Projeto Revisoras
Melhores amigos? A Whirlwind Engagement
Jessica Hart
Até onde poderia ir aquela amizade?! Josh e Bella são amigos há muitos anos, mas de repente Bella começa a enxergar Josh de uma forma muito diferente. Por mais louco que seja, ela está se apaixonando por ele! E como se isso já não fosse confuso o bastante, para piorar Josh acaba de pedir a ela que finja ser sua noiva... Josh precisa de uma noiva de fachada para concretizar uma proposta comercial. Bella concorda em fazer sua parte, mas depois que os dois passam uma semana em uma ilha exótica fingindo estar apaixonados, a tensão se torna quase insuportável! Especialmente quando Josh começa a imaginar se sua melhor amiga está de fato fingindo... Digitalização: Joyce Revisão: Edith Suli
Projeto Revisoras Copyright © 2003 by Jessica Hart Originalmente publicado em 2003 pela Silhouette Books, divisão da Harlequin Enterprises Limited. Todos os direitos reservados, inclusive o direito de reprodução total ou parcial, sob qualquer forma. Esta edição é publicada através de contrato com a Harlequin Enterprises Limited, Toronto, Canadá. Silhouette, Silhouette Desire e colofão são marcas registradas da Harlequin Enterprises B.V. Todos os personagens desta obra são fictícios. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas terá sido mera coincidência. Título original: A Whirlwind Engagement Tradução: Juliana Geve Editora e Publisher: Janice Florido Editora: Fernanda Cardoso Editoras de Arte: Ana Suely S. Dobón, Mônica Maldonado Paginação: Dany Editora Ltda. EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Rua Paes Leme, 524 - 10 andar CEP 05424-010 - São Paulo – Brasil Copyright para a língua portuguesa: 2003 EDITORA NOVA CULTURAL LTDA. Impressão e acabamento: RR DONNELLEY AMÉRICA LATINA Tel.: (55 11) 4166-3500
Projeto Revisoras CAPITULO I — Ali está Bella — Aisling cutucou Josh, que se virou no banco da igreja e observou Bella e Phoebe vindo, apressadas, pelo corredor. As duas melhores amigas da noiva estavam estonteantes. Phoebe era morena e estava lindíssima em seu traje amarelo-ácido, enquanto Bella optara por um visual mais romântico: um modelo esvoaçante rosa-suave. Para completar, Bella usava um chapéu espetacular, de aba imensa. Josh não entendia dessas coisas, mas ela certamente chamava atenção. Até o chapéu de Aisling parecia discreto em comparação. Era típico de Bella, pensou ele afetuosamente. Ela sempre soubera fazer cabeças se virarem, com ou sem chapéu. Phoebe acenou ao ver Josh e Aisling e apontou-os para Bella antes de seguir para falar com seu marido, Gib, que era padrinho e que esperava junto ao noivo, nervosíssimo, no banco da frente. Josh percebeu o momento exato em que Bella notou sua presença e estranhou a expressão estranha que tomou conta do rosto bonito. Percebeu-lhe a hesitação antes de ir para perto dele no banco. Aturdido, Josh franziu pouco as sobrancelhas. Bella era sua melhor amiga, mas andava estranha ultimamente. — Desculpe, eu não posso beijá-lo — disse ela, apontando para a aba imensa do chapéu. — E meio esquisito, não? — Mesmo assim Josh enfiou-se por baixo do chapéu para beijá-la e teve certeza de que Bella se contraíra sob o leve contato dos seus lábios. Ele franziu os cenhos e recuou. — Está tudo bem? — É claro que sim — ela respondeu, evitando encará-lo quando inclinou-se um pouco para a frente para cumprimentar Aisling. — Você sabe como são os casamentos — prosseguiu, sentando-se. — Sempre há um certo pânico na última hora. Então era apenas o dia, pensou Josh, tentando explicar a si mesmo a tensão incomum no sorriso dela. — Como está Kate? — Meio inquieta, mas vai ficar bem. Ela deve estar chegando a qualquer momento. Do outro lado, Aisling inclinou-se, debruçando-se sobre Josh. — Fiquei surpresa por você não ser dama de honra de Kate, Bella — disse ela. — Afinal, você é a melhor amiga dela. — Phoebe também é — Bella afirmou num tom frio. — E Kate não é muito alta. Ficaria ridículo nós duas formando duas torres ao lado dela. — Sim, mas Phoebe é casada. — E daí? — Daí que como a última amiga solteira que restou, teria sido natural que Kate tivesse escolhido você para dama de honra — explicou-se Aisling. — Acho que sou um pouco velha para isso, não? — disse Bella num tom agradável, mas
Projeto Revisoras Josh, que estava sentado entre as duas mulheres, sentiu nitidamente a tensão se formando. — Pois eu não acho — disse Aisling. — Você não deve ter mais de trinta e cinco, não é? Josh pigarreou e mudou de posição no banco da igreja. Aisling estava entrando num terreno perigoso. Com um olhar discreto, ele viu os olhos azuis de Bella estreitarem-se por baixo da aba do chapéu. — Não — disse, baixinho. — Aliás, eu só tenho trinta e dois. Com isso, ela lançou um olhar mortal para Josh, que deixou bem claro que ele não devia nem pensar em acrescentar algo como "quase trinta e três". — É mesmo?! — exclamou Aisling, surpresa. — Como você e Josh estudaram juntos, eu pensei que fossem da mesma idade. — Não. Quando começou, Josh era um pouco mais velho que o resto da turma — disse Bella, por entre os dentes e Josh decidiu que era hora de mudar de assunto. — Kate não vai ter nenhuma dama de honra? — perguntou ele, apressadamente. — Será Alex, a filha de Finn — disse Bella. — Ela está em êxtase! Acho até que mais do que Kate! Ela mal conseguia parar quieta enquanto ajudávamos Kate a se vestir. Bella sorriu com a lembrança. — É muito melhor Kate ter a enteada como dama de honra. Além disso, se eu fosse dama de honra, não teria podido usar este chapéu! — E isso teria sido um crime — disse Josh solenemente. Bella ajustou o chapéu na cabeça e lançou um olhar especulativo por baixo da aba. — O que você achou dele? — perguntou. — É... grande — Foi a resposta mais diplomática na qual Josh conseguiu pensar. Ela riu e, por um momento lembrou a Bella de sempre, com o rosto vívido e os brilhantes olhos azuis acesos pelo sorriso. O que fez Josh lembrar-se de como havia sentido falta da companhia dela ultimamente. Não que não tivessem se visto mas, de alguma forma, Bella não vinha sendo ela mesma. A amizade de ambos sempre fora uma coisa fácil e natural, mas Bella andava contida. É claro que talvez ela estivesse tendo problemas com Will, mas Josh já a vira passar por inúmeras crises românticas, sem que aquilo afetasse o relacionamento entre eles dois. Talvez daquela vez fosse diferente. Talvez Will fosse mais importante para ela do que os outros haviam sido. Por alguma razão, Josh não gostava de pensar naquilo. Na sua opinião, Will estava longe de ser bom o bastante para Bella. — Onde está Will? — perguntou ele, tentando disfarçar a reprovação que sentia pelo outro homem. — Achei que ele fosse guardar lugar para você. — Will? — perguntou ela, tentando soar despreocupada. — Ele está em Hong Kong. — Hong Kong? — zombou Josh. — O que ele está fazendo lá? — Ele teve uma reunião — disse Bella, examinando a decoração. Josh deu de ombros, indignado.
Projeto Revisoras — Quando ele arrumou isso? — Foi uma coisa inesperada. — E ele não podia ter deixado para ir na semana que vem? Afinal, o casamento de Kate está marcado há bastante tempo... Bella manteve os olhos fixos nas flores. — Sim, mas era importante — acrescentou, reticente. — De repente, ele teve que largar tudo e ir para lá. — Você também é importante — disse Josh, irritado. — Além disso, ele não faz nada. Passa o dia sentado num escritório na cidade, jogando com dinheiro. Qual é a importância disso? — É a carreira dele — defendeu Bella. — E ele não fica apenas jogando com dinheiro. Ele lida com milhões e milhões de libras e quando alguma coisa dá errado com esse volume de dinheiro, pode acabar afetando as bolsas internacionais, o que, por sua vez, afeta a economia do mundo todo. E isso afeta os nossos empregos, os nossos salários e a nossa qualidade de vida. Eu acho isso importante — concluiu, desafiadora. Josh não estava disposto a ser convencido de que Will tinha alguma contribuição útil para fazer a sociedade. Se eu achasse que a estabilidade econômica do mundo reunir na rapacidade de Will de se mandar para Hong Kong num piscar de olhos, eu ficaria realmente apavorado — disse ele. — Mas como não é assim, desconfio que a economia global nem fosse se abalar se ele tivesse deixado para viajar na segunda-feira e estivesse conosco, hoje. Bella olhou-o. — Qual é o problema? Se eu, Kate, Finn entendemos a ausência de Will, por que você não é capaz de entender? — Eu só acho que ele deveria estar aqui para apoiá-la — disse Josh, intempestivamente. — Mas eu estou no casamento de uma das minhas melhores amigas, cercada de pessoas que conheço. Por que precisaria de apoio? — Acho que Josh teme que você se sinta meio excluída — disse Aisling. — Ele me contou como você era chegada a Phoebe e a Kate quando vocês dividiam aquela casa. Eu imagino que seja um momento de muita vulnerabilidade para você — concluiu Aisling com um olhar de compaixão. Bella olhou-a com desagrado. — Se está tentando sugerir que eu estou com ciúme, engana-se — disse, claramente. — Eu não poderia estar mais feliz por Kate e por Phoebe. Elas duas encontraram os homens de suas vidas e eu não estou me sentindo nem um pouco excluída, simplesmente porque também encontrei o homem da minha vida. Will e eu estamos muito felizes juntos, de forma que eu não me sinto nada vulnerável e nem acho que preciso de apoio, graças a Deus! — Você não parece muito feliz, Bella — comentou Josh. — Talvez isso tenha alguma coisa a ver com o fato de vocês dois não pararem de falar mal do meu namorado e de me deixarem com a sensação de que eu sou digna de pena! — ela disparou.
Projeto Revisoras Quando Josh ia responder, foi interrompido por Phoebe, empurrando-os para sentar-se ao lado deles. — Aí vem ela! — exclamou Phoebe, animada. Quando Bella se virou e avistou Kate vindo pelo corredor, de braço dado com o pai, sentiu um aperto na garganta. Tudo nela parecia brilhar. E os olhos castanhos, fixos no homem que a esperava no altar, estavam iluminados de amor. Bella seguiu o olhar de Kate e avistou Finn, que havia se virado e esperava a noiva aproximar-se. A expressão no rosto dele deixou Bella com vontade de chorar. Será que algum dia, alguém olharia para ela com tanta adoração e desejo? Bella tentou imaginar-se no lugar de Kate mas, por algum motivo, não conseguiu visualizar o homem que ocuparia o lugar de Finn. Sabia que não seria Will, apesar do que havia dito a Josh e a Aisling. Aisling! Havia alguma coisa na namorada de Josh que simplesmente a tirava do sério. Constrangida por estar pensando em outras coisas que não no casamento, Bella fixou os olhos apressadamente nos noivos. Kate havia se virado e dado seu buquê a Alex, que estava quase explodindo de orgulho pela importância do papel. A menina pegou as flores com uma expressão séria, mas quando Finn piscou para a filha, ela retribuiu com um sorriso extasiado, que deixou Bella com lágrimas nos olhos. Era um casamento tradicional na pequena igreja da vila, mas Bella flagrou-se profundamente tocada pelo clima da cerimônia. Ela e Phoebe não foram as únicas a passarem a maior parte do tempo enxugando as lágrimas e quando Kate e Finn saíram para o terraço ensolarado da igreja, os dois pareciam tão perfeitos um para o outro que Bella começou a chorar novamente. — Que horror — sussurrou, entre soluços, para Phoebe. — Eu não choro assim desde que assisti Laços de Ternura no cinema! — Eu sei — respondeu Phoebe, fungando. — Eles parecem tão felizes! — Qual é o problema com vocês duas? — quis saber Josh. — Casamentos devem ser ocasiões alegres! — É coisa de mulher — disse Gib, sábio. — Aparentemente, chorar significa que elas estão gostando. Elas vão ficar bem assim que começarem a beber champanhe. Bella não conseguiu deixar de reparar que Aisling não estava chorando. Devia ser para não borrar o rímel! Em vez disso, segurava firmemente no braço de Josh, serena em seu charmoso vestido agua-marinha, sorrindo com suavidade sob um chapéu irritantemente elegante. Bella havia ficado tão satisfeita com o próprio chapéu, mas de repente estava começando a se sentir exagerada e ridícula. Tudo em Aisling fazia com que se sentisse daquela forma. Aisling era meiga e confiante enquanto Bella era barulhenta. Aisling era elegante e ela, espalhafatosa. Aisling sabia armar com perfeição uma barraca de camping e descer um morro íngreme, enquanto ela era a encarnação da mulher urbana. A verdade era que Aisling era perfeita para Josh e Bella era apenas uma amiga. Irritada, Bella virou-se rapidamente e estampou um sorriso luminoso no rosto ao observar os noivos posarem para as fotografias. Gib havia organizado tudo muito bem e depois
Projeto Revisoras das inevitáveis poses familiares, foi a vez das fotos dos noivos com os amigos. Tiraram uma de Kate com Carol, Phoebe e Bella, as amigas com quem a noiva dividira a casa de solteira, e depois uma de Carol e Phoebe com seus maridos e os noivos. Em seguida, chegou a vez da foto de Kate e Finn com seus amigos mais próximos e seus pares, o que significava Phoebe e Gib, Josh e Aisling e Bella. Bella estava duramente consciente de ter saído sozinha nas fotos. Era uma experiência nova para ela. Afinal, sempre tivera namorado enquanto Phoebe e Kate reclamavam sobre a falta de homens. Não deixava de ser irônico que as duas estivessem casadas e ela, não. Mas não demonstraria sua insatisfação a Aisling. De forma alguma. Assim, Bella manteve um sorriso radiante no rosto enquanto o fotógrafo tirava as últimas fotos. Não muito tempo depois, todos voltariam para a vila, onde haveria a festa, nos jardins da casa dos pais de Kate. Bella estava certa de ter enganado a todos com o seu bom humor, mas não conseguiu enganar Josh. Seu mau humor tinha a ver com a chegada de Aisling. Algo a ver com o fato de ter olhado para Josh durante o jantar de casamento e percebido que ele não era mais o estudante inteligente e divertido que ela conhecia há tanto tempo. Para Bella, era como se, de repente, estivesse cara a cara com um estranho. Não que algo tivesse mudado na aparência dele. Josh tinha um rosto tranqüilo e comum, olhos azul-acinzentados comuns e cabelos castanhos mais comuns ainda. Mas nunca antes percebera como ele havia amadurecido e como aqueles quatorze anos haviam dado a ele uma presença firme e agradável e um ar de competência serena que impressionava, sem chegar a intimidar. Bella havia reparado na boca dele, ou em suas mãos, seu pescoço ou na linha do seu maxilar. Nunca percebera que ele tinha um corpo incrível. Josh não era excepcionalmente alto, mas era esguio, tinha músculos rijos e se movia com passos confiantes e relaxados. E agora que havia reparado, Bella não conseguia tirar os olhos dele. Aquilo a incomodava. Afinal, era Josh. Seu melhor amigo, aquele que a vira passar por incontáveis idas e vindas românticas. Josh a vira sem maquiagem, cansada, bêbada, doente e de ressaca sem o menor problema. Estar com Josh era como estar com Phoebe ou Kate, confortável como um par de sapatos velhos. Mas agora, de repente, ela não se sentia mais confortável perto dele e não entendia o porquê. Queria que tudo pudesse voltar a ser como antes. Bella sentiu o corpo contrair-se e bebeu mais um gole de champanhe quando viu Josh aproximando-se, pelo jardim. — Você está bem? — perguntou ele, preocupado. — É claro. Por quê? — É que você parece meio tensa e eu pensei que talvez você e Will estivessem tendo problemas. — Não sei por que você cismou que a minha relação com Will é um desastre — disse Bella, aborrecida. — Que problema poderia haver? Will é fantástico. Ele é incrivelmente atraente, generoso, inteligente, bem-sucedido...
Projeto Revisoras Era mesmo, lembrou Bella, quase em desespero. Ela havia ficado louca por Will quando o conhecera. Por que não conseguia mais se sentir do mesmo jeito? — É que ele está longe e eu estou com saudade — falou, torcendo para que Josh parasse de insistir. — E a casa vai ficar muito vazia agora que Kate se casou. — Eu tenho certeza que sim. — Para alívio de Bella, Josh havia se deixado distrair. — Você vai ficar morando lá sozinha? — Acho que sim. Afinal, o aluguel é tão baixo. Phoebe não precisa do dinheiro, uma das muitas vantagens de ter um marido rico!, e eu poderei me dar ao luxo de ficar com a casa só para mim! — E por que você não vai morar com Will se ele é tão perfeito? — alfinetou Josh. — Ele não quer compromisso? — prosseguiu, salientando bem a última palavra. — É incrível ouvir isso de você! — Bella redargüiu, aborrecida. — Logo você, que nunca se comprometeu com ninguém. — É que eu estou esperando a mulher certa. — Não é verdade — disparou Bella. — Você tem medo de arriscar. — Como você pode dizer uma coisa dessas? — perguntou Josh, boquiaberto. — É isso mesmo. Eu sei que você vive enfrentando perigos no trabalho — comentou ela. Antes de fundar a própria empresa para treinar executivos uns dois anos antes, Josh trabalhara oferecendo apoio logístico a expedições. A maioria eram expedições humanitárias de ajuda, mas ele também havia organizado algumas excursões motivacionais para empresas e outras para levantar fundos para ONGs. Bella nunca conseguira entender por que alguém se dispunha a pagar um bom dinheiro para se cansar, passar frio e fome por um mês inteiro, mas as expedições sempre haviam sido um sucesso. — Mas são riscos calculados, Josh. Você já assumiu algum outro tipo de risco? — Foi arriscado fundar a minha própria empresa — defendeu-se ele, meio incomodado. — Foi um risco financeiro — argumentou Bella, sem se abalar. — Estou falando de riscos emocionais. Josh deu de ombros. — Todos os riscos devem ser abordados da mesma forma. Basta analisar a situação de maneira lógica e ponderar os resultados prováveis. Quando ele tinha um ataque de lógica como aquele, Bella sempre imaginava como fora possível tornarem-se amigos. — E que, no tocante aos relacionamentos, eu nunca achei que o risco valesse a pena — disse ele. — Mas isso não tem nada a ver com medo. Era evidente que a palavra medo havia incomodado. — Nem todo mundo é como você — acusou ele —, que investe tudo num relacionamento, cinco minutos depois de conhecer a pessoa. Com a experiência, você devia ter aprendido a se preservar, mas não! Você mal sai de um namoro e já mergulha em outro! — É melhor fazer isso do que não mergulhar nunca e passar a vida inteira imaginando se
Projeto Revisoras não estou perdendo a chance de um relacionamento perfeito — respondeu Bella. — E é isso que você tem com Will? — perguntou Josh, cético. — Eu creio que sim. — Ao falar, Bella ergueu o queixo em desafio. — E por que vocês não moram juntos? — Porque estamos felizes assim. Cada um tem o seu canto e seu espaço. Todo mundo precisa de espaço. Josh nem se incomodou em disfarçar a incredulidade. — Você? Você é a pessoa mais sociável que conheço! Não consigo imaginá-la defendendo o próprio espaço. — Talvez você não me conheça tão bem quanto imagina — disse Bella, friamente. — Aliás, eu estou ansiosa para morar sozinha. Fui me acostumando com isso, à medida que Kate ia passando cada vez mais tempo com Finn e Alex. Talvez, algum dia, eu volte a ter vontade de dividir meu espaço — disse ela. — Mas não vai ser a mesma coisa. Afinal, onde eu encontraria alguém com quem me desse tão bem quanto Phoebe e Kate? — E Aisling? — perguntou Josh, casualmente. Bella olhou-o, preocupada. O que ela tinha a ver com Aisling? — Ela está procurando alguém com quem dividir uma casa — explicou ele. — E vocês têm tudo para se darem bem. Em que planeta ele estava vivendo? Bella olhou-o, incrédula. Não era possível que Josh achasse que ela e Aisling podiam ser amigas. Será que a conhecia tão pouco assim? — Eu não creio que tenhamos tanto em comum — argumentou Bella, com cuidado. — Não?! — Ele parecia surpreso. — Pois eu acho vocês muito parecidas. Aisling trabalha em marketing e você, em relações públicas... São carreiras complementares, não? E ela também é bastante sociável. — Pois eu pensei que ela passasse o tempo todo escalando montanhas e descendo corredeiras... — comentou Bella, sarcástica. — Ela tem muita experiência em expedições — concordou Josh. — Mas também gosta de sair e se divertir. Está bem. Então, Aisling jogava nos dois times. Era capaz de desbravar a floresta amazônica e de usar batom. Ótimo para ela, pensou Bella, dando mais um gole no champanhe. — Mas ela não é como você — emendou Josh, com menos tato que de hábito. — Ela não leva secador de cabelos quando vai acampar. Bella lançou-lhe um olhar hostil. Certa vez, Josh insistira em levá-la para acampar em Yorkshire Dales e ficara perplexo quando vira que ela não só levara o secador, como também conseguira usá-lo. Ele nunca havia se esquecido daquilo e Bella tinha quase certeza de que Aisling ouvira aquela história e rira bastante ao descobrir como uma pessoa podia ser tão urbana. — Tooting não seria muito conveniente para Aisling. Fica meio longe do trabalho, não?
Projeto Revisoras — Aisling já fez trekking no Saara — comentou Josh. — Acho que ela não vai se incomodar em ter que fazer uma conexão de metro. Não adiantava insistir com ele, pensou Bella, decidida a mudar de tática. — Bem, eu vou falar com Phoebe — disse, sem entusiasmo. — A casa é dela. É ela quem decide. — Ótimo — disse Josh. — Estou certo de que Phoebe não vai se incomodar. — Mas onde está Aisling, afinal de contas? — perguntou Bella. Tinha que falar com Phoebe antes de Josh. Não dividiria a casa com Aisling nem em mil anos. Josh correu os olhos pelo jardim e apontou. — Ali, conversando com a irmã de Finn. Aisling virou-se como se o tivesse ouvido e chamou-o. Josh foi. Era a chance de Bella falar com Phoebe. — Você me promete que vai dizer que não? — implorou Bella, assim que conseguiu afastar Phoebe de Gib e contar-lhe a história. — Se é o que você quer — disse Phoebe. — Mas eu não sei o que dizer a Josh. Não consigo pensar em nada para vetar Aisling. Ela me parece ótima. — Eu não gosto dela — disse Bella. — Por quê? — Simplesmente não gosto — respondeu Bella, amuada. — Ela exagera naquele charme irlandês. E eu não acho que ela seja a pessoa certa para Josh. Phoebe estreitou os olhos para a amiga. — Tem certeza de que não está com ciúme? — Ciúme? — disparou Bella, quase derramando o champanhe de susto. — Não seja ridícula! Você sabe que eu nunca tive ciúme de Josh e que sempre me dei muito bem com todas as namoradas dele! — Eu sei, mas era porque nenhuma delas se parecia com você. — Aisling não se parece comigo! — Parece, sim. Tenho certeza que é por isso que você não gosta dela. Bella virou-se e olhou para a direção de Aisling e Josh. Ela evidentemente não conseguia manter as mãos longe dele. Josh deve odiar isso, pensou Bella, em reprovação. Ele detestava demonstrações públicas de paixão. Por outro lado, ele não estava exatamente afastando Aisling, estava? Bella desviou os olhos. — Eu não tenho nada a ver com Aisling — disse. — Para começar, ela é ruiva. — Está bem, mas mude a cor dos cabelos e dos olhos dela e o que teremos? Ela é incrivelmente bonita, tem pernas longas e bem torneadas e um ar elegante totalmente diferente de todas as outras namoradas que Josh já teve. Admita, Bella, vocês são praticamente clones! Bella não estava preparada para admitir nada naquele terreno.
Projeto Revisoras — Nós somos totalmente diferentes e temos personalidades opostas! Eu diria que tudo o que Aisling e eu temos em comum é o fato de sermos mulheres. Josh não se cansa de me dizer como ela é prática e como gosta de fazer coisas saudáveis como escalar e acampar. Phoebe deu de ombros. — Como quiser, Bella. — Ora — prosseguiu Bella, defensiva —, há muito tempo Josh e eu concordamos que seríamos apenas amigos. Não há espaço para ciúme. — E você nunca o achou atraente? — perguntou Phoebe e, por mais que quisesse, Bella não conseguiu olhar a amiga nos olhos. — Ele não era meu tipo. — E você acha que era o tipo dele? Será? Pela primeira vez, Bella flagrou-se divagando. — Ele nunca disse nada e, de qualquer forma, sempre teve aquelas namoradas cheias de espírito de aventura, que não se preocupavam com os cabelos e nem com maquiagem e que adoravam se levantar às seis da manhã para cozinhar. Josh e eu gostávamos de rir na companhia um do outro e nunca quisemos estragar isso dormindo juntos. Até porque... — acrescentou ela, honestamente — ele não era nada atraente naquela época. Era meio magro e estudioso demais. Phoebe olhou para Josh no jardim. —- Ele mudou. — Eu sei — disse Bella, acompanhando o olhar da amiga. Josh se destacava da multidão. O homem esguio e elegante era estranho e ao mesmo tempo familiar. Ele estava conversando com alguém fora do campo de visão de Bella, mas quando o viu inclinar a cabeça para trás e rir, ela sentiu um frio na barriga, como se estivesse em queda livre. A sensação foi tão intensa que Bella teve de fechar os olhos para controlar a vertigem e, quando os abriu, estava tonta e meio enjoada. — Sim — concluiu. — Ele mudou. Houve um momento de silêncio. Assustada com a intensidade da sua reação, Bella levou a taça de champanhe aos lábios com mãos trêmulas e demorou algum tempo para perceber que Phoebe a observava, cheia de expectativa. — O que foi? Phoebe ergueu as mãos como se pedisse desculpas. — Eu não disse nada! Era a pior coisa que podia acontecer entre amigas que se conheciam tão bem. Não era preciso dizer nada para que uma soubesse exatamente o que a outra estava pensando. — Eu não estou com ciúme, está bem? — Está bem — disse Phoebe sorrindo. — Então, qual é o problema? — Quem disse que há um .problema? Phoebe suspirou. — Vamos lá, Bella, está na cara! É Will?
Projeto Revisoras — Não... sim... mais ou menos — admitiu Bella com um suspiro. — O que aconteceu? —• Nada. Esse é o problema — Bella baixou os olhos para o copo, sentindo-se péssima. — É que eu tenho andado meio inquieta... e já faz um tempo. A gente não brigou nem nada. Foi Will quem sugeriu que déssemos um tempo e eu acho que é o que estou precisando. Quero dizer, Will é incrível, não? — Ela detestava o tom de dúvida em sua voz. — Ele parece ótimo — disse Phoebe. — E lindo, e inteligente, e bem de vida, e agradável... o que mais eu poderia querer? Se eu tivesse pedido, ele teria vindo hoje — Bella suspirou. — Eu sou maluca por ter deixado ele ir para Hong Kong! O que há de errado comigo? — Nada, Bella. Apenas que Will não é o homem certo para você. — Mas se alguém como ele não é o homem certo, quem será? — Eu não sei — disse Phoebe. — Mas você saberá quando o encontrar.
CAPÍTULO II Bella desejou ter a mesma confiança de Phoebe. ' Estava começando a se perguntar se havia algo errado com ela. Não que fosse fútil, mas sabia que era bonita e nunca tivera problema em encontrar homens interessantes. Mas por algum motivo, nunca dera em nada. Ela sempre se apaixonava e se desinteressava num passe de mágica. Talvez nunca encontrasse aquele homem especial, pensou, sombria, e talvez nem pudesse mais contar com Josh. Os dois haviam combinado que se chegassem aos quarenta anos solteiros, casariam um com o outro. Bella se lembrava de ter achado graça daquela promessa. A verdade era que nunca lhe ocorrera que Josh pudesse se casar. Ele era tão contido que era difícil imaginá-lo partilhando a vida com quem quer que fosse. Bella encontrou-o instintivamente. Ali estava ele, com Aisling pendurada em seu braço como de hábito. Determinada, Bella mudou de posição para olhá-lo melhor. Pronto. Agora podia ver Josh perfeitamente, enquanto ele conversava com Gib. Josh usava um terno marrom e uma camisa bege, impecável, que fazia a pele bronzeada parecer ainda mais dourada que o habitual. Ele ficava incrivelmente bem em roupas formais, pensou ela. Mesmo naquele momento, vestido de maneira parecida com a maioria dos homens no jardim, ele tinha o ar seguro e confiante de um homem que ficaria perfeitamente à vontade desbravando uma selva de roupa caqui ou bebericando champanhe em um jardim inglês. Bella examinou-o com cuidado. Josh não era bonito como Will, mas também não era de se jogar fora. Tinha belos olhos e linhas finas nas pálpebras causadas pela exposição continuada ao sol.
