O Herdeiro Do Amor (Jessica 30) Sara Craven

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven

O HERDEIRO DO AMOR HIS WEDDING-NIGHT HEIR

Sara Craven

A bela e virgem Cally Maitland se acostumou a viver fugindo desde que conseguiu escapar do casamento com o aristocrata inglês Nicholas Tempest. Mas Nicholas não vai deixá-la partir enquanto eles não tiverem uma noite de núpcias e um herdeiro!

Digitalização: Ana Cris Revisão: Ana Ribeiro

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— Sobremesa? — ele perguntou, ao notar que ela havia terminado. — Apenas café preto. — O mesmo para mim — Nick sorriu brevemente para a garçonete, que deixou cair os talheres sobre a grama. — Coitada — comentou Cally. — Você parece ter um efeito devastador sobre as mulheres. — Nem sempre — retrucou Nick. — E certamente não sobre você. Ah, mas isso não é verdade, pensou Cally. Ou como me convenceu tão facilmente a me casar com você, contra meu bom senso? — Você está chamando muita atenção também — acrescentou Nick. Cally ficou vermelha e desviou os olhos. — Por favor... não fale coisas assim. — Não posso nem fazer um elogio? — Não no nosso tipo de acordo — ela respondeu. Querida leitora, O que pode ter acontecido para que a pura e bela Cally Maitland se casasse com um aristocrata inglês e depois escapasse do compromisso? Só que ele não vai deixá-la desaparecer sem antes terem uma noite de núpcias e um herdeiro! Agora leitora você vai acompanhar essa apaixonante perseguição com um final surpreendente!

CAPÍTULO I

Ela corria. Atirava-se por uma avenida, onde árvores criavam sombras grotescas à sua

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven frente. Sua respiração rasgava seus pulmões e suas pernas doíam, mas não podia parar. Nem ousar olhar para trás. Tinha que correr. Tinha que... Cally Maitland sentou-se, ofegante, com o corpo molhado de suor, quando o repentino som do despertador invadiu seu subconsciente e a trouxe de forma chocante para a realidade de um novo dia. Meu Deus, pensou. O que fora aquilo? Mas já sabia a resposta. Já tivera o mesmo sonho antes. Várias vezes. O sol invadia o quarto por uma nesga da cortina surrada. Era um lindo dia de maio. Mas Cally sentiu um frio no ar e envolveu o corpo com os braços. — Definitivamente é hora de partir. Ela se levantou da cama, passando os dedos pelos desgrenhados cabelos castanho-claros cortados na altura do ombro. Olhou-se rapidamente no espelho e percebeu que estava com olheiras. Sentia-se como uma estranha em sua própria pele, o que a atordoava. Um ser totalmente diferente da menina mimada e protegida que era dezoito meses antes. Aquela menina sumira para sempre. Mas não havia tempo para ter pena de si mesma, pensou, ajeitando os ombros. Kit ligara na noite anterior para marcar uma reunião de emergência no Centro Infantil e não podia se atrasar. Ela pegou seu uniforme de trabalho e se dirigiu ao pequeno e úmido banheiro improvisado num canto do sótão no qual morava. Considerá-lo um apartamento seria um senhor elogio, pensou Cally, enquanto achava graça de sua toalha ainda estar úmida, desde a véspera. Não era o tipo de aposento que sonhara para si. Mas era barato, além de ser o último lugar na Terra em que alguém a procuraria. Esse era o grande — e único — atrativo do local para ela. Mesmo assim, poderia virar as costas para o quarto a qualquer momento, sem se arrepender. Apesar de estranhamente não poder dizer o mesmo sobre Wellingford. Ela escolhera a cidade pela mesma razão que o apartamento. Era uma pequena e desinteressante cidade comercial às margens de um rio sem graça. Um cenário neutro no qual poderia desaparecer. Não esperava gostar de lá, claro, pensava Cally. Também não previra que seria feliz, mas de alguma forma, contra todas as expectativas, conseguiu um pouco de ambas as coisas. Algumas vezes quase conseguia esquecer as razões para estar ali. Quase, mas não totalmente. E chegara a hora de partir, dizia a si mesma. Já ficara um mês além e não podia arriscar ficar mais. Caso contrário, começaria a se sentir em casa, o que seria perigoso. Precisava continuar se mudando. Para cobrir as pistas. Apesar de não haver prova real de que tudo aquilo fosse necessário, ela lembrava a si mesma. Não havia evidências de qualquer tentativa de encontrá-la, conforme temia. Mas um instinto gutural, um senso de autopreservação, pareciam avisá-la novamente. Senão, qual a razão do sonho?

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven De qualquer forma, havia razões práticas e válidas para deixar Wellingford. Por um lado, o trabalho do qual gostava tanto já não existia mais, e receberia o pagamento da família Hartley no fim da semana. Ela suspirou enquanto escovava os dentes. Ainda não conseguia acreditar que Genevieve Hartley tinha morrido. Parecia indomável, eterna. "Espero que os mortos não possam ver os vivos", ela pensou. "Espero que a Sra. Hartley não saiba o que seus horrendos filhos e suas esposas fizeram com seu sonho do Gunners Wharf antes mesmo de ela ser enterrada. Todos os moradores tendo de repente que procurar outra residência." Não deveria ser daquele modo. As intenções da Sra. Hartley eram muito diferentes. Pretendia que o projeto de Gunners Wharf sobrevivesse e triunfasse mesmo quando não estivesse mais ali para supervisioná-lo. Pretendia encontrar os advogados e informar os ajustes necessários ao seu testamento, mas sofreu um infarto repentino antes de assiná-lo. Ainda assim, todos os moradores esperavam que seu desejo fosse respeitado. Ela os deixou bem claros até para os ressentidos filhos. Eles compareceram ao velório e foram ao enterro para demonstrar afeição e respeito pela mulher que os incentivou, mas foram totalmente ignorados pela família. Em duas semanas, todos os inquilinos receberam uma solicitação para saírem e Gunners Wharf foi vendida para revitalização. Naturalmente os moradores protestaram, mas legalmente não havia nada que pudessem fazer. Cally sentiu a acidez das lágrimas na garganta. Gostava muito de Genevieve Hartley e sua morte fora um golpe pessoal, sem contar as outras conseqüências. Por outro lado, o abandono do projeto de moradias de Gunners Wharf aliviaria Cally. Ela lembrou que seu tempo ali era limitado. Mas pensou que seria a primeira a sair. Mais uma vez, alguém que amava fora tirado dela de forma trágica e repentina. Genieve Hartley fora praticamente a primeira pessoa que Cally encontrou quando chegou em Wellingford. Estava tomando café enquanto olhava os classificados de um jornal, em busca de emprego e residência quando viu o anúncio: 'Precisa-se de assistente administrativa para projeto de habitação com o Centro Infantil.' Menos de uma hora depois, estava sendo entrevistada pela Sra. Hartley, uma senhora elegante e de maneiras autocráticas. Sim, tinha referências, mas principalmente ligadas aos trabalhos de garçonete e vendedora. E ainda tinha uma lacuna de um ano, pensou, que passara viajando e trabalhando com qualquer emprego que lhe oferecessem. — Mas você trabalhou com computadores? Preciso de alguém que possa supervisionar o esquema de revitalização. Além disso, também terá que agir como ligação entre os construtores, os locatários e a prefeitura. Meus locatários de Gunners Wharf tiveram um começo de vida difícil, o que os tornou desconfiados. Procuro alguém que possa aparar as arestas, antes que elas se tornem dificuldades reais. — Tive aulas de informática no meu último ano de faculdade. — É mesmo? — falou. — Então sugiro um período de experiência de duas semanas. Você pode achar alguns dos locatários meio problemáticos.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven Ficar sem comer seria bem mais problemático, pensou Cally. — Além do trabalho administrativo, você deverá trabalhar na cafeteria do Centro Infantil — ela sorriu para Cally. — Sua experiência pode ser útil, querida. O salário oferecido era razoável, mas não generoso. Permitia que Cally vivesse, mas com os pés no chão. Era exatamente do que precisava. No momento oportuno, quando se livrasse totalmente de sua vida anterior, encontraria uma casa e uma carreira. Até lá, continuaria a ser nômade, pois era mais seguro. Naquela noite, pensou, pegaria seu Atlas e decidiria para onde ir. Gunners Wharf precisava de uma revitalização em vários sentidos, admitia Cally, enquanto caminhava para o centro, onde ficava o escritório administrativo. Mas por que tinha que acontecer às custas do despejo dos moradores? Ali, na rua que passava nos fundos do cais, muito trabalho havia sido feito pelos próprios locatários como ato de fé, um investimento em um futuro que lhes foi tomado. A Sra. Hartley arcava com os custos do Centro Infantil. Não era segredo que tinha custado uma pequena fortuna e talvez fosse disso que seus filhos se ressentissem. Bem, certamente eles teriam dinheiro agora. A venda ocorreu muito rapidamente. Provavelmente havia uma série de compradores potenciais interessados. — Cally! — A voz de unia menina interrompeu seus pensamentos, e ela virou para ver Tracy se aproximando. — Qual será o assunto dessa reunião? Você sabe? Kit contou alguma coisa? Cally segurou um suspiro. — Nada — ela respondeu. Kit Matlock era diretor do centro e o homem com quem trabalhava mais próximo. Os dois eram solteiros, então todos faziam suposições. Antes daquela recente bomba, Kit deixara claro que queria tornar a relação dos dois mais pessoal, o que também era uma excelente razão para ela ir embora. Não que não gostasse dele. Era atraente, agradável e com um adorável pavio curto. Mas Cally deu desculpas e mais desculpas para recusar seus convites. — Oh — Tracy sussurrou, desapontada. — Pensei que ele tivesse achado uma brecha na lei ou algo assim. E obviamente contaria antes a você. — Está falando com a pessoa errada, Tracy, honestamente. Kit é um rapaz adorável, mas logo vou me mudar. Recebi outra proposta, em Londres — ela acrescentou. — Você vai embora? — Preciso. Estou desempregada, preciso de trabalho rapidamente. Tracy gemeu. — Tudo está ruindo — ela falou, desanimada. Cally sentiu muita pena dela. — Desculpem-me por tê-los trazido aqui tão cedo. Solicitei esta reunião porque, graças a Leila, sabemos quem comprou Gunners Wharf. Houve um murmúrio de surpresa. — Como conseguiram descobrir? — alguém perguntou. Leila olhou para todos com complacência. — Meu vizinho trabalha na prefeitura. O nome da empresa é Eastern Crest Developments, e eles virão aqui depois de amanhã fazer uma apresentação na prefeitura. É a nossa chance.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — De quê? — perguntou Cally. — De mostrar que não podem simplesmente passar por cima de nós — informou Leila triunfante. — Sugiro uma abordagem menos ofensiva — falou Kit. — Por que alguns de nós não comparecem à apresentação e conversam com os novos donos? Para ver se há uma chance de o esquema deles incluir o Gunners Terrace. Ele poderia ser o lado humano do negócio. — Essa reunião na prefeitura não será apenas para convidados? — perguntou uma pessoa. — Bem, Roy pode conseguir alguns convites — afirmou Leila. — E vale a pena tentar — acrescentou Tracy. Kit sorriu. — Certamente. Talvez você possa ser um dos representantes, juntamente comigo e com Cally. — Só três? — perguntou Leila. — Acho que um grupo pequeno será melhor, diante das circunstâncias — respondeu Kit. — É claro que contamos com você para entrarmos. — Sem problemas — ela respondeu. — É muito importante que eu vá? — perguntou Cally, quando ficou sozinha com Kit. — Se conseguirmos conversar com os diretores da Eastern Crest, será útil tomarmos nota do que for dito. — Tracy pode fazer isso. Ele sacudiu a cabeça. — Tracy fica aturdida e está muito envolvida com o objetivo. Além disso, está indo para atrair simpatia — ele acrescentou, sorrindo ligeiramente. — Uma mãe solteira loura e bonita, cujo bebê era doente. Pode tocar os corações deles. — Uma boa relações-públicas, se for ligeiramente calejada. Qual sua opinião sobre nossas chances? — De eles nos ouvirem? Muito boas, especialmente sem Leila ameaçando-os. No geral? Não tenho esperanças. Empresas como essa são capitalistas e não se preocupam com o social. — Sim — afirmou Cally. — Eles não são famosos por seu lado humanitário. — Portanto — prosseguiu Kit —, precisamos apresentar o caso de forma articulada. — Ele pausou. — Depois da reunião, poderíamos jantar. O que acha? — Tudo bem — concordou Cally. — Mas é melhor falar com Tracy para conseguir uma babá — acrescentou de forma engenhosa. Kit desanimou um pouco, mas sabia que era melhor não discutir. Quando ficou sozinha novamente, Cally imaginou se aquele seria um bom momento para contar que estava partindo, caso ele ainda não tivesse descoberto. Afinal de contas, ele também devia ter recebido aviso prévio dos Hartleys, apesar de eles terem concordado relutantemente em deixar o Centro Infantil aberto por ora. Crianças sem lar chorando desesperadas no noticiário não faria bem aos negócios deles. Já os pais das crianças, obviamente, eram outra história. Nem todos tinham a mesma preocupação com adultos desfavorecidos como Genevieve Hartley. Eles contavam com isso. E os moradores do Gunners Terrace, depois que viraram sem-teto, seriam qualificados ao programa de abrigos da prefeitura, de qualquer forma. Esse seria o argumento, então quantas pessoas se preocupariam se uma pequena comunidade se sentisse desassistida?

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven Mas Cally sabia que o verdadeiro orgulho, o real espírito, era produzido naquela pequena parte da cidade, onde tais qualidades estiveram ausentes por muito tempo. E isso fazia diferença. Mas logo desapareceria quando as famílias se dispersassem, como parecia inevitável. Eles mereciam sobreviver, ela dizia a si mesma, com uma paixão repentina. Não precisavam de outra derrota. Se ao menos pudesse fazer algo... Mas uma voz em sua cabeça lembrou o que ela poderia fazer. Se ela tivesse escolhido outro tipo de vida. Se não tivesse fugido. Ela poderia fazer toda diferença. Por um momento Cally ficou imóvel, com o olhar no vazio, cheio de dor. — Mas fiz o certo, era a única alternativa. Sei disso. Ela não tinha roupas da moda, então optou por seu uniforme de trabalho para a visita à prefeitura. Havia muitas pessoas presentes na apresentação, a maioria ao redor da mesa onde estava a maquete. Cally, Kit e Tracy analisavam quem deveriam abordar. Mas no fim, a situação se resolveu sozinha, quando eles foram pegos por um movimento tenaz de Gordon Hartley e seu irmão mais novo, espumando de raiva. — Não sabia que tinha sido convidado. — Gordon se dirigiu a Kit, ignorando completamente as moças. — Gostaria que saísse agora! Kit mostrou os três convites. — Alguém pensa bem diferente — ele retrucou, calmamente. — Achei que devêssemos ver contra o quê estamos lidando. — Vocês não estão lidando contra nada — concordou Neville. — Já perderam. Então por que vir aqui fazer papel de bobos? — Gostaríamos de ver a proposta de revitalização e conversar com o líder da Eastern Crest. — Então você está sem sorte. — Gordon falou novamente em um tom curto e grosso. — Porque é o próprio diretor que está fazendo a apresentação. Vá embora agora, antes que se torne motivo de chacota ou que ele mesmo o expulse. O tom alto das vozes dos irmãos começou a chamar a atenção, notou Cally. Olhares curiosos eram lançados de todos os cantos, até mesmo dos que estavam olhando a maquete. "Não devíamos estar aqui", pensou. "Podemos ter convites, mas deve haver uma lista oficial de convidados, somos penetras." Ela tocou Kit. — Ouça — Cally começou. — Talvez devamos... Mas a frase não foi concluída. Porque se fez silêncio. Alguém cruzava a sala na direção deles, abrindo caminho entre as pessoas. Um homem alto, Cally viu, com um rosto bronzeado sob cabelos escuros despenteados de maneira fashion. Um rosto marcado por maçãs salientes, um queixo e um nariz quase arrogantes em sua força, uma boca rígida e séria. E totalmente inesquecível. A masculinidade de seus ombros largos e de seus quadris enxutos era enfatizada pela elegância de seu terno, enquanto ele explodia na direção deles com uma graça determinada e poderosa, com seu objetivo estampado em todas as feições.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven Ela o conhecia, percebeu Cally, com o ar preso na garganta. E era alguém por quem passou quase um ano com pavor de encontrar. E que agora estava ali, quase à distância de um toque, sem que houvesse tempo para correr. Tudo o que podia fazer era manter-se firme e rezar. Mas quando os olhos dele, cinza e profundos, encontraram os dela, Cally sentiu seu olhar no âmago de seu ser e viu que sua fuga não passara de uma ilusão aquele tempo todo. — Boa noite. — A voz clara e nítida era como gelo na pele dela. — Algum problema? Um jogo, pensou Cally friamente. Ele estava jogando. Mas ninguém sabia, somente ela. — Alguns desordeiros entraram, Sr. Nicholas — falou Neville Hartley. — Mas estamos cuidando deles. Então, se preferir voltar para seus convidados... — Em um instante — falou o recém-chegado, calmamente. Ele olhou para Kit. — Posso saber quem é? — Sou Christopher Matlock e dirijo o Centro Infantil e a Associação de Moradores de Gunners Wharf. Estamos enfrentando despejo por causa de sua revitalização, mas ainda tenho esperança de que possamos chegar a um acordo, se o senhor puder dedicar algum tempo para discutirmos o assunto. — Ah, sim — o outro homem balançou a cabeça. — Falaram-me sobre o assunto. — Ele virou para Tracy, cujo rosto estava vermelho de nervoso desde que eles chegaram. — E esta é? — Seu sorriso deu um certo charme ao rosto rígido. — Tracy. Tracy Andrews — afirmou Kit rapidamente, vendo que ela estava sem fala. — Uma das moradoras. — Ele virou para Cally. — E essa é minha assistente administrativa. — Ah, mas dispensamos apresentações — retrucou o rapaz, ironicamente. — Não é verdade, Caroline, meu amor? Antes que ela pudesse se mexer, ele caminhou na direção de Cally e segurou seu queixo com seus longos dedos. Ele inclinou a cabeça e, por um breve segundo, Cally sentiu a boca dele tocar seus lábios. — Cally? — Kit olhava para ela, boquiaberto, em choque. — Você conhece esse homem? — Sim. — Ela se forçou a falar. — Seu nome é Nicholas Tempest. — Sou diretor da Eastern Crest — seu sorriso não correspondia ao seu olhar, o que prendia os olhos dela com uma expressão desafiadora e de advertência. — Agora conte o resto, querida. E de uma distância terrível, ela se ouviu falar: — Ele é meu marido.

CAPÍTULO II

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Houve um momento em que ela pensou que fosse desmaiar. Em vez disso, ouviu Nick: — Alguém poderia buscar uma cadeira para minha esposa? Ela parece chocada. Era exatamente o desafio de que precisava. Não vou me despedaçar, falou a si mesma, com o corpo retesado. Pelo menos não naquele instante. — Obrigada, mas estou perfeitamente bem — e ela virou para Kit, que parecia petrificado, enquanto Tracy estava boquiaberta e de olhos arregalados. — Mas, por favor, traga uma bebida para Tracy — acrescentou. — Ela realmente precisa. — Ela respirou fundo — acho que será melhor me retirar. — Ainda não, querida. — A voz de Nick era macia, mas seus dedos se fechavam no pulso dela com; força. — Afinal, você se meteu na encrenca de me procurar hoje à noite. Então por que não diz o que veio dizer? Cally bateu no lábio. Ele prendia sua mão esquerda. A mão que por uma vez, por algumas horas, usou a aliança dele e ali estava desnuda. Ela queria se libertar, mas temia uma luta indigna que perderia. — Kit é nosso representante. Talvez ele possa marcar uma reunião com você amanhã. — Infelizmente partirei depois do café da manhã. — Ele fez uma pausa. — Mas posso dedicar um tempo a vocês mais tarde, quando a apresentação terminar. — Mas vamos sair para jantar — a taça de champanhe parecia ter afrouxado a língua de Tracy. — Comida italiana. — Então por que não vamos todos juntos? — sugeriu Nick. — Vocês podem me contar sobre Gunners Terrace. — Foi uma idéia de nossa falecida mãe — contou Gordon Hartley. — Infelizmente, ela morreu enquanto o projeto ainda estava no começo, então a maioria das casas está intocada. Elas são perigosas e sem saneamento e por isso devem ser demolidas. Apesar de seu turbilhão mental e emocional, Cally conseguiu lançar um olhar direto para ele. — Não é verdade e você sabe! Metade da obra foi concluída, e os trabalhos de reforma das demais já foram iniciados. — Não falemos sobre isso agora — interrompeu Nick. Ele soltou o pulso de Cally. — Ainda tenho assuntos a resolver, então vamos adiar a discussão. — Não há nada a discutir, sr. Nicholas — resmungou Neville Hartley. — Acho que já esclarecemos tudo. — Um dos lados, certamente — concordou Nick. — Qual o nome do restaurante em que irão? — O Toscana — Kit murmurou. — Na High Street. — Encontro vocês lá em uma hora. — Ele pausou. — Todos vocês — acrescentou, olhando brevemente para Cally. — Espero ter sido entendido. — Outro sorriso duro e ele se retirou. Houve um silêncio momentâneo e Cally podia ver a troca de olhares dos irmãos Hartley.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven Podia entender o problema deles, ela pensou. A sra. Tempest, mulher do diretor da Eastern Crest, teria sido convidada de honra. A esposa separada de Nick era um fato intrigante e não sabiam como lidar com ela. Pelo menos os moradores tinham uma carta na manga e os Hartley não tinham nenhuma estratégia para lidar com a situação. Por fim, Neville Hartley falou grosseiramente: — Isto ainda não terminou. — E saiu furiosamente com o resto da família. Cally sentiu-se menos tensa. Kit a olhava como se ela fosse uma estranha. — Não posso acreditar — ele afirmou. — Você é casada... com ele? Não pode ser verdade. — É totalmente verdade. Mas não por muito tempo, eu garanto. Como estou separada dele há um ano o divórcio não será difícil. — É assim que ele vê isso? — perguntou Kit. — O que quer dizer? — Você foi a única a ficar surpresa aqui — ele falou. — Na minha opinião, seu marido sabia que estaria aqui hoje à noite. — Já tive muitas surpresas para um dia só, estou indo para casa. — Mas não pode — falou Kit, desanimado. — Você ouviu. Ele quer escutar o que temos a dizer e nem sonhávamos com isso. Mas temos que estar todos presentes, ou não haverá conversa. Cally, não pode fugir, não quando temos uma chance real de virar a história! — Acho que eu traria mais prejuízo do que vantagens à causa. Devia ter prestado atenção ao sonho da outra noite, ela pensou. Mas fora muito complacente. Imaginara que ele tinha parado de persegui-la, ou se tinha ao menos começado. A menos, é claro, que tudo aquilo fosse uma terrível coincidência. Mas provavelmente não era. — Se não vier conosco não ganharemos a causa — declarou Kit. — Não pode desistir agora. Além disso, por que não ir ao jantar, se ele saberá onde está? Era lógico, era aceitável, mas não facilitava o entendimento da situação. — Não posso... encontrá-lo socialmente. Muita coisa aconteceu. — Então encare como uma reunião de negócios — implorou Kit. — Você realmente pensa que ele fará concessões? — Por que não? Ele não precisava concordar em conversar conosco. Podia ter insistido em vê-la sozinho. É um sinal de esperança, não? — Nick gosta de manipular as pessoas — ela afirmou. — É sua especialidade. — Mesmo assim — ele retrucou — vale a pena tentar. — Ele pausou e alterou o tom de voz. — Cally... algum dia você ia me contar que era casada? Ela fitou-o diretamente. — Não planejei ficar aqui tempo suficiente para isso. De qualquer forma, não é algo de que me orgulhe. Apenas sou grata porque vai acabar logo. — Foi amor à primeira vista? — perguntou Tracy. — Quando você o conheceu? Quero dizer, você obviamente gostou dele o suficiente para se casar. — Na verdade — afirmou Cally em alto e bom tom — foi apenas um acordo comercial. Só que decidi que não conseguiria ir adiante no dia do casamento. E preferiria não falar mais sobre o

