Um Romance Na Grécia
The Demetrios Virgin Julia 1183
Penny Jordan
Como contar a verdade? Andreas Latimer precisava de uma noiva para apresentar ao avô...e escolheu Saskia Rodgers. Afinal, quem melhor do que ela para representar a pequena farsa? Saskia sabia que seu novo chefe pensava que ela era uma mulher fácil e conquistadora... Mas estava completamente equivocado! Agora, os dois partilhariam um quarto Projeto Revisoras
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na vila da família dele, numa ilha paradisíaca na Grécia... Partilhariam a mesma cama... E Saskia não sabia como revelar a verdade a Andreas... Que ela era virgem!
Disponibilização do Livro: Valeria Digitalização: Joyce Revisão: Cynthia
Série Magnatas Gregos (Greek Tycoons) Autor
Título
Ebooks
Data
Constantine's Revenge
(01) - Sabrina EEF 038 - Planos De Sedução
Jan-2000
Jacqueline Baird
Husband On Trust
(02) - ?????
Feb-2000
Lynne Graham
Expectant Bride
(03) - Julia 1084 - Noiva Misteriosa
Mar-2000
Lynne Graham
The Cozakis Bride
(04) - BD 740.1 - Passado Que Condena
May-2000
Michelle Reid
The Tycoon's Bride
(05) - Rede De Mentiras
May-2000
Anne Mather
The Millionaire's Virgin
(06) - Julia 1100 - Outra Vez a Paixão
Jun-2000
Penny Jordan
The Demetrios Virgin
(07) - Julia 1183 - Romance na Grécia
Apr-2001
Jacqueline Baird
Marriage At His Convenience
(08) - BD 775 - Paixão Inesquecível
Aug-2001
Sara Wood
The Kyriakis Baby
(09) - Sab.1261 - Outra Vez o Amor
Nov-2001
Helen Brooks
The Greek Tycoon's Bride
(10) - Sab.1243 Fama de Irresistível
Jun-2002
Jacqueline Baird
The Greek Tycoon's Revenge
(11) - Dívida Saldada
Aug-2002
Anne Mather
His Virgin Mistress
(12) - Terríveis Suspeitas (PtPt)
Feb-2003
Kate Walker
Julia James
The Greek Tycoon's Mistress (13) - Sab.1301 - O Poder de Um Sedutor Jun-2003
Lynne Graham
The Contaxis Baby
(14) - Dormindo com o Inimigo
Jul-2003
Cathy Williams
Constantinou's Mistress
(15) - Furacão Do Desejo (PtPt)
Aug-2003
Sharon Kendrick
The Greek's Secret Passion
(16) - Px 02 - Um Amor Secreto
Sep-2003
Projeto Revisoras
2
Autor
Título
Ebooks
Data
Lucy Monroe
The Greek Tycoon's Ultimatum
(17) - Julia 1271 - Chantagem De Amor
Oct-2003
Kim Lawrence
The Greek Tycoon's Wife
(18) - Px 06 - O Magnata Grego
Nov-2003
Cathy Williams
The Greek Tycoon's Secret Child
(19) - Js 012 - Ironias Do Amor
Feb-2004
Julia James
The Greek's Virgin Bride
(20) - Js 07 - A Prometida
Mar-2004
Penny Jordan
The Mistress Purchase
(21) - Px 020 - Procura-se Uma Amante
Apr-2004
Lynne Graham
The Stephanides Pregnancy
(22) - Paixão No Egeu
May-2004
Sara Craven
His Forbidden Bride
(23) - ?????
Jun-2004
Sara Wood
The Greek Millionaire's Marriage
(24) - Js 010 - O Casamento Ideal
Jul-2004
Sarah Morgan
The Greek's Blackmailed Wife
(25) - A Esposa Chantageada (ARE)
Sep-2004
Jacqueline Baird
The Greek Tycoon's LoveChild
(26) - ??????
Oct-2004
Trish Morey
The Greek Boss's Demand
(27) - O Amante Grego (PRT)
Jan-2005
Lynne Graham
The Greek Tycoon's Convenient Mistress
(28) - A Amante Do Grego
Feb-2005
Susan Stephens
The Greek's Seven-Day Seduction
(29) - ??????
Mar-2005
Lucy Monroe
The Greek's Innocent Virgin
(30) - Js 072 - Falsa Ilusão
May-2005
Kim Lawrence
Pregnant By The Greek Tycoon
(31) - Js 071.2 - Sopro De Vida
Jul-2005
Julia James
The Greek's Ultimate Revenge
(32) - ?????
Oct-2005
Jacqueline Baird
Bought By The Greek Tycoon
(33) - Px 034 - Destinos Entrelaçados
Jan-2006
Julia James
Baby of Shame
(34) - Px 036 - Até o Fim
Feb-2006
Melanie Milburne
The Greek's Bridal Bargain
(35) - ??????
May-2006
Cathy Williams
At The Greek Tycoon's Bidding
Kate Walker
The Antonakos Marriage
(37) - Js 64.2 - Promessa Do Coração
Aug-2006
Melanie Milburne
The Greek's Convenient Wife
(38) - ??????
Sep-2006
Lynne Graham
Reluctant Mistress,
(39) - Px 063 - Chantagem Do Desejo
Nov-2006
Projeto Revisoras
(36) - Js 064.1 - Pura Sedução ou À Mercê Jul-2006 Do Grego (PtPt)
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Autor
Título
Ebooks
Data
Blackmailed Wife Cathy Williams
At the Greek Tycoon's Pleasure
(40) - Js 058 - Bel-Prazer
Dec-2006
Trish Morey
The Greek's Virgin
(41) - Js 93.2 - Loucos De Paixão
Jan-2007
Anne McAllister
The Santorini Bride
(42) - Amor Mediterráneo (Espanhol)
Feb-2007
Jane Porter
At The Greek Boss's Bidding
(43) - Js 088.2 - Tentadora Paixão
Apr-2007
Chantelle Shaw
The Greek Boss's Bride
(44) - Noites No Mar
May-2007
Natalie Rivers
The Kristallis Baby
(45) - Amor Em Corfu
Jun-2007
Julia James
Bought For The Greek's Bed
(46) - Js 070 - Esposa De Ocasião (Comprada Por Um Grego)
Jul-2007
Lynne Graham
The Petrakos Bride
(47) - Px 073 - Amor Sem Fim
Aug-2007
Helen Bianchin
The Greek Tycoon's Virgin Wife
(48) - PX 101.1 - Escolha Perfeita
Oct-2007
Kate Walker
The Greek Tycoon's Unwilling (49) - Para Lá Do Esquecimento (PtPt) Wife
Nov-2007
Anne Mather
The Greek Tycoon's Pregnant Wife
(50) - Fruto Do Amor
Dec-2007
Susan Stephens
Bought: One Island, One Bride
(51) - Px 092 - Sedução e Vingança
Feb-2008
Kate Hewitt
The Greek Tycoon's Convenient Bride
(52) - Px 188 - A União Do Desejo
Apr-2008
Michelle Reid
The Markonos Bride
(53) - Px 105 - Renascer Do Amor
May-2008
Sarah Morgan
Bought: The Greek's Innocent Virgin
(54) - Js 103.2 - Sedução Implacável
Aug-2008
Abby Green
The Kouros Marriage Revenge
(55) - Px 177 - Negócios e Prazer
Sep-2008
Kate Walker
Bedded By The Greek Billionaire
(56) - Px 153 - Somente Você ou Dueto 03.1 - Inocência
Nov-2008
Anne McAllister
Antonides' Forbidden Wife
(57) - Js 109.2 - Doce Regresso
Jan-2009
Lucy Gordon
The Greek Tycoon's Achilles Heel
(58) - Js 137.1 - Ponto fraco
2010
Catherine George
Projeto Revisoras
The Power Of The Legendary (59) - Dueto 19.2 - O Poder Do Desejo Greek
2010
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Autor
Título
Ebooks
Data
Kate Walker
The Good Greek Wife?
(60) - Js 141 - O Retorno
2010
Robyn Donald
Powerful Greek, Housekeeper Wife
(61) - Js 146.1 - Olhos De Sereia
2010
Trish Morey
His Mistress For A Million
(62) - Px 166 - Ao Bel-Prazer
2010
CAPÍTULO I Quatro e quarenta e cinco... ― Atrasada, Saskia Rodgers saiu rápido do elevador e se lançou apressada pelo saguão do hotel rumo à saída. — Saindo cedo... Que bom! — comentou a recepcionista, ao vê-la. Aguardando para tomar o elevador, Andreas Latimer impressionou-se com a morena alta de cabelos castanho-avermelhados iluminado por mechas douradas que sequer o vira. Franziu o cenho, recordando que a última coisa de que precisava era um relacionamento, uma complicação em sua vida. No entanto... Desde que convencera o avô a retirar-se do controle da rede de hotéis da família, vira-se alvo de uma campanha ferrenha para desposar uma prima em segundo grau. Além de unir dois ramos dos Latimer, o enlace tornaria ainda mais vultosa a fortuna da família, com a integração da companhia de navegação herdada pela prima. Felizmente, o velho avô deixava-se levar pelas emoções mais do que gostava de admitir. Afinal, permitira que sua filha, mãe de Andreas, se casasse com um britânico. Sendo assim, as tentativas desajeitadas do velho de promover uma união entre o neto e a Projeto Revisoras
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bela Athena só causariam divertimento, não fosse por um detalhe... Athena mostrava-se mais ansiosa com a perspectiva do casamento do que o patriarca dos Latimer. Ela já deixara suas intenções, seus desejos, bem claros. Sete anos mais velha, com duas filhas de sua primeira união com um grego milionário, era bem possível que fosse a autora da idéia de desposar o primo mais novo, em primeiro lugar. O elevador parou e Andreas saltou na cobertura do edifício em Hilford, no interior da Inglaterra. Não era hora de pensar em assuntos pessoais. Podiam esperar. Estava a caminho da ilha particular dos Latimer no mar Egeu, onde a família toda se reuniria em poucos dias para usufruir um período de férias reunida, mas antes o avô queria um relatório detalhado com propostas de mudanças para adequar a rede de hotéis britânica que haviam acabado de adquirir. Embora Andreas fosse o presidente da companhia, o avô ainda opinava nas decisões maiores. A recente aquisição fora vantajosa... a rede de hotéis britânica estava envelhecida e decadente, mas tinha ótimas localizações. Embora não fosse esperado no escritório senão no dia seguinte, Andreas optara por chegar naquela tarde e, sem querer, descobrira um jeito de aumentar a lucratividade, em se comprovando que todos os colaboradores tinham o hábito de "encerrar mais cedo" o expediente, como a moça com que deparara junto às portas do elevador... Saindo cedo! Saskia bufava de indignação ao tomar um táxi. Como se fosse o caso! Chegara às sete e meia da manhã, como fizera durante o mês todo, e não saíra para almoçar, sabendo que a cadeia de Hotéis Demétrios, que comprara a pequena rede britânica em que trabalhava como contadora, era exigente na questão de corte de gastos. No dia seguinte, conheceriam o novo presidente, e Saskia estremecia só em pensar. Ouvira dizer que Andreas Latimer era implacável. O velho, avô de Andreas, comanda o navio com rédea curta, mas diziam que o neto era ainda mais severo Ambos assinavam em baixo da máxima: "o cliente sempre tem razão, mesmo quando está errado", e ai do funcionário que contrariasse. Aparentemente, tal política explicava o sucesso. dos Hotéis Demétrios... e sua lucratividade. O táxi parou diante do restaurante italiano, Saskia pagou ao motorista e saltou. ― Oh, Saskia... aí está você! ― exclamou uma das amigas que já a aguardavam à mesa. ― Pensamos que não conseguiria. ― Desculpem-me. ― Após cumprimentar todas, Saskia ocupou o lugar que lhe reservaram. ― O pessoal do escritório está em pânico ― explicou. ― O novo presidente da empresa chega amanhã. ― Desgostosa, franziu o nariz requintado e estreitou os olhos esverdeados, reparando que Megan não ouvia de fato. ― O que foi? ― Eu contava a Lorraine o quanto estou preocupada... ― respondeu Megan, referindo-se à prima mais velha. ― Preocupada? ― Saskia franziu o cenho, afastou os cabelos do rosto e pegou um pãozinho. Estava faminta! ― Com o quê? ― Com Mark. ― Mark? ― Saskia deixou o pãozinho no prato e fitou os olhos castanhos da amiga. ― Pensei que iam anunciar o noivado. ― Sim, íamos... vamos... Pelo menos, Mark quer... ― Megan acha que ele está envolvido com outra ― informou a prima Lorraine, impaciente. ― Que ele a está traindo! Cerca de dez anos mais velha do que Megan e Saskia e com um casamento desfeito no currículo, Lorraine tendia a avaliar os homens com reserva. ― Oh, não pode ser, Megan! ― protestou Saskia. ― Você mesma me disse o quanto Mark a ama. ― Bem, era o que eu pensava ― concordou Megan. ― Principalmente depois que ele disse que queria se casar. Mas... ele fica recebendo uns telefonemas. Quando sou eu quem atende, a pessoa desliga. Foram três vezes nesta semana, já questionei, mas Mark diz que devia ser engano. Projeto Revisoras
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― Bem, talvez seja. ― Saskia tentou confortar a amiga, mas Megan meneou a cabeça. ― Não, não é. ― Mark não sai de perto do telefone. Na noite passada, falava ao celular quando cheguei, e encerrou a conversa abruptamente. ― Mas você perguntou o que estava acontecendo? ― Perguntei. Ele disse que tenho muita imaginação. ― Uma artimanha masculina clássica ― opinou Lorraine, convencida. ― Meu "ex" fez de tudo para me convencer de que eu estava ficando paranóica, e no que foi que deu? Ele se mudou para a casa da secretária! ― Só gostaria que Mark fosse honesto comigo ― choramingou Megan. ― Se ele tem outra pessoa... Não posso acreditar que esteja fazendo isso... Tinha certeza de que ele me amava... ― Ele a ama ― afirmou Saskia para. Ainda não conhecia Mark, mas, pelo que Megan lhe contara, pareciam perfeitos um para o outro. ― Bem, há um modo de descobrir ― anunciou Lorraine. ― Li um artigo sobre isso. Se você desconfia da fidelidade do companheiro, contrate uma agência especializada, e eles mandarão uma garota seduzi-lo. Assim, vai saber. ― Oh, não... não posso fazer isso! ― protestou Megan. ― Mas precisa ― insistiu Lorraine. ― É o único modo de descobrir se pode ou não confiar em Mark. Eu gostaria de ter feito algo assim antes de me casar. Você tem de fazer! É a única forma de ter certeza. Mark está se esforçando para fechar as contas desde que abriu o próprio negócio, Megan, e você tem o dinheiro que herdou da sua tia-avó... Saskia suspirou, desolada. Sabia que Megan acabaria dominada pela prima mais vivida. Não tinha nada contra Lorraine, até gostava dela, mas sabia que ela podia ser tenaz quando metia algo na cabeça. Talvez a obstinação fora um dos motivos do fracasso de seu casamento. Por ora, apesar de compadecida ante a infelicidade de Megan, uma outra sensação se impunha: a fome. Abriu o menu. ― Bem, parece uma idéia sensata - Megan já cedia à persuasão da prima. ― Mas duvido de que haja uma agencia dessas em Hilford. — E quem precisa de agência? — questionou Lorraine. — Basta pedir um favor a uma amiga bonita, que Mark não conheça, e que possa tentar seduzi-lo. Se ele cair na armadilha... — Uma amiga bonita? Quer dizer... como Saskia? As duas analisaram Saskia, que sucumbira à fome e devorava um pãozinho. — Exatamente — aprovou Lorraine. — Saskia seria perfeita. — O quê? — Saskia quase engasgou. — Não podem estar falando a sério! — protestou. — Oh, não, de jeito nenhum... — Resistiu, mesmo vendo a determinação no olhar de Lorraine e a súplica no de Megan. — De jeito nenhum. — Meg, isso é loucura, deve perceber isso! — argumentou, tentando apelar ao bom senso e à consciência da amiga: — Como pode fazer isso com Mark? Você o ama! — Como ela pode se arriscar a um compromisso sem saber se pode confiar nele? — ponderou Lorraine, crítica. — Bem, está decidido. Agora, só precisamos definir onde Saskia vai deparar "acidentalmente" com Mark, para colocarmos nosso plano em ação. — Bem, esta noite ele está livre — informou Megan. — Ontem, ele disse que queria ir a um bar de executivos recém-inaugurado. Um amigo dele conhece o proprietário. — Não posso fazer isso! — protestava Saskia. — É... é... é imoral — opinou. Fitou Megan e meneou a cabeça. — Meg, desculpe-me, mas... — Pensei que quisesse ajudar Megan, Saskia, que quisesse proteger sua felicidade. Principalmente após tudo o que ela fez por você... — instigou Lorraine, severa. Saskia mordiscou o lábio inferior com seus belos dentes alvos. Lorraine tinha razão. Devia um grande favor a Megan. Seis meses antes, quando trabalhavam a todo o vapor para organizar a documentação para a anexação da empresa ao Grupo Demétrios, fizera muito serão no escritório, inclusive nos Projeto Revisoras
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finais de semana. Na mesma época, sua avó, que a criara após o fracasso do casamento dos pais, adoecera com uma infecção virai e Megan, que era enfermeira, dedicara todo seu tempo livre e fins de semana para cuidar da anciã. Saskia estremeceu ao pensar no que poderia ter acontecido com sua avó sem os cuidados de Megan. Sim, devia um favor à amiga, um que talvez nunca conseguisse pagar. Adorava a avó, que lhe provera um lar estável e cheio de amor quando mais precisara. A mãe, que a dera à luz aos dezessete anos, era uma figura distante em sua vida, e o pai, filho daquela avó adorada, tornara-se um estranho às duas, ora vivendo na China com a segunda esposa e sua nova família. — Sei que não aprova, Saskia, mas tenho de saber se posso confiar em Mark. — Megan tinha os olhos marejados. — Ele significa tanto para mim. Mark é tudo o que sempre quis em um homem. Mas... ele saía com tantas garotas antes de me conhecer, antes de se mudar para cá, quando morava em Londres... Ele jura que nenhuma delas significou nada e que me ama, mas... Saskia não tinha certeza se poderia começar a pensar em assumir um relacionamento com alguém em quem não confiasse... sem necessidade de usar nenhum método escuso para testar sua fidelidade. Mas reconhecia que era muito mais cautelosa no amor do que Megan. Afinal, seus pais acreditavam estar apaixonados quando fugiram para se casar e a conceberam, mas, após dois anos, separaram-se, abandonando o fruto daquele grande amor para ser criado pela avó! Sua avó, de quem Megan cuidara com todo o carinho! Ao fitar o rosto transtornado de Meg, soube que não tinha opção, a não ser concordar em fazer parte do esquema louco de Lorraine. — Está bem — concordou, desconsolada. — Eu faço. Dispensando os agradecimentos efusivos do Megan, partiu para questões práticas: — Terá de me descrever Mark, Megan, ou não serei capaz de reconhecê-lo. — Oh, não terá a menor dificuldade... - afirmou Megan, com um suspiro. — Será o homem mais bonito lá. Mark é maravilhoso, Saskia... lindo, elegante, tem cabelos pretos e a boca mais sexy... Oh, e ele vai estar, de camisa azul... para combinar com os olhos. Ele sempre usa camisa azul. Eu comprei para ele. — A que horas ele vai estar lá? — indagou Saskia, prática, disfarçando a contrariedade. — Meu carro está na garagem e, como a casa de vovó fica longe do centro... — Não se preocupe com isso. Eu a levarei lá — prontificou-se Lorraine, para surpresa de Saskia. A prima de Megan não era conhecida pela generosidade! — Sim, e Lorraine vai pegá-la depois, e levá-la para casa. Não vai, Lorraine? — insistiu Megan, agora entusiasmada com a resolução. — Não há ponto de táxi perto do bar, e não queremos que Saskia se arrisque. Um garçom se aproximou para anotar o pedido, mas Lorraine o dispensou. — Não vamos tomar lanche nenhum. Saskia tem de ir para casa se aprontar. A que horas Mark irá ao bar, Megan? — Às oito e meia, mais ou menos, acho. — Ótimo, então, você precisa chegar lá às nove, Saskia — concluiu Lorraine. — Passo para pegar você em casa às oito e meia. Duas horas depois, sozinha em casa, Saskia ouviu a campainha e desceu a escada para atender. A avó fora passar algumas semanas com a irmã, em Bath. Nervosa, alisou a saia do conjunto preto e foi abrir a porta. Lorraine estava sozinha. Haviam concordado em que seria arriscado Megan ir junto e ser reconhecida. — Terá de trocar de roupa — decretou Lorraine, seca. — Você parece muito profissional e inatingível com esse conjunto. Mark tem de pensar que é uma garota fácil... lembra-se? E acho que devia usar outro batom... vermelho, talvez, e mais sombra nos olhos. Ouça, se não acredita em mim, leia isto. — Quase encostou em seu nariz uma revista aberta. Projeto Revisoras
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Relutante, Saskia correu o olhar pela reportagem e franziu o cenho ao entender os extremos a que chegavam as agentes especializadas em testar a fidelidade dos homens. — Não posso fazer isto — concluiu, revoltada. — E quanto à roupa... Lorraine entrou na sala e fechou a porta. — Você tem de fazer... por Megan. Não vê o perigo que ela corre? Está enfeitiçada por esse homem. Ela o conhece há quatro meses e já fala em partilhar com ele toda a sua herança... em se casar com ele... ter filhos com ele. Sabe quanto a tia-avó deixou para ela? Saskia fez que não. Sabia o quanto Megan ficara surpresa e chocada ao saber que era a única beneficiária no testamento da tia, mas educadamente não perguntara qual a quantia envolvida. Lorraine não teve o mesmo escrúpulo. — Megan herdou três milhões de dólares! — Esperou Saskia se recuperar e prosseguiu na argumentação: — Agora você entende por que é tão importante protegê-la? Tentei alertá-la inúmeras vezes quanto a Mark não ser o que aparenta, mas ela não me ouve. Agora, felizmente, ela começa a desconfiar do pilantra. Saskia, você tem de fazer tudo a seu alcance para provar o quanto ele é indigno. Imagine como ela vai ficar, se ele não apenas despedaçar seu coração, mas ainda lhe roubar todo o dinheiro. Ela vai ficar sem nada! Saskia sabia o que era passar dificuldade. A avó dispunha só de uma pequena aposentadoria, e ela, desde adolescente, sempre se esforçara para contribuir para a manutenção da casa. A idéia de perder a independência financeira e o senso de segurança que o salário lhe dava era incômoda e assustadora. As revelações de Lorraine só lhe deram coragem, como insuflaram um ímpeto no sentido de proteger a amiga Megan de um possível aproveitador. Megan, a querida e crente Megan, que ainda trabalhava como enfermeira, apesar da herança, merecia encontrar um homem, um companheiro, realmente digno.E se esse Mark não era... Bem, nesse caso, seria melhor a amiga descobrir logo, antes que fosse tarde demais. — Talvez, se tirar a jaqueta — analisou Lorraine. — Você deve ter algum tipo de bustiê sexy para usar... ou até... — Bustiê, sim — concordou Saskia. — Sexy... não! Reprimiu um suspiro. Era inútil tentar explicar a uma mulher como Lorraine que a natureza, ao ser generosa com sua figura, dava-lhe também um problema adicional. Já sabia, por experiência, que não precisava usar roupas sexies para chamar a atenção dos homens. E, na maioria dos casos, eles não ficavam com vontade só de olhar! — Você deve ter uma blusinha de malha fina... que poderia usar... bem desabotoada... — insistia Lorraine. — Uma blusinha? Sim, tenho uma blusinha — concordou Saskia. Comprara uma quando, por economia, desligaram os aquecedores no escritório. Mas usá-la desabotoada... — E batom vermelho — insistiu Lorraine. — E mais sombra nos olhos. E terá de deixar claro para ele que o acha bonito... — Deu de ombros quando Saskia estreitou o olhar. — É por Megan. Eram quase nove horas quando partiram para o bar em Hilford, depois que Lorraine aplicou em Saskia uma maquiagem muito mais carregada do que ela normalmente usava. Inquieta, Saskia recusara-se a ver no espelho. Tanto batom! Sentia os lábios grudentos e mal continha o impulso de remover aquele excesso. Quanto à blusinha desabotoada que usava por baixo da jaqueta... bem, assim que entrasse no bar e estivesse longe das vistas de Lorraine, abotoaria os três últimos botões. De fato, não revelava mais do que a fenda entre os seios, mas já excedia em muito o que Saskia normalmente permitia. — Chegamos! — anunciou Lorraine, estacionando diante do estabelecimento. — Passo às onze... isso deve lhe dar tempo suficiente. Lembre-se... fazemos isso por Megan. Nós? Mas Saskia não pôde dizer nada, expulsa do automóvel. Lorraine se afastou dirigindo. Logo, um homem que vinha da direção oposta parou para lhe lançar um olhar de Projeto Revisoras
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admiração. Automaticamente, Saskia endireitou os ombros e entrou no bar. Lorraine dera uma longa lista de instruções, e Saskia abominara a maioria dos itens, sentindo a coragem se esvair. Não sabia fazer caras e bocas, flertando de forma sedutora, como Lorraine descrevera. Mas, se não fizesse isso, a pobre Megan acabaria com o coração despedaçado e sem herança! Respirando fundo, empurrou a porta do bar de executivos. CAPÍTULO II Sentado ao balcão, Andreas viu Saskia no instante em que ela entrou no bar, que somente agora começava a encher. Podia ter jantado em casa, ou no escritório... ou mesmo num dos hotéis da rede que acabara de adquirir, mas já atendera a dois telefonemas longos que preferia não ter recebido. Um do avô, o outro de Athena. Por isso, decidira ir a um lugar em que ninguém pudesse encontrá-lo, tomando o cuidado de desligar o celular. Não estava de muito bom humor, pois não apreciava ambientes como aquele. Preferia saborear as refeições em ambiente confortável, onde se podia conversar e pensar com tranqüilidade, o traço grego nele optando por uma atmosfera familiar, em detrimento daqueles terrenos em que se "garimpava" companhia do sexo oposto. Cerrou os dentes ao pensar no sexo oposto. Athena se mostrava cada dia mais desavergonhada nas tentativas de convencê-lo a desposá-la. Tinha quinze anos ao constatar o quanto a prima podia ser agressiva na sedução, isso aos vinte e dois anos e de casamento marcado com outro! Franziu o cenho ao ver Saskia junto à porta, estudando o ambiente, como se procurasse alguém. Quando ela voltou o rosto, a luz incidiu em seus lábios muito vermelhos. Andreas prendeu a respiração, lutando contra a reação involuntária. Onde estava com a cabeça? Era tão evidente a intenção da mulher, com aquele excesso de carmim, que devia causar riso, não... desejo nem luxúria. Sentiu-se desgosto consigo mesmo. Reconhecia a moça, claro. Era a funcionária que vira à tarde no saguão do hotel, de quem a recepcionista se despedira comentando que encerrava o expediente mais cedo. A diferença era que, naquele momento, ela usava um mínimo de maquiagem, enquanto que agora... Reparou de novo nos lábios em cor viva, nos olhos maquiados. Ela usava saia curta... bem curta, observou. Acompanhou o movimento das longas pernas em meias de seda negra. Que saia curta! Saskia incomodava-se com o cós da saia enrolado várias vezes na cintura. Assim que encontrasse Mark, iria ao toalete para devolver a saia ao comprimento normal. Fora Lorraine quem insistira em deixá-la tão curta. Bem que protestara: — Não posso sair assim! — Não seja ridícula — desdenhara Lorraine. — Isso não é nada. Nunca viu fotos dos anos sessenta? — Era moda na época — ponderara Saskia, ainda relutante, mas Lorraine insistira e acabara se resignando. Assim que ficasse por conta própria, colocaria a saia do jeito que quisesse. A blusinha meio aberta também incomodava, tanto que, inconscientemente, manuseava o primeiro dos botões soltos. Andreas estreitou o olhar, crítico. Céus, mas ela era tão óbvia, chamando a atenção aos seios daquele jeito... E que seios! Percebeu que cerrava os dentes e, pior, que era incapaz de desviar o olhar da bela figura de Saskia... Sentindo-se observada, Saskia voltou-se e congelou ao ver Andreas. Por um segundo, ficou totalmente confusa, tal o efeito da masculinidade do homem. Sentiu o coração disparar, a boca seca, o corpo... Transtornada, lutou contra as sensações que experimentava... as quais não devia sentir. Pois aquele era o Mark de Megan... tinha de ser. Não devia sentir aquela atração, advertiu a si mesma, em pânico. Não por aquele homem, o noivo de sua melhor amiga! Projeto Revisoras
