Jennifer hayward [poder & paixão] atraente desafio (jessica 224 1)

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ATRAENTE DESAFIO An Exquisite Challenge

Jennifer Hayward

"— O primeiro passo é seu, Lex — murmurou ele. — Depois, não garanto nada." O magnata do vinho Gabe De Campo demitiu sua assessora três semanas antes do maior evento de lançamento que o mercado já viu. Alexandra Anderson é a última mulher com quem ele deveria trabalhar, mas a única que pode ajudá-lo. Gabe e Alex sempre formaram uma combinação letal. Contudo, há muito em jogo, e qualquer falha é inadmissível. Eles conseguirão controlar a poderosa atração em nome do profissionalismo? Ou a paixão será mais forte? Digitalização: Simone R. Revisão: Alê Ramos


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Querida leitora, Parece que os casais de Jessica 224 não levam a sério a máxima de que negócios e prazer não se misturam... Em Atraente desafio, Gabe de Campo e Alex Anderson são concunhados, mas isso não significa que se dêem bem. Ainda assim, ela o convence a deixála organizar o evento do maior lançamento da vinícola de Gabe. Agora eles precisam manter o profissionalismo e impedir que as faíscas que voam sempre que se encontram acabem acendendo a chama da paixão. A governanta Emma Hayes está em uma bela enrascada em Fruto de uma noite: ela está apaixonada por seu chefe e grávida dele! Mas Cesare Falconeri é incapaz de amar. E agora Emma precisa tomar a decisão mais importante e difícil de sua vida, pelo próprio bem e o de seu filho. Boa leitura! Equipe Editorial Harlequin Books Tradução Maurício Araripe HARLEQUIN 2014 PUBLICADO MEDIANTE ACORDO COM HARLEQUIN BOOKS S.A. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: AN EXQUISITE CHALLENGE Copyright © 2014 by Jennifer Drogell Originalmente publicado em 2014 por Mills & Boon Modern Romance Título original: THE CONSEQUENCES OF THAT NIGHT Copyright © 2013 by Jennie Lucas Originalmente publicado em 2013 por Mills & Boon Modern Romance Projeto gráfico de capa: Núcleo i designers associados Arte-final de capa: Isabelle Paiva Editoração Eletrônica: ABREU'S SYSTEM Impressão: RR DONNELLEY www.rrdonnelley.com.br

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Distribuição para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: FC Comercial Distribuidora SA. Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171,4o andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380

Contato: virginia.rivera@harlequinbooks.com.br

CAPÍTULO 1

Se a vida fosse uma taça de Cabernet, Alexandra Anderson gostaria de residir bem no seu centro sedutor e encorpado. A emoção da perseguição era de suprema importância. Quanto mais complicado o desafio, melhor. Quanto às complexidades dessa variedade em especial em contraste com o Merlot ou um Zinfandel californiano? Para uma menina que crescera no interior de Iowa bebendo cerveja com uma turma de má reputação, não era algo que a fazia perder o sono. Quem se importava, contanto que fosse gostoso e contribuísse para aliviar o tédio interminável de outro coquetel que era apenas trabalho e nada de diversão? Decerto não era o que se passava pela cabeça do homem que acabara de chegar, de cenho franzido, ao evento anual de angariação de fundos da indústria de Napa Valley para os sem-teto. Aquelas uvas, que lhe traziam certo prazer, eram uma obsessão para Gabriele De Campo, o visionário por trás dos vinhos mundialmente famosos do De Campo Group. A razão de sua própria existência. Alexandra ficou observando-o da sacada com apenas uma coisa em mente: tomar parte em mais uma daquelas empreitadas carregadas de adrenalina que tanto adorava. Convencer Gabriele De Campo a permitir que sua agência de relações públicas se encarregasse dos dois grandes futuros eventos de lançamento para o mais importante vinho da De Campo em uma década. Era a sua chance de, enfim, conquistar um pedaço do portfólio de comunicação do internacionalmente renomado vinicultor, e não tinha a menor intenção de falhar. Tomou um gole da taça de vinho que segurava fazia uma hora e meia, enquanto socializava com todos os elementos-chave da indústria vinícola na Califórnia, tratando de aprender quem era quem, o que os tornava tão importantes e o que tornaria o lançamento da De Campo um nocaute para a concorrência. Acontecera tudo tão rápido. Alexandra fora acordada às 6h por um telefonema nervoso de Katya Jones, a chefe do departamento de marketing da De Campo, uma antiga colega sua, Gabriele De Campo acabara de despedir a agência de relações públicas que vinha cuidando do lançamento por suas 3


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péssimas ideias — faltando três semanas e meia para os lançamentos simultâneos em Napa e em Nova York. — Preciso de você agora — Katya gemera. Se não houvesse acabado de perder um cliente de 3 milhões de dólares por ano, Alexandra não se sentiria muito disposta a sair da cama por uma chance de trabalhar para o cunhado da irmã. Fora um golpe e tanto para a agência de Alex, que acabara de arrumar um luxuoso lugar novo na Quinta Avenida. Se não encontrasse logo outro grande cliente, acabaria fechando as portas antes mesmo de começar direito. De modo que cancelou os compromissos e pegou um avião para São Francisco para chegar a tempo para a festa. Só havia um problema. Katya não estava a par da relação de Alex com Gabe. Não sabia que ele tinha uma política severa de não trabalhar com família da qual jamais abrira mão, independentemente do quanto ela houvesse tentado convencê-lo a lhe dar negócios da De Campo. Katya não sabia que Alex e Gabe eram como água e óleo. Sempre. Quando Gabe dizia branco, ela falava preto. O que nada tinha a ver com a presente situação, ela procurou se convencer, empertigando os ombros e seguindo para a sinuosa escadaria que levava ao mezanino. Sua relação beligerante com Gabe era uma tolice quando havia um contrato de 2 milhões de dólares em jogo. Quando o futuro dela estava em jogo. Respirando fundo, Alex levou a mão ao corrimão. Seus passos escada abaixo foram lentos e deliberados, calculados para não atrair olhares. Gabe estava no meio da multidão, conversando com o chefe do sindicato local, sua atenção, como sempre, totalmente voltada para o assunto em questão. Tamanho foco era a sua marca registrada. Contudo, quando Alex continuou a sua descida, uma familiar descarga elétrica pareceu cruzar o ar. Gabe ergueu a cabeça. Seus olhos se arregalaram ao fitá-la. Como se estivesse surpreso de vê-la. Ah, Senhor... Katya o avisou que me contratou, não avisou? Alex teve a terrível sensação de que não, de algum modo, a antiga colega não passara adiante tal informação crucial. Isso não é nada bom. Ou talvez, Alex contra-argumentou, desesperada, quando Gabe interrompeu a conversa e adiantou-se até o pé da escada, era na realidade uma coisa muito boa. Ter o elemento surpresa para usar contra alguém tão controlador como Gabe poderia trabalhar a seu favor. Poderia permitir que apresentasse alguns argumentos antes que ele batesse o martelo. Suas pernas, descendo os últimos degraus da escadaria, o olhar fixo nele, bambearam demais para uma mulher diante de um homem que basicamente fazia parte da família. Poderia ser devido ao modo como o soberbo terno feito sob medida valorizava o corpo alto e musculoso de Gabe ou como o seu cabelo 4


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negro como a noite estava ligeiramente comprido demais, com as costeletas muito bem aparadas. Algumas mulheres achavam a discreta covinha no meio do queixo absurdamente sensual. Alex preferia os hipnóticos olhos verde floresta. Tinha quase certeza de que aquele autocontrole formidável ruiria pela mulher certa... Inspirou fundo antes de deter-se diante dele. É sem dúvida lindo de morrer. E absolutamente proibido. Controle-se, Lex. A boca de Gabe curvou-se. — Alexandra. A textura aveludada de sua voz devastou-lhe os sentidos, deixando-a toda arrepiada. O uso do seu nome completo era formal, o olhar fixo no seu rosto, sondador. — Não fazia ideia de que estava na Costa Oeste. Droga, Katya, ele realmente não sabia! Ela engoliu em seco e inclinou a cabeça para trás de modo a fitá-lo. — O seu radar interno não avisou que eu estava próxima? A boca dele se retorceu. — Algo deve ter interferido no sinal. — Gabe curvou-se para roçar os lábios em cada uma de suas faces. — O que faz aqui? — murmurou, voltando a recuar. — Não consigo imaginar algo que faça menos o seu estilo do que uma festa de indústria como esta. Diabos! Alex empinou o queixo. — Não falou com Katya hoje? — Katya Jones? — É, ela ficou de ligar para você. Katya... Eu... — Alex fixou o olhar no dele e reuniu forças. — Ela me contratou, Gabe. Para cuidar dos eventos. Os olhos dele se arregalaram antes de ficarem sombrios. — Não é possível. Eu aprovo tais decisões. — Receio que seja — retrucou ela calma. — Já verificou os seus recados? Katya deve ter lhe deixado um. Ele demonstrou desagrado. — Mal tive dois segundos para pensar, hoje, quanto mais para verificar os meus e-mails. E ali estava a brecha que ela queria. Alex sorriu com confiança. — Você tem um lançamento simultâneo nas duas costas em três semanas e meia, Gabe. Katya sabe que sou a única capaz de realizá-los a esta altura, de modo que me chamou para ajudar. Estou aqui para salvá-lo.

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— Para me salvar? Sabe que minha política me proíbe de trabalhar com família. — Creio que dessa vez você não tem escolha. Ele passou a mão pelo belo rosto aristocrático. — Preciso de uma bebida. Ótima ideia. Ela também. — Posso lhe apresentar um tema em 48 horas — Alex garantiu alegre, seguindo-o até o bar. — Vi as ideias que as outras agências lhe apresentaram e concordo que são uma droga. Tenho outras muito melhores. — Alex... — Gabe espalmou a mão no bar. — Você não vai cuidar desses eventos de lançamento. Deslizando para cima de um dos bancos, ela empertigou rebeldemente o queixo. — Katya me contratou. Sou brilhante no que faço. Você sabe disso. — Não importa. — Rosnando ao fazer o pedido das bebidas, ele se acomodou ao lado dela. — Sei que é a melhor, Alex. Eu já a teria contratado, se não fosse da família. Mas você é, de modo que não vai acontecer. Tomada de desespero, ela descansou os cotovelos no balcão, fitou-o nos olhos e saltou na jugular. — Você apostou no cavalo errado, Gabe. Escolheu a agência errada e agora está sem saída. Executar simultaneamente dois enormes eventos de lançamento em Napa e em Nova York com tão pouco tempo de preparação é uma tarefa quase suicida. Além de mim, há apenas dois outros profissionais de relações públicas no país capazes de dar conta disso. Um está velejando no Nilo com a esposa. Sei disso porque acabo de receber um cartão-postal dele. O segundo está em Houston realizando um evento com ajuda extra que precisou contratar para fazer com que acontecesse e não poderá lhe oferecer um serviço diferenciado. Gabe deu de ombros. — Daremos um jeito. Não vou quebrar a minha regra. Alex sentiu o sangue nas veias se incendiando. Havia poucas coisas de que tinha certeza na vida. Uma era o fato de que ninguém era melhor no seu trabalho do que ela. Gabe precisava dela. — Quer que seus lançamentos fracassem? Você passou oito anos, oito anos, trabalhando para fazer a De Campo chegar a esse ponto em Napa, Gabe. Oito anos conquistando o respeito que merece pelas suas safras californianas. Terá apenas uma chance de causar uma boa primeira impressão com esse vinho. Eu posso lhe garantir o lançamento do ano. Colocando de lado a sua taça de vinho, ele praguejou baixinho. Alex jamais ouvira Gabe pronunciar uma palavra como aquela. — Deixe-me ajudá-lo — ela murmurou, pousando a mão no seu antebraço. — Eu consigo fazer isso.

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Uma corrente elétrica ziguezagueou da palma da mão em direção ao estômago. Ela retraiu a mão e a depositou sob a coxa. Sempre fora assim entre os dois, uma ciência intensa da presença um do outro que desafiava a lógica. — Não considerou que fosse uma péssima ideia tomar um avião até aqui antes que fizesse qualquer ideia de que eu fosse aceitar a sua proposta? — Gabe a encarou com um misto de frustração e algo mais. — Katya me contratou. Ela me ofereceu o emprego, Gabe. — Pois eu posso despedi-la. — Você não faria isso. Ele deu de ombros. — Sabe que é uma péssima ideia. — Está tudo bem — Alex mordeu o lábio inferior. — Ficarei fora do seu caminho. Serei tão invisível que sequer saberá que estou presente. — Isso é fisicamente impossível para você — ele murmurou, o humor brilhando no seu olhar. — Gabe... Ele ergueu uma das mãos, seu olhar fitando algo por sobre o ombro dela. — Tenho de falar com algumas pessoas, depois há uma tonelada de trabalho me esperando em casa. Espere-me aqui, que eu a levo de volta para o seu hotel. Podemos conversar no caminho. — Tudo bem — ela murmurou com doçura, apesar da contrariedade em seguir as ordens dele. — Fico sentada aqui, a sua espera. Observou a figura alta e imponente abrindo passagem por entre a multidão. Tomou um gole do seu vinho, ponderando sobre a melhor abordagem para usar com Gabe. Tinha de se ater ao objetivo final: conseguir o trabalho. A Anderson Comunications era dela. Sua absoluta independência financeira e segurança. Recusava-se a voltar para o mercado, em que trabalhava 14 horas por dia em contas enfadonhas, enchendo o bolso de outras pessoas. Não ia falhar. Passou os olhos pelo bar tumultuado, continuando a catalogar os atributos do seu público-alvo. Um homem grisalho de cerca de 40 e poucos anos no outro lado do bar lhe chamou a atenção. Não pode ser. Mas era. O único homem que ela realmente torcera para jamais rever. Seu coração parou de bater. Alto, esbelto e sofisticado em um terno de grife cinza, conversando com uma loira bonita, ele não mudara nada. Exceto pelas rugas visíveis ao redor dos olhos quando sorria, um sorriso capaz de derrubar qualquer mulher em um raio de 50 passos. Como fizera com ela. 7


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Alex girou no banco, mas não antes que ele a houvesse avistado. A surpresa no rosto dele a deixou zonza, desnorteada. Alex ficou de pé e, com as pernas bambas, caminhou às cegas pela multidão, sem destino certo. Qualquer lugar, contanto que fosse para longe dele. E claro que Jordan estaria aqui hoje. Ele era presidente de uma das maiores empresas de licores dos Estados Unidos. Todo mundo que era alguém na indústria vinícola estava presente. Por que ela não previra isso? Uma pesada mão pousou no seu ombro. — Alex... Ela girou, o coração disparando. Jordan Lane. Ex-cliente. O homem que Alex transformara no maior erro de sua vida. O homem que ela amava e odiava em proporções iguais. — Jordan. — Forçou-se a dizer com a garganta apertada. — Que surpresa. O olhar dele se estreitou sobre o rosto dela, como se para deixar claro que percebera que ela o vira, mas Jordan resolveu brincar pelas regras dela, capturando-lhe os dedos e roçando os lábios neles. — Está linda. A idade foi gentil com você. Significando que aos 22 anos Alex fora por demais pouco sofisticada para lidar com um homem como ele. Sentindo o sangue ferver, Alex retraiu a mão. Jordan usara a sua inexperiência para manipulá-la e moldá-la até Alex se tornar o que ele desejava. O charme ainda estava presente, mas agora ela era capaz de perceber o instinto predatório naqueles surpreendentes olhos azuis. Como pudera não enxergar antes? Com frieza, sugeriu: — Que tal fingirmos que eu aceitei isso como um elogio e você retorna para o seu flerte? Pelo menos ela não parece ter a metade da sua idade. — Que tal bebermos alguma coisa enquanto conversamos a respeito? — Não. Obrigada. — Ela virou as costas. — É sobre trabalho. Alex tornou a se virar. — Eu não trabalharia para você mesmo que fosse o último cliente na face da Terra. — O tango exige pelo menos duas pessoas. — Engraçado... Eu nem fazia ideia de que estava dançando. Jordan retesou a boca. — Minha marca está necessitando ser mais bem trabalhada. Conheço o seu trabalho e confio em você.

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Confiança. Alex sentiu um frio na barriga. Justamente a coisa de que ele a privara quando ela já começara tendo tão pouca. Empertigou-se ao fitar os glaciais olhos prateados. — Você mentiu para mim e desonrou a sua esposa, Jordan. Não venha me falar em confiança. — Deixe-me compensá-la. Eu soube que perdeu a Generes. Permita-me oferecer-lhe um pouco de trabalho. Ela empinou o queixo. — Vá para o inferno. — De cabeça erguida, Alex abriu passagem por entre a multidão, a raiva fazendo arder seus olhos. Como ele ousava fazer tão pouco-caso de seus atos? Como ousava achar que ela ao menos falaria com ele, quem dirá trabalhar para ele? Estava quase na porta da frente quando alguém agarrou-lhe o braço. Certa de que era Jordan outra vez, Alex virou-se determinada a lhe dizer poucas e boas, mas era Gabe postado diante dela. — Está tudo bem? Ela assentiu. — Só preciso de um pouco de ar puro. — Conhece Jordan Lane? Droga. Ele os vira. Alex esforçou-se para apagar qualquer emoção do rosto, qualquer prova de que conhecia o homem que quase a destruíra. — Sim, ele foi cliente da minha antiga agência. Gabe franziu a testa. — Estava dando em cima de você? — Não! — Alex passou a mão pelo cabelo e evitou fitar aqueles penetrantes olhos verdes. — Estava me oferecendo trabalho. — Ele não é o tipo de sujeito para quem você iria querer trabalhar, Alex. Ela o encarou. — Nesse caso, dê-me o serviço para que eu não tenha de fazê-lo. Ele ficou em silêncio por um instante. Se havia uma pessoa neste mundo que Alex tinha dificuldades em decifrar era Gabe. — Estou pronto para ir. — Ele tirou o agasalho das mãos dela, segurandoo para Alex. — Você parece exausta. Vamos. Ela enfiou os braços nas mangas, permitindo que ele a ajudasse a vestir o casaco. Seu perfume deliciosamente masculino a envolveu, sobrecarregandolhe os sentidos. O manobrista trouxe o carro de Gabe. Ele abriu a porta para Alex, que se acomodou no interior do Porsche prateado. Ela suspirou. Tão bom estar longe de toda aquela multidão...

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No caminho do hotel, Gabe quis saber como estava o sobrinho dela, Marco, o turbulento filho de 2 anos de Lilly e Riccardo. Alex o colocou em dia, sorrindo quando Gabe perguntou o que deveria comprar de presente para o aniversário do garoto, pois Gabe invariavelmente dava presentes inapropriados para Marco. Ninguém se dava ao trabalho de alertá-lo; afinal, quem teria coragem de dizer para o tio orgulhoso que o pequeno Marco não era capaz de montar por si só uma ponte suspensa? Ainda nem haviam começado a discutir os eventos quando Gabe estacionou diante do seu hotel e desligou o motor, antes de olhar para ela. — Uma bebida enquanto conversamos? Alex assentiu, apesar de cada osso do seu corpo lhe dizer que era uma péssima ideia. Não sabia se seu nervosismo em ter um homem no seu quarto de hotel se devia ao reencontro com Jordan ou se era simplesmente por ser Gabe. Procurou colocar os nervos sob controle ao acender as luzes da pequena sala de visitas, enquanto Gabe acomodava-se no sofá. É apenas uma bebida. Notou que ele parecia cansado, as rugas no canto da boca mais acentuadas do que de costume. O estresse começava a afetá-lo. Ela caminhou até o bar. — Uísque? — Uma soda com limão, se tiver. Ainda tenho de voltar dirigindo para o vinhedo, esta noite. Quando ela lhe trouxe a bebida e acomodou-se no sofá ao seu lado, ele perguntou: — Não está atolada de serviço em Nova York? Como poderia encarar um trabalho como esse? — Algumas coisas foram remanejadas na minha agenda. Permanentemente remanejadas para fora da agenda, mas Gabe não precisava saber disso. Recostando-se no sofá, ele tomou um gole da bebida. — Nós trabalhando juntos é uma péssima ideia, Alex. — São circunstâncias extraordinárias. — Vamos acabar matando um ao outro. — Não. Aprenderemos a trabalhar juntos. Nem ao menos tentei ser boazinha com você. Ele sorriu. — Aí está uma ideia que me apavora. Ela o fitou com seriedade. — Sou a única pessoa capaz de dar conta disso, Gabe. Pousando a bebida na mesa de centro, ele passou a mão pelo cabelo.

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— Se eu lhe der o serviço, e não estou prometendo nada, você mesma se encarregará de tudo ou entregará na mão de algum subalterno? — Se me contratar, sou eu quem você terá. Ah, isso não soou bem Alex não queria insinuar que ele a teria. Mas Gabe havia entendido, não? Ele a fitou de esguelha. — O que deu em você? Sente-se direito, pelo amor de Deus. Você está uma pilha de nervos. Alex afundou-se ainda mais no sofá. Estava mesmo uma pilha de nervos. Era muito difícil concentrar-se com Gabe ali ao seu lado no sofá. — Alex? O que há? Ela sacudiu a cabeça. — Foi um longo dia. — Convença-me de que eu devo deixá-la fazer isso — ele pediu, após outro gole. Alex se levantou, encontrou a sua maleta e retirou dela uma pasta. — Aqui estão os dados de cinco eventos realizados por mim no mesmo tempo disponível — falou, passando-a para ele. — Garanto que consigo fazer o mais espetacular dos lançamentos para o seu vinho. Ele examinou a documentação na pasta. — Impressionante. — Nesse caso, dê o sinal verde. Gabe depositou a pasta sobre a mesinha de centro e recostou-se no sofá; o movimento chamou a atenção de Alex para as soberbas coxas musculosas dele. — Mesmo que eu concorde que é a melhor escolha, ainda temos de discutir o nosso outro problema. — Que outro problema, Gabe? — Aquele problema. Alex franziu a testa. — Não faço ideia do que quer dizer. Ele ergueu a sobrancelha. — Diga que não foi um olhar distintamente libidinoso o que me lançou. — Não foi libidinoso, foi... — Alex... — Ele se inclinou na direção dela, capturando-lhe o olhar. — Você tem estado sobressaltada desde o instante em que chegamos a este quarto de hotel e nós dois sabemos por quê. Fica imaginando como teria sido dar aquele beijo no jardim de Lilly e Riccardo e eu também

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Ah, o quase beijo! O que ela independentemente do quanto tentasse.

não

conseguia

tirar

da

cabeça,

Na ocasião, Alex estava precariamente equilibrada em um banco alto, tirando as luzes de uma árvore, após todos os convidados terem ido embora da festa de boas-vindas ao verão da irmã, quando Gabe veio à sua procura. Sua aparição súbita a pegou de surpresa e ela quase caiu do banco, mas ele a segurou e a girou até o chão, os braços ao redor da sua cintura. Alex fugiu correndo ao se dar conta de que ele estava prestes a beijá-la. Ela franziu o cenho ao fitá-lo. — Venho trabalhando com apenas quatro horas de sono. Por isso estou um pouco sobressaltada. Talvez deva concordar logo com o contrato para eu descansar um pouco e... — Arregalou os olhos quando ele se aproximou. — O que está fazendo? Gabe levou a mão ao queixo dela. — Tentando determinar a real gravidade desse problema antes de tomar a minha decisão. — Não há problema algum. E se vamos trabalhar juntos... — Eu ainda não concordei. — Ele a interrompeu com determinação. — Neste exato instante, não temos nenhum relacionamento profissional. Mas tinham química. Sem dúvida tinham química. Alex engoliu em seco. — Se eu tornar isso muito ruim, você diz “sim”? O olhar dele ficou mais sombrio. — Não será ruim Não, ela admitiu, com o coração em disparada. Não será mesmo. Passando a língua pelos lábios secos, Alex procurou se convencer de que tinham que manter o controle. Provar para Gabe que a atração entre os dois era perfeitamente contornável. Mas quando ele passou o polegar ao redor dos seus lábios, o anúncio do beijo mais erótico que ela já experimentara, as defesas de Alex desmoronaram. O primeiro gostinho que teve de Gabriele De Campo fez jus a todas as fantasias que já tivera. Ardente, suave e completamente no controle, sua boca cobriu sem pressa a dela, explorando cada curva e elevação com uma tranqüilidade que a fez ter vontade de implorar. Alex resistiu com a pouca força de vontade que ainda lhe restava, mas era como estar pendurada a 30 metros no chão, tendo de se segurar, quando tinha consciência de que mais cedo ou mais tarde acabaria despencando. Sabia que seria bom Só não sabia que seria tão bom Por um glorioso instante, a tentação foi grande demais, e ela permitiu que sua mente ficasse em branco. Apenas saboreou aquilo pelo que passara tanto tempo ansiando.

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Gabe a pressentiu suavizando. Deslizou a mão até a sua nuca e apossouse de sua boca com um inebriante beijo interminável que elevou à décima potência o ardor. Sem equilíbrio, ela teve de fincar os dedos na camisa dele e segurar-se com força. — Lex... — murmurou ele, passando a língua ao redor dos seus lábios. — Dê-me mais. Alex ia terminar aquilo dali a cerca de cinco segundos. Ia sim. Gabe exigiu entrada e ela a concedeu. A sensação da língua deslizando sensualmente de encontro à dela a fez contorcer-se por dentro. Aquilo era mais do que apenas um beijo, era um ataque completo ao seu bom senso. E estava funcionando. Ofegante, ela libertou-se dos braços fortes. Os cinco segundos haviam acabado. E como haviam — Isso não foi justo. — É preciso admitir que se tem um problema antes que ele possa ser solucionado — murmurou Gabe com secura. — Agora nós sabemos. — Também sabemos que podemos controlá-lo — argumentou ela. — Está feito. Acabou. Nunca se repetirá. A curiosidade morreu. Gabe apanhou a pasta e ficou de pé. — Esteja no meu escritório amanhã às 10h. Ela o fitou com incredulidade. — Vai me deixar no suspense? Ele ergueu a pasta. — Tenho de ler isto. — O beijo não foi nada, Gabe. — Adoraria ver o que é alguma coisa. Mortificada, Alex o observou ajeitar a camisa. Por que diabos fora permitir que aquilo acontecesse? Era para estar convencendo Gabe de seu profissionalismo, não de seu talento no departamento amoroso. Ela o acompanhou até a porta. — Não vai se arrepender se me der esse trabalho, Gabe. Ele a analisou demoradamente. — Che resta da verde. — O que significa isso? — É o que veremos.

CAPÍTULO 2 13


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O intenso transito matinal na Highway 101, com todos os motoristas do norte da Califórnia agressivamente lutando para chegar a São Francisco, em nada colaborava para melhorar o mau humor de Gabe. Na realidade, estava apenas piorando-o. Ele praguejou, verificou o retrovisor e acelerou para a pista esquerda, que estava igualmente lenta; contudo, o movimento lhe deu a impressão de que estava fazendo alguma coisa. — Maledizione — murmurou. — Devia ter passado a noite na cidade. — Um dos solteirões mais cobiçados de São Francisco sem compromisso para uma quinta à noite? — A voz de Riccardo, seu irmão, veio do sofisticado sistema de viva-voz. — Estava em um evento da indústria. — Ele fez careta para o pequeno alto-falante. — E se voltar a me chamar de solteirão vai ficar falando sozinho. O irmão riu. — É apenas inveja por eu jamais ter entrado na lista. Pois sim Riccardo tivera cinco vezes a cota de namoradas de qualquer homem normal e fora apenas quando conhecera Lilly e se apaixonara que a procissão tivera um fim. A boca de Gabe contorceu-se em um sorriso cansado. — Na certa achavam estar fazendo um favor à população feminina. — Pode ser. Falando em mulheres, você teve contato com Matty recentemente? — Não. — O que lhe parecia estranho, agora que pensava no assunto. Gabe e Matty eram muito chegados e costumavam se falar pelo menos uma vez por semana. — O que está rolando? — Uma mulher, eu acho. Ele não quer falar a respeito. Creio que você deveria ligar para Matty. Gabe não sabia se a sua recente atitude cínica seria de muita ajuda para o irmão caçula. Matty era o dom-juan de sua geração. Achava que era o amor que fazia o mundo girar. Provavelmente o problema de Matty deveria ser do tipo “qual eu escolho?”. A voz de Riccardo assumiu um tom profissional: — A propósito, como vão os eventos? Precisa de mim em Napa ou posso ficar apenas em Nova York? Os dedos de Gabe se cerraram ao redor do volante. — Estão caminhando. — Verificando o retrovisor, voltou para a pista central. — Nova York está bom Eu cuido de Napa. — Bene. O médico falou para eu ficar de olho em Lilly durante as próximas semanas. 14


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— Você deveria estar presente. Como foi que Marco aceitou a notícia de um irmãozinho? — Ficou eufórico. Já está escolhendo quais trenzinhos o irmão poderá ou não usar. Gabe sorriu. — Já é um De Campo. — E havia alguma dúvida? — Nessuna. Gabe não pôde deixar de se sentir feliz por seu sobrinho ganhar um irmão, pois o dele fora uma tábua de salvação em uma infância marcada pela frieza dos pais. O pai acreditava na lei da sobrevivência do mais forte e a mãe sempre deixara bem claro não ter muito interesse em crianças. A união não passara de uma fusão de negócios entre duas importantes famílias. — Soube que Alex voou para aí para cuidar dos eventos — Riccardo comentou. Gabe fez uma careta. — Demiti a agência de relações públicas. O lixo que estavam divulgando não tinha nada a ver com a marca. — Três semanas antes do lançamento? — Não estava dando certo. — De modo que vai deixar Alex assumir? — Estou pensando nisso. Sem dúvida, o portfólio de Alex era brilhante. — A junta de diretores não vem me dando muita liberdade com o investimento de Napa — foi o alerta cuidadosamente formulado de Riccardo. — Em algum momento, vão tentar nos refrear, e prefiro que tal momento venha quando você já tiver tido a chance de fazer as coisas acontecerem, para que se sintam compelidos a continuar investindo. — Acha que não sei disso? — Um evento de lançamento é um evento de lançamento,fratello, não a segunda vinda de Cristo. Resolva logo tudo. Não vá se colocar no caminho do próprio sucesso. Apesar de Gabe ter herdado o talento do pai e do avô para fazer vinhos, Riccardo dominara a arte de enxergar o todo. Gabe tinha certeza de que tal dom conquistara para o irmão o cargo de presidente da empresa, além do fato de Riccardo ser o mais velho. Ele franziu o cenho. — Está questionando a minha decisão? — Não. O que digo é que estamos trilhando o fio da navalha.

