Nunca diga adeus (Never say goodbye) Sabrina no. 314
Betty Neels
"Nenhum homem tem o direito de ser tão bonito assim", pensou Isabel, quando viu o Dr.Thomas Winter pela primeira vez.Porém, seu entusiasmo logo esfriou.Excessivamente seguro de si, o médico era de uma arrogância irritante.Isabel queria tirá-lo da cabeça e do coração.Mas como, se sua profissão de enfermeira a aproximava cada vez mais de Thomas?Era um tormento estar ao lado dele e não merecer a mínima atenção!Ainda por cima, havia a esfuziante Ella Stokes: linda, sofisticada, insinuante, que não largava Thomas um minuto sequer. Ele precisava dar um jeito de esquecer aquele amor.
NUNCA DIGA ADEUS “NEVER SAY GOODBYE”
BETTY NEELS
Capítulo I Livros Florzinha
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A julgar por sua aparência exterior, aquela casa situada em um dos bairros elegantes de Londres não deixava perceber o luxo do hall de entrada, forrado com ricos tapetes persas, e muito menos a imponência do salão, em cuja porta estava um mordomo impassível e vestido com muita correção. Isabel Barrington passou por ele e sentou-se, conforme o criado indicara. Esperou que ele tivesse fechado a porta e levantou-se, examinando detidamente o salão. Era decorado com muito bom gosto, com painéis de seda cobrindo as paredes, uma lareira de mármore e belas poltronas em estilo francês, recobertas de tapeçarias. O restante da mobília era em estilo inglês. Isabel achou, entretanto, que aquele salão não fazia nem um pouco seu gênero. Era sem dúvida muito apropriado para pessoas de um outro mundo, habituadas a um estilo de vida requintado, capazes, por exemplo, de entender tudo o que se cantava numa ópera italiana e outras sofisticações do gênero. Isabel estudou a grande quantidade de retratos que pendiam das paredes: cavalheiros de peruca ou de uniforme, todos com os mesmos traços regulares e belos; senhoras sem muita beleza, o que era surpreendente, mas quase todas de grande meiguice de expressão. Isabel, observando o retrato de uma jovem com um elegante vestido do final do século XIX, concluiu que os homens da família, por serem muito bonitos, podiam dar-se ao luxo de casar com mulheres não tão belas assim. "Provavelmente todas elas trouxeram ricos dotes", pensou, voltando a sentar-se. Talvez Isabel não combinasse com o salão quanto à elegância, mas entre ela e as várias mulheres retratadas a ausência de uma grande beleza era comum. Era um tanto baixa, tinha belas pernas e um rosto sem grande formosura, devido à boca um tanto rasgada e o nariz pequeno demais, embora sua pele fosse fresca como a de um bebê e seus olhos azuis como o céu possuíssem um brilho extraordinário. Usava um vestido azul, muito simples, e tinha uma 2
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aparência extremamente agradável.Assim que a porta se abriu ela levantouse com o ar calmo e seguro. — Srta. Barrington? O homem que lhe dirigia a palavra dava a impressão de ter saído de um dos retratos pendurados nas paredes. Tinha exatamente aquela aparência bonita e a expressão um pouco autoritária, se bem que seus cabelos fossem curtos e o terno, muito bem talhado, indicasse um gosto dos mais modernos. — Sim. O senhor é o Dr. Winter? Ele atravessou o salão e parou diante de Isabel. Era alto, atlético e aparentava pouco mais de trinta anos. Não respondeu de imediato, mas ficou a observá-la com certa frieza. — A agência garantiu que enviaria uma enfermeira sensata, experiente e de bom gênio. — Garanto que sou muito sensata e, além disso, possuo oito anos de experiência como enfermeira. Quanto ao bom gênio, não há a menor dúvida que tenho, se por bom gênio se entende uma pessoa não se deixar ofender por certas grosserias ou não perder a cabeça quando as coisas não vão muito bem. Posso me sentar? — Perdoe-me, por favor. Acomode-se. — ele não se sentou, mas começou a andar pelo salão. — Devo dizer que a senhorita não é o tipo de enfermeira que eu pretendia levar comigo. Já viajou para o exterior? __ Mão, mas já exerci a minha profissão em situações bem diversas, algumas delas muito pouco comuns. — É jovem demais — ele parou de andar e encarou-a. — Tenho vinte e cinco anos. Acho que é uma idade em que se inicia a sensatez. — As mulheres não são sensatas nunca — observou o Dr. Winter, com evidente amargura. Isabel estudou-o cuidadosamente. Era um homem de gênio forte, mas provavelmente justo. Com toda certeza era bom pai e marido. — Mas, então, não importa qual é a minha verdadeira idade, não é mesmo? Livros Florzinha
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Ele sorriu e seu rosto transformou-se a tal ponto que Isabel percebeu que o Dr. Winter podia ser um homem encantador, quando queria. — Mesmo assim. . . Nesse momento a porta se abriu e o criado entrou, murmurando algo e retirando se logo em seguida. — Desculpe-me durante alguns instantes, srta. Barrington. Não vou demorar. Ela voltou a contemplar os retratos dos antepassados nas paredes, se bem que agora não prestasse muita atenção no que via. Tinha tanto em que pensar... Seria terrível se não conseguisse o emprego. Tinha grande necessidade dele. .Quando tivera que deixar o hospital e empregar-se como enfermeira acompanhante, não havia ficado nada entusiasmada. Amava seu trabalho no setor de cirurgia do hospital, gostava imensamente de seu quartinho e de ir para casa nos dias de folga. No entanto, chegou o dia em que Bobby, seu único irmão, bem mais jovem do que ela teve a oportunidade de freqüentar uma boa escola e sua mãe confessou que não havia dinheiro suficiente para envia-lo. Assim, Isabel desistiu do emprego no hospital, apresentou seu nome numa agência e, trabalhando sem cessar como enfermeira particular, ganhou o suficiente para garantir uma boa educação para o garoto. Não gostava muito do que fazia. Era uma vida solitária e agora tinha muito menos tempo livre. Por outro lado, podia ganhar quase o dobro e não precisava ter despesas com quarto e comida. Além do mais, não precisaria trabalhar naquilo para sempre. Bobby era um rapaz inteligente, dentro de quatro ou cinco anos certamente entraria para a universidade e ela poderia voltar para o emprego em algum hospital. £ claro que gostaria de casar-se, mas não tinha muitas ilusões a respeito de sua aparência. Muito embora soubesse costurar, cozinhar e cuidar de uma casa, nunca tivera a chance de conhecer um homem suficientemente bem para que ele apreciasse suas qualidades. Ela não confiava essa tristeza a ninguém, o que a ajudava a manter seu senso de humor, a manter-se sempre calma e a mostrar-se decidida a tirar o melhor partido das situações. 4
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Controlou-se, disposta a ouvir uma negativa do Dr. Winter, e quando ele entrou novamente no salão, enfrentou-o com a mais absoluta calma. — Foi lá da agência. Quiseram saber se eu fiquei satisfeito com a senhorita. Quando disse que esperava alguém com mais idade e experiência, disseram que sentiam muito, mas que não tinham no momento ninguém com tais qualificações. — Ele a encarou com certa irritação: — Pretendo deixar a Inglaterra dentro de dois dias e não será possível encontrar alguém dentro de quarenta e oito horas, Terei que leva-la comigo. — O senhor não se arrependerá. Não quer me dizer quais serão os meus deveres e que tipo de paciente terei sob a minha responsabilidade? — Trata-se de uma senhora idosa, com artrite. Ela foi minha babá. Imaginar que aquele gigante, tão seguro de si, tivesse um dia uma babá, mesmo quando criança deixou Isabel bastante surpreendida, mas o modo como ele a encarou impedia a menor manifestação nesse sentido. Finalmente ele sentou-se numa das cadeiras, que rangeu sob seu peso. — Ela casou cora um polonês e mora na cidade de Gdansk. O marido dela morreu no ano passado e desde então estamos tentando conseguir a permissão para ela voltar para a Inglaterra. Agora, finalmente, consegui e pretendo trazê-la comigo. Preciso de uma enfermeira que me acompanhe, pois ela não consegue fazer muita coisa sozinha. — E quando voltaremos para a Inglaterra? — Voaremos para Estocolmo, onde passaremos a noite no apartamento de um amigo. No dia seguinte pegaremos um navio para Gdansk. Provavelmente ficaremos uns dois dias lá e voltaremos para Estocolmo, de onde regressaremos a Londres. Creio que uma semana é mais do que suficiente. Precisarei dos seus serviços enquanto não encontrar alguém mais apropriado. — E por que não vamos diretamente a Gdansk e de lá voltamos para a Inglaterra? — A Sra. Olbinski é uma mulher doente. É absolutamente necessário que viaje com todo o conforto possível. Voltaremos de navio a Estocolmo e passaremos pelo menos um dia lá, a fim de que ela possa repousar, antes de pegarmos o avião para Londres. A senhorita tem passaporte? Livros Florzinha
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— Não, mas posso tirar. — Muito bem. Creio que, dadas às circunstâncias, é o que se pode fazer de melhor. Não é exatamente o que eu queria, mas pelo visto não me resta outra escolha. — O senhor está sendo bastante claro, Dr. Winter. Quer combinar os detalhes cia viagem agora ou prefere notificar a agência? — Entrarei em contato com a agência amanhã. -— O Dr. Winter consultou o relógio. — Tenho um encontro daqui a pouco e não posso perder tempo. A senhorita receberá todas as instruções necessárias. — Muito bem, Dr. Winter. — Isabel levantou-se. — Gostaria que eu usasse uniforme? — Ele não respondeu e ela julgou conveniente dar uma explicação: — O fato de eu andar uniformizada pode ajudar, se acaso o senhor tiver alguma dificuldade com as autoridades. — É mais esperta do que eu imaginava, srta. Barrington. Gostaria muito que usasse o uniforme. — Ele caminhou na frente dela e abriu a porta. — Poderia colocar as suas coisas numa única mala? Darei os demais detalhes durante a viagem. __ Ótimo. É bom saber algo a respeito de uma pessoa antes de cuidar dela. Até logo, Dr. Winter. Isabel sorriu com gentileza e saiu. Tomou o ônibus e dentro de uma hora estava em casa. A residência era igualzinha às dezenas de outras que havia na mesma rua, mas com uma diferença: a pequena sala de estar estava mobiliada com móveis disparatados, que tinham sobrado da venda da sua casa, dez anos antes lsabel nunca entrava em sua atual resíctência sem sentir saudade daquela pequena casa de aldeia onde havia nascido e se criara, mas jamais tocava no assunto. Tinha certeza de que sua mãe, em relação a isso, sentia-se muito pior do que ela. Sua mãe estava sentada à mesa, costurando. Era uma mulher baixinha, tinha cabelos castanhos, tão escuros quanto os de sua filha, olhos azuis e um belo rosto. 6
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— E então, meu bem, conseguiu o emprego? — perguntou, assim que ela entrou. Isabel tirou os sapatos e aninhou-se numa poltrona. — Sim, mas apenas por uma ou duas semanas. O Dr. Winter não ficou muito entusiasmado comigo, mas não havia mais ninguém. Devo acompanhá-lo até a Polônia, onde iremos buscar a sua velha ama. — Polônia. — A mãe ficou um tanto alarmada. — Mas fica na Europa oriental! — Ele conseguiu uma permissão e a sua ama poderá voltar para a Inglaterra. O marido dela morreu no ano passado e a mulher está com artrite. É por isso que eu vou acompanhá-lo. Ela precisará de alguém que a ajude a se vestir e coisas desse tipo. — E esse Dr. Winter, como é? — Muito alto grandalhão e pouco amável. Pelo menos agiu assim comigo, mas é que ele esperava, alguém mais velha. Tem uma bela casa. Amanhã, na agência, me darão todos os detalhes e devo viajar dentro de dois dias, uniformizada. — Vou servir o chá. E esse Dr. Winter já tem certa idade? — Não. Acho que está com pouco mais de trinta anos. — É casado? — Não tenho a menor idéia. Creio que sim. Penso que ele não gostaria de morar sozinho numa casa tão grande quanto aquela, não é mesmo? Isabel seguiu sua mãe até a cozinha e pôs a chaleira para ferver, indo então para o jardinzinho dos fundos. Não tinha mais do que dois canteiros, mas muito bem cuidados e cheios de flores. Um gato estava deitado entre as tulipas e os amores-perfeitos. —Olá, Bigode disse Isabel, inclinando-se a fim de examinar a pequena roseira florida, da qual gostava de cuidar quando estava em casa. — Mamãe, a roseira está cheia de botões e quando eu voltar eles já terão desabrochado. Passou a tarde fazendo uma lista das coisas que seria preciso levar. Hesitou em incluir na bagagem um casaco leve e uma saia. O Dr. Winter havia recomendado que levasse uniforme, mas, se iriam passar uni dia em Livros Florzinha
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Estocolmo, não precisaria andar uniformizada, o mesmo acontecendo em relação à viagem até lá. Quem sabe na agência lhe dessem informações mais seguras... A secretária da agência mostrou-se muito mal informada, pois não tinha a menor idéia sobre as perguntas que Isabel lhe fez, limitando-se a entregarlhe um grande envelope, comentando que ele continha todas as informações desejadas. A velha funcionária fez cara feia quando Isabel sentou-se e leu com cuidado o conteúdo do envelope. Com o bom senso que lhe era peculiar, comentou que seria bastante aborrecido voltar para casa e descobrir que faltava alguma informação importante. O papel continha todas as informações de que ela necessitava, bem como a passagem, a hora do embarque, o local de encontro no aeroporto e uma quantia generosa, a fim de que ela tivesse com que pagar suas despesas. Havia também um bilhete escrito a máquina e assinado T. Winter, dizendo que não precisaria usar uniforme até partirem de Estocolmo. Isabel colocou tudo de volta no envelope, desejou um bom dia à impaciente funcionária e foi até uma repartição pública retirar o passaporte. Antes, porém, precisava tirar alguma fotos. Elas não saíram de todo más, embora estivessem longe de fazer-lhe justiça. Além do mais, tinha um ar de surpresa e seus olhos estavam meio fechados. O funcionário da repartição aceitou-as sem fazer o menor comentário. Sua mãe, como era natural, achouas horrorosas. Para ela, o rosto de Isabel, que, aliás, nada tinha de excepcional, era lindo. Isabel saiu para o aeroporto com bastante antecedência, carregando uma pequena mala E uma grande bolsa de couro, que continham tudo aquilo de que necessitaria para a viagem. Depois de refletir um pouco decidiu usai uma saia toda pregueada, cor de café, com um casaquinho que combinava com ela, e uma blusa fina, em tom creme. Colocou mais duas blusas na mala e, como tinha sido informada de que na Suécia fazia frio até mesmo no início do verão, acrescentou à bagagem um espesso pulôver de lã comprado no último Natal. 8
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Ao chegar ao aeroporto foi para o portão número dois, obedecendo às instruções recebidas. Estava dez minutos adiantada, mas não se impacientou, olhando o movimento dos táxis e passageiros. Levou um susto, ao ouvir de repente a voz profunda do Dr. Winter: — Bom dia, srta. Barrington. Precisamos despachar a bagagem. — Queira me acompanhar. Ela cumprimentou-o com cortesia e o carregador levou sua mala até o balcão da companhia aérea, a fim de que fosse pesada. Isabel entregou a passagem ao médico e, enquanto a bagagem era despachada, ficou a contemplá-lo. Ele era sem dúvida um belo homem, o tipo de pessoa que não admitia obstáculos quando queria conseguir algo. Isabel sentiu-se aliviada ao perceber que ele estava melhor de humor, o que o fazia parecer bem mais jovem. O terno de flanela que usava, tão elegante quanto o terno cinza que trajava na ocasião da entrevista, dava-lhe uma aparência mais descontraída e acessível. — Bem, vamos tomar um café enquanto aguardamos o embarque. O médico exprimia-se com gentileza e Isabel subiu a escada a seu lado, esperando-o durante alguns minutos. Sentaram-se no bar, pediram o café e o Dr. Winter entregou-lhe o jornal do dia, ficando com a revista. Entregou-lhe o jornal do dia, ficando com a revista Isabel que tinha dormido mal, tomou o café recostou-se na cadeira, dobrou o jornal e fechou os olhos. Quase adormeceu e o médico olhou-a, intrigado. Não era de modo algum um homem convencido, mas até então nenhuma mulher tinha adormecido em sua companhia. Ele procurou não dar muita importância ao fato, pois, afinal de cotas, não tinha feito nenhum esforço para conversar com ela. Isabel, que não era um exemplo de beleza, tinha, porém, um ar encantador quando dormia. Seus lábios afastaram-se ligeiramente e suas pestanas, longas e castanhas, davam-lhe uma aparência bem mais jovem do que seus Livros Florzinha
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vinte e cinco anos.O Dr. Winter franziu a testa e tossiu, discretamente. Isabel abriu os olhos e endireitou-se na cadeira assustada. — Já está na hora? — Não, não. Sinto muito se a acordei. E que fiquei surpreendido. .. — Por que dormi? Tenho certeza que nenhuma mulher dorme quando está em sua companhia. É claro que me refiro às enfermeiras, quando o senhor está fazendo alguma palestra. Espero que seja casado. — Pois as suas expectativas não são corretas, srta. Barrington, Talvez fosse melhor eu chamá-la de enfermeira Barrington... — Sim, Dr. Winter. Isabel sentiu-se tão desapontada com aquela atitude que desviou o olhar. Percorreu rapidamente o jornal e preencheu as palavras cruzadas enquanto o médico voltava a ler a revista. Quando entraram no avião ela sentou-se do lado da janela c ficou surpreendida ao constatar que viajavam na primeira classe. Amarrou o cinto e olhou pela janela. Somente quando o avião decolou é que ela relaxou e recostou-se na poltrona. — Já tinha andado de avião? — perguntou o Dr. Winter. Ele parecia fazer aquela indagação não por verdadeiro interesse, mas apenas para mostrar-se educado. Ela disse que sim e prestou atenção na aeromoça, que dava instruções aos passageiros caso houvesse alguma emergência. Logo em seguida foi servido o café depois o almoço. Era uma refeição saborosa, acompanhada de vinho e de mais café Isabel comeu com apetite, ouviu com polidez os poucos comentários do Dr. Winter e examinou os folhetos turísticos sobre a Suécia. Era uma pena não poder ficar mais tempo lá, mas ainda assim valeria a pena passar um dia em Estocolmo, pois havia muito a ser visto na capital. Um homem encorpado, muito loiro e de olhos azuis, com uma expressão calma no rosto, esperava-os no aeroporto. Ele e o Dr. Winter cumprimentaram-se como velhos amigos e, quando o médico apresentou lhe Isabel, apertou sua mão e sorriu. 10
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— Muito prazer, sou Cari Janssen. Iremos imediatamente para casa e ficará conhecendo Christína, minha mulher. Ele abriu a porta do carro e a fez entrar, enquanto o Dr. Winter sentava-se no banco da frente. Isabel, que a despeito de sua natureza equilibrada tinha-se sentido um tanto inibida pelas maneiras indiferentes do Dr. Winter, agora estava mais à vontade. A acolhida amável do Sr. Janssen havia derretido o gelo. Relaxou e pôs-se a contemplar a paisagem. O que via era bonito demais. Já se aproximavam da cidade, que a distância parecia muito moderna, arborizada e cheia de parques. O carro diminuiu a velocidade quando chegaram ao centro e as ruas tornaram-se estreitas, — Estamos em Gamía Stan, a cidade velha informou o Sr. Janssen. — Moramos aqui. É, sem dúvida, o lado mais bonito de Estocolmo. — Quando atravessavam uma praça, ele fez um comentário: — Olhe rápido! Ali está o Palácio Real é Siorkyrkan, a igreja mais antiga da cidade. Não podem deixar de visitá-los! O carro entrou por um labirinto de ruas muito estreitas é, passando por um arco, foi parar numa pracinha retangular, rodeada por velhas casas com pequenas janelas na fachada e balcões de ferro forjado. — É aqui que moramos — disse Cari Janssen, sem esconder a sua satisfação que sentia. Com um gesto galante ele abriu a porta do carro e Isabel desceu, olhando à sua volta. Ninguém seria capaz de dizer que estavam em pleno coração de uma capital movimentada. Não se via viva alma nas ruas, se bem que o vento agitasse as cortinas, através das janelas escancaradas. De uma das casas vinha o barulho de uma criança que gritava e o som de música. Por entre os telhados das casas, Isabel percebeu a torre de uma igreja e nos jardins em frente das residências floresciam lírios. — Mas isto aqui é um paraíso! — exclamou Isabel. — Quase disse o anfitrião, com ar satisfeito. — Mas vamos entrar e conhecer minha mulher. Abriu a porta e subiram peia escada, no topo da qual uma jovem, quase da mesma idade de Isabel, os aguardava. Muito cordial e alegre, pegou sua mão. Livros Florzinha
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— Você é a enfermeira? Meu nome é Christina. — Isabel. . — Que lindo nome! Vamos entrar. Thomas, que bom voltar a ver você! Ela abraçou e beijou o médico, com efusão. Isabel, observando-o, notou a diferença quando ele sorria daquele jeito. Era uma pena que isso não acontecesse com maior freqüência, Além do mais, descobrir que ele se chamava Thomas tornava as coisas um tanto diferentes. . . O Dr. Winter lançou-lhe um olhar severo, destinado a mantê-la à distância, e não deixou a formalidade de lado. — Srta. Barrington, o senhor e a Sra. Janssen são velhos amigos meus. — Vamos sentar, tomar um chazinho e em seguida eu lhes mostrarei os seus quartos disse Christina, muito gentil. — Thomas, você ficará no quarto de sempre. Para Isabel, reservamos o quarto que dá para frente, assim ela poderá apreciar melhor os jardins. Christina tirou o casaco de Isabel e prometeu que lhe mostraria seu filhinho, assim que ele acordasse. — Demos a ele o nome de Thomas, por causa do nosso amigo. É uma criança perfeita! Christina foi até a cozinha e Cari começou a falar a respeito da viagem: — Você tem todos os documentos necessários? Sem isso pode haver complicações. Acho muito bom que leve Isabel em sua companhia. Uma enfermeira competente pode ser muito útil, sobretudo porque a Sra. Olbinski é paralítica. Não se sente nervosa? Indagou, voltando-se para Isabel. — Só porque se trata da Polônia? Absolutamente! Os poloneses são gente muito amável, não é mesmo? — Com efeito, são amabilíssimos e cheios de vida. Cari ajudou sua mulher a servir o chá e a conversa girou em torno do trabalho dele e dos planos do casal em relação às férias de verão. — Temos um barco e costumamos navegar pelo lago Malaren e pelo mar Báltico contou Cari para Isabel. 12
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— As ilhas ao longo do litoral são lindas e se estendem por quilômetros e quilômetros, É muito fácil a gente se perder no meio delas. — E costumam levar o pequeno Thomas com vocês? — Claro! Ele tem nove meses de idade e é uma criança muito dócil. — Ainda estarão aqui quando voltarmos? — perguntou o Dr. Winter. —Viajaremos daqui a três dias, mas, quando vocês voltarem, encontrarão a chave com o nosso vizinho do andar de baixo. E como está a sua velha babá? — Telefonei a semana passada e voltarei a telefonar mais tarde, se você não se incomodar. Ela está ansiosa para nos ver e para voltar para casa. — Vocês poderão ficar aqui em casa pelo tempo que quiserem declarou Christina. — Isabel, agora vou lhe mostrar o seu quarto. Assim que desfizer as malas, volte para cá e conversaremos um pouco mais. O quarto era encantador e mobiliado com extrema simplicidade. Sobre uma mesinha próxima a janela havia um vaso com flores e os jardins das casas lembravam a Isabel os contos de fadas de Andersen. Olhou para a espaçosa cama, com seu acolchoado de plumas, e teve certeza de que iria dormir profundamente. Era uma pena que o Dr. Winter não se mostrasse mais amável e acessível, mas não havia nada que ela pudesse fazer a respeito. Tomou banho, colocou uma blusa limpa, penteou-se, maquilou-se e voltou para a sala de estar. Jantaram numa saleta, depois que o bebê mamou e foi posto para dormir. A refeição era tipicamente sueca, com um grande prato de arenques, batatas, cebola e creme, seguido por panquecas com geléia, café e Aquavit, uma bebida típica muito forte, que só os homens tomaram. As mulheres tiraram a mesa e, assim que terminaram, Isabel ficou muito surpreendida ao ver o Dr. Winter seguir seu amigo até a cozinha, esplendidamente equipada, e fechar a porta. — Thomas lava os pratos como ninguém observou Christina. Isabel viu-se diante de um outro aspecto da personalidade daquele homem.Aquilo jamais lhe teria passado pela cabeça! Imagine só lavar pratos! Livros Florzinha
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Será que aquele pomposo mordomo da mansão de Londres sabia disso? E, caso soubesse, o que diria? Foi deitar-se cedo, imaginando que o Dr. Winter e seus amigos haveriam de querer conversar a vontade. Somente quando tomava café, na manhã seguinte, soube que o Dr. Winter não conseguira completar a ligação, pois informaram-lhe que o telefone não atendia. Agora discutia sobre a possibilidade de reservar lugar no próximo vôo para Gdansk e foi aconselhado por Cari: — Não se precipite, Thomas. Mantenha os seus planos e tome o barco hoje à noite. O Dr. Winter encarou-o durante alguns segundos e acabou concordando. — Pois então está combinado! Disse Christina. — Thomas, leve Isabel para ver Estocolmo e quando voltarem já estará pronto o smõrgasbord, o prato típico sueco mais gostoso que existe. . De repente Isabel estava na rua, com o Dr. Winter a seu lado. Ele não tinha levantado a menor objeção em acompanhá-la, mas também não demonstrara nenhum entusiasmo. — Gostaria de ir fazer compras? — perguntou, enquanto paravam na frente de uma pequena loja de antiguidades. — Não, obrigada. Gostaria de ver a estátua de São Jorge e o Dragão, o Palácio Real e o lago. Creio que não haverá tempo para visitarmos o palácio, mas, se isto não o aborrecer, queria demais andar pelas ruas da cidade velha. — Pois, então, acho melhor começarmos pela estátua de São Jorge e o Dragão disse o Dr. Winter, consultando o relógio. Ele revelou-se um bom guia, pois já tinha estado na cidade e sabia como andar de um lugar para outro sem perder-se. Aguardou com impaciência enquanto Isabel olhava a fachada das igrejas, comprava cartões e contemplava o lago. Estava uma bela manhã, apesar de um tanto fresca, e ela não se arrependeu de ter trazido seu agasalho. Não imaginava como seria aquela cidade em pleno inverno! — O senhor já esteve aqui no inverno? 14
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— Oh, sim, diversas vezes. É muito bonito. Claro que é preciso saber esquiar e patinar. Naturalmente julgava que Isabel não sabia fazer nada disso e ela achou que não deveria corrigi-lo. Tomaram café num pequeno restaurante apinhado de gente, numa ruazinha da cidade velha, e ela não protestou quando ele sugeriu que deveriam voltar para o apartamento dos Janssen. Quando aproximavam-se do lugar, o Dr. Winter fez uma observação: — São necessários vários dias para ver o que existe de melhor em Estocolmo. Aqui há alguns museus esplêndidos, caso esteja interessada no assunto. — Estou, sim. Além do mais, há o jardim de Milles, com todas aquelas estátuas tão famosas. . . Muito obrigado Dr. Winter Gostei imensamente foi muita gentileza de sua parte. Estavam parados diante da porta dos Janssen e tudo à sua volta estava muito calmo. — Não foi gentileza, não, srta. Barrington. Jamais me passou pela cabeça levá-la para dar um passeio. Só fiz isso porque Christina decidiu assim, sem me consultar. — Sim, eu sei disse Isabel, abrindo a porta e fingindo que não se importava com aquele comentário um tanto rude. Após o almoço, os homens saíram, deixando Isabel e Christina tirar a mesa. Em seguida puseram o pequeno Thomas no carrinho e saíram para dar uma volta. Percorreram mais uma vez as ruas estreitas do bairro e voltaram peta avenida da beira do lago. Tinham muito o que conversar, mas não tocavam nenhuma vez no nome do Dr. Winter. O barco deveria sair no meio da tarde. Após o chá, Isabel voltou a fazer a mala mais uma vez, despediu-se com muita pena dos Janssen, apesar de estar contente por saber que voltariam dentro de uma semana, e entrou no carro de Cari.
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O porto não ficava longe e, enquanto ela esperava no cais, Cari e o Dr. Winter foram providenciar as passagens. Voltaram com um carregador e Cari despediu-se, beijando-a NO rosto. — Esperamos ver você de volta muito em breve, Isabel. Até mesmo o pequeno Thomas sentirá a sua falta. Isso, porém, não acontecia com o grande Thomas, que disfarçava a impaciência na medida em que suas boas maneiras assim o exigiam. O navio era grande, espaçoso e a Isabel foi dada uma cabine esplêndida, com um pequeno banheiro. Ela tirou o uniforme da mala e pendurou-o, pois iria desembarcar com ele. O Dr. Winter entregou-a aos cuidados de uma camareira, sugerindo que fosse encontrá-lo no restaurante assim que o navio partisse, isto é, dentro de uma hora. Ela ficou pronta muito antes disso e preencheu o tempo de espera lendo vários folhetos a respeito da cidade de Gdansk e seu porto, Gdynia. Não davam muitas informações, mas Isabel leuos com grande cuidado. Assim que chegassem, com certeza o Dr. Winter ficaria muito ocupado, cuidando da bagagem da Sra. Olbinski e providenciando seu embarque. Estudou com muita atenção os mapas daquela cidade, como medida de precaução. Ele estava a sua espera quando ela chegou ao restaurante, saudando-a com aquela polidez distante que tanto a irritava. Ofereceu-lhe um drinque e em seguida jantaram. Isabel não quis ficar para o café e ele não insistiu. Desejou-lhe boa-noite e voltou para o camarote. O Dr. Winter, pelo que tinha percebido, esperava que ela fizesse várias perguntas sobre o que aconteceria no dia seguinte. Na verdade, bem que Isabel o desejou, mas procurou controlar-se. A opinião que ele linha a seu respeito era tão desfavorável que ela não tinha a menor intenção de agravar a situação. Ele que lhe comunicasse apenas o estritamente necessário. . Adormeceu logo em seguida, contente consigo mesma.
