ao `a morte. Uma risada! Deixe que o riso seja a sua atitude em rela¸c˜ao `a morte. Essa ´e uma mentira c´osmica criada pelo pr´ oprio homem, criada pelo ego, pela consciˆencia de si. Por isso na natureza nenhum outro animal, p´ assaro, ´arvore, tem medo da morte. S´ o o homem, e ele a transforma em um tremendo drama. . . passa toda a vida com medo. A morte est´ a cada vez mais pr´ oxima, e por causa da morte ele n˜ ao consegue se permitir viver plenamente. Como vocˆe pode viver se sente tanto medo? A vida s´ o ´e poss´ıvel sem medo. A vida s´ o ´e poss´ıvel com amor, n˜ ao com medo. E a morte cria medo. E quem ´e o culpado? Deus n˜ ao criou a morte; ela ´e uma inven¸c˜ao do pr´ oprio homem. Crie o ego e vocˆe ter´ a criado o outro lado dele – a morte. − Texto extra´ıdo de uma publica¸c˜ao eletrˆ onica − Do livro (pdf): A ˜o: Magda Lopes/p. 74 jornada do ser humano/Le Livros/Tradu¸ca ´ UMA ILUSAO ˜ CRIADA PELA MENTE. 5 o ) V´ıdeo: A MORTE E Document´ ario Jornal da Matrix

https://www.youtube.com/watch?v=fQ2wAewxkdQ

156


Mais uma bizarra consequˆ encia de nosso postulado Uma consequˆencia do postulado da TROE que agora anunciamos de os n˜ ao existimos . . . pasm´em!. (p. 138) forma expl´ıcita: a de que n´ Lembre-se que, estando sonhando, vocˆe pensa que existe, perguntamos: Vocˆ e existe em um sonho? Isto que chamamos ‘realidade’ n˜ ao seria uma outra esp´ ecie de sonho?. J´ a tive sonhos com uma consistˆencia t˜ao real quanto. Alguns pensamentos para reflex˜ao − os quais corroboram esta bizarra consequˆencia do nosso postulado:

− Mas, se vocˆe observar, se observar profundamente, ficar´a sur-

preso. Vocˆe n˜ao existe! N˜ao que vocˆe precise se dissolver! Simples-

mente vocˆe n˜ao existe. Essa ´e apenas uma falsa no¸c˜ao que vocˆe tem carregado, a no¸c˜ao de que vocˆe existe. Alguns instantes de silˆencio e de repente vocˆe percebe que h´a um vazio dentro de vocˆe, um nada dentro de vocˆe. Buda chamou esse nada de anatta, n˜ao-ser, shunya, nada. − As ondas existem, mas n˜ao separadas do oceano. Da mesma ´ isso forma, n´os existimos: n˜ao separados do oceano da consciˆencia. E que Deus ´e. − O dia em que vocˆe olha para dentro, vocˆe n˜ao est´a. O dia em

que olha para dentro, h´a um grande vazio . . . e ´e tremendamente bem-

aventurado, bonito, tranq¨ uilo. Vocˆe n˜ao estar presente, ent˜ao n˜ao h´a nenhum barulho. − Vocˆe gostaria de estar no para´ıso com seu ego. Est´a pedindo o

imposs´ıvel. Isso n˜ao pode acontecer.

− A religi˜ao que existe na terra ´e falsa, ´e um fingimento, ´e s´o no-

minal, mas ela preenche sua necessidade. Satisfaz uma certa demanda, a de que vocˆe quer fazer de conta que ´e religioso.

(Osho/Zen/Cultrix)

Muitos problemas individuais, e da humanidade em geral, podem (e devem) ser resolvidos a apartir desta nova perspectiva. Por exemplo, o “giga problema” da salva¸c˜ ao − a raz˜ ao de ser das institui¸c˜oes religiosas parasit´arias −, vocˆe n˜ ao precisa ser salvo, a n˜ ao ser das garras de padres e pastores, os abutres! (Ver Giga lorota p. 96) 157


5.4

Resumo do cap´ıtulo A mente ´e insaci´ avel, s´ o podemos sust´ a-la mergulhando-a no Oceano.

Uma gota de orvalho escorrendo da folha de l´otus para dentro do oceano. . . Vocˆe pode pensar que a pobre gota est´ a perdida, perdeu sua identidade. Mas olhe de um outro ponto de vista: a gota se tornou o oceano. Ela n˜ ao perdeu nada, tornou-se vasta. Tornou-se oceˆanica. (Osho)

Na imensid˜ ao da consciˆencia uma luz surge, um pequeno ponto que se move e tra¸ca formas, sentimentos e pensamentos, conceitos e id´eias como uma caneta escrevendo sobre o papel. A tinta que deixa um tra¸co ´e a mem´ oria. Vocˆe ´e o pequeno ponto e por seu movimento o mundo ´e recriado pelo sempre. Pare de se movimentar e n˜ ao haver´ a o mundo. (Sri Nisargadatta Maharaj/Caboclinho do mato) N˜ao diga “todas as pessoas s˜ ao conscientes”. Diga “h´ a consciˆencia”, na qual tudo aparece e desaparece. Nossas mentes s˜ ao simples ondas no oceano da consciˆencia. Como ondas elas vem e v˜ao. Como oceano elas s˜ ao infinitas e eternas. Conhe¸cam a si mesmos como o oceano do ser, o u ´tero de toda a existˆencia. Estas s˜ ao todas met´ aforas ´e claro. A realidade est´ a al´em de toda descri¸c˜ao. Vocˆe s´ o pode conhecˆe-la tornando-se ela. (Sri Nisargadatta Maharaj) Minha forma ´e aquela de um pequenino ponto de luz sentado na testa deste corpo, meu ve´ıculo. (Brahma Kumaris) 1 “Veja o mundo num gr˜ao de areia, e o c´eu numa flor selvagem, guarde o infinito na palma da m˜ ao, e a eternidade em uma hora.”

(William Blake)

sr 0

1

Nota: O ponto da consciˆencia individual (0) possui a bizarra propriedade da n˜ ao-localidade (p. 26), isto ´e, “estar aqui e estar l´ a, ao mesmo tempo”: A tinta que deixa um tra¸co ´e a mem´ oria. Vocˆe ´e o pequeno ponto e por seu movimento o mundo ´e recriado pelo sempre. 158


Adendo: Hoje (13.11.2016) realizei uma medita¸c˜ao, dentre algumas experiˆencias relato esta: tive a oportunidade de experienciar − com bastante nitidez (intensidade) − : “a gota se tornou o oceano. Ela n˜ ao perdeu nada, tornou-se vasta. Tornou-se oceˆ anica.” Ent˜ao, o que acontece? De in´ıcio, entenda este Oceano como sendo um Oceano de Consciˆencia, onde n˜ ao h´ a identidade (ego), um puro Nada, como descreve Buda no “estado do Buda” (ver p. 135); Ora, ao mergulhar num “Oceano de Nada”, vocˆ e, a pobre gota, torna-se em Nada, dissolve-se no Oceano de Nada. H´a um por´em, n˜ ao ´e o fim de tudo, este Oceano (“Campo de Consciˆencia”) possui mem´ oria (ver p. 141 ), a gota pode recordar-se! Lembre-se, no universo nenhuma informa¸c˜ ao se perde, como assinala Laszlo (p. 141). O leitor tenha em conta que ´e impos´ıvel se descrever uma experiˆencia, como diz Maharaj “estas s˜ ao todas met´ aforas ´e claro. A realidade est´ a al´em de toda descri¸ca ˜o. Vocˆe s´ o pode conhecˆe-la tornando-se ela.”, no entanto, me parece que passa por aqui: Na imensid˜ ao da consciˆencia uma luz surge, um pequeno ponto que se move e tra¸ca formas, sentimentos e pensamentos, conceitos e id´eias como uma caneta escrevendo sobre o papel. A tinta que deixa um tra¸co ´e a mem´ oria. Vocˆe ´e o pequeno ponto e por seu movimento o mundo ´e recriado pelo sempre. Pare de se movimentar e n˜ ao haver´ a o mundo. Este pequeno ponto (a consciˆencia individual, a minha, a sua), ´e como se tivesse a propriedade da n˜ ao-localidade, se sente uno com o Oceano indiviso, e ´e um ponto que preserva a sua mem´ oria, no entanto, esta mem´ oria n˜ ao fica em primeiro plano, s´ o se manifesta quando “a ponta da caneta se movimenta”, por um ato de escolha do pr´ oprio ponto. Que um ponto pode estar “unido a todo o espa¸co”, isto pode ser provado matematicamente, ´e o que acontece com a origem do quadrado quˆantico. Quando a ponta da caneta “para de se movimentar”, ela n˜ ao existe, torna-se indistinta do Oceano de Nada, quando ela decide se movimentar “o mundo ´e recriado”, “a tinta que deixa um tra¸co ´e a mem´ oria”. Observe novamente: O Absoluto cont´em todo o experienci´ avel. Mas sem o experimentador eles s˜ ao como nada. Aquilo que faz a experiˆencia poss´ıvel ´e o Absoluto. Aquilo que a faz atual ´e o Ser. (Sri Nisargadatta Maharaj) Como j´a dissemos, o Absoluto ´e o Oceano, o Ser ´e o ponto. Nesta figura vemos o ponto como parte do Oceano; a prop´osito, o leitor pode ver a n˜ aolocalidade do ponto, isto ´e, por sua onda, ele encontra-se “em v´arios lugares ao mesmo tempo”. 159


Nota: “Pare de se movimentar e n˜ ao haver´ a o mundo.”, quer dizer: pare de movimentar a mente (pare de pensar) e n˜ ao haver´ a o mundo, o mundo de conceitos, ideias, cria¸c˜oes: arte, ciˆencias, matem´ aticas, etc. Um s´ abio iluminado fala com profundidade, com densidade, suas asser¸c˜ oes possuem pontos de contato com afirma¸c˜oes de outros s´ abios. Uma fala que me causou fasc´ınio foi esta: O Absoluto cont´em todo o experienci´ avel. Mas sem o experimentador eles s˜ ao como nada. Aquilo que faz a experiˆencia poss´ıvel ´e o Absoluto. Aquilo que a faz atual ´e o Ser. (Sri Nisargadatta Maharaj) Ei, espere! Acho que vocˆe n˜ ao entendeu uma grande parte disso tudo. Vamos voltar ´ ao in´ıcio. Vocˆe est´ a criando tudo isso. . . . E isso que Eu Sou neste momento. Vocˆe, pensando. Vocˆe, pensando em voz alta. (Absoluto Manifestando-se/Neale D. W.)