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven assunto. Só que não teria alternativa, pensou, pois estava diante do confronto que daria tudo para evitar. Seu olhar tentava encontrar Nick naquele salão cheio, para ver se estava sozinho. Ela lutava para não imaginar o que ele estaria pensando, ou o que teria a dizer a ela mais tarde. Provavelmente haveria um ajuste de contas. Mesmo se ele concordasse que um divórcio rápido e discreto fosse a melhor saída para a situação — e até onde Cally sabia, tal alternativa não existia —, ela provavelmente não escaparia ilesa. "Eu o deixei sem nenhuma explicação", pensou. "Fiz com que fizesse papel de bobo, o que ele não esqueceria ou perdoaria." E agora teria que fornecer uma boa explicação para sua fuga. Não a verdade, é claro, pois esta estava guardada bem dentro dela. Mas algo, qualquer coisa, com o mínimo de convicção. Ela pediu licença e foi ao toalete. Precisava parecer bem, calma e controlada, dizia a si mesma, enquanto molhava os pulsos. Tinha que manter as emoções sob controle, independentemente do quanto pudesse ser difícil depois, pois não poderia demonstrar nenhum sinal de fraqueza. E se eles conseguissem conduzir o eventual divórcio de uma forma racional e equilibrada, já seria vantajoso. Ela supunha que o divórcio era a solução. Não podia imaginar Nick aceitando a anulação, que representava o verdadeiro status deles. Não seria bom para sua imagem de macho poderoso. Ela tinha pouco a oferecer. Ainda era muito magra, admitia, e muito pálida. Ela era o que se podia chamar de indefinida, e os cabelos brilhantes e espessos caindo sobre os ombros eram seu ponto forte de beleza. Mas eles eram castanhos. A imagem, no geral, era sem graça. As testemunhas de seu casamento deviam pensar que estavam observando o encontro de um pavão macho com uma patinha feia. Mas Nick não se casou com ela por seu charme. Ele tinha suas próprias razões... como ela finalmente descobrira, pensou, sentindo-se tensa com as lembranças ocultas. Não que fosse importante, dizia a si mesma veementemente. Era passado e ficara para trás, e logo seria uma questão jurídica. A única coisa que queria dele era a liberdade. Certamente não era pedir demais. E mesmo que o processo demorasse e fosse doloroso, aprenderia a esquecer que por algumas horas foi a esposa de Nick Tempest. — Você ainda está aqui — Tracy entrou no banheiro. — Kit me pediu para procurá-la. Acho que ele ficou com medo que desaparecesse. — Não. — Kit acha que devemos tomar uma bebida antes para planejarmos nossa tática. Você acha que teremos problema? — Não sei. Ele poderia simplesmente ter se recusado a falar conosco. — Ele é seu marido, então devia saber. E não se trata de "conosco", certo? E você, não é? — Seu olhar encontrou o de Cally com uma pergunta que ela era incapaz de responder.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven Quando eles chegaram no restaurante, Cally estava totalmente tensa. A discussão preliminar no pub não foi muito adiante, pois Kit estava claramente chateado com o casamento dela. Ela esperava ansiosamente que Nick caísse nas adulações dos Hartleys e não comparecesse. "Você deve lutar pelo Gunners Terrace", ela repreendeu-se silenciosamente. "E o preço a pagar é cerca de uma hora na companhia de seu ex-marido." Mas Nick chegou antes deles e ocupava uma mesa de canto. A melhor da casa, naturalmente. Estava acompanhado por Matthew Hendrick, o arquiteto do projeto. Enquanto escolhiam o que comeriam, ela não pôde deixar de sentir os olhos de Nick a avaliarem friamente, o que ele não fez questão de esconder. Ela tentava se concentrar na conversa de Kit e Matthew Hendrick, enquanto Nick ouvia e observava. Era a única coisa importante para ela, pensou. A situação difícil dos moradores. Ela devia participar, contribuir, como Tracy estava fazendo. Mas estava muito ciente do homem em frente a ela, com o rosto frio e contido. Muito consciente sobre os pensamentos apreensivos dela, sem lhe dar paz. Ela recusou café e sobremesa, rezando para que a noitada não prosseguisse e finalmente pudesse ir embora. Mas era uma esperança vã. — Boa noite, srta. Andrews, sr. Matlock. — Nick se levantou e estendeu a mão. — Matthew, encontro você no seu escritório amanhã. Minha esposa e eu ficaremos para aproveitar o encontro. Temos muita| coisa para resolver, não temos, querida? Cally ia protestar, mas despencou na cadeira. Suai intuição dizia que qualquer resistência faria com que| parecesse uma tola. Seria melhor não contrariar, pensou, mas deixar ele pensar que poderia ficar sozinha com ele, sob total indiferença dela. Só não tinha idéia de como conseguiria. Os outros saíram e ela viu Kim olhando-a preocupado. Teve vontade de chamá-lo e pedir para que ficasse, mas não seria justo. E Nick explicitara seu desejo de forma fria e brutal. Eles conversariam. Quando ele se sentou novamente, ela falou, com uma voz baixa e frágil: — Sinto como se alguém devesse ler meus direitos. — Já conheço os meus — ele falou brevemente. — Tive bastante tempo para pensar sobre eles. — Ele sinalizou para o garçom trazer mais café. — Não quero mais nada — ela declinou. — Então converse comigo enquanto tomo um café. — Nick — ela falou, decidindo ir direto ao assunto. — Realmente temos que fazer isso? Não podemos simplesmente aceitar que nosso casamento foi uma péssima idéia e dizer que estamos quites? Quero ir para casa. — Excelente idéia — ele falou, afavelmente. — Por que não fazemos isso? Infelizmente, minha casa é o Hotel Majestic. — Ele sorriu friamente. — Podemos ir? Ela sentiu a batida acelerada de seu coração. Ouviu o grito silencioso de "Não" em sua

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven garganta seca. Ele não queria dizer isso. Não podia... — Não vou a lugar nenhum com você. Parece que não percebeu que o abandonei. — Oh, não, querida — ele respondeu, com uma leveza corrosiva. — Lembro incrivelmente bem. No dia de nosso casamento, certo? Ela retrucou, tensa: — Suponho que mereça uma explicação. — Sim — ele concordou. — Certamente mereço. E talvez desculpas por ter sido feito de idiota. Seria um bom começo. — Sim, claro. Sinto... muito sobre isso. — E nada mais? Cally levantou o queixo. — Era algo que eu precisava fazer. Senti que não tinha alternativa. — Ela hesitou. — O que você falou para as pessoas? — Não consegui falar a verdade — ele disse. — Porque eu não sabia qual era. Não havia sequer um bilhete de despedida. Então simplesmente expliquei que seus sentimentos mudaram, apesar de tarde, e concordamos em nos separar. Ele parou de falar. — No começo, querida, não percebi o que tinha acontecido. Você havia pego o carro, então primeiro pensei em um acidente. Perdi um enorme tempo ligando para hospitais e até mesmo para a polícia, que encontrou seu carro com uns rapazes. Eles o haviam roubado em um estacionamento perto da estação. O rapaz que vendia bilhetes reconheceu sua foto e disse que você tinha comprado uma passagem para Londres. Só de ida. O que, é claro, dava outra perspectiva à situação. — Então você foi atrás de mim? — Não — ele falou. — Não inicialmente. Estava furioso. Então pensei, "que se dane". — Devia ter deixado assim. — Ah, mas meus sentimentos mudaram. Houve um grande silêncio, então ela perguntou: — Como descobriu onde me encontrar? — Exceto por aquelas primeiras semanas, sempre soube onde encontrá-la. Ela sentiu um frio na espinha e fechou os olhos lentamente. — E pensei que conseguiria apagar meus rastros. Que se continuasse me mudando, ficaria fora de vista. — Encontrar você foi a parte fácil — ele declarou, ironicamente. — Decidir o que fazer é que foi difícil. Houve um tempo em que pensei que fosse voltar. Que acharia que viver comigo era preferível do que trabalhar como escrava. Mas você nunca voltou. — Não — ela falou. — Porque pensei que estivesse livre. Houve um silêncio, então ele perguntou: — O que fez com que viesse para cá? Ela deu de ombros. Nenhuma razão especial. E parecia... anônimo. Nem tanto assim. O lugar tem andado nas manchetes de negócios. — Trata-se de revitalizar algo. Decidiu-se que a cidade tem possibilidades de baldeação

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven do trem. Por isso Gunners Wharf. — E por isso você está aqui. — Parecia uma oportunidade boa demais para desperdiçar — ele falou lentamente, e ela sabia que ele não estava falando de desenvolvimento. Pelo menos não somente. Sentiu seu coração vacilar, em pânico. Ela rapidamente perguntou: — A Eastern Crest... é uma nova aquisição? Não reconheci o nome. — Bem, querida — ele debochou —, faz tempo que você não aparece. E sem você para me distrair, tive mais tempo para me dedicar a aquisições e fusões. — Ele parou. — E se tivesse reconhecido o nome, teria feito o quê? Mais uma vez ficaram em silêncio e ela respondeu, secamente: — Não sei. Correr e tentar me esconder se mostrou claramente inútil. E creio que teríamos que nos encontrar eventualmente para discutirmos o divórcio. Mas por que agora? — Soube que está saindo com uma pessoa — declarou Nick. — Então me pareceu um momento oportuno para intervir. Seu colega, o sr. Matlock, pareceu chateado de ouvir que você era casada. Espero que não tenha feito promessas que não será capaz de cumprir. — Não estou saindo com ninguém — Cally respondeu entre dentes. — E Kit não tem razão para se sentir irritado. — Mas, como você falou, precisávamos nos encontrar... para falarmos do futuro. Então chegou o momento. E o local. — Seu sorriso foi breve e frio. ― E apesar da provocação implícita de sua voz e de sua linguagem corporal, você quase não mudou, meu amor. — Talvez a provocação sempre estivesse presente — ela falou. — Mas você não percebia. — Percebia bastante — ele retrucou. — E estava preparado para fazer concessões. Só que você nunca me deu a chance. Preferiu fugir como se eu fosse um assassino psicopata. — Não — ela falou. — Nada tão dramático. Simplesmente não queria viver de acordo com seus termos. — Impus alguma condição? Não me lembro. — Você me fez casar com você — ela desabafou. — Isso envolve... obrigações. — Ah — ele falou suavemente. — Falando claramente, não queria dormir comigo. — Ele observou-a, pensativo. — Admito que não tivemos um namoro convencional, mas você não deixou transparecer que eu fosse repulsivo. — Bem, agora você sabe. — Na verdade — Nick prosseguiu, como se ele não tivesse falado — em alguns momentos as indicações mostravam o oposto. Ou eu imaginei? Não, pensou Cally, sentindo o rosto enrubescer: Não imaginou isso, seu... maldito. Ela falou, bruscamente: — Naturalmente prefere pensar assim, então, claro. Você não gostaria de ter um arranhão em sua imagem irresistível. — Se eu fosse vaidoso o suficiente para alimentar tal idéia — ele retrucou, acidamente —

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven você a teria| arruinado quando fugiu. — Mas certamente você teve consolo — ela debochou, e podia ter mordido a língua. Não queria ter dito isso. — Por que, querida... — O tom de Nick passou para ironia — você realmente esperava que eu acalmasse meus sentimentos feridos sozinho? — E você espera que eu me importe? Desde que não estivesse lá para ver... O pensamento apareceu de relance e foi instantaneamente sufocado. Na verdade, não poderia suportar muito aquilo tudo... Ela respirou fundo: — Nick... vamos parar por aqui, ou diremos coisas das quais nos arrependeremos. Por que simplesmente não... deixamos nossos advogados cuidarem disso? — Porque você está supondo que tenho mesmo desejo de divórcio. — Você não está falando sério. Não pode desejar ficar casado com alguém que... não quer viver com você. — Claro que não — ele parecia quase animado. — Naturalmente, quero uma mulher com quem compartilhe minha casa e minha cama. — Ele sorriu para ela, seus olhos quase a tocavam, despindo-a. O coração dela disparou em pânico. — Na realidade, quero você, minha querida — ele acrescentou suavemente. — Volte para mim e, em troca à sua carinhosa e desejosa companhia, falarei para Matthew Hendrick salvar seu precioso projeto. Se virar as costas para mim, a equipe de demolição chegará semana que vem. Esta é minha palavra final. Ele fez uma pausa. — O futuro de Gunners Terrace está totalmente em suas mãos, querida. — Não pode fazer isso! — protestou Cally. — Você está me tornando responsável pelas vidas de outras pessoas! Isso é chantagem emocional. — Meu ponto de vista é totalmente diferente — ele declarou. — Porque você fez certos votos ao meu lado na igreja. Lembro perfeitamente. Quero que esses votos sejam cumpridos e já esperei demais. Até mesmo você deve concordar que nossa noite de núpcias foi adiada por muito tempo. — Você quer dizer... que me forçaria a... — Não tenho a menor intenção de usar força — ele respondeu. — Já é mais do que hora para esse seu delicioso corpo descobrir seus muitos usos. E, se me lembro bem, na última vez em que esteve em meus braços pensou isso também. — Sua sugestão é obscena. Inaceitável. Não concordo nem um pouco com ela. — Você veio aqui hoje à noite porque quis, querendo um favor. Agora estou falando o preço. É sua escolha pagá-lo ou não. Depende do quanto queira que Gunners Terrace sobreviva, para essas pessoas de quem diz gostar tanto. — Pensa que os salvarei ao preço de minha própria vida? — Não totalmente — ele falou. — Apenas o ano que roubou de mim quando fugiu. Viu, ainda tenho utilidade para você, e assim você terá tempo bastante para me pagar o que deve, além de me dar o que quero.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — Não entendo. Está dizendo que quer que eu volte por um tempo limitado? — Apenas o tempo necessário para me dar um filho. Decida-se logo, pois o restaurante vai fechar.

Ela olhou para ele, atônita e incrédula. Os garçons estavam conversando entre si, prontos para encerrar as atividades. Finalmente falou, dominando a voz: — Quer que eu tenha um filho seu? Não pode falar sério. É um absurdo. Totalmente impossível. — Ah, mas falo totalmente sério. É uma questão de herança, Cally. Quero um herdeiro, alguém que venha depois de mim. Filho ou filha. Não interessa — ele acrescentou. — E essa razão é suficiente...? — Eu herdei Wylstone Hall porque era o único primo de Ranald Tempest — ele explicou. — Mas quase não nos conhecíamos. O que quer que eu deixe vai para o sangue do meu sangue. E não para um parente distante, para alguém que mal conheça. Ele fez uma pausa. — Consiga isso para mim, Cally, e liberto você das bodas. Não brigarei no divórcio. Na realidade, facilitarei tudo. E você me considerará generoso. Dinheiro, ela pensou. Ele falava de dinheiro. Provavelmente não teria que trabalhar de novo, a menos que quisesse. E depois? — ela perguntou. — Se eu tiver um filho, o que ocorrerá depois? — Será uma negociação aberta — ele respondeu.— Mas sugiro que inicialmente optemos pela guarda , compartilhada. Ela olhou de volta para ele. — Você deve ser... louco. — Por quê? Porque quero que minha esposa engravide? Parece-me o curso natural das coisas. — Mas não temos um casamento normal. — Talvez não agora — ele concordou. — Mas isso pode mudar. Ela retrucou, em voz baixa: — Foi por isso... que se casou comigo? Porque pensou que eu era nova e forte, e poderia me inseminar? — Todos temos nossas prioridades. Mas fique tranqüila, pois também a considero... altamente desejável. — Mas certamente há outras mulheres... — Ela fez uma pausa, tentando apagar imagens proibidas de sua mente. — Quero dizer... você poderia se separar de mim rapidamente e conhecer outra pessoa. Alguém que o faria feliz. Que queira lhe dar uma família. — Tive tempo de pensar durante a nossa... separação... e descobri que não sirvo para marido. Uma investida infeliz no matrimônio foi o suficiente e não tenho planos de substituí-la. — O sorriso dele era diabólico. — Não dizem que é melhor o diabo que já se conheça? — Sim — ela respondeu. — Às vezes, sim. Mas não é necessariamente verdade. — Além disso, você claramente não pode esperar para livrar-se de mim — ele acrescentou. — Então não há ameaça de querer ficar permanentemente. Ela retrucou:

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — Atrapalhando seu estilo de vida? — Precisamente, querida. Como você me conhece bem. — Então, pense em outra possibilidade — pressionou Cally, com um toque de desespero. — Essas coisas não são certas. Gravidez e todo o resto. Por tudo que sabemos, eu posso não... um de nós pode não poder ter filhos. Nick deu de ombros. — É um risco para o qual estou preparado. Está tomando pílula? Ela balançou a cabeça, muda. Uma vida celibatária não requeria proteção. — Então preciso que garanta que continuará sem tomar—ele falou. — Mas a decisão final é totalmente sua. Ou você coopera e volta para mim como minha esposa ou não. Uma escolha simples. Simples? Realmente acreditava que fosse simples? — É vingança, não é? — A voz dela estava enfurecida. — Quer me punir, me humilhar. É hora de dar troco. — Se for, você está devendo, querida — ele respondeu. — Mas explique-me um detalhe, Cally, por, que aceitou casar comigo antes, se era tão ruim para você? — Acho que estava agradecida. Estava tudo péssimo e você nos salvou. Apesar de não ter nenhuma razão para fazê-lo. E se nunca disse antes, direi agora. Obrigada por tudo que fez pelo meu avô e por mim. O olhar dele era cínico. — Quero mais que palavras, Cally. A voz dela era trêmula. — Mas não tenho nada mais para dar. Poderia tentar pagar de outras formas, mas não vou... fazer o que quer. Você deve ver... não posso... Ele a analisou por um momento, sobrancelhas erguidas, e então pegou um celular no bolso da jaqueta. — O que vai fazer? — Ligar para Matt para dizer que a reunião no escritório dele está cancelada. Pode dizer aos moradores que não haverá acordo. Tem o resto da noite para planejar sua explicação. Sugiro que tenha uma boa saída, porque de acordo com seu namorado, várias vidas serão arruinadas. Detestaria que eles a culpassem, mas suspeito que possam fazê-lo. — Não — estava difícil respirar. — Espere. — Bem? — o telefone ainda estava na mão. — Gunners Terrace vale muito para mim — ela afirmou. — Talvez mais do que jamais tenha percebido. Assim como minha eventual liberdade. — Ela parou. — Presumo que esteja preparado para me garantir tudo que disse... por escrito. — Se for preciso... — Nick guardou o telefone. Ela levantou a cabeça e o encarou diretamente. — Então farei o que quer. Mas precisa me dar um tempo e espaço para me ajustar. — E por quê? — Ele parecia casualmente interessado. — Porque não quero que meu próprio filho seja concebido... com ódio. E não creio que também queira isso. — Realmente crê que me odeia? — Havia um tom de divertimento na voz dele. — Sei disso.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — Então qual é a sua sugestão? — Pensei em um tipo de... compromisso. Afinal de contas, você disse que estava preparado para fazer concessões. — Fui um tolo. — Ele ficou em silêncio por um momento. — Muito bem. Tive um ano para praticar o comedimento, então creio que posso ser paciente por um tempo. Ele pediu a conta e virou para ela. — Mas esteja avisada, querida. Não brinque com a sorte. Não tenho intenção de esperar para sempre. Fui claro? — Como cristal. Ela se pegou levantando da mesa e seguindo com ele pela noite.

CAPÍTULO III

O carro dele era novo. Tudo era persuasivo e sedutoramente confortável. Ela estava quase calma na aceitação... — Para onde estamos indo? — perguntou. — Para o hotel — ele respondeu. — Onde mais? — Prefiro voltar para meu apartamento. — Pelo que sei, lá só tem uma cama de solteiro — Nick retrucou. — Estaremos muito mais confortáveis no Majestic. Cally soltou um rápido e furioso suspiro. — Mas você prometeu... Ah Deus, deveria saber que não poderia confiar em você. — Sinto o mesmo com relação a você, querida. Realmente pensa que eu a deixaria fora do meu alcance? Não, Cally. Vai passar a noite comigo. E não é por luxúria, mas por precaução. — Tenho que ir ao apartamento — protestou Cally — Preciso pegar algumas roupas. — Se as roupas tiverem qualquer semelhança com o que está vestindo agora, sugiro deixá-las lá. Você j á teve um enxoval, lembra? Também já teve uma aliança de casamento. Ela ainda existe? Ela olhou fixamente para a noite através do pára-brisa. — Joguei fora. — Que dramático — ele falou. — Seria mais esperto tê-la vendido. Você deve ter precisado de dinheiro. Ela não estava me sentindo nada confortável. Apenas enganada, confusa e furiosa. As palavras ecoavam em sua cabeça, mas ela não disse nada. — Tenho que comprar outra — ele afirmou. — É realmente necessário, por tão pouco tempo? — É tradição. — Achei que não estivesse interessado em convenções — ela retrucou. — Além do mais, jogarei fora outra vez assim que cumprir minha obrigação e recuperar minha liberdade. — Mas enquanto estiver vivendo como minha mulher usará a aliança. E dormirá em minha

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven cama. Quem sabe você goste? — Não conte com isso — Cally respondeu com os dentes trincados. — Como pretende explicar o meu retorno repentino? — Não pretendo — Nick retrucou. — Isso diz respeito apenas a nós dois. — Suponho que tenha avisado Adele, se é que ela ainda vive na mansão — falou com a voz tensa. — Ela não está mais lá. Dei um jeito de mandá-la para Dower House há alguns meses. Cally levantou as sobrancelhas. — Ela não deve ter gostado. Nick estacionou o carro no hotel. Enquanto caminhavam para a entrada dos fundos, ela percebeu as mãos dele em seu cotovelo. Assim que chegaram ao primeiro andar ela tentou pensar em alguma coisa que pudesse dizer ou fazer para se livrar daquela situação, pelo menos naquela noite. Estudou o marido. Seu rosto estava inexpressivo. A suíte nupcial tinha uma grande cama de casal coberta por uma colcha de cetim acolchoada e um coração cor-de-rosa no centro. — Sua valise está logo ali. O banheiro é atrás daquela porta. Estarei na sala de estar examinando a correspondência. Devo levar uns vinte minutos. Precisa de alguma coisa? — Não. — Estava com a boca seca. Vinte minutos. — Obrigada. A porta fechou-se atrás dele e Cally ficou sozinha. Pelo menos por ora. Dirigiu-se para a cama, sentou-se na colcha e olhou ao redor. Uma pessoa engenhosa conseguiria escapar daquela situação, pensou. Talvez fazendo uma corda com os lençóis e descendo pela janela. Quem sabe o barulho do ar-condicionado ligado fizesse pensar que as janelas estivessem trancadas. Ela estava indo longe demais com aquela maluquice. Seu coração batia como um pássaro ferido e as pernas estavam trêmulas. Mas ela não poderia continuar naquela situação com os minutos passando. As chances de Nick concordar em passar a noite no sofá ou permitir que ela o fizesse eram mínimas. Por mais que relutasse, teria que dividir a cama com ele. A mente estava perdida nas preocupações futuras. Pelo menos ela finalmente sabia ao certo por que ele a pediu em casamento no primeiro momento. Não porque a desejasse na realidade, mas porque era jovem e provavelmente fértil. Ele precisava dela para ter um filho. Coisa que a mulher que ele realmente amava não poderia proporcionar. Ela estremeceu com toda aquela dor e raiva invadindo-a outra vez. Podia ter sido ingênua e crédula antes, mas não cairia na mesma armadilha de novo. Ela aceitou os termos dele e teria que cumpri-los. Não haveria mais a tolice de imaginar-se apaixonada ou usar Nick Tempest como alvo de suas patéticas fantasias românticas. Ele era um homem de negócios e estava oferecendo a ela um acordo. Ela tinha um débito e ele esperava ser recompensado. Era simples. Enquanto estivesse com ele, deveria aprender a fechar os olhos para suas indiscrições extraconjugais. E, acima de tudo, nunca, jamais segui-lo outra vez. Eram questões de prioridade e não deveria ter ilusões ridículas sobre amor, casamento e

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven felicidade. Ela levantou-se e abriu a valise. A camisola requintada, que comprara com tímidas esperanças há um ano, estava dobrada logo em cima das outras peças. Pegou-a e sacudiu, sentindo as dobras macias da seda branca escorrerem pelos dedos trêmulos. Tudo na valise era novo em homenagem ao seu novo futuro. Pegou as coisas junto com a camisola e dirigiu-se para o banheiro. Finalmente, vestiu a camisola. Há um ano, a seda teria realçado as curvas de seu corpo esbelto, tornando-a sedutora. Agora, tudo aquilo lhe caía mal. Ela pôde perceber ao dar uma olhada no espelho antes de se virar. Por que se queixar? Afinal de contas, tudo que ela não queria era que Nick a achasse atraente. Ele gostava de mulheres bonitas, nunca negara. Mas por um instante, sob os cuidados dele, ela quase se sentira atraente. Aquela garota não existia mais, muito pelo contrário. Ele fazia com que ela se sentisse um trapo. Provavelmente aquele sedutor não gostaria daquilo. Voltou para o quarto e retirou algumas roupas para o dia seguinte. Roupas íntimas novas e um vestido de linho amarelo-claro. As dobras nas roupas indicavam que a valise tinha estado fechada e intocada nos últimos doze meses, o que ela achava bem provável. Ou ela esperava que tudo aquilo tivesse sido levado para a casa de caridade mais próxima? Isso apagaria todas as lembranças materiais dela na vida de Nick. Ele realmente achava que ela voltaria para ele, pensou. Seu tempo estava se esgotando. Deu outra olhada para a sala de estar e subiu na enorme cama de casal. Ficou rígida em seu lado da cama, fechou os olhos com força e manteve-se assim, tentado respirar profundamente como se estivesse dormindo. Parecia que uma eternidade tinha se passado até que a porta se abriu silenciosamente e ela percebeu que não estava mais sozinha. Ela percebia tudo, os movimentos suaves de Nick, o barulho da porta do banheiro se abrindo e depois o som da água do chuveiro. Cally tentou relaxar e afundou-se no colchão, dando a impressão que estava morta para o mundo. Não era fácil, ainda mais com aquela tensão que crescia dentro dela. Pela primeira vez na vida passaria a noite na cama com um homem e, a despeito da afirmação dele, ela estava apavorada. De repente, ela percebeu que ele voltara para o quarto e se encaminhava para a cama em silêncio. Ouviu um suave ruído de tecido, como se ele estivesse tirando o roupão. Depois percebeu o movimento do colchão no momento em que ele se juntou a ela. O quarto ficou totalmente escuro. Ele não se aproximou de Cally, cumprindo o prometido. Mesmo assim, ela tinha total consciência da presença dele. Sua pele exalava o cheiro refrescante do sabonete e seu instinto feminino lhe dizia que ele estava nu. — Pelo amor de Deus, relaxe — falou Nick com a voz irritada. — Não farei nada à força. "Não esta noite", Cally pensou, mas não ousou falar. — Será que você não entende o quanto isto é difícil para mim? — ela reclamou. — Também não é fácil para mim — Nick retrucou com frieza. — Mas temos que começar

