Prova de Amor (In Her Boss's Bed)
Maggie Cox
Ele a encontrara dormindo. E agora iria despertá-la! Conall O’Brien fica furioso ao ver Morgen McKenzie cochilando sobre a mesa do escritório! Precipitadamente, ele a julga como mais uma baladeira que gasta noites de sono em festas. Mas, na verdade, Morgen é uma mãe solteira, e precisou ficar acordada de madrugada cuidando da filha doente. Então, quando as relações profissionais entre os dois se tornam mais estreitas, ela deixa claro que não quer se envolver demais com ele por dois motivos: ela precisa do emprego e também porque sabe que Conall não deseja compromisso. Mas ele está cada vez mais atraído por Morgen, e o que começou com um suposto cochilo poderá despertar outras vontades dentro dele.
Digitalização: Simone R. Revisão: Bruna Cardoso
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox
Querida leitora, Em Dominados pela Paixão, conheceremos Morgen e Kimberley, duas mulheres dedicadas aos seus filhos e julgadas de maneira equivocada por Conall e Luc. Morgen é vista por seu chefe como uma garota festeira, mas na verdade passa toda a noite ao lado da filha doente. E Kimberly, um ex-caso de Luc, está de volta para pedir-lhe dinheiro, só que para tirar o filho deles do perigo. Sabe o que mais elas têm em comum? Ambas acabam se apaixonando. Ou seja, não vai faltar paixão! Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books
Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: IN HER BOSS’S BED Copyright © 2004 by Maggie Cox Originalmente publicado em 2004 por Mills & Boon Modem Romance Título original: MILLION-DOLLAR LOVE-CHILD Copyright © 2006 by Sarah Morgan Originalmente publicado em 2006 por Mills & Boon Modem Romance Projeto gráfico de capa: núcleo i designers associados Arte-final de capa: núcleo i designers associados Editoração Eletrônica: ABREU’S SYSTEM: Tel.: (55 XX 21) 2220-3654 / 2524-8037 Impressão: RR DONNELLEY: Tel.: (55 XX 11) 2148-3500 www.rrdonnelley.com.br Distribuição exclusiva para bancas de jornal e revistas de todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907. Grajaú, Rio de Janeiro, RJ — 20563-900. Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4° andar. São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380. Correspondência para: Caixa Postal 8516 Rio de Janeiro, RJ — 20220-971. Aos cuidados de Virginia Rivera virginia.rivera@harlequinbooks.com.br
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Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox
CAPÍTULO UM A voz na cabeça dela parecia vir de muito longe e soava urgente. Irritada pela interrupção do sonho, Morgen se desprendeu disso mentalmente, desejando que o sonho voltasse. Mas foi em vão. Ele se fora, como folhas levadas pelo vento. Quando a névoa na mente começou a se dissipar, ela teve a dolorosa impressão de que havia agulhas em suas mãos, as mesmas sobre as quais a cabeça descansava, em cima da mesa. — Oh, meu Deus. Ao levantar a cabeça, ela esfregou com força às mãos e flexionou os dedos, com o coração disparando levemente conforme o sangue voltava a circular. Ele disparou ainda mais quando ela viu o homem de expressão petrificada que se encontrava do outro lado da mesa, com a reprovação emoldurando uma boca que parecia sorrir com a mesma frequência com que Morgen jantava no Savoy. Ela começou a se levantar. — Desculpe-me, eu... — Estava desperdiçando o tempo da empresa? Pelos meus cálculos, falta ainda uma hora para o almoço, e me disseram que a maioria dos funcionários deste escritório apenas pega um sanduíche e o come nas respectivas mesas. Obviamente você tem outras ideias menos extenuantes para o uso de sua mesa? Que homem odioso! Por alguns instantes, Morgen lutou para lidar com a raiva, sem mencionar a humilhação. Respirando profundamente e ajeitando o cabelo atrás da orelha, ela se levantou e se recompôs. Como ele ousava caluniá-la, insinuando que ela sempre dormia em cima da mesa? E quem, pelo amor de Deus, era ele? — Isso nunca aconteceu antes, senhor... — Você primeiro. — Ele passou a mão pelo próprio cabelo cor de caramelo escuro, e Morgen não pôde deixar de reparar que ele precisava urgentemente de um corte de cabelo e de se barbear. Além disso, algo nele fez seu estômago revirar. Aquele era um homem que jamais sofreria a indignidade de ser ignorado, concluiu ela, nesta vida. E não era apenas por sua aparência de cair o queixo. — McKenzie. Morgen McKenzie. — E além de ser contratada por esta empresa para não fazer aparentemente nada, você trabalha para Derek Holden, certo? Engolindo seco, Morgen sentiu o rosto corar de leve. — Sou assistente dele, sim. — Então onde diabos ele está? Eu tinha uma reunião com ele na sala de conferências às 10h30. Peguei um voo mais cedo dos Estados Unidos só para chegar na hora, ainda estou sofrendo com o Jet Lag, precisando urgentemente de um banho e algo para comer, e não há sinal de seu chefe em lugar nenhum. Gostaria de me dizer onde você acha que ele está Srta. McKenzie? Naquele instante, o que ela realmente gostaria dizer ao todo-poderoso diante dela era provavelmente impublicável, mas ela estava igualmente brava com Derek. Por que ele não a informou que tinha uma reunião às 10h30 com este homem, quem quer que ele 3
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox fosse? Ela checara a agenda minuciosamente a noite passada antes de ir embora, como sempre, e não havia nenhuma reunião marcada para esse horário. Que brincadeira era aquela? O coração dela ficou apertado diante de mais um triste sinal do lento e constante declínio de seu chefe. Outrora um talentoso e determinado jovem arquiteto, mas desde o divórcio, Derek Holden começara a procurar cada vez mais o conforto da bebida. Nos últimos seis meses, Morgen o vira se transformar em uma triste e trôpega sombra do homem que já fora. O bom é que ela era perspicaz e inteligente e já o salvara em diversas ocasiões, assumindo tarefas que definitivamente não eram as de uma simples assistente pessoal. Ela concluiu que Derek sabia da reunião, mas que se esquecera de informá-la. Conforme seus dedos viraram as páginas em branco da agenda e pararam sobre o espaço em branco das 10h30, Morgen franziu o cenho tentando encontrar o mais rápido possível a melhor desculpa para a ausência do chefe. Sentindo que a irritação do homem aumentava a cada segundo, ela refletiu que aquele belo Golias não se convenceria facilmente. — Infelizmente Derek está doente — explicou ela calmamente, tranquilizando-se por não estar muito longe da verdade. Ele geralmente não aparecia antes das 10h, e como já era quase 11h15, ela concluiu que ele deveria estar sentindo-se pior do que de costume. Ele provavelmente nem viria trabalhar, o que seria até melhor, considerando o rosto carrancudo diante dela. — Mesmo? E por que diabos ninguém me avisou? — O berro profundo quase a fez pular na cadeira. — Por que você não me avisou Srta. McKenzie? Não é para isso que você é paga? — Se o senhor me dissesse quem você é talvez eu pudesse... — Conall O’Brien. Obviamente você nem sabia que eu e seu chefe tínhamos uma reunião, sabia? Pode me dizer por quê? A cabeça dela doía diante daquelas perguntas incessantes, mas seu pulso quase parou quando ele disse seu nome. Conall O’Brien. O carismático chefe da O’Brien & Stoughton Associados, renomados arquitetos com escritórios em Londres, Sydney e Nova York. Embora Morgen trabalhasse havia um ano no escritório de Londres, ela nunca colocara os olhos pessoalmente nele. Entretanto, a reputação dele já era famigerada. Todos sabiam que ele era implacável e que não tinha piedade com quem estivesse passando por problemas pessoais, o que de fato ficara totalmente claro para ela. Ele abominava atrasos e esperava 110 por cento de todos que trabalhavam para ele. Trabalhava quase que exclusivamente no escritório de Nova York e ocasionalmente em Sydney, mas em todo esse tempo ela jamais o vira em Londres, pois ele sempre mandava um representante. Como Derek pôde ter se esquecido de avisá-la de algo tão importante? O amor dele pela bebida pode finalmente ter posto o emprego de ambos em perigo. Mãe solteira com uma filha de seis anos e uma hipoteca para pagar, Morgen não podia se dar ao luxo de perder o emprego. O dia começou mal, porque ela ficou acordada a noite toda cuidando do resfriado de Neesha. E depois de cair no sono na mesa devido à exaustão, ela se perguntou se aquele dia conseguiria piorar. Enquanto ela contemplava sobre isso, olhos da cor do gélido oceano Atlântico em meio a uma tempestade encararam os dela. Morgen sabia que tinha um longo caminho pela frente até se redimir para este homem. — Sei que isso não parece verdade, mas o Sr. Holden tem trabalhado até altas horas ultimamente. Ontem ele parecia completamente exausto. Não me surpreenderia se ele não viesse hoje. 4
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Deixe isso para lá. Por que você não sabia que nós tínhamos uma reunião? Caramba, ela foi combinada semana passada. Você e seu chefe se comunicam? Para a surpresa de Morgen, ele tirou o casaco e o jogou sobre uma cadeira ao lado da janela com uma impressionante vista da cidade de Londres. Ele estava vestido da cabeça aos pés em alfaiataria sob medida que gritava qualidade e dinheiro. O temo era de um azul escuro com tênues riscas de giz, combinando com a camisa azul marinho e a gravata de seda, e ele exalava o tipo de poder que apenas aqueles nascidos na riqueza e cheios de privilégios exibem naturalmente. Com a inteligência observadora daqueles olhos azuis glaciais e os intimadores ombros largos, ele não era um homem com quem se podia brincar. Naquele momento, Morgen não estava de forma nenhuma para brincadeiras. Ela lutava por sua vida com todas as forças. — Claro que nos comunicamos. Derek, ou o Sr. Holden, obviamente me informaria da reunião, mas como estava muito ocupado, ele acabou se esquecendo. Posso garantir que isso não é do feitio dele, Sr. 0’Brien. Aceitaria uma xícara de café e algo para comer se estiver com fome? Enquanto isso, eu posso ligar para o Sr. Holden e dizer que o senhor está aqui. Ele pode pegar um táxi e chegar aqui em 20 minutos. — Por esse comentário, posso entender que ele não está exatamente à beira da morte então? Sentindo o rosto queimar, Morgen disfarçou. — Não sei dos detalhes. — Então me traga um café e ponha Holden no telefone. Vou falar com ele. Não se preocupe com a comida, tenho um almoço de negócios às 13h. Ele sentou-se de frente para Morgen, fazendo-a parecer ainda menor. Ela poderia jurar que não havia sequer uma gota de superficialidade naquele físico maravilhoso. Intensamente ciente de cada detalhe daquele homem, ela não deixou passar o bocejo que ele tentou suprimir ou o olhar de cansaço que surgiu de relance naqueles olhos atentos. Ela ficou aliviada quando foi à sala de Derek para pegar café. O ar ao redor de Conall O’Brien parecia rarefeito, e ela se perguntou como as pessoas no escritório dele lidavam com aquele homem. Se ele dissesse “pulem”, elas pulariam automaticamente? Isso não a surpreenderia... Era isso ou o risco de serem demitidos. Abaixando-se na frente do armário no qual ficavam as melhores louças, Morgen esbravejou em voz baixa quando garrafas de uísque vazias caíram no carpete e rolaram até os pés dela. Assim que começou a recolhê-las, a porta se abriu silenciosamente, e ela se encontrou na humilhante posição de ser surpreendida. — Você disse que não é do feitio do seu chefe se “esquecer” de uma reunião, Srta. McKenzie? — Com a voz encharcada de um desdém congelante, Conall fixou o olhar impiedoso em Morgen. — Acho que se eu estivesse com a barriga cheia de uísque eu também me esqueceria dos meus compromissos... Concorda? Os olhos verdes dela se arregalaram quando ela o encarou, e o estômago dela se revirou pelo fato de o infeliz problema de Derek com a bebida não ser mais um segredinho sujo deles. — Se o senhor... Se o senhor puder esperar lá fora, eu vou me livrar disso e fazer seu café. — Deixe-as aí. — Tudo bem, só vai levar um minuto, e aí... — Deixe as malditas garrafas aí, Srta. McKenzie, e ponha o inútil do seu chefe no telefone, pronto. 5
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox Os joelhos de Morgen tremiam enquanto ela se levantava. Os lábios dela se crisparam, e ela se afastou daquele olhar acusador para pegar o telefone na mesa de Derek. — Espere. — O quê? — Pensando bem, agora eu preciso mais de uma dose de cafeína do que dizer ao seu querido Sr. Holden que os serviços dele não são mais necessários. Com o coração apertado, Morgen recolocou o telefone no lugar. — O senhor não está falando sério. — O quê? — Aqueles lábios perfeitamente esculpidos ensaiaram brevemente um sorriso, mas Morgen se policiou para não cair naquela armadilha. Ele não a ludibriaria com aquela sensação falsa de segurança. — Você não acredita que eu preciso de cafeína? — Não é isso. E que... Digo o senhor não pode despedir Derek! Ele é um bom homem. Honestamente, ele faria qualquer coisa por qualquer pessoa. A esposa o deixou há pouco tempo, e ele não tem lidado bem com isso. Tenho certeza de que ele vai superar tudo. — Falou como uma verdadeira e leal assistente. Isso é tudo o que você faz para seu chefe, Srta. McKenzie? Ajudá-lo no escritório? A insinuação foi tão descarada que Morgen ficou muda por um instante. Então, com as mãos trêmulas, ela juntou as lapelas do casaco preto de seu terninho e, com toda a dignidade que conseguiu reunir, levantou o olhar e encarou o todo-poderoso O’Brien. — Não ligo para as suas implicações rudes, Sr. 0’Brien. Se conhecesse Derek Holden, saberia que ele só tinha olhos para a esposa, Nicky. E se me conhecesse, saberia também que é uma regra absoluta jamais me envolver com alguém do trabalho. — Nunca? — O sorriso breve tomou-se de súbito provocadoramente maior, revelando dentes brancos perfeitos em contraste com sua pele, e Morgen teve que se concentrar muito para pensar. Cruzando os braços, ela deliberadamente não sorriu de volta. Como ele ousava? Como ele conseguia fazer insinuações sexuais tão casuais quando ela temia perder o próprio emprego e o do chefe? Mas então ela imaginou que poucas pessoas ousariam enfrentar este homem sem temer as consequências. Bem, talvez não ela. Porque por mais que ela precisasse daquele emprego, e só Deus sabia o quanto, Morgen não iria se acovardar por ele ter o poder da intimidação. — Nunca, Sr. 0’Brien. Agora, se quiser esperar na outra sala, vou levar o café que o senhor precisa tão desesperadamente. Por um instante de tensão, quando Morgen poderia jurar que o único pensamento dele era despedi-la ali mesmo, Conall lançou-lhe um de seus olhares implacáveis e, surpreendentemente, virou-se para sair. — Forte e preto Srta. McKenzie. E sem açúcar. Importa-se se eu usar sua sala para trabalhar? — Fique à vontade. Sentindo-se como um balão murcho, ela quase desmontou na mesa quando ele se foi. Quando ela visse Derek novamente... Ela não se decidia se lhe daria um sermão ou se simplesmente o esganaria. Conall tirou um calhamaço de papel de sua pasta e esfregou a têmpora dolorida. Se ele não dormisse um pouco logo, acabaria sendo levado dali em uma maca. Não porque não estivesse acostumado a um longo dia de trabalho ou mesmo há trabalhar sete dias por semana; isso inclusive lhe era muito útil. Foi assim que ele ergueu os negócios depois 6
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox que seu pai se aposentou para “deixar o filho tomar as rédeas”. Mas depois de cinco dias seguidos tendo reuniões e de dois longos voos consecutivos, seu corpo precisava dormir tanto quanto um prisioneiro no corredor da morte precisava ficar acordado. Tomando outro gole do café forte que Morgen lhe trouxera, ele parou de ler e pensou na mulher que acabara de conhecer. Onde ele morava, usava-se a expressão “quente”. Até onde ele vira, Morgen McKenzie estava em chamas. Embora a incompetência do chefe dela e o fato de tê-la encontrado dormindo no trabalho o tenham deixado furioso, os hormônios dele não estariam funcionando direito se ele não tivesse reagido à linda garota. E Deus sabe que ele reagira. Quando ele a flagrara de joelhos na sala de Holden, tentando esconder as evidências do problema com a bebida do chefe, bastou apenas um estonteante olhar daqueles grandes olhos verdes para quase fazê-lo esquecer o que ele estava fazendo ali. Também não ajudou muito quando o colarinho da blusa dela se abriu um pouco, dando-lhe involuntariamente um vislumbre de seus seios, com um sutiã de renda branco. Ele recebeu uma carga sexual tão forte que, por um instante, seus pensamentos se espalharam pelos quatro cantos da Terra. Claro que ele não pôde evitar ficar bravo por ela ter caído no sono na mesa dela. Ele tinha a reputação de ser rígido com seus funcionários, porém justo, e podia ser compreensível com a falha de alguém que merecesse, mas ele odiava preguiçosos, pessoas que não davam duro. Uma olhada em Morgen, e ele arriscou o palpite de que a moça passara a noite em claro, então não era à toa que ela estava cansada. Com uma beleza dessas, ela com certeza tinha uma fila de admiradores virando a esquina. Por que ela ficaria em casa quando podia sair todas as noites? E sem se importar com o seu desempenho no trabalho. Aquele pensamento fez o sangue dele ferver. Quem o culparia se ele desse o aviso prévio para ela e para o chefe dela? Conall suspirou e esfregou o queixo com a barba por fazer. O problema era que Derek Holden fora uma estrela em ascensão dentre os jovens arquitetos no escritório londrino. Até recentemente, Conall recebera apenas os melhores relatórios. Um dos principais motivos de sua visita, além de agradar à mãe, era descobrir o que estava dando errado. Claro que ele não revelaria isso para a provocante Srta. McKenzie. Ele decidiu deixá-la na dúvida um pouco mais e se perguntando se ela ou o chefe estavam prestes a perder o emprego. Isso, pelo menos, a faria trabalhar um pouco. — Quer mais café? Ela entrou rapidamente na sala, com seu belo rosto corado e seu cabelo escuro se desprendendo. Conall percebeu de cara que ela estava tramando alguma coisa. — Para quem você telefonou? — perguntou ele calmamente, aproveitando para fazer outro inventário do rosto e da figura dela. — Para o desafortunado Sr. Holden por acaso? A culpa estava estampada no rosto dela, e Conall se perguntou se os sentimentos dela eram sempre tão transparentes. — Se eu tivesse falado com Derek, eu contaria a você — respondeu ela, irritada. — Se quer saber, liguei para a minha mãe para avisar que provavelmente chegarei mais tarde em casa. — Você mora com a sua mãe? — Agora ela realmente o surpreendera. Conall estudou suas características com um interesse renovado, momentaneamente hipnotizado por aquela boca sensual e aqueles lábios carnudos. — Ela está ficando em casa no momento porque não está muito bem. Morgen hesitou em revelar que o verdadeiro motivo pelo qual sua mãe estava ficando com ela era para cuidar de Neesha, sua filha, que estava doente. Seu estômago se 7
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox contraiu ao pensar na sua menininha sofrendo, mas ela não podia se afastar quando Derek mais faltava no trabalho do que comparecia. Especialmente agora, com o chefão na sua cola, provavelmente procurando por um motivo, ainda que trivial, para despedi-la. Ela não queria que ele presumisse automaticamente, como muitos funcionários, que ela era menos confiável ou comprometida com o trabalho por ter um filho. A verdade era que ela era ainda mais confiável e comprometida por ter responsabilidades em casa. A frustração consumia os nervos dela. Ela desejou que ele não a observasse tão proximamente, como se ela fosse algum objeto estranho em um microscópio. Desde a observação sobre o que ela fazia para Derek, Morgen sentia-se extremamente autoconsciente. Se ao menos ele fosse embora! Por que ele estava na sua sala, quando poderia estar junto com os Vips no andar de cima? Será que ele está tramando alguma armadilha para apanhar o pobre Derek? — Sinto muito ouvir isso, mas se pensa que vou ser mais paciente com você por estar com problemas em casa, temo que fique desapontada, Srta. McKenzie. Ele iria despedi-la? Uma onda de fúria varreu o ser dela ao pensar nisso. Que injustiça! Ela não tirara um dia de folga desde que conseguira este emprego e ficava até às 18h ou 18h30 na maioria dos dias. Que sorte a dela cochilar na mesa logo naquele dia! Ela sacrificou vários sábados acompanhando Derek em reuniões para tomar notas, mas o todo-poderoso sabia disso? Não, ele simplesmente deu uma olhada nela e pensou o pior. Bem, ela não se entregaria sem brigar, com certeza! — Isso é uma ameaça, Sr. 0’Brien? — Eu encontrei você dormindo sobre a mesa, Srta. McKenzie. Para mim, isso é uma justa causa para demissão. O queixo dele era quadrado e imponente, e naquele momento, Morgen queria golpeá-lo e derrubá-lo da cadeira. — E o conceito “inocente até que se prove o contrário” diz algo para você? Ela tremia tanto que mal conseguia pronunciar as palavras. Conall se inclinou para pôr os papéis sobre a mesa e voltou a se encostar com as mãos atrás da cabeça, como se estivesse entretido. — Provar o quê? Não há dúvidas de que você estava dormindo quando eu entrei. Infelizmente, da última vez que fui ao oftalmologista, me garantiram que minha visão é excelente. — Há um bom motivo para eu ter caído no sono; e foi por cinco minutos, se muito! Ela soltou um suspiro que esticou os botões de sua blusa, e Conall ficou transfigurado pela visão. Ele queria pedir que ela tivesse piedade. Parecia que uma respiração da moça fora o suficiente para o desejo substituir o profissionalismo que ele geralmente mantinha. Seus olhos voltaram para aquele rosto e aqueles olhos verdes cintilantes. Ele não tinha intenção de demiti-la, mas não custava nada brincar um pouco de gato e rato com ela. — Tudo bem. Convença-me. Ele parecia tão presunçoso e hipócrita sentado ali que, de repente, Morgen perdeu a vontade de provar qualquer coisa para ele. Deixe-o pensar o que quiser! Havia outros empregos além desse. Ela só teria que fazer alguns trabalhos temporários até encontrar um permanente. Mas a ideia não era muito atraente, e ela ficaria triste de verdade em deixar Derek desamparado. Principalmente agora que ele precisava de todo o apoio que conseguisse. E ainda... — Mudei de ideia. — Ajeitando a saia com a mão trêmula, ela se virou e voltou para a sala de Derek, com a cabeça erguida. 8
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox Perplexo, Conall levantou-se, afrouxou a gravata e a seguiu. Ele a encontrou tirando arquivos de um grande armário de mogno e distribuindo-os sobre a mesa. — Eu falei para você me convencer, Srta. McKenzie. — Vá para o inferno! E se isso não for uma ofensa que justifique minha demissão, eu já recebi meu aviso prévio de qualquer forma, não? — Significaria assim tão pouco para você perder o emprego? Franzindo o cenho, Conall observou-a ir e voltar do armário, de certa forma desanimado por tê-la feito chegar a este ponto. Como se isso já não fosse ruim o suficiente, havia algo no peito dele que dizia que ele poderia estar errado sobre Morgen McKenzie. Se fosse o caso, ele não queria perder alguém que poderia ser um funcionário valioso. — Lá vem você de novo fazendo insinuações sobre situações que nem sequer conhece! — Ela parou e colocou as mãos na cintura. — Meu emprego é muito importante para mim, Sr. 0’Brien, e se você quiser perguntar pelo escritório, vai descobrir que eu o faço muito bem. Não recebi nenhuma reclamação, pelo menos. Infelizmente Derek não está aqui agora para confirmar esse fato. Quando ele chegar, você pode perguntar. — E você acha mesmo que, honestamente, a opinião dele vale alguma coisa? — Erguendo uma sobrancelha, Conall esperou com interesse pela resposta. — Se está se referindo às garrafas... — Morgen olhou para o armário fechado, e um leve rubor destacou-se em suas belas bochechas. — O fato de ele ter um problema com a bebida não o toma uma pessoa mim ou um homem cuja opinião não importa. Ele ganhou prêmios para esta empresa, Sr. 0’Brien, como você deve saber. Ele é um arquiteto talentoso, com um futuro brilhante. Mas ele precisa agora de ajuda e apoio. Ele não merece perder o emprego só porque o mundo dele ruiu quando a esposa o deixou. — E o que esta empresa merece, hein? — disse Conall franzindo a testa bronzeada. — Precisamos pensar em nossa reputação e nos clientes que esperam um serviço de primeira classe. Se o nível do serviço começar a diminuir por causa de indivíduos como Derek Holden, que não conseguem impedir que a vida pessoal invada a profissional, então sinto muito; não estamos no ramo de estender a paciência infinitamente. Se ele não se recompuser logo, há muitos outros jovens arquitetos ambiciosos esperando para ocupar o lugar dele. Vários pensamentos invadiram de uma só vez a mente de Morgen, mas um se sobressaiu. Aquele homem era impiedoso... Inflexível. Ele não se importava se Derek estava passando um tormento dos infernos. Conall 0’Brien só se importava com o fato de Derek não estar “se recompondo” e, portanto, não estar dando lucros para a empresa. Ninguém era indispensável, é verdade, mas Derek iria passar por maus momentos para entender as coisas sem ela por perto. Especialmente porque todas as outras secretárias eram muito ocupadas. Vendo o conflito naqueles olhos verdes perturbados, Conall simulou um olhar de tédio, perguntando-se o que ela faria se ele a intimasse. — Então, Srta. McKenzie... Você vai ficar ou vai embora? — Não vou abandonar Derek. — Suas mãos estavam agitadas, e seus olhos nervosos escaparam do olhar inabalável de Conall. Sua afirmação enfática deixou claro que ela era fiel a Derek, e não a Conall ou ao escritório. Ele queria admirar a lealdade dela, mesmo que ela fosse equivocada, na opinião dele. Afinal, o chefe dela não a abandonou também, preferindo ficar em casa afogando as mágoas? Mas Conall achou que não podia. Irritava-o imensamente que ela insistisse em tentar proteger um homem que não a merecia. 9
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Bem, agora que deixamos claro que você não quer ficar desempregada, talvez possamos trabalhar um pouco por aqui. A expressão no rosto de Morgen lhe dizia que ela queria arremessar algo nele. Tal fato apenas corroborava sua resolução de lidar com esta situação à sua inimitável maneira, da maneira como ele transformou os negócios do seu pai na empresa de sucesso que ela é atualmente. Conall gesticulou para os arquivos sobre a mesa. — Esses são projetos atuais? — Quando ela assentiu em silêncio, ele sentou-se na grande cadeira de couro que Derek Holden geralmente ocupava. — Traga-me mais café, vou dar uma olhada neles enquanto estou aqui. Segurando-se para não responder “eu não sou sua empregada”, Morgen engoliu o orgulho e foi encher a xícara dele. Enquanto despejava o café com a mão trêmula, ela não pôde deixar de se perguntar por quanto tempo ela e seu chefe ainda teriam seus empregos, agora que havia a presença sinistra daquele sócio majoritário.
CAPÍTULO DOIS O toque do telefone em sua mesa a fez pular. Ela o atendeu culposamente, perguntando-se se Conall estava tentando ouvir e seguir seus movimentos. Ao ver a porta do escritório de Derek fechada, ela suspirou aliviada. — Morgen McKenzie. — É Derek. — Pelo amor de Deus! Onde você está? — Abafando o telefone com a mão, ela certificou-se novamente de que a porta estava fechada. — Estou em casa, onde mais eu estaria? Como Morgen esperava, ele soava irritado e de ressaca. Seu estômago se contraiu de preocupação. — Sabe com quem você perdeu uma reunião hoje de manhã? — Não brinque comigo, Morgen, não estou no clima. Quem quer que seja, posso reagendar. Ainda bem que você sempre encontra a desculpa perfeita para explicar minhas ausências. Isso é o que faz de você uma assistente brilhante. — E essa deveria ser uma boa qualidade? Mentir? — O quê? Ela ouviu o tilintar de um copo, e então algo pesado caindo no chão. O instinto e a experiência lhe disseram que ele havia bebido esta manhã e que ainda estava bebendo. Se Conall suspeitasse de algo, ambos estariam na rua. — Sua reunião com Conall 0’Brien, Derek. Lembra-se? — Ah, que m...! — Pensei a mesma coisa. E a situação não está boa para nenhum de nós. Ele ainda está aqui no seu escritório, esperando por você. E, ao que me parece, está disposto a esperar até que você apareça. — Embora ela lembrasse que ele mencionara um almoço de negócios às 13h. Olhando para o relógio, ela viu que era uma pouco depois das 12h30. Graças a Deus, o homem iria embora logo. O mais importante: quando ele voltaria? — Tenha dó, Morgen! Não estou em condições de lidar com esse homem. É impossível eu ir trabalhar hoje. Você terá que dizer que estou doente ou algo do tipo.