Ser Absoluto

Uma gota de orvalho escorrendo da folha de l´otus para dentro do oceano. . . Vocˆe pode pensar que a pobre gota est´ a perdida, perdeu sua identidade. Mas olhe de um outro ponto de vista: a gota se tornou o oceano. Ela n˜ ao perdeu nada, tornou-se vasta. Tornou-se oceˆanica. (Osho)

1

Absoluto

Ser

0

O que existe? Um puro Nada, integral, indiviso . . . de uma flutua¸ca ˜o deste Oceano ilimitado de potencialidades surge a “realidade”, t˜ ao real quanto um sonho. 160


5.5

Conclus˜ ao

Segundo entendo, as religi˜ oes do futuro dever˜ ao se fundamentar em postulados explicitamente enunciados, se quiserem ser aceitas por pessoas livres e inteligentes (ver p. 66). A sugest˜ao que deixamos aos leitores ´e: diante de qualquer suposta “verdade religiosa”, pergunte pelo postulado no qual ela est´ a alicer¸cada, examine o postulado e depois decida a favor da verdade, ou n˜ ao. (Ver Maturana, p. 14) Segundo o crit´erio BO, enunciado na p´ agina 114, n˜ ao podemos construir teorias cient´ıficas sobre sonhos ou experiˆencias particulares: N˜ ao vamos pois hesitar em considerar como erro − ou como inutilidade espiritual, o que ´e mais ou menos a mesma coisa − toda verdade que n˜ ao fa¸ca parte de um sistema geral. (Gaston Bachelard) acontece que o Vazio, o Nada − o fundamento da TROE − ´e uma verdade que faz parte de um sistema geral, como mostramos a partir da p´ agina 51, e o encia do Vazio ´ eou ´nico ‘sonho’ que pode mais importante: a experiˆ ser sonhado por todos. Digo, a experiˆencia do Vazio est´ a ao alcance de qualquer pessoa, de qualquer cientista, abstraindo-se poss´ıveis preconceitos. A raz˜ ao para esta assertiva ´e que o Vazio ´e a “verdadeira natureza” ´ precisamente nisto n˜ ao apenas do ser humano, como de tudo o mais. E que consiste a filosofia budista da vacuidade e da qual deriva o postulado da TROE. ˜ DE F´ISICA E CONSCIENCIA) ˆ − DIMENS~ OES ESCONDIDAS (A UNIFICAC ¸ AO Transpondo a lacuna entre o mundo da ciˆencia e o reino espiritual, B. Alan Wallace introduz uma teoria natural da consciˆencia humana com ra´ızes na f´ısica contemporˆ anea e no budismo. A “teoria especial da relatividade ontol´ ogica” sugere que os fenˆomenos mentais s˜ ao condicionados pelo c´erebro, mas n˜ ao emergem dele. Em vez disso, o mundo de mente e mat´eria, sujeitos e objetos, surge de uma dimens˜ao unit´ aria da realidade que ´e mais fundamental que essas dualidades, conforme proposto por Wolfgang Pauli e Carl Jung. Para testar estas hip´ oteses, Wallace emprega a pr´ atica meditativa budista de samatha, que refina a aten¸c˜ao e a metacogni¸c˜ao, para criar um tipo de telesc´ opio para examinar o espa¸ co da mente. (Grifo nosso) Nota: Corroborando Wallace, nossa medita¸c˜ao com a ayahuasca ´e um outro “telesc´ opio” (t´ecnica) para examinar o espa¸co da mente (ver p. 126).

161


Apˆ endice: Renascimento × Reencarna¸ c˜ ao Esta minha investiga¸c˜ao sobre o tema morte foi uma pesquisa absolutamente livre, sem medo da morte, sem desejar sobreviver e, ademais, sem nenhum v´ınculo com qualquer religi˜ ao. Ao t´ermino, me dei conta de que minhas conclus˜oes mais se aproximam do renascimento − defendido por algumas vertentes orientais, como o budismo, por exemplo − que da reencarna¸ca ˜o, defendida pelo espiritismo, por exemplo. A concep¸c˜ ao do renascimento ´e menos difundida no Ocidente que a da reencarna¸c˜ ao, raz˜ ao porque vou transcrever apenas a parte inicial de um artigo que encontrei na internet.

O Budismo e a Reencarna¸c˜ ao

por Michael Beisert

1. O Budismo acredita na reencarna¸ c˜ ao? O Budismo n˜ ao ensina a reencarna¸c˜ao, o Budismo acredita no renascimento. 2. Qual ´ e a diferen¸ ca entre reencarna¸ c˜ ao e renascimento? A reencarna¸c˜ ao ´e a id´eia da existˆencia de um esp´ırito separado do corpo; com a morte do corpo esse mesmo esp´ırito reassume uma outra forma material e segue evoluindo. O renascimento na concep¸c˜ao Budista n˜ ao ´e a transmigra¸c˜ ao de um esp´ırito, de uma identidade substancial, mas a continuidade de um processo, um fluxo do devir, no qual vidas sucessivas est˜ ao conectadas umas ` as outras atrav´es de causas e condi¸c˜oes. Esse processo ou fluxo n˜ ao ocorre apenas com a morte mas est´ a presente constantemente nas nossas vidas. N´os estamos em constante mudan¸ca, com cada momento nas nossas vidas surgindo na dependˆencia do momento anterior, que deixou ´ um pouco parecido com a correnteza de um rio, a correnteza de existir. E fluindo continuamente sem cessar. N˜ao ´e poss´ıvel entrar no mesmo rio duas vezes. Podemos ilustrar o renascimento com um s´ımile, ´e como se a chama de uma vela fosse empregada para acender uma outra vela e nesse processo a primeira vela fosse apagada. A chama da segunda vela surgiu na dependˆencia da primeira vela, ou seja, tem uma conex˜ao com ela, mas a chama da segunda vela n˜ ao ´e idˆentica `a primeira. Ent˜ao, as duas chamas possuem uma liga¸c˜ ao mas n˜ ao s˜ ao idˆenticas. [. . . ] (p. 142) 4. Como a consciˆ encia migra de um corpo para outro? Imagine as ondas de r´ adio. As ondas de r´ adio n˜ ao s˜ ao compostas de palavras ou notas musicais mas de energia em distintas freq¨ uˆencias que s˜ ao transmitidas atrav´es do espa¸co e atra´ıdas e capturadas por um receptor no qual se manifestam como palavras e m´ usica. Algo similar ocorre com a consciˆencia. Ao morrer, a energia mental cruza o espa¸co e se une ao esperma e o ´ovulo para formar o novo ser. O zigoto e a consciˆencia se desenvolvem atrav´es de uma rela¸c˜ ao de m´ utua dependˆencia e influˆencia. (Fim da transcri¸ca˜o) 162


Trilogia

163


O Poder do Agora & Vacuidade O que me motivou a abrir esta se¸c˜ao, j´a no encerramento do livro, foi uma experiˆencia de medita¸c˜ao − com a ayahuasca − ocorrida h´ a dias atr´ as, deixo aqui este registro como uma poss´ıvel colabora¸c˜ao a quem interessar possa. Eu j´a tinha ouvido e lido in´ umeras vezes sobre “O Poder do Agora”, do mestre Eckhart Tolle, entretanto, apenas dentro da referida experiˆencia ´e que fui me d´ a conta que ouvir ou ler ´e uma coisa, outra bem diferente ´e experienciar, saborear um ensinamento; ´e a mesma diferen¸ca entre ouvir falar de uma fruta e saborear esta mesma fruta, deveras s˜ ao experiˆencias assaz distintas. Novamente aqui estarei tentando transmitir uma experiˆencia, raz˜ ao porque terei que recorrer a analogias. Primeiro, o que significa “O Poder do Agora”?; segundo, por que “O Poder do Agora” ´e eficaz?, ou, onde precisamente reside a efic´ acia de “O Poder do Agora”?. Primeiro, existe uma outra perspectiva pela qual podemos entender “O Poder do Agora”, que n˜ ao significa o tempo presente, na verdade esta persc˜ ao, pectiva n˜ ao tem a ver com “o momento presente”, mas sim com a aten¸ com a Consciˆ encia. Nesta perspectiva − a da minha experiˆencia − “Agora” ´ que na significa est´ a atento, Consciente, e onde reside a efic´ acia disto? E aten¸c˜ ao (Consciˆencia) a mente deixa de existir, a mente ´e a causadora de todos os problemas! − n˜ ao excetuando as doen¸cas. A mente (ego) ´e como se fosse um ser vivo, possui instinto de sobrevivˆencia, quer sobreviver a qualquer custo; ´e por isso que ela est´ a sempre tentando te levar para o passado ou para o futuro, posto que no presente ela nunca existe. Presente, reitero, ´e a aten¸c˜ao, ´e se estar Consciente. Ou existe aten¸c˜ ao (Consciˆencia) ou existe mente, este ou ´e exclusivo, isto ´e, as duas n˜ ao existem simultˆ aneamente. Uma analogia, digamos que a mente seja uma estrela e a Consciˆencia o Sol. Quando o Sol aparece as estrelas desaparecem. Quando a Consciˆencia (aten¸c˜ao) aparece os pensamentos, a mente, desaparecem, e a mente, reitero, ´e a causadora de todos os problemas! O Poder do Agora implica na Vacuidade (ou vice-versa), os pensamentos de dois s´ abios, a seguir: A chave para dissipar a confus˜ao E ficar livre da dor ´ viver com o Tao E Na terra do vazio. (Chuang Tzu)

Quando as a¸co˜es e as emo¸co˜es aflitivas cessam, ocorre a liberta¸ca˜o. As a¸co˜es e as emo¸co˜es aflitivas surgem das concep¸co˜es falsas, que por sua vez surgem das elabora¸co˜es fict´ıcias. As elabora¸co˜es fict´ıcias cessam na vacuidade.

(Nagarjuna) 164


Podem ser parafraseados assim: A chave para dissipar a confus˜ao E ficar livre da dor ´ viver com o Tao E Na terra do Agora. (Chuang Tzu)

Quando as a¸co˜es e as emo¸co˜es aflitivas cessam, ocorre a liberta¸ca˜o. As a¸co˜es e as emo¸co˜es aflitivas surgem das concep¸co˜es falsas, que por sua vez surgem das elabora¸co˜es fict´ıcias. As elabora¸co˜es fict´ıcias cessam no Agora.

(Nagarjuna) Estas p´erolas de sabedoria podem muito bem fundamentar um eficiente m´etodo terapˆeutico, seja na psicologia, seja na psiquiatria. Vejamos ainda “O Poder do Agora” atrav´es de imagens,

Terceiro N´ıvel (“Agora”)

Segundo N´ıvel

- A mente encontra-se neste Segundo N´ıvel, o da tagarelice (pensamentos) o “Agora” (aten¸ca˜o, Consciˆencia) nos leva para o Terceiro N´ıvel.

No Terceiro N´ıvel (mente sem pensamentos), cessam as turbulˆencias, ´ isto o que significa “viver com o Tao cessam “as elabora¸c˜ oes fict´ıcias”. E na terra do vazio” e ficar livre da dor. Inter ego

ce

(Consciˆencia)

preta Disto r

Uma flutua¸c˜ ao no Oceano de Consciˆencia − no qual estamos imersos − gera os pensamentos, o ego. Buda, via medita¸c˜ ao (aten¸c˜ ao), consegue anular estas ondas − o que eu chamo de sair da mente, deletar o ego − resta ainda o pr´ oprio Oceano (Substrato, tela em branco), este ´e um estado de Consciˆencia que n˜ ao “vˆe”, apenas reflete, sem introduzir nenhuma distor¸c˜ao (julgamento), como um espelho. Quando a mente repousa neste estado ela “vive com o Tao na terra do Vazio”.

