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DESEJO SEM FIM The Greek Tycoon’s Baby Bargain

Sharon Kendrick Irmãos Pavlidis 01

Alexandros Pavlidis sempre rompia com as mulheres antes que o tédio tomasse conta do relacionamento. Por isso, não esperava reencontrar sua amante londrina, Rebecca Gibbs... Mas ela aparece com uma noticia chocante: está grávida... de gêmeos! Alexandro fica intrigado com o fato de ela ignorar cada centavo da substancial ajuda que recebe dele. E, quando os bebês nascem, tudo muda. Afinal, são dois herdeiros da fortuna dos Pavlidis, e Alexandros está a caminho para lhe propor um sedutor acordo...

Digitalização: Simone Ribeiro Revisão:Nete


Paixão 118 – Desejo Sem Fim – [Irmãos Pavlidis 01] – Sharon Kendrick

Querida leitora, Rebeca Gibbs era feliz como amante do bilionário Alexandros Pavlidis, mas não sabia se poderia esperas dele mais do que ardentes noites de paixão. Afinal, Alexandros era um solteiro convicto, disposto a tudo para não se deixar envolver pelas artimanhas do coração... até uma inesperada gravidez mudar seus planos... Equipe Editorial Harlequin Books

PUBLICADO SOB ACORDO COM HARLEQUIN ENTERPRISES II B.V./S.à.r.l. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, o armazenamento ou a transmissão, no todo ou em parte. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas é mera coincidência. Título original: THE GREEK TYCOON'S BABY BARGAIN Copyright © 2008 by Sharon Kendrick Originalmente publicado em 2008 por Mills & Boon Modern Romance Arte-final de capa: Isabelle Paiva Editoração Eletrônica: ABREU'S SYSTEM Te!.: (55 XX 21) 2220-3654/2524-8037 Impressão: RR DONNELLEY Tel.: (55 XX 11) 2148-3500 www.rrdonnelley.com.br Distribuição exclusiva para bancas de jornais e revistas de todo o Brasil: Fernando Chinaglia Distribuidora S/A Rua Teodoro da Silva, 907 Grajaú, Rio de Janeiro, RJ — 20563-900 Para solicitar edições antigas, entre em contato com o DISK BANCAS: (55 XX 21) 2195-3186 Editora HR Ltda. Rua Argentina, 171, 4o andar São Cristóvão, Rio de Janeiro, RJ — 20921-380 Correspondência para: Caixa Postal 8516 Rio de Janeiro, RJ — 20220-971 Aos cuidados de Virgínia Rivera virginia.rivera@harlequinbooks.com.br 2


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CAPÍTULO UM

Não era a primeira vez que ele se atrasava, porém era a primeira em que não se preocupava em avisá-la. Chovia lá fora, mas os olhos de Rebecca estavam fixos no ponto em que o carro dele despontaria. As palmas de suas mãos estavam frias e úmidas. Ela mordeu o lábio inferior, sem conseguir mais ignorar os pensamentos que tomavam sua mente de assalto. Talvez seu relacionamento estivesse chegando ao fim. Seus lábios se curvaram num sorriso triste. Será que ela podia chamar o que eles tinham — duas pessoas que moravam em continentes diferentes e que mantinham relações secretamente de tempos em tempos — de relacionamento? Talvez um caso fosse uma palavra mais apropriada. Um caso que nunca deveria ter começado. Ela tentara resistir com todas as suas forças, mas fraquejara no final, é claro. Aquela era a especialidade de Xandros: fazer as mulheres sucumbirem. Tendo em vista o carisma e o poder de persuasão do bilionário grego, chegava a ser surpreendente que ela tivesse conseguido resistir por tanto tempo. Aquele devia ser o destino das mulheres que se apaixonavam por homens como Alexandros Pavlidis, ou Xandros, como seus amigos e amantes o chamavam. Uma terrível e constante preocupação que tornava impossível pensar com clareza, apesar de ela repetir categoricamente a si mesma que não devia se apaixonar por ele, que aquilo não podia ser amor, mas apenas sexo — e da melhor qualidade. Rebecca quase chegava a acreditar naquilo, mas bastava que ele ligasse no último minuto e a convidasse para jantar — com aquela voz grave e sexy que fazia seu coração saltar dentro do peito e o mundo parecer repentinamente iluminado — para ela aceitar correndo, mesmo se odiando por parecer tão disponível. O brilho forte dos faróis traçou um feixe luminoso em meio à escuridão da noite e Rebecca viu a ponta da limusine preta e brilhante entrar lentamente em seu campo de visão. Esquivou-se rapidamente para que o motorista não a visse quando o carro parou em frente ao prédio. Não seria nada bom ser vista esperando ansiosamente na janela! Ela checou sua aparência no espelho. Seu cabelo estava limpo e brilhante, solto, 3


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do jeito que Xandros gostava. Usava um vestido de um tom suave de lilás. Ela era jovem e magra o suficiente para não se importar com o fato de não se tratar de um modelo muito caro. Xandros não gostava de muita maquiagem, nem ela. Batom e um toque de rímel eram suficientes. Nada, porém, poderia disfarçar as olheiras sob seus olhos, nem o lábio inferior tantas vezes nervosamente mordido, como se ela fosse uma aluna tentando responder a uma questão de uma prova que não tivesse compreendido muito bem. A campainha tocou e ela estampou no rosto um sorriso casual, que morreu no mesmo instante em que ela viu o motorista de Xandros na porta. — Srta. Gibbs? — disse ele gentilmente, como se nunca a tivesse visto antes. Como se não tivesse testemunhado os beijos apaixonados que ela trocara com Xandros no banco de trás do carro, nem tivesse sido obrigado a esperar dentro dele, em frente a sua casa, até seu patrão grego reaparecer, uma hora depois, sem gravata, com o cabelo desgrenhado e um sorriso sensual de prazer nos lábios. As bochechas de Rebecca arderam de vergonha ao se lembrar desse episódio em particular. — Onde está Xandros? — perguntou ela, arregalando os olhos ao pensar em mil coisas terríveis que poderiam ter lhe acontecido. — Ele está bem? O rosto do motorista permaneceu impassível, como se ele estivesse acostumado a lidar com centenas de mulheres preocupadas com Xandros como ela. — O Sr. Alexandros Pavlidis pediu que lhe transmitisse o seu pedido de desculpas, mas ele está numa teleconferência. Solicitou-me que levasse a senhorita até ele. Rebecca engoliu em seco. Levá-la até ele. Como um pacote. Algo prático, disponível. Sim, aquilo a definia bem. Ela avaliou rapidamente as suas opções. Que resposta daria uma mulher que suspeitasse que o fato de seu amante enviar o motorista para levá-la até ele significava que já estava se cansando dela? Sorriria agradecida e se instalaria confortavelmente no banco de trás do carro de luxo, feliz com o que lhe coubera? Ou talvez se desse ao respeito e melhorasse sua auto-estima explicando educadamente ao chofer que ele podia voltar e dizer a seu patrão que havia mudado de idéia quanto ao jantar e decidira ficar em casa? Já que ele estava muito ocupado, o melhor certamente seria deixá-lo em paz para que pudesse dar conta de seu trabalho. Mas o poder de atração de Xandros era forte, assim como seu medo de que uma cena dramática pudesse precipitar o final do relacionamento. 4


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— Vou pegar meu casaco — disse ela. O trânsito estava horrível e o tempo desolador para o mês de abril. O cabelo do Rebecca ficou todo despenteado por causa do vento quando o porteiro lhe abriu a porta do carro. Ela, por acaso, havia esperado que Xandros a estivesse esperando no foyerl. Que não teria de percorrer aquele interminável corredor luxuoso sozinha, sentindo todos os olhos sobre si, perguntando-se quem seria aquela mulher naquele vestido barato? Parte dela temia ser detida por um funcionário do hotel querendo saber por que ela estava tomando o elevador que levava à cobertura. O percurso, porém, se deu sem nenhum comentário. Já no elevador espelhado, ela pôde passar uma escova nos cabelos e se recompor. Como ela estava da primeira vez em que ele a havia visto e caçado como um predador faminto? Ela certamente poderia fazer uma expressão parecida agora. Um ar de quem tinha uma vida plena e realizada e que não se abalava especialmente por homem algum, mesmo que esse homem fosse um bilionário grego mundialmente famoso. O problema é que as coisas mudavam. As mulheres se transformavam depois de serem possuídas por um homem como Xandros. Será que ele tinha o poder de transformar todas elas em suas escravas e depois desprezá-las por desejarem-no tanto? As portas do elevador se abriram silenciosamente e ela pôde ouvir o som da voz dele vindo da sala de estar. Uma voz grave, suave, perigosa e sexy. Ele estava conversando em grego ao telefone, mas passou rapidamente a falar em inglês quando a viu caminhar na sua direção sobre o tapete felpudo que abafava o som dos saltos de suas botas. Xandros estava sentado na ampla mesa que ficava de frente para o London's Hyde Park. Usava uma camisa de seda branca que contrastava com a pele morena. Seu cabelo negro estava despenteado. Algumas gotas d'água brilhavam sobre ele como se alguém tivesse espalhado minúsculos diamantes sobre sua cabeça, embora fosse evidente que ele tinha acabado de sair do chuveiro. — Diga-lhes que não — dizia ele. — Diga-lhes que... Foi então que ele pareceu ter se dado conta da sua presença, desviando o olhar do documento que estava lendo. Olhou-a de cima a baixo por um longo momento, sem pressa. Seus olhos negros brilharam e ele sorriu lentamente, passando a ponta da língua sobre os lábios como alguém faminto que havia acabado de ver a sua refeição chegar. 5


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— Diga-lhes que terão de esperar — disse ele suavemente, colocando o fone no gancho sem qualquer espécie de despedida. — Rebecca — sussurrou ele. — Rebecca mou. Aquelas palavras carinhosas e sensuais costumavam fazê-la tremer, mas não naquela noite. — Olá, Xandros. Ele estreitou os olhos e se recostou na cadeira, continuando a avaliá-la. — Perdoe-me por não ter ido pegá-la pessoalmente, mas eu tive que tratar de alguns negócios. Rebecca olhou furtivamente para a mecha escura de pelos revelada pelos botões abertos de sua camisa e ficou cega de desejo. Se ignorasse, porém, aquela falta de cortesia, ela estaria lhe dando permissão para tratá-la como bem entendesse. Será que ela teria dito alguma coisa caso se tratasse de outro homem qualquer? É claro que sim. Mas você não se importaria se isso acontecesse com outro homem! — Você poderia ter telefonado. Houve um pequeno silêncio. — É verdade — concordou ele, sentindo o sangue latejar em sua têmpora. Cuidado, agape mou, pensou ele. Muito cuidado. — E você ainda não está pronto. Ela o estava criticando? A ele? Então ela ainda não havia se dado conta de que ele não tolerava ser julgado? Que nenhuma mulher jamais havia feito isso, nem viria a fazê-lo? Será que ela não tinha consciência de que estava correndo o risco de se tornar previsível, e seguir o mesmo caminho que tantas outras mulheres já haviam tomado, e que conduzia fatalmente ao final da relação? Ele cruzou as pernas observando o modo como os olhos dela seguiram seu movimento, tentando disfarçar a avidez. Será que ele deveria tomá-la para si agora? Será que era realmente preciso entabular uma conversinha banal durante um jantar num restaurante se tudo o que ele queria era se perder na doçura daquele corpo? — É verdade — concordou ele suavemente, seguindo os olhos dela na direção dos seus pés descalços, lembrando-se daquela vez incrível em que ela havia... — Mas isso pode ser facilmente remediado — disse ele abruptamente. — Vou para o quarto terminar de me arrumar agora mesmo. — Está bem — respondeu Rebecca, um pouco incerta, sentindo que ele estava jogando com ela. — Ou... — prosseguiu ele com um sorriso zombeteiro nos lábios — você poderia vir até aqui e me cumprimentar direito. 6


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Aquela era uma maneira sutil de repreendê-la por não tê-lo feito? Rebecca estava consciente de que havia alguma emoção desconhecida pairando no ar — algo não dito é muito perigoso. Um instinto lhe disse que ela estaria brincando com fogo se continuasse a se lamuriar por causa do seu atraso, e outro, mais forte ainda, fez com que desejasse beijá-lo ardentemente. Ela deixou sua bolsa escorregar até o chão, caminhou até ele e baixou o rosto até seus lábios roçarem levemente os de Xandros. Um beijo poderia consertar tudo, pensou ela, desejosa, levando as mãos até os ombros dele. Oh, Xandros. — Que gostoso — sussurrou ele. — Oreos. Eu quero mais. Ela o beijou novamente, só que dessa vez mais profunda e intensamente até fazêlo gemer e puxá-la para si, fazendo com que sentasse em seu colo. — Xandros! — disse ela ofegante. — Toque-me — ordenou ele, com a boca junto à sua orelha, inalando o leve perfume floral e sentindo a maciez de seus cabelos. — Onde? — Onde você quiser, agape mou. Por onde começar? Talvez pelo seu rosto e todos seus contornos sombrios, suas linhas e curvas contrastantes. Ela deixou os dedos acariciarem as suas faces, deslizando pela sua pele luminosa como se estivesse medindo os relevos até alcançar seu maxilar. — Você não fez a barba hoje — sussurrou ela. — Fiz sim. Não sabe o que dizem sobre homens que precisam fazer a barba várias vezes ao dia? — Não, o quê? — O que você acha? — provocou ele. — Dizem que são homens de verdade. Quer que eu lhe prove o que isso quer dizer? Ele tomou a mão dela na sua e a colocou entre suas pernas. O rosto de Rebecca ficou em chamas ao sentir a inacreditável rigidez despontando sob o tecido da calça elegante. — Ne — gemeu ele. — Toque-me aqui. Exatamente aqui. — Assim? — sussurrou ela, tomando-o em sua mão. — Ne. Mais. Faça mais. Ela passou os dedos provocantemente sobre o sexo dele fazendo seu gemido suave se transformar num xingamento impaciente. Seus olhos de ébano emanavam pura paixão e fogo e sua voz estava embargada ao 7


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afagar a seda por sobre seus seios. — Eu ainda não conhecia esse vestido. — Gostou dele? — Não, quero arrancá-lo do seu corpo. — Não faça isso, Xandros. Ele é novo. — Então por que não o tira para mim? Rebecca se sentiu repentinamente tímida. As dúvidas que a haviam atormentado durante todo o dia voltaram a assombrá-la. Aquela não era uma maneira aceitável de tratar uma mulher — deixá-la bastante insegura e depois pedir para que fizesse um strip-tease, enquanto ele ainda estava sentado em sua mesa. — Não acha melhor irmos para o quarto? Ele riu. Estava tão excitado que não acreditava ser capaz de chegar até a porta. — Não acha que já estamos nos conhecendo há algum tempo para sermos tão convencionais? Rebecca congelou. Conhecendo. Que espécie de palavra era aquela! Ele notou que sua boca estava tremendo e passou a ponta da língua sobre os lábios, enlaçando a sua cintura. — Tire-o — ordenou ele. Ela quis dizer que não podia, mas ele certamente lhe perguntaria por que, e ela não saberia como lhe responder. Dizer-lhe que queria que ele a respeitasse e não a tratasse apenas como um objeto sexual poderia soar como chantagem emocional. Respeito era algo que precisava ser conquistado e não exigido. Talvez aquele fosse o modo de bilionários como ele conduzirem as suas aventuras amorosas. Rebecca tinha de admitir que havia uma parte dela que estava se deleitando com sua capacidade recém-descoberta de provocá-lo, de deixar o corpo dele rígido de tensão, os olhos negros opacos com um desejo incontrolável. Aquela era a única hora em que ela sentia que tinha voz na relação — naquele momento emocional e fisicamente tenso pouco antes do sexo? Ela se levantou e passou as mãos pelos cabelos, deixando-os cair pesadamente sobre os ombros, observando os olhos negros de Xandros seguirem seus movimentos quase que hipnotizados. Rebecca sabia que ele adorava seus cabelos. Ele mesmo lhe havia dito que eles tinham a cor do crepúsculo pouco antes de ser engolido pelo céu da noite, como se quisesse, ele mesmo, engoli-la. Não fora exatamente aquela maneira quase poética de ele lidar com as palavras, 8


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assim como seu olhar negro e intenso e seu corpo bem-feito que a haviam desarmado? Um homem que era a encarnação de tudo o que havia de mais machista no mundo, e mesmo assim não hesitava em se expressar de modo a fazer uma mulher se derreter. Será que aquilo não era apenas parte da sua técnica de sedução? Quanto tempo fazia desde que ele lhe dissera que seus olhos eram como as flores violetas e azuis que floresciam em meio à aridez das pedras na primavera grega? Ou que sua pele era um verdadeiro creme e que era por isso que ele gostava tanto de lambê-la? Ela tremeu. Seu orgulho lhe dizia para não se despir para ele, mas ela sabia que a noite acabaria mal se começasse a se recusar a fazer o que Xandros lhe pedia. Rebecca tirou o vestido num único e lento movimento e o jogou sobre a mesa, em meio aos seus papéis, provocando-o, querendo que ele reclamasse. Desejando conseguir fazer com que aquele homem poderoso se sentisse tão desamparado quanto ela. — Espero que isso não interfira no seu trabalho — disse ela. — Rebecca — disse ele arfante. — Sim, Xandros? — Vire-se — disse ele com a voz rouca. — Vire-se e deixe que meus olhos se deleitem com a visão do seu corpo. Ela o fez esperar. Aquele era o único momento em que podia fazê-lo. Começou então a caminhar até o outro lado da mesa. — Rebecca? — Assim, Xandros? Ela se virou lentamente num movimento sensual. Ouviu a risada de Xandros mesclada a um pequeno gemido ao ver a calcinha vermelha inacreditavelmente pequena que ela estava usando e o sutiã combinando de onde seus seios despontavam. — Ne. Exatamente assim. Ele adorava o seu traseiro assim como seus cabelos. Havia lhe dito isso também, insistindo para que as nádegas salientes fossem cobertas apenas com peças de renda que ele lhe comprara numa das lojas mais caras de Londres, mas ela havia recusado. Não admitia ser comprada, embora às vezes ele a fizesse se sentir como se fosse uma propriedade sua, como um de seus carros ou apartamentos. Ela começou a baixar a calcinha até os pés, arrancando-a com mãos trêmulas. Virou-se então para ele, amassando a peça na mão e arremessando-a na sua direção. Xandros a agarrou, erguendo as sobrancelhas escuras, e então a levou 9


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deliberadamente até o rosto, fechando os olhos e inalando seu cheiro. Rebecca ficou zonza. O que ele fazia com ela? Que poder ele tinha de fazê-la se abandonar tão completamente e ficar tão excitada quando estava com ele, para depois deixá-la desorientada quando não estava ao seu lado? — Delicioso — sussurrou ele. — Agora o sutiã. Tire-o. — Tire-o você. — Eu não alcanço. — Então mexa-se. — Está me dando ordens, agape mou! — Pode apostar que sim. Rindo suavemente, ele se levantou e caminhou em direção a ela, lenta e certeiramente, como um predador. De repente, sem aviso, passou os braços ao redor dela e a apertou em seus braços num beijo apaixonado que a fez perder o equilíbrio. Xandros, porém, a estava segurando com firmeza. Ele continuou a beijá-la, deliciando-se na maciez de seu corpo e deleitando-se com os gritinhos que ela soltava. Sua vitória sobre a mulher que o havia feito esperar mais do que qualquer outra estava quase completa. —Ainda quer ir para o quarto — provocou ele, afastando a boca da dela — ou tem algum outro lugar em mente? Ela não se importava mais com isso, mas não o diria a ele por nada nesse mundo. Xandros a queria lá mesmo e já, mas poderia muito bem esperar assim como a havia feito esperar por ele naquela noite. — Cama — foi o que ela conseguiu dizer. Maldito, maldito, maldito! Tudo com ele se transformava numa batalha, mas dessa vez ela sairia vencedora. Ela não se importava se era convencional querer ir para o quarto. Ao menos não seria tão insultante como deixar que ele a tomasse ali mesmo, no chão, como já fizera tantas vezes. Xandros a tomou em seus braços como Rebecca sabia que ele faria e toda sua zanga se desfez, já que aquela era a realização de sua fantasia. Seu amante moreno e viril aprisionando-a para desfrutar dos prazeres do seu corpo. Não era esse o sonho secreto de toda mulher — ser dominada por um homem tão poderoso? Rebecca beijou o seu pescoço enquanto Xandros a carregava pelo longo corredor da suíte em que ele sempre se hospedava quando estava em Londres e que tomava toda a cobertura do Park Lane Hotel. Ela não podia imaginar que um único cômodo podia ser tão espaçoso. A enorme cama era apenas um pouco menor que seu próprio quarto. Tudo parecia ser controlado pela pressão de um simples botão. 10


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Havia uma tela de TV gigante e uma pequena geladeira, repleta de champanhe e chocolates finos, bem como vasos de flores estrategicamente colocados para perfumar o ambiente e uma prateleira com jornais do mundo todo. Eles, porém, fizeram apenas uma coisa depois de cruzar a porta do quarto dele... Xandros a pousou sobre a cama e começou a desafivelar seu cinto, sem tirar os olhos dos dela, vendo-os escurecer de expectativa como sempre acontecia. — Quer que eu tire a roupa para você agora? — perguntou ele suavemente. — Sim. Insisto que o faça — disse ela hesitantemente. Para ela, porém, aquilo não era tanto um apelo erótico, mas sim uma maneira de colocar a ele numa situação vulnerável, ou pelo menos tão vulnerável quanto possível, em se tratando de Xandros. Mas não havia nada nem remotamente vulnerável no modo de Xandros tirar sua roupa diante dela. Começou abrindo o que pareceu a Rebecca uma quantidade interminável de botões da sua camisa. — Quer que vá mais rápido? — provocou ele ao vê-la serpentear a língua pelos lábios secos. Rebecca balançou a cabeça quando ele fez a peça deslizar pelos seus ombros largos, deixando-a cair ao chão como uma bandeira branca de rendição, embora soubesse que Xandros não era homem de se render. Ela o viu se contorcer de modo provocante ao baixar lentamente o zíper de sua calça, numa clara demonstração de seu autocontrole. Ele não se apressou apesar da óbvia evidência de sua excitação. Como ele podia parecer sexy e elegante ao mesmo tempo enquanto tirava sua calça e a colocava sobre a cadeira? Seus pés estavam descalços, de modo que a única peça que ainda cobria o seu corpo era uma cueca de seda que fazia com que ele parecesse um verdadeiro atleta. Ele a tirou finalmente e se deteve diante dela por um momento, completamente nu e excitado, com uma irresistível e arrogante expressão de desafio estampada nos olhos. Havia algo de intimidador e quase proibitivamente masculino em torno dele naquele momento, que fez o coração de Rebecca bater mais rápido, mais por temor do que por desejo. — Devo ir até você agora, agape mou! — Sua voz era uma carícia provocante. — E isso o que você quer? Ela quis lhe pedir que prometesse não partir seu coração. Desejava-o mais do que havia desejado qualquer outra coisa em sua vida. Será que ele tinha consciência disso? Ou de que ele às vezes deixava a sua emoção à flor da pele, deixando-a 11


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cruelmente exposta ao seu olho crítico? O que será que aquele olho via, afinal? Alguém que vivia como tantas outras jovens, mas que estava tendo um relacionamento com um homem de outra classe social. — Se você quiser — respondeu ela, como se não se importasse. Ele riu baixinho quando se deitou ao lado dela. — Venha cá. — Não. — Ah, Rebecca. Rebecca mou. Ele estendeu a mão e puxou o corpo trêmulo dela em direção ao calor e à rigidez do seu, traçando círculos com o seu polegar sobre o seu mamilo rosado, fazendo-o enrijecer imediatamente. — Ainda está zangada comigo por eu ter me atrasado? Diga-lhe. Diga-lhe. — Você poderia ter me avisado. Eu só não quero ser tratada como se estivesse obviamente disponível, Xandros. Achei que você... Seu beijo a silenciou. Se tudo o que ela pretendia era submetê-lo às antigas queixas das mulheres sobre o tratamento que recebiam dos homens... Ele já tinha ouvido aquele tipo de coisas mais vezes do que era capaz de se lembrar. Aquilo era muito melhor. O contato da sua pele com a dela, o calor cada vez mais intenso de seus corpos unindo-os como se estivessem colados um ao outro. Em seus braços, ela era tudo o que ele podia querer de uma amante. Um pouco inexperiente, é verdade, mas ele até apreciava isso. Não gostava de mulheres que testavam seus truques sexuais na cama, comportando-se como verdadeiras prostitutas. Ele gostava daquela espécie de deslumbramento de Rebecca e teria muito prazer em lhe ensinar tudo o que sabia enquanto aquele caso durasse. Gostava da batalha mental em que eles se empenhavam durante o sexo. Gostava de testar a si mesmo, de levar a mulher aos píncaros do prazer diversas vezes, negando esse mesmo prazer a si mesmo até não poder mais agüentar. — Oh, Xandros — implorou ela, com um pequeno grito frenético de prazer. — Hum? — Por favor! — Por favor o quê, agape mou! — Agora! Como ela estava ávida! Quão rápido havia atingido o seu limite! Ele afastou a cabeça do seio que estivera sugando e se deitou sobre ela. Seus olhos negros 12


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brilharam antes de ele a penetrar com um único movimento longo, firme e profundo, soltando um pequeno gemido de prazer. Xandros gostava de ver a mulher chegando lentamente ao orgasmo, mas Rebecca agarrou os seus ombros e o puxou para baixo até suas bocas se encontrarem, gemendo e se contorcendo de prazer debaixo dele. Despenteada e ofegante, ela enroscou as pernas em torno dele como um polvo, movendo os quadris em total abandono até Xandros perder o controle. Seu orgasmo veio com uma força e um poder que o surpreenderam, embora tivesse sido assim com ela desde a primeira vez, sem que ele conseguisse descobrir o motivo. Seria porque ela o fazia pensar no impensável — que ele não conseguiria levá-la para a cama? A cabeça de Rebecca estava pousada sobre o coração palpitante dele. Xandros afagou seus cabelos e lamentou perder o calor da respiração dela contra sua pele quando ela virou a cabeça para fitar a parede, sem dizer nada. Ironicamente, esse era o momento que ele mais gostava dela — quando ela se afastava como uma onda que deixa a margem. Xandros só desejava as coisas que estavam fora do seu alcance. Assim que conquistava uma mulher, ele desejava seguir adiante, como havia feito durante toda a sua vida tão atribulada. — Ainda quer sair para jantar? — Ele espreguiçou languidamente e bocejou. — Ou ficamos aqui mesmo e pedimos alguma coisa para comer no quarto? Rebecca permaneceu em silêncio por um momento. Estava perfeitamente feliz ali, mais quente e saciada do que qualquer mulher poderia estar. Xandros pediria alguma coisa ao serviço de quarto e a comida seria trazida num carrinho. Um garçom discreto lhes prepararia a mesa enquanto eles o observariam desajeitadamente. Haveria flores, um bom vinho, e em pouco tempo eles voltariam para a cama ou fariam amor no sofá, enquanto assistiam a um filme. Xandros, com certeza, ainda atenderia ao menos a um telefonema de negócios. A alternativa era se vestir e sair para jantar. Toda mulher gostava de ter uma vida a dois com seu amante fora das quatro paredes do quarto, não importando quão maravilhoso

fosse

o

mundo

de

fantasia

compartilhado

dentro

dele.