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Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox Rangendo os dentes, Morgen respondeu: — Já disse isso a ele, Derek, mas, francamente, acho que ele não acreditou. — Agora não era hora de revelar que Conall entrara em sua sala no exato momento em que suas garrafas vazias rolaram pelo chão na frente dele. Se soubesse que fora descoberto pelo presidente da empresa em pessoa, não havia como prever o que Derek faria em seu estado atual. — Você precisa vir. Tome um café e um banho rápido. Vou chamar um táxi para você e esperá-lo no saguão. Ele suspirou ruidosamente. — Não consigo. Sinto como se estivesse morrendo, sabe? Você está me pedindo o impossível. Maldita Nicky Holden por tê-lo abandonado! Mas de que adiantaria culpar à exesposa dele? Era a reação de Derek que estava piorando as coisas. Quem imaginaria que o jovem brilhante, confiante e de sucesso, que criara projetos milionários, desmoronaria como um castelo de cartas por causa de um casamento fracassado? Não que ela não o compreendesse. Ela mesma passara por uma situação semelhante e, ainda por cima, estava grávida de cinco meses na época. A diferença é que ela não tivera a opção de desabar com um bebê para cuidar e uma mãe viúva que precisava de seu apoio. Suspirando, ela passou a mão pelo cabelo e tirou completamente do lugar o pente de tartaruga que o prendia. Fios negros e sedosos que iam até os ombros caíram sobre o rosto. — Só há uma opção. Eu irei até aí e o ajudarei a se arrumar. Chegarei assim que conseguir um táxi. Pelo amor de Deus, não saia daí. — Sim, Morgen. — Não beba mais. Se quiser melhorar, faça um café e coma alguma coisa. Entendeu? O telefone ficou mudo, sem uma resposta. Morgen estava pegando seu casaco quando a porta se abriu e Conall retomou. Sua aparição repentina a deixou petrificada, e ela odiou o fato de ele intimidá-la tão facilmente. Seus braços estavam cruzados sobre o peito impressionantemente largo, e ele a encarava como um gato prestes a brincar com um rato. Maldição, maldição, maldição! Ela não teria nenhuma sorte naquele dia? Pelo visto, não. — Já vai almoçar Srta. McKenzie? — Tenho um compromisso. Não levará mais que uma hora. Eu já ia informar. — Ia mesmo? Ele era sempre tão desconfiado? Morgen bufou e tentou corajosamente encarar seu olhar. O que não era fácil, já que aqueles olhos azuis e frios pareciam poder disparar lanças de gelo contra seu corpo a qualquer momento. — Sei que você não acredita em mim, mas eu realmente preciso ir. Prometo não demorar, e se o senhor precisar ficar até tarde, eu ficaria feliz em lhe fazer companhia. — Dizer aquilo quase a matou, sabendo que Neesha precisava dela. A sua garotinha amava a vovó, mas era Morgen que ela queria quando ficava doente. E ela faria qualquer coisa para manter seu emprego. Ela podia apenas rezar para que Neesha estivesse melhor na hora em que voltasse para casa. — Você, por acaso, não está indo se encontrar com seu chefe, está? — Estudando a fundo aqueles olhos verdes surpresos, Conall soube que acertara na mosca. Ele admirava lealdade, mas subterfúgios para tirar o chefe de uma enrascada... Bem, isso era completamente diferente. Ele não sabia com quem ficar mais furioso, se com Morgen, por 11
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox pensar que ela poderia enganá-lo, ou com o errante Derek, que se deixara cair tão vergonhosamente. Mordendo o lábio inferior, Morgen passou a mão pelo cabelo. Isso chamou a atenção de Conall para o brilho dele. — Ele virá trabalhar. Ele só precisa terminar de se aprontar. — E você vai ajudá-lo? O que você vai fazer? Segurar a mão dele enquanto ele entra no chuveiro? — A ideia desta sedutora de cabelo negro e um banho causou um tormento sexual à libido de Conall. Morgen não achou que fosse uma boa ideia confessar que não era a primeira vez que ia à casa de Derek para resgatá-lo. Ela já estava tão familiarizada com o impressionante apartamento de Westminster, com sua vista de Thameside, quanto com a pequena casa em Lambeth. Mas o interior do outrora adorável lar de Derek deixara de ser tão agradável devido à negligência. Até mesmo a faxineira dele se demitira, alegando a Morgen que estava cansada de jogar fora tantas garrafas vazias. — Como eu já disse, ele só precisa de um pouco de apoio neste momento difícil. Não podemos simplesmente abandoná-lo. — Nós? — As sobrancelhas de Conall alcançaram seu cabelo. — A empresa... Eu. Você não quer que ele melhore? Ela franziu o cenho como uma garotinha que não entende nenhuma peculiaridade do mundo adulto, e algo dizia a Conall que ela se importava demais com os outros. Entretanto, não o suficiente para fazê-lo refrear seu temperamento. — Eu tenho uma empresa, Srta. McKenzie, e não uma casa de caridade. Ele a viu ficar lívida. Derek Holden sabia que sua bela assistente lutava por sua causa quando ele estava fora? Provavelmente... Com certeza o homem usava isso em vantagem própria, era o que ele esperava. — Não precisa chamar um táxi. Tenho um carro à minha espera. Eu vou com você... Para ver se consigo colocar algum juízo na cabeça dele. Você primeiro. — E sua reunião às 13h? — Eu já a adiei. Agora vamos descobrir como está o seu chefe. O rosto já empalidecido de Derek ficou mortalmente branco ao ver o visitante que Morgen trouxera consigo. Recuando para dentro do grande saguão com seu outrora lustroso piso parquet, ele levou a mão até o cabelo castanho desgrenhado, falhando miseravelmente ao tentar recuperar a compostura. O ar era vicioso e velho, como se ninguém abrisse as janelas há tempos. Morgen olhou para o chefe e desejou ter uma varinha mágica para poder deixá-lo pronto em um instante e para voltar o tempo para antes de Nicky abandoná-lo, quando ele era um homem no comando da própria vida e entalhava o nome em um ramo altamente competitivo e acirrado. — Olá, Derek. Posso fazer um café para nós? Você já comeu? Quando ele balbuciou algo em resposta, Morgen passou por ele e relutantemente o deixou sozinho com Conall. Na enorme cozinha, equipada com todas as conveniências modernas conhecidas, mas sem um espaço livre de louças sujas, Morgen arregaçou as mangas e começou a lavar a montanha de pratos imundos. Ela duvidava que houvesse uma xícara ou um copo limpo na casa, muito menos uma cafeteira, e ela não poderia fazer café sem uma. Ela sabia que Derek não aceitaria café instantâneo. Não se estivesse sóbrio... Descobrindo-se interessada nas vozes que se exaltavam, Morgen abriu ao máximo a torneira de água quente para abafar o som e se ocupar. Era inútil rezar para que Conall 12
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox pegasse leve com Derek, era como esperar que uma jiboia pegasse leve com um rato. Além disso, pegar leve não os levaria a nada. Ela mesma tentara conversar da forma mais delicada, mas Derek apenas rira e dissera que estava tudo sob controle. Cinco minutos depois, sentindo o movimento atrás de si, ela se virou e encontrou Conall sem o casaco e a gravata. Ele era um homem grande, forte, em forma e parecia poder enfrentar um exército inteiro e sair vitorioso. Com o cabelo levemente bagunçado e o queixo viril com a barba por fazer, havia algo perigosamente atraente nele que não passava despercebido, a despeito dos votos silenciosos dela de que sua boa aparência jamais a afetaria. — Ele foi tomar um banho. Pode fazer o café para quando ele sair? — O olhar aguçado dele varreu o cômodo enquanto ele falava, e, quando ele recaiu sobre Morgen de novo, Conall balançava a cabeça como se não acreditasse naquela visão. — Se pagamos bem o suficiente para um cara viver em um lugar como esse, por que diabos ele não contrata uma faxineira? — Ele tinha uma. — Tocando a bochecha sem perceber, Morgen deixou uma pequena trilha de espuma sobre a pele. — Ela se demitiu. — Por que isso não me surpreende? Prestes a se virar para ver como Derek estava, Conall surpreendeu-se caminhando até a pia. Sem uma palavra, ele gentilmente limpou a espuma do rosto dela. De perto, viu que aqueles olhos verdes eram salpicados de intrigantes pontos cor de avelã e que seus cílios eram longos e sedutores sem precisar de delineador, pelo que ele pôde notar. Seu perfume o envolveu algo quente e sensual, como um dia ensolarado em Côte D’Azur, onde ocasionalmente passava os feriados. Os músculos do estômago dele se enrijeceram em resposta, e uma onda de calor foi direto para a virilha. — Tinha um pouco de espuma no seu rosto. — Obrigada. Ela se virou, aturdida. Sorrindo para si mesmo, Conall saiu da cozinha. Ele gostava do fato de poder provocá-la. Para falar a verdade, ele gostava muito. — COMO ESTÁ se sentindo? Estudando as feições duras e a palidez do homem diante de si, Conall se perguntou se valia a pena arrastá-lo de volta para o escritório para uma reunião. A hora que passou no escritório dele foi suficiente para se informar dos detalhes do grande projeto Docklands que Derek assumira, e ele, Conall, já ligara para o gerente do local e marcara uma reunião para as 16h com os empreiteiros e o cliente. Ele daria a Derek um dia para se recompor, e na manhã seguinte, eles teriam uma reunião particular, em que Conall apresentaria as opções para ele. Basicamente, Derek teria que aceitar a ajuda profissional ou deixar a empresa. Quantias obscenas de dinheiro já foram gastas nesse projeto, e Conall tinha certeza de que sua empresa não ajudaria o cliente a desperdiçar ainda mais. Além disso, eles tinham uma reputação internacional a manter, e ele a protegeria. — Um pouco mais de café seria bom — Derek sorriu e ergueu a caneca debilmente. Morgen a pegou e foi para a cozinha. Conforme servia o café preto e forte, seu estômago roncou e a lembrou de que não havia comido nada desde a noite passada. Logo em seguida, sua cabeça começou a latejar. Muito café, pouco sono e nenhuma comida eram a melhor receita para manter a saúde e a vitalidade, pensou ironicamente, perguntando-se quando teria tempo de comer o sanduíche de atum que sua mãe colocara em sua bolsa de manhã. 13
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox Pobre Derek. “Horrível” nem sequer começava a descrever seu estado. “Morto-vivo” era mais adequado. Obviamente ele não serviria para nada no escritório hoje. Conall percebera isso, não? Encostada na porta enquanto Derek tomava seu café, Morgen sentia os nervos se agitarem toda vez que seu olhar se conectava com o de Conall 0’Brien. Não havia dúvidas de que ele era um homem formidável, mas ele estava sendo mais leniente com Derek do que ela esperava. Ela poderia jurar que vira simpatia nos olhos dele algumas vezes enquanto Derek gaguejava uma explicação de como chegou ao deplorável estado atual, mas talvez seus sentidos a estivessem enganando. “Conall” e “simpatia” pareciam ser antônimos. Ele claramente julgava problemas pessoais como uma grande fraqueza. Finalmente, olhando para o relógio, ele pegou o casaco e olhou para Morgen: — É melhor voltarmos. Acho que seria melhor se Derek descansasse pelo resto da tarde e voltasse para o escritório amanhã. Marquei uma reunião às 16h com os empreiteiros do Docklands, e você pode vir comigo para me dar apoio, com as informações que eu desconheço. Tudo bem, Srta. McKenzie? Geralmente Morgen não se intimidaria com tal prospecto, às vezes ela acompanhava o chefe a reuniões externas, mas essa era crucial, e Derek deixou a empresa exposta a críticas com sua ausência e relutância em atender ao telefone. Consequentemente, como sua assistente, Morgen recebera a maior parte das reclamações. Há dias ela lidava com telefonemas irados e tinha certeza de que logo ficaria evidente para o parceiro majoritário da 0’Brien & Stoughton Associados que muito menos do que ele esperava fora feito do projeto. De repente, um carinho e uma história para dormir com a sua adorável Neesha pareciam ainda mais distantes. Algo lhe dizia que essa reunião em particular adentraria a noite. — Tudo bem, Sr. 0’Brien. — Deixe a bebida para lá, Holden, e vá dormir cedo. Se quiser manter o emprego, esteja no escritório às 9h, e então conversaremos. Levantando-se tropegamente, Derek lançou um olhar de pânico para Morgen enquanto os acompanhava até a porta. Ele parecia um garotinho perdido, ela pensou, pedindo ajuda. Ela ignorou aquela sensação familiar demais, ressentindo-se, mas Conall não deixou de reparar no rápido sorriso de consolo que ela lançou para Derek. Ele imaginou como seria ser o receptor daqueles sorrisos maravilhosos. Seria muito bom, ele refletiu enquanto ela passou por ele na escada, deixando uma trilha de seu perfume hipnotizante. Seu olhar então recaiu naquelas pernas esguias e sensuais envoltas por uma meia-calça branca e sapatos de salto baixo, e Conall soube que aquele era um caso de desejo à primeira vista. O problema era: o que ele pretendia fazer? — Vou passar na casa da minha irmã para tomar um banho e me barbear. Você segura às pontas até eu voltar? Morgen lançou um olhar irritado para Conall. O que ele acha que ela estava fazendo há seis meses, enquanto Derek se deixava levar cada vez mais pela depressão? Brincando de esconde-esconde? — Tenho certeza de que sim. Desviando o olhar, ela desejou não estar tão ciente da sensação de intimidade daquele luxuoso carro, com seu estofado de couro branco e conotações de riqueza e poder. — Por que a mulher dele o deixou? A pergunta a pegou de surpresa. 14
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Ela disse que não conseguia lidar com o sucesso dele. Ela estava tentando a carreira de cantora e sentia que Derek não a apoiava o suficiente. Eles vieram de mundos diferentes, e, no fim, eu acho que queriam coisas diferentes. As diferenças se tomaram fortes demais, pelo menos para Nicky. Dando de ombros, ela encarou as próprias mãos, em que outrora havia uma aliança, e lutou contra a sensação de fracasso que lhe abateu do nada. Ela não queria pensar em Simon, seu ex-marido, mas suas últimas frases poderiam descrever sua própria união desastrosa, por mais curta que tenha sido. Ele fora aluno da Eton, uma das melhores escolas públicas do país, e fez Medicina. Quando Morgen o conheceu, ele acabara de conseguir um emprego no Guy’s Hospital, e seu charme e confiança a conquistaram. A família dele era rica; o pai, um importante cirurgião cardíaco, fora nomeado cavaleiro pela rainha. Morgen não fora recebida com um tapete vermelho pela família dele e, logo de cara, percebeu que não era boa o suficiente para o queridinho Simon. E como seria? Ela estudara em uma escola mista em South London e depois fizera um curso técnico de secretariado no colegial. Seu pai fora pedreiro, e sua mãe era secretária de uma escola. Não precisava dizer que sua família estava longe de frequentar as rodas ilustres em que os Vaughan-Smiths circulavam. — Essas coisas acontecem. — Sem tirar os olhos dela, Conall perguntou-se no que ela estava pensando. — Ele terá que superar isso logo. Se quiser manter o emprego. — Derek não está sabotando seu futuro deliberadamente. Pelo amor de Deus, ele está sofrendo! Esquivando-se do olhar gélido que acompanhara as palavras de Morgen, Conall sabia que ela o achava um cretino, alguém que não dá a mínima para as pessoas que trabalham para ele, contanto que continuem fazendo a firma lucrar. A verdade é que ele se preocupava passionalmente em trazer à tona o melhor das pessoas e só ficava feliz se dividisse os frutos de seu próprio sucesso com elas. Entretanto, isso não queria dizer que ele não conseguia ser rígido quando precisava... Impiedoso, até. Até onde percebeu Derek Holden já chafurdara o suficiente na autopiedade. Se algo não fosse feito logo, ele não perderia apenas o emprego, mas também a própria vida. A 0’Brien & Stoughton Associados poderia facilmente contratar outro arquiteto, mas Derek não poderia ser trazido dos mortos. — Sei muito bem que aquele homem precisa de ajuda profissional. Enquanto isso vou tomar conta das coisas por um tempo. Você trabalhará diretamente para mim, Srta. McKenzie. Acha que consegue? Ele não conseguia evitar provocá-la apenas para ver a reação dela. Seu rosto cativante revelou instantaneamente seu descontentamento. Suas emoções estavam expostas, e Conall percebeu que não era fácil para ela vestir a máscara social do controle que o profissionalismo exigia. Não quando ela mesma estava em crise. Inexplicavelmente, ele se sentia próximo a ela de uma maneira que ele há tempos não se sentia com uma mulher. E a ideia de “pôr a mão na massa” no escritório, com Morgen como sua assistente, de repente revelou-se muito mais atraente do que deveria ser. Assim que chegasse ao apartamento da irmã, Conall telefonaria para o escritório em Nova York e avisaria que estenderia sua estada em Londres por tempo indeterminado. — Eu consigo lidar com qualquer tarefa que você me passar, Sr. 0’Brien. Por que você não tenta? Fazia parte do meu curso de secretariado lidar com pessoas difíceis. Na verdade, sou especialista nisso! Vejo você no escritório. — E com isso, Morgen saiu do carro e bateu a porta. 15
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox Conall recostou a cabeça e ponderou que a hostilidade dela era provavelmente um bônus. Tomaria tudo ainda mais doce quando ela percebesse que valia a pena ser gentil com ele. Orgulhando-se de conhecer muito bem as mulheres e sabendo por experiência própria que riqueza e status são afrodisíacos, especialmente na hora da sedução, Conall não duvidava que isso fosse logo acontecer...
CAPÍTULO TRÊS As 15h30, Morgen foi para o banheiro se arrumar. Encarando seu reflexo nos espelhos, ela franziu o cenho ao ver as leves olheiras. Ela estaria mentindo se dissesse que não sabia que parecia tão cansada quanto se sentia, mas se animou um pouco depois de ouvir de sua mãe que Neesha estava melhor. Pensando nisso, ela deixou os ombros caírem um pouco, aliviada. Isso significava que sua filha poderia voltar para a escola e sua mãe poderia ir embora. A relação entre elas já era tensa e piorou quando Morgen pediu que ela cuidasse de Neesha. Lorna McKenzie não aprovava que mulheres com filhos pequenos trabalhassem em tempo integral. Para falar a verdade, Morgen pensaria a mesma coisa se Simon não a tivesse abandonado com menos de um ano de casamento, diminuindo drasticamente suas opções. Para um homem que ficara extasiado ao saber que a esposa estava grávida, ele foi mudando de ideia conforme a gravidez da esposa avançava. Ele lidava com doentes o tempo todo, mas confessou que não sabia lidar com os enjoos matinais de Morgen. Isso, a falta de vontade dela de se socializar com os amigos dele e de nunca querer visitar os sogros foram motivos suficientes para ele terminar o casamento. Além disso, ele não gostara muito da ideia de ser “amarrado”, explicou ele ao partir. Sua carreira vinha em primeiro lugar, e ele não tinha certeza de que a paternidade era algo para ele. Simon
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Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox estava disposto a ajudá-la financeiramente até que Morgen pudesse voltar a trabalhar em tempo integral, quando suas contribuições seriam exclusivas para a criança. “A criança.” Simon raramente se referia à filha pelo nome. Ela não o via muito, de qualquer forma. Simon fora promovido, estava ascendendo na profissão. Trabalhava longas horas e, no tempo livre, gostava de praticar esportes e sair com os amigos. Quanto aos avós de Neesha, Elizabeth e Terrence Vaughan-Smith, não queriam saber da neta. Se eles nem sequer haviam concordado com o casamento, por que reconheceriam uma criança daquela união? Morgen encarou os próprios olhos e segurou o desejo avassalador de chorar. — Não se atreva, Morgen McKenzie! — sussurrou ela pelos dentes cerrados, guardando o batom rosa na bolsa. — Você não desmoronou quando o cretino a abandonou e não vai desmoronar agora! — Suas defesas estavam em baixa por estar cansada, era isso. Mas seu coração doía por Neesha, pois o pai e a família dele praticamente a rejeitaram. E a vida. Ela não era a única que tinha uma vida dura e, com certeza, não seria a última. Veja o pobre Derek. O que vai ser dele se não conseguir superar o vício? Ao pensar no chefe, ela olhou para o relógio de pulso prata e pegou a bolsa ao lado da pia. Caramba! Ela não podia se atrasar para encontrar Conall 0’Brien. O homem já achava que ela era preguiçosa e incompetente. Por que dificultar ainda mais sua vida corroborando com essa impressão? Enquanto se apressava pelo corredor acarpetado até sua sala, Morgen rezava para chegar antes de Conall. Ela não ansiava pela aprovação dele, mas também não queria a desaprovação. E se ele começasse a reclamar, no estado em que ela se encontrava Morgen provavelmente iria mandá-lo enfiar o emprego naquele lugar. E o que seria dela e de Neesha? Mas a sorte, pelo visto, não estava do lado dela hoje. Parado na janela, observando o tráfego de Londres pelas persianas, Conall virou-se quando ela entrou, fazendo o coração dela se agitar como uma mariposa próxima demais de uma chama. Barbeado, de banho tomado e vestindo outro temo impecável, cinza escuro, combinando com uma imaculada camisa branca e uma gravata vinho, ele parecia um homem feito para os negócios. — Não deixei você esperando, deixei? Eu fui ao banheiro por um minuto. Está pronto? — Você parece cansada, Srta. McKenzie. Tem certeza de que quer ir? Agora ele a difamava por sua aparência, além de sua habilidade! Atravessando a sala, Morgen o ignorou. Ela então pegou os papéis e projetos sobre sua mesa, guardou-os dentro de um grande envelope pardo, colocou-o debaixo do braço e saiu pela porta. — Vamos Sr. 0’Brien? Já são 15h40. Espero que o trânsito esteja bom. Ela prendera o cabelo para trás, Conall percebera, como se tentasse redobrar o controle. A ideia o intrigou, fazendo-o imaginar se havia áreas em sua vida em que ela deliberadamente abria mão de manter o controle. Como quando estava na cama com um amante, por exemplo? Embora ele pessoalmente preferisse aquele belo cabelo solto, ela o prendera como se exigisse atenção, pois Morgen McKenzie não era uma mulher que passava despercebida. Seu terninho acentuava um corpo mais voluptuoso do que magro, mas como ela era alta, no mínimo 1,70m, pelos cálculos dele, ela poderia usar um saco de lixo e ainda ficar deslumbrante. Mas ele também notara as olheiras embaixo daqueles olhos adoráveis e tinha certeza de que ela o mataria por tê-las percebido. A primeira impressão 17
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox sobre ela estava certa? Ela era uma garota festeira que farreava todas as noites? E o mais importante: havia um homem na vida dela? — É o que eu gosto de ver: entusiasmo pelo trabalho. Vai ser uma longa tarde, pelo visto. Já conversei com o cliente. Você conhece Stephen Ritchie? — Só conversamos pelo telefone. — Morgen respondeu, sentindo a tensão pesar sobre os ombros ao lembrar-se dos telefonemas irados da última semana, sem mencionar as ameaças à firma. Enfim, o Sr. Ritchie não parecia ser o tipo de homem que ela estava ansiosa por conhecer. — Bem, não é exagero dizer que ele quer a nossa cabeça, ou a cabeça de Derek, pelo menos. Vamos ter que dar o sangue para sairmos por cima. Acha que dá para salvar o dia, Srta. McKenzie? Ele parou na porta, intimidando-a com seu porte físico incrível. A expressão dele parecia se intensificar, causando um repentino surto de arrepios pelo corpo de Morgen. O problema era que a fragrância sensual da colônia dele continuava entrando nas narinas dela e saindo, tomando o raciocínio difícil. Incapaz de desviar seu olhar do dele, Morgen arfou sofregamente. Aquele olhar azul sedutor se transformara em um oceano perigoso, no qual ela corria o risco de ficar à deriva. — Gostaria que o senhor parasse de usar o meu nome como provocação, Sr. 0’Brien. Não gosto de ser intimidada. — Estou intimidando você? — Franzindo o cenho, Conall estudou as feições dela, genuinamente surpreso. Morgen não encontrava palavras para responder, nem mesmo um “sim” ou “não”. Seus sentidos estavam anestesiados pela proximidade dele. — Prefere que eu a chame de Morgen? — perguntou com a voz baixando uma ou duas oitavas sedutoramente. Pega de surpresa pela inesperada preocupação dele, ela se apressou e saiu para o corredor, disfarçando sua perturbação. — Esse é o meu nome. — Então a chamarei de Morgen. Alcançando-a facilmente, Conall refletiu como seu nome lhe era apropriado. Morgana Le Fay lhe veio à mente, a lendária feiticeira de cabelo negro do conto do Rei Arthur. Havia algo de mágico nela, com certeza. — Está com tudo de que precisamos Morgen? — Estou com tudo de que o senhor precisa Sr. 0’Brien. Deus do Céu, ele não podia competir com aquilo... — Pode me chamar de Conall — disse ele, arrancando as palavras da garganta repentinamente seca. Estava chovendo quando eles chegaram ao local, onde dois blocos de apartamentos luxuosos estavam sendo erguidos. A chuva transformara rapidamente a areia do chão em um rio de lama, e enquanto Morgen colocava o capacete que o capataz a obrigou a usar, ela desejou ter trazido um par de galochas. Derek sempre mantinha as dele no carro, e ela já tinha experiência suficiente como sua assistente para saber que deveria ter feito o mesmo. Conall não parecia perceber que seus sapatos italianos feitos à mão estavam afundando no atoleiro de lama e areia. Após cumprimentar o atarracado capataz e apresentar Morgen e si mesmo, ele seguiu o homem ao escritório local, construído para monitorar o progresso da construção. Lá, três outros homens, um deles também de temo, estavam sentados ao redor da mesa longa e retangular. O cheio de café e cigarros imediatamente envolveu os sentidos de 18
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox Morgen. Todos os homens a encaravam com cautela, como se uma alienígena estivesse entre eles. Obviamente alguns homens ainda tinham uma visão antiquada sobre mulheres em locais de construção, ela percebeu irritada, concluindo que já era hora de eles superarem isso. — A Srta. McKenzie é minha assistente e fará anotações. — Conall explicou antes de puxar uma cadeira para ela se sentar. — Infelizmente Derek Holden está de licença, e eu assumirei o projeto até ele voltar. Nos primeiros minutos, conforme os planos foram espalhados na mesa e um dos homens levantou-se para servir café, ficou evidente quem estava no comando e por quê. Assistir a Conall 0’Brien acalmar os ânimos e executar as ações necessárias para colocar as coisas de volta nos eixos era uma aula de habilidade, diplomacia e gerenciamento interpessoal sem igual. Morgen viu a recepção inicialmente hostil de Stephen Ritchie derreter como neve sob o sol. Ela endireitou as costas, reanimada, e o observou fazer o cliente e os empreiteiros apertarem as mãos, convidando-os ainda para um drinque naquela semana. De volta para o carro às 18h50, Morgen passou a mão trêmula pelo cabelo e suspirou como se tivesse acabado de sair da prisão. Com os negócios do dia concluídos, ela estava mais do que ansiosa para voltar para sua garotinha, tomar um banho quente e uma bebida. Observando de relance o homem dirigindo o carro, era surpreendente que Conall 0’Brien não estivesse exibindo sinais de cansaço ou do Jet Lag. Ele dirigia sorridente, como se tudo em seu mundo estivesse certo. — Acho que tudo correu bem. O que você acha? O fato de ele perguntar a opinião dela quando obviamente tudo havia saído mais do que bem, eles comeram na mão dele praticamente, pelo amor de Deus! Confundiu-a por um instante. — Achei que foi um exercício de contenção de danos par excellence. Lembre-me de levar você junto quando eu for negociar o seguro do meu carro. — A maioria das pessoas é movida pelo medo, Morgen. E logo você percebe que está indo para o mesmo caminho. É preciso passar por cima do seu ego para aplacar o deles, e uma vez que você consegue fazer isso, a luta está ganha. E possível conseguir praticamente tudo o que você quiser. Ela não disse nada. Aquilo era o suficiente para se ficar pensando, ela decidiu, mesmo que houvesse um motivo secreto. — Não quero apressar o senhor, Sr. 0’Brien, mas... — Conall. — Havia algo de travesso no olhar dele, e isso baniu momentaneamente qualquer pensamento coerente da cabeça dela. — Certo. Não quero apressá-lo, mas eu gostaria de ir para casa se já terminamos por hoje. Se puder me deixar no escritório, vou pegar meu carro e ir embora. — Vai a algum lugar esta noite? — Não. — Sua resposta foi acompanhada por um profundo suspiro. — Definitivamente não. Tudo o que eu quero é ficar no sofá com minha pessoa favorita e relaxar na frente da TV. Sua pessoa favorita? O ciúme percorreu as entranhas dele como uma faca em chamas. Então havia um homem na vida dela? Ele fora estúpido por querer que não. Era porque fazia tempo que ele não tinha um relacionamento, ele refletiu melancolicamente. Um homem tem suas necessidades, e a deliciosa Srta. McKenzie era um lembrete provocativo de que as dele não estavam sendo supridas. Havia algo de singular nela que o fascinava. Que o envolvia. Algo naquela expressão um tanto distante, 19
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox que poderia revelar de repente suas ansiedades tão candidamente quanto a de uma criança, fazia-o querer conhecê-la mais. Tudo bem, ele também queria muito levá-la para a cama. O azar era ela já ter alguém. — E você? — Como? — Olhando-a de esguelha, ele viu que ela esperava que ele falasse. — Tem planos para esta noite? Sim. Depois de colocar no micro-ondas uma das refeições congeladas de sua irmã Teresa, ele pretendia tomar uma enorme taça de vinho e se inteirar do que estava acontecendo no escritório de Nova York em sua ausência. Infelizmente ele não tinha uma pessoa favorita para ficar junto dele no sofá e ver TV. Era uma pena Teresa ter viajado a negócios de última hora e por tempo indefinido antes de ele chegar. Ela deixara as chaves com um vizinho, mas, agora, uma companhia ia bem. Ele poderia ligar para sua mãe e conversar, mas ele não estava a fim de ouvi-la dizer de novo que estava na hora de ele voltar de vez para Londres. — Vou trabalhar, provavelmente. Dando de ombros, ele ligou o rádio. Assim que uma bela voz articulada anunciou o noticiário das 19h da BBC, ele não pôde negar estar copiosamente feliz por estar de volta, mesmo ficando na casa da irmã. Havia algumas coisas de sua terra natal de que ele definitivamente sentia falta. — Mamãe, por que a vovó faz você ficar brava? — Com os olhos pensativos, a garotinha de cabelo negro encaracolado se enfiou debaixo das cobertas e esperou ansiosamente pela resposta. Depois de um dia tão tenso, tudo o que ela não precisava era que Lorna McKenzie a demolisse verbalmente assim que entrasse pela porta. Morgen se abaixou e beijou a bochecha rosada de Neesha, muito feliz pela criança parecer estar bem melhor do que estivera nos últimos dias. — A vovó e eu apenas temos opiniões diferentes, querida. Às vezes, é difícil para ela entender que eu preciso trabalhar para nos sustentar. Mas se houvesse outra forma de eu fazer isso, acredite, eu faria. — A vovó acha que você afastou o papai porque você é cabeça-dura. Ela acha que, se você fosse mais legal com ele, ele teria ficado. — Neesha estava mordendo o lábio, e seus olhos era tudo o que se via. Sentindo o estômago pesado, tomou a mão pequenina da filha entre as suas e forçou um sorriso. — A vovó não tem o direito de falar essas coisas para você, meu amor. Ela não quer aceitar o fato de o papai ter ficado com medo de ser pai. Ela acha que havia algo que eu pudesse ter feito para ele ficar. Não importa o quão boa ela tenha sido para Simon: ele jamais teria ficado. Morgen tinha certeza disso. E ela ainda guardava mágoas dele. Não porque ela sofrerá por ele, mas porque ela conseguia ver a confusão nos olhos da filha. Por que o papai a abandonara? Como uma criança entenderia uma coisa dessas? Oh, como sua mãe fora tão egoísta e estúpida a ponto de dizer tais coisas? — Algumas pessoas não foram feitas para serem pais, querida. E um fato triste da vida, mas é verdade. — Então por que você e o papai me tiveram? — Nós fizemos você porque queríamos ter filhos, só que o papai se assustou e não quis mais ficar com a gente. E, quando eu segurei você em meus braços pela primeira vez, eu achei que você era a pessoinha mais linda, perfeita e incrível que já vira na minha 20
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox vida e a amei com toda a minha alma e sempre amarei. — Abraçando a filha, Morgen sentiu o frescor perfumado de limpeza do cabelo dela. — Eu amo você também, mamãe. Você é a melhor mãe do mundo e a mais bonita. Quando eu crescer, quero ser igual a você! Deitando-se sobre a colcha rosa da cama, Morgen sorriu. — Você levanta o meu moral, sabia? — O que é isso? — “Moral” significa “confiança”, a maneira como você se vê. Você me faz sentir bem quando diz essas coisas doces. Foi o que eu quis dizer. — Que bom. Quero que você se sinta bem. Odeio quando a vovó deixa você triste. — Agora vou dormir mamãe. Estou me sentindo bem cansada. — Tudo bem, linda. Vejo você de manhã. Você não se importa de voltar para a escola amanhã? — Não vejo a hora. Sinto falta dos meus amigos. — Tenho certeza de que eles também sentem falta de você. Boa noite, meu anjo. Deus a abençoe. No caminho para a sala, Morgen parou para pegar um elefante roxo de pelúcia, uma Barbie anatomicamente desproporcional e dois livros de histórias com orelhas de cachorro, os favoritos de Neesha. Ajeitando as almofadas aveludadas do sofá, ela se deixou cair, ao mesmo tempo em que procurava o controle remoto. As opções do que ver na TV eram desanimadoras. Um documentário sobre roubos de carros, uma novela com uma trilha sonora instantaneamente deprimente, futebol e um reality show em que os participantes estão loucos para se humilhar diante dos telespectadores. Morgen levantou-se e pegou um vídeo na gaveta embaixo da televisão. Quando bateu os olhos em uma de suas comédias românticas preferidas, ela sabia que, se os problemas e tribulações do casal perfeito não prendessem a sua atenção, nada mais o faria. Ela pôs a fita no videocassete, buscou na cozinha um saco de batatinhas e queijo e sentou-se no sofá para apreciar o filme. Depois de dez minutos, ela percebeu que não registrara nada do que acontecia na tela por estar involuntariamente preocupada com Conall 0’Brien. Ela franziu o cenho e aumentou o volume da TV para afastar as preocupações. Ela não gostava de nada nele, ela decidira. Só porque ele era lindo e impressionante, não significava que Morgen entraria para o seu fã-clube. Conall era autocrítico, dominador e claramente possuía um coração de pedra. Ainda bem que ele ficaria em Londres por pouco tempo, pelo que ela sabia, e voltaria para os Estados Unidos assim que Derek voltasse ou que eles encontrassem um substituto. — Amém — disse ela em voz alta, mastigando uma porção de batatinhas. Mas nem o belo herói na tela, implorando o amor da igualmente bela, porém desconfiada, heroína, teve o poder de afastar seus pensamentos do homem que ela odiava intensamente. — Quero estas cartas prontas sobre a minha mesa em uma hora, Srta. McKenzie. Morgen encarou a pilha de papéis que Conall jogou em cima de sua mesa antes de voltar para a sala de Derek e bater a porta. Ela balançou a cabeça e fez uma careta. — O que aconteceu com o “você preferiria que eu a chamasse de Morgen?”? — sussurro ela. Aparentemente ele mudara de opinião da noite para o dia. Talvez ele tenha trabalhado demais e o Jet Lag estivesse castigando-o só agora. Ah! Ele não precisava de uma desculpa para ser grosso. Ela apostaria até seu último centavo que aquilo era o normal dele. 21
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Chega! Irritada além do normal com a maneira como ele a perturbava, Morgen analisou a escrita incrivelmente desorganizada das páginas diante dela, automaticamente priorizando-as por ordem de importância. Vinte e quatro cartas, algumas com até duas páginas, ele estava tentando quebrar algum recorde? Não seriam digitadas em uma hora. Mas ela gostava de desafios. Tudo bem, Conall não imaginara isto: essa atração instantânea tão intensa e incompreensível pela assistente de Derek Holden. Há pouco, ao deixar aquelas cartas sobre a mesa dela e ver aquele corpo voluptuoso, um desejo selvagem e inapropriado o aturdiu. Agora ele encarava pela janela o domo familiar da Catedral de São Paulo, sem realmente a ver. Na noite passada, quando não conseguira dormir, ele naturalmente culpara o Jet Lag. Mas, na verdade, ele fora assombrado por pensamentos eróticos com Morgen McKenzie, que simplesmente se recusavam a ir embora. — Maldição! Palavrões eram mais fáceis que explicações. O dia seria longo também. O telefone não parou de tocar desde que pusera os pés no escritório, às 8h. A notícia de sua chegada viajara rápido, e o mundo todo queria a atenção dele... Inclusive a mãe. Ele prometera que iria hoje jantar com ela, mas já estava se arrependo disso. Ele não escaparia de suas reprimendas por ficar longe por tanto tempo e também não conseguiria evitar as referências comuns e desagradáveis a ele e seu pai. Escrevendo um recado para Morgen enviar flores para sua mãe em Marylebone, Conall abriu a porta e decidiu que não havia melhor momento do que aquele. Ela estava sentava na frente do computador, de costas para ele; então Conall deu a volta para ela poder vê-lo. — Uma dúzia de rosas amarelas para este endereço, por favor. Até a hora do almoço se possível. — Alguma mensagem? — Morgen sentiu o corpo ficar desconfortavelmente quente sob seu olhar. — “Desculpe, não vou poder ir hoje à noite. Ligarei para você. Com amor, Conall”. Observando o pedaço de papel com o nome e o endereço que ele lhe entregara, Morgen assentiu com a cabeça suavemente. Victoria Kendall. Uma namorada, noiva ou o quê? Pela primeira vez, ela cogitou a possibilidade de ele ser casado. O pensamento despertou sentimentos confusos, mas naquele instante ela se recusou a pensar no motivo. Mesmo se ela estivesse remotamente atraída por ele, e ela definitivamente não estava, Conall O 'Brien estava fora de seu alcance, como Simon estivera ou até mais. E olha como isso terminou. — Agora mesmo, Sr. 0’Brien. — Bom. Por falar nisso, acredito que você teve uma noite agradável com sua pessoa “favorita”. Por um instante, Morgen não tinha ideia do que ele queria dizer. Então se lembrou do que dissera no carro na noite passada, e sua testa se transfigurou em confusão ao pensar no tom de raiva na voz dele. — Sim, obrigada. — Uma mulher como você deve ter muitas pessoas favoritas, não? O que diabos aquilo queria dizer? Levantando a cabeça, Morgen lutou para manterse calma. 22
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Se estiver insinuando algo não muito lisonjeiro, então eu agradeceria se você guardasse seus pensamentos para si. Se não se importar. — Por que esse segredo? Quem é essa sua pessoa favorita? — Não é nenhum segredo! E mesmo se fosse, eu não tenho o direito de ter uma vida privada? — Sem dúvidas. Só estava expressando meu interesse. Eu não tenho o “direito” de fazer isso? Com todo o corpo tenso pela determinação obstinada dele em extrair de alguma forma a verdade, Morgen suspirou irritada. Se ela contasse que passara a noite sozinha com a filha, isso terminaria com o interrogatório de vez? — Eu passei a noite com Nee... — Bom dia a todos. Você fez café, Morgen? Vou precisar. Ambos encararam a figura levemente amarrotada de Derek Holden quando ele entrou pela porta, e isso foi tudo o que Conall pôde fazer para não o xingar em voz alta.