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Nenhum outro naquele bar sequer se aproximava da descrição que Megan lhe dera. Mesmo assim, repassou mentalmente as características: bonito, maravilhoso, lindo, elegante, sexy... Oh, estaria usando uma camisa azul, para combinar com os olhos. Bem, não era possível determinar a cor dos olhos dele sob a iluminação fraca e daquela distância, mas Megan não exagerara. Então, aquele era Mark! Não era de admirar ela estar preocupada e ansiosa com a possibilidade de ele ser infiel... Um homem bonito assim devia ter pencas de mulheres à disposição. Engraçado, mas Megan não mencionara a característica mais marcante do noivo, que não era a bela aparência, mas o profundo ar de autoridade, que beirava a arrogância. Era o que a mantinha paralisada, mais a indisfarçada desaprovação nos olhos dele. Aquele olhar... Como ele se atrevia a julgá-la daquela maneira? De repente, sentiu desaparecerem todas as dúvidas quanto a lançar mão do ardil para ajudar a melhor amiga. Lorraine tinha razão em desconfiar das motivações daquele homem, principalmente tratando-se de uma moça ingênua, gentil e inexperiente como Megan. Ele não inspirava um pingo de confiança. Megan precisava de alguém que apreciasse sua gentileza e a tratasse de acordo. Já aquele homem no bar exalava falta de escrúpulo, frieza, e por isso mesmo atraía, impunha uma compulsão física. Não conseguia deixar de olhá-lo, mas só porque antipatizava com ele, assegurou a si mesma. Controlando o frio no estômago, Saskia respirou fundo e recordou as dicas de sedução que lera na reportagem que Lorraine lhe mostrara. Ficara horrorizada ao saber dos extremos a que as agentes chegavam para seduzir e levar a presa a se trair. Era praticamente impossível um homem de verdade resistir à tentação que uma daquelas moças determinadas representava, a começar por jogos de palavras, terminando em oferta explícita de sexo... com o detalhe de que não passavam de oferta. Um homem como aquele, entretanto, devia estar acostumado a mulheres... mulheres bonitas... atirando-se a seus pés. — Ele saiu com tantas garotas antes de me conhecer — comentara Megan, inocente. Saskia não duvidava disso, agora. Megan era bonita, mas não possuía o tipo de glamour instantâneo que um homem como aquele devia apreciar. Se bem que essa podia ser a razão de ele a escolher para esposa: o fato de ela ser tímida e caseira. Desde que a amasse... Bem, cabia-lhe provar... ou reprovar... Com um brilho de guerra no olhar, foi ao encontro do homem. Andreas observou a aproximação com um misto de curiosidade e desapontamento. Ela ia abordá-lo. Ignorava os olhares dos outros homens, numa atitude tão premeditada quanto a deixar abertos alguns botões da blusa. Ah, ele conhecia bem o tipo. Fora escolado pela prima Athena... — Oh, desculpe-me! — exclamou Saskia, ao tropeçar "acidentalmente" e cair em cima de Andreas. Endireitou-se rápido, porém permaneceu próxima. Ele logo sentiu seu cheiro... não o perfume, que era leve e floral, mas seu cheiro natural... suave, adocicado, sensual. Como um idiota, sorveu a essência, inebriando-se... permitindo que o corpo reagisse a ela. Instruída por Lorraine quanto à aproximação, Saskia recordou cada etapa. Andreas recuou um passo, aumentando a distância entre eles, mas o bar estava cheio e foi impossível se afastar mais. Como a mulher continuava insinuante, questionou: — Perdão, mas... eu a conheço? Com a voz fria e a expressão desgostosa, ele deixava claro que entendia e desaprovava as intenções dela, embora não entendesse por que uma beldade como aquela precisava entrar num bar atrás de homens. Ou melhor, desconfiava do motivo, mas preferia não analisar muito a questão. Existiam mulheres capazes de qualquer coisa por dinheiro... qualquer coisa... com qualquer um... Mas ela continuava fitando-o detidamente, o sorriso nos lábios carregados de batom parecendo forçado ao responder: — Não, na verdade, não me conhece... mas espero que conheça logo. Projeto Revisoras
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Saskia agradeceu em silêncio pela iluminação fraca do bar. Sentia o rosto queimando. Nunca na vida, nem nos pensamentos mais recônditos, contemplara abordar um homem daquela maneira, quanto mais partir para a ação! Rapidamente, avançou para a segunda parte de seu texto preparado. Entreabriu os lábios, de forma provocativa, e passou a ponta da língua entre eles. Argh! Aquele batom todo era repulsivo! — Não vai me oferecer um drinque? — instigou, sensual, batendo os cílios de forma provocante. — Adoro a cor da sua camisa — acrescentou rouca, achegando-se. — Combina com os seus olhos... — Se pensa assim, deve ser daltônica. Meus olhos são cinza — rebateu Andreas, irritado. A atitude explícita da mulher lhe causava asco. Mas não tanto quanto sua própria reação a ela. Afinal, não era mais nenhum adolescente. Era um homem... um homem maduro, sofisticado, experiente, vivido... porém, reagia àqueles truques sexuais patéticos como se... Como se o quê? Como se não houvesse nada que quisesse mais do que levá-la para a cama e sentir a urgência do corpo dela junto ao seu, ouvir seu grito sob o açoite de beijos apaixonados... — Ouça — declarou, áspero, interrompendo as reações do corpo valendo-se só da força de vontade. — Está cometendo um engano... — Não estou, não — protestou Saskia, aflita ao vê-lo dar as costas. Devia estar feliz ante a recusa dele, correr para Megan informando que seu amado Mark era um noivo fiel. Contudo, o instinto lhe dizia que ele estava tentado. Qualquer homem ficaria tentado, ponderou. Tinha de insistir para comprovar. — Você nunca seria um engano — .ronronou, sugestiva. — Nenhuma mulher cometeria tal equívoco... Andreas temeu estar enlouquecendo. Até pensar em desejar uma mulher que se oferecia abertamente constituía anátema a tudo em que ele acreditava. Como podia se sentir, mesmo que remotamente, atraído por ela? E quanto ao desejo repentino e inexplicável de levá-la para casa, onde ficaria a salvo do tipo de atenção que tanta maquiagem e as roupas insinuantes atraíam? Se havia algo que desprezava era a vulgaridade. Não que toda mulher devesse permanecer donzela até o casamento, nada disso! Simplesmente, pensava que as mulheres deviam ter orgulho de si, esperar que os homens respeitassem seu direito de ser o que eram. Nenhuma devia se submeter ao papel de boneca sexual, abominando qualquer homem que quisesse lhe impor isso. E aquela na sua frente agora... — Desculpe-me, mas está perdendo o seu tempo — afirmou Andreas. — E acredito que tempo seja dinheiro para uma mulher como você. Por que não procura outro... mais receptivo ao que você tem a oferecer? Saskia o observou deixar o estabelecimento. Ele a rejeitara... a refutara. Incrível! Mark provara que era fiel a Megan. Mas fora horrível suportar o olhar de desprezo dele, crente em que era uma... uma... Enojada, passou as costas da mão nos lábios carregados de batom e viu a mancha vermelha na pele. — Ei, poderosa, posso lhe pagar um drinque? Saskia fez que não, ignorou o olhar azedo que o homem lhe lançou e olhou para a porta de saída. Nem sinal do noivo de Megan. Ele se fora. Devia estar feliz. Claro que estava! Como podia não estar? Adoraria contar a Megan e Lorraine que Mark não sucumbira a seu ataque. Consultou o relógio de pulso, o coração disparado. Ainda tinha uma hora antes de Lorraine passar para pegá-la. Não podia continuar sozinha ali no bar, chamando a atenção. Refugiouse no toalete feminino. Tinha com que matar o tempo. Na área de descanso, abotoou a blusinha, removeu o batom e o delineador dos olhos e refez a maquiagem em tons bem mais modestos. Também prendeu os cabelos num coque sofisticado. Permaneceu no toalete até dar a hora de sair. Ao abrir caminho em meio à multidão no bar, ainda chamava a atenção dos homens, apesar do visual bem mais discreto. Projeto Revisoras
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Para seu alívio, Lorraine já a aguardava em frente ao estabelecimento. — E então? — indagou ela, ansiosa, assim que Saskia entrou no carro. — Nada — informou Saskia, satisfeita. — Ele me recusou. — Co... como? — Lorraine, cuidado! — alertou Saskia, quando a prima de Megan quase colidiu com o veículo à frente. — Você não deve ter feito direito — concluiu Lorraine, inconformada. — Garanto que fiz tudo conforme o manual. — Ele mencionou Megan... disse que era comprometido? — Não! — Saskia meneou a cabeça. — Mas deixou claro que não estava interessado. Olhou para mim... — Deteve-se e engoliu em seco, incapaz de descrever o desprezo com que o noivo de Megan a olhara. — Onde está Megan? — Foi chamada para cobrir um turno. Telefonou e disse que sairia do trabalho e nos encontraria em casa. Saskia suspirou, cansada. Devia estar mais feliz do que se sentia, mas desconfiava de que Megan seria a única, das três, que ficaria realmente satisfeita em saber que Mark não se deixara seduzir. Seu Mark. Ou melhor, o Mark de Megan. Sentiu um gosto amargo na boca, o coração parecendo um pedaço de chumbo no peito. Qual era o problema? Não estava com ciúme de Megan, estava? Não! Não podia estar... não devia estar! — Tem certeza de que tentou com afinco? — insistia Lorraine. — Segui o roteiro à risca — declarou Saskia. — Ele não se interessou por mim, Lorraine. Deve mesmo estar apaixonado por Megan. — Só pode estar, para preferir ela a você — admitiu Lorraine, inconformada. — Minha prima é um doce, e eu a amo, mas não há como... É possível que ele tenha adivinhado o que você estava fazendo? Que soubesse... — Não, não creio. — Esgotada, Saskia só queria ficar sozinha, mas devia a Megan a confirmação de que podia confiar em Mark. Lorraine estacionou diante da casa de Megan. Saskia mal sentia os próprios pés ao atravessar o jardim. Megan e Mark... Até os nomes soavam bem juntos, evocando domesticidade... conforto conjugal. No entanto, seja conhecera um homem nada doméstico ou simpático era o noivo de Megan. Havia um ar de masculinidade latente nele, uma aura de poder e sexualidade, insinuando que uma mulher em seus braços poderia... atingir o cume dos prazeres, a ponto de se transformar como pessoa. Mas em que estava pensando? Mark pertencia a Megan... sua melhor amiga, a amiga a quem devia a vida e a saúde de sua avó! Megan vira que haviam chegado e abriu a porta antes que batessem. Seu rosto era um sorriso só. — Foi tudo bem — informou Saskia. — Mark não... — Eu sei... eu sei... — Megan as apressou para dentro. — Ele me procurou no trabalho e explicou tudo. Oh, como fui idiota... Não sei de onde tirei a idéia de que ele me traía! Vamos viajar! Era esse o motivo dos telefonemas. Era com a agente de viagens que ele falava ao telefone, e, como queria fazer surpresa, ficava se esquivando quando eu estava por perto. Oh, Saskia, não acredito! Sempre quis conhecer o Caribe, e Mark comprou um pacote para dois, para uma semana maravilhosa! Oh, lamento que tenha desperdiçado seu tempo. Tentei ligar, mas você já tinha saído. Imaginei que fossem chegar mais cedo. Afinal, quando percebeu que Mark não estava no bar... — Só então reparou nas expressões de Saskia e Lorraine. — O que foi? Lorraine encarou Saskia. — Não disse que falou com Mark? — Falei... Ele era exatamente como o descreveu, Megan. Megan meneou a cabeça negativamente. Projeto Revisoras
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— Mark não podia estar lá, Saskia. Estava comigo, na Santa Casa. Chegou depois das oito e a irmã me deu uma folga para podermos conversar. Ele sabia o quanto eu estava preocupada e concluiu que devia ter me contado o que estava planejando. Disse que não conseguiria guardar o segredo por mais tempo, de qualquer forma... — recordou, encantada. Olhou para a prima. — E, antes que diga algo... Mark está pagando tudo. Saskia deixou os ombros caírem. Se o homem que abordara no bar não era o noivo de Megan, de quem se tratava? Empalideceu. Assediara um estranho... um homem que... Engoliu em seco, lembrando-se da produção visual, do comportamento... do que dissera a ele. Felizmente, era um estranho. Felizmente, nunca mais se veriam. Megan roçou a mão em seu rosto. — Saskia, você não parece bem. O que foi? — Nada... Mas Lorraine já deduzira seus pensamentos: — Bem, se o homem no bar de executivos não era Mark, quem seria? — Quem? — repetiu Saskia. CAPÍTULO III A caminho do trabalho, Saskia apertou o passo ao ouvir o relógio da prefeitura anunciar as oito horas da manhã. Planejara chegar bem cedo, mas infelizmente dormira demais... por ter ido ao bar de executivos na noite anterior e custado a dormir, de tão angustiada pelo modo como se comportara diante de um completo estranho! Oficialmente, não precisava chegar ao escritório do hotel antes das nove horas, porém, considerando os altos índices no desemprego no país, era preciso mostrar empenho e de dicação no trabalho. — Provavelmente, haverá cortes... pessoas em cargos redundantes — alertara seu gerente, na última reunião, e Saskia se considerava em perigo, por ter sido contratada recentemente. Seria difícil conseguir em Hilford outro emprego com tão boas perspectivas e, se tivesse que se mudar para Londres, deixaria a avó sozinha. Aos sessenta e cinco anos, não se tratava de nenhuma inválida... longe disso... e vivia cercada de amigos, mas havia a doença. Devia muito à avó por tê-la criado e lhe dado amor. No saguão do hotel, parou no balcão da recepção e indagou a Emma: — Ele já chegou? — Na verdade, chegou ontem — informou a moça, com expressão sonhadora. — Já está lá em cima. Espere até ver. É lindo de morrer... Saskia meneava a cabeça ao caminho do elevador. Ao se oferecer àquele estranho no bar de executivos, redefinira seu ideal de beleza masculina, e duvidava de que o novo patrão grego fosse sequer se aproximar do padrão. Saskia trabalhava no terceiro andar, numa sala ampla, com cinco outras pessoas. O gerente dispunha de uma divisória envidraçada, mas ele ainda não chegara e o cubículo estava vazio. Mal ela se ajeitara à mesa de trabalho, o gerente chegou, na companhia dos demais colegas. — Bom dia, Saskia! — saudou o superior. — Bom dia. Eu pretendia chegar mais cedo, só que... Gordon Jarman a cortou: — Não precisa explicar nada. É melhor você subir logo ao andar da presidência. A secretária do Sr. Latimer a aguarda. Parece que quer entrevistar todo mundo... e não ficou nada satisfeito ao convocar você e ser informado de que ainda não tinha chegado. Saskia se apressou ao elevador. O andar da presidência era um território desconhecido para Saskia. Estivera ali apenas por ocasião da admissão e dias antes, quando toda a equipe foi informada da incorporação do hotel ao grupo Demétrios. Um pouco insegura, saltou do elevador e caminhou até uma porta com a placa "Assistente Projeto Revisoras
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Pessoal da Presidência". Madge Fielding, a secretária do antigo proprietário, aposentara-se após o anúncio da incorporação. A mulher à mesa devia ser a assistente pessoal do novo presidente. Nervosa, já ia explicar o motivo da presença, mas a mulher nem esperou. — Saskia? Você está atrasada. O Sr. Latimer não gosta... Deixe-me ver... Talvez ele não tenha tempo de entrevistá-la agora — alertou, antes de pegar o telefone. Num tom bem mais dócil do que aquele que usara com Saskia, anunciou: — A Srta. Rodgers está aqui, Andreas. Ainda quer entrevistá-la? — Ouviu a resposta e pôs o fone no gancho. — Você pode entrar, Saskia. Por aquela porta. Engolindo a indignação, Saskia se encaminhou à referida porta, bateu de leve e girou a maçaneta. A claridade do sol nas janelas amplas cegou-a momentaneamente. Só discernia o contorno de um homem diante do vidro, de costas para a porta. Andreas não estava surpreso por vê-la chegar ao trabalho mais tarde do que os colegas. Afinal, sabia o que ela fazia à noite. Só não entendia a alta estima em que o gerente, superior imediato dela, e os demais colaboradores a tinham. Aparentemente, na necessidade de um esforço extra, de um serão no escritório, Saskia estava sempre pronta a ajudar. — Sim, talvez isso seja incomum em recém-formados, mas ela foi criada pela avó, o que pode explicar seus valores e senso de obrigação em relação aos outros um tanto ultra passados — analisara Gordon Jarman. — Como pode ver em meu relatório, o trabalho dela é excelente, bem como suas qualificações... Além de bonita, e capaz de usar seus atributos físicos em benefício próprio, refletiu Andreas. Com base nos relatórios, depoimentos e na foto anexa à ficha funcional, jamais teria acreditado se lhe dissesse que Saskia Rodgers freqüentava bares à noite. Naquela manhã, por exemplo, já se metamorfoseara em funcionária-padrão, a construir a carreira sozinha... bem vestida, cabelos presos, maquiagem leve no rosto. Andreas franziu o cenho ao se impressionar com a figura discreta tanto quanto se excitara com a moça insinuante no bar. Já não tinha problemas bastante? Na noite anterior, ao chegar do bar, recebera um telefonema da mãe, aflita lhe contando que seu avô estava em pé de guerra. — Ele jantou com velhos amigos ontem, todos se gabando de negócios engatados. Sabe como eles são... Um deles confidenciou que esperava que o filho conquistasse a mão de Athena... — Desejo-lhe boa sorte — respondera ele. — Espero que consiga. Assim, livro-me dela e da ladainha do vovô. — Acontece que saber disso só fortaleceu a determinação dele em promover o casamento entre vocês dois. Claro, aposentado, tem tempo para planejar e arquitetar... Pena que ainda não tenha alguém especial em sua vida... — lamentou a mãe, zelosa. — Francamente, acho que a esperança de um bisneto o excitaria tanto que ele logo o perdoaria por não desposar a ardilosa da Athena! Andreas bufara, ofendido. — O que a faz pensar que não há ninguém especial em minha vida? Pausa na outra ponta da linha. — Quer dizer que há? — replicou a mãe, esperançosa. — Oh, Andreas! Quem? Quando vamos conhecê-la? Quem é ela? Como você... Oh, querido, que maravilha! Seu avô vai ficar encantado. Olímpia, adivinhe quem... Depois disso, ele só ouvira a mãe contando a novidade a uma de suas irmãs. O avô telefonara às cinco da madrugada para saber quando conheceria a noiva do neto! Noiva... Andreas não sabia como a notícia se desenvolvera tanto, mas entendia que, se não produzisse logo essa criatura mítica, estaria encrencado. — Quero que a traga para a ilha — decretara o avô. E agora? Tinha oito dias para encontrar uma noiva de mentirinha. Oito dias, e teria de ser uma boa atriz, para enganar não apenas seu avô, como a mãe e as irmãs! Irritado, saiu de debaixo do sol, permitindo que Saskia o visse direito, finalmente. Projeto Revisoras
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Ela não teve tempo para disfarçar o choque nem abafar o gemido de espanto. Empalideceu e depois enrubesceu. — Você! — exclamou Saskia, recuando até a porta. As lembranças da noite anterior a atordoavam, bem como a certeza de que estava prestes a perder o emprego. Ali estava uma atriz excelente, reconheceu Andreas, atento ao que considerava uma boa representação. Saskia usava uma máscara totalmente diferente daquela da noite anterior. Mas devia estar realmente chocada por descobrir que o homem a quem assediara tão despudoradamente num bar era seu novo patrão. Já o olhar obscurecido de ansiedade, o lábio inferior trêmulo, apesar dos esforços em controlar-se... Oh, sim, tratava-se de uma atriz de primeira... uma atriz de primeira! Saskia Rodgers era a solução para seu problema corrente! — Pois bem, Srta. Rodgers — começou Andreas, impessoal, optando por ser direto: — Li o relatório de Gordon Jarman sobre você e devo parabenizá-la. Parece que o per suadiu a falar bem de sua pessoa. É um feito e tanto para uma funcionária tão recente e jovem. Principalmente uma que adota uma atitude... digamos, pouco convencional e elástica, em relação ao expediente... saindo mais cedo e chegando mais tarde... — Saindo mais cedo? — Saskia franziu o cenho, confusa. Como ele soubera disso? Como se lesse sua mente, o patrão esclareceu: — Eu estava no saguão ontem à tarde, quando deixou o hotel... bem antes do fim do expediente. Saskia expressou indignação. — Mas... — Sem desculpas, por favor. Podem funcionar com Gordon Jarman, mas, infelizmente para você, não darão certo comigo. Afinal, vi como se comporta quando não está trabalhando. A menos... a menos, claro, que esse seja o motivo para um relatório tão favorável... Ofendida, Saskia conteve o impulso de esbofeteá-lo. De qualquer forma, precisava explicar: — Não! Eu não... A noite passada foi um erro, eu... — Sim, temo que tenha sido um erro — concordou Andreas. — Para você, pelo menos. Sei que seu salário é pequeno, mas meu avô ficará triste se souber que uma colaboradora tem de reforçar o orçamento com uma atividade que pode se refletir mal na imagem da empresa. — Sorrindo desdenhoso, observou: — Felizmente, não estava num dos nossos hotéis... fazendo ponto e... — Como se atreve? — interrompeu Saskia, furiosa. — Como me atrevo? Eu é que devia lhe perguntar: como se atreve? — rebateu Andreas, áspero. — À parte as implicações morais do que estava fazendo, ou melhor, tentando fazer, chegou a pensar no perigo físico a que se expõe? Mulheres como você... Ele se deteve, controlou-se e retomou o tom de cinismo gentil: — Soube, pelo seu gerente, que está ansiosa em relação a seu emprego. — Sim, estou — admitiu Saskia, rouca. Não adiantava negar. Já comentara com Gordon o temor de ser considerada dispensável do quadro de funcionários. Ele obviamente comentara com Andreas. Negar a apreensão agora seria inútil. — Ouça, por favor. Posso explicar sobre a noite passada — prontificou-se, aflita, o orgulho substituído pelo pânico. — Imagino a impressão que passei ontem, mas não era... eu não sou... —Saskia desistiu ante a expressão empedernida do patrão. Ele não estava disposto a ouvi-la, muito menos a acreditar em suas justificativas. Não podia culpá-lo... nem convencê-lo, tampouco, a menos que lhe apresentasse Lorraine e Megan, para corroborarem a história, mas era orgulhosa demais para chegar a esse extremo. Além disso, Megan só pensava na viagem com o noivo ao Caribe, e Lorraine... no mínimo, adoraria vê-la encrencada por conta do episódio. — É melhor não inventar nada — opinou Andreas, gélido. — Desprezo as mentirosas ainda mais do que... — Não completou, mas Saskia fazia uma Projeto Revisoras
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idéia do resto da sentença. Antes que ela pudesse replicar, o patrão se adiantou: — Tenho uma proposta para lhe fazer. Sentado à mesa, Andreas a fitava por entre um vão entre os dedos das mãos diante do rosto, como um predador avaliando a presa indefesa. — Que tipo de proposta? — indagou Saskia, cautelosa, mas o coração disparado era um indicador de que já sabia a resposta... que lhe causava um misto de excitação e repulsa. — Oh, não o tipo de proposta com que está familiarizada — assegurou o patrão, sereno. — Sei que algumas mulheres apreciam o papel de prostituta... — Eu não estava fazendo isso! — Eu estava lá... lembra-se? — rebateu ele. — Se meu avô soubesse como se comportou, exigiria sua demissão sumária. — Não precisa contar a ele — murmurou Saskia, engolindo o orgulho. — Por favor... — Não, não preciso — concordou Andreas. — Mas isso depende da sua resposta à minha proposta. — Isso é chantagem! — Algo tão antigo quanto a profissão que você exercia ontem à noite — ponderou Andreas. Saskia entrava em pânico. Só havia uma coisa que o patrão poderia querer dela. Afinal, na noite anterior, dera-lhe motivo para presumir... para acreditar... Mas fizera aquilo imaginando que ele fosse o noivo de sua melhor amiga, para testá-lo, e se tivesse uma chance para explicar... Mas a indignação a obrigava a reagir: — Estou surpreso que um homem como você precise chantagear uma mulher para ter sexo. De forma alguma, eu... — Sexo? — Andreas a surpreendeu com uma gargalhada. — Sexo? Com você? De jeito nenhum! Não é sexo o que quero de você. — Não é sexo? Então... então, o que é? — indagou Saskia, trêmula. — Quero o seu tempo e sua concordância em se passar por minha noiva. — O quê? — Saskia parecia incrédula. — Você está louco. — De jeito nenhum — garantiu o patrão, severo. — Apenas determinado a não ser coagido a um casamento que meu avô arranjou. E, como minha mãe me lembrou, a melhor forma de convencê-lo é mostrando que estou apaixonado por alguém. Só assim conseguirei deter a campanha ridícula dele. — Quer que eu... passe... por sua noiva? — Saskia ainda não conseguia acreditar. Como Andreas parecia falar a sério, pensou na proposta e recusou: — Não. De jeito nenhum. Não mesmo! — Não? — Andreas deu de ombros. — Então, não me deixa alternativa senão informá-la de que é grande a probabilidade de a dispensarmos, como parte das medidas de redução de gastos. Espero ter sido claro. — Não! Não pode fazer isso... — começou Saskia, calando-se ao perceber o olhar cínico dele. Estava desperdiçando tempo. O patrão não ouviria suas justificativas, não queria acreditar nela. Não se adequava a seus planos acreditar nela. Se não concordasse em cola borar com ele, seria demitida. Engoliu em seco. Estava encurralada, sem possibilidade de escapatória. — E então? — apressou Andreas. — Concorda com a minha proposta, ou... Saskia sentiu um amargo na boca, a derrota entalada na garganta. Era difícil falar, mas tentou erguer a cabeça ao se pronunciar: — Concordo. — Ótimo. Só para constar, sugiro que inventemos um encontro acidental... talvez quando vim a Hilford antes, para cuidar da incorporação. Devido às negociações, mantivemos nosso relacionamento... nosso amor recíproco... em segredo. Mas agora não há mais necessidade de segredo e, para provarmos isso, além de comemorarmos nossa liberdade, eu a levarei para Projeto Revisoras 17