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven nosso casamento em algum lugar e, como sugere a tradição, a cama é o melhor lugar. — Para os amantes, talvez. — Sua resposta foi mais áspera do que pretendia. Fez-se um silêncio. Então ele perguntou gentilmente: — Isto é um desafio? — Não — murmurou. — Melhor — ele disse. — Além do mais, cama não é só para sexo, Cally. Também pode ser um lugar tranqüilo e reservado para se conversar. — Você quer dizer que temos algo para discutir? — Achei que você poderia me dar mais detalhes sobre os motivos que a levaram a fugir. Os olhos de Cally se abriram e ela curvou os ombros. — Pareceu uma boa idéia naquela época. — É sua última palavra sobre o assunto? — Ele parecia mais curioso do que furioso. — Naquela época. Minha prioridade é o futuro, não o passado — respondeu. — Verdade? — ele perguntou. — E eu que pensei que o aqui e o agora é que estivessem empurrando-a para o outro lado da cama. Estava difícil até para respirar. Cally sentia a garganta apertar. — Você esperava voltar para minha vida e encontrar as coisas como há um ano? — ela perguntou energicamente. — E como eram as coisas, Cally? Refresque minha memória. Ah, Deus. Ela tocou naquele assunto, pensou. — Talvez eu acreditasse que o nosso casamento pudesse dar certo. — E ainda assim você se foi? — ele perguntou calmamente. — Sem nenhuma discussão? Por quê? Quero um motivo. Era essa pergunta que ela mais temia. Era preciso uma resposta direta que não poderia dar. "Porque descobri que estava cega e louca o suficiente para lhe dar a oportunidade de me deixar aos pedaços. De deixar meu coração tão ferido que jamais se recuperaria." "Porque só percebi o quanto o amava quando o vi com outra mulher no dia do nosso casamento. E que aquilo me mataria se tivesse que viver uma vida pela metade, dividindo-o com outra mulher. Que era quem você realmente desejava. Nosso casamento era apenas uma conveniência." "Sabia que qualquer felicidade que eu tivesse seria falsa e desleal." "E que a única maneira de recuperar minha sanidade e meu auto-respeito seria me afastando de você totalmente e para sempre." Falar tudo isso em voz alta seria uma traição fatal. Ela estaria admitindo que a corte dele tinha sido um sucesso. E que, se tivesse permanecido ao lado dele, ela o estaria amando com desconfiança, mas com ardor passional. Deixá-lo saber o quanto fora patética, tola e ingênua era mais do que ela poderia agüentar. Ela não suportaria tanta humilhação. Seria melhor agüentar a compaixão do que a ira de Nick. Ela não tinha a menor idéia se Vanessa Layton ainda fazia parte da vida dele. Se ainda

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven estava instalada em Southwood Cottage ou tinha sido substituída por outra. Não tinha dúvidas de que descobriria em breve. Tremia de pensar. Mas nunca daria a Nick o menor sinal de que se importava. A falta de cuidado dele com a fidelidade atingiu-a de tal modo que vê-lo com Vanessa a deixara ferida e sangrando. Fugir como um animal ferido em busca de um santuário parecera a única possibilidade viável. Como ele mesmo admitia, nunca seria um homem caseiro. Precisava de alguém para administrar a casa e, agora, lhe dar um filho. Com Nick, tudo era premeditado. E ela estava convenientemente disponível, pensou. Pronta para acreditar nos encantos ou em qualquer mentira sedutora que ele contasse. Sem falar nos méritos que ganhara ao salvar a vizinha pobre e órfã. Por que será que ela não percebera que ele a estava levando no lugar do dinheiro que seu avô lhe devia? Essa poderia ser a justificativa para dar continuidade ao romance com Vanessa. Ele estava apenas equilibrando o livro de contas. Ela soltou um sofrido suspiro. — Estou esperando uma resposta — ele falou. Devagar e com relutância, ela se virou para ele. — Eu já lhe disse. Cometi um grande erro e agora não sei como repará-lo. Tomei o caminho da covardia e fugi. — Isso é tudo? — Sim. — Pelo menos era o que podia admitir. — Você nem pensou em falar comigo? Talvez pudéssemos escolher uma saída. — Fiquei com medo de que me persuadisse a ficar. — Pelo menos isto era verdade. — É reconfortante saber que eu poderia fazê-lo. — O tom da voz dele estava esquisito. — Posso lhe assegurar que não penso mais assim — ela se defendeu. — Isso parece mais convincente — ele retrucou. — Se isso quer dizer que vou precisar lutar, pense bem. Não pretendo uma luta justa. — Tomarei como um aviso — ela respondeu. — Por outro lado — ele falou, depois de uma pausa — não precisa ser assim. — Desde que eu faça o que disser? Jogue de açor- | do com as suas regras? — reclamou Cally. — Tenho certeza. — Estava pensando naquele dia no rio — Nick disse. — E por favor, não finja que esqueceu. Antes de negar, ela desistiu e ficou tensa. — O que tem isso? — Poderia ser bom, se pudéssemos esquecer o resto e resgatar aquele momento e aquele lugar — respondeu Nick. Ao mover-se lentamente para ajeitar-se na cama, ela sentiu-o tocar seu ombro, os dedos frios contra sua pele nua. Sentiu um relutante e doloroso aperto no peito e se flagrou relembrando...

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven Reviveu com nitidez os detalhes, o barulho da água correndo, o cheiro de grama e o calor do sol. A boca de Nick na sua abrindo delicadamente os lábios e fazendo-a tremer ao opor sua língua contra a dela. Os carinhos dos dedos dele em seu corpo. Enquanto isso, lá no fundo, ela sentia um desconcertante e atormentado desejo, dominador e irresistível. Sentiu tudo tão claramente como se tivesse sido ontem. Poderia ser agora... Agora! A palavra atormentou sua cabeça trazendo-a de volta para a sanidade. No que estava pensando? Chocada, afastou-se dele. — Não, não me toque. Eu não suportaria. Houve um silêncio que ele cortou com a voz calma e debochada. — O que você espera, querida? Ofender-me profundamente, para que eu a mande de volta, rastejando e ferida, para o seu bom samaritano em Gunners Wharf? Terá que tentar mais. Está na hora de esclarecer algumas idéias sobre os termos do nosso acordo — Nick falou com um tom cruel. — Porque nestas circunstâncias, alguns toques serão inevitáveis. — Ainda não, não tão cedo, por favor... — Um prazer adiado — Nick falou com deboche. Ele virou-se para o lado. Ela permaneceu paralisada pelo silêncio e pela sua proximidade. Não se atrevia a mover-se. Cally não conseguiu relaxar, mesmo depois que ele ficou quieto e ela percebeu, pela respiração, que já estava dormindo. Como ele podia ser tão negligente e calculista enquanto se comportava de maneira abominável, perguntou-se. Ele pretendia fazer tudo o que falou. Ela sentiu o medo apertar-lhe a garganta. Eles tinham um trato e, cedo ou tarde, ela teria que cumprir sua parte. Quantas mulheres ele pretendia ter na vida? Que tipo de homem daria atenção à sua amante às vésperas de partir em lua-de-mel com a noiva? Aquele cinismo a aterrorizava. Mesmo que ela o confrontasse, acusasse e dissesse o motivo de sua partida, mesmo assim não conseguiria viver com ele como sua mulher. Que diferença faria? Ele simplesmente desconsideraria sem o menor remorso ou culpa. Ou pior ainda, ele poderia considerar uma confissão de fraqueza. Um sinal de que ela se importava mais do que admitia. Não poderia arriscar. Não sob aquelas circunstâncias. Seu sumiço deixara Nick desconcertado e certamente ele ficaria furioso se ela sumisse uma segunda vez. Mas Nick não sofreria. Não como ela sofrerá um ano atrás. Ou como os moradores de Gunners Wharf sofreriam quando ele retirasse o apoio do projeto de habitação. Como ele seguramente o faria. Ela teria que suportar a culpa por isso, sabendo que poderia ter evitado tudo se tivesse se submetido às necessidades dele. O que ele estava pedindo havia caído sobre ela como uma pedra. Um bebê. Um ser humano gerado e carregado em seu ventre. Trazido ao mundo para ser amado e alimentado por ela. Ou, o que seria mais provável, um prêmio disputado por dois

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven estranhos. Cally tremeu. Não era o que queria. Como seria? Eleja havia dado o alarme emocional. Custódia compartilhada, falou. Inicialmente. Aquela palavra reverberava na sua cabeça. “Inicialmente" . E depois? Chegaria uma hora em que ela abriria mão dos direitos de mãe? Entregaria seu filho para ser adotado por um homem rico o suficiente para realizar os mais insignificantes desejos, e poderoso o bastante para enfrentar qualquer um que se interpusesse em seu caminho? Será que Nick seria capaz de tanta frieza e crueldade? Ou simplesmente acreditaria que os meios justificam os fins? Ah, querido Deus, não deixe que isso aconteça. Sempre pensara em ser mãe um dia. Afinal de contas, era a conseqüência natural de ser esposa. Mas, como várias outras coisas, ela e Nick nunca discutiram a possibilidade. Certamente, ela nunca imaginou que ele a considerasse uma égua reprodutora. Sua gravidez deveria ser um momento de coroação do amor. O problema era que tal amor nunca tinha existido. E, uma das supremas alegrias na vida de uma mulher estava sendo transformada em obrigação. Apesar de ter passado o último ano sozinha, via que estava fadada a descobrir a verdadeira natureza da solidão nos próximos meses. Como suportaria aquilo? Finalmente Cally conseguiu dormir, esgotada pelos pensamentos sofridos. Quando acordou, ficou desorientada por alguns minutos imaginando onde estaria. Logo se lembrou e foi virando devagar para o outro lado da cama. O travesseiro amarrotado e a colcha embolada indicavam que alguém havia dormido ali. No silêncio, Nick surgiu do banheiro. — Bom dia. — O tom era animado. — O banheiro é todo seu e o café da manhã chegará em quinze minutos. É melhor apressar-se. Temos coisas para fazer e pretendo estar de volta em Wylstone no início da tarde. — Pretende voltar ainda hoje e me levar junto? — Cally estava estarrecida. — Naturalmente — ele respondeu. — Assim que terminar os negócios de Gunners Terrace. — Mas você tem que me dar alguma liberdade de movimento. Não pode esperar que eu abandone tudo e saia. — Foi assim que você fez em nosso casamento, querida — ele retrucou friamente. — Mas você conseguiu mesmo assim. Teve um ano para se esconder e aperfeiçoar a sua técnica. Agora, vista-se. A não ser que queira alguma ajuda. — Não, posso me virar sozinha. Ela vestiu o vestido amarelo, passou uma escova nos cabelos e foi juntar-se a ele na outra sala. O café já estava servido. Nick levantou-se. — Você não parece descansada. — Quase não dormi — Cally respondeu laconicamente. — Não estou acostumada a dividir a cama, principalmente com um homem. — Mais uma das novas experiências que a aguardam, querida.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — Rezei para que quando acordasse tudo não passasse de um pesadelo. Nick, diga que não é verdade. Que não pretende botar em prática tudo que disse ontem à noite. Acho que já fui punida o suficiente. — É tudo verdade — ele ratificou, enquanto servia o café. — Pretendo cumprir cada palavra. Se você me der um filho eu lhe dou o divórcio. Qual parte você não entendeu? — Como você consegue fazer isso comigo? É uma barbárie! — Seu comportamento, claro, foi tão civilizado — debochou Nick. As palavras estavam na ponta da língua de Cally, mas, envergonhada, resolveu calar-se e aceitar o café. Para sua surpresa, ele estava ótimo, forte. Encheu-se de coragem para dizer: — Quando chegarmos a Wylstone, gostaria de passar primeiro no apartamento. — Sinto muito, mas não será possível :— Nick respondeu. — Teria que expulsar os Thurstons. — Os Thurstons? — O casal que trabalha para mim. — O que aconteceu com a sra. Bridges? — Ela estava pasma. — A governanta do sr. Ranald estava lá há anos, praticamente desde a construção do prédio. — Ela preferiu seguir Adele no exílio. Mas os Thurstons são um grande achado. — Duvido. — Pelo menos tente disfarçar o seu desgosto — ele disse. — Vai comer mais alguma coisa? — Não tenho o hábito de tomar café. — É melhor começar a mudar seus hábitos, querida. Afinal, você precisa se manter forte. — Suponho que esteja forte o suficiente para os seus propósitos. — Cally levantou o queixo. Oh Deus, ele estava tão satisfeito consigo, deleitando-se com o seu triunfo. — Se não pode ser o apartamento, talvez algum outro lugar. Por enquanto. Um lugar só para mim, um espaço. Pode ser um quarto. — Você terá a casa toda — respondeu ele. — Durante o dia, pelo menos. À noite, claro, será outro assunto. Agora vamos. — Você não pretende fazer nenhuma concessão? — Já lhe dei a noite passada. Hoje nosso casamento começa. — Ele fez uma pausa. — Por isso, devemos ir para Gunners Wharf com as novidades. Deixarei você contar, querida. Afinal, o mérito é todo seu. O olhar turbulento dela encontrou a indiferença dele. — Vá para o inferno, Nick Tempest. — Com a cabeça erguida, encaminhou-se para pegar a bolsa.

CAPÍTULO IV

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— Você está tão diferente — falou Kit. — Nunca a vi vestindo cores que não fossem neutras. Agora está de amarelo. Está... linda. Mas sinto como se não a conhecesse. — Não pretendia que me conhecesse — falou Cally. — Pois não planejava ficar. E vim apenas limpar minha mesa — acrescentou. — E não desconfiava que seu nome fosse Caroline até Tempest falar — ele prosseguiu. — Por que disse que se chamava Cally? — Quando aprendi a falar, era assim que pronunciava Caroline. E ficou. — É claro que eu nunca teria chances. Ele é um cara rico, não é? — Havia um tom de autopiedade na voz dele que a irritava. — E você se deixou vender. Será? Pensou Cally. Se me deixei vender, por que estou pagando o preço? — Kit, não vamos dramatizar a situação. Vou voltar para meu marido, é tudo. Aconteceria cedo ou tarde. — Ela fez uma pausa. — E lembre-se de que nunca ofereci nada a você. — Provavelmente isso não esquecerei. — Além disso, você parece não ter percebido que Gunners Terrace está indo bem — ela falou. — Acabamos de vencer e todos estão pulando de felicidade. Você devia estar no paraíso agora, unindo-se a eles na comemoração. — Talvez eu não esteja a fim de comemorar — ele retrucou, justo quando Nick apareceu perto da porta, observando a raiva de Kit e o recolhimento de Cally. — Terminou, querida? — ele perguntou. — É hora de partirmos. — Ele entrelaçou o braço no corpo dela, descansando a mão na curva de seus macios quadris, num gesto de completa possessão. Cally virou, mal-humorada. — Sim — falou. — Estou... pronta. Um a um, seus tênues laços com aquele lugar iam sendo rompidos. Agora, não havia nada além do futuro com Nick, que seria apenas temporário. Toda sua vida de repente virava um tiro no escuro. Ela se despediu calmamente. — Adeus, Kit. Espero que todo o projeto corra bem. — Obrigado. — Ele não olhou para ela. Por um momento, ela quis gritar com ele. Tem idéia do que fiz? Do sacrifício que fiz? Mas isso implicaria que a atitude dele era justificável, que devia explicações. Mas ela sabia que não devia, e o melhor seria ignorar. Quando eles saíram, ela perguntou: — Por que não me dá uma coleira para usar, escrita “Mulher de Nick"? — Pensei que tivesse dado. Na igreja, doze meses atrás. Cally estremeceu, mas não respondeu. Todos esperavam fora do centro para vê-los partirem e a euforia era quase tangível. Tracy veio correndo e a abraçou. — Vamos, querida. — Nick a aproximou dele novamente, entrelaçando seus dedos aos dela para demonstrar intimidade. Foi quase um alivio entrar no carro e ir embora.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven Devia ter feito aquilo há muito tempo. Em vez de ir ficando, esperando inofensivamente até ser encontrada. Agora era tarde demais... Logo eles pegaram a estrada e Cally era transportada para sua nova vida e tudo que era implicado. Ela sentiu a música, um suave blues, mas não estava ouvindo. Não podia. A cada quilômetro se aproximava de Wylstone e das associações de humilhação e tristeza que a propriedade trazia. Lembranças que seria forçada a encarar pensou. Ela tentou usar os últimos doze meses para apagá-las da memória e esquecê-las para sempre. Pensou que tivesse conseguido. Que tinha se curado do vírus de Nick Tempest. Mas foi só ela o encontrar novamente que elas voltavam, chamando sua atenção. Dizendo que tudo o que fizera tinha sido usar uma máscara para esconder uma ferida mortal. "Como isso pode ter acontecido comigo?", ela se perguntava. Será que não havia nada que pudesse ter feito? Mas já conhecia a resposta. O caminho de sua vida a levara diretamente a ele. Até mesmo o impulso que a fez ir para Londres por proteção fora cancelado pelos problemas de saúde do avô, que a chamaram de volta tão arbitrariamente. "Eu era tudo que meu avô tinha," pensou. "Então que alternativa tive?" E então, com uma rapidez assustadora, sua vida começou a ruir. Inexoravelmente, Nick estava lá, com sua teia de proteção, oferecendo a ela e ao avô uma casa e segurança. Fora à oportunidade perfeita para ele. Tudo conspirou para unir os dois, e ele a pôs sob uma obrigação que teria apenas um fim. Ela devia ter imaginado que teria que dar alguma recompensa. Como não tinha dinheiro, outra forma de recompensa. Devia ter notado que Nick a escolhera para sua noiva, pois era jovem e fértil. E ela, lamentavelmente, interpretou mal todas as intenções dele. Bem, pelo menos ela o forçou a pensar novamente. A aceitar que ela não era a ingênua pela qual barganhara inicialmente, pronta para sacrificar suas emoções, seu auto-respeito e sua confiança em troca de um teto e do dinheiro dele. Só que não fora o dinheiro que a atraíra. E o reconhecimento disso foi a base para a tragédia particular em que ela começava a se afundar. “Suponho que sabe estar invadindo uma propriedade privada". Essas foram as primeiras palavras que Nick falou para ela e ela nunca as esqueceria. De certa forma, era uma advertência dissimulada de que ele era território proibido e que ela passara dos limites por conta própria. E ela aceitara, mesmo que inconscientemente. Não teria sido esse o motivo para aceitar o emprego em Londres, para estabelecer uma distância entre os dois e se recuperar da ameaça ao seu equilíbrio emocional? Mas ela reconhecia que Nick sempre atiçava seus instintos. Daí os sonhos no último ano, sinalizando que a teia dele havia sido espalhada para capturá-la. Ela percebeu que eles estavam saindo da rodovia, atravessando um retorno perto de uma estrada menor. — Aonde vamos? — Rumo a um belo restaurante, não muito longe — ele respondeu. — Você precisa de

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven comida. Ou vai me dizer que também não almoça? — Como quiser. — Se fosse assim tão simples — ele murmurou. Eles dirigiram até uma pousada à beira do rio. Ela observou quando ele saiu para fazer os pedidos e viu quantas mulheres lançaram olhares para ele. Duas belas meninas da mesa ao lado ficaram esperando ele voltar. E valia a pena esperar. Até ela tinha que reconhecer. Em uma multidão, ela teria sido capaz de notar aquelas passadas longas e macias. De sentir aquela masculinidade interessante e nãodeclarada, bem como a inoportuna agitação de seus sentidos em resposta. Para seu constrangimento, ele notou que ela o observava e sorriu. Ela desviou o olhar enquanto ele sentava. — Nick, ainda há tempo. Não precisamos fazer isso. — Quer trocar o pedido? Ou ir a outro lugar? Pensei que gostaria daqui. — Você sabe que não estou falando disso. — Bem... talvez — ele concedeu secamente. — Então do que está falando? — Que se você anunciar que está em busca de uma mãe para seu filho, vai se formar uma fila. É isso o que quer, não é? Não... precisa me envolver. — Oh, sim, preciso, querida — ele afirmou calmamente. — Você se casou comigo, Cally, querendo ou não. E agora, um pouco tarde, vai aprender a ser minha mulher. — Você... realmente quer seu pedaço de carne, não é? — Quero tudo de você, Caroline. Sem protestos ou recuos. E nada menos. — Acho... que perdi o apetite. — Que pena. — Então terá que me observar comendo. — Ele fez uma pausa. — Diga-me, Cally, é a idéia de sexo que a repele, ou só a idéia de sexo comigo? — Eu fugi de você — ela falou. — Pensei que tivesse deixado minhas emoções claras. — Não, querida — ele respondeu. — Agora, como sempre, suas emoções são um enigma. — Ele levantou o copo de cerveja, debochado. — Ao casamento. Apesar do repúdio inicial, Cally achou a refeição irresistível. Afinal, não conseguiria nada se recusando a comer. — Sobremesa? — ele perguntou quando ela terminou. — Apenas café bem preto. — O mesmo para mim. — Nick sorriu brevemente para a garçonete, que deixou cair os talheres. — Coitada — comentou Cally. — Você parece ter um efeito devastador sobre as mulheres. — Nem sempre — retrucou Nick. — Certamente não sobre você. Ah, mas não era verdade, pensou Cally. Ou como a convenceria tão facilmente a se casar com ele, contra todo o bom-senso? Não era à prova de seu sorriso também, ou da forma que ele a olhava. Ou dos beijos e carícias que sempre a deixavam com ânsia de mais. — Você está chamando muita atenção também — acrescentou Nick. — Não me surpreende. Nesse vestido, você parece parte da luz do sol. Cally ficou vermelha e desviou os olhos.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — Por favor... não fale assim. — Não posso nem ao menos fazer um elogio? — Não no nosso acordo. — Mas é pura verdade — reforçou Nick. — Se não acredita em mim, olhe ao redor. — Se as pessoas estão olhando, é apenas para especular o que alguém como eu está fazendo com uma pessoa como você, e ambos sabemos disso. — Não sei de nada. Por que sempre se deprecia, Cally? — Tenho consciência das minhas limitações — retrucou. — Aprendi isso cedo na vida. Com seu avô, creio — ele afirmou. — Não pode culpá-lo. — Ela deu de ombros. — Afinal, ele não teve o neto com que sempre sonhou. Há muito tempo que sinto... que as expectativas dele não foram cumpridas. — Meu Deus! — É compreensível. — Ela respirou fundo. — Minha mãe e meu pai se adoravam. De certa forma, foi bom o acidente ter levado os dois, pois não sobreviveriam sozinhos. — Eles não ficariam sozinhos. Tinham você. — Eu fiquei com vovô. No fim, estávamos os dois feridos, mas não conseguíamos nos confortar um com o outro. Mesmo assim, acho que ele conseguiu me amar... da forma dele. — Ela parou de falar. — E queria que alguém cuidasse de mim quando partisse. Para que tivesse a segurança financeira que ele não foi capaz de prover no fim de sua vida. — E foi aí que eu entrei. — Nick comentou ironicamente. — O grande ato final do vovô. — Ela forçou um sorriso. — Organizar meu futuro. Chegou até a me convencer por um tempo que eu também queria isso. — E então a Cinderela experimentou o sapatinho e descobriu que não cabia — ele constatou suavemente. — Pobre Cally. — O que importa? — ela perguntou. — Não vou calçar por muito tempo. Então não precisa ter compaixão. Ela virou para encher as xícaras de café e perguntou: — Sua mãe está bem? — Esbanjando saúde — respondeu Nick secamente. — Planeja visitar-nos. — Pensei que estivesse na Guatemala. — Está voltando. Quer conhecer a nora. — Sei — respondeu Cally. — Você contou que estávamos separados? — Não. Se contasse que fiquei solteiro novamente, ela viria investigar, então achei melhor não a incomodar. — Claro. E agora não há necessidade de fornecer explicações constrangedoras, pois estou de volta. Presumo que deva representar a esposa dedicada e amorosa? — Espero que sim — ele respondeu. — Mas ela não vem agora, então terá tempo para ensaiar. — Certamente já pensou em tudo. — Se tivesse planejado, não teria passado minha noite de núpcias sozinho. — Isso é o que você diz — disparou Cally de volta, estarrecida com a própria indiscrição. Lembrou tarde demais que tinha se proibido de citar a infidelidade de Nick com Vanessa Layton.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven Oh, Deus, agora ele perguntaria o que ela queria dizer e não sabia o que responder. Como encontrar uma explicação que não a fizesse soar tão patética? — Está louca? Estava totalmente concentrado em procurar você, não em escolher uma substituta. É por isso que espero uma boa compensação por todo o desapontamento que me causou — ele acrescentou. — Eu... não preciso ser lembrada disso. — Podemos ir? Enquanto ele se levantava, ela disse: — E não vamos fingir que eu tive alternativa. Cally pensou, "Se você soubesse, se ao menos soubesse...” E quase chorou. Eles viajaram em silêncio. Cally admirava a paisagem. O carro era sua gaiola. A estrada, o caminho para seu inferno pessoal. E não podia fazer nada. Nick a comprara e agora esperava que retribuísse o investimento. Ela se recostou, fechando os olhos, ouvindo 0 barulho suave do motor, imagens do passado embaçando sua consciência: — Suponho que sabe estar invadindo propriedade particular. Ela respondeu na defensiva, quando olhou de cima do cavalo para o rapaz que a desafiava no caminho. — Estava apenas pegando um atalho. O sr. Ranald nunca foi contra. — Infelizmente o sr. Ranald não está mais aqui. Mas eu estou e vim caçar pombos. — Ele mostrou a arma. — E se eu a atingisse acidentalmente? Futuramente tome o caminho mais longo. — Os extraordinários olhos cinza a fizeram estremecer, enquanto ele acrescentava calmamente. — Será mais seguro. E com outro olhar longo, ele virou tão abruptamente quanto apareceu, fazendo com que Cally reclinasse no pescoço de Baz e engasgasse como se estivesse em um galope, em vez de estar meramente trotando nas terras de alguém, como fizera tantas vezes antes. Mas nunca mais, ela jurou. No futuro, faria o caminho mais longo. E realmente queria dizer aquilo. Dali em diante, evitou qualquer diversão nas sombras de Home Wood. E então foi fazer compras um dia e viu seu avô conversando com um visitante. — Venha cá, querida — saudou Robert Naylor. — Tempest, acho que não conheceu minha neta, Caroline. Cally, este é o primo do velho Ranald, sr. Nicholas Tempest. Planeja morar em Wylstone. — Não fomos apresentados formalmente. — Nicholas Tempest estendeu a mão a ela solenemente, mas os olhos cinza vibravam em diversão. — Convidei seu avô para jantar comigo semana que vem — ele prosseguiu. — Espero que o acompanhe. — Claro que irá — respondeu Robert. — Precisa encontrar vida aqui, em vez de passar seu tempo com um velho como eu. Nicholas Tempest levantou a sobrancelha. — Então temos que achar formas de diverti-la — A afirmou suavemente. Cally se esquivou e se retirou. Mas mesmo mantendo-se ocupada, flagrou-se lembrando do

