Jessica Hart - Cenário De Sedução (Special 41)

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Cenário de Sedução Honeymoon With The Boss

Jessica Hart

Seu chefe vai trocar contratos... por champanhe? Tom Maddison estava acostumado a tomar todas as decisões, até seu casamento de fachada desmoronar. Mas ao invés de cancelar a lua de mel, ele levou toda a diretoria de sua empresa, incluindo Imogen, sua secretária certinha, para uma viagem tropical de negócios! Ela sempre tivera uma queda por Tom, mas ele a via somente como uma funcionária supereficiente e nada sexy! Entretanto, ao chegarem à ilha, as areias brancas e as lagoas azul-turquesa começaram a lançar sua magia sobre Tom e Imogen...


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Tradução Ana Rodrigues HARLEQUIN 2011 PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l. Todos os direitos reservados. Proibidos a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: HONEYMOON WITH THE BOSS Copyright © 2009 by Jessica Hart Originalmente publicado em 2009 por Mills & Boon Romance Arte-fínal de capa: nucleo-i designers associados Editoração Eletrônica: ABREU'S SYSTEM Tel.: (55 XX 21) 2220-3654 / 2524-8037 Impressão: RR DONNELLEY Tel.: (55 XX 11) 2148-3500 www.rraonneney.com.br Distribuição exclusiva para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 Grajaú, Rio de Janeiro, RJ — 20563-900 Para solicitar edições antigas, entre em contato com o D1SK BANCAS: (55 XX 11) 2195-3186/2195-3185/2195-3182 Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171,4° andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Correspondência para: Caixa Postal 8516 Rio de Janeiro, RJ — 20220-971 Aos cuidados de Virgínia Rivera virginia.rivera@harlequinbooks.com.br

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CAPÍTULO UM

— Onde você gostaria de passar sua lua de mel? Imogen estacou, surpresa, o braço ainda estendido para entregar uma pasta cheia de documentos ao chefe, do outro lado da mesa. — Lua de mel? — ela repetiu, cautelosa, se perguntando se ouvira bem a pergunta. Não era do feitio de Tom Maddison fazer perguntas pessoais, menos ainda tão inesperadas. Algumas vezes, em uma manhã de segunda-feira, ele se lembrava de perguntar a ela se tivera um bom final de semana, mas nunca parecera se importar muito com a resposta. Imogen sempre lhe respondia a mesma coisa nessas ocasiões — "Sim, obrigada" — mesmo se o final de semana houvesse sido um desastre, como era bastante comum. — Sim, lua de mel — disse Tom com uma ponta de impaciência. Ele pegou a pasta e abriu-a. — Você sabe, depois que se casar. — Ahn... Eu não vou me casar — respondeu Imogen. Até seria bom se tivesse uma oportunidade, ela pensou ironicamente. Todos os seus amigos pareciam estar se assentando, mas ao que parecia estava condenada a permanecer solteira — e não era por falta de tentativa, não importava o que pudesse dizer Amanda, sua melhor amiga. Desde que Andrew anunciara seu noivado, ela mergulhara de cabeça no mundo dos encontros românticos, mas por mais promissor que um pretendente parecesse à primeira vista, Imogen sempre acabava dando uma desculpa para sair mais cedo. — Finja que vai — falou Tom, pegando o primeiro documento na pasta e rabiscando sua assinatura no fim da página, antes de levantar os olhos claros e penetrantes que sempre faziam Imogen se lembrar do aço, de tão frios e inflexíveis que eram. Ele abaixou a caneta. — Você é mulher — disse Tom, como se percebesse isso pela primeira vez, o que provavelmente era verdade, pensou Imogen. Já se resignara ao fato de que, no que se referia a Tom Maddison, ela não passava de uma peça de equipamento do escritório que falava e andava. — Sei que a maioria das mulheres começa a planejar o casamento dos seus sonhos quando tem uns 6 anos — continuou ele —, portanto você já deve ter pensado um pouco a respeito. — É verdade, mas aos 6 anos a menina só está interessada em lindos vestidos — ressaltou Imogen. — Não estamos muito preocupadas com o noivo nessa idade, menos ainda com a lua de mel. Tom franziu o cenho enquanto pegava o documento seguinte. — Então você não pensou mais a respeito desde então? — Bem, eu não diria isso — admitiu ela, tentando ser objetiva —, mas minhas fantasias nunca foram além do casamento. Infelizmente nunca estive em uma posição em que fizesse algum sentido planejar uma lua de mel. 4


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— Mas está agora. — Tom levantou por um instante os olhos do documento e logo abaixou-os novamente, assinou e pegou o próximo. — Como? — Quero que você planeje uma lua de mel — falou ele, movendo a caneta bruscamente sobre o papel. — Mas... para quem? — Para mim — disse Tom, como se fosse óbvio. — Para você? Imogen o encarou. Não deveria estar surpresa, percebeu. Tom Maddison tinha 36 anos, era solteiro, heterossexual e muito, muito rico. Por que não se casaria? E também não era de se jogar fora. Não se podia dizer que era exatamente bonito, mas era alto, tinha um corpo forte e era atraente de um jeito que Imogen não conseguia explicar direito. O rosto severo era dominado por um nariz forte e por aqueles estranhos olhos claros, sob sobrancelhas formidáveis. É, ele não era bonito. Mas ainda assim... Ainda assim, havia alguma coisa no contorno da boca que fazia com que a respiração dela se acelerasse, às vezes. Alguma coisa nas mãos grandes, largas e competentes, e no ângulo do queixo, que provocava um ligeiro arrepio em sua espinha. Essas sensações eram completamente anuladas pelo fato de que Imogen já trabalhava para Tom Maddison há seis meses e ele jamais dera qualquer indicação de que tivesse emoções de qualquer tipo. E jamais mencionara sua vida pessoal. Apenas devido às informações de sua amiga Sue, do Departamento de Recursos Humanos, é que Imogen sabia que era solteiro. No entanto, ela sabia tudo sobre a reputação profissional de Tom Maddison. Era conhecido como Homem de Gelo no mundo dos negócios londrino. Era famoso por sua objetividade e pela frieza em sua abordagem às empresas falidas que ele trabalhava para recuperar. Imogen sabia que Tom já vivera em Nova York por alguns anos, renovando as fortunas de uma série de empresas familiares que agora apareciam no índice Dow Jones. E sabia também que ele fora atraído de volta a Londres pela oferta de ocupar o cargo de principal executivo da Collocom, ganhando um salário astronômico. Nessa época, a empresa lutava para avançar no competitivo mercado de comunicação e marketing. Mas era só isso o que ela sabia. Imogen nunca conhecera ninguém tão concentrado, tão focado. Era como trabalhar para uma máquina. Talvez não estivesse sendo justa, repreendeu-se mentalmente. Tom era brusco e impaciente demais para ser uma máquina. Era duro, implacável mesmo, mas era totalmente honesto também. Tom Maddison não era homem de joguinhos, e Imogen admirava isso. Com ele, o que se via era o que se tinha. Mas naquele exato instante acabara de descobrir um outro lado do chefe. — Vai se casar? — perguntou Imogen, apenas para o caso de ter se enganado. Era difícil imaginar Tom relaxando o bastante para sequer sorrir para uma mulher, quanto mais pedi-la em casamento. Ele provavelmente até chegara a conversar com ela sobre alguma outra coisa que não trabalho! Impressionante... — Eu não lhe contei? — Não — falou Imogen, contida e cautelosa. — Não contou. Ela era apenas a secretária temporária dele, mas Tom poderia ter lhe contado. Relaxando um pouco mais na cadeira, Imogen examinou-o por sobre a escrivaninha 5


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enquanto ele passava os olhos rapidamente por outro documento, e imaginou como seria a noiva. Magra, sem dúvida alguma. E provavelmente linda, concluiu Imogen, azeda. Era engraçado como os homens com milhões de sobra no banco nunca escolhiam gastá-los com garotas de aparência comum, que não se incomodariam de perder alguns quilos. — Bem... Parabéns! — ela disse, animada. — Quando a conheceu? — No Ano Novo. — Tom parecia constrangido pelo rumo pessoal que a conversa tomara. — Quando esteve em Nova York? — perguntou Imogen, surpresa. Tom certamente viajara sozinho, fora ela quem comprara a passagem dele. E o chefe não parecia ser do tipo que passava sequer um final de semana romântico com uma estranha, quanto mais alguém que se apressaria a casar com ela. — Já conheço Julia há quase um ano — disse Tom, como se lesse o que se passava na mente de Imogen. Ele assinara o último documento e se recostara na cadeira, girando a caneta entre os dedos, com uma expressão taciturna que não se parecia em nada com a de um amante apaixonado. — Mas não ficamos juntos até que eu voltasse para Londres, há quatro meses. — Por que não comentou nada antes? — Não parecia haver necessidade. Não íamos nos casar antes do próximo ano. Julia é analista financeira e obviamente precisa resolver o que vai acontecer com seu emprego caso se mude para cá. Por isso, achei que tínhamos muito tempo. — Oh. — Imogen não estava certa do que mais deveria dizer. Com certeza Tom não parecia estar vivendo um caso de amor louco e apaixonado, mas talvez ele fosse diferente por trás de portas fechadas. Com uma boca como aquela, seria uma pena se não fosse. — Então, quando vão se casar? — ela perguntou depois de algum tempo. — Em seis semanas. — Seis semanas! — Talvez fosse um caso de amor louco e apaixonado, afinal de contas. — Deus, falta pouco. — Eu sei. Tom percebeu o mau humor em sua própria voz e se aprumou na cadeira. Deveria estar soando mais entusiasmado diante da perspectiva de um casamento próximo. Afinal, fora idéia dele que se casassem. Na época fizera todo sentido. Julia era muito ambiciosa, como ele. Era linda, inteligente e bem-sucedida. E independente. Tom achara que ela representava tudo o que buscava em uma mulher. O relacionamento deles era satisfatório para ambos, sem que um exigisse nada do outro, e Tom não conseguia imaginar que pudesse vir a conhecer mais ninguém que se encaixasse tão perfeitamente em sua vida, com o mínimo de esforço. Mas isso foi antes de ele pedi-la em casamento... Antes que a febre do casamento a dominasse, transformando-a em um instante da mulher de negócios fria e competente em uma noiva neurótica, obcecada com vestidos, listas de convidados, flores e alvoroço. Era tudo muito alarmante, e Tom esperava apenas que, depois que o casamento passasse, Julia voltasse ao normal. 6


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— Julia queria muito se casar no Castelo Stavely — ele disse a Imogen, que obviamente estava se perguntando por que tanta pressa. — Nós presumimos que só conseguiríamos contratar o lugar para daqui a um ano ou mais, só que eles tiveram uma desistência de última hora e Julia aproveitou a oportunidade. Aquele cancelamento não estava nos cálculos de Tom. Ele planejara o pedido de casamento com cuidado, assim como fazia com tudo. Preferia manter sua vida sob rígido controle. Não era uma pessoa espontânea. Por isso, pensara muito a respeito, pesara os prós e os contras e preparara exatamente o que diria a Julia. Contara que ela aceitaria, e assim acontecera. O que não contara fora com a animação da noiva. Tom presumira que os dois manteriam as coisas como estavam por um tempo, com Julia em seu emprego em Manhattan e ele trabalhando em Londres. Não haveria pressa. Eles teriam um ano ou mais para se acostumarem ao fato de estarem noivos, e para planejarem o casamento perfeito com precisão de detalhes. Mas Julia confundira todos os seus planos. Ela se atirara aos arranjos para o casamento com um entusiasmo alarmante, e suas idéias foram se tornando cada vez mais extravagantes. Quando soubera que o castelo estaria disponível mais cedo do que imaginavam, nada mais a deteve. Tom não conseguia entender aquilo de jeito nenhum. Ele pensara que Julia compartilhava de sua visão pragmática do casamento. Ela certamente parecera concordar que eles poderiam ter um relacionamento bem-sucedido, baseado em respeito, admiração e atração mútuos. Não era como se Julia fosse uma garota tola e romântica, do tipo que esperaria que ele começasse a balbuciar palavras de amor e toda aquela bobagem de corações e flores. E isso só tornava o entusiasmo dela pelo casamento ainda mais constrangedor. — É tão empolgante — disse Imogen, encorajadora. — Sim — concordou Tom, percebendo que não soara muito empolgado. Mas para Imogen não havia problema algum. Não fora a vida dela que se transformara em um caos. — Julia vai chegar na próxima semana para começar a planejar o casamento — falou Tom. — Ela vai dividir seu tempo entre Londres e Nova York, por isso deve precisar de sua ajuda com algumas coisas. — É claro — disse Imogen. — O que eu puder fazer para ajudar. — Para começar, você já pode resolver esse negócio da lua de mel — disse ele, abrindo uma pasta e deixando claro que já tivera o bastante de interação pessoal naquele dia. — Julia está cuidando do casamento, mas me disse que cabe a mim organizar a lua de mel. — É de praxe que o noivo cuide disso — concordou Imogen, curiosa a respeito da leve irritação que conseguiu perceber na voz dele. Pobre Julia. Imogen se perguntou se ela percebera que o noivo não estava nada animado com aquele casamento. — Não sei nada sobre luas de mel — Tom estava resmungando. — Não é tão difícil assim — disse Imogen com apenas um leve toque de aspereza na voz. — É como viajar em um feriado. Vocês vão querer relaxar depois do casamento, por isso, tudo o que precisa fazer é encontrar algum lugar romântico onde possam ficar a sós. Tom franziu o cenho. — O que quer dizer com romântico? 7


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Dessa vez, Imogen precisou se controlar para não revirar os olhos de irritação. — Isso depende de vocês. Cada pessoa tem uma idéia diferente do que é ou não romântico. O que romance significa para você? — Não adianta me perguntar — ele falou, sem a menor disposição para ajudar. — Não tenho a menor idéia. Bem, aquilo era uma surpresa! Imogen suspirou. — Nesse caso, então, apenas escolha algum lugar tranqüilo onde possam relaxar. — Tem que ser "especial". — Tom usou os dedos para colocar a palavra entre aspas, mal conseguindo disfarçar seu incômodo com a idéia. — Não posso simplesmente fazer reservas em algum lugar como se fosse para um feriado qualquer. Julia obviamente está esperando que eu prepare alguma coisa sensacional. — Imagino que esteja mesmo. — Não tenho tempo para ficar pesquisando lugares sensacionais — objetou Tom. Ele examinou Imogen com uma expressão crítica nos olhos cinzentos. Quando Tom começara a trabalhar para a Collocom, Imogen fora designada como sua secret ária temporária até que ele mesmo escolhesse uma secretária definitiva. Tom admitia que, à primeira vista, não ficara impressionado. Imogen era mais jovem e infinitamente mais despojada do que qualquer outra secretária que ele já tivera, e não tinha experiência em trabalhar para um executivo sênior. Até onde Tom podia perceber, ela começara a trabalhar como secretária por acaso, e sofria de uma aguda falta de ambição. Era um bom sintoma do estado de falência em que se encontrava a empresa, que a melhor secretária que podiam oferecer ao novo presidente fosse uma temporária cuja única experiência relevante fosse um período de duas semanas no Departamento de Recursos Humanos, ele pensou, contrariado. Com o cabelo castanho revolto e as roupas mais informais do que seria adequado, Imogen sempre parecia ligeiramente desarrumada para Tom. A mesa dela, por exemplo, era uma absoluta desgraça e, apesar da sua condição de profissional temporária, Imogen parecia estar a par da vida social de todos os outros funcionários. Se Tom já não estivesse ocupado demais em tomar as rédeas de uma empresa cujo valor das ações vinha despencando diariamente, teria insistido em ter uma secretária mais profissional. Mas a prioridade dele naquele momento era deter a queda das ações e reerguer a Collocom. Quando tivesse mais tempo, iria procurar alguém mais qualificada e experiente, que soubesse agir como era condizente a uma secretária executiva, mas nesse meio tempo, para sua surpresa, Imogen provara ser bastante competente. Tom podia até desejar que ela fosse um pouco mais suave, um pouco mais rápida também, mas Imogen acabou se mostrando bastante adequada na maior parte das situações e, por isso, ele adiara a decisão de substituí-la. Sua aparência podia não ser das mais profissionais, mas ela fazia o trabalho necessário, e para Tom era isso o que realmente importava. — Você é uma mulher sensata — ele disse a Imogen. — Estou pronto para seguir sua recomendação. Sensata? Aquele não era exatamente o tipo de elogio que faria o coração dela bater mais rápido, pensou Imogen, decepcionada. Por que ele não podia pensar nela como uma mulher glamourosa, ou então misteriosa, ou sexy, ou excitante? Qualquer coisa, menos sensata! Mas Amanda acharia aquilo divertido, afinal ela estava sempre ressaltando o 8


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quanto Imogen era insensata no que se referia aos homens. Tom Maddison podia até ter uma aparência irresistível, mas uma garota sempre queria um pouco de romance. Um homem que considerava "sensato" um elogio e que claramente ficava desnorteado com a idéia de uma lua de mel romântica não deveria ser uma companhia muito divertida, na verdade, não importava o quanto sua boca fosse sedutora, ou o quanto um mero olhar para suas mãos pudesse deixar uma mulher arrepiada. Não, alguns homens eram melhores na fantasia do que na vida real, Nas fantasias de Imogen, Tom teria desabotoado lentamente sua blusa, enquanto deixava uma trilha ardente de beijos em seu pescoço. Ele a empurraria contra a porta e a reduziria a uma poça de desejo com o mero roçar de seus dedos. Meu Deus, mas como você é linda!, ele gemeria enquanto a jogava na cama. Jamais, nas fantasias de Imogen, Tom lhe dissera que ela era uma mulher sensata! O que ela deveria fazer era recomendar a Tom Maddison que reservasse um quarto em uma pensão antiga na cidadezinha de Skegness. Um destino perfeito para a lua de mel de pessoas sensatas! Não que ela fosse fazer isso à desconhecida Julia, que obviamente já precisava ter muita paciência com o noivo. Imogen estava começando a sentir pena de verdade da pobre mulher. — Eu realmente li sobre um lugar adorável, outro dia — ela disse a Tom. Havia sido em uma noite típica no apartamento — Imogen deitada no sofá, folheando revistas, enquanto Amanda pintava suas unhas, ambas reclamando da ausência de uma vida social glamourosa, enquanto secretamente se sentiam aliviadas por não terem que perder o último capítulo da novela East enders. Imogen vira matéria sobre os mais badalados refúgios românticos do momento e mostrara a Amanda, que suspirara, invejosa, e quase desmaiara ao ver quanto custava a diária. — Mas o lugar que vi é muito caro. — Imogen achou que tinha a obrigação de avisar a Tom. Ele descartou o problema com um aceno de mão, como se nada fosse caro demais se conseguisse salvá-lo de ter que encontrar sozinho um destino romântico. È provavelmente não era mesmo, pensou Imogen. Ela não cuidava das finanças pessoais de Tom, mas era de conhecimento geral que ele era milionário... Apesar de parecer que jamais se preocupava em gastar seus milhões. Parecia que tudo o que Tom fazia era trabalhar. Imogen nunca fazia reservas em restaurantes elegantes, nem comprava entradas para teatro, ou fazia os arranjos necessários para que ele voasse em jatinhos particulares ou velejasse em iates luxuosos. Tom ia de vez em quando a Nova York, mas Imogen sempre presumira que fosse a trabalho. Obviamente se enganara a esse respeito. Talvez Tom esbanjasse em jóias e presentes caros para Julia... Imogen não conseguia visualizá-lo fazendo isso, mas talvez estivesse enganada a esse respeito também. — Se dinheiro não é problema, a ilha Coconut foi descrita como o melhor lugar para uma escapada romântica — ela disse. — É, bem pequena, com apenas um bangalô charmoso e um pequeno píer. O senhor pode reservar toda a ilha só para vocês. O resort, muito luxuoso, fica em uma ilha maior, bem próxima, e eles mandam alguém diariamente, em um barco, para arrumar a casa e encher a geladeira com as comidas mais deliciosas. Os empregados podem ficar e cozinhar se a pessoa quiser, mas a maioria dos h óspedes é de casais em lua de mel, que querem apenas ficar a sós. 9


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"Havia uma foto do lugar na revista onde li a matéria", — continuou Imogen, recordando. — "Parecia absolutamente sensacional! Há uma laguna azul-turquesa, com a areia muito branca e uma rede presa entre dois coqueiros..." Ela apertava com força a pilha de papéis que segurava contra o peito, e suspirou sonhadora ao lembrar da foto. — Honestamente, parece ser o paraíso! Eu adoraria ir a um lugar assim, onde não houvesse nada para fazer, além de relaxar, nadar, ler e... Como estava prestes a dizer fazer amor, ela se interrompeu, sem jeito, imaginando se o assunto já não estava ficando íntimo demais. Afinal, seu contato com Tom até então havia se limitado a assuntos profissionais. Ele não era o tipo de chefe com quem se podia conversar sobre sexo. — E... Ahn... Bem, você sabe... — completou Imogen, constrangida. Tom ergueu uma sobrancelha ao ver a secretária ruborizar. — Sim, eu sei... — ele concordou, em uma voz seca. E, pela primeira vez, Imogen poderia jurar que vira um relance de humor nos olhos cinzentos e frios. Isso transformou de uma forma impressionante a expressão dele, e ela sentiu o pulso acelerar. Era incrível a diferença que um lampejo de humor podia provocar, cismou Imogen. Se ela tivesse visto aquela expressão antes, suas fantasias teriam sido muito mais perigosas! Era uma sorte que ele agora estivesse a salvo, que fosse um homem comprometido. No instante seguinte, no entanto, Tom voltou a ser como sempre fora. — Parece bom — ele falou bruscamente. — Faça a reserva para mim. Imogen hesitou. Era da lua de mel dele que estavam falando. — Não seria melhor que você mesmo fizesse? — Não — disse Tom, enfático. — É melhor que eu continue com meu trabalho. — Mas uma lua de mel é uma coisa tão pessoal... — protestou Imogen. — Sim, e você é minha secretária pessoal — ele ressaltou. — Isso significa que me assiste pessoalmente, por isso sugiro que faça o que deve fazer. Ah, o casamento vai ser... Para espanto de Imogen, ele realmente precisou consultar o computador para checar uma data que deveria estar gravada em seu coração. — Ah, sim, no dia 27 de fevereiro. Julia está ajeitando tudo para que aconteça naquele castelo em Gloucestershire, mas podemos chegar ao aeroporto de Heatrow com facilidade, por isso reserve passagens para um voo na mesma noite. "E não quero saber quanto tudo vai custar", — ele acrescentou, no momento em que Imogen abria a boca para falar. "Não quero ser incomodado com detalhes. Apenas reserve o que achar melhor e mande cobrar da minha conta." — Muito bem — disse Imogen, mais uma vez comportando-se como a perfeita secretária pessoal. — Se é assim que deseja. — O que eu desejo — disse Tom, irritado — é não ser perturbado. Temos um importante contrato para negociar antes do casamento, portanto é nisso que precisamos nos concentrar. — E eu já fiz as reservas para a lua de mel — concluiu Imogen, depois de passar para Tom o último recado. Ele estivera fora do escritório em diversas reuniões, durante 10


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todo o dia, e recebera diversas ligações. — Ótimo, ótimo — respondeu Tom, distraído, enquanto passava os olhos pelos recados. Ele ainda estava usando o sobretudo e gotas de chuva cintilavam nos ombros do agasalho, sob a luz forte do escritório. — Não quer saber dos detalhes? Tom franziu o cenho. — Suponho que é melhor que eu saiba — decidiu, por fim. — Julia deve perguntar o que preparei. Pode colocar tudo em uma pasta para mim? — Já está aqui, comigo. — Imogen lhe estendeu uma pasta por sobre a mesa. — Realmente espero que aproveitem — ela falou. — Não posso pensar em nenhum outro lugar em que gostasse tanto de estar, principalmente com o tempo que estamos tendo por aqui nessa época — acrescentou, acenando com a cabeça para a chuva de janeiro que ainda castigava a janela. Tom apenas resmungou alguma resposta enquanto abria a pasta e checava rapidamente as informações que ela digitara. Imogen percebeu que suas sobrancelhas assustadoras se ergueram diante do preço, mas para seu alívio, ele não fez nenhum comentário. Como deveria ser a sensação de mal precisar piscar diante de uma soma de cinco dígitos por uma viagem? Tom virou a página. — Partida no dia 27... — a voz dele ficou mais dura — volta no dia 19 de março? — Me pediu para agendar o que eu considerasse mais apropriado — ela relembrou-o. — Não posso acreditar que tenha achado que o mais apropriado para mim fosse ficar longe do escritório por três semanas! Imogen se recusou a ceder. — É sua lua de mel — ela falou. — É um momento especial. É importante que comece seu casamento da melhor maneira, se pode arcar com os custos. E você obviamente pode. — Não estou falando de dinheiro — retrucou Tom, impaciente. — Não posso dispor é desse tempo todo. — Também não estava falando de dinheiro — disse Imogen. — A Collocom não vai à bancarrota se não estiver aqui por três semanas, portanto pode arcar com o custo de tempo. É uma questão de prioridades. O que importa mais: a Collocom ou seu casamento? Tom olhou para a secretária com uma expressão próxima do ódio. Sabia como supostamente deveria responder aquilo. Ele lembrou com saudade dos dias em que ele e Julia tinham apenas um relacionamento bem-sucedido, a uma longa distância. Os finais de semana que passavam juntos em Nova York haviam sido agradáveis para ambos. Julia tinha a própria vida, muito ocupada, e respeitava o espaço dele. Tom não poderia imaginar, naquela época, que teria que pensar em todas essas bobagens sentimentais, ou que precisaria reavaliar suas prioridades. Ele não contara com tantas mudanças. Se tivesse imaginado, ainda assim teria pensado em casamento?, perguntou-se Tom, disfarçando um suspiro. Mas tudo ficaria bem, ele se reassegurou. Julia era uma mulher incrível, e ele era um homem de sorte por tê-la conhecido. Ela entenderia sobre a lua de mel. 11


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— Vou conversar com Julia sobre isso — disse Tom a Imogen, fechando a basta com um ruído surdo. — Então você poderá mudar a data das passagens. Só que Julia ficou encantada quando ele lhe contou sobre a ilha Coconut. — Obrigada por ter escolhido um lugar tão romântico, meu amor — ela disse, entusiasmada. — E três semanas sozinhos! Mal posso esperar! Não será maravilhoso podermos passar esse tempo juntos, nos conhecendo melhor? Tom achou que eles já se conheciam bem. Por que outro motivo iriam se casar, afinal? Ele tivera a esperança de que Julia também quisesse encurtar a lua de mel. A motivação para o sucesso profissional era uma das características que ambos tinham em comum — ou, ao menos, fora assim antes de Julia ficar enlouquecida com o casamento. Agora, ao que parecia, ela preferia ficar estirada em uma praia por tr ês semanas a voltar para o trabalho. Não ficaria preocupada com o que estaria acontecendo em sua ausência? Como os negócios que estariam sendo fechados sem ela? Ou com os desafios e oportunidades que estaria perdendo enquanto estivesse sentada sob algum coqueiro? Aquilo tudo era culpa de Imogen, pensou Tom, sombrio. Se ela não houvesse feito as reservas para tanto tempo, Julia teria ficado bastante feliz em retornar à vida normal depois de uma semana. Quando Imogen perguntou a ele se queria que ela remarcasse os vôos, Tom a olhou com irritação, mas foi obrigado a admitir que as datas deveriam ficar como ela reservara. — Deixe como está — ele resmungou. — Oh... Está certo — disse Imogen, olhando-o com cautela, listar noivo não parecia combinar muito com ele. O mau humor de Tom permaneceu pelos dois dias seguintes. Ele estava t ão nervoso que Imogen chegou a imaginar se Julia havia rompido o noivado. Se Tom também estivesse daquele jeito com a noiva, Imogen não iria culpá-la por não querer mais saber dele! Não que ela tivesse qualquer intenção de perguntar a ele se estava certa. Dava bastante valor à própria vida. A única coisa a fazer quando Tom estava daquele jeito era manter a cabeça baixa e ficar feliz por ser apenas uma secretária temporária. Pense no dinheiro, disse Imogen a si mesma. Ela ganhava um bom dinheiro ali e seu fundo para viagens vinha crescendo muito satisfatoriamente. Assim que Tom escolhesse uma nova secretária, ela partiria para Austrália e alguma outra pessoa seria obrigada a lidar com ele. Boa sorte para ela! No entanto, ao que parecia, o noivado continuava de pé e a todo vapor. Imogen estava tentando decifrar as anotações que fizera uns dias antes quando o telefone tocou. — Escritório da presidência. — Oi, é Imogen que está falando? — O caloroso sotaque americano pareceu saltar do telefone. — Aqui é Julia, noiva de Tom. Ele disse você poderia me ajudar com umas coisinhas. Aquelas "coisinhas" acabaram se transformando em uma lista de detalhes a serem checados que ocupavam três páginas. Imogen revirou os olhos enquanto tomava notas, mas teve que admitir que Julia era muito simpática e gentil. E, ao contrário de Tom, estava empolgada com a idéia do casamento. 12


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— Encomendei o vestido aí em Londres — ela disse a Imogen, animada. — É tããããão lindo! Eu sabia exatamente o que queria. Aliás, vou lhe mandar o esboço do modelo para você por e-mail, afinal, está sendo tão prestativa que começo a vê-la como uma espécie de madrinha virtual! Gostaria de vê-lo? Imogen não teve muita escolha além de murmurar educadamente que adoraria. — Mas não mostre para Tom! Não dá sorte ver o vestido da noiva antes do casamento. Imogen tentou se imaginar em uma conversa tipicamente feminina sobre o modelo de um vestido com o chefe, mas não conseguiu. Tom deveria ser uma pessoa muito diferente quando estava com Julia para que ela sequer pensasse que ele teria o mais leve interesse no que qualquer pessoa vestia. — Não mostrarei. —- Ah, eu reservei o Castelo Stavely para a cerimônia e para a recepção de casamento — disse Julia. — Visitei o lugar na última vez em que estive na Inglaterra e achei tão romântico... Naquele momento decidi que se algum dia me casasse, queria que fosse ali! Ela continuou a tagarelar enquanto pedia a Imogen que contratasse um quarteto de cordas, que descobrisse um fornecedor de pétalas de rosa frescas, que a colocasse em contato com uma boleira — ou "cake designer", como ela preferia —, que preparasse uma lista dos hotéis na área... — Você é tão gentil por me ajudar desse jeito — continuou Julia. — E muito difícil cuidar desse tipo de detalhes daqui de Nova York, e estou tão ocupada no momento, deixando tudo em ordem aqui antes de voar para Londres... Não tinha ideia de como a organização do casamento seria o mais difícil de tudo. — É mesmo muito a fazer em um prazo tão curto — concordou Imogen, pensando que Julia não era a única que estava ocupada. Infelizmente, nem todas as mulheres que iam se casar tinham noivos com secretárias que acabavam se responsabilizando por tudo o que seus empregos importantes e atarefados não lhes deixava tempo para cuidar! — Eu sei, é uma loucura, não? — A gargalhada de Julia soou um pouco desesperada para Imogen. — Mas houve um cancelamento no Castelo Stavely e isso pareceu um sinal. Como eu disse a Tom, quando sabemos que encontramos a pessoa certa, por que esperar? Imogen murmurou alguma coisa que não a comprometesse. Ela achava que se uma pessoa queria um casamento rápido e espontâneo, faria mais sentido manter as coisas simples e deixar para lá quartetos de cordas e pétalas de rosas. Mas o casamento não era dela, e Julia e Tom tinham dinheiro o bastante para arcar com o problema, o que sempre ajudava. — Como está Tom? — Julia estava perguntando. — Ahn... Ele está bem — respondeu Imogen, imaginando se a outra mulher esperava que ela dissesse que Tom estava louco de animação a respeito do casamento. — Trabalhando muito. Você sabe como ele é. Julia riu. — Sim, eu sei. Tom não é um amor? Ele é tão britânico, às vezes. — Com certeza — concordou Imogen, hesitante. Tom Maddison, um amor? Julia devia estar mesmo apaixonada! 13


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— Ele está aí? — Claro. Vou transferir sua ligação para ele. Imogen colocou Julia na espera e interfonou para Tom. — Estou com Julia na linha. — Julia? — ele perguntou com a voz irritada. — Sua noiva — ela relembrou-o. — O que ela quer? — Ela não disse. Acho que quer falar com você. — Não posso falar agora — falou Tom, ainda mais irritado. — Seja o que for, não pode esperar? Diga a ela que estou em uma reunião. — Eu já disse que passaria a ligação. Ele deixou escapar um resmungo exasperado. — Oh, muito bem, então. Imogen riu quando colocou o fone no gancho. Um amor! Ela sentia pena de Julia. Havia uma excitação nervosa na voz da outra mulher que não era um bom presságio para o que deveria ser uma conversa calma com o noivo. Bastaram alguns minutos de conversa para que Imogen percebesse que Julia era maníaca por controle e que já estava esgotada por ter que organizar o casamento perfeito a distância. Naquele momento ela precisava que alguém a acalmasse e que lhe reassegurasse que tudo iria dar certo, mas Imogen temia que ela não conseguiria isso de Tom, no humor em que ele se encontrava. Cinco minutos depois, Tom saiu do escritório batendo a porta, com o humor ainda pior do que ela temera. — Esse negócio de casamento está fugindo ao controle — ele reclamou. — Não tenho tempo para ficar falando de convites, votos e de jantares para ensaio. E você também está gastando muito tempo com isso — ele acrescentou, acusatório. — Não me importo — falou Imogen rapidamente. — Tudo vai ficar mais fácil quando Julia estiver aqui. — Espero mesmo que esteja certa! — Você precisa ter paciência. — Imogen estava começando a se sentir como uma conselheira. Com certeza parecia passar mais tempo falando com Tom e Julia do que eles falavam um com o outro. — Um casamento é muito importante para qualquer mulher — ela tentou acalmar Tom. — Julia está desistindo de sua vida em Nova York para ficar com você, assim, todo o processo ainda está sendo mais tenso no caso dela. Sei que tudo parece muito agitado agora, mas vai ter valido a pena depois que estiverem casados, não vai? Tom parou de andar de um lado para outro e tentou imaginar como seria quando ele e Julia estivessem casados, a salvo. Tudo ficaria calmo novamente e ele voltaria toda noite para casa para encontrar uma esposa linda, perfeita, que sabia exatamente o que fazer para manter um relacionamento bem-sucedido e que o apoiaria pessoal e profissionalmente. Ele poderia contar com Julia para dizer sempre a coisa certa, e para fazer a coisa certa também. Ela era elegante, organizada e sensata... Exceto no que se referia a casamentos, ao que parecia. Talvez Imogen estivesse certa, e toda aquela agitação de Julia fosse apenas 14


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resultado do estresse de organizar um casamento em tão pouco tempo. Assim que aquele maldito casamento estivesse acabado, com certeza ela voltaria a ser como era antes... Não voltaria? Tom demorara muito para encontrar a noiva certa. Julia em seu estado normal jamais esperaria que ele fosse sentimental e meloso. Eles haviam chegado juntos a um acordo muito claro sobre o que ambos queriam do casamento, portanto, se não funcionasse com Julia, não funcionaria com nenhuma outra mulher. Não, Julia era perfeita. Ele não queria perdê-la agora. Precisava ser mais paciente, decidiu Tom. Tentaria com todas as forças mostrar interesse pelo casamento, se era isso o que Julia queria. Tom podia sentir o olhar penetrante de Imogen sobre ele e lembrou-se da pergunta dela. Mas vai ter valido a pena depois que estiverem casados, não vai? — É claro que vai — ele respondeu.