Projeto Revisoras À boca também era interessante, pensou Bella, maliciosa. Não era o tipo de boca que se sobressaísse a princípio, Josh era quieto e tranqüilo demais para tal, mas certamente podia fazer uma mulher estremecer. Naquele momento, Gib virou-se para conversar com outra pessoa e Bella viu Josh estreitar Aisling nos braços e beijá-la intimamente. O beijo provocou em Bella uma dor tão inesperada, que obrigou-a a se curvar, quase derramando o champanhe. Ela desviou o olhar de modo abrupto. Aquilo não estava certo. Ela costumava ser o centro das atenções e não alguém que ficava pelos cantos, sentindo-se excluída. Era hora de circular e de espalhar aquele charme pelo qual era tão famosa. Foi tão bem-sucedida que no fim da festa um dos irmãos de Kate pediu-a em casamento. Bella recusou a proposta delicadamente, mas não conseguiu evitar a satisfação interior. Podia estar com quase trinta e três anos e não ser a "rainha do camping" como Aisling, mas havia homens que a desejavam, mesmo que só tivessem vinte e um anos e que estivessem inebriados com o champanhe da festa. De repente, ela deu-se conta de que devia exercer alguma atração sobre homens mais novos. Mais cedo, flagrara-se no centro de um grupo de rapazes. Evidente que a admiração deles a deixava envaidecida. Era bom se sentir desejada para variar, pensou, desviando os olhos para Josh e Aisling, que continuavam abraçados no jardim. Determinada a mostrar a Josh que estava se divertindo loucamente, Bella permitiu que cada um dos seus admiradores a conduzisse pela pista de dança sob os acordes dos ritmos escoceses e riu alto, jogou os cabelos para trás e disse a si mesma incontáveis vezes que estava se divertindo. De onde estava, Josh a viu encantar o rapaz com quem dançava. Ele não devia ter mais de dezesseis anos e provavelmente mal acreditava na própria sorte. Josh já vira a facilidade com que Bella encantava os homens. Nem mesmo o tio-avô de Kate, famoso por seu mau humor, ficara imune ao charme dela. Era assim desde que a conhecera. Josh lembrou-se da primeira vez em que a vira. Ela havia entrado na sala de aula, loira, linda e glamourosa em meio a todas as outras estudantes e quando ela sorrira e se sentara ao seu lado, Josh arregalara os olhos como o rapaz com quem ela estava dançando naquele momento. Mesmo naquela época, Bella já era uma estrela. Josh nunca imaginara que poderiam ser amigos. No entanto, quando começou a conhecê-la, Josh ficara impressionado ao descobrir como ela era amistosa, natural e divertida. Bella podia parecer uma princesa, mas tinha uma risada contagiante. Apesar de tudo, Josh nunca tentara tirar vantagem da intimidade que surgira entre eles. Seu papel era o de amigo, do único homem constante em todos os altos e baixos da vida romântica dela. E Josh nem se incomodava, ou dizia a si mesmo que não. Assim podia vê-la e ficar perto dela de um jeito que os homens que entravam e saíam da sua vida amorosa não podiam. Eles nunca duravam muito tempo. Bella podia parecer sofisticada, mas por baixo daquele verniz batia um coração verdadeiramente romântico, determinado a não se conformar com alguém que fosse menos que perfeito. Talvez essa pessoa fosse Will. Para Josh, ele não parecia perfeito, mas Josh nunca entendera o gosto de Bella para homens. Ele sorriu ao vê-la na pista de dança, se movendo graciosamente e rindo como de hábito. Enquanto girava, os cabelos longos
Projeto Revisoras voavam em torno do rosto alegre e a saia parecia flutuar ao redor das pernas espetaculares. — Josh! — chamou Aisling e ele se deu conta de que devia estar atento a ela e não preocupado com outra pessoa. Não teria chance de dançar com Bella até bem mais tarde naquele dia. — Eu estou cansada — Bella desculpou-se quando ele a convidou para dançar. — Cansada? Você? Nunca! — Eu estou — protestou ela. — Estou dançando a festa toda. Determinada, Bella abanou o rosto corado para não revelar sua relutância. — Convide Aisling. — Ela está dançando com Gib. — Eu estou exausta, Josh. Juro — insistiu ela. Mas Josh estava determinado. — Isso não vai gastar sua energia — disse ele quando a banda começou a tocar os acordes lentos de uma música romântica. — Só precisamos ficar lá e balançar um pouco o corpo. Até porque, eu não saberia ir além disso. — Ele estendeu a mão novamente. — Vamos lá, Bella, você agüenta. Sou apenas eu! Era verdade. Era apenas Josh. Bella tentou se concentrar naquilo enquanto aceitava a mão estendida e o seguia para a pista. Não tinha como recusá-lo, sob o risco de ele achar que havia algo errado. E não havia. Era apenas Josh. Apenas os braços de Josh em torno dela. Apenas o seu peito musculoso tão provocantemente perto. Apenas o rosto repousando sobre seus cabelos loiros. Já haviam dançado daquele jeito incontáveis vezes. Qual seria a diferença naquele momento? — Lindo casamento — disse Bella, engolindo em seco. — E você parece estar se divertindo muito — disse ele, mais divertido que enciumado. — Que interesse é esse em rapazes tão novos, Bella? Perdi a conta dos rapazes que você seduziu e abandonou nesta noite — prosseguiu ele, alegre. — Eles vão passar os próximos vinte anos sonhando encontrar uma mulher como você e a maioria vai acabar decepcionada. — Você nunca se incomodou com isso — disse ela, mais agressiva do que tencionara. Josh afastou-a um pouco e olhou-a, confuso. — Era diferente. — Eu sei — disse ela. Por quê? Por que ele nunca a desejara como os outros homens? Por que nunca insinuara querer nada além de amizade? Porque ela teria ficado perplexa, lembrou Bella, honestamente. De repente, estava sentindo muita vergonha de Josh. A medida que o silêncio foi se prolongando, ela sentiu-se tentada a perguntar como ele estava indo no trabalho. — Muito bem — disse Josh, quase aliviado por ela ter tomado a iniciativa de romper o silêncio. — As coisas decolaram desde que Aisling uniu-se a nós. O apoio dela na CBC, o nosso maior cliente, tem sido muito útil, já que ela sabe bem como as coisas funcionam. — É mesmo? — disse Bella, tentando fingir interesse.
Projeto Revisoras — Temos a chance de conseguir um grande contrato. É uma chance que fará toda a diferença. — Por que é tão importante? — Porque significará uma expansão internacional. — Josh estava entusiasmado. — A CBC é baseada em Paris, mas eles têm subsidiárias no mundo todo. Recentemente, nós fizemos um trabalho para a matriz e agora eles querem que implantemos o mesmo sistema de treinamento mundialmente. — Que maravilha, Josh! — exclamou Bella, impressionada. — O problema é que todas as filiais são muito independentes e a maioria é resistente à idéia dos treinadores partirem da matriz. Em alguns países, é vital estabelecer um relacionamento pessoal com os principais executivos antes de começar a fazer negócios. — Mas você não tem como sair pelo mundo, se apresentando a cada filial! — E verdade — ele concordou, sério. — Mas uma vez por ano, a CBC convida seus principais executivos para uma semana com todas as despesas pagas. O objetivo é oferecer uma ocasião social para premiar os melhores desempenhos, mas o encontro também garante que todos fiquem alinhados sob a mesma filosofia. — Eu adoraria partilhar a filosofia de uma empresa que me desse uma semana de férias com tudo pago — Bella admitiu, feliz pela conversa estar conseguindo distrai-la da perturbação que a proximidade de Josh provocava. — Esta é a minha Bella! — E onde vão ser essas férias? — perguntou ela depressa, desviando os olhos do pescoço dele. — Nas Ilhas Seychelles. Eles reservaram um hotel em uma daquela ilhas e a CBC sugeriu que eu fosse junto. Eles acham que seria uma ótima oportunidade para eu conhecer várias pessoas. Só Josh era capaz de soar tão profissional ao receber um convite de férias nas Ilhas Seychelles. — E você vai? — Esse tipo de programa não é exatamente o meu estilo — disse ele, dando de ombros. — Mas Aisling acha que eu devo ir. Que surpresa, pensou Bella, irônica. — E ela também irá? — Sim. — Se Josh percebeu o tom crítico na voz dela, não deu a entender. — É ela quem tem todos os contatos e disse que é importante eu conhecer as pessoas e falar sobre o que podemos fazer por eles. — Aisling tem razão — concordou, fria. — Mas eu não sei se consigo imaginá-lo nessas férias na praia. — Ah, não! — Josh estremeceu com a idéia. — Eu ficaria louco se tivesse que passar o dia todo estendido ao sol, mas Aisling disse que sempre há muitas atividades nesses eventos. — Ah... — Bella estava começando a ficar enjoada de ouvir o que Aisling havia dito.
Projeto Revisoras — É parecido com os trabalhos que fazemos em expedições para motivar o trabalho em equipe e a confiança. Atividades como mergulho ou escalada são excelentes formas de as pessoas de diferentes escritórios se conhecerem e criarem elos mais profundos. Quando as pessoas são desafiadas, elas tendem a melhorar sua habilidade de comunicação. — É o que você sempre diz... — Bella pensou que nunca tivera a menor dificuldade em se comunicar pelo telefone, sentada em um sofá. Josh sorriu. — Eu sei que a sua idéia de ar livre não vai além de uma varanda, mas as pessoas costumam render muito quando são chamadas a fazer coisas que nunca fizeram antes. — Qual é o problema em ficar deitado sobre a areia branca? Você sabe que pode trabalhar com a mesma eficiência a partir do bar da praia. — Nem todos têm a sua habilidade de relacionar-se tendo a sua frente uma pina colada. — Isso é muito mais útil do que mergulhar. Como você pretende fazer negócios embaixo d'água? Você só vai poder gesticular e fazer bolhas de ar! Eu vi na televisão — desafiou Bella, amuada. Josh riu. — Você detesta a idéia de molhar os cabelos. Felizmente, Aisling não é tão radical nessas questões. É claro que não. Aisling usaria roupas práticas, prenderia os cabelos e deixaria os saltos altos para trás, pensou Bella irritada. Se ela preferia passar uma semana debaixo d'água, com um tanque preso às costas em vez de em uma espreguiçadeira, em uma praia tropical, era problema dela! — Por falar nisso, você teve chance de falar com Phoebe? — disse Josh, girando Bella. Ele a apertou um pouco para mantê-la equilibrada e aquilo foi suficiente para fazer o coração de Bella disparar. — Falar com Phoebe? — repetiu Bella, lutando para controlar-se. — Sobre a mudança de Aisling. — Ah, sim. Eu falei. — Bella respirou fundo, torcendo para que a música parasse e Josh se afastasse um pouco. Seria mais fácil concentrar-se. — E o que ela disse? Por um momento, ela desejou poder jogar a culpa em Phoebe, mas sabia que não seria justo. — Ela deixou a decisão por minha conta e, para ser honesta, eu acho que gostaria de ficar sozinha na casa por algum tempo. Pronto. Aquilo era bastante razoável e soava bem melhor do que dizer "eu preferiria morrer a ter que dividir uma casa com Aisling". — Está bem — disse Josh. — Mas Aisling vai ficar desapontada. Ela gosta muito de você. Bella não acreditava naquilo. Aisling podia ser educada, mas seus olhos sempre haviam tido um ar frio, que era apenas um reflexo da forma como a própria Bella se sentia.
Projeto Revisoras Como Josh podia ser tão ingênuo? Ele devia estar enfeitiçado por Aisling se acreditava em cada palavra que ela dizia. Para alívio de Bella, a música acabou e Josh deixou-a ir. — Espero que ela encontre logo outro lugar — disse, forçando-se a ser agradável. — Até porque tenho certeza de que há lugares mais próximos para ela do que Tooting. — Talvez — disse Josh, tranqüilo. — Bem, enquanto isso, ela pode morar comigo. Seria o máximo da conveniência. — O quê? — perguntou Bella, mortificada. — Bem, ela tem de morar em algum lugar — racionalizou ele. — Ela precisa desocupar o apartamento até o fim da próxima semana e não tem outro lugar para ir. — Mas você nunca quis ninguém morando com você antes! Ele deu de ombros. — Aisling é diferente. Ela é uma pessoa especial. Nós nos damos bem e temos muito em comum. — Você não acha que vai ser um pouco demais? Morar e trabalhar junto? — Não saberemos se não tentarmos, não é? Até agora, conseguimos separar bem a parte profissional da pessoal. Acho que vai dar certo. Pronto. Bella mal podia acreditar em quão desastrosa acabara sendo a sua recusa. Ela nunca sonhara com a possibilidade de Josh convidar Aisling para morar com ele. Justo ele, que sempre prezara tanto a própria privacidade! As outras namoradas nunca haviam passado mais do que um fim de semana e nem deixado mais do que uma escova de dentes. Bella não gostava daquilo. Antes, sempre soubera como encontrar Josh sozinho, mas agora ele passava o tempo todo com Aisling. Conforme as semanas após o casamento de Kate foram passando, ela começou a vê-lo cada vez menos. E quando o via, buscava sinais de que ele estivesse se sentindo sufocado pela presença de Aisling, mas para seu desespero, os dois pareciam perfeitamente felizes. E ela só podia culpar a si mesma. Ela os fizera morar juntos e agora teria que aceitar a situação. Mas não era obrigada a gostar. Sentia terrivelmente a falta de Josh e da sua amizade. Por algum tempo, jogou suas expectativas em Will e convenceu-se de que tudo seria diferente quando ele voltasse de Hong Kong. Só que não foi. Bella gostou de vê-lo novamente e os dois conversaram bastante, mas não era mais a mesma coisa. — Eu sinto muito — disse ela, mortificada. — Não é você. Eu não sei o que há de errado comigo. — Não se preocupe — disse Will, revelando-se um cavalheiro compreensivo. — Ainda podemos ser amigos. De certa forma, Will assumiu o papel de Josh, apesar de não conhecê-la tão bem quanto o velho amigo. Bella sabia que Will logo arrumaria outra namorada, mas enquanto isso não acontecia, eles pareciam estar se dando muito melhor no papel de bons amigos. Um dia, quando foram ao teatro, deram de cara com Josh e Aisling no bar, pouco antes do começo da peça. Aflita, Bella agarrara a manga de Will na tentativa de fugir. Josh, por outro lado, ficou muito feliz ao vê-la. — Bella, você andou se escondendo? — Era evidente que ele não estava com o coração
Projeto Revisoras disparado como o dela, a ponto de ter conseguido inclinar-se para beijá-la, sem soltar os copos. — Faz tempo que não a vejo! — disse. Então, seus olhos pousaram em Will e sua expressão endureceu. — Ah, você voltou. — Voltei? — perguntou Will, aturdido. — Segundo Bella, você estava salvando sozinho a economia mundial em Hong Kong, enquanto o resto de nós, mortais, íamos ao casamento de Kate. — Eu não iria tão longe — disse Will, modesto. — Mas felizmente conseguimos contornar aquela crise. — Quando você voltou? — perguntou Josh, seco. — Faz algum tempo... — Eu lamento não ter ligado para você — interrompeu Bella, passando o braço pela cintura de Will e inclinando-se para ele —, mas você sabe como é quando um de nós se afasta — prosseguiu, apertando Will de leve. — Nós não temos ligado para ninguém, não é, querido? Meio confuso, Will passou o braço em torno dela e confirmou suas palavras. — Fico satisfeito que esteja tudo bem entre vocês — disse Josh, mas seu tom e seu olhar diziam o contrário. — Ah, está tudo perfeito, não é, Will? — Perfeito — ecoou ele. — Mas chega de falar em nós. Como vão vocês? — perguntou Bella, alegremente. Josh entregou um dos copos a Aisling para poder abraçá-la como Will e Bella estavam. — Estamos étimos — disse. Seria imaginação de Bella, ou havia um tom defensivo na voz dele? — Você não costuma vir ao teatro, Bella — disse Aisling. — Josh estava justamente dizendo que você sempre foi estrela demais para querer dividir as atenções com outra pessoa no palco. Bella podia imaginar Josh dizendo aquilo, mas não da forma como Aisling fazia parecer. — Bem, eu também estou surpresa em encontrar vocês dois — respondeu ela, docemente. — Eu pensei que preferissem ficar ao ar livre, competindo para ver quem fica com as botas mais enlameadas e a toalha mais suja. — Nós somos ativos — disse Aisling, com um sorriso tão forçado quanto o de Bella. — Mas também apreciamos cultura. Josh não parecia estar se divertindo. Bella ergueu as sobrancelhas, mas antes que pudesse responder, Will puxou-a. — Se você quer uma bebida, Bella, é melhor irmos logo. — E claro — ela concordou com um sorriso. — Vejo-os depois! — Cultura! — explodiu ela, no momento em que se afastaram. — E só um musical! E Josh vai odiar. — Você vai me contar o que foi aquilo tudo? — perguntou Will, estendendo um refrigerante para Bella.
Projeto Revisoras — Eu não queria que Josh soubesse que terminamos — disse ela, sem tentar disfarçar. — Isso, eu percebi. — Obrigada por me ajudar. Will olhou-a, curioso. — Eu pensei que Josh fosse o seu melhor amigo. Achei que ele seria a primeira pessoa a saber. — Normalmente, seria — admitiu Bella. — Mas ele ficou tão aborrecido com a sua ausência no casamento de Kate que eu mudei de idéia. Além disso... — Além disso, o quê? — perguntou Will, curioso. — Nada. — Ela não saberia explicar por que lhe parecera uma boa idéia fingir para Josh que continuavam apaixonados. Will ergueu as sobrancelhas. — Deve fazer umas seis semanas que Kate se casou. Você está me dizendo que ele ainda não sabe? — Eu não tive chance de contar a ele — Bella explicou, na defensiva. — Você fez mais que isso agora. Mentiu para que ele pensasse que continuávamos juntos. — Eu sei — ela admitiu, cheia de culpa. — É que eu não suporto a idéia de Aisling sentir pena de mim. Você viu como ela é. Ela bancaria a simpática e a boazinha, só porque está toda feliz com Josh. — Ela disfarçou a pontada de dor com um gole de refrigerante. — Você sabe que eles estão morando juntos? — Ah... — O que isso quer dizer? — perguntou Bella, baixando o copo. — Isso explica por que você está tão aborrecida. — Eu não estou aborrecida. É que não gosto de Aisling. Josh e eu nos dávamos muito bem até ela aparecer. — Mas o problema não é Aisling. É você. — Eu? — Você está apaixonada por Josh. Bella abriu a boca para negar veementemente. Estava determinada a dizer a Will que ele era maluco e que Josh era apenas um bom amigo e nada mais. Mas, por algum motivo, as palavras não saíram. Insegura, ela baixou os olhos e engoliu em seco. — Eu estou certo, não estou? — perguntou Will, ao mesmo tempo que tocava o sinal para indicar o início iminente da peça. Sorridente, ele pegou o copo de Bella e colocou-o sobre uma mesa próxima. Então, pegou-a pelo braço e conduziu-a pela escada. — Pobre Bella. Parece que você foi atropelada por um caminhão. Era exatamente assim que Bella se sentia. Atordoada, ela deixou Will guiá-la até a cadeira. Depois de resistir por tanto tempo, ficara horrorizada ao ser confrontada com a verdade.
Projeto Revisoras Como aquilo podia ter acontecido? Ela nunca amara Josh, pelo menos, não daquela forma nova e assustadora e não havia motivo algum para começar a amá-lo. Bella não queria aquilo. Queria voltar para o que tinham antes, mas sabia que era impossível. Enquanto se recusara a aceitar, estivera tudo bem, mas agora que Will atirara a verdade no rosto dela, não havia como recuar. A verdade era implacável e inegável: depois de todos aqueles anos, estava apaixonada por Josh.
CAPITULO III Enquanto olhava sem ver os atores no palco, Bella lembrou-se do que Phoebe havia dito no casamento de Kate: — Você vai saber quando encontrá-lo. Mas ela não havia sabido. Fora preciso a interferência de Will, que estava longe de ser o homem mais perceptivo, para mostrar o óbvio e agora a vida dela mudara para sempre. O que faria? Todas as outras vezes em que não soubera o que fazer, ela falara com Josh. Bella temia estragar a amizade para sempre. Josh estava com Aisling, lembrou-se. E ela teria que aceitar o fato de serem apenas amigos e fazer um esforço para gostar de Aisling. Não seria fácil, mas ela tentaria. Talvez não conseguisse dizer a Josh como a sua vida havia mudado, mas contaria a ele sobre Will. Era idiota continuar fingindo. Nunca mentira para Josh antes e aquilo não era certo. Se fossem amigos, como sempre haviam sido, ela simplesmente admitiria que Will não era o homem ideal. Mas nas semanas que se seguiram, não pareceu haver oportunidade. E apesar da determinação de tentar gostar de Aisling, achava que não seria capaz de agüentar a compaixão da outra. Ou, ainda pior: sua compreensão. Assim, quando recebeu o e-mail de Josh dizendo que Aisling ia sair com velhos amigos e sugerindo que eles dois se encontrassem para um drinque na noite seguinte, Bella concluiu que seria sua melhor chance de endireitar as coisas. Algumas delas, pelo menos. Perfeitamente, respondeu ela por e-mail. "Parece que faz anos que não conversamos e eu tenho muito o que lhe contar. A hora de sempre, no lugar de sempre?" "Também tenho novidades", respondeu Josh na mesma hora. Até amanhã. No dia seguinte, excepcionalmente, chegou ao bar dez minutos adiantada. Enquanto esperava, pediu uma bebida e sentou-se, girando o copo nervosamente nas mãos. Bella sentiu o coração disparar. Era uma sorte que ele não tivesse ido direto para ela porque ela não teria conseguido nem falar. Torcera tanto para que aquilo fosse uma ilusão, mas a verdade era que estava mesmo apaixonada por ele. Josh podia não ser o mais bem vestido, mas sua presença transpirava poder e ele foi servido em bem menos tempo que Bella. No instante seguinte, virou-se, com uma garrafa de cerveja na mão, em busca de uma mesa.
Projeto Revisoras Bella engoliu em seco e acenou para atrair a atenção dele. — Bella! — exclamou ele, surpreso, inclinando-se para beijá-la. — Você chegou na hora? O que aconteceu? "Eu estou apaixonada por você." Ela sentiu o rosto formigar onde ele beijara. Estava profundamente envergonhada. — Estava tudo tranqüilo no trabalho e eu saí mais cedo — disse ela. — Tranqüilo, no mundo das relações públicas? — perguntou ele, sentando-se de frente para ela. — Não é possível! Saúde — disse, estendendo a garrafa para ela. — Você está ótima. — Você também. — Como vai você? — perguntou ele. — Ótima. E você? — Bem. Aquilo era terrível. Bella sentiu vontade de chorar. Sempre havia sido tão fácil conversar com ele. Eles pediam uma bebida e passavam o resto da noite rindo, falando e se provocando e agora estavam ali, sendo educados um com o outro. — Você ainda vai para as lhas Seychelles? Josh assentiu. Era evidente que estava sentindo o clima estranho. — Em duas semanas — disse. — Sorte a sua. Eu gostaria de poder dar uma fugida em novembro. Fica tão cinzento por aqui. Agora estavam reduzidos a falar do tempo! Josh nem tentou entrar naquele assunto. Em vez disso, bebeu um gole da cerveja e deixou um silêncio incômodo se instalar. Bella brincou com o copo. Deveria estar contando a ele sobre Will, mas não sabia como fazê-lo sem dizer-lhe que seus sentimentos haviam mudado e se Josh insistisse muito no assunto, logo perceberia o que havia mudado e o porquê e... Deus... talvez fosse melhor não dizer nada... — E então? — perguntou Josh meio tenso. — Quais são as novidades? Você disse que tinha muito o que me contar. — Comece você — disse Bella rapidamente. — Você disse que também tinha novidades. — É. E tenho. Ele parecia quase tão hesitante quanto ela. Era evidente que também não sabia por onde começar. Bella sentiu um ligeiro frio no estômago. — É bom ou ruim? — perguntou, tentando suavizar as coisas. — Bom — disse Josh depois de uma pequena hesitação. — Você não parece muito seguro. — Mas é bom. Definitivamente bom. — Tem algo a ver com trabalho? — perguntou ela, curiosa.
Projeto Revisoras — Não — respondeu ele, dando mais um gole na cerveja. — E então? — pressionou, soando como a velha Bella e não a Bella tímida e retraída, sentada diante dele apenas um momento antes. —Você vai me contar ou eu vou ter que adivinhar? — Aisling e eu vamos nos casar. Josh estremeceu ao ver que pronunciara a frase como se sentisse culpa ou algo assim. Devia ter falado com mais cuidado. Ele olhou para Bella, sem saber como ela reagiria. Ela parecia petrificada e por um segundo ou dois, sua expressão era totalmente neutra. Então, os olhos azuis baixaram para o vinho e ela olhou a taça alguns momentos até Josh começar a imaginar se ela o ouvira. — Bella? — chamou. Mas ela já havia erguido os olhos e havia um sorriso radiante em seu rosto. — Ora... parabéns! — exclamou, num tom que combinava com o sorriso. Em seguida, debruçou-se na mesa para beijá-lo. — Quando isso aconteceu? — perguntou ela, recostando-se na cadeira. Apesar do sorriso que começava a incomodar Josh, ela parecia exatamente a mesma. Havia algo errado naquele sorriso, mas Josh não saberia dizer o quê. — Na semana passada. Haviam acabado de assinar um grande contrato e todos na empresa haviam saído para comemorar. Quando chegaram em casa, Josh tentou dizer a Aisling o quanto apreciara o que ela havia feito. Não havia dúvida de que a atuação dela fora decisiva. Ela era muito hábil em marketing e sua experiência com clientes como a CBC havia mudado os rumos da empresa, levando-os a uma nova fase, muito mais próspera. Fora importante assinar aquele contrato e se eles conseguissem fechar o acordo também com a CBC, o futuro estaria garantido. — Nós não teríamos conseguido sem você — dissera ele, embalado pela euforia dos funcionários. — Nós formamos uma equipe e tanto. — Acho que você e eu formamos uma equipe e tanto, o que quer que estejamos fazendo — dissera ela, sorrindo. — Por que não tornamos isso permanente? Josh não conseguira pensar em por que não. Aisling era bonita, inteligente e tinha os mesmos interesses que ele. Josh sabia que podiam viver juntos. Aisling era muito fácil de se conviver. Bella, por exemplo, o deixaria louco. Ela nunca fecharia as gavetas e nem as tampas das garrafas e deixaria roupas espalhadas por todo lado. Depois, abarrotaria o banheiro de Josh com cosméticos, monopolizaria seu telefone e dominaria a cozinha para preparar pratos elaborados, metade dos quais terminaria no lixo. Não havia nada parecido com Aisling. Josh não conseguia pensar em alguém que se adaptasse tão bem a sua vida quanto ela. Fazia anos que Bella dizia que ele não tinha jeito para romance, mas Josh não se incomodava. Os românticos, como Bella, tinham aquela visão rósea e, na opinião de Josh, totalmente equivocada dos relacionamentos. Eles queriam que tudo fosse perfeito e a vida estava longe disso.