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven toque da mão dele. E assustada com aquilo também, de uma forma totalmente nova e indesejável. E foi assim, pensou, que tudo começou. Encontrando com ele socialmente em jantares e festas locais e quando ele passou a visitar seu avô por razões que ela nunca descobriu. Aquela tinha sido a única vez que se encontraram sozinhos. As conversas sempre foram genéricas, e Cally foi esperta o bastante para manter distância, tanto física quanto emocional. Mesmo porque ele não fez nenhuma menção de tocá-la novamente. Mas ela se flagrava procurando por ele, esperando vê-lo. Descobriu-se preocupada quando ele teve que se retirar por causa dos negócios. E ligeiramente contente ao saber de seu retorno. Ela nunca achou as visitas a Wysltom Hall muito interessantes, particularmente porque a viúva de sr. Ranald, Adele, ainda morava lá, fazendo às vezes de anfitriã de Nick. Cally sentia-se mal ao perceber o olhar insolente da sra. Tempest mais de uma vez e detestava aquelas ocasiões desconfortáveis. — Dizem que ela não quer ser conhecida como viúva — fofocou Robert Naylor. — Mas Nicholas devia mandá-la para Dower House e se livrar disso, antes que comece a fofoca. Eu não ficaria surpreso se ela quisesse se tornar a sra. Tempest pela segunda vez. — Quer dizer que o sr. Nicholas pode se casar com ela? — Cally indagou. — Bem, ela tem uma bela silhueta. — respondeu seu avô. — Posso garantir. E ninguém pode culpá-la por tentar. A proximidade pode ser perigosa. — Sim — concordou Cally, meio entorpecida. — Acho que sim. Deitada na cama naquela noite, pensou em Adele, com seu corpo voluptuoso em um vestido que fazia do luto uma experiência sexual. "Eis uma mulher que não vai dormir sozinha por muito tempo", Cally ouviu comentarem na cidade. E talvez Adele já não estivesse sozinha, pensou, atormentada por sua imaginação. Olhando para trás agora, parecia ridículo ter sentido ciúmes de Adele. Mas tivera, pensou. E, atenta a Adele, não notara o real perigo. Sua meditação infeliz foi interrompida quando ela percebeu que Nick saía novamente da estrada. — Estamos no retorno? — Não, quero parar em Clayminster antes. Ele estacionou perto da catedral e olhou para ela. — Quer vir comigo? — Não, obrigada, prefiro ficar aqui. — Certo. — Ela observou quando ele tirou a chave de ignição e guardou no bolso. — Não vou demorar. Por favor, não faça nenhuma estupidez, ou posso me irritar. — Deus me livre. Sozinha, Cally analisou e descartou relutantemente a idéia de fugir novamente. As estações de trem e ônibus ficavam do outro lado da cidade. Ele a alcançaria na metade do caminho. Além disso, apesar de sua bravura, não queria irritar Nick, admitiu. As próximas horas já seriam suficientemente difíceis. E o sexo como punição era uma possibilidade aterrorizante, que poderia destruí-la, pensou. Ela saiu do carro para se esticar um pouco. Voltando para dentro, se apoiou contra a porta

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven e suspirou. As lembranças estavam retornando desordenadas, trazendo de volta coisas de que tinha se esquecido ou tratado como anormalidade temporária. Ela tinha apenas 18 anos, pensou. Uma criança tentando não se apaixonar por um homem. E falhando terrivelmente. Ela engolia as lágrimas. Nick dissera que não demoraria e não queria que a visse chorando. Demorou dez minutos até ele voltar. Ela tinha conseguido se controlar e estava sentada dentro do carro novamente, esperando com um semblante de calma. — Desculpe — ele falou. — Demorei mais do que supunha. — Não tem importância. — Ah — Nick respondeu. — Acho que é. — Ele pegou uma caixa de jóia no bolso e a abriu. Ela arregalou os olhos. Esperava uma aliança, mas a caixa continha duas. — Por que duas? Para o caso de eu jogar uma fora? — Não — ele respondeu. — A outra é para mim. — Para você? É muita hipocrisia. — É uma afirmação. Para deixar claro que nosso casamento está valendo novamente e é real. Dê-me sua mão. — Eu mesma posso botar. — Não — ele disse. — Faremos do meu jeito. — Ele pegou a mão esquerda dela, segurando firmemente. — Eu, Nicholas James Tempest, aceito você, Caroline Maria Maitland, como minha esposa. — Agora é sua vez. — Isso é ridículo... — Cally. Ela obedeceu, com a voz baixa tremendo um pouco enquanto pegava a aliança e a punha no dedo dele. — Satisfeito? — ela desafiou. — Presumo que não queira acrescentar a parte de até que a morte os separe. — Vamos apenas dizer para o tempo que for necessário. Podemos? — Ele ligou o carro. — Agora, querida esposa, vou levá-la para nossa casa.

CAPÍTULO V

Quanto mais eles se aproximavam da cidade, mais Cally se sentia tensa, Ela até se flagrou brincando com a aliança. Já fizera aquilo antes, pensou, um ano atrás, quando caminhou pela casa vazia, ouvindo o

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven eco dos próprios passos, uma figura ridícula, uma noiva deixada sozinha do casamento. E de repente, descobrindo a razão. Dizia a si mesma que não podia ser verdade. Que as palavras de Adele, queimando em sua mente, eram malícia e despeito. Nada mais. Não podia levá-las a sério. Mas sabia que seria impossível não fazer nada. Viu-se diante da brutal necessidade de descobrir se seu casamento era uma farsa, se os votos trocados com Nick algumas horas antes não tinham sido da boca para fora. Ela pigarreou e percebeu que Nick a olhou. — Você está bem? — Sim — ela mentiu. — Estava apenas pensando... imaginando... — Ela parou e respirou fundo. — Se podemos ir rapidamente até o chalé. Ele ficou em silêncio por um momento e respondeu: — Se é o que quer. — E fez o retorno. Ele estacionou e Cally desceu, tentando não olhar para o local onde um dia fora à pastagem de Baz. O choque do infarto do avô, que fez com que voltasse correndo de Londres, onde trabalhava, já tinha sido muito estressante. A partida de Baz foi outra agonia bem diferente. Seu estábulo era perto do chalé. Ele já tinha sido demolido e sua madeira virado lenha. O local fora comprado por um vizinho que plantaria tabaco. Ela parará ali, apoiada na cerca, chorando, quando Nick se aproximou. — Cally. — Ele tocou seus ombros gentilmente. — O que foi? Seu avô piorou? — Não. Os médicos disseram que ele vai se recuperar totalmente — o rosto dela estava cheio de lágrimas. — Mas... ele vendeu Baz enquanto eu estava fora, sem me avisar. Disse que estava sem dinheiro e que tínhamos que economizar. Ele fez silêncio por um momento e falou: — Se quiser cavalgar, pode usar um de meus cavalos. — Não é isso. Tive Baz por toda minha vida e ele simplesmente... se foi. Não acredito. Ele não falaria mais nada, ela lembrou. Foi a primeira vez que ele a tomou nos braços e ela ensopou a camisa dele. Era mais uma criança querendo consolo do que a mulher que queria ser. De repente pensou se Nick se lembrava da cena também, mas estava sendo ridícula. Estava apenas interessado em sua vingança. Além disso, fora há muito tempo. Ela cruzou a pista e abriu um dos portões. O caminho para a casa mal era visível por causa do mato que crescia. E quando ela conseguiu atravessá-lo, não tinha muito para ver. Apenas a triste pilha de pedras acinzentadas pelo fogo do qual ela e o avô escaparam apenas com suas vidas. Ela virou abruptamente para ir embora, e se deparou com Nick, que a seguia calmamente. — Já viu o bastante? — Ele pôs as mãos sobre os ombros dela. — Ainda é uma ruína. Eu... pensei que o local teria sido limpo. — É sua ruína, Cally. Pertence a você, e você deve dizer o que fazer. — Ele ficou em silêncio. — Pensei que gostaria de reconstruir. Fazer um local para você no futuro, quando nosso casamento acabar. — Não, obrigada — ela retrucou. — Pretendo ir para longe. Tenho muitas lembranças

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven tristes aqui. — Eu também — ele falou abruptamente, olhando para ela. — Ainda bem que estava dirigindo por aqui naquela noite e vi o que estava acontecendo. — Você se arriscou muito. — A voz dela tremeu ligeiramente. — Mas eu nunca teria conseguido salvar meu avô sem você. — O que a acordou? — ele perguntou. — Você lembra? Ela olhou para uma laje destruída. Não estava dormindo. Estava sentada perto da janela do meu quarto, pensando em Nick. Lembrando o quanto seu avô ficara irritado quando o viu pela janela, confortando-a por causa de Baz. — Tal pai, tal filho. — Ele soava tão amargo. — Qualquer coisa por um rabo-de-saia. Saia desse caminho, Cally, ouviu? Ele não é bom para você. — Sim, se é o que quer — ela respondera porque sabia que aquela raiva era ruim para ele. Tudo parecia completamente surreal, ela pensara, enquanto observava os bombeiros apagarem o fogo. Era como se olhasse para uma pintura medieval do inferno. Ainda não acreditava como o fogo devorara tudo tão rapidamente. Quando o telhado caiu, o barulho foi horrível e Nick a tomou em seus braços, pressionando o rosto dela contra seus ombros para que ela não visse a devastação. — A ambulância está saindo com seu avô — ele sussurrou. — Não há nada que possamos fazer aqui. Deixe-me levá-la para o hospital. Naquele momento ela estava muito agradecida para perguntar o que ele fazia ali naquela hora da noite. Como ocorrera de ele estar dirigindo por ali. Somente bem mais tarde ela se lembraria que o chalé de Vanessa Layton ficava na mesma região. — Da próxima vez, um detector de fumaça pode ser mais confiável do que um anjo da guarda — o tom de voz de Nick forçou Cally a voltar para o presente. — Você tem razão. — Ela balançou a cabeça. — Acho que sempre soube que a fiação era antiga e precisava ser trocada, mas não sabia que estávamos sob uma bomba. Ou que não tínhamos seguro. Foi um verdadeiro choque saber que estávamos sem dinheiro e sem teto. — Seu avô estava envelhecendo. É fácil não dar importância a essas coisas. Mas o que era mais importante? Apesar de seu estresse com relação a Baz, viu por que seu avô teve que vendê-lo, e a terra, para conseguir dinheiro e saldar algumas dívidas. Se o chalé não tivesse sido devastado pelo fogo, eles o perderiam de qualquer forma. O horror do incêndio fez com que ela percebesse que estavam falidos. Não que seu avô desejasse discutir a situação, mas ela devia ter percebido os sinais, que pioravam a cada dia. De repente, ela falou: — Já vi o bastante, obrigada. Foi... um erro ter vindo aqui. Era estranho entrar na cidade novamente. Parecia que tinha ficado fora por milhares de anos, apesar de nada ter mudado. Cally pôde perceber que trabalharam muito em Wylstone Hall. A mansão era um local mais imponente do que bonito, combinando vários estilos arquitetônicos. Uma moça foi cumprimentá-los no jardim. — Estamos em casa, Margaret. — Nick fez as apresentações. — Querida essa é a sra. Thurston, que a ajudará no que for preciso.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — Será um prazer, senhor, e bem-vindo de volta. Como vai, senhora? — Seu sorriso era ansioso. — Há algo que devo contar... — Mais tarde — falou Nick. — E diga a Frank para esperar um pouco para levar as malas. — Ele olhou para Cally e falou, suavemente: — Tenho que reparar uma omissão. Quebrei a tradição na primeira vez e não carreguei minha noiva no colo através dos umbrais. Antes de Cally protestar, ele a pegou nos braços e caminhou na direção da casa. Cally notou que ele a levava para a base da escadaria. — Nick... ponha-me no chão. — Quando que eu quiser. — Havia um tom de diversão na voz dele, e algo infinitamente mais perigoso. — Já está garantindo seus direitos matrimoniais, querido? — Era a voz de uma mulher, desagradavelmente familiar. — E ainda estamos na hora do chá. Por isso que a pobre criança está atônita. Fez-se um silêncio congelante e então, lentamente, Nick pôs Cally no chão. — Adele — ele falou. — Que prazer inesperado. Pensei que estivesse em Paris. Adele Tempest ficou parada onde estava, perto da sala de estar. — Oh, mas estava — falou. — Então um passarinho me contou que você estava voltando com sua noiva e pensei que pelo menos uma pessoa poderia dar as boas-vindas a ela. — Ela olhou para Cally, alargando o sorriso. — O poder de persuasão de Nick deve ser surpreendente, querida. Ou novamente não conseguiu resistir ao seu dinheiro? Afinal, você viveu com dificuldades no último ano e um destino pior do que a morte pode ser melhor do que nenhum destino. Cally manteve a voz firme. — E bom revê-la também, Adele. E bom saber que não mudou. — Oh, é Nick que gosta de mudanças. Você não reconhecerá o local. Ele transformou aquela suíte gótica horrorosa que Ranald tanto gostava em um ninho de amor. Claro, eu não tinha idéia de que fosse para você. — Bem, a vida é cheia de surpresas — falou Cally. Ela virou para a governanta. — Talvez possa me mostrar essa incrível transformação, sra. Thurston? Gostaria de me recompor. Então todos tomaremos chá. — Ela sorriu para Nick. — Por favor, cuide de nossa hóspede por mim, querido. Não vou demorar. Sem pressa, ela subiu as escadas, seguindo a governanta. — Aqui é a suíte, sra. Tempest. Espero que fique confortável. Cally forçou um sorriso. — É... adorável. — Se precisar de alguma coisa, basta chamar. — Certamente não esqueceu nada. A outra moça hesitou. — Posso contar uma coisa, senhora? Eu... sinto muito pelo que aconteceu lá embaixo. Sei que o sr. Nicholas não gostaria de nenhum intruso hoje, mas eu não sabia que a sra. Tempest estava em casa. Ela sacudiu a cabeça. — Estava um dia tão lindo que abri as portas da sala de estar. Acho que ela entrou pelo jardim. Não acreditei no que vi quando entrei e a vi sentada no sofá.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven A sra. Thurston fez uma pausa. — E ela morou aqui... — O que torna difícil mandá-la sair — Cally concluiu, secamente. — Não se preocupe, sra. Thurston. Certamente meu marido cuidará disso. A sra. Thurston sorriu, mas ainda sentia-se preocupada quando deixou o quarto. "E por que não estaria?" Cally perguntou a si mesma. Eu estou preocupada. As coisas já estavam bem ruins sem Adele lançando seu veneno. Ela entrou no luxuoso banheiro e viu que a banheira e o enorme box haviam sido projetados para duas pessoas. E se Nick insistisse nesse tipo de intimidade? O que poderia fazer? A suíte tinha outro quarto com cama de casal, um ambiente mais simples, totalmente masculino. Era ali que Nick dormia, quando em casa. E talvez pretendesse passar mais algumas noites ali. E não sozinho Ela pareceu sentir o cheiro da colônia que ele usava, tornando sua presença formidavelmente real, e correu para o quarto principal. Enquanto estava no banheiro, as bagagens foram trazidas, e ela viu a camisola que vestira na noite anterior jogada sobre todas as coisas. Ela pensou se a vestiria ou não naquela noite, para fazer exatamente que Nick esperava. Em termos físicos, sabia o que antecipar, claro, apesar de tudo não passar de teoria. E apesar de se ressentir da idéia do corpo dele entrando no dela, não era tão assustador assim. O que a incomodava era a dimensão emocional, fazendo com que amaldiçoasse sua inexperiência. Ele não tinha como exigir paixão. Mas certamente gostaria... de aquiescência, no mínimo, e não havia certeza se ela conseguiria. Cally hesitou no corredor que levava às escadas. Toda aquela parte da mansão era nova para ela. O quarto que ocupou depois do incêndio, enquanto o avô permanecia no hospital, era na outra extremidade. Não tinha certeza se conseguiria encontrá-lo novamente. Ou se queria fazêlo... Mas não podia impedir os prazeres implacáveis de suas memórias. Na noite do incêndio, Adele a recebeu com doçura, mas seu olhar era sombrio. E a governanta também não era muito acolhedora. Não era culpa dela, Cally desejara falar para as duas. Ela estava saindo do hospital quando percebera que não tinha mais casa nem pertences. Nick a pegara pelo braço. — Você vem comigo — declarou. Ele devia ter telefonado antes, pois o quarto estava arrumado para ela e havia sopa quente aguardando-a para jantar. Ela estava acabando de jantar quando Adele apareceu. — Trouxe um pente e escova de dente. E suponho que precise de uma camisola. — Ela trouxe uma preta e jogou na cama. — Obrigada — agradeceu Cally. — Desculpe por causar problemas. — Agora a casa é de Nick. Ele dá as ordens. E não ter casa deve ser horrível. — Ela fez uma pausa. — Suponho que amanhã procurará algum lugar para alugar, enquanto organizam a papelada.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — Sim, creio que sim. Mas não queria pensar em tal assunto naquele momento. Sentia-se atormentada, e inconscientemente colocou a mão na testa. — Dor de cabeça, docinho? — O tom Adele era malicioso. — É uma desculpa antiga. Mas creio que vá cortar o gelo com seu herói. — Desculpe, acho que não entendi. — Não? — Adele riu. — Acho que vai ficar claro logo. Por enquanto, recomendo uma aspirina. Ela saiu caminhando com graça e deixou Cally sozinha. Não devia perder tempo se preocupando com o que Adele dizia, pensava enquanto procurava as aspirinas. Ela era uma cretina. Só lamentava ter que dividir um teto com ela, mesmo que por uma noite. Depois de tomar o remédio, entrou na banheira de água quente. Sentindo-se uma mulher novamente, secou-se e envolveu os cabelos com a toalha. Ela voltou para o quarto e se surpreendeu, pois Nick estava ali, perto da cama, olhando para a camisola de Adele com uma expressão sarcástica. — Sua escolha? — ele perguntou, pegando a camisola e fazendo com que visse o quanto era transparente. — Ah, não. — Ela gaguejou ligeiramente e ajeitou a toalha. — Não visto esse tipo de coisa. Acho... que a sra. Tempest quis ser gentil. — Não necessariamente com você — falou Nick suavemente. — O que quer dizer? — Não seja ingênua, querida — ele prosseguiu. — Creio que ela pensou que você a vestiria para mim. Mas não se preocupe — ele acrescentou. — Devolverei para ela e encontrarei algo mais apropriado. Amanhã poderá fazer compras. Ele fez uma pausa. — Mas o que vim mesmo dizer é que o incêndio foi apagado, e os bombeiros conseguiram salvar um grande contêiner de metal que havia na sala de jantar. — Oh, a caixa-forte do vovô! É... maravilhoso! Tem todos os nossos documentos. Ele ficará tão aliviado. — Agora tente repousar. Tudo ficará melhor de manhã. — Nick — ela falou. — Não sei como agradecer... — Posso pensar em várias formas — ele falou, em deboche, mostrando a camisola. — Talvez deva pedir para você usar isso para mim, afinal de contas. Só que há muita coisa na sua cabeça agora e prefiro ter sua total atenção. Ele viu quando ela corou de raiva e se retirou, sorrindo. Sozinha, Cally penteou o cabelo com violência. Adele podia ser uma vilã, pensou, mas Nick não ficava atrás. Em um momento podia ser tão gentil, quase carinhoso. No outro, era detestável e debochado, constrangendo-a. Mas talvez fosse mais seguro assim, disse a si mesma. Não fora por isso que tentou se mudar para Londres, porque se deixou imaginar que ele gostava dela e não queria ser feita de boba?

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven Mas quando ouviu baterem na porta uns dez minutos depois, ela congelou, pensando que ele pudesse ter parado de brincar e tivesse voltado. Caso fosse verdade, como lidaria com ele da melhor forma? — Entre... Mas era a sra. Bridges. — O sr. Nicholas mandou isso. — Ela segurava uma camisa branca dobrada. — Pediu para dizer que nunca foi usada. — Oh — exclamou Cally. — Agradeça a ele, por favor. Quando a governanta saiu, ela vestiu a camisa. Enrolou as mangas e se olhou no espelho. Via uma menina com rosto pálido e despenteada. Cujas pernas longas nuas sob a camisa criavam uma imagem estranhamente erótica. Por um momento, desejou que a camisa não fosse nova, mas sim uma peça usada por Nick. Algo que ainda pudesse ter a marca de seu corpo, ou que trouxesse o cheiro de sua pele, para que pudesse fingir que dormia em seus braços naquela noite. Mas essa seria a maior das tolices, pensou. Suspirando, apagou a luz e caiu na cama, deitada em uma escuridão que assustava. — Sra. Tempest? — A voz calma da sra. Thurston trouxe Cally de volta ao presente. Estava tão perdida em suas lembranças que nem ouviu quando ela se aproximou. — Desculpe se a assustei, mas o chá está servido. — Sim... claro. — Cally limpou os pensamentos e sorriu. Ao entrar na sala, ela encontrou Adele sozinha. — Onde está Nick? — Não quis ficar. Foi para o escritório e não voltou. — Adele era direta. — Parece chateado, Caroline, querida. Talvez esteja incomodado com essa sua virgindade persistente. Não se deixe irritar, pensou Cally. Tudo estava muito diferente na sala. A decoração era mais suave e moderna. Era como se tivesse ocorrido uma explosão de luz. — Contando as mudanças? — perguntou Adele. — Vai demorar. — A sala parece ter o dobro do tamanho. — Bem, na Dower House sinto-me morando em uma caixa de sapatos — falou Adele. — E tive que fazer muita coisa para tornar o local habitável. Esta é uma das razões para eu ter vindo, para pedir que Nick envie um carpinteiro. — Falarei com ele. E qual a outra razão? — Mera curiosidade, docinho. Não acreditei que engoliu seu orgulho e voltou para os braços de Nick. Prova de que dinheiro conta muito. Você parece aflita — ela prosseguiu. — Creio que a consumação atrasada está marcada para hoje à noite. Ela ria maliciosamente. — Mas não me preocuparia tanto. Seu marido é um homem de negócios muito bemsucedido, querida. Certamente tem as mesmas habilidades com mulheres, especialmente com novatas nervosas. É o tipo de desafio de que ele gostará, por um tempo. Recomendo que aproveite — acrescentou. — Por que— Cally deu uma risada — me parece tanto que quer Nick para você?

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Mas ela não perdeu a pose. — Teria sido conveniente. Deus sabe como Ranald não me deixou quase nada. — Ela deu de ombros. — Mas simplesmente não estava preparada para arruinar minha imagem dando a Nicholas o herdeiro e a amante que ele claramente desejava. Então ele teve que olhar ao redor, e a encontrou. — Sim — falou Cally lentamente. — Ele me encontrou. — Você nem pode culpá-lo depois de tudo que gastou para pagar os credores de seu avô. Ele deixou claro quais eram os seus deveres. Quer um retorno de investimento, e logo. Eu faria o que ele quer. Porque ele pode ser muito rude quando assim o deseja. Ela tomou o resto do chá e colocou a xícara na mesa. — E não vou mais me intrometer nesse interlúdio romântico. Adele se levantou e se dirigiu à porta. — Aliás, o outro interesse de Nick saiu por umas duas semanas. Muito diplomático se retirar durante a reconciliação, não acha? Mas não espere muito, pois ela voltará. Só terá que aprender a parecer cega, querida. Porque fugir realmente não funcionou. E com um último sorriso, Adele saiu.