CAPÍTULO DOIS

Imogen acenou para as recepcionistas e apertou o botão para chamar o elevador. Aquele era o último dia de Tom no escritório antes do casamento, e a equipe estava planejando uma festinha surpresa, com champanhe, àquela tarde, para desejar boa sorte a ele. Ela esperava que Tom apreciasse o gesto e conseguisse ao menos sorrir para os funcionários. A maior parte deles morria de medo dos modos bruscos do chefe, mas também o respeitavam. Tom era duro, mas era justo, e ninguém tinha dúvida de que ele transformara completamente a Collocom nos seis meses em que estava lá. O casamento era uma boa desculpa para celebrarem um futuro muito mais seguro para todos. As últimas semanas haviam sido cheias. Imogen passara a maior parte do tempo correndo atrás de quartetos de corda, floristas e fotógrafos. Tornara-se uma especialista em tudo o que se referia a casamento, desde a decoração do ambiente até os trâmites legais para licenças de casamento especiais, e estava íntima dos funcionários do Castelo Stavely depois de falar com eles por telefone diariamente para mudar ou checar detalhes intermináveis. Talvez quando voltasse de suas viagens pudesse se estabelecer como organizadora de casamentos... Não tinha notícia de Julia havia dois dias, o que era estranho. A noiva de Tom estivera indo e vindo entre Nova York e Londres nas últimas semanas, mas há dez dias chegara, como ela mesma dissera, para ficar. Imogen arranjara para que Julia alugasse um fantástico apartamento em Chelsea Harbour, onde poderia se preparar para o casamento. Mas, ainda assim, a noiva de Tom continuou a ligar para ela várias vezes por dia. Imogen esperava que — finalmente! — estivesse tudo pronto e Julia pudesse parar de se preocupar. Era uma mulher adorável, tão esguia quanto Imogen imaginara, e sempre usando roupas lindas. Havia um refinamento em Julia, um brilho, que faziam Imogen se sentir 15


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desajeitada e até velha, em comparação. As duas deviam ter mais ou menos a mesma idade, mas Julia era tão mais sofisticada que parecia vir de um mundo diferente, um mundo onde viagens na primeira classe e roupas de grife eram a norma, e que ficava a quilômetros de distância da vida que Imogen levava no apartamento bagunçado onde vivia com a amiga, no sul de Londres. Mas, apesar das diferenças entre elas, Julia parecia determinada a tratar Imogen como sua nova melhor amiga, quando finalmente se encontraram, um dia, no escritório de Tom. Ela fora calorosa e simpática, de uma forma até embaraçosa em alguns momentos, mas Imogen sentira nervosismo nela, e também alguma outra coisa sutil que parecia se esconder sob a obsessão de Julia com os arranjos do casamento, como se ela estivesse tão tensa quanto uma corda muito esticada. Imogen esperava que Julia conseguisse relaxar depois de aproveitar o casamento. Julia presenteara Imogen com uma linda echarpe para agradecer-lhe por todo o trabalho que tivera. — Realmente espero que você compareça ao casamento, Imogen — disse Julia, dando dois beijinhos em Imogen, logo na primeira vez em que se encontraram. — Significaria muito para Tom e para mim se você estivesse lá. Não é mesmo, Tom? Obviamente, aquela possibilidade nunca passara pela cabeça de Tom, mas ele assentiu. — É claro — concordou. — Sei como Imogen trabalhou duro para se certificar de que tudo isso acontecesse. Havia uma leve aspereza na voz dele. Imogen lembrava muito bem quantas vezes ele se exasperara por encontrá-la presa aos arranjos do casamento quando precisava que ela resolvesse alguma coisa de trabalho. Mas Imogen tinha que admitir que mais recentemente ele vinha se esforçando para ser mais agradável. E se perguntava se Julia percebia o quanto o noivo vinha tentando. Julia confidenciara a Imogen, em um de seus muitos telefonemas, que chegara a imaginar uma vez se Tom se arrependera de ter tido a ideia de se casarem. — Mas ele vem sendo tão doce ultimamente que percebi que estava sendo tola por me preocupar — contou Julia. — Me telefona duas vezes por dia e me manda uma rosa vermelha toda manhã, apenas para que eu saiba que pensa em mim. Julia suspirou, satisfeita. E devia mesmo, refletiu Imogen. Fora ela quem cuidara para que as rosas fossem entregues e sabia muito bem quanto custava cada uma. Imogen estremeceu por dentro diante da idéia de Tom sendo doce. Ele devia mesmo amar Julia se estava se dispondo a mudar tanto, pensou Imogen, melancólica. Ela tentou de verdade se sentir feliz pelo casal. Não era culpa de Julia se era magra, linda, rica, glamourosa e se tinha um homem como Tom Maddison a seus pés. E também não era culpa de Imogen se não conseguia levar uma dieta adiante e devorava um pacote inteiro de biscoitos de chocolate de uma vez. Nem se seus encontros amorosos reduziam-se a homens do tipo que explicava exatamente como funcionava um telefone celular, ou que realmente pensava que ela se interessaria por um relato detalhado das batalhas intergalácticas da saga Guerra nas Estrelas. — Seu problema é ser seletiva demais — Amanda estava sempre lhe dizendo. — Está procurando por um príncipe, e ele não vai simplesmente surgir em sua vida, de repente. É preciso que você esteja preparada para um compromisso. — Não quero um compromisso. — Imogen também podia ser muito teimosa. — Quero o que tive com Andrew. 16


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— Você precisa superar o que aconteceu entre vocês, Imo. — Eu já superei. — Ou ao menos achava que sim. — Sei que ele está feliz com Sara. Sei também que não vai voltar para mim. Mas quando se teve um relacionamento amoroso perfeito, é difícil se contentar com menos. — Se houvesse sido mesmo um relacionamento assim tão perfeito, Andrew não teria terminado com você — sempre concluía Amanda. Era um bom argumento. Imogen sabia que a amiga estava certa, e realmente estava tentando encontrar outra pessoa. Mas os homens que conhecia não provocavam nem uma fagulha de seu interesse. Talvez ela devesse lhes dar mais uma chance, era o que Imogen havia decidido na semana anterior. Era inspirador ver que Tom mudara tanto, e que estava se esforçando de verdade para agradar Julia. Ele devia estar mesmo muito apaixonado por ela, se estava preparado para fazer tanto esforço. Cansada de ansiar pelo inacessível, como Amanda bem colocara, Imogen jurou para si mesma que se empenharia mais. Não havia motivo para que não encontrasse alguém com quem pudesse ter um relacionamento de verdade, talvez até alguém que gostasse da idéia de viajar com ela... Mas a verdade é que as tentativas continuavam a não dar certo. Na noite anterior, deixara que o namorado de Amanda lhe arrumasse um encontro com um amigo dele, dessa vez um engenheiro que passou a maior parte do tempo contando a Imogen a respeito de suas múltiplas alergias. Não era de estranhar que estivesse se sentindo deprimida naquela manhã. Não tinha nada a ver com o fato de que Tom Maddison estaria se casando dali a dois dias. As luzes estavam acesas nas duas salas do escritório quando ela chegou. Aquilo significava que Tom já havia chegado. Na verdade, ele provavelmente estava ali desde as sete horas da manhã, como sempre fazia. Tom não era o tipo de homem que pegava mais leve no trabalho apenas porque ia se casar. Imogen testou um sorriso no espelho, enquanto pendurava o casaco. Não lhe pareceu muito convincente. Ela tentou novamente, procurando acrescentar um certo brilho no olhar. Melhor. Quase podia passar por uma garota que estava realmente feliz pelo casamento do chefe. E Imogen queria estar feliz. Tom podia ser nervoso demais, às vezes, mas ela admirava sua disciplina e sua integridade. Não era o mais simpático dos chefes, mas também não fingia ser o que não era. E ele nunca mencionava nenhuma alergia, ou dava a mais leve indicação de que nem sequer havia visto Guerra nas Estrelas. Tom merecia uma linda esposa como Julia. — Bom dia — disse Imogen, alegre, batendo na porta da sala dele e entrando. — Hoje é seu último dia antes do casamento! Por onde quer que eu comece? Tom levantou os olhos dos papéis sobre a mesa e o coração de Imogen afundou no peito quando ela viu a expressão dura no rosto dele. — Pode começar cancelando o casamento — disse Tom. Seguiu-se um momento de terrível silêncio. — Cancelá-lo? — ela falou, perplexa, esperando ter ouvido mal. Tom acenou brevemente com a cabeça, confirmando. — Cancele tudo. 17


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— Mas... O que aconteceu, meu Deus? Onde está Julia? — Voltando para Nova York. — Ele consultou o relógio. — Provavelmente embarcando nesse instante. — Ela vai voltar — disse Imogen, sabendo que Julia teria que entrar em um avião de volta assim que aterrissasse em Nova York, se quisesse chegar a tempo para o casamento. — Deve ser apenas nervosismo de última hora. — Ela não quer se casar — falou Tom com a voz inexpressiva. — Não, não é bem isso — ele se corrigiu. — Julia quer se casar, só que não comigo. Por mais que tentasse, Tom não conseguiu esconder a amargura na voz. Imogen estava parada, como se colada ao chão, mas ao ouvi-lo falar daquele jeito virou-se para fechar a porta do escritório e, sem esperar por convite, sentou-se diante dele, do outro lado da mesa. — Tem certeza de que não foi um mal-entendido? — ela perguntou, cautelosa. — Não é possível que tenha compreendido mal o que aconteceu? Tom deu uma risada melancólica, sem humor algum. — Oh, não, ela foi clara como água. Descobri que entendi mal, sim, toda a situação, mas não o que Julia quer fazer agora. Ele não toleraria ser motivo de pena. Tom girou a cadeira, de modo que não precisasse encarar a expressão de compaixão no rosto de Imogen, e ficou olhando pela janela, para a manhã lúgubre de fevereiro. Combinava perfeitamente com seu humor. — Toda a família e os amigos de Julia haviam chegado para o casamento, e ela organizara tudo para passar a noite com eles, portanto, não esperava vê-la ontem. Mas Julia apareceu na porta do meu apartamento, às dez horas da noite, dizendo que precisávamos conversar — ele contou a Imogen. — Não foi uma cena fácil. Ela disse que sentia muito, mas não poderia se casar comigo porque vai se casar com Patrick. — Patrick? — Imogen estava completamente perdida. Era tudo tão absurdo que ela não conseguiu entender direito o que Tom eslava dizendo. — Quem é Patrick? — Patrick é o melhor amigo de Julia, sempre foi, desde que foram juntos para a faculdade. Eu o conheci em Nova York e sabia que os dois passavam muito tempo juntos, mas Julia sempre dizia que haviam decidido há muito tempo não se envolver sexualmente, para não estragar a amizade que tinham. Sempre foi um relacionamento platônico, e ambos namoravam outras pessoas. Como eu. Essa era uma das razões pelas quais Julia estava sempre tão feliz por mantermos um relacionamento a distância — lembrou-se Tom. — Quando eu não estava lá, sobrava bastante tempo para ela ficar com Patrick, apenas "dando umas voltas por aí", como Julia costumava dizer. Imogen quase podia ouvir as aspas destacando a expressão, e compreendia perfeitamente o desgosto e a confusão na voz de Tom. Ele provavelmente nem sabia como que era "dar umas voltas por aí". — Acontece que Julia estava apaixonada por Patrick durante todo esse tempo — continuou Tom. — Ela nunca disse nada porque não queria perdê-lo como amigo, mas sabia que não estava ficando mais nova. Então, decidiu que, se queria se casar e ter uma família, como realmente queria, teria que tomar a decisão de se comprometer com outra pessoa. É nesse momento que o idiota aqui entra na história. Tom não conseguia encarar Imogen. Sentia-se queimar por dentro com a 18


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humilhação e a raiva de si mesmo, por não ter percebido a verdade. E também estava furioso com Julia por fazê-lo de tolo. Ela fizera tamanho alarde do casamento, convidara meio-mundo... Agora todos saberiam que fora ele o otário, estúpido demais para perceber que a noiva estava apaixonada por outro, fraco demais para convencê-la a ficar, inepto demais para ser capaz de construir um relacionamento de sucesso. Agora, todos saberiam que Tom Maddison era um fracasso. Saberiam que ele não era capaz de controlar a própria vida. Tom mantinha os maxilares cerrados, mas não conseguia impedir que um músculo traiçoeiro saltasse em seu rosto. Ele teve vontade de gritar de raiva, de socar uma parede qualquer, mas não podia fazer nada disso. Imogen acharia que estava aborrecido e sentiria ainda mais pena dele. — Quando a pedi em casamento, Julia achou que era uma boa oportunidade de se afastar de Nova York e de Patrick, de recomeçar — Tom voltou a contar depois de um instante. —- Ela disse que gostava de mim, que gostava de fazer amor comigo. Pensou que tínhamos muito em comum e que seríamos uma boa equipe. Eu também pensei — ele se lembrou, com amargura. — E no momento em que se decidiu, atirou-se de cabeça na organização do casamento. — Para compensar o fato de que, na verdade, queria estar casando com outra pessoa? — falou Imogen, sentindo-se entorpecida. A agitação febril de Julia ao longo dos preparativos para o casamento agora fazia mais sentido. Ela devia estar desesperada para se casar logo enquanto ainda conseguia se convencer de que estava fazendo a coisa certa. Não era de espantar que quisesse tanto se casar na Inglaterra, e o mais rápido possível. — Ela com certeza me enganou. — Tom cerrou os lábios e virou-se para encarar Imogen de novo. Mostraria a ela que ainda estava no controle. — Eu não tinha a menor idéia de que não era a pessoa com quem Julia queria se casar. — Então, o que mudou? — Ao que parece, a perspectiva de perdê-la para sempre foi demais para Patrick e ele finalmente caiu em si. Percebeu que também estava apaixonado por ela, e que provavelmente sempre estivera. É mesmo uma história tocante, se pensarmos bem. Tom voltou a sorrir, ainda sem um pingo de humor. — Patrick veio para o casamento, mas, quando viu Julia, disse a ela como se sentia. Então, é claro, Julia percebeu que não poderia se casar comigo. E me disse que sentia muito — ele acrescentou em uma voz sem expressão. A expressão nos olhos de Tom fez Imogen ter vontade de chorar. — Não sei o que dizer. Sinto tanto... — ela falou, desconsolada. — Provavelmente foi melhor assim — disse Tom bruscamente. — Foi melhor que Julia percebesse agora que estava cometendo um erro do que depois do casamento. Ao menos nos poupou das brigas, e dos custos de um divórcio. Aquilo também seria uma admissão de fracasso. De qualquer modo, antes ou depois, Julia o teria feito parecer um perdedor. E Tom era um vencedor. Não gostava de perder, nunca havia gostado. Ele pegou a caneta, quase como se pretendesse voltar a trabalhar, mas logo voltou a deixá-la sobre a mesa. A verdade era que não sabia como lidar com aquilo. Estava furioso e sentindo-se humilhado demais para conseguir trabalhar, mas o que mais poderia 19


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fazer? Imogen engoliu em seco. Tom não era o tipo de homem que se permitiria desabafos emocionais, mas ela sabia o quanto deveria estar magoado. Ele tentara tanto ser o que Julia queria que fosse... — O que posso fazer? — ela perguntou. — Ficaria grato se você pudesse dar a notícia a todos que precisam saber. — A brusquidão na voz de Tom não conseguiu disfarçar completamente sua gratidão por ela se dispor a lidar com as coisas práticas. — É claro. — Aqui está a chave do apartamento de Julia. Ela a deixou comigo ontem à noite. Ele empurrou a chave através da mesa, na direção de Imogen. Ela lembrou-se de quando pegara na mesma chave ao alugar o apartamento por uma curta temporada para Julia, que queria um lugar onde pudesse manter o vestido de casamento escondido de Tom. Naquela época, Imogen havia revirado os olhos diante da extravagância, achando que a tradição estava sendo levada ao extremo, mas agora se surpreendia por não ter percebido que o fato de Julia querer um apartamento separado deveria ter sido um sinal de alerta. Se ela estivesse realmente apaixonada por Tom, não iria agüentar esperar para morar com ele. E não era o caso dele não ter espaço para ela. Imogen estivera na cobertura dele em Docklands, uma vez, para pegar alguns papéis, e sabia que ali havia espaço mais do que o necessário para esconder uma dúzia de vestidos de casamento, se fosse preciso. — O apartamento está cheio de presentes que precisarão ser devolvidos. Presumo que você tenha a lista de convidados, não? Imogen assentiu. — Vou me certificar de que todos saibam que o casamento foi cancelado. — É melhor entrar em contato com o Castelo Stavely primeiro. — Farei isso. — Imogen levantou-se e hesitou, olhando preocupada para Tom. Se fosse qualquer outra pessoa, ela teria oferecido o conforto de um abraço, mas não acreditava que o chefe aceitaria bem um gesto desses. Ele não era uma pessoa chegada a contatos físicos. No entanto, aquele fora um golpe devastador para um homem com o orgulho de Tom. Imogen desejou poder fazer alguma coisa para ajudá-lo, mas teve a sensação de que a melhor coisa a fazer era lidar com as providências práticas e fazer o mínimo de alarde possível em relação ao acontecido. No entanto ela não poderia sair sem dizer alguma coisa. — Vai ficar bem? — ela perguntou, depois de um instante. — É claro — respondeu Tom, brusco como sempre. — Tenho muita coisa para fazer. — Não vai realmente trabalhar, não é? — O que mais há para fazer? — disse Tom. E ele mesmo pôde perceber a desolação em sua voz. Imogen voltou um pouco mais tarde com café e alguns biscoitos. — Eu nunca como biscoitos — disse Tom, erguendo os olhos da tela do 20


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computador enquanto ela apoiava a bandeja perto dele. — Precisa comer alguma coisa. — Não sou um inválido, Imogen! — Mas sofreu um choque — falou ela. — Precisa de açúcar. — Não preciso de nada! — A mera sugestão de carência ou fragilidade deixou Tom irritado, e foi com irritação que encarou Imogen. — Estou perfeitamente bem — disse, com frieza. — Não há necessidade de me tratar como se eu fosse desmaiar, ou me desmanchar em lágrimas. — Coma-os assim mesmo — retrucou Imogen, que realmente pensava que seria melhor se ele comesse. Tom Maddison era um homem difícil de se ajudar. De que adiantava fingir que não estava sentindo nada? Ele se escondera por trás de uma expressão ainda mais feroz do que o habitual, reprimira todo o sofrimento e claramente estava pronto para descontar em qualquer um que ousasse sugerir que poderia estar magoado, zangado ou precisando de conforto. Bem, então ela teria que deixar que ele descontasse nela, concluiu Imogen. Poupara Tom da humilhação pública, mas sabia bem o que era descobrir que a pessoa que se ama não retribuiu esse amor, e nunca retribuiu, na verdade. Doía. Doía muito e, embora ninguém pudesse sofrer por você, ajudava ter alguém ao seu lado para ajudá-lo a sobreviver. Tom jamais admitiria que precisava de alguém, mas precisava. Imogen desejou saber mais sobre a vida particular dele. Se ao menos houvesse um amigo que ela pudesse chamar, alguém que pudesse vir cuidar dele, do jeito que Amanda cuidara dela... Mas ao que parecia, só havia ela mesmo. Imogen pegou o bloco que colocara embaixo do braço e abriu-o. Por enquanto, ela continuaria se atendo às coisas práticas. — Já falei com o castelo e cancelei tudo o que havia sido reservado lá. Temo que, a essa altura, não seja possível nenhum tipo de reembolso — acrescentou, em tom de desculpas. — Deus, que desperdício de dinheiro! — Tom se recostou na cadeira e esfregou a nuca ao pensar no custo. Ele jamais reclamara do custo crescente das extravagâncias de Julia, mas de que isso adiantara no final? Deixara a noiva ter tudo o que queria... Só não percebera que a única coisa que ela queria era Patrick. — E há a lua de mel... Imogen hesitou em levantar a questão da lua de mel, mas o lugar também já havia sido reservado e pago, assim como as passagens, e Tom teria que tomar alguma decisão. O custo da ilha Coconut era absurdo e, com certeza, seria um impacto mesmo em uma conta bancária como a de Tom. — Estive pensando a respeito — disse Tom, pegando um biscoito sem nem mesmo perceber o que estava fazendo. — Você disse que era um lugar para onde adoraria ir — ele relembrou-a. Imogen se agitou, constrangida. — Sinto muito que tenha sido tão caro. Mas, na verdade, como ela poderia saber que Julia daria as costas ao casamento 21


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dos seus sonhos, a uma lua de mel que seria lembrada para o resto da vida e a um homem como Tom? Julia devia amar Patrick desesperadamente mesmo para desistir de tudo aquilo, pensou Imogen. — Vou ver se consigo que seja reembolsado ao menos em parte. Se tivesse contratado a viagem para si mesma, teria contratado um seguro, mas nunca lhe ocorreu pensar que isso poderia ser útil para Tom. — Vou entrar em contato com os agentes de viagem para descobrir quais os termos de cancelamento — falou Imogen. — Não faça isso — disse Tom, limpando os dedos das migalhas de biscoitos e decidindo-se. — Não quero que cancele a viagem. Imogen encarou-o, preocupada. Com certeza ele não estava planejando ir de qualquer modo, não é? Seria um desastre! Toda vez que virasse para o lado acabaria se lembrando de que Julia não estava lá. — Não sei se é uma boa idéia ir para a ilha sozinho... — ela comentou, com cautela. — Não estou planejando ir sozinho — retrucou Tom. — Você vai comigo. — O quê? — Já desperdicei muito dinheiro com o casamento. Paguei uma fortuna para me hospedar na ilha e não vou desperdiçá-la também. Você disse que gostaria de conhecer o lugar. Muito bem, agora tem a chance. — Mas... A reserva é para uma lua de mel — gaguejou Imogen. — Todos vão presumir que somos casados. — E quem vai saber, ou se importar? — disse Tom. — Eles só estão interessados no meu dinheiro. Não vão pedir a certidão de casamento quando nos registrarmos. — Bem, não, mas... — Imogen olhou para ele, desesperada. Será que Tom não percebia como seria terrível? — Eu fiz as reservas para uma lua de mel, portanto vão fazer um alarde a respeito quando chegarmos. — Deixe que façam — falou Tom. — Com certeza o principal de tudo é que teremos completa privacidade, certo? Não é nenhuma pensão onde seríamos obrigados a dormir na mesma cama. Ou ao menos não deveria ser, pelo preço que estou pagando cada diária! — ele acrescentou, com acidez. — Está certo, vamos ter que fingir um pouco quando chegarmos, mas, depois, teremos a ilha toda só para nós e ninguém vai saber que não estamos passando o tempo todo fazendo sexo. Imogen sentiu-se mortificada ao perceber que estava ruborizando. Sinceramente! Qualquer pessoa que a visse naquele momento acharia que ela jamais ouvira falar em sexo! Mas o problema era que, por algum motivo, ouvir Tom falando sobre o assunto, tornava fácil demais pensar nele fazendo sexo. Imogen forçou-se a colocar a imagem de lado... Não sem uma certa dificuldade. — Você faz tudo parecer tão razoável — ela protestou. — Porque é razoável. É uma solução prática para o problema, e seria uma boa coisa para nós dois. O que não é razoável nisso? Imogen girou a caneta entre os dedos, nervosa, e tentou imaginar como seria viajar com o chefe para uma ilha paradisíaca. — Ainda assim seria um pouco... íntimo — ela falou, por fim. 22


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— Não vejo por quê... — Tom parou quando lhe ocorreu, um pouco tardiamente, que Imogen poderia ter uma vida pessoal própria. Ele sabia que ela não era casada, mas poderia haver algum homem em sua vida, e isso complicaria as coisas. Tom franziu o cenho. — Está preocupada com a reação de um namorado? — Não é isso — respondeu Imogen. — Não há mais ninguém em minha vida nesse momento. — Melhor ainda, então — falou Tom, aliviado. — Isso quer dizer que ninguém tem nenhuma desculpa para ficar enciumado ou aborrecido. — Talvez não, mas com certeza muitas pessoas vão especular sobre o motivo de viajarmos juntos para um lugar como aquele. Tom fechou a cara. — E quem diabos iria se importar? — Para começar, todos os funcionários da Collocom, imagino. — E o que eles têm a ver com o que fazemos ou deixamos de fazer? — Nada, é claro, mas isso não vai fazer com que parem de imaginar coisas. Eu mesma imaginaria coisas se meu chefe e sua secretária desaparecessem para uma ilha tropical por três semanas! — Diga a eles que é uma viagem de negócios — sugeriu Tom, indiferente. — Oh, sim, é claro que vão acreditar nisso... — Francamente, não estou nem um pouco preocupado com o que vão acreditar ou não — ele falou, fazendo um gesto de pouco caso. — O fato é que será uma viagem de negócios. Vamos ter a ilha toda entre nós. Podemos levar nossos laptops e, se tivermos acesso à internet, não haverá razão para não trabalharmos um pouco. Imogen olhou para ele, em dúvida. — Acha mesmo que haverá conexão com a internet? — ela perguntou, e percebeu no mesmo instante que estava se deixando seduzir pela idéia a ponto de discutir detalhes, antes mesmo de fecharem a questão. — A esse preço, com certeza devem ter! — Não sei — falou Imogen, ainda em dúvida. — Não acho que haja muitas pessoas que reservem uma ilha particular para trabalhar. Imagina-se que o lugar seja um refúgio romântico — ela relembrou a ele. — A idéia não é que passe seu tempo checando e-maíls. — Então é melhor você descobrir se há conexão ou não — avisou Tom —, porque não tenho a menor intenção de ficar sem trabalhar por três semanas. Aliás, seria uma boa oportunidade de colocar em dia alguns projetos sem a distração das incontáveis reuniões que tenho aqui. Ele afastou a cadeira, ficou de pé e foi até a janela, onde ficou olhando a chuva e a neve baterem contra a janela. — Talvez até consigamos aproveitar alguma coisa desse fiasco todo. Imogen mordeu o lábio enquanto olhava para as costas de Tom. Delineado pela luz da janela, ele parecia forte, mas solitário. O acesso à internet ou a falta dele não era o problema ali. 23


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— Tem certeza de que quer fazer isso? — ela perguntou com delicadeza. Tom continuou a olhar para a chuva. — O que quer dizer? — Já considerou a hipótese de que pode ser doloroso para você estar lá comigo em vez de com Julia? — Não será tão doloroso quanto desperdiçar a fortuna que cobram e não receber absolutamente nada em troca — ele retrucou, mas sabia que Imogen tocara em um ponto sensível. "Acho que vai ser meio embaraçoso ficar por aqui agora" — ele continuou, não sem alguma dificuldade. "Será mais fácil para todos se eu não estiver aqui, assim, as pessoas não se sentirão na obrigação de me consolar, ou de se forçarem a lembrar de não mencionar nada que se refira a casamento na minha frente." Tom hesitou, os olhos fixos no asfalto lá embaixo. O sol estaria brilhando nas ilhas Maldivas, pensou. Como seria lá? Ele não pensara muito a respeito do lugar quando ainda estava com Julia, mas agora se permitiu imaginar a ilha, e Imogen com ele. Seria mais fácil se pudesse trabalhar, e se ela pudesse ajudá-lo. A beleza da moderna tecnologia era que as pessoas podiam trabalhar em qualquer lugar, portanto, por que não nas Maldivas? Imogen poderia ser sua secretária lá, assim como era ali, em Londres. E por mais que Tom tentasse e dissesse a si mesmo que não se importava com o que as pessoas pensavam, bem no fundo a humilhação ainda doía. Já seria ruim o bastante ter que lidar com a simpatia de todos ali, sem ter ainda que se explicar novamente quando decidisse viajar sozinho para o lugar reservado para a lua de mel. Ele podia sentir que Imogen o observava com uma expressão cautelosa. — Eu poderia ir para a ilha sozinho — falou Tom, por fim, virando-se para encarála, com as mãos nos bolsos —, mas então realmente ficaria óbvio que havia alguma coisa errada. Eu teria que dar menos explicações se você também viesse. Droga, ele não queria ter que implorar! — Você vinha fazendo todo o trabalho de organização desse casamento, de qualquer modo — sugeriu Tom. — Precisa de uma folga. — Achei que estava indo para trabalhar. — Eu vou estar trabalhando — ele falou. — Você pode fazer o que quiser. Imogen olhou para ele com uma certa melancolia. Parecia tão errado tomar o lugar de outra mulher em uma lua de mel, mas sentia que Tom era orgulhoso demais para pedir abertamente que fosse com ele. A viagem provavelmente seria uma boa coisa para Tom, mas iria fazer papel de idiota se fosse sozinho, e ela sabia que seria difícil para ele. Será que era pedir muito? Imogen detestava pensar em Tom sozinho em um momento como aquele e, se fosse, ao menos poderia lhe fazer companhia e dar apoio se ele precisasse. E, além do mais, era fevereiro e seu chefe estava lhe oferecendo três semanas de folga em um lugar esplêndido nas ilhas Maldivas. Se não fosse por mais nada, ao menos a manteria longe dos fanáticos por Guerra nas Estrelas e dos alérgicos. Imogen respirou fundo. — Está certo — ela disse —, se realmente quer que eu vá, então irei. 24


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— Ótimo — foi tudo o que ele respondeu, mas não conseguiu disfarçar o lampejo de alívio nos olhos quando se sentou novamente diante da escrivaninha. Isso fez com que Imogen se sentisse melhor, ou ao menos que sentisse que estava fazendo a coisa certa. — Transfira a passagem de Julia para seu nome — falou Tom —, e diga a qualquer pessoa que perguntar que estamos saindo em uma viagem de negócios.

CAPÍTULO TRÊS

— Sejam bem-vindos, sr. e sra. Maddison, e parabéns! — O próprio gerente do resort fez questão de recepcionar Tom e Imogen quando eles pisaram no píer. A luz era ofuscante e o calor, um alívio e um choque ao mesmo tempo, depois do ar-condicionado do avião. Um hidroavião os levara do aeroporto em Malé até o resort, e a bagagem deles já estava sendo transferida para uma lancha veloz que aguardava para levá-los à última parada, a própria ilha Coconut. Imogen evitou olhar para sua mala de rodinhas muito surrada, perfeitamente adequada para pacotes de feriado na Grécia e na Espanha, mas que destoava completamente dos outros conjuntos de malas de grife dos casais em lua de mel que também estavam sendo retirados do hidroavião. Ela mesma devia parecer tão destoante quanto sua bagagem, percebeu. Estava bem consciente da calça e da blusa amassadas. Fevereiro não era uma boa época para comprar roupas de verão em Londres, por isso Imogen escolhera levar as roupas que usara na Grécia, no ano anterior. Eram baratas e alegres, e serviram perfeitamente para a ocasião, mas agora ela podia perceber os olhares de estranhamento dos outros passageiros. Não havia nada de simples ou barato naquele resort, onde todos os hóspedes estavam incrivelmente bem-vestidos. Todos pareciam estar em casais, e eram esguios e dourados, irradiando felicidade. Imogen sentia-se desconfortável. Em comparação com os outros, ela sabia que devia parecer desbotada, gorda e esgotada por causa da tensão dos últimos dias. Com certeza não havia a menor possibilidade de alguém tomá-la por uma noiva radiante. Deviam estar imaginando que diabos ela estava fazendo ali com alguém como Tom Maddison. Não que Tom parecesse em muito melhor estado do que ela. Na verdade, ele estava usando um terno! Ao menos tirara o paletó quando saíram do avião, mas as mangas da camisa ainda estavam abotoadas e a gravata justa no lugar. Imogen imaginou se ele alguma vez viajara para aproveitar férias ou um feriado. O fato era que Tom também não estava dando uma boa impressão de um recémcasado. Sua expressão era hostil como sempre, mas o poder de sua presença era tanto que o gerente do resort o descobrira no meio de todos os casais que desembarcavam. Afinal, ele era Tom Maddison, que reservara as acomodações mais caras e luxuosas disponíveis no hotel. — Se o senhor não se incomodar de preencher algumas poucas formalidades... — 25


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disse o homem, disfarçando educadamente seu espanto com a esposa de Tom Maddison, que obviamente não era o tipo de mulher que esperava. O gerente os guiou à frente dos outros até a recepção espetacular, cheia de plantas tropicais e ostentando um glamour sutil e elegante. O lugar praticamente exalava dinheiro, pensou Imogen, tentando disfarçar o espanto. Afinal, hotéis caros e fabulosos não seriam nada demais para a nova sra. Maddison. — Assim que acabarmos aqui, vocês serão levados diretamente para a ilha Coconut, onde lhes assegurarei completa privacidade durante sua estadia — continuou o gerente. Ele fez um gesto indicando um rapaz esguio vestido em um branco imaculado, que esperava ao lado. — Ali os visitará uma vez por dia para se certificar de que têm tudo de que precisam. Tom apenas assentiu, mas Imogen achou que deveria mostrar um pouco mais de entusiasmo. — Obrigada — disse ela, abrindo um largo sorriso. — Tenho certeza de que será tudo adorável. O gerente, que obviamente já percebera que não conseguiria entabular qualquer conversa com Tom, virou-se para Imogen com um sorriso cortês. — Espero que o casamento de vocês tenha sido um dia muito feliz. Nesse momento houve uma breve pausa. Eles haviam conversado no avião e concordado que o melhor a fazer seria não se estender em explicações complicadas, mas ao que parecia devia ser óbvio que não eram realmente casados. Imogen se sentiu como houvesse um luminoso escrito "mentirosa" bem acima de sua cabeça, com uma seta apontando para baixo, mas manteve o mesmo sorriso no rosto. — Ahn... Sim... Obrigada — ela respondeu, embaraçada, escondendo disfarçadamente a mão esquerda para que o gerente não reparasse na ausência gritante de uma aliança. Tom ergueu os olhos da ficha que preenchia e, para absoluta surpresa de Imogen, pareceu perceber seu desconforto. Ou talvez apenas tenha achado que ela não estava conseguindo ser muito convincente, porque estendeu a mão e passou o braço ao redor da cintura dela, puxando-a para seu lado. — Imogen está muito cansada — ele disse, a título de explicação pela falta de entusiasmo dela. — Ficou muito atarefada organizando o casamento, e foi um longo vôo. — Claro, claro. — O gerente abriu um sorriso para ambos. — Mas agora que estão aqui, vão poder ficar a sós e relaxar. Oh, sim, com certeza, pensou Imogen, que poucas vezes se sentira menos relaxada na vida do que naquele momento. Tom apertara sua mão quando se apresentaram, no escritório, mas ela não se lembrava de ele a haver tocado novamente desde então, e agora ali estava o braço dele quente e forte ao redor de sua cintura, apertando-a contra um corpo que era mais esguio, firme e sólido do que ela jamais imaginara. Sua mão grande descansava distraidamente, em um gesto possessivo, na cintura dela, exatamente como faria um marido apaixonado. E ele parecia tão à vontade... Como se conhecesse o corpo dela tão bem quanto seu próprio. O coração de Imogen batia acelerado e a pele latejava nos lugares em que o corpo estava colado ao dele, sob sua mão. Ela estava muito consciente da presença de Tom, do seu calor, de sua força e do perfume limpo e másculo que ele exalava. Com as pernas bambas, Imogen sentia um desejo insano e perturbador de se virar para a segurança daquele corpo firme, abraçá-lo com força e se perder nele. 26


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Ela sentiu a boca seca diante do rumo de seus pensamentos. Relaxar? Seria difícil! Mas, mesmo assim, conseguiu esboçar um leve sorriso. — Mal posso esperar. — Por favor, não deixem de nos avisar se houver alguma coisa, qualquer coisa, que possamos fazer para tomar sua estadia ainda mais confortável. Imogen, em um instante de loucura, imaginou se poderia pedir ao homem que trocasse Tom por uma companhia menos perturbadora, alguém com quem ela pudesse conversar sem que seu coração disparasse à mera lembrança de como era ser abraçada por ele. Estava exagerando, repreendeu-se Imogen. Poria a culpa no jet lag. Aquele era Tom, pelo amor de Deus! Seu chefe. O chefe que acabara de ter o coração partido, caso não se lembrasse. Imogen sentiu-se um pouco envergonhada ao perceber que não pensara em Julia nem uma vez sequer desde que haviam chegado. Fora um voo tão emocionante por sobre as ilhas... Ela colara o nariz na janela do hidroavião e ofegara diante da beleza de tirar o fôlego da paisagem. Eles sobrevoaram ilhas cercadas por ofuscantes faixas de areia branca, enquanto o mar entre elas era de um colorido tão intenso que parecia quase irreal — o azul-escuro e profundo além dos recifes de coral; o azul-claro mesclado de violeta e lilás sobre os bancos de areia; o verde-esmeralda pálido e translúcido das lagunas rasas. Bem mais adiante, os pequenos barcos que cortavam o mar em alta velocidade deixavam pequenas estrias brancas em sua trilha, enquanto as ondas quebravam silenciosamente contra os recifes, erguendo uma espuma alva. Diante de tamanho deslumbramento, não era de surpreender que ela houvesse esquecido Julia, mas Tom provavelmente não esquecera. Afinal, como poderia? Tudo aquilo devia estar sendo muito difícil para ele, pensou Imogen, enquanto, para seu imenso alívio, Tom a soltava para acabar de preencher a ficha. Como devia estar sendo difícil para ele chegar àquele lugar lindo, onde deveria passar três semanas gloriosas com a noiva, e ao olhar para o lado ver, em vez da bela e elegante Julia, sua secretária comum e sem atrativos... Provavelmente era como esfregar sal em uma ferida várias vezes. Imogen mordeu o lábio. E ali estava ela, queimando de desejo por causa de um rápido abraço! A situação era muito, muito pior para Tom. A essa altura ele, com certeza, devia estar arrependido de tê-la convidado para vir. Imogen ficou ali, de pé, ouvindo o gerente do resort destacar todos os preparativos que haviam sido feitos para eles. E era óbvio que Tom não estava prestando muito mais atenção do que ela ao homem. — Está certo, está certo — ele falou com um traço de impaciência na voz, enquanto assinava a ficha. — O que quer que tenham preparado estará ótimo. — Que bom. Nesse caso, tenho certeza de que estão ansiosos para ficarem a sós. — O gerente acenou chamando Ali e todos eles caminharam de volta para o píer, onde a lancha já roncava suavemente, pronta para partir. Tom apoiou a mão de leve contra as costas dela para guiá-la até o barco, e o coração de Imogen voltou a parecer estar prestes a sair pela boca. Ela disse a si mesma para não ser tão tola e entrou na lancha, mal percebendo a mão de Ali equilibrando-a, mas sentindo o corpo queimar no lugar onde Tom a havia tocado. 27


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Imogen rezou para que o rubor que sentia arder em suas faces sumisse e sentouse muito rígida no assento luxuoso, enquanto Tom pulava para dentro do barco com facilidade e se sentava ao lado dela. Ela não podia se permitir ficar daquele jeito cada vez que ele a tocasse! As próximas três semanas já seriam difíceis o bastante sem isso. Três semanas sozinha com ele. Que diabos ela estava fazendo ali? Mas tudo fizera tanto sentido naquele dia em Londres quando ela concordara em vir. Tom precisava sair da cidade. Ela o ajudaria a proteger seu orgulho. Era um simples arranjo de negócios. Amanda, no entanto, não parecera muito convencida disso. — Negócios? — ela disse quando Imogen lhe contara que ficaria fora por três semanas. — Em uma ilha tropical? — Será exatamente como estar no escritório — respondera Imogen. — Mas com um clima mais agradável. — Com certeza... — A voz de Amanda não escondia seu ceticismo. — Será, sim — insistira Imogen. — Vou levar meu laptop. Terei que trabalhar. — E quando você não estiver trabalhando e estiverem apenas vocês dois sozinhos no paraíso? Me parece que esse Tom Maddison é bem sexy — dissera Amanda. — Como vai conseguir manter as mãos longe dele? E não me diga que não pensou nisso! — Não pensei mesmo! — E não havia pensado. Ao menos desde que Tom anunciara seu casamento. — Pelo amor de Deus, Amanda, o homem acaba de ser praticamente abandonado no altar! — continuara Imogen, quase ofendida. — Ele jamais admitiria, mas está realmente magoado. A última coisa de que precisa é que eu torne tudo ainda mais constrangedor! Além disso, é do meu chefe que estamos falando. — E daí? — E daí que não há sentido pensar em nada disso. Tom está muito abatido por causa de Julia, e eu tenho um mínimo de bom-senso. Está certo, ele é, sim, um homem atraente — admitiu Imogen —, mas não é para mim, sei disso. "Mesmo se ele não estivesse apaixonado por outra pessoa, eu jamais consideraria a possibilidade", continuou Imogen. Tom Maddison não tem um contato nem mesmo superficial com as próprias emoções. Veja como ele está reprimindo tudo o que aconteceu agora! Começar um relacionamento com um homem como ele é pedir para ter problemas, eu terminaria infeliz, e já tive bastante disso nos últimos tempos, muito obrigada. "E além de tudo isso, seria muito pouco profissional da minha parte", concluiu Imogen, com recato. "É um emprego muito bem pago, e se conseguir esticá-lo por mais dois ou três meses poderei tirar um ano só para mim. E de forma nenhuma eu arriscaria minha segurança por um caso rápido. Não", ela disse a Amanda, "não acho que terei qualquer problema em manter minhas mãos longe de Tom." Agora aquelas palavras pareciam muito distantes da verdade. Fora fácil dizê-las em Londres. Sentira-se tão confiante então... Mas isso foi antes que Tom a tocasse, antes que sua pele começasse a se arrepiar e a queimar, consciente da proximidade dele. Antes daquele longo voo, onde haviam se sentado tão perto um do outro. Haviam viajado de primeira classe, é claro. E para Imogen, acostumada a comprar pacotes de viagem baratos, fora tudo deslumbrante. Ela ficara encantada — levantara e abaixara o assento, conferira a nécessaire que recebera de cortesia e aceitara uma taça de champanhe. 28


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Mas a verdade é que teria aproveitado ainda mais se Amanda estivesse com ela. Tom não era o tipo de pessoa com quem poderia ter um acesso de riso. Como era de se esperar, ele estava com uma péssima aparência quando passara para pegá-la em seu apartamento, em uma limusine conduzida por um motorista particular, que os levara rapidamente até o aeroporto de Heathrow. Até ali, a conversa entre eles se limitara a assuntos práticos, como passaportes e horários de embarque. Não houvera conversas empolgadas sobre o que comprar no free-shop, nem provas de perfume, ou passeios por livrarias. O salão de embarque da primeira classe era muito confortável, mas não era muito divertido, concluiu Imogen. Tom se sentara, abrira o laptop e, a não ser na hora da decolagem e da aterrissagem, trabalhara o tempo todo. Imogen achava que a raiva e a m ágoa pela rejeição de Julia ainda estavam reprimidas no fundo do peito dele. E queria muito ajudálo, mas não sabia como. Com qualquer outra pessoa se sentiria à vontade para oferecer um abraço, mas com Tom hesitava até mesmo em apoiar a mão em seu braço. E era difícil, pois o braço estava bem ali. Bastava Imogen se virar um pouco para ver a camisa imaculada de um azul pálido, o relógio caro, a mão larga e habilidosa... Ela se pegou prestando atenção nos mínimos detalhes, como as dobras dos dedos dele, os pelos escuros e finos que cobriam seu pulso. Com medo de que Tom percebesse que o observava, Imogen se forçou a olhar para a revista que havia comprado. Mas acabava voltando-se novamente para ele. Tom tinha o olhar fixo na tela do computador e, com aqueles olhos cinzentos tão concentrados em outra coisa, era fácil perder a noção do tempo examinando o rosto forte. Ele tinha cílios surpreendentemente cheios e escuros, mas os ângulos firmes dos malares e dos maxilares afastavam qualquer sugestão de delicadeza. Assim como a boca, que naquele momento estava cerrada, dando a ele uma expressão severa. A cada vez que ela se entregava ao prazer de contemplá-lo, sentia uma agitação percorrer seu corpo. No fim, fora um alívio desembarcar do avião e ter outra coisa para ver. Mas aquelas primeiras horas sozinha com ele fizeram com que Imogen, ao se sentar no barco, começasse a compreender a realidade da situação em que se envolvera. Estava prestes a passar três semanas sozinha com um homem por quem se sentia preocupantemente atraída e que, por acaso, era (a) seu chefe e (b) apaixonado por outra pessoa, o que o tornava duplamente inacessível. Imogen ajeitou os óculos de sol e tentou relaxar a tensão nos ombros. Talvez Amanda estivesse certa e aquilo tudo fosse um erro terrível. Mas como poderia ser um erro com o sol aquecendo daquele jeito a pele dela, com o mar tão claro que Imogen conseguia ver o fundo, sob o barco? Como poderia ser tão terrível se as ondas batiam gentilmente contra o casco e o ar tinha o cheiro da madeira úmida do cais? Ela poderia estar em Londres, aproveitando a ausência de Tom para organizar os arquivos. Poderia estar atendendo a telefonemas, lidando com os e-mails que enchiam sua caixa-postal e conferindo gastos com o departamento financeiro. Mas, em vez disso, estava ali com Tom, muito distinto ao seu lado, o perfil austero delineado contra o céu tropical. Imogen voltou a observá-lo disfarçadamente por detrás dos óculos escuros e sentiu que nunca o vira de verdade antes. Tom também colocara óculos de sol, o que tornava sua expressão mais indecifrável do que nunca, mas tudo o mais nele parecia ressaltado à luz que se refletia no mar — a textura da pele, a linha do maxilar, a sombra leve da barba por fazer depois do longo voo, o contorno da boca. Imogen desejou ver aquela boca se curvando em um sorriso, às vezes. 29