Projeto Revisoras Bella olhava para ele, com dor nos olhos azuis. — Por que você não me contou? — Eu quis falar pessoalmente — disse Josh, num tom estranho. — Ainda não contei para ninguém. — Por que não? — Eu queria que você fosse a primeira a saber. — Ele olhou-a, ansioso. — Eu sei que é um pouco repentino, mas o que você acha? O sorriso de Bella oscilou um pouco mas ela respirou fundo e disse: —- Eu acho que é uma ótima notícia, Josh. Fico muito feliz por vocês. — Você gosta dela, não é? — E claro — mentiu Bella, com o sorriso cada vez mais fixo no rosto. De repente, um novo silêncio ameaçador se instalou. — E quando vai ser o casamento? — perguntou ela, apressada. — Nós ainda não marcamos a data. — E vocês vão fazer uma cerimônia tradicional ou algo diferente? — Isso depende de Aisling. Mas acho que ela ainda não planejou nada. Bella estava começando a sentir o maxilar doer pelo esforço de manter o sorriso. — Eu posso ser sua madrinha? É um bom papel para a melhor amiga, não? Josh olhou-a e sorriu, assentindo. — Bem, isso exige mais um drinque. — Ela esvaziou o copo com uma ponta de desespero. — Desta vez, eu vou tomar um champanhe! — Eu vou buscar — disse Josh, levantando-se. — Você fica aqui. Bella sentiu um alívio imenso por poder parar de sorrir. Também estava tremendo. Precisara de todas as suas forças para parecer feliz quando se sentia tão arrasada por dentro. Ela sabia que aquilo estava para acontecer. No momento em que ele hesitara em contar as novidades, havia pressentido. Mas em vez de gritar de desespero, Bella mantivera o sorriso, por mais difícil que fosse. Josh não podia saber o que ela estava sentindo. Não podia nem desconfiar. Ele ficaria constrangido, e apesar de aquilo não mudar seus sentimentos por Aisling, talvez não se sentisse à vontade para comemorar e Bella não achava aquilo justo. Assim, quando Josh retornou com uma garrafa de champanhe num balde de gelo, ela voltou a estampar o sorriso no rosto. — Pronto. Agora estamos entrando no clima — disse ela, quando ele tirou a rolha da garrafa sem nenhum sinal de afetação e serviu duas taças. — Parabéns, Josh. — Obrigado, Bella — disse ele, relaxando. — Eu sei que é besteira, mas estava preocupado em contar-lhe. — Não devia. Você sabe que eu só quero a sua felicidade. — Nós ainda vamos ser amigos, não é?
Projeto Revisoras — É claro. Mas agora, quem vai se casar comigo quando eu fizer quarenta anos e ninguém mais me quiser? — Bella manteve o sorriso para mostrar que estava brincando. — Eu tinha confiado em você! — Isso não vai acontecer — respondeu ele. — Desde que eu a conheço, sempre houve uma fila de homens desesperados para mostrar o quanto a desejam. E quanto a Will? Bella estudou seu champanhe. — Ah, bem, digamos que o primeiro lugar da fila está vago. A expressão de Josh mudou e ele colocou o copo na mesa. — Como? — Eu lamento mas as minhas notícias não são tão emocionantes como as suas. Will e eu terminamos. — Mas você parecia tão feliz com ele. Você o achava perfeito! O que aconteceu? — Ora, você sabe... — Bella deu de ombros. — Não —- disse Josh. — Conte-me. — Não foi nada em especial — disse ela, evitando olhá-lo. Havia decidido contar a Josh a verdade sobre Will, mas aquilo havia sido antes de ele dizer que ia se casar com Aisling. Agora, tudo havia mudado. Se Josh achasse que a decisão havia sido mútua, começaria a se perguntar por que Bella estava tão infeliz e ela não queria que ele entrasse nesse terreno. Josh a conhecia bem demais. Não. Era melhor que ele achasse que ela ainda amava Will. Isso explicaria por que ela estava diferente e lhe daria uma boa desculpa para parar de sorrir, o que seria um alívio imenso. — Will não está pronto para se comprometer — disse ela a Josh. Isso, pelo menos, era verdade. Os dois nunca haviam discutido o fato e Will não parecia mais ansioso para se casar que a própria Bella. — Ele gosta muito de ser um solteiro cobiçado. Aquilo também era verdade. Will a achava atraente e ela combinara bem com o estilo de vida dele, mas nunca a amara. Essa era uma das razões por que continuavam se dando tão bem. — As coisas estavam ficando intensas demais para ele — explicou. — E esse não é o seu estilo? — perguntou Josh, erguendo a sobrancelha. — Eu sei. Irônico, não é? Por todos esses anos, eu dispensei homens que começaram a me sufocar e agora estou provando do meu próprio veneno. — Bella forçou um sorriso. — Só falta você me dizer que é bem feito! — Não. Vou lhe dizer que nunca achei Will bom o bastante para você. Eu sei que você o achava perfeito, mas ele nitidamente não tem gosto. Você vai achar alguém muito melhor — ele afirmou, confiante. — O problema é que eu não quero alguém melhor — disse ela baixinho. — Só há um homem que eu quero. — Bella... — Josh franziu o cenho. — Isso parece grave. — Eu acho que é. — Ela girou o copo entre os dedos, incapaz de encará-lo. — Eu sei que já me apaixonei antes, mas isso é diferente. É mais do que gostar de um homem que
Projeto Revisoras tem um carro bacana e que pode me divertir. Isso é como querer alguém com cada fibra do meu ser e querer estar com ele e tocá-lo, sabendo que eu perdi a chance. É tarde demais — concluiu ela, triste. — Será que é mesmo? Bella ergueu os olhos do copo e encarou-o, tão querido e conhecido e, de repente, tão incrivelmente belo. E tão comprometido com Aisling. Ela engoliu em seco e assentiu, incapaz de falar. Sem dizer nada, Josh se levantou, sentou-se ao lado dela e abraçou-a. — Pobre Bella — disse, gentilmente. — Você está sofrendo? Para seu horror, Bella sentiu uma lágrima e depois outra no canto dos olhos. Aflita, tentou afastá-la com ás costas das mãos, mas elas só passaram a escorrer mais rápido. — Eu vou superar — disse, insegura. — Eu não sabia, Bel — Josh falou, abraçando-a com mais força, o que só piorou a situação. Bella sentiu vontade de recostar-se nele, mas corria o risco de perder de vez o controle. Queria beijá-lo e implorar para que ele não se casasse com Aisling. Diria que ele era o único homem que amava, o beijaria com paixão e faria amor com ele ali mesmo, desde que ele jurasse que nunca mais a deixaria. A idéia de como o contido Josh reagiria a uma cena tão melodramática foi suficiente para fazer Bella sorrir. — Eu vou ficar bem — ela afirmou, afastando-se um pouco para pagar um lenço. — Você quer que eu mate Will? — perguntou Josh. — Se quiser, eu mato. — Obrigada, mas acho que isso não ajudaria — disse ela, sorrindo. — Até porque a culpa não é dele. Ele não tem culpa sobre o que eu sinto. — Ele poderia lhe dar uma chance. Bella meneou a cabeça. — Eu tive a minha chance e a desperdicei. — Ela enxugou o rosto com o lenço e tratou de restaurar o sorriso. — Eu sinto muito — falou, empertigando-se na cadeira. — Não pretendia fazer esse escândalo. Devíamos estar comemorando o seu noivado. — Ela estendeu o copo. — Vamos tomar mais champanhe! Josh completou as taças obedientemente, mas estava preocupado com Bella. Pelo menos, agora sabia o motivo da tensão por trás daquele sorriso. Não estivera brincando totalmente quando se oferecera para matar Will. Odiava vê-la sofrer. E qual seria o problema com Will para rejeitar alguém como Bella? Uma mulher linda, inteligente, espirituosa, de pernas maravilhosas e com hipnóticos olhos azuis? Era verdade que às vezes ela conseguia ser muito frívola, mas quando queria, era muito inteligente e perspicaz. Agora, por exemplo, estava ligeiramente corada e seus olhos brilhavam de dor, mas ela continuava fingindo que estava tudo bem. Josh teve o impulso de abraçá-la de novo, mas como havia sentido uma certa resistência antes, preferiu não agir. Além do mais, não eram os braços dele que ela desejava, certo? — Vamos fazer uma festa para comemorar o seu noivado — disse ela. — Você sabe que eu não sou muito de festas.
Projeto Revisoras — Está bem — concordou ela. — E que tal um jantar, como o que fizemos para Phoebe e Kate quando elas ficaram noivas? Será que Aisling vai gostar? Aisling! De repente, Josh deu-se conta que esquecera completamente de Aisling nos últimos minutos. — Ah, sim, é claro que sim — disse, meio sem jeito. — Ótimo. Então, está combinado. Que tal no próximo fim de semana? Vou falar com Phoebe e Kate e lhe mandarei um e-mail com a data — Bella ergueu a taça novamente. — Saúde! Bella era a única culpada por não reconhecer a importância de Josh antes. Mal podia pensar nos vários anos em que se pavoneara com os homens mais lindos da cidade, certa de que Josh estaria lá se ela se entediasse, se quisesse conforto ou uma boa risada. O fato era que ele havia sido seu melhor amigo por anos a fio e agora ela agiria a contento. Guardaria seus sentimentos para si, se alegraria por ele e faria o que estivesse ao seu alcance para comemorar. Bella planejou um jantar espetacular que ninguém jamais esqueceria, mas acabou tendo que ligar para Kate para implorar para a amiga vir ajudá-la antes que todos chegassem. — Tem que ser uma coisa tão sofisticada? — perguntou Kate, erguendo as sobrancelhas ao estudar o cardápio que Bella havia elaborado há dias. — Eu quero que seja memorável. — Certamente será, ainda mais se você não conseguir fazer. O que é uma croquembouche, pelo amor de Deus? — Uma pilha de profiteroles cheios de creme. Na receita tradicional, as carolinas ficam equilibradas com fios de açúcar caramelado, mas eu pensei em usar chocolate — disse Bella. — Só que parece que não deu muito certo. Aflita, ela contemplou a pirâmide que passara horas fazendo na noite anterior. As bolinhas leves como uma nuvem da receita haviam ficado com o aspecto de panqueca. Seria um pesadelo recheá-las com creme e quase impossível empilhá-las. — Sei... — Kate examinou-as sem dizer nada e voltou ao cardápio. — O que mais? Canapés, suflês individuais, lagosta... Você não poderia ter escolhido pelo menos um prato que não fosse complicado? Bella suspirou. — Na hora, eu achei que fosse uma boa idéia. — Josh ficaria feliz até com uma lata de feijão! — Eu sei — disse ela, guardando alguns livros de receitas para limpar um pouco a área. — Mas ele tem que saber que eu fiz um esforço especial por Aisling. Kate colocou o avental e amarrou-o nas costas. — Porque você odeia o fato de ele estar se casando com ela. — Sim... não! — corrigiu-se Bella, depressa. Em seguida, parou, percebendo que era uma besteira tentar enganar Kate. — Está tão óbvio assim?
Projeto Revisoras — Para nós, está, querida. Nós a conhecemos há muito tempo. Bella mordeu o lábio. — Josh também. — Sim, mas é diferente. Apesar de ele poder ser muito perceptivo às vezes, ele continua sendo um homem e provavelmente nem desconfia que você não gosta de Aisling. — E eu não quero que ele saiba, Kate. Ele vai ficar magoado. — Você não acha que Aisling é a pessoa certa para ele? — Você acha? Kate pensou por um momento. — Eu mal posso acreditar que ele vá se casar com ela — admitiu. — Acho que eu e Phoebe sempre acreditamos que você e Josh acabariam juntos. Bella, que estava abrindo a embalagem que continha cogumelos, ficou grata por estar de costas para Kate. — Agora é tarde demais para isso — disse, num tom forçosamente despreocupado. Kate pegou uma tábua e os cogumelos e começou a cortá-los em silêncio. — Talvez Josh não se case com ela. — Josh é um homem de palavra — disse Bella, resignada. — Se ele resolveu se casar com Aisling, é o que vai acontecer. — Mas Aisling pode mudar de idéia — sugeriu Kate, esperançosa. Mas não havia o menor sinal daquilo quando Aisling e Josh chegaram para o jantar. Ela estava deslumbrante num vestido de seda verde, cheia de planos para o casamento e com um anel de brilhante no dedo. — É lindo — Bella elogiou, admirando a jóia. — Josh me levou à joalheria no fim de semana. Eu levei horas para decidir qual era o que queria, não foi, Josh? — Horas — concordou ele. Aisling riu e abraçou-o. — Pobre Josh. No fim, ele estava ficando entediado. Você sabe como ele é, Bella! Bella entregou a Aisling uma taça de champanhe sem olhar para Josh. — Sim — disse. — Eu sei como ele é.
CAPITULO IV — Eu temo que tenha sido caro demais — prosseguiu Aisling. — Mas ele disse que eu poderia escolher o que mais gostasse. — Tenho certeza de que ele acha que você merece — disse Bella, servindo outra taça a Josh e obrigando-se a encará-lo. — Eu sei que você prefere cerveja, mas champanhe é obrigatório nessas ocasiões. — Obrigado — Josh pegou o copo das mãos dela; mas Bella estava tensa ao extremo, e
Projeto Revisoras que o simples roçar de dedos provocou uma corrente elétrica tão forte que ela tirou a mão abruptamente, derramando metade da bebida. — Desculpe-me — murmurou, corada, servindo-o de mais com mãos trêmulas. — Você está bem? — perguntou ele, preocupado. — Só estou um pouco nervosa com o jantar — explicou-se ela. — Eu acho que fui longe demais. Josh sorriu. — Você sempre faz isso, Bella. Planeja esses cardápios incrivelmente elaborados e fica aborrecida quando não dá certo. Por mim, você poderia jogar fora todos esses livros de receita e oferecer pão com queijo aos seus convidados. — Depois de hoje, talvez eu faça isso — ela concordou com um sorriso relutante. Então, os olhos de ambos se encontraram e foi como se não houvesse mais ninguém no mundo. Josh foi o primeiro a desviar os olhos. — Foi gentil da sua parte ter se esforçado tanto — disse ele, passando os olhos pela cozinha. — Sim, está tudo lindo — disse Aisling, percebendo o olhar que os dois haviam trocado. Bella tinha forrado uma toalha adamascada antiga na mesa onde ela, Phoebe e Kate haviam passado tantas horas bebericando vinho e consertando o mundo e agora, ao admirar o resultado com a louça de festa, os copos de cristal e as velas acesas, foi obrigada a concordar com Aisling. Tudo parecia tão romântico quanto ela planejara, desde que não se olhasse para a cozinha, onde havia pilhas de louças e panelas sujas em volta da pia. Bella havia usado praticamente todos os utensílios da cozinha e ainda havia tanto a ser feito. Ela sempre adorara ambientes integrados, mas às vezes sentia falta de uma sala de jantar separada, onde os convidados nem soubessem o que estava se passando. — Eu gosto dessa cozinha — disse Aisling. — Era por isso que eu tinha tanta vontade de morar aqui. — Eu sinto muito — disse Bella, lembrando-se de como afastara a idéia assim que Josh trouxera o assunto à tona. Ela respirou fundo. Aquela troca de olhares a deixara completamente aturdida. Não era certo encarar um amigo daquele jeito. Ainda mais no dia do noivado dele! — Eu devo ter soado péssima quando insisti em ficar com a casa só para mim — Bella desculpou-se. — Não se preocupe — respondeu Aisling. — Eu teria feito a mesma coisa. E no fim, acabou sendo melhor assim, não é, querido? — Ela pegou o braço de Josh e sorriu. — Se eu tivesse vindo para cá... não teria ido morar com Josh e nós nunca te ríamos descoberto como combinamos... Provavelmente, nem teríamos pensado em nos casar, não é querido? — É difícil dizer — respondeu ele. — Eu só posso lhe agradecer, Bella! — Pegue um canapé — ofereceu Bella, tentando sorrir.
Projeto Revisoras — Ah, eu não devo — disse Aisling admirando o prato que Bella decorara com tanto esmero. — Como essa é a única parte do jantar que deu certo, eu tiraria o máximo proveito, se fosse você. — Bem, talvez só um — concordou Aisling escolhendo, entre todas as opções, a que parecia menos calórica. — Delicioso — disse. — Pegue mais um. — Ah, não, obrigada — falou, tocando o abdome perfeitamente chato. — Eu já encontrei o vestido perfeito, mas não posso engordar nem um grama se quiser entrar nele até o casamento. — Então, vocês decidiram quando vai ser? Bella ficou aliviada por Phoebe ter chegado naquele momento e se reunido a eles. Provavelmente, ela vira que Bella estava prestes a atirar a bandeja de canapés no vestido de seda de Aisling. — Em maio — disse ela. — Eu acho que um casamento na primavera é perfeito, não? Havia um brilho nos olhos de Aisling e ela parecia eufórica. Bella não podia culpá-la. Estaria se sentindo do mesmo jeito se estivesse com a aliança de Josh, prestes a casarse com ele. — Com licença — falou, subitamente desesperada para esconder-se na cozinha. — Preciso ir ver a entrada. Phoebe ficou ouvindo os planos de casamento cada vez mais excêntricos de Aisling, enquanto Josh baixava os olhos para a própria taça. — Não se preocupe — Gib murmurou em seu ouvido. — Eu trouxe cerveja comigo. — Ele olhou para a própria taça com uma careta. — Não sei por que as mulheres insistem em beber isso. Termine logo e eu irei buscar uma bebida apropriada. Josh sorriu e esvaziou a taça, obediente. Gib sempre conseguia fazer as coisas parecerem melhores. O jantar não poderia ser descrito como um triunfo culinário, os jantares de Bella nunca o eram, mas havia bastante vinho e a companhia era ótima. Enquanto Aisling parecia esfuziante, Bella estava mais quieta que de hábito, mas assim que parou de ir e voltar à cozinha para cuidar da comida, ela relaxou e a noite ficou excelente. Muito mais tarde, quando ela se levantou para fazer mais café, Josh seguiu-a até a cozinha para ajudá-la, enquanto os outros conversavam animadamente à mesa. — Caso eu me esqueça de dizer depois, muito obrigado — disse ele. — Eu sinto muito pela lagosta... E pela sobremesa. Foi tudo meio desastroso, não? — Bella falou. — Estava delicioso — mentiu Josh. — Mas de qualquer forma, a comida é o que menos importa. O que importa é a sua dedicação. Foi uma noite muito especial e eu gostei muito. Aisling também — acrescentou ele, abraçando Bella. Por um segundo, ela apoiou-se nele, mas logo se afastou e fingiu estar ocupada, enchendo a chaleira.
Projeto Revisoras — Ainda na mesma com Will? — perguntou Josh. — Eu o vejo de vez em quando — disse ela, pondo pó de café no filtro. — Mas não é a mesma coisa. — Não está ficando mais fácil? Bella parou e encarou-o. — Não. Ela teria que dar um jeito naquilo, disse Bella a si mesma na manhã seguinte, enquanto atacava a imensa pilha de louça suja. Compraria uma lava-louças! Milagres não aconteciam. Aisling ia mesmo se casar com Josh e, julgando pela conversa da noite anterior, seria incapaz de falar sobre qualquer outro assunto até a data. Todos haviam escutado os planos de Aisling para o casamento e ficou claro que alguns eram novidade também para Josh, incluindo a lista de possibilidades para a lua-de-mel. — Nós iremos para as Ilhas Seychelles em duas semanas — dissera Aisling. — Será uma boa chance de conhecer o lugar para ver se vale a pena voltar. Parece muito bonito, mas talvez não haja muito o que fazer além de mergulhar. — Mas os casais em lua-de-mel não costumam ter problemas para achar o que fazer — dissera Gib, divertido, mas Aisling levou-o a sério. — Josh e eu não somos assim. Precisamos poder escalar, ou velejar, ou descer uma cachoeira. Morreríamos de tédio se tivéssemos que passar o dia na praia. Bella fora incapaz de evitar um olhar cúmplice para Phoebe e Kate. — Nós não — dissera Kate. — Se quer saber, eu acho que ela está exagerando — sussurrara Phoebe no ouvido de Bella, um pouco mais tarde. — Aposto que ela odeia isso tudo. Bella não concordava. Era verdade que Aisling parecera um pouco obsessiva em seus planos para o casamento, mas ficava igualmente à vontade ao ar livre, com Josh. Assim, depois que o casamento do século passasse, ela se acomodaria e seria uma excelente esposa. Assim, Bella tinha que parar de sofrer e se conformar. Mas era mais fácil falar do que fazer. Ela bem que tentou. Obrigou-se a voltar a ir a festas e tentou manter-se ocupada para não pensar muito, mas a lembrança de Josh era uma dor constante dentro dela. Com o passar dos dias, acabou perdendo peso, o que não era bom. Ficou com olheiras e um ar cansado. Quando a viram, Kate e Phoebe ficaram preocupadas. — Você está horrível! — Obrigada. — É sério, Bella. Será que você está doente? Doente de amor, pensara Bella, triste. — Só estou cansada — disse. — Eu preciso de umas férias, mas estou sem dinheiro agora. Minha última conta de cartão de crédito foi tão imensa que eu pensei que fosse desmaiar quando abri a fatura. Bem que eu queria que alguém me oferecesse uma semana de graça nas Ilhas Seychelles! A idéia de uma semana inteira sem nada para fazer, a não ser deitar-se em uma praia tropical, era mais que tentadora. Nada de mergulhos, nada de velejar, apenas ficar sob o sol, de olhos fechados... sim, ela adoraria!
Projeto Revisoras — Seria perfeito, não? — perguntou Kate. — Josh e Aisling estão prontos. — Quando eles partem? — perguntou Phoebe, levantando-se para encher os copos. — Em breve, eu acho. — Eu não o vejo desde o seu jantar. Como vai Josh? Bella sentiu um peso na garganta à simples menção do nome dele. — Eu não sei — disse, tentando soar casual. — Também não o vi. Phoebe franziu o cenho. — Espero que esteja tudo bem. Josh não costuma sumir assim. Ele não fez nenhum contato? — Ele ligou e deixou um recado agradecendo o jantar — admitiu Bella. — Mas como não era o tipo de mensagem que pede uma resposta, eu não respondi. — Mas, Bella, ele devia estar esperando um retorno seu, não? Ela deu de ombros, incapaz de explicar como estava achando difícil falar com Josh nos últimos tempos. — Eu não quis me intrometer — disse ela, defensiva. — Eles devem estar querendo ficar sozinhos. — Eles devem achar que você os está ignorando — disse Kate. — Eu pensei que você quisesse que Josh achasse que você gostava de Aisling. — Eu gosto... Só preciso de um tempo para me acostumar com a idéia. — Você já teve quase três semanas, Bella — comentou Phoebe, entregando o copo à amiga. — Vai ter de aprender a lidar com isso mais cedo ou mais tarde. Bella suspirou e bebericou do copo. — Eu sei. O problema era que não conseguia imaginar-se tendo uma conversa normal com Josh quando tudo o que queria dizer era que o amava. Não que não pudesse ligar para eles e desejar boa viagem. Pelo menos, teria um assunto sobre o qual falar. — Eu vou ligar para ele — prometeu. Para seu alívio, as amigas mudaram de assunto. — Eu não sei se podemos pagar uma semana nas Ilhas Seychelles, mas o que mais podemos fazer para animá-la? — perguntou Kate. — Amanhã é sexta-feira. Por que não vem jantar conosco? Pela sua cara, você anda precisando ser alimentada. — Eu bem que gostaria, mas preciso ir a uma festa em Battersea — Bella argumentou, sem entusiasmo. No dia seguinte, quando chegou em casa depois do trabalho, estava ainda menos entusiasmada com a idéia. Era uma noite fria de novembro, e ventava tanto que o guarda-chuva era inútil. A caminhada do metro até em casa havia bastado para deixá-la molhada e gelada e era improvável que tivesse disposição para tomar banho, se trocar, enfrentar a chuva novamente e passar o resto da noite sorrindo e fingindo divertir-se. Mas a alternativa era ficar em casa pensando em Josh e fazendo força para não chorar. Talvez um chá a animasse. Bella preparou um chá de jasmim e desabou no sofá. Ainda
Projeto Revisoras estava tentando reunir energia para tomar um banho quando a campainha tocou. Quando olhou pelo olho-mágico e viu Josh, encolhido dentro de um casacão, seu coração disparou. Ele estava com os cabelos molhados e a chuva escorria pelo seu rosto. — Josh! — Ela abriu a porta apressada e puxou-o para dentro. — O que faz aqui? Você está ensopado! —- Eu precisava ver você. Josh ainda não pensara no que ia dizer. Simplesmente seguira seu instinto de ir até Bella. — Entre. — Ela ajudou-o a tirar o casaco e pendurou-o no encosto da cadeira da cozinha. — Sente-se. Eu vou pegar uma bebida. Você está precisando. Ele devia estar com uma aparência péssima, mas no momento em que desabou no sofá, Josh começou a se sentir melhor. Havia algo incrivelmente reconfortante naquela casa e sobretudo naquela cozinha grande, bagunçada e cheia de coisas. — Aqui. — Bella pôs um copo de uísque na mão dele e sentou-se no sofá de pernas cruzadas, virando-se para encará-lo. — Agora, conte-me o que aconteceu. — Aisling me deixou — disse Josh, um pouco surpreso com a facilidade com que dizia aquilo. — Deixou você? — Bella olhou-o, incrédula. — O que você quer dizer com deixou você! — Ela se foi. Não quer mais se casar comigo. Era quase um alívio ver que a notícia era tão inesperada para Bella quanto havia sido para ele. — Mas... por quê? Ela estava tão animada no outro dia. O único assunto dela era o casamento! — Ela estava tentando se convencer de que era o que queria — disse ele, tranqüilo. — Mas não era. Esse tempo todo ela estava apaixonada por outra pessoa. Bella meneou a cabeça, estupefata. — Quem é ele? Você o conhece? — O nome dele é Bryn. Eu não o conheço bem, mas ele é um dos principais executivos da CBC. Aisling já trabalhou lá e foi onde o conheceu. Ela me contou esta noite que os dois tiveram um tórrido romance por quase um ano e que é louca por ele. Só que ele é casado e apesar de ter falado em deixar a mulher, ficava sempre inventando desculpas, até que Aisling resolveu terminar tudo. Bella meneou a cabeça, sem dizer nada. — Ela estava louca para sair da CBC para não precisar vê-lo todo dia. Como eu já a conhecia por causa de um trabalho que tínhamos feito, convidei-a para trabalhar conosco e ela aceitou na hora. Ela me disse hoje que minha oferta havia caído do céu. — Não me impressiona que ela quisesse tanto trabalhar com você — disse Bella, seca. — Então, toda aquela história sobre querer um emprego com mais desafios, em uma empresa pequena era conversa? — Não exatamente. Ela gosta de trabalhar conosco, mas não pode afastar-se como
Projeto Revisoras imaginava — disse Josh. — Você sabe que estamos prestes a fechar aquele contrato com a CBC, não é? Se conseguirmos, vai ser muito por causa dos contatos de Aisling, e parte do trabalho dela agora envolve um contato regular com Bryn. Isso não tem sido fácil para ela. Bella não estava no espírito de ficar comovida com os problemas de Aisling. — Ora, Josh, parece até que você está com pena dela! — E estou, um pouco... Aisling tentou tudo o que pôde para esquecê-lo, mas não conseguiu. — Pois eu sentiria mais respeito por ela, se tivesse tentado fazer isso sem usar você — Bella afirmou, irritada. — Você fala como se ela fosse uma cínica. — Era irônico que coubesse a ele defender Aisling. — Não que ela não gostasse de mim, ela disse que gostava muito e pensou em recomeçar a vida comigo, mas não deu. Segundo ela, não era como estar com Bryn. — E o que a fez mudar de idéia? O que deflagrou essa crise? — Bryn ligou para ela ontem. Disse que estava se divorciando e que queria ficar com ela. Aisling disse que não seria justo se casar comigo, estando apaixonada por Bryn. Ela pediu desculpas — acrescentou Josh. — Quanta generosidade... — grunhiu Bella. — Ora, vamos lá, Bella. Pelo menos, ela foi honesta. Foi melhor ela ter me dito isso agora do que depois que estivéssemos casados. Quanto mais demorasse, pior seria. — E. Acho que sim... Me desculpe — murmurou, arrependida. — E que eu não acredito na sua calma. Aliás, não acredito em nada. Aisling parecia tão feliz com você. E... e vocês ficavam bem juntos. — Ficávamos? — Josh deu um gole no uísque. Estava mais quente, mais seco e ali, no sofá, com Bella, tudo parecia mais fácil. — É difícil de explicar. — Eu sinto muito, Josh — disse ela, baixinho. Josh deu de ombros. Ela sorriu. — Desculpe por jogar tudo em cima de você. — Eu já chorei muitas vezes no seu ombro — Bella comentou, pegando o copo dele para servir mais uma dose e recostando-se em seguida. — Como você está? — perguntou. — De verdade. — Acho que um pouco surpreso — ele admitiu, bebericando o uísque. Não poderia dizer a ela que a primeira coisa que havia sentido fora alívio. Só quando Aisling o desprezara ele havia percebido que fora como se um imenso fardo tivesse saído das suas costas. — Quando eu fui para casa esta noite, essa era a última coisa que imaginava ouvir — disse Josh. — Aisling passou a semana fazendo planos para o casamento, nós trabalhamos o dia inteiro juntos e ela pareceu absolutamente normal. Ela é muito boa em separar a vida profissional da pessoal. Bella não concordava. Pelo que sabia, Aisling sempre dava um jeito de acabar dormindo com o chefe e não havia nada menos profissional do que isso. Mas precisava ter cuidado com o que dizia. Josh estava bancando o corajoso, mas Bella achava que ele estava
Projeto Revisoras mais magoado do que parecia. Aquela atitude era típica dele. — E o que você disse? — perguntou ela. — O que eu poderia dizer? Se Aisling se sente assim sobre Bryn, não há por que ela ficar comigo. Bella lamentava por ele. Sonhara em ouvir que Aisling desistira do casamento, mas agora que o momento chegara, só conseguia pensar no sofrimento dele. Aquele não era o momento de atirar-se nos braços dele e dizer que o amaria para sempre. Ele estava triste e vulnerável e continuava apaixonado por Aisling. Não estava pronto para pensar em mais nada, em mais ninguém. — Talvez ela volte — confortou Bella. — Quando for morar com esse Bryn, pode descobrir que as coisas não são mais como antes. O romance acaba depressa quando você tem que lavar meias sujas ô brigar sobre quem perdeu a tampa da pasta de dentes. — Talvez — Josh falou, mas não parecia convencido. — Aisling é uma boba. Ela não sabe a sorte que tem. O que mais ela pode querer além de você? — Ela sabe o que quer e não sou eu. De repente, Josh colocou o copo sobre a mesinha e abraçou-a. — Desculpe, Bella. Eu sou um bobo. Você sabe como é isso. — Sei — disse ela, aninhando-se no ombro dele. — Sei exatamente. Tudo deveria estar perfeito. Ele estava livre, ela estava livre e os dois se abraçavam. O que mais poderia desejar? Se Bella abrisse os olhos, se erguesse um pouco o rosto, seria fácil beijá-lo. Mas não era tão fácil. Se não havia conseguido dizer a Josh o que sentia quando ele estava feliz com Aisling, agora seria bem mais difícil. Ele precisaria de apoio, de uma presença constante... Precisaria que Bella fosse o que sempre havia sido. Enquanto isso, era melhor que pensasse que ela continuava apaixonada por Will. Josh apertou-a com mais força. — Formamos uma dupla e tanto, não? — perguntou ele, tentando parecer animado. — Dois rejeitados! Qual é o problema conosco? — Qual é o problema com eles? — brincou ela e Josh beijou-a nos cabelos. — Que bom que você está aqui, Bella. — Eu sempre estarei perto de você, Josh. Bella recostou-se meio trêmula e pegou o copo, tentando manter a voz calma. — O que você vai fazer agora? — Nada — respondeu Josh, pegando o próprio copo. — Como vamos continuar trabalhando juntos, nós teremos que ser civilizados. — E ela vai continuar no emprego depois do que fez com você? — perguntou Bella, perplexa. — Eu não posso demiti-la porque ela não está apaixonada por mim — Josh falou, seco. — De qualquer forma, ela é muito boa no que faz e eu preciso dela para fechar o contrato
Projeto Revisoras com a CBC. Bella não conseguia acreditar que Aisling fosse tão importante. — Mas vai ser muito estranho, Josh! Todos no trabalho devem saber que vocês estavam morando juntos e planejando se casar. Josh deu de ombros. — Teremos de lidar com isso. Eu vou falar com os outros e pedir para não comentarem. De qualquer forma, nós vamos estar nas Ilhas Seychelles na semana que vem, todos vão poder fofocar à vontade e quanto voltarmos, teremos outros assuntos. Bella olhou-o, frustrada. Ele podia ser muito racional quando queria. Em vez de arrancar os cabelos ou de planejar vingança, estava fazendo planos comerciais! — Por que você não deixa Bryn ir em seu lugar para as Seychelles? Você pode até leválos ao aeroporto! — Eu não preciso dar o meu lugar — disse Josh. — Bryn vai de qualquer jeito. Ele é um dos gerentes de vendas mais bem-sucedidos da CBC e vai levar Aisling em vez da mulher dele. Ele mudou a passagem para o nome dela e já disse aos organizadores que Aisling vai estar no lugar da mulher dele. — Mas e você? — perguntou Bella, boquiaberta. — Se dissesse que estou ansioso, eu estaria mentindo. A última coisa que eu queria agora era passar uma semana preso em uma ilha, bajulando clientes potenciais. E não sou bom nisso, e é por isso que a presença de Aisling é importante. Mas se ela ainda fosse minha noiva, seria mais fácil manter as coisas num nível mais social. Como as coisas estão, eu vou aparecer lá sozinho e vai ficar evidente que fui apenas a trabalho. E era exata-mente essa impressão que a CBC não queria dar! — Mas, então, por que você não fica? — Eu preciso ir — falou ele, passando a mão nos cabelos. — A CBC insistiu em que eu fosse para fazer contatos e o contrato é importante demais para nós. É uma segurança de três ou quatro anos para todos os que trabalham comigo. Ele esvaziou o copo e colocou-o na mesa. — Eu farei o que for possível. E melhor ligar para a CBC amanhã logo cedo e dizer que eu não levarei a minha noiva. Assim, eles poderão cancelar a passagem e talvez me mudar de quarto. — A menos que você apenas mude o nome da sua noiva — disse Bella. Josh olhou-a, confuso. — O que você quer dizer? — Bem, Se Bryn conseguiu colocar o nome de Aisling na passagem da coitada da mulher dele, por que você não pode fazer o mesmo? — E por que eu faria isso? Aisling já tem passagem. — Eu não estava pensando nela — disse Bella, sorrindo. — Estava pensando em mim.