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CAPÍTULO
II
Isabel levantou-se bem cedo. Tinha dormido bem e agora estava pronta para o café da manhã, mas o Dr. Winter sugeriu que se encontrassem no restaurante as sete e meia e estava uma hora adiantada. Pediu que Ibe trouxessem chá, tomou um banho, vestiu o uniforme e foi para o convés. Excitada, notou que se aproximavam do litoral, pontilhado aqui e ali por algumas casas. A manhã estava nublada e fria. Isabel abotoou o casaco azulmarinho e desejou ter colocado seu chapéu de enfermeira, de feltro azul, um tanto deselegante. Não havia mais ninguém no convés e ela díspós-se a percorrê-lo, quando se encontrou com o Dr. Winter. Ele desejou-lhe bom dia com ar distante e Isabel ficou surpreendida quando o médico começou a caminhar ao lado dela. — Provavelmente haverá um atraso em relação à volta da Sra. Olbinski. Cari me comunicou que houve alguns problemas. . . — Ele não disse de que se tratava e Isabel não perguntou. Surpreendeuse quando ele acrescentou: — E uma criatura nervosa, srta. Barrington? — Se acaso se refere ao fato de ficar histérica e gritar quando as coisas vão mal, não. No entanto, se uma situação escapasse ao meu controle, provavelmente eu me comportaria como a maior parte das mulheres e pediria ajuda. — Devo lhe pedir que não faça isto. É muito importante manter se calma e com serenidade. — Existe algo que o senhor não me comunicou antes de partirmos da Inglaterra? — Claro que não, srta. Barrington. Apenas quero lembrá-la que cada país possui as suas próprias leis. Infelizmente, o marido da Sra. Olbinski não concordava com elas e, assim sendo, as autoridades talvez sejam mais severas. Livros Florzinha
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— E o senhor está com todos os documentos em ordem? — Claro que sim. Digo isso apenas porque, nas circunstâncias em que ela se encontra, a nossa viagem talvez possa ser adiada. Bem, vamos tomar café. — Ótimo, Onde é que estamos agora? — Estamos nos aproximando de Gdynia, que é o porto de Gdansk. A Sra. Olbinski mora na cidade velha de Gdansk e a senhorita terá a oportunidade de conhecê-la. — Que bom! Não devem ser muitas as oportunidades de se voltar para a Polônia. Eles falam inglês? — Muita gente fala, mas duvido que tenha tempo de excursionar pela cidade. Isabel sentiu-se esnobada. Acaso ele achava que ela desapareceria no momento em que pusessem o pé em terra, disposta a divertir-se? Levaram muito tempo para passar pela alfândega. Isabel admirou a paciência do Dr. Winter diante do interrogatório que parecia não ter mais fim. Quando finalmente foram liberados, um dos funcionários pediu desculpas pela demora com grande delicadeza, que foi retribuída pelo Dr. Winter. Tomaram um táxi e ele fez um comentário: — Sinto muito o que aconteceu. Tive que contar a razão da nossa viagem, como era de se esperar, e precisaram fazer investigações. — Deu o endereço ao chofer. — Não há muito que se ver em Gdansk, mas achará a cidade interessante. Percorreram a região do porto, que era igual à de qualquer outra cidade, e quando chegaram a Gdansk pararam diante de um grande arco, que se abria para uma rua muito larga. — É aqui que descemos — observou o Dr. Winter. Ele pegou-a pelo braço e, atravessando rapidamente o arco, percorreram a rua. Casas em estilo renascentista erguiam-se dos dois lados e muitas delas tinham pequenas lojas no andar térreo. Isabel, que se via obrigada a caminhar mais depressa do que gostaria, fez o possível para olhar tudo o que podia e, quando chegaram a uma praça no fim da rua, fez uma pergunta que exigia resposta: 18
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— Aquele prédio grande que deixamos para trás é a Prefeitura? E esta aqui é a Casa Dourada, de que tanto ouvi falar? E esta fonte no centro da praça. . . — Srta. Barrington devo lembrar que está aqui com uma única finalidade. Quanto ao turismo, é assunto inteiramente diverso — disse o médico, continuando a andar com a mesma rapidez. — Se o senhor chama a isto de turismo. . . — declarou Isabel, com petulância. — Eu apenas fiz uma pergunta! — Conforme deve se lembrar, srta. Barrington, eu lhe disse, no momento da entrevista, que não era a pessoa aconselhada. . Para aquela observação não havia resposta. Agora se aproximavam de um enorme portão, além do qual se via um rio e armazéns na margem oposta. O Dr. Winter dobrou a esquerda, prosseguindo por uma rua cheia de movimento, que corria ao longo do rio, e tornou a dobrar à esquerda, saindo numa rua estreita cheia de belas residências, todas muito antigas. De repente parou diante de uma porta em arco e tocou uma das várias campainhas. Para grande surpresa de Isabel, voltou-se e olhou para ela. — A cidade ficou em ruínas após a última guerra. Os poloneses a reconstruíram, tijolo por tijolo, muitos dos quais originais. Os demais foram feitos com tamanha perícia que é difícil distinguir os novos dos antigos. — Ele então deu as costas para Isabel e a porta abriu-se, revelando um vestíbulo estreito e uma escada. — É no terceiro andar — anunciou, começando a subir. Isabel seguia-o e gostava muito do que via: a escada de madeira, os patamares redondos. Ao chegarem ao terceiro andar, encontraram a porta aberta. O médico entrou sem a menor hesitação e Isabel, um tanto ofegante, seguiu-o. Deram em um minúsculo vestíbulo, no qual se viam duas outras portas, igualmente abertas. O doutor entrou pela da esquerda e Isabel estava tão Livros Florzinha
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próxima a ele que quase se chocaram quando seu companheiro parou de repente. O quarto no qual tinham acabado de entrar era pequeno, bem mobiliado-e um tanto abafado. A mesa que se encontrava no centro brilhava, de tanto que estava polida, o mesmo acontecendo com as cadeiras. O assoalho de madeira reluzia e as cortinas, apesar de velhas, não tinham uma mancha sequer. No todo, o quarto dava uma impressão de modéstia e logo a atenção de Isabel concentrou-se na velha senhora sentada numa cadeira, cujo encosto começava a ficar puído devido à idade. Ela era pequenina, tinha olhinhos brilhantes, cabelos muito brancos, presos num coque, e usava um vestido negro com uma bata de algodão, — Dr. Thomas disse a mulher com uma voz bastante forte para a sua idade, olhando para o relógio em cima da lareira. — Pontual como sempre, não? É um hábito que traz desde a infância... E quem é essa moça? O Dr. Winter inclinou-se, beijando-a e abraçando-a. — Olá, babá. Que bom vê-la de novo. Quero lhe apresentar a enfermeira, srta. Barrington. Trouxe-a comigo para ajudá-la. A Sra. Olbinski pôs os óculos e estudou Isabel. — Hum ela é um tanto baixinha.. . Aproxime-se, jovem, para que eu possa ver você melhor. Isabel agiu conforme ela pedia. As pessoas idosas costumavam dizer coisas estranhas de vez em quando, como se a criatura de quem falavam não estivesse presente, ouvindo. — Como vai a senhora? — Ela quase chega a ser comum comentou a velha senhora, sem dirigir-se particularmente a ninguém. — Mas tem olhos bonitos e um belo sorriso! Não preciso de enfermeira. Sou perfeitamente capaz de me arranjar sozinha. .. — Claro que é! — Isabel nunca tinha ouvido o médico falar num tom tão carinhoso. — Pedi que ela viesse por razões puramente egoístas. Precisarei
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procurar certas pessoas, tomar determinadas providênciascias e não queria ficar preocupado, deixando-a sozinha. Ele tinha tocado no ponto certo e a babá balançou a cabeça, concordando. — Quando partimos? Perguntou. — No navio de hoje à noite, minha cara. Já fez as suas malas? — Há ainda uma ou duas coisas a serem embaladas. Será que essa jovem poderá me ajudar? — Claro que sim, Sra. Olbinski. Meu nome é Isabel. — Um bonito nome. Sempre gostei dele. Pode ir até a cozinha fazer um café, enquanto eu ouço as noticias. Isabel entrou na pequena cozinha e abriu os armários, procurando xícaras. Nesse momento ouviu passos que subiam as escadas, A porta não estava completamente fechada e ela aproximou-se o mais que pôde. Não ousava olhar, mas julgou que os passos eram de policiais ou de soldados, devido às pesadas botas. Eram soldados. A voz de alguém muito amável, que falava um excelente inglês, observou com certa pena que um documento final, de que a Sra. Olbinski necessitava, ainda não tinha chegado, o que a obrigava a permanecer no país. — E quando chegará? —- A voz do médico revelava que ele estava calmo e nem um pouco preocupado. — Amanhã ou depois de amanhã, no máximo. Lamentamos profundamente a inconveniência que isso possa trazer. — Compreendo. É inevitável e não pode ser culpa sua. — Fez-se uma breve pausa. — Reservarei quartos para mim e para a enfermeira que me acompanha no Hotel Orbis. Imagino que a Sra, Olbinski prefira ficar aqui. — Sem dúvida. Aqui ela estará perfeitamente bem, Dr. Winter. Assim que os papéis chegarem, eu o avisarei, a fim de que o senhor possa realizar os seus planos. Eles despediram-se com bastante cordialidade. "E por que não haveria de ser assim? Afinal de contas, os poloneses e os ingleses mantinham excelentes relações", pensou Isabel. Livros Florzinha
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A pessoa que tinha acabado de retirar-se era dona de uma bela voz... Não se afastou da porta a tempo, pois, quando percebeu, O médico estava de olho nela. — Da próxima vez que ouvir a conversa alheia, moça, controle a respiração. — Olhou em torno da cozinha. — O café já está pronto? — Ainda não, e gostaria que alguém me explicasse... — Não há o que explicar. Como deve saber, qualquer pessoa que pretenda deixar o país deve ter os seus documentos em ordem. Os da babá ainda não estão completos. Deveria ficar alegre, pois teremos um dia para visitar a cidade. — Gostaria que eu ficasse aqui fazendo companhia a Sra. Olbinski? Ele sorriu pela primeira vez, e era um sorriso tão bonito que Isabel quase lhe quis bem. — É muita consideração de sua parte, mas acho que não é necessário. Ficaremos hospedados no melhor hotel de Gdansk e amanhã levaremos a babá para dar uma volta. Penso que ela gostará de se despedir da cidade, pois não teve a menor oportunidade de fazer isso, A água ferveu e Isabel colocou-a no bule esmaltado que tinha encontrado num dos armários. Dispôs xícaras, pires e o bule numa bandeja e entregou-a ao médico. Sorriu de leve, ao notar o quanto ele ficara surpreendido. Não achava que ele fosse um homem egoísta, mas apenas alguém que tinha que abrir caminho sozinho. Talvez fosse inteligente demais, com aquele nariz esplêndido enterrado em livros ou examinando seus pacientes, enquanto outros homens dedicavam-se a hábitos mais mundanos... A Sra. Olbinski parecia um tanto impaciente. — Como demorou comentou, com uma ponta de mau humor. — Sempre tive a impressão de que as enfermeiras são capazes de fazer tudo, a qualquer momento, Mas é claro que nunca cheguei a acreditar nisto.
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— E ninguém esperaria que a senhora acreditasse, pois não faz o menor sentido. Somos treinadas para fazer certas coisas que os outros não conseguem, mas não passa disto. Além do mais, estou num país desconhecido e a sua cozinha não é igual às que estou acostumada, muito embora eu ache muito acolhedora. A Sra. Olbinski aceitou o café e tomou um gole. — O café não está mal comentou ela. — E você parece ser uma jovem muito ajuizada. Onde foi que o Dr, Thomas a encontrou? Isabel não olhou para o médico, que estava sentado à mesa. — O Dr. Winter pediu a uma agência que enviasse uma enfermeira. O Dr. Winter fez um movimento de impaciência e Isabel esperou que ele dissese algo, o que não aconteceu. — Talvez a sua viagem seja facilitada se eu a ajudar de vez em quando, enquanto o Dr. Winter providencia passa porte, documentos, coisas do gênero. — Você não me parece muito forte. Por que o chama de Dr. Winter o tempo todo, com tanta cerimônia? Isabel ficou vermelha feito um pimentão e o Dr. Winter interveio. — A srta. Barrington e eu... — Ele interrompeu-se e reiniciou a frase: — Acabamos de nos conhecer, babá. — Bem, quanto a mim, eu a chamarei de Isabel. É um belo nome, apesar de ela não ser muito bonita. E acho que pode fazer o mesmo, Dr. Thomas, Quero mais café. A Sra. Olbinski não percebeu que o médico estava um pouco aborrecido com os seus comentários e recostou-se confortavelmente na cadeira. — Já que vamos passar mais um dia aqui, quem sabe poderia me levar até Oliwa. Agora é verão e lá dão recitais de órgão todas as tardes. Gostaria muito de ouvir um antes de partir. A Sra. Olbinski estava visivelmente emocionada e o Dr. Winter interveio na hora: Livros Florzinha
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— Que idéia esplêndida, babá. Alugarei um carro e iremos amanhã. Não gostaria também de ir até Sopot? — Oh, gostaria tanto! Costumávamos ir lá no verão. . . Ela começou a descrever sua vida enquanto seu marido vivia, até ser interrompida afetuosarnente pelo Dr. Winter: — Prometo que você verá tudo o que for possível, mas, até lá, acho que a senhorita quero dizer, Isabel, poderia acabar de arrumar as suas coisas, não é mesmo? — O médico levantou-se. Creio que vou deixá-las durante uma hora, enquanto chamo um carro e reservo quartos no hotel. O Dr, Winter pôs a Sra. Olbinski nos braços e, abrindo a segunda porta, levou-a para seu quarto. Parou assim que deu o primeiro passo, pois era quase impossível mexer-se. Caixas, pacotes, trouxas e uma velha mala ocupavam todos os espaços possíveis. Isabel tirou uma pilha de livros de uma cadeira, pondo-se à disposição da Sra. Olbinski. — Diga-me o que é preciso fazer, que eu farei. — Bem, tudo isso precisa ir comigo. O Dr. Winter, que apenas limitava-se a olhar, interveio nesse momento, delicado, porém firme: — Sinto muito, mas você poderá levar apenas a roupa do corpo e os seus objetos mais queridos, que possam caber numa mala ou numa caixa de papelão. Agora eu vou sair e não demoro. Isabel tirou o casaco e o chapéu. — Ah, esses homens — comentou a Sra. Olbinski sem disfarçar a irritação que sentia. — São todos iguais! Não hesitam um minuto em declarar quais as tarefas desagradáveis que devemos executar e se retiram imediatamente, só voltando quando elas foram completadas. O Dr. Thomas, porém, é um homem muito bom, minha cara. É dedicado demais, com o nariz sempre enfiado nos livros e trabalha sem parar. Nunca encontra tempo para si mesmo e muito menos para ter uma 24
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mulher e filhos. Isabel disse qualquer coisa amável, pois sua única preocupação naquele momento era como escolher o que a Sra. Olbinski poderia levar. Teria que desistir de muita coisa. — Com que roupa a senhora pretende viajar? — perguntou. Essa indagação provocou uma longa discussão sobre os méritos de um casaco de lã muito velho, ou uma capa de chuva, em estado igualmente lastimável. Decidiram-se pelo casaco, por um chapéu de feltro, um vestido escuro, sapatos e luvas. A roupa de baixo, que não era muita, foi posta rapidamente de lado, Restavam ainda dezenas de peças de vestuário, as quais a Sra. Olbinski declarou essenciais para sua futura vida na Inglaterra. Isabel não disse nada e limitou-se a separar retratos de família, pequenos enfeites, fitas, rendas antigas, lenços e livros, os quais colocou na mala. Foi em seguida até a cozinha, de onde trouxe uma cesta de compras, a fim de que a velha senhora decidisse que peças de seu pequeno tesouro poderiam ser colocadas nela. Isso levou algum tempo, mas logo a operação chegou ao fim e Isabel sugeriu que talvez a Sra. Olbinski conhecesse alguém que ficaria muito contente em "herdar" os livros, vasos e roupas que tinham sobrado. — Pois então, vá até o apartamento de baixo, Isabel. Lá mora uma senhora muito agradável. Talvez fique contente com estas coisas, já que não tenho permissão de levá-las. — De repente Sra. Olbinski teve uma pequena explosão temperamental: — Por que o Dr. Thomas está demorando tanto? Ele não está fazendo nada para me ajudar! "É bem verdade", refletiu Isabel, quando se dirigiu à senhora do andar de baixo, que fazia corajosas tentativas a fim de poder falar um pouco de inglês. As palavras foram substituídas por sinais, sorrisos e tapinhas nas costas, que afinal acabaram por resolver os problemas de comunicação. Foram juntas para o apartamento da Sra. Olbinski, que explicou à sua amiga do que se tratava. Esta ficou de tal forma contente e comovida que Isabel sentiu Livros Florzinha
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vontade de chorar. Como deveria ser pobre, pois satisfazia-se com velhas roupas, quase impróprias para o uso. Controlou sua emoção e sugeriu à vizinha que, assim que a Sra. Olbinski partisse, ela poderia voltar, pegar a roupa de cama e toda a comida que encontrasse na cozinha. Acompanhou em seguida a senhora até seu apartamento, ajudando-a a transportar as coisas, quando a porta da rua abriu-se.Podia ser o Dr. Winter, mas Isabel preferiu não verificar, subindo para o apartamento da Sra. Olbinski. Era de fato o Dr. Winter, calmo e elegante demais para aquele ambiente. — Ah, o senhor finalmente chegou — observou Isabel, esquecendo-se de sua posição. — Vem justamente quando não há mais nenhum trabalho a executar! Ele fingiu não ter entendido. — Oh, esplêndido! Reservei quartos no hotel e um táxi nos espera no fim da rua. Vou levá-la para almoçar fora, babá, e como temos muito tempo à nossa disposição daremos um passeio agora à tarde. — Mas eu não posso sair deste jeito — protestou a Sra. Olbinski. — Se o senhor esperar um pouco, ajudarei a Sra. Olbinski a se vestir declarou Isabel. Ele retirou-se do quarto e ela abriu o guarda-roupa, auxiliando a velha senhora, imaginando como é que ela havia feito durante aqueles meses solitários, depois que seu marido morrera, com suas mãos deformadas pela artrite e seu corpo frágil e encurvado. Não levou muito tempo para vestir a Sra. Olbinski e o médico não fizeram o menor comentário quando Isabel comunicou que podiam sair. Ele carregou a velha senhora nos braços, recomendou a Isabel que trancasse a porta e desceu a escada. Assim que chegaram à rua, cada um deles tomou um braço da Sra. Olbinski e andaram lentamente até o carro, onde o Dr. Winter acomodou a babá no banco da frente. Isabel sentou-se atrás e partiram em direção ao hotel. Lá chegando, Isabel foi conduzida a seu quarto, grande, confortável e bem mobiliado. Desfez a mala, passou uma escova nos cabelos, retocou a 26
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maquilagem e desceu para a portaria. Era uma pena que não pudessem voltar imediatamente para Estocolmo, mas, por outro lado, aquela era uma oportunidade única para dar um passeio por Gdansk. Ela encarava aquela perspectiva com todo o prazer que só uma criança podia sentir. Almoçaram num restaurante muito elegante, mas metade vazio, pois, conforme lhes disse o garçom, o verão apenas começava. A refeição foi inteiramente polonesa e consistiu em sopa de beterraba, lagosta, costeletas de porco com molho apimentado e sorvete. Isabel apreciou-a demais, o mesmo acontecendo com a Sra. Olbinski. Partiram assim que acabaram de almoçar e agora a velha senhora mostravase muito animada. Foram até Sopot, uma cidadezinha à beira-mar, a pouca distância de Gdansk, e que a Sra. Olbinski conhecia muito bem. — Costumávamos passar as férias aqui. Ficávamos hospedados num hotelzinho, perto do luxuoso Hotel Palace, e íamos lá todas as noites, vendo os hóspedes entrar e sair, pois eles se vestiam com um luxo incrível. Que lugar bonito disse a Sra. Olbinski, com um suspiro. Sopot era de fato uma bela cidade, mas quase deserta. Percorreram lentamente as ruas, onde havia poucas pessoas. As vitrines estavam quase vazias e finalmente voltaram para a avenida à beira-mar, estacionando o carro. O sentimento de solidão foi aumentado pela praia muito ampla, igualmente deserta. — Vamos chegar mais perto da praia, a fim de que você possa vê-la melhor declarou o Dr. Winter. — De lá poderemos enxergar a babá, que não precisará da nossa companhia. Para se chegar à praia era preciso atravessar uma pequena ponte de concreto e Isabel subiu correndo na frente, pondo-se a admirar o litoral que se estendia a perder de vista. — Este lugar deve ser muito bonito num dia quente de verão, quando a praia deve ficar cheia comentou. — Afinal de contas, onde estão as pessoas? — Neste momento o país está sujeito a lei marcial lembrou o Dr. Winter. Livros Florzinha
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— Quase não há dinheiro para se gastar com comida e ainda menos com passeios. Creio que somente no meio do verão é que os turistas de outros países aparecerão por aqui. — Que triste! A sua babá também deve achar tudo isso muito triste. — Não, ela tem lembranças felizes. Vamos tomar chá em algum lugar e em seguida percorreremos o litoral. Na Polônia, é costume tomar a refeição principal as quatro da tarde, mas poderemos tomar chá ou café, antes de jantar no hotel. Em seguida levaremos a babá de volta. Conto com você para ajudá-la a deitar e deixar tudo à mão. — Não quer que eu durma com ela hoje à noite? — perguntou Isabel, enquanto voltavam para o carro. — Não me incomoda em nada, — Não há necessidade. Poderá ir ao encontro dela amanhã cedo, assim que acabar de tomar o café. Eu a levarei até lá e em seguida irei cuidar dos documentos da babá. Acredito que até amanhã eles terão chegado, — E se não chegarem? — Passaremos mais um dia aqui. Encontraram um pequeno café na cidade e o proprietário puxou uma cadeira, contente por poder falar inglês. Era um homem de meia-idade, com olhos vivos e negros, e muito bem-humorado. Permaneceram ali bastante tempo e voltaram rapidamente, o que deixou Isabel um pouco desapontada. Mesmo assim, ouviu com muita atenção as informações da Sra. Olbinski, que lhe falava a respeito da região, e contemplou as casa, igrejas e velhos castelos com o interesse de uma verdadeira turista. Jantaram assim que chegaram ao hotel. Repetiram a sopa, que veio acompanhada de bife na grelha, bolinhos cozidos e, mais uma vez, sorvete. O Dr. Winter bebeu vodca que Isabel, muito prudente, recusou, tendo, porém aceitado a cerveja que ele lhe ofereceu. A babá também tomou vodca. Isto, a excelente comida e o passeio inesperado tinham-na deixado um tanto sonolenta. Levaram-na de volta ao apartamento e o médico esperou, enquanto Isabel a ajudava a deitar-se. Logo em seguida pôs um pouco de ordem no quarto e deixou tudo pronto para o café da manhã. 28
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— Você é uma boa menina — disse a Sra. Olbinski, quando ela foi lhe
desejar boa-noite. — Qual é a sua idade? — Vinte e cinco anos, Sra. Olbinski. — Pois eu, dentro de um mês e meio, farei oitenta. . . Quero uma bela festa de aniversário, com bolo e presentes! Isabel e o Dr. Winter voltaram em silêncio para o hotel e somente quando entraram na portaria ele lhe desejou boa-noite. — O café da manhã vai ser servido as oito e meia e em seguida iremos para o apartamento da Sra. Olbinski. Isabel não fez perguntas, o que, aliás, não faria sentido, pois com toda certeza ele não as responderia. Foi para o quarto, tomou banho, lavou os cabelos e deitou-se. Isabel acordou bem cedo. O dia estava nublado e ouvia-se o barulho do trânsito na rua. Ainda não eram sete horas e teria de esperar bastante tempo para tomar o café. Estava completamente desperta e com muita vontade de tomar uma xícara de chá. Afastou a cortina da janela e, num ato impulsivo, vestiu-se. Ainda faltava muito para servirem o café e poderia dar um passeio. O médico tinha marcado o encontro para as oito e meia em ponto. Isabel, enquanto escovava os cabelos, julgou que ele seria um pai muito severo, apesar de bom e gentil. — O que leva você a pensar assim? — perguntou à sua imagem refletida no espelho. Afinal de contas, até agora ele não se havia mostrado a ela sob aquele aspecto. . . Pôs o casaco e o chapéu e saiu do quarto, trancando a porta. Uma faxineira limpava o corredor e, na recepção, havia um funcionário. Ambos lhe desejaram bom-dia e o recepcionista olhou-a com ar intrigado, fazendo com que ela se sentisse na obrigação de dar uma explicação: — Vou dar um passeio rápido — disse, sorrindo e caminhando para a porta giratória. Antes que pudesse abri-la, o Dr. Winter entrou, segurou-a pelo braço e obrigou-a a voltar para a portaria. Livros Florzinha
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— Aonde é que pretende ir? — perguntou com tamanha rispidez que Isabel ficou boquiaberta, olhando para ele. — Pretendia dar um passeio. — Um passeio, é? Mas é claro, eu já ia me esquecendo. Evidentemente sabe falar polonês, conhece Gdansk muito bem e está levando o passaporte, isso para não falar de dinheiro, que lhe permitirá tomar um táxi, se acaso se perder. . . — Não pretendia me afastar muito do hotel e não precisa encarar a coisa com tamanha irritação, Dr. Winter. Isabel encarou-o e notou que ele estava pálido de cansaço, além de apresentar uma barba de dois dias. — E o senhor, por onde é que andou? Está de mau humor, cansado e ainda não fez a barba. Passou a noite ao lado da Sra. Olbinski? Ela, por acaso não está se sentindo bem? — Seus olhos enxergam demais e foi realmente uma sorte encontrá-la. . — Soube que houve o toque de recolher. — Mas foi levantado há meia hora. Sim, passei a noite ao lado da babá. Não gostei da idéia de deixá-la sozinha. Não me preocupei com a senhorita e o porteiro do hotel sabia onde eu estava. É meu conhecido e me prometeu ficar de olho na senhorita. — Ele parecia não estar mais zangado, apenas impaciente. — Bem, já que terminou o interrogatório, vou tomar um banho, me barbear e em seguida irei encontrá-la para o café. Será um grande favor se ficar no seu quarto até eu ir procurá-la. Quero a sua palavra. — Nunca ouvi tamanho absurdo! O senhor mesmo acaba de informar que o toque de recolher foi levantado. — Quero a sua palavra — insistiu ele em tom quase ameaçador. — Muito bem. Ela acompanhou-o até o andar de cima e, quando chegou ao seu quarto, entrou em silêncio. — A senhorita está sob a minha responsabilidade até voltarmos para a Inglaterra — declarou o Dr. Winter, antes de retirar-se. 30
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Tomaram o café em silêncio, interrompido apenas por pequenos comentários sem importância. O Dr. Winter já não estava tão abatido. Havia-se barbeado, estava impecavelmente vestido e muito calmo. Isabel perguntou quando deveria ir para o apartamento da Sra. Olbinski. — Iremos juntos, e, enquanto estiver ajudando-a a se vestir, irei verificar se os papéis dela estão em ordem. Se tudo der certo, poderemos partir ainda hoje. Isabel tinha acabado de vestir a Sra. Olbinski quando o Dr. Winter voltou, anunciando que os papéis só ficariam prontos na manhã do dia seguinte. — Poderemos passar o dia passeando. Aonde gostaria de ir, babá? — A Oliwa, para ouvir o concerto de órgão. Creio que começa ao meio dia. Primeiro tomaram café no hotel e em seguida foram de carro até Oliwa. A catedral era magnífica e datava do século XII. O médico estacionou o carro e caminharam lentamente até a catedral, pois a Sra. Olbinski insistia que preferia morrer a ser carregada. O interior do templo era esplêndido e do teto muito alto pendia a bandeira polonesa. Centenas de fiéis e de turistas enchiam a catedral. Acomodaram-se em bancos na última fileira e, antes de começar o concerto, alguém explicou em inglês que músicas seriam tocadas, contando também a história da catedral, Houve uma recomendação para que todos se voltassem e olhassem para o órgão, nos fundos da catedral, quando o organista começasse a tocar bem alto. Isabel, de mãos dadas com a Sra. Olbinski escutava enlevada. "Esta é a verdadeira Polônia, com a catedral apinhada e as pessoas mergulhadas na devoção", pensou. O órgão começou a tocar e ela não se mexeu, emocionada. Subitamente o organista empolgou-se, tirando sons magníficos de seu instrumento. O Dr. Winter inclinou-se e tocou no braço de Isabel, — Olhe para trás — disse em voz baixa. O órgão, que era um imponente instrumento do século XVIII, parecia ter-se tornado algo vivo. As figuras nele esculpidas, anjos com harpas, trompas, violinos e flautas, movimentavam-se com a música, executando seus instrumentos. A mão do Dr. Winter ainda estava pousada sobre o braço dela. Livros Florzinha
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Isabel segurou-a com força, muito emocionada, e somente quando a música terminou ela soltou-a, largando-a como se fosse carvão em brasa, ao perceber o que tinha feito. — Desculpe... murmurou, vermelha como um pimentão e muito pouco à vontade, pois o dr. Winter mantinha-se impassível. Voltaram para Gdansk, onde almoçaram no Restaurante Pod Wieza, e, assim que terminaram, o médico retirou-se, dizendo que voltaria dentro em breve. Ele regressou dentro de meia hora e, nesse meio tempo, Isabel e a Sra. Olbinski tomaram várias xícaras de café e conversaram com animação. — Poderemos partir hoje à noite — anunciou o médico, consultando o relógio. — Iremos até o hotel, retiraremos as nossas coisas e era seguida passaremos pela casa da babá. De lá partiremos diretamente para o cais. A Sra. Olbinski tentou disfarçar sua excitação, mas as velhas mãos tremiam. — Tem certeza, Dr. Thomas? Está tudo em ordem? — Sim, babá, dentro de dois dias você estará em casa. Ele sorriu com ternura e, tirando o lenço do bolso, enxugou as lágrimas da boa senhora. "Meus Deus, ele é tão gentil quando quer!" Pensou Isabel. Talvez fosse realmente bondoso para com a babá, mas não demonstrava seus verdadeiros sentimentos no que dizia respeito à Isabel. Com ar frio e distante, disse-lhe o que precisava ser feito e ela ficou muito ocupada separando as coisas que deveriam ser entregues a vizinha. Em seguida preparou o chá para os três e, numa pequena mala, colocou tudo o que era essencial para a viagem. Após o chá, o médico devolveu o carro, que era alugado, tomou um táxi e realizou a penosa tarefa de acomodar nele a babá e seus poucos bens. A velha senhora estava muito excitada e uma tanto fadigada, o que dificultava a situação. Isabel suspirou de alívio ao ver o navio e só ficou sossegada quando subiram a bordo. A babá começou a chorar. Afinal de contas, tinha vivido na Polônia durante muitos anos e estava abandonando uma vida que tinha amado até anos bem recentes. Isabel, com muito jeito, convenceu-a a 32
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ir para o camarote, acomodou-a na cama e tocou a campainha, chamando a camareira. Esta atendeu imediatamente. Era grandalhona, alegre e prometeu que serviria um jantar ligeiro dentro de uma hora. Isabel tirou da mala as poucas coisas que precisariam para a noite, acalmou a Sra. Olbinski e só pôde sossegar quando o jantar foi servido. O Dr. Winter não tinha dito nada a respeito do jantar e ela não sabia se deveria comer na cabine ou não. Estava tentando decidir o que faria em seguida, quando ele bateu à porta e entrou. O médico interessou-se em saber como estava a babá e garantiu-lhe que a camareira viria atendê-la assim que ela tocasse a campainha. Em seguida, com uma cortesia um tanto distante, convidou Isabel para ir jantar com ele. — Iremos imediatamente e tomaremos um drinque — declarou, sem dar-lhe a chance de dizer o que quer que fosse. Ela seguiu-o até o convés, tomou um martíni e sentaram-se à mesa para o jantar. O Dr. Winter pouco tinha a dizer, o que não a incomodou. Tanta coisa havia acontecido nos últimos dois dias e queria pensar nelas... Quando chegou o momento de tomarem café, ele manifestou-se inesperadamente: — Creio que precisaremos ficar uns dois dias em Estocolmo. — Isabel, deliciada, sorriu e ele prosseguiu: — Não julgue, porém, que é para fazer turismo. A babá está exasusta e não quero prosseguir viagem enquanto ela não estiver bem repousada. — Sim, é claro disse Isabel, corando. Ela tem-se comportado de maneira maravilhosa. Imagino o quanto à viagem deve tê-la perturbado. Vou obrigá-la a ficar na cama e descansar o máximo possível. E claro que ela não vai gostar. — Isso é problema seu. Pelo menos ela gosta da senhorita e, provavelmente, fará tudo o que lhe pedir. — Espero que sim. Farei tudo o que estiver ao meu alcance, Dr. Winter. Obrigada pelo jantar. Agora, devo voltar para a cabine. Tomarei providências para que a Sra. Olbinski esteja pronta assim que chegarmos a Estocolmo. Ela poderá tomar o café da manhã bem cedo e isso nos dará bastante tempo. — Vai tomar o café da manhã aqui? Livros Florzinha
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— Não, obrigada, tomarei o café com a Sra. Olbinski. Onde nos encontraremos amanhã? — Irei buscá-las. — Isabel levantou-se e ele fez o mesmo. — Boa noite. — Boa noite, Dr. Winter. O médico não voltou a sentar-se, mas ficou contemplando aquela criatura esguia que passava por entre as mesas. Se ela se tivesse voltado, ficaria muito surpreendida ao ver que ele estava sorrindo.
Capítulo III
A Sra. Olbinski dormiu como uma criança e, a exemplo de urna criança, acordou cedo. de modo que houve tempo de sobra, depois de ela ter tomado café com biscoitos, para Isabel ajudá-la a vestir-se. Quando o navio atracou no cais do porto de Estocolmo, ambas estavam prontas e, assim que o Dr. Winter bateu à porta, seguiram-no sem a menor pressa. Estava uma bela manhã e soprava um vento suave. A Sra. Olbinski estremeceu um pouco, enquanto Isabel e o médico a ajudavam a descer do navio. — Até pareço um caranguejo resmungou ela. Passaram pela alfândega e tiveram que esperar um pouco enquanto os papéis eram examinados pelo funcionário. Finalmente os passaportes foram liberados e eles dirigiram-se lentamente até um táxi. Isabel, intrigada, olhou para o Dr. Winter. —- Não, Cari não veio ao nosso encontro. Vamos diretamente para o apartamento dele. Creio que partiram agora de manhã e por pouco deixamos de vê-los.