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O que era verdade. Gabe vira o último relatório de perdas e lucros para a operação em Napa e não era nada bonito. Não vinham alcançando as margens de lucro projetadas no lançamento, oito anos atrás, e havia motivos para isso. Como o fato de Pico do Diabo e seu outro vinho em destaque terem maturado mais rápido do que o esperado, o que obrigou Gabe a investir para colocá-los no mercado. Mas a junta de diretores não sabia que estavam para colher enormes recompensas financeiras. Para ela, Gabe era um número. — Esses riscos que estamos correndo vão dar frutos. Sabe disso. — Não tenho a menor dúvida. A confiança na resposta do irmão o fez afundar a cabeça de encontro ao encosto. — Dispiace — murmurou. — Tem sido uma semana e tanto. — Trate de levar alguém para a cama. Vai ajudar. — Estou ocupado demais para isso. — Um homem nunca está ocupado demais para isso. O lema de Riccardo. Gabe sacudiu a cabeça. — Tudo bem para você eu contratar Alex? — Vou ficar de fora dessa discussão em particular. Melhor deixar a cargo do seu julgamento imparcial do que enfrentar a ira da minha mulher. Mas digo que eu soube que ela é a melhor no ramo. Gabe não descreveria a sua atitude para com Alex como sendo imparcial, ainda mais após a noite anterior. No entanto, isso não era pessoal. Eram negócios. Após combinarem de se falar após a reunião de Gabe com uma cadeia de restaurantes na qual estavam de olho, os irmãos se despediram e desligaram O trânsito começou a andar. Acelerando, Gabe se concentrou na decisão diante de si. Contratar Alex era o certo a fazer. Ela podia ser a única pessoa capaz de salvá-lo. O fato de ela lhe fazer a pressão subir apenas com a sua presença nada tinha a ver com a história. No entanto... A sensação da boca macia sob a sua, o desejo obscuro nos enormes olhos azuis. Era isso que o estava fazendo hesitar. A habilidade de Alex de mexer com ele. Era o tipo de mulher para se levar uma vez para a cama e saciar a vontade, tirando-a da cabeça em seguida. Contudo, dados os vínculos familiares, não podia fazer isso. Tinha de vê-la regularmente. Daí ter se contido, até aquela noite no jardim de Lilly e Riccardo. Até a noite passada. E, embora tivesse certeza de que Alex seria espetacular na cama, ela era o fruto proibido. A contragosto, teve de admitir que precisava dela. Em

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algumas horas, Alex estaria trabalhando para ele. E, se havia algo que Gabe jamais fazia, era misturar negócios com prazer. Alex já estava na segunda xícara de café quando Gabe se dignou ir a seu escritório, no centro de São Francisco. A princípio, dada a linhagem histórica dos De Campo, sua modernidade a surpreendeu. Mas a assistente de Gabe, Danielle, lhe assegurou que ele era contemporâneo, tanto no seu estilo de design quanto no modo como escolhia fazer os vinhos em Napa, usando uma misturas de técnicas novas e tradicionais. Com seus sentidos em estado de alerta, ela empertigou-se na poltrona. Gabe estava usando outro daqueles lindos ternos feitos sob medida, dessa vez um grafite que lhe realçava os olhos verdes, e a sua pulsação disparou. Ele a fitou. — Scusa. O trânsito estava de matar. — Sem problemas. — Buongiorno — Gabe murmurou para Danielle, solicitando um espresso e o adiamento da sua próxima reunião. Em seguida sinalizou para que Alex o acompanhasse até o escritório, um aposento amplo e espaçoso que oferecia uma maravilhosa vista da cidade. Sentando-se, ela notou-lhe a expressão séria. — Você não vai me dar o serviço. Fechando a porta, ele deu a volta na escrivaninha e sentou-se. — Quero esclarecer algumas coisas antes de lhe responder. — Se diz respeito ao beijo, eu... — Será que dá para ficar calada enquanto eu falo? — ele perguntou brusco, tirando o paletó. Opa. Alguém levantou com o pé esquerdo hoje. — Tudo bem. Ficarei muda até que me dê permissão para falar. Seus olhos faiscaram e ele inclinou-se para a frente, pousando os antebraços sobre a mesa. Se sua intenção era intimidá-la, não estava funcionando. — Permitirei que cuide dos eventos sob quatro condições. Alex teve vontade de retrucar que ele precisava tanto dela quanto ela dele, mas cerrou os lábios e recostou-se no espaldar. — Primeiro: exponho minhas necessidades hoje, você me apresenta uma ideia que eu goste até segunda-feira e você estará dentro. Ela assentiu. Era boa sob pressão. — Segundo: se diferenças criativas tornarem impossível trabalharmos juntos, posso despedi-la a qualquer momento. O sangue ferveu nas veias.

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— Você não é fácil. Com uma expressão glacial no rosto, ele ergueu a mão. — Você é muda, lembra? Em alguns segundos, serei uma assassina. — Terceiro: você não tem nada a ver com Jordan Lane. Jordan é a concorrência e você não trabalhará para ele. E quarto... — Gabe a encarou. — O que houve ontem à noite não tornará a acontecer. — Foi você quem começou — retrucou ela como se tivesse 3 anos. — Pois agora estou dando um fim Este é o lançamento mais importante da história moderna da De Campo, Alex. Por trás dele há uma campanha publicitária de 10 milhões de dólares. Não podemos fazer besteira. Sem dúvida. Ele empurrou o portfólio dela por sobre o tampo. — Dei uma olhada nisto. Você é talentosíssima. — Obrigada. — Quero que trabalhe nos eventos. Sei que é a pessoa certa para isso. O que significa que teremos de aprender a trabalhar juntos. Devemos colocar de lado as nossas diferenças pessoais. Pôr de lado essa atração inconveniente que sentimos um pelo outro e dar conta do serviço. Atração inconveniente? Alex supunha ser isso mesmo, mas não gostou do modo desagradável como ele falou. Como se ela fosse um inseto correndo pelo reluzente piso de madeira que Gabe quisesse esmagar. O olhar dele fixou-se nela. Alex arqueou uma sobrancelha. — Tenho permissão para falar? Ele assentiu. — Nesse caso, concordo. Também não tenho interesse em trabalhar para Jordan Lane. — Bene. — Uma vez que seus termos ditatoriais foram aceitos, Gabe recostou-se na poltrona e cruzou os braços. — Deixe-me dizer como tudo irá funcionar. Você me apresenta um tema, eu o aprovo. Depois, vejo tudo, cada passo do processo. Convites, decoração, fornecedores... Qualquer grande decisão terá de ser aprovada por mim — Olha, sei que teve uma experiência ruim com a última agência, e que a pressão é grande, mas não é assim que eu trabalho. — Agora é. — Há apenas três semanas e meia para organizar esses eventos, Gabe. Teremos de nos mexer à velocidade da luz e, mesmo assim, precisaremos de um pequeno milagre. A expressão do rosto dele era dura, implacável. — Se não for conseguir, me avise agora.

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— Eu consigo. — Alex se inclinou para a frente e apoiou as palmas das mãos na escrivaninha. — Mas acho que você é maluco. É o vice-presidente do De Campo Group. Tem um vinho pronto para ser lançado em algumas semanas. Vai mesmo querer aprovar os cardápios dos bufês? — Estou criando uma marca — ele retrucou. — Tudo depende da primeira impressão. Sendo assim, se eu quiser aprovar os cardápios, é o que farei. — E quanto ao seu pessoal de marketing em Nova York? Decerto há alguém que possa trabalhar comigo. — Estão longe demais de tudo. — Nesse caso, traga-os aqui. Ele mostrou aborrecimento. — Este lançamento é meu, Alex. A culminação de anos de sangue, suor e lágrimas. Quero estar intimamente envolvido. Ou você joga pelas minhas regras ou está fora do jogo. Ela cerrou os lábios. — Por acaso também preciso da sua aprovação para ir ao banheiro? — Scusi? — Nada. — Ela tamborilou os dedos na escrivaninha. — Pobres coitados — resmungou referindo-se ao pessoal da última agência. Mas talvez fosse ela mesma a pobre coitada, pois teria de passar o próximo mês trabalhando para ele. — O que você disse? Alex o fitou, erguendo o queixo de modo desafiador. — Eu disse “pobres coitados”. Sinto pena da última agência que teve de trabalhar com você. Tem certeza de que eles não pediram as contas? As íris dele faiscaram. — Tem certeza de que quer falar desse jeito com o seu patrão? — Você ainda não é meu patrão. Ainda não assinei nenhum contrato. Você sabe que, se eu for embora deste escritório agora mesmo, estará encrencado, não sabe? — Mas não fará isso. — Ele agitou o portfólio no ar. — Achei estranho você não estar atolada de serviço, de modo que fiz o meu dever de casa hoje de manhã. Acaba de perder o seu maior cliente, Alex. Engolido por uma multinacional. Você precisa de mim Ela sentiu um frio na barriga. — Isso não teve nada a ver com o nosso trabalho. — Imagino que não. Sua reputação é exemplar. — Gabe atirou o portfólio sobre a mesa. — Mas não muda os fatos. Sou eu ou Jordan Lane e posso garantir que vai querer escolher a mim.

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Ela também podia garantir isso. Fitou-o com rebeldia, odiando ver-se encurralada. — Sabe o que dizem a respeito dos grandes líderes, Gabe? Eles se cercam de boas pessoas, não perdem tempo com detalhes e permitem que os seus auxiliares os façam parecer bem na foto. O olhar dele se suavizou. — Nesse caso, conquiste a minha confiança. Embora algo me diga que você não é fácil de ser adestrada. Em um gesto de rendição, ela ergueu os braços. — Você receberá todos os cardápios. Pensará até que somos siameses. Alex teve a impressão de que seu comentário sobre liderança havia cutucado uma ferida aberta. — Elena tem um quarto preparado para você na casa — ele falou abruptamente. — Faz sentido você ficar onde poderá ter acesso rápido a mim. Por que isso parecia ser uma ideia péssima? O beijo da noite anterior retornou aos seus pensamentos. Com certeza seria conveniente que ficasse no vinhedo, onde o evento seria realizado. Mas ela e Gabe na mesma casa? Isso não seria procurar problemas? — Posso ficar em uma das pousadas — Alex sugeriu — , para não atrapalhar. — Ficará na casa. — Gabe apontou para a mesa de conferências. — Vamos ao relatório das necessidades? Alex assentiu. Sentando-se, Gabe repassou o mesmo sumário que apresentara à outra agência. Quinhentas pessoas em um local ao ar livre onde mudanças climáticas deveriam ser levadas em conta, visitações ao vinhedo para indivíduos selecionados e uma demonstração do processo de confecção do vinho para a imprensa. Ah, e ainda havia o tema. Totalmente executável em três semanas, certo? Alexandra quase se virou e saiu correndo dali. Mas o desejo de conquistar falou mais alto. Talvez auxiliado pela vontade de mostrar para o Sr. Perfeito que era muito mais do que ele supunha que ela fosse. Poderia muito bem estar descrevendo a sua própria vida.

CAPÍTULO 3

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Por que bem agora resolvi travar?! Alex, que não conseguia encontrar absolutamente nada que a inspirasse, saiu da frente do computador antes que fizesse alguma loucura, como arremessá-lo para o outro lado do aposento. Adiantou-se até a janela e admirou a vista dos vinhedos. O solário que Gabe arrumara para ela trabalhar era maravilhosamente tranqüilo; contudo, agora, parecia mais uma prisão. Recusava-se a sair antes que tivesse um tema, mas nada lhe vinha à cabeça. Massageou os olhos fatigados. Que momento para sua criatividade ficar bloqueada... Restavam-lhe apenas 48 horas para pensar em um tema de evento capaz de colocar o nome De Campo nos lábios de todos os amantes de vinho de ambas as costas, mas nada lhe ocorria. Pegando a garrafa de água, resolveu dar um pulo lá fora. Talvez uma boa caminhada pela bela propriedade no estilo da Nova Inglaterra ajudasse a inspirá-la. Subiu a colina e adentrou as vinhas de Cabernet, que se estendiam até a borda da escarpa. Um tapete verde coroado pelo azul puro do céu de Napa. Gabe lhe contara que a colheita seria no final do verão ou no início do outono, mas as uvas nas vinhas já pareciam perfeitas. Menores e mais arredondadas do que as uvas de supermercado, eram de um roxo vibrante. Chegavam a ser poéticas. Concentrando-se, ela experimentou jogos de associação de palavras que costumavam fazer na agência. Nada lhe ocorreu. Nada. Estava oficialmente bloqueada. Uma sensação de pânico começou a lhe percorrer as veias. Era sábado. Os convites teriam de ser enviados o mais tardar na terça, se quisessem ser encaixados nas movimentadas agendas de verão das pessoas. O que significava que Gabe teria de aprovar um tema e os convites até a segunda. Confiava na capacidade de sua designer gráfica de desenvolver um conceito e os convites em 24 horas. Ela era brilhante. No entanto, Alex precisava lhe dar algo com que trabalhar. Sentou-se no meio de uma fileira, curvou os joelhos até o peito e apoiou os cotovelos neles. O Pico do Diabo de Gabe era um Cabernet. Cabernet era a uva mais popular em Napa, totalizando cerca de 40 por cento da produção. Gabe dissera que a complexidade do corte era a chave do vinho. Mas o que significava complexidade? Era por isso que o seu cérebro estava congelado. Ela não entendia o produto. Não entendia no que deveria estar se concentrando. Qual era o diferencial do Pico do Diabo? Gabe a encontrou ali meia hora mais tarde, ainda fitando, sonhadora, as lindas uvas roxas. Alex achou a camiseta justa que delineava o peitoral musculoso e o jeans sujo de tanto trabalho duro mais inspiradores do que a última meia hora havia sido. Ele a olhou de alto a baixo. 21


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— Está com uma aparência terrível. — Obrigada. — Constrangida, ela passou a mão pelo cabelo. — Elena falou que você estava de pé antes dela. Às 5h, para ser precisa. Conseqüência de tanta agitação. — Tenho de acertar no tema. Ele estendeu a mão. — Procurando inspiração? Curvando os dedos ao redor da palma de Gabe, Alex permitiu que ele a levantasse do chão. Infelizmente, deu de cara com o seu abdômen musculoso. Como desviar o olhar não era opção, preferiu dar um passo para trás. — Acho que estou pegando uma insolação. Ele franziu a testa ao fitá-la. — Tem bebido bastante água? Alex ergueu a garrafa. Inspirando fundo, disse: — Não entendo o que torna esse vinho especial. Tenho de saber qual é o diferencial-chave para criar um tema. Para mim, Cabernet é Cabernet. — Em uma escala de 1 a 10, quanto você sabe sobre vinhos? Ela estremeceu. — Três. Na verdade, estava até sendo generosa. Ele suspirou. — Para entender o que torna o vinho especial, é preciso entender o processo do início ao fim — Gabe consultou o relógio. — Posso lhe mostrar o local antes do meu próximo compromisso e deixar para tomar uma ducha mais tarde. Começaram a visita pelas fileiras de vinhas premiadas dos De Campo. Talvez tenha sido a paixão com que Gabe falava ou o fato de ser um dos homens mais atraentes do planeta oferecendo a informação. O fato era que a cada minuto o vinho ia se tornando um assunto cada vez mais fascinante. — As uvas ainda são colhidas à mão? — ela perguntou incrédula. — Pensei que houvesse máquinas para isso. Gabe assentiu. — E há. Para produção em massa é ótimo, mas as máquinas não são capazes de distinguir quando uma uva é desejável ou não, de modo que, para vinhos de primeira como os que saem destas vinhas, nós colhemos a fruta à mão. — Entendido. — Ela apontou para a vinha mais próxima. — Como sabe quando estão prontas para serem colhidas? Para mim, parecem ótimas. Um sorriso curvou os lábios.

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— Experimente uma. Ela colocou uma na boca. — Ah... Está um pouco azeda. — Precisa de mais algumas semanas para o tanino acabar de amadurecer. Ela franziu o nariz. — Ainda não entendi bem isso. — Não é o conceito mais fácil de se entender. Pense na estrutura que nossos esqueletos fornecem ao corpo. O tanino faz isso com o vinho. Vem das cascas, dos talos e das sementes das uvas. Enfim um conceito que fazia sentido para ela. — Deve ser necessário talento para saber a hora exata de colher as frutas. — Anos de experiência. — Gabe notou um restinho do suco da uva no canto da boca de Alex e levou o polegar até ali. — Escapuliu um pouquinho. A aspereza de sua pele, calejada devido aos anos passados nos campos, a deixou toda arrepiada. A proibição de se tocarem poderia ter sido prudente. Cerrando com força os lábios, Gabe deu um passo para trás, e Alex voltou a respirar. — Que tal seguirmos para a fábrica vinícola? Alex assentiu, seguindo-o. O que havia de errado com ela? No interior da eficiente construção moderna, enormes tonéis de aço, em que as uvas eram fermentadas, se estendiam até quase o teto. Era uma visão de tirar o fôlego. — Por que coloca o vinho nos barris? Por que não deixá-lo nos tonéis? — Para completar o processo de maturação e acrescentar caráter ao vinho. — Gabe a conduziu até um aposento repleto de fileiras de barris de madeira cor de mel. — Aqui ficam os Chardonney. Alguns desses barris já foram utilizados para várias gerações de vinho. Cada um acrescenta um sabor único, dependendo de sua origem, carvalho francês ou americano, por exemplo, e de sua idade. Ele pegou um copo e abriu a torneira no topo de um dos barris para servir um pouco. — O vinho jovem costuma ser áspero, bruto e verde e precisa assentar — falou, passando-lhe o copo. — Este aqui ficou em um barril de carvalho francês, para dar aquele sabor amadeirado que é comum sentir em um Chardonney. Ela tomou um gole. Era leve e frutuoso demais para o seu paladar. — Prefiro os tintos. — Já chegaremos a eles.

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Ele a conduziu escadas abaixo, até as adegas subterrâneas, onde os vinhos premiados ficavam guardados. — Inacreditável — Alex sussurrou ao adentrar o enorme aposento de teto alto de tijolos escuros suportado por colunas de pedra, com pilhas de barris de carvalho enfileirados de ambos os lados. No centro havia uma enorme mesa rústica e um lustre de cristal pendia do teto. Devia ser o salão de jantar formal do qual Lilly falara, onde aconteciam os eventos. Gabe lançou-lhe um olhar intrigado. — Por que está sussurrando? Ela deu de ombros. Tinha a sensação de que o lugar era habitado por almas. — Parece haver tanta história no ar. As covinhas ao redor da boca de Gabe se aprofundaram — Se está se referindo a fantasmas, há mesmo. Caso queira acreditar no folclore. Ela gelou. Se tinha medo de alguma coisa, era de fantasmas. — Não brinque comigo, Gabe. Não tem graça. Ele pegou duas taças e as passou para ela, depois, pegou mais duas para si e fez sinal para que Alex o seguisse. — Reza a lenda que os proprietários originais, Janine e Ralf Courtland, deram uma grande festa em homenagem a Dionísio, certa noite de verão. Metade de Napa veio. Ela franziu a testa, seguindo-o para fora do salão. — Quem é Dionísio? — O deus grego das festas e do vinho. — Gabe a fitou. — Não lhe ensinaram isso na escola? — Mitologia grega em Mission Hill High School? — murmurou com secura. — Pouco provável. — Quis dizer na universidade. — Não fui para nenhuma universidade. — Hum... Aquela era uma conversa um tanto quanto humilhante para se ter com o sempre brilhante Gabe. — Quase levei bomba na escola. Só me passaram para se livrarem de mim Não fui além disso. — Não entendo. Você tem um intelecto afiado. Não deve ter se esforçado. — Posso não ser tão perfeita quanto você, Gabe, mas eu me esforcei muito para chegar ao topo do ramo de relações públicas.

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— Não foi o que eu quis dizer. Estava apenas tentando entender como uma mulher tão inteligente pôde ter quase levado bomba na escola. — Digamos apenas que eu era uma menina má. Ele a fitou demoradamente, antes de voltar a avançar, levando-a até o aposento do outro lado do corredor. — Pelo visto, a festa dos Courtland foi incrível. Rios de champanhe, realeza inglesa, um famoso canto de Vegas... — Ele inclinou-se para servir uma taça de um dos barris, esse vinho, ligeiramente magenta. — Dionísio é conhecido por instigar loucura entre seus celebrantes. Com ele, o negócio é intensa autogratificação e, às vezes, as coisas dão muito errado. Quando mais jovem, Alex tinha certeza de que ela e Dionísio teriam sido grandes amigos. — E eu presumo que as coisas tenham dado errado. Ele curvou-se para servir uma segunda taça. — Dizem que Janine estava apaixonada pelo enólogo chefe dos Courtland, não pelo marido. Durante a comemoração, os dois perderam a cabeça e foram pegos no flagra aqui embaixo por Ralph. Ela ficou boquiaberta. — Não brinca... Ele assentiu. — Ralph matou o enólogo e a esposa a facadas, usando um punhal ornamentado. Ah, meu Deus! Com seu terrível erro com Jordan Lane ainda fresco na lembrança, Alex ficou-o com incredulidade. — É terrível. Gabe deu de ombros. — Alguns diriam que Janine teve o que merecia. — Às vezes as coisas não são tão preto no branco. — E às vezes são. — Sua voz ficara intensamente sombria. — Não colocaria traição nessa categoria? Óbvio que sim Ver o pai destruir a sua mãe com um romance com a esposa de um fazendeiro da região fora arrasador para toda a família. Mas o que houve com Jordan a abalara. Ele mentira para ela, afirmando ser divorciado. Porém, será que Alex deveria ter enxergado além das mentiras? Detectado os sinais? Notando que Gabe aguardava uma resposta, ela assentiu. — Concordo. Não há desculpa para a infidelidade. Ele a conduziu a outro aposento, onde serviu mais duas taças de um encorpado tinto. — Algum motivo em particular para os tintos estarem aqui embaixo?

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Ele apontou para o cascalho no chão. — São os vinhos de primeira. Mantê-los aqui, onde a umidade é alta e os barris descansam na terra, preserva o máximo possível do vinho. — Passou a mão pela superfície lisa do barril. — Mesmo que consigamos tirar 300 garrafas deste aqui, ainda perderemos um litro e meio pelo caminho. — Tanto assim? Ele assentiu. — Os enólogos gostam de chamar de A Cota dos Anjos. Ela sorriu. — Adorei. — Apropriado, não concorda? Levando as taças de volta para a sala de jantar, sentaram-se diante de um bar entalhado. — E, então, onde ela foi assassinada? Gabe sorriu. — No último aposento que visitamos. — E, supostamente, é o fantasma de quem que está aqui? — O de Janine. Dizem que ela ronda as adegas exigindo ser trazida de volta à vida. Não considera justo o que aconteceu. — Gabe deu de ombros. — Eu jamais vi nem escutei sinal dela desde que estou aqui. Graças a Deus! — Hora de beber. — Alexandra Anderson — Gabe falou, estudando-lhe o rosto —, você não tem medo de fantasmas, tem? Ela fez um gesto de pouco-caso. — Digamos que eles não estão entre meus assuntos favoritos. — Interessante. — Gabe entregou uma das Começaremos com os mais leves. Primeiro, o Zinfandel.

taças

para

ela.

Ela tomou um gole. — Frutuoso demais. — Tem quem ache isso. Em seguida veio o Pinot Noir. Ela franziu o nariz. — Leve demais. O próximo? Ele empurrou o tinto menos escuro para ela. Alex tomou um gole. Mais suave dessa vez, o sabor do vinho estalou ao redor da língua. — Mmmm Este é bom. — Tem de ser mesmo. É o nosso premiado Merlot.

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Ela tomou outro gole. Era bom mesmo. Encorpado, suave e tão fácil de beber. Começou a sentir o efeito da combinação de vinhos com a falta de sono. Empurrou a taça para ele. — O próximo. — Calma, tigresa. Ainda faltam dois. — Dois? — Nosso Pico do Diabo está atrás do bar, aguardando o rótulo. O que notou quanto ao último vinho? Ela franziu a testa. — Não sei. Mais pesado, porém, ainda suave. — Isso mesmo. Merlot costumam ser mais suaves e frutuosos do que os Cabernet; no entanto, apresentam muitos dos mesmos aromas e sabores. Cereja escura, groselha, cedro e azeitonas verdes. Pode até encontrar vestígios de menta, tabaco e chá preto neles. Ela fungou. — Azeitonas verdes? Não acredita mesmo em toda essa balela, acredita? Quero dizer, será que alguma vez sentiu mesmo o gosto de azeitonas verdes em um vinho? Ele a fitou condescendente. — Si. Tão presunçoso. Tão confiante. Ela imaginou se não haveria um modo de derrubá-lo do pedestal. — E quanto a este? Deve ser um Cabernet. Ele assentiu. — De 2006. Nosso melhor ano. Experimente. Era encorpado e forte e tão bom que ela teve vontade de devorá-lo. — Isso é vinho. — O rei de todos os tintos, infatti. As Cabernet são as uvas mais cobiçadas do mundo. Levam de cinco a dez anos para atingir o sabor desejado e fazem cada minuto dessa espera valer a pena. Talvez você sinta o gosto de ameixa, cereja, amora negra e um vestígio de tabaco nesse aí. Ela franziu a testa. — Se é o que diz... — Lex — ele falou em tom grave —, concentre-se. Se não tentar, não vai conseguir sentir nada. Ela deu outro gole, rolou o vinho ao redor da língua e engoliu. — Talvez o condimento? — Não é condimento. Tabaco. 27


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— Não consigo sentir o gosto. Seus lábios se moveram, mas ele nada disse. Parecia estar contando até dez. — Gabe... Sacudindo a cabeça e erguendo a mão, ele deu a volta no bar. — Agora, o Pico do Diabo. — Ele serviu um pouco, e ela levou a taça aos lábios. Gabe praguejou baixinho. — Lex, não se bebe vinho como se fosse uma caneca de cerveja. É preciso saborear. — Isso é baboseira metida à besta. Segurando-lhe o pulso, ele afastou a taça de seus lábios. — Não é baboseira. É como se bebe vinho. Primeiro, gira-se a bebida na taça, para sentir o buquê. O primeiro aroma é muito importante para chegar corretamente ao sabor. — Gabe empurrou a taça em direção ao nariz dela. — Agora, inale. Ao fazê-lo, Alex sentiu um intenso aroma de amoras chegar aos seus pulmões. — Cereja — falou triunfante. — Aleluia! Agora, que outro tipo de uva se encontra no corte? Ela mordeu o lábio inferior. Pensou com vontade. — Merlot? Ele sorriu. — Esattamente. Alex tentou ignorar como tudo o que ele falava em italiano ficava mais sexy. Tentou ignorar a sua proximidade. Forçou-se a concentrar-se no assunto à mão. O vinho era saboroso como o Cabernet anterior, suave como o premiado Merlot, mas também havia algo mais... Algo especial que ela não conseguia determinar. — Mas vários vinhos combinam Merlot com Cabernet, não é? O que torna este tão especial? Ele deu de ombros. — Química. Acrescentamos os ingredientes misteriosos, brincamos com as safras e usamos o nosso processo patenteado para obter o corte perfeito. E como isso poderia ser usado no seu tema? Alex brincou com algumas ideias. Em seguida, uma luz se acendeu. Talvez fosse esse o tema... Química. Havia um milhão de maneiras inovadoras que poderia usar para dar vida a isso na festa. Era perfeito.

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— Você é brilhante — falou enfaticamente, cutucando-o no peito com o dedo em riste. — Fico feliz que tenha percebido. Importa-se de dizer por quê? — Ainda não. — Não era tola. Sabia que precisaria ter a ideia totalmente formada antes de apresentá-la ao Sr. Perfeição. — Na segunda-feira, quando puder lhe mostrar todo o conceito. — Muito prudente. — Ainda não conversamos sobre quem vai falar com a mídia sobre todo esse brilhantismo. Você? Antonio? — Eu. Riccardo não quer deixar Lilly, e Antonio não virá. Ela franziu a testa. — Por que não? A imprensa come na mão de Antonio. Os repórteres adoram a sua personalidade expansiva, seu jeito teatral. O rosto de Gabe ficou tenso. — Eu o farei. Antonio não está disponível. — Como assim não está disponível? Como ele pode não estar disponível para isso? Ele guardou a garrafa atrás do bar. — Antonio não acredita nessa empreitada. Não acredita que uma garrafa de vinho decente possa ser feita fora da Itália. Caso ele viesse, na certa diria algo depreciativo capaz de nos prejudicar. Eu não o quero aqui. E assunto encerrado. Gabe pediu licença e seguiu para o seu próximo compromisso. Alex ficou ali sentada, terminando o vinho, tentando imaginar que tipo de pai demonstraria tão pouco apoio ao filho na empreitada mais importante da vida deste. Por Lilly, sabia que os homens De Campo não eram muito próximos do pai, mas jamais imaginara que o abismo que separava Gabe e Antonio fosse tão profundo. Sabia o que era isso. Seu próprio pai a rotulara como incorrigível quando ainda era bem nova e nada do que ela fizera desde então fora capaz de compensar isso. Nenhum dos degraus da carreira que galgara, nenhum dos elogios que recebera de algumas das melhores empresas do mundo ajudara. Poderia muito bem ser a primeira mulher presidente dos Estados Unidos e ele ainda teria a mesma opinião desfavorável a seu respeito. Quem diria. Gabe De Campo também tinha os seus demônios. E Alex poderia jurar que apenas arranhara a superfície disso.

CAPÍTULO 4 29


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Segunda-feira de manhã. Mais uma vez Alex esquentava o assento na recepção dos escritórios da De Campo em São Francisco. Dessa vez, Gabe estava em uma ligação. O pé de Alex batendo no chão sem cessar chamou a atenção de Danielle. — Não deve demorar muito mais — murmurou solidária a assistente. — Estou certa de que ele já vai sair. Alex consultou o relógio. Gabe já estava 40 minutos atrasado. — Ele sempre tem tão pouco respeito pelo tempo dos outros? Achar-se o dono do mundo deve levá-lo a acreditar que o tempo dele é mais importante do que o dos... Ela interrompeu-se ao ver os olhos de Danielle indo para a sua direita e se arregalando. Ah, não... Alex se virou e encontrou o corpo alto de Gabe relaxadamente apoiado na batente da porta. — Per favore — ele murmurou. — Continue. Estava adorando descobrir o que pensa de mim. Com a sensação palpável de que acabara de estragar tudo, Alex baixou o olhar. — Eu estava apenas desabafando. Era para você estar no seu escritório. Não dando a volta pelo outro lado. — Estou ao telefone desde 7h. Fui atender ao chamado da natureza. Alex ficou de pé, recusando-se a deixar que a sua expressão arrogante a intimidasse. — Se vai tornar isso uma competição, estou em atividade desde 5h. Os olhos dele faiscaram. — Na verdade, eu não ia, mas foi infantil de sua parte. — Gabe inclinou a cabeça na direção do escritório. — Vamos? Alex pegou o seu material e o seguiu, distribuindo tudo sobre a mesa de conferência oval próxima à janela. A designer fizera um trabalho magistral na representação visual do conceito e do evento. — Durante a visita às adegas, você falou que a complexidade e a individualidade de um vinho dependem da química. Como você, como vinicultor, faz as escolhas. Ele assentiu. — Comecei a brincar com o conceito de química. Como isso funcionaria como tema de um evento. E pensei nestes conceitos. — Alex mostrou um storyboard. — O primeiro ponto de contato é o convite. As pessoas serão convidadas a se apaixonarem pelo seu par perfeito no lançamento do Pico do Diabo da De Campo. — Passou para o outro desenho. — Quando chegarem, 30


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receberão uma combinação “química” gerada por computador. Poderá ser um par romântico ou um bom contato de negócios. Durante a noite, cada um terá de encontrar o seu par perfeito. Gabe arqueou a sobrancelha. — E se for um cético sem imaginação que não liga para isso? Ela passou para o próximo cartaz, que tinha a foto do vinhedo da De Campo na Toscana. — Nós os incentivamos. Oferecemos algo fabuloso, como uma viagem para a pátria mãe. Mas apenas ante a comprovação de ter encontrado o seu par. Ele deu de ombros. — Prossiga. Alex passou para o próximo cartaz. — Tudo que acontecerá durante a noite dirá respeito à química. A decoração, o questionário no bar para combinar os convidados com o seu melhor vinho De Campo, as lembranças feitas de acordo com a química de cada indivíduo e, por fim, os fogos de artifício no final da noite. — Ela sorriu. — Tudo representando a química do Pico do Diabo. Encerraremos com uma prova do vinho e os fogos de artifício para causar uma última boa impressão. Ele passou a mão pelo queixo. — Gostei. Mas não estou muito certo quanto à combinação dos pares. Será que isso funcionará com esse tipo de gente? Ou com o grupo de Nova York? Ela assentiu. — A experiência me ensinou que, com o incentivo certo, as pessoas farão qualquer coisa. Não precisa ser uma viagem para a Toscana. Podemos tornar a coisa toda uma seleção de experiências químicas para serem escolhidas... A boca de Gabe se retorceu. — E como faremos para que a seleção dos pares não pareça charlatanice? — Há uma firma aqui em São Francisco que é especializada justamente nisso. Ela é encabeçada por cientistas que estudam o comportamento humano. Oferecemos detalhes dos convidados, os dados são inseridos no computador e, pronto, temos os pares escolhidos cientificamente. Gabe deu um sorriso triste. — E não seremos responsabilizados pelas escolhas dos pares românticos? — Não é um serviço de acompanhantes. É uma reunião informal com pessoas que compartilham os mesmos interesses. — Converse com os nossos advogados, Alex. Teremos 500 convidados para o evento. Terá de obter informações sobre todos eles. Ela assentiu.