Projeto Revisoras CAPÍTULO V — Você? — inquiriu Josh com cuidado. — Eu detestaria desperdiçar uma passagem para as Ilhas Seychelles — Bella explicou. — Você pode não gostar da idéia de passar uma semana em uma praia tropical, mas faz anos que eu não tiro férias. Bella avançava aos poucos para não assustá-lo, mas estava louca para convencê-lo. Seria perfeito para os dois. — Eu poderia ir com você — prosseguiu ela. — Ando tão triste ultimamente, que não me arrisco a viajar sozinha. E se há essa chance de passar uma semana na praia, à custa de outra pessoa... — Você agüentaria? — E eu poderia ajudá-lo. Você disse que seria mais fácil se fosse acompanhado. Quem vai saber que eu não sou a noiva que você ia levar? — Para começar, Aisling e Bryn. — Depois do que eles fizeram com você, o mínimo que podem fazer é ficar calados. E as pessoas que você precisa impressionar não vão saber. Eu posso não ter os contatos de Aisling, mas sei conversar tão bem quanto ela. Talvez até melhor — acrescentou. Josh olhou-a, confuso. — Não parece certo, mas não consigo pensar em uma só razão para discordar. — Parece errado porque você vai estar comigo e não com Aisling. Mas a gente se dá tão bem, Josh. Vamos lá... Algumas vezes, quando saíamos juntos, as pessoas achavam que éramos um casal por causa da nossa linguagem corporal, lembra-se? — E se nós tivermos que dividir o quarto? — Eu não me importo — disse Bella, animada. — Até porque vai ser difícil ficar vendo Aisling e Bryn lá, Josh. Aliás, que porcaria de nome é esse? Parece que a mãe queria chamá-lo de Bryan e perdeu o a — Ela parou, notando que havia se perdido. — Onde eu estava? Josh riu. — Me convencendo sobre como seria difícil ir sozinho para as Ilhas Seychelles. Só que agora você estragou tudo. Eu nunca mais vou conseguir olhar para Bryn sem pensar em você! Bella sorriu, feliz ao ver um pouco de ânimo voltar ao rosto dele. — Vamos lá, Josh. Será mais fácil com um amigo por perto! — Isso depende do amigo — brincou ele. — Eu estarei lá para lhe dar apoio e se isso significar que terei de passar por sua noiva para manter as aparências, ótimo. E se por isso tivermos de dividir o quarto, eu não vou reclamar. Nos conhecemos bem demais para isso. — E se tivermos de dividir a cama? Bella hesitou, escolhendo as palavras com cuidado. — Nós sabemos como são as coisas, Josh. Sei que você está apaixonado por Aisling e
Projeto Revisoras você sabe sobre Will. Não há espaço para mal-entendidos no nosso caso, não é? Josh não sabia se era por causa dos dois uísques, mas a idéia dela estava começando a fazer sentido. Que mal poderia haver em dois velhos amigos dormirem na mesma cama? Especialmente quando estava tão claro que ela continuava apaixonada por Will! Como ela acabara de dizer, não havia espaço para mal-entendidos. Oferecer uma semana a Bella na praia seria uma forma de tirar algo de bom daquela confusão com Aisling. Josh não se importava que ela achasse que ele precisava de mais apoio do que necessitava de fato. Tinha de admitir que seria bom viajar com ela. Ela encantaria a todos, menos, talvez, Aisling e Bryn... e sua presença facilitaria as coisas. Ah, sim, havia muitas razões para levar Bella consigo, mas a principal delas era que a queria por perto. Ele havia tido muitas conversas sobre casamento nas últimas semanas. Seria divertido estar com Bella. — E então? — perguntou ela. — Então... vamos! — respondeu ele, sorrindo quando a viu pular de alegria. Era melhor Josh ter cuidado. Se abandonasse rápido demais o papel de noivo rejeitado, ela poderia achar que ele não precisava mais de apoio. — Acho que isso também facilitará as coisas para Aisling. Bella estreitou os olhos azuis. — Mas essa é a minha maior preocupação! — Sarcasmo, Bella? — É mais um serviço que podemos oferecer — ela afirmou, ainda mais sarcástica. — Francamente-, Josh. Ela acabou de rejeitá-lo. Eu sei que ela é importante para você, mas acho um pouco precipitado você se desdobrar para tornar as coisas mais fáceis para ela. Que tal um pouco de raiva ou amargura? Acho que seria bem mais saudável! — O problema é que eu não estou sentindo isso — Josh falou sabendo que, se estivesse mesmo apaixonado por Aisling, estaria exatamente como Bella desejava. — Você não ficou com raiva e nem amarga por causa de Will — comentou ele. — E não é por isso que não está sofrendo, certo? Bella pensou em responder mas mudou de idéia. — Você não espera que eu seja gentil com Aisling, não é? — perguntou ela. E Josh imaginou o que ela teria desistido de dizer. — Eu não sou tolerante como você. — Ora, Bella. Vamos apenas nos concentrar nos negócios, está bem? E claro que vai sobrar bastante tempo para você relaxar. Bella recostou-se no sofá e esticou as pernas, satisfeita. — Quando nós partimos? — Segunda-feira ao meio-dia — anunciou ele. — Eu virei buscá-la de manhã e nós iremos para Heathrow juntos. — Você diz isso porque teme que eu me atrase! — Eu sei que se dependesse de você, sairíamos cinco minutos antes da decolagem — disse Josh. — Eu não sei se agüento. Já que vamos fingir que somos noivos, por que você não finge ser uma pessoa normal e aparece na hora, só para variar?
Projeto Revisoras Bella mostrou a língua. Nunca havia perdido um avião. Era verdade que passara perto algumas vezes e que desistira de marcar seus trens antecipadamente, mas os aviões nunca saíam na hora mesmo! — Aposto que você vai querer sair na segunda-feira quando o sol raiar e chegar lá quatro horas antes, só por segurança — brincou ela. Bella examinou mentalmente o próprio armário. Fazia tanto tempo que não tirava férias de verão, que todas as suas roupas de calor estavam fora de moda. Teria de ir às compras no dia seguinte. Josh não entenderia, mas para enfrentar Aisling precisava estar bem preparada no quesito estilo. Nada óbvio demais, claro. Apenas o suficiente para Aisling achar que nunca estava com a roupa certa. Mas Josh estava pensando em aspectos mais práticos. — E o seu trabalho, Bella? Eles vão deixá-la sair avisando tão em cima da hora? Por que ele pensava naquilo? Havia tantas outras coisas mais importantes nas quais pensar. Relutante, Bella parou de pensar no guarda-roupa criado especialmente para incomodar Aisling. -— Mais tarde eu vou ligar para a casa da minha chefe. Ela não vai gostar, mas não estamos com muito trabalho e eu fiz tantas horas extras ultimamente que tenho direito a alguns dias de folga. É uma sorte que Louise seja tão romântica — confidenciou ela. — Se ela começar a implicar, eu direi que resolvemos nos casar de repente e que você está me levando para as Ilhas Seychelles para comemorar. Josh não parecia convencido. — Não diga a ela que nos conhecemos há quatorze anos — pediu ele. — Ah, eu não sei... — disse Bella. — Louise sabe que nos conhecemos há muito tempo. Eu vou apenas dizer que tudo mudou de repente e que fomos pegos de surpresa. Ela fez uma pequena pausa. — Você acha que ela vai acreditar? — perguntou Josh, seco. — Pode ser. Às vezes, as pessoas se apaixonam quando menos esperam. — Parece muito convincente vindo de você. Outro silêncio. Por alguma razão, o coração de Bella estava disparado. Não olhe para ele, pensou. Você vai bancar a boba. Mas uma força maior obrigou-a a olhá-lo e eles se encararam por um breve momento, antes de Bella desviar os olhos. — O mais importante é convencer Louise — redargüiu, trêmula. — E claro — ecoou Josh. — E o mais importante. Apesar de todos os seus esforços, Bella encontrou os olhos dele novamente. Dessa vez, a pausa foi mais longa. Ela gostaria de dizer algo para romper o silêncio, mas sua mente estava em branco e tudo o que ela conseguiu pensar foi em como ele estava perto e em como seria fácil tocá-lo. Girou a xícara nas mãos, como que fascinada, mas estava fortemente consciente da presença de Josh. No fim, foi Josh quem falou primeiro. — Tem certeza de que está tranqüila em fazer isso, Bella? — perguntou, incomodado com a intensidade do momento.
Projeto Revisoras — Ora, uma semana nas Ilhas Seychelles, vai ser um pouco chato, mas eu faço qualquer coisa por você! — É que quando Aisling falou no assunto, você não pareceu muito animada. — E porque ela não parava de falar nas atividades que vocês iam fazer juntos. Espero que não sejam obrigatórias — disse ela, preocupada. — Eu não vou ter de mergulhar, não é? Josh meneou a cabeça. — Se me amasse, você mergulharia — disse ele, solenemente. — Se pretende convencer as pessoas de que você é minha noiva, talvez devesse se esforçar para se envolver em algumas atividades. Apesar da expressão totalmente séria, Bella viu que ele estava brincando. Estava provocando-a! — Eu direi a todos que a nossa relação se baseia na atração de opostos — ela rebateu, com firmeza. — Aposto que eu não serei a única pessoa a sair correndo para a praia. Assim, se não fizer diferença para você, eu vou concentrar minhas ofensivas lá. Depois de alguns dias deitada, ouvindo os cocos caírem e me refrescando à brisa do oceano Indico, eu conseguirei ser boa companhia para qualquer pessoa. Até para Aisling! — Para onde você vai? — perguntou Kate quando Bella ligou na manhã seguinte. — Com quem. Impaciente, Bella explicou tudo de novo. Já havia dito tudo uma vez a Phoebe. Agora que estava acostumada à idéia, parecia uma solução tão óbvia, que ela não entendia por que os outros estranhavam. — Deixe-me entender... — Kate falou finalmente. — Você e Josh ficaram noivos sem nem falarem comigo e com Phoebe? — E só por um semana — disse Bella. — E é só fingimento. Não sei por que você está fazendo tanto escândalo. — Ela bufou. — Você e Finn fizeram exatamente a mesma coisa. — Sim, e veja o que aconteceu — brincou Kate. — Tenha cuidado, Bella. Fingir não é tão fácil quanto você imagina. — Eu sei — respondeu Bella, cujo principal problema não seria fingir que estava apaixonada por Josh, e sim fingir que não estava. — Também vai ser difícil para Josh. Ele está mal com o fim do noivado com Aisling e vai ser duro vê-la ao lado de outro. Nem mesmo um sujeito prático como Josh vai conseguir pensar direito numa situação dessas. — O que você está tentando dizer, Kate? — Tenha cuidado — disse ela, lentamente. — Eu sei que você e Josh são velhos amigos, mas vocês vão ser atirados numa situação muito íntima e as coisas não serão as mesmas. É fácil imaginá-los terminando juntos. — Eu pensei que você e Phoebe quisessem que terminássemos juntos — Bella comentou, fingindo brincar. — Só se for pelos motivos certos. Josh merece ser feliz e você também. Mais tarde, naquele dia, quando encontrou Josh para o almoço, Bella continuava
Projeto Revisoras pensando na mesma coisa. Kate tinha razão. Ela teria cuidado, mas estava tão excitada que mal podia esperar até a semana seguinte. Foi ótimo almoçar com Josh numa tarde de sábado, como nos velhos tempos. Os dois estavam bem-humorados e relaxados e foi como se a tensão da noite anterior nunca tivesse existido. Aliás, tão bem, que Bella teve de ficar se lembrando o tempo todo sobre Aisling. — Eu liguei para ela hoje de manhã — Josh falou. — E como foi? — perguntou Bella, antevendo momentos tensos. — Horrível? — Não. Foi tudo bem. — O próprio Josh estava surpreso com o quanto a situação parecera normal. — Eu a avisei que você ia no lugar dela e obtive a promessa de que ela e Bryn não diriam a ninguém que nós não somos um casal de verdade. Quanta generosidade, pensou Bella, irritada. — Se eles não disseram nada, será fácil convencer os outros — prosseguiu Josh. — Se você tiver um anel pára desfilar, ninguém vai desconfiar. Bella baixou os olhos para os próprios dedos. Tinha um anel de prata na mão direita, mas nada que pudesse passar por um anel de noivado. Precisava de uma pedra preciosa. Talvez falsa. Era improvável que os outros percebessem a diferença. Ela fez uma revisão mental das suas jóias. Tinha belos brincos e vários colares, mas poucos anéis. — Eu não sei se tenho algo adequado — disse, em dúvida. — Eu comprarei um. — Olhando para o relógio, Josh esvaziou o copo e se levantou. — Venha, vamos fazer isso agora! — Você não pode me comprar um anel. — Por que não? — Bem... não parece certo — argumentou Bella, levantando-se com cuidado e aninhando-se no casaco. — E não é mesmo preciso. Por que eu não uso o anel que você comprou para Aisling? — perguntou ela, lembrando-se da belíssima jóia que vira no jantar. — Eu a deixei ficar com ele. — E ela ficou? — Bella estava indignada. — O que eu ia fazer com ele? — perguntou Josh, irritante-mente racional como sempre. — Poderia ter devolvido na loja! Ele segurou a porta do restaurante para ela. — Isso teria sido meio desagradável, não? — É claro que não! — exclamou Bella, estremecendo quando saíram. De repente, as Ilhas Seychelles pareciam ainda mais atraentes. — Não acredito que Aisling teve a carade-pau de ficar com o anel depois do que fez com você! Deve ter custado uma fortuna! Ah, você é cavalheiro demais para o meu gosto, Josh. — Acho que se ela tivesse atirado o anel na minha cara, teria sido pior. Além disso, Aisling adorou o anel. E se ela queria guardar alguma lembrança minha, eu não me incomodo. Era melhor fechar a boca sobre Aisling, pensou Bella, lembrando-se do que Kate havia
Projeto Revisoras dito. Só porque Josh não parecia estar sofrendo, o anel não deixava de ser um ponto delicado. Talvez ele tivesse esperança de que ela voltasse para um homem tão generoso. — É que eu acho um desperdício de dinheiro comprar um anel para mim — Bella obrigou-se a dizer, tentando afastar o assunto de Aisling. — Nós não vamos ter nenhuma outra despesa no resto da semana — comentou Josh. — A CBC cobre até as despesas com bebidas, de forma que isso será uma despesa justificável. Se isso ajudar a conseguir aquele contrato, talvez eu até possa deduzir do imposto de renda! Olhe, foi ali que eu comprei o anel de Aisling — disse ele, arrastando uma Bella relutante para o outro lado da rua. — Nós não podemos entrar lá — protestou ela, olhando a vitrine discreta da joalheria. Não havia preços à mostra, o que era sempre um mau sinal, e o lugar parecia extremamente elegante. E muito caro. Josh não parecia nem um pouco intimidado. — Por que não? — Para começar, eles podem se lembrar de que você comprou o anel de Aisling. — Não se preocupe com isso. — Enquanto falava, Josh conduziu-a na direção da porta da joalheria. — Vamos lá, Bella, eles devem ter montes de clientes e já faz um mês que eu estive aqui com Aisling. E impossível que se lembrem de mim. — Boa tarde, senhor — saudou um atendente atrás de uma mesa. — É um prazer vê-lo novamente. O que podemos fazer pelo senhor, hoje? — Está vendo? — sussurrou Bella, voltando-se para a porta. Mas Josh segurou-a com firmeza e forçou-a a prosseguir. Ele não parecia nem um pouco incomodado por ter sido reconhecido. — Gostaríamos de ver anéis de noivado, por favor — disse ele, tranquilamente. O atendente assentiu sem hesitar. — Certamente. O senhor tem algo específico em mente? Diamantes, talvez? Ou esmeraldas? — Esmeraldas, não! Elas não me dão sorte — interveio Josh, percebendo a referência ao anel de Aisling. — Eu comprei esmeraldas da última vez — comentou, tranqüilo, sorrindo e perfeitamente seguro. — Esta senhorita é muito diferente — afirmou, puxando uma Bella fortemente corada para a frente. — Você teria belas safiras? — Ele deve estar imaginando o que diabos você está aprontando — murmurou ela, quando o atendente foi buscar as jóias. — Deixe que pense — respondeu Josh. — Não é da conta dele quantos anéis eu compro ou para quem. Se ele achar que eu vou voltar com freqüência, pode até me oferecer um desconto especial! Quando a bandeja com os anéis chegou, Bella ficou encantada com as opções. Gostaria que pelo menos houvesse preços para que pudesse escolher o mais barato. — Não escolha o menor — disse Josh, lendo os pensamentos dela. — Vai me fazer parecer mesquinho. Escolha um que você realmente goste.
Projeto Revisoras — Eu não sei... — Bella estava insegura. Josh, então, escolheu um magnífico anel de safira com diamantes em volta. — Aqui. Experimente esse — disse ele, estendendo a mão. — Você gosta? — perguntou, sem soltar a mão dela. — É maravilhoso — ela respondeu, envergonhada. — Mas tenho certeza de que é caro demais. — Pare de se preocupar com isso — pediu ele, exasperado. — Se preferir, você poderá devolvê-lo no final da semana e eu o devolverei à loja. Ela não ia se sentir melhor, mas não podia dizer a ele. — Está bem. — Ótimo. Agora, relaxe e aproveite — disse ele, escolhendo outro anel. — Agora, prove este. Acabaram optando por um anel simples de safiras e diamantes lapidados em formato quadrado, que cabia perfeitamente no dedo de Bella. Ela admirou a jóia. Nunca usara nada parecido antes. A peça fazia o resto das suas jóias parecerem bijuterias baratas, mas agora que estava com o anel no dedo, ela não sabia se seria capaz de devolvê-lo. Mas se preocuparia com aquilo depois. Por enquanto, Josh estava ao seu lado e havia uma semana toda com ele pela frente. Com ele e com o anel. Quando Josh voltou após o pagamento, ela sorriu. — E lindo — disse. Não fazia a menor idéia do quanto ele havia pago, mas certamente não fora pouco. — Eu vou tomar conta — prometeu Bella, antes que ele recomendasse a ela para não perder. — Faça isso — Josh falou, sorrindo. — Obrigada, querido! — exclamou Bella, olhando significativamente para o atendente. Então, sem que Josh esperasse, ela o abraçou e sorriu, sedutora. — Eu agradecerei direito quando formos para casa. Isso é só para começar... Originalmente, Bella pensara em apenas dar um beijo no canto da boca de Josh. Mas agora que estava diante dele, com os braços em volta do seu pescoço e uma boa desculpa nas mãos, seria um desperdício perder a oportunidade. Se queria que o atendente admirasse e invejasse Josh, um beijo no rosto não era o bastante. De qualquer forma, parecia que os lábios de Bella tinham vontade própria. Assim que tocaram o rosto, eles foram atraídos para a boca de Josh e pousaram no melhor lugar do mundo. E apesar de estar beijando Josh de uma forma que nunca havia feito antes, aquilo não parecia errado ou estranho. Parecia perfeitamente normal. Bella sentiu Josh segurá-la pela cintura e puxá-la para si. Depois de um primeiro momento de estranheza, ele evidentemente decidira se deixar levar e fazer perguntas depois. O problema era que depois de ter começado o beijo, Bella não sabia como terminá-lo. Pior, ela não queria. Com um esforço sobre-humano, conseguiu afastar os lábios por uma fração de segundo, antes de sucumbir ao desejo de mais um beijo e quando tentou novamente, foi Josh
Projeto Revisoras quem segurou-a com força, impedindo-a de romper o contato. Era como se os beijos de ambos tivessem vontade própria, como se a doçura inicial tivesse dado lugar a algo mais perigoso, algo quase assustador que se alojou na base da espinha de Bella. Josh deve ter sentido a mesma coisa porque foi ele quem, finalmente, rompeu o contato. Olharam-se abalados por um longo momento, até que Josh conseguiu se recompor e disse: — Acho que é melhor irmos. Ele virou-se para agradecer o atendente, que arrumava os anéis na bandeja, com um sorriso discreto nos lábios. Enquanto isso, Bella tentava se recompor. Ela sempre havia achado que a expressão pernas bambas era um clichê, mas de repente entendeu exatamente o que significava. E não eram só as pernas. Seu corpo inteiro parecia estar derretendo e ela pensou o que teria de fazer para sair dali sem ajuda. Como que ouvindo seus pensamentos, Josh pegou-a pelo braço e conduziu-a até a porta. Assim que saíram, ele soltou-a abruptamente. CAPITULO VI — Você pode me contar o que foi isso? — perguntou ele. E Bella percebeu, ressentida, que ele estava perfeitamente controlado mais uma vez. O que era mais do que se poderia dizer sobre ela. — Eu só estava tentando valorizar a sua imagem. — Mas a voz dela saiu fina e engraçada. Bella contou a Josh seu plano para impressionar o atendente, mas naquele momento, tudo pareceu ainda mais idiota e quando ela finalmente acabou, ofegante e constrangida, Josh estava meneando a cabeça, incrédulo. — Não quero que você pense que eu não gostei da idéia — ele falou, seco. — Mas eu já tinha dito a verdade a ele. — Você fez, o quê? — perguntou Bella, perplexa. — Por quê? — Imagino que ele estivesse pensando o que estava havendo e eu não queria que acreditasse que eu estava tirando vantagem de você. Foi a vez de Bella ficar exasperada. — Isso é típico de você, Josh! Eu faço o maior esforço para melhorar a sua imagem com as pessoas e você joga a chance no lixo! — reclamou Bella, lembrando-se do sorriso do atendente quando Josh abrira a porta. — Ele deve ter pensado que eu era uma idiota completa, beijando-o daquele jeito! Josh começou a rir. — Eu devo ser o cliente favorito dele. Não só compro anéis extremamente caros, como ele também se diverte! Que humilhante! Bella tentou ficar ofendida, mas depois de um momento desistiu e riu também. Talvez fosse melhor tratar a coisa toda como piada. Era tão bom voltar a rir com
Projeto Revisoras Josh e relaxar da tensão depois daquele beijo. Teria de ser mais cuidadosa dali para a frente, pensou ela. Provavelmente revelara mais do que pretendia naquele beijo. A última coisa que queria que Josh pensasse era que estava tentando tomar o lugar de Aisling. Não queria que ele se relacionasse com ela só por achar que ela era fácil ou que estava disponível. Não, pensou Bella. Queria ser muito mais para ele. Queria que ele a amasse e desejasse e achasse que ela era a única pessoa que podia tornar sua vida completa. Que reconhecesse, como ela havia feito, que a pessoa certa estava bem na sua frente, aquele tempo todo. Mas Josh precisava perceber isso por conta própria. E enquanto não percebesse, ela teria que ser muito paciente. E, como Kate dissera, cuidadosa. — Você sabe que vamos passar só uma semana fora? — perguntou Josh ao ver o tamanho da mala de Bella na segunda-feira de manhã. — E você sabe que vamos passar mais do que cinco minutos? — brincou ela, ao ver a pequena valise dele. — Ora, crianças, não briguem! — exclamou Phoebe, fechando a porta do carro. Ela havia se oferecido para levá-los ao aeroporto em seu caminho para uma entrevista em Devon. Quando chegaram, ela deu um abraço em Josh e um beijo em Bella. — Divirtam-se, vocês dois — disse ela. — Vamos torcer para que vocês sigam a tradição e que esse noivado de mentira também vire um noivado de verdade. Aí, quando vocês voltarem, poderão dar outra festa. — Não há perigo disso — disse Josh com leveza, apontando para a sua minúscula valise e para a grande mala de Bella. — É só ver o quanto nós dois achamos que é essencial para uma semana, para saber que somos totalmente incompatíveis. — Amor é mais que bagagem, Josh — lembrou Phoebe, piscando para Bella e partindo em seguida. — Acho que ainda vamos ouvir muito com essa história — comentou Josh, com cuidado. — Eu temo que sim. — Bella suspirou. — Eu nunca deveria ter dito a Kate e a Phoebe que iria com você no lugar de Aisling. Agora, elas cismaram que nós vamos acabar casados como aconteceu com elas. — Um vento cortante de novembro soprava sem dó e Bella teve que segurar os cabelos para olhar para ele. — É claro que eu lhes disse que isso é ridículo, mas você sabe como elas são. Ainda bem que você lembrou-a de que somos incompatíveis — acrescentou, casualmente. — Mas acho que não fez muito efeito em Phoebe — disse Josh, divertido. — Bem, quando voltarmos daqui a uma semana e as coisas continuarem exatamente como eram antes, elas vão perceber a verdade. — Certo — disse Josh. O único problema era que ele não se lembrava de como as coisas haviam sido antes de Bella beijá-lo no sábado. Como poderia lembrar depois que passasse uma semana dormindo ao lado dela? O pensamento fez algo dentro dele se contorcer. Seria melhor que Bella não o tivesse beijado.