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Ao chegarem ao apartamento, o Dr. Winter carregou a babá nos braços e pegou a chave, que estava debaixo do capacho. Cari tinha deixado um bilhete e, enquanto Isabel cuidava da Sra. Olbinski, Thomas leu-o, rindo. — Poderemos ficar aqui o tempo que quisermos anunciou, finalmente. Está cansada, babá? Que tal se deitar um pouco? Primeiro vamos tomar um cafezinho. Era uma dica para Isabel ir até a cozinha prepará-lo. Quando ela voltou, o Dr. Winter estava encostado numa poltrona, de olhos fechados, e a Sra. Olbinski roncava baixinho. Ele abriu os olhos, assim que ela colocou a bandeja sobre uma mesinha, e levantou-se. — Tome o seu café, Isabel. Em seguida nós a despertaremos e a poremos na cama. Acho bem provável que tenhamos que ficar aqui mais de dois dias. Por que essa reação? Eu já disse que era de se esperar. . — O senhor me chamou de Isabel. — Tem alguma objeção? Já que vamos passar os próximos dias na companhia um do outro. — Não me incomodo em absoluto, Dr. Winter exprimiu-se ela tom a maior calma e ficou a imaginar o que aconteceria se o tratasse por Thomas. Provavelmente ele explodiria. Sorriu diante da idéia e ele fez uma pergunta em tom ríspido: — Por que está sorrindo? — Por nada respondeu Isabel com tamanha convicção que até parecia ser verdade. A Sra. Olbinski acordou dai a pouco, declarando que não tinha dormido, apenas fechado os olhos. Após tomar o café, mostrou-se muito satisfeita de ir para o quarto, onde Isabel ajudou-a a vestir a camisola, deitando-a em seguida na cama. — Ainda não agradeci ao Dr. Thomas. O que ele deve estar pensando de mim? É tão bom ter alguém que cuide de nós. . . Disse a velha senhora, estendendo a mão e segurando a de Isabel. — Você é uma boa menina, Isabel, por cuidar de uma velha cansativa, que nem sequer se lembra de lhe dizer obrigada. Livros Florzinha
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— Fique quietinha, vamos! A senhora está cansada e teve muito o que fazer nesses últimos dias. Creio que. . . O Dr. Winter não está à espera de nenhum agradecimento. Antes de tudo, ele deseja vê-la tranqüila e bem descansada. Agora durma e mais tarde ele virá tomar chá com a senhora, quando então poderá lhe agradecer. Acho que ele também deve estar cansado, depois de ter corrido atrás de todos aqueles documentos... — Ele deve ter perdido meses com isso, e ainda por cima aquele atraso. .. Cheguei a pensar que eu não poderia viajar com vocês. — Mas tudo acabou dando certo, não é mesmo? Isabel voltou para a sala de estar assim que a Sra. Olbinski adormeceu e descobriu o Dr. Winter estirado no enorme sofá, roncando baixinho. Recolheu as xícaras, procurando não fazer o menor ruído, e levou-as para a cozinha. Voltou para a sala e sentou-se perto da janela. De lá avistava os jardins, que eram encantadores. Passou algum tempo admirando-os e, como o médico não dava sinal de querer acordar, foi mais uma vez para a cozinha e abriu os armários. Mais cedo ou mais tarde ele haveria de despertar e querer comer. A coisa seria facilitada se ela tivesse alguma idéia do que havia para cozinhar. Prepararia uma sopa para a babá, pois havia várias latas de conservas. Na geladeira, havia comida em abundância, mas toda ela embrulhada em envoltórios de plástico, com etiquetas em sueco. Assim que o médico acordasse pediria a ele que fossem fazer compras. Felizmente havia batatas em quantidade.Descascou algumas e colocou-as na panela, pois pretendia cozinhá-las mais tarde. Em seguida sentou-se à mesa e preparou uma lista de compras. Era uma pena que as mercearias fechassem ao meio-dia. Aliás, já estava quase na hora e, tanto quanto lembrava-se, na vizinhança havia apenas lojas de antiquários e butiques elegantes. A lista aumentava cada vez mais. Isabel fazia o possível para reduzi-la a proporções razoáveis e nesse momento o médico entrou na cozinha. — Está cuidando do almoço? — O senhor poderia fazer a gentileza de abrir a geladeira e dizer o que existe nesses pacotes? Posso providenciar algo melhor para hoje à noite. 36
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Quanto ao almoço, será mais um lanche reforçado e precisamos de pão, leite e geléia. Farei sopa para Sra. Olbinski, assim que ela acordar. — Minha pobre Isabel, lutando com problemas domésticos, enquanto eu descansava! — O Dr. Thomas abriu a geladeira e começou a traduzir as etiquetas. — Costeletas de carneiro — disse, colocando um dos pacotes sobre a mesa. — Vou comprar o que for necessário. Alguns sanduíches até que irão bem. Você sabe cozinhar? — Sim. E bem verdade que não se trata de nada sensacional, mas sei preparar pratos simples. — Pelo que vejo, você é um tesouro. É enfermeira, faz companhia às pessoas, idosas, prepara café como ninguém e ainda por cima sabe cozinhar. — Ela ficou vermelha, ao sentir que era alvo de seus olhares e ele complicou a situação ainda mais, ao fazer um comentário: — Não há nada de pessoal no que acabo de dizer, Isabel. . . "Não há a menor razão para me incomodar tanto", disse Isabel a si mesma, enquanto punha a mesa. Como o Dr. Winter custasse para chegar, foi até o quarto, penteou os cabelos castanho-escuros e pôs um pouco de ordem em sua aparência. Talvez agora que estavam de volta a Estocolmo pudesse abandonar o uniforme. Para um solteirão que tinha empregados à sua disposição, ele até que se saiu muito bem. Trouxe pães, biscoitos, um envoltório de plástico contendo uma deliciosa salada de frutos do mar, cogumelos e tomates, queijo e presunto, frutas e uma garrafa de vinho. O Dr, Winter, colocou as compras sobre a mesa e mordeu um biscoito. — Depois do almoço voltarei a sair e comprarei o que for necessário para hoje à noite. Não quer fazer uma lista? — Já fiz, mas talvez o senhor a ache exagerada. . . Bem, temos costeletas de carneiro e batatas. E preciso comprar legumes para uma salada e, se gostar de cebola, posso preparar batatas à moda de Lyon. Se encontrar maçãs, posso fazer uma torta com creme. Não sei que tipos de queijo vendem, Livros Florzinha
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por aqui, mas poderia trazê-los de diversas marcas. Encontrei torradas e biscoitos no armário e temos bastante manteiga. — Ela levantou os olhos e percebeu que ele a encarava fixamente. — Há alguma coisa na lista que não seja do seu agrado? Posso modificar, se quiser..., -— Não, acho que está ótimo. — Ele sorriu, mas desta vez com afeto. — Quem a ensinou a cozinhar? — Minha mãe. — Tem irmãos, irmãs, pai vivo? — Tenho um irmão. Meu pai morreu há alguns anos. Isabel gostaria de falar a respeito de sua família, mas, se o fizesse, após alguns minutos, ele ficaria bastante entediado. — Quer um sanduíche de queijo ou prefere sanduíche de salada? — Não, prefiro comer a salada no prato. O nosso relacionamento não é muito fácil, não acha, Isabel? — Mas não temos relacionamento, Dr. Winter. Eu sou apenas uma enfermeira, contratada para ajudá-lo a tratar da Sra. Olbinski. O senhor me aceitou apenas porque não havia mais ninguém. Isabel exprimia-se com a calma de sempre, expondo os fatos sem o menor rancor. O Dr. Winter não disse nada. Abriu a garrafa de vinho e ela acabou de preparar o ligeiro almoço. — Vou dar uma espiada na Sra. Olbinski. Se ela acordou, posso começar a preparar a sopa. A babá dormia profundamente. Isabel voltou para a cozinha e díspós-se a servir o almoço. — Espero que não se incomode de comer na cozinha. — Quem a ouve falar seria capaz de pensar que eu nunca comi numa cozinha. — Imagino que isso não aconteça com freqüência, não é mesmo? O senhor mora numa casa luxuosa.
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— É o meu lar, Isabel, e tem uma cozinha muito acolhedora. Experimente um pouco de salada; eu trouxe de uma das casas de frios mais conhecidas da cidade. Quando acabaram de comer ela fez café e, enquanto o tomavam, o Dr. Winter anunciou seus planos para à tarde: —Tenho que sair, mas primeiro farei as compras. Não se incomoda de ficar sozinha? — Claro que não. Há algo em relação a Sra. Olbinski de que eu deva tomar conhecimento? — O coração da babá não está muito bom. Examinei-o quando estava em seu apartamento. Creio que não há muito que se possa fazer. Terá que ficar na cama pelo menos dois dias, antes de voltarmos para a Inglaterra, Se ela quiser, poderá levantar durante uma hora, mas o resto do tempo deverá manter repouso absoluto. Você não precisa de nada? — Creio que não, obrigada. — Isabel levantou-se. — Bem, vou lavar a louça. Não se incomoda se eu não usar o uniforme? — De modo algum. Vista se como entender. O tom com que ele se exprimia implicava que ela poderia usar até mesmo um saco, se assim o quisesse, Isabel deu-lhe as costas e começou a tirar a mesa, sentindo-se agredida. O Dr. Winter era de fato rude sem a menor consideração e sempre lhe dizia o que precisava ser feito. Seria uma boa lição para seu orgulho se ele mesmo executasse alguma daquelas tarefas! De repente o Dr. Winter aproximou-se da pia, pondo-se a lavar a louça, o que deixou Isabel sem saber o que pensar. Preparou a sopa para a Sra. Olbinski, que acordou com grande apetite e o Dr. Winter voltou com as compras. Colocou-as sobre a mesa da cozinha, perguntou pela babá, passou alguns minutos ao lado dela e voltou a sair. As únicas palavras que dirigiu a Isabel foram "olá" e “até logo”. "Por que deveria me incomodar com essa atitude?", perguntou-se. Isabel, enquanto preparava um lanche saboroso para a sua paciente. A Sra. Olbinski voltou a dormir e Isabel foi para a sala de estar, pondo-se a folhear uma revista. Não entendia sequer uma palavra, mas as fotos eram Livros Florzinha
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interessantes. Quando decidiu-se a fazer chá, o médico ainda não tinha voltado. Gostaria muito de tomar um banho bem quente, lavar os cabelos e mudar de roupa, mas o Dr. Winter a encarregara de cuidar da Sra. Olbinski. E se o telefone tocasse, se alguém aparecesse e se a velha senhora a solicitasse? Isabel tomou o chá e foi ver como ela estava. Ainda dormia, mas agora era um sono ligeiro. Foi para o seu quarto e separou uma toalha, pente, escova e roupa limpa. Daí a pouco a Sra. Olbinski voltou a acordar e Isabel fez mais chá, servindo-o com biscoitos. Só então pôde cuidar da babá. Era notável como a velha senhora sentia-se com outra disposição, após ser banhada com sabonete perfumado, ter os cabelos escovados e pôr uma camisola fresquinha! A Sra. Olbinski recostou-se nos travesseiros e sorriu, toda contente. — Hum, devo dizer que me sinto bem melhor! Acho que poderia até mesmo tomar uma refeição ligeira. Onde está o Dr. Thomas? — Estou acabando de chegar — disse o médico, entrando no quarto. — Você é um consolo para os meus olhos, babá. Nem parece que tem sessenta anos e está uma gracinha! — Não admito essas confianças, rapaz — disse a babá, fingindo que estava zangada. — Onde esteve? — fazendo uma porção de coisas. — Colocou um embrulho em cima da cama. Vi isto aqui e achei que você gostaria. Abra vamos. Era um belo xale de Iã, branco e cor-de-rosa. O Dr. Winter colocou-o sobre os ombros da babá e deu um passo atrás, admirando o efeito que fazia. — Creio que ficou ótimo, não acha, Isabel? — É muito elegante e combina muito bem com a Sra. Olbinski. Aceita chá, Dr. Winter? — Chá? Não, obrigado. — Voltou-se para Isabel. — Você precisa tomar um pouco de ar puro. Combinei com a faxineira dos Janssen para ajudá-la. Virá amanhã de manhã e você terá algumas horas livres. Por que não vai passear um pouco no jardim durante uma meia hora? 40
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Eu ficarei aqui. Isabel agradeceu, pegou o casaco e foi até a pequena praça. Fazia um pouco de frio, mas o sol brilhava. Os pássaros cantavam nas árvores e o barulho do trânsito não chegava a incomodar. Sentou-se num banco de madeira, sob uma árvore, e ficou ouvindo os ruídos que vinham das velhas casas à sua volta. Eles eram abafados, devido à espessura das paredes. Aos poucos as luzes foram se acendendo e fez-se sentir o cheiro delicioso de comida cozinhando. Ele misturou-se ao odor das flores e Isabel aspirou-o, deliciada. Quando terminou a meia hora ela voltou para casa, pendurou o casaco num cabide e foi diretamente para a cozinha. A luz do quarto da babá estava acesa e a porta encontrava-se meio aberta. Havia luz igualmente na sala de estar, mas ela não foi até lá. As batatas estavam cozinhando, a cebola estava cortada e Isabel preparava a massa da torta quando o Dr. Winter entrou na cozinha. — Ah, você está aí. . . Não a vi no jardim e imaginei que tivesse se perdido em Estocolmo. Você vive entrando e saindo e ninguém sabe onde localiza-la. Ele parecia tão zangado que Isabel parou de fazer a massa e o encarou. — Mas eu estava no jardim — explicou com toda a paciência. — Fiquei lá apenas meia hora, conforme foi combinado. Devo relatar tudo o que faço, até mesmo nos meus momentos de folga? — Claro que não! Pensei que. . . bem, deixe para lá. A babá voltou a dormir. Quando terminar, venha para a sala de estar, onde tomaremos um drinque, Isabel pôs a torta no forno, deixou as batatas esfriando e preparou tudo para aprontar as suas tão esperadas pommes Lyonnahes. Em seguida foi para a sala de estar. O médico, que estava de pé, com as mãos nos bolsos, olhando para fora da janela, voltou-se assim que ela entrou. — Julguei que queria mudar de vestido... — Ainda não tive tempo. — Ah, não, claro que não. Que grosseria de minha parte! O jantar não pode esperar, enquanto você se refresca um pouco? — Pode, sim, se não se incomodar que eu atrase meia hora. E se não se importar em atender a Sra. Olbinski, caso ela precise de algo. . . Livros Florzinha
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— Bem, tome um drinque, antes de se retirar. Não havia a menor razão para ele mostrar-se tão ansioso por sua companhia, ainda que por cinco minutos. Havia muito tempo, Isabel tinha aceitado o fato de que uma natureza calma e um rosto comum apresentavam pouco interesse para um homem, especialmente alguém como o Dr. Winter que, com certeza, podia escolher quem quisesse, sobretudo tendo em vista sua bela aparência, sua esplêndida casa e, certamente, uma magnífica carreira como médico. Isabel bebeu o vinho do Porto com certa pressa, deu uma vaga desculpa e voltou para a cozinha, onde deu uma olhada no andamento do jantar. Foi em seguida para o quarto, aproveitando para dar uma espiada na Sra. Olbinski. Sentiu-se bem melhor após tomar um banho. Gostaria de ter tempo de lavar os cabelos, mas isso teria que esperar. Escovou-o, maquilou-se levemente, vestiu uma saía pregueada e uma blusa estampada e voltou para a sala de estar. — O jantar estará pronto dentro de vinte minutos — anunciou, ao entrar. O médico estava novamente espiando peia janela, de costas para a televisão, que tinha ligado. Olhou-a de alto a baixo e comentou: —-Ah, quer dizer então que esta é uma ocasião especial? Isabel achou que ele estava zombando dela, mas não se importou, pois não havia a menor razão para aquilo. Foi para a cozinha, fechou a porta e vestiu um avental. A torta estava assada. Tirou-a do forno e seu cheiro delicioso atraiu o médico para a cozinha. O Dr. Winter encarou o prato com o mesmo ar de gula que o irmão mais novo de Isabel teria assumido. — Gosto de torta e estou com fome! — Pois irá comê-la após as costeletas. Agora Isabel juntava as batatas com mãos de cozinheira hábil e, ao colocálas na frigideira, o apetite do médico despertou de vez. — Não entendo como até hoje não foi raptada por um homem de bom gosto. Talvez seja uma boa enfermeira, mas, pelo visto, é uma cozinheira de primeira. 42
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— Não, sou apenas razoável — disse Isabel, preparando uma bandeja para a Sra. Olbinski e sem olhar para ele. O Dr. Winter sentara-se à mesa e comia uma torrada. — Desse jeito vai perder o apetite — observou Isabel, indo até a saleta a fim de pôr a mesa. Quando voltou para a cozinha ele já tinha providenciado o vinho e separado os copos, levando-os para a mesa. Isabel carregou a bandeja para o quarto da Sra. Olbinski e ajudou-a a recostar-se nos travesseiros. A babá examinou o conteúdo da bandeja com atenção. — Hum, parece estar muito bom. O que temos de sobremesa? — Torta de frutas, mas, se preferir, posso fazer outra coisa. — Claro que não! Ainda sou suficientemente jovem para apreciar uma boa torta de frutas. Pelo jeito, você cozinha bem, não? — É o que dizem — disse Isabel, retirando-se. A mesa já estava posta, com um grande castiçal de cristal no centro e pequenos vasos com flores de cada lado. Isabel começou a servir e o Dr. Winter, pondo vinho nos copos, fez um comentário naquele tom de voz que dava a impressão de profunda ironia: — Em outras circunstâncias, este ambiente seria descrito como um cenário romântico. — Bem, podemos modificá-lo em um segundo — disse Isabel, retirando o castiçal e apagando a luz que iluminava diretamente a mesa. Assim que ela voltou com o próximo prato o Dr. Winter manifestou-se: — Eu não disse que não gostava da decoração, Isabel. — Não mesmo? Bem, de qualquer modo não tive a menor intenção de criar um ambiente. Prefere a salada agora ou após as costeletas? — Creio que agora. Pelo que vejo, deixei você aborrecida. — Nem um pouco, Dr. Winter — e Isabel comeu a salada em silencio. Quando terminaram ele ajudou-a a tirar a mesa, seguindo-a até a cozinha. — Se quiser telefonar para alguém, não se acanhe. Há uma extensão lá no hall. — Obrigada, preciso mesmo dar um telefonema. Não sabe quando voltaremos para a Inglaterra? Livros Florzinha
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— Não. Depende muito do estado da babá, mas ficaremos aqui pelo menos dois dias. Quero que ela fique mais forte. O fato de termos que permanecer mais tempo do que eu esperava lá em Gdansk abalou-a um pouco. Isabel passou o prato de pommes Lyonnaises e ele serviu-se mais uma vez. — O senhor esperava que isso pudesse acontecer? — Sim, mas também esperava poder evitar a situação. De qualquer modo não fiquei surpreendido. — E não se sentia ansioso, esperando que ela recebesse a permissão de partir? — Ansioso? Minha cara, eu estava apavorado! — O senhor está brincando! — Não estou, não, apesar de não ter a intenção de admitir isso para mais ninguém. Há outra confissão que quero lhe fazer. — Nesse momento o Dr. Winter levantou-se, pegou o castiçal e colocou-o de volta na mesa. — Não estou sendo romântico, apenas quero demonstrar o apreço que sinto por você. Aquele era o tipo do comentário no qual Isabel teria que pensar mais tarde. Enquanto o Dr. Winter levava os pratos para a cozinha, ela foi ver como estava a Sra. Olbinski. — Estava muito gostoso — declarou a babá, que tinha comido com invejável apetite. -— Eu mesma não teria feito melhor. Onde está a torta? A sobremesa foi recebida com idêntica apreciação e Isabel, ajudada pelo Dr. Winter, lavou a louça antes de servir o café. Agora estava na hora de pôr a Sra. Olbinski para dormir. Quando Isabel voltou à sala de estar, o Dr. Winter estava mergulhado na leitura de um livro e ela desejou-lhe boa-noite, voltando a retirar-se. Ele tinha se levantado quando ela entrou, mas não fechou o livro, indicando claramente o quanto se sentia ansioso por voltar a lê-lo. "Não devo ser tão suscetível. Afinal de contas, o livro deve ser bem mais interessante do que eu", disse Isabel a si mesma.
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De qualquer modo, ele tinha apreciado sua comida e, diante desse pensamento tão agradável, ela adormeceu. Na manha seguinte Isabel teve muito o que fazer. Precisou cuidar da babá e, apesar de a faxineira vir após o café da manhã, tinha que preparar o almoço e pôr uma pilha de roupas sujas na máquina de lavar. O médico fez uma breve visita a Sra. Olbinski e saiu logo após o café. Disse a Isabel que traria pão e tudo o mais de que ela precisasse e, ao vê-lo partir, sentiu uma ponta de inveja. O dia estava muito bonito e ela gostaria muito de poder escapar durante umas duas horas. Quem sabe isso fosse possível ã tarde, enquanto a Sra. Olbinski fazia a sesta. Certamente Helga, a faxineira, ainda estaria no apartamento. Isabel deu conta de suas obrigações, preparou o almoço e Helga foi para casa, com a promessa de que voltaria às duas horas. Só então ela descansou, esperando o Dr. Winter. Aproveitou enquanto ele estava fora para telefonar à sua mãe, que ficou muito contente em ouvi-la. Ela não exprimiu a menor impaciência quando Isabel declarou que voltaria mais tarde do que pensava. — O tempo aqui está um horror, querida, e fique o mais que puder. A sua paciente parece ser boa pessoa. Não me engano, não é mesmo? — Ah, sim, mamãe! Falarei a respeito dela quando voltar. A Sra. Olbinski chamava-a e ela teve que desligar. Comeram uma omelete no almoço, acompanhada de torradas, queijo, frutas e café. — A que horas Helga disse que voltaria? — perguntou o Dr. Winter, começando a lavar a louça. — Às duas. — Muito bem. Vá ver se a babá precisa de alguma coisa e em seguida você pode dar um passeio. Creio que está necessitando respirar um pouco de ar puro. Isabel não precisou que ele falasse duas vezes. Dali a quinze minutos voltou para a sala de estar e lá encontrou Helga conversando com o Dr. Winter naquele seu inglês tão engraçado. Livros Florzinha
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—A que horas o senhor quer que eu volte? — perguntou. O médico fez um sinal para Helga e veio até ela. — Voltaremos lã pelas cinco, eu e você. Helga sabe o que é preciso fazer e eu já disse à babá que sairemos. — É mesmo? Você poderá ver muito mais coisas se estiver acompanhada de alguém que conhece Estocolmo. — Mas não há a menor necessidade... — Sou responsável por você, enquanto estiver trabalhando comigo — disse o médico com firmeza. A tarde revelou-se uma verdadeira delícia. Passaram uma hora percorrendo a cidade velha e Isabel comprou lembranças para sua mãe e seu irmão. Em seguida tomaram um táxi e foram até o Jardim de Miles. O Dr. Winter declarou que aquele passeio era indispensável, pois Milles era o mais famoso escultor moderno sueco e em nenhuma hipótese seria possível deixar de ver seu trabalho. Tinha toda a razão. O jardim dava para o mar Báltico e tinha sido construído em terraços. As esculturas, espalhadas por todo o espaço, eram verdadeiras obras de arte. Isabel andava lentamente, parando diante de cada uma delas, quase chegava a esquecer o médico, que demonstrava enorme paciência, acompanhando-a. Somente quando chegaram ao último terraço admiraram a escultura denominada A Mão de Deus é que ela segurou o braço dele. — Olhe! Não é maravilhoso? Nunca vi coisa igual. Não sei nem mesmo como descrever o que sinto. .. O médico encarou-a, observando o quanto ela havia ficado animada. Era surpreendente notar o quanto um rosto comum como o de Isabel inflamavase diante daquela manifestação de beleza. —É de fato um trabalho maravilhoso — comentou o Dr. Winter. — Agora vamos ver a fonte. De lá a gente consegue avistar a casa e o ateliê de Milles. No último terraço temos uma vista esplêndida do Báltico. 46
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Chegando lá, constataram que não havia muitos turistas. O Dr. Winter explicou que a temporada ainda não tinha começado. Dentro de um mês as rosas desabrochariam e estaria bem mais quente. — E o que acontece no inverno? — perguntou Isabel, admirando a escultura O Homem e Pégaso. — Se cai muita neve, pouca gente se aventura a vir até aqui. — Imagino... O senhor já esteve em Estocolmo no inverno? — Sim, é nessa época que eu prefiro vir. — Ah, naturalmente vem esquiar. — Sim. — É difícil? — Não, se a gente quer de verdade. — Olhou para seu corpo pequeno e esguio. — Creio que você esquiaria muito bem. — Creio que não terei a oportunidade de aprender. Bem, imagino que o senhor queira voltar para o apartamento. — Será? Primeiro gostaria de tomar um chá. Tomaram um táxi de volta para o centro da cidade e foram a uma casa de chá pequena e elegante. A bebida foi servida em delicadas xícaras de porcelana e acompanhada de deliciosos doces com creme. — Gostaria de caminhar um pouco? — perguntou o Dr. Winter quando saíram à rua. Ela disse que sim e eles percorreram ruas estreitas e cheias de curvas, uma das quais desembocava na pracinha onde se erguia a casa dos Janssen. O Dr. Winter foi falar com Helga, enquanto Isabel ia para o seu quarto, atendendo logo em seguida a Sra. Olbinski. A velha senhora tinha aspecto extremamente frágil, apoiada nos travesseiros, mas quis saber onde haviam estado e o que tinham feito. Com isso o jantar precisaria ser adiado, imaginou Isabel, contando minuciosamente tudo o que tinha acontecido. Quando, finalmente, pôde deixar a babá, encontrou o Dr. Winter na sala de estar e ele não escondeu sua impaciência. Livros Florzinha
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— Jantarei fora — declarou com certa frieza, muito diferente de seus modos gentis durante a tarde. — Tenho a chave e você pode trancar a porta. Antes de sair irei ver a babá. Como é que ela está? — Está cansada, apesar de ter ficado na cama o dia inteiro — disse Isabel, disfarçando a decepção que sentia. —- Devo fazê-la sair da cama durante uma ou duas horas, enquanto ela janta? — Eu lhe direi, após examiná-la. Dê-lhe uma refeição ligeira e cuide para que ela tome os seus comprimidos. Isabel foi até a cozinha e examinou o conteúdo da geladeira e dos armários. Tinha imaginado um saboroso jantar, mas. após a recomendação do Dr. Winter prepararia uma simples omelete, sopa e ofereceria frutas como sobremesa. O médico entrou na cozinha, pronto para sair. Tinha trocado de roupa, estava recém-barbeado e lançou-lhe um olhar indiferente. — A babá está bem e, se continuar assim, reservarei passagens para depois de amanhã. Não deixe de tirá-la da cama. Se acaso precisar se comunicar comigo, pode ligar para este número. Boa noite, Isabel. Ela desejou-lhe o mesmo, procurando aparentar despreocupação, e pôs-se imediatamente a preparar o jantar. Interrompeu o que fazia, ao ouvir a porta da rua fechar-se e foi dar uma espiada na Sra. Olbinski. Não sabia por que, mas não queria ficar a sós com seus pensamentos. Isabel teve a impressão de que a noite se arrastava. A Sra. Olbinski recusou-se a levantar-se. Lavou-a, arrumou sua cama, ligou a televisão e foi preparar a omelete e o chá. Só bem mais tarde, quando a velha senhora cochilou, é que ela voltou para a cozinha, providenciando uma refeição ligeira. Em seguida folheou uma revista e foi deitar-se. Permaneceu acordada durante muito tempo e, quando conseguiu finalmente dormir, o Dr. Winter ainda não tinha voltado. Para sua grande surpresa ele ofereceu-se para acompanhá-la pela cidade no dia seguinte. Isabel fez ver que, mesmo com a presença de Helga. precisava passar roupa e tinha que cuidar da Sra. Olbinski.
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Ele pareceu não ter ficado muito incomodado com sua recusa, aconselhandoa a folgar uma hora após o almoço. — Vou até a agência reservar passagens para o vóo de amanhã à tarde. A babá não piorou, nem melhorou, mas acho aconselhável levá-la para casa. Helga estará de volta às duas você poderá sair logo em seguida. Isabel teve uma manhã cheia, pois a Sra. Olbinski mostrava-se um tanto impaciente. Passou toda a roupa e preparou o almoço. Quando o Dr. Winter voltou, esperava-o com uma bela salada e rosbife, além de torradas na manteiga. Ele mostrou-se amável e distante enquanto comiam, ajudou-a a tirar a mesa e foi conversar com a Sra. Olbinski. Não ficou muito tempo com ela. Isabel acomodou a velha senhora, a fim de que ela fizesse a sesta e, prometendo que estaria de volta dentro de uma hora, foi buscar o casaco. Quando ia sair, o médico abriu a porta e desceu a escada a seu lado. Durante um breve momento teve a sensação de que ele pretendia acompanhá-la, mas. assim que saíram à rua. o Dr. Winter desejou-lhe um bom passeio, tomando a direção oposta. Isabel esperava não se perder, embora sempre pudesse guiar-se pelas torres das igrejas. Percorreu as encantadoras ruas da cidade velha, olhando as vitrines das lojas de antiguidades, das joalherias e butiques. Depois de andar meia hora foi até a bela Igreja de Storkyrkan, visitando-a. Parou enlevada diante da estátua de São Jorge e o Dragão, e, quando percebeu, constatou que estava atrasada. Voltou rapidamente para o apartamento, a tempo de surpreender a Sra. Olbinski toda queixosa, pedindo chá. Serviu-o e ficou conversando um pouco com a babá. Achou que seria melhor para ela exercitar-se um pouco e, passando o xale cor-de-rosa em torno de seus ombros, ajudou-a a ir até a cozinha. Acomodou-a numa cadeira confortável cobriu seus joelhos com uma manta e começou a providenciar o jantar. O Dr. Winter chegou logo depois. A babá decidiu ficar para o jantar, esquecendo seus queixumes. Estava muito animada e contou-lhes passagens de sua vida na Polônia. Quando o Dr. Winter sugeriu que ela deveria ir Livros Florzinha
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deitar-se, atendeu imediatamente sua recomendação e adormeceu no ato, como uma criancinha. O Dr. Winter já tinha lavado quase toda a louça quando Isabel voltou para a cozinha. Preparou mais café e levou-o para a sala de estar, onde ouviu com atenção os planos dele para o dia seguinte. Mais tarde, como o médico não demonstrasse mais disposição para conversar, desejou-lhe boa-noite e foi dormir. "Afinal de contas, não há a menor razão para ele desejar a minha companhia", refletiu Isabel. Estava lá para cuidar da Sra. Olbinski e ele não tinha o menor interesse nela, a não ser pelo fato de que era enfermeira e tinha sido contratada para executar uma determinada tarefa. Como seriam as coisas, se ela fosse diferente, se tivesse, por exemplo, olhos azuis, um rosto bonito, uma conversa agradável? Contemplou no espelho seu rosto tão comum e escovou os cabelos. — A esta altura, na semana que vem, ele já terá esquecido você — disse em voz alta, com muita firmeza. O avião sairia às duas horas da tarde e o aeroporto ficava a cinco quilômetros da cidade. Isabel teve uma manhã muito ocupada. Ajudou a Sra. Olbinski a levantar-se e a vestir-se preparou o almoço, fez as malas e ajudou Helga a limpar o apartamento. Foram de táxi para o aeroporto, e, como tinham algum tempo, Isabel e a Sra. Olbinski ficaram no bar, tomando café e folheando jornais e revistas, enquanto o médico foi despachar a bagagem. Só voltou quando o vôo foi anunciado, e desta vez empurrava uma cadeira de rodas. A Sra. Olbinski, muito sonolenta, não fez a menor objeção em ser colocada na cadeira e, quando chegaram à porta do avião, o Dr. Winter carregou-a nos braços, acomodando-a no assento ao lado da janela. Recomendou a Isabel que se sentasse ao lado dela e ele mesmo ficou no assento do corredor. "Deve estar muito aliviado, pois a viagem está chegando ao Fim", pensou Isabel, vendo-o ler um jornal, 50
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O Dr. Winter tinha tomado uma atitude distante desde que deixaram o apartamento, como se sentisse alívio diante do fato de que, em breve, não mais a veria, e deu uma resposta vaga, quando Isabel perguntou se ainda precisaria de seus serviços, assim-que chegassem a casa dele. Lá havia criados em número suficiente para cuidar da Sra. Olbinski, e ficou a imaginar como poderia ir para casa o mais breve possível. Claro que ele poderia dispensá-la no aeroporto, em Londres, mas s era pouco provável. Se pudesse telefonar para sua mãe e tomar um ônibus.. . Quem sabe o Dr. Winter lhe pagasse um táxi! Iria até a agência na manhã seguinte, com a esperança de que ele tivesse sido pontual no pagamento. Poderia assumir um compromisso com outro paciente e teria o dia livre para cuidar de suas roupas e contar todas as novidades para sua mãe. Por ela, continuaria a fazer planos e mais planos, mas a Sra. Olbinski acordou e pediu chá. Enquanto o tomava, quis saber quanto tempo demorariam para chegar. — Confesso que estou cansada —- disse a velha senhora com um fiozinho de voz. — Tudo aconteceu muito rápido e eu me sinto tão estranha... Que bom que você me fará companhia, Isabel.. . Aquele não era o momento de dizer que as coisas não seriam exatamente assim. Isabel mudou de assunto, levando a babá a contar mais passagens de sua vida na Polônia, e esperou que aquele momento embaraçoso tivesse passado. Chegaram finalmente a Londres e enquanto saiam do avião e passavam pela alfândega quase não trocaram palavras. O Dr. Winter, como sempre, providenciava os menores detalhes. Chamou um carregador e, assim que saíram do aeroporto, um Rolls-Royce azul parou diante deles. O chofer desceu, trocou algumas palavras com o médico, acomodou a bagagem no porta-malas e desapareceu. A Sra. Olbinski foi acomodada no banco de trás, o Dr. Winter fez um sinal a Isabel para que se sentasse ao lado dele e ficou na direção. Só falou para perguntar se a babá estava bem e só então Isabel relaxou. Quando chegassem a sua casa descobriria exatamente o que ele queria dela e, ao mesmo tempo, com toda a delicadeza possível, observaria que ele poderia ter tido a consideração de informa-la com antecedência. Ele Livros Florzinha
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era um homem irritante, excessivamente seguro de si mesmo. Bem, o fato de ser tão seguro assim fora de grande ajuda, quando encontravam-se na Polônia e, em uma ou duas ocasiões, ele havia se revelado bastante amável. De qualquer modo, era uma grande perda de tempo pensar nele e Isabel voltou sua atenção para a Sra. Olbinski, que ficava cada vez mais excitada, à medida que se aproximavam de Londres.
Capítulo IV
Pelo visto, na casa do Dr. Winter tudo funcionava perfeitamente bem. A porta da frente abriu-se antes que o carro parasse diante dela e o mesmo criado impassível desceu a escada, saudou o médico com uma efusão que aliviou de maneira surpreendente seus traços tão pesados e abriu a porta para Isabel sair. Entraram na casa e o Dr. Winter carregou a Sra. Olbinski nos braços, como sempre. Isabel seguiu-os até um amplo e confortável salão, com janelas dos dois lados. Esperava poder conversar com o médico antes de partir, mas naquele momento a única preocupação dele era a babá. Tirou-lhe o chapéu da cabeça, livrou-a do pesado casaco e sentou-a numa cadeira confortável. — Gostaria de tomar chá — declarou a Sra. Olbinski e o médico fizeram sinal para uma criada gorda e simpática que tinha vindo ao encontro deles, assim que entraram em casa, — Todos nós tomaremos — informou o Dr. Winter. Mas quando o chá foi servido ele o recusou e serviu-se de uisque, sentandose em seguida ao lado da lareira vazia. — Seja bem-vinda, babá — disse, erguendo um brinde a Sra. Olbinski. — Amanhã comemoraremos, mas a viagem foi muito cansativa. Que tal ir deitar mais cedo e tomar a sopa na cama? — O Dr. Winter olhou para Isabel. — Ah.
