Retalhos do Coração The Boss's Little Miracle
Barbara McMahon
Promovida e grávida! Na vida sempre é necessário fazer escolhas. Mas Anna Larkin descobriu que às vezes é a própria vida que faz a escolha por nós. Ela tinha certeza de que jamais poderia engravidar, por isso investiu tudo na carreira profissional. Quando estava prestes a ganhar uma promoção, chegou um novo chefe: o mesmo homem com quem Anna tivera um caso poucas semanas antes. Assim que Tanner soube que ela seria sua subordinada, tomou uma decisão pelo bem de ambos. Afinal, prazer e negócios não se misturam. Anna concordou com ele... Mas quando descobriu que algo inesperado havia acontecido... Tudo poderia mudar!
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Tradução Vanessa Gandini Harlequin 2011
PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: THE BOSS'S LITTLE MIRACLE Copyright © 2007 by Barbara McMahon Originalmente publicado em 2007 por Mills & Boon Romance Arte-final de capa: nucleo-i designers associados Editoração eletrônica: ABREU'S SYSTEM Tel.: (55 XX 21) 2220-3654 / 2524-8037 Impressão: RR DONNELLEY Tel.: (55 XX 11)2148-3500 www.rrdonnelley.com.br Distribuição exclusiva para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 Grajaú, Rio de Janeiro, RJ — 20563-900 Para solicitar edições antigas, entre em contato com o DISK BANCAS: (55 XX 11) 2195-3186/2195-3185 / 2195-3.182 Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171,4° andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Correspondência para: Caixa Postal 8516 Rio de Janeiro, RJ — 20220-971 Aos cuidados de Virgínia Rivera virginia.rivera@harlequinbooks.com.br
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CAPÍTULO UM
Saiu da estação de metrô para debaixo de um aguaceiro, uma chuva torrencial. Fortes rajadas de vento desarmavam até os guarda-chuvas. Anna Larkin abaixou a cabeça e começou a subir a Montgomery Street. Seus tênis estavam já ensopados, mas era melhor do que molhar os scarpins que carregava na sacola. O cabelo ficaria um desastre. Porém, essa era a menor das suas preocupações. Era fim de outubro e chovia freqüentemente em São Francisco. Esse dia não estava sendo diferente. Ainda assim, Anna apenas desejou que o dia tivesse sido ensolarado ou, ao menos, seco. Estava ficando gripada, e caminhar sob a chuva certamente não iria ajudá-la. Coisas ruins sempre vêm em trios, refletiu. Primeiro recebera uma ligação da irmã, nessa semana, para compartilhar alegremente a notícia de que estava esperando outro bebê. Anna havia tentado celebrar também, mas não tinha chance de ter um bebê, e cada vez que precisava fingir que não se importava, a situação piorava. Depois veio a gripe. Geralmente Anna era saudável, e mesmo no inverno, não costumava ficar gripada e, realmente, não precisava de mais essa. Agora, correr em meio à chuva para chegar ao trabalho a fim de conhecer o homem que iria tomar o comando da empresa tinha sido a última gota. Tudo o que queria era voltar para a cama e dormir. Nesse instante, Anna alcançou o luxuoso salão do arranha-céu. Em seguida, livrou-se do máximo de água que pôde da capa de chuva e do cabelo antes de entrar em um dos elevadores. Assim que chegou ao andar do escritório, sua amiga é colega de trabalho, Teresa, a saudou. — Você está horrível! — A amiga exclamou, tomando-a por um dos braços e apressando-a na direção do toalete. Uma vez no interior, Anna espiou o próprio reflexo no espelho. Estava pior do que se sentia. Pálida e com o cabelo revolto e úmido, realmente parecia doente. — Hoje é o dia em que, finalmente, conheceremos o nosso novo chefe, você certamente irá causar uma impressão — provocou Teresa. — Apresse-se! Ele convocou uma reunião de chefes de departamento às 9 horas. — Estou péssima — Anna se queixou enquanto retirava os tênis. — Acho que é a gripe. Estive doente a semana inteira e não teria vindo hoje se o novo presidente não estivesse aí. Justamente quando preciso causar uma boa impressão se ainda quiser aquela promoção. — Pensei que o sr. Taylor tivesse dito que já estava certo — observou Teresa, segurando a sacola com uma das mãos e apanhando os sapatos de Anna com a outra. A chuva havia umedecido as meias, mas secariam a tempo. Anna apanhou os sapatos que Teresa lhe entregou e pendurou a capa de chuva em uma das portas, deixando-a gotejar no chão azulejado. Era melhor ali do que em seu escritório. Terminou de calçar os sapatos e apanhou o pente de dentro da bolsa, começou a desembaraçar os cachos incontroláveis o máximo que pôde, ancorando-os em sua nuca. Não era dessa maneira que normalmente usava o cabelo, mas uma profusão de cachos úmidos não iria lhe dar nenhum ponto com o novo chefe. O que mais poderia dar errado nesse dia? Teresa fitou o relógio de pulso. — Temos 5 minutos para chegar à sala de reunião — ela avisou. — Não quero chegar atrasada na primeira convocação. Anna verificou seu reflexo no espelho novamente. Dado às circunstâncias, ela 4
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estava tão profissional quanto poderia. Em seguida, beliscou as bochechas para dar alguma cor ao rosto, verificou o batom e virou-se para a amiga. — Estou pronta. Enquanto atravessava o longo corredor, Anna sentiu uma pontada de excitação. Todos sabiam que o sr. Taylor estava se aposentando. O conselho de diretores havia escolhido um novo presidente, mas manteve todas as informações em segredo para que a concorrência não soubesse da decisão antes que estivessem prontos para fazerem o anúncio. Ao passar pela sala de descanso dos funcionários, Anna apressou-se em se servir de uma caneca de café. Não havia se alimentado no café da manhã, então precisava de um pouco de cafeína para prosseguir com o dia. Se fosse possível, uma vez que a reunião inicial terminasse, voltaria para casa e iria direto para a cama. Anna raramente ficava doente e não conseguia se lembrar da última vez em que se sentiu tão fraca. Momentos depois, ao entrar na sala de reunião, Anna fitou o antigo presidente. Allen Taylor conversava com um homem de costas voltadas para o grupo. Obviamente seria o novo presidente. Anna não poderia dizer muito: apenas que era alto, tinha cabelo escuro e ombros largos. Por um momento, pensou ter visto algo familiar sobre ele, mas ninguém nem mesmo sabia o nome do homem. A discrição da nomeação tinha sido absoluta. Anna percorreu o olhar ao redor, reconhecendo todos os gerentes experientes do escritório. Acomodando-se na cadeira ao lado de Teresa, sorveu um gole do café, desejando que ainda estivesse na cama. Quanto tempo isso iria levar? Ao observar os outros funcionários, Anna sentiu certa tensão na sala. Sabia que todos tinham dúvidas e preocupações. De qualquer forma, depois da conversa com o sr. Taylor na última sexta-feira, Anna não se sentia tão nervosa. Ele lhe assegurou que a promoção estava certa. Em janeiro estaria em seu novo cargo como diretora do mercado europeu, com sede em Bruxelas. Anna mal podia esperar. Nesse instante, o sr. Taylor se aproximou da cabeceira da mesa, ao mesmo tempo em que o novo homem se virava pára encarar o grupo. Anna piscou por duas vezes e o fitou com surpresa. Por um momento, uma onda de calor se espalhou pelo seu corpo inteiro e não conseguiu desviar os olhos daquele rosto. Possuía ombros largos: lembrava-se de acariciá-los, sentir o calor da pele máscula, os músculos firmes. Os lábios pareciam esculpidos, mas lembrava do quanto se moldavam aos dela, despertando uma paixão feroz com um simples beijo. Durante três gloriosas semanas, Anna e Tanner Forsythe estiveram constantemente na companhia um do outro. Dois dias depois de fazerem amor, Tanner parou de telefonar, parou de retornar suas ligações e saiu de sua vida completamente. Anna engoliu em seco. Oh, meu Deus! Havia dormido com o novo presidente da Drysdale Electronics! Anna dirigiu o olhar para Teresa, que nessa hora fitava a cabeceira da mesa com toda a atenção. Ninguém sabia. Mantivera o caso em segredo no último verão, sem querer ser provocada sobre um romance rápido. Deu graças a Deus pela discrição. Anna precisava se aproximar dele, assegurar-se de que não fosse dizer nada para as pessoas, pensando que soubessem sobre o caso. Por favor, não deixe que ele diga nada, rezou, desejando que pudesse deslizar o corpo pela cadeira, escorregar para debaixo da mesa e se esconder para sempre. Precisava encontrar um momento para conversar com Tanner em particular. Afirmar que ninguém sabia, e ninguém precisava saber. Conheceram-se quando Tanner começou a freqüentar a academia onde ela se exercitava várias vezes por semana. Vestido com shorts e camiseta, ficava fantástico. Anna se sentiu instantaneamente atraída na primeira vez em que ele apareceu na academia. Antes que a primeira sessão terminasse, Tanner a convidou para um café. 5
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Desde então, estabeleceram um tempo para se encontrarem durante a semana e nos fins de semana. Anna tentou se lembrar de todos os detalhes de seus encontros, mas sua mente começou a girar novamente. O que isso representaria para uma futura relação de trabalho? Tanner não poderia despedi-la de imediato, poderia? Nesse instante, o sr. Taylor acenou com a cabeça para o grupo e começou a falar: — Como todos vocês sabem, tenho falado sobre me aposentar há muito tempo. A sra. Taylor finalmente me convenceu a agir, e não sonhar. Muitos de vocês sabem que o conselho de diretores se reuniu há duas semanas para finalizar as negociações com o meu sucessor. Conversei com alguns de vocês individualmente na última sexta-feira em uma tentativa de fazer uma transição tranqüila entre a minha retirada e a entrada do nosso novo presidente. — E, tomando um fôlego profundo, prosseguiu: — Gostaria de apresentar Tanner Forsythe. Ele irá tomar o comando da empresa com o total apoio do conselho de diretores. Tanner tem uma impressionante experiência com empresas de eletrônica e uma cópia do seu currículo está no pacote de informações que Ellie irá dar a cada um de vocês na saída. Espero que vocês lhe dêem sua plena cooperação e apoio. O homem de meia-idade esperou até que os polidos aplausos se acalmassem e depois acenou para Tanner. — Sugiro que vocês se apresentem, mencionem o departamento ou a divisão que lideram e informem qualquer outra coisa que acham que Tanner poderá precisar saber por enquanto. Ele entrevistará cada um de vocês individualmente antes do término da semana. — O sr. Taylor fitou o relógio de pulso. — De qualquer forma, vamos nos apressar, tenho muito para rever com Tanner antes de viajar para as Bahamas. Nesse instante, Hank Brownson começou a se apresentar com a explicação de que liderava o departamento de Contabilidade. Depois, cada um dos chefes ao redor da mesa se apresentou e deu uma breve descrição da sua área de responsabilidade. A vez de Teresa não demorou a chegar. Anna sentiu o estômago se revirar. Era a próxima. Ouviu Teresa explicar que era chefe do departamento de Recursos Humanos. Depois, um denso silêncio pairou no ar. Anna dirigiu o olhar para o sr. Taylor, evitando fitar os olhos familiares de Tanner Forsythe. — Meu nome é Anna Larkin. Sou a subdiretora das operações européias. — E não conseguiu dizer mais nada. Por um terrível momento, Anna se perguntou se Tanner iria rescindir a promoção prometida e se recusar a permitir que mudasse para o escritório em Bruxelas. Anna estivera trabalhando arduamente para obter aquele cargo por mais de 10 anos. Durante os últimos cinco anos, estudou o idioma francês assiduamente. Recentemente, todas as suas férias tinham sido na Europa, para que se familiarizasse com países diferentes e praticasse suas habilidades com a linguagem. Anna tinha dedicado 15 anos da sua vida para se tornar a melhor funcionária de marketing internacional que a Drysdale Electronics já contratou. Por um tenso momento, duvidou se tudo isso não tinha sido em vão. E, se coisas ruins vinham em três, esse seria a última? Talvez tivesse uma recuperação milagrosa dentro dos próximos dez minutos. A notícia da irmã não iria doer tanto, e Tanner iria mandá-la para a Europa com um bônus em seu bolso. Claro. Como se fosse possível. Uma vez que as apresentações terminaram, Tanner fez um breve discurso. Otimista e direto, desafiou a todos para levarem a empresa a um novo nível de expectativas. Anna ficou impressionada. Estivera impressionada antes: no verão, passearam noites intermináveis em São Francisco depois de se exercitarem juntos na academia, apreciando a cidade quando as multidões não estavam presentes e o tempo estava agradável. Ao reviver o passado, Anna se lembrou de que Tanner nunca tinha mencionado 6
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exatamente seu trabalho. E Anna mesmo apenas disse que trabalhava no ramo de marketing. Anna não se definia pelo seu trabalho. Na verdade, apenas falara sobre o seu trabalho em detalhes um pouco antes de Tanner parar de contatá-la. Ao ter esse pensamento, Anna deixou cair a caneta que mantinha entre os dedos de uma das mãos. Tanner sabia que estava sendo procurado para esse cargo e decidiu parar de namorar uma futura funcionária. Ela desejou que tivesse terminado as coisas antes de terem ido para a cama. Não apenas pelo desconforto de descobrir que precisariam trabalhar juntos, mas pelo glorioso evento em si, que nunca iria se repetir. Anna tinha começado a se apaixonar por Tanner, mesmo sabendo que o caso não tinha futuro. Nunca imaginou que fazer amor poderia ser tão excitante, tão fascinante como na noite em que estiveram juntos. Enquanto sua mente era levada de volta para aquela noite, Anna abaixou o olhar e fitou o bloco de notas à sua frente, tentando se concentrar nas palavras do grupo.
Tanner Forsythe percorreu o olhar ao redor da sala, estudando as feições de cada homem e mulher que agora faziam relatórios conforme se apresentavam. Tanner sabia que Anna estaria nesse grupo. Foi a única razão para ter parado de vê-la, mas quando seus olhares se cruzaram, quando ouviu a voz dela, foi surpreendido por um choque de consciência. Namoraram por algumas boas semanas. Uma vez que descobriu que Anna trabalhava para a Drysdale Electronics, parou de vê-la imediatamente. As negociações preliminares para o seu novo cargo já haviam começado, e não namorava colegas de trabalho. Será que deveria ter suspeitado que ela trabalhasse para a Drysdale quando a conheceu na academia? Como parte do pacote de benefícios, Tanner tinha adquirido a condição de membro da academia e resolvera experimentar para ver se gostava da facilidade. A academia ficava a duas quadras do escritório, e sempre lotava depois do horário de expediente, todos os dias. Deveria ter se esforçado mais na época para descobrir onde Anna trabalhava, mas estivera mais interessado nela do que no patrão. Como regra, Tanner não se envolvia em relacionamentos de longo período. Tinha aprendido a sua lição com Cindy. E não iria se envolver em qualquer coisa parecida com casamento novamente. Contudo, tinham combinado em muitas áreas, Anna não fazia exigências, e ele também não. Eram duas pessoas que tinham muito em comum e terminaram em uma noite fantástica na cama. Tanner não saíra com mais ninguém desde que parara de lhe telefonar. As exigências em concluir o emprego anterior e se preparar para o atual haviam sido árduas. Forçando-se a voltar à atenção para a reunião, Tanner continuou ouvindo os diferentes gerentes e diretores e chegou a pensar se apenas por um momento Anna iria ser um problema. Suspeitava que fosse muito profissional para fazer uma cena na frente de todos, mas com mulheres, nunca se sabe. Tanner teria que se assegurar de que a antiga relação não provocasse uma complicação extra a esse novo desafio. Quando o último gerente terminou o discurso, Tanner falou novamente: — Herdei Ellie Snodgrass como minha assistente. Ela tem uma lista com o nome daqueles com quem gostaria de conversar hoje. Vou fazer com que as entrevistas inicias sejam breves. Estive trabalhando durante várias semanas em idéias e mudanças de estratégia, então espero que vocês se apresentem com entusiasmo e determinação para ver a Drysdale Electronics recuperar sua ilustre posição em nosso campo. — Virou-se para o sr. Taylor e ofereceu uma das mãos. — Vou fazer o meu melhor para a sua empresa, senhor. Todos irromperam em uma onda de aplausos espontâneos ao ouvirem o comentário. O som fez com que Anna se sentisse ainda pior. Estava tão cansada que mal 7
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conseguia manter o queixo erguido. E rezava para que não fosse contagioso. Seus colegas de trabalho não iriam agradecê-la se o vírus da gripe se espalhasse por todo o escritório. Tanner liderou o caminho para fora da sala de reunião. Todos se colocaram em pé e saíram rapidamente da sala, exceto Anna. Queria abaixar a cabeça e chorar devido a essa inesperada mudança de eventos ou podia dormir por uma dúzia de anos até se sentir capaz de lidar com as coisas. — Você vem? — Teresa perguntou da porta. — Em um minuto — disse Anna. Ellie, a antiga assistente do sr. Taylor, aproximou-se e lhe entregou um largo envelope antes de sair da sala. O silêncio que se instalou no ambiente foi bem-vindo. Anna apoiou um cotovelo na mesa e descansou a cabeça na palma da mão. Tinha que ver se o seu nome estava incluído na lista de entrevistas do dia. Se estivesse, rezava para que a entrevista começasse logo. Depois, teria a jornada de volta para casa: em meio à chuva torrencial, a curta viagem de trem e os poucos quarteirões de ladeira até seu apartamento. Uma vez que estivesse em casa, poderia dormir até se sentir melhor. Ou morrer, tanto faz. Já era ruim o bastante contrair uma gripe, mas sofrer o choque de ter Tanner Forsythe como o seu novo chefe estava além de qualquer coisa que pudesse ter previsto. Por um momento, Anna desejou que pudesse voltar ao dia em que se conheceram. A primeira coisa que faria seria contar que trabalhava para a Drysdale. Talvez devesse desejar que nunca tivessem se conhecido. Anna ouviu um som no corredor e ergueu a cabeça. A sala pareceu girar um pouco e depois voltou ao normal. Lentamente, ergueu-se da cadeira, apanhou a caneca de café e o espesso envelope e rumou para o escritório. Havia um bilhete em sua mesa. O sr. Forsythe iria vê-la à 1h da tarde. Era pouco antes das 10h da manhã. Anna ainda tinha quase três horas para enfrentar. Ligou para Teresa. — Recursos Humanos — a secretária da amiga atendeu. — Aqui é Anna. Por favor, Teresa se encontra? — Não, ela está com o sr. Forsythe. — Por gentileza, peça para ela me ligar quando estiver livre — pediu Anna. Então sua amiga era uma das primeiras a conversar com o novo chefe. Anna se perguntou qual seria a avaliação de Teresa. Será que conseguiria a opinião da amiga sobre como lidar com ele? Contudo, não poderia arriscar revelar qualquer coisa. Anna nem mesmo tinha certeza de que Teresa sabia que estivera vendo alguém, e não poderia dizer à amiga que havia dormido com o novo chefe! Teria que decidir como lidar com a situação por conta própria.
Prontamente às 13h, Anna se aproximou da mesa de Ellie. Tinha almoçado uma sopa e estava se sentindo um pouco melhor. A chuva tinha diminuído. De modo geral, o dia parecia estar melhorando. — Estou aqui para a minha entrevista com o sr. Forsythe — informou. Anna havia trazido os últimos planos que tinha discutido com Thomas Ventner, o atual diretor em Bruxelas. Programado para se aposentar em dezembro, estivera preparando Anna durante meses para ocupar seu cargo. — Ben Haselton ainda está na sala. A entrevista deverá demorar mais um ou dois minutos — informou Ellie. — Tanner está cumprindo com sua palavra em fazer entrevistas 8
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breves com todos. — A assistente a estudou por um segundo. — Você está bem? — Acho que estou ficando gripada — respondeu Anna. — Estou tentando me manter longe de todos para não transmitir o vírus. — Sente-se, querida. Também uso o transporte público. Não há como evitar alguma doença durante os meses de inverno. Anna havia acabado de se sentar quando a porta foi aberta e Ben Haselton emergiu. Parecia aborrecido. Sem lhes dizer uma palavra, Ben prosseguiu em direção ao seu setor. Segundos depois, a campainha soou na mesa de Ellie. — Anna Larkin está na recepção? — Está esperando — Ellie declarou, sorrindo para Anna. Anna inspirou profundamente, ergueu-se da cadeira e começou a rumar para o escritório de Tanner como se estivesse rumando para a cova de um leão. Ainda não tinha idéia de como lidar com essa entrevista. Será que deveria fingir que não se conheciam? Acusá-lo de ter terminado o relacionamento? Ou tentar manter uma aparência fria e deixar que Tanner assumisse o comando? Tanner estava parado próximo à janela com vista para a baía de São Francisco. Anna entrou na sala e fechou a porta atrás de si. A porta tinha sido fechada para Ben, e se qualquer coisa pessoal fosse dita, iria se assegurar de que Ellie não ouvisse. Tanner se virou e a encarou. Por um momento, seus olhos se encontraram, e Anna sentiu o coração perder uma batida. — Olá, Tanner — Anna falou, esperando que a convidasse a se sentar antes que seus joelhos cedessem. — Anna. Sente-se. Não vou tomar muito o seu tempo. Já conversei com Thomas em Bruxelas. Ele me adiantou sobre o seu cargo na divisão européia. Thomas me disse que você tem algumas idéias novas e deseja experimentá-las quando estiver na direção. Gostaria de vê-las e ter a sua avaliação sobre a nossa posição européia. — Então queria manter o relacionamento estritamente profissional. Anna conseguiria lidar com isso, então repousou a pasta sobre a mesa. — Os novos planos estão prontos. Depois que você revisá-los, ficarei feliz em discutir qualquer questão que você tiver. Caso contrário, acho que você irá descobrir que a avaliação de Thomas combina com a minha... Os planos são sólidos para a área do Reino Unido e não tão fortes para a França e Itália. Estamos nos deparando com muita competição dos interesses locais. Os telefones celulares estão em expansão e nossos componentes são os melhores do mercado. Apenas temos que convencer nossos clientes disso. Tanner se sentou na poltrona atrás da mesa. Em seguida, puxou a pasta para mais perto e a abriu. Após um minuto, ergueu os olhos e a estudou por um momento. — Você está bem? — Vou ficar. Acho que estou um pouco gripada. — Talvez devesse ir para casa e descansar — ele sugeriu. — Consegui suportar até agora. Acho que consigo agüentar até o fim do dia. — Anna não iria querer que o novo presidente pensasse que não conseguia lidar com o seu trabalho. Ou que esperasse algum favor. No passado, chegou a pensar que conhecia Tanner, mas agora sentia como se fosse um estranho. O homem com traços severos sentado do outro lado da mesa não tinha nada a ver com o homem sensível que lhe proporcionou três semanas mágicas. Tanner voltou a fitar os papéis na pasta e rapidamente os estudou. Anna sentia o 9
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nervosismo aumentar enquanto o assistia. Cada segundo parecia se mover com uma lentidão agonizante. Uma vez que estava concentrado no relatório, Anna pôde estudá-lo sem limites. Havia novas linhas ao redor dos olhos dele, o cabelo estava bem curto, e o terno executivo se adaptava perfeitamente ao corpo másculo e robusto. Parecia o empresário bem-sucedido que era. Se as circunstâncias tivessem sido diferentes, teria ficado imensamente orgulhosa por ele ter alcançado uma posição de alto nível em uma idade relativamente jovem. Tanner era mais novo do que ela e já era presidente de uma grande empresa. Anna tinha hesitado em sair um Tanner quando descobriu que era quatro anos mais jovem. Nunca tivera certeza do por quê desse dinâmico homem de 34 anos querer sua companhia. E logo Anna se esqueceu da diferença de idade. Tinham tanta coisa em comum: desde gostar de tipos similares de filmes e livros até fazer caminhadas ao longo das ruas desertas de São Francisco depois que o comércio fechava. Explorar ruas diferentes e apreciar refeições em pequenos restaurantes tinha sido algo novo e excitante com Tanner. Ele tinha sido alguém especial. Nesse instante, Tanner ergueu os olhos e captou seu olhar. Anna congelou. N ão poderia ler mentes, poderia? Após fechar a pasta, Tanner a colocou no lado esquerdo da mesa junto a uma pilha de arquivos. — Vou revisar o relatório em mais detalhes esta noite. Se tiver mais questões, eu lhe telefono. Aceitando isso como um sinal de que a entrevista havia terminado, Anna se ergueu lentamente da cadeira, ainda se sentindo um pouco zonza. Exibiu um sorriso educado e se virou. Sua mão já havia alcançado a maçaneta da porta quando Tanner falou novamente. Espiando por sobre um dos ombros, notou que havia se erguido da poltrona e agora se encontrava em pé ao lado da mesa. — Você está bem mesmo, Anna? — Tanner perguntou naquele tom de voz baixo e sexy dele. Anna deu de ombros e se virou para encará-lo. — Na época eu me perguntei por que você não me telefonava. Depois dos eventos de hoje, entendi perfeitamente. — Se tivesse existido qualquer outro caminho... — ele começou. Anna meneou a cabeça. — De qualquer maneira, nós não teríamos ficado juntos por muito tempo. Vou para Bruxelas em janeiro. — EIa o fitou diretamente no rosto. — Ainda vou para Bruxelas, certo? Tanner assentiu com a cabeça. — A julgar pelo o que Thomas Ventner e Allen Taylor me disseram, você é a pessoa mais qualificada para o cargo. E até agora não vi nada que pudesse contradizer isso. Anna voltou-se para a porta. De súbito, quase se contorceu de dor. Seu estômago estava se apertando. Por favor, não deixe que eu passe mal no escritório de Tanner! — O que está acontecendo? — Tanner contornou a mesa de trabalho para conseguir alcançá-la. Anna agarrou o próprio abdome e se curvou. A dor ainda estava aguda, mas começava a diminuir. Anna tentou respirar novamente. Ficaria horrorizada se regurgitasse sobre os sapatos do novo chefe. — Você está sentindo alguma dor? — ele indagou o óbvio. — Preciso ir ao toalete. Acho que estou ficando enjoada novamente. Sinto muito! 10
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— Ellie — Tanner chamou, abrindo a porta da sala. — Você pode levar Anna ao toalete? — O que aconteceu? — A assistente quis saber. Ao ver Anna com a mão na boca, ela apressou-se em ajudá-la. — Vamos. Cinco minutos depois, Anna estava jogando água fria no rosto. — Você deveria ir para casa — Ellie falou, preocupada. — Você está certa. — Ligue para o seu médico e veja se pode lhe recomendar alguma coisa para aliviar os sintomas. Anna resmungou: — Não há nada que o médico possa fazer. — Você se alimentou hoje? — Ellie quis saber. — Tomei uma sopa no almoço e me senti melhor depois. Acho que estava enganando a mim mesma. Anna detestou toda a confusão. Tudo o que queria era ter escapado para o seu apartamento e ido direto para a cama. Ao invés disso, fizera um espetáculo no escritório do novo chefe. E pior, estava preocupada que Tanner pudesse se ressentir de ter concordado com a idéia de torná-la chefe da divisão européia. — Ainda assim, telefone para o seu médico. — Ellie insistiu. Anna assentiu relutantemente. — Vou pegar um táxi para casa. Depois ligo para o doutor. O máximo que ele poderá fazer é recomendar que tome muito líquido e descanse bastante. — Você fez muita coisa hoje — observou Ellie. — Não venha ao trabalho amanhã, a menos que esteja se sentindo melhor. — Isso é algo que eu posso obedecer. Meia-hora depois, Anna estava em casa. Telefonou para o médico, mas como havia suspeitado, estava com a agenda cheia pelo restante do dia. A enfermeira assegurou que o doutor iria recebê-la ha manhã do dia seguinte. E como Anna havia previsto, a recomendação era que tomasse muito líquido e descansasse. Não era algo tão difícil. Anna vestiu sua camisola mais quente e se assegurou de que a sua gata, Mitzie, tivesse comida fresca e água antes de se deitar na cama e puxar as cobertas. Logo entrou em um sono profundo. O toque do telefone a despertou. Estava escuro. Por quanto tempo estivera adormecida? Anna estendeu uma das mãos a fim de alcançar o receptor. — Alô! — O que o seu médico disse? — Tanner quis saber.