Se

o

relacionamento deles fosse normal, ela estaria mais do que disposta a ser vista em público ao lado dele, mas não era esse o caso. Eles não deveriam estar se encontrando, por isso rastejavam por aí como criminosos. Iam a restaurantes discretos, fora do circuito mais movimentado ou permaneciam no hotel. Às vezes ela se perguntava se alguém acreditaria se ela dissesse que estava 13


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tendo um caso com um bilionário grego. Mas para quem ela contaria? Tinha colocado o seu emprego em risco ao concordar em sair com ele. Nenhum de seus colegas de trabalho estava a par daquilo. Ela se virou para olhá-lo, tocando a curva forte de sua mandíbula com a ponta do dedo. Será que ela estava sendo egoísta por querer sair? Afinal, ele parecia tão cansado. Suas dúvidas e temores se dissiparam rapidamente. Ela se aninhou ao seu corpo quente, passando os braços ao redor dos ombros largos dele, massageando-os. Será que era inato numa mulher querer cuidar do seu homem? — O que você prefere? — perguntou ela suavemente. — Ficar aqui? Xandros conteve um gesto instintivo de impaciência. Quis lhe dizer para não se amoldar às necessidades dele. Aquilo, porém, parecia inevitável. As mulheres tentavam agradar os seus homens e acabavam anulando a própria identidade, fazendo com que eles perdessem de vista aquilo que os havia atraído nelas quando as conheceram. — Eu prefiro ficar aqui mesmo — disse ele rudemente. — Temo, porém, que se o fizer acabarei adormecendo e perderei a reserva que fiz no Pentagram, lugar que você me disse que queria tanto conhecer, portanto é melhor você decidir. — Nesse caso, acho melhor irmos. Não poderia haver melhor resposta do que aquele comentário ríspido para fazê-la lembrar que aquele homem não precisava ser cuidado. Ela se mexeu, roçando a coxa na dele ao espreguiçar, perguntando-se se aquilo seria suficiente para fazer com que ele a tomasse nos braços novamente, mas ele não o fez. Ela sorriu nervosamente para ele. — Vou me vestir. Xandros recostou nos travesseiros e observou-lhe os movimentos enquanto ela caminhava pelo quarto. Rebecca era bonita e graciosa, pensou ele, embora pudesse perceber que algo estava mudando entre eles. Algo tão inevitável quanto o nascer do sol a cada manhã. O previsível estava mostrado a sua terrível face. Xandros usou um tom aveludado, tentando amortecer o impacto de suas palavras. — Esta, é claro — disse ele suavemente —, pode ser nossa última oportunidade de jantarmos juntos por um bom tempo. Rebecca congelou. Tentando cuidadosamente se recompor, ela se virou devagar, com o coração batendo acelerado dentro do peito, tentando compreender a possível implicação 14


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daquelas palavras, mas a expressão dele era indecifrável. — Do que é que você está falando? — Eu não lhe disse? — perguntou ele negligentemente. — Tenho uma reserva num vôo para Nova York, amanhã. Não reaja, disse ela a si mesma. Mantenha a calma. — Ah, é? E quanto tempo vai ficar lá? Ele pôde ver o esforço que Rebecca estava fazendo para ocultar sua decepção e deu de ombros. Não teria lhe revelado sua agenda mesmo que estivesse a par de todos seus compromissos, pois sua liberdade era tão importante para ele quanto o próprio ar que respirava. — É impossível prever. Quinze dias pelo menos. Talvez mais, dependendo do andamento dos negócios. — Mas que ótimo! — disse ela, com o entusiasmo de um agente de viagens. — Espero que a cidade esteja muito bonita nessa época do ano. — Está sim — concordou ele. Embora fosse perverso de sua parte, Xandros estava um pouco decepcionado por ela ter aceitado aquilo com tanta facilidade. Havia esperado algum tipo de cena da parte dela que precipitasse o fim de tudo. Nenhuma mulher tinha o direito de questioná-lo, independente de quanto prazer ela houvesse lhe proporcionado na cama, ou se tinham começado a imaginar um futuro juntos. Rebecca, porém, se virou e saiu do quarto, provavelmente à procura das roupas que havia tirado tão deliciosamente, fazendo o corpo de Xandros enrijecer ao ver a curva firme e alta de suas nádegas. Foi então que ele compreendeu que ela ainda não havia saído completamente de seu sistema nervoso. Ele passou a língua pelos lábios secos e a deteve na porta. — Mas eu a verei quando voltar, agape mou. Era uma afirmação, não um pedido. Rebecca se sentiu como um camundongo que tivesse servido de joguete por algum tempo para um enorme gato, tendo a sua vida poupada no último momento. — Pode ser, se você tiver sorte — disse ela, num descaso que lhe soou bastante convincente. Ainda bem que ele não estava vendo o seu rosto, caso contrário teria, certamente, visto a sua expressão de alívio por saber que ele ia voltar. E que planejava vê-la novamente. Suas mãos estavam tremendo quando ela chegou à sala e começou a recolher suas roupas, perguntando-se como havia se envolvido em algo que já sabia de antemão que não teria futuro. 15


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CAPÍTULO DOIS

Seus caminhos jamais deveriam ter se cruzado. Garotas normais como Rebecca não costumavam esbarrar em bilionários da alta sociedade como Alexandros Pavlidis. Rebecca, porém, trabalhava como aeromoça para uma pequena linha aérea particular altamente exclusiva, através da qual entrava em contato com o tipo de pessoas sobre as quais os meros mortais apenas liam nos jornais. A companhia aérea Evolo tinha sua sede perto de Londres e transportava clientes extremamente ricos pelo mundo a preços astronômicos. O salário de Rebecca era mais alto do que o que ela poderia receber em qualquer outra companhia aérea, mas, em compensação, ela precisava estar sempre disponível, sendo avisada com muito pouca antecedência e, acima de tudo, tinha de ser discreta. Estrelas do rock, atores de Hollywood, reis e rainhas e até mesmo milionários normais freqüentavam os vôos regados a champanhe que haviam tido início com uma piloto loira e ambiciosa chamada Vanessa Gilmour. Toda vez que havia um vôo agendado, Vanessa passava a lista dos passageiros para Rebecca. Certo dia, ela recebeu uma dessas listas em que constava um nome que ela não reconheceu. Um nome muito bonito. — Quem é esse? — Alexandros Pavlidis? — Vanessa fez uma careta. — Você não lê os jornais? — Às vezes. — Rebecca ajeitou o cabelo sob o quepe do uniforme e sorriu. — Mas prefiro livros. — Ele é arquiteto — explicou Vanessa, com um gesto impaciente. — Ou melhor, starquiteto, como a imprensa gosta de chamá-lo. Um grego que mora em Nova York. Está projetando um novo banco perto da London Bridge. Eu o conheci numa festa e o convenci de que a Evolo podia responder às suas necessidades. É a primeira vez que ele voa conosco e eu não quero que seja a última. Portanto seja amável com ele, mas não demais, está bem? Rebecca percebeu o tom de advertência na voz de sua chefe, mas achava que aquilo era desnecessário. Ela sabia muito bem que era proibido namorar qualquer um 16


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dos usuários do serviço. — Como ele é? — perguntou educadamente já que, como parte da tripulação, ela deveria conhecer os gostos dos passageiros. Houve uma pausa. — Difícil — admitiu Vanessa suavemente. — Muito difícil. Seus olhos brilharam então de uma maneira que Rebecca nunca havia visto antes e sua voz se transformou num quase sussurro. — E absolutamente deslumbrante. Se difícil tinha sido um eufemismo, deslumbrante certamente o fora também, pensou Rebecca quando o encontrou mais tarde, naquele mesmo dia. Ela ficou impressionada tanto com o imenso carisma daquele homem, quanto com sua encantadora aparência. Se alguém lhe tivesse pedido para escolher o homem mais atraente do mundo, ela certamente teria escolhido Alexandros Pavlidis. Alto, moreno, indecentemente bonito e com certa frieza irresistível. O grego era lacônico até quase beirar a rudeza e funcionava na velocidade da luz. A equipe que o seguia tinha de praticamente correr para manter o passo com o dele. Rebecca notou também que todas as mulheres que trabalhavam no prédio haviam inventado algum pretexto para vir dar uma olhada nele. Seu trabalho, porém, não incluía desmaiar aos pés dos fregueses. Tinha de manter uma atitude cortês e respeitosa. Ela não tentou puxar nenhum assunto, restringindo-se apenas a atender os seus pedidos e responder gentilmente as suas perguntas. Ele começou a usar a Evolo regularmente para suas viagens pela Europa, por conta de seus trabalhos pelo mundo afora. Rebecca tentava não ficar muito excitada com sua presença, mas aquilo era praticamente impossível. Algo começou a se impor entre eles, como uma espécie de química à qual era impossível fugir, por mais que ela tentasse. Os olhos negros de Xandros se estreitavam pensativamente sempre que ele a via, e o coração de Rebecca saltava dentro do peito cada vez que ele a presenteava com um de seus raros sorrisos. Ela, porém, se forçava a lembrar das palavras de Vanessa quanto à discrição e aos limites impostos pela empresa e rapidamente se afastava dele. Mesmo que não fosse proibido namorar os passageiros, será que ela era o tipo de mulher que interessaria a Xandros? Mas sua aparente falta de interesse parecia estar inflamando Xandros. Ele fazia de tudo para puxar assunto com ela, fazendo-a correr o risco de ser descortês se não correspondesse. 17


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— O que você vai fazer depois de aterrissarmos? — perguntou ele, certa vez, numa noite estrelada, quando o avião pousou em Madri. — Vou dormir cedo — respondeu ela. — Ah! Seus olhos negros brilharam ao achar que finalmente compreendia sua inexplicável resolução de não flertar com ele. Primeiro ficou decepcionado, mas depois se sentiu impelido pelo sabor do desafio — não havia rival que não pudesse ser facilmente vencido quando Xandros queria alguma coisa. — E quem é o homem de sorte? Rebecca se sentiu corar. — Sr. Pavlidis! — Ne, agape mou, o que foi? Por que ele a havia chamado assim? Aquilo não queria dizer "querida" ou algo parecido em grego? — Isso é tudo? — Ochi — disse ele, ao perceber que ela ficara ruborizada... algo raro numa mulher hoje em dia. — Não. Eu quero que você jante comigo. Aliás, exijo. Tudo talvez acabasse mais rápido se ela tivesse aceitado aquele convite. Rebecca, porém, fez algo que poucas mulheres faziam — disse não a ele. Um homem que tinha tudo na vida, sempre desejava o que não podia ter, e Xandros desejava Rebecca. Ele a desejou como não desejava mulher alguma há anos, e foi forçado a persegui-la, algo completamente estranho para ele. Mesmo quando chegara a Nova York, com apenas 18 anos, sem nenhum refinamento, as mulheres já se lançavam avidamente em seus braços. — Que mal pode fazer um jantar? — provocou Xandros na vez seguinte em que eles voaram juntos. Já era fim de tarde quando o avião começou a aterrissar no aeroporto de Paris. O céu estava lindamente tingido por um pôr-do-sol incandescente. — Não se preocupe. — Sua voz aveludada mostrava certa ironia. — Você já me rejeitou o suficiente para me impressionar, agape mou. Agora que já deixou clara sua boa reputação, não há razão alguma para não desfrutarmos da companhia um do outro. Aquilo soou insuportavelmente tentador. Rebecca ajeitou o seu uniforme. — Eu não devo me envolver com os fregueses, Sr. Pavlidis — disse ela. — Quem disse? — A minha chefe. 18


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— Vanessa? — perguntou ele, apertando os olhos. — Isso mesmo. Ele assentiu, parecendo satisfeito. — Vanessa tem seus próprios compromissos __ disse ele lentamente. — E eu não estou propondo que andemos de mãos dadas ao pôr-do-sol — acrescentou ele com sarcasmo. — Só achei que Paris não era uma cidade em que se devia estar sozinho. Pensei que seria agradável ter um pouco de companhia. Hum? O que pode haver de errado nisso? Os olhos negros brilhavam, questionadores. Lá no fundo do seu coração, Rebecca sabia que ele não estava sendo sincero. Suspeitava de que tivesse um caderninho com os telefones de belas mulheres disponíveis em todas as cidades do mundo. Ela já havia conseguido conter seus sentimentos por ele por muito tempo, mas agora estava se sentindo completamente indefesa contra o poder do charme de Xandros. — Só jantar? — perguntou ela arfante. — Se é só isso o que você quer — respondeu Xandros, com um sorriso negligente. Não fora "só" um jantar, é claro. Como seria possível não deixar que um homem como Xandros a beijasse depois de ter ansiado por isso desde a primeira vez em que pusera os olhos nele? Sua batalha passara a ser então mais contra si mesma do que contra ele. Sua noção do que era certo ou errado competindo com os sentimentos do seu coração e os desejos do seu corpo. Ela perdera a batalha e terminara a noite com ele, na cama, é claro. Xandros era um homem viril e poderoso que jamais se satisfaria com um beijo casto ao final de um primeiro encontro, e, pela primeira vez em sua vida, ela também não. Rebecca nunca havia se sentido tão fisicamente vulnerável às carícias de um homem quanto se sentira com Xandros. Ela se odiou por ter capitulado tão rápido naquela noite, mas simplesmente não pôde se conter. A necessidade de seu corpo faminto se sobrepôs a tudo, silenciando a voz no fundo de sua mente, que se perguntava constantemente se ele a respeitaria depois daquilo. — Ninguém do trabalho pode saber — fora a sua única e urgente objeção quando a mão dele começou o seu inevitável passeio pela parte interna de sua coxa. — E por que deveriam? — disse ele ofegante, tirando-lhe a calcinha com um gemido de deleite. — Porque... oh... oh... Xandros! Porque as pessoas... — Ela fechou os olhos e engoliu em seco. — Porque as pessoas comentam — conseguiu ela finalmente sussurrar. — Então nós não lhes daremos nada para tecer comentários — assegurou ele, com voz macia, enquanto os dedos avançavam implacáveis sobre sua carne excitada, 19


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sentindo-a ceder lenta e gradativamente a ele. — Ninguém vai saber de nada. Nós vamos manter isso em segredo, será o nosso segredinho... Mas manter aquilo em segredo não era errado? Não significava que ele queria esconder seu envolvimento com ela de todos como algo furtivo de que ele se envergonhava? Rebecca tentou se afastar, mas o abraço dele era por demais envolvente e a suave carícia da ponta de seus dedos excessivamente intensa. — Xandros? — tentou ela ainda uma última vez. — Ochi — disse ele ferozmente. — Não diga nada! Não faça nada além de permanecer aqui em meus braços. Você sabe que é isso o que nós dois queremos! Ele a beijou intensamente, fazendo com que ela se rendesse, afinal. Mesmo no auge do seu primeiro orgasmo, porém, Rebecca sentiu uma pontada de dor no coração. Teve a sensação de que aquela rendição poderia ser o seu fim, e que ela estava se arriscando a perder tudo, principalmente o seu coração. Um homem como Xandros não tinha lugar em sua vida, mas a simples idéia de um futuro sem ele, depois de ter provado todos os prazeres que ele lhe proporcionara, lhe parecia desoladora. Se já sabia de tudo isso desde o início, por que então ela não o detivera? Por que se deixara tragar por algo fadado a fracassar já de antemão? Porque a natureza era assim. Fazia as pessoas desejarem o inalcançável. Rebecca despertou de seu devaneio e olhou para o luxo que a cercava. Ela se abaixou para pegar um dos sapatos que havia descartado quando tirara a roupa para o seu amante grego e suspirou. Não adiantava ficar remoendo o acontecido. Ela não podia fazer nada para mudar o passado, mas podia, isso sim, cuidar do seu presente. O presente, porém, não era muito reconfortante. Lá estava ela, na suíte de Xandros, prestes a sair com ele para um jantar ao qual nenhum dos dois queria realmente ir. Depois disso, ele viajaria para Nova York, e ela não sabia quando o veria novamente. — Rebecca? A voz sedosa, de sotaque grego, flutuou no ar. Rebecca aproveitou o fato de ter de afivelar seus sapatos para se recompor e poder olhar para ele. Seus olhos negros pareciam duas pedras preciosas incrustadas em seu rosto de pele cor de oliva. O coração de Rebecca se encheu de amor e desejo. Se ao menos ele não fosse tão lindo... Ela tirou uma escova da bolsa e começou a pentear os cabelos desgrenhados depois da batalha de amor com Xandros. — Sim, Xandros? — perguntou ela tranqüilamente. 20


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Ele gostava de vê-la pentear os cabelos. Da primeira vez em que ela os soltara para ele, Xandros havia lhe dito que eles eram da cor do mel da Grécia, mais escuro e mais saboroso do que qualquer outro no mundo. — O carro está esperando lá embaixo, agape mou. — Seus olhos se estreitaram, olhando-a interrogativamente. — Ainda quer ir comer? O que ele faria se ela lhe dissesse a verdade — que o que realmente queria era saber o que ele sentia por ela? Se ele estava realmente se cansando dela ou se aquilo era apenas fruto de sua imaginação hiperativa. Algo em seu íntimo, porém, lhe dizia que um homem como Xandros desprezaria uma mulher que precisasse daquele tipo de garantias. — Comer? Achei que você não fosse perguntar nunca — disse ela casualmente, virando a cabeça de modo que seu cabelo recém-escovado caísse como uma cortina perfumada em torno de suas bochechas coradas. Ela conseguiu até lhe lançar um olhar zombeteiro. — Eu não sei por que, mas fiquei com um enorme apetite! Xandros fez um meneio de cabeça quase imperceptível ao ajudá-la a vestir o casaco, observando-lhe os movimentos sinuosos para colocá-lo. Rebecca havia usado um tom exato de distância e indiferença para responder a ele, mas sua serenidade aparente estava fazendo o desejo de Xandros acender outra vez. Um nervo saltou em sua têmpora ao perceber que queria puxá-la de volta para si e tomá-la nos braços. Dar um fim àquilo ia ser bem mais difícil do que ele havia imaginado.

CAPÍTULO TRÊS

Na manhã seguinte, Rebecca acordou com o som de uma ducha e a voz de Xandros cantando em grego. Ele parecia feliz, pensou melancolicamente — e por que não estaria? Abriu os olhos e ficou fitando o lustre que pendia acima daquela cama enorme como um dossel de diamantes. Ele havia lhe descrito o novo prédio que estava construindo, durante o jantar da noite anterior, que teria um enorme jardim na cobertura. Queria que aquele fosse o primeiro de muitos projetos semelhantes. Sua idéia era levar um pouco de verde a 21


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lugares cinzentos. Xandros queria um mundo que não brigasse com a natureza. Sua voz profunda soara tão impetuosa que Rebecca se viu tomada de admiração e inveja. Era como se ele estivesse lhe descrevendo um paraíso do qual ela nunca faria parte. A água parou de jorrar e, pouco depois, ele entrou no quarto, completamente nu, secando o cabelo escuro com uma pequena toalha. Seu corpo firme brilhava. Ombros largos, quadris estreitos e pernas peludas. Ele parecia completamente à vontade em sua nudez, mas também, com um físico daqueles, quem não estaria? Xandros nadava todos os dias, independente de onde estivesse. Ele havia lhe contado, certa vez, que aquilo era algo que ele havia trazido da Grécia consigo — o desejo de sentir a água contra a pele e a deliciosa liberdade que advinha disso. Ele olhou para ela em meio aos lençóis emaranhados, curvando a boca num pequeno sorriso. — Kherete — disse ele suavemente. — Olá — murmurou ela, espantada por ainda ficar tímida quando ele a olhava daquela maneira, apesar de Xandros conhecer seu corpo melhor que qualquer outro homem. — Estou com tanta preguiça que não sou capaz de me mover daqui. — Ver você deitada assim me dá até vontade de ficar. Fácil dizer. — Mas você não pode. Ele colocou uma cueca preta que aderiu deliciosamente à sua pele. — Infelizmente não. Terei de comparecer a uma série de reuniões assim que aterrissar nos Estados Unidos. — Ele deu de ombros, mas seus olhos negros brilharam de expectativa. — Estamos prestes a fechar um ótimo negócio. — E você certamente será convidado para festas maravilhosas em Nova York. Ela não havia querido dizer aquilo em voz alta, mas as palavras pareceram saltar de sua boca. Houve uma pequena pausa e então ele ergueu levemente as sobrancelhas escuras. — Isso também — concordou ele. Rebecca sabia que estava pisando em território perigoso. Que Xandros, mais do que a maioria dos homens, compartimentava a sua vida, e que ela pertencia claramente à seção inglesa. Seu interesse, porém, não precisaria necessariamente ser interpretado como ciúme ou possessividade. Afinal, tinha o direito de saber alguma coisa sobre a vida dele: — E você vai? — Às festas? — Ele vestiu uma camisa de seda cor de marfim e começou a abotoá-la. — Às vezes, como a maioria das pessoas, quando não estou muito ocupado. Por que não iria? — Depois tirou uma calça escura do armário. — E você, Rebecca, o 22


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que faz quando seu amante grego não está na cidade? Aquela era uma pergunta significativa, uma vez que Xandros jamais se interessara por nada semelhante antes, ou estaria ele simplesmente sendo educado? Seu orgulho a fez enfeitar uma vida que seguramente pareceria muito comum aos olhos dele. Imagine como ele reagiria se ela lhe contasse que passava grande parte de seu tempo livre pensando nele! Nem mesmo o supermercado era um lugar seguro, pois ela freqüentemente se flagrava de olho nas prateleiras em busca da marca de azeite que a família dele produzia na Grécia. — Oh, muitas coisas. — Ela afastou uma mecha de cabelo dos olhos. — Vou ao cinema, às vezes ao teatro. — Com suas amigas, naturalmente — interrompeu ele, enquanto puxava o zíper da calça. Algo no tom desdenhoso dele a ofendeu. Quem ele pensava que era? Não lhe oferecia, nem prometia nada, e esperava que ela se enfiasse numa caixa escura quando ele ia embora e permanecesse lá, esperando avidamente pela sua volta? — Nem sempre. Eu tenho amigos dos dois sexos. Xandros fixou seus olhos negros brilhantes nela e disparou: — Homens? Houve uma pausa. Será que ele achava que eles ainda estavam na Idade Média? — Naturalmente. — Você se encontra com outros homens? Rebecca sentou na cama. Seu cabelo cobria os seios nus. — Não são encontros. — protestou ela. Quis dizer, não como os que tenho com você, mas isso soaria falso. Eles não saíam juntos, apenas se encontravam para fazer um ótimo sexo sempre que ele estava na cidade. — São apenas amigos que me fazem companhia ocasionalmente. Sabe como é. Ele apertou os olhos, num lampejo de algo que beirava a crueldade. — Não, eu não sei. Isso não faz nenhum sentido para mim, agape mou. No meu entendimento, homens e mulheres só têm uma coisa em mente. É da natureza humana. Sua voz sedosa pareceu quase... ameaçadora, primitiva. Rebecca franziu a testa, surpresa pela expressão de acusação estampada nos olhos dele. — O que você está insinuando, Xandros? — perguntou ela, um pouco hesitante. — Que eu faço sexo com outros homens quando você não está aqui? — E você faz? Ela sentiu um desânimo que logo se transformou em mágoa e então raiva. Era 23


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difícil manter a própria dignidade quando se estava completamente nua, por isso Rebecca puxou o lençol e se enrolou nele. Ao levantar da cama, ela se deu conta de que suas mãos estavam tremendo. — Eu não acredito que você esteja me perguntando uma coisa dessas, como se eu fosse algum tipo de... vagabunda! Sua respiração estava quente e ofegante. Ele ainda a olhou por um momento antes de cruzar o quarto, dirigindo-se a ela, mas Rebecca o deteve com um gesto. — Com que tipo de mulher você costuma se envolver, para pensar uma coisa dessas a meu respeito? O pedido de desculpas veio com certa dificuldade, uma vez que Xandros raramente reconhecia que estava errado. — Reconheço que foi uma pergunta infeliz. Eu nunca deveria ter dito uma coisa dessas. — Não devia mesmo. Ele estendeu a mão na direção da dela, percebendo o esforço que ela estava fazendo para não perdoá-lo rápido demais. Rebecca finalmente cedeu e, com um suspiro relutante, permitiu que ele levasse a sua mão até os lábios e beijasse a ponta de cada um de seus dedos. — Perdoe-me — murmurou ele contra a pele que ainda trazia o odor da longa noite de sexo que eles haviam compartilhado. — Perdoe-me, agape mou. Ela teve vontade de perdoá-lo, ao mesmo tempo em que quis mandá-lo para o inferno. Hesitando entre o desejo e o desespero, Rebecca fechou os olhos, querendo ser suficientemente forte para se livrar daquela doce tortura que ele lhe infligia. Quando os abriu outra vez, encontrou os olhos dele sobre ela repletos de uma promessa erótica. Ela se sentia completamente perdida quando ele a olhava daquela maneira. Talvez ela fosse fraca demais, ou Xandros forte demais. Talvez as duas coisas. Oh, Xandros. — Você me perdoa? Ela deu de ombros, agradecendo a Deus por ele não ter conseguido ler seus pensamentos. Não queria terminar tudo com ele, mas também não ia permitir que ele a fizesse de gato e sapato. — Vou pensar no assunto. — Ela assumiu uma expressão séria. — Mas, por favor, nunca mais me acuse de uma coisa dessas outra vez. É injusto e ultrapassado. — Eu sou grego — respondeu ele suavemente. — Nós gregos não acreditamos que a natureza humana possa mudar. Acho impossível que um homem e uma mulher sejam 24


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apenas amigos. Especialmente com uma mulher como você, Rebecca. —A boca dele se curvou num sorriso deslumbrante. — Mas eu acredito que você não tenha intenção de ir para a cama com nenhum outro homem além de mim. Por que ela teria, se ele era o melhor amante que uma mulher poderia desejar? Xandros percebeu que ela estava esperando algo mais, e isso o preocupou, pois ele jamais fornecia garantias a mulher alguma. Seus relacionamentos seguiam um determinado ciclo, como uma febre, e seu caso com Rebecca já havia passado pela maioria dos estágios. Ele a tinha perseguido e seduzido. Deleitara-se fazendo amor com ela diversas vezes. Mais um pouco e o relacionamento acabaria caindo num padrão enfadonho e previsível, e Xandros não a toleraria mais por muito tempo. Talvez o melhor fosse terminar enquanto eles ainda estavam no auge. Deixá-los com as lembranças dos momentos especiais antes que tudo se deteriorasse e caísse na apatia. Apesar de ter a impressão de que seu tempo com ela já estava se esgotando, chegando ao fim, algo dentro dele cedeu. Ele só queria um pouco mais. Por algum estranho e raro motivo, ela ainda não havia saído de seu sistema nervoso, e ele ainda precisava de mais algum tempo para libertar seu corpo e sua mente daquela doce tentação. Xandros se sentiu tomado de desejo. — Devo estar de volta no dia 10 — sussurrou ele. — Por que não planeja algo especial para nós nesse dia? Reserve em algum lugar que você realmente queira. Pode mandar a conta para mim. Rebecca se contorceu. Um dos telefones de Xandros tocou e ele nem se deu conta de como a havia ferido com aquelas palavras. Ele beijou suavemente a ponta de seu nariz, já às voltas com os compromissos que teria pela frente. — Eu ligo para você — prometeu ele ao atender a chamada, e depois, fazendo apenas o movimento com os lábios, acrescentou: — Logo. Depois começou a falar rapidamente em grego, dirigindo-se para o banheiro. Rebecca voltou para casa sentindo uma espécie de mágoa, daquelas que persistiam em fogo brando sem desaparecer totalmente. Ela costumava se ofertar chocolates, relaxantes banhos de espuma ou um livro novo quando Xandros ia embora — pequenos prazeres que ajudavam a diminuir o impacto de sua partida. Hoje, porém, ela não estava animada a comprar nada, nem inclinada a dormir cedo, o que seria o mais sensato depois de uma noite de tão pouco sono e um vôo no dia seguinte logo de manhã cedo. Planeje alguma coisa, dissera ele. Mande a conta para mim. Será que Xandros 25


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achava que ela não era capaz de pagar por algo realmente interessante? Claro, seu salário como comissária de bordo era apenas uma mera gota d'água comparado ao oceano de sua riqueza, mas ela sabia viver bem. Rebecca fechou a porta de casa e olhou ao redor. Ela ainda não o havia recebido devidamente em seu apartamento. Nunca tinha feito uma refeição lá, nem passado a noite com ela em sua cama, pequena apenas se comparada à dele, como tudo mais. Ela pôs água na chaleira para preparar um café, e ficou olhando pela janela para os primeiros brotos que despontavam nos galhos das árvores. A primavera costumava trazer consigo muita luminosidade depois da longa escuridão do inverno. Talvez fosse hora de encarar os fatos. Sentia-se cada vez mais apaixonada por Xandros, mas o controle da relação estava completamente nas mãos dele. Ela estava com medo de que tudo terminasse, sabendo que uma relação tão unilateral não tinha como se sustentar. Xandros estava acostumado a ter todos os seus caprichos atendidos. Seu apetite acabaria inevitavelmente desaparecendo se fosse sempre saciado. A boca de Rebecca se curvou num sorriso. Ela certamente ia planejar alguma coisa! Só não ia, de maneira alguma, enviar a fatura a ele. Ia lhe dar uma pequena prova de como era a sua vida! Nada como uma comidinha caseira e um toque de vida comum. Ela decidiu preparar uma torta de frango, sua escolha preferida desde a infância, algo que ele provavelmente nunca encontraria nos restaurantes sofisticados que freqüentava. Foi até a loja de vinhos de sua rua e comprou uma garrafa de um tinto a um bom preço que lhe fora muito bem recomendada pelo dono. Depois fez uma bela faxina em seu apartamento. Como era bom tirar os móveis do lugar e lustrá-los até deixá-los brilhando. Rebecca teve a sensação de estar tirando a poeira dos cantos escuros de sua própria mente. Xandros não tinha ligado, mas ela não se deixou abalar. Não ia bancar a dependente quando sabia que ele estava ocupado. Ele havia dito que estaria de volta no dia 10, e era para esse dia que ela estava se preparando. Lavou seus lençóis de linho e os passou com o entusiasmo de uma protagonista de comercial de sabão em pó, mas sentiu uma nuvem de desânimo pairar sobre sua cabeça. Só porque estava planejando entreter Xandros no seu território, isso não significava que ela teria de se transformar em alguma espécie de dona de casa perfeita. Ao se dar conta de quanto tempo já fazia desde a última vez em que tinha falado com ele, 26


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Rebecca começou a ficar preocupada. Ficou grudada ao lado do telefone olhando com desânimo para os vasos repletos de flores frescas que havia comprado no mercado. E se elas murchassem antes de ele voltar? E se toda a poeira voltasse a se acumular sobre os móveis? Toda aquela preocupação fez com que ela percebesse que ainda estava se comportando como um cão faminto à espera que seu dono lhe jogasse um resto de seu prato. Por que estava esperando que ele ligasse? Tinha o telefone dele. Já havia dormido com ele. Por que então não poderia ligar para ele para confirmar seus planos? Por mais que tentasse racionalizar e se justificar, a verdade era que as suas mãos estavam tremendo ao teclar o número dele, e seu coração batia aceleradamente. Rebecca ouviu um repentino clique do outro lado da linha seguida de uma mensagem gravada avisando que a ligação estava sendo transferida, e então mais um som e a instrução de que ela deveria deixar sua mensagem. Ela não havia se preparado para aquilo. Conseguiu apenas gaguejar algo como: — Oh, olá, Xandros, sou eu. Rebecca. Eu só estava querendo saber... Querendo saber o quê? A que horas ela deveria colocar a torta no forno? Realmente muito sedutor. — Só liguei para dar um oi — prosseguiu ela firmemente. — Você pode me dar uma ligada quando tiver uma chance? Ela havia soado como a recepcionista de um consultório dentário querendo confirmar uma consulta. Percebeu então que havia outro número de Xandros anotado em sua agenda. Uma mulher atendeu. O coração de Rebecca bateu dolorosamente no peito. Quem é você? — Eh... Xandros está, por favor? — Ele não se encontra no momento — disse a voz arrastada. — Quem deseja? A namorada dele! — Pode lhe dizer, por favor, que Rebecca ligou? — Claro. O telefone dela voltou à vida cerca de uma hora depois. — Você ligou? — perguntou Xandros distraidamente. Ela quis perguntar quem era a mulher que a atendera. Quis lhe perguntar por que ele nunca ligava quando prometia fazê-lo. Em vez disso, porém, disse apenas: — Eu o perturbei? Houve uma pausa. — Eu estava numa reunião. O que posso fazer por você, Rebecca? Seria apenas imaginação sua, ou ele a estava tratando com indiferença? Era por 27


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isso que ela sempre esperava que ele ligasse? Algum instinto de preservação daquela frieza arrogante tão contrastante com a paixão ardente que ele exibia na cama? Xandros era um homem que gostava de estar sempre no controle da situação, e ela estava querendo que as coisas saíssem um pouco daquela rota para voltar a ser a mulher animada que costumava ser. — Só queria me certificar de que você vem mesmo na sexta. Xandros examinou a agenda sobre a sua mesa. — Isso mesmo. Mas se esse acordo demorar a sair, eu talvez tenha de pegar outro vôo. — Sua voz suavizou um pouco ao se lembrar de como ela sempre o recebia quando ele chegava. — O que acha de eu lhe telefonar assim que aterrissar para que você possa vir me encontrar, agapel! Posso fazer ainda melhor. Avisarei a equipe do hotel para que você possa esperar por mim lá. Avisar a equipe do hotel? A voz rouca de Xandros não deixava nenhuma dúvida de como ele gostaria de ser recebido. Provavelmente usando um sutiã de seda bem apertado e uma calcinha mínima. Ela pensou na torta de frango, no apartamento brilhando de tão limpo, e na violeta que ela havia colocado perto da cama. — Eu preferiria que você viesse à minha casa, Xandros. Outra pausa. — A sua casa? — Sim. Vou preparar o jantar para nós aqui no meu apartamento, para variar um pouco. Xandros franziu a testa e conteve um suspiro. Ele não queria que ela cozinhasse para ele. Queria-a como ela sempre estivera — disponível. — Por que perder um tempo precioso na cozinha quando há tantas outras maneiras melhores de aproveitá-lo? Rebecca, porém, estava determinada a não se deixar mais usar simplesmente como um objeto sexual eternamente disponível. De agora em diante eles iam se manter em condições de igualdade, porque era assim que funcionavam os relacionamentos. — Porque eu quero — disse ela teimosamente. Oh, é mesmo? — Então quem sou eu para me opor? Irei diretamente do aeroporto para a sua casa e telefonarei quando estiver a caminho. Satisfeita agora? Satisfação, porém, foi a última coisa que Rebecca sentiu ao desligar. O tom que Xandros usara para falar com ela a deixara com a estranha sensação de que ela havia fechado as cortinas antes de o último ato chegar ao fim.