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O barco começou a se mover lentamente, abrindo caminho na passagem entre os corais, mas quando chegou ao mar aberto, Ali acelerou, o ronco do motor ficou mais forte e eles subiram nas ondas. O sol cintilava sobre a água do mar e, mesmo com a proteção do parabrisa da lancha, o cabelo de Imogen voava solto ao redor de seu rosto. Era tão divertido que ela sentiu o nervosismo ir se dissolvendo a cada elevação do barco sobre as ondas, e sem pensar no que fazia, sorriu para Tom. Ele, que pareceu surpreso em um primeiro momento, para espanto de Imogen, sorriu de volta. — Está tudo bem? — gritou Tom por sobre o barulho do motor, e Imogen assentiu com vigor, enquanto tentava segurar o cabelo rebelde. — É maravilhoso! — ela falou, tentando ignorar o baque no coração diante do sorriso dele. Embora fosse apenas uma questão de segundos para se chegar à ilha no barco veloz, era como se houvessem entrado em um outro mundo, onde o resort que haviam deixado para trás parecia uma metrópole frenética em comparação. Quando Ali desligou o motor, o silêncio atingiu-os como um golpe. — Sejam bem-vindos à ilha Coconut — falou o rapaz. Do pequeno píer de madeira, Imogen podia ver a curva de uma praia de areia muito branca, salpicada de coqueiros que garantiam uma sombra irregular. A laguna, da cor de uma bala de menta e transparente como vidro, era rodeada por um recife e, mais além, havia apenas o oceano Indico sé estendendo até o horizonte onde se viam algumas poucas nuvens ondulantes. O resort prometia isolamento e, ao que parecia, era isso o que teriam. Um pouco afastado da praia e meio oculto por um emaranhado de plantas tropicais, o bangalô, olhado de fora, era apenas uma estrutura simples de madeira com o teto de palha; mas por dentro era mobiliado em um estilo luxuoso e discretamente abastecido com o que havia de mais recente em tecnologia, sempre de marcas sofisticadas. Imogen arregalou os olhos ao perceber a atenção aos detalhes, enquanto Ali lhes mostrava tudo. Do lado de fora havia uma linda piscina, uma banheira de hidromassagem e mais um banheiro espetacular, aberto, com um chuveiro imitando uma cachoeira e uma banheira onde caberiam duas pessoas com facilidade. Tudo projetado com perfeição, usando materiais naturais que se mesclavam à folhagem. Dentro do bangalô havia uma cozinha com todos os equipamentos necessários. Os pisos de eram de madeira encerada, os sofás compridos e confortáveis, ladeados por mesas baixas. Havia enormes ventiladores de teto e um sistema de som como Imogen nunca vira antes. E havia também uma cama, linda e enorme. A cama devia ter mais de dois metros de largura, e estava arrumada com lençóis brancos do mais puro e macio algodão, e cheia de travesseiros convidativos. Era uma cama feita para o amor. Imogen, que vinha soltando sucessivas exclamações de prazer desde que Ali começara a lhes mostrar o bangalô, ficou subitamente silenciosa. Ela relanceou o olhar para Tom. A expressão no rosto dele era indecifrável, mas Imogen podia imaginar muito bem o que estava pensando. Era impossível que não estivesse se perguntando como seria se Julia estivesse com ele... Então, provavelmente estariam ansiosos para que Ali os deixasse a sós para que pudessem se jogar naquela 30


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cama maravilhosa e fazer amor... Seria como estar no paraíso... Imogen engoliu em seco, tentando deter o rumo de seus pensamentos, e a imagem de como seria se ela e Tom estivessem realmente em lua de mel... Se estivessem ali porque ele a amava, e não porque fora abandonado por Julia. Educado demais para comentar o silêncio constrangedor que se instalara no quarto, Ali continuou o tour, mostrando-lhes as refeições que já haviam sido deixadas no freezer, perguntando sobre o cardápio para o dia seguinte e dizendo onde ficava o gerador. Então, ele tornou a entrar na lancha e voltou para o resort, deixando Tom e Imogen sozinhos. Os dois observaram o barco partir veloz para além do recife e depois dobrar à direita, em direção às ilhas por onde haviam passado, levantando uma onda de espuma. E então até mesmo o som do motor desapareceu. Imogen ficou parada, escutando. Ela podia ouvir o mar murmurando contra o recife e, em algum lugar, um pássaro cantando com voz rouca, mas fora isso tudo estava absolutamente quieto. — Muito bem — ela disse, constrangida. — Muito bem — concordou Tom, com uma voz seca. Imogen mordeu o lábio e olhou na direção da laguna que cintilava transparente sob a luz do meio-dia. Uma brisa ligeira fez tremular sua superfície e agitou os coqueiros que a rodeavam, mas logo passou, e o lugar voltou a parecer um cenário de sonho. — Você acha que consegue passar três semanas aqui?— perguntou Tom após um momento. — Oh, sim, é claro! É simplesmente maravilhoso. — disse Imogen. — Parece que esbarrei com o paraíso! Só queria... Tom ergueu a sobrancelha quando ela hesitou, antes de continuar. — O quê? — Só queria que as coisas fossem diferentes para você — falou Imogen em impulso. — Sei como deve estar sendo difícil estar aqui comigo, e não com Julia. — Não se preocupe com isso — ele reagiu, irritado. — Eu é que estou preocupado que você acabe se entediando. — Me entediar? — Imogen o encarou. — Como poderia me sentir entediada aqui! — perguntou, acenando para a vista. — Você sempre me deu a impressão de ser uma pessoa muito sociável — explicou Tom, para surpresa de Imogen. Ela jamais percebera que ele a observava, seja de que modo fosse. — Sempre a via conversando com as pessoas no escritório e falando com seus amigos ao telefone. Imogen fez uma careta ao ouvir aquilo. Tivera esperança de que o chefe não percebesse o tempo que gastava em telefonemas pessoais. — Você parece o tipo de garota que gosta de se divertir — continuou Tom, hesitante, de um modo que não lhe era característico. — Não vai ter muita diversão por aqui, tendo apenas a mim como companhia. A verdade era que ele não havia pensado antes em como seria para Imogen. Estivera tão envolvido na própria amargura e humilhação que pensara apenas em fugir, e só agora, tarde demais, se perguntava se não fora egoísta. Julia sempre lhe dizia que ele precisava ser mais sociável, mas Tom jamais conseguira ser bom no tipo de conversa 31


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despreocupada em que Imogen parecia ser excelente. Ela era uma secretária fora dos padrões, com aquele ar levemente caótico, mas por trás da simpatia e da animação com que tratava a todos, desde os diretores até o pessoal da limpeza, Imogen demonstrara ser surpreendentemente prática. Tom era grato pelo modo como ela lidara com as conseqüências da atitude de Julia. Com certeza a moça merecia uma folga melhor do que ele poderia lhe garantir. Mas a verdade era que não havia muito que pudesse fazer a respeito, agora. Ele deixou os ombros caírem. Detestava a sensação de ter feito as coisas erradamente Gostava de estar no controle e de saber o que estava acontecendo, só que, quando suas emoções estavam envolvidas, não tinha nenhuma das duas coisas. — Você me faz parecer uma festeira — disse Imogen, em um tom divertido, mas também se sentindo secretamente lisonjeada. — Para ser honesta, passo a maior parte das minhas noites vendo televisão com a amiga com quem divido o apartamento, e reclamando sobre como nada excitante acontece conosco. E agora estou aqui... — Ela olhou ao redor. — Não poderia pedir por nada mais empolgante do que isso! A menos que houvesse alguém com quem pudesse compartilhar aquela linda cama, disse uma vozinha sorrateira e temerária em sua mente, antes que Imogen a reprimisse firmemente. — Prometo a você que vou ficar mais do que feliz apenas por poder olhar para essa vista por três semanas — ela disse a Tom. — E claro, também vou gostar de trabalhar aqui — acrescentou, afobada, lembrando-se do acordo que haviam feito. — Não precisa trabalhar hoje — disse Tom, bruscamente. — Já que estamos aqui, podemos muito bem aproveitar um pouco. Imogen sorriu para ele. — Acho uma ótima idéia. — Então... O que gostaria de fazer? Está cansada? — Um pouco — ela confessou —, mas gostaria de nadar primeiro. Mal posso esperar para entrar no mar! Ali colocara a bagagem de ambos, juntas, no quarto. As malas de Tom eram negras e elegantes, enquanto as de Imogen eram surradas e amassadas. Ali, lado a lado, pareciam terrivelmente destoantes, mas ao mesmo tempo muito íntimas. Imogen logo encontrou seu biquíni e se trocou no banheiro da suíte. Enquanto ajeitava as tiras do sutiã, observou seu reflexo no espelho, em dúvida. Aquele biquíni já era tão revelador assim no verão anterior? Ele certamente não deixava muito à imaginação! Por que não se dedicara com mais afinco à dieta que planejara começar em janeiro? Se soubesse que estaria tirando o biquíni do fundo do baú em pleno fevereiro, jamais teria devorado tantos pacotes de biscoitos de chocolate. Por outro lado, os biscoitos foram tudo o que tivera para ajudá-la a enfrentar as longas tardes de inverno. De qualquer modo, agora era tarde demais para se lamentar. Imogen se recompôs. Tom já estava com o laptop aberto e, se estava trabalhando, não notaria nem se ela passasse nua em sua frente. Ele com certeza não a acompanharia com os olhos, pensando se um maio de um tamanho maior não seria uma escolha melhor, do jeito que 32


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faziam as mulheres. O que importava é que do lado de fora havia uma praia inteira só para ela. Ainda assim, Imogen enrolou uma canga na cintura antes de entrar na sala. Tom podia nem perceber que havia pele demais sendo exposta pela calcinha do biquíni, mas ela sabia disso, e também não queria ficar encolhendo a barriga o tempo todo. Tom estava sentado em um dos sofás, inclinado para a frente e com a testa franzida para o laptop aberto sobre a mesinha diante de dele, mas levantou os olhos quando Imogen apareceu. — Não quer nadar? — ela perguntou, sentindo-se embaraçada. Ele mal a olhou antes de se voltar novamente para a tela do computador, mas isso já foi o bastante para deixá-la consciente de que o tecido da canga era muito fino e que, sob ele, estava praticamente nua. — Talvez mais tarde — ele disse. — Antes quero checar como anda o movimento nas bolsas de valores. — Está certo. Bem... Se precisar de mim, estarei na praia. Depois que ela saiu, Tom respirou fundo e se deixou cair contra as almofadas do sofá. Com certeza não estava preparado para a visão de Imogen, de pés descalços e usando pouco mais do que uma canga sumária. Ele reconheceu o cabelo castanho descendo solto pelos ombros e os olhos grandes e azuis, mas ela sempre tivera aquele corpo? Como nunca percebera as curvas sensuais e a pele atraente? E agora que percebera, como iria se controlar? Tom amarrou a cara. Ainda estava se curando das feridas de seu último encontro com uma mulher, e com certeza não tinha intenção de se envolver com outra. Menos ainda se essa outra fosse sua secretária. Seria totalmente inapropriado. Ele não devia nem mesmo pensar na aparência dela. E com certeza não deveria ficar imaginando se Imogen seria tão quente e macia quanto parecia, ou como seria despir aquela canga e explorar as curvas surpreendentemente voluptuosas daquele corpo com a boca e as mãos. Tom cerrou os dentes e se forçou a prestar atenção na tela do laptop. Devia estar sofrendo algum tipo de reação retardada aos acontecimentos dos últimos dias, concluiu. Nada mais explicaria a onda de desejo que o dominara quando levantara a cabeça e vira Imogen alguns minutos antes. Ela nem mesmo era seu tipo. Ele nem sequer pensara na aparência dela antes. Sempre preferira as mulheres esguias e sofisticadas, as frias e controladas. Mulheres como Julia. Julia. A mera lembrança dela era um choque. Realmente só havia se passado três dias desde que ela o deixara? Tom não podia acreditar que já estava tendo pensamentos lascivos a respeito de outra mulher. Precisava parar com aquilo, e já, pensou ele. Os dois ainda tinham três semanas inteiras pela frente, três semanas em que precisaria se esforçar para controlar as próprias mãos. E conseguiria fazer isso. Estava acostumado a conseguir fazer tudo o que se determinava, Tom relembrou a si mesmo. Afinal, não construíra toda sua carreira contando com a força de vontade e a determinação, recusando-se a permitir que qualquer coisa o distraísse de seu objetivo? Ele resistira a distrações muito mais tentadoras do que Imogen, e resistiria a ela também. Além do mais, também não queria distraí-la. Os dois tinham trabalho a fazer. E trabalhar era o que Tom Maddison fazia melhor. 33


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No entanto estava difícil se concentrar naquele momento. Ele estava com calor e seus olhos ainda ardiam por causa do ar-condicionado forte do avião. Um rápido mergulho poderia refrescá-lo, decidiu Tom. A imagem da laguna pareceu saltar em sua mente, mas ele logo a afastou. Imogen estaria ali. Ele não queria ficar muito próximo dela. Era estranho como conseguia visualizá-la perfeitamente, cismou, lembrando-se dela no barco, sorrindo, o cabelo voando ao redor do rosto, os olhos cheios de sol... E, há pouco, enrolada na canga, com os ombros nus. Lembrar-se daquilo foi um erro. Inquieto, Tom levantou-se e saiu do bangalô. A piscina cintilava, convidativa. Ele se refrescaria e então voltaria para o trabalho. Mas, por algum motivo, a piscina parecia vazia demais e quando ele entrou na água e apoiou os braços na borda, pôde ver a laguna por entre os coqueiros e se pegou imaginando Imogen ali, sozinha. Na verdade, era ridículo achar que deveria evitá-la! Eles iam continuar juntos ali pelas próximas três semanas. Não havia nenhum problema real. Tom já racionalizara aquele súbito impacto de desejo como uma reação natural de seu ego ferido. Podia estar sozinho em uma ilha tropical com Imogen, mas ambos eram adultos sensatos. Não havia razão alguma para que não mantivessem a mesma relação profissional que sempre haviam tido, e ainda dessem andamento ao trabalho. Porque era o trabalho que importava. Tom saiu da piscina, secou-se e foi até a cozinha. Imogen não poderia trabalhar se estivesse desidratada. Levaria uma bebida para ela. Ele a encontrou deitada em uma espreguiçadeira, à sombra de um coqueiro. Imogen despira a canga e usava apenas um alegre biquíni cor-de-rosa. A mão de Tom não estava muito firme quando ele lhe ofereceu um copo de limonada fresca. — Obrigada — disse ela, sentando-se. Mas o sorriso que lhe dirigiu quando pegou o copo era, sem dúvida, tenso. Não devia ser fácil para ela, pensou Tom, estar presa naquela ilha com o chefe. Ele sentou-se na beira da espreguiçadeira que fora colocada ao lado da dela e olhou para a laguna, enquanto dava um gole na própria limonada e tentava afastar a imagem que não parava de dançar diante de seus olhos, de Imogen naquele biquíni. E conseguiria fazer isso. Era apenas uma questão de se acostumar a ver a secretária sem roupas. O silêncio ao redor deles era tenso. — Como está a água? — perguntou Tom, por fim, sentindo-se desconfortável ao perceber que sua voz saíra rouca, e pigarreando. — Uma delícia — Imogen esvaziou o copo, pousou-o na areia e se levantou. — Eu estava prestes a voltar para lá, para nadar mais um pouco — disse ela, e hesitou. — Por que não vem também? Era melhor fazer alguma coisa do que ficar sentado ali tentando não olhar para ela, decidiu Tom. — Está certo — ele falou, levantando-se. Eles caminharam pela areia quente, juntos, e entraram na água. Era tão 34


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transparente que podiam ver os próprios pés em detalhes enquanto caminhavam. — Parece seda contra a pele, não é? — perguntou Imogen, correndo os olhos pela superfície. Tom desejou que ela não houvesse mencionado a palavra "pele". Já estava difícil o bastante manter os olhos afastados da dela. Assim que a laguna ficou funda o bastante, ele mergulhou e nadou rapidamente na direção do recife. Era boa a sensação do exercício físico. E com certeza parecia menos perigosa do que ficar parado perto de Imogen e daqueles pequenos triângulos de tecido que ela usava. Quando finalmente parou de nadar, Tom afastou o cabelo dos olhos e ficou boiando. Ali, a laguna tinha cor do jade, mas ainda era possível ver o fundo. O sol se refletia na superfície, fragmentando-a em centelhas de prata. Ele precisou franzir o cenho para conseguir olhar para o lugar onde Imogen boiava de costas, sonhadora, os braços e pernas esticados como uma estrela do mar. Era tudo tão tranqüilo... Há quanto tempo ele não ficava ocioso daquele jeito, apenas ouvindo o silêncio e sentindo o sol sobre os ombros? Sua vida era tão focada, tão voltada para a necessidade de ter sucesso que ele esquecera como relaxar do modo como Imogen estava relaxando. Talvez nunca houvesse sabido como relaxar daquele jeito, pensou Tom. Mas, ao mesmo tempo, tinha a estranha sensação de que a determinação que o mantivera cativo durante mais tempo do que conseguia se lembrar começava a se perder sob a luz do sol e a calidez sedosa da água.

CAPÍTULO QUATRO

Tom nadou mais lentamente de volta à praia. Quando a alcançou, Imogen estava deitada na água rasa, com a cabeça apoiada nas mãos, sob a nuca, e o rosto erguido para o sol. Mas logo abriu os olhos quando o ouviu aproximar-se. — É incrível, não é? — disse ela com naturalidade. Mas ainda havia um certo constrangimento em sua expressão, e seu sorriso era reservado. Tom sabia como Imogen estava se sentindo. Ela era sua secretária, ele era o chefe. Está certo, não eram estranhos, mas ocorrera a Tom — tardiamente — que nunca haviam tido uma conversa de verdade e, agora, ele não sabia por onde começar. Até então, só haviam falado sobre trabalho, sobre providências práticas, mas dificilmente poderiam conversar sobre esses assuntos ali, com a luz se refletindo na água e a brisa quente agitando os coqueiros. A situação era ainda mais constrangedora do que Tom previra. A verdade era que ele estivera tão desesperado para escapar da situação humilhante de ter um casamento cancelado que não pensara realmente em como seria estar sozinho com Imogen. Imaginara mesmo que haveria espaço o bastante para ambos na ilha e que poderia passar por ela e ignorá-la? Depois de um instante de hesitação, Tom sentou-se perto dela, na água rasa. 35


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Tentaria evitá-la o máximo possível, mas ainda precisavam estabelecer algum tipo de relacionamento pelas próximas três semanas. Não havia como passarem em silêncio todo o tempo em que estivessem juntos. Por ora, era melhor se esforçar um pouco. No entanto, descobriu que era mais difícil do que pensava ficar ali, sentado ao lado dela. Tomara cuidado para não chegar perto demais, só que estava perto o bastante para ver como o biquíni molhado colava aos seios de Imogen. Perto o bastante para ver as gotas d'água escorrendo pela pele dela e para reparar na curva de sua boca. Perto o bastante para ver os cílios cheios e a veia pulsando em sua garganta. Tom pigarreou e se obrigou a desviar o olhar. — A água está muito agradável — ele concordou. Imogen enfiou os dedos na areia, achando divertida a escolha de palavras dele, tão inapropriada... Tudo ali era muito mais do que agradável. Era mágico. Deslumbrada com o calor, com a luz e com a cor, ela sentia como se houvesse esbarrado em outro mundo, por isso permaneceu sentada, muito quieta, com medo de que, caso se movesse, aquilo tudo desaparecesse em um piscar de olhos. Com medo de acabar se descobrindo de volta à entrada da estação de metrô em Londres onde precisava abrir caminho entre o nevoeiro e a chuva diariamente, junto com os outros passageiros. Ali era tudo tão perfeito, os azuis, os verdes e o branco puro atrás dela. As cores eram claras, translúcidas, e os únicos sons que ouviam eram do oceano, atenuado pelo recife e o ondular suave da água da laguna ao redor dos seus tornozelos. A única nota destoante era Tom. Ele pertencia ao outro mundo, à rotina cinzenta, não àquele, idílico, em que estavam. Imogen arriscou um olhar velado para ele. Tom estava olhando para além do recife, os braços apoiados relaxadamente sobre os joelhos e parecendo, ao mesmo tempo, alguém familiar, mas também um estranho. O perfil severo, os traços formidáveis, os cabelos cortados muito curtos, eram os mesmos de sempre, mas ela não estava acostumada a vê-lo delineado pelo céu azul. Ou com o peito nu. Imogen sabia que Tom era alto e esguio, e presumira mais de uma vez que tinha um corpo interessante, mas não percebera quanto era interessante até que ele surgisse diante dela usando calção de banho. Fora impossível não perceber as pernas longas e firmes, o peito largo e sólido, com pelos negros descendo por uma barriga lisa e firme. Tom também tinha ombros poderosos e a pele molhada era tentadora, convidava ao toque. Imogen sentiu a boca seca. Estava consciente demais do corpo dele ao seu lado. Ela não costumava ter problemas para conversar com ninguém, mas Tom sempre fora uma missão difícil, mesmo em seus melhores momentos. O que dizer agora, quando estava sentado ali, praticamente nu! Ela não conseguia pensar em uma única coisa para dizer. As próximas três semanas seriam muito embaraçosas se continuasse a se sentir tímida daquele jeito o tempo todo. Imogen queria tratar Tom como sempre fizera, mas como conseguiria fazer isso com ele sentado ao seu lado, com aquele corpo? Ela desejou que ele entrasse novamente no bangalô e vestisse novamente o terno. Podia não ser muito prático para a praia, mas ao menos ela saberia com o que estava lidando. 36


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O silêncio se estendeu, desconfortável. Imogen ainda procurava por algum tema neutro de conversa quando uma cintilação diferente sob a água chamou sua atenção. Ela se inclinou para a frente e viu outra e depois outra. — Veja — gritou Imogen, apontando os peixinhos minúsculos que disparavam pela água, sentindo-se grata e aliviada pela distração. — Não são lindos? — Deve haver muitos outros lá para a frente. — Tom também aceitou agradecido a desculpa para conversa. Ele estreitou os olhos para protegê-los do sol e acenou na direção do recife — Ouvi dizer que mergulhar ali é uma experiência espetacular. — Adoraria fazer isso — falou Imogen, ansiando. — Podemos ir até lá sem problemas. Percebi, mais cedo, que há um barco na praia. Imogen não pareceu muito convencida. — Eu não saberia diferenciar uma ponta da outra do barco. Acho que me saio melhor nadando! É fácil mergulhar? Nunca fiz isso antes. — Vou ensinar a você — disse Tom, que momentos antes havia decidido que a única forma de passar aquelas três semanas ao lado de Imogen de biquíni era manterem seus caminhos o mais separado possível. — Mesmo? Que maneira de manter distância! Tom se amaldiçoou por ser tão tolo. Não poderia ter encontrado uma maneira melhor de ficar perto dela naquele maldito biquíni nem mesmo se tentasse. O que deveria fazer era voltar a ter um relacionamento profissional com ela, e não ficar brincando na água. — Vamos mergulhar amanhã. E depois trabalharemos um pouco — acrescentou Tom. — Eu gostaria muito — respondeu Imogen, alegre. Talvez fosse mais fácil se fizessem alguma coisa juntos. Ao menos isso lhes daria algum assunto para conversar. Ela se apoiou nos cotovelos e olhou para ele com curiosidade. Mergulho não era uma atividade que envolvesse grandes valores financeiros, e poucos negócios conseguiriam ser fechados diante de um recife de coral. Não parecia um esporte que combinasse muito com Tom. — Onde aprendeu a mergulhar? — No Caribe. Tive uma namorada que sempre insistia para tirarmos férias juntos — lembrou-se Tom. — Fui apenas para satisfazê-la, mas não tive sucesso. Nós nos dávamos bem enquanto estávamos em Londres, mas acho que a verdade é que não nos víamos o bastante. Logo que chegamos lá, percebemos que não tínhamos nada a dizer um ao outro. Ela ficava deitada ia praia e eu ia mergulhar... Nunca mais a vi depois que voltamos para Londres! Imogen enterrou as mãos na areia prateada. — Dizem que o verdadeiro teste para um relacionamento é o casal viajar junto. — Isso com certeza foi verdade no que se refere a mim e Helena, embora de acordo com ela tudo tenha sido culpa minha. Ela reclamava que eu não sabia relaxar... E não estava de todo errada. Nunca soube o que fazer comigo mesmo nessas viagens de férias. Acho que nunca aprendi. Nunca tivemos férias quando éramos crianças. — O quê? Nunca? 37


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— Ao menos não o tipo de férias em que se viaja para outro lugar. Tinha as férias escolares, é claro, mas minha mãe morreu quando eu ainda era pequeno e meu pai sempre trabalhou muito, assim eu costumava ser deixado por minha própria conta. — Pobre garotinho — disse Imogen, mas ele não cedeu à compaixão dela. — Eu gostava. Comecei meu primeiro negócio aos 10 anos. Costumava bater nas casas dos vizinhos e me oferecer para lavar os carros por uma libra, mas logo percebi que estava cobrando barato demais! — Tom deu um sorriso irônico diante da lembrança. — O que fazia com seus lucros? — perguntou Imogen, intrigada com o menino que ele fora. — Comprei baldes extras e mais alguns panos de limpeza, e os dei aos meus amigos em troca de um percentual de seus ganhos. Até o final do verão eu já tinha uma equipe completa de lavadores de carro! Imogen riu. Sentia-se melhor agora que eles realmente estavam conversando. Talvez aquele tempo juntos não se mostrasse tão ruim, no fim das contas. — Ao que parece, você sempre foi um empreendedor! — Aprendi bem cedo que, se queria alguma coisa, teria que consegui-la eu mesmo — falou Tom. — Mesmo aos 10 anos eu conseguia compreender a lei da oferta e da procura. Para conseguir o que queria, precisava de dinheiro, e para conseguir dinheiro tudo o que precisava fazer era descobrir o que as outras pessoas queriam e tornar mais fácil para elas alcançarem esses desejos. — Você faz isso soar tão simples... — disse Imogen, com um toque de amargura. Ele ergueu as sobrancelhas, curioso. — É simples. — Descobrir o que as pessoas querem? Não pela minha experiência! Tom deu de ombros. — Eu nunca tive problemas para saber o que queria. O que me parece é que muitas pessoas não sabem o que querem. Assim que você descobre o que quer, passa a ter um objetivo claro, então é só uma questão de trabalhar para conseguir. Tudo do que precisa é de estratégia e de estar preparado para persistir. — Isso deve funcionar nos negócios, mas as estratégias não são muito úteis quando há emoções envolvidas. — Não mesmo... — Tom pensou em Julia e na confusão em que tudo se tornara porque ele se esquecera exatamente disso. — É por isso que prefiro permanecer no campo dos negócios. Sempre que me aventuro no terreno emocional, as conseqüências são desastrosas. Ele não tivera a intenção de parecer amargo, mas Imogen olhou-o preocupada. — Me desculpe — ela falou. — Não tinha intenção de lembrá-lo de Julia. Estava falando de mim. — É mesmo? — Tom ficou feliz por poder afastar o tema da conversa de sua inadequação no campo emocional. — Sempre soube o que queria, mas isso não me adiantou de muita coisa... — E o que você queria? Imogen suspirou e abraçou os joelhos. 38


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— Queria que meu namorado voltasse a me amar, só isso. Eu até tinha uma estratégia, como você disse. Planejei dar tempo a ele, para que percebesse o quanto sentia minha falta. — E isso não aconteceu? — Não — ela respondeu. — Ele se casou com outra pessoa. Tom examinou o perfil de Imogen. Ela prendera os cabelos molhados atrás da orelha e encarava o horizonte, perdida em lembranças. — Não faz sentido querer alguma coisa que depende de outra pessoa — ele falou, depois de um momento. — Só conseguimos ter sucesso se quisermos coisas que possamos conseguir sozinhos. Aquela era uma coisa de que deveria ter se lembrado antes de pedir Julia em casamento. — Mas e se o que queremos é não estar sozinhos? — perguntou Imogen, virando a cabeça para encará-lo. Tom se sentiu preso na sinceridade do olhar dela. Os olhos de Imogen sempre haviam sido azuis daquele jeito?, ele se perguntou, surpreso com a profundidade da cor. Teria percebido antes se fossem, não? O céu e o mar é que deviam estar deixando-os tão azuis, ele concluiu. Um jogo de luz. — Então provavelmente não terá sucesso — respondeu Tom. — Sucesso não é tudo — ela ressaltou. — Para mim é. Imogen não respondeu diretamente. Para alívio de Tom, ela afastou os olhos mais uma vez na direção do oceano, para além do recife. — Lembro que no meu último ano no colégio, uma garota mais velha veio nos dar uma palestra — falou Imogen, por fim. — Achei que ia ser muito chato. Ela era uma advogada ambiciosa, muito glamourosa, e parecia ter tudo. Esperávamos que a garota fosse falar sobre como trabalhara duro para ter sucesso, mas ela acabou falando uma coisa completamente diferente. "Nunca me esqueci", Imogen continuou a relembrar. "Ela nos disse que a lição mais importante que deveríamos aprender era como errar. Disse que todos falhamos em algum momento de nossas vidas, e que o que conta não é quanto dinheiro ganhamos ou quanta projeção social conseguimos, mas como reagimos ao fracasso. Era um teste de caráter, falou ela. No caso de um fracasso, nos deixávamos abater ou nos erguíamos e começávamos de novo?" Tom franziu o cenho. Ele nunca se permitira sequer considerar a possibilidade de fracasso. — E você acreditou nisso? — Bem, foi muito estimulante na época — falou Imogen, quase em tom de desculpas. — Principalmente para aqueles de nós que estavam mais acostumados a fracassar do que a ter sucesso. Mas agora já tenho bastante experiência com o fracasso e devo admitir que seria bom experimentar o sucesso em algum momento, só para variar! Tom ainda estava cismado com a idéia de fracasso. — Se você se propuser objetivos claros, não há razão para não ter sucesso — ele falou. 39


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— Depende dos seus objetivos, não é? Você não pode fazer com que alguém o ame... — ela retrucou, triste. — Não pode controlar como outras pessoas vão reagir. Quando se propõe a ter algum tipo de relacionamento, tem que aceitar que nem sempre vai conseguir ter sucesso. Não há outra opção. — A menos que desista completamente dos relacionamentos. — Mas isso também é um fracasso, não é? — disse Imogen. As palavras dela pareceram reverberar sobre a laguna cintilante. Fracasso... Fracasso... Fracasso... Tom se mexeu, desconfortável. Não estava acostumado com o fracasso. Não gostava do fracasso. E não sabia o que fazer com ele. Mas precisava encará-lo. Seu relacionamento com Julia fora um fracasso. Ele sabia disso. Todos sabiam disso. A humilhação fez seu estômago arder, e Tom também desviou os olhos na direção do horizonte, os ombros tensos e curvados. — Então, o que você aprendeu quando não conseguiu que seu namorado voltasse? Imogen pareceu não perceber a dureza na voz dele. — Aprendi que não quero compromisso — ela disse — Aceitei que Andrew não me ama mais. Meus amigos ficam dizendo que devo voltar a sair e conhecer outra pessoa, e venho tentando fazer isso. Saio com alguns rapazes, e realmente tento ser positiva a respeito, mas não conheci ninguém que sequer começasse a me fazer sentir o que eu sentia por Andrew. Agora, cada novo encontro parece um novo fracasso, por isso decidi parar de procurar. — Está desistindo dos homens? — Não. Estou desistindo de achar que devo me contentar com menos do que o que for perfeito para mim. Houve outro longo momento de silêncio, quebrado apenas pelo marulhar da laguna, pelo leve sopro do vento nos coqueiros e, vindo de algum lugar na ilha, pelo canto agudo de um pássaro. Tom pensava sobre o que Imogen dissera. Julia tentara se contentar, percebeu. Ele era apenas uma segunda opção para ela. A constatação doeu. Julia tomara a decisão certa, terminando tudo, mas isso o deixara sentindo-se um fracasso. E fora exatamente assim que Imogen disse que se sentira depois de todos os seus encontros desastrosos. Era engraçado como ele nunca pensara antes que ela pudesse ter uma vida própria. Imogen era apenas sua secretária, em Londres, e agora... Tom relanceou os olhos para ela. Imogen continuava com o olhar perdido no horizonte, a expressão sonhadora, ou talvez apenas melancólica. Ela não tinha uma beleza clássica, como Julia, mas era atraente de um modo que ele não conseguia compreender direito. Devia ser a pele viçosa, adorável, ou a curva generosa da boca, ou talvez o azul profundo e brilhante dos olhos. Agora... Agora Imogen era mais do que uma secretária. Tom ainda não sabia exatamente o que passara a ser, mas sabia que era mais do que uma secretária. Quase como se pudesse ouvir seu pensamentos, ela virou a cabeça e o descobriu encarando-a. Quando os olhos azuis-claros e adoráveis se encontraram com os dele, Tom se descobriu lutando para conseguir respirar normalmente. 40


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Aquilo era ridículo, disse a si mesmo, de mau humor. Era apenas Imogen. — Você vai se queimar demais. — Tom disse a primeira coisa que lhe veio à cabeça, e tocou o ombro dela com o dedo, onde a pele estava cor-de-rosa. — Me desculpe — ele disse quando ela se encolheu. Imogen engoliu em seco. — Está só um pouco ardido — disse ela, não querendo admitir como o toque dele a abalara. — Mas você está certo, é melhor eu ir para sombra, um pouco. Imogen colocou-se de pé sem muita elegância, limpou a areia das pernas e fingiu não notar que Tom também se levantava ao seu lado. Subitamente ele parecia muito próximo, o peito largo, os ombros poderosos e musculosos, o quadril estreito no calção de banho liso que usava. Ela sentiu a boca seca. — Acho que vou tirar um cochilo — disse ela, afastando-se um pouco, como se isso pudesse ajudá-la a respirar com mais facilidade. — Acho que só agora estou sentindo os efeitos da viagem. — Por que não se deita por umas duas horas? Imogen conseguiu sacudir a cabeça, negando a sugestão. Ela jamais conseguiria relaxar naquela cama, imaginando como seria se as coisas fossem diferentes, se pudesse deitar ali e esperar que Tom se juntasse a ela sob os lençóis finos, se ele tirasse o calção de banho e a deixasse correr as mãos sobre o corpo firme e musculoso. Com alguma dificuldade, Imogen afastou esses pensamentos da mente. — Gostaria de ficar aqui mesmo — disse ela. — Você é quem sabe. — Tom deu de ombros, obviamente não se importando. — Nesse caso, então, vejo-a mais tarde. O corpo de Imogen parecia ferver com uma mistura de exaustão e incômodo, portanto ela não esperava realmente dormir quando se recostou em uma espreguiçadeira à sombra. Mas o cansaço a dominou no momento em que fechou os olhos e, quando voltou a abri-los, descobriu que já havia se passado quase duas horas. Ainda tonta, ela se levantou e consultou novamente o relógio, para o caso de ter se enganado, mas o comprimento das sombras lhe disse que era verdade. Ao que parecia, acabara tirando mesmo aquele cochilo. Ligeiramente constrangida, mas sem saber bem o porquê, Imogen começou a caminhar de volta para o bangalô. O sol já estava baixo no horizonte e o mar muito tranqüilo, enquanto nos pequenos arbustos insetos invisíveis iniciavam um concerto para marcar o fim do dia. Tom acomodara o laptop sobre a mesa de jantar e Imogen viu que ele estava com toda a atenção concentrada na tela. Quantas vezes já vira aquela mesma expressão concentrada?, se perguntou ela. A ruga entre as sobrancelhas, a tensão combativa no maxilar, a linha firme da boca... Tudo aquilo lhe era tão completamente familiar depois de trabalhar com Tom pelos últimos meses... Então por que bastou vê-lo para que sentisse os músculos do estômago tensos e a respiração difícil, deixando-a trêmula e chocada? Devia ser efeito do jet lag, concluiu Imogen, e se forçou a acalmar a respiração enquanto subia os degraus da varanda. Tom levantou os olhos quando ela apareceu na porta. 41


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— Foi um longo cochilo. — Eu não pretendia dormir tanto. — Imogen ficou feliz ao perceber que ele vestira um short e uma camiseta. Tom parecia refrescado e confortável, enquanto ela se sentia quente, pesada e com o rosto amassado de sono. Ao menos o desconforto a ajudou a afastar aquela estranha sensação de chocante familiaridade. — Acho que vou tomar uma ducha — disse Imogen. — Ainda estou me sentindo um pouco sonolenta. — Parece mesmo. A voz dele era fria, seu olhar levemente desaprovador, e Imogen deixou escapar a respiração que não percebera que estava prendendo. Era um alívio perceber que ele voltara a ser o Tom que ela conhecia, o chefe rabugento, o homem sem a menor paciência para fraquezas ou frivolidades. Está certo, eles haviam conversado um pouco à beira d'água. Mas o que mais deveriam fazer se estavam completamente sozinhos em uma ilha tropical? Tom até podia ter lhe contado mais sobre si mesmo do que ela jamais soubera antes, mas ele estava apenas arrumando assunto para conversa e isso não era o mesmo que se tornar íntimo, por mais que houvesse parecido assim. Ela com certeza não começaria a bancar a tola só porque vira o corpo incrível que antes ficava escondido sob os ternos que ele sempre usava. Fora apenas o cansaço que a fizera se sentir desconfortável ao vê-lo mais como um homem do que como um chefe, disse Imogen a si mesma. Só precisava tomar uma ducha fria, vestir uma roupa sensata, e eles rapidamente voltariam ao seu relacionamento normal. A caminho do banheiro que ficava na parte externa do bangalô, Imogen percebeu que a luz lá fora ficava cada vez mais baixa. O teto era aberto e a luz suave fazia as paredes curvas e o telhado engenhoso parecerem incrivelmente românticos. O fato de o banheiro não ter porta deixou-a levemente desconfortável, mas Tom sabia onde ela estava, considerou. Ele dificilmente iria bisbilhotar e, como não havia ninguém mais na ilha, sua privacidade não poderia estar mais garantida. Imogen voltou sua atenção para o chuveiro, tentando descobrir como funcionava. Mas não era complicado, não havia telas nem painéis ali, apenas uma ducha enorme presa bem acima do chão de cerâmica. Seria como estar sob uma cachoeira. A pele de Imogen estava quente e ressecada, e seu cabelo cheio de areia. Seria um banho delicioso, disse a si mesma enquanto abria as torneiras e despia o biquíni. Com um suspiro de prazer, entrou sob a cascata d'água. Mas logo sentiu alguma coisa horrível correr sob seus pés. Alguma coisa que ela não vira naquela estúpida luz suave, que já não parecia nada romântica, mas sim potencialmente perigosa. Alguma coisa que devia ter um amigo, que iria subir pelos seus pés... Imogen não conseguiu se controlar. Deu um gritou, pulou para fora do chuveiro e fugiu para o outro lado do banheiro sem parar nem para pegar uma toalha. Um instante depois, Tom entrava escorregando e tentando se segurar na parede curva do banheiro. — O que houve... Oh! Ele estacou ao perceber que Imogen estava completamente nua. O coração dela saltava no peito com uma mistura de medo e puro choque ao ver Tom entrar no banheiro, mas por um longo e embaraçoso momento só o que conseguiu fazer foi encará-lo de trás da banheira de hidromassagem. 42


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Tom se perguntou se Imogen tinha alguma idéia de como parecia atraente com o cabelo molhado, a pele úmida e os olhos muito escuros arregalados de medo. Ela levara uma das mãos ao pescoço, onde uma veia saltava, e seus seios subiam e desciam rapidamente enquanto Imogen se esforçava para respirar. O biquíni que usava antes não deixara muito à imaginação, mas Tom ainda não estava preparado para a abundância gloriosa do corpo dela. E, mesmo que seu cérebro gritasse para que ele mantivesse os olhos firmes no rosto de Imogen e se virasse de costas, não teve chance contra o instinto que fazia com que seu olhar passeasse sobre as curvas adoráveis. Imogen acompanhou o caminho dos olhos dele e, tarde demais, a humilhação a arrancou da paralisia que parecia havê-la dominado. — Deus, me desculpe — conseguiu dizer Tom, enquanto ela agarrava uma toalha. É claro que a toalha era pequena demais, e Imogen teve que segurá-la na frente do corpo enquanto pegava outra, que parecia grande o bastante para que enrolasse ao redor do corpo. Seu rosto ardia de vergonha. — Ouvi seu grito — ele tentou explicar, enquanto recuava. — Achei que estava com problemas. — Eu pisei em alguma coisa quando entrei no chuveiro. — Imogen estremeceu diante da lembrança. — Não se pode ver nada nessa luz estúpida — ela reclamou, esquecendo-se de como ficara fascinada antes com a beleza do banheiro no fim de tarde. — Isso é revoltante. — O que era? — Tom já tinha mais controle sobre sua voz. Pelo menos Imogen agora se cobrira com a toalha... Não que isso fizesse muita diferença. A imagem do corpo dela ainda estava muito vivida depois de que ele a encarara como um colegial tolo. Ele mexeu os ombros, desconfortável, mortificado pela lembrança. — Não sei — disse Imogen. — Não parei para tentar descobrir. Parecia tão nojento... O que quer que fosse. Tom foi até o chuveiro e fechou a torneira. Isso, ao menos, lhe dava uma boa desculpa para desviar os olhos de Imogen. — Provavelmente era uma barata — falou. — Sim, lá está ela. — Ele apontou para um canto onde alguma coisa negra e à espreita mexia malevolamente as antenas. Imogen espreitou, nervosa, por sobre os ombros de Tom. — Argh! É horrível! — Ela provavelmente não tem uma opinião muito melhor a seu respeito, já que foi você quem pisou nela. — Ele estava achando difícil se concentrar com Imogen tão perto. — Quer que eu me livre dela? — Você faria isso? — perguntou ela, agradecida. Imogen estivera imaginando exatamente como pedir isso a ele sem soar patética. Tom caminhou na direção da barata, mas ela foi mais rápida do que ele e correu para a outra parede. O súbito movimento fez com que Imogen gritasse e pulasse, e a toalha quase se soltou. — Oh...! — ela teve que se controlar para não dizer um palavrão enquanto agarrava a toalha na hora H. Por sorte, Tom não percebeu. Estava muito ocupado perseguindo a barata pelo banheiro, mas quanto mais rápido se adiantava, mais depressa o inseto corria e mais 43