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CAPÍTULO DOIS
Anna recostou-se contra os travesseiros e soltou um gemido de frustração. Não queria conversar com Tanner. Havia sido difícil o bastante ter que encará-lo nesse dia. Por que estava lhe telefonando? Será que fazia isso com todos os funcionários? — Apenas o que esperava que dissesse... Tomar líquidos e descansar. O que o seu médico diz quando você está gripado? — Raramente fico gripado — confessou Tanner. — Vou amanhã ao consultório — ela informou. — O médico não pôde me ver antes. — Certo. Já passa das nove horas da noite — observou Tanner. — Você jantou? Anna meneou a cabeça e depois percebeu que não poderia vê-la. Na verdade, não se sentia tão mal quanto, tinha se sentido naquela manhã. Talvez já estivesse melhorando. — Posso preparar uma sopa — ela declarou. — Vou levar uma sopa pronta para você. Há um restaurante próximo ao meu apartamento — ele avisou. Os olhos dela se alargaram. — Você não pode vir aqui. — Por que não? — Porque... Porque agora você é o meu chefe. — Isso não é um encontro, Anna, apenas quero me assegurar de que você esteja bem. Um bom líder sempre garante que o seu pessoal esteja em boa forma para lutar. — Então estamos lutando? — Ela indagou, confusa por um momento. Anna realmente precisava voltar a dormir. — Não. Só vou lhe levar uma sopa. — Vou ficar bem. Não estou disposta a entreter convidados. — Você não vai precisar me entreter, apenas quero que se alimente. Ainda gosta de sopa de carne com legumes? — Você sabe que é minha favorita. — Anna fez uma careta assim que as palavras saíram de seus lábios. Não estava tentando reforçar o relacionamento do passado. Anna prendeu a respiração e aguardou a resposta dele. Contudo, Tanner apenas declarou: — Estarei aí dentro de meia-hora. Desligando o telefone, levantou-se cuidadosamente da cama e rumou para o toalete. Em seguida, penteou os cabelos, escovou os dentes e tentou ver se parecia melhor depois de ter dormido durante tantas horas seguidas. Anna verificou a sala de estar para se assegurar de que estivesse apresentável e depois seguiu para a cozinha, a fim de esquentar água para preparar um chá. O roupão de lã e as pantufas a mantinham aquecida. Anna podia ouvir a chuva caindo do lado de fora. O espesso roupão não era o 12
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tipo de traje que usaria se Tanner estivesse vindo por outro motivo. Isso deveria ser o bastante para que percebesse que já não os considerava mais um casal. Não pensaria diferente, mas Anna não queria causar impressões erradas durante essa visita! Quando a campainha tocou um tempo depois, tentou acalmar os nervos enquanto rumava em direção à porta. Assim que a abriu, Anna pôde notar as gotas de chuva cintilando no cabelo escuro dele e nos ombros do casaco. Tanner carregava uma larga sacola com o logotipo do restaurante. O aroma da sopa deixou-a com água na boca. De súbito, sentiuse faminta e estendeu uma das mãos para receber a sacola. — Obrigada — falou Anna. Tanner passou por ela e entrou no apartamento como se tivesse todo o direito de estar ali. Visitara-a por diversas vezes quando namoraram e por isso conhecia o caminho. Sem hesitar, Tanner rumou para a cozinha. Anna o seguiu relutantemente. Parou na entrada e o assistiu enquanto entornava a sopa fumegante em uma tigela e apanhava uma colher. Depois, Anna resolveu ceder e acomodou-se à mesa — Pronto — ele falou um momento depois, repousando a tigela na frente dela. Anna provou a sopa. Estava maravilhosa. Tanner esperou até que começasse a apreciar a refeição e, depois, inspecionando a sacola, retirou alguns pãezinhos quentes. Serviu alguns cubos de manteiga em um prato e o colocou ao lado dela. Anna ergueu os olhos para encará-lo. — Você jantou? Tanner assentiu com a cabeça. Em seguida, recostou-se contra o balcão da pia e a assistiu enquanto ela jantava. As faces dela enrubesceram. Espiando-o de soslaio, Anna franziu as sobrancelhas. — Será que você poderia parar de me encarar? Tanner se afastou do balcão e se acomodou em uma cadeira ao lado da dela. Estendendo uma das mãos, apanhou um pãozinho, partiu-o ao meio e passou um pouco de manteiga. Nesse instante, Mitzie saiu do quarto e caminhou em direção a Tanner. — Ei, garota — ele disse, notando a gata. Mitzie não hesitou em se aproximar e roçar o corpo contra os tornozelos dele. Tanner se inclinou e acariciou as costas do animal. O alto ronronar indicou a alegria da gata. — Queria explicar sobre nós — Tanner declarou, dirigindo o olhar para Anna. Ela continuou apreciando a sopa. — Não é necessário. Hoje entendi a situação quando vi que você era o novo presidente. Tenho as minhas próprias regras contra namorar colegas de trabalho. Ainda assim, você poderia ter mencionado o motivo na época. — Anna não iria dizer o quanto ficara confusa e machucada. Levara semanas para conseguir se restabelecer. — Houve muita discrição a respeito da transição — ele observou. — Tanto na empresa que trabalhava quanto na Drysdale Electronics. — Sei como manter minha boca fechada com relação a segredos — ela falou rigidamente. — Não precisava guardar esse segredo — ele disse. — Mas queria ter certeza de que você soubesse que não saí da sua vida por não gostar da sua companhia. Anna sentiu uma pontada de felicidade ao ouvir o comentário. Na época, pensou se havia se cansado dela. Ou se a noite que fora tão mágica... não tivesse sido especial 13
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para ele. — Obrigada por esclarecer a situação — ela disse. Tanner deu risada. — Senti falta disso... A sua cortesia inata. O que você tem feito ultimamente? — Ele se sentou corretamente na cadeira, assistindo-a apreciar a sopa. Anna lhe lançou um olhar suspeito enquanto apanhava um pãozinho. — O mesmo que fazia antes de lhe conhecer. Vou ao trabalho, depois me exercito na academia. Ocasionalmente, saio com as amigas. Por falar nisso, nunca mais o vi na academia. — Quando soube que você trabalhava na Drysdale, parei de ir. Agora vou começar a freqüentar a academia novamente. A condição de membro faz parte do meu pacote de benefícios. — Deu uma pausa e depois indagou: — E, então, não conheceu nenhum homem especial? — Isso não é mais da sua conta, é? — Ai! — Ele exclamou e fez uma careta. — Não, não é, mas estou curioso. Anna deu de ombros. — Obrigada por ter trazido a sopa. Estou me sentindo bem melhor por ter jantado. — Você ainda vai ver o médico amanhã? — Ele quis saber. — Sim, chefe. Tanner se ergueu e se inclinou sobre Anna, repousando uma das mãos. no espaldar da cadeira e a outra na mesa. — Não volte ao trabalho até se sentir perfeitamente bem. Depois, telefone e me conte o que o médico disse. Sentindo-se aprisionada, Anna ergueu os olhos para encará-lo. — Não chegue muito perto ou poderá ficar gripado. — Prefiro me arriscar — ele declarou e encurtou a distância entre eles até que seus lábios roçassem os dela.
Tanner deixou o prédio e saiu em meio à chuva. Caminhou dois quarteirões até chegar ao local onde havia estacionado o carro, sentindo-se irritado consigo mesmo por ter reagido tão fortemente ao ver Anna. Estava tão pálida quanto estivera naquela manhã. Ficou satisfeito por ter pensado em lhe levar uma sopa. Quando uma pessoa está doente, muitas vezes não sente vontade de preparar refeições. Por um instante, Tanner se lembrou dos bons momentos que compartilharam. Apreciou a companhia dela mais do que a de qualquer outra mulher no passado, Jessica o havia pressionado para casar, e depois do desastre do seu casamento precoce, compromisso era a última coisa que queria. Tanner rompera com ela no último inverno e se concentrara no trabalho. Até conhecer Anna. A maioria das mulheres segue um padrão similar: encontram-se, divertem-se e depois começam a falar em compromisso sério. E era nesse ponto que ele sempre cortava os relacionamentos. Com Anna não tinha alcançado esse estágio. Na verdade, foi a primeira a ter ignorado a possibilidade de um futuro juntos. Durante as três ou quatro semanas que namoraram, ela nem sequer insinuou sobre um compromisso. Ele havia ficado intrigado. Agora que sabia que planejava se mudar para Bruxelas no começo do ano, tudo começou a fazer sentido. Tanner alcançou o carro e, após se acomodar 14
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atrás do volante, livrou-se do excesso de água em seu cabelo. Assim que deu partida, entrou no trânsito e seguiu na direção de casa. Tinha uma pilha de arquivos para revisar esta noite e mais entrevistas no dia seguinte. Taylor havia lhe dito sobre cada um dos gerentes, seus pontos fortes e suas fraquezas. Falara com entusiasmo sobre Anna. Cada palavra enfatizava a decisão de Tanner em não namorar uma funcionária, mas sentira falta dela. Tanner gostaria de discutir a estratégia da empresa com ela, descobrir mais sobre sua visão do mercado europeu. Ver se ainda cedia ao desejo de chocolates Ghiradelli e depois fazia dez minutos extra na esteira. E se fosse honesto consigo mesmo, queria mais do que um leve roçar de lábios, Na verdade, estava surpreso com a falta que sentira dela. Tanner quase não se lembrava de Jessica. Antes dela, estivera envolvido com uma mulher chamada Margo. Enquanto o seu foco sempre estivera nos negócios e em alcançar o sucesso, gostava de ter uma bela mulher para acompanhá-lo nos eventos sociais. Com Anna, tinha sido diferente. Tanner ainda se sentia atraído. Os dois costumavam dar muita risada, lembrava-se disso. Por um tempo pensou que havia encontrado a companhia perfeita: alguém com quem relaxar e dividir interesses. E alguém que não esperasse que o namoro terminasse em casamento. Deveria ter adivinhado que isso era bom demais para ser verdade. Sua regra era como uma lei obrigatória. Tanner tinha aderido a certos padrões, e não namorar colegas de trabalho era um deles. Ainda assim, Anna partiria em algumas semanas. Talvez pudessem planejar alguma coisa. Tanner meneou a cabeça, surpreso até por ter considerado a idéia. Negócios eram negócios e prazer era algo totalmente separado. E planejava continuar dessa forma! Dedicaria a atenção à pilha de arquivos para revisar e, no dia seguinte, voltaria aos negócios. Anna poderia cuidar de si mesma. Não precisava que ele lhe levasse sopa ou telefonasse para saber como ela estava. E certamente não precisava beijá-la. Na manhã seguinte, Anna entrou no consultório médico sentindo-se tão mal quanto havia se sentido no dia anterior. A breve melhora da noite passada não tinha durado muito tempo. Assim que Tanner foi embora, voltou para a cama e dormiu a noite inteira. Anna se recusou a pensar sobre o beijo. Não estavam mais envolvidos. Tanner havia deixado isso bem claro. E estava ansiosa com a mudança para Bruxelas. Assim que estivesse bem novamente, teria que empacotar suas coisas, decidir o que levar e o que guardar na casa dos pais e começar a se preparar para o seu novo cargo na Europa. — Srta. Larkin? — Uma das enfermeiras chamou da entrada. A mulher conduziu Anna até uma sala de exame e perguntou como se sentia. Anna disse que precisava de alguma coisa que pudesse suavizar os sintomas da gripe. — Não há muito que fazer. Descanso é a melhor coisa — a enfermeira declarou enquanto lhe aferia a pressão. — Faz algum tempo desde que você consultou o dr. Orsinger pela última vez. Anna assentiu com a cabeça. — Normalmente sou saudável. — Anna desejou que estivesse se sentindo saudável nesta manhã. Ansiava para voltar para a cama. — O doutor deverá demorar apenas alguns minutos. Sugiro que vista a camisola enquanto vou avisá-lo que você está aqui. Assim que entrou na sala de exame, o dr. Orsinger perguntou como Anna estava com exceção da gripe e fez algumas anotações enquanto ela falava. Anna aproveitou a oportunidade para perguntar ao doutor se sabia de algum medicamento que precisaria tomar antes de se mudar para a Europa. O doutor perguntou sobre o seu novo trabalho, 15
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onde iria morar e por quanto tempo ficaria fora dos Estados Unidos. Fez um exame de sangue de rotina e revisou o histórico médico de Anna, para se certificar de que estivesse em dia com a vacina antitetânica. Assim que terminou o exame, o médico pediu que esperasse um pouco até fazer uma pesquisa on-line, a fim de ver se havia algum alerta de saúde na Europa. Anna concordou. Quando o doutor saiu da sala, Anna trocou de roupas, desejando que a pesquisa não fosse muito demorada. Ainda se sentia instável e cansada. Pouco tempo depois, o dr. Orsinger retornou. Lançou um olhar suspeito para Anna. — Nenhuma crise de saúde na Europa, espero — ela declarou. O médico indicou para que Anna se sentasse em uma das cadeiras. — Você suspeitou que estivesse grávida? — Ele quis saber. Anna o fitou com surpresa, certa de que não tinha ouvido direito. Orsinger tinha sido o seu médico por anos. Sabia que era impossível que engravidasse. — Você sabe que não posso ter filhos. — Sua voz soou calma. Anna havia se conformado há muito tempo com a sua incapacidade. Exceto a cada vez que a sua irmã mais nova telefonava para anunciar que estava grávida. A ligarão mais recente nessa semana tinha sido a terceira vez. Aquilo a magoou. Também quando a sua melhor amiga tivera o primeiro bebê, há dois anos... O médico ergueu o relatório que a enfermeira tinha lhe entregado e o leu novamente. — Anna, nós podemos repetir o teste, mas não acho que o relatório esteja errado. Anna o fitou incrédula. Desde os seus dezesseis anos, havia sido informada de que nunca iria ter filhos. O acidente de carro em que estivera envolvida lhe causou um grande dano, tanto externa quanto internamente. As cicatrizes externas tinham sumido ao longo dos anos, mas internamente ainda estava prejudicada. Os médicos lhe asseguraram de que nunca iria conseguir conceber. Com o passar dos anos, Anna começou a se acostumar com a sua condição. Sempre demonstrava serenidade quando se reunia com a família e via os filhos da irmã ou do irmão. Na semana passada, tivera que fingir felicidade mais uma vez quando recebeu a notícia de que a irmã estava grávida novamente. Em seu interior, havia gritado com a injustiça da vida, mas não permitia que nenhum desses sentimentos ficasse visível. Mesmo aqueles que a conheciam bem, nunca suspeitaram do quanto ansiava por um filho. Contudo, um cruel golpe do destino terminou com essa esperança há anos, mas ainda tinha a sua carreira. Sua carreira! — Não posso estar grávida. — A sala parecia estar girando. Anna fechou os olhos para acalmar a vertigem. Tanner! Oh, Deus! Ele iria "matá-la" quando descobrisse. Anna avisou a ele que não corria o risco de engravidar. Tanner usara preservativo, mas o material havia se rompido. Anna pedira para que não se preocupasse, uma vez que não poderia ter um bebê. Como isso pôde acontecer? O dr. Orsinger a fitou com compaixão. — Na verdade, o prognóstico era que seria altamente improvável que você pudesse conceber. Obviamente, mesmo os médicos cometem erros. — Ele sorriu para ela. — Sei que isso é uma surpresa, mas uma surpresa agradável, espero. — Gostaria de um segundo teste, por favor. — Não poderia deixar que suas esperanças aumentassem. A decepção seria muito grande. Anna estiver apaixonada na faculdade, e até mesmo recebera um pedido de 16
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casamento do seu querido... Jason Donalds. Quando Jason descobriu que era incapaz de ter filhos, terminou o relacionamento com tanta rapidez que Anna mal tivera tempo de piscar. Desde a formatura, Anua estivera concentrada em sua carreira e excluíra qualquer possibilidade de ter um relacionamento sério. Seus pais a encorajaram a ser mais aberta com os homens que estavam interessados nela. Nem todo homem deseja filhos. E adoção era uma alternativa se quisessem. O trauma de perder Jason porque não podia ter filhos foi quase impossível de ser superado. Anna não iria arriscar seu coração daquela maneira novamente. A idéia de estar grávida depois de todos esses anos, depois de todos os testes, era inconcebível. Havia sido apenas uma noite. Apesar do prognóstico, Anna sempre praticou sexo seguro nas poucas vezes em que se sentiu próxima o bastante de um homem para dar o passo de ir para a cama. Jamais poderia ter suspeitado que fosse capaz de engravidar. O médico atendeu o pedido para fazer um segundo teste. Era tarde da manhã quando se reuniram para confirmar o seu diagnóstico original. O doutor despendeu diversos minutos conversando com Anna sobre o cuidado pré-natal, as mudanças que ela poderia esperar no corpo conforme a gestação progredia e os riscos que poderiam haver para uma mulher da idade dela que engravidava pela primeira vez. Com as cicatrizes que Anna possuía no útero, poderia ser impossível levar a gravidez até o fim. O médico queria monitorá-la de perto enquanto a gestação avançava. Marcaram consultas semanais. Por mais da metade da vida, Anna acreditou que jamais iria conceber uma criança. A descoberta a deixou chocada. No caminho de volta para casa, a realidade se instalou gradualmente. Assim que entrou no apartamento, Anna soltou um grito de alegria. Sabia que não havia garantia alguma, mas se tinha conseguido chegar tão longe depois de conceber, certamente poderia levar a gravidez até o fim. Apressando-se em alcançar o telefone, Anna rapidamente discou o número da mãe. — Mãe, você precisa se sentar, tenho uma notícia incrível! Ginny Larkin logo perguntou sobre a transferência de Anna para Bruxelas. — Não é isso. Estou grávida! — Anna exclamou. Houve um silêncio do outro lado da linha por um longo momento. Depois, a mãe quis saber: — Como isso é possível? — É um milagre — disse Anna. — Não acreditei quando o médico me disse, então pedi para que fizesse os testes novamente. E os testes confirmaram, realmente estou grávida. Isso não é incrível? Depois de todos esses anos, vou ter um bebê! — Anna irrompeu em lágrimas de felicidade. Não se sentia diferente de como havia se sentido naquela manhã, ainda estava com náusea, ainda se sentia cansada e um pouco dolorida. Mas não estava com gripe, e sim grávida! Anna queria compartilhar esse milagre com o mundo, começando por sua mãe. Contudo, a precaução a conteve. Precisava esperar até saber se as chances de levar a gravidez até o fim iriam aumentar. As próximas semanas iriam revelar o seu progresso. O médico a havia alertado para ir com calma, descansar muito e telefonar se houvesse algum sinal de complicação. Ele lhe deu algo para a náusea e as dores de estômago e a aconselhou a se alimentar de forma saudável e com freqüência. O doutor também lhe deu uma prescrição de vitaminas pré-natais e marcou um ultrassom dentro de um mês, para verificar a viabilidade do bebê. — Não posso acreditar — Ginny falou novamente. — Depois de todo esse tempo. Todos os médicos disseram que era impossível! — Os médicos estão recuando agora... Dizendo que era altamente improvável. É claro que isso não é impossível... Estou grávida! 17
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Queria gritar isso do telhado! Depois, sua mãe perguntou: — Quem é o pai? Não sabia que você estava saindo com alguém especial. Anna cerrou as pálpebras com força, mas ainda conseguia ver o rosto de Tanner. Podia imaginar a fúria quando descobrisse que estava grávida. Ainda assim, não havia nada que pudesse ter feito de diferente. — É um ótimo homem, mãe. Nós estivemos envolvidos neste verão, mas ele tinha um novo trabalho e precisava seguir em frente. Nós não estamos mais nos vendo. — Não da mesma maneira. — Há alguma chance de se casar com você... Apenas para dar o nome ao bebê? — Oh, mãe, por favor. Sou uma mulher competente. Estive por conta própria durante anos. Vou ser transferida para o escritório europeu da empresa dentro de alguns meses. Não preciso de um homem para criar um bebê. — É claro que você não precisa, mas bebês precisam dos pais — respondeu a mãe. — Você ainda vai para Bruxelas? É tão longe... — Vou alugar um lugar grande o bastante para que você possa ficar durante semanas seguidas. — E seu pai? Sua irmã, seu irmão e as famílias deles irão querer ver o bebê. Você poderá tirar férias do trabalho para retornar e ter o bebê aqui? — É complicado, mãe. Ainda não pensei sobre isso. Descobri sobre o bebê há apenas uma hora. Dê-me algum tempo para que possa me acostumar com a idéia e começar a fazer planos. — É claro. E ficarei feliz em ajudá-la. Venha para casa neste fim de semana. — Não tenho certeza. — Anna não estava se sentindo melhor por saber que não estava gripada. Além disso, sentia a tensão aumentar conforme pensava em como seria a reação de Tanner quando lhe contasse que iria ser pai. — Diga-me como você está se sentindo. Para quando é o bebê? Quando você irá saber o sexo? Você já pensou em algum nome? Mal posso esperar para vê-la. Oh, querida, estou tão feliz. Nunca pensei... Espere até eu contar para o seu pai! Anna começou a relaxar enquanto a mãe começava a aconselhá-la sobre se alimentar bem, dormir horas extras e manter um programa de exercícios. As duas conversaram por quase uma hora. No fim da conversa, Anna conseguiu a promessa da mãe de que não iria contar a novidade para ninguém mais da família... Anna queria compartilhar a notícia dentro de algumas semanas, no feriado de Ação de Graças, quando todos estivessem reunidos. Relutantemente, Ginny concordou. — Mas não sei como vou esconder isso do seu pai — ela disse. — Por favor, mamãe. Isso é tão especial. Talvez nunca mais aconteça novamente. Quero estar presente quando ouvirem a notícia. Quero ver a reação deles. — Está bem. Ligue para mim imediatamente se precisar de alguma coisa. Anna concordou e desligou o telefone. Ainda sentia como se estivesse sonhando. Levando a mão ao abdome, falou suavemente: — Olá, pequenino. Estou tão feliz que você esteja aqui. Cansada, Anna rumou para o quarto e se deitou na cama, mas estava muito entusiasmada para dormir. Então, começou a fazer os planos. Assim que estivesse disposta, iria a uma livraria para obter o maior número de livros sobre recém-nascidos que 18
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conseguisse encontrar. Depois, navegaria na internet e verificaria os aluguéis em Bruxelas. O apartamento que Thomas Vintner tinha encontrado não iria mais servir. Anna precisava de mais um quarto. Compraria móveis para bebê, procuraria creches e decidiria o que fazer sobre a escola quando a criança crescesse. E, enquanto isso, teria que encontrar uma maneira de contar a notícia para o pai do bebê.
CAPÍTULO TRÊS
Tanner desligou o telefone e fitou o relógio de pulso. Já passava das 2h da tarde. Ele se perguntou se Anna teria marcado a consulta médica. Tanner tinha alguns minutos antes de entrevistar o próximo chefe de departamento, incapaz de se concentrar no relatório à sua frente, discou o número de Anna. Um momento depois, ela atendeu. — Você consultou o médico? — Tanner indagou sem rodeios. — Sim — respondeu Anna. — Você me acordou para isso? Eu lhe disse que iria ver o médico. — E...? Qual é o diagnóstico? Pode fazer alguma coisa a respeito da gripe? — Na verdade, ele me deu alguns remédios para aliviar os sintomas. Já estou me sentindo melhor. A voz dela soava muito melhor, notou. Tanner se lembrou das conversas que tiveram por telefone. Durante muitas noites, antes de ir para a cama, telefonava para conversarem sobre tudo. Uma vez, Anna lhe contou que tivera um noivado rompido no passado e que não podia ter filhos. Aquela teria sido a oportunidade perfeita para contar sobre Zach, mas a dor ainda era aguda quando pensava no garoto, então se manteve em silêncio. Não que importasse. O caso acontecera há muito tempo. Tanner precisou seguir em frente, tentou esquecer a traição de Cindy e se concentrou no presente. De qualquer forma, na maior parte do tempo, as conversas que tinham tarde da noite eram alegres e divertidas. Tanner se arrependia por ter parado de vê-la tão abruptamente. Não tinham compromisso ou planos para o futuro. Anna ainda deveria ter ficado magoada quando parou de vê-la sem dizer uma palavra. Deveria ter dito que os negócios estavam muito intensos e que precisava dar um tempo. Teria sido melhor do que o silêncio. — Que bom. — Estava preocupado com você soaria muito pessoal. Mesmo assim, estivera. — Agradeço a sua preocupação. Provavelmente irei tirar o restante da semana de folga e estarei de volta ao escritório na segunda-feira — ela disse. — Telefone se precisar de alguma coisa. Tanner desligou o telefone e fitou a pilha de papéis em sua mesa. Tinha tomado a decisão certa em cortar o relacionamento, mas, por um momento, apreciou ouvir a voz de Anna. Namorar com Anna tinha sido um prazer. Tanner sentia falta da facilidade em conversar sobre tudo ou permanecer calado durante um longo tempo sem se sentirem desconfortáveis com o silêncio. Apreciou o fato dela gostar de atividades similares. A forma com que entrava e saía de um bonde como uma nativa. Seu amor por casquinhas 19
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de caranguejo no cais. O prazer em assistir as pipas cruzando o céu da marina. Tanner se ergueu da poltrona e se aproximou da janela. Fitando a Montgomery Street, lembrou a tarde de domingo em que caminharam ao longo das ruas desertas, espiando as vitrines das lojas fechadas antes de se dirigirem ao cais e apreciarem um aperitivo de caranguejo e pão sourdough para o almoço. Dois dias depois, descobriu que Anna trabalhava para a Drysdale Electronics. Seu próprio código de ética exigiu que parasse de vê-la. Pela primeira vez, Tanner desejou que pudesse quebrar as próprias regras. Caminhou até a porta e a abriu. Ellie estava trabalhando em seu computador. — Encomende algumas flores para Anna Larkin — ele pediu. — E assegure-se de que sejam entregues ainda hoje. Ellie ergueu o rosto e o fitou com surpresa. — Claro. Anna piorou? — Não, mas vai ficar em casa por alguns dias para se recuperar da gripe. — O que devo escrever no cartão? — Ellie indagou. — Uma lembrança dos seus amigos da Drysdale Electronics — falou Tanner. Não queria levantar suspeitas do restante da equipe, mas desejava mandar algumas flores para alegrar o apartamento de Anna. Tanner retornou para a mesa e se sentiu mais capaz de se concentrar no trabalho. Contudo, sua mente não conseguia apagar a imagem de Anna vestida com o roupão pink e as pantufas. Sentia um aperto no estômago toda vez que pensava nela. Por que não conseguia esquecê-la com a mesma facilidade com que tinha esquecido as outras mulheres com quem namorou ao longo dos anos? Seria apenas porque agora estavam sendo obrigados a trabalhar juntos? Existia algo especial em Anna Larkin? Tanner quase podia sentir a pele macia sob a ponta de seus dedos. Inebriar-se com seu delicioso perfume. Ouvir sua risada e ver o brilho em seus olhos. Precisaria de um banho gelado se não parasse de sonhar acordado. Baixando o olhar, Tanner mergulhou no trabalho, encontrando alívio na miríade de fatos a serem absorvidos.
Anna ficou no apartamento nos dias seguintes, descansando o máximo que podia. Ficara encantada ao receber o buquê de flores que a equipe do escritório lhe mandou no dia em que descobrira sobre a gravidez. Anna entendeu o gesto como uma celebra ção, embora só ela soubesse o motivo. Quando não estava descansando, Anna navegava na internet para pesquisar sobre gravidez e recém-nascidos. Também consultou uma lista de imóveis para alugar em Bruxelas. Anna tinha tanta coisa para pensar. Primeiro, em conseguir levar a gravidez até o fim. Seguiria as ordens do médico à risca. Precisava encontrar um apartamento em Bruxelas que fosse maior do que o originalmente planejado. E teria que mobiliar um quarto para a criança. Talvez pudesse contratar uma babá em tempo integral para ajudar com o bebê, o que exigiria um lugar ainda maior, principalmente se quisesse um quarto onde a família pudesse se hospedar. Seria um menino ou uma menina? Anna não tinha preferência. Sonhando acordada sobre ambos, deixou a imaginação voar. Um garotinho hábil como Tanner, aprendendo as coisas rapidamente, fazendo a diferença. Partindo corações. Ou uma garotinha. Será que teria cabelo escuro como o do pai? Olhos brilhantes cheios de travessura? Anna rezava para que o bebê fosse saudável e que pudesse trazê-lo ao mundo de forma segura. Também tinha que decidir quando contar às pessoas. Devido ao alto risco de aborto espontâneo durante a gravidez, Anna não queria contar a ninguém até que o médico lhe assegurasse de que as coisas iriam dar certo. Contaria a notícia para a família dentro de 20
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algumas semanas, no dia de Ação de Graças. Exultariam com a novidade. E a apoiariam quando o milagroso nascimento acontecesse. Sabia o dia exato em que fizera amor com Tanner. Não é todo mundo que pode dizer exatamente quando uma criança é concebida. Se ainda estivesse grávida depois do primeiro trimestre, e tivesse a bênção do doutor, contaria às amigas. Anna queria que todos soubessem antes de se mudar para Bruxelas. Contudo, ainda não fazia idéia de como iria contar a Tanner. E quando. Anna podia imaginar a reação. Suspeitava que não fosse ficar feliz. A última coisa que Tanner queria era se complicar com alguém. Namorar não tinha sido problema. Ter um relacionamento estável por algumas semanas poderia se encaixar nos planos dele. Anna teria que se assegurar de que soubesse que não esperava nada. Será que deveria contar apenas um dia antes de se mudar para a Europa? Talvez fosse mais seguro esperar até que estivesse em Bruxelas. Seguro? O que esperava? Que fosse mudar de idéia sobre a sua transferência? Na verdade, não sabia como ele iria receber a notícia. Não achava que seria uma recepção feliz e calorosa. Anna temia um confronto. Refletiu sobre diferentes maneiras de contar a notícia, mas não conseguiu encontrar um plano confortável no fim do dia. Talvez algo pudesse lhe surgir em breve.