CAPÍTULO QUATRO A porta se abriu. Depois de duas horas trancado em seu escritório, a expressão de Derek lembrava a Morgen a de um prisioneiro recém-libertado depois de um longo período de confinamento, perguntando-se o que exatamente ele deve fazer. Coçando a cabeça, ele sorriu de lado para ela, como um menino. Aquele sorriso escondia uma vastidão de tormentos, ela não tinha dúvidas. Aquilo feriu o coração dela, e ela sorriu de volta sem reservas. — Bem, Morgen, parece que você tem um novo chefe pelos próximos seis semanas. Vou precisar tirar umas férias forçadas para me recompor. Acha que dá para levar sem mim? Ouvindo aqueles comentários, Conall teve que se segurar para não revirar os olhos. — Apenas volte logo. Alimente-se bem e descanse — aconselhou Morgen. — Ficaremos bem. Percebendo que havia incluído Conall naquela afirmação, ela corou envergonhada. Ontem ele mencionara que assumiria as coisas por um tempo, mas aquilo poderia significar até que eles encontrassem alguém para substituir Derek. Não significava que ele ficaria por tempo indeterminado. Era o que ele esperava. Ela desviou o olhar dos homens e focou-se na tela do computador. Conall acompanhou Derek até a porta e, depois de algumas palavras, se despediu. Ele virou-se, abriu os botões do casaco e afrouxou o nó da gravata. Depois parou para
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Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox tomar um copo de água e jogou o copo de plástico no lixo. Sob aquela aparente calma, Conall estava remoendo o último comentário de Morgen antes de Derek os interromper: “Eu passei a noite com...”. Naquele momento, ele não conseguiria falar com ela, tamanha raiva. — Como está indo com essas cartas? — perguntou ele. — Bem. Você não o deixou desamparado, deixou? — Morgen perguntou aflita. Ela se defendeu da irritação que surgiu naqueles olhos azuis perfeitos encarando-os de volta, mostrando que não iria recuar. — Esse instinto maternal seu surge com todos os homens, Srta. McKenzie? Ou ele é reservado para os Derek Holden do mundo? — Você está deliberadamente me interpretando mal, mas isso não me surpreende. Para a sua informação, não estou protegendo Derek. Só estou demonstrando preocupação com o homem que foi um ótimo chefe, que sempre me tratou bem e com muito respeito. O que é muito mais do que eu posso dizer de alguns homens para os quais já trabalhei! Conall corou levemente. Ela achava que ele não a tratava bem? Essa doeu. E quanto a Derek... Bem, ela considerava o homem um santo! A onda de ciúmes que varria Conall não era boa. — Sinto muito. Ele sentia tanto quanto um elefante que pisoteia uma formiga, Morgen concluiu. — Quando o assunto é tratar seus empregados decentemente, talvez você devesse seguir os passos de Derek. Parte de Conall não podia deixar de se sentir irritantemente culpada. Ele sempre se considerava justo, ainda que firme; era culpa dele se ela o considerava o contrário? — O inferno congelará antes de eu seguir os passos de um homem que se deixa ser reduzido a um farrapo de gente por causa do abandono da mulher — desabafou ele, ríspido. — Ele deveria ter um pouco mais de respeito por si mesmo. Sentindo o rosto empalidecer e os dedos agarrarem a mesa, Morgen se perguntou como conseguiria impedir de levantar-se e ir embora. Mas só porque Conall estava depreciando Derek, não queria dizer que ela deveria tomar para si aqueles comentários e se resignar. Ele podia não gostar do que ele estava dizendo, mas, de agora em diante, ela teria uma abordagem muito mais fria à situação e, de alguma forma, ignoraria a raiva que ele despertava dentro dela. Mas ainda assim, ela não deixaria que ele desse a palavra final. — Você é tão certo de si, não? — Aqueles olhos verdes brilhavam furiosos. — Você provavelmente nunca se importou o suficiente com uma mulher a ponto de temer que ela o abandonasse. Mendigo ou rei é doloroso ser abandonado por alguém que você ama. Talvez quando isso finalmente acontecer, você tenha um pouco de compaixão pelo resto da humanidade! — Não é bem assim, Srta. McKenzie. Eu jamais deixaria uma mulher se aproximar tanto assim e me machucar... Embora eu não seja avesso a me aproximar de outras formas... Embora o olhar dele não vacilasse nem por um instante, Morgen teve a estranha sensação de que seus comentários estavam beirando o inapropriado. Ajeitando-se na cadeira, ela imaginou como ele reagiria se ela dissesse que, se ele continuasse com esses comentários, ela o denunciaria por assédio. Mas ela sabia que não faria isso. Quem daria ouvidos a ela, quando o chefe era ele? Mas Morgen sabia também que não podia mentir para si mesma. Quando Conall 0’Brien a olhava daquela forma, gostando ou não, a natureza sensual, que ela há tempos 24
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox enterrara desde que Simon a deixara, voltava à vida. E agora ela encarava a possibilidade de trabalhar para ele pelas próximas seis semanas! Cansada de lutar, ela engoliu sua ira e decidiu tentar falar de novo com seu implacável chefe sobre Derek. — Se você deixar Derek desamparado, ele vai simplesmente beber até morrer, e a culpa será sua! Não reconhece os sinais? Ele acha que não tem mais nada a perder. Ele não está raciocinando. E como poderia? Você não consegue encontrar nada em seu coração para ajudá-lo? — Ela hesitou em dizer “se você tiver um”. — Odeio vê-la se estressar por causa disso, Morgen. Cá entre nós, Derek irá para uma clínica de reabilitação muito exclusiva e cara no interior, paga pela firma. Ele terá tudo o que precisar. Vou receber notícias semanais sobre a recuperação dele. Isso a deixa mais calma? Juntando as mãos sobre a mesa, Morgen suspirou devagar e com dificuldade. — Se quer saber a verdade, — admitiu ela — deixa sim. Perdi noites de sono pensando no que iria ser dele. — E agora você pode ficar despreocupada. Ele estará em boas mãos. A resposta dele foi concisa, com desprezo. O que ela esperava, sendo tão veemente protetora com relação a Derek? Rude, de verdade. Indo para sua sala, ele se virou e a encarou, pensativo: — Você deveria conversar com alguém sobre suas preocupações com o bem-estar dele. O RH tem um orientador para isso. — Para que isso se espalhe por todo o escritório? — Apesar de sua promessa de ficar calma, ela falava sarcasticamente. — Não sei como é no escritório de Nova York, mas aqui as fofocas voariam. É uma pena, mas as pessoas julgam as outras sem realmente as conhecer. Culpadas até que se prove o contrário. Eles teriam enforcado e esquartejado Derek em um piscar de olhos. Agora eles devem estar achando que você o despediu. Até a hora do almoço, as notícias já estarão correndo. Ela estava certa, claro. Ele mesmo deveria ter pensado nisso, Conall admitiu silenciosamente. Ele não se comportara da mesma maneira quando a encontrara dormindo em sua mesa, culpando-a sem nem sequer a conhecer? — E se marcarmos um tipo de reunião informal, para tornar oficial que Derek está saindo de licença e que voltará depois de algumas semanas? Se isso tudo vier de mim, talvez coloque um fim nas especulações sobre ele perder o emprego. — Eu poderia organizar algo às 16h, na sala de reunião dos funcionários. O que você acha? — Isso, cuide disso. A propósito, pode arranjar alguma coisa para eu almoçar? Vou começar a limpar os arquivos do Sr. Holden. Um sanduíche de frango seria suficiente. Obrigado. Morgen achou que ele poderia até ser charmoso se tentasse, como indicava aquele sorriso cativante. Mas ela não queria ser cativada por ele, queria? Ela conseguia lidar com seu jeito superior e arrogante, mas com aquele charme era algo totalmente diferente... Morgen espirrou e então espirrou de novo. Enquanto fechava a porta do carro, uma onda de calor a fez ficar zonza. — Droga, droga, droga! — Balançando a cabeça, ela silenciosamente amaldiçoou o destino por fazê-la pegar a gripe de Neesha. Era a última coisa que ela precisava, principalmente hoje, quando Conall iria presidir uma reunião na sala vip e ela deveria fazer anotações. 25
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox Saindo do estacionamento subterrâneo e atravessando a avenida, ela mal pisara fora da calçada quando de súbito um carro passou disparado, quase arrancando o esmalte das unhas de seus pés. No mesmo instante, alguém a puxou com força de volta para a calçada. Antes que Morgen pudesse se recuperar, Conall a virou para encará-lo, com seus olhos azuis tomados pela raiva. — Está planejando morrer? Por que diabos você não olhou para os lados? O coração dele ainda batia acelerado. Conall mal acreditara quando avistara Morgen atravessando a rua e o carro que vinha em sua direção a 50 quilômetros por hora. Vendoo desviar no último instante, ele teve que correr para conseguir puxá-la antes que o carro que vinha atrás lhe tirasse a vida. Agora ela o encarava, ruborizada e com os olhos verdes úmidos e confusos. Oh, Deus! Ela não iria chorar, iria? Conall se orgulhava de ser viril, mas, para ser honesto, ele tinha um fraco por mulheres choronas, crianças doentes e animais feridos. — Ei. — Com a voz rouca, ele acariciou o rosto dela com a mão. Uma lágrima escorreu do canto do olho dela sobre sua pele ruborizada. — Eu não quis assustá-la. Sentindo como se não tivesse ar suficiente para respirar, Morgen procurou em sua bolsa por um lenço, com o corpo trêmulo, mais por Conall tê-la tocado do que pelo quase acidente em si. Além de perceber que quase morrera, ela estava assustada e confusa por perceber como o toque de um homem a desorientara. — Você não me assustou. Eu me distraí por um segundo, só isso. Obrigada por me salvar. — Ocorreu-lhe que, se ele não a tivesse salvado, a filhinha dela estaria sem mãe agora. Aquilo produzira outra lágrima, e depois mais uma, e ela mordeu os lábios tentando controlá-las. — Venha, vamos pegar um café e conversar um pouco. Conall a levou a um pequeno café italiano. Morgen tentava desesperadamente enxugar as lágrimas, não acreditando que estava se desgraçando desse jeito e na frente da pessoa a quem ela não poderia se dar ao luxo de mostrar vulnerabilidade. Alguns minutos depois, seus sentidos foram acalmados pelo aroma de café fresco e dos pãezinhos recém-assados. Morgen sentou-se diante de Conall. Sua figura grande fazia a cadeira parecer pequena, como sempre, e sua concentração estava 100 por cento focada nela. As mãos dela tremiam um pouco enquanto ela levava o café com creme até os lábios. — O que causou tudo isso? Talvez eu possa ajudar. Conall percebeu que realmente queria ajudá-la. Nos últimos dias, crescia dentro dele a distinta impressão de que Morgen ajudava a todos sem questionar, mas acabava negligenciando a si mesma. Ele se perguntava se a pessoa “favorita” que ela mencionara Neil ou qualquer que seja o nome, realmente a apoiava. Pensar no namorado dela o fez ranger os dentes de irritação, pois aquele era um obstáculo que ele não queria ter que ultrapassar. — Estou bem, de verdade. Só estou gripada e não tenho dormido bem. — Seu olhar estava nervoso e se esquivou antes que ele o examinasse melhor. — Não acho que esses sejam os únicos motivos para você estar assim. O que a tem preocupado, Morgen? Se for algo relacionado ao trabalho, sou a melhor pessoa para você desabafar. As pessoas que trabalham para mim são os bens mais valiosos da empresa. Assim, o bem-estar deles é minha preocupação também. Falada dessa forma, sua explicação parecia mais que razoável... Sedutora, até. Mas Morgen sabia que não podia confiar em Conall. Além de ser o dono e sócio majoritário da empresa em que trabalhava, ela já estava ciente de que ele desprezava qualquer tipo de 26
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox fraqueza. E por que um homem como ele perderia seu tempo com uma secretária como ela? Ela já passara por uma experiência humilhante com Simon e sabia que grandes diferenças de status e dinheiro poderiam ser um problema em relacionamentos. Ela certamente não queria passar por isso de novo. — Achei que o senhor não aprovasse que os problemas pessoais das pessoas invadissem seus trabalhos, Sr. 0’Brien. — Conall — disse ele irritado, passando os dedos pelo cabelo, para depois sentir remorso por ficar provocando-a com seu “Srta. McKenzie”. Ele fizera isso subconscientemente, na tentativa de colocar uma barreira entre Morgen e si mesmo? Para manter o relacionamento entre eles estritamente profissional e para reduzir de alguma forma a violenta atração que corria por suas veias toda vez que a olhava? Era uma regra rígida dele jamais se envolver com mulheres no trabalho. Isso poderia trazer complicações, sabia ele por experiência própria. — Você não tem uma opinião muito boa sobre mim, não é? — completou ele. — Você faz o que tem que ser feito, eu acho. Não quer dizer que eu preciso gostar disso. — Encolhendo os ombros, Morgen refugiou-se atrás de sua xícara de café. — Você acha que eu não me importo com as pessoas que trabalham para mim? — Eu não disse isso — respondeu ela, corando. — Mas você não acha que sou simpático, acha? Sentindo como se pisasse em ovos, Morgen desejou jamais ter começado essa conversa. — Sua reputação o precede, Sr. 0’Br... Ele franziu o cenho, irritado. — Se me chamar assim de novo, está despedida. O coração dela acelerou-se. — Como estava dizendo, eu tenho uma empresa... — Mas ele não continuou. Conall não conseguia entender por que aquele comentário o deixara tão desconfortável. Ele se tomara intransigente demais? Ele era bem-sucedido, não? Sua empresa era um sucesso. E ele acreditava genuinamente que as pessoas gostavam de trabalhar para ele. Então por que a opinião de Morgen importava tanto? — Eu sei que não é fácil — disse Morgen, lutando mentalmente contra uma onda de calor —, mas somos todos humanos, sabe? E a vida não é cheia de respostas fáceis. Como eu disse antes, Derek não sabotou sua carreira deliberadamente. — Mas não estamos falando de Derek agora. — Ele passou a mão no colarinho da camisa, recostou-se na cadeira e suspirou. — Sinto muito que você não confie em mim o suficiente para me dizer o que a está incomodando. Você quer falar sobre isso? Não agora. — Ele olhou o relógio de pulso. — Mas assim que tivermos um tempo juntos. A ideia fez Morgen estremecer. Já era uma provação trabalhar com este homem, imagine passar “um tempo junto” a ele conversando sobre o motivo de ela não confiar nele. — Não há a necessidade disso. E, de qualquer forma, é só uma gripe. Nada em particular está me chateando no momento. Além de você. — Logo estarei melhor. — Encolhendo os ombros apologeticamente, ela tomou outro delicioso gole de café, sentindo-se um pouco melhor. — Não quer ir direto para casa depois da reunião? Eu mesmo posso levá-la. — Não! 27
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox A veemência com a qual ela respondera fez com que a suspeita surgisse no semblante de Conall. Caramba, ela parecia assustada. O que ela tentava esconder? Um namorado inútil e desempregado talvez? Era por isso que Morgen parecia tão cansada? A raiva tomou conta dele por um instante, mas depois ele se repreendeu por tirar conclusões precipitadas, algo de que Morgen já tinha motivos para acusá-lo. Ele então percebeu que havia vários motivos para ela não confiar nele, e isso começou a incomodálo de verdade. Ela não queria que ele a levasse para casa. Ela não queria que ele visse a ruela na qual sua casinha de dois quartos ficava. Não que ela tivesse vergonha dela, não depois de passar anos transformando-a em um lar aconchegante para ela e Neesha. Mas é que aquilo tudo estava bem abaixo do que um homem como Conall estava acostumado. — Ficarei bem até o fim do dia e depois irei direto para casa. Obrigada mesmo assim. Percebendo que seria inútil argumentar, Conall bebeu seu café em um gole e se levantou. — Precisamos voltar. Meu dia será cheio. Está melhor? — Bastante — mentiu Morgen, sentindo as pernas tremerem enquanto o seguia para fora. Foi uma longa reunião, muito mais do que Conall desejara. Olhando para Morgen várias vezes durante a reunião, Conall percebeu o brilho da transpiração na testa dela quando Morgen ajeitou a franja uma ou duas vezes, e ele achou que aqueles olhos verdes cativantes pareciam distantes, febris. Mas eles já estavam no meio da reunião, e não havia nada que ele pudesse fazer para ajudá-la. Morgen tomava notas furiosamente, e naquele momento o assunto era o lucrativo projeto Docklands. Além de Derek e do próprio Conall, ninguém mais conhecia tão bem o projeto quanto ela. Colocar outra pessoa no comando dele não seria uma boa ideia. Entretanto, Conall continuava de olho em sua nova assistente. Durante o intervalo, quando as outras pessoas estavam aproveitando o lanche na sala ao lado, ele foi falar com ela. — Como está se sentindo? Ele se inclinou sobre ela, saturando seus sentidos com aquela essência masculina, deixando-a ainda mais zonza do que a gripe deixava. Voltando rapidamente o olhar para as páginas de anotações que preenchera, Morgen decidira que era melhor evitar aqueles ávidos olhos azuis. — Estou bem, obrigada. — Se me permite dizer, você parece um pouco corada. — Está quente aqui dentro, você não... Você não acha? Esquecendo-se do seu voto para evitar ao máximo o contato visual, Morgen descobriu seu olhar preso ao dele. — Vou abrir uma janela. Ele abriu algumas, rezando para que o ar fresco acalmasse sua libido. Ele conhecia o calor do desejo como qualquer outro homem saudável, mas quando ele olhava para os atraentes olhos verdes de Morgen McKenzie, com seus longos cílios, o desejo subia para outro nível. Se ele não tomasse cuidado, aquilo viraria uma obsessão. — Agora está melhor, obrigada. — Ela passou a mão na parte de trás do colarinho, na qual seu cabelo estava preso, e Conall não pôde deixar de notar os fios sedosos de ébano encaracolados que se soltaram em sua nuca. Ele enfiou as mãos nos bolsos de trás para impedi-las de tocá-los e testar se eles eram tão macios quanto pareciam. 28
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Quer que eu pegue alguns sanduíches e um café? — Não, obrigada, não estou com fome. Água já está bom. Como se para confirmar sua escolha, Morgen encheu um copo de água e tomou um gole. A mão dela estava trêmula, e Conall franziu o cenho ao pensar que a reunião estava sendo uma provação para ela. — Já deve estar acabando. — Olhando no seu relógio, ele pegou a folha de papel com a agenda da reunião. — Mais cinco itens. Vou ser o mais breve possível, e, quando terminarmos, eu mesmo levarei você para casa. Conall viu a palavra “não” se formar naqueles deliciosos lábios e então levantou os ombros, determinado. Não há por que ser o chefe se você não pode usar isso ao seu favor quando fosse preciso. E agora Conall precisava saber que a levaria embora. E ele não estava sendo de todo egoísta. Qualquer um podia ver que ela estava ardendo em febre. Ela quase entrara na frente de um carro de manhã, e a última coisa que Conall queria em sua consciência era saber que ela sofreu um acidente no caminho para casa por não conseguir se concentrar. Mudando de posição na cadeira, Morgen suspirou. — Já disse antes, eu agradeço sua preocupação, mas eu não preciso que você me leve para casa. Agora, por favor, não pense mais sobre isso. Mas às 16h45, Morgen deu por si sendo levada até o estacionamento e sendo ajudada a sentar-se no banco do passageiro por um solícito e firme Conall, que não aceitaria um “não” como resposta, não hoje, pelo menos, e não dela. Resignada, ela lhe ensinou o caminho e ficou praticamente a viagem toda em silêncio. Por que ele insistia tanto em levá-la para casa? Ele estava levando suas responsabilidades como chefe muito a sério, Morgen concluiu. Nem mesmo Derek, que Deus o abençoe, sendo tão generoso como era jamais pensou em fazer o mesmo. Se tivesse ali, teria mandado outra pessoa fazer. Mas não Conall. Morgen olhou de relance para aquele belo perfil, e a ansiedade cresceu dentro dela. Assim que eles pararam, ela já estava com a chave na mão, agradeceu e se apressou antes que ele insistisse em levá-la até a porta; e Morgen tinha a terrível sensação de que ele faria isso. Se ela aprendera algo sobre Conall 0’Brien, era que ele levava seu trabalho e suas responsabilidades profundamente a sério, sem meio-termo. Ele era a epítome do ditado “se for para fazer algo, que faça bem feito”. Assim que eles pararam diante da alegre porta vermelha, numa rua onde as portas eram predominantemente pintadas de preto ou, ainda pior, de cinza, Morgen estava sentindo-se muito mal para ligar para o que Conall iria fazer. Ela não tinha forças para se preocupar se ele achava que a rua dela era pobre ou se os carros parados eram muito mais velhos que o dele. E tudo o que ela queria era sua cama, e, se ela não chegasse a tempo, o sofá seria suficiente. Graças a Deus Neesha estava na casa da avó. — Obrigada, eu... — Dê-me suas chaves. — O quê? Com a expressão dura como pedra, ele virou-se e estendeu a mão. — As chaves da sua casa. Vou levá-la para dentro, Morgen. Vou cuidar para que você tome algum remédio para febre e vá para a cama. Não preciso ser médico para ver que você está ardendo. Talvez eu ligue para o seu médico. — Espere aí, eu...
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Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox Não era fácil ficar indignada quando sua cabeça parecia que ia conhecer pessoalmente o chão a qualquer segundo, Morgen percebeu. Assentindo com uma mistura de fadiga e resignação, ela procurou pelas chaves na bolsa e as colocou na mão dele. — Boa menina. — Não gostei disso! — Puxando-o pela manga da camisa caríssima, Morgen o encarou apesar de sentir o mundo girar. — Não sou uma garota, sou uma mulher. Os olhos de Conall tomaram-se perceptivelmente sombrios. — Querida, no instante em que eu pus os olhos em você, não tive sequer uma dúvida disso. Agora vamos entrar antes que você desmaie aqui mesmo.
CAPÍTULO CINCO Após passar por uma antessala clara e estreita, decorada com papel de parede de plantas e flores, Conall sentiu os sentidos se acalmarem ao sentir os aromas de rosa e baunilha, duas fragrâncias que ele conhecia muito bem por causa do gosto da irmã por velas aromatizadas. A casa de Morgen era um mundo de sensações, percebeu ele enquanto a seguia pela sala. Era pequena, mas o que faltava em metros quadrados sobrava em conforto. Era uma sala para a qual uma pessoa desejaria retomar no fim do dia, Conall concluiu, sentindo uma sensação estranha. Ele achara que havia suprimido a ânsia de criar raízes. Ter um lugar e uma pessoa amada para quem voltar depois do trabalho era algo que ele considerava há pouco tempo, Além do mais, isso nunca daria certo para ele. Ele odiava admitir, mas era igualzinho ao pai dele. — Que sala adorável. Apesar das cores principais serem amarelo-claro e dourado, havia traços de cores vibrantes em todos os lugares. Colchas de veludo vermelho e de seda estendidas por dois grandes sofás, e pilhas de almofadas formando um caleidoscópio de matizes e texturas estavam espalhadas por todos os lugares. Acima da lareira vitoriana que obviamente fora restaurada com muito cuidado e carinho, havia um retrato grande e vivido de uma modelo pré-rafaelita, com a pele branca como leite e o belo cabelo ruivo decorado com uma grinalda de rosas brancas. Conall a estudou por um instante antes de voltar à atenção para Morgen, percebendo que ela mal conseguia ficar de pé. — Obrigada.