almoçar hoje. Franziu o cenho, planejando os próximos passos: — Iremos para a ilha de minha família no mar Egeu, no fim da próxima semana, e teremos de nos conhecer um pouco melhor até lá. Saskia assustou-se. — Iremos para onde? Não, eu não posso. Minha avó... Andreas soubera por Gordon Jarman que ela morava com a avó. — Estamos noivos, minha querida. Com certeza, sou mais importante em sua vida do que a sua avó. Ela também ficará surpresa com o nosso relacionamento, eu sei, mas entenderá por que tivemos de manter nosso amor escondido. Se quiser, estou preparado para ir com você... explicar tudo a ela... — Não! — Saskia dominou o pânico. — Não há necessidade, até por que ela se encontra em Bath no momento, com uma irmã, e vai permanecer lá por algumas semanas. Mas não pode fazer isso! — argumentou, agitada. — Seu avô vai descobrir que não somos... que não... — Ele não vai duvidar de nada — assegurou Andreas. — Você é uma atriz excelente, pelo que já vi, e tenho certeza de que conseguirá convencê-lo de que somos e fazemos tudo o que um casal apaixonado faz. Se precisar de auxílio... O olhar do patrão obscureceu-se e Saskia recuou um passo, enrubescendo à sugestão velada. — Assim está melhor — aprovou Andreas. — Mas talvez não seja sábio fazer o tipo tímido e virginal. Meu avô não é tolo. Duvido de que ele espere que um homem na minha idade se apaixone por uma mulher que não seja sexualmente tão vivida quanto eu. Afinal, sou meiogrego, e a paixão faz parte da personalidade e psique gregas. Saskia queria fugir dali. A situação piorava a cada instante. O que aconteceria se Andreas descobrisse que ela não era sexualmente vivida e que, na verdade, sua única experiência com sexo e paixão se limitava a uns poucos beijos e abraços? Agradecia aos pais, claro, a cautela com que permeara suas descobertas sexuais de adolescente. O comportamento inconseqüente deles a fizera temer repetir o erro. Mas Andreas nem desconfiava disso! — São quase dez horas — observou Andreas. — Sugiro que volte a sua mesa. À uma hora, descerei e a levarei para almoçar. Quanto antes tornarmos nosso relacionamento público, melhor. De pé, Andreas aproximava-se ao falar. Saskia reteve o fôlego, em expectativa, e mal conteve um grito de susto quando a porta se abriu e a assistente pessoal dele entrou, exatamente quando ele a segurava pelo pulso. Ele tinha a pele morena, bronzeada, mas não tanto a ponto de denunciar de imediato seu sangue grego, reconheceu Saskia. Os olhos eram cinza, comprovava naquele instante, e não azuis, como ela sugerira na noite anterior, o que aumentava a confusão quanto a sua ascendência. Os cabelos eram pretos, lisos e grossos. Havia, entretanto, al gum traço da linhagem ancestral nas maçãs do rosto altas, no maxilar clássico e no nariz aquilino. As feições definitivamente combinavam com um nobre grego aristocrático e arrogante. Andreas Latimer tendia a dominar aqueles a seu redor, a imprimir sua autoridade em tudo o que fazia... e em todos que conhecia. A assistente embaraçou-se ao ver o patrão puxando Saskia de encontro ao corpo. — Desculpe-me interrompê-lo, mas seu avô já ligou... duas vezes! — Retornarei a ligação daqui a pouco — respondeu Andreas, suave. — Oh, e não quero nenhum compromisso entre uma hora e duas e meia. Vou levar minha noiva para almoçar. Com isso, lançou a Saskia um olhar sensual, de amante que mal continha o desejo. Ela se sentiu hipnotizada. Se ele tivesse lhe lançado aquele olhar na noite anterior... Pare com isso!, alertou a si mesma, abalada com tais pensamentos. Mas ninguém parecia mais abalado naquela sala do que a assistente de Andreas. — E faça mais uma reserva no vôo para Atenas na semana que vem — instruiu ele. — A meu lado... para Saskia... — Tocou-a no rosto, carinhoso. — Mal posso esperar para apresentá-la à minha família, principalmente a meu avô. Mas primeiro... Projeto Revisoras
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Antes que Saskia adivinhasse o que ele pretendia fazer, Andreas levou sua mão aos lábios e beijou na palma. Ela ficou confusa, excitada e chocada... Era como se encarnasse outra pessoa, vivesse outra vida... uma vida muito mais excitante do que a sua, cheia de perigos, mistérios e experiências extraordinárias, que jamais imaginara. — Primeiro, minha querida, devemos adornar esse dedo. Meu avô não aprovaria se eu a levasse para casa sem um anel que simbolize claramente as minhas intenções. Saskia ouviu a assistente prender a respiração, de choque. Andreas elogiara sua capacidade de representação, mas ele também daria um ótimo ator. O olhar que ele lançava naquele instante... e as palavras... Assim que a assistente saiu fechando a porta, Saskia questionou: — Percebe que, à hora do almoço, todos no escritório já estarão sabendo? — No escritório? — O patrão a soltou e olhou com desdém. — Minha querida, ficarei surpreso e decepcionado se a notícia não tiver se espalhado para bem além das paredes deste hotel. Saskia franziu o cenho, confusa. — Na hora do almoço, espero que a notícia já tenha chegado a Atenas... — esclareceu Andreas. — Aos ouvidos de seu avô. — Entre outros — concordou ele, sem explicar quem seriam os "outros". De repente, havia dezenas de perguntas que ela gostaria de fazer sobre a família dele, o avô, a ilha à qual iriam e a mulher com quem o avô queria que ele se casasse. Cônscia de como os gregos protegiam os interesses da família, a tal prima pretendente dele devia ser riquíssima. Como um autômato, Saskia se retirou da sala pela porta que o patrão lhe segurava aberta. — Pronta, Saskia? Saskia sentiu-se enrubescer ao ver o patrão se aproximando de sua mesa. Os colegas evitavam olhá-los abertamente, mas os dois eram o foco da atenção de todos. Como poderiam não ser? — Gordon, Saskia vai se atrasar na volta do almoço — avisou Andreas ao gerente, atônito em sua divisória de vidro. Fitou a suposta noiva com doçura. — Já contou a novidade, querida? — Eu... não. — Ela não conseguia encará-lo. O gerente saiu do cubículo. — Saskia, não entendo... Ele entenderia ainda menos se ela tentasse explicar o que estava acontecendo de verdade, reconheceu, desanimada. Era tão injusto enganar o homem que sempre a tratara com gentileza e reconhecimento... — Não deve se culpar, Saskia — justificou Andreas, protetor. — Acho que a culpa é minha. — Encarou o gerente. — Insisti em manter nosso relacionamento em segredo até a notícia da incorporação se tornar pública. Eu não queria que Saskia fosse acusada de estar em conflito de lealdades... e, devo lhe dizer, Gordon, ela insistiu em manter qualquer discussão sobre a negociação fora de nossa pauta... Se bem que conversar sobre trabalho não era a minha prioridade quando estávamos juntos... — completou, insinuante, com um olhar sensual a Saskia. Ela enrubesceu e os colegas emitiram sons abafados de surpresa e inveja. — Por que fez aquilo? — indagou Saskia, assim que ficaram sozinhos. — O quê? — retrucou Andreas. — Sabe muito bem do que estou falando. Podíamos ter nos encontrado em outro lugar. — Em segredo? — Ele franziu o cenho, impaciente. Andreas era bem mais alto do que Saskia, passava de um metro e oitenta, e ela já estava com torcicolo devido ao esforço para encará-lo. E gostaria que ele não caminhasse tão próximo... a atitude, de algum modo, a deixava mais ciente de sua condição de mulher. — Já não deixei claro que o objetivo deste exercício é tornar nosso relacionamento público? — questionou Andreas, irritado. — Por isso mesmo, reservei uma mesa no restaurante do bar Projeto Revisoras
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de executivos. Jantei lá ontem e a comida é excelente... embora o que aconteceu depois não tenha sido tão... satisfatório. Saskia não suportaria mais as ofensas. — Ouça, ontem à noite, não aconteceu o que está pensando. Eu... — Claro que não — concordou Andreas, irônico. — Mas, já que estamos falando disso, deixe-me alertá-la, Saskia: se se comportar daquela forma enquanto for minha "noiva", se sequer olhar para outro homem... Ela arregalou os olhos. — Sou metade grego, minha querida — lembrou ele. — E, quando se trata da minha mulher, sou mais grego do que britânico... muito mais! — Mas eu não sou a sua mulher! — Claro que não — concordou Andreas, cínico. — Você pertence a qualquer homem que possa pagar o seu preço, não é? Mas... — Você não tem o direito de falar assim comigo! — Como seu noivo, tenho todo o direito. — Andreas passou um dedo no rosto dela e recolheu uma lágrima. — Chorando? Minha querida, você é uma atriz ainda mais talentosa do que eu imaginava... Chegaram ao bar, e Saskia esforçou-se para controlar as emoções enquanto adentravam o estabelecimento. — Eu não quero nada — declarou, à mesa. — Não estou com fome. — Não posso forçá-la a se alimentar, mas com certeza não vou me negar o prazer de uma boa refeição. Andreas abriu o menu, mas continuou tratando do negócio em pauta, o "noivado" deles: — Precisamos discutir alguns assuntos. Conheço a maior parte de seus dados pessoais pela ficha funcional, mas, se pretendemos convencer a minha família e principalmente meu avô de que somos amantes, há detalhes que preciso saber a seu respeito... e vice-versa. Amantes... Saskia controlou um tremor. Agora que cedera à chantagem, devia aprender logo a jogar, para não ser destruída. — Amantes... — repetiu, desolada. — Pensei que as famílias gregas não aprovassem sexo antes do casamento. — Não quando se trata das próprias filhas — confirmou o patrão. — Mas, como você não é grega e eu sou meio-britânico, tenho certeza de que meu avô será mais... tolerante. — Ele não seria tolerante se você ficasse noivo de sua prima? — replicou Saskia, sem saber por que pensar na tal prima dele lhe provocava dor e hostilidade. — Athena, minha prima, é viúva — explicou Andreas. — Além disso, Athena nunca aceitaria a interferência do meu avô em nenhum aspecto de sua vida. É uma mulher muito determinada. Saskia mal podia acreditar. — Ela é viúva? — Com duas filhas adolescentes — completou ele. — Adolescentes! — Ela se casou aos vinte e dois anos — explicou Andreas. — E isso já faz quase vinte anos. Saskia fez um rápido cálculo mental. Athena obviamente era mais velha do que Andreas. Tratava-se de uma mulher solitária, vulnerável, pressionada a um segundo casamento que talvez nem quisesse, ponderou, solidária. — Não precisa se preocupar com Athena, até porque provavelmente não irá conhecê-la. Ela mantém residências em Atenas, Paris e Nova York, vive viajando e administrando a companhia de cruzeiros que herdou. Uma companhia marítima e uma cadeia de hotéis. Não era de admirar que o avô de Andreas desejasse tanto aquele casamento. Difícil entender por que Andreas não estava igualmente ansioso, após a dura batalha de negociação para incorporar a pequena rede de hotéis britânica ao Grupo Demétrios. Ele pareceu adivinhar seus pensamentos: Projeto Revisoras 20
— Ao contrário de você, não estou preparado para me vender. — Eu não estava me vendendo — declarou Saskia, alterada. Interromperam a discussão quando o garçom trouxe dois pratos com receitas requintadas. — Eu não pedi nada — protestou Saskia. — Mas eu pedi por você — replicou Andreas. — Não gosto de mulheres esqueléticas. O homem grego pode bater na mulher, se quiser, mas não pode deixar de alimentá-la. — Bater... — Saskia já ia protestar, mas percebeu que Andreas estava brincando. — Desconfio, Saskia, de que você faria um santo, quanto mais um mero mortal, desejar subjugá-la, dominá-la, e então invocar forças para controlar a si mesmo. Saskia estremeceu ante a sensualidade crua das palavras. A fim de disfarçar, começou a saborear a refeição. Andreas passou a dar informações sobre sua família num tom comercial: — Agora que se aposentou, meu avô teme morrer sem que eu lhe dê um bisneto, por isso me pressiona. Se isso não é chantagem, não sei o que é. — Então, ele é o vice-campeão da família — provocou Saskia. Andreas não achou graça. — No final, claro, vamos romper este noivado de mentira — esclareceu, desnecessariamente. — Durante a viagem à ilha, descobriremos aspectos incompatíveis entre nós. Na volta à Inglaterra, desmanchamos o compromisso. Mas, ao menos, terei ganho algum tempo e, com sorte, Athena já terá aceito a proposta de um de seus inúmeros pretendentes. — E se ela não aceitar? — Teremos que retardar nosso rompimento, até Athena se casar ou até eu convencer meu avô de que uma das minhas irmãs pode lhe dar o bisneto desejado. — Você não vai se casar nunca? — Digamos que já estou velho demais para acreditar no amor. — Meu pai se apaixonou pela minha mãe aos dezessete anos — comentou Saskia. — Eles fugiram juntos. Foi um erro. Já se detestavam antes de eu nascer. Um homem mais velho ao menos teria senso de responsabilidade em relação à vida que ajudou a gerar. Mas meu pai era um garoto. — Ele a abandonou? — Os dois me abandonaram. Não fosse a minha avó, eu teria acabado num orfanato. Andreas fitou-a, analítico. Por isso, ela freqüentava bares atrás de homens? Estaria procurando o amor que o pai lhe negara? Irritou-se com o desejo de justificar seu comporta mento vil. Por que tentava encontrar desculpas para ela? Com certeza, não se comovera com suas lágrimas naquela manhã. — Vamos voltar para o hotel — decidiu, de repente. CAPÍTULO IV Se alguém, duas semanas antes, afirmasse que estaria deixando para trás tudo o que lhe era familiar, para voar rumo a uma ilha longínqua, na companhia de um desconhecido do qual estaria supostamente noiva, Saskia teria rido divertida. Jamais teria imaginado... A experiência inusitada era prova do que um homem arrogante e determinado podia fazer, principalmente quando exercia poder sobre uma pessoa indefesa como ela. Em menos de quinze minutos, Andreas a pegaria em casa para cumprirem a primeira etapa da viagem até a ilha Afrodite, que o avô dele comprara para a finada esposa e batizara em homenagem à deusa do amor. — O casamento de meu avo foi arranjado, mas ambos estavam de acordo — comentara Andreas. Um encontro de amor... ao contrário do compromisso de fachada que assumiam. Saskia sentia-se desconfortável por participar daquela farsa, ainda que forçada. Mas a pior parte fora Projeto Revisoras
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telefonar para a avó e mentir, dizendo que viajaria a negócios. Andreas sugerira que contasse sobre o noivado, mas Saskia recusara-se. — Você pode não se importar em mentir para a sua família sobre nosso suposto relacionamento. Mas eu não enganaria minha avó num assunto tão... — Calara-se, incapaz de explicar que sua avó nunca aceitaria que ela se comprometesse sem que houvesse amor de verdade. Após a divulgação do "noivado" na empresa, os colegas passaram a tratá-la com cautela e distância. Afinal, tratava-se da noiva do patrão e, portanto, não pertencia mais à "turma". Saskia passara a semana sentindo-se isolada e amedrontada, mas era orgulhosa demais para partilhar o problema... um resquício, desconfiava, dos dias da infância, quando a história de seus pais, mais o fato de ter sido deixada com a avó fizeram-na sentir-se diferente das outras crianças. Consultou o relógio de pulso. Faltavam menos de cinco minutos para Andreas passar. A mala de roupas estava pronta, aguardando no vestíbulo. Perdera um bom tempo decidindo o que levar, optando por vestidos de verão que comprara três anos antes, quando viajara com Megan para Portugal, e alguns conjuntos de trabalho. Não via Andreas desde aquele primeiro almoço juntos... não que se importasse! Ele tivera numa reunião atrás da outra, resolvendo problemas relacionados à precariedade dos hotéis ingleses antes da incorporação à Rede Demétrios. — Ele visitou cada um dos nossos hotéis — comentou um funcionário, admirado. — Indagou sobre todos os aspectos do gerenciamento e... querem saber? Na borda do grupo que ouvia a narrativa, Saskia imaginou que estavam para implantar o temido programa de demissão. — Garantiu que todos os empregos estão garantidos, desde que alcancemos as metas que ele estabelecer. Conversou com toda a equipe, salientou que valorizava a aquisição da nossa rede e afirmou que se responsabilizaria perante o conselho de administração, se não conseguisse tornar a empresa lucrativa. Em outras palavras, Andreas Latimer tinha um jeito especial de lidar com os empregados, que não apenas lhe juravam fidelidade como o louvavam! Obviamente, não conheciam a faceta, do patrão com a qual ela era obrigada a conviver. Já eram dez e meia e ele ainda não... Saskia deixou o queixo cair ao ver o automóvel luxuoso parar diante de casa. Pontualíssimo! Mas, claro, Andreas não podia desperdiçar nem um segundo precioso de seu tempo, ainda mais com uma falsa noiva! Quando ele chegou à porta, Saskia já o aguardava com a mala numa mão e a chave na outra. — O que é isso? — indagou Andreas, referindo-se à mala gasta. — Minha bagagem — informou ela, digna e orgulhosa. — Passe para mim — instruiu. — Eu mesma posso levar. — Tenho certeza de que pode. Mas... — Mas o quê? — desafiou ela, zangada. — Os gregos não permitem que as mulheres carreguem sua própria bagagem, que sejam minimamente independentes? Saskia percebeu, pelo lábio contraído, que o patrão não apreciara sua réplica. Por algum motivo perverso, resolveu desafiar mais, apesar do medo ante os sinais de tormenta nos olhos cinzentos dele. — Neste caso, deveria culpar meu pai britânico em vez de minha mãe grega — rebateu ele, gélido. — A escola particular inglesa que freqüentei acreditava num código de boas maneiras ultrapassado. — Estreitou o olhar, ameaçador. — Mais um alerta: meu avô é antiquado nesses assuntos. Não vai entender sua insistência num comportamento politicamente correto, portanto, enquanto estivermos na ilha... — Terei de fazer o que me disser — concluiu Saskia, amargamente. Se aquela era uma mostra de como seriam as próximas semanas, já não sabia se sobreviveria. Ao menos, já estariam demonstrando alguma hostilidade no relacionamento. NinProjeto Revisoras
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guém que os observasse juntos ficaria surpreso quando decidissem desmanchar o noivado. — Nosso vôo sai de Heathrow às nove, amanhã de manhã — informou Andreas, dirigindo o carro pela via secundária. — Ou seja, teremos de deixar o apartamento cedo... — O apartamento? — Tenho um apartamento em Londres — esclareceu ele. — Ficaremos lá esta noite. Hoje à tarde, iremos às compras. — Compras? — Saskia ia protestar, mas Andreas se impôs: — Você vai precisar de um anel de noivado e... Ele avaliou sua figura de maneira tão indecente que ela desejou se jogar do veículo em movimento. Oh, era grande a tentação de desistir de tudo, porém... não podia. Estava sendo chantageada. — Você vai precisar de roupas. — Se está falando de roupas de férias... estão na minha mala. — Não, não estou falando de roupas de "férias". Sou um homem muito rico, Saskia. O departamento de fofoca deve estar divulgando pela empresa o valor dos meus bens móveis e imóveis. Meu avô é ainda mais rico, e minha mãe e irmãs estão acostumadas a comprar roupas dos ateliês mais famosos, embora não sejam vítimas da moda nem viciadas em compras. Naturalmente, minha noiva... — Se acha que vou permitir que compre minhas roupas... — Por que não? — questionou o patrão. — Afinal, estava disposta que eu comprasse o seu corpo. Eu ou qualquer outro homem que pudesse pagar. — Não é verdade! — Muito bem — elogiou Andreas, como se ela representasse. — Mas poupe os efeitos especiais para minha família. Sei exatamente o que você é... lembra-se? Pense nas roupas como um requisito para o seu trabalho. — Sorriu irônico. — Mas eu dou a última palavra quanto a tudo o que desejar comprar. Quero que passe a minha família, na qualidade de noiva, uma imagem de elegância e bom gosto. Saskia ofendeu-se. — Está insinuando que, por conta própria, sou capaz de escolher roupas adequadas a uma... — Conteve-se, incapaz de verbalizar os pensamentos. Para seu espanto, em vez de completar a sentença, Andreas apenas esclareceu: — Você obviamente não está acostumada a comprar roupas caras e de forma alguma permitirei que se obrigue a algum tipo de economia desnecessária. Não quero que adquira peças típicas de jovem assalariada, como se não fosse noiva de um homem rico. Pela primeira vez, Saskia ficou sem fala, cheia de raiva e vergonha. Não podia impedir Andreas de levar adiante seu plano, mas anotaria todos os gastos para pagar a ele depois, nem que tivesse que liquidar sua pequena poupança! — Estamos entendidos? — Sem aguardar resposta, o patrão completou: — Eu lhe prometo, Saskia, farei tudo a meu modo... mesmo que isso implique vesti-la e despi-la eu mesmo. Não se engane: na ilha Afrodite, ninguém duvidará de que você é minha noiva. Ao saírem da estrada vicinal para pegar a via mais movimentada, Saskia viu o perigo de discutirem com o veículo naquela velocidade. Encerrada a questão acerca das roupas que ela usaria, percebeu que negligenciara o item mais importante... o constrangimento que seria passar uma noite sozinha com o patrão no apartamento dele. O que havia a temer? Com certeza, nenhum avanço sexual da parte de Andreas. Ele já deixara bem claro que abominava sua suposta falta de moral. Orgulhosa demais, jamais admitiria estar apreensiva com a idéia de partilhar a intimidade de um apartamento com ele. Na ilha, seria diferente. Lá estariam a família dele, mais os empregados que cuidavam da vila enorme que ele descrevera. Não, demonstraria descontração, sem tomar nenhuma atitude que a expusesse ao desdém daquele grego soberbo! Athena batia o pé impaciente enquanto aguardava o motorista carregar a bagagem no Projeto Revisoras
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porta-malas da limusine alugada. Tão logo fora informada de que Andreas estava comprometido e levaria a noiva para a ilha em visita oficial para conhecer a família, colocara-se em ação. Felizmente, noivado não era casamento, e ela com certeza garantiria que aquele noivado não virasse casamento. Sabia por que Andreas tomara essa atitude, claro. Afinal, ele era grego até os ossos... embora valorizasse também sua porção de sangue britânico... e, como todo grego, na verdade, como todo homem, tinha aquela necessidade inata de estar no controle. Afirmar estar apaixonado por outra mulher era a maneira dele de exercer tal controle, ao rejeitar o casamento com a prima, que tanto satisfaria ao avô. A limusine partiu para o endereço solicitado, um bloco de apartamentos sofisticado com vista para o rio. Não mantinha residência em Londres, adepta da agitação social de Nova York e das lojas de Paris. Andreas podia acreditar que se livrara dela anunciando um compromisso com essa noiva inglesa... que devia ser muito sem graça. Mas ainda não sofrera um ataque maciço da prima Athena. Nenhum homem lhe resistia quando partia para a conquista! Infelizmente, Andreas conseguira impedi-la de participar daquela última aquisição de hotéis. O negócio não significava nada para ela, mas teria sido uma isca excelente, já que ele investira bastante naquilo. Até agora, não entendia a atitude dele. De fato, havia muitas coisas que não entendia em Andreas. E esse era um dos motivos que o tornava tão atraente, em sua opinião. Athena sempre desejava o que parecia fora de seu alcance. Percebeu que desejava Andreas quando ele tinha quinze anos e ela estava para se casar. Sorriu maliciosa e umedeceu os lábios. Na flor da adolescência, Andreas já era alto e moldava os músculos juvenis, atiçando seu desejo. Tentou seduzi-lo, mas ele resistiu, e ela, um mês depois, se casava. Aos vinte e dois anos, já não uma jovem casadoura para os padrões gregos e tivera de se empenhar na conquista daquele marido. Dez anos mais velho do que ela e imensamente rico, ele brincara de gato e rato por mais de um ano, até capitular. Naturalmente, ela não desistiria do casamento pelo qual tanto trabalhara pela paixão que sentia por Andreas, então um garoto. Anos depois, o destino entrou em ação. Viu-se viúva. Uma viúva muito rica... e faminta de sexo. Andreas já era homem-feito... e que homem! A única coisa que os mantinha separados era o orgulho de Andreas. Tinha de ser. Que outro motivo ele teria para resistir ao assédio de uma beldade como ela? A limusine estacionou no endereço solicitado. Athena mirou-se nos espelhos instalados na cabine luxuosa. A plástica discreta que fizera no ano anterior valera cada centavo. Passava facilmente por uma mulher de trinta e poucos anos. Seus cabelos eram tratados por um dos cabeleireiros mais famosos do mundo, sua pele brilhava viçosa sob ação de cremes caríssimos, a maquiagem impecável salientando seus olhos castanho-escuros. As unhas das mãos e dos pés brilhavam com esmalte vermelho. Sorriu satisfeita. Não, não havia como a noivinha melancólica de Andreas... uma escriturária, alguém por quem ele supostamente se apaixonara durante as negociações para a compra da pequena rede inglesa de hotéis... competir com ela. Endureceu o olhar. Essa moça, fosse quem fosse, logo compreenderia o erro que cometera ao se apossar do homem que Athena queria. Um erro muito grande! Deslizou para fora da limusine exalando o perfume almiscarado que mandava fazer especialmente para ela em Paris, uma nuvem pesada de sexualidade. As filhas adolescentes detestavam aquela fragrância e lhe imploravam que trocasse por outra, mas não as atenderia. Tratava-se de sua assinatura, de sua essência como mulher. A noiva inglesa de Andreas com certeza se tratava com algo idiota e insípido como água de lavanda! — Vou deixar o carro aqui — comentou Andreas, ao conduzir o veículo pela rampa do prédio-estacionamento no centro de Londres. Saskia arregalou os olhos ao ver a tarifa numa placa. Jamais sonharia em pagar tanto para estacionar um carro, mas os ricos, como se dizia, eram diferentes. Projeto Revisoras
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Diferença que ela começara a perceber durante a tarde, na turnê de compras por lojas que ela jamais imaginara existir. Em cada estabelecimento, Andreas conquistava atenção especial das atendentes com sua aura de poder. Aura que ela desprezava, ao apreciar as seqüências de roupas finíssimas que as vendedoras apresentavam a ele, não a ela, reconhecia. Por conta disso, sua frustração e mágoa só fizeram aumentar a cada loja que visitavam. — Não sou boneca nem criança! — explodira ela, ao se recusar a experimentar um conjunto creme que uma atendente afirmava que ficaria perfeito nela. — Mas está se comportando como uma — respondera Andreas, sombrio. — Aquele conjunto era... — Aquele conjunto custava mais de dois mil dólares! — observou Saskia. — De jeito nenhum eu pagaria tanto por uma roupa... nem mesmo para meu vestido de noiva! Quando Andreas riu, encarou-o furiosa. — Qual é a graça? — Você! Minha querida Saskia, que tipo de vestido de noiva acha que conseguiria com dois mil dólares? Ela deixou caírem os ombros. — Não sei — admitiu. — Mas sei que nunca me sentiria confortável usando roupas que custam o equivalente a alimentar uma pequena cidade, e um vestido de noiva caro não é garantia de um bom casamento. — Oh, poupe-me do discurso correto — pediu Andreas. — Já pensou em quantas pessoas ficariam sem emprego se todo mundo passasse a usar roupas improvisadas e trapos? — Mas não é justo! Afinal, Saskia era mulher o bastante para gostar de roupas boas e querer se apresentar bem. Concluiu que o conjunto creme lhe cairia bem, porém determinou-se a pagar cada centavo gasto nele. — Não sei por que insiste em fazer isso — rebelou-se, inconformada. — Não preciso de roupas, já lhe disse isso. E com certeza não há necessidade de você esbanjar dinheiro para me impressionar. — Nem a você, nem a ninguém — confirmou Andreas, a expressão ameaçadora. — Sou um homem de negócios, Saskia. Esbanjar dinheiro por nada não é algo que eu faria, muito menos na tentativa de impressionar uma mulher que poderia facilmente ser comprada por menos da metade do preço daquele traje. Não, senhora! — advertiu, quando ela ameaçou lhe dar um bofetão. Saskia franziu o cenho de dor ao sentir a circulação de sangue interrompida na altura do pulso, mas agüentou firme, sempre orgulhosa. Somente quando ela cambaleou e empalideceu, Andreas percebeu que a segurava com força demais e a soltou, massageando o local enquanto praguejava. — Por que não disse que eu estava machucando? — protestou. — Você tem ossos frágeis como os de um passarinho. Saskia não fraquejou nem pediu compaixão. — Não quis estragar o seu divertimento — disparou. — Era óbvio que estava gostando de me machucar. Andreas a soltou com um empurrão. — Está indo longe demais. Você se comporta como criança. Primeiro, prostituta, agora, criança. Quero que desempenhe apenas um papel daqui para a frente, Saskia, e é aquele com o qual concordamos. Vou alertar só uma vez: se fizer ou disser qualquer coisa que desperte em minha família a desconfiança que não estamos noivos de verdade, cuidarei para que se arrependa. Entendeu? Saskia baixou o olhar. — Entendi. — E não será apenas na Rede Demétrios que não encontrará mais emprego. Se me passar para trás, Saskia, cuidarei para que nunca mais se empregue em nenhum lugar. Uma contadora que não merece confiança e que foi demitida por suspeita de roubo não é uma Projeto Revisoras
