Christina Hollis - Encontro Com O Amor (Jessica 1782)

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Encontro com o Amor

(The Ruthless Italian's Inexperienced Wife)

Christina Hollis

Babá virgem... Dominada pelo chefe! A babá Cheryl Lane foi convocada para trabalhar na Toscana pelo bilionário Marco Rossi. Sua cruel e taciturna reputação era bastante evidente. Marco contratara Cheryl para cuidar de seu sobrinho órfão, mas ele mal percebe como ela é bela e jovem. Cheryl pode até tentar esconder suas voluptuosas curvas por baixo de um desalinhado uniforme, porém, Marco não é bobo... O desejo de despir a puritana babá é tão tentador, que ele jamais poderia resistir a esse instigante desafio...

Digitalização: Simone R. Revisão: Bruna Cardoso


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis

Querida leitora, Em Sonhos de Felicidade, dois homens igualmente sedutores encantaram duas jovens sonhadoras, Megan e Cheryl. Luc e Megan tiveram uma noite incrível, mas depois, ao descobrir que ela estava grávida, Luc decidiu propor-lhe um casamento de conveniência. Já Marco Rossi se encantou pela simples e recatada babá Cheryl Lane, e fará de tudo para tê-la em sua cama. Confira se essas belas mulheres conseguirão enfim concretizar seus sonhos de felicidade! Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V/S.à.r.1. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: HIS PREGNANCY BARGAIN Copyright © 2004 by Kim Lawrence Originalmente publicado em 2004 por Mills & Boon Modem Romance Título original: THE RUTHLESS ITALIAN’S INEXPERIENCED WIFE Copyright © 2008 by Christina Hollis Originalmente publicado em 2008 por Mills & Boon Modem Romance Projeto gráfico de capa: núcleo i designers associados Arte-final de capa: núcleo i designers associados Editoração Eletrônica: ABRELPS SYSTEM Tel.: (55 XX 21) 2220-3654 / 2524-8037 Impressão: RR DONNELLEY Tel.: (55 XX 11)2148-3500 www.rrdonnelley.com.br Distribuição exclusiva para bancas de jornal e revistas de todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907. Grajaú, Rio de Janeiro, RJ — 20563-900. Para solicitar edições antigas, entre em contato com o DISK BANCAS: (55 XX 11) 2195-3186 / 2195-3185 / 2195-3182. Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4º andar. São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380. Correspondência para: Caixa Postal 8516 Rio de Janeiro, RJ — 20220-971. Aos cuidados de Virginia Rivera 2


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis virginia.rivera@harlequinbooks.com.br

CAPÍTULO UM

SERÁ QUE algo está queimando? Cheryl pulou da cadeira e começou a procurar pelo quarto. Em segundos ela descobriu de onde vinha o cheiro. A luminária ao lado da cama de Vettor estava coberta por uma fina camada de pó. Ela passou sobre ela uma toalha de papel seca, até se certificar de que tinha voltado ao normal. Ali estava ela, sozinha em outro país; não, era pior que isso: isolada em um antigo vilarejo horripilante, com apenas um bebê doente como companhia. Apoiando-se na cama, ela passou água fresca pelo rostinho quente dele. O pobrezinho precisava ficar calmo. Ela não queria preocupá-lo com seus próprios medos. Seus dedos se apertaram em uma flanela quando ela se lembrou de como se sentira desamparada quando a RTN Rádio Toscana advertiu sobre uma tempestade a caminho de Florença. Os empregados do turno da manhã já tinham ido para suas casas. O único funcionário com moradia permanente na Villa Monteolio era o zelador. Cheryl se sentiu segura sabendo que ele e sua mulher estavam tão perto. Mas, então, veio à tempestade e, quando a mulher dele foi atingida por uma telha que caiu do telhado, o vigia correu para levá-la ao hospital. Agora Cheryl estava totalmente sozinha. Outra vez verificou rapidamente a enfermaria. Esperando que a energia pudesse acabar a qualquer momento, quis ter certeza de que conseguiria uma maneira de se localizar na escuridão se o pior acontecesse. A tempestade de verão foi violenta durante toda a noite. A eletricidade foi e voltou durante horas. Qualquer casa de campo antiga podia ter cortes de energia, Cheryl pensou. Se este lugar velho não fosse tão gótico... Ela olhou para a escultura que estava ao seu lado. Um anjo de pedra sentando no parapeito de uma janela, segurando um escudo, olhando para a parede oposta onde estava outra obra idêntica. A cabeça do outro anjo tinha sido arrancada recentemente, ela pensou. A superfície da pedra, exposta, estava clara e ainda desfolhando. Cheryl se lembrava dos conselhos que recebera dos moradores do vilarejo naquela manhã. — Faça tudo para não desagradar o signor Rossi — sussurravam. — Ele é um demônio disfarçado. 3


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Cheryl, imaginando que estivessem brincando, sorriu. Agora não sorria mais. Um vento gelado passou pelo canto da casa. Todas as venezianas e portas rangeram em um coro diabólico. O vento fluiu entre elas, buscando todas as fendas de Villa Monteolio. A energia caiu outra vez. Sombras envolviam os anjos de pedra. Cheryl agarrou o objeto mais próximo. Era o braço da cadeira em que pretendia dormir, apesar de a ideia de dormir essa primeira noite em um lugar como a Villa Monteolio durante uma tempestade horrível parecesse piada. Ao apertar a cadeira, esta pareceu tremer. Ela respirou fundo. Terremotos eram comuns na Itália? Ela não sabia responder. Eles estavam no térreo da casa e, olhando rapidamente ao redor, ela observou que tudo continuava em seu devido lugar. Talvez devesse conferir o quarto no andar de cima para ter certeza de que nada pudesse vir batendo pelo telhado e cair sobre a cama de Vettor. A vida ensinou a Cheryl a se preparar para o pior e, a saber, lidar com isso, mas a criança poderia acordar enquanto ela se ausentasse da sala. E o que aconteceria se a energia acabasse ao mesmo tempo? Ela não conseguia imaginar Vettor abrindo os olhos no escuro. Foi por isso que ela havia procurado o velho abajur de emergência que montou ao lado da cama dele sem pensar em limpá-lo primeiro. Por isso ela manteve a vigília. Cheryl tinha certeza de que a energia poderia cair assim que ela deixasse o quarto. Estremeceu. Se Vettor acordasse, a luz do abajur seria suficiente para mantê-lo tranquilo até que ela voltasse? Se ela fosse mesmo... Cheryl pensou sobre o que deveria fazer. Não conseguiu respirar por alguns instantes, ao esperar para ver se um terremoto seria de fato mais um de seus tantos problemas. Felizmente, depois daquele primeiro calafrio, a cadeira não voltou a tremer. Isso significava que ela só deveria se preocupar com Vettor e com a tempestade. Depois de uma eternidade, ela arriscou se afundar no assento da cadeira. Parecia estável o bastante, mas ela não conseguiu deixar de se perguntar qual seria o próximo susto. Do lado de fora, azulejos caíram por toda parte durante a noite. Ao entrevistá-la para esse novo emprego, o gerente de recursos humanos do signor Rossi disse a Cheryl para esperar o caos. O lugar estava destruído. Assim, ela sabia que Villa Monteolio era um canteiro de obras, mas os buracos no telhado a preocupavam. A chuva devia ter entrado por todos os lugares. Cheryl olhou ao redor, nervosa. Quanto tempo se passaria até que o teto do andar superior começasse a ter infiltrações? Ela deveria mesmo subir para inspecionar tudo. Seria melhor do que ficar ali sentada, tentando imaginar o que poderia estar acontecendo. Por outro lado, o que faria a respeito do que encontraria no andar de cima? Água e lama poderiam estar arruinando o piso, mas ninguém viria consertar tudo com esse tempo. Cheryl decidiu ficar e vigiar o menino. Qualquer dano a casa teria que esperar para ser reparado. Não era um problema dela, de qualquer forma. Ela já tinha atribuições suficientes. O trabalho era o refugio de Cheryl contra a dor. Aceitar esse emprego na Itália a ajudava a esquecer da bagunça que sua vida tinha se tomado. Os pais dela não conseguiam resistir em apontar seus desastres a cada oportunidade. Então ela resolveu deixar a Inglaterra para tentar recomeçar a vida. O passado podia magoá-la, mas agora ela também estava sendo atacada pela realidade. Era horrível. 4


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Um estrondo ecoou do lado de fora, fazendo com que Cheryl pulasse da cadeira. A lâmpada incandescente escureceu e caiu. Feixes de luz azul e branca inundaram o quarto, entrando pelas venezianas. Cheryl andou até a janela e olhou entre as fendas para tentar entender o que estava acontecendo, piscando contra o clarão. O vento forte tinha arrancado uma das maiores árvores da estrada que levava a Villa Monteolio. Seus galhos pendiam sobre um fio de alta tensão e faíscas formavam um arco na escuridão, iluminando a chuva. Ela pegou o telefone. Quando o vigia e sua mulher foram forçados a sair, Cheryl pediu que deixassem um guia telefônico e ela anotou todos os números de emergência que encontrou, pois poderia precisar discá-los. Foi ótimo ter feito isso, ela pensou, apesar de ter levado tanto tempo para conseguir falar com a companhia de energia. Metade da região ficaria sem o serviço essa noite. O atendente prometeu enviar alguém para Villa Monteolio assim que possível, mas não sabia dizer quanto tempo demoraria. Uma voz de criança vinha do outro lado do quarto. Desligando o telefone, Cheryl correu na direção da cama. — Vettor, sou eu, Cheryl. Você se lembra de mim? Sou sua nova babá. Ele tinha três anos. Seus olhos brilharam. Cheryl verificou que ele ainda estava com febre e tirou a compressa de sua testa, molhando o pano mais uma vez na água da tigela antes de falar novamente: — Estou aqui, Vettor. Estamos na casa do tio Marco. Estou tentando telefonar para ele, para que venha ver você — disse ela, pensando em todas as mensagens não respondidas que deixara com a secretária do tio dele. Seu pequeno paciente não respondeu. Levando de volta um copo de água fria e a flanela molhada para o lado da cama, ela passou as mãos no rosto dele. — Ele está ocupado — disse o menino, com tristeza. — Ele está sempre ocupado. As palavras saíam de seu coração. Cheryl ficou tão triste que não conseguia olhar para ele. — O signor Rossi é um homem muito trabalhador — respondeu Cheryl. Ela suspirou, pensando na procissão de assistentes pessoais com que tinha conversado desde que respondeu ao anúncio na agência The Lady. Meia dúzia de profissionais a entrevistaram, mas nunca o Sr. Rossi em pessoa. Foram todos muito educados, mas faziam apenas seu trabalho. Que tipo de homem empregava uma babá para seu orfanato sem conversar com ela pessoalmente? Um homem que podia ignorar todas as mensagens mais urgentes que Cheryl havia deixado hoje. Alguém cujos empregados disseram a ela que o temiam. Ela arrumou outra vez o lençol de Vettor sobre seu corpo inquieto. — À meia-noite, o rádio noticiou que todas as estradas da região estavam fechadas por causa do mau tempo. Seu tio deve estar preso em algum lugar.

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Felizmente o menino voltou a dormir. Ela não precisaria mais responder a perguntas difíceis. Tudo que preciso fazer é sobreviver até que alguém chegue aqui, ela pensou, dando um pulo quando uma porta bateu em algum lugar lá fora. Amanheceria em poucas horas. Tudo pareceria melhor à luz do dia, não é mesmo? Outra grande rajada de vento invadiu a casa. Todas as janelas tremeram. A mão dela voou à boca, abafando um grito. Apesar do que pudesse acontecer, ela não devia assustar o pequeno Vettor. Ela mordeu a mão para sufocar um grito após outro estrondo. Mas o responsável pelo próximo barulho lá fora não foi à rajada de vento. Cheryl se levantou da cadeira ao perceber que alguém estava batendo na porta da frente. Ela respirou fundo, como se tivesse prendido o fôlego durante horas. Devem ser os eletricistas, pensou. Que alívio! Ela estava desesperada para que a energia voltasse, para o bem de Vettor. Olhou para o menino e pegou uma pequena lanterna. Ficou feliz ao chegar ao corredor de entrada sem se perder. Os fios de alta tensão faziam sombras enormes ao redor do espaço vazio. Em qualquer outro momento Cheryl ficaria alarmada, mas hoje à noite ela já estava anestesiada com tudo. Ela não se deu tempo para pensar. Correndo para a imponente porta de carvalho, girou a maçaneta, chorando de alívio. — Oh, graças a Deus que vocês estão aqui! — gritou ela. Então ela escutou mais um trovão. Cheryl saltou como um gato e deixou a lanterna cair, e desabou nos braços do estranho. Ele a segurou. O vento soprava ao redor deles com fúria, mas Cheryl não se preocupava. Instintivamente ela se sentia segura. O estranho a protegia com o corpo contra qualquer perigo. — Shh... Lei è sicuro con me — sussurrou ele. A voz dele a tranquilizava sobre todos os antigos medos de Cheryl e acalmava seu estado de terror atual. Mas, pouco a pouco, um sopro de realidade pairou sobre ela outra vez. O que ela estava pensando? Ela endureceu e tentou se livrar dele. — Peço desculpas, mas não falo italiano muito bem... — Então devo falar em inglês. Está melhor assim? Cheryl relaxou na mesma hora. Uma voz que conversava em seu próprio idioma era exatamente o que ela queria escutar estando tão distante de casa. — Está ótimo, maravilhoso! — disse ela. Cheryl se encontrava na Itália há menos de um dia, mas sua cabeça já estava doendo. Tentar memorizar novas palavras ao ler um livro de frases em italiano já era difícil em condições normais, mas ela também esteve ocupada conhecendo seus novos 6


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis colegas de trabalho, se familiarizando com um local de trabalho diferente e lidando com um caso de escarlatina ao mesmo tempo. — Eu sinto muito porque aquela explosão, signor... O senhor deve pensar que sou uma completa idiota. O chefe aqui queria empregar uma pessoa inglesa e, como todos aparentemente têm tanto medo dele... Ele balançou a cabeça e ela ouviu um som do que poderia ter sido uma risada. — Não se preocupe. Não precisa se desculpar. Esta é a pior tempestade que atingiu a região. — A voz dele tinha um tom divertido. — Não há um vigia neste turno? — Ele precisou ir ao hospital — Cheryl começou a falar, mas o vento soprou forte ao redor deles outra vez. Ela estremeceu instintivamente, percebendo uma sensação de outono no ar. Em vez de deixá-la ir, o estranho a apertou em seus braços. Ele tinha uma força irresistível, e a levava para a parte de trás da casa. Ela o seguia pelo corredor escuro. Contanto que ela não tivesse de enfrentar essa tempestade sozinha, ecoando pela casa antiga, conseguiria abafar seus sentimentos habituais de pânico na presença de alguém que poderia protegê-la. Houve um estrondo quando a porta da frente bateu com o vento. Seu protetor ainda a segurava com firmeza contra o corpo, então Cheryl apenas vacilou. Com o barulho do vento e da chuva mais suaves agora, ficou mais fácil para ela pensar racionalmente. Supôs que ele havia chutado a porta para fechá-la. Ela não podia ter certeza porque não conseguia ver o que estava atrás dele. As mãos dele a seguravam com tanta força que ela não conseguia se mover. Ele estava encharcado por causa da chuva. Era loucura, mas Cheryl não conseguiu evitar. Ela estava abraçada ao homem, mas não se importava. A tempestade não era comum. As pernas dela tremiam, mas o estranho a segurou. Mudando a forma como a carregava para passar somente um de seus braços fortes ao redor do corpo dela, ele apoiava todo o peso de Cheryl. Ao abraçá-la contra si, o estranho a confortou com uma voz lírica, com um leve sotaque. — Está, está... Tudo bem agora... Virando-a na direção de seu corpo, ele começou a bater suavemente nas costas dela. Cheryl tremeu de medo, mas não era só a tempestade que a horrorizava. Lembranças do passado, de Nick, voltaram à sua mente. Ela se esforçou para não pensar. Tentou se sentir segura, dizendo a si mesma que precisava se concentrar para se livrar desses pensamentos. Mas não conseguia. De repente, outra trovoada ecoou mais perto. Cheryl gritou e a mão do homem foi direto para a parte de trás da cabeça dela. Ele apertou o rosto dela contra o peito, sussurrando palavras de conforto no ouvido. Agora ele estava passando uma das mãos pelas costas de Cheryl, para cima e para baixo, com as pontas dos dedos roçando o fino algodão da camisa dela. Ele tinha cheiro de linho úmido e de folhas de árvores, com outro cheiro que ela não soube identificar. Era uma fragrância selvagem, misturada com almíscar. Ela sentia o corpo ficar mais tenso em resposta. Seu coração e sua cabeça estavam voando, na mesma direção. 7


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Shh... Está tudo bem. Eu estou aqui agora. As palavras saíram suaves, mas o instinto dizia para Cheryl se afastar. Ela começou a se mover como uma borboleta numa teia de aranha. — Não, eu não posso! Preciso ir... Agora que você está aqui, preciso voltar a cuidar do meu menino... — Ela fez uma pausa. Imediatamente a força do silêncio dele lhe disse que, de agora em diante, ele daria as ordens. — Eu estou aqui — repetiu ele devagar. Havia um esforço real por trás das palavras dele, como se estivesse tentando manter a voz num tom sem emoção. — Não me diga que cheguei muito tarde. O tempo tem estado tão ruim... Há cabos elétricos caídos por toda parte. Meu carro ficou preso no trânsito. Tantas estradas estão bloqueadas que precisei abandoná-las e vir pedindo carona por estradas secundárias. Um fazendeiro local me ajudou por parte do caminho, mas os cruzamentos perto dessa propriedade estão inundados. Precisei vir caminhando desde lá de baixo, no início da cidade. — Nesse tempo? — Cheryl se afastou para observar o rosto dele. — Mas a estrada mais próxima deve estar a mais de dois quilômetros daqui! Um raio ricochetou por uma das janelas, revelando os traços do rosto dele. Por um segundo, seus dentes brancos brilharam na escuridão, em seu sorriso. Cheryl viu que ele estava cansado. — Peguei um atalho pela mata. Devia ser essa a razão para o cheiro de pinheiros e madressilva nas roupas dele, Cheryl pensou. Em qualquer outro tempo, cm qualquer outro lugar, ela devia ter sentido essa fragrância, mas não tinha certeza. — Quando você soube que já tínhamos perdido uma árvore nesse furacão? Você deve estar furioso! E um milagre que não tenha morrido! — estourou ela, mais de medo do que de raiva. Seu herói pegou uma lanterna no bolso. Com o clarão súbito da notou que ele tinha algo estranho no olhar. Ela pôde ver o rosto dele melhor; não era só o olhar interrogativo nos olhos azuis dele que fizeram Cheryl pensar. Esse homem parecia estranhamente familiar. — As árvores estavam todas sacudindo com o temporal, sem dúvida. Mas não importava para mim. Eu precisava chegar aqui. Não havia alternativa. Cheryl devolveu o olhar com interesse. Ela não conseguia lembrar onde teria visto aquela expressão antes. Essas feições marcantes e o queixo bem desenhado... Outra trovoada fez a casa tremer. Cheryl tinha gradualmente desapertado a jaqueta dele, mas àquele estrondo ela o agarrou de novo. — Acho que ele foi um pouco mais longe daqui. — Um tom de diversão voltou à voz dele.

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Cheryl estremeceu, desejando saber por que ela ainda não conseguia deixar de ficar cada vez mais perto do estranho. Ela não só tinha se jogado nos braços dele como começava a gostar da experiência. Apertou o corpo contra o do estranho, quase sem conseguir respirar. Esperando pelo próximo clarão de um raio, ela tentou perceber se a tempestade já estava passando. A chuva ainda batia contra as janelas e o vento fazia todas as portas trepidarem, mas os trovões deviam ter amenizado a força da tempestade. Como Cheryl tremeu contra o peito do estranho, ele desapertou um pouco. Foi quando lembrou a si mesma. Ela era a única funcionária na casa. Isso significava que era responsável pela propriedade, e apertar o eletricista definitivamente não fazia parte de seu novíssimo trabalho. Afastando-se dos braços dele, ela pegou a própria lanterna. Então se endireitou e olhou nos olhos de seu herói. O corredor da entrada estava escuro, mas suas lanternas e os fios de alta tensão partidos lá fora lhe ofereceram bastante luz para que ela pudesse fazer um julgamento. Ele era alto, poderoso e seu rosto estava cheio de autoconfiança. Na realidade, esse homem tinha o tipo certo para desempenhar o seu papel de salvar vidas e para fazer a energia voltar, exceto por duas coisas. Ele usava um terno. Devia ser cinza-claro e parecia ter sido feito sob medida. Agora estava escuro por ter sido molhado pela chuva. E ele não tinha nada nas mãos. — Onde estão as suas ferramentas? — Cheryl começou a se afastar dele lentamente. Ele iluminou o corredor com a lanterna. Essa ação mergulhou sua expressão nas sombras. Sempre que faíscas iluminavam o lado de fora da casa, sua face escurecia ainda mais. Agora ele parecia ameaçador. Ela se encolheu outra vez. — Eu sou Marco Rossi. Deixei todas as minhas coisas para trás. Já tinha dito isso a você. Agora me diga, onde está Vettor? Cheryl olhou para o estranho. Ele era Marco Rossi, seu novo patrão? Os empregados disseram que era como um ogro severo, mas esse homem era deslumbrante. Ela respirou fundo. Deve haver algum engano. Ele a levou para o andar de cima e a confortou como um anjo da guarda em vez de agir com ela como se fosse um demônio. Entretanto, ela pensou no tempo que tinha passado com a cozinheira da casa. Aquela mulher era profissional até o último fio de cabelo e não ofereceu nenhuma opinião sobre o patrão, só contou alguns fatos. Ela não fez fofoca nem julgamentos. Aparentemente, o signor Rossi gostava que tudo funcionasse em perfeita ordem. Ele parecia ser um dos melhores operadores da empresa de energia, pensou Cheryl e, então, se deu conta de que esse homem não podia pisotear sobre todas as suas defesas, mesmo que seu coração batesse mais forte ao olhar para ele. Era a maneira como ele olhava para ela. Seguramente nunca houve nenhuma decepção naqueles olhos. Eles eram muito azuis, muito firmes e muito honestos. Quando Marco Rossi olhava para ela assim, Cheryl sentia como se fosse à única coisa no universo. No universo dele. Aquilo tinha de parar, ela pensou. O treinamento que recebeu na agência para se tomar uma profissional excelente para auxiliar as crianças a fez se lembrar disso. Tinha de 9


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis tratá-lo em qualquer momento como seu patrão. Todas as suas emoções precisavam ser negadas. — Eu... Eu estou muito feliz em conhecê-lo, signor Rossi. — Ela passou as palmas das mãos úmidas na calça jeans para secá-las e se apressou em estender a mão para cumprimentá-lo. — Sou Cheryl Lane... A nova babá de Vettor. — Estou muito feliz por finalmente conhecê-la, Cheryl. Meus funcionários fizeram relatos surpreendentes sobre suas entrevistas. Sinto muito, eu estava em Brasília quando seu processo seletivo aconteceu. O presidente quis alguns conselhos. Cheryl não sabia o que dizer. Seu primeiro emprego foi com um homem de negócios inglês. Ela pensou que trabalhar para um executivo italiano seria um pouco mais simples, mas Marco Rossi não era um homem comum. O anúncio a que ela respondeu fora extremamente discreto. Figuras e fatos, incluindo o nome dele, só tinham sido revelados na fase final, quando a equipe sabia que ela seria a pessoa escolhida. Mais tarde, navegou na internet para descobrir que ele era um dos homens mais ricos da Europa. Marco Rossi era um homem requisitado no mundo inteiro. Agora Cheryl sabia a razão. Tanto por mulheres quanto por chefes de Estado, ela pensou. No escuro, ela tentou alcançar o interruptor na parede. — Não perca seu tempo tentando acender as luzes. A energia não voltou; toda a região está no escuro. Eu gostaria que você me levasse direto para ver Vettor. Depois do elogio a Cheryl, ela se sentia alguns centímetros mais alta e mais confiante em seu treinamento. — E claro signor Rossi. Acho que o senhor não se incomodará se eu lhe pedir para que me mostre uma identificação... A voz dela começou viva, mas logo enfraqueceu. Marco Rossi levantou a lanterna, iluminando bem o rosto. As sombras se foram, revelando os traços dele. Cheryl observou as feições rígidas e os olhos azuis brilhantes. De imediato, ela entendeu que suas palavras não significaram nada para ele. — Leve-me até ele. Sou o tio de Vettor e seu tutor legal. Isto é tudo o que você precisa saber. — A voz dele pareceu ameaçadora. Num instante de alarme, Cheryl se lembrou do que os funcionários dele disseram. Devia haver alguma verdade nos avisos deles. Agora mesmo ele parecia pronto para explodir a qualquer momento. Ela olhou para ele assustada. — Viajei sem parar pelas últimas dez horas. Meu jato foi desviado da rota, e meus documentos estão na minha bagagem. Está tudo junto, com meu motorista. Ele ainda se encontra preso em um engarrafamento enorme. Saí do carro de mãos vazias. Então, vai dizer como está meu sobrinho, ou precisarei arrancar isso de você? Não havia nenhum traço de desconfiança na voz dele agora. O sotaque italiano fez com que o coração de Cheryl se apertasse ao pensar em Vettor. Marco Rossi não havia retomado seus telefonemas. Ele nem mesmo se dava ao trabalho de chamar o pobrezinho 10


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis pelo nome. E pensou que ela estava atrapalhando, mesmo quando só estava fazendo seu trabalho. Então talvez essa fosse à chance de dar um passo atrás, ela pensou. Cheryl era a funcionária perfeita, mas isso era sério. Ela ergueu as sobrancelhas. Em seguida, lançou um olhar duro e fixo para Marco Rossi. Descobrira que ele era um homem famoso por sempre colocar o trabalho na frente de qualquer outra coisa, o que era uma grande marca contra ele no livro de Cheryl. Mesmo assim, olhando para ele agora, parecia difícil se lembrar disso. Ao olhar para ele de cima a baixo, alguns sentimentos foram despertados no corpo dela e Cheryl começou a se incomodar. Esse era um momento importante. Ela sabia que não deveria enfrentá-lo. Era a hora errada para se lembrar da textura da jaqueta úmida dele e do seu cheiro selvagem... Assim, ela tentou canalizar toda a sua frustração. Marco Rossi não merecia a onda de hormônios que percorriam seu corpo. Ela tentou se convencer disso e não permitiria que isso fizesse seus cílios tremerem como uma estudante desmiolada. — Se o senhor tivesse retomado algum de meus telefonemas, signor, eu poderia ter lhe contado sobre Vettor. Ele piscou. São olhos adoráveis, Cheryl pensou. Tão claros e azuis como aquela piscina enorme no terraço da casa dele... Com uma exclamação de aborrecimento, ela deixou de olhar para ele. Precisava fazer isso. Esse homem era mágico! Ele estava tentando enfeitiçá-la com seu olhar tentador. Mas Cheryl sabia exatamente como são os homens. Ela se lembrou do tempo que passou com Nick Challenger. Isso a fez estremecer. Lembranças de Nick podiam matar qualquer outro sentimento. Houve um silêncio tenso. Marco Rossi pigarreou. — Eu tentei várias vezes. Mas não consegui sinal no meu celular. A tempestade deve ter afetado os transmissores. Ela arriscou olhar para ele outra vez. — Tudo bem — assentiu ela. — Vou lhe contar o que aconteceu desde o começo. Seu sobrinho não parecia bem quando chegou. Verifiquei a temperatura e ele estava febril. Reconheci que os primeiros sinais de escarlatina haviam se instalado. Um médico local confirmou meu diagnóstico. Cheryl sentiu-se aliviada quando o médico ficou impressionado com ela. Esperava que Marco Rossi a parabenizasse também. Seu novo patrão mal parecia se sentir desconfortável. Ela continuou: — Vettor tem chamado pela avó. Ele parece sentir muita saudade dela. E possível que ela venha visitá-lo? Rossi respirou fundo e se virou na direção do quarto de Vettor. — As coisas estão tão mal assim? 11


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Não... Não. Espere signor Rossi. Instintivamente, Cheryl levantou a mão e segurou no braço de Marco. Ele parou, olhando para os dedos dela. — Peço desculpas, signor — disse Cheryl, sem saber se estava se desculpando por ter tocado em seu patrão ou por tê-lo assustado. — Não quis que tivesse a impressão errada. É só que... O senhor não costuma visitar Villa Monteolio. — Que diferença isso faz? Eles sempre sabem como entrar em contato comigo. Eu escrevo para Vettor e ele não quer nada. Nada além de contato físico, Cheryl pensou em silêncio. — Ele é só uma criança. Perdeu os pais e precisa de alguém para cuidar dele. Para amá-lo. Quando uma criança estava envolvida, Cheryl nunca sabia ficar quieta. O olhar dele dizia que ela havia passado dos limites. Marco cerrou os dentes. Dando as costas para Cheryl, ele andou pelo corredor em direção ao quarto de Vettor. — Eu já perdi muito tempo. Deixe-me vê-lo. Cheryl conseguiu passar pelo patrão. Chegando primeiro à enfermaria, bloqueou a entrada. Ela precisava colocar um limite naquela situação e seria agora. Marco Rossi não podia deixar uma criança sozinha nessa casa em ruínas durante semanas e, então, voltar como um anjo vingador. Vettor estava delirando. Cheryl sabia como ele reagiria se abrisse os olhos e visse a figura forte de Marco Rossi sobre ele na escuridão: ficaria amedrontado. E ela não podia permitir que isso acontecesse. — Aguarde aqui. Vou ver se ele... Marco Rossi nunca aguardava por nada. Com uma exclamação de irritação, ele empurrou Cheryl para o lado e passou por ela.