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CAPÍTULO QUATRO

Xandros já havia ido à casa de Rebecca antes, mas talvez nunca tivesse prestado realmente atenção nela. Um homem excitado ignorava tudo ao redor da mulher que desejava. Ela o havia feito esperar por tanto tempo que o sexo entre eles tinha sido pura dinamite. Era como se ele não conseguisse ter o bastante dela. E agora? Seu polegar se deteve na campainha. É claro que ele ainda a desejava, mas a vida e as circunstâncias estavam começando a turvar esse desejo. Por que as mulheres sempre tinham de tentar mudar o que estava indo bem e querer alcançar alguma coisa além disso? Por que elas sempre queriam mais do que os homens estavam preparados para dar? Xandros percebeu que havia cerrado os lábios numa expressão severa. As mulheres escondiam suas verdadeiras intenções por trás de belos sorrisos e os homens permitiam que elas o fizessem. Ele nunca ia esquecer a expressão chocada de seu pai quando sua mãe lhe anunciou que os estava deixando. Como um homem podia ter sido tão idiota a ponto de não perceber o que estava por vir? A porta se abriu. Com o cabelo preso no alto da cabeça e um avental ao redor da cintura de seu vestido curto de algodão, Rebecca parecia mais despojada do que nunca. Seu sorriso era brilhante, mas ele detectou uma prudência em seus olhos. Será que ela havia reconhecido que o tinha encurralado e percebido a sua loucura um pouco tarde demais? Xandros, porém, já havia vivido aquela cena diversas vezes e sabia como lidar com ela da melhor forma possível. Ouviu a música ao fundo e sentiu o cheiro da comida. — Olá, Rebecca — disse ele suavemente. — Olá, Xandros. Ela ficou parada no lugar, toda desajeitada, sem saber o que fazer ou dizer. Um peixe fora d'água na sua própria casa. — Não vai entrar? Ele sorriu estranhamente enquanto a seguia pelo minúsculo corredor e fechava a porta. Como ele odiava todas aquelas convenções que aquele tipo de situação lhe 29


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impunha. Tentando ignorar os sapatos enfileirados ao lado do telefone, ele fitou os olhos violeta de Rebecca. — Nem um beijo? Trêmula, ela passou os braços em torno do pescoço de Xandros, mas, assim que os lábios dele colaram nos seus, todos os temores desapareceram. A intensidade de seu beijo e o contato com os contornos de seu corpo a incendiaram. Rebecca se abandonou em seus braços com um gemido faminto e Xandros aprofundou ainda mais o beijo. Suas mãos começaram a vagar pelo corpo dela e mais uma vez ele se surpreendeu com a rapidez e a intensidade com que seu corpo reagia ao de Rebecca. Ele a queria ali mesmo. Se lhe tivessem pedido para se comprometer por escrito, dizendo que desejava passar o resto de sua vida dentro do corpo dela, ele o teria feito. — Oh, Rebecca — disse ele em meio a um gemido. — O que é que você está fazendo comigo? — Xandros — disse ela, arfando, quando ele segurou suas nádegas, aninhando-a contra seu membro rígido. — Ne, agape mou o que você quer? Isso? Você gosta disso, não é? E disso? Hum? Também? Ele a estava provocando, passando a ponta dos dedos pela sua barriga enquanto a boca se movia sobre seu pescoço, fazendo-a tremer ainda mais. Sabia o que Xandros queria — exatamente o mesmo que ela —, mas aquela noite ia ser diferente. Naquela noite ela queria se sentir mais do que apenas um objeto nos braços de Xandros. Rebecca se afastou dele com o rosto afogueado e o coração batendo loucamente. — Vamos ter tempo para isso depois. Eu não quero deixar o jantar desandar. Será que ela não se dava conta de que estava parecendo uma dona de casa suburbana? Xandros, porém, não esboçou nenhuma reação, dizendo apenas: — Não, isso seria realmente um crime. Rebecca sorriu, pouco à vontade. — Venha cá. Xandros a seguiu até a sala que ficava de frente para a cozinha minúscula. Lembrou-se de ter feito amor com ela certa vez no estranho sofá que havia ali, enquanto seu chofer esperava por ele lá fora. Aquela noite, porém, seria muito diferente. Ela parecia ter se empenhado muito. 30


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Havia velas acesas por todos os cantos e um pequeno vaso de flores no centro da mesa, posta para o jantar. O cheiro forte da cera e do lustra-móveis contrastava com o forte aroma de algo sendo preparado na cozinha. Xandros se forçou a sorrir. — Que cheiro delicioso — mentiu ele. Achou que aquele não seria o melhor momento para lhe contar que havia comido alguma coisa no avião. — Por que não tomamos alguma coisa primeiro? — Sim, é claro. Desculpe, eu já devia ter lhe oferecido. O que acha de um vinho? — Perfeito — disse ele, tomando a garrafa de suas mãos. — Eu abro. As taças estavam tilintando quando ela as colocou a sua frente. Será que ele havia percebido que ela estava tremendo? Xandros era seu amante e ela o estava recebendo em sua casa — o que poderia haver de tão aterrorizador nisso? Ele serviu o vinho e lhe estendeu uma das taças. — A que vamos brindar? A nós, ela quis dizer, mas só um idiota faria um brinde tão impróprio como esse. — À felicidade. Xandros teve vontade de se contorcer, mas se conteve e tomou um gole de vinho antes de pousar a taça sobre a mesa e retirar um pequeno pacote do fundo de seu bolso, estendendo-o em direção a ela. Rebecca fitou o embrulho com olhos arregalados, e então voltou-os na direção dos dele. Aquilo parecia... — O que é isso? — Por que não abre e vê? Um presente! Um presente que parecia uma jóia? Ela desembrulhou o pacote e descobriu que se tratava de um par de brincos. Eram brincos de prata, grandes, de forma ovalada. Rebecca ficou olhando para eles por algum tempo, piscando repetidas vezes ao tentar recompor-se depois de um gesto tão inesperado. — Coloque-os — disse ele. Eles brilharam junto às suas orelhas, refletindo a cor de seus cabelos. — Oh, Xandros, eles são lindos! — respirou. — Por que você comprou isso para mim? Por algum motivo de que eu deveria me lembrar. — Um homem não pode comprar um presente para uma mulher? — respondeu ele suavemente. 31


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— Bem, sim, mas... Um timer começou a soar dentro da cozinha. Droga! — exclamou ela. — Eu tenho que desligar o forno. — Deixe para lá. — Não posso. A torta vai queimar. — Deixe-a queimar. Ele passou os braços ao redor de sua cintura e a trouxe para junto de si, vendo os olhos dela escurecerem de desejo quando começou a beijá-la. Rebecca, porém, não conseguiu relaxar. Aquilo era cheiro de queimado? Depois de tanto trabalho? — O jantar... Ele soltou uma expressão muito explícita em grego quando ela se desvencilhou dele. — Xandros, eu tenho de cuidar do jantar. — Tem mesmo? Ele acariciou o seu rosto e ela hesitou por um instante. Sabia que Xandros a queria, tanto quanto ela a ele, mas aquilo tinha de mudar. Ela havia passado a maior parte dos últimos dias fazendo de tudo para que aquela noite fosse perfeita. 0 fato de ele ter lhe trazido um belo presente não lhe dava o direito de mudar todos seus planos e estragar tudo. — Você já me levou muitas vezes para jantar fora. Agora sou eu quem quer lhe oferecer alguma coisa, para variar — sussurrou ela. — Não vou demorar muito. Xandros ficou esperando com uma expressão sombria enquanto ela lidava com as panelas. Quando ela finalmente voltou e colocou a comida na mesa, seu rosto estava vermelho de calor e seu cabelo despenteado. — Queimou um pouquinho. — Estou vendo. — Foi por sua culpa. — Culpai — repetiu ele. — Ou minha, por ter deixado que você me beijasse. Xandros não retribuiu o sorriso. Eles comeram em silêncio. Rebecca pôde sentir a iminência de um terrível desfecho ao lhe servir a última porção de torta. — Quando foi a última vez que você comeu uma comidinha caseira? Ele teve vontade de dizer "nunca", o que não deixava de ser verdade, mas preferiu evitar as perguntas que se sucederiam a essa afirmação. Além disso, havia uma pequena parte dele que não conseguia deixar de ficar tocada com todo o trabalho que ela tivera. Mas ele sabia muito bem quais eram as intenções dela. Veja só que dona de casa perfeita eu posso ser. 32


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Havia outras mensagens possíveis, é claro. Deixe-me prender você na armadilha das minhas proezas sexuais. Ou ainda, Eu vou me tornar tão indispensável que você vai se perguntar como conseguia sobreviver sem mim. Todas apenas variações sobre um mesmo tema. Todas parte dos tão conhecidos joguinhos femininos. Bastava que se lhes acenasse com um homem atraente com bilhões no banco para que elas começassem a se comportar de maneira previsível. Xandros sabia que era arrogante, mas o fato é que as mulheres vinham tentando casar com ele há anos. Será que era essa a razão de Rebecca ter montado toda aquela cena daquela noite? Teria ela se convencido de que um homem tão acostumado à riqueza ficaria cativado por um cenário mais modesto? Será que ela não tinha idéia de que ele já havia passado por aquilo antes? — Xandros? — disse ela, odiando a máscara rígida em que o seu belo rosto havia se transformado. — Perguntei quando foi a última vez que você comeu uma comida caseira. Ele levantou as taças e sorriu levemente. — Não me lembro. Rebecca franziu a testa. Eles nunca conversavam sobre os mesmos assuntos compartilhados por outros casais. Achava que eles já estavam juntos há tempo suficiente para que ela pudesse saber um pouco mais sobre o seu passado. Como eles poderiam se conhecer mais intimamente sem saber o básico a respeito um do outro? — E quando você era pequeno? — perguntou ela com voz suave, tentando imaginálo quando criança. — Há algo específico que você queira saber? — perguntou ele friamente. — Bem, nada específico, eu estava falando de maneira geral... — Ela sorriu para ele, num apelo silencioso. Estou interessada, só isso, tentou transmitir ela com o olhar. — Você nunca me falou muita coisa a respeito da sua vida na Grécia. O seu irmão, por exemplo. Eu nem me lembro do nome dele. Xandros teve vontade de lhe dizer que aquilo era irrelevante. — Seu nome é Kyros. Não há muito a dizer. — Você conhece os fatos. — Um aviso brilhou em seus olhos negros. — Eu deixei a minha casa aos 18 anos e nunca mais voltei. — Mas ele... Kyros... Ele é seu irmão gêmeo, não é? — E? Ela estava usando o nome de seu irmão como se o conhecesse! Como se algum dia 33


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viesse a conhecê-lo! Xandros afastou seu prato. Seus olhos estavam frios. Por que ela havia insistido naquele assunto quando ele tinha deixado bem claro que não desejava prosseguir nele? — As pessoas parecem ter algum tipo de teoria universal sobre os gêmeos, baseada mais em sentimentalismos do que em fatos — afirmou ele. — O consenso é que existe sempre algum tipo de telepatia, um elo inquebrantável entre eles. Bem, Rebecca, eu sinto lhe dizer que isso é pura fantasia. Assim como tantos outros mitos sobre a vida em família, como o de que as mães cuidavam de seus filhos e os pais brincavam com eles. Ela ficou surpresa com a repentina aspereza em seu tom de voz, como se ela tivesse tocado num nervo exposto. Sua intuição lhe disse para recuar, mas um instinto ainda mais forte se sobrepôs a ela. De que valia ficar com Xandros se ela só podia se mover dentro dos limites impostos por ele? Não tinha sido por isso, afinal, que ela havia preparado aquele jantar? Para escavar um pouco mais sob aquela camada de gelo para descobri a verdadeira essência do homem que existia sob ela? — Você parece tão amargo, Xandros — disse ela calmamente. — Tão zangado. Por que não me conta o motivo? Ele se contorceu como se tivesse sido golpeado, olhando para ela. — Como você ousa falar do que não sabe? Ele estava distorcendo suas palavras. — Não foi essa a minha intenção! — protestou ela. — Tudo o que eu quis... — Eu não me importo com o que você quer! — retrucou ele. — Eu não quero desabafar com você, minha linda. — Seus olhos negros estavam injetados nela. — Isso nunca fez parte do acordo. Aquelas palavras não faziam sentido. — Acordo? Do que você está falando? O coração de Xandros começou a bater mais rápido. Ele tomou o último gole de vinho e pousou a taça vazia sobre a mesa. — O tempo que eu passo com você deveria ser um intervalo agradável, mas de repente eu preciso desnudar a minha alma só porque você descascou algumas batatas. Se eu estivesse atrás de um terapeuta, bastaria ter atravessado a rua em Nova York para encontrar mais de cem! Ele viu a expressão do rosto dela e se esforçou para conter sua fúria. — Escute, Rebecca — disse ele, num tom suave que jamais havia usado com ela. — O que nós tivemos... — Nada! — interrompeu Rebecca furiosamente, vendo claramente onde aquela 34


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conversa ia dar. Ele ia terminar com ela! Junto com essa revelação, veio também a constatação de como ela havia sido fraca e condescendente, sempre se acomodando às necessidades dele. Sempre Xandros, Xandros, Xandros! Ela havia passado aquele tempo todo pisando em ovos, tentando descobrir o que ele queria e como ele se sentia. Rebecca estava decepcionada consigo mesma. Se não gostava da maneira como tinha sido tratada pelo bilionário grego, a culpa era só dela. Mas não era tarde demais para recolher os cacos de seu orgulho antes de causar um dano irreparável. — Você sabe muito bem que apesar de todos os restaurantes chiques e belos hotéis a que fomos, nós não tivemos nada além de sexo e conversa fiada! E sabe do que mais, Xandros? Eu estou feliz que tudo tenha acabado. É isso mesmo! Xandros ficou paralisado, com todos seus sentidos em alerta. — Mas eu não disse que acabou. Rebecca quase riu da sua arrogância. — É verdade, você não disse. Sou eu quem está dizendo. Acabou... talvez nunca devesse ter começado. Deus é testemunha de que eu resisti o quanto pude. — Mas acabou cedendo — provocou ele. — Cedi sim. Você é muito bom, nisso, Xandros, eu admito. O melhor, aliás. Só uma mulher muito forte resistiria ao charme que você jogou em cima de mim naquela época, mas que tem diminuído gradativamente desde então. — Ela o olhou desafiadoramente. — Pelo menos agora, nós dois sabemos onde estamos pisando, portanto acho melhor você ir andando. Ele viu o rosto dela em fogo e o brilho nos olhos e percebeu que Rebecca estava tomada de uma raiva tão esmagadora quanto seu desejo por ela, ao sentir seu corpo reagir. — Está bem, eu vou — disse ele por fim, satisfeito ao vê-la morder o lábio inferior quando ele concordou tão prontamente. Ela ia se arrepender amargamente de sua impetuosidade! Xandros não resistiu à tentação de mais uma pequena demonstração de poder. — Mas antes, que tal um beijo de despedida? — sugeriu ele, com uma voz sedosa. — Pelos velhos tempos? — Não. O protesto de Rebecca foi decidido, mas não adiantou. Ele já a havia puxado pela cintura e tomado em seus braços. Bastou um toque para que ela entrasse literalmente em combustão. Rebecca ouviu o gemido dele ao apertá-la em seu abraço e o próprio também. 35


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Eu preciso detê-lo, disse ela a si mesma, sem, no entanto, fazer um único movimento. Mais tarde ela se justificaria, dizendo que tinha agido como alguém que ia fazer uma longa viagem sem alimento ou bebida. Quem poderia culpá-la por querer desfrutar de um banquete oferecido numa situação dessas? Rebecca nunca o havia visto assim antes. Ele parecia um garanhão puro-sangue. Seu furor selvagem era combustível para seu desejo urgente. Ela teve vontade de se afogar em seu beijo e levá-lo consigo. Suas mãos estavam agora sobre os seios dela, moldando-os contra as suas palmas, para depois agarrar-lhe os quadris e as nádegas. Xandros começou a arrancar-lhe o vestido como se estivesse possuído. E isso sem deixar de beijá-la um só minuto, variando de intensidade, ora mais forte, ora mais suave. Tentando-a e incitando-a a tocá-lo de volta, a passar os dedos sobre seu membro rígido por sobre o jeans. — Baixe o meu zíper — ordenou ele asperamente e, para sua eterna vergonha, ela fez exatamente o que Xandros mandou. A calcinha cara que havia comprado especialmente para seduzi-lo mais tarde foi rasgada e jogada ao chão. E ela nem sequer podia culpá-lo. Não se contorcendo daquele jeito, tão excitada a ponto de quase tê-lo mandado fazer aquilo. Não havia nenhuma sutileza no que estava acontecendo entre eles. Xandros a deitou contra o chão duro e Rebecca o puxou para cima de si. Ele estava gemendo outra vez, baixando seu jeans, e ela percebeu que ele não ia se incomodar em tirá-lo completamente, apenas... Ele soltou um grito quando a penetrou, tendo sido imediatamente seguido por ela. Rebecca soluçou quando ele entrou cada vez mais fundo, mais fundo do que jamais estivera dentro dela, como se estivesse invadindo sua alma. Seu grito selvagem ao arquear o corpo contra o dele anunciou seu orgasmo, mas também a dor de seu coração partido. Seu coração que não era capaz de ouvir a voz da razão. Independente de quantos motivos desse a si mesma para não sentir aquilo, o fato era que ela o amava. Rebecca sentiu o gosto salgado das lágrimas rolando pela sua face ao tentar imaginar sua vida sem Xandros. Foi como imaginar uma paisagem desolada sem nenhum sinal de luz no horizonte. Ela ainda permaneceu deitada por algum tempo até se acalmar, ouvindo a respiração dele ficar cada vez mais profunda e constante, até ter certeza de que ele havia adormecido. Foi então, porém, que ele se mexeu, afastando-se dela. Rebecca manteve os olhos bem fechados para conter as lágrimas, odiando-se por desejar tanto 36


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tê-lo novamente em seus braços, por querer que toda aquela cena estúpida jamais tivesse acontecido e que eles pudessem seguir a noite como ela havia planejado. Droga! Ela nem sequer conseguia lembrar por que eles haviam brigado. Xandros se levantou em silêncio e se vestiu, ainda com o coração batendo loucamente dentro do peito. Olhou para Rebecca. Sentiu-se culpado ao ver a calcinha rasgada no chão, mas sabia que ela havia desejado aquilo tanto quanto ele. — Rebecca? Ela virou o rosto em direção à parede. A dor em seu coração era tanta que sua vontade era se encolher como um animal ferido. — Vá embora, Xandros, por favor — disse ela cautelosamente. Seus olhos se apertaram enquanto ele capturava a imagem dela estendida no chão para gravá-la para sempre em sua memória. — Adeus, Rebecca — disse ele suavemente, fechando a porta silenciosamente.

CAPÍTULO CINCO

— Rebecca, você poderia vir aqui para conversarmos? A voz fria de Vanessa do outro lado da linha a fez estremecer. — Mas meu vôo é só à noite — protestou ela. — Eu sei. Estou com a sua escala na minha frente, mas gostaria de vê-la imediatamente. Rebecca ficou olhando para o telefone como se sua chefe pudesse saltar dele a qualquer momento e confrontá-la em sua própria casa. Mas ela já esperava por isso. Muita coisa havia acontecido nas semanas que se passaram desde que Xandros tinha ido embora de seu apartamento depois de fazer amor e deixá-la deitada no chão, se sentindo vulgar, barata e de coração partido. Rebecca havia rastejado até a cama e chorado, com o coração estilhaçado em mil pedaços. Havia descoberto há poucos dias que Xandros deixara de voar pela Evolo, cancelando suas reservas abruptamente. Ouvira as reclamações de Vanessa, fazendo de tudo para que seu rosto não corasse, revelando que tinha alguma coisa a ver com tudo aquilo. 37


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A descoberta mais estarrecedora, porém, viera algumas semanas depois. Rebecca ainda mal podia acreditar. Mas o médico havia confirmado suas suspeitas e agora ela teria de lidar com aquilo da melhor maneira possível. E como é que ela ia fazer isso? Grata por poder ocultar a saia já apertada sob a jaqueta de seu uniforme, Rebecca colocou uma dose extra de maquiagem para se preparar para o confronto inevitável. Da janela de seu escritório, podia ver Vanessa conversando ao telefone. Sua expressão ao erguer o rosto era de fúria. Ela pôs o telefone no gancho e chamou Rebecca com um gesto. — Fecha a porta — foram suas primeiras palavras. — Queria falar comigo? — perguntou Rebecca, notando que Vanessa não a convidara a sentar. E você não merece tudo o que está por acontecer? — Não banque a inocente comigo, Rebecca — disse Vanessa friamente. — Você deve saber exatamente por que está aqui. O que será que ela sabia? Rebecca tentou ganhar tempo. — Penso que... — Não, esse é exatamente o problema. Você não pensou! Apenas se deixou levar e infringiu nossa regra de ouro de não dormir com nossos clientes! Os olhos injetados de Vanessa fizeram com que Rebecca suspeitasse de que aquilo não se tratava apenas de trabalho. O próprio Xandros, certa vez, havia insinuado que Vanessa tivera alguma coisa com ele. Rebecca sentiu um arrepio ao imaginar quem poderia estar com ele agora. — Eu sinto muito. — O que você achou que ia acontecer? — disse Vanessa, interrompendo o pedido de desculpas de Rebecca. — Achou que as pessoas não iam notar os seus olhares para ele por mais que você tentasse disfarçar? Realmente achou que um homem como Alexandros Pavlidis ia ter algo mais para lhe oferecer do que uma relação rápida e conveniente? — Eu... eu não sou obrigada a ouvir isso, Vanessa. — Oh, é sim, Rebecca. Você não só me fez perder um dos meus clientes de mais prestígio, como também todos os sócios que ele poderia ter trazido consigo! O mínimo que você pode fazer agora é me ouvir! — Mas não há mais nada a dizer, não é? — perguntou Rebecca, com o coração acelerado, intuindo que Vanessa ainda não havia lhe dito o pior. 38


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— Ainda há muito que dizer! — retrucou Vanessa. — Você fez com que a minha organização parecesse pouco profissional e só fez piorar a imagem equivocada que as pessoas têm das aeromoças! — Olhe, eu já disse que sinto muito — repetiu Rebecca. — Xandros foi tão persistente que eu... eu... Vanessa estava encolerizada. — Oh, foi mesmo? Bem, de acordo com a minha experiência, os homens nunca insistem a menos que recebam um sinal verde de uma mulher. Quero deixar bem claro que você nunca mais vai conseguir um trabalho nesse ramo. Eu vou me assegurar disso pessoalmente. Agora saia. Rebecca chegou a pensar se poderia ser dispensada no estado em que se encontrava, mas se deu conta de que seria demitida por justa causa. Era melhor sair de lá e nunca mais pôr os olhos em alguém da Evolo do que se expor e dar realmente o que falar àquela gente. — Eu enviarei o meu uniforme — disse ela. — Lavado a seco, se não se importa — disse Vanessa. Rebecca voltou para casa sentindo-se uma alienígena recém-chegada à Terra, disfarçada de ser humano. Era como se ela não pertencesse a lugar algum. Ela precisava falar com alguém, mas com quem é que se podia contar num momento como esse? Sua mãe enviuvara e se casara de novo, morando agora na Austrália. Ela não podia simplesmente telefonar e dizer: — Sabe o que é, eu estou grávida de um homem a quem provavelmente jamais verei outra vez. Ela também não poderia se abrir com nenhum dos amigos do trabalho. Suas melhores amigas de lá estavam muito ocupadas com suas próprias carreiras e não moravam em Londres. Além disso, Vanessa poderia prejudicá-las se soubesse que elas ainda mantinham contato com Rebecca. Ela ainda não havia contado nada nem mesmo ao pai criança! Rebecca estremeceu. Seu sangue pareceu gelar quando ela se deu conta da situação. Eu vou ser mãe. Aquela era a realidade nua e crua. Sem um homem ao meu lado, sem trabalho, nem perspectivas., O que ela ia fazer? Não havia muitas opções, na verdade. Ela levou a mão à barriga. Já havia crescido, mas ninguém ainda tinha notado. Vanessa teria enlouquecido se soubesse que Rebecca estava grávida de Xandros. Grávida de Xandros. Seu ex-amante grego ia ser pai e nem sabia disso. Ninguém sabia, 39