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profissional que as pessoas desejem contratar. — Não pode fazer isso! — sussurrou Saskia, pálida, mas sabia que ele podia. Odiou-o naquele momento... de verdade. Quando entraram em outra loja e a vendedora derramou sobre Andreas um olhar de interesse sexual, pensou consigo mesma se suportaria um assédio tão descarado sobre um homem que fosse seu noivo de verdade! Anoitecia quando Andreas finalmente concluiu que Saskia tinha um guarda-roupa adequado como sua noiva. Na última loja, pediu a ajuda da estilista particular de plantão, que, com eficiência, escolheu trajes que Saskia até então só vira em revistas caras. Amuada, rejeitara todas as sugestões, só para ouvir Andreas contradizer. Concordaram apenas uma vez, quanto a um biquíni que combinaria perfeitamente com sua tez e o cenário da ilha grega ao qual se destinavam. Arregalando os olhos diante dos triângulos diminutos que supostamente lhe cobririam as vergonhas... quase desmaiou ao ver o preço de quatro dígitos do conjunto na etiqueta. — Eu não posso nadar com isto! — Nadar? — A estilista parecia atônita. — Céus, não, claro que não. Esta peça não é para nadar. Veja o lenço que acompanha. Não é divino? — Mostrou um lenço de seda finíssima com brocados. Saskia temeu desfalecer de incredulidade, mas, para seu alívio, Andreas também rejeitou a oferta. — Não é o tipo de traje que eu gostaria que minha noiva usasse — explicou ele, severo. — Saskia tem um corpo perfeito e não precisa recorrer a trajes mínimos para chamar a atenção, como se fosse uma garota de programa... A vendedora diplomaticamente não insistiu, preferindo apresentar maios. Saskia escolheu o mais barato e, com relutância, permitiu que Andreas incluísse um lenço. Enquanto Andreas pagava a conta e instruía para que tudo fosse entregue em seu apartamento, Saskia saboreou o café, cortesia da casa. Sentia-se zonza, provavelmente por não ter almoçado direito. Com certeza, não podia ser porque ela e Andreas estavam a caminho do apartamento dele, onde ficariam sozinhos e... — Há um restaurante excelente perto do prédio — informou Andreas, quando já estavam no carro, a caminho do apartamento. — Vou encomendar por telefone... — Não — protestou Saskia. — Prefiro jantar fora. Andreas franziu o cenho. — Não acho uma boa idéia — contrariou. — Uma mulher sozinha, principalmente uma mulher como você, pode chamar a atenção, e, além disso, você parece cansada. Terei de sair e não sei a que horas estarei de volta. Andreas ia sair. Saskia sentiu a ansiedade diminuir. Sentia os pés doloridos de tanto andar, enquanto a cabeça doía após o esforço de somar todos os gastos daquela tarde. Gastara muito mais do que planejara. Tanto que, só de pensar, já se sentia mal. Tristemente, reconheceu que sobraria bem pouco de sua poupança quando reembolsasse Andreas. Cansada, acompanhou Andreas pelo estacionamento subterrâneo do prédio de apartamentos com vista para o mar. Era preciso uma chave especial para usar o elevador, que subiu com tanto conforto que Saskia mal percebeu quando estacou. — Por aqui — instruiu Andreas, atravessando o luxuoso hall comum a quatro apartamentos até uma das portas luxuosas. Destrancando-a, estendeu o braço para que ela adentrasse primeiro no ambiente para lá de refinado. CAPITULO V O primeiro detalhe a impressionar Saskia no luxuoso apartamento de Andreas não foram as caríssimas telas de arte moderna nas paredes do vestíbulo, mas sim o cheiro... de um perfume almiscarado, intenso, que bloqueava as vias respiratórias. Projeto Revisoras
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Andreas o sentiu, também, e ergueu a cabeça, farejando como uma pantera caçadora. — Raios... raios — praguejou, baixinho, e então abriu a porta que dava para a sala de estar com janelas amplas. Saskia espantou-se quando ele a segurou com força pelos braços e sussurrou junto a seus lábios, o olhar obscurecido orientando a não objetar: — Enfim, sós! Como você me provocou hoje, meu amor, mas agora que a tenho só para mim, sei exatamente que castigo lhe dar... Confusa com o tom suave e as palavras sensuais, Saskia cambaleou contra ele, sentindo o choque dominar seu corpo como uma onda. Então, ele a beijou, silenciando seu pro testo... provocando, seduzindo... com uma habilidade que aplacou suas defesas tão efetivamente quanto uma bomba atômica. Febril, Saskia sussurrou o nome dele, tentando em vão detê-lo para exigir uma explicação. Mas os lábios, a boca, os sentidos, desacostumados a tal estímulo sensual, rebatiam qualquer comando mental. O choque foi absorvido pelo calor do prazer do beijo passional de Andreas. Com os lábios intumescidos e trêmulos, ela correspondia desinibida. Alheia ao que fazia, Saskia moldou o corpo ao de Andreas, pondo-se na ponta dos pés para aproveitar melhor o prazer delicioso daquele beijo. Sentiu os músculos dos ombros dele se enrijecendo, ao mesmo tempo em que seu próprio coração t disparava em meio à sensação. Mais do que o perfume almiscarado que impregnava o apartamento, Saskia sentia o cheiro de Andreas. Seu calor... sua paixão... sua masculinidade... Surpreendentemente, algo nela, algo que nem sabia existir, respondia ao estímulo, assim como ela correspondia ao beijo... como respondia a ele, entregando-se aos braços musculosos com ansiedade, desejando seus corpos mais unidos... desejando descansar contra a força viril. Zonza de prazer, Saskia abriu os olhos e estremeceu ao ver faíscas de sensualidade nos de Andreas. Era como pairar acima da terra, num espaço intermediário, onde ainda se sentia perigo, mas em que havia certeza de salvação. — Você ama como uma inocente... uma virgem... — comentou Andreas, rouco, o olhar cintilante em aprovação. Com o coração disparado, Saskia sentia um desejo estranho e intenso de contato físico, de sentir as mãos de Andreas deslizando sobre sua pele até encontrar o local onde a ânsia se concentrava. Por algum motivo, apenas imaginar que ele a acariciava naquele ponto fazia aumentar a ansiedade. Presa daquele latejar íntimo, selvagem e primitivo, deixou escapar um gemido e cambaleou de encontro ao corpo másculo. — Você gosta disso... Você me quer... Saskia identificava a urgência no tom, sentia a ereção da masculinidade junto ao ventre. Ávida, pressionou-se contra ele. — Andreas? — chamou uma voz feminina, fria e autoritária. — Não vai me apresentar? Ao perceber que havia platéia para o que fazia, Saskia se envergonhou. Tentou se desvencilhar e aplacar a confusão mental, mas Andreas a segurava no lugar... puxando-a novamente contra si, fazendo-a se apoiar nele como se... como se... Saskia estremeceu ao sentir a perna dele entre as coxas e enrubesceu ao entender a conotação sexual da pose. Mas a mulher que os observava não parecia minimamente abalada. Tratava-se de uma morena alta, vestida impecavelmente, mas, apesar da pele viçosa e das cores berrantes nos lábios e unhas, sentia-se sua frieza inata. — Athena, como entrou aqui? — questionou Andreas, parecendo surpreso. — Eu tenho uma chave, esqueceu? Ela lançou um olhar a Andreas, excluindo Saskia completamente da conversa e da visão. Saskia pensou na imagem que concebera antes, de uma viúva arrasada com a perda do marido e agora forçada a se casar novamente. Ninguém nunca forçaria aquela mulher a nada... E quanto a estar arrasada... Via-se apenas um sentimento naqueles olhos castanho-escuros e não tinha nada a ver com dor. Saskia mal disfarçou a repulsa ao reconhecer o olhar de desejo carnal que Athena lançava Projeto Revisoras
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a Andreas. Jamais vira uma mulher olhar para um homem de forma tão abertamente predatória. Então, compreendeu por que Andreas precisava de uma noiva falsa para se precaver, embora não entendesse como ele podia resistir ao ataque da mulher fatal. Athena era muito bonita, e obviamente queria Andreas. Com certeza, resumia a maior fantasia dos homens: uma mulher cujo apetite sexual por eles nunca se saciava. Agora, ficava claro que Andreas a beijara apenas porque adivinhara que Athena estava no apartamento. Com a mulher tão próxima, entendia como ele descobrira. O perfume dela era tão inconfundível quanto desagradável. — Não vai dizer o quanto está satisfeito em me ver? — Athena fez beicinho ao se achegar. — Seu avô está muito preocupado com essa história de noivado. Sabe o que ele tinha em mente... — acrescentou, insinuante, antes de finalmente reconhecer a presença de Saskia. — Oh, perdão, não quis magoar os seus sentimentos, mas Andreas já deve ter avisado que será difícil para a família aceitá-la... principalmente para o avô. — Athena — alertou Andreas, e Saskia imaginou como estaria se sentindo se estivessem noivos de verdade. — Mas é a verdade — prosseguiu Athena, destemida, e deu de ombros, o movimento chamando a atenção aos seios fartos. Saskia percebeu que ela não usava nada por baixo da camisa de algodão fino. Desviou o olhar dos mamilos rígidos de Athena e não ousou fitar Andreas. Com certeza, nenhum homem resistiria a uma tentação tão sensual. Também tinha seios bonitos e firmes, porém os mamilos não tinham o volume dos de Athena e, mesmo que tivessem, sabia que ficaria constrangida em exibi-los. Mas talvez Athena se exibisse só para Andreas... sugerindo que já haviam tido algum relacionamento. Afinal, o fato de ela ter a chave do apartamento parecia deixar claro que havia uma intimidade entre os dois. Como que confirmando seus pensamentos, Athena achegou-se e pousou a mão bemtratada no rosto de Andreas, separando-os. — Não vai me dar um beijo? Ou sua noiva não entende que, na Grécia, os relacionamentos de família... a lealdade familiar... são muito, muito importantes. — Saskia entende que eu a amo e que quero me casar com ela — replicou Andreas, sucinto. Recuou um passo, levando Saskia junto. Segurando-a contra si, fez com que apoiasse a cabeça em seu ombro. Saskia lembrou-se do motivo para ele estar fazendo aquilo e qual era seu papel. — Que amor! — comentou Athena, desdenhosa. Com um olhar frio para Saskia, voltou-se para Andreas. — Detesto lançar uma sombra na sua felicidade, Andreas, mas seu avô não está nada contente com você. Parece que está preocupado com sua maneira de conduzir a incorporação. Claro, entendo como deve ser importante para você estabelecer a sua marca nos negócios, firmar-se, mas foi imprudência adquirir essa rede de hotéis inglesa, bem como a decisão de manter toda a equipe de colaboradores. Ela continuou, irônica: — Nunca será rentável assim. Saiba que tive a oportunidade de analisar o balanço financeiro da rede e estou contente em não ter entrado no negócio, embora até possa perder um milhão ou algo assim. Pena não ter aceitado administrar a companhia marítima para mim, Andreas. Isso lhe daria mais oportunidades do que trabalhar como mensageiro do seu avô. Saskia ficou tensa ante o insulto, mas, para seu espanto, Andreas permaneceu impassível. Quando ela fazia alguma observação, Andreas reagia com toda a ira. — Athena, foi meu avô quem tomou a decisão de comprar a rede britânica, e eu apenas endossei. Quanto à rentabilidade futura... meus relatórios indicam que há um excelente mercado para hotéis de luxo na Grã-Bretanha, principalmente quando oferecem atividades de lazer de primeira classe e um bom chef no restaurante. Vou garantir que haja tudo isso na nossa rede. Impassível, ele continuou: Projeto Revisoras
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— E, quanto ao risco de mantermos a equipe existente... Saskia é contadora, e tenho certeza de que poderá lhe explicar... como deve saber, sendo uma empresária... que, a longo prazo, custa mais dispensar os funcionários do que mantê-los empregados. Dispensas normais e aposentadorias reduzirão os quadros dramaticamente nos próximos anos, e aqueles que quiserem continuar terão a oportunidade de se transferir e receber treinamento. Os clubes de lazer que serão instalados em cada unidade deverão absorver todo o excedente de pessoal. E completou: — Saskia e eu partiremos para Atenas amanhã. Tivemos um dia ocupado hoje e, se nos dá licença, esta noite será muito especial para nós. — Sentindo que Saskia se enrijecia, Andreas apertou seu braço, alertando-a, enquanto reforçava: — Uma noite muito especial. O que me lembra... — Procurou no bolso do paletó uma caixinha de veludo. — Escolhi este anel. Espero que sirva. — Antes que Saskia se recuperasse da visão do solitário enorme, guardou a caixinha ao bolso e sussurrou-lhe: — Logo saberemos... Na sala de estar, além do vestíbulo, o telefone começou a tocar. Andreas foi atender. Saskia ficou sozinha com Athena. — Isso não vai durar — sibilou Athena, maldosa, enquanto passava por Saskia em direção à porta. — Ele não se casará com você. Estamos destinados a ficar juntos. Andreas sabe disso. Só o orgulho o faz lutar contra o destino. Você bem poderia desistir dele agora, porque garanto que eu nunca vou desistir. Ela falava a sério, percebeu Saskia, e pela primeira vez solidarizou-se com Andreas. Solidariedade por um homem que a tratava daquele jeito? Por um homem que a interpretara mal? Só podia estar louca! Apreensiva, Saskia observou as malas novas, com suas roupas novas, serem carregadas na esteira, enquanto a funcionária da companhia aérea verificava os passaportes. Agora ostentando o anel de noivado, recordou o momento em que Andreas o colocara em seu dedo, na noite anterior. — Este diamante até parece verdadeiro — comentara ela, mal disfarçando a infelicidade por ter de usar um solitário que não lhe fora dado por seu noivo de verdade, um homem com quem ficaria para sempre. — Você acha? — retrucara Andreas, divertido. — Eu nem desconfiaria... Alertada pelo tom de voz, Saskia examinara de novo a jóia. — Quer dizer que é verdadeiro? Andreas dera um meio-sorriso em resposta. Saskia engolira em seco, incapaz de desviar o olhar do solitário brilhante. Então, protestara, pois não queria a responsabilidade de usar um objeto tão caro. — Athena reconheceria um diamante falso imediatamente — explicara ele, justificando a extravagância. — Se ela pode reconhecer um diamante falso com tanta facilidade... então com certeza reconhecerá uma noiva falsa! — Athena lida com fatos concretos, não com emoções. Fatos concretos, refletia Saskia agora, percorrendo o túnel de embarque ao lado de Andreas. De fato, fora concreto o beijo que ele lhe dera na noite anterior, sabendo que Athena assistia à cena. Ele adivinhara a presença.da prima por seu perfume, o que deixou claro ao acionar o ar-condicionado e alfinetar: — Precisamos de ar fresco aqui... Andreas saíra em seguida, como avisara, e Saskia foi dormir sozinha, após consumir a refeição que ele mandara entregar. — Quanto tempo até a ilha? — indagou Saskia, quando entraram no avião. — Nessa época, levará mais tempo do que o normal — respondeu Andreas, enquanto a comissária mostrava-lhes seus lugares... na primeira classe, notou Saskia, impressionada. Nunca voara na primeira classe antes, aliás, nunca fizera nada que a preparasse para se sentir à vontade na estratosfera rarefeita de riqueza que Andreas e a família habitavam. — Quando chegarmos a Atenas, terei de deixá-la sozinha por algumas horas para tratar de Projeto Revisoras
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alguns assuntos antes de prosseguirmos a viagem. Meu avô ligou ontem à noite. Quer me ver. — Mas ele não está na ilha? — Não. Seu problema coronário exige que se submeta a exames regulares... por cautela, felizmente... e ele ficará em Atenas por mais um ou dois dias. — Athena disse que não acredita que nosso relacionamento dure. Afirma que vocês dois são destinados um ao outro. — Ela só quer intimidar você — tranqüilizou Andreas. Sem saber por quê, Saskia sentiu-se novamente solidária e opinou: — Mas, se explicasse a seu avô como se sente, ele entenderia e aceitaria que você não pode se casar com uma mulher que não... bem, com quem não quer se casar... — Meu avô é tão teimoso quanto uma mula. Também é mais vulnerável do que pensa... do que qualquer um de nós quer que ele pense. O coração... — Ele suspirou. — No momento está estável, mas é importante que ele... e nós... mantenhamos o estresse num nível baixo. Se eu disser que não quero me casar com Athena sem apresentar você como substituta, ele ficará imediatamente estressado. Não se trata apenas de reunir fortunas, meu avô também valoriza demais descendentes do sexo masculino. — Minha irmã mais velha já tem duas filhas, e Athena também tem duas. Meu avô está desesperado para que eu, seu descendente direto, produza a próxima geração... um bisneto. — Mas, mesmo que se case com Athena, nada garante que terão filhos do sexo masculino — observou Saskia. — Por que está rindo? — indagou, constrangida, ao ver as ruguinhas no canto dos olhos dele. — Saskia, para uma mulher com a sua experiência, você às vezes parece muito, muito ingênua. Nunca diga a um homem, principalmente se ele for grego, que ele pode não ter um filho! Quando o avião começou a ganhar velocidade para decolar, Saskia se agarrou aos braços da poltrona, tensa. Então, sentiu a mão de Andreas sobre a sua. — Tem medo de voar? — questionou ele, divertido. — Não devia. É a forma mais segura de transporte. — Eu sei — respondeu Saskia, irritada. — É só... bem, é que voar parece tão... tão pouco natural, e se... — Se o homem devesse voar, teria asas — completou Andreas. — Bem, Ícaro até arranjou um par. — Sempre achei essa história triste. — Saskia estremeceu. — Principalmente por causa de seu pobre pai. — É — concordou Andreas. — Devo concluir que é uma estudiosa de mitologia grega? — Bem, não uma estudiosa. Mas minha avó costumava ler histórias de um livro de mitologia quando eu era pequena, e sempre achei tudo fascinante... ficava muito emocionada. De repente, Saskia deu-se conta de dois fatos. O primeiro era de que já cortavam os ares. O segundo era que... para seu próprio espanto... gostava de ter a mão de Andreas sobre a sua. Enrubesceu e eliminou o contato quando a comissária ofereceu-lhes champanhe. — Champanhe! — Saskia arregalou os olhos ao tomar um gole da taça que Andreas lhe passou. Quase engasgou ao sentir as bolhas deliciosas explodirem em sua boca. Logo se sentiu relaxada sob efeito do álcool. Quando o comandante anunciou, pelo altofalante, que já iam pousar, surpreendeu-se com a rapidez do vôo... e como apreciara a conversa com Andreas. Descobrira que era fácil apertar a mão dele, sentindo-se segura enquanto o avião tocava na pista e o comandante aplicava o reverso para desacelerar. Após o desembarque, enquanto recuperavam a bagagem junto à esteira em forma de carrossel, Andreas lhe apresentou opções: — O chofer poderá levá-la direto ao apartamento de minha família em Atenas, onde poderá descansar enquanto me encontro com meu avô, ou, se estiver disposta, dar um giro pelos pontos turísticos da cidade. Saskia o admirou na calça comum de cor clara e camisa de algodão branco de mangas curtas. Por algum motivo indefinível, a visão dos músculos trabalhando lhe provocava uma Projeto Revisoras
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reação estranha, muito feminina. Interceptou o flerte que uma passageira lançou a ele e sentiu vontade de tomar satisfações, possessiva. Onde estava com a cabeça? Devia ser o champanhe... ou o calor... ou ambos! Sim, era a única explicação lógica para aquele comportamento inusitado. Afinal, não tinha por que se sentir possessiva em relação a Andreas. Na manhã anterior, ainda o odiava... detestava... Na verdade, detestava representar o papel de sua noiva... mas era obrigada, claro. Só que... Bem, após conhecer Athena, era natural solidarizar-se com Andreas. Além disso, ficara fascinada com as histórias que ele lhe contara durante o vôo... histórias que ele ouvira de membros mais velhos da família, uma miscelânea maravilhosa de mito e folclore. E foi ótimo não ter de lidar com a bagagem. Normalmente, viajava com amigas ou a avó e tinha de carregar as próprias malas... — Saskia? Percebeu, constrangida, que Andreas aguardava uma resposta sua. — Claro que eu, gostaria de conhecer a cidade! — decidiu-se, finalmente. — Bem, não terá muito tempo — alertou Andreas. — O piloto já preencheu o plano de vôo. Saskia já sabia que iriam para a ilha da família Latimer no jatinho particular do avô de Andreas. Impressionou-se ainda mais quando ele a informou de que era qualificado para pilotar aviões. — Infelizmente, tive de desistir — esclareceu ele. — Não disponho mais de tempo para praticar e, além disso, a seguradora não estava querendo cobrir o risco. — Tocou-a no ombro indicando a direção a seguir. — Por aqui. De soslaio, Saskia captou o reflexo dos dois num pilar espelhado e ficou tensa. Por que se mantinha tão próxima de Andreas? Como se... Como se gostasse de bancar a mulher frágil para seu macho forte. Imediatamente, afastou-se e endireitou os ombros. — Athena adoraria ver você se afastando de mim assim — repreendeu Andreas. — Estamos supostamente apaixonados, Saskia... lembra-se? — Mas Athena não está aqui. — Não, felizmente — concordou ele. — Mas não sabemos quem pode estar nos observando. Somos um casal... muito apaixonado... recém-noivos... e você está indo para minha casa conhecer a minha família. Não acha natural que... — Que eu deva me sentir nervosa e intimidada... preocupada com a perspectiva de eles me acharem, ou não, boa o bastante para você? — completou Saskia, zangada. — O que eu devia fazer? Agarrar-me desesperadamente a você... com medo da rejeição deles... com medo de perder você... só porque... Calou-se sob a mira do olhar sombrio. — Não acha natural que eu procure manter você junto de mim e que você, igualmente, queira a mesma intimidade? — questionou Andreas. — Que, como amantes, sintamos o desejo de permanecer em contato físico? Além disso, como você mesma observou, aos trinta e oito anos já estou velho demais para precisar da aprovação de alguém sobre o que fazer ou quem amar. — Mas você não... — Saskia deteve-se antes de completar a sentença. Andreas não precisava que ela dissesse que ele não a amava. — Eu não o quê? — desafiou ele, mas ela meneou a cabeça, recusando-se a responder. — Então, quer ver a Acrópole primeiro? — indagou Andreas, antes de saltar da limusine. — Pode ser — murmurou Saskia, desanimada. — Spiros tem instruções de levá-la de volta ao aeroporto a tempo de pegar nosso vôo. Ele lhe mostrará a cidade. Desculpe-me por ter de abandoná-la. Saskia viu se destacar como nunca a herança cultural mestiça de Andreas. Na Grécia, ele se sentia em casa, mas ao mesmo tempo se destacava dos demais gregos, pois era alto e exibia uma tez mais clara, embora bronzeada, e seus olhos cinzentos sempre denunciariam o sangue europeu... Saskia suspirou emotiva quando finalmente deu as costas à Acrópole e voltou para a Projeto Revisoras
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limusine. Convencera o chofer de que ficaria bem sozinha, mas, só após muita resistência, aproveitara a solidão sob a aura de encantamento da construção milenar. Mas, era hora de partir. A limusine aguardava no local combinado, mas nem sinal do motorista. Havia um homem perto do veículo, entretanto, de cabelos brancos e muito idoso. Saskia franziu o cenho ao perceber que ele não parecia bem, com a mão junto ao peito, como se sentisse dor. Apertou o passo rumo ao veículo, após olhar para os dois lados na rua e não ver ninguém que pudesse ajudar. — O senhor está bem?—indagou, preocupada, achegando-se. — Não é nada... o calor... uma dorzinha. Acho que caminhei mais do que devia... Saskia não sabia o que fazer. Fazia muito calor, de fato. Não poderia deixar aquele senhor ali, sozinho. Mas nem sinal do motorista, e não havia mais ninguém a quem pedir ajuda. — Está mesmo muito quente — concordou com o ancião, gentil. — E pode ser cansativo caminhar essa distância toda. Eu tenho um carro... e... com motorista... Aceita uma carona? Andreas ficaria furioso se ela chegasse atrasada para o vôo, mas não podia abandonar um homem de idade, indisposto, à própria sorte, no meio da rua. — Este carro? — indagou ele, indicando a limusine estacionada. — Bem, não é meu — explicou Saskia. — Pertence a... a um conhecido. O senhor mora longe? Saskia percebeu que o ancião recuperava uma cor mais saudável e respirava com mais facilidade. — Você é muito gentil — declarou ele, com um sorriso. — Mas eu também tenho carro... com motorista... Você é muito gentil em se preocupar com um velho. De fato, havia um automóvel luxuoso estacionado no fim da rua, mas meio longe. — Aquele é o seu carro? Quer que eu chame o motorista? — Não, eu posso ir andando. Sem dar-lhe chance de recusa, Saskia o amparou. — Permita que eu o acompanhe até lá. — Talvez seja melhor — concordou ele. Chegar ao carro levou mais tempo do que Saskia imaginava, principalmente porque o ancião estava mais abatido do que queria admitir. Foi um alívio quando o motorista dele os avistou e se apressou para ajudar, tagarelando em grego. O ancião endireitou-se e repreendeu empregado. — Ele resmunga como uma velha! — explicou o ancião a Saskia, em seu inglês precário. — Obrigado, minha querida, fiquei contente em conhecer você. Mas não devia andar sozinha nas ruas de Atenas — recomendou. Teve uma idéia e falou algo em grego ao motorista. — Yannis vai acompanhá-la até a limusine e esperar com você até seu chofer voltar. — Oh, não é necessário — protestou Saskia. Mas o novo amigo era insistente. Ela aceitou a oferta, despediu-se e tomou a rua. — Não precisa me acompanhar — disse ao motorista dele, assim que se afastaram um pouco. — Eu preferia que ficasse com seu patrão. Ele não se sentia bem quando o vi na rua. Para seu alívio, viu o chofer de Andreas de volta à limusine. — Está vendo, não será preciso esperarmos! — Na despedida, comentou aflita: — Seu patrão... Não é da minha conta, eu sei... mas talvez seja melhor levá-lo ao médico... — A família está de olho nele — assegurou o chofer. — Mas ele... como se diz? Ele não aceita o conselho de ninguém... O motorista dava a entender que o mal do patrão estava sob controle, e Saskia afastou as preocupações. O velhinho estava em boas mãos, e ela devia seguir imediatamente para o aeroporto. CAPITULO VI Projeto Revisoras