“Agora”

Como complemento, releia “o estado do Buda” (p. 135), ´e o “Agora”. e medita¸ c˜ ao em apenas quatro minutos: O v´ıdeo a seguir resume o que ´ https://www.youtube.com/watch?v=g-HKcURN1v0 O Poder do Agora: https://www.youtube.com/watch?v=LQqhO3ESOok 165


O Ser e o N˜ ao-Ser “Se uma met´ afora n˜ ao mata a sede, pelo ao menos mitiga. ” Quando entrei em contato pela primeira vez com as abstrusas afirma¸c˜oes da f´ısica quˆantica de que “um objeto pode estar em v´ arios lugares ao mesmo tempo” e que “um objeto se move de A para B sem passar entre esses pontos”, isso deveras me incomodou, n˜ ao tinha a menor ideia de como poderia acontecer. Refleti sobre a quest˜ao durante muito tempo, minha sede s´ o foi mitigada quando encontrei uma met´ afora matem´ atica para ambas as quest˜ oes, tal como relato no cap´ıtulo 1, via r´egua quˆantica. Um outro enigma da filosofia que me impactou foi o do “n˜ ao-ser”. Como se pode falar do “n˜ ao-ser”? O n˜ ao-ser n˜ ao ´e! n˜ ao existe! N˜ao seria isto apenas passatempo de fil´ osofos desocupados?. Evidentemente que hoje penso diferente. Para n˜ ao nos alongarmos, sigamos por uma outra vereda. A raz˜ ao para que eu trouxesse ` a baila este tema em mais este adendo do livro ´e que encontrei uma outra met´ afora que “se n˜ ao aplaca a sede, pelo ao menos a mitiga”; ainda mais por ser uma met´ afora matem´ atica e, mais uma vez, via universo quˆ antico. atico de um universo que est´ a Pois bem, exibiremos um exemplo matem´ sustentado no n˜ ao-ser, na ausˆencia. Ou ainda, a existˆencia do universo quˆantico (chamemo-lo assim) s´ o ´e poss´ıvel devido ao n˜ ao-ser. Ou ainda, retire o n˜ ao-ser e o universo quˆantico desaba, entra em colapso. Primeiro, o universo quˆantico se sustenta (existe) em qualquer dimens˜ao, na dimens˜ao um ´e representado pelo par ([ 0, 1 [, r´egua quˆantica), geometricamente temos: 1 2

A

0

0

0,1

0,2

0,3

p

B

C

t

t

t

0,4

0,5

0,4

0,3

1

0,2

0,1

0

Em nossa met´ afora, veja o que estamos chamando de ser e n˜ ao-ser, 0

p

0,1

p

0,2

p

0,3

p

0,4

p

0,5

Ser

p

0,6

p

0,7

p

0,8

p

0,9

1

N˜ao-Ser

Ou seja, o n˜ ao-ser ´e representado por este buraquinho, ´e o Vazio, o Nada. ´ E a ausˆencia do s´ımbolo 1. Ademais, pode ser provado que todo o intervalo pode ser gerado pela combina¸c˜ao dos s´ımbolos 0 e 1. 166


Voltando ao aspecto matem´ atico do universo quˆantico, como j´a mencionamos na p´ agina 30, a existˆencia deste universo se deve ao n˜ ao-ser, digo, a este buraquinho (Vazio, Nada). Ora, mas se este universo existe devido ao vazio, ent˜ ao o Ser (bolinha na outra extremidade do intervalo) deve a sua existˆencia ao n˜ ao-ser. Ora, mas o n˜ ao-ser (buraquinho) deve estar em “algo”, este algo ´e o ser (intervalo). Sendo assim, concluimos: o ser e o n˜ ao-ser s˜ ao interdependentes, veja este imbr´ oglio por um outro ˆangulo:

Neste sentido, os observadores cocriam os mundos em que residem. (ver p. 50)

         

0

          

1

O “universo humano” ´e gerado nesta combina¸c˜ao.

V´acuo

Ψ

Mente

0

1

O problema com o universo da teologia cl´ assica O problema com a teologia cl´assica∗ ´e que ela substitui o n˜ ao-ser pelo ser, assim: 0,25 0

p

0,1

p

0,2

p

0,75

p

0,3

p

0,4

p

0,5

p

0,6

p

p

0,7

Ser

p

0,8

p

0,9

1

Ser

Ou ainda, ela tapa o buraquinho; isto ´e, substitui o Vazio por um Deus pessoal (com atributos humanos) − Em fun¸c˜ao de necessidades e aspira¸c˜oes humanas. Nota: Uma analogia: observe leitor esta folha (p´ agina do livro) que est´ a frente a teus olhos, o n˜ ao-ser ´e a parte branca, o ser ´e a tinta (tudo o que est´ a escrito, “o que existe”). ∗

Isto ´e, todas as religi˜ oes, exce¸c˜ ao feita ao budismo e jainismo.

167


Para dar uma ideia ao leitor do que isto significa, ´e como comparar o universo da f´ısica quˆantica (o nosso universo hodierno), 1

1

0

0,9

0,1

0,8

0,2

0,7

0,3

0,6

0,4

0,5

0,5

0,4

0,4

0,3

0,3

0,2

0,2

0,1

0

1

0,1

0 0

1 0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,6

0,7

0,8

0,9

0

1

0 0

− Quadrado Euclidiano (Teologia Cl´ assica)

1 0,1

0,2

0,3

0,4

0,5

0,4

0,3

0,2

0,1

0

− Quadrado Qu^ antico (Teologia Qu^ antica)

com o universo anterior `a f´ısica quˆantica. Ou ainda, o nosso universo antes dos computadores e depois dos computadores, [. . .] Sim, de fato ele [Leibniz] percebeu no bit 0 e no bit 1 o poder combinat´ orio para criar o universo inteiro, que ´e exatamente o que acontece nos modernos computadores digitais eletrˆ onicos e no restante de nossa tecnologia de informa¸ca ˜o digital: CDS, DVDS, cˆ ameras digitais, PCS. . . Tudo isso ´e 0’s e 1’s, e esta ´e a nossa imagem do mundo! Vocˆe combina apenas 0’s e 1’s e vocˆe consegue tudo. [. . .] A despeito da cr´ıtica de Laplace, a vis˜ ao de Leibniz, pela qual o mundo ´e criado a partir dos 0’s e 1’s, recusa-se a sair de cena. De fato, ela come¸cou a inspirar alguns f´ısicos contemporˆ aneos, que provavelmente nunca ouviram falar de Leibniz. (Gregory Chaitin/Metamat!/pp. 99-101)

Ser N˜ao-Ser ´ como se a teologia (cosmologia) cl´assica quisesse explicar (ou produzir) E o universo hodierno da inform´ atica utilizando apenas o bit 0 (“o ser”), ´e simplesmente imposs´ıvel! − Veja p´ agina 4.

168


Nota: Para mais detalhes sobre a “Teologia Quˆ antica” − ´e a que leva em conta o n˜ ao-ser (“1”) − consulte nosso livro que encontra-se na p´ agina 17.

A manifesta¸c˜ ao do Absoluto

Existe uma cita¸c˜ ao de um mestre oriental que desde a primeira vez que a li me veio a intui¸c˜ ao (sentimento) de que a mesma encerra uma alta densidade de ensinamentos (n˜ ao triviais). Ei-la: Ao centro da consciˆencia n˜ ao pode ser dado nome nem forma, porque ele ´e sem qualidade e al´em da consciˆencia. Vocˆe pode dizer que ele ´e um ponto na consciˆencia, o qual est´ a alem da consciˆencia. Como um buraco no papel est´ a em ambos no papel e ao mesmo tempo n˜ ao no papel, assim ´e o supremo estado, no pr´ oprio centro da consciˆencia, e ainda assim al´em da consciˆencia. Ele ´e como uma abertura na mente atrav´es da qual ela ´e inundada de luz. A abertura n˜ ao ´e nem mesmo a ´ somente uma abertura. Do ponto de vista da mente ela ´e nada luz. E mais que uma abertura para a luz da consciˆencia entrar no espa¸co do mental. Por si mesma a luz pode somente ser comparada a uma s´ olida, densa, p´etrea, homogˆenea e imut´ avel massa de puro estado de alerta, livre dos padr˜ oes mentais de nome e forma. O supremo d´ a existˆencia a ` mente. A mente d´ a existˆencia ao corpo. (Livro: Eu Sou Aquilo/Sri Nisargadatta Maharaj)

Vejamos se uma analogia ajuda a entender “Como um buraco no papel est´ a em ambos no papel e ao mesmo tempo n˜ ao no papel ”, 0

p

0,1

p

0,2

p

0,3

p

0,4

p

0,5

Ser (consciˆencia)

p

0,6

p

0,7

p

0,8

p

1

0,9

buraco no papel

´ este buraco (ausˆencia), o centro da Consciˆencia, o respons´ E avel pela existˆencia do universo quˆantico, o qual ´e uma met´ afora para o nosso universo. Para finalizar, veja bem, n˜ ao estamos a “teorizar”, a fazer elucubra¸c˜oes sem contato com a “realidade”, o estado de n˜ ao-ser (o “buraquinho”) pode ser experienciado por qualquer um − Veja p´ agina 161. Aqui temos, de uma outra perspectiva, uma explica¸c˜ ao para a “imanˆencia e transcendˆencia”, isto ´e, a Consciˆencia − o buraquinho, o Nada, o Vazio, o Absoluto − est´ a e, ao mesmo tempo, n˜ ao est´ a em nosso Universo, mas ´e respons´ avel por ele. Voltamos a reiterar, este buraquinho (“o n˜ ao-ser”), esta Consciˆencia (Vazio, Nada) ´e que deve ser incluido(a) nas equa¸c˜oes dos estudiosos da Consciˆencia para que eles as consigam resolver. Similarmente, este ´e o “Nada” que falta aos materialistas e ateus para que eles possam encon´ reitero, trar um pouco mais de harmonia (racionalidade) no Universo. E, como se eles tentassem explicar (ou construir) o universo da inform´ atica apenas com o bit 0 (“o ser”, mat´eria). Neste particular, assemelham-se aos religiosos. Este ´e o denominador comum entre ambos. 169


Que o homem da Idade M´edia comprasse um lote no para´ıso∗, isto ´e perdo´avel − tendo em conta a “mentalidade da Idade M´edia”−, no entanto, que o “homem hodierno” ainda o fa¸ca . . . isto me cheira a estupidez. Alguns v´ıdeos que achei interessante e deixo como sugest˜ao, a quem interessar possa. 1) OSHO - Os ‘Santos’ modernos e suas categorias (para rir) https://www.youtube.com/watch?v=PrVPeeiGFtA 2) Como parar de pensar https://www.youtube.com/watch?v=5DtEvm9vky4 3) OSHO − Unicidade, a d´ adiva da existˆencia https://www.youtube.com/watch?v=ODZhYg5Ancs&t=307s 4) Resposta para quem ´e esse ‘eu’ na pergunta “Quem sou eu?” https://www.youtube.com/watch?v=taaPZDXy9Jc (Este-s´ o a experiˆencia-VAZIO-ZERO)

5) A vida n˜ ao tem um objetivo, n˜ ao tem um prop´osito! Legendado PT-BR https://www.youtube.com/watch?v=cVfvki-aWSg (Toda a identidade evapora, isto ´e ilumina¸ca˜o)

6) Osho Por que eu existo? https://www.youtube.com/watch?v=4IyUn3ZUpB4 ´Idem (mais enf´atico-convincente)

- Deus n˜ ao ´e o criador do mundo (o mundo n˜ ao foi criado), n˜ ao existe criador, Deus ´e a pr´ opria energia criativa: (Os Budas sabem mas n˜ ao conseguem dizer, os idiotas n˜ ao sabem e seguem falando. . . ) 7) OSHO Ego, o falso centro https://www.youtube.com/watch?v=6gX0CXGZrf4&t=47s ∗

Corretores: papa e seus vassalos, os padres.