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mas em breve não seria mais possível esconder, e então... E então o quê? Ela foi para casa, trocou de roupa e se olhou minuciosamente no espelho de seu minúsculo quarto. Para um desavisado, ela parecia apenas uma mulher jovem cheia de curvas. Rebecca notou algo brilhante em meio à bagunça de sua gaveta de bijuterias semi-aberta e sentiu uma pontada no coração. Eram os brincos de prata que Xandros havia lhe dado de presente naquela noite fatídica. O relacionamento tinha acabado dramaticamente, mas deixara uma conseqüência de vulto que requisitaria toda a sua maturidade. Xandros podia não ter optado por gerar uma nova vida naquelas circunstâncias, mas não havia mais como voltar atrás. Ele tinha o direito de saber. Rebecca se lembrou do próprio pai, a quem tanto amara. Como teria sido triste se ela não tivesse podido conviver com ele apenas por causa da separação de seus pais. Decidir, porém, era uma coisa. Outra, muito mais difícil, era ir efetivamente se encontrar com ele. Rebecca levantou o fone diversas vezes, para recolocá-lo no gancho logo em seguida. Como ela poderia contar uma coisa daquelas por telefone? E se ele se recusasse a atendê-la? Ela precisava ver o rosto dele quando lhe contasse. Será que era muita perversidade de sua parte querer ver a verdade estampada nos olhos de Xandros para poder se libertar do que sentia por ele de uma vez por todas? Assim que tomou sua decisão, Rebecca agiu rapidamente, grata por ter com o que se ocupar. Fez uma reserva para Nova York, encontrou um hotel e ligou para sua mãe. — Leve uma mala com poucas coisas — dissera ela, numa ligação muito ruim de New South Wales. — Parece que as coisas estão a um preço ótimo em Nova York. — É verdade — disse Rebecca, tentando parecer "normal". Fazer compras, porém, era a última coisa que Rebecca tinha em mente. O dinheiro estava curto. Ela havia se inscrito numa agência de trabalhos temporários, e embora tivesse realizado efetivamente alguns, nenhum deles pagava exatamente uma fortuna, de modo que ela estava precisando contar os centavos para se preparar para quando não pudesse mais trabalhar. Fazia muito tempo que Rebecca não ia aos Estados Unidos. Ela adorava voar e normalmente teria gostado muito daquela viagem, mas a importância de sua missão não deixou que dormisse nem que se concentrasse nos filmes exibidos. O quarto que ela pôde pagar era limpo, mas sem nenhum charme. Havia um vaso de flores artificiais e uma enorme TV dominando o espaço reduzido. O chuveiro, pelo menos, funcionava. Ela tomou uma boa ducha e se sentiu muito melhor. Deitou-se e 40


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fechou os olhos por um momento, e quando voltou a abri-los percebeu que já havia se passado muito mais tempo que havia previsto. A luz artificial que entrava pela pequena janela sinalizava que já era noite. Uma olhada em seu relógio confirmou: já eram quase 22h! Rebecca ficou decepcionada. Tinha planejado ir até o escritório de Xandros e pedir para falar com ele, sem lhe dar tempo para inventar alguma desculpa. Agora, porém, estava se dando conta de que não havia pensando com clareza. Um homem na posição de Xandros jamais estaria disponível daquela maneira. Ela já havia lidado com muitas pessoas poderosas na Evolo para saber que sempre havia alguém para protegêlos de qualquer perturbação indesejada. Quer fosse de dia ou de noite, ela ainda assim ia ter de obter a permissão de Xandros para entrar em seu escritório. Ela estava decidida a não adiar mais o inevitável, nem por um minuto sequer. Quanto mais cedo cumprisse seu dever, mais cedo poderia ir embora. Mas são 22h! E se ele estiver com outra mulher? Então ela teria de encarar a situação, afinal, isso também fazia parte da realidade. Rebecca tinha adormecido com o cabelo ainda úmido, mas não havia mais tempo para ajeitá-lo. Ela não ia mesmo a nenhum concurso de beleza. Estava firmemente decidida a banir de sua mente e de seu coração a fantasia de que Xandros olharia para ela e compreenderia o engano que havia cometido. A vida real não era assim, e, ainda que fosse, ela desenvolvera sua auto-estima nas semanas que haviam se passado e não permitiria mais que um homem a tratasse como um objeto sexual como Xandros tinha feito. Rebecca prendeu os cabelos, botou um pouco de maquiagem e colocou um vestido largo. Depois pegou o telefone e ligou para Xandros com a mão trêmula. Ele demorou tanto tempo para atender que ela chegou a pensar que a ligação ia cair diretamente na caixa postal. Finalmente ele disse com seu indefectível sotaque: — Sim? Seu nome deve ter aparecido no aparelho dele, pois ela pôde ouvir a cautela no tom de voz, a ponto de fazer com que tivesse vontade de chorar. Se ela pudesse simplesmente desligar... Ela respirou fundo. — Xandros? Sou eu, Rebecca. Atrapalho? Ele não respondeu. Olhando para as luzes brilhando no horizonte, Xandros pensou em mil maneiras de responder àquela pergunta. Não tinha esperado que ela ligasse, nem quisera particularmente que ela o fizesse. Sua curiosidade, porém, havia sido despertada. O que a teria feito engolir seu 41


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orgulho e entrar em contato com ele? — Como você está, Rebecca? Aquela era uma pergunta bem difícil de responder. — Eu preciso vê-lo. Preciso? Houve uma pausa. — Mas estou em Nova York. — Eu sei disso. Também estou aqui. A pausa dessa vez foi tão longa que Rebecca chegou a pensar que ele tinha desligado. Para sua surpresa, ele não quis saber o que ela estava fazendo lá. — Onde exatamente você está?— perguntou ele. Ela leu o endereço no alto do cardápio de serviço de quarto. — Você conhece esse hotel? Se ele o conhecia? Xandros fechou os olhos e se lembrou de quando chegara àquela cidade e se hospedara na mesma região, provavelmente pelos mesmos motivos que ela. Lembrou-se do choque ao ver as pessoas desabrigadas e famintas pelas ruas, e sua determinação em conquistar aquela cidade. Em poucas semanas, ele havia conseguido um trabalho para ajudá-lo a se sustentar enquanto cursava a faculdade e nunca mais voltara lá desde então. — Você pode vir aqui? — perguntou ele com voz macia. — Onde? — Eu estou no meu escritório. Rebecca conteve um suspiro de alívio. Ao menos ele não estava com quem quer que a tivesse substituído. — Já é tarde — disse ela. Xandros teve vontade de lhe dizer que ela não tinha nada a ver com o número de horas que ele trabalhava. O que ela estava fazendo lá, afinal? — Mandarei o motorista pegá-la — disse ele com uma voz deliberadamente fria. Aquele tom de voz fez com que Rebecca caísse em si. Eles eram ex-amantes. Xandros não tinha mais nenhuma ternura por ela. E terá menos ainda quando descobrir o que estou prestes a lhe contar. — Não, eu vou de metrô... — Não seja ridícula, Rebecca — interrompeu ele. — Já está muito tarde e eu disse que posso mandar um carro. O motorista vai ligar para você quando chegar. Rebecca percebeu que não fazia sentido algum discutir com ele, e que fazê-lo seria inclusive bastante estúpido de sua parte nas atuais circunstâncias. — Obrigada — disse ela, desligando rapidamente. 42


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Além do mais, ela estava começando a se sentir um pouco mal, sem saber se isso se devia ao seu estado, à diferença de fuso horário ou ao fato de não ter comido nada desde o vôo. Então coma alguma coisa! Seu corpo ansiava por algum alimento e ela não tinha a menor intenção de desmaiar na frente dele. Assaltando o frigobar como uma adolescente culpada, ela comeu um chocolate, alguns pretzels e tomou um copo de suco, imaginando quanto aquelas besteiras iam lhe custar. Foi então que seu celular tocou e ela se sentiu como alguém prestes a enfrentar o próprio julgamento. Um chofer uniformizado a esperava mantendo a porta da limusine aberta. Ela recostou no assento de couro macio enquanto o carro ganhava as ruas, tão estranhas e ao mesmo tempo tão familiares a ela por conta dos programas de TV. Rebecca pôs-se a escolher meticulosamente as palavras que usaria com Xandros. Como dizer a alguém que ficara tão definitivamente no seu passado que se estava carregando parte do futuro dele em seu ventre? O carro parou na frente de um enorme arranha-céu brilhante. Havia uma mulher logo na entrada. Seus cachos escuros bem cuidados e seu vestido vermelho chamativo fizeram Rebecca se sentir desarrumada e sem graça. Quem era ela? — Olá, eu sou Miriam — disse a mulher sorrindo com dentes brancos como os de um anúncio. — Xandros me pediu para recebê-la. Ele está lá em cima, em seu escritório. — Obrigada — disse Rebecca, ainda mais tensa quando o elevador envidraçado começou a subir. Ele não havia vindo recebê-la pessoalmente. Como será que havia explicado sua presença àquela tal de Miriam? Será que ela era sua nova namorada, enviada especialmente para que não pudesse haver nenhum mal-entendido? Ou será que era seu braço-direito na empresa e estava achando que poderia testemunhar aquela que provavelmente seria a conversa mais difícil da vida de Rebecca? Bem, ela não ia permitir a presença de mais ninguém na sala quando fosse começar a gaguejar. Se ele quisesse, poderia contar tudo a Miriam mais tarde, quando ela já tivesse ido embora. Ela foi levada a um enorme escritório, muito bonito, onde havia uma grande mesa sobre as quais estavam espalhadas algumas folhas de papel com desenhos em diferentes estágios de desenvolvimento, e um pote cheio de canetas e lápis. Não havia nenhum outro elemento no recinto. Nem quadros nas paredes, nem bugigangas em sua 43


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escrivaninha. Rebecca sentiu a presença de Xandros atrás de si e se virou. Ele estava na outra ponta do escritório, olhando para ela, fazendo-a tremer, tanto de temor quanto de desejo. — Isso é tudo, Miriam — disse ele. Bem, aquele não parecia a fala de um namorado. — Ela é sua secretária? — perguntou Rebecca esperançosamente quando a outra mulher fechou a porta. — Ela, na verdade, é uma arquiteta — disse ele, vendo-a estremecer com o tom inconfundivelmente cáustico de sua voz. Xandros não tinha idéia de qual poderia ser o motivo de sua presença ali. Será que tudo fazia parte de um plano sofisticado que tivera início quando ela terminou com ele antes que ele pudesse fazê-lo? Uma espécie de armação para tentar fazer com que se comprometesse com ela? Caso tivesse sido essa a sua intenção, o tiro havia saído pela culatra, e Rebecca estava prestes a descobrir isso. Ela o havia feito se sentir como se estivesse preso numa armadilha, irritando-o com suas demandas cada vez maiores e seu desejo de descobrir todos os segredos que ele guardava em seu coração, mas deixando-o também estranhamente descontrolado. Havia sido um alívio ver-se liberto da estranha atração que ela exercia sobre ele, ainda que por vezes sentisse falta da paixão de seu abraço. Xandros havia rompido seu contrato com a companhia aérea em que Rebecca trabalhava porque não queria ter nenhum tipo de contato com ela para não correr o risco de cair em tentação. Aqueles olhos cor de violeta e aqueles cabelos sedosos como um mel escuro que haviam deslizado por seus dedos tão docemente... — Não quer sentar? — Obrigada. As pernas de Rebecca estavam bambas, apesar dos itens que ela havia comido do frigobar do hotel. — Gostaria de beber alguma coisa? Água, talvez? Ela balançou a cabeça, sentindo-se como se estivesse numa entrevista à procura de um emprego, torcendo para não perder a compostura quando mais precisava dela. — Não, obrigada. Xandros ficou olhando para ela, à espera de alguma explicação, mas ela havia baixado a cabeça e estava fitando seus dedos entrelaçados como se eles estivessem prestes a revelar algo fascinante. Ele se irritou. O que ela estava fazendo ali, afinal? 44


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— Bem... Rebecca ergueu a cabeça, criando coragem para enfrentar a expressão estampada no rosto de Xandros. As palavras cuidadosamente escolhidas que ela havia ensaiado no caminho pareceram-lhe completamente inadequadas. Não há uma boa maneira de dizer isso, Rebecca, portanto simplesmente diga. — Eu estou grávida, Xandros. Ele não teve reação alguma. — Você me ouviu, Xandros? Eu disse... — Ne, eu ouvi. Ele se flagrou pensando em Notus, o grande vento do sul da Grécia, que trazia consigo as tempestades do verão e do outono. Um bebê de uma mulher que não significava nada para ele! Sua expressão, porém, continuava indecifrável. Olhando-a nos olhos apenas com uma pergunta implacável estampada neles, ele disse: — Tem certeza? Por um momento, ela pensou em chamar sua atenção para o volume de sua barriga, mas então se lembrou de que tinha ido até lá porque achara que aquela era a coisa certa a fazer. Não ia permitir que ele a fizesse se sentir culpada. Xandros podia não ter planejado nada daquilo, mas ela também não o fizera. — Tenho. Eu fiz um teste e o médico me confirmou que eles... Ela engoliu em seco quando ele jogou a cabeça para cima. — Sim, eles — disse ela baixinho, respondendo à pergunta que flamejava nos olhos negros. — São gêmeos. Eu estou esperando gêmeos, Xandros. O nascimento está previsto para janeiro — disse ela com voz rouca. Gêmeos. Aquela palavra caiu em sua consciência como uma pedra que tivesse sido atirada na água de uma altura muito grande. Xandros sentiu um misto de raiva e dor tão fortes que chegou a ficar sem fôlego. Gêmeos. Fortes e indesejadas emoções se apoderaram dele, tentando conduzi-lo de volta a uma infância que ele tinha enterrado bem fundo e esquecido. Uma mãe que o havia abandonado. Um pai que nunca estivera presente. Um irmão a quem ele estaria ligado para sempre, quisesse ou não. Um irmão com quem ele havia brigado. Dois homens que tinham permitido que o tempo aumentasse a distância que se criara entre eles. Aquela era a salvação de Rebecca, uma vez que, em se tratando de gêmeos, não 45


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havia dúvida a respeito da paternidade das crianças. Se bem que, por alguma estranha razão, aquela pergunta sequer tinha lhe ocorrido. Será que o intenso desejo que Rebecca sempre demonstrava cada vez que o encontrava o havia convencido de que ela não tinha nenhum outro amante; ou seria apenas sua arrogância natural que lhe garantira que ela ainda levaria muito tempo até permitir que outro homem a tocasse como ele havia feito? Aquela imagem o perturbou. Gêmeos. Ele a encarou. — Você está mesmo certa disso? Será que ele achava que ela o estava testando? Dizendo a si mesma que era o choque que o estava fazendo interrogá-la daquela maneira, Rebecca assentiu. — Sim. Há procedimentos muito sofisticados hoje em dia para comprovar isso. É possível fazer um teste entre... — Já chega! — disse ele, silenciando-a com um gesto autoritário. Xandros precisava de tempo para pensar. Foi até uma das grandes janelas de onde se podiam ver as incontáveis luzes que iluminavam o céu de Nova York, a cidade que ele havia escolhido para viver. O que um homem deveria fazer numa situação como essa? Finalmente, ele se virou na direção de Rebecca. Ela parecia frágil. Seus lindos cabelos estavam presos apenas por uma fita e a roupa que ela estava usando decididamente não havia sido escolhida para impressioná-lo. Notou que os braços dela estavam arrepiados e se deu conta de que ela não devia estar acostumada ao arcondicionado. — Diga alguma coisa! — disse Rebecca, com urgência, não suportando mais o silêncio dele. — O que você quer que eu diga, agape mou! Que nós vamos viver felizes para sempre e que eu vou casar com você? — Ele riu. — Porque eu não tenho nenhuma intenção de fazer isso. Ela ficou magoada, mas não reagiu. Tinha decidido que ia tratar daquilo como uma adulta, não importando o que ele lhe dissesse ou fizesse. Manteve, portanto, uma expressão tão tranqüila quanto possível, contendo a tentação de lhe dizer: Eu não me casaria com você nem se você fosse o último homem sobre a Terra! Chegou mesmo a balançar a cabeça e sorrir suavemente. Afinal de contas, ela chegara a pensar que ele ia questionar a paternidade das crianças, o que, sem dúvida, teria sido um insulto bem maior do que se recusar a casar com ela. 46


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— Casamento? Oh, meu Deus, não é por isso que eu estou aqui — disse ela tranqüilamente. — Verdade? — perguntou ele, erguendo as sobrancelhas de ébano numa incredulidade ligeiramente velada. — Então por que você está aqui? — Por mais estranho que possa parecer, Xandros, eu não tenho prazer algum em pegar um vôo de tão longe para ser recebida com insultos e acusações. Estou aqui porque, sendo o pai das crianças, achei que você tinha o direito de saber. O modo como ela dissera a palavra pai, fazendo a coisa toda soar muito mais real, fez Xandros perder o controle e soltar um palavrão em grego. Se sua sobrevivência não dependesse de suas mãos, ele talvez tivesse chegado a esmurrar a parede. — Pois agora você já me disse. Escolheu uma maneira muito cara e demorada de fazer isso. Por que você veio até aqui para me contar? Não pensou em me ligar? Seria demais confessar que ela queria ver a expressão dele quando lhe contasse. Xandros poderia pensar que ela estava esperando um final feliz em que ele a tomaria nos braços, lhe diria o quanto sentira a sua falta e confidenciaria que o fato de ela estar esperando os filhos dele parecia um sonho transformado em realidade, o que não deixava de ser verdade. Ela realmente havia alimentado essa esperança, lá no fundo de sua mente, ainda que aquilo desafiasse toda e qualquer lógica. Sonhou que aquele homem que tinha tudo pudesse compreender que nada daquilo importava quando comparado com o milagre daquelas duas novas vidas que eles haviam gerado. A expressão impassível no belo rosto de Xandros, porém, não deixava dúvidas. Ela havia querido uma resposta à sua pergunta silenciosa e ela estava ali, explícita. Rebecca começou a levantar lentamente, com o coração apertado. — Onde você pensa que vai? — inquiriu ele. — Para casa. Na verdade, para o hotel. Já fiz o que vim fazer aqui. Seus olhos negros se estreitaram. — Mas nós não decidimos nada. — Não há nada a decidir, Xandros. Você agora está ciente dos fatos e a minha consciência está tranqüila. — Bem, mas a minha não está! — esbravejou ele, passando a mão nos cabelos. — Eu vou pagar! — anunciou ele. Rebecca compreendeu mal o que ele dissera e, abalada, teve de se apoiar na cadeira para não perder o equilíbrio. — Pagar! Do que você está falando? — O que você acha? Do seu sustento. Do das crianças... — A palavra ficou engasgada em sua garganta. — Você vai precisar de dinheiro para se sustentar até 47


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elas nascerem. Suponho que a partir de um determinado momento você não poderá voar, não é? Rebecca chegou a abrir a boca para lhe contar que havia perdido o emprego por ter infringido as regras da companhia, mas não quis bancar a vítima. De agora em diante, ela precisava ser forte e independente, não só por si, mas, principalmente, pelos seus filhos. Filhos. Rebecca estremeceu. Se a idéia de gêmeos havia sido um choque para Xandros, imagine para ela. Ele já estava acostumado à idéia, enquanto ela era apenas uma principiante naquele assunto. Como ela ia conseguir dar conta daquela situação? — Eu não vim lhe pedir dinheiro — disse ela. — Pode ser, mas eu sou um homem bem-sucedido, nós dois sabemos disso. Quero que você aceite a minha oferta. Na verdade, insisto que o faça. Ao olhá-lo nos olhos, Rebecca compreendeu que ele precisava lhe dar alguma coisa concreta, como dinheiro. Dessa forma, ele lavaria as suas mãos e se sentiria isento de toda e qualquer responsabilidade, uma vez que não expressara o menor desejo de fazer parte da vida das crianças. Ela balançou a cabeça. — Você não está em condições de insistir em nada, Xandros — disse ela. Era irônico que Rebecca, fisicamente vulnerável, como estava agora, lhe parecesse mais forte e determinada do que jamais fora antes. Talvez ela estivesse mesmo o tempo todo à procura disso, apesar de seus protestos — algo para conseguir amarrá-lo. — Mas isso aqui não é um confronto de vontades, Rebecca — disse ele suavemente. — Estamos tentando fazer o melhor a partir de uma situação ruim. Você mora num apartamento minúsculo, que já é pequeno demais para uma só pessoa. Como espera dar conta, não apenas de um, mas de dois bebês lá? Rebecca ficou olhando para ele, incrédula, lutando para não se descontrolar. Ficou pensando no tom que ele usara para se referir ao seu apartamento. Ela se esforçara tanto para impressioná-lo e tudo o que Xandros havia sentido não passara de desprezo! Será que não sabia que nem todo mundo era tão rico quanto ele? O que a incomodava, porém, era sua falta de discernimento. Como podia ter se equivocado tanto a respeito de um homem? Como pôde achar que estava apaixonada por um homem que tinha um coração de pedra contrastando com o calor de seu corpo? Ela esfregou os braços e olhou fixamente para ele. — Vou dar um jeito — disse ela, com a voz baixa, mas sem perder a dignidade. — Posso não ser rica, mas certamente vou dar todo o meu amor a esses bebês, Xandros. Eu não quero nada de você. Consegue entender isso? 48


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As palavras inflamadas de Rebecca o atingiram. Ela havia dito que os amaria, mas ele sabia muito bem que o simples fato de ser mãe não era garantia de que uma mulher viesse a amar seus filhos. Será que ela ia manter sua posição quando se desse conta de que ele realmente não estava disposto a casar com ela? — Entendo perfeitamente — disse ele. — Mas quer você aceite ou não, eu vou lhe dar esse dinheiro. Abrirei uma conta para você. O que você decidir fazer com o dinheiro é problema seu. Em troca, peço apenas que me mantenha informado do progresso da gravidez, fui claro? — Está querendo dizer que quer se envolver? Ele endureceu seu coração ao olhar para aqueles olhos cor de violeta. — Estava me referindo a um relatório — disse ele, como se estivesse falando de um de seus projetos. — Quero saber quando eles... — Xandros teve que engolir em seco, apesar de sua determinação de não sentir nada. — Quero ser avisado quando você for dar à luz. Fará isso por mim? — Sim. A palavra não foi mais que um pequeno suspiro perdido em meio ao enorme escritório. Rebecca se levantou. Se não estivesse se sentindo tão emotiva e fisicamente vulnerável, ela teria ido embora calmamente à procura do metrô mais próximo, mas não estava em condições de fazê-lo. — Eu gostaria de ir embora agora — disse, em voz baixa. Antes que fizesse algo imperdoável como desabar em lágrimas na frente dele. Xandros notou o tremor em seus lábios. Houve uma época em que ele poderia têlos beijado, mas não agora. Sabia o que ela devia estar esperando dele, mas não era capaz de sentir qualquer espécie de compromisso emocional em relação àquelas crianças. Sabia também, por experiência própria, que era muito melhor não prometer nada do que não cumprir com a palavra, pois já havia sentido a dor do abandono na própria pele. — Meu motorista está a sua espera. Eu a levarei até ele.

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CAPÍTULO SEIS

Pela primeira vez na vida, Alexandros Pavlidis se deu conta de que estava errado. Achara que Rebecca ia usar a gravidez para ter acesso a ele e se tornar uma presença constante em sua vida como tantas outras mulheres já haviam feito no passado, mas não foi isso o que aconteceu, embora ela tivesse uma razão muito mais forte para fazê-lo do que qualquer uma delas. Dois bebês. Dois bebês que deviam nascer dali a algumas poucas semanas, de acordo com o calendário pendurado em sua cozinha. Xandros terminou de dar o nó na gravata de seda e se olhou no espelho. Seus olhos estavam nebulosos e não havia um sorriso em seu rosto. Lá fora, uma Nova York coberta de neve se preparava para as festas de fim de ano como nenhuma outra cidade era capaz de fazer. A árvore de Natal gigante no Rockefeller Center brilhava com luzes coloridas. O rinque de patinação estava lotado. As vitrines das lojas exibiam imagens extraídas de antigos livros infantis. Qual seria o jogo de Rebecca, afinal? Xandros tinha esperado que ela retirasse a enorme quantia que ele havia depositado para ela imediatamente, mas errara. Tinha aguardado notícias regulares de sua parte a respeito da gravidez, numa tentativa de envolvê-lo no processo todo com um excesso de detalhes, mas errara outra vez. Ela não havia retirado nem um centavo sequer da sua conta e a única notícia efetiva que havia obtido sobre a gravidez tinham sido as ultrassonografias que ela lhe enviara. As imagens haviam chegado num envelope de papel pardo onde se podia ler: "Particular e Confidencial". Xandros passara muito tempo olhando para elas. Ele estava acostumado a avaliar imagens. A ver algo crescer a partir de um projeto e se transformar em algo real, mas aquilo era completamente diferente. No início, seus olhos inexperientes mal conseguiram distinguir os elementos do ultrassom. Com o tempo, porém, as imagens foram ficando cada vez mais claras. Mesmo assim, ainda era difícil acreditar na importância daquilo que ele estava vendo. Aquelas formas minúsculas como girinos eram realmente as de seres humanos em potencial? Apesar de toda sua determinação em não pensar naquilo, ele sentiu um misto de 50


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deslumbramento e dor, e num impulso raro pegou o telefone e ligou para Rebecca, na Inglaterra. — Alô? — Sua voz parecia hesitante. — Sou eu, Xandros. Eu sei que é você, pensou Rebecca, respirando fundo. — Olá, Xandros. Aquela não foi exatamente a recepção mais entusiasmada do mundo. Xandros fitou o céu de Nova York, apertando os lábios. — Liguei para saber como você está. Atenha-se aos fatos, disse Rebecca a si mesma. Apenas os fatos — isso é tudo o que ele quer. — Oh, os médicos estão satisfeitos com meu progresso. A gravidez está exatamente dentro do esperado, e os bebês... — Como era estranho discutir coisas tão íntimas com um homem que havia se transformado quase num estranho. — Os bebês estão bem pelo que eles podem ver nas ultrassonografias. Você recebeu as imagens que eu lhe enviei? Apesar de sua determinação de não esboçar qualquer reação, Xandros sentiu o coração acelerar. Ouvi-la dizer a palavra "bebês" daquele jeito suave, com seu sotaque inglês, fez tudo parecer assustadoramente real, embora ridiculamente distante. — Recebi. O que você vai fazer no Natal? Rebecca havia dito a si mesma para não esperar nada dele, mas não conseguira controlar um rasgo de esperança. Sabia que se lhe dissesse a verdade — que pretendia se encher de chocolate e assistir a filmes até adormecer — acabaria parecendo uma pobre vítima à espera que seu príncipe encantado viesse salvá-la montado num cavalo branco. Bem, Xandros não era um príncipe encantado, e nem ela, uma vítima. — Oh, eu tenho estado muito preguiçosa — disse ela, tentando parecer o mais satisfeita possível. — E você? Ele pensou em todas as festas para as quais havia sido convidado e nas pessoas que estariam presentes, especialmente nas mulheres ávidas por agradá-lo e ir para a cama com ele. Nas matronas da Park Avenue, tão ansiosas por casar suas filhas com um bom partido. Sua atenção, porém, voltou-se completamente para a voz satisfeita de Rebecca. Aquela não era a resposta que ele havia esperado. Não deveria haver uma nota melancólica em sua voz devido a um desejo de que as coisas tivessem se desenrolado de uma maneira diferente entre eles? Como se tudo o que ela realmente quisesse, naquele momento, fosse se aninhar a ele em frente à lareira? — Oh, as festas de sempre — disse ele. — Na verdade, fui convidado a mais 51


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festas do que posso realmente comparecer, sabe como é. Ela não sabia, mas Xandros não tinha ciência disso, nem ela queria que ele soubesse o quanto ela estava isolada de tudo e de todos. Aquela talvez fosse a maneira que a natureza havia encontrado de assegurar que ela tivesse todo o repouso de que necessitava. Rebecca tinha sido bem-aceita no seu curso pré-natal, apesar de ser a única mãe solteira do grupo. Gerava muita curiosidade pelo fato de estar esperando gêmeos, mas um instinto de proteção a fizera desviar sucessivamente das perguntas mais íntimas. O que ela poderia lhes dizer? Eu me apaixonei por um bilionário grego e, depois que nós terminamos, descobri que estava grávida? — Há algo mais que você queira me dizer, Xandros? Eu realmente tenho que desligar. Xandros estreitou os olhos. — Você está sozinha? — Como? — Está acompanhada de um homem, por acaso? Rebecca agarrou o fone. Se não estivesse tão estupefata com seu atrevimento, ela teria rido de sua arrogância. — Não sei se você já viu uma mulher nos últimos meses de uma gravidez de gêmeos — disse ela. — Eu devia até ficar lisonjeada por você me considerar atraente para conquistar um homem nessas condições, se isso fosse da sua conta, mas o fato é que não é. Eu sou uma mulher livre, Xandros. Você não tem qualquer direito sobre mim. Agora, se isso é tudo, eu vou desligar. — Ela respirou fundo. — Oh, e não se preocupe. Eu lhe enviarei uma mensagem para avisar quando será o parto. Adeus. Xandros ainda levou algum tempo para compreender que ela realmente havia cumprido sua ameaça de dar fim à conversa e processar tudo o que ela havia lhe dito — que ele não tinha nenhum direito sobre ela, com a impaciência típica de uma mulher que queria se ver livre de um homem. Ele nunca a havia ouvido falar daquela maneira antes. Ela iria "enviar uma mensagem" avisando sobre o nascimento dos bebês? Mensagem! Desde quando se tratava desse tipo de notícia de uma maneira tão casual? Ele trabalhou até tarde e depois foi a um jantar, somente porque o lugar ficava a uma esquina de seu escritório. A festa era numa cobertura toda iluminada por velas e decorada com flores brancas perfumadas. Havia uma árvore de Natal preta toda enfeitada de branco no centro. Tudo combinando. A festa mais parecia um set de filmagem, ou o cenário de um anúncio retratando a vida dos milionários. 52