No sábado, Anna sentiu que iria enlouquecer se continuasse fechada dentro do apartamento. A chuva havia passado, e o dia estava glorioso. O leve medicamento que o doutor lhe prescreveu resolveu sua náusea, e as horas intermináveis de descanso a fizeram se sentir bem novamente. Anna vestiu roupas quentes para encarar a brisa que soprava na baía e saiu do apartamento em direção à marina. Havia uma grande livraria no local que provavelmente teria tudo o que precisava. Enquanto caminhava, sentia sua alma se alegrar. O dia estava lindo, e ela estava grávida! Anna mal podia esperar que a gravidez estivesse evidente para que o mundo inteiro soubesse apenas com um olhar. Depois de passar horas pesquisando na livraria, finalmente saiu do estabelecimento com seis livros, um sobre o que esperar durante a gravidez e cinco sobre cuidados com as crianças. Anna ainda tinha tanta coisa para aprender. Queria ser a melhor mãe possível. Estava a apenas algumas quadras do cais. Uma vez que o local era agradável e não desejava voltar para o apartamento tão cedo, decidiu caminhar até o píer 39 e apreciar um petisco. De acordo com o médico, pequenas refeições freqüentes eram a chave para acabar com a náusea. Um dos atrativos do píer era o grupo de leões marinhos. As travessuras sempre provocavam o riso. Podia ouvir o rugido rouco deles a distância. Anna se sentia animada com o dia. Quando o bebê crescesse e visitassem os Estados Unidos, traria ele para ver os leões marinhos. Havia tanta coisa que Anna queria dividir com a criança. Seu local favorito na cidade estava tão cheio quanto na maioria dos sábados. Esquivou-se dos patinadores, dos garotos que empinavam pipas e das famílias com crianças que circulavam de um lado para o outro. Os turistas formavam filas para entrar nos barcos de passeio. A brisa estava agrad ável e refrescante. Anna passou a sacola de livros para a outra mão e percorreu o olhar ao redor com interesse. Adorava assistir as pessoas. — Anna? Imediatamente reconheceu a voz. Surpresa, Anna espiou por sobre um dos ombros. Tanner atravessou a rua paia se aproximar. Obviamente, estivera correndo por um tempo. O short azul-marinho revelava as pernas musculosas, e a camiseta branca estava marcada pelo suor. O cabelo escuro estava completamente desalinhado pelo vento. Estava muito sexy. — Oi — falou Tanner. — Vejo que está se sentindo melhor. 21
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Anna concordou com um gesto de cabeça. — É o primeiro dia que resolvi sair. Não conseguia ficar mais nem um minuto dentro do apartamento. — E, após uma pausa, observou: — Estou vendo que voltou a praticar algum exercício. — É a primeira vez na semana. Está sendo uma semana agitada, longas horas de trabalho e muita coisa para rever mesmo quando volto para o apartamento de noite. — Você entrevistou todos? — Sim. Estou tendo alguma resistência em certos departamentos. Não é nada que não possa resolver — ele falou confiante. Anna podia imaginar Tanner lidando com qualquer coisa. Exceto, talvez, com a sua confissão. — Gostaria de tomar um café? — ele indagou. — Isso é, se você não se importar em ser vista comigo dessa maneira. Anna hesitou. O traje dele era o de menos. Estava preocupada com os livros dentro da sacola, o segredo que guardava. Ainda assim, em parte ansiava para passar mais alguns minutos na companhia de Tanner. Anna tinha sentido sua falta durante a última semana, p logo estaria vivendo a quilômetros de distância, e qualquer chance de se deparar com ele iria desaparecer. — Acho que prefiro uma vitamina de morango — ela disse. Tanner assentiu com a cabeça, os dois foram em direção ao píer. — Esteve fazendo compras? — Apenas alguns livros para passar o tempo. — Anna esperava que não fosse lhe perguntar sobre os títulos. Rapidamente, mudou o assunto. — Terminou sua corrida? Ou estou interrompendo? — Estava descansando — ele falou. — Você não está me interrompendo. — E, então, como foi sua primeira semana? — Revigorante — ele respondeu. — Há mais desafios na Drysdale do que em minha antiga empresa. Anna deu risada. — E você adora desafios — ela comentou. Assim que alcançaram o longo píer, desceram a estrutura feita em madeira e logo encontraram uma mesa disponível ao ar livre. Tanner se aproximou do balcão a fim de pedir as bebidas enquanto Anna se sentava sob a luz do sol. — Vitamina de morango — falou um tempo depois, Entregando lhe o copo. Tanner se sentou do lado oposto com uma larga caneca de café nas mãos. — Está pronta para voltar ao trabalho na segunda-feira? — Quis saber. — Sim. Mantive contato com a minha secretária, mas não é o mesmo que estar no escritório. Provavelmente poderia ter retornado ontem, mas resolvi descansar mais um dia. Então, agora estou revigorada e ansiosa para voltar ao trabalho. — Ninguém mais ficou gripado no escritório — ele comentou. Anna sorveu um gole da vitamina, sentindo-se culpada. Na época, pensara estar gripada, mas não corrigira essa suposição. 22
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— Que ótimo — ela finalmente declarou. Tanner a estudou por um momento. — O que há de errado? — Anna perguntou, sentindo-se desconfortável. Os olhos escuros dele eram irresistíveis. Lembrava de observá-los quando estavam fazendo amor. Sua pulsação se acelerou. Anna sorveu mais um gole da bebida, tentando quebrar o encanto. — Estou curioso sobre a sua transferência para Bruxelas — ele disse. — Você esteve na sede da empresa desde que começou. Por que se mudar para tão longe? Sua família está na Califórnia, você deve ter muitos amigos aqui. — Sim, mas isso é algo que desejo há anos. Estudei francês na expectativa dessa oportunidade. Minhas férias recentes foram na Europa, passei semanas no escritório em Bruxelas. Aprendi tudo o que podia sobre as pessoas com quem iria lidar e a maneira de fazer os negócios. Vai ser um grande desafio, mas um desafio com o qual eu posso lidar. — A julgar pelo o que aprendi nessa semana, você é uma boa candidata. Thomas fala muito bem de suas idéias. E gostei do relatório que você me apresentou. Ela assentiu com a cabeça, satisfeita ao ouvir o comentário. — Vou sentir sua falta — Tanner declarou de forma inesperada. Anna o fitou com surpresa. — Vou lhe telefonar muitas vezes — ela afirmou. — E sempre mantê-lo informado. — Vou sentir falta de você, Anna. E não da diretora. Apreciei nossos encontros. — Eu também, mas nós dois sabemos que você foi sábio em terminar nosso relacionamento. Seria estranho se ainda estivéssemos nos vendo. Ainda se lembrava de sentir os músculos poderosos do tórax dele sob a ponta dos seus dedos. Não eram lembranças que deveria ter do seu chefe. Anna quase podia sentir o prazer extremo que os lábios dele lhe proporcionaram. Poderia ser estranho, mas sentiria falta dele. Anna havia se tornado mais íntima de Tanner nas poucas semanas em que namoraram do que de qualquer outro homem desde Jason. — Preciso ir. Obrigada pela vitamina. — Anna apanhou o copo plástico para levar e estendeu uma das mãos para erguer a sacola que estava sobre o banco ao lado. Contudo, a sacola esbarrou no canto do banco e todo o conteúdo caiu no chão. Tanner se ergueu rapidamente e inclinou-se para apanhar os livros. Parou enquanto lia os títulos. Anna sentiu o sangue congelar nas veias. Não conseguia se mover. Como iria se explicar? Dizer que os livros eram para uma amiga? Tanner ergueu os olhos para encará-la. Sua expressão estava severa. — Que diabos é isso?
CAPÍTULO QUATRO
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— Livros para uma amiga? — Anna tentou, fitando os títulos e evitando os olhos dele. — Você disse que eram livros para passar o tempo. Não disse nada sobre uma amiga. Esses livros são sobre bebês e... Oh, Deus, você está grávida? Anna recolheu os livros, colocou-os dentro da sacola, apanhou o copo de vitamina e se virou. Contudo, Tanner agarrou-lhe um dos braços, impedindo-a de se afastar. — Responda a minha pergunta. — Ele falou em um tom de voz baixo e intimidante. — Mesmo que esteja grávida, isso não é da sua conta. Ela devolveu. — É claro que é se o bebê for meu. E você não estava saindo com ninguém recentemente, exceto comigo. Não houve gripe alguma, não é? Você estava com enjôos matinais. — Pensei que estivesse gripada. — Você me disse que não poderia engravidar. O que você está tentando fazer? Forçar um casamento? Isso não vai funcionar, querida, não vou cair nessa armadilha novamente. Então, se esse é o seu plano, esqueça. Anna puxou seu braço com força para se livrar da mão dele. — Não estou tentando fazer nada! — Exclamou e se afastou rapidamente. Contudo, Tanner a seguiu de perto. — Responda a minha pergunta — Tanner exigiu novamente. — Sim, estou grávida — ela confessou, aumentando o ritmo dos passos. Tanner a acompanhou com facilidade. — Você disse... Anna parou de caminhar abruptamente e virou-se para encará-lo. — Vamos esclarecer as coisas, Tanner. Estive envolvida em um terrível acidente de carro quando estava com dezesseis anos de idade. Atravessei o pára-brisa. Havia cacos de vidro por toda a parte. Devido aos danos internos, os médicos me disseram que eu nunca iria conceber. Meu noivo me largou como uma "batata quente" quando descobriu sobre isso. Por mais de vinte anos, acreditei que nunca teria uma crian ça, que nunca seria mãe. — Anna deu uma pausa para respirar e depois prosseguiu: — Não sei explicar o que aconteceu, e nem o meu médico sabe. Estou ciente de que será uma gravidez de risco, mas para mim, isso foi um milagre de grandes proporções. Então, sinto muito se isso o aborrece, mas estou feliz! Agora, fique longe de mim! Não quero mais nada de você! — Ela se virou e seguiu em direção à rua. Certamente poderia encontrar um táxi e voltar para casa antes de irromper em lágrimas. Anna estava furiosa. Como ousava pensar que havia tentado arrastá-lo para um casamento? Seja realista. Em que século ele estava vivendo? Será que não chegou a conhecê-la nem um pouco quando namoraram? O que havia dito era a verdade, isso era um grande milagre e agradeceria por sua criança todos os dias da sua vida. Isso se fosse capaz de trazer o bebê ao mundo. Seu médico não estivera certo sobre essa possibilidade. Anna não se importava com o que Tanner pudesse pensar. Tanto ela quanto o seu bebê não precisavam dele.
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Tanner deu meia volta, sentindo-se extremamente irritado, praguejou baixinho e cerrou as mãos em punhos. Essa súbita raiva ameaçava explodir! Virou-se novamente e assistiu Anna entrar no táxi. Droga! Não precisava disso. Tanner pensava que pudesse confiar em Anna. Até mesmo estivera pensando em uma maneira de os dois continuarem se vendo de vez em quando, como nas vezes em que precisou de uma companhia para algum evento formal. Ou mesmo para se reunirem em um café durante o fim de semana e discutirem os negócios da empresa. Tanner havia sido feito de tolo antes, com Cindy. A primeira vez poderia ser perdoada, principalmente porque, na época, era apenas um garoto de vinte e um anos, mas desde então nunca mais se arriscara. Como pôde ter confiado nela? Deus, iria ser pai. Tanner evitara ter compromissos sérios desde o seu divórcio para proteger seu coração. Não tinha certeza de que pudesse passar por algo desse tipo novamente. Não se perdesse o bebê como havia perdido Zach. Tanner não tinha idéia de quanto tempo havia permanecido imóvel na calçada movimentada depois que Anna partiu. Finalmente, percebeu que estava ficando com frio e começou a correr novamente. Uma vez que chegou ao apartamento, apressou-se em se trocar. Tanner ficou debaixo do chuveiro por um longo tempo. Não conseguia acreditar nisso. Por um momento, a magnitude da situação foi esmagadora. Uma criança. Um bebê. Um menino ou uma menina que não havia planejado. O que faria? Como Anna ousara desprezar sua preocupação quando o preservativo rompeu? Estava indignado. O que esperava dele? Anna não havia lhe contado sobre a gravidez. Ele tivera que descobrir por acaso. Certamente começaria a fazer exigências, mas, desta vez, Tanner saberia como agir. Não iria repetir os erros do passado. Tanner se enxugou e vestiu calças escuras e uma blusa branca de mangas compridas. Hesitando apenas por um momento, rumou para o quarto e abrindo o armário, apanhou uma pequena caixa. Em seguida, sentou na beirada da cama e abriu a tampa. Dentro da caixa, havia diversas fotografias e alguns papéis. Tanner ergueu as fotografias: A primeira era de Cindy no hospital com Zach, era tão pequeno. As enfermeiras o enrolaram em um cobertor macio: apenas o rosto miúdo e as bochechas rechonchudas estavam visíveis. Tanner ergueu a próxima fotografia. Ele com Zach nos braços. A imagem seguinte exibia um bebê gorduchinho deitado na cama, chutando os pezinhos no ar. Tanner sentiu o coração se apertar. Zach havia dado seus primeiros passos logo depois dessa fotografia. Ficara com o bebê apenas por um ano. Não havia mais fotografias. Tanner inspirou profundamente, sentindo novamente a perda do filho com quem convivera por apenas um ano. Reuniu as fotografias e as colocou de volta na caixa. Após guardá-la no armário, rumou para o seu escritório. Em seguida, alcançou o telefone e discou para o número de Anna.
Anna havia acabado de preparar uma xícara de chá de ervas e começado a ler o primeiro livro quando o telefone tocou. — O que você quis dizer com gravidez de risco? — Tanner perguntou. Agarrou o receptor com firmeza, — As cicatrizes não desapareceram milagrosamente e ainda poderão causar problemas durante o desenvolvimento do bebê. Posso sofrer um aborto espontâneo a qualquer momento. Poderá haver complicações. Não sou exatamente uma mulher jovem... Não para ter o primeiro filho. — Então talvez você não consiga levar a gravidez até o fim? — ele indagou 25
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gentilmente. — Exatamente. Por outro lado, meu médico irá me assistir cuidadosamente e fazer o possível para se assegurar de que eu tenha um bebê saudável. E planejava lhe contar isso, apenas não tinha decidido quando ou como. Descobri sobre a gravidez na terçafeira. — Você poderia ter me telefonado — observou Tanner. Anna sabia que estava furioso. E estava furiosa com ele devido aos comentários que Fizera no píer. — Ainda não contei para a maioria das pessoas. O médico me disse que terá uma idéia melhor de como será a gravidez com o passar do tempo. — Não sou a maioria das pessoas. Anna respirou fundo. Estava certo, mas ainda assim... Queria lidar com as coisas a sua maneira. Houve um momento de silêncio, depois Tanner declarou: — Como está se sentindo? — Mal. Tenho enjôos matinais, sinto dores e algum desconforto na área do abdome... Provavelmente por causa das cicatrizes internas. Tomei um remédio para a náusea e estou me alimentando bem, então devo estar melhor para trabalhar na segundafeira. — Então você realmente não acreditava que pudesse ter um bebê. — Achava impossível — ela respondeu. — Não estava tentando forçá-lo a um casamento. Por Deus, Tanner, vou para Bruxelas em algumas semanas. Você mora aqui. Que tipo de relacionamento seria esse? Por um segundo, imaginou que ainda estivessem envolvidos. Será que chegariam a ter a mesma intimidade que ela tivera com Jason no passado? Ou as exigências do trabalho os afastariam? — Quando você irá ver o médico novamente? — Na próxima terça-feira. E toda terça-feira depois dessa. — Mantenha-me informado — ele disse. — Quero saber tudo sobre a gravidez. Anna sentiu uma pontada de alegria. Não gostou do tom de voz dele, mas não pôde deixar de se sentir levemente calma por ele estar preocupado com o bebê. E com a sua própria saúde? — Vou mantê-lo informado. — Seria como um projeto de trabalho. Com atualizações semanais. — Até mais, Tanner. Anna desligou o telefone e voltou a ler o livro. Ainda tinha muito para aprender.
Na segunda-feira, Anna chegou cedo ao trabalho. Passou o restante da semana preocupando-se com a reação inicial de Tanner. De certo modo, Anna precisava fazê-lo enxergar que não estava tentando forçá-lo a ter nenhum tipo de relacionamento. Tanner não lhe telefonara novamente, então talvez tivesse pensado melhor e se acalmado. Anna fitou as pilhas de papéis sobre a mesa. Havia muito trabalho a fazer. Afinal, estivera afastada do trabalho por vários dias. Começou por um telefonema para Thomas em Bruxelas. Por volta das 14h, já havia respondido todos os e-mails e retornado as ligações mais urgentes. Anna fez uma rápida caminhada durante o horário de almoço. O tempo 26
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permanecia ensolarado e frio com uma leve brisa que soprava da baía. Estava mais consciente do que nunca quanto a cuidar da saúde. Ar fresco e exercícios seriam o seu novo lema. Conforme descia a Montgomery Street, A una se lembrou da tarde de domingo em que ela e Tanner caminharam ao longo destas mesmas calçadas. Sentia falta da diversão que compartilharam. Sentia falta de encontrá-lo para tomarem um café ou apreciarem uma refeição. Sentia falta dos telefonemas noturnos. A solidão não era uma estranha, mas por algumas semanas, Tanner havia alegrado seus dias. Nesse instante, um pensamento espantoso cruzou sua mente. Poderia se casar. Anna já não era mais uma mulher que não poderia dar um bebê ao seu marido. O motivo de Jason tê-la abandonado deixou-a magoada por anos. Porém, a gravidez fez com que todo esse sofrimento desaparecesse. Embora não estivesse completamente certa até que pudesse segurar o bebê em seus braços, as possibilidades tinham se multiplicado. Talvez pudesse encontrar um homem para amar e ser amada. Anna queria ter uma família. Ser normal. Tanner havia lhe dado um presente inestimável. Estava livre para ser uma mulher normal, novamente e pela primeira vez, desde que Jason partiu seu coração. É claro que sua idéia inicial era a de permanecer com Tanner Forsythe. Contudo, rapidamente silenciou até mesmo a hipótese de sonhar nessa direção. A reação que tivera na marina, no sábado, tinha causado uma impressão definitiva. Logo depois do almoço, Anna recebeu uma ligação de Ronald Franklin que se apresentou como advogado de Tanner. — Meu cliente está preocupado com a informação que obteve nessa semana — o advogado começou. — Pensei que tivesse deixado claro para o seu cliente que não há nada com o que se preocupar — ela falou com certa aspereza. Será que Tanner não a ouvira quando disse que não queria nada? — Você nega que ele é o pai do bebê? — Ronald perguntou. — Não — ela respondeu. — De qualquer forma, não estou pedindo nada. — Nós vamos exigir um teste de DNA. — Por quê? Não estou pedindo nada, então isso realmente é importante? Será que o advogado também não a estava ouvindo? — É altamente improvável que você irá rejeitar os benefícios financeiros. Meu cliente é um homem rico. — Não preciso do dinheiro ou da interferência dele. E nem mesmo estarei no país depois de janeiro. — Para onde você pretende ir? — Ele quis saber. — Fui transferida para a Europa e irei começar a trabalhar em nosso escritório de Bruxelas. Não tenho planos imediatos para retornar aos Estados Unidos, então você poderá assegurar ao seu cliente que não tem com o que se preocupar. Agora, se me dá licença, tenho trabalho a fazer. Anna desligou o telefone calmamente, mas desejou atirar o aparelho contra a parede. Como Tanner ousara contratar um advogado? Não tinha pedido nada! No fim da tarde, Anna se sentia exausta. Reuniu suas coisas e informou à secretária que iria para casa. Após chamar um táxi, entrou no carro e apreciou a corrida. Utilizar transporte público a deixaria mais suscetível a vírus. Precisava repensar seu modo de transporte no futuro e contar com táxis até se mudar para a Europa. No dia seguinte, Anna recebeu outra ligação de Ronald Franklin sugerindo que se encontrasse com Tanner para discutir a situação. — Não posso deixar isso mais claro — ela falou. — Não estou fazendo exigência 27
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alguma para Tanner Forsythe. Não vejo a necessidade de nos reunirmos para discutir qualquer coisa. De qualquer maneira, assim que encerrou a ligação, telefonou para sua amiga Stephanie. A amiga trabalhava em um grande grupo de advogados. Anna nunca precisara de um advogado antes. — Em que posso ajudá-la? — Stephanie falou quando reconheceu a voz de Anna. — É a respeito de uma pequena complicação legal que surgiu recentemente. Não quero entrar em detalhes agora. Vou lhe contar tudo assim que puder. Preciso de um bom advogado. — Caso criminal? — Stephanie indagou, comportando-se de maneira profissional. — Não, civil, eu acho. — Ou era chamado de direito de família? Não estava certa. — Preciso de um pouco mais de informação para saber qual advogado devo recomendar. Anna verificou a sala para se assegurar de que a porta estivesse fechada e abaixou o tom de voz. — Trata-se de um caso parental sobre uma criança em gestação. — De quem? — Stephanie quis saber. — Minha. Houve um silêncio do outro lado da linha. Depois, Stephanie respondeu em tom profissional: — Jillian Stevens é a nossa melhor advogada para a corte judicial em assuntos familiares. Devo transferir sua ligação agora ou lhe informar o número para que você possa retornar quando desejar? Anna sorriu. A amiga deveria ter um milhão de questões e ainda assim manteve o profissionalismo. — Transfira-me, por favor. Steph, assim que puder, conto-lhe tudo. Prometo. Anna rapidamente marcou um horário para visitar Jillian Stevens naquela mesma tarde. Assim que desligou o telefone, a secretária entrou na sala e informou que o presidente desejava vê-la. Dirigindo o olhar para o relógio, Anna notou que ainda era muito cedo para a reunião de gerentes que estava marcada para o dia. Então seria um confronto pessoal ou apenas negócios? Apanhou a pasta de suas atividades mais recentes e caminhou até o escritório de Tanner. Seu coração batia descontrolado. Estava nervosa e desconfiada. Ellie exibiu um sorriso amigável assim que Anna se aproximou da mesa. — Você parece bem melhor. Estou feliz que esteja de volta. Anna sorriu. — O sr. Forsythe deseja me ver — ela declarou. — Pode chamá-lo de Tanner — disse Ellie. — Ele pediu para que todos o chamassem dessa maneira. Deixe-me avisá-lo que você está aqui. — A secretária falou ao telefone e, um minuto depois, pediu que Anna entrasse na sala. Inspirando profundamente, Anna empurrou a porta e entrou no escritório de Tanner. Estava acomodado na poltrona atrás da mesa de trabalho. A alta janela atrás dele proporcionava uma ampla visão da cidade e um vislumbre da baía. Tanner ergueu os 28
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olhos para encará-la assim que entrou na sala, mas permaneceu calado. Anna tomou a iniciativa. — Trouxe as últimas atualizações do meu departamento — ela informou. — Entrei em contato com Tom, e ele me passou alguns números mais recentes. Você os queria na semana passada, mas como não estava aqui, espero que não seja muito tarde. Tanner estendeu a mão para receber a pasta e gesticulou para que se sentasse em unia das cadeiras em frente à mesa. Após examinar a página rapidamente, jogou o papel sobre a mesa e ergueu os olhos para encará-la. — Ronald me disse que você não está disposta a discutir a situação — ele falou. — Está certo. Não há nada para ser discutido. — Não sou mais o jovem ingênuo que fui um dia. Desta vez, as coisas serão feitas à minha maneira. — O que quer dizer? — Anna perguntou. — Desta vez? — Quero dizer que vou tomar providências para assegurar meus direitos — esclareceu Tanner. — Vou ver uma advogada nesta tarde. — Anna informou. — Vou pedir para que prepare os papéis liberando-o de todas as responsabilidades parentais. — Essa criança também é minha — ele observou. — Talvez tenha certos direitos. — Então, decida-se. — Ela declarou. — No sábado, você me acusou de estar tentando capturá-lo em algum tipo de armadilha e depois, quando descobre que não preciso da sua ajuda, você se sente indignado por eu estar tentando manter ele longe de você. — Ele? — Ou ela. Ainda é muito cedo para determinar o sexo do bebê. Tenho certeza de que a minha advogada poderá entrar em contato com o seu para aliviar quaisquer preocupações que você tiver quanto aos meus motivos. Isso deverá satisfazê-lo. Tanner jogou o lápis sobre a mesa e inclinando-se no espaldar da cadeira, estudando-a por um momento. — Estaria interessado em ouvir a sua proposta. — Não há proposta, apenas uma liberação para você assinar, abdicando-o das responsabilidades parentais. — Mesmo que concordasse com uma coisa dessa, como você pretende criar essa criança? Anna lançou um olhar desconfiado. — O que você quer dizer? Tenho um bom salário. Tenho investimentos e poupanças. Poderei encontrar uma creche em Bruxelas com a mesma facilidade que encontraria aqui em São Francisco. Essa criança será cuidada e amada. Minha mãe ficou animada só com a idéia de que possa realmente haver um bebê. Minha família ficará feliz por mim. Ninguém jamais pensou... — Anna se interrompeu abruptamente. Tanner não estava interessado. — Que você poderia ter um bebê? — Apressou-se em perguntar. — Não estava mentindo quando lhe disse que não podia engravidar. Os médicos me disseram isso desde o acidente que sofri quando era apenas uma adolescente. Planejo contar a minha família no dia de Ação de Graças se ainda estiver grávida. 29
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Tanner a estudou por um momento e depois indagou: — E quanto aos meus pais? Também serão avós dessa criança. Anna não tinha considerado esse aspecto. Será que estaria causando um dano à sua criança ao negar uma interação com o seu pai? Com os parentes do lado da família de Tanner? Anna se dava bem com seus avós, principalmente sua avó paterna, Sarah. E suas tias e seu tio, Clell. Como teria se sentido se tivesse conhecido apenas o lado da família da mãe? — Ainda tenho que pensar nisso — disse Anna. Esperava conversar com a advogada no fim do dia, para resolver a situação. — Esse bebê é meu também — Tanner falou suavemente. Anna assentiu com a cabeça e depois se ergueu da cadeira. — Vou pedir para a minha advogada telefonar para o seu depois que eu conversar com ela. — Informou e, dando meia volta, saiu do escritório, ignorando o pedido de Tanner para que ficasse. Anna foi a primeira a sair depois da reunião daquela tarde. Não iria se arriscar a ser manipulada por Tanner antes de conversar com sua advogada. Ainda tinha muita coisa para considerar.
Jillian Stevens era uma mulher prática e direta. A advogada perguntou sobre as circunstâncias da gravidez e rapidamente apresentou diversas maneiras de como Anna poderia lidar com a situação. Desde guarda compartilhada, guarda única, abrir mão dos direitos parentais do pai a entregar o bebê para adoção. Anna apressou-se em dizer que planejava ficar com a criança e explicou o milagre que havia sido a concepção. — Então o pai está desorientado? — Jillian indagou, ao mesmo tempo em que fazia anotações. — Nós tínhamos parado de nos ver antes de descobrir que estava grávida. Quando ele soube da gravidez, sua reação inicial foi a de me acusar de tentar forçá-lo a um casamento. Na verdade, pediu que o advogado dele me telefonasse, a fim de tentar me convencer a discutir os aspectos legais. É por isso que estou aqui. — E o que você espera que eu faça? — indagou Jillian. — Achei que uma completa liberação dos direitos parentais iria assegurá-lo de que não quero nada. Você poderia redigir uma petição nesse sentido, certo? — E quanto ao restante da família? Há avós, tias e tios? Você não pretende deixar que o seu bebê conheça os membros da família biológica da parte do pai? Anna mordiscou o lábio inferior. — Nunca considerei isso — ela confessou. — Minha mãe ficou radiante com a notícia. O restante da minha família irá ficar feliz quando lhes contar. Quero que o meu bebê conheça sua família. Apenas não sei como conduzir isso com a família do lado de Tanner. — Sugiro que vocês conversem sobre todas as alternativas disponíveis — sugeriu Jillian. — Ficarei satisfeita em redigir qualquer petição que você desejar, mas primeiro vocês precisam decidir qual será o acordo. Vou lhe entregar um pacote de informações que irá proporcionar uma visão geral das várias opções que descrevi. Espero que isso 30
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possa responder todas as suas questões. Depois que revisar as informações, recomendo fortemente que você discuta a situação com Tanner Forsythe. Quando chegou em casa, Anna se sentia exausta. As coisas estavam ficando cada vez mais complicadas. Depois da visita à advogada, fora ao consultório médico. Ao menos sua saúde estava estável. Abriu a porta do apartamento e se surpreendeu ao sentir o delicioso aroma de molho de espaguete. — Olá? — Ela chamou, virando-se para fechar a porta. — Anna, querida — Anna não podia acreditar em sua visão. Não esperava ver sua mãe. As duas haviam conversado ao telefone durante a semana, e a mãe não dissera nada sobre lhe fazer uma visita. Anna repousou a bolsa no sofá e correu para abraçá-la.