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Saskia ousou olhar para Andreas e reteve um suspiro de prazer ao contemplar pela janela do jatinho o maravilhoso mar Egeu azul-esverdeado. Sério, parecendo preocupado ao se encontrarem no aeroporto, ele nem lhe perguntara se gostara do passeio. Agora, cada vez mais próxima da casa e da família dele, ela sentia a tensão aumentando. Era irônico estar ali e não poder apreciar a viagem que sempre sonhara em fazer um dia. Mais por educação do que por preocupação, ou assim acreditava, Saskia indagou com tato: — Algo errado? Você não parece muito contente... Andreas imediatamente suavizou a expressão e se voltou para ela. — Praticando o papel de noiva devotada? — replicou, cínico. — Se está querendo um bônus, não se incomode. Saskia sentiu o sangue ferver. — Ao contrário de você, não avalio tudo o que faço com base no benefício que posso obter — assegurou, furiosa. — Apenas imaginei que tivesse se aborrecido na tal reunião. — Você? Preocupada comigo? Só há um motivo para estar aqui comigo, Saskia, e nós dois sabemos qual. O que ele esperava? Saskia engoliu a resposta zangada que gostaria de dar. Só estava ali porque ele a chantageara! Pensava o pior dela, julgara-a sem lhe dar chance de defesa, ou de explicar seu comportamento, como se tivesse moral para tanto! Como pudera solidarizar-se com ele? Ele e Athena se mereciam. Mas, mesmo zangada e contrariada, Saskia sabia que não era bem assim. Sentira a frieza de Athena, a total falta de consideração a qualquer emoção. Andreas podia ter feito e dito muitas coisas com que não concordava, mas havia um lado passional nele... um lado muito passional, reconheceu... e estremeceu ao recordar o beijo arrebatador que ele aplicara... Embora fosse apenas encenação, para Athena ver, ele a fizera se sentir... ligada a ele, num nível muito profundo e pessoal. Tanto que, mesmo naquele instante, se fechasse os olhos e recordasse, quase sentia a pressão dos lábios duros contra os seus. — Se quer saber, a reunião não foi grande coisa. Saskia arregalou os olhos, surpresa, ao ouvir a voz de Andreas em tom normal de conversa. — Para começar, meu avô não estava lá. Parece que tinha algo mais importante a fazer. Más nem se incomodou em explicar o que seria, ou deixar recado. Fiquei esperando por mais de meia hora. Só que mandou me informarem de que não estava satisfeito comigo no momento! Pode? Saskia ficou desolada. — Por minha causa? — Meu avô sabe que não há como me forçar a um casamento com uma mulher que eu não ame... o casamento dele foi arranjado, como o de meus pais, ainda que minha mãe tivesse de ameaçar fugir antes de conseguir a aprovação. Quando meu pai morreu, meu avô admitiu o quanto o admirava. Era um sobrevivente e se manteve independente de meu avô. — Deve sentir falta dele — comentou Saskia, sensível. — Eu tinha quinze anos quando ele morreu, faz muito tempo. E, ao contrário de você, pelo menos tive o conforto de saber o quanto ele me amava. Saskia considerou o comentário rude e ficou tensa, defensiva, mas então Andreas lhe tomou as mãos, e entendeu que o interpretara mal. — O amor que minha avó me deu substituiu com vantagem o amor que não tive de meus pais — esclareceu. E falava a sério. Ele ainda segurava suas mãos... e aquela sensação engraçada, provocante de antes retornou. Fitou a mão masculina. Os dedos eram longos, bronzeados, as unhas estavam aparadas mas sem tratamento de manicure. Era mão de homem... grande o bastante para segurar ambas as suas sem esforço. Em contato com mãos másculas assim, uma mulher tinha certeza de estar diante de um homem capaz de cuidar dela e dos filhos. Andreas sempre Projeto Revisoras
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garantiria que sua mulher e seus filhos ficassem sãos e salvos. Mas em que estava pensando? Saskia mexeu-se inquieta no assento e desvencilhou as mãos da dele. — Tem certeza de que é uma boa idéia? — questionou, levemente sem fôlego, enquanto tentava se concentrar na realidade do motivo de estar naquele jatinho. — Quero dizer, se seu avô já não aprova o nosso noivado... Andreas levou tanto tempo para responder que Saskia começou a achar que ele se irritara com a pergunta. Quando ele se manifestou, percebeu que a raiva que obscurecia seu olhar não se dirigia a ela, mas à prima Athena. — Infelizmente, Athena proclama uma proximidade de sangue que meu avô acha interessante. O irmão mais velho dele, avô de Athena, morreu há alguns anos e, embora nunca vá passar o controle do império financeiro a ninguém, ela o bajula e encoraja a ponto de confundi-lo. Minha mãe diz que a verdade virá à tona e que meu avô vai perceber as maquinações de Athena. — Mas ela já viu que você não quer se casar com ela — observou Saskia, sentindo-se desconfortável. Era tão distante de seu próprio comportamento tentar forçar alguém a um relacionamento que era até difícil entender as motivações de Athena. — É, mas Athena nunca se negou nada que quisesse, e no momento... — Ela quer você. — Isso mesmo. Mas, por mais que queira dizer a ela que nossos sentimentos não são recíprocos, tenho de pensar no meu avô. Interromperam a conversa quando o avião começou a reduzir a altitude. Saskia empalideceu ao identificar a ilha de destino pela janela. — Ele não pode estar querendo pousar naquele pedacinho de terra — sussurrou, apavorada. — Pode e vai. É muito mais seguro do que parece — assegurou Andreas. — Veja ali. — Referia-se à pista de pouso e à trilha que dava na vila da família, ampla e magnífica, cercada de uma paisagem luxuriante. — Tudo é tão verde — constatou Saskia, reanimada. Admirou-se com a forma oval quase perfeita da pequena ilha, o verde rico dos jardins e folhagens contrastando perfeitamente com a areia branca das praias e o maravilhoso azul-turquesa do mar Egeu. — A ilha tem uma fonte de água doce abundante — explicou Andreas. — É uma ilha pequena demais para ter plantações ou gado, por isso era deserta... como vê, fica meio distante das outras ilhas, é a mais afastada dentro do mar Egeu. — Parece perfeita — elogiou Saskia. — Como uma pérola no mar. Andreas riu, mas havia uma emoção no olhar que fez Saskia enrubescer um pouco quando ele revelou a graça: — Era como minha avó a descrevia. Saskia prendeu a respiração quando o avião tocou na pista, só então percebendo que Andreas a distraíra bem no instante da aterrissagem. Ele podia ser tão agradável quando queria, tão charmoso e amistoso... E ele teria uma opinião tão diferente a seu respeito, se tivessem se conhecido em outras circunstâncias. Prática, reorganizou os pensamentos, alertando-se de que sua situação já era instável o bastante sem que a piorasse fantasiando e sonhando. Novamente gélido, Andreas não dava mostras de seu dilema ao escoltar Saskia para fora do jatinho. Havia uma forte contradição entre a imagem que tinha de Saskia naquele momento e a impressão que tivera dela naquele primeiro encontro, no bar de executivos. Para sua paz de consciência e segurança, seria melhor que ela confirmasse ser a mulher sem moral que se apresentara de início. A vulnerabilidade que ela lutava tanto para esconder o emocionava de uma forma que uma mulher fria como Athena jamais conseguiria. Saskia possuía um calor, uma humanidade, uma feminilidade que provocavam sua masculinidade da forma mais perigosa. Sombrio, Andreas tentou esquecer como se sentira ao beijá-la. Agira por puro instinto ao Projeto Revisoras
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perceber que Athena estava no apartamento... aquele perfume asfixiante era facilmente identificável. Não fazia a mínima idéia de como a prima conseguira a chave da porta, mas desconfiava de que ela bajulara seu avô. Mas o beijo que dera em Saskia para provar a Athena que o relacionamento era sério revelara algo... algo que ainda se esforçava para negar. Não queria desejar Saskia. Não queria! E com certeza não queria sentir aquela vontade de protegê-la e tranqüilizá-la. Fazia calor em Atenas, um calor quase asfixiante, mas ali, na ilha, o ar e o aroma balsâmico refrescavam demais, percebeu Saskia, aliviada. Sombreou os olhos ao pisar na pista asfaltada e avistar o trio que os aguardava. — Tome, querida, você esqueceu os óculos. — Andreas postou-se em sua frente e posicionou a armação para encaixar em seu rosto. — Nosso sol é forte demais para esses seus olhos de celta. Saskia notou que os óculos eram de grife, com certeza muito mais caros do que quaisquer óculos que já tivera. Suspirou satisfeita ao constatar que se ajustavam perfeitamente. — Eu me lembrei de que não havíamos comprado nenhum em Londres e sabia que você precisar deles — comentou Andreas, abraçando-lhe os ombros. A quem olhasse, eles deviam parecer muito íntimos, reconheceu Saskia, o que sem dúvida explicava o motivo de Andreas ter optado por entregar-lhe os óculos daquele jeito. Bem, dois podiam fazer esse jogo. Sem parar para pensar nas implicações ou questionar por que o fazia, Saskia o enlaçou pelo pescoço e aproximou o rosto do dele. — Obrigada, querido. Você é tão atencioso... Ao ver que o surpreendera, Saskia encheu-se de prazer. Então, viu no olhar dele algo muito masculino e perigoso, que a fez se desvencilhar rapidamente e recuar. Não que Andreas permitisse um afastamento grande. Ele lhe agarrou a mão, e seguiram de encontro ao pequeno grupo. — Mama, esta é Saskia... — anunciou ele, apresentando-a a mais velha das duas mulheres. Saskia sabia que, se ela e Andreas estivessem mesmo apaixonados e noivos, seu coração estaria descompassado na expectativa de estabelecer logo alguma afinidade com a futura sogra. Fisicamente, ela se parecia com Athena, embora, claro, mais velha. Mas a semelhança acabou quando Saskia a fitou nos olhos e viu a ternura que tão marcada-mente faltava na prima malévola. A mãe de Andreas deixava entrever também gentileza e doçura, quase ao ponto da timidez, e Saskia teve a impressão de que aquela mulher, tendo amado apenas um homem, jamais deixaria de lamentar sua perda. — Prazer em conhecê-la, Sra. Latimer — declarou Saskia, mas a mãe de Andreas meneou a cabeça. — Você vai ser minha nora, Saskia, deve me tratar com menos formalidade. Meu nome é Helena, ou se quiser, pode me chamar de Mama, como Andreas e minha filha. — Enquanto falava, já a segurava pelos ombros. — Ela é linda, Andreas — declarou ao filho, com emoção. — Também acho, Mama — concordou ele, com um sorriso. — Quero dizer... por dentro e por fora — esclareceu a mãe, gentil. — Também acho — retrucou Andreas, igualmente emocionado. Céus, mas ele era um ator extraordinário, reconheceu Saskia, abalada. Se não soubesse como ele se sentia de verdade, aquele olhar de adoração e ternura que lhe lançou teria... poderia... Um homem como ele devia saber que não era prudente lançar um olhar daqueles a uma mulher vulnerável, concluiu, indignada, esquecida de que Andreas a considerava tudo, menos vulnerável. — E esta é Olímpia, minha irmã. — Ele a colocou frente a frente à mulher mais jovem. Embora fosse morena como a mãe, ela exibia olhos mais claros e um sorriso acolhedor, que fez Saskia simpatizar com ela instantaneamente. — Gente, está muito quente aqui! — exclamou Olímpia. — A pobre Saskia deve estar derretendo. Projeto Revisoras
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— Deviam ter nos esperado na vila — opinou Andreas. — Bastaria terem mandado o motorista com a caminhonete. — Não, não bastaria — contrariou a irmã. A mãe olhou para a filha. — Bem, ele tem de saber... — Tenho de saber o quê? — Athena está aqui — revelou a mãe, infeliz. — Ela chegou mais cedo e... — E o quê? — Ela disse que seu avô a convidou — contou a mãe. — Sabe o que isso significa, não sabe, Andreas? — Olímpia parecia zangada. — Significa que ela bajulou vovô até ele dizer que ela podia vir. E não é tudo... — Olímpia... — alertou a mãe, descontente. Mas a filha foi até o fim: — Ela trouxe aquele esquisitão do Aristóteles. Disse que está no meio de uma negociação importante e precisa do contador. Se é tão importante, por que veio para cá? Oh, criatura detestável! Hoje cedo, ficou dizendo que vovô anda preocupado com os negócios e até lhe pediu conselhos, porque teme que você... — Olímpia! — protestou a mãe novamente. A filha continuou desabafando: — Não entendo como vovô pode se deixar influenciar tanto por ela. É óbvio o que ela está fazendo... está querendo se vingar de você, Andreas, porque você não vai se casar com ela. — Desculpe-nos — pediu Helena Latimer a Saskia. — Não deve ser agradável. Você ainda não conhece Athena, eu sei... — Já conhece — informou Andreas, contando como haviam se encontrado. — De um modo ou de outro, ela conseguiu a chave do apartamento de Londres. — Ela é horrível — comentou Olímpia com Saskia. — Eu a chamo de viúva negra. — Olímpia! — censurou Andreas. — Mama não lhe contou tudo ainda — rebateu a irmã, desafiando a mãe antes de revelar o resto. — Athena insistiu em ficar com o quarto que Mama tinha preparado para Saskia. E o que fica perto da sua suíte... — Tentei impedi-la, Andreas — contemporizou Helena. — Mas você sabe como ela é... — Ela disse que Saskia podia ficar com o quarto no fim do corredor. Você sabe, aquele que usamos como depósito quando ninguém está na ilha. Nem tem uma cama adequada... — Você terá de conversar com Athena, Andreas, fazê-la entender que ela não pode... ficar na suíte que arrumamos para Saskia. — Não se preocupem — tranqüilizou Andreas, abraçando Saskia aos ombros com força exagerada, apertando seu rosto contra o amplo peito musculoso. — Saskia vai ficar na minha suíte... e na minha cama... Saskia percebeu que as duas ficaram chocadas, e entendeu por que Andreas a segurava com tanta força. Era o jeito que arranjara de sufocar seu protesto ante a decisão atrevida dele. De fato, ela não estava preparada para aquilo. Nunca estaria preparada para aquilo. Mas as tentativas de comunicar o fato a Andreas só aumentavam o contato íntimo entre eles. Quanto tentou chamar a atenção, piorou a situação, porque ele inclinou a cabeça, ansioso em ouvir o que ela queria dizer... e ela acabou roçando os lábios no maxilar duro dele. A fraqueza que sentiu devia ser resultado da combinação de calor e choque, ponderou Saskia, zonza. Com certeza, não podia ser o gosto da pele de Andreas em seus lábios, nem o brilho perigoso que nos olhos cinza. Foi quando ele deslocou a mão da cintura dela para o seio, o qual apertou! — Saskia vai ficar na sua suíte?! — exclamou Olímpia, indignada. — Estamos noivos... e vamos nos casar em breve... — justificou Andreas, calmamente, e acrescentou de forma mais possessiva: — Saskia é minha e gostaria que todos soubessem disso. — Principalmente Aristóteles — adivinhou Olímpia. — Não sei como Athena o suporta! Ele é como uma serpente, Saskia. Frio e asqueroso, com olhos estreitos e mãos grudentas... — Athena o suporta por causa de sua contabilidade "criativa" — esclareceu Andreas. — Quer dizer desonesta — traduziu Olímpia. Andreas ajudou as três a se acomodarem na Projeto Revisoras 36
caminhonete que os aguardava. Enquanto se instalavam, o motorista cuidou da bagagem. Andreas conversou um pouco com o empregado, indagando sobre a família. O homem comentou com orgulho que o filho já estava na universidade. — Vovô não ficou nada satisfeito quando Andreas usou parte do dinheiro que papai lhe deixou para pagar os estudos dos empregados domésticos — contou Olímpia a Saskia. — Filha, não está sendo justa com seu avô — ralhou Helena. Ainda abalada com a decisão de Andreas de hospedá-la em sua própria suíte, Saskia recusou-se a admirar o lado filantropo dele. Ai, iriam mesmo partilhar o mesmo quarto? Ele não podia estar falando a sério... podia? Pessoalmente, ela não se importaria em se ajeitar num quarto sem cama usado como depósito, desde que ficasse sozinha. — Tivemos um longo dia e imagino que Saskia queira descansar um pouco antes do jantar — comentou Andreas, quando a caminhonete estacionou em um pátio com uma fonte central que saturava o ar com minúsculas gotas de água. — Cuidarei para que ninguém a perturbe — respondeu a mãe, assim que saltaram do veículo. — Mas talvez Saskia queira fazer uma refeição leve... Antes que Saskia respondesse, Andreas adiantou-se: — Eu cuido disso. — Segurando-a pelo braço, sussurrou em seu ouvido em tom ameaçador: — Por aqui, Saskia. CAPITULO VII — Não posso dormir neste quarto com você! — ela exclamou. Trêmula, Saskia acompanhara Andreas por um labirinto de corredores, controlando o nervosismo até se verem na suíte enorme e luxuosa com a porta bem fechada. Sem condições de apreciar a elegância do ambiente, voltou-se para enfrentar: — De jeito nenhum isso fazia parte do acordo! — O acordo era que você agisse como minha noiva, e isso inclui fazer qualquer coisa para assegurar a veracidade da situação — replicou Andreas, zangado. — Não vou dormir aqui com você! — repetiu Saskia, determinada. — Eu não... eu nunca... — Mal conseguia olhar para a cama enorme sem sentir pânico. Passara por tantas situações até chegar ali! Estava com calor, cansada e com muito, muito medo. Sentia-se à beira de um colapso nervoso. Andreas fingia não ouvir. — Eu vou tomar um banho, e, se quer o meu conselho, faça o mesmo. Então, quando estivermos mais refrescados e mais calmos, poderemos resolver esta questão de cabeça fria. Um banho! Com Andreas! Saskia fitou-o chocada. Ele achava mesmo que ela iria... que ela podia... — Pode usar o banheiro primeiro — ofereceu ele. Saskia expirou sonoramente, aliviada. Então, ele não pretendera... Voltou a sentir raiva. — Não quero usar seu banheiro! Quero ir para casa. Para minha própria casa, usar meu banheiro e meu quarto. Quero me libertar desta... desta farsa estúpida... Quero... — Deteve-se, procurando aplacar as emoções, mas não conseguia. — Como pôde deixar sua mãe e sua irmã acreditarem que você e eu... que nós... — Meneou a cabeça, incapaz de verbalizar a noção. Andreas não tinha tais escrúpulos. — Que somos amantes? — sugeriu, impertinente. — O que mais elas deveriam pensar? Sou homem, Saskia, e nós supostamente estamos noivos. Em sendo verdade, poderia cogitar que eu não... — Testaria o material antes de comprá-lo? — disparou Saskia, revoltada. — Oh, claro, um homem como você seria capaz disso... para ter certeza... Projeto Revisoras 37
Calou-se ao identificar a fúria nos olhos cinza. — Esse tipo de comentário é típico de uma mulher como você — observou Andreas. — Reduzir tudo em termos de dinheiro. Pois saiba que... — Foi você que disse... — O que eu disse, ou melhor, o que tentava dizer antes que me interrompesse... foi que, se estivesse verdadeiramente apaixonado por você, não teria como negar a mim... ou a você... o prazer de demonstrar amor da forma mais íntima possível. Não admitiria que se afastasse de mim, com certeza, não por uma noite inteira. Saskia estremeceu quando o significado daquelas palavras ativou sensações em seu corpo que nem imaginava existirem. Sensações de desejo que lhe davam vontade de chorar sem entender por quê. O pânico lhe obscurecia o bom senso. Sentiu o coração pulsando freneticamente de ansiedade. Queria dizer a Andreas que mudara de idéia, que queria ir para casa, que não estava preparada para permanecer naquela ilha nem mais um minuto, não importava o quanto ele a chantageasse. Mas a causa do pânico não era ele. Não. Era ela mesma e como se sentia, as idéias que começava a ter. Não podia nutrir tais expectativas em relação a ele. Não podia se sentir atraída por ele. Andreas não era seu tipo de homem. Abominava a maneira como ele a tratava, a interpretação errada que tinha de sua pessoa. Por outro lado, havia o choque de perceber que desejava o que ele descrevera como um relacionamento verdadeiro. — Eu não posso... Interrompeu o protesto quando Andreas ergueu a mão, indicando que alguém batera na porta. Sentindo a boca seca, Saskia aguardou que ele abrisse a porta e mandasse o empregado carregar a bagagem para dentro. Não se tratava do motorista, mas um outro, com quem Andreas conversou em grego. O homem olhou para Saskia sorridente e ganhou um aperto no ombro na despedida. — O que foi aquilo? — questionou Saskia, quando ficaram sozinhos novamente. — Stavros disse que já estava na hora de eu arranjar uma esposa... e que não devo perder tempo e providenciar logo um filho — informou Andreas, insinuante. Saskia sentiu-se enrubescer até a raiz dos cabelos. Olhou para todo lado, menos para a cama enorme. Apesar do ar-condicionado, permanecia sufocada, incapaz de respirar... como se fugisse desesperada de uma perseguição, uma caçada. — Vou tomar banho — avisou Andreas, abrindo a porta do banheiro. Assim que ele se trancou lá, Saskia olhou para a porta que dava no corredor, pensando em exigir que a levassem imediatamente de volta a Atenas. Mas, se fizesse isso, perderia o emprego no hotel... Andreas garantiria isso! Tentou se concentrar em outra coisa que a fizesse esquecer a situação estarrecedora em que se encontrava. Odiava o que Andreas lhe impunha, o que fazia com ela... Aproximou-se da janela e apreciou a vista além dos portões do pátio enorme. Bem junto à suíte, havia um espaço reservado amplo, com piscina e banheira de hidromassagem. O perfeito jardim dava a sensação de aplacar o sol inclemente. Espreguiçadeiras confortáveis com guarda-sóis de lona proporcionavam relaxamento para se aproveitar o calor do sol. A cena parecia saída de catálogos de hotéis exclusivistas, que Saskia já comprovara estarem fora de seu alcance. Mas, naquele momento, o único lugar em que queria estar era em sua própria casa. Andreas não podia acreditar que dividiriam o quarto, muito menos a cama, sem serem casados. — O banheiro está livre. Saskia ficou tensa. Perdida em pensamentos, não percebera a volta de Andreas ao quarto. Inebriou-se com o cheiro de sabonete refrescante. — Vou buscar algo leve para você comer. Vai demorar até a hora do jantar e, se quer o meu conselho, devia tentar descansar um pouco. Aqui na Grécia, janta-se tarde e a hora do Projeto Revisoras
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recolher é ainda mais tardia. — Mas pensei que ficaríamos em quartos separados — protestou Saskia, incapaz de controlar o pânico por mais tempo. — Eu nunca teria concordado em vir se achasse que... Não! Não se atreva a me tocar — advertiu, quando ele avançou um passo. Não resistiria se ele a tocasse, se ele... Nervosa, seguiu para porta, disposta a sair ao corredor, mas Andreas a ultrapassou, bloqueando o acesso, e segurou-a pelos braços com força. — Aonde pensa que vai? Do que finge ter medo? Disto? Uma mulher como você! Saskia prendeu a respiração e estremeceu quando ele inclinou o rosto para um beijo. Ele usava um robe, que acabou se abrindo aos esforços dela para se libertar. Foi quando sentiu a pele nua dele sob as mãos. Uma pele quente, úmida... firme, o tórax coberto de pêlos escuros. Chocada com o contato íntimo inesperado com a pele nua, tentou empurrá-lo, sem sucesso. Ele a beijava com paixão furiosa, deixando-a fraca, o sangue pulsando nas têmporas, e ela reconheceu que era incapaz de lidar com aquela experiência totalmente nova, afogada na sensualidade masculina. — Pare de agir como uma noviça, como uma inocente! — Com a língua, Andreas a forçou a entreabrir os lábios e a empurrou de costas contra a porta, encaixando-a entre suas coxas poderosas. Com a mão livre, varreu-lhe o corpo, tateando a cintura e o seio. Saskia ficou tensa de choque ao sentir o seio manuseado. Ao massagear o mamilo com o polegar, Andreas gerava um prazer indescritível. Por trás do fogo, sentia-se nele a raiva. Saskia percebeu que tinha curiosidade, que sentia excitação... um desejo perigoso de conspirar com ele, de permitir que seu corpo traidor experimentasse mais intimidade. Sem perceber, entreabriu os lábios, permitindo, hesitante, que Andreas provasse a doçura da boca. Timidamente, retribuiu o beijo, suas línguas se acariciando. — Andreas? Você está aí? Sou eu, Athena... Preciso falar com você. Saskia ficou tensa ao ouvir a voz de Athena no corredor, mas Andreas não deu sinal de perturbação ou constrangimento. Segurando Saskia com firmeza, abriu a porta e rosnou: — Agora não, Athena. Como pode ver, Saskia e eu estamos ocupados. — Ah, ela está aí com você. — A prima lançou um olhar gélido e venenoso a Saskia. — Por que não está no quarto destinado a ela? — Ela está — rebateu Andreas, friamente. — Meu quarto é o quarto de Saskia. A minha cama... é a cama dela. O meu corpo... é dela... — Seu avô jamais permitirá que se case com ela — advertiu Athena, mas Andreas já fechava a porta, ignorando-a. — Andreas, solte-me! — exigiu Saskia. Não suportava olhar para ele, muito menos pensar na lascívia com que correspondera ao assédio dele. na maneira como o encorajara... — Muito bem, Saskia, basta! — desabafou Andreas. — Eu a instruí a se comportar como uma noiva fiel, mas não precisa fingir ser uma virgem inocente, que nunca... — Calando-se, estreitou o olhar enquanto analisava a suspeita que lhe ocorreu ante a palidez e o olhar assustado de Saskia. Ele já a soltara, mas ela ainda tremia da cabeça aos pés. Ele podia jurar que, ao estreitá-la nos braços e beijá-la... quando a acariciara... era o primeiro homem a lhe provocar sensações de prazer e desejo. Após um segundo, descartou a possibilidade. Não havia como Saskia ser tão inexperiente, de forma alguma. Era bastante grego para saber que a virgindade, a pureza, era o maior presente que uma mulher podia oferecer ao homem amado, mas sua herança cultural do lado paterno e a educação moderna que tivera desdenhavam e até deploravam sentimentos tão arcaicos. A mulher esperava que o homem se mantivesse puro até conhecê-la? Não. Então, como o homem podia exigir isso de uma mulher? Naturalmente, ele aceitava e respeitava o direito da mulher de escolher como lidar com a própria sexualidade. Mas sabia também que, como amante, como marido, sempre teria uma veia passional e possessiva reivindicando ser o único Projeto Revisoras