170


Cap´ıtulo

6

A equa¸c˜ao que confundiu a mente dos mais brilhantes matem´aticos por s´eculos: (−1) · (−1) = 1 Que o meu pensamento quis aproximarse dos problemas do esp´ırito pela via de uma diversa experimenta¸c˜ao de car´ ater abstrato, especulativo, resultante das conclus˜oes de processos l´ ogicos da mais moderna f´ısico-matem´atica. (Pietro Ubaldi)

Introdu¸ c˜ ao: Hoje (02.11.2017) decidi acrescentar mais este cap´ıtulo a este livro. Nosso objetivo neste cap´ıtulo ´e mostrar como a matem´ atica pode − mais uma vez − contribuir com o conjunto desta obra. Iremos nos esfor¸car para manter nossa exposi¸c˜ ao num n´ıvel compreens´ıvel ao leigo em matem´ atica, diremos que para acompanhar o essencial dos nossos argumentos ´e necess´aria apenas a matem´ atica do Ensino Fundamental, n˜ ao mais que isto. Pois bem, inicialmente apresentamos ao leitor os dois primeiros conjuntos na matem´ atica, os n´ umeros naturais N = { 0, 1, 2, 3, . . . } e os n´ umeros inteiros (n´ umeros relativos): Z = { . . . , −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, . . . } onde aparecem os n´ umeros negativos. 171


Inicialmente, a maioria das cita¸c˜oes subsequentes foram retiradas das seguintes fontes

− A regra dos sinais: alguns elementos importantes do seu contexto hist´ orico Selma Felisbino Hillesheim M´ericles Thadeu Moretti

´ ´ − OBSTACULOS SUPERADOS PELOS MATEMATICOS NO PASSADO ˆ E VIVENCIADOS PELOS ALUNOS NA ATUALIDADE: A POLEMICA ˜ ´ MULTIPLICAC ¸ AO DE NUMEROS INTEIROS M´ercia de Oliveira Pontes

˜ DOS NUMEROS ´ − A DIF´ICIL ACEITAC ¸ AO NEGATIVOS: UM ESTUDO ´ DA TEORIA DOS NUMEROS DE PETER BARLOW (1776 - 1862) Marta Figueredo dos Anjos

Pois bem, como professor de matem´ atica, algo que me deixou deveras embasbacado foi o tempo transcorrido (ou necess´ario) at´e os matem´ aticos comprenderem os n´ umeros negativos, isto ´e, n´ umeros do conjunto Z = { . . . , −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, . . . } O tempo a que me refiro foram, nada mais nada menos, que

1500

anos!

...

pasm´em!

Isto mesmo, para que estes n´ umeros adquirissem legitimidade (unanimidade, aceita¸c˜ ao) matem´ atica foram necess´arios 15 s´eculos!. A plena aceita¸c˜ ao destes n´ umeros deu-se somente no j´a avan¸cado s´eculo XIX. Foi precisamente a possibilidade de dar diversas interpreta¸co ˜es aos n´ umeros negativos que fez com que eles fossem aceitos aos poucos na coletividade matem´ atica. Por´em, desde seu aparecimento, esses n´ umeros suscitaram d´ uvidas quanto ` a sua legitimidade. Em 1543 Stieffel ainda os chamava de n´ umeros absurdos, e Cardano, contemporˆ aneo de Stieffel, denominava-os solu¸co ˜es falsas de uma equa¸ca ˜o. Descartes (1596 -1650) chamava de falsas as ra´ızes negativas de uma equa¸c˜ ao; Viete (1540 -1603) era mais radical: simplesmente rejeitava os negativos − bem como Jean Le Rond D’Alembert (1717-1783). 172


A pergunta que n˜ ao quer calar ´e esta: por que isto aonteceu? A resposta ´e simples: os matem´ aticos deste per´ıodo viam os n´ umeros como quantidades, sendo assim como conceber uma quantidade negativa?, como conceber algo que fosse “menos que nada”?. Um dos maiores gˆenios da matem´ atica foi o su´ı¸co Leonhard Euler (1707-1783): Euler n˜ ao consegue estabelecer uma ideia para a forma¸ca ˜o do conceito de n´ umero negativo, nem muito menos concebˆe-los como sendo quantidades menores que zero. Ademais Os matem´ aticos tˆem dificuldade de aceitar os n´ umeros negativos como ra´ızes [de equa¸co ˜es], pois n˜ ao conseguem conceber a existˆencia de uma quantidade que ´e menor que nada, mesmo conhecendo as regras dos sinais. No pref´ acio deste livro escrevemos: “Muitas quest˜ oes filos´ oficas na f´ısica e na matem´ atica foram debeladas por uma simples mudan¸ca de perspectiva, isto ´e, a partir do momento em que algu´em decidiu olhar a mesma quest˜ao a partir de um novo ˆangulo”. Daqui a pouco veremos como isto se encaixa perfeitamente na quest˜ao dos n´ umeros negativos; ademais, veremos como relacionar tudo isto ao contexto da TROE.

Regra de sinais Antes lembramos as “regras de sinais” estudadas no ensino fundamental:

173


Vamos nos concentrar em um caso particular e “simples” destas regras, qual seja, este:

(−1) · (−1) = 1 N˜ao se trata de nenhum exagero afirmar que esta “simples” equa¸c˜ao confundiu a mente de eminentes matem´ aticos, at´e o s´eculo XIX, ou ainda, durante mais de 1500 anos! pasm´em! − Dentre estes matem´ aticos incluimos: − Leonhard Euler (1707-1783):

− Johann Carl Friedrich Gauss (1777-1855): − Ren´e Descartes (1596-1650):

− Pierre Simon Laplace (1749-1827)

− Pierre Fermat (1601-1665)

− Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1716)

− Isaac Newton (1643-1727)

Apenas para citar alguns dos mais eminentes.

Um momento!: processar s´ımbolos n˜ ao ´ e o mesmo que processar significado Veja bem, o fato de que eventualmente um aluno do ensino fundamental saiba que (−1) · (−1) = 1 isto n˜ ao significa que ele compreenda o porquˆe deste produto. Dizemos que ele foi apenas programado para isto, tipo: “o inimigo do meu inimigo ´e meu amigo”, etc.

Uma “simples” calculadora como a HP Prime tamb´em “sabe” que (−1)·(−1) = 1, perguntamos, ela entende isto?. De igual modo a grande maioria de estudantes foi apenas programada para lidar com a matem´ atica, a efetiva compreens˜ ao n˜ ao ´e maior que a da calculadora.

Sugest˜ ao: O v´ıdeo Hist´oria da Matem´atica para Professores 16 - N´ umeros negativos e Complexos https://www.youtube.com/watch?v=xjG2Z5XgS4o exibe uma tosca tentativa de provar que (−1) · (−1) = 1, efetuada pelo matem´ atico Jean-Robert Argand (1768—1822). 174


Dentre as in´ umeras tentativas de se provar as regras de sinais e, em particular que, (−1) · (−1) = 1, vamos reproduzir apenas uma: − Euler:

(Da referˆencia Selma Felisbino)

1. A multiplica¸c˜ ao de uma d´ıvida por um n´ umero positivo n˜ ao oferece dificulade: trˆes d´ıvidas de “a escudos” fazem uma d´ıvida de “3 a escudos”. Ent˜ ao b × (−a) = −ab. 2. Pela comutatividade, Euler deduz que (−a) × b = −ab. ´ claro, 3. Resta determinar o que ´e o produto (−a) pelo (−b). E diz Euler, que o valor absoluto ´e ab. Se trata ent˜ao de se decidir entre +ab e −ab. Mas como (−a) × b vale −ab, n˜ ao resta mais como u ´nica possibilidade que (−a) × (−b) = +ab (!!!) (Euler, apud GLAESER, 1981, P. 319) A referˆencia citada continua: O malabarismo apresentado por Euler para justificar a regra de sinais demonstra que ele n˜ ao tinha ainda conhecimentos suficientes para esclarecer convincentemente os pontos obscuros apresentados pelas regras de sinais. Na mesma obra, segundo Glaeser (1981), Euler concebe o n´ umero negativo como sendo uma letra precedida com o sinal − (menos). Euler n˜ ao consegue estabelecer uma ideia para a forma¸ca ˜o do conceito de n´ umero negativo, nem muito menos concebˆe-los como sendo quantidades menores que zero. Atualmente esta “prova” de Euler ´e vista como tosca, infantil e primitiva. Com efeito, na prova acima vamos fechar os olhos para o ´ıtem 1. e vamos apontar a falha nos ´ıtens 2. e 3.; no ´ıtem 2. a falha est´ a em que embora n˜ ao se sabe o que ´e um n´ umero inteiro, n˜ ao se sabe como operar com eles, no entanto, Euler usa a propriedade comutativa; sem ter provado que esta opera¸c˜ao se estende a um conjunto desconhecido, reiteramos. No ´ıtem 3. a falha est´ a em “Mas como (−a) × b vale −ab, n˜ ao resta mais como u ´nica possibilidade que (−a) × (−b) = +ab”. N˜ao, n˜ ao ´e isto, mesmo admitindo (−a) × b = −ab ainda assim poderia ser (−a) × (−b) = −ab por que n˜ ao?; afinal trata-se de um conjunto, e de opera¸c˜oes, at´e ent˜ao desconhecidos.

175


6.1

Como se resolveu um impasse de 1500 anos?

Depois de 15 s´eculos de lutas ingl´ orias na tentativa de se compreender os n´ umeros negativos e, em particular, as regras de sinais e, em particular (−1) · (−1) = 1, a quest˜ao come¸cou a se iluminar pela contribui¸c˜ao majorit´ aria de dois matem´ aticos Hermann Hankel (1839-1873) e George Peacock (1791-1858), veja: (Da referˆencia Selma Felisbino) No per´ıodo compreendido entre Diofanto e Hankel, muitos matem´ aticos se propuseram a construir uma demonstra¸c˜ao para a regra de sinais pautada em exemplos pr´ aticos. Por´em, Hankel em 1867, demonstra que a u ´nica das regras poss´ıveis ´e aquela que preserva a distributividade `a esquerda e `a direita, isso porque ele aborda a ideia de n´ umero relativo numa outra dimens˜ao, que n˜ ao aquela ∗ procurada na natureza. Hankel apud Glaeser (1981, p. 338), diferentemente de Laplace, que acreditava na existˆencia de uma explica¸c˜ ao para a multiplica¸c˜ao dos relativos na natureza, aborda a quest˜ ao numa outra dimens˜ao, os n´ umeros n˜ ao s˜ ao descobertos, s˜ ao imaginados e a regra de sinais ´e pura inven¸c˜ao da mente humana, uma conven¸c˜ ao. Observem a fundamental mudan¸ca de perspectiva: “Os n´ umeros n˜ ao s˜ ao descobertos − como acreditava Laplace, e muitos outros −, s˜ ao inven¸c˜oes humanas”. Deixaremos os (decisivos e concludentes) argumentos de Peacock para um apˆendice (p. 188) − por envolver uma l´ogica um pouco mais “sofisticada”. A procura por um bom modelo que explicasse a multiplica¸ca ˜o − × − = + s´ o se resolve quando a matem´ atica acadˆemica assume que n˜ ao h´ a significado na natureza que explique esse produto.

Jean Le Rond D’Alembert (1717-1783), um dos principais matem´ aticos desse per´ıodo, assume uma postura de combate aos n´ umeros negativos. Segundo Glaeser (1981), em seu artigo N´egative para a Enciclop´edia de Diderot, arqumenta que se um problema produz uma solu¸ca ˜o negativa, indica que algum erro foi cometido na hip´ otese e, portanto, o n´ umero positivo, oposto ao negativo obtido, ´e a solu¸ca ˜o desejada. (Referˆencia, M´ercia) ∗

HANKEL, H. Th´ eorie des complexen Zahlsysteme. Leipzig: Leopold Voss, 1867.