Projeto Revisoras Josh não estava preparado para a própria reação quando os lábios se tocaram e apesar de saber que era melhor tratar tudo de maneira leve, não conseguiu se conter. Teria que tentar, disse a si mesmo. Bella havia rido da situação e deixara claro que não pretendera levar o beijo a sério. Afinal, aquela era a sua Bella e não uma estranha misteriosa e sedutora. Ele olhou-a novamente, encolhida por causa do frio e não teve dúvidas. Era a sua Bella. Ela continuava elegante como sempre, mas usava um vestido impróprio para uma viagem. Era um modelo tão justo e curto que dava a impressão de que ia rasgar no momento em que ela se sentasse. Para aquecer-se, tinha apenas um casaquinho e nos pés, de unhas perfeitamente pintadas, calçava apenas sandálias de tiras finas e salto alto. Aisling jamais entraria num avião com sapatos daqueles. Depois que seus pés inchassem durante o vôo, era pouco provável que Bella conseguisse enfiar os pés naquelas tiras finíssimas novamente, sem sair mancando. Ainda assim, era evidente que ela daria conta do recado. Talvez não estivesse adequadamente vestida, mas continuava belíssima, com suas pernas longas, sorriso quente e grandes olhos azuis, emoldurados por cílios longos. Josh desviou o olhar. Ela própria havia dito que "não havia espaço para mal-entendidos". E não haveria, pensou Josh, sério. — Venha — pediu ele, vendo-a estremecer. — Vamos fazer o check-in. — Josh pegou a mala dela, mas soltou-a no mesmo instante por causa do peso. — Pelo amor de Deus, Bella! O que você tem aqui? — Só umas poucas coisas essenciais — respondeu ela, descontraída. — Mas você vai passar o tempo todo na praia! Quantas roupas pode precisar? — Não são apenas roupas — Bella começou a explicar, caminhando com suas sandálias absurdas. — É preciso tomar muito cuidado com o sol hoje em dia. Os raios ultravioleta são perigosos e por isso eu trouxe vários tipos de protetores e loções após sol. Isso, sem falar no que trouxe para os cabelos: eu tenho uma loção protetora para pôr quando for entrar no mar e outra para usar durante o banho... Ela continuou falando, enquanto eles esperavam na fila para fazer o check-in, mas Josh estava tendo muita dificuldade para se concentrar. — Mas chega disso — disse Bella, jogando os cabelos para trás e tocando-o no braço. — Como você está, Josh? Como ele estava? Assustado com a sensação provocada pelo toque dela, perturbado pelas lembranças do beijo e culpado pelos caminhos que suas idéias estavam tomando. — Ótimo — resmungou, meio rouco. — Eu sabia que você ia dizer isso. Mas eu quero saber como está se sentindo de verdade. Está com medo de encontrar Aisling e Bryan, ou Bryn, ou qualquer que seja o nome dele? Aisling, claro, pensou Josh. Ela seria a desculpa perfeita para a sua distração naquela manhã. — Não posso dizer que esteja ansioso. — Eu sei que vai ser duro — Bella consolou, pegando a mão dele e olhando-o com
Projeto Revisoras compaixão. — Mas não se esqueça que eu estou aqui para isso. — Obrigado — ele falou, com um nó na garganta. — Você é uma excelente amiga, Bella. — E sempre serei — respondeu ela, com o sorriso oscilando um pouco. Foi um alívio quando chegaram ao balcão e Josh finalmente pôde soltar a mão dela. Tinha a estranha sensação de que, se fosse de outra forma, não a soltaria nunca. Tinha de se controlar, disse a si mesmo, aflito. Ele não era especialista em lidar com situações difíceis? Mas era muito mais fácil socorrer um colega que havia caído numa fenda na montanha ou que pegara uma infecção na selva. Até ganhar o contrato com a CBC era fácil em comparação com aquela perturbação provocada por uma grande amiga. Josh não gostava de perder o controle. Aturdido, ele entregou o cartão de embarque a Bella. — E melhor irmos procurar os outros — disse, pigarreando. — Eles devem estar no bar. Foi Bella quem avistou Aisling primeiro. Ela cutucou Josh levemente e ergueu o queixo, preparando-se para o confronto. — Você prometeu que seria boazinha — lembrou ele. — Lembre-se de que temos um contrato para conquistar. — E claro — Bella respondeu suavemente, mas Josh não confiou muito naquele sorriso. Ele estava tão preocupado com a atitude de Bella que e, quando encontrou a mulher com quem acabara de desmanchar o casamento, não sabia nem o que dizer. Percebeu, surpreso, que não estava sentindo absolutamente nada. — Olá — disse ele, beijando-a no rosto. — Você está ótima. Era verdade. Ele nunca a vira tão bonita antes. Aisling estava reluzindo de felicidade. Bastaria olhar para ela para saber que havia tomado a decisão certa deixando-o. Bryn a deixava feliz de um jeito que Josh nunca conseguira. Como imaginara, ela estava muito mais bem vestida, de calça caqui, uma camisa bege clara e mocassins que pareciam elegantes e práticos ao mesmo tempo. — Olá, Josh — cumprimentou ela, baixando a voz para que ninguém mais pudesse ouvilos. — Como você está? Josh estava começando a ficar um pouco cansado daquela pergunta. — Estou bem — disse, novamente, apesar de duvidar que Aisling, a exemplo de Bella, fosse acreditar. A verdade era que estava mesmo bem. Por que elas não podiam aceitar aquilo? — Você se lembra de Bella, não é? — Olá, Aisling — disse Bella, numa voz gelada. Aisling respondeu com a mesma frieza, acrescentando: — Parabéns — disse, para que todos pudessem ouvir. — Eu soube que você e Josh ficaram noivos. Que romance relâmpago! — Não. É que precisamos de catorze anos para descobrir o quanto nos amamos — disse Bella, encarando-a com firmeza. — Ainda bem que perceberam a tempo de poderem fazer essa viagem para as Seychelles — acrescentou Aisling. Josh se contraiu, mas Bella conseguiu manter o sorriso pouco sincero.
Projeto Revisoras — Não foi mesmo? — disse, docemente. — Você nem imagina o quanto estou animada! Ela virou-se para o homem ao lado de Aisling. Ele era alto, dono de uma beleza clássica e parecia excepcionalmente feliz consigo mesmo, conforme Josh observou. Era precisamente o tipo de Bella. Ele ficou observando-a, ansioso, mas ela apenas apertou a mão de Bryn com um sorriso frio. — Aposto o que você quiser como a intenção original era chamá-lo de Bryan — disse ela, baixinho, ao mesmo tempo que se virava para cumprimentar os outros. — Seja boazinha — disse Josh, escondendo a repreensão sob um sorriso. Havia dezesseis pessoas reunidas no bar, e apesar dos funcionários da CBC se conhecerem, seus acompanhantes não se conheciam e a conversa começara timidamente. As coisas se animaram quando Bella uniu-se ao grupo. Ela sempre tivera habilidade em animar as coisas e em pouco tempo, todos estavam rindo e à vontade. Josh encontrou cadeiras para eles longe de Aisling e Bryn, que estavam conversando com o principal executivo da CBC e sua acompanhante, e começou a relaxar. Mas a tranqüilidade só durou até perceber que Bella olhava insistentemente para Bryn por baixo dos seus cílios longos. Irritado com a possibilidade de ela estar achando Bryn atraente, Josh pressionou: — Por que você fica olhando para Bryn? Bella inclinou-se. — Estou imaginando como ele seria se tivesse personalidade — confidenciou ela, para imenso alívio de Josh. — Ele é completamente insosso — prosseguiu, voltando-se para examinar Bryn. — Eu não entendo como Aisling pôde se interessar por alguém como ele. — Ela está apaixonada — disse Josh, tentando ser justo. — Isso é óbvio. Ela está nas nuvens e sem dúvida é por causa dele. Eu só não entendo o porquê disso tudo — concordou Bella. Josh seguiu o olhar dela. Agora que sabia que Bella não estava interessada, podia examinar o outro homem objetivamente. — Ele é muito bem-apessoado. — Eu creio que sim — Bella murmurou, pouco convencida e Josh olhou-a, surpreso. — Eu diria que ele é exatamente o seu tipo. — É mesmo? — perguntou ela, impressionada. — Ele tem aquele jeito convencido e satisfeito que você parece adorar — disse Josh, incapaz de resistir. — Você tem de admitir que ele se parece um pouco com Will, que se parecia com todos os seus outros namorados. Bella encarou Bryn francamente. — Eu não acho que ele se pareça nada com Will — disparou ela. — Não mesmo. Josh não acreditava que aquilo fosse um demérito para Will, mas só então se lembrou que Bella continuava apaixonada por ele. Teria de ter mais tato. — Então, Bryn não é seu tipo? — perguntou ele com leveza. Bella virou-se para olhá-lo diretamente, os olhos azuis surpreendentemente sérios. — Não. Nem um pouco.
Projeto Revisoras — Ótimo — respondeu ele, num tom de voz estranho. Se Josh não fosse do tipo saudável, que nunca ficava doente, acharia que estava pegando uma gripe. Devia estar mais cansado do que imaginava. — Que lindo anel — elogiou uma moça sentada ao lado de Bella. — Ah, muito obrigada — disse ela, virando-se para conversar. Josh já a vira antes na CBC. Como era mesmo o nome dela? Sue? Sarah? Não. Sally. — É lindo — comentou Sally. — Vocês estão noivos há muito tempo? — Pelo contrário — respondeu Bella. — Na verdade, desde sexta-feira passada. — Ah, que romântico... — Não é? Nós nos conhecemos há muito tempo. Então, não se pode dizer que tenhamos nos apressado. — E por que vocês resolveram se casar agora? Bella olhou para Josh e sorriu. — É engraçado — disse, lentamente. — Um dia eu olhei para ele e soube que queria passar o resto da vida ao seu lado e que ser amigos não era mais suficiente. Sally sorriu. — E Josh se sente da mesma forma? — Ah, isso você vai ter de perguntar a ele. Ela era muito convincente, pensou Josh, amargo. Assim, foi quase um alívio quando Aisling se mudou para uma cadeira perto dele e tirou-o daquele círculo. — Eu queria lhe agradecer por ter aceito tudo tão bem — ela falou, discretamente. — Se quisesse, você poderia ter tornado as coisas muito difíceis para mim e para Bryn, — Eu não teria motivos para isso — Josh aparteou, com sinceridade. Era difícil acreditar que aquela era a mulher com quem havia dormido e com quem planejara passar o resto da vida. — Afinal, nós continuamos trabalhando juntos — comentou ele. — E eu quero que nos concentremos em ganhar esse contrato. Não é só o seu trabalho que depende disso. Aisling pareceu um pouco assombrada com aquela atitude tão racional. Certamente, achara que ele fosse estar arrasado com a rejeição. — Quero que saiba que eu nunca pretendi magoá-lo... -— Não se preocupe — disse Josh friamente. — Fico satisfeito por você estar feliz. — Estou. E espero que você também fique. Sem querer, Josh olhou para Bella, profundamente envolvida na sua conversa com Sally, parecendo ter se esquecido dele. Aisling seguiu seu olhar. — Teria sido um terrível engano se nos casássemos, Josh. Bella estaria sempre entre nós. — Bella não é assim — protestou ele, furioso. — Talvez não. Mas teria ficado entre nós do mesmo jeito — Aisling teimou. — Eu nem
Projeto Revisoras fiquei surpresa quando você me contou que a traria em meu lugar. Eu sempre achei que você estava muito mais apaixonado por ela do que queria admitir. Foi como se Josh tivesse levado um soco no estômago. — Pare de falar bobagens! Bella e eu somos apenas bons amigos. Sempre fomos e sempre seremos. Você nos viu juntos, Aisling. Sabe que não há mais nada entre nós. Aisling sorriu e se levantou. — Não mesmo? Josh olhou-a se afastar. Apaixonado? Por Bella? Não, não poderia estar. Aisling não sabia o que estava dizendo. Ele amava Bella como amava sua irmã. Exceto que não sabia quando a sua irmã entrava na sala só de sentir o seu perfume. E nem conseguia fechar os olhos e visualizar sua irmã nos mínimos detalhes. E, por mais que gostasse dela, nunca se sentira melhor só por saber que sua irmã estava por perto. Como se sentia com Bella. Oh, não! Estava apaixonado por ela! — O que Aisling queria? — perguntou Bella, aproximando-se e interrompendo os pensamentos de Josh. — Ela só... Só queria arrasar a vida dele. Atirar todas as suas certezas pela janela. — Ela só queria me agradecer — disse ele. — Pelo quê? — Por entender o que ela sentia por Bryn. Ela disse que era grata. — E deve ser mesmo — disparou Bella, lembrando-se do anel de esmeralda que Aisling continuava ostentando. Pelo menos, ela tivera a decência de passá-lo para a outra mão. -— Ela disse mais alguma coisa? — pressionou Bella, lembrando-se de como Josh parecera chocado quando Aisling se afastara. — Só que achava que o nosso casamento teria sido um erro terrível. — Ela diria mesmo isso, não é? Pois acredite: ela não é a única que pensa assim — Bella disparou. — Eu estava justamente conversando com Sally. Ela disse que trabalhou com você algumas vezes e que gosta muito de você, mas que nunca gostou de Aisling quando ela trabalhou na CBC. Ela me disse que ouviu boatos de que vocês dois estavam juntos e que ficou feliz por saber que não era verdade. — E o que você disse? Foi a vez de Bella hesitar. — Bem, eu achei que era melhor ela achar que havia sido um mal-entendido. Assim, disse que você era meu e que sempre havia sido. Bella riu para mostrar que estava brincando, mas então cometeu o erro de olhar novamente nos olhos dele. A expressão de desespero que viu quase fez seu coração parar de bater. Ela nunca vira Josh daquele jeito. — Você está bem? — Estou. — Ele meneou a cabeça como que para clarear as idéias. — Foi só uma coisa que Aisling disse... — Josh calou-se, incapaz de continuar.
Projeto Revisoras — Eu sinto muito — disse ela, arrependida por não ter sido mais sensível. — Não é sua culpa — tranquilizou-a, com a mesma expressão estranha. — Vai ficar tudo bem, Josh — Bella falou, penalizada. — Será? O hotel ficava na beira de uma encosta coberta de vegetação abundante, debruçado para uma praia de areia branca, banhada pelo oceano Indico. As árvores eram de um verdeclaro magnífico e o mar, incrivelmente azul. Bella mal podia acreditar em seus olhos. Depois de sair de Londres em pleno mês de novembro, era até difícil de acreditar. O ônibus vindo do aeroporto deixou-os em um lobby fresco, decorado com móveis tropicais de madeira clara, aberto de ambos os lados para receber a brisa do mar. Foram recebidos por uma representante da CBC que se apresentou como Cassandra o que fez uma chamada informal para ver se estavam todos lá. — Josh Kingston... — chamou ela, fazendo uma marca na lista. — Kingston, Kingston. Ah, aí estão vocês. Esta é a sua mulher? — perguntou ela, sorrindo para Bella. — Minha noiva — Josh apresentou, breve. — Bella Stevenson. Cassandra baixou os olhos para o anel de Bella. — Que lindo! — disse, estendendo o próprio anel para Bella ver. — Eu vou me casar no ano que vem. Precisamos combinar de trocar endereços de noivas! Não havia nada que Bella quisesse fazer menos, mas sorriu, educada. — Nós ainda não estamos pensando em casamento. Mal acabamos de ficar noivos. — Ah, mas eu vou lhe dar muitas idéias — prometeu Cassandra. — Também tenho umas revistas. Você poderá olhá-las na praia. O que Bella poderia dizer? Que não ia precisar de revistas de noivas? — Seria ótimo — agradeceu. -— Vocês vão adorar o quarto — disse Cassandra, animada. — E tão romântico! Era mesmo, ou seria, sob circunstâncias diferentes. Se Josh não estivesse sofrendo por Aisling, por exemplo, pensou Bella. Os móveis eram de madeira clara, os estofados, de algodão macio e havia portas corrediças que davam para uma varanda e de lá, para a praia. Mas a primeira coisa que ela reparou foi na grande cama, com pequenos buquês de flores tropicais enfeitando os travesseiros. — Que coisa maravilhosa, Josh! Parece que estou sonhando. — Ele não respondeu e quando Bella olhou-o, viu a mesma expressão preocupada em seu rosto. Aisling. Ele estava sofrendo, pensou. Determinada a tornar as coisas mais leves para ele, Bella sentou-se na imensa cama e deu um tapinha, convidando-o. Josh sentou-se ao lado dela em silêncio e pegou um folheto que havia na cabeceira. Aquilo ia ser mais difícil que ela pensava, concluiu Bella, olhando os ombros fortes dele.
Projeto Revisoras Devia ter cochilado porque quando acordou, estava com a cabeça recostada no ombro dele. Josh, por seu lado, estava acordado e tenso, com os olhos fixos na parede oposta e os lábios contraídos. O que quer que Aisling tivesse dito, o tocara fundo. Teria que dar tempo para ele lidar com a perda. Só não sabia como iria dormir ao lado dele aquela noite. Ela suspirou. Lidaria com o problema quando chegasse a hora. Não adiantava ficar desejando que ele quisesse estar com ela, ou imaginando como seria se fossem amantes e que cairiam na cama, se beijando, assim que a porta fosse fechada, despindo-se e fazendo amor ao som do oceano que banhava a praia, abaixo da varanda. Por enquanto, era melhor deixá-lo em paz.
CAPITULO VII Josh mal olhara para a cama. Ele havia aberto as portas corrediças, estava olhando o mar por entre os coqueiros e algo na posição de seus ombros trouxe um aperto à garganta de Bella. Ela não agüentava vê-lo tão infeliz. Em silêncio, foi até ele e os dois ficaram olhando a paisagem. — É bonito, não? — perguntou ela, finalmente. — Quer ir nadar um pouco? — Agora não. Acho que prefiro um banho de chuveiro. — Está bem -— ela falou, desapontada. — Acho que eu vou. Era quase como se Josh a estivesse evitando deliberadamente. Enquanto colocava o biquíni e passava filtro solar, Bella disse a si mesma que era besteira ficar magoada. Pela primeira vez na vida, sentiu-se intensamente consciente do próprio corpo. Josh já a vira de biquíni dezenas de vezes e no passado, ela não teria hesitado nem por um minuto em passar por ele a caminho da praia. Mas aquilo era antes e agora tudo parecia diferente. Bella vasculhou a mala até achar uma saída de praia e amarrou-a firmemente em volta do busto antes de voltar para a varanda. — Então, até mais tarde — disse, o mais casualmente que pôde. — Está bem. — A voz de Josh estava tensa. Ele ficou observando-a desaparecer pela areia branca por entre os coqueiros e reaparecer alguns momentos depois em uma clareira, mais adiante. Ela havia soltado a canga e caminhava só de biquíni rumo ao mar. Josh baixou os olhos para as próprias mãos. Estavam tremendo. Como sobreviveria àquela semana? Era tudo culpa de Aisling. Se ela tivesse ficado de boca fechada, ele teria seguido em frente como sempre fizera, confuso e incomodado com a intensidade da nova percepção física que desenvolvera por Bella, mas capaz de dizer a si mesmo que só estava aborrecido com a rejeição de Aisling e impedido de raciocinar direito. Agora, não podia mais fazer isso. Estava tudo claro. Era evidente que estava apaixonado por Bella e que talvez sempre tivesse estado. Enquanto conseguira convencer a si mesmo de que a amava como amiga, tudo havia ficado bem, mas agora que a verdade
Projeto Revisoras fora exposta, não havia mais como negar: não era só amor que sentia por Bella. Ele precisava dela, a desejava, suas mãos tremiam para tocá-la, tomá-la e fazê-la sua. Só que Josh não podia se permitir sequer pensar no assunto. Bella havia deixado muito claro que estava ali para apoiá-lo como amiga. Não era certo tirar vantagem dela, especialmente sabendo o que ela ainda sentia por Will. E mesmo que pudesse dizer que a amava, que motivos Bella teria para acreditar? Ela o julgaria volúvel por ser capaz de estar noivo de uma mulher na sexta-feira e apaixonado por outra na segunda. Se Aisling não tivesse concluído que seu amor por Bryn era forte demais para resistir, Josh teria se casado com ela. Ou não? O noivado de ambos sempre tivera um quê de irrealidade. Quando Aisling sugerira que se casassem, a idéia fizera todo sentido. Agora, Josh estava vendo que tudo não passara de um ato de desespero de Aisling para tentar superar Bryn, mas a forma como as coisas haviam saído de controle era alarmante. Josh não guardava ressentimentos. Estava satisfeito pelas coisas terem vindo à tona antes que fosse tarde demais. E agora ele não conseguia pensar em mais nada a não ser em Bella, na forma como ela sorria e andava, no calor suave do seu corpo, na textura suave da pele, no brilho dos sedosos cabelos loiros, na vivacidade dos olhos, na risada contagiante e no aroma que enchia o ar mesmo depois que ela havia saído. Josh precisara de muita força de vontade para não passar o braço em torno dela quando Bella dormira no avião e sofrera ainda mais para ficar ali e deixá-la passar por ele naquela canga sugestiva que implorava para ser aberta. Ela a beijaria e a puxaria de volta para o quarto e para a cama fresca e convidativa. E naquela noite, teria que se deitar ali com ela e fingir que Bella era apenas uma amiga. Como faria aquilo? O contrato. Josh disse a si mesmo para concentrar a atenção naquilo. Estava ali para trabalhar e era o que faria. Se concentrasse bastante em ganhar o contrato, talvez conseguisse domar os próprios pensamentos. Pararia de pensar em deitar ao lado de Bella à noite e em como seria tocá-la, e começaria a se lembrar que ela era apenas uma amiga querida que só estava ali porque sentia pena dele. Talvez. Mais tarde, quando Bella o encontrou, Josh estava sentado no bar com Aisling, com dezenas de papéis espalhados sobre a mesa. Assim que percebera que estava parado, esperando por Bella como um bobo, Josh se obrigara a sair, e acabara encontrando com Aisling. Como ela também estava sozinha, aproveitaram a oportunidade para repassar a estratégia para a semana e decidir as principais ações a serem tomadas e quais executivos mereciam ser abordados diretamente. Josh estava se sentindo melhor. Tomar um banho e voltar ao trabalho eram exatamente o que precisava. Felizmente, Aisling também era bastante objetiva e em pouco tempo os dois haviam retomado uma excelente relação profissional. Na verdade, já estava difícil lembrar-se de que já haviam tido algum outro tipo de relação. Satisfeito, Josh começava a se sentir confiante quando Bella entrou, descalça, no bar. Ela havia amarrado a canga na cintura e os cabelos estavam molhados e colados nas costas por causa da água do mar. Como de hábito, ela havia feito um grupo de amigos na praia e todos entraram rindo no bar, sem repararem em Josh e Aisling num canto.
Projeto Revisoras Josh não reconheceu nenhuma das pessoas que estavam com ela, mas reconheceu e ficou profundamente incomodado com as expressões de desejo no rosto dos homens ao olharem-na. Era bom que Bella fosse ao quarto e vestisse algo mais composto o quanto antes. — Desculpe -—disse ele a Aisling. — O que você estava dizendo? Josh tentou retomar o trabalho, mas era difícil se concentrar enquanto os outros se divertiam tanto. Depois que todos pegaram seus drinques, foram para uma mesa na sombra, com vista para a praia. Só naquele momento, Bella avistou Josh e Aisling. Ela parou, murmurou alguma coisa aos novos amigos e caminhou na direção do casal. — Onde está Bryn? — perguntou, friamente. — Dormindo — respondeu Aisling. — Ele está habituado a viajar na classe executiva, de forma que não conseguiu descansar no assento da classe econômica. — Que horror para ele — ironizou Bella, que nunca havia estado na classe executiva mas que, mesmo assim, achara os assentos bastante confortáveis. — Se é tão terrível assim, por que vocês não fizeram um upgrade? — Um dos objetivos desta semana é estimular o espírito de equipe — comentou Aisling, com uma doçura igualmente forçada. — Certamente, Bryn acha que, como um dos principais executivos da empresa, não ficaria bem se não viajasse com o resto do grupo. Bella não ficou nem um pouco impressionada com o sacrifício de Bryn e desviou os olhos para Josh. — Parece que vocês estão trabalhando. Eu não vou interrompê-los — concluiu, virandose para sair. — Até mais tarde. Josh seguiu-a com os olhos enquanto ela levava o copo até a mesa baixa de centro e se reunia aos outros nos sofás de rattan. Assim que viram Bella se aproximar, dois dos homens se levantaram para deixar espaço entre eles no sofá. Eles provavelmente mal acreditavam na própria sorte, pensou Josh, amargo. Um deles era careca e o outro tinha uma barriga pronunciada. Aqueles homens não deveriam estar todos acompanhados de suas mulheres? Naquele momento, Aisling suspirou. — Por que você simplesmente não diz a ela o que sente? — perguntou, resignada. — O que você quer dizer? — Olhe para você... Mal consegue tirar os olhos dela! — exclamou Aisling, meio exasperada. — Diga logo a ela que a ama! — Eu não posso — retrucou Josh, como se as palavras tivessem sido arrancadas de dentro dele. — Ela está apaixonada por outra pessoa e, mesmo que não estivesse, eu não quero arriscar a nossa amizade. Aisling olhou-o, curiosa. — Estranho — comentou. — Você passou a maior parte da sua carreira colocando-se em situações de risco. Eu também não pensei que fosse um covarde emocional. Você estava disposto a se arriscar comigo, não? — Não é a mesma coisa. — Bella não vale o risco?