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sim, e você, Isabel. . . — nesse momento, foi interrompido por uma voz de mulher, que ria. — Pode deixar, Gibson, eu conheço o caminho. Uma jovem alta e elegante, toda vestida de negro, entrou na sala. Usava um daqueles vestidos chiques que Isabel admirava com grande inveja, todas as vezes em que os via nas revistas de moda. A moça atravessou a sala quase correndo e jogou-se nos braços do Dr, Winter. — Thomas! Por que não me avisou que estava de volta? Hoje à noite há uma grande festa e eu estava me sentindo tão infeliz, achando que você não estaria aqui para me levar. Agora sei que tenho companhia! — Passou os braços em torno do pescoço dele e o beijou. — Onde foi que esteve? A jovem afastou-se um pouco e prestou atenção em Isabel e na babá, ambas sentadas com grande dignidade em suas cadeiras. — Quem são estas pessoas? — Venha conhecer a minha velha babá, a Sra. Olbinski, que agora passa a morar comigo. Esta é a srta. Barrington, a enfermeira que cuida dela. Babá e Isabel quero apresentar-lhes a srta. Ella Stokes. A Srta. Stokes mostrou-se muito calorosa para com a babá e encarou Isabel com frieza. — A festa é às oito e meia, mas poderemos jantar mais tarde. — Creio que não será possível, Ella. Acabamos de chegar de viagem. Você terá que encontrar outra pessoa para levá-la e creio que não será nada difícil. — Claro que não será, mas eu quero a sua companhia, Thomas. — Sinto-me lisonjeado, mas é impossível, querida. Amanhã poderemos almoçar juntos. — Está bem, mas preciso conversar com você. Serão apenas alguns minutos. Por favor, Thomas! —Como posso recusar? Espere um momento, enquanto levo a babá para o quarto dela. Isabel, não quer vir também? Livros Florzinha
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O quarto da Sra. Olbinski ficava no primeiro andar e era grande, arejado e confortável. — Aqui você encontrará tudo que for necessário, babá — disse, sentando-a numa cadeira junto à cama. — Se precisar de algo, aperte a campainha e a Sra. Gibson virá atendê-la. — Ele inclinou-se e beijou a velha senhora. — Voltarei mais tarde — prometeu e ia retirar-se quando Isabel o interrompeu. — Dr. Winter gostaria de saber o que. . . — Ah. . . é claro, Isabel, você quer saber onde é o seu quarto não é mesmo? A Sra. Gibson lhe mostrará. —- Não sabia que iria passar a noite aqui. Quer me ver antes que eu parta, amanhã de manhã? Thomas pôs-se a encará-la com ar impaciente e, ao mesmo tempo, divertido. — Partir? Mas você continua trabalhando para mim, não é mesmo? Não me lembro de ter dito que deveria partir. — É verdade, não disse, mas quando me entrevistou declarou que precisaria dos meus serviços até encontrar “alguém que pudesse fazer companhia a Sra. Olbinski. Isso já aconteceu. Ela e a Sra, Gibson são velhas amigas”. —A Sra. Gibson é minha governanta. — Bem, talvez eu esteja trabalhando apenas temporariamente para o senhor, mas julgo merecer um pouco da sua consideração. Ignoro totalmente o que está acontecendo. — Ah, pois não! Pelo que vejo, devo pedir-lhe perdão. Queira ter a gentileza de passar a noite aqui e amanhã pela manhã conversaremos. Talvez tenha outro paciente ã sua espera, não? Era uma tentação dizer que sim, mas Isabel sacudiu a cabeça. — Neste caso nós nos veremos amanhã. O Dr. Winter retirou-se e Isabel ouviu-o conversando com Ella. Não tinha o menor motivo para sentir-se tão frustrada. Procurou não pensar mais no assunto e a Sra. Gibson veio ao seu encontro.
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—-Coloquei-a no quarto ao lado da babá, querida Isabel. Há um banheiro entre os dois quartos e, se deixar a sua porta aberta, poderá ouvi-la perfeitamente e ver se ela precisa de algo. Ela introduziu Isabel em um quarto encantador, todo decorado em tons pastel. — Mas que aventura — disse a Sra. Gibson, que, pelo jeito, gostava de um bom papo. — Ficamos todos preocupados quando o Dr. Winter partiu, no meio do maior segredo, mas agora estamos muito contentes por ter a babá entre nós. Ela partiu há vinte anos, mas o tempo voou. Não ficou com medo, Isabel? — Não, mas foi um tanto alarmante quando nos disseram que a Sra. Olbinski não poderia partir imediatamente. O Dr. Winter soube, porém, o que fazer. Isabel tirou o casaco e arrumava-se diante do espelho da penteadeira. — Era de se esperar. O Dr. Thomas sempre sabe como agir. Isabel concordou em silêncio, embora achando que ele poderia dividir seus planos com os outros de vez em quando. Lembrava-se, por exemplo, daquela noite em que ele desaparecera em Gdansk. E se precisasse da sua presença naquele momento? Se tivesse caído e quebrado uma perna? As possibilidades de um acidente eram infinitas. Passou alguns minutos pensando nisso, esquecendose por completo da Sra. Gibson, que não tirava os olhos dela. — Bem, se não precisa de mais nada, Isabel, irei averiguar se o Dr. Thomas pretende jantar em casa. Aquela tal de Srta. Stokes está sempre fazendo pressão para que ele a acompanhe. Se quer saber a minha opinião, acho que ele precisa descansar um pouco. O jantar será servido dentro de meia hora. Naturalmente, primeiro você levará a babá para a cama, não é mesmo? Quando ela estiver acomodada, basta apertar a campainha e alguém virá trazer a sopa. Eu também virei e você poderá jantar em paz, pois ficarei batendo um papo com a Sra. Olbinski. Isabel atendeu todas as sugestões da Sra. Gibson, o que lhe deixou algum tempo para preparar-se para jantar. Parecia bem pouco provável que o Dr. Winter estivesse presente. Mesmo assim, mudou de blusa, maquilou-se, penteou-se e dirigiu-se à sala de jantar, um tanto nervosa. Livros Florzinha
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Gibson, o mordomo, encontrava-se no vestíbulo e sorria, o que era surpreendente. Abriu uma porta e a fez entrar numa pequena sala, alegremente decorada, com sofás e poltronas estofados e recobertos de tecidos estampados e de cores vivas. Isabel não esperava encontrar o Dr. Winter lá e ficou muito surpreendida quando ele voltou-se para ela. — Oh, o senhor está aqui! —E onde mais deveria estar? Afinal de contas, esta é a minha casa. — Sim, eu sei, mas julguei que tivesse saído com a Srta. Stokes. . . — Se não me engano, eu disse a ela que não iria. . . — Eu sei. mas achei que não estava falando a sério. Ela é muito bonita! — Se me conhecesse melhor, Isabel, saberia que, sempre que eu afirmo uma coisa estou sendo sincero. — Sempre? — Sempre. Aceita um copo de vinho do Porto, antes de jantarmos? — Sim, obrigada, mas acho que não posso demorar muito. A Sra. Olbinski... — A Sra. Gibson está fazendo companhia a ela e terão uma boa conversa sobre os velhos tempos. Seria muito pouco gentil de sua parte interrompêlas. Isabel acabou aceitando o vinho do Porto e foram em seguida para a sala de jantar onde comeram vigiados pelos olhos atentos de Gibson, Ela estava com fome e alimentou-se com grande apetite. Tomou o vinho que lhe era servido e conversou amavelmente com o Dr. Winter.. Sentia muita vontade de perguntar-lhe se deveria partir na manhã seguinte, muito embora tivesse certeza desse fato. A Sra. Olbinski não precisava mais de uma enfermeira e havia suficientes criados na casa para atender seus menores desejos. — Se não se importar, gostaria de telefonar para minha mãe — disse Isabel, assim que se levantaram da mesa. — Claro! Há um telefone na sala de estar, do outro lado do vestíbulo, e lá não será incomodada por ninguém. Acho inútil dar detalhes sobre a sua partida,
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pois precisamos conversar amanhã de manhã, mas sem dúvida haverá de querer avisar sua mãe que está de volta a Londres. O Dr. Winter abriu a porta da saia e despediu-se, desejando-lhe boa-noite. Sua mãe, apesar de muito contente em ouvi-la, não pareceu importar-se com o fato de que ela ainda demoraria um ou dois dias para voltar para casa. — Tenho certeza de que partirei amanhã, mas o Dr. Winter quer conversar comigo e insiste em não dizer de que se trata — informou Isabel. — Ah. sim. Você me disse que no início ele não sentia muito entusiasmo em contratá-la. Ele tem sido muito exigente? — Para dizer a verdade, não. Mamãe telefonarei amanhã de manhã avisarei a que horas devo chegar em casa. Ela estava tão certa de que partiria logo após conversar com o Dr. Winter que fez a, mala assim que se levantou, no dia seguinte. Evitou dizer qualquer coisa a Sra. Olbinski quando foi até seu quarto, ajudá-la a vestir-se e a tomar o café da manhã. Somente no final da manhã, quando Isabel começava a impacientar-se, é que a Sra. Gibson veio ao seu encontro, dizendo que o Dr. Winter estava em casa e que ela deveria ir conversar com ele em seu escritório. O Dr. Thomas desejou-lhe bom-dia com ar distraído e Isabel estava disposta a perdoar o pouco caso com que estava sendo tratada, mas, de repente, ouviu uma frase que a incomodou profundamente: — Eu deveria ter vindo diretamente para cá, mas Ella quis me ver... Isabel, empregando o tom o mais frio possível, disse que o compreendia perfeitamente e caiu das nuvens diante da próxima declaração do médico: — Telefonei para a agência hoje de manhã e contratei você por mais uma semana. — Eu esperava partir hoje — declarou ela com grande calma, apesar de estar furiosa. — Devo dizer que o senhor, como patrão, trata os seus empregados com muito pouca consideração. — É mesmo? Não vejo por quê. Afinal de contas, a sua profissão até a enfermagem e não importa muito onde a exerça. Bem, agora acho melhor Livros Florzinha
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pagá-la não é mesmo? A agência fez uma recomendação nesse sentido. Além do mais, você tem direito a um dia de folga, aliás, dois. Quem sabe fique contente com um. — Pelo visto não tenho muita escolha, mas preciso de tempo para ir até minha casa, buscar mais roupas. — Precisa mesmo? As que vem usando me parecem muito apropriadas. Bem você é quem sabe. Pode ir agora, se quiser, ou então depois do almoço. Volte amanhã ao meio-dia. Devo estar fora e ficaria mais tranqüilo sabendo que você se encontrará aqui em casa. O Dr. Winter sentou-se à mesa e abriu o talão de cheques, mal olhando para ela enquanto preenchia um. — Sente-se, por favor, Isabel. Ela queria discutir com ele, mas não encontrava as palavras apropriadas. De repente percebeu que o Dr. Thomas a encarava, o que a fez ficar muito vermelha. — Aqui está um cheque para a sua primeira semana. O correto seria eu efetuar o pagamento para a agência, mas se fizesse assim você teria que esperar umas duas semanas até eles lhe entregarem o dinheiro, o que não me parece nada justo. Não lhes dê nenhuma comissão, pois eu acertarei o assunto em separado. Como está a babá? — Muito bem. Levantou-se, está vestida e a Sra. Gibson lhe faz companhia, na minha ausência. — Vou levá-la para a pequena sala de estar. Assim, qualquer pessoa que passar pelo vestíbulo poderá ficar de olho nela. Quem sabe ela gostaria de comprar mais algumas roupas dentro de uns dois dias. Vamos deixar para quando você voltar. Gibson poderá levá-las até as lojas. Uma outra solução, que me parece a melhor, é você ir até uma loja e selecionar uma série de roupas, trazendo-as para cá, a fim de que a babá as escolha. Para dizer a verdade, não me parece que ela esteja em condições de sair. — Muito bem. Amanhã, quando voltar, tirarei as medidas da Sra. Olbinski. 58
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— Acho melhor você ir à loja Harrods, onde eu lenho conta. Telefonarei para eles. Agora vamos almoçar? Tenho muitos compromissos à tarde. Do jeito como ele se expressava, até parecia que ela o estava atrapalhando! Isabel sentiu-se indignada, mas não disse nada. Almoçaram quase sem falar e, depois de ver se estava tudo em ordem com a Sra. Gibson, Isabel saiu às pressas. O mordomo estava parado diante da casa, onde havia um luxuoso carro estacionado. Ele pegou sua mala e abriu a porta. — O Dr. Winter me pediu que a levasse até a sua casa. Qual é o endereço? — É na rua Jordan, número 24. Obrigada Gibson. — Não há de quê. Irei buscá-la amanhã ao meio-dia. Está bem? — Perfeito. No momento em que o carro se aproximava sua mãe saía de casa, mas, ao vêla, voltou a pôr a chave na porta. — Meu bem, que bom que você chegou! — A Sra. Barrington aproximou-se toda sorridente, abraçou Isabel e estendeu a mãe a Gibson. — O senhor aceita um chá antes de ir embora? — Obrigado, minha senhora, mas eu devo voltar imediatamente. Até amanhã ao meio-dia, senhorita. Gibson levou a mala de Isabel até a casa, desejou-lhe bom-dia e partiu. — Meu Deus, que homem tão bem-educado — comentou a Sra. Barrington. — Até parece alguém do outro mundo! Já não se encontra mais gente assim. Hoje todo mundo usa jeans, cabelos compridos e chama a gente de tia. . . — Na casa do Dr. Winter há muita gente igual a Gibson. Devo ficar lá por mais uma semana e recebi o primeiro pagamento. Na verdade deveria recebê-lo da agência, mas o Dr. Winter torce as regras quando elas não são da sua conveniência. . . Bem, vou levar a mala para o quarto em seguida iremos fazer compras. Tenho vinte e quatro horas de folga e comprarei mais roupas. Além do mais. Preciso deixar os meus uniformes em ordem para o próximo paciente. — Com isso terei o que fazer quando você estiver ausente, querida. Quase não tenho saído. Vamos fazer compras e na volta tomaremos chá e Livros Florzinha
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conversaremos bastante. Morro de vontade de ouvi-la falar sobre a viagem e a velha babá... A Sra. Barrington sentia muita vontade de saber detalhes a respeito do Dr. Winter. mas era esperta demais para revelar isso. Mais tarde interrogaria Isabel com a habilidade que lhe era característica... Ela, no entanto, não conseguiu apurar muita coisa. Isabel, que estava acostumada a revelar à sua mãe tudo o que lhe dizia respeito, não conseguiu contar muita coisa sobre o médico. Revelou que ele era bonito, ainda moço, rico, pelo visto, dedicado à sua velha babá e, além disso, a Sra. Barrington não ficou sabendo de muito mais. Sentiu-se frustrada, pois Isabel mostravase excessivamente discreta e cautelosa. Refletiu que sua filha ficaria na casa do médico por mais uma semana e muita coisa poderia acontecer então. Talvez seus sonhos fossem ambiciosos e até mesmo delirantes, mas era uma mãe muito dedicada. Isabel seria uma esposa esplêndida e como o Dr. Winter era solteiro, aquela viagem a Gdansk encerrava iodos os ingredientes ideais para um romance. . . Felizmente a Sra. Barrington não se encontrava presente quando Isabel avistou-se com o Dr. Winter, ao voltar para a mansão no dia seguinte. Ele descia a escada no momento em que ela entrou e resmungou uma saudação com o máximo de mau humor. Isabel não podia saber que a babá tinha acabado de lhe passar um sermão, ignorando o fato de que ele era um adulto e não mais o garotinho de quem ela havia cuidado com tanto amor. |á era mais do que tempo de ele se casar, dissera ela sem escolher as palavras. — E não há de ser com aquela jovem assanhada que veio me ver sem ser convidada, enquanto esperava que o senhor chegasse ontem à tarde. Imagine só que atrevida; me chamou de babá! O Dr. Winter procurara manter-se calmo, mas a manhã no hospital tinha sido muito cansativa e fazia anos desde que alguém se atrevera a contestar seu estilo de vida e suas atitudes. Interrompera a velha senhora com delicadeza, mas mostrando-se muito firme, e desculpara-se, alegando que tinha o que fazer. Dirigia-se para o escritório e foi então que se encontrou com Isabel. 60
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Ao notar o quanto ela parecia calma indignou-se ainda mais e fez um comentário áspero: — Você está atrasada! —Não estou, não. O senhor disse que eu deveria chegar ao meio-dia, Dr. Winter. — Havia um carrilhão magnífico ao pé da escada e, mal Isabel terminou a frase, bateu meio-dia. -— Está vendo? Creio que o senhor teve uma manhã muito atarefada. — Meu Deus! Você é tão impossível quanto à babá! O Dr. Winter entrou no escritório e bateu a porta com forca, Isabel foi deixar a mala no quarto e em seguida deu um pulo até o quarto da Sra. Olbinski, para ver como ela estava. A velha senhora demonstrou grande alegria por vê-la. — Senti-me um tanto só — observou. — É claro que é um prazer. ter tantos velhos amigos em torno de mim, mas acho que me acostumei com você. Bem, quero almoçar e fiz uma lista das roupas do que necessito. Você precisa tirar as minhas medidas. Sabe, ele ficou indignado, só porque eu lhe disse que não deve se casar com aquela tola... Uma lágrima desceu lentamente por seu rosto enrugado e Isabel enxugou-a, abraçando em seguida a Sra. Olbinski. — Fiquei intrigada ao vê-lo tão zangado, assim que entrei, mas tenho certeza que daqui a pouco o Dr. Winter esquecerá completamente o assunto. Que tal tirar as suas medidas antes do almoço? Em seguida irei até a cozinha saber o que estão preparando. Quer alguma coisa em especial? — Acho que gostaria de uma costeleta de carneiro com purê e uma lona de frutas, como só a Sra. Gibson sabe fazer. Não é do feitio dele ficar tão zangado assim. Talvez eu não devesse ter voltado. Creio que vou lhe dar muitas preocupações. . . A babá voltou a chorar e mais uma vez Isabel enxugou suas lágrimas. — Está dizendo uma bobagem e sabe disso muito bem, Sra. Oibinski. Deu um beijo na boa senhora e, pegando uma fita métrica, tirou as medidas da babá, que logo esqueceu seus pesares, ficando muito excitada diante de ganhar roupas novas. Livros Florzinha
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O almoço foi servido à uma hora. Depois de acomodar sua paciente, Isabel desceu para a sala de jantar. Tinha certeza de que almoçaria sozinha, pois o Dr. Winter certamente não estaria disposto a fazer companhia a quem quer que fosse. Mas, para sua grande surpresa, ele estava lá, parado diante da lareira, com as mãos nos bolsos e uma expressão neutra. "Ainda deve estar zangado", pensou Isabel, sentando-se sem dizer nada. Nenhuma palavra foi trocada durante a sopa e ele comportava-se como um garoto mimado. — Minha mãe ficou muito contente ao me ver — declarou Isabel, procurando anima-lo. — Foi muita gentileza de sua parte mandar o carro me levar e me trazer de volta. — Que bom! — O Dr. Winter recusou o pudim que Gibson lhe oferecia. — Com licença. Terei uma tarde muito ocupada. Pode ir e voltar de táxi quando precisar fazer as compras para a babá. — Acho que andar a pé me faria muito bem. — Pois então faça como quiser. De qualquer maneira, será reembolsada. — Não tive a intenção de. . . — disse ela, indignada, mas o Dr. Winter retirou-se. Mesmo que quisesse, não lhe foi possível desobedecê-lo. Gíbson já havia chamado um táxi e Isabel voltou carregada de embrulhos. A quantidade de dinheiro que tinha gasto chegava a dar-lhe tonturas, apesar de manter-se nos limites fixados pelo Dr. Winter. Gibson pegou os embrulhos e levou-os para o andar de cima. — Imagino que a senhorita não teve tempo de tomar chá, não é mesmo? — perguntou ele. — De fato. Gibson, não tive, mas já é um pouco tarde. — Absolutamente. O chá será servido no quarto da Sra. Olbinski. Isabel tirou o casaco e dirigiu-se rapidamente para o quarto da babá, que estava muito excitada. Passaram quase uma hora abrindo os pacotes e experimentando as roupas. 62
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— Assim que vi este vestido tive certeza de que ele lhe serviria — comentou Isabel. — Não acha muito bonito? E o que me diz destes chinelos, tão macios e confortáveis? Terá que se levantar todos os dias, Sra. Olbinski, a fim de poder usar todas estas coisas belas. Comprei também este chapéu e me disseram lá na loja que, se acaso não gostar, poderemos devolvê-lo. Ele combina muito bem com o casaco. — Pôs o chapéu na cabeça da babá e entregou-lhe um espelho de mão. — Não é elegantíssimo? — Sem dúvida — disse o Dr. Winter, entrando no quarto. — Precisamos levála para dar um passeio, babá, pois o seu chapéu merece ser apreciado por todo mundo. — Ele aproximou-se e beijou a Sra. Olbinski. — Gostou da escolha de Isabel? Acha que ainda precisa de alguma coisa? A velha senhora pegou a mão dele e apertou-a com força. — Dr, Thomas, o senhor me deu tudo o que eu sempre quis estas belas roupas, morar na sua linda casa e ter esta querida criatura cuidando de mim. — Você também cuidou de mim durante muitos anos, babá. Não gostaria de ir jantar lá em baixo hoje? E uma bela ocasião para usar um dos seus vestidos novos. Ela concordou e Isabel ajudou-a a pôr um dos vestidos adquiridos naquela tarde. Penteou os cabelos dela e levou-a até o grande espelho da parede, a fim de que ela se olhasse. — Puxa. . . estou elegante, não acha? Quanto trabalho eu lhe dei, menina! Pode me chamar de babá! — E mesmo? Não acha que estaria sendo muito confiada? É que eu mal a conheço e devo partir dentro de alguns dias. . . — Bem, imagino que devam existir pessoas que precisem de você mais do que eu. .. Sentirei muito quando for embora. Aliás, não serei a única... Agora me acomode em algum lugar, meu bem, e vá se arrumar. Isabel passou cinco minutos decidindo se usaria o vestido de algodão, apropriado para o verão, ou um vestido de linho creme, de corte impecável, que a fazia aparentar mais idade do que tinha. Resolveu-se por esse último. Parecia-lhe mais apropriado para a posição que ocupava naquela casa e era bem pouco provável que alguém a olhasse mais de uma vez. Livros Florzinha
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Foi nisso que se enganou. O Dr. Winter olhou-a diversas vezes, imaginando por que ela não tinha feito o possível para valorizar-se ao máximo. Ela parecia naquele momento uma rígida governanta ou a eficiente secretária de algum executivo. Só lhe faltavam óculos. Isabel surpreendeu-o num determinado momento e, preocupada, ajeitou os cabelos. — Você está muito bonita, Isabel — declarou ele de repente, vendo-a ficar vermelha de prazer. "Pobre garota, ela teve muito o que fazer a semana passada'", pensou, enquanto tomava um gole de uísque. Procurou mostrar-se o mais agradável possível, fazendo a babá e Isabel rir, e sentiu profundo alivio quando Gibson veio anunciar que o jantar estava servido. Nesse exato momento houve um pequeno tumulto no vestíbulo e Ella Stokes surgiu diante delas. — Thomas, seu malvado! Você se recusou a sair comigo hoje à noite e eu vim saber o que o impede. Ela olhou para a Sra. Olbinski e para Isabel e não tomou o menor conhecimento dessas presenças. Em sua opinião, não havia nada naquelas criaturas que impedisse o Dr. Winter de acompanhá-la. Estendeu a mão e endireitou o laço da gravata dele, mas o médico não gostou muito. — Olhe só. Eu me vesti especialmente para você: ê um vestido novo. Gosta? Ella deu uma volta e o caro vestido de chiffon e seda revelou toda sua elegância. — Temos de ir a algum lugar simples e calmo, pois você não trocou de roupa. Conheço um restaurante italiano muito simpático! — Desculpe, Ella, mas eu estou dando um pequeno jantar íntimo em honra da babá. — Tenho certeza de que ela não se incomodaria, não ê mesmo, babá? — perguntou, sendo premiada pela Sra. Olbinski com um olhar glacial. Ella desconcertou-se um pouco, mas logo se dominou. — A enfermeira poderá lhe fazer companhia.
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— Talvez a Sra. Olbinski não se incomode, Ella, mas eu me incomodo — disse o Dr. Winter, com muita firmeza. — Vou jantar na minha casa. Pois é isso que eu quero. Ella ficou com tamanha raiva que quase tornou-se feia, mas logo em seguida seu sorriso era tão doce como sempre. — Está bem, querido Thomas. Fico esperando que me convide para jantar com vocês. Não pretendo ir para casa comer sozinha, usando um vestido que custou uma pequena fortuna. Era impossível dizer se o Dr. Winter tinha ficado contente ou não. Isabel terminou de tomar seu drinque e Ella, com grande presença de espírito, começou a conversar com o médico. Era uma criatura muito divertida e, mesmo que ele não gostasse de sua presença naquele momento, estava rindo no instante em que Gibson veio anunciar pela segunda vez que o jantar linha sido servido. Depois disso Ella não parou mais de brilhar. Elogiou a comida, fez um brinde ã babá, que a encarou com ar indignado, e quase ignorou completamente a presença de Isabel, limitando-se a fazer um comentário muito pessoal: — Sabe você não deveria usar essa cor. Ela toma você uma pessoa completamente neutra, pálida, . . Aliás, me parece que normalmente você é pálida, não? Ter que usar sempre o mesmo uniforme acaba prejudicando o gosto em se vestir, não acha? Isabel não disse nada, mas por dentro fervia de indignação. Foi o Dr. Winter quem respondeu por ela: — Você se engana redondamente, Eu, estava admirando Isabel e ela tem um gosto excelente, — Existem certas pessoas que não se vestem com bom gosto, mas dispõem de dinheiro suficiente para ir a uma butique cara toda vez que sentem vontade — observou a babá, com todo o peso de sua autoridade. — Além do mais, não é preciso se vestir como um pavão e exibir decotes a fim de atrair os olhares de um homem. . . Isabel teve que fazer o possível para não cair na risada. Livros Florzinha
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— Thomas, você tem mesmo um coração de ouro, por ter trazido a babá para a sua companhia. Afinal de contas, ela morava num lugar horroroso, não? — observou Ella, com um sorriso encantado! — Eu jamais diria que a Polônia é um lugar horroroso. Aliás, passamos lá dias muito agradáveis, não é mesmo, babá? — retrucou o Dr. Winter. Logo em seguida ele abordou outros assuntos, evitando conversas pessoais, mas para a Sra. Olbinski e para Isabel a noite estava estragada. Esta última fez o possível para convencer-se de que as palavras daquela criatura tão desagradável não tinham a menor importância. Com certeza nunca mais a veria e seria uma grande pena se Ella casasse com o Dr. Winter Era uma criatura esperta e acostumada a conseguir tudo o que desejava. Antes que o Dr. Winter percebesse o que estava acontecendo, ela mandaria a babá para uma casa de saúde ou um asilo. Logo após o jantar a Sra. Olbinski declarou que estava cansada e queria ir se deitar. Naturalmente Isabel acompanhou-a, desejando boa-noite a Ella. O médico, como sempre, carregava a babá nos braços e. antes de deixá-las, convidou Isabel para voltar a descer, assim que a Sra. Olbinski estivesse acomodada. Ela recusou com gentileza, mas também com firmeza. Quanto menos visse aquela criatura horrível, melhor. A babá não estava cansada em absoluto e tinha muito o que dizer daquela jovem tão mal-educada, que devia saber melhor qual era seu lugar. — Que garota impertinente! Imagine só, se convidar para jantar, como se fosse uma pessoa da família! Não sei o que o Dr. Winter enxerga nela. Não ouça uma palavra do que ela diz, Isabel. Você está muito distinta com esse vestido e reagiu com grande educação, quando ela se mostrou tão grosseira. Até parece que você foi educada por mim! Aquele comentário, vindo da babá, era o maior elogio que ela poderia fazer a alguém. — Eu também tive uma babá quando era criança. Quando fui para a escola ela se casou e agora mora na Austrália. De vez em quando me escreve. — Você é uma pessoa que tem berço. Notei isso no momento em que a olhei. Talvez tenha enfrentado momentos difíceis, não é mesmo? 66
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— Para dizer a verdade, sim. Meu pai morreu há dez anos e tivemos que deixar a nossa casa. Agora moramos num bairro pobre, mas minha mãe se sente muito bem lá. Tenho um irmão. Ele estuda e é muito inteligente, irá para a universidade em breve. E é por isso que você se emprega como enfermeira. Não preferia estar em um hospital? — Sim, é claro, mas ser enfermeira particular é algo bem remunerado. Além do mais, é interessante, pois nunca sei qual será o meu próximo paciente. — Isabel curvou-se e beijou a velha senhora. Bem, agora vou deixar a senhora dormir. Eu também pretendo fazer o mesmo. Boa noite, babá. Na manhã seguinte ela tomava o café quando o Dr. Winter entrou na sala de jantar. — Sinto muito em relação ao que aconteceu ontem, Isabel. Ella não passa de uma garota mimada e não tem a intenção de magoar ninguém. __Por favor, não se desculpe, Dr. Winter. Não me incomodei nem um pouco, se bem que a babá ficou um pouco preocupada. Talvez não esteja acostumada com os modos da juventude de hoje, que não se comporta como a dez anos. —- Talvez não, Não quer sugerir algo que a faça se sentir melhor? — Seria muito bom se ela pudesse andar de carro, de vez em quando. Está morrendo de vontade de usar os seus vestidos novos e me contou que tem uma sobrinha que mora no sul de Londres. — Acho a sua idéia esplêndida. Claro que ela poderá passear de carro sempre que quiser. — Eu sei guiar. — E mais uma das suas qualidades, Isabel? Tem coragem de enfrentar o tráfego no centro da cidade? — Creio que sim. — Neste caso, um dos carros estará à disposição de vocês, amanhã à tarde. Isabel agradeceu e sorriu, agradavelmente surpreendida com o fato de ele não ter colocado em dúvida sua capacidade de dirigir bem. Pelo menos confiava nela. Por um breve momento chegou a ficar bonita e o médico, que se preparava para sair, fez uma pausa e lançou-lhe um olhar. Isabel não podia ser comparada a Ella ou a qualquer outra jovem que ele conhecesse, mas era uma criatura infinitamente mais repousante. Livros Florzinha
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CAPÍTULO V Os dias que se seguiram foram muito divertidos. Isabel instalou a babá, vestida com seus melhores trajes, no banco traseiro do carro, sentou-se à direção e foram para os bairros da zona sul de Londres. Assim que deixou uma grande avenida, viu-se perdida no meio das ruas estreitas, cujas casas de tijolos eram rigorosamente iguais umas às outras. Finalmente chegaram à residência da sobrinha da sra. Olbinski. Quando um rapaz atendeu à porta, Isabel foi direto ao assunto: * Boa tarde. Trouxe a sra. Olbinski para visitar a sobrinha dela. Por um momento ele parecia ter ficado muito surpreendido. * Tia Ethel está aqui? E como foi que ela conseguiu chegar? * O dr. Winter foi buscá-la na Polônia. * Mal posso acreditar! Espere até eu contar para mamãe! E onde ela está? * No carro. Ela não consegue andar muito bem. Se você pudesse carregá-
la... A partir de então sucederam-se as demonstrações de afeto, xícaras e mais xícaras de um chá muito forte, os vizinhos que vinham espiar o que estava acontecendo e um brinde com vinho do Porto, a fim de comemorar aquela extraordinária e inesperada visita. Os parentes da babá não queriam deixá-la partir e só consentiram no fato com a promessa de que ela viria novamente, no dia seguinte. — Prometemos fazer um chá bem gostoso para a titia e para a enfermeira! Como o dr. Winter não fez a menor objeção, Isabel passou a levar a sra. Olbinski todas as tardes à casa de sua sobrinha. Após um chá esplêndido e bate-papos intermináveis, voltavam para casa. Quando o médico chegava à noite, a babá já estava de roupão, sentada em sua poltrona, esperando que lhe fosse servido o jantar. Isabel era muito solicitada pela sra. Olbinski, que gostava de falar. Isso atrasava consideravelmente o ato de vesti-la, bem como as refeições, de tal forma que a jovem tinha pouco tempo para si mesma. À noite, quando poderia ter uma hora livre jantava com o Dr. Winter que, embora não falando muito, contava com sua presença à mesa. Ê claro que ele conversava a respeito da babá e a visitava todos os dias, mas parecia sempre preocupado. Quem sabe a causa fosse o estado de algum paciente. . . Se não fosse por sua expressão tão severa, Isabel até que se sentiria tentada a fazer-lhe perguntas. Foi somente no meio da semana que Thomas fez uma observação um tanto impertinente: —Você, pelo visto, não tem muito o que dizer, não é mesmo? — Tive a impressão de que o senhor não quer conversar e, portanto, resolvi ficar calada. Se prefere ficar sozinho, basta dizer. Não se acanhe, por favor. Não me incomodo de jantar com a babá. Ela gosta de companhia. — Com isso quer dizer que eu não gosto? — De modo algum. Se refletisse um pouco, veria que acaba de dizer uma coisa muito tola. 68
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— E o que quer dizer com isso, Isabel? — Bem, o senhor volta do trabalho, aliviado por se livrar dos pacientes, dos hospitais e das doenças. A última pessoa que gostaria de ver é alguém que lhe lembre todas essas coisas. — E o que sugere que eu faça? — Que vá jantar fora ou que convide alguém para jantar com o senhor. Por exemplo, alguém como a Srta. Ella Stokes. — E ela me garantirá uma noite agradável? — Creio que sim. Ê muito bonita e o faz rir. — E você não? — Não. Pelo menos não como ela. — Falei com Cari ao telefone. Os Janssen lhe enviam muitas lembranças e esperam voltar a ver você algum dia. — Gostei deles. Apreciaria muito revê-los, mas acho que é pouco provável. — Não gosta de viajar, Isabel? — Claro que sim, mas não tenho muitas oportunidades, jamais esquecerei estas duas últimas semanas. — Eu também não. — Aproveitando a ausência de Gibson, o Dr. Winter fez uma pergunta inesperada: — Você tem namorado? Ela ficou tão surpreendida que ficou a olhá-lo durante alguns segundos, sem conseguir responder. — Não, nunca tive e não creio que venha a ler. — Por que não? — Sou uma pessoa muito comum, como o senhor mesmo pode constatar. E mesmo que não fosse, não tenho muitas oportunidades de conhecer gente. . . — Gibson voltou à sala a fim de servir a sobremesa e, quando ele retirou-se, Isabel prosseguiu: — Devo partir depois de amanhã. Não se incomoda se eu.telefonar para a agência amanhã? Se tiverem outro paciente, poderei aceitar imediatamente. — Por que não tira alguns dias de folga? — Lidar com a Sra. Olbinski foi muito fácil, Dr. Winter. Creio que não preciso de folga. Livros Florzinha
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— Não se incomoda se tomarmos o café aqui? Preciso trabalhar no escritório fogo em seguida. Costuma aceitar pacientes sem perguntar de quem se trata? — Sim. — Quer dizer que, muito em breve, a babá se tornará apenas uma vaga recordação. . , — Não é verdade. Gosto muito dela, sentirei a sua falta e não a esquecerei. — E me esquecerá? — O senhor não é meu paciente, Dr. Winter. — Você não respondeu à minha pergunta, Isabel. Ele sorriu com uma ponta de ironia, mas Isabel não retribuiu seu sorriso. Claro que não se esqueceria dele. O Dr. Winter a acompanharia pelo resto da vida, estaria presente em seus sonhos, veria seu reflexo em cada espelho, sua voz ecoaria para sempre nos ouvidos dela. . . E logo naquele momento tinha feito essa descoberta tão extraordinária justamente quando ele estava sentado diante dela, encarando-a fixamente... Como era possível apaixonar-se por ele e desconhecer o fato até aquele momento? — Não, não o esquecerei, Dr. Winter. Vivemos uma semana cheia de acontecimentos, muito excitante. Pelo menos para mim foi assim. — Creio que eu poderia dizer o mesmo. Isso me faz lembrar que devo agradecer mais uma vez a sua ajuda. Bem, com licença. Ela também levantou-se, desejou-lhe boa-noite e foi para seu quarto. Ainda era cedo para pôr a babá para dormir e Isabel sentiu-se contente, pois tinha ainda meia hora diante de si. Seria muito difícil ter que partir sabendo que nunca mais o veria, mas precisava encarar de frente esse fato. E claro que já tinha se apaixonado outras vezes e até mesmo acreditara que estivesse amando um jovem médico do hospital onde havia estudado, mas agora sabia que amava Thomas Winter com uma profundidade de sentimentos que custaria muito para ser anulada. Mesmo que nunca mais pusesse os olhos nele aquilo não faria a
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menor diferença para o seu amor. Ainda bem que o Dr. Winter não gostava muito dela. . . A babá estava cansada e com uma ponta de mau humor. Isabel puxou uma cadeira para junto da cama, pegou o livro que a velha senhora estava lendo e ofereceu-se para ler até que o sono chegasse. Era uma história romântica e simples, na qual a garota certamente casaria com o homem amado antes da última página. A babá prestou muita atenção e quando Isabel fez uma pausa, antes do último capítulo, recebeu quase uma intimação para continuar a ler: — Eu dormirei bem melhor se souber que os dois se casaram — declarou a Sra. Olbinski. Isabel prosseguiu e, felizmente, o capitulo final era bem curto terminou a leitura com uma ponta de tristeza. A vida real não era assim, pelo menos no que lhe dizia respeito. — É assim que as coisas deveriam ser declarou a babá, com um suspiro. — Deve existir um final feliz para todos os que amam. E já é tempo de você se casar, Isabel. — Isabel já se casou com o seu trabalho e você ainda não dormiu, babá. Por quê? — perguntou o Dr. Winter, entrando no quarto. Isabel colocou o livro sobre a mesinha de cabeceira e levantou-se. — Volto daqui a pouco — murmurou, com a intenção de retirar-se, mas foi retida por uma mão firme. — Não é preciso. Eu apenas vim desejar boa-noite para a babá. Você pode ficar e ouvir o que tenho a dizer. O Dr. Winter sentou-se na beira da cama da Sra. Oibinski e pegou a mão dela. — Devo ficar fora uns dois dias, mas voltarei depois de amanhã, à noite. Isabel vai nos deixar, mas a Sra. Gibson cuidará de você, minha querida. Gibson irá levá-la para dar uma volta de carro. — O senhor é muito bom para mim e é um conforto estar entre velhos amigos. Sinto muito que Isabel vá embora, mas creio que ela tem outros pacientes à sua espera. — A babá ofereceu o rosto para que o Dr. Winter a beijasse, — Nós nos veremos daqui a dois dias. Livros Florzinha
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Ele levantou-se e caminhou até a porta. Desejou boa-noite a Isabel num tom bem pouco pessoal e lançou-lhe apenas um rápido olhar. Quando a jovem aproximou-se da cama, notou que a babá chorava. — Mas o Dr. Winter voltará dentro em breve — disse, procurando reconfortá-la. — Não é por isso que estou chorando, meu bem — declarou a Sra. Oibinski, enxugando as lágrimas. — Agora vou dormir. Boa-noite. Isabel foi deitar-se e custou a dormir. Lá pelas seis horas da manhã, vencida pelo cansaço, começava a adormecer, mas a babá chamou-a. — Estou com muita vontade de tomar chá. Sei que ainda é muito cedo, mas não se incomoda de dar um jeito? Você poderia me acompanhar. . . Isabel foi até a cozinha e preparou o chá. Carregava a bandeja quando à porta do escritório abriu-se e o Dr. Winter surgiu, inesperadamente. — Meu Deus, que susto o senhor me deu! Estou levando chá para a babá. — Ela não conseguiu dormir? — Ao contrário, dormiu muito bem. O Dr. Winter estudou o rosto de Isabel, que estava pálido devido à falta de sono. — Quem não dormiu foi você, Ela ficou a imaginar por que ele estava ali, barbeado e bem vestido e então lembrou-se de sua viagem. Se não tivesse vindo preparar o chá talvez não o visse nunca mais. — O senhor ia viajar sem se despedir de mim. Claro que não existe nenhuma razão para que fizesse isso. Espero que se divirta. Thomas não disse nada, mas tirou a bandeja de suas mãos, colocando-a sobre uma mesa. — Sente que eu deveria ter-me despedido, Isabel? Pois então vamos fazer a coisa como é preciso. — Ele tomou-a nos braços e deu-lhe um beijo profundo, cheio de ardor. Isabel ficou com as pernas bambas, estarrecida. — Não esperava tornar a vê-la, Isabel.