176


E o que tudo isto tem a ver com a TROE ? A fus˜ao entre f´e e ciˆencia, t˜ao auspiciada, j´a se completou em meu esp´ırito: vis˜ao u ´nica na substˆancia e de uma a outra eu passo unicamente por uma mudan¸ca de perspectiva visual ou de focaliza¸c˜ao de meus centros ps´ıquicos. (Pietro Ubaldi)

A conex˜ao que farei entre o epis´ odio dos n´ umeros negativos e o conte´ udo da TROE se deve n˜ ao apenas ao que aqui foi descrito como, ademais, pelo fato de que j´a escrevi dois livros tratando do tema n´ umeros, quais sejam: “Fundamentos dos n´ umeros (Tudo o que vocˆe gostaria de saber sobre os n´ umeros mas n˜ ao tinha a quem perguntar)” e “N´ umeros hipercomplexos3D”. A existˆencia dos n´ umeros∗ , n˜ ao apenas dos inteiros negativos como dos pr´ oprios naturais (e dos demais) Z = { . . . , −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, . . . } N = { 0, 1, 2, 3, . . . }

s´ o ´e poss´ıvel atrav´es de um postulado − um ou mais postulados −. Postulado, esta ´e uma palavra familiar ao leitor?. Esta nossa assertiva ficar´ a mais evidente ainda quando expusermos o argumento de Peacock, no apˆendice, p. 188. Lembramos, mais uma vez, do postulado basilar da TROE:

“Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´ e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, independentemente dos meios pelos quais seja conhecido. Objetos percebidos, ou entidades observ´ aveis, existem em rela¸ c˜ ao ` as faculdades sensoriais ou sistemas de medi¸ c˜ ao pelos quais s˜ ao detectados − n˜ ao de modo independente no mundo objetivo.” Este ´e, precisamente, o caso dos n´ umeros na matem´ atica. Observem, somente a quest˜ ao dos n´ umeros negativos − estamos deixando de fora outros n´ umeros, como os complexos, por exemplo − confundiu a mente dos ∗ Estamos nos referindo a ` legitimidade dos n´ umeros, sua aceita¸c˜ ao por todos os matem´ aticos, estamos falando de consenso, de l´ ogica, de estrutura.

177


maiores matem´ aticos do mundo, at´e o s´eculo XIX, reiteramos; e s´ o foi decidida via postulacional; ora, mas ´e precisamente isto que estamos defendendo com respeito ` a quest˜ ao da existˆencia de Deus. Esta quest˜ ao, que vem sendo discutida h´ a milhares de anos por te´ologos, cientistas e fil´ osofos, n˜ ao poder´ a ser decidida a n˜ ao ser pela via postulacional, como o fizemos no presente livro. Uma outra quest˜ ao oportuna a ser pontuada ´e a de que, embora os n´ umeros negativos tenham sido utilizados desde a antiguidade, somente no s´eculo XIX ´e que eles adquiriram plena cidadania matem´ atica, legitimidade matem´ atica. Somente ap´ os v´arios s´eculos de debates e incompreens˜ oes ´e que os n´ umeros negativos foram enquadrados em uma estrutura te´orica coerente e que pudesse ser aceita por todos os matem´ aticos e cientistas. Os homens da antiguidade estavam satisfeitos apenas em satisfazer suas necessidades imediatas, em sua maioria mercantilistas. Ora, com a quest˜ ao Deus ocorre ∗ algo semelhante, os homens da antiguidade estavam preocupados apenas em utilizar Deus em suas “transa¸c˜oes mercantilistas”, n˜ ao estavam preocupados em construir um sistema teol´ogico te´orico que pudesse ser aceito por indiv´ıduos que raciocinam; n˜ ao, at´e hoje suas teologias se fundamentam em prˆemios e castigos, se resume em: “se obedeceres as ‘leis de Deus’ vais para o para´ıso, caso contr´ ario, vais para o inferno”. N˜ao ´e de admirar que pessoas sensatas e inteligentes − que n˜ ao tˆem medo de raciocinar − ignorem tais teologias e Deuses. [. . . ] a opini˜ ao pensa mal; n˜ ao pensa: traduz necessidades em conhecimentos. Ao designar os objetos pela utilidade, ele se impede de conhecˆe-los. N˜ ao se pode basear nada na opini˜ ao: antes de tudo, ´e preciso destru´ı-la. Ela ´e o primeiro obst´ aculo a ser superado. [. . . ] O esp´ırito cient´ıfico pro´ıbe que tenhamos opini˜ ao sobre quest˜ oes que n˜ ao compreendemos, sobre quest˜ oes que n˜ ao sabemos formular com clareza. [. . . ] Para o esp´ırito cient´ıfico, todo conhecimento ´e resposta a uma pergunta. Se n˜ ao h´ a pergunta, n˜ ao pode haver conhecimento cient´ıfico. Nada ´e evidente. Nada ´e gratuito. Tudo ´e constru´ıdo. (Bachelard) Ao designar os objetos pela utilidade, ele se impede de conhecˆ e-los. Isto ´e, precisamente, o que acontece com o “Deus objeto” de padres, pastores e te´ ologos crist˜ aos!

hoje estes mesmos homens podem estar trajando palet´ o e gravata − escrevendo livros, proferindo conferˆencias e palestras −, mas a mente deles continua na antiguidade, para comprovar isto basta prestar aten¸c˜ ao nos cultos proferidos na igrejas, observem como eles est˜ ao imantados com os tempos dos antigos hebreus, Mois´es, Patriarcas, Profetas, etc.

178


Certa feita me perguntei por que certos homens, at´e cultos e inteligentes, pode-se dizer, preferem cerrar os olhos `as evidˆencias l´ogicas?. Apenas para citar um exemplo, a teologia (cosmologia) crist˜ a constiui-se em uma verdadeira peneira de furos, ´e toda esburacada, l´ogicamente falando. Certamente que existem te´ ologos crist˜ aos cultos e inteligentes, entretanto o que acontece? Bachelard tem a resposta: “Ao designar os objetos pela utilidade, ele se impede de conhecˆe-los.”. O caso do Dr Saxena (p. 146) ´e assaz representativo do que acontece no universo das religi˜ oes (e outros): Ele disse: “Eu n˜ ao posso publicar. Encontrei finalmente um tradutor − mas vocˆe ´e mais um examinador do que tradutor! Vou guardar a tradu¸ca ˜o, mas n˜ ao a posso publicar. Com as suas notas e os seus coment´ arios editoriais, minha reputa¸ca ˜o ficar´ a destru´ıda − mas concordo com vocˆe.” . ´ E uma quest˜ ao de “reputa¸c˜ ao” e sobrevivˆencia, ´e uma quest˜ao de ego. Por isto, ´e mais u ´til acreditar em Ad˜ao e Eva, ´e mais u ´til acreditar em um Deus que premia e castiga; sem a doen¸ca como um m´edico ir´ a sobreviver?; de fato, o Deus crist˜ ao ´e feito sob medida para que os abutres crist˜ aos (padres, te´ ologos, pastores, papas, etc.) se refestelem.

Um texto para reflex˜ ao Um monge jaina me procurou. Disse que fora um monge jaina durante trinta anos. “Hoje eu sei que escolhi um caminho que n˜ ao me serve, mas agora n˜ ao posso abandon´ a-lo porque, se o abandonar, o que farei? N˜ ao tenho instru¸ca ˜o. Fui iniciado no mosteiro quando ainda era uma crian¸ca. Estes trinta anos de vida mon´ astica tornaram-me totalmente dependente dos outros. N˜ ao posso fazer nada; n˜ ao posso fazer nenhum trabalho f´ısico. Eu sou t˜ ao respeitado! At´e mesmo pessoas importantes vˆem at´e mim e curvam suas cabe¸cas. Se eu deixar de ser monge − e sei que agora isso n˜ ao me serve − essas mesmas pessoas que hoje tocam os meus p´es, n˜ ao me empregar˜ ao nem mesmo como criado. Assim, o que posso fazer?” H´ a muito investimento. Todo o prest´ıgio, respeito, honra, est˜ ao agora em jogo. Ent˜ ao eu lhe disse: “Se vocˆe ´e realmente um buscador, jogue tudo isso fora. Seja um mendigo ou um louco, mas n˜ ao seja falso. Se vocˆe sabe que esse caminho n˜ ao lhe serve, ent˜ ao abandone tudo aquilo que obteve atrav´es dele. N˜ ao seja falso, n˜ ao seja inautˆentico.” Ele disse: “Pensarei a respeito. Mas acho dif´ıcil.” H´ a trˆes anos ele vem pensando a respeito. N˜ ao me procurou mais. N˜ ao me procurar´ a. Ele ´e um seguidor, n˜ ao um buscador. Um buscador abandona tudo no instante em que percebe que algo n˜ ao lhe serve. N˜ ao h´ a hesita¸ca ˜o. [. . .] Seja um buscador, n˜ ao um crente. (Osho/A Nova Alquimia, p. 47/Cultrix)

179


6.2

A ambiguidade do zero

A retrospectiva hist´ orica apresentada leva ` a ratifica¸ca ˜o da afirmtiva, presente na literatura, de que o processo de constru¸ca ˜o do conceito de n´ umeros relativos acontece de forma lenta e incerta no decorrer de mais de 1500 anos.

Os matem´ aticos tˆem dificuldade de aceitar os n´ umeros negativos como ra´ızes [de equa¸co ˜es], pois n˜ ao conseguem conceber a existˆencia de uma quantidade que ´e menor do que nada, mesmo conhecendo as regras dos sinais.

Na obra da M´ercia s˜ ao citados seis obst´ aculos que os matem´ aticos tiveram que superar at´e chegarem a compreender o conceito de n´ umero negativo. Trataremos aqui de um deles: “a ambiguidade do zero”. A ambiguidade do zero, o quarto obst´ aculo, coloca em confronto os dois significados do zero: por um lado concebido como zero absoluto, abaixo do qual nada ´e admitido, tornando absurdo, por esse ponto de vista, o conceito de n´ umeros negativos; e, por outro, a ideia do zero origem, proposto por conven¸ca ˜o, ou seja, marcado de modo arbitr´ ario sobre um eixo, o que proporciona a existˆencia dos n´ umeros negativos. (Referˆencia, M´ercia)

...

−4 p

−3 p

−2 p

−1 p

0p

1p

2p

3p

4p

...

Z

Zero origem

Na matem´ atica todos os n´ umeros podem se originar do vazio

∅ → N → Z → Q → R → C como toda a matem´ atica est´ a alicer¸cada nos n´ umeros, podemos concluir que toda a matem´ atica se origina do Vazio. Ora, se os matem´ aticos demoraram mais de 1500 anos para comprenderem os n´ umeros negativos, por conta de uma falsa concep¸c˜ao a respeito do zero, n˜ ao deveremos nos admirar se os te´ologos levarem mais 1500 anos para compreenderem o Absoluto, por conta de uma confus˜ ao a respeito do Vazio. Parafraseando a cita¸c˜ao acima:

180


A ambiguidade do Vazio, o primeiro obst´ aculo, coloca em confronto os dois significados do Vazio: por um lado concebido como Vazio absoluto, do qual nada pode emergir, tornando absurdo, por esse ponto de vista, a existˆencia do Universo; e, por outro, a ideia do Vazio de acordo com a f´ısica quˆ antica: Tomemos ent˜ ao um espa¸co sem mat´eria, “vazio”. A f´ısica quˆ antica mostra que, mesmo neste caso, flutua¸co ˜es de energia existem. O nada tem uma energia associada. Sendo assim, part´ıculas podem surgir dessas flutua¸co ˜es, mat´eria brotando do nada. Em 1948, H. Casimir, um f´ısico holandˆes, propˆ os que as flutua¸co ˜es do v´ acuo provocariam uma for¸ca atrativa entre duas placas met´ alicas. O efeito foi confirmado: por incr´ıvel que pare¸ca, a energia do nada foi medida re´ sempre bom lembrar que o vazio est´ centemente no laborat´ orio. E a cheio de energia. (Marcelo Gleiser/F´ısico) Vejamos a concep¸c˜ ao do Nada, e do Vazio, por um matem´ atico: Contudo, esse Nada absoluto tem propriedades not´ aveis na medida em que a totalidade do nosso universo actual j´ a se encontra nele em germe; com efeito, ele representa a totalidade das possibilidades.