Projeto Revisoras Josh olhou para a piscina, onde começava um animado jogo de pólo aquático. — Ela é importante demais para eu arriscar alguma coisa. Eu não quero perdê-la. — Talvez ela sinta o mesmo por você — sugeriu Aisling. — Você já pensou nisso? Está na cara que ela não gosta nem um pouco de mim. Eu acho que ela tem ciúme. — É que Bella é superprotetora. Ela acha que você me machucou — confidenciou Josh. — Não. Ela me contou o que sente por Will. Primeiro, precisa superar isso e eu preciso ajudá-la em vez de colocar a nossa amizade em risco quando ela mais precisa de mim. Era hora de mudar de assunto. Determinado, Josh pegou um dos papéis na sua frente. — Vamos repassar este último ponto outra vez... Mas era impossível se concentrar com toda a alegria que vinha da mesa de Bella e não muito tempo depois, Josh desistiu. Aisling também estava distraída e toda vez que ele ouvia a risada de Bella, esquecia o que estava dizendo. — Venha — ele chamou, reunindo os papéis com um suspiro. — Vamos nos reunir aos outros. Josh pegou uma bebida para Aisling no bar e foram para a mesa. Lá, Josh viu que um dos homens estava com a coxa próxima demais da perna de Bella. Incomodado, Josh encarou-o com firmeza até o homem se levantar e oferecer seu lugar ao lado dela. — Obrigado — Josh agradeceu, espremendo-se ao lado dela. No momento seguinte, se arrependeu. O corpo dela estava tentadoramente quente e próximo. Ela estava corada por causa do sol e Josh viu o sal dá água seco em suas costas. A canga cobria suas pernas, mas o torso e os braços estavam nus. Ao lado de Josh, que vestia calça jeans e camisa de manga curta, ela parecia sensual, exótica e praticamente nua. Bella estava inclinada para a frente com o rosto animado e um sorriso tentador e Josh percebeu que suas mãos haviam voltado a tremer. Queria que todos desaparecessem, que os deixassem a sós para que ele pudesse deitá-la e fazer amor com ela ali mesmo. — Olá para todos! Desculpe, Josh, eu assustei você? — Cassandra deu um tapinha no ombro de Josh, divertida por tê-lo feito saltar. — Todos estão se divertindo? Que bom que eu encontrei alguns de você juntos — prosseguiu ela, olhando vagamente para a prancheta e sem esperar respostas. — Preciso avisar aos instrutores de mergulho quantos querem se inscrever no curso. Para quem estiver interessado, começa amanhã logo pela manhã. Se alguém quiser, eu também posso providenciar caça submarina e durante a semana programaremos passeios de barco para as ilhas. Cassandra fez uma pausa para respirar e olhou para todos, ansiosa. — E então? Quem quer mergulhar? — Eu não — disse Bella, com firmeza. — Me contento em aproveitar a praia na companhia de um bom livro. Cassandra piscou. — Eu vou trazer mais umas revistas para você amanhã. E quanto ao resto de vocês? — Eu sei que Bryn adora caça submarina — disse Aisling. — Mas eu gostaria de aprender a mergulhar.
Projeto Revisoras — Ótimo! — Cassandra, entusiasmada, anotou o nome de Aisling. — Alguém mais? Josh hesitou. Naquele momento, Bella inclinou-se para pegar a bebida e ao sentir à pele nua e delicada tocando na sua, Josh tomou uma decisão abrupta. Quanto mais longe ficasse dela, melhor. — Eu também vou mergulhar — ele avisou Cassandra. Bella virou-se para encará-lo. — Mas você já sabe mergulhar! — protestou. — Não precisa fazer um curso. — Faz tempo que eu não mergulho — defendeu-se ele. — Vai ser bom recapitular. — Certo. Eu já tenho Josh e Aisling — disse Cassandra. — Mais algum interessado? A maioria dos outros optou por relaxar na praia, com Bella, em vez de se matricular numa atividade intensa. — Eu já me exercito bastante em casa, cuidando das crianças — disse uma mãe exausta. — Então, serão apenas Josh e Aisling no mergulho — concluiu Cassandra. — Vamos ver se encontramos mais pessoas para que você e Bryn não tenham que se preocupar, Bella — acrescentou ela, com uma risada extremamente irritante. — Eu não estou preocupada — mentiu Bella que, na verdade, estava furiosa com Josh. Por que ele não facilitava as coisas para si, mantendo-se longe da tentação? Se queria bancar o bobo, seguindo os passos de Aisling, quando estava claro para todos que ela estava louca por Bryn, era problema dele, mas Josh devia ao menos pensar em como aquilo seria do ponto de vista de Bella. — Eu devo dizer que admiro a independência de vocês — comentou uma das novas amigas de praia de Bella. — Quando eu fiquei noiva, passava o tempo todo atrás do meu marido, fazendo as coisas que ele gostava e não as que eu gostava, só de medo do que ele poderia fazer se eu não estivesse por perto. — Ah, eu nunca penso nisso! — Bella colocou uma mão possessiva no joelho de Josh, o que parecera uma coisa perfeitamente normal a fazer, até senti-lo se contrair. Mortificada, ela recolheu a mão. Por que ele não gritava bem alto que não gostava que ela o tocasse? Assim era difícil, pensou Bella. Estava tentando desempenhar um papel ali, mesmo que Josh não fizesse a menor idéia de como uma noiva se comportava. Determinada, ela colocou a mão na perna musculosa novamente. — Eu sei que Josh jamais seria infiel — disse ela aos outros. — Não é, fofinho? Josh odiaria ser chamado de fofinho. Era bem feito, pensou Bella. Se ele simplesmente relaxasse e se comportasse naturalmente, em vez de se contrair ao menor toque, talvez ela não precisasse recorrer aos apelidos carinhosos. — Não — respondeu ele numa voz que soou estranhamente rouca. — Nunca. Bem, aquilo era um pouco melhor, pensou Bella. Cassandra havia deixado a prancheta na mesa de centro e se acomodara no sofá da frente. — Você teve chance de dar uma olhada naquela revista que eu lhe dei na praia, Bella? — perguntou ela inclinando-se. — Vi, sim. Muito interessante. — Na verdade, Bella ficara bastante constrangida ao ser
Projeto Revisoras flagrada com um exemplar da revista Noiva que Cassandra insistira em lhe dar. Bella sempre acreditara que não dava sorte olhar uma revista daquelas a não ser que houvesse planos concretos de casamento, mas já que tinha uma boa desculpa... — Eu achei umas idéias ótimas nela — respondeu, olhando Josh pelos olhos semicerrados. Sua mão continuava na coxa dele e, evidentemente, o estava deixando tenso. — Eu andei pensando se não deveríamos fazer um casamento temático — disse ela. — Sabe, como as Mil e Uma Noite, ou algo assim. Poderíamos decorar o altar como uma tenda árabe, com tapetes e lamparinas de latão, e eu poderia usar muitos véus. Josh se vestiria de xeque. O que você acha, Josh? — Nem morto — disse ele. Bella fingiu fazer bico. — Ah, eu pensei que seria divertido trazer à tona o nosso lado pouco convencional — brincou ela. — E seria apropriado também. Você já passou muito tempo em desertos. — Eu também passei muito tempo na Inglaterra — comentou Josh, e Bella ficou secretamente aliviada ao ouvir a resposta arisca dele. — Eu prefiro ficar com o meu lado convencional, obrigado. O máximo que eu ousarei será uma cerimônia matutina. A idéia de Josh em um terno claro provocou nela uma pontada. Imaginou-o na igreja local, onde os futuros sogros viviam, esperando por Bella... e ela estaria usando um vestido maravilhoso, escolhido diretamente da revista de Cassandra. Quando voltou a si, Bella percebeu que Cassandra estava explicando os detalhes do seu casamento tradicional. — Mas o tema geral será o mar. As daminhas de honra e os pajens vão estar vestidos de marinheiros, haverá conchas nas mesas, e até os cartões para indicar os lugares de cada um serão decorados com estrelas do mar. — Uau! — exclamou Bella. Era evidente que pôr trás da aparência falante de Cassandra havia uma planejadora de casamentos e tanto. — Quando será o casamento? — Só no ano que vem. E o de vocês? Do jeito que as coisas vão, nunca. Mas era melhor se ater ao seu papel, pensou Bella, aninhando-se a Josh e beijando-o no rosto. — Se depender de nós, quanto antes, melhor, não é, Josh? — É — disse ele abruptamente. Então, acabou com a pouca credibilidade conquistada no papel de noivo ao praticamente derrubar Bella do sofá quando se levantou. — Está ficando tarde. E melhor eu ir e me aprontar para a recepção desta noite. Aisling também se levantou. — É melhor eu ir também e acordar Bryn. Certo. E por que os dois não anunciavam logo ao mundo que queriam uma desculpa para passarem mais alguns minutos sozinhos? Bella, que já estava se sentindo humilhada pela rejeição brusca de Josh, olhou-o com raiva. Ele não só deixara de estender a mão para ajudá-la a levantar, como não a incluíra em sua decisão de entrar e se trocar. Mas estava muito enganado se achava que Bella ficaria ali, calmamente, enquanto ele ia rastejando atrás de Aisling. Os dois já haviam ficado tempo suficiente juntos trabalhando no bar. Bella contraiu os lábios e esvaziou o copo. Estava ali como noiva de Josh e era como
Projeto Revisoras esperava ser tratada. — Eu vou com você — avisou ela. — Quero tomar um banho antes do jantar. Foi com prazer quase infantil que ela obrigou-o a segurar sua mão quando saíram do bar na companhia de Aisling, mas no momento em que saíram da vista dos outros, Josh soltou-a abruptamente. Deprimida, Bella abraçou o próprio corpo para ter algo o que fazer com as mãos. Deixaram Aisling na porta do quarto dela e caminharam juntos num silêncio tenso. O sol estava se pondo no horizonte, tingindo o céu de tons de rosa e laranja, e havia certa expectativa no ar. Até o oceano parecia ter se aquietado para esperar a noite que se insinuava. Era um desperdício sentir-se mal em um lugar maravilhoso como aquele, pensou Bella. Mesmo que ela e Josh voltassem a ser apenas bons amigos, seria melhor que aquilo. Precisavam relaxar e conversar. — Vamos dar um passeio pela praia? — sugeriu ela, imaginando que nem mesmo Josh resistiria ao apelo do pôr-do-sol em uma praia tropical. Mas, aparentemente, estava enganada. — Eu pensei que você quisesse tomar banho — ele comentou. — Eu quero, mas não estou com pressa. — Você deveria ter ficado no bar com os outros — disse ele, exasperado. — Parecia que estava se divertindo. Bella estava perdendo a paciência rapidamente. — Eu teria ficado — respondeu ela, irritada. — Mas não me esqueci de que, teoricamente, estou aqui como sua noiva e nenhuma noiva que se preze ficaria feliz deixando o noivo passear ao pôr-do-sol com outra mulher. Josh olhou-a, exasperado. — Nós não estávamos indo a lugar algum. Aisling voltou para o quarto dela e você sabe disso. — Eu posso saber, mas talvez os outros não saibam. As pessoas já estão comentando a quantidade de tempo que você passa com ela e nós só chegamos há poucas horas. Naquele momento, os dois chegaram ao quarto e Josh pegou a chave no bolso da camisa. — Basta você dizer que Aisling e eu trabalhamos juntos — sugeriu ele, impaciente, enquanto abria a porta. — Será preciso mais que isso para fazer com que parem de comentar — Bella afirmou, entrando no quarto. — Acho que estão começando a perguntar-se quem é realmente a sua noiva. Porque você certamente não está querendo passar tempo algum comigo! — Pelo amor de Deus, Bella. Você mesma disse que chegamos há poucas horas. — Escute aqui — disse ela, abrindo a canga, aborrecida demais para preocupar-se com o próprio corpo e com a presença dele. — Eu só estou dizendo que você não é um noivo muito convincente. — Apesar do esforço, Bella não conseguiu esconder a mágoa da voz. — Você se contrai quando eu o toco, se apresenta na mesma hora quando tem a chance
Projeto Revisoras de passar seu tempo com outra mulher e não parece querer fazer nada comigo. Não faz sentido eu estar aqui se você vai ficar me tratando desse jeito! Os dois se encararam por um longo tempo até que Josh bufou alto e passou a mão pelos cabelos, num gesto de cansaço. — Eu sinto muito, Bella. — Josh suspirou. — Você tem razão. É que eu não sou bom em fingir. A irritação de Bella evaporou quando ela viu a expressão de derrota no rosto dele. A incapacidade de Josh de afastar-se de Aisling podia feri-la, mas ela sabia exatamente como ele se sentia, não? — Não. A culpa é minha... Eu sei que é uma situação difícil para você, Josh. É fácil dizer que você deveria seguir com a sua vida e que não há por que se torturar ficando com a pessoa que você ama, se sabe que ela não o ama e que você não pode tê-la. Mas quando a gente ama alguém de verdade, é difícil desistir. Bella hesitou. Queria abraçá-lo, mas não confiaria em si mesma se o fizesse. — Eu entendo, Josh. — É. Parece que entende — disse ele, com pesar. — Espero que essa semana não seja muito difícil para você — Bella comentou. Ela havia jogado a canga sobre uma cadeira e estava só de biquíni, procurando uma escova de cabelos na mala. Josh olhou-a corada, linda e praticamente nua no quarto, com a cama de casal entre os dois. — Acho que vai ser... Muito mais difícil do que eu imaginava. Bella sentou-se na beirada da cama e jogou os cabelos para a frente para escová-los vigorosamente. Apesar de todas as loções e poções caríssimas que comprara a peso de ouro, que garantiam que seus cabelos seriam uma chuva de ouro brilhante e sedosa, eles agora não passavam de uma massa salgada e embaraçada. — Eu acho que você não deve desistir — ela começou a falar, orgulhosa da firmeza da própria voz. — Quero dizer, é óbvio que Aisling ainda gosta muito de você. Ela pode estar envolvida por Bryn, mas ele é um grande boboca. Eu falei com ele apenas por alguns minutos, mas foi o bastante para perceber que ele é profundamente irritante. E você viu como ele estava se gabando no aeroporto? Eu não ficaria surpresa se, após uma semana na companhia dele, Aisling caísse em si e o mandasse de volta para a esposa, que provavelmente também está aliviada por ter se livrado dele! Confiante de estar novamente arrumada, Bella se empertigou e jogou os cabelos sobre os ombros. — Quando isso acontecer, é bem provável que ela volte para você — disse ela a Josh, que estava em pé, admirando o céu que escurecia, com as mãos nos bolsos e os ombros ligeiramente curvados. — Então, eu só preciso ser paciente? — Se for o que você quer. Ele se virou abruptamente. — E quanto a você, Bella? Eu não tenho sido uma companhia muito boa até aqui. Sinto muito. — Não se preocupe. Eu entendo. — Ela levantou-se sorrindo e começou a desfazer a
Projeto Revisoras mala. —Além disso, estou me divertindo muito. A maioria das pessoas parece excelente e eu estou hospedada de graça, em um hotel maravilhoso, tenho uma semana inteira pela frente para tomar sol e ler. O que mais eu poderia desejar? — Will? — sugeriu Josh. Bella parou, petrificada, por um momento, até conseguir voltar a pendurar as roupas no armário. Era uma boa desculpa para ficar de costas para ele e impedi-lo de ver sua expressão. — Nem sempre podemos ter tudo o que queremos — disse ela. — Às vezes, temos que tirar o melhor proveito do que está ao nosso alcance. Naquela noite, deitado sem dormir ao lado dela, Josh pensou no que ela havia dito. A luz da lua penetrava no quarto por uma abertura das cortinas e banhava Bella, deitada de costas, com o rosto voltado para a janela e os cabelos espalhados sobre o travesseiro. A luz acinzentada iluminava a curva dos ombros e o canto da boca de Bella, lançando uma luz suave pela face e pintando os cabelos loiros de cinza, para morrer no travesseiro e na parede. Será que aquele era o único jeito que tinha de observá-la, pensou Josh, em desespero? Quando ela estava dormindo? Ela estivera maravilhosa mais cedo, na recepção de boas-vindas da CBC, mas Josh não pudera olhar para ela como queria. Havia muitas outras pessoas por perto, diversas buscando a atenção dela e outras tantas no caminho, separando-os. Bella escolhera um vestido vermelho sem mangas e outro par de sandálias absurdamente frágeis. Josh não entendia muito de roupas, mas percebeu que o traje fizera Bella brilhar e ser o centro das atenções. Entre todos os convidados vestidos em cores de tons pastel, ela se destacava como uma chama. Dividido entre o orgulho e o ciúme, Josh a vira encantar todos os presentes. Aparentemente, não havia problema se ela o ignorasse, pensara Josh, amargo, lembrando-se das queixas que Bella havia feito poucas horas antes. Mas era difícil não admirá-la. Ela estava com aquelas pessoas há menos de vinte e quatro horas e já parecia conhecer todo mundo e, voluntariamente ou não, já conseguira aproximar-se de diversas pessoas-chave que tomariam a decisão sobre dar ou não o contrato mundial a Josh. Todos não paravam de ir até Josh para comentar como ela era linda, simpática e divertida. Como se ele não soubesse. Ele deveria estar orgulhoso. E grato. Deveria tê-la estimulado. Josh sabia disso tudo, mas só o que queria era abrir caminho entre os homens que a cercavam, pegá-la pela cintura e levá-la para o quarto. Em vez disso, tinha que sorrir e agradecer. De fato, Bella era uma pessoa excepcional. O jantar depois do coquetel também foi um suplício e em seguida todos foram para o bar, continuar a confraternização. Josh descobriu-se ansiando pelo momento em que teria Bella só para si, mas quando eles finalmente se despediram para voltarem para o quarto, foi ainda pior. Em outras épocas, eles teriam rido e comparado suas impressões sobre quem haviam conhecido e Bella teria feito uma crítica extensa sobre as roupas das outras mulheres. Naquele momento, qualquer tentativa de conversa acabara ficando suspensa no ar e o único ruído que quebrava o silêncio era o dos zumbidos dos insetos tropicais.
Projeto Revisoras Os dois estavam determinados a ir para a cama. Josh vestira a calça de um pijama velho e Bella vestira uma camisola que evidentemente escolhera pela falta de detalhes sedutores, mas cuja simplicidade apenas realçava o tom corado da sua pele e escondia as curvas do corpo bem-feito. Josh esperara na varanda, ouvindo os insetos, o murmúrio do mar e tentando não pensar em tirar a camisola de Bella enquanto ela passava o que pareciam ser horas no banheiro. Ele só precisara de alguns minutos e quando saíra, a encontrara deitada, com o lençol puxado até o queixo. — Você está com frio? — perguntara Josh. — Não. Estou bem. Decidido, Josh cerrara o maxilar, puxara o lençol do seu lado e se deitara. Poderia passar a noite toda ali, sem nem tocá-la, mas estava loucamente consciente da proximidade dela. — Posso apagar a luz? — ele pediu, numa voz que nem parecia sua. — Sim, por favor. No momento seguinte, o quarto mergulhara na escuridão e apenas o ruído do arcondicionado quebrava o silêncio. — Isso é estranho — disse Josh, pigarreando. — Eu sei. — Bella parecia grata por ele ter quebrado o silêncio. — Ainda bem que somos tão bons amigos, não é? Imagine como foi para Phoebe e Gib. Eles acabaram dividindo a cama com pessoas que nem conheciam. Deve ter sido muito mais esquisito. Josh pensou que certamente não havia sido pior do que ele estava achando naquele momento, deitado ao lado de Bella e sabendo que, o que quer que fizesse, não poderia tocá-la. — Nós temos sorte — concordara ele.
CAPITULO VIII Josh esperava que com o passar da semana as coisas fossem ficando mais fáceis, mas isso não aconteceu. Os dias não eram tão ruins. Ele passava a maior parte do tempo mergulhando e de noite tinha cuidado para não ficar sozinho com Bella. O que não chegava a ser um problema, já que ela era sempre o centro das atenções. Isso significava que ele só precisava lidar com as noites. Josh disse a si mesmo para tratá-las como um teste de resistência como tantos outros aos quais já sobrevivera. Era claro que podia. Aisling era uma excelente desculpa para encobrir seus sentimentos por Bella. Por isso, Josh ficava o mais perto dela que podia. Não era difícil. Bryn revelara-se quase obsessivo por pesca oceânica e enquanto Aisling e Josh mergulhavam, ele passava o dia inteiro em um barco, com um anzol na mão, à espera do maior peixe do mundo. De noite, Bryn gostava de reviver suas experiências minuto a minuto, contando-as em detalhes para
Projeto Revisoras quem se dispusesse a ouvi-las. Josh percebeu que às vezes Aisling ficava meio amuada e que muitas vezes procurava ficar na mesa em que ele e Bella estavam, em vez de ficar sozinha com Bryn. Ao vê-la, Josh começou a se perguntar se a teoria de Bella estava correta e o romance de Aisling já começava a apresentar sinais de cansaço. — Eu lhe disse. — Bella foi quase rude quando ele mencionou o assunto. — Você deve estar se sentindo feliz. Feliz? Josh ficou confuso por um momento antes de se lembrar que, para Bella, ele ainda estava apaixonado por Aisling. — Ah, sim... estou — mentiu ele. — É evidente que todas essas horas que você tem passado mergulhando com Aisling têm compensado — disse Bella com um sorriso forçado. — Eu fico feliz por você. — Você não parece muito feliz. — Bem... é difícil ficar feliz sendo deixada todos os dias na praia, enquanto você vai mergulhar com Aisling — disparou ela. Josh olhou-a, surpreso. — Você disse que não queria ir mergulhar — lembrou ele. — Que estava se divertindo na praia. — Não é muito divertido ser alvo de pena para todos que estão na praia! Ele franziu o cenho. — O que você quer dizer? — Você sabe o que quero dizer, Josh! — gritou Bella, com raiva. — Eu sei que quer ficar com Aisling. Por mim, tudo bem, mas você precisa pensar em como é frustrante ficar esquecida aqui o dia todo. Todos acham que estamos prestes a terminar. — O quê? — É claro que sim! Eles só vêem você com Aisling, nunca comigo. Nós nunca fazemos nada juntos. Bella ficou espantada ao ver como estava próxima das lágrimas. Vinha tentando com todo afinco não se incomodar quando Josh saía com Aisling todos os dias. Percebera até a impaciência crescente de Aisling com Bryn. A qualquer momento, Aisling perceberia que saíra perdendo com a troca. E com Josh tão disponível e ansioso para voltar para ela, Aisling logo diria alguma coisa a ele e então, o que aconteceria com Bella? Teria de fingir que ficara feliz por Josh, mas não sabia se agüentaria. Bella passava o dia com uma multidão e de noite ficava ostensivamente perto dele, desejando conseguir tocá-lo. Apesar de nunca estar sozinha, Bella nunca se sentira tão solitária. Josh era sempre educado, mas deixava claro o que sentia. E uma vez que ela o tocara por acidente, ele se contraíra e estremecera. — Desculpe-me — murmurara ela, incrivelmente constrangida, e voltara para o seu lado da cama. — O curso de mergulho termina amanhã — disse ele. — Talvez possamos fazer algo
Projeto Revisoras juntos na sexta? Alguns dos outros participantes haviam alugado jipes e descoberto pequenas praias com excelentes restaurantes de frutos do mar. — Tudo bem — respondeu Bella, tentando desesperadamente não parecer ansiosa demais, mas incapaz de disfarçar a vontade de passar algum tempo a sós com ele. — Aisling disse que vai haver um passeio de barco para uma ilha desabitada amanhã — Josh falou. — Vai dar para mergulhar com snorkel. Se você quiser, nós poderemos ir. Bella sentiu uma onda de decepção invadi-la. Parecia que ele não conseguia sequer imaginar um dia longe de Aisling. Bella ficou furiosa consigo mesma por aquele momento de euforia, mas se se recusasse a ir, ficaria parecendo uma menina mimada. — Está bem — concordou, desanimada. Apesar da decepção, Bella acordou animada na sexta-feira. Josh tomou café da manhã com ela e não havia sinal de Aisling. Talvez ela tivesse mudado de idéia, pensou Bella, esperançosa. Enquanto isso, o dia se estendia diante deles. Um dia inteiro com Josh. Talvez não ficassem sozinhos, mas pelo menos ele estaria lá. E para o que ela estava sentindo naquele momento, seria suficiente. O dia amanhecera fantástico. O céu estava azul e sem nuvens, o mar, calmo e limpo e o sol da manhã brilhava por trás dos coqueiros, lançando sombras longas na areia branca. Parecia o paraíso, pensou Bella. Era impossível sentir-se deprimida em um lugar como aquele, em um dia como aquele. Ao diabo com Aisling, pensou ela. Aproveitaria aquele dia, independentemente da presença dela. Infelizmente, Aisling apareceu. Quando o resto do grupo chegou, ela estava esperando no pontão com Bryn, que obviamente havia sido convencido a abrir mão do dia matando peixes e já parecia arrependido. Havia onze pessoas ao todo, incluindo Cassandra. Depois de passar a semana inteira organizando passeios e atividades para os demais, ela se sentia no direito de participar de um. — Estão todos aqui? Ela começou a contá-los e Josh fez uma careta para o barco. — Nós vamos naquilo ali? —- perguntou ele, interrompendo-a. — Qual é o problema com ele? — E muito aberto e muito baixo, e vai ficar ainda mais baixo depois que todos entrarmos. Bryn adiantou-se para participar da polêmica. — Qual é o problema? — Eu só estou um pouco preocupado com a falta de proteção — disse Josh, aborrecido com a intromissão de Bryn. — Ora, rapazes, é uma traineira perfeitamente apropriada para tomar sol! — Eu não estava pensando no sol — interveio Josh, calmamente. — Estou pensando no que aconteceria se pegássemos um mar agitado. — Que mar agitado? — zombou Bryn. — O mar está liso como sabão.
Projeto Revisoras — Eu estou com um mau pressentimento sobre o tempo. — Josh estreitou os olhos para o horizonte, preocupado. Bryn seguiu o olhar dele. — É só uma corrente de calor -— declarou. — Venha. Vamos. — Só um minuto — disse Josh, em voz baixa, mas algo em seu tom fez Bryn parar onde estava. — Quem é o encarregado deste barco? — perguntou ele a Cassandra. — O barco é de Ron. Ele é muito responsável e já fez uma infinidade de viagens para nós. Como não pôde vir hoje, ele mandou Elvis em seu lugar — ela informou, apontando para um rapaz que esperava pacientemente. — Ele só tem treze anos, mas ajuda o pai no barco desde que começou a andar. — Tenho certeza de que Elvis sabe o que está fazendo — disse Josh, seco. — Eu só me sentiria mais seguro se houvesse coletes salva-vidas no barco. — Ora, pare de ser rabugento — reclamou Bryn. — Não vamos precisar de salva-vidas em um dia como hoje! — É. Pare de criar caso, Josh — pediu Aisling. — Se ficarmos aqui procurando salvavidas, vai ficar tarde demais e não poderemos ir. Todos concordaram com um murmúrio e Josh deu-se por vencido. Assim que entraram, o barco ficou ainda mais baixo e próximo da água. Josh não estava gostando nem um pouco, mas Bella, que não ouvira nada da conversa, já havia entrado. Apesar da vontade de pegá-la pelo braço e tirá-la de lá, Josh entrou no barco. Não a deixaria sozinha ali por nada. Relutante, Josh soltou a corda para Elvis e deu uma última olhada no horizonte. Talvez tivesse se enganado sobre o tempo. E pela maior parte do dia, pareceu mesmo estar. As velas do barco ofereciam um pouco de sombra, mas mesmo assim, estava muito quente. Apesar do calor, estavam todos alegres. Aparentemente, haviam se dado conta de que estariam de volta às suas casas e ao inverno em poucos dias e que era melhor aproveitar os raios solares ao máximo. Só Josh manteve um olho atento ao horizonte, mas a mancha não se moveu. Finalmente, ancoraram em um atol minúsculo, cercado por uma parede de coral. Debruçados na beirada do barco, todos espiaram e se maravilharam com os peixes multicoloridos que entravam e saíam dos corais. — Está vendo? — disse Bryn com um grunhido. — Se tivéssemos ouvido Josh, ainda estaríamos procurando coletes salva-vidas e não teríamos visto isso. Bella levantou-se abruptamente. — Onde estão as máscaras e pés-de-pato? — perguntou, antes que alguma outra pessoa decidisse apoiar Bryn. — Não sei vocês, mas eu pretendo pôr um snorkel e cair na água para ver esses peixes de perto antes do almoço. Josh desejou poder afastar a sensação de desastre iminente. Estava dividido entre acompanhar a mancha no horizonte, ou pular na água com Bella. Ela evidentemente estaria segura, mas as correntes marinhas eram traiçoeiras e poderia haver tubarões... Com medo de deixá-la fora da sua vista, Josh pegou uma máscara e um snorkel e pulou na água logo depois dos outros. Bella só havia feito aquilo uma vez na vida, de forma que foi fácil alcançá-la e segui-la enquanto ela perambulava alegremente pelos corais, sem
Projeto Revisoras dar-se conta da presença dele até que Josh tocou-a no braço e apontou. Bella virou-se e avistou uma imensa tartaruga marinha passar nadando. Encantada, tirou o snorkel e virou-se para Josh. — Que coisa linda, Josh! É uma das coisas mais incríveis que já vi na vida! — Ela estava tão encantada que o incômodo de Josh começou a ceder. Bella estava feliz, disse a si mesmo. Tudo estava bem. Determinado a não incomodá-la, Josh voltou para o barco algum tempo depois, sentouse e ficou conversando com Elvis até o grupo começar a voltar. Bella foi uma das últimas. Quando a viu subir a escada do barco, sentiu uma forte sensação de alívio, apesar de estar determinado a não se preocupar. Ela jogou os pés-de-pato para dentro, subiu no barco e tirou a máscara. Seu rosto tinha uma marca vermelha e os cabelos estavam molhados e embaraçados, mas ela parecia sensacional, pensou Josh. Estava iluminada de felicidade e borbulhando de entusiasmo. — Não foi maravilhoso? Eu mal pude acreditar naquelas cores! Como se chamam aqueles peixes amarelos com listras azuis? E vocês viram a tartaruga? Todos estavam felizes e sorridentes, trocando comentários sobre o que tinham visto e elogiando o almoço que o hotel havia mandado. — Eu estou faminta — disse Bella. — Vamos comer logo e daí poderemos mergulhar de novo mais tarde. Ela atravessou a pilha de máscaras e pés-de-pato e aproximou-se de Josh para pegar o short e a blusa, mas quando chegou, outra pessoa subiu no barco fazendo-o oscilar. Bella perdeu o equilíbrio e caiu em cima de Josh. Josh pegou-a instintivamente e, por um breve momento, segurou-a contra si. Ela ainda estava molhada e seu corpo parecia quente e úmido contra o peito dele. Incapaz de se conter, Josh abraçou-a e viu-se preso àqueles olhos azuis, com o coração aos saltos. — Tudo bem? — perguntou ele, com a boca seca e abalado pelo desejo que sentia. Bella assentiu ligeiramente e obrigou-se a sair dos braços dele antes que fizesse alguma tolice como passar as mãos pelos ombros dele e pelas costas largas e musculosas. Ficou chocada com o impacto provocado pelo choque das peles nuas e pela onda de excitação despertada pelo mais acidental dos toques. A quem estava tentando enganar? Ela o desejava intensamente. Queria amá-lo ali mesmo, naquele momento, na frente de todos. Determinada, Bella engoliu em seco e concentrou-se em vestir as próprias roupas. Enquanto isso, Josh tentava não pensar em como ela havia saído rápido dos seus braços. Será que Bella vira o desejo deslavado em seus olhos? Será que recuara por causa disso? Decidido a não pensar nela, Josh voltou os olhos para o horizonte e sentiu um frio na espinha. A mancha havia se transformado em uma feia nuvem negra, avançando pelo céu azul. Ele se levantou. — Acho melhor irmos — anunciou. Houve um coro de protestos. Todos queriam almoçar e ficar ali. Josh interrompeu-os.