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— As vantagens da internet. As pessoas comentam demais temas pessoais em mídia social. — Não parecerá que estamos tirando vantagem da informação pessoal dos convidados? — A maioria quer mesmo é a atenção. Após examinar demoradamente os storyboards, o que deixou Alex com o coração na mão de expectativa, Gabe por fim assentiu. — Bene. Pode tocar adiante. — Tocar o evento todo adiante? Está me oferecendo o contrato? Ele sorriu, o efeito tão estonteante que foi quase impossível resistir. — Katya estava certa. Você é brilhante. Alex teve vontade de abraçá-lo, mas seria quebrar as regras que ela mesma se impusera. — Você não vai se arrepender, Gabe. Será o evento do ano. Precisarei da sua aprovação do convite antes de ir. Puseram-se a examinar as opções. Por cinco minutos, a relação deles conseguiu ser harmoniosa. Talvez seis. Depois, Gabe começou a dar palpites no convite. Ao todo, foram 20 mudanças. Em um simples convite. Uma imagem de como as coisas seriam começou a se formar na cabeça dela. Pior do que imaginara. Teria de encontrar uma maneira de convencê-lo a lhe dar espaço, e rápido. Pois se quisesse dar conta desses eventos, teria de voar, sem alguém olhando por sobre o seu ombro o tempo todo. Inspirou fundo ao deixar o prédio e seguir para o seu carro, a irritação diminuindo de intensidade ao se dar conta de que conseguira. Gabe lhe dera o contrato. Ela continuava no ramo. Contudo, sua euforia logo foi substituída pela realidade assustadora do que teria de fazer. Tinha três semanas para executar um dos eventos mais complexos que já realizara. Um feito que poderia ou não ser possível.

CAPÍTULO 5

Os dias seguintes foram um borrão de atividade logística. Alex reuniu-se com a designer gráfica, finalizou os convites e deu uma última olhada na lista dos convidados. 32


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Estavam faltando algumas pessoas importantes que a outra agência deixara de fora, assim como alguns indesejáveis que ela achava que não deveriam estar entre os 500 finais tinham sido incluídos. De acordo com Danielle, Gabe revira a lista duas vezes, de modo que Alex fez as mudanças finais e a enviou para a gráfica. Tendo resolvido a questão mais prioritária, ligou para seus dois funcionários em Nova York e mandou que pegassem o próximo vôo. Em seguida, reservou a empresa do bufê recomendada por Susan James, a designer, e fechou o contrato com a empresa que se encarregaria de formar os pares. E respirou. A simples grandiosidade do evento estava deixando Alex e a sua equipe exaustas e mantendo todos acordados até altas horas da madrugada. A agenda louca de Gabe os forçava a levar tudo até ele entre as reuniões e após Gabe ter retornado da fábrica, tarde falar que ele tinha o hábito de desaparecer sem avisar, prometido estar em outro lugar. Problemas operacionais do dia alegava.

nos intervalos da noite. Sem quando havia a dia, Danielle

Gabe estava enlouquecendo a todos. Atrasando-os ao acrescentar outro nível de complexidade à coisa toda. Sendo assim, Alex deu início à Operação Controlador. Ela afogou Gabe em uma montanha de papéis, solicitando a aprovação por escrito de cada detalhe que pudesse imaginar. A cor dos guardanapos do bar, o tipo de chocolate nas sacolinhas de lembranças, a seleção musical para a banda. Em algum ponto, supunha que ele fosse desistir. Ele não desistiu. Sendo assim, ela decidiu abandonar o plano e resolver a questão por conta própria. Gabe só deverá ver o que for mais crucial, disse para a sua equipe. O restante, podem passar para mim. Ele estava acabando com todos. O chef se queixava de que o cardápio ainda não fora aprovado. O fornecedor de fogos de artifício ameaçava dobrar o preço caso não chegassem a um acordo sobre a seqüência programada até o final da semana e o chafariz de champanhe, a peça central da sua área de coquetel, vinha vazando, sem uma estrutura de substituição ter sido escolhida. Caos absoluto. Às 2h de sábado, Alex declarou oficialmente a própria morte cerebral e largou-se na enorme cama king na sua suíte, no lado oposto do corredor da de Gabe. Contudo, a cabeça não parava de cuspir coisas que ela esquecera de fazer, de modo que desceu da cama, pegou o laptop e seguiu para a cozinha à procura de um pouco de leite quente, o que jamais falhava em colocá-la para dormir. Com o leite achocolatado quente na mão, Alex virou as costas para o fogão e deu de cara com uma parede. Ou, para ser mais exata, com Gabe. O 33


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chocolate quente saiu voando. Alex gritou. Gabe praguejou. Ela deu um salto para trás, viu a camiseta encharcada dele e gemeu baixinho. — Diga que eu não o queimei. Sibilando, ele afastou o tecido encharcado da própria pele, que estava um pouco avermelhada, mas nada de mais. — Ah, Deus, eu sinto muito... Pensei que você estivesse na cama. Ele fez uma careta. — Trabalhando ainda. Claro que estava. O homem era uma máquina. Seu olhar deslizou pelo corpo dela. — Você poderia ter estragado isso. Alex lembrou-se do que estava usando. Curto. De Seda. Decotado. Droga! Ela cruzou os braços diante do peito. Um pouco tarde demais, uma vez que o olhar dele já se desviara do volume dos seios para os quadris, seguindo para as pernas. Suave, lenta, deliberadamente. Sem a menor pressa. Tomada de ardor, ela fincou os dentes no lábio inferior. De súbito a cláusula de não tocar, de não haver atração, parecia um conceito abstrato que não se aplicava a essa situação em particular. Não quando seus olhos brilhavam para alertar que o autocontrole dele estava falhando, e parte dela desejou desesperadamente que falhasse mesmo. Houve um intervalo de um, talvez até mesmo dois segundos, durante o qual Alex não teve certeza do que aconteceria. O ar estava tão carregado que sentiu dificuldade para respirar. Em seguida, o rosto dele endureceu e aqueles fascinantes olhos azuis ficaram gelados. — Preciso voltar ao trabalho. Sobrou algum leite? — Na panela. Gabe... Preciso daquelas aprovações. A questão do bufê é urgente. Ele caminhou até o armário, onde pegou uma caneca. — Amanhã de manhã eu dou a resposta. — Precisa ser de manhã logo cedo. — Farei isso antes da minha reunião na cidade. — Ele virou-se. — E, Lex? Acho que precisamos estabelecer algumas regras de vestuário. Ela se sentiu tomada por uma onda de ardor. Resolvendo que de modo algum voltaria a chegar perto dele, pegou a caneca pela metade e ergueu o queixo. — Vou me lembrar disso da próxima vez que estiver trabalhando até as 2h por sua causa.

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Subindo as escadas, voltou para a cama. Seu corpo vibrava com uma dose de hormônios descontrolados que a deixava sem reação. A expressão no rosto de Gabe não lhe saía da cabeça. Aquilo tinha de ser luxúria. — Ele fez de novo! — Emily, a experiente executiva júnior principal de Alex, com uma expressão irritada no rosto, plantou-se diante dela, que media a pista de dança. — Falou para nos encontrarmos às 10h e conversar sobre o bufê, mas Elena acaba de me informar que Gabe foi para a cidade. Alex endireitou-se, ajeitando o cabelo que escapara do rabo de cavalo. Gabe também lhe prometera uma resposta no tocante a várias outras coisas cruciais. Ela ia matá-lo. Não podiam se dar ao luxo de atrasar ainda mais. — Deixe comigo, Emily. Gabe tem uma reunião aqui hoje à tarde. Eu ficarei no pé dele até conseguir a autorização para tudo. — Ótimo. — Emily suspirou e espreguiçou-se. — Se Gabe não fosse tão bonitão, eu poderia até odiá-lo. — Já passei dessa fase. — Alex estava tão cansada que queria que alguém acabasse logo com o seu sofrimento. — Ligue para a banqueteira e avise que daremos uma resposta para tudo ainda hoje. Anotando as suas medidas, pegou uma xícara de café da cozinha e sentou-se antes que caísse no chão. Precisava de uma dose dos poderes calmantes da irmã. Lilly sempre tivera o dom de firmar os seus pés no chão quando sentia que estava tudo lhe escapando ao controle. Lilly atendeu ao terceiro toque. — Eu já me perguntava se você ainda estava viva... — Bastava perguntar para o meu patrão — sugeriu Alex com secura. — Quem está tentando me matar é ele. — Como vai indo? — Sabe o que eu penso sobre Gabe. Tem sido interessante. — Na verdade não sei, não. Pensa muito nele? — Lil... A irmã suspirou. — Um dia desses você terá de descobrir. Não, não teria. Ainda mais agora que fazia parte das regras. — Eu me preocupo com você, Lex. Receio que vá passar os próximos dez anos correndo atrás da sua ambição, apenas para se dar conta de que a vida é muito mais do que apenas isso. E lá vamos nós de novo. — Tenho apenas 28 anos. E para eu estar subindo na vida corporativa. — E quanto a filhos? — Não quero filhos.

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— Você não sabe se quer filhos. O que não falta por aí são mulheres adiando a gravidez por conta das carreiras. Depois, acordam um dia e se dão conta de que é tarde demais. Alex fechou os olhos e rezou por paciência. — Eu sei que não quero filhos. Na verdade, talvez deva oferecer os meus óvulos agora, para que essas tais mulheres tenham alguma chance. — Você não faria isso. — Por acaso não compartilhamos a mesma infância? — Sim, mas... — Lil, entendo que esteja repugnantemente feliz com o seu marido machista e o seu lindo filhinho, que em breve terá uma estonteante irmãzinha. Mas me deixe fora de conversas sobre filhos. Lilly suspirou. — Tudo bem. Alex notou os técnicos de som que ela contratara chegando ao estacionamento. — Se passar algum tempo sem ter notícias minhas, é porque estou sobrecarregada ou, de fato, levei a cabo o assassinato do seu cunhado. A propósito, como está se sentindo? Seguindo as orientações dos médicos? — Riccardo mal me deixa me mexer sem fazer algum comentário. Talvez eu o mate antes que tudo acabe. Lilly sofrera de pré-eclâmpsia durante a primeira gravidez e eles a passaram pisando em ovos. Dessa vez, Alex não culpava o cunhado controlador por ser como era. — Esta pode ser a única vez que eu lhe direi isso, mas escute o seu marido, Lil. Ele tem razão. Preciso ir. Dê um tapa na cabeça do tal marido por mim Gabe olhou lista de convidados e decidiu que, àquela altura, deveria estar vendo coisas, pois ele não colocara aquele nome nesta lista. Apertou o botão do interfone. — Danielle — rosnou —, você me entregou a lista errada. — Deixe-me verificar. — Um minuto mais tarde, ela adentrou o seu escritório. — Não, essa é a lista final. — Não pode ser. Darya Theriault está nela. Sua assistente empalideceu. — É a lista principal. Alex deu uma última checada nela. Ele amassou o papel. — Alex a mudou e não pediu a minha aprovação final?

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— Ela falou que você a viu duas vezes. Gabe foi tomado pela raiva. — Ligue para ela. Agora. — Frank Thomas está aqui. — Danielle o fitou hesitante. — Quer que eu peça para ele esperar? A vontade de estrangular Alex quase o fez assentir; porém, descobrir o que Jordan Lane vinha aprontando era mais importante do que assassinato. — Dê-me dois minutos e mande-o entrar. Ela assentiu e saiu. Alex colocara a sua ex na lista. A ambiciosa advogada que o trocara por um sócio majoritário da firma com um bilhete que dizia: “Não o amo como amo você, mas é a coisa inteligente a se fazer, de modo que vou me casar com ele.” Pior ainda: a lista de RSVP dizia que Darya confirmara. E que viria com o marido. Foi a gota d’água. Conseguira ignorar o modo descarado como Alex e a equipe vinham abusando do seu tempo. As decisões que ela tomava, achando que ele não estava notando. Mas isso era demais. Assim como fora demais a peça que ela usava na cozinha no outro dia, gritando “possua-me”. Diabos! Todo homem tinha o seu limite. Lidara com a insubordinação, até dera um jeito de agüentar a língua afiada. Mas não conseguia tirar da cabeça como fora boa a sensação de tê-la sob as mãos naquela noite no hotel. Macia, suave e, sem dúvida, digna até do último suspiro rouco. Ou o modo como aquele négligé colocara em evidência o seu corpo perfeito, abraçando as curvas dos seios e dos quadris. O corpo enrijeceu sob a calça feita sob medida. Dannazione. Procurou tirar a imagem da cabeça. Na noite anterior, necessitara de dez páginas de estimativas de vendas antes que conseguisse apagá-la. Isso era ruim, pois tratava-se de uma funcionária de quem ele pretendia arrancar o couro assim que conseguisse colocar as mãos nela. Ficou de pé para receber Frank Thomas, um ex-policial de 52 anos que virara investigador particular. Frank apertou a mão de Gabe e acomodou-se no sofá de couro. Gabe permaneceu de pé, irrequieto demais para se sentar. — Os rumores são verdadeiros — Thomas anunciou. — Jordan Lane está desenvolvendo um vinho semelhante ao Pico do Diabo. Gabe sentiu um frio na barriga. — Como descobriu? — Por uma fonte no ramo dos restaurantes. Ao que tudo indica, ele já está espalhando a notícia. — Lane está muito perto? O investigador sacudiu a cabeça. 37


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— Até agora, ele só fez falar. Mas eu soube que está próximo de lançar. Gabe enfiou as mãos nos bolsos e caminhou até a janela. — Não se encaixa na atual estratégia dele. Não entendo. — Acho que não se trata de estratégia. O negócio dele é com você. O Pico do Diabo não era o tipo de corte que se desenvolvia da noite para o dia. Era algo que jamais fora experimentado antes em um vinho californiano. Gabe olhou para Thomas. — Ele tem alguém infiltrado. — É o que eu acho. Alguma ideia de quem possa ser? Não. Pensou em Pedro, o enólogo que trouxera consigo da Toscana após o falecimento da esposa do homem. Pensou nos homens e nas mulheres que escolhera a dedo para trabalhar com Pedro. — Não. Confio em todos eles. — Alguém no escritório? distribuidores, clientes?

sugeriu

Thomas.

Fornecedores,

Gabe sacudiu a cabeça. — Não teriam o conhecimento necessário. — Nesse caso, terá de reavaliar o seu pessoal. Veja se deixou algum detalhe escapar. Ele assentiu. Estava tão perto de alcançar o objetivo estabelecido para si mesmo há oito anos: colocar a De Campo no topo da lista de vinicultoras californianas. Recusava-se a permitir que um membro desleal da sua equipe destruísse esse sonho. Havia outro vinho, um vinho muito mais importante, sendo desenvolvido. Um vinho a respeito do qual apenas ele e Pedro sabiam. Tinha de encontrar a maçã podre antes que ela descobrisse a respeito desse outro vinho. Se é que já não era tarde demais. — Dê-me uma hora e eu lhe entregarei uma lista — falou para Thomas. — Verificamos os antecedentes de todo mundo, contudo, vá mais a fundo. Veja o que pode descobrir. Enquanto isso, eu e Pedro reavaliaremos todos, para ver se alguém se destaca. Thomas assentiu. — Se houver algo para ser descoberto, eu descobrirei. Gabe retornou ao vinhedo às 14h e seguiu direto para outra reunião. Alex aguardou até ver um dos homens indo embora, às 15h15, enfiou a pasta com as aprovações necessárias sob o braço e, determinada, marchou para dentro da casa. Bateu na porta do escritório de Gabe e estendeu os dedos na direção da maçaneta. Elena ergueu a mão. — Eu não... — ...o incomodaria — Alex completou.

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— Eu sei. — Girando a maçaneta, abriu a porta e foi entrando. — Dessa vez seus cães de guarda não vão funcionar. Preciso... Dois homens estavam sentados próximos à janela. Olhando para ela. Ah... Apenas um deles fora embora. — Opa! — murmurou. — Pensei que tivesse acabado. O aposento ficou em silêncio. Alex não pôde deixar de notar o brilho furioso nos lindos olhos verdes de Gabe. — Já estamos quase terminando — ele falou com aquela voz letalmente tranqüila. — Será que pode aguardar na sala de estar? Alex recuou, pensando que, dessa vez, fizera besteira. Mas não deu muita importância, pois Gabe era impossível, e havia um trabalho a ser realizado. Fechando a porta, preferiu seguir para a cozinha. — Limonada — murmurou em resposta ao olhar curioso de Elena. — Está encrencada? — Acho que sim — Alex pegou a embalagem na geladeira e serviu-se de um copo. — Tem algum conselho? — Normalmente, eu diria para apelar para o lado racional dele. Contudo, hoje em dia? — Elena deu de ombros. — Mantenha a cabeça abaixada. O que, lógico, não foi o que Alex fez, dez minutos mais tarde, quando Gabe a encontrou conversando com a governanta. — Você — rosnou. — No meu escritório. Ela o seguiu, estremecendo quando ele bateu a porta atrás dos dois. — O que diabos acha que estava fazendo, entrando no meio de uma reunião?! — Não sabia que a reunião ainda estava rolando — ela retrucou calma. — Desculpe. — Eu disse que mandaria chamá-la. Ela pousou a limonada na mesa dele. — Você vive desaparecendo, Gabe. Nós estamos atrasados. Muito atrasados. Emily precisava da aprovação do bufê para ontem, e eu, de aprovação para esta lista de entrevistas agora ou não teremos cobertura individual da mídia para o evento. — Para o inferno com a mídia! — ele esbravejou. — Não há necessidade de gritar. E a mídia não pode esperar, Gabe. Você precisa dela se quer que o lançamento seja um sucesso. — E acha que estou trabalhando 20 horas por dia porque não quero, Alex? Ele avançou alguns passos na direção dela, até cem quilos de pura agressão masculina estarem cara a cara com Alex. Seu coração disparou. Alex voltou no tempo até outro aposento, onde outro homem grande pôs as mãos nela. 39


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Trata-se de Gabe, disse para si mesma, respirando fundo. Não dele. Respire. Gabe franziu o cenho. — Quero que pare de desobedecer as minhas ordens e comece a fazer o que eu mando, porque você está por um fio. — Como assim, por um fio? — Você está por um fio para ser despedida. — Despedida?! — Ela deixou escapar uma gargalhada, aliviando a tensão no seu íntimo. — Quem dera você me despedisse. Você é um tremendo aborrecimento! Gabe cerrou as mãos ao lado do corpo. — Não estou tendo um bom dia, Alex. Contenha-se. — Não. — Ela empinou o queixo. — Você está acabando com a gente, Gabe. Precisa começar a permitir que tomemos decisões. — Como acrescentar pessoas que eu não aprovei à lista de convidados? Ela franziu a testa. — Sua agência de relações públicas deixou de fora alguns indivíduos muito influentes. — Você acrescentou a minha ex e o marido dela. — Ah... — Ela levou a mão à boca. — Quem é ela? — Darya Theriault. Alex pensou um pouco. — Sim, ela e Peter são muito influentes na região de São Francisco. Será que não dá para você engolir o seu orgulho por uma noite e fazer o que é certo pelo evento? — Não, não posso! Darya não virá a esse evento! Alex estreitou os olhos. Aquilo estava fugindo ao controle. — Tudo bem Talvez eu devesse ter verificado isso com você. Eu deveria ter verificado isso com você. Mas não é culpa minha você ter despedido a última agência e ter nos deixado sem tempo. Não é culpa minha você não conseguir priorizar o que é importante e não é minha culpa você ser um perfeccionista em série. — Um perfeccionista em série? Você está me levando à loucura! — ele esbravejou, dando outro passo adiante e encurralando-a de encontro à mesa. — Você tem me antagonizado deliberadamente. Não gosta quando alguém a controla, de modo que tentou me enterrar em papelada. Peço que faça alguma coisa, você faz o oposto. E, quando nada disso funciona, resolve bancar a rebelde e fazer o que você quer. — Eu não faço o oposto do que você diz. — Pedi para você aguardar na sala de estar e a encontrei na cozinha. 40


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Ela o encarou. — Isso é ridículo. É ser controlador ao extremo. — Alex sacudiu a cabeça. — Por acaso você é assim na cama, Gabe? Porque fico embasbacada que tantas mulheres nos dias de hoje se submetam a isso. — Você ficaria surpresa. Talvez seja por isso que estava desfilando naqueles trajes ontem à noite. Porque ainda não quer admitir que adoraria experimentar? Alex estremeceu ante a sugestão. Ante o calor quente do seu corpo encurralando-a de encontro à mesa. — Isso não é profissional. — Isso não tem sido profissional desde o primeiro dia. — Ainda assim.. — A pulsação dela disparou quando ele levou a mão ao seu cabelo. — Gabe... — Fique quieta, Alex. — Ele trouxe-lhe a boca até a sua com um beijo esmagador, carregado de fúria. Alex deveria ter impedido, deveria ter se afastado na mesma hora. No entanto, infelizmente, a intensa frustração sexual a deixou muito suscetível ao poder autoritário por trás dele. À insistência de que abrisse a boca para deixálo entrar. Ela o obedeceu e, deixando escapar um som do fundo da garganta, Gabe a explorou com um cuidado erótico que a pôs em chamas. Desesperada por mais. A mesa estava às suas costas. Ele a ergueu e a pousou sobre ela, ladeoua com as mãos apoiadas sobre a sua superfície e apossou-se de sua boca com outra exploração ardente que a fez a sua pulsação acelerar-se ainda mais. — Gabe... — murmurou Alex, querendo injetar alguma sanidade na situação. Ele arrastou a boca para o seu pescoço, até encontrar a pulsação furiosa na sua base. — Acho que devemos... As mãos dele moveram-se até o botão no alto de sua blusa. Até o segundo. A boca no local mais sensível entre o ombro e o pescoço, os dentes roçando sobre a pele, fazendo-a tremer de desejo. De algum modo, ela não conseguia se mover e nem falar o restante das palavras. Gabe empurrou a sua blusa para o lado, seu olhar intenso sobre ela. — Dio! Você é tão linda... Alex apertou os olhos com força, quando ele deslizou os polegares por sobre os bicos rijos dos seios e experimentou-lhes o peso nas mãos. Era tão bom, enfim, tê-las sobre si... Um ligeiro gemido escapou de seus lábios. Gabe voltou a lhe cobrir os lábios com a boca, incendiando-os com outro beijo ardente, e dirigiu as mãos até o fecho do sutiã. Alex estremeceu. 41


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Gabe era seu cliente. Não podia fazer sexo com ele sobre a sua mesa. — Gabe... — Alex empurrou-lhe o peito. — Não... Não podemos fazer isso. Ele recuou e a fitou, o desejo nos seus olhos fazendo com que outra onda de ardor percorresse o corpo dela. Alex precisava de todas as suas forças... — Nós... Eu... — gaguejou. — O que quer que esteja acontecendo aqui, precisamos entender, e não... fazer isto. Ele cerrou a boca, baixando as mãos. — Ajeite a sua blusa. Alex ergueu os dedos trêmulos até os botões. — Gabe... — Ajeite a sua blusa! Ela obedeceu com dedos que pareciam não querer obedecê-la. Gabe enfiou as mãos no bolso e caminhou até a janela. — Tem razão — murmurou bruscamente. — Isso não deveria ter acontecido. Por um milhão de razões diferentes. Alex ofereceu a desculpa mais conveniente: — Estamos os dois estressados. — É — concordou ele com um certo sarcasmo. — Vamos fingir que foi isso. Eu entregarei o cardápio para você em uma hora. O que mais quer? — Está tudo aqui. — Alex passou-lhe uma pasta. — O cardápio e a agenda das entrevistas são as prioridades. — Bene. — Gabe... — Deixe para lá, Alex. Foi um ato de insanidade de ambas as partes. Mais nada. Ela engoliu em seco, tentando não se sentir intimidada pela frieza que sentia vinda dele. — Sei o quanto isto significa para você. Deixe-me fazer o meu trabalho e eu não o desapontarei. Ele a fitou por um longo instante. — Chega de decisões executivas, Alex. Dois dias ou duas horas antes do evento eu a despedirei. Eu juro. Alex assentiu e deu o fora antes que fizesse mais alguma coisa incrivelmente estúpida.

CAPÍTULO 6 42


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Gabe passou a semana seguinte reavaliando com Pedro cada pessoa que já estivera envolvida no desenvolvimento do Pico do Diabo, na esperança de encontrar alguma coisa, qualquer uma, que pudesse levar ao espião. Colocaram a cabeça para funcionar, mas não encontraram ninguém com a combinação certa de acesso, motivo ou recente comportamento estranho que necessitasse ser investigado. As verificações de antecedentes de Thomas também não deram em nada. Era desalentador, sem dúvida, que uma suposta imitação do Pico do Diabo existisse, mas Gabe não estava disposto a sair em uma caça às bruxas e alienar seus funcionários com base apenas em um rumor. Nem sequer sabia até onde ia a semelhança do vinho com o seu. O que significava que ainda não contara para Riccardo, nem para Antonio, e só pretendia fazê-lo quando tivesse mais para apresentar para eles. Recostou-se na cadeira e olhou para Pedro, o enólogo de terceira geração de 62 anos que lhe ensinara tudo que ele sabia sobre a fabricação de vinhos. — Precisamos obter uma amostra do vinho de Lane. Tem algum amigo que possa ajudar? Pedro deu de ombros. — Ninguém quer se colocar no caminho dele, mas posso tentar. — Grazie. Jordan Lane era o rei do vinho na Califórnia. Ninguém queria se meter com ele por medo das conseqüências. Pedro o fitou com atenção. — Já pensou em antecipar o lançamento do nosso projeto especial? — Ainda não está pronto. Pedro sacudiu a cabeça. — Você ainda não está pronto. O vinho, sim. — Você conhece o plano — falou Gabe um tanto quanto na defensiva. — Sim. Está se concentrando no Pico do Diabo porque sabe que Antonio apoiará mais um corte tradicional do que o Malbec. — Não se trata do que Antônio quer. Trata-se de fazer a coisa certa para o mercado. Lançar um vinho superior que nos faça ser notados, para depois vir com aquele que vai revolucionar o jogo. — Talvez você não tenha escolha. Não, tinha de reconhecer, talvez não tivesse mesmo. Mas agora precisava se concentrar naquilo que pudesse controlar, que era colocar no mercado o Pico do Diabo. E dar conta desses malditos eventos de lançamento, que o vinham consumindo.

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Após a reunião, Gabe tentou examinar algumas das aprovações que Alex precisava, mas cada vez que olhava para a mesa, uma imagem vívida lhe vinha à cabeça. Cristo! Jogou a caneta de lado e passou a mão pelo cabelo. Ela o estava fazendo perder o seu lendário controle. Alex o impedira de quebrar a própria regra. Uma completa falta de controle com uma mulher já era o suficiente na sua vida. Darya o deixara sem fôlego na noite em que a conhecera, em um coquetel em Pacific Heights. Mais jovem e menos calejado, Gabe se deixara levar pelo seu comprido cabelo loiro, os reluzentes olhos azuis e um desejo agressivo por ele. Darya praticamente se mudara para o apartamento dele em São Francisco e os boatos tiveram início. Gabe De Campo podia finalmente ter sido fisgado. Acreditando que pudesse ter um relacionamento diferente da sociedade nos negócios dos pais, ele se entregara de corpo e alma, como um homem sem cérebro. Grande erro. Talvez devesse ter percebido que a ambição de Darya se equiparava à dele, como jamais teria sido feliz tocando o vinhedo ao seu lado, em vez de subindo na carreira corporativa. Talvez devesse ter reconhecido a distância entre os dois enquanto cada um seguia o seu próprio interesse. Mas não foi o que aconteceu. Gabe ficara cego pela luz brilhante de Darya, até o domingo em que voltara para casa de Nova York para encontrar aquele bilhete. Gabe cerrou os lábios. Não tentara ligar para ela. Não tentara recuperá-la. Pois, daquele instante em diante, antes mesmo de saber que o sócio majoritário da firma abandonara a mulher para se casar com Darya, Gabe parara de acreditar no amor. O casamento dos pais podia se rivalizar ao ártico em termos de frieza, mas funcionava. E era o que ele teria. Era mais simples desse jeito. O que o fazia questionar onde exatamente se encaixava essa sua atração por Alex. Observou-a lá fora no gramado, orientando o trânsito como uma policial. Sem dúvida, ela o deixava pazzo. Contudo, por outro lado, tinha de admitir que ela o intrigava. Não apenas devido ao fato de ser inteligente o bastante para chegar ao topo de sua profissão sem uma educação superior. Isso não o surpreendia, mas sim a expressão no seu rosto ao admitir tal brecha na sua armadura. Eu era uma menina má, afirmou, como se esperasse que tais palavras o rechaçassem. Em vez disso, Gabe queria saber mais, muito mais. Alex tornara-se um problema muito maior do que ele esperava. O modo como a desejava vinha se tornando uma obsessão inconveniente. Tinha de dar um jeito nisso antes que ultrapassasse os limites. Talvez Riccardo tivesse razão. Talvez levar alguém mais para a cama fosse tudo de que ele precisava.