Ψ

Por oportuno, o matem´ atico italiano Giuseppe Peano (1858-1932) − em sua “teoria dos n´ umeros”− foi muito mais prudente a respeito do zero, preferiu n˜ ao dizer o que o zero ´e, isto ´e, tomou-o como um conceito primitivo. Ademais, queremos fazer um link do tema em pauta com o ´ıtem 3.4, A lei de Deus, l´ a exibimos o pronunciamento de um f´ısico dando conta de que Na F´ısica moderna, uma atitude muito diferente veio ` a tona. Os f´ısicos, hoje em dia, apercebem-se do fato de que todas as suas teorias dos fenˆ omenos naturais − inclusive as “leis” que descrevem − s˜ ao cria¸co ˜es da mente humana; s˜ ao propriedades do nosso mapa conceitual da realidade, e n˜ ao propriedades da pr´ opria realidade. (Capra/T.F., p. 214) ora, na matem´ atica aconteceu o mesmo; muitos matem´ aticos de renome, dentre eles Laplace, acreditavam que a igualdade

(−1) · (−1) = 1 fosse uma “lei da Natureza”, veja: 181


Hankel, diferentemente de Laplace, que acreditava na existˆencia de uma explica¸c˜ao para a multiplica¸c˜ao dos relativos na natureza, aborda a quest˜ao numa outra dimens˜ao, os n´ umeros n˜ ao s˜ ao descobertos, s˜ ao imaginados e a regra de sinais ´e pura inven¸c˜ao da mente humana, uma conven¸c˜ao. foi preciso o gˆenio de um Hankel e de um Peacock (p. 188) para perceber que esta “lei”: (−1) · (−1) = 1, n˜ ao passa de uma conven¸c˜ao humana. A procura por um bom modelo que explicasse a multiplica¸ca ˜o − × − = + s´ o se resolve quando a matem´ atica acadˆemica assume que n˜ ao h´ a significado na natureza que explique esse produto. ` p´ A agina 98 haviamos escrito: “A diferen¸ca entre estas perspectivas − realidade ‘l´ a fora’ × realidade construida − ´e deveras auspiciosa para a humanidade, passa por um dos bens mais preciosos: a pr´ opria liberdade humana.” Aqui temos mais uma aplica¸c˜ao desta perspectiva − corroborada pela matem´ atica −: Muitas quest˜oes relevantes e decisivas nas ciˆencias s´ o podem ser resolvidas desta perspectiva. Foi precisamente esta perspectiva, reiteramos, que possibilitou ao homem resolver uma incompreens˜ ao de milˆenios no que diz respeito n˜ ao somente aos n´ umeros negativos, como os demais n´ umeros na matem´ atica. Vejamos mais um exemplo, um famoso matem´ atico alem˜ ao, Leopold Kronecker (1823 - 1891), certa feita sentenciou: “Deus criou os n´ umeros naturais; todo o resto ´e obra dos homens”. N = { 0, 1, 2, 3, . . . } hoje sabemos quem criou os n´ umeros naturais, n˜ ao foi Deus, foi o matem´ atico italiano Giuseppe Peano (1858 – 1932) com o aux´ılio de alguns postulados. Deixamos um pensamento de extrema relevˆancia (dentro da TROE) para a reflex˜ ao do leitor. O Absoluto cont´em todo o experienci´ avel. Mas sem o experimentador eles s˜ ao como nada. Aquilo que faz a experiˆencia poss´ıvel ´e o Absoluto. Aquilo que a faz atual ´e o Ser. (Sri Nisargadatta Maharaj) 182


6.3

´ necess´ E aria uma mudan¸ca de perspectiva

Na minha juventude um autor que eu lia bastante era Pietro Ubaldi. Ontem (07.11.2017) decidi ler um pouco do livro CRISTO para analis´ a-lo da minha perspectiva atual, isto ´e, do alto dos meus 57 anos, hoje com um senso l´ ogico-matem´ atico bem mais apurado que outrora. N˜ao me foi dif´ıcil detectar muitas inconsistˆencias (contradi¸c˜oes) na exposi¸c˜ao do “Sistema” de Ubaldi; hoje em dia para mim n˜ ao ´e dif´ıcil admitir e encontrar falhas em um pensador da estatura do senhor Ubaldi. Ora, se isto − falhas, inconsistˆencias − ocorreu com os mais eminentes matem´ aticos, no que diz respeito ` a compreens˜ ao dos n´ umeros negativos, lembramos: − Leonhard Euler (1707-1783):

− Johann Carl Friedrich Gauss (1777-1855): − Ren´e Descartes (1596-1650):

− Pierre Simon Laplace (1749-1827) − Pierre Fermat (1601-1665)

− Gottfried Wilhelm von Leibniz (1646-1716) − Isaac Newton (1643-1727)

quem poderia ficar de fora?. Lembramos do postulado de Nagarjuna (p. 78):

Se eu tivesse qualquer posi¸ca ˜o te´ orica, ent˜ ao eu teria problemas; mas j´ a que n˜ ao tenho qualquer posi¸ca ˜o te´ orica, ent˜ ao n˜ ao tenho qualquer problema. Ent˜ ao ´e isto caro Mestre Ubaldi. S´ o existe uma solu¸c˜ ao, uma sa´ıda para a senten¸ca (“maldi¸c˜ao”) de Nagarjuna: via postulado. Lembramos que um impasse que durou 1500 anos na matem´ atica

(−1) · (−1) = 1 ???

s´ o foi resolvido atrav´es de um postulado, mais precisamente: “a multiplica¸ca ˜o nos inteiros deve ser distributiva”. De igual modo, as quest˜oes fundamentais da humanidade tais como: Deus, atributos divinos, vida ap´ os a morte, alma, esp´ırito, reencarna¸c˜ao, etc., s´ o poder˜ ao ser decididas via postulacional; no entanto, n˜ ao para todos mas somente para aquele grupo que aderir ao postulado, ´e esta a via. A bem da verdade isto j´a acontece, por exemplo, um postulado crist˜ ao ´e: “A B´ıblia ´e a Palavra de Deus ”. E muitas quest˜oes se decidem por conta deste postulado − para aqueles que aderem ´ por isto que a maior parte dos debates a este postulado, reiteramos. E teol´ogicos e filos´ oficos s˜ ao inconclusivos, quando n˜ ao, enfadonhos: os debatedores est˜ ao fundamentados em postulados distintos, ou contradit´ orios. 183


6.3.1

Onde encontra-se o erro capital dos pensadores?

Fundamentados no postulado da TROE diremos onde os mais eminentes pensadores − filos´ ofos, te´ologos, cientistas, pesquisadores, etc. − est˜ ao se equivocando quanto a`s quest˜oes fundamentais da “existˆencia humana”. Observe, reflita: “Tudo o que apreendemos, seja perceptiva ou conceitualmente, ´ e desprovido de natureza inerente pr´ opria, ou identidade, independentemente dos meios pelos quais seja conhecido. Objetos percebidos, ou entidades observ´ aveis, existem em rela¸ c˜ ao ` as faculdades sensoriais ou sistemas de medi¸ c˜ ao pelos quais s˜ ao detectados − n˜ ao de modo independente no mundo objetivo.” ao se equivocando ´e precisamente nisto: Onde os egos (identidades) est˜

Achar que eles existem Reiteramos: eminentes fil´ osos, eminentes te´ologos, eminentes doutores, eminentes pensadores est˜ ao se equivocando precisamente neste ponto: seus sistemas est˜ ao partindo de uma falsa premissa:

A de que o homem existe Um corol´ ario imediato e elementar ´e: se o homem n˜ ao existe ent˜ao ele n˜ ao precisa ser “salvo”, e, com isto, cai por terra todas as cosmologias religiosas. Talvez seja oportuno mencionar aqui que os postulados da matem´ atica, ou da f´ısica, n˜ ao s˜ ao escolhidos arbitrariamente, como poderia parecer aos mais desavisados, eles s˜ ao frutos de anos e at´e s´eculos de experiˆencias acumuladas; ´e o caso dos postulados que criam os n´ umeros na matem´ atica, ´e o caso dos postulados que d˜ ao origem `as geometrias na matem´ atica. O postulado da TROE, enunciado acima, n˜ ao ´e resultado de nenhum capricho, ele parte da experiˆencia, de s´eculos de experiˆencias de meditadores, dentre os quais me incluo; minha ades˜ ao a este postulado na verdade n˜ ao est´ a fundamentada apenas em reflex˜oes intelectuais, mas, acima de tudo, em minha pr´ atica de medita¸c˜ ao. N˜ ao podes encontrar a verdade com a l´ ogica se n˜ ao j´ a a tens encontrado sem ela. (G.K. Chesterton/fil´osofo) As conclus˜oes enunciadas acima, e as da p´ agina seguinte, bem sabemos que n˜ ao s˜ ao alcan¸c´ aveis atrav´es da mente, do racioc´ınio discursivo, mas da experiˆencia, enfatizamos. 184


Concernente a isto deixaremos aqui alguns pontos para reflex˜oes: 1o )

− Mas, se vocˆe observar, se observar profundamente, ficar´a surpreso. Vocˆe n˜ao existe! N˜ao que vocˆe precise se dissolver! Simplesmente vocˆe n˜ao existe. Essa ´e apenas uma falsa no¸c˜ao que vocˆe tem carregado, a no¸c˜ao de que vocˆe existe. Alguns instantes de silˆencio e de repente vocˆe percebe que h´a um vazio dentro de vocˆe, um nada dentro de vocˆe. Buda chamou esse nada de anatta, n˜ao-ser, shunya, nada. − As ondas existem, mas n˜ao separadas do oceano. Da mesma ´ isso forma, n´os existimos: n˜ao separados do oceano da consciˆencia. E que Deus ´e. 2o ) Querendo impressionar o mestre, ele [Yamaoka] disse: “N˜ ao existe mente, n˜ ao existe corpo, n˜ ao existe buda. N˜ ao existe nem melhor nem pior. N˜ ao existe nenhum mestre, n˜ ao existe nenhum aluno. N˜ ao existe dar, n˜ ao existe receber. O que n´ os pensamos que vemos e sentimos n˜ ao ´e real. Nenhuma dessas coisas aparentes realmente existe.” ´ Esse ´e o mais elevado de todos os ensinamentos, a verdade suprema. E ´ a essˆencia de toda a tradi¸c˜ ao do Buda, que Buda disse que tudo ´e vazio. E disso que estamos falando quando eu converso sobre Sosan com vocˆe: tudo ´e vazio, tudo ´e simplesmente relativo, nada existe de modo absoluto. Essa ´e a mais elevada constata¸c˜ ao. (Sublime Vazio/Osho) 3o ) Para que a realidade seja, as ideias de ‘eu’ e ‘meu’ dever˜ ao desaparecer. Elas desaparecer˜ ao se vocˆe permitir. Ent˜ ao seu estado normal e natural reaparece; nele vocˆe n˜ ao ´e nem o corpo nem a mente, nem o ‘eu’ nem o ‘meu’, mas est´ a num estado totalmente diferente de ser. ´ a pura Consciˆencia de ser, sem ser isso ou aquilo, sem qualquer auE toidentifica¸ca ˜o com nada em particular ou em geral. Nesta pura luz da consciˆencia n˜ ao h´ a nada, nem sequer a ideia de nada. H´ a apenas luz. (Artigo ‘Eu’ e ‘Meu’ s˜ao Ideias Falsas (Sri Nisargadatta Maharaj))