CAPÍTULO CINCO
— NÃO CONSEGUI ficar longe — Ginny Larkin confessou. — Estou tão feliz com a notícia. Seu pai também está. E está enfrentando dificuldades para manter isso em segredo. Tive que contar a ele, mas prometeu que n ão irá contar a sua irmã ou ao seu irmão. — Ginny a estudou por um minuto. — Você não parece estar muito bem. Anna deu risada. — Obrigada, mãe, isso me faz sentir melhor. A verdade é que estou tão cansada que mal consigo enxergar direito. Achei que estivesse pronta para voltar ao trabalho, mas agora quero dormir por uma semana inteira novamente. — Lembro bem dessa sensação. Passei por três gestações. Essa é apenas a sua primeira. Anna não tinha pensado nisso dessa forma. Se pôde engravidar uma vez, poderia engravidar de novo. A mãe a observou de perto. — Você está bem, certo? — Consultei o médico hoje de novo, e ele disse que estou indo bem. Não fico enjoada a todo instante, apenas cansada. — Então, vá vestir roupas mais confortáveis e se deitar um pouco. Eu lhe chamo quando o jantar estiver pronto. Anna não precisou ouvir duas vezes. Rumou para o quarto, desabotoando a blusa no caminho e pronta para se livrar dos trajes sociais. Em seguida, vestiu sua camisola mais quente e um roupão de chenile por cima. Assim que se deitou, Mitzie pulou no colchão e se aninhou ao lado dela. Anna apreciou o calor da gata. Recostando-se con tra os travesseiros, relaxou e fechou os olhos, sentindo o corpo ceder ao cansaço. Algum tempo depois, o som da campainha a despertou. Fitando o relógio sobre o móvel ao lado da cama, notou que havia dormido por quase meia-hora. Anna suspirou, depois calçou as pantufas e rumou para a sala de estar. Segundos depois, ouviu a mãe atender a porta. 31
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— Posso ajudá-lo? — Ginny indagou. Nesse instante, Anna pôde avistar Tanner parado na entrada. Parecia surpreso em ver a mãe dela. — Anna está? — Sim, estou aqui — Anna falou antes que a mãe pudesse responder. —- Mãe, esse é Tanner Forsythe — ela declarou. — É o novo presidente da Drysdale. Meu novo chefe. Entre, Tanner. Em que posso ajudá-lo? Anna dirigiu o olhar para a mãe, perguntando-se se havia percebido alguma coisa. Não queria que a mãe se envolvesse nesse estágio. Tanner entrou no apartamento e ergueu uma sobrancelha ao observar o traje de Anna. — Não pretendia tirá-la da cama — ele disse. — Pensei que estivesse se sentindo melhor. Anna deu de ombros. — Estava apenas descansando antes do jantar. — E, indicando o sofá, ela pediu: — Sente-se. — O jantar ficará pronto em dez minutos, Anna. Gostaria de convidar o sr. Forsythe para se unir a nós? — a mãe quis saber. Não! A última coisa que Anna queria era ver Tanner e sua mãe se tornando amigos. Contudo, antes que pudesse pensar em uma forma de recusar sem levantar suspeitas, Tanner sorriu para Ginny. — Obrigado. — Ele falou enquanto se acomodava no sofá. — Seria um prazer, mas tenho outros planos. Ginny exibiu um sorriso caloroso. — Está bem. Anna esperou até que a mãe retornasse para a cozinha antes de se sentar em uma cadeira próxima ao sofá. — O que você quer? — indagou em um tom baixo de voz, espiando de soslaio para a porta da cozinha. — Precisamos conversar. Tanner estivera no apartamento dela por diversas vezes na época em que namoraram. Anna desviou o olhar do rosto dele, desejando que não estivesse se lembrando daqueles encontros. Daqueles beijos. Daquela noite selvagem e maravilhosa. — Agora não é uma boa hora. Como você pôde ver, minha mãe está em casa. — Uma visita inesperada? — ele quis saber. — Muito. E não tem idéia de quem você seja, exceto, é claro, o presidente da Drysdale. E não quero que saiba. Não até decidirmos como iremos lidar com as coisas. Tanner reclinou-se contra as almofadas e estreitou os olhos para ela. — E por que isso? — Minha mãe é antiquada e irá pensar que o homem que me engravidou deverá se casar comigo para dar o nome ao bebê. Isso certamente iria contrariá-lo, não é mesmo? Por isso não quero que saiba ainda. — O mundo inteiro irá saber, mais cedo ou mais tarde — ele observou. 32
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— Não se não contar a ninguém. Posso dizer que foi uma noite de aventura, o que não deixa de ser verdade. — Não concordo. — Nós fizemos amor apenas uma vez, Tanner, que nome você dá a isso? — O auge de um ótimo relacionamento. — Um relacionamento que você terminou rapidamente depois daquela noite. — Mesmo sabendo os motivos, não poderia negar que ainda estivesse magoada. — Porque descobri que você trabalhava para a Drysdale e sabia que iria tomar o comando daquela empresa — ele declarou. — Ainda assim, aconteceu apenas uma vez — ela repetiu com teimosia. — Sinto muito se a magoei, Anna, essa não era a minha intenção — ele falou suavemente. — Não foi uma noite de aventura. Há uma diferença entre isso e fazer amor apenas uma vez. — Você fala como se fôssemos fazer amor novamente. — A situação que cerca o bebê irá aparecer mais cedo ou mais tarde — ele disse, friccionando o polegar contra o dorso da mão dela. O movimento era hipnotizante. Anna podia sentir seu interior se aquecer. Recolhendo a mão, arrastou a cadeira para trás, tentando estabelecer alguma distância. Como ainda podia ser suscetível a esse homem? — Precisamos decidir o que vamos fazer — falou Tanner. — Você já deve ter decidido, caso contrário, não teria contratado um advogado com tanta pressa. Também visitei uma advogada hoje. E ela me entregou diversos papéis, para que estudasse as diferentes opções. Vou tentar ver se nós podemos planejar algo caso os seus pais queiram um relacionamento com o neto. — E se eu quiser um relacionamento com essa criança? — quis saber. Anna o fitou com espanto. Essa era a última coisa que esperava ouvir. E complicaria ainda mais a situação! — Você não poderá ver o bebê com freqüência quando estivermos morando em Bruxelas — falou lentamente, sentindo o coração se acelerar. E se colocasse barreiras em seu caminho? Será que realmente queria um relacionamento com a criança? — Então talvez seja melhor você não se mudar para Bruxelas. Anna o fulminou com o olhar. — Trabalhei muito para ganhar essa promoção. Você não pode me negar isso. Tanner deu de ombros, e seus olhos cintilaram. — Na verdade, poderia rescindir a promoção. — Não ouse falar dessa forma! Além do mais, acho que você ficaria satisfeito em ter o motivo do seu embaraço a quilômetros de distância. — Que embaraço? — A amante que irá ter um bebê seu. — Então você é o pai da criança?! — Ginny exclamou da porta da cozinha. Anna arregalou os olhos e se virou para encarar a mãe. 33
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— Mãe! Não queria que você soubesse dessa maneira. Ainda estamos resolvendo a situação — ela esclareceu. — Parece-me que a única coisa a ser resolvida é o dia em que ele irá se casar com você — Ginny observou e lançou um olhar fulminante para Tanner. — Casamento não é uma opção — Anna apressou-se em declarar. Tanner franziu as sobrancelhas. — Está falando por mim agora? — ele quis saber. Anna voltou a encará-lo. — Vamos lá, Tanner, você sabe que isso é a última coisa que você deseja. Você já me acusou de estar tentando capturá-lo. Deveria estar celebrando por eu não querer um casamento. — E, dizendo isso, ergueu-se da cadeira. Ginny dirigiu o olhar para Tanner. — O que os seus pais acham disso? Ele pareceu assustado por um momento. — É uma boa pergunta. Ainda não lhes contei a novidade. — É muito cedo para espalhar a notícia — Anna falou com desespero. — O médico não garantiu que eu iria levar a gravidez até o fim. Não quero que as pessoas saibam. E não conseguiria suportar o olhar de piedade se perdesse esse bebê. Tanner se ergueu do sofá. — Acredito que isso seja algo que eu e Anna devemos discutir sozinhos — falou polidamente para Ginny. E, virando-se para encarar Anna, finalizou: — Talvez depois do jantar você se sinta disposta a fazer uma caminhada comigo. Sem chance! — Quem sabe outro dia. Estou cansada e tenho muito para pensar depois da visita que fiz à advogada esta tarde — ela declarou. Ele dirigiu o olhar para o pacote de informações que estava sobre o sofá. — Talvez você tenha muita coisa para revisar, mas nem pense em tomar qualquer decisão sem antes falar comigo. Tenho uma semana agitada pela frente, Vou voltar às dez horas da manhã de sábado. E, então, poderemos conversar. — E, dizendo isso, despediu-se e deixou o apartamento. Anna encarou a porta fechada por minutos, mas precisava encarar a mãe. — Nós não queremos casar, mãe — confessou Anna. — Como você pode dizer isso? Você fez um filho com esse homem — a mãe censurou. — Desde que Jason cancelou o noivado, parei de pensar em me casar. Não quero me apaixonar novamente apenas para perder tudo depois. É mais seguro se manter longe de relacionamentos. Eu e Tanner tivemos dias maravilhosos no verão. Nós parecíamos combinar em tanta coisa, gostávamos dos mesmos tipos de livros e filmes. — Ela deu uma pausa. — Depois, sem avisar, ele parou de me telefonar, parou de retornar minhas ligações. Agora sei que isso aconteceu porque Tanner descobriu que eu trabalhava para a mesma empresa que ele iria assumir. Não queria ter a vida pessoal misturada com os negócios. Anna concordava com essa decisão, mas em seu coração, desejou que não tivesse parado de lhe telefonar. Ou, no mínimo, desejou que Tanner tivesse lhe explicado a situação. 34
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— Isso não está certo — Ginny falou com teimosia. — Vamos jantar. — Anna declarou, claramente mudando o assunto. — Por quanto tempo você pretende ficar? A mãe liderou o caminho até a cozinha para servir a refeição. — Até amanhã. Você sabe que seu pai não gosta de fazer as coisas por conta própria. Com todos os filhos crescidos, não há mais ninguém para fazer as coisas para ele, exceto eu. Então, preciso voltar para casa. — Você é feliz sendo casada com o papai? — Anna indagou assim que se acomodaram à mesa. — Que pergunta! — exclamou Ginny. — Você nunca teve uma carreira, exceto ser mãe dos seus filhos e esposa para o papai. Apenas pergunto... se é o bastante. — Foi uma escolha minha e, para mim, tem sido o bastante. Agora quero passar o tempo com os meus netos. Provavelmente, não seria o suficiente para você, que gosta tanto do seu trabalho. Anna suspirou. — Antes, quando pensava que não poderia engravidar, essa era a minha única opção... E não era uma escolha. Agora, penso em como seria ficar em casa com o meu bebê. Vê-lo crescer, aprender, ficar fascinado com o mundo, mas não sei se conseguiria me manter afastada do trabalho. Acha que estou errada em querer unir a carreira com a maternidade? — Você não está errada, é apenas uma escolha. Isso nos torna pessoas diferentes. Você não é uma "supermulher". Algumas coisas terão que mudar. — Já sei e apenas descobri que estava grávida há uma semana. Estou diminuindo as horas de trabalho. Vou conseguir cuidar de tudo. — Quero que você consiga mais do que apenas "cuidar de tudo". Quero que voc ê prospere. Anna sorriu. — Estou feliz por você ter vindo, mãe. Conte-me mais sobre o que posso esperar conforme a gravidez for progredindo. * * * Ginny deixou o apartamento na manhã do dia seguinte. Anna voltou a trabalhar todos os dias, fazendo o seu melhor e voltando cedo para casa, a fim de descansar. Levou um tempo para revisar todo o material que a advogada havia lhe entregado. Al ém disso, também leu dois dos livros que comprara sobre gravidez e cuidados com um recém-nascido. Anna costumava ir para a cama às 20h e sempre pensava em Tanner antes de dormir. Na manhã de sábado, levantou cedo para se assegurar de que o seu apartamento estivesse impecável antes de Tanner chegar. Não sabia se ele iria querer entrar antes de os dois saírem para outra caminhada. Prontamente às 10h, Tanner tocou a campainha. Alguns segundos depois, Anna abriu a porta. Tanner vestia calças escuras e um suéter. — Está frio lá fora — ele avisou. — Vista roupas quentes. Vamos fazer uma 35
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caminhada rápida. — É mais fácil conversar quando estamos caminhando do que frente a frente? — ela quis saber. — Sim. — Tanner admitiu. — E mais, isso nos coloca em território neutro. Então, os via como adversários. Será que Tanner iria ouvir suas sugestões ou tratá-la com arrogância para conseguir fazer as coisas à sua maneira? Anna vestiu o casaco, um gorro de lã e luvas. Lembrou das caminhadas de antes. Agora não se tratava de mais outro encontro divertido. Tratava-se de uma discussão séria para determinar o futuro da criança que conceberam. — Então, por onde começamos? — Anna perguntou enquanto se dirigiam à baía. — Talvez devêssemos começar com a custódia — falou Tanner. Anna o fitou surpresa. — Você quer dizer que iria contestar a custódia do bebê? — Talvez. Lembre-se, Anna, esse bebê também é meu. Voto em guarda alternada. — E como funcionaria? — ela indagou. — Nós redigimos os papéis, concordamos com os terrenos e, uma vez que o bebê nascer, você ficará com ele por diversos dias da semana, e eu ficarei os outros dias. — Por que você iria considerar uma coisa dessas? — Anna odiou a idéia. Estava lidando com isso como se fosse um acordo de negócios! — Acho que você não considerou a hipótese — falou Tanner. — De modo algum. — Ela não estava certa de que quisesse abrir mão de qualquer controle do seu bebê. Em apenas dois meses, estaria em Bruxelas. Um acordo de guarda iria descarrilar essa opção. — Pensei muito sobre isso. Houve um... — ele hesitou por um longo momento — incidente quando era mais jovem. Droga! Foi mais do que isso. Anna, eu tinha um fi lho. E depois o perdi. Não havia nada que pudesse fazer a respeito. Desta vez, posso e vou fazer alguma coisa. Não quero passar por aquela dor novamente. — Oh, Tanner, sinto muito! Não sabia que você havia tido um filho antes. É tão triste perder um bebê. — Anna cobriu a mão dele com a sua. — Sinto muito mesmo. — Não quero uma situação similar — Tanner falou com a expressão severa, como se estivesse tentando afastar qualquer sentimentalismo. — Estou pensando nos meus pais também. Eles amavam Zach e ficaram tão devastados quanto eu quando ele partiu. — Partiu? — Anna indagou, confusa. Tanner a estudou por um longo momento. Pararam próximo à faixa de pedestres e, quando o sinal mudou, começaram a caminhar novamente, atravessando a rua. — Quando terminei a faculdade, conheci uma garota, Cindy. Nós nos atraíamos imediatamente, e antes que pudesse perceber, ela estava grávida. Nós nos casamos e tivemos um filho... Zachary. — Ele engoliu a saliva. — Quando estava com apenas um ano, Cindy me contou que o filho não era meu. Antes de me conhecer, Cindy havia rompido com o namorado. Não aceitei a história de início, mas o teste de DNA provou que o bebê era dele. Não tive outra escolha a não ser me divorciar e deixar que partissem. Desde então, nunca mais os vi. Anna parou de caminhar e o encarou. Seu coração batia forte devido a história que acabara de lhe contar. 36
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— Sinto muito por Zach e posso entender o motivo de você querer alguma segurança de que irá fazer parte da vida do bebê — ela declarou. — Quero todos os direitos parentais dessa criança. Se tiver que lutar por isso, eu irei — Tanner afirmou, e seus olhos escureceram. — Você não precisa lutar. Pensei que você não quisesse se sentir preso. É claro que você poderá passar o tempo que quiser com seu filho. — Ela mordiscou o lábio inferior. — Enquanto for um neném, entretanto, irá precisar de cuidados maternos. — Quero assistir todas as fases dele. Você sabe como é amar uma criança e depois nunca mais ter notícias? Não sei se aquele homem é um bom pai para Zach. Não sei se Zach é feliz. Anna podia ouvir a dor no tom de voz de Tanner. Por um momento, os desdobramentos da relação deles a fez refletir. Estariam ligados um ao outro para sempre por meio dessa criança. Os dois queriam o bebê e o melhor para ele. Ainda assim, o medo a consumia. Queria ficar [com a criança. Anna não conseguia tolerar a idéia de Tanner lutando pela sua custódia. — Se me mudar para Bruxelas, o bebê irá morar a quilômetros de São Francisco — ela observou. Ele inspirou profundamente. — A transferência para Bruxelas ainda não está certa. Quero estar ao seu lado quando o bebê nascer. Ela o fitou com espanto. — Nós não temos esse tipo de relacionamento. Terminamos nosso caso, certo? Você terminou, e eu fiz alguns planos. — Estou mudando os meus planos para o futuro pelo bem do bebê, e você também terá que fazer o mesmo. — Planejei me mudar em janeiro. Estive esperando for essa oportunidade durante dez anos, Tanner. Você não pode me privar disso. Trabalhei muito para essa promoção. — Não estou privando-a de nada, apenas adiando. Pense por um minuto. Você vai ter o seu primeiro filho aos trinta e oito anos. Vai querer sua mãe por perto. Quero que meus pais conheçam esse bebê, que o amem. Quero estar por perto, me unir ao meu filho. E saber que nunca poderá ser tirado de mim. Morar na Bélgica iria criar um sofrimento para todos. Sem mencionar que você teria dificuldades em fazer tudo sozinha sem a família e os amigos por perto. Se esperar até o bebê completar um ano ou dois... — Um ano ou dois? Pensei que você tivesse dito até o bebê nascer. — Anna estava ficando cada vez mais aborrecida. Parecia que sua tão desejada promoção estava indo pelos ares. — Deixe-me terminar. Uma vez que o bebê tiver idade suficiente para entrar em uma boa creche, será mais fácil para você se mudar. — E quem decide isso? Você? Tanner assentiu com a cabeça. — Talvez. Vou querer direito de visitação durante a vida da criança. Quem sabe até uma guarda conjunta. Não vou desistir desse bebê! — Não estou gostando disso. Todos os benefícios parecem estar do seu lado. E o que acontece comigo? Um atraso na minha promoção, talvez até um cancelamento? Contudo, o que mais a assustava era começar a se acostumar com a idéia. Queria 37
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que a família estivesse perto quando o bebê nascesse. Além disso, o bebê iria justificar mais tempo com Tanner. Porém, Anna tinha seus sonhos. Um futuro para construir e assegurar para o seu filho. E quanto a Europa? — Não sei se essa é a melhor solução — ela falou. Anna se virou e começou a caminhar novamente. Ao passarem por uma cafeteria, Tanner tomou-a gentilmente pelo braço. — Vamos beber alguma coisa. Está mais frio do que imaginava, e suas faces estão rosadas devido ao ar gelado. Vamos conversar até chegarmos a um acordo. Será que realmente queria estar por perto quando o bebê nascesse? Que tipo de pai seria Tanner? Paciente e tolerante? Será que compareceria às peças de teatro e eventos esportivos? Anna acomodou-se a uma mesa enquanto Tanner se ocupava em buscar as bebidas. Ao assisti-lo, lembrou da diversão que tiveram no último verão, e o quanto ficara infeliz quando ele parou de lhe telefonar. Anna desejou que nada tivesse mudado. E, ainda assim, tudo havia mudado. Tanner não estaria ali se ela não estivesse grávida.
Parado em frente ao balcão, Tanner a espiou por sobre um dos ombros. Seus olhos se encontraram antes de Anna desviar rapidamente o olhar. Desejou que pudesse ler a mente dela. Tanner havia dito a verdade sobre querer esse bebê. Após o choque inicial, teve que admitir que estivesse entusiasmado com a idéia de ter outra criança. Perdeu tanta coisa da vida de Zach. Será que a situação seria diferente com essa criança? Poderia passar tempo suficiente com ele ou ela como um pai presente? Realmente poderia fazer parte da vida do bebê? Não, se Anna partisse para Bruxelas, não poderia. Era o primeiro obstáculo a ser superado. Precisava fazê-la mudar de ideia. O que poderia dizer para convencê-la? E nesse meio tempo o que fariam com a Divisão Européia? Poderia pedir a Thomas para adiar sua retirada ou contratar alguém por um curto período de tempo. Simplesmente entregar o cargo a outra pessoa. Anna iria "matálo" se fizesse isso. Entretanto, para mantê-la por perto, Tanner o faria sem hesitar. Se não tivesse aceitado o cargo de presidente na Drysdale Electronic, provavelmente ainda estariam se vendo. Tanner apanhou as bebidas, caminhou até a mesa que havia escolhido e, após servir o café, sentou-se na cadeira do lado oposto ao dela. Anna alcançou a caneca e sorveu um gole do café quente. — Cafeína — ele disse, erguendo a caneca em um brinde. — Obrigada. — Como está se sentindo? — Tanner quis saber. — Sinto-me bem melhor essa semana do que na semana passada. Tanner a estudou enquanto falava. Anna poderia dizer que estava melhor, mas ainda estava pálida. E quanto ao mito de que as mulheres ficavam radiantes na gravidez? Deus, não conseguia acreditar que a havia engravidado, Tanner nunca pensou em se casar novamente depois da traição de Cindy. Nunca esperou ter outra criança. Um bebê era um refém para o futuro. Tantas coisas poderiam dar errado. Como os pais se arriscavam de tempos em tempos novamente? Agora que não havia nada a ser feito, estava conformado com a situação. Conformado e animado. Tanner precisava convencer Anna a ficar. — Então, vamos pensar em um acordo que irá agradar a nós dois, assinar um 38
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contrato e prosseguir com a vida — ele sugeriu. Anna meneou a cabeça. — Não é tão fácil. — Claro que é. Basta cumprirmos. Ela suspirou e sorveu mais um gole do café, percorrendo o olhar ao redor e observando os outros casais conversando e dando risada. Lágrimas de angústia brotaram em seus olhos e, por um momento, Tanner sentiu uma pontada de pânico. Não iria chorar, iria? — Tanner, trabalhei muito para conseguir esse cargo na Europa. Ainda assim, tudo o que conseguia pensar quando minha irmã se alegrava em suas gestações ou quando a esposa do meu irmão estava grávida era no quanto desejava poder ter um bebê. Não sei o que fazer. Quero esse bebê, mas e se eu não puder fazer o meu trabalho por causa dos cuidados com ele? E se não conseguir levar essa gravidez até o fim? — As mulheres têm filhos e trabalham o tempo todo. E o trabalho pode esperar por você, Anna. Nós dois fizemos esse bebê. Deixe-me ajudá-la até que você esteja pronta pura ir a Bruxelas. — Estou pronta agora. — Depois que o bebê nascer. Deixe-me ficar ao seu lado na hora do parto. Tanner sabia que estava sendo um pouco afobado. Confiava em Anna e queria fazer o que fosse preciso para facilitar as coisas. Anna não era Cindy. Tinha que lembrar, a situação era totalmente diferente. Não havia dúvida de que esse bebê era dele. — Não sei. Tanner sentiu um lampejo de triunfo. Parecia que estava começando a ceder. O próximo passo: chegar a um contrato legal. Anna não estava mais erguendo barreiras. — Você está indo muito rápido — ela disse. — Os próximos meses irão voar. Não temos muito tempo a perder — ele observou. Tanner inclinou-se sobre a mesa e afagou-lhe uma mecha do cabelo escuro. — Nós apreciamos a companhia um do outro no último verão. Vamos nos lembrar e reviver alguns daqueles sentimentos enquanto estivermos juntos. Nenhum de n ós quer que isso seja para sempre. Será bom se passarmos um tempo agradável juntos. Nós tivemos algo especial, Anna. Vamos recapturar isso.
CAPITULO SEIS
Tanner ainda estava tentando se adaptar com a ideia de ser pai novamente. Desta vez, com uma diferença, sabia que o bebê era seu. Ninguém iria tirá-lo de perto. Por um momento, a memória da noite que passaram juntos surgiu em sua mente. Tinha sido uma noite incrível. Anna fora carinhosa e selvagem na cama e realmente conseguira 39
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enlouquecê-lo de desejo. Fizeram amor por diversas vezes durante a noite. Tanner detestara ter que ir embora de manhã, o que era estranho. Preferia fugir do desconforto da manhã seguinte. Com Anna, tinha sido diferente. Tanner já havia superado a época em que pulava na cama com qualquer mulher que lhe chamasse a atenção. Concentrarase nos negócios depois que Cindy o abandonara, levando-se rapidamente no mundo empresarial. O último verão tinha sido o mais divertido que tivera em toda a sua vida. Como seria passar mais tempo com Anna? Criar essa criança juntos? Manter uma ligação ao longo dos anos? — Isso é importante para mim, e quero que você pense seriamente sobre o assunto. Vamos dar ao nosso bebê toda a chance que pudermos — ele disse. Anna o estudou por Um instante. Depois de um longo momento, abaixou o olhar e sorveu mais um gole do café. Tanner desejou novamente que pudesse ler a mente dela. A postura indicava resistência. Que irônico. Geralmente, não eram os homens que protestavam? Ao invés disso, estava fazendo tudo o que podia para convencê-la de que essa era a decisão correta. — Ainda acho que isso não é uma boa idéia — Anna falou suavemente. — Se você tem uma idéia melhor, agora é o momento de compartilhá-la. — Nós poderíamos apenas continuar da forma que estávamos — Anna propôs. — Não é uma opção — falou sem rodeios. Se isso não fosse tão irônico, poderia ver certo humor na situação. Tinha se casado com Cindy pensando que estivesse grávida de um filho seu quando não estava. Agora, ele não havia proposto casamento para Anna, que definitivamente estava grávida do seu bebê. Será que deveria? Os dois permaneceram em silêncio. Anna apreciou o café, observando as outras pessoas na cafeteria. Tanner manteve os olhos fixos no rosto dela. Se fosse preciso, iria forçar o assunto. Como se estivesse sentindo a determinação dele, Anna voltou a encarálo. — Então, quando você acha que o bebê estará pronto para se mudar para Bruxelas? — ela quis saber. — Não sei, mas certamente não antes de completar um ano. — Então qual advogado irá redigir um acordo formal? — ela perguntou. Tanner se sentiu eufórico. Ela concordaria. — Se isso a fizer se sentir melhor, peça a sua advogada. Depois pedirei para que o meu advogado revise o documento e, uma vez que estivermos de acordo, poderemos assinar os papéis. Anna não parecia feliz. — Não era dessa forma que imaginava que iria ser a minha primeira gravidez — ela falou com melancolia. Tanner deu de ombros. — Faremos o melhor com as cartas que temos. Ela assentiu com a cabeça. — Se realmente vamos agir assim, então acho que você deveria conhecer minha família. Vou contar a eles sobre o bebê no dia de Ação de Graças. — Você acha que vão querer me conhecer? Não vão ficar muito felizes com a situação, não é? Anna meneou a cabeça e afastou a caneca de café. 40
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— Não exatamente. Acho que irão ficar felizes por mim. Provavelmente, não tão felizes pela forma com que as coisas estão sendo feitas. Contudo, estive por conta própria durante muitos anos. Vou tentar tratar o assunto com a minha advogada. — E, dando um suspiro, ela finalizou: — Quero ir para casa agora. Tanner a fitou diretamente nos olhos. — Está se sentindo bem? — Estou cansada, apenas quero ir para casa.
Enquanto caminhavam de volta para o apartamento de Anna, Tanner sentiu as emoções confusas. Sabia que essa era a coisa certa a se fazer, mas desejou que Anna estivesse mais aberta à idéia. Quando alcançaram o prédio, Anna se virou para encará-lo na entrada. — Podemos fazer com que isso dê certo, não acha? — Podemos fazer qualquer coisa que quisermos — Tanner assegurou. Incapaz de se conter, estendeu a mão e acariciou-lhe uma das faces. A pele dela estava macia e gelada. As bochechas estavam coradas devido ao frio. Os olhos pareciam tristes. Inclinando-se para frente, Tanner a beijou rapidamente. — Vamos fazer com que isso dê certo, Anna. — Ainda assim, a situação está sendo muito diferente do que imaginava. — Diferente talvez, mas isso não significa que esteja ruim. Suba ao apartamento e descanse um pouco.
Na manhã de segunda-feira, Anna telefonou para a advogada e marcou mais uma visita. Era difícil se concentrar no trabalho quando sabia que não iria Se mudar para Bruxelas em alguns meses conforme o planejado. Por um momento, a idéia de perder o cargo desejado a deixou triste. Contudo, será que iria se importar com o adiamento do cargo em Bruxelas quando estivesse com o seu precioso bebê nos braços? Provavelmente, ficaria feliz por ter a mãe por perto, o irmão, a irmã e as famílias para conhecerem o bebê. Porém, era como se estivesse desistindo de uma vida sem saber se teria a chance de uma nova vida. A advogada discutiu os detalhes do acordo e lhe ofereceu sugestões quando Anna não teve uma idéia clara dos limites que queria impor. Legalmente, não tinha recursos para negar a igualdade de acesso à criança. Pensou sobre isso durante o fim de semana, colocando-se na posição dele. Anna não queria ser desprovida de um minuto sequer da convivência com a criança. E Tanner deveria estar se sentindo duas vezes mais cauteloso depois de ter perdido Zachary. Quando discutiram todos os detalhes, Jillian concordou em redigir um acordo. A advogada prometeu que o documento estaria pronto dentro de uma semana para ser enviado ao advogado de Tanner. Anna saiu do escritório de Jillian e voltou para a Drysdale Electronics. Esperava que Tanner concordasse com todos os termos. Tinha sido difícil fazer planos para os feriados e as férias escolares quando o bebê nem mesmo havia nascido. Anna passou por um dos restaurantes que freqüentou junto com Tanner algumas vezes. Estivera consumida por ele na época, entusiasmada cada vez que a convidava para sair. Revivia cada encontro quando se deitava na cama todas as noites antes de dormir. Tinham tanta coisa em comum, apaixonara-se rapidamente, ignorando as próprias regras 41
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de não arriscar o coração. Anna desejou que Tanner nunca tivesse conseguido o cargo na Drysdale Electronic e que não tivesse freqüentado a academia antes de assumir o papel de presidente. Será que desejava que nunca o tivesse conhecido? Nunca, nem por um instante. Se não fosse por Tanner, não estaria esperando um bebê dentro de sete meses.