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Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox Embora febril, ela ouviu a apreciação genuína no tom de Conall, e algo quente preencheu o vazio em seu coração. Ele era um arquiteto par excellence, que projetara e construíra casas para os ricos e famosos, casas dos sonhos, e que ali estava, no meio de uma modesta sala de estar, dizendo que a achava adorável. Bem ali, ela quase chorou. — Por que você não se senta, tira os sapatos e me deixa pegar uma aspirina e um copo d’água para você? Se não se sentar logo, você vai acabar desmaiando. Ela não estava em posição para argumentar. Deixando-se cair no sofá antes que ele terminasse, ela jogou para longe os sapatos de couro e flexionou os dedos, soltando e chacoalhando o cabelo. Por um instante, Conall apenas encarou a massa negra e sedosa que caiu sobre os ombros dela e então se moveu abruptamente para a porta, criando uma distância segura entre eles; porque o desejo dele era muito forte para ser ignorado. — A cozinha é a última porta no fim do corredor. Tem alguns remédios no armário acima da geladeira. Na pequena cozinha, Conall localizou rapidamente os remédios, encheu um copo d’água e ficou momentaneamente transfigurado pelos desenhos infantis pendurados por ímãs coloridos na porta da geladeira. Chamou-lhe a atenção o desenho com o título escrito em canetinha vermelha: “minha mamãe”. O desenho surpreendentemente bom mostrava uma mulher alta e magra com cabelo preto esvoaçante, olhos verdes felinos e uma boca vermelha. Conall ficou ali por um tempo, absorvendo o choque, acostumando-se com a realidade de que Morgen tinha um filho. Ela era mãe. Consequentemente, a criança tinha um pai... O namorado de Morgen? O tal Neil? Ou era a criança de um relacionamento anterior? Ele sabia que não tinha o direito de ficar com ciúmes ou bravo, mas nenhum de seus sentimentos fazia sentido naquele momento. Engolindo em seco, Conall voltou para a sala, com o carpete verde-musgo abafando seus passos. Quando ele a encontrou deitada no sofá, de olhos fechados, ele sentiu um aperto inexplicável no peito e concluiu que a ideia de ter um relacionamento com ela estava totalmente fora de questão. Por mais que ele a desejasse, e o coração dele baita mais forte só de pensar nisso, ele não tentaria quebrar um relacionamento já estabelecido, especialmente um envolvendo uma criança. Como se sentisse a presença dele, Morgen abriu os olhos. — Você encontrou. Obrigada. — Lutando para sentar-se, ela engoliu os dois comprimidos brancos com dois grandes goles. — Sua casa é muito arrumada — sussurrou Conall. — E fácil encontrar as coisas assim. Por que não me contou que tem um filho? A tontura em sua cabeça aumentou. A cozinha é claro... Ele deve ter visto os desenhos de Neesha. Oh, bem. Focando o olhar cansado no rosto sério e inegavelmente lindo de Conall, Morgen decidiu ser franca com ele. Nestas circunstâncias, o que mais ela poderia fazer? Se ele não gostasse, isso era problema dele. Ela não pedira que ele a levasse para casa, muito menos que entrasse. — Você nunca perguntou por isso eu nunca contei. Ela lambeu os lábios para umedecê-los, e Conall observou essa pequena ação com uma força que ele não achava que fosse capaz de ter. Abrindo a casaco, ele sentou-se no segundo sofá. — O nome dela é Neesha. Ela tem seis anos. Não contei sobre ela porque não queria que você tivesse outra desculpa para achar que meu comprometimento com o trabalho é menor do que deveria ser. Sabe aquela manhã em que você me encontrou dormindo sobre a mesa? Eu fiquei a noite toda acordada cuidando do resfriado dela. Sei que muitos 31
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox chefes não gostam de mulheres com responsabilidades familiares. Você já ameaçou me despedir, e eu preciso deste emprego. Conall estreitou os olhos enquanto absorvia o que acabara de ouvir. — Neesha? Ela é a pessoa “favorita” que você mencionou outro dia? Suspirando profundamente, Morgen passou os dedos por sua cortina de cabelo negro, fazendo os dedos de Conall coçarem de vontade de fazer o mesmo. Mas ele sabia que havia um poço de ressentimento naquele suspiro, pois ela não estava exatamente feliz por explicar as circunstâncias de sua vida. — Claro. Quem mais poderia ser? — E onde está o pai dela? Trabalhando? — Eu não sei. Temos sorte quando o vemos três ou quatro vezes por ano, se muito. — Uma risada melancólica saiu de seus lábios. — Ou eu deveria dizer azar? — Vocês estão separados? — Conall não pôde negar o fluxo de esperança que corria por sua corrente sanguínea. — Divorciados há cinco anos. Sou mãe solteira. E agora você sabe tudo sobre mim. — Os olhos dela mostravam-se ressentidos, mas agora Conall sentia-se melhor equipado para lidar com isso. Ele sorriu. — Não tudo. Por que vocês se divorciaram? Ela fez um ruído exasperado. Longe de querer tirar vantagem, ele estava feliz por ela não poder se levantar e levá-lo até a porta. Embora fosse o cavalheiro que sua mãe o criou para ser, com certeza ele teria escolhido uma hora melhor para fazer seu interrogatório. — Isso é assunto particular. Morgen queria que ele fosse embora logo. Por que ele ainda estava ali a importunando com todas aquelas perguntas, quando tudo o que ela queria era aninhar-se no sofá e dormir? Simon fora um cretino de primeira, mas não revelaria tudo para seu chefe. Além disso, sabendo como os homens são unidos quando se trata dessas coisas, Conall provavelmente pensaria que a culpa era dela, e Morgen já fora julgada o suficiente. — Ter um filho não justifica uma demissão, Morgen. Contanto que meus funcionários tenham certo nível de comprometimento com o trabalho e que não tirem vantagem disso, não vejo problemas em se ausentarem para cuidar de um filho doente ou para ver alguma peça da escola. Não sou um homem de família, mas sei que é ridículo não considerar que as pessoas têm outra vida fora do trabalho. Se fui culpado disso no passado, está na hora de algumas mudanças. Por falar nisso, onde está sua filha? — Na casa da minha mãe. Ela dorme lá uma vez por semana. Apesar de não querer demonstrar vulnerabilidade para este homem, Morgen não pôde evitar recostar-se no sofá. Ela estava tão cansada. Se Conall quisesse vê-la no trabalho na manhã seguinte, ela precisaria de pelo menos 12 horas de descanso. Mas ela admitiu, ainda que sonolenta, ter gostado do que ele dissera. Aquilo o fez parecer mais acessível menos arquiteto carismático e poderoso e mais ser humano. Quando Conall levantou-se, passou a mão pelo cabelo e afrouxou a gravata, Morgen já estava em sono profundo. Vasculhando a sala, ele a cobriu gentilmente com uma colcha de lã xadrez. Ela protestara veementemente em ser chamada de garota, mas neste momento, olhando para seu rosto ruborizado e angelical, Conall achava que ela parecia uma menininha que precisava de cuidados. Ele só namorara de fato mulheres de sólida carreira: figuras fortes, capazes e ambiciosas que sabiam o que queriam da vida. Se faltava um pouco de calor humano em 32
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox suas maquiagens, rasgar os lençóis como atividade extracurricular após o trabalho compensava esse déficit, se fosse esse o caso. “Trabalhamos muito e nos divertimos muito”, um colega, orgulhoso de ter 30 anos e ainda ser solteiro, afirmara em um bar certa vez. Mas Conall sentira um surpreendente desconforto diante desse papel socialmente aceito. Ter uma reputação de playboy não era tudo na vida, ele descobrira. Ele não estava louco para ter uma família ou algo do tipo, mas talvez fosse bom ter uma mulher especial em sua vida em vez de muitas. Contanto que ela não esperasse que eles fossem se casar. Seu peito tomou-se vazio enquanto ele continuava a estudar Morgen, adormecida. Se estava divorciada, obviamente ela não conseguira o que queria. Será que ela já acreditou em final feliz? Conall achava perturbador pensar que os sonhos infantis foram esmagados por um homem. Apesar de sua própria aversão ao casamento, ele inexplicavelmente sentia como se todo o seu gênero a tivesse decepcionado. Por Deus! Até aonde aquilo iria? Balançando a cabeça em descrença, ele olhou o relógio sobre a lareira. Quase ao mesmo tempo, seu estômago roncou. Ele não comeu desde a manhã; pulara os sanduíches da reunião para poder conversar com Morgen. O problema era que ele não queria deixá-la sozinha e ir atrás de comida quando ela mais precisava dele. Se ao menos ele tivesse pensado em pedir o telefone da mãe dela em vez de importuná-la com perguntas. O que ele deveria fazer agora? Por fim, Conall foi para cozinha, dizendo para si mesmo que Morgen não se importaria se ele fizesse um lanche. Ele pagaria levando-a para jantar. Ele não era conhecido por ser um chef de cozinha, mas estava faminto. E o que poderia ser melhor do que itens básicos como pão e queijo? Agora, se ela tivesse também uma boa garrafa de vinho, pensou Conall ironicamente, ele estaria no paraíso... MOVENDO-SE DURANTE o sono, ela sentiu todos os seus ossos e músculos gemerem de dor. Algo pinicava seu pescoço, e Morgen piscou na semiescuridão e empurrou a colcha para longe, sentindo-se assustada por não se lembrar de ter se: coberto antes de adormecer. Conall? Quando ele partira? E o mais importante: o que ela dissera antes de ele partir? Ela só podia rezar para que não tenha sido nada estúpido. Algo do qual ela se arrependesse. Sentando-se, ela sentiu que precisava beber algo e levou as pernas ao chão, desejando não se sentir tão zonza e quente. Morgen mal conseguia coordenar seu cérebro e seus membros ao mesmo tempo. — Pronto, me deixe ajudá-la. Vinda da escuridão da sala, a voz de Conall quase a fez desmaiar. Ela observou a mão dele vir até seu ombro e reconfortá-la. O que ele estava fazendo ali? E que horas eram pelo amor de Deus? Ele tirara o casaco e a gravata, e um cacho sedoso do cabelo caíra sobre a testa conforme ele se abaixara. — Aonde você quer ir? — Ao banheiro. Eu posso... Posso ir sozinha. — Você está ardendo. Assim que você voltar do banheiro, sugiro que vá se deitar. Você precisará me mostrar onde é o seu quarto. Lutando para ficar de pé, Morgen sentiu-se como um potro recém-nascido, tentando dar os primeiros passos. Conall estava lá para ajudá-la, e ela quase chorou por sentir-se tão fraca e realmente precisar da ajuda dele. — Você não deveria estar aqui — suspirou ela desanimada, tentado segurar as lágrimas. — Por que você ficou? 33
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox Os olhos azuis dele não vacilaram. O olhar que encontrou os olhos dela transtornados quase fez seu coração partir-se. — Porque você precisava de mim. Simples assim. No tempo em que viveram juntos, Simon jamais ficou acordado cuidando de Morgen quando ela estava doente; e ele era médico. Com um suspiro, Morgen permitiu que Conall a ajudasse a chegar até o banheiro. Insistindo para que ela deixasse a porta destrancada, ele encostou-se à parede do corredor, desejando que tivesse insistido mais para que ela fosse embora mais cedo. O mínimo que ele podia fazer agora era certificar-se de que tudo estava bem para ela. Ele a colocaria na cama e daria água e mais dois comprimidos para abaixar a temperatura antes que fosse dormir novamente. Então passaria a noite em um dos sofás e checaria seu estado pela manhã. Ela não iria gostar nem um pouco, mas Morgen não estava em condições de protestar. Acendendo a luz do banheiro, ela estava sentindo-se muito melhor depois de ter escovado os dentes e de ter tirado aquele gosto ruim da boca. Mas aquilo não a impediu de sentir-se um pouco zonza ao esforçar-se para ficar de pé e sorrir tremulamente para a enorme figura de Conall. — Tudo certo. — Onde é o seu quarto? — Aposto que você diz isso para todas as garotas — brincou ela debilmente, mas desejou não ter falado isso quando as belas sobrancelhas de Conall formaram uma expressão altamente desaprovadora. — Prefiro que minhas mulheres estejam em total controle de suas faculdades mentais antes que as coisas fiquem tão específicas, querida — revidou ele, fazendo o cabelo da nuca dela se eriçar. O que foi que deu nela? Por que ela precisava ficar desse jeito na presença dele? O que a fazia desejar o impossível, mesmo estando doente? — Eu não estava tentando dar uma cantada em você ou nada do tipo. — Virando-se, ela se assustou quando ele segurou com força seu braço. Encarando-o, sua pele ruborizou-se pela febre, e suas pernas tremeram, mas ela não tinha forças para escapar daqueles intensos olhos azuis. — Acha que eu iria recusar um convite seu se você tivesse me cantado? Mesmo na sua atual condição, eu desejo você tanto quanto não tenho o direito de querê-la. Agora vamos fugir desse assunto antes que eu me esqueça de que sou um cavalheiro. No quarto dela, Conall fechou as cortinas contra a noite e respirou profundamente. Ele a deixara sentada na beira da antiga cama de metal, tentando tirar o casaco, enquanto tentava não a encarar e imaginá-la despindo-se para ele. Ele próprio sentia-se febril. Estar no quarto dela já era inacreditavelmente mais erótico do que qualquer fantasia que ele poderia ter. O quarto era superfeminino, e Conall sentiu-se totalmente ciente de sua masculinidade. As mulheres que ele namorava geralmente preferiam um visual mais minimalista em seus quartos, mas o de Morgen era um ataque sedutor aos seus sentidos. Além de ter os mais eróticos aromas, sândalo e algo doce e exótico que ele não conseguia identificar, tudo ao redor dele era um banquete para os olhos. — Posso ir para a cama agora? Ela já havia levantado às cobertas brancas e estava começando a entrar debaixo delas quando Conall aproximou-se da cama, com sua figura casual camuflando o tumulto de desejos dentro de si. 34
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Você ainda está vestida — lembrou- ele, sério. — Como você dorme? — Ele a encarou, esperando que ela tirasse uma longa camisola vitoriana de renda debaixo do travesseiro. — Estou muito doente para me trocar — protestou ela. Mais precisamente, ela não tinha a intenção de se trocar com o garanhão na frente dela. — Vai se arrepender disso pela manhã. — Um leve esboço de sorriso surgiu naqueles lábios, e Morgen sentiu como se estivesse andando de monociclo sobre um arame suspenso. — Bom, então deixe isso comigo. Assim que ela começou a levantar-se novamente, Conall empurrou-a gentilmente para trás. Ignorando seu olhar indignado, ele pôs as mãos na cintura. O olhar de Morgen as seguiu, e ela engoliu em seco quando percebeu o que acabara de fazer. — Onde estão suas coisas? Vou pegá-las para você. Indicando com a cabeça a grande cômoda vitoriana no outro lado do quarto, Morgen relutantemente disse: — Terceira gaveta. Conall estudou os pijamas de seda vermelho. Eles eram tão macios que pareciam água escorrendo pelos dedos. O desejo bateu forte em sua virilha, e, por alguns instantes, ele ficou perfeitamente imóvel para se acalmar. Ela usava pijamas de seda vermelho na cama. O que ela estava tentando fazer? Torturá-lo? — O vista — mandou ele, jogando-o no colo dela. — Vou esperar lá fora.
CAPÍTULO SEIS MORGEN ESTAVA deitada na cama olhando para o teto quando a porta se abriu, e, sem se anunciar, Conall entrou. Ele trazia um copo d’água em uma bandeja, e seu cabelo
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Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox parecia despenteado e úmido, como se ele tivesse acabado de tomar banho. Seu queixo exibia a barba por fazer. Com a camisa aberta até o centro do peito e sem a gravata e o casaco, ele estava indescritivelmente sedutor. Como a foto de um calendário. Por um instante, Morgen não conseguiu falar, e, como se fosse possível, sua temperatura pareceu aumentar. Aparentemente ele passara a noite ali, como dissera que iria. Ela ainda não acreditava nisso. — Como você está se sentindo hoje? Ela não mediu suas palavras. — Como se estivesse morrendo se quer saber. — Aqui, tome dois desses. — Colocando cuidadosamente a bandeja sobre o criadomudo ao lado da cama, Conall ofereceu-lhe os comprimidos e o copo d’água, esperou pacientemente e depois recolocou o copo sobre a bandeja. — Você ainda está muito quente — disse ele passando a mão pela testa dela e franzindo a própria. — Você não pode ir trabalhar hoje. Quer que eu chame um médico? Morgen não estava acostumada com tanta atenção quando ficava doente e ainda não acreditava que seu chefe dormira em sua humilde casa para cuidar dela. Para proteger os investimentos da empresa talvez? Ou seus motivos eram ainda mais básicos? A afirmação de que ele a desejava mais do que poderia repetiu-se incessantemente na mente dela durante a noite, como se tivesse deixado um gravador ligado. Mas ele poderia desejá-la o quanto quisesse, ela pensou desafiadoramente. Não significava que ele poderia tê-la. Morgen tinha que pensar no bem-estar de sua filha antes de voltar a pensar em ter o coração partido novamente, pois era isso que aconteceria se ela se envolvesse com seu chefe. Havia também a questão do comportamento de seu marido no passado. Não era o suficiente para que ela não pensasse em ter um relacionamento com Conall? Homens poderosos são muito focados na carreira para se dedicar de verdade a um relacionamento com uma mulher e talvez a uma filha. E ela não ouvira com os próprios ouvidos que ele não deixaria outra mulher aproximar-se dele? O mais importante para Morgen era criar sua filha e não ter um tórrido e rápido caso, correndo o risco de prejudicar seu emprego e seu relacionamento com a filha. Mesmo que fosse cada vez mais difícil resistir. — Não quero que você chame um médico. Não há nada que ele vá sugerir que eu não esteja fazendo. Vou esperar até a hora do almoço e, se eu tiver melhorado, irei para o trabalho. — Só por cima do meu cadáver! — Os penetrantes olhos azuis de Conall eram como um laser atravessando o crânio de Morgen. — Ainda bem que seu carro ainda está no trabalho, lembra-se? E mesmo que não estivesse eu amarraria você na cama! Pense bem, Morgen. Fique na cama pelo resto do dia e certifique-se de não ir a lugar nenhum além do banheiro. Infelizmente tenho várias reuniões nesta tarde, senão eu ficaria com você. Tem algum telefone aqui por perto? Morgen pegou o telefone sem fio branco que ficava sempre do outro lado da cama. — Bem aqui. — Fique com ele. Vou ligar para você durante o dia todo, para me certificar de que você está bem. Talvez eu ligue também para perguntar onde ficam as coisas nó escritório. Tudo bem? — Claro. Morgen não tinha palavras para descrever o quanto estava mortificada. E ter Conall encarando-a como se ela não pudesse andar não ajudava. Um músculo pulsou no lado de sua mandíbula, causando uma série de tremores sensuais por todo o corpo dela, e ela não 36
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox podia fazer nada. A imaginação era algo poderoso, Morgen avisava a si mesma silenciosamente. Conall 0’Brien poderia ter a mulher que quisesse. Por que diabos ele estava interessado em uma mãe solteira? E agora ele a vira em seu pior estado. Ela nem sequer se olhou no espelho nesta manhã e devia estar parecendo à própria mãe do Drácula! — Obrigada por me trazer para casa e por ficar a noite toda. Espero que não tenha ficado muito desconfortável no sofá. — Fiquei bem. Usei o chuveiro, espero que não se importe. Preciso ir para casa agora, para me barbear e trocar de roupa. Fiz uma sopa para você. Vasculhei os armários e encontrei tomate e lentilhas. Tome um pouco se sentir fome. E me ligue se precisar de alguma coisa. Certo? Ele a fez sentir-se de novo como uma garotinha. Segura e protegida, quase adorada, uma sedutora combinação para qualquer mulher precisando de carinho e amor. Morgen sorriu agradecida, embora parecesse que todos os bateristas do mundo tivessem resolvido tocar dentro dela. — Você é sempre tão atencioso com seus funcionários? Ignorando aquela pergunta desconfortável, Conall foi para a porta. — E ligue para a sua mãe para ela saber que você não está bem. Vejo você depois. E então partiu. Morgen deixou a cabeça cair sobre o travesseiro e finalmente fechou os olhos. A ASSISTENTE do sócio de Conall era agradável e prestativa, mas não era Morgen. E tampouco sabia fazer café. Franzindo o cenho pela enésima vez aquela tarde, Conall olhou para a loira esbelta que se abaixava para lhe entregar outra xícara daquele café intragável e forçou um sorriso. — Obrigado, Julie. Você encontrou o arquivo que eu pedi? — Ainda estou procurando, Sr. 0’Brien. Pode me dar mais alguns minutos? — Preciso dele para tratar de um item na reunião daqui a meia hora. Dê o melhor de si para encontrá-lo, certo? Quando ela fechou a porta, Conall suspirou e passou os dedos pelo cabelo já bagunçado. Ele precisava cortar o cabelo, mas não sabia como agendaria isso em sua rotina impossível. Levando a mão ao telefone, ele a puxou de volta no próximo instante. Ele já havia ligado para Morgen três vezes. Na última, ela soou sonolenta, e ele sentiu uma incomum culpa, pois sabia que a acordara. O problema era que ela inquietara a consciência dele com as acusações de não ter compaixão para com os funcionários. Morgen provavelmente já se acostumara a acreditar que ele era um porco frio, insensível e arrogante. Mas apesar disso, ele sentia falta dela. Parecia maluquice, já que eles se conheciam havia alguns dias, mas não havia explicação para a poderosa atração que ele desenvolvera por ela. Cada vez que ele fechava os olhos, mesmo que brevemente, ele a imaginava naquele pijama vermelho. Na noite passada, quando fora ver se ela estava bem, por volta da uma da manhã, ele descobriu que ela havia derrubado as cobertas e que a parte de cima de seu pijama havia se enrolado reveladoramente até a altura dos seios. Conall prendeu a respiração ao ver sua barriga tão sexy. Seu amigo Mike de Nova York com certeza o aconselharia a levá-la para cama o quanto antes e acabar com essa atração antes que ficasse fora de controle. E se isso fosse o que ele deveria fazer? Morgen pode não gostar dele, mas sabia que ela não era 37
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox completamente imune a ele. Não seria muito difícil seduzi-la, não para um homem com a experiência dele... — Concentre-se, 0’Brien! Qual o seu problema? — Furioso, ele se focou nos projetos sobre a mesa e forçou-se a lê-los mais uma vez. Ao mesmo tempo, a porta se abriu e a cabeça loira de Julie apareceu. — Deseja alguma coisa, Sr. 0’Brien? Achei tê-lo ouvido falar. O que eu quero agora não posso ter... Conall encarou o vazio e então deu um safanão mental em si mesmo, sorrindo para sua assistente temporária. — Estou bem, só pensando alto — respondeu ele apologeticamente e então se levantou para olhar a vista da janela enquanto ela fechava a porta. — NÃO VI seu carro estacionado lá fora. — Lorna McKenzie remexia as coisas ao redor da cama da filha, arrumando o copo na bandeja e a colcha bordada. Com o seu radar de filha, Morgen detectou o tom de suspeita na voz dela. — Um amigo do trabalho me trouxe para cá. Meu carro ainda está no estacionamento do trabalho. — Você deveria ter me ligado. Eu iria buscá-la. Esse seu “amigo” pensou em ligar para um médico? Era típico de sua mãe achar que ninguém mais sabia fazer as coisas direito. Fechando momentaneamente os olhos, Morgen advertiu-se para não revidar. Quando ela os abriu de novo, sua mãe a encarava com os olhos comprimidos e os braços cruzados. — Eu não quis que o médico viesse. Deve ser só uma virose. Vai passar em alguns dias. — E se você precisar de remédios específicos? Você vai se tratar com medicamentos alternativos, não? — suspirou Lorna e descruzou os braços. — Você é a criatura mais cabeça-dura do planeta, de verdade! Você se alimentou? — Meu amigo preparou uma sopa. — Ela tomara um pouco, mas não estava com fome. Ela se perguntou o que Lorna diria se soubesse que esse “amigo” era, na verdade, seu chefe. O dono na empresa, apenas. Morgen ainda tinha problemas para aceitar que Conall estivesse genuinamente preocupado com o bem-estar dela. Ele já telefonara três vezes, e, pior que isso, ela se descobriu esperando pelas ligações. Ouvir a voz dele lhe dava uma onda de energia melhor do que qualquer medicamento, ortodoxo ou não. Que perigo... — Bem, vou fazer um delicioso ensopado de frango. Neesha já tomou chá, mas ela pode comer um pouco do ensopado depois se estiver com fome. — O que ela está fazendo agora? — Vendo televisão. Eu disse que você precisa descansar. Ela já fez a lição de casa, e já está tudo preparado para amanhã. Direi a ela para vir vê-la daqui a pouco. Enquanto isso, por que você não tentar dormir? — Não quero dormir mais. Acho que vou vestir um roupão e ir me sentar com Neesha. — Bem, não me culpe se você começar a se sentir pior depois. Você não tem jeito! — Pelo amor de Deus, mãe! Tenho 29 anos, não cinco! Se você parasse de me tratar como criança e me deixasse tomar as minhas decisões, as coisas seriam muito melhores. Colocando os pés no chão, Morgen vestiu seu roupão de seda e começou a caminhar. Lorna ficou encarando-a com as sobrancelhas arqueadas e a expressão ferida; a mesma de quando sua filha não segue seus conselhos. 38
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Seria bom se você tomasse algumas decisões certas de vez em quando — murmurou ela. Morgen sabia que a coisa mais sábia a fazer era ignorar aquele comentário. Mas a dor e a raiva irromperam dentro dela como uma barragem, sabotando completamente sua sabedoria. Com o olhar furioso, ela pôs a mão na cintura e encarou aquela senhora. — E o que isso quer dizer? Estamos falando sobre Simon de novo, por acaso? Ele me deixou, lembra-se? Foi ele quem não quis a responsabilidade da paternidade, então não aja como se fosse culpa minha. Você acha que eu queria ser mãe solteira? Você sabe como tem sido difícil para Neesha e para mim e ainda fica falando sobre Simon como se ele fosse à vítima nessa história! — Você poderia tê-lo reconquistado se quisesse. — Ajeitando o cabelo castanho, Lorna encarou o olhar furioso da filha com os olhos pesarosos. — Reconquistado? — Incrédula Morgen ficou boquiaberta. — E o que isso quer dizer? — Você é uma mulher atraente. Não é algo de outro mundo usar isso ao seu favor. Você se esqueceu de como ser feminina desde que começou a trabalhar, é esse o problema. Você acredita que precisa ser uma profissional durona e agir como um homem para conseguir o que quer, quando o oposto também é verdade. Simon era obcecado por você. Se tivesse usado isso a seu favor em vez de deixar que os pais dele o afastassem de você, ele estaria aqui com você agora. Morgen segurou-se no batente da porta. Ela estava tão furiosa que sua cabeça ficara ainda mais zonza. E no fundo, ela sentia-se traída. Traída porque sua mãe achava piamente que ela havia afastado o marido por não usar sua feminilidade para mantê-lo interessado. Lorna não enxergava a verdade. Os pais de Simon nunca acharam que ela era boa o suficiente para o filho amado, e ele começou a acreditar nisso. — Não éramos bons o suficientes para a família Vaughan-Smith, mãe. Você, Neesha, eu... Essa é a verdade nua e crua! Por que você não aceita isso e segue em frente? O que queria que eu fizesse? Que ficasse satisfeita por ele ter me notado, sendo ele um médico e eu uma simples secretária? Eu deveria ter enterrado meu respeito próprio em nome de uma aliança? — Você é tão boa quanto ele e sabe disso! — Chorando, Lorna passou por Morgen e saiu. Ela então parou e virou-se lentamente. — Só não quero que você e Neesha passem por dificuldades. Que mal pode haver em uma mãe querer que um bom homem cuide de sua filha? Os olhos verdes de Morgen brilhavam enquanto ela encarava Lorna, sentindo o coração apertado. — Simon não era um bom homem, mãe. Ele era um fraco. Neesha e eu estamos melhores sem ele. As coisas não são tão ruins. Tenho um salário razoável, uma casa boa, consigo pagar minhas contas e até consegui economizar um pouco de dinheiro. Não está tão ruim assim. — Não, não está — concordou Lorna, enxugando os olhos. — Mas você trabalha muito e não consegue ficar muito com a sua filha. Quem foi às três últimas peças da escola? Eu. Você não acha que Neesha preferiria que fosse você? Sentindo-se culpada por isso e outras situações similares, Morgen suspirou profundamente. — Bem, talvez eu possa dar um jeito nisso. — Ela se lembrou do que Conall dissera sobre perceber que as pessoas tinham uma vida fora do trabalho. 39
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox O carismático chefe da 0’Brien & Stoughton Associados era um bom homem, Morgen sentia isso instintivamente, embora o fosse de uma maneira bruta. Talvez ela pudesse conversar com ele sobre cortar algumas horas de trabalho dela aqui e ali, para que pudesse atender às necessidades de Neesha. Ela já tivera uma considerável cota de horas extras desde que Derek começara a ter problemas. Será que a empresa não poderia pagála de volta aliviando um pouco suas horas de trabalho? Assim que ela estivesse sentindo-se melhor, ela marcaria uma reunião com Conall. O protocolo talvez exigisse que ela se dirigisse ao RH, mas por que ela faria isso quando tinha a dádiva de poder falar diretamente com o chefe? — Falarei com eles no trabalho — disse ela para a mãe. — Verei se consigo alterar meus horários, tomá-los mais flexíveis ou algo do tipo. Não se preocupe, vou resolver as coisas, eu prometo. — Você sabe que não é porque eu não queira cuidar de Neesha, não é? Amo aquela menininha tanto quanto qualquer avó ama seus netos. Só acho que vocês duas merecem mais tempo juntas, como uma família. Ela está crescendo rápido, Morgen. Não quero que você perca todos os momentos especiais, porque eles jamais voltarão. Só quero que vocês duas sejam felizes. Abraçando os ombros frágeis de sua mãe, Morgen a abraçou com os olhos marejados. — Eu sei mãe. Eu sei. — BOM DIA! Imerso em uma conversa com Richard Akers, um dos sócios, Conall olhou duas vezes quando Morgen passou rapidamente pela porta. — Com licença, Richard. Voltarei daqui a pouco. Saindo de sua sala, Conall observou maravilhado, a figura ocupada de Morgen enquanto ela organizava a própria mesa e checava a correspondência. Ela vestia uma jaqueta justa vermelha sobre uma blusa branca e uma saia preta até os joelhos, com o adorável cabelo preso em um rabo de cavalo por uma fita vermelha. Ela emagrecera? Os olhos de Conall se estreitaram, preocupados, embora estivesse secretamente feliz em vêla. — E posso perguntar o que você está fazendo aqui no escritório? — Eu me senti melhor nesta manhã, então resolvi vir trabalhar. Quer que eu faça café? — Esqueça o café — gritou Conall, consciente do fato de Richard Akers estar esperando e de não ser conhecido pela paciência. — Espere um minuto, certo? Ele cortara o cabelo, Morgen percebeu. Aquela energia que ela percebera nele quando o conhecera estava definitivamente de volta. Além de aparentar ser o arquiteto de sucesso que era o ar ao redor dele parecia estalar com o poder que ele emanava. O coração dela deu um pulo. — O que foi? O lábio inferior dela começou a tremer sutilmente, e Conall captou isso como um radar. O corpo inteiro dela parecia estar muito alerta. Por que o trabalho era a última coisa que lhe vinha à mente quando ela estava por perto? Ele tinha que solucionar esse probleminha se eles fossem continuar trabalhando juntos. — Não foi nada. Só queria certificar-me de que você está bem o suficiente para estar de volta. O que o médico disse? — Eu não fui ao médico. Sou capaz de julgar se estou me sentindo melhor ou não. Damos muita importância para médicos hoje em dia, em minha opinião. 40
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Bem, acho que você ainda está um pouco pálida. — Vou ficar melhor quando as coisas voltarem ao seu curso normal. — E então Morgen desviou o olhar. Ela ainda se sentia um pouco abatida, mas ele não precisava saber disso. Além do mais, Neesha ficava na escola durante o dia, e Morgen já estava enlouquecendo por ficar em casa sozinha. Lorna aparecera de vez em quando, mas Morgen a persuadira de que estava bem. Mais do que nunca, o trabalho lhe parecia atraente. Nada a ver com o fato de Conall 0’Brien estar lá, claro... — Conversaremos quando minha reunião com Richard Akers terminar. — Voltandose para o escritório, Conall deu uma última olhada em Morgen. Certo de que ela sobreviveria até o fim do dia, ele sorriu brevemente. — Não se sobrecarregue, e sim, eu gostaria de um pouco de café quando você puder. — Pode deixar. Morgen pôs as mãos nas bochechas ardentes e suspirou. Como um sorriso inocente daquele homem podia deixá-la assim, trêmula e inútil? Até mesmo Simon, lindo como inegavelmente era, jamais fora capaz de provocar algo assim nela. Estar feliz por voltar ao trabalho e à rotina era uma coisa, mas estar feliz por causa de certo homem de 1,90m, ombros largos e olhos azuis maravilhosos era outra completamente diferente. Se ela queria sobreviver ao tempo restante em que ele substituiria Derek, Morgen precisaria criar uma distância profissional entre eles. Ela precisaria esquecer que aqueles telefonemas em casa fizeram maravilhas à sua autoestima. Não que ela sonhasse em contar aquilo a ele. Isso apenas transformaria a relação entre eles em algo mais pessoal do que ela poderia lidar, e Morgen não podia correr esse risco. Ao pegar a correspondência matinal, ela abriu a primeira carta com um zelo exagerado e concentrou-se para ler o conteúdo.