4o ) Ele [Buda] chamou o supremo de nada, de vazio, suniata, zero. Ora, como o ego pode fazer do “zero” um objetivo? Deus pode ser transformado num objetivo, mas n˜ ao o zero. Quem quer ser um zero? Pois ´ e exatamente isso que tememos ser; todo mundo est´ a evitando todas as possibilidades de se tornar um zero, e Buda fez dele uma express˜ ao para o supremo! (Osho/Buda, p. 138/Cultrix) 185


6.3.2

Adendo: O efeito devastador de uma gaiola Que o meu pensamento quis aproximarse dos problemas do esp´ırito pela via de uma diversa experimenta¸c˜ao de car´ ater abstrato, especulativo, resultante das conclus˜oes de processos l´ogicos da mais moderna f´ısico-matem´atica. (Pietro Ubaldi)

A quest˜ ao ´e que a “moderna f´ısico-matem´atica” do Mestre Ubaldi se resumia ` a f´ısica cl´ assica: Esta Lei fixou as normas e constitui o impulso motor do funciona´ mento de nosso Universo, o AS dominado pelo S cujo centro ´e Deus E assim que na realidade fenomˆenica, em todas as suas dimens˜ oes e n´ıveis evolutivos, desde o mais baixo, a mat´eria, at´e o mais alto, o esp´ırito, constatamos que tudo ´e regulado por Leis inviol´ aveis, sem arb´ıtrios e exce¸co ˜es, pelas quais tudo ´e previs´ıvel e calcul´ avel. Uma vez compreendida a Lei de um fenˆ omeno podemos estar seguros que ele continuara a verificar-se na forma por ela estabelecida. (CRISTO/Publica¸ca˜o eletrˆ onica, p. 14)

E, mais grave ainda, o Mestre Ubaldi encontrava-se circunscrito `a gaiola crist˜ a: Convic¸co˜es s˜ao pris˜ oes, um esp´ırito que queira realizar belas obras, que tamb´em queira os meios necess´arios, tem de ser c´etico. Estar livre de toda forma de cren¸ca pertence `a for¸ca, ao poder de ver sem algemas. (Nietzsche)

- Dourada gaiola crist˜a

A ponto de ele n˜ ao d´ ar-se conta da contradi¸c˜ao: Em suas fases primitivas o homem n˜ ao podia adorar sen˜ ao a um Deus feito ` a sua imagem e semelhan¸ca, porque n˜ ao sabia conceber algo melhor. Atualmente, o Deus c´ osmico, que a ciˆencia nos deixa entrever, j´ a n˜ ao cabe dentro das velhas concep¸co ˜es religiosas. (Pietro Ubaldi) Ora, mas o Crito que o Mestre Ubaldi adorava − e seu pai Jav´e − ´e precisamente um Deus feito `a imagem e semelhan¸ca do homem. 186


Seus deuses n˜ ao podem ser diferentes de vocˆe. Quem os cria? Quem lhes determina o tamanho, a forma e a cor? Vocˆe os cria, vocˆe os esculpe; eles tˆem olhos como vocˆe, tˆem nariz como vocˆe − e tˆem uma mente, tal como vocˆe! O Deus do Antigo Testamento diz: − Eu sou um Deus cheio de ira! Se n˜ ao seguir meus mandamentos, eu destruirei vocˆe. Vocˆe ser´ a jogado no fogo do inferno pela eternidade. E como eu sou ciumento − Deus fala − n˜ ao v´ a prestar culto a mais ningu´em. N˜ ao vou tolerar isso. − Quem criou um Deus assim? S´ o pode ter sido a partir do seu pr´ oprio ci´ ume, da sua pr´ opria ira, que vocˆe criou essa imagem. ´ um eco seu e de mais ningu´em. Ela ´e proje¸ca ˜o sua, uma sombra sua. E E o mesmo acontece com todos os deuses de todas as religi˜ oes. (Osho) H´ a no mundo muitos pensamentos falsos, muitas supersti¸co ˜es insensatas, e ningu´em que estiver escravizado por eles poder´ a fazer progresso. Portanto, n˜ ao deves acolher um pensamento simplesmente porque muitas outras pessoas o acolhem, nem porque se tenha acreditado nele por s´eculos, nem porque esteja escrito em algum livro que os homens julguem ser sagrado; tu tens de pensar sobre a quest˜ ao por ti mesmo, e julgar por ti mesmo se ela ´e razo´ avel. Lembra-te que, embora um milhar de homens concorde sobre um assunto, se eles n˜ ao souberem nada sobre aquele assunto a sua opini˜ ao n˜ ao tem valor. Aquele que quiser trilhar a Senda tem de aprender a pensar por si mesmo, porque a supersti¸ca ˜o ´e um dos maiores males do mundo, um dos grilh˜ oes dos quais, por ti pr´ oprio, deves te libertar completamente. (Krishnamurti)

Do ponto de vista cognitivo, a evolu¸ca ˜o tamb´em avan¸ca no chamamento ou na cria¸ca ˜o de “sentido”, de significa¸ca ˜o, ou, em outras palavras, de novos conceitos e novas formas de inteligibilidade. Criar, portanto, n˜ ao ´e apenas produzir novas formas, mas sobretudo criar compreens˜ ao e entendimento. Novas figuras mentais, conceituais; novas formas e maneiras de existir, de expressar-se, de perceber e perceber-se, de sentir e de sentir-se. E como a evolu¸ca ˜o ´e um processo sem fim, diversas conquistas ser˜ ao atingidas e novas e mais profundas intensidades ser˜ ao alcan¸cadas. O prazer est´etico, sensual, sexual, amoroso e cognitivo s˜ ao formas do prazer e das experiˆencias almejadas com a cria¸ca ˜o. Muitas outras configura¸co ˜es que ainda n˜ ao conhecemos existem como possibilidade ou atualidade em algum lugar ou tempo. Com a dinˆ amica do processo criativo, h´ a sempre um enriquecimento de significados, bem como novas formas de sentir, de agir e de ser. A explora¸ca ˜o ´e incomensuravelmente aberta, em todas as esferas imagin´ aveis do sentir, do ser, do agir e do compreender. N˜ ao h´ a limites, ou melhor, o u ´nico limite ´e o medo, aquilo que denominamos de mal, porque vai contra, restringindo o impulso infinito e natural da expans˜ ao da vida divina para dentro e para fora de si mesma. (A Potˆencia do Nada, p. 178) 187


Apˆ endice: O Argumento decisivo de Peacock Como vimos anteriormente a equa¸c˜ao que confundiu a mente da elite matem´ atica por s´eculos a fio foi esta

(−1) · (−1) = 1 Como Peacock conduziu a quest˜ao? Incialmente veremos uma transcri¸c˜ao dos argumentos de Peacock e, em seguida, aditaremos nossos coment´arios. Para incluir os novos s´ımbolos −1, −2, −3, . . . em uma aritm´etica ampliada a qual englobe tanto os inteiros positivos como os negativos n´ os devemos, certamente, definir opera¸c˜oes com eles de um modo tal que as regras originais das opera¸c˜oes aritm´eticas sejam preservadas. Por exemplo, a regra (−1) · (−1) = 1 a qual estabelecemos para governar a multiplica¸c˜ao de inteiros negativos, ´e uma consequˆencia do nosso desejo de preservar a lei distributiva a · (b + c) = ab + ac. Pois se n´ os tiv´essemos estabelecido que (−1) · (−1) = −1, ent˜ao, fazendo a = −1, b = 1, c = −1, n´ os dever´ıamos ter tido −1 · (1 − 1) = −1 − 1 = −2, enquanto por outro lado n´ os realmente temos −1 · (−1 − 1) = 1 × 0 = 0. Levou muito tempo para que os matem´ aticos percebessem que a ‘regra dos sinais’, junto com todas as outras defini¸c˜oes governando os inteiros negativos e fra¸co˜es n˜ ao podem ser ‘provadas’. Elas s˜ ao criadas por n´ os com o objetivo de obter liberdade de opera¸c˜ao ao mesmo tempo que preservando as leis fundamentais da aritm´etica. O que pode − e deve − ser provado ´e apenas que com base nestas defini¸c˜oes as leis comutativa, associativa e distributiva da aritm´etica s˜ ao preservadas.” (Da referˆencia Selma Felisbino) Peacock est´ a se referindo a uma poss´ıvel amplia¸c˜ao do conjunto dos naturais no seguinte sentido N = { 0, 1, 2, 3, . . . } −→ Z = { . . . , −3, −2, −1, 0, 1, 2, 3, . . . } Observe que Peacock admite a possibilidade de que tenhamos

(−1) · (−1) = −1

se este fosse o caso vejamos no que daria, substituindo a = −1, b = 1, c = −1 em a · (b + c) = ab + ac, temos −1 · 1 + (−1) = −1 · 1 + (−1) · (−1) 188


Aqui supomos que j´a seja conhecido que −1 · 1 = −1, logo −1 · 1 + (−1) = −1 + (−1) = −2

Por outro lado, temos que

−1 · 1 + (−1) = −1 · 0 = 0

Numa an´ alise apressada poderiamos concluir que o argumento estabelece a seguinte contradi¸c˜ ao: 0 = −2 e que, portanto, a hip´ otese inicial (−1)·(−1) = −1 s´ o pode ser falsa, logo estaria provado que: (−1) · (−1) = 1. Na verdade n˜ ao ´e isto o que acontece† , o que na realidade foi provado ´e que Se a · (b + c) = ab + ac e (−1) · (−1) = −1 ent˜ao 0 = −2 O contrapositivo deste teorema ´e Se 0 6= −2 ent˜ ao ou a · (b + c) 6= ab + ac ou (−1) · (−1) 6= −1 Certamente 0 6= −2 mas n˜ ao temos como provar, ou como escolher entre a · (b + c) 6= ab + ac ou (−1) · (−1) 6= −1 ´ por isto que Peacock afirma: “Levou muito tempo para que os matem´ E aticos percebessem que a ‘regra dos sinais’, junto com todas as outras defini¸co ˜es governando os inteiros negativos e fra¸co ˜es n˜ ao podem ser ‘provadas’ ” . Esta ´e, precisamente, a raz˜ ao pela qual a equa¸c˜ao

(−1) · (−1) = 1

desafiou as melhores mentes matem´ aticas do mundo durante alguns s´eculos. Ademais, gostaria de chamar a aten¸c˜ao para uma outra afirma¸c˜ao importante de Peacock, qual seja esta: “Por exemplo, a regra (−1) · (−1) = 1 a qual estabelecemos para governar a multiplica¸ca ˜o de inteiros negativos, ´e uma consequˆencia do nosso desejo de preservar a lei distributiva a · (b + c) = ab + ac ”. Desejo, neste contexto, ´e sinˆ onimo de postulado, ou ainda: se a distributividade vale para os inteiros isto nada mais ´e que consequˆencia de ´ por estas, e por outras raz˜ um postulado. E oes, que toda a matem´ atica ´e postulacional; ou ainda, as “verdades” matem´ aticas n˜ ao s˜ ao absolutas, mas condicionais. Da mesma forma acontece com a f´ısica − que depende da matem´ atica −; sendo assim, pergunto: onde iremos encontrar verdades absolutas? Por acaso seria na teologia?! † Lembre-se que ` a ´epoca de Peacock os inteiros ainda n˜ ao existiam, isto ´e, n˜ ao possuiam legitimidade matem´ atica.