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O Dr. Winter contemplou durante alguns instantes o rosto de Isabel, inchado devido à insônia. Seus cabelos estavam em desordem e, naquele momento, ela dava uma impressão de desamparo. Ele pegou a bandeja e colocou-a novamente em suas mãos, e enquanto isso a jovem não dizia nada. Somente quando ele observou que o chá iria esfriar, Isabel começou a subir a escada, ansiosa por afastar-se daquele homem o mais rápido possível. Ele tinha pensado tão pouco nela que pretendia partir sem uma palavra de despedida, e, no entanto a havia beijado com tamanha paixão! Talvez aquilo não passasse de um capricho. Dentro de uma hora ele a esqueceria, ao passo que ela recordaria aquele beijo para o resto da vida. O dia, que tinha começado tão cedo, pareceu durar duas vezes mais. Isabel levou a babá até a casa de sua sobrinha, jogou baralho com ela até a hora de dormir e então recolheu-se. Já havia aprontado a mala e recebido o salário. Telefonou para sua mãe, prevenindo-a de que chegaria à tarde. Agora nada mais restava a fazer, pois o destino não podia ser alterado. Gibson levou-a para casa, dizendo que cumpria ordens do Dr. Winter. A babá despediu-se toda chorosa e a Sra. Gibson também mostrava-se bem triste, o que fez com que Isabel ficasse com os olhos rasos d'água. Até mesmo Gibson comoveu-se quando chegou o momento de dizer-lhe adeus. — Todos nós vamos sentir a sua falta, senhorita. Foi um prazer contar com a sua presença. — Oh, Gibson, fui tão feliz naquela casa! Sua mãe abriu a poria e ela entrou rapidamente, receando debulhar-se em lágrimas no meio da rua. A Sra. Barrington beijou-a, procurando tranqüilizala. — Preparei chá, meu bem. Creio que você fez boas amizades na casa do Dr. Winter, não é mesmo? Foi. realmente, um caso extraordinário. Imagine só, fazer uma viagem tão longa para buscar a Sra. Olbinski! Espero que o Dr. Winter tenha ficado muito agradecido. Isabel sentou-se e, ao recordar como ele a tinha beijado, ficou um tanto pálida. Livros Florzinha
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— Ficou sim. Ele está de viagem. Sentirei falta da babá. Ela adora falar, mas é um amor de velhinha. Fui paga e irei ao banco amanhã. Em seguida darei um pulo na agência. — Não pretende tirar um dia de folga, querida? Você precisa descansar. — Bem, amanhã não trabalho. Pretendo lavar as minhas roupas de baixo e levarei você para almoçar fora. — Que bom! Vai me contar tudo sobre a viagem. Eu sempre quis conhecer Estocolmo. Isabel foi até a agência no dia seguinte e eles anunciaram que havia outra paciente á sua espera. Tratava-se de uma conhecida atriz de cinema, que estava com caxumba. — Já teve essa doença? — perguntou a secretária da agência, parecendo ficar aliviada ao receber uma resposta afirmativa. — Não será preciso ficar lá muito tempo, srta. Barrington. Ela mora em um pequeno apartamento próximo ao centro. Devo lhe informar que o Dr. Winter ficou muito satisfeito com o seu trabalho. Não posso dizer que ficamos contentes com o modo pelo qual ele encaminhou o lado financeiro da questão, mas trata-se de um cliente muito valioso e não vale a pena discutir. Aceita a paciente, srta. Barrington? — Ah, sim! Uma atriz de cinema, embora com caxumba, certamente a distrairia, ajudando-a a não pensar tanto no Dr. Winter. Mas sua suposição revelou-se falsa reconheceu Isabel ao deitar-se, no final do primeiro dia que tinha passado junto à nova paciente. Se sua casinha tinha parecido acanhada após a esplêndida residência do Dr. Winter, o apartamento de Miranda Le Creux quase a sufocara. Não que fosse especialmente pequeno, mas era atulhado de espelhos, penteadeiras, móveis estofados, tapetes fofos de lã nos quais os pés afundavam, cortinas extravagantes e retratos de Miranda, em todas as posições concebíveis, pendurados nas paredes. Não havia quase espaço para alguém mexer-se. A paciente de Isabel estava deitada numa cama gigantesca e deveria ser uma criatura bem bonita, a julgar pelas fotos, mas 74
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agora a caxumba a tinha transformado numa caricatura de si mesma. Sentiu pena dela, mas a recepção que teve não foi das mais simpáticas. . . — Ah, finalmente chegou! — exclamou a srta. Le Creux. — Espero que conheça o seu trabalho. Nunca me senti tão mal em toda a minha vida e o Dr. Martin ousou caçoar de mim hoje de manhã! É importante que eu me recupere rapidamente. Devo começar a trabalhar num filme, que será rodado na ilha de Chipre. A senhorita terá que me ajudar! — Espero que o doutor a cure muito em breve. A caxumba é uma doença que deprime demais o paciente, mas é de curta duração. — Tomara que esteja com a razão — disse a atriz, mais tranqüila diante da serenidade de Isabel. — A senhorita não deve deixar ninguém me ver neste estado. Tenho uma empregada, Winnie que vem todos os dias. Dei-lhe uma certa quantia a fim de que ela mantenha segredo sobre a minha doença. A senhorita também não poderá fazer nenhum comentário. — Não tenho o hábito de discutir as doenças dos meus pacientes, Srta. Le Creux. Já que o Dr. Martin passará por aqui mais uma vez, não quer tomar um banho enquanto eu faço a sua cama e dou um jeito no quarto? Isabel nunca linha visto uma paciente fazer tanto luxo. Até parecia que a Srta. Le Creux estava com febre alta ou dor de garganta. Isabel pensou na babá, padecendo de uma doença cruel como a artrite e que não se queixava nunca, e naturalmente seus pensamentos dirigiram-se para Thomas Winter. Pensou nele com amor e tristeza, imaginando o que estaria fazendo naquele momento. Teria pensado nela, desde que se fora de sua casa? Tinha certeza de que aquilo não havia acontecido. . . A srta. Le Creux, que se encontrava no banheiro, chamou-a em altos brados e ela interrompeu seus pensamentos tão melancólicos. O resto do dia foi inteiramente dedicado a satisfazer os menores desejos daquela verdadeira estrela. "Na verdade, ela não precisa de uma enfermeira", pensou Isabel enquanto deitava-se, no quarto pegado ao de sua paciente. No entanto, o problema era dela, já que tinha decidido contratar alguém. Seus últimos pensamentos voltaram-se para o Dr. Winter. Ele devia ter tido Livros Florzinha
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caxumba quando criança. Como seria, quando menino? Gostaria de ter feito perguntas à babá, mas isso seria interpretado como uma grande prova de curiosidade. Talvez fosse até melhor não saber muita coisa a respeito dele, pois assim poderia esquecê-lo mais rapidamente. A semana caminhava lentamente para seu fim e Isabel imaginou quanto tempo seria preciso para esquecer uma pessoa a quem se ama. Bem, esquecer não era a palavra exata. Jamais o esqueceria, mas não poderia pensar nele com tamanha intensidade. Só que isso era quase impossível. Thomas surgia diante de seus olhos nos momentos mais estranhos, sobretudo quando a srta. Le Creux estava sendo por demais cansativa e Isabel sentia vontade de largar tudo e partir do apartamento. É claro que não podia fazer semelhante coisa. Tinha que pagar os estudos de Bobby, seu irmão, e isso a incentivava a trabalhar. Desejava ardentemente que o tempo recuasse, para que ela pudesse estar na casa do Dr. Winter, contemplando os retratos nas paredes e vendo a porta abrir-se, enquanto ele entrava no salão elegante. Somente na metade da segunda semana o Dr. Martin afirmou à sua paciente que ela deveria retomar suas atividades normais. — Quanto mais cedo a senhorita sair, mais rapidamente o seu rosto voltará a tomar as proporções normais — declarou ele. Esse comentário bastou para que a srta. Le Creux se olhasse no espelho, examinando de perto seu rosto tão bonito e vazio. — Será que estou inchada? — perguntou ela a Isabel. — O que ele quis dizer com esse comentário? Não admito que a minha carreira seja arruinada! — A senhorita me parece estar perfeitamente bem. Sei de muitas atrizes famosas que não têm nem a metade da sua beleza. Não sei por que se preocupa tanto. — Claro que não sabe! Como poderia saber? Ê uma criatura tão comum que não precisa se preocupar em absoluto com o seu rosto. Imagino que isso não lhe importa. Afinai de contas, as enfermeiras são casadas com o seu trabalho, não é mesmo? — A srta. Le Creux deu uma risada maldosa e voltou a olhar-se no espelho. -— Devo reconhecer que foi muito gentil. Acho que 76
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vou seguir os conselhos do Dr. Martin e sair um pouco. A sua semana termina dentro de dois dias, não é mesmo? Pode partir amanhã. Devo acertar com a agência? — Sim, mas receio que a senhorita terá que pagar a semana inteira, mesmo que eu parta um dia antes. — Pois sim! Isso não é problema meu. Afinal de contas, é o meu namorado quem irá cuidar do assunto. Tenho que lhe dar gorjeta? — Não — respondeu Isabel com frieza. Miranda le Creux podia ser muito bonita e até mesmo talentosa, mas não possuía a menor classe. A maior parte dos pacientes costumava dar-lhe alguma coisa quando Isabel os deixava, mas tratava-se de um gesto de gratidão, acolhido com idêntico sentimento. Subitamente Isabel sentiu vontade de partir o mais breve possível e ocupar-se de alguém que realmente precisasse de seus cuidados. Foi até a cozinha pedir à criada que servisse o café da manhã para sua paciente. Sentia tamanha saudade de Thomas Winter que tinha a impressão de que seu coração iria explodir. Para ela foi um verdadeiro alívio quando finalmente despediu-se. Estava livre daquela criatura egoísta e de seu horrível apartamento! Tomou o primeiro ônibus que apareceu e foi para casa. Precisaria telefonar para a agência, assim que chegasse, comunicando que havia saído com um dia de antecedência e indagando se tinham mais algum paciente para ela. Folgaria o resto do dia e quem sabe até mesmo um pouco mais. Sua mãe estava no quintal, estendendo as roupas que tinha acabado de lavar e interrompeu o que estava fazendo assim que viu Isabel. — Olá, meu bem! Voltou de vez ou hoje é o seu dia de folga? — Não, voltei de vez, graças a Deus. Como é bom estar novamente em casa! — Vou fazer um cafezinho. Ah, chegou um pacote para você, aliás bem pequeno. Foi entregue há três dias, mas você recomendou que eu não mandasse nada para o emprego. O pacote era de fato pequeno, quadrado e muito bem embrulhado. O nome e o endereço de Isabel estavam datilografados numa etiqueta. Curiosa, ela o Livros Florzinha
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abriu lentamente. Era um estojo de couro e nele encontrava-se um colar de âmbar, acompanhado de um cartão, escrito com a letra do Dr. Winter: "À Isabel, com os meus agradecimentos". A assinatura constava unicamente das iniciais T. W. — Que lindo colar — observou a Sra. Barrington. — E que cartão, tão seco. . . — É que ele não gosta muito de mim, mamãe. — E por que, então, esse colar de âmbar tão bonito? Isabel acariciou-o com os dedos. No dia em que tinham levado a babá para dar um passeio em Sopot, na Polônia, pararam diante de uma pequena Soja de antiguidades. O colar estava na vitrine e ela o admirara muito. O Dr. Winter o comprara, mas não para ela. Em todo caso, Isabel jamais teria condições de saber. — Preciso escrever, agradecendo — disse Isabel, fechando o estojo. Notou que sua mãe a olhava, com ar pensativo. — O âmbar é muito comum na Polônia e combinará com aquele meu vestido marrom. — Irá muito bem com o seu vestido azul. Eu, no seu lugar, o usaria, meu bem, e não o guardaria em uma gaveta. Isabel atendeu à sugestão de sua mãe e pôs o vestido azul, juntamente com o colar. Ainda naquela tarde escreveu uma cartinha de agradecimento, muito formal. Não linha a menor idéia de que pudesse ser tão difícil escrever ao homem amado, se ele não retribuía esse sentimento, e sem deixar que ele percebesse tudo. O Dr. Winter recebeu a carta na manhã seguinte, lendo-a várias vezes com uma expressão impenetrável. Guardou-a em seguida no bolso. Quando Isabel telefonou para a agência, havia mais um paciente à sua espera. Tratava-se de um senhor idoso, que sofria do coração. Eslava doente demais para ser removido de casa e talvez ela não se incomodasse de ir cuidar dele naquela mesma noite, sugerira a secretária da agência. Um carro iria buscá-la às nove horas. Isabel hesitara. Tinha planejado passar o dia em casa e pretendia dizê-lo, mas a secretária havia se adiantado:
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— Trata-se de um caso muito rápido, srta. Barrington. Terá que ficar lá um dia, no máximo dois. Isabel acabou aceitando e fez a mala mais uma vez. Quando um carro, dirigido por um chofer de meia-idade, parou diante de sua casa, despediu-se de sua mãe e partiu. O chofer era muito comunicativo e quando chegou à casa Isabel já sabia que o paciente era um senhor de. mais de oitenta anos, viúvo e cuja família vivia espalhada pelo país. Tinha uma governanta dedicada, chofer e duas empregadas que não dormiam em casa. — A Sra. Wills, a governanta, já não é tão jovem assim e as duas empregadas não têm a menor iniciativa. O médico recomendou que contratássemos uma enfermeira imediatamente. Contava em passar a noite lá em casa, senhorita? — Não, mas isso não é problema. Chegamos? Haviam entrado numa alameda e pararam diante de uma imponente mansão, muito feia e bastante sólida. Isabel desceu e entrou naquela residência, que mais parecia uma sepultura. A secretária da agência tinha razão. O caso foi realmente rápido e daí a doze horas ela já estava de volta para casa. — Você vai já para a cama, querida — disse sua mãe assim que Isabel entrou, pálida e com olheiras fundas. — Amanhã folgará de qualquer maneira. É preciso tirar o mato do jardim, lavar as cortinas e você bem sabe que sozinha eu não consigo. Era muito agradável estar em casa, cuidando do jardim, brincando com o gato e lavando as cortinas da cozinha. Estava entregue às suas tarefas quando sua mãe chamou-a. — Conhece alguém que tenha um Rolls-Royce, meu bem? Isabel afastou as cortinas e espiou. — Somente aquele velho amigo de papai, o senhor. Oh! meu Deus, o Dr. Winter tem um Rolls-Royce! Ele, porém, seria a última pessoa a vir aqui. — De repente sentiu-se possuída por uma sensação de pânico. — Mamãe, se for ele, diga que eu não estou! Era tarde demais. O Dr. Winter tinha entrado na cozinha, tornando-a menor do que era na realidade. Isabel não conseguiu articular uma palavra, pois seu Livros Florzinha
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coração batia com tanta força que sentia dificuldade em respirar. Ele foi direto ao assunto que o trazia até ela: — A babá está com bronquite e gostaria que você fosse cuidar dela. — Oh, coitadinha! Está passando mal? — perguntou Isabel, sinceramente preocupada e pondo a timidez de lado. — Estava indo tão bem... Somente então teve a coragem de encará-lo. Thomas parecia tenso e havia uma expressão severa em seu olhar. Provavelmente tinha vindo procurá-la contra sua vontade, só porque a babá insistira. -—Sinto muito ouvir más notícias da babá, mas eu não posso ir. Atendo os pacientes designados pela agência e acabo de cuidar de um caso. Tenho certeza de que, se o senhor telefonar, eles terão alguma enfermeira disponível. — Minha cara Isabel, você me subestima. Já combinei com a agência e você voltará comigo, ainda hoje. — Mas quanta arrogância! Eu posso recusar um caso se quiser, Dr. Winter, e é o que farei! — De modo algum. Você é uma boa moça e, além do mais, gentil. Sinto muito se a irritei, mas a babá está doente e não a trouxe de tão longe para vê-la sofrer sem que eu a ajude como devo. — Preciso de meia hora para fazer a mala — disse Isabel, capitulando. — Quer que eu vá com o senhor ou devo ir mais tarde? Antes que ela pudesse dizer qualquer coisa, a Sra. Barrington, que, evidentemente, tinha escutado todo o diálogo, adiantou-se: — Enquanto você arruma as suas coisas eu farei chá. O senhor aceitará, não é mesmo, Dr. Winter? Além do mais, Isabel fez uns biscoitos deliciosos hoje de manhã. — Aceitarei com muito gosto, Sra. Barrington. A comida de sua filha foi um dos pontos altos de nossa viagem. — Pois então vamos para a sala de estar e porei a água para ferver. Quanto tempo Isabel ficará com o senhor? Ele abriu a boca para dizer algo, mas pareceu arrepender-se. 80
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— Talvez uma ou duas semanas. É difícil dizer, do jeito que as coisas estão. A babá tem bastante idade e está muito cansada. Ele sentou-se à mesa da cozinha enquanto a Sra. Barrington enchia a chaleira e a punha para ferver. Os biscoitos encontravam-se num prato e o Dr. Winter pegou um deles. — Delicioso — disse, servindo-se de outro. — Isabel é uma menina muito prendada — observou a Sra. Barrington, com orgulho. — Sim, eu já descobri isso. Quando Isabel veio ao encontro deles, os dois tomavam chá e conversavam animadamente. — Estou pronta. Trago roupas suficentes para uma semana — disse Isabel, olhando surpreendida para o prato quase vazio. — Hoje não almocei — disse o Dr. Winter, desculpando-se. Partiram logo depois e Isabel estava muito sóbria em seu uniforme. Sob ele usava o colar de âmbar e tinha a impressão de que a jóia não fazia nenhum volume. — Precisarei sair assim que chegarmos em casa, portanto ouça com atenção, para que eu não seja obrigado a repetir-— disse o Dr. Winter. Fez um breve resumo da doença da babá, o tratamento necessário, os remédios e a dieta alimentar. — Estamos entendidos? Deixarei o número de um telefone onde posso ser encontrado, mas só me chame se for absolutamente necessário. Ele nem parecia o mesmo homem que, ainda há meia hora, devorava seus biscoitos e conversava com sua mãe. Agora tornara-se distante, impessoal e sua voz era tão fria quanto seus modos. Que compromisso tão importante era aquele, que só comportaria um telefonema em caso de emergência? Provavelmente sairia com aquela garota assanhada. Isabel olhou pela janela. Tinha sido uma tola em vir e abriria uma ferida que ainda não tinha começado a cicatrizar. Esqueceu tudo, porém, assim que viu a babá. A velha senhora tinha uma aparência de fragilidade e cansaço, mas sorriu quando Isabel entrou em seu quarto. Pegou a mão dela e encostou-a em seu rosto. Livros Florzinha
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— Que criaturinha mais levada — disse Isabel baixinho. — Não se preocupe, vai ficar boa em pouco tempo. Deixe-me ir até o meu quarto só por alguns momentos. Passaremos uma tarde bem gostosa juntas e então você jantará e irá dormir. — Não consigo dormir — queixou-se a babá com voz infantil. — Consegue, sim. Ficarei a seu lado até você adormecer. — Ficará mesmo? — perguntou a babá, parando de tossir. — Olhe, não estou com medo, apenas... — Eu sei, babá. Se acordar durante a noite, pode me chamar, que eu virei imediatamente. O meu quarto fica ao lado do seu e deixarei a porta aberta. O Dr. Winter surgiu naquele momento. Tinha trocado de roupa e usava um elegante smoking, O coração de Isabel quase parou, assim que ela o viu. Nenhum homem tinha o direito de ser tão bonito assim. .. —-Se não se incomodar de ficar alguns instantes com a babá, Dr. Winter, vou conversar com a Sra. Gibson sobre o jantar. Não esperou sua resposta e quando voltou ele estava para sair. — Já estou atrasado — disse ele com ar severo, como se ela fosse culpada de algo. Havia muito o que fazer em relação à Sra. Olbinski. O ataque de bronquite tinha-se dado de repente, e apesar de a Sra. Gibson fazer tudo o que estava a seu alcance, a babá havia se mostrado muito difícil. Levaria um ou dois dias para que os antibióticos fizessem efeito e enquanto isso ela necessitava de um bom atendimento. Isabel cuidou dela o mais que pôde e quando finalmente sua paciente estava preparada para dormir, pediu a Sra. Gibson que ficasse a seu lado durante meia hora. Só então jantou, banhou-se, pôs a camisola e o roupão e voltou para perto da Sra. Olbinski. A paciente encontrava-se num estado realmente precário, mas assim que conseguisse dormir as coisas melhorariam. A Sra. Gibson ofereceu sanduíches e chá a Isabel, caso ficasse acordada até mais tarde, desejou-lhe boa-noite e deixou-a concentrar-se inteiramente na babá.
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A boa senhora estava bem desperta, febril e tinha vontade de conversar bastante. Isabel puxou uma cadeira para junto da cama, pegou as mãos da Sra. Olbinski e ouviu-a falar de sua vida na Polónia. — Eu deveria mais é ter ficado, em Gdansk, para não dar tanto trabalho ao Dr. Thomas. . . — observou ela com tristeza. — Aí é que você se engana, babá. O Dr. Thomas, segundo me parece, é muito só. Precisa de você, ouviu? — O que ele precisa é de uma mulher e filhos. . . — Se isso acontecesse, ele iria precisar ainda mais de você! É preciso ficar boa o mais breve possível, babá. — Sim, meu bem. Farei o que estiver ao meu alcance. — Assim é que eu gosto! Agora vai tomar um antibiótico, um chá e em seguida fechará os olhos. Babá, prometo ficar a seu lado até você dormir. Se acordar durante a noite, pode me chamar. Sra. Olbinski não custou muito para acalmar-se. Isabel tirou sua temperatura, que já tinha baixado, e acomodou-a na cama com todo conforto. Imaginou que teria que ficar ao lado da babá por uma hora ou mais, pois ela, apesar de ter tomado o remédio, tossia bastante. Finalmente a boa velhinha mergulhou num sono leve, acordando de vez em quando para saber que horas eram. — Você deveria ir deitar, Isabel — disse. — Passei um dia muito tranquilo e não estou nem um pouco cansada. Volte a dormir, babá. Amanhã vai se sentir muito melhor. Desta vez a Sra. Olbinski adormeceu profundamente, não acordando nem mesmo quando a sra. Gibson entrou com uma bandeja. — Você está bem, Isabel? O doutor recomendou que fôssemos dormir cedo, pois tivemos um dia cheio. — Estou ótima, sra. Gibson. Durma bem e boa noite. A casa mergulhou no mais profundo silêncio. A Sra. Gibson deixou a luz do hall acesa e o Dr. Winter com certeza chegaria tarde. Isabel bocejou, mas decidiu esperar durante meia hora, pois queria ter certeza de que a babá havia adormecido completamente. Livros Florzinha
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Dali a pouco a babá voltou a acordar, pedindo algo para beber. Queria saber novamente as horas e queixou-se de que sentia calor. Isabel atendeu-a com a eficiência de sempre. Convenceu a Sra. Olbinski a tomar mais um comprimido, garantiu que ela voltaria a dormir e sentou-se de novo a seu lado. — Segure a minha mão — pediu a babá, e desta vez dormiu profundamente. Isabel esperou um pouco mais. Já era quase uma hora da manhã e desejava ir para a cama. Estava para largar a mão da babá quando ouviu o barulho da porta da rua, que se abria. O Dr. Winter tinha acabado de chegar, Agora subia a escada e procurava não fazer barulho, mas como era um homem corpulento os degraus rangiam. Entrou no quarto, foi ver como estava a baba e olhou para Isabel, que estava visivelmente cansada. — Vá se deitar! Ele falava baixinho, mas com tal autoridade que Isabel ficou a encará-lo, imaginando o que teria feito para deixá-lo tão zangado. — A babá acabou de dormir — murmurou ela. — Prometi ficar a seu lado até ela adormecer. A temperatura dela baixou e o pulso está mais normal. —Ótimo. Faça o que eu digo. Boa noite! O jeito como ele falava era mais agressivo do que se tivesse se dirigido a ela em voz alta. Thomas lançava olhares indignados a Isabel e que a deixaram gelada. Levantou-se da cadeira e retirou-se do quarto sem dizer uma palavra. No dia seguinte perguntaria ao Dr. Winter o que tinha acontecido. Deitou-se e adormeceu no mesmo instante.
Capítulo VI
Isabel levantou-se pouco depois das cinco da manhã. A babá tossia e ela preparou-lhe um chá, fazendo-a tomar mais um comprimido, após o que 84
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passou uma esponja úmida em seu rosto e suas mãos. Estava vestindo-se quando a Sra. Gibson entrou no quarto da Sra. Olbinski com uma bandeja contendo o café da manha. A velha senhora estava sentada na cama e parecia bem mais animada quando o Dr. Winter chegou. Ele desejou bom-dia rapidamente a Isabel, examinou a babá, declarou que ela estava cada vez melhor, tocou a campainha e, quando Gbson atendeu, pediu que enviasse a Sra. Gibson ao quarto. Assim que ela chegou solicitou-lhe que fizesse companhia à babá durante algum tempo. — Quanto-a você, Isabel, queira ter a bondade de ir até o meu escritório. Ela o seguiu sem dizer uma palavra. Pelo menos teria a oportunidade de perguntar-lhe por que havia ficado tão zangado de madrugada. O Dr. Winter abriu a porta para Isabel e convidou-a a sentar-se. Antes que ele pudesse dizer qualquer coisa, ela manifestou-se ansiosa por terminar logo com aquilo: — Eu o deixei zangado ontem à noite e gostaria de saber por quê; se errei em alguma coisa, sinto muito, embora não consiga imaginar do que se trata. Espero que tenha me convocado por isso. — Queria ver você, mas por outras razões. Por exemplo, queria lhe pedir desculpas por ter-me dirigido a você naquele tom. Não estava zangado com você, Isabel, mas comigo, por deixá-la sozinha em casa com uma senhora doente, quando, na verdade, você deveria estar repousando. — Mas o senhor se engana! Afinal de contas, é para isso que estou aqui. Já me acostumei a ficar acordada até tarde e não me importo de ficar sozinha. O senhor me paga e isso faz parte do meu trabalho. — Nunca conheci uma garota que tivesse tamanho bom senso. . . — observou ele. Isabel não sabia como encarar aquele elogio. Nenhuma jovem gostava de ser elogiada simplesmente por ter essa qualidade. Um rosto bonito, belos olhos, cabelos sedosos, tudo isso era importante, mas de que lhe adiantava possuir bom senso? — Bem, se não tem mais nada a dizer, voltarei para junto da babá — disse Isabel, levantando-se. Livros Florzinha
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— Combinei com a sra. Gibson para ficar com a babá durante duas horas cada tarde, e assim você poderá sair, se quiser. Pretendo ficar em casa nestas próximas noites e não será preciso que você faça companhia à babá, após arrumá-la para dormir. Virei dar uma espiada nela de vez cm quando e chamarei você, caso seja necessário. — Não creio que seja uma boa solução. Afinal de contas, o senhor trabalha o dia inteiro, como todos nós. O Dr. Winter foi até a porta e abriu-a. — Organizarei as coisas como quiser, Isabel. — Ela já tinha ouvido antes aquele tom quase impertinente e não estava disposta a discutir. — Sim, Dr. Winter, é claro. — Retirou-se e voltou para o quarto da babá. O estado da Sra. Olbinski não melhorou muito durante o dia, mas Isabel não esperava isso. ]á era bom demais que a situação não se agravasse. — Você está melhorando, babá — disse Isabel, procurando encorajá-la. — Mais um ou dois dias e o Dr. Winter permitirá que sua sobrinha venha visitála. — Isso seria tão bom! — exclamou a babá, radiante com aquela possibilidade. — Gostaria que ela visse como estou bem instalada. É uma pena que o meu pobre Stan não esteja vivo para me ver também. —Ele ficaria muito contente ao vê-la morando aqui com todos os seus velhos amigos, não é mesmo? Bem, o que gostaria de almoçar? O dia se passou sem maiores novidades e quando o Dr. Winter voltou para casa, dirigiu-se diretamente ao quarto da Sra, Olbinski. —Vejo que você está melhor, babá — declarou, assim que entrou. Examinou-a em seguida e confirmou o que dissera. — Você saiu, Isabel? — Sim, obrigada. Estava uma tarde linda e fui dar um passeio no parque. — Ótimo. Se quiser ir até a sua casa, pode pegar o carro, embora eu ache que um pouco de exercício lhe fará muito bem. — Sim, Dr. Winter.