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Pegou o celular e procurou o número da cantora de ópera que não largara do pé dele em uma festa, algumas semanas atrás. Cinco minutos mais tarde, um jantar estava marcado. Se ao menos solucionar todos os problemas fosse tão simples... As coisas melhoraram após a explosão, como Alex gostava de chamar o momento. Independentemente de confiar nela ou simplesmente admitir que não tinha tempo para cuidar de cada detalhe, Gabe a estava deixando tocar o evento. Estavam enfim trabalhando com a devida velocidade. Se ao menos ela conseguisse esquecer como fora atordoantemente incrível aquele momento no escritório... Mas mesmo os seus melhores esforços em negação não ajudaram a tirar o episódio por completo de sua cabeça. No final, admitiu o que sabia ser verdade. Homens eram volúveis. Gabe podia sentir uma atração inconveniente por ela, mas esta não ia além do anseio por suas qualidades femininas. Não era algo que valeria a pena um passo que lhe limitaria a carreira e lhe estragaria o futuro. Não estava disposta a repetir o erro quase fatal que já cometera uma vez. — Pronto. — Susan passou-lhe a fita métrica. — Já tenho tudo de que preciso. Vamos dar o fora daqui e espairecer um pouco. — É noite de quinta-feira em Napa. Aonde as pessoas vão para fazer isso? — Há um pequeno restaurante em St. Helena onde todos vão às quintas. É a noite para se estar lá. E a comida é deliciosa. Apesar de o seu estômago gostar da sugestão, sua carga de trabalho tinha outras ideias. — Lamento — Alex disse, sacudindo a cabeça. — Ainda tenho 200 pessoas para selecionar pares. — Precisa sair um pouco, Alex. Sem querer ofender, mas você está um caco. — Tenho um evento multimilionário em oito dias — Alex murmurou. — Não se trata de parecer bonita, mas de sobreviver. — Se eu prometer ajudá-la com metade desses nomes amanhã, sai comigo para uma bebida? Alex a fitou como se de súbito Susan estivesse coberta por ouro 18 quilates. — Tenho alguns difíceis com os quais poderia me ajudar. — Pague as bebidas e eu topo. Sentindo-se como uma fugitiva da prisão, Alex foi trocar de roupas, colocando um vestido de verão. — Vai adorar o barman — Susan alertou no carro. — Ele é uma graça. O restaurante requintado fervilhava quando elas chegaram. Construído no arejado estilo californiano, com obras de arte originais penduradas nas paredes brancas, tinha um bar de cerejeira que percorria toda a extensão do estabelecimento. 45


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Tiveram sorte em conseguir dois assentos no bar quando um casal foi embora, o que agradou Alex, pois Susan tinha toda a razão. O barman, com o seu visual escandinavo, alto, loiro e musculoso, além de ser um colírio para os olhos, era engraçado. Pediram algumas bebidas e flertaram com o sueco, que era aluno do Instituto de Culinária. Estava quente ali naquele espaço lotado, muito quente, de modo que Alex tirou o agasalho e virou-se para pendurá-lo sobre o encosto do banco. Ficou paralisada ante a visão de Gabe acomodado a uma pequena mesa no canto com uma morena de arrasar. Ele usava jeans e uma camisa de gola e mantinha um preguiçoso sorriso confiante nos lábios, enquanto focalizava a atenção na companheira de jantar. Ale sentiu um frio na barriga. O que mesmo os homens De Campo costumavam dizer? “Leve uma mulher para jantar, faça-lhe milhões de elogios e já é meio caminho andado.” Alex jamais escutara Gabe dizer tais palavras, mas, só de olhar aquela cena, o sorriso no seu rosto, a conversa animada, não havia dúvida na cabeça dela de que era exatamente o que Gabe tinha em mente. Seus dedos se apertaram ao redor do encosto do banco. Não tinha nenhum direito sobre Gabe. Deveria estar feliz que ele estivesse saindo com outra mulher, para que pudesse evitar a atração perigosa entre os dois. No fundo, porém, como podia ele olhar para outra mulher após o modo como a beijara ainda poucos dias antes? O olhar de Gabe desviou-se de sua companheira para percorrer o salão, e chocou-se com o de Alex. Seus olhos estreitaram-se e ele murmurou algo para a sua acompanhante, antes de ficar de pé. — O que você está olhando? Ah... — A voz de Susan transformou-se em um sussurro: — Seu cunhado. Jesus amado, ele é um dos homens mais bonitos de Napa. O problema é que ninguém consegue fisgá-lo. — Ele tem expectativas irreais de perfeição. — Alex sentiu um aperto no coração ao ver Gabe vindo na direção delas. — Mas que surpresa agradável. — Gabe deteve-se diante das duas e beijou Susan em ambas as faces. Depois, voltou a atenção para Alex. — Não fazia ideia de que fosse vir aqui hoje. Se soubesse, sem dúvida teria seguido na direção oposta, a julgar pela falta de interação entre os dois, na última semana. — Surpresa! — anunciou Alex animada. — Que divertido. A boca de Gabe retorceu-se. — Como está, Susan? A amiga começou a tagarelar, na esperança de encantar Gabe. Alex resolveu dar um basta:

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— Deveria ter trazido a sua amiga aqui. Ou estava ocupado demais lisonjeando-a absurdamente para se dar ao trabalho? Um brilho de alerta cintilou nos olhos dele. — Por favor, se quiserem conhecê-la, eu apresento. Alex jogou a cabeça para trás e fez um gesto de pouco-caso. — Não, muito obrigada. Esta é minha noite sem patrão. — Bene. Todo o mundo precisa de uma. Como ele precisava de uma noite com uma mulher bonita. Alex gesticulou na direção da morena à mesa. — Ela é linda. Devemos colocá-la na lista para a festa? — Samantha já foi convidada, mas estará fora da cidade no final de semana que vem. — Ah, olhe... — Alex estava desesperada para encerrar aquela conversa. — Sua sobremesa chegou. É melhor você ir. — É melhor mesmo. — Gabe a fitou com uma expressão dura. — Acho que um pouco de comida cairia bem com esse martíni . Buonasera, senhoritas. Divirtam-se. Susan esperou até que ele houvesse se afastado para lançar um olhar de esguelha para a amiga. — O que diabos foi aquilo? Alex deu de ombros. — Gabe e eu costumamos incomodar muito um ao outro. — Não vejo como ele poderia me incomodar — Susan murmurou sonhadora. — Experimente tê-lo em doses maiores. Vai mudar de ideia rapidinho. A amiga não pareceu convencida. — O italiano é tão sexy. Com isso, Alex tinha de concordar. — A propósito, quem é ela? — Alex indicou a direção da morena, que estava colocando uma colherada de bolo na boca de Gabe. — Tenho três Samanthas na minha lista. — Aquela é Samantha Parker, filha do ex-prefeito de São Francisco e renomada cantora de ópera. — Com malícia no olhar, Susan murmurou: — Talvez ela seja capaz de satisfazer as tais expectativas irreais. É supertalentosa e, pelo visto, muito simpática. Não tem ego. Com a vantagem adicional de poder abrir inúmeras portas para Gabe. Alex pegou a sua bebida e a esvaziou. Gabe nem sequer gostava dela. Apesar de ele a ter beijado, Alex sabia que não fazia o seu tipo. Sempre soubera disso. Por que então a incomodava não ser uma cantora de ópera

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capaz de abrir portas? Com a história de Alex, era mais provável que ela as fechasse. — Alex? — Susan a fitava com uma das sobrancelhas erguida. — Quer alguma coisa para comer? Elas pediram aperitivos. Uma bebida transformou-se em duas e em mais flertes com o barman. Alex estava se divertindo, encorajada por saber que ele a achava bonita. E se Gabe estivesse notando... melhor ainda. Contudo, à medida que a noite foi avançando, tornou-se o seu desejo mais fervoroso que Gabe levasse a sua acompanhante embora e fizesse logo o que queria fazer. Alex não estava mais agüentando. Mas suas preces não foram atendidas. Lá pelas 22h, sentia-se tão cansada que corria o risco de cair de cara no seu copo. E o belo casal continuava se deliciando com a sua garrafa de vinho, Samantha Parker fitando sonhadoramente os olhos de Gabe. — Quero vomitar — ela murmurou, empurrando o copo vazio para longe. — Se gosta dele, Alex, por que não lhe diz isso? — Gostar dele?! — Ela ficou de pé com um gesto de pouco-caso. — Isso seria confundir antagonismo com atração. — Tudo bem — Susan olhou para o barman. — O que pretende fazer com ele? O barman acha que você vai para casa com ele. — O quê?! — Você passou a noite toda flertando descaradamente com ele. Alex encarou a amiga. — Você também. Estávamos diferentes aqui na Califórnia?

flertando. Mais

nada.

As

regras

são

— Ah, céus... — Susan apontou para o toalete. — Se é para lá que está indo, vá. Vou limpar a sua sujeira, pagar a conta e levá-la para casa para que durma um pouco. Alex apontou para o banco. — O dinheiro está na minha bolsa. Conseguiu chegar ao toalete feminino sem arriscar um olhar na direção da mesa de Gabe. Mal comera um aperitivo com os dois martínis. Não estava exatamente racional. Era melhor ficar longe. — Alex. A voz de Gabe a deteve antes que entrasse no banheiro. O instinto de autopreservação a fez continuar avançando, mas a mão de Gabe pousou sobre a sua na maçaneta, antes que conseguisse abrir a porta. — Dio — ele murmurou, virando-a para si. — Qual é o seu problema? — Nenhum. Estamos de saída. — Com o barman?

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— Não. — Alex o fitou nos olhos. — Embora eu ache surpreendente a velocidade com que os homens seguem adiante. Você me beija como me beijou no seu escritório, depois sai com a Srta. Cantora de Ópera, cheio de arrulhos. — Ela jogou o cabelo por sobre o ombro. — Acho que preciso aprender a fazer isso, porque é, de fato, impressionante. Ele a fitou. — Está com ciúme. — Pois sim. — Então qual é o motivo para se comportar como uma megera? Ela deu de ombros. — Talvez eu não seja capaz de ligar e desligar os meus sentimentos, como você faz. — Na verdade, eu estava tentando ter bom senso por nós dois. — A respeito do quê? — Não banque a ingênua, Alex. Um arrepio de excitação percorreu-lhe o corpo. Perigoso. Proibido. Ela fechou os olhos, tentando resistir. — Volte para a sua mesa, leve a sua cantora de ópera para casa e faça a coisa sensata ou não tão sensata. Chame como quiser. Apenas leve-a para a cama. Dou o maior apoio. — Como posso fazê-lo, quando tudo o que penso é em ter você na minha cama? Os olhos dela se arregalaram — Estava deixando aquela mulher babar em você, Gabe. — Assim como o barman babava por você? — Ele não passou de divertimento. — Cristo, Alex! Você está me enlouquecendo... Estou aqui com outra pessoa e pensando em você. A confissão misturada com o ciúme intenso que estava sentindo foi uma combinação perigosamente inebriante. Não era racional. Era a necessidade latejante de experimentar aquela doce dose de adrenalina que Alex sabia que ele podia lhe dar. Ficou na ponta dos pés e o beijou. Correu atrás do que queria. Gabe hesitou e, por um instante apavorante, ela achou que ele não fosse retribuir o beijo. Depois, com uma imprecação murmurada, Gabe cobriu-lhe a boca bruscamente com a sua e assumiu o controle. Seu beijo foi voraz e exigente e tudo pelo que Alex viera ansiando desde aquele dia no escritório. A frustração a fez chegar mais perto, buscando mais, envolvendo-lhe o pescoço com os braços e deliciando-se com a conexão mágica que compartilhavam.

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— Lex... — Gabe murmurou de encontro à sua boca. — Isto não é... Ela fez força na sua nuca, puxando-lhe a boca de volta para a sua. Ardente, incontrolável, Alex queria que aquele beijo jamais terminasse. — Ah, meu Deus... — O grito abafado vindo de trás deles os separou. Samantha Parker estava postada ali, seus olhos azuis arregalados, a mão cobrindo a boca. O rosto mostrou-se pálido quando alternou o olhar entre Gabe e Alex, antes de virar-se e sair correndo. Gabe praguejou baixinho, enquanto o cérebro zonzo de Alex se esforçava para compreender o que acabara de acontecer. — Vá atrás dela — ordenou quando, enfim, recuperou a capacidade de falar. — Alex... — Vá. Ele abriu a porta do banheiro feminino e a fechou atrás de si. As pernas bambas, um gosto ruim na boca. Desde Jordan, Alex jamais sequer falara de modo coquete com o homem de outra mulher. Jamais olhara para um homem até ter provas irrefutáveis de que ele era solteiro. Contudo, acabara de beijar Gabe em um restaurante lotado, diante da acompanhante dele. Beijara-o deliberadamente. Largou-se em um banco de couro e procurou respirar fundo. A noite em que Cassandra Lane flagrara Alex e Jordan na cama do apartamento dele lhe veio à cabeça como o pesadelo recorrente que, de fato, era. Um pesadelo que jamais fora embora. Jordan rindo, insistindo em sair da cama para pegar-lhes mais um pouco de vinho, o som de uma voz feminina desconhecida no corredor, seguida da aparição da mulher ruiva de Jordan no quarto de dormir, sua expressão chocada diante do que encontrou lá. Alex ficara tão desorientada, tão confusa com tudo aquilo que não conseguiu se mover. Uma esposa?! Jordan tinha esposa? Ele deveria ser divorciado. Depois disso, tudo não passara de um borrão. Cassandra perdera o controle. Jordan tivera de fisicamente removê-la do quarto, enquanto Alex recuperava-se o suficiente se para vestir. Seu romance de seis meses com o homem por quem estava apaixonada terminara no dia seguinte, com flores e um bilhete de agradecimento entregues no seu escritório. Bem, quem dera tivesse terminado ali, mas não terminou. Um acordo de divórcio de 30 milhões de dólares estava em jogo e a sua firma, inextricavelmente envolvida por causa dela. Uma conta de 5 milhões de dólares por ano, da qual a sua agência dependia, pendia na balança. Fora um desastre e, como na juventude, Alex voltou a ser rotulada como a criança problema.

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Apenas os esforços e os contatos do patrão impediram que a história alcançasse os tablóides e mantiveram a sua carreira e reputação intactas. E ali estava ela, tendo o mesmo comportamento inconseqüente. Era a mulher que menos chance tinha de se tornar uma De Campo, com um passado capaz de derrubar a família mais rápido do que um castelo de cartas. Sendo assim, por que estava fazendo tamanho papel de boba por causa dele? Não importava o que havia entre ela e Gabe. Isso era errado. Muito errado. Recompondo-se, retornou para o restaurante. Susan notou-lhe o rosto pálido, perguntou se ela queria conversar e a arrastou para o carro quando Alex disse “não”. Era por isso que não permitia que as emoções a governassem, pensou, já a caminho do vinhedo. Pois era assim que arruinava a vida das pessoas. O que quer que estivesse acontecendo com Gabe, tinha de parar. Teria de dar um basta nisso antes que arruinasse a oportunidade que recebera de manter-se nos negócios. De manter a sua vida nos trilhos. A principio, Samantha Parker se recusou a permitir que ele a levasse para casa. Apenas aguardou Gabe do lado de fora do restaurante e despejou sobre ele pelo menos cinco minutos de insultos em uma combinação de inglês e italiano antes de parar para tomar fôlego. Por fim, concordou em deixar que Gabe a levasse embora quando ele mencionou a dificuldade que seria arrumar um táxi na cidade àquela hora da noite. O silêncio no interior do veículo foi muito desconfortável, e Gabe não merecia outra coisa. Nenhum pedido de desculpas ajudaria. Como poderia? Não estava disposto a contar a Samantha a verdade: que desejava a mulher que estava beijando pelo que parecia ser uma eternidade e que nada a tirava de sua cabeça. Podia dizer que estava arrependido, porque estava mesmo. Jamais agira daquele modo com nenhuma mulher. Mas Gabe não saberia explicar o que Alex significava para ele. De modo que achou melhor não dizer nada. Ao deixar Samantha na sua casa em Presídio Heights, ela bateu a porta sem se despedir. Bene. Ele merecia. Contudo, Cristo, o que estava fazendo? Passara a noite inteira com vontade de arrebentar o nariz do barman cada vez que Alex ria de alguma coisa que o homem dizia. Arrancando com o carro, teve a sensação assustadora de que o único modo que ele e Alex tinham para seguir adiante era encararem a atração que sentiam um pelo outro. Sua vida ordenada estava um caos desde a chegada de Alex Anderson e justo quando precisava estar se concentrando no lançamento mais importante de sua vida.

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Era completa insanidade e tinha de ter um fim. Um homem sábio manteria distância. Resistiria à tentação. Mas ele não parecia ser capaz de se conter. Com os pés mergulhados na piscina, que era a peça central dos jardins dos De Campo, Alex sentiu a presença de Gabe antes mesmo de vê-lo. Ao virar-se, não pôde deixar de notar a sua postura confrontadora. — Suponho que a sua noite não tenha terminado como planejado. Ele tirou um sapato e depois o outro, e veio se sentar ao seu lado. Próximo o suficiente para perturbar tudo no íntimo dela. Longe o bastante para serem apenas duas pessoas conversando. — Ela está furiosa. — Ele deslizou os pés para dentro da água. — Não a culpo. — Nem eu. — Alex observou o luar dançando sobre a superfície da piscina, em vez de olhar para ele. — Sinto muito. Não sei o que deu em mim — Na certa o mesmo que deu em mim, no meu escritório. Sabíamos desde o início que tínhamos um problema, Lex. — Podemos esquecer o que houve? — Não acho que isso seja mais uma opção. O coração dela quase parou. — Falta uma semana para o evento mais importante de nossas vidas. Eu diria que é uma excelente opção. Apoiando-se na beirada da piscina, ele virou-se para ela. — O que houve hoje à noite não é uma opção. O que houve no meu escritório não é uma opção. Alex se virou para ele, arrependendo-se no mesmo instante, pois Gabe era lindo demais, de jeans e mangas arregaçadas, com o perfil forte delineado pelo luar. — Temos um acordo de negócios, Gabe. Preciso que isso diga respeito a negócios. Não posso perder esse trabalho. Ele suspirou. — A regra básica se foi. Fui um idiota em achar que poderia ignorar o que há entre nós, e você também. Não, não fomos! — Acho melhor tentarmos manter isso sob controle. — Acha que hoje à noite foi sob controle? — Teremos de nos esforçar mais. Ele suspirou. — Eu a quis desde o primeiro insulto que lançou na minha cara, na festa de noivado de Riccardo e Lilly, Lex. Isso não vai melhorar. Irá testar os nossos limites. — Gabe... 52


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Ele gesticulou com a mão. — Acho mais destrutivo não encarar isso do que tentar ignorar. — O que exatamente está sugerindo? Ele a fitou nos olhos. — Uma noite, para matarmos a vontade. Um zumbido tomou conta da cabeça de Alex. — Está sugerindo um caso de uma noite só? — Experimentamos isso ou damos um basta de vez. A decisão é sua. Alex tentou dizer algo, mas lhe faltaram palavras. — Pense a respeito, Lex. Sabe onde me encontrar. Ela ficou a observá-lo contornar a piscina, em seguida indo na direção da casa. Não conseguia se recordar de um tempo em que não tivesse desejado Gabe. Contudo, naquela noite, ao beijá-lo, tomara uma estrada acidentada na direção da autodestruição. Uma noite, para matarmos a vontade. As palavras a cortaram como uma faca, abrindo feridas que havia muito ela supusera curadas. O modo como Jordan a dispensara como um pedaço velho de mobília na noite em que a esposa chegara, tão evidentemente descartável, como se jamais houvesse importado para ele. Ela pensara amá-lo. Por fim, permitira-se acreditar que um homem, apenas um homem em toda a sua vida, não a magoaria. Que alguém enfim enxergara através da fachada que era Alex e ainda a queria. Seu caso com Jordan a ensinara que jamais faria parte das perspectivas a longo prazo de alguém. Sempre seria o refugo de Iowa que pensara ser aos 18 anos. Gabe tinha razão, eram um desastre esperando acontecer. Porém, de algum modo, torcera para que fosse ele aquele a ter uma opinião melhor a seu respeito. Que essa tensão interminável entre os dois pudesse ser algo maior do que luxúria. Mas, pelo visto, mais uma vez permitira-se acreditar em coisas que não eram verdade. Piscou, tentando se recompor. Se ia considerar a proposta de Gabe, não poderia ter ilusões quanto ao que esta realmente era. Cada um dos dois saciando o seu desejo pelo outro. Nada mais, nada menos. Não se transformara de repente em Alex, a respeitável, mesmo tendo as roupas e o trabalho para fingir isso. Ainda era apenas a garota do momento. A lua foi ficando mais alta no céu. Alex tirou os pés da piscina e deixou-os secar no concreto. Seria uma noite com Gabe algo que ela ao menos poderia considerar? Será que conseguiria levá-la a enfim tirar isso da cabeça e se concentrar no trabalho? Ou será que faria as suas outras decisões erradas parecerem brincadeira de criança? 53


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CAPÍTULO 7

A única coisa que permitiu a Alex seguir em frente pela próxima semana foi saber que o fim estava próximo. Pelo menos, para o evento de Napa. Com uma semana de folga entre ele e o lançamento em Nova York e a maioria das arestas aparadas na Califórnia, teria chance de respirar e, o que era mais importante, restaurar o seu equilíbrio. Optara por ignorar a proposta de Gabe em favor de garantir que a agenda das visitações da mídia e dos convidados mais importantes fosse acertada. Mas não conseguiria adiar para sempre. Precisava dar logo conta desse evento e deixar Gabe embasbacado; depois poderia pensar no que iria fazer. Não adiantara muito evitá-lo durante os últimos quatro anos. De modo que, desconsiderando o fato de que ele era seu cliente e que a dinâmica familiar só ficaria mais complicada se dormissem juntos, vinha considerando seriamente aceitar. Qualquer coisa para tirar da cabeça aquela intensa curiosidade sobre como seria. Seria tão bom assim? De modo que aceitou de bom grado tudo o que pudesse distrair o seu cérebro em conflito durante aquela semana. O que significou uma eficiência sobre-humana de sua parte. Pareceu um pequeno milagre quando ela e a equipe verificaram uma última vez todos os itens na noite da véspera do evento, e tudo conferia. Tudo em que conseguia pensar era na banheira de hidromassagem, com vista para todo o vinhedo. Alex se serviu de uma taça de vinho branco gelado na cozinha, vestiu o biquíni e um roupão e enfiou na boca uma bolacha salgada com queijo. Ao passar, notou que as luzes estavam acessas no escritório de Gabe. Achou melhor deixá-lo em paz, mal-humorado como andava nos últimos dias, aparentemente aperfeiçoando o seu vinho misterioso. Seguiu para a ala oeste, onde ficavam a piscina e a banheira de hidromassagem com a vista incomparável. Ao abrir as portas envidraçadas que levavam ao terraço, deteve-se. A banheira estava ocupada. Pelo próprio magnífico Sr. Mal-Humorado. O coração dela passou a bater mais rápido. Os olhos de Gabe estavam semicerrados, o cabelo escuro, escorrido para trás. As rugas de fadiga que vinham lhe marcando o rosto nas últimas semanas mostravam-se relaxadas, menos definidas. O bronzeado corpo musculoso, que usava sunga azulmarinho, era de dar água na boca. 54


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Diabos, ele é tão excitante... Ela se virou de costas. Melhor voltar mais tarde. — Lex? Droga! Ela voltou a virar-se. — Pensei que estivesse dormindo. — Deixaria um homem dormindo em uma banheira de hidromassagem? Seu bom humor era um contraste agradável com os últimos dias. Ela adiantou-se até a borda. Ele passeou os olhos pelo corpo dela, devorando-a. O ardor que se apossou de Alex nada tinha a ver com o vapor quente que vinha da banheira. Ele voltou a fitar-lhe o rosto. — Tudo pronto para o evento? — Por mais surpreendente que possa parecer, sim. — Você pareceu... elétrica nessa última semana. Opa. O irresistível Gabe estava de volta. Ele arqueou uma sobrancelha. — Vai entrar? — Não quero incomodar. — Tratando-se de você, já é de praxe, Lex. Entre. Parece estar exausta. Ela se lembrou de como o seu biquíni era revelador. Lamentou não ter nada mais modesto no seu guarda-roupa. Gabe sorriu. — Não é a primeira vez que a vejo de roupa de banho. Verdade, mais seria a primeira depois de lhe ter feito uma proposta indecente. Ainda assim, ela fitou ardentemente a água borbulhante. Tinha nós do tamanho de kiwis nos ombros. Era uma banheira para oito pessoas. Com certeza poderia acomodar os dois. Gabe atirou água quente nela. — Non essere un gatto scaredy. — Posso adivinhar o que isso quer dizer. Corra, disse uma vozinha no fundo de sua cabeça. Mas, infelizmente, Alex jamais fora capaz de resistir a um desafio. Tirando o roupão, entrou na banheira o mais rápido que pôde. — Ah... — Ela afundou bem devagarinho na insuportavelmente quente. — Você aumentou a temperatura.

água

quase

— Eu gosto molto, molto caldo. Claro que gosta.

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— Você fala mais em italiano quando está cansado. — Alex não pôde deixar de imaginar se isso também não aconteceria na cama. — E então? Como está indo o seu vinho misterioso? Ele franziu o cenho. — Ainda não está perfeito. — Vai ficar. Todo mundo diz que você é um brilhante vinicultor, Gabe. — Precisará estar pronto em breve. — Por que a pressa? Pensei que o Pico do Diabo fosse o seu foco. — Talvez tenha de antecipar o lançamento do outro. Ele não parecia muito satisfeito com isso. Daí o mau humor. — Talvez precise de um pouco de inspiração. Gabe lançou-lhe um olhar desafiador. — Alguma sugestão? — Estava pensando na sua explicação da química. O que acha que está faltando? — Se eu soubesse, estaria resolvendo. — Credo, que azedume! — Alex afundou diante dos jatos e reprimiu um gemido quando começaram a trabalhar nos ombros. — Escutei você falar para Pedro que esse é um grande risco. Por quê? — É novidade na Califórnia. O mercado ainda não está suficientemente maduro. — E também vai ter de enfrentar Antonio por conta disso — ela adivinhou. — Antonio, Riccardo, o conselho. Todos. — Riccardo o apoiará? — Espero que sim — Como foi ser preterido por ele? Alex tinha curiosidade sobre isso. Gabe era um vinicultor brilhante, mas Riccardo conquistara o cargo mais alto. — Sempre gostei da parte da vinicultura do negócio. — Isso não o impediria de ser o presidente. Alguns diriam que é perfeito para o cargo. — Meu irmão é um bom presidente — retrucou ele brusco. — Fez um trabalho brilhante expandindo a De Campo no ramo dos restaurantes e tem todo o meu apoio. — Mas deve ter desejado que fosse você. Um músculo saltou no seu maxilar. — Não coloque palavras na minha boca. — Mas...

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— Lex... Ela suspirou. — Deve estar precisando de ajuda com o nome. Dê-me alguns detalhes. — Não posso. — Não confia em mim. — Não confio em ninguém em se tratando desse vinho. — Muito justo. Sendo assim, me diga como costuma batizar os seus vinhos. Ele deu de ombros. — Temos usado marcos americanos para os vinhos de Napa. Pico do Diabo, Yellowstone etc. Mas quero algo especial para este. Algo extraordinário, pois é um vinho extraordinário. — Descrição-chave? Ele lançou-lhe um olhar de reprovação. — Uma palavra. — Etéreo. — Palavra estranha vinda de um homem. — Ela afundou mais na água enquanto pensava. Etéreo. Especial. Celestial. Um sorriso curvou-lhe os lábios. — Que tal Cota dos Anjos? Há algo de mágico nessa expressão. Seu vinho é raro. Deve ser cobiçado. Ela o observou processando a sugestão. — Talvez já tenha sido usado antes. — Não que eu saiba. — Gabe a fitou pensativo. — Eu gosto. É exatamente aonde quero ir com a marca. Simbólico... Ela deu de ombros. — É um grande... ai! — O que foi? — Câimbra — Deixe-me ver. — Ele estendeu a mão. — Hum, não. — A dor piorou. — Deus! — Alex empurrou o pé para ele. — Faça parar. Colocando o pé no colo, Gabe passou os dedos pela planta macia. — Onde? — No arco — ela gemeu. Os dedos dele subiram até a curvatura do pé, onde encontraram o calombo, e começaram a massageá-lo com uma pressão firme tão dolorosa

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que ela quase retraiu o pé. Contudo, o nó começou a ceder sob a massagem dele, e ela suspirou e se recostou na banheira. — Não pare. Gabe não parou. Continuou massageando até o nó desaparecer por completo. — Acho que já chega — ela murmurou. Ele pegou o seu outro pé. — Você está um caco. — Meu patrão é um feitor de escravos. — Ela suspirou. — Você já fez isso antes. — Pés são uma região altamente erógena para as mulheres. Alex podia apostar que ele sabia a localização de todas. — Eu já fiz um curso de massagem — Você fez curso de massagem? — Uma namorada decidiu que deveríamos fazer juntos. — Sei. Ela fechou os olhos. — Pensou na minha sugestão? A pergunta direta a fez arregalar os olhos. — Tenho andado ocupada demais para pensar. — Mentirosa. Alex encarou aqueles sedutores olhos verdes. — Seu ego é enorme. Ele fincou os dedos nos arcos do pé dela e Alex deixou escapar um gritinho. — Relaxe — murmurou Gabe. — Só por curiosidade, se você fosse concordar com apenas uma noite, como gostaria que ela fosse, Lex? Ardente e selvagem ou demorada e atenciosa? Hipoteticamente, é claro. Deveria ter mudado de assunto, mas não conseguia resistir a um desafio. Fitou-o, pensativa. — Gosto das duas maneiras. Mas acho que eu começaria com demorada e atenciosa. Ele assentiu. — Boa escolha. Afinal, já faz um bom tempo, não faz? — Como disse? Ela retesou-se e tentou retrair o pé, mas ele o segurou com firmeza. — Quando foi a última vez que saiu com alguém?