Tanner ligou a televisão para assistir ao jogo de futebol. Foi uma semana agitada. Conversara com Thomas, em Bruxelas, e o surpreendera quando pedira para que ele considerasse a idéia de permanecer no cargo por mais algum tempo. Thomas iria lhe dar uma resposta na semana seguinte. Sua outra preocupação era contar aos pais sobre o neto esperado. Tanner hesitou em ligar. Não porque não achasse que ficariam felizes. Os pais ficaram devastados quando Cindy revelara a verdade sobre Zach e o levara embora. Desta vez, não haveria o risco de perderem a criança depois que o bebê nascesse. Desde a primeira vez que soubera da notícia, Tanner parou para considerar o aviso que Anna havia dado. Talvez não pudesse levar a gravidez até o fim. Estivera tão envolvido em manter a criança por perto, que esquecera de prestar atenção nas palavras dela. Será que ela corria perigo? Ou apenas o bebê? Tanner podia ver um bebê com cabelo encaracolado e olhos azuis fitando a mãe com amor. Por um momento, sentiu uma pontada de angústia por isso não ser uma família de verdade. Tanner suspeitava que esse acordo não fosse lhes trazer felicidade. Compartilhariam o nascimento do filho e os anos de formatura. Seguiriam caminhos diferentes tendo apenas o filho ou a filha como uma ligação. O pensamento o deixou triste. Nesse instante, a campainha tocou. Ergueu-se do sofá e rumou para a entrada do apartamento. Assim que abriu a porta, Tanner ficou surpreso ao ver Anna. — Espero que não esteja atrapalhando — ela falou, espiando a sala de estar. — Claro que não. Entre — pediu Tanner. Nunca tinha entrado no apartamento dele antes. Como havia descoberto onde ele morava? — Apanhei os papéis com a minha advogada. Ela mandou cópias para o seu advogado, mas achei que você gostaria de ver do que se trata. Tanner fechou a porta e apanhou o casaco que ela mantinha em uma das mãos. Anna percorreu o olhar ao redor do apartamento e caminhou até o sofá, com os olhos fixos na tela da televisão. — Se não for uma boa hora, posso apenas deixar os papéis. — Agora é uma boa hora. — Tanner usou o controle remoto para desligar a televisão. Em seguida, estendeu uma das mãos para receber o envelope e rapidamente retirou os papéis do interior. — Você gostaria de beber alguma coisa? — ele indagou enquanto começava a ler os documentos. — Não, obrigada. Tanner se sentou em um canto do sofá e, rapidamente, examinou a primeira página. Podia entender os termos claramente. Quando terminou de ler os papéis, ergueu os olhos para encará-la. — Satisfeito? — Anna perguntou. — Com a maior parte. — Era um documento justo. Poderia viver com os termos oferecidos. Ao menos inicialmente. Talvez alterassem as condições conforme a criança crescesse, mas essa era uma decisão a ser feita com o tempo. — Vamos ver como as 42
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coisas se sucedem. — Por que está fazendo isso, Tanner? — Ela indagou enquanto se sentava no sofá. — Admito que esteja sendo egoísta, Anna. Vejo isso como uma chance de assistir o meu filho crescer e ser capaz de comparecer a todos os eventos importantes que perdi com Zach. Não quero acordar um dia e descobrir que você partiu com o bebê. — E quanto aos meus planos? Você sabe quanto tempo estive planejando a mudança para a Europa? — A Europa ainda continuará existindo. Um bebê cresce tão rápido que você nem irá perceber. — Se você concorda com os termos que propus, sugiro que, de agora em diante, os advogados cuidem da situação — ela falou. — Você fala como se não fôssemos nos ver novamente. Anna deu de ombros. — Foi você quem decidiu interromper nosso namoro. Agora que estou trabalhando para você, pude entender o seu motivo. Romances dentro de escritórios são difíceis. Tanner jogou os papéis sobre a pequena mesa de centro. — Por outro lado, nós poderíamos nos manter unidos. E teríamos um objetivo em comum: ter um bebê saudável. Talvez deva rever essa decisão. Anna ficou surpresa com a declaração de Tanner. Era a última coisa que esperava ouvir. Mudar sua decisão só por causa do bebê? — Você parece surpresa — ele observou. — Estou. — Por quê? Você vai precisar de alguém para ajudá-la nas compras de móveis e acessórios infantis. Quem melhor do que um pai? Você não quer que a acompanhe nas consultas médicas? E quanto a um companheiro durante o parto? Anna o encarou. Parecia que queria lhe acompanhar em todos os estágios. Isso não se encaixava na imagem que fizera dele como um empresário implacável. — Não há mais ninguém, certo? — ele quis saber. Ela meneou a cabeça. — Sempre me perguntei por que você não se casou — confessou Tanner. — Lembro de você ter me dito que havia sido noiva... — Diferente de você, que nunca me disse nada e que já fora casado. — Ela não gostava de falar sobre Jason. — Aprendi cedo que casamento não era para mim, mas a maioria das mulheres parece querer ser casada. — E outras preferem uma carreira. — A maioria das mulheres que trabalha na Drysdale é casada, não? — Ele indagou secamente. — E cada uma delas tem um carreira. — Já fui noiva... — Anna falou lentamente. — E o que aconteceu? — Nós estávamos fazendo planos sobre onde iríamos morar depois que nos casássemos, e Jason disse algo sobre querer uma casa grande com um amplo jardim para as crianças. Tive que contar que não poderia ter um bebê. Jason ficou imóvel e 43
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depois saiu do meu apartamento. No dia seguinte, pediu para se encontrar comigo e me disse que queria filhos... Filhos dele. Se não pudesse prover, era melhor que nós terminássemos. — Bastardo. — Muitos homens querem ter seus próprios filhos. — Uma mulher não é somente uma "máquina" de fazer bebês — falou Tanner. Ergueu-se do sofá e caminhou até a janela. — Jason continuou com a ideia de se casar e ter muitos filhos? — Não sei o que aconteceu depois que nos separamos. — E, após uma pausa, ela quis saber: — Como você pretende lidar com a questão de vermos um ao outro? Tanner se virou e recostou-se contra a parede. — Como assim? — Tenho consultas marcadas com o médico todas as tardes de terça-feira. Consegui marcá-las para as 17h, então tenho que sair do trabalho mais cedo. Não quero levantar nenhum rumor até ter certeza de que esse pequenino vai ficar bem. Terei que fazer uma ultrassonografia na próxima semana e, depois, farei outra quando a gravidez estiver mais avançada. Isso se a gravidez avançasse, não revelara esse medo a Tanner. Anna tentou manter os pensamentos afastados. Queria tanto esse bebê. E não sabia o que iria fazer se o perdesse. — Vou me programar para lhe acompanhar na próxima semana. E sempre que puder depois disso — ele afirmou. — Você está falando sério em querer estar ao meu lado na hora do parto? — Por que não? Estava junto na concepção. Quero ver o meu filho nascer. Anna quase sorriu ao ouvir a tentativa de humor, mas a magnitude da situação não era divertida. — Você terá que conhecer meus pais. Você conheceu minha mãe, mas não sob as melhores circunstâncias. — E de que forma as circunstâncias melhoraram? — ele quis saber. Anna sorriu. — Não melhoraram, mas você ainda precisa conhecer minha família. Vão querer saber quem é o pai do meu bebê. — Ela o fitou diretamente nos olhos. — O que acha de passar o dia de Ação de Graças com a minha família? Tanner considerou a idéia. Anna o assistiu, lembrando-se do quanto havia apreciado passar o tempo com ele. Tanner ainda tinha o poder de parar o seu cora ção com a sua presença. Os olhos escuros a hipnotizavam. Desejou que ainda tivesse o direito de correr os dedos entre o cabelo dele, sentir os lábios dele contra os seus. Será que nunca mais fariam amor novamente? Anna enrubesceu com o pensamento. — Um simples "sim" ou "não" seria suficiente — ela falou quando percebeu que ainda não tinha respondido. — Um pouco estranho, você não acha? — Seriam hospitaleiros se você os visitasse. É apenas um almoço. Moram em Stockton. É uma viagem de três horas de carro. Meus pais sempre servem o almoço às 44
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13h no dia de Ação de Graças. Então, poderíamos viajar de manhã, almoçar e voltar para São Francisco. — Não. É um dia de família. Eu iria atrapalhar. Haverá tempo suficiente para que possa conhecê-los antes de o bebê nascer. Anna não poderia culpá-lo. Sabia que também iria se recusar se a convidasse para uma reunião de família. Não eram tão próximos. E o pensamento a deixou entristecida. Durante algumas semanas gloriosas, saboreou ser parte de um casal, fazer planos juntos. Agora, tudo havia acabado. — Eles vão dificultar as coisas para você? — Tanner quis saber. — Não vejo como. Se você apenas soubesse o quanto desejei ter um bebê ao longo dos anos... Todos pensavam que isso nunca fosse acontecer. Acho que vão ficar felizes por mim. — Mas levantarão a questão do casamento. — Não. — Você quer que me case com você pelo bem do bebê? — Tanner perguntou. Anna sentiu o coração perder uma batida por um segundo. Espere, o que ele tinha dito? Pelo bem do bebê? Ela meneou a cabeça e se ergueu do sofá. — Não, não quero me casar com você por causa do bebê. — Anna deu uma pausa. — Preciso ir. — Fique mais um pouco — Tanner pediu, afastando-se da janela. — Para onde mais você pretende ir hoje? — Descansar depois do almoço — ela respondeu, avançando em direção à porta. Tanner a acompanhou até a porta e apanhou o casaco que havia deixado no espaldar de uma cadeira. — Obrigado por ter me trazido os papéis. Vou examiná-los cuidadosamente e avisá-la se quiser algo diferente. — Ótimo. Ajudou-a a vestir o casaco e se inclinou para frente até que Anna prendesse a respiração. Será que iria beijá-la novamente? Ele o fez. E não apenas um leve roçar de lábios, mas sim um beijo intenso, do tipo que haviam compartilhado no último verão. Quando ele ergueu a cabeça, Anna estava quase sem fôlego. — Precisa de uma carona para casa? — Não, obrigada. — Ela abriu a porta e quase correu para fora do apartamento. Seu coração estava acelerado. Anna se sentia animada, mais viva do que havia se sentido em semanas. Oh, oh, estava encrencada.
Anna preferiu voltar a pé para casa, tanto pelo exercício quanto para recuperar o controle de suas emoções. Não conseguia acreditar que Tanner quisesse participar da vida do bebê. Ainda assim, como poderia lhe negar um tempo com a criança? Principalmente quando sabia que sofreu a perda do primeiro bebê que acreditara ser seu. Teria que encontrar uma forma de lidar com as emoções que ele evocava. Não haveria mais beijos. 45
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Assim que chegou ao apartamento, Anna preparou o almoço e depois telefonou para a mãe. — Como está se sentindo? — Ginny apressou-se em perguntar. — Bem melhor agora. Quase de volta ao normal, apesar de me sentir cansada o tempo todo. — E o pai do bebê? Anna hesitou, incerta do quanto deveria contar à mãe. — Quer ter um papel ativo na vida da criança. Nós já estamos discutindo sobre os planos de custódia. Pretendo contar a todos sobre a gravidez quando estivermos reunidos. — Será o melhor momento para contar. Poderemos fazer planos se estivermos juntos. Mal posso esperar para segurar esse bebê em meus braços! Assim que terminou a conversa com a mãe, Anna rumou para o quarto, a fim de descansar. Os dias da semana tinham sido agitados. Sentindo-se revigorada ao despertar, Anna seguiu para a sala de estar e começou a rever algumas notas do trabalho. Era quase noite quando o telefone tocou. Ficou surpresa ao ouvir a voz de Tanner. — Você quer jantar comigo? — ele indagou. Anna hesitou por um momento. — É apenas um jantar, Anna. — Está bem — ela finalmente cedeu. — O que acha de eu comprar comida chinesa e levar ao seu apartamento? — Ótimo. Assim que encerrou a ligação, Anna se sentou no sofá por um longo momento, perguntando-se se poderia redescobrir um pouco da amizade que haviam compartilhado no verão passado. Não queria falar apenas sobre o bebê. Anna queria se divertir com Tanner. Será que essa perda tinha sido para sempre?
CAPÍTULO SETE
Tanner desligou o telefone. A recepção de Anna tinha sido menor do que esperava. Parecia distante e indiferente. É claro que a forma impensada com que terminara o relacionamento não o havia ajudado. Ainda assim, pedira-a em casamento. Tanner ainda não sabia se estava aliviado ou desapontado com a recusa dela. O que não fazia sentido. Não iria seguir esse caminho novamente. Uma vez tinha sido suficiente. Contudo, Tanner sabia que estava se arriscando ao querer se envolver com esse bebê. Ainda sentia falta de Zach, mas como poderia não querer essa criança? Amara o pequeno Zach com uma intensidade que o surpreendera. A perda quase havia sido maior do que poderia suportar. Nesse instante, Tanner se ergueu do sofá e apanhou a carteira. Compraria comida chinesa e veria se poderiam recuperar um pouco da amizade. Não queria vê-la apreensiva e arisca ao seu redor. 46
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Tanner ficou surpreso ao ver o quanto Anna estava bela assim que abriu a porta do apartamento. Vestia calças casuais e uma blusa de mangas compridas. O cabelo sedoso e ondulado caía livremente sobre os ombros roliços. Os olhos estavam brilhantes e havia uma leve coloração nas faces delicadas. Por um momento insano, desejou erguê-la nos braços, beijá-la até que se esquecesse do próprio nome e depois levá-la para a cama. Cerrando os dentes para controlar o desejo, ergueu a embalagem do jantar. — Comprei tudo o que você gosta — ele disse, afastando a imagem anterior da sua mente. — Espero que tenha comprado algo que você goste também — ela observou. — Claro. Anna deu um passo para o lado e entrou no apartamento. Minutos depois, ela serviu os pratos na mesa da sala de jantar e os dois começaram a abrir as diversas embalagens. Uma vez que começaram a apreciar a refeição, Tanner declarou: — Precisamos conversar sobre como deveremos apresentar nossa situação ao mundo. — Ele deu uma pausa. — Depois que você contar à sua família e eu contar à minha, não haverá motivos para mantermos isso em segredo. — A questão, Tanner, é que detesto o fato de todos pensarem que esse bebê foi o resultado de uma noite de aventura. Seria preferível se pensassem que, ao menos, nós estávamos atraídos um pelo outro e, como conseqüência, o bebê foi concebido. Isso é melhor do que a verdade. Tanner franziu o cenho e ficou calado por alguns minutos. Estudou por um momento e percebeu que também não gostava da idéia de as pessoas pensarem que haviam feito amor apenas uma vez. Queria mais para Anna. E para si mesmo. Queria fazer parte da vida dela. Não apenas pelo bebê, mas por si mesmo. O pensamento o deixou chocado. Estava pensando em um relacionamento duradouro? — Então o que você sugere? — ele indagou com cuidado. — Não sei exatamente, mas talvez nós possamos fingir que somos mais do que amigos. Não que espere que você se abstenha de namorar quem desejar, mas poderíamos ao menos agir como se estivéssemos mais envolvidos ou algo do tipo. Ele fez uma careta. — Tenho certeza de que poderemos inventar uma história convincente. Aliás, se continuarmos nos vendo, iremos minimizar qualquer intriga. Anna deu uma risadinha ao ver a expressão do rosto dele. — O poderoso solteiro convicto teria que admitir que não sabia que estava caindo na armadilha do bebê? — Não é uma armadilha. Uma criança é algo maravilhoso. Estou determinado a apoiá-la pelo resto da vida. — Sei disso — ela falou suavemente. Assim que terminaram de jantar, Anna recolheu os pratos e os levou para a cozinha. Começou, a lavar a louça quando Tanner apareceu trazendo as embalagens vazias. Amassou as pequenas caixas de papelão e as jogou no lixo. Depois, permaneceu ao lado dela enquanto terminava de lavar os pratos. Tanner se sentia atraído por Anna. 47
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Se não tivesse descoberto que trabalhava para a Drysdale Electronics, provavelmente teriam continuado o namoro. Era uma das mulheres mais agradáveis que já havia conhecido. — Você não precisa esperar ao meu lado. Irei demorar apenas um ou dois minutos — ela avisou. Tanner se moveu ainda para mais perto até que seu braço tocasse o dela. — Quero ficar do seu lado. — Ele confessou e beijou-lhe uma das faces. — Não faça isso — Anna falou com severidade e, virando-se, fulminou-o com o olhar. O rosto dela estava a apenas alguns centímetros de distância. Sem aviso, Tanner se inclinou para frente e capturou-lhe os lábios com os seus. Por um momento, Anna se manteve rígida, mas depois pareceu derreter. Gentilmente, Tanner agarrou-lhe a cintura e puxou-a para mais perto do seu corpo. Era tão doce e calorosa. Tanner sentiu os braços ao redor do seu pescoço. Os lábios femininos se abriram e aprofundaram o beijo. Queria recapturar as sensações que tiveram no passado. Tanner sabia que esse relacionamento não era para sempre. Anna merecia ter uma família onde o marido a amasse e o filho a adorasse. E ele poderia lhe dar isso. Contudo, ainda queria tudo o que Anna poderia lhe oferecer. As mãos estavam molhadas: podia sentir as gotas d'água descendo pelo seu pescoço, mas estava muito envolvido no calor do momento para se importar. Moveu uma das mãos sobre as costas delicadas, pressionando-a para mais perto. Anna soltou um gemido baixo de protesto. Tanner ergueu a cabeça e, abaixando o olhar, fitou-a diretamente nos olhos. — Nós não deveríamos estar fazendo isso — ela falou, ofegante. — Achei que precisássemos praticar para termos certeza de que seremos convincentes depois que contarmos a notícia a todos — ele disse. — Bela tentativa — ela observou. — Mas essa é uma área em que você não necessita de prática. Tanner sorriu e lentamente a liberou. — Estou interessado em sua idéia de mostrar ao mundo que estamos envolvidos sentimentalmente. Se beijos não são permitidos, então o que você sugere? Anna lançou-lhe um olhar desconfiado. — Não disse exatamente que beijos não são permitidos. Apenas disse que você não precisa de prática. E eu não preciso da tentação. Tanner ergueu uma sobrancelha. — Tentação? Anna deu um passo para trás, chocando-se contra a beirada da pia. — A julgar pelo verão passado, você deve saber o quanto o considero atraente. E beijos como esse irão nos levar direto para o quarto. E isso foi o que nos levou a essa situação difícil em primeiro lugar. Tanner tomou-lhe o rosto delicado entre as mãos. — Aquela foi uma noite especial para mim e espero que tenha sido para você também. Para ser honesto, não vou conseguir manter minhas mãos longe de você se nós passarmos muito tempo juntos, mas isso apenas se você quiser. Anna o fitou diretamente nos olhos. 48
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— Quero — ela confessou. Tanner quase soltou um gemido. Queria-a agora. Contudo, sabia que não poderia levá-la para a cama esta noite. Será que poderiam voltar ao nível de confiança que tiveram no verão passado? Confiar um no outro, desejar um ao outro? Tanner esperava que sim. — Vou para casa. Vejo você amanhã no escritório — ele avisou e, puxando-a para mais perto, pressionou os lábios contra os dela. Depois, virou e partiu. Anna ouviu a porta da frente sendo fechada. Não conseguia se mover. Perplexa, sentiu as lágrimas começarem a brotar em seus olhos. Se as coisas tivessem sido diferentes, poderia ter se apaixonado por Tanner Forsythe.
Anna chegou cedo ao trabalho na segunda-feira. Descansara bastante durante o fim de semana, mas ainda se sentia cansada. Permanecer muito tempo acordada durante a noite pensando em Tanner não a havia ajudado. Voltando a atenção ao trabalho, retornou a ligação de um antigo cliente e depois mergulhou nas tarefas a serem feitas. Pouco depois das 9h da manhã, Ellie a avisou que Tanner iria começar uma reunião às 10h. — Vai apresentar alguns homens que contratou. Prontamente às 10h, Anna entrou na ampla sala de reunião. Havia apenas outros quatro diretores, e não o largo grupo que comparecera no dia em que o sr. Taylor se aposentara. Anna os cumprimentou com um aceno de cabeça e acomodou-se na cadeira do lado oposto ao diretor de marketing. Anna se perguntou quais mudanças iriam ser feitas sob o comando de Tanner. Segundos depois, Tanner entrou na sala, e dois homens entraram logo atrás. Acenou com a cabeça para o grupo que já estava acomodado à mesa e esperou até que os recém-chegados se acomodassem. — Contratei dois novos diretores, com a aprovação do Conselho. James Ruston irá agora chefiar a equipe de vendas internas. O objetivo dele é aumentar as vendas em 25 por cento nos próximos seis meses. Por favor, dêem a ele sua total cooperação e assistência para que possa alcançar essa meta. — E, após uma pausa, Tanner prosseguiu: — Analisei as estratégias atuais e irei me reunir com toda a equipe de vendas internas na próxima semana. Quero o empenho de todos, quaisquer idéias, não importa o quanto absurdas possam parecer a princípio. Decidirei quais idéias aplicar ou ignorar — ele disse. — Estou ansioso para me reunir novamente com todos vocês. Espero que possa me ajudar. Tanner esperou um pouco e depois dirigiu-o olhar para o outro homem. — Al Henning irá chefiar o mercado interno. Tem uma grande experiência com eletrônica e sabe como construir o reconhecimento do nome. — Tanner mencionou o nome da empresa em que havia trabalhado anteriormente. Era reconhecida mundialmente. — Agora gostaria que o restante de vocês se apresentasse e informasse a esses homens sobre suas áreas ou especialidades. Uma vez que a reunião terminou, Tanner começou a pedir as atualizações. O relatório de Bill Stewart estava incompleto e chamou-lhe a atenção. — Espero que você tenha toda a informação disponível. Como pode administrar o seu departamento se perder os dados necessários para tomar decisões? — Tanner foi firme em seu desejo por excelência. 49
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Hank Brownson foi o próximo com as atualizações do departamento de contabilidade. Respondeu a cada pergunta que Tanner lhe propôs, mas o estresse estava visível no suor que brotava em sua testa. — Anna, qual é a posição da nova estratégia para a Itália? Tempo destinado aos eventos, custos, dificuldades visíveis? Anna foi pega de surpresa. Fizera uma análise para aquele mercado há algumas semanas, mas nada tinha sido feito. — Nós planejamos começar a ativação em janeiro quando eu estiver no local para fiscalizar o projeto — ela começou. — Por que o atraso? O trabalho principal pode ser feito agora. Você não precisa estar no local uma vez que não está fazendo as tarefas diárias. Para começar, Bruxelas não fica na Itália. Tanner estava certo. — De qualquer forma, Thomas ainda está no comando. Pensei que pudéssemos manter a programação original até que se retire do cargo. — Não podemos esperar até que Thomas se decida quando deverá se aposentar. Ainda poderá permanecer no cargo por seis meses. Quero uma atualização completa na reunião da próxima semana. Tanner a questionou sobre outros dois projetos, dos quais Anna se sentiu feliz por conseguir responder. De qualquer maneira, suas respostas não foram completamente satisfatórias. Não era de admirar que gotas de suor tivessem brotado na testa de Hank. Há anos, Anna não se sentia tão despreparada para uma reunião. A expressão implacável do rosto másculo não dava o menor indício de que a havia beijado calorosamente a apenas duas noites atrás. Quando Tanner se dirigiu ao próximo gerente, Anna soltou um suspiro de alívio. Trabalhar para Tanner Forsythe era totalmente diferente de trabalhar para o sr. Taylor. Os dois homens fizeram suas apresentações, explicando suas experiências e informando ao grupo sobre seus planos imediatos. Anna se sentiu esgotada quando a reunião terminou um pouco depois do meio-dia. Comprou um lanche para o almoço, fez uma rápida caminhada e depois voltou ao escritório para terminar as tarefas do dia. Era quase 18h quando Tanner apareceu em sua sala. — Gostaria de jantar comigo? Desviou a atenção dos gráficos em que estava trabalhando e ergueu os olhos para encará-lo. Por um momento, Anna reviveu o embaraço da reunião da manhã. O homem que estava à sua frente parecia descontraído, diferente do empresário implacável. — O seu horário de expediente já terminou. E uma vez que você precisa se alimentar, poderíamos apreciar uma refeição juntos — ele falou sem rodeios. — Está bem. A maioria dos outros funcionários já havia partido. Houve um ou dois que encontraram no caminho para o elevador. Após se despedirem dos colegas de trabalho, Anna sorriu e dirigiu o olhar para Tanner. — Você não está preocupado que possam fazer intrigas? — Ela indagou enquanto eles esperavam pelo elevador. — Não — ele disse, virtualmente ignorando os outros funcionários. Mais uma vez, Anna se sentiu como se fosse a única pessoa no mundo de Tanner.
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— O consultório do seu médico fica muito longe de onde estamos? — Tanner indagou quando estavam acomodados à mesa do pequeno restaurante próximo ao escritório. — Cerca de dez minutos. Não tenho carro, então costumo apanhar um táxi. — Eu posso levá-la. Podemos sair às 16h30? — Se você for dirigir, poderemos sair mais tarde. Não é tão longe e há estacionamento no local. O que acha de 16h45? — Anna sugeriu, e Tanner concordou com um gesto de cabeça. — Você já contratou todos os funcionários que desejava? — ela quis saber. Tanner desviou os olhos do cardápio e a encarou. — Não. — Ele respondeu e voltou a examinar o menu. Assim que o garçom se aproximou da mesa, Anna ordenou um peixe grelhado. — Você sabia que Thomas estava adiando sua retirada por mais seis meses? — ela indagou. — Sim. — Tanner alcançou uma das mãos dela sobre a mesa. — Mas, não estou aqui para falar de negócios, Anna. No momento, estou tentando saber mais sobre você e a gravidez. — Estou bem. Até agora. — Você mencionou que talvez não consiga levar a gravidez até o fim. Qual é a gravidade real da situação? — O que você acha? Que estou me preocupando por nada? — Não, ainda estou me acostumando com a idéia de ser pai novamente. Quero dizer, ser pai de verdade. — Você foi pai de Zach por um ano. Sempre terá um lugar em seu coração, não terá? — ela indagou gentilmente. Tanner deu de ombros. Anna estava tocada, apesar da tentativa dele em ignorar o assunto. — Estive pensando sobre o que iremos fazer quando ele nascer — falou Tanner. — Ele? — Anna perguntou. — Bem, pode ser ela, eu suponho, mas acredito que será um menino. — Todos os homens querem um menino. — O que mais quero é que a criança seja saudável. — Eu também — ela declarou, e sua voz soou embargada. O medo de não conseguir trazer essa criança ao mundo deixava-a sufocada. Anna recolheu a mão e sorveu um gole d'água, tentando se acalmar. — Então, o que você sugere? — Precisaremos contratar uma babá para assisti-lo. Poderá levá-lo ao meu apartamento ou viver com você no seu apartamento. A babá irá oferecer estabilidade à criança e se assegurar de que tenha um cuidado constante. Anna ainda não tinha pensado sobre isso. Precisaria de alguém para cuidar do bebê uma vez que retornasse ao trabalho. — Não tenho um apartamento grande o suficiente para que a babá possa morar no local. 51
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— Então, se mude. Aliás, por que você não se muda para um apartamento no mesmo prédio em que o meu. Vai facilitar muito para que possamos compartilhar a guarda. — É algo para se pensar. — É a solução perfeita — disse Tanner. Perfeita para ele. Anna não tinha certeza de como iria conseguir lidar com isso. O apartamento iria ter um custo bem maior do que estava acostumada. E, ao mesmo tempo, teria outros custos com a criança. — Posso pedir para Ellie começar a procurar... — Não — Anna o interrompeu. — Primeiro porque ainda é cedo, e segundo, vou cuidar desse aspecto sozinha. Tanner a estudou por um momento e depois assentiu com a cabeça. Nesse instante, o garçom serviu o jantar. Anna mudou deliberadamente o assunto para um filme que havia assistido com sua amiga Marianne há algumas semanas. Tanner não tinha visto o filme, então ela passou o jantar a lhe contar. Anna queria apreciar a noite antes de ir para casa e aproveitar o tempo para assimilar todos os aspectos do dia.
Na tarde de terça-feira, Anna e Tanner saíram do escritório juntos novamente. Assim que entrou no carro de Tanner, Anna tentou relaxar. Contudo, a consulta com o médico apenas lhe trouxe ansiedade e inquietação. A cada semana, queria que lhe assegurasse de que tudo iria ficar bem. Quando entraram na sala de espera, Tanner permaneceu ao lado dela durante todo o tempo. Minutos depois, Anna foi chamada. — Seu marido poderá acompanhá-la — a enfermeira declarou, exibindo um sorriso para Tanner. Anna abriu a boca para corrigir a mulher, mas o toque de Tanner em seu bra ço a distraiu. Assim que entraram na sala de exame, a enfermeira a instruiu a se despir e vestir a camisola que estava pendurada atrás da porta. No momento em que a mulher deixou a sala, Anna dirigiu o olhar para Tanner. Ele a assistiu com divertimento. — Não deixe que a atrapalhe — ele disse. — É melhor você se virar de costas ou sair da sala — ela sugeriu. Tanner permaneceu imóvel por tanto tempo que Anna temeu que ele não fosse se mover, mas depois se virou e observou um dos gráficos na parede que retratava os vários estágios da gravidez. Rapidamente, Anna despiu as roupas e vestiu a camisola. — Pronto — avisou, sentando-se na beirada da mesa de exame. Tanner se virou e acomodou-se em uma cadeira. Segundos depois, o médico bateu à porta e entrou na sala. — Olá, dr. Orsinger. — Anna o cumprimentou com um sorriso. — Como estamos hoje? — ele indagou e ficou surpreso ao ver Tanner. Anna fez as apresentações. O médico começou o exame ao mesmo tempo em que lhe fazia perguntas, principalmente sobre qualquer dor na área do abdome. Quando estava terminando, ajudou-a a se sentar novamente e depois dirigiu o olhar para Tanner. — Estou certo de que Anna lhe disse sobre os fatores de alto risco dessa gravidez. 52
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Tanner assentiu com a cabeça. — Até agora, tudo está indo bem, mas conforme o útero cresce e se expande-se, o constritivo tecido de cicatrização poderá interferir com o desenvolvimento normal. Esse é apenas um aspecto. A idade também é uma preocupação... É raro esperar tanto tempo para engravidar. Ele sorriu para Anna. — Não que você tenha esperado precisamente. Ainda assim, a situação está melhor do que esperava. Diminua gradualmente os medicamentos antináusea e veja se consegue permanecer sem. Ligue para mim ao primeiro sinal de dor abdominal ou qualquer sensação dilacerante. Anna assentiu com a cabeça. Outra semana, pequenino, pensou enquanto levava a mão ao abdome, faltam apenas mais vinte e oito para você vir ao mundo, ou mais. — Há alguma coisa em especial que possa fazer para minimizar o risco? — Tanner quis saber. — Não a esta altura. Se surgirem complicações, iremos lidar com elas ao seu tempo. Vou continuar assistindo-a com cuidado. Sei o quanto Anna deseja ter esse bebê. Sugiro que você fale com a enfermeira e marque um ultrassom para a próxima semana — ele falou antes de se despedir dela. Tanner saiu da sala juntamente com o médico, proporcionando privacidade a Anna para que se vestisse novamente.
Tanner a estava aguardando na área da recepção. Fez diversas perguntas ao médico depois que deixaram a sala de exame. Porém, não gostou de todas as respostas. Havia uma forte possibilidade de Anna não conseguir levar a gravidez até o fim. Um tempo depois, Tanner permaneceu em silêncio enquanto se dirigiam para o carro. Abriu a porta para Anna e a assistiu enquanto se acomodava no banco do passageiro. Anna se inclinou para ajustar o cinto de segurança e Tanner aguardou até que o encarasse. Em seguida, confessou: — Agora entendo melhor sobre sua incerteza... depois de ter conversado com o dr. Orsinger. Você não deve se preocupar. Vamos fazer tudo o que pudermos. Anna estudou as faces dele por alguns segundos e, depois, declarou: — É mais fácil falar do que agir, Tanner. Você não está preocupado? — Você está certa. Infelizmente, não posso dizer que não esteja preocupado — falou com nervosismo, antes de fechar a porta do passageiro e contornar o veículo a fim de se acomodar atrás do volante.