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difícil ficava alcançá-lo. Ele praguejava baixinho, furioso, sapateando no chão, mas sem conseguir acertar o bicho. Mas nenhuma barata iria levar a melhor sobre Tom Maddison! Ele parecia tão ridículo correndo ao redor do chuveiro, frustrado, e a situação era tão bizarra, que o senso de humor de Imogen começou a levar a melhor sobre o aborrecimento. Devia ser o cansaço, ou uma ponta de histeria, mas ela podia sentir a gargalhada subindo por sua garganta. — Veja só — falou —, eu não sabia que você sabia dançar flamenco! Distraído, Tom parou de repente. — O quê? — Um implacável homem de negócios e um dançarino talentoso. — A expressão de Imogen era de pura inocência quando acenou com a cabeça para os pés dele. — Você precisa admitir que é uma combinação e tanto! Por um instante, Tom só conseguiu encará-la. A luz estava cada vez mais baixa, mas era o bastante para que ele percebesse o brilho travesso nos olhos dela. Um sorriso se insinuava nos cantos de sua boca e, de repente, Tom percebeu o quanto devia estar engraçado, caçando um inseto ao redor do chuveiro, sendo observado pela secretária, que estava completamente nua sob aquela toalha mínima. Alguém gostava de fazer papel de tolo? Tom com certeza jamais gostara antes, mas, apesar de sua irritação com o bicho, percebeu que sorria também. Era uma situação absurda, mas talvez fosse um final perfeito para o que deveria ter sido o dia do seu casamento. Podia ter começado em tragédia, mas terminara em uma comédia. Sem pensar no que fazia, ele ergueu os braços, estalou os dedos e bateu com força com o sapato no chão. — Olé! — gritou, mantendo a pose. Foi a vez de Imogen encará-lo, pasma por ele se entregar ao absurdo da situação, o que não era nada característico de Tom. Então, os dois caíram na gargalhada ao mesmo tempo. E riram, riram até quase perderem o fôlego. A situação não era tão engraçada assim, mas em algum ponto do caminho ambos perceberam que as risadas eram mais de alívio por uma tensão não compartilhada e menos pelo humor da situação. — Meu Deus — ofegou Imogen, por fim, secando os olhos com a ponta da toalha. — Acho que eu precisava disso! — E, depois de tudo isso, a barata fugiu — percebeu Tom, olhando ao redor do banheiro, enquanto Imogen começava a rir novamente. Ele se sentia um pouco estranho. Não conseguia se lembrar da última vez em que rira daquele jeito — em que rira sem controle. Normalmente, a mera noção de perder o controle o deixaria desconfortável. Mas, naquele momento, olhando para Imogen, não era no medo de perder o controle em que estava pensando. Era no rosto de Imogen, ainda iluminado pelo riso. Era no corpo dela, sob aquela toalha que continuava teimando em escorregar perigosamente. Ele devia sair dali antes que a toalha acabasse caindo de vez, pensou Tom. — Já pode tomar aquele banho, agora — falou ele, e ergueu uma sobrancelha ao 44


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vê-la hesitar. — A menos que prefira usar o banheiro de dentro. — Eu faria isso, é claro, mas então você pensaria que sou realmente patética. — O quê, só porque teve medo de uma baratinha? Jamais! Imogen fez uma careta para ele. — Viu? Eu sabia que você diria isso. Se eu for para o outro banheiro, jamais serei capaz de andar de cabeça erguida novamente. — Não direi uma palavra sequer a respeito — prometeu Tom, erguendo as mãos. — Não, não, agora estou decidida a tomar banho aqui. Voltei a ser uma garota adulta e corajosa, ainda mais agora que sei que tudo o que se precisa fazer para espantar uma barata é dançar mal. Tom sorriu enquanto se virava para sair. — Vou deixá-la, então. Grite, se precisar de mim. Ela não gritaria de novo, mas a verdade é que precisava de Tom. Precisava que ele voltasse a ser seu chefe brusco e irritado, pensou Imogen, deixando cair a toalha e estendendo a mão para testar a temperatura da água. Precisava que Tom parasse de sorrir daquele jeito. Precisava que ele vestisse novamente o terno e a fizesse esquecer que tinha aquele corpo maravilhoso. Imogen ansiara por tomar aquele banho, mas quando ficou de pé sob a cascata de água morna se descobriu pensando, não em como era bom lavar o calor e o sal dos cabelos, mas sim em Tom, e em como ele rira com ela. Quem poderia imaginar que o frio e calculista Tom Maddison bancaria o bobo daquele jeito? Imogen sorriu ao lembrar dele fazendo pose de dançarino de flamenco e gritando olé! Era um homem completamente diferente daquele que gritava ordens ao telefone ou que mal lhe desejava um breve bom dia quando passava por ela, pisando duro, no escritório em Londres. O Tom que ela vira naquele dia tinha um sorriso largo e lindos dentes, e quando jogara a cabeça para trás, às gargalhadas, os olhos haviam se fechado e as linhas duras do rosto foram completamente transformadas pelo bom humor. Imogen sentiu uma sensação perturbadora se insinuando dentro dela à mera lembrança, e estremeceu, desconfortável. A verdade era que estava com mais medo das sensações que a invadiam do que da volta da barata. E não havia nenhuma possibilidade ali, lembrou Imogen a si mesma, com severidade. Esse deveria ser o dia do casamento de Tom, lembra-se?, continuou a repreender-se. Era Julia quem deveria estar ali parada, sentindo a pele arder com a mistura de água do mar e de um pouco de excesso de sol. Imogen tinha quase certeza de que Julia não teria gritado ao ver uma barata. Ou, se tivesse, não teria ficado parada, completamente nua, enquanto aqueles olhos frios e cinzentos passeavam por seu corpo. Mas se fosse esse o caso, Julia, é claro, estaria acostumada a ter Tom olhando para ela, refletiu Imogen, emburrada, enquanto se vestia. Na verdade, Julia provavelmente não estaria tomando banho sozinha, estaria? Tom estaria naquele chuveiro com ela, e os dois estariam tão ocupados fazendo amor que nem um desfile de baratas os deteria. Imogen sentiu que ruborizava diante da idéia. Como deveria ser terrível para Tom 45


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ver a ela em vez de Julia toda vez que se virava, além de ter que subitamente se deparar com sua secretária nua, uma secretária cujo corpo poderia, com boa vontade, ser descrito como curvilíneo, em vez de ver a beleza perfeita e esguia de Julia. Deve ter sido um choque terrível para ele. Ainda assim, ela estava feliz por eles terem sido capazes de rir juntos daquele jeito. E sentia que, a partir daquele momento, tudo iria mudar. Pelo menos o constrangimento de se descobrirem sozinhos na ilha havia passado. É claro que devia haver poucas coisas mais embaraçosas do que seu chefe pegá-la completamente nua, mas não adiantava nada sentir-se envergonhada depois disso, concluiu Imogen filosoficamente. A mudança no clima entre eles valia a humilhação.

CAPÍTULO CINCO

Imogen sentia-se realmente bem enquanto se vestia, apesar de saber que o vestido azul-claro que usava estava muito distante da roupa sexy e elegante que Julia sem dúvida teria escolhido vestir depois do banho. Mas teria que servir... Está certo, o vestido parecia barato e meio amarrotado naquele ambiente luxuoso, mas talvez não fosse de todo mal ter alguma coisa que a lembrasse de que podia relaxar o quanto quisesse na laguna, mas sempre estaria deslocada em um cenário fabuloso como aquele. Isso a impediria de começar a pensar que o fato de estar ali com Tom era qualquer coisa além de uma atitude para salvar as aparências. Ele era um homem de sucesso e ela, uma funcionária temporária. Ele achava normal usar coisas luxuosas, ela estava acostumada a comprar roupas baratas e alegres em grandes lojas de departamento. Imogen sabia que seria tolice de sua parte esquecer isso. Por outro lado, como estava ali mesmo, deveria aproveitar ao máximo. Agora que haviam quebrado a tensão com o riso, talvez pudessem ao menos ser amigos pelas próximas três semanas. Ela jamais conseguiria ocupar o lugar da esbelta e sofisticada Julia, mas poderia ser uma boa amiga, mesmo se fosse apenas temporária. Secretária temporária, amiga temporária... permanente?, perguntou-se, melancólica.

quando

seria

alguma

coisa

Não até que estivesse certa de que encontrara o que considerasse perfeito, lembrou a si mesma, com firmeza. Nesse meio tempo, estava no meio do oceano Índico, em uma ilha de sonho com um homem que precisava muito de uma amiga. E aquilo seria o bastante, disse a si mesma. Uma imagem de Tom de calção de banho invadiu por um instante sua mente, mas Imogen forçou seus pensamentos a se afastarem daquele corpo esguio e tentadoramente musculoso. Daquelas mãos... Daquela boca... 46


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Da lembrança dele às gargalhadas. Serem amigos já seria o bastante por ora. Imogen calçou suas sandálias favoritas decoradas com lantejoulas e foi se encontrar com Tom. Ele a esperava na varanda com um pé apoiado no gradil e uma cerveja na mão, parecendo mais relaxado do que ela jamais o vira. — Melhor? — perguntou, quando a viu. — Muito, obrigada. Tom abaixou a perna. — Gostaria de tomar alguma coisa? Ele preparou um gim-tônica para ela. O drinque estava delicioso, bem gelado e refrescante, e Imogen deu um gole satisfeito enquanto se recostava no gradil. Ao que parecia, ela perdera um glorioso pôr do sol enquanto estava no chuveiro. Podia ver através dos coqueiros, onde a laguna cintilava muito escura e quieta, e mais além, onde uma faixa rubra se estendia pela linha do horizonte. Insetos invisíveis se esmeravam em uma sinfonia de zumbidos e cricrilares vindos do interior das folhagens exuberantes, e o ar estava quente e pesado com os perfumes intensos da noite tropical. Subitamente, alguma coisa deu um voo rasante perto dela, e Imogen endireitou o corpo, surpresa. — Era um pássaro? — Um morcego, eu acho. Imogen torceu o nariz. — Primeiro baratas, agora morcegos... Não foi bem assim que imaginei o paraíso! — comentou, aborrecida, enquanto observava as criaturas arremessando e mergulhando no ar escuro e quente da noite. — Não me diga que também tem medo de morcegos? — É claro que não — ela falou, fuzilando-o com o olhar. — Também não tenho medo de baratas — completou, sem estar sendo completamente sincera. — Sei que gritei, mas foi apenas pelo choque de vê-la ali. Me pegou de surpresa — completou, ainda não parecendo muito convincente. Tom abaixou os olhos para a cerveja que segurava e ponderou que sabia bem o que Imogen sentira. Ele também não esperara encontrá-la despida, e aquele fora outro choque, só que de um modo totalmente diferente. — Quanto ao que aconteceu no banheiro — ele falou em um rompante. — Sinto muito se a constrangi entrando daquele jeito. — Está tudo bem. Estou feliz por você ter aparecido. Eu nunca seria capaz de espantar aquela barata sozinha. — Ela abriu um sorriso divertido. — Não sei dançar flamenco muito bem... Os lábios de Tom se curvaram levemente em um sorriso quando ele se lembrou do que os fizera rir tanto. Estava feliz por Imogen ter mencionado aquilo. Quando ela apareceu, tão exuberante e fresca depois do banho, o cabelo caindo pesado sobre os ombros, ele se perguntara se a idéia que tivera enquanto ela estava no chuveiro poderia acabar se tornando um problema. Mas agora que o constrangimento passara, Tom decidiu dizer a ela o que pensara. — Eu estive pensando — ele começou a dizer. 47


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— Sim? Tom fez um gesto largo, mostrando o cenário ao redor. — Esse lugar... É muito mais íntimo do que eu esperava. — Foi feito para receber-casais em lua de mel — lembrou Imogen. — Seria uma surpresa se não fosse íntimo. — Eu sei — retrucou Tom, com um leve toque de sua antiga irritação. — Não estava pensando com muita clareza, antes. — É compreensível — disse ela, logo sentindo-se culpada. — Nada disso deve estar sendo fácil para você. — A questão é... — Ele franziu o cenho, imaginando qual seria a melhor forma de dizer o que pensara. — Teremos que passar três semanas aqui — recomeçou. — Há boas possibilidades de que voltem a acontecer situações ainda mais embaraçosas quando estivermos a sós. "Como a ilha seria só nossa, achei que teríamos mais espaço", ele tentou explicar para si mesmo. A coisa toda parecia tão óbvia quando elaborara seu raciocínio! Mas agora, com os olhos de Imogen presos em seu rosto, tudo parecia mais difícil. Não era bom nesse tipo de coisa... E, se não tivesse cuidado, acabaria demonstrando o que sentia. "Mas do jeito que é aqui, vamos realmente estar vivendo juntos pelas próximas três semanas", falou Tom com dificuldade. "E será muito embaraçoso, a menos que concordemos em ser... não sei... normais." — Era exatamente nisso que eu estava pensando — disse Imogen, entusiasmada. — Só não sei bem o que é ser normal... — confessou Tom. — Vamos ser amigos. Temporários, é claro — ela acrescentou rapidamente, com medo de que ele pensasse que estava tentando tirar vantagem do abandono de Julia. — Temporários? — Bem, seria difícil voltarmos a trabalhar juntos se fôssemos amigos, não seria? — Talvez — reconheceu Tom. Não havia motivos para fingir que não seria inadequado. — Mas, de qualquer forma, logo estarei indo embora — continuou Imogen —, portanto a situação não se estenderia por muito mais tempo. — Indo embora? — perguntou ele, surpreso. — Por quê? — Vou viajar — disse Imogen. — Nunca saí da Europa antes, sempre quis ir à Índia, por isso quero ir até lá, depois de descer pelo sudoeste da Ásia, partindo da Austrália. Espero que, no caminho, eu consiga decidir o que realmente quero da minha vida. Agora que ela finalmente desistira de sonhar com Andrew. Tom voltou a franzir o cenho. — Eu não sabia disso. — É por isso que sou temporária — esclareceu Imogen. — Você não sabia? Estou apenas dando um suporte a você enquanto não escolhe alguém devidamente qualificada para ser uma secretária executiva. Ele soubera disso, é claro. Apenas não quisera pensar a respeito. Estivera 48


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ocupado demais tentando evitar o naufrágio da Collocom para ter tempo de escolher a pessoa certa. Além disso, Imogen podia não ser a típica secretária fria e competente, mas conseguira lidar muito bem com tudo. Não houvera razão para pensar em substituí-la. — Quando isso deve acontecer? — perguntou Tom, consciente da sensação de desconforto que deixara os músculos de seu estômago tensos. Não era medo o que sentia, era? — Assim que você escolher uma secretária permanente. Já venho economizando por um ano, portanto posso comprar minha passagem assim que você escolher a pessoa certa. Presumi que cuidaria disso logo depois do casamento, mas se começar a fazer as entrevistas em abril e em maio já houver escolhido outra pessoa, posso fazer minhas malas em junho. — Junho? — Não havia dúvidas agora de que o que sentia era medo. — Mas faltam apenas três meses! Imogen assentiu. — Eu sei, mas se ficar embaraçoso para nós depois que voltarmos, bem, ao menos não será por muito tempo. Tom levantou os olhos para a noite e tentou imaginar o escritório sem Imogen. Está certo, ele soubera que ela iria embora um dia, mas não pensara que seria tão cedo. Imogen era tão parte de sua vida quanto fora Julia, se não mais. Afinal, ele a via diariamente. Seria estranho sem ela. Mas não seria a primeira vez que precisaria se acostumar com uma nova secretária, Tom relembrou a si mesmo, alarmado com o rumo sombrio que seus pensamentos haviam tomado. Ele ficaria bem. — Se é assim, sua idéia então deve funcionar muito bem — falou Tom, consciente de que soava como se tentasse convencer a si mesmo. — Você tem razão, seria difícil voltarmos à nossa antiga relação chefe/secretária depois daqui, mas se vai partir logo, então não haverá problema. — Isso mesmo — falou Imogen, esforçando-se para manter o sorriso largo. O que ela esperara? Que Tom iria se jogar aos seus pés e implorar para que não o abandonasse? Não, seria melhor assim. Era óbvio que haveria especulação no escritório depois que voltassem. Quanto mais rápido deixasse o emprego e seguisse com sua vida, melhor. Mas, por enquanto, tornarem-se amigos, mesmo que temporários, parecia ser a melhor maneira de levar as próximas três semanas. — Então estamos de acordo? — ela perguntou. — Enquanto estivermos aqui, não seremos mais secretária e chefe, mas apenas amigos? Houve um breve momento de hesitação, e logo Tom assentiu. — De acordo. — Ótimo — disse Imogen. — Agora que isso está acertado, vamos ver o que há para o jantar. Estou faminta! Ela conversou sobre amenidades enquanto arrumava os frios e queijos que haviam sido deixados na geladeira, e Tom se pegou quase hipnotizado pela rapidez com que Imogen se acostumou a tratá-lo como um amigo. Isso o fez perceber o quanto ele a conhecia pouco quando era ela apenas sua secretária. Não imaginara que Imogen pudesse ser tão esperta, ou tão engraçada... Tom ficou observando-a como se nunca a 49


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houvesse visto antes enquanto ela lhe contava sobre seus amigos, sobre o apartamento que dividia com uma amiga e sobre a vida que levava em Londres, tão diferente da que ele levava. De repente, Imogen se interrompeu e fez uma careta ao ouvir as próprias palavras. — Tudo isso deve lhe parecer tão maçante! — ela disse. — Na verdade, não — respondeu Tom, quase para sua própria surpresa. Eles haviam encontrado uma garrafa de vinho perfeitamente gelada na geladeira e ele se inclinou por sobre a mesa para encher o copo dela. Imogen não acreditou nele, é claro. No que estivera pensando! Tagarelando com Tom Maddison sobre bares, jantares caóticos e testes tolos que ela e Amanda gostavam de fazer sobre seu embaraçosamente grande conhecimento de séries de TV? Ela se encolheu ao lembrar. — Mas sua vida é muito mais glamourosa! Imogen não conseguia imaginar, por exemplo, Tom esparramado diante da televisão. Ele e Julia deviam ter ido a restaurantes incríveis e grandes festas. Provavelmente costumavam ir à ópera, a jogos de pólo ou ao tipo de boates que ela e Amanda só conheciam de ler nas revistas. — É mesmo? — disse Tom. — Meu apartamento pode ser maior do que o seu e eu posso morar em uma parte mais exclusiva da cidade, mas não faço muita coisa quando estou em casa. Só trabalho. — E quando estava com Julia? Ele deu de ombros. — Nós íamos muito a restaurantes e, sim, muitas vezes havia alguma festa, mas esses eventos não são nem de perto tão divertidos quanto parecem ser. O que ele e Julia realmente haviam feito juntos?, Tom tentou se lembrar. Julia gostava de circular pelo universo da arte, mas as galerias e vernissages sempre o haviam entediado. Costumava usar o trabalho como desculpa para não ir aos eventos com ela. Talvez Patrick fosse em seu lugar? Olhando em retrospectiva era tudo muito claro, é óbvio, mas não deveria ter se perguntado o quanto ele e Julia realmente tinham em comum antes de pedi-la em casamento? No entanto, achara que terem a mesma frieza e a mesma cautela para guiar a própria vida bastaria... Como pudera se enganar tanto? Tom olhou para Imogen, do outro lado da mesa. O modo como ela levava a vida nem com muito esforço poderia ser descrito como frio e cauteloso... Ao menos não pelo que estava lhe contando. — Não acho que você apreciaria muito a vida que levo — ele disse a ela. — Me parece que você gosta do modo como vive. Tem muitos amigos e parece se divertir com eles. Tem um emprego. Por que desistir de tudo isso e deixar a vida que tem para trás, para viajar? — Por que preciso me afastar — falou Imogen, a expressão séria como ele ainda não vira. Ela apoiou os braços na mesa e girou o copo, pensativa, entre os dedos. — Passei cinco anos me agarrando a um sonho impossível — continuou Imogen depois de um instante. — Cinco anos querendo algo que não podia ter. Finalmente aceitei que não vou conseguir, que nada vai acontecer, mas acho que preciso me afastar de tudo e fazer alguma coisa completamente diferente antes de poder seguir em frente, do jeito 50


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que devo. — Cinco anos é muito tempo para querer alguma coisa... Ou seria alguém? — Era alguém — assentiu Imogen. Tom pensou no que ela lhe contara na praia e buscou o nome na memória. — Andrew? — Sim, Andrew — ela confirmou. — Estudamos juntos — continuou. — Me apaixonei por ele no instante em que o vi na Semana dos Calouros. Fomos insepar áveis por três anos. "Eu era tão feliz naquela época", relembrou Imogen, seu sorriso tinha um toque de tristeza. "Nunca me ocorreu que aquilo poderia terminar. Simplesmente presumi que, depois que nos formássemos, nos casaríamos e passaríamos o resto de nossas vidas juntos." — E o que aconteceu? — Oh, nada dramático. Andrew apenas... amadureceu mais do que eu. — Ela conseguiu dar outro sorriso, mas este não conseguia esconder a dor. — Afinal, éramos muito jovens quando nos conhecemos, tínhamos apenas 18 anos, e 21 quando nos formamos. As pessoas ficavam me perguntando o que eu queria fazer, insinuando que deveria estar pensando em uma carreira, mas tudo o que eu queria era estar com Andrew. Ele era mais ambicioso. Queria ser jornalista, e foi o que fez. E est á se saindo muito bem, por sinal. Acabou de ser promovido a correspondente na área de educação e cultura de um dos jornais de distribuição nacional. — E você já não combinava mais com o estilo dele, não foi isso? — Não, na verdade, não. — Defender Andrew era quase uma segunda natureza de Imogen. — Ele percebeu que queríamos coisas diferentes da vida. Sempre me senti satisfeita por viver o momento, mas ele era um planejador e pensava sobre o futuro de um modo que nunca fiz. Acho que também estava se sentindo sufocado, embora não tenha colocado as coisas desse jeito. — E como ele colocou as coisas? — Andrew disse que achava que ambos precisávamos de um pouco de espaço. Estávamos vivendo juntos há três anos, afinal, e nenhum de nós dois tinha tempo para si mesmo. Ele achava que deveríamos ter a oportunidade de conhecermos outras pessoas antes de nos acomodarmos. E estava certo. Vinte e um anos é mesmo muito pouca idade para se prender a alguém pela vida toda... Mas eu não pensava assim na época, é claro — ela acrescentou, com um sorriso amargo. Tom estava tentando imaginá-la como uma estudante, e percebeu que não era difícil. Imogen devia ter sido exatamente como era agora, pensou. — Como você reagiu? — No princípio custei a acreditar. Andrew não era apenas meu amante, era também meu melhor amigo. Não conseguia imaginar minha vida sem ele, e nunca me ocorrera que ele não se sentisse da mesma maneira. Então concluí que Andrew estava certo — continuou Imogen. — Seria melhor se ficássemos separados por um tempo. Assim, nós dois viemos para Londres, ele alugou um apartamento para si e eu fui morar com Amanda por um tempo, pois tinha absoluta certeza de Andrew voltaria. Fiz um curso de secretariado, consegui um emprego e esperei que ele sentisse a minha falta. — Mas isso não aconteceu? 51


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— Não. — Imogen suspirou, relembrando dessa vez como fora lenta e dolorosa a percepção de que Andrew não a amava mais. — Sei que ele tem muito carinho por mim, e continuamos amigos, mas a verdade é que Andrew não precisava de mim do jeito que eu precisava dele. No fundo do coração sabia que estava tudo terminado, mas continuei esperando e esperando... Ela torceu os lábios ao lembrar da própria estupidez. — Então ele conheceu Sara, e aconteceu de Andrew precisar dela do jeito que eu precisava dele. Os dois se casaram há uns dois anos e estão esperando seu primeiro bebê para esse verão. Mesmo depois de tanto tempo, ainda era um esforço para Imogen manter a voz firme ao falar disso. Tom percebeu a tensão ao redor dos olhos dela e sentiu-se desconfortável. E torceu para que Imogen não começasse a chorar. Mas ela já endireitava os ombros e sorria. — Sabe o que é o pior de tudo? — confidenciou. — É que Sara é realmente um amor de pessoa. Ela faz Andrew feliz e posso perceber que são perfeitos um para o outro. Quando os dois ficaram noivos, eu costumava rezar para que ele acordasse e se desse conta de que era a mim que amava de verdade... Um pouco como aconteceu com Julia e Patrick. Me sinto péssima agora ao perceber que nunca cogitei em como isso teria sido para Sara. Tom deu de ombros. — Acho que ela teria superado, da mesma maneira que você fez. E da mesma maneira que eu terei que fazer. — Espero que você não demore tanto quanto eu demorei — falou Imogen, melancólica. — Perdi anos convencida de que minha vida sempre seria vazia sem Andrew. Tentei encontrar outra pessoa, mas sempre terminava comparando com ele qualquer homem com quem saísse. Só no ano passado é que realmente aceitei que era a Sara que Andrew amava, e não a mim. E mesmo se ele deixasse de amá-la por algum motivo, ainda assim não me amaria. "Nunca seria do modo como fora antes", ela continuou. "Andrew seguiu adiante muito tempo atrás, e agora preciso fazer o mesmo. Não mudei desde que ainda era estudante. É como se estivesse presa em uma dobra no tempo e, enquanto os outros seguem em frente e amadurecem, eu simplesmente vou sendo levada pela corrente, esperando que alguma coisa mude. E, é claro, percebi que a única forma de as coisas mudarem é eu fazer com que mudem. Mas, antes, eu preciso mudar." Eles haviam acendido velas sobre a mesa e, sob a luz vacilante, Tom examinou a curva generosa da boca de Imogen e o ângulo inconscientemente orgulhoso em que erguera o queixo. E se pegou pensando que seria uma pena se ela mudasse demais. Imogen deu um leve suspiro. — De qualquer modo, você sabe como é isso — ela falou. — Nunca cheguei a ponto de planejar nosso casamento, mas sei como nos sentimos quando amamos alguém e, de repente, descobrimos que essa pessoa não nos ama mais. Tom girou o resto do vinho no copo pensando no que Imogen lhe contara. Ela sempre lhe parecera tão alegre e luminosa. Ele jamais teria imaginado a tristeza que se escondia por trás de seu sorriso fácil. — Não me sinto assim em relação a Julia — disse Tom, em um rompante. — Não 52


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do modo como você se sentia em relação a Andrew. — Mas você ia se casar com ela — falou Imogen. — Devia amá-la. Ainda deve amá-la. — Devo? Os olhos de Tom estavam fixos no copo, mas ele estava se lembrando de Julia. — Eu a desejava, é claro, mas não com a paixão louca que faz as pessoas perderem a cabeça. E a admirava, também. Ainda admiro, acho. Gosto do seu raciocínio rápido e da sua competência fria, e respeito tudo o que conquistou. Julia trabalhou duro e conseguiu ter sucesso em sua vida. Mas amá-la? Ele ergueu os olhos para encarar Imogen e sacudiu a cabeça. — Não — Tom respondeu à própria pergunta. — Eu não a amava. Imogen parecia chocada, como se ele houvesse derrubado uma das pedras fundamentais de seu mundo, e Tom sentiu uma pontada de culpa, o que era ridículo, concluiu. — O que foi? — ele perguntou, com a voz dura. — Não acredita realmente que é preciso estar apaixonado para se casar, não é? —- Mas... Julia sabia que se sentia assim? — É claro que sim. Conversamos a respeito quando ficamos noivos, e ela se sentia da mesma maneira. Foi por isso que fiquei tão incomodado quando Julia começou com toda aquela agitação em relação à organização do casamento. Imogen tinha o cenho franzido em uma expressão confusa. — Mas por que se casar, a menos que um ame o outro? Não vejo sentido. — Você não acredita que se possa construir um casamento sólido baseado em respeito e admiração mútuos e em uma saudável atração física? — Talvez, mas por que alguém iria querer isso? — ela retrucou. — Só vou querer me casar se encontrar alguém que me faça sentir do modo como Andrew fazia. Quero me casar com alguém de quem eu precise, e que também precise de mim, alguém que não pense no casamento como um arranjo prático, mas sim em um modo de estar com a pessoa que preenche tudo o que está faltando nele, que acredite que nenhum de nós dois será uma pessoa completa a menos que estejamos juntos. Tom olhava para ela como se não compreendesse, e Imogen tentou explicar melhor. — Para que se casar se não houver encontrado a pessoa que faz com que seu coração bata mais rápido, que faça o sol parecer mais brilhante, que torne todos os momentos de sua vida mais doces apenas por existir? Quero voltar para casa à noite e estar com a única pessoa que me faça esquecer do resto do mundo — continuou ela —, a única pessoa que, não importa o quanto as coisas estiverem ruins, pode fazer com que tudo melhore apenas estando comigo. — Mas isso é exatamente o que eu não quero — falou Tom, nem pouco impressionado. — Não quero precisar de mais ninguém. — Você não quer se apaixonar? — Não, não quero. — Tom foi muito enfático. — Nunca senti o que você sentiu por Andrew, e fico feliz por isso. Você perdeu cinco anos de sua vida por causa dele, Imogen. Cinco anos! Pense em todas as coisas que poderia ter feito nesse tempo em vez de ficar 53


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ansiando pelo impossível. E mesmo sabendo como é perder alguém que amou, você ainda está preparada para se arriscar a passar por tudo aquilo novamente! Ele balançou a cabeça. — Prefiro ter o tipo de relação que tive com Julia — disse Tom. — É verdade que terminou em humilhação para mim, e não posso dizer que estou feliz com isso, mas é meu orgulho que está ferido, muito mais do que meu coração. A mim parece que quando as pessoas se apaixonam, perdem o senso das coisas — continuou. — Param de pensar com clareza. Perdem o controle. E aquilo era uma coisa que Tom nunca faria. — Sim, a paixão pode nos deixar mais impotentes — Imogen teve que admitir, lembrando-se de como não conseguira fazer que Andrew mudasse de idéia, por mais que tentasse. — Com certeza não pode obrigar ninguém a amá-lo. Mas estar apaixonado também lhe dá a sensação de que você é capaz de fazer qualquer coisa, e isso sempre vale o risco. — Não correrei esse risco — falou Tom sem rodeios. Imogen o examinou, perplexa. Tom era um homem poderoso, mais forte do que qualquer outra pessoa que ela já conhecera. E ainda assim tinha medo do amor. Ou estaria apenas com medo de admitir o quanto sofrera por Julia? — Bem, fico feliz que você esteja bem — ela disse por fim. — Achei que devia estar se sentindo desesperado. — Estou bem — respondeu Tom. — Meu ego está terrivelmente ferido, mas tenho três semanas para me recuperar. E não acho que vou ficar de cama por causa disso. — Falando em camas... — Imogen hesitou. — Estava pensando em dormir em um dos sofás e deixar a cama para você. — De forma alguma. Você fica com a cama. — Mas você é muito mais alto do que eu — ela protestou. — Ficaria muito mais confortável na cama. Há vários outros lugares onde posso dormir. — Não ficarei confortável sabendo que você está jogada em um desses sofás, ficarei? — O mesmo vale para mim — disse Imogen. — Nesse caso, a única solução é dividirmos a cama. — Tom ergueu uma sobrancelha. — Está preparada para sermos tão bons amigos assim? Não, ela não estava, mas era alarmante perceber o quanto estava pronta para imaginar como seria fazer isso, era perturbadora a facilidade com que conseguia se imaginar dormindo naquela cama enorme e linda, com Tom ao seu lado. Haveria espaço o bastante para os dois, mas não haveria nada para impedi-la de rolar durante a noite e acabar se descobrindo colada àquele corpo esguio e firme. Nada para impedi-la de aninhar-se às costas dele e deslizar um braço por seu peito. E se ela fizesse isso, o que Tom faria? Se viraria para encará-la? Puxaria-a mais para perto e exploraria as curvas e contornos de seu corpo com aquelas mãos fortes e competentes? Seus lábios desceriam lentamente pelo pescoço dela antes de se aventurarem mais para baixo? 54


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Imogen engoliu em seco enquanto tentava reprimir os arroubos de uma imaginação que rapidamente ameaçava sair de seu controle. — Acho que isso realmente seria desconfortável — ela falou, por fim, com um sorriso nervoso no rosto. — Completamente. — A voz de Tom era muito seca e, quando os olhos cinzentos e frios encontraram os dela, Imogen teve certeza de que ele podia ver dentro de sua mente. Ela afastou a cadeira para trás, desajeitada, só para o caso de Tom realmente ter desenvolvido uma súbita capacidade de ler pensamentos. — Bem, acho que vou para cama, então. — Aquela era mesmo sua voz? Desde quando se tornara tão aguda? — Foi mesmo um longo dia — concordou Tom, levantando-se também. Imogen ficou parada ali, sem saber muito bem o que fazer com as mãos, ou como se despedir dele. Não pensaria duas vezes antes de dar um abraço de boa noite em um amigo. Mas Tom não era um amigo comum. Só que, a menos que o tratasse como se fosse, a conversa deles naquela noite teria sido uma completa perda de tempo. Não seja tola, repreendeu-se Imogen. Haviam rido juntos. Haviam conversado com facilidade. Tudo estivera muito bem até ela começar a pensar em cama. Aquilo fora uma estupidez. A última coisa que queria era voltar a se sentir desconfortável com Tom. Então ela colocou no rosto um sorriso cintilante e deu a volta na mesa para chegar até onde ele estava. — Boa noite, Tom — falou, abrindo os braços. Era óbvio que ele não estava esperando que ela o abraçasse. Pego de surpresa, Tom ficou parado, rígido, enquanto Imogen pressionava o rosto contra o dele, e passaram-se alguns segundos antes que seus braços a envolvessem desajeitadamente. Qualquer um pensaria que ele jamais abraçara uma mulher antes. Quando Imogen se afastou, Tom finalmente reencontrou sua voz. — Boa noite — disse, bruscamente. — Bem... — O sorriso dela ameaçou vacilar, mas Imogen o manteve firme no lugar. — Vejo você pela manhã, então. — Ela virou-se na direção do quarto. — Durma bem! Oh, sim, com certeza ele dormiria bem! Era fácil para Imogen dizer isso, pensou Tom, tentando se acomodar confortavelmente no sofá. Afinal, não teria que ficar deitada no escuro, lembrando da sensação do corpo voluptuoso pressionado ao seu, dos braços macios ao seu redor. Fora um choque sentir a delicadeza, a suavidade da pele do rosto de Imogen. O perfume do xampu que usara misturado ao aroma fresco e limpo da pele dela o haviam atingido como um soco, e quando se recuperara o bastante para retribuir o gesto, sua mão descansou nas costas dela e ele sentira a maciez do algodão do vestido que descia solto e fluido por seu corpo. Tom sentiu a boca seca diante da lembrança, e virou-se, inquieto nas almofadas. Deveria estar pensando em Julia. Afinal, aquela deveria estar sendo sua noite de núpcias. 55


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Ele tentou se lembrar da sensação de raiva e humilhação que sentira quando tivera que contar o que acontecera a algumas pessoas que Imogen não conseguira avisar. Odiara ver a simpatia em seus olhos, detestara saber que olhavam para ele como o perdedor, o que não conseguira fazer com que o casamento desse certo, a pessoa de quem todos sentiam pena. Mas ali, agora, ouvindo o barulho dos insetos na noite tropical e o marulhar distante do oceano no recife, nada mais daquilo parecia ter tanta importância. Tom estava feliz por não ter amado Julia do modo como Imogen achara que ele amara. Se isso houvesse sido verdade, ele agora estaria deitado no escuro, ansiando por ela, sentindo ódio de Patrick, que aparecera no último minuto e transformara em caos todos os seus planos cuidadosos. Mas, em vez disso, estava ali agora se lembrando do corpo de Imogen, antes de ela agarrar a toalha. Estava pensando nela, sozinha naquela cama enorme e se perguntando como seria se perder naquele corpo sedutor e adorável. Talvez essa opção não fosse tão boa assim. Imogen... Quem imaginaria que ela podia ser assim? Tão quente, macia, perturbadora e inesperadamente desejável? Tom socou algumas vezes a almofada sob sua cabeça e tentou se deitar novamente. A coisa de serem amigos parecera uma boa idéia antes, mas ele tinha a desagradável sensação de que não seria tão fácil de manter, na prática. Ainda mais se ela pretendesse continuar a abraçá-lo daquele jeito. Pelo amor de Deus, Imogen era sua secretária, Tom relembrou a si mesmo, com severidade. Ele mal a percebia antes, e agora não era o momento certo para começar a fazê-lo. Não queria passar as próximas três semanas tentando evitar pensar na pele dela, na curva de seus seios, no quanto seus cabelos eram sedosos, ou no modo como seus olhos refletiam o brilho do sol... A almofada recebeu mais socos. Amigos, fora tudo o que ela sugerira. E um amigo não ficaria pensando naquele corpo glorioso. Um amigo não fantasiaria sobre abrir o zíper do vestido dela, deixando-o cair ao redor de seus pés, para que ele pudesse explorar cada centímetro daquela pele quente e macia. Um amigo se lembraria de que Imogen ainda estava mais do que um pouco apaixonada por seu namoradinho de faculdade. E saberia que ela fora muito magoada e que a última coisa de que precisava E era de seu chefe ansiando por seu corpo. Não, amigos eram apenas... simpáticos um com o outro. E simpático era tudo o que ele seria. * * * Imogen despertou lentamente. Por um longo instante, ficou apenas deitada, sem pensar em nada, aproveitando o conforto da cama e a sensação deliciosa da luz do sol se infiltrando sob suas pálpebras. Quando por fim abriu os olhos de vez, a primeira coisa que viu foi um enorme ventilador de teto de madeira girando preguiçosamente o ar pesado. Na janela, persianas também de madeira deixavam entrar faixas cintilantes de sol e ela podia ouvir um passarinho cantando em algum lugar, e o murmúrio indistinto do oceano mais ao longe. Apesar do ventilador, o dia já estava quente e Imogen se espreguiçou com prazer, sentindo-se plena de bem-estar. Não era todo dia que se acordava no paraíso. 56


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O que ela estava fazendo no paraíso? Imogen sentou-se de pronto quando se lembrou, e pegou o relógio na mesa de cabeceira. Eram quase dez horas. Então, jogou os lençóis para o lado, enrolou-se na canga e foi até a sala. Estava vazia, exceto pelo laptop aberto sobre a mesa de jantar, com o cursor piscando reprovador para ela. Mas o aroma do café a guiou até a cozinha, escondida por trás de uma divisória. Ali Imogen encontrou Tom lidando com a cafeteira. — Bom dia — disse ela, subitamente tímida. — Bom dia — respondeu Tom. Imogen obviamente achava que não havia nada demais em dar um abraço de boa noite nos amigos, e Tom estava um pouco nervoso diante da possibilidade de ela gostar de cumprimentá-los do mesmo modo pela manhã. Por isso foi um alívio descobrir que ela se limitara a sorrir. Havia decidido resistir a outro abraço, mas sabia que talvez não resistisse a manter as mãos longe de Imogen, caso ela tentasse, ainda mais quando aqueles olhos azuis pareciam ainda tão enevoados de sono, os cabelos revoltos... E ela estava enrolada apenas em um pedaço de pano que se soltaria ao mero roçar de suas mãos! Tom se concentrou com força no café que fazia. Estava resolvido a ser simpático, cordial, mas era muito mais difícil se lembrar disso com ela parada ali, sorrindo, parecendo desgrenhada e... Adorável. Amigos não deveriam sorrir daquela maneira, ele pensou, mal-humorado. E secretárias, com certeza, também não. Se Imogen não fosse ambas as coisas, aquele tipo de sorriso o faria querer levá-la imediatamente de volta para cama. Por sorte, ela era sua secretária. Por isso, Tom virou-se decidido para colocar água na cafeteira.