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parceiro da amada, ser seu mestre na arte dos prazeres do amor sensual. Naquele momento, a apreensão de Saskia lhe provocava uma reação difícil de controlar, uma resposta primitiva de seu sangue grego. Uma necessidade! — Não vou dormir neste quarto com você! — declarou Saskia. — Eu... Se ela estava representando, merecia um Oscar, concluiu Andreas. Mas uma noiva que parecia assustada com a idéia de estar com ele era a última coisa de que precisava. — Venha comigo — ordenou, puxando-a pela mão. Andreas abriu outra das três portas que havia no quarto, e Saskia se viu numa sala mobiliada como escritório, com todos os equipamentos mais modernos. — Ficará no quarto se eu dormir aqui? — indagou Andreas. — Aqui? Mas é um escritório. Não há cama... — Posso trazer uma das espreguiçadeiras e dormir nela — considerou ele, impaciente. — Quer dizer... — Saskia ainda hesitava em confiar nele. Andreas assentiu, imaginando por que cedia à consciência e se submetia àquela situação ridícula. Saskia não podia ser a inocente ingênua e assustada que demonstrava. — Mas alguém perceberia se trouxesse uma espreguiçadeira — ponderou ela, insegura. — Só a minha suíte se abre para a área desta piscina. É meu território particular. A piscina principal que todos usam fica no outro lado da vila. Ele tinha uma piscina particular, só para ele. Saskia procurou não se impressionar, mas obviamente não conseguiu... a julgar pela expressão impaciente de Andreas. — Não estou contando vantagem, Saskia. Meu avô pode ser milionário, mas eu não sou. Ela não se atreveria a acusá-lo de ser um ricaço que podia ficar na beira da piscina o dia todo. De qualquer forma, Andreas sentia necessidade de explicar: — Acontece que sempre gostei de nadar bem cedo e minhas irmãs reclamavam de que eu as acordava. Por isso, mandei construir esta piscina só para mim. Nadar ajuda a relaxar a mente e é um ótimo exercício. Saskia entendia o que ele dizia. Sentia o mesmo em relação a caminhar. Sempre que estava preocupada com algo, saía para uma caminhada. . Andreas se questionava por que tanto empenho em se justificar diante de Saskia. Ela devia ser capaz de simular a pulsação frenética que sentira em seu corpo ao abraçá-la, bem como o olhar de cautela. Saskia mordiscou o lábio e desviou o olhar. Era óbvio que Andreas estava falando a sério quanto a dormir no escritório, mas agora não era o esquema da hora de dormir que a incomodava, mas o que acontecia enquanto estavam bem despertos... no que sentia quando ele a beijava. Não era possível que desejasse beijá-lo secretamente. Com certeza, novos contatos assim íntimos não aconteceriam sem que estivesse ciente. Mas o que explicava sua reação? — Bem, agora que resolvemos isso, tenho de trabalhar um pouco. Por que não pede uma refeição leve e depois descansa um pouco? — Preciso desfazer as malas — lembrou Saskia. Andreas desaprovou. — Uma das empregadas fará isso enquanto você descansa. Ante a relutância dela, ele justificou: — Eles trabalham para nós, Saskia. São empregados e trabalham para ganhar o sustento, assim como você e eu. — Oh, desculpe-me... Eu não a acordei, acordei? — indagou Olímpia, à beira da cama de Saskia. —r É que o jantar logo será servido e achei que você gostaria de ter mais tempo para se arrumar. Ainda sonolenta, Saskia conseguiu esboçar um sorriso para a irmã de Andreas. — Costumamos nos vestir para jantar, mas sem exagero — prosseguia Olímpia. — Só Athena talvez queira causar impacto... Saskia sorriu ante a simpatia da moça. — Onde está...— Envergonhada, não chegou a completar a frase. — Onde está Andreas? — adivinhou Olímpia. — Vovô ligou para falar com minha mãe e, Projeto Revisoras
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depois, quis falar com Andreas. — Deu de ombros. — Acho que ele ainda está ao telefone e, devo alertá-la, não está de bom humor. — Ao ver a apreensão de Saskia, apressou-se em tranqüilizar. — Oh, não é com você. É por causa de Athena. Ela trouxe o contador com ela e Andreas está furioso. Não o suporta. Nenhum de nós suporta, mas Athena afirma que vovô convidou Aristóteles pessoalmente. Saskia girou o corpo e pousou os pés no chão. Adormecera vestida e sentia-se grudenta, desconfortável. Não estava ansiosa em se sentar à mesa com Athena, mas Olímpia tinha razão num aspecto: precisava se arrumar para não ficar em desvantagem em relação à rival. Andreas não devia esperar que fizesse esse esforço extra, porém, com uma mala cheia de roupas novas que ele insistira em comprar, não tinha desculpa para não fazê-lo. — Maria já desfez as suas malas — informou Olímpia. — Eu ajudei. Adorei aquele vestido- preto que trouxe. É lindo. Suas roupas são maravilhosas. Andreas apareceu no closet e pediu para eu não fazer barulho, para não acordar você. — Sorriu maliciosa. — Ele é tão protetor em relação a você... Nem tomou fôlego e continuou: — Mama e eu estamos tão contentes por terem se conhecido. Nós o amamos muito, claro, e isso nos torna imparciais. Mas estávamos com medo de que ele cedesse por causa de meu avô... sabendo que nunca chegaria a amar Athena. Acho que ele lhe contou o que ela fez há muitos anos? Sem esperar resposta, Olímpia continuou tagarelando: — Eu nem devia saber, na verdade. Minha irmã Lídia me contou, mas só depois que jurei segredo. Claro que posso comentar com você, porque Andreas já deve ter-lhe contado. Ele só tinha quinze anos na época... um garoto, na verdade... Athena era muito mais velha e já ia se casar. Sei que a diferença de idade não importaria se fossem dois adultos, mas Andreas ainda era adolescente. Ele foi corajoso e digno ao se recusar a ir para a cama com ela... e quer saber? Embora diga que o ama, acho que Athena, no fundo, só quer puni-lo por a ter rejeitado... bem, você sabe como é. Athena tentara seduzir Andreas quando ele ainda era adolescente! Saskia esforçou-se para controlar o choque e o desgosto ante as revelações. De fato... sete anos ou algo assim... não representavam grande diferença de idade na fase adulta. Mas uma mulher de vinte e tantos anos seduzir um menino de quinze... com certeza, tratava-se de abuso sexual. Saskia arrepiou-se só de imaginar. Uma mulher capaz disso permitiria que uma noiva falsa ficasse entre ela e o homem que queria? E Athena obviamente queria muito Andreas... ainda que sua motivação para isso se cercasse de mistério. Andreas era um homem tão complexo que não conseguia imaginá-lo no papel de presa em vez de caçador. Se a natureza já produzira um homem com características proativas, arrogantes e predatórias, esse homem, na opinião de Saskia, era Andreas. Por outro lado, identificava algo estranho em Athena. Uma frieza, um egoísmo, uma obsessão que dificultava classificá-la com um membro do sexo feminino. Tanta determinação em se casar com Andreas era algo formidável e sinistro. — Claro, não fosse a saúde de vovô, não haveria nenhum problema — comentou Olímpia, triste. — Vovô gosta de pensar que Andreas, só porque trabalha para ele, é financeiramente dependente, mas... Olímpia meneou a cabeça e mudou de assunto: — Você vai usar o preto, não vai? Mal posso esperar para ver você nele. Combina com a sua pele e seus cabelos. Eu fico horrível de preto, mas aposto como Athena vai usar um. — Franziu o cenho ao ouvir passos masculinos no corredor. — Deve ser Andreas, e ele vai arrancar o meu escalpo se achar que estou aborrecendo você. Saskia ficou tensa quando Andreas entrou no quarto. Ele olhou para a cama vazia é rosnou à irmã: — Olímpia, eu não disse que... Projeto Revisoras
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— Eu já estava acordada quando ela entrou — interveio Saskia, protetora. Gostava da irmã de Andreas. Se estivesse apaixonada de verdade por ele e planejasse se casar, ficaria encantada em ter Olímpia como amiga e aliada. Olímpia atirou-se nos braços do irmão, risonha. — Está vendo? Não seja tão severo e autoritário comigo, senão, Saskia não vai querer se casar com você. E, agora que a conheci, estou determinada a tê-la como cunhada. Estávamos discutindo o que ela vai usar no jantar — comentou. — Eu a alertei de que Athena vai se vestir com toda a pompa. — Se não for logo para o seu quarto para que todos possamos nos aprontar, Athena acabará sendo a única a descer para o jantar — advertiu Andreas, sério. Olímpia beijou-o na testa e saltitou até a porta. Na soleira, sorriu para Saskia e reforçou: — Use o preto! — Desculpe-me — murmurou Andreas, quando a porta se fechou. — Eu pedi a ela que não perturbasse. Então, ele não acreditara na mentirinha, percebeu Saskia. — Não me importei nem um pouco. Gosto dela — declarou, sendo sincera. — Hum... Temo que Olímpia seja capaz de comercializar o afeto, às vezes. Como a caçula da família, é mestre em conseguir o que quer. — Aborrecido, olhou as horas. — Você tem meia hora para se aprontar. Saskia respirou fundo. As revelações de Olímpia haviam reativado seu sentimento de solidariedade por Andreas, embora a solidariedade não fizesse parte de sua natureza. Bem no fundo, algo mudara, e com isso a visão que tinha de Andreas. Ele não era mais o "opressor, o ditador que ela odiava e temia, mas alguém que merecia sua confiança e ajuda. Procuraria desempenhar seu papel da melhor forma, dali para a frente. — Meia hora — acatou, diligente. — Sendo assim, acho que vou usar o banheiro primeiro. CAPITULO VIII — Então, Saskia, acha que vai conseguir ser uma boa esposa grega... se você e Andreas realmente se casarem? Olímpia prendeu a respiração, indignada com a provocação da prima Athena, mas felizmente Saskia não se deixava intimidar. Desde que se sentaram à mesa para jantar, Athena fizera de tudo para aborrecê-la. Antes que pudesse responder, porém, Andreas adiantou-se: — Não há dúvida de que vamos nos casar, Athena — declarou, implacável. — Saskia será minha esposa. Saskia mal disfarçou o choque ante a convicção na voz dele, e teve de olhá-lo ansiosa. E quando tivessem que encerrar a farsa e informar a todos que não iriam mais se casar? Tentou manter em mente que o problema era dele, não seu. Ao mesmo tempo, algo estranho se passava entre os dois. Pouco antes de se juntarem à família para a refeição, Andreas saíra do escritório adjunto ao quarto "deles", parara diante dela e afirmara: — Duvido de que um homem que a visse agora pudesse desejar outra coisa que não possuí-la, Saskia. Ela com certeza nunca desejara pisar no palco... longe disso... mesmo assim, desde aquele momento, sentia-se transformada em outra pessoa. De repente, era como se fosse mesmo noiva de Andreas e, como qualquer mulher apaixonada, não só se orgulhava de ter o homem que amava, como se sentia femininamente protetora em relação a ele. A ansiedade em seu olhar era por ele e por causa dele. — Viúvas. Adoro viúvas. — Aristóteles, o contador de Athena, sorriu mordaz e se inclinou para- Saskia, tocando em seu braço. Saskia partilhava a opinião de Olímpia sobre o contador de Athena. Tratava-se de um Projeto Revisoras
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homem alto, corpulento, de estrutura quase quadrada. Os cabelos pretos pareciam grudentos, besuntados com gel fixador, e o terno branco que usava sobre a camisa preta não o favorecia. Andreas por sua vez, parecia despojado e sexy em calça social elegante feita sob medida, com camisa de algodão branca. A princípio, considerara o vestido preto sofisticado demais para a ocasião, mas reconheceu que Olímpia estava correta ao ver o traje de Athena. O vestido branco e justo que a mulher mais velha usava não deixava nada à imaginação. — Foi feito especialmente para mim — comentou Athena com Andreas. — Para ser usado exatamente do jeito que mais adoro... junto à pele — acrescentou, alto o bastante para Saskia ouvir. — O que me lembra... Espero que tenha alertado sua noiva de que gosto de nadar pela manhã com você... para ela não ficar chocada... — Voltou-se para Saskia. — Andreas é como eu, gosta de nadar.nu — esclareceu, maldosa. Nadar nu! Saskia não conseguiu evitar a expressão de choque, que felizmente Athena interpretou como ciúme à idéia de outra mulher nadando nua com seu noivo. Andreas contra-atacou rápido: — Só me lembro de uma ocasião em que tentou se juntar a mim na minha sessão de natação matinal, Athena. Foi quando lhe disse que não gostava de ter minha paz matinal corrompida. — Oh, querido... — Athena fez beicinho, sem se abalar, e pousou a mão no braço dele. — Será que eu disse algo que você não queria que sua noiva soubesse? Andreas, ela deve perceber que um homem tão bonito quanto você... tão viril quanto você... sempre terá amantes além dela... Saskia quase perdeu o fôlego ante tanto descaramento. Imaginava como se sentiria se Andreas fosse mesmo seu noivo. As palavras de Athena a deixariam enciumada e insegura. Nenhuma mulher gostava de ser lembrada dos relacionamentos íntimos que seu amado tivera antes. Mas Andreas, ao que parecia, era completamente imune às provocações da prima. Desvencilhando a mão, abraçou Saskia, trazendo-a para junto de si. Em contato tão direto, ela não teve dúvida de que ele sentira seu estremecimento. Um tremor que chegou quase à convulsão quando ele passou a acariciar seu ombro desnudo distraidamente. — Saskia sabe que é a única mulher que já amei... a mulher com quem quero passar o resto de minha vida. Quanto mais ouvia e via a reação de Athena, mais Saskia concordava com a opinião de Olímpia de que a prima não era motivada por amor. Às vezes, Athena olhava para Andreas como se o odiasse e quisesse destruí-lo. Aristóteles ainda tentava capturar sua atenção, mas deliberadamente o ignorava. Havia algo asqueroso nele, e estremecia só de pensar naquela mão úmida em sua pele. Entretanto, as boas maneiras forçavam-na a responder às perguntas do homem tão educadamente quanto possível, embora as achasse impertinentes. Ele já dissera até que, se fosse o contador de Andreas, insistiria num contrato pré-nupcial, para garantir que o dinheiro dele ficasse a salvo, caso o casamento acabasse. Andreas declarou a Aristóteles que nunca imporia tal contrato à mulher que amava. — Dinheiro não é nada comparado ao amor — afirmou ao contador, num tom firme e implacável. Então, Andreas fitou Saskia, e ela recordou como haviam se conhecido e o que ele pensava dela. Com um gosto amargo de desespero na boca, desejou poder convencê-lo do quanto estava enganado. Ao menos, tinha o conforto de saber que a mãe e a irmã dele haviam simpatizado com sua pessoa. Olímpia assegurara que a irmã mais velha estava igualmente satisfeita por Andreas ter se apaixonado e ansiosa para conhecê-la quando ela, o marido e as crianças viessem para a ilha, mais para o final do mês. — O marido de Lídia é diplomata, e eles estão em Bruxelas no momento, mas ela está louca para conhecer você! Projeto Revisoras
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Seria horrível se a família de Andreas a desaprovasse e não a recebesse bem. Saskia enrubesceu. Em que pensava? Apenas fingia ser noiva de Andreas. O compromisso era invenção, uma farsa... uma mentira que ele criara para escapar da armadilha que Athena armara para agarrá-lo. Além disso, ele usara de chantagem para conseguir sua colaboração. Inconveniente, Aristóteles agora a convidava a um passeio nos jardins da vila. Recusou polidamente e se assustou com a fúria nos olhos de Andreas. Ele não acreditava que ela estivesse ansiosa em ficar a sós com Aristóteles, certo? — Saskia teve um dia longo. Está na hora de nos recolhermos — explicou Andreas, levantando-se abruptamente. Em torno da mesa, era evidente, pela expressão de todos, a interpretação quanto ao motivo da iniciativa de Andreas. Com seu rosto enrubescido, Saskia só confirmava as suspeitas. Ela ainda tentou consertar a situação: — Andreas, eu não... — Está perdendo tempo, Saskia. — Olímpia riu. — Porque meu querido irmão obviamente está decidido! Oh, não precisa fazer essa cara, Andreas. Aposto como não vai nadar logo cedo amanhã... — Olímpia! — protestou a mãe, constrangida, enquanto Athena lançava um olhar de ódio concentrado a Saskia. Assim que o casal se levantou, Aristóteles fez o mesmo e insistiu: — Devo reclamar o privilégio, como amigo da família, de dar um beijo de boa-noite em Saskia. Ela não teve tempo para se esquivar, mas, antes que o contador realizasse o intento, Andreas colocou-se entre os dois. — Nenhum homem além de mim pode beijar minha noiva. — Se quer meu conselho, mantenha-se longe de Aristóteles. Ele tem uma reputação lamentável com mulheres. A ex-esposa o acusa de ser violento e... Saskia voltou-se ao entrar no quarto, demonstrando toda a revolta. — Não pode estar pensando no que eu acho que está! — Como Andreas podia imaginar que ela sequer contemplaria a idéia de se interessar por um homem como aquele contador? Era um insulto que não estava preparada para engolir. — Não posso? — questionou Andreas. — Você está aqui por um motivo e só um motivo, Saskia. Para fazer o papel de minha noiva. Mas imagino que, sendo o que é, fique tentada a se envolver com todo homem que vê pela frente. Só estou avisando que resista à tentação. Porque, se ceder... Que absurdo! Ela preferiria morrer a se envolver com um sujeito viscoso como Aristóteles. E pensar que, durante o jantar, solidarizara-se com Andreas, quisera protegê-lo. Agora, sentia a raiva se transformar em orgulho. — Se quer saber, acho Aristóteles tão repugnante quanto você! — Ousa incluir a mim na mesma sentença em que fala daquele réptil? — Furioso, Andreas a agarrou pelos ombros. Os olhos cinzentos faiscavam com a intensidade das emoções, e Saskia percebeu que a situação escapava ao controle. — Aquele sujeito é um animal... pior do que um animal. No ano passado, escapou por pouco de ser indiciado criminalmente. Não entendo por que Athena o tolera e até já lhe disse isso. — Talvez ela queira provocar ciúme. Saskia arrependeu-se imediatamente da sugestão ao ver labaredas nos olhos cinza. — Ela? Ou você? Oh, sim, vi como ele olhava para você no jantar... como tocou em você... — Eu não fiz nada para chamar a atenção dele! — protestou Saskia, mas sabia que as palavras não o convenciam, que algo mais alimentava seu ódio, algo que ela desconhecia, mas que ele considerava intolerável. Gélido de repente, Andreas estreitou o olhar ao observar: — Talvez seja deselegante, pouco cavalheiro da minha parte lembrar o fato, mas não foi repugnância o que vi em seus olhos hoje. Não foi repugnância o que ouvi na sua voz, o que Projeto Revisoras
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senti no seu corpo... Saskia ficou trêmula. — Não sei do que está falando — disfarçou. Segundos depois, arrependeu-se. Porque Andreas a segurou com força e apertou contra o peito, desafiando: — Não? Talvez eu deva refrescar sua memória... Saskia ainda tentou protestar, mas de algum modo as palavras se perderam... não porque Andreas se recusasse a ouvir, mas porque ela perdia o comando dos próprios lábios. — Será que me acha mesmo repugnante Saskia? — Ele a aprisionou de tal forma entre os braços que seria impossível fugir. — Quando fiz isto? — Passou os lábios sobre os dela, provocando, seduzindo, dando origem a uma torrente de sensações que ela não queria experimentar. — Ou quando fiz isto? Ele passou a provocar com a língua. Saskia tentava desesperadamente manter os lábios comprimidos, mas continuou provocando-os, umedecendo-os, até que ela gemeu e os entreabriu. Mas ele não parecia satisfeito ainda. — Como? Ainda sem resposta? Não sei por quê — provocou. — Ou preciso questionar? É uma mulher acostumada a se entregar a homens, Saskia, que está acostumada a sentir pra zer. E, neste momento, você quer ter prazer comigo. — Não... — gemeu ela, virando o rosto, tentando se desvencilhar. — Sim — insistiu Andreas, impiedoso. — Sim. Admita, Saskia... Você me quer. O seu corpo quer o meu. O seu corpo quer a satisfação sexual ao qual está acostumado... pelo qual anseia e arde. Saskia estremeceu ao reconhecer a verdade do que ele dizia. Desejava-o, sim, mas não da forma que ele sugeria. Desejava-o como uma mulher desejava o homem amado, percebeu, abalada. Desejava-o como amante, não apenas como um parceiro sexual, para satisfazer uma necessidade física. Mas como podia amá-lo? Era impossível! Mas amava. Apaixonara-se por Andreas Latimer praticamente à primeira vista, reconheceu, desanimada, porém convencera-se, por lealdade à amiga, que não podia nutrir sentimentos por ele, assim como não os admitia naquele momento, mesmo sabendo que não se tratava de Mark. Não era mais sua amiga a barreira ao amor que sentia por Andreas, mas ele mesmo e o que pensava dela. — Solte-me, Andreas. — Não até admitir que estou certo e que você me quer — desafiou ele. — Ou será que vou ter de provar? Saskia encolheu-se ao sentir a mistura perigosa e sufocante de medo e excitação. Hesitante, tentou formular a resposta certa, a única resposta sã e sensata que podia dar, mas percebeu que demorara demais quando Andreas avisou: — Você se arrisca, Saskia. Eu a quero, mas você já sabe disso, não é? Como você não saberia? Afinal, sente isso no meu corpo, não sente? Aqui... Saskia apoiou-se nele, abalada de choque quando ele a obrigou a encaixar a mão em sua masculinidade. Se ao menos encontrasse forças para remover a mão e afirmar que não desejava a intimidade que ele impunha... No entanto, para seu desespero, percebeu que era fraca demais, que não havia como deter o desejo. Não podia perder a oportunidade que ele lhe dava para tocá-lo, explorá-lo, conhecê-lo... conhecer seu membro viril... para... Emitiu um gemido fraco, trêmula de luxúria. O coração de Andreas pulsava com tanta energia que quase sentia a pulsação dele dentro de seu próprio corpo. Antes, quando ele acariciara seu ombro... o toque de um amante na amada... estremecera de prazer, mas aquilo não fora nada comparado ao que sentia naquele instante. Desejava Andreas, sentia fome dele. Fechando os olhos, imaginou-o como Athena maldosamente o descrevera... nadando orgulhoso e nu nas águas da piscina. Gemeu novamente, um som agudo e breve que fez Andreas exigir seus lábios. Ele grunhiu, enlouquecido, o que também a excitou. Ela mantinha os lábios entreabertos. Andreas usava a língua para acariciá-la, deixando-a tonta de prazer. Projeto Revisoras
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— Você me quer... Você precisa de mim... Saskia sentia as palavras contra a pele e não podia negá-las. Seu corpo se saturava de emoções intensas em resposta. Aquilo era novo demais, e ela não tinha defesas. Tudo foi esquecido, nada era importante. Tudo e todos. Tudo de que ela precisava... Tudo o que queria... Tudo o que desejara um dia estava bem ali a seu alcance. Com um novo gemido, estremeceu ao sentir Andreas tatear seu corpo sobre o vestido, exigente, faminto... excitante, masculino. A intimidade do corpo dele tirava-lhe a habilidade de pensar racionalmente. Não havia lugar para a razão naquele mundo novo que passara a habitar. — Quero ver você... quero fitar seus olhos enquanto faço amor com você — sussurrou Andreas. — E quero que você me veja... Agora entendo por que todos os outros homens caíram como suas vítimas. Há algo em você, um feitiço, um... O que foi? — indagou, ao sentir que ela se enrijecia. Saskia era incapaz de encará-lo. Com aquelas poucas palavras, Andreas destruíra tudo, arrasara seu mundo novo e a trouxera de volta à antiga realidade. Sentia-se enojada com seu próprio comportamen to, com a loucura que quase cometera. — Não, não quero isso! — protestou freneticamente, empurrando Andreas. — Que raios... Sem entender e furioso, ele a soltou. — Se isso é algum tipo de jogo... — Detendo-se, meneou a cabeça, incrédulo. — Céus, eu devia estar fora de mim para pensar em... Suponho que anos de celibato façam isso a um homem — ponderou. — Nunca pensei que seria idiota o bastante... Ele se voltou novamente e estacou ao ver que Saskia se paralisava de medo. — Você está a salvo — garantiu, sombrio. — Não tocarei em você. Não há como... — Meneando de novo a cabeça, foi para o escritório contíguo ao aposento: — Tenho trabalho a fazer. O quarto estava mergulhado na escuridão quando Saskia despertou, a princípio sem saber por quê. Então, identificou o som, o ritmo compassado de braçadas na água. As portas que davam para a piscina estavam abertas e luzes discretas iluminavam a água. Andreas estava nadando... Olhou para o relógio. Eram três horas da madrugada e Andreas nadava... vigorosamente, de um lado a outro na piscina. Sentou-se na cama para vê-lo melhor, admirando as braçadas potentes que o impulsionavam de uma extremidade a outra na piscina. Quando ele executou a virada, deitou-se. Não queria que ele a flagrasse observando-o. Por baixo da coberta, estava nua, com exceção da calcinha. Aparentemente, Andreas se esquecera de lhe comprar camisolas ou pijamas. Por isso, permanecera quinze minutos trancada no banheiro, imaginando o que fazer, até finalmente criar coragem para abrir a porta e correr até a cama enrolada na toalha. Não que tivesse de ficar tão preocupada. Andreas permanecera o tempo todo trancado no escritório. Agora, ele nadava feito louco na piscina. Debaixo da coberta, Saskia raciocinava freneticamente. Recomendava-se nadar sozinho à noite? Seria seguro? E se... Enquanto pensava nos perigos, um som diferente a informou de que Andreas interrompera o exercício. Esticou-se para fora da coberta e olhou ansiosa para a piscina. A água estava parada, calma... e sem seu único nadador. Andreas! Onde... Puxou a coberta ao vê-lo sair da água... totalmente nu... totalmente! Saskia tentou desviar o olhar, mas não conseguiu. Seus músculos não obedeciam, o cérebro parecia querer apreciar a beleza masculina de Andreas. Com certeza, qualquer mulher acharia aquela visão excitante. Mal capaz de raciocinar, tamanho o frenesi, devorou com o olhar a pura sensualidade das costas dele ao percorrer o piso de mármore. A pele brilhava, molhada, e os músculos poderosos em ação provocavam uma reação intensa em seu próprio corpo! Ingenuamente, Saskia sempre imaginara que haveria pequena diferença entre apreciar uma estátua ou pintura de homem nu e ver um homem nu ao vivo, mas, naquele momento, Projeto Revisoras