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Recusava-se a admitir que já fazia muito tempo. Ele sorriu. — Foi o que pensei. De modo que, teoricamente, se eu fosse interromper a sua seca, eu moveria as mãos pela sua panturrilha desse jeito e massagearia esses músculos também, primeiro nesta perna, depois na outra. Para ter certeza de que está bem relaxada. Ela engoliu em seco quando os dedos massagearam os músculos tensos da panturrilha direita. Bom Deus, como isso é gostoso! — Então, quando tivesse certeza de que você já estava no ponto, eu subiria para cá, devagar, deixando bem claras as minhas intenções. Você me olharia com aquela expressão espantada. Eu aguardaria até que mordesse o lábio inferior, do modo como faz quando quer ser beijada, pois iria querer ser beijada. Isso seria a minha deixa para lhe dar um beijo e eu o faria, mas apenas um roçar provocante dos lábios. Para colocá-la no clima. Ela fechou os olhos quando ele começou a massagear a panturrilha com mais força. — Está me acompanhando? — Estou. — Bene. Em seguida, levaria a boca àquele ponto sensível na base do pescoço, onde se consegue sentir a pulsação, pois sei que isso mexe com você. Outra daquelas zonas erógenas... E, neste cenário hipotético, ela estaria disparada, e uma gota de suor escorreria por entre os seus seios, exatamente como agora. O que seria irresistível para mim, pois sou um grande fã dessa parte da anatomia feminina. Pouco depois, eu retiraria a parte de cima do seu biquíni. — Gabe... — Ela lambeu os lábios secos. — Acho que já chega. — Não quer saber como termina? — Não — ela gemeu. — Só mais um pouquinho. — Seus olhos brilharam com humor e algo mais sombrio, mais primordial. — Então, eu já estaria louco para tê-la nas minhas mãos e a teria nas minhas mãos. Teria esses seios maravilhosos nas minhas palmas como tive no escritório, mas, dessa vez, usaria também a boca e você se arquearia e gemeria. — Ergueu os ombros largos. — Nessa altura, estaria me implorando para tocá-la em outros lugares e você me deixaria... — Chega. Já entendi. — Tem certeza? Eu estava justamente chegando à parte boa. Ela gesticulou para ele com a mão. — Quem é você, afinal? Para onde foi o Gabe conservador? Ele sacudiu a cabeça. — Jamais fui conservador na cama, Lex.

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Deus. Ela tremulamente respirou fundo. — Só por curiosidade, quando exatamente pretendia se interromper? Ele a fitou com intensidade. — Não pretendia. O ardor que se apossou dela quase foi demais. Alex apoiou os dedos na borda de concreto, pronta para correr pela própria vida. A mão de Gabe pousou sobre a sua. — Fique. Acho que já tive o suficiente. — Ele alçou-se para fora da banheira e lançou-lhe um daqueles sorrisos cegantes. — Vou me certificar de que ninguém está usando o nome. Ela olhou para ele, seu coração em disparada, um frio na barriga. Gabe acabara mesmo de fazer aquilo? Ela deixara que ele fizesse aquilo? Numa coisa Gabe tinha razão: de um modo ou de outro, aquilo tinha de chegar ao fim. Um barulho alto acordou Gabe. Sentando-se na cama, olhou para o relógio. Duas da madrugada. O que fora aquilo? Uma seqüência de imprecações cruzou o ar. Alex? Com o coração na boca, ele correu até a porta, abriu-a e seguiu para as escadas, receando que ela pudesse tê-la rolado. Encontrou-a sentada ao pé da escadaria, embalando o braço direito com o esquerdo. Droga. — Stai bene? — Gabe correu até ela e ajoelhou-se ao seu lado. O rosto dela estava pálido, e o corpo esbelto, trêmulo. — Stai bene? — repetiu ele e deu-se conta de que falava em italiano — Alex, você se machucou? Com uma expressão de pânico no olhar, ela se encolheu como um animal ferido. — Fique longe de mim. Ele a segurou pelos ombros. — Lex, você está bem? Ela recuou até o canto e se envolveu com os próprios braços. — Fique longe de mim! Não tem o direito de me tocar. O coração de Gabe veio à boca. — Acho que você precisa... — Ch-chame o meu pai. A-agora mesmo. — Alex agitava freneticamente as mãos em sua direção. — Não tem o direito de me manter aqui. Havia algo de errado ali.

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— Não posso fazer isso, Lex. Estamos no meio da noite. Ela avançou sobre ele com as unhas como se fossem garras. — Canalha! — gritou, fincando-as no seu braço. — Eu não sabia. Não pode me manter aqui. Quero ir para casa! Gabe praguejou, agarrou-lhe os braços e os torceu para as costas dela. Então percebeu que Alex não estava falando com ele. Ela era sonâmbula. — Solte-me! Maldição, solte-me agora mesmo! Gabe continuou segurando os braços dela para trás. O que deveria se fazer com sonâmbulos? Acordá-los? Ou isso era perigoso? Sem saber que atitude tomar, Gabe ergueu-a nos braços e, ignorando as suas agressões e seus insultos, carregou-a até a sala de estar, onde a depositou sobre o sofá, imobilizando as suas mãos ao lado do corpo. — Lex... — Odeio você. Estava apenas esperando esta chance. Esperando para terme nas mãos. — Ela se retorcia, tentando se libertar. — Solte-me. Maldição! Ante a recusa dele em obedecer, ela repetiu as palavras até ficar rouca, quando então encostou a cabeça no ombro de Gabe. — Por favor — implorou. — Ligue para o meu pai. Deixe-me ir para casa. As lágrimas rolando lhe partiram o coração. Gabe queria acordá-la e dar um basta naquilo, mas tinha receio das conseqüências do choque. Sendo assim, embalou-a nos braços e murmurou que ela estava em casa. Que estava em segurança. Aos poucos, Alex foi relaxando. Seus soluços se transformaram em fungadas e depois em suspiros. Quando ela enfim ficou imóvel nos seus braços, Gabe a carregou até o andar de cima, onde a colocou na cama. Ela agarrou-se com força ao travesseiro. O que teria acontecido com ela, afinal?, Gabe perguntou-se. Quem a tocara? Alguém em posição de autoridade? Teria tal pessoa libertado Alex? Ele sentou-se na cadeira ao lado da cama, passando a mão trêmula pelo cabelo, e ficou a fitá-la. Não podia deixá-la. E se os pesadelos retornassem? E se ela tivesse batido a cabeça ao cair? Além disso, jamais conseguiria dormir agora. No final das contas, Gabe adormeceu. Acordou na cadeira por volta das 4h e se deparou com Alex dormindo como um bebê. Voltou para a própria cama para dormir algumas horas antes do grande dia. Procurou se convencer de que, o que quer que houvesse visto no rosto de Alex, não poderia ser tão ruim assim Alex acordou com o zumbido do alarme e com a forte sensação de ter feito uma jornada enquanto dormia. Sentando-se na cama, desligou o alarme e sentiu o ombro latejando. Estranho.

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Sem tempo para se preocupar com dores, desceu da cama e seguiu para o chuveiro. Esse era o dia em que daria uma festa inesquecível. Olhou pela janela e viu que fazia sol. Excelente. A ducha quente fez bem ao ombro dolorido. A adrenalina corria por suas veias. Hoje não seria apenas trabalho. Seria pessoal. O vinho de Gabe era brilhante. Alex queria vencer por ele. O uniforme do dia era jeans e camiseta. Prendeu o cabelo em um rabo de cavalo, estremeceu ante a fisgada no braço, e desceu em busca de café. Encontrou Gabe sentado diante da bancada com um espresso e um jornal. O encontro na banheira de hidromassagem da noite anterior ainda estava vívido na lembrança dela. — Buonogiorno — ele a cumprimentou. — Bom dia. Pensou bem no nome? Ele a fitou com uma expressão cansada. — Um pouco. Grazie. Acho que será perfetto. — Ótimo. Sem saber o que fazer em seguida, ela foi pegar uma caneca no armário. — Lex? — O tom de voz sussurrado a deixou toda arrepiada. — Lembra o que aconteceu ontem à noite? Tomada de ardor, ela voltou-se para ele. — Nós... Eu fui para a cama. — Estou falando do que houve depois. Depois? Ele fez uma careta. — Você não lembra, não é? Ela estremeceu. — Lembrar-me do quê? — Você é sonâmbula, Lex. — Ah... — O cansaço, o latejar do ombro. — Eu caí? — Acho que sim Eu a encontrei no pé da escada, segurando o próprio braço. Alex sentiu um aperto no seu íntimo. — Eu acordei? — Não. Ela baixou a caneca. — Foi o bom ou o ruim? — O ruim

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Alex se sentiu empalidecer. Virou-se, pegou a cafeteira e serviu um pouco de café na caneca, praguejando ao derramar na bancada quase a metade. — Lamento que tenha tido de testemunhar aquilo. Escutou passos atrás de si. Estremeceu quando ele tirou a cafeteira de suas mãos. — Conte-me o que houve. Ela sacudiu a cabeça. Pousando as mãos nos ombros dela, Gabe a virou para si. Havia preocupação no seu olhar. — Você estava histérica. Alex se libertou dele. — Não quero falar sobre isso. — Lex... — Não. Não posso falar sobre isso. Não agora. Não hoje, preciso preparar as coisas para a chegada dos convidados. Ele cerrou as mãos ao lado do corpo. — Quem foi? Ela voltou a se virar na direção da caneca. — Preciso saber que ele não lhe fez mal. A emoção vibrando na voz dele a fez hesitar. Alex se virou para Gabe, examinando-lhe atentamente o rosto. As olheiras, a expressão cansada eram por causa dela. Mordeu com força o lábio inferior e empinou o queixo. — Ele não me fez mal, Gabe. Eu o botei para correr. Ela notou que Gabe estava resistindo à tentação de fazer mais perguntas. Ainda bem, pois tinha de dar o fora dali. — Os banqueteiros chegarão a qualquer minuto. Tenho de ir lá para fora. Gabe assentiu, esfregando a testa com a palma da mão. — Bene, mas se você... — Ah, meu Deus... — Notou os arranhões vermelhos no antebraço dele. — Por favor, diga que não fiz isso com você. — A não ser que tenha havido outra mulher na minha cama ontem que eu não percebi, foi, sim. Alex não viu a graça. Os arranhões pareciam profundos. — Por acaso os desinfetou? Gabe inclinou a cabeça. — Está tudo bem. — Pelo menos estarão cobertos hoje à noite — murmurou ela. — Sinto muito. 63


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Gabe sorriu, malicioso. — Os homens apenas achariam que tive uma noite de sexo selvagem Em vez disso, ela fora um animal selvagem Pegando o seu café, Alex foi embora.

CAPÍTULO 8

Normalmente, em dia de evento, Alex se mantinha concentrada, na sua melhor forma. Hoje, sentia-se fora de prumo, estranhamente indecisa e sem dúvida longe de estar na sua melhor forma. Devia ser efeito residual da sua crise de sonambulismo. E do fato de Gabe tê-la testemunhado. Isso a deixou muito mais constrangida e vulnerável. Havia muito em jogo naquela noite. Tinha de impressionar todos os figurões, jornalistas e socialites que comparecessem E, com a revelação do Pico do Diabo às 22h, convencer todo o mundo de que a De Campo chegara a Napa Valley. Terminou os preparativos, certificou-se de que estava tudo indo de acordo com o cronograma e seguiu para o cabeleireiro, na cidade. Um lindo vestido exigia em belo penteado. Às 18h, meia hora antes da chegada marcada dos convidados, cada copo, cada luz, cada membro da equipe se achava no seu devido lugar, e Alex subiu para se trocar. Nem em um milhão de anos teria sido capaz de bancar o lindo longo de seda cor de champanhe, mas Stella, sua amiga estilista, o dera para Alex em troca de sua promessa de falar bem do vestido durante o evento. Ao mirar-se no espelho, pela primeira vez em semanas, Alex sorriu feliz. Consultou o relógio. Seis e quinze. Hora de fazer a última inspeção acompanhada de Gabe, para se certificarem de que estava tudo perfeito. Colocou os caríssimos brincos de diamante de 2 quilates. Qualquer culpa que sentira por guardar os brincos que Jordan lhe dera desaparecera ao se dar conta de que eles a lembravam da traição do canalha. Eles a lembravam de que jamais poderia cometer o mesmo erro com outro homem

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Suas pernas tremeram ligeiramente ao dar o primeiro passo escada abaixo. O fato de saber que ia ao encontro de Gabe poderia ter algo a ver com isso. Será que ele acharia que estava bonita? Ou, após a noite anterior, a veria apenas como pura dor de cabeça? Deteve-se diante da porta do seu escritório onde Gabe, sentado, revia alguns documentos, arrasador com o seu smoking feito sob medida. Ficou ali parada, admirando-o, e deu-se conta de que não havia um centímetro de Gabe que não desejasse. Foi naquele instante que soube a origem de todo o seu nervosismo. Tomara a sua decisão. Gabe ergueu a cabeça, como que a pressentindo. Parecia distraído, os ombros largos tensos sob o magnífico paletó. Após cuidadosa inspeção, Gabe ficou de pé e caminhou até Alex. — Determinada a partir alguns corações esta noite? — Não deixo que homens se aproximem o suficiente para partir seus corações. — Acho que vou determinar que o prazo da minha sugestão se esgota hoje à noite. — Por quê? — Porque não agüento mais — ele admitiu com a voz rouca. O vinhedo estava estonteante, luzes e tochas iluminando cada canto. Parecia mágico. Como se fadas reluzentes estivessem espalhadas pelo local. Uma banda tocava jazz do pátio, barmen experientes aguardavam para preparar coquetéis especiais para os convidados, e guias aguardavam para mostrar a propriedade para os figurões. Até mesmo o chafariz de champanhe estava funcionando. — Eu diria que é uma atmosfera bem dionisíaca — murmurou ela para Gabe. — Você ficou feliz com o resultado? — Ficarei à meia-noite, quando tudo tiver acabado e as pessoas estiverem elogiando o meu vinho. — Pode ter certeza de que elogiarão. É um vinho brilhante, Gabe. Relaxe e aproveite o momento. Os convidados começaram a chegar pontualmente, um após o outro, em limusines, sedãs escuros e até mesmo uma motocicleta trazendo um excêntrico milionário do Vale do Silício usando jeans. Os convites diziam “traje a rigor”, mas quem era Alex para barrar Jared Stone? Sua personalidade rebelde valia uma fortuna e tudo que fazia virava notícia. — Divirta-se com o seu par, Sr. Stone. — Sorrindo, Alex entregou-lhe o respectivo cartão. — Não deixe de procurá-la. Sabia muito bem de quem era o nome no cartão. Fora a única combinação na qual interferira. Afinal, não havia preço para ter Jared se envolvendo com uma das cantoras pop mais famosas do momento em uma de suas festas.

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Quando a maioria dos convidados já havia chegado, Alex encontrou Gabe para fazer o discurso de apresentação. É claro que ele recusara a sua ajuda no tocante a isso, insistindo que sabia o que estava fazendo. Alex sorriu ao escutá-lo começar. Sabia mesmo. — Oito anos atrás, vim para a Califórnia com o sonho de fazer um vinho De Campo em solo de Napa, tão brilhante quanto aquele que minha família produzia na Toscana havia mais de cem anos. De criar um vinho que possuísse todos aqueles atributos, mas que também tivesse aquela qualidade singular de um vinho Napa Valley. Sem problemas, pensei. Exibindo aquele seu lindo sorriso cativante, ele fez uma pausa. E então prosseguiu: — Bem, eu estava errado. O vinhedo levou seis temporadas antes de conseguir produzir um vinho que eu considerasse digno do nome De Campo. Mas, em algum momento do caminho, nós acertamos. E, esta noite, vocês terão a oportunidade de provar os frutos desse trabalho. O Pico do Diabo. — Gabe ergueu a sua taça. — Nós o consideramos brilhante e esperamos que concordem Salute! E aproveitem a noite. Emocionada, Alex engoliu em seco. Ela mesma não poderia ter escrito algo mais impactante. Depois disso, a noite correu tranqüila. Quase todos os convidados da lista compareceram, uma mistura eclética de magnatas do Vale do Silício, jornalistas especializados, políticos, artistas e a elite do ramo. Para surpresa de Alex, quase todos pareciam curiosos de encontrar o seu par. Muitos aproveitaram para fazer contatos profissionais e alguns até mesmo para flertar, como, por exemplo, Jared Stone e Briana Bergen, a cantora pop alemã que Alex escolhera para ele. Ela sorriu. Homens eram tão previsíveis. Bastavam uma loira curvilínea e a oportunidade certa. Alertou o fotógrafo e viu quando ele foi alegremente tirar fotos do casal. Ao avistar Gabe conversando com Darya Theriault e o seu marido dez anos mais velho, Alex demorou-se nas redondezas do bar. O rosto de Gabe estava impassível, um sorriso dolorosamente polido nos seus lábios. A mão do marido de Darya se achava possessivamente ao redor da cintura da esposa, e a loira, que Alex teve de admitir ser estonteante, devorava Gabe com o olhar. Tomada de ciúme, Alex virou o rosto. Será que Gabe partira o coração de Darya, como fizera com tantas outras? Um alerta sutil para proteger o seu próprio, ela pensou. Tratou de ocupar-se e, no final da noite, estava pronta para desabar de cansaço. Mais uma entrevista com a mídia, a grande apresentação, os fogos de artifício e estaria tudo acabado. Três semanas de insanidade e achavam-se a uma hora do sucesso. Localizou Georges Abel, o astuto colunista especializado do maior jornal de São Francisco, e o conduziu até a adega, para a entrevista com Gabe. Os corredores lá embaixo eram ainda mais escuros e assustadores à noite. O barulho dos saltos altos de uma mulher a fez virar-se.

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Ninguém estava atrás deles. — Escutou isso? — sussurrou Alex para Georges. O francês grandalhão assentiu desconfiado. Ela virou-se e continuaram a andar. Clic, clic, clic. Ambos tornaram a se virar. Ninguém. O coração de Alex bateu forte no peito. Que diabos?! Georges brincou sobre ela estar tentando assustá-lo antes da entrevista. Alex riu, um tanto quanto forçadamente. Com as pernas bambas, conduziu Georges até a sala da prova, onde Gabe o recebeu com um aperto de mão. — Janine Courtland está passeando por aí — Alex sussurrou para Gabe. Ele franziu o cenho ao fitá-la, como se aquela não fosse hora para brincadeiras. — Eu não imaginei nada. Nós dois escutamos. Era o som de sapatos femininos. — Eu disse que esta noite poderia chamar a atenção dela — murmurou Gaber jocoso e sentou-se com Georges. A conversa foi tranqüila até Georges começar a insistir em sondar sobre Antonio. A princípio, Gabe respondeu às perguntas, mas, à medida que a conversa ia adiante, Alex pôde notar que ele estava ficando irritado. — O quanto Antonio tem a ver com as operações em Napa? — Georges quis saber. — Apesar de aposentado, Antonio é uma fonte de inspiração. Seu impacto sempre será sentido. O jornalista o pressentiu sendo esquivo. — Quanto diria que ele está envolvido? Ele coloca seu selo de aprovação nas coisas? — Já chega — rosnou Gabe. — Experimente o vinho e veja por si mesmo como nos saímos. Alex deu por encerrada a entrevista e manteve Georges ali por mais alguns minutos após Gabe ter se retirado. A ideia era lhe oferecer outras informações que poderiam fasciná-lo, em contrapeso ao artigo que sem dúvida ele tinha na cabeça: a rivalidade pai e filho. Alex praticamente saiu correndo da adega ao terminar. Contudo, dessa vez, não escutou passos. E perguntou-se o que Janine estaria aprontando. Exatamente às 22h Alex mandou os garçons servirem o Pico do Diabo. — Quero ver uma taça na mão de cada pessoa antes do brinde — instruiu antes de mandar Gabe para a frente da multidão. Os convidados interromperam a conversa e aguardaram cheios de expectativa quando Gabe ergueu a sua taça. — Signore e signori, tenho o prazer de apresentar o Pico do Diabo. 67


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Após brindar, ele baixou a taça para beber. Todos imitaram seu gesto, e a exibição de fogos de artifício iluminou os céus. A mão de Alex tremia tanto que mal conseguiu levar a taça aos lábios. Tudo se resumia àquilo. A energia da multidão positiva era palpável. Todos adoraram. — Brilhante — o homem ao seu lado disse. — O vinho do ano — sua companheira concordou. Gabe se viu cercado pela multidão. Alex notou Georges aproximar-se e falar com ele, e o sorriso de Gabe iluminou a noite. Georges apertou-lhe a mão. Em seguida, todos fizeram fila para congratulá-lo. Todos adoraram. Gabe conseguira. Alex sentiu um aperto na garganta tão forte que mal conseguia engolir. Ela conseguira. Tirara da cartola essa ideia insana para um evento e a tornara realidade em três semanas e meia. A garota maltrapilha que se arrancara das profundezas de Mission Hill, Iwoa, conseguira alcançar o sucesso. Era a capitã do seu próprio destino. As lágrimas lhe arderam os olhos. Enxugou-as com um sacudir da cabeça. Aproveite o seu momento. Não soube dizer quanto tempo passou ali, com a taça na mão, apreciando os fogos de artifício. — Admirando o próprio sucesso? Alex desviou o olhar das explosões coloridas no céu para encontrar Gabe postado ao seu lado. — E o seu. Parabéns. — Grazie — murmurou ele. — Conquistou a minha confiança, Alex. As palavras fizeram com que outra perigosa onda de emoção percorresse o seu corpo. Ela mordeu o lábio inferior, sem saber como verbalizar o que queria, mas sem ter nenhuma dúvida do que queria. — Gabe... Ele levou a mão à sua face, acariciando-a. — Só tenho duas perguntas. Ela o fitou intrigada, seu corpo energizado. — O que houve ontem à noite... Encontra-se vulnerável por conta disso? — Não queria se aproveitar dela. — O pesadelo é de um longo tempo atrás, no meu passado. Fico sonâmbula quando estou estressada. — Está estressada agora? — Depende do tipo de estresse de que está falando. Seus lábios se curvaram — Um homem lhe deu esses brincos? 68


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— Já são três perguntas. — Responda, Lex. — Deu, mas ele não significa nada para mim. — Tire-os.

CAPÍTULO 9

O comando proferido com voz rouca foi a última coisa que ela viu e ouviu de Gabe até a festa acabar. Ele foi engolido por uma avalanche de congratulações que duraram até além da meia-noite, e Alex se manteve ocupada encerrando tudo. Já passava de uma da madrugada quando o último convidado se foi. Após combinar com os banqueteiros para retornarem no dia seguinte para acabar de recolher tudo, Alex voltou para a casa e encontrou o vulto alto de Gabe largado em uma poltrona na varanda da frente. Com um frio na barriga, ela subiu os degraus. Ele já havia retirado a gravata e o paletó, e um copo de uísque repousava no braço da poltrona. A expressão no rosto de Gabe era uma que ela não via desde que viera para Napa. Esse era o Gabe que conhecia. Focado, Atento. Letal. — Eu falei para tirar os brincos. Com um gesto tímido, ela levou as mãos às orelhas. — Não dava simplesmente para deixá-los por aí. Ele tomou as jóias de suas mãos e as depositou sobre a mesa. — Belos presentes. Devem ter custado tanto quanto um carro. Olhos verdes fitaram os azuis. — Gosto de pensar neles como um lembrete de como os homens podem ser indignos de confiança. Gabe arqueou a sobrancelha. — Estamos falando de algum homem em especial ou da espécie como um todo?

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— Eu diria que a grande maioria. Lilly diria que eu deveria mencionar excluindo a presente companhia. Ela parece achar que você é um dos mocinhos. — E o que você acha? Alex deu de ombros. — E importa? Trata-se apenas de sexo, não é? Ele tomou um demorado gole de uísque. — Jamais havia visto uma mulher mais estonteantemente linda do que você hoje à noite. Alex sentiu o coração bater forte. Droga, mas ele era bom. E ela acabara de dar a festa do ano. Estava se sentindo no topo do mundo. — O primeiro passo é seu, Lex — murmurou ele. — Depois, não garanto nada. Sem conseguir resistir a um desafio, ela inclinou-se, apoiou uma das mãos sobre o ombro dele e pousou a boca sobre a de Gabe. Explorou-lhe os lindos lábios sensuais, como vinha querendo fazer havia dias. Gabe permitiu que ela levasse o tempo que quisesse, que se deliciasse com ele. Depois, mergulhou as mãos no cabelo dela e a puxou para o seu colo. O macho duro e dominador cumprimentou as suas coxas cobertas de seda. Seu beijo ao assumir o controle foi, ao mesmo tempo, gentil e ardente. E tocou algo no íntimo dela. E qualquer dúvida que pudesse ter tido de que fazer amor com Gabe mexeria até com a sua alma foi pelos ares. Um tremor percorreu o seu corpo. Ele recuou, seu olhar indagador. Por isso que jamais chegara até aquele ponto. Porque não tinha certeza de como emergiria na outra extremidade. Um sorriso amarelo apareceu no seu rosto. — Acho que estou um pouco ansiosa. Ele sorriu. — Talvez eu não seja tão bom assim. — Talvez seja melhor. Ele beijou-lhe o queixo. — Por que não descobre? Alex decidiu que talvez fosse mesmo a melhor opção. Dúvidas cederam lugar a sensações quando ele trilhou beijos na linha sensível do seu pescoço. Um arrepio percorreu-lhe o corpo quando ele se demorou no ponto ultrassensível entre o ombro e o pescoço. Ele tivera razão na banheira. Era mesmo o calcanhar de aquiles dela. Seus dedos, hábeis e determinados, deslizaram para baixo das alças de vestido, afastando-as com uma lentidão tão deliciosa que a deixou acanhada de um modo como jamais ficara. Não havia hesitação com aquele homem Ele ia direto ao assunto. Alex sentiu-se exposta quando Gabe lhe admirou as 70


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curvas. O vestido não pedia sutiã, de modo que não havia nada para protegêla do ardor de seu olhar. — Você é linda — ele murmurou, com reverência. Contudo, diferente da sedução na banheira, dessa vez, estava metendo a mão na massa, suas palmas sustentando-lhe a carne, os polegares deixandolhe os mamilos rijos. O deslizar de sua língua sobre o botão do seio, ao curvar a cabeça, foi tão soberbamente prazeroso que ela se contorceu de encontro à pressão firme de suas coxas. Um mordiscar gentil a castigou. — Fique quieta — murmurou de encontro à sua pele. — Demorado e atencioso, lembra? Ela fechou os olhos. — Talvez eu tenha cometido um erro de julgamento ao optar por isso. — Agora terá de agüentar. Ela inspirou fundo quando Gabe passou para o outro seio e concedeu-lhe o mesmo tratamento. Muitas vezes durante a vida, estar com um homem a fizera sentir-se envergonhada. Contudo, nada no toque de Gabe a fizera sentir-se assim As mãos e a boca na sua pele a saboreavam, a valorizavam, como se ela fosse um dos vinhos finos dele. Alex fechou os olhos e o saboreou. Estava completamente sóbria. Tivera apenas meia taça do Pico do Diabo durante o brinde. No entanto, sentia-se como se houvesse passado muito do seu limite. Ele tomou o seu outro mamilo no ardor de sua boca. Dessa vez, demorouse mais, fazendo-a latejar por ele no seu íntimo. — Gabe... — suspirou, fincando as unhas no tecido fino da camisa dele. — Rilassarsi — ele murmurou, afagando-a por sobre os quadris dela e descendo até onde o tecido do vestido se acumulou sob os seus joelhos. Cada centímetro da pele dela reluzia com sensibilidade ardente, enquanto ele passava os dedos ao longo da borda da seda, subindo-lhe o vestido pelas coxas com um movimento lento e deliberado que fez o seu corpo todo se retesar. — O que achou de minhas preliminares, ontem à noite? Ela cerrou os olhos quando ele contornou-lhe a calcinha com as pontas dos dedos. — Malvadeza. Pura malvadeza. — Aquilo não foi malvadeza. Isto... — Ele dirigiu o polegar em direção ao seu âmago. — ...é malvadeza. Mordendo o lábio inferior, Alex enterrou o rosto no seu ombro. Ele girou o polegar de encontro a ela com um movimento firme e insistente que lhe incendiou o sangue. Alex moveu os quadris de encontro à sua mão, buscando mais, precisando de mais. — Por favor...

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— O quê? — ele murmurou com a voz rouca. — Diga-me o que quer, Lex. — Suas mãos em mim — Já estão. Ela murmurou algo, e ele riu, afastando para o lado a sua calcinha. — Ah, quer dizer, deste jeito, cara mia. Pousou o polegar sobre a carne exposta. Ela estava úmida e escorregadia. O rosnado de Gabe mostrou que ele aprovava. Alex achou que poderia morrer quando ele deslizou o polegar sobre o seu botão teso, dando início a um ritmo incrível destinado a enlouquecê-la. — Mais! — exigiu. Ele colocou o polegar dentro dela. Manteve-o ali. Alex gemeu. — Por favor! — Como você pediu com tanta gentileza... — E foi a vez de um dedo comprido e elegante ir para dentro dela, retornando o polegar para o seu âmago. — A propósito, Elena dorme com a janela aberta. — O quê? Gabe levou os lábios até o ouvido dela. — Não se preocupe. Se você gritar, eu lhe taparei a boca. Ardente... ele era tão ardente quando falava esse tipo de coisas. Alex cerrou os olhos quando ele mergulhou e retirou o dedo, mantendo aquela pressão enlouquecedora no seu âmago com o polegar. Ela afastou ainda mais as pernas, não dando a mínima para Elena, nem para nada mais. Gabe deslizou o segundo dedo para dentro dela, alargando-a, preenchendo-a, levando o seu prazer a um patamar quase insuportável. — Deste jeito, anjo? — É. — Seu corpo estava tão tenso que achou que fosse explodir. — Gabe, por favor, eu preciso... — ... chegar ao clímax? — Gabe retirou o rosto de Alex do seu ombro e ergueu-lhe o queixo, de modo a poder fitá-la. — Sabe no que eu estava pensando, ontem à noite na banheira? Ela lançou-lhe um olhar torturado. — Em como seria o som que você faria ao alcançar o apogeu nas minhas mãos. Seus cílios recobriram os olhos. O polegar de Gabe trabalhou no centro latejante do seu prazer, seus dedos mergulhando fundo, tocando o ponto que a levava mais para perto da beirada do abismo. — Deus — murmurou ela. — Por favor. Ele cobriu-lhe a boca com a sua, indo com a língua de encontro à dela com o mesmo ritmo erótico com que os dedos afundavam na sua intimidade. 72


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Alex se deixou levar pelo ardor, deixou-o levá-la até o apogeu com uma série de arremetidas que a fizeram gritar. Depois, murmurou o nome de Gabe na sua boca, quando ele lhe estendeu o orgasmo a alturas impossíveis. A um prazer ardente e tremulante que irradiava de seu íntimo e que parecia interminável. — Sabia que você seria assim — ele murmurou, retirando a boca de sobre a dela, quando Alex enfim se aquietou. — Assim como? — Totalmente entregue. — Gabe ergueu os dedos para traçar-lhe os lábios trêmulos, mergulhando o polegar na sua boca. Sentir o próprio gosto nele fez com que tudo se retesasse no seu íntimo. Fitou-o nos olhos. — Há tantos lugares onde quero que a minha boca esteja — ele murmurou. Ah, meu Deus! — Vamos levar isto lá para cima. Gabe a pegou no colo e a carregou lá para dentro, usando o pé para fechar a porta. Alex ficou gratíssima pelo eficiente modo de transporte, pois estava com sérias dúvidas de que as pernas estivessem funcionando. Seguiram pela casa escura e silenciosa, subindo as escadas até a suíte arejada e masculina de Gabe, no final do corredor. Estava escuro na suíte, o luar entrando pela janela. Gabe a pousou no chão ao lado da cama de quatro colunas, e acendeu um abajur. Suas pernas a sustentaram, mas por pouco, pois ficaram bambas ao admirar o puro poder masculino. Ombros largos, antebraços bronzeados e musculosos emergindo das mangas enroladas, cintura esbelta e coxas poderosos sob a calça escura. Seu olhar subiu até o rosto dele. Gabe possuía uma força indomável que nada tinha a ver com toda aquela musculatura trabalhada. Uma força que irradiava dele, que a atraía. Como se tudo que tocasse estivesse protegido por associação. Uma mulher podia gostar disso. Gabe levou os dedos ao seu queixo. — O que foi? Ela sacudiu a cabeça, tentando esquecer a noção tola. Uma noite, Alex. Saboreie-a pelo que ela é. Nada dura para sempre. Será que ainda não aprendera isso? Ela pousou os dedos no botão superior da camisa dele. — Está com roupas demais. — Mentirosa — falou ele baixinho. — No que estava pensando? — Nisto. — Alex tirou o primeiro botão para fora da sua casa e começou a trabalhar no segundo. 73


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Gabe permitiu que ela assumisse o controle. Terminando com os botões, Alex deslizou o material macio por sobre os ombros e o empurrou para o chão. Sentiu um aperto no seu íntimo, ante a beleza de Gabe. O torso era uma obra de arte, bronzeado por longas horas ao sol, com um abdômen de dar água na boca. Levou os lábios àqueles músculos deliciosos trilhando a língua sobre os mamilos, indo à forra. O suspiro de Gabe a fez sorrir. — Uma de suas zonas erógenas? — Tenho muitas. Ela pegou o cinto dele e, com um puxão, tirou-o da calça. Seus dedos roçaram na ereção de Gabe ao abrir o zíper, e tudo no seu íntimo se retesou. Gabe era grande e duro, e Alex deu-se conta da magnitude do que estava para fazer. Foco, ordenou-se. Baixou a calça pelas pernas compridas, e ele a ajudou, dando um passo para fora delas. Gabe era tão lindo que ela chegou a ficar sem fôlego. As coxas e a panturrilhas eram musculosas, trabalhadas. Bastou erguer o olhar na direção de seu... equipamento, envolto pela cueca branca, para ter certeza de que não ficaria desapontada. Ele passou a mão ao redor da cintura dela e a puxou para si, plantandolhe um beijo nos lábios que transformou todos os ossos do seu corpo em mingau. Deus, mas como ele beijava bem... — É a sua arma secreta, não é? — murmurou quando ele interrompeu o beijo e a virou, baixando-lhe o zíper do vestido. — O quê? — O beijo. O vestido foi parar no chão. — Gosta deles? — Gabe perguntou, plantando um entre as omoplatas. Alex arqueou-se. — Gosto. Ele foi descendo pelas costas, prestando homenagem a cada centímetro de sua pele. Alex jamais pensara nas costas como algo particularmente sexy, mas ante o modo como ele a estava adorando, era difícil imaginar algo mais sensual. Em seguida, Gabe voltou a atenção para os sapatos. Alex se lembrava de que ele era bom com os pés, e não ficou desapontada. Cada pé foi agraciado com um beijo em sua planta. Quando ele se ergueu, Alex empurrou-o para a cama, e Gabe se sentou nela. A expressão no seu rosto ao vislumbrá-la usando apenas calcinha a deixou zonza. — Você é a fantasia de todos os homens, Alexandra Anderson.