CAPÍTULO SEIS

— Como dormiu? Parecia incrível, mas Tom percebeu que sua voz soou quase normal. Seria difícil imaginar que sentia a garganta apertada e que o coração batia com força contra o peito. — Como uma pedra, obrigada — respondeu Imogen. — E você? O sofá estava muito desconfortável? — Fiquei bem — falou Tom, que tivera uma noite agitada, sentindo-se ansioso, com calor e confuso o tempo todo. — Que bom. Estava me sentindo culpada por ter ficado com a cama confortável. Imogen disse a si mesma que fora isso o que a mantivera acordada por um logo tempo depois que Tom apagara as luzes, na noite anterior. Ele se deitara em um sofá que ficava longe de suas vistas, mas ainda assim ela estivera muito consciente da presen ça 57


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tão próxima. Era muito fácil falar em se comportarem normalmente, mas para Imogen a verdade era que se comportar assim teria sido deitarem juntos naquela cama, se abraçando, se tocando. Fazendo amor. Mas em vez disso haviam decidido ser amigos. Ser amigo era muito melhor do que ser normal. Não era? É claro que sim. Houve uma pausa embaraçosa na cozinha. — Quer café? — perguntou Tom depois de um tempo. — Obrigada. Imogen prendeu a canga com mais firmeza ao redor do corpo e sentou-se em um banco, diante do balcão do café da manhã. — Há quanto tempo está acordado? — Há umas duas horas. Dormi até mais tarde essa manhã. Costumo acordar às cinco. — Então é por isso que sempre chega ao escritório antes de mim — disse Imogen, que era uma pessoa noturna, uma coruja, como costumava pensar em si mesma e quase precisava ser arrastada da cama por um alarme estridente, chutando e gritando, para conseguir chegar ao trabalho a tempo. Mas assim que as palavras escaparam, ela desejou não ter mencionado o escritório. Era muito esquisito estar sentada ali, enrolada em uma canga, observando Tom fazer café e subitamente se lembrar de que ele era seu chefe e ela era apenas sua secretária. Por outro lado, talvez ela devesse se lembrar daquilo com mais freqüência. Na noite anterior fora fácil demais esquecer. — Você estava trabalhando — falou Imogen, acenando com a cabeça para o laptop na sala. — Achei que podia muito bem dar uma olhada para ver como vão indo as coisas. — Havia um toque defensivo na voz de Tom. — O mundo não parou apenas porque estamos aqui. Ainda há coisas a serem feitas, e eu tenho que... Ele se interrompeu. — Por que está me olhando desse jeito? — Está me perguntando como secretária, ou como amiga? — Como amiga — respondeu Tom, após um breve instante de hesitação. — Muito bem, então, acho que está louco — disse Imogen, sem rodeios. — Precisa de uma folga, Tom. Se fosse você, levaria esse laptop até a beira do píer e o jogaria no mar. — O quê? — Ele pareceu absolutamente horrorizado diante da idéia. — Esse era para ser um período de férias. Você não deveria nem mesmo estar pensando em trabalho. Por que simplesmente não relaxa? 58


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— E fazer o quê, exatamente? — Você disse que ia me ensinar a mergulhar — ela relembrou-o. — Hmmm... — Ele realmente havia dito aquilo, lembrou-se Tom. Mas não estava se deixando convencer pela idéia de relaxar por três semanas. Quem Imogen pensava que era? — O que teria dito se eu lhe pedisse para falar como minha secretária? — Com certeza, sr. Maddison, o que gostaria que eu fizesse primeiro? Ele fez uma careta. — Não me lembro de você jamais ter sido tão séria na vida real! — É claro que eu era — retrucou Imogen, fingindo-se de ofendida. — Sou a perfeita secretária executiva. — Acha mesmo? — Sou confiável, não sou? E discreta. Tão discreta, na verdade, que pela metade do tempo você mal percebia que eu estava lá. O que mais pode querer de uma secretária pessoal? — Eu sabia muito bem que você estava lá — disse Tom. — Estava sempre falando com alguém. Mas ele entendia o que Imogen queria dizer. Realmente não estivera consciente da presença dela na maior parte do tempo. Era difícil acreditar agora que havia trabalhado com ela por seis meses e nunca percebera que seus olhos eram tão azuis, ou que sua pele era tão macia. Como podia não ter percebido aquele corpo antes? Devia estar cego... Durante todos aqueles meses Imogen estivera lá, e ele mal pensara na existência dela. O escritório nunca mais seria o mesmo, percebeu Tom sentindo o coração afundar no peito. Agora que finalmente a notara, não parecia mais ser capaz de parar. Não seria mais capaz de passar pela mesa dela sem se lembrar de como seu corpo era macio e curvilíneo sob qualquer roupa comportada de secretária que pudesse estar usando. Ou sem se lembrar de como parecia desalinhada assim que saia da cama, com o cabelo todo desarrumado. Ou sem pensar no modo como aqueles olhos muito azuis haviam dançado quando ela implicara com ele, ou na sensação e no perfume do corpo dela quando o abraçara. Tom mexeu os ombros, desconfortável. O escritório sempre fora o lugar onde se sentia mais confortável, mas parecia que tudo aquilo iria mudar. Talvez fosse mesmo bom que Imogen fosse logo embora. — Algum problema? — Imogen estava observando o rosto dele mais detidamente do que Tom havia percebido. — Problema? Não! — ele respondeu rápido demais. — E então, vai me ouvir como amiga, ou como secretária? — Ambos — disse Tom, tentando recuperar o controle de si mesmo. — Vou lhe ensinar a mergulhar, e vamos sair pelo recife, mas já vai estar muito quente quando chegarmos lá e não poderemos nos demorar. Quando voltarmos, trabalharei um pouco. E não quero ouvir uma palavra sobre me desligar do mundo, relaxar ou qualquer coisa parecida. Combinado? — Combinado! — Imogen desceu do banco em um pulo e sorriu pra ele. — Vou me arrumar. — Os olhos azuis dela cintilavam e Imogen parecia tão linda e tão viva que 59


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Tom sentiu a garganta apertada. Precisou mesmo pigarrear antes de conseguir falar. — Você trouxe alguma camiseta velha na bagagem? — ele perguntou, forçando a mente a se concentrar nas providências práticas. — Seria melhor que usasse alguma coisa sobre o biquíni, para que seus ombros não terminem queimados demais. — Camisetas velhas são praticamente tudo o que tenho — falou Imogen, animada. — Eu teria problemas se me pedisse para usar alguma coisa mais elegante. Não demorou muito para que ela voltasse usando o biquíni e uma camiseta, e ansiosa para saírem. Tom estivera checando o equipamento de mergulho e se amaldiçoando mentalmente. Algumas coisas com certeza haviam saído dos trilhos nas últimas 24 horas. Ele viera para a ilha Coconut para salvar sua dignidade, para ficar longe dos olhares de piedade que forçosamente iriam acompanhá-lo depois que se tornasse público que Julia praticamente o abandonara no altar, e também para trabalhar um pouco. Na época, parecera uma boa idéia. Ele só não imaginara que Imogen pudesse acabar se tornando... uma distração. Estava na hora de reassumir o autocontrole, decidiu Tom. Sim, ela era mais atraente do que ele havia percebido, e sim, a coisa de serem amigos realmente fazia sentido enquanto estavam ali, mas a verdade era que Imogen ainda era sua secretária. Se ele queria fazer algum trabalho ali e também depois que voltassem para casa, era melhor começar a se lembrar disso. Precisava fazer com que as coisas voltassem ao patamar da amizade impessoal que pretendera no início. Por isso mesmo, deveria ter ajudado o fato de Imogen aparecer com uma camiseta velha e larga em vez de qualquer coisa que Julia teria usado. Sempre se sentira atraído por mulheres elegantes e bem-vestidas, assim a camiseta desbotada deveria ter sido o bastante para lembrá-lo de todas as razões por que não deveria, não poderia, não iria achar sua secretária nem remotamente atraente. Mas as coisas pareciam não estar funcionando desse jeito. A camiseta acabou chamando a atenção para o volume dos seios, para a curva do quadril, para as pernas nuas... Tom observou Imogen passar uma camada generosa de filtro solar e sentiu a boca encher d'água. Cordial e impessoal? Humpf! Está certo... Tom forçou-se a voltar os olhos para os pés de pato que estivera separando antes de Imogen aparecer. Não devia olhar para ela, nem ficar imaginando suas mãos subindo e descendo por aquelas pernas. Nem fantasiar sobre despir aquela camiseta... Ele conseguiria, disse Tom a si mesmo com severidade. Tudo aquilo de que precisava era de um pouco de autocontrole, e controlar era o que ele sabia fazer de melhor. — Vamos — disse bruscamente, estendendo uma máscara e um tubo de respiração para Imogen. — Vamos praticar na laguna primeiro, depois pegaremos o barco para chegar ao recife. Ele mostrou a ela como colocar o rosto na água e respirar através do tubo e, quando ficou satisfeito, certo de que ela aprendera, jogou os pés de pato e as máscaras no barquinho e ligou o motor. O ar da manhã parecia cintilar quando partiram na direção do recife. Do barco, a casa rapidamente foi engolida pela folhagem, até que a ilha pareceu não mais do que 60


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uma mancha verde entre o vasto arco azul do céu e o jade pálido da laguna. Atrás deles, o motor levantava jatos d'água e as gotas reluziam como diamantes ao sol e formavam uma ondulação suave. Imogen estava sentada diante dele, a camiseta úmida depois da primeira lição e colada ao corpo de um modo que o distraía ainda mais. Tom fora capaz de ignorar isso enquanto explicava como respirar através do tubo, mas agora precisava se esforçar para manter os olhos no rosto dela. O cabelo molhado estava colado aos ombros de Imogen, e sua pele já estava levemente marcada pela máscara. Ela era bem bonita, mas não era deslumbrante, disse Tom a si mesmo, reassegurando-se de que ainda conseguia ser objetivo. Ele mal chegara à conclusão de que talvez pudesse relaxar um pouco, afinal, quando Imogen ergueu o rosto para o sol e deixou escapar um suspiro de puro prazer, então fechou os olhos e sorriu. A mão de Tom escapou do leme e o barco oscilou. Imogen abriu os olhos rapidamente diante do súbito movimento e Tom abafou uma praga. — Qual o problema? Você. Tom quis gritar. Você é o problema. Deveria ser apenas minha secretária pessoal. Pare de sorrir desse jeito. Pare de ter essa aparência. Pare de me fazer notar você desse jeito. Mas, em vez disso, ele disse brevemente. — Nada. — E apontou para o recife como se estivesse mesmo planejando parar ali. — Vamos soltar âncora. Quando o barco estava preso, ele estendeu os pés de pato para Imogen e esperou até que a máscara e o tubo de respirar também estivessem no lugar, antes de ajudá-la a descer para a água pela lateral do barco. Não teria como fazer isso sem tocá-la, e estava muito consciente do braço dela sob sua mão enquanto a equilibrava. Imogen esperou segurando na beirada do barco, acostumando-se à sensação da máscara presa firmemente ao seu rosto e ao tubo que enchia desconfortavelmente sua boca. Ela observou Tom colocar os próprios pés de pato e se deixar cair graciosamente ao seu lado, e não pôde deixar de pensar no contraste entre o movimento elegante dele e os seus próprios, tão desajeitados. Tom voltou à superfície, tirou o tubo da boca e levantou a máscara para a testa. — Tudo bem? Ele estava próximo demais. Através da máscara, Imogen conseguia perceber cada detalhe perturbador. Os olhos pálidos, que estavam incrivelmente claros com a luz do dia, contrastando com os cílios escuros e as sobrancelhas pesadas. Gotas desciam do cabelo molhado pelo rosto. Ela ficou olhando para as gotas, meio hipnotizada pelo modo como acentuavam a textura da pele dele, as pequenas rugas ao lado dos olhos, a firmeza do maxilar, é quando uma gota escorreu até a boca fria e firme, Imogen sentiu que o ar lhe faltava. Embaraçada com o tubo, ela o tirou da boca para que pudesse encher o pulmão de ar fresco. Logo se sentiu melhor. — Sim, tudo bem — confirmou, usando os pés de pato para afastar-se dele, no que torceu para que fosse um movimento casual. Tom estava perto demais... E era irresistível demais. Parecia impossível que esse 61


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fosse o mesmo Tom Maddison que apenas quatro dias antes estava no escritório de Londres e era apenas seu chefe. Ele ainda era seu chefe, Imogen lembrou a si mesma com firmeza. — Tudo bem — ela repetiu. — Fique perto de mim — disse Tom, colocando a máscara no lugar. — E não toque em nada. Apenas olhe. Imogen assentiu, respirou fundo e recolocou o tubo. Sentiu um pânico momentâneo quando colocou o rosto na água, mas então se lembrou de respirar como Tom a ensinara e no instante seguinte estava flutuando e descobrindo um mundo completamente diferente abaixo d'água. Extasiada, ela se deixou levar ao longo do recife, precisando apenas de um leve movimento com os pés de pato para impulsioná-la. Estava mais frio ali, e a água era de um belo azul-escuro e profundo que estranhamente permitia que ela enxergasse com facilidade o fundo do mar, lá embaixo. Se ali ainda estavam nas águas rasas, qual seria a profundidade do oceano do outro lado do recife? Imogen nunca vira tantos peixes antes, ou criaturas de cores tão vivas. Era uma garota da cidade e em sua limitada experiência folheando revistas inglesas sobre a vida selvagem, as cores tendiam aos tons de marrom, cinza e preto, cores que se misturavam a um cenário monótono de inverno. Em comparação, o recife era surpreendentemente cintilante, com uma paleta de cores que rivalizaria com as criações do mais colorido dos estilistas de moda. Os peixes que deslizavam sob ela eram azuis, verdes, amarelos, vermelhos e de vários outros matizes entre essas cores, como se uma criança houvesse deixado cair no mar uma caixa de lápis de cor. Eles também tinham os padrões mais incríveis, com listras grossas, belas manchas e desenhos estranhos em uma extravagante combinação de cores. Ela sempre imaginara que os corais seriam brancos e secos, mas também eles apresentavam uma louca variedade de cores e formas, lá embaixo, no fundo. O sol refletia com força na superfície da água, infiltrando-se até o fundo e iluminando cardumes de peixes muito pequenos, invisíveis até serem capturados pelo raio de luz. Tom tocou o braço dela e apontou para baixo. Imogen arregalou os olhos diante da visão de um enorme peixe verde, pesado e feio, que parecia nadar desajeitado entre os corais, em comparação com os peixes menores que se moviam com graciosidade ao redor dele. Imogen estava encantada, mas ao mesmo tempo muito consciente do som da própria respiração, anormalmente alta e barulhenta através do tubo; da camiseta flutuando ao seu redor enquanto deslizava pela água e da presença reconfortante de Tom ao seu lado. De vez em quando, um peixe nadava mais para perto da superfície para olhar sem medo dentro da máscara dela, mas na maioria das vezes pareciam alheios aos humanos que pairavam acima deles. Havia peixes para todo lado, nadando ao longo do recife, com uma graça majestosa, alguns se movendo preguiçosamente entre os corais, outros se deixando levar pela corrente e mordiscando as plantas marinhas, indo e voltando, ocupados. Cardumes inteiros se moviam juntos, como se todos os peixes fossem um s ó, acelerando a algum sinal invisível e virando juntos em um tremular de luz. Absorvida pela mágica do mundo abaixo dela, Imogen sentiu-se desapontada quando Tom tocou seu braço novamente e apontou para o barco. Mas, lembrando-se do acordo que haviam feito, seguiu-o relutante. — Foi fantástico! — ela disse enquanto jogava a máscara dentro do barco e subia nele desajeitadamente, animada demais com o que vira para se preocupar com sua falta 62


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de graciosidade. — Os peixes são incríveis! Mal consigo acreditar naquelas cores! Ela continuou a falar, espremendo uma boa parte da água da camiseta e sacudindo a cabeça de um lado para outro para tirar a água dós ouvidos. Havia uma marca vermelha no rosto dela, onde o elástico da máscara apertara sua pele, mas seus olhos estavam cintilantes e sua expressão era tão viva que Tom sentiu mais uma vez a garganta apertada. — Podemos voltar amanhã se você quiser, mas por hoje já foi o bastante — ele falou com a voz rouca. — Vai acabar se queimando se ficarmos mais tempo. — Acho que você dever ter razão — concordou Imogen, com relutância, girando as pernas o máximo que conseguiu. — Já estou sentindo a parte de trás das minhas coxas ardendo. Tom não podia se permitir sequer pensar nas coxas dela, ou no modo como a camiseta voltara a colar em seu corpo. Ele ligou o motor puxando a corda com mais força do que teria sido necessário, e lembrou a si mesmo pela milésima vez o que estava fazendo ali. — Além disso, temos trabalho para fazer — disse a Imogen, que estava tendo dificuldades para disfarçar sua falta de entusiasmo diante da idéia, embora assentisse prontamente. — É claro — ela falou, em sua melhor voz de secretária. Ali, o funcionário do resort passara pelo bangalô enquanto eles estavam fora e tudo estava muito limpo e arrumado. A geladeira estava cheia de comidas maravilhosas e a cama fora feita com lençóis novos. Imogen imaginou se Ali percebera que a cama estava desarrumada de um modo estranho para o que se esperaria de um bangalô de lua de mel. — É como viver em um castelo mágico, onde os serviços da casa são feitos antes mesmo que pensemos neles — disse Imogen, servindo-se de uma fruta. — Gostaria de poder levar Ali comigo. — Não acho que ele também tenha checado os mercados de ações, ou colocado todos aqueles relatórios em dia — disse Tom, mordaz. — Ainda restou algum trabalho que só nós podemos fazer. — Oh, sim. — Imogen entendeu o recado e lambeu o suco de abacaxi que escorrera por seus dedos. — Se incomoda se eu tomar um banho rápido, primeiro? — Boa idéia — disse Tom, que não via a menor chance de conseguir se concentrar no trabalho se ela ainda estivesse usando aquela camiseta molhada. Estava na hora de ser profissional, decidiu, abrindo o laptop algum tempo mais tarde, depois de ele mesmo ter tomado um banho. Apesar do calor, Tom teve vontade de vestir o terno e a gravata, em vez do short e da camisa de manga curta, que era o melhor que podia fazer naquele momento. Na verdade, desejou estar de volta a Londres, onde nada nunca o distraía, e onde Imogen sempre usava... Bem, ele não sabia o que ela usava, mas aquele era exatamente o ponto. No escritório, não a percebia. Pouco depois, Imogen apareceu usando calças largas e uma blusa justa e sem mangas. Ela fizera o melhor possível para encontrar alguma coisa apropriada para usar, supôs Tom, de má vontade. Não era culpa de Imogen que seu cabelo ainda estivesse úmido, ou que a blusa parecesse enfatizar o vale entre seus seios. Ou que ele não conseguisse parar de lembrar do prazer que tomara conta do seu rosto no barco, e da maciez de sua pele quando a amparou para que não se desequilibrasse. 63


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Não era culpa dela que, pela primeira vez na vida, ele não soubesse exatamente o que queria. E, sem um objetivo em que se focar, Tom se sentia inquieto e levemente desconfortável. Eles tentaram. Sentaram-se um diante do outro na mesa e começaram checando seus e-mails, mas era difícil se preocupar com auditorias estratégicas, competências empresariais ou análise de competidores quando, do lado de fora, o oceano murmurava contra o recife e o sol iluminava as folhas franjadas dos coqueiros. Um passarinho cantou em algum lugar e uma lagartixa pequena e quase transparente que subia pela parede ficou paralisada no lugar ao ver dois humanos olhando em silêncio para a tela de seus computadores. Tom não conseguia entender o que estava acontecendo. Até então, o trabalho sempre fora seu refugio. Na verdade, era famoso por sua habilidade de se manter concentrado... Mas as palavras na tela de seu computador pareciam dançar diante de seus olhos, e sua atenção estava concentrada mesmo era em Imogen, diante dele. Ela sempre tivera aquela pequena ruga entre as sobrancelhas quando examinava a tela? Aquele hábito de prender o cabelo atrás das orelhas? Sentindo que estava sendo observada, Imogen levantou os olhos e pegou Tom encarando-a. — Quer alguma coisa? — ela perguntou. Tom olhou-a de cara feia para esconder sua mortificação. — Precisamos resolver as novas estratégias de aquisição. — Está certo... — respondeu Imogen, cautelosa, enquanto vasculhava o cérebro tentando se lembrar do que ele estava falando. Sua mente estava cheia de peixes coloridos e do reflexo do sol no mar. Não conseguia nem lembrar direito o que era uma aquisição, quanto mais como se fazia uma estratégia para isso. Londres e o escritório pareciam pertencer a um mundo completamente diferente, um mundo onde Tom Maddison era brusco, enérgico e vestia terno e gravata, e não um homem esguio, de pernas longas e com músculos bem trabalhados. Ele não era o tipo de homem que faria seu coração bater mais forte apenas por se sentar diante do leme de um barco, com a brisa do oceano soprando seus cabelos, os olhos de aço parecendo prata sob o reflexo do sol. Tom começou a falar sobre o novo vice-presidente executivo enquanto Imogen procurava desesperadamente em sua caixa de entrada de e-mail por uma mensagem relevante. Até que ele se interrompeu subitamente. — Oh, ao diabo com tudo isso! — falou, jogando as mãos para o alto em um gesto de derrota. — Está quente demais para trabalhar. Vamos lá para fora, nadar. — Eu sempre me perguntei como as pessoas que vivem em climas incríveis como esse conseguem trabalhar — disse Imogen, um pouco mais tarde. Eles estavam sentados à sombra de um coqueiro e ela enfiara os dedos na areia macia enquanto olhava para a laguna. — Já é ruim o bastante em Londres, quando finalmente temos um dia de sol. No instante em que ele aparece, tenho vontade de desligar o computador e passar a tarde na praia. Tom ergueu uma sobrancelha. — É bom saber que é tão dedicada ao trabalho. — Sou apenas uma temporária — Imogen relembrou a ele, sem se incomodar com o sarcasmo. — Não se espera que temporárias sejam dedicadas. Para você é diferente. É 64


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responsável por toda a empresa. Se não trabalhar bem, ou decidir passar a tarde no parque, então não será apenas seu emprego que sofrerá. Muitas outras pessoas também ficarão sem trabalho. — Ela fez uma careta. — Detestaria ter esse tipo de pressão sobre meus ombros... Por isso jamais terei uma carreira de grande sucesso. — Não tem nenhuma ambição? — perguntou Tom, incapaz de disfarçar completamente sua desaprovação. — Claro que tenho, mas com certeza não do tipo que você reconheceria. Minha ambição é ser feliz — disse Imogen, com simplicidade. Ela pegou um pedaço de casca de coco na areia e ficou girando distraidamente entre os dedos. — Conhecer o mundo, esquecer Andrew e encontrar alguém que eu ame e que queira construir uma vida comigo. Imogen relanceou o olhar para Tom. Sabia que ele não entendia. — E quanto a você? — ela perguntou, apontando a casca de coco para ele como se fosse um microfone. — Qual é sua ambição? Tom nem precisou pensar para responder. — Ser o melhor. — Sim, mas o melhor em quê? Ele deu de ombros. Achava que era óbvio. — Em qualquer coisa que eu estiver fazendo — disse, com uma ponta de impaciência. — Se estou à frente de uma empresa, vou fazer com que se torne líder em sua área de atuação, vou assinar os contratos mais lucrativos e conseguir os lucros mais altos. Não me importa qual a corrida, vou ganhá-la. — E o que acontece quando você não ganha? — Tento de novo até conseguir — respondeu Tom. — O vencedor é sempre quem está no controle, e jamais quero estar em uma posição onde outra pessoa possa me dizer o que fazer. Imogen jogou a casca de coco de volta na areia. — Dá para entender por que você não acredita em amor — ela disse, lembrandose da conversa que haviam tido na noite anterior. — Acredito no sucesso — ele falou. — E isso não serve apenas para mim. Assumo uma empresa que está indo à falência, viro o jogo e a transformo na melhor empresa em sua área. Assim, como você mesma ressaltou, todos que trabalham nela compartilham do sucesso. As pessoas dependem de mim para manter seus empregos, para garantir seu futuro. Se eu falhar, elas falham também. — As pessoas ainda teriam seus empregos se a empresa fosse a segunda melhor — falou Imogen. — Não ganhar nem sempre é o mesmo que falhar. — Para mim é. Não estou preparado para ser o segundo melhor — disse Tom, intransigente. — Por isso eu não tiraria uma folga apenas porque o sol apareceu no céu de Londres. — E por que está pensando em trabalho quando está sentado no paraíso? — Ela gesticulou para a vista. Coqueiros se inclinavam na direção da água, sombreando a praia e a laguna com suas folhas franjadas e formando um desenho precioso. Além da sombra, a luz do sol era quente e implacável, ricocheteando sobre a superfície da laguna e 65


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tornando a areia branca ofuscante. A expressão de Tom relaxou um pouco. — Foi você quem começou — disse. — Eu? — Foi você que falou sobre desligar o computador. — É verdade — ela concedeu. Imogen observou enquanto uma lufada de vento fazia estremecer a água na superfície da laguna e agitava os coqueiros sobre suas cabeças. — Nesse momento é até difícil imaginar que o escritório existe, não é? — ela continuou logo depois. — Enquanto estamos sentados aqui, ao sol, as meninas estão na recepção, Neville, no Departamento Financeiro, as outras secretárias estão pegando café... Há reuniões acontecendo, decisões sendo tomadas e coisas mudando, sem que estejamos por lá. — Ela balançou a cabeça. — Simplesmente não parece real. — E, quando voltarmos, isso aqui é que não parecerá real — alertou Tom. — Bem, então no que me diz respeito vou aproveitar ao máximo. — Ela se levantou e puxou sua espreguiçadeira para tirá-la da sombra. — Acho que vou passar uma tarde ocupada, trabalhando em meu bronzeado. Imogen ajustou a cadeira para que ficasse totalmente reta, deitou-se de barriga para baixo e tateou na areia para pegar o livro que deixara ali. Ajeitando-se até ficar confortável, ela alisou a página com um suspiro de prazer. — Isso é que é vida! Jamais conseguirei voltar a trabalhar depois dessas três semanas aqui. Tom observou-a com uma mistura de reprovação e inveja. Imogen tinha uma habilidade extraordinária de aproveitar o momento, percebeu. E isso era uma coisa que ele jamais fora capaz de fazer. Estava sempre ocupado demais pensando no que precisava ser feito no trabalho. — Cuidado para não se queimar. — Sim, mamãe! — Mas Imogen puxou a bolsa de praia para perto e procurou o filtro solar. Achou melhor passar um pouco. Queimaduras de sol não eram nada divertidas. Ela colocou um pouco do creme na mão e passou-o pelos ombros o melhor que pôde. Tom hesitou, dividido entre a inquietante tentação de tocar nela do modo como estivera pensando durante todo o dia, e o medo terrível de não conseguir se controlar, se fizesse isso. Mas Imogen não conseguiria alcançar as próprias costas, conseguiria? Ele não podia simplesmente ficar ali e deixá-la se queimar. — Quer que eu passe o filtro solar nas suas costas para você? — ofereceu Tom, em uma voz não muito natural. Foi a vez de Imogen hesitar. A questão era que gostaria, mas ao mesmo tempo não gostaria. O mero pensamento das mãos dele sobre sua pele a fazia estremecer de desejo, mas estava apavorada que ele percebesse o quanto gostaria. Mas eles estavam se propondo a ficar à vontade um com o outro, certo? Ela se queimaria se não passasse alguma coisa nas costas e não hesitaria em pedir a qualquer outro amigo que passasse o creme. — Seria ótimo — falou Imogen, depois de um instante. 66


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Ela levou a mão às costas e soltou o gancho que prendia o sutiã do biquíni, então ficou deitada com a cabeça sobre as mãos. Estava usando óculos escuros, mas virou a cabeça para o lado contrário ao dele, só por precaução. O som do creme espirrando na mão de Tom pareceu anormalmente alto e Imogen percebeu que estava tensa à espera do toque dele. Quando finalmente aconteceu, as mãos de Tom estavam tão quentes e a sensação foi tão boa que ela prendeu sem querer a respiração e não pôde conter uma leve tremor involuntário. — Desculpe, está frio? — Não, está ótimo. — A voz de Imogen foi abafada pelas mãos. Tom se agachou ao lado dela e passou o creme em movimentos firmes por seus ombros e pela nuca. Depois, as mãos deslizaram pelas costas, voltaram a subir e desceram novamente, os dedos bem abertos para que os lados também ficassem cobertos. Imogen se obrigou a ficar deitada bem quieta, mas por dentro se sentia queimar de prazer, de tal modo que teve medo de começar a derreter sob o toque dele. Ao mesmo tempo, permanecia rígida, tensa, com medo de que Tom percebesse. Não podia suspirar de prazer, nem se virar e implorar para que ele não parasse... Oh, Deus, ele descera agora para a parte de trás de suas pernas... Imogen fechou os olhos com força. Felizmente se depilara antes de sair de Londres. As mãos de Tom desceram por suas coxas em gestos firmes até a parte de trás de seus joelhos, e depois até seus tornozelos, antes de deslizarem de volta novamente. Apesar dos seus esforços, Imogen não conseguiu disfarçar um novo estremecimento. Estava certa de que Tom podia ouvir todo seu corpo latejando no ritmo de seu coração acelerado. Uma parte dela estava louca para que ele parasse antes que ela explodisse em uma combustão espontânea, mas quando Tom realmente retirou as mãos, Imogen precisou de toda a força de vontade para não gemer de desapontamento. — Isso deve mantê-la protegida. Se Imogen houvesse sido capaz de ouvir acima do trovejar de sua própria pulsação, teria percebido a tensão na voz dele, mas, como estava, tudo o que pôde fazer foi permanecer deitada, esperando que Tom realmente não pudesse ver o calor dilatando suas veias. — Obrigada — Ela sentia a boca tão seca que o agradecimento saiu quase como um grasnado. Tom se levantou. — Acho que vou voltar a trabalhar — ele falou, secamente. — Não, você fica aqui — acrescentou Tom quando Imogen levantou a cabeça para perguntar se ele queria que ela fizesse alguma coisa. — Não há por que desperdiçar esse filtro solar, São apenas algumas coisas que quero checar. — Bem, se tem certeza... — Tenho certeza — respondeu Tom. Ele precisava desesperadamente ficar só e a última coisa que queria era Imogen por perto, imaginando por que parecia t ão tenso ou por que estava andando daquele jeito rígido! — Vejo você mais tarde. Havia mesmo coisas que precisava fazer, mas, por mais que olhasse para a tela do computador, Tom não parecia ser capaz de se concentrar. Seus dedos ainda latejavam com a sensação do corpo dela, tão macio, liso e quente, tão perigosamente tentador sob 67


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suas mãos. Mesmo tendo percebido que ela sentia-se desconfortável com a situação, sua vontade foi virá-la de frente, afastar o biquíni mínimo e explorar cada curva, cada reentrância daquele corpo. Precisara de cada milímetro de autocontrole que possuía para conseguir tirar as mãos de cima dela e recuar. Tom esfregou o rosto, irritado consigo mesmo. Controle, essa era a palavra-chave ali. E controle era seu ponto forte. Era o que ele era. Nunca tivera qualquer problema em controlar seus impulsos antes, e não havia motivo para que começasse a ter agora. Era apenas o calor e aquela luz que o estavam afetando, disse Tom a si mesmo. Ou talvez fosse apenas uma reação à rejeição de Julia. Seria bastante compreensível. Ele começou a se sentir um pouco melhor. Sim, tudo de que precisava era de um tempo sozinho, longe do sol. Ficaria sentado ali e trabalharia... E de forma alguma pensaria em Imogen. Ficaria bem.

CAPITULO SETE

Tom ainda estava no computador umas duas horas depois, quando Imogen subiu os degraus da varanda. Ele levantou os olhos quando ela apareceu na porta e, quando seus olhos se encontraram, o ar pareceu vibrar de tensão, antes que ambos desviassem o olhar. — Entediada? — ele perguntou. Imogen riu e balançou a cabeça. — Dificilmente! Mas estou com sede e vim pegar uma bebida gelada. — Ela abriu a geladeira e pegou água. — Como está indo? Está tudo sob controle? — Sim — respondeu Tom, satisfeito. Ali estava sua palavra novamente: controle. Era o certo. Estava se sentindo ele mesmo de novo. Lera alguns relatórios e enviara alguns emails. Em circunstâncias normais, teria sido o trabalho de uma meia hora, mas não estava ruim se levasse em conta o tempo que passara se esforçando para não pensar em Imogen. Ela se serviu de um copo de água e se apoiou na parede para beber. — Estava pensando em dar a volta na ilha caminhando — falou, hesitante. A verdade era que Imogen achara difícil se concentrar no livro. Estava apavorada que Tom pudesse ter percebido o efeito que causara nela e ficado embaraçado. Ele parecia tão ansioso para sair de perto dela! Não que pudesse culpá-lo. Se ela mesma estivesse passando filtro solar em alguém que estremecesse daquele jeito, também teria fugido correndo. Tom apenas passara um pouco de creme em suas costas, pelo amor de Deus! Era 68


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ridículo ficar naquele estado, pensou Imogen, mortificada. Eles haviam se proposto a serem amigos, e amigos não se partiam em pedaços quando o outro encostava um dedo nele. Ela estava determinada a encontrar um modo de mostrar a Tom que estava de volta ao seu normal. — Ainda está trabalhando, ou gostaria de vir comigo? Tom cruzou os braços atrás da cabeça e se espreguiçou. — Uma caminhada parece uma boa idéia. — Soava como uma coisa normal, fácil, segura. Controlável. — Seria bom esticar um pouco as pernas. — Ótimo. — Imogen terminou a água. — Vou pegar meu chapéu. A tarde já ia adiantada quando eles começaram a caminhada, mas ainda estava muito quente, apesar da brisa que ondulava a laguna e fazia os coqueiros sussurrarem e farfalharem sobre as cabeças de Imogen e Tom, que andavam descalços pela beira d'água. Imogen enrolara a canga ao redor da cintura e seu rosto estava sombreado por um delicado chapéu de palha. Ao lado dela, Tom usava short e uma camisa solta, de mangas curtas. A princípio, eles caminharam em silêncio, mas para surpresa de Imogen não era um silêncio desconfortável. Os dois contornaram o ponto onde a vegetação densa crescia bem na margem e se descobriram no outro lado da ilha. Havia muito pouca areia ali, mas a água era tão quente e clara que ficaram felizes em caminhar com a água até os tornozelos até o ponto em que a praia voltava a se ampliar novamente. De repente, Tom parou e sombreou os olhos com a mão, enquanto olhava para o mar aberto, mais adiante. — Veja! — O que foi? — O olhar de Imogen seguiu a indicação do dedo dele e ela exclamou encantada. — Golfinhos! Eles ficaram parados, em silêncio, observando um grupo grande de golfinhos saltar na água com uma graça de tirar o fôlego. Para Imogen foi um momento extraordinário. Era como se ela nunca houvesse se sentido tão viva antes. Sentia-se consciente de tudo com uma intensidade nova e determinada. O mar estava o mais azul possível, o calor era forte e a luz do sol cintilava além da proteção da sombra do seu chapéu. Podia sentir a areia fria sob seus dedos e a água morna batendo em seus tornozelos. E Tom, muito quieto e contido ao seu lado. Enquanto isso, os golfinhos brincavam e pulavam, decolando alegres no ar, a água escorrendo de seus corpos e cintilando sob o sol forte. Imogen sentiu o coração inchar de prazer e a garganta apertar de emoção. A beleza e a exuberância da cena a deixaram tão feliz que era como se houvesse ganhado um presente inesperado. — Impressionante, não? — disse Tom. Incapaz de falar, ela apenas assentiu. Depois de um tempo, os golfinhos se afastaram e saíram do campo de visão deles. Imogen e Tom ainda esperaram um pouco, caso eles voltassem, mas por fim voltaram a caminhar. — Sinto muito por Julia não estar aqui com você — ela disse em uma voz tranqüila, um instante depois —, mas estou feliz por ter vindo. Jamais me esquecerei disso, ou da ida até o recife, essa manhã. Tom virou-se para olhá-la, mas não conseguiu ver muito de sua expressão sob o chapéu. 69


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— Também estou feliz que você tenha vindo — ele disse. Imogen respirou fundo. — Como está se sentindo? — perguntou. — Quero dizer, de verdade? — Em relação à Julia? Estou bem. — respondeu Tom, quando ela assentiu. — E sim, de verdade. — Ele afastou os olhos dela, cerrando os olhos por causa da luz refletida pela água. — Talvez eu devesse estar pensando mais nela — disse, pensativo. — Afinal, queria me casar com ela. Devia estar sentindo falta dela, mas a verdade é que não estou. Nunca chegamos a morar juntos, talvez por isso não esteja muito acostumado a tê-la por perto. Tom ficou em silêncio, pensando sobre a mulher que deveria estar explorando a ilha com ele. Como teria sido estar ali com Julia? Por algum motivo, era dif ícil imaginar... com Imogen caminhando ao seu lado, o rosto sombreado pela aba larga do chapéu. A pele dela cintilava depois de um dia ao sol e ele reparou no sal secando em seus ombros. A parte de trás da canga estava molhada e o tecido pesado por causa da água ficava se enrolando em suas pernas de modo que a cada poucos metros ela precisava parar e se desembaraçar. Quando se inclinava, o cabelo castanho ondulado caía para a frente e cobria seu rosto até que ela, impaciente, o prendia atrás da orelha. — Acho que sinto mais falta da ideia que fiz de Julia do que de qualquer outra coisa — continuou Tom, por fim. — Ela era tão exatamente o tipo de mulher com quem sempre imaginei me casar... Bonita, muito inteligente, glamourosa, bem-sucedida... Todas coisas que ela não era, Imogen não pôde deixar de pensar. — Bem, você a conheceu — ele disse, sem ter ideia do comentário mental que ela fizera. — Sabe como era especial. Estava cansado de ter namoradas que ficavam o tempo todo exigindo minha atenção, insistindo para que saísse com elas, sempre querendo investigar meus sentimentos... Tom estremeceu diante da lembrança. — Todas pareciam pensar que eu poderia largar tudo no trabalho para estar sempre à disposição delas e levá-las para jantar em Paris no final de semana. E se eu precisasse resolver uma crise qualquer no escritório, ficavam de mau humor. — Ele ergueu o ombro, irritado só de lembrar. — E não podia me aborrecer com nada disso. "Julia era diferente", Tom recordou, depois de mais um instante. "Ela não era carente, nem sentimental, e não esperava que eu estivesse a sua disposição. Nós nos entendíamos... Ou ao menos eu pensava que sim", ele emendou. "Não tinha a menor ideia do que Patrick significava para ela, por exemplo. Quando Julia me disse que era apenas um amigo, nunca a questionei. Achei que seria a esposa perfeita." Ele parou, ainda recordando. — Acho que a verdade é que não era ela que eu realmente queria, mas sim alguém para quem voltar. Alguém que me fizesse sentir confortável, que estivesse à altura de qualquer evento a que precisasse me acompanhar, e que não criasse caso por causa do tempo que passo no trabalho. — Soa mais como se você quisesse uma governanta, não uma esposa — comentou Imogen, com uma certa aspereza. — Por que simplesmente não contratou alguém? — Por que não durmo com minhas funcionárias — respondeu com igual aspereza, e Imogen sentiu o rosto corar sob o chapéu. É claro que ele esperaria dormir com a esposa, mas ela não precisava que isso fosse jogado na sua cara. Não precisava se imaginar sendo essa esposa, fazendo amor 70


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com ele todas as noites, acordando juntos todas as manhãs. Principalmente, porque isso jamais aconteceria. — Como uma de suas funcionárias, é bom saber — ela respondeu, tão friamente quanto conseguiu. Tom inclinou a cabeça para dar uma rápida olhada nela. — Não é apenas sexo -— ele disse. — Queria alguém como eu, com quem pudesse conversar, alguém que me desse apoio... O que há de tão errado nisso? — Depende do que está disposto a oferecer em troca. — Muito dinheiro — ele falou. — Segurança. Conforto. Honestidade. Respeito. Confiança. Fidelidade. Quando faço uma promessa, eu a cumpro. Não faria os votos de um casamento a menos que tivesse intenção de mantê-los. Não era um mau negócio, pensou Imogen. Ela conhecia pessoas que concordariam por menos que isso. Ele oferecera tudo a Julia, menos amor. Imogen não se surpreendia por Julia ter pensado em se casar com ele, mas também não ficava surpresa por ela não ter sido capaz de seguir adiante com a idéia. Tom podia achar que amor não importava, mas a verdade era que importava, sim. — Você não aprova? — Tom a observava mais detidamente do que ela havia percebido. — Não cabe a mim aprovar ou desaprovar — respondeu Imogen, com cautela. — Apenas não seria o bastante para mim. — O que mais você quer? Oh... Amor, eu suponho? — Sim, amor — ela disse, tranqüila, ignorando a ponta de desprezo na voz dele. — De que adianta respeito, segurança ou todas essas coisas se você não está com alguém que o faz sentir... oh, não sei... Como ela poderia explicar isso para alguém como Tom? — ...como um desses golfinhos que vimos — tentou Imogen. — Eles pareciam tão... Tão felizes pulando na água daquele jeito, não pareciam? Como se fossem exatamente o que queriam ser, e estivessem fazendo exatamente o que queriam fazer. Essa é a sensação de estar apaixonado — ela disse. — Não pretendo me casar até que me sinta assim novamente. Tom sacudiu a cabeça sem se deixar convencer. — Você não está sendo realista, Imogen. Quer que tudo seja perfeito, mas nada é sempre perfeito. Veja a ilha Coconut — exemplificou ele, gesticulando para o cenário ao redor. — Diziam que era o paraíso, e realmente é, mas ainda assim há baratas e morcegos, e sabe Deus o que mais espreitando atrás dos arbustos. Imogen deu uma olhada nervosa para a vegetação à beira d'água. Não pensara no que mais poderia estar dividindo a ilha com eles e desejou que Tom não houvesse colocado essas idéias em sua cabeça. E se houvesse cobras ali? Ela resolveu permanecer na praia o tempo todo e entrou um pouco mais na água. Tom ainda tentava convencê-la a ajustar suas idéias. — Está se apegando a uma fantasia — disse ele. — Foi o que me disseram — respondeu Imogen, levemente irritada. — Amanda acha que devo ceder um pouco e sair com homens não exatamente perfeitos, só que não 71