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CAPÍTULO DOIS

MARCO SE curvou sobre o menininho que estava na cama. Ao se aproximar, Cheryl pensou tê-lo escutado murmurar as palavras “E, bimbo!” ou algo parecido. Mas quando seu patrão percebeu que ela estava tão perto, voltou a ficar em silêncio. Vettor se mexeu, murmurando algo durante o sono. Marco começou a arrumar os lençóis dele. Isso foi demais para Cheryl. Ela não conseguia imaginar Vettor acordando assustado. Tentou se posicionar entre Marco e o sobrinho, esperando que seu rosto amigável fosse o que o menininho veria primeiro ao abrir os olhos. Não deu certo. Marco era grande, e forte como uma rocha. Desesperada para proteger Vettor, Cheryl fez a única coisa que podia: segurou as mãos do patrão. Tocá-las foi como um choque. Elas eram firmes, e a pele lisa estava esticada sobre tendão e osso. Eram tão fortes. Cheryl percebeu que poderiam espantá-la como uma mosca. Embora tenha estremecido por dentro, ela se controlou. — Por favor, não o assuste, signor Rossi! — sussurrou desesperada. — Quero ver essa alergia. Foi à última mensagem que recebi da minha secretária. Ela me disse que suspeitava de uma infecção causada por bactérias. A mãe dele teve meningite nessa idade e só sobreviveu porque, como você, eu consigo reconhecer os sinais. Aquilo a aturdiu. — Oh... Então peço desculpas, signor Rossi. Cheryl parou de apertar tanto a mão do patrão, mas não as moveu. Elas estavam juntas, sobre o paciente. Quando Marco Rossi sacudiu ligeiramente a cabeça assentindo, Cheryl sentia o movimento em seu próprio corpo. As batidas de seu coração reagiram imediatamente, mas bastou um olhar ao rosto dele e ela voltou a tremer. A expressão de Marco era tensa e inflexível. — Se for o caso, saber que Vettor estava doente deve ter sido um choque terrível para o senhor — disse ela. — Mas no momento em que o médico deu seu diagnóstico oficial, telefonei para seu escritório para lhe dar a notícia. Vettor está com escarlatina. Está sendo tratado com antibióticos, que já estão fazendo efeito. — Escarlatina parece sério. — Marco virou sua face aristocrática para ela. — Por que ele não está no hospital? A expressão dele estava dura e seu efeito sobre Cheryl era imediato. Ele lançou um olhar que atingiu sua alma. Um brilho tênue começou a passar sobre os seios dela, fazendo Cheryl corar. 13


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — O médico disse que ficar em casa seria melhor para ele — disse ela, desesperada para tentar se concentrar. Marco Rossi podia ser assustador, mas também era muito bonito. Parecia incrível ficar encostada em seu corpo assim, quando nenhum dos dois tentava se afastar. Ele fazia com que ela sentisse calafrios. — Posso ver a melhora que ele já teve, então não há necessidade de levá-lo daqui agora. Além disso, onde você preferiria estar se não estivesse se sentindo bem, signor Rossi? Em um quarto desconhecido de hospital, ou seguro em casa com alguém que cuida do senhor? Este é o melhor lugar para Vettor, acrescentou ela, um pouco receosa de que o patrão pudesse discordar. Não discordou. Em vez disso, olhou diretamente para ela, com aqueles olhos azuis brilhantes. Seus lábios se contraíram num sorriso lento, provocante. Então ele arrancou o braço das mãos dela, como se toda a força de Cheryl não fosse nada. Sentindo a resistência que ela fazia, ele a confrontou. — Vocês ingleses, com suas maneiras! — Ele abriu as mãos para enfatizar seu ponto de vista. — Vou dizer uma coisa para você, Cheryl... — Eu me chamo Srta. Lane, signor Rossi. Ele ergueu a sobrancelha como um gesto que ela não deveria desafiar. — E eu me chamo Marco, Cheryl. Não tenho tempo para graças e afetações. E por isso que não liguei para o fato de você não ter gostado de eu não ter estado aqui com meu sobrinho. Sua opinião não significa nada para mim. Mas por que você faz apenas suas reclamações, em vez de também lançar seus adoráveis cabelos castanhos e olhar para mim com esses olhos lindos? Cheryl quase respondeu, mas suas últimas palavras foram completamente desarmadas. Todo o seu nervosismo por causa de Vettor, a tempestade, conhecer o novo patrão... E ela deu uma risada. Deu uma risada! Não conseguiu evitar. Mas que tipo de profissional dedicada fazia algo assim? Horrorizada, ela olhou para ele e levou a mão à boca, abafando o som. Então ele sorriu. Foi um gesto triunfante, como se ela tivesse cumprido todas as expectativas. O efeito em Cheryl foi alarmante. Arrepios começaram a ondular em sua espinha para cima e para baixo. Ela estremeceu de tal forma que a assustou. Para disfarçar seu estado de confusão, ela começou a arrumar as roupas de cama que estavam ao lado do leito de seu paciente. — Peço desculpas por precisar encurtar sua visita, signor Rossi, mas Vettor precisa de paz e tranquilidade. Devo pedir para o senhor sair. — Enquanto ainda consigo raciocinar de forma sensata, ela pensou. Marco Rossi preenchia sua mente e distraía seu corpo. A força silenciosa da figura alta que a observava enquanto ela falava. Ela não podia confiar em si mesma para não entrar outra vez no magnetismo dos olhos dele. 14


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — É claro. Aquilo foi uma surpresa. Ela esperou que ele fosse reclamar. Apesar de todas as boas intenções dela, Cheryl observou. Ele assentiu, concordando com ela. Ao fazer isso, a luz nos olhos dele ficou mais tênue. Olhando para baixo, ele notou pela primeira vez o estado de suas roupas encharcadas. — Você está certa. E eu não farei bem a Vettor se pegar um resfriado — disse ele. — Todos os meus funcionários do turno da manhã foram embora em segurança? Cheryl assentiu. — Foram embora por volta das 17h. Foi quando o tempo começou a piorar bastante. — Não os culpo. As tempestades ficam concentradas nesta região por causa dos picos daquelas colinas. — Ele fez um gesto com a cabeça para uma parte distante da casa, se mexendo impaciente em suas roupas molhadas. — Preciso me secar e vestir roupas limpas. Meus empregados cuidam dos assuntos domésticos, mas sem nenhum por perto precisarei pedir um favor a você, Cheryl. Sei que não é parte de suas funções, mas você poderia dar uma olhada por aí e tentar ver onde eles guardam as toalhas? Ela corou e ficou atrapalhada. Ela era apenas uma das dezenas de pessoas que trabalhavam para Marco Rossi. Já havia percebido um lado dele sobre o qual os outros ainda não tinham conversado com ela. Cheryl ficou contente, muito contente, quando observou a confiança suave dele, quando sozinho e assustado. Jogar-se nos braços dele tinha sido a coisa mais deliciosa e ousada que ela fizera na vida. Mas tudo aquilo aconteceu antes de ela saber quem ele era. Agora era uma relação de patrão que dava as ordens à sua empregada assalariada. A mudança era dolorosa. Cheryl esperava que ele pudesse esquecer a forma como o confundiu com um eletricista no corredor de entrada da casa. Aquele foi um erro terrível, porém ela nunca mais o subestimaria. Estava certa de que aquilo não voltaria a acontecer. A partir de agora ela trataria Marco Rossi com respeito. Havia uma barreira entre eles por todo tipo de razão. Um breve passeio ao redor da propriedade a tinha convencido de que os rumores da mídia eram verdade. Ele devia ser um dos homens mais ricos da região. Qualquer um que possuísse a autoconfiança para assumir uma casa destruída como Villa Monteolio precisaria ter barris de dinheiro para reconstruí-la. O que Marco Rossi obviamente tinha, ela pensou. Ela não precisava olhar para a qualidade da novíssima escadaria recém-instalada ou da piscina de tamanho semiolímpico que estava em um dos terraços para saber que Marco Rossi era um multimilionário... E totalmente fora de seu horizonte. Graças a Deus que ele não faz o meu tipo, ela disse a si mesma. Então por que suas feições quase perfeitas há muito tempo faziam seu cérebro parar? De alguma maneira Cheryl sabia que até mesmo se nunca voltasse a ver Marco Rossi, seu rosto a assombraria para o resto da vida. A lembrança de empurrar seu corpo contra o dele sobre a cama de Vettor passou pela sua cabeça sem ser convidada, para excitá-la. Por alguns instantes gloriosos eles estiveram juntos. O toque das mãos de Marco era poderoso. Ela já as tinha sentido duas vezes até agora. Uma vez com suavidade, outra vez com determinação. Elas eram tão inesquecíveis que o pensamento a incendiava por toda parte. Tentando acalmar as 15


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis emoções, Cheryl se lembrou de Nick Challenger. Ele tinha sido seu único namorado, e a relação deles fora desastrosa. Como uma distração, sua memória trabalhou muito longe. O coração dela gelou. O sorriso morreu nos lábios. Ela tremeu, passando os braços ao redor do corpo. Não que eles pudessem lhe dar qualquer proteção contra um homem como Marco Rossi! Nick tinha só a metade do tamanho dele e Cheryl ainda possuía cicatrizes. Marco seria um inimigo muito mais formidável. Ela não queria colocá-lo em nenhum tipo de teste. Os ombros dele eram largos, e dois metros era uma altura aproximada. Ela já sentiu câimbras no pescoço ao olhar para ele. Com relação às roupas dele, Cheryl as examinou com cuidado. O terno e a camisa branca eram caros. O corte, perfeito. Esse homem não tinha nenhuma falha física a esconder, e o alfaiate havia se concentrado em acentuar a masculinidade dele. Os tecidos usados eram o melhor linho e o algodão de melhor qualidade, mas agora tudo estava arruinado. As roupas estavam molhadas e sujas. Até mesmo o sorriso de Marco Rossi não era tão perfeito, Cheryl percebeu. Podia ser branco, podia ser tentador, mas havia uma lasca minúscula faltando naquele dente da frente, à direita. — Quanto tempo levará para suas malas chegarem, signor Rossi? — perguntou ela, tentando desviar a atenção do corpo dele para a situação em que ele se encontrava. — Eu disse a você: chame-me de Marco. Cheryl sorriu e, então, desejou que não tivesse reagido assim. Ele retribuiu o sorriso e o efeito foi eletrizante. Felizmente, a explosão de outro trovão passou pela casa e o encanto daquele momento foi quebrado. Ela olhou por cima do ombro, apavorada. Marco fez uma careta. — Levará algum tempo para meus pertences chegarem aqui, se depender desta tempestade. — Então é exatamente como os outros empregados me explicaram antes de Vettor ficar doente. — Cheryl conseguiu manter seu ar habitual de eficiência. Pelo menos havia algo do qual se podia rir naquele dia horroroso. — Como costumamos dizer na Inglaterra, “um vento doente que não traz coisas boas a ninguém”. Enquanto toma um banho, Marco, eu vou procurar alguma coisa seca para você. Mas vou demorar algum tempo, só com a luz desta lanterna! — Vou pegar minhas roupas, se você encontrar onde a governanta guardou as toalhas. E não se preocupe, não precisará de uma lanterna. Escute: os geradores voltaram a funcionar. Ele andou até o interruptor mais próximo e o apertou. Uma luz fraca se acendeu na escuridão. — Oh, isso é maravilhoso! Marco deu de ombros de uma forma bem característica dos italianos. — Morando no interior é sempre bom se prevenir. 16


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Com uma iluminação mais forte, Cheryl novamente olhou para cima. E escolheu o momento errado para fazer isso. Marco sentiu onde ela estava olhando e virou a cabeça. — Você é muito eficiente, Marco. — Ela tentou parecer orgulhosa. — Mas é claro! O que mais você poderia esperar de um homem com a minha reputação? E pode sorrir ao conversar comigo. E permitido! — A resposta dele era leve e tentadora. Cheryl não sabia o que pensar. Os empregados dele falavam que Marco Rossi era muito sério sobre qualquer coisa. Mas desde o momento em que ele entrou na casa, ela passara por um vendaval. Ele tinha sido protetor, determinado, e agora estava sorrindo para ela outra vez. Ela decidiu não arriscar retribuir o sorriso, que trouxe lembranças das mãos dele tocando as dela. Cheryl não ousou se deixar levar assim e se concentrou em assuntos práticos. Mas tentar manter uma conversa enquanto sua mente estava em outro lugar foi um grande erro. — Quando encontrar as toalhas, eu tirarei suas roupas molhadas, Marco. — Então ela tossiu de repente se dando conta do que tinha dito. — Oh, não! Eu não quis dizer... Então, quando você tirar as roupas molhadas, eu vou... Não, o que eu devia ter dito era... Um olhar diabólico assombrou o rosto de Marco quando ele percebeu que ela estava tropeçando nas palavras, o que levou Cheryl a pensar em todo tipo de desculpas. Ela ficou ainda mais agitada, mas Marco não disse nada. Não precisou dizer. Quando terminou de se divertir com a situação, ele se esticou como um gato e sorriu. — Non te laprendere, Cheryl! Ela admirava seu bonito sotaque em silêncio. — Eu diria para se acalmar, mas você parece uma menina que não sabe o que isso significa. E uma vergonha que não tenha deixado o ar reservado dos ingleses no aeroporto — disse ele, rindo de sua severidade. — A vida na Itália vai ser difícil se você sempre se preocupar com duplos sentidos. E por isso... — Ele olhou para seu temo arruinado. —... Não há problema. Vou cuidar disso. Nunca esperei que você fosse se jogar em mim daquele jeito. Em todo caso, estamos no meio da noite! Para a surpresa dela, a preocupação dele pareceu genuína. Não havia nenhum sarcasmo na voz dele. — Você é um homem que emprega pessoas... Certamente espera um tipo de tratamento mais distante, signor Rossi. Quero dizer, Marco — ela se corrigiu quando ele baixou as sobrancelhas a advertindo. — Não de você. Eu a contratei como uma babá, nada mais. — Ele foi firme, mas ela não estava satisfeita. — Preciso fazer alguma coisa; você está imundo, molhado, e poderia ter morrido cruzando a região a pé como fez! 17


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Ao olhar para os olhos azuis de Marco, os pensamentos de Cheryl foram preenchidos com imagens dele chegando durante a tempestade. Essas imagens aqueceram um lugar secreto dentro dela, que quase havia esquecido que existia. Quando ele falava, seu tom tentador excitava seus instintos mais primitivos a um patamar ainda mais elevado. — Valeu a pena pela recepção que tive quando você abriu a porta para mim. Havia aquele sorriso outra vez. Junto com a voz dele, baixa e melodiosa, que arrancou os sentimentos a que Cheryl não tinha se permitido durante muito tempo. Parecia certo, e urgente, e... Se eu não fizer algo rápido estarei perdida, ela pensou desesperada. Marco Rossi tinha um jeito de olhar para ela que fazia com que esquecesse o tempo. Se caísse uma vez nas armadilhas dos olhos dele, certamente se passariam apenas alguns segundos até que ela estivesse pronta para terminar em seus beijos... — Preciso tirar essa tempestade dos meus pensamentos, Marco. — Ela respirou fundo. — Você usará qual banheiro? Levarei algumas toalhas quando descobrir onde estão guardadas. Evitando olhar para ele, Cheryl tentou distrair seu corpo. A voz dele vagou pela enfermaria e pelo corredor: — Parece o melhor a fazer. Vou usar o chuveiro na minha suíte. Ele a seguiu, mas em seu próprio tempo. Cheryl sentiu como se estivesse na presença de um grande predador felino que observava todos os movimentos dela. Fechou a porta do quarto de Vettor, tensa de ansiedade. Marco estava em pé tão perto e logo atrás dela, que podia sentir a respiração quente dele no pescoço. Ela hesitou. Os dois estavam esperando que algo acontecesse. Compelida a virar e olhar para ele, Cheryl precisou baixar a cabeça no momento em que seus olhos se encontraram com os de Marco. A expressão dele era muito intensa. A única forma de conter esses olhos azuis ardentes era olhar sob suas pestanas. — Só estou tentando ajudar, Marco. Ele sorriu. — Oh, tenho certeza de que sua ajuda será inestimável... — Ele sussurrou. E o coração dela parou de bater.

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CAPÍTULO TRÊS

Hormônios percorriam as veias de Marco. Ele olhou para baixo, para o rosto de Cheryl. Os lábios dela eram um convite de que ele definitivamente não precisava. Um beijo daqueles lindos lábios carnudos seria uma grande recompensa para deixar tudo e focar inteiramente em ir para casa. Horas viajando naquele tempo terrível o levaram até os degraus da porta da frente de Villa Monteolio em um estado deplorável. Ele precisava de um momento de descanso, que tinha chegado à forma daquela menina deslumbrante. Sexo era a última coisa em que ele podia pensar naquele momento, mas quando ela se jogou em seus braços o corpo dele se recuperou na velocidade do raio. Os pensamentos de Marco podiam estar envoltos em preocupação com seu sobrinho, mas fisicamente ele se aqueceu de imediato ao ficar na presença de Cheryl. Agora que tinha visto Vettor, Marco podia cuidar de si mesmo. O desejo percorria seu corpo desde aquela chegada explosiva. Agora ele tinha uma necessidade latente que começaria a ferver a qualquer momento. Qualquer que fosse a circunstância, havia uma parte de seu corpo que estava sempre pronta. Ele pulsava de ansiedade agora e queria aproveitar aquela sensação. Embora... Sinos de alarme tocavam na cabeça dele. Sua mais nova funcionária devia estar tão inacessível como todos os outros. Marco nunca interagia com os empregados. Entretanto, ele lembrou a si mesmo, nenhum deles oferecia aquele grau de tentação, tão óbvio. Cheryl Lane era leve como o ar. Seu ar reservado, inglês, era uma novidade que o encantava. Era algo que o excitava tanto quanto os questionamentos nos olhos dela. Tudo o que ele via era: Quando? Onde? Como você vai me levar? Marco reconheceu o consentimento. A Srta. Cheryl Lane enviava todos os sinais certos e não havia perigo em um flerte. Ele não admitiria a si mesmo, nem a mais ninguém, mas seus sentimentos por uma mulher sempre foram acompanhados por vingança. Em momentos como esse, pensamentos sobre outra menina inglesa percorriam a mente dele. Anos antes, Sophia o tinha seduzido na casa principal da Villa dos pais dela. Marco era realista. Por experiência própria sabia que a visão dele trabalhando suado e sem camisa enfeitiçaria qualquer mulher. Então o fato de uma menina intitulada “princesa” inglesa ter feito um jogo com ele não tinha significado nada para Marco no início. Mas Sophia se mostrou ser... Diferente. Ela era inteligente. Sua luxúria natural rapidamente direcionou os sentimentos dele para que ela estivesse em posição mais vantajosa. Uma pobre menininha rica, que seduziu Marco e então o dispensou assim que mamãe e papai ameaçaram cortar a mesada dela. 19


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Toda aquela situação foi como uma punhalada no coração de Marco, até que ele jurou que nunca mais deixaria suas emoções abertas ao ataque outra vez. Foi uma dura lição de como pessoas podiam ser manipuladoras quando queriam fazer algo do jeito delas. Mas Marco aprendeu rápido. Ele tinha muito mais a perder do que sua ingenuidade agora. Ele não se relacionaria mais com intensidade. Era cauteloso tanto com as mulheres quanto em seus acordos nos negócios. E ele conseguia ser seletivo. Se decidisse seduzir Cheryl, seria a primeira experiência com uma mulher depois de muito tempo. Como sempre, ele era cauteloso. Desde o instante em que em colocava as mãos nelas, as mulheres quase nunca conseguiam resistir. Se as conhecesse em Manhattan ou Melbourne, Flórida ou Florença, uma vez que uma mulher sabia quem ele era, queria a carteira dele. Mas havia algo em Cheryl... Definitivamente ela era única. Quando aquela menina atrapalhada o cumprimentou suavemente na sua chegada e se lançou em seus braços, a sensação de desamparo sob as mãos dele estimulou seu corpo de imediato. Agora ele só precisava ligar com os pensamentos dele. Ele se perguntou como seria passar as mãos pelos lindos cabelos castanhos dela. A necessidade de sentir o fio ondulado e sedoso por seus dedos ficava mais forte ao observar os olhos de Cheryl. Ele gostava disso. E deixar a enfermaria para segui-la até o vestíbulo não havia sido nenhum sofrimento. Aquela calça jeans que ela usava era justa e Cheryl tinha muitas curvas que faziam valer a pena andar atrás dela para admirar. Ela o intrigava, e ele mal podia esperar para que entrasse em seus braços novamente. A Srta. Cheryl Lane era tão diferente das celebridades nervosas e com o semblante duro que ele deixou para trás na cidade. Talvez tivesse alguma relação mm o alívio e, finalmente, com o retomo ao seu lugar secreto de descanso. Se pelo menos ela não estivesse em sua folha de pagamento... Ele tratava tão bem seus funcionários que eles se tornavam leais a ponto de ficarem obcecados. Mas novatas como Cheryl eram um assunto diferente. Os dois não haviam travado conhecimento prévio. Se ela fosse embora, um caso entre eles poderia ir parar direto nos jornais de fofoca. Marco sempre ria das histórias de amor sem importância. Mas as coisas eram diferentes agora que ele precisava pensar em Vettor. Olhou para baixo, nos olhos de Cheryl. Ela o queria. Ele a queria. E precisaria de superpoderes para resistir. Tudo sobre aquela beleza o encantava. Deviam ter se passado três meses desde quando ele havia levado uma mulher para a cama. Aquele era como um feitiço desconhecido de celibato para ele. Mas coisas pareceram mais importantes... Até agora. Ali estava à oportunidade perfeita para ele acertar isso, se quisesse. Poderia dizer que havia um conflito entre a mente e o corpo dela. Apesar do convite em seus olhos, as mãos de Cheryl estavam duras e a sobrancelha erguida indicava preocupação. Para colocar os pensamentos dele certamente seria necessária uma dose de persuasão. Marco sentia o corpo pulsar com a ideia de outro desafio. Ele sorriu. — Não se preocupe cara. Qualquer coisa que possa ou não acontecer a partir de agora ficará totalmente entre nós dois... E, então, um grito fraco perfurou a noite. Era Vettor. 20


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Marco respondeu imediatamente, quebrando o feitiço: — Estou indo! Cheryl vacilou, despertando de seu transe. — Eu vou! — Ela pulou para responder à chamada, ainda preocupada com o fato de que aquele homem grande podia assustar o menininho. Ele estava só a um passo atrás dela quando Cheryl entrou na enfermaria. — E um sonho! — sussurrou Cheryl, colocando seus pensamentos em palavras ao tentar acalmar Vettor. Ela disse a si mesma que deveria estar agradecida. Ele ainda estava tão febril quanto ela, e essa interrupção deu a ela a chance de se acalmar. Ela definitivamente precisava daquilo. Teria perdido a cabeça? Marco enchia o corpo dela de sensações que, ameaçavam acabar com todo o bom-senso. Mas precisava resistir. Ele era seu patrão e o tio de Vettor. Não podia se deixar seduzir, independentemente do quanto estivesse desesperada para sentir seu corpo. E devia haver algo no Diretório de Trabalho Europeu proibindo esse tipo de coisa! Está um pouco tarde para verificar meu contrato agora, ela pensou. Esta situação é um pesadelo e a culpa é toda minha. Se pelo menos eu não tivesse me jogado nos braços de Marco! Aquilo havia sido um erro primário, mas que impressão teria dado ao seu novo patrão? Cheryl não precisava perguntar. Era óbvio. Ela poderia jogar a culpa na tempestade ou na tensão de estar sozinha, mas o que havia feito era errado. Aquele homem vira aquilo como um convite para seduzi-la com os olhos, a voz e o toque das mãos. Mas não podia esperar que Marco fizesse nenhuma outra coisa depois da recepção que deu a ele, mas devia ser colocado no lugar certo agora mesmo. Ela voltou a se concentrar em Vetor e lhe deu uma bebida quente. Depois de deitá-lo novamente, ela se sentou ao lado da cama e acariciou o rosto dele até que o menino adormecesse. Demorou algum tempo. Quando ela se levantou para sair do quarto, ficou surpresa ao ver que Marco ainda a observava, com um sorriso nos olhos. Ele esteve lá durante todo o tempo, assistindo. Tudo dentro de Cheryl gostaria que ele a levasse para um mundo de paixão sem vergonhas. O sentimento de alívio que sentiu ao se jogar nos braços dele era indescritível. Aquele aperto tão forte e a segurança na voz dele proporcionaram a ela um momento de calma no meio da tempestade. Agora o corpo dela estava pulsando com a presença dele. Sensações estranhas percorriam-lhe o corpo. Cheryl precisava combater o desejo de passar a mão sobre um lugar que se enchia rapidamente de um liquido quente. A proximidade de Marco a fez lembrar coisas que ela quis experimentar muito tempo atrás. Mas nenhum de seus sonhos se tornou realidade, só os pesadelos. O relacionamento dela com Nick terminou em desastre. Aquele cafajeste tratou as emoções de Cheryl tão mal quanto o fez com o corpo dela. A experiência a fez se retirar da vida, se escondendo no trabalho com as crianças. Era o único lugar em que ela podia ter certeza 21


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis de que ninguém a magoaria outra vez. Agora aquele homem, Marco Rossi, parecia prometer coisas que ela temia experimentar. Os olhos dele estavam focados nos lábios dela, e Cheryl sentiu suas bochechas corarem. — Parece que você será uma das minhas melhores funcionárias — falou ele suavemente, ao passar pela porta do quarto e olhar para trás. Cheryl continuou olhando para ele. O que aquilo queria dizer? Cada palavra que ele pronunciava agia como um afrodisíaco para ela. Nunca recebera nenhum elogio de Nick. A confiança que Marco depositava nela transportava Cheryl a outro mundo. A mente e o corpo dela lutavam para se controlar. Ela se sentia chutando todas as regras. A estabilidade de Marco Rossi e a promessa de seus beijos fizeram com que ela quisesse se oferecer a ele agora mesmo. Mas seu passado era uma sombra. Cheryl tinha sido um total fracasso em seu único relacionamento e, agora, parecia que ela havia interpretado errado os sinais: Marco não queria beijá-la. Se quisesse, já o teria feito, não é mesmo? Pensar em sexo fez com que Cheryl fechasse os olhos para o bom senso. Eu fugi, ela pensou. Passar-se por boba na frente de Marco teria sido péssimo. Ela não conseguiria aguentar ser magoada outra vez, então o instinto rapidamente realinhou os impulsos dela. Fincou os pés com firmeza no chão e, agora, era isso mesmo o que ela precisava. Mas os nervos ainda a tentavam. Como poderia confiar em suas reações a ele? Marco passaria o resto da noite ali. Não tão longe do quarto de Vettor, ela pensou, passando uma das mãos pelo pescoço como se de repente o ambiente tivesse ficado muito quente. Comporte-se! Meninas como você nunca... A voz da mãe dela de repente ecoou, enquanto Cheryl pensava naquelas palavras. Era a voz fria e dura da realidade e perfurava todos os sonhos dela. Como sempre. Mais uma vez Cheryl se concentrou no trabalho. Não havia alternativa, Ela sabia que era brilhante no que fazia e que era bem mais seguro lidar com o que conhecia bem. De acordo com Nick, ela era frígida. Ele dizia que ela era uma perdedora no amor. Tinha sido horrível falhar com um tirano como ele. Ela deveria estar agradecida às suas estrelas da sorte por Marco Rossi não ter tentado beijá-la. Deveria ser ainda pior deixar um homem fascinante como ele saber o quanto ela era ruim em... Cheryl não conseguia nem mesmo pensar na palavra. Ela há pouco precisou colocar uma pedra sobre sua luxúria. Se não o fizesse, era certo que seria conduzida ao desastre. Relembrando o percurso que fez pela casa mais cedo, acompanhada pelo chefe de cozinha, Cheryl seguiu Marco para fora da enfermaria. Só então se lembrou de que a lavanderia era na mesma direção que a suíte dele. Devia ter sido melhor se manter mais longe de Marco. Porém agora era tarde demais: ele devia ter ouvido quando ela fechava a porta. Mal conseguiria andar pelo corredor. Pareceria suspeito. Mantendo seus olhos para baixo e sem olhar na direção em que ele tinha ido, ela tentou fazer seu tom de voz mais eficiente. — Levarei algumas toalhas para sua suíte... Marco. 22


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis O nome dele era a única falta de formalidade com a qual ela conseguia lidar. — Tudo bem. Ela esperava vê-lo sair do quarto. Isso lhe daria uma boa desculpa para voltar. Era muito mais baixa que ele e a distância entre os dois seria embaraçosa, ou assim ela pensou. Em vez disso. Marco esperou para que ela o alcançasse. Encurtando seus passos largos ele ficou ao lado dela. Ficou perto o bastante para que ela sentisse o perfume masculino que ele exalava. Ela lhe lançou um olhar. Como sempre Marco estava sorrindo, mas agora para si mesmo, não para Cheryl. — Eu nunca pensei que seria um alívio encontrar uma mulher cujos olhos não se iluminassem a cada vez que dizia o nome Marco! — murmurou ele. — Não se preocupe, não sou a única. Graduandos da escola que prepara profissionais para dar assistência às crianças são treinados para lidar com pais célebres quando eles estão por perto — respondeu Cheryl, feliz por ele ter tocado em um assunto tão delicado. — Nossas ilusões logo se vão. Paramos de notar pessoas como você como indivíduos. Pela minha experiência, todos tratam suas crianças da mesma forma em todos os casos — terminou ela, soltando uma farpa. — Oh? E suponho que você seja muito melhor que eles — provocou ele. — Essa é a razão pela qual empregam babás de primeira classe como eu — replicou Cheryl, mas lamentou sua afirmação de imediato. A expressão de Marco Rossi endureceu. Ela soube então que foi um erro tocar na ferida e falar sobre Vettor. Felizmente, eles estavam na porta da suíte de Marco antes de um ou outro poder reagir às palavras dela. Cheryl estava de pé ao lado da porta, o que foi uma boa desculpa para outra mudança de tom. — Irei buscar algumas toalhas e pijamas... Ele explodiu em uma risada. — Não preciso de pijamas! Não uso algo assim desde que deixei minha casa quando ainda era um adolescente! — Então o que... — Cheryl começou a perguntar e parou. O que mais Marco Rossi poderia usar para dormir, além daquele sorriso? Corando, ela olhou para baixo. Ele parou de rir no momento em que ela percebeu que havia cometido o erro de perguntar. — Só as toalhas serão o suficiente. Suas palavras tinham um tom divertido agora. O que deu a Cheryl a confiança de olhar para frente e continuar:

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Voltarei o mais rápido possível, embora precise olhar Vettor de tempos em tempos. Ele ficará muito feliz em saber que você está aqui, quando acordar melhor! — disse ela, esperando que aquela afirmação fosse mesmo verdade. — Quando virão os eletricistas? — Marco cruzou o quarto, já tirando a jaqueta encharcada. — Não me disseram a hora exata. — Então é melhor se concentrar em Vettor. Eu os receberei quando chegarem. — Mas você não dormiu nada! — Não se preocupe com isso. Um banho e algo para comer me manterão acordado por mais algum tempo. Cheryl olhou para ele, com um pouco de medo de ver o quanto mais ele podia tirar enquanto ela estava se preparando para deixar o quarto. — Espero que haja algo na cozinha para você comer. Tudo ficou desorganizado quando os empregados se foram, e com Vettor doente... Marco assentiu. — Estou contente por ter você aqui para cuidar dele, Cheryl listou agradecido. Suas excelentes referências não eram exageradas, não é mesmo? Você realmente é uma mulher extraordinária. Cheryl deu mais um passo, afastando-se dele. Mais um elogio. Só poderia significar problemas. Ela começou a se perguntar se talvez seus instintos estariam certos; que só um segundo feria separado a língua de Marco de ser sentida contra os lábios dela. Da próxima vez que estivessem juntos e a sós a resistência de Cheryl poderia se espatifar completamente. Ela não conseguiria evitar cair no feitiço dele outra vez. — E por isso que você paga tão bons salários para ter funcionários como eu — disse ela, enfatizando a divisão social que havia entre eles. - Pessoas que só oferecem migalhas têm os empregados que merecem. E agora realmente preciso ir procurar suas toalhas. A desculpa que ela conseguiu arranjar era tão fraca como seu poder de se controlar na frente dele. A única razão para ela fugir era a necessidade de escapar do tormento da presença de Marco.