Projeto Revisoras — Olhem aquilo! — exclamou, apontando para o horizonte escurecido. — Ah, mas está a quilômetros de distância! — Está tão bom aqui. — Nós temos de ir — disse Josh. — Agora mesmo. — A autoridade em seu tom de voz calou a todos. — Quem ainda não subiu? — perguntou. — Bryn — disse Aisling. — Ele disse que queria dar uma olhada do outro lado. — É melhor irmos buscá-lo. Ele disse para que lado iria? Elvis ligou o motor enquanto Josh içou a âncora e eles contornaram o atol, em busca do snorkel de Bryn. Àquela altura, todos já haviam percebido a urgência na voz de Josh e olhavam preocupados para a nuvem negra que se aproximava. — Ali está ele! Haviam perdido minutos preciosos até Bella avistar o snorkel se insinuando para fora da água, um pouco adiante. Elvis aproximou o barco de Bryn que, apesar de vê-los se aproximando, apenas acenou e continuou o seu passeio. Josh suspirou. — Eu vou buscá-lo. Com um gesto preciso, ele mergulhou e nadou até Bryn. Estavam longe demais para que Bella ouvisse o que diziam, mas era evidente que Josh estava tendo dificuldade em convencer Bryn a voltar para o barco, apesar de apontar continuamente para a nuvem negra, cada vez mais ameaçadora. Aisling assistia a tudo, ansiosa. — Você não pode fazer nada? —- pediu Bella. — Ele vai ouvi-la, não vai? — Não se achar que estou tentando convencê-lo a fazer o que Josh quer. — Aisling olhou para Bella. — Bryn tem ciúme de Josh porque... bem, você sabe... Sim, Bella sabia, mas não parecia ser uma boa hora para ciúme bobo. Felizmente, naquele momento alguém gritou que os dois homens estavam voltando ao barco. Ninguém soube ao certo o que Josh havia dito a Bryn, mas pela expressão no rosto de Bryn, não fora nada muito agradável. — Não sei para que esse exagero todo — reclamou ele a Aisling. — Essas nuvens não estão nem perto e, mesmo que estivessem, eu não tenho medo de uma chuvinha tropical! — Ele apontou com a cabeça o local onde Josh estava conversando com Elvis. — O Kommandant parece estar insistindo em que voltemos, mas eu não entendo qual é o problema de ficarmos. — Não há abrigo aqui — disse Bella. Bryn apoiou a mão no mastro que prendia as velas. — Isso basta para nos proteger da chuva. Talvez fiquemos um pouco molhados, mas logo passará. E sempre assim com essas tempestades tropicais. — Vai ser mais que uma tempestade passageira — Josh informou. — Aqui fora, ficamos expostos demais. Precisamos voltar para alguma daquelas ilhas pelas quais passamos e
Projeto Revisoras procurar abrigo. Pelo menos assim sairemos do barco. Ele não foi concebido para o mau tempo. — Pois eu digo que devemos ficar aqui mesmo — Bryn desafiou, passando os olhos pelo grupo. — Quem concorda comigo? Josh avançou até ficar a menos de um palmo de distância de Bryn. — Isso não está em votação — disse, baixinho, mas numa voz que fez um calafrio percorrer a espinha de Bella. Ela nunca ouvira Josh falar daquele jeito antes e ficou grata pela raiva não ser dirigida a ela. — Há uma tempestade se aproximando — prosseguiu ele no mesmo tom calmo e frio. — Esse barco não é seguro e, como Bella observou, não há como nos abrigarmos aqui. Eu não estou disposto a arriscar a vida de Bella ou de quem quer que seja apostando em "só uma tempestade tropical". Isso não está em votação. Vamos voltar para a última ilha o mais rápido que pudermos. É o mais prudente a fazer. Bryn sentou-se na traineira, mal-humorado. Josh foi se sentar ao lado de Elvis, que parecia nervoso e mais jovem do que nunca. — Tudo certo, Elvis — disse Josh, tocando o rapaz no ombro. — Toda força à frente! — Com que direito ele fica dando ordens a todo mundo? — murmurou Bryn. — Daqui a pouco vamos ter que marchar. Se eu soubesse que estava me alistando no exército, nunca teria concordado em vir para essa semana. — E uma pena que tenha — cochichou Cassandra ao lado de Bella. Bella olhou os rostos ansiosos a sua volta. — Josh sabe o que está fazendo. — Em tom de voz suave, Bella procurava tranqüilizar os companheiros. — É. Cale a boca, Bryn — disse Aisling, tensa. Continuava muito quente, não havia vento e o mar estava tão calmo e claro que era possível ver cardumes de peixes embaixo d'água. Havia algo assustador naquilo, pensou Bella. Adiante, tudo estava calmo e perfeito. Atrás, a escuridão ameaçadora se aproximava cada vez mais, tomando conta do céu azul e avançando inexoravelmente sobre eles. — Isso é o mais rápido que podemos ir? — Josh perguntou a Elvis. — Sim, senhor. Já estamos na velocidade máxima. — Bem, não se preocupe. Vamos continuar avançando assim. Não falta muito. Todos começaram a ficar mais esperançosos, apesar de Bella desconfiar que era mais porque Josh parecia positivo, do que porque a situação estava melhorando. Ela vinha examinando o horizonte desesperadamente em busca de terra e não vira nenhum sinal de ilha até onde a vista alcançava. — Não parece que estamos nos aproximando — disse Cassandra, com voz trêmula. — A tempestade vai nos alcançar? — Talvez a gente se molhe um pouco — disse Josh, alegremente. — Mas assim que chegarmos à ilha, poderemos relaxar. — Ele apontou para as caixas térmicas que continham o almoço.
Projeto Revisoras -— Temos comida e bebida e não iremos morrer de fome. Ficaremos bem. Havia uma segurança impressionante nele, pensou Bella. Josh não era o homem mais bonito do barco, certamente não era o mais bem vestido e nem tinha belos carros para ostentar, mas era exatamente a pessoa para se ter por perto em uma situação como aquela. Josh era calmo, seguro e determinado. Era impossível pensar que ele deixaria algo de ruim acontecer. — Você está fazendo um ótimo trabalho, Elvis. — Ah, sim, ótimo! — exclamou Bryn, sarcástico. — Eu prefiro guardar meus cumprimentos para quem viu a previsão do tempo. Nós teremos muito o que contar no hotel quando voltarmos. — Ele bufou. — Isso tudo é um absurdo. Eu vou exigir o meu dinheiro de volta e sugerir que no futuro contratem pessoas mais competentes para os passeios de barco que organizarem. Elvis ficou ainda mais preocupado. Como se já não tivesse problemas suficientes, estava antevendo a família perder o ganha-pão. Bella olhou para Bryn. — Quando voltarmos, eu vou agradecer a Elvis e não a você — disse ela, para que todos ouvissem. Em seguida, inclinou-se e disse baixinho, só para Bryn: — Ele é apenas um menino e está assustado. — Pois ele não é o único — disse Cassandra. Quando alguém avistou a ilha a distância, todos se animaram, mas quando estavam se confraternizando por terem escapado por tão pouco, uma lufada de vento aumentou o calor. A lufada foi seguida por outra, e outra e mais outra. — Vamos baixar as velas! — gritou Josh. — Mas vai chover — reclamou Bryn, quando viu que a escuridão baixava. — Nós não teremos nenhum abrigo. — Se pegarmos um vento com as velas içadas, ele virara o barco. Ficar seco vai ser o menor dos nossos problemas — Josh falou. Três outros homens se levantaram para ajudá-lo a içar as velas. Nesse meio tempo, as lufadas de vento haviam se transformado numa ventania que dificultava cada vez mais as coisas. As velas se agitavam terrivelmente e o barco sacudia no mar revolto, enquanto os homens lutavam para desamarrar os nós. Cassandra ficara subitamente pálida, e os outros estavam mudos de medo. Bella mal podia acreditar na velocidade com que o tempo havia mudado. E o vento era apenas um prenúncio do que estava por vir. Um segundo depois, o sol desapareceu sob uma espessa camada de nuvens escuras e a chuva começou a cair com pingos grossos e selvagens. — Bella — gritou Josh, acima do barulho do vento e da chuva. Ele havia assumido o leme enquanto Elvis tirava água do barco num ritmo frenético, com um baldinho de plástico. — Comecem a tirar água do barco. Piscando por causa da chuva, Bella fez sinal de positivo e partiu em busca de algo que pudesse usar. A primeira coisa que avistou foi a pilha de equipamentos de mergulhos que já começavam a flutuar dentro do barco por causa da água acumulada. Bella pegou uma máscara, e começou a tirar água. Não era muito eficiente, mas era melhor do que nada.
Projeto Revisoras — Eu estou enjoada — Cassandra gemeu. — Aqui, ajude a tirar água — Bella pediu, jogando uma máscara. — Você vai se sentir melhor se estiver fazendo algo útil. "Como se eu soubesse o que estou dizendo", pensou Bella. Felizmente, Cassandra não pareceu notar sua insegurança e começou a ajudar. Do outro lado do barco, Aisling vira o que elas estavam fazendo e já começara a entregar máscaras a todos os presentes. Até Bryn pegou uma, mas Bella não sabia se aquilo era um bom sinal. As coisas deviam estar realmente pretas para Bryn esquecer o mau humor e seguir os conselhos de Josh. Castigado pela chuva e pelo mar revolto, o pequeno barco parecia navegar cada vez menos. Parecia fazer uma eternidade desde que haviam saído do hotel, na manhã ensolarada, e zombado do excesso de zelo de Josh. Bella afastou os cabelos embaraçados do rosto mais uma vez e suspirou. Seus ombros estavam doendo pelo esforço de tirar água do barco, mas ela continuou. O que fazia ali?, imaginou. Ela era uma pessoa urbana. Deveria estar sentada na frente do computador, ou em um bar e não ali, tirando água de um barco, no meio do oceano Índico. Alguém perto dela estava chorando, mas Bella nem viu quem era. Estava mais preocupada com a própria sobrevivência do que em consolar outra pessoa. Ela se sentia estranhamente distante. Tudo havia acontecido tão depressa e estava sendo tão intenso que parecia meio surreal, mas por baixo da superfície calma, ela estava apavorada. Sempre que o medo ameaçava dominá-la, Bella fixava a mente em Josh. Mal conseguia enxergá-lo por causa da chuva fortíssima, mas bastava avistar o vulto seguro, controlando o leme para sentir-se mais segura. Josh estava ali, no comando, e não deixaria nada acontecer a ela. Era como estar presa em um pesadelo. Bella tirou água, tirou água e já começava a se esquecer a sensação de estar seca e em segurança. Estava tão entorpecida que o grito de Elvis mal penetrou em sua mente, e só quando Cassandra tocou-a ela ergueu os olhos para ver a ilha. Depois de desejar tanto avistar a terra, ela agora parecia ameaçadoramente perto. O barquinho já se aproximava perigosamente das pedras que contornavam a ilha, mas mesmo assim todos se parabenizaram e redobraram os esforços para manter o barco à tona até tocarem a costa. Depois de conversar com Elvis, Josh tirou os sapatos e foi para a proa do barco. — O que você está fazendo? — gritou Bella. — Não podemos correr o risco do barco bater em uma pedra, porque se isso acontecer, não teremos como voltar — gritou Josh em resposta. — Elvis vai se aproximar o máximo que puder e até lá talvez já haja profundidade suficiente para eu jogar a âncora. Se for preciso, eu nadarei para ajudar a guiá-lo. — Você vai se jogar no mar? — perguntou Bella horrorizada. — Josh, não! É muito perigoso! Ele tocou-a de leve no rosto. — Não se preocupe. Eu ficarei bem. Bella pensou que fosse morrer de desespero quando ele saltou. A água estava agitada e
Projeto Revisoras o vento furioso jogava o barco para os lados sem dó. Bella achava improvável que Josh conseguisse boiar, quanto mais guiá-los naquela tormenta. Era quase impossível ver o que estava acontecendo, mas quando Josh tocou os pés no fundo do mar, as pessoas que estavam na frente do barco passaram a informação para as de trás. Então, ele pegou a corrente da âncora e guiou-os em segurança pelas pedras até a costa. As ondas castigavam seu rosto e ele se curvava o tempo todo, mas só fez sinal para Elvis desligar o motor e jogar a âncora, quando estava com água na altura dos joelhos. Os passageiros teriam que andar o resto do caminho, mas àquela altura já estavam tão ensopados e aliviados por terem chegado à terra firme que ninguém se opôs, nem mesmo Bryn. Formando uma corrente, todos ajudaram a descarregar as caixas térmicas, passando-as por sobre as cabeças e então se reuniram na minúscula praia. Parecia impossível, mas a tempestade piorou ainda mais depois que desembarcaram. As palmeiras se vergavam fortemente com a violência do vento, enquanto a chuva castigava tudo sem dó. — Bem-vindos ao paraíso — gritou Bella acima do tumulto, fazendo todos rirem quase histericamente. Naquelas condições, era difícil dizer o que quer que fosse sobre a ilha, mas depois de algum tempo, todos decidiram dar uma volta a pé para ver se encontravam algum lugar para se abrigarem. Josh ficou para trás com Elvis, para tentar deixar o barco mais seguro, mas não tirou os olhos de Bella enquanto ela arrastava uma grande caixa térmica com Cassandra. Ela sorria confiante, e aparentemente estava até conseguindo fazer piadas, a julgar pela forma como as pessoas riam, apesar da situação. Foi rápido explorar a ilha. Afinal, era apenas um pedaço de rocha coberto de vegetação esparsa. Do outro lado, Josh achou outra praia que era relativamente abrigada e pediu a todos que amarrassem o tecido de uma das velas entre duas árvores onde, encobertos por uma parede de pedra, teriam a ilusão de estarem mais protegidos. Quando terminaram de levar tudo para o outro lado, estavam todos exaustos e desabaram juntos sobre a lona, com gemidos de alívio.
CAPITULO IX Apenas Josh resistiu à tentação de desabar junto com os outros. — Acho que seria bom trazer o barco para cá — disse, olhando para a praia. — É mais protegido e assim poderemos ficar de olho nele. Bryn deu um suspiro exagerado. — Ah, agora ele acha que é Robinson Crusoé. Você não pode esperar? Nós acabamos de sentar! — É mais seguro fazer isso agora — assegurou Josh. — Eu sei que estamos cansados, mas se o barco se soltar, vamos ficar presos aqui e vai demorar algum tempo até alguém
Projeto Revisoras nos encontrar e aí, vamos poder brincar de verdade de Robinson Crusoé. E só questão de conduzi-lo pela costa. Eu posso ajudar. — Leve Elvis — Bryn ironizou, aborrecido. — O barco é responsabilidade dele. — Elvis não passa de uma criança — Josh falou, olhando para o menino que havia se sentado ligeiramente separado dos demais, sem prestar atenção às conversas e com a cabeça enfiada nos joelhos. — Ele está exausto. — Estamos todos exaustos, pelo amor de Deus! — Por que não descansamos um pouco? — sugeriu Aisling, assim que ficou claro que Bryn pretendia se rebelar. — Depois lidaremos com o barco. Josh hesitou. Bella percebeu que ele estava muito preocupado com o barco e deu um jeito de arrastar-se para perto dele. — Eu vou com você — disse ela, apesar de seus membros estarem doloridos e de não ter certeza sobre se conseguiria chegar até o outro lado da ilha, quanto mais lutar contra a água para arrastar um barco. O vento jogou seus cabelos no rosto quando ela se levantou, cambaleando de exaustão. Josh ficou espantado com a disposição dela. A oferta provocou mais um par de homens a acompanhá-los e apesar de Bryn continuar sustentando que o resgate do barco poderia esperar até que descansassem, os quatro partiram no momento seguinte. Chegaram bem a tempo, porque a força do vento fazia o barco sacudir tanto que em pouco tempo a âncora se soltaria e a embarcação se chocaria contra as pedras. Bella já imaginava que não seria fácil deslocar o barco para o outro lado, mas a tarefa se revelava ainda mais difícil. Em vários momentos, ela teve certeza de que não conseguiriam. Josh manteve-os caminhando por pura força de vontade, gritando palavras de encorajamento e recusando-se a deixá-los desistir. Bella estava com as mãos dormentes, mas quando pensou que não fosse conseguir segurar o barco por nem mais um momento, avistou a segunda praia. Os outros ajudaram a trazer o barco para a segurança. Àquela altura, Bella não conseguiu chegar nem à área coberta. Exausta, ela desabou na areia, incapaz de se mover. No momento seguinte, viu-se erguida nos braços fortes de Josh, que carregou-a pelos metros que faltavam. — Eu estou bem — protestou ela, sabendo que ele devia estar tão cansado quanto todos. — Ponha-me no chão antes que você também caia. — Pare de se debater e fique quieta — disse Josh, erguendo a voz para fazer-se ouvir. — Bem, isso não é muito romântico — brincou Bella, fingindo ofender-se. — Você sabe que teoricamente nós estamos noivos. Bella ficou constrangida ao ser recebida como uma heroína pelas mulheres que haviam ficado para trás. Foi Cassandra quem percebeu que o pé de Bella estava sangrando e rapidamente pegou uma toalha para examinar o ferimento. — Foi um corte feio — constatou, com uma careta. — Deve ter sido quando eu escorreguei nas pedras. Essas sandálias foram feitas para ir
Projeto Revisoras e voltar da piscina e não para subir em pedras. — Cassandra tem razão. É um corte muito feio. Por que você não disse nada? — Josh perguntou, erguendo o pé delicado para examinar o ferimento. — Eu nem percebi... E, para dizer a verdade, ainda não estou sentindo nada. — Acho que vai precisar levar uns pontos. Mas, por enquanto, vamos apenas cobrir o ferimento. Depois de uma busca inútil por algo que pudesse ser usado como atadura, Josh rasgou um pedaço da sua camisa. Como o pé de Bella, a peça passara a maior parte de tempo imersa na água do mar, de forma que estava mais limpa que qualquer das alternativas. — Pronto, como está? — perguntou ele, depois de amarrar o pé dela com profissionalismo. — Perfeito, não poderia querer nada melhor. Apesar do cansaço, ela se sentia estranhamente feliz. A tempestade parara de aterrorizála e se transformara em um ruído de fundo. Mais tarde, dividiram a comida de uma das caixas. Bella estava cansada demais para comer, mas Josh insistiu para que se alimentasse. Então, ela engoliu obedientemente um sanduíche. Por estar embrulhada em plásticos e guardada nas caixas térmicas, a comida ficara surpreendentemente seca e assim que começaram a comer, todos descobriram que estavam famintos. Em pouco tempo, começaram a surgir olhares de cobiça para as outras duas caixas. — Você acha melhor guardarmos o resto para depois? — perguntou Cassandra, virandose instintivamente para Josh. — Eu acho que seria uma boa idéia — disse ele. — Também acho bom deixarmos a caixa vazia para fora, para coletarmos água da chuva. Bryn virou os olhos para a vela que funcionava de abrigo e que já coletara uma boa quantidade de água de chuva. Tinham que ficar batendo o tempo todo na lona para que a água escorresse pelos lados, impedindo assim que a cobertura desabasse com o peso. — Acho que não teremos problemas de escassez de água. — Novamente aquela nota irônica foi percebida na voz dele. — Mas talvez tenhamos quando a tempestade passar — Josh falou, calmo. — Eu não vi água potável na ilha e é melhor estarmos preparados. O barco foi muito castigado nas pedras. Se não conseguirmos ligar o motor amanhã, talvez fiquemos algum tempo aqui e, nesse caso, vamos precisar de água para beber. — Estou certo de que você adoraria isso — disse Bryn. — Assim, teria a chance de demonstrar todas as suas técnicas de sobrevivência. Até posso vê-lo esfregando dois pedaços de madeira para fazer fogo e impressionando as moças com a sua habilidade para a pesca. — Isso não impressionaria apenas as moças — manifestou-se um dos homens que haviam ajudado a deslocar o barco. — Eu também ficaria impressionado! — É verdade. Fique quieto, Bryn — Aisling interveio, ríspida, arrastando a caixa para fora para recolher a água da chuva. — Você está se comportando como uma criança mimada. — Só porque eu não pulo quando o seu querido Josh manda pular! Aliás, quem disse que ele está no comando?
Projeto Revisoras — Ele está no comando porque sabe o que está fazendo, coisa que eu não posso dizer de você — disparou Aisling. — Se ele é tão perfeito, por que você não ficou com ele? — Estou começando a achar que foi um erro. — Tudo bem. — Com expressão petulante, ainda argumentou: — O super-homem aqui é ele. Sorrindo, Cassandra inclinou-se e murmurou no ouvido de Bella: — Você sabia que o nome dele é, na verdade, Bryan? Eu tive que recolher todos os passaportes e estranhei quando o nome não bateu. Aparentemente, ele abandonou o a porque acha que Bryn é mais sexy e combina mais com ele. Você acredita? Bella ficou eufórica por ter a sua teoria confirmada, mas rezou para que Cassandra não tivesse percebido o comentário dele sobre Aisling e Josh. Em vão. — O que foi aquilo sobre Aisling e Josh? — perguntou, curiosa. — Eles já foram namorados? — Eles foram noivos por pouco tempo — admitiu Bella, relutante e Cassandra olhou-a, espantada. — Não me impressiona que você não tenha gostado, quando eles saíram para mergulhar juntos. Mas não precisa se preocupar — disse ela, com segurança. — É óbvio que ele tem verdadeira adoração por você. Josh havia ignorado as provocações de Bryn e saíra para ver o barco, deixando Bryn e Aisling discutindo baixinho. Quando voltou, sentou-se ao lado de Bella e, sem dizer nada, estendeu o braço para que ela pudesse aninhar-se nele. Estava cansado demais para preocupar-se com desejo ou em demonstrar seus sentimentos, buscando apenas o calor e o conforto do corpo dela. — Quanto tempo você acha que aqueles sanduíches vão durar? — Bella perguntou, sonolenta. Próximos como estavam, podiam conversar sem serem ouvidos pelos outros. Com a chuva e a escuridão, parecia que estavam em um mundo particular. — Teremos de fazê-los durar até o café da manhã — disse Josh. — Se não conseguirmos fazer o barco andar, acho que não teremos almoço. — Espero que não tenhamos que recorrer ao canibalismo — murmurou ela. — Acabaríamos tendo que nos defender, dizendo que somos importantes demais para sermos comidos e eu corro o risco de ser a primeira a ir para o caldeirão...— Bella calouse quando sentiu o corpo de Josh sacudir-se de riso. — Eu devo ser a pessoa mais inútil do grupo. Relações públicas não é exatamente uma atividade de sobrevivência. — Mas fazer as pessoas rirem é — Josh assegurou. — Você é muito mais útil que a maioria das pessoas aqui, mas se chegarmos a tanto, eu vou dar um jeito de garantir que você não fique com o palito mais curto. — Obrigada — Bella murmurou, acomodando-se e passando o braço sobre o peito dele. — De qualquer forma, eu acho que se indicarmos Bryn para o caldeirão, não encontraremos muita oposição. A tempestade passou tão depressa quanto havia chegado. Em um minuto, a escuridão e o vento cortante desapareceram e houve um momento de silêncio tão profundo que os que estavam acordados mal puderam acreditar. Ouviam-se apenas os pingos d'água
Projeto Revisoras caindo das folhas das palmeiras e o murmúrio da água escorrendo da cobertura improvisada. Estava escuro demais para tomar qualquer outra providência. Assim, um a um todos se recostaram novamente para dormir. Bella estava com o corpo terrivelmente dolorido quando acordou na manhã seguinte e seu pé latejava demais. Ela disse a si mesma que o fato de senti-lo não deixava de ser um bom sinal, mas também estava se sentindo úmida e suja. Na noite anterior estava cansada demais para sentir qualquer coisa. Bella engatinhou para fora e viu a maior parte do grupo reunida, ansiosamente em torno do barco. Josh e Elvis estavam debruçados sobre o motor e todos pareciam comentar alguma coisa. — Eles não estão conseguindo dar a partida — sussurrou Cassandra. — Ainda bem que não comemos todos os sanduíches. Você acha que Josh sabe mesmo pescar? — ela perguntou, esperançosa. — Eu não tenho certeza, mas ele é muito bom com motores. Mal ela disse isso, e o ruído do motor ecoou alto. — Viva! — exclamou ele, batendo nas costas de Elvis. — Vamos terminar aqueles sanduíches e em seguida voltaremos para o hotel. Apesar do centro da tempestade ter se deslocado, deixou em seu rastro um mar agitado e um céu cinzento quase mais deprimente que a tempestade em si. Aisling e Bryn nitidamente não se falavam, e a atmosfera estava tão opressiva que eles mal puderam acreditar quando avistaram o barco de resgate. Ainda estavam a algumas horas do hotel e mudaram ansiosos para o barco mais veloz, à exceção de Josh, que se ofereceu para ficar com Elvis, a fim de falar com as autoridades e garantir que o menino não fosse culpado indevidamente. — Nós os seguiremos — disse ele. À medida que o barco de resgate se afastava, Bella olhou para trás e viu Josh com a camisa rasgada, sentado calmamente ao lado de Elvis, e seu coração se contraiu de amor por ele. Quando chegaram ao hotel, foram recebidos pelos outros hóspedes, preocupados. Bastara uma noite dormindo ao relento para os quartos parecerem mais luxuosos e confortáveis do que nunca. Um médico foi chamado para dar pontos no pé de Bella e medicá-la cora analgésicos. Ela desejou ardentemente que Josh estivesse ali para segurar sua mão. Finalmente, foi para o quarto e tomou o mais longo banho de sua vida. Chegou a lavar os cabelos três vezes para se livrar do sal e da areia e quando finalmente achou que estava limpa, deitou-se na cama para esperar Josh. Quando ele chegou, chovia pesadamente de novo. Bella havia cochilado e o quarto estava tão escuro que ela precisou acender o abajur para olhar as horas. Ficou impressionada ao dar-se conta de que ainda era o fim da tarde e que faltava uma boa hora para anoitecer. O ruído da chave de Josh na porta a fez recostar-se nos travesseiros e espreguiçar-se. — Você demorou tanto... Está tudo bem? — Eles queriam complicar as coisas para Elvis por ter saído com o barco. Pobre menino!