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quero fazer isso. Eu já amei. Está certo, não funcionou, mas não estou preparada para me contentar com nada menos do que isso. — Está apenas se tornando vulnerável ao desapontamento — avisou ele, e Imogen ergueu o queixo em desafio. — Bem, teremos que concordar em discordar, não é? Que bom que não estamos pensando em nos casar! Houve uma breve pausa. Apesar de toda sua determinação, os pensamentos de Tom voltaram ao corpo quente e macio de Imogen, à sensação do seu abraço e ao riso em seus olhos. Seria bom voltar para aquilo todas as noites... Mas também significaria sentir-se confuso o tempo todo. Imogen iria querer que ele a amasse e a fizesse sentir-se como um maldito golfinho! Tom se horrorizou com o rumo de seus pensamentos. Toda sua vida escaparia do seu controle em um piscar de olhos. Não, ele não conseguiria encarar isso. — Sim — concordou, por fim. — É bom mesmo não estarmos pensando em nos casar. Aquele primeiro dia estabeleceu um padrão para a semana. A caminhada ao redor da ilha no final da tarde se tornou parte da rotina deles. Imogen nunca se cansava do recife e ficava ansiosa para ir até lá a cada manhã. Nos primeiros dois dias, ela se sentava diante do seu computador quando voltavam, mas no fim Tom lhe disse impaciente que não havia motivo para que ela ficasse ali e que podia fazer o que quisesse. Imogen tinha que admitir que não havia se empenhado muito em protestar. De qualquer modo, era impossível se concentrar, e ela acreditava que, no fim, Tom também perceberia que não havia sentido em trabalhar ali e, em vez disso, aprenderia a relaxar. Ainda não havia muito sinal disso, é verdade. Imogen não sabia o que ele estava fazendo, mas Tom parecia passar horas diante de seu laptop enquanto ela estava na praia. Era uma pena que ele fosse tão viciado em trabalho, ela pensou. Não estava aproveitando muito as férias e, quando passavam algum tempo juntos, acabavam se entendo muito bem, para surpresa de ambos. Às vezes Tom lhe trazia alguma bebida, ou nadava um pouco ao seu lado, mas nunca ficava por muito tempo e sempre arrumava uma desculpa para voltar para o computador. Na verdade, Tom não estava trabalhando tanto quanto Imogen pensava. Sim, ele passava mesmo muito tempo sentado, olhando para a tela do laptop, mas tinha cada vez mais dificuldade de se concentrar. Imogen era uma distração constante, e a mente dele tinha uma tendência perturbadora a voltar a ela nos momentos mais impróprios e de formas ainda mais impróprias. Isso o deixava muito aborrecido. Nunca tivera problemas para se concentrar antes. A verdade era que se sentia profundamente tentado a sucumbir àquela atração inesperada, mas como poderia funcionar? No fim das contas, Imogen ainda era sua secretária e muito pouco tempo se passara desde seu rompimento com Julia. Imogen não acreditaria se ele lhe dissesse que estava se tornando cada vez mais obcecado por ela, não é? Claro que era apenas uma obsessão física, Tom se reassegurou, e obviamente estava sob controle. O que era ótimo, já que Imogen ainda estava presa à sua ridícula fantasia sobre amor. 72


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Não, nunca iria funcionar. Além disso, nada daquilo pareceria real quando voltassem para casa, Tom lembrava a si mesmo sempre que vacilava em sua decisão. Era muito fácil se deixar levar pelo cintilar sedutor do sol na laguna e pelas noites quentes e estreladas. Quando voltasse para sua vida tranqüila e bem ordenada em Londres, ficaria feliz por não ter dado um passo em falso. Nesse meio-tempo, estava fazendo o melhor para manter alguma distância de Imogen. Ficara um pouco mais fácil depois que lhe dissera que ela não precisaria trabalhar. Tom ficara com medo que se Imogen continuasse a se sentar diante dele, do outro lado da mesa, logo perceberia que, na verdade ele estava trabalhando muito pouco. Por outro lado, tudo corria bem se eles estavam fazendo alguma coisa — mergulhando, nadando, caminhando ou comendo —, mas Tom evitava a praia o máximo possível. Quando Imogen estava apenas lá, parecendo tão palpável, suas mãos começavam a comichar de modo alarmante e ele precisava se afastar antes que as mãos acabassem se estendo para ela como se por vontade própria. As noites também eram momentos delicados, mas ao menos já estava escuro. Eles se sentavam juntos e observavam, fascinados, enquanto as cores do céu se tornavam mais suaves e incandescentes, e o sol mergulhava no horizonte, desaparecendo em uma última explosão extravagante de cores fortes. A súbita escuridão trazia uma sinfonia de insetos e morcegos, que arremetiam e mergulhavam no ar quente. Nesses momentos, Tom estava sempre dolorosamente consciente da presença de Imogen ao seu lado. Todas as noites ela tomava uma ducha e trocava o vestido, e ele sentia o cheiro de sol e sabonete na pele dela e no cabelo recém-lavado que caía solto por seus ombros. Mas ele podia lidar com aquilo. Estava tudo sob controle. — Não estou gostando nada disso — Imogen parou na beira d'água e apontou para o horizonte, agitado por nuvens escuras e pesadas. Estava muito quente e até a água que batia em seus tornozelos parecia mais morna do que o comum. Na volta que davam diariamente pela ilha, andavam mais na água do que na areia, e o cenário já era familiar. Imogen fez um cálculo rápido. Era a quinta vez que davam aquela caminhada, mas a primeira em que percebia nuvens como aquelas. Estavam muito distantes, é verdade, mas havia alguma coisa muito ameaçadora nelas, e Imogen continuou a observá-las, preocupada. — Espero que não esteja chegando uma tempestade. Tom olhou para o horizonte. — Estão bem escuras mesmo — concordou. — Talvez tenhamos chuva. — Não me importo com chuva. São os raios e trovões que me deixam nervosa. — Imogen esfregou os próprios brados. — Sei que é tolice, mas detesto tempestades. "Quando eu era pequena, viajei para acampar com uma amiga e a família dela", contou Imogen. "Ficamos em um acampamento perto de um rio e caiu uma tempestade horrível no meio da noite. Trovões, relâmpagos, uma chuva torrencial, vento... O serviço completo. Foi o caos", ela relembrou, estremecendo. "Barracas voaram, pessoas gritavam e o rio transbordou..." "Eu tinha apenas 7 anos e fiquei apavorada, embora no fim ninguém tenha se ferido gravemente. Mas as barracas ficaram destruídas e tudo virou uma confusão tão grande que voltamos mais cedo da viagem. Quando chegamos em casa, minha mãe 73


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contou que a minha avó morrera subitamente enquanto eu estava fora." A lembrança ainda a deixava triste. — A vovó morava conosco e eu era louca por ela. Fiquei arrasada, e acho que tudo isso acabou misturado na minha cabeça. Achei que, de algum modo, a tempestade havia matado minha avó e, na vez seguinte em que houve raios e trovões, fiquei completamente histérica. Era difícil ler a expressão no rosto de Tom, e Imogen parou de falar, sentindo-se tola. — Eu lhe disse que era tolice — desculpou-se. — É difícil ver as coisas que aconteceram quando éramos crianças sob a perspectiva correta — ele falou. — Mesmo depois que crescemos e compreendemos o que realmente aconteceu, continuamos a nos sentir do mesmo jeito que antes. Minha mãe morreu quando eu tinha 5 anos — falou Tom, sem pensar. — Não me lembro muito dela, na verdade guardo mais uma impressão do que uma lembrança específica, mas recordo perfeitamente do casaco de tweed que meu pai usava quando voltou do hospital para me contar o que acontecera. O tecido era áspero quando ele me abraçou, e ainda consigo ver os botões de couro. Mesmo agora, quando às vezes vejo de relance alguém usando um casaco como aquele, sinto uma mistura de confusão e angústia, como senti naquele dia. Ele falou em uma voz deliberadamente neutra, mas Imogen sentiu as lágrimas queimando seus olhos ao imaginar o garotinho que ele fora descobrindo que seu mundo desabara. — Que horrível para você. — Eu fiquei bem. — Ela não ficou surpresa quando Tom afastou qualquer simpatia e continuou a chutar a água rasa. — Acho que não entendi direito o que meu pai estava dizendo — ele disse. — Não haviam me dito que ela estava doente, mas eu havia percebido que as coisas estavam diferentes. Lembro-me de não entender por que a casa estava uma bagunça, ou por que não tínhamos mais refeições saborosas nas horas certas. "É claro que agora entendo que meu pai estava lutando para dar conta de tudo, e fazia o melhor que podia. Arrumar a casa com certeza não estava em sua lista de prioridades, mas isso me incomodava na época. Aquele tipo de desordem ainda me deixa desconfortável", ele acrescentou, em um rompante de confiança. Não era de admirar que estar sempre no controle das coisas fosse tão importante para Tom, pensou Imogen, caminhando pela água, ao lado dele. A morte da mãe interrompera tudo o que ele tinha como garantido. E como ainda era muito pequeno, deve ter se sentido extremamente impotente. Agora ela conseguia compreender que construir um mundo ordenado, que ele pudesse controlar, era uma forma de lidar com a perda da figura mais importante de sua vida. Sua suspeita em relação às emoções agora fazia mais sentido. Tom devia achar que estava sendo realista, mas por dentro ainda era o mesmo menino que perdera a mulher que mais amara e tinha medo de sentir novamente aquela desolação. Era fácil entender como uma criança pequena, incapaz de compreender a morte, acabaria achando que fora abandonado pela mãe, que ela o deixara porque ele não era bom o bastante. Isso sem dúvida explicaria sua obsessão em ter sucesso, em provar vezes sem fim que ele era bom o bastante. E agora Julia também o abandonara. O coração de Imogen doeu por Tom e ela relanceou um olhar disfarçado por entre os cílios. Sabia que não devia dizer nada, mas se 74


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sentia muito triste por ele. Por isso era tão cauteloso em relação ao amor. Se apaixonar significaria abandonar tudo o que o fazia se sentir seguro desde que era criança. Era uma pena, pensou Imogen. Se ao menos Tom se arriscasse, poderia fazer uma mulher muito feliz. Por trás daquele exterior brusco havia um homem forte e honesto, inteligente, com um surpreendente senso de humor. Quanto mais tempo passava com ele, mais gostava dele. E mais atraente o achava. Noite após noite, Imogen se deitava sozinha na cama enorme e pensava em Tom no sofá, ali tão perto. Na escuridão, ela se lembrava dele saindo da água, afastando o cabelo molhado da testa. As pernas longas e esguias, o peito largo e o os ombros poderosos. Imogen sentia a boca seca só de lembrar. Estava ficando cada vez mais difícil lembrar que deveria estar tratando-o como um amigo qualquer. Ela relutava em se oferecer para passar filtro solar nas costas dele com muita freqüência, na verdade porque queria demais tocá-lo. Tom, por sua vez, hesitava antes de aceitar, o que a deixava certa de que ele sabia o quanto ela adorava a sensação do corpo dele sob as mãos, apesar de todas as tentativas de parecer despreocupada e rápida. A pele de Tom era morna, macia e morena e, quando sentia os músculos flexionarem sob seu toque, uma onda de calor aquecia as veias de Imogen. Ela precisava de toda força de vontade que conseguia reunir para impedir que suas mãos deslizassem por todo o corpo dele. Ansiava por explorar aquela firmeza, aquela força, por roçar os lábios na nuca dele e beijá-lo ao longo da linha da coluna. Então virá-lo de frente e começar tudo de novo. Às vezes Imogen sentia-se tão culpada que fechava a tampa do frasco de filtro solar e se afastava. O esforço de se afastar dele era tamanho que ela precisava se sentar e fechar os olhos. E então lembrava a si mesma de todas as razões por que precisava manter as mãos sob controle. Seria um erro enorme esquecer o quanto eram incompatíveis. Agora conseguia entender por que Tom era tão resistente à idéia de amar, mas isso não mudava os fatos. Imogen ficava furiosa só de pensar em se apaixonar por um homem incapaz de retribuir esse amor. Tudo o que Tom podia oferecer era um relacionamento puramente físico, e isso não seria o bastante para ela. Ou seria? — Faz calor esta noite. Imogen afundou na cadeira de vime ao lado da de Tom e levantou um pouco os cabelos, em uma vã tentativa de refrescar o pescoço. Ele sentiu o perfume do xampu dela... Não conseguiu reconhecer a essência, limão talvez e mais alguma coisa, mas era um cheiro fresco e limpo e atraente de um jeito inocente. Como a própria Imogen, pensou, consternado. Ela estava usando calças de seda largas aquela noite, mas a blusa era justa e deixava os braços e os ombros nus. Tom tinha certeza de que Imogen não se arrumara com a intenção de parecer sedutora, mas bastava que se sentasse ali, em suas roupas nada extraordinárias, para que ele começasse a se imaginar correndo as mãos pelos braços macios, quase sentindo a pele quente sob seus dedos... Seria tão fácil afastar as alças finas dos ombros dela. Tom engoliu em seco e se levantou para pegar um drinque para Imogen. 75


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— Acho que talvez aquela chuva chegue logo — disse ele. Na dúvida, fale sobre o tempo, pensou. — É mesmo? — Imogen franziu o cenho e olhou para além da laguna, que cintilava como cobre polido sob as últimas luzes do pôr do sol, a superfície opaca e tranqüila. — Está muito perto — comentou Tom —, e lembre-se daquelas nuvens atrás de nós. Só porque não as podemos ver não significa que não estejam lá. Imogen fez uma careta. — Que pensamento sinistro... — Não ser capaz de ver a tempestade chegando apenas a tornava ainda mais ameaçadora. Nervosa, ela levantou as pernas para que pudesse abraçar os joelhos. — Mas acho que você deve estar certo. A noite está esquisita. É como se toda a ilha estivesse prendendo a respiração... O ar estava quase sufocante, de tão quente e pesado. E parecia denso ao redor deles quando Tom estendeu a bebida a Imogen e voltou a se sentar ao lado dela. — Ouça! — disse ele, erguendo um dedo. Imogen inclinou a cabeça para um dos lados. — Não estou conseguindo ouvir nada. — Isso mesmo. Normalmente mal conseguimos ouvir nossa própria voz à noite, mas hoje não há o barulho de um inseto sequer. Está tudo quieto demais. — É verdade. — Apesar do calor, ela estremeceu. — Também não há morcegos. Que coisa estranha... A última faixa escarlate se apagou no horizonte e a escuridão desceu sobre eles, engolindo o último lampejo de luz no céu. A noite parecia mais negra do que o normal e Imogen estava certa de senti-la fervendo furiosa sobre as cabeças deles. O silêncio fazia seu estômago arder. Ela mordeu o lábio e abraçou os joelhos com mais força, sem saber se queria que alguma coisa acontecesse logo para acabar com aquele suspense, ou se o medo do que aconteceria era maior. Uma lâmpada acesa na sala fazia passar uma luz fraca através da janela que dava para a varanda. Mas era o bastante para que Tom visse a veia que pulsava no pescoço de Imogen. Todo seu corpo estava rígido de tensão, e ele se lembrou do que ela lhe contara mais cedo sobre seu medo de tempestade. — Venha cá — disse ele, estendendo a mão. Imogen nem sequer hesitou. Aceitou agradecida, e o medo que a assombrava diminuiu no instante em que os dedos de Tom se fecharam com firmeza ao redor dos seus. Ele segurou-a com força enquanto a ajudava a se levantar da poltrona e a acomodar-se ao lado dele. Tom não lhe disse para não ficar assustada, apenas passou os braços ao redor dela e apertou-a com força, contra a solidez do seu corpo. O coração de Imogen saltava no peito, disparado, mas agora ela já não sabia mais se era de medo ou de uma consciência aguda da proximidade de Tom. Ele era tão sólido, tão firme, tão gloriosamente seguro que Imogen teve vontade de se afundar nele, mas obrigou-se a ficar sentada muito quieta, deixando-se confortar pela força daquele braço. Como fazia todas as noites, Tom estava usando calças de algodão, leves, e uma camisa folgada. Naquela noite, pela primeira vez, ela estava perto o bastante para sentir que a camisa era feita do algodão mais fino... Perto o bastante para sentir o perfume 76


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indefinível, mas obviamente caro, misturado com o aroma másculo e maravilhoso da pele dele. Imogen estava tão distraída pelo perfume de Tom que quase esqueceu a ameaça da chuva. Mas então o breu da noite foi rompido pelo ziguezaguear de um raio, acompanhado poucos segundos depois por um trovão muito forte que fez o coração dela parecer que ia saltar pela boca. Tom sentiu seu sobressalto e abraçou-a com mais força. — Lá vamos nós — ele disse animado. — Parece que vai ser das grandes, mas você está segura comigo. E, por mais incrível que pudesse parecer, segura era exatamente como Imogen se sentia naquele momento. Mesmo quando o céu voltou a se iluminar de forma espetacular e o trovão cortou o silêncio com mais força, reverberando ao redor deles por longos minutos antes de parar tão abruptamente quanto começara. — Uau! — disse Imogen, com a voz trêmula, no silêncio que ainda ecoava depois do trovão. Normalmente, ao primeiro sinal de um relâmpago ela corria para se esconder sob os lençóis e jamais vira aquele show poderoso e feroz. Imogen umedeceu os lábios, muito feliz por ter ao seu lado a presença firme e segura de Tom. — Será que é só isso? Mas aquilo era apenas o começo. Antes que Tom tivesse a chance de retrucar, a ventania chegou. E parecia um animal selvagem, rangendo os dentes e sacudindo os coqueiros com fúria até que eles se inclinaram subjugados. E o vento continuou abrindo seu caminho pelo chão, açoitando os arbustos de folhagens e se arremessando contra o bangalô. E então a chuva os atingiu. Imogen nunca vira uma chuva como aquela. Parecia uma muralha de água, despencando sobre o teto da varanda e martelando na areia. O barulho era ensurdecedor, brutal, e ela se aconchegou mais sob o braço de Tom. — Está tudo bem? — Ele precisou gritar acima do som da chuva, mas mesmo assim Imogen mal o ouviu. Ela estivera observando a chuva com uma mistura de respeito e terror, mas a pergunta de Tom fez com que se afastasse um pouco e levantasse os olhos para ele. Os olhos prateados se abaixaram para encará-la e Imogen percebeu que, para sua surpresa, ele estava sorrindo! — Você está gostando disso! O sorriso de Tom ficou mais largo diante da nota ofendida na voz dela. — Gosto de tempestades — admitiu. — Não acha que são excitantes? Agora que ele mencionara, era mesmo excitação que sentia vibrar em suas veias. Mas não por causa da tempestade. E sim porque seu corpo estava pressionado contra o dele... Se ela virasse a cabeça só um mais pouquinho, encontraria o pescoço dele há poucos centímetros de distância. Seria tão fácil se inclinar na direção de Tom e roçar os lábios pela pele dele... E depois que fizesse isso poderia espalhar beijinhos ao longo do caminho entre o queixo de Tom e sua boca. E, se ao chegar a esse ponto ele ainda estivesse sorrindo, ela poderia descobrir se seus lábios eram mesmo tão deliciosos e firmes quanto pareciam. Iria beijá-lo exatamente do jeito que vinha se esforçando para não pensar durante toda a semana. Subiria no colo dele e passaria os braços ao redor de seu pescoço. Então talvez Tom a beijasse também. Talvez suas mãos deslizassem por seu corpo, ele a despisse de suas roupas... Talvez a 77


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levasse para dentro, para aquela cama enorme, e fizesse amor com ela... Imogen engoliu em seco, cheia de desejo. Tom estava falando da tempestade, lembra-se? — Excitante não é exatamente a palavra que eu usaria — ela conseguiu dizer, por fim. Tom riu e puxou-a mais para perto. Não tivera a intenção de fazer isso, mas Imogen se encaixava com tanta perfeição ao seu corpo, era tão macia, tão quente e bela que o braço dele parecia ter vida própria. A tempestade estava terrível, sem dúvida, mas mesmo os milhões de volts que rasgavam o céu pareciam pouco comparados com a sensação do tecido do fino da blusa dela sob sua mão. No momento em que abaixou os olhos para o rosto dela, Tom soube que aquilo era um erro. O brilho opaco da luminária dentro de casa era o bastante para que seus olhos se encontrassem. No momento em que isso aconteceu, os dois estavam perdidos. O sorriso dele se apagou lentamente quando o olhar de Imogen capturou o seu. Tom sabia o quanto os olhos dela eram profundos e azuis, e agora estava se afogando neles. O som e a fúria da tempestade foram esquecidos quando a tensão inegável entre eles finalmente entrou em erupção. Imogen não conseguiria afastar o olhar nem se tentasse. Era como se uma força irresistível os arrastasse um para o outro, e o sangue de ambos já fervia em antecipação. Finalmente — finalmente — ele iria beijá-la, e ela retribuiria o beijo, exatamente como sonhara. Imogen não se permitiria pensar em nada a não ser em como era bom o que sentia. Ela abriu os lábios e levantou o rosto, enquanto Tom abaixava a cabeça...

CAPÍTULO OITO

O súbito brilho de um relâmpago cortou mais uma vez a noite e o trovão explodiu tão perto da casa que Tom e Imogen se sobressaltaram diante da luz e do barulho fortes. No instante seguinte, se viram mergulhados na mais profunda escuridão. Imogen ficou com o corpo muito rígido, o antigo medo apertando sua garganta. — O gerador se foi — Tom teve que gritar junto ao ouvido dela. — Mas não se preocupe, há uma lanterna lá dentro. Ele puxou o braço que ainda estava ao redor dela, e Imogen o agarrou em pânico, apavorada diante da mera idéia de ficar sozinha no escuro, com a tempestade uivando ao seu redor. — Não me deixe! — Não vou deixá-la. — Tom segurou a mão dela com força. — Venha comigo. Vai ficar tudo bem depois que conseguirmos iluminar um pouco isso aqui. Sem nem mesmo o brilho de uma só estrela, a escuridão era desorientadora. De mãos dadas, eles encontraram o caminho até a porta e entraram. Tom se lembrava de que Ali havia lhes mostrado a lanterna e que explicara como funcionavam os lampiões a 78


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gás — apenas para o caso de uma eventualidade, ele supôs —, mas ainda assim demorou um tempo até encontrá-la. Quando sua mão finalmente fechou-se ao redor da lanterna, ele deixou escapar uma exclamação de alívio. — Finalmente! Tom ligou a lanterna e ambos piscaram diante do súbito facho de luz. Para alívio de Imogen, a escuridão que a fizera sentir-se tão oprimida rapidamente desapareceu. — Assim está melhor — disse Tom. E estava mesmo, até que olhasse para baixo e percebesse que ainda segurava a mão de Imogen. — Você está bem? — ele perguntou, atencioso. Ela acompanhou o olhar dele até as mãos unidas e sentiu o rosto queimar. — Sim, estou bem — respondeu, embaraçada, soltando a mão da dele. Estranho, pensou Tom. Já não se sentia tão bem... Estivera tão perto de beijá-la. Se aquele relâmpago não houvesse cortado a eletricidade naquele momento, ele não teria sido capaz de se conter. E onde teriam terminado? Tom sabia onde. Naquela cama, e em uma situação que ele acabara de conseguir se convencer de que deveria evitar. Imogen obviamente também estava pensando com mais clareza. Ele notara a rapidez com que ela soltara a mão dele, e agora esfregava os braços, nervosa. Ainda devia estar assustada com a tempestade, mas Tom achava que o mais provável era que estivesse constrangida porque seu chefe quase a beijara. Era melhor fingir que nada acontecera, ele concluiu. — Bem — disse Tom, com um entusiasmo um pouco exagerado —, vamos acender os lampiões e então podemos descobrir alguma coisa para comermos. Há bastante salada na geladeira. Imogen jamais conseguiria esquecer aquele jantar sob a luz mortiça do lampião, enquanto a chuva castigava o telhado e seus dedos formigavam, latejavam, nos lugares onde haviam ficado entrelaçados aos de Tom. Ela não conseguia manter os olhos afastados do corpo esguio, sólido e tão seguro na vastidão daquela noite escura. Imogen tentou não ficar encarando-o, mas seus olhos pareciam não resistir e voltavam para ele, apenas para se afastarem rapidamente no momento em que encontravam o olhar cinzento. Não que importasse muito para onde ela olhava. Tudo o que conseguia ver eram os ângulos marcados do rosto dele, suas mãos, sua boca. A boca de Tom... Ele sempre tivera aquela boca? Era por causa das sombras projetadas pelo lampião, Imogen tentou se convencer. Era apenas a força chuva, a falta de luz elétrica que a estavam deixando febril. Apenas a tempestade rugindo do lado de fora e dentro dela, fazendo seu sangue chiar como se também ela houvesse sido atingida pelos relâmpagos que cortavam o céu. E seu coração trovejar tão alto que, se não fosse pela chuva, Tom com certeza teria escutado. Foi quase um choque quando a chuva parou tão abruptamente quanto começara. Em um momento, ela desaguava sobre a ilha, e no instante seguinte instalou-se um silêncio excepcional, quebrado apenas pelo gotejar das enormes folhagens tropicais do lado de fora. Mas logo os insetos entraram em frenesi e toda a ilha pareceu ferver. Imogen reconheceu em si a mesma sensação. Desconfortável, ela se levantou rapidamente alegando que precisava tirar a mesa e jogar a comida fora. 79


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Tom não dissera nada, mas era óbvio que mudara de idéia a respeito de beijá-la. Fora muito fácil se deixar levar pela escuridão e pelo drama da tempestade, Imogen lembrou a si mesma, colocando-se na posição de Tom. Afinal, ele era apenas um homem. Ela era uma mulher jovem e estava sozinha com ele na escuridão. Quem poderia culpá-lo por sentir-se tentado a esquecer a rejeição de Julia com alguém que se colara a ele como um molusco? Ou por ter pensado melhor quando as luzes voltaram? Mas era melhor mesmo que nada tivesse acontecido, decidiu Imogen. Teria tornado tudo muito embaraçoso. Tom ainda era o chefe dela, e eles teriam que voltar a trabalhar juntos em duas semanas. E mesmo se Tom a houvesse beijado, isso não teria significado nada. Ela não queria ser uma substituta medíocre de Julia, queria? Queria? Não!, disse Imogen a si mesma com firmeza. Com certeza, não. Escapara por pouco de fazer enorme papel de tola, e não permitiria que acontecesse de novo. De agora em diante, não haveria mais mãos dadas, nem corpos pressionados um contra o outro, nem fantasias sobre beijá-lo. Haviam concordado em serem amigos, e era apenas uma amiga o que ela seria. Ao despertar na manhã seguinte, Imogen se deparou com um céu azul brilhante. O ar estava fresco e parecia cintilar. Quando eles saíram para ir até o recife, como faziam diariamente, a água estava tão tranqüila e tão clara que era difícil acreditar na ferocidade da tempestade da noite anterior. Se não fosse pela intensidade fora do comum dos perfumes da ilha, pesados e exuberantes depois da chuva, Imogen teria imaginado que fora tudo um sonho. Ela esperara que a consciência intensa da presença de Tom também acabasse sendo só um sonho, mas ao que parecia ficara ainda pior sob a luz cintilante da manh ã. Cada linha ao redor de seus olhos, todos os ângulos de seu rosto, tudo parecia ainda mais marcante contra o céu azul. No entanto, Imogen lembrou-se de seu juramento e conversou alegremente durante todo o percurso até o recife, esperando passar a impressão de ser uma garota tola demais para chegar sequer a acalentar qualquer pensamento mais picante sobre o chefe. Foi um alívio colocar a máscara e o tubo de respirar, esconder o rosto na água e se deixar absorver pelo mundo submarino. O silêncio era tranquilizador. Só o que havia era o frescor da água, o som da sua própria respiração e os peixes deslizando abaixo em um espetáculo de cor. Quando Tom indicou que estava na hora de voltarem, Imogen já se sentia bem melhor. Já era capaz de se comportar normalmente enquanto o barco cortava a água. Seu humor melhorou muito. Pronto, ela podia fazer aquilo, congratulou-se um pouco mais tarde, enquanto se acomodava na espreguiçadeira ao sol e abria seu livro. A noite passada fora uma aberração. Mas colocaria toda a culpa na tempestade. Tudo o que precisava fazer era continuar a tratar Tom como um amigo e aproveitar as férias. Deixaria para se preocupar em como seria voltar a ter um relacionamento profissional com ele depois que voltassem para casa. Porque uma coisa era certa, não conseguia imaginar que os dois pudessem continuar a ser amigos em Londres. As vidas deles eram diferentes demais. Tom n ão se 80


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sentiria à vontade jogado no sofá do apartamento que ela dividia com Amanda, enquanto as duas fofocavam e dissecavam as últimas revistas de celebridades, testando uma a outra sobre o que acontecera nos últimos capítulos das novelas. Ele também não se ofereceria para pedir comida quando descobrissem que não havia nada para comer na geladeira, nem ficaria na cama até a hora do almoço aos domingos. E Tom jamais seria capaz de agüentar o apartamento bagunçado delas, concluiu Imogen, lembrando a necessidade que ele tinha de ordem e controle. Tom precisava de alguém como Julia — a linda e glamourosa Julia, que provavelmente passava os domingos passeando por galerias de arte, parecendo muito inteligente. A mesma Julia que sem dúvida morava em um apartamento sofisticado e elegante. Não, eles podiam ser amigos ali na ilha Coconut, mas não havia a menor possibilidade em continuarem a amizade quando voltassem a Londres. Quando Tom apareceu um pouco mais tarde, trazendo um copo limonada fresca, ela colocou o livro de lado e recebeu-o com um sorriso animado. — Você está me saindo um excelente barman — disse Imogen. — Vou ficar lhe devendo dezenas de cafezinhos em sua mesa quando voltarmos ao escritório. Não fazia mal lembrar a Tom que não se esquecera da realidade, por mais que pudesse ter dado essa impressão quando se pendurara nele na noite anterior e deixara seus olhos devorarem-no. — Na verdade, acho que vai ficar devendo cafés para Ali — disse Tom, sentandose na beira da espreguiçadeira ao lado da dela. — Foi ele que fez esse. Estava terminando de consertar os estragos causados pela tempestade quando fui checar meus e-mails. — Ele girou o suco no copo enquanto franzia levemente o cenho. — Você sabe de alguma coisa especial para essa noite? — Não. Eu deveria? — Ali estava tentando me falar sobre alguma coisa que fora preparada para essa noite, mas não consegui entender do que estava falando. Imogen fez uma careta. — Não tenho a menor idéia. Talvez seja uma festa, ou alguma coisa no resort. Ele poderia ter perguntado se queríamos ir. — Céus, espero que não seja isso — disse Tom,, desanimado. — Respondi que sim, que estava tudo bem, porque parecia mais fácil do que tentar entender. Mas você não gostaria de ir e conhecer outras pessoas? — ele acrescentou tarde demais. Em circunstâncias normais ela teria adorado a idéia de ir a uma festa, mas não havia nada que quisesse menos agora. Mais cedo, Imogen se lembrara de que faltavam apenas duas semanas para partirem e não queria dividir Tom com mais ninguém nem sequer por um minuto. Só que não podia dizer isso a ele, ou Tom pensaria que ela estava carente, ou que interpretara mal o que acontecera — ou o que não acontecera — na noite anterior. — Talvez seja divertido — ela falou, o mais casualmente que conseguiu. — Vamos ver o que acontece essa noite. — Está pronta? — Imogen ouviu Tom chamar da varanda naquela noite, enquanto passava batom. — Ali já chegou com o barco. Por sorte, Imogen colocara um vestido mais elegante na bolsa — só para o caso 81


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de irem a alguma festa. Era de um amarelo claro suave, feito em uma bela seda que deslizava fresca pelo corpo dela. E era a roupa perfeita depois de um dia inteiro sob o sol. Imogen tentara ser sensata e sentar-se o mais possível na sombra, mas mesmo ali o sol deixara sua pele dourada e mechas louras em seus cabelos. O vestido combinava à perfeição com seu bronzeado. — O que será que está acontecendo? — ela perguntou a Tom, prendendo os brincos enquanto se juntava a ele na varanda. — Vamos ver. Tom estava descalço como Imogen, e ambos seguiram na direção do píer. Ele também estava mais bronzeado e seus olhos prateados pareciam ainda mais impressionantes em contraste com a pele morena. Enquanto caminhava um pouco mais atrás, Imogen se descobriu olhando para as costas dele com um desejo voraz, que parecia correr como fogo líquido por suas veias. Pare com isso, disse a si mesma com severidade. Não olhe para ele. Nem mesmo pense no que estava pensando. Ali esperava por eles em um barquinho ancorado no fim do píer. Todo sorrisos, ele gesticulou para um lindo barco de madeira que os aguardava além do recife. — Para vocês — disse Ali. — Não parece que haja festa alguma — disse Tom, aliviado. Imogen estava olhando para o barco — Não é adorável? Eles chamam essa embarcação de dhoni, se não me engano. Lembro-me de ter lido a respeito quando estava fazendo as reservas para a ilha. Ao que parecia, eram maravilhosos para um passeio ao pôr do sol. Será que é isso mesmo? — Você fez reservas para isso? — Não, mas talvez Julia tenha feito — Imogen respondeu, pensativa. — Ela me pediu todos os detalhes do resort. Quem sabe estava planejando uma surpresa para você? — Bem, podemos muito bem descobrir. — Tom apontou para si mesmo, depois para Imogen, e então para o barco e virou-se para Ali com uma expressão indagadora. O homem assentiu vigorosamente. — Sim. Venham, venham. — Ele acenou para que se aproximassem. — Ele parece estar esperando por nós — disse Tom. — O que quer fazer? Posso dizer a ele que houve um erro, ou podemos continuar com isso e ver o que acontece. — Vamos, então — disse ela. — Vai ser divertido O dhoni balançava gentilmente quando eles subiram a bordo. Ali levou Tom e Imogen até a proa, que fora arrumada com almofadas macias e exuberantes. Os dois se acomodaram, sentindo-se um pouco ridículos, e um tripulante levantou âncora e içou a vela quadrada. Quando as velas estavam erguidas e infladas pelo vento, o motor foi desligado e restou apenas o marulhar delicado das ondas contra o casco de madeira. A brisa do mar desmanchou os cabelos deles e encheu suas narinas com o cheiro forte do mar, enquanto o azul da água ficava cada vez mais escuro e profundo e o sol transformava a luz em ouro. — Não sei de quem foi essa idéia, mas com certeza foi uma ótima idéia — disse Imogen, encantada com o movimento do barco. 82


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Tom observou-a sorrir de prazer e sentiu a garganta doer. Imogen parecia tão quente e luminosa ao pôr do sol. Sua pele cor de mel, o cabelo clareado pelo sol e o vestido pálido que acentuava suas curvas e caía suave ao redor de suas pernas. A necessidade de tocá-la, de acariciar o joelho macio sob a saia até chegar à coxa sedutora era tão forte que ele ficou de pé subitamente e se inclinou pela lateral do barco. — Golfinhos — disse, apontando para os animais na água, aliviado pela distração. — Onde? — Imogen levantou de um pulo e parou ao lado dele. — Olhe, é verdade! Não são maravilhosos? Com o rosto iluminado, ela debruçou ao lado de Tom a apenas poucos centímetros de distância. Mas Imogen não olhava para ele. Ela observava os golfinhos, fascinada, enquanto eles brincavam na espuma das ondas perto da proa. Uma brisa morna soprava os cabelos dela ao redor do rosto e Imogen segurou-os para trás com uma das mãos, o melhor que pôde. — É tudo perfeito. — Ela suspirou, e se virou para ele com um sorriso. — Sim — disse Tom, mas estava olhando para ela, e não para os golfinhos. — É mesmo. Foi nesse momento que Imogen cometeu o erro de olhar dentro dos olhos dele, e seu sorriso desapareceu no mesmo instante. Foi como na noite anterior, mas agora não havia mais a desculpa da escuridão para que retribuísse o olhar. Agora havia golfinhos para observar, o barco a ser explorado, a emoção do oceano profundo e escuro, e a beleza do pôr do sol para distraída. Só que ainda assim ela não conseguia desviar os olhos dos de Tom, aqueles olhos cinzentos que agora tinham uma expressão que Imogen nunca vira antes, uma expressão que ela não conseguia identificar, mas que fez seu coração bater em um ritmo novo, mais lento. O sangue corria rápido por suas veias e um calor crescia dentro dela. Presos em um casulo invisível, nenhum dos dois percebeu que as velas estavam sendo baixadas. Também permaneceram alheios à curva que o barco fez, ou a Ali preparando novamente o barquinho. Apenas um grito do capitão chamando um membro da tripulação os arrancou do transe. Ambos afastaram o olhar rapidamente. Tom pigarreou. — O que está acontecendo agora? — Não sei bem. Estamos parando por alguma razão. É apenas um banco de areia, mas há alguém ali... — Imogen se debruçou sobre a borda de madeira lindamente entalhada, sem saber bem se estava frustrada ou aliviada com a distração. Depois de todas as resoluções tomadas naquela manhã sobre deixar a noite passada para trás, bastara um olhar dentro dos olhos de Tom e estava perdida novamente. Sua pulsação estava disparada e ela sentia-se absurdamente trêmula. — Parece que vamos desembarcar — disse Imogen, forçando um sorriso, mas evitando o olhar dele. — Sempre tive vontade de experimentar um passeio misterioso, você não? — Não — respondeu ele, que se sentia distante demais de sua zona de conforto. — Gosto de saber onde estou indo. Mas Tom saiu rapidamente quando os tripulantes apontaram para o barquinho, no qual atravessaram as ondas transparentes até o banco de areia. Quando chegaram, 83


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parecia óbvio que os dois deveriam descer, por isso ele ajudou Imogen a pular para a areia e olhou indagador para Ali, mais uma vez. — Para vocês — disse o rapaz, apontando na direção de um homem idoso e frágil, vestido em um branco imaculado, que parecia estar esperando por eles. — O que está acontecendo? — Tom perguntou aos sussurros para Imogen, enquanto seguiam, obedientes, na direção do velho. — Não tenho a menor idéia — confessou Imogen, confusa, mas quando chegaram um pouco mais perto, ela viu que havia sido desenhado um círculo na areia. Então parou e puxou a manga de Tom. — O que foi? — Estou tendo um mau pressentimento — foi a vez de ela sussurrar. Tom relanceou os olhos para o velho e voltou a encarar Imogen. Era apenas um homem velho, certo? O que havia de tão ameaçador nele? — Acho que tudo isso foi preparado para uma cerimônia de casamento — falou Imogen. — O quê? A voz de Tom saiu alta e ela pediu que ele falasse mais baixo. — Eu li sobre isso quando estava procurando mais informações para vocês sobre como eram as luas de mel aqui. Você não poderia casar de verdade na ilha, porque fica em um país muçulmano, mas pode ter uma cerimônia especial para abençoar seu casamento e renovar seus votos. — E você agendou uma cerimônia dessas? — ele perguntou, horrorizado. — É claro que não — disse Imogen. -— Mas e se Julia agendou? Ela deve ter achado que seria romântico. Há tanta coisa para ser feita ao se organizar um casamento que, às vezes, o noivo e a noiva não conseguem aproveitar de verdade ou pensar no que estão realmente prometendo na cerimônia. Aqui vocês teriam tempo para relaxar depois do casamento e fariam novamente seus votos, podendo se concentrar de verdade um no outro. "Acho uma bela idéia", concluiu Imogen, em tom de desafio, lendo sem dificuldade o ceticismo na expressão de Tom. Agora que pensava a respeito, ele lembrou que Julia realmente fizera alguns comentários enigmáticos sobre os votos deles, mas a verdade é que não prestara muita atenção ao que ela dissera. Se houvesse prestado, teria dito à então noiva que não poderia imaginar nada pior. Mas agora era tarde demais para isso. — Se tudo isso já estava reservado com antecedência, por que não nos disseram nada quando chegamos? — Talvez tenham dito — respondeu Imogen, lembrando-se de como ambos estavam distraídos quando chegaram ao resort. — Nenhum de nós dois prestou muita atenção ao que o gerente estava dizendo. — É, acho que não... Deus, que confusão! Tom deu uma olhada no velho, que sorria encorajando-os e os instava a se aproximarem. — O que vamos fazer? — perguntou Imogen, nervosa. 84