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entendeu o quanto se enganara. Talvez a diferença fosse o amor que sentia por ele, talvez fosse... Prendeu a respiração quando ele se voltou. Andreas parecia olhar direto para o quarto. Podia vê-la? Sabia que ela o observava? Permaneceu imóvel, rezando para ele não a visse... não suportaria a humilhação se ele fosse a seu encontro naquele instante. Se ele... Conseguiu suprimir um gemido, devastada pelo próprio desejo. Se ele se aproximasse naquele instante e a abraçasse, a tocasse, a beijasse... e a possuísse, cheio de desejo, assim como ela o desejava, não seria por amor e, sim, por luxúria. Era isso o que queria?, indagou a si mesma, severa. Não claro que não, foi a resposta evidente. Queria que Andreas a amasse como ela o amava. Ele se voltara, a silhueta do corpo destacada contra a luz. Saskia prendeu a respiração, à mercê do instinto feminino, que não respondia ao controle. Ele parecia... Ele era... Andreas era perfeito, reconheceu, sufocando um suspiro quando, de olhos arregalados, constatou que a realidade da masculinidade dele suplantava qualquer idealização virginal anterior. Mais uma vez, ele olhou na direção do quarto, e Saskia prendeu a respiração, rezando... esperando... aguardando... Expirou silenciosamente quando ele se inclinou, pegou o robe e o vestiu antes de se afastar. Andreas não vinha para o quarto. Aonde estava indo? Para o escritório? Por um bom tempo, Saskia permaneceu imóvel, com medo de se mexer, incapaz de dormir e com medo até de pensar. Qual era seu problema? Como podia amar um homem que a destratava como Andreas, um homem que a chantageara, que a obrigava a mentir sobre si mesma? Um homem que tinha a pior opinião possível dela e que, mesmo assim, a beijara? Como podia amá-lo? Saskia fechou os olhos. Não sabia a resposta. Só sabia que suas emoções, seu coração, seu íntimo gritavam... como podia não amá-lo? — Banho de sol? Nunca pensei que veria o dia em que apenas relaxaria na piscina — provocou Olímpia ao irmão, vindo de casa com o biquíni mais ínfimo que Saskia já vira. — Saskia não dormiu bem. Ela precisa descansar e eu não quero que ela faça esforço, nem que fique muito tempo ao sol — mentiu Andreas, imperturbável. — Oh, pobrezinha... — Olímpia deitou-se em uma espreguiçadeira, solidária com Saskia, enquanto avaliava sua pele clara atentamente. Sentindo-se culpada, Saskia não comentou nada. Afinal, não podia admitir que, o motivo de seu ar cansado era p fato de ter rolado na cama o resto da madrugada, fantasiando sobre ter aquele homem deitado a seu lado. À luz do dia, não ousava recordar as fantasias íntimas e pessoais. Sabia que, se fizesse isso, enrubesceria. Felizmente, Andreas atribuíra suas olheiras e palidez ao cansaço da viagem. — Bem, é um avanço no estilo de vida do meu irmão, Saskia — aprovou Olímpia, com um sorriso. — Normalmente, quando ele vem à vila, não conseguimos tirá-lo do escritório. Quando vovô disse que chegaria? — indagou a Andreas. — Estou surpresa por seu avô pretender vir à ilha nesse momento — comentou Athena, chegando à piscina com o contador. Saskia desanimou-se um pouco ao vê-los. Durante o café da manhã, Aristóteles fora tão exagerado nos elogios impróprios que se sentira compelida a abandonar a mesa. Quando Olímpia franziu o cenho, Athena acrescentou maliciosa: — Ele não está contente com você, Andreas... — Meu avô nunca fica contente com ninguém que não tenha a mesma opinião que ele — rebateu ele. — É genioso e irritadiço, mas felizmente tem memória curta... Andreas insistiu para que Saskia se deitasse sob a proteção de um guarda-sol, por causa da pele muito clara, mas quando Athena despiu a saída de banho revelando um biquíni anda menor que o de Olímpia, Saskia sentiu inveja da pele bronzeada. — Como você deve estar desconfortável deitada aí na sombra — provocou Athena. — Eu detestaria ter uma pele tão clara. Parece sempre tão... — A pele de Saskia me lembra o mais puro alabastro — opinou Andreas, em tom de admiração. — Alabastro... oh, mas é tão frio. — Athena sorriu e lançou um olhar avaliador a Saskia. — Projeto Revisoras
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Oh, você está aborrecido e zangado... e eu conheço a cura para isso. Deixe-me colocar o bronzeador em você, Andreas, e então... Saskia mal reconheceu a própria voz ao intervir: — Eu faço isso, querido. — Encarou Athena irritada. — Um privilégio da noiva. — Então, ignorando o espanto de Andreas e as próprias mãos trêmulas, levantou-se, pegou o frasco de bronzeador que Olímpia lhe oferecia com um sorriso e se achegou à espreguiçadeira dele. Com cuidado, Saskia despejou um pouco de bronzeador na palma da mão e, com mais cuidado ainda, inclinou-se sobre o corpo de Andreas, atentando para ficar entre ele e os seios fartos de Athena. Os cabelos caíram sobre seu rosto enquanto, nervosamente, distribuía o bronzeador nos ombros de Andreas. A pele dele era quente e lisa. Tão lisa quanto lhe parecera na noite anterior. Oh, não devia recordar o episódio! Apesar da excitação, porém, passou a mover a mão de forma sensual sobre os músculos duros de Andreas, alisando, até massageando instintivamente quando descobria um ponto de tensão. Ele se manteve de bruços e de olhos fechados, mas de repente se levantou. — Basta. Eu já ia nadar mesmo. Apesar da brusquidão, demorou alguns segundos até se afastar de Saskia. Do extremo da piscina, mergulhou e emergiu no meio da água, de onde começou a dar braçadas vigorosas. Andreas tentou se concentrar no que fazia, esvaziar a mente de qualquer pensamento, como sempre fazia quando nadava. Era sua forma preferida de relaxar... ou, ao menos, fora. Naquele momento, não se sentia nada relaxado. Mesmo sem fechar os olhos, ainda se lembrava exatamente de como era ter Saskia massageando, acariciando seu corpo... Submergiu novamente, nadando junto ao fundo enquanto tentava controlar o desejo. Céus, como queria Saskia, como a desejava, como sentia luxúria por ela! Nunca experimen tara nada semelhante antes, nunca precisara de uma mulher com tanta intensidade, nunca se vira numa situação em que não pudesse se controlar física nem emocionalmente. Saskia devia saber o poder que exercia sobre ele, uma mulher com tanta experiência... uma mulher que vagava pelos bares à noite em busca de homens. Claro que ela sabia. Mesmo assim...Mesmo assim, não parava de comparar o que sabia racionalmente com a sensação de tê-la nos braços, pura inocência, maciez, doçura, o desejo nos olhos dela substituído por espanto. Ela o surpreendera pouco antes, ao impedir que Athena o tocasse... e enchera-se de orgulho e triunfo masculino por ela se sentir possessiva em relação a ele. Mas, com certeza, Saskia não se sentia possessiva... sentia? Estava apenas representando o papel ao qual ele a forçara. Andreas franziu o cenho. O uso da palavra "força" e a admissão embutida incomodavam sua consciência. Tratava-se de atitude totalmente estranha a seu caráter, que de encontro a suas crenças mais arraigadas: forçar alguém a fazer qualquer coisa, mas temia não ter alternativa naquela situação sem ameaçar a saúde do avô. Procurava uma explicação, não uma desculpa, censurou-se severamente. Além disso, só podia culpar a si mesmo se descobrisse que apenas trocara uma ameaça por outra potencialmente mais perigosa. Saskia percebera a reação em seu corpo antes que lhe desse as costas? Athena percebera. Athena... Aos quinze anos, ainda garoto, tentara se convencer de que era maduro o bastante para assumir o lugar do pai, forte o bastante para dar apoio e proteção à mãe e às irmãs. Mas parte dele ainda era criança e, com freqüência, chorava sozinho à noite na cama, confuso, zangado e saudoso do pai, imaginando por que ele morrera. Aquele período com certeza foi o pior de toda a sua vida, em que perdera o pai e, em seguida, fora objeto de uma tentativa de sedução de Athena. Dois eventos marcantes que o lançaram à vida adulta, exigindo uma maturidade que ainda não possuía. No caso de Athena, não se tratara tão somente do clássico fascínio por uma mulher mais velha e experiente. Ela o assediara por semanas, desde a volta ao lar para as férias de verão, mas ele jamais sonhara que ela estivesse fazendo algum jogo adulto misterioso, na época incompreensível a sua ingenuidade... até o dia em que a encontrou em seu quarto... totalmente nua! Projeto Revisoras
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Quando ela lhe passou o vibrador que estivera usando, instruindo como usá-lo nela, Andreas mal conteve o impulso de dar meia-volta e fugir correndo. Meninos tinham medo e fugiam, mas ele queria ser um homem... o homem que o pai sonhara vê-lo se tornar, o homem que a mãe e as irmãs precisavam que ele fosse. — Não acho que deveria estar aqui — afirmara, impassível, desviando o olhar do corpo dela. — Você está noiva e vai se casar. Athena rira, reagindo incrédula quando ele segurou a porta do quarto aberta e a mandou se retirar, avisando que não hesitaria em chamar os seguranças para removê-la fisicamente. Ela saíra, mas não imediatamente, não sem antes tentar mudar sua opinião. — Você tem o corpo de um homem — elogiara, persuasiva. — Mas, menino idiota, ainda não sabe o que fazer com ele. Por que não deixa que eu lhe mostre? Do que tem medo? — Não estou com medo — respondera ele, implacável e determinado. Não se aproveitara do que ela oferecia não por medo, mas por raiva e nojo. Athena nunca se conformara com a rejeição do então adolescente Andreas. Seus sentimentos, se tinha algum... do que ele duvidava... eram o problema. O avô representava outra questão sensível. Embora a saúde do ancião estivesse sob controle, não queria discutir com. ele, sabendo o quanto era teimoso e genioso. Não sabia quanto da culpa por aquela situação cabia a Athena e quanto cabia ao avô e seu medo de envelhecer sem ver a descendência assegurada na forma de um bisneto. Era irônico que sua medida no sentido de resolver os problemas causasse ainda mais transtornos. Um exemplo, talvez, da ética moderna por trás da mitologia grega, pela qual Saskia demonstrara interesse. Ela podia admirar a mitologia grega, mas, com certeza, não admirava o grego com quem se envolvera. Jamais o amaria. — E um anelzinho muito bonito o que está usando — comentou Athena, desdenhosa, deixando a espreguiçadeira para se aproximar de Saskia. Estavam sozinhas na piscina. Aristóteles, o contador, fora dar uns telefonemas, e Olímpia ajudava a mãe a preparar a casa para a chegada do avô. — Mas um anel de noivado não é garantia de casamento — advertiu Athena. — Você me parece uma garota inteligente, Saskia. Andreas é muito rico e vivido. Homens como ele logo se aborrecem. Você já deve ter percebido. Desconfio de que suas chances de entrar na igreja e se casar com Andreas são ínfimas e diminuirão ainda mais quando vovô chegar. Ele não quer que Andreas se case com você. É antiquado e muito grego. O velho tem outros planos para o único neto e para o futuro dos negócios que ele construiu. Saskia a ouvia de olhar estreito, interpretando o discurso. O que Athena não explicava era que também tinha outros planos para o futuro do primo mais novo e herdeiro de uma fortuna incalculável. — Se ama mesmo Andreas, ele deve ser mais importante para você do que seus próprios sentimentos. Andreas é devotado ao avô. Oh, sei que ele não o demonstra, mas garanto que ele é. Pense nas conseqüências emocionais, sem falar nas financeiras, de uma briga entre os dois. A mãe e as irmãs de Andreas são financeiramente dependentes do avô... Se ele banir o neto de sua vida, Andreas será banido da vida delas também. Athena suspirou profunda e teatralmente e então indagou, com falsa gentileza: — Quanto tempo acha que ele vai continuar querendo você quando isso acontecer? E eu posso fazer com que isso aconteça, Saskia... sabe disso, não sabe? O avô me ouve, porque quer juntar nossos negócios, claro. Essa é a forma grega de fazer as coisas. — Athena esboçou um sorriso arrogante. — Permitir que um milionário se case com uma estrangeira pobretona não é a forma grega de fazer as coisas. Ela continuou: — Mas vamos conversar sobre algo mais agradável. Não há motivo para não chegarmos a um acordo profícuo para as duas partes... você e eu. Poderia assistir de camarote, esperar Andreas abandonar você, mas serei honesta: estou me aproximando de uma idade em que pode ser mais difícil dar a Andreas os filhos que ele quer. Então, para facilitar para nós duas, tenho uma proposta. Dou-lhe um milhão de dólares para você sair da vida de Andreas agora... Projeto Revisoras
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para sempre. Saskia sentiu o sangue lhe fugir do rosto ante o choque. De algum modo, conseguiu sentarse na espreguiçadeira e então levantar-se, para ficar frente a frente com Athena. — O dinheiro não compra o amor — replicou, colérica. — E não pode me comprar. Nem por um bilhão de dólares! — As lágrimas brotaram, e Saskia convenceu-se de que o motivo era a ofensa. — Se a qualquer momento Andreas quiser encerrar nosso noivado, será outra história, mas... — Você é uma idiota... sabia? — Athena respirou fundo, o rosto distorcido de fúria e malícia. — Acha mesmo que Andreas estava falando a sério sobre não exigir um contrato pré-nupcial? Ha! O avô o obrigará a preparar um, e, quando Andreas se cansar de você, como sem dúvida se cansará, você não terá nada... nem mesmo os filhos que porventura nascerem. As famílias gregas não abrem mão de seus herdeiros. Saskia não queria ouvir mais nada. Sem se importar em pegar a saída de banho, dirigiu-se para a casa, controlando-se para não correr. Deparou com Olímpia na porta que dava acesso ao pátio. — Saskia... — Ela demonstrou preocupação, mas Saskia meneou a cabeça, sabendo que não estava em condições de conversar... com ela nem com ninguém. Sentia-se diminuída pelo que Athena dissera, diminuída e zangada. Como a mulher podia supor que seu amor estava à venda... que dinheiro importava mais do que Andreas... que ela seria capaz de... Só então deu-se conta de que reagira como se fosse mesmo noiva de Andreas e o amasse, como se não desempenhassem uma farsa! Mudou de direção, não rumo à piscina, mas para bem longe da casa... pela trilha que acompanhava o penhasco junto ao mar. Precisava ficar sozinha. A ironia do que acontecera só começara a se delinear. Concordara em ir àquela ilha porque Andreas a chantageara, ameaçara lhe tirar o emprego. Contudo, diante de uma oferta de dinheiro fantástica, que lhe garantiria conforto por toda a vida e a segurança de sua amada avó, além de um meio de fuga imediata daquela situação intolerável, declinara. Zangada, Olímpia tomou o rumo da piscina, ao encontro de Athena. Após o que ouvira sem querer, tinha de lhe dizer umas verdades. Como ela se atrevia a tratar Saskia daquela forma? Tentara subornar a noiva de Andreas para que o deixasse? Estacou. Talvez devesse contar ao irmão o que Athena estava tramando e deixá-lo lidar com a megera. Saskia parecera tão preocupada, e com razão. Relutante, ouviu sua consciência alertando-a de que Andreas detestaria não ser o primeiro a exigir satisfações da prima. Dando meia-volta, voltou para casa, à procura do irmão. CAPITULO IX Após percorrer menos de um terço da trilha . que contornava a ilha, Saskia parou e deu meia-volta. Não iria até o fim, pois já pensara bastante. Amar Andreas... estar tão perto dele todos os dias e mesmo assim ver um abismo entre os dois... era mais do que podia suportar. Sentia-se esgotada de amor por ele, de desejo. Vagarosamente, iniciou o retorno à vila. Não sabia o que fazer... sujeitar-se à misericórdia de Andreas e implorar que ele a liberasse do "acordo"? Não adiantaria revelar a proposta indecente de Athena. Ele dificilmente acreditaria que a recusara, não com o conceito que tinha a seu respeito e, além disso, não queria que ele soubesse do episódio. Porque, se soubesse... Andreas não era idiota, mas um empresário esperto e inteligente, e não levaria muito tempo para adivinhar o que a motivara, seus sentimentos, e não conseguiria encará-lo após a revelação. Assim que chegou à vila, foi direto para o quarto, felizmente vazio. A arrumadeira já estivera ali, e a cama estava impecável. Rapidamente, despiu o maio e foi tomar um banho. — Andreas? — ronronou Athena, sedutoramente, ao vê-lo saindo do escritório do avô. — Agora não, Athena. — Ele passara boa parte das últimas horas tentando compreender os sentimentos que nunca imaginara experimentar, que nunca quisera ter e, naquele momento, Projeto Revisoras
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com uma decisão tomada, estava ansioso para agir, de modo que não se deixaria prender por Athena. Não adiantava mais esconder a verdade de si mesmo. Apaixonara-se por Saskia. Como? Por quê? Quando? Para seu desespero, nenhuma análise produziu respostas lógicas para aquelas perguntas. O coração, o corpo, as emoções, a alma só insistiam em Saskia. Se a razão lutava em busca de argumentos, as emoções entendiam que não valia a pena viver sem ela. Mesmo tendo em mente que se tratava de uma mulher promíscua, imoral, suas emoções não arrefeciam. Amava Saskia como ela era. Com sua ótica errada e tudo. Pegar homens em bares... chegar a ponto de se vender a eles... se não pelo dinheiro, certamente pelo pseudoamor que lhe ofereciam por tempo determinado. Não era culpa dela, protestava seu coração apaixonado. Fora-lhe negado o amor paterno quando criança. Ela simplesmente tentava compensar. Com amor, com o amor dele, ela poderia se completar novamente. Esqueceria o passado e ele, também. O que importava era dali para a frente e o futuro... um futuro que não significava nada sem ela. Assim ponderara, sem trégua, em vez de trabalhar. No final, subjugado e resignado, não viu opção senão aceitar e agora só pensava em encontrar Saskia e lhe dizer... lhe pedir... implorar se necessário. — Saskia ainda está lá fora? — perguntou a Athena. A prima estreitou o olhar. Conhecia o significado daquele olhar num homem e vê-lo no único homem que desejara era intolerável. Se Saskia não podia ser induzida a deixar Andreas, então ele a rejeitaria, depois da pequena medida que ela tomaria. — Oh... Você não sabia? — Expressou falso pesar. — Ela foi dar um passeio... com Aristóteles. Sei que não vai gostar do que vou dizer, Andreas, mas... bem, todos sabemos como Aristóteles gosta de mulheres, e Saskia deixou claro que há reciprocidade... Não quando você está por perto, claro... Andreas pegou o corredor que levava à ala íntima da vila. Cruzou com Olímpia no caminho, mas se recusou a parar e ouvir. — Agora não, Olímpia, seja o que for... Céus, ele parecia zangado, refletiu Olímpia, observando o irmão se afastar. Bem, o que tinha para contar não melhoraria seu humor, mas ele tinha de saber. Andreas ouviu o barulho do chuveiro ao entrar na suíte e bater a porta. — Saskia? — Foi até a porta do banheiro e a abriu. Saskia empalideceu ao vê-lo. Acabara de sair do chuveiro e já ajustava a toalha ao corpo, felizmente. — Por que está tomando banho? — questionou ele, desconfiado. Saskia fez um gesto inocente. — Bem, fiz uma caminhada e estava quente... Andreas sentiu o ciúme evidenciar-se no corpo de forma explosiva, quase dolorosa. Tinha fantasias eróticas quanto aos motivos para Saskia querer se refrescar. Como qualquer homem apaixonado, não suportava a idéia de sua amada nos braços de outro e reagiu previsivelmente. _ — Não podia esperar, não é? — acusou, agarrando-a pelos braços. — Onde ele a tomou? — Ele? — Saskia reagia atônita àquelas palavras e ações. — Mas de quem está... — Foi lá fora, a céu aberto onde qualquer um podia vê-los? É assim que você gosta, Saskia... gosta de se diminuir tanto? Claro que gosta. Eu já sabia, não é? Gosta de ser maltratada, usada e então dispensada como uma... Pois se prefere assim, vamos ver se consigo satisfazer suas expectativas. Vamos ver se posso lhe dar o que você tanto quer. Tratava-se de um homem descontrolado, querendo marcar sua possessão... no corpo e na alma da mulher... queria possuí-la e apagar qualquer lembrança de outro homem! O que arrancara Andreas de sua atitude fria, transformando-o naquela figura furiosa e passional? Saskia reconhecia a paixão latente emanando dele como fogo, atraindo-a ao perigo e excitação, aplacando toda sua cautela. Não era isso o que desejara secretamente? Que ele a olhasse como olhava naquele instante? Com desejo primitivo masculino, com descontrole das próprias ações? Projeto Revisoras
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De algum modo, ver Andreas naquele estado permitiu que ela controlasse os próprios sentimentos e desejos. — Você é minha — decretou Andreas, puxando-a contra si sem nenhuma gentileza. — Minha, Saskia... E quando digo minha é em todos os sentidos. Saskia sentiu a pele se arrepiar onde ele tocava. Ele deslizou as mãos por seus braços e ombros, alcançando a nuca. Ela arqueou o corpo para se oferecer ao carinho, sentindo o coração disparar de ansiedade pelo prazer. — Beije-me, Andreas... Ela dissera mesmo aquilo? Exigira um beijo com voz rouca e sexy, provocando aquele brilho selvagem nos olhos de Andreas? — Oh, prometo que farei bem mais do que beijá-la — assegurou ele, arrancando sua toalha. — Muito, muito mais — repetiu, sensual, antes de acrescentar: — Mas se um beijo é o que quer... Ele lhe tomou o rosto e massageou os ossos frágeis com os polegares. Os lábios eram quase que apenas o roçar do hálito, e Saskia sentiu o coração disparar. — Onde, exatamente, você quer que eu a beije, Saskia? Aqui? Aqui? Aqui? Enquanto ele lhe tratava o pescoço e o queixo com os lábios, Saskia emitiu um gemido, até se ver incapaz de resistir ao tormento. Agarrando-o ao pescoço, trouxe os lábios duros para junto dos seus, suspirando de alívio quando finalmente experimentou o hálito quente e a superfície firme que tanto ansiava sentir. — Andreas... Andreas... — sussurrava ela, enquanto deslizava as mãos por seus cabelos, sentindo os contornos da boca sensual com a ponta da língua. Por sobre o ombro, Andreas captou a imagem de seus corpos entrelaçados no espelho. As costas nuas de Saskia eram tão perfeitas quanto de uma estátua clássica, mas o corpo era de carne viva e sedutora. Sentir os seios pressionados contra seu tórax, sem falar na doçura dos lábios, deixava-o alheio a tudo exceto às sensações. Contra a textura e tonalidade da pele celta, as mãos dele pareciam muito masculinas e bronzeadas enquanto a acariciava. Abraçou-a a seguir, moldando seus corpos... Ela suspirou ao sentir o membro viril ereto junto ao ventre. As roupas eram um obstáculo que ele abominava. Andreas sentiu o estremecimento de prazer dela quando entreabriu os lábios e assumiu o controle do beijo. Saskia suspirou, entregando os lábios e a nudez a Andreas. O que acontecia entre eles era com certeza o auge de sua existência, o motivo de ter nascido. Ali, nos braços daquele deus grego, amor e desejo confluíam em perfeição. Saskia até se esqueceu do que queria dizer a ele, de sua necessidade terrível de ir embora daquela ilha. Estar nos braços de Andreas era o que desejara desde o primeiro ins tante em que o viu. Incapaz de interromper o beijo sensual, Andreas a ergueu nos braços e carregou para a cama. O que ela fizera antes não importava. Daquele momento em diante, Saskia seria só sua. As pesadas cortinas de linho nas janelas amplas que Saskia fechara antes de ir tomar banho filtravam o sol forte, difundindo a luz. O quarto se banhava de luz etérea, translúcida. Ao colocar Saskia na cama, Andreas cedeu à tentação de acariciar um mamilo rígido com os lábios, saboreando, sugando... Saskia estremeceu de prazer, contorcendo-se. — Não, não quero apressar nada... — Andreas negou-se a atender à súplica dela. — Quero levar o tempo necessário e saborear cada instante! — Enfatizou a decisão passando a mão no seio que acabara de sugar, voltando a atiçar o mamilo com o polegar. — Eu o quero tanto — sussurrou Saskia, desesperada. — Eu o quero... — Deteve-se, a visão prejudicada por uma mistura de ansiedade e incerteza. Ouvia o alerta de perigo na própria voz. Era tarde demais. Andreas a ouvira. Parou de se despir e se inclinou sobre ela, apoiando-se nos cotovelos, os músculos todos retesados. Capturou seu olhar de espanto e indagou, quase desafiando: Projeto Revisoras
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— Onde você me quer, Saskia? Diga-me... Mostre-me... Mas ele já sabia a resposta, pois já levara a mão para junto da feminilidade, a qual acariciava lentamente. — Não respondeu a minha pergunta, Saskia — ralhou, traçando círculos delicados de prazer. Saskia cerrava os dentes, certa de que desmaiaria com o calor e o desejo que ele lhe despertava. — Diga-me... diga-me o que quer — insistiu Andreas, ponteando cada palavra com beijos provocantes, e Saskia temeu se derreter. No casulo de seu mundo particular, ele se tornara o guia, o foco de tudo o que ela experimentava, de tudo o que sempre quisera ser, o centro de seu mundo. — Eu o quero — respondeu, excitada. — Eu o quero, Andreas. Eu... — Estremeceu, incapaz de dizer mais, pois Andreas a beijava de forma possessiva e passional. Quando ele a abraçou, Saskia agarrou-se a ele timidamente e acariciou seu rosto. — Olhe para mim — ordenou ele. Hesitante, ela obedeceu, deparando com um brilho de fogo no olhar dele. Devagar e com ternura, Andreas começou a acariciá-la. Saskia sentia como se o corpo todo fosse se dissolver de ansiedade, de desejo por ele. Estendeu para tocá-lo no ombro nu, no braço, e emitiu um som de agonia quando ele a beijou no pescoço. Nas mãos dele, o corpo dela se amaciava e respondia amistosamente, como se seu toque fosse uma chave especial. Mas Andreas era a chave para o que ela sentia, reconhecia agora, vagamente. Perdia-se nas profundezas... num oceano... profundamente apaixonada por ele. — Não teremos muito tempo... Eu a desejo demais — declarou ele, abafando as palavras com outra rodada de beijos ardentes. Saskia soergueu os quadris, ansiosa por ele, contorcendo-se de desejo e prazer. — Da próxima vez, faremos com mais calma — sussurrou Andreas junto a seu seio, a voz e as ações revelando sua urgência. Da próxima vez... Saskia achou que ia morrer de felicidade. Se ia haver uma "próxima vez", era porque ele se sentia da mesma forma que ela. O ar entre eles parecia estalar com a intensidade da paixão que ambos sentiam, com a movimentação de seus corpos sincronizados, numa perfeição permitida somente aos verdadeiros amantes. Cada suspiro, cada respiração, cada batida de coração serviam apenas para aproximar Saskia de Andreas ainda mais, emocional e fisicamente. Prisioneira, ela colocava seu amor e desejo à disposição dele, bem como o corpo em chamas que exigia satisfação. Ele finalmente sussurrou: — Agora, Saskia... Oh, céus, agora! Ela ofereceu o corpo como o beijo jamais simulara. Instintivamente, lançou as pernas em torno da cintura dele e se soergueu para se encaixar na masculinidade, para sentir Andreas em toda a glória máscula. Ele emitiu um grito rouco quando a penetrou, um som de tormento e triunfo. Ela ficou tensa só por um instante, ao choque de perder a virgindade, mas logo se entregou ao prazer das sensações. Andreas sentiu a resistência inesperada. Compreendeu o que significava, mas já era tarde demais, não conseguiria se controlar. Ao sentir a carne quente envolvendo seu órgão, pôs de lado a preocupação, permitindo-se viver e se satisfizer com a dança primitiva dos sexos. Foi mais fundo, mais impetuoso, até alcançar o fundo, cada contração delicada do corpo de Saskia representando uma súplica por mais. Investiu mais, até chegar ali. Sim, ali... ali. Andreas temeu que seu coração e pulmões explodissem conforme ganharam altura, de onde poderiam finalmente voar. Saskia emitiu um grito de espanto e satisfação ao experimentar o término do ritual... Tornara-se mulher, alcançara um lugar, um estado... uma emoção tão intensa que lhe arrancava lágrimas. Alguém estremecia... Seria ela... ou seriam ambos? Ouviu Andreas gemer naqueles segundos finais incríveis, antes de ele a envolver num abraço e levá-los ao infinito, gritando seu nome de uma forma que a deixou, arrepiada. Projeto Revisoras