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Sentiu um aperto no peito, resultado de uma emoção que não queria identificar. — Fantasias não são realidade. Gabe a puxou para si, erguendo-a e envolvendo as pernas dela ao redor da cintura. — Esta é — murmurou, provocando-lhe o canto da boca com os lábios. — Não há lugar para se esconder aqui, Alex. Apenas a verdade. Não havia por que lhe dizer que jamais contara a verdade absoluta sobre si mesma para ninguém Isto era apenas sexo. Contudo, ante outro daqueles beijos fulminantes, isto passou a não parecer mais apenas sexo, e sim como um exame minucioso de sua alma. — Alex. — Ele esforçou-se para dizer. — Preciso de preservativo? — Estou tomando pílula — ela afirmou. — Embora, talvez, tenhamos de ir devagar. Estou um pouco sem prática. Ele a girou para a cama e tirou a cueca. A boca de Alex ficou seca ante a visão da poderosa masculinidade. — Permita-me. — Gabe trilhou beijos pelo seu corpo abaixo. — Tudo bem — protestou ela quando se tornou evidente para onde ele estava indo. — Não consigo fazer isso de novo. Ainda mais durante... a cópula. Ele ergueu-se sobre a barriga dela, um sorriso divertido nos lábios. — Cópula? Suas faces arderam. — E como você chamaria? — Não disso. — Ele a fitou pensativo. —Quer dizer que nunca teve um orgasmo desse jeito? — Não consigo. Muitas mulheres não conseguem — acrescentou na defensiva. Ele pressionou os lábios de encontro à barriga dela. — Vamos discutir isso mais tarde. Alex poderia ter lhe dito que não ia acontecer. Mas discutir a respeito apenas tornaria a coisa mais constrangedora. Sendo assim, permitiu que ele lhe afastasse as coxas e encostasse a boca na sua carne úmida e excitada. Seu corpo estremeceu violentamente ante o primeiro toque da língua. Gentil, passou por sobre ela como uma onda de calor. Vezes sem conta, ele a lambeu, incendiando de vida a sua carne. Ela enterrou as mãos na colcha macia sob si, e admitiu com um gemido que, talvez, apenas talvez, fosse capaz de mais. E, então, ele parou.

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A surpresa devia estar estampada na expressão dela, pois ele riu baixinho e a puxou sobre si. — Não achou que tudo isso dissesse respeito apenas a você, achou, Lex? Bem, não... Ah. Ela fechou os olhos quando a ereção roçou de encontro à sua umidade. Seu íntimo se contraiu de desejo ardente de ter a grossa extensão dentro de si. De experimentar o que era fazer amor com Gabe. — Abra os seus olhos, anjo! Ela obedeceu. Seu olhar era intenso e repleto de desejo. Ele guiou sua ponta larga de encontro a ela, agarrou-lhe os quadris e pouco a pouco a puxou para baixo, para sua enorme ereção. Ela arquejou. — Lentamente — murmurou Gabe. — Lentamente. Ela foi afundando centímetro a centímetro, até enfim engoli-lo até o talo, chegando quase a gemer ante a sensação de preenchimento. — Entendo agora por que você está sempre nas listas — sussurrou ela, inspirando fundo. — Isso nem sempre está em oferta. — Sorte a minha, então. Ela começou a se mover em círculos lentos e deliberados, mais superficiais, depois mais profundos, antes de voltar para os mais superficiais. Quando já estava se sentindo mais à vontade com ele, deslizou-o para fora de si, e voltou a tomá-lo profundamente. Gabe gemeu e murmurou algo em italiano. Fechou os olhos. Permitiu que ela o cavalgasse até a sua respiração ficar mais acelerada. O seu controle mais tênue. Em seguida, as mãos de Gabe a seguraram ao redor da cintura, voltou a girá-la de costas para a cama e usou a boca em Alex, sua língua um instrumento de tortura enlouquecedor. Rápida, insistente, depois, mais lenta, deliciando-se com ela. Trazendo-a de volta para onde ele a queria, incoerente e desesperada por ele. Quando Alex afundou os dedos no cabelo dele, implorando para que Gabe a deixasse chegar ao apogeu, ele voltou a girar e puxou-a novamente para cima de si. Alex poderia ter gritado de frustração. Mas era tão bom tê-lo no seu íntimo, suas mãos guiando-lhe os quadris, o corpo dela em tal estado de excitação que tudo que conseguia fazer era sentir. Carícia a carícia, ele a massageou até todas as terminações nervosas do corpo estarem centradas na conexão que compartilhavam. — Incline-se para a frente — encorajou Gabe com a voz rouca. — Use a fricção, o ângulo. Ela obedeceu, permitindo que as sensações a atingissem exatamente onde deveriam atingir.

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Seu orgasmo a alcançou como um maremoto alcança a costa, mas profundo, mais potente, mais devastador do que qualquer coisa que Alex já experimentara. Um gemido gutural escapou dos lábios de Gabe quando o corpo dela se retesou, arrancando-lhe o próprio alívio. Foi a coisa mais sexy que Alex já escutara. Ela o cavalgou, prolongando-lhe o orgasmo até o corpo enorme estar esgotado e suado sob si. Sem lhe restar nenhuma energia, ela desabou sobre o seu peito, sorrindo ante o bater trovejante do seu coração, e sorriu. — Espero não tê-la desapontado — sussurrou ele. — Ah, sim, foi muito desapontador — murmurou ela, erguendo-se sobre os braços de modo a poder fitá-lo. — Os dois orgasmos foram. A gargalhada dele ecoou pelo quarto. — Dê-me cinco minutos e providenciarei outros. Não aconteceu. Pelo menos, não durante um bom tempo. Alex despertou grogue sem saber onde estava e se deu conta de estar desmaiada sobre Gabe. Ele fincou os dentes nos ombros dela, virou-a de lado e a possuiu lenta e amorosamente, provando a sua resistência. Quando ela acordou, a luz entrava através da janela e havia cerca de 1,90m de homem quente e forte colado a extensão do seu corpo. Aparentemente, ele era do tipo carinhoso, algo com que tinha muito pouca experiência, uma vez que jamais deixara nenhum homem passar a noite. Sem complicações. Aquilo só serviu para lembrá-la de quantas regras quebrara. Dormira na cama de um homem. Dormira com um cliente, e, talvez o pior de tudo, dormira com Gabe, um homem com quem jurara jamais cruzar essa linha por ser perigoso demais para ela. E, adivinhe só, Alex. Estava coberta de razão. A noite anterior fora o melhor sexo que ela já tivera, e, agora, Alex jamais seria capaz de olhar para Gabe da mesma maneira. Será que valera a pena? Sim, decidiu, ao inalar seu perfume masculino. Uma mulher deveria ter algo assim, ao menos uma vez na vida. Contudo, analisado sob a luz do dia, talvez a melhor decisão agora fosse simplesmente descer da cama e dar a coisa toda por encerrada. Arrastando-se para longe dele, sobressaltou-se quando o seu braço reflexivamente apertou-se ao redor dela. — Fique — escutou uma voz sonolenta dizer. — Estou com sede. Ele afrouxou o abraço. — Volte. Ela pensou em fugir. O fato era que Gabe era rico, poderoso e bonito, o tipo de homem pelo qual já fizera papel de boba. E ele tinha o poder de magoá-la muito mais do que Jordan já fizera. 77


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Foi até o banheiro, onde se serviu de um copo de água, reunindo suas forças. Em seguida, enrolando-se em uma toalha, marchou de volta para o quarto. — Tenho de ir. Sonolentos olhos verdes piscaram para ela. — Aonde? — Os banqueteiros logo estarão aqui. Ele olhou para o relógio. — São 8h de domingo, Lex. Virão mesmo tão cedo? — Preciso tomar uma ducha. Os lábios dele se retorceram. — Vem aqui. Bizarramente incapaz de resistir, Alex empoleirou-se na beirada da cama. Ele a puxou para baixo de si, imobilizando-a com o peso do próprio corpo. — Gabe, não sou lá muito boa com essa história de manhã seguinte. Ontem, a noite foi divertida. Espetacular, até. Matamos nossa curiosidade. Vamos acabar bem as coisas. Ele roçou a potente masculinidade nela. — Por acaso isso lhe dá a impressão de que estamos acabados? Ela empurrou-lhe o peito. — Deveríamos estar acabados. Gabe estudou-lhe o rosto. — Por que tão pouco à vontade? Ela cerrou os lábios. — Percebo que esta pode ser a primeira vez que uma mulher já pediu para ir embora da sua cama, mas anomalias acontecem. Combinamos uma noite, Gabe. Preciso ir. — Pode ir se me responder uma coisa. Fale-me do motivo por trás dos seus pesadelos. — Não. Ele cruzou os braços sob o peito dela. — Neste caso, você fica. — Diabos, Gabe! — Olhou furiosa para ele. — Solte-me. — Depois que me contar. — Não é nada. História antiga. — Se é assim, por que ainda lhe dá pesadelos? Por que estava sonambulando? 78


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Ela sacudiu a cabeça. — Isto foi sexo. Uma noite. Decisão sua. A minha é que já acabou. Emoção brilhou no seu olhar. — O modo como você estava tem me assombrado, Lex. Tenho de saber o que houve com você. O seu lado autodestrutivo parecia insistir para que contasse. Na certa ele sairia correndo e estaria tudo acabado. — Deixe-me levantar — ela murmurou. Desta vez, ele deixou, sentando-se ao lado dela. Colocando um pouco de distância entre os dois, Alex abraçou os próprios joelhos. — Tenho certeza de que Lily lhe contou que eu costumava ser a ovelha negra da família. A expressão dele permaneceu a mesma. — Ela mencionou algo. — A fazenda dos meus pais nunca foi muito próspera e vivíamos na pobreza. Quando digo pobreza, quero dizer que não faltaram ocasiões em que não tínhamos dinheiro para roupas novas e tínhamos de ir buscá-las em instituições de caridade. O casamento dos meus pais era uma porcaria, graças a eles serem quem eram e às dificuldades financeiras. Meu pai teve um caso com a mulher de outro fazendeiro, minha mãe nos largou três vezes... Um desastre. Lilly lidava com isso passando fome e sendo a Srta. Perfeita. Eu passeei pelo lado negro. Bebi, fumei, andei em más companhias, qualquer coisa para chamar atenção. — Lilly disse que seus pais são muito distantes. — É, mas eu levei a coisa toda longe demais. Roubei roupas de uma loja por estar revoltada por não ter nada para usar para a festa de formatura e fui presa. Cansei de passar noite fora de casa. E, então, conheci Damon, líder de uma gangue de motoqueiros, e começamos a sair. — Sorriu ante a expressão boquiaberta de Gabe. — Ele era bonitão e satisfazia o meu lado rebelde. — Namorou o líder de uma gangue de motoqueiros? Ela assentiu. — Seu pai deve ter ficado furioso. — Ficou. Colocou-me de castigo, proibiu-me de vê-lo. Mas eu adorava provocá-lo. Adorava enfim ter a sua atenção. — Eu a teria amarrado ao pé da cama — Gabe afirmou. Ela sorriu. — Estou certa de que ele teria feito isso se achasse que serviria de alguma coisa. Em vez disso, me botou para fora de casa, e fui morar com Damon. 79


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Gabe a fitou como se ela fosse de Marte. Alex suspirou. — Foi loucura. Sabia que ele estava envolvido com coisa ilegal, mas Damon me mantinha longe disso. Eu tinha 16 anos. Não sabia de nada. — Dezesseis? Ela assentiu. — Certa noite, Damon e eu fomos ao cinema. Ele ia fazer uma entrega naquela noite. Não suspeitei de nada porque ele jamais fazia isso quando estava comigo. Mas a polícia devia saber, pois nos parou assim que deixamos a casa e nos revistou. Encontraram um quilo de heroína. — Você já usou drogas? — Não. — Talvez a única decisão sensata que já tomara. — Era Damon quem eles queriam, mas tentaram me usar contra ele. Disseram que também seria presa se não lhe desse o que queriam. — Apertou ainda mais o joelho de encontro ao peito. — E eles me colocaram sozinha em uma cela isolada. O delegado que me interrogou foi o mesmo que atendera à queixa pelo roubo da loja. Deu para ver que ele achava que eu era lixo. Mas... — Ela mordeu o lábio inferior. — Também dava para ver que ele gostava de mim. Com uma expressão tempestuosa, Gabe pousou a mão no seu joelho. — Foi esse o sujeito que colocou as mãos em você. Ela assentiu. — Eu estava chorando, assustada. Implorei para ele me deixar ligar para o meu pai, mas ele ficava voltando para me interrogar e não ligou para a minha casa. Acho que queriam pegar Damon naquela noite mesmo. — É contra a lei não permitir a sua ligação. Ela fez uma careta. — Em Mission Hill nada está acima da lei. Foram implacáveis. Damon insistia em dizer que eu não sabia nada sobre as drogas, mas eles não pararam Já estava tarde da noite quando o delegado enfim desistiu. Voltei a pedir para ligarem para o meu pai. — Ela o fitou com os lábios tremendo. — Ele me disse que o faria se eu fosse boazinha. Os dedos de Gabe se apertaram ao redor do seu joelho. — Eu me recusei. Lutei quando ele tentou me tocar. Gritei e gritei até ele me soltar por ter medo de que alguém pudesse vir. — Lágrimas arderam nos seus olhos. Tentou contê-las. Não chorava por conta disso. Jamais chorava. — Liguei para o meu pai. Havia semanas que não tinham notícias minhas. Ele ficou tão zangado. Tão furioso que só fez berrar. Pedi para ele vir me buscar. — Baixou o olhar, as mãos se cerrando. — Ele me disse que eu poderia muito bem esperar até a manhã seguinte, que ele precisava dormir. Houve uma demorada pausa. — Ele falou isso para uma garota de 16 anos? — Eu mereci. 80


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— Cristo, Alex, é claro que não mereceu. — Ele a segurou pelos ombros. — Talvez até merecesse aprender uma lição, mas não ser largada com um policial que não conseguia tirar as mãos de você. Você era filha dele. Tinha de ter sua proteção. Não passar a noite em uma cela. — Praguejando, Gabe a puxou para si. — Ainda bem que você era uma lutadora, Lex. Ela fungou. — Não preciso da sua piedade, Gabe. Eu colhi o que plantei. — Você era uma criança. — Você não entende. — Ela libertou-se dos seus braços. — Eu tornei impossível para eles me amarem Estavam tão cansados de mim que queriam que eu desaparecesse. E não os culpo. Sua expressão se suavizou. — Acho que você queria ser amada. Seus pais não pareciam ser capazes de fazê-lo. — Eu não sou capaz de amar. Fui destrutiva em todos os relacionamentos que tive. É um padrão, Gabe. — Não com suas irmãs. Elas adoram o chão que você pisa. — É diferente. Elas não têm escolha a não ser me agüentar. — Elas a amam Há uma diferença, Lex. Quando amam, as pessoas cuidam, protegem. — É muita gentileza sua tentar me convencer de que não sou a bagunça que sou, Gabe, mas não tenho ilusões. Já fiz as pazes com isso. Funciona para mim. Seu olhar fitou-lhe intensamente o rosto. — Si, porque gosta de usar isso como desculpa, assim como faz aqueles comentários de que não pode confiar nos homens. Ou, como diz, que é uma menina má. Prefere se pintar dessa maneira, convencer-se de que é incapaz de um relacionamento saudável, em vez de encarar a realidade de estar em um — Não venha me dizer do que sou capaz, Gabe De Campo. Não faz ideia do que é viver a minha existência. Os olhos dele escureceram — Estou apenas dizendo o que todos vêem há anos, mas têm medo de falar. Está tão ocupada aperfeiçoando a sua fachada de Alex espinhosa para impedir que as pessoas cheguem perto demais que não sabe viver. Você é uma lutadora em tudo, Alex, menos na sua vida pessoal. Ela inspirou fundo, seu olhar fixo no dele. — Já passei por terapia. Estou a par dos meus problemas. Mas e quanto a você, Gabe? É o solteirão que não sai do ranking porque está procurando a perfeição. A mulher à altura dos seus padrões impossíveis. Pois ela não existe! — Não estou à procura de perfeição. 81


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Ela deslizou até a beirada da cama, onde pousou os pés no chão. — Sabe o melhor disso tudo? Foi você quem quis que isto se tratasse de sexo. Você que sugeriu que fosse uma noite apenas e nunca mais. Sendo assim, não venha me dar sermão sobre relacionamentos, ou sobre quem ou o que eu sou. Ela saiu correndo, sem se importar que parecesse descontrolada ou que as emoções estivessem estampadas no rosto. O que importava era fugir. Batendo a porta atrás de si, não escutou as palavras murmuradas de Gabe: — Você não é tão difícil de conhecer, Lex. A questão é se algum dia vai deixar alguém penetrar a sua couraça.

CAPÍTULO 10

No final daquela tarde, Gabe estava no vinhedo com Pedro, longe do furacão Alex, quando Elena chegou com café e um embrulho. — Acaba de chegar — ela informou. Gabe o abriu. A caixa de madeira no interior do embrulho continha uma garrafa de vinho. A etiqueta era da Vintage Corp de Jordan Lane. Ele estreitou os olhos ao ler: “Black Cellar Select. Um corte Cabernet-Merlot.” Gabe congelou. Era o Pico do Diabo de Jordan Lane, que lhe mandara uma garrafa só para esfregar em seu nariz a sua audácia. No dia seguinte ao seu lançamento. Pedro espiou por sobre o seu ombro, e Gabe o escutou praguejar. — O desgraçado nos enviou uma amostra! — o enólogo exclamou. Gabe notou o cartão preso à caixa. Parabéns pelo que eu soube ser um lançamento de sucesso, De Campo. Bom saber que Black Cellar Select estará em boa companhia. Logo após as palavras estavam a assinatura de Lane e uma lista de uma dúzia dos melhores restaurantes do país que estariam servindo Black Cellar Select como o vinho do mês. Seu sangue gelou. — Um saca-rolhas. Pedro tirou um de uma gaveta.

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A primeira provada do vinho na sua língua lhe revirou o estômago. Era exatamente igual ao Pico do Diabo. Uma festa de 2 milhões de dólares e uma campanha publicitária de 10 milhões de dólares gastos com um vinho que agora era um de dois. Um de sabe Deus lá quantos, se conhecia bem Lane. Oito anos de trabalho jogados por terra. A diretoria precisaria ver um lucro significativo naquele ano. O Pico do Diabo tinha de vender como água no deserto. Mas agora havia um competidor, um competidor capaz de tirá-lo do negócio. O que faria agora? Pedro baixou a própria taça e olhou chocado para Gabe. — É o mesmo vinho. Como é possível? — Tem de ser um dos nossos enólogos. Alguém no laboratório. A cópia é exata demais. Sacudindo a cabeça, Pedro olhou para Gabe. — Não tem escolha agora. Gabe respirou fundo. — Acha que devemos lançar Cota dos Anjos? O outro homem assentiu. — O vinho é magnífico. — A questão é: será que o mercado está pronto para ele? — Fez a sua escolha há dois anos, mio figlio. Agora não é a hora de se arrepender. Não, não era mesmo. O vinho era tanto de Pedro quanto de Gabe. Se Pedro achava que o vinho estava pronto, ele estava pronto. Gabe cerrou os lábios. — Antonio não vai gostar. — Nesse caso, faça-o enxergar a razão. Parecia tão simples. Voar até Nova York para a reunião trimestral da diretoria da De Campo, explicar para o pai e para o irmão que o seu vinho principal acabara de ser roubado pelo principal competidor e garantir a aprovação deles para apostar todo o negócio em um vinho que não representava nem 5 por cento do mercado californiano. Ele sorriu. Era loucura ou genialidade. Não sabia dizer qual. Gabe olhou para Pedro. — Podemos estar prontos em um mês? — Si. Dando-lhe um tapinha nas costas, Pedro foi agitar as coisas. Gabe tomou outro gole do vinho e sentiu a alma arder. Algum dia, de algum modo, enterraria Jordan Lane e a sua Vintage Corp. E iria adorar fazê-lo. 83


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Seguiu para a casa para lidar com outro problema. Alex passara a tarde inteira encerrando tudo com os fornecedores, marchando para lá e para cá com fogo no olhar. Queria lhe dizer que tinha razão, fora mesmo sua ideia ser algo de uma noite apenas. Ela não pedira o interrogatório que ele fizera. Nem sequer sabia por que o fizera, apenas tinha de saber. E, agora que sabia a bagagem que ela carregava, seu pensamento predominante era concordar com Alex e cortar o mal pela raiz. Ela namorara o líder de uma gangue de motoqueiros, pelo amor de Cristo! Quem quer que ficasse com ela teria de aceitar esse barril de dinamite. Não era algo que o vice-presidente de uma das maiores empresas do mundo iria querer perto de si. — Alex está por aí? — perguntou para Elena quando adentrou a cozinha. — Saiu para o aeroporto há cerca de uma hora. Falou para lhe dizer que houve um problema com Zambia e que ela pegou um vôo para resolver tudo. Não posso ter escutado direito, Gabe disse a si mesmo. Se havia algum problema com Zambia, o bar da De Campo onde se realizaria o evento de Nova York, com certeza alguém em Nova York poderia ter resolvido. — Ela não quis atrapalhar o seu trabalho — Elena continuou, voltando para o fogão. — Disse que ligaria mais tarde. Ela fugira. Gabe deveria estar feliz por Alex estar fora do seu caminho, contudo, sentia-se tão furioso que tinha vontade de estrangulá-la. — Disse que estaria no celular, caso quisesse falar com ela — Elena murmurou. — Ligue para Alex. Gabe cerrou as mãos ao lado do corpo. Ah, não, recusava-se a ligar para ela. Ia procurá-la assim que aterrissasse em alguns dias e lhe faria uma surpresa um tanto quanto rude. Foi então que se deu conta de que definitivamente não haviam terminado.

ele

e Alexandra

Anderson

CAPÍTULO 11

Era mais fácil deste jeito. Alex sentou-se no bar de um elegante restaurante em Manhattan onde Lilly iria encontrá-la para jantar e fez sinal para o barman. Chegara de Napa três dias atrás, para cuidar de um problema no Zambia. Assim, Gabe não

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precisaria fingir nenhum interesse após a sua confissão, e ela não precisara fingir que isso não a incomodava. Agora, ainda teria 48 horas para se preparar para lhe mostrar o local do evento desse final de semana. Quarenta e oito horas para esquecer o que acontecera entre os dois. A parte de uma noite e nunca mais ela até podia engolir; a parte da confissão, nem tanto. O que dera nela? Sexo era uma coisa. Abrir-se para Gabe, o psicólogo amador, era outra. O barman trouxe o vinho que ela pediu, e Alex pegou a taça, preparandose para cheirar o buquê, antes de se dar conta do que fazia. Droga, ele estava em todos os lugares, destruindo a sua paz de espírito. Ficou fitando o líquido vermelho na taça. Como diabos ele pôde dizer que ela preferia não encarar a realidade de uma relação? Não estava no seu DNA estar em relações. Desde Jordan que não estivera em nenhuma. E como diabos ela deveria ser capaz de ter uma relação normal com um homem? Aquele que deveria criá-la e protegê-la virara-lhe as costas quando ela mais precisou. O policial, uma pessoa na qual deveria confiar, destruíra a sua crença de que podia acreditar em alguém E, quando realmente tentou, com Jordan, ele a descartou como se ela fosse um artigo defeituoso, boa apenas para um caso barato. E não era isso o que os homens sempre queriam dela? O corpo pelo breve intervalo que levava para saciar-lhes a vontade? Apertou os dedos ao redor da taça. Não queria ser solitária. Às vezes, queria desesperadamente alguém em quem se apoiar, que a segurasse quando caísse, para que não tivesse sempre que ser a última linha de defesa. Escolhia não se envolver por ser incapaz de uma relação. Não por não querer uma. Gabe estava errado. — Lex? A voz animada de Lilly veio de trás. Alex se virou, preparada para abraçar a irmã e abrir seu coração, quando viu quem estava com ela. Todos os três irmãos De Campo, lindos com seus ternos de grife e sorriso estonteante. Todos, exceto Gabe. Ah, Deus, Hoje não. — Veja quem eu trouxe comigo — falou Lilly. — Matty queria vê-la. A expressão “eu não estou zangado” impassível de Gabe significava que ele, na verdade, estava muito, muito zangado. Levantando-se do banco, Alex abraçou Matty. — Onde está a sua ginasta? — perguntou. — Soube que estava namorando uma atleta olímpica ou coisa parecida. — Finito. — Ele afastou os braços com uma expressão triste no rosto. — Quer me ajudar a lamber as feridas?

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— Há milhares de mulheres que adorariam fazer isso — Alex recusou, com um sorriso. — E sabe que não sou boa nisso. — A esperança é a última que morre. — Gabe — murmurou ela, após beijar o marido de Lilly em ambas as faces. — Pensei que só o veria na sexta. — Surpresa. O sarcasmo na voz dele foi ofuscado pela tempestade sombria no seu olhar. Desviando os olhos, Alex flagrou Lilly olhando para eles. — Todos os irmãos juntos — ela murmurou. — Vou avisar ao maitre que somos cinco. — Alex puxou Lilly pelo braço. — Vem comigo? — Qual é o problema com você? — perguntou Lilly ao ser arrastada até a recepção. — Pensando bem, qual é o problema com Gabe? — Eu teria lhe contado se não tivesse trazido todo o clã De Campo junto. — Ah, Alex, eu sinto muito. Podemos conversar mais tarde, está bem? Alex suspirou. — Tudo bem Eu só precisava muito falar com você. — Mais tarde. Eu prometo. Foram acomodados de imediato, assim que se escutou o nome De Campo. Alex enterrou o rosto no cardápio, mas não encontrou nada que a agradasse. — Conte-nos da festa — pediu Lilly. — Soube que Jared Stone estava lá com uma cantora pop. — Sim, com Briana Bergen. Eu meio que planejei tal par. Gabe lançou-lhe um olhar glacial. — Você armou uma das combinações? Ela fez uma careta. — Rendeu cerca de cem fotos. E foi a única. — Não faça isso em Nova York. Não é ético. Ela lançou-lhe um olhar fulminante. — Bem, sim, mas o resto do evento me pareceu fantástico — Lilly tagarelou, jamais sendo capaz de tolerar bem o silêncio. — O vinho está recebendo excelentes críticas. Parabéns, Gabe. — Grazie. — De algum modo, não consigo imaginá-los morando sob o mesmo teto. — Era a ideia de Lilly de gracejo. — Como foi? Alex engasgou com o pão que estava comendo e tratou de pegar o seu copo de água.

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— Alex é um alvo móvel — falou Gabe muito calmo. — Aqui num minuto, desaparecida no outro. Ignorando o comentário, Alex olhou agradecida quando o garçom veio anotar-lhes os pedidos. Depois, pediu licença para ir ao toalete. Demorou o máximo que pôde lá dentro. Quando não pôde mais evitar retornar para a mesa, pegou a bolsa e saiu porta afora. Gabe estava encostado na parede. — Ah, não... — murmurou Alex. — Nós não vamos repetir isso. Ele a segurou pelo braço. — E por que não, quando nos divertimos tanto da última vez? Ela se soltou dele. — O que eu fiz agora? Por que está tão zangado? — Por que fugiu? Ela deu de ombros. — Sabe o porquê. Eu lhe mandei um relatório completo. — Alguém por aqui poderia muito bem ter cuidado de tudo. Você fugiu, Lex. Por quê? — Não confio em ninguém para resolver o problema. — Ela o encarou com as mãos na cintura. — Foi apenas uma noite, Gabe. Nós transamos. Mais nada. Uma luz perigosa acendeu-se no seu olhar. — Eu fiquei preocupado com você. Depois do que houve, quis saber que estava bem. — Ótima. Estou longe de ser a garota marcada, Gabe. — Fico surpreso com você. É a mulher que encara o mundo, mas não encara os próprios sentimentos. — Por você? E por que eu haveria de querer fazer isso? Pode sinceramente dizer que tem algum lugar para mim na sua vida que não seja para uma noite de bom sexo? Gabe ficou vermelho. O silêncio dilacerou o coração de Alex como uma faca. — Pois é — sussurrou ela. — É sempre assim. Ele franziu a testa. — O que quer dizer com “é sempre assim”? — Não importa. O que quer que eu faça, Gabe? Quer que eu aja como uma boa garota e converse após a coisa toda? Que eu diga como você é bom na cama? Que eu me deixe levar pelo charme De Campo, quando sei muito bem que isto não vai a lugar algum? — Lex... Ela recuou quando ele estendeu a mão. — Estou pedindo que esqueça isso agora mesmo.