Projeto Revisoras — disse Josh, sentando-se na beirada da cama. — Acho que consegui convencê-los de que não foi culpa dele. Bella esperara muito pela chegada de Josh e agora que o tinha, ali, sentado ao seu lado, não sabia o que fazer. — O que aconteceu com a sua camisa? — perguntou, tentando controlar-se. — Acho que ela estava meio indecente. Me deram essa outra para usar antes de tomar banho. — Ele baixou os olhos para a camisa florida de cores berrantes. — Você gosta? — Para ser honesta, ela não combina muito com você. Josh sorriu sob a luz suave, os olhos de ambos se encontraram e se sustentaram por um breve momento. Com a chuva que caía, não se poderia dizer que houvesse silêncio, mas houve uma breve pausa que fez o coração de Bella disparar. — Como está o seu pé? — perguntou ele depois de um momento. — Doendo... Eles me deram pontos e trocaram o curativo. Acho que também não gostaram da sua outra camisa. Josh pegou o pé dela e segurou-o com delicadeza. — Eu não devia ter deixado você ajudar a mover o barco — disse ele. — Era perigoso demais para você. — Se era perigoso para mim, era perigoso para você. De qualquer forma, eu só cortei o pé. Não fui mordida por um tubarão e nem arrastada pelas ondas. — Você podia ter se afogado — Josh argumentou, ainda apreensivo. — Na noite passada, você disse que eu não estava com medo, mas eu estava. Quando a vi escorregar e sumir embaixo do barco, eu fiquei apavorado. Josh havia movido a mão quase sem perceber para o tornozelo de Bella. Ela engoliu em seco. — Eu sabia que você me salvaria. — Bella hesitou, dividida entre o desejo de entregar-se ao prazer do contato da mão dele com a sua perna e a necessidade de contar como se sentia. — Você salvou a todos — disse ela. — Não sei o que teria acontecido sem você. Eu fiquei tão orgulhosa de você, Josh. Todos nos descontrolamos ao menor sinal de perigo, mas você sabia exatamente o que fazer. — Ela sorriu. — Agora eu entendo por que as pessoas partem em expedições com você. A mão de Josh estava no joelho de Bella. — Eu a contrataria como primeiro-ajudante com toda certeza. — Mas eu fui inútil! Eu nem sabia o que fazer! — Sabia sim. Você sabe instintivamente que quando as coisas ficam difíceis, é importante haver alguém para aliviar a tensão, alguém que consiga fazer as pessoas rirem apesar de tudo, alguém que se dê bem com todo mundo. Na verdade, alguém como você. — A pele de Bella estava quente contra a sua mão. — Eu acho mesmo que devo levá-la em uma expedição um dia desses. Você gostaria? — Isso depende. Eu vou poder levar meu secador? — perguntou ela, um pouco sem fôlego. Estava intensamente consciente do toque da mão dele em sua pele, mas era
Projeto Revisoras difícil dizer se Josh sabia o que estava fazendo. — Você poderia levá-lo — brincou ele. — Só não sei se encontraria uma tomada para ligá-lo. Incapazes de manter a seriedade, os dois começaram a sorrir, mas no momento em que cometeram o erro de se olharem, o sorriso morreu abruptamente. — Eu fiquei apavorado quando achei que poderia perdê-la... Você é a minha melhor amiga. — E você é o meu. — Bella... — Ele parou, segurando a perna dela com mais força, enquanto o ar entre ambos ficava mais rarefeito. — Sim... — O coração dela batia tão forte que Bella mal conseguia respirar. Josh não tinha como transformar em palavras o que queria dizer. Ele apenas sabia. Assim, lentamente, inclinou-se para ela dando a Bella a chance de afastar-se, de fazer uma piada ou de quebrar o momento de alguma forma. Mas ela não fez nada. Apenas ficou ali, com os olhos escurecidos de desejo atraindo-o cada vez mais para perto... Assim, ele a beijou como vinha querendo beijá-la há muito tempo e foi como se os lábios de ambos tivessem sido criados para ficarem juntos. Bella deslizou as mãos pelos ombros dele, pousou-as no pescoço e retribuiu o beijo com uma intensidade que fez os dois caírem juntos na cama. Perdido no perfume dela, Josh deslizou os dedos por entre os cabelos loiros e sedosos e ergueu um pouco a cabeça para tirar alguns fios do rosto de Bella. Quando ela sorriu, ele quase explodiu de felicidade. — Melhores amigos não fazem essas coisas — ele sussurrou. — Não? — Normalmente, não. — Aqui não é normalmente — Bella murmurou, acariciando-o nas costas. — Nós sobrevivemos a uma tempestade no mar e agora nada mais parece normal. Quando as coisas se normalizarem, nós pensaremos no que os amigos fazem. — Mas aí talvez seja tarde demais — alertou Josh, mas seu toque traía a cautela das palavras e Bella puxou-o para si. — Eu sei — murmurou ela. — Mas agora, não vamos pensar em nada. Muito mais tarde, deitados juntos, Josh acariciou delicadamente o braço de Bella. Sentiase ótimo. Nunca havia feito amor como daquela vez. Mas, junto com a extrema sensação de paz, havia uma ponta de arrependimento. Do lado de fora, havia anoitecido, a chuva parara e havia ruídos de insetos no ar, pontuados por pingos d'água que caíam do telhado da varanda. — Ainda bem que não é sempre que enfrentamos situações de perigo — disse ele. Aninhada nos braços dele, com a perna sobre Josh e a mão em seu peito forte, Bella era pura alegria. Sentia-se perfeitamente completa e até um pouco surpresa por seu corpo não estar brilhando no escuro de satisfação.
Projeto Revisoras Se dissesse naquele momento que o amava, ele acharia que era o tipo de coisa que as mulheres diziam depois de dormir com um homem. Talvez pudesse contar quando voltassem para casa, pensou Bella. Certamente, ele não teria feito amor com ela daquela forma se continuasse pensando em Aisling. Bella pensou em dezenas de ex-namorados perfeitamente capazes de separar emoção de sexo, mas ela não achava que Josh fosse daquele tipo. Por outro lado, ele era um homem, lembrou ela, insegura. Mas não ia estragar aquele momento com pressões. Era melhor voltarem para casa e depois que Josh decidisse se era Aisling quem queria ou não, Bella poderia contar-lhe. Nesse meio tempo, levaria a situação com leveza. — É sempre assim que você reage depois de uma crise em expedições? — perguntou ela. — Eu não diria isso — respondeu Josh, seco. —- Mas o sexo é uma reação humana normal ao desastre. — Mas não houve desastre algum, Josh. — Tivemos sorte. Houve momentos ontem em que as coisas ficaram bem difíceis. — Josh abraçou-a com mais força quando lembrou-se de como estivera próximo de perdêla. — Se não tivéssemos chegado à ilha a tempo, eu não sei se o barco agüentaria... — Ele hesitou. — Isso vai mudar as coisas entre nós, Bella? — Você quer dizer, a parte da amizade? — E. Eu não quero que isso afete a nossa amizade. — Nem eu — disse ela, incapaz de resistir à tentação de acariciá-lo no peito de um jeito que uma amiga nunca faria. — Nós dois estávamos reagindo a uma crise. Pode ser diferente para você, mas eu nunca estive tão perto do perigo. Foi estranho e ainda não parece totalmente real. E vai parecer ainda menos quando voltarmos para casa. Iria mesmo parecer um sonho, pensou Josh. — Você acha que devemos fingir que nunca aconteceu? Bella nunca seria capaz daquilo. — Foi uma casualidade, Josh. As regras normais não se aplicam aqui. De onde estava, Bella não tinha como ver o rosto dele, mas praticamente sentiu quando ele ergueu a sobrancelha. — "As regras normais"? — repetiu ele. — Quais são elas? — Que somos bons amigos e que isso é importante para nós e que não queremos confundir a nossa amizade com... com isso. — Com sexo? — Exatamente — disse Bella, já deprimida. — Amanhã, voltaremos para casa, para a realidade e voltaremos a ser apenas amigos. Hoje será apenas uma coisa que aconteceu, e que foi maravilhosa, mas que não tem ligação com o que somos em casa. — Ela ergueu a cabeça para olhá-lo. — Faz sentido? — Acho que sim. Amanhã, tudo será diferente. — Mas ainda não é amanhã — Bella falou, sugestivamente, deslizando os dedos pelo
Projeto Revisoras peito dele. — E verdade — Josh levantou-se e colocou-a debaixo de si, beijando-a no ombro. — Você acha que devemos tirar o máximo proveito de hoje, enquanto ainda parece real? Ele acariciou-a lentamente. Bella estremeceu de prazer e percebeu que Josh estava sorrindo. — Acho que sim — concordou ela, sem fôlego, puxando-o para si.
CAPITULO X — Você está com fome? — Demais — disse Bella. — Que tal eu ir buscar alguma coisa para comermos? — ofereceu Josh. Bella esticou-se por cima dele para olhar o relógio de cabeceira. — Perdemos o jantar. Pena que não haja serviço de quarto. — A cozinha ainda deve estar aberta — Josh falou, levantando-se e procurando a calça. — Depois de tê-la salvo de um quase naufrágio, eu não posso permitir que morra de fome. Ele demorou muito tempo, mas Bella sabia que não voltaria de mãos vazias. Quando voltou, trazia uma bandeja com peixe grelhado, vegetais cozidos e fumegantes e duas cervejas geladas. — Como você conseguiu isso tudo? — perguntou Bella impressionada, enquanto ele colocava a bandeja na cama com uma mesura. — Elvis é sobrinho do barman e de um dos cozinheiros — disse Josh, imaginando se ela sabia como estava desejável. — O menino contou que eu tinha ido com ele à polícia e agora, eles estão me tratando como herói, apesar de eu não ter feito nada. E quando perguntei se havia sobrado alguma coisa do jantar, me fizeram ficar bebendo no bar enquanto o tio de Elvis preparava tudo isso. — O cheiro está ótimo — Bella elogiou, recostando-se nos travesseiros, sorrindo.— Você é um herói, Josh. Qualquer pessoa que consiga arrumar um jantar como esse a uma hora dessas é um herói para mim. Comeram tudo sentados na cama, enquanto conversavam alegremente. Estavam bastante relaxados, pensou Bella. Não parecia haver constrangimento pelo que tinham feito há pouco. Mais tarde, foram até a praia, sentaram-se nas sombras escuras das palmeiras e ficaram ouvindo o ruído das ondas batendo na praia. Quase não havia mais nuvens de chuva e a lua iluminava a água, deixando-a cinzenta. — Há tanta paz aqui — disse Bella, recostando-se nele. — É difícil lembrar de como foi a noite passada, não? Ele estava tentando não pensar em como a manhã chegaria rápido. Não conseguia
Projeto Revisoras afastar as mãos dela, era incapaz de parar de tocá-la e de imaginar que talvez fosse a última vez que fazia aquilo. Na manhã seguinte, o aeroporto estava lotado e caótico. Josh cuidou da bagagem enquanto Bella esperava. Era como se estivesse distante de tudo, ainda envolta no encantamento da noite anterior. Eles haviam se arrumado para partir em silêncio. Não havia nada a ser dito, pensara Bella. — Como está o seu pé? Bella virou-se e viu Aisling com uma aparência preocupada e cansada. — Está bem, obrigada — disse. Aisling era a última pessoa com quem queria conversar naquela manhã. Mas, por Josh, teria que ser educada. — Parece pior do que de fato é — continuou, apontando para o curativo. — E você? Como está? — Sentindo que cometi um erro monstruoso — Aisling respondeu francamente. — Bryn e eu tivemos uma briga horrível quando voltamos. Aqueles momentos terríveis no barco e na ilha me fizeram ver que ele nem se compara a Josh. Eu fui tão tola. — Ela suspirou. — Acho que me deixei iludir pela aparência e pelo status. Ela mordeu o lábio. — Não sei nem se ele me ama — confessou Aisling. — Ele disse que amava e que ia se separar da mulher, mas eu não sei se é verdade. Eu teria ficado melhor com Josh. — Josh merece mais do que ser a sua opção reserva — Bella aparteou, friamente. — Ele não está a sua disposição. O resto do encantamento da noite anterior se dissipou, deixando Bella exposta à dura realidade.Aisling queria Josh de volta. E ela, Bella, teria que deixá-lo escolher. A viagem de volta pareceu muito mais longe que a ida a Bella passou o tempo todo imaginando se havia jogado fora sua última chance de ser feliz com Josh. Chegaram bem tarde em Heathrow, depois de uma conexão atrasada em Paris. Bella estava tão cansada pela tensão do vôo e seu pé doía tanto que ela estava à beira das lágrimas. — Vamos pegar um táxi. — Josh pegou a mala enorme dela e colocou-a num carrinho junto com a sua. — Claro. Eu posso deixá-lo no caminho — disse ela, para que Josh soubesse que ela não esperava que ele a acompanhasse. — Ótimo — respondeu ele, seco. No caminho para a alfândega, quase atropelaram Aisling que olhava para as costas de Bryn enquanto este se afastava. — Ele foi embora e me deixou! — ela exclamou furiosa. — Está voltando para a mulher em Dorking. Aparentemente, ela o compreende de uma forma que eu nunca entenderei... O que eu vou fazer? Eu estava morando com ele no apartamento de Londres, mas ele nem me deixou uma chave para voltar hoje à noite. — É melhor vir conosco. — Bella tomou as rédeas da situação. — Você sempre pode ficar com Josh... Não é, Josh? As suas coisas ainda devem estar lá. — É verdade — disse Aisling, olhando esperançosa para Josh. — Você se incomoda,
Projeto Revisoras Josh? O que ele poderia dizer? Bella parecia decidida a jogar Aisling em cima dele. — É claro que você pode ficar. Suas coisas ainda estão onde você deixou. Vamos procurar um táxi. — Eu lamento, Josh — Aisling falou, quando o táxi entrou no túnel após deixar o aeroporto. — Acho que estraguei o nosso contrato. Bryn estava convencido de que a tempestade havia sido sua culpa e nós brigamos na noite passada. Eu devia ter tido mais cuidado, mas ele me irritou tanto! E agora eu temo que ele vete a nossa entrada na CBC. — Ainda é cedo para se preocupar — Josh comentou. — Vamos esperar para ver o que eles dizem. — Eu entendo se você não quiser mais que eu fique na empresa. — Aisling estava se sentindo péssima. — É claro que eu quero que fique — disse ele. — Você tem feito um ótimo trabalho e estava certa sobre essa viagem. Eu fiz muitos contatos interessantes essa semana e mesmo que não ganhemos o contrato principal, acho que terá valido a pena. O táxi ficou esperando enquanto Josh e Aisling descarregavam as malas de Bella. — Bem... até mais — Bella despediu-se, animada. — É... —- Josh hesitou, como se quisesse dizer mais alguma coisa, mas desistiu e fechou a porta. — Até. Quando o táxi saiu, Bella ainda conseguiu vê-lo abrir a porta para Aisling e segui-la sem nem olhar para trás. Então era isso. Estava de volta à realidade. Bella entrou em sua casa vazia e fria. Triste, ela foi mancando até a cozinha e acendeu todas as luzes que pôde. Sempre amara aquela casa, mas agora parecia triste, vazia e grande demais para só uma pessoa. Gostaria que Josh estivesse ali. Mas ele não estava. Estava com Aisling, pensou Bella, torturando-se. Desanimada, Bella arrastou-se para cima, deitou na cama e chorou. Acordou na manhã seguinte sentindo-se péssima e com aparência cansada e abatida. Lembrou-se de que Phoebe e Kate haviam ligado avisando que viriam visitá-la para saber das novidades. Teria de fazer alguma coisa para melhorar a aparência. Quando anoiteceu, os olhos de Bella estavam menos inchados e, com o bronzeado, ela achou que enganaria as amigas. Enganou-se. — Bella, querida, o que aconteceu? — perguntou Kate ao vê-la. — Você está com uma aparência péssima! — E — disse Phoebe. — O que houve? Bella forçou um sorriso. — Nada, a não ser o meu acidente — explicou Bella, mostrando o pé enfaixado. — Eu não vou poder usar meus sapatos favoritos por um bom tempo. E por isso que estou desanimada. — Ora, pare com isso — Kate interveio. — Conte-nos. — Eu nem sei por onde começar — Bella comentou, desanimada. — Comece pelo mais importante — aconselhou Phoebe, — Como está Josh?
Projeto Revisoras — Ele... ele... — Bella sentiu um nó tão grande na garganta que não conseguiu prosseguir. Para seu horror, ela explodiu em lágrimas. Phoebe preparou um chá e colocou uma xícara na frente de Bella, que soluçava com a cabeça enfiada nas mãos. — Vamos lá, Bella — pediu ela, dando um tapinha nas costas da amiga. — Coragem. Tome um pouco de chá. Em silêncio, Kate estendeu uma caixa de lenços de papel. Bella pegou um e assoou o nariz. — Desculpem — disse, enxugando o rosto. — Todas nós já fizemos isso — Kate lembrou. — No meu caso, aqui mesmo, em cima dessa mesa. — Eu lembro. — Uma sombra de sorriso brincou nos lábios de Bella. — Eu também chorei aqui por Gib — Phoebe interveio. — Agora, conte-nos o que aconteceu. — Uau! — exclamou Kate quando Bella terminou a história. — Não sei por que você está preocupada, Bella. Mesmo que não o conhecêssemos, está na cara que é você que Josh ama. — Então, por que ele foi embora com Aisling? — choramingou Bella. — Ele nem ligou para saber se eu fiquei bem. — Você poderia ligar para ele — sugeriu Phoebe. — Não — gemeu ela. — Ele provavelmente ainda está na cama com Aisling e mesmo que não esteja, eu não posso pressioná-lo por atenção. Eu disse que voltaríamos a ser amigos mas não sei se vou conseguir nem isso. — É claro que vocês vão continuar amigos depois de todos esses anos — disse Kate. — É que eu não sei se consigo se ele estiver com Aisling — soluçou ela. — Só sei que sinto falta dele... Phoebe abraçou a amiga e trocou um olhar com Kate, que sorriu. — Eu não vejo Josh voltando para Aisling — interveio ela. — Eles nunca foram muito convincentes como casal. — Kate tem razão — Phoebe aparteou. — Você e Josh foram feitos um para o outro e eu sei que ele também sabe disso. — Então, por que ele não ligou? — Talvez ele esteja com dificuldade em se livrar de Aisling. Talvez precise esclarecer primeiro as coisas com ela para vir até aqui. Mas Josh não apareceu, não ligou e nem mandou e-mail. Bella passou quatro dias verificando o telefone para ver se perdera alguma chamada. — Você acha que ele pode estar doente? — perguntou ela a Phoebe na manhã de sextafeira. — Não — Phoebe falou, paciente. — Acho que ele está esperando um contato seu. Pelo que você me contou sobre o vôo de volta, acho que ele está se corroendo, achando que
Projeto Revisoras você não quer nem mais sua amizade. — Ou está feliz demais com Aisling para ao menos pensar em mim — disse Bella, triste. — Você não saberá até falar com ele, não é? Não seja boba, Bella. Ligue para ele — aconselhou Phoebe. No fim, Bella mandou um e-mail que levou horas para escrever. Não queria que ele pensasse que estava sofrendo, mas precisava vê-lo. Assim, Bella disse que tinha estado terrivelmente ocupada e pediu desculpas por não ter ligado antes. Como sabia perfeitamente bem que Josh nem tentara falar com ela, ele não teria como saber. "Que tal um drinque qualquer dia desses?", concluíra ela tentando parecer casual e torcendo para Josh não perceber o tamanho do seu desespero. Depois de mandar, Bella checou seu e-mail de cinco em cinco minutos para ver se já havia resposta e quando o nome dele finalmente apareceu, ela sentiu o coração disparar. "Você vai fazer alguma coisa hoje?", escrevera ele. "Nada especial", respondera Bella o mais rápido possível. "Por que você não aparece? Podemos tomar um vinho e conversar. Será como nos velhos tempos!" "Ok", a resposta de Josh veio alguns minutos depois. Antes de ele chegar naquela noite, Bella ficou terrivelmente nervosa. Não sabia o que vestir, o que usar, nem como se comportar. O ruído da campainha interrompeu seus pensamentos e Bella sentiu o coração disparar novamente. Teve que respirar fundo várias vezes antes de abrir a porta e mesmo assim, quando o fez, pensou que fosse desmaiar. — Você anda muito ocupado? — perguntou ela, enquanto procurava o saca-rolhas. — Demais — Josh admitiu, sentando-se em um sofá na sala. — A CBC ligou um dia depois de chegarmos. Eles nos deram o contrato. — É mesmo?! — perguntou Bella surpresa. — Apesar de Bryn? — É que o homem que realmente decide na CBC também estava no barco — disse Josh. — Ele era o baixinho que nos ajudou a deslocar o barco. De qualquer forma, ele achou que somos exatamente o que ele precisa. — Josh, mas que notícia boa! — Bella estava realmente feliz por ele. Josh havia fundado a empresa há uns dois anos e ela sabia como ele precisava de um contrato como aquele para decolar. — Ele ficou muito impressionado com você — Josh contou. — Não parou de falar em como você era encantadora. Acho que você acabou fazendo muito mais que nós pela conquista do contrato. — Isso não é verdade. Bella serviu o vinho, entregou uma taça a Josh, sentou-se de pernas cruzadas na outra ponta, para que não houvesse a menor chance de tocá-lo e propôs um brinde. — Muito obrigado — disse ele. Houve uma pausa. Para um homem que acabara de assegurar a continuidade da empresa, Josh parecia muito pouco animado.
Projeto Revisoras — E como vai você? — perguntou ele algum tempo depois. — Bem. E você? — Bem. — Eu não sabia se você viria sozinho ou não — disse ela, fingindo animação. — Onde está Aisling? — Aisling? — perguntou Josh, como se estivesse confuso. — Não faço a menor idéia. As garras de aço que vinham apertando o coração de Bella desde que deixara o aeroporto pareceram relaxar um pouco. — Então, vocês não... — Não o quê? — Não estão juntos de novo? — Não — ele respondeu, seco. — Eu sinto muito. — Bella temeu tê-lo magoado. — Por quê? — Ora, é natural que eu sinta e você está infeliz. — Eu não estou infeliz — disparou Josh, bebendo um gole de vinho. — Não por Aisling — acrescentou. Ele estava se comportando tão estranhamente que Bella não sabia bem como reagir. — Bem, se não é por Aisling — disse, insegura — por que você está triste? Josh hesitou. — Pode me dizer — insistiu Bella. — É para isso que servem os amigos, não? — É esse o problema... Eu acho que não posso mais ser seu amigo. Ele disse aquilo com tanta seriedade que, por um momento, Bella apenas olhou-o, sem querer acreditar no que havia escutado. Ele não podia estar falando sério. — Não há como deixar de ser amigo, Josh — ela falou com voz trêmula. — Mas eu acho que seria mais fácil se não nos víssemos mais. — Mas... por quê? — Porque ser só seu amigo não é mais suficiente para mim. — Ele baixou a cabeça e escondeu-a entre as mãos. — Eu sinto, Bella, mas não posso. A última coisa que quero é machucá-la, mas eu não agüento mais. Nós nunca devíamos ter dormido juntos. Aquilo estragou tudo — prosseguiu ele, sem olhar a reação dela. — E eu sabia. Eu sabia que não conseguiríamos voltar ao que éramos antes. Eu, pelo menos, não consigo. Sei que vou sentir muito a sua falta, mas estou apaixonado demais para ser seu amigo. As palavras saíram num turbilhão. Bella nunca vira o sensato Josh soar tão incoerente e precisou de alguns momentos para perceber o que ele havia dito. Quando percebeu, engoliu em seco. — Josh... Mas sua voz não passava de um sussurro e ele continuou falando. Agora que havia
Projeto Revisoras começado, parecia incapaz de parar, — Eu não sabia o que lazer — disse ele, em desespero -Eu estava louco para vê-la mas sabia que ia querer beijá-la e isso não é bom. Sei que você quer continuar minha amiga, mas eu não consigo. — Josh... — tentou ela novamente. — Desculpe-me. Não quero deixá-la constrangida. — Ele nem estava ouvindo. — Eu sei que isso é terrível, mas tenho de dizer que a amo. Eu amo você — repetiu, desesperado. — Acho que não consigo viver sem você, mas sei o que você sente por Will e... — Josh! — Bella gritou e ele parou como se tivesse sido esbofeteado. — Você pode parar um pouco e me deixar falar? — Posso — disse ele, desconfiado. — Eu não estou apaixonada por Will — ela revelou, claramente. — Eu não quero ele. Quero você. Foi a vez de Josh encará-la, abrindo e fechando a boca como se não soubesse o que dizer. — O quê? — Eu só disse que estava apaixonada por Will porque você ficou noivo de Aisling — explicou. — Achei que seria mais fácil você achar que eu estava sofrendo por causa de Will. Mas não era. Era por sua causa. — Fácil? — Bem, eu não sabia que você me amava — Bella justificou, exasperada. Eles se encararam quase com irritação, até Josh compreender o significado das palavras dela. — Você está apaixonada por mim? — perguntou, incrédulo. Bella suspirou. — Acho que sempre estive. Só que levei muito tempo para perceber e quando percebi, achei que era tarde demais. — Você me ama? — Josh ainda tinha dificuldades em assimilar. — Sim — disse ela, simplesmente. — Amo. — Bella... — Sem deixar de olhá-la, ele começou a rir. — Bella! — E puxou-a para si para beijá-la. — Sabe quantos anos eu esperei ouvi-la dizer isso? Quatorze! — Você não quer que eu acredite que sempre me amou. — Sempre — disse ele. — Eu me apaixonei por você à primeira vista. — Por que você não me disse? — murmurou ela, baixinho. — Porque você era demais para mim — disse ele, acariciando-a febrilmente. — Aí, optei pela sua amizade. Disse a mim mesmo que aquilo era melhor do que nada e tratei de lidar com o fato de que você acabaria com outro. Eu odiei quando você começou a sair com Will, mas você parecia tão apaixonada que não havia nada que eu pudesse fazer. Acho que foi por isso que me aproximei de Aisling — prosseguiu ele. — Eu achei que ela poderia ser como você, mas ela não era você. Assim, foi um alívio quando ela rompeu o noivado. E você... — Josh interrompeu-se, deitou-a no sofá e cobriu-a de beijos longos e desesperados. — Eu a amo, preciso de você e quero saber que você estará me
Projeto Revisoras esperando quando eu voltar para casa. E então? Será que podemos ser amantes além de amigos? — Claro — disse Bella, puxando-o novamente para si. — Podemos e seremos. — Quanto mistério! — Gib reclamou quando Bella abriu a porta. — Phoebe só me disse que nós havíamos sido convocados para jantar. O que vocês estão me escondendo? — Eu lhe disse tudo o que sabia — protestou Phoebe. — Diga a ele, Bella. — É verdade. Ela sabe tanto quanto você. É uma surpresa para todos. — Bella sorriu, radiante. — Venham... Kate e Finn já chegaram. — Ainda bem que você chegaram! — exclamou Kate, abraçando Phoebe e Gib a caminho da sala. — Finn e eu estamos morrendo de curiosidade, não é? — Eu mal posso agüentar — confirmou ele. — Vamos lá, Bella. Qual é a grande surpresa? — pressionou Gib. Bella olhou para Josh, que sorriu e pegou a mão dela. — Bella e eu vamos nos casar — anunciou ele. Houve um momento de silêncio e então os dois outros casais começaram a rir. — Bem, disso nós sabíamos! — Isso não é surpresa — reclamou Phoebe. — Eu concordo — disse Kate. — Nós sabemos disso há anos. Eu disse a Finn há algumas semanas que vocês finalmente iam se entender. — Eu pensei que no mínimo você fosse anunciar que estava grávida — disse Phoebe. — Bem, foi uma surpresa para nós — Bella falou, fingindo ter se ofendido, mas Josh também estava rindo. — Não adianta — disse ele. — E nisso que dá ter bons amigos. Eles nos conhecem melhor do que nós mesmos. — Mas estamos muito felizes por vocês terem finalmente se entendido. — Phoebe correu para abraçá-los. — Não era sem tempo — acrescentou Kate. — Estávamos começando a achar que vocês nunca se entenderiam! — É perfeito, não? — Gib falou, quando a garrafa de champanhe foi aberta. — Três noivados de mentira, com três finais felizes! Josh passou o braço em torno de Bella e beijou-a. — Três começos felizes — disse.