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Um pianista tocava num piano de cauda branco e a anfitriã, recém-divorciada e suficientemente jovem para considerar Xandros uma possibilidade concreta, usava um vestido branco e brilhante colado a cada uma das curvas sensuais de seu corpo. — Olá, Alexandros — disse ela. — Você está tão exausto que eu poderia mandá-lo diretamente para a cama. — Depois, baixando o tom de voz, prosseguiu: — E se você tiver muita sorte, talvez eu vá lhe fazer companhia. — Eu j á estava indo embora—disse ele abruptamente. — Oh! Ela pousou as unhas pintadas sobre seu terno quando ele recusou uma taça de champanhe. Xandros imaginou aquelas unhas tocando sua pele nua e estremeceu de repugnância, perguntando-se por que tinha ido até lá. Para esquecer o fato de que ele em breve seria pai e ninguém sabia disso. Era tudo tão bizarro que ele mesmo estava tendo dificuldade em acreditar. A mensagem chegou no meio da noite, um dia depois do Natal. Dizia simplesmente: — Em trabalho de parto. Avisarei sobre o que acontecer. O que ela achava que ia acontecer? Xandros não conseguiu mais dormir. Começou a caminhar pelo apartamento, tentando se acalmar com um livro, um filme, ou até mesmo ouvindo música, mas nada disso funcionou. Ele, obviamente, não sabia nada de partos, exceto o que tinha visto em filmes, quando as mulheres gritavam de dor. Será que Rebecca estava gritando daquele jeito agora? Xandros cerrou os dentes. Não saber nada sobre o que estava acontecendo era a pior sensação que ele já experimentara. Ele era um homem de ação. Tinha de decidir se ia ficar parado ali, imaginando o que estava acontecendo do outro lado do Atlântico, ou se ia fazer alguma coisa a respeito. Ele preparou uma mala em poucos segundos, fez uma reserva no primeiro vôo para Londres e providenciou um carro para levá-lo ao aeroporto. O dia estava nublado quando Xandros aterrissou em Heathrow. Havia enviado uma mensagem de volta para Rebecca e descoberto o nome do hospital para onde fora. Ela devia ter pensado que ele queria lhe enviar flores ou algo parecido. Não lhe contara que estava vindo. Talvez não quisesse que ela fizesse alguma objeção, sabendo que nem mesmo um machista como ele deixaria de acudir uma mulher em trabalho de parto, ou talvez estivesse querendo averiguar se ela dissera a verdade a respeito de não ter mais nenhum homem em sua vida. Rebecca podia ter protestado, alegando seu estado e suas formas, mas Xandros era suficientemente cínico para saber que alguém com um olho clínico podia muito bem aproveitar aquela oportunidade para agarrar uma mulher tão bela, 53


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especialmente quando havia um ex-amante rico disposto a pagar suas contas. A nova mensagem chegou quando ele já estava quase no hospital. Dois bebês saudáveis... e mais nada. Eram meninos ou meninas? Talvez um casal? Ele atravessou a porta de vidro da maternidade, pensando que aquilo não fazia diferença. Várias enfermeiras se dispuseram prontamente a ajudá-lo, de modo que ele não teve dificuldade em contatar a enfermeira-chefe. — Estou procurando Rebecca Gibbs — disse ele. — O senhor é... Quem ela pensa que eu sou? — Eu sou o pai dos bebês. Alexandros Pavlidis. Onde ela está? — Siga-me, por favor, Sr. Pavlidis. Eu o levarei até ela. Rebecca estava deitada, sentindo-se como se estivesse dopada, embora tivesse apenas inalado um pouco de gás e oxigênio, que foi a única coisa possível de fazer durante um trabalho de parto que a havia pegado de surpresa por sua rapidez e intensidade. Agora, porém, que a dor e a provação haviam passado, ela estava cochilando e acordando de tanto em tanto. Um sotaque familiar atiçou seus sentidos, convencendo-a de que ela deveria estar sonhando. — Rebecca? Ela arregalou os olhos como que para se certificar de que ele estava mesmo ali. — Xandros? — Onde eles estão? — perguntou ele. A parteira ameaçou censurá-lo pelo seu tom de voz, mas Rebecca balançou a cabeça debilmente, com vontade de chorar. — Lá — sussurrou ela. Ele se virou lentamente e caminhou em direção aos dois berços, onde havia dois bebês idênticos, deitados lado a lado. A cabeleira negra era a única coisa que despontava contra a roupa de cama branca do hospital. Xandros sentiu um tremor tomar conta de seu corpo e sua garganta secar. — O que eles são? Rebecca demorou até compreender que ele estava querendo saber o sexo dos bebês. — Meninos — respondeu ela. — Dois rapazes. — Idênticos? — Sim, Xandros. Ele fechou os olhos, profundamente emocionado com o que ela acabara de lhe dizer. Todo homem grego sonhava em ter um filho homem para dar continuidade ao 54


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seu nome e aos seus genes, mas gêmeos! Exatamente como ele e Kyros. Uma célula dividida em dois. Iguais e ao mesmo tempo tão diferentes. Xandros estava profundamente abalado. Parecia que alguém havia rasgado seu coração. — Gostaria de pegar os seus filhos no colo, Sr. Pavlidis? — perguntou a parteira com a expressão forçada de quem já havia feito a mesma pergunta milhares de vezes a outros homens. Xandros olhou para cima, e seu olhar intenso pousou em Rebecca por um momento, beirando o desamparado, como ela jamais havia imaginado ser possível. — Você quer dizer, ambos? Rebecca teve de sorrir. — Bem, por que você não começa com um, e vê como se sai? Ele se sentiu tão inseguro quanto alguns patinadores principiantes que havia visto no rinque de Rockefeller ao olhar para aqueles pequeninos seres que emitiam sons de sucção desproporcionais aos seus tamanhos. — Por que não? — perguntou ele, estendendo os braços. A parteira pegou um dos bebês e o embalou antes de colocá-lo nos braços de Xandros. — Tome cuidado para apoiar o pescoçinho — disse ela. Xandros assentiu, sentindo um nó na garganta ao pegar a criança no colo. Como era possível uma coisa dessas? Um duplo milagre. — Oyo — disse Xandros suavemente, começando a embalá-lo. — Meu filho. Rebecca engoliu em seco, ao ouvir o tom possessivo na voz dele, tentando dizer a si mesma que eram infundados seus temores. Ela, na verdade, deveria estar grata por ele ter reconhecido os seus filhos tão abertamente. Não tinha esperado que ele aparecesse por lá daquele jeito. No seu período mais vulnerável durante a gravidez, nas longas noites inquietas em que ela não conseguia encontrar uma posição, Rebecca havia ansiado várias vezes por isso. Desejou que Xandros aparecesse de repente e transformasse toda a situação, como se possuísse poderes. Algo, porém, havia acontecido naquele ínterim que pareceu ter investido a ela dos poderes que esperara encontrar em Xandros. Ela havia se tornado mãe. Tinha agora dois pequeninos bebês que dependiam dela. Aquilo deveria tê-la apavorado, mas tivera o efeito oposto. Ela contava agora com uma força que jamais havia sentido antes. Uma força que a tornava capaz de enfrentar até mesmo um homem tão dominador como Xandros. — Por que você não disse que estava vindo? — perguntou ela. Ele afastou os lábios da cabeça do bebê. 55


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— Quis fazer uma surpresa. — Ou me controlar? — perguntou ela astutamente. A parteira franziu a testa, como que pressentindo o início de uma discussão. — Você deveria estar descansando... — Oh, eu vou cuidar para que ela descanse — interrompeu Xandros. — Nós não queremos mais prendê-la aqui. Eu gostaria de ficar um pouco a sós com a mãe dos meus filhos. Rebecca quis retrucar e lhe dizer que a decisão de descansar ou não competia apenas a ela. Protestar contra a descrição fria que ele havia feito dela, fazendo-a parecer praticamente uma chocadeira. Mas ela não queria fazer uma cena, além de estar muito cansada. Olhou para seu porte poderoso e compreendeu que precisava descansar. — Você poderia voltar mais tarde, Xandros? — perguntou ela, forçando-se a ser gentil, como se ele não significasse nada para ela. Ele podia ser o pai de seus dois filhos, mas isso não significava que havia algo entre eles, e ela seria uma tola se esquecesse isso. Xandros ainda estava olhando para os bebês. — Você já pensou nos nomes? — perguntou ele; como se ela não tivesse dito nada. E claro que ela havia pensado nos nomes. Tivera bastante tempo para fazê-lo nas longas noites de inverno em que sua barriga parecera desafiar a lei da gravidade tornando seus movimentos praticamente impossíveis. Mas já era suficientemente difícil escolher um nome, que dirá dois. Além disso, não havia ninguém junto a ela para dizer "Eu odeio esse nome" como faziam os casais sorridentes nas aulas do pré-natal. Os médicos haviam se inquietado com seu estado, recomendando-lhe que tomasse cuidados redobrados quando souberam que ela não estava contando com a ajuda do pai das crianças. Será que Xandros teria vindo em seu auxílio se ela tivesse lhe dito que precisava dele durante aqueles meses? Ela realmente não havia querido vê-lo. Aquilo teria lhe provocado emoções indesejáveis num momento em que ela precisava manter toda sua sanidade e sensatez. Tinha tomado uma decisão, depois de sua ida a Nova York, de que ele nunca mais a veria vulnerável outra vez. — Você gostaria que eu fizesse uma lista? — perguntou ele, como se tivesse todo o direito de fazê-lo. Cansada demais depois de um longo trabalho de parto e daquela visita inesperada, Rebecca não estava com disposição para brigar. 56


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— Sim, por que você não faz isso, a menos que tenha alguma sugestão imediata, como Alexandros I e Alexandros II. Xandros, porém, já não estava mais escutando. Para seu assombro, ele estava colocando o primeiro bebê cuidadosamente no berço e se debruçando sobre o outro para pegá-lo. Como é que um homem grande e forte como ele podia se adaptar tão rápida e habilidosamente ao trato de dois recém-nascidos tão pequeninos? Seu coração chegou a doer dentro do peito ao pensar em como as coisas podem ser sem nunca chegarem a ter sido antes. — Você aprende muito rápido — disse ela com a voz embargada. — Ne. Foi assim toda a minha vida. Xandros acariciou o rosto da criança com a ponta do dedo. Em breve ele ia saber diferenciar as características de cada um deles, apesar de as outras pessoas insistirem em dizer que eles eram igualzinhos. Uma leve torção reveladora da boca. A maneira como o nariz de um lançava certa sombra sobre seu rosto, que o outro não fazia, e que só os olhos mais sagazes percebiam. Quem nascia tendo um irmão gêmeo idêntico passava a vida procurando esse tipo de diferenças. Ele saberia diferençar os bebês dentro de poucos dias. O bebê em seus braços começou a chorar e, como que por reflexo, Rebecca sentiu uma dor repentina nos seios e estendeu os braços. — Ele precisa mamar — disse ela, meio sem graça, o que era bastante estranho, dadas as circunstâncias. Aquele homem, afinal, conhecia seus seios melhor do que qualquer outro. Por que então ela estava se sentindo tão tímida como se ele fosse um estranho? Xandros estreitou os olhos e lhe passou a criança com cuidado. Pela primeira vez ele realmente olhou para Rebecca enquanto ela afastava a camisola e dava o seio ao bebê com dedos ainda hesitantes. Suas bochechas estavam coradas e seus cabelos cor de mel presos numa fita azul, embora alguns fios sedosos lhe caíssem pela face. Ela estava amamentando o seu filho naquele mesmo seio que trazia a marca de sua própria boca que a havia feito gritar de prazer. Ele se sentiu tomado por um sentimento completamente desconhecido. Seria o choque de vê-la como a mãe de seus filhos em vez de apenas uma mulher sexualmente atraente? Xandros desviou o olhar daquela imagem de perfeição. As coisas nunca eram o que pareciam ser. Nunca. Ele sabia disso melhor do que ninguém. Ele foi até o outro bebê que tinha começado a se agitar no berço. E se os dois quisessem mamar ao 57


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mesmo tempo? Como ela ia dar conta disso? Ele se virou para Rebecca e a encontrou olhando para ele com os seus olhos cor de violeta escurecidos. — Você vai dar mamadeira a eles, eu suponho — como alguém entrando em território desconhecido, o que, em se tratando de Xandros, era o mais próximo que havia da hesitação. Rebecca balançou a cabeça. — Eu pretendo continuar amamentando-os. Ele ficou surpreso, mas não disse nada. As esposas de seus amigos tinham abandonado a amamentação, não só porque queriam retomar logo as suas carreiras e vidas sociais, mas também para preservar a aparência dos seios. Xandros lembrou-se do choque que sentira quando uma mulher lhe dissera que seus seios tinham sido "melhorados" cirurgicamente e que por isso ela não podia amamentar o filho. — Acha que vai conseguir dar conta de dois bebês? — perguntou ele. — Bem, a natureza me equipou para fazer ao menos isso — disse ela. — Imagine só se fossem trigêmeos! Ele se flagrou curvando os lábios num sorriso. Foi então tomado de súbito por uma ansiedade de escapar daquela cena desconfortavelmente íntima, embora relutasse ao mesmo tempo para partir. Será que aquela mesma natureza, aquela força poderosa e indisciplinada, estava exercendo o seu poder sobre ele, atraindo-o em direção aos seus filhos? — Quando é que você vai receber alta? — perguntou ele. Rebecca demorou para responder, mas sabia que não poderia mentir, nem perguntar o que ele tinha a ver com isso. Ela o havia tornado parte daquilo quando lhe contara que estava grávida, e aquela decisão, como tudo o mais na vida, tinha suas conseqüências. Ela lhe informaria os fatos, pura e simplesmente. Não lhe devia nada mais além disso. — Daqui a três dias, se Deus quiser, contanto que eles estejam satisfeitos com meu progresso e o dos meninos. Xandros notou a maneira como ela havia se referido aos meninos como se estivesse falando de um clube exclusivo ao qual ele não tinha permissão de se associar. Vamos ver se não, pensou ele com seus botões. — Eu virei pegá-la — declarou ele. — Mas eu não preciso... — Você precisa sim. Eu não estou argumentando com você, Rebecca... Não há 58


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alternativa. — Seus olhos negros brilharam de repente, com uma nova intenção. — Agora precisamos discutir os nomes dos meus filhos.

CAPÍTULO SETE

— Não me importa o que você diga! — esbravejou Xandros. — Não há condições de você permanecer aqui e eu não vou permitir uma coisa dessas! Rebecca suspirou. Se tivesse um pouco mais de energia, talvez pudesse ter se oposto ao seu tom de voz, bem como à sua permanência ali, dominando a sala de estar de seu pequeno apartamento como parecia fazer com todos os lugares a que ia. Queria que ele fosse embora porque ele era tão, tão... tudo. Teimoso... e deslumbrante. Tão deslumbrante. Isso sem falar no poder da sua sexualidade. Ela teve de repetir uma centena de vezes para si mesma que aquilo não era mais uma questão relevante para nenhum deles. Sabia que ele seria capaz de usar aquilo como uma arma se fosse necessário. Xandros faria qualquer coisa para conseguir tudo do seu jeito. A verdade é que ela ficara grata pela sua insistência em pegá-la no hospital, juntamente com Andreas e Alexius. Chegou mesmo a se perguntar como teria se virado sem ele. Não teria conseguido fazer nem mesmo uma coisa simples como abrir uma porta com uma chave que sempre emperrava carregando dois bebês no colo, além de toda a bagagem que havia levado para o hospital. Mais uma vez, ela teve de conter as lágrimas de frustração e dizer a si mesma que estava apenas sensível por causa do desequilíbrio hormonal. Xandros havia providenciado um carro, que ela havia aceitado, e uma babá, que rejeitara. Aquilo o havia chateado, assim como muitas outras coisas, mas nada o tinha aborrecido mais do que olhar para o minúsculo apartamento agora que havia mais dois pequenos seres dividindo o espaço com ela e com toda sua parafernália. Havia sacolas de plástico imensas, cheias de babadores, sabonetes para bebês e pacotes de fraldas. — Olhe só para isso! Você não pode ficar aqui! — Eu não tenho alternativa — disse Rebecca. — Muitos bebês moram em lugares como esse. 59


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— Mas não dois bebês ao mesmo tempo! — Eu vou dar um jeito — disse ela, já cansada. — Já foi difícil voltar do hospital — salientou ele. — Você me disse que está equipada pela natureza para alimentar os bebês, mas e você? Não há quase nada na geladeira. Nenhuma fruta fresca nem verduras! É ultrajante! — Nem todos podem contar com uma criadagem como a sua — disse ela, petulante, tentando esconder a mágoa. — Você poderia fazer uma compra no supermercado para mim. — Oh, eu posso fazer melhor que isso — disse ele severamente, pegando seu celular. Uma hora depois, as lojas mais caras de Londres estavam entregando alimentos na casa de Rebecca pelos quais ela jamais poderia pagar, nem mesmo no Natal. E pela primeira vez, depois de anos, Xandros se viu desembrulhando-os por conta própria e usando toda sua visão espacial para acomodar os itens da melhor maneira possível na geladeira. Ele esquentou uma sopa para ambos e deu a Rebecca um copo de suco de frutas enquanto tomava um vinho, para então observá-la amamentando os bebês outra vez. Na hora de trocar as fraldas, porém, ele se ocupou em tirar a mesa. Sua criação grega e machista não lhe permitia dar conta daquilo. Já fazia muitos anos que ele não lavava louça e, por mais estranho que parecesse, Xandros gostou de fazê-lo. Ao voltar para a sala, porém, pôde perceber o esgotamento no rosto pálido de Rebecca, as profundas olheiras, e se sentiu... ineficiente. — Você está cansada. — Estou mesmo. Obrigada por toda a sua ajuda, Xandros. Nos veremos em breve. Ele notou o tom de despedida em sua voz e sorriu maliciosamente. — Oh, mas eu ainda não estou indo embora, agape — disse ele severamente. — Do que é que você está falando? — Vou dormir no sofá esta noite. Ela o fitou alarmada. — Mas você não pode! — Não posso? Você não achou realmente que eu ia deixar você aqui sozinha na sua primeira noite em casa com os bebês. E se algo acontecer? E se você se sentir mal? A atitude protetora dele fez com que Rebecca tivesse vontade de chorar, pensando em como as coisas poderiam ser diferentes se aquelas palavras fossem inspiradas no seu amor por ela, em vez do dever como pai. Mas aquilo era egoísta de sua parte. Seus sonhos com Xandros pertenciam ao passado e ela precisava superar tudo aquilo em nome de Alexius e Andreas. — Eu vou pegar um edredom para você — disse ela meio sem jeito. 60


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— Obrigado. Xandros não se lembrava de ter passado uma noite tão desconfortável, nem mesmo quando dormira na praia, sob as estrelas, na Grécia, quando o calor era tanto que não se conseguia ficar dentro de casa. Naquela época, porém, ele não passava de um adolescente. Desde então, ele havia se transformado num homem sofisticado, acostumado apenas a coisas finas. Ele mal tinha conseguido pregar os olhos. Fora acordado de manhã pelo som de uma carreta que parecia determinada a executar todo um repertório de ruídos, e depois pelo som da chuva, com direito inclusive a trovões. Permaneceu ainda por algum tempo olhando em volta, incrédulo, até ouvir os passos de Rebecca. Decidiu então se lavar, se vestir e preparar o café para ambos. Seu delicioso aroma, porém, serviu apenas para lembrá-lo de que aquela situação não poderia continuar daquele jeito. Rebecca entrou na sala. Tinha prendido os cabelos em duas trancas grossas que pendiam uma de cada lado do rosto. Estava usando uma calça simples de linho e uma camiseta. Ela parecia incrivelmente jovem e saudável. — Você dormiu bem? — perguntou ela, pensando em como ele parecia dominar o recinto com sua presença e como tinha sido desconcertante imaginá-lo dormindo logo ali, do outro lado daquela parede fina. — O que você acha? — Eu tentei adverti-lo que... — Você não compreende, Rebecca. Ele não ia intimidá-la dentro de sua própria casa. — O que é que eu não entendo, Xandros? — Eu já lhe disse ontem. Você não pode viver desse jeito! — De que jeito? Ele quis lhe dizer para não bancar a boba com ele mas, em vez disso, fez um gesto chamando a sua atenção para aquelas minúsculas acomodações. Seu senso estético como arquiteto o havia feito apreciar ambientes espaçosos e simples, mas aquilo... A bagunça parecia ainda pior à luz do dia. Da última vez em que estivera ali, ele mal tinha notado o excesso de coisas que havia em tão pouco espaço, pois estava apenas interessado em levá-la para a cama. Agora, porém, era diferente. O lugar onde ela morava afetava também os seus filhos. — É uma bagunça! — esbravejou ele. — Bem, é a minha bagunça! — retrucou ela. — Não necessariamente. 61


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Rebecca o encarou, perguntando-se como podia estar tão cansada quando tinha acabado de levantar da cama. Ela havia sido advertida no hospital quanto a isso, mas imaginou que seria capaz de superar a fadiga com determinação.. Estava errada. Tinha apenas amamentado, lavado e trocado seus dois adoráveis bebês de cabelo preto e já estava se sentido como se tivesse sido atropelada por um caminhão. As palavras de Xandros, porém, a fizeram estreitar os olhos de suspeita, reconhecendo a ameaça que existia naquele seu tom de voz. — O que você quer dizer? — perguntou ela. Ele fez uma pausa para dar mais importância à sua declaração, como fizera durante anos em suas reuniões. — O que você faz da sua vida diz respeito apenas a você, agape mou, mas, quando isso envolve os meus filhos, eu certamente tenho o direito de me meter, você não acha? Rebecca engoliu em seco, sabendo que deveria escolher a resposta certa para lidar com um homem como Xandros. Se argumentasse que eles não eram mais um casal, ele poderia concluir que ela gostaria que voltassem a sê-lo. Será que Xandros realmente tinha o direito de opinar sobre a educação dos gêmeos? Em breve, ele voltaria para os Estados Unidos e para a vida que levava lá. Uma vida que não incluía nem os meninos e nem a ela. — Acha realmente que isso é da sua conta? — perguntou ela. Xandros sentiu a adrenalina correr pelas suas veias. Achara que sentiria apenas um interesse imparcial pelas crianças. Dissera a si mesmo que havia sido apenas a curiosidade que o havia impelido a ir até a Inglaterra para vê-los, mas não era verdade. Um pensamento não lhe saíra da cabeça durante as três noites que passara com eles no hospital. O de que ele queria fazer parte da vida dos seus filhos. — Eu pretendo que seja — disse ele. Rebecca reconheceu o seu tom de desafio e temeu, pois sabia que ele estava falando sério. Um homem com os recursos de Xandros poderia conseguir qualquer coisa. Só uma mulher muito poderosa e rica poderia lutar contra ele. Era melhor tentar fazer um acordo do que entrar numa briga que ela certamente perderia. Afinal, ele morava nos Estados Unidos! Ela teria pouquíssimo contato com ele se soubesse lidar bem com a situação. — O que você tem em mente? — perguntou ela cautelosamente. — Para começar, esse lugar é pequeno demais. Rebecca assentiu, sabendo que soaria teimosa e ignorante se discordasse. 62


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— E? — Eu quero que você se mude para um lugar maior. Ela suspirou. Não era burra. Três segundos em casa haviam sido suficientes para mostrar que não havia condições de permanecer ali com as crianças. Contudo, mesmo o dinheiro que Xandros depositava em sua conta, e que não era pouco, não seria suficiente para que ela se mudasse para um apartamento maior. — Não é tão fácil assim, Xandros. Os apartamentos custam uma fortuna aqui em Londres. — Eu posso pagar por isso. — Eu sei que você pode. — Ela engoliu em seco. — E se eu lhe dissesse que não estou disposta a aceitar a sua... — Caridade? — interrompeu ele sarcasticamente, com um brilho de impaciência nos olhos. — Mas isso não tem nada a ver com caridade, nem com seu orgulho. Aliás, isso não tem nada a ver com você, Rebecca, mas sim com meu desejo de me assegurar de que meus filhos cresçam com mais espaço do que nesse galinheiro! Ela o encarou. — Como você ousa dizer algo tão ofensivo? Ele deu de ombros, sem ligar para sua cólera, ou mágoa. — Porque é a verdade. Você sabe que é. Eu estou lhe oferecendo a oportunidade de se mudar para um lugar mais adequado. Você pode morar onde quiser nessa cidade. Com ou sem orgulho, Rebecca não pôde deixar de balançar com aquela proposta. Xandros estava irrompendo em sua vida, disposto a resgatar a ela e às crianças. Mas a que preço? — E se eu não aceitar? A expressão dele era severa e intransigente. Será que ela ia realmente ousar ir contra seus desejos? — Eu não a aconselharia a fazê-lo — advertiu ele. Ele injetou seus olhos negros nos dela e, pela primeira vez, Rebecca se deu conta do adversário que tinha a sua frente. Tratava-se de algo mais do que poder e riqueza. Ela reconheceu em seu olhar uma determinação ferrenha de obter exatamente o que ele queria aliada a um desejo primitivo de lutar pelo melhor para seus filhos. Não podia condená-lo por isso. Seus filhos jamais a perdoariam por ter rejeitado a oferta de seu pai só porque ele não a amava. — Se... se eu concordar com você, poderei escolher onde morar? Xandros se voltou para a janela, como se quisesse checar se a chuva já tinha parado, mas, na verdade, querendo esconder seu sorriso de vitória. 63


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— É claro que sim — murmurou ele.