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CAPÍTULO SETE PARA A frustração de Conall, ele mal encontrou uma oportunidade para conversar com Morgen. Ele teve reuniões seguidas o dia todo e ainda passou a tarde toda no local do projeto Docklands com Stephen Ritchie e o gerente do contrato, lidando com um problema particularmente difícil que surgira. Quando voltou para o escritório, já eram 17h45, e Morgen já estava de saída. Ela se surpreendeu ao vê-lo entrar pela porta, e suas bochechas coraram. Conall sorriu e jogou a maleta na cadeira mais próxima. — Ainda aqui, Srta. McKenzie? — ele provocou. — Se eu não a conhecesse, acharia que você está tentando impressionar o chefe. — Como tenho ficado na maioria dos dias até às 18h ou 18h30, isso seria uma suposição incorreta, Sr. 0’Brien. — Corando novamente, ela vestiu sua capa de chuva azul-marinho. — Se pretende ficar mais um pouco, deixei café na cafeteira em seu escritório. Não se esqueça de desligá-la antes de ir embora. Então... Bom fim de semana. Vejo você segunda-feira. — Ei! Não tão rápido. — Segurando seu punho no instante em que ela passava por ele pela porta, Conall fechou-a e pôs Morgen contra ela. Ela sentiu como se o coração fosse sair pelo peito, e os olhos dela se arregalaram. Ele estava muito próximo. Infringindo todas as regras de conduta do escritório, como se não desse a mínima. Se alguém entrasse ali naquele exato momento pensaria... Mas como alguém poderia entrar com ela ali, contra a porta? A mente dela desdobrava-se loucamente para não reparar naqueles longos cílios, nas maçãs do rosto pronunciadas e na sombra de uma barba despontando no maxilar. E quanto à boca, não havia motivos para ela fantasiar com um beijo, havia? Só porque aqueles lábios pareciam ser firmes e prometer a sensualidade que só uma mulher que perdera a vontade de viver desejava... Aquela era uma péssima desculpa para que a decisão dela desmoronasse, não era? — O que... O que foi? — Quero vê-la esta noite. Jante comigo. — Não posso. — O pânico bloqueou a garganta de Morgen. Era impossível... Era como jogar com a morte. Ela já experimentava os tipos de ânsias e desejos que poderiam causar grandes problemas. — Por que não? — ele disse, aproximando-se ainda mais. Morgen engoliu seco. — Por que... Porque eu sempre passo as noites de sexta com a minha filha. Pedimos pizza e vemos TV juntas. — Bacana. E que tal amanhã à noite? — Eu lhe disse assim que nos conhecemos que eu não me envolvo com pessoas do trabalho. E a regra que eu nunca quebro. Levantando o queixo, ele a desafiou a encontrar algo errado em sua explicação. Até mesmo ele entenderia. Algum dia ele ainda a agradeceria isso. — Nunca se sentiu tentada? Nem uma vez? — Conall passou o dedo pelo nariz dela e então acariciou seu voluptuoso lábio inferior com o polegar, como se examinasse algo exótico e singular. 42
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox A temperatura do corpo de Morgen elevou-se como se ela estivesse sob o sol, em alguma praia. Uma gota de suor deslizou por suas costas. “Tentada” era a palavra. Saia daí advertiu uma vozinha em sua cabeça, e Morgen obedientemente tentou afastar a mão de Conall. Aquele fora o primeiro erro dela. A pele dele era quente e firme e os pelos da mão pareciam seda. O contato a imobilizara. Em desespero, ela levantou os olhos de encontro aos dele. — Eu não... Não quero ser tentada a fazer algo de que eu possa me arrepender. Não quero perder meu emprego quando as coisas se complicarem, e, acredite, elas vão se complicar. Um romance no escritório não serve para nada, e tenho contas a pagar e uma filha para criar. — Você sempre joga pelas regras? — A testa de Conall se enrugou como se a ideia realmente o incomodasse. — Não sobra muito espaço para a espontaneidade, sobra? Vamos quebrar algumas barreiras, Morgen. Eu não contarei a ninguém... Eu prometo. A boca dele estava junto à dela antes que Morgen pudesse pensar. Um calor espalhou-se por todo o corpo dela, e em seu mundo de repente existia apenas aqueles lábios quentes, que habilmente persuadiam os dela a dar uma resposta que Morgen não podia mais negar. Acolhendo aquela exploração mais profunda, a língua de Morgen dançou com a dele, descobrindo pequenas sensações eróticas aveludadas e incendiadoras com um toque de café, e as batidas do coração dela ecoaram como tambores distantes em seus ouvidos conforme seu corpo encontrava um conforto natural contra a dureza sólida e máscula dele. Interrompendo o beijo para pressionar seus lábios contra o pescoço dela, Conall passou os dedos por entre o cabelo dela e gemeu quando libertou as madeixas negras e acetinadas da fita vermelha, colocando sua mão possessivamente na nuca de Morgen. — Acho que desejar você tomou-se uma obsessão — confessou ele com a voz rouca. Aquelas palavras causaram um terror particular no coração dela. Simon sempre ficara muito frustrado com o empenho sexual dela, acusando-a muitas vezes de não sentir paixão. E isso a fazia se sentir ainda mais inferior e inútil para ele como esposa. A lembrança roubou-lhe qualquer prazer. Especialmente agora, nesta situação intima com Conall. Eles já foram longe demais. Era tarde demais para pisar no freio? Morgen perguntou-se, apavorada. — Desculpe-me, Conall. — Respirando fundo, ela o afastou. — Você é um homem muito atraente, mas não estou interessada em sexo com você. Não duvido que você possa ter qualquer mulher que desejar. Você é rico e bem-sucedido, sem amarras, e eu sou uma mãe solteira divorciada tentando viver. Não posso jogar fora, no calor do momento, tudo pelo qual trabalhei tanto. Tenho uma filha, Conall. Tenho que trabalhar para nós duas. Preciso deste emprego. Acha que eu seria tola em arriscar tudo por apenas uma noite com o meu chefe? — E por que você acha que seu emprego estaria em risco se você dormisse comigo? — Porque inevitavelmente ele estaria. Nós nos veríamos todos os dias, e seria uma grande distração. Seria impossível trabalhar aqui. Não sou uma mulher que encara o sexo de maneira superficial, Conall. Se pensa isso de mim, então fez outra suposição errada. — E o que a faz pensar que passaríamos apenas uma noite juntos? — Frustrado e irritado, Conall afastou-se e puxou o nó da gravata. — O que está dizendo? Que está procurando um relacionamento? 43
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox Ele não lhe respondeu de imediato, pois também não tinha certeza. Ele mal pensara além de levá-la para cama e realizar as fantasias que o perseguiam desde que pusera os olhos nela. Ele sabia que seu histórico com as mulheres não era muito bom e que não tinha experiência com relacionamentos longos. Mas aquilo não o incomodara até então. Assim, ele queria um relacionamento com esta mulher? E se ele quisesse Morgen, precisaria começar a considerar a filha dela também... — Não. — Respondendo por ele e sorrindo para esconder a dor, Morgen abaixou-se para pegar a fita vermelha aos seus pés. Ao se levantar, seus belos olhos verdes tinham um brilho que ele jamais vira. — Acho que não. Mas para mim tudo bem, porque não estou procurando ter um relacionamento também. Já me enrolei seriamente uma vez; não estou com pressa de me enrolar de novo. Boa noite, Conall. Divirta-se no fim de semana. Ele a deixou ir embora, amaldiçoando a si mesmo silenciosamente por seu juízo tê-lo abandonado. Por que ele demorara tanto para reagir? Ele não era um imbecil insensível. Ele deveria saber que ela não era do tipo que tem aventuras sexuais. Ele aprendera que ela era consciente e leal e que sempre colocava a filha em primeiro lugar. Isso era evidente. O tipo que sua mãe chamaria de “mulher para casar”. Mas ele não queria se casar com ninguém. Para Conall, “relacionamento longo” era em torno de quatro ou cinco encontros. E não para a vida toda. Conall então pegou o telefone da mesa de Morgen. Enquanto discava, ele pegou um bloco de notas que estava ali e o folheou. Na primeira página que ele abriu, lia-se: “Sábado: comprar sapatos para Neesha levá-la ao Tumble Drum às 16h.” Intrigado, ele tentou desvendar o que queria dizer a segunda parte. — Alô? — Mãe? Você estará em casa hoje à noite? — Conall! Finalmente! Estava imaginando quando você iria me ligar. Claro que estarei. Minha noite de Bridget foi ontem. Por que não vem e janta comigo? Sabendo que adiara muitas vezes vê-la e parcialmente feliz pela oportunidade de relaxar com alguém que realmente o conhece, Conall deixou de lado o bloco de notas. — Tudo bem. Vejo você em uma hora. Levarei uma garrafa de vinho. — Conall? — Sim? — Você está bem, querido? Sua voz parece um pouco tensa. Frustração sexual, sem dúvida. Sorrindo amargamente, ele suspirou no telefone. — Estou bem. Dia cheio, só isso. — Bem, venha que eu o alegro. Será maravilhoso ter a sua companhia. Ao pôr o telefone de volta, ele surpreendeu-se sentindo a mesma coisa. — ESTÁ GOSTANDO de estar de volta? — Os olhos de um azul cristalino de Victoria Kendall estudaram cuidadosamente o grande homem sentado diante dela. Ouvindo a esperança na voz dela, ele fez uma careta. Conall sabia aonde isso ia chegar. Mas ele estava apreciando uma boa comida caseira e duas generosas taças de um famoso vinho branco e estava sentindo-se disposto. — Sim, estou gostando. Sinto falta de algumas coisas em particular. — Então por que você não pensa em comprar um apartamento aqui na cidade? Sei que Teresa não se importa em você ficar no dela, mas não será muito prático se você vai ficar em Londres por mais um tempo, não é? — Isso me passou pela cabeça.
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Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox Na verdade, enquanto dirigia para a casa de sua mãe, Conall não pensou em outra coisa... Além de Morgen, é claro. Mas, de alguma forma, comprar uma casa e seus sentimentos por ela estavam entrelaçados. Preocupante. — Sério? — Sua mãe se animou. — Então você está mesmo pensando em trabalhar permanentemente no escritório de Londres? — Eu não disse isso. — Vagamente descontente Conall levantou-se e começou a caminhar. — Há muito que se considerar antes de se tomar uma decisão dessas. — Como quão cedo seria para pedir uma transferência? Ele se perguntou como Morgen reagiria. Quando Derek voltasse, ela não trabalharia mais para Conall, mas o que o impediria de promovê-la? Afinal, ele precisava de uma assistente pessoal se fosse trabalhar em Londres permanentemente. A ideia não deveria parecer tão ridícula, mas era. Depois daquele beijo avassalador, ela não estava com pressa de colocar um oceano entre eles. Mesmo que ela pensasse que isso não valia a pena. — Você está pensando em que, meu filho? Gentilmente, Victoria chegou por trás, e seu perfume clássico o envolveu, trazendo memórias inesperadas de sua infância. — Sei que alguma coisa está incomodando você. É intuição de mãe. — Não há nada me incomodando. Nada que uma boa noite de sono não resolva. Victoria tocou o braço do filho. — E uma mulher, não? Intuição de mãe? Agora ela vai dizer que tem uma bola de cristal. — Você é como um cachorro com um osso sabia? — Mesmo fazendo uma careta, o humor surgiu nos olhos azuis de Conall. Sua mãe não se importava de demonstrar o prazer de ver que seu filho finalmente encontrara alguém que estava preparado para assumir. — Quem é ela? Onde ela mora? Ele deve ser daqui, se você está pensando em se mudar. — Não tire conclusões. Não sou do tipo que se acomoda, você sabe bem disso. — Tal pai, tal filho, hein? — Victoria revirou os olhos e balançou a cabeça, mas não antes de Conall ver um relance de dor refletido neles. Ele admirava e amava ambos os pais, mas ele puxara o pai quando se tratava de relacionamentos. Desmond 0’Brien não resistiu a pular a cerca, mesmo depois de casado. Com o tempo, ela se cansou do estilo namoradeiro do marido e ele acabou concordando com o divórcio, ainda que com muito pesar, e Conall sabia disso. Ele ainda carregava a chama daquele amor no coração, até mesmo agora, quando ele deveria estar deitado em alguma praia tropical com uma garota 35 anos mais jovem. — Não vamos brigar, vamos? — Culpado e irritado, Conall virou-se. — Sei que não gosta que eu compare você a seu pai, mas repare como você leva seus relacionamentos. E sei que você evitou vir me visitar até agora porque odeia quando eu digo essas coisas. Eu teria dado tudo por aquele homem, Conall... Tudo. E por um tempo, eu dei. Mas ele abriu mão do que tínhamos em troca dos casos que vivia tendo. Você não quer alguém especial em sua vida? Alguém comprometido com você e com mais ninguém? Por quanto tempo pretende ficar tendo aventuras? Você já tem 36 anos. Já é tempo de começar a pensar em se casar e ter uma família. Vou fazer 60 anos e não quero ficar velha demais para curtir meus netos.
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Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox O que sua mãe diria se ele contasse que a mulher dos seus sonhos já tinha uma filha de seis anos? O pensamento veio do nada, e uma onda de raiva o fez afastá-lo. Ele não queria um relacionamento permanente com Morgen. — Vamos mudar de assunto? — Fingindo bocejar, ele deixou-se cair em uma poltrona. — Vamos falar da sua vida amorosa para variar, mãe. Um passarinho me contou que certo viúvo charmoso que acabou de entrar em seu clube de Bridget está mostrando mais do que um leve interesse em você recentemente. Corando como uma garota, Victoria abanou as bochechas coradas.·. — Sua irmã me paga! E que “viúvo charmoso”! O lugar era quente, barulhento e colorido, e a euforia de Neesha por estar no Tumble Drum transbordava. Assim que pagaram e o nome de Neesha foi colocado no livro de visitantes, Morgen abriu caminho pelas mesas de plástico até a frente, perto das armações de escalada e dos brinquedos. Então ela puxou uma cadeira, sentou-se e ajudou Neesha a tirar os sapatos. Duas menininhas correram de mãos dadas até elas, e Morgen viu o rosto da filha se iluminar. — São Chloe e Lily. São da minha classe! Posso ir brincar com elas agora, mãe? Posso? Ela passou voando pelo portão dos balanços antes que Morgen pudesse dar um beijo e pedir que tivesse cuidado. Satisfeita por a filha ter encontrado as amigas e estar brincando, Morgen deixou as coisas na mesa e foi buscar um merecido chá na lanchonete. Ela gostava de ter um tempinho só para ela, e seus pensamentos acabaram voltando para aquele beijo em Conall. Quem poderia culpá-la? Mesmo tendo ele deixado claro que queria apenas a levar para cama e nada mais. ELE ESTAVA completamente perdido. Conall sabia que, se seus amigos ricos o vissem agora, diriam que ele enlouquecera. E eles estariam certos. Ir atrás de uma mulher com sua filha em um parque de diversões coberto só porque estava a fim dela não era algo que ele cogitaria normalmente. Mas ele precisava abrir mão de suas regras quando se tratava de Morgen McKenzie e agora ele se encontrava em território desconhecido. Ele inclusive mentira para a recepcionista para pode entrar, dizendo que era namorado de Morgen e que viera ver Neesha. — Opa! Cuidado aí! — Suas pernas quase cederam quando um garotinho apareceu do nada e trombou nele. — Eles não me avisaram que eu estaria pondo minha vida em risco — murmurou ele enquanto observava a enorme área cheia de cordas, escadas, balanços e escorregadores. Onde estavam Morgen e sua filha? Ao passar na casa de Morgen, ele ficara contente em encontrar a mãe dela. Assim que Lorna McKenzie certificou-se de que ele era quem falava que era, ela explicou como chegar ao Tumble Drum e deu ênfase ao afirmar que Morgen ficaria por lá até às 16h. Ao avistar algumas mesas vazias na frente, Conall resolveu ir até lá, perguntando-se como os pais aguentavam todo o barulho e caos, embora experimentasse um prazer inesperado ao ver tantas crianças se divertindo. Ele estava prestes a sentar-se quando reparou em algo. Em um castelo inflável, entre várias crianças pequenas, estava Morgen. Vestindo uma calça azul desbotada, um cinto de camurça com franjas e uma camiseta rosa que deixava à mostra a barriga, ela pulava como se fosse uma delas, com o cabelo solto e as bochechas coradas. Ele não pôde deixar de notar que seus seios excepcionais 46
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox acompanhavam os movimentos. Uma onda de calor atingiu sua virilha, e seu coração disparou. Havia mulher mais sensual no mundo? Sentindo a cadeira atrás dos joelhos, Conall sentou-se lentamente, feliz de poder sentar e apreciar aquela visão. O que ela diria ao vê-lo ele não sabia, mas agora ele não ligava. AINDA SEM fôlego, Morgen congelou ao ver aquele macho dominante sentado em uma das cadeiras de plástico perto do portão. Usando um jeans clássico, uma camiseta azul de cambraia, botas e uma jaqueta, Conall se destacava na multidão de pais e crianças; ele ficaria mais à vontade em algum barzinho fino do que em uma antiga fábrica transformada em parquinho. O que ele estava fazendo ali? E como ele a encontrara? Conseguindo finalmente voltar a mover os braços e pernas, Morgen demorou-se até chegar à mesa dele, claramente desaprovando aquela situação. — Ora essa. E eu nem sabia que você era pai. — E eu não sabia que você gostava de... — O olhar provocante dele contemplou-a da cabeça aos pés antes de voltar para seu rosto — malhar. — O que você está fazendo aqui? E como me encontrou? — Ela bufou e sentou-se diante dele, e Conall teve que se forçar a desviar o olhar do formato dos seios dela, marcado pela camiseta justa. — Eu queria ver você neste fim de semana. Eu apareci na sua casa e falei com sua mãe; e ela me disse onde encontrar você. Precisamos conversar. Mais especificamente, sobre o que aconteceu ontem. — Sim, a questão é que isso nunca deveria ter acontecido. — Ela levantou o queixo, desafiando-o a argumentar. Qual era o problema dele, pelo amor de Deus? Ele não percebia que aquilo estava fadado ao fracasso? Qual era seu jogo? Por que ele a perseguia daquela forma? — Não concordo com você. — Ele franziu a testa, e ela se descobriu desejando que aqueles olhos perturbadores não fossem tão azuis. Talvez assim ela conseguisse ficar imune ao seu charme. E, e ainda por cima o governo anunciaria que todos poderiam trabalhar três dias por semana recebendo por uma semana integral... — Eu gostaria muito de que nós pudéssemos nos ver fora do trabalho — declarou ele. — E quando você decidiu isso? Ontem você não tinha tanta certeza. — Cruzando os braços sobre a mesa de plástico, Morgen inclinou-se um pouco para frente ao fazer a pergunta. — Você sabe que me sinto muito atraído por você. E se aquele beijo significou alguma coisa, então creio que você também sente a mesma coisa. Então vamos quebrar algumas barreiras, Morgen, e jogar limpo. Eu quero você. Quero passar um tempo com você, e não só na cama. Gostaria de conhecer você e sua filha melhor. Será que você poderia me dar essa chance?