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— É melhor seguirmos com o blefe — decidiu Tom. — Vai ser difícil demais tentar explicar agora. Tem certeza de que não é uma cerimônia legal? — É apenas simbólica. — Então pronto — disse ele, pegando-a pelo braço. — Não vai significar nada. É melhor termos que agüentar cinco minutos de um ritual tolo qualquer do que meia hora de explicações constrangedoras. — Não sei... — Imogen recuou um pouco, ainda não totalmente convencida, mas Tom animou-a a seguir em frente e de repente ela se viu diante do rosto velho do homem. E viu uma expressão muito tranqüila e olhos sábios. — Seu nome? — ele perguntou a ela, gesticulando para que entrasse no círculo. — Imogen. — E Tom — acrescentou Tom rapidamente antes que fosse perguntado, entrando no círculo e postando-se de frente para Imogen. O celebrante assentiu. — Vocês vieram até aqui para celebrar seu amor um pelo outro? — Ahn... Sim. Se o homem ficou surpreso com a hesitação deles, não demonstrou. — Há apenas vocês dois aqui, isso é bom — ele continuou. — É um momento apenas para vocês e para mais ninguém. Esse é o círculo de vocês. Fiquem dentro dele, compartilhem-no. Ele une os dois. E representa a unificação de um com outro, e com a terra. Representa o seu amor. Imogen mordeu o lábio. Parecia tão errado enganar aquele homem, mas agora já era tarde demais para voltar atrás. Não significava nada, tentou relembrar a si mesma, mas conforme o velho proferia suas bênçãos generosas, uma rede invisível pareceu ser jogada sobre o círculo desenhado na areia, sobre ela e Tom, aproximando-os cada vez mais, isolando-os do resto do mundo. O sol parecia tornar incandescente o mar que os rodeava. Era uma sensação extraordinária, como um sonho, estar ali, sob a aquela luz dourada, muito consciente da areia branca e macia sob os pés e das mãos de Tom segurando as dela com força entre as suas. Imogen não queria olhar para Tom, mas ao mesmo tempo não conseguia desviar os olhos dos dele, e se pegou agarrando-se as suas mãos como se Tom fosse a única coisa que pudesse mantê-la ancorada à realidade. A cerimônia foi muitos simples, e muito emocionante. Ainda cativa dos olhos prateados de Tom, Imogen ouviu o velho falar sobre amor, compromisso, sobre encontrarem juntos a plenitude. E cada palavra que dizia parecia certa. — Imogen — concluiu o homem, por fim —, é esse homem, Tom, o homem que você ama? Ela engoliu em seco. — Sim — disse com a voz rouca. E, nesse momento, ouvindo o próprio coração, soube que dizia a verdade. — Tom, é essa mulher; Imogen, a mulher que você ama? A voz de Tom estava mais firme do que a dela. 85


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— Sim. — Imogen, guarde em segurança o coração de Tom. E, Tom, guarde o coração que Imogen lhe deu e cuide bem dele. Amem um ao outro, sejam honestos um com o outro, encontrem a paz um no outro. E a alegria também, sempre. Era um absurdo, mas Imogen sentiu lágrimas ardendo em seus olhos. — Eu prometo — ela disse. — Eu prometo — Tom falou também, após uma brevíssima hesitação. — Selem a promessa com um beijo. Os olhos de Imogen estavam presos aos de Tom. Ela viu uma chama cintilar nas profundezas prateadas e prendeu a respiração. Ele ia beijá-la. É claro que ia beijá-la. Não tinha alternativa a não ser beijá-la. Finalmente — finalmente! — ele ia beijá-la. Tom deu um leve sorriso, soltou as mãos de Imogen e segurou o rosto dela. — Eu prometo — disse baixinho, tão baixinho que ela se perguntou se não havia imaginado a frase, e então sua boca encostou na dela. Os lábios dele não eram nada frios. Eram quentes, firmes, certos e tão excitantes que Imogen ofegou, pega de surpresa pela intensidade do desejo que o beijo deflagrou. As mãos de Tom deslizaram sob os cabelos dela, de modo que ele pudesse segurar sua cabeça com mais firmeza e aprofundar o beijo. Nesse instante, o mundo de Imogen pareceu se dissolver em um prazer vertiginoso, enquanto ela se permitia retribuir o beijo do modo como vinha ansiando há tanto tempo. Imogen arqueou o corpo contra o dele, passou os braços ao redor de sua cintura e se agarrou com todas as suas forças à magia daquele momento. Ela sabia que provavelmente estavam cometendo um erro, mas naquele momento tudo parecia tão certo... Imogen gemeu em protesto quando Tom interrompeu o beijo com relutância e ergueu a cabeça. Os dois haviam esquecido do velho diante deles, que ainda estava parado, observando-os com um sorrisinho. Ainda sob o efeito do beijo, Tom e Imogen mal perceberam quando o homem envolveu seus pulsos, juntos, com uma corda feita de folhas. Então ele fez um lindo gesto com as mãos. — Está feito — foi só o que disse o velho, antes de afastar-se. — Vocês estão unidos, são um só. — O que nós fizemos? Todo sorrisos, Ali os acompanhou de volta ao dhoni, onde Imogen foi presenteada com uma guirlanda de flores tropicais. O perfume forte já começava a deixá-la levemente nauseada quando ela e Tom foram finalmente deixados a sós, na proa. Ou talvez fosse o modo como sua cabeça parecia rodar, depois da revelação do quanto ela o amava... Tanto amor, e tão sem esperança... Agora, com as velas enfunadas e o barco deslizando gentilmente pela água, Imogen se agarrou ao parapeito, com medo de que suas pernas trêmulas não a sustentassem mais por muito tempo. — Não fizemos nada — disse Tom, soltando a corda que ainda unia os pulsos 86


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deles. Ele hesitou por um momento e então a jogou no mar. — Foi um ritual — acrescentou. — Não significou nada. Imogen viu a corda desaparecer e teve vontade de chorar. Não parecera sem significado. — Nós fizemos promessas — ela falou, com dificuldade. Tom afastou os olhos. Imogen estava certa. E não era ele que sempre se orgulhava de manter suas promessas? Fora uma experiência das mais estranhas, ficar parado naquele círculo com Imogen. Estava se sentindo irritado com toda aquela confusão, relembrou, mas no instante em que segurara as mãos dela e olhara dentro daqueles olhos tão azuis, uma inexplicável sensação de alívio tomou conta dele. Como se, sem saber bem como isso acontecera, ele se descobrisse de repente no lugar certo, na hora certa, fazendo exatamente o que precisava ser feito. E então a beijara, e a doçura de Imogen quase o fizera cambalear. O sabor dos lábios dela, a sensação de tê-los colados aos seus, a maciez da boca e os cabelos sedosos cobrindo suas mãos... Tudo isso ainda parecia ecoar dentro dele, correr por suas veias, fazendo-o sentir-se... o quê? Nervoso? Apreensivo? Empolgado? Com certeza, não. — Não foi de verdade — Tom voltou a falar, desejando que sua voz não houvesse demonstrado que estava, na verdade, tentando convencer a si mesmo. — Não estamos realmente casados. Eles não poderiam estar casados. Nenhum dos dois queria se casar. Era um absurdo pensar que alguma coisa realmente acontecera naquele banco de areia. — Não, é claro que não. — Imogen conseguiu dar um jeito de sorrir. — Para lhe dizer a verdade, mal posso acreditar que aquilo aconteceu mesmo. Foi como um sonho. — Toda essa semana tem sido como um sonho — disse Tom, vindo juntar-se a ela no parapeito. — É como se estivéssemos em algum tipo de bolha, sem nenhuma conexão com a vida em Londres. Imogen assentiu. — Sim, é exatamente desse jeito que estou me sentindo. — Ela conseguiu dar outro sorriso, um pouco mais convincente dessa vez. — Vai ser um choque despertarmos quando voltarmos para casa! — Ainda não precisamos acordar. — Tom sucumbiu à tentação, pegou as mãos de Imogen e virou-a delicadamente em sua direção. — Podemos continuar sonhando um pouco mais. Os dedos de Tom eram quentes e persuasivos ao redor dos dela, e Imogen sentiuse novamente zonza com a proximidade dele. — Sonhando? — A voz dela saiu com dificuldade. — Que estamos aqui porque queremos estar juntos — disse ele. — Ambos sabemos que não é verdade, e que isso não poderia durar se fosse. Assim que voltarmos a Londres, tudo será diferente. O sonho terá terminado. Não conseguiremos voltar a ele, e também não iríamos querer voltar. O que dizia fazia algum sentido?, perguntou-se Tom. Não tinha certeza se ele mesmo havia conseguido entender o que estava tentando dizer para Imogen. E uma parte de sua mente já começava a imaginar se não estava cometendo o mais terrível dos erros. 87


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Mas outra parte, mais forte, o fez continuar. — Não somos as mesmas pessoas aqui que éramos em Londres — ele falou. — Lá, queremos coisas diferentes, mas aqui... Talvez aqui nós queiramos as mesmas coisas. Eu sei o que quero. Beijá-la novamente. Tocá-la novamente. Não quero passar outra noite naquele maldito sofá, pensando em você sozinha na cama e querendo estar com você. Imogen parecia paralisada no lugar, os olhos azuis muito arregalados de espanto. Chegou a abrir a boca para falar, mas Tom estava com medo de ouvir o que ela iria dizer e se apressou a continuar. — Sei que ainda está obcecada com Andrew. Sei também que está procurando por alguma coisa mais perfeita do que eu posso lhe dar, mas estava pensando que, enquanto estamos aqui, talvez pudesse ser perfeito. Ambos sabemos que isso não é real, mas ainda temos duas semanas. Por que não aproveitarmos? — Você quer dizer, como se realmente fosse uma lua de mel? — Imogen finalmente conseguiu falar. — Como se os votos que acabamos de fazer fossem mesmo verdadeiros? — Sim — disse Tom. — Não estamos falando em felizes para sempre — acrescentou rapidamente. — Assim que voltarmos a Londres, podemos esquecer tudo. Podemos fingir que nunca aconteceu. Mas até lá... até lá estamos só nós dois aqui, e podemos... Podemos amar um ao outro, exatamente como acabamos de prometer. — Ele fez uma pausa, abaixou os olhos para o rosto dela e tentou não parecer tão desesperado quanto realmente estava para que ela concordasse. — O que acha? Os dedos de Imogen apertaram com mais força os de Tom. Não poderia durar, ele dissera. Não estamos falando de felizes para sempre. Ela iria se magoar quando tudo aquilo houvesse terminado, quando tivesse que voltar a ser a secretária executiva dele, cumprimentando-o friamente todas as manhãs. Mas iria se magoar de qualquer forma, percebeu Imogen. Era isso o que acontecia quando uma mulher como ela se apaixonava por alguém como Tom. Não deveria ser assim. Ela buscava um relacionamento perfeito. Não deveria se apaixonar por um homem que não a amava de verdade, que lhe daria duas semanas e nada mais. Mas a verdade é que já se apaixonara... E, afinal, duas semanas não eram melhor do que nada? Pelo menos, quando dissessem adeus, haveria lembranças a serem guardadas. E Imogen sabia que era só isso o que teria. Não adiantava ter esperanças de que o sonho pudesse durar mais. Encontrem a alegria um no outro, o celebrante havia lhes dito. Ela poderia escolher aquilo, ou poderia escolher ser sensata. Imogen escolheu a alegria. Seria temporária, como tudo o mais que ela fazia, mas ainda assim seria alegria. E, afinal, como poderia resistir a ele pelas próximas duas semanas? Sorrindo, Imogen soltou as mãos que Tom segurava e apoiou-as no peito dele. Então, levantou os olhos. — Acho que é uma excelente idéia — disse, por fim. Tom ficou encarando-a por um momento, como se mal ousasse acreditar no que ela dissera. Mas logo seus olhos cintilaram e um sorriso iluminou seu rosto. Ele envolveua em seus braços e beijou-a com força, com voracidade. Imogen sentiu-se derreter de ca88


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lor e desejo, seus dedos agarrando-se à camisa dele para evitar que o fluxo de prazer que dominava seu corpo a derrubasse. Tontos de alívio por finalmente poderem se beijar, se tocar, do modo como passaram a semana toda desejando, os dois afundaram nas almofadas, sob o céu que escurecia lentamente, amassando a guirlanda de flores entre eles. O perfume das flores amarelas os envolveu enquanto o barco subia e descia, e os únicos sons que os rodeavam eram o marulhar da água contra o casco e o estalar da madeira do barco. A tripulação conversava baixinho na popa do barco dando completa privacidade a Tom e a Imogen, mas de qualquer modo os dois não tinham consciência de mais nada que não um do outro. O corpo de Tom era forte e pesado quando ele a pressionou sobre as almofadas macias, as mãos deslizando possessivas sob o vestido amarelo. Imogen envolveu o pescoço de Tom com os braços e esqueceu todo o resto. Sentia-se afundar em uma onda de calor. De vez em quando, tentava voltar à superfície, ofegante, quase com medo da ânsia que sentia de tocar cada parte do corpo dele, de senti-lo todo, enquanto uma vozinha lá no fundo de sua mente lhe perguntava se não estaria cometendo um erro terrível. Mas como poderia ser um erro se os lábios dele eram tão certos, a boca tão excitante, se as mãos que acariciavam seu corpo com malícia a deixavam com um desejo desesperado de ter mais, mais, mais...? As estrelas já estavam altas no céu da ilha Coconut quando eles fizeram o caminho de volta do pequeno píer. Mais tarde, Imogen nem sequer se lembraria como haviam chegado lá. Ali provavelmente os levara no barquinho, ela supôs, mas tudo de que se lembrava era da sensação da madeira lisa sob os pés nus e do marulhar da água contra os postes. Sentia-se anormalmente consciente de tudo: da seda do vestido sussurrando contra suas pernas; do aperto firme da mão de Tom na sua; da boca que ainda vibrava com os beijos dele; do seu corpo, ainda cheio de desejo. Parecia tudo tão familiar, pensou Imogen, enquanto subiam os degraus da varanda. Tudo parecia igual, quando deveria ser diferente. Afinal, tudo mudara desde que haviam descido aqueles mesmos degraus para encontrar com Ali, que os esperava no fim do píer. Antes, eram chefe e secretária; agora, eram marido e mulher.

CAPÍTULO NOVE

Exceto pelo fato de que não eram, não de verdade. Imogen vacilou nesse súbito instante de clareza. Tom estava bem atrás dela, com o rosto enfiado em seu pescoço, enquanto a guiava pela porta e tornava a puxá-la para si, para que pudesse voltar a beijá-la, as mãos ansiosas e determinadas. — O que foi? — Você... você não acha que vamos nos arrepender disso? — perguntou Imogen, insegura, tentando se agarrar aos últimos resquícios de racionalidade que lhe restavam. 89


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Mas era difícil, quando a mera sensação dos lábios dele em seus ombros nus a fazia perder o fôlego. — Vamos ter que voltar a trabalhar juntos — ela relembrou-o com dificuldade quando ele começou a beijar seu pescoço. — Como vamos conseguir fazer isso se nós...? — Como vamos conseguir suportar as próximas duas semanas se nós não...? — retrucou Tom, sorrindo com malícia contra a pele dela. Os dedos dele encontraram o zíper do vestido e já o abaixavam. — Vamos apenas esquecer o trabalho, por ora. Imogen estremeceu sob o toque experiente. Em algum lugar de sua mente confusa pelo desejo sabia que não seria tão fácil quanto ele dizia, mas a verdade é que naquele momento não conseguia pensar direito, não com as mãos dele acariciando todo seu corpo, não com a boca de Tom derrubando suas últimas defesas, não com aquele calor que a fazia arder por dentro. Era como fogo líquido correndo por suas veias, e Imogen desistiu de vez e pensar em qualquer coisa e cedeu ao desejo intenso e sombrio que a dominou, à sensação da boca, das mãos, do corpo esguio e firme de Tom. A cama era deliciosamente larga. E a sensação de estarem completamente a sós, como náufragos, tornava tudo muito, muito excitante. Não havia ninguém para vê-los, ou para ouvi-los. Só havia os dois, com os corpos entrelaçados, em um lugar onde nada importava que não fosse tocarem, saborearem, sentirem um ao outro. — Vamos pensar apenas que estamos aqui — sussurrou Tom no ouvido dela. — Vamos pensar apenas no agora. Então, Imogen fechou a mente para o futuro e fez exatamente o que ele dizia. Os dias que se seguiram ficariam para sempre na memória de Imogen como momentos dourados. Parte do tempo, eles passavam fazendo as coisas como haviam feito antes. Tiravam as manhãs para explorar o recife e passavam as tardes na praia, nadado, lendo ou apenas descansando à sombra e conversando. Com freqüência, Imogen ficava satisfeita apenas em sentar-se e olhar para o mar, renovando seu encanto com a intensidade da luz, dos azuis e dos verdes da água, e com o branco tão puro da areia. Nesses momentos, ela inspirava lentamente, apreciando o cheiro limpo e revigorante de mar e de sol, sentindo o calor invadir suas narinas, observando o modo como a brisa balançava os coqueiros, fazendo com que suas sombras dançassem sobre a pele dela e sobre a areia. Imogen tinha a impressão de nunca ter visto as coisas tão claramente antes, de nunca ter se sentido tão intoxicada por cheiros, texturas e sabores, como se sentia agora, com Tom ao seu lado. O laptop agora ficava fechado enquanto Tom sucumbia à atmosfera de sonho da ilha. Ele gostava de levantar bem cedo de manhã, quando Imogen ainda dormia, e de caminhar até o píer, com a luz do sol ainda perolada e a laguna silenciosa e tranqüila. Imogen preferia o início da noite. Ela adorava o momento de tomar um banho, limpar o corpo do excesso de sol e de sal e, depois, vestir alguma roupa solta e confortável. Tom, então, preparava uma bebida gelada e os dois se sentavam juntos na varanda para observar o pôr do sol. Nesse momento, o silêncio parecia se derramar sobre a ilha para reverenciar as cores do céu, que passavam em velocidade surpreendente, do rosa ao laranja até chegar em um vermelho profundo. Enquanto isso, o mar tremulava e ambos se lembravam daquele momento mágico em que ficaram de pé, no banco de areia, fazendo promessas de amor eterno um para o outro, sob a mesma luz dourada. Quando a noite caía, era a vez das cigarras começarem a cantar. Os dois 90


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continuavam sentados, esperando que os morcegos começassem a dar seus vôos rasantes pela varanda e observando as lagartixas subindo pelas paredes. Imogen desejou que pudessem ficar na ilha Coconut para sempre. Adorava as cores, o cheiro das cascas de coco secas espalhadas pela praia, o vento quente que agitava as árvores e fazia tremular a superfície da laguna. E mais do que tudo, adorava estar com Tom. Adorava as noites longas e doces, as manhãs, quando ele retornava da caminhada para acordá-la com as mãos famintas, as tardes sob a sombra dos coqueiros. Ela amava cada vez que ele a tocava, cada segundo em que podia esticar a mão e descobri-lo ao seu alcance. Mas, sob o prazer que sentia em todos os momentos, espreitava a consciência de aquilo não iria durar. Imogen tentava desesperadamente esquecer que aquele tempo juntos logo acabaria, mas, bem nos momentos em que menos precisava, alguma parte firme e sensata de seu cérebro se fazia ouvir para avisar que os dias estavam passando e em pouco tempo ela teria que voltar para a Londres cinzenta do mês de março. Voltaria para as viagens apertadas no metrô, para os casacos úmidos de chuva, para os guardachuvas pingando e para as manhãs de domingo. Voltaria a ser a secretária executiva de Tom. Não haveria mais noites juntos, nem tardes preguiçosas. Não haveria mais amor. Imogen afastava o pensamento, mas o fato é que os dias passavam em uma inquietante rapidez e, de repente, já era a última noite deles na ilha Coconut. Debruçada no gradil da varanda, perto de Tom, ela observava o sol descer atrás do recife em um espetáculo de labaredas carmim. Não estou pronta, Imogen queria gritar. Não consigo encarar isso ainda! Mas ela teria que encontrar um modo de conseguir, e de reassegurar a Tom que não esquecera o que haviam combinado. Imogen girou o copo entre os dedos. — É estranho pensar que essa é a última vez que faremos isso — disse. Era a última vez que observariam juntos o sol se pôr. A última vez que se sentariam no escuro para ver os morcegos se precipitarem no ar e logo mergulharem. A última vez em que ouviriam a sinfonia dos insetos. A última vez em que fariam amor naquela cama enorme. Mas ela sabia que esse momento chegaria, Imogen lembrou a si mesma, endireitando os ombros. Não era nenhuma surpresa. Sabia o tempo todo que caminhavam para aquilo. — Amanhã, a essa hora, já estaremos de volta a Londres. — Sim — disse Tom, com a voz tensa. Ele deveria estar feliz. Ia voltar para o escritório, voltar para onde tudo era objetivo, para onde sabia onde estava. Voltaria a ter o controle de sua vida, ao contrário dali. Ali era diferente. O sol, o mar e a tranqüilidade do lugar haviam feito com que abaixasse suas defesas, e ele acabara esquecendo as lições que aprendera com tanto cuidado — guardar seus sentimentos para si, manter-se no controle. Ali, na ilha, permitirase relaxar e se perder em Imogen. Parecera tão certo naquele momento, mas agora Tom voltava a se perguntar se não teria cometido um erro terrível. 91


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Mas parecera uma idéia sensata antes. Por que passar outras duas semanas sentindo-se frustrado quando podiam chegar a um acordo, como dois adultos responsáveis por seus atos? Tudo ficaria mais fácil. Haviam definido um limite de tempo, por isso não haveria conversas embaraçosas sobre quando ou como dizer adeus. Quando as duas semanas acabassem, tudo estaria terminado. Simples assim. Mas ele não contara com a rapidez com que se acostumaria a Imogen, à risada dela, ao seu calor e à paixão inesperada e ardente que envolvera ambos. Não contara com o modo como seu corpo ansiaria pelo dela. Sempre fora tão controlado, mas agora tinha o desejo permanente de tocá-la, de acariciar o corpo dela e sentir o sabor de sol e sal em sua pele, de sentir o sorriso de Imogen contra seu pescoço. E não poderia mais fazer isso. Tom tentou se convencer de que tudo ficaria bem, de que ele teria o trabalho para distraí-lo, mas sempre que tentava se imaginar dormindo sem ter Imogen aconchegada à curva de seu braço, ou acordando de manhã cedo sem poder se virar para ela, Tom sentia um imenso desconforto e um aperto no peito. — Talvez tudo pareça diferente quando voltarmos para casa — ele falou, por fim, torcendo para que fosse verdade. — Tenho certeza de que será assim — disse Imogen, tentando parecer animada. — Está sendo maravilhoso, mas ambos sabemos que isso aqui não é a realidade. Real é voltar ao trabalho na segunda de manhã e nos inteirarmos de tudo o que aconteceu enquanto estivemos fora. Ficaremos ocupados demais para nos lembrarmos de qualquer outra coisa que não o fato de que sou sua secretária e você, meu chefe. Ela parecia tão confiante, pensou Tom... Mas por que não estaria? Afinal, haviam feito um acordo de que aquele seria um tempo fora do tempo. Ele não poderia culpar Imogen por estar lidando dessa forma com a situação. Afinal, fora ideia dele. O pôr do sol foi espetacular como sempre, mas Tom nem prestou atenção. Estava confuso e desconfortável com o modo como tudo parecia estar saindo de seu controle. Como acontecera? Quando ele começara a sentir-se daquele jeito? Fora tão fácil quando estava com Julia. Com ela, soubera exatamente onde estava e o que queria. Mas com Imogen... A verdade era que Tom nunca se sentira como naquele momento. Intelectualmente, conseguia ver que ela era o último tipo de mulher por quem deveria se apaixonar, mas a verdade era que, em algum ponto do caminho, Imogen se tornara essencial em sua vida de um modo que ele não conseguia definir. Tudo o que Tom sabia era que depois de viver com ela ali no bangalô, de rir com ela, de amá-la, a mera ideia de viver sem Imogen o deixava desolado. Se o que estava sentindo era amor, Tom não gostava nada disso. Não era o sentimento de júbilo que Imogen descrevera, e sim uma sensação de frio no estômago, como se estivesse parado à beira de um abismo. E se não fosse amor? Tom não confiava naquele novo sentimento. Era desconfortável demais, desconhecido demais. Certamente não confiava o bastante para falar qualquer coisa a respeito com Imogen. Menos de um mês atrás ele estava certo de que queria se casar com Julia. Por que Imogen deveria acreditar que mudara de ideia tão rapidamente? O próprio Tom não tinha certeza se acreditava em si mesmo. Não haviam sido bastante claros um com o outro, desde o início, de que seria apenas uma coisa temporária? Estavam tirando o melhor proveito da situação, nada mais do que isso. O que haviam descoberto juntos não era importante. Não poderia durar. 92


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Não, ele não diria nada a ela, decidiu Tom. Se deixasse escapar que estava apaixonado, acabaria embaraçando-a e, caso descobrisse que o sentimento não era verdadeiro quando voltassem para casa, acabaria magoando-a. E Tom não conseguia suportar a idéia de magoá-la. Além disso, havia a possibilidade de, se dissesse alguma coisa, Imogen dizer não. Ela poderia rejeitá-lo, e Tom não tinha certeza se conseguiria lidar com isso também. De novo, não. A verdade, ele admitiu para si mesmo, era que não ousava dizer nada. Não podia arriscar tudo o que era por causa de sentimentos a respeito dos quais não estava certo. E por isso vinha se distanciando imperceptivelmente nos últimos dois ou três dias. Convencera-se de que era melhor esperar até que estivessem de volta a Londres para ver se aqueles sentimentos tão novos e estranhos eram reais ou apenas parte daquele lugar de sonho. Imogen percebera o afastamento sutil de Tom e tirara suas próprias conclusões. Ele já estava pensando em voltar para casa, em trabalharem juntos novamente, concluíra. Será que Tom estava tentando encontrar as palavras certas para lembrá-la de que o que tinham era temporário? Então teria que tornar as coisas mais fáceis para ele. Tom provavelmente estava temendo uma conversa onde sentimentos seriam mencionados. Ela mesma também não esperava ansiosamente por isso, mas teria que ser feito. Os dois não podiam simplesmente partir e não reconhecer o que essas três semanas haviam representado, mas Imogen pretendia deixar claro que entendia perfeitamente bem que no dia seguinte tudo estaria terminado. Tom ainda precisaria encarar o fracasso de seu relacionamento com Julia quando retornasse. Estaria preocupado com isso e com o trabalho. Se confessasse o quanto estava apaixonada por ele, isso só serviria para deixá-lo extremamente constrangido. E Tom não precisava disso. Não, a melhor coisa que podia fazer por ele era voltar ao normal o mais r ápido possível. E a melhor coisa que poderia fazer por si mesma era parar de se enganar, achando que poderia haver algum futuro naquele relacionamento, e construir uma nova vida pra si mesma. A melhor coisa para ambos seria mesmo fingir que as três últimas semanas jamais haviam acontecido. Imogen apoiou o copo no parapeito da varanda, colocou um belo sorriso no rosto e virou-se para olhar direto para Tom. — Foi tudo maravilhoso — ela disse a ele. — Jamais esquecerei esse tempo que passamos juntos, Tom. Vai ser difícil me reacostumar a viajar sem todo esse luxo, mas sempre que estiver em uma praia ou vir um coqueiro, vou me lembrar de você. Sempre que fechasse os olhos ou sentisse o sol em seu rosto, ou se deitasse no escuro, ela pensaria nele. Tom olhou-a taciturno por sobre a beirada do copo. — Ainda quer sair para viajar, então? — É claro. — Imogen se esforçou para manter o sorriso animado. — Na verdade, ainda mais agora. Essa temporada aqui despertou de vez meu gosto por viagens. Ela virou-se para olhar para a laguna. Uma linha rubra marcava o horizonte no lugar onde o sol finalmente desaparecera, e a noite se aproximava. Os morcegos apareceriam em poucos minutos. 93


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— Talvez não encontre nenhum lugar tão perfeito quanto esse, mas haverá outros belos lugares — falou Imogen. Lugares sem Tom. Um silêncio pesado caiu entre eles. O coro dos insetos estava cada vez mais alto, mas o silêncio se estendia, tão eloqüente que em um determinado momento nenhum dos dois conseguiu mais suportar. E acabaram falando ao mesmo tempo. — Imogen... — Você... Ambos se detiveram, constrangidos. — Você primeiro — disse Imogen. — Eu só queria dizer... Bem, vai ser difícil falar sobre o que aconteceu aqui depois que voltarmos — falou Tom. — Por isso talvez seja melhor não falarmos, apenas fingirmos que nunca aconteceu, mas quero que saiba que sou muito grato por tudo o que fez. — Não precisa me agradecer — disse Imogen. — Eu adorei. — Mesmo? — Mesmo — ela respondeu. Então seus olhares se encontraram, Tom estendeu a mão e puxou-a para ele. — Vou sentir sua falta — confessou Tom. — Também vou sentir sua falta — sussurrou Imogen, passando os braços pelo pescoço dele. — É difícil acreditar que amanhã, a essa hora, tudo isso estará terminado. Tom inclinou a cabeça para capturar a boca de Imogen. — Mas ainda não terminou. Imogen respirou fundo quando o avião começou a descer através das nuvens cinzentas que cobriam o aeroporto de Heathrow. Pronto. Era o fim dos céus azuis, do sol cintilando, o fim do sonho. Eles haviam tido uma última noite de amor agridoce, mas naquela manhã ambos se vestiram em silêncio. Tom escolhera novamente o terno para a viagem de volta. Imogen vestia a mesma calça jeans e a blusa que usara na viagem para a ilha. Depois de todo aquele tempo usando pouco mais do que uma canga, as roupas pareciam pesadas e restritivas, e era estranho usar novamente sandálias. Quando Ali aparecera com a lancha pra levá-los de volta ao resort, Tom a ajudara a embarcar para o primeiro estágio daquela longa e inexorável viagem. Seria a última vez que ele a tocaria. Imogen sentiu-se como um caracol sendo arrancado de sua concha ao ser levada para longe da ilha, para longe do oceano morno e azul, arrastada pelos céus quando, o que ansiava com cada fibra do seu ser, era estar de volta para a sombra dos coqueiros, sentada ao lado de Tom, observando a brisa ondular a superfície tranqüila da laguna. Tom também estava sentado ao lado dela no avião, mas qualquer semelhança terminava aí. Os dois conversaram pouco durante o longo voo. O rosto dele estava t ão carrancudo quanto na viagem de ida e, sentindo que ele recuava, Imogen ergueu o queixo e recuou também. 94


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Tom não precisava temer que ela se pendurasse nele, disse ela a si mesma. Não contara a ele que o amava exatamente porque não tinha intenção, de embaraçá-lo. Afinal, aquilo não era parte do trato deles. E Tom Maddison não era o único a manter suas promessas. O avião mergulhou cada vez mais nas nuvens e o coração de Imogen pareceu afundar ainda mais no peito. E sentiu uma pontada quando viu desaparecer pela janela a última nesga de céu azul que os ligava ao Oceano Índico. Agora a luz era nebulosa. Era apenas Londres em março, cinzenta e melancólica. Então tudo passou a acontecer muito rápido. Eles foram os primeiros a sair do avião, a bagagem saiu rapidamente e logo se encaminhavam para a alfândega, antes mesmo que Imogen tivesse a chance de pensar em como se despediria de Tom, antes que conseguisse descobrir um modo de fingir que seu coração não estava se partindo em mil pedaços. Ela tentou protelar, desejando desesperadamente que o tempo de alguma maneira pudesse passar mais devagar, mas Tom já seguia adiante, ansioso, ao que parecia, para voltar à vida real. Ele parou na saída do portão de desembarque, o olhar firme varrendo a multidão até identificar seu motorista. — Lá está Larry. — Tom caminhou na direção do homem. — Ele deve estar com o carro nos esperando do lado de fora. Onde gostaria que eu a deixasse? — Na verdade — disse Imogen, hesitante, —, acho que vou pegar o metrô. Tom franziu o cenho. — Será muito mais rápido de carro a essa hora do dia. — Não é isso. — Ela forçou um sorriso. — Acho que preciso começar a voltar ao normal — tentou explicar. — Tive três semanas de um luxo maravilhoso, mas não é esse o tipo de vida que eu levo. Na próxima vez que eu estiver em um aeroporto, estarei carregando uma mochila e a passagem mais barata que conseguir comprar. A bolsa dela escorregou do ombro e Imogen ajeitou-a, procurando manter o sorriso firme no lugar. — Posso muito bem começar a me reacostumar com isso agora. Tom sentiu o pânico apertar sua garganta. Passara todo o vôo planejando como dizer adeus. Não poderia fazer isso no avião, com os comissários de bordo interrompendo-os a todo instante. Na esteira de bagagens havia pessoas demais. Acabara decidindo que o carro seria o único lugar em que teriam alguma privacidade, mas agora Imogen queria se despedir ali e, no meio daquele terminal lotado, as palavras que escolhera com tanto cuidado rapidamente desapareceram da sua memória. — Como você quiser — foi o que acabou dizendo, com a voz muito rígida. Aquela menção à viagem obviamente fora uma maneira de Imogen lembrá-lo de que tinha planos que não o incluíam. Talvez fosse melhor mesmo se despedirem ali. Só Deus sabia o que poderia acabar acontecendo caso se visse sozinho com ela no banco de trás do carro, tentando manter as mãos longe do seu corpo. -— Então... — Imogen ergueu os braços, mas logo voltou a deixá-los cair ao lado do corpo. — Acho que é isso. — Sim — disse Tom. Ele sentia a garganta doer de tão apertada. — Acho que sim. — Vejo você na segunda-feira, certo? Ele assentiu. — Tenha um bom final de semana. 95


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— Você também. Bem... Até logo, chefe. — Sem saber direito como, Imogen conseguiu alargar mais o sorriso, então se virou e saiu caminhando na direção das placas que indicavam a entrada do metrô. — Até logo, Imogen. Tom ficou parado ali, com a multidão indo e vindo ao seu redor, e observou-a partir, sentindo-se mais desamparado do que nunca se sentira na vida. Ele teve vontade de correr atrás dela, de impedi-la de entrar no metrô e de arrastá-la até o primeiro avião que os levasse de volta às ilhas Maldivas. Mas não faria isso. Imogen tinha sua própria vida, seus próprios planos, e deixara bem claro que não o incluíam. Ela ia embora, conhecer o mundo. Era isso o que queria, o que precisava fazer. Imogen era jovem, bonita, expansiva. Por que ficaria com um homem como ele — mais velho, compulsivo e confessadamente viciado em trabalho? Tom sabia que não era uma pessoa divertida. Sempre estivera ocupado demais se empenhando em ter sucesso para ter tempo de se preocupar em ser divertido. Imogen merecia alguém que soubesse valorizar sua alegria e sua capacidade de viver o momento presente. Merecia alguém melhor do que ele. E de qualquer forma, ele também estaria melhor sozinho, decidiu Tom, fazendo um esforço determinado para afastar o horrível sentimento de vazio que o oprimia. Não levava jeito para essa coisa de relacionamentos amorosos. Tentara se comprometer com Julia e veja só o que acontecera! Fracasso e humilhação. Não queria arriscar ser rejeitado novamente. Talvez sentisse um pouco a falta de Imogen quando ela se fosse, mas acabaria se acostumando com a nova secretária, e ela não o distrairia como Imogen fazia agora. Ele e Imogen não tinham nada em comum, Tom lembrou a si mesmo. Os dois eram muito diferentes. Jamais poderia dar certo. Não, pensou Tom, virando-se para ir ao encontro do motorista, era melhor que ficasse tudo como estava. Imogen ajeitou o casaco enquanto observava as portas do elevador se fecharem. O terninho parecia pesado e desconfortável e seus pés estavam apertados nos sapatos a que já se desacostumara. Fora um longo final de semana. Ela forçara um largo sorriso quando entrara no apartamento, mas Amanda não se deixara enganar nem por um minuto. — Eu sabia que isso aconteceria! Está apaixonada por ele, não está? Imogen abriu a boca para negar, mas acabou admitindo, derrotada. — Sim — disse —, estou. — Mas sua voz falhou e, apesar de toda sua determinação, seu sorriso corajoso se apagou e ela acabou demonstrando seu desespero. — Mas sei que não há a menor esperança de dar certo. Ele não me quer agora. Não demorou muito para que Amanda conseguisse arrancar a história toda. — Não acho que deva desistir tão facilmente, Imo — ela falou, quando Imogen já terminara de contar e limpava o rosto úmido com um lenço. — Me parece que se esse Tom a quer tanto quanto você o quer. — Isso foi na ilha. Ele deixou bem claro que era uma coisa temporária. Amanda fungou, incrédula. 96


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— Hmmm... Bem, na minha experiência, não é o que os homens dizem que importa, e sim o que fazem, e ele não teria dormido com você a menos que a quisesse. Uma coisa é decidirem esquecer o que aconteceu, outra muito diferente vai ser trabalharem juntos. Se você vai acabar se lembrando do que tiveram, há grandes chances de que o mesmo aconteça com ele. Seria possível?, perguntou-se Imogen. Tom também sentiria falta dela? Ou já a arquivara mentalmente como "negócio encerrado"? Imogen sabia que ele podia ser um homem sensível, mas também sabia que Tom guardava suas emoções bem trancadas, do modo como aprendera quando ainda era um garotinho e descobrira que a mãe não voltaria. Seria demais esperar que ele subitamente se permitisse sentir essas emoções, e mais, que esses sentimentos teriam a ver com ela. Afinal, não fazia muito tempo que fora magoado por Julia. Mas... Mas talvez Amanda estivesse certa e ela não devesse perder toda a esperança, Imogen permitiu-se pensar, ainda insegura. Com certeza Tom não a beijaria daquele jeito, não faria amor com ela daquela maneira, se não sentisse nada por ela! Ele nunca dissera realmente o que sentia, mas a ligação física entre eles fora real o bastante. Imogen sentia uma falta desesperada dele. Sentia falta do corpo másculo e magnífico perto do seu, do som da voz dele ecoando sobre sua pele, do sorriso que alcançava seus olhos quando ele a abraçava. Se ela pudesse ter tudo aquilo de novo, não seria o bastante?, perguntou-se Imogen, deitada sozinha e triste na cama. Se ela pudesse abraçá-lo novamente, se pudesse senti-lo novamente, aquela dor terrível talvez ficasse melhor. Tom podia não estar pronto para se apaixonar, mas talvez considerasse a idéia de continuarem o arranjo que haviam tido na ilha... A idéia surgiu na cabeça de Imogen e não saiu mais dali. E por que não poderia funcionar?, considerou. Ela não exigiria nenhum compromisso. Não esperaria que ele dissesse que a amava. Tudo o que queria era estar com ele. Não podia abrir o jogo com Tom, é claro. Ele ficaria horrorizado se ela o abordasse cheia de sentimentalismos. Antes teria que ver como ele estava naquela segunda-feira, mas se Tom houvesse sentido um décimo da saudade que ela sentira, talvez ainda houvesse alguma chance... Seu sangue já corria mais rápido nas veias só de saber que o veria assim que as portas do elevador se abrissem. Havia mais duas pessoas subindo com ela. Imogen n ão as conhecia bem, e apenas sorriu, mas logo percebeu seus olhares curiosos. Eles obviamente sabiam quem ela era. Imogen já percebera que havia muita especulação na empresa a respeito do que acontecera entre ela e Tom enquanto estiveram fora. As moças da recepção haviam lhe dado boas vindas e comentaram empolgadas sobre o bronzeado dela... E claramente não acreditaram em uma palavra quando Imogen insistira que fora apenas uma viagem de negócios. E ela sabia que havia mais por vir. Talvez devesse esperar até que todo aquele interesse arrefecesse antes de dizer qualquer coisa a Tom sobre retomarem o relacionamento que haviam tido na ilha. Não queria embaraçá-lo lançando olhares apaixonados em sua direção. Na verdade, Imogen estava determinada a deixar claro que estava cumprindo o acordo de fingirem que nada acontecera, até que tivesse alguma noção do que o próprio Tom queria. 97


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Ainda assim, seu coração batia disparado em antecipação quando acenou cumprimentando os outros, saiu do elevador e caminhou apressada pelo longo corredor que levava à sua sala. O problema é que havia pensado demais. Era melhor apenas entrar e ser ela mesma, em vez de ficar preparando o que iria dizer. N ão ficara se preparando para como agiria na ilha Coconut, por que começaria agora? Mas, depois de tanta ansiedade, acabou descobrindo que Tom não estava na sala dele. Desapontada, Imogen sentou-se em sua mesa e girou lentamente a cadeira. Era estranho estar de volta. A ilha ainda parecia muito real, e tudo aquilo diante dela apenas um sonho levemente incômodo. Ela checou o relógio. Aquela hora, na semana anterior, eles estavam mergulhando. Imogen teve uma lembrança muito vivida de Tom ao seu lado, erguendo a máscara, sacudindo a água do cabelo e sorrindo para ela. A luz do sol refletida na água destacava a força das feições dele, e os cílios muito negros em contraste surpreendente com os olhos cinza-prata. A lembrança foi uma pontada dolorosa e Imogen girou novamente a cadeira, ajeitou-a diante da mesa e ligou o computador. Precisava se distrair. Sua caixa de mensagens estava lotada. Já fazia um bom tempo desde que checara seu e-mail pela última vez na ilha Coconut, desde que Tom empurrara o próprio laptop para o lado e sugerira que era melhor irem nadar. Imogen ainda podia sentir o frescor delicioso da água da laguna enquanto afundavam... Mas não deveria estar acalentando essas lembranças. Ela se recompôs, culpada, fulminou a tela do computador e forçou-se a se concentrar. Estava tão empenhada em organizar as mensagens que nem percebeu que Tom chegara e a observava da porta. Fora o final de semana mais longo da vida dele, que passara os dias no apartamento sem vida tentando descobrir o que parecia tão diferente. Quando descobriu, foi como se levasse um choque. Sentia-se solitário. Tom ficou furioso consigo mesmo. Nunca se sentira solitário. Ao contrário, sempre se sentira mais à vontade sozinho... E agora se acostumara com a presença de Imogen. Sentia falta da doçura dela, de seu entusiasmo e, sem ela, sentia-se frio e vazio. Ele disse a si mesmo que precisava apenas de uns dois dias para se ajustar. E achou que havia conseguido, até ver Imogen e sentir-se literalmente rasgado ao meio, como se um punho enorme dentro dele torcesse suas entranhas. Absorvida nos e-mails, ela parecia tão composta, tão diferente, como se nunca houvesse gargalhado sob o sol, nunca houvesse rolado sobre ele e deixado o cabelo cair sobre seu peito, como se nunca o houvesse provocado com beijos travessos. Como se nunca houvesse ficado de pé naquele banco de areia, prometendo amálo para sempre. O terninho, o cabelo preso para trás, o ar de eficiência, tudo isso passava uma mensagem muito clara. Imogen estava cumprindo o acordo que haviam feito. Estava fingindo que as últimas semanas jamais haviam acontecido e que ela era apenas sua secretária, novamente. Tom sabia que deveria se sentir agradecido. Imogen estava tornando as coisas mais fáceis para ele. Aquela era a chance de recuar e decidir como realmente se sentia, mas a única coisa que tinha vontade era de ir até a mesa dela, erguê-la em seus braços e beijá-la do modo como realmente queria fazer. Mas isso seria uma loucura, é claro. Seria um modo absurdo, precipitado, 98


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arriscado de conduzir as coisas. Significaria que ele perdera de vez o controle. E controle era só o que Tom tinha para se agarrar naquele momento. Então, no fim, tudo o que ele fez foi desejar a ela um bom dia, de uma distância segura, na porta. O coração de Imogen saltou no peito e Tom ficou mais reconfortado ao ver o ardor que cintilou por um instante em seus olhos. Mas ela disfarçou sua reação tão rapidamente que ele acabou se perguntando se a imaginara apenas porque era o que queria ver. — Bom dia — respondeu Imogen, um tanto contida. — Teve um bom final de semana? A frieza polida dela fez com que Tom sentisse o coração congelar. Que bom que não a agarra e beijara. — Sim, obrigado — ele falou, com igual polidez, e igual frieza. Agora não havia por que confessar a Imogen que passara o tempo todo sentindo falta dela. — E você? — Bem, obrigada — mentiu Imogen. Houve uma pausa constrangida. — Chegou cedo — disse Tom, por fim. — Eu queria adiantar as coisas — ela falou. — Há muito a ser feito.