CAPÍTULO VI

Cally ficou sentada imóvel, olhando para o nada. Não entendia como tinha conseguido se livrar das garras de Adele. Mas já tinha passado por aquilo antes, então como podia estar mesmo remotamente chateada com as observações dela? Ela balançou a cabeça. Será que estava torcendo, em um cantinho de sua mente, para que Nick tivesse terminado seu caso enquanto estivera ausente? E que Vanessa Layton tivesse partido para não mais a perturbar novamente? Não, pensou. Seria muito esperar por isso. E enquanto Vanessa existisse, sempre seria prioridade para Nick, como Cally aprendera no dia de seu casamento. Um ano atrás ela fugira, pois não conseguira suportar, pensou. Sabia que a única forma de sobreviver era viver longe dele. Mas agora não tinha mais alternativa. Ela ficou tensa quando a porta da sala foi aberta. — Não acredito, você conseguiu se livrar da Viúva Negra — comentou Nick. — Que diabos ela queria, afinal? — Um carpinteiro — respondeu Cally. — Claro. Com Adele sempre há alguma coisa. Foi só isso? — O que mais poderia ser? — perguntou Cally. — Quer chá? — Eu tinha outros planos — ele falou. — Mas eles podem esperar. Adele só queria isso

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven mesmo? Ela foi tão ofensiva quando chegamos, estou surpreso por não ter ido adiante. Cally bebeu chá. O que poderia dizer para que ele acreditasse, sem mencionar Vanessa? — Ela falou sobre as dívidas de meu avô. Falou que você me trouxe de volta para que eu honrasse minha parte. Mal pude negar. Ela também soube que vim para fornecer a próxima geração. Também não pude discutir. — Sinto muito — falou Nick. — Por quê? Já devia estar acostumada com ela. — Sinto muito porque devia ter me assegurado de que ela sairia da casa bem antes do nosso casamento. Mas não foi fácil mandá-la embora. Falou que teria transformado este lugar há anos se Ranald tivesse dinheiro e tinha planos de fazer a reforma. — Tive que deixar claro que eu sabia exatamente o que queria e a mandei para a Dower House. — Quer dizer que fez tudo sozinho? — Tive ajuda. — Ele hesitou. — Uma amiga que era designer de interiores. Uma amiga? Um detalhe esquecido da história que Adele contou de repente surgiu na memória de Cally, revelando a identidade dessa amiga. "Meu quarto", ela pensou. Oh, Deus, aquele lindo quarto. Será que Vanessa Layton sugerira a decoração? Se fosse, seria de um cinismo absurdo preparar um quarto para o amante dormir com a esposa. — O problema com Adele é que mal posso evitá-la. — Ela percebeu que Nick estava falando. — Como viúva de Ranald, ela provavelmente teria direito de morar na Dower House por quanto tempo quisesse. Pensei que saindo da casa principal, ela fosse ficar cansada e se mudar. Mas não tive sorte. — Ela gosta de dinheiro. — Sempre gostou. Talvez deva fazer uma oferta irresistível. — Por que não? Funcionou comigo — respondeu Cally. — Não exerço a mesma influência sobre Adele. — Ele terminou o chá e estava totalmente relaxado, enquanto ela sofria miseravelmente. — Quando você partiu, imaginei se ela não poderia ter tido parte no assunto. Se não fizera ou dissera algo para incomodá-la. Afinal de contas, vocês não se adoravam. E eu sabia o quanto era vulnerável... — Oh, me poupe, por favor — explodiu Cally. — A morte de vovô foi muito inesperada. — Cally, eu sei que não devia tê-la deixado sozinha logo depois do casamento, mas foi uma emergência. A sra. Bridges deveria ter falado para você, explicado que tive que sair. Não tive alternativa. "Não minta para mim", ela implorava em silêncio. "É tarde demais. Porque sei onde estava. Fui lá. Ouvi você. Deus, eu o vi. Com ela." — Cally. — Nick se inclinou para frente, com o rosto sério. — Você está completamente distante. Por favor, ouça-me, há algo que devo contar. Eu... devo uma explicação. — Não. — A palavra explodiu de dentro dela e ela viu o choque no rosto dele. — Quero dizer, não há necessidade de falar nada. Está tudo bem, realmente! Na verdade, foi uma benção. Como eu disse, tive a chance de reconsiderar o que fiz. — Ela riu ligeiramente. — Em vez de ter sido condenada. Você me fez um favor. — Só que agora as algemas foram recolocadas. É isso que pretende dizer? — Você que está dizendo.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — E realmente não quer ouvir o que tenho a dizer? — Se eu me importasse, teria esperado você voltar. — Oh, Deus — ele falou, furioso. — Cally, podemos parar com isso e nos comportar de forma racional? — Nossa situação não é racional. — Então vamos torná-la racional — ele solicitou. _— Vamos limpar o passado, como se não tivesse existido. Estamos aqui, juntos, casados. Isso não pode ser o mais importante? — ele fez uma pausa. Além disso, tenho um presente de casamento para você. — Um presente de casamento? Corro o risco de ser grosseira, mas dispenso. — É tradição o noivo presentear a noiva. — Sua generosidade geralmente vem com uma etiqueta de preço, sr. Nicholas. Ele ficou em silêncio por um momento e falou calmamente: — Não quer nem saber o que é? Nem deseja ver? — Não. — Ela respirou fundo. — Não vê que não quero nada de você? Não percebe que a única coisa de valor que pode me dar é minha liberdade e a certeza absoluta de que nunca mais terei que vê-lo? Mas duvido que haja tal oferta. — Agora não. — A voz dele era dura. — Entretanto, posso fazer um acordo para nos encontramos apenas na cama. Talvez fique mais fácil para você suportar sua pena. Mas teremos que compartilhar as refeições, de vez em quando. Começando com o jantar de que está marcado para as oito e meia. E você, querida esposa, se sentará à mesa para apreciar o que Margaret está preparando. E para entrar no clima, irá vestir o vestido de casamento que a espera no quarto. E isto não é uma solicitação — ele acrescentou. — É uma ordem. A voz dele tinha um tom corrosivo que assustava Gally. — E agora respeitarei seus desejos e a deixarei em paz. Tenho que trabalhar. Afinal de contas, agora tenho uma mulher para manter e planos de ter um filho. — Nick — ela falou, com a voz trêmula. — Nick, por favor. Perto da porta, ele virou. — Está arrependida, querida? — Seu tom era frio. — Guarde o arrependimento para a cama. Pode precisar. Sozinha, Cally sentou-se por um momento interminável. Ainda podia sentir a raiva dele, quase tangível. Ela se levantou e saiu para o jardim, com dificuldades de respirar. Como ousava tratá-la assim, falar com ela daquela forma?, perguntou silenciosamente. Ela fugira dele num impulso nascido do choque e da raiva, pois sua vida de repente tornou-se insuportável, mas havia sido a causa. E ainda que ela tivesse ficado, o resultado teria sido o mesmo. Será que ele acreditava que poderia manter a amante em segredo? Mesmo que Adele não tivesse falado, haveria fofocas. E quanto mais longo o casamento, mais ela perceberia. Quando faziam amor, ele falava as mesmas coisas que falaria a ela? Eram perguntas que ela se faria repetidamente, se torturando por jamais encontrar uma resposta confortante. Talvez ele pensasse que na época ela estava tão atraída por ele, tão satisfeita com sexo e dinheiro, que nunca fosse desistir. Que estivesse preparada para compartilhá-lo.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven Ela também poderia ter carregado um filho dele, o que reduziria ainda mais suas opções. Mas agora essa situação não era mais hipotética e teria que achar uma forma de lidar com ela. De resistir... "Preciso contar uma coisa", ele dissera. "Não enquanto eu respirar", pensou Cally."A confissão pode ser boa para a alma, mas não quando meu coração vai sofrer as conseqüências. Não preciso dessa honestidade." O presente da noiva para o noivo. Perdão. Era o que Nick esperava? Ou ele notou que seria impossível manter sua relação secreta por mais tempo? E será que ele seria louco ou cruel o suficiente para pensar que a revelação tornaria as coisas mais fáceis? — O nome dela é Vanessa Layton. — A imagem do sorriso lento de Adele naquela noite um ano atrás ressurgiu em sua mente, trazendo as recordações de volta. — Era uma decoradora de interiores de Londres. Nick a contratou para reformar o apartamento e foi aí que tudo começou. Deve ter sido um tórrido caso para ela ter abandonado tudo e se mudado para Southwood Cottage. Eles não suportam ficar separados. E ela não paga aluguel. Além disso, Nick paga todas as suas contas. Cally recuperou a fala. — Como sabe disso? — Os papéis estão todos na mesa dele. Vi há alguns meses. — Se é tudo tão maravilhoso, por que ele não se casou com ela? — Porque parece que ela é casada. Talvez o divórcio não seja uma opção. Mas Nick precisa de uma mulher, por várias razões. E é aí que você entra, docinho. — Você é uma cretina. — Estou tentando ser sua amiga. Afinal, ela será apenas a primeira de muitas. Prepare-se. O pai de Nick era assim mesmo. Tal pai, tal filho. Seu avô dissera isso. Será que ele sabia que Nick estava envolvido com uma mulher casada? Por isso quis que ela pulasse fora? — Além disso — prosseguiu Adele — tenho pena de você, esperando que Nick venha dar cabo de sua virgindade. Especialmente porque agora ele está consolando a outra. Assegurando que é apenas um casamento por conveniência, um negócio. Ela se dirigiu aos aposentos que, até aquele dia, haviam sido sua casa. Pegou as chaves do carro e não tinha idéia de onde estava indo ou o que faria quando chegasse. Pensou que tinha que saber o que estava acontecendo. Enquanto dirigia, rezava para que aquilo não fosse verdade. Mas o carro de Nick estava na Southwood Cottage. Não havia enganos. Cally entrou lentamente. Ouviu vozes. Odiando a si mesma, se posicionou atrás de um arbusto e viu o que temia. Nick estava lá, no jardim, com Vanessa nos braços. Ela se apoiava nele e chorava, e ele a acariciava. — Vai ficar tudo bem. — Ele dizia calmamente. — Querida, pode contar sempre comigo. Cally não conseguia ouvir o que ela respondia, mas viu Nick olhar para o relógio e balançar a cabeça. Os dois entraram na casa e fecharam a porta. Cally congelou quando viu Nick em uma janela do andar de cima que parecia ser a do quarto.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven Não queria ser vista. Não queria ser humilhada, caso ele a encontrasse espionando. Então ela percebeu que ele estava fechando as cortinas. E sua preocupação foi embora, pois ficou claro que a única preocupação dele era com a mulher que estava em seus braços. De repente, ela sentiu uma dor forte e profunda, como se tivessem batido nela. Sua ferida era profunda e mortal, mas não choraria. Não ali. Sabia que sua vida era vazia, fria e que não havia nada para ela ali. Que a traição dele fora cruel e incompleta. "Não posso enfrentá-lo", ela pensou. "Não posso deixar que veja o que fez comigo. Nunca. Isso vai acabar comigo." De alguma forma, tinha que evitar ser tão tola. E isso significava se afastar de Nick o quanto antes. Ela se esconderia em algum lugar o tempo suficiente para que o casamento fosse considerado legalmente encerrado. "E fiz isso", pensou Cally. "Fugi. Primeiro para Londres, para raspar minha conta corrente. E depois, para onde o acaso me levasse." Ela tinha certeza de que ele queria se livrar dela o mais rapidamente possível, e que por isso, quando se encontrassem, concordaria com o que ela quisesse. Mas tudo correu ao contrário do que esperava. Porque lá estava ela em Wylstone, de acordo com os termos dele, não dela. Morando com ele, dividindo uma cama e finalmente dando a ele um filho. Teria que preencher todos esses requisitos. E precisaria de cada gota de indiferença que pudesse obter para sobreviver. Porque apesar de tudo o que Nick fez e todas as razões que deu para que o detestasse, Cally não tinha certeza se poderia confiar em si mesma. No momento em que se encontraram, ela notou a forte excitação que a percorria profundamente. Sempre que ele a olhava, sorria ou falava, era como se ela se afundasse em uma profunda confusão, que era muito inexperiente para compreender. E a terrível verdade era que nada mudara. Fora naquele dia no rio que conhecera o forte poder que ele tinha sobre ela. Não era a primeira vez que percebia, mas sua consciência submergiu de vez com todas as mudanças repentinas e surpreendentes que a acometeram. Já tinha sido difícil lidar com a morte do avô. Depois se pegou envolvida com os problemas financeiros que ele deixou. Estava arrasada quando Nick a pediu em casamento. Só que as palavras contidas dele foram mais uma declaração de intenção do que uma necessidade de paixão e ela percebeu que não precisaria nunca mais se preocupar com nada. Ela mal podia esperar para se atirar nos braços dele, para que ele a protegesse contra o mundo. Logo quando tudo parecia perdido, todos os sonhos que nunca tivera se tornavam realidade. Não conseguira enxergar mais adiante. Deixou que ele assumisse o controle e concordou em uma cerimônia matinal íntima, com apenas o vigário e sua esposa como testemunhas. Sem Adele, ela pensou. Apenas os dois. Nick queria uma lua-de-mel tradicional e teve que trabalhar muito para conseguir alguns dias de folga. Eles quase não se viram nas noites anteriores ao casamento e ela se surpreendeu

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven quando ele passou em seus aposentos para levá-la a um piquenique. Ela percebeu que seria a primeira vez que ficariam sozinhos desde que ele pedira sua mão e sentiu-se feliz. Eles estenderam almofadas e uma toalha sob uma árvore, perto do rio. Nick se deitou ao lado dela, relaxado, e eles conversavam sobre tudo e nada. — Acho que devemos fazer um brinde — ele falou. — A nós. Futuros marido e mulher. Ela pretendia levantar a taça com a mesma elegância, mas de repente a consciência do que seria o casamento a atingiu e ela derramou vinho em sua blusa. — Oh, Deus, sou tão desastrada. — Ela pegou um guardanapo, mas ele pegou seu pulso. Ela viu os olhos cinza incandescerem e, quando olhou para baixo, viu o que eles fitavam. A blusa molhada marcava a delicada elevação de um de seus seios, realçando o bico, mostrando-a como se estivesse nua. — Cally. — Ele sussurrou seu nome com a voz rouca, tirou a taça da mão dela e tomou-a em seus braços. Roçou a boca na dela e explorou seus lábios com a ponta da língua, provando calmamente, enquanto seus longos dedos apalpavam os seios dela com um objetivo sensual que atiçava uma trêmula resposta dentro dela. Ela sentiu o mamilo enrijecer diante do toque dele e sua cabeça caiu contra o braço que a segurava, permitindo que os lábios dele passeassem pela linha de sua garganta até a abertura de sua camisa. Ele hesitou ali por algum tempo, acariciando com a ardorosa língua a fenda entre os seios de Cally, como se tomasse o vinho derramado da pele dela. Então ele se afastou para unir a boca à dela, partindo seus lábios com uma prazerosa maestria. Seu beijo era profundo e sensual, e o corpo dela arqueava contra a resposta involuntária dele, enquanto seus seios eram empurrados avidamente contra a sutil manobra dos dedos dele. Ainda beijando-a, ele deslizou a mão para a perna dela, acariciando seu joelho e subindo com dolorosa lentidão por sua coxa até a beira de seu short, onde Parou. Ela sentiu o ar preso na garganta naquele interminável momento. Seu corpo retesou, em uma necessidade que nunca sentira antes. — Querida — ele a fitou. Havia algo em sua voz que nunca ouvira antes. Um brilho em seus olhos que era novo e a enfraquecia, derretia. — Minha linda... Ele se inclinou para beijá-la novamente e então ficou tenso, virando a cabeça abruptamente e ouvindo. E Cally ouviu também, distante, mas se aproximando, o latido de um cão. Nick se sentou e levantou Cally, apoiando suas costas no tronco de uma árvore. E lhe devolveu a taça. — Parece que temos visita — ele falou. O cachorro veio correndo na direção deles, parou alguns metros adiante e se sentou. Cally ouviu vozes e alguém assobiou, mas o cachorro permaneceu ali. — Então quer uma recompensa para ir embora? — Nick parecia se divertir. Ele jogou um pedaço de frango e falou: — Agora dê o fora. O silêncio voltou, mas era uma quietude diferente. O tronco da árvore parecia áspero para Cally, que tentava recuperar a respiração recostada nele. E tentava controlar o desapontamento. Porque o momento passara, deixando-a desolada. Para confirmar, Nick tocou suas bochechas e falou:

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — Acho que é hora de levá-la para casa. — Sim. — Ela forçou um sorriso. — Está ficando tarde. Quando chegaram na mansão, Nick a acompanhou até a porta de seus aposentos, e ela se sentiu tensa, imaginando se deveria chamá-lo para entrar. Mas logo se desiludiu. — Direi au revoir — ele falou abruptamente. — Vou para Londres hoje à noite. — Ele pegou sua mão, deu um suave beijo e até mesmo este gesto parecia afastado. — Vejo... você na igreja. Ela sorriu e balançou a cabeça, fechando a porta. Ainda tremia por dentro, sentindo seu corpo ainda desejoso. Cally se recostou contra a porta e fechou os olhos. — Dois dias — sussurrou. — Apenas dois dias... Oh, Deus, pensou Cally agora, violentamente. Quantas vezes mais iria lembrar? Nick, quase seu amante. E essas breves horas eram a lembrança mais vivida que tinha. Cada detalhe era fresco em sua mente como se tivesse acontecido minutos atrás. E precisava lembrar de tudo, pensou. Precisava lembrar o quão rapidamente caíra em seu feitiço e como ele a seduzira depressa. Algo em que Nick certamente pensara também. E dessa vez ele asseguraria que não seriam interrompidos. Arrepiada, Cally desceu para o jardim. Sempre se perguntava por que ele se importava. Eleja tinha se envolvido com uma mulher linda, então sua inocência não devia excitá-lo. Mas talvez ele tivesse planejado todo o incidente para testar a capacidade de excitação dela, pensou. Para descobrir o quanto poderia esperar de prazer de suas noites forçadas com a nova esposa. Naquela noite no rio, ela teria se entregue a ele completamente. E ele sabia disso. "Devia tê-la tomado quando tive a chance", haviam sido as palavras cínicas dele. E logo ele descobriria o quanto estava certo. Ela tinha que fazer planos. Fazê-lo entender que não era mais a mesma pessoa e que ele não era mais um herói. E em algum lugar, de alguma forma, ainda escondia todos os traços do forte desejo que sentira por ele e que ainda ardia dentro dela. Mesmo que a usasse, tal desejo era algo que Nick Tempest nunca saberia. E ela se arrepiou diante da possibilidade de todas as longas noites que teria com ele.

CAPÍTULO VII

Apesar de sua crise interna, Cally não pôde deixar de admirar a paz que o local trazia.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven Enquanto caminhava pela propriedade, viu um senhor que a reconheceu. — Que bom vê-la, srta. Caroline. Perdão, sra. Tempest. Cally sorriu para ele. — Srta. Caroline está bem, sr. Robins. Não sabia que trabalhava aqui. — As coisas mudam. Muitas pessoas com quem trabalhei, como seu avô, não estão mais aqui. Vim em busca de segurança. E o sr. Nicholas é um excelente patrão. Está indo para os estábulos? — Oh... sim — afirmou Cally. Um excelente patrão... — Talvez esta fosse a chave para sobreviver aos meses que viriam, pensou. Pensar que fosse uma funcionária. Talvez, se ela conseguisse controlar os sonhos fúteis. Ela se despediu e foi para os estábulos. Não planejava aquela visita, mas seria melhor do que voltar Para casa. Não estava pronta. Havia três cavalos pastando, dois juntos e um deles sozinho. Cally olhou para o cavalo solitário. Havia algo nele ligeiramente familiar. Como se reconhecesse os pensamentos dela, ele levantou a cabeça e começou a andar pelo pasto, se aproximando. E então ela teve certeza. E tudo ficou confuso. — Baz — ela sussurrou. — Baz, meu rapaz lindo! Ao subir na cerca para tocá-lo, o vestido rasgou, mas ela não se importou. Ficou na frente dele, abraçou seu pescoço, acariciou-o e ele retribuiu, como se não fizesse tanto tempo desde que tinham se separado. — Não tenho nada comigo. — Ela ria entre as lágrimas. — Não tenho cenoura, nem maçã. Porque não sabia... "Tenho um presente de casamento para você..." Um presente que Nick sabia que ela não recusaria. Deus, ele foi esperto, ela pensou. — Sra. Tempest? Sou Lona Barton, a cavalariça. Desculpe, eu deveria estar aqui, mas pensei que não viesse e fui tomar um chá. — Bem, não foi planejado. Como vê, nem estou vestida para montar. — Ele é um senhor, não? O pobre Baz estava sendo muito explorado, não sei o que teria acontecido se o Sr. Nicholas não o tivesse encontrado. Cally hesitou. — O que aconteceu exatamente? — Ele passou maus bocados em Yorkshire. — Serei cuidadosa. Vejo vocês amanhã. E agora, pensou, com um nó na garganta, tinha que encontrar Nick para agradecer. Não podia fazer mais nada. Cally bateu na porta do escritório e esperou ele autorizar sua entrada. Nick estava sentado à escrivaninha concentrado e à vontade. Ele não virou para falar com ela e sua voz era impaciente. — Sim? — Acabei de receber meu presente de casamento. Ele levantou a cabeça rapidamente. Seu olhar

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven acinzentado a analisou, viu as bochechas coradas, o brilho de felicidade em seus olhos, se prolongando na blusa. Depois de uma pausa, ele falou: — Você disse que não estava interessada. — Nunca sonhei... — A voz dela era trêmula e ela engoliu. — Foi tão maravilhoso ver Baz novamente... e Lorna falou que você praticamente salvou a vida dele. Como... o encontrou? — Encontrei a nota de venda nos documentos de seu avô. — E não me falou nada? — Não, mas lembrei o quanto estava triste e queria fazer uma surpresa, para alegrá-la. Mas como sabe, a surpresa veio para mim. Ela pensou no dia em que ele a abraçou no campo vazio, de como confortou-a e sentiu sua pele calorosa. — Sim... bem. Não... sei como agradecer. Nick se levantou. A voz dele começou a ficar macia. — Posso pensar em várias maneiras. Venha aqui. Ela devia ter pensado que aquilo podia acontecer, mas estupidamente não pensara. Sentiu o nervosismo na boca do estômago e falou rapidamente: — Você parece ocupado. Eu... não devia ter interrompido. — Tudo pode esperar — ele esperou também e depois suspirou. — Cally, não me faça agarrá-la. Relutantemente, ela atravessou a sala e ficou diante dele. Nick pegou a mão que ela não estendeu e depois a outra, puxando-a em sua direção, entre suas pernas, até seus corpos se encontrarem. Ela ficou quieta, em silêncio, imóvel, presa na rígida extensão das coxas dele, ciente do calor que atravessava seu vestido fino, ainda incapaz de encará-lo. Ela podia sentir o coração disparar como um pássaro se debatendo em uma gaiola. Ele falou suavemente: — Querida, olhe para mim. Ela conseguiu obedecer. — Nick, por favor — sussurrou. — Aqui não... não assim. — Que diabos pensa que quero? — Eu... não sei. — Você fala de gratidão, mas não demonstra — falou suavemente. — É muito um marido pedir um beijo à esposa? Ele soltou as mãos dela, tocando seus ombros. Deixando que os dedos deslizassem pelas costas dela, até os quadris. — No nosso casamento, você me beijou — ele falou. — Todos estes meses eu não pude esquecer a suavidade de seus lábios. Beije-me de novo, Cally, como fez naquela manhã. E não finja que esqueceu. Esquecer? Ela queria gritar de agonia. Como poderia ter esquecido quando todos os detalhes daquele dia a atormentavam, assustando-a? Especialmente o momento em que os lábios deles se encontraram para selar os votos. Sua inocência, ela pensou, oferecida livremente para a paixão dele. Uma menina que confiara que a alquimia perfeita do amor a transformaria em mulher.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven Mas apenas por algumas horas, e então o sonho fora desfeito. Ela falou: Lembramos das coisas de formas diferentes, talvez para mim não tenha sido nada de mais, talvez tenha sido quando percebi que gratidão nunca seria suficiente e por isso decidi fugir. — Então terei que tomar o que quero. A boca dele foi firme e repentina na direção dela, impondo uma sensualidade fria que a pegou totalmente despreparada. Ela tentou lutar, mas não havia como fugir da maestria com que ele abria seus lábios, com a língua estremecendo como uma chama contra a dela. Ele a virou ligeiramente, para que ela ficasse apoiada apenas em seu braço, enquanto a outra mão apalpava a protuberância de seu seio e seus dedos brincavam com o mamilo como uma experiência quase casual e, apesar das barreiras das roupas e do recolhimento dela, trouxeram-no irresistivelmente à vida. Ela tentou protestar, mas as palavras ficaram presas na garganta, presas contra a pressão dos lábios dele. O beijo dele se aprofundou, explorando os contornos mais internos da boca de Cally com a intensidade de um especialista. Tonta e esgotada, ela mal respirava. Não conseguia pensar ou esboçar qualquer tipo de defesa emocional contra os lábios dele ou contra o passeio lento daquelas mãos por todo seu corpo. E ela percebeu que em algum canto de sua mente, ele sabia disso muito bem. Que a batalha tinha terminado e ele vencera... No fim, ele levantou a cabeça e olhou para ela enquanto ela estava inclinada e palpitando contra ele. Os olhos cinza eram quase prata, pesados de desejo, enquanto, sem pressa, seus dedos penetraram na fenda de sua saia. Enquanto eles acariciavam a pele macia de suas coxas, ele suavemente os conduziu até a borda da calcinha dela. Cally prendeu o grito na garganta quando sentiu a inequívoca resposta de seu corpo. A necessidade incalculável que jamais pensou ter superado. Dentro dela, sentia o primeiro jorro de paixão, ordenando que o apetite que ele despertou fosse apaziguado. E logo. Ela tentou falar o nome dele e sua mão tentou alcançar a frente da camisa dele, para puxá-lo contra ela, para sua boca trêmula e ansiosa, para o calor intenso de sua primeira rendição. Mas em vez disso, o estímulo dele foi deliberadamente interrompido e depois recolhido. E Cally se pegou sento levantada e cuidadosamente equilibrada enquanto Nick olhava para seu rosto enrubescido e sacudia a cabeça lentamente. — Por mais que lamente, querida, devo deixá-la ir. Ela pensou que ele não parecia lamentar. Na realidade, sua voz era serena, quase contendo um tom de prazer. Ela olhou para ele descrente, enquanto uma pequena onda de agonia começava a crescer dentro dela, misturada com raiva, o feitiço que a escravizara lentamente se dispersando. “Oh, Deus", pensou horrorizada. “O que fiz? Não podia ter cedido tão fácil." Ele agora tinha certeza sobre ela... e sobre ele... Mas ela devia ter impedido, empurrado, não devia esperar que ele agisse. Estava pensando em quê? Na realidade, não estava pensando. Sua reação fora totalmente física, nascida dos meses