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CAPÍTULO OITO — Não ENVOLVO minha filha em chances. Não posso me dar ao luxo de me envolver com você, Conall, mesmo que superficialmente. Minha prioridade é ser mãe. Já tentei me relacionar, e, a não ser por Neesha, nada de bom surgiu disso. Sentindo um repentino frio, Morgen recostou-se na cadeira. Soar como se quisesse realmente dizer aquilo era difícil, quando o homem sentado diante dela consumia-a com o olhar, fazendo seu estômago revirar e despertando sentimentos indesejáveis. — Então você está dizendo que nunca mais terá um relacionamento com um homem novamente? — Apesar de sentir-se frustrado, Conall não pôde conter um sorriso. — É como mostrar a uma criança a maior caixa de chocolates da loja e dizer que ela não pode comer sequer um. — Pela primeira vez na vida, estou pondo Neesha e eu em primeiro lugar. Crianças precisam de estabilidade. Nosso estilo de vida pode não ser ideal, mas funciona, e é assim que deve ser. — E o que aconteceu entre você e o pai de Neesha? Suponho que tenha sido ele que tenha feito você odiar tanto os homens. — Não odeio os homens. Só não quero um em minha vida agora. Preciso de todas as minhas energias para fazer o que tenho de fazer. E prefiro não falar sobre Simon, se não se importa. Conall também não queria falar do ex-marido de Morgen. Quem quer que fosse e o que quer que ele tenha feito, ele errara feio ao abrir mão de Morgen. Um erro colossal. Embora não fosse do tipo que se casa, se ele tivesse se comprometido com Morgen a tal ponto, ele faria de tudo para honrar este compromisso, apesar da insistência da mãe dele em compará-lo ao pai. — Bem, deixe-me ao menos comprar um café para você. Ele começou a se levantar da mesa, mas Morgen colocou a mão sobre a dele para impedi-lo. Assim que o tocou, ela se amaldiçoou por ser tão estúpida. O homem era pura dinamite, e o coração dela estava tão acelerado quanto um cão de corrida. Seus olhares se encontraram, e inconscientemente seus dedos se entrelaçaram. A conexão foi tão profunda que a abalou. — Mamãe, estou com sede! Ela retirou a mão conforme Neesha chegou esbaforida à mesa, animada e feliz. Morgen sentiu uma onda de amor e orgulho inundá-la. 48
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Então essa é a adorável Neesha? Sorridente, Conall estudou aquela bela criança com interesse. Não havia dúvidas sobre quem ela havia puxado. Neesha sorriu timidamente e se aproximou da mãe. — Querida, este é o Sr. 0’Brien, o meu chefe. Ele precisava falar comigo, então veio nos encontrar. — Pode me chamar de Conall — disse ele, ridiculamente desapontado por Morgen tê-lo apresentado tão formalmente. — Aqui não é legal? Eu não tinha um lugar desses quando era criança. — Não? — Com a curiosidade natural competindo com a timidez, Neesha encarou com interesse o homem que ela vira segurar a mão de sua mãe. — Eu posso subir até o topo daquela plataforma e me pendurar na corda. O olhar de Conall seguiu a direção do dedo dela, e seus olhos se abriram fingindo espanto. — Uau! Isso é uma grande conquista para uma menininha como você. — Ele sorriu. — Parece que nós garotos temos uma competição dura no parquinho hoje em dia. — Não é verdade? — Morgen sorriu, e seus olhos brilharam. — Deixe-me comprar uma bebida para você. O que vai ser? — Feliz por ter uma distração além da bela mãe de Neesha, Conall levantou-se e pegou a carteira. — Não precisa fazer isso. — Mas eu quero. Importa-se? — Não. Ela vai tomar um suco de groselha, por favor, e eu gostaria de um refrigerante. E cansativo entrar em contato com sua criança interior, acredite. — Se prometer entrar em contato com sua criança interior mais uma vez naquele castelo, só para mim, comprarei tanto refrigerante quanto você conseguir tomar! — Rindo alto do olhar mortificado de Morgen, Conall foi para a lanchonete. Pensando nos amigos com quem geralmente sai, ele refletiu que esta visita ao Tumble Drum com Morgen e sua filha ganhava facilmente de qualquer coisa que já fizera com eles. Na verdade, ele não conseguia se lembrar da última vez que se divertira tanto. — Posso AJUDAR? Surpresa, Morgen levantou os olhos do prato que estava lavando e perguntou-se o que a fez convidar seu chefe para o jantar. Talvez por ter certeza de que ele teria coisas melhores para fazer em um sábado à noite do que passá-lo com ela e a filha, mas novamente ele a surpreendera. Vê-lo comer macarrão com almôndegas na frente da TV, assistindo a um vídeo de Neesha era algo para que ela não estava preparada. Agora, enquanto Morgen o via preencher o estreito batente da porta da cozinha, ela se perguntava quanto tempo mais ele ficaria até dizer que precisava ir embora. Preocupava-a de verdade saber que não tinha pressa alguma para que ele se fosse. — Estou enxaguando-os para colocá-los na lava-louças. — Estava ótimo. Obrigado. Uma covinha surgiu quando Conall sorriu, e Morgen desejou que ele não o tivesse feito. Quantas mulheres já foram seduzidas por aquele sorriso maravilhoso? E quanto a Victoria Kendall? Como ela se sentiu quando ele não apareceu naquela noite para jantar e enviou as rosas amarelas? Morgen sabia como ela mesma se sentiria. Destruída. — Deve ser fácil agradar a você. Não era nada especial. Mas macarrão com almôndegas é o prato preferido de Neesha. — Sua filha tem bom gosto. Faz tempo que eu não me divirto tanto. 49
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Sério? — Secando as mãos em um pano de prato, Morgen recostou-se na pia para encará-lo. Cada nervo de seu corpo parecia estremecer diante dele. — Por que essa surpresa? — São prazeres simples. — Dando de ombros, ela jogou o pano no escorredor. — Um homem como você deve... — Um homem como eu? Para sua surpresa, Conall moveu-se pela cozinha em sua direção. Seu olhar era direto e extremamente potente. Morgen sentia como se sua espinha tivesse derretido como cera. — Que tipo de homem você acha que eu sou, Morgen? — Não o tipo que come macarrão com almôndegas na frente da TV com uma garotinha de seis anos e a mãe dela. Deve estar mais acostumado a hotéis e restaurantes cinco estrelas. Você é chefe de uma firma de arquitetos e, com certeza, freqüenta círculos diferentes dos meus. — E isso a incomoda? — Você fala como essas diferenças não importassem... — Com a garganta estreita, Morgen desejou que os fantasmas do passado a deixassem em paz. Simon era passado. — Mas elas importam. — A voz dela falhou. — Não para mim. — De repente seu corpo grande e musculoso estava muito próximo. — Você é uma mulher bonita e inteligente, Morgen. Qualquer homem ficaria orgulhoso de ter você. Não importa de onde ele venha e o que ele faça. Sabia? O lábio dela tremeu, e ela mordeu-o. Vendo tal gesto, Conall inclinou o queixo dela para mais perto de si e beijou-a gentilmente. As pálpebras de Morgen fecharam-se automaticamente para absorver por completo a intensidade do toque. Aquele singelo beijo reverberou por todo o corpo dela em uma explosão pequena, porém mortal, e desencadeou uma ânsia dentro dela, cuja força a fez tremer. Quando ela abriu os olhos novamente, Conall a estudava como se a visse pela primeira vez. Como se a alma dela estivesse nua. — O que quer que seja isso que você tem Morgen McKenzie, você deveria engarrafar, vender e ganhar uma fortuna. Ela pôs as mãos no peito dele. Elas pareciam pálidas e pequenas, e o calor do corpo dele as queimava através da roupa. — Você diz isso para todas as suas namoradas? — Posso dizer honestamente que nunca disse isso para outra mulher em minha vida. E não estou saindo com mais ninguém, se é isso que está perguntando. Morgen hesitou em fazer a pergunta que esteve em sua mente durante a noite toda. — E Victoria Kendall? A mulher para quem você enviou flores outro dia? — O quê? — Ele abriu um enorme sorriso. — Victoria Kendall é minha mãe. — Mesmo? — Ela voltou a usar o nome de solteira depois que se divorciou do meu pai. — Ah. — O alívio inundou Morgen. Ela desejava este homem, mas não sucumbiria àquela tempestuosa atração se ele tivesse outra. Havia certos limites que ela não ultrapassaria. — Feliz agora? — Felicidade é algo passageiro. Ela não dura. — Então viva o momento. Os braços dele envolveram a cintura dela, e Conall desejou eliminar qualquer traço de tristeza daqueles olhos verdes. — Então, Srta. McKenzie, para onde vamos? 50
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox Com a ansiedade revelando-se em seu rosto mais do que ela desejaria, Morgen encarou Conall. — Para onde você quer ir? Estupefando-a com outro sorriso sensual, ele abraçou a cintura dela com mais força. — Posso ser franco? Morgen assentiu. — Sua cama seria ótimo. Ela sabia que deveria fazer a coisa certa e dizer “não”, mas de repente Morgen sentiu-se cansada de resistir. Depois de seis anos de celibato, seu corpo clamava pelos carinhos de um homem. E não de qualquer homem. Só este homem serviria... — Tudo bem então. ELE a observou tirar a camiseta rosa sob a luz do abajur. Impaciente, ele a arrancou e a jogou sobre a cama. Os bojos brancos de seda de seu sutiã ofereciam suas curvas como um banquete sensual, fazendo-o imediatamente sentir-se pesado e vivo. Quando Morgen foi tirar o jeans, ele a puxou para mais perto. Seus beijos eram quase rudes. Passando os dedos pelo cabelo dela para deixá-la mais firme em seu abraço, Conall estudou com a outra mão aquelas curvas divirjas. Ele não tinha a intenção de deixá-la tão cedo. Sentindo-a tremer, ele exultava em sua masculinidade. Seu único desejo era satisfazer a ambos de uma forma de que eles não se esqueceriam tão cedo. Percorrendo as costas esguias dela, ele abriu o sutiã e, agradecendo silenciosamente por tê-lo feito sem problemas, retirou-o completamente. Os seios eram tão adoráveis como ele imaginava. Voluptuosos, com mamilos morenos que imploravam a boca dele. Fazendo um som de ansiedade, Morgen abraçou o pescoço dele e pressionou os seios suculentos contra o peito dele. — Deixe-me terminar de despi-la — sussurrou ele contra o seu pescoço. Quando ficou nua, ele a deitou na cama e despiu o resto de suas roupas. Morgen procurou acariciar os mamilos naquele peitoral magnífico, com seus dedos se aventurando entre os pelos negros ao redor deles. O corpo dele era incrível. Ombros amplos, a barriga dura, o quadril esguio e as pernas musculosas entrelaçadas com as dela. Ela respirou o ar dele, deixando que o beijo dele a devorasse conforme suas mãos exploravam aquele poderoso corpo masculino tão avidamente quanto as dele percorriam o corpo dela. Os movimentos de Conall eram instintivos e habilidosos, e ele parecia saber exatamente onde tocar para causar o mais intenso prazer. Parecia saber também a pressão certa para fazê-la perder o fôlego e achou que fosse enlouquecer se não a possuísse logo. Em cima de Morgen, Conall parou. Os olhos azuis dele pareciam queimar o coração dela. — Odeio ser a voz da razão, mas eu realmente preciso protegê-la. — Você tem...? Digo você já...? — Era um pouco tarde para ficar envergonhada, mas Morgen estava. Como ela pôde não pensar em si mesma? Ela queria tanto assim ter mais problemas? Mas Conall alcançou o bolso da calça nos pés da cama e pegou a proteção necessária. O coração de Morgen voltou ao normal. Graças a Deus, ele fora consciente antes de as coisas irem longe demais. Cobrindo-a com seu corpo enorme, ele enlaçou os braços ao redor do pescoço dela e, com um suspiro ávido, recebeu seu beijo. Conall deixou uma das mãos deslizar por todo 51
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox o corpo de Morgen, até apartar suas pernas. Ela estava pronta desde o instante em que ele sugerira que eles fossem para a cama, e, não vendo motivos para adiar o prazer mútuo, ele a penetrou completamente, preenchendo-a até Morgen achar que perderia o juízo de tanto prazer. — Coloque suas pernas ao redor de mim — ordenou ele. Ele a possuiu com força, com o quadril chocando-se contra o dela enquanto sua boca dominava um mamilo e depois o outro, chupando e mordiscando-os até Morgen sentir a profunda e primitiva conexão convulsionar seu corpo como um raio, de seu peito até o útero. Ela então enterrou as unhas naquelas costas musculosas e suadas, temendo pela própria vida conforme ele a levava a um cúmulo de intensa felicidade que ela jamais sentira antes. Com um gemido que a tomou de surpresa, ele logo se uniu a ela. O peso do corpo dele afundou-a na cama, mas havia certo prazer nisso também. — Você é com certeza a melhor coisa que já me aconteceu em muito tempo, Srta. McKenzie. — Você também não é nada mal, Sr. 0’Brien. — Só uma pergunta. — O quê? — Por que não fui informado de que a mulher dos meus sonhos estava trabalhando bem debaixo do meu nariz? — Debaixo do seu nariz nada, já que você trabalha em Nova York — ela o lembrou, sorrindo. — Erro meu, um grande erro meu. — Com a voz rouca de prazer, Conall roubou outro beijo profundo e faminto. Quando levantou a cabeça novamente, sua expressão era mais séria. — Vou me transferir permanentemente para Londres. Já contei para você? — Não. Você não me contou. Você pode fazer isso? — Com a mente transbordando com todas as implicações disso, ela traçou um círculo no bíceps dele. — Querida, posso fazer o que eu quiser sendo o dono da empresa. Por que ela estava tão feliz com a transferência de Conall para Londres? Eles acabaram de fazer amor, e fora lindo, a melhor coisa que lhe acontecera em anos, mas ela não podia se deixar levar pelo que acabara de acontecer entre eles. Ele acabara de lembrar quem ele era, e ela não tinha ilusões de que compartilhariam algo além de um breve caso. — Por que você se tomou arquiteto? — perguntou ela, ávida por qualquer informação que ela pudesse usar para apontar as diferenças intransponíveis entre eles e que indicasse por que a relação deles não vingaria. — Meu pai era arquiteto. — Beijando cada um dos dedos dela, ele sorriu e fez o coração de Morgen derreter. — Mesmo criança, eu já era fascinado pelo que ele fazia. E cada vez que ele me levava para ver os prédios que ele projetava e me explicava as suas ideias, eu ficava cada vez mais fisgado. Quando ele se aposentou, eu já trabalhava para ele havia dez anos e fiquei feliz de pegar as rédeas. O sócio dele, James Stoughton, havia se aposentado no ano anterior, então eu era a escolha mais lógica. — E isso não o perturbou? A responsabilidade de assumir a empresa de seu pai? Intrigado pela pergunta, Conall sorriu. — Não. Eu sabia o que fazer. Por que isso me perturbaria? — Você obviamente nunca sofreu de falta de confiança. Quando você teve essa certeza? — O olhar voraz dele varreu o rosto dela, examinando cada bela e impossível 52
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox expressão, e não encontrou uma falha sequer. Até as minúsculas linhas ao redor dos olhos e os sulcos mais profundos ao lado da boca eram fascinantes. — Nunca pensei sobre isso. Mas por que tantas perguntas, hein? — Nós acabamos de fazer amor. — Levantando os ombros, ela tentou ignorar o desejo que começou a tomar conta de seu corpo novamente. — E eu não sei quase nada sobre você. Isso não parece certo. — O que parece certo é você e eu assim, juntos. Quando fizermos amor novamente, você poderá fazer quantas perguntas quiser... Fechado? Quando a boca dele aproximou-se da dela, suas palavras apaixonadas a intoxicaram e a livraram momentaneamente de todos os medos. Morgen ficou incapaz de fazer qualquer coisa, a não ser concordar. — Fechado — sussurrou ela enquanto seus lábios se juntavam.
CAPÍTULO NOVE SENTINDO-SE COMO uma colegial escapulindo do dormitório no meio da noite, Morgen abriu a porta do escritório e ficou aliviada ao perceber que era a primeira a chegar. Tudo estava quieto e da forma como ela e Conall deixaram na sexta à noite. Pendurando rapidamente o casaco e guardando os sanduíches em uma gaveta, ela jogou-se na cadeira e, com as mãos nas têmporas, tentou se recuperar. Quando ela acordara no domingo de manhã, o espaço ao seu lado na cama estava vazio. Nenhum bilhete, nada. Ele se fora. Por questão de respeito a si própria, ela deveria manter uma postura particularmente fria, sem o deixar perceber que a fuga dele nas primeiras horas da manhã a deixara ferida e confusa, embora ela tenha imaginado que as coisas seriam assim mesmo. Era tarde demais para recriminações. Ela precisava arcar com as consequências. Morgen sabia como eram as coisas no mundo dos relacionamentos de escritório. Basicamente, você se envolve com algum colega por sua conta e risco, porque mais cedo ou mais tarde o relacionamento vai começar a atrapalhar o trabalho. Um dos envolvidos vai acabar indo embora se as coisas se tomarem ruins, ou se a convivência profissional se tomar um pesadelo. Como não queria nenhuma dessas opções, Morgen não iria fazer nenhuma reclamação sobre Conall nem o deixaria embaraçado, e com certeza ele ficaria aliviado. Certamente aquele papo de voltar para Londres era só isso mesmo: papo. 53
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox Morgen suspirou. Se ao menos ele fosse um homem honrado, assim como ela acreditara... Sair pela manhã era golpe baixo. Ele não merecia sair impune só porque dormir com ela não significara nada. Ainda assim, de nada valia ficar preocupando-se com isso. Se ela tivesse alguma oportunidade hoje, ela se forçaria a dizer para Conall que estava tudo bem. Ele não precisaria pisar em ovos na presença dela ou sentir que tirou vantagem dela. Ela era adulta e agiria como tal. Mesmo que o coração dela estivesse ferido por acreditar quando ele disse que queria vê-la de novo, que se transferiria de volta para Londres e que a conhecer havia sido a melhor coisa que aconteceu em muito tempo. Vozes no corredor a fizeram se endireitar e vasculhar a pilha de trabalho em sua mesa, mas seu olhar voltou-se automaticamente para a porta quando Conall entrou, junto de Richard Akers. — Bom dia, Srta. McKenzie. Aquela formalidade não a surpreendeu, mas a feriu. Sabendo que aquilo era para o seu próprio bem, Morgen sentiu um redemoinho de emoções ao vê-lo dar umas piscadinhas e um canto da boca dele sugerir um leve sorriso. O coração dela disparou. — Bom dia — respondeu ela para ambos e não ficou surpresa ao perceber que Richard nem sequer a encarara. Em vez disso, ele seguiu Conall até o escritório. Ele tinha a reputação de ser rabugento, mas Morgen não deixou isso a chatear. Ela estava ocupada demais caminhando nas nuvens, pois Conall piscou para ela. Patético. A REUNIÃO com Richard se arrastou por duas intermináveis horas, durante as quais o homem provara ser o campeão em transformar copos d’água em tempestades. Não é à toa que Derek Holden começara a beber, tendo que aturar Richard todos os dias! Ele começou o dia sentindo-se entusiasmado e otimista, mas agora precisava urgentemente de duas grandes xícaras do excelente café de Morgen. E precisava ainda mais ver a própria Morgen. Se ela ainda estivesse falando com ele... Ele detestou ter que ir embora de manhã no domingo, sem a acordar ou dizer adeus. Se ele quis dar a impressão de ser algum conquistador sem coração, conseguiu. Suas ações foram quase automáticas, ele admitia envergonhado, mas ele também sentira um pânico tremendo ao pensar que sua vida estava tomando um rumo para o qual ele não estava preparado. Ele precisava caminhar e pensar e então caminhar mais um pouco. Exercícios sempre o ajudaram a pôr as ideias em ordem. À noite, ele já se decidira que iria dar uma chance ao relacionamento com Morgen. Ao tomar essa decisão, ele sentiu a necessidade urgente de ir a casa dela e contar que sábado à noite ultrapassara todas as suas expectativas. Infelizmente Morgen não se encontrava, e, embora ele tenha persistido e tenha ainda tentado ligar para ela, ninguém atendeu. Ele então passara o resto do dia se perguntando onde ela estava e com quem. Ele estava absolutamente decidido a ver como as coisas iriam se desenrolar, pois, pela primeira vez na vida, queria ter um relacionamento com uma mulher sem a antecipação de uma separação. Meu Deus, como ele estava apaixonado. A visão que ele encontrou ao sair do escritório o deixara sorrindo de orelha a orelha. Morgen, abaixada atrás da mesa, procurando por algo. — Precisa de ajuda? A voz de Conall a fez bater a cabeça na mesa. Sentindo o rosto corar, ela levantouse.
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Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Estava procurando a minha caneta. — Levantando a caneta dourada antes de pôla sobre a mesa, Morgen lutou para conter o constrangimento. — É um presente de Neesha, e não quero perdê-la. — Entendo. — Aproximando-se, Conall tentou tocar o cabelo dela. Surpresa, Morgen afastou-se e tentou ajeitar as roupas nervosamente para encobrir sua confusão. — Estava prestes a entrar e fazer café para você. Não pude antes, com Richard Akers aqui. — Bem, graças a Deus ele já se foi. — Conall piscou. — Aquele homem poderia aborrecer a Inglaterra inteira. Morgen tentou sorrir, mas, de alguma forma, seus músculos faciais estavam congelados. Ele a deixava estática, mas ela não podia se dar ao luxo de se deixar levar, não depois que ele provara que ela não passava de um divertimento para ele. Se ao menos ele não ficasse ali parado observando-a, com aquele sorrisinho sensual deixando-a louca... — Não mereço nem um beijinho como cumprimento? — Inabalável Conall se aproximou e pôs as mãos nos braços dela. Tremendo, Morgen olhou de relance para a porta. — Não. Não merece. Entendi a mensagem perfeitamente domingo, quando acordei e descobri que você tinha ido embora, que o que tivemos tinha sido apenas sexo. Mas não se preocupe Conall, não vou dificultar as coisas para você. Algumas de nós sabem agir com um pouco de dignidade. — Sei o que está parecendo. — Corando, ele balançou a cabeça. — Mas precisei refletir muito sobre nós. — E a que brilhante conclusão você chegou? — O tom dela era mordaz. Ele a fez sentir-se barata, usada. Mesmo que o sexo tenho sido ótimo. — Decidi dar uma chance a nós e ter um relacionamento com você. E isso inclui conhecer melhor Neesha. Eu a procurei no domingo à noite, mas não a encontrei. — Estava com dor de cabeça e desliguei o telefone. — A voz dela era glacial. — E aí? O que você pensa sobre o que eu acabei de dizer? — O que eu acho? — Morgen se afastou, cruzando os braços furiosamente. — Que você está brincando comigo. Sabe como isso é cruel? Você pode zombar o quanto quiser de pessoas como Derek, que se importam demais, mas pelo menos acho que ele jamais usaria alguém. — Eu não usei você! — Não? — Ela inclinou a cabeça, com um olhar amargo. — Fazer sexo com uma mulher e ir embora à manhã seguinte sem se despedir? Ao perceber que as coisas não estavam indo como ele planejara, Conall passou os dedos pelo cabelo furiosamente. — Eu nunca precisei procurar nenhuma mulher. O fato de eu estar vindo atrás de você não significa nada? Que outro homem procuraria você em um parquinho, pelo amor de Deus? Estou falando sério, Morgen. Quero ter um relacionamento sério com você. Por que você não acredita em mim? — Porque eu não confio em você. — Pronto. Ela disse. Engraçado como isso não a fez se sentir nem um pouco melhor. De repente, Morgen sentiu-se muito cansada de todos esses joguinhos.
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Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Tenho que trabalhar. — Ela olhou novamente para porta, querendo pôr um fim de uma vez nesse constrangimento entre eles, com o coração acelerado pela ideia de que o relacionamento deles não iria a lugar nenhum. — Então você não vai me dar uma chance de acertar as coisas? — Não há nada o que acertar. Somos adultos. Eu sabia o que eu estava fazendo, tanto quanto você. Esqueça tudo isso. Eu esquecerei. — Mentirosa. Ela então se encontrou junto ao peito dele e teve os sentidos consumidos por Conall. Ela respirou com dificuldades ao ver as íris azuis tomarem-se quase negras e sentiu as mãos dele na cintura. — Você realmente acha que pode esquecer-se de mim tão facilmente? Abaixando a cabeça, Conall beijou-a na junção entre o pescoço e a clavícula. O calor que subiu dos pés à cabeça a fez morder os lábios para conter um gemido. — Você é um homem impiedoso, Conall. Até agora não sabia o quanto. — Livrandose do abraço dele, ela esbarrou na mesa e, afobada, pegou uns papéis com o pretexto de lê-los. — Por que eu vou atrás do que eu quero? — perguntou carrancudo. — Porque você não se importa em machucar quem estiver em seu caminho — ela respondeu calmamente. Estreitando os olhos, ele ajeitou os punhos da camisa e bufou. — Não quero machucar você, Morgen. Se eu agi feito um imbecil no domingo foi porque até agora não estou totalmente confortável com a ideia de comprometimento. Mas não quero perder essa chance com você. Que tal tentarmos outra vez? Um dia de cada vez, o que acha? Ele sabia pela expressão dela que Morgen lutava contra a ideia e prendeu a respiração esperando pela resposta. — Você não estava só me usando? — Eu juro que não. — Não pense que não conheço sua reputação. As sobrancelhas dele se juntaram. — Hã? E qual seria minha reputação? Desconfortável com os rumos da conversa, ela olhou nervosamente para a porta de novo. — Olha Conall, sei que você não entra em relacionamentos longos, e eu não o culpo. Não pense que vou facilitar as coisas. O que passou já passou. Talvez nós devêssemos ser adultos e deixar isso para trás. — Pensei que você não prestasse atenção a fofocas. — Neste exato momento, está difícil saber no que acreditar. Novamente Conall se descobriu xingando a si mesmo por ter ido embora. — Você está certa. Precisamos conversar seriamente. Agora não é a hora nem o lugar, mas precisamos fazer isso logo. Acha que sua mãe pode ficar com Neesha esta noite? — Provavelmente. Sim... Sim, ela não se importaria. Por quê? — Vou levá-la para jantar para que possamos conversar como adultos civilizados, longe do escritório e das fofocas. Pego você às 19h30. Tudo bem? — Certo. — Bem, enquanto isso ficaria grato se você fizesse café... Ah, e seria ótimo se você pudesse transcrever as anotações da reunião da semana passada. 56
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox A porta fechou-se com um estrondo, deixando Morgen encarando os papéis nas mãos. As 19h45 daquela noite, vestindo seu único “pretinho básico” e com a maquiagem perfeita, Morgen sentou-se no sofá bebericando um copo de vinho branco. Tudo bem, ele estava atrasado... Isso não significava que ele não viria certo? — Bem, Sr. 0’Brien, estou pronta — disse ela em voz alta para o silêncio. — Onde está você? — Ele disse que precisava apenas passar pela construção do projeto Docklands e que seria breve. Quando passou das oito horas e não havia sinal de Conall, Morgen foi para a cozinha e jogou fora o resto do copo de vinho. Ela estava com uma dor de cabeça terrível, e seus pensamentos se alvoroçavam. Por que ele não viera? Ele se arrependera do que dissera naquela manhã? A dor da rejeição a atingiu como um soco no estômago. Ela curvou-se sobre a pia, lutando para ser forte e não chorar. Tudo o que ela podia fazer era agradecer a Deus que as coisas não foram muito sérias, antes que Conall começasse a fazer parte da vida de Neesha e a criança começasse a gostar dele. Finalmente resignando-se ao inevitável, ela limpou os olhos com as costas das mãos, desligou a luz, pegou uma jaqueta e as chaves do carro e foi buscar a filha. CHEGANDO CEDO à manhã seguinte, ela ficou aliviada por não ver nem sinal de Conall. Morgen tentou se distrair com o trabalho, tentando se concentrar nas notas que tinha transcrito no dia anterior. Pensando nisso, ela começou a especular sobre ele. Onde estava ele e por que não apareceu na noite passada? Ele nem sequer teve a decência de ligar e cancelar. Ele a desapontara mais uma vez, e ela não daria outra chance. Morgen leu a frase digitada três vezes, sem que ela fizesse sentido em sua mente. Será que as coisas seriam assim de agora em diante? Estaria ela destinada a trabalhar para um homem sentindo-se como uma colegial apaixonada? — Oi, Morgen. Ela olhou para cima assim que Julie entrou na sala e franziu o cenho ao ver a amiga e também assistente pessoal esbaforida. — O que foi? — Está sabendo? — Sabendo o quê? — Sobre o que aconteceu com Conall? O estômago dela revirou. — Do que você está falando? — Na noite passada, no local das obras do projeto Docklands. Ele escorregou em um andaime e caiu. Passou a noite no hospital com uma costela quebrada e um corte no ombro que precisou de 20 pontos. — Onde ele está agora? — Levantando-se, Morgen encarou ansiosamente a garota loira. Por que ninguém contou para ela? Mas, enfim, por que deveriam? Até onde todos sabiam, ela era apenas sua secretária temporária. E pensar que ela passou a noite passada toda o malhando por não ter aparecido. O estômago revirou só de pensar nisso. Ela não podia suportar a ideia daquele homem forte sofrendo sozinho no hospital. — Ele voltou para o apartamento da irmã em Highgate. Ele me ligou no celular hoje e pediu que avisasse que ele quer você lá. Aqui o endereço. Ele quer passar algumas instruções. — Jolie entregou a Morgen uma página rasgada com o endereço. 57
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Obrigada, Julie. Você pode anotar os recados? Eu ligo quando estiver voltando. — Morgen pegou o casaco e a bolsa. — Estimo melhoras. — Sorrindo envergonhada, Julie se aproximou de Morgen. — Diga que todas as garotas do escritório desejam que ele melhore logo. — Claro. Com a certeza de que não diria aquilo, Morgen correu para o elevador. ELE ABRIU a porta vestindo um jeans e uma camisa azul-clara aberta até a metade, exibindo as bandagens no peito. O cabelo parecia não ver um pente havia dias. Mas para o olhar faminto de Morgen, ele era tudo o que ela deseja em um homem e muito mais. Tentando manter a voz natural, ela sorriu. — Então é nisso que você se mete quando está sozinho? Ser um arquiteto hoje em dia é uma profissão muito mais perigosa do que eu imaginava. Aposto que você não estava com o calçado adequado. Foi por isso que você escorregou? Da última vez em que estivemos lá, o lugar parecia um atoleiro. Ela sabia que estava tagarelando, mas era bom vê-lo. Morgen imaginava que iria encontrá-lo em um estado muito pior. Naquele momento, a adrenalina falava por ela. Ele poderia ter morrido! — Sinto muito pelo nosso desencontro. Eu não tinha o seu telefone comigo, caso contrário teria pedido que alguém no hospital ligasse para você. — Estranhamente desanimado, Conall abriu caminho para ela entrar. O apartamento da irmã dele com certeza tinha todos os confortos de um lar, mas pensar em Conall deitado naquele luxuoso e grande sofá sozinho e com dores trazia à tona o instinto materno de Morgen. — Isso não importa. O importante é que você se cuide. Está com dor? Eles deram algum analgésico? — Morgen já tinha tirado o casaco e estava se virando para examiná-lo melhor, quando o coração deu um salto ao vê-lo sorrir para ela. Ao olhar para a mulher em que tinha pensado a noite toda, a dor lacerante e incessante nas costas miraculosamente se foi. Com o cabelo solto, ela era a criatura mais linda que ele já tinha visto. Ele não precisava de hospitais ou medicamentos: tudo o que ele precisava era de Morgen. Só de estar no mesmo lugar que ela já melhorava as coisas. De repente, todas as peças soltas da vida dele pareceram se encaixar perfeitamente. A ideia era revigorante, ainda que assustadora. Embora ela o perdoasse naquele momento, por não aparecer para levá-la para jantar por causa do acidente, ele ainda tinha dúvidas se ela seria magnânima com relação à transgressão anterior dele, no domingo de manhã. — Estou bem. Você pode fazer um pouco de café? A cozinha é logo ali. — Você comeu? Posso preparar o café da manhã também. Por que você não se deita no sofá? — Não quero me deitar. Quero conversar com você. Vou com você até a cozinha. Morgen insistiu que ele se sentasse enquanto ela preparava café com torradas. Ao colocar algumas fatias de pão na torradeira, ela se recostou na bancada para conversar com ele. — Então, como tudo aconteceu? — Exatamente como você disse. — Encolhendo os ombros massivos como um garotinho levado, ele fez uma careta de dor. — Sapatos errados, lama. Eu segui o capataz até um andaime e escorreguei. Sorte minha eu estar apenas a alguns metros do chão, senão eu teria batido as botas. 58
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Você não deveria se arriscar assim. Onde você estava com a cabeça? — Ao perceber que estava zangada por ele ter sido tão descuidado, ela se virou para verificar a torradeira. Conall respondeu seriamente: — Estava pensando em você, Morgen. Estou começando a pensar que você colocou algum feitiço em mim. Ela foi até a geladeira e pegou a manteiga. Depois, ficando nas pontas dos pés para alcançar uma xícara, ela tentou não levar a sério aquele comentário. — Não seja bobo! — Caramba! Estou falando sério! Com o coração acelerado, ela se virou. Morgen percebeu a careta de dor que ele fez e ficou com remorso. — Por favor, Conall, não se esforce tanto. Dá para ver que você está sofrendo. — Estou sofrendo mais por você não estar me levando a sério. Só porque seu exmarido brincou com seus sentimentos, não quer dizer que eu vá fazer o mesmo. De verdade, Morgen. Quero ter um relacionamento com você... Um relacionamento sério. Uma onda de choque atravessou-o. Até aquele momento, ele não sabia exatamente o que queria. Parece que a ter abandonado no domingo de manhã mudou tudo. Assustava Conall ver que ele poderia tê-la perdido com aquele comportamento insensato. — Não daria certo, Conall. Você é quem você é, e eu... — Você é...? — perguntou ele sem esconder a irritação. — Sou uma secretária da sua firma. Mãe solteira com todas as responsabilidades que isso acarreta e não posso me envolver com você. Não seria justo com Neesha. — E as suas necessidades, Morgen? O que você está dizendo? Que virará celibatária pelos próximos 15 anos, até Neesha ser grande o suficiente para sair de casa? — Melhor fazer isso do que a estragar com um monte de homens diferentes entrando e saindo da minha vida. — Um monte de homens diferentes? — Conall levantou-se. — Você não ouviu nada do que eu disse? Você parece ter certeza de que eu quero apenas algumas idas para a cama com você. Sei que meu histórico com as mulheres não é nada romântico, mas eu ainda não tinha conhecido você, tinha? Nunca quis me comprometer com ninguém porque eu não acreditava em relacionamentos. E a velha história: vi o casamento de meus pais se acabar na minha frente e fiquei furioso por eles não o terem consertado, embora o divórcio tenha ocorrido porque meu pai não resistia a um rabo de saia. Decidi que era melhor apenas me divertir, porque vi como minha mãe ficou devastada com a infidelidade de meu pai. Queria me poupar dessa dor. Infelizmente minha mãe vê minha atitude como uma característica herdada de meu pai. Agora vejo que estava errado em levar tão levianamente aqueles relacionamentos. Feri várias mulheres por não querer me comprometer e posso honestamente dizer que me arrependo disso. Elas merecem coisa melhor. Ele foi até a porta. — Pense nisso, Morgen. Semana que vem, vou para Nova York acertar alguns negócios. Quando voltar, gostaria de saber se vamos ficar juntos. — Ficar juntos? — encarou-o ela, perturbada. — Quer dizer morar juntos? — Não de imediato, mas essa é a ideia geral. Sei que você se preocupa com Neesha, mas prometo que não vou apressar as coisas. Quero que nos conheçamos melhor antes. Quero conhecer melhor Neesha e dar a ela a chance de me conhecer. E depois de um tempo, quero comprar uma casa aqui em Londres. 59
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox Morgen sentiu o cheiro de algo queimando. Ela virou-se para ver a torrada pular da torradeira, completamente preta. Com as mãos trêmulas, ela jogou as fatias tostadas na lixeira e voltou a encarar Conall. Ele estava encostado no batente, preocupantemente pálido. — Vou fazer mais torradas. Por que você não se deita, e eu levo uma xícara de café para você? Por favor, Conall. Não acho que você deveria se esforçar. — Você por acaso me ouviu? — irritado e cansado, ele gritou. — Claro que ouvi. E prometo pensar no que disse. Mas agora sua saúde e conforto são minhas preocupações principais. — Que pena eu não ter roubado um uniforme de enfermeira do hospital. Ver você nele teria feito milagres à minha saúde! — Divertindo-se ao ver a reação dela e pelas próprias fantasias, ele voltou para a sala e deitou-se no sofá.