189


Esta p´ agina ficaria em branco, aproveito para complementar o contexto da p´ agina 121, no qual lemos: Com certeza, existem infinitas maneiras de acordar deste sono. Mesmo substˆ ancias como o peiote e a mescalina podem dar uma vaga no¸ca ˜o do aspecto ilus´ orio da “realidade”. No entanto, uma droga n˜ ao pode proporcionar um despertar pleno, simplesmente porque esse despertar ´e dependente de uma substˆ ancia externa e, quando acaba o efeito da mescalina, a experiˆencia acaba junto. Apenas para ressaltar que a afirmativa: “e, quando acaba o efeito . . . , a experiˆencia acaba junto.” ´e uma fal´acia, um sofisma. De fato, “toda experiˆencia acaba junto”; o leitor certamente j´a comeu uma banana; o leitor seria capaz de me descrever sua experiˆencia?. N˜ao, pois a “experiˆencia acaba junto”! Uma experiˆencia ´e, por natureza, indescrit´ıvel, intransfer´ıvel. Quando se faz sexo tamb´em “a experiˆencia acaba junto”. Tente uma mulher passar a experiˆencia de ter um filho a um homem. Nem ela consegue passar a experiˆencia e nem o homem entenderia pois “a experiˆencia acaba junto”. Estes pretensos e autodeclarados mestres querem nos fazer de trouxas!. A Consciˆencia − o estado de − n˜ ao reinvidica nada, se assim o fizesse n˜ ao seria Consciˆencia, mas ego.

Urge que avancemos, mesmo que para isto tenhamos que sacrificar postulados preexistentes.

´ da natureza da mente fincar postulados. E

Por falar em pol´ıtica, s´ o um idiota olharia para dentro de uma privada de merda e esperaria encontrar um tapuru limpo.

190


Referˆencias Bibliogr´aficas [1] Wallace, B. Alan. Dimens˜ oes escondidas: a unifica¸ca ˜o de f´ısica e consciˆencia; tradu¸c˜ ao de L´ ucia Brito. S˜ ao Paulo: Peir´ opolis, 2009. [2] O taumaturgo, Gentil. Espa¸cos M´etricos (com aplica¸co ˜es). Taguatinga DF: Editora Kiron, 2013. [3] Osho. Sublime Vazio. Editora Pensamento-Cultrix, 2014. [4] Osho. Buda: Sua vida e seus ensinamentos. Editora Pensamento-Cultrix, 2004. [5] Osho. Autobiografia de um M´ıstico Espiritualmente Incorreto. Editora Pensamento-Cultrix, 2000. [6] Galvez, Marcelo Malheiros. A Potˆencia do Nada: O Vazio Incondicionado e a Infinitude do Ser. Bras´ılia: Editora Teos´ ofica, 1999. [7] Quem somo n´ os? − A descoberta das infinitas possibilidades de alterar a realidade di´ aria. William Arntz, Betsy Chasse e Mark Vicente; tradu¸c˜ao de Doralice Lima. Rio de Janeiro: Prest´ıgio Editorial, 2007. [8] Medita¸ca ˜o-Osho − Este v´ıdeo em quatro minutos resume o essencial sobre Medita¸c˜ ao: https://www.youtube.com/watch?v=g-HKcURN1v0 [9] V´ıdeo: El Vacio y la No Mente https://www.youtube.com/watch?v=XtEkgTezB1k [10] V´ıdeo: Deus, a n˜ ao mente! https://www.youtube.com/watch?v=jOSeaCKOE2U [11] V´ıdeo: O Poder do Agora https://www.youtube.com/watch?v=LQqhO3ESOok [12] V´ıdeo: A Morte ´e uma Ilus˜ ao Criada pela Mente https://www.youtube.com/watch?v=fQ2wAewxkdQ

191


´Indice Remissivo

A A A A

bizarra adi¸c˜ ao de Einstein, 35 estrutura cognitiva, 38 lei de Deus, 83 Potˆencia do Nada Capa livro, 75 Existe para uma . . . , 56 Nada, contradit´ orias, 58 Nada, fonte de energia, 51 Realidade subatˆomica, 37 A¸cu ´car ´e doce, 118 Agostinho, Santo, 33 Amit Goswami Base da existˆencia, 53 Ant´ onio Dam´ asio, 103 Aprendizagem, teorias da, 92 Aurobindo, 155 Ayahuasca-Telesc´ opio, 126

Chuang Tzu, Nagarjuna, 125, 164, 165 Computa¸c˜ao em nuvem, 143 Conexo por caminhos, 27 Consciˆencia c´osmica, 129 Consciˆencia do V´acuo, 54, 116 Conscienciologia, 102 Contra¸c˜ao do espa¸co, 20 Criar e gerar, 77 Crit´erio BO, 114

Dalai-Lama, 123 Danah Zohar ´ tarefa de nossa ´epoca, 34 E Ondas no mar, 53 Desenhos Egos, 85, 109 Desonestos, 33 Deus crist˜ ao, Hindu, 50 Deus, espiritismo, 63 Bertrand Russell Argumento da causa primeira, 63 Diferen¸ca entre criar e gerar, 77 Dilata¸c˜ao do tempo, 19 Deus ´e respons´ avel, 93 Dimens˜ oes escondidas Bolyai, J´ anos, 97, 132 Capa livro, 161 C.G.Jung, 81 Carro de bombeiro, 57 C´ırculo de Mat´eria, 61 Consciˆencia do v´acuo, 54, 116 Campo Ak´ ashico, 129 mundos poss´ıveis, 50 Capa: A potˆencia do Nada, 75 DMT-Ayahuasca, 105 Capa: Dimens˜ oes Escondidas, 161 Capas, Gentil, 17, 30, 122 Eben Alexander III, 104 Capra Efeito Casimir, 53 Leis da Natureza, 86 Ego, transcender, 65, 152 Charles Peirce, 52 Egos Desenhos, 85, 109 Chinesa, matem´ atica, 45 Einstein 192


1 + 1 < 2, 35 Einstein × Tagore, 39 Einstein substituido, 50 Einstein, robˆ o, 41 Epicuro, 94 Epistemologia, o que ´e?, 67 Ervin Laszlo, 129 Escolas Matem´aticas, 78 Espectro eletromagn´etico, 138 Espinoza Deus n˜ ao faz escolha, 94 Deus n˜ ao tem personalidade, 94 Deus n˜ ao tem providˆencia, 94 Espiritismo Kardecista, 95 Estrutura cognitiva de referˆencia, 38 Experiˆencias, ayahuasca, 108

J´ o, 80 Jimena Navarrete, 40 Joaquim Canto, 44 John Wheeler, 50, 91 Kant, 49 Kardec, causa-efeito, 63 Ken Wilber Transcender o ego, 65, 152 Vida e morte, 65, 152 Lao Ts´e, 46, 54 Lei do Terceiro Exclu´ıdo, 72 Leonard Susskind, 48 Leopardo, 136, 165

M´emoria, C´erebro, 141 F´ısica Quˆ antica, Interpreta¸c˜ oes, 16, Maharaj 59, 78 Absoluto, 77, 91, 119, 130, 149, Filho de Deus pode mentir, 34 159 Fluxograma, 115 buraco, 169 Francis Crick, 112 Caneta se move, 158 Eu e Meu ideias falsas, 160 G.K. Chesterton, 101 H´a consciˆencia, 136 Gaston Bachelard Mentes s˜ ao ondas, 158 Aceder ` a ciˆencia, 9 Met´aforas, 136 Brusca Muta¸c˜ ao, 9 Vocˆe, pura Consciˆencia, 116 Destruir constru¸c˜ oes, 92 Maharishi Mahesh Yogi, 111, 138 hesitar, como erro, 114 Maitreya, A¸cu ´car, 118 O real se cristaliza, 98 Marcelo Gleiser Reforma de uma ilus˜ ao, 92 Energia do Nada, 53 Gedankenexperiment, 41 Massa de modelar, 49 Gentil Mat´eria do Nada, 53 Capa E.M., 30 Matem´atica chinesa, 45 Capa EM, FN, NSAG, 122 Maturana Geometrias, triˆ angulos, 71 N˜ao podemos for¸car, 14 Giga lorota, 96 Paix˜ao pelo explicar, 68 Giordano Bruno, carta, 7 Realidade independente, 16 Gugu, 30 Verdade, 18, 67 Verdade, dom´ınio de validade, 69 I Ching, 77 Mendigos, 66 Imagem Deus crist˜ ao, Hindu, 50 Met´afora, 106 Immanuel Kant, 49 Microsc´opio, 126 Indu¸c˜ao vulgar, 150 Mimetismo, 95 Irm˜aos metralhas, 64 193


N˜ao-localidade, 26 Nagarjuna, 78, 125, 164, 165 Niels Bohr, 24, 69, 71, 131 Nietzsche ´ grande astro, 35 O Abortos de santarr˜ oes, 79 Convi¸c˜ oes s˜ ao pris˜oes, 186 O homem cria os valores, 96 Quadros, Imagens, 36 Tudo veio a ser, 56 Noumeno e fenˆomeno, 3, 49 Novo Deus, 17

Princ´ıpio antr´ opico, 50 Quadrado euclidiano, 28 Quadrado quˆantico, 25

O Poder do Agora, 164 O real ´e relacional, 100 Ontologia, o que ´e?, 37 Osho A mente n˜ ao ´e vocˆe, 119 Buda: suniata, zero, 185 Caboclinho do mato, 145 Gota de orvalho, 160 Mundo criado pelo ego, 85, 109 Nada existe, 138 O Deus Jav´e, 85 O mais elevado, 138 Os sonhos s˜ ao particulares, 114 Pedindo o imposs´ıvel, 157 Poeta autˆentico, 85 Produtos do ego, 85 Quando Buda atingiu, 126 Quando n˜ ao h´ a ondula¸c˜oes, 108 Um monge jaina, 179 Vocˆe n˜ ao existe, 157 Yamaoka, 138 Paolo Rossi, 93 Papagaios Psicod´elicos, 42 Pernilongo, Deus, 50 Pietro Ubaldi Arrostar, 109 Plat˜ ao, 57 Postulado da TROE, 38 Postulado de Nagarjuna, 78 Postulado, o que ´e?, 11

R´egua quˆantica, 23, 25, 32 Reencarna¸c˜ao×Renascimento, 162 Registros ak´ashicos, 141 Religi˜ oes, Lista, 47 Resumindo o enigma morte, 148 Resumo, Morte, 148 Richard Dawkins, 42, 59 Rigpa, 117, 153, 154 Russel Leis da Natureza, 86 Ser e n˜ ao-ser, 166 Simetria especular, 31 Simone Manon Deformamos o real, 102 Singela met´ afora, 106 Sir Arthur Eddington, 129 Stephen Hawking, 10, 59, 123 Super Interessante, 53 Tabela-ASCII, 4 Tagore, 74 TAP, chinˆes, 45 Teoria, o que ´e?, 10 Terremoto Haiti, 93 Triˆ angulos, geometrias, 71 Trilogia Ei, espere. . . Vocˆe, pensando, 160 Ubiratan D’Ambr´ osio, 30 V´ıdeos, 108, 117, 156, 165, 170, 191 Vacuidade, Mundo, 152 Vazio ´e perfeito, 94 Ver e toca, mente, 61 Voltaire, 18 William Rowan Hamilton, 15 Xadrez, feij˜ ao, 64 Zen budismo, 56 Um mestre diz. . . , 76

194



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