CAPÍTULO OITO 53
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Na manhã do dia de Ação de Graças, Anna entrou no carro que alugara para viajar até a casa dos pais em Stockton sentindo-se uma pilha de nervos. Ela e Tanner n ão tinham se visto muito nos dias que se seguiram depois da visita ao obstetra. Ainda não tinham decidido o que iriam dizer às pessoas. Anna estivera concentrada em sua carga de trabalho e com a visita que iria fazer à casa dos pais. Ainda não havia pensado em fazer planos para depois que o bebê nascesse. Um passo de cada vez. Seu aluguel iria expirar no fim de dezembro. Originalmente, Anna tinha planejado dar o aviso prévio no começo de dezembro e depois começar a fazer as malas para se mudar para Bruxelas. Agora tudo havia mudado. Será que deveria renovar o aluguel por mais um ano ou considerar a mudança para um apartamento no mesmo prédio em que Tanner morava? Isso tornaria as coisas mais convenientes. Se pudesse arcar com as despesas. Algumas horas depois, ao chegar a Stockton, Anna seguiu direto para a casa dos pais. A garagem já estava lotada de carros quando se aproximou. Anna estacionou o veículo, desligou o motor e fitou a casa por um momento. Lentamente, saiu do carro. Esse era o grande dia, pensou, subitamente sentindose aflita. Houve um momento em que pensara que seria apenas ela e o beb ê. Agora a família estava envolvida, e logo mais, os pais de Tanner também estariam. Anna alcançou a porta da frente, mas antes que pudesse abri-la, a porta foi aberta, e a mãe a recebeu com um abraço caloroso. — Estou tão feliz em vê-la. Você chegou mais cedo do que esperávamos. Entre. Assim que entrou na casa, o pai de Anna, Frank, se aproximou para cumprimentála e a abraçou fortemente por um momento, Quando se afastou, Anna ficou surpresa ao ver lágrimas nos olhos dele. — Estou feliz por estar em casa — ela confessou. — E nós estamos felizes em recebê-la. E por sua notícia. Vamos, o restante da família a está aguardando. A família inteira havia se reunido na sala de estar. O irmão de Anna, Sam, e sua esposa, Marylin, estavam acomodados em cadeiras próximas à lareira. A filha de cinco anos de idade, Abby, brincava com os primos Tony e Rebecca. A irmã de Anna, Becky, e o marido, Paul, estavam acomodados no sofá em frente à tevê, a qual estava transmitindo os tradicionais jogos de futebol do dia de Ação de Graças. Becky se moveu para o lado para que Anna também pudesse se sentar em um bom lugar para assistir a tevê. — Olá — a irmã falou, alcançando a mão de Anna e pressionando-a com carinho. — Estou feliz em vê-la. Anna sorriu e a cumprimentou de volta, apressando-se quando os homens disseram que não conseguiam ouvir o comentarista do jogo. — Preciso verificar algumas coisas — Ginny avisou no intervalo do jogo. Anna aproveitou a oportunidade para oferecer ajuda. A mãe aceitou. Becky se uniu a elas na cozinha para que as três pudessem conversar. A cunhada, Marilyn, entrou no ambiente um tempo depois. — Honestamente, já assisti futebol suficiente para o ano inteiro. — ela resmungou. — O que posso fazer aqui para me manter ocupada? Sob a direção de Ginny, começaram a aprontar a refeição, a fim de servir o prato 54
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principal. O peru estivera no forno durante a manhã inteira. Os acompanhamentos foram preparados rapidamente e servidos na mesa. Anna sentou-se. Marilyn e Becky começaram a servir as travessas cheias. Becky contou sobre seus planos de visitar o Havaí no começo do ano seguinte. — Paul está ansioso para viajar e quero ir enquanto ainda posso usar roupas de banho sem parecer uma baleia — Becky falou, dando risada, — Meus pais irão cuidar das crianças, então seremos apenas Paul, eu e o paraíso. Você vai tirar férias antes da primavera? — ela indagou à Anna. Anna meneou a cabeça. Na primavera, sua gestação estaria muito avançada para que pudesse apreciar qualquer passeio que fosse. E no verão, teria o seu precioso bebê. Assim esperava, mas seus nervos começaram a traí-la. Esperava tanto que a família pudesse apoiá-la. No momento em que a sobremesa foi servida, todos se sentiam relaxados. Depois, Becky sorriu e percorreu o olhar ao redor da mesa. — Nesta época do ano que vem, haverá mais um — ela declarou, obviamente se referindo ao bebê que estava carregando. Anna ergueu os olhos e acrescentou involuntariamente. — Na verdade, haverá mais dois. — Ela sentiu um calor subir-lhe às faces, mas o que havia dito? Não era dessa maneira que planejara contar a notícia. Anna olhou ao redor e notou que todos estavam com os olhos fixos em seu rosto. — O que você quer dizer? — Marilyn quis saber. — Você vai se casar? — Becky indagou, alargando o olhar. Anna dirigiu um breve olhar para a mãe. Era agora ou nunca. E inspirou profundamente. — Estou esperando um bebê. Todos que estavam à mesa ficaram chocados. Marilyn virou-se para encarar Sam. — Você não me disse que Anna não podia ter filhos? ela indagou. — Desde que estive envolvida em um acidente de carro, aos 16 anos, todos os prognósticos que os médicos deram eram de que não seria capaz de engravidar, obviamente, não estavam totalmente corretos. Definitivamente, estou grávida. O bebê deverá nascer em junho. O grupo inteiro a parabenizou com grande alegria. Todos se ergueram das cadeiras para abraçá-la e lhe fazer uma dúzia de perguntas, principalmente sobre o pai da criança. Becky exigiu todos os detalhes. Anna deu risada. — Não vou lhe dar todos os detalhes — ela disse. — Mas, desta vez, quando você tiver o seu próximo bebê, o meu não estará muito atrás. — E quem é o pai? — o irmão quis saber. — É um homem que conheci há algum tempo. — E vocês estão pensando em se casar? — Marylin indagou. Anna meneou a cabeça. O motivo de não haver um casamento ainda não tinha sido revelado. Maridos e esposas trocaram olhares, mas ninguém expressou sua curiosidade. Após um momento de pausa, outras questões começaram novamente. Para quando era o bebê? O sexo da criança? Que nome iria dar ao bebê? Becky começou a compartilhar suas experiências, e Marylin se uniu a ela. Anna ficou feliz com o interesse e o apoio da família: em seu coração, sentiu que tudo iria dar certo. 55
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Assim que Anna deixou a casa dos pais no domingo, sentiu-se mais confiante com relação ao futuro. Em certo momento, durante o fim de semana, a mãe tinha lhe perguntado se as coisas haviam mudado com Tanner. Anna apenas respondera que o relacionamento mudara de certa forma. Os pais expressaram interesse em conhecer Tanner. Assim como a irmã e o irmão. Anna os convidou para lhe fazerem uma visita uma semana antes do Natal. Todos poderiam se encontrar para um jantar. Naquela noite, Tanner lhe telefonou. — Como foi o encontro com sua família? — ele quis saber. — Contei a eles na quinta-feira. Ficaram felizes com a notícia do mais novo membro da família. E querem conhecer você. — Contei ontem aos meus pais. Ficaram preocupados e irão voar para cá no próximo fim de semana. Anna recostou-se no sofá, surpresa com a notícia. Pensou que fosse ter mais tempo para se preparar para o encontro com os pais de Tanner. — Então disse que nós vamos nos encontrar no sábado. Está bem para você? — Sim. — Que escolha teria? Quanto mais adiasse o encontro, mais difícil seria. — O que você fez no dia de Ação de Graças? — Anna perguntou a fim de desviar os pensamentos da visita iminente. — Trabalhei a maior parte do tempo. — Há mais coisas na vida do que o trabalho — ela disse. Deveria ter sido triste passar o maior feriado sozinho, trabalhando. — Não é dessa maneira que pretendo passar meus feriados depois que o bebê nascer — ele observou. — Vou buscá-la por volta das 11h da manhã de sábado. Vamos almoçar com a minha família. Não fique intimidada com o meu pai. Anna franziu o cenho. — Ele é intimidador? — É um juiz e pode ser extremamente intimidador. Trabalha muito bem na corte. Apenas lembre-se de que nós somos os responsáveis pelo nosso futuro, e não o meu pai. — Minha família também quer conhecer você. Virão para São Francisco antes do Natal. Uma vez que fizerem os planos, você quer se unir a nós para um almoço? — É claro. Vai dar tudo certo, Anna. Fácil para ele dizer.
No sábado seguinte, Tanner permaneceu próximo à janela do quarto, fitando a baía por um longo tempo antes de se vestir. A manhã prometia ter um clima chuvoso. Supôs que deveria ficar grato por ainda não estar chovendo. Seus pais, Darlene e Edward Forsythe, pegariam o voo em Seatlle por volta das 10h da manhã. O pai não queria que Tanner o encontrasse no aeroporto. Alugaria um carro e dirigiria até o hotel na Union Square, onde se encontrariam, ao meio-dia, no restaurante do hotel. Sua mãe ficara entusiasmada quando Tanner contou a notícia. O pai tinha sido mais cauteloso. Havia 56
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reexaminado as medidas judiciais que Tanner havia tomado para se assegurar de que fizesse parte da vida da criança. O que mais surpreendia Tanner era o quanto estava feliz por essa criança. Não iria perder o contato com esse bebê da mesma forma que havia perdido com Zach. Dessa vez, tinha direitos parentais, mas as dúvidas não tinham sumido completamente. Legalmente, tinha feito acordos para fazer parte da vida do bebê, mas se Anna se mudasse para Bruxelas, apenas poderia visitar o filho algumas vezes por ano. Tanner odiava o pensamento. Será que poderia forçá-la a permanecer em São Francisco? Entregar o cargo a outra pessoa? Seria injusto com Anna depois dos anos leais de serviço que havia proporcionado à Drysdale, mas estava considerando o futuro com o seu filho ou sua filha. E comparado a isso, o trabalho de Anna viria em segundo lugar.
Deitada na cama, Anna suspirou e fitou o teto. Nesse dia, conheceria os pais de Tanner. Tinham ficado tão surpresos com a notícia quanto a família dela. Já passava das 10h da manhã. Anna deveria se levantar. Ao invés disso, sentia-se fraca e sem energia. Então, virou o rosto para o outro lado e fitou a janela. O céu estava cinza, nublado. Observou os altos prédios ao redor. Anna tinha muita coisa a fazer e não poderia dar-se ao luxo de permanecer na cama. De súbito, sentiu uma pontada de dor no estômago e seus olhos se alargaram. Anna segurou a respiração. Seu coração disparou. Os segundos pareciam se arrastar. Conforme a dor diminuiu, começou a relaxar. Anna acariciou gentilmente o próprio ventre. Será que deveria ligar para o médico por causa de uma pontada de dor? Disse que era esperado. Contudo, Anna estivera esperando que nada fosse acontecer. — Agüente firme, pequenino — ela disse. — Você ainda tem um longo caminho a percorrer antes de vir ao mundo. Se nada mais acontecesse, esperaria até terça-feira para falar com o dr. Orsinger. Se houvesse mais uma pontada de dor, telefonaria imediatamente. Anna pensou sobre as informações que Tanner havia lhe dado sobre os pais. O pai era um juiz em Portland. A mãe era membro de diversos conselhos de caridade e fazia um extenso trabalho voluntário, mas não tinha um emprego fora de casa. Tanner era filho único. Anna se perguntou sobre o que iria dizer aos pais de Tanner. Logo mais, iria descobrir. Relutante mente, Anna se levantou da cama e se preparou para enfrentar o dia.
Anna apanhou um táxi para o hotel aonde iria se encontrar com os Forsythe. Desejou que pudesse inventar alguma desculpa para evitar esse encontro, mas em algum momento teria que conhecê-los. Eram avós do bebê, e não poderia negar ao seu filho a chance de conhecer todos os parentes. Tanner permaneceu próximo às largas portas de vidro que levavam ao saguão do hotel. Assim que Anna desceu do táxi, saiu do prédio para encontrá-la. — Seus pais estão no hotel? — ela quis saber. — Estão esperando no restaurante. Você está bem? — Sim — ela afirmou, desejando que não estivesse se sentindo nervosa. Anna reconheceu o pai de Tanner no instante, em que o viu. O filho era parecido com ele. Edward Forsythe tinha cabelo grisalho, mas era elegante e ostentava um ar de autoridade que estava acostumada a ver em Tanner. As apresentações foram feitas, e 57
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Anna e Tanner se uniram a eles na mesa. — Nosso filho nos contou sobre sua gravidez — Edward falou sem rodeios. Em seguida, lançou um olhar severo para Anna e declarou: — Nós pretendemos nos assegurar de que iremos ter total contato com nosso neto. — Edward — a esposa falou gentilmente, repousando a mão em um dos braços dele. Depois, ela sorriu para Anna. — Entendo que esse seja o seu primeiro filho. Anna assentiu com a cabeça. — Sim. — Tanner nos assegurou de que o bebê é dele, mas me sentiria melhor com um teste de DNA — declarou Edward. — Querido, isso não é um tribunal de justiça. Estou certa de que sabem que o bebê é dele. — Da mesma forma que aconteceu com Cindy? O comentário de Edward a silenciou. Darlene dirigiu o olhar para Tanner. — É meu, mamãe. E nós já tomamos providências para assegurá-los de que vocês terão sua parte na vida da criança. Nesse momento, o garçom se aproximou para anotar os pedidos. Anna ficou satisfeita com o intervalo. A julgar pelos olhares inquietantes dos pais de Tanner, poderia dizer que não estavam felizes com a situação. — Soube que você trabalha para Tanner — Edward comentou depois que fizeram os pedidos. — Agora sim, mas não na época em que namoramos. — Vocês continuam se vendo? — Darlene quis saber. — Sim — Tanner respondeu e dirigiu um breve olhar para Anna. Ela permaneceu calada. Se queria que os pais pensassem que ainda havia algum relacionamento, não cabia a ela contradizê-lo em público. — Morando juntos? — Edward perguntou. Anna ficou perplexa ao ouvir a questão. — Não — apressou-se em responder. — Na verdade, estamos discutindo diferentes opções para quando o bebê nascer — falou Tanner. — Vamos avisá-los quando decidirmos. — Para quando é o bebê? — Darlene indagou. — Para o começo de junho — respondeu Anna. A discussão se centralizou na chegada do bebê até que o almoço fosse servido. Depois, Edward perguntou a Tanner sobre o seu novo cargo e o assunto mudou para a Drysdale Electronics. Anna ficou satisfeita o bastante em deixar a conversa fluir ao seu redor. Um tempo depois, assim que todos se despediram, Anna soltou um suspiro de alívio e saiu do restaurante. Tanner a alcançou logo depois. — Vou acompanhá-la até a sua casa — avisou e, após estudá-la por um momento, observou: — Você está se sentindo bem? — Não muito — declarou, caminhando rapidamente. Anna apenas queria chegar em casa. 58
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O porteiro já havia chamado um táxi e ficou satisfeita em entrar no veículo e dar espaço para que Tanner também pudesse entrar. Uma vez que a porta foi fechada e o motorista colocou o carro em movimento, relaxou e reclinou a cabeça no banco. Tanner alcançou-lhe uma das mãos, surpreendendo-a. — Está cansada? — ele indagou, roçando o polegar no dorso da mão delicada. — Sim. O silêncio se estendeu por um momento. Anna ficou chocada ao sentir os olhos se encherem de lágrimas. Virou o rosto para a janela, esperando que Tanner não fosse notar, mas era muito astuto. — O que está havendo? — ele indagou. — Sei que meu pai é autoritário, mas estão tentando se acostumar com a idéia. — A questão não é essa. Eles têm o direito de saber sobre o neto. É apenas um acúmulo de coisas. — Ela confessou, ao mesmo tempo em que levava uma das mãos ao rosto para enxugar as lágrimas. Tanner entregou-lhe um lenço. — Como, por exemplo? Anna lançou um olhar furioso para ele. — Minha vida inteira está mudando. E seus pais não gostaram de mim. Enxugou as lágrimas novamente com o lenço, desejando que pudesse parar de chorar. — Meus pais não comandam a minha vida — falou Tanner. — Meu pai é um homem de difícil convivência. Nós não vamos visitá-los com freqüência. Vivem em Portland. E o trabalho dele é agitado o bastante, então raramente viajam. Meu palpite é que iremos vê-los novamente apenas quando o bebê nascer. Minha mãe irá adorar o bebê. E quanto a gostar de você, como alguém pode dizer algo depois de um encontro de uma hora e meia? — E como lidaram com Cindy? — Sempre foram cordiais. Anna fez uma careta e reclinou-se novamente contra o banco do carro. — Você fez parecer como se tivéssemos algum tipo de relacionamento. Tiveram uma ideia totalmente errada do que está havendo entre nós. — E qual é a verdade? — indagou. — Nós temos muito em comum, nos damos bem e concebemos uma criança. — Isso porque você fez parecer como se estivéssemos apaixonados. — Pensei que Cindy e eu estivéssemos apaixonados até descobrir que havia forçado um casamento, deixando-me acreditar que o bebê fosse meu. Se isso é amor, não quero ter nada parecido. — Não se preocupe, isso não é uma repetição. — O que você quer Anna? — Tanner indagou em um tom baixo de voz. — Não sei. Tranqüilidade, eu acho. Não me sinto bem e toda vez que algo acontece, temo perder o bebê. E depois, ainda há a incerteza sobre o meu trabalho e a mudança para a Europa. Nada mais está bem definido como estivera há um mês ou dois. E agora, me vejo obrigada a ter algum tipo de relacionamento com pessoas que não 59
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conheço e que nem mesmo parecem gostar de mim. Isso está sendo muito mais complicado do que esperava. Normalmente, consigo cuidar de qualquer coisa, mas estou começando a me sentir estupefata. Tanner ficou calado por um momento, seu polegar roçando gentilmente a pele sensível da mão dela. — Concentre-se no bebê e deixe as coisas acontecerem. Anna o fitou diretamente nos olhos. — E quanto aos seus pais? — Tudo vai dar certo no fim. Sua única preocupação agora deveria ser você e o bebê.
Tanner aguardou enquanto Anna entrava no prédio em que morava e depois pediu para que o motorista o deixasse em casa. Encontraria os pais nesta noite, mas tinha a tarde livre para si mesmo. Assim que saiu do carro, Tanner percorreu o olhar ao redor. Havia alguns prédios entre o flat.dele e a baía, mas ainda conseguia ter uma boa visão. As águas estavam agitadas e formando ondas. A tempestade parecia estar se movendo com as nuvens acinzentadas. Enquanto entrava no elevador, Tanner se perguntou o que fazer com relação à Anna. Nunca a vira em prantos. Ao entrar no apartamento, notou a diferença entre o seu lar e o dela. Tanner estivera diversas vezes no apartamento de Anna. A mobília, e todo o esquema de decoração, era completamente diferente. O lar dela era colorido, confortável e aconchegante. O design do seu apartamento com tons preto e branco estava longe de ser aconchegante. Pela primeira vez, notou o quanto o seu apartamento parecia frio e sem vida. Por um momento, Tanner desejou cores mais calorosas, mobílias confortáveis para se sentir como se estivesse em um verdadeiro lar. Será que estava começando a ficar mais flexível? Teve a experiência de um casamento com Cindy. Anna era diferente, mas não queria se casar e constituir uma família. Seus objetivos estavam na Europa. Havia lhe proposto um casamento e ela se recusou. Uma sábia escapatória.
CAPITULO NOVE
Na tarde de domingo, Tanner telefonou para Anna. — Gostaria de apreciar uma refeição italiana? — ele indagou. — Jantar fora? Está chovendo. — Você não vai derreter. Vou buscá-la às 19h. — Tanner encerrou a ligação antes que pudesse se recusar. Ainda tinha que pensar em como lidar com o cargo que iria ficar livre na Europa quando Thomas saísse. Tanner não achava que Anna fosse gostar de sua sugestão. Anna desligou o telefone. Tanner a havia surpreendido novamente. Deveria manter 60
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certa distância ou iria acabar cedendo às ordens dele. Por que queria vê-la novamente? Haviam almoçado com os pais no dia anterior. Não importa, estava feliz em sair. Anna estivera pesquisando sobre móveis para bebê na internet e sua cabeça estava girando. Um pouco de conversa adulta iria lhe fazer bem. Esta noite seria apenas sua. Quando a campainha tocou, Anna apanhou o casaco e sentiu o coração perder uma batida ao abrir a porta. Tanner estava sexy o bastante para que esquecesse o jantar e o convidasse para entrar. O cabelo escuro cintilava com as gotas de chuva. — Está pronta? — ele indagou, percorrendo o olhar por toda a extensão do corpo feminino e provocando uma onda de excitação. — Sim. — O que acha de irmos ao Bambino? — Tanner perguntou enquanto caminhavam juntos. Bambino era um restaurante em North Beach que freqüentavam. — Perfeito. — Tanner tinha estacionado o carro em frente ao edifício. Caminharam apressados pela ampla calçada até entrarem no veículo. Enquanto seguiam para o restaurante, Anna perguntou se os pais dele tinham se acostumado melhor com a idéia do bebê. — Não se preocupe. Minha mãe gosta de você — ele falou. Anna enrugou o nariz. — Não quero falar sobre os nossos pais, o trabalho ou o bebê. Por esta noite, quero fingir que somos as mesmas pessoas que éramos no verão passado e apenas apreciar o momento. — Parece um bom plano. Vamos nos basear em que fase do verão passado? — O que quer dizer? — Nosso primeiro encontro ou o último? Anna ergueu o queixo e lançou um olhar sexy para Tanner. — O que acha de um pouco antes do nosso último encontro? Tanner alcançou-lhe uma das mãos e, levando-a aos lábios, depositou um beijo carinhoso. — Gosto da maneira como você pensa. Durante algumas horas, Anna foi capaz de apreciar a companhia de Tanner. Não queria que a noite terminasse quando o jantar chegasse ao fim. Passar o tempo juntos era algo especial, mas, devido à chuva, fazer uma caminhada seria totalmente impraticável. Assim que o jantar terminou, Tanner pagou a conta e ergueu os olhos para encará-la. — Há um clube próximo daqui com música e dança. Poderíamos nos distrair um pouco. — Parece divertido. — Então ele também não queria que a noite terminasse. Anna sentiu um entusiasmo que não sentia há semanas. A dança se mostrou divertida. Anna foi cuidadosa em não abusar, mas contanto que não gastasse muita energia, ficaria bem. Sentiu-se livre e feliz de uma maneira que não se sentia há muito tempo. Era tarde quando a banda finalmente fez um intervalo. Tanner sugeriu que partissem. 61
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— Tenho uma reunião amanhã de manhã — ele declarou. O dia seguinte era um dia de trabalho, e Anna também tinha tarefas a cumprir. — Me diverti bastante — ela falou conforme iam pelas ruas quase desertas. A chuva havia acalmado. As luzes refletiam sobre as poças, transformando o cenário em um mundo encantado. — Senti a sua falta — Tanner confessou. Novamente alcançou-lhe uma das mãos enquanto dirigia. Minutos depois, estacionou o carro em frente ao edifício onde Anna residia. — Vou acompanhá-la até a porta. Anna abriu uma das largas portas de vidro e entrou no edifício. Tanner a seguiu de perto. O luminoso saguão estava deserto. Escoltou-a até o elevador e pressionou o botão. — Obrigada novamente, realmente apreciei a dança. — Por um tempo, foi capaz de se esquecer da preocupação com a gravidez, a transferência para Bruxelas e como lidariam com o futuro. Tanner afagou-lhe uma mecha do cabelo e, inclinando-se para frente, depositou-lhe um beijo gentil nos lábios. Os lábios pareceram frios apenas por um momento. Depois, o beijo acendeu algo em ambos e logo Anna respondeu ao abraço com entusiasmo. O toque da chegada do elevador os interrompeu. — Boa noite, Anna — disse, recuando um passo. Anna entrou no interior do elevador e pressionou o botão que levava ao seu andar. Seus olhares ficaram presos até que as portas do elevador se fechassem. Suspirando suavemente, recostou-se em uma das paredes, sentindo-se cansada e feliz.
A manhã de segunda-feira começou agitada. Anna tinha uma pilha de cartas aguardando-a. Por volta das 11h, recebeu uma ligação interna. — Anna Larkin? — Sim. — Aqui é Phillip Mclntyre. Se tiver alguns minutos, gostaria de conversar com você. Anna não reconheceu o nome. Seria mais um funcionário que Tanner havia contratado? — Tenho algum tempo agora. Em que posso ajudá-lo? — ela quis saber. — Tanner não lhe contou? Sou seu novo chefe. Anna ficou chocada. Tanner era o seu chefe. O que aconteceu? — Não entendo — ela confessou. — É o meu primeiro dia. Estou tentando encontrar todo o pessoal que irá me apresentar relatórios hoje. Conversei com Thomas antes de sair do escritório. — Tanner Forsythe é meu chefe — ela falou lentamente. — Ele achou melhor ter outra camada gerencial. Fui contratado para gerenciar a Divisão Européia. Estou no antigo escritório do sr. Haselton. Tenho algum tempo agora e gostaria de vê-la. — Está bem. Anna se ergueu da cadeira, sentindo-se furiosa por Tanner não ter lhe dito nada. Como pôde tê-la deixado ir ao trabalho hoje sem lhe dar qualquer aviso? Ele sabia que 62
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isso estava acontecendo. Droga, tinha arranjado essa cilada. Conhecia o antigo escritório de Haselton. Ben tinha sido um dos primeiros funcionários a ser despedidos quando Tanner assumiu o comando da empresa. Quando alcançou a sala, não reconheceu a secretária que a aguardava do lado de fora da porta. — Sou Anna Larkin. — Sim, srta. Larkin, o sr. Mclntyre a está aguardando — a mulher informou. — Entre, por favor. O homem que se ergueu da poltrona quando Anna entrou na sala aparentava uns 40 anos de idade. O cabelo era escasso, mas, fora isso, parecia saudável e disposto. — Anna Larkin, sou Phil Mclntyre. Sente-se. Estive revendo a situação com Thomas em Bruxelas. Fui informado de que você irá tirar licença-maternidade em alguns meses. Você não vai querer ter o seu cargo rebaixado agora, certo? Tanner havia dito a ele? Ninguém na empresa sabia. Anna enfureceu-se. Como ousava falar dos assuntos pessoais dela! — Não. — Anna respondeu calmamente, sentando-se. — Então, o que você pode me dizer sobre a divisão? Examinei os recentes resultados de vendas. Parecem muito promissores. Talvez nós possamos ter um aperfeiçoamento antes do fim do próximo trimestre. Quais problemas você espera? Anna conversou com Phil durante meia-hora, cuidadosa em lhe passar muita informação, incerta exatamente do seu papel no contexto das coisas que iriam se seguir. Até onde sabia, Tanner tinha contratado esse homem para substituí-la. Como ousava?! Anna mal conseguia permanecer sentada devido à raiva que crescia em seu interior. Assim que Phil terminou a entrevista, ergueu-se e saiu da sala, desejando que pudesse bater em alguma coisa! Em seguida, rumou imediatamente para a sala de Tanner. Anna tinha algumas coisas para dizer. Contudo, Ellie a informou que ele não estava no escritório é já havia saído para um almoço de negócios. — Você está bem? — ela indagou a Anna. — Sim, obrigada. Peça para me ligar assim que retornar, por favor. — De que se trata? — Ellie perguntou. — É um assunto pessoal — Anna respondeu, demonstrando preocupação. No horário do almoço, resolveu sair para uma caminhada e, quando voltou ao escritório, Tanner apareceu na entrada da sala. — Ellie me disse que você queria falar comigo. Anna fulminou-o com o olhar. — Com certeza... Sobre Phillip Mclntyre e meu rebaixamento de cargo. Tanner entrou na sala e fechou a porta atrás dele. — Não há rebaixamento algum. Anna se ergueu da cadeira. — Estou tão nervosa que poderia gritar! Como você pôde não me contar sobre o que estava planejando? Um estranho me chamou no escritório e me disse que agora trabalho para ele. Que foi nomeado como o chefe da Divisão Européia. Tanner, aquela promoção me foi prometida! — No momento, isso não seria prático. E não é praticável que você seja subordinada diretamente a mim. Dada a presente situação. 63
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— Você esteve planejando isso. Por que não me contou antes do tempo? — Sabia que você ficaria aborrecida — ele começou. — Estou tão nervosa que não sei o que fazer. — Acalme-se. Isso não será bom para você ou para o bebê. — Acho que isso não é bom para ninguém, exceto para você. — Os negócios e a minha vida pessoal são duas coisas diferentes — falou Tanner. — Não entre nós. Tudo o que temos é um acordo de negócios. Como você pôde deixar de me contar?! — Não tenho que lhe dizer como devo administrar meus negócios. — Ele falou com severidade. Anna não se sentiu intimidada. Encarou-o por um momento e, depois, soltou um longo suspiro. — É claro que não. É minha culpa. Achei que tivéssemos algo mais. — Mais uma vez, havia interpretado mal a situação. — Depois que o bebê nascer, ainda poderei me mudar para Bruxelas? — Vamos discutir isso quando chegar o momento. Não posso prometer que irei segurar um cargo por quase um ano. O mercado é dinâmico. As coisas mudam. — Você prometeu. — Vou fazer o que puder. — Tanner aguardou um pouco, mas ela se recusou a encontrar os olhos dele. Quando se virou e partiu, Anna se sentiu totalmente derrotada. O único ponto brilhante em seu futuro era o nascimento da criança, e mesmo isso não estava garantido. Todos os anos de trabalho, de estudo. Todos os planejamentos não fizeram a menor diferença. Passou o restante do dia como um autômato. Prontamente às 17h, saiu do escritório e apanhou um táxi para levá-la ao seu apartamento. Uma vez em casa, Anna se livrou do casaco e deixou-se cair pesadamente no sofá. Não conseguia acreditar que Tanner tivesse sido tão cruel. Tão diferente do que esperava. O futuro não parecia mais tão claro como antes. Talvez devesse se afastar agora antes que partisse o seu coração ainda mais.