CAPÍTULO DEZ QUANDO MORGEN voltou para a sala com o café e as torradas, Conall havia dormido. Com as longas pernas para fora do braço do sofá, seu cabelo castanho sedoso caía-lhe marotamente sobre a testa, e suas expressões estavam finalmente relaxadas. Deixando a bandeja sobre a mesinha, ela sentou-se em uma poltrona. Finalmente livre para refletir, ela não podia fugir da verdade. Ela estava apaixonada por Conall. Perdida e loucamente. Quando Julie irrompeu em seu escritório esta manhã e contou o que acontecera com ele na noite passada, ela soube que se o perdesse a vida jamais seria a mesma. Mas ela ainda não sabia se estava pronta para se envolver com ele tanto quanto Conall estava. Mas, para Morgen, havia muitos obstáculos. Conall estava acostumado a pensar apenas em si mesmo. Até onde ela sabia, ele gozava de uma vida agitada em Nova York e, assim como Simon, frequentava círculos sociais diferentes dos dela. Ele já admitira ter namorado muitas mulheres; e se a mãe dele estivesse certa e ele fosse igual ao pai? Ela não seria capaz de suportar se ele fosse infiel, nem uma vez sequer; o que dirá várias! E como ela poderia arriscar a felicidade de sua filha com um homem que não sabia nada sobre como cuidar de uma família e sobre as necessidades mundanas do dia a dia? E se depois de alguns meses ou semanas ele se sentisse preso? Entediado? Os sentimentos que ele nutria por ela logo diminuiriam até se transformar em ressentimento. Essas coisas acontecem e poderiam diminuir o que ele sente por ela. Ah, mas como ela o desejava! Só de saber que ele existia no mundo a fazia sentir-se melhor, enquanto estar com ele a preenchia com um tipo de contentamento sem fim. Cada célula de seu corpo tomou-se sensível à presença dele, como se eles estivessem quase dividindo a mesma respiração. Na cama, eles compartilharam uma paixão que poderia iluminar Londres inteira com sua força. 60
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox E o que aconteceria quando ele a apresentasse como sua ex-secretária? Eles a esnobariam? Pensariam que ela dera um golpe para conquistá-lo? E a família dele? Como reagiria quando soubesse que seu lindo e bem-sucedido filho se apaixonara por alguém que trabalhava no escritório? Lembrando como a família de Simon reagira, Morgen encolheu os ombros. O inferno congelaria antes que ela permitisse que alguém a fizesse sentir-se desvalorizada de novo. Conall virou-se dormindo e murmurou algo ininteligível, fazendo Morgen acordar de suas reflexões dolorosas. Ela se levantou e levou para a cozinha o café e a torrada, agora frios. Ligando a cafeteira, ela resolveu fazer um pouco de chá e ligar para o escritório para ver se havia alguma mensagem. Assim que Conall acordasse, ela veria o que ele precisava que ela fizesse e então voltaria para o escritório assim que pudesse. A distância entre eles a ajudaria a refletir melhor. As 16H30, Conall ligou para Morgen no escritório pela terceira vez. — Morgen? — Conall. — Ela desenhou uma carinha sorridente no bloco de notas, tentando ignorar o fato de o som de seu coração quase deixá-la surda. — Preciso que você venha aqui. — Por quê? — Endireitando as coisas, seu primeiro pensamento foi que ele estava com dor ou que talvez precisasse de um médico. — Preciso vê-la antes de ir para casa. — Mas por quê? Ela ouviu-o esbravejar e mordeu o lábio para não sorrir. — Você faz muitas perguntas, sabia? — Faz parte do meu trabalho. Fui treinada para atender a todas as necessidades de meu chefe. — Agora estamos conversando. — A voz dele ficou grave, e ele riu. O som a fez cruzar as pernas sob a saia preta. — Não esse tipo de necessidade. Além disso, você está machucado. Não iria querer que você se machucasse ainda mais. — Querida, só de conversar com você já estou me machucando de uma forma que você nem imagina. Morgen imaginou e sentiu a temperatura do corpo subir. — Se realmente precisa me ver, sairei meia hora mais cedo e passarei aí no caminho de casa. Não posso me atrasar, vou levar Neesha para nadar. — Prometo que você não ficará mais que o necessário, cinco minutos serão suficientes. E... Morgen? — Sim? — Venha logo, está bem? — Tudo bem. — Ela desenhou outra carinha feliz, com um sorriso ainda maior. O AR estava carregado pelo aroma delicioso de café fresco quando Morgen chegou. Conall a esperou tirar o casaco e insistiu para que ela se sentasse ao lado dele no sofá. Ela percebeu que ele se barbeara e que usava colônia. A essência encontrava as narinas dela de vez em quando, fazendo os sentidos se revirarem. — Tudo certo no escritório? Morgen assentiu, tentando não perceber como eram longos e lindos os cílios dele. — Está tudo bem. Nada de urgente.
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Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox Ele obviamente havia aumentado à temperatura do termostato, porque estava quase quente demais. O calor deveria estar relacionado à coxa forte e definida pelo jeans de Conall próxima à dela. E era; ela não estava conseguindo pensar direito perto dele. — Ainda está com dor? Foi só quando os olhos azuis dele se tomaram sombrios que Morgen percebeu o quão facilmente sua pergunta inocente poderia ser mal interpretada. — Está preparada para a minha resposta? — Os dedos dele deslizaram pela lapela, do casaco dela até encontrarem a blusa sedosa dela por baixo, a poucos centímetros de seus seios. — Você fez café, quer que eu pegue um pouco para você? — Levantando-se, Morgen foi para a cozinha antes que ele respondesse. Ele a seguiu, como imaginara. — Não quer que eu toque você? — Havia frustração nos olhos dele. Desviando o olhar para as bandagens ao redor do peito musculoso dele sob a camisa, ela sentiu novamente o coração saltar ao pensar que ele pudesse estar sentindo dores. — Falando sério, Conall, você precisa se concentrar nos cuidados de seus machucados, e não se eu quero que você me toque ou não. — Corando furiosamente, ela se virou para despejar o café em duas canecas. Mas ela não chegou a alcançar a cafeteira. Conall chegou por trás, com a respiração quente tocando o cabelo dela. Isso fez Morgen ficar tensa. Ele deliberadamente colocou as mãos na cintura dela e tocou o pescoço com os lábios. Ela inclinou ao sentir o toque, convencida de que iria derreter se ele continuasse tocando-a. Ela soltou um suspiro trêmulo e deixou a cabeça descansar sobre o peito dele. — Ai! — Aquele súbito grito lhe dizia que ele não estava gemendo de prazer. Mortificada, ela virou-se e o pegou balançando a cabeça, com a mão pressionado o peito. — Eu machuquei você! Oh, Conall, desculpe-me. Eu deveria ser mais cuidadosa. — Cale a boca e me beije. — O quê? — Você me ouviu. Cuidando para não a puxar para perto do peito, Conall segurou o rosto de Morgen entre as mãos e aproximou sua boca da dela. Ele fantasiara com ela o dia todo. Mas nada poderia prepará-lo para a sensualidade daquele beijo. A resposta dela o surpreendeu e estimulou, levando-o a aprofundar-se ainda mais e fazendo sua língua dançar com a de Morgen, com os dentes mordiscando o delicioso lábio inferior dela até ficar tão excitado que precisou se interromper antes que as coisas saíssem do controle. Relutante, ele se afastou. — Você deveria ser prescrita pelos médicos. Não posso descrever como estou me sentindo melhor. Morgen o encarou desnorteada. — Por que você parou? — Meu bem, eu a quero tanto que poderia possuir você aqui mesmo na mesa da cozinha, mas creio que nenhum de nós ficaria satisfeito com isso. — Feliz em vê-la corar, Conall sorriu. — Além disso, você precisa voltar para Neesha. Não quero que se atrase. Assim que conseguir que sua mãe fique de babá, quero que venha e passe a noite comigo. Com costelas quebradas ou não, isso não me impedirá de fazer amor com você. — Não vai? — Com a respiração ainda um pouco alterada e a frustração roendo-lhe os ossos, Morgen não conseguia disfarçar a ânsia em seus olhos. 62
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Há sempre uma maneira. Vou me distrair durante as horas solitárias pensando em você. — Tudo bem. Ela sorriu docemente, e o coração dela encheu-se de alegria. O fato de ele ter interrompido a paixão deles por pensar em Neesha o fez ganhar pontos. Então havia esperanças de um relacionamento entre eles afinal? Morgen precisava cultivar aquela esperança como uma semente que precisa de água e sol, e ao menos uma vez ela não seria cética sobre a possibilidade do sucesso. — Eu coloquei café para nós. O que você vai jantar? Não tenho tempo para cozinhar para você hoje, mas poderia pedir comida. — Já cuidei disso. Minha mãe virá cozinhar para mim. O que eu posso fazer? Ela ama cozinhar. — Ela parece ser uma boa pessoa. — Ela é. Talvez eu a apresente logo a ela. Morgen imaginou como aquilo terminaria. Ela capturou aquele pensamento antes que ele enveredasse para os velhos caminhos de seu coração partido. — Hum. Vendo-o voltar para a sala, Morgen pegou sua xícara e tentou se convencer de que a mãe de Conall não seria em nada parecida com a família Vaughan-Smith. — Ele PARECE ser um rapaz muito bom. — Lorna McKenzie disse ao se sentar à mesa com a filha e a neta para jantar. — Ficaria feliz em ficar com Neesha no sábado à noite. Você precisa de um tempinho só para você. — A vovó disse que podemos fazer um bolo de chocolate para o chá. Quer que eu guarde um pedaço, mamãe? — Olhando por cima do garfo cheio de purê de batatas, o lindo rosto de Neesha era pura esperança. — É melhor mesmo, se não quiser arranjar problemas! Você sabe que é o meu favorito. — Você vai namorar Conall, mamãe? Sentindo os olhos do outro lado da mesa se focarem nela com grande interesse, Morgen encarou Neesha e depois a mãe. — Sim. Vou namorar Conall. — Que bom. Vou guardar um pedaço para ele também. Morgen sentiu um peso sair de cima dos ombros. Pelo menos, Neesha não achou ruim a mãe sair com um homem, e ela já conheceu Conall e pareceu gostar dele. Devagar, Morgen... Um passo de cada vez, lembra? A voz dentro de sua mente a advertiu para ir com calma. Só porque Conall parecia falar sério sobre o relacionamento deles não significava que eles teriam um final feliz. Ele logo iria para Nova York, e poucos dias em um território familiar poderiam ser um longo período, com as mesmas tentações que foram parte da vida dele. — Coma, Morgen. Seu jantar vai esfriar. — Do outro lado da mesa, os olhos de Lorna McKenzie se estreitaram ao ver a expressão pensativa da filha. Ele parecia ser um bom homem, esse Conall 0’Brien, mesmo o tendo conhecido rapidamente. Mas Simon parecera ser um homem bom também, e olha só como ela se enganara. OBSERVANDO os planos na prancheta à sua frente, Conall fez um pequeno ajuste em uma área que o incomodava. Satisfeito que a correção era uma considerável melhoria, ele se afastou para ter uma melhor perspectiva. Uma dor no ombro direito o fez franzir o rosto, e ele rodou o braço algumas vezes para aplacá-la. Suas costelas estavam 63
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox melhorando, mas era o ombro que causava o maior desconforto e lembrava como fora imprudente. Estava preocupado com Morgen, em vez do trabalho. Isso o fez lembrar que não queria voltar para Nova York de forma nenhuma. Mas havia negócios que só ele poderia resolver, além do apartamento alugado que ele precisava desocupar e amigos de quem ele precisava se despedir. Ele já decidira que quando Derek Holden voltasse, ele o enviaria para o escritório em Nova York e para uma nova vida. Era o desafio que ele precisava. E assim que voltasse dos Estados Unidos, ele começaria a procurar uma casa para ele, Morgen e Neesha, assim ele esperava. Mas antes era preciso convencê-la de que ele era um homem honesto. — Conall? E, de súbito, ela estava ali, e a dor no ombro desapareceu miraculosamente. — Entre e feche a porta. — Só queria entregar estas cartas para você assinar. — Com a expressão incerta, ela ficou parada na porta, sentindo-se ridiculamente tímida. — Entre, quero conversar com você. Ele apontou para a confortável cadeira de couro à sua frente. Para deixá-la à vontade, ele decidiu começar por um assunto neutro. — Falei com Derek na clínica. Só queria informar que ele está indo bem. Ele teve um começo difícil, mas agora está determinado a abandonar a bebida e recomeçar a vida. — Que ótimo! — Os olhos verdes dela se acenderam de felicidade. — Eu sabia que ele conseguiria! — Mas ainda é cedo, meu bem. Ele ainda tem mais quatro semanas pela frente, e então veremos... Certo? — Não duvido de que ele vá conseguir. Sei que você o viu no pior estado, mas ele não é um caso perdido. — Nunca acreditei que ele era um caso perdido, mas o vício é uma doença. Alguns o superam; outros não. — Enfim, é uma notícia ótima. Obrigada. Conall pegou uma caneta a girou entre os dedos, pensativo. — O que você diria se eu dissesse que ele provavelmente não voltará para o trabalho aqui? — Por quê? — Porque estou pensando em mandá-lo para Nova York. Uma mudança de ares seria ótima para ele. Novas pessoas, novos desafios, uma nova vida. — Pode ser que funcione — concordou Morgen —, mas é claro que eu sentiria a falta dele. — Você então trabalhará para mim. — Com a expressão contemplativa, Conall encarou-a. Ele viu a dúvida espreitar nos olhos dela e sentiu um nó no estômago. Essa ideia a incomodava tanto assim? — Como sou o chefe da empresa, isso seria uma promoção, claro. Mais responsabilidades e mais dinheiro... O que acha? Sob quaisquer outras circunstâncias, isso seria ótimo, Morgen pensou. Mas com a promessa de diminuir suas horas de trabalho para passar mais tempo com a filha, essa era a última coisa que ela precisava ouvir. Sem mencionar o fato de ela agora ter um relacionamento muito pessoal com Conall que não era conducente com sua vida profissional. Seria uma questão de tempo até que o escritório todo descobrisse que havia algo entre Conall 0’Brien e a assistente pessoal de Derek Holden. 64
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Queria muito conversar sobre isso. — Sobre o quê, especificamente? — Nosso trabalho juntos. Não daria certo por muito tempo. Não agora que estamos... Estamos nos vendo socialmente. E eu também ia conversar com você sobre a possibilidade de diminuir minhas horas de trabalho. Preciso estar mais presente para Neesha. Ela está crescendo muito rápido, e esse tempo não vai voltar. Então, obrigada por pensar em mim, mas considerando tudo, realmente acho que você precisa dar o emprego para outra pessoa. Furioso, Conall levantou-se. — Mas ninguém é melhor para este trabalho do que você! Aquela avoada da Julie trabalhou para mim quando você estava doente; ela é boa, mas peça para que ela pense, e ela se derrete em uma poça de incompetência, e isso desperta o homem das cavernas que há em mim! Para a surpresa dele, Morgen começou a gargalhar. — E você não age como um homem das cavernas comigo? Ele franziu o cenho e sentou-se de novo, perturbado. — Quer dizer que é difícil trabalhar comigo? — Não. — A voz de Morgen agora era firme. — Não quis dizer isso. Só estou dizendo que não posso trabalhar para você se deseja mesmo que tenhamos um relacionamento. Você sabe que isso faz sentido. — Como é raro encontrar uma mulher com escrúpulos e princípios. — Ela então sorriu, e foi como ser banhado pelo sol depois de uma nuvem cinza passar. — Então você vai procurar outra pessoa para o cargo? — Não até as próximas semanas, até eu ver como Derek está. Então darei meu veredito. Enquanto isso, precisamos resolver suas horas de trabalho. — Obrigada. — Suspirando aliviada, ela se levantou para sair. — Aonde você vai? — inquiriu Conall. — Tenho que trabalhar. Ele se levantou e deu a volta na mesa, com um brilho no olhar que Morgen começava a reconhecer. — Não antes de você me beijar. — Conall! Alguém pode entrar e... Ele fechou a porta, virou-se e a encarou. Com um sorriso sensual que o fazia parecer maldoso, ele aproximou-se de Morgen, boquiaberta, e a agarrou com força. — Não pode, não!
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CAPÍTULO ONZE ESTAVA CHOVENDO quando eles saíram do restaurante naquela noite de sábado. Uma fina garoa fez o cabelo de Morgen parecer que estava envolto por uma película transparente. De braços dados, eles correram até o carro, e ele abriu a porta do passageiro para deixá-la confortável antes de correr para o lado do motorista. — Você está bem? — Os olhos azuis dele se mostravam preocupados enquanto ela levantava a gola do casaco até as orelhas. Era uma noite fria, e a chuva e o vento castigavam. — Estou. Logo vou me aquecer. Ele passara a noite toda a contemplando, mas aparentemente nunca era o suficiente. Eles conversaram, às vezes evitando assuntos mais pessoais para ter uma conversa mais amena, embora soubessem que uma conversa mais significante estava acontecendo entre eles em suas mentes e corpos. No apartamento, Conall deixou a iluminação baixa. A luz fraca acolheu-os do frio, criando uma atmosfera quente e íntima, enviando arrepios de antecipação pela espinha de Morgen. Há tempos ela não se permitia conhecer um homem, e Simon nunca precisara dela como ela precisara dele. Mas Conall era diferente. Eles tinham uma conexão. Era estúpido negar isso por mais tempo. No restaurante, Morgen quase não fizera jus ao delicioso jantar, pois toda vez que seus olhares se encontravam, fogos de artifícios pareciam incendiar seu estômago, e duas taças de vinho subiram-lhe direto para a cabeça. Agora, entregando-lhe seu casaco, alarmava-a perceber que suas pernas estavam trêmulas, como se ela tivesse acabado de sair de uma montanha-russa. Percebendo a tensão dela, Conall hesitou antes de pegar o casaco. — Ainda está com frio? — Não. Está bem agradável aqui. — Sente-se, fique à vontade. Vou pegar uma bebida. — Chega de álcool, por favor. — Ela sorriu apologeticamente. Mais do que duas taças de vinho, e eu apago. — Que bom que você me avisou. — Com um timbre profundamente sensual, ele sorriu de maneira a baixar a resistência dela e fazê-la esquecer-se de respirar. No caminho para a cozinha, ele colocou os casacos sobre uma confortável poltrona e perguntou se ela preferiria café. — Ótimo. — Esfregando os braços em seu vestido de seda azul e branco, Morgen sentou-se no sofá e tirou os sapatos. Acariciando os dedos do pé no luxuoso carpete, ela
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Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox observou as fotos de família nas paredes e os ecléticos objetos d’art nas prateleiras e estantes. Tudo era lindo e de bom gosto, mas obviamente dizia mais a respeito sobre a irmã de Conall. — Por que você não tem um apartamento só seu? Seus pés a levaram até a cozinha, onde Conall organizava pires e xícaras em uma bandeja. Ele parecia ser bem familiar com as tarefas domésticas ordinárias, e ela estava contente em ver isso. — Eu alugava um apartamento em Chelsea antes de ir morar em Nova York. Para ser franco, nunca senti realmente a necessidade de ter um lugar permanente. Viajei muito nos últimos anos: América, Canadá, Austrália. Por que ter um lugar que ficaria vazio a maior parte do tempo? — E agora você decidiu ficar em Londres por um tempo? Ele parou o que estava fazendo e virou-se para se recostar na bancada, com seus olhos azuis eletrizantes em contraste com a brancura de sua camisa. — Estou pensando em comprar uma casa. — Não quer projetar uma? — Morgen sabia que, se ela tivesse as habilidades de Conall, adoraria projetar sua própria casa. — Isso me passou pela cabeça. Antes que ela pudesse pensar, Conall estava em pé diante dela, deslizando as mãos por seus braços nus, confundindo seus sentidos com sua masculinidade. — Mas isso vai depender se eu terei alguém especial para compartilhar a casa comigo ou não. — Você encontrará alguém. — Desviando os olhos do desejo no olhar dele, Morgen focou nos botões nacarados da camisa dele. — Achei que já tinha encontrado. — Pense de novo. — Com a voz rouca, ela voltou a encará-lo, com o coração acelerado pela beleza do rosto dele. — Tenho uma filha, não se lembra? Isso não é só sobre mim e você. Você está acostumado a ser livre, a ir e vir quando quiser. Mas não se pode fazer isso quando se tem uma criança. O seu foco é nela, e você nunca para de se preocupar com ela. E isso o que você estaria assumindo, Conall, e eu acho que você não está pronto para isso. Surpreso, Conall ficou momentaneamente em silêncio. Criança... Ele honestamente nunca pensara muito em ser pai. Ele sempre relegara isso a um futuro distante, convencido de que, quando isso acontecesse, ele seria maduro o suficiente para lidar com isso... Diferentemente de seu próprio pai. Ter Morgen e Neesha em sua vida mudaria completamente seu estilo de viver. Ele jamais dividira um apartamento, quanto mais com uma mulher. Ele teria que se acostumar com muitas coisas, mas não coisas que ele odiava, concluiu. Deve ser até bom ter duas mulheres na casa. E poder acordar ao lado da mulher dos seus sonhos era um belo incentivo. Não. Morgen estava errada sobre ele. Ele era muito mais adaptável do que ela imaginava. Se não fosse, ele não teria decidido transferir-se para Londres só por estar apaixonado, teria? Apaixonado... A ideia o envolvia como uma névoa. Ele sentia-se excitado, entusiasmado, com o coração acelerando-se para acompanhar seu ritmo. Ele sorriu. No arsenal de vantagens que já tinha, aquele sorriso era a arma mais explosiva de todas, Morgen decidiu. — Você está errada sobre mim, Morgen. Quero você e Neesha em minha vida. Quero tomar conta de vocês duas. Posso não saber muito sobre como cuidar de crianças, mas eu 67
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox aprendo rápido e posso ir pegando o jeito, não posso? Não vou desapontá-la. Se pensa que isso é algo temporário de minha parte, então você realmente não me conhece. Nunca me apaixonei assim antes. — Ele capturou o rosto dela entre as mãos. — O que acha de casarmos? Se uma bomba tivesse caído pelo teto naquele momento, Morgen não teria ficado tão surpresa. Confusa, ela olhou para os olhos sorridentes dele e perdeu a fala. Casamento? Não era uma coisa que ela imaginara que ele fosse considerar. Morgen afastou gentilmente as mãos dele. — Nós nos conhecemos há tão pouco tempo. Não deveríamos fazer algo do qual possamos nos arrepender. Sei que você está pensando em mim, mas não precisamos nos casar para ficarmos juntos. Vou pensar sobre morar com você, de verdade, mas preciso de mais tempo. Não foi a resposta que Conall queria ouvir. Ele se surpreendeu com o próprio pedido de casamento; foi só depois que as palavras saíram de sua boca que ele percebeu que desejava aquilo acima de tudo. — Pedi que você se casasse comigo porque estou apaixonado por você, Morgen. — Simon disse que me amava também. Palavras assim são fáceis no começo, e você mesmo já admitiu que seu histórico com as mulheres não seja dos melhores. Perplexo, Conall esbravejou entre os dentes e se afastou. — Então não tenho a oportunidade de me redimir? Não é como se eu tivesse escondido de você algo do meu passado. Admiti que nunca quis me envolver com ninguém antes, mas me fere ser comparado com seu ex-marido. Não dá para ver que isso é diferente? Morgen queria acreditar nele, mas ela perdeu a habilidade da confiança quando Simon a deixara. Como ela poderia explicar para Conall que estava completamente aterrorizada por estar apaixonada por ele? E se a família dele a tratasse como a de Simon? — Você viu onde eu moro, Conall. Sabe que não frequento os mesmos círculos sociais que você. O que seus amigos vão pensar quando descobrirem que você se apaixonou por uma reles secretária, e mãe solteira, de South London? — Não acredito que essas coisas a incomodem! Sim, eu vi onde você mora, e o que eu vi foi um lar, não uma casa vazia com mobílias caras, mas um verdadeiro lar. Algo que não tenho desde que eu era criança. E eu não dou a mínima para bens e círculos sociais! Eu aceito as pessoas como elas são, não importa de onde elas venham ou o que elas façam. Eu gosto delas ou não. Ele foi até a pia, encheu um copo d’água e o bebeu. Depois se virou para estudar Morgen, do outro lado da cozinha. — E para a sua informação, não dou a mínima para o que as pessoas pensam. Estamos falando sobre mim e você. Ou você quer ficar comigo ou não quer. Morgen suspirou profundamente. — Eu quero ficar com você — ela confessou. — Tudo bem. Eu vou pensar seriamente sobre me mudar para a sua casa, mas não me casarei com você. Encontrando no olhar dela a dureza do aço nas profundezas daquele verde, Conall sentiu o peito doer, desapontado e ferido. A primeira mulher que ele pediu em casamento o recusou. Dizer que isso não fora um golpe para a sua masculinidade e orgulho era uma grande mentira. — Se não quer se casar comigo, então não vou pedir para que você venha morar comigo. 68
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Você que sabe. — Com o rosto corando e um rápido brilho de descrença nos olhos, Morgen virou-se e foi embora. — QUERO QUE telefone para este número e reserve uma passagem para Nova York amanhã de manhã. Encarando a folha de papel que Conall jogara em sua mesa, Morgen engoliu seco. As coisas só pioraram depois daquela noite. Em vez de acabarem na cama juntos, como ambos desejavam, Morgen acabou pedindo que ele lhe chamasse um táxi. Quando ele recusou, ela insistiu que ele a levasse para casa. Dizer que a atmosfera entre eles deteriorou-se a um silêncio moroso não faz jus à realidade. Depois de deixá-la em casa, ele não hesitou em simplesmente entrar no carro e ir embora. Morgen entrou na casa vazia e fria, sem sequer a companhia de sua filhinha. — Farei isso imediatamente. — Estarei fora à semana toda. Se algo de importante acontecer, me ligue. Deixarei o número da minha casa com você. — Tudo bem. Ela então permitiu que seu olhar se encontrasse com o dele. A fúria que havia neles a fez segurar a respiração. Ela não queria que as coisas fossem assim, mas como ela acertaria as coisas entre eles? O casamento a aterrorizava. A ideia de se casar com Conall para que a união terminasse em um doloroso divórcio era seu pior pesadelo. Ela não conseguia fazer aquilo e também não queria que ele se arrependesse de tê-la conhecido. — E tenho uma reunião com Richard Akers, às 13h. Providencie um lanche, está bem? Ela assentiu em silêncio, odiando a formalidade com a qual ele se dirigia a ela. As coisas seriam assim agora? — Providenciarei isso. — Tenho certeza de que sim, Morgen. Você é uma excelente profissional. Antes que ela pudesse pensar no que ele queria dizer, a porta fechou-se, deixando-a encarando a tela do computador como que em transe. Ele estava olhando pela janela novamente, com a concentração destruída e a fúria crescendo a cada minuto. Por que ela não queria se casar com ele? Da maneira com que ela reagia, qualquer um pensaria que ele a havia insultado! Ela obviamente não acreditava que ele falava sério. O que diabos o ex-marido dela aprontou para deixá-la tão desconfiada? E o que era aquilo sobre ele andar por círculos sociais diferentes dos dela? Ele passara o resto do sábado e quase todo o domingo tentando descobrir por que aquilo a perturbava tanto. Na verdade, ele deveria ter conversado mais com ela. Em vez disso, ele deixou a dor e a rejeição, sem mencionar a raiva, falarem por ele, agindo como uma criança mimada. Não é de se admirar que ela preferira ir embora a dividir a cama com ele! Aquilo o consumia. Ele caminhava como se o chão estivesse coberto de tachinhas desde que a deixara em casa, com a frustração sexual o enlouquecendo. Droga, ele não conseguia sequer olhar para ela sem ficar excitado. Em contraste, quando ela colocava aqueles olhos verdes sobre ele, ela o fazia sentir-se culpado. Como reparar o erro antes de ir para Nova York amanhã? Se ele ao menos não tentasse, mal conseguiria trabalhar. Seu telefone soou. Ele atendeu irritado. — Alô! — Victoria Kendall está na recepção, perguntando por você. Devo mandá-la entrar? O que a mãe dele estava fazendo no escritório? Tamborilando impacientemente os dedos sobre a mesa, ele soltou um grunhido. — Tudo bem. Mande-a entrar. 69
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox No outro escritório, Morgen ajeitou nervosamente a saia preta e a jaqueta, olhou-se no espelho acima do armário e caminhou até a área de recepção, tentando parecer confiante. — Sra. Kendall? Sou Morgen McKenzie, assistente do Sr. 0’Brien. Acompanhe-me, por favor. Vestida impecavelmente, Victoria Kendall cumprimentou-a com um sorriso e a seguiu. — Acredito que ele não está muito feliz em me ver — confidenciou ela a Morgen. — Ele deve estar achando que vou dar outro sermão, mas só quero almoçar com ele. Ele não tem nenhum compromisso, tem? Eu sei que deveria ter ligado antes, mas... Bem, eu estava na cidade e meio que agi de impulso. Morgen de imediato gostou daquela mulher. Inesperadamente maternal apesar da aparência glamourosa, Victoria Kendall não era quem ela esperava. Em contraste, a mãe de Simon era totalmente fria. — Ele tem uma reunião às 13h, mas tenho certeza de que ele pode adiá-la. Por que ela disse aquilo? Conall e o pomposo e orgulhoso Richard Akers seriam capazes de matá-la. — Que bom! Obrigado, querida. Para o espanto de Morgen, Conall estava esperando na sala de Morgen, caminhando impacientemente. — O que foi mãe? Você sabe que sou ocupado. — Mas que recepção! Acho que vou dar meia-volta e ir embora. — Com a expressão de ofendida, Victoria foi em direção à porta. Consternada pela grosseria dele, Morgen partiu em defesa daquela senhora. — Sua mãe veio convidar você para almoçar, Conall, e eu realmente acho que você deveria ir. Posso muito bem adiar a sua reunião com Richard Akers. — Por que eu deveria fazer isso? E quem pediu a sua opinião? Você sabe muito bem que viajo para Nova York amanhã e que estou até o pescoço de trabalho! — Conall 0’Brien! Onde estão os seus modos? — Caminhando até seu gigantesco filho, Victoria parou diante dele e o encarou. — Quero que peça desculpas para a sua secretária imediatamente! É verdade que eu posso levar você para almoçar. Ela estava falando por mim. — Sinto muito, mas na verdade estou muito ocupado para ir almoçar com você, mãe. Por que não deixa que Morgen faça um chá para você relaxar por alguns minutos antes de ir embora? — Isso foi um pedido de desculpas? Eu perdi algo? — Victoria franziu o cenho para Conall e depois para Morgen. A jovem excepcionalmente linda e de belo cabelo negro ficou corada, ela percebeu. E suas mãos tremiam enquanto ela arrumava alguns papéis sobre a mesa. Interessante. Era por ela que seu filho se apaixonara? Ela entendia perfeitamente. Sua careta foi substituída por um enorme sorriso. — Mesmo que você estivesse loucamente cheio de trabalho, isso não é motivo para ser rude. Mas já que você não quer almoçar comigo, será que Morgen não tomaria uma xícara de chá comigo? Você pode me emprestá-la por um tempinho, não? Como um cachorro farejador no encalço de um criminoso, Conall arqueou as sobrancelhas. — E por que diabos você iria querer conversar com a minha secretária? — inquiriu ele, irritado. 70
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox O que você poderia ter em comum com ela? Morgen terminou a frase mentalmente. Aquilo foi à gota d’água para ela, aquele insultante tom de desdenho na voz dele. Jogando furiosamente sobre a mesa os papéis que arrumara, Morgen virou-se para Conall com a força de sua raiva. — Fazer as pessoas sentirem-se inferiores é algo natural para você ou você teve aulas? Bem, para a sua informação, Sr. 0’Brien, estou farta do seu temperamento e modos rudes e não vou aturá-los mais! Vamos ver como você se vira se eu tirar à tarde de folga! — Espera aí! Eu... Ela ouviu a fúria na voz dele e, agarrando sua bolsa, saiu do escritório, andando tão rapidamente quanto suas pernas aguentavam. Sem saber exatamente para onde estava indo, ela entrou pela primeira porta que encontrou ao ouvi-lo vindo atrás dela. Dentro da sala escura que abrigava os artigos de papelaria da firma, Morgen puxou uma cordinha que pendia do teto e suspirou aliviada ao acender a luz. — Morgen! — Conall sacudia a maçaneta. — Pare de me importunar! Não quero falar com você. Você terá meu aviso prévio sobre a sua mesa pela manhã! No silêncio que se seguiu, ela ouvia apenas o turbilhão em seu coração. Uma lágrima solitária escorreu, mas ela impacientemente a limpou. Ela não deixaria que ele a tratasse como uma servente sem cérebro! De jeito nenhum! Simon fizera isso com ela, e Morgen não deixaria Conall tratá-la assim. — Vou para Nova York amanhã de manhã, lembra-se? O timbre da voz dele era baixo, cheio de frustração. — E espero que fique por lá! — Você não quis dizer isso. — Ele sacudiu a porta novamente. — Deixe-me entrar e conversar com você. — Não quero conversar com você. Não há nada para ser conversado. — Há muito que conversar! Abra a porta, Morgen, e deixe-me entrar. Por favor! Ela pôs a mão cautelosamente sobre a chave. — Vou abrir a porta, mas não vou falar com você, Conall. Para falar a verdade, vou direto para casa. Para seu espanto, ela encontrou-se encurralada na minúscula sala assim que virou a maçaneta, com Conall encarando-a e a porta escancarada atrás dela. Seus sentidos foram dopados pela masculinidade dele. Ela podia ver o brilho do suor em sua testa, e o rosto dele parecia tenso sobre a luz laranja da sala. — O que... O que pensa que está fazendo? — Não sairei daqui enquanto você não falar comigo. — Sua mãe está esperando na sua sala. Volte para lá. Vou dar uma volta e voltarei dentro de uma hora. Não vou me demitir. Você sabe como preciso deste emprego, eu... — Do que você tem tanto medo, Morgen? — O repentino tom gentil em sua voz a pegou de surpresa. Mordendo o lábio para não chorar, Morgen suspirou profundamente. — Não estou... Só não quero falar sobre isso. E eu... Eu não gostei de como você falou comigo... Como se... Como se eu fosse inferior a você. Por favor, deixe-me passar. — Desculpe se a fiz sentir-se assim — disse ele e sorriu. — Deixei minha frustração falar por mim. Por favor, responda à minha pergunta. Do que você tem medo? Não vou me mover até você responder. Ele era implacável, uma parede de granito que até uma demolidora teria problemas para destruir. Morgen olhou de relance para os tensos olhos azuis e tentou aplacar a dor 71
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox na garganta. — Estou assustada com meus sentimentos por você. Essa é a verdade! Não queria desejar você tanto assim, mas eu desejo. Isso me dá medo, Conall. Você está acostumado a estar no comando, dar ordens. Você está no topo de sua carreira, rico e bem-sucedido. Fui casada com um homem com esses mesmos atributos, mas ele se achava muito melhor do que eu, por ser um médico e eu, apenas uma secretária. Ele depreciava de onde eu vim, onde eu estudei, o que o meus pais faziam. Ele se achou melhor até do que nossa filha! Os pais dele deram as costas para Neesha, sabia? Para a própria neta! Quando nosso casamento acabou, eu já não tinha uma imagem boa de mim mesma. E não quero me sentir assim novamente. Entende? Conall entendera finalmente. Ver lágrimas brilhando nos lindos olhos dela o feriu. Ele tocou o rosto dela e sentiu sua delicada pele úmida, e então beijou delicadamente seus lábios. — Se eu já fiz você se sentir inferior, então peço mil desculpas. Sempre considerei você de igual para igual. Você está a anos-luz das outras mulheres, sabia? Com sua beleza, sagacidade, inteligência e como cuida de sua filha. Você é uma pessoa excepcional, Morgen. É por isso que quero que você seja a minha esposa.