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven de abstinência que passou. Ela notou que Nick olhava para o relógio. — Em dez minutos tenho um encontro com um dos locatários, Ted Radstock — ele prosseguiu, quase casualmente. — E certamente você não gostaria que ele entrasse e nos pegasse juntos. — Sabendo disso... estou surpresa por... ter optado por me deter. — Não sei se foi uma escolha — ele falou. — Beijos podem ser perigosos, Cally. Com sua boca na minha... eu quase esqueço de tudo. — De qualquer forma — ela prosseguiu — eu não teria permitido que as coisas avançassem. Mais um momento e eu teria... saído daqui. — Não foi a impressão que passou. — Você acha que eu iria adiante, permitindo que passasse a mão em mim, me degradando? — Ela riu em escárnio. — Você me pegou de surpresa, foi isso. — Melhor do que não pegar — a voz dele era perigosamente macia. Quando Cally tentou sair, ele segurou seu pulso com força. — Que diabos está fazendo? — ela tentou se libertar. — Não vai fugir novamente. — Ele pegou o telefone e discou um número. — Estou impedindo. — Grande erro meu. Devia ter continuado correndo enquanto podia. — Provavelmente. — Ele se concentrou no telefonema — Sra. Radstock? É Nick Tempest. Podemos adiar a reunião ou Ted já saiu? Estou com um problema urgente. — Ele ouviu, sorrindo. — Certo. Eu ligo depois, Ele soltou o telefone e olhou para ela, o sorriso charmoso desaparecendo, substituído por um objetivo que assustava Cally, que começou a se debater. — Largue-me — ela falou, com a voz alta e sem respiração. — Está... me machucando. Solte-me, droga. — Quando eu quiser — respondeu Nick. — E só quando você me der o que desejo. Depende de você o quanto vai doer. Ele a pegou, puxando-a pelo braço na direção da porta. — Não! — Agora Cally estava desesperada, se debatendo enquanto ele a levava para as escadas. — Nick, por favor, está me assustando! A expressão dele era severa. — Por quê? A quantidade de virgens morrendo durante o sexo é estatisticamente insignificante. Eles chegaram no quarto e ele praticamente a jogou na cama. Cally ficou observando-o estarrecida enquanto ele retirava os sapatos, as meias e a camisa, partindo para o cinto. A voz dele era doce e suave. — Tire sua roupa também, querida. A menos que queira que eu o faça por você. Não, ela pensou, em algum canto paralisado de sua mente. Assim, não. Ela levou a mão à garganta para sufocar o grito que surgia. Ele foi para a cama e ela arregalou os olhos com pavor. Cally ouviu quando ele suspirou e sentou ao seu lado, mantendo uma distância cuidadosa

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven entre eles, e disse calmamente: — Por Deus, não me olhe assim. Juro que não foi o que planejei. Mas você me atinge como nenhuma outra mulher, Cally. Ele tirou gentilmente a mão dela da boca. — Relaxe, querida. Deite e deixe-me abraçá-la. Prometo que não irei machucá-la. Nada farei que não queira. Será que ele não enxergava que ela já estava machucada, arruinada por causa do ciúme? Não percebia que toda aquela gentileza era mais difícil de suportar do que qualquer outra coisa? — Por favor, não. — Ela se afastou. — Não entende? Não posso... suportar isso. — As palavras eram dela, mas não reconhecia sua voz severa. Eles ficaram em silêncio. — Como pode fazer isso? Como pode ir da rendição a essa neurótica resistência em alguns instantes? E por que aceitar o desafio se não é capaz de arcar com as conseqüências? Ela não olhou para ele. — Eu... pensei que pudesse. E sabia que deveria tentar, pelo bem de Gunners Wharf. Porque tive medo que cancelasse o acordo. Eles fizeram um silêncio mais profundo. Então Nick disse suavemente. — Ah, Deus. Cally notou que ele se levantou e pegou as roupas. Quando ele falou novamente, seu tom era aborrecido. — Entenda, Cally: é minha esposa e ainda tenho a intenção de deixar você partir após cumprirmos os termos de nosso acordo. Mas também não quero transformar minha cama em território de batalha. Quando quiser paz, procure-me. — E se isso nunca acontecer? — Ah, acontecerá — ele respondeu. — Nem que seja apenas por curiosidade feminina. E será um bom ponto de partida. — Ele se dirigiu ao seu quarto. — E Gunners Wharf ainda está a salvo. Tem minha palavra. Vejo-a no jantar. Cally permaneceu imóvel. Queria chorar, mas estava além das lágrimas. Seus olhos e sua garganta ardiam. Seu avô estava tão certo, ela pensou. Devia ter visto o perigo e evitado a companhia de Nick. Em vez disso, se permitiu distrair por sua ingênua reação. Por que ele se afastou dela, tão deliberadamente naquelas semanas em que ela foi pra Londres trabalhar? Sim, ela precisava de emprego, mas um sinal, uma palavra dele e teria ficado. Percebeu que estava desperdiçando lágrimas e que devia mudar sua vida. Aceitar que Nick não apenas era inatingível, mas francamente constrangido pela transparência dos sentimentos dela por ele. E então a doença de seu avô forçou seu retorno prematuro e sua chance de desistir de Nick foi arruinada. Ela pensou no momento em que Nick a pediu em casamento. Estava passando por muita coisa, pensou. E era muito jovem e ingênua para notar que ele nunca falou que a amava. Mas não precisava falar muito. A morte do avô dela o deixara com a faca e o queijo na mão.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven Ela só precisava dizer sim, acreditando que seu amor faria milagres. Que ele era seu herói. Até descobrir a realidade do casamento. E corria o risco de sofrer o mesmo tipo de humilhação de novo, se permitisse que Nick soubesse a verdade sobre sua fuga. "Fui porque não suportei ficar," pensou, "não suportei saber que nunca o teria por inteiro." E nada mudara. Porque, independentemente do quanto tinha tentado, nunca conseguira tirá-lo do coração. Mas teria anos para tanto. Uma vida inteira para aprender a deixar de amá-lo. Quando tudo terminasse... Tudo que Nick queria era o uso de seu corpo, pensou, e em retorno ela tinha que esperar gentileza, nada mais. "Esqueça a emoção," dizia a si mesma. "Olhe para isso como apenas uma outra transação comercial. E faça-o que deve ser feito sem discussão." "Dê a ele o que quer, começando por vestir o vestido de casamento hoje à noite. E depois do jantar, dê o que ele quer..." E sacudindo a cabeça, Cally enxugou as lágrimas. Cally se vestiu e foi se olhar no espelho. Parecia seu próprio fantasma, pensou. Mas devia ser por causa das lembranças. Estava tentada a trocar de roupa. Mas não o fez. Por um lado, não podia arcar com as conseqüências de não satisfazer os desejos de Nick. Por outro lado, ele precisava acreditar que aquilo não tinha importância para ela. Como o vestido, era algo que não significava nada para ela. Precisava guardar forças para as outras batalhas. A menos que conseguisse convencer Nick a ser razoável, devia pensar que estava lutando pelo futuro de seu filho... Não pensaria nisso agora. Não havia por que se atormentar com algo que ainda não tinha acontecido. Nick... Estava se vestindo também. Ela ouviu e sentiu-se tensa. Aquilo tinha que acabar. Ela desceu no último minuto. Nick estava na sala de estar, perto da porta, olhando para a escuridão. Quando virou para olhá-la, Cally viu que ele se contraiu, como se estivesse chocado. Cally sentiu os pêlos do pescoço arrepiarem em resposta à repentina tensão da sala. — Você está adorável — ele elogiou. — Obrigada. — O tom de voz dela era contido. Ele estava maravilhoso, ela pensou, de black tie. Na última vez que o via tão formalmente vestido tinha sido num baile local, quando esperou em vão que ele a chamasse para dançar e depois foi para casa chorar. — Teremos champanhe — ele prosseguiu. Entregou uma taça a ela e levantou a outra, em um brinde. — À vida — ele falou. — A vida — respondeu Cally nervosamente. O jantar era especial e Frank Thurston ficou para servi-los, o que tornava a conversa limitada a assuntos gerais. Depois do jantar, Cally sentou-se no sofá para tomar o café, observando Nick, que estava no sofá oposto. Ela lutou para encontrar as palavras certas, mas resolveu ser direta.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — Nick... preciso falar uma coisa. — Estou ouvindo. — Estou pronta para... cumprir os termos do nosso acordo. Ele levantou a sobrancelha. — Agora? — Havia um tom de incredulidade em sua voz. — Hoje à noite? Ela balançou a cabeça. Outro silêncio. Nick se levantou e falou: — Cally, há duas horas você achava que eu fosse o anticristo. Suas reviravoltas estão me enlouquecendo. — Desculpe. Comportei-me mal, eu sei. Acho que não queria sentir que estava sendo presa novamente. — Presa... no casamento comigo? — Bem, sim. O que posso dizer? Era jovem e estava assustada, não sabia o que estava fazendo. Agora apenas quero cumprir minha parte do acordo o quanto antes, terminar tudo logo, para que possa me liberar para minha vida. A menos que tenha mudado de idéia. — Não — ele falou suavemente. — Não mudei de idéia. — Então... o que acha? — Certamente. Por que não? Vamos acabar logo com isso, como disse. Deixe-me apenas terminar meu conhaque para ganhar coragem. Ela ficou estarrecida. Esperava algum tipo de reação, ou que ele viesse até ela para beijála. Ela ainda trazia na mente a lembrança recente de ter sido carregada no colo pelas escadas por ele, mas ele parecia ter esquecido. — Não sabia que precisava disso. — Ah — respondeu Nick. — Mas você não me conhece tão bem, não é? Pelo menos ainda não. Mas a noite é uma criança. — Sim. — Ela virou e foi para a direção da porta, ciente de que ele a observava. — Cally. — A voz dele a fez parar. Ela olhou e sentiu o coração disparar. — Não mude de idéia novamente e acabe trancando a porta. — O tom dele era ríspido. — Porque não vou achar a menor graça. — Dei minha palavra. — Ela falou diretamente, lutando contra um desapontamento que mal entendia. Ele balançou a cabeça e voltou para o conhaque. E Cally subiu as escadas sozinha.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven CAPÍTULO VIII

A espera parecia interminável. Cally andava de um lado para o outro no quarto. Havia uma camisola de voai e alças de seda sobre a cama. Havia dez minutos que ouvira Nick entrar no quarto dele, então ele logo chegaria. E certamente ela não gostaria de ser flagrada andando em círculos. Sentou-se na penteadeira e começou a pentear os cabelos para preencher o tempo vazio. Não era mais a ávida menina de um ano atrás, vivendo em um paraíso idiota que prometia amor nos braços do marido. Mas a experiência recente provara cabalmente o que o toque dele podia provocar. E Nick tinha consciência disso, então qualquer pretensão de resistência seria inútil agora. Ela retesou-se totalmente. Ele estava li. Entrara no quarto em silêncio, descalço, e estava atrás dela, olhando-a no espelho. — Não está coberta pelos lençóis? — A voz dele era calma. — Como pode ver... — Planeja ir para a cama vestida? — Eu... não tenho planos. Não tinha certeza do que esperava... — Pensei que tivéssemos concordado em acabar com as discussões — ele falou. — Comentei apenas porque não pode ficar sentada aí a noite toda. — Claro que não. Simplesmente pensei que seria melhor esperar... — Esperar o quê? Quer que eu tire sua roupa? É tudo que quero. — Não! — A voz dela saiu alta e defensiva, pensou. — Deus, não... — Então faça-o — ele disse suavemente. — E observarei. — Ele foi para a cama com ares de um homem que ia se divertir. — Leve o tempo que for necessário, claro. Ela se levantou, levando as mãos mecanicamente aos botões do vestido, tentando desabotoá-los com os dedos trêmulos. Ele realmente esperava que ela fosse tirar a roupa na frente dele? Não compreendia que ela nunca ficara sequer seminua na frente de ninguém? — Qual o problema, Cally? — ele perguntou em deboche. — Perdeu a determinação? — Sim. — A voz foi quase como uma expiração. Ele suspirou, ligeiramente impaciente e bateu na cama. — Venha até aqui. Ela foi devagar, sentando na beira do colchão com o corpo rígido. Nick começou a desabotoar o vestido com os dedos hábeis e sem paixão, como se estivesse tomando cuidado para não tocar a pele que revelava. Quando terminou, pegou a camisola. — Troque-se no banheiro — ele falou diretamente. — Se demorar mais de cinco minutos, irei a seu encontro. Cally correu com a camisola e a vestiu. O corpete mal cobria seus pequenos seios e a saia era longa e transparente. Ela saiu do banheiro. Nick estava na cama e seu robe, no chão. Ele a observou cruzar o quarto e se cobrir

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven nervosamente com o lençol. — Admiravelmente pontual — ele ironizou. — Nick, por favor, não zombe de mim. — Eu não o planejava. — Ele a tocou, puxando-a para perto, abraçando-a contra o calor de seu corpo, apoiando a cabeça dela em seu ombro. — Agora, durma. Eles fizeram uma pausa e Cally falou: — Eu... não entendo. — Eu mal consigo entender também. Mas foi um dia muito difícil, que tendia ao preenchimento da paixão. Mas só para um dos lados — ele acrescentou. Então, pelo menos se acostume com a idéia de dormir comigo, Cally. Acostume-se com meus braços em volta de você, pois daqui para a frente será assim. Ele apagou o abajur e a noite os envolveu. Cally conseguia sentir as fortes batidas de seu coração, a textura de sua pele, e sentiu um longo tremor dentro de seu corpo. De uma certa forma, seu sonho mais forte estava se tornando realidade. De outra, era seu pesadelo mais temível, pois abraçada por ele dessa forma sentia-se segura, e aquela era mais uma ilusão a ser descartada. Porque com Nick não haveria segurança. Tudo seria efêmero. E perigoso também, pois quando terminasse seria bem mais difícil conseguir se desconectar dele. Quando Cally abriu os olhos, estava começando a amanhecer. Ela se moveu lentamente, se espreguiçando. Virou-se e viu Nick deitado ao seu lado. — Bom dia — ele falou. — Já é dia? Parece cedo. — Está amanhecendo. — Amanhecendo? Mas nunca acordo tão cedo. — Pode me culpar por isso. Decidi acordá-la... assim. — Ele se inclinou na direção dela e gentilmente tocou seus lábios com os dele. — Alguma objeção? ― Não — Bom. — Ele a puxou para si, a mão tocando seus seios quase casualmente, como se ele a tivesse beijado para despertar milhares de vezes antes. — É o começo de um novo dia — ele sussurrou. — Hora perfeita para deixar todo o passado para trás, não acha? Ele encarou os olhos arregalados dela e então beijou-a novamente, mais profundamente, fazendo com que seus lábios se partissem para ele, permitindo que a língua dele brincasse com a dela delicadamente e sensualmente. Naquele momento, ela viu que não seria possível apagar o passado tão facilmente. Que ele sempre a assombraria. Sempre teria o poder de feri-la. E o fato de sua relação com Vanessa Layton não ter terminado traria mais sofrimento do que ela poderia suportar. Ela devia a si mesma lutar novamente, pensou. Sucumbir sem protestar seria vergonhoso. Ao mesmo tempo, notou que não era contra Nick que devia lutar, mas contra si mesma. Enquanto se rendia a Nick, um suspiro ficou preso em sua garganta e suas mãos abraçaram os ombros nus dele. — Querida. — A voz dele era sedosa enquanto ele retirava o cabelo do rosto dela, passava o dedo por sua bochecha e percorria a linha de sua garganta. Ela sentia a pulsação acelerar de

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven forma incontrolável enquanto ele a acariciava. Sentia uma excitação forte e quente, dentro dela. Ele a beijou novamente enquanto suas mãos brincavam e deslizavam sob as alças de seda da camisola, retirando-as por seus ombros. Ela ficou nua até a cintura. Nick levantou a cabeça e olhou para ela, enquanto seus olhos brilhavam intensamente. Ele começou a tocá-la novamente, a mexer nos montes delicados que desnudara, brincando com seus bicos rosados com as pontas dos dedos, enrijecendo-os, provocando prazer. Ela se moveu de forma inquieta, sentindo a respiração mudar, quando os lábios dele percorreram o caminho das mãos. A boca dele se fechou em seu mamilo, sugando-o gentilmente, provocando uma doce agonia com a ponta de sua língua. Ela se ouviu gemer suavemente, enquanto seu corpo arqueava demoradamente. — Sim, querida — ele sussurrou. — Sim. — Ele a descobriu, jogando o lençol para a beira da cama, tirando totalmente a camisola dela. Ele a levantou, abraçando-a, deixando que ela sentisse a abrasiva sensualidade de sua nudez contra a dela, enquanto a beijava novamente com uma paixão forte que pouco considerou a inocência dela. Era como se ele reconhecesse a necessidade úmida dentro dela e soubesse que ela não queria ser poupada. Ela começou a acariciar os ombros dele, as mãos demonstrando urgência enquanto se movimentavam por suas musculosas costas. Por quanto tempo pensara como seria tocá-lo, imaginara como seria seu toque? E agora cada sonho se tornava uma realidade sensual. Cally percebia a mão dele acariciando seus quadris, se movendo para sua barriga lisa e então para baixo, em uma demanda vagarosa, para a união de suas coxas. Seu ligeiro gemido foi sufocado pela boca dele, quando gentilmente criou uma passagem para sua intimidade, quando a convenceu, sem palavras, a aceitar a exploração de sua parte mais secreta. Ela se perdeu imediatamente, seu corpo chocado foi transportado para outra dimensão, se contorcendo, quase soluçando sob os hábeis dedos que deslizavam de forma tão experiente em seu interior úmido e quente, tocando o pequeno botão escondido que de alguma forma era o centro de todo o prazer e trazendo-o para uma explosão irresistível. Ela queria que ele não parasse, que nunca parasse. Ela percebeu que era como se o ultimo resquício de controle que havia dentro dela estivessem sendo lentamente desfeito. E não havia nada que pudesse fazer para evitar. Quando o último fio se partiu, ela sentiu os primeiros tremores de prazer crescendo dentro dela e gemeu em uma espécie de medo. Então, de repente todo seu corpo estremecia em sensações intermináveis de um êxtase quase agonizante. E não havia mais lugar para o medo. Ela podia ouvir os próprios gemidos. Sentia cada pulsação reverberando em cada terminação nervosa, cada gota de sangue que possuía. No fim, toda aquela turbulência começou a diminuir e quando ela ficou deitada, atordoada, seu corpo totalmente relaxado nos ecos finais do êxtase, Nick começou a penetrar gentilmente dentro dela. Ofegante, ela encarou o rosto dele. Os olhos cinza eram prata. — Estou machucando? — A voz dele era calma, mas urgente, e ela virou a cabeça em uma negação instantânea, ainda encarando-o, atônita por tudo parecer tão simples e tão certo. Vendo

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven como era ser totalmente possuída. Feliz com a própria capacidade de receber e absorver tamanha potência. Algum instinto feminino não conhecido fez com que levantasse as pernas para abraçá-lo, permitindo que ele se aprofundasse mais, e ela ouviu-o gemer suavemente em resposta quando ele começou a se movimentar, com o ritmo lento e poderoso, inicialmente, aumentando depois. E Cally se movia com ele, suas mãos enterradas nos ombros suados de Nick, refletindo cegamente cada penetração masculina. Ele falou: — Querida... meu doce anjo — ela ouviu a repentina mudança na respiração dele e então o corpo dele estremeceu fortemente contra ò dela. O silêncio que se seguiu foi profundo, interminável. Ela pensou que ele tivesse adormecido. Mas ei se moveu, saindo de dentro dela. — Você está bem? — ele perguntou. Ela balançou a cabeça, mas ele não teve certeza. Era sua primeira experiência sexual, e tinha sido sensacional. Mas isso era de se esperar de Nick. Afinal, ele tinha toda uma reputação a preservar. Começou a sentir-se perdida, e notou que estava prestes a chorar. Porque para ele, fora apenas um meio para um fim e o prazer tinha sido apenas conseqüência. E um dia ela partiria com a única memória de prazer assombrando-a junto com tantas outras coisas. — Não tem nada a dizer? — O tom de Nick era preguiçoso. O conquistador, pensou. Analisando outra vitória. Ela se afastou um pouco. — Se tiver terminado comigo, vou tomar um banho. — Pegarei champanhe — ele falou. — E vamos beber juntos. E então veremos se terminei ou não com você. Ela podia ouvir o sorriso da voz dele e se ressentiu De quantas mulheres precisava implorando seus favores? — Prefiro ficar sozinha. Eles ficaram em silêncio. — Cally, qual é o problema? Ela virou de costas. — O que quer ouvir? Que o sexo foi fantástico? Ou prefere aplausos? — Oh, acho que a aprovação deve vir de minha parte. Você tem um talento natural, querida, que pretendo explorar. — Pode não ser necessário — ela falou. — Afinal posso ter tido sorte e engravidado. — É possível — ele falou. — Então... teremos que esperar para ver. — Sugestão interessante — respondeu Nick — Mas já esperei demais. Além disso, não podemos garantir que tenhamos acertado o alvo de primeira e detestaria pensar que tive que passar por todo este Problema para ser desapontado. — O que quer dizer? — Que você vai continuar a dormir comigo, com tudo o que tem direito, até que a possibilidade se torne uma certeza. — Ele pegou o robe. — Agora vá tomar banho. Pode se esfregar com ácido, ainda assim não vai conseguir se livrar de mim. Ela olhou para ele. — Nick, por favor...