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— Devo jantar em casa e espero que me faça companhia, Isabel. Quando chegou a hora do jantar ela desceu a escada procurando não fazer o menor ruído, mas o Dr. Winter tinha um ouvido muito apurado. — Venha cá — disse, chamando-a da saía de estar. — Tome um aperitivo, pois acho que você merece. Experimente este vinho do Porto e diga se gosta. — É muito bom — disse Isabel, após tomar um gole. — Teve um dia muito ocupado, Dr. Winter? — Muito. E felizmente terei o fim de semana -livre. Devo viajar. Pretendo ir para a casa de Ella, em Sussex. O coração de Isabel disparou, mas seu rosto permaneceu sereno. — Sussex é um lugar encantador — comentou ela. — Mas a sua família não é de lá, não é mesmo? — Oh, não— O vinho do Porto começava a causar seus efeitos e da tornavase mais falante, — Berkshire é também uma linda região. Minha família morava em. . . — Isabel interrompeu-se, percebendo que estava falando a respeito de si mesma e que talvez isso aborrecesse o Dr. Winter. — Prossiga. — Morávamos em Hinton Bassett, uma aldeia linda e tranquila. Creio que o vinho é um pouco forte. . . — Não gosta? Posso lhe oferecer algo mais suave. — Oh, não, obrigada, já está quase no fim. O jantar foi muito agradável. Isabel esforçava-se por ser apenas a enfermeira enviada para ajudar por algum tempo e o Dr. Winter serviu um vinho excelente. Depois do café ela pediu licença, alegando que precisava preparar a babá para dormir. E ele sentiu de verdade vê-la retirar-se. "Como era possível tê-la julgado uma criatura sem graça, quando a conhecera?", pensou. Os dias transcorriam em meio a uma agradável rotina e a babá ia melhorando aos poucos. Isabel passava as tardes no jardim de Kensington ou espiando as vitrines das butiques elegantes, e, em suas. fantasias, imaginava que tinha condições de comprar tudo o que quisesse. Ficava tão entusiasmada com aqueles passeios que quase sempre chegava em casa atrasada. Livros Florzinha
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Via o Dr. Winter rapidamente durante o dia, embora jantassem juntos. Isabel desejava secretamente que ele a convidasse para ficar após a refeição, a fim de conversarem, mas em vão. Ele levantava-se assim que ela anunciava que deveria voltar para junto da babá. Abria a porta para Isabel e desejava-lhe boa-noite com ar distante, como se estivesse sentindo alívio por ela retirar-se. Quando chegou a sexta-feira Isabel perguntou, a Gibson se tomaria as refeições na sala de jantar. — Afinal de contas, o Dr, Winter irá viajar e não vejo sentido em pôr a mesa só para mim. Posso muito bem comer na saleta ao lado do vestíbulo. — Creio que não é possível, senhorita, O Dr. Winter gostaria que fizesse as suas refeições na sala de jantar, como se ele estivesse presente. Ele deverá viajar por volta das seis da tarde, O Dr. Winter foi visitar a babá na parte da manhã. Ela estava fazendo grandes progressos e saía da cama durante algumas horas, mas ficava cansada e irritadiça. Isabel estava lendo um romance para sua paciente quando o Dr. Winter chegou em casa logo depois das cinco da tarde. Ela interrompeu-se assim que ele entrou no quarto, esperando pacientemente enquanto o médico conversava com a Sra. Olbinski. —Gostaria de receber visitas amanhã, babá? — perguntou ele, olhando rapidamente para Isabel. — É uma boa idéia, não acha? A sobrinha da babá poderia vir tomar chá e ficar com ela durante meia hora. Se ela não ficar muito cansada, poderão vir uma ou duas pessoas da família. — Ele não esperou resposta e voltou dali a meia hora, vestido para a viagem. — Isabel, quer fazer o favor de descer um instante? Vou lhe dar o número do telefone onde me encontro, caso precise de mim. Ela o seguiu e foram para o escritório. — Sente-se — ordenou ele, fazendo o mesmo. — Acho que vou fazer algumas alterações nos remédios da babá. . .
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De repente a porta abriu-se e Ella entrou, bonita como sempre. Usava uma saia de camurça azul e uma blusa de seda da mesma cor, muito decotada, e que deveria produzir um efeito fulminante sobre os homens. , . — Querido! já está pronto e eu não tive um minuto para trocar de roupa. Trouxe a minha bagagem e vou me arrumar correndo. Posso usar o seu quarto? — Claro que não. — Era impossível dizer se o Dr. Winter estava aborrecido ou não. -— Use um dos quartos de hóspedes. Não faça barulho, pois a babá está descansando e não quero que ela seja incomodada. — Mas que homem tão implicante! Ainda bem que não sou uma das suas pacientes. — Nesse momento ela dignou-se lançar um olhar sobre Isabel. — Olá, você está de volta? — Não perdeu mais tempo com a jovem enfermeira, jogou um beijo para o Dr, Winter e saiu rapidamente do escritório. Fez-se um breve silêncio e o Dr. Winter prosseguiu, como se não tivesse havido interrupção: — Voltarei no domingo a noite, bem tarde. Por favor, deixe um biIheie na mesa do hall, caso algo esteja preocupando, você. É só isso. Obrigado, Isabel. Isabel voltou para o quarto da babá e encontrou-a sentada na cama, muito irritada. — Aquela criatura está aqui me incomodando, batendo as portas com força e eu ouço o barulho do chuveiro. — Ela não irá demorar muito tempo, babá. A srta. Stokes está trocando de roupa antes da viagem. — Acho melhor ela não entrar no meu quarto. Que desaforada! — Quer que eu leia um pouco? Ainda é cedo para servir o jantar, não? Ou prefere assistir televisão? — Leia para mim. A sua voz me acalma tanto! Isabel atendeu ao pedido da Sra. Olbinski e abriu um romance que, como todos, terminava bem. A babá nunca se cansava de ouvir aquelas histórias. Daí a meia hora a porta do quarto abriu-se e Ella entrou. Desta vez usava um vestido de tafetá cor-de-rosa, com o corpete muito justo e saia curta. Os Livros Florzinha
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cabelos estavam presos no alto da cabeça por um lenço rosa e usava sandálias douradas, de salto muito alto. — Como estou? Reconheço que a minha aparência é um tanto atrevida, mas pelo menos todo mundo prestará atenção em mim. — Não está nem um pouco decente — disse a babá, com ar de desprezo. — Está bastanfe exótica — comentou Isabel, ansiosa para que a babá não ficasse agitada. — Não se incomoda de se retirar? A Sra. Olbinski não pode receber visitas. — Vocês duas são uma dupla e tanto —- declarou Ella, um tanto irritada, — Deixei as minhas coisas no seu quarto. Não quer arrumá-las para mim? Terei que levá-las comigo. — Não, srta. Stokes. Sou a enfermeira da Sra. Olbinski, não sua criada. Quer fazer o favor de se retirar? E deixe o meu quarto em ordem, por favor. Isabel chegou a pensar que Ella iria bater nela, mas a jovem deu-lhe as costas e retirou-se, pisando firme naquelas sandálias ridículas. Bateu a porta com toda a força e daí a uns cinco minutos a sra. Gibson entrou. — Dei um jeito no seu quarto, Isabel. A Srta. Stokes não tinha o menor motivo para usá-lo, pois há vários quartos de hóspedes à sua disposição. Ela molhou todo o chão do banheiro. Ordenei a Etlith que juntasse as coisas dela e as levasse para o carro. Eles já partiram. Agora vou providenciar um Jantar bem gostoso para a babá! — Obrigada, sra. Gibson. Isabel sorriu e falou com a calma de sempre, apesar de suas mãos tremerem. Nunca tinha conhecido alguém como Ella Stokes e sua natureza tão pacífica revoltou-se, embora ela fizesse o possível para dominar-se. — O doutor percebeu o que estava acontecendo? - Ele estava telefonando no seu escritório. Só saiu quando a srta. Stokes desceu a escada aos brados, mas ela já fez isso outras vezes. O doutor não prestou muita atenção, apenas pediu que ela falasse mais baixo. — Você é quem deveria estar no lugar dela, Isabel — observou a babá. 90
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— Eu? — Sim, deveria estar no lugar daquela criatura oferecida! Imagine só, passar o fim de semana com o Dr. Thomas! Ele é incapaz de reconhecer uma garota decente, quando a vê. Vocês dois fariam um belo par. — Babá, o que você está dizendo? O Dr. Winter e eu não temos nada em comum. — Lembre-se do que estou dizendo. As coisas nem sempre são aquilo que parecem, e, quanto àquela lambisgóia, acho que ela não deve cantar vitória antes do tempo. .. Após fazer esses sábios comentários, a babá consentiu em recostar-se nos travesseiros e Isabel foi até a cozinha buscar a bandeja dela. Seus pensamentos estavam muito longe, fixando-se no Dr. Thomas e em Ella. A jovem era esperta, divertida e fazia o médico rir, coisa que raramente acontecia quando ele se encontrava na presença de Isabel. Ela suspirou, pôs na bandeja o prato de galinha com creme que a babá iria comer e levou-o para o quarto dela. Em seguida telefonou para a sobrinha da Sra. Olbinski, combinando com ela para vir tomar chá no dia seguinte. — Será apenas por meia hora — preveniu. — A babá ainda não está bem, mas gostaria muito de vê-la. Finalmente foi jantar. Estava com pouco apetite, mas Gibson fez questão de que ela experimentasse os vários pratos que sua mulher tinha preparado. Ela provou obedientemente a panqueca de frutos do mar, as costeletas de carneiro, legumes cozidos e um saboroso pudim de chocolate que Gibson garantiu ter sido feito especialmente para ela. — Levei a bandeja do café para a sala de estar, Srta. Barrington. A babá está bem e a senhorita poderá tomá-lo em paz — informou o dedicado Gibson. O fim de semana decorreu na mais absoluta tranquilidade. A sobrinha da Sra. Olbinski, intimidada diante do luxo da casa, não ousava falar em voz alta e concordou com entusiasmo em voltar no dia seguinte. Quanto à babá, apreciou demais a visita. Fez questão de contar que estava sendo tratada Livros Florzinha
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com muito carinho, descreveu a comida que lhe davam, fez grandes elogios ao médico e à Isabel, quando ela não se encontrava no quarto. A tosse tinha quase passado, mas o acesso de bronquite a deixara muito cansada e ela levaria algum tempo até recuperar-se de todo. Ainda assim Isabel estava contente com seu progresso. “Mais uma semana e meus serviços serão dispensados", pensou. Após acomodar a babá, jantou e tomava o café na sala de estar quando, para sua grande surpresa, a porta abriu-se e o Dr. Winter entrou. Isabel pousou a xícara no pires e suas mãos tremiam descontroladamente. — Achei que o senhor fosse chegar muito tarde — observou ela, ficando muito vermelha, pois julgou seu comentário bastante tolo. — Eu também, mas as circunstâncias me obrigaram a modificar os meus planos. Ele sentou-se na frente dela e Gibson entrou silenciosamente na sala, trazendo uma bandeja com sanduíches e café. O Dr. Winter parecia estar com fome, constatou Isabel. Aliás, sua aparência era mais de cansaço do que propriamente de fome. — Imagino que o senhor esteja cansado — observou Isabel. — Estava para me retirar, pois ia ver se a babá precisa de mim. — Não, não vá. Não sinto vontade de falar, mas você é uma criatura repousante. Isabel permaneceu onde estava, vendo-o comer e tomar café. Ao perceber que a bebida chegava ao fim, tocou a campainha e pediu a Gibson que o servisse. O Dr. Winter só voltou a falar quando esvaziou a segunda xícara. — Acho que a babá está bastante bem e uma mudança de ares seria muito benéfica para ela. Gostaria que a acompanhasse, Isabel. Aquele pedido era totalmente inesperado e ela ficou muito surpreendida, sem falar, à espera de uma explicação. — Conhece a região de Suffolk? Não? Tenho uma casa de campo em Orford. Fica a pouca distância do mar. É um lugar pequeno e é delicioso, nesta época do ano. A Sra. Cobb, que mora na vizinhança, cuidará de vocês e eu 92
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arranjarei uma cadeira de rodas para a babá. Garanto que vocês não se aborrecerão. Há muito o que ver, como por exemplo os iates que navegam no mar do Norte. Pode ir por duas semanas, Isabel? — Mas é claro, Dr. Winter. — Ótimo. Eu também estou pensando em tirar férias. Quem sabe você fique conosco algumas semanas, após voltarem. Sei que não haverá muito o que fazer, mas a babá se acostumou com você e quero alguém que lhe faça companhia. — Muito bem, mas gostaria que o senhor arranjasse alguém que me substituísse de vez em quando, para que eu pudesse ir para casa. Meu irmão entra em férias dentro de pouco tempo e nós dois costumamos sair juntos. . . — Não se preocupe. Isso será providenciado. Bem, não quero detê-la por mais tempo. Isabel desejou-lhe boa-noite. Não gostou muito de ter sido despedida com aquela rispidez que caracterizava o Dr. Winter, mas, por outro lado, percebia perfeitamente que algo o preocupava e que ele desejava ficar sozinho. Em todo caso, ele não tinha solicitado sua companhia. Apenas pedira que ela ficasse na sala, para que pudesse falar a respeito de seus planos para a babá. No momento oportuno o Dr. Winter forneceria todos os detalhes. A revelação, no entanto, veio através da babá, muito animada apôs a visita que o Dr. Winter lhe fizera naquela manhã. — Já estive muitas vezes na casa de campo do Dr. Thomas. Quando ele era menino, eu o levava para lá no começo do verão e os pais dele apareciam mais tarde. Era tão agradável! — E que tal é a casa? — Encantadora! O Dr. Thomas disse que ficarei no quartinho do andar térreo, a fim de facilitar as coisas. Você não se incomoda de vir comigo? — Acho que será muito divertido! — Espero que permaneça comigo durante algumas semanas, Isabel. Sabe que já estou melhor, mas é tão bom lê-la junto a mim! Eu disse isso ao Dr. Livros Florzinha
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Thomas. sobretudo porque ele pretende partir de férias assim que chegarmos. Parece que vai viajar para a Ásia. “Provavelmente com Ella", pensou Isabel, sentindo-se profundamente infeliz. Sua mãe, quando ela participou a viagem, ficou encantada c procurou não se importar com o fato de que Isabel teria poucas ocasiões de ver seu irmão Bobby. — Afinal de contas, você não irá ficar fora o tempo todo e Bobby passará boa parte do verão conosco. Além do mais, é um bom emprego e você não precisará ir toda semana à agência. Procure se divertir! Tenho certeza de que o Dr. Winter dará um jeito para que você possa ver Bobby. Talvez ele dispense você um dia antes da viagem ou qualquer coisa no gênero. . . No entanto, os dias se passavam e nada era dito. A babá melhorava a olhos vistos em breve foi fixada a data da partida. Isabel começava a preocuparse. Bobby estava para chegar e, como o doutor quase nunca estava em casa. custou para encontrar-se com ele e solicitar um dia de folga antes de partirem para o campo. ele franziu a testa, deixando de lado a carta que estava lendo. — Eu já disse que tomarei uma providência e mantenho a minha palavra. Não disse mais nada, o que aumentou a aflição de Isabel, pois estavam na véspera da partida. Depois daquela acolhida não pretendia perguntar mais nada. Telefonou para sua mãe, anunciando que ficaria ausente durante uma semana e foi ao encontro da babá, cuidar dos últimos preparativos da. viagem. Iriam de carro e Isabel imaginava que Gibson as conduziria, mas, para sua grande surpresa, o Dr. Winter é quem iria acompanhá-las. Ele carregou a babá nos braços, acomodou-a no banco de trás e, quando Isabel preparavase para sentar-se ao lado dela, recebeu uma ordem: — Você vem na frente comigo, Isabel. Irritada diante do que lhe parecia uma atitude autoritária, Isabel protestou: — Dr. Winter, talvez o senhor considere isto uma perda de tempo, mas eu apreciaria que fosse mais gentil e menos prepotente. 94
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— Você até parece a babá falando -— disse o médico, caindo na risada. — Acaso pretende me censurar durante toda a viagem? E eu que esperava um dia agradável. . . —-Não tenho a menor intenção de estragar o seu prazer. Quanto tempo durará a viagem? —- Umas cinco horas. Almoçaremos no meio do caminho, pois a babá precisará repousar um pouco. Tenho de voltar a Londres ainda hoje, mas creio que bastará apenas meia hora para alojá-las, quando chegarmos em casa. Aproveitarei para dar todas as instruções e assim ganharemos tempo. Isabel voltou-se para ver se a babá estava bem. — Ela dormiu. Sim, Dr. Winter? — Já dei ordens ao banco e você poderá sacar dinheiro, se acaso precisar. A Sra. Cobb é quem fará as compras para a casa e seu marido cuidará do jardim. Cabe a você distrair a babá e obrigá-la a se exercitar o mais possível. Conheço algumas pessoas da região e talvez vocês recebam visitas. Combinei com a Sra. Cobb para fazer companhia à babá durante uma hora, todas as tardes, e assim você terá alguns momentos livres. Espero que não se sinta muito presa. — Presa? Por quê? É como se eu estivesse de férias. — De repente Isabel lembrou-se de Bobby. — Apenas gostaria de saber quanto tempo ficaremos lá. — Você será avisada dentro de uma semana, Isabel. Pararam para o almoço no meio da viagem. A babá, encantada com o vestido e o chapéu novos, comeu com apetite e mostrou-se muito animada, falando o tempo todo. Isabel manteve-se em silêncio, deprimida, pois aqueles eram os últimos momentos em que estaria na companhia do Dr. Winter. Ele voltaria para Londres, viajaria logo em seguida e ela nunca mais o veria. Essa triste perspectiva tirou-lhe completamente o apetite. Chegaram a Oxford no meio da tarde. Era uma aldeia encantadora, à beiramar, cheia de jardins e ruas arborizadas. Pararam diante de uma bela casa de tijolos aparentes, com vasos de gerânios nas janelas. Livros Florzinha
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A porta abriu-se assim que eles desceram do carro. Uma mulher alta e magra veio ao encontro deles e apertou as mãos da babá, beijando-a. — Que alegria vê-la, Sra. Olbinski! E esta é a enfermeira, não? Vamos entrar! A água está fervendo e daqui a pouco servirei o chá! Tudo estava preparado para recebê-los. Na mesa havia um bolo, biscoitos, queijo, geléia e uma torta de frutas. Assim que terminaram, a babá foi levada para seu quarto e Isabel foi conhecer a cozinha. O fogão era enorme, muito antigo e seria bem divertido cozinhar nele, imaginou ela. O Dr. Winter dirigiu-lhe a palavra, como se estivesse adivinhando sua intenção. — A Sra. Cobb cuidará da limpeza. Acha que poderá cozinhar, Isabel? — Sem dúvida! — Ela sorriu, entusiasmada. — Mas que casa bonita! Ele fez um gesto com a cabeça e parecia estar com pressa de voltar a Londres. A Sra. Cobb levou-a para seu quarto, no segundo andar, deixando o Dr. Winter a sós com a babá. Quando Isabel voltou a descer ele já não estava mais lá. — O Dr. Thomas me pediu que lhe dissesse adeus. Ele precisava voltar. — Sim, é claro. Ele me comunicou que tinha um compromisso hoje à noite. Babá, você não tem ideia de como o meu quarto é bonito! Acho que vamos ficar muito bem acomodadas aqui, não é mesmo? Isabel falou que iria desfazer as malas de ambas e em seguida entendeu-se com a Sra. Cobb em relação às compras e às tarefas domésticas. — Ah, já ia esquecendo — disse a Sra. Cobb. —- Outro dia chegou uma cadeira de rodas e eu a guardei no depósito, debaixo da escada. Assim a babá poderá passear um pouco. O Dr. Winter é tão cheio de consideração! Ele, no entanto, não havia comunicado o fato a Isabel, que ainda estava intrigada com o modo como o médico tinha se retirado. Havia muita comida em casa. A Sra. Cobb partiu, prometendo voitar às nove horas da manhã seguinte. Isabel preparou o jantar para ambas, ajudou a Sra. Olbinski a deitar-se, foi tomar um banho e decidiu preparar-se para dormir, mas antes percorreu toda a casa. Era mobiliada com grande gosto e até mesmo um certo luxo. Deu um pulo no quarto da babá, que já tinha dormido. 96
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Deixou a lâmpada acesa e a porta do quarto aberta. Quando começava a subir a escada o telefone tocou. — Estava à espera de que eu ligasse? Atendeu com tal rapidez... — Era o Dr. Winter, com a ironia de sempre. — A babá acabou de dormir e eu estava perto do telefone — disse Isabel com frieza. Por que haveria de mostrar-se gentil, quando ele nem sequer tivera a consideração de despedir-se dela? — Está tudo bem? Tem tudo que precisa? — Ela disse que sim e ele prosseguiu: — Muito bem. Vou deixar você dormir. Boa noite. Isabel. — O Dr. Winter desligou antes que ela pudesse dizer o que quer que fosse. Isabel estava cansada demais para refletir no que havia acontecido e na manhã seguinte, tinha recuperado o bom senso. Não havia a menor razão que o obrigasse a despedir-se. Afinal de contas, ela era apenas a enfermeira da babá e, como tal, não desempenhava o menor papel na vida dele. Levantou-se e contemplou a bela paisagem da aldeia, resolvida a não pensar mais no Dr. Winter. Havia muito o que fazer durante o dia. Isabel acomodava a babá na cadeira de rodas e exploravam a aldeia, rua após rua. iam até o cais e contemplavam os iates. Visitaram a Igreja de São Bartolomeu e, ao voltarem para casa, os mantimentos já se encontravam sobre a mesa da cozinha. A Sra. Cobb, sempre bem-humorada, despedia-se. A Sra. Olbinski gostava de comer a noite e o mesmo acontecia com Isabel. No almoço comiam saladas e sanduíches, acompanhados de limonada. Logo em seguida a babá ia fazer a sesta. A Sra. Cobb voltava lá pelas duas e meia e Isabel ficava livre para sair, se quisesse. Havia na afdeia pequenas lojas onde ela comprava o que era necessário e adquiria alguns romances para a babá. Logo em seguida voltava para o cais e ficava contemplando o movimento dos barcos. Cada dia parecia ser melhor do que o precedente e mais para o fim da semana, elas deixaram de fazer os passeios à tarde, passando boa parte do tempo no jardim. A babá protegia a cabeça com um velho guarda-sol de seda que Isabel havia descoberto num armário. Livros Florzinha
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Quanto a ela, ficava de biquini, descalça, com os cabelos soltos, estendia-se no gramado, lendo em voz alta. Chegou o sábado e fazia uma semana que elas se encontravam lá. A Sra. Cobb já tinha ido para casa e só voltaria na segunda-feira. Isabel fez um bolo para comer acompanhado do chá, preparou costeletas de carneiro para o jantar e empurrou a cadeira de rodas da babá até o jardim, onde acomodou-a à sombra de uma árvore. O dia ensolarado convidava à preguiça, mas a Sra. Olbioski queria que Isabel lesse um romance. Ela assim o fez e, ao chegar ao finai de um capítulo, voltou a página e espiou a babá, para ver se acaso ela tinha dormido. A velha senhora, no entanto, olhava para a casa e sorria. Isabel voltou-se. Lá estavam sua mãe e Bobby, que pareciam muito felizes em vê-la. Saiu correndo e jogou-se nos braços da Sra. Barrington e de seu irmão. — Como foi que vocês chegaram aqui? Isabel interrompeu-se ao ver o Dr. Winter, que se aproximava. — Foi o senhor quem os trouxe? Quanta gentileza! Nunca conseguirei agradecer o suficiente. Que surpresa agradável! Se soubesse, teria preparado um chá para recebê-los. O Dr. Winter pôs no chão as malas que carregava. Estava muito elegante e usava uma camisa aberta no peito. — Olá, Isabel. Você está com ótima aparência — disse, sorrindo. Ela retribuiu o sorriso e lembrou-se de que eslava de biquíni e com os cabelos na mais completa desordem, o que a fez corar violentamente. — Está quente demais para levar a babá para passear e nós preferimos ficar aqui no jardim. Vou pôr um vestido. -— Se é por minha causa, não precisa. Você está muito bem assim. Isabel sentiu que ele caçoava dela e mostrou-se muito fria. — Apresentarei minha mãe e meu irmão à babá e irei preparar o chá. Não havia necessidade de apresentar ninguém, pois todos já tinham se tornado bons amigos. 98
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— Thomas nos convidou para passar uma semana aqui, meu bem — disse sua mãe. — Ele virá nos buscar no próximo sábado. Você aceita mais dois hóspedes? — Mas é claro que sim, mamãel Que fantástico! Mal posso acreditar! Vou pôr um vestido, tomaremos chá e em seguida prepararei os quartos. — Não é preciso — disse o Dr. Winter. — Avisei a Sra. Cobb durante a semana e ela já arrumou as camas. Por que não leva sua mãe até o quarto dela antes do chá? Bobby e eu tomaremos conta da babá. Acho que sua mãe gostaria do quarto que dá para o jardim e Bobby pode ficar naquele quarto pequeno, ao lado do seu. — Mamãe, agora não temos tempo de dizer nada — disse Isabel. — Vou me vestir e fazer o chá. Graças a Deus providenciei um bolo e biscoitos. Ela foi para o seu quarto, vestiu uma roupa leve, calçou sandálias, escovou os cabelos e foi correndo para a cozinha. Preparou o chá que serviria no jardim e pensou no jantar, que seria necessário reforçar. Faria macarrão com queijo, uma boa salada e uma torta de frutas com creme. Cortou o bolo em fatias finas e o Dr. Winter, que acabava de entrar na cozinha, serviu-se. — Bonito vestido — observou ele. — O seu biquíni também era bonito. — Ele gostou do bolo e repetiu. — Hum. vejo que você está em plena forma como doceira! Imagino que irá preparar um jantar delicioso, mas ele será apenas para quatro pessoas, pois eu regresso a Londres após o chá. O Dr. Winter pegou mais um pedaço de bolo e estudou Isabel, que não conseguia disfarçar seu desapontamento. — Não é uma viagem cansativa demais? — perguntou ela. — Há ainda um quarto livre e eu posso perfeitamente cozinhar para cinco pessoas, pois isso não me dá o menor trabalho. Além do mais, o senhor se encontra na sua casa. .. — Fico lisonjeado com a sua preocupação, Isabel, mas a viagem não me preocupa. Além disso, tenho um compromisso hoje à noite. Está indo tudo bem com a babá? Livros Florzinha
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Ele levou a bandeja e todos sentaram-se no gramado. Isabel sentiu-se profundamente feliz durante alguns instantes. Thomas estava lá, sentado ao lado dela, e voltaria dentro de uma semana a fim de buscar sua mãe e Bobby. Que bom! Iria revê-lo dentro de pouco tempo. Permaneceu em silêncio, saboreando a felicidade que sentia, mas, como todo mundo falava ao mesmo tempo, Isabel não foi notada, a não ser pelo Dr. Winter, que tinha suas razões para prestar atenção nela. Ele partiu logo após o chá e foram todos até a porta da rua acompanhá-lo. O Dr. Winter beijou a babá e a Sra. Barrington apertou a mão de Bobby e aproximou-se de Isabel. — E por que não? — perguntou, sem dirigir-se a ninguém em especial. Inclinou-se e beijou-a.