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— Por quê? — Porque nós dois sabemos que a noite de sábado não foi tão simples quanto gostaríamos que tivesse sido. O fato de estar aqui agora, olhando para mim, é prova disso. — Alex respirou fundo. — Há sentimentos envolvidos. Meus sentimentos estão envolvidos. E, se não quer me magoar, manterá distância. Aproveitando o breve instante de hesitação de Gabe, Alex girou nos calcanhares e voltou para a mesa. Alex e Gabe haviam desaparecido fazia quase 15 minutos, quando Lilly declarou o óbvio: — Algo está acontecendo entre aqueles dois. Seu marido e Matty trocaram olhares. — O que foi? — Ela quis saber. — Estão dormindo juntos — falou Riccardo. — Não estão. Ela teria me contado. Matty assentiu. — Cem por cento de certeza de que estão. — Ah, meu Deus. Por isso que minha irmã vem se comportando estranhamente e Gabe. — Acha que estão fazendo sexo no banheiro? — indagou Matty. Riccardo ergueu o copo para ele. — Bem pensado. Na verdade, seria bom para ele. Lilly os fitou, horrorizada. — Eles não estão fazendo sexo no banheiro! — Alguma coisa devem estar fazendo — afirmou Riccardo. Alex retornou para a mesa alguns minutos mais tarde, mais calada do que Lilly jamais a vira. Gabe voltou pouco depois. As roupas estavam intactas, mas o mesmo não podia ser dito dos dois. Bastou olhar para os seus rostos para ver que Riccardo tinha razão. A suspeita foi confirmada quando, após o jantar, Alex alegou estar exausta e sugeriu um café no dia seguinte. Eles a deixaram no seu apartamento. Lilly olhou para Riccardo, após a porta ter se fechado atrás da irmã. — Isso vai ser muito bom ou muito ruim. — A única coisa de que tenho certeza é que será divertido de assistir. Seu aconchegante apartamento no Upper East Side não estava tendo o mesmo efeito relaxante nos seus sentidos. Enrolou a colcha azul metálico ao redor de si mesma, e atirou longe a almofada que fazia jogo com ele. Onde estava a Alex racional que jamais teria feito algo tão estúpido quanto dormir com Gabe, quando o resultado sempre fora tão claramente esse? 88


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Seus pensamentos foram interrompidos pela campainha da porta. Gabe. Não precisava ser gênio para saber que era ele. A campainha voltou a tocar, insistente. Não queria falar com ele. — Alex! — Ele bateu na porta. — Sei que está aí. Deixe-me entrar. Ele ia acordar os vizinhos. Cerrando os lábios, ela desceu do sofá e marchou até a porta, abrindo-a bruscamente. Ali estava Gabe, alto, esbelto e sombrio, as mãos apoiadas no batente da porta. Pronto para a batalha. — Eu disse para me deixar em paz. — Você não faz a menor ideia do que quer ou precisa. — Ele adiantou-se, invadindo o apartamento, e fechou a porta atrás de si. Ela o viu tirar os sapatos. — O que está fazendo? — Você me cozinhou por dois dias — murmurou, puxando-a para si. — O que acha que estou fazendo. — Seu corpo rijo fez contato com o dela. — Acredita que não me importo com você, Lex? Jordan Lane acaba de roubar o meu vinho. Mandou-me uma garrafa de uma cópia perfeita do Pico do Diabo. E o que estou fazendo? Em vez de estar me preparando para a reunião de amanhã, cá estou, correndo atrás de você. Ela ficou boquiaberta, a surpresa ofuscando a luxúria. — Não entendo. Como Jordan copiou o seu vinho? — Ele tem alguém infiltrado no vinhedo. Alguém que lhe passa os segredos. — E quanto ao Cota dos Anjos? — É altamente confidencial. Ele está seguro. Graças a Deus. Alex ergueu as mãos para empurrá-lo no peito, porém, tudo que encontrou foi a impenetrável musculatura dura como pedra. — Gabe... solte-me. Isso é loucura. Ele mergulhou as mãos no seu cabelo, envolvendo-lhe a nuca, a confusão no seu olhar espelhando a dela própria. — Trata-se de mais do que apenas sexo — admitiu com a voz áspera. — Não sei ao certo o que é, mais sei que não é só o meu desejo por você. — Seu silêncio disse tudo no restaurante. Poupe-nos e não prolongue isso. — Dannazione, mas você é arisca! Abrir o coração em público não faz o meu gênero. Ela cerrou os lábios, com rebeldia, fitando-o nos olhos, que ficaram mais sombrios. — Não farei promessas que não posso cumprir. E Deus sabe que estamos em território inexplorado para mim. Lex, mas isso entre nós dois? O que disse no restaurante sobre seus sentimentos estarem envolvidos? Os meus também estão. E acho que já é hora de os encararmos.

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— E se eu não quiser? E se eu estiver satisfeita com a situação atual? — Quer ser uma covarde pelo resto da vida? — Talvez eu queira. — Não, não quer, anjo. Está apenas apavorada. E estava mesmo. Afinal, o que restaria quando isto terminasse? Ela mordeu o lábio inferior. — Solte-me. Ele sacudiu a cabeça. — Não vou deixá-la fugir. — Eu quero — admitiu Alex, o coração batendo forte. — Quero fugir o mais rápido e para o mais longe que puder, pois estou tão assustada que eu poderia gritar! — Nesse caso, deixe-me dar-lhe uma razão melhor para gritar. Gabe a encurralou de encontro à parede da sala, mergulhou as mãos sob a saia e a ergueu. Alex queria tanto aquelas mãos em si que chegava a doer. — Gabe... — Chega de conversa. Seus lábios encontraram a base do pescoço e as mãos buscaram a carne macia das coxas, o seu joelho se enterrando entre as suas pernas para afastálas. Ela inspirou fundo, quando ele chegou ao seu âmago ardente, encontrando-a úmida e preparada. Depois, engatou os dedos na calcinha e a puxou para baixo, a intenção do gesto deixando-a sem fôlego. — Dessa vez não vai ser de maneira demorada e atenciosa, vai? — Não. Alex sentiu as pernas bambearem, os membros se assemelhando a chocolate derretido, quando ele foi com as mãos coxas acima, insistindo para que se apartassem ainda mais. Ela quase perdeu as forças quando Gabe mergulhou os dedos na sua umidade quente, um som torturado escapando da garganta dele. — Dio, você está tão excitada... Ela arqueou-se sobre a sua mão quando ele estabeleceu um ritmo lento e profundo. — É o que acontece quando um homem delicioso invade o meu apartamento e me encosta na parede. — Acha que sou delicioso? — murmurou ele, plantando-lhe um beijo no canto da boca. — Insano e compulsivamente delicioso — admitiu, com a voz rouca. Seu corpo se contorcia ao redor dos dedos de Gabe, enquanto ele lhe proporcionava prazer, lembrando-se das alturas a que ele podia levá-la. 90


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Praguejando, Gabe deslizou as mãos até as suas nádegas, apoiando-a de encontro à parede, e envolvendo a própria cintura com as pernas dela. Alex arqueou-se de encontro a ele, morrendo de vontade de ter de novo a sua deliciosa ereção dura dentro de si. — E sou grande fã dessa parte — murmurou ele, esfregando-se nela. O olhar de Gabe ficou mais sombrio quando Alex deslizou a mão entre os dois, procurando o botão da calça dele. — Fique à vontade — ele sussurrou quando ela baixou-lhe o zíper. Encontrando-o, ela envolveu a extensão sedosa com os dedos, sentindo a sua prontidão pulsante e dura como pedra. Em seguida, o fez ir de encontro à própria carne lubrificada, sorrindo quando Gabe estremeceu. Ser capaz de produzir isso num homem a fazia sentir-se poderosa, sexy. Ele murmurou um apelo, alguma sombria e erótica palavra em italiano que lhe pareceu deliciosa. Fazendo-lhe a vontade, Alex tomou-o dentro de si. A sensação de ser preenchida por Gabe a fez sentir-se completa de tal maneira na qual preferiu nem pensar. — Acho que você pode assumir agora, — Alex estava desesperada para ser possuída por ele. Sustentando-lhe o peso nas mãos, curvou os joelhos e arremeteu com tanta força que ela chegou a arquejar. Duro e primordial, esta vez estava sendo completamente diferente da última. Chegava quase a ser brusco, e muito excitante. A parede atrás dela não estava ajudando muito para lhe acolchoar a coluna. A respiração alterada e acelerada no seu ouvido, a voz enquanto lhe dizia o quanto gostava de estar dentro dela repleta de desespero. E Alex adorou. Adorou ser aprovada. Gabe De Campo podia perder o controle. Levou os dedos ao queixo dele e o beijou profundamente. Confiou-lhe o seu corpo. Implorou por mais. Arquejou quando ele mudou de posição, inclinando os quadris para que ela o sentisse em um lugar diferente. Em todos os lugares. Exatamente onde ela precisava que Gabe estivesse. — Chegue ao apogeu comigo — exigiu ele ofegante, de encontro à sua boca. E, com uma última arremetida para dentro dela, fez o seu corpo espatifarse em milhares de pedaços de puro prazer. O grito de alívio rouco de Alex preencheu o ar. Gabe grunhiu e se juntou a ela, despejando o seu ardor úmido dentro de seu corpo. Enterrando a boca na sua pele suada e salgada, ela se agarrou a ele, os bíceps fortes tremendo, e a sua posição de encontro à parede tornando-se cada vez mais precária. — Se me deixar cair, você morre. Ele deu uma gargalhada. — Mostre-me onde é. 91


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Alex supôs que ele estivesse se referindo ao quarto, onde poucos homens já haviam estado e nenhum permanecera. — Por ali — indicou, apertando as pernas ao redor da cintura dele, enquanto Gabe a carregava. Ele parou para deixá-la acender a luz, e piscou os olhos ante a confusão absurda que encontrou. — Não costumo ser tão bagunceira — ela se desculpou, constrangida. — Foi a viagem. Ele a pousou no chão, mantendo as mãos ao redor da cintura até as pernas dela se acostumarem de novo com o solo. Ela o fitou. — Está pensando em ficar? Ele sorriu. — Eu não estava pensando em dirigir até o outro lado da cidade. — Tenho de estar em uma reunião às 8h. — Alex puxou as cobertas. — E não me desculparei por isso. E tudo o que tenho para o desjejum é café e leite. — Mais alguma coisa? — Não pode deixar o seu carro estacionado na rua. — Parei em uma rua lateral perto daqui. Ela mordeu o lábio inferior. Não lhe restava mais nada. — Tenho uma escova de dentes sobrando. — Grazie. Ele beijou-lhe o nariz e foi tomar uma ducha no seu banheiro pequeno demais para dois. Quando Alex acabou a sua, 15 minutos mais tarde, deixou o banheiro enrolada em uma toalha, encontrou-o esparramado sobre a sua colcha cor-de-rosa assistindo ao noticiário. Alex inspirou fundo. As pessoas podiam fazer isso o tempo todo, mas parecia que ela havia acabado de abrir mão de algo que queria desesperadamente de volta. Desviando o olhar da tevê, Gabe estreitou os olhos ao fitá-la. — Pare de surtar, Lex. Vamos apenas dormir um pouco. — É só que... Eu não... — Nunca teve um cara passando a noite. Ela sacudiu a cabeça. — Ajudaria se eu largasse o controle remoto? Ela sorriu debilmente. — É possível. Em vez disso, ele estendeu a mão. — Venha aqui.

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Alex mordeu o lábio. — Isso ficará entre nós, não é? Não vai anunciar a coisa toda para os outros De Campo amanhã, vai? — Não estava nos meus planos. Não diz respeito a ninguém além de nós. — Ótimo. Um dia de cada vez, Lex. Com movimentos hesitantes que não escondiam o seu nervosismo, ela vestiu o négligé. Seu coração palpitou ligeiramente quando ele a puxou para si. Era apavorante como dormir com Gabe parecia natural. Fechou os olhos e forçou-se a relaxar nos seus braços quentes. Quando enfim adormeceu, foi um sono pesado e repleto de milhões de sonhos. Sonhos que não deveria ter. Como querer ser o tipo de mulher com quem Gabe compartilharia a sua vida.

CAPÍTULO 12

As 7H de um quente dia nova-iorquino, Gabe estava postado na porta de Alex com o seu terno amarrotado, distraindo-se com a sua beleza. Ela era uma daquelas mulheres raras que ficavam ainda melhores sem maquiagem. Em qualquer outra ocasião, teria se aproveitado do momento e se permitido chegar meia hora atrasado. Contudo, aquele era o dia em que teria que contar para os De Campo que a grande aposta deles fracassara e que o Cota dos Anjos era o caminho da salvação. Era o maior dia da sua vida. Ele pegou o café que Alex lhe passou. — Sabe que conseguirá — murmurou ela. — Eu aviso o resultado. Inclinando-se para a frente, Gabe roçou a boca na dela, em um beijo que era para ser de despedida. Sua resposta ansiosa fez com que uma pontada de desejo lhe atravessasse o corpo. Dio, aquela mulher mexia com ele. — Isso foi um beijo de despedida, não de cumprimento — repreendeu ele com a voz rouca, esforçando-se para recuar. — Sinto muito. Não sou boa em notar a diferença. — Ah, é sim.

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Com um sorriso, ele foi para casa, onde trocou de roupa, e chegou ao escritório antes dos outros. A família, ainda no controle da De Campo, tinha o hábito de se reunir antes de qualquer encontro da diretoria para discutir assuntos de grande interesse. Acomodando-se na sala de reuniões, Gabe começou a preparar a sua apresentação. Riccardo chegou à sala de conferências, seguido de Matty e Antonio, que foi direto ao assunto: — De acordo com os rumores, o Black Cellar Select de Jordan Lane é o Pico do Diabo. De súbito, a gravata de Gabe pareceu apertada demais. Ele a afrouxou, um gesto que não escapou ao pai. — Ele tem alguém infiltrado na nossa organização, oferecendo-lhe informações. — Diga que sabe quem é — pediu Riccardo. — Estou trabalhando nisso. Os olhos escuros de Antonio brilharam — Oito anos pelo ralo abaixo e tudo o que tem a dizer é que está trabalhando nisso? — O que quer que eu diga? O homem é um criminoso. Tenho um investigador particular no caso. Encontraremos a pessoa. Enquanto isso, tenho um plano de contingência. — Gabe engoliu em seco. Riccardo inclinou-se para a frente, apoiando os antebraços sobre a mesa. — Conte-nos. — O Pico do Diabo ainda é um vinho brilhante. Independente do Black Cellar Select, vai vender bem. Minha sugestão é deixá-lo incluído na campanha de publicidade do outono, mas colocar o foco principal no Cota dos Anjos. Riccardo lançou-lhe um olhar desconfiado. — O Malbec no qual vem trabalhando? — É. — Ele pousou a garrafa sobre a mesa. — Este é o vinho que tornará as safras de Napa da De Campo famosas neste país. O rosto de Antonio estava tão vermelho que ele parecia a ponto de explodir. — Um Malbec? Acha que um Malbec será o nosso vinho De Campo estrela?! Gabe empertigou-se em uma tentativa de permanecer focado. — O plano sempre foi usar o Pico do Diabo para abrir caminho para Cota dos Anjos. — Ativando a tela do laptop, projetou a sua apresentação na parede. — Vinicultores de Napa vêm explorando o Malbec há alguns anos, que vem se dando muito bem no solo californiano. Acho que é o futuro. — Não é uma uva de verdade — Antonio zombou. — Quer que eu aposte o futuro do nosso vinhedo em Napa nisso? Gabe lutou para não perder a paciência. 94


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— Se vamos ser os líderes, teremos de correr riscos. O Pico do Diabo não é mais esse vinho. Mas Cota dos Anjos é. Pedro acredita que ele obterá um 97. Matty passou a mão pelo queixo. — Gosto dos Malbec. São bem populares agora. Riccardo fitou-o demoradamente. — Pedro acha que está pronto? Gabe assentiu. — Acha que Lane também pode estar sabendo sobre isso? Até onde crê que ele penetrou? — Apenas Pedro, Donovan e eu estivemos envolvidos com Cota dos Anjos. Não tem como ele saber. Antonio se levantou-se de repente. — Não vamos tornar um vinho de segunda classe o nosso carro-chefe! — esbravejou. — Você perdeu o juízo, Gabriele! Riccardo apontou para a garrafa. — Eu quero prová-lo. — Eu também — Matty falou. Sentindo a esperança brotar no peito, Gabe serviu três taças. Prendeu a respiração quando eles provaram. A expressão de Riccardo era reservada. A de Matty, curiosa. A de Antonio, indignada. Riccardo foi o primeiro a baixar a taça. Em sinal de respeito, virou-se para Antonio, que empurrou a sua taça para longe com uma expressão de desdém — Não gosto. Gabe sentiu a fúria acender-se no seu íntimo. — Do que você não gosta? O homem mais velho deu de ombros. — Não me diz nada. — Não lhe diz nada?! — Ele empurrou a taça para o pai. — Este é um dos vinhos mais brilhantes que já criamos. Diga-me o que não gosta nele! — esbravejou. Antonio voltou a empurrar a taça para longe. — Esse vinho não será o nosso carro-chefe. Usaremos o Pico do Diabo. — Não estamos na antiga Itália. Precisamos de novos vinhos que agradem ao mercado norte-americano e esta uva, este vinho, vai ser grande. O pai ficou de pé e encarou-o. — Não me desrespeite, Gabriele. — Eu, desrespeitando-o? — Gabe o fitou com incredulidade. — Tudo o que você fez foi me desrespeitar desde que me juntei a esta empresa. Escolheu Riccardo em vez de mim, sem sequer me dar uma chance, e jamais me deu 95


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crédito pelas minhas conquistas em Napa. Sendo assim, não venha me falar em desrespeito! O pai empalideceu. — Ingrato... — Basta! — Riccardo colocou-se entre os dois. — Achei o Malbec magnífico. É trabalho de Gabe direcionar as operações vinícolas desta empresa e se ele acredita que esse é o rumo que devemos tomar, é o que faremos. Antonio lançou um olhar furioso para o filho mais velho. — Eu sou o cabeça desta família! — E eu administro a De Campo, Antonio. O pai ficou ali parado, abaladíssimo, antes de girar nos calcanhares e ir embora. O coração de Gabe batia forte. Naquele instante, Riccardo aniquilara qualquer distanciamento que poderia ter havido entre eles por conta da escolha de Antonio. — Grazie — disse, baixinho, para o irmão mais velho. Riccardo assentiu. — Era a coisa certa a se fazer. Matty voltou a encher a sua taça e a provar o vinho. Como Gabe, tinha um paladar natural para vinhos e, como diretor de vendas internacionais e marketing da De Campo, seu conhecimento do mercado era extenso. — Seja sincero — Gabe pediu. — Em você eu confio. Matty baixou a taça e sorriu. — Nunca provei um vinho melhor em toda a minha vida. Alex encontrou Lilly no café favorito das duas em Broadway. Enquanto Lilly relatava uma conversa engraçada que teve com Marco na noite anterior, Alex não parava de olhar para o relógio, a reunião de Gabe não lhe saía da cabeça. — É a quinta vez que verifica as horas— Lilly falou após tomar um gole do seu café. — Coisas do evento? Ela assentiu. — O que quer que aconteça na reunião da De Campo terá grande impacto no nosso evento. Lilly baixou a sua xícara. — Está dormindo com Gabe. Alex sentiu-se empalidecer. — Estou. A irmã recostou-se na cadeira, cruzando as mãos diante de si. — Ele sabe que se apaixonou? Alex empertigou-se. 96


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— Não estou apaixonada por Gabe De Campo. — Ora, vamos... — Lilly fez uma careta para ela. — Talvez não carregue as suas emoções estampadas na cara, como eu, Lex, mas qualquer idiota poderia enxergar. Apesar da cara amarrada, você está radiante. — Eu não me apaixono pelos homens. Jordan me estragou para sempre. — Já faz cinco anos. — Lilly ergueu o queixo. — Sinceramente, Lex, jamais pensei em ter de lhe dizer isto, mas sei que faria o mesmo por mim. Precisa parar de usar Jordan como desculpa. O que ele fez com você foi terrível e posso entender que não confie facilmente. Mas Gabe não é Jordan. — Não, não é. Gabe tem dezenas de mulheres atrás dele. Qual seria a sua escolha no lugar de Gabe? A problemática ou a dama da alta sociedade? — Ahá! — Lilly apontou o dedo para ela. — Está falando de esposa. — Ora, vamos. Sabe que tenho razão. Lilly franziu a testa. — Gabe não precisa que lhe abram portas. É um De Campo. — Ele também não precisa de escândalo. Eu namorei Damon Hardiing, Lilly. Tive um relacionamento com o líder de uma gangue de motoqueiros; depois, me envolvi com um homem casado. Acha que faço o tipo dos De Campo? — Você não sabia que ele era casado. Você é a vítima nesse caso, Alex. Mas, por ora, prefiro que esqueça essa história de vítima. Gabe sabe a respeito de Damon e Jordan? — Sabe sobre Damon. — Nesse caso, conte-lhe sobre Jordan. Acabe logo com isso. Verá que Gabe é um cara muito sensato. Alex empurrou a sua xícara para longe. — Diabos, Lilly. Não sou o que ele procura. Você sabe o tipo de mulher que Gabe está procurando, e não sou eu. — O que sei é que, mesmo furioso, ele não conseguia tirar os olhos de você ontem à noite. Que tal perguntar para Gabe o que ele está procurando? Alex cerrou os lábios. Tudo bem, Gabe dissera se importar com ela, na véspera. Que o que ele sentia era mais do que desejo. Mas até onde iria isso? Até onde ela poderia permitir que isto fosse sem acabar com o coração partido? Será que ousaria perguntar? — E então? — Lilly indagou. — O que vai fazer? — Estou pensando. — Deveria lhe contar sobre Jordan, Lex. Darya Theriault largou Gabe para se casar com um sócio majoritário de sua firma, com quem estava tendo um caso. Ele precisa saber disso por você. — Foi por isso que ele e Darya romperam? 97


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Lilly assentiu. O sangue de Alex gelou. A ex-namorada de Gabe o traíra e ela deveria lhe contar sobre Jordan? Não, jamais. Lilly inclinou-se e lhe apertou o braço. — Se tem um cara como Gabe De Campo na palma da mão, Lex, você não pergunta por quê. Você o agarra com todas as forças antes que outra o faça. Tudo bem, talvez com isso ela tivesse de concordar. Após um brutal dia de trabalho de 14 horas, Alex, sentada no sofá de couro da linda sala de estar de Gabe, na sua luxuosa cobertura, tentava reunir coragem para fazer a pergunta que Lilly lhe enfiara na cabeça. Haviam passado as últimas três horas revendo os planos do evento de modo a incluir o lançamento de Cota dos Anjos, enquanto consumiam uma pizza de pepperoni inteira. — E, então, o que dirá quando a imprensa lhe perguntar o quanto Antonio teve a ver com Cota dos Anjos? — ela o testou, baixando a prancheta. — A presença dele é sentida em tudo, e somos uma grande combinação do antigo e do novo. — Gabe franziu a testa ante a resposta politicamente correta. — Terminamos, não? — perguntou, puxando-a para o colo. Ela sorriu. — Terminamos. Foi perfeito. Sabe que só estou fazendo isso pelo seu próprio bem. — E estou escutando — ele murmurou, pousando os lábios na têmpora dela. — Vê? Posso aprender. Com um movimento rápido, ela pegou a sua taça de vinho. Ele arqueou a sobrancelha. — Você nunca fala sobre a sua mãe — Alex disse. — Onde estava ela quando Antonio bancava o patriarca intimidador. — Notavelmente ausente. — Gabe começou a lhe desabotoar a blusa e o corpo de Alex começou a vibrar. — O casamento de meus pais foi uma fusão de negócios de duas famílias influentes. Minha mãe fez a sua parte dando à luz três filhos, como meu pai queria. Depois nos abandonou a maior parte do tempo para fazer o seu trabalho de caridade, que é o legado das mulheres Lombardi. — Quer dizer que nenhum de nós teve grandes exemplos de casamento em que se espelhar. — Alguns diriam que meus pais são muito felizes. Cada um fazendo o que gosta. — E o que você acha? Ele deslizou os dedos sob o queixo dela. — Pergunto-me para onde está indo esta conversa. Ela sentiu um frio na barriga. Deu de ombros. 98


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— Apenas curiosa. Gabe franziu a testa. — Não sei. Acho que relacionamentos são complexos. — Ainda é apaixonado por Darya? O olhar dele se estreitou. — Não. Desde que ela me abandonou não sou apaixonado por Darya. Mas gosto que você esteja com ciúme. — Ela ainda é apaixonada por você, Gabe. Vi isso o rosto dela, na festa. — Problema dela. — Gabe roçou o polegar sobre o seio coberto de renda de Alex, fazendo-a se derreter por dentro. — O que quer me perguntar, Lex? Ela engoliu em seco. — Não sou Darya Theriault, Gabe. E muito menos Samantha Parker. Sou uma garota paupérrima de Iwoa que conseguiu tornar-se alguém. — E por quem tenho enorme respeito. Não era o bastante. — Vi a expressão do seu rosto naquela noite no restaurante, Gabe. Eu o peguei de surpresa, mas tem de admitir, você jamais me considerou algo a longo prazo. Sempre me evitou justo por causa disso. Os olhos dele brilharam com uma emoção que ela não conseguiu identificar. — Porque não a conhecia. — Pois me conhece agora. Entendo que não queira fazer promessa que não poderá manter e respeito isso. Mas tenho tantos esqueletos no meu passado que daria para afundar um navio. Coisas ruins que poderiam atingi-lo. Ele sacudiu a cabeça, devagar. — Seu passado não é tão ruim, Lex. E daí que era uma adolescente rebelde? Pare de tentar me empurrar para longe antes que eu invista em você. Deveria contar para ele. Sabia que deveria. Ele passou a mão para as costas dela e abriu-lhe o sutiã. — Vamos aos poucos — Gabe murmurou, fitando-a nos olhos. — É tudo o que estou pedindo, Lex. Seu desejo de confiar plenamente nele se achava em conflito com o desejo de jamais expor a sua maior vergonha. Maldito seja, Jordan Lane. Como poderia se abrir, sabendo que a capacidade de Gabe de destruí-la era muito maior do que a de Jordan jamais fora? Como ousara ele privá-la da capacidade de sonhar? Não queria perder Gabe. Enterrando sua racionalidade na esperança de que de algum modo isso pudesse dar certo, ela o beijou. Confiou a ele o seu coração. E rezou para que Gabe não o partisse, como todos os outros homens de sua vida haviam feito. 99


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Tomando-a nos braços, ele a carregou na direção da enorme ducha no banheiro. Se Gabe notou que ela tremia sob suas mãos, nada disse. Ele despiu-lhe as roupas, ergueu-a nos braços, e sentou-se com ela no banco sob a ducha. Alex sentiu-se exposta, despida mental e fisicamente, enquanto ele a lavava. Quando terminou, Gabe a manteve ali, até o vínculo entre os dois e a água quente a acalmarem, e, quando ela estava tranqüila nos seus braços, Gabe envolveu-lhe as pernas ao redor da própria cintura e a possuiu lenta e carinhosamente, um ato que curou uma parte dela que nem sabia estar quebrada. Naquele instante, com o rosto enterrado no ombro dele, Alex se deu conta de que estava profunda e irrevogavelmente apaixonada por Gabe De Campo.

CAPÍTULO 13

Sob os flashes dos fotógrafos, celebridades chegavam uma após as outras em Zambia, na quente noite de verão prevista para quebrar recordes de calor na cidade. Mas nem mesmo a temperatura conseguia esfriar os ânimos dos convidados para a grande noite da De Campo. Zambia era uma obra-prima moderna de madeira escura e tijolo exposto, projetada por um dos melhores arquitetos da cidade. Milhares de garrafas de vinho revestiam as paredes, iluminadas por um enorme candelabro de cristal que pendia do teto. Alex deteve-se na entrada do salão lotado. Gostaria de pensar que a energia vibrante que pulsava por suas veias tinha a ver com a noite fantástica que esta provavelmente seria, mas estava quase certe de que tinha mais a ver com o bonitão alto de smoking recebendo os convidados perto da entrada. Estar com Gabe expandira os seus sentidos. Tudo parecia mais magnífico, mais sofisticado quando estava com ele. E há pelo menos três dias vinha estando com ele todas as manhãs, o que lhe proporcionava uma sensação de pânico de que não fazia a menor ideia do que estava fazendo. Era uma experiência novíssima para ela, e vinha fazendo o possível para melhor se adaptar. Para ser sincera, queria que jamais tivesse fim. Gabe devia ter sentido o seu olhar, pois ergueu a cabeça e o retribuiu. Uma descarga elétrica percorreu-lhe o corpo, como se houvesse enfiado o

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dedo na tomada. Baixando a cabeça, Alex abriu passagem por entre a multidão, até chegar a ele. — Acho que devemos guardar isso para mais tarde — ele murmurou, devorando-a com os olhos. — Não sei do que está falando — retrucou ela inocente. — Estou apenas admirando a vista. — Gostei de como a admirou hoje de manhã. — Pois poderá gostar novamente hoje à noite — ela ronronou. — Se eu ainda estiver de pé. — Definitivamente não haverá necessidade de você estar de pé, cara mia. Sentindo o corpo todo arrepiar-se, Alex voltou-se para ele com a sobrancelha arqueada. — Acho que quem tem de guardar alguma coisa para mais tarde é você, Gabriele. Os olhos dele brilharam ante a menção do nome completo, o que ela costumava usar para ênfase. — Volto para São Francisco amanhã. Sua mão congelou a caminho do próprio rosto. Alex sabia que isso viria mais cedo ou mais tarde. Afinal, morava em Nova York, enquanto ele morava em Napa; e Gabe tinha dois vinhos para colocar no mercado. Sendo assim, por que se sentia tão pega de surpresa? — Mudou o seu vôo? — A agência de publicidade quer me mostrar alguns conceitos amanhã. — Ele fitou-lhe intensamente o rosto. — Venha comigo. Você merece uma folga após tudo isto. O convite a agradou, mas era impossível. Alex sacudiu a cabeça. — Passei semanas na Costa Oeste. Tenho milhões de coisas para resolver após o evento e três novas propostas de trabalho para serem avaliadas na minha mesa. — Emily pode cuidar das coisas do evento. Traga as propostas consigo. O tom imperioso a deixou ouriçada. — Vivemos em costas opostas, Gabe. Vamos ter de chegar a um acordo. — Não tenho nenhum problema em negociarmos, anjo. Que tal à uma hora, no meu apartamento, na minha... — Gabe! — Ela olhou nervosa ao redor. — Não vamos falar sobre isso agora. Será que pode chamar Riccardo e Antonio? Está na hora do brinde. Ela lançou-lhe um olhar que dizia que definitivamente iria retomar aquela conversa mais tarde, e virou-se para procurá-los.