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — Eu quero você, Cally, e pretendo tê-la sempre que desejar. Querida, você ainda tem muito a aprender e terei prazer em ajudá-la. Ele saiu, batendo a porta. Cally ficou para trás. Fora longe demais. Preferia não ter dito o que disse. Por que não se rendeu ao desejo inicial e se aninhou nos braços dele para aquecer o desejo mútuo? Em vez disso, resolveu tentar salvar algum vestígio de orgulho. Estava tentada a segui-lo, mas o que poderia dizer sem acabar contando todas as coisas que não podiam ser mencionadas? Coisas como "Eu amo você", pensou Cally. Parecia que ia chover. Cally pensou que deveria voltar para a mansão, pois Baz detestava chuva e ela saíra sem casaco. Mas o par de horas que dedicava a ele diariamente eram também seu tempo pessoal. Era como se sua vida com Nick fosse dividida em duas linhas paralelas, que nunca se encontravam. Durante o dia ela cuidava da casa, recebia amigos e freqüentava eventos sociais. Seguindo instruções de Nick, convidava pessoas para jantar e agia como anfitriã com sucesso. Adele ainda ocupava a Dower House e encontrava desculpas para ir diariamente à mansão perturbar Cally, que geralmente ficava muito irritada depois das visitas. Mas Adele era o menor de seus problemas. Sua relação com Nick era o principal deles e preenchia sua mente e seu coração. As palavras duras que trocaram algumas semanas antes foram a última conversa que tiveram. Quando ele estava em casa, se encontravam nas refeições, conduzidas silenciosamente ou com conversas formais. Todas as manhãs Nick cavalgava antes de sair, mas nunca convidava Cally para acompanhálo. E ela evitava os caminhos dele, quando cavalgava Baz. Outras vezes ele trabalhava no escritório e deixava claro que não queria ser interrompido. Ele a tratava como a um funcionário, pensou. Houvera um tempo em que pensava que essa seria a solução, mas estava errada. E o padrão era seguido nos jantares e eventos sociais em que tinha que acompanhar Nick em Londres. Em público, Nick era o marido mais atencioso e charmoso que podia haver. E só Cally conhecia sua frieza quando estavam juntos. Exceto à noite... Nick pusera em prática tudo o que dissera na primeira vez. Eles não passaram nenhuma noite separados desde então, mesmo quando ele tinha que trabalhar e voltava tarde da noite para casa, muito cansado. Nessas ocasiões, simplesmente virava de costas e dormia, enquanto ela ficava ao seu lado, olhando pra a escuridão profundamente isolada. Nesses momentos, Cally tinha vontade de se aproximar de Nick para abraçá-lo e deixar que aliviasse o cansaço recostado em seu corpo. Mas nunca ousou tomar a iniciativa. Porém, não podia dizer que era rejeitada. Eram poucas as noites em que não faziam amor. Mas era amor mesmo? Podia assim descrever aquela teia de desejo que ele teceu ao redor dela de forma tão habilidosa para mantê-la presa? Porque, diferente da primeira vez,, quando ele

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven a tomou com ternura e carinho, tudo parecia curiosidade insensível. Uma demonstração de técnica sexual, em vez de paixão incontrolável. Uma aula em que ele tratava seu corpo como um instrumento afinado criado para o prazer, e em que a habilidade dela de responder parecia ir ao limite a cada vez. Uma vez tentou resistir para que ele a visse mais como mulher e menos como objeto sexual. Só para que Nick a levasse à beira do orgasmo repetidamente, deixando-a insaciada até que ela implorasse para que a fizesse gozar. Desde então, quando ele a queria, ela ia silenciosamente para seus braços, enquanto seu corpo ganhava vida com as carícias de suas mãos e boca. Era tudo o que tinha dele. Porque depois não havia nada. Apesar de ela desejar que ele a abraçasse até dormir, ele virava de costas sem dizer nada. Mas não podia culpá-lo, reconheceu. Não fora assim que tinha agido com ele na primeira manhã? Devia ter esquecido o orgulho e se entregue. Ter corrido o risco. Mas era tarde. Porque estava grávida. Tinha certeza. Só precisava da confirmação médica. E Nick devia saber, apesar de não ter dito nada, provavelmente esperando que ela falasse antes, que admitisse estar grávida. Então por que hesitava? Por que não dizia o que deveria? Porque de acordo com os termos do contrato, seria o começo do fim. Quando admitisse que estava grávida, daria o primeiro passo para terminar o casamento. Sabia que devia contar a Nick para descobrir quais seriam suas intenções a longo prazo. Desde que engravidara, ficava lembrando das palavras dele sobre custódia compartilhada e decisões futuras. Não havia casamento real entre eles. Eram apenas estranhos que se encontravam na cama à noite. Não havia amizade ou afeição. Ela tinha feito o que ele queria e ele a liberaria. Deixando o bebê para outras pessoas cuidarem, ou até mesmo Vanessa Layton. Cally afastou o pensamento. Ela dissera a Nick que queria ficar sozinha. Que queria seguir com sua vida sem obstáculos. Insistira nisso. Ela olhou para o céu ao ouvir um trovão. — Hora de ir para casa, amigo — disse para Baz Então ouviu um latido desesperado. —'Mas antes vamos ver o que está acontecendo. Ela cavalgou entre as árvores para encontrar u cachorro preso em um buraco de coelho, latindo e desespero. Cally conseguiu libertar o animal, que retribui imediatamente mordendo sua mão. — Não teve graça — falou Cally. — Mas sei com é ficar preso, então o perdôo. Enquanto eles saíam dali, ela ouviu um assobio e uma voz. — Tinker! — Um senhor apareceu e viu Cally com o cachorro. — Em casa ele não causa problemas, mas sempre que o levo para fora ele apronta. Querida... isso na sua mão... foi ele? — Sim — admitiu Cally. Mas não é nada. — Deixe-me limpar a ferida. — Não precisa.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — Eu insisto. Além disso, vamos ficar ensopados. Meu nome é Geoffrey Miller — ele falou. — E eu sou Caroline Maitland. — Teria sido um ato falho ter dado o nome de solteira? — Já conhecia Tinker, ele foi a um piquenique em que eu estava. Está de férias? — Não. Estou passando alguma semanas com minha filha. Convencendo-a de que serei capaz de viver sozinho. Ela se preocupa comigo. E tem tanta coisa mais com que se preocupar. Recentemente, passou a vida entre dois hospitais. Visitava-me pelas manhãs e passava as tardes com o marido. Ela é muito corajosa e esperançosa, mas creio que não há mais chances. — Sério? — Está em coma desde de um acidente sério, há cerca de dois anos. Os exames mostraram forte comprometimento cerebral. Mas ela não desiste. Conversa com ele, lê para ele, mas ele não responde. Acho que será apenas questão de tempo. — Isso é horrível — falou Cally. — Estamos chegando — ele anunciou. E de repente Cally notou exatamente para onde ia. E por que não poderia continuar. Tentou desesperadamente encontrar uma desculpa. — E ali está minha filha, esperando no portão. — Ele acenou para ela. — Estamos seguros, Vanessa. E tenho uma visita. E com o barulho de um trovão, o mundo caiu.

CAPÍTULO IX

Cally teria dado tudo para desaparecer galopando montada em Baz. Como consolo, ela viu que Vanessa Layton parecia igualmente aflita. Cally sentiu corar. — Prefiro ir para casa. Não queria me intrometer. — Nesta chuva? Nem pensar. — retrucou Geoffrey. Ele se virou para a filha. — Tem lugar para o cavalo lá atrás, querida? Vanessa saiu de seu estado hipnótico — Sim... claro. — Ela tinha uma voz doce. De perto, seu rosto tinha traços de tristeza que a beleza não conseguia apagar. — Mostre a sra. Tempest onde ficam as coisas, pegarei água. — Tempest? — ele perguntou. — Não é o nome do proprietário deste chalé, Vanessa? — Ele olhou para Cally confuso. — Você falou Maitland. Cally enrubesceu ainda mais. — É meu nome de solteira. Ainda não me acostumei ao casamento. — Vou pegar o curativo para sua mão. Entre Como poderia imaginar uma situação daquelas? Enquanto prendia Baz, Vanessa se aproximou com um guarda-chuva. Cally se desculpou: — Desculpe, não foi intencional. — Papai me explicou. Mas acho que nosso encontro seria mesmo inevitável. — A voz dela

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven era fria. — Liguei para a mansão e avisei que foi pega pela tempestade. Estão enviando um carro. — Obrigada, é muito gentil. — E surreal também. — Não diga isso — respondeu Vanessa. — Certamente não quer passar mais tempo aqui do que precisa. — Tem razão. — Mas preciso lhe pedir um favor. Como sabe, papai pensa que Nick e eu temos apenas uma relação comercial. Ele não tem idéia de que há uma outra relação e não pode saber. Então, eu imploro, não fale nada sobre ele. — Por quê? — Cally não queria se meter em nenhum conluio com a amante de Nick. — Sua imagem de filha perfeita seria prejudicada? — Ele ficaria arrasado. Elas ficaram em total silêncio. Uma voz berrava na cabeça de Cally. "E quanto a mim? Também fiquei arrasada, ou isso não conta?" Então ela pensou que Geoffrey Miller acreditava claramente que a filha fosse a esposa devota. Por que sua ilusão seria cortada descobrindo que ela tinha um tórrido caso com um homem casado? — Não se preocupe — ela falou. — Seu segredo está a salvo. Na realidade, não acho importante mencionar. — Obrigada. — O tom de Vanessa era curto. — Podemos entrar agora. Mas cuidado para não escorregar. Certamente não quer arriscar cair agora. Na realidade, provavelmente não deveria nem cavalgar. Cally parou, completamente tensa, com os olhos embaçados. Oh, Deus, pensou. Não... Ele não apenas sabia como contara para ela. A voz de Cally era trêmula. — Você não tem... o direito de se intrometer. Ou comentar. E se eu precisar do seu maldito conselho, pedirei. Vanessa olhou para trás. — Você não se importa de carregar um filho de Nick? — Está com ciúmes, sra. Layton? — As palavras horríveis saíram sem que ela pudesse controlar. — Queria que o filho fosse seu? A dor nos olhos da outra mulher quase a fizeram recuar. — Isso jamais seria possível, sra. Tempest, e tenho certeza de que já sabe. Meu pai está esperando. Apesar de Cally tentar se esquivar, Geoffrey Miller a esperava para fazer o curativo. Vanessa se recolheu. Enquanto Cally tomava o chá, ouviu o barulho do carro. — Parece minha carona. — Ela levantou, apressada. — Obrigada, sr. Miller. — Sinto muito por não ter tido oportunidade de conversar mais com Vanessa. Mas haverá outras chances. Cally esperava que Margaret ou Frank tivessem vindo, mas avistou Nick. Entretanto, notou que ele não estava sozinho, para sua ira. De alguma forma, Vanessa não estava mais lá em cima e caminhava ao lado dele, falando rapidamente, enquanto ele ouvia.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven A visão dos dois juntos foi um tormento forte demais para agüentar, e Cally sentiu-se enjoada. — Minha querida, está passando mal. — Geoffrey segurou o braço dela. — Ajudem, a sra. Tempest está desmaiando. Então Nick chegou, segurando com firmeza seu corpo. — Deixa que a pego. Precisa ir para casa descansar, só isso. Ela falou: — Por favor, estou bem... — enquanto tentava se libertar. — Você vem comigo, Cally, agora. Ele a sentou no banco do carona para levá-la para casa, impaciente. — Obrigada — Cally respirou fundo. — Você deve estar imaginando... — Imaginando? — interrompeu. Ele estava enfurecido. — Vim para casa para ser informado que minha esposa grávida estava cavalgando no campo em uma tempestade no lombo de um cavalo com problemas cardíacos. Foi necessário uma vizinha telefonar para dizer onde estava! Uma vizinha, ela pensou. Nick socou o volante. — De agora em diante, você se exercita sobre suas duas pernas! Entendeu? — Eu estava perfeitamente segura — ela protestou. — Mas Baz é velho! Se ele passasse mal e caísse, você se machucaria. Não quero que corra o risco. Cally respirou fundo. — Por que veio? Devia é estar em Londres o dia todo. — Adiei as reuniões — ele falou. — Minha mãe chegou. — Mas ela não viria em duas semanas? — perguntou. — Decidiu antecipar a viagem. Eu liguei para avisá-la, mas você não estava em casa. Que diabos pensa que estava fazendo? — Eu... não fui ao chalé deliberadamente — ela respondeu. — Foi uma sucessão de incidentes, mas não fui bisbilhotar. — Eu sugeri isso? — Nick parou o carro na estrada. — Cally, não podemos continuar assim. Precisamos esclarecer umas coisas, especialmente agora. E preciso falar com você, explicar sobre Vanessa. Devia ter feito isso há muito tempo. — Não precisa. — Doía respirar. — Porque já sei de tudo. Ele levantou as sobrancelhas, descrente. — Ela contou? — Não. Eu soube... antes. — Não acredito. Como podia? Sempre fomos tão cuidadosos... Onde ouviu isso? — De Adele, naturalmente. Quem mais? Ela falou que era fofoca — acrescentou. Agora ele perguntaria se essa havia sido a razão de ter fugido. E ela não tinha certeza se estava pronta para sobreviver ao tipo de revelação que estava por vir. — Deus, Adele. Isso está passando dos limites. Mas temos que enfrentar. Sobre o que você e Vanessa conversaram? — Nada de mais. Ela me deu uns conselhos que não pedi e me pediu para não mencionar sobre a relação de vocês para o pai dela.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — E você concordou? — Por que não? Não é da minha conta. Afinal, provavelmente não encontrarei a sra. Layton novamente. — Pensei que pudesse ser um pouco mais compreensiva. Ela está com problemas sérios. — Foi o que o pai dela disse — ela respondeu. — De acordo com ele, ela é a esposa perfeita. — Pensei que fosse — respondeu Nick. — Mas o acidente da estrada interveio. Agora ela está no purgatório. "Não", pensou Cally com raiva. "Ela tem você. Eu estou no purgatório!" — Devemos ir. Sua mãe está esperando. — Minha mãe está descansando. E ainda temos assuntos a resolver, especialmente quando falamos de Vanessa. — Não me diga — respondeu Cally ironicamente. — Seria melhor se evitasse falar nela. — Ele hesitou. — Na realidade, é essencial. — Quer dizer que sua mãe ainda tem ilusões? Que importa? Pode deixar. Algo mais? — Outra coisa — falou Nick lentamente. — Seu precioso segredo. Quando me diria que teremos um filho? Ou pensou que tudo sumiria e acordaria de manhã como se não tivesse passado de um pesadelo? Cally enrubesceu. — Antes de falar alguma coisa, queria ter certeza. — Que sintomas a teriam convencido? — perguntou Nick, rindo. — O trabalho de parto? — Não ria de mim. — Acredite — ele falou — nunca senti menos vontade de rir em toda minha vida. — Não era tão segredo assim, pois você já sabia. Você chegou até a contar para sua... sra. Layton. E certamente já falou para sua mãe, por isso ela veio mais cedo. — Será seu primeiro neto — ele disse. — Deve estar muito feliz e certamente espera que também estejamos. Então você terá que aprimorar o desempenho de esposa devotada. — Não se preocupe — falou Cally. — Estou me tornando especialista em fazer os outros de bobos. — É verdade. — Talvez precise praticar também — ela falou. — Para alguém que conseguiu exatamente o que queria, nem parece contente. — Claro — ele respondeu ironicamente. — Quase esqueci. Devemos nos comportar como futuros pais, Cally? Devemos nos abraçar e chorar de felicidade? Devemos discutir sobre o sexo e fazer listas de nomes? — Ele pegou o queixo dela para que o encarasse, enquanto seus olhos brilhavam como gelo. — Devo me assegurar, minha doce esposa, que nem sequer uma brisa a atingirá nos próximos sete meses? E de repente ela viu a imagem de Vanessa sorrindo levemente. Uma imagem que a assombraria, ela sabia, por todos os dias que ainda passasse com Nick. Seu estômago começou a arder novamente de ciúme, e ela chorou lágrimas pesadas. Sua voz soava fraca e ela afastou a cabeça com medo de que ele lesse seus olhos. — Ou devemos apenas nos felicitar pelo acordo bem-sucedido? Ela retirou o cinto de segurança e abriu a porta.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — E agora, se me der licença, vou vomitar. Nick chamou uma médica para Cally. — Não precisa ficar usando agasalho, mas seu marido só está pecando por excesso de zelo. A senhora está muito bem, sra. Tempest, apesar de um pouco tensa. Então aproveite o paparico. Mais uma coisa: nas próximas semanas, evite ter relações sexuais, só por precaução. — Claro — Cally respondeu. — Mas depois do quarto mês, está liberado. Seu marido estava muito preocupado com a crise de choro que teve mais cedo, mas expliquei que variações hormonais acontecem. Cally enrubesceu. — Acho que foi mais a humilhação de tê-lo segurando minha cabeça enquanto eu vomitava. — Acho que ele agiu muito bem. Afinal, é filho dele também. Ela estava deitada na cama quando Nick entrou. — Estou muito bem para ficar deitada como uma inválida. E com fome também. — Bom. — Ele fez uma pausa. — Quer dizer que vai jantar conosco? — Acho que sim. Ainda tenho que conhecer sua mãe. Não vou falar sobre a sra. Layton, dei minha palavra. — Obrigado. Desculpe incomodá-la com isso, mas Vanessa tinha planejado passar a semana que vem fora, quando minha mãe estivesse aqui. Cally respirou fundo. — Ela é pura discrição, não? — Você fala como se a culpasse por toda esta confusão. — Não estou aqui para culpar ninguém. Além disso, realmente não é da minha conta. — Então vamos tentar fazer uma refeição agradavelmente. Vejo você lá embaixo em uma hora. Cally desejou que ele a beijasse, mas ele simplesmente levantou e saiu. Ela não ficou apenas descansando, ficou pensando em uma forma de tirá-lo de seu coração. E os comentários da dra. Hanson sobre sexo deram a ela uma idéia de fechar a porta de comunicação dos dois quartos da suíte. Porque manter a distância podia ser sua única forma de sobreviver. O cumprimento da sra. Tempest foi amigável, mas não efusivo. Era reservada. — Acho que era mais fácil engravidar anos atrás — ela mencionou. — Não havia tantas preocupações e tantos tabus. Mas também não havia ultra-sonografias. Vocês vão querer saber o sexo do bebê antes? Cally sacudiu a cabeça. — Acho que... não. — Bem, eu quero uma menina. Mas só se ela parecer com a mãe. Cally corou e notou que a sra. Tempest levantou as sobrancelhas. Nick estava exagerando, pensou, pois não sou nenhum ideal de beleza. Durante o jantar, a sra. Tempest falou que não ficaria o tempo todo com eles. Usaria a mansão como base, mas se deslocaria pelo país. Ela era uma pessoa ótima, com excelente conversa, entretendo os dois por todo o jantar. Mas Cally também estava ciente de que estava sendo avaliada o tempo todo, o que era

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven desconfortável. Ela também notou que mesmo morando na Guatemala, a sra. Tempest estava bem a par do que acontecia em Wylstone, o que provava que se correspondia com Nick mais freqüentemente do que Cally pensava. — Espero que a mulher abominável de Ranald não venha fazer uma visita enquanto estou aqui — falou. — É pouco provável. Ela foi para a França, onde ficará durante algum tempo — respondeu Nick. Cally ficou estarrecida. Meu Deus, quem mais ele podia manipular? Primeiro Vanessa desapareceria. Agora era Adele, pois ele precisava calá-la. — Não foi uma decisão repentina de Adele? — perguntou. — Não exatamente. Ela sempre vai. — Mas ela ainda ocupa a Dower House, o que é uma pena — falou a mãe dele. — Não por muito tempo, espero — afirmou Nick. — Pretendo esclarecer que tenho planos para o local. — Por um momento, Cally sentiu o olhar dele sobre ela. Será que era parte do plano diabólico dele? Ela deveria morar na Dower House? Teria acesso ao bebê de acordo com os termos dele, vivendo sob sua supervisão? Apesar de assustador, que outras chances teria? Porque seu plano original de ir embora estava fora de cogitação. Logo que engravidou, viu que teoria e prática eram totalmente diferentes. Não serviria apenas de procriadora para Nick. O bebê era seu, crescia dentro dela, dependia dela para tudo. E desistir dele para ter uma vida era impensável. Nunca pensara que pudesse se sentir assim. Que algumas semanas poderiam mudar o que pensara a vida toda. Só sabia que não deixaria o bebê para que fosse educado por estranhos. Especialmente Vanessa Layton. Será que Nick seria tão cruel? Ela tinha acabado de ver o quanto ele era engenhoso em mexer as peças pelo tabuleiro. Mas logo seria sua vez. — Você parece cansada, Caroline — falou a sogra. — Nick, por que não leva sua esposa para a cama? — Excelente idéia. — Nick estendeu a mão para Cally, que se levantou relutantemente. Seu coração batia acelerado, protestando contra o confronto que viria em seguida. A menos que Nick decidisse não seguir as regras do próprio acordo. Eles chegaram no quarto em uma situação melhor do que a das semanas anteriores. Mas ela não podia fraquejar agora. Devia se proteger. Nick pegou a camisola sobre a cama e começou a tirar o paletó e a gravata. — O que está fazendo? — Despindo-me. Faço isso todas as noites, não sei se notou. — A dra. Hanson não... falou com você? — Sim. Ela sugeriu abstinência. Mas acho que é um pouco tarde para nos preocuparmos com isso. Mas não vou expor o bebê a nenhum perigo, prometo.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — Então por que está aqui? — Você é minha mulher, Cally. Esta é nossa cama. Onde mais deveria estar? — Vai ignorar a médica? — Por Deus — ele falou. — Estou planejando carinho, não uma orgia. — E eu contava com paz e calma. Agora que... atingiu seu objetivo, não há mais razão para ficar aqui. Gostaria de... ter minha privacidade de volta. — Então por abstinência você entende banimento total? É isso? — A menos que tenha objeção. — Tenho tantas que seria impossível listá-las. Mas não creio que nenhuma delas fosse fazer bem e não vou implorar pelo direito de dormir com você, Cally. Ele pegou as roupas e foi para a porta de comunicação. — Boa noite. A porta foi fechada e Cally desejava não se sentir tão só. Era apenas a primeira etapa, falou a si mesma. O movimento inicial na direção da inevitável separação. Apenas uma das tantas decisões difíceis que teria que tomar. E a mais importante era achar uma forma de deixar de amá-lo.

CAPÍTULO X

razão.

Cally socou o travesseiro mais uma vez na escuridão e então falou: — Isso é ridículo. Estava morta de cansaço, por que não conseguia dormir? Tinha insônia, e sabia bem a

A cama grande parecia um imenso vazio sem Nick. Ela o procurava, encontrando apenas solidão. E não era bom dizer a si mesma que teria que se acostumar. "Não posso continuar assim", pensou. Pegou uma lanterna para não chamar atenção e foi em direção à porta de comunicação. Ela parou na passagem para ouvir, mas não havia som no quarto, portanto parecia seguro entrar no banheiro. Certamente um dos armários teria algum medicamento para ajudá-la. Mas não encontrou nada. Caminhando no escuro, ela. deixou cair uma lata de creme de barbear na pia. No silêncio da noite, o barulho parecia uma tempestade. Ela tentou segurar outras coisas que iam cair e a lanterna apagou. — Ah, não — sussurrou ao se ajoelhar para tatear no escuro. O banheiro foi inundado por luz e Nick falou, atônito: — Que diabos...?