Capítulo VII
A casa de campo parecia bem maior e mais vazia após a partida do Dr. Winter, mas Isabel não teve tempo de entregar-se à melancolia. Precisava cuidar da babá, aprontar o jantar e conversar com sua mãe e Bobby. Este, porém, não perdeu tempo e foi logo em seguida ao cais, apreciar o movimento. — Thomas foi tão gentil! Não sei quem lhe deu semelhante idéia — comentou a Sra. Barrington. — Apareceu uma destas noites lá em casa e sugeriu o passeio, dizendo que você não teve nenhuma folga e que a nossa viagem seria uma maneira de compensá-la por isso. Foi muita generosidade da parte dele convidar Bobby. — E o que você fez com a gata? — Ficou com uma vizinha. Thomas se ofereceu para levá-la para a sua casa, mas a governanta dele tem uma gata com filhotes e talvez elas não se dessem bem. 100
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Isabel acabou de pôr a mesa e deu um passo para trás, estudando o efeito que ela fazia. — Creio que devo permanecer por mais de uma semana quando voltarmos, mamãe. O Dr. Winter pretende partir de férias para o Oriente. — Acho muito natural, depois de tudo o que aconteceu. — Como assim? Sua mãe encarou-a com surpresa. — Meu bem, se ele não lhe disse nada, não cabe a mim dizer. — Parece que vocês dois estão se dando muito bem. . . — comentou Isabel com uma ponta de ironia. — Com efeito, e o mesmo acontece com ele e Bobby — declarou a mãe, ignorando a atitude de Isabel. — Não acha ótimo? — Sem dúvida. O tempo continuava firme e eles davam passeios diários até o cais ou então ficavam tomando sol no jardim. Bobby passava poucas horas ao lado delas. A pesca era um de seus esportes preferidos e, por ele, ficaria pescando o dia inteiro. Logo fez amizade com os pescadores e os acompanhava, voltando a noite com peixes para o dia seguinte. A companhia de outras pessoas fazia muito bem à babá. Ela e a Sra. Barrington mantinham animados bate-papos no jardim, enquanto Isabel ajudava a Sra. Cobb nas tarefas caseiras. Agora já não restava mais nada a fazer pela babá. Ela andava um pouco, com a ajuda de uma bengala e, contanto que houvesse alguém para ajudá-la em pequeninas coisas, Isabel não via mais nenhum motivo para permanecer a seu lado. Seria melhor partir o mais cedo possível. Gostaria de conseguir um emprego no qual não tivesse a menor chance de voltar a ver Thomas. Talvez surgisse a oportunidade de comunicar-lhe sua decisão, quando ele viesse no fim de semana. A semana custou a passar, apesar de os dias serem muito ocupados, mas finalmente chegou o sábado e com ele um recado, recebido na hora do café, dizendo que o Dr. Winter viria para o almoço. Bobby foi quem atendeu ao Livros Florzinha
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telefone e quando sua mãe perguntou-lhe se eles deveriam voltar naquele mesmo dia, o rapaz disse que se havia esquecido de perguntar. — Mas como você é distraído — observou a Sra. Barrington comeceando a arrumar as malas. — Tenho certeza de que Thomas vai querer voltar, a fim de poder passar o domingo com os seus amigos. Isabel decidiu preparar um esplêndido almoço de despedida. Foi até o porto e voltou com postas de salmão fresco e legumes. A sobremesa seria um pudim de abricó. Sua mãe e a babá estavam no jardim e a Sra. Cobb arrumava os quartos. Ela trancou-se na cozinha e pôs mãos à obra. O salmão estava no forno, as batatas coziam na panela e a salada estava pronta, Isabel dava os últimos retoques no pudim quando a poria da cozinha abriu-se. — Aqui não há nada para você comer -— declarou ela, sem voltar-se. — Se está com fome, pegue aquela lata vermelha dentro do armário e sirva-se de biscoitos. Bobby, por favor, ponha duas garrafas de vinho branco na geladeira, antes de avançar nos biscoitos.. . — Serei bonzinho, sim, e abrirei as garrafas — disse o Dr. Winter. —- Mas não vim de Londres só para comer biscoitos. — O senhor chegou cedo! — exclamou Isabel, muito surpreendida. — Hum. . . uma acolhida fria e biscoitos secos. . . Que decepção! — Desculpe, . . achei que fosse Bobby. Imaginava que o senhor só chegaria dentro de uma hora e estava atarefada, preparando a almoço. Naturalmente vai querer voltar o mais cedo possível. Mamãe já fez as malas. — Ela está contente por voltar? — Claro que não. Ela e Bobby adoraram este lugar. — Que bom! Planejei ficar até amanhã, se não for muito tarde para sua mãe e Bobby, — Oh, não, eles ficarão muito contentes. — Isabel sorriu e sentia-se tão feliz que se esqueceu de disfarçar seus semimentos. — Mamãe está no
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jardim e Bobby foi até o cais. Fez tantos amigos entre os pescadores! Se quiser ir para o jardim, eu lhe levarei um cafezinho e um pedaço de bolo. — Prefiro comer aqui. Gosto de ver você cozinhar. Dizem que o lugar da mulher é no lar, mas não são muitas as jovens que pensam assim nos dias de hoje. Após tomar o café e comer o bolo, o Dr. Winter levou a mala para seu quarto e foi para o jardim. Isabel terminou a salada, pôs mais um prato na mesa e foi arrumar-se um pouco. Ficou horrorizada quando olhou-se no espelho. Seus cabelos estavam na mais absoluta desordem e seu rosto não tinha a menor pintura. Lavou-se, pôs um vestido de algodão azul, penteou-se com capricho e maquilou-se o melhor que pôde. Estava tão queimada que decidiu não passar pó de arroz. O Dr. Winter linha levado os drinques para o jardim e quando Isabel aproximou-se ele declarou que havia preparado para ela um San Rafael com bastante gelo e limão. Do jeito como se exprimia até parecia que eles costumavam beber juntos com freqüência, a tal ponto que ele conhecia o gosto dela. Ela agradeceu e sentou-se, evitando o olhar de sua mãe que a encarava com ar pensativo. O almoço correu às mil maravilhas. Logo um seguida o Dr. Winter e Bobby lavaram a louça, após o que foram pescar. Isabel fez mais um bolo, preparou alguns sanduíches, levou a babá para fazer a sesta e sentou-se no jardim com sua mãe. — Imagino que você voltará para Londres no próximo fim de semana, não? — indagou a mãe. — Creio que sim. O Dr. Winter viajará assim que voltarmos. Agora a babá se sente tão melhor que poderei dar um pulo em casa durante a semana. — Ótimo, meu bem. Espero que o seu próximo emprego seja tão interessante quanto este. Precisa de ajuda para o jantar? — Não, obrigada felizmente há costeletas de carneiro na geladeira, além de ervilhas e camarões. Farei coquetéis de camarão para a entrada e, como sobremesa, salada de fruta com creme. Que tal? Livros Florzinha
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— Esplendido! Que bom que você sabe cozinhar! Só partiremos amanhã depois do almoço, não? — Sim. Amanhã almoçaremos um lombinho assado, — Nós lhe damos tanto trabalho! Ainda bem que Thomas gosta da sua comida. Ele tem uma boa cozinheira? — Quem cozinha é a governanta, a Sra. Gibson. Aliás, ela faz isso muito bem. O Dr. Winter e Bobby voltaram com vários peixes, que fizeram questão de limpar antes do chá. Isabel recomendou-lhes que deixassem a cozinha na mais perfeita ordem. — Como você é exigente! — O Dr. Thomas reclamou, brincando. — Até parece uma esposa implicante! "Se eu fosse sua mulher, não implicaria com você", pensou Isabel com ar sonhador. O fim de semana passou rápido demais. De repente, Isabel, com a babá a seu lado, apoiada na bengala, estava na porta da casa, acenando para todos. O Dr. Winter deveria vir buscá-las durante a semana e ela recebeu instruções para estarem prontas na quarta-feira, a menos que ele telefonasse antes. — Muito bem, esperarei o senhor. Devo avisar a Sra. Cobb? — Sim, por favor. Você se tornou uma pessoa indispensável, Isabel. Não sei como ficarão as coisas, quando você não estiver mais conosco. Ela não respondeu, pois não sabia o que dizer. Naquele momento sentia uma vontade enorme de chorar. O Dr. Thomas beijou a babá e acenou para Isabel, enquanto entrava no carro. Conforme tinha prometido, o médico voltou na quarta-feira, na hora do chá. Isabel e a babá estavam prontas para partir. Todas as contas estavam pagas e meticulosamente anotadas por Isabel e não havia mais nenhuma providência a ser tomada. Agora que havia chegado a hora de partir, Isabel queria ficar. A casa de campo parecia-lhe um verdadeiro lar. Tinha feito alguns amigos na vizinhança e havia sonhado tanto. . . Eram sonhos impossíveis, mas que lhe traziam tanto consolo... A babá também sentia partir, mas até certo ponto. De volta a 104
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Londres certamente receberia a visita de sua sobrinha e teria boas conversas com a Sra. Gibson. Ela fez várias perguntas ao Dr. Winter durante o chá e ele as respondeu com toda paciência. Isabel notou que ele estava cansado e, sem dúvida, as férias haveriam de fazer-lhe um grande bem. Acaso Ella o acompanharia? Como gostaria de saber, mais coisas a respeito daquele homem. . . Ela tirou a mesa, lavou a louça e deixou tudo na mais perfeita ordem. A babá foi acomodada no carro para viagem de volta a Londres foi muito rápida. Ninguém tinha muita coisa a dizer e, quando chegaram, a babá mostrava-se muito cansada. A Sra. Gibson, solícita como sempre, ajudou Isabel a levar a Sra. Olbinski para a cama, após o que serviu-lhe um jantar delicioso. Isabel foi para o quarto, onde desfez a mala. Não sabia exatamente o que se esperava dela e desceu para o andar térreo, onde encontrou-se com Gibson. — O jantar está servido, senhorita. O Dr. Winter mandou dizer que vai vê-la amanhã de manhã. Isabel ficou um tanto decepcionada com a secura daquele recado. A babá já estava vestida e tomava o café da manhã quando o Dr. Winter mandou chamar Isabel. Gibson disse-lhe que ele tinha saído muito cedo, pois fora atender um caso de emergência no hospital. Iria ficar pouco tempo em casa e depois iria para a clínica, onde os pacientes o aguardavam. Ele, com certeza, estaria de mau humor. Preocupada, Isabel dirigiu-se ao seu escritório. O Dr. Winter, se acaso estava irritado, não demonstrou o que sentia. Mostrou-se muito gentil e fez sinal para que ela sentasse. — Sinto muito, mas até agora não tivemos oportunidade de conversar. Disponho, porém, de cinco minutos. Gostaria muito que ficasse até domingo, Isabel. Partirei logo de manhã e você poderá ir embora em seguida. A babá se recuperou magnificamente e a Sra. Gibson poderá ajudá-la no que for preciso. Comunicarei o fato à agência e deixarei um cheque para você. — A agência costuma. . . — Eu sei — disse o Dr. Winter, interrompendo-a. — Eu prefiro pagar diretamente, como fiz da primeira vez. Só me resta renovar os meus Livros Florzinha
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agradecimentos. A babá e eu sentimos a mais profunda gratidão por tudo o que você fez. Ele agora mostrava-se distante, retraído, educado demais. Isabel levantouse. A babá foi uma paciente maravilhosa. Espero que aproveite bastante as férias, Dr. Winter. Ainda vou vê-lo antes de partir? — Tenho um compromisso hoje à noite e espero alguns convidados para jantar no sábado, mas creio que nos despediremos antes do domingo. Se quiser, pode pegar o carro e levar a babá para visitar sua sobrinha. Isabel agradeceu e fechou a porta. Ao que tudo indicava, não iria mais vê-lo. Não queria pensar no assunto e foi até o quarto da babá, combinar o passeio à casa de sua sobrinha. Ela, entretanto, o viu na noite do dia seguinte, descendo a escada, enquanto levava a bandeja com o jantar da babá. Desejou-lhe boa-noite e ficou surpreendida quando Thomas a deteve. — Queria lhe fazer uma pergunta. . . Por que não quer que eu veja que está usando o colar de âmbar? Já percebi que o traz debaixo do vestido. Isabel procurou dar uma desculpa qualquer, mas não encontrou o que dizer. — O colar me faz lembrar a Polônia — declarou finalmente, ficando muito vermelha. — Não preciso de coisas exteriores para me lembrar da Polônia ou de você. O Dr. Winter inclinou subitamente a cabeça e beijou-a com ardor, indo para o seu quarto sem dizer mais nada. Isabel não tornou a vê-lo. Pediu para o jantar ser trazido ao seu quarto e ouviu as vozes dos convidados. O doutor ficou irritado diante de sua recusa de comparecer ao jantar. Se não fosse sua distância e sua indignação, ela poderia ter explicado que não tinha nada apropriado para usar, que não conhecia seus amigos e que iria sentir-se como um peixe fora d'água. Preferiu não dar nenhuma explicação e sua atitude foi julgada com severidade. Pensava em tudo isso enquanto comia e ouvia as risadas dos convidados que se divertiam.
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Tomou muito cuidado para não descer na manhã seguinte enquanto não ouvisse os ruídos que indicavam a partida do Dr. Winter. Para ela a despedida era algo que pesava muito e, ao dizer adeus à babá e a Sra. Gibson, prometeu-lhes que voltaria para visitá-las sempre que possível. Entrou no carro, sentou-se ao lado de Gibson e voltou para casa. Ao chegar lá, notou que a gata olhava pela janela, com ar desolado. A casa estava fechada e tinha um estranho ar de abandono. Gibson deixou a mala na calçada e ela o dispensou. — Creio que minha mãe saiu. Além do mais hoje é o seu dia de folga e já ocupei o seu tempo, Gibson. — Isabel apertou a mão dele e entrou em casa, deixando a mala no hall. A gata veio correndo para ela, miando sem parar. Isabel pegou-a no colo, levou-a até a cozinha e deu-lhe de comer, abrindo a porta dos fundos para que ela pudesse ir ao quintal. Em seguida levou a mala para o quarto e, embora sem saber por que agia assim, abriu a porta do quarto de sua mãe. A Sra. Barrington estava caída no chão, ao lado da cama. Estava de camisola e roupão, a seu lado encontrava-se uma xícara e um pires quebrados e o tapete estava manchado de chá. Isabel teve a sensação de que seu coração iria parar. Ajoelhou-se e tomou o pulso de sua mãe estava fraco. A Sra. Barrington tinha ficado inconsciente, muito embora ela não pudesse perceber o menor ferimento. Colocou um travesseiro debaixo de sua cabeça, cobriu-a com uma manta e voou em direção ao telefone. O médico de sua mãe tinha ido passar o fim de semana fora e seu substituto estava fora, atendendo a um paciente. Isabel deixou um recado urgente e desejou mais do que nunca poder localizar Thomas, a fim de solicitar sua ajuda. Não duvidava de que ele viria imediatamente, mas desejar o impossível não iria ajudá-la a resolver a situação. Voltou para perto de sua mãe e examinou-a minuciosamente. O pulso estava um pouco mais forte e havia mais cor em seu rosto, apesar de ela não reagir ã voz ou ao toque de Isabel. Livros Florzinha
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— Foi um ataque cardíaco — disse Isabel, baixinho. —- Creio que não é nada de grave. Como gostaria que o médico chegasse logo. .. Mal terminou a frase e ouviu o barulho de um carro, que parava diante de sua casa. Desceu imediatamente e recebeu o médico, um homem baixinho que se apresentou como o Dr. Watts e não perdeu tempo em conversar. Isabel explicou o que estava acontecendo e levou-o para o quarto de sua mãe. Isabel não se enganara. Sua mãe tivera um ataque, felizmente sem maior gravidade. Puseram-na na cama como o médico sugeriu com certa cautela que ela deveria ser removida para o hospital. — Sou enfermeira e posso cuidar de minha mãe como se ela estivesse hospitalizada. É apenas uma questão de cautela e paciência, não acha, doutor? Foi uma trombose ou uma hemorragia? — Ainda não tenho condições de afirmar nada. Assim que sua mãe voltar a si veremos se ela sofreu alguma paralisia. Telefonarei ao Dr. Martin mais tarde c voltarei ainda hoje para ver como ela está passando. Tem certeza de que dará conta de tudo? — Certeza absoluta, doutor. Os próximos dias foram de alguma ansiedade. A Sra. Barrington recobrou a consciência e, apesar de não conseguir exprimir-se com clareza e nem movimentar o braço e a perna direitos, demonstrou que iria melhorar. Vieram em seguida dias compridos e tediosos, durante os quais Isabel atendeu a sua mãe em tudo o que era possível. Ajudava-a a sentar-se numa cadeira ao lado da janela, supervisionava seus exercícios e, o tempo todo, procurava mostrar-se alegre e confiante. Isabel jamais fraquejava, e, quando chegava a noite, estava tão cansada que adormecia, mal sua cabeça encostava no travesseiro. Dois pensamentos lhe ocorriam com insistência: ansiava por rever Thomas e sentia-se aterrorizada em relação ao futuro. Não estava ganhando nada. A pequena pensão de sua mãe mal era suficiente para pagar o - aluguel e a manutenção da casa. O que Isabel ganhava era para pagar a escola de Bobby, as roupas dele e dar-lhe uma pequena mesada. Agora recorria ao dinheiro que tinha deixado de lado 108
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para alguma emergência e era um verdadeiro pesadelo pensar que não teria o suficiente para pagar os estudos de Bobby no próximo semestre. Reconheceu que era uma tolice de sua parte desejar a presença de Thomas. Era o mesmo que querer a lua ou as estrelas ao alcance das mãos. Decorrida uma semana conseguiu pensar bem menos nele. Encontrou um tempinho para escrever à babá, falando muito por alto da doença de sua mãe. Era por isso que não a visitava. A Sra. Olbinski respondeu imediatamente, contando mil novidades, mas não locou no nome do Dr. Winter. A babá não tinha percebido a gravidade da doença da Sra. Barrington e esperava que Isabel se empregasse dentro em breve. "Venha nos ver assim que tiver tempo" — com essas palavras terminava sua carta. A Sra. Barrington era tão corajosa quanto sua filha. Nem sequer por um momento entregara-se ao desespero. A única coisa que a preocupava era ver Isabel presa em casa dia e noite. É verdade que ela ia fazer compras nas mercearias uma ou duas vezes por semana e passava uma hora no jardim todas as tardes, enquanto sua mãe descansava. Nenhum dos vizinhos havia aparecido e nem ela esperava que isso acontecesse. Londres era um lugar solitário e isso ela havia aprendido fazia muito tempo. Na aldeia em que se criara todo mundo se conhecia, pelo menos de vista. Quando alguém ficava doente, os vizinhos surgiam logo, oferecendo ajuda. Nos poucos momentos em que estava desocupada Isabel pensava seriamente em mudar-se de Londres. Seria difícil, provavelmente impossível, mas deveria haver um jeito. .. O que a preocupava no momento era ajudar a mãe a recuperar-se o melhor possível. Uma massagista vinha duas vezes por semana e, nos outros dias, Isabel a substituía. Sua mãe agora passava boa parte do dia sentada numa cadeira. Ainda assim o progresso era lento, apesar de seguro. Isabel, muito preocupada com a falta de dinheiro e como faria durante os próximos meses, até sua mãe ficar melhor, havia emagrecido bastante. Sua aparência, que nada tinha de extraordinário, ficara ainda mais prejudicada. Somente os Livros Florzinha
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olhos muito azuis mantinham o mesmo brilho, mas pareciam grandes demais em seu rosto abatido. O Dr. Martin vinha duas vezes por semana e parecia contente com os progressos de sua paciente. Procurava encorajar Isabel a fazer algum exercício. — Consiga alguém para fazer companhia a sua mãe — aconselhou. — Posso mandar a minha enfermeira, mas esta está cheia de serviço no momento. Voltarei no final da semana. Já se passaram umas três semanas desde que ela teve o ataque, não é mesmo? Sua mãe está indo muito bem. É uma mulher maravilhosa e você é uma enfermeira esplêndida. Transforme uma das salas do andar térreo em quarto, Isabel, a fim de que a Sra. Barrington possa dar alguns passos pela casa. Isabel concordou e pensou em como adaptar a pequenina sala de jantar, acomodando nela sua mãe. Na manhã seguinte estava, como sempre, entregue à tarefa de pôr a casa em ordem, atender a sua mãe e preparar o café da manhã. O Dr. Martin só viria dentro de dois dias, o que lhe dava tempo para pôr em prática suas instruções. Sabia exatamente o que teria que fazer. Acomodou a Sra. Barrington na cadeira, deixando uma sineta ao lado, a fim de que ela pudesse tocá-la com a mão que tinha movimento e foi para a sala de jantar. Felizmente a mobília era pouca e ela acomodaria a mesa e as cadeiras na sala de estar. Decidiu levar para lá a pequena cama em que dormia, pois era mais fácil removê-la do que a cama de Bobby. Poderia dormir no quarto do irmão enquanto ele estivesse na escola. Lembrou-se então de que, dentro de dez semanas, teria que pagar as taxas escolares e já tinha usado boa parte de suas economias. Estava ocupada com a mudança dos móveis quando a campainha tocou. Não era dia de pagar nem o leiteiro, nem o padeiro. Só poderia ser o dono da casa, mas estava um dia adiantado para receber o aluguel. Isabel foi atender. Diante dela estava o Dr. Winter e sua figura atlética ocupava todo o espaço. A alegria imensa que Isabel sentiu ao vê-lo quase desapareceu 110
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quando ela lembrou-se de como estava vestida. Thomas fingiu que não notava e mostrou muito tato em lidar com a situação. Isabel convidou-o para entrar e percebeu, tarde demais, que era quase impossível locomover-se dentro de casa. Ficou em silêncio, à espera de que ele se manifestasse. — Vim visitar sua mãe. Tive uma conversa com o Dr. Martin e ele não se opõe. Quem sabe eu posso fazer algo. . Senti muito ao saber que ela havia ficado doente, mas o meu colega me disse que ela está se recuperando magnificamente. — O Dr. Winter olhou para os cabelos de Isabel, que estavam na mais completa desordem. — Ele me contou também que você tem sido de uma dedicação total. Isabel não disse nada. Sentia-se tão feliz, a despeito de sua aparência descuidada, que tinha perdido a voz. Os milagres existiam. Como era possível Thomas surgir de repente diante dela, quando o imaginava a milhares de quilômetros, em algum país exótico? — Posso vê-la? Você decidiu fazer uma faxina na casa? — Não, estou aprontando um quarto para mamãe. O Dr. Martin achou que seria uma boa coisa para ela passar a dormir no andar térreo. Não chegará propriamente a andar, mas pelo menos poderá ficar de pé. O Dr. Winter afastou a mesa e algumas cadeiras, após o que declarou-se disposto a segui-la. Ele saudou a Sra. Barrington como se fosse um velho amigo, apertou sua mão, declarou-se encantado de ver como ela estava se recuperando bem e sugeriu que gostaria de examiná-la. Ouviu com grande paciência, enquanto a ra. Barrington explicava como tinha ficado doente. Levara um grande susto, mas estava decidida a recuperar-se. Ela ainda falava com lentidão e uma certa dificuldade, mas havia um brilho inconfundível em seu olhar. Declarou que devia suas melhoras a Isabel. — Já faz mais de três semanas que ela não sai de casa e não tem a ajuda de ninguém. — Sim- . . Bem. vamos deitar e eu farei um breve exame, sim? Ele levou bastante tempo, assistido por Isabel. Livros Florzinha
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-— A senhora está quase boa. Mais algumas semanas de fisioterapia e estará nova em folha. Eu sou clínico em um pequeno hospital perto de minha casa e gostaria que a senhora ficasse lá durante algum tempo. Concorda? Agora deve estar cansada. Que tal dormir um pouco, enquanto Isabel e eu resolvemos o assumo? Isabel cobriu sua mãe com um acolchoado e foi com o Dr. Winter para a saia de visitas. — Então? — perguntou ele sem perder tempo. — Não entendo — disse ela com voz tremula, apesar de procurar manter a calma. — Como foi que descobriu que minha mãe estava doente? E por que veio aqui? Antes de prosseguirmos com a nossa conversa, quero deixar algo bem claro. Sinto muita gratidão pelo seu oferecimento de levar mamãe para o hospital., mas é impossível. No momento eu não trabalho, a pensão de minha mãe é pequena e ela não dispõe de outros recursos. Além do mais tenho que pensar nas despesas com o colégio de Bobby. . . Não tenho ninguém a quem recorrer, não possuo parentes c a nossa família se reduz a nós três. Até agora conseguimos viver com decência e isso voltará a acontecer. Sei que levará algum tempo para mamãe ficar boa, mas quando a massagista veio pela primeira vez ela me ensinou o que devo fazer. — Isabel, tem-se olhado no espelho ultimamente? Antes que sua mãe se recupere, quem cairá de cama será você. Está exausta, magra demais. Provavelmente não se alimenta bem e nem faz exercícios. Sei que não pára o dia todo, mas não é a mesma coisa. Não sabia que era você quem pagava os estudos de seu irmão. Considero sua mãe uma amiga , como tal, não cobrarei nada peio tratamento dela. — O senhor é muito bom. mas eu não aceito caridade.. . — Não? Então prefere que sua mãe continue com dificuldades de fala, semiparalisada e com isso você justificará o seu orgulho? Estou decepcionado com você, Isabel. Ela olhou para suas próprias mãos, cruzadas no colo e mal conseguia enxergálas, devido às lágrimas. 112
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— Mas eu estou sem dinheiro. . . O senhor precisa tentar compreender. Vivemos numa casa alugada e. mesmo que eu lhe pedisse dinheiro emprestado, só poderia pagar daqui a alguns anos. — A questão é muito simples, Isabel. O que está em jogo ê o seu orgulho e a recuperação de sua mãe. O que é o dinheiro, comparado com a saúde? E, no caso, trata-se da saúde da Sra. Barrington. E eu não me lembro de ter falado em ser pago. — O senhor conseguirá fazer com que ela fique boa de novo? — Sim. — E anotará todas as despesas, de tal modo que eu possa reembolsá-lo assim que tiver condições? , — Claro que sim. Por acaso você já gastou parte do dinheiro destinado a pagar os estudos de Bobby? Isabel esqueceu-se por um momento de que não tinha a menor intenção de falar-lhe de suas dificuldades. — Sim, mas se voltar a trabalhar logo recupero o dinheiro. — No momento não está em condições de cuidar de ninguém e nem mesmo de você, Isabel, Vou tomar todas as providências para hospitalizar sua mãe ainda hoje. Tem alguém com quem se hospedar durante alguns dias? — Não. . . E, além do mais, não sei onde deixar a gata. — Você irá para a minha casa e levará a gata. Não fará absolutamente nada, pelo menos durante dois dias. Depois disso poderá entrar novamente em contato com a agência. Você não tem condições de ficar sozinha nesta casa. — Mas eu.. . — Peço que não discuta, Isabel. Voltei do Caribe hoje de manha e estou um tanto cansado. Agora vá arrumar a mala de sua mãe e esteja pronta para partir dentro de uma hora. — Como foi que o senhor descobriu. . . — Tenho meios de saber. Agora seja uma boa menina e faça conforme eu lhe disse. O Dr. Winter levantou-se e Isabel fez o mesmo. Livros Florzinha
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— Espero que o senhor tenha aproveitado as férias. Ele já estava junto à porta, mas voltou-se. — Passei duas semanas na companhia de Ella. Era uma tolice chorar. Isabel enxugou as lágrimas e foi para o quarto arrumar a mala de sua mãe. Procurou reconfortá-la, falando com esperança do futuro, embora sabendo que para ela tudo estava perdido. O Dr. Winter cumpriu sua palavra e precisamente dali a uma hora o RollsRoyce parava diante da porta de Isabel. Sem perder tempo ele acomodou a Sra. Barrington no banco de trás, guardou a bagagem no porta-malas, pôs a gata ao lado da mãe de Isabel e intimou esta última a sentar-se no banco da frente, a seu lado. Ele mal falava, o que deixou a jovem aliviada. Ela recapitulou mentalmente as últimas providências que tinha tomado. Prevenira o leiteiro de que deveria suspender durante algum tempo a entrega do leite, havia trancado todas as portas, desligara o gás e a chave de eletricidade. Havia telefonado ao proprietário da casa e prometera enviar-lhe o cheque do aluguel. Fechou os olhos durante alguns instantes e não percebeu que o médico a encarava. Tinha posto um vestido azul e penteado os cabelos, mas eslava por demais magra e pálida. Esta também foi a opinião da Sra. Gibson, assim que a viu. — O doutor ordenou que vá se deitar imediatamente, Isabel. Vou lhe servir o almoço na cama. Mais tarde verá a babá, mas primeiro é preciso dormir. Isabel quase chorou, quando viu-se no quarto que ocupava anteriormente. — Por favor, Sra. Gibson, primeiro quero tomar um banho. Será rápido. . . Isabel lavou-se e foi deitar-se. O almoço que a Sra. Gibson serviu estava delicioso. Recostou-se em seguida nos travesseiros e pensou nos acontecimentos do dia. Sua mãe não estava muito longe. O hospital situava-se numa rua elegante, a cinco minutos dali. Ela ficara num quarto encantador, no andar térreo, e a enfermeira-chefe fizera o possível para satisfazer todas as ordens do Dr. Winter, que demonstrava grande autoridade. Ao despedir-se de sua mãe, sentira-se mais tranqüila, pois a Sra. Barrington parecia contente e feliz. 114
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— Você descansará alguns dias, meu bem. Está tão necessitada disso — comentara a boa senhora. E lá estava ela naquele belo quarto tão familiar, com a gata acomodada a seus pés. Agora precisava refletir e organizar os planos para o futuro. Fechou os olhos, para pensar melhor, e adormeceu dentro de pouco tempo. O Dr. Winter, que tinha ido vê-la, parou na entrada do quarto e sorriu. Isabel dormia com os lábios ligeiramente afastados e naquele momento estava surpreendentemente bonita.