CAPÍTULO OITO

— De que tipo de casa você gostaria, Rebecca? — perguntou Xandros impacientemente, na sala de estar que mais parecia um misto de sauna e lavanderia. Quem poderia imaginar que a essa altura de sua vida ele estivesse dormindo no sofá da sala de uma mulher, num espaço tão diminuto? Olhou taciturnamente para os folhetos que ela havia rejeitado. — Alguma coisa específica? Rebecca se esforçou para se concentrar nos detalhes da casa e não na sua expressão severa. Ela descobrira que escolher um lugar para morar quando não havia nenhuma limitação financeira era uma decisão muito difícil. Teria sido muito mais fácil descartar algumas opções por não ter como pagar por elas. Qualquer coisa, porém, seria melhor do que ter Xandros acampado em sua sala, despertando sentimentos que ela sabia que não deveriam vir à tona. — Bem, eu não quero morar numa dessas coberturas frias que mais parecem uma espécie de laboratório. Xandros riu, pensando no que o seu colega que havia ganhado um prêmio por aquele projeto pensaria daquele comentário. — Pode me dizer, então, o que você considera importante numa casa? — disse ele, forçando-se a tratá-la como se ela fosse uma cliente. — O que não poderia faltar na sua casa ideal? Isso era fácil. — Um jardim — disse ela imediatamente. — Isso é tudo? — perguntou Xandros sorrindo. Por ironia do destino, aquilo que ela queria era mais difícil do que qualquer outro projeto. Será que Rebecca tinha noção do que estava pedindo? — Encontrar uma casa com jardim em Londres é como ganhar na loteria, mas eu conheço algumas pessoas aqui que podem me ajudar. Rebecca passou as mãos pelos seus cabelos despenteados. Ele só precisava estalar os dedos para ter todo um séquito a seu dispor. Será que ele não compreendia que não era assim tão fácil para ela escolher uma casa nova sem contar com o tipo de 64


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coisa que mães de primeira viagem costumavam ter como, por exemplo, a possibilidade de compartilhar suas expectativas com o marido? Tudo o que tinha a seu dispor era Xandros falando nas pessoas que ele conhecia, daquela maneira fria e indiferente. — Fantástico — disse ela, sarcasticamente. Xandros tomou aquilo como uma bofetada em seu orgulho grego machista, sentindo um início de raiva e de algo mais arder dentro dele. Algo que vinha crescendo, apesar de sua insistência em dizer a si mesmo que aquilo não era mais apropriado. — Que reação mais violenta, agape — murmurou ele. — Achei que você podia ao menos se mostrar um pouco agradecida. — Achou mesmo? Quantas expectativas mais ele teria em relação a ela? Rebecca havia permitido que ele escolhesse o nome dos bebês, dormisse em seu sofá e agora estava deixando que ele mudasse o rumo de sua vida. Quando é que aquilo ia acabar? Rebecca olhou para ele, endurecendo diante da visão de Xandros apoiado no peitoril da janela. A calça preta moldava suas coxas e uma malha escura de cassimira aderia às linhas firmes de seu tronco. Seu cabelo preto estava despenteado e seus olhos de ébano brilhavam cheios de vitalidade. Havia também uma sombra escura ao redor do maxilar. Aquele era Xandros na sua versão mais casual e sexy. Deus do céu, como ela o desejava! Será que era normal uma mulher sentir tanto desejo por um homem tão pouco tempo depois de dar à luz? Talvez aquilo estivesse acontecendo apenas porque se tratava de Xandros, um homem a quem ela havia amado e com quem tinha desfrutado de inúmeros prazeres. Olhando para a pele morena dele, e lembrando como era senti-la em contato com o próprio corpo nu, era fácil esquecer de toda a história turbulenta pela qual eles haviam passado e ainda mais fácil esquecer o único motivo pelo qual Xandros estava ali. Ele só está aqui por causa dos bebês. Ela disse a si mesma que aquilo não deveria doer tanto assim, mas o fato é que doía, e ela se flagrou tendo vontade de magoá-lo também. Quis mostrar a ele que ela não ia agir como um cachorrinho faminto agradecido por qualquer naco de comida que ele jogasse na sua direção. — A minha falta de gratidão o irrita, Xandros? Você gostaria que eu me jogasse servilmente aos seus pés? Ele pôde perceber a nota de desafio no tom de voz de Rebecca e começou a sentir a vitória borbulhar em suas veias. Por fim! Ele estava esperando pela ironia. Pelo fim daquelas boas maneiras. Pelo sinal verde para que pudesse fazer o que mais desejava. Xandros se moveu na direção dela como uma pantera negra, silenciosamente, 65


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vendo os olhos violeta dela escurecerem e seus lábios se entreabrirem. — O que você acha que eu gostaria que você fizesse, agape? Ela não estava conseguindo pensar muito, ainda mais assim tão próxima dele, a ponto de poder reconhecer o cheiro masculino característico da loção de barba, que estava começando a atiçar seus sentidos e seu desejo. Já era tarde demais quando se deu conta do perigo daquela proximidade e do feitiço que ele estava lançando sobre ela. Por mais estranho que parecesse, porém, Rebecca não estava ressentida, pois aquilo era um sinal de que ele ainda a achava desejável. — Xandros? — disse ela arfante. — O que é isso? — Oh, Rebecca. Não acha um desperdício fazer uma pergunta dessas quando você já sabe a resposta? — provocou ele, tomando-a nos braços. — Não... — Não, o quê, agape? Não quer que eu faça o que seus olhos estão implorando que eu faça, embora sua mente não esteja bem certa se deve permiti-lo ou não? A percepção de Xandros a perturbava quase tanto quanto a proximidade. A respiração quente dele fez os pelos de sua nuca se arrepiarem quando ele sussurrou contra seu pescoço. Rebecca começou a tremer, odiando a precisão das palavras de Xandros e o repentino desejo que crescia dentro de seu corpo. Às mãos fortes a estavam agarrando com firmeza pela cintura. Parecia que havia se passado toda uma vida desde que ele a tocara assim pela última vez. — Xandros... — O quê? — Pare. — Mas você não quer mesmo que eu pare, quer? Ele começou a traçar uma linha sobre seu pescoço com a ponta do polegar e pôde senti-la tremer sob o toque. — Hum... O seu cheiro é delicioso. O seu corpo é delicioso. — Eu estou cheirando a leite. — Eu sei. E isso é delicioso. Você é deliciosa. Rebecca sentiu o coração acelerar. Ele parecia não se importar com o fato de ela ainda estar um pouco gorda depois de ter dado à luz, ou por ter deixado de lavar os cabelos por dois dias. Seus dedos estavam avançando para tocar a maciez de sua barriga numa intimidade chocante, fazendo-a ansiar para que descessem ainda mais e lhe proporcionassem um prazer rápido e fácil como já havia feito tantas vezes antes. — Xandros! — disse ela arfando. — Você gosta disso? 66


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Ela provocou, apoiando-se nas palavras dele. — Não acha um desperdício fazer uma pergunta dessas quando você já sabe a resposta? Ele riu, porém com um misto de raiva e frustração e mais alguma coisa na qual ele não quis se deter. — Então vamos deixar de perguntas para que eu possa beijá-la. Xandros ergueu o rosto de Rebecca e olhou fundo nos seus olhos arregalados antes de colar os lábios nos dela. Ela estava com sabor de pasta de dente e café e tinha um cheirinho de bebê, uma mistura que ele jamais imaginou ser tão afrodisíaca. — Rebecca — disse ele num gemido, contra seus lábios. — Oh, Rebecca. — Xandros — sussurrou ela também, como se eles tivessem acabado de ser apresentados um ao outro. Os braços de Rebecca agarraram os ombros largos de Xandros como um cipó. Ela pôde sentir seu corpo amolecendo e reagindo ao dele. Aquele era o beijo mais doce de que Rebecca podia se lembrar, embora fizesse muito tempo que não beijava alguém. Ela abriu os lábios para recebê-lo e reteve um pequeno gemido ao se entregar àquele imenso prazer. Xandros se conteve, roçando os lábios nos dela como se estivesse tentando descobrir a boca de Rebecca apenas pelo seu toque. — Eu quero levá-la para a cama — disse ele hesitante —, mas não sei se ainda é cedo demais. Ela também queria, mas não achava que aquilo era certo — e não porque havia acabado de dar à luz gêmeos. Um alarme soou em sua mente. O relacionamento deles era coisa do passado e Xandros estava apenas querendo assumir o comando, insistindo para que ela se mudasse para uma casa maior pela qual ele ia pagar. Ceder e fazer sexo com ele naquelas condições pareceria imoral, como se ela estivesse se vendendo em troca de favores. Mais um pouco e ele contrataria um advogado por uma fortuna para provar que ela era moralmente inadequada para cuidar das crianças. Ela não o havia esquecido. Mais que isso, ainda gostava dele. Tentar deixar de amar alguém não era uma tarefa fácil. Era como nadar num mar de águas imprevisíveis, sendo volta e meia tragado por uma onda quando menos se espera. Uma delas, muito forte, por sinal, estava tentando arrastá-la agora mesmo. Apesar de seus seios estarem latejando e o sangue bombeando com força em todas suas zonas erógenas, Rebecca empurrou o peito firme de Xandros, resistindo bravamente à tentação de avançar por baixo de sua camisa e brincar com os pelos de seu peito. Quanto da reação que se tinha a alguém poderia se dever à força do hábito 67


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e ao condicionamento? A dor em seu coração, porém, não tinha nada a ver com um nem com outro. — Nós temos de parar com isso agora mesmo, Xandros — disse ela. — Isso está errado! Você sabe disso! Errado? Ele teve de lutar contra todos seus instintos para permitir que ela se desvencilhasse do seu abraço. Deixou que ela se afastasse um pouco, enquanto tentava acalmar a respiração e o calor de seu desejo. — Não — disse ele com voz rouca, olhando para os olhos escurecidos dela, suas bochechas em chamas e os seus lábios trêmulos. — Você está muito enganada, minha linda. Dentre tudo o que diz respeito a essa situação, com exceção de nossos dois lindos filhos, isso... isso... — disse ele acariciando arrogantemente seus seios, sentindo os mamilos enrijecerem contra sua mão — é a única coisa remotamente certa que há entre nós. — Seus olhos negros a varreram de cima a baixo. — E você teria de ser muito hipócrita para negar isso, não só a mim, mas também e principalmente a si mesma. O que ela mais queria na vida era puxar a cabeça escura dele na sua direção e continuar a se perder em mais um beijo doce e inebriante. Mas um beijo podia ser enganador. Podia fazer com que se imaginasse alguma coisa que na verdade não existia, e Rebecca não podia se arriscar a se magoar novamente. Não agora, quando tinha de ser forte para cuidar dos meninos. Xandros não a amava e ela não tinha nada a ganhar pensando que ele algum dia viria a amá-la. Temendo inflamá-lo ainda mais, ou a si mesma, ela deu um passo para trás. Em breve ele voltaria para a sua torre reluzente em Nova York, e a última coisa de que ela precisava agora era se ligar a ele mais intensamente. — Sim, o sexo sempre foi muito bom, mas isso não é mais relevante, Xandros. — Você acha que não? — perguntou ele zombeteiramente. — Eu sei que não. O nosso relacionamento acabou. Nós não podemos fingir que nada aconteceu só porque ainda sentimos desejo um pelo outro. Não é justo com nenhum de nós. Ele a olhou nos olhos, forçando-se a acalmar seu desejo ao perceber que ela estava falando sério. Por mais estranho que parecesse, ele nunca a havia respeitado tanto quanto agora, com seu cabelo maltratado, sua expressão desafiadora e sua declaração arrojada. Quando fora a última vez que uma mulher havia encarado os fatos daquela maneira e imposto um limite aos seus desejos? — Muito bem. Eu vou me concentrar naquilo que precisa ser feito. Você quer um 68


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jardim, e vai ter um. Nós vamos conseguir uma casa até o final dessa semana — prometeu ele. Houve um silêncio. Nós. Rebecca tinha certeza de que aquilo fora apenas um lapso. Tinha de ser. Ela sorriu nervosamente. — E você vai voltar logo para os Estados Unidos, eu espero. Afinal, você tem seus negócios para conduzir. Xandros percebeu a esperança em sua voz, embora ela estivesse fazendo de tudo para disfarçar. Naquele momento, algo dentro dele mudou. Até agora, ele havia se concentrado apenas em tirar a ela e aos seus filhos daquele pardieiro. As palavras de Rebecca, porém, o forçaram a olhar para um futuro mais longínquo, que incluía aqueles dois bebês que carregavam seus genes e que se transformariam em rapazes, e depois em homens. E depois disso? Precisaria imprimir a sua presença em suas mentes, se ligar a eles firmemente desde cedo para que eles soubessem que ele era seu pai. Afinal, quem poderia saber o que a mãe deles estava planejando fazer depois de ter se dado conta de que ele não pretendia casar com ela? Quem garantiria que ela não ficaria entediada com o trabalho diário de cuidar das crianças e não começaria a ansiar por algum tipo de excitação que a afastaria deles, como sua própria mãe havia feito? E quem melhor do que ele para assumir a sua criação, caso isso acontecesse? Mas isso só seria possível se eles o conhecessem. Ele lhe lançou um sorriso duro. — Eu não me lembro de ter dito nada a respeito de voltar para os Estados Unidos — disse ele. Rebecca teve a nítida sensação de sentir uma mão fria e úmida agarrá-la pela nuca. — Mas eu pensei... — O que foi que você pensou, Rebecca? Não deixe que ele a intimide. Se você demonstrar alguma fraqueza, estará perdida. — Bem, você é um homem ocupado que certamente não tem tempo para ficar vagabundeando por aqui. — Não tenho? — Ele cravou seus olhos negros nela, parecendo se divertir. O que ela achava que ele ia fazer? Pagar para que vivesse no luxo e então se afastar como alguma espécie de tolo? __Eu posso fazer o que bem entender, Rebecca, e o que quero nesse exato momento é ficar perto dos meus filhos. Quero estar por perto quando eles acordarem 69


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de manhã e apagar a luz à noite quando forem dormir. Ela levou alguns segundos para compreender o que ele havia dito e, quando o fez, chegou a ficar um pouco tonta. — Você quer dizer... que está planejando vir morar conosco? Ele a viu empalidecer e seus olhos ficarem nebulosos de apreensão, mas se conteve. — Claro que sim. Pensou mesmo que eu ia lhe comprar uma casa grande e então desaparecer da vida dos meus filhos? Você realmente achou que eu era o tipo de homem que aceitava pagar todas as contas e então ser posto de lado, Rebecca? Ela abriu a boca para protestar e lhe dizer que fora ele quem insistira para que se mudasse para uma casa maior e agora estava distorcendo as coisas para fazê-la parecer uma golpista! Será que Xandros era tão rico a ponto de não ter notado que ela não havia tocado em um centavo do dinheiro que ele havia lhe enviado? — E se eu lhe dissesse que preferia permanecer nesse lugar apertado do que dividir um palácio com você? Seu sorriso era falso, e o fogo da batalha estava aquecendo seu sangue. — Você estaria me dando motivo para abrir um processo contra você para obter a guarda das crianças. — Você não faria isso! — Oh, eu faria, sim, Rebecca, pode acreditar. — Você não ia conseguir! Sabe que não! — Talvez não a guarda total — disse ele —, já que a Justiça ainda tende a favorecer as mães nesses casos. Mas eu não vejo motivo para não conseguir uma guarda compartilhada. Como você se sentiria se eu começasse a levar Andreas e Alexius para Nova York em semanas alternadas? Para seu horror, ela viu uma nova luz brilhar nos olhos negros de Xandros, como se, ao desafiá-lo, ela o tivesse feito lembrar de uma opção que ele não tinha pensado antes. Sabia que ele poderia muito bem estabelecer uma vida com os gêmeos que a excluiria gradualmente. Que criança não ia querer desfrutar do tipo de vida que Xandros poderia lhe proporcionar? O que ela poderia lhes oferecer em contrapartida? Rebecca enterrou as unhas ferozmente nas palmas das mãos. Poderia lhes oferecer algo que eles jamais conseguiriam obter de outra pessoa — o amor de mãe! Sua cabeça estava girando. Ela estava encurralada e ele sabia disso também. Aja com tranqüilidade. Não permita que ele perceba como você está assustada. Faça uma cara de corajosa e enfrente-o, se não por você, ao menos pelos meninos. 70


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— Muito bem — disse ela lentamente. — Já que se mudar conosco é a sua condição para dar aos nossos filhos o espaço e o conforto que eles merecem, que assim seja. — Ela respirou fundo. — Mas acho melhor você ouvir as minhas condições também, Xandros. — Ne, eu ficaria encantado em saber do que se trata, agape — provocou ele, inclinando a cabeça. — Ou será que eu devo adivinhar? Hum? Será que você vai me dizer para não beijá-la mais como eu acabei de fazer, nem tocá-la para lhe proporcionar toda a sorte de prazeres que nós conhecemos tão bem? É isso, Rebecca? Mesmo quando eu posso ver seu rosto afogueado como já vi tantas vezes quando você gritou em meus braços? Rebecca se conteve para não reagir à provocação sensual contida em suas palavras. — É isso mesmo — disse ela, tranqüila. — Se formos morar sob o mesmo teto, terá de ser separadamente. — Separadamente — repetiu ele, pensativo, com um sorriso de predador. Será que ela realmente acreditava que um homem com o seu apetite sexual se satisfaria com isso? E o que dizer do apetite dela, então? Rebecca havia acabado de demonstrar o quanto ainda o desejava. — Vamos ver quanto tempo você suporta viver dessa maneira, agape mou — disse ele suavemente.

CAPÍTULO NOVE

Xandros comprou uma casa em Holland Park, uma área sofisticada de Londres pela qual Rebecca havia apenas passado de ônibus. Era uma casa grande de quatro andares, situada numa rua tranqüila, ladeada de árvores, e habitada por várias famílias jovens. Aquele era o tipo de casa pela qual alguém podia facilmente se apaixonar, pensou Rebecca melancolicamente. A casa dele, lembrou ela, enquanto carregava um dos bebês pelo corredor de paredes forradas de carvalho. O vidro pintado da porta 71


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principal espalhava cores brilhantes sobre o chão preto-e-branco. Algumas horas depois de eles terem chegado, uma vizinha loira, fascinante, chamada Caroline, apareceu, trazendo uma garrafa de champanhe e um prato de sanduíches de salmão defumado acompanhados de um convite para que eles fossem até a festa que ela daria. — Você virão, não é? — perguntou ela a Rebecca, embora seus olhos e o sorriso estivessem focados no grego alto e silencioso que estava apoiado no umbral da porta. Rebecca realmente não soube como responder. Embora pudessem parecer uma família convencional, eles estavam bem longe disso. Aproximar-se dos vizinhos talvez exigisse um excessivo talento teatral nesse momento. — Vamos ver como conseguimos nos ajeitar por aqui — disse Rebecca diplomaticamente, percebendo que uma recusa total poderia fazer com que a vizinha atraente insistisse no convite. A casa era deslumbrante. O tipo de lugar em que ela jamais havia imaginado viver, com todos aqueles cômodos espaçosos e as suas escadas. A mudança de seu minúsculo apartamento para aquela mansão tinha se dado assustadoramente sem nenhum esforço de sua parte. Xandros havia supervisionado tudo, tendo providenciado inclusive um decorador para encher a casa de móveis cuidadosamente escolhidos, e cortinas caras para as janelas que iam do teto ao chão. Havia um ótimo quarto para Alexius e Andréas com seu próprio banheiro. Xandros tinha uma suíte só para ele no andar de cima com uma vista maravilhosa para o parque, onde poderia trabalhar, segundo explicara a Rebecca. Aquilo a fizera imaginar quais seriam seus planos e quanto tempo aquele arranjo poderia durar. Agora, porém, não era hora de fazer perguntas. Ela também duvidava de que ele lhe forneceria alguma resposta se ela o fizesse, portanto, por que se preocupar com algo que ela efetivamente não podia controlar? Aquela casa lhe proporcionava o espaço que ele havia lhe prometido, e no momento aquilo se sobrepunha a todos os outros problemas em potencial relacionados ao fato de compartilhar uma casa com homem tão perigosamente atraente como Xandros. Ela se acalmou ao olhar para o belo jardim do lado de fora, com seus canteiros circulares e as árvores altas, imaginando dois meninos peraltas brincando por entre elas. Ia construir uma caixa de areia para eles, e providenciar um pequeno escorregador. Pensou nos bebês alimentados e adormecidos no andar superior em seu belo quarto todo decorado em creme e azul-celeste e sorriu. Xandros a estava observando e registrou o leve curvar de seus lábios, fazendo-o lembrar de como a sua beleza tão particular o havia atraído tanto, sem falar naqueles 72


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olhos cor de violeta e seus cabelos cor de mel. Quanto tempo fazia desde que ele havia enterrado sua boca naqueles cabelos pela última vez? Quanto tempo desde o último beijo naqueles lábios? A frustração tomou conta dele. Xandros não tinha dúvida de que Rebecca lhe responderia instantaneamente se ele fosse até lá e a tomasse nos braços, mas alguma coisa o deteve. Talvez o novo ar de serenidade que a envolvia como um manto. Ele já havia notado antes, quando a vira sentada numa cadeira, junto à janela do quarto das crianças, amamentando Alexius, enquanto seu irmão gêmeo dormia num moisés, a seus pés. A luz suave do sol a havia iluminado e conferido à cena um fulgor inesperado, transformando o mel de seus cabelos em ouro. Ele nunca a havia visto tão linda. — Rebecca? Ela se virou, tentando se defender do impacto que a visão dele sempre lhe causava. Xandros estava sentado numa das poltronas com suas longas pernas estendidas, numa postura naturalmente elegante, com sua calça de corte bem feito moldada às coxas musculosas. Rebecca engoliu em seco. — Sim, Xandros? Ele notou que ela havia voltado a usar jeans, sem muito alarde nem horas excessivas de exercício. Sua vontade era de arrancá-lo e... Maldita beleza! — Nós temos de discutir algumas coisas — disse ele com voz rouca. — Que coisas? — perguntou Rebecca. — Uma babá — disse ele lentamente. — A menos que você prefira fazer um esquema para dormirmos alternadamente. Rebecca respirou fundo, tentando ignorar o modo como os olhos negros corriam insolente-mente sobre seu corpo, como se tivessem esse direito. Ela já havia ouvido a expressão "despir com os olhos" antes, mas jamais a tinha compreendido em toda a sua extensão até conhecer Xandros. A inegável tensão sexual que fervilhava sob a superfície, porém, era agora apenas uma faceta de sua vida que havia repentinamente se tornado plena. A maternidade era uma missão que ela descobrira que podia exercer muito bem, e isso havia lhe trazido muita calma e autoconfiança. A antiga Rebecca que havia desperdiçado seu tempo tentando agradar o exigente Xandros não existia mais. — Eu não quero contratar uma babá — disse ela calmamente. Xandros franziu a testa. Aquilo não era o que ele esperava. A riqueza podia pagar por ajuda e muitas mulheres gostavam disso. — Você tem idéia do trabalho que vai ter quando eles começarem a andar? Já 73


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pensou em como isso vai restringir a sua liberdade? — É claro que sim! Tudo vai demorar o dobro do tempo, só isso. Você bem que podia me orientar um pouco. Como é que sua mãe fazia? Houve

uma

pausa.

Em

outras

situações,

Xandros

teria

rechaçado

automaticamente aquela pergunta. Podia reconhecer sua importância naquele momento, mas isso não significava que ela lhe agradava. — Não creio que ela tenha sido exatamente um bom modelo para uma mãe de gêmeos — disse ele friamente. — Por que não? Xandros a olhou com irritação. Ele detestava ter de revirar o passado. Antigamente, ela teria interpretado de modo correto sua expressão e se detido na mesma hora. Antigamente, na verdade, ela faria qualquer coisa para agradá-lo. Mas ela havia mudado. Passar por toda uma gravidez sozinha e então dar à luz dois bebês sem saber como ia fazer para sustentá-los faria qualquer mulher mudar. Será que aquilo lhe dava o direito de saber mais sobre a sua história? Sua relutância em lhe contar a verdade se devia a um desejo feroz de manter a própria privacidade ou ao fato de ter enterrado seus sentimentos muito fundo dentro de si mesmo e não querer ressuscitá-los depois de tanto tempo? —Porque minha mãe foi embora quando Kyros e eu ainda éramos muito jovens. Ela o fitou com o coração acelerado. — Foi embora! — Muitos pais deixam seus filhos, mas as mães, às vezes, também o fazem — disse ele, dissimulando, com um sorriso irônico, a dor de reabrir aquela velha cicatriz. — Quantos anos vocês tinham? — Quatro — disparou ele com um olhar impaciente. — Ela nos deixou com nosso pai, que era perfeitamente capaz de providenciar para que nós fôssemos bem cuidados. Kyros e eu crescemos bem. Não foi nenhum drama. — Deve ter sido muito difícil para o seu pai dar conta de dois meninos tão pequenos sozinho — disse ela lentamente. — Como foi que ele fez? — Nós tivemos um monte de babás diferentes que tomaram conta de nós — disse ele, dando de ombros. — Meu pai era um homem muito ocupado, movido pela ambição e pela vontade de prosperar. O trabalho lhe tomava todas as horas do dia. Essa foi uma das coisas que lançaram minha mãe nos braços de outro homem, pelo menos foi o que ela disse. Estava em busca de excitação e glamour, e um marido ausente e duas crianças exigentes não lhe proporcionavam exatamente isso. 74


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— Você nunca se encontra com ela? — Ela morreu poucos anos depois de partir. Nós só a vimos duas vezes desde que ela foi embora. Xandros se lembrou do homem com quem ela havia casado, aquele que tinha substituído seu pai, e de como ele havia querido socá-lo na época. Rebecca assentiu. Aquelas respostas só estavam provocando cada vez mais perguntas em sua mente. Ela teve vontade de fazê-las, mas sabia que a última coisa que Xandros queria era uma psicóloga amadora. Algo na expressão dele parecia adverti-la a não forçar aquela conversa. Para um homem como Xandros, cujas emoções eram tão resguardadas, aquilo já fora uma grande revelação. Seu comportamento, agora, começava a parecer mais compreensível, fazendo, inclusive, com que ela se sentisse culpada por tê-lo avaliado mais como um tipo, e não como um homem. Seu cinismo não havia brotado do nada. O fato de ter crescido sem uma figura feminina que exercesse o papel de mãe explicava em grande parte sua atitude para com as mulheres. Rebecca ficara perturbada. Por trás de sua afirmação de que sua vida não tinha sido um drama e da expressão dura como pedra em seu belo rosto, ela conseguira ver a dor do menininho que havia sido abandonado. Por que ele e o irmão não eram tão próximos como se esperava depois de terem passado por uma experiência tão difícil juntos ainda quando crianças? Antigamente, ela pisava em ovos quando se tratava dos sentimentos dele, mas agora não mais. Queria superar todo tipo de fingimento e subterfúgios. Não por ela, uma vez que sabia que tudo o que havia existido entre eles tinha chegado ao fim, mas por causa das crianças. Duas confidencias num só dia, porém, era coisa demais para ele. Xandros teria de aprender a confiar nela primeiro para lhe contar mais a respeito de sua vida, e talvez nunca chegasse a fazê-lo. Ela própria tinha de começar a agir de forma mais madura em relação às circunstâncias, a começar pela mudança para aquela bela casa. Seria apenas imaginação sua, ou Alexius e Andreas tinham conseguido dormir bem mais facilmente depois da mudança? — Eu gostaria de lhe agradecer — disse ela, meio sem jeito. Ele estreitou os olhos. — Pelo quê? — Por ter tornado tudo isso possível. Por dar aos meus filhos todo esse espaço. — Eles são meus filhos também — disse ele amargamente. — O que você achou que eu ia fazer, Rebecca? Me manter afastado enquanto você os criava na pobreza? Ela decidiu não contestar sua noção de pobreza. 75


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— Eu realmente não pensei muito sobre isso. Como poderia? Não planejei nada disso. Rebecca fez uma pausa, esperando pela pergunta que ele não fez, mas que ela podia ver estampada em seus olhos. — Não, eu não planejei — disse ela fervorosamente. — Mas aconteceu e eu quero fazer o melhor que puder. Quero ser uma ótima mãe e, para mim, isso significa pôr a mão na massa. E por isso que eu não quero uma babá. — Mas é coisa demais para você — disse ele asperamente. Talvez ele estivesse se baseando na experiência de sua mãe, mas Rebecca era diferente. Ela balançou a cabeça, respirando fundo. — Sei que tenho a sorte de contar com você para me oferecer uma babá, mas eu não quero nenhuma outra mulher se metendo na criação que eu quero dar aos meus filhos. — Você não pode administrar uma casa desse tamanho sozinha — insistiu Xandros. — Tem razão — disse ela, sorrindo hesitantemente, desejando acariciar seu rosto, não de uma maneira sexual, mas sim para aliviar um pouco da dor estampada em sua expressão tão dura. — Você já viu como eu sou bagunceira, portanto talvez fosse melhor empregar o dinheiro contratando uma empregada ou governanta que pudesse manter a casa de acordo com seus padrões. Ela o fez parecer alguma espécie de autômato, vivendo num ambiente estéril! Xandros teve de sorrir, contudo, ao perceber que, de algum modo improvável, ela havia conseguido fazer as coisas à sua maneira. Seu sorriso, porém, logo foi substituído por uma expressão pensativa. Será que ela só estava jogando com ele para rejeitar sua oferta de uma babá? Será que Rebecca tinha alguma consciência de como os bebês se tornavam apenas belos acessórios no mundo em que ele vivia, vestidos com versões em miniatura da última moda pelas próprias mães, elas mesmas, sempre muito chiques e impecáveis? Talvez ela estivesse querendo impressioná-lo, bancando a mulher que estava realmente disposta a sujar as mãos, ou mesmo tentando fazer com que os meninos ficassem tão apegados a ela a ponto de não quererem se separar dela mais tarde? Xandros riu. Ele havia se transformado num tremendo cínico. — Está bem, Rebecca. Vamos contratar uma governanta.