CAPÍTULO DEZ

As lembranças da ilha pareciam gritar naquela sala, mas não seria Imogen a primeira a mencioná-las. Afinal, o que diria? Oh, lembra-se de como ficamos deitados na praia, olhando as estrelas? Lembra-se de como demos as mãos e sentimos que a Terra girava ao redor de nós? Lembra-se de como fizemos amor ali mesmo e tivemos que tomar um banho para limpar toda a areia antes de irmos para cama? Então, só o que Imogen fez foi sorrir friamente, sem sequer encontrar os olhos de Tom, e estender uma pasta para ele. — Esses são os recados mais urgentes. Intimidado pela compostura dela, Tom pegou a pasta, mas não a abriu. — Você ainda tem a chave do apartamento de Julia? — ele perguntou, abruptamente. — Devo ter. — Imogen procurou em sua gaveta. Havia usado a chave quando devolvera os presentes de casamento antes de partirem para a ilha Coconut. — Sim, aqui está — ela falou, pegando a chave e forçando-se a afastar a mente da ilha. Era uma tolice precisar de tão pouco para que as lembranças voltassem á assolá-la. — Precisa dela? — Estava pensando se você poderia resolver uma coisa para mim — disse Tom, e ela conseguiu forçar um sorriso. — É para isso que estou aqui. — Falei com Julia no final de semana — ele contou. — Parece que Patrick vai 99


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trabalhar em algum lugar exótico na América do Sul, e ela vai com ele. Não consigo imaginá-la agüentando um lugar assim — admitiu —, mas Julia parece determinada a começar uma vida nova. "Ela não teve tempo de voltar a Londres e retirar as coisas do apartamento antes de partir", continuou Tom, "e os corretores precisam que o lugar esteja vazio para que possam colocá-lo para alugar novamente. Julia levou apenas uma bolsa pequena quando partiu com Patrick e, embora ainda não houvesse trazido para cá todas as coisas dela, ainda restam algumas roupas e outras coisas lá. Ela disse que não quer nada do que ficou para trás", concluiu Tom, "e perguntou se eu cuidaria de tudo que está lá. Pode ser mandado para a caridade, ou para o lixo." O coração de Imogen doeu ao perceber o distanciamento de Tom. Ela sabia que devia ter sido difícil para ele falar com Julia. Ele lhe dissera que não amara Julia, e Imogen acreditava, mas ela também sabia o quanto a rejeição da ex-noiva ferira seu orgulho masculino. Se para ela estava sendo difícil retornar à vida normal, para Tom devia estar sendo ainda mais, pois ele voltara para um apartamento vazio e para a lembrança de que a vida perfeita que planejara levar com Julia acabara não acontecendo... — Gostaria que eu cuidasse disso para você? — perguntou Imogen, antecipando o pedido dele. — Obrigado — disse Tom. A formalidade dele partiu o coração de Imogen, mas ela manteve o sorriso no lugar. — Irei até lá assim que puder. Na verdade, só na quinta-feira depois do trabalho é que ela teve tempo para ir até o apartamento sofisticado que Julia alugara em Chelsea. Haviam sido longos quatro dias, e Imogen estava exausta pelo esforço de manter o sorriso no rosto e de se desviar das perguntas não muito sutis dos colegas, que estavam loucos para saber mais sobre o tempo que passara com Tom. E tudo ficava ainda mais difícil porque ela estava louca para não pensar a respeito. Tanto ela quanto Tom haviam sido muito cuidadosos em evitar referências à ilha Coconut. Como seria de esperar, a atmosfera no escritório era tensa, mas Imogen achava que eles estavam levando as coisas razoavelmente bem até que um dos acionistas aparecera para ver Tom mais cedo, naquela tarde. Quando a reunião acabou, Tom o acompanhara até a sala de Imogen e o ajudara a vestir o casaco, enquanto o homem continuava a reclamar sobre medidas de proteção ambiental. — Esse mundo vai mal — resmungou o acionista. — A próxima coisa que vamos ver são moscas e lesmas sendo protegidas por leis ambientais. No ano passado, morcegos fizeram ninho em nosso telhado e não permitiram que nos livrássemos deles! É um absurdo! — ele continuou. — Morcegos, estou lhe dizendo! Coisinhas horrorosas... Já viu um? Os olhos de Tom encontraram os de Imogen por sobre o ombro do homem. — Sim, já — foi tudo o que ele disse, mas era como se ambos houvessem sido transportados de volta para a varanda da ilha Coconut, para o calor tropical e para os morcegos, que arremetiam e mergulhavam no ar. Imogen quase podia sentir a cadeira sob as coxas, o cheiro das flores chegando até suas narinas na escuridão, quase podia ouvir os insetos zumbindo. Ela sabia que Tom também estava se lembrando. Podia ver isso nos olhos prateados quando o olhar dele prendeu o seu e, de repente, parecia haver apenas os dois 100


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ali, presos pela lembrança daquelas noites longas e doces. — Bem, é melhor eu ir — estava dizendo o acionista, enquanto enfiava as mãos nos bolsos para pegar as luvas. — Foi bom vê-lo de novo, Tom. Oh, a propósito, queria lhe dizer que senti muito quando soube daquele negócio em fevereiro — ele acrescentou, desajeitado. — Negócio? — Tom soou distraído. — Seu casamento... uma lástima. — O homem obviamente estava constrangido por se ver obrigado a ser mais específico. — Oh, aquilo... Sim... Obrigado. Imogen estava pensando naquela troca de olhares enquanto destrancava a porta e entrava no apartamento de Mia. Tom não dissera nada quando voltara, depois de acompanhar o acionista até o elevador, mas ela sabia que alguma coisa mudara depois que seus olhos se encontraram, e se agarrou a essa esperança. No fim das contas, talvez não precisasse se desesperar. Enquanto vagava de cômodo em cômodo no belo apartamento de Julia, Imogen se permitiu sonhar. Talvez entrasse no escritório no dia seguinte e, quando estivesse falando sobre algum assunto de trabalho, Tom jogasse a pasta que tinha nas mãos sobre a mesa e lhe dissesse que não estava mais agüentando aquilo. Ele a puxaria para seus braços e diria que ela era a única coisa que realmente queria. Então, imploraria para que se casasse com ele e para que vivesse para sempre ao seu lado. Mesmo se Tom não dissesse que a amava, já seria o bastante, decidiu Imogen. Um homem como ele não conseguiria assumir os próprios sentimentos tão rapidamente, mas houvera química entre eles, e naquele dia ficara claro que ainda havia. Eles podiam partir daí. Ela poderia ensiná-lo a amar. Não se importaria, desde que estivessem juntos. Os dois poderiam morar em um apartamento como aquele. Imogen adorava aquele apartamento. Tinha muito espaço, muita luz, e uma vista incrível para o Tâmisa. Ela não pôde deixar de compará-lo com o apartamentinho que dividia com Amanda. Não havia nada de errado com ele, mas era muito pequeno e um tanto dilapidado. Elas se divertiam lá, é claro, mas o apartamento em que estava agora era o tipo de lugar onde se morava quando se era adulta, tinha uma carreira de sucesso e estava prestes a se casar com um homem como Tom. Ainda sonhadora, Imogen abriu a porta do guarda-roupa, no quarto. Julia não passara muito tempo em Londres, mas ainda assim trouxera lindas roupas. Imogen assoviou baixinho quando viu as etiquetas. Amanda ficaria louca de inveja. Aquele lote de roupas conseguiria levantar um bom dinheiro para alguma instituição de caridade de sorte. Ainda fantasiando sobre como seria viver ali com Tom, Imogen dobrou as roupas com cuidado e colocou-as sobre a cama, prontas para serem guardadas em caixas e coletadas. Teria que arrumar o vestido de noiva de Julia separadamente. Ele estava pendurado atrás da porta, protegido por uma bela capa, e era grande demais para caber em qualquer uma das caixas. Imogen não pôde resistir a dar uma olhada nele. Então, abriu o zíper da capa protetora e deixou escapar um suspiro de puro deleite. Era maravilhoso! Seus dedos acariciaram com muita delicadeza o tecido cor de marfim, e ela ficou impressionada com os detalhes delicados do bordado. Julia havia lhe mandado um esboço do vestido, mas Imogen não imaginara o quanto ficaria lindo depois de pronto. Era o vestido de casamento com que qualquer garota sonharia, um vestido que a faria parecer uma princesa — linda e 101


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incrivelmente romântica. Imogen tirou o vestido do cabide e segurou-o contra o corpo, imaginando como seria usá-lo em seu próprio casamento. Ela se viu percorrendo a nave da igreja de braços dados com o pai, na igrejinha da cidade onde nascera. Ele estaria quase explodindo de orgulho, enquanto a mãe assoava o nariz em um lenço e os irmãos reviravam os olhos, brincalhões, apesar de também estarem muito felizes por ela. Amanda também estaria lá, pronta para se adiantar e pegar o buquê assim que surgisse a oportunidade. Imogen quase podia sentir o chão de pedra sob seus pés e o cheiro que era uma mistura do mofo das almofadas para ajoelhar, dos livros de hinos e dos assentos de madeira, gastos e lisos por gerações de fiéis. Em sua mente, ela caminhou até o altar e lá estava Tom, espetacular em um terno sóbrio, apropriado para o dia. Por um instante, Imogen se perguntaria se aquilo era mesmo verdade, mas então as feições rígidas se suavizariam quando ele a visse se aproximar e sorriria para ela, os olhos prateados cintilando de amor... Foi com dificuldade que Imogen se forçou a abandonar o sonho enquanto acariciava mais uma vez o vestido, melancólica. Como seria usar um vestido como aquele? Descubra. A idéia se infiltrou sorrateira em sua mente e se instalou. Afinal, por que não tentar? O vestido não era dela... Mas Julia não o queria. Que mal haveria, apenas para ver como ficaria vestida de noiva? Imogen hesitou, então se decidiu. Despiu-se rapidamente e voltou a examinar o vestido, usando apenas a calcinha e o sutiã. Ela abriu o zíper com cuidado, enfiou as pernas pela saia e levantou o corpinho diante do espelho. A sensação da seda pesada contra a pele foi deliciosa. Sorrindo para seu reflexo, Imogen levou a mão ao zíper lateral... E o sonho rapidamente se esfacelou diante da realidade. Não haveria jeito daquele zíper subir com ela dentro do vestido. Imogen viu seu sorriso se apagar no espelho e uma onda de humilhação tingiu suas faces e deixou sua garganta apertada. Era como se houvesse uma multidão apontando para ela e rindo. O que estava pensando? Sabia o quanto Julia era esguia e elegante. Ela devia usar pelo menos uns três números a mais do que a ex-noiva de Tom. Era óbvio que não caberia no vestido de Julia. Assim como era óbvio que não caberia na vida de Julia. Por que era isso o que queria de verdade, percebeu Imogen, devastada. Queria ser esguia e sofisticada, linda e inteligente, o tipo de mulher com quem Tom realmente iria querer compartilhar sua vida. Mas não era nenhuma dessas coisas. Precisava encarar a realidade. E a realidade era que Tom Maddison não fazia parte do seu universo. Ele jamais iria amá-la. E estaria fazendo papel de tola caso se permitisse acreditar que poderia ser diferente. E Imogen precisava ser amada. Aquele fora o sonho, ela compreendeu naquele momento. Não o casamento, ou o vestido. Mas sim o momento em que olhara para Tom e acreditara que ele a amava. 102


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Bem, isso não iria acontecer, e ela precisava aceitar a realidade. Não importava o quanto dissesse a si mesma sobre química, sabia que não seria o bastante. Uma fantasia, fora assim que Tom chamara o que haviam tido. Bem, talvez houvesse sido, mas Imogen sabia que não seria nada mais. Não estou preparada para me contentar com menos do que o que for perfeito para mim, fora o que dissera a ele, e estava certa. Pensara que poderia ceder, mas não conseguiria. Sentindo-se infeliz, Imogen saiu de dentro do vestido e colocou-o de volta no cabide, antes de arrumá-lo sobre a pilha que seria destinada à caridade. Alguém conseguiria uma bela pechincha. Mas não seria ela. — Por enquanto é só. — Imogen fechou o bloco e levantou-se. — Oh, uma última coisa... — Ela pegou um pedaço de papel na pasta e passou-o para Tom, do outro lado da mesa. — Imaginei que você gostaria de ver a descrição de cargo que preparei. — Descrição de cargo? — Para sua nova secretária executiva. Tom sentiu como se houvessem lhe acertado uma bofetada. — Você está indo embora? — Eu lhe disse que planejava viajar. — Mas não disse que seria em junho? — As palavras saíram com dificuldade e Tom precisou se forçar a pegar a folha de papel. — Adiantei um pouco meus planos — falou Imogen. — Consegui encontrar uma excelente promoção para um voo para a Austrália que parte daqui a um mês. Um mês? Tom sentiu um frio no estômago. Ela obviamente mal podia esperar para partir. Ele olhou para o papel com a descrição de emprego, mas as palavras pareciam dançar diante de seus olhos. Sabia que deveria estar esperando por aquilo. Imogen havia lhe dito bem claramente que queria viajar. Agora se sentia um tolo por ter se permitido ter esperança de que ela acabasse mudando de idéia. Fora uma estupidez de sua parte sequer pensar que poderia tentar arrumar uma maneira de fazer com que as coisas voltassem a ser como eram na ilha. Quisera ser cuidadoso, pois sabia que era um erro tentar apressar qualquer coisa. Além de ter aprendido uma lição com a pressa de Julia para se casar, Tom precisava ter certeza do que sentia. Imogen não era como nenhuma outra namorada que tivera. Ela não se encaixava em sua vida, como Julia se encaixara. Era perturbadora, e o distraía. Imogen o jogara no caos, obrigando-o a questionar tudo o que sempre pensara que queria. Ele não gostava do modo como isso o deixava sentindo-se inquieto e fora de controle. Uma parte dele tivera esperança de que aquele sentimento passaria. Não queria magoar Imogen dizendo que a queria e logo depois percebendo que não era verdade. Tom sabia como era ser enganado, e não iria fazer com Imogen o que Julia fizera com ele. Mas ao que parecia fora melhor mesmo não ter dito nada, concluiu Tom. Imogen obviamente vinha fazendo outros planos, e seria embaraçoso para ela ter que encontrar 103


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uma maneira de dizer não a ele. Pelo menos ele se poupara da humilhação de ter seus sentimentos jogados de volta na sua cara. Assim, não se arriscara a se expor apenas para ser abandonado de novo. No fim, provavelmente fora melhor desse jeito. — Parece ótimo — ele disse, devolvendo o papel para Imogen, sem na verdade ter lido sequer uma palavra. — Passe a descrição para o departamento de recursos humanos e diga a eles que é urgente. Quero alguém contratado antes que você vá embora. Imogen deu uma última olhada em sua sala. Não, não era dela. Sempre fora apenas temporária, como tudo o mais em sua vida. Tivera um emprego temporário, um relacionamento temporário na ilha e estava saindo para uma viagem temporária. Ela jurou que, quando voltasse, iria assentar e construir alguma coisa permanente. Mas a única coisa permanente que queria era Tom. O último mês fora horrível. Oh, ela não demonstrara nada! Colocara um sorriso permanente no rosto e fingira que estava ansiosa pela viagem. Dissera a si mesma que assim que chegasse à Austrália, tudo seria diferente, mas já havia se dito a mesma coisa depois da ilha Coconut, não? Imogen não acreditava de verdade que fosse se sentir diferente ao longo da viagem. Sabia que o amor que sentia por Tom não tornava as coisas mais fáceis. As lembranças da ilha continuavam tão vividas em sua mente quanto no dia seguinte em que voltaram de lá. Ela não suportava a idéia de deixá-lo, mas também não suportava a idéia de ficar. Era melhor encarar a realidade. Seria fácil demais desperdiçar sua vida esperando pelo impossível. De que adiantava ansiar por um homem que não sabia amar? Ela podia amar Tom, mas ele jamais a faria feliz. Imogen sabia que precisava se apaixonar por alguém que retribuísse seu amor, que necessitasse dela da mesma forma que ela precisaria dele, e esse alguém não era Tom. Durante o último mês ele estivera distante e a maior parte da conversa entre eles se limitara a assuntos de trabalho, embora de vez em quando ele perguntasse sobre seus planos, como que para deixar claro que estava muito satisfeito com a partida dela. Tom escolhera uma nova secretária, uma mulher fria e eficiente chamada Judy, com excelentes qualificações e muita experiência, que o atenderia perfeitamente. Com certeza, Tom não sentiria a menor falta dela. Encarar a realidade doía. — Vamos, Imogen, estamos todos esperando por você — instou-a Sue, do departamento de recursos humanos, da porta. — Não pode chegar tarde em sua festa de despedida. — Nunca tive uma festa de despedida quando deixava meus empregos temporários antes — disse Imogen, enquanto elas caminhavam para uma das salas de reunião. — Fiquei apenas poucos meses aqui. — Parece que foi mais tempo — disse Sue. — Vamos todos sentir sua falta. Espere até ver quanta gente a espera! Imogen sentiu a garganta apertada quando viu quantas pessoas haviam aparecido para se despedir e lhe desejar uma boa viagem. Ela sorriu, emocionada. — Parem de ser tão gentis! Vão fazer com que me arrependa de estar partindo. — Oh, sim, é claro que você iria preferir ficar aqui conosco do que ir para a 104


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Austrália! As pessoas a invejavam, sem maldade, por suas viagens. Imogen abriu um grande sorriso e concordou que tinha mesmo muita sorte, mas durante todo o tempo estava muito consciente da ausência de Tom. Ele tivera que sair para uma reunião, mas havia dito que voltaria a tempo para sua festa de despedida. Imogen temia o momento de se despedir dele, mas talvez fosse melhor que isso acontecesse na frente de todos. Com outras pessoas presentes ela teria menos possibilidade de fazer papel de tola. — Onde está o chefe? — resmungou Neville, do departamento financeiro. — Não podemos começar a festa antes que ele faça o discurso. — Não podemos começar a festa até que ele vá embora — disse outra pessoa. — O chefe não é exatamente uma pessoa divertida, certo? Imogen teve vontade de dizer a eles que não sabiam como era Tom de verdade, mas já havia interesse demais em seu relacionamento com o chefe. E estava plenamente consciente de que havia alguma esperança entre os presentes de que o discurso dele pudesse alimentar mais alguma fofoca. — Ele agora está aqui — ela ouviu alguém dizer, e virou-se para ver Tom na porta, a expressão severa, muito forte e belo. O coração de Imogen saltou no peito a mera visão dele. Como Tom conseguia fazer isso? Bastava ficar ali, parado, para que ela perdesse o ar e sentisse o desejo rasgá-la por dentro. Seus olhos se encontraram por um longo e tenso momento. Então, Tom desviou o olhar e inclinou a cabeça para ouvir alguma coisa que o diretor de recursos humanos estava dizendo. Ele assentiu e caminhou até uma plataforma na frente da sala. Imogen foi instada a se adiantar também. Ela sabia o que esperar. Já estivera em algumas festas de despedida. Haveria um discurso constrangido, algum dos presentes faria uma piadinha e lhe entregariam algum presente simbólico. Então seria sua vez de fazer um discurso. Bem, não havia nada mais a fazer se não esperar que tudo terminasse o mais rápido possível. Mas e se Tom fosse embora assim que os discursos terminassem? Ela não teria a chance de se despedir direito dele, percebeu Imogen, sentindo uma onda de pânico súbita. Afinal, não queria se despedir na frente de todo mundo. Queria dizer a Tom o que ele significara para ela, mas como faria isso com um monte de gente olhando? Eu te amo não era o tipo de coisa que se dizia com uma platéia assistindo. Alguém bateu em um copo para chamar atenção e a sala ficou em silêncio, enquanto Imogen tentava febrilmente encontrar um modo de dizer a Tom como se sentia. De repente, tornou-se muito importante poder fazer isso. Como sequer pensara que poderia partir sem dizer nada? Ela mal ouviu o diretor de recursos humanos apresentar Tom, mas viu quando ele deu um passo adiante e pigarreou. Tom parecia muito desconfortável, como se preferisse estar em qualquer outro lugar que não ali. E Imogen não o culpava por isso. Ele olhou para o mar de rostos voltados para ele, em expectativa. Estavam todos esperando que fizesse a homenagem habitual: sempre com um sorriso no rosto... Sentiremos muito a sua falta... Desejamos tudo de bom em suas viagens, blá-blá-blá... Tom já tinha tudo preparado, mas quando abriu a boca percebeu que não poderia dizer nada disso. Não poderia repetir um discursozinho insípido para Imogen. Não poderia fingir que ela era como qualquer outra pessoa se seu coração gritava a verdade. — Vocês estão todos aqui porque, mesmo Imogen não tendo trabalhado conosco 105


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por muito tempo, tornou-se parte da empresa — ele começou, lentamente. — Ela tem sido uma boa colega para vocês, e estou certo de que vão sentir sua falta, mas não vão sentir saudades dela como eu sentirei. Quando Imogen sair por aquela porta essa noite será como se uma luz em minha vida estivesse se apagando. Houve um súbito silêncio fascinado na sala enquanto todos se perguntavam se não haviam ouvido mal. — A questão é que me acostumei com o sorriso de Imogen, com o modo como ela solta o ar com força quando está irritada. — Tom mal podia acreditar no que estava falando, mas as palavras continuaram a sair. — Vou sentir saudades do jeito que ela ri ao telefone, do perfume que sempre usa. Sentirei falta do modo como meu coração para sempre que ela entra na sala, e como o dia parece mais brilhante e melhor quando ela está ali. A sala de reunião estava agora no mais completo silêncio, mas Tom já esquecera todo mundo. Sua atenção estava fixa em Imogen, que fora empurrada para a frente e agora o encarava, os olhos muito arregalados. Agora que começara, parecia tão fácil, percebeu ele. Só o que precisava fazer era dizer a ela tudo o que vinha queimando-o por dentro desde que haviam voltado da ilha Coconut. — Sinto muito se a estou embaraçando — Tom falou diretamente para Imogen. — Se lhe servir de consolo, sei que estou fazendo um enorme papel de tolo também, mas não poderia simplesmente deixá-la ir embora sem lhe dizer como me sinto. Tentei não precisar de você. Disse a mim mesmo que logo me acostumaria a ficar sem você depois que partisse, mas agora é tarde demais para mim. Se você não estiver aqui, vou me sentir péssimo, nada parecerá completamente certo, e quando olho para o que a minha vida será sem você, não vejo sucesso, vejo apenas um deserto árido e vazio que terei que arrumar um jeito de atravessar. Imogen ainda o encarava como se não acreditasse no que ouvia. Tom não a culpava por isso. Ele nunca se arriscara antes, nunca se sentira à mercê de forças além do seu controle, como se sentia agora. Estava apavorado. — Eu amo você — ele falou, sem tirar os olhos dela. — Pronto, falei! Não queria me apaixonar por você, não acreditava nem que conseguiria me apaixonar, e venho tentando me convencer de que o que vivemos na ilha Coconut foi apenas uma coisa temporária. Disse a mim mesmo que esse sentimento passaria, mas, Imogen, não acho que vai passar — Tom acrescentou, agora com a voz mais tranqüila. — Acho que vou passar o resto da minha vida sentindo sua falta, sentindo falta do jeito que faz com que eu me sinta. "Eu não ia dizer nada", ele continuou, depois de um instante. "Achei que seria constrangedor, embaraçoso, para nós dois... E realmente está sendo!" disse, com um sorriso triste. "Mas você me disse uma vez que precisamos estar preparados para fracassar, e acho que é isso o que estou fazendo agora. Não queria que partisse sem saber o que fez por mim. Você mudou minha vida. Não compreendi o que queria dizer quando me falou que estava procurando alguém que a completasse, mas agora entendo. Você me fez perceber que não tenho sua animação, sua risada sempre pronta, e que sem isso, sem você, nunca serei inteiro." Tom hesitou, perguntando-se se estava fazendo algum sentido. — Achava que estava confortável, antes. Achava que sabia exatamente o que queria e o que precisava fazer, mas a verdade é que ter conhecido você foi a única coisa que fez minha vida valer a pena. Para seu horror, ele viu lágrimas brilhando nos olhos de Imogen. 106


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— Não precisa se preocupar — apressou-se a dizer. — Não estou esperando que diga nada. Sei que tem planos, e espero que sua viagem seja maravilhosa. Voc ê merece ser feliz. Eu só queria... só queria agradecer — concluiu Tom. — Por tudo o que você foi, e por tudo o que fez. Nunca a esquecerei. Houve outro silêncio ensurdecedor. Ninguém se moveu. Todos estavam claramente esperando para ver se ele planejava se humilhar um pouco mais. Imogen abriu a boca, mas logo voltou a fechá-la, incapaz de dizer qualquer coisa. — Enfim — disse Tom, animado demais. — Acho que temos um presente para você. — Ele pegou o pacote na mesa e continuou segurando-o, sem saber direito o que fazer. Tom tinha a sensação que acabara de pular da beira de um penhasco e ainda se preparava para o fim da queda. Era um pouco tarde para perceber que não tinha a menor idéia de como sairia daquela situação. Mas Imogen finalmente conseguiu se mexer. Ela subiu na plataforma e toda a sala pareceu prender a respiração. — Não quero um presente — falou Imogen, com clareza, finalmente reencontrando a própria voz. — Você acaba de me dar tudo o que sempre quis, tudo de que sempre precisei. Metade das mulheres na sala suspirou. Aquilo era mesmo um sorriso se insinuando nos cantos da boca de Imogen? A esperança fez com que o coração de Tom disparasse ainda mais rápido no peito quando ele se virou para olhar bem dentro daqueles olhos tão azuis. O diretor de recursos humanos pigarreou. — Acho que talvez o sr. Maddison preferisse se despedir de Imogen sozinho — ele falou com firmeza. — O resto de nós pode continuar a festa no pub. Relutantes, as pessoas começaram a deixar a sala, olhando por cima dos ombros para a cena na outra ponta da sala, onde Tom e Imogen se encaravam, aparentemente esquecidos da sala que se esvaziava. Mesmo depois que a porta se fechou, quando a última pessoa saiu, cortando o barulho dos cochichos do lado de fora, nenhum dos dois se mexeu por mais alguns instantes. — Me desculpe — disse Tom. — Foi muito embaraçoso? — Muito — disse Imogen, com a voz trêmula. — E muito lindo. Ela chegou mais perto, pegou o presente de suas mãos nervosas e colocou-o cuidadosamente sobre a mesa. — Você planejou dizer tudo isso esta noite? — perguntou Imogen. Tom negou com a cabeça. — Eu já tinha todo o discurso clássico preparado, mas quando ia começar percebi que não conseguiria falar aquilo. Não poderia me despedir de você daquele jeito. Aliás, não posso me despedir de você. — Então não se despeça. — Imogen finalmente cobriu a distância que ainda os separava. Ela passou os braços ao redor do pescoço dele e pressionou o rosto contra a pele quente. — Não me diga adeus, Tom. Acho que não suportaria. Tom abraçou-a instintivamente e apertou o corpo dela com força contra o seu, 107


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sentindo o perfume de Imogen, saboreando o calor e a maciez da pele dela, e sentindo a cabeça leve de alívio por poder abraçá-la de novo. — Imogen... Isso significa que você vai ficar? — Ficarei, se você me quiser. — Querer você? — Tom deu uma risadinha. — Imogen, você não tem idéia do quanto eu a quero! Estou tão apaixonado que não sei o que fazer de mim mesmo. Você virou a minha vida de cabeça para baixo, e agora é a única que pode colocá-la nos trilhos novamente. — Mas eu sou tão comum — protestou Imogen, afastando-se um pouco para levantar os olhos para ele. — Você não é comum — disse Tom. — É linda, calorosa, amorosa e honesta. Está pensando em Julia? — É claro. Você tem que admitir que somos bem diferentes, e ela era muito mais adequada para você. — Adequada, talvez — disse Tom —, mas ela não é você, e não me fazia sentir vivo como você me faz. Julia não me fazia o tipo de homem que corre riscos loucos como o que corri esta noite, e quando eu estava com ela não me sentia como se aquele fosse o único lugar em que queria estar, como acontece quando estou com você. Ele puxou-a de novo para junto de seu corpo e passou as mãos por sua nuca, para segurar a cabeça dela. — E se formos pensar por esse caminho, você acha que não sei que eu não sou adequado para você? Meu maior desejo era ser o homem que você realmente quer. — Mas você é. — Imogen pressionou os dedos contra a boca dele. — Tom, você é — ela repetiu. — Você disse que não estava preparada para se contentar com menos do que o que fosse perfeito para você — ele relembrou-a. — Eu não sou perfeito. — Não, você não é. Aliás, é bem difícil, às vezes — falou Imogen, suavizando as palavras com um sorriso —, mas amo você assim mesmo. E também não sou perfeita, mas quando estamos juntos... O jeito como faz que eu me sinta... Isso é perfeito. Um sorriso começou a iluminar os olhos prateados e se espalhou lentamente por todo o rosto de Tom. — Eu faço você se sentir como um golfinho? — ele perguntou, meio de brincadeira, meio esperançoso. Imogen lembrou-se dos golfinhos saltando no mar, sob o sol, e sorriu de volta. — É exatamente assim que me sinto quando estou com você! Tom beijou-a então, um beijo longo, intenso, voraz, que a deixou sem ar, e muito, muito feliz. Quando ele se afastou para recuperar o fôlego, Imogen puxou-o de volta e foi sua vez de beijá-lo, enquanto sentia a mais pura alegria tomar conta de seu corpo. Ela nunca soube quando tempo eles ficaram se beijando, ou em que momento haviam se movido, mas quando recuperou o fôlego, viu que Tom estava apoiado na mesa, segurando-a entre suas pernas. Suspirando de felicidade, Imogen apoiou a cabeça no ombro dele e sentiu as mãos de Tom subirem e descerem, possessivamente, por suas costas. — Se me amava, por que ia partir? — ele perguntou. 108


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— Por que estava com medo de que, se ficasse, acabaria cedendo. Você tinha tanta certeza de que nunca se apaixonaria que eu me vi passando anos à espera de que o impossível acontecesse. — Como você fez com Andrew? Ela assentiu contra o ombro dele. — Disse a mim mesma que precisava encarar a realidade, e acho que não conseguiria fazer isso se tivesse que ver você todo dia. Pensei que seria mais fácil ir para a Austrália, onde não havia lembranças. Mas, então, você aparece ali, diante de todas aquelas pessoas, e me diz que ama... Achei que meu coração ia sair pela boca! Ainda não consigo acreditar que isso não é um sonho. — Se é, estamos os dois nele — disse Tom, beijando-a com gentileza. — Agora ambos temos que encarar a realidade de que amamos um ao outro. Imogen se aconchegou mais a ele. — Está aí uma realidade que não me importo de encarar! — Então vamos fazer isso juntos. — Tom apoiou o queixo nos cabelos dela. — Lembra-se da cerimônia no banco de areia? Como se ela pudesse esquecer! — Foi ali que percebi pela primeira vez que o amava — disse Imogen, adorando a sensação de estar abraçada ao corpo firme, sólido, dele. A sensação de estar segura. De estar sendo cuidada. — Eu disse de coração cada uma daquelas palavras naquele dia, e sou como você, mantenho as minhas promessas. — Fico feliz por ouvir isso — disse Tom. — Então não acha que devemos tornar aquilo legal e nos casarmos adequadamente? Os olhos de Imogen cintilavam quando ela ergueu a cabeça e sorriu para ele. — Sim, vamos fazer isso — respondeu, e o calor que viu na expressão de Tom quando ele sorriu mais ainda para ela fez seu coração vibrar. — E onde você gostaria de passar sua lua de mel? — ele perguntou. Imogen riu, lembrando-se que eleja lhe fizera aquela pergunta uma vez, em um dia úmido de janeiro. — Nós já tivemos uma lua de mel! — Então teremos outra — disse o antigo viciado em trabalho. — Vou cuidar de tudo. Acontece que conheço o lugar perfeito... O velho estava esperando por eles no banco de areia, exatamente como antes. O céu ainda dourado começava a se tingir de vermelho. Tom pegou a mão de Imogen e eles caminharam pela areia na direção do homem. Haviam se casado na semana anterior, na igrejinha da cidade onde Imogen crescera. Fora um casamento tradicional e um dia muito feliz, cercados pela família e pelos amigos, mas a cerimônia no banco de areia era apenas para eles dois. Haviam se passado seis meses desde que estiveram na ilha Coconut, mas a laguna estava linda como sempre. Eles passavam os dias do mesmo jeito que haviam passado antes e, de noite, sentavam-se na varanda e observavam os morcegos chegarem depois que o sol se punha. Foi tudo exatamente igual — a não ser pelo fato de que dessa vez Tom era marido dela, não seu chefe. Imogen não sabia que era possível se sentir tão feliz. 109


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Amara seu casamento, mas bem no fundo sentia que ela e Tom só seriam realmente marido e mulher depois que essa cerimônia no banco de areia fosse realizada de novo. Imogen usava seu vestido de casamento, que parecera elegante e fresco na igrejinha de sua cidade natal na Inglaterra, mas que na verdade escolhera pensando naquele lugar. Ali ela estava descalça e a brisa do mar fazia o chiffon ondular ao redor de suas pernas, enquanto ela entrelaçava os dedos aos de Tom e entrava no círculo com ele. Dessa vez, não houve hesitação, nem constrangimento. Dessa vez era real. Se o velho achou estranho que os dois resolvessem renovar seus votos com tanta rapidez, não demonstrou. Seguiu com a cerimônia com a mesma dignidade tranqüila e, dessa vez, cada palavra parecia ressoar por todo o corpo de Imogen. — Amem um ao outro, sejam honestos um com o outro, encontrem a paz um no outro — ele concluiu. — E a alegria também, sempre. Tom e Imogen sorriram e se aproximaram mais ainda para o beijo. — Nós prometemos — disseram, juntos.

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Jessica Hart - Cenário de Sedução (Special 41)

PRÓXIMO LANÇAMENTO

AMOR SOBERANO Nicola Marsh — Por quanto tempo ficará hospedada no hotel? — Apenas por alguns dias. A conferência termina no domingo, após minha apresentação, mas ficarei por mais um dia. Ouvi dizer que eles têm um excelente spa, e pensei que relaxar um pouco seria uma boa idéia. E você? Não que se importasse. Sam devia ser o tipo de homem que se detinha pouco tempo em cada lugar, focado apenas em seus negócios. Era óbvio. Se fosse diferente, estaria falando sem parar — geralmente sobre si mesmo — para tentar impressioná-la ou a pressionando para sair com ele. Em vez disso, fizera-lhe a cortesia de se manter em silêncio pela maior parte do percurso. — Ficarei hoje e amanhã. Surpresa e ligeiramente preocupada com a pontada de decepção ao ouvir aquelas palavras, Bria disse: — É isso que chamo de uma visita a jato. Sam deu de ombros, chamando-lhe atenção para a largura daquela parte de sua anatomia. — Faz parte do meu trabalho. Estou acostumado. Bria concordou com um gesto de cabeça. Ela compreendia perfeitamente. Sua agenda incluía viagens constantes a várias partes do globo terrestre. Havia até mesmo desenvolvido um meio de driblar o ajuste ao fuso horário para poder lidar com aquele estilo de vida. Percebeu que Sam estava com ótima aparência para quem passara um dia inteiro em um avião. Era óbvio que ele também descobrira sua fórmula mágica para ajustar seu relógio biológico às mudanças constantes de horário. — Tem planos para esta noite? Bria negou com um gesto de cabeça, sonhando com aquele banho que ansiava desde o aeroporto. — Nesse caso, eu me sentiria honrado se aceitasse jantar comigo. — A negativa instantânea quase escapou pelos lábios de Bria. Nos últimos tempos, ela nunca jantava, flertava ou fazia qualquer coisa, além de se focar no trabalho. Jantar com Sam, não importava o quanto pudesse ser agradável, estava fora de questão. No entanto, quanto mais ele a encarava com aqueles olhos atraentes, mais a determinação de Bria vacilava. Não havia nada de in-sinuante no convite de Sam, apenas um pedido educado de alguém que fizera o favor de dividir o táxi com ela. Por que não deveria aceitar? Tinha de jantar, certo? Além disso, sentia certa afinidade com Sam, tão ocupado que raramente dispunha de tempo para conversar, 111


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quanto mais jantar com alguém. — Ouvi dizer que o Joseph's Restaurant tem um chef renomado. Será excelente poder experimentar a comida de lá. Além disso, adoraria saber mais sobre sua apresentação. Estou curioso. Pode me dar algumas idéias de como incrementar meu próprio negócio. — Nesse caso, como posso recusar? Bria sorriu, surpresa ao perceber o brilho de satisfação nos olhos castanho-escuros dele. Sam não aparentava ser presunçoso, furtivo ou possuir qualquer um dos defeitos que ela costumava procurar nos homens que a convidavam para sair. Em vez disso, parecia genuinamente satisfeito por ela ter aceitado seu convite e, de repente, Bria se viu ansiosa para que a noite chegasse. Se havia um assunto que ela discutia com facilidade era sua profissão e por que não dar algumas idéias a Sam? Devia-lhe o favor pela carona no táxi. Aquele seria mais um dos incontáveis jantares de negócios que tivera com estranhos, que acabaram por se tornar clientes. Sem pressões. Sem expectativas. Do modo que a agradava. Satisfeita com a forma como racionalizara sua aceitação ao convite de Sam, recostou-se no banco do táxi e observou o carro parar em frente ao belo hotel. — Farei as reservas. Às 20h está bom para você? — Ótimo — respondeu Bria. Uma parte dela reconhecia que nunca ansiara por jantar com outros clientes como agora queria com aquele enigmático estranho.

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