O toque do celular a despertou. Lentamente, Anna percorreu o olhar ao redor. Estava escuro. Lembrou de ter voltado para casa e fechado os olhos apenas por um minuto. Ainda estava no sofá, mas havia retirado os sapatos e coberto as pernas com uma manta de lã. O celular parou de tocar. Anna remexeu na bolsa e, fitando o visor do aparelho, vislumbrou a chamada que tinha sido perdida. Tanner. Não tinha nada para dizer. Anna pressionou um botão no celular para verificar as mensagens. Havia três. Todas de Tanner. As primeiras duas eram moderadas, mas a última deixou-a perplexa com a frase: "Onde diabos você está?" Bem, por que deveria se importar? Anna rumou para o quarto e trocou de roupas. Em seguida, preparou uma refeição leve, mas não conseguiu sentir realmente o gosto dos alimentos. Tudo parecia estar saindo de controle. Tivera o seu futuro planejado e, agora, tudo estava desmoronando. Anna poderia ter um bebê e liderar a Divisão Européia. E se não conseguisse fazer Tanner acreditar nisso? Será que era o momento de procurar outra empresa? 64
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Tanner tentou discar para o número de Anna novamente. Havia telefonado para o celular por diversas vezes, ficando cada vez mais preocupado. Onde estava? Quando ela não atendeu, Tanner jogou o celular sobre a mesa. Sem dúvida estava ignorando-o. Talvez devesse dirigir até o apartamento dela para se assegurar de que estivesse bem. Apanhando um casaco, saiu do apartamento. Por que ela não estaria bem? Se algo estivesse errado, seria a primeira pessoa que ela contataria. Anna sabia que estava t ão preocupado com essa gravidez quanto ela. Tanner chegou ao apartamento de Anna em menos de quinze minutos. A culpa o consumiu completamente. Deveria ter contado sobre o que estivera planejando. Sabia que ela deveria estar furiosa. O que poderia fazer para contornar a situação? Em apenas alguns minutos, Tanner estacou do lado de fora da porta do apartamento de Anna. Em seguida, tocou a campainha. Ouviu sons de passos, mas a porta não foi aberta. Não precisava disso. — Abra a porta, Anna. Sei que você está aí. Apenas quero ter certeza de que você está bem. Um tempo depois, ela abriu a porta. — Estava preocupado com você — ele disse. — Não sei por que — ela devolveu. — Você não é meu guardião. — Telefonei para Peggy... Ela me disse que você saiu do escritório às 17h. Não sabia onde você estava ou o que estava fazendo. — Você telefonou para Peggy? — O que você esperava que fizesse? Eu lhe telefonei por diversas vezes, mas você não atendeu ao telefone. Pensei que talvez você tivesse ido a uma consulta que não soubesse a respeito ou algo do tipo. As secretárias sabem a situação das chefes. Porém, Peggy achou que você tivesse ido direto para casa. Me preocupei quando você não atendeu o celular. E se você tivesse desmaiado ou algo do tipo. — Estou bem. Será que devo manter meu chefe informado 24h por dia? — Pare com isso, Anna. Você sabe que não sou seu chefe. — Não mais. Você contratou Mclntyre sem me avisar. — Eram negócios. — Vamos lá, Tanner, caia na real. Isso é um assunto pessoal. Não quero conversar com você até ser capaz de aceitar sua traição. — Minha... — Ele se interrompeu e deu um profundo respiro. — Não queria que isso parecesse uma traição. Estive pensando em diversas maneiras de colocar uma camada de gerentes entre nós desde que decidimos nos ver regularmente. É mais prudente. — Do ponto de vista dos negócios, entendo perfeitamente. Do ponto de vista pessoal, você deveria ter me contado antes que descobrisse por um estranho. Tanner a fitou diretamente nos olhos. — Desculpe-me. Deveria ter lhe contado. Mas... — Não quero ouvir nenhum argumento. Aceito suas desculpas, mas é melhor que isso não faça nenhuma diferença quanto aos meus planos para a mudança à Europa no próximo verão. 65
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— Não estou fazendo nenhuma promessa. — Você fez antes. Você prometeu que o trabalho iria me esperar. — Espere para ver o que o futuro reserva. Você poderá desejar ficar em casa com o bebê e desistir do trabalho. — Duvido. Trabalhei muito para alcançar a minha posição na empresa. — Estou fazendo o que posso para facilitar as coisas para você. — Ele suspirou. — Você precisa me entender. — Uma mulher em minha condição não precisa de um estresse extra. Então, prometa-me o emprego. Alivie a minha ansiedade. — Se é isso o que você quer, vou fazer o melhor para que consiga — ele disse. Anna franziu as sobrancelhas. — Essa não é a promessa que quero. — No momento, isso é o melhor que posso fazer. — Vá embora, Tanner. — Ela falou indignada e bateu-lhe a porta na cara. Tanner se virou. Droga, um homem tinha o direito de administrar os negócios à sua maneira. Se Anna não pudesse jogar com os adultos, estaria no ramo errado.
CAPÍTULO DEZ
Na tarde de terça-feira, Anna saiu cedo do trabalho para que pudesse comparecer à consulta do médico. Não havia se lembrado de Tanner e não queria que a seguisse. De qualquer forma, ele não a acompanhou na consulta nesse dia. Encontrou-se com uma amiga no jantar e tentou se comportar como se não estivesse carregando consigo o maior segredo do mundo, do qual pretendia compartilhar. Contudo, resolveu esperar um pouco mais. Se perdesse esse bebê, não conseguiria suportar a piedade das pessoas. Quando Anna chegou ao trabalho na manhã de quarta-feira, havia uma pilha de convites em sua mesa e um bilhete com a caligrafia de Tanner: Veja em qual deles devemos comparecer. Em qual evento social deveriam ir? Se achava que iria acompanhá-lo em festas, deveria pensar melhor. Que levasse Phil Mclntyre. Anna selecionou os convites quase que automaticamente, colocando os mais importantes no topo. Quando terminou, reuniu-os e levou-os à sala de Tanner. — Ellie, Tanner colocou esses convites em minha mesa. Selecionei os mais importantes. — Ele quer vê-la. — Ellie declarou e apressou-se em avisar Tanner que Anna estava ali. — Entre — ele falou da porta um tempo depois. Anna estendeu os convites na direção dele. — Já os selecionei. Você está por conta própria. — Entre — ele repetiu, voltando para o interior da sala. Anna o seguiu, aborrecida. 66
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— Tanner, tenho trabalho a fazer. Jogou os envelopes sobre a mesa de trabalho e os papéis se espalharam. — Quero que você vá comigo. Preciso de uma companhia. — Encontre alguém que se importe — ela falou. — Venha comigo. — Por quê? — Anna quis saber. — Nós poderemos passar um bom tempo juntos. — Você não quer misturar negócios e prazer. — Preciso de alguém que saiba os detalhes dos negócios e que também possa conversar sobre as empresas da bacia do Pacífico. Também queremos expandir nessa área. Você é a mais qualificada. Anna sabia que estava certo. Mclntyre não tinha experiência com a empresa. Thomas estava na Europa. Anna era a única disponível. Por que não enxergara isso antes de contratar Mclntyre? — Vamos lá, Anna. Nessa época, acho que não tem problema. — Você não está preocupado com as intrigas? — Querida, dentro de um mês, todos irão saber que fizemos um bebê juntos. Talvez devêssemos começar a dar dicas. Anna sabia que seria estranho uma vez que a notícia se espalhasse. — Poderia sempre ser discreta quanto à identidade do pai do meu bebê — ela disse. — E eu quero gritar isso dos telhados. Anna se sentiu espantada com o entusiasmo. — Está bem. Vou com você. Apenas como uma parceira comercial — ela declarou. — Ótimo. Os eventos começarão em três dias... Coquetéis em Fairmont logo depois do trabalho. Pensar sobre as festas aliviou um pouco a raiva que sentia por não ter lhe contado sobre Phillip Mclntyre. Será que esse teria sido o plano? Enquanto voltava para a sua sala, Anna levou uma das mãos ao ventre. Esse bebê era a coisa mais importante em sua vida. Carreira, relacionamentos pessoais... Tudo parecia sumir em comparação a alegria que teria se pudesse segurá-lo em seus braços.
Já passava das 7h quando Anna despertou na manhã seguinte. Estava atrasada e, sem tomar café da manhã, rapidamente se vestiu para chegar a tempo no trabalho. Ainda sentia uma onda de raiva consumi-la quando pensava sobre a mudança de chefe, mas ficar aborrecida não iria ajudá-la em nada. Tinha outras coisas a fazer. Depois do trabalho, no caminho de volta para casa, parou em frente a uma papelaria e ficou encantada com a variedade de cartões de Natal disponíveis. Até mesmo parou na seção de cartões de nascimento, lendo com atenção as diferentes mensagens para meninos e meninas. Anna sentiu uma leve dor no abdome. Por um momento, congelou. Quando a dor desapareceu, foi capaz de respirar novamente. Talvez devesse ir para casa e se deitar. Após comprar os cartões, apanhou um táxi e, em poucos minutos, estava de volta ao 67
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apartamento. Anna vestiu roupas casuais e preparou uma omelete para o jantar. Depois, endereçou os cartões, escrevendo mensagens curtas na maioria deles. No ano seguinte, poderia incluir o nome do bebê. Isso parecia tão irreal. Sentindo o cansaço dominá-la, Anna rumou para o quarto e se preparou para dormir. Precisava de mais apoio do que o seu médico poderia lhe dar. Não havia garantias. Por favor, não deixe que eu perca esse precioso bebê, ela rezou. Na manhã seguinte, Anna telefonou para o doutor e contou sobre a dor que havia experimentado. Ele pediu outro ultrassom, esperando localizar qualquer problema provável antes que fosse agravado. Anna não contou a Tanner. Decidiu ir sozinha ao consultório e apanhou os resultados: não conclusivo, de acordo com o médico. A cicatriz estava óbvia, mas o bebê parecia estar se desenvolvendo normalmente. Contudo, o médico recomendou que Anna não exagerasse em suas atividades. A semana seguinte pareceu voar. Anna aproveitou cada oportunidade para descansar. Compareceu com Tanner às festas e encontraram amigos em restaurantes. Quando se ofereceu para organizar um evento para a empresa, Tanner vetou a idéia, dizendo quer seria muita coisa para a carga de trabalho dela e a gravidez de alto risco. Anna desejou que sentisse o mesmo quanto ao seu relacionamento com Phillip McIntyre. O homem a estava deixando louca. Anna se perguntou se esse teria sido o plano: frustrála até que desistisse do emprego. Certamente resolveria a questão do cargo em Bruxelas e asseguraria a permanência do bebê na mesma cidade em que o pai. Quando Thomas lhe telefonou de Bruxelas, informando que Phillip havia tomado os créditos pelo slogan de marketing que havia feito, Anna ficou furiosa! Como ousava tomar os créditos pela sua criatividade! Anna decidiu procurá-lo para discutir o assunto. Ele foi atencioso e pareceu dar uma séria consideração à sua queixa, mas depois disse que eram um time e, como chefe, precisaria administrar qualquer coisa. — Não há com o que se preocupar, Tanner sabe do que você é capaz — afirmou Phillip. Anna saiu da sala tão frustrada quanto entrou. Seu estresse estava visível. Anna havia perdido peso ao invés de ganhar. Tinha dificuldades para dormir a noite. Não apenas devido à tensão com Phillip. Ainda se ressentia pelo fato de Tanner não ter lhe contado sobre a mudança e a deixar entrar na situação às escuras. Provava o quão pouco a estimava. Anna estava se apaixonando por um homem que não se importava nem um pouco. Quanto patético era isso? * * * A mãe de Anna telefonou para adiar sua visita à cidade. Queriam conhecer Tanner, mas esperariam até que passasse o tumulto do feriado. O que Anna iria planejar para o Natal? Não estava certa. Se não fosse para casa, esse seria o primeiro Natal que passaria longe da família. Anna sempre apreciara passar esse dia com a família, principalmente quando as sobrinhas e os sobrinhos apareciam. Ainda assim, seria um longo dia, com um tráfego intenso e o risco de um clima severo. Um Natal longe da família não iria machucá-la. No próximo ano, estaria na casa dos pais com o seu bebê. — Seria demais para mim — falou com relutância, dizendo para a mãe que não poderia ir para casa. — Entendo. Como está se sentindo? — Estou cansada, irritada e, às vezes, sofro dores no abdome. Visito o médico regularmente. Fizemos outro ultrassom e tudo parece bem, ou ao menos não se localizou nenhum problema. Há muito tecido de cicatrização, por isso ele não tem certeza de como 68
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as coisas irão se desenvolver. Estou tentando não pensar sobre isso — confessou. — Paciência, Anna. Vai dar tudo certo. Vamos lhe telefonar na manhã de Natal — a mãe avisou antes de encerrar a ligação. Anna ficou satisfeita por estar em casa e não no trabalho quando a mãe lhe telefonou. Lágrimas de angústia começaram a rolar por suas faces. Um Natal longe da família não iria "matá-la". Precisava se concentrar no próximo Natal, quando teria uma garotinha ou um garotinho em seus braços. * * * Anna estava se aprontando para outra festa. Comprou um vestido novo na cor vermelha, para os feriados. Devido ao fato de não estar se alimentando corretamente, ainda usava o mesmo tamanho. Até agora, tinham contado apenas à família dela e a de Tanner sobre a gravidez. Ninguém iria suspeitar da gravidez esta noite ao olhar para ela. Tanner apareceu pouco antes das 20h. Não demoraria que chegassem ao restaurante onde o jantar seria servido. — Estou pronta. Poderia tê-lo encontrado no saguão do edifício — ela falou, apanhando a bolsa e o casaco. — Ótimo, mas não é por isso que decidi subir até o seu apartamento. Precisamos conversar — ele fechou a porta atrás de si e a fitou diretamente nos olhos. — Sobre o quê? — Como você e Phil estão se entendendo? — Muito mal. Ele tomou crédito pelo meu trabalho. Não me escuta na maior parte do tempo e mudou algumas estratégias que eu e Tom havíamos feito há alguns meses. Tanner percorreu os dedos de uma das mãos entre o cabelo e assentiu lentamente com a cabeça. — Thomas me telefonou hoje com a mesma queixa. Pretendia se afastar dentro de algumas semanas, mas agora diz que não irá a lugar algum antes que lhe dê alguma segurança de que você irá tomar o comando. Não pude dizer o motivo de você não poder se mudar para Bruxelas no próximo mês. Ele acha que você mudou de idéia. — Nós podemos contar a ele. Thomas não irá espalhar a notícia — disse Anna. — Deixe-me perguntar uma coisa. Se tivesse sido um departamento diferente, você teria lidado com as coisas de outra maneira? Não posso acreditar que você tenha contratado outros diretores sem discutir com os funcionários que seriam afetados pela decisão. Tanner se moveu para mais perto e estendendo uma das mãos, ergueu-lhe gentilmente o queixo. — Deveria ter lhe contado antes de você ter ido ao trabalho naquele dia. Errei e peço desculpas. Será que podemos esquecer isso? — Ainda quero saber como você teria procedido em outro departamento — ela insistiu. — Da mesma forma. — Você se antecipou. E a pior parte é que nunca disse uma palavra para mim. Como acha que me senti quando descobri que era uma humilde funcionária que não tinha o direito de ser informada previamente sobre uma mudança importante? 69
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Tanner ouviu o que tinha a dizer e acariciou-lhe uma das faces. Contudo, Anna afastou a mão que mantinha em seu rosto. — Não estou brincando, Tanner. Você precisa reavaliar essa questão. — Não quero que você seja subordinada diretamente a mim. — Então dê apoio a Thomas enquanto precisar ficar no cargo. Estamos apenas falando de alguns meses, e depois, estarei pronta para tomar o comando. — Você ainda terá que me apresentar relatórios. — Mas farei isso apenas quando estiver em Bruxelas. As pessoas não vão achar que poderei influenciá-lo indevidamente a quilômetros de distância. Tanner enfiou as mãos nos bolsos da calça. — Se eu reavaliar a situação e ainda achar que Phil é o mais qualificado, o que irá acontecer? — Você terá tomado uma decisão. Agora, se vou permanecer na empresa ou não, só o tempo dirá. Isso o assustou. — Se você vai permanecer ou não? Do que está falando? — Não vou continuar trabalhando para aquele homem. Ele é manipulador e egocêntrico. Quer toda a glória para si. Nós trabalhamos como um time para a Divisão Européia por mais de sete anos. Um estranho sem experiência não pode entrar e administrar o departamento sem dar consideração às nossas opiniões. Ele pode ter sido brilhante na última empresa em que trabalhou, mas irá causar grandes problemas nessa divisão. Os olhos de Tanner ganharam um brilho severo. — Então é você ou ele, é isso? — Sim. — Entendeu por que não queria que você fosse minha subordinada? Isso é exatamente o que desejava evitar... Ultimatos. — Parece-me que todos os seus problemas seriam resolvidos se me demitisse. Anna sentiu o coração perder uma batida. Não havia pensado duas vezes antes de falar. E se concordasse? Onde arranjaria outro emprego estando grávida? Uma onda de pânico a invadiu. Certamente Tanner não seria a sua única esperança. Ele a estudou por um longo momento. — Se concordar em investigar a situação com Phil, você vai cooperar? — Com certeza. Tanner assentiu com um gesto de cabeça, e assim que os dois saíram do apartamento, ele tomou-lhe uma das mãos. — Você perdeu peso. — Estou bem. — O que o seu médico disse? — O mesmo de sempre. A minha gravidez continua sendo de alto risco. O estresse não é bom para mim. Então, acho melhor você consertar a situação com Phil ou ficarei 70
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estressada ao máximo. Um tempo depois, assim que chegaram ao evento, Anna ficou satisfeita em ver os colegas de trabalho. Ninguém pareceu estranhar o fato de estar com Tanner. Por um curto espaço de tempo, poderia fingir que estivessem envolvidos no sentido mais pleno da palavra. Iriam a festas como essa para se divertir e encontrar-se com os velhos amigos. Anna se surpreendeu observando Tanner por diversas vezes. Em cada vez, rapidamente desviava o olhar e esperava que ninguém mais tivesse notado. Talvez fosse melhor fingir que tivessem um caso de amor. Seria mais fácil quando precisassem contar sobre o bebê. Apesar do divertimento das festas e a companhia de Tanner por diversas vezes na semana, Anna ficou feliz quando o Natal chegou e a maioria das festas passaram. Havia apenas mais uma na Véspera de Ano Novo. Depois, a rotina voltaria ao normal. E Anna passou um Natal tranqüilo em seu apartamento. Decorou uma pequena árvore e a colocou próxima à janela. Além disso, preparou um pequeno pernil com os acompanhamentos que a mãe normalmente fazia. Às 15h, Tanner lhe telefonou. — Feliz Natal, Anna — ele disse. Ao ouvir aquela voz, estremeceu. Anna poderia ouvir a voz dele para sempre. — Feliz Natal, Tanner. Estou surpresa em encontrá-lo em casa. Pensei que você fosse passar o Natal com seus pais. — Você está em casa? — Sim. Tenho muita coisa a fazer no tempo livre. — Bem, já que amanhã é um dia de trabalho, também preferi ficar. É uma longa viagem para um dia. E queria conservar minha energia. — E, após uma pausa, ele quis saber: — Como está se sentindo? — Ótima. — Na maior parte do tempo. Ainda sentia pontadas de dor. — Sei que está tarde, mas gostaria de levá-la para jantar. — Preparei um jantar. — Anna rapidamente revelou o cardápio. — Você quer jantar comigo? — Sim. Quando? — Agora seria uma boa hora. O pernil está no forno. Pensei em jantar por volta das 18h. Mais tarde, pretendo assistir a um filme de Natal. — Devo chegar aí em poucos minutos. Tanner levou um lindo bracelete de ouro com o desenho de um carrinho de bebê. As rodinhas em diamante cintilavam sob a luz. Anna ficou encantada quando ele abriu a pequena caixa. Felizmente, Anna havia comprado um livro para lhe presentear. Tanner sorriu enquanto abria a embalagem. — Vamos ter que revezar a leitura — ele disse. Anna rumou para a cozinha, a fim de servir alguns petiscos antes do jantar. Tanner caminhou até a árvore decorada. — Você também decorou uma árvore? — Ela indagou assim que voltou à sala. — Não. Muito trabalho para uma pessoa só. — Normalmente, você vai para a casa dos seus pais no feriado? — Anna 71
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depositou a travessa com queijo e antepasto sobre a mesinha de centro e sentou-se no sofá. Tanner se sentou ao lado dela. — Sim. Fui para casa no ano passado. — Qual é a sua lembrança preferida do Natal? — ela quis saber. Tanner contou sobre o ano em que ganhara a sua primeira bicicleta. Depois, Anna disse sobre suas lembranças e logo estavam relembrando outros feriados. Os dois colocaram a mesa juntos e, quando estavam apreciando a refeição, a conversa continuou fluindo. Sentiria falta desse momento especial com o pai do seu filho. * * * Tanner apreciou o jantar. Tanto a refeição quanto a companhia. Em certo momento, indagou se ela cozinhava com freqüência. — Não muito. Normalmente chego tarde em casa e não me sinto disposta a preparar nada. E quanto a você, gosta de cozinhar? — Às vezes. Café da manhã é a minha especialidade. Se não compro algo no caminho de volta para casa depois do trabalho, costumo fazer uma omelete ou algo do tipo. Não há muito sentido em cozinhar para um. — Minha mãe também, encontra o mesmo problema. Sempre preparou jantares maravilhosos para a família inteira. Mesmo quando éramos adolescentes e com outras atividades, nós tínhamos uma regra em casa: o jantar. Agora, é só ela e meu pai. Mas minha mãe ainda adora cozinhar. Tanner percorreu o olhar ao redor do apartamento. Será que Anna havia herdado da mãe a habilidade em decorar? Tinha gostado. Quando voltou a encará-la, percebeu que também gostava dela. Mais do que imaginava. Anna era diferente de Cindy. Não apenas quanto à personalidade. Tinha planos, objetivos, e a única noite em que passaram juntos havia mudado tudo isso. Ainda assim, nunca a ouvira reclamar sobre isso. Apenas sobre Phil. — Conversei com Mclntyre na sexta-feira. Deve começar a se comportar melhor. Eu o conheço há anos, mas nunca havia trabalhado diretamente com ele. Mclntyre será um trunfo. Anna demonstrou certo ceticismo. — Se não, será história. O empresário cruel. — Tenho pouco tempo para mostrar o que posso fazer. Não posso fracassar. Anna suspirou suavemente. — Me sinto dessa maneira, mas a vida tem uma forma de nos apresentar obstáculos. — Algumas vezes, as coisas acontecem sem esperarmos, mas isso não as torna ruins. — Tanner tinha a sensação de que Anna estava ficando mais distante. Tinha lhe proposto casamento e ela se recusou. Não acreditava que tivesse feito isso. Contudo, conforme relaxava, naquele apartamento, percebeu que poderiam se sentir bem juntos. Tanner apreciava a companhia dela. Estava atraído por ela de uma maneira que nunca estivera por outra mulher. E tinham interesses comerciais em comum. 72
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O par perfeito. Ainda assim, ela havia dito não. Talvez devesse tentar novamente. O pensamento o deixou perplexo. Não estava planejando se casar. Tanner havia feito isso no passado e sofrerá demais. Tinha seus próprios planos e objetivos. Casamento envolvia tempo com uma esposa, compromissos que iriam tomar precedência sobre o trabalho. Porém, ter um filho não iria fazer isso da mesma forma? Haveria peças de escola e reuniões de pais, jogos esportivos e festas de aniversário. Lembrou do primeiro e único aniversário que passara com Zach. Cindy havia insistido em comprar um bolo de chocolate e Zach se lambuzara inteiro: o cabelo, as roupas e cada centímetro do rosto. A lembrança lhe trouxe divertimento e uma pontada de dor. — Por que está sorrindo? — Anna quis saber. Contou sobre o aniversário de Zach e outros dias especiais que passara com o garoto. — Você alguma vez tentou encontrá-lo? Ver se estava bem? — Uma vez. Há oito anos. Não consegui encontrar sequer uma pista deles. Acho que se mudaram para outro estado. É um país grande para tentar encontrar alguém. — Tenho certeza de que está bem — ela falou. — Espero que sim. Cindy era uma boa mãe, apenas não era uma boa esposa. Anna seria uma boa esposa. Se assumisse um compromisso, daria o melhor de si para que o casamento desse certo. Mais uma vez pensou em morar com Anna. Compartilhar as responsabilidades com a criança, assistir o bebê se desenvolver, fase por fase. Depois do jantar, tomaram um café e voltaram a se sentar no sofá. — Você quer assistir ao filme? — Tanner perguntou. — Você quer? — Anna disse o nome do filme é tentou captar-lhe a reação. — É um clássico. Vamos assistir. A menos que queira assistir sozinha. — Não, mas devo avisá-lo de que sempre choro no fim. Tanner ficou intrigado. Parecia estar no controle o tempo todo. Vê-la chorar ao assistir filmes era uma visão diferente. Os dois se sentaram lado a lado no sofá, e Tanner a puxou para mais perto, envolvendo-lhe os, ombros com um dos braços. Sua coxa estava contra a dela. Podia sentir o calor do corpo feminino aquecendo-lhe. Tentando se concentrar na história, e não em Anna, ficou emocionado. Poderiam ter muitas noites assim se fossem casados. Em um dos intervalos comerciais, Tanner a beijou. A julgar pelo susto que levou, soube que a havia pegado desprevenida. O pensamento o aborreceu. Por que pensaria que não estava mais atraído? Haviam se atraído instantaneamente no verão passado. — Isso é bom — ele falou um minuto depois. — Hmm — Anna concordou com um sorriso doce em seus lábios. — Case-se comigo, Anna. — O quê? — Ela se sentou corretamente no sofá e o fitou, surpresa. — Nós iríamos nos completar. Você vai precisar de um lugar maior quando o bebê nascer. Quero fazer parte da vida do bebê, e não apenas visitá-lo nos fins de semana. Nós temos muito em comum. — Tanner, você me pediu isso antes e eu disse não. Qual parte do "não" você não entendeu? Não vou me casar com você porque vamos ter um bebê. — Por que você não quer se casar? Não seria mais fácil ter dois pais por perto 73
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para assistir a criança do que apenas um? — Um dia vou querer me casar. Apenas irei levar um tempo para me acostumar com a idéia. Desde o rompimento do noivado com Jason, achei que não iria me casar. E deveria ser muito especial. Isso o colocava em seu lugar, Tanner não era especial o suficiente para Anna. Tanner se ergueu do sofá. — Preciso ir. Anna também se ergueu e parecia estar preocupada. — Não vá embora apenas porque eu disse não. — Agora você deixou claro duas vezes que não quer um casamento. Sinto muito se não sou especial para você. — E, apanhando o casaco que havia deixado no espaldar de uma cadeira, rumou para a porta. Anna o acompanhou. Depois, tocou-lhe um dos braços, como se quisesse mantê-lo no lugar. — Casamento não é algo que você aceite apenas porque há um bebê envolvido. — Já fui casado, Anna. Sei o que um casamento exige. Anna abriu a boca para dizer alguma coisa, mas depois mordiscou o lábio inferior e meneou a cabeça. — Sinto muito. — Obrigado pelo jantar e pelo livro. — Ele desejou tomá-la em seus braços, beijála até fazê-la mudar de ideia e depois levá-la para a cama, mas isso não iria acontecer. — Obrigada pelo bracelete. — Era sempre polida. Tanner desceu as escadas, tentando acalmar a frustração que sentia. Teria que se conformar com a rejeição dela e ainda manter a amizade. Sem mais beijos.
CAPÍTULO ONZE
— Você lidou com isso muito bem — Anna falou para a porta fechada. Agora, por duas vezes, Tanner a havia pedido em casamento. Dessa vez, quase dissera sim. Estava se apaixonando por um homem irritante. Por que não poderia ter dito alguma coisa sobre os seus sentimentos em relação a ela? Certamente se importava. Ou será que beijava todas as mulheres com essa mesma intensidade? Anna esperava que não. E, provavelmente, não haveria mais beijos. Suspirou, desejando que tivesse lidado com a situação de forma diferente. Ou que ele tivesse. Por que não poderia ter se apaixonado? Era boa o bastante para terem um filho, mas não para casar, exceto pelo bem do bebê! Anna rumou para cozinha a fim de lavar a louça, e quase tropeçou ao sentir uma dor aguda no abdômen. Tentou respirar, mas apertou o corpo inteiro contra a dor. Com as mãos no ventre, seguiu para o quarto e deitou na cama. Anna prendeu a respiração novamente. Aos poucos a dor foi diminuindo de intensidade. Não poderia 74
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perder esse precioso bebê. Será que deveria telefonar para o médico? Contar, nesse estágio, não iria ajudá-la. Nada poderia ajudá-la. Conseguiria levar a gravidez até o fim ou não. Anna queria tanto esse bebê, precisava relaxar, tentar aliviar o desconforto. Pensar em outra coisa. Como sua vida iria mudar quando o bebê nascesse? Não poderia contar com Tanner. Talvez encontrasse alguém para se apaixonar novamente, uma vez que o esquecesse. Contudo, achava que esquecer Tanner fosse algo impossível. Amava-o mais profundamente do que havia amado Jason. E com uma criança para uni-los, iria vê-lo sempre. Não seria bom que mantivesse o emprego. Talvez um cenário diferente pudesse ajudar. Não se Tanner insistisse em fazer parte da vida do bebê. Estariam sempre por perto, sempre vendo o que poderia ter tido se tivesse dito sim. De qualquer forma, sem amor, ela não seria feliz. Se pudesse voltar ao tempo, será que o faria? Não. Apesar de tudo, não mudaria um detalhe. Exceto, talvez, a chegada de Phillip Mclntyre. Assustada, cansada e sozinha, Anna caiu em um sono profundo.