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis

CAPÍTULO QUATRO

CHERYL SE acalmou bastante por algum tempo e se lembrou de onde estavam os armários de ventilação. Esperava que o tempo que passaria longe de Marco permitisse que sua mente clareasse. Quando estava perto dele, Marco preenchia seus sentidos e fazia com que ela derretesse. Enquanto estivesse longe de suas vistas, ela não teria a distração daquelas feições precisas e de seus movimentos sinuosos. Ela podia se concentrar e voltar a ser a Cheryl eficiente e segura de sempre. Voltando à suíte de Marco, sentiu que o ambiente estava silencioso. O único som era da água correndo, vindo do banheiro. O que Cheryl deveria ter feito seria andar direto para o quarto, deixar as toalhas e sair. Mas Marco estaria ocupado no banho enquanto ela pudesse ouvir a água cair. Isso lhe dava segurança; e a tentação de explorar os pertences dele era tão grande! Aquela suíte principal era uma das muitas alas de Villa Monteolio. O chefe de cozinha de Marco havia mostrado tudo a ela naquele dia, mais cedo. Era imensa, e Cheryl arriscou passar os olhos por tudo. Os quartos eram praticamente vazios, sem mobília, mas estavam cheios de perfumes doces. Todos os trabalhos em madeira eram pintados de branco e as paredes tinham tons pastéis, neutros. Ainda não havia cortinas penduradas nas janelas. O chefe de cozinha contou a ela que ainda estavam sendo feitas, em Milão. Um único quadro, de pintura abstrata, se achava acima da lareira. Cheryl observou que os artesãos e decoradores de Marco Rossi deviam saber o que estavam fazendo. O chuveiro ainda estava ligado. Ela andou um pouco mais pela suíte. Havia guardaroupas embutidos ao longo de uma parede inteira do quarto de Marco, e uma porta fora deixada aberta, dando a ela uma rápida ideia do espaço do quarto de dormir. Ela podia ver temos de todos os tecidos, de linho a lã, e dúzias de camisas. Olhando nervosa por sobre o ombro, deu mais alguns passos. Uma cômoda estava apoiado na parede de trás do enorme armário. As gavetas tinham sido retiradas enquanto ele procurava por algumas roupas. Foram deixadas abertas, como degraus. Virando o pescoço, Cheryl podia ver que as blusas estavam organizadas por tipo, estilo e cores. Era difícil não querer saber quanto tudo aquilo tinha custado. Os ricos certamente eram diferentes, ela pensou. E, então, percebeu que deveria sair dali. Alerta ao escutar que a água ainda caía no banheiro, ela andou para deixar as toalhas quentes que havia trazido. Poderia deixá-las na porta. Contanto que fosse rápida, sairia sem que ele percebesse. Mas no momento em que entrou, viu as roupas molhadas dele caídas em um monte. Os pensamentos dela começaram a trabalhar, e aqueles sentimentos estranhos passaram a atormentá-la outra vez. Ele tinha andado por ali, descalço e nu. 25


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Então ela observou a porta do banheiro. Estava entreaberta e ela podia ver uma parede refletida no espelho. Estava bem claro. Não havia nenhum vapor que a condensação de um banho quente teria causado. A ideia de que Marco havia tomado uma ducha fria atravessou suas veias como mercúrio. Ela pensou... Ousaria entrar um pouco mais no banheiro? Cheryl olhou para as toalhas que tinha colocado sobre uma prateleira perto da porta. Certamente elas deveriam ser postas sobre a grade de toalhas aquecidas ao lado da entrada do box. Então Marco poderia se secar com uma toalha morna ao sair do chuveiro. E se ela conseguisse ver parte do corpo dele... Bem, ela só estava fazendo seu trabalho. Era a desculpa perfeita. Por que o patrão deveria ficar andando todo molhado pelo quarto quando ela podia deixar tudo pronto, ao seu alcance? Ele provavelmente nem a notaria. Um impulso final empurrou Cheryl adiante. Deslizando pela porta entreaberta, ela entrou no banheiro. Seu coração batia mais forte a cada segundo. Outro metro mais ou menos e ela poderia olhar pelo canto, para o chuveiro. Sabia que deveria parar agora mesmo, se virar e correr. Mas isso acabaria com todas as suas esperanças de conseguir ver mais daquele homem, que tanto a encantava. Ela respirou fundo e deu um passo adiante. Ali ela parou transfigurada. Marco Rossi estava parado sob o jato de água. Ele olhava para o lado contrário de onde ela se achava, e nada podia disfarçar a perfeição do corpo dele. Era bronzeado e musculoso como uma estátua grega. Ela assistia encantada. Ele estava lavando a cabeça, com os dedos na espuma de xampu. A espuma percorria seus músculos. A pele dele era da cor do café, e o contraste com a espuma branca a deixava maravilhada. Ela não conseguia tirar os olhos de Marco, ainda mais quando ele passava as mãos pelo corpo, espalhando a espuma. Quanto mais adiante ele ia, mais se curvava, e ela conseguia ver todas as vértebras de suas costas. Marco brilhava sob a luz, com a pele lisa e perfeita, com apenas poucos pelos no corpo. Ela desceu os olhos pelas pernas dele. Todos os músculos eram definidos, seus tendões de Aquiles eram fortes em cada tornozelo. Enquanto ela assistia, ele erguia um dos pés, e usou o peito do pé para esfregar a batata da outra perna. Era um movimento normal, mas a aturdiu com sua intimidade. Marco levantou a cabeça para tirar o xampu que ainda tinha nos cabelos no fluxo de água que estava ao redor dele. Ela devia ter adivinhado que algo logo aconteceria, mas sua mente havia parado de trabalhar minutos antes. Além disso, não conseguiria se mexer agora, mesmo que quisesse. Quando ele saiu do chuveiro e se moveu para pegar a toalha que estava pendurada ao lado dele, Cheryl deveria ter virado pronta para sumir. Em vez disso, gelou com medo de que ele pudesse vê-la. Aquilo a assustou, quase tanto quando encontrar uma estranha olhando seu corpo nu pegou Marco de surpresa. Ele foi o primeiro a se recuperar. Puxando rapidamente uma das toalhas, a passou ao redor da cintura. Ela não era grande o bastante para que ele pudesse segurá-la bem, então precisou manter uma das mãos puxando uma das pontas. Molhado, ele começou a andar na direção de Cheryl. Cada movimento exibia a perfeição de seu corpo e sua total autoconfiança. 26


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Marco estendeu a mão. Sem palavras, Cheryl empurrou um roupão para ele. Trocando com destreza a toalha pelo roupão, Marco conseguiu cobrir mais o corpo. Ele estava sorrindo, e sacudiu a toalha menor atrás dela. Cheryl a pegou instintivamente. - Acho que você vai sentir que ainda está quente. - Ele riu. Apesar de todas as suas experiências ruins no passado e embora ele não estivesse usando nada além de uma toalha, Cheryl não se virou e correu. Um interruptor tinha sido ligado em um lugar bem fundo do corpo dela, e Cheryl estava pulsando com um tipo de desejo que sempre temeu. Até agora, sua única experiência com os homens tinha sido com Nick. Aqueles dias miseráveis não a haviam preparado para sentir algo assim. Era tão diferente de tudo o que já conhecera. Mas ele era um estranho e estava quase sem roupa. Ela devia estar bem longe agora, mas algo a fez ficar. A mente dela girou com a insanidade daquela situação, mas seu corpo sabia exatamente o que estava fazendo. Ela se controlou. Pulsando de desejo, era impossível esconder; Cheryl deu um passo na direção dele. O chão estava molhado; seus sapatos não eram preparados para isso. Ela escorregou, mas, antes que um suspiro saísse de seus lábios, ele passou as mãos ao redor do corpo dela, apoiando-a antes que pudesse cair. Por um segundo ela se agarrou a ele, dividida entre alívio e medo. Ele a salvava uma segunda vez. Qual seria o preço? A boca de Cheryl estava seca. Ela tentou umedecer os lábios passando a língua. Ele viu, e sua boca se curvou em um sorriso lento, satisfeito. — Esse é o poder do pensamento positivo. Eu quis você, e você está aqui. Sou um homem que sempre consegue o que quer. Encurralada, ela olhou para ele, pálida e tensa. Pela segunda vez naquela noite ela estava aberta ao perigo. Sons da tempestade ainda ecoavam lá fora, mas eles estavam surdos ali no banheiro. Cheryl e Marco olharam um para o outro em silêncio. Gradualmente Cheryl viu os olhos dele esfriando ao tentar entender a situação. Ela fazia o melhor que podia para salvar um fragmento de dignidade. — Eu... Eu trouxe as toalhas para você. Não sabia que estaria... — Os olhos dela percorriam seu tórax nu. — Você não pensou que eu estaria usando as minhas roupas aqui, não é? Meu terno já ficou encharcado uma vez hoje. Ele estava a ponto de rir, mas algo o fez parar. Cada pensamento sensato na cabeça dele dizia que Cheryl devia ter cometido um erro primário, tropeçando ali. Ele não deveria dar importância àquilo, e sim se virar e sair do banheiro. Mas bom senso era uma coisa. Sentimento era outra. Parecia tão certo que ela deveria vir para ele assim. Desejos primitivos estavam muito relacionados à Villa Monteolio. Príncipes e aristocratas haviam vivido e amado naquela casa. Ele era um homem melhor que todos eles juntos. Por que não deveria provar os doces lábios dela? Em um único olhar ele podia senti-la agora com um desejo feroz que estava ameaçando acabar com seus princípios. Mas a expressão no rosto dela o impedia. Marco admirava sua natureza forte quando ela acariciava Vettor. Se ele pusesse um dedo nela 27


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis agora, Cheryl poderia voar sobre ele. Marco gostava um pouco de jogar esse jogo, mas estupro e força não faziam seu estilo. — Acho que seria melhor que você me deixasse ir, Marco. A voz dela era fraca e instável. Com pesar, Marco a soltou. Ele não a deixou ir de imediato, mas permitiu que suas mãos passassem pelo fino algodão de sua blusa. Aquele banho frio não havia combatido a excitação que ela provocava nele. A pressão do corpo dela contra o seu estava despertando todo o corpo de Marco outra vez. — Eu não esperava ser espiando enquanto tomava banho — disse ele. — Por que você veio até aqui se não queria ser recebida por mim? — Eu só estava trazendo suas toalhas. Cheryl tinha uma resposta para tudo, até então. Em pé, rosa de vergonha ao ser surpreendida, fez Marco sorrir. Ela não precisava balançar aqueles cabelos de forma tão desafiadora. A linha entre os dois tinha sido quebrada. Pelo menos por enquanto... — Você não precisava ter tanto trabalho, Cheryl. Qualquer coisa é um luxo depois de um banho frio! — Pensei que seria um pouco de conforto depois de sua viagem pela região. Ele sorriu. — Você não acha que tenho conforto suficiente, com tudo isto? — Ele indicou para o banheiro luxuoso da suíte. Ela assentiu, mas não conseguiu se mover. A visão do corpo dele bronzeado, só envolto na toalha, excitava-a. Em um movimento, ele esbarrou nela. Abrindo a porta do banheiro, Marco andou para trás depressa para deixá-la passar, e Cheryl estava muito atenta à chama que se acendia entre os dois. Ela saiu, e sentia seu corpo todo tremer. Cada centímetro de sua pele estava vivo. Cheryl podia quase sentir o olhar dele viajando pela parte de trás de sua blusa. Apesar da delicadeza do algodão, ela sentiu muito calor de repente. Como seria sentir as mãos dele percorrerem seu corpo, tirando sua blusa e seu sutiã, que estava apertado sobre os mamilos? Então aquelas mãos dele podiam viajar mais para baixo, deslizando entre a calça jeans dela e... — V-você tem tudo o que precisa? Desesperada para bloquear a imagem de sua mente, ela bateu no banco em que Marco tinha colocado algumas roupas dobradas. Abaixando-se em direção a elas, não precisava olhar para ele... Até o momento em que ele passou outra vez em seu campo de visão para ver o que ela estava fazendo. No caminho, Marco pegou uma das outras toalhas que ela havia trazido. Ao usá-la nos ombros e no peito, ele seguiu os movimentos nervosos dela com interesse. — Obrigado, mas você não precisava dobrar aquela camisa com tanto cuidado. Eu vou usá-la agora. 28


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Ele estendeu a mão para ela. A palma da sua mão clara fazia um contraste delicioso com o resto do corpo dele, dourado. Os olhos dela estavam fixos no antebraço dele e sobre seu bíceps antes de chegar ao tórax. Você não pode olhar assim! Uma voz de advertência soou na cabeça dela, mas Cheryl a ignorou. Oh, sim, eu posso e vou olhar! A rebeldia dela respondeu. — Você está progredindo! — O tom de voz dele era baixo. — Posso ver que sua mente não está presa ao trabalho o tempo todo. Havia um deleite nos olhos dele. Cheryl estava morta de vergonha. Todos os nervos dela pareciam tensos. Ela empurrou a camisa para ele, sem fazer contato visual. — Eu... Eu preciso voltar a olhar Vettor. Vou deixar você em paz para terminar de se vestir, Marco. Paz era a última coisa na mente dela. Seus pensamentos estariam completamente preenchidos com imagens dele, até que voltassem a se encontrar. — Tudo bem. — Ele olhava para ela com cuidado. — Mas precisamos comer algo. E melhor você me encontrar na cozinha. Ela estava desdobrando uma bermuda. — É claro — disse Cheryl depressa, saindo do quarto antes que ele pudesse desenrolar a toalha. Cheryl verificou se Vettor ainda estava dormindo e, então, tomou um banho rápido no quarto dela. Havia uma maneira certa de reformar a barreira que havia entre ela e irresistível o signor Rossi, que era seu uniforme oficial de empregada inteligente. Qualquer pessoa exigente iria querer que suas crianças fossem cuidadas por uma graduada na academia. Era uma forma de exibir seu sucesso. E se Marco era como outras pessoas ricas com as quais ela trabalhou, ele daria mais valor ao prestígio dele do que a ela. Agarrou o uniforme de verão cor de lavanda, de mangas longas, que ficava na altura dos joelhos, como se fosse um colete salva-vidas. Escovando seus cabelos para trás do rosto, prendeu-os. Acrescentou um crachá com seu nome, completando o efeito engomado do tecido. Nenhum lobo olhará duas vezes para mim enquanto eu estiver vestida assim — principalmente com meias-calças grossas e pretas e sapatos sem salto, ela pensou, endireitando o cinto. Quando Cheryl desceu para procurar Marco na cozinha, notou que o dia estava quase amanhecendo. Bom. Aquilo significava o início oficial de outro dia de trabalho. Combinado com o uniforme eficiente, isso deixaria a mente dela longe das ilusões pelo signor Rossi. Pelo menos, era o que ela esperava. Mas um pensamento terrível começava a se formar na mente dela. E se Marco esperasse que ela preparasse o café da manhã para ele? Essa era a primeira viagem dela fora da Inglaterra. Não fazia a menor ideia do que os italianos costumavam comer. Cheryl estava envolta em seus pensamentos enquanto caminhava pela ampla sala de jantar da casa. Então ela parou e sentiu o cheiro. O aroma inconfundível e irresistível de 29


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis bacon frito que vinha da cozinha. Fora da porta estava um pequeno monte escuro. Quando ela chegou mais perto, percebeu que eram as roupas molhadas de Marco. Recolhendo tudo nos braços, ela empurrou o corpo contra as portas de vaivém e entrou no cômodo ao lado. As cozinhas de Villa Monteolio foram um choque para Cheryl quando ela foi apresentada àquelas dependências. A comida claramente era mais importante para Marco Rossi do que o exterior da casa. Vários cômodos foram reformados nos padrões das estrelas do Guia Michelin. Cada superfície era lisa e brilhante, cada item da comida era catalogado e codificado por cores, desde a área de entrega até a mesa de apresentação dos pratos. Naquela manhã, Marco ficou sozinho em suas cozinhas perfeitamente organizadas. Ele usava uma faca de peixe para cutucar o que estava na frigideira de tamanho industrial. Quando ela entrou, ele fez um aceno com a cabeça. — Isto é uma total transformação, Cheryl... — começou ele. Então seu rosto endureceu quando viu o que ela estava carregando. — Eu ia fazer isso. O chef não iria quer que você trouxesse essas roupas molhadas para cá. Cheryl se sentiu desarmada. — E verdade. Vou levá-las de volta à lavanderia. Eu teria me programado para descer a tempo de preparar seu café da manhã se soubesse o que você gostaria de comer. — Não se preocupe com isso. Eu a contratei como a babá de Vettor, não como vidente. Ao voltar, após deixar as roupas dele na lavanderia, Cheryl encontrou Marco enchendo um prato com comida. A rica mistura de bacon, linguiças, ovos e cogumelos compunha um café da manhã bem inglês. Eu podia ter cozinhado para ele, pensou, embora não pudesse ter imaginado que alguém comeria uma quantidade tão grande de comida. Marco preparou bem mais do que poderia caber em um prato. Apoiando a panela sob o aparador mais próximo, com lâmpadas que a mantinham quente, ele levou o prato para a mesa da cozinha. Em seguida, voltou para preparar uma versão bem menor de seu próprio desjejum para oferecer a ela. Cheryl não conseguiu esconder a surpresa. — Oh, mas eu nunca como muito há esta hora! — Posso imaginar. — Ele balançou o prato devagar. — Vá em frente, fará bem a você. Não havia razão para discordar. Ela pegou o prato, enquanto Marco lavava a superfície de trabalho e ajustava as lâmpadas. Ele parecia perfeito em casa, o que era outra surpresa.

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Foi bom que tenha descido primeiro, Marco. Eu não fazia ideia de como alimentar um homem italiano e sofisticado — disse ela lentamente, ainda o observando colocar o prato na mesa e tirar os talheres de uma gaveta. — Estou voltando às raízes. Ele equilibrou pedaços de peixe na extremidade de uma panela e foi até a ala dos empregados. Lá, apanhou uma grande chaleira marrom e despejou duas canecas de chá. Jogando duas colheres enormes de chá de açúcar em uma caneca, mexeu com um redemoinho de água. Cheryl se apressou em salvar a segunda xícara antes que ele pudesse adoçá-la também. Abrindo uma das geladeiras, ela pegou leite e adicionou um pouco à sua bebida. Ao passar pelo recipiente que estava na frente dele, ela percebeu que precisaria colocar muito mais leite para fazer sua bebida ficar possível de se beber. Estava tão forte que parecia chocolate amargo. Ela se sentou à mesa com sua caneca de chá com leite, e Marco assistia ao que ela fazia, saboreando seu prato. — Parece engraçado que as cozinhas da Villa tenham sido renovadas quando o telhado ainda está em um estado tão terrível disse ela, procurando por uma desculpa por ter demorado ao passar por ele. — Só uma inglesa poderia pensar na estética da casa antes de pensar em cozinhar. Apesar das palavras, Marco não soava desdenhoso. Enquanto Cheryl se perguntava como deveria responder àquela observação, ele olhou para ela depressa. — Não se preocupe. O telhado foi reforçado pelo interior. Estão sendo feitos azulejos para substituir os originais. Quando estiverem prontos, este lugar velho parecerá bonito outra vez, dentro de alguns dias. — Ah... Então foi por isso que você pôde arriscar instalar aquela escadaria nova! Ele tomou mais um pouco de chá, enquanto a assistia beber lentamente sua bebida. Seus olhos azuis estavam claros. — O que você acha? Gosta dela? — E bonita. Estou impressionada por ainda existirem artesãos com tanta habilidade. A resposta dela claramente o agradou. — Fui eu mesmo quem fez. Cheryl não sabia se devia acreditar. Marco Rossi devia ser impaciente e malhumorado. Ela não entendia nada sobre carpintaria, mas a escadaria larga e lisa no corredor principal era uma obra de arte. Devia ter requerido paciência e verdadeiro olho para detalhes. Ela voltou a tomar o café da manhã e, por algum tempo, comeram em silêncio. De seu lugar à mesa, Cheryl manteve um discreto olhar para ele sob suas pestanas. 31


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Não pude deixar de notar que sua suíte não havia sido arejada, Marco. Estarei no quarto com Vettor por alguns instantes, então pode me chamar se for preciso... — Estou impressionado! — Ele é minha responsabilidade, mas não foi por essa razão que mencionei isso — disse ela, concentrada em cortar seus ovos fritos. — Quando não recebi resposta às minhas mensagens, seus empregados pensaram que você demoraria a voltar aqui. Não pensaram em ligar o aquecedor de sua suíte. Por que não usa meu quarto para descansar por algumas horas? Minha suíte é pequena, mas será muito mais confortável que a sua neste momento. Até que a energia elétrica fosse cortada, meu aquecedor esteve funcionando. Ele parou de comer. Depois de uma pausa, ele bebeu mais um pouco do chá e se virou com aquele olhar azul. Antes que ela pudesse desviar o olhar, ele mordeu o lábio inferior e balançou a cabeça. — Isso é tão tentador — disse ele, pensativo. — Mas este lugar não é sua responsabilidade. É minha. E o quanto antes eu puder conseguir que algo seja feito sobre o fornecimento de energia, melhor. A empresa de eletricidade disse que enviarão alguém o mais rápido possível. Por isso eu pensei que você fosse... — Cheryl parou e corou, ao se lembrar do que tinha acontecido quando ela abriu a porta para ele. — Embora não tenham dito quando seria. — Vou telefonar para eles outra vez. Será melhor, pois entendo alguma coisa sobre problemas técnicos. — Terminando de tomar seu café da manhã, Marco passou um pedaço de pão ao redor do prato. Cheryl não conhecia ninguém além de seu pai que fizesse aquilo. Todos os estudantes da academia tinham medo de ficar com colesterol elevado. Deixariam mais comida do que teriam colocado no prato. Marco Rossi era bem diferente deles. E em mais aspectos do que esse, ela pensou com excitação. — Os outros empregados dizem que Vettor come como um passarinho. Espero que eu possa fazer com que o apetite dele seja como o do tio. — Não ouse fazer isso! Vettor vai ser um acadêmico. Embora satisfeita ao olhar o prato dele vazio, Cheryl não deixou Marco vê-la erguer as sobrancelhas quando ele pronunciou aquelas palavras. — Para usar o cérebro não é preciso tanto combustível quanto um trabalhador braçal. — Ele se levantou de forma brusca e derrubou os talheres. Depois de outro relance interrogativo às mãos dele, ela lhe passou o telefone. — Agora, me dê o número da empresa de energia. Quero colocar as mãos naquela árvore. Se eles não souberem o que estão fazendo e se eu não estiver lá para ver, não vão derrubar aquela tília. Devia fazer isso e também poderão cortá-la para lenha e empilhar. — Ele parecia irritado.

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Você chegou aqui na escuridão! — Cheryl disse incrédula. — Não sabe como aquela árvore é bonita? Pode não querer que ela continue ali até vê-la à luz do dia. — E uma tília — comentou ele. — Claro que é bonita. Os olhos dele estavam sem brilho agora. Foi à expressão que deu a Cheryl a coragem para tentai manter sua mente em coisas práticas. — Tem certeza? — ela se aventurou a perguntar. Ele assentiu com a cabeça. — Sei tudo sobre madeira. Trabalho com construção. Pelo menos, trabalhava. — Ele fez uma careta. — É assim que um menino pobre do lado errado de Florença cresce do nada e consegue empregar uma babá como você para seu sobrinho. Cheryl pensou na escadaria que estava no corredor principal. Marco disse que havia sido ele mesmo quem a fizera. Talvez tivesse dito a verdade. Não havia dúvidas sobre como seu rosto se iluminava com o prazer que ele sentia ao falar sobre sua especialidade. Fazia diferença. Na maior parte do tempo, parecia que seu sucesso não trazia muitos motivos para ele sorrir. — Você fez soar como se tivesse alguns arrependimentos, Marco. Por quê? Tem tudo o que um homem poderia querer, e deve ter deixado os trabalhos manuais há muito tempo. Marco virou a cabeça devagar e olhou para ela. Havia um olhar franco nos olhos dele. — Cheryl, você foi à primeira mulher que teve sensibilidade para perceber isso! — Parece uma conclusão óbvia. Qualquer um que pode comprar... — Ela pensou em fazer referência ao dinheiro e se corrigiu: — Qualquer um que tenha tanto sucesso quanto você deve passar todo o tempo no escritório. Meu patrão anterior não se ocupava com nada além de relacionamentos e reuniões. — Esta é uma reclamação que todas as minhas mulheres fazem — disse Marco. — Mas não há mais espaço na minha vida para complicações assim. Você ficará segura comigo, Cheryl. Ele voltou a sorrir. Por enquanto, só tenho espaço para uma coisa na vida, que é o trabalho. Então os funcionários dele tinham razão, Cheryl pensou. Eu deveria ter imaginado. E por isso que esta é a primeira vez que você visita o pequeno Vettor desde que ele chegou à Villa. O trabalho absorve sua vida, e a família é deixada de lado. — Telefonarei para a empresa de eletricidade. — Ele se levantou concentrado no painel do celular. Cheryl se sentou para aguardar, esperando que ele fosse passado de uma pessoa para outra, como aconteceu com ela. Mas ficou chocada. Marco tinha razão. Não 33


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis brincaram com ele. Depois de algumas palavras bem escolhidas, ele devolveu o telefone para ela com um sorriso. — Os eletricistas estão a caminho. Vou me aprontar para recebê-los. — Não, você deve estar quebrado. Vettor não vai querer vê-lo tão cansado quanto ele. Por que não dorme um pouco antes de ele acordar? Posso receber os eletricistas, se você me disser onde eles devem colocar a árvore. Ele jogou a cabeça para o lado e olhou para ela. — Você tem alguma experiência com homens que estão fazendo hora extra por causa do mau tempo, Cheryl? A música deliciosa do sotaque dele quando dizia o nome dela a excitava até mesmo quando ele estava tentando tirá-la daquela situação. — Não, mas... Os olhos dele ficaram cinza. O esgotamento o estava alcançando, mas ele ainda assim sorriu. — Então pode deixar que cuidarei de tudo. Falarei a língua deles; o que não significa só falar em italiano. Ainda se vangloriando pelos elogios que recebeu mais cedo, Cheryl estaria pronta para discutir. Mas quando Marco disse aquilo, ela percebeu que ele tinha razão. A última coisa que queria era fazer confusão com um bando de homens estranhos. Era por isso que ela era uma babá: fazia com que ela ficasse à margem da vida pública, fora do palco central. Era onde ela gostava de ficar. Mas Marco esperava que ela fosse inestimável, a chamou de forte e capaz, e queria provar para ele como podia ser boa. Ela se lembrou de quando tarefas simples como dirigir ou mexer em um DVD tinham sido tiradas das mãos dela, porque Nick dissera que ela deveria deixar “coisas complicadas” com ele. Quando deixava Cheryl visitar o apartamento dele, ela podia limpálo e fazer todas as tarefas. Então ela descobriu que tinha esfregado os colarinhos e punhos das camisas dele para o benefício de outra mulher. Naquele dia Cheryl se defendeu pela primeira vez na vida e deu um basta, nunca mais. Ela tomou uma decisão sobre o que faria ou não e ainda se lembrava de como se sentiu bem. Agora ela podia sentir outra vez. Não precisaria se expor a uma audiência se não quisesse, e Marco era a oportunidade perfeita. — Está certo; se você tem mais prática, faz sentido — disse ela, tentando esconder seu alívio. — Faz sim, e estarei logo atrás deles, para acompanhar tudo o que estiverem fazendo. Madeira como aquela é um artigo valioso. Cheryl estava pasma. Ao contrário de outras pessoas ricas para as quais ela havia trabalhado, Marco ainda parecia se preocupar com o custo das coisas. — Oh... Eu não sabia! Que bom, eu teria pedido que eles a levassem como lixo! 34


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Trabalhar no mundo real logo ensina que é possível fazer um bom dinheiro com artigos improváveis. — Ele sorriu. — Então, eu cuidarei dos eletricistas. Mas se você quiser pode vir e olhar como negociarei com eles. Pode aprender alguma coisa. — Eu vou. — Ela assentiu, e ele sorriu. — Você parece muito seguro! Ela empilhou a louça do café da manhã e estava pronta para carregá-la para a máquina de lavar. Posso não conhecê-lo há muito tempo, Marco, mas vi o bastante para perceber que você gosta de negociar. Ele riu. — Isso é bom. E agora acho que é melhor nos aprontarmos para recebê-los. Se eu ficar nesta cozinha por muito tempo, posso ficar tentado a ir para sua cama. O silêncio caiu entre eles, e uma rajada de vento passou ao redor da casa. Ela levantou a cabeça e percebeu que estava olhando diretamente para os olhos de Marco. De repente a mão dele estava lá, sobre a dela. Marco apertou de leve os dedos dela, tentando fazer com que ela se sentisse em segurança. — Está tudo bem, Cheryl. Acho que não haverá mais trovões agora. A voz dele era suave e a tranquilizava. Ela gelou, sabendo que deveria se afastar dele e quebrar aquele contato. Aquilo falava com seus desejos mais íntimos, e significava perigo. A mulher dentro dela sussurrava que aquele era o momento. Tudo o que devia fazer era relaxar e deixar Marco carregá-la para uma nuvem de prazer. Toda a tentação estava lá, nos olhos dele. Respirou fundo. Sua mente e seu corpo estavam cheios da fantasia de se deitarem nus sob um dos limoeiros da Villa sob um céu tão azul quanto os olhos dele... Marco se moveu ao redor da mesa. Em nenhum momento ele largou a mão dela até chegar ao seu lado. Com um último apertão, deixou a mão de Cheryl cair e tocou em seu ombro. — Olhe o horário, nossas visitas chegarão logo. — A voz dele era macia. — Acho que é melhor você ir buscar seu casaco, Cheryl. Eu a encontrarei no corredor.