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CAPÍTULO DEZ

O sol banhou a escrivaninha de Xandros. Ele pousou o lápis e estendeu os braços acima da cabeça. Estivera trabalhando desde as primeiras horas da manhã em seu grande estúdio vazio e descobrira que podia ser extraordinariamente produtivo na tranqüilidade daquela casa, no início do dia. Xandros se recostou na cadeira, feliz com os primeiros esboços do projeto para a sala de concertos parisiense. Ele trabalhava para o mundo inteiro e aquela base em Londres facilitava em muito suas viagens pela Europa. Ele gostava do seu trabalho. Jamais sabia se um projeto ia realmente funcionar ou não, por mais cuidadosamente que o tivesse planejado. Quando se projetava algo tão grandioso quanto o enorme centro de pesquisas que ele havia recentemente concluído em Denver, não havia como prever o modo como o sol do meio-dia ia refletir nas suas diversas janelas, tornando-o eternamente conhecido como O Diamante. Era mais ou menos como viver ali, com Rebecca e seus filhos. Por mais que a natureza do seu trabalho o fizesse visualizar tijolos e argamassa transformando-se em coisas belas, ele jamais havia imaginado que isso poderia acontecer com crianças também. Que o seu desenvolvimento diário pudesse ser tão surpreendente quanto o dos prédios altos que ele concebia e que pareciam desafiar a própria lei da gravidade. Xandros jamais havia parado para pensar naquilo antes. Mas por que deveria? Afinal, nunca fizera nenhum plano para se tornar pai até ser obrigado a isso pela força das circunstâncias. Mas agora ele havia entrado numa rotina, deixando seu trabalho na hora do almoço e dando um passeio com Rebecca e os meninos. Seus colegas nos Estados Unidos teriam ficado perplexos ao vê-lo tirando uma hora do dia para passear ao redor de um parque numa carruagem. Para falar a verdade, até ele estava perplexo. O leve som de um choro no andar debaixo significava que um dos bebês estava acordando e que o outro logo o seguiria. Ele desceu para fazer um café antes de a governanta chegar. Depois ele procuraria por Rebecca, que certamente estaria fazendo algo com um dos bebês, usando um jeans gasto, com seus longos cabelos amarrados com uma fita, mais bela do que qualquer mulher tinha o direito de ser. A imagem que eles passavam para o mundo externo de um casal feliz não tinha 77


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nenhuma consistência. Era como uma daquelas pinturas que criavam uma ilusão de ótica, fazendo o observador acreditar que estava olhando para uma paisagem verdadeira quando, na verdade, se tratava apenas de um quadro bidimensional. Ele fez café, ouviu algumas mensagens na secretária eletrônica e foi até Rebecca, no quarto das crianças, onde ela estava secando um dos bebês. Sua blusa molhada estava colada aos seios. Seus belos seios. — Havia outra mensagem daquela mulher — disse ele. Rebecca desviou o olhar do bebê, pensando em como eles eram perfeitos, com sua pele morena como a do pai, e os mesmos cabelos e olhos cor de azeviche. Até agora, ela não havia conseguido reconhecer nada de si mesma neles. Ela franziu a testa. — Que mulher? — A loira aqui do lado. Aquela que está sempre de saia, ou melhor, sem saia. Rebecca se conteve. Ah, sim. Aquela. Ela baixou os olhos para endireitar a colcha sobre a qual o bebê estava deitado. É claro que Xandros havia notado as roupas impróprias e as longas pernas de sua vizinha. Ele era livre para passar o tempo que quisesse avaliando-as. O fato de que ela não gostava daquilo não tinha a menor importância. Fora ela quem escolhera viver vidas separadas. Tenha cuidado com o que você deseja. — O que ela quer dessa vez? — Disse que já deixou várias mensagens. Ela vai dar uma festa amanhã e quer que nós compareçamos. Rebecca fez uma careta. — Você vai. Eu fico aqui. Xandros ficou admirando a sua destreza ao vestir o bebê. Era incrível como as coisas podiam mudar tanto assim. Ele se lembrou de como costumava ligar para ela na última hora para convidá-la para jantar, quando ela largava tudo para ir encontrá-lo. Ela sempre se ajustava aos seus planos e fingia não ligar se ele cancelava tudo na última hora. E não tinha sido exatamente por isso que ele a havia desprezado, assim como a todas as outras mulheres que facilitavam demais as coisas para ele? Rebecca, porém, não estava mais fazendo isso, e, a certa altura do campeonato, ele também deixara de pensar que aquilo se tratava de alguma espécie de jogo de sua parte. Quando ela lhe dissera pela primeira vez que queria dormir em quartos 78


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separados, Xandros pensou que ela estava arquitetando um plano, desejando puni-lo, talvez, antes de recebê-lo novamente em seus braços e na sua cama. Afinal, como ela poderia resistir a ele, se nenhuma mulher havia conseguido fazê-lo? Tinha até mesmo se permitido saborear a expectativa do inevitável, pois sabia que ela ainda o desejava. Podia ver facilmente os sinais que Rebecca lhe enviava, embora ela fizesse de tudo para escondê-los. Ela não tinha como disfarçar o modo como seus olhos escureciam quando ele se aproximava ou como seus lábios se entreabriam levemente como se ela quisesse beijá-lo. Apesar disso, ela se comportava com ele como uma verdadeira professorinha, numa atitude gentil, porém distante. Quando eles estavam lidando com os gêmeos, Rebecca era doce e cooperativa. E olha que ele estava ajudando até mesmo na hora do banho! Em algum momento, Porém, ela erguia uma barreira invisível em torno de si e algo o impedia de tentar desarmá-la. Será que ela estava investindo deliberadamente na sua imagem de Madonna intocável? Será que sabia que ele estava ficando louco? Que ficava acordado à noite, atormentado de desejo, imaginando-a no andar debaixo, numa cama grande demais para ela? Talvez Rebecca estivesse tendo algum prazer em imaginar a sua frustração. Talvez já estivesse na hora de fazer alguma coisa a esse respeito... — Você vai — repetiu Rebecca, interrompendo seus pensamentos eróticos. Ele foi até ela. Os cabelos cor de mel estavam presos num rabo-de-cavalo alto que deixava o pescoço à mostra. Xandros teve vontade de correr seus lábios ao longo dele. — Ela quer que nós dois vamos — disse ele. — Não sei por que, mas eu duvido muito. Acho que ela não ia ficar nem um pouco triste se você aparecesse sozinho por lá. — O que você está querendo dizer? Ela desejou que ele não tivesse se aproximado tanto assim. — Ora, vamos, Xandros, você sabe exatamente do que é que eu estou falando! — Ela ajeitou uma mecha de cabelo para trás da orelha. — E impossível que você não tenha notado que aquela mulher o acha atraente. Ele percebeu que a atitude dela estava tendo um efeito perigoso sobre sua pressão arterial. Se Rebecca tivesse bancado a ciumenta ou pegajosa, ele talvez tivesse tido vontade de escapar para a casa ao lado, mas aquela possibilidade não o atraía de maneira alguma. — Acho que você deveria vir também. Aliás, eu insisto. Isso vai lhe fazer bem. Há quanto tempo você não sai à noite? 79


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Desde os primeiros dias de sua gravidez, mas Rebecca era orgulhosa demais para admitir isso para ele. — Há muito tempo, mas isso é bem comum entre mães com filhos pequenos. — De repente, você virou uma especialista nisso, não é? Eu queria muito que você fosse. Encare como uma espécie de exercício de relações públicas em nome dos nossos filhos, para que possamos fazer amizade com os pais de outras crianças. — Que provinciano — murmurou ela. Ele riu. — Você está acusando a mim de ser provinciano, agape mou!. Isso é ultrajante. Aquilo estava se aproximando perigosamente de um flerte. Rebecca se levantou e deu um passo para trás, nervosa, como se tivesse se aproximado demais de um despenhadeiro. — De qualquer jeito, nós não temos uma babá. — Betty disse que poderia ficar com as crianças de bom grado. Rebecca gostava e confiava na governanta. Ela também era mãe e adorava os gêmeos. Além disso, já fazia realmente muito tempo desde que ela havia saído pela última vez, ainda mais para uma festa. - Oh, está bem — disse ela. — Eu vou. Algo a que até então ela havia estado indiferente de repente se tornou motivo de excitação quando Rebecca começou a se arrumar. Talvez porque estivesse se sentindo bem consigo mesma por não ter permitido que ele a manipulasse, Mas ela não podia baixar a guarda em relação a Xandros. Achara que mantendo distância dele seu desejo diminuiria, mas não havia nada mais longe da verdade. Ela ainda o desejava com todas suas forças e sabia que ele também, mas algo mudara. Eles haviam gerado aquelas duas vidas e o significado emocional daquilo era extremamente profundo. Eles tinham de manter um relacionamento civilizado pensando no futuro. Xandros possuía todo o instrumental necessário para feri-la outra vez de maneiras que ela nem sequer podia imaginar, e não ia permitir que isso acontecesse. Não agora. Ela não podia se dar ao luxo de desabar tendo dois belos bebês que precisavam tanto dela. Lembre-se disso da próxima vez que ele a tentar, então! Betty assumiu os cuidados com os bebês para que os dois pudessem ir à festa. Ela era uma governanta esplêndida e uma babá inigualável. Mulher madura, já com seus 50 anos, ela incentivou Rebecca a se divertir e não se preocupar com as crianças. — Pelo amor de Deus! — disse ela firmemente. — Vocês vão estar logo ali ao lado se eu precisar de ajuda! A primavera estava no ar e Rebecca escolheu seu vestido favorito de antes da gravidez. Ela sempre se sentira bem com ele e descobriu, encantada, que ele ainda lhe 80


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servia. O tecido azul aderia suavemente a seus quadris e ia até os tornozelos, cobrindo, graças a Deus, suas pernas brancas por causa do inverno. Ela calçou então um par de sandálias igualmente azuis que havia comprado em Roma, o que deu um toque charmoso em seu visual. Rebecca deixou os cabelos recém-lavados soltos e borrifou um perfume de rosas. Xandros estava esperando por ela na sala de vistas, debruçado sobre a janela. Ele se virou ao ouvir seus passos se aproximando e estreitou os olhos negros ao vê-la. Os cabelos sedosos caíam como uma cascata sobre seus ombros, presos apenas por duas presilhas que o impediam de cobrir parte do rosto. Os olhos cor de violeta estavam escuros e arregalados. Ele se sentiu tomado por um profundo desejo. — Você está linda — disse ele suavemente. — Você não deveria parecer tão surpreso. — Talvez eu realmente esteja. Já faz muito tempo desde a última vez em que eu a vi vestida assim. — Já faz muito tempo que eu não vou a uma festa. Suas palavras casuais, porém, mascaravam o que Rebecca estava realmente sentindo. Aquilo parecia um encontro, uma coisa de casal, algo que eles não eram. A última vez em que ela se vestira daquele jeito fora naquela noite fatídica em que ele tinha sido tão crítico sobre o esforço que ela fizera para agradá-lo. Lembre-se disso para não se deixar levar pelos olhos negros dele, pela maneira como eles a estão acariciando agora, como se quisessem arrastá-la consigo e violentá-la. — Acho melhor eu ir dar uma olhada nos gêmeos — disse ela hesitante. — Rebecca, eu acabei de olhar. Eles estão bem. Betty também. Agora relaxe. Relaxar? Isso equivaleria a se deixar levar diretamente para a zona de perigo. Relaxar significava baixar a guarda, olhar para Xandros e achá-lo irresistível, vestindo aquela camisa e calça escuras combinando com seu cabelo cor de ébano e os olhos brilhantes. Ela foi pegar o xale, mas ele a deteve. — Permita-me — disse ele, cobrindo cuidadosamente seus ombros desnudos. Rebecca estremeceu e ficou se perguntando se ele havia percebido. Xandros era um verdadeiro especialista quando se tratava de mulheres. Será que ele compreendia o quão perturbador poderia ser um simples gesto como aquele, especialmente para alguém que estava ansiando por um contato físico há tanto tempo, a ponto mesmo de fazer seu corpo doer? E agora? Será que ele estava roçando os dedos deliberadamente sobre sua clavícula, deixando-a consciente do quanto eles estavam próximos aos seus seios e de como seria fácil para ele começar a afagá-los? E não era isso mesmo o que ela queria? Tremer de paixão e desejo novamente? Mas tudo aquilo 81


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era passado. Tinha de ser. Seu rubor só a estava deixando ainda mais embaraçada. Ela se afastou de Xandros, tentando conter o desejo. — Vamos, então — disse ela, hesitante. — Sim, vamos — repetiu ele, com um leve sorriso curvando os cantos de sua boca, como um jogador de pôquer que tivesse uma carta na manga. A janela iluminada da grande casa ao lado deixava entrever uma festa animada com mulheres minúsculas que pareciam pássaros exóticos do paraíso em seus vestidos caros e suas jóias, e homens com ternos escuros. Foi a própria Caroline quem abriu a porta, quase, pensou Rebecca, como se estivesse esperando por eles. Será que ela já estava ficando paranóica? Ainda que ela estivesse interessada em Xandros, aquilo não era da sua conta. Não podia decidir que não o queria para si e se opor quando alguém efetivamente o fizesse. Ainda que Caroline fosse uma mulher casada, não era sua função agir como a consciência dele. O modo como a loira havia grudado nele deixava bem claro que Xandros era seu convidado favorito. Rebecca não podia censurá-la. Ela mesma já se comportara assim no passado, tendo sido mais uma na longa fila de mulheres dóceis arrebatadas por aquele bilionário grego deslumbrante. Ele dominava o ambiente e se destacava entre os outros homens, como se fosse iluminado por algum fogo interior. Atraía o olhar de todos como um ímã. Rebecca viu as pessoas se aproximando dele, tanto homens quanto mulheres, mas especialmente mulheres, tentando ouvir o que ele dizia, como se alguma força para além de seu controle os compelisse a fazê-lo. — Ele é adorável — disse uma mulher que estivera perto dele, observando-o. — E mesmo — disse Rebecca. — Você deve ser a mãe das crianças, não é? — Isso mesmo. — Mas vocês não são casados? Rebecca se virou para olhar melhor para a mulher. Será que ela não se importava que aquela pergunta pouco sutil pudesse ser ofensiva? É claro que não. — Você parece saber muita coisa a meu respeito — respondeu Rebecca num tom provocante. — Sou a irmã de Caroline. Ela me falou de você. Disse que havia um novo casal morando na casa ao lado. A mulher forçou um sorriso que não alcançou seus olhos brilhantes, como se estivesse tentando esclarecer algo de uma vez por todas. — Mas você não é a esposa dele, é? 82


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— Não — respondeu Rebecca, perguntando-se se teria feito alguma diferença se a resposta fosse outra. Talvez aquele tipo de mulher considerasse que qualquer homem estava no páreo, contanto que fosse suficientemente atraente. Ela tomou um gole de champanhe, esperando dissolver o nó de angústia em sua garganta. De algum modo, porém, a irmã de Caroline a havia ajudado a reforçar sua convicção de que ela estava fazendo o melhor ao se manter física e emocionalmente distante de Xandros. Se eles ainda fossem amantes, ela estaria soltando fogo pelas ventas ao ver a vizinha sorrindo como se já estivesse se imaginando com ele em sua cama. Onde, afinal, estava o pobre do marido dela! Tomou uma taça de champanhe e mordiscou alguns palitos de cenoura, forçando-se a conversar com outros convidados. Só porque estava toda perturbada por causa de Xandros, não significava que ela não podia ser uma boa companhia numa festa. Encontrou mais uma mãe que morava do outro lado do parque que foi muito gentil com ela, terminando por combinar um encontro futuro para um café. Rebecca estava conversando com um pianista bastante arrojado, vindo do Uruguai, com as sobrancelhas mais escuras que ela já havia visto, quando sentiu um tapinha em seu ombro. Virou-se e encontrou Xandros olhando-a, impaciente. — Está pronta para ir embora? — perguntou ele. Ela estava gostando muito da conversa sobre música clássica e teve vontade de lhe dizer que queria ficar para aprender um pouco mais, porém ambos já estavam fora de casa há duas horas, e ela estava ansiosa para rever os gêmeos. — Acho que sim. Rebecca sorriu para o pianista. — Gostei muito de conversar com você — disse ela. — Eu também — murmurou ele com um sorriso pesaroso. — É uma pena que você tenha que partir tão cedo. O ar estava frio do lado de fora. Eles haviam dado apenas alguns passos para fora do portão quando Xandros a segurou pelo cotovelo, assustando-a tanto com o contato físico inesperado quanto com a hostilidade evidente em seus olhos negros. — Sabia que as pessoas dizem que ele flerta até mesmo com o piano?! — acusou ele, com uma expressão severa iluminada pelos holofotes de segurança. — De quem você está falando? — perguntou ela, genuinamente confusa. — Rodriguez. O homem de quem você não conseguia tirar os olhos! — As pessoas costumam olhar umas para as outras quando estão conversando, Xandros! 83


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— É mesmo, agape mou? — disse ele suavemente. — Então por que é que você sempre desvia o olhar timidamente quando fala comigo! — Eu não faço isso. — Mentirosa — zombou ele. — Você faz sim, e sabe por quê? — Não. Subitamente,

sua

luta

desesperada

por

manter

a

compostura

pareceu

definitivamente perdida diante do forte poder afrodisíaco do toque dele. — Porque você sabe que se permitir a si mesma olhar um pouco mais demoradamente para mim, vai acabar se lembrando de como é ter meus lábios colados nos seus. A minha boca no seu corpo. Vai se lembrar de como era se deitar nua em meus braços, com seu corpo saciado. Mas não o seu coração, pensou ela, que sempre continuava faminto, à espera de algo mais. — Xandros... — E perceberá que já está farta de viver apenas de lembranças. Que quer tudo isso de volta. Admita, Rebecca, admita que ainda me quer! — Xandros... Rebecca pronunciou o nome dele tentando esboçar um protesto, dizer-lhe que eles deviam parar com aquilo, mas ela não devia ter sido muito convincente, pois a mão de Xandros já estava segurando seu outro cotovelo e puxando-a na sua direção como se ela não fosse mais consistente que um novelo de lã. E ela estava permitindo. Xandros a estava manipulando como se ela fosse uma marionete, mas ela já não parecia ligar. Como poderia se importar com o que quer que fosse quando todos seus sentidos estavam borbulhando como uma garrafa de champanhe agitada, prestes a estourar, cuja rolha tivesse sido finalmente aberta? Já fazia muito tempo desde que ela estivera em seus braços daquela maneira pela última vez. Não como naquele dia, em seu pequeno apartamento, logo depois de ter dado à luz, quando se sentira insegura e desajeitada. Esta noite, vestida com sua roupa de festa, de salto alto, toda perfumada e arrumada, ela estava se sentindo uma mulher de verdade, e não havia nenhuma dúvida sobre a autenticidade daquele espécime superior de homem que a estava puxando ainda mais para perto. E ao olhar para Xandros ela pôde sentir a força dos músculos de seu corpo poderoso e a intensificação de seu desejo. — Você estava interessada nele? — inquiriu ele rispidamente. — Estava? — Não... Sua voz desapareceu assim que ele colou sua boca à de Rebecca, num beijo que 84


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mais pareceu um castigo do que uma manifestação de desejo, e, embora soubesse que não deveria corresponder, ela simplesmente não pôde se conter. Xandros estava excitado, passando as mãos pelos cabelos dela como se nunca os tivesse tocado antes, roçando sua coxa insistentemente na dela, fazendo-a tremer e gemer de prazer. — Rebecca... Ela ergueu as mãos enquanto o beijava com um fervor de alguém que nunca havia sido beijada antes, passando os braços sinuosamente ao redor de seu pescoço, com se não pudesse ter o suficiente dele. Pressionou então seu corpo contra o de Xandros e se sentiu derreter, presa de um desejo insuportável. Por que ela não deveria desejálo? Quando foi, afinal, que ela realmente havia deixado de querê-lo? Rebecca gemeu baixinho quando ele espalmou as mãos sobre suas nádegas, fazendo-a desejar que ele a tocasse ainda mais intimamente. Afinal de contas, eles eram dois adultos que... — Srta. Gibbs! Uma voz a despertou de seu idílio. Aturdida, Rebecca ergueu a cabeça quando Xandros parou bruscamente de beijá-la e viu Betty, no alto da escada que levava à porta principal de sua casa, com uma expressão preocupada. — Srta. Gibbs, pode entrar, por favor? O bebê está doente!

CAPÍTULO ONZE

Eles ouviram o som de uma tosse terrível, que soava como um latido de cachorro, antes mesmo de colocar os pés dentro de casa. — Qual dos dois? — perguntou Rebecca desesperadamente. Como se isso fizesse alguma diferença! — Alexius, eu acho! — respondeu Betty. Rebecca estremeceu. Ninguém sabia diferenciá-los como ela e Xandros. Como eles podiam ter saído deixando duas crianças tão pequenas aos cuidados de outras pessoas? — O que aconteceu? — Ele começou a tossir assim há meia hora e está ficando cada vez pior. Acho que é crupe. Meus filhos também tiveram. 85


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— Crupe? Rebecca tinha uma vaga lembrança de que aquilo se tratava de uma doença respiratória. Xandros subiu as escadas correndo, seguido das duas mulheres. A culpa terrível de Rebecca só fez aumentar enquanto ela corria em direção ao quarto dos seus filhos. — É Alexius — disse ele. Seus olhos negros congelaram ao encontrar os dela. Rebecca mordeu o seu lábio inferior. — Vou ligar para o médico — disse, virando-se depois para Betty. — Quero que me conte exatamente o que foi que você notou. O médico chegou rápido. Era surpreendentemente jovem, mal parecendo ter idade para ser formado, mas examinou o bebê com mãos suaves e confiantes. — Sua governanta está certa. É crupe — disse ele. — O bom e velho crupe. — Crupe? E que diabos é isso? — exigiu Xandros. — Uma inflamação da via aérea superior. É uma doença bastante comum em bebês nesta época do ano. Ele tem um irmão gêmeo, não é? Acho melhor dar uma olhada nele também. — E qual é o tratamento?—perguntou Rebecca com voz trêmula. — Ele vai ter de ser internado? — Isso não será necessário, Srta. Gibbs. — O médico sorriu. — O tratamento é um tanto antiquado também. É preciso passar a noite acordado com eles numa atmosfera úmida. Um banheiro cheio de vapor seria perfeito. Vocês podem se alternar para levá-lo. Xandros encarou o médico. — Está me dizendo que o único tratamento existente para isso em pleno século XXI é vapor! — repetiu ele incrédulo. — Apenas faça o que o médico está dizendo, está bem, Xandros? — implorou Rebecca. Ele assentiu, percebendo o tom implacável sob seu apelo. — Ne, agape mou — disse ele suavemente. — Eu o farei agora mesmo. O médico disse que Andreas não tinha nada e aconselhou Rebecca a mantê-los separados por alguns dias. — Passarei aqui amanhã de manhã, bem cedo — prometeu ele. — Vocês têm uma longa noite pela frente. Rebecca levou o filho para o banheiro. O vapor era tão intenso que ela precisou 86


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de alguns segundos para acostumar os olhos. A figura alta e morena de Xandros surgiu ao seu lado. Ela nunca havia ficado tão feliz por ver alguém em toda sua vida. — Deixe-me pegá-lo — disse ele. Rebecca estremeceu quando seu bebê começou a respirar como um asmático. — Eu quero ficar com ele. Oh, Xandros, nós não devíamos ter ido à festa. — Pelo amor de Deus! — disse ele por entre os dentes. — Ele estava bem quando nós fomos embora, você sabe isso, do contrário, não teria aceitado ir. Eu não vou permitir que você se culpe, Rebecca. Você é uma ótima mãe para os nossos filhos — disse ele enfaticamente. — Nada disso importa agora — murmurou à beira das lágrimas, sabendo, porém, que não podia ceder a elas. — A única coisa que importa é que ele melhore. — Ele vai melhorar. — Vai mesmo? — disse Rebecca ao ouvir a respiração acelerada e pesada daqueles pequeninos pulmões, sentindo-se como se alguém estivesse enfiando uma faca em seu peito. — É claro que sim — disse Xandros, com uma convicção que ele na verdade não sentia, uma vez que aquilo era algo que estava completamente fora de seu controle. Ele teria ficado muito mais tranqüilo se o médico receitasse um remédio ou uma injeção para seu filho em vez daquela situação bizarra em que ele e Rebecca tinham de se alternar no banheiro com o bebê tossindo daquela maneira e renovando constantemente a água quente para que o vapor se elevasse em grandes nuvens quentes em torno deles. Ambos estavam desorientados pela atmosfera nebulosa e o temor subjacente. Os minutos nunca passaram tão devagar. Finalmente, porém, os primeiros 5 minutos foram se transformando em 10, e então em 60, até que a primeira hora se passou, e com ela também um pouco da irritação de seu filho. Rebecca passou do estado de quase não respirar, ela própria, temendo não perceber qualquer mudança em Alexius, ao de sentir a tensão abandonar seu corpo. Seria apenas sua imaginação, ou o bebê estava realmente respirando com menos dificuldade quando os primeiros raios de sol despontaram lá fora? — E pensar que eu cheguei a achar a vida na Grécia primitiva — murmurou Xandros quando a respiração asmática do bebê deu lugar aos sons mais constantes característicos do sono e eles se olharam, sabendo instintivamente que o perigo havia passado. — Vapor — disse ele, balançando a cabeça e sorrindo. — Oh, Xandros — disse Rebecca e, para seu horror, começou a chorar, incapaz de conter as lágrimas que caíam sobre a cabeça de Alexius. 87


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Xandros, porém, as secou com a ponta dos dedos, na mesma velocidade em que elas foram caindo. — Sshh. Emocionada, ela olhou para as pontas dos dedos dele, molhadas, e sentiu um enorme alívio. — Está tudo bem — disse ele com voz embargada. O médico veio pela manhã e examinou Alexius, saudando-os depois com um amplo sorriso. — Essa é a melhor coisa no tratamento de bebês — disse ele alegremente. — Eles nos matam de preocupação e depois se restabelecem num piscar de olhos. Depois que o médico foi embora, Xandros se virou para Rebecca com uma expressão grave devido ao medo do que poderia ter acontecido. — Vou contratar duas babás para ficarem no quarto com os bebês à noite — disse ele. — Mas eu mesma quero tomar conta deles — sussurrou ela. — Rebecca, eu não vou aceitar nenhum tipo de argumento, portanto, pode ir tirando essa expressão zangada do rosto. — Ele assumiu uma expressão mais severa e seu sotaque ficou ainda mais pronunciado. —Você não pode, literalmente, ficar com os bebês dia e noite. Vai acabar adoecendo de tão esgotada. De que adiantaria? Rebecca não tinha como contrariar a lógica dele, mas sentia que o controle da situação estava escapando por entre seus dedos. Ela havia se esforçado tanto para aprender a cuidar dos gêmeos e agora... Nos dias seguintes, ela se sentiu como se estivesse funcionando no piloto automático, com uma força e uma energia que ela não sabia que tinha. As babás eram cuidadosas e eficientes. Alexius foi melhorando com o passar dos dias, e Andreas não foi afetado, mas Rebecca não pareceu capaz de se convencer disso. Era como um pesadelo recorrente. Ela acordava de hora em hora e se sentava na cama, tomada de um temor de que algo terrível estivesse por acontecer. Corria então para o quarto dos bebês e encontrava as babás vigiando seus dois anjinhos, olhando-a como se ela estivesse levemente... louca. Isso se repetiu até a tarde em que o médico os visitou e a confrontou, juntamente com Xandros, na sala de estar. — Sente-se — ordenou Xandros. — Mas... — Eu disse, sente. — Rebecca, você precisa desacelerar — disse o médico calmamente. —Não vai 88


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conseguir cuidar dos seus bebês se ficar esgotada. — Eu estou tentando. O médico balançou a cabeça. — Não quero que você fique rondando o quarto das crianças à noite. Só vai levantar quando tiver de amamentá-los. A privação de sono é uma forma de tortura. Você precisa dormir. — Mas eu não posso, doutor. — Por que não? — Porque... Ela encolheu os ombros, ciente de que Xandros a estava avaliando como se ela fosse um espécime raro num tubo de ensaio. O pior é que era assim mesmo que ela estava se sentindo — um espécime estranho sem definição. — Eu não sei — disse ela em voz baixa. — Você devia focar sua atenção um pouco mais em seu companheiro — prosseguiu o médico, abordando um tema obviamente recorrente num período pós-parto, fazendo Rebecca corar, embaraçada. Será que ele não havia compreendido que Xandros não era seu companheiro? Que eles eram apenas os pais das crianças e nada mais? — Obrigada, doutor — disse ela asperamente. O médico virou a Xandros. — Você me garante que ela vai descansar? Xandros sorriu. — Oh, sim, doutor. Pode ter certeza disso. Naquela noite, logo depois de os gêmeos estarem devidamente alimentados, banhados e colocados no berço, Xandros obrigou Rebecca a se sentar e comer a refeição preparada por Betty. — Tome um pouco de vinho — disse ele. — Uma tacinha só não lhe fará mal. Ela obedeceu. — Agora coma. Rebecca começou a relaxar. Quanto tempo fazia desde que ela não relaxava de verdade? — Você vai me dar uma estrelinha se eu comer tudo? — perguntou ela, petulante. — Veremos. Xandros tomou um gole da própria taça com os olhos fechados. Pensou então na noite daquela festa e na maneira como a havia tomado nos braços. Será que ela já havia se esquecido daquilo, ou tinha simplesmente colocado tudo de lado por culpa ou por ter reconhecido que o sexo só deixaria o relacionamento deles ainda mais 89


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complicado? Aquele beijo havia sido pleno de raiva e ciúme. Era fácil beijar uma mulher naquela situação, mas talvez não tivesse sido justo com Rebecca. Não agora. Não depois de tudo o que havia acontecido entre eles. Xandros não tinha dúvida de que poderia fazê-la desejá-lo, mas sabia também que aquilo só propiciaria um alívio rápido. Após o jantar, depois de ela ter insistido em comprovar mais uma vez se os gêmeos estavam bem, sob os sorrisos indulgentes das duas babás, Xandros seguiu com ela até seu quarto. Se não estivesse tão ansioso por tê-la nos braços novamente, ele até poderia ter se divertido com seu comportamento tão cavalheiresco, pela primeira vez na vida. — Boa noite, Rebecca — disse Xandros suavemente. Os antigos temores de Rebecca reapareceram. Ela engoliu em seco, olhando para o belo rosto dele. Como ele havia sido delicado, pensou com o coração apertado. O que ele diria se ela lhe dissesse que ainda o amava? Será que seu interesse ia dar lugar àquela antiga expressão dura como pedra que sempre a deixava com os nervos à flor da pele? — Boa noite, Xandros — sussurrou ela. Rebecca se despiu e colocou a camisola. Nunca mais dormira nua depois que dera à luz. Depois então desligou as luzes e se deitou. Mesmo depois do vinho, da conversa com o médico e de ter ido ao quarto das crianças, porém, o sono não veio. Ela ficou se mexendo de um lado para o outro na cama, virando o travesseiro de modo que o lado frio tocasse sua bochecha quente até se dar conta do feixe de luz vindo da porta que havia sido silenciosamente aberta, e da figura alta de Xandros em seu limiar. Rebecca virou a cabeça para fitá-lo e sentiu o coração saltar dentro do peito. Ela sentou na cama. — Aconteceu alguma coisa? — Não, não há nada de errado — disse ele, caminhando pelo quarto escuro. — Eu estava trabalhando e resolvi checar se você já tinha adormecido, mas pelo que vejo... — Eu não consigo dormir. Ela olhou esperançosa para a luz tênue que brilhava nos olhos de ébano, como se Xandros pudesse agitar uma varinha mágica e aliviá-la de sua tensão. A calada da noite podia ser o lugar mais assustador e solitário do mundo. Não era nenhum pecado querer ter alguém por perto numa situação dessas. — Fique aqui para me fazer um pouco de companhia — disse ela. Sua linguagem corporal deixava claro que ela não pretendia atacá-lo. Seu pedido inocente, porém, era muito perigoso. Será que Rebecca tinha noção do que estava lhe pedindo? 90