Na tarde de sexta-feira, Anna ficou surpresa ao ver John Gilbraithe entrar na Drysdale Electronics. Era um comprador do Reino Unido com quem ela e Thomas trabalharam durante anos. — Olá, Anna — ele disse. Anna ergueu os olhos e exibiu um largo sorriso. — John! Que surpresa! Como você está? — Ergueu-se da poltrona atrás da mesa de trabalho e o abraçou com carinho. Saíram diversas vezes quando ela estivera em Londres a trabalho há alguns anos e continuaram sendo amigos. — Precisei comparecer a uma conferência em Luiz Angeles e depois pensei em permanecer no país por mais alguns dias e conhecer a sua adorável cidade. Então, cheguei esta manhã. — Estou feliz em vê-lo. Sente-se. Conte-me sobre o que você tem feito ultimamente. Tenho que dizer que seus e-mails não são suficientes. — Como se você me escrevesse freqüentemente — brincou John. — Alguma novidade? — Sentou-se em uma das cadeiras e Anna se sentou ao lado dele. Logo estavam conversando como os velhos amigos que eram. Quando o telefone tocou, Anna pediu para que a secretária atendesse. — Queria saber se você está livre para um almoço ou um jantar — ele declarou. — Um almoço parece ótimo. Jantar também. Qual dos dois? — Ambos? Temos meses de conversa para colocar em dia. Thomas irá se aposentar no fim do ano, certo? Você estará bem mais perto de mim em Bruxelas do que aqui. Anna fez uma careta. — O quê? Isso não vai mais acontecer? — John indagou, astuto como sempre. — É complicado. Contarei no almoço. Vamos sair daqui antes que eu seja chamada por alguém que precise de algo que não possa esperar. Anna apanhou a bolsa e o casaco e estava saindo da sala quando avistou Tanner no corredor. Carregava uma grossa pasta em uma das mãos e estava conversando com Phil Mclntyre. O instinto de Anna entrou em alerta. Ainda não confiava em Phil. Os dois 75
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homens ergueram o rosto conforme Anna e John saíam do escritório. Anna apressou-se em fazer as apresentações. — Estava esperando uma chance de conversar com você enquanto ainda estou aqui — John falou a Tanner quando percebeu quem era. — O que acha de conversarmos durante o almoço? — Anna e eu fizemos planos. Pode ser durante a tarde? Tanner lançou um olhar para Anna e depois voltou a encarar John. — Por volta das 14h? John assentiu com a cabeça. — Deveremos ter terminado a conversa até as 14h. O que não conseguirmos, poderemos discutir no jantar. — E, dirigindo o olhar para Anna, ele indagou: — Está pronta? Anna sorriu e evitou os olhos de Tanner. Sentiu como se estivesse vigiando-os durante todo o percurso até o elevador. — Quem é o homem com o seu novo chefe? — John indagou uma vez que entraram no elevador. — Phil Mclntyre é meu novo chefe — explicou. John tinha muitas questões a fazer, algumas sobre a vida pessoal dela e outras sobre a empresa e como planejava o futuro. — Tanner irá fazer um grande trabalho, acho. Certamente, é dedicado o bastante. Mas não gosto de Phil. — Normalmente, Anna nem sonharia em discutir abertamente com os compradores, mas ela e John eram mais do que isso. E estava precisando de alguém com quem desabafar. Quando John soube da possibilidade de não conseguir a promoção, prontamente lhe ofereceu um cargo na Poindexter Ltda., sua empresa. Anna deu uma risada. — Obrigada pela oferta, mas vamos ver o que acontece na Drysdale. Estive l á por mais de quinze anos. — Secretamente, estava satisfeita pela oferta. Talvez não tivesse nenhuma dificuldade em encontrar outro emprego se não pudesse permanecer onde estava.
Tanner entregou a pasta a Phil e assistiu enquanto Anna e John saíam juntos para almoçar. Homens e mulheres compartilhavam almoços de negócios a todo o momento. Contudo, havia algo mais nesse relacionamento. Por um momento, quase os chamou, dizendo que iria se unir a eles. Consciente do olhar de Phil, mudou de idéia. Primeiro, queria conhecer melhor John. Ver se havia qualquer motivo para suspeitar que Anna tivesse um interesse no outro homem. Tanner voltou para o escritório e pediu para Ellie lhe trazer o máximo de informação que tivesse sobre a Poindexter Ltda. e seu representante, John Gilbraithe. Tanner estava pronto para recebê-lo quando apareceu às 14h. Conversaram sobre coisas em geral por um tempo, depois John perguntou sobre a situação na Divisão Européia e como isso poderia atingir os negócios futuros com a sua empresa. — Anna disse que talvez não vá chefiar o departamento. Nós iremos sentir muito por não tê-la conosco — falou John. Tanner sentiu o estômago se apertar. — O que disse? 76
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— Apenas que talvez não vá conseguir a promoção quando Thomas se afastar. Ofereci um emprego na Poindexter, caso aconteça. Por um momento, Tanner não pôde acreditar no que acabara de ouvir. Estava tentando manter Anna em São Francisco e já estava com uma oferta de emprego em Londres. Uma onda de raiva o invadiu. Não iria deixar que levasse o seu filho para longe. — Na verdade, estou surpreso por Anna ter considerado isso — ele falou. — Nós concordamos em morar próximos por causa do bebê. John parecia perplexo. — Que bebê? — Meu... E de Anna — confessou Tanner. — Nunca me disse uma palavra. Eu não sabia. — Nós não contamos para muitas pessoas. — Parabéns — falou John. — Para quando é o bebê? — Junho. Estamos muito felizes. — Estou surpreso. Sempre pensei que Anna fosse o tipo de mulher que colocasse a carreira em primeiro lugar. — Ela é. Mas as mães podem trabalhar o mesmo que os pais. — Sim. Claro. Bem, isso é uma surpresa. Vamos jantar esta noite, suponho que você irá se unir a nós. — Será um prazer — falou Tanner. — Quanto aos negócios, você pode permanecer confiante na Drysdale Electronics. Vamos aumentar as vendas e melhorar o atendimento ao cliente. Independente de quem irá administrar a Divisão Européia, sua empresa estará em boas mãos. Discutiram mais um tempo sobre os negócios, depois John ergueu-se da cadeira e se despediu. — Vejo você no jantar. Uma vez sozinho na sala, Tanner fitou o vazio por um longo tempo. Por que pensou que Anna faria o que havia sugerido? Desejara se casar com Anna, mas ela não queria um compromisso. Estava determinada a ir para a Europa. E ele estava igualmente determinado a insistir para que ficasse.
Anna rumou para o quarto, a fim de vestir um suéter diferente e se assegurar de que fosse quente o bastante. Felizmente, a chuva havia cessado. Poderia estar frio, mas ao menos não estava úmido. Recomendara um restaurante à beira mar. A refeição era excelente, assim como o atendimento. John aparecera a fim de levá-la para jantar. Avisou que Tanner iria se unir a eles. E por que isso? Anna se perguntou. Enquanto escovava o cabelo, sentiu uma dor súbita e aguda na região do abdome. Anna se contorceu, sentindo-se incapaz de respirar. Colocando-se de joelhos, tentou aliviar a aflição, mas nada parecia ajudá-la. — Oh, não, não, não. Por favor, não deixe que perca esse bebê — Anna rezou baixinho. Deus, isso doía tanto! — Ajude-me! — conseguiu gritar. — Anna? — John apressou-se em cruzar a sala e entrar no quarto. 77
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— Oh, meu Deus, o que há de errado? Reunindo toda a força em seu interior, tentou responder. O medo dificultava cada um de seus movimentos. Mal conseguia respirar. A dor era intensa e implacável. — Preciso de ajuda. Acho que estou perdendo o meu bebê. Oh, não, por favor. — Agüente firme. Para quem posso telefonar e pedir ajuda? — John indagou, estendendo uma das mãos para alcançar o telefone sobre o pequeno móvel ao lado da cama. — Disque para o serviço de emergência — ela falou. Anna ainda nem tinha alcançado o primeiro trimestre, pensou com tristeza e começou a chorar, sentindo-se completamente assustada. Perderia esse bebê depois de ter ficado tão feliz. Anna não tinha acreditado que poderia sofrer um aborto espontâneo, apesar do aviso do médico. — Oh, querida, vai ficar tudo bem — John declarou um tempo depois. — Avise Tanner — ela pediu. John apanhou o telefone novamente e discou para o número de Tanner. — Acalme-se, a ajuda deverá chegar logo. Anna assentiu com a cabeça, lamentando-se tanto pela dor física quanto a dor em seu coração. Deveria ter adivinhado que isso era muito bom para ser verdade. Os próximos minutos foram uma neblina de dor, oração e arrependimentos. Não conseguia se concentrar em nada. Parecia que nada iria impedir a força da natureza. A dor era contínua e aguda.
Tanner quebrou todas as regras de trânsito enquanto dirigia apressado pelas ruas, ultrapassando faróis e entrando na contramão. Não conseguia parar de ouvir o sotaque britânico da voz de John dando-lhe a pior notícia possível. Esperava que pudesse chegar ao edifício de Anna antes da ambulância. Tanner havia temido que isso pudesse acontecer. O médico tinha sido claro quanto ao alto risco da gravidez, mas Anna sempre parecera forte. Ao se aproximar da rua onde ela morava, avistou uma ambulância estacionada em frente ao edifício. Tanner parou carro abruptamente e, após abrir a porta, desceu e correu em direção ao edifício. Felizmente, havia um elevador no saguão. Quando alcançou o andar desejado, notou que a porta do apartamento ainda estava aberta. Em poucos segundos, Tanner entrou no apartamento e rumou para o quarto. Seu coração se apertou ao ver Anna ajoelhada no chão com as mãos no abdome. As lágrimas o deixaram chocado. Tanner nunca se sentira tão assustado em toda a sua vida. — Graças a Deus você está aqui — John exclamou e, em seguida, deu um passo para o lado, permitindo que Tanner se aproximasse. Os paramédicos entraram no apartamento e tentaram colocar Anna sobre a maça portátil, mas ela não estava cooperando. — Não, não, não posso perder esse bebê. — Ei, querida, está tudo bem — Tanner falou enquanto a erguia em seus braços fortes. Repousou-a gentilmente sobre a maça e acariciou-lhe uma das faces. A pele 78
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delicada estava úmida pelas lágrimas. — Agüente firme, está bem? — Tanner? — ela indagou, erguendo os olhos para encará-lo. Nunca tinha visto tamanha desolação. — Sim, estou aqui. Você vai ficar bem. — Ele lançou um olhar para os paramédicos como se estivesse procurando por uma confirmação. — É melhor a levarmos o mais depressa possível para o hospital — falou a mulher. — Tanner, não me deixe perder o nosso bebê. Eu o quero tanto. — Eu também, querida. Vamos levá-la ao médico o mais rápido possível. — Obrigado — ele falou a John. — Fico feliz em ajudar. É uma situação assustadora. — Seja lá o que você tenha feito, foi perfeito. Acho que quebrei todas as regras de trânsito para conseguir chegar aqui. — Inclinou-se para enxugar as lágrimas que desciam pelas faces de Anna. — Agüente firme, Anna. Você vai ficar bem. Pense positivo. Ela soltou um gemido involuntário. — Obrigada por ter vindo. Estou assustada. Tanner desejou que pudesse aliviar a dor que ela sentia. —- Eu também, mas agora estou aqui, querida. — Vamos — o paramédico declarou, erguendo a maca e carregando-a para fora do apartamento. — Quero ir — disse Tanner. — O tempo é indispensável — observou a mulher. — Você terá que nos seguir, o interior da ambulância é muito apertado e nós precisamos de espaço. — Para qual hospital irão levá-la? — Tanner indagou. — Hospital Mercy — o homem falou enquanto eles se apressavam em direção ao elevador. Tanner agradeceu John novamente e apanhou a bolsa de Anna. Alcançou a rua justamente quando a ambulância estava se afastando. Em segundos, Tanner começou a seguir a ambulância até o hospital. Felizmente, havia uma vaga para estacionar próximo à porta da sala de emergência. Ao sair do carro, correu para o saguão da sala de emergência. — Anna Larkin acabou de dar entrada com um possível aborto. — Está na sala de exames número três. Há um médico com ela agora — falou a enfermeira. — Se puder apenas fornecer algumas informações. — Mais tarde. — Tanner se dirigiu à sala três, puxou a cortina e entrou no cubículo. — Sou o pai do bebê. Anna vai ficar bem? Não vai perder o bebê, certo? — Ele indagou, estacando ao lado de Anna e alcançando-lhe uma das mãos. Estava pálida, assustada. Tanner sentiu o coração se apertar. Desejou que pudesse fazer alguma coisa! — Ainda estamos fazendo os exames — o jovem doutor declarou sem nem mesmo dirigir o olhar para Tanner. Por um momento interminável, apenas o som do choro de Anna e dos lamentos ocasionais podiam ser ouvidos. O médico pediu vários testes. Uma enfermeira mediu-lhe 79
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a temperatura: estava alta. Outro exame de sangue foi exigido. — Está grávida de quanto tempo? — O médico indagou a certa altura. — Cerca de três meses. Anna pressionou a mão de Tanner, e ele voltou a encará-la. — Obrigada por ter vindo — ela sussurrou. Ele se inclinou para mais perto. — Nada teria me mantido longe de você. — Agora, deixe-me ver — o doutor pediu, movendo as mãos gentilmente sobre o abdome feminino. Anna deixou escapar um grito. — Hmm, Não acho que você está abortando o bebê, acho que isso seja apendicite — O médico declarou. — Reúna toda a equipe — pediu à enfermeira. — Vamos ver os resultados do último teste, mas já vou prepará-la para a cirurgia. — E quanto ao bebê? — Tanner quis saber. — Se conseguirmos remover o apêndice antes que se rompa, o bebê irá ficar bem — assegurou o doutor.
CAPITULO DOZE
Tanner reclinou-se na desconfortável cadeira e fitou o teto. Anna estivera na sala de cirurgia por mais de duas horas. O dr. Orsinger havia sido notificado e aparecera no hospital. Conversou brevemente com Tanner antes de entrar na sala de operação. Tanner havia se sentado em uma cadeira no fim da sala de espera, assistindo a pequena televisão presa à parede. O tempo parecia se arrastar. Desejou irromper na sala de operação e exigir algumas respostas. Rezou para que o cirurgião soubesse o que estava fazendo. E que Anna ou o bebê não fossem prejudicados. Revendo os últimos meses, não pôde acreditar no impacto que Anna havia causado em sua vida. Queria a segurança dela mais do que qualquer coisa. E queria que tivesse o bebê. Tanner nunca havia conhecido alguém que quisesse tanto uma criança quanto Anna. O hospital era um dos melhores da cidade. Fariam o possível. Por que estava tão preocupado? Tanner não conseguia apagar da sua mente a imagem de Anna em prantos. Faria qualquer coisa para que não se preocupasse com o bebê. Qualquer coisa, exceto aliviar o estresse, uma voz interior o lembrou. Não deveria ter contratado McIntyre sem avisar. E precisava deixar de ser uma barreira para que alcançasse a felicidade. Se Anna quisesse o cargo em Bruxelas, daria a ela. Tanner lhe daria qualquer coisa para afastar o medo de perder o bebê. Queria vê-la sorrindo como no verão anterior. Não queria vê-la frágil. Mas era dessa forma que estava nesse dia. E se Anna perdesse o bebê? Como iria lidar com a situação? Não poderia aliviar sua dor. Tanner sabia o que era isso. Anna precisava dar à luz a esse bebê. Consultou o relógio novamente. Provavelmente, deveria telefonar para os pais dela, mas não fazia sentido preocupá-los quando não havia nada que pudessem fazer. Ainda assim, abriu o flip do celular e telefonou para Ellie. Tanner queria o número da casa dos 80
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pais de Anna para poder telefonar quando tivesse mais notícias. E se algo acontecesse ao bebê? Anna nunca seria capaz de superar. Cerrou as mãos em punho, desejando que pudesse entrar na sala e fazer alguma diferença. Tanner costumava fechar negócios milionários em um piscar de olhos, mas estava totalmente impotente nesta situação. Por favor, Deus, permita que esse bebê viva, significa tanto para Anna! Quarenta e cinco intermináveis minutos depois, o cirurgião apareceu na sala de espera. — Sr. Forsyhte? — o médico indagou. Tanner ergueu-se da cadeira e aproximou-se do médico. — Como está Anna? — ele quis saber. — Está bem. Vai permanecer no pós-operatório por cerca de meia-hora ou mais até recuperar a consciência. Depois, iremos transferi-la para a divisão cirúrgica no terceiro andar. Você poderá vê-la mais tarde. — E o bebê? — Está bem também. As coisas parecem estar melhores do que o esperado. Acho que ela vai ficar bem. Você tem mais alguma pergunta que possa responder? — Quando ela poderá ir para casa? — Em poucos dias, se tudo correr bem. Sugiro que você se alimente um pouco e depois se dirija ao terceiro andar. Você terá a tarde toda para passar com sua esposa. Tanner trocou um aperto de mão com o médico, sem corrigir a impressão que o homem havia tido. Pedira Anna em casamento por duas vezes. Anna se recusara. Contudo, sabia que estava errada. Deveriam ficar juntos. Tanner estivera cego em não perceber isso antes. Cindy o decepcionara no passado, mas não era mais o garoto ingênuo que se casara impulsivamente. E Anna não era como Cindy. Ela uma mulher madura, bem-sucedida, que exigia pouco e concedia muito. Deu-lhe felicidade e alívio em sua agitada vida de empresário. Pela primeira vez, Tanner queria dar a ela algo em troca.
Uma hora depois, Tanner entrou no quarto silencioso onde Anna estava descansando. A enfermeira havia lhe assegurado de que estava se recuperando tão bem quanto o esperado. Anna tinha recuperado a consciência no pós-operatório, mas, uma vez que entrara no quarto, caíra em um sono profundo. Aproximou-se da cama. Os olhos dela ainda estavam inchados pelas lágrimas que tinham sido derramadas. Tanner tomoulhe uma das mãos com carinho. As pálpebras femininas se ergueram lentamente. Ao vislumbrá-lo, os lábios dela se curvaram em um fraco sorriso. — Não perdi o bebê — ela disse. — Eu sei. Como está se sentindo? — Como se estivesse flutuando. O médico me disse que os medicamentos que estou usando não irão prejudicar o bebê. Caso contrário, eu os teria recusado. — Podem fazer maravilhas com a medicina atual. — Incapaz de se conter, Tanner se inclinou para frente e encostou sua testa na dela. — Fiquei tão assustado — ele falou suavemente. — Eu também. Pensei que estivesse sofrendo um aborto espontâneo. Não estou fora de perigo, você sabe — ela falou tristemente. 81
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— Sei, mas disseram que as coisas estão saindo melhor do que o esperado. Vamos enfrentar isso juntos, querida. Não vamos perder nosso bebê. Os olhos dela se encheram de lágrimas. — Gostaria que você pudesse me prometer isso. — Posso prometer que estarei sempre ao seu lado. Quando John me telefonou dizendo que você estava em apuros, me dei conta de que você é cem vezes mais importante para mim do que o bebê, o emprego ou a permanência em São Francisco. Estive apaixonado por você durante semanas. Talvez mesmo antes de pararmos de nos ver. — O quê? — Estive errado o tempo inteiro. Você acha que pode considerar um compromisso de longo período, um que acabe apenas quando um de nós dois morrer daqui a muitos e muitos anos? — ele quis saber. — Oh, Tanner, você não precisa me propor novamente. Já o recusei duas vezes. — Estou esperando que a terceira vez seja especial — ele declarou. — Eu a quero comigo, Anna. Não posso mais suportar ficar longe de você. Eu a amo. Por favor, pense sobre isso. Não seria melhor ter alguém com quem compartilhar os momentos bons e ruins? Você trouxe alegria para a minha vida. Não tire isso de mim. — Você me ama? — Ela parecia surpresa. — É tão difícil acreditar? — Você nunca me deu uma dica! — Você é louca? Apesar das minhas firmes convicções de que pessoas que trabalham juntas não devam namorar, continuei vendo-a. Apresentei você aos meus pais, e foi apenas a segunda mulher com quem fiz isso. Eu a pedi em casamento antes, por duas vezes! Qual dica você não captou? Sei que o que sinto por você não é nada parecido com o que tenha sentido antes por qualquer outra mulher. Amo você, Anna. Por favor, seja minha esposa. Um olhar distante e sonhador surgiu nos olhos dela. Lentamente, Anna começou a sorrir. — Amo você, Tanner. Meu coração ficou em pedaços quando precisei recusar o seu pedido de casamento, mas você nunca tinha dito que me amava. Você disse que era pelo bem do bebê. — Agora o seu coração poderá ficar inteiro, e você poderá ficar comigo. Vou demitir Phil. Você pode ir para Bruxelas se ainda quiser o cargo e também poderei encontrar um emprego na Bélgica. E nós vamos criar nosso filho juntos. Anna deu risada. — Esse não é o Tanner que conheço, mas talvez devesse pedir algumas concessões enquanto você está se sentindo generoso. Tanner se sentou cuidadosamente na beirada do colchão. — Estou aberto a negociações. — Se tiver esse bebê, talvez deva ficar em casa e criá-lo junto dos avós. Poderia ser a esposa perfeita do presidente da empresa, arranjando festas e eventos e cuidando de nossos filhos. — Ah, e nós vamos ter mais do que um? — Tanner indagou, surpreso com a súbita mudança. Anna ainda não havia dito sim. 82
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— Se um milagre pode acontecer, por que não poderá acontecer outro? — Não a vejo como uma feliz dona de casa. Funcionou para nossas mães, mas você tem muito a oferecer à Drysdale Electronics. Bruxelas sempre será uma opção, mas não serei sempre o presidente. — O que quer dizer? — Em poucos anos, planejo algo maior, mais desafiador. Talvez deva tentar uma empresa internacional situada na Europa. Ficaríamos juntos, e você poderia trabalhar na Divisão Européia. — Ou, talvez, até lá, eu não vá querer mais isso, mas agradeço a sua consideração. Agora quero ouvir mais sobre o seu amor por mim — ela falou com um brilho divertido no olhar. — Amei você desde setembro. E acredito que sempre irei amálo. — Isso é bom, querida, porque acho que irei amá-la por toda a eternidade. — Ele se inclinou para frente e beijou-a gentilmente.
Julho Anna estacou na entrada da cozinha, observando o caos na sala de estar. A pequena Emily Rose Forsythe havia sido batizada mais cedo, naquele mesmo dia. Agora as famílias e os amigos estavam celebrando. Sua irmã Becky estivera em casa mais cedo com seu novo bebê e as outras duas crianças. Sam, Marilyn e Abby ainda estavam ali, juntamente com os pais de Anna. Teresa e alguns amigos do trabalho conversavam próximo às janelas. Os amigos de Tanner haviam se reunido próximo ao bar. Anna assentiu com a cabeça, satisfeita em ver como tudo estava indo bem. Depois, voltou a encarar a filha. Seu coração se encheu de alegria. Fora capaz de trazer uma garotinha saudável ao mundo. Anna ainda não conseguia acreditar. Emily estava começando a ficar inquieta, e Anna estava prestes a cruzar a sala, a fim de apanhar a filha, quando Darlene confiscou o bebê. — Minha preciosa neta precisa de um pouco de paz e tranqüilidade — ela disse, rumando para o quarto do bebê. — E precisa do avô para niná-la — Edward Forsythe declarou, seguindo a esposa. Estiveram no apartamento com Anna e Tanner por dois dias, e o relacionamento havia melhorado imensamente, exatamente como Tanner tinha previsto. E não era apenas devido ao nascimento de Emily. Uma vez que os pais perceberam o quanto estava feliz com Anna, a atitude deles tivera uma mudança surpreendente. Nesse instante, Tanner se uniu a ela na cozinha. — Pensei que você fosse tirar Emily de toda a confusão — ele falou, agarrando-lhe a cintura e puxando-a para mais perto. — Realmente pensei em fazer isso, mas seus pais foram mais rápidos. — Disse que meu pai está pensando em se aposentar e se mudar para São Francisco? — Não. Oh, Deus. Quero dizer, nós temos um ótimo relacionamento, mas tê-los morando aqui? — Avisei a ele que estamos pensando em nos mudar para Bruxelas — Tanner murmurou, depositando-lhe um beijo carinhoso em uma das faces. 83
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Anna deu risada ao ouvir o comentário. — Mas, nós não vamos. Você sabe que vou ficar em casa com Emily por alguns meses. Por que dizer isso também? — Para ficarmos sozinhos em nossa cidade sem ter os parentes por perto. Talvez pudéssemos sugerir que mudem para Stockton. Parece uma boa distância. — Você tem sorte por meus pais terem outros netos, ou também estariam pensando em se mudar para cá. — Por outro lado... — Tanner murmurou, beijando-a novamente — pense nas oportunidades. Nós poderíamos deixar as crianças com os meus pais por uma semana e com os seus na outra e ter os fins de semana só para nós dois. — E fazer o quê? — ela indagou, flertando de volta. — Felizmente para você, sra. Forsythe, sou um homem de muitos talentos, que se destaca em planejar atividades. E as atividades que estou pensando envolvem nossa cama e uma porta fechada. Anna deu uma risadinha e o abraçou com carinho. — Amo você, Tanner. A expressão do rosto dele se tornou séria. —Você é minha vida, Anna. Meu amor, nunca poderia ter conhecido a felicidade sem você e o nosso bebê. Obrigado por me dar a criança dos meus sonhos. — Oh, Tanner, estou mais feliz do que nunca. Tenho você, nosso precioso bebê e o casamento dos meus sonhos — declarou antes de ele beijá-la novamente.
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CASADOS AO AMANHECER Shirley Jump Por um instante, Carter teve a impressão de que ela não lhe era estranha. Mas isso acontecia com metade da cidade de Lawford. Como um novo empresário no lugar, ele havia conquistado mais amigos do que imaginava ao participar de eventos sociais e esportivos, como torneios de golfe e tênis, mas esquecia seus nomes com mais rapidez do que trocava de camisa. Ainda assim, havia algo de familiar naquela mulher. Não tão familiar a ponto de Carter achar que já tivesse sido uma de suas namoradas. Ou não? Eleja nem sabia mais o que pensar. Carter havia namorado tantas mulheres que já esquecera a aparência da maioria delas. Carter estava mais para o lobo mau contra quem os pais viviam prevenindo suas filhas do que o príncipe em um cavalo branco. A mulher que ele acabara de encontrar em sua porta possuía um nariz delicado e as bochechas definidas que o faziam se lembrar de uma beleza como a de Grace Kelly. Contudo, diferente da lendária estrela de cinema, os cabelos da moça tinham um tom castanho médio e as linhas do pescoço eram mais suaves. Quanto às pernas... Bem, elas pareciam perfeitas para uma porção de coisas que afloraram em sua imaginação e que, certamente, seriam proibidas de se dizer para uma garota no estado de Indiana. Uau! Carter estava precisando urgentemente de um drinque! De qualquer forma, ela significava o primeiro rosto amigável do dia que ele vira no decorrer. E ali estava ele, perseguindo-a pelo corredor feito um tolo. —Desculpe-me, eu tive um dia difícil. Estou com um gato de pelúcia inútil no meu sofá e, para piorar, meu estoque de bebidas acabou. Permita-me fazer as coisas certas dessa vez. Eu sou Carter Matthews e você... — Daphne Williams. Daphne? Ele pensou e não sentiu despertar na mente nenhuma lembrança. — É um prazer conhecê-la, Daphne. — Ele exibiu o seu melhor sorriso. Aquele que costumava conquistar um grande número de corações... E quebrar alguns também. — O que a trouxe aqui? — Eu tenho um recado para você. — Agora eu estou intrigado. — Carter revelou, e depois de cruzar os braços reclinou o corpo contra o batente da porta. — E qual seria? Ela sorriu e qualquer traço de amabilidade que ele imaginara ter visto no rosto dela desapareceu de repente. — Na verdade, trata-se de um recado de alguém que o odeia. — Tudo bem. Conte-me quem é que me odeia agora. — Ele pediu e sentiu vontade 85
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de acrescentar: Além de todos os meus funcionários e, é claro, eu mesmo? — Eu. — Você? Por quê? — Oh, Deus! Ele exclamou em pensamento. Ela só poderia ser uma ex-namorada. Aquele era um sinal claro de que Carter estava namorando e bebendo demais. Daphne Williams cerrou as mãos em punho e repousou-as sobre os quadris. — Você foi o responsável por eu ter terminado com o meu namorado sem ter uma boa razão! — Você está louca? Eu nem mesmo a conheço! — Não. Mas você conhece a... — Ela retirou um pequeno cartão do bolso da jaqueta e prosseguiu: — ... Cecília. Foi ela quem lhe mandou uma cesta de despedida hoje. Oh, droga! Carter pensou. Só lhe faltava essa para completar o dia! — Uma cesta de despedida? O que é isso? — Carter quis saber. Ele já esperava alguma reação negativa por parte de Cecília. Ela havia demonstrado sua insatisfação quando ele lhe dissera que não poderia prosseguir com os planos iniciais de levá-la para restaurantes caros e passar as noites bebendo nos bares e ouvindo jazz, ou improvisando viagens de lazer, porque precisava dedicar mais tempo à TweedleDee Toys. — De acordo com Cecília — Daphne prosseguiu lendo o recado —, você é um idiota e ela não quer vê-lo nunca mais. Nem que você fosse... — Ela fixou o olhar no rodapé do cartão e pronunciou cada palavra: — O último traste que restasse no planeta.
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