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CAPÍTULO CINCO

CHERYL ESTAVA em chamas. Aquele contato com a mão de Marco fora o bastante para que sua temperatura se elevasse. A situação não poderia continuar. Ao voltar para o quarto, o frio que entrava pela porta da frente a golpeou como gelo. A expressão de Marco também ganhou nova expressão com o frio. Ele estava conversando com um grupo de trabalhadores no degrau da porta, quando o som dos passos dela o fez olhar para dentro da casa. Ela precisou tomar coragem para ficar de pé em frente ao grupo. Mas, pelo menos, Marco cuidaria deles. Ela desceu os últimos degraus e cada passo a levava para longe da segurança do próprio quarto, para a confusão que acontecia no hall. A suíte dela estava vazia, quieta e tranquila. A entrada da casa, barulhenta e cheia de movimento. Cada trabalhador olhou para ela, o que a fez se encolher. — Cheryl? Venha aqui. A voz de Marco dissolveu seu medo. Ele apontava para um espaço entre ele e as portas principais. Ela fugiu para se aproximar dele, feliz de ter alguma proteção de todos aqueles olhares interessados. Nenhum dos trabalhadores ousaria olhar para ela enquanto estivesse sob a proteção pessoal de Marco. — Olha, está amanhecendo. Os eletricistas farão tudo com segurança, então sairemos e daremos uma olhada no meu prêmio. Ele a seguiu fora da casa. Cheryl conseguiu relaxar no momento em que sentiu o vento passando pelo seu rosto. Assim, podia esquecer a casa cheia de homens. Levando as mãos aos bolsos do casaco, ela ficou ao lado de Marco ao inspecionarem a árvore caída a uma distância segura. A tília devia ter pelo menos vinte metros de altura quando ainda estava de pé. Agora aquele gigante parecia triste e abatido. Suas raízes causaram um grande buraco no chão, que agora parecia uma cova vazia. — Isso é ruim — disse Marco. — Ainda assim, a perda da natureza é o meu ganho. Um rápido telefonema e essa velha avenida de árvores já não parecerá mais tão diferente. — Você não pode comprar nada daquele tamanho! — Cheryl riu, tentando entender. — Eu posso, só preciso de dinheiro. E um exército de jardineiros para manter a nova árvore regada e segura até estar bem estabilizada. Não era a primeira vez que Cheryl se lembrava do que os funcionários de Monteolio haviam dito sobre o patrão. Alguém que esbanjasse tanto dinheiro com uma árvore 36


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis poderia ser chamado de mau? Então ela pensou em Vettor, o pobre menininho que havia perdido os pais e agora vivia na Villa Monteolio. Claramente Marco não assumiria o papel de pai em tempo integral e se preocupava mais com seu trabalho do que em passar algum tempo com a criança. Se Marco coloca suas posses antes das pessoas, ele deve ter um coração de pedra. Eles assistiram quando os trabalhadores contratados chegaram para remover a grande árvore. Cheryl se levantou em silêncio quando Marco deu as ordens. Uma ou duas vezes ele ergueu a mão. Ela percebeu que ele chamava cada trabalhador pelo nome. Sem perder nenhum detalhe, ela também viu o respeito que isso conferia a ele. Graças a Marco, o trabalho foi concluído com o máximo de eficiência e o mínimo de desordem. Depois, quando os trabalhadores estavam prontos para ir embora, uma grande Mercedes preta passou pelos portões de Villa Monteolio. Era tão grande e impressionante que todos, exceto Marco, pararam para olhar. Ele estava muito ocupado observando a qualidade e quantidade de madeira que havia ganhado com a tempestade. Quando o carro parou, ele olhou. Depois de trocar algumas palavras com o motorista, ele pegou uma pasta, um porta terno e uma bolsa de couro. Quando o carro se foi, ele sorriu para Cheryl. — Você poderia me fazer um favor? Não quero colocar nada disso nesse chão molhado, mas esses homens merecem uma boa gorjeta. Tenho dinheiro no bolso do temo. Você poderia pegar e dar a eles? Ela baixou o zíper do porta terno o bastante para ver uma etiqueta Armani. A mesma fragrância de loção pós-barba que estava ao redor de Marco também estava no tecido, atormentando-a. Quando seus dedos fizeram contato com o bolo de dinheiro, ela puxou. Hesitante, ela começou a contar as notas de dez euros. — Quanto devo dar a eles? — Entregue todo o pacote a Berni. Ele é quem está logo atrás de você e fará a divisão. — O quê? Tudo isso? Mas deve ter pelo menos cem euros aqui! Marco deu de ombros. — E então? Pode entregar. Quanto tempo uma nota pode durar em um pub inglês com todos eles juntos? Marco disse algo em italiano para que todos os trabalhadores se virassem para ele. Todos olharam para Cheryl e sorriram. Ela entregou o dinheiro aos homens e voltou a se encolher atrás de Marco. De alguma maneira o tom dele sempre a fazia se sentir mais à vontade. — O que você disse a eles, Marco? — perguntou ela, assim que os trabalhadores entraram em seus carros. Ele se esforçou para lembrar.

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Era só uma conversa entre construtores. Que graça ou que cuidado. Algo assim — disse Marco. — Eles riram, porque estão mais acostumados a receber gorjetas pagas com bebidas, ou mesmo a não receber nada. Cheryl ainda não estava tranquila. — Gostaria que tivesse dito para que não gastassem tudo de uma vez. A maneira como ele tinha entregado toda aquela quantia de dinheiro ainda causava calafrios em sua espinha. — Você não gosta daqui, não é, Cheryl? A pergunta foi repentina. Em vez de olhar para ela ao falar, ele olhava os furgões dos trabalhadores partirem. Cheryl estava horrorizada. — Eu gosto! O que o faz pensar que não? — Você não se sente confortável. Posso perceber, — Isso não tem nada a ver com Villa Monteolio. — Ou com você, ela acrescentou em silêncio. Marco começou a olhar para trás da casa. — Então nem o clima terrível nem o estado deste lugar a incomodam ainda? — Ninguém pode fazer nada a respeito do clima. — Nem mesmo você, pensou. Esse homem tinha a autoconfiança que ela sonhava ter. — E seus empregados me contaram que você não é dono deste lugar há muito tempo, então isso explica muitas coisas. Ele parou. — O que mais meus funcionários contam a você sobre mim? Houve uma pausa. — Nada — mentiu Cheryl. Sabia o quanto era doloroso falar pelas costas de alguém. A tensão deixou o rosto dele, e Marco sorriu. — Vamos ver se você pode responder com mais espontaneidade a minha próxima pergunta. Ele subiu alguns degraus e depois olhou para trás. — Tomei uma decisão — anunciou ele, ao empurrar a porta da frente da casa para entrar. — Algo que você vai amar, se tiver bom senso. E sinto que isso você tem bastante, Cheryl. Algo sobre a forma como ele disse aquilo a fez acreditar nele. — Vá em frente. 38


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Quanto tempo levará para meu sobrinho estar bem o bastante para viajar? — É difícil dizer. A infecção demora um pouco para passar e ele certamente ainda ficará um pouco cansado depois. Por quê? — Tenho uma proposta para você. Não me olhe assim, não vai doer! Tudo o que preciso saber é Se você acha que ele gostaria de passar um tempo na praia. — Tenho certeza de que ele vai gostar; qualquer criança gostaria. — Isso é bom. Não é natural que uma criança passe a vida trancada dentro de casa. Ele tem muito espaço aqui, mas o mar... As crianças adoram, não é? — E mesmo — disse Cheryl depressa, mas então fez uma careta. — Mesmo assim, com o outono chegando, você precisará ter cuidado para ele não pegar um resfriado. — Isso não tem como acontecer onde o levarei. E você, é claro — acrescentou ele. — Comprei há pouco tempo uma ilha tropical, algumas milhas longe de qualquer lugar. Preciso de algum lugar para relaxar e para ser eu mesmo. Um menininho de três anos será o hóspede perfeito. Ele pode ver que a temperatura da água do mar estará quente o bastante para nadar e poderá explorar a região. Vai ser bom para ele, não vai? Cheryl não respondeu. Os funcionários haviam dito a ela que Vettor era um menino sensível, mesmo quando estava bem. Não parecia o tipo de criança que iria nadar e explorar o lugar. — Você acha que o sol e o ar puro farão bem para ele, Cheryl? — persistiu ele. — Sim, mas... Marco mal ouviu o tom de dúvida na voz dela. Já estava dentro da casa. — Então está tudo acertado. Iremos assim que você achar que ele está bem o bastante — a voz dele ecoou. Tudo o que Cheryl podia fazer era concordar. Marco pensaria que era porque ela conhecia o lugar dela. A verdade era que ele linha roubado todas as palavras dela. A única coisa que passava pela cabeça de Cheryl era a imagem dele provando coquetéis na varanda em um lugar exótico. A imagem esquentou seus sentidos. Um paraíso tropical certamente era o habitat natural de Marco. E aquela ideia a deixava sem fala. Não importava. Marco estava tão acostumado a tomar a iniciativa que achava que estava sendo muito rápido para eles dois. — Não se preocupe. Organizarei tudo. — Ele deixou a mala numa velha cadeira de carvalho ao lado da grande lareira no corredor de entrada. — Assim que o pequeno estiver bem o bastante, vou levá-lo para minha ilha, a Orchid Isle. As únicas pessoas lá além de nós serão meus sócios da mais alta confiança. Não fique tão chocada! — Sorriu, verificando os bolsos à procura das chaves, antes de subir as escadas. — Gosto de ter privacidade. É por isso que controlo o número de visitantes. Comprar meu próprio pedacinho do céu indica que as únicas fotos que circularão sobre o lugar serão as que eu mesmo aprovar. Se é que conseguirei tirar uns dias de folga.

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Houve uma inflexão estranha na voz dele, mas Cheryl não notou. Os olhos dela estavam arregalados. — Você comprou uma ilha inteira? Só para escapar dos fotógrafos? Com um sorriso, ele assumiu que estava cansado desse mundo. — Todos deveriam ter uma rota de fuga. Orchid Isle é a minha. E fácil ver que você nunca foi engolida por fotógrafos, Cheryl! — Fica muito distante? — Não se preocupe. Você não precisará ir a pé. Apesar de ver que você teria os sapatos certos para isso. — Ele olhou para baixo, verificou os sapatos de Cheryl e apertou os lábios. — Eles serão ótimos para andar sobre as pedras, mas você precisará de algo para dançar se eu decidir dar uma festa. — Qual é o tamanho da sua ilha? — Tem só cerca de duzentos hectares. Mas quando estou com tempo, às vezes convido alguns amigos para viajar comigo. — Ele sorria para si mesmo, mas parou quando viu o olhar dela. — Cheryl, qual é o problema? — Não é nada... E só muita informação; uma ilha tropical cheia das pessoas mais bonitas do mundo... — Mas em seu tipo de trabalho você deve estar acostumada a conviver e fazer amizade com os ricos e famosos. — Ele olhou para ela com curiosidade. — Deus do céu, não! Eu só trabalho para eles! Ele ergueu as sobrancelhas. — Pensei que suas últimas atividades teriam incluído levar crianças a jantares com seus pais e convidados todas as noites. Você está dizendo que os filhos de pessoas ricas não são habitualmente incluídos em sua rotina diária? — Em minha experiência, aqueles que empregam babás não esperam ser aborrecidas por seus filhos. Ele deu um assobio. — Então você precisará se acostumar com algumas mudanças, Cheryl. Tudo o que eu tenho será um dia do meu sobrinho. E quanto antes ele aprender a apreciar isso, melhor. Quero que ele jante comigo todas as noites, sob sua supervisão. Aquilo realmente atraiu a atenção de Cheryl, mas ela ainda estava apreensiva. — E as noites em que você estiver festejando? — Isso não acontece com frequência. Quero que Orchid Isle seja um lugar onde eu não precise ser sociável. Se eu decidir convidar alguns amigos para uns drinques, precisarei que você os apresente ao pequeno e mostre a ele como se comportar bem na companhia dos demais. Não precisa ficar nervosa, Cheryl. Vejo como uma oportunidade para você experimentar esse alto padrão de vida. 40


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Oh, esse não é mesmo o meu estilo. — Ela riu. — Agradeço aos deuses por toda a atenção estar direcionada a Vettor! Marco sorriu. Mas a expressão em seus frios olhos azuis não era nada bemhumorada. MARCO Rossi rapidamente destruiu todas as ideias que Cheryl fazia sobre ele. Tudo o que ela lera ou ouvira a tinha convencido de que essa seria uma visita de passagem pela Villa Monteolio. Ela estava certa de que Marco queria voltar logo para o esplendor e o fascínio de sua carreira. Em vez disso, ele fez com que o trabalho viesse a ele. Construtores trabalharam contra o relógio para preparar um escritório em um dos muitos quartos vazios da casa que em 24 horas estava completo, com assistentes pessoais e consultores com semblante severo. Cheryl estava curiosa, mas se manteve afastada daquela parte da casa. Ela não conseguia pensar na razão pela qual Marco montaria um escritório na Villa. Cheryl escutara que ele não queria a vida do dia a dia da casa a distraí-lo. Esse home Office juntou os dois lados de sua vida. Durante os dias que se seguiram, Vettor se sentia melhor a cada minuto. Para o alívio de Cheryl, o chefe de cozinha de Marco estava interessado em escutar as ideias dela para a dieta do menino, e juntos eles inventavam pratos para agradá-lo. Levou muito tempo para convencerem Vettor a provar a canja de galinha, mas assim que ele deu o primeiro passo, adorou. Com o passar das semanas ele ganhou peso e alguma cor nas bochechas. Conforme o pedido, a cada noite Cheryl e Vettor acompanhavam Marco no jantar. Esse era o costume italiano, como ele disse a ela. As crianças precisam aprender a fazer parte do círculo familiar. Cheryl gostaria de saber por que ele se importava tanto com aquilo. Não havia muito que dizer, e Marco nunca revelava coisa alguma sobre o trabalho. Com tantos estranhos andando pela casa, Cheryl se sentia segura fechada na ala do berçário com Vettor quando não estavam jantando com Marco. Embora isso significasse que ela não tinha ninguém além do menino para conversar, por horas a fio. O fim do verão foi acompanhado por dias quentes. Estava abafado na suíte do berçário, principalmente quando Cheryl precisava fechar as janelas para não escutar o barulho dos pedreiros. Por fim, chegou o dia em que ela precisou tomar uma atitude e dizer algo. Andando depressa até o escritório de Marco, ela bateu na porta. Uma de suas assistentes pessoais respondeu com uma neblina de perfume. Cheryl deu um passo para trás. A assistente pessoal sorria de forma doce e avisou que Marco estava em uma estação de trabalho. Cheryl não fazia ideia de onde era. Ela precisou perguntar o caminho para cada empregado ao fazer o trajeto. Por fim, com calor e aborrecida, ela virou à esquerda e viu algo muito estranho. As colunas antigas da parte de trás da Villa Monteolio tinham sido 41


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis transformadas em uma estação de trabalho ao ar livre. Foram empilhadas grandes folhas de compensados de madeira contra o teto da parte de trás. Ela não teve tempo para saber para que um material tão moderno seria usado em uma casa tão antiga. Estava muito ocupada olhando para o Marco. Vestido somente com jeans, ele estava abaixado na bancada de trabalho. Cada parte de seu corpo era tão bronzeada e bonita quanto ela se lembrava, e ele se mantinha totalmente empenhado em cortar a madeira. Ela o contemplou em silêncio, maravilhada. Seu tórax brilhava com os músculos marcados na pele morena. O coração de Cheryl batia mais forte. Ele era maravilhoso, e aquilo era demais. Os olhos dela se fecharam e um gemido involuntário escapou de seus lábios. — Cheryl, você está bem? Confusa, ela abriu os olhos. — Estou! Sim, estou bem... Ela olhou para baixo. Marco era tão deslumbrante! E ali estava ela, presa em suas roupas de trabalho e sapatos pesados. Não era justo. — Estou bem, apesar do calor. Por isso saí um pouco de casa. Precisei fechar as janelas do berçário. Algum idiota estava perigando alguma coisa que quase furou nossos tímpanos. Marco colocou o lápis atrás da orelha e pegou uma serra, sorria. — Você tem certeza de que era um idiota? — Ele balançou a cabeça, mostrando o fim das colunas. Uma tábua estava em pé e foi pendurada para ajudar os trabalhadores a organizar suas ferramentas. Aquilo emitia o cheiro forte de madeira recém-perfurada. — Então era você? — falou Cheryl lentamente. Ele levantou a cabeça. — Peço desculpas, Marco. Também sinto muito por perturbá-la, mas tinha de ser feito. Quis construir um lugar para guardar tudo assim que possível, fiquei cansado de usar o computador o tempo todo. — E então você veio até aqui? Uma fileira de gotas de suor estava no tórax dele. Cheryl assistia transfigurada. Definia seus músculos, e ela tentou pensar em algo enfadonho para se distrair. — O que seus clientes pensariam ao saber disso? — ela conseguiu dizer, afinal. — Eles não têm reclamações a fazer sobre o meu trabalho. A satisfação dos clientes é a única coisa que importa para mim. Cheryl passou a mão nos cabelos. Ele devia ter um efeito atordoante em todas as mulheres. Agora estava se virando para ela. 42


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis O chefe de cozinha me contou que o menino está começando a comer pratos maios variados. Ele tem todos os tipos de contatos e sugeriu esses. Ele apontou para a parte de trás da casa. Algo branco e macio caía dos sarrafos de madeira, de um engradado. Cheryl se aproximou. Seus olhos negros piscaram. — Você acha que ele gostará delas? — De galinhas? — disse ela, nervosa. — Não pareça tão assustada. Elas são inofensivas. Botam ovos — explicou Marco a ela, com paciência. — Oh, que bom! — Cheryl respirou aliviada. — Assim, não serão para a sopa? Marco deu de ombros. — Quando chegarem ao fim da vida, talvez... — Não, pare! Vamos nos concentrar nos ovos por enquanto. Cheryl olhou com mais cuidado para o que Marco estava fazendo. As folhas de compensados de madeira estavam sendo transformadas em um galinheiro, coberto e com tela. — Por que você está fazendo isto? — perguntou ela. — Há algumas semanas uma raposa matou as primeiras galinhas que eu trouxe para cá. Pensei que fariam poleiros nas árvores e ficariam seguras. Mas eu estava errado — explicou ele. — Não quero decepcionar o pequeno. — Não, quis dizer: por que não paga alguém para fazer esse tipo de coisa para você? Marco fez uma careta. De alguma forma Cheryl não soube o motivo. — Você sabe tudo sobre crianças. — Houve uma longa pausa quando ele caminhou para buscar outras folhas de compensado de madeira. Medindo e conferindo tudo, ele marcou uma linha com o lápis. Então olhou para ela. — Isso é o que eu sei fazer. De repente Cheryl entendeu exatamente o que ele queria dizer, mas que ele nunca expressaria em palavras. — Você é muito inteligente para ficar restrito à carpintaria Marco. Estou certa de que faria sucesso no que pusesse as mãos. Até mesmo ao cuidar de crianças — acrescentou ela, com tom divertido. Ele fez uma expressão de autoconfiança. — E verdade que nunca achei um trabalho que não pudesse realizar. — disse ele. — Aposto que Vettor adoraria assisti-lo trabalhar aqui fora. Ele ergueu as sobrancelhas. — Não sei... O que você disse mesmo sobre protegê-lo do fogo? — Ao falar, escorreu uma gota de suor em seu rosto. 43


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Ele ficará bem. Sou eu quem deverá ter trabalho para encontrar o caminho de volta ao berçário. — Está logo ali. — Marco apontou para a ala que ficava ao lado tia estação de trabalho. — Então é por isso que o barulho da furadeira parecia tão alto! Você sabia que estávamos ali dentro? Ele assentiu. — Eu adivinhei. Escutei um baque muito inglês quando você fechou a janela há algum tempo. Um italiano teria despejado vários palavrões e, então, bateria com a janela. — Peço desculpas, Marco. Voltarei a ficar com Vettor. — Com um aceno ela voltou pelo caminho que ele sugeriu. — Por que você não usa aquelas portas francesas? — Ele mostrou. — Não posso. Eu as fechei antes de deixar Vettor sozinho. — Isso foi sensato. — Ele parecia impressionado. — Mas não tem problema. Como Cheryl gostaria de saber o que ele quis dizer. Marco pegou a bolsa de ferramentas do chão. Derrubando tudo em um banco, ele começou a organizá-las. A bolsa era antiga e cheia de iodos os tipos de objetos misteriosos. Selecionando um carretel de arame, ele cortou um pequeno pedaço. Trabalhando uma das partes com as mãos, ele enganchou na porta. Dentro de alguns minutos havia um trinco. Apertando a manivela para baixo, abriu as portas. Cheryl escutou Vettor se alegrar. Ela ficou horrorizada. — Mas isso é... Isso é... — Ela engasgou, tentando encontrar um termo mais cortês para descrever o arrombamento. Mas não encontrou. — Isso é legal, contanto que seja na minha própria residência, como é o caso — disse Marco. Com as mãos nos quadris ele esperou Cheryl entrar. — Eu costumava ficar em casa trancado quando era criança. Assim se aprende o que fazer quando se está trancado. — Você está entrando para tomar chá, tio Marco? — a voz de Vettor vinha do berçário. Marco riu. No mesmo instante em que Cheryl passava, ele ergueu o antebraço. Ela parou. Por alguns segundos ele lançou um olhar tão poderoso para Cheryl que ela esqueceu todas as lembranças ruins que a acompanhavam. Ela pertencia a ele. E isso era o que importava.

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis

CAPÍTULO SEIS

ESTOU MUITO sujo, bimbo! A voz dele era seca. O que contrastava com a sedução provocante que ele estava acostumado a usar quando se encontrava sozinho com Cheryl. Ela parecia feliz. Vettor devia ser sua única preocupação. Quando Marco estava por perto, a concentração dela ficava dividida. — Oh, por favor! O grito melancólico de Vettor chamou a atenção dela. Estava acostumada a ver a melhora que ele vinha tendo a cada dia, mas aquela excitação era algo diferente. Pela primeira vez a expressão dele estava viva. Se aquele era o efeito que Marco causava em Vettor, devia ser encorajado. — Por que não entra Marco? Você podia sentar neste jornal. Ela pegou sua última cópia e jogou sobre uma das cadeiras de vime do berçário. — E destruir o único tapete novo deste lugar? — Ele olhou para suas botas sujas. Cheryl voltou a se lembrar de Marco na chuva. De repente ela quis ver seus pés magros e perfeitos outra vez. — Você poderia tirá-los. — Ela vez uma pausa. — E tirar também suas meias. — Não aqui — disse ele, sorrindo. — Agora não. Vettor não desistiria facilmente. — Então vou lá para fora com você. Eu posso, não posso Cheryl? — O menininho olhou para ela com ansiedade. Os olhos dele eram azuis, penetrantes como os do tio, e igualmente difíceis de resistir. Por isso Cheryl tinha visto algo tão familiar em Marco quando se viram pela primeira vez. — Estou melhor agora, e comi toda a minha torta — acrescentou Vettor, triunfante. 45


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Cheryl assentiu. — Acho que é uma grande ideia, Vettor. Você vai gostar de respirar um pouco de ar puro. Marco não parecia tranquilo. Ele se afastou. — Não sei se será bom. — Por que não? A menos que você esteja mantendo algum trabalho em segredo dele — acrescentou ela, sussurrando as palavras por sobre a cabeça de Vettor. Confuso, Marco fez que não. — Por quê? Eu devo? — Se fosse para ser uma surpresa! — explicou Cheryl, sorrindo. — Vá com seu tio, Vettor — disse ela com firmeza, empurrando o pequeno. — Ele tem algo a lhe mostrar lá fora, onde está trabalhando. Preciso retirar a mesa do chá. A menos que você queira uma xícara, Marco. — Sim. — E ele tomou a mão de Vettor. — Tenho a sensação de que precisarei de um chá. Cheryl assistiu aos dois andando para o outro lado do pátio. Os dedos de Marco eram tão sem vida quando afastados da mãe de Vettor. O menino saltitava, tentando manter o ritmo dos passos largos do tio. Cheryl teria sorrido se o afastamento de Marco não fosse tão triste. Ela desejava saber por que ele achava tão difícil se comunicar com Vettor. Durante os últimos dias ela havia decidido que ele não desgostava do sobrinho. Marco só não sabia como lidar com uma criança. Ela preparou a xícara de chá mais forte que podia fazer. Então saiu para ver o que estava acontecendo. Encontrou Vettor abaixado ao lado do engradado de galinhas. Marco estava na bancada de trabalho e não parecia feliz. — A criança não está interessada pelo que estou fazendo. Tudo o que ele quer fazer é alimentar as galinhas com mato. — Tudo bem — disse Cheryl suavemente. — Aqui está o seu chá. Marco pegou a xícara. O primeiro gole fez com que ele produzisse uma careta. — Está sem açúcar! Cheryl tirou a xícara das mãos dele. — Buscarei um pouco na cozinha. — Eu irei buscar o açúcar. — Marco veio atrás dela, mas Cheryl conseguiu se desvencilhar dele. — Não, ainda preciso entender os caminhos na Villa. Será uma boa experiência para mim. — Eu nunca terminarei nada enquanto precisar manter meus olhos no pequeno! 46


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Cheryl lançou um olhar sem emoção, e se agachou ao lado de Vettor. — Quanto antes o seu tio puder terminar o que está fazendo, mais rápido você vai poder ver as galinhas. Ele pode até deixar que você o ajude, Vettor. Mas a estação de trabalho é um lugar perigoso, então precisará fazer exatamente o que ele disser. Entendeu? O menininho assentiu com a cabeça. — Seu problema está resolvido, Marco. O que você gostaria que ele fizesse? Cheryl tentou lhes dar tempo suficiente para se entrosarem e, quando voltou, Marco estava ajustando o galinheiro com o menino. Ele pareceu contente, e ela sorriu aliviada. — O que vocês dois têm feito? — Estou terminando — afirmou Marco, satisfeito. Cheryl observou Vettor. Ele estava apertado entre o engradado de galinhas e a parede da casa. O dedo polegar estava na boca. Os dedos da outra mão acariciavam as penas felpudas que passavam pela gaiola das galinhas. — E Vettor? — Eu disse a ele para se sentar lá e não se mexer, e foi isso o que ele fez. — É claro que fez; e não precisa ficar surpreso. Pensei que você estava acostumado com obediência imediata! — brincou Cheryl. Marco não estava escutando, e sussurrou: — Ele está bem? Eu nunca fui assim. — Vettor é um bom menino. Marco olhou para ela. Então, pouco a pouco a tensão em seu rosto desapareceu. — Ele não é nada parecido comigo quando tinha a idade dele. — Espero que isso não signifique que você o desviará do bom caminho! — Cheryl riu, mas parou de repente. Isso era tão provável quanto Marco se apaixonar por ela. Rapidamente, ela se virou para a bancada de trabalho dele. — Como foi que você aprendeu a fazer tudo isso? Foi seu pai quem lhe ensinou? Marco balançou a cabeça em negativa. — Não. Nunca tive pai. Isso explicava muitas coisas para Cheryl. Se Marco tivesse crescido nas ruas sem um modelo, era de se esperar que tivesse dificuldades de se relacionar com Vettor. Os dois precisavam passar algum tempo juntos, de preferência longe de casa. Cheryl sabia a solução perfeita, mas significaria se abrir para todo tipo de perigo. Se ela mencionasse Orchid Isle outra vez, Marco podia pensar que ela estava desesperada para ter uns dias 47


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis livres na ilha tropical dele. Ou pior, podia entender que ela estava fazendo algum jogo com ele. — É por isso que quero que meu sobrinho tenha todas as vantagens que nunca tive e nenhuma das distrações — anunciou Marco. Então ele baixou o tom de voz, para que Vettor não pudesse ouvir: — Sou responsável pelo que aconteceu com a mãe dele, minha irmã. Por isso o trouxe para cá. Cheryl sentiu que devia estar chegando ao coração do problema. Ela esperou com expectativa, mas Marco estava concentrado no trabalho. Por fim, ela não conseguiu deixar de fazer a pergunta: — O que houve? — Minha irmã era muito mais nova que eu, e enquanto eu estive fora do país trabalhando, construindo este império, ela não foi capaz de organizar a vida. Concentrado, Marco passou a mão em uma das peças de madeira em que estava trabalhando. Parando de repente, ele fez uma careta e olhou para o dedo. Uma farpa entrou em sua pele. Ao arrancá-la, escorreu uma gota de sangue e ele apanhou uma lixa antes de voltar a falar: — Eu não percebi acontecer. E até eu descobrir que o dinheiro que enviava para ajudá-la não estava sendo gasto com comida nem para pagar as contas, era tarde demais... Ele continuou o trabalho com tanta energia que Cheryl decidiu não fazer mais perguntas. O que quer que tivesse acontecido entre Marco e a irmã colocou as preocupações dela em menor dimensão. Ela precisava fazer o melhor para Vettor. Marco e Vettor precisavam passar algum tempo longe dali. Cheryl decidiu que tinha de voltar ao assunto sobre a ilha de Marco. Isso faria muito bem a Vettor. — Marco, se você ainda estiver pensando em levar Vettor para Orchid Isle, acho que deveria fazer isso o quanto antes. Vocês dois precisam de férias, e essa será uma ótima oportunidade para se conhecerem melhor. Vettor e Marco se olharam. Vettor foi o primeiro a romper o silêncio: — Eu não tenho de ir sozinho, tenho? — Seu tio Marco cuidará de você — disse ela, sorrindo. Seu patrão não retribuiu o sorriso. — Não se preocupe bimbo. Cheryl estará lá também. Várias ideias otimistas percorreram a mente dela ao olhar para Marco. Ela não precisaria passar as melhores férias da vida se preocupando em enviar os sinais errados. Pelo modo como Marco olhara para ela agora, ele estaria imune a eles. — Tudo bem. E você quem manda — disse Cheryl, tentando não parecer tão entusiasmada com a viagem.