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Enquanto recuperava o fôlego e o controle, ele a fitou. Saskia chorava. Lágrimas silenciosas. De dor? Por causa dele... porque ele... Não estava em condições de raciocinar, não aceitava o que a lógica lhe impunha. Saskia não podia ser virgem... Era impossível. Mas sua consciência dizia que não, que de fato lhe tomara a inocência. Imperdoavelmente, ele a machucara e fizera chorar. De forma egoísta, usufruíra o prazer à custa de sua virgindade. No arroubo da paixão, fora incapaz de se controlar e não se detivera ao perceber que havia algo estranho. Desgostoso com o próprio comportamento, afastou-se dela. — Andreas... — Saskia estendeu-se para tocá-lo. Por que ele se afastava? Por que não a abraçava, não a acariciava... não a amava e reconfortava? — O que... o que foi? — Ainda precisa perguntar? — respondeu Andreas tenso. — Por que não me disse... por que não me deteve? O tom de raiva dissipou a alegria dela, substituída por ansiedade e desespero. Obviamente, aquilo que achara tão maravilhoso, perfeito e único, para Andreas não significara grande coisa. Ele estava furioso consigo mesmo por não ter tido a percepção. Ela era virgem e ele, raios, praticamente a violentara... Estava desgostoso, com o orgulho manchado não apenas pela maneira como agira, como pela incapacidade de interpretar uma mulher tão especial. — Você devia ter me impedido — repetiu, a caminho do banheiro. Voltou com uma toalha enrolada no corpo e o robe na mão, que entregou a Saskia. Sentou-se na beirada da cama, de costas enquanto ela vestia a peça. Mas ela não queria que ele parasse! Tremia tanto que teve dificuldade de vestir o robe, e nem se importou em apertar o cinto. Andreas se voltou, irritou-se ao vê-la ainda meio exposta e lhe amarrou o cinto. — Você não está salva sozinha. Percebe isso, não? Não fosse eu, Aristóteles... — Aristóteles! — Saskia pronunciou o nome com nojo. Estremeceu e afirmou: — Não... nunca... Ele é asqueroso e... — Mas você foi dar um passeio com ele... — Não, não fui. — Athena disse que vocês tinham ido dar um passeio — insistiu Andreas. — Sim, eu dei um passeio... sozinha. Eu precisava... — Ela se deteve, baixou a cabeça e desviou o olhar. Então, comunicou com voz embargada: — Eu quero ir para casa, Andreas. Não posso mais... Ele sabia o que ela ia dizer. Claro que sabia... e o motivo! Claro que ela queria se afastar dele após o que ele fizera... como fizera... — Você devia ter me contado. Se soubesse que era virgem... Ele podia estar preocupado com o fato de ter lhe tirado a virgindade, mas obviamente não hesitava em despedaçar seu coração! Para ela, a perda da virgindade emocional doía muito mais... e continuaria a doer. Como pudera ser estúpida a ponto de achar que ele sentia o mesmo que ela? Devia estar louca... mas recuperava a lucidez. Louca de amor por ele! — Eu pensei... — começou ele, mas Saskia não permitiu que ele se justificasse. — Eu sei o que pensou! Sempre deixou claro o que pensava de mim, Andreas. Achava que eu era uma mulher promíscua que se oferecia em troca de dinheiro. Quis acre ditar que aquela era a verdade sobre mim. Suponho que o seu orgulho masculino grego não cogitasse a possibilidade de estar errado... Andreas fitou-a. Seu ciúme o levara àquilo... o levara àquele tratamento impiedoso. Desejou abraçá-la, beijar-lhe o rosto até secar as lágrimas e sussurrar o quanto a amava, o quanto queria protegê-la e cuidar dela... o quanto gostaria de desfazer o mal que lhe impusera, o sofrimento que lhe causara... Para ser franco, desejava também estirá-la na cama, arrancar aquele robe e beijar cada centímetro de seu corpo lindo, dizendo o que sentia, mostrando também. Mas claro não podia fazer nada daquilo... não mais... — Explique agora — exigiu, a fim de aplacar a fúria do desejo que o consumia. Projeto Revisoras
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Saskia quis recusar, mas de que adiantaria? Contaria tudo, desde o começo, e então reforçaria a necessidade de partir... mas com certeza não lhe diria por quê. Por um segundo irracional, desejou que ele a abraçasse, que a beijasse, que a bajulasse até convencer seu pobre coração desiludido de que a amava tanto quanto ela o amava. Mas, felizmente, imperou o senso de preservação, e explicar o esquema que elaborara com Megan e Lorraine para testar a fidelidade de Mark, o noivo da primeira. — Ela pediu que fizesse isso? — Andreas parecia incrédulo. Saskia fez que sim, desolada. Então, bateram na porta e Olímpia entrou para contar a novidade: — Vovô chegou. Quer ver os dois. — É melhor eu me vestir — murmurou Saskia, corada. Olímpia parecia alheia a seu constrangimento e acrescentou: — Andreas, preciso lhe contar algo... antes que fale com vovô. — Se vai me pedir a mesada adiantada, escolheu uma péssima hora — repreendeu Andreas, acompanhando a irmã ao escritório. Saskia refugiou-se no banheiro. CAPÍTULO X Saskia mirou-se no espelho do quarto. O reflexo era de uma mulher cujo corpo gozara satisfação sexual em toda a plenitude e agora, orgulhosamente, queria proclamar o fato ao mundo. Não que fosse transmitir tal imagem ao avô de Andreas... o homem indiretamente responsável por sua presença ali... o homem que não a considerava digna de desposar seu neto... que preferia vê-lo casado com Athena. Não exibiria a imagem satisfeita a Andreas, tampouco. Por que seu corpo idiota não enxergava nada além do momento de satisfação? Não percebia que o futuro só lhe reservava solidão e sofrimento? Após a breve conversa com Olímpia, Andreas tomou banho, vestiu-se rapidamente e informou que, embora o avô desejasse conhecê-la o mais rápido possível, ambos deveriam acertar alguns assuntos antes do encontro. ― Não vamos demorar ― finalizou ele, antes de sair do quarto, sem dar-lhe a chance de dizer que, dali para a frente, para sua própria sanidade e segurança, permaneceria o mais longe possível dele. Enquanto aguardava que Andreas voltasse e a levasse para a apresentação formal ao avô, Saskia ficou se olhando no espelho. Era mesmo a representação perfeita de uma mulher apaixonada. Até seus olhos exibiam um brilho novo, um reflexo que indicava a existência de um segredo especial e maravilhoso. Tentava transmitir ao corpo que a situação era grave, porém sua aparência continuava gloriosa. Sobressaltou-se quando ouviu a maçaneta girar, mas a porta não sé abriu. De pé no corredor, Andreas apertava a mão na maçaneta, incapaz de empurrar a porta, recordando os acontecimentos do últimos minutos: — Athena tentou subornar Saskia para deixar você — contara-lhe Olímpia, indignada. — Ofereceu um milhão de dólares. Claro que Saskia recusou, mas não vejo porque Athena deva sair ilesa após esse... comportamento lamentável. Vovô precisa saber quem ela é... e se você não está preparado para contar... Andreas? Alucinado, ele recordava seu próprio comportamento "lamentável" para com Saskia. Saber da proposta indecente de Athena e como a declinara com nobreza o fazia se sentir a pior das criaturas... Como pudera se enganar tanto a respeito de uma mulher maravilhosa? Como pudera ser tão tendencioso... e radical? Uma voz interior lhe dava a resposta. Desde o primeiro instante em que a vira, acontecera algo... uma sensação aguda e, mais perigoso ainda, uma emoção... que tentara suprimir de Projeto Revisoras
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imediato. Seu maldito orgulho não o deixaria se apaixonar por uma mulher que parecia tão imoral. E, por dar ouvidos ao orgulho, não ao coração, destruíra algo que poderia ter sido a parte mais maravilhosa, mais preciosa de sua vida. A menos... A menos que pudesse convencer Saskia a lhe dar uma segunda chance... Mas, independentemente de Saskia lhe dar uma oportunidade de provar seu amor, havia algo que precisava fazer, uma reparação. Era grego o bastante para determinar que Saskia ostentasse seu sobrenome bem antes de todos saberem que ela gerava seu filho. Ela lhe entregara sua inocência e ele, em troca, lhe daria proteção, não importava qual fosse sua vontade. Andreas contara ao avô exatamente o que planejava fazer, acrescentando sincero que Saskia era muito mais importante para ele do que saúde e posição, mais importante até do que o respeito do avô. Até contemplara impedir que o avô a conhecesse, para não sujeitar Saskia a alguma mágoa ou preocupação, mas receou que o velho senhor pensasse que ele impedia o encontro por pensar que a noiva não era boa o bastante para ele. Boa o bastante! Ela era boa demais, maravilhosa demais... preciosa demais... Antes de voltar para o quarto, comunicou a Athena que ela devia deixar a ilha imediatamente. — Não se incomode em tentar persuadir meu avô para permitir sua permanência. Ele não a atenderá. — Sem dar à prima chance de réplica, abandonou-a. Agora, hesitava antes de entrar no quarto. Saskia o aguardava, e saber disso lhe enchia o coração de amor e desejo. Criou coragem e entrou. Ela estava tão radiante quanto uma noiva, os olhos brilhantes, um sorriso nos lábios, externando pura alegria, velando o segredo de sua recente transformação em mulher. Ela parecia... Saskia parecia uma mulher que acabara de deixar os braços e a cama do homem que amava. Mas, assim que o viu, a expressão dela mudou. O olhar obscureceu-se e ela ficou tensa. Andreas fechou os olhos, assolado por uma onda de amor e culpa. Desejava mais do que tudo fechar a porta para isolar ambos do mundo, abraçando-a com força enquanto implorava perdão e uma oportunidade de passar o resto da vida demonstrando o quanto a amava. Mas tinha responsabilidades e, em primeiro lugar, cumpriria a promessa que fizera ao avô e a apresentaria. Fizera o avô prometer que trataria Saskia com gentileza. Atravessou o quarto e estendeu a mão, mas Saskia se encolhia, com medo de trair seus sentimentos, sabendo que tremeria da cabeça aos pés simplesmente com o calor do toque. Esperava algum comentário irritado e impaciente dele sobre o papel que devia encenar, mas ele sussurrou: — Desculpe-me por colocá-la nisso... Saskia... — Foi para isso que me trouxe aqui — lembrou ela, áspera, sem encará-lo. Com certeza, o tom de remorso na voz dele era sua imaginação. Quando deixaram o quarto, uma empregada baixinha que cuidava da área adiantou-se. Andreas lhe disse algo em grego antes de alcançar Saskia no corredor. Seria normal, naquelas circunstâncias, que Andreas lhe tomasse a mão, por isso deixou-se alcançar por ele, para darem a impressão de um casal profundamente apaixonado. Nada aceitável, porém, era o senso de ternura e segurança que a proximidade dele proporcionava. Na ampla sala de estar, encontraram Olímpia e Helena conversando com um velho senhor de cabelos brancos, provavelmente o avô de Andreas. Quando se aproximaram, o, ancião voltou-se e Andreas declarou formalmente: ― Vovô, gostaria de lhe apresentar Saskia. Mas Saskia não ouvia mais, reconhecendo o semblante do homem que a encarava. Era o mesmo homem que a quem socorrera na rua perto da Acrópole, o velhinho que não se sentia bem. Ele não parecia doente agora, e sorria largamente aos dois. Tomou-lhe a mão livre entre as suas. Projeto Revisoras
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― Não precisa nos apresentar, Andreas. ― Ele riu. ― Nós já nos conhecemos. Saskia via como ele se divertia com o efeito chocante da declaração sobre a família. Obviamente, era um homem que gostava de se sentir no controle da situação... das pessoas... que gostava de desafiá-las e surpreendê-las. Mas aquela característica, irritante em Andreas, no avô era quase enternecedora. ― O senhor e Saskia já se conhecem? ― repetiu Andreas, franzindo o cenho enquanto olhava desconfiado para os dois. ― Sim, em Atenas, ela foi muito gentil com um velho e se preocupou com ele também. Meu motorista contou que expressou sua preocupação com minha saúde ― contou o velho senhor, satisfeito. ― De fato, aquela caminhada sob o sol, mais a espera até sua volta da Acrópole foram um tanto... cansativas. Mas não tão desagradável, desconfio,quanto foi para Andreas chegar ao escritório e descobrir que eu tinha cancelado a nossa reunião! Encarou o neto com severidade. ― Não achou que eu permitiria que meu único neto se casasse com uma mulher sobre a qual eu não sabia nada, achou? Saskia escondeu o sorriso. Ele era tão grego, tão machista. Sabia que devia estar irritada, mas o avô estava tão satisfeito consigo mesmo que tinha de simpatizar com ele. Andreas não aceitaria a afronta tão facilmente. — O senhor decidiu investigar Saskia? — Você definitivamente fez uma boa escolha, Andreas — desconversou o avô. — Ela é charmosa... e gentil. Poucas mulheres se dariam ao trabalho de cuidar de um velho estranho. Eu tinha de encontrá-la sozinho, só eu e ela, Andreas. Conheço você e... — Isso que fez foi ultrajante! — rebateu Andreas, enquanto Saskia o fitava atônita. Ele a defendia e protegia? De repente, recordou que ele estava meramente representando um papel... o papel de noivo apaixonado e protetor. — Pois ouça bem, vovô. Se o senhor aprova ou não Saskia, não faz nenhuma diferença. Eu a amo e sempre amarei e nenhuma ameaça, suborno ou agrado que o senhor faça mudará isso. Houve uma breve pausa antes de o ancião assentir. — Ótimo. Folgo em saber. Uma mulher como Saskia merece ser o foco da vida e do coração do marido. Ela me lembra muito minha Elisabeth... — acrescentou, os olhos obscuros. — Elisa tinha a mesma gentileza, a mesma preocupação com os outros. — Franziu o cenho ao reparar no anel de noivado de Saskia. — O que é isso que ela está usando? Não combina com uma noiva Demétrios. Estou surpreso com você, Andreas... um simples solitário. Ela vai ficar com o anel de Elisabeth e... — Não. — O tom áspero de Andreas deixou Saskia tensa. Ele ia contar ao avô que era tudo uma farsa? A idéia de uma farsante usando uma jóia da família era demais para ele suportar? — Se Saskia quiser um anel diferente, que escolha sozinha. Por enquanto, quero que ela use o anel que eu escolhi. Um belo diamante puro e brilhante, como ela mesma. Saskia viu a mãe e a irmã dele boquiabertas. Ela também estava espantada com a declaração quase poética e totalmente inesperada. Lágrimas brotaram em seus olhos ao fitar o solitário. Era lindo. Admirava-o sempre que o colocava no dedo. Mas, para valorizar a jóia, teria de recebê-la por amor. O compromisso era o que importava para uma mulher apaixonada, não o valor monetário de um objeto. Mas o avô de Andreas era, acima de tudo, um homem prático: — Muito bem, quero saber quando planejam se casar. Não vou viver para sempre, Andreas, e se for para ver os seus filhos... — Vovô... — alertou Andreas. Mais tarde, após o almoço comemorativo e mais champanhe do que talvez fosse prudente, Saskia caminhou de volta para o quarto muito concentrada. Andreas a acompanhava, conforme se esperava de um noivo apaixonado e protetor. Antes de entrarem na suíte, Andreas a segurou delicadamente pelos ombros, para que se Projeto Revisoras
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fitassem. — Lamento o que aconteceu em Atenas — declarou, ainda irritado. — Meu avô não tinha o direito de submeter você a... — No lugar dele, eu teria feito a mesma coisa — afirmou Saskia, defendendo o ancião. — Acho perfeitamente natural. Ainda me lembro da reação da minha avó quando voltei de meu primeiro encontro. — Claro que ela agiu de forma protetora em relação a você — concordou ele. -— Mas meu avô não percebe o perigo que você correu? E se tivessem se desencontrado? Estava sozinha numa cidade estranha. Ele deu ordens para seu motorista ficar escondido até que começasse a voltar para o carro dele. — Era dia claro, Andreas — replicou Saskia, calmamente. — Bem, pelo menos seu avô não vai tentar mais convencê-lo a se casar com Athena. Na suíte, estacou ao ver as malas novas que Andreas lhe comprara. — O quê... — Pedi para Maria arrumar nossa bagagem. Seguimos no próximo vôo para Heathrow. — Já vamos embora? Saskia sabia que estava sendo idiota. Claro que iam embora. Afinal, não havia mais necessidade de Andreas mantê-la ali. O avô deixara claro, durante o almoço, que Athena não era mais bem-vinda sob seu teto. — Não temos opção — respondeu Andreas. — Você ouviu meu avô. Agora que recebeu passe livre de saúde, ele vai ficar atrás de algo para ocupá-lo. Vai querer organizar nosso casamento, plantar a notícia em todas as colunas sociais, chamar a atenção de novos parceiros para negócios. Minha mãe e irmã também terão de tomar muitas providências. — Franziu o cenho. — Encomendar vestidos a estilistas famosos, um vestido de noiva que levará meses para ser confeccionado. Planos para ampliar a vila para acomodar mais crianças, porque minha mãe e meu avô estão determinados a aumentar a família... Saskia absorveu cada palavra e criou uma imagem que combinasse com a descrição. Vagamente, permitiu-se sonhar com o que sabia ser impossível. Então, as palavras seguintes de Andreas lançaram-na em queda livre. — Precisamos nos casar imediatamente. Não vamos esperar tudo ficar pronto. Se você já estiver grávida... — O que está dizendo? — protestou Saskia, pálida. — Não pode estar falando a sério. Não podemos nos casar só porque... — Só porque o quê? — Andreas parecia amargurado. — Porque você era virgem, uma inocente que nunca se deitara com um homem antes? Eu... eu sou grego, Saskia, e de forma alguma abandonarei um filho meu. Nas circunstâncias, não há nada que possamos fazer. — Você é só meio-grego — lembrou Saskia, e acrescentou: — Além disso, posso não estar grávida. Na verdade, tenho certeza de que não estou. Andreas expressou desdém. — Até parece especialista no assunto. Você, uma mulher que nunca nem mesmo... — Dizem que nem sempre... não na primeira vez —justificou Saskia, sem convicção, vendo que não o convencia. — Eu não quero isso, Andreas — declarou, firme. — Mesmo que esteja grávida... hoje em dia isso não significa... eu posso criar a criança sozinha... — Como? — desafiou ele. — Não com o milhão de dólares que recusou, claro. Saskia espantou-se ao saber que ele já estava a par daquela história, mas optou por não comentar. — Uma criança precisa mais do que dinheiro. Muito, muito mais. Uma criança precisa de amor. — Acha que eu não sei disso? — rebateu Andreas. — Afinal, tenho uma experiência melhor do que a sua nesse assunto, Saskia. Tive o amor de meu pai e de minha mãe quando criança e garanto que nunca permitirei que um filho meu cresça sem o meu amor. Ele se deteve ao perceber que Saskia soluçava, arrependido da falta de tato. Projeto Revisoras 58
— Saskia, meu amor, perdão. Não queria magoá-la... só queria que entendesse que não poderia dar as costas ao nosso filho, assim como não posso dar-lhe as costas, jamais. Saskia o fitou, incapaz de falar, de se mexer, de suspirar enquanto avaliava a sinceridade da declaração. Ele estava encenando. Tinha de estar. Não a amava. Sabia disso. Por algum motivo, ouvir aquelas palavras a deixava mais angustiada do que podia suportar. Ergueu a mão direita e tirou do dedo anular o anel de noivado. Tinha raiva no olhar, e lágrimas de dor e orgulho rolavam por seu rosto. Andreas recordou trechos que ouvira recentemente de membros da família: — Fiquei tão zangada quando Athena ofereceu o dinheiro a Saskia — revelara Olímpia. — E tão orgulhosa dela quando recusou. Saskia o ama de verdade. Eu costumava pensar que nenhuma mulher seria boa o bastante para você, mas agora vejo que me enganei. Ela o ama tanto quanto você merece ser amado, como um dia pretendo amar o homem com quem me casar... ― Ela é perfeita para você ― sussurrara a mãe. ― É uma moça linda, com um coração ainda mais lindo ― descrevera o avô, emocionado. Houvera apenas um momento de tensão no almoço, quando o avô provocara Saskia sobre algum assunto e ela se voltara para o noivo em busca de proteção. Ante seu olhar amedrontado, desejara arrebatá-la dali e levá-la para um lugar onde pudesse tê-la só para si, amando-a até que não sentisse mais medo. Saskia lhe devolveu o solitário e ergueu a cabeça. ― Jamais me casarei com um homem que não me ama. Andreas fechou os olhos e recordou as palavras para ter certeza de que não ouvira mal. Então, abriu os olhos novamente e se aproximou de Saskia. Faria a maior aposta de sua vida. Se perdesse, perderia tudo. Se ganhasse... ― Não devia ter dito que... jamais se casaria com um homem que não amasse? Saskia ficou tensa, pálida e então levemente enrubescida. ― Eu... foi o que quis dizer ― afirmou, mas logo entrou em pânico. ― Não posso me casar com você, Andreas ― protestou, quando ele a tomou nos braços. ― Não vou abrir mão de você, Saskia. ― Por causa do que aconteceu... por causa da possibilidade de haver um bebê? ― balbuciou ela, pois Andreas a beijava com determinação no pescoço, no queixo, na boca. ― Por causa disto ― rosnava ele, febril, contra seus lábios. ― E disto... e de você... ― De mim? Andreas segurou o rosto delicado e revelou, pelo olhar, toda a dor, remorso, amor e desejo que sentia por ela. ― Por favor, dê-me a chance de mostrar como pode ser entre nós, Saskia. Deixe-me mostrar como pode ser bom, como será... ― O que está tentando dizer? Andreas respirou fundo. ― Estou tentando dizer com palavras o que minhas emoções, meu coração, minha alma e meu corpo já declararam, minha amada, minha adorada, meu amor precioso. Não percebeu como me senti quando fizemos amor? Saskia balançou a cabeça, zonza, sem ousar acreditar no que ouvia. Seu coração palpitava tomado de alegria e excitação. Nenhum homem poderia fingir o olhar que Andreas lhe dedicava naquele instante, e, se não bastasse, o corpo dele reagia enviando-lhe uma mensagem íntima e distinta. Enrubesceu ao sentir o próprio corpo reagir provocado pela ereção do corpo viril. ― Eu... pensei que tinha sido só sexo ― confessou, corajosa. Andreas começou a rir. ― O que foi que eu disse? ― Minha querida... Se já não tivesse uma prova cabal da sua inocência, essa declaração teria me garantido isso. Qualquer mulher que já tenha experimentado "só sexo" saberia imediatamente que... ― Calou-se e sorriu. Beijou-a com ternura antes de continuar. ― Não. Por que devo me incomodar em explicar? Afinal, você nunca saberá o que é "só sexo". Você e eu, Saskia, faremos amor, partilharemos amor, daremos amor um ao outro durante o resto de Projeto Revisoras
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nossas vidas. Acredite em mim! ― Oh, Andreas... ― sussurrou Saskia, delirante, enquanto ele a abraçava com força. Cinco minutos depois... ― Não, Andreas, não podemos ― protestou ela, quando ele a levou para a cama e começou a despi-la. ― Todas as minhas roupas estão nas malas... Não terei o que vestir e... ― Ótimo ― informou Andreas, sem o mínimo sinal de remorso. ― Não imagino nada que queira mais agora do que tê-la nua na minha cama, sem meios de fugir. ― Hum... engraçado ― retrucou Saskia, travessa. ― Estava pensando a mesma coisa! EPÍLOGO — Bem, seu avô pode não ter opinado sobre o nosso casamento, mas ele com certeza não permitirá um batizado tranqüilo! ― Saskia riu com Andreas enquanto observavam a multidão que lotava completamente o salão de eventos especiais do hotel. — Tem certeza de que Robert vai ficar bem com ele? — Ansioso, Andreas vigiava o avô no outro lado do recinto, exibindo, orgulhoso o bisneto de três meses a amigos e par ceiros comerciais. — Como ele disse, já segurou muitos bebês. Muito mais do que nós — lembrou Saskia, risonha. — Talvez, mas nenhum deles era o nosso filho — observou Andreas, e acrescentou: — Acho melhor resgatarmos Robert, Saskia. Ele está ficando irritado e não acabou a mamadeira... — Que paranóia — murmurou Olímpia com Saskia, enquanto observavam Andreas apressando-se para pegar o filho. — Eu sempre soube que Andreas seria um bom pai, veja bem... Saskia sorriu ao ver o marido tomar o filho nos braços com destreza. A criança nascera exatamente nove meses e um dia depois do casamento, chegando providencialmente três semanas após o previsto. Mas claro, só ela e Andreas sabiam disso... assim como só eles sabiam que Robert, quando completasse um ano, já teria um irmãozinho ou irmãzinha... — Não é cedo demais? — questionou Andreas, ao saber da suspeita. Saskia enrubescera, lembrando-se tão bem quanto Andreas de que fora ela quem tomara a iniciativa de fazerem amor após o nascimento de Robert. Andreas era um pai maravilhoso, além de marido e amante espetacular. Saskia suspirou, o olhar obscuro de repente, e Andreas logo tomou providências. Se a mãe de Andreas ficou surpresa quando o filho lhe pediu que segurasse o bebê, não o demonstrou. Feliz, Helena Latimer aproximou-se da avó de Saskia, com quem já fizera amizade. — Andreas! Não, não podemos — protestou Saskia, na suíte mais luxuosa do hotel, ao ver o marido trancar a porta. — Por que não? Somos os donos desta espelunca e estamos casados... e quero minha mulher já! — Andreas... — Saskia suspirou quando ele a beijou na pele macia do pescoço. — O quê? — ele perguntou, malicioso. Saskia não respondeu verbalmente, mas entreabriu os lábios, oferecendo-se. — Eu sabia, assim que a vi, que era uma mulher audaciosa. — Andreas riu, carinhoso. — A minha mulher audaciosa... *
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