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven Ela olhou ao redor defensivamente, como se procurasse o lampião. — Desculpe, estava tentando não fazer barulho. — Imagine se quisesse fazer! — O tom dele era casual. — Foi um acidente — ela murmurou, se levantando. — Estava apenas procurando algo para conseguir dormir. — Estava mesmo? — perguntou Nick com prazer. — Sinto muito, mas não encontrará e, mesmo se achasse, não tomaria nada que não fosse prescrito pela médica, pois eu não deixaria. Fui claro? Agora vá para a cama enquanto limpo esta bagunça. — Para que ir para a cama? Não consigo dormir. — protestou Cally. — Talvez devesse cortar o café depois do jantar — ele falou. — Será que leite quente ajuda? Quer que eu traga? — Não... sei. — Ela hesitou. — Já causei muito problema. Ele falou diretamente: — Você não sabe da missa a metade. — Nick se aproximou e antes que ela pudesse impedir, tomou-a nos braços e a levou para a cama. — Meu Deus — ele falou. — Parece um desastre., — Ele a sentou em uma cadeira e começou a arruma os lençóis. Nick a tratava como criança, pensou, quando precisava desesperadamente ser sua mulher. — Pronto sra. Tempest. Agora pegarei seu leite. Quando ele saiu, ela foi para a cama, se cobrindo. Não que ele se importasse por ela estar vestindo uma camisola transparente, pensou. Mal olhara para ela. Mas antes, ele quis dormir com ela. Nada mais. E ela sabia agora, com toda certeza, que queria também. E muito. Precisava sentir seu abraço e sua proteção. Vanessa Layton era uma mulher bonita, mas ela, Cally, tinha suas próprias armas. Era esposa de Nick, por Deus, e carregava seu filho. Então por que concedera vitória à rival tão prontamente? Amava Nick desesperadamente, por que não lutava por ele? E persuadir Nick a voltar para a cama parecia um início óbvio, pensou, tirando a camisola e jogando-a no chão, onde ele ficaria surpreso de encontrá-la ao retornar. Ele voltou logo, entregando uma xícara a ela. — Leite quente — falou — com mel e um pouco de canela. Ela bebeu o leite, que estava deliciosamente re-confortante. — Espero que o leite ajude. Boa noite, Cally. — Nick. — Ela colocou a xícara vazia na mesa de cabeceira e pegou a manga do robe dele. — Não vá, por favor. — E então se afastou, mostrando os seios. Beije-me, implorava em silêncio. Toque-me. Ele de repente ficou sem expressão. — Há algumas horas você queria se livrar de mim. — Estava me sentindo um pouco insegura. Culpa dos hormônios.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — Ou talvez do mesmo instinto que a fez fugir de mim ano passado. — Ele a encarou diretamente. — Talvez estivesse certa, Cally. Era o que seu avô precisaria. — Meu avô? O que quer dizer? Ele moveu a cadeira e se sentou. — Eu fui até ele — Nick falou calmamente. — Falei que queria me casar cora você e pedi permissão para namorá-la, uma coisa antiga. Pensei que ele fosse apreciar. Mas estava errado. Ele deixou bem claro que eu não deveria me aproximar de você e que ele faria o possível para garantilo. — Ele falou isso? Mas por quê? — Oh, ele tinha uma lista de razões. Foi muito franco. Eu era muito velho para você. Ele condenava meu passado, desconfiava de meu futuro e desprezava minha vida na época. E quando sugeri que a união de dois virgens não era receita de felicidade, ele me chamou de canalha e me expulsou. Ele fez uma pausa. — Parece que havia um problema com meu pai. Anos atrás, ele investiu em sua mãe. Não conseguiu nada, mas era um incidente que claramente ainda feria seu avô e que me colocava no mesmo nível. Ele sorriu levemente. — Mas acredite você, era muito querida para ele, Cally, mesmo que nem sempre ele demonstrasse. E provavelmente estava certo. — Quando foi isso? — Não muito depois de termos nos conhecido. Um pouco antes de decidir morar em Londres. Pensei que seu avô a tivesse advertido com relação a mim e você estivesse fazendo as coisas à sua maneira. — Você simplesmente desapareceu — ela falou, suavemente. — Houve um baile e você nunca me tirou para dançar. Eu nem o encontrava nas cavalgadas. — Eu precisava provar para seu avô e para mim que era capaz de me comportar decentemente — ele sacudiu a cabeça. — Então ele ficou doente e todos os problemas começaram a surgir. Eu deveria ter me mantido afastado. Mas em vez disso, decidi ajudar. Sabia que seu avô ficaria enlouquecido de descobrir que tinha algum tipo de laço comigo, e sinto muito por isso. Como resultado, hoje estamos aqui, cheios de problemas. Ele riu. — Minha culpa, claro. Eu deveria ter aceito sua mudança de sentimentos e deixado que partisse. Deveria ter dado o divórcio, em vez de tê-la arrastado até aqui e causado todo este problema. Ele se levantou. — Precisamos pensar nesse bebê que a forcei a ter. Pode não ser apropriado falar disso agora, mas talvez sua insônia se deva à preocupação com o futuro. E quero que saiba que não precisa. Tudo o que falei sobre custódia compartilhada, digamos que estivesse com raiva. Eu nunca tiraria o bebê de você, Cally, a menos que desejasse. — Eu nunca desejaria isso. A situação estava fugindo do controle dela. Podia sentir. Ela implorou: — Nick, ouça... Ele se levantou: — Deixe-me terminar, por favor. Pode morar onde quiser, ter quanto dinheiro quiser.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven Tudo será combinado. Espero que me deixe fazer visitas regulares, para que nosso filho saiba que tem pai. Talvez possamos criar uma relação de trabalho entre nós. Ele foi para a direção da porta. — E agora que sua mente está descansada, pode dormir em paz. Cally falou o nome dele novamente, mas o quarto estava vazio. Cally saiu com a sogra para fazer compras. Comprou algumas roupas para a gravidez e pensou que no fim, quando estivesse mais frio, precisaria de uns suéteres maiores. Se as coisas estivessem bem entre ela e Nick, pediria os dele emprestado. Estava ultrapassando terreno proibido. Ela e Nick eram estranhos bem-educados que dividiam o mesmo teto e ela tinha que aceitar, pois não havia alternativa. — Uma relação de trabalho — ele dissera. Cally presumia que era assim que ele vinha agindo nas últimas semanas, pois apesar de ser cordial, não havia intimidade entre eles. Nick nunca vinha para o quarto dela, apesar de ela deixar a porta de comunicação aberta. Sentiu-se tentada várias vezes a entrar no quarto dele, mas seu medo de rejeição a impedia. A gravidez agora ia bem. O enjôo passara, mas ela ainda dormia mal naquela enorme cama vazia. O remédio para curar sua solidão, que era o real problema de Cally, ainda não tinha sido inventado. Nick estava muito envolvido com o trabalho recentemente, principalmente com viagens. Estava habituando-a à vida sozinha, ela supunha. Cecily Tempest logo partiria para a Guatemala e, como despedida, levou a nora para fazer compras. Cally não queria saber o sexo do bebê, mas se pegou curiosa diante de uma loja de roupas para criança. Suspirando, ela virou e estreitou os olhos em choque ao se deparar com Nick caminhando de braços dados com Vanessa Layton. Ele inclinou a cabeça e deu um beijo no cabelo da acompanhante. Ela sorriu de volta e tocou sua bochecha com a mão. Então se despediram, caminhando em direções opostas. Tudo naquela cena foi profundamente gravado dentro de Cally. A linguagem corporal dizia tudo. Ela não tinha direito a nenhum contato físico com o marido, mas Vanessa podia se aproximar, tocar seu rosto e sorrir dentro de seus olhos, gestos que traduziam uma intimidade familiar que não tinham nada a ver com mera luxúria. "Ele a ama", pensou. "Realmente a ama. Para ele, minha única importância foi ter me tornado fértil." De repente, ela se viu lutando para respirar. Nick nem deveria estar em Clayminster hoje, pensou. Iria a Wellingford para verificar o andamento de Gunners Wharf. Na realidade, pedira para ir junto, mas ele respondeu que a visita seria rápida. Será que Vanessa fora junto? Por isso ela não pôde ir? Ou a visita era um esquema para eles se encontrarem? Ela se apoiou em uma janela, lutando para recobrar o equilíbrio. Podia ter passado sem que aquilo fosse esfregado na minha cara publicamente. — Caroline, querida, está bem? — Cecily Tempest apareceu ao seu lado, preocupada. Cally teve vontade de se jogar nos ombros da sogra e despejar toda sua tristeza. Mas isso

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven seria impossível. Ela prometeu que não falaria nada sobre o assunto e deveria cumprir, mesmo sofrendo. Ela sorriu para Cecily. — Está muito quente. — Então vamos para casa. Cally ficou contente por ter entrado no carro em direção a Wylstone. — Então — falou Cecily Tempest — esta seria uma boa hora para me contar o que está acontecendo? Porque algo está acontecendo, obviamente. — Não sei o que quer dizer. Cecily suspirou. — Cally, por favor, não sou tola. Você é jovem, está apaixonada e tendo seu primeiro filho. A vida deveria estar perfeita. Você quase me engana me fazendo pensar que está feliz. E Nick, nas poucas ocasiões em que se abre, parece estar vivendo um grande pesadelo. — Talvez... tenha problemas no escritório. — Não — respondeu a mãe dele. — Ele está indo muito bem. Podia até ficar sem trabalhar e ainda assim ser rico. Então por que está se afastando e se enfiando no trabalho, quando poderia relaxar e aproveitar este momento maravilhoso com você? — Não sei. Não conversamos sobre isso... — Pelo que vejo, há mais coisa. Cally, sei que passou o primeiro ano do casamento fugida. Sei que não era para eu saber, mas o padrinho de Nick me contou. Meu filho não me contou, mas como soube que estavam juntos novamente, decidi não tocar no assunto. E não tocaria, só que vocês estão brigando. — Nick nunca brigaria comigo — Cally sorriu, relutante. — Ele é muito civilizado. — Não conte com isso — aconselhou a sra. Tempest. — Um dia ele pode surpreendê-la. Ou você pode surpreendê-lo. Se deixar sua fachada ruir. Mas não vou pressioná-la mais, querida. Só não acredito que Nick não esteja agindo para resolver a situação. Ele ficou consternado quando viu o que aconteceu com meu casamento e jurou para mim que nunca casaria, a menos que tivesse certeza de fazer sua mulher imensamente feliz. E acrescentou secamente: — Ele parece ter sido dissuadido dessa idéia, mas não consigo ver por quê. Oh, Deus, se ela soubesse. Mas pelo menos ainda tinha ilusões quanto a ele, enquanto Cally não tinha nenhuma. Quando eles chegaram na mansão, Cally disse que não estava com fome e foi para o quarto supostamente para descansar. Mas não conseguiu. Seus pensamentos estavam longe. Ela decidiu tomar um banho. Desceria e tentaria convencer a sogra de que seu casamento estava apenas atravessando uma fase difícil que logo seria resolvida. Era o que ela queria ouvir e iria acreditar. Mas a casa parecia deserta, apesar de os restos do almoço ainda estarem na mesa. Cally se serviu e levou o prato para o terraço. Estava terminando um prato de morangos quando notou que não estava mais sozinha e Adele se dirigia a ela. — Olá. — Seu tom era casual, mas seu olhar era intenso. — Sozinha? — Como vê — respondeu Cally.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — Vejo que está ganhando peso. Vai ficar do tamanho da casa se não se cuidar. — Meu ganho de peso é absolutamente normal — respondeu Cally. — Se é o que diz. Mas é difícil imaginar por que Nick prefere passar tanto tempo fora. Creio que ele tenha contado que estou partindo? — Não — Cally respondeu. — Então eu mesma contarei. Estou me mudando para um apartamento na França. Nick decidiu ser generoso. Ela sorriu. — Acho que ele quer a Dower House para fins particulares. Pensei que soubesse. — Por que deveria? — Bem, sempre foi o local em que os Tempest jogaram as mulheres que não queriam mais. Eu diria que você é forte candidata. É o plano dele, não é? — Não sei — respondei Cally. — Oh, não acontecerá logo — continuou Adele. — O local não está pronto para morar. Mas acho que Nick vai chamar sua consultora de decoração. Ela se levantou. — Bem, tenho coisas para resolver antes de partir. Talvez queira se despedir. — Claro — respondeu Cally. — Tchau. Cally ficou sentada, observando enquanto ela se afastava. Depois entrou em casa. Ela ficou de pé por um momento, olhando ao redor, até que viu uma tigela de morangos em uma pequena mesa. Ela a pegou e falou calmamente: — Acho que estou satisfeita. E atirou a tigela na lareira.

CAPÍTULO XI

A mira foi perfeita e ela ficou parada, sobressaltada diante da lareira. Ela ouviu passos e Nick entrou correndo na sala de estar. — Que diabos...? — Ele olhou para a esposa, parada com os punhos cerrados e o olhar enfurecido. — Outro acidente? — Ele perguntou. — Não — ela respondeu. — O que faz aqui? — Moro aqui — ele falou. — Mas deveria estar em Wellingford. — Aconteceu um imprevisto. Irei amanhã. — Ele olhou para a lareira. — Como isso aconteceu? — Fiz de propósito. — Cally levantou o queixo tempestuosamente. — Porque tive vontade. — Sério? E achou que seria terapêutico? Talvez eu também deva tentar. — Ele pegou um pedaço da tigela que restou na lareira, se afastou e arremessou.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — Não — ele respondeu, depois de uma breve pausa. — Infelizmente não funcionou comigo. Mas não quero interrompê-la na busca de preenchimento. Talvez enquanto isso eu encontre o que preciso. No momento seguinte, Cally estava no sofá com ele diante dela, abrindo o cinto. Ela congelou. — Oh, Deus. Não... ouse tocar em mim! — Por que não? O que tenho a perder? Ela não olhou para ele. — Talvez a mulher que deveria amar. — A mulher que eu amo. A mulher que devo amar pelo resto da vida, se Deus me ajudar. A dor de ouvir aquilo fez a voz dela tremer. — E podemos... machucar o bebê. — Ah, sim — ele falou. — Nosso filho. Ele fez uma pausa e então falou: — Estava vindo falar com você quando ouvi o barulho. Temos que conversar sobre uns assuntos. — Deixe-me adivinhar — retrucou Cally. — Um dele seria Dower House? — Sim, mas... como sabe? — Adele me visitou. Veio me contar que está partindo. E ainda contou que você está bancando. — Sério? Então uma vez na vida ela falou a verdade. — Quer dizer... que a subornou para que fosse? — Comprei um apartamento para ela na França e concordei em pagar as despesas de reforma se ela levasse a governanta antiga e elas nunca mais voltassem. — Deus... — Você é contra? Acho que foi um bom investimento. — Claro — ela falou. — Especialmente para liberar a Dower House. Você não tem misericórdia, não é, Nick? Não pode ver como será para mim morar tão perto vendo você o tempo todo? Com ela? — A palavra parecia ter explodido. — Ela vai se mudar para a mansão com você, como parte da relação de trabalho que mencionou? E esse o plano? Ela sacudiu a cabeça. — Só não peça para que ela faça um projeto de decoração na Dower House. Porque eu não suportaria. De novo, não. Dessa vez eu escolho a decoração. Sua amante não será envolvida. Pelo canto dos olhos, ela viu um movimento na sala. Era Cecily Tempest, parada diante da porta. Ela viu o rosto dela chocado, e notou que provavelmente ouviu tudo. — Minha amante? Cally, do que diabos está falando? — perguntou Nick. — Oh, esqueci — ela retrucou. — Eu não deveria deixar o segredo vazar. Desculpe, Cecily. Desculpa por ter quebrado o encanto. Por ter falado na sua presença. Ela respirou fundo e continuou. — Mas não consigo mais fingir. Não posso deixar as pessoas pensarem que está tudo bem quando estou morrendo por dentro. — Cally, querida. — A voz da sogra era de pura compaixão. — Certamente não está falando de Vanessa Layton?

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — Sim, mas não queria que ouvisse. Esqueci que Nick e eu não estávamos sozinhos em casa. Desculpe. A sra. Tempest virou para o filho. — Nick... o que é isso? — Juro que não faço idéia. Ela... não pensaria isso. Cally virou para ele. — Como pode dizer isso? Quando o vi com ela no dia de nosso casamento? Adele me falou onde estava, então fui no chalé. Vi quando a abraçou, ouvi o que falou, o que prometeu. Tudo. — Ela chorava convulsivamente. — Então você a levou para o quarto e vi você na janela, fechando as cortinas para que pudesse ficar com ela logo depois de termos nos casado! E foi por isso que fugi! Houve um silêncio e Nick falou: — Oh, Deus — ele estava horrorizado. — Adele falou isso? — A viúva tem muito a explicar — falou Cecily. — Mas depois de amanhã vocês se livrarão dela. E quanto a essa adorada menina — ela prosseguiu. — É hora de total honestidade e creio que a verdade deva vir de mim. — Querida, Vanessa Layton não é nem poderia ser amante de Nick. Mas apesar de meus sentimentos, existe uma relação que ele sempre tentou esconder de mim. Ela respirou fundo. — Cally, Vanessa é meia-irmã de Nick. A filha ilegítima de meu marido com a secretária. Cally a encarou. — Irmã? — Sua voz era praticamente um sussurro. Nick falou secamente: — Cally, tentei contar, mas você se recusou a ouvir. Disse que já sabia, por Adele. Eu devia ter me tocado que se aquela cretina soubesse a verdade realmente, teria me chantageado. — Sim — falou a dra. Tempest firmemente. — Sempre soube de Vanessa. Mas meu orgulho jamais admitiria. Até fiquei contente por você querer me esconder. Mas diante de tanta tristeza, é hora de todos pararmos de fingir. O tom de Nick era contido. — Mãe, não acredito. Como soube? — Da forma mais sórdida — falou a mãe dele. — Usei um detetive particular. O coração de Cally batia forte e ela não conseguia encarar Nick. Não se importou quando caiu em prantos. Ela falou: — Cecily, por favor... Não faça isso. Não precisa... — Precisa, sim. Deveria ter falado sobre isso há anos, em vez de ter deixado Nick com toda essa culpa. — Quando papai estava morrendo, me contou a verdade e me pediu para ser um verdadeiro irmão para ela — contou Nick. — Mas tudo em segredo. Nem você nem Geoffrey Miller poderiam saber. — Inicialmente tive raiva de você, mas depois vi que estava tentando agir de forma decente em uma situação impossível. Ela ficou calada por um momento. — E agora, queridos, vocês têm que ser honestos um com o outro. Nick sugiro que leve sua esposa para um lugar calmo e tente acertar as coisas.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven Cally tinha raiva, remorso e medo, tudo ao mesmo tempo. Então estava errada, completamente errada sobre Vanessa Layton, mas aquilo não mudava nada. Ainda havia um enorme ponto de interrogação sobre seu casamento. E ficar sozinha com Nick, como a experiência mostrou, não era garantia de que obteria respostas. Poderia arcar com tal tipo de risco? Mas haveria saída? — Cally? — Nick estava parado diante dela com a mão estendida, resoluto. Na frente de Cecily, não havia muito que fazer. Então ela o seguiu. — Tenho fortes razões para ter pensado o que pensei — falou Cally. — Hoje falou que iria para Wellingford, mas eu o vi com ela. Vi como agiam um com o outro. Parecia... amor. — É amor — ele respondeu. — Temos o mesmo sangue e passamos por muita coisa ruim juntos. Isso aumenta a afeição. Ele fechou a porta do quarto. — Conte-me, Cally, por que aceitar cegamente as palavras de uma mulher que nunca gostou de você? Por que simplesmente não entrou e perguntou o que estava acontecendo, há um ano? — Você teria me contado? — Sim, claro. Apesar de ser injusto com você dividir tamanho segredo no começo do casamento. O plano original era Vanessa comparecer ao casamento e explicarmos tudo para você. Como não apareceu, liguei para ela. Estava na clínica, péssima. Ficou sabendo que havia menos de um por cento de chances de Tony recuperar a consciência. Ele fez uma pausa e prosseguiu. — Ela me ligou pedindo para pegá-la, pois estava sem condição de dirigir. Foi a primeira vez que precisou de mim e prometi a mim mesmo que não poderia abandoná-la. Calculei que iria lá e voltaria sem que você notasse, afinal tínhamos o resto de nossas vidas pela frente, quando ela não tinha nada. Pensei que fosse entender. Então liguei para o médico e pedi que nos encontrasse na casa dela. Eu a convenci a tomar um sedativo e a levei para o quarto. Suponho que foi o momento em que você chegou e tirou conclusões precipitadas. Não a culpo, Cally. Mas deveria ter me procurado e me dado à chance de explicar. Ele parou, fitou-a e falou, em voz baixa e séria: — É hora da verdade, Cally. Por que simplesmente... fugiu? Estava realmente convencida de que não poderia viver comigo e usou o fato de ter me visto com Vanessa uma mera desculpa? Eu... tenho que saber. — Preciso saber algo também, Nick. Por que se casou comigo? Eu era apenas a primeira disponível? Alguém, que seria grata ao generoso Nick Tempest e que não interferiria na sua vida? Ele olhou-a angustiado. — Cally, me apaixonei por você no momento em que a vi, no primeiro dia. Estava seriamente tentado a arrancá-la da sela e agarrá-la ali mesmo, no pasto. Em vez disso, fui a seu avô pedir permissão, como contei. — Sim, mas você nunca falou que me amava. Nenhuma vez. Ele suspirou. — Querida, como podia? Você estava passando por maus momentos e não tinha tempo para se preocupar com paixão, especialmente quando estava de luto pelo seu avô. Ele fez outra pausa.

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven — Além disso — falou cuidadosamente — pensei que tivesse deixado minhas intenções e meus sentimentos bem claros no piquenique. Era a terceira parte do meu plano. — Você tinha um plano? Não entendo. — Querida — respondeu Nick calmamente. — Você era tão jovem e quase despedaçou meu coração. Então falei a mim mesmo que devia ir devagar. Primeiro, teria que fazer com que gostasse de mim. Segundo, precisava que confiasse em mim. E então, por último, queria que apreciasse ir para a cama comigo. — Ele riu. — Eu devia ter feito dessa a minha prioridade. O resto viria naturalmente depois. Ele deu uma risada antes de prosseguir. — Você não hesitou em me encarar naquele dia, Cally. Então por que não conversou comigo sobre Vanessa? — A voz dele de repente ficou rude. — Só posso pensar que não se importava, e se for verdade, não sei como vou suportar isso. Como serei capaz de viver o resto da minha vida sem você. Ela falou suavemente: — Não ousei perguntar. Tinha medo de ouvir sua resposta. Só queria fugir para o mais longe possível e morrer, pois você tinha me magoado. Como vê, me apaixonei por você também, Nick, no primeiro dia. — Ela sorriu. — Que pena que optou por não me agarrar no pasto. Pela primeira vez ele relaxou. — Prefiro os lençóis, querida, e você. Minha menina linda e preciosa vestindo nada além da aliança de casamento. Ela caminhou lentamente na direção dele. — E seu plano para as próximas horas? Nick a tomou nos braços e a levou para a cama. — Para a vida toda — ele sussurrou. Eles deitaram abraçados um ao outro e se beijando. Saboreando os lábios um do outro, na brincadeira sensual das línguas. Até que beijar não era mais suficiente. As mãos de Nick foram gentis ao desabotoar vestido dela. Cally se curvou na frente dele para que conseguisse retirar tudo e ele começou a se despi também e, quando se virou para ela, Cally estava apenas esperando. Ele olhou para ela demoradamente, enquanto seus dedos brincavam com seu novo corpo arredondado com uma certa reverência. — Oh, querida — ele falou. — Sabe o quanto é linda? Ela não era linda nem nunca fora, mas olhou dentro dos olhos dele e viu como ele a enxergava. E havia lágrimas naqueles olhos cinza, adorando-a com tamanha ternura. Era como se seu sonho de repente virasse realidade e, com um pequeno gesto, ela o puxou para perto, guiando-o para o meio de suas coxas e então para dentro dela. Estava pronta para ele, desejando-o enormemente. O corpo dela se fechou no dele. Então se moveu com ele lentamente e suavemente nos primeiros passos da dança do amor. Ele a tratou com infinito carinho, controlando cada movimento de seu imponente corpo. E ela sorriu contra a boca dele, fazendo alguns ajustes delicados calculados para sabotar o autocontrole dele completamente. Contorcia-se para sentir todos os átomos de sensação de seu corpo masculino. Porque ela o queria de volta, seu amante passional e habilidoso, que a ensinara toda a fascinação do desejo durante tantas longas noites juntos. E ela o queria vulnerável, totalmente seu, como

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven talvez não tivesse sido antes. E no fim, quando os dois atingiram o orgasmo como nunca antes, ela ouviu ele falar seu nome enquanto gozava dentro dela e sentiu gloriosas pulsações de seu próprio alívio em resposta. Depois ela se aninhou nos braços dele, a cabeça dele apoiada em seus seios, a mão acariciando suavemente sua barriga. E os dois murmuraram juntos palavras de amor e de perdão. De repente ela riu. — Imagino como o bebê reagiu. — Talvez tenha pensado que estava sendo embalado para dormir. Ela ficou calada por um tempo. — É um alívio saber que não terá mais que fingir... sobre Vanessa? — Sim — ele admitiu. — Ela está passando por momentos difíceis e tenho que conseguir apoiá-la abertamente, apesar de apenas como amigo, quando o pai dela estiver por perto. — Nick, por que a encontrou hoje? Você não falou. — Estava alterando o testamento, porque no anterior deixava tudo para Toni. Fui uma das testemunhas. Não foi fácil para ela. — Pobre Vanessa — ela hesitou. — Acha que seremos amigas? Acho que ela não gostou de me conhecer. — Vanessa me ajudou a segurar a barra quando você fugiu, querida. Durante um tempo, tentei me destruir. Então ela me ajudava porque eu bebia e me ouvia pacientemente quando eu chegava lá arrasado, após ter acordado com mulheres cujos nomes nem lembrava. Não me orgulho dessa época. Minha única defesa era que estava tentando esquecer você. Mas quanto mais eu tentava, mais a dor aumentava. Vanessa foi totalmente imparcial, exceto uma única vez. Ela falou que eu deveria parar de sair com outras mulheres, pois não poderia ter a mulher que amava. Então me aconselhou a ir atrás de você. Ele parou para retomar o fôlego e prosseguiu: — Vai demorar um pouco até ela aparecer. Mas ela vai ficar arrasada quando souber o que Adele falou a você. Mas isso vai explicar muita coisa, então pode ajudar. — Só tenho que convencê-la que vim para ficar. — Cally fez um cafuné em Nick e então lembrou de algo mais. — Nick, por que quer a Dower House, se não for para mim? Foi apenas para se livrar de Adele? — Foi realmente um incentivo — ele concordou. — Mas tenho outra razão, e quero conversar com você. Minha mãe está envelhecendo e está ficando cansada de suas viagens. Está mais interessada em se tornar avó, então está considerando um emprego de meio período aqui na Inglaterra. E ela gostaria de morar na Dower House, mas somente se você concordar. Não quer atrapalhar. Ela sorria. — Adorei a idéia. Nossa babá particular. E totalmente acostumada a lidar com meninos — ela acrescentou, sonhando. — Muito útil. — O que é uma pena — Nick falou. Porque teremos uma menina. Ela sacudiu a cabeça. — Menino primeiro. Seu filho e herdeiro. — Uma menina — ele falou firmemente. — Ou o bebê volta para dento. — Bem — ela falou. — Não vamos discutir. Afinal, nunca se sabe — ela acrescentou. —

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Jéssica 30 –O herdeiro do Amor – Sara Craven Podem ser gêmeos. E em uma manhã fria de janeiro, foi exatamente o que aconteceu...

FIM

A FORÇA DA INOCÊNCIA — Cathy Williams Rafael Loro, um homem de negócios, domina todos à sua volta. Até que Sophie Frey, uma mulher sem atrativos, porém de gênio forte, é designada para trabalhar com ele. Rafael está acostumado com mulheres lindas, sofisticadas e loucas para agradá-lo. Mas o temperamento e a inocência de Sophie estão levando-o à loucura!

INTERESSES DO CORAÇÃO — Kim Lawrence Kate estava determinada a proteger sua irmã de um escândalo iminente e Javier Montero era o único homem que podia ajudá-las a evitar essa confusão! Mas Javier queria algo em troca. Como chefe do império empresarial de sua família, ele precisava de uma esposa. Kate era perfeita! O período de negociação não vai ser nada fácil para Kate...

DORMINDO COM UM ESTRANHO — Anne Mather As tranqüilas férias de Helen Shaw na ilha de Santoros são arruinadas quando ela desembarca e vê o magnata grego Milos Stephanides. Anos antes, eles tiveram um tórrido romance. Agora, Helen tem um segredo que tenta desesperadamente esconder dele, mas a forte atração fica mais irresistível a cada dia.

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