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Aceitar esse trabalho na Villa Monteolio foi à primeira oportunidade de Cheryl de experimentar a vida fora da Inglaterra. Ser levada para uma ilha tropical tão perto de sua chegada seria outro passo para mais perto do céu. Mas agora Marco não parecia estar agradecido, então ela se restringiu a dar um leve sorriso. Marco voltou ao trabalho. Ela não podia ver a expressão dele, e ele não a olhou ao responder: — Então está decidido. Todos nós vamos para Orchid Isle amanhã bem cedo. A PARTIR daquele momento, a atmosfera entre Cheryl e Marco mudou. Ela sentia que ele queria manter alguma distância entre os dois. A parte prática da mente dela sabia que era como devia ser. Mesmo assim, a outra parte queria experimentar algo mais. O corpo dela inteiro estava inquieto por ele. Cheryl tentou se distrair incentivando Vettor a fazer um pequeno jardim fora da ala do berçário. Enquanto ele se sentou ao sol, ela trabalhou na terra, e eles fizeram alguns planos juntos. O inglês do menininho melhorava tão rápido quanto o italiano dela. Marco mal percebeu. Ele estava muito ocupado. Ela lançava olhares para ele sempre que achava que Vettor não estava olhando. Marco não notou. Ela gostava de sentir o calor do sol nas costas, mas não havia substituto para o toque da pele dele. Trabalhando na terra quente e fértil, não podia afastar o pensamento sobre os músculos de Marco. Cheryl estava em tal turbilhão de pensamentos que quando ele finalmente falou, ela engasgou. — Não precisa entrar em pânico, só quis dizer a vocês que o galinheiro ficou pronto. Vettor pulou da cadeira e correu pelo pátio. — Posso colocar as galinhas para dentro, tio Marco? Você disse! Ele alcançou Marco antes que Cheryl pudesse ficar de pé. Marco olhou para ela. — Olhando assim, você não pode reclamar se a criança quiser ficar suja. Cheryl estava confusa. Para chamar a atenção de Marco, ela tinha de sujar as mãos todas às vezes! E então ela olhou para ele. Seria outra centelha? Ela piscou. E suspirou, observando como ele olhava para Vettor. — Por que você não explica a Vettor como o galinheiro funciona? — incentivou ela, pelo menos para manter a atenção de Marco longe da sujeira em seu uniforme. Ele ergueu a cabeça, como se os detalhes fossem óbvios, mas começou a explicar de qualquer forma. — Se suas galinhas não estiverem ciscando na grama, podem ficar bem e secas na casa delas. Quando querem se deitar, fazem um ninho em uma dessas caixas pequenas. Todos os dias você pode abrir a tampa... — Ele demonstrou enquanto Vettor assistia, 49


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis fascinado. —... E coletar os ovos. Vou levar para aquele montinho de grama que está debaixo do terraço e você poderá colocar as aves na casa nova. — Não pode ficar aqui? — Cheryl fez uma careta. — Seria muito melhor se Vettor pudesse ver as aves do quarto. Ele poderia ter algumas responsabilidades para cuidar delas. Marco olhou para ela. — Pensei que uma babá inglesa de alto nível e excelente como você ficaria preocupada com germes. — Agora eu acho melhor Vettor ter algo para mantê-lo ocupado enquanto está em recuperação, Marco. — Está bem. Então será responsabilidade sua cuidar para que os empregados saibam cuidar dos bichinhos enquanto você estiver fora, bimbo. Cheryl passou a mão nos cabelos dele com carinho. — Você se lembra? Seu tio vai levar você para passear na praia. — E você também — Marco se dirigiu a ela. — Não podemos ir sem nossa indispensável Cheryl. As PALAVRAS de Marco assombraram Cheryl pelo resto do dia. Ele a tinha chamado de indispensável. Ela ainda estava feliz ao se lembrar disso ao acordar às cinco horas na manhã seguinte. Tomou um bom banho de espuma. Orchid Isle ficava a horas de distância, então ela precisava começar o dia se refrescando. Viajar ao lado de Marco elevaria a sua temperatura. Passando bastante pó sobre a face e espirrando perfume, ela vestiu um uniforme limpo e começou o trabalho. Enquanto Vettor tomava café da manhã, ela encheu uma mala com tudo o que precisaria durante algumas semanas no sol. Ele devia ter mais roupas e brinquedos do que qualquer criança de que ela havia cuidado, mas Cheryl não estava impressionada. Estava assustada. Depois de ver Marco com o sobrinho, ela imaginava que ele tivesse dado aos seus empregados um talão de cheques em branco. A criança tinha tudo o que queria. E essa era uma receita para o desastre. Felizmente, Vettor era tão novo que estava mais confuso do que mimado por todo o luxo. Cheryl esperava que pudesse fazer Marco ver que aquela companhia era a verdadeira chave para o coração de Vettor antes que fosse tarde demais. Ao organizar tudo, ela desceu as escadas, e a voz fria da razão tentou chamar a sua atenção. Todas as contas de Marco Rossi, o bilionário, faziam com que ele parecesse um predador clássico. Seus romances mundiais deixaram um rastro de corações partidos. E ela só sabia daqueles que apareciam nos jornais. Quem sabe quantas garotas comuns como eu ele teve? Cheryl lambeu os lábios. E loucura continuar trabalhando aqui enquanto estou tão tentada. Então olhou para Vettor e sorriu. Esse pequeno não podia ser deixado para trás. Era sua responsabilidade cuidar dele, mesmo se isso significasse ser refém de seus 50


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis sentimentos pelo tio dele. Cheryl hesitou e se perguntou sobre o que poderia acontecer da próxima vez que os olhos dela se encontrassem com os de Marco ou quando as mãos deles acidentalmente passassem uma na outra... Os EMPREGADOS levaram a bagagem de Cheryl e de Vettor até o corredor de entrada. Apesar do calor, ela ainda levou o casaco no braço. O uniforme era algo que podia esfriar seus pensamentos sobre Marco. Meu trabalho é cuidar de Vettor, ela repetia inúmeras vezes para si mesma. Essa era a única coisa que podia garantir que ela se mantivesse no caminho certo. Se eu também puder convencer Marco a tentar divertir o sobrinho, será um bônus. Se pelo menos eles conseguirem interagir, ela pensou, se lembrando de como Marco ficava desconfortável quando estava com Vettor. As portas da frente da Villa estavam abertas e a voz de Marco ecoou. O efeito sobre Cheryl foi eletrizante. O coração dela disparou. Ela apanhou a bolsa. Pegando Vettor pela mão, cruzou a porta. — Começarei levando essas caixas para o carro — disse Marco, depois de trocarem alguns comentários sobre o clima. — Você mesmo vai fazer isso? — Ela estava pasma. Seus outros patrões achariam estranho mesmo falar com ela, quanto mais fazer qualquer coisa para si mesmos. Marco já estava a caminho do vestíbulo. — E claro. — Ele a olhou, confuso pela pergunta, e também ficou admirado por só haver um volume de bagagem. — Onde está o resto? Cheryl balançou a cabeça. — Isso é tudo o que eu tenho. Marco olhou para ela, sem poder acreditar. Cheryl apressou Vettor. No passado, Nick teria rido da aparência dela. Não conseguia pensar que Marco estivesse a ponto de fazer o mesmo. Isso acabaria com todas as lindas ilusões que ela alimentava sobre ele. Marco guardou a bagagem no porta-malas do carro. Ele estava quase se sentando dentro do veículo quando se lembrou de algo. — Esqueci-me de dizer “oi” para você, pequeno. Olhando para trás, ele deu um aperto de mão formal no menino. O coração de Cheryl se apertou e a fez se lembrar de algum filme preto e branco a que assistiu sozinha sobre um pequeno príncipe solitário e confuso que era cumprimentado como um diplomata pela mãe, a rainha. Se eu tivesse um sobrinho que estivesse deixando a casa peça primeira vez depois de vários dias, eu o abraçaria tanto que mal o deixaria ir, ela decidiu. O humor dela piorou ainda mais quando Marco se curvou para falar com o menino: — Precisarei de paz para trabalhar durante nossa viagem. E, às vezes, Cheryl e eu teremos conversas de adultos. Então você se importaria de se sentar no banco da frente do carro? 51


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Vettor já estava sendo deixado de lado! Cheryl estourou de raiva: — Não, Marco! Você não pode fazer isso com ele! Ela devia ter conseguido conter sua ira, pois ninguém notou o quão zangada ficara. Vettor, aliás, já estava se lançando ao banco do passageiro, enquanto o motorista de Marco ria dos gritos de alegria do menininho. — Sempre foi o meu sonho sentar do lado do motorista quando era criança. É bom saber que algumas coisas não mudam — Marco disse a Cheryl. Ele deixou de sorrir ao ver o olhar que ela lançou. — Eu coloquei um assento de criança para ele. Assim funciona a lei na Inglaterra, não é? — Sim, mas... — começou Cheryl. Então ficou quieta. A verdade era que não poderia haver “mas”. Ela deveria saber do que as crianças precisavam. — Sim, mas pensei que eu me sentaria no banco da frente. Você deve passar mais com ele, Marco, já que fica tanto tempo fora. Ela corou. Marco teve uma resposta abrupta: — Estou feliz por manter certa distância. Acho que ele pode ter medo de mim. — Eu gostaria de saber o porquê disso — sussurrou Cheryl, quando Marco estendeu o braço para abrir a porta traseira do carro para ela. Todos os movimentos que ele fazia eram rápidos. As decisões eram tomadas em segundos. Até mesmo a risada dele poderia ser ameaçadora: um estrondo baixo, ecoando daquele tórax largo. — Tenho certeza de que você achará tudo mais fácil quando tiver seus próprios filhos. — Ele fez uma careta quando o motorista passou com o carro pela via desregular da Villa. — A propósito, eu já tive 125 crianças, e todos eram meninos. Enquanto estudava na academia, fiz um estágio em um internato exclusivo para garotos. — Sendo assim, saberá que precisam de uma educação cuidadosa. Há uma linha entre estabelecer diretrizes razoáveis e os fazer rebeldes. Cheryl olhou para ele. Pareceu fantástico que Marco Rossi soubesse exatamente do que ela estava falando. QUANDO CHEGARAM ao aeroporto, homens sinistros em temos bem talhados e óculos escuros fizeram com que todos passassem por formalidades e os levaram ao jato particular de Marco. — Este é um mundo muito diferente daquele em que vivo, no qual tive de enfrentar horas nas filas quando cheguei da Inglaterra — disse Cheryl. — Desperdicei muito tempo da minha vida quando trabalhei na Inglaterra, anos atrás. Esta é a única forma de viajar. — Marco recostou no banco, esperando que seu laptop fosse entregue a ele. — Onde você trabalhava na Inglaterra? — Cheryl se sentou ao lado de Vettor. 52


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Sua bagagem de mão estava cheia de brinquedos e livros de contos, mas nesse momento o menino estava contente de assistir à tripulação em terra. — Andei por todos os lados. Achava trabalho onde quer que alguma construção estivesse sendo feita. Uma semana aqui, um mês lá. É assim que acontece com trabalhos temporários. — Você era pedreiro? — quis saber Cheryl. Olhando para ele agora, em seu bonito temo e camisa branca engomada, ela sabia que Marco nunca teria vestido jeans surrados. — Não se consegue ter sucesso em todos os negócios. Cheryl deu risada. — O que é tão engraçado? — Ele olhou para ela. — Nada; eu só estava pensando em algo. — Cheryl sorriu, mas Marco não ficou satisfeito. — Por favor, quero entender a piada. Ele pareceu totalmente à vontade, tirando a jaqueta. Cheryl ficou tentada a dizer mais do que deveria. — Tudo bem, é que você é o último homem na terra que eu esperaria ver apoiado em uma pá, lendo jornal e comendo bacon! A expressão dele se alterou em um instante. — Não se esqueça de que eu construí aquele galinheiro. Lembre-me de qualquer dia mostrar a você o que mais eu posso fazer — disse ele. — Eu quis dizer que você é muito sofisticado para fazer um trabalho assim. Marco olhou para as mãos ásperas de trabalho pesado. Ela seguiu o olhar dele. — Você deve ter razão, Cheryl. Pelo menos minhas mãos concordam com você. Um funcionário chegou com o computador dele. Acomodando a máquina no colo, Marco abriu a tampa. De imediato, iniciou o trabalho. Marco se fechou outra vez, e ela não soube a razão.

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis

CAPÍTULO SETE

ORCHID ISLE era um pequeno pedaço de céu no meio do oceano. Quando o avião de Marco começou a descer, ele fechou o laptop e olhou pela janela. Estava quase escuro, mas Cheryl ainda conseguia ver um oásis verde rodeado por areia prateada e ondas branquinhas. Estava além dos sonhos mais selvagens de uma menina pobre. — Diga ao mordomo o que você quer Cheryl — Marco a encorajou suavemente. — Assim os coquetéis estarão prontos em seu apartamento quando chegar lá. Ela estava ansiosa. — Eu nunca provei um coquetel na minha vida! Como são? — Podem ser feitos de suco de fruta, álcool ou qualquer combinação dos dois; é só pedir que seja preparado para você — respondeu Marco com uma voz doce. Os olhos dele estavam tão tranquilos quanto às águas do mar e, por um instante, Cheryl não se sentiu envergonhada ao perceber que ele olhava para ela. A mistura de excitação e adrenalina que corria: por suas veias a fez relaxar. Mas a única coisa que ela queria, não podia pedir: ele próprio. — Vou querer o mesmo que você pedir — disse ela. Marco fez uma careta. — Tudo bem. Mas ainda tenho algumas coisas a fazer e normalmente prefiro uma bebida sem álcool enquanto trabalho. Você quer fazer o mesmo? — É claro. Eu nunca beberia álcool enquanto estivesse tomando conta de Vettor. Marco ergueu a sobrancelha. — Ele já estará na cama quando você provar seu coquetel. 54


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Não sei! — Cheryl apontou para a cabine onde Vettor olhava pela janela com o rosto encostado no vidro, Ele está tão empolgado que terei sorte se conseguir fazê-lo dormir antes de amanhã! O riso de Marco não era tão doce. — Bem, se você estiver acordada, tente não perder o nascer do sol. Aqui em Orchid Isle eles são insuperáveis. Assim que o avião pousou, Marco se foi andando, deixando Cheryl e Vettor sozinhos na pista de aterrissagem. Ela tentou ficar alegre. Disse a si mesma que tudo acontecia para o bem. Compartilhar um entardecer tropical com Marco Rossi era uma tentação a que ela realmente não teria conseguido resistir. ORCHID ISLE parecia o conjunto de todas as fantasias de Cheryl se tomando realidade. Era selvagem e intocada, um verdadeiro Jardim de Éden. O único desenvolvimento era um pequeno complexo de casas projetadas para se integrarem ao ambiente. Havia apartamentos de luxo para Marco e seus convidados, uma piscina natural camuflada por samambaias, musgos e orquídeas, uma área de jantar ao ar livre e um bar. Os visitantes privilegiados de Orchid Isle tinham tudo o que podiam precisar ao alcance das mãos. Na manhã seguinte, Vettor saiu do quarto como uma criança diferente. Estava desesperado para correr e explorar as praias e suas maravilhas. Cheryl sentia a pressão do trabalho novo ao caminhar com ele. De repente a risada de Marco ecoou pela areia. Ele levantou a mão e fez uma saudação. Só com a roupa de banho, ele parecia mais alto e impressionante que o habitual. Cheryl percebeu que o paraíso realmente era o habitat natural de Marco. Eles correram para se encontrar com ele. — Cheryl! O que você está usando? — Marco olhou quase sem poder acreditar. — Meu uniforme, é claro. Estou trabalhando. — Você não precisa se preocupar com formalidades aqui. — Não, estou mais feliz vestida assim. Vivo dizendo a você, vim aqui esperando trabalhar — insistiu Cheryl. — Oh, por favor. Não me diga que você não tem algumas roupas lindas guardadas em algum lugar — brincou ele, sabendo que a maioria das mulheres que conhecia sempre viajava com um guarda-roupa completo. — Não estou em festas. Roupas lindas é a última coisa na minha mente. Ele parou de sorrir. — Tudo bem; então o que exatamente você trouxe? — Algumas mudas de uniforme, jeans e umas duas blusas... — Nenhum vestido? Você não tem um biquíni? Ou sapatos bonitos? 55


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis A experiência social de Cheryl era limitada. Ela raramente ia a festas. Preenchia seus dias com trabalho. — Eu tenho pensado em comprar alguns — mentiu ela. — É só ter tempo para ir ao shopping. — Isso é bem fácil. Do que você precisa? Vou dar alguns telefonemas. — Espere! — Cheryl colocou a mão na testa. A mente dela estava girando. — Não há lojas aqui! Não tem nada além de praia e selva. Como posso sair para fazer compras? — Não estou dizendo para ir a lugar algum. — Marco sorriu. — Quero que compre algumas roupas mais adequadas. E quando quero algo, as lojas vêm até mim. PARA A surpresa de Cheryl, foi exatamente o que aconteceu. Não demorou em um grande helicóptero aparecer. Enquanto ela observava a alguma distância com Vettor, dúzias de caixas foram descarregadas e levadas ao apartamento dela. Cheryl não precisou fazer nada. Ela olhou, imaginando o que poderia haver dentro daqueles pacotes misteriosos. — E tudo seu, Cheryl. Seus aposentos estão repletos de uma seleção de tudo e qualquer coisa que uma babá jovem pode querer ter em Orchid Isle. Então agora é com você. Pode escolher o que gosta. Cheryl balançou a cabeça. — Desculpe. Não posso... Como poderia deixar você ter todo esse trabalho por mim? Eu devia ter me organizado melhor e trazido mais roupas. E um problema que eu tenho. — Oh, tudo bem. Esse é para ser um momento de descanso para mim. Até mesmo os meus funcionários estão em roupas casuais — sussurrou ele, ao apontar para o barman, que usava short e camiseta claros. — Aquele seu uniforme é triste e me lembra dos dias de trabalho. Cheryl olhou para baixo. — Tudo está sendo preparado para você, Cheryl. Estará tudo pronto para usar, então decida de quais você gosta. Se precisar lazer algum ajuste, faça suas anotações que pedirei aos costureiros para arrumar. — Não posso deixar você pagar tudo isso para mim! — Por que não? Não é o sonho de toda mulher: ter tudo o que quer, sem precisar pensar nos preços? — Não desta mulher. — Cheryl colocou as mãos nos quadris. — Você tem razão, Marco, é como um sonho maravilhoso se tornando realidade. Mas me sentiria mais feliz pagando por minha despesa. Você já está me dando à oportunidade de passar umas lerias em uma ilha tropical incrível. Foi culpa minha não ter trazido às roupas certas. Quero contribuir com os custos. Ele fez uma careta, confuso.

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Você precisará estar pronta durante o dia inteiro, cuidando do meu sobrinho. Não chamaria isso de férias. — Eu amo o meu trabalho... — Ela parou. — De fato, essa sempre pareceu uma palavra engraçada de se usar... — Você acha que amar é uma palavra engraçada? — Os olhos azuis de Marco brilhavam. — Não: trabalho. Gosto do Vettor. Ele é um menininho adorável. Cuidar dele não é um trabalho para mim. Na verdade... — De repente ela viu a chance de fazer uma tentativa. — Por que você não cuida dele um pouco, Marco? Não conseguirei tomar conta dele enquanto estiver provando as roupas, não é? Marco balançou a cabeça. Algo nos olhos dele disse a razão para que ele mantivesse essa distância do menino. — Tudo bem, Cheryl. Você pode ir até lá, fechar todas as portas e experimentar o que gostar em total privacidade. Cheryl insistiu: — Enquanto faço isso, por que você não mostra a floresta para Vettor? O pequeno já tinha andado pelo complexo, procurando alguém que pudesse servir sorvete para ele. — Meus funcionários podem fazer isso para mim. — Marco se virou e começou a seguir os passos do sobrinho. Ele não olhou para trás ao falar. Cheryl suspirou. Não fazia sentido tentar forçar Marco a amar Vettor. Seria mais fácil tentar recusar sua oferta de roupas novas. Ela correu para alcançá-lo. Marco podia não ser o melhor guardião do mundo, mas Orchid Isle era um lugar bonito. Podia levar tempo, mas havia tanta mágica ali que tinha sorte de trabalhar para ele. Cheryl ainda não desistiria. Principalmente se Marco já estava contente em que ela deixasse para trás a formalidade do uso do uniforme. — Como você soube qual tamanho pedir, Marco? Você pesquisou as minhas coisas? — disse ela, ao caminharem pelas casas. Ele parou e olhou para Cheryl. Ao perceber a reação dela, ele mordeu o lábio e continuou andando. — Alguns homens podem intimidar as mulheres. Gosto de mulheres de uma forma diferente. Tenho muita prática em algumas coisas, então achei que você tivesse mais ou menos o tamanho 12 na Inglaterra. Cheryl arregalou os olhos. Ele acertara em cheio! Marco era obviamente um perito nesse quesito. Quantas mulheres já teriam passado pelas mãos dele? Que tipo de cuidados as outras mulheres teriam recebido dele, para que Marco conhecesse tão bem o corpo feminino? Isso a fez pensar, e seu coração, acelerar.

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Pedi para que trouxessem de tudo, em todas as cores. Agora, venha, você está perdendo tempo. Eles haviam chegado ao apartamento tela. — Então, qual é a sua primeira impressão de tudo isso, Cheryl? — Eu... Eu não sei. — Ora, vamos. Você deve ter alguma opinião. Dio, você sempre teve tanto a dizer sobre outros assuntos! A mente de Cheryl estava confusa. Esse paraíso, a generosidade dele, a forma como a luz do sol reluzia nas folhas das árvores, o olhar suave daqueles olhos azuis... — Para ser honesta, eu... Eu me sinto fora do mundo. Não cresci cercada por riqueza e luxo como isso... — Então aprenda a gostar disso agora. Quando criança eu não linha nada. Uma criança pobre do lado errado da cidade. Eu usei a cabeça e escapei. O bom-senso e o trabalho duro me deram tudo isso. E uma babá como você, também. Agora que está aqui, c melhor aproveitar ao máximo o que tenho a oferecer. Durante um instante seus olhos se encontraram. Marco sorriu. Ele deu um passo na direção dela, diminuindo a distância entre os dois. Olhou para ela sabendo que Cheryl entendia seu desejo. Certamente seria só uma questão de segundos... — Não é uma boa ideia... — sussurrou ela. Então ele se virou. — Decida o que você quer. Voltarei mais tarde para ver como está se saindo. Ele andou em direção à praia. Cheryl olhou para ele. Mais uma vez a mente dela estava em chamas com pensamentos sobre o que poderia ter acontecido. Não precisaria de um gênio para explicar os olhos e a expressão de Marco. Ele estava exalando desejo tanto quanto ela. Se pelo menos ele não fosse o chefe dela... Cheryl sabia que estaria nos braços dele agora. A única coisa que queria na vida era Marco, mas se render a ele nunca traria felicidade. Ela sabia que ele só brincaria com seu coração. Ser seduzida por ele era um sonho, mas que poderia se transformar com facilidade em um pesadelo. Só uma coisa poderia realmente se tomar realidade. Marco sempre quis dar o melhor para Vettor. Distrair a babá de seu sobrinho não seria a melhor forma de conseguir isso. Cheryl podia duvidar de que Marco tivesse um coração, mas ela definitivamente tinha um cérebro, e poderia usá-lo para parar de fazê-la de boba. CHERYL ABRIU a porta do seu apartamento e olhou em volta. A sala estava cheia de araras com roupas. Era uma visão maravilhosa. A qualidade e as cores estavam além de seus sonhos. Qualquer uma daquelas peças devia custar mais do que ela poderia gastar o ano inteiro. Provou algumas e, pela primeira vez, estava gostando de ver sua imagem no espelho, até escutar batidas na porta. 58


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Quem é? — Sou eu. Não havia dúvidas de que era a voz autoritária de Marco. — Você já fez as suas escolhas? — Sim, já escolhi. — Que bom. Estou aqui para dar minha opinião imparcial. — Imparcial? — repetiu ela, ao tentar se convencer ao andar até a porta. — Bem, tão imparcial quanto qualquer homem italiano consegue ser em se tratando de mulheres. Havia um tom alegre e confiante na voz dele. — Quero ver tudo — disse ele. Humildemente, Cheryl se virou como ele pediu. Deu uma pirueta para Marco olhar. — Muito bonito — disse ele, afinal. — Então, você gosta deste? — Ela sacudiu o material do vestido. — Você ofuscará o brilho de qualquer mulher que se aproximar. Ele funciona? Cheryl estreitou os olhos. — O que quer dizer? — Consegue dançar com ele? Em um movimento sinuoso, Marco deslizou um braço ao redor de sua cintura. Cheryl não era boa dançarina. Ela tropeçou e caiu nos braços dele. — E como em nosso primeiro encontro outra vez. — Ele riu e a segurou, sem mostrar nenhum sinal de que a deixaria ir. Essa chance de sentir os braços dele ao redor de seu corpo a fez relaxar e sorrir. — Oh, meu Deus. Desculpe Marco! — Tudo bem — sussurrou ele. — Não posso esperar que você seja absolutamente perfeita em tudo. E, afinal de contas, dançar não é parte das atividades do seu cargo. E como eu desejava que fosse Cheryl pensou. Seria a desculpa perfeita para aceitar os braços dele ao redor do corpo a qualquer momento, sem consequências. Ele parou. Sentindo a perda do toque dele, Cheryl estremeceu. Mas as mãos de Marco se fecharam ao redor do seu corpo. — Como você pode estar com frio em um tempo assim, cara?