CAPÍTULO DOZE BATIDAS RÁPIDAS na porta os surpreenderam. — Espere aí, — Sorrindo ironicamente, Conall tentou disfarçar sua óbvia frustração. — Conall, você está aí com Morgen? Por que vocês não voltam para o escritório e eu faço um café para vocês? — Minha mãe. — Balançando a cabeça, inconformado, ele puxou gentilmente a mão de Morgen. — Ela não vai embora enquanto não nos tirar daqui, sabe. E melhor voltarmos. Desculpe-me se agi como um urso raivoso nesta manhã. Eu não tinha o direito de dizer aquelas coisas a você. Arriscando-se a falar, Morgen esboçou um breve e trêmulo sorriso. — Desculpas aceitas. — VOCÊ TEM alguma foto de Neesha com você? Sentando-se ao lado da mesa de Morgen, segurando uma caneca de café com uma dose grande de açúcar, Victoria Kendall inclinou-se para frente com interesse enquanto Morgen remexia sua bolsa. Quando se tratava de sua garotinha, seu orgulho e alegria, Morgen não tinha problemas em sacar fotos para mostrar: ela carregava uma generosa seleção em sua bolsa. O fato de a mãe de Conall ter demonstrado um interesse genuíno por sua filha e não parecer estar com pressa fez a jovem gostar ainda mais dela. — Oh, como ela é linda! — exclamou Victoria conforme Conall entrava na sala. Sorrindo, ele foi para trás da cadeira da mãe e espiou as fotografias por cima do ombro dela. — Assim como a mãe dela — ressaltou ele. O comentário acertou em cheio o coração de Morgen e a fez sentir como se flutuasse no espaço. Seu olhar encontrou Conall, e uma onda de calor explodiu dentro dela. Percebendo o desejo no olhar direcionado ao filho, Victoria Kendall sorriu para si mesma, sentindo-se satisfeita. Ela esperou muito tempo para que seu filho se apaixonasse e agora, estudando a adorável morena sentada diante de si, ela rezou para que ele tivesse encontrado a mulher de sua vida. Sua alma gêmea.
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Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox A única coisa que perturbava levemente Victoria era a sensação de que Morgen precisava de um pouco de persuasão na direção certa. Sendo mãe solteira, ela estava obviamente preocupada com o bem-estar de sua filha e não iria se entregar a menos que tivesse certeza de que Conall estivesse 100 por cento comprometido com ambas. Não havia dúvidas de que a reputação de Conall o precedera, e era compreensível que Morgen estivesse um pouco reticente. Mas Conall não era uma cópia fiel do pai. Ele pode ter se divertido com outras mulheres, mas nunca fizera promessas que não podia cumprir, e Victoria sempre sentira em seu coração que, quando ele encontrasse a mulher certa, ele então seria totalmente fiel a ela. Quando ele se decidia sobre algo, jamais mudava de ideia, e Victoria não duvidava de que ele ficaria junto de Morgen para sempre. Assim, ela se decidira que faria o que pudesse para que eles tivessem um final feliz. Que mãe de verdade não faria isso? Devolvendo as fotos para Morgen, Victoria virou-se e segurou a mão de Conall. — Ainda não é tarde para levar Morgen para jantar, querido. Balançado a cabeça genuinamente arrependido, Conall suspirou. — Boa ideia, mãe, mas eu realmente não posso. Quando eu voltar de Nova York daqui a alguns dias, prometo que a primeira coisa que farei será levar Morgen para jantar. Tudo bem? — Sei que você vai fazer o que é certo, filho. — Victoria então sorriu. MORGEN DEU tudo de si para certificar-se de que Conall deixara tudo certo e organizado antes de partir para Nova York. As 18h30, ela finalmente desligou o computador, vestiu a jaqueta e levantou-se, esticando os braços. Olhando nervosamente para a luz que vinha debaixo da porta dele, ela pôs a mão sobre a boca para capturar um bocejo e ficou ali se perguntando o que faria então. Ela teria que entrar e dizer que estava indo embora. Não iria ser fácil, sabendo que não o veria por, pelo menos, os próximos quatro dias ou talvez mais. A dor em seu coração era profunda e irrevogável, uma dor quase física. Por que ela não lhe dera uma resposta quando ele dissera que queria ela fosse sua esposa? Será que ele pensaria que, como ela não tocara no assunto novamente, ela ainda não estava interessada? Até onde ela sabia, ele lhe garantira que não se importava sobre onde ela vivia ou de onde ela viera; para ele, ela era sua igual. Oh, Deus, não permita que ele mude de ideia. COÇANDO os olhos para espantar o cansaço, Conall acolheu a distração que as batidas na porta trouxeram. Sentindo o frisson do calor que ziguezagueou por seu corpo ao ver quem era a visitante, ele se levantou, tirou a cara gravata de seda e a jogou displicentemente sobre a mesa. — Só vim dizer que já estou indo para casa. O sorriso tentador dele fugiu de seus lábios, como se ela estivesse incerta sobre baixar a guarda. Só aquele breve vislumbre já seduzira os sentidos já excitados de Conall, como lençóis de seda contra a pele nua, e a antecipação se infiltrou em sua corrente sanguínea e se espalhou. Baixando o olhar para o decote da blusa por baixo da jaqueta e a adorável saia de seda que envolvia suas graciosas curvas, ele sentiu algo explodir dentro de si, obliterando quaisquer vestígios de fadiga. — Entre e feche a porta — ordenou ele. Morgen não protestou como ele achou que ela faria. Ela então se moveu na direção dele, interessada nos projetos de arquitetura espalhados sobre a mesa. O azul da gravata de Conall lançava um sopro de cor sobre os desenhos em preto e branco. — Ainda não terminou? — perguntou ela. 73
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Querida, já fiz tudo o que precisava para esta noite. — Sem dizer mais nada, Conall recolheu a gravata e a guardou no bolso de trás, e então enrolou os projetos e os guardou em um armário atrás de si. Com a mesa vazia, ele deixou escapar um sorriso que a devastou. — Enfim, espero que você faça uma boa viagem. Eu o manterei informado se algo de importante acontecer. — A melhor assistente de todas. — Tento fazer o melhor possível. — Queria que você dissesse que tenta me agradar. — E eu tento. — Confusa com o que ele queria dizer, Morgen inconscientemente puxou a jaqueta por cima da blusa. — Se isso é verdade, então não faça isso. — O quê? Com os olhos azuis ainda mais profundos, como se tivesse acabado de acordar do sono mais lânguido, Conall abalou o mundo dela com a sensualidade chocante de seu olhar direto. — Esconder o seu corpo de mim. — Eu não... Não escondi. — Deixando as mãos penderem ao lado do corpo, Morgen desviou o olhar do dele antes que entrasse em combustão. De súbito, seus membros pareciam curiosamente lentos e pesados, como se ela estivesse em um desses sonhos em que você quer correr, mas não consegue. Só que desta vez ela não tinha a intenção de fugir. Forçando-se a encarar Conall novamente, ela molhou os lábios com a língua. Ao visualizar aquele gesto inocentemente sensual, o desejo agiu de forma rápida e impiedosa em Conall. Todos os seus músculos se retesaram tentando manter o controle. — Preciso que você faça uma coisa para mim, Srta. McKenzie. — O tom rouco de sua voz dominou a mente de Morgen. — Achei que você tinha terminado por hoje, Sr. 0’Brien. — Há algo que eu quis fazer o dia todo. Importa-se? Ela moveu-se lentamente até onde ele estava, e seu fôlego ficou preso nos pulmões quando ele gentilmente a guiou de volta para a mesa, e então tirou os sapatos dela. O toque dele era quente e firme, e Morgen sentiu-se como um gato deitando em um parapeito, esperando que o sol aparecesse para lhe acariciar com seus raios. Para falar a verdade, ela também desejou isso o dia todo. Foi um a tortura vê-lo trabalhar sem poder tocá-lo. Mesmo sendo frio educado e ético, sua figura profissional levemente distante a atormentou, brincando com seus nervos até ela sentir que acabaria gritando se não conseguisse algum alívio logo. Ela não ansiara por mais nada desde que ele invadira a sua vida, acusando-a de não fazer seu trabalho direito. Embora sua inclinação natural fosse envolver a cintura dela com os braços, ele moveu a cabeça indicando que ela ficasse onde estava e, com um sorriso malicioso, despiu sua calcinha e sua meia-calça com uma habilidade tão erótica que fez sua cabeça girar. Ela ficou imediatamente úmida e corada. Uma onda de amor a consumiu, levando-a consigo em sua crista. — Você está vestindo muitas roupas — repreendeu-a ele suavemente, mas antes que os dedos de Morgen pudessem alcançar os botões de sua blusa, ele capturou sua mão, os cantos da boca dele formando um dos sorrisos sensuais mais avassaladores conhecidos pelo sexo feminino. — Permita-me. Afastando o tecido aberto, a boca dele tomou um fôlego abaixo da fina seda do sutiã de renda preto, com seu calor queimando o mamilo dela, fazendo-o endurecer-se 74
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox desavergonhadamente na direção dele. Sabendo do que ela precisava pelo que ela ansiava, ele moveu-se para o outro seio para presenteá-lo com o mesmo tratamento. A profunda conexão, dentro do útero de Morgen, era eletrizante. Com a excitação a consumindo, ela arquejou quando as mãos dele deslizaram por suas coxas, acariciando e massageando-as, enquanto ela afundava os dedos entre o cabelo curto dele e sua boca procurava ansiosamente pela dele. Quando seus lábios se encontraram, calorosa e desesperadamente, a paixão avassalou-os como um incêndio, deixando-os ofegantes e trêmulos em seu rastro. — Conall, por favor. — O que foi Srta. McKenzie? — provocou-a ele, sussurrando com a voz rouca e faminta em seu ouvido. — Você sabe. — Virando a cabeça dela, ele tomou-lhe a boca em outro beijo alucinante, com sua língua deslizando para dentro e para fora de sua boca incandescente, sentindo a barba por fazer do queixo dele raspar a pele sensível de seu queixo, sua essência masculina invadindo-a por todos os lugares, fazendo-a sentir que seu corpo era uma extensão do dele. — Diga. — Ame-me... Por favor, ame-me. Ele encarou aqueles olhos verdes como hortelã que pareciam derreter, emoldurados por cílios negros aveludados. Os exuberantes lábios róseos dela estavam levemente intumescidos devido à paixão do beijo, e todas as mulheres pelas quais ele já sentira desejo desapareceram no esquecimento, como se jamais tivessem existido. Queimando de desejo praticamente desde o momento em que ela entrara na sala, Conall já estava dentro dela antes mesmo de conseguir raciocinar sobre isso. Com o calor dela ao redor de si, ele sentiu os músculos dela se flexionarem e se contraírem ao redor dele, e toda a frustração que ele sentira finalmente foi aplacada por sua possessão profunda e voraz. Inclinando o quadril para a direção dele e então enterrando seu rosto contra seu peito maciço e musculoso, Morgen aceitou prazerosamente as investidas apaixonadas e urgentes dele, sentindo o coração galopar em seu peito e a necessidade em si espiralar-se rapidamente em uma tensão tão profunda que logo algo teria que ceder. E cedeu. Com a parede de músculos contraindo-se quase que violentamente ao redor dele, ela ofegou em voz alta, enterrando as unhas nas costas dele contra o fino tecido de sua camisa enquanto uma última investida resultou no próprio clímax dele, poderoso, e seu líquido quente derramou-se nas profundezas do útero dela. Dominada por aquela intensa conexão, Morgen levantou o olhar para encarar, atordoada, os olhos dele. O amor que ela viu refletido neles a maravilhou e surpreendeu. Erguendo o pescoço, ela deu um beijo apaixonado no lado de sua boca, e depois outro, e depois outro. Ainda unidos, com a saia dela erguida até a cintura e com as pernas ao redor do quadril de Conall, Morgen permitiu-se experimentar por completo e por mais um tempo a sensação deliciosa de perigo que a invadiu. Eles fizeram amor... Sobre a mesa de Derek, pelo amor de Deus! Ela jamais conseguiria olhar para ela novamente sem se lembrar disso. — Já falei o quanto eu acho você maravilhosa, Srta. McKenzie? Com a mão deslizando entre eles até os seios alvos e macios dela, Conall esfregou e beliscou seus mamilos por dentro do sutiã, fazendo Morgen sentir a sensação entorpecente em seus membros novamente. — Na verdade, acho que não. — Bem, você é, e estou louco por você. E por isso que quero me casar com você. 75
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox Antes de ela perceber o que ele pretendia, ele levou as mãos até as costas dela, retirou a blusa de dentro da saia e despiu o sutiã. Seus seios libertaram-se sobre as mãos dele conforme ele retirava a peça íntima e levava sua boca até cada um deles. — E que tal vivermos o... Momento, hein? Mas aquelas palavras quase não pronunciadas foram roubadas pelo que ele fazia com o corpo dela. Jogando a cabeça para trás, Morgen foi varrida pela dor feroz que impiedosamente tomou conta dela, determinada a dar amor a Conall como ele jamais recebera antes, para que não houvesse um minuto sequer enquanto ele estivesse em Nova York em que ele não pensasse nela e desejasse estar de volta. — O QUE é isso? Você está fazendo trabalhos por fora agora, Con? Mike Braboum, colega de profissão e amigo, direcionou seu olhar treinado para os planos sobre a mesa de Conall e esperou com interesse pela resposta. — Pode-se dizer que sim. Inexplicavelmente irritado pela curiosidade de seu amigo, Conall rapidamente enrolou os projetos e, com destreza, colocou-os de volta nos tubos de papelão. Pegando uma caneta, ele a tamborilou no mata-borrão à sua frente. Mike franziu o cenho. — E aí, o que está acontecendo? Você ainda não me contou o verdadeiro motivo pelo qual está voltando para a Inglaterra e não tente me enganar. Sei quando você está sendo econômico com a verdade. Conheço você há bastante tempo, lembra-se? Conall se lembrava. Ele não partilhou com ninguém a notícia de que se apaixonara e que planejava se casar, apenas com Victoria, e mesmo ela ainda não sabia da parte do casamento. Ele não achava certo contar a ela suas intenções sem ter uma resposta definitiva de Morgen. Eles tiveram uma transa mais do que inesquecível sobre a mesa do escritório dele, mas ele ainda não a fizera concordar em se casar com ele. Ela o torturara com a promessa de que daria a resposta assim que ele voltasse de Nova York. Até agora, Conall aguentou três noites agonizantes sem dormir, perguntando-se se ela iria finalmente aceitar seu convite. O barulho do tráfego de uma das cidades mais movimentadas do mundo tampouco ajudara. Ele se encontrara acordado na cama, em seu luxuoso apartamento, sonhando com um lugar só seu no interior da Inglaterra, com Morgen, Neesha e talvez um cachorrinho para Neesha se divertir. A ideia incendiou a imaginação dele e finalmente o motivou para se levantar no meio da noite e rabiscar alguns planos para uma casa que, de repente, ele queria construir... — Conall? — Mike acenou na frente do rosto dele e então parou abruptamente. — Agora caiu a ficha. E uma mulher, não? Você se apaixonou por alguém lá, não foi? Levantando-se, Conall levou as mãos até a cintura e sorriu. — É tão óbvio assim? — O que mais faria você ficar encarando o nada, como se tivesse sido drogado? Certo, conte-me tudo. Quem é ela? Qual o nome dela e, o mais importante, como ela é? Ela é gata? Conall enfiou as mãos nos bolsos e caminhou lentamente diante da enorme janela. Observando a cidade fervilhante lá embaixo, com a fumaça do tráfego e as furiosas buzinas dos motoristas, ele tomou um grande fôlego. — Ela trabalha no escritório de Londres. O nome dela é Morgen, e ela se parece com um anjo de cabelo negro. Ah, e ela é definitivamente gata. Satisfeito? — Eu ficaria se tivesse a sorte de conhecer esse sonho de mulher! — Passando a mão sobre o próprio escasso cabelo castanho, Mike balançou a cabeça, perdido em 76
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox devaneios. — As mulheres de Nova York vão ficar de luto ao descobrir isso, você está ciente disso? — Não posso passar o resto da vida brincando por aí. — Não — concordou Mike —, mas um homem pode tentar por um bom tempo! Tem certeza de que ela é a mulher certa? Conall não hesitou em responder. — Ela é a mulher ideal para mim. De agora em diante, meu amigo... Sou um homem de uma mulher só! O voo dele foi adiado. Adiado! Morgen encarou os dígitos verdes no portão de desembarque e engoliu amargamente essa crescente frustração. Ele viajara há seis dias, e, desde então, ela não tivera sequer uma noite de sono decente. Ela ficou rondando a cozinha nas primeiras horas da manhã, fazendo chá, ouvindo o rádio, pintando as unhas, qualquer coisa para tentar se distrair e não pensar em Conall. Ela soube que estava na pior quando colocou a tigela de gelatina de framboesa, a preferida de Neesha, no forno em vez de colocar na geladeira, e quando jogou as correspondências da manhã no lixo. E nesta manhã, sua pobre mãe pediu que ela agendasse uma consulta no médico porque estava convencida de que ela, Morgen, estava com alguma virose! Passando os dedos pelo cabelo, Morgen suspirou dramaticamente e, relutante, marchou até a fileira de cadeiras e se sentou. Ao seu lado, havia um jovem vestindo um agasalho brilhante e um boné de beisebol, ouvindo música com fones de ouvido, e do outro, uma loira de meia-idade vestindo uma calça social preta e uma jaqueta vermelha enorme. As longas unhas vermelhas dela fascinaram Morgen, que momentaneamente distraída, viu-a enfiá-las em sua bolsa marrom e tirar um espelhinho de maquiagem e um batom. Ao perceber o olhar de Morgen, ela sorriu. Sua maquiagem era perfeita, e seus dentes, brancos e simétricos. Isso fez Morgen se lembrar de que ela não pôde se dedicar o tempo que gostaria de ter dedicado para ficar linda para Conall. Ela teve que se apressar para deixar Neesha na casa da avó e então ir para o aeroporto de Heathrow. Para falar a verdade, ela não se lembrava de sequer de ter parado para pentear o cabelo. — Vai encontrar alguém? — perguntou a mulher educadamente. — Sim. — A resposta veio apressada, e Morgen tentou se acalmar. E não era nada fácil, sentindo o estômago revirar toda vez que pensava em se encontrar com Conall. — Alguém especial? Apenas o amor da minha vida, Morgen pensou, sentindo o coração enlouquecer. — Sim, alguém especial. — Foi o que eu pensei. — Por quê? — Curiosa Morgen inclinou a cabeça. — Há meia hora estou vendo você andar para cima e para baixo com uma expressão no rosto toda vez que olha para o portão de desembarque. — E? — Desconcertada de que seus sentimentos estavam aparentemente transparentes até para um completo estranho, Morgen juntou as mãos sobre o colo. — E que tipo de expressão seria essa, exatamente? As sobrancelhas perfeitamente arqueadas da mulher se levantaram um pouco para acompanhar seu sorriso gentil. — A expressão que uma mulher faz quando está apaixonada e mal pode esperar para ver o homem que ama. 77
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox — Oh. — Morgen encolheu os ombros, descruzou as mãos e ajeitou o cabelo atrás da orelha. — E tão óbvio assim? — Apenas para um espírito semelhante. Meu marido Graham e eu acabamos de celebrar nosso 20° ano de casamento, e eu ainda sou perdidamente apaixonada por ele do mesmo jeito que eu era no dia em que nos conhecemos. Sob o olhar interessado de Morgen, a mulher se apresentou como Faye Mortimer e então confidenciou que sua união com Graham era, na verdade, seu segundo casamento. Ela se divorciara de seu primeiro marido porque era mulherengo e violento. Na verdade, ela nunca sonhara que teria uma segunda chance de ser feliz depois de tudo pelo que passou. Isso só mostrava que, se você não se deixar tomar amargo e avesso ao amor, ele volta para você dez vezes mais forte. Uma hora depois, Morgen já havia contado a Faye sobre seu próprio casamento fracassado, até revelara que Simon a abandonara quando ela estava grávida por achar que se casara com alguém inferior a ele. Morgen então percebera que ela mesma ficara amarga e avessa ao amor. Até descobrir que estava apaixonada por Conall 0’Brien. Quando isso acontecera exatamente ela não sabia dizer, mas talvez tenha sido quando ele a seguira até o Tumble Drum pagara bebidas para ela e Neesha e se sentara para ver Neesha brincar pelo resto da tarde, parecendo o tempo inteiro que não havia outro lugar no planeta em que gostaria de estar. Olhando no relógio e mal acreditando que se passara tanto tempo, Morgen virou-se apologeticamente para Faye. — Tenho que ver se não há notícias sobre o voo dele — explicou ela. — Foi ótimo conversar com você, Faye. Adoraria descobrir que, daqui a 20 anos, eu ainda estarei com o homem que eu amo, celebrando nossos 20 anos juntos. Faye sorriu. — Se esse Conall for do jeito que você o descreveu, não tenho dúvidas de que você estará estourando um champanhe na boda de 20 anos e esperando ansiosamente pelos próximos 20 anos com seus netos. Cuide-se, Morgen. Foi ótimo conhecer você também. Vinte minutos depois, Morgen estava espiando sobre as cabeças e ombros da multidão que se aglomerava ao redor do portão de desembarque, tentando vislumbrar o homem alto, de ombros largos e devastadoramente lindo que ela amava. Ela o avistou logo de cara, e a excitação à fez perder o fôlego e seu coração disparar. Mais alto que todas as outras pessoas que saíam pela lustrosa passarela, ele era facilmente o homem mais cativante da área, e Morgen não conseguiu segurar o arrepio de antecipação que percorreu seu corpo ao pensar em estar a sós com ele mais tarde. Abrindo caminho em meio às pessoas, ela se esqueceu de que geralmente gostava de manter suas emoções sob controle, de que, em público, ela sempre preferia ser discreta, de que, de acordo com suas regras, exibições de afeto eram quase sempre indignas. Ela correu até a passarela, chamando o nome dele. Parando bem onde estava com o casaco que usara na chuvosa e fria Nova York sobre o braço e carregando sua mala de couro, Conall mal pôde acreditar quando viu Morgen correndo em sua direção. Deixando a mala cair, ele simplesmente ficou ali parado, observando-a. Ela vestia um jeans surrado, uma camisa branca de algodão e uma jaqueta preta e estava com o cabelo solto e esvoaçante. Era tudo o que ele sempre sonhara em uma mulher e mais. Deus, como ele sentira a falta dela! Ele já voara de Nova York para Londres diversas vezes em sua vida, mas o voo nunca pareceu demorar tanto quanto 78
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox hoje. Agora ele estava de volta, e Morgen estava lá esperando para recebê-lo. Como ele sonhara e esperava que ela estivesse. Cobrindo os últimos metros que os separavam, Morgen jogou-se sem hesitação nos braços dele. Conall quase se desequilibrou com a força de seu abraço, e o ar de súbito abandonou seus pulmões em um poderoso “opa!”. Mas ele ainda assim a segurou em seus braços, beijando incessantemente seu cabelo recém-lavado, e então procurou desesperadamente pela boca dela com um beijo feroz e faminto que potencializou a ânsia dentro dele, deixando-o ainda mais desesperado para ficar sozinho com ela assim que pudesse. Aquela mulher era uma tentação com “T” maiúsculo, e Conall era incapaz de resistir a encantos tão poderosos. Ele era apenas de carne e osso no fim das contas... — Eu o amo. — O quê? Fingindo não a ouvir, Conall encarou aqueles olhos verdes atraentes, perdeu-se dentro deles por um segundo ou dois e então voltou à superfície com um sorriso. — Eu disse que o amo e que quero me casar com você! — Morgen estava alisando a camisa dele e, com a outra mão, segurava na cintura dele, não se importando com o fato de estarem sendo alvo de olhares curiosos dos passageiros que desembarcavam, assim como do público que esperava no portão. — Mal pude esperar para te contar. — Estou percebendo. — Desculpe fazê-lo esperar por tanto tempo pela resposta. Não estava me fazendo de difícil. — Beijando docemente o queixo dele, aquilo pareceu não ser o suficiente, e ela então o beijou no canto da boca, por precaução. — Só queria ter a chance de conversar com Neesha sobre isso... Sobre o nosso casamento. Você se importa? Ele queria que tudo ocorresse da maneira mais correta com a garotinha de Morgen, o próprio Conall percebeu. Ele não queria que a menina pensasse que ele iria entrar na vida delas e roubar toda a atenção da mãe dela para si próprio. Era importante que ele deixasse claro que se importava com ela também e que faria qualquer coisa que pudesse para sempre fazê-la sentir-se segura e amada. Passando o braço ao redor dos ombros de Morgen, ele balançou a cabeça. — Não me importo nem um pouco. Estou feliz que você tenha feito isso. E como... Como ela reagiu? O sorriso com o qual ela respondeu era como o beijo do luar sobre um jardim no verão... Sublime. — Ela aceitou tudo muito bem. Ela inclusive ajudou a avó a fazer um bolo. Ele está lá em casa, esperando para ser saboreado com uma xícara de chá. — Casa? — Os olhos azuis de Conall se estreitaram. — Minha casa. Você ficará conosco até encontrarmos algum lugar para todos nós, não vai? Sei que é pequena, mas é uma casa agradável e acolhedora. Mas se você preferir ficar na casa de sua irmã, eu entendo. Conall ficou surpreso pelo lampejo de ansiedade naqueles olhos adoráveis. — Sua casa será perfeita, meu anjo. Contanto que possamos ficar juntos, certo? Era exatamente a resposta que Morgen queria ouvir. — E assim que tivermos um tempinho livre, quero mostrar o projeto no qual estou trabalhando. — Que projeto é esse? — Para a casa que vou construir para nós: você, Neesha e eu. — Oh, Conall! 79
Jessica 181.1 – Prova de Amor – Maggie Cox Mais uma vez, o abraço dela produziu aquele “opa!”, mas enquanto o último passageiro passava lentamente por eles Conall descobriu que não poderia esperar para beijar sua futura esposa de novo... E de novo. Quando chegaram ao fim da área de desembarque, quase todos já haviam ido embora, mas eles mal perceberam. Eles estavam preocupados demais um com o outro para se importar.
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