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Lilly juntou-se Alex no bar enquanto os De Campo faziam os seus comentários inaugurais. — Será que há algum momento entre vocês dois que não seja intenso? — ela murmurou. — Poucos. E, a propósito, o que deu em Matty? Ele vem se portando tão pouco como Matty. Lilly sacudiu a cabeça. — Ninguém sabe. É um grande mistério. — Deve ser uma mulher — Alex concluiu. Voltou a sua atenção para Antonio quando ele deu início ao seu discurso. Surpreendentemente, ele parecia estar no seu melhor comportamento, elogiando Gabe e a operação em Napa. Alex o estudou, tentando decifrar se ele mudara de ideia ou se estava apenas fingindo para a multidão, mas o patriarca do De Campo parecia sincero. Observou Gabe, que se mostrava tão desconfiado quanto ela. Mas a multidão parecia estar adorando a teatralidade exagerada de Antonio. Ele podia ser um velho rabugento, mas era capaz de fascinar quando queria. Após Gabe falar, a festa começou de verdade. Alex dedicou-se à agenda lotada de entrevistas da mídia com todos os três De Campo. Quando já havia terminado com a maioria, Alex soube que Cota dos Anjos era um sucesso. Os jornalistas e colunistas especializados provavam o vinho durante as suas visitas exclusivas às adegas, e quase unanimemente o declaravam espetacular. Ao conduzir o seu penúltimo entrevistador para as adegas, ocorreu a Alex que ela podia trabalhar de Napa esta semana. Sim, havia três propostas sobre a sua mesa para serem estudadas, mas uma delas era de Jordan, que ela não pretendia mesmo aceitar, e as outras eram relativamente simples. O que a levou a pensar que não seria tão difícil assim trabalhar regularmente nas duas costas. Decidindo que era loucura, tirou a ideia da cabeça e apertou a mão do colunista. — Pronta para o meu último — falou para Emily. — Por favor, diga que é o meu último. — É o seu último. Marc Levine. Importador de vinhos. Tem a sua própria coluna. Lida por centenas de milhares, todos os meses. — Impressionante — Alex murmurou. — Com quem ele quer falar? — Gabe. Emily apontou para o colunista, loiro, alto, postado junto ao bar com a sua acompanhante, uma linda ruiva. O olhar de Alex se demorou um pouco mais sobre a mulher. Ela lhe pareceu familiar... Cassandra Lane, a ex-esposa de Jordan! A mulher que chegara da França para flagrar Alex e o marido juntos na cama.

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Como pudera se esquecer de que Cassandra era agora casada com um especialista em vinhos? Com a respiração alterada, Alex deu as costas ao casal. Mas foi tarde demais. Os olhos da ruiva brilharam de reconhecimento. Droga. — Cuide deste — murmurou para Emily, que lhe lançou um olhar confuso, mas adiantou-se na direção do casal. Alex seguiu em disparada para a cozinha, onde se apoiou na parede, as pernas bambas. Eu não sabia, teve vontade de ir até lá fora e gritar para Cassandra Lane. Jamais soube. Mas de que adiantaria? Emergiu da cozinha dez minutos mais tarde, o mais recomposta que pôde, e determinada a evitar Cassandra a todo custo. Estava a caminho de pegar outra caixa de vinhos da adega, quando foi interceptada pela ruiva. — Alex. A outra mulher parecia muito serena, mas era possível ver a emoção pulsando sob a pele clara. Ela passou os olhos por Alex, como se estivesse estudando uma obra de arte. — Ele sempre insistiu que você não foi nada, mas tenho a impressão de que não foi bem assim. Acho que estava apaixonado por você. Alex sentiu o chão cedendo sob os pés. O aposento girou. — Jordan me falou que vocês estavam divorciados — ela informou bruscamente. — Eu sinto muito. — Como pôde não saber? Como pôde não saber que ele tinha outra vida? — Você estava na França. Jordan e eu trabalhávamos 24 horas por dia, 7 dias por semana. Foi... — Alex gesticulou com a mão no ar. — ...intenso. — Foi no nosso apartamento — Cassandra enfatizou. — Será que nada a deixou desconfiada? O fato de ele não apresentá-la aos amigos? Aos filhos? De nunca tê-la levado à casa em Long Island? As perguntas foram como socos violentos na boca do estômago. Era o que ela jamais conseguira tirar da cabeça. Como, em seis meses, não enxergara os sinais? Talvez não tivesse querido enxergar. Talvez estivesse tão feliz de se sentir amada que ignorara qualquer coisa que não se encaixasse. — É melhor eu ir — Alex murmurou. — Isso não resultará em nada de bom. — Tem toda a razão — a outra mulher retrucou, erguendo o tom de voz. — Espero que você tenha valido o acordo de divórcio de 30 milhões de dólares, Alex. Espero mesmo. — Tenho certeza de que não. Girando nos calcanhares, Alex adiantou-se através da multidão. Mas jamais seria capaz de avançar rápido o bastante para escapar do seu passado.

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Seu olhar assombrado encontrou Marc Levine e Gabe retornando da entrevista. Alex sentiu-se tomada de pânico só de pensar que Cassandra poderia convencer Marc a falar mal do vinho de Gabe. Se alguém pudesse criar o pior pesadelo dela, teria sido este. — Grazie — Gabe murmurou para Marc, seu olhar no rosto de Alex. — Avise-me se eu puder ajudar com qualquer outra coisa. Eles apertaram as mãos e o outro homem desapareceu na multidão. Gabe aproximou-se. — O que foi? — Preciso conversar com você. Em particular — completou antes que perdesse a coragem. — A adega? — ele sugeriu. Alex assentiu. Ao chegar lá, as temperaturas mais baixas da adega de mogno entalhado a fizeram estremecer. Gabe postou-se diante dela, com os braços cruzados e uma expressão desconfiada no rosto. Por onde ela começaria? Como o faria entender? — Jordan Lane foi meu cliente. Você sabe disso. Cassandra Levine, esposa do colunista que acabou de entrevistá-lo, é sua ex-mulher. Ele arqueou a sobrancelha. — Não sabia disso. Ela respirou fundo. — Eu tinha 22 anos quando trabalhei com Jordan. Ele era do tipo que queria estar envolvido em todas as etapas do processo. Quando Jordan solicitou minha empresa para trabalhar na conta dele, não pude recusar. Mesmo eu sendo tão inexperiente. — Ele a queria — Gabe afirmou impassível. Ela envolveu-se com os próprios braços. — É. — Não estou gostando do rumo que esta conversa está tomando, Lex. Ela ergueu a mão trêmula e afastou o cabelo dos olhos. — Ele era 13 anos mais velho do que eu. Brilhante. Começamos a passar muito tempo juntos, trabalhando, e, uma noite, ele me pediu para encontrá-lo na suíte do seu hotel. — Mordeu o lábio inferior. — Nós... — Diga-me que não dormiu com ele. Ela estremeceu. — Dormi. — Enquanto ele era casado?! — Eu não sabia. Jordan falou que era divorciado. Que a ex-mulher estava trabalhando na França.

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— Maledizione, Alex! — Gabe jogou as mãos para o alto. — Você conhece a minha história no tocante a isso. — Conheço. — Ela deu um passo na direção dele. — Por isso estou lhe contando. Isso não foi como o que aconteceu com Darya, Gabe. Eu não sabia que ele era casado. — O fato de a ex-esposa dele estar lá em cima nada tem a ver com este súbito episódio de sinceridade? — Eu quis lhe contar, mas quando Lilly me falou sobre o que Darya fez, achei que você pudesse não entender. — E não entendo. — Ele irradiava fúria. — Durante toda esta semana, enquanto eu tenho me esforçado para lidar com Lane, você escondeu isso de mim? Ela levou as mãos às têmporas. — Estava com medo. — Deveria ter me contado! — ele esbravejou. — Lane roubou o meu vinho, Alex. Ele está tentando me destruir. Como posso saber que você não faz parte de tudo isso? Você me procurou. Você quis esse trabalho. O coração dela quase parou de bater. — Não está falando sério. Gabe cerrou as mãos ao lado do corpo. — Tudo que lhe pedi foi sinceridade, Lex. Eu podia lidar com o resto da sua bagagem Mas nem isso você pôde me dar. — Você não entende! Perdi o meu emprego por conta disso. Meti-me em um acordo de divórcio de 30 milhões de dólares. Minha firma me mandou ficar de boca calada e jamais voltar a mencionar o assunto. — Você não trabalha mais para eles. — Reputação ainda é tudo no meu negócio. Ninguém me contrataria se eu estivesse associada a um escândalo desses. Meu negócio não sobreviveria. Droga, Gabe, eu era uma jovem burra que cometeu um grande erro! Jamais deveria ter me envolvido com um cliente, independentemente de ele ser casado ou não. — No entanto, aqui está você novamente. A boca de Alex ficou seca. — Sabe que isso é diferente. — Como posso saber qualquer coisa? O tempo todo você mentiu para mim. — Não menti para você. — Tem razão. É uma perita na arte da omissão. — Girando nos calcanhares, ele adiantou-se até o outro lado da adega, seus ombros largos empertigando-se. — Mais alguma coisa que não me contou? Ficha criminal? Romances com políticos do alto escalão? 105


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— Você não acabou de me perguntar isso. Um silêncio glacial abateu-se sobre a adega. A voz de Gabe estava perigosamente tranqüila quando foi escutada novamente: — Era para sermos uma equipe, Lex. Eu confiei a você o meu ganha-pão. O momento mais importante da minha carreira. — É verdade. E eu lhe dei tudo. Tudo. Faz um mês que não durmo para transformar esta noite em um sucesso para você. — Fico surpreso que ele não tenha querido ficar com você. — Gabe virouse, sua voz desprovida de emoção, a expressão do seu rosto tão reservada que ela soube naquele exato instante que estava tudo terminado. — É muito mais bonita do que a esposa dele. O coração dela se espatifou em milhões de pedaços. — Eu não o quis. Droga, Gabe, fui tão enganada quanto a esposa de Jordan! Estava apaixonada por ele. Achei que tínhamos um futuro juntos. Quando descobri que ele mentiu, eu o odiei, porque tinha vivido uma mentira! — A questão aqui não é de quem foi a culpa. A questão é que você não me contou. Ela assentiu. — Eu deveria ter contado. Por favor, não me julgue baseado na emoção. Pense no que está fazendo. Ele voltou a caminhar até ela, seu olhar orgulhoso e feroz, tudo o que Alex sempre desejara. — Eu quis estar aqui por você, Lex. Quis ser aquele que a faria acreditar. Quis me fazer acreditar que o que tínhamos era real. Mas você jamais ia me dar a chance, ia? — Eu ia — ela sussurrou. — Eu estava... — Um pouco tarde demais. Minha disposição para encarar os seus problemas acabou. — Gabe... Ele ergueu a mão. — Tenho de voltar lá para cima. Ela podia tê-lo chamado de volta, poderia ter tentado dizer mais para Gabe entender. Mas a expressão dele a deteve. A finalidade dela, o julgamento. O que quer que dissesse, não seria o suficiente. A festa ainda estava no seu auge quando Alex retornou lá para cima. Em prol da sobrevivência, como já fizera outras vezes, engatou o piloto automático, para chegar até o final do evento. Lilly parecia exausta, de modo que Alex a mandou para casa, com Riccardo. Estava quase na hora do grande lançamento; sendo assim, preparou os empregados e foi à procura do pessoal dos fogos de artifício.

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Encontrou Gabe, e coordenou o brinde no pátio externo, que seria seguido dos fogos. A recepção para os vinhos pareceu ser universalmente positiva. Alex deixou Gabe diante de uma multidão ansiosa para congratulá-lo e voltou para dentro. Gabe foi embora meia hora mais tarde, com Matty. Sem ela. Alex procurou se convencer de que o seu coração não estava se partindo, que não era o seu futuro saindo pela porta. Sem dúvida cometera um tremendo erro ao não revelar a Gabe sobre Jordan. Mas cometera um ainda maior deixando-se imaginar que ele poderia ser diferente.

CAPÍTULO 14

— Hã Alex? Há meia hora que você está andando de um lado para o outro. — Emily sorriu hesitante da porta. — Há algo que eu possa fazer? Inspirando fundo, Alex deteve-se diante da mesa e apontou para o seu café. — Açúcar — murmurou. — Preciso de açúcar. — Pode deixar. Emily teve o bom senso de recuar e sair pela porta. Alex apoiou o quadril no canto da mesa e suspirou. Ao que tudo indicava estava passando pelos cinco estágios do luto. Diria que já superara o primeiro estágio, a negação. Agora, se ao menos conseguisse dominar o segundo, a parte da raiva... Já terminara duas das três propostas de trabalho esta semana e tivera uma demorada conversa com o pai pela manhã sobre a sua infância. Para sua surpresa, ela terminara com o pai admitindo que não deveria tê-la deixado passar a noite na cadeia. Apoiando a mão na mesa, voltou a inspirar fundo. Será que o que ela e Gabe compartilharam nada significara? Não era justo. Pegou a bolinha de estresse e a atirou do outro lado da sala. O modo como Gabe desconsiderara por completo todo o progresso feito por ela. O quanto confiara nele. O fato de ter lhe revelado coisas que jamais revelara a ninguém E, por conta de uma decisão errada, ele dera um fim a tudo? Tudo bem que fora um grande erro, mas ninguém já nascia correndo e saltando não é? Primeiro tinha de se engatinhar, e torcer pelo melhor. Pelo visto, não fora o suficiente. 107


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O envelope da De Campo sobre a sua mesa, com o polpudo cheque em seu interior, deixava isso bem claro. Pagamento na íntegra, como se Gabe desejasse romper todos os vínculos. Ficou de pé e enfiou o cheque dentro da gaveta, para que não tivesse de olhar para ele. Mas a garganta e o peito ainda doíam. Sentia saudade dele. Sentia saudade dos seus braços ao seu redor, fazendo-a sentir-se como se, independentemente do que acontecesse, tivesse uma âncora. Alguém disposto a se arriscar por ela. Alguém que fazia sentido nesse mundo louco. Quando Jordan enviara as flores com o bilhete dizendo que estava tudo acabado, após seis meses juntos, ela não comera por uma semana. Dessa vez, com Gabe, nem sequer sabia se algum dia voltaria a querer comer. Não havia dúvidas na sua cabeça de que ele era o amor de sua vida. Quebrara todas as regras por ele. Se Gabe tivesse deixado, teria quebrado mais. E ainda assim não fora o suficiente. De modo que, agora, teria de esquecer o passado e seguir em frente. Estágio 5. E, francamente, ficar parada ali sem fazer nada a estava enlouquecendo. Meia hora e três telefonemas depois, Alex deixava o prédio. Fez sinal para um táxi e ligou para Lilly de dentro dele. — Soube de seu telefonema para casa — a irmã comentou. — Cafeína demais hoje de manhã? — Falta dela, na verdade. Estou no táxi seguindo para o aeroporto. Volto amanhã. — Você falou que passaria algum tempo sem viajar. — Jordan Lane está avaliando propostas esta semana. — Alex! Gabe vai ficar “você sabe o quê” se aceitar esse trabalho. — E faz diferença? Ele não quer mais nada comigo. — Você não tem certeza disso. Gabe não é do tipo impulsivo. Na certa precisa de um tempo para pensar. Dê-lhe... — Tenho de resolver algumas coisas inacabadas. Escutou a irmã engolindo em seco. — Alex, desça do táxi. Tome um calmante. Faça o que tiver de fazer, mas não suba naquele avião. — Não posso. Ora, veja, a bateria do celular está acabando. Falo com você depois. Deveria ter sido um grande momento. Gabe assistiu à primeira garrafa de Cota dos Anjos saindo da linha de produção com um aperto no coração que não podia descrever. Estava feito, a maior aposta de sua vida se achava em andamento. E, a julgar pela reação no sábado, pela reação de cada jornalista e colunista do país, fora a escolha correta.

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A primeira garrafa chegaria às lojas apenas em outubro e só então saberia o destino real do vinho. Até lá, tudo o que poderiam fazer era estocar as distribuidoras e revendedoras e ter fé. Quem dera pudesse fazer o mesmo na sua vida pessoal. Estava tão furioso com Alex... Já era ruim ela ter tido um caso com um homem casado, mesmo que acreditasse nela quando alegou não saber, mas tinha de ser com Jordan Lane? Além disso, escondera o fato dele. Indesculpável. Violara o seu mais precioso código de honra: completa sinceridade. Darya tornara isso essencial. Sentia-se mal só de pensar nela com Lane. Com o homem que queria destruí-lo. Viu as garrafas saindo da linha, uma após a outra. Cota do Diabo. O vinho de Alex. Era impossível pensar de outra maneira. Ela o batizara. Ela o divulgara. Haviam sido uma equipe. Só que, como Darya, ela o desapontara. Apertou com força o corrimão da sacada que dava para a área de produção. Tudo bem Não como Darya. Os problemas de Alex eram outros. No fundo, sabia que Alex nada tivera a ver com Lane ou o espião. Ela colocara a alma naqueles eventos. Porém, sinceridade era essencial. Gabe não podia viver sem ela. Alex chegou ao restaurante em Fisherman’s Wharf exatamente às 18h, impecavelmente vestida. Nada nela sequer lembrava a ingênua jovem de 22 anos que já fora. Seu alarme tocou assim que o maitre a conduziu a uma mesa em um canto aconchegante do restaurante de frutos do mar. Não parecia o tipo de lugar apropriado para se conduzir uma reunião de negócios. Avistou Jordan. Mesa para dois. Onde diabos estava a sua concorrência? — Não entendo — murmurou quando ele se ergueu para cumprimentá-la com dois beijinhos. — Onde está todo mundo? Ele gesticulou na direção de uma das cadeiras. — Achei melhor conversarmos primeiro. Ela ficou postada ali, cada célula do seu corpo lhe dizendo para fugir correndo. — Sobre o quê? — Sente-se, Alex. Ela sentou-se. — Quer dizer que virão mais tarde? Os brilhantes olhos azuis fitaram os dela. — Ninguém virá. Ela levantou-se bruscamente. Como pôde ser idiota a ponto de achar que se tratava de negócios? Que Jordan poderia querê-la pelo seu intelecto? 109


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— Deixe-me explicar. — Seu olhar foi implacável. — Sente-se. Está fazendo uma cena. Olhando ao redor, ela tornou a se sentar. — Será que não tem vergonha, Jordan? Será que o que fez cinco anos atrás não foi o suficiente? — Pedi que viesse aqui hoje para me desculpar. Sinto muito, Alex. — Pelo quê? Por quase destruir a minha vida? Não acredito que achei que tivessem sido minhas referências profissionais que me trouxeram aqui. — E foram. Falei para a diretoria que você deveria ser a escolhida. — Nesse caso, o que é isto? — Ela gesticulou na direção da mesa. — Não são negócios, Jordan. — São, sim — Ele serviu um vinho que ela não queria. — Tenho de saber que não está dormindo com Gabe De Campo. Gabe. O homem que valia dez dele. O homem que ele tentava destruir. — Acho que não vou querer o seu contrato. — Precisa do meu contrato. Esqueça seus sentimentos pessoais, aceite o meu pedido de desculpas e siga em frente, Alex. Era o que deveria estar fazendo hoje. Seguindo em frente. Se Gabe não a amava, precisava enterrar-se no trabalho. — Não tenho nenhum relacionamento com Gabe — afirmou por entre os dentes. Jordan estudou-lhe o rosto com o olhar frio, antes de assentir. — Ótimo. Quer falar sobre os detalhes do contrato? Ela tirou a sua cópia da valise. Esforçou-se para concentrar-se. Mas cada vez que Jordan falava sobre o seu Black Cellar Select, Alex sentia o estômago se revirando. Era o vinho de Gabe. E, no entanto, ali estava ele, falando como se fosse produto do seu sangue, suor e lágrimas. Alex amava Gabe. Agora dava-se conta de que apenas se deixara encantar pela experiência de Jordan, com o fato de um homem poderoso como ele desejá-la. Mas seu amor por Gabe era muito mais do que isso, muito mais profundo. Não estava disposta a desistir dele. E era o que aconteceria se aceitasse aquele trabalho. Jordan atendeu a um telefonema, e, em seguida, se desculpou para ir ao toalete. Com os dedos trêmulos, Alex pegou o contrato e o rasgou ao meio. Talvez Gabe jamais a aceitasse de volta, mas pelo menos teria tentado. Estava cansada de fugir. Seu olhar pousou sobre o telefone de Jordan enquanto aguardava o seu retorno. Antes que parasse para pensar no que fazia, o aparelho estava em suas mãos, e ela, verificando os seus contatos. Centenas de nomes passaram pela tela antes que um lhe chamasse a atenção. Sam Withers. Um dos enólogos de Gabe. Por que ele estava na lista 110


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de contatos de Jordan? Verificou que ele fizera inúmeras ligações para Jordan naquela semana. Ah, meu Deus! Voltando para a tela principal, ela depositou o aparelho sobre a mesa. Seria Sam Withers o espião? Jordan retornou e ergueu a sobrancelha ao fitar o contrato rasgado. Alex ficou de pé. — Não posso trabalhar para você. Os olhos dele faiscaram. — Você me queria, Alex. Ela sacudiu a cabeça. — Eu quis uma ilusão que jamais existiu. Pegando a sua valise, ela deixou o restaurante de cabeça erguida. Enterrara um fantasma do passado.

CAPÍTULO 15

Anoitecia em Napa quando Alex estacionou o seu carro no vinhedo De Campo. Ficou sentada no interior do veículo por um instante, reunindo coragem. Não fazia ideia do que diria. Apenas sabia que tinha de tentar. Inspirando fundo, desceu do veículo e caminhou com as pernas bambas até a porta da frente, que estava destrancada. Gritou “olá”, entrou e foi encontrar Elena na cozinha. A mulher espanhola a recebeu com um abraço. — Ele está em casa? — perguntou Alex. Elena assentiu na direção do terraço. — Num mau humor inacreditável para quem produziu a sua primeira garrafa de Cota dos Anjos, hoje. Bem, acho que vou para a cama. Sentindo um frio na barriga, Alex adiantou-se até as portas envidraçadas que levavam ao terraço. Avistou Gabe de costas para ela, apoiado no parapeito que dava vista para o vinhedo. — Soube que enrolharam a primeira garrafa de Cota dos Anjos hoje. Ele virou-se, seu olhar se estreitando, como se para confirmar que ela estava mesmo ali. — O que faz aqui?

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Não foi um começo muito promissor. — Tive um encontro com o passado hoje. Ele a fitou com desconfiança. — Suponho que vá elaborar um pouco mais. — Vou. — Alex se forçou a adiantar-se até ele. Pigarreou, e empertigou os ombros. — Comecei o dia com um telefonema para o meu pai, que ficou me ouvindo esbravejar por ele não ter estado presente para mim, e me desculpei por ter causado tanta angústia. Depois, liguei para Jordan Lane e falei que voaria até aqui para uma reunião de análise de propostas. Gabe estremeceu, a expressão se tornando sombria. — Recebi o seu cheque — falou Alex calma. — Entendi o recado. — E foi direto até ele? Não tem nada contra trabalhar para um ladrão? — Eu estava magoada. Você partiu o meu coração no sábado, Gabe. Uma emoção que não conseguiu identificar brilhou no olhar dele. — Quer dizer que veio me contar que está trabalhando para Jordan Lane? Ela sacudiu a cabeça. — Percebi que não poderia trabalhar para Jordan. Não podia trabalhar para alguém que está deliberadamente tentando destruir o homem que eu amo. Gabe cerrou o maxilar. — Alex... Ela ergueu a mão. — Antes de lhe dizer que não poderia trabalhar para ele, Jordan foi ao banheiro. Examinei os contatos em seu celular, e encontrei na lista o nome de Sam Withers, Gabe. Havia várias ligações entre os dois na última semana. — Withers? Ela assentiu. Ele praguejou. — Deixe ver se eu entendi. Você foi jantar com Jordan Lane hoje, com a intenção de aceitar um emprego, decidiu que não podia e vasculhou o celular dele para achar o meu espião? — E. — Maledizione, Lex. Será que enlouqueceu?! — Creio que sim. Ele passou a mão pelo rosto. — O que foi que acabou de me dizer? Confusa, ela olhou para ele.

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— Sobre Lane? — Disse que me amava, Lex. — Ah, isso... — Ela respirou fundo. — É verdade. Houve um prolongado silêncio. Emoções cruzaram aqueles atentos olhos esverdeados, até que Alex teve de falar alguma coisa. Qualquer coisa. — Certa vez você me disse que eu tinha medo de estar em um relacionamento de verdade. Sendo assim, entreguei-me para você. Você me disse que tudo o que faço é fugir. — Ela ergueu o queixo trêmulo. — Bem, aqui estou. Lutando pelo que quero. —Engolindo em seco, forçou-se a continuar: — Quero que desça desse seu pedestal de indignação, Gabe, e que me conceda outra chance. Você me deve isso. — Acha mesmo? — Acho. — Avançou na direção dele. — Você fez com que eu me abrisse, Gabe. Você prometeu que seria o suficiente. E depois me virou as costas. — Tenho dificuldade para confiar, Lex. — Ele se aproximou, o calor do seu corpo fazendo o dela vibrar. — Você teve um romance com um sujeito que vem tentando me arruinar. Com o único homem que eu não toleraria, e não me contou. — Então é isso? Você me odeia porque foi com Jordan. Você me odeia porque Darya o abandonou. Mas nada disso é culpa minha, Gabe. E o passado, e estou cansada de levar a culpa por ele. Jordan Lane me usou. — Sua vontade de lutar a abandonou. — Já lhe contei cada segredo, cada coisa sombria a meu respeito, porque confiava em você. Porque o amo. Mas é um leva e traz, Gabe, e posso ver que não sente o mesmo por mim Encontrou as forças para lhe virar as costas e começar a andar. Depois, parou e voltou-se. — Você falou que quando alguém nos ama podemos entregar-lhe o coração, pois ele será protegido. Acreditei em você. Acho que fui uma tola. Ela se virou para ir embora, mas a voz dele a deixou paralisada: — Acha que não a amo, Lex? Acha que a última semana também não foi um inferno para mim? Escutou os passos dele se aproximando e sentiu as mãos de Gabe pousando nos seus ombros, virando-a. — Tem razão, Lex. Odeio o fato de ter sido Jordan, e odeio o fato de você ter tido um caso. Sei que você não sabia que ele era casado. Conheço você. Mas quando Darya foi embora, ela arrancou o meu coração. — Não posso mudar o passado. Quem dera pudesse... Tantas pessoas acabaram magoadas. Viu algo mudar no seu olhar, e a esperança brotou no interior do peito. Gabe enxugou as lágrimas na sua face com o polegar. — Preciso de você, Lex. Passei a última semana tentando me convencer de que você não é digna de confiança porque o que sinto é assustador. Mas

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cada vez que eu tentava esquecê-la, tentava convencer-me de que não podia estar com você, havia uma vozinha na minha cabeça dizendo que você era a mulher da minha vida. O coração dela quase parou de bater. — Tem de confiar em mim, Gabe. Eu cometerei mais erros. É o que faço. Mas jamais mentirei para você. — Eu sei. — Ele levou a mão ao rosto dela. — Passei o dia inteiro tentando olhar para o vinho no qual investi dois malditos anos de desenvolvimento, e não consegui por sua causa. O vinho é seu, Lex. Ela sacudiu a cabeça. — O vinho é seu. Você é brilhante. — É nosso. Você o batizou, tesoro. Cada jornalista especializado no país está falando sobre ele por sua causa.

e

colunista

Ela sorriu. — Somos uma boa equipe, não somos? — Sí. — Ele curvou a cabeça e a beijou. — Somos. O coração de Alex pareceu alçar vôo até a estratosfera. Ela o beijou com toda a frustração e tristeza acumuladas dos últimos dias e decidiu que jamais o deixaria escapar. Mas, primeiro, tinha de escutá-lo dizer novamente. — Precisa elaborar um pouco mais o que disse antes — murmurou, recuando para fitá-lo. — Que a amo? — Ele sorriu. — Eu te amo, Alex. E prometo que, se me der o seu coração, eu o protegerei. Ela sentiu-se derreter. — E o seu corpo. — Gabe a puxou para si. — Somos espetaculares na cama, cara mia, e a minha tem estado um tanto quanto fria nesta última semana. — Acho que deveríamos dar um jeito nisso agora mesmo. — Deixou o seu biquíni entre as suas coisas lá em cima? Ela assentiu. — Pois vá vesti-lo. — Isso significa que vou ficar? — Que tal para sempre? Ah, ele era tão bom em ser romântico. — Estava pensando... — Ela arriscou: — Talvez eu possa abrir um escritório nas duas costas. — Que tal discutirmos isso na banheira de hidromassagem? Vá. Após subir e vestir o biquíni com dedos ansiosos, com um sorriso que se recusava a lhe abandonar o rosto, ela se juntou a Gabe no terraço. Ele já estava usando aquele seu calção azul-marinho de dar água na boca. 114


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— Venha. — Gabe estendeu a mão, mas em vez de levá-la até a banheira, seguiu na direção do vinhedo. Alex fincou os calcanhares no chão quando ele fez menção de seguir para a adega. — Esqueça. Ela está lá embaixo. Mesmo assim, ele a puxou. Seguiram até a sala da prova, onde Gabe pegou uma garrafa de vinho e duas taças. Nada de passos. E também não escutou nenhum ao voltarem para a casa. — Acho que estava imaginando coisas — murmurou Gabe. — Ou talvez uma última festa a tenha feito descansar. Alex torcia para que sim. Ao entrarem na banheira, ele lhe passou a garrafa, um cilindro alto e elegante, mas foi o nome no rótulo que a deixou sem fôlego. Cota dos Anjos. — A primeira garrafa — murmurou Gabe. — E estonteante. — Seu olhar voltou-se para ele. — Excitado? — Indescritivelmente. O luxúria no seu olhar fez a pulsação dela disparar. — Vire a garrafa — instruiu ele. — Olhe no fundo, perto da frase “Made in Napa”. Ali, em letras miúdas, estavam duas palavrinhas: “Para Alex.” O coração dela foi às alturas. — E melhor mesmo você me amar — falou ele com a voz rouca — ou terei de ficar olhando para 5 milhões de garrafas iguais e não será nada agradável. Conseguiram tomar um gole do maravilhoso vinho antes que Alex estivesse nos braços de Gabe e, dessa vez, não houve fantasia que não foi realizada. Dessa vez, junto com ele, veio a certeza de que, em certas ocasiões, na vida, conseguimos tudo que queremos. Apenas, talvez, não aconteça do modo como se espera...

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