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Ele a puxou para mais perto de si, envolvendo-a com os braços fortes sobre os quais ela fantasiava desde o primeiro encontro entre os dois. — Não estou — sussurrou Cheryl, corando. — Mas você está tremendo tanto quanto naquela noite da tempestade em que se lançou nos meus braços — disse ele suavemente. — Por quê? Você trabalha para mim a tempo suficiente para saber que não sou um monstro como dizem. Cheryl não tinha resposta, mas Marco sim. — Se eu fosse tão terrível, faria isso por você? — Ele baixou a cabeça. Ela enrijeceu. Então, veio o momento pelo qual ela tanto esperou. Os lábios dele tocaram os seus. Cheryl imaginou aquele beijo durante suas noites solitárias. Ficou encantada ao passar as mãos pela pele lisa e macia do Marco. — Isso deve ter esquentado você, bella. — disse ele, com um sorriso. Corando e sem fôlego, Cheryl olhou para ele. Estava estupefata. Era incrível. Agora ele se preparava para sair, como se nada tivesse acontecido... — Então, agora que dei minha aprovação sobre o que você deve usar à noite, vista as roupas de banho e nos encontre na praia. — Ele lhe deu as costas, logo abrindo a porta. — Não há razão para vir para uma ilha no paraíso se não vai experimentar o mar. E também não é razão para beijá-lo. Não é nada além de um jogo para você, não é, Marco? Cheryl queimava de frustração quando ele se foi. ELA PASSOU o resto do dia na praia. Durante todo o tempo, cuidou de Vettor, mas não conseguia deixar de pensar em Marco. Mais tarde, um dos empregados de Marco os chamou. Ela estava satisfeita por ver que aquele menininho triste de Monteolio parecia muito bem. E ficou ainda mais contente ao saber por que Marco queria que eles voltassem ao complexo. — Meu barman inventou esse coquetel para homenagear Vettor. Ele mantém a receita em segredo, mas não tem álcool, é claro. Acho que contém uma boa dose de suco de ugli. — Uglf! Não sei se gostei deste nome. — Cheryl parecia em dúvida. — Foi um nome escolhido para que a fruta não se tomasse popular. Isso significa que sobra mais para nós. — Marco sorriu. Ele viu Vettor tomar um gole do suco dourado. O menininho provou, lambeu os lábios e depois bebeu o copo inteiro de uma só vez. Com um grande suspiro de satisfação, esfregou a mão cheia de areia no rosto. Então voltou a andar a caminho do mar. — Já temos o selo de aprovação de Vettor — disse Marco. — Agora é a sua vez. A fruta ugli é um híbrido entre a tangerina e a grape; mais refrescante, mas não tão azeda. Prove um pouco. Ele fez um sinal para seu barman, que colocou um copo cheio de gelo em frente à Cheryl. Uma cascata de suco de fruta também foi servida. Ao provar, ela achou tão bom 60


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis quanto à aparência. Ele riu ao ver a expressão dela. Era um gesto muito inocente, então Cheryl arriscou tocar num assunto delicado: — Eu gostaria de lhe agradecer por organizar tudo, Marco. As roupas que você comprou para mim são lindas. — Ela olhou para ele. — Infelizmente... Receio realmente não ter dinheiro suficiente para lhe pagar até receber meu salário. Que sei que não será o bastante para coisas tão maravilhosas, de qualquer forma. Você poderia descontar do meu salário dos próximos meses? Marco não poderia estar mais surpreso. Recostando-se na cadeira, ele olhou para ela, sem conseguir acreditar. - Você ainda está se oferecendo para me pagar? O choque dá reação dele alarmou Cheryl ainda mais. — Mas é claro; tenho que pagar! Não é esperado que você compre coisas para mim! — Claro que posso comprar. Você só estará usando essas roupas durante o trabalho, não é mesmo? Significa que contam como roupas de trabalho. Então eu as arranjei como seu patrão. Ao pensar dessa forma, Cheryl se sentiu um pouco melhor. Mas não seria certo concordar de imediato. Assim, ela insistiu. Quando voltou a falar, tentou soar de outra forma: — Bem... Contanto que tenha certeza disso... — Tenho. Cheryl relaxou um pouco. Ela não podia adivinhar quanto às roupas que escolheu poderiam ter custado. Saber que não seria cobrada por elas era um verdadeiro alívio. Ela tomou mais um pouco do suco. O gosto era ainda melhor sem a sombra da cobrança por todas as peças. — Parece uma vergonha acrescentar qualquer coisa a isso e fazer um coquetel. Marco fez uma careta. — Não deixe Andreas ouvir você dizer isso. Ele se considera um verdadeiro artista das misturas de bebidas. — O que os seus amigos diriam ao escutar você falando assim? — Tenho medo de pensar — murmurou Marco, mas sem o humor que ela esperava. — Você sente falta disso? — Sinto, sim. Era uma reação espontânea. Marco olhou surpreso por essa resposta dele tanto quanto Cheryl por sua pergunta impulsiva. — Então por que não volta? 61


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Ele pareceu surpreso e preocupado. — Ninguém nunca disse algo assim para mim antes. Cheryl suspirou, olhando Vettor e seu novo amigo brincando perto da água. Depois de um tempo, uma ideia veio à sua cabeça. — Vettor não sabe nadar — disse ela. — Eu gostaria de poder ensiná-lo. Ele adora remar. Seria mais seguro, e daria a ele muito mais segurança, se alguém pudesse ministrar-lhe algumas aulas de verdade. Marco se virou e tentou se concentrar no computador. Cheryl viu seu esforço. Ele continuava olhando para a tela, mas sem fazer nada. Trabalhando no automático. Houve um longo silêncio. Afinal, ele empurrou a cadeira para trás da estação de trabalho. Com os braços estendidos, ele arqueou os ombros para tentar relaxar o pescoço. Cheryl assistia. — Dio mio. Quem conseguiria trabalhar num dia como este? Ele fechou o laptop e se levantou. — Tire o resto do dia livre para aproveitar, Cheryl. Vou cuidar de Vettor por algum tempo.

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis

CAPÍTULO OITO

EMBORA HOUVESSE uma sala de ginástica na suíte, uma piscina natural no complexo e a floresta onde poderia fazer uma caminhada, Cheryl não passou seu tempo livre em nenhum desses lugares. Ela se sentou à sombra de uma palmeira e tomou um copo de suco de ugli, assistindo a Marco e Vettor brincarem nas águas azuis da praia. Eu nasci para fazer essa tarefa, ela pensou. Observar os outros aproveitando a vida. Ela sempre passou a vida isolada das pessoas em uma bolha que nunca poderia arriscar romper. Ao contrário de Marco, que estava desfrutando da vida sem se preocupar com o mundo. Pareceu que se passaram horas até que Marco finalmente voltou para perto dela, trazendo o sobrinho pela mão. Entregando Vettor todo molhado e embrulhado em uma toalha para Cheryl, ele buscou outra toalha de praia com um de seus empregados. — Excelente — disse Marco com entusiasmo. Era inebriante. Cheryl começou a esquentar com a proximidade dele. Passou a toalha em Vettor, tentando não olhar para a imagem de Marco. Ao fazer isso, ela escutou o forte sotaque de Marco chamando alguém para levar o sobrinho para o quarto. Antes de se despedir dele, Marco arrepiou o cabelo do menininho, e Vettor olhou para ele, satisfeito. Cheryl estava tão feliz por Marco finalmente estar deixando o sobrinho fazer parte da vida dele, deixando o passado para trás e se permitindo cuidar de alguém. Ela podia ver o afeto que havia nascido entre os dois, e percebeu quão mais eles estavam relaxados quando juntos. Eram quase como pai e filho agora. Quando Marco voltou a falar, uma brisa morna aqueceu o coração de Cheryl. Não importava o que ele dizia. Foi o som da voz dele que a encantou. — Você não quis molhar outra vez as suas roupas de banho, Cheryl? — Não quis atrapalhar sua diversão. Não sei nadar bem o bastante para aproveitar a bagunça. 63


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Ele olhou para ela, pensativo. — Ainda resta uma hora ou mais de luz do dia. Por que não se junta a mim na água para nadarmos, agora que meus funcionários estão cuidando de Vettor? — Não sei... — Cheryl se recostou na cadeira. Marco entendeu mal, e seu sorriso se aqueceu. — Não jogarei água em você, eu garanto. E teremos tempo para voltar para o jantar. Se cuidarmos bem do horário, poderemos assistir a um espetáculo enquanto comemos. Como eu disse, o pôr do sol em Orchid Isle é imperdível. O coração de Cheryl batia mais forte ao seguir para seu apartamento para se trocar. Primeiro Marco tinha abandonado o trabalho para brincar. E agora a estava arrancando de sua bolha de isolamento para um rápido olhar para o mundo dele. Milagres aconteciam, afinal de contas. A NOVA roupa de banho de Cheryl era espetacular. No último minuto ela percebeu que não era corajosa o suficiente para caminhar na areia assim, com tão pouca roupa. Felizmente, havia cangas de seda em cada apartamento dos convidados de Marco. Ela então decidiu fazer um longo passeio pelo complexo de Orchid Isle. O coração de Cheryl batia mais forte a cada passo. Logo estava quase tão intenso quanto à floresta. Ao redor dela, insetos e pássaros exóticos voavam pela mata selvagem. Alcançando o inicio da trilha que margeava a praia, ela parou. Aquela parte da ilha estava deserta. A voz de Marco quase a tirou de órbita: — Um dos seus sucos de fruta preferidos, feito agora. — Nossa! Você me assustou! — Você está muito bem nesse biquíni. — Ele sorriu. — Como está Vettor? — Ele está dormindo, com um sorriso nos lábios. Cheryl pegou o suco, resistindo à tentação de apertar o copo gelado contra suas faces coradas. Marco deu um sorriso satisfeito. Naquele instante, Cheryl percebeu que ele havia planejado aquilo desde o princípio. — Então foi por isso que você o levou para nadar. Foi uma tentativa deliberada para ficar aqui fora com ele! — Sim, mas foi mais divertido do que eu pensava. — Os olhos dele brilharam. — Obrigada, Marco. Foi uma grande ideia — disse ela. Ele olhou para ela. — Você viu? Nós, homens, temos nosso valor. — Nunca duvidei disso.

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Cheryl usou um canudo do coquetel para pescar uma lasca de melão que estava em sua bebida. Ela lambeu, tentando dar a impressão de que aquela era só mais uma conversa em mais outro bar. Mas os olhos dela estavam em tudo, buscando cada detalhe. Havia descansos de prata embaixo de cada garrafa e porcelana para servir os lanches. — E mesmo? Às vezes tenho a impressão de que você não gosta muito dos homens. Ele soou quase compreensivo. Cheryl hesitou. Seria um alívio confiar em alguém. Mas como poderia contar a Marco sobre como tinha sido tola? Os pais dela faziam com que se lembrasse constantemente de como bagunçara a própria vida. Se parentes consanguíneos podiam fazer isso, como seu patrão poderia reagir? Ela passou os dedos pelas bordas açucaradas do copo. — E porque algo aconteceu, há muito tempo no meu passado — disse ela a Marco com dificuldade. — Eu era uma boba para esperar ser feliz para sempre, foi isso. Não acontecerá outra vez. Você se importa se nós... —... Mudarmos de assunto? Eles trocaram olhares, e Cheryl ficou chocada mais uma vez. Ela viu algo novo no olhar azul dele. Não era desejo ou curiosidade. Era quase como se ele entendesse exatamente como se sentia. — Tudo bem — acrescentou ele com um sorriso preguiçoso. — Vamos nadar, então. Pegando o copo de coquetel da mão dela, ele o colocou na bandeja que estava ao seu lado. E estendeu a mão para Cheryl, esperando que ela aceitasse. Cheryl hesitou, mas só por um instante. Tirando a canga e deixando a toalha perto de uma cadeira, ela olhou para a mão dele, sem conseguir respirar, nervosa com a reação dele ao vê-la de biquíni. — O que você acha? — indagou ela. Houve uma pausa, enquanto ele olhava o corpo dela. — Você está maravilhosa. Cheryl corou, e ele a conduziu até a água morna. Era o paraíso. Cheryl mergulhou e suas preocupações desapareceram. O dia ainda estava bem claro. Ela olhou para baixo e viu vários peixinhos, que se exibiam ao redor dos corais. Cheryl se sentia como uma criança em uma loja de doces. — E a visão mais bonita que já tive na vida! — Ela suspirou, ao terminarem de nadar e começarem a voltar para a praia. — Eu não diria isso. — Marco contemplou o corpo dela mais uma vez, com uma expressão sensual. Quando se tratava de mulheres, ele reagia por instinto. Cheryl se sentia atraída por ele. Aquilo estava claro desde a primeira vez que se encontraram. A conversa que tiveram logo antes de começarem a nadar deixara claro a Marco uma coisa muito importante. Não era algo que ela queria que acontecesse outra vez mais do que ele. Cheryl sentia medo de se comprometer. Assim ora como Marco gostava de ter suas mulheres. Ele sorriu para si mesmo. Um pouco de sedução seria o começo perfeito para aquelas férias. 65


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Quando se tratava de sexo, Marco era altamente seletivo. Ele poderia ficar meses só cuidando do trabalho. Mas quando uma oportunidade imperdível como essa aparecia; bem, ele não era um monge. Ao trazer Cheryl para a ilha, ele resolveu que a regra de não levar suas funcionárias para a cama precisaria ter uma exceção. Essa noite era um assunto diferente. Sol, mar, areia e, principalmente, aquele biquíni fizeram todas as suas normas se perderem. Por que não? Ele pensou. Depois de uma experiência ruim, Cheryl não queria compromisso. E ele só não desejava dormir sozinho. Esses eram os ingredientes perfeitos de um romance de verão. Orchid Isle era o lugar perfeito onde os dois poderiam esquecer suas dores. Durante alguns momentos mágicos, esse sentimento poderia ser substituído por prazer. Ele olhou para ela com um sorriso doce. — Cheryl? O que você disse antes de entrarmos na água do mar? Fiquei incomodado. Você e eu podemos ter nossos desentendimentos, mas eu não gostaria que pensasse que sou totalmente insensível. Ela deu de ombros. — Creio que você teve uma vida difícil. Isso deve tê-lo endurecido um pouco. — Não há nada com o que eu não possa lidar — disse ele, tentando não pensar. Ele deu outro passo, como se estivesse voltando ao bar. Cheryl começou a segui-lo, mas ele parou outra vez. Agora estavam bem mais perto um do outro do que antes. Algo sobre o pôr do sol e a brisa suave fez o coração dela derreter. — Conte para mim, Marco — disse ela suavemente. Olhando para a baía, ele balançou a cabeça. — Outra hora, talvez. Não tem importância. Tem, sim. Em um gesto impulsivo, a mão de Cheryl tocou o braço dele. Lentamente, ele se virou. — Aquele beijo maravilhoso... Não foi o suficiente para mim. Ela olhou para o rosto dele, com os olhos cheios de preocupação. Quando ele disse aquilo, ela não sabia o que responder. Marco ergueu a mão. Com um leve toque, os dedos dele acariciaram os cabelos de Cheryl e ergueram o queixo dela. Ao mesmo tempo, Cheryl fechou os olhos. As primeiras carícias que eles trocaram foram lentas, suaves e sutis. Marco não tinha pressa. A ansiedade era quase tão doce quanto o próprio ato. Ele sabia exatamente aonde o primeiro beijo iria conduzi-los. Era inevitável. Esse romance tinha nascido desde quando eles se conheceram. Como todas as mulheres, Cheryl tentaria resistir. Aquela roupa de banho seria dispensada, e ela seria dele. As mãos de Marco percorreriam aquela pele 66


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis macia, apreciando cada curva, até que finalmente ela abriria as pernas como um convite inconfundível para que ele procurasse as suas partes mais íntimas... — Não! Ele parou e se afastou dela. O silêncio caiu entre eles. Cheryl nunca tinha experimentado aquela total quietude antes. Longe da baía, o pôr do sol já estava no horizonte. A praia parecia tão calma. Depois de uma pausa agonizante, a mão dele começou a acariciar os ombros dela. Os movimentos eram lentos. — O que foi tesoro? O sussurro da voz dele era tão sedutor quanto seu toque. Cheryl respirou fundo. Ela tentou aguentar, mas não conseguiu. E escapou com um suspiro. Ela tentou outra vez. Em silêncio, o toque de Marco ficou ainda mais lento e suave. Afinal, a paciência dele deu a ela coragem para falar. — Eu... Eu não faço sexo — disse ela, afinal. O carinho dele se tomou um golpe de confiança, e ela deixou a respiração entrar como um suspiro de alívio. — Mas foi só um beijo. — Ele sorriu. Cheryl enrijeceu. — Pela minha experiência, uma coisa conduz a outra. — E na minha. — Marco a abraçou. — Algo ruim aconteceu com você no passado, Cheryl. Eu senti isso no momento em que nos conhecemos. E o modo como se escondeu daqueles trabalhadores confirmou o que eu suspeitava. Mas dessa vez é diferente, juro. Acredite em mim; Sei lidar com uma mulher, principalmente uma flor delicada como você. Esqueça tudo exceto aqui e agora. Você está segura comigo. Eu lhe disse isso quando você se jogou nos meus braços naquela noite em Villa Monteolio. Lembra? Como poderia esquecer? A lembrança daquela força tranquila à fez derreter nas mãos dele. Todo o pânico se esvaiu do corpo dela. Marco sentiu uma mudança sutil quando ela relaxou os ombros. Cheryl não se sentia mais ameaçada por ele. A única coisa entre os dois agora era uma compreensão não expressa em palavras. Nada iria acontecer, a menos que ela quisesse. Em uma confusão de emoções, Cheryl nunca tinha se sentido tão segura, e ainda tão apreensiva. Esse segundo, esse minuto era maravilhoso. Mas e depois? — Eu cuidarei de você. — Não é que eu não queira — Cheryl sussurrou principalmente com você. É só que... Eu não consigo acreditar que possa me desejar. Ela fechou os olhos. Sem poder olhar para ele, sentiu que Marco erguia a cabeça dela. 67


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Quando ele voltou a falar, não havia pistas do que podia ter passado pela cabeça dele: — Nenhum homem conseguiria resistir à tentação que você tem sido para mim desde que nos conhecemos, Cheryl. — O sotaque delicioso acariciava o nome dela. — Conheço tantas mulheres que só estão interessadas no que podem tirar de mim. Mas você... Você é diferente. Seus sentimentos são tão transparentes, e seu corpo a trai. Sei que deve ser tão inocente quanto eu sou experiente. Mas quero mostrar todo o prazer que está ao alcance das minhas mãos... As últimas palavras dele foram um sussurro na curva entre o pescoço e o ombro dela. Cheryl era como um prêmio. Ela fechou os olhos, rendendo-se totalmente aos braços que a cercavam. O beijo levou embora tudo o que Cheryl tinha na mente, menos o toque e os gestos dele. O tempo parecia ter parado. E um pedacinho da lua aparecera entre as colinas do reino de Marco. Cheryl estremeceu. Era Marco quem dava as ordens ali, era o domínio dele, então não havia como escapar, ela pensou. E melhor eu desistir. Ele é o juiz e o júri na sua própria terra. — Eu nunca sei o que fazer... E dizer... — sussurrou ela, mal conseguindo pronunciar as palavras. Marco acariciou o rosto dela e passou a mão por seus cabelos. — Não foi esta a menina corajosa que ficou de pé entre mim e Vettor quando nos conhecemos! — Eu ainda não sabia quem você era — respondeu ela. Cheryl sabia como ele era e quantas mulheres ele já tinha levado para a cama. Por que seria diferente com ela? Poderia confiar seu corpo a ele? E seu coração? — Conte para mim, Cheryl. Conte o que aconteceu no passado para fazer você ficar tão cautelosa. Parece uma criança assustada. Ele a segurou perto do corpo enquanto falava. Ela podia sentir as vibrações na voz dele pelo tórax, e essa sensação a confortou. Levou algum tempo. Finalmente, ela suspirou outra vez e disse: — Eu sempre fui diferente, desde o começo. Meus pais ficaram tão orgulhosos quando cheguei ao ensino médio. Trabalhei duro e tirei as melhores notas em tudo — disse ela. — Não tinha mais nada a fazer. Não tinha amigos. Não mesmo, é verdade. Meus pais diziam que éramos muito pobres para nos misturarmos aos familiares dos alunos que moravam perto da escola. Marco a apertou mais. Os dois estavam em silêncio. Então Cheryl olhou para cima e teve coragem de continuar: — Na época da faculdade também era solitária. Eu me enterrei nos livros. E na internet — acrescentou ela. 68


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Acho que sei aonde isso vai chegar. — Marco fez uma careta. — Você se encontrou com alguém com quem conversava on-line e teve uma experiência ruim? Ela assentiu. — O nome dele é Nick Challenger. Quando eu contei a ele o quanto era pobre, Nick teve pena de mim. Ele realmente era o amigo perfeito, no início. Nós nos conhecemos e, naquele momento, pensei que poderia existir algo entre nós dois. Quanta ingenuidade... Ela se lembrou de quando conheceu Marco. Aquilo era atração verdadeira. Se tivesse conseguido reconhecer a falsidade em Nick. Duas lágrimas escaparam dos olhos dela. — Oh, tesoro mio... — sussurrou ele, acariciando as lágrimas no rosto dela. — P-por favor, não seja tão gentil comigo. Não consigo aguentar. — Ela chorou. — Consegue, sim. Enquanto estiver aqui comigo, não deixarei ninguém magoá-la. — Eu devo parecer terrível — disse ela. Mas ele apertou as mãos dela. Então nada mais importou. — Acha que me preocupo com isso? Acredite em mim. Você é boa e gentil. Nada e ninguém podem tirar isso de você. Em vez disso, deveriam tratá-la como o tesouro delicado que é. Você merece o melhor que a vida pode oferecer Cheryl. Nunca se esqueça disso — sussurrou ele, antes de tomar a beijá-la.

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CAPÍTULO NOVE

CHERYL ESTAVA apaixonada. Em uma onda de emoção, ela percebeu que esse era o sentimento verdadeiro. Calor e hormônios tinham incendiado os sentidos dela durante as últimas semanas. Mas isso era algo novo: uma segurança tranquila. O conforto que Marco estava lhe dando tinha selado aquele momento. Ele se importou com ela, quando ela não tinha ninguém. Ele era o único homem no mundo que a fez se sentir assim e a tratou tão bem. A autoestima dela estava baixa. Com algumas palavras bem escolhidas, Marco a ajudava a se restabelecer a cada momento. Ele não se preocupava com o passado dela. Se qualquer pessoa tivesse sugerido aquilo algumas horas atrás, ela pensava que foi porque ele não se preocupava com ela. Agora podia ousar esperar. Talvez ele se preocupasse, mas, sendo o homem que era a única maneira que sabia de mostrar isso era deixar que ela pensasse que seu passado não importava para ele. Por alguns instantes gloriosos Cheryl se permitiu sonhar. Marco Rossi não era o tipo que abria seus sentimentos para que todos pudessem ver. Ela voltou a se lembrar de todos os momentos que eles compartilharam, desde quando saíram para nadar. Foi glorioso. Certamente ele não poderia beijá-la daquela forma a menos que aquilo significasse alguma coisa. E tudo isso a preocupava... Para Cheryl, um pouco da armadura de Marco tinha ido embora. Ela havia olhado para o homem verdadeiro, e ele era bem melhor que vários outros. De agora em diante ela faria qualquer coisa que ele pedisse. Ele tinha tanto, quando tudo o que ela possuía era sua lealdade. Então, quando Marco pegou a mão dela, ele a fez a mulher mais feliz do mundo. Ele a conduziu para algumas árvores altas, na orla da praia. Ao ver uma rede suspensa entre duas palmeiras, ela hesitou. — Fique comigo, Cheryl. — A voz de Marco era autoritária. — Você não deveria estar só. E eu a quero hoje à noite perto de mim. 70


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Apesar de seu passado, esse era um novo começo. Marco dissera isso. Cheryl não conseguiria resistir, mesmo se quisesse. — Não vai acontecer nada. — O tom de voz dele era baixo. — A menos que você queira tesoro. Cheryl se recostou contra o corpo dele. Apoiar-se em Marco era como a fantasia perfeita. Tirou todos os pensamentos da mente dela, exceto um. E se ele se mostrasse ser exatamente igual a Nick? Ela estremeceu. — Descanse aqui, pode recostar no meu pescoço. — Ele passou a mão ao redor da cabeça dela. — E se eu disser que não quero? — Então tudo bem. Eu não preciso provar nada. Cheryl hesitou. Dessa vez era mais porque temia o que ela mesma poderia fazer do que o que Marco teria em mente. O cheiro da maresia a excitava como um convite. Ele ficou perfeitamente parado, esperando. Afinal, Cheryl não conseguiu resistir por muito tempo. Ela se deixou relaxar contra o corpo dele, e a rede os fez ficar cada vez mais próximos, pele contra pele. Marco não se mexeu, permitindo que ela se chegasse a ele. Quando ela deixou escapar um longo suspiro de satisfação, ele passou o braço ao redor do corpo dela. Ao mesmo tempo, a voz dele a excitava, com sussurros lentos e carinhosos. Cheryl ficaria feliz de permanecer ali para sempre. Quando as mãos dele passaram por seus cabelos e ombros, ela percebeu que nenhuma mulher conseguiria resistir àquela tentação. Ele a acariciava. — Está vendo, innamorata! Não sou o monstro que você pensou que eu fosse. — A voz dele era como o reflexo do luar na água. — Mas e se... Se...? — Cheryl hesitou, com medo de dizer o que estava em seu coração. — Você quer que eu pare? Eu paro. Você é quem sabe. Você é livre. Como eu. Qualquer um de nós dois pode se levantar e ir embora a qualquer hora. — Oh, não! — Cheryl viu seu pior pesadelo se tomar realidade: que ele pudesse deixá-la agora. — Mas eu não Vou a lugar algum. — Ele sorriu para ela. — E eu não quero ir. — Cheryl olhou para trás. Mas o que as pessoas pensariam se ela ficasse? Como poderia usar sua posição como a babá de Vettor assim? Ela mordeu o lábio. — Mas... — Então fique. — Ele começou a brincar com as alças finas do biquíni dela. 71


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Cada movimento dele fazia os nervos de Cheryl dançarem. Lentamente, cada carícia fazia os pensamentos dela irem para longe no universo. — Fazer amor é o maior prazer reconhecido pelo homem. Por que eu iria querer manter você nos meus braços à força? — sussurrou ele. — Você nunca precisará fazer isso. Eu quero Marco, mas... Não sei como. Não... E o que acontecerá se eu não for boa? Ele fez um som de descrença. — Você acha que isso importa para mim? Um homem sente prazer, não interessa como. Posso esperar... Embora não para sempre. O tom de voz dele era de felicidade. Eles se beijaram até que tudo o que importava passasse a ser a sensação de serem totalmente absorvidos um pelo outro. Quando Marco a soltou para observar a expressão dela, Cheryl levou a mão ao rosto dele. — Por favor, não pare... — Tesoro — sussurrou ele, puxando Cheryl suavemente em seus braços. — Você não se importa? Ela balançou a cabeça. Ele deslizou o dedo embaixo do queixo de Cheryl e levantou a cabeça dela. Olhando diretamente em seus olhos, ele murmurou: — Então é assim que vai ser. Mais uma vez os beijos dele eram suaves e doces contra os lábios dela. O desejo dele inspirava Cheryl. Ela respondeu outra vez e deixou o desejo guiar as suas mãos pelo corpo dele. — Eu posso ensinar você a amar — sussurrou ele. — Mas é uma habilidade que precisa de muitas e muitas aulas. Não pense que precisa aprender tudo de uma vez. Ela nunca se sentiu tão amada. Não! Ela se lembrou. Amor não é uma das palavras dele. — E uma habilidade — murmurou Marco, lambendo o pescoço dela. — Que vai melhorando com anos de prática. Cheryl pensou ter percebido alguma diversão na voz dele. Não estaria rindo dela, estaria? Enrijeceu, mas naquele mesmo instante Marco transferiu a atenção para o lóbulo da orelha dela. De repente, nada mais importava. O corpo dela se dissolvia. — Você pararia mesmo agora, se eu pedisse? — perguntou ela. Ele parou. No momento em que o fez, Cheryl desejou não ter dito nada. — É claro que sim. Mas você não quer mesmo que eu pare, quer?