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Ele sabia que as mulheres eram capazes de disfarçar seu desejo de uma maneira praticamente impossível para os homens, mas notou o tom de medo na voz de Rebecca e sentou na ponta da cama, ciente do calor emanado pelo corpo dela, à distância de apenas um braço, e suspirou. Aquilo ia ser uma verdadeira tortura. — E agora, o que é que nós vamos fazer? — perguntou ele, embora ela parecesse não ter percebido a ironia de sua pergunta. — Converse comigo. Fale-me sobre seu irmão e por que vocês não se falam mais. Ele sorriu em meio à escuridão. Se havia alguma coisa capaz de acabar com qualquer desejo, essa alguma coisa eram antigas desavenças. Ele já não pensava, ou não se permitia mais pensar naquilo há anos. — Foi coisa de homem — disse ele lentamente, percebendo que conseguia encarar os fatos com alguma distância, talvez pela primeira vez em sua vida. Seria por causa da distância e do tempo passado ou pelo modo de Rebecca perguntar, como se quisesse apenas saber o que era importante e não para adquirir algum conhecimento a respeito dele para poder fazer uso no futuro? — Nós vivíamos numa ilha que era pequena demais para duas personalidades como as nossas. Minha família tinha um negócio que só precisava de um filho para gerenciálo. Nós lutamos para provar qual de nós dois obteria o controle, assim como em todas as outras questões de nossas vidas. Uma luta da qual Xandros havia se cansado, e estava satisfeito que tivesse sido assim, ele compreendeu repentinamente. Kalfera o teria engolido se ele não tivesse escolhido outro rumo. Além disso, seu caráter era muito mais adequado para viver uma vida fora da ilha. Ele gostava de cidades — de criá-las e de viver nelas. Rebecca se virou para olhar para seu perfil em meio às sombras. — Espero que nossos filhos não se separem quando crescerem. — Isso é algo que está fora do nosso controle — disse ele suavemente, tocandolhe os cabelos sedosos. — Você precisa dormir agora, Rebecca. — Hum. Ela sentiu suas pálpebras pesarem, como se alguém lhe tivesse administrado um narcótico. Seria a ausência de temor, a taça de vinho ou o fato de Xandros estar afagando seus cabelos de uma maneira tranquilizadora e ritmada o que a estava fazendo se sentir tão segura? — Isso é bom — murmurou ela. — É mesmo? Era loucura sua ou ela estava sendo um pouco menos inocente do que ele havia 91


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imaginado inicialmente? — Hum... Ela se contorceu instintivamente, na direção dele, chocando-se com o calor de seu corpo. Oh, céus! Como ela podia ter esquecido como aquilo era bom? O seu cheiro, seu sabor... — Rebecca? — Hum? — Durma. — Se eu dormir, você vai embora. Houve uma pausa. — Se eu ficar, você pode acabar tendo mais do que está pedindo — disse ele suavemente. Ela abriu os olhos e os voltou na direção dele. Xandros estava tão próximo. Seu coração acelerou. — Como o quê? — Como isso. Ele estendeu a mão e tocou os lábios dela com a ponta de seu dedo, traçando a linha da curva tão suavemente que ela mal pôde senti-lo. Ela respirou profundamente. — Mas eu gosto disso. — É mesmo? — Hum. — Quer mais? Xandros começou a afagar a pele sedosa de seu pescoço, fazendo-a estremecer ao toque. — E de que mais você gosta, Rebecca? Seu coração batia acelerado como a chuva violenta batendo contra um telhado. — De beijos — disse ela. — Ah, beijos. Seus beijos eram diferentes, pensou ele, enquanto se aproximava de Rebecca na cama e baixava sua boca sobre a dela. Ao menos aquele era. Lento e inebriante, sensual e quase inocente. Era como beijar pela primeira vez. Nunca havia sido assim antes. Com ninguém. A sensação de estar se afogando numa doçura tão intensa fez com que ele tivesse vontade de gritar. Percebeu que ela havia se aproximado ainda mais dele e estava enterrando os dedos em seus cabelos. Num impulso, Xandros tomou o rosto dela em suas mãos e fitou 92


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os olhos escuros e arregalados e os lábios partidos. — Rebecca — disse ele simplesmente. Havia uma pergunta e uma resposta embutidas naquela simples palavra. Ela começou a desabotoar a camisa dele, roçando os lábios em seu peito, afastando o tecido de seus ombros largos. Ele gemeu quando ela começou a desafivelar seu cinto, passando a ponta dos dedos suavemente sobre seu membro enrijecido. Xandros perdeu completamente o controle quando ela começou a baixar-lhe o jeans. Com um pequeno gemido de prazer, ele tirou a camisola dela. Ambos ficaram nus. Jamais haviam compartilhado uma intimidade tão intensa. A sensação sedosa da pele quente de Rebecca sob seus dedos era ao mesmo tempo uma gloriosa volta para casa e uma incrível descoberta. As mãos dela estavam tremendo, assim como o corpo quando ele começou a explorar-lhe os contornos macios. Os novos contornos. Os da mãe de seus filhos. Xandros queria que aquele momento durasse para sempre, ao mesmo tempo em que ansiava que ele passasse logo, para aliviá-lo daquela sensação que estava ameaçando engoli-lo, arrastá-lo junto com sentimentos que deveriam ser contidos. Subitamente, ele avançou sobre ela, sabendo que não poderia esperar mais. — Xandros! Ele a havia acalmado com palavras suaves e uma ternura desconhecida, mas o choque de senti-lo entrar em seu corpo depois de tanto tempo era algo incomparável. Era como encontrar água potável no meio de um deserto implacável. Ela gritou de dor, mas também de felicidade, por saber que, ao contrário do que poderia acontecer num deserto, aquilo não era uma alucinação. Ele se deteve. — Eu a machuquei? — Não! Pelo menos não como ele imaginava. Seu corpo não tinha nenhuma dificuldade em acomodar aquele grego viril e orgulhoso, embora o coração fosse feito de um material bem menos elástico. — Não, você não me machucou, Xandros. — Ah! Os lábios retornaram aos seus seios e cabelos. Xandros seguiu sussurrando palavras doces enquanto lhe explorava pescoço e ombros, inalando seu perfume. Movendo-se lentamente, ele foi aumentando cada vez mais a intensidade das investidas e o prazer proporcionado por elas. Rebecca se moveu embaixo dele, cada vez mais excitada e impaciente, até, por fim, começar a soltar um longo e suave 93


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gemido que ele silenciou com um beijo, ciente de que eles não estavam sozinhos naquela casa. Foi só então que ele se deixou levar e deu vazão a todo seu desejo, soltando um longo suspiro. Depois, adormeceu profundamente, como sempre acontecia depois que ele fazia sexo, embora daquela vez fosse diferente. Rebecca achou que um momento como aquele seria vivido como uma imensa vitória, por isso não conseguia entender por que estava se sentindo tão vazia. Ficou olhando para o teto enquanto sentia a respiração lenta e ritmada de Xandros aquecer seu pescoço. As perguntas que ela havia deixado em suspenso durante tanto tempo despontaram em sua mente, exigindo respostas.

CAPÍTULO DOZE

Já havia amanhecido quando Xandros acordou, apertando os olhos por causa da luz que entrava pelas janelas, estranhando o lugar. Ele estava na cama de Rebecca! Virou-se então para procurá-la, mas descobriu que estava sozinho. Os lençóis revirados e o cheiro almiscarado de sexo eram os únicos sinais de que ele não havia simplesmente imaginado a noite tórrida a que ele e Rebecca haviam se entregado. Onde será que ela estava? Ele bocejou. Com os bebês? Xandros curvou os lábios num sorriso, estendeu os braços acima da cabeça e se espreguiçou lentamente antes de levantar da cama e recolocar seu jeans e camisa. Ia procurá-la e trazê-la de volta para a cama. Ele a encontrou no andar debaixo, na cozinha, de costas para ele, fitando a rua deserta. Ela devia ter acabado de amamentar os gêmeos, pois estava tomando um bom copo d'água e não pareceu ouvi-lo se aproximar. — Rebecca? — disse ele suavemente. Ela apertou os dedos em torno do copo como se pudesse extrair alguma coragem de sua superfície lisa e fria, mas não disse nada. Ainda não. Ela não confiava em si mesma para isso. Xandros interpretou seu silêncio como timidez. É claro que ela estava tímida, 94


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depois de tudo o que havia acontecido entre eles. Tinha sido... incrível. Ele foi até ela silenciosamente, pisando sobre os ladrilhos com os pés descalços, e enterrou o rosto em seu pescoço, inalando o doce perfume, deleitando-se na deliciosa sensação do contato de seus cabelos sedosos contra a própria pele. — Volte para a cama — murmurou ele, sentindo seu membro crescer. Ela enrijeceu. — Eu não estou cansada. — Ótimo. — Depois acrescentou numa voz mais grave: — Nem eu. Os ombros de Rebecca, porém, permaneceram duros, e seu corpo ereto e implacável como uma sentinela, determinado a não relaxar nem mesmo por uma fração de segundo, ciente do poder de Xandros. Bastaria um toque para que toda sua resolução fosse por água abaixo. — Acho que vou tomar uma chuveirada e me vestir — disse ela. Aquilo decididamente não parecia um convite sensual. — Rebecca? Ela sabia que não poderia continuar de costas para ele, olhando pela janela, que precisava encará-lo, mas estava tendo muita dificuldade em tirar toda a emoção e desejo de seu rosto para não parecer frágil diante de Xandros. Recusava-se a bancar a vulnerável novamente. O que ela estava prestes a fazer era a única maneira possível de seguir adiante. Ela se virou com o mesmo sorriso estampado no rosto que teria usado para oferecer uma xícara de café a um dos passageiros da Evolo e disse: — Não vale a pena voltar para a cama. Ele lhe deu uma última chance. Aquilo talvez se devesse apenas ao pudor. Rebecca podia estar procurando alguma espécie de aprovação depois de ter se abandonado daquela maneira em seus braços. Ele podia lidar com aquilo. — Rebecca — disse ele suavemente. —Agape mou. Aquilo deveria ter sido suficiente. Havia todo um mundo de promessas sensuais naquelas palavras, no modo suave como ele dizia seu nome, diferente de qualquer outro mortal era capaz de fazer. Se as circunstâncias fossem outras, ela teria facilmente se deixado envolver em seu abraço quente e se entregado a seus beijos ávidos. Teria permitido que ele a reconduzisse ao andar de cima sem dizer uma palavra para não perturbar nem as crianças nem as babás, tentando disfarçar os sorrisos cúmplices e a excitação em seus corações pelo que estava prestes a acontecer. O coração de Xandros, porém, não estaria ardendo de paixão como o seu, lembrou 95


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Rebecca. Sua excitação estava localizada num lugar muito mais elementar, e ela não podia perder isso de vista. Tinha de esquecer os próprios sonhos, esperanças e desejos de que um dia ele talvez viesse a amá-la com a mesma paixão que ela sentia arder em seu coração por ele. Isso não aconteceria. Xandros não fazia amor, nem jamais fingira fazê-lo. Ele amava seus filhos, cada dia mais, porém aquele sentimento jamais se estenderia a ela. Talvez ela não devesse esperar por nada daquilo, afinal, ele nunca havia lhe prometido coisa alguma. Ela não podia culpar Xandros pelas suas expectativas. Rebecca sabia que estaria perdida se permitisse que aquele relacionamento se aprofundasse com base no sexo, pois isso era o que acontecia com as mulheres. Ao contrário dos homens, elas usavam o sexo para expressar seu amor e muitas vezes saíam machucadas. Se ela o fizesse, estaria colocando em risco não apenas a si mesma, mas toda a estabilidade emocional de que os gêmeos necessitavam. Será que ela conseguiria negar a si mesma aquilo que tanto desejava? Ter Xandros em seus braços todas as noites, proporcionando-lhe o prazer que só ele era capaz de fazê-la sentir? Aquilo era tentador, mas muito perigoso. Se ela se permitisse retomar seu relacionamento com ele estaria apenas se colocando em perigo e assumindo sua antiga postura de alguém necessitado que pisava em ovos, tentando não alterar seu estado de espírito. Não havia mais lugar para aquilo na sua vida. Estava perfeitamente claro para ela que Xandros havia perdido o respeito por ela. Ela própria tinha perdido o respeito por si mesma. Por que então alguém em sã consciência retomaria aquele tipo de atitude? A alternativa era fingir. Fingir que o sexo era apenas sexo e que ela não o amava. Fingir que não gostava dele. Mas ela gostava. Nunca tinha deixado de amá-lo e não ia viver uma mentira. Que exemplo estaria dando a Andreas e Alexius se o fizesse? Então diga-lhe. Nada de joguinhos estúpidos. Xandros é um homem inteligente e aceitará o que você lhe disser. Terá de aceitar. — Ontem à noite... — Ah, ne... Ontem à noite — repetiu ele. — Ontem à noite. Ela conseguiu manter o sorriso, afinal, aquela não era uma discussão, mas uma tentativa de obter uma solução para uma questão muito problemática da vida de ambos. — Foi um erro — disse ela. Xandros estreitou os olhos. — Um erro? — Que não deve ser repetido — prosseguiu ela, com muito esforço. — Nós não 96


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podemos continuar a dormir juntos, Xandros. O primeiro impulso de Xandros foi murmurar que ele não pretendia mesmo dormir, uma vez que não podia acreditar que ela estivesse falando sério. As mulheres nunca o rechaçavam e Rebecca sempre havia se derretido sob seus dedos experientes. Algo em seus olhos cor de violeta, porém, o alertou de que dessa vez era diferente. Sua boca endureceu. Não era possível! Seu desejo o aconselhava a levar a mão até o braço desnudo de Rebecca, sabendo que bastaria um toque para fazer com que ela se desmanchasse, mas um sentimento muito mais feroz de orgulho o deteve. Ela, por acaso, estava achando que ele ia implorar? Ele? Implorar! Sua boca se curvou num i sorriso cruel. Muito bem. Ele se afastaria e esperaria para ver quanto tempo Rebecca conseguiria manter sua oposição àquilo que ambos queriam! Logo ela estaria implorando para que ele a tomasse novamente para si! Mas os dias foram passando e Xandros se deu conta de que Rebecca não só não ia implorar, como também não parecia aborrecida, e se viu imerso numa confusão pouco habitual. Ela continuava sendo educada e gentil com ele e uma mãe exemplar com os bebês. Fazia até mesmo considerações inteligentes sobre a política internacional. Se ele a estivesse entrevistando para um emprego, estaria realmente muito impressionado, mas esse não era definitivamente o caso. Ele a queria de volta em sua cama! E a queria agora! — Rebecca — disse ele, certa manhã, na mesa do café, antes de seguir para a Embaixada grega, para tratar do projeto de uma nova biblioteca para o edifício. Rebecca desviou os olhos de seu iogurte, e enrijeceu ao fitá-lo. Xandros estava usando um terno de linho cor de creme. Pequenas gotas d'água ainda cintilavam como jóias em seus cabelos cor de ébano. Rebecca chegou a pensar que jamais o havia visto tão deslumbrante. — Sim? — Isto não pode continuar assim! — Do que você está falando? — Não banque a inocente comigo, minha linda! — Ele pousou sua xícara de café com força sobre o pires. — Ou será que é esse exatamente seu jogo? Ver até onde consegue aumentar meu desejo por você? Rebecca engoliu em seco. Percebeu que seus dedos estavam tremendo e torceu para que ele não percebesse. 97


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— Eu não estou jogando com você, Xandros — disse ela sinceramente. — Já lhe disse como eu achava que deveria ser a nossa relação e não mudei de opinião a esse respeito. — Ela deu de ombros. — Sinto muito. Ele teve vontade de esmurrar a mesa e lhe dizer que ela não sentia muito coisa alguma! Que ela não precisava sentir muito já que aquela situação podia ser docemente revertida a qualquer momento. Viu, porém, a calma em seu olhar inabalável e compreendeu, com uma dor no coração, que ela estava falando a verdade. Ele passou o dia pensando obsessivamente nela, de uma maneira completamente nova para ele. Teve mesmo que pedir várias vezes ao embaixador para que repetisse o que havia dito e se viu completamente indiferente às constantes cruzadas de pernas da primeira-secretária, revelando um trecho de pele desnuda acima das meias. Sua boca, na verdade, se curvou de repugnância de tal forma que ele ficou satisfeito quando a viu puxar a barra da saia e se recompor. Foi jantar com um amigo, mas passou a refeição inteira distraído, imaginando se Rebecca ia querer saber onde ele estivera quando chegasse em casa, mas, para sua surpresa e fúria, ela não perguntou. Ele a encontrou no quarto das crianças, conversando alegremente com uma das babás quando ele entrou com uma expressão sombria que só se amenizou ao tomar Andreas nos braços. Ao ver aquele par de olhos cor de violeta pousado sobre o topo da cabeça do bebê, Xandros reconheceu que se afastar dela não ia adiantar nada. Um medo terrível começou a se apoderar dele. Medol Uma sensação estranha e nada agradável que ele estava reconhecendo de um passado há muito enterrado. Ele não conseguiu dormir mais de 30 minutos corridos nas duas noites seguintes. Levantava várias vezes de sua cama para ir à procura dela, e a cada vez se detia, deixando a mão cair da maçaneta, reconhecendo que seria errado aproveitar a escuridão da noite para ocultar o tumulto de sua mente e seduzi-la quando ela ainda estivesse lânguida de sono. Ele estava sentado em seu estúdio, esperando o melhor momento de agir com toda a cautela e precisão que lhe haviam conferido seu renome na vida profissional. As duas babás diurnas que ele insistira em contratar para facilitar um pouco as coisas para Rebecca tinham decidido aproveitar um inesperado dia de sol para levar os meninos para um passeio em seus carrinhos. Ao vê-las caminharem lado a lado ao longo da alameda arborizada, Xandros decidiu procurar Rebecca. Ela estava colando fotografias num álbum de bebês, mas se deteve quando o viu entrar. 98


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— Oh, olá, Xandros — disse ela, um pouco hesitante, por causa daquela expressão inusitada no rosto dele. Seu coração começou a bater acelerado. Não era aquilo o que ela mais havia temido e esperado ao mesmo tempo? Que ele lhe dissesse que não podia mais sustentar aquela situação? Que iria embora para procurar uma mulher que o recebesse de braços abertos? A menos que ele já tivesse encontrado alguém! — O que eu posso fazer por você? Houve uma pausa. — Eu não posso mais prosseguir com isso! A visão de Rebecca ficou turva. — Não pode? Ele assentiu. — Não, é claro que não. Nenhum homem de carne e osso poderia suportar uma coisa dessas — disse ele, olhando para o corpo delgado dela coberto por um simples vestido branco e se perguntando o que ela estaria usando por baixo. E é por isso que eu decidi lhe oferecer a sua liberdade. — A minha liberdade — repetiu ela dolorosamente. Xandros assentiu. — Eu vou passar essa casa para o seu nome. Ou lhe comprar outra casa, se você preferir. Também providenciarei uma pensão vitalícia para que você possa criar os meninos sem qualquer tipo de dificuldade financeira. — Ele pressionou os lábios. — Será um acordo generoso. — Naturalmente — disse Rebecca, debilmente, hesitando mais uma vez. — E o que precisamente você vai querer em troca de tamanha generosidade? Ele injetou seus olhos negros nela. — Quero ter livre acesso aos gêmeos e estabelecer um acordo para que eles possam viajar livremente entre a Inglaterra e os Estados Unidos. Enquanto eles estiverem comigo, você, naturalmente, terá toda a liberdade de desenvolver outros relacionamentos, se assim o desejar. Seu coração pareceu afundar ainda mais. — E essa "oferta" vem acompanhada de alguma condição? — Na verdade, sim. Eu não quero que você traga nenhum outro homem para dentro da casa dos meus filhos, caso contrário serei obrigado a pedir a guarda deles. — Entendo. — Ela respirou fundo. — É isso o que você quer? Xandros ficou olhando para ela. Tão fria e prática! Será que aquela era a mesma mulher que tinha gritado de prazer inúmeras vezes em seus braços? Que havia carregado seus filhos no ventre? Ele desistiu de facilitar as coisas para ela. Quis, ou melhor, precisava mostrar a Rebecca como realmente se sentia. Será que ele ousaria fazê-lo? 99


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Quando sua mãe deixara sua família por causa de outro homem, todas as crianças da ilha começaram a cochichar pelos cantos, comentando o escândalo, mas nem ele nem Kyros jamais tinham admitido, sequer um para o outro, o quanto a fofoca, assim como a traição de sua mãe, os havia magoado. A sensação de orgulho ferido só os tornara ainda mais solitários. Essa era a razão pela qual eles eram tão introvertidos, escondendo seus sentimentos de tudo e de todos até se convencerem de que não restava mais uma única gota de emoção dentro de si. Xandros compreendeu, de repente, que estava se arriscando a perder tudo em sua tentativa fútil de se proteger de uma dor parecida. Aquele tipo de vida é que era doloroso. A dor era simplesmente o reverso do prazer, e era impossível apreciar um sem o outro, o que significava que ele teria de se arriscar. — É claro que não é isso o que eu quero! — desabafou ele. — É você que eu quero, Rebecca, para ser a minha companheira no sentido mais pleno da palavra. Ela o fitou por algum tempo em silêncio. — Mas por que você ia querer isso? — insistiu ela, sabendo que a dor estampada no rosto dele deveria ser a mesma do seu. — Só porque está sentindo falta de sexo? — Não se trata de sexo\ Eu posso conseguir isso num estalar de dedos! — esbravejou ele, ultrajado. — É porque eu a amo, porque me apaixonei por você — disse ele simplesmente, enquanto uma nota de surpresa fazia sua voz ficar ainda mais grave. — E então, você quer sua liberdade ou a outra opção? Ela o fitou, mal conseguindo respirar, temendo perturbar a estranha magia que aquelas inesperadas palavras de amor haviam criado. — E que opção é essa? Seu olhar era intenso. — O meu coração. — Ele parecia dominar o lugar com sua altura e a força de sua personalidade. — Tome-o para você, já que só você foi capaz de destrancá-lo. Ele agora é seu. — Depois acrescentou, com uma voz mais suave: — Se você o quiser. Os olhos de Rebecca ficaram cheios d'água, mas ela se obrigou a piscar para contê-las e balançou a cabeça. — É claro que eu quero! Mas você não pode estar falando sério, Xandros. — Não posso? — Ele foi até ela e fez com que se levantasse. — Eu estou falando muito sério. Fui um tolo de não ter me dado conta de tudo isso antes. Eu a quero, meu amor. Minha doce e corajosa Rebecca. Meu único e verdadeiro amor. As lágrimas começaram a rolar pela face dela. — Não chore, agape mou. Por favor, não chore. É o seu Xandros quem está lhe pedindo. Mas ela não podia parar, nem queria, pois aquelas eram lágrimas de alegria e 100


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incredulidade, e não de tristeza. Ele as secou com a ponta dos dedos, como fizera tempos atrás, quando seu filho adoecera, e então tomou o rosto dela suavemente nas mãos. Ela estava tremendo ao olhar para ele, pois sabia que, assim como Xandros havia lhe oferecido seu coração, ela também tinha esculpido um lugar no próprio peito, há muito tempo. Um lugar tão profundo que nenhuma força do mundo conseguiria tirá-lo de lá. Quando ele a puxou para junto de si, Rebecca compreendeu que jamais teria de duvidar do compromisso que Xandros estava assumindo com ela. Ele nunca lhe havia feito falsas promessas, portanto não tinha motivo para lhe dizer algo que não pretendia cumprir. — Você vai me beijar agora? — sussurrou ela, arfante. — Se eu vou beijá-la? — Ele olhou por um longo momento para ela, com uma expressão repleta de amor e de uma alegria exultante. — Você que ouse me deter, agape mou.

EPÍLOGO

— Você acha que ele gostou? Xandros percebeu a ansiedade na voz de Rebecca ao desviar o olhar da janela que deixava entrever a neve. — É claro que sim. Ele adorou — disse ele suavemente.—Ficou encantado com você e babou pelos gêmeos. — Ele nunca havia visto seu pai tão contente. — Ele é um avô muito orgulhoso. — É verdade — disse Rebecca. Aquilo devia ter sido difícil para ele — ver a história se repetir, ainda que não integralmente, pois Rebecca não pretendia ir a lugar algum. Ela olhou para seu amante grego com um sorriso nos lábios. Ela e Xandros haviam se mudado para Nova York quando os gêmeos completaram seis meses — haviam comprado uma incrível casa de pedra num lugar deslumbrante chamado Gramercy Park. Havia uma enorme variedade de árvores por lá — salgueiros, castanheiras e olmos — e seu jardim era repleto de rosas e alfazemas. O bairro era realmente surpreendente. Um oásis verde no meio 101


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daquela cidade acelerada que Rebecca estava aprendendo a conhecer e a amar. Xandros havia contratado um arquiteto premiado para trabalhar em sua companhia para poder ter um pouco mais de tempo livre. Ocupava-se com um número suficiente de projetos para manter sua criatividade em ação, mas tinha tempo para acompanhar o crescimento de seus filhos maravilhosos. Rebecca ficou olhando para seu belo perfil autocrático. Ele estava abrindo uma garrafa de champanhe e se virou para olhá-la. — O que foi? — perguntou ele, notando uma pergunta silenciosa nos olhos dela. Rebecca tinha aprendido muito a respeito daquele homem que tanto amava. Que fora muito defendido emocionalmente no passado para se proteger da dor, um legado de sua própria infância. Havia compreendido também que a única maneira de superar uma situação desconfortável era encará-la de frente, e esperava que Xandros tivesse aprendido o mesmo. — Estava me perguntando se eu algum dia chegaria a conhecer seu irmão gêmeo — disse ela calmamente. Um sorriso curvou os lábios dele. Será que ela havia lido seus pensamentos? — Eu estava planejando conversar com você sobre isso. Xandros lhe estendeu uma taça de champanhe. — Estamos celebrando alguma coisa? — Mas é claro — disse ele, erguendo as sobrancelhas. — A nossa vida é uma eterna celebração, não é, agape mou! — perguntou ele suavemente. — Oh, Xandros — murmurou ela, mordendo o lábio inferior. — Isso é tão antiquado. — Mas é verdade. E então, aceita casar comigo? — Casar? — Ela pousou a taça rapidamente, temendo deixá-la cair quando seus dedos começaram a tremer. — Por quê? — Por quê? — Ele balançou a cabeça. Ela nunca parava de surpreendê-lo. Quem poderia imaginar que um dos solteiros mais cobiçados de Nova York teria seu pedido de casamento tratado tão friamente? — O que você acha? Tentando ser prática, Rebecca deu de ombros. — Porque isso facilitaria a obtenção do seu visto? Ou talvez para regularizar a situação dos bebês? Xandros pousou a própria taça. — Eu não acredito que estou ouvindo isso! Você está deixando de fora a principal razão pela qual as pessoas decidem casar. E o amor? Nós amamos um ao outro. Não acha que isso é razão suficiente para eu querer que você se torne minha esposa? 102


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Rebecca respirou fundo. Aquela era sua chance de desfazer uma dúvida que a vinha atormentando de tempos em tempos. — Mas nós só estamos juntos por causa dos gêmeos, não é? — salientou ela um pouco hesitante. — Eu sei que nos amamos agora, mas se eu não tivesse engravidado, nós ainda estaríamos afastados. Às vezes eu me pergunto se você não se arrepende de ter caído nessa espécie de armadilha. Xandros não respondeu de imediato. Sabia que o que dissesse agora seria extremamente importante para que ambos pudessem dar aquele assunto por encerrado para sempre. — Isso é verdade — admitiu ele, vendo a boca rosada de Rebecca franzir. — Talvez nós pudéssemos ter simplesmente nos conhecido e nos apaixonado, mas tivemos de passar por muitas dificuldades para atingir a felicidade que temos hoje, e algo conquistado com tanto esforço é muito mais precioso. A vida nem sempre segue regras, agape mou. Às vezes você tem de inventar as suas próprias para criar o próprio conto de fadas, e isso é muito recompensador. — Seus olhos negros brilhavam de amor e seus lábios começaram a se curvar num sorriso. — Você ainda não respondeu a minha pergunta. Aceita casar comigo? Rebecca foi até ele com um sorriso nos lábios e lançou os braços em torno de seu pescoço. — É claro que sim, meu amado e querido Xandros. Ainda abraçada a ele, Rebecca pensou que seu irmão gêmeo poderia vir ao seu casamento para que ela finalmente o conhecesse. Aquela talvez fosse uma boa oportunidade para ele e Xandros fazerem as pazes. Xandros tinha razão. Cada um precisava fazer seu próprio conto de fadas acontecer, e as possibilidades eram intermináveis. E o melhor de tudo é que o seu estava apenas começando.

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