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Em resposta, Cheryl começou a beijá-lo. Então Marco voltou a tomar a iniciativa. Tirando as roupas de banho dela, ele a encorajou a tirar as roupas dele, também. Os corpos deles se entrelaçaram. Cheryl perdeu a noção do tempo. Marco, não... Ele fez uma pausa, mas só até perceber o que ela quisera dizer. — Marco... Não, não pare... — disse ela, com uma voz que ele nunca tinha esperado que ela usasse. Era sedutora e totalmente irresistível. Agora era só a sensação do corpo dela enrijecendo. Os músculos dela o seguraram enquanto ele embalava com carinho o corpo. Erguendo a cabeça, ele olhou para Cheryl. Era a perfeição. Ele se aconchegou nos braços dela, que respondeu com suspiros de prazer. As unhas dela cravaram nos ombros dele. Cheryl fechou os olhos. Marco se permitiu sorrir. Ele adorava ver seu talento especial para lidar com uma mulher. Ela nunca esqueceria aqueles momentos. Isso ele poderia garantir. Sou o único homem que pode dar essa inspiração a ela. Então Cheryl gritou o nome dele. Chamou-o com tal desejo que ele não podia mais lhe negar nada. O corpo dele estava em perfeita harmonia com o dela. Ele começou a se levantar lentamente. Ela o fez parar. — Não! Não me deixe, Marco! Com um sorriso, ele deslizou para baixo do corpo de Cheryl. Ele a fez suspirar outra vez com um orgasmo. Quando ela finalmente relaxou, ele levantou a cabeça. — Agora, o que você dizia sobre não querer fazer isso, tesoro mio? — Ele acariciou o rosto dela. — Eu não queria decepcioná-lo. Ele sorriu. — E não decepcionou. Os movimentos de Marco voltaram a ser mais pesados. Ele estaria se arrependendo? Ela se perguntou, enquanto separava seu corpo do dele. Os dedos de Cheryl deslizaram pelos cabelos de Marco. Ele se deitou ao seu lado. — Foi incrível. — Ele respirou fundo. — Você acha mesmo? — Cheryl se apoiou contra as almofadas. A atitude dele mudou de imediato. — Eu não minto. Principalmente sobre algo tão importante. O sexo sempre fora uma atividade regular na vida dele. Mas nenhuma mulher tinha tocado o seu coração daquela forma. 73


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Ele estremeceu. Aquela não era uma boa imagem. Ele há muito tempo pretendia não se dar ao luxo de ter alguém em seu coração. Puxando uma corda, fez a rede balançar lentamente. Sentia que a respiração de Cheryl estava se tomando mais profunda, lenta e regular. Ela estava adormecendo. Esse era o sinal máximo de que ela confiava nele. Marco olhou para baixo, sem a incomodar. Ela estava dormindo como um bebê. As pestanas escuras e as bochechas rosadas enfatizavam a fragilidade em seu rosto inglês. As mãos delicadas descansavam sobre o tórax dele. Ele notou que as unhas dela eram rosa e perfeitas como a parte interior de uma concha. Geralmente, o interesse dele pela aparência de uma mulher estava limitada ao rosto e ao corpo, não a pequenos detalhes. Ele se recostou outra vez para olhar a noite. Uma estrela cadente cruzou o céu escuro. Aquilo não deveria significar que um bebê estava nascendo? Ele desejou saber se a sua pobre mãe já teria visto algo assim. Ele duvidava. Ela passara todos os dias da vida trabalhando. Além disso, nunca escurecia tanto no meio da cidade. CHERYL DESPERTOU de um sonho maravilhoso para entender que tudo aquilo era verdade. Ela estava nos braços de Marco. Uma brisa tropical e suave os balançava. Sobre ela, algumas folhas de palmeira filtravam o calor crescente do céu que estava em tons de pêssego. O sol nascente produzia sombras no rosto de Marco, mas não na expressão dele, que ficou tensa. Ele também acordou. O primeiro pensamento dela foi tentar escapar antes que pudesse ver a decepção nos olhos dele; e foi o que fez. Porém, agora que ela estava vestida, o desejo de ficar por mais tempo era muito difícil de resistir. Marco era tão deslumbrante. Ela seguiu diretamente para a piscina natural. Uma cascata caía de uma pedra formando uma bacia rasa, no nível certo para tomar um banho. A superfície era tomada por samambaias e orquídeas. Muitos pássaros voavam pelas árvores. Ela nadou por algum tempo. Ao olhar para frente, a primeira coisa que ela viu foi Marco. — Como você sabia onde eu estava? — Tentei adivinhar e tive sorte. Quis retribuir sua bondade cm Monteolio trazendo isto para você. — Ele ergueu os braços. Trazia a canga de seda em uma das mãos e uma toalha macia em outra. — Mas agora estou aqui... E você está aí, assim... Sorrindo, ele a ajudou a sair da água. Cheryl quis saber por que ela alguma vez sentira medo dele. Se ela estava nervosa agora, era por uma razão bem diferente. Ele passou a toalha ao redor do corpo dela e, então, admirou o efeito. — Se eu tivesse sentido que você ia se levantar, teria feito você parar. — Teria? Por quê? Tinha algo errado? — tentou ela entender. — Não, não mesmo. — O sorriso dele a tranquilizou. — Depois da noite de ontem? E você mostrou todos os sinais de ter gostado tanto quanto eu. 74


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Sim. Foi maravilhoso — sussurrou ela timidamente. — Eu disse que seria. — Esta é a minha ideia de paraíso. — Ela respirou fundo, com pássaros tropicais cantando pelas folhas que os escondiam do mundo. — E a minha — respondeu ele. O primeiro beijo dele foi longo, lento e irresistível. — Não, espere. — Marco se apoiou para sussurrar no ouvido dela: — Você ainda está preocupada com alguma coisa, Cheryl. Posso sentir. Qual é o problema. — Nada. — Oh, não, isso não é bom! Eu jamais quis uma mulher mais do que preciso de você agora — disse ele. — Mas não vou ficar aqui para levá-la a fazer algo para o qual não esteja preparada. Ela ergueu a cabeça e abriu os olhos. A expressão dele era penetrante. Marco tinha dito que a queria! Ela não ousava esperar que a felicidade durasse além daqueles momentos preciosos. Mas poderia agarrar a oportunidade de viver um sonho. Mesmo se por pouco tempo... — Eu também o quero, Marco, você não imagina o quanto. Mas estou com medo. — Não de mim. Ela balançou a cabeça. Quando tentou colocar seus medos de abandono e dor em palavras, elas saíram de forma errada: — Eu não sei o que fazer... — Então talvez deva pensar em ter mais aulas... Cheryl estava no céu. Ela não tinha sido desejada quando criança e não foi amada quando adulta. Mas no paraíso tropical de Marco ela se tomou a mulher que sempre quis ser. Pulsando com a vida, formigando de ansiedade, ela o deixou conduzi-la para o maior prêmio de todos. O jeito dele de fazer amor era lento e intenso, excitando todo o corpo dela. Quando afinal ele explodiu, os dedos dela cravaram-se nos ombros dele em um orgasmo épico. E então ele sentiu Cheryl tremer em silêncio e a abraçou outra vez.

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CAPÍTULO DEZ

— VOCÊ SE sente pronta para dizer o que a está incomodando, Cheryl? — perguntou ele, afinal. Ela parecia completamente relaxada agora; ele sabia que tinha mandado embora todas as preocupações dela. — Não é nada, não mesmo! — Ela sorriu e o beijou antes que ele pudesse perguntar mais. — Meu passado estava me perseguindo, só isso. Nunca tive sorte com relacionamentos antes. Você foi um choque para o meu sistema. Deixei a Inglaterra para ter um recomeço, e encontrei um! — Como você sabe que não escapou da frigideira pulando no fogo, tesoro mio? — Ele riu. — Oh, Marco, só você poderia me fazer sorrir em um momento assim. Ouvir você dizer uma coisa tão inglesa com essa sua voz tão bonita... — Ninguém tinha admirado a minha voz antes. — Ele riu e se afastou dela. — O que aconteceu ontem à noite, e outra vez agora mesmo, pode ficar como uma experiência única para nós dois. Só depende de você. Precisa decidir o que vai acontecer daqui para frente, Cheryl. Eu a quis noite após noite, dia após dia, mas eu me conheço. Não estou interessado em me ligar emocionalmente. Resisti em levar as coisas mais adiante com você até agora porque eu não queria magoar seus sentimentos. Mas qualquer pessoa que tenha sofrido como você deve pensar o pior de cada homem desde o começo. — É por isso que eu trabalho com crianças — disse ela. — Elas não sabem o suficiente sobre mim para me magoar de propósito. — Por outro lado, eu sei muito agora. — Eu nunca devia ter contado a você. 76


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Devia, sim. — Ele passou as mãos pelo corpo dela. — Cheryl, tenho uma proposta para você. Precisa de uma mãe para cuidar desse menino, não de uma babá... — Oh, você não vai me dispensar? Ele balançou a cabeça e continuou: — Uma mulher com seu preparo precisa ter um futuro seguro. E estou na posição ideal para oferecer isso a você. Case-se comigo, Cheryl. Era mais do que ela poderia ter sonhado, mas ela nunca esperaria que isso fosse acontecer em um milhão de anos. O queixo de Cheryl caiu. Por muito tempo ela não conseguiu dizer nada. Conseguir respirar já era difícil. Finalmente conseguiu organizar de alguma forma os pensamentos. — Eu não ouvi você dizer isso, ouvi? Marco deixou de sorrir. De repente, ele era outra vez o homem de negócios eficiente. — E a solução óbvia. Sou um rosto conhecido que superou toda a exposição na mídia. Não ligo para o que os jornais ou qualquer um possa dizer sobre mim, mas a criança é um assunto diferente. Não quero que Vettor fique exposto às fofocas. A fachada de um casamento feliz vai manter os colunistas de fofoca longe de mim e dará a ele a ilusão de uma vida familiar normal. E também a recompensará. Pelo inferno que sofreu no passado e pelo bom trabalho que está fazendo agora para nós. Então não era amor. Por um segundo Cheryl pôde se enganar, porém não mais. Não quando Marco conseguia dizer aquela frase sobre a fachada de um casamento feliz. — Isso é muito repentino — começou ela. Marco deu de ombros. — Não, não é. Conseguirei que meus funcionários preparem os documentos para ter certeza de que nenhum de nós sofra financeiramente com nenhum tipo de acordo. Eles organizarão tudo. Pense nisso. E afinal, esse arranjo seria estritamente um negócio. Ela não sabia o que dizer. Estaria casada com o único homem na vida que a havia feito ter vontade de fazer amor. — Quão “estritamente” é isso? — perguntou ela. — Você quer dizer se eu ainda vou querer sexo? — Marco deu uma risada. — Isso depende do que meus advogados vão dizer. Não se preocupe tesoro. Somos tão bons juntos que seria uma vergonha renunciarmos ao quarto, você não acha? — Sim, mas... Ele riu. — Oh, adoro tanto a sua inocência, Cheryl. E por isso que esse casamento foi uma ideia tão boa.

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Cheryl pensou, mas não por muito tempo. Marco tinha razão. Nick pareceu um bom sujeito, mas se mostrou sórdido. A terrível reputação pública de Marco conflitava com a forma como ele podia ser na vida particular. As aparências podiam enganar. — Tudo bem, farei isso — anunciou ela. — Se casamentos arranjados são bons para algumas famílias reais, então serão bons o suficiente para mim. DAQUELE MOMENTO em diante, Cheryl passou a viver como uma rainha. Eles tinham coquetéis de champanhe e croissants para o café da manhã, acompanhado por longos banhos ao som dos pássaros que voavam pela selva. Enquanto ela decidia o que usar, a massagista bateu no quarto do apartamento dela. Marco tinha trazido a mulher especialmente para aquela ocasião. Cheryl passou bastante tempo selecionando os óleos essenciais para a preparação de sua mistura exclusiva. Então se deitou e passou por uma sucessão de tratamentos. Primeiro o cabeleireiro. Em seguida, reflexologista, manicure e esteticista. Todos vieram mimá-la. No início ela ficava desesperada para saber o que Vettor estava fazendo, onde se encontrava e quem estava cuidando dele. Aos poucos, porém, suas preocupações se amenizaram. Cada vez que alguém dizia a ela que o signor Rossi havia levado o menino para a praia, Cheryl tinha mais facilidade em acreditar. Quando saiu de seu apartamento, ela estava totalmente relaxada e feliz. A única coisa de que sentia falta na vida era Marco, e ele foi a primeira coisa que ela viu. Ele estava descansando à sombra de uma árvore, mas se levantou quando ela andou até ele. Cheryl esperava se sentir intimidada ou nervosa, mas isso não aconteceu. A admiração que saltava nos olhos dele lhe deu confiança para continuar. As dobras das saias dela dançavam ao vento quente, perfumadas com Chanel. — Você está linda. — Ele esticou as mãos para ela. Chegando mais perto, deu-lhe um beijo rápido na testa. — Hum... Alguém está trabalhando bem hoje. Esqueci-me de especificar o perfume quando organizei tudo. Devem ter se lembrado do meu preferido. Cheryl jogou a cabeça para o lado. — Na verdade, este é meu mesmo. Fiquei petrificada quando deixei a Inglaterra e vim trabalhar para você. Comprei para mim um vidro minúsculo no aeroporto como uma recompensa pela minha coragem. — Então você tem muito bom gosto. Ele sorriu e Cheryl fez o mesmo. Se ele soubesse! A fragrância havia sido escolhida porque era o único nome que ela conhecia. Nunca imaginou usá-lo, mas essa era uma daquelas ocasiões especiais com as quais ela sonhou. Agora que estava ali, aproveitaria cada segundo. — Nunca me senti mais mimada. — Cheryl suspirou, satisfeita. — Vocês dois têm se divertido? — Ela olhou para cima, onde Vettor estava investigando uma piscina de pedra com um dos meninos que faziam companhia para ele. — Sim! Mas você e eu devemos acertar os negócios agora.

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Cheryl voltara a olhar para Marco, com seus sonhos se evaporando. O que mais eu poderia esperar? Ela pensou. Ele nunca linha oferecido amor a ela, só um emprego. Mesmo desde sua primeira entrevista para o cargo de babá, Cheryl tinha sido informada sobre como Marco Rossi seria. O trabalho sempre vinha em primeiro lugar. Ele tinha pouco tempo para o sobrinho. Era um homem que delegava, em vez de amar. Não espantava que pudesse oferecer casamento a ela com tanta facilidade. Ela sabia as razões dele antes de aceitar, e nenhuma delas envolvia amor. — Pensei que devíamos estar de férias. — Afastando-se dele, Cheryl andou para a praia. — Espere. Ela reduziu um pouco a velocidade dos passos. — Cheryl. A voz dele deu ao nome dela todos os tipos de significado. Ela parou, enfiando os dedos dos pés na areia morna e prateada. — Precisamos conversar sobre alguns assuntos. Quando ela se virou, ele já estava lá. — Meus funcionários estão mudando suas coisas para meu apartamento aqui, e para minha suíte na Villa. Ela piscou. — Tudo bem para você? — acrescentou ele. Soou como se ele estivesse organizando um acordo empresarial. Cheryl queria romance, se sentir especial todas às vezes. Mas quem era ela para esperar coisas assim? — Eu... Eu acho que sim. — Você não parece tão segura. Cheryl olhou para baixo. — Parece tão frio quando você coloca as coisas dessa forma. — disse ela. Em resposta às palavras dela, Marco andou até sua mesa de trabalho à sombra. O coração dela estava apertado. Ele realmente era um homem de negócios. Ela aceitara a proposta dele, e a sua vida seria assim de agora em diante. Nenhum romance, só negócios. Ela assistiu à forma como ele falava ao celular. Então, para sua surpresa, ele logo desligou. Dentro de alguns segundos, Marco estava de volta ao seu lado. — Você precisa deixar de se vender fácil, tesoro. Esta é a primeira regra do negócio — falou ele. — Trate a si mesma como quer que outras pessoas a tratem. Embora não precise pensar que vou trabalhar mais hoje. Aquele telefonema era para que todos 79


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis saíssem do outro lado da ilha. Todos estarão concentrados aqui, prontos para cuidar do pequeno príncipe Vettor enquanto ele pesca. Isso significa que você e eu teremos um canto deste paraíso só para nós dois. A mão dele passou pela cintura dela. De repente, Cheryl estava no ar. Ela tentou gritar, mas só um suspiro fraco se libertou de sua garganta. — O que você vai fazer comigo? — Olhando para ele, com os olhos arregalados de pavor, ela lutou para conseguir falar. Os músculos dos braços dele eram como amarras de aço apertando o corpo dela contra o dele. — Algo que qualquer homem inteligente deveria ter feito há muito tempo. Ele estava indo em direção às árvores. Cheryl podia ver a cachoeira distante na clareira. Até mesmo os pássaros da floresta se calaram. Ela começou a lutar. — Ponha-me no chão! Ele riu. — O quê? E arruinar aquele pedicure? Seguindo em direção às samambaias e palmeiras, Marco prosseguiu. Ela tentava se desvencilhar dele. — Pare de se mexer, vai valer a pena. Eles chegaram até o rio. E ela ouviu o barulho de uma máquina. — Bem na hora. Uma lancha azul parou no píer ao lado deles. Marco agradeceu ao piloto, que saltou e desapareceu na direção do complexo. — Não vou aborrecer você com formalidades como amarrar a lancha e ajudá-la a subir a bordo — disse Marco, e jogou Cheryl com cuidado para dentro do barco. — Você vai gostar Cheryl. — É uma ordem? Ele sorriu. — Não, é uma premonição. — Apanhando seus óculos de sol de um compartimento a seu lado, ele pegou o volante e não hesitou. — Nick foi o seu primeiro namorado? Estou certo? — Foi meu único namorado. — Você tem muito que aprender sobre a arte do romance. Não é algo que se possa discutir na presença de uma criança. Organizei para que tivéssemos um almoço especial 80


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis em Crystal Bay. Não haverá ninguém lá para nos perturbar. Nem mesmo um garçom. Você poderá aprender sobre o amor com um mestre. Cheryl teve de sorrir: aquilo estava começando a parecer um sonho. ALGUNS MINUTOS depois, a lancha de Marco circulou a costa no outro lado da ilha. Crystal Bay era protegida das brisas do litoral, e o ar era pesado com a fragrância das flores tropicais. Uma nuvem de lindos periquitos se espalhou pelas árvores. Depois de amarrar o barco, Marco pisou na areia e pegou a mão de Cheryl. — Você precisa de mim, Cheryl. Deixe-me lhe mostrar como devem ser as coisas entre um homem e uma mulher. Antes que ela pudesse pensar no que dizer, ele apontou para algumas árvores depois da praia. Seguindo a linha do braço dele, ela percebeu que um chalé de madeira estava camuflado entre as sombras das árvores. — O que você acha? — continuou ele, sem esperar pela resposta. — Quero compensá-la pelo fato de a nossa primeira noite ontem ter sido tão... Pouco convencional. Almoçar hoje será nossa, chance para nos conhecermos. Você sabe o que se diz... Deve haver um encontro para cada década da sua vida antes que o homem sugira... — Ele sorriu de uma maneira que fez Cheryl esquecer suas preocupações. — No meu caso, casamento. Para a surpresa de Cheryl, ela também sorriu para ele. A mente dela corria já se enchendo de ideias. Marco podia estar tratando o casamento organizado deles como uma fraude, mas era o homem de seus sonhos. Quem mais faria algo assim para ela? Ele realmente era perfeito. O que mais ela poderia querer? Um casamento de verdade, disse a si mesma. Pouco a pouco ela percebeu que parte da solução podia estar em suas próprias mãos. Casamento para Marco devia ser motivo para celebrar. Que outra razão melhor ela poderia encontrar? A vida dos pais dela lhe ensinou uma lição importante. O Sr. e a Sra. Lane sempre gastaram todo o dinheiro que tinham. Eles gostavam de aproveitar a vida. Cheryl tinha ideias muito diferentes. Crescera com o hábito de economizar. Agora ela gastaria tudo o que pudesse em nuvens de cetim branco para o vestido com o qual sonhara desde quando era pequena. — Meus funcionários se ocuparam de organizar nossa cerimônia civil, até os últimos detalhes. Alguma formalidade, meia hora mais ou menos do nosso tempo... O queixo de Cheryl caiu. — Oh! Eu estava tão ansiosa por um casamento religioso. Sempre quis caminhar pelo corredor da igreja. Marco estava pasmo. — Um casamento tranquilo significará mais do que um evento lotado, com uma multidão festejando. — Suponho que sim. — Ela suspirou, sabendo dentro de seu coração que aquele não era o tipo de casamento de que seus sonhos eram feitos. Marco riu e apertou a mão dela, mas havia preocupação nos olhos dele. 81


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Será muito mais fácil ter uma cerimônia discreta com um número mínimo de testemunhas. Cada pessoa a mais envolvida fará um evento de mídia se tomar mais provável. Não quero que meus votos sejam registrados pela imprensa mundial — disse ele. Talvez Marco não fosse tão perfeito, afinal de contas. Não só ele estava tentando apressar o casamento como qualquer outro tipo de acordo comercial, como queria ter certeza de que quase ninguém saberia sobre isso. Assim, será mais fácil negá-lo no futuro, uma voz de advertência dizia a ela. — Um pedreiro da parte pobre da cidade como você não ficaria agradecido por ter propaganda? — perguntou ela. — Não se preocupe. Tirarei proveito do nosso arranjo. Só tem uma coisa... — O dedo polegar dele fez pequenos círculos na parte de trás da mão dela. Ele parecia preocupado. — Significa convidar a imprensa para cá pela primeira vez, para que eu possa exibir a minha noiva. Como você vai lidar com toda essa publicidade? — Vou dar um jeito — disse Cheryl com firmeza, tentando convencer a ele e a si mesma. MARCO SE deitou sem conseguir dormir por muito tempo naquela noite. Ele já tinha começado a se arrepender da proposta precipitada. Fora levado por ideias erradas sobre Cheryl. As mulheres sempre queriam o dinheiro dele, nada mais. Ele imaginou que Cheryl estava genuinamente interessada nele como homem. Mas hoje tinha observado um lado diferente dela. O rosto dela se iluminava sempre que ele mencionava o casamento. Ela quisera desfazer a ideia dele sobre uma cerimônia discreta e eficiente a favor de uma festa. Não eram os detalhes financeiros que o preocupavam. O passado terrível de Cheryl significava que ela estava gostando de ter alguns mimos. Foi por isso que ele organizara sessões de beleza para ela e aquele almoço surpresa. Ela gostara de tudo. Durante o almoço Cheryl se abrira, revelando ser uma companheira inteligente. Eles compartilhavam das mesmas visões sobre vários assuntos. Estudando todo o conjunto, Cheryl era ideal. Ela era uma mãe perfeita para Vettor, uma boa companhia, boa na cama, e muito fácil de lidar. Mas o fato de querer levar adiante a fantasia de um casamento o preocupava. Seria o início do fim? Ele refletiu sobre o curto tempo que passaram juntos. Ao contrário de outras mulheres, Cheryl nunca reclamou por ele preferir um desjejum inglês a um croissant com café. Embora ele sempre tivesse negado que sentia falta de seu trabalho, Cheryl havia notado isso e sentiu a verdade. E, o melhor de tudo, o rosto dela realmente se tornava mais vivo quando estava com Vettor. Juntando todas essas coisas, Cheryl era uma funcionária dos deuses. Por que ele quis arruinar tudo se casando com ela?

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis

CAPÍTULO ONZE

MINUTOS DEPOIS de Marco finalmente ter conseguido pegar no sono, ele acordou com um barulho. — Posso entrar? Posso entrar? A voz de Vettor entrou pelos seus ouvidos, mais vivida que qualquer alarme. — Onde? — Quando você e a Cheryl se casarem, tio Marco! Quero uma festa muito, muito grande. — Não. — Marco se sentou abruptamente, bem acordado. — Quando Cheryl e eu nos casarmos, será uma celebração tranquila, com o menor número de pessoas que pudermos convidar. Bateu a mão na cama, acenando para Cheryl, que vinha com o menino. — Eu mal consegui dormir. E não esperava ver você outra vez de uniforme. — Neste momento, ainda estou seguindo o contrato de trabalho com você. Horrorizada com a reação dele, Cheryl escondeu seus sentimentos e mordeu a língua. Como uma verdadeira profissional, ela esperava pelas próximas instruções dele. A 83


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis atitude de Marco mudara. Ontem ele a fez se sentir especial. Agora ele limpava qualquer gota de romance daquela situação. Ela ficou acordada a maior parte da noite, ficando mais e mais empolgada em se tornar a esposa de Marco. Sua empolgação se elevou a um ponto que ela contou a Vettor sobre aquele segredo. Agora o menininho sabia quase tanto quando ela. Mas nessa manhã havia uma nova verdade escrita na expressão de Marco. Cheryl podia ver que seu futuro marido estava pensando em outras coisas. E isso a assustava. — Vettor, acho que é melhor deixarmos o tio Marco acordar sozinho — disse ela de forma diplomática, pegando a mão do menino. Evitou olhar para Marco. Mas ele não tinha terminado o que queria dizer a eles: — Venha aqui, bimbo. O menininho voltou e foi surpreendido por um abraço do tio. — Tudo bem, então eu não acho que nosso casamento seja o momento de fazermos uma grande festa. Mas não consigo pensar em desapontá-lo, pequeno. Farei a festa vir até você, como fiz as compras virem até aqui para Cheryl. Vamos convidar todo mundo, para satisfazer a curiosidade deles. Então talvez nos deixem em paz para negócios mais importantes do que nosso casamento. Trarei um carnaval para Orchid Isle, Vettor. Só para você. Ele deu outro abraço no menino e olhou para Cheryl. — Deixe Vettor com alguém e volte aqui. Temos coisas a organizar. Cheryl assentiu sem dizer nada. Ele a tinha entendido errado antes. Ela estava muito feliz com a ideia de Marco de fazer um casamento pequeno e tranquilo. Ela só não queria deixar de ter a oportunidade de se vestir de noiva e aproveitar. Ainda agora ele estava falando sobre entretenimento em grande escala. Ela sempre soube que casamento para ele não significaria ser amada, nem ser uma parte importante na vida dele. Apesar disso, parecia que estaria nos braços dele, na frente da mídia, fazendo o papel da anfitriã perfeita. De todas as dores que ele poderia fazê-la sentir, essa seria a pior. O pensamento de se socializar com os amigos dele eram um peso para ela. Tudo o que queria era ficar com Marco e cuidar de Vettor. Mas o homem que significava tudo para Cheryl tinha uma vida social assustadora. Saber que aquilo era parte do acordo fazia com que ela ficasse cada vez mais nervosa. Alguns minutos depois, Vettor estava feliz tomando seu café da manhã sob as árvores. Cheryl não poderia se atrasar mais para se encontrar com Marco. Ela bateu na porta do apartamento dele. — Cheryl. O coração dela batia mais forte. Quem mais poderia ser se de pediu que ela voltasse de imediato? Então ela se lembrou tias assistentes pessoais, dos motoristas, ajudantes e mordomos que sempre invadiam a vida dele. Ela era só uma na longa fila de pessoas que disputavam a atenção de Marco. 84


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Sou eu, a Cheryl. A porta se abriu. Ele só estava de jeans, com seu tórax nu, terminando de fazer a barba. — Você está ocupado, Marco. Vou voltar... — Não, entre. Faço isso depois. Barbeadores elétricos nunca realizam um bom trabalho para mim. — Ele andou até o outro lado do quarto, deixando-a entrar. Ao fechar a porta principal, ela escutou a água da torneira. Segundos depois ele voltou, secando o rosto com uma toalha. — Você me disse para voltar. — Sempre a funcionária perfeita — disse ele. — Você quer suco? Cheryl balançou a cabeça. — Eu decidi na noite passada que cometi um erro; casar com você não é uma boa ideia, Cheryl. Mas então Vettor falou sobre isso. Ele obviamente gosta de imaginar ter você como madrasta. Era típico de Marco colocar os fatos como que tentando se excluir da situação, ela pensou com tristeza. Então não será doloroso, mas pelo menos será rápido. — Peço desculpas, Marco. Eu não teria contado a ele, mas... Escapou por acidente. Não consegui me controlar — disse ela. Casar-se com Marco teria sido um erro, mas pelo menos ela fingiria que ele era dela. Para Cheryl, ele era insubstituível. Perdê-lo agora significaria negar a ela qualquer sombra de prazer para sempre. — As coisas foram mais longe do que nós dois gostaríamos... Não para mim, Cheryl pensou, mas ele não tinha terminado. —... Mas o casamento ainda tem uma série de vantagens, desde que não tenhamos ilusões. Minha equipe de advogados vai organizar tudo. Quando e se o pior acontecer, você terá um arranjo mais do que generoso. Mas deve saber que nenhum advogado no mundo conseguirá tirar mais dinheiro de mim do que estou preparado para dar. Cheryl engasgou. Ele estava interessado no lado material das coisas! No dinheiro. Ela ficou tão decepcionada que não conseguiu conter a raiva: — Não é possível! E pensar que eu lhe dei o benefício da dúvida quando as pessoas disseram que tudo o que importa para você é o dinheiro! Isso é tudo o que o casamento significa para você, Marco? Um acerto de negócios? — É claro que não. Mas quando mencionei a ideia você começou a gastar milhões em laços brancos, carruagens e centenas de flores. — Não tenho milhões para gastar. — Sim, mas eu tenho. 85


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — Não é uma questão de dinheiro. São os meus sonhos! E antiquado, mas sempre imaginei trocar votos usando um lindo vestido, de mãos dadas com meu homem ideal, na frente do padre. Essa ideia fez com que eu economizasse cada centavo que ganhava, quando meus pais teriam gastado tudo. Eu queria um dia especial, depois de passar a vida inteira assistindo às pessoas se divertirem. É só isso! Eu preferia gastar todas as minhas economias em um casamento que realmente significasse alguma coisa para nós dois do que todos os seus bilhões em um fingimento! Ela percebeu que a expressão dele estava mudando, mas não ligou. Estou vermelha, quente e furiosa, Cheryl pensou, e se ele não gosta disso, não dou à mínima! — Como você pode sugerir que estou fazendo isso por dinheiro? — recomeçou ela. — Não vou deixar você me acusar de querer tomar seu dinheiro! Por que eu deveria querer algo tão insignificante quando esperei por amor por toda a minha vida? Houve um momento de silêncio. Então Marco se curvou para frente, diminuindo o espaço que havia entre eles. Foi quando ela viu que o rosto dele realmente tinha mudado. — Tenha o casamento que você quer — aceitou ele. — Pague você mesma por ele. Eu não ligo. Tudo o que quero é uma mãe para Vettor. Nosso casamento vai assegurar o seu futuro e o dele da forma mais fácil. Isso é tudo o que me preocupa. Cheryl piscou. Toda sua raiva e decepção se foram. Aquilo era tudo o que precisava para fazer Marco Rossi entender? Um pouco de conversa franca? O choque foi muito grande. — Mas... Mas e você, Marco? — Oh, vou ficar bem. — Ele deu de ombros. Pela primeira vez naquele dia ela começou a se acalmar. — Eu estou bem. E não se esqueça de que é a cerimônia que importa o laço legal da união da minha família. Ele não conseguiria amá-la. Não podia amar nada, Cheryl lembrou a si mesma. Ele assustava os empregados e ditava que Vettor teria uma infância feliz, apesar de não fazer ideia do que aquilo significava. — E lembre-se, já tivemos nossa noite de núpcias. Então não precisa se preocupar comigo — acrescentou ele. — Não tenho certeza disso — respondeu Cheryl. Ele sorriu. — Eu disse a você, tesoro, não precisa ficar nervosa. Nem quando estou aqui. A voz dele era suave, envolvente. A forma como ele se apresentava para ela, a sedução fácil do sorriso dele a persuadiam de que ela devia estar errada. Marco sentia compaixão por ela, a confortou e fez amor com ela como se Cheryl fosse à única mulher no mundo. O que importava se ela fosse apenas uma das dúzias que ele conhecia? A 86


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis tentação máxima de ficar sozinha com Marco na suíte que agora seria deles silenciava todas as preocupações dela. Era o único homem para ela. Sabia disso havia muito tempo. E ele também sabia. Cheryl fechou os olhos. Se queria fazer amor com ele outra vez; não, fazer sexo, ela se corrigiu, porque era o que ele podia oferecer. Deveria se desculpar e sair agora mesmo. Mas Marco já estava investigando os pequenos botões do vestido dela. Os dedos longos e sensíveis passavam pela pele delicada dela. E Cheryl sabia que não queria que ele parasse. Ele abriu o seu vestido. Ela se mexeu para deixá-lo cair do corpo. O algodão fino do uniforme desceu pelas pernas dela, revelando um laço delicado de sua calcinha nova. Marco passou a mão pelos cabelos dela e por seus ombros nus, e sorriu. — Como Vênus — sussurrou ele com satisfação. O olhar dele fez evaporar qualquer resquício de medo que ainda estivesse na mente de Cheryl. Agora ela sabia como era ter alguém que a desejava. Olhou para ele e piscou. Por um instante pensou ter visto algo escondido sob a expressão de Marco. Teria sido uma ponta de afeição em seus olhos azuis? Ela olhou outra vez. A expressão tinha ido embora. — Parece que se passou uma vida desde a última vez em que fizemos amor, Cheryl. Ela estava a ponto de corrigir as palavras de Marco, mas ele a fez parar de falar e olhou para ela com um sorriso. — Shh. Eu já disse a você, esqueça-se de tudo e só pense em mim. Uma rede de lembranças ainda confundia a imaginação dela. — Se iremos precisar viver um casamento fingido, eu... Eu não quero fazer isso outra vez — sussurrou ela. Os dois sabiam que ela estava mentindo. Ele olhou para os olhos dela, por muito e muito tempo. — Tudo bem — sussurrou ele, afinal. — Se você quer parar, vou terminar de me barbear. Pode ir e praticar a mudança de babá para mamãe. Não vou mais distraí-la. Ele tentou se mover e tirar as mãos dela. Mas ela o deteve. — Eu sou sua, Marco. — A voz dela era suave, mas ansiosa. — Nós dois sabemos disso... Marco a silenciou com um beijo que acabou com as dúvidas dela. — Por enquanto.

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis

CAPÍTULO DOZE

A partir desse momento, os dias e as noites de Cheryl foram preenchidos com seus pensamentos a respeito de Marco. A paixão dele era tão implacável quanto o mar, e ela não conseguia ter tudo o que queria dele. A vida passava como uma deliciosa neblina de desejo. Só uma sombra escurecia o horizonte dela. A festa. Ela tentou afastar os pensamentos, procurando se concentrar em Marco. Isso não era difícil. O corpo dele era totalmente dela. Ele a acariciava e a seduzia como Cheryl nunca tinha sentido. As noites de Marco e Cheryl eram cheias de paixão, não de sono. Vettor tinha percebido a magia entre eles. De uma criança boa, ele se transformou em ideal. Tentado pelos peixes frescos do litoral e por todos os tipos de frutas tropicais, ele comia bastante. Quando Cheryl ousava desviar a atenção de Marco, ela via Vettor brincando sob a luz do sol. — Gostaria que pudéssemos ficar aqui para sempre — disse ela algumas semanas depois, enquanto Marco os balançava na rede. — Infelizmente não será possível. Há pouco trabalho que posso fazer do laptop. Depois da festa esta noite, eu precisarei voltar ao escritório. Isso mantém a minha mão de obra acelerada. Qualquer menção à festa fazia o sangue de Cheryl gelar. Ela ergueu a cabeça, tentando reunir forças. — Mas você passará todo o tempo comigo? Só nós dois? Juntos? 88


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Ele apertou o corpo dela entre os braços e a beijou. — É claro que sim. Logo que Marco fez aquela promessa, ele a quebrou. Um barulho de helicópteros sobre as cabeças deles soou, e ele se levantou. — Preciso ir. Nossa festa chega em caixas e tudo está nesses helicópteros. Vamos começar a nos preparar. Nossos convidados chegarão logo. Seus convidados, Cheryl pensou com medo. Vettor não se preocupava com nada. Com um grito de alegria, ele esqueceu o besouro brilhante que observava e correu para o apartamento. — Já vou entrar para ajudá-lo — disse Marco. Cheryl estava quase fora da rede, mas quando escutou o que ele disse, ela parou. — Esse é o meu trabalho. — E eu? Com os olhos ainda em Vettor, Marco pegou a mão dela. — Certamente você não precisará fazer nada. Você já é bastante linda, cara. Lançando um rápido sorriso, ele saiu para seguir na direção em que Vettor estava andando. O plano de Cheryl para fazê-los ficar juntos funcionou de forma brilhante para o menino. Mas não para ela. Se pelo menos Marco percebesse como eu me sinto, ela pensou ao segui-lo. Sou uma peça sobressalente hoje. Já não precisam mais de mim como babá, e os funcionários de Marco fazem absolutamente tudo para nós. A única coisa que sobrava para ela era agir como anfitriã na festa dele. E ela estava detestando isso mais do que uma ida ao dentista. A lista de convidados ocupava várias páginas digitadas com letras miúdas. Ao ler os nomes ela não reconheceu ninguém além dos que tinha visto nos jornais. Marco ignorou as preocupações dela com a facilidade habitual. — Se convidarmos a todos, a curiosidade deles será satisfeita, economizarei ao convidá-los para Villa Monteolio depois do evento. A imprensa conseguirá suas fotos e não precisará atrapalhar nosso grande dia. Daremos a todos o melhor. Eles ficarão deslumbrados por tanta generosidade e beleza. Cheryl não estava convencida. — Eu gostaria de não precisar comparecer. Poderia mesmo não estar lá; ficarei esquecida num canto. Você lida com pessoas tão melhor que eu. — Você conseguirá, vai aprender. — Marco estava convencido disso. — Será preciso fazer isso. E haverá um casal inglês aqui, então pelo menos você terá algo em comum com eles.

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis — O duque e a duquesa de Compton? O que o faz pensar que eu poderei falar com eles? — Oh, você ficará bem. Conheci Sophie quando ela não era nada além de uma menina festeira. Se ela tentar qualquer coisa, só diga a ela que é com você que estou me casando — disse Marco. — Se não funcionar, lembre a ela quem resgatou o marido dela de um buraco bem fundo no ano passado. A duquesa de Compton era famosa por sua beleza e por ter muitos amantes. E se lançasse seus olhares para Marco? O pior estava por vir. Cheryl começou a olhar os convidados saindo do jato em Orchid Isle. As mulheres eram tão magras e desciam de seus aviões privativos. No início, Cheryl pensou que elas estavam admiradas com Orchid Isle. As múltiplas explosões de flashes dos paparazzi logo tiraram aquela ideia da cabeça dela. Estavam posando. Imagem era a única coisa que as interessava. Mas Orchid Isle estava além das expectativas dos convidados. Cheryl sentia-se aliviada por só escutar elogios. E, apesar de todas as pessoas famosas em sua ilha, Marco era a estrela. Todos queriam ser fotografados com ele. — Só mais uma, tesoro. Eu sei quanto você odeia isto, mas se eu me exibir nesta ocasião, nunca mais precisarei posar para eles. Relutante, Cheryl concordou. Ela ficava bem sob o braço de Marco; sentia como se fosse o lugar mais natural do mundo para ela. Pelo menos tinha esse conforto até sorrir para as câmeras outra vez. Ela gostaria de conseguir fazer poses tão naturais como Sophie. Aquilo a fazia olhar para Marco com mais cuidado. Ela percebeu que o comportamento dele mudava sempre que a duquesa estava por perto. O sorriso dele era sempre devastador, mas ganhava uma nova intensidade. Ele parecia virar conscientemente as costas para Sophie para conseguir falar com Cheryl. Será que Marco estava tentando esconder algo? A insegurança dela cresceu quando ele sugeriu que se separassem e circulassem entre os convidados. Antes que ela pudesse discordar, ele desapareceu na multidão com Vettor. Cheryl olhou para a multidão, imaginando o que fazer. Garçons de paletó branco e gravata serviam bebidas e canapés. Ela provou alguns e logo se sentiu melhor. Ter algo nas mãos a ajudava a tirar os medos de seus pensamentos. O champanhe caiu bem, e havia todos os tipos de delícias para ela escolher. Os pratos de salmão defumado, caviar e trufas dispostos em bandejas prateadas eram obras de arte. Tudo parecia tão bonito que era quase uma vergonha estragar os arranjos. Isso não preocupava os convidados homens, que comiam tudo o que era oferecido e eram rápidos ao pedir mais, porém Cheryl nunca via as esposas comerem nada. Trocavam comentários quando os garçons lhes ofereciam algo. Entretanto, o champanhe era permitido nas dietas das celebridades. Ela também tentou resistir e, quando o fotógrafo de Marco começou a exibir fotos dos convidados em uma tela gigantesca, ela precisou de algo que a animasse. 90


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Ela mal reconheceu a própria imagem. Projetada a quatro metros de altura sobre a multidão, no novo vestido de seda preto e branco que Marco havia escolhido para ela, Cheryl parecia aturdida e serena. Na verdade, ela se sentia como uma zebra num rebanho de gazelas. Estava totalmente deslocada, e nunca tinha se sentido mais desprotegida. Nenhum dos homens conseguia tirar os olhos dela. Nenhuma das mulheres conseguia tirar os olhos de Marco. Mas, pelo menos, as mulheres estavam sendo gentis com ela, ou assim ela pensou. Quando todo o barulho e a aglomeração ficou demais, Cheryl mergulhou em uma grande marquise no vestiário feminino. Lá ela se encolheu em um dos cubículos. Sabia que não poderia ficar lá para sempre, mas enquanto juntava coragem para voltar a enfrentar a todos, escutou o barulho de saltos e gritos lá fora. Sophie Compton estava lá. Cheryl reconheceu a voz dela e não poderia enfrentar sua figura. — Claro que essa Cheryl Lane é uma ninguém! — um grupo de mulheres tagarelava. — Deus sabe onde Marco a encontrou. Como eu disse a ele, você pode se curvar e não pegar nada. Cheryl queimava de indignação. Ela achara que seria ruim. Agora ela sabia. — Então ela não tem um título? — outra voz perguntou. — Meus Deus, não! — Bem, ela não é mesmo uma de nós! — Você viu o quanto ela come? Aquela observação foi seguida por uma risada. Dentro do cubículo, a vergonha de Cheryl se transformou em um desespero terrível. Uma quarta voz apareceu: — Ela está se enchendo de canapés; eu vi. Aquilo despertou mais risadas. Tudo o que Cheryl podia fazer era se esconder. Será que a vida dela deveria ser assim de agora em diante? Com pessoas que diziam uma coisa na frente dela e outra por trás, quando não estivesse escutando: Enquanto Marco velejava com ela por um mar de admiração e cuidados, vários tubarões perigosos a cercavam. Durante a vida, ela sempre sentiu como se estivesse do lado de fora, olhando o que acontecia do lado de dentro. Como se não pertencesse àquele ambiente. Como se estivesse fora do grupo, destacada. Agora ela estava conseguindo perceber certas coisas. Ela nunca tinha sonhado ser o centro das atenções. E viver aquela situação estava sendo um verdadeiro pesadelo. Não entendia por que amar Marco a magoava tanto. Por que ele deveria amá-la? Ele só precisava dela porque entendia que poderia ser a melhor mãe possível para Vettor. Como Cheryl se contentaria, sabendo que ele poderia encontrar satisfação nos braços dela, mas nunca sentir amor? Essa era uma vida que nenhuma mulher gostaria de ter. Era uma prisão perpétua. Ela se encolheu onde estava, no cubículo do banheiro, e ouviu o barulho de mais alguns sapatos no chão liso do vestiário. O medo de ouvir alguém falar dela novamente a 91


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis catapultou para fora de seu refúgio. Ela estava certa de que devia ter cometido muitos erros. Mas, pelo menos, as pessoas sorriam para ela. Não ousariam dizer nada sórdido para ela em público. Ou ousariam? APESAR DE tantos artistas e músicos, do serviço impecável de um bufê suntuoso e de uma longa exibição de fogos de artifício no final da festa, Cheryl não conseguia aproveitar nem se divertir com nada. Até que seus últimos convidados se preparassem para ir embora, o dia estava começando a amanhecer no horizonte. Marco passou o braço ao redor da cintura dela, ao caminharem juntos ao longo da orla. Pétalas de flores que haviam sido jogadas ao mar durante a festa dançavam pelos pés deles, trazidos pelas ondas. — Obrigado, Cheryl. Eu sei como deve ter sido difícil para você ficar entre todas essas pessoas. Se puder lhe servir de consolo, eu prefiro ficar assim, sozinho com você. — Ele apertou a mão dela e segurou seus braços ao passearem lentamente pela praia. Os dois ficaram em silêncio por algum tempo. Cheryl estava cheia de dúvidas. O que ele queria dizer? Será que ele preferia mesmo estar com ela, que era uma ninguém, como escutara os convidados dizerem? Ou gostaria de estar com Sophie Compton, à duquesa tão elegante e atraente? — Você gostou da festa, Cheryl? — Oh, sim — respondeu ela. — Você está mesmo feliz? — sussurrou ele. — Muito. — Que bom. A voz dele ecoava satisfação. Cheryl estava alegre, embora nenhuma das respostas dela tivesse sido verdadeira. Eles estavam perto do heliporto, assistindo aos restos da festa sendo guardados. Tudo seria transportado de volta para Villa Monteolio para que os funcionários pudessem desfrutar da generosidade de Marco. — Por que não foi organizar um café da manhã bem especial para nós dois? Podemos servi-lo na cama... — sugeriu ele. Cheryl se virou para ele. Antes que ela pudesse falar, ele a beijou. A paixão entre eles reluziu, mas Cheryl sabia que não havia amor. Mas isso não é como deveria ser, ela pensou. Estamos quase nos casando! E isso era o mais terrível. Nunca seria um casamento verdadeiro do tipo que ela quis tão desesperadamente. Ela precisava estar incluída e envolvida pela primeira vez na vida. Marco poderia prover tudo aquilo, quando queria sexo. Mas o estilo de vida dele não era algo do qual ela quisesse fazer parte. Tudo o que ela queria era que esse homem deslumbrante caminhasse ao seu lado, mas pelo visto ele vinha com uma parte horrível do pacote do casamento. A festa tinha sido uma amostra das coisas que estavam por vir: 92


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis espetacular, mas sem substância. Nada mais era verdadeiro. Os momentos maravilhosos que tinha compartilhado com Marco eram uma lembrança escura e distante, como se ela estivesse olhando pelo lado contrário do telescópio. Marco a deixou, rumo ao apartamento dele. Atrás dela, as últimas caixas estavam sendo carregadas e as hélices do helicóptero começaram a girar. Quase como se estivesse agindo por instinto e autopreservação, Cheryl virou as costas para Orchid Isle e pulou na aeronave que estava partindo. MARCO SORRIU ao passear pelo complexo. O coração dele estava mais leve. Ele já não sentia a necessidade de se afundar em trabalho. A obsessão dele por isso fora uma tentativa de provar que as lembranças não exerciam poder sobre ele. Cheryl tinha mudado tudo aquilo. Ela estava transformando a vida dele. Marco via as coisas muito mais claras agora. Ao encorajá-lo há passar algum tempo com Vettor, ela estava melhorando a vida de todos eles. Principalmente a minha, ele pensou. Então a gigantesca tela sobre a pista de dança chamou a atenção dele. Mostrava três homens, impecáveis em smokings, cada um com uma taça de champanhe nas mãos. Um deles era um playboy internacional, o segundo, um jogador famoso por ter quebrado a banca em Monte Cario. Levou um tempo para Marco reconhecer o terceiro. Quando isso aconteceu, ele soltou um assobio. — Dio mio, sou eu! — gritou ele. Não havia ninguém para escutá-lo, exceto um coro de periquitos nas árvores. Ele se lembrou da conversa que estavam tendo quando o fotógrafo deu aquele clique. Os outros dois homens tentavam se exibir, listando suas últimas extravagâncias. Marco se mostrava orgulhoso dos milhões que havia conquistado com as próprias mãos, mas só por ser um anfitrião cortês. Um velho ditado lhe veio à mente: Diga-me com quem andas que te direis quem és. Por que estou perdendo tempo com pessoas assim? Ele se perguntou. De repente, tudo o que ele queria era Cheryl, agora e para sempre. Perceber aquilo fez Marco dar uma risada. Acima dele, os periquitos voaram das copas das árvores como serpentinas, e ele sorriu olhando para o céu. CHERYL NÃO fazia ideia de aonde iria ou o que faria. Tudo o que sabia era que devia se afastar de Orchiü Isle. Não posso ficar aqui nem mais um minuto, ela pensou. Não sou mais qualquer uma! Todos aqueles esteticistas e consultores de moda, e para quê? Marco não se apaixonou pela minha aparência. Ele não se apaixonou por nada em mim. Está se casando comigo por causa do que eu posso fazer para ele. Toda essa extravagância sem sentido está me fazendo ser motivo de risos para os amigos dele. Não posso gastar meu tempo tentando satisfazer as expectativas de outras pessoas. É como voltar a ser criança, e não posso lidar com isso. Ela não conseguia pensar em como Vettor reagiria quando soubesse que não haveria casamento. Olhou pela janela do helicóptero, cega às belezas lá de baixo. Tudo o que ela 93


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis podia ver era um futuro de desastres, erros, asneiras e gafes sociais. Minha mãe estava certa. Eu nunca deveria ter tentado me dar bem na vida. Cheryl suspirou. Não pertencia à alta sociedade. A única coisa que ganharia ao se casar com o patrão era muitas pessoas falando dela pelas costas. Marco podia viver sem ela. Ele nunca precisou dela fisicamente, da forma como Cheryl precisava dele emocionalmente. Ele tinha Vettor para absorver todo o seu amor agora. Eles eram apegados um ao outro. Não era como se Cheryl pudesse fazer algo por eles no campo profissional. Ela havia sido empregada como babá quando Vettor não tinha ninguém. Agora o menininho possuía toda a atenção de Marco. Como ele poderia ter pensado em uma ex-funcionária humilde para ser a mãe do garoto? Ao CONVERSAR com o cozinheiro sobre o café da manhã, Marco pediu para que um empregado preparasse figos frescos com prosciutto. As cozinhas eram tão bem organizadas que já se preparava para o almoço. Sabendo o quanto Cheryl gostava dessa fruta, ele pegou algumas. Colocando-as em uma cesta, ele saiu para procurá-la. Depois de alguns segundos, um pensamento de repente o surpreendeu. Ele tinha festejado a noite inteira e agora tirava um tempo livre para arrumar aquelas frutas, quando deveria estar trabalhando. Ele não conseguia se imaginar fazendo isso para mais ninguém além de Cheryl. Olhando para os figos cor de violeta que estava carregando, ele passou a mão no queixo, pensando. A vida dele havia mudado muito nos últimos dias. E a melhora acelerara sob o céu azul de Orchid Isle no momento em que ele levou Cheryl para a cama. Ao voltar para o complexo, ele ficou preocupado por não ver nenhum sinal dela. Vettor ainda estava dormindo, mas onde estaria Cheryl? Se ele não a achasse logo, não teria uma desculpa para não ir à reunião com seu advogado. Ele sorriu. Essa nova Cheryl podia fazer com que ele se esquecesse de tudo nesse mundo. Os advogados dele estavam reclamando por ele ainda não ter assinado o acordo pré-nupcial. Marco nunca teria se esquecido de fazer esse acordo com nenhuma outra mulher. Você tem de responder a muitas perguntas, Srta. Lane. Logo signora Rossi! Ele pensou ao circular a ilha à procura dela. Então parou outra vez. Signora Rossi. Soava muito bem. Ele sorriu. Quanto mais pensava em Cheryl, mais largo ficava seu sorriso... Até o momento em que o pessoal da aviação contou a ele que ela deixara Orchid Isle no último helicóptero. MARCO MAL podia acreditar que ela deixara aquele paraíso. Ele voltou para seu apartamento. Não havia nenhum bilhete, mas não restava dúvida. Tentou se lembrar da última conversa que teve com ela, na última vez que fizeram amor... Ele estava desesperado. O cérebro dele parou de funcionar. Nada para ele fazia sentido. Chegando à sala do apartamento deles, Marco parou ao lado da cama. Os empregados não tinham arrumado o apartamento desde a última vez que fizeram amor apaixonado, mas o edredom havia sido dobrado com cuidado, como Cheryl sempre fazia. As almofadas ainda guardavam leves impressões de que tinham sido alinhadas por ela. Última vez que fizeram amor apaixonado? Ele pensou de repente. As palavras tinham uma finalidade funesta sobre eles, mas Marco Rossi nunca na vida perdera uma mulher, e ele não pretendia deixar que isso começasse a acontecer agora. 94


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Pegou o aparelho telefônico que estava perto da cama para mobilizar todos os funcionários dele, em toda parte do globo. Ele os enviaria para procurar Cheryl onde quer que estivesse e trazê-la de volta para a ilha. Ele gastaria todo o dinheiro possível para descobrir onde ela estava, e para descobrir a razão pela qual teria desaparecido... Então ele fez uma pausa e se lembrou da irmã dele: Rosália. Quando descobriu que o dinheiro que enviava estava pagando o hábito dela de se drogar, ele deixou cada vez mais esse problema nas mãos dela. Preferiu se ausentar. Mas resolveu internar Rosália e o namorado dela em um centro de reabilitação para usuários de drogas e organizou para que eles dois ficassem na estância termal mais exclusiva do mundo para tentar mais adiante encorajá-los a sair daquele mundo de problemas. Marco quis se programar para ir visitá-los, mas precisava ficar um pouco mais no escritório naquele dia, para finalizar um último contrato. Em seguida, em vez de correr para o aeroporto, preferiu delegar essa tarefa para um de seus motoristas. O homem fora recrutado há pouco tempo, não havia sido testado e não tinha experiência. Ele correu muitos riscos na estrada tortuosa. De acordo com a maneira de pensar de Marco, se alguém tivesse uma moeda, também poderia ter um amigo. Por isso a necessidade desesperada de criar segurança, por sentir como se tivesse sido responsável pela morte dos pais de Vettor. O trabalho dele havia ajudado de alguma forma a provocar os problemas daqueles dois. Além disso, fizera com que ele confiasse em um motorista louco. A riqueza que ele construiu criou a tragédia de outros. E esse era o tipo de coisa que ele não tinha conseguido resolver. Marco percebeu que não podia continuar deixando tudo acontecer daquela maneira. A única coisa que ele queria naquele momento era Cheryl. E ele a queria tanto que mostraria isso com suas próprias ações. Dessa vez, ele decidiu que não enviaria outra pessoa para procurar por ela. Sem perceber, Marco tinha se deitado do lado de Cheryl na cama. Apoiado por cima, ele acariciou o travesseiro dela e o cheirou. Uma última lembrança do perfume dela rastejou nos mais profundos recantos da alma dele. Ela me proporcionou tantos prazeres, Marco pensou. Poder enxergar quais eram as coisas mais importantes na vida significaria que ele também poderia ter conseguido manter a irmã dele, Rosália, em segurança. De forma alguma ele poderia cometer o mesmo erro agora com Cheryl. Precisava descobrir onde ela estava nesse momento, e por quê. E ele começaria a tentar entender isso agora mesmo. O HELICÓPTERO parou no navio de luxo de Marco. Cheryl saiu, sabendo que deveria se abaixar sem olhar para trás, para tentar não se lembrar dos prazeres distantes que ficaram em Orchid Isle. Marco Rossi realmente a tinha encantado. Ela foi para perto da grade. Como poderia sacrificar todos aqueles dias e noites perfeitos com ele? E deixar de sentir a pele lisa e quente dele contra o seu corpo? Devo estar louca. Cheryl podia não ter muita experiência na vida, mas de uma coisa ela estava certa. Nenhum outro homem significaria algo assim para ela. Tudo o que queria era Marco, 95


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis Tentou impedir que as lembranças dos acontecimentos das últimas semanas se passassem pela sua mente e invadissem seus pensamentos, mas não conseguiu. O coração dela estava vazio. Não funcionava. Ela estava desolada. Apertando os olhos, tentava pensar sobre outros assuntos. Os sentidos dela ficaram mais aguçados. Ela começou até mesmo a ouvir coisas. Alguns pequenos sons de vida a bordo de uma embarcação que passava ao redor dela... Escutou o barulho de uma lancha. Tentou dizer a si mesma para deixar de ser tola, mas continuou com os olhos fechados. De repente, gritos empolgados fizeram com que ela abrisse os olhos e ficasse surpresa. Marco estava na lancha de Orchid Isle bem perto do navio. — Cheryl? A expressão dele era severa, mas ele disse o nome dela de forma tão doce que o coração de Cheryl pulou. Naquele momento, o tempo parou. Ela fechou os olhos outra vez. — Eu sinto muito, Marco. Não posso fazer isto. — O quê? O que você não pode fazer? — Tudo isto. Ela abriu os olhos para olhar para ele, incapaz de falar. Ele tinha dispensado todos os funcionários. — Eu não me sinto à vontade aqui. Se eu me casar com você, não serei mais uma de suas empregadas. Mas isso não significa que posso esperar fazer parte do seu mundo. Sua festa provou isso para mim de uma vez por todas. Marco deu um passo à frente. — Então esqueça isso. Vou levar você para casa. Atordoada, ela olhou para ele. Em seu estado de confusão, ela só conseguia achar um significado para as palavras de Marco. — Para a Inglaterra? — Não. Para a nossa casa, tesoro. A Villa Monteolio. Uma lágrima rolou pelo rosto dela. — Não faz sentido, Marco. Não me encaixo no seu mundo. Você disse que queria que eu fosse uma mãe para Vettor. Mas aquele tempo passou. Você não precisa de ninguém agora. Qualquer um pode ver que é o melhor e único pai que ele precisa ter. — Ela se lembrou de quando os dois brincavam juntos em Orchid Isle. — Quando estão juntos, são vocês dois contra o mundo. Eu achava que sempre teria de cuidar de Vettor. Mas ele não precisa mais de mim. — Precisa, sim. E eu também preciso Cheryl. Por muito tempo eu perdi de vista a única coisa que importa mesmo na minha vida. Relacionamentos são as únicas coisas que importam. E para mim, aqui e agora, só significam uma pessoa. Você. 96


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis A voz dele era doce. — Eu quero você, Cheryl. Nada disso significa algo para mim, nem este barco, bem a festa, nem os convidados, nem mesmo Orchid Isle. Eu renunciaria a tudo agora mesmo por você, tesoro mio. Você encontrou meu coração. Quando deixou a ilha, descobri que levou minha alma com você. Os olhares deles se encontraram e, de repente, nada mais importava. Eles estavam ao alcance um do outro mais uma vez. Isso era o bastante. Cheryl levantou a mão para tocar no ombro dele. Ela suspirou com o desejo, mas Marco já estava tomando a iniciativa. Em segundos eles estavam se beijando. Bem depois, quando ela conseguiu respirar, olhou para o rosto dele com uma expressão de pura adoração. — Oh, Marco, senti saudade de você no segundo em que entrei naquele helicóptero. Sinto muito mesmo... Ele a beijou outra vez. — Não, espere Marco. Preciso pedir desculpas... Ele não estava escutando. Estava muito ocupado acariciando o corpo dela. Tudo o que queria era segurá-la em seus braços. Depois de vários beijos, Marco finalmente se afastou um pouco para olhá-la de cima a baixo. — Não quero que peça desculpas, meu amor. Você ter ido embora era tudo o que eu precisava. Todos os segundos em que estivemos separados foi uma tortura para mim. Pensei que tinha perdido você para sempre — sussurrou ele. Ele estava olhando para ela de uma forma... Cheryl sabia que tinha de dizer alguma coisa a Marco. — Começou ontem, na festa. Você organizou tudo isso, todos os seus amigos estavam lá e você não conseguia tirar os olhos da duquesa de Compton. A última coisa que precisava era de uma garota desajeitada como eu que não sabia o lugar dela. — O quê?! Eu quis ter certeza de que Sophie manteria as garras longe de você, foi só isso. Cheryl Lane, você significa mais para mim do que todas aquelas pessoas juntas: homens, mulheres, celebridades, todos. — Escutei pessoas dizendo coisas terríveis. Elas me fizeram sentir como se fosse um peso para você. — Quem fez isso? Cheryl sentia a raiva na voz dele. — Eu não diria mesmo se soubesse. Ficou no passado, Marco. Se não quero pessoas dizendo coisas assim sobre mim no futuro, terei de fazer um esforço maior. Precisarei aprender a encará-las da próxima vez. — Não haverá próxima vez. Você nunca mais terá de enfrentar esse tipo de coisa — disse ele com firmeza, acariciando os cabelos dela. — Fiz a festa para alegrar Vettor, mas 97


Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis será a última vez que farei algo assim, pode acreditar. Eu sabia que você não tinha se divertido aquele dia, mas... Dio! Eu deveria ter notado os sinais de perigo e ter sido mais compreensivo. Você foi a primeira pessoa a não querer nada de mim, Cheryl. Ao contrário, mostrou interesse por mim e transformou meu sobrinho solitário em um menino alegre. — Foi você quem fez isso. Agora você é o pai dele. — Cheryl sorriu. — De agora em diante decidi ter uma visão mais tranquila da vida. Como você — acrescentou ele. Ela riu. — Você está brincando comigo! — Não mesmo. Venha para casa comigo, na Itália, agora. Eu preciso de você, Cheryl. E Vettor também. Você se foi por menos de uma hora, mas desde o momento em que ele acordou tem perguntado a todos: “Onde está Cheryl?” Como posso aguentar isso? — Ele também deve estar sentindo a sua falta a esta altura, Marco. Você dará a ele tudo o que precisa, apoio em todas as experiências e o bom senso de que ele precisa para crescer. — E agora tenho a mulher perfeita para cuidar dele também. Cheryl olhou para ele por um longo tempo. — Posso esperar que essa seja eu? — perguntou ela. — Nunca poderia haver outra pessoa além de você para mim, meu amor. — Oh, Marco... Quero que você seja o meu marido de verdade. E que Vettor seja o meu menininho. — Meu amor. — Ele a acariciou. — Vamos amar Vettor como se ele fosse o nosso próprio filho, e ele será o irmão dos nossos filhos — acrescentou com mais um beijo. Cheryl tinha sonhado com esse momento desde o instante em que se conheceram. Agora Marco estava transformando a vida dela em algo melhor do que qualquer fantasia. Ela levou um tempo pensando nisso antes de dizer qualquer coisa: — Essa é uma nova proposta, Marco? — Claro que é — sussurrou ele. — Encha minha vida de amor que eu farei com que todos os dias sejam perfeitos para você. Isso está garantido. — Eu sei Marco. Você já fez todos os meus sonhos se tomarem realidade. Então a resposta à sua pergunta é... Sim... — sussurrou ela, fechando os olhos, ansiosa por outro beijo delicioso. *** ***

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Jessica 178.2 (Sonhos de Felicidade) – Encontro com o Amor – Christina Hollis

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