Capítulo VIII
Isabel estava sentada na cama, tomando um esplêndido café da manhã, quando Thomas bateu e entrou. Desejou-lhe bom-dia com ar distante e olhou-a quase com indiferença. — Dormiu bem, Isabel? Levante-se, se tiver vontade, mas devo preveni-la de que precisará dormir as nove da noite. — Quando poderei ver mamãe? — Hoje não será possível. Estarei com ela mais tarde e direi como se encontra. Amanhã, se você se sentir descansada, poderá visitá-la. — É muita bondade de sua parte me hospedar aqui, mas voltarei para casa depois de ver mamãe. Quero ver se arranjo um paciente para cuidar e que me permita voltar para casa todas às noites. É por causa da gata. — Como quiser, Isabel. Peço, porém, que deixe sua mãe ficar onde está até ela se curar. Não precisa de dinheiro? Isabel ficou vermelha como um pimentão. — Vou retirar a pensão de mamãe no fim da semana. — Bem, devo sair, pois há vários compromissos ã minha espera. Por favor, lembre-se do que eu disse. A Sra. Gibson cuidará de tudo que você precisar. Livros Florzinha
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"De tudo, menos de você, querido Thomas", pensou Isabel, vendo-o partir. Levantou-se dali a pouco e foi visitar a babá, que agora estava acomodada num quarto do andar térreo. Tomaram um cafezinho e Isabel foi até a cozinha conversar com Gibson e sua mulher. Almoçou na companhia da babá e, quando dispunha-se a fazer a sesta, o Dr. Winter telefonou. — Sua mãe está passando bem. Já fez fisioterapia e mandou um beijo. Espero que você esteja fazendo exatamente o que eu disse. — Sim, Dr. Winter. Obrigada pelas notícias. — Quer fazer o favor de dizer a Gibson que não virei jantar? Ele despediuse com uma certa rispidez e desligou. Isabel, muito obediente, foi deitar-se às nove horas. Um sono reconfortante e um dia descontraído haviam operado maravilhas. Pegou uma caderneta e começou a fazer o cálculo das enormes despesas que vinha tendo. As contas do hospital seriam astronômicas, isso para não falar das sessões de fonoterapia e fisioterapia. Estava decidida a pagar até o último centavo. Se conseguisse um emprego imediatamente e se fizesse economias, não precisaria tocar na pensão de sua mãe e nem lançar mão de sua poupança. Mesmo assim levaria alguns anos para pagar o Dr. Winter. As lágrimas desceram lentamente por seu rosto e ela não as enxugou. Pôs a caderneta de lado e fechou os olhos. O Dr. Winter voltou a uma da madrugada e parou no corredor, ao notar a luz acesa no quarto de Isabel. Bateu à porta e, como ela não respondesse, entrou. Ficou algum tempo parado, a contemplá-la. Seu rosto estava manchado de lágrimas, a gata dormia a seus pés e a caderneta continuava onde ela a havia deixado. O Dr. Winter atravessou o quarto, sem fazer o menor barulho e leu atentamente o que Isabel tinha escrito. Voltou a pôr a caderneta no lugar e retirou-se. Não poderia existir maior contraste entre a linda e mimada criatura com quem tinha passado a.noite c Isabel, tão simples e comum. No entanto, era esta última a quem ele mais se ligava e teve que reconhecer que, havia muito, vinha pensando nela. Foi para o escritório e
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mergulhou na leitura de revistas médicas. Quem sabe elas refrescassem sua mente e espantassem as idéias ridículas que o invadiam... Isabel levantou-se logo após tomar o café da manhã, que a Sra. Gibson insistiu em servir-lhe na cama. — O Dr, Winter me pediu para avisar que ficará fora o dia inteiro e voltará tarde da noite. A senhorita poderá visitar sua mãe quando quiser e. mais tarde, Gibson a levará para a sua casa. Disse lambem que tem certeza de que a senhorita conseguirá outro paciente com rapidez. Ah, já ia esquecendo. . O Dr. Martin não deixará de comunicar à senhorita o estado de sua mãe. Bem. Creio que não esqueci nada. Agora tome o seu café. Por que não fica conosco um ou dois dias mais? A babá adora a sua presença e a senhorita não nos dá o menor trabalho. — Vocês são bondosos demais, mas eu preciso voltar aos meus pacientes. Descansei bastante e agora me sinto muito bem disposta. Irei visitar mamãe. Posso deixar a minha gata com a babá enquanto estiver fora? Voltarei antes do almoço e Gibson fará a gentileza de me levar para casa. — Minha querida, você almoçará conosco! Não diga bobagem-. Gibson a levará para casa depois de comer. Isabel arrumava-se diante da penteadeira quando baleiam à porta. Julgou que fosse Sra. Gibson com o café, mas no lugar dela entrou Ella Stokes. que usava um belo vestido de seda estampada o muito decotado. Isabel ficou muito surpreendida e, antes que pudesse dizei qualquer coisa, Ella manifestou-se: — Olá — disse com um largo sorriso. — Vim lhe dizer que fiquei muito sentida ao saber do estado em que sua mãe se encontra. Que falta de sorte para vocês duas! Você, naturalmente, não tem condições de trabalhar. Ela está melhorando, não é mesmo? Confie em Thomas. Ele é especialista em tirar as pessoas da cova! Oh desculpe, não deveria ter dito isto. Além do mais, ele é tão rico que nem sequer notará as despesas que está tendo. Não é preciso pagar. De minha parte, falei em seu favor e disse que você não tem Livros Florzinha
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condições de reembolsar os gastos. Acho que ele lhe deve muito, depois de tudo o que fez pela babá. — Foi muita bondade de sua parte, mas não preciso de ajuda. Prefiro eu mesma cuidar dos meus assuntos. O Dr. Winter sabe muito bem disso. Por que veio me ver? — Ora, para dizer que sinto o que está acontecendo, é claro. Avisei a Thomas que viria. Ele é tão bom para as pessoas que estão a seu serviço e eu pretendo fazer o mesmo. Até logo, Isabel. Isabel contemplou-se no espelho e o que via era um rosto pálido de raiva e de infelicidade. Imaginava que era natural que um homem fizesse confidências à mulher com quem pretendia casar e não deveria importar-se com isso. mas Thomas não deveria ter entrado em detalhes sobre sua vida financeira. Mais uma vez pensou em como pagar as despesas do hospital, mas não via a menor possibilidade nesse sentido. Fez a mala, de forma a poder partir assim que terminasse de almoçar, levou a gata para o quarto da babá e foi até o hospital. Sua mãe tinha-se levantado e percorria o corredor, apoiada numa bengala e com a fisioterapeuta a seu lado. Mostrou-se encantada em ver Isabel e só tinha elogios a fazer ao tratamento que lhe davam no hospital. — Voltarei para casa dentro de pouco tempo: As pessoas têm-se mostrado tão bondosas e prestativas! Você me parece bem descansada, querida. Irá logo para casa? — Irei hoje, mamãe. Tentarei conseguir um paciente que não more muito longe e a avisarei rapidamente. Quero levar a gata comigo e pretendo dar um pulo em casa todos os dias para poder cuidar dela. — O querido Thomas tem sido tão bom! Veio me ver ainda hoje e disse que voltará no final da tarde. Falou que estou reagindo muito bem e que dentro de duas ou três semanas ficarei boa. Meu bem. Me sinto tão agradecida por tudo o que você tem feito por mim... — A fisioterapeuta tinha dado alguns passos adiante e a Sra. Barrington aproveitou para fazer uma pergunta: — Como é que você está de dinheiro? 118
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— Está tudo em ordem, mamãe. Quanto a isso, não precisa se preocupar. Até logo, querida. Voltarei assim que puder e telefonarei amanhã. "Pelo menos minha mãe vai ficar boa", pensou Isabel, ao voltar para a casa do Dr. Thomas. No fundo apenas aquilo lhe importava. Sua casa pareceu-lhe pequena, acanhada e hostil. Gibson levou sua mala até o hall e despediu-se sem disfarçar o quanto sentia sua ausência. Esse mesmo sentimento tinha sido demonstrado peia babá e pela Sra. Gibson. Isabel deixou um bilhete muito cortês para o doutor, no qual não traía seus verdadeiros sentimentos. Mais uma vez estava de volta à sua casinha modesta. Soltou a gata no quintal, pôs a roupa na máquina de lavar, preparou chá e telefonou para a agência. A secretária atendeu-a com certa frieza. Isabel era uma das enfermeiras mais competentes com que a agência contava, mas tinha se ausentado durante três semanas. A ansiedade com que ela se exprimia neutralizou parte das reservas da secretária, que, no entanto mostrava-se bem distante. — Espere um momento, enquanto consulto o meu fichário. Você disse que quer cuidar de um paciente durante a noite e que não deseja morar na casa? A secretária tinha uma pessoa exatamente nessas condições. Duas enfermeiras haviam recusado a proposta, mas ela não iria facilitar as coisas para Isabel. — Bem. . tenho um caso, sim. O pedido chegou hoje de manhã. Terá que fazer companhia à paciente durante a noite, sem folga. Trata-se de uma viúva de idade, que está-se recuperando de pneumonia e sofre de insônia. Não gosta de tomar remédios para dormir e, apesar de ter criados, não quer que eles fiquem à sua disposição durante a noite. Paga bem. Sei que é uma tarefa dura, mas acho que não será preciso ficar lá durante muito tempo. Isabel fez as contas num papel. O dinheiro superava tudo que ela havia imaginado e não lhe importava que tipo de paciente teria. O importante era dar um jeito em suas finanças, bastante abaladas. — Aceito o emprego. Devo começar hoje? Livros Florzinha
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— Sim, se for possível. Aqui está o endereço, que não fica muito distante da sua casa. Deve entrar as oito e meia e sair às oito e meia da manhã. Terá meia hora para fazer uma refeição durante a noite. Era tão bom ter o que fazer! Isso lhe permitiria não pensar tão obsessivamente em Thomas e em sua mãe. Foi comprar comida para ela e para gata, preparou uma refeição ligeira e pôs o uniforme. Depois de acomodar a gata e trancar a casa, Isabel saiu. Gostaria de chegar o mais pontualmente possível e conseguiu localizar o endereço sem dificuldade. Como tinha chegado quinze minutos adiantada, caminhou até a margem do rio, que não era muito longe. Uma empregada, corretamente uniformizada, abriu a porta. Pareceu ficar contente ao ver Isabel e preveniu-a de que iria avisar sua patroa. Logo após entrou um senhor e dirigiu-se a ela em tom cerimonioso: — Srta. Barrington? Sou o Dr. Snow, médico da Sra. Dalton. Fui avisado da sua chegada e quis vê-la, a fim de lhe dar algumas informações sobre o estado de saúde da paciente. — O Dr. Snow sentou-se perto da lareira e pigarreou. — Trata-se de uma senhora muito sensível e que deve ser tratada com muita consideração. A pneumonia chegou ao fim, graças aos antibióticos, mas ela sempre teve muito medo de doenças e não consegue acreditar que possa se recuperar tão rapidamente. Ela se preocupa desnecessariamente, recusa comprimidos para dormir, pois receia que a prejudiquem e, em conseqüência, repousa muito pouco. Seus empregados fazem o que podem, mas deixam a desejar apesar da boa vontade. Bem, o importante é que ela se sinta satisfeita. Na realidade ela precisa de poucos cuidados. Consegue andar e tomar banho sozinha, mas necessita de muita atenção. O Dr. Snow levantou-se e olhou pela janela. — Está disposta a trabalhar sete noites por semana? A sra. Dalton não aceita a idéia de ter mais de uma pessoa cuidando dela. — Estou mais do que disposta Dr. Snow, mas devo deixar bem claro para a minha paciente que preciso sair pontualmente no horário combinado. Se devo 120
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trabalhar a noite inteira, não posso prolongar a minha permanência além das oito e meia. — Sim, claro. Creio que não haverá a menor objeção quanto a isso. Bem, vamos ver a Sra. Dalton. —- O Dr. Snow, mais cerimonioso do que nunca, acrescentou: — Sou um homem ocupado, Srta. Barrington. Isabel não gostou dele e teve a terrível! sensação de que também não gostaria de sua paciente. Não se enganou. A Sra. Dalton estava sentada na cama. Era uma mulher gorda e grandalhona e usava uma espalhafatosa camisola de cetim e rendas. Sobre o acolchoado de seda estavam espalhados livros e revistas, uma caixa de chocolates e, ao lado da cama, havia uma mesinha com uma garrafa de vinho e copos. O quarto estava abafado demais e cheirava a perfume francês. Isabel aproximou-se e foi apresentada rapidamente. A Sra. Dalton acenou com a cabeça, sem sorrir, e examinou-a com olhar crítico. — A senhorita deve comparecer sete noites por semana — anunciou ela. —- Sim, Sra. Dalton. Acabo de dizer ao Dr. Snow que, como estarei presente todas as noites, devo sair no horário combinado, — Talvez eu não esteja pronta para deixá-la partir exatamente às oito e meia, Sra. Barrington. — Nesse caso sugiro que contrate uma enfermeira para revezar comigo durante o dia. Sra. Dalton. — Mas que idéia! A casa está cheia de empregados! Acho, porém, que tenho que concordar, apesar de me parecer uma falta de consideração de sua parte. O senhor virá amanhã? — perguntou a Sra. Dalton, voltando-se para o médico. —Claro que sim, minha senhora. Virei lá pelas dez da manhã, como de costume. Bem, desejo-lhe uma boa noite. Tenho certeza de que irá dormir, agora que tem alguém para lhe fazer companhia. Espero ter boa notícias amanhã, O Dr. Snow não se dignou a desejar boa-noite a Isabel o retirou-se, dizendo que ninguém precisaria acompanhá-lo. Livros Florzinha
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Isabel descobriu rapidamente que a sra. Dalton iria dar muito trabalho. Queixava-se sem cessar, era de uma autopiedade insuportável e ninguém conseguia impedi-la de falar. Aquilo não se tratava de enfermagem, constatou Isabel, mas de cuidar de uma mulher egoísta, que já não estava mais doente e era perfeitamente capaz de tomar conta de si. Já era quase meia-noite quando a Sra. Dalton declarou que iria tentar dormir, — Permaneça no quarto, Srta. Barrington. Posso acordar e precisar dos seus cuidados. Isabel colocou uma cadeira o mais afastado possível da cama, acendeu um pequeno abajur e foi até a porta. — Irei até a cozinha ver se alguém deixou uma refeição para mim — anunciou com toda calma. — Naturalmente a senhora vai querer que eu coma antes que se prepare para dormir, não é mesmo? — Mas eu não posso ficar sozinha! — A Sra. Dalton sentou-se na cama, indignada, — Já lhe disse que estou doente. . . — Na agência me disseram que eu devo trabalhar onze horas e meia por noite, com meia hora para uma refeição. As horas custam a passar, Sra. Dalton, e normalmente nenhuma enfermeira trabalha mais do que dez horas por noite. — Bem, acho melhor a senhorita ir até a cozinha. Não dei ordens e terá que encontrar as coisas sozinha. Ao contrário do que a sra. Dalton dissera, uma bandeja aguardava Isabel na cozinha. Sobre ela havia um prato com rosbife, salada, biscoitos, manteiga e pudim, além de uma garrafa térmica com café. A jovem comeu com grande apetite, tirou a mesa. lavou a louça e voltou para junto da sra. Dalton, que ainda estava acordada. — Espero que não tenha comido em excesso — disse ela, com impertinência. — Encontrei uma bandeja pronta para mim, sra. Dalton. Deseja mais alguma coisa, antes que eu apague a luz? Aquela noite foi a primeira, de uma seqüência de noites muito difíceis. A Sra. Dalton pagava bem, mas exigia muito em troca. Quando chegou o fim da 122
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semana Isabel já não aguentava mais e a única coisa que a animava era a bela quantia que iria receber. Thomas não tinha dado nenhuma notícia. Provavelmente estava ocupado demais para lembrar-se dela. Isabel visitou sua mãe duas vezes durante a semana e saiu diretamente da casa da Sra. Dalton para o hospital. Tinha que cuidar da casa e da gata, além de fazer compras. Com tanto trabalho, tornou-se tão magra e pálida como naquele período em que precisara cuidar de sua mãe, No final da segunda semana o Dr. Snow comunicou que a Sra. Dalton necessitaria de seus serviços por mais uma semana, Isabel tivera muito trabalho, mas valera a pena, pois quase tudo o que ganhara tinha sido posto no banco, a fim de pagar os estudos de Bobby. Havia acabado de arrumar a casa e colocar a chaleira no fogo, a fim de fazer chá. quando a campainha tocou. Thomas estava parado diante da porta, com uma pasta na mão, e algumas vizinhas, como sempre, espiavam disfarçadamente por detrás das cortinas. — Isabel, diga uma coisa: as suas vizinhas costumam espionar você o tempo todo? Tomei as devidas precauções acrescentou o Dr. Winter, com um sorriso. — Não quero que elas tenham idéias erradas a respeito da sua vida amorosa e esta pasta me dá um ar de grande respeitabilidade, — O senhor veio me falar a respeito de minha mãe? — Não, a seu respeito. Soube que vem trabalhando doze horas por noite, sete dias na semana. É demais, Isabel. Você não está com boa aparência e isso não lhe faz bem. — Como foi que o senhor ficou sabendo? — Sua mãe tocou no nome do Dr. Snow. Conheço-o ligeiramente. Acho melhor você desistir de sua paciente, Isabel. Era a única coisa que ela desejava fazer, mas a arrogância com que o Dr. Winter se exprimia deixou-a irritada, — Não desistirei! Além do mais, devo terminar o meu trabalho no fim da semana. Nem sei dizer por que a Sra. Dalton precisou de uma enfermeira. Como está minha mãe? Livros Florzinha
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— Faz grandes progressos e é uma paciente exemplar. Mais uma semana e poderá deixar o hospital. Recomendo uma viagem, após o que ela deverá retornar à sua vida normal. Isabel encarou-o, desanimada. Uma viagem custaria dinheiro e teria que recorrer novamente às reservas destinadas a pagar os estudos de seu irmão. O Dr. Winter contemplou-a e sabia exatamente o que ela eslava pensando, — Nós nos preocuparemos com isso quando chegar o momento, Isabel. — O senhor tem a intenção de viajar? — Isabel não pretendia fazer aquela pergunta, mas não conseguiu controlar-se. — Não, Por que me pergunta? E por que eu haveria de viajar? Ela estava cansada demais para raciocinar com clareza. — Bem. estava pensando na sua lua-de-mel — Acho que alguém andou falando demais. — Não, não foi indiscrição dos empregados. Foi Ella quem disse. As pessoas costumam partir em lua-de-mel quando casam, não é mesmo? Os olhos de Thomas fuzilaram e se Isabel o encarasse naquele momento, perceberia o quanto ele estava indignado. — É o procedimento normal. Ella disse para onde iríamos? — Claro que não. Na verdade, ela não chegou a dizer que vocês viajariam. Apenas declarou que o senhor é cheio de considerações para com todos que estão a seu serviço e ela pretendia fazer o mesmo. — E, na base dessa declaração, você chegou ã conclusão de que Ella e eu vamos nos casar? — Bem, o senhor partiu de férias com ela, . — De fato, parti, sim. Não tinha idéia de que você se interessava tanto pela minha vida particular. . . "Sim, Thomas, eu me interesso porque te amo, mesmo que você ame Ella, que detesto de todo coração", pensou Isabel. No entanto, mostrou-se atenciosa e distante. — Quer tomar café ou chá? — Nenhum dos dois. Pretende dormir na casa do seu próximo paciente? 124
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— Sim, pois não tenho muita escolha. — Nesse caso levarei a gata comigo. Ela fará companhia à babá, que adora animais. Quer providenciar a cesta? Isabel fez o que ele pedia e Thomas disse algo que a deixou ainda mais confusa: -Achei que tínhamos nos tomado amigos, Isabel, mas vejo que talvez tenha me enganado. Inicialmente isso me parecia pouco provável, mas passei a pensar muito em você e tenho a impressão de que fizemos muita coisa juntos. Você é uma mulher extremamente responsável. — Além do mais, sou boa cozinheira — concluiu Isabel, com uma ponta de bom humor. — Não precisa ser tão irônica — disse Thomas, pegando a cesta na qual se encontrava a gala. — Eu manterei você informada sobre o estado de saúde de sua mãe. Ela ainda deve ficar no hospital por duas semanas e você poderá aceitar um paciente fora de Londres, se for o caso. Prometo que tomarei conta da sua gata. — Obrigada Dr. Winter, e adeus. — Nunca diga adeus — murmurou ele, inclinando-se e beijando-a levemente na boca. A casa ficou mergulhada na mais profunda paz depois que ele retirou-se, Isabel iria sentir-se mais só sem a presença da gata, mas ela seria bem cuidada na casa de Thomas. Tomou o chá e foi deitar-se, mas não conseguia dormir. Pretendia visitar sua mãe na manhã seguinte e anunciaria sua disposição de aceitar um caso fora de Londres. A agência era muito conhecida e recebia solicitações até mesmo da Escócia. Uma ou duas semanas em um lugar afastado a ajudariam a esquecer Thomas. Finalmente adormeceu, vencida por uma tristeza tão profunda que impossibilitava qualquer pensamento. Sua mãe encontrava-se em excelente estado de ânimo. Agora caminhava sozinha, apoiada numa bengala, e sua fala estava quase normal. Não se preocupava nem um pouco com o futuro e Isabel tocou de leve no assunto: Livros Florzinha
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—Creio que aceitarei um paciente fora de Londres, mamãe. Você está bem melhor e entregue a mãos competentes. A Sra. Dalton me deixou um tanto cansada e espero que o próximo caso não seja tão difícil. A Sra. Barrington contemplou-a, notando sua palidez e seu ar de infelicidade. — É isso mesmo, meu bem. Estou muito bem assistida aqui no hospital e você pode telefonar quando quiser. Você deve se sentir muito sozinha em casa. Isabel deveria deixar a Sra. Dalton no sábado. Quando chegou a sexta-feira foi até a agência e, para sua grande surpresa, a secretária estava de muito bom humor. — Que coincidência a senhorita ter aparecido! Surgiu um paciente em Penn, uma aldeia nos arredores de Londres. Traía-se de um menino de seis anos que está com sarampo. A mãe dele dará à luz dentro de pouco tempo e não pode cuidar do garoto. Na casa existe uma velha babá, mas ela não pode ajudar muito. Ficará lá por pouco tempo, mas pagam bem e trata-se de gente jovem e simpática. — Só posso deixar a Sra. Dalton amanhã de manhã. — Não tem importância. Se puder ir para lá no domingo de manhã, terá vinte e quatro horas diante de si. "Será uma verdadeira tourada", pensou Isabel. Mas ora exatamente o que ela queria. — Muito bem, aceito. Como chego até lá? — Telefone para este número e eles virão buscá-la. — Obrigada. Não se incomoda em enviar o meu salário pelo correio? Preciso de dinheiro enquanto estiver em Londres. A Sra. Dalton comportou-se muito mal na última noite. Estava em perfeitas condições, mas permaneceu acordada e solicitava constantemente Isabel, pedindo que lhe desse de beber, que arrumasse a cama, que lhe passasse uma esponja úmida no rosto, etc. . . até que finalmente dormiu, Ainda estava mergulhada no sono quando o relógio bateu oito e meia e Isabel não fez a
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menor questão de despertá-la. Tomou chá na cozinha e pediu que a cozinheira se despedisse em seu nome daquela paciente tão difícil. Em casa havia muito o que fazer. Arrumou a mala, telefonou para sua mãe e para a mãe de seu novo paciente, a Sra. Denning, dando-lhe seu endereço. Em seguida lavou a cabeça, fez uma refeição ligeira e deitou-se. Levantou-se no final da tarde. Precisava passar um pouco de roupa e limpar a casa, além de telefonar a Gibson, para saber como estava a gata. Ele deu-lhe boas notícias e exprimiu a esperança de revê-la dentro de pouco tempo. Isabel tinha vontade de perguntar por Thomas, mas era impossível. Mandou lembranças à babá e desligou. Viriam buscá-la às nove e meia da manhã seguinte. Jantou, tomou banho, deitou-se e dormiu a noite inteira, o que até certo ponto surpreendeu-a, pois não conseguia parar de pensar em Thomas. Uma noite de repouso operou maravilhas. Estava pronta quando o carro chegou. Era um elegante modelo esporte, guiado por um rapaz simpático, que desceu e olhou com ar inseguro para as dezenas de casas todas iguais. Isabel abriu a porta, desejou-lhe bom-dia e entrou no carro. A calçada era um lugar pouco apropriado para apresentações- As vizinhas, mais bisbilhoteiras do que nunca, espiavam pelas janelas e o Sr. Denning parecia estar constrangido com tamanha curiosidade. — Desculpe, mas as vizinhas gostam de saber o que se passa por aqui — disse Isabel e ambos caíram na risada. O Sr. Denning era realmente muito gentil e se o resto da família fosse como ele, sua tarefa seria agradável. O Sr. Denning falou bastante a respeito de Peter durante a viagem, — É um menino muito ativo e inteligente e dá muito trabalho à babá. Ela não exerce mais essa função há alguns anos e apenas se ocupa com a casa. Precisamos de alguém que cuide dele nesse período. __ Está de cama? — Sim. Tem tido muita febre nestes últimos cinco dias. O Sr. Denning afastou-se da estrada principal e daí a pouco chegavam a Penn. Era um lugar encantador, com muito verde e um lago em volta do qual erguiam-se simpáticas casas de campo. Os Denning viviam na saída da aldeia, Livros Florzinha
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em uma acolhedora casa de tijolos aparentes. O jardim era grande, bem cuidado, e assim que o carro parou a porta abriu-se e vários cachorros saíram correndo, seguidos por uma beta mulher, que beijou seu marido e voltou-se em seguida para Isabel. — Que alívio vê-la! A babá ficará ainda mais contente do que eu. Peter não gosta nem um pouco de ficar de cama, mas não está muito bem. Descanse um pouco e em seguida daremos uma olhada nele. O médico virá mais tarde. Isabel foi convidada para entrar na casa. Ali reinava uma desordem muito simpática, e em seguida foi conduzida até seu quarto, que dava para o jardim. — Tire as suas coisas da mala e desça assim que terminar — disse a Sra. Denning. — Precisamos combinar certos detalhes como, por exemplo, a sua folga. Tomaremos um cafezinho e então irá conhecer Peter. Não posso me aproximar dele por causa da gravidez. Tenho ainda duas semanas pela frente e esperamos que seja uma menina! Assim que ficou a sós Isabel desfez a mala, penteou os cabelos e desceu. A sala de estar era muito agradável e vários cães e gatos estavam espalhados pelo chão, dormindo. —- Devo reconhecer que não somos muitos ordeiros — desculpou-se a Sra. Denning. — Vamos tomar café e trataremos em seguida da questão da sua folga. Creio que. . . — Ela interrompeu-se e parecia estar vendo alguém. Isabel gostaria de voltar-se, mas sua boa educação não o permitia. — Vejam só quem chegou! — exclamou a Sra. Denning. — Veio a tempo de tomar um cafezinho. Quero lhe apresentar a enfermeira, Srta. Barrington, Qual é o seu nome de batismo? — perguntou, dirigindo-se à jovem. — Isabel — disse Thomas, aproximando-se.
Capítulo IX
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Isabel voltou-se para encará-lo e não conseguiu disfarçar a expressão de felicidade e o rubor que lhe invadia o rosto. Thomas veio ao encontro da Sra. Denning e beijou-a no rosto. — Minha querida Molly! Está bonita como sempre. Como está passando o meu afilhado? — Está furioso por ter que ficar na cama. Não invejo Isabel nem um pouco. — Isabel sabe como lidar com as situações mais difíceis. Não vai me dar um cafezinho? Jack vem aí. Está guardando o carro na garagem. — Eles acabam de chegar e a pobre Isabel não sabe nada a respeito de nós ou de Peter — disse a Sra. Denning, servindo o café. — Isabel e eu iremos ver Peter juntos. Darei todas as instruções necessárias. Hoje é o quarto dia da doença, não? Até então Isabel não tinha dito uma palavra, embora não se sentisse deslocada. A atmosfera reinante na sala era amistosa e quando o Sr. Denning veio e serviu-se de café, ela conseguiu relaxar bastante, pois o dono da casa era realmente muito agradável. No entanto, assim que se viu a sós com Thomas, a situação modificou-se. Ela parou no alto da escada e voltou-se para ele. — Não sabia que Peter era seu paciente, Dr. Winter. Eu teria recusado o emprego, caso pudesse adivinhar. — Não duvido, mas agora é tarde demais. Siga-me. — Ele levou-a para um quarto dos fundos. — Vi sua mãe ontem à noite e ela está se recuperando muito bem. Que sorte Bobby ter ido direto da escola para se hospedar com os seus amigos! - Sim. É engraçado como as coisas acabam se arranjando. A gente muitas vezes se preocupa sem a menor necessidade. O Dr. Winter concordou. Abriu a porta do quarto e a fez entrar. O aposento era grande, arejado e as paredes estavam cobertas de cartazes. O garotinho que estava deitado na cama olhou-a com desconfiança, mas ao ver seu padrinho ficou muito contente. Livros Florzinha
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— Tio Thomas! Quero me levantar! Diga que eu posso! A babá disse que é proibido, mas ela não é médica. — A babá tem razão. Você não poderá se levantar enquanto a sua febre não baixar. Isabel veio tomar conta de você. Ela me telefonara todos os dias e você só poderá levantar quando ela disser que a febre passou. Agora seja bonzinho e deite-se, enquanto vou examiná-lo. Peter estudava Isabel atentamente e então pronunuiou-se: — Você tem jeito de ser boazinha. Não é muito bonita, mas os seus olhos brilham. . . Vai ficar zangada comigo? — Creio que não. Imagino que você irá se comportar muito bem. Ela tirou a temperatura do menino e ajeitou-o sob as cobertas. — É muito chato ficar na cama o tempo todo -— queixou-se Peter. — Então, precisamos descobrir alguma coisa que ajude a passar o tempo, não é mesmo? O Dr. Winter terminou o exame e foi até a janela. — Se você fizer exatamente o que Isabel disser, poderá levantar dentro de cinco ou seis dias. É o tempo de ir fazer festas no seu irmãozinho ou irmãzinha, que até lá já terá nascido. — Eu não quero nem irmão, nem irmã, tio Thomas. — Quer, sim! O filho mais velho é de muita importância na família, Peter! Você ajudará a tomar conta de seu irmão, poderá até mandar um pouco nele... Voltarei dentro de um ou dois dias. Cuide de Isabel, ouviu? Ela não conhece nada por aqui. Isabel vamos até lá fora, pois quero lhe dar algumas instruções. Sentaram-se num pequeno sofá, no fundo do corredor, e ele escreveu tudo o que ela deveria fazer. — Telefone se ficar preocupada. Devo confessar que sinto muito afeto por Peter. Você não está com boa aparência. Procure passear ao ar livre sempre que puder. Talvez não possa folgar esta semana, mas depois será recompensada.
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Eles levantaram-se e como Isabel estivesse ressentida com Thomas, perguntou-lhe a primeira coisa que lhe passou pela cabeça: — E como está a minha gata? Tem se comportado bem? — Muito bem. Todos em casa a mimam demais. Está distraindo muito a babá. — Mande um beijo e muitas lembranças ã babá! Agora voltarei para junto de Peter, se não tem mais nada a me dizer. — Minha cara Isabel, há muita coisa a ser dita, mas não agora. Thomas abriu a porta do quarto do menino e Isabel entrou, sem responder. Peter deu-lhe muito trabalho, mas, em comparação com a Sra. Dalton, aquela casa era um paraíso. Isabel seguiu à risca as instruções do Dr. Thomas e ainda assim encontrava muito tempo para divertir o menino. Ele não linha a menor condição de ler, devido ao seu estado, e Isabel o distraía com a leitura de livros de aventuras. Quando ele se aborrecia com isso, tocavam duas velhas flautas de madeira que Isabel descobrira num armário. Desafinavam muito e davam boas risadas caçoando um do outro. Isabel foi apresentada à babá e a pobre senhora sentia-se aliviada por ter alguém que cuidasse daquele menino tão levado. No entanto, fazia-lhe companhia, enquanto Isabel descansava durante algumas horas diariamente. O Sr. Denning saía bem cedo e só voltava na hora do chá, mas Isabel aproximou-se bastante da Sra. Denning. Era uma criatura suave e gentil ansiosa para que Isabel se sentisse bem em sua casa. Almoçavam juntas todos os dias e a dona da casa falava muito do Dr. winter. Nada do que ela dizia indicava, porém, o que ele estava fazendo naquele momento ou onde se encontrava. "Provavelmente a esta altura já deve ter casado" pensou Isabel, no auge da infelicidade. Como a vida era estranha, refletiu, deitada em sua confortável cama. Lá estava ela, decidida a pôr uma distância considerável da vida que, levava em Londres, ansiosa por livrar-se de Thomas, e o que acontecia? Lá vinha ele novamente, É claro que, se se tratasse de um romance bem açucarado, o herói teria manipulado a situação, mas a realidade era bem diferente. O Livros Florzinha
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destino sempre pregava-lhe uma peça. Se não se sentisse tão infeliz, até que se divertiria na casa dos Denning. Eles eram a própria bondade. Sobrava-lhe bastante tempo diariamente, a babá era uma cozinheira esplêndida e o pequeno Peter gostava dela. Fazia calor, o sol brilhava e ela havia engordado um pouco. Era uma situação ideal, sonho de todas as enfermeiras, mas que infelizmente não poderia durar muito. Peter eslava bem melhor, as marcas do sarampo desaparecem e a doença não tinha adquirido maior gravidade. Partiria dentro de uma semana no máximo. Agora já não havia mais risco de infecção e, assim que o garoto se levantasse, sua mãe poderia tomar conta dele. Ele poderia brincar no grande jardim e os cachorros lhe fariam companhia. Isabel desceu para tomar café na manhã seguinte, certa de que o senhor ou a Sra. Denning lhe diriam que seus serviços só seriam necessários por mais alguns dias. Ela acertou em suas previsões, mas não foi o casal quem lhe deu a notícia, e sim Thomas, Ele tinha aparecido na tarde de sábado e agora estava deitado no gramado, meio adormecido, ao lado dos donos da casa. Dali a pouco levantou-se e foi ver seu pequeno paciente e Isabel. — Amanhã você vai levantar durante uma hora e dentro de dois dias poderá ir até o jardim, mas somente se Isabel der permissão, ouviu? — Voltou-se para ela. — Poderá partir na sexta-feira, Isabel? — Sem dúvida. Peter melhorou bastante, não é mesmo? — Ela não tinha coragem de encará-lo. — Chegarei em casa a tempo de poder cuidar de Bobby. — Não aceitará outro paciente? — Claro que sim, mas prefiro assumir um compromisso que me permita dormir em casa. — Quem sabe eu possa ajudá-la. . . — O senhor é muito gentil, mas não há necessidade. Não será difícil encontrar outro paciente. Ainda o verei antes de partir? — Como não? — Já nos dissemos adeus tantas vezes e voltamos a nos encontrar. Que estranho. . . 132
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— Muito estranho, com efeito. Ela sentiu-se mal diante da perspectiva de não vê-lo nunca mais. — Vi um retrato de Ella Stokes numa revista de moda. Ela está muito bonita. Se ele ficou surpreendido diante da repentina mudança de assunto, não fez nada para mostrá-lo. — Ella? Não a julgo bonita. É insinuante, charmosa, mas a beleza é algo muito diferente. Você a admira tanto assim? — Ella tem todas as qualidades que o senhor apontou. — E muitas mais. Será uma esposa que não medirá o dinheiro que gasta. Custa muito manter aquela aparência. . — Mas isso não tem tanta importância, não é mesmo? Alguém, não me lembro quem foi, me disse que o senhor é muito rico. — E imagino que essa mesma pessoa tenha dito que Ella e eu iremos nos casar? — Perguntou ele, mal conseguindo disfarçar a irritação. — Não. . . Bem, sim. Foi Ella quem me contou que o senhor é rico. Disse também que é muito bondoso para com as pessoas que se encontram a seu serviço c que ela pretendia seguir os seus passos. — Ela mencionou a data do casamento? — Thomas parecia estar se divertindo muito com tudo aquilo. — Não. E por que haveria de me dizer, Dr. WinTer? — Por várias razões. . . Já folgou esta semana? -— Não, mas não faço questão. Não me sinto cansada e o senhor e a Sra, Denning são muito bondosos. Tenho saído todas as tardes. — Ótimo. Você já está com uma aparência melhor. O que a preocupa, Isabel? A pergunta era inesperada e ela encarou-o, tentando pensar numa resposta que o satisfizesse. — Nada... Isabel percebeu que Thomas não se contentaria com tão pouco. Foi salva de um interrogatório pelo Sr. Denning, que veio anunciar que o chá estava pronto e seria servido no jardim. Peter aproveitou a oportunidade para pedir que o deixassem ir também. Livros Florzinha
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— Tomarei o chá com você aqui no quarto, Peter — declarou Isabel, aliviada por escapar das perguntas de Thomas. — A babá ficará aborrecida, Peter — disse Thomas no mesmo instante. — Eu ouvi dizer que ela está querendo tomar chá com você e fez uma geléia deliciosa, especialmente para a ocasião. — Está certo, mas você não vai demorar, não é mesmo, Isabel? — Não, meu bem. Mais tarde jogaremos uma partida de dominó, O chá foi servido sob uma árvore frondosa, nos fundos da casa. — A babá é uma doceira de mão cheia — disse a Sra. Denning. — Isabel também. Comemos muitíssimo bem quando estávamos em Estocolmo e foi ela quem cozinhou em Oxford. — Minha cara, você nunca me contou! — A Sra. Denning queixou-se. —-Isabel é muito modesta em relação às suas qualidades — declarou Thomas. Ele partiu antes do jantar, a pretexto de um compromisso na cidade, Beijou a Sra. Denning deu um tapa nas costas do Sr. Denning e acenou para Isabel. A jovem dedicou-se a Peter até chegar a hora de ele dormir. Em seguida desceu para o jantar. Seus olhos brilhavam e ela estava muito corada. Falava muito e, de repente, ficava no mais absoluto silêncio. A Sra. Denning a estudava, enquanto fingia comer e, às escondidas, piscou para seu marido. Quando ela finalmente retirou-se para seu quarto, a Sra. Denning não pôde deixar de fazer um comentário: — Espero que Thomas saiba o que está fazendo. — Meu bem, eu conheço Thomas há muito tempo e ele não se rende tão facilmente assim. — Sim, você tem razão, mas é evidente que existe algo entre eles. — Para início de conversa, Isabel é o tipo da garota que leva em conta todas as razões pelas quais não deve casar com um homem rico. Ela precisa ser convencida de que o dinheiro não tem a menor importância, quando se ama. Também terá que descobrir por si
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mesma que Thomas não ama e jamais amou Ella, pois, se depender dele, nunca fará tal declaração. Creio que precisamos ter um pouco de paciência com esses dois. — Mas ela deverá partir no fim da semana. . . O Sr. Denning não disse nada e o assunto morreu ali. Só na quinta-feira a Sra. Denning teve a oportunidade de ficar a sós com Isabel. Peter estava na cozinha com a babá vendo-a preparar um bolo e a Sra. Denning aproveitou a chance. —-Não quer tomar chá no jardim, Isabel? Durante o chá conversaram sobre roupas, crianças, viagens, férias, o passeio à Suécia e, finalmente, tocaram no nome de Thomas. — Nós o conhecemos há tanto tempo. . . Ê um homem brilhante, mas trabalha demais — disse a Sra. Denning. — Todo mundo gosta dele e me sinto feliz por saber que rompeu finalmente com Ella. Que criatura insuportável! Claro que sabíamos desde o início que ele jamais se casaria com ela, mas é uma jovem divertida e Thomas é um homem um tanto solitário. Ele ainda está à espera de que apareça a pessoa certa na sua vida. — E essa pessoa já surgiu? — Ah, sim! Isabel sentiu no mesmo instante uma forte antipatia por essa criatura desconhecida e privilegiada. Certamente tratava-se de uma loira. Deveria ser de uma beleza estonteante, naturalmente vestia-se muito bem. . A Sra. Denning parecia ler seus pensamentos e prosseguiu: — A jovem não se parece nem um pouco com Ella. Bem, creio que sentiremos a sua falta, Isabel. Você foi tão boa para Peter. . . Tenho certeza de que, sem a sua presença, ele ainda estaria de cama. Pretende descansar um pouco antes de aceitar o próximo paciente? Sua mãe já está em casa? — Não, mas imagino que irá logo para lá. É maravilhoso como ela se recuperou tão rapidamente. Isabel arrumou a mala no dia seguinte, jogou uma última partida de dominó com Peter, despediu-se da babá, pois partiria bem cedo, e telefonou para a agência. A secretária disse que não havia nada no momento e pediu para ela Livros Florzinha
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voltar a ligar na segunda-feira. Isso era muito positivo, até certo ponto, pois ela teria dois dias para cuidar de suas roupas e do jardim. O Sr. Denning insistiu para que ela partisse após o café da manhã e a levaria até a estação. Estava um lindo dia quando Isabel acordou e ainda era bem cedo. Banhou-se, vestiu-se, tomou chá e acabou de arrumar a mala. Desceu para a cozinha, onde tomou o café da manhã, e foi despedir-se de Peter. E!e estava acordado, entretido com um quebra-cabeça. — Não queria que você fosse embora, Isabel. Agora não terei ninguém com quem brincar. — Claro que terá! Sua mãe brincará com você c logo, logo ajudará a tomar coma do bebê. Além do mais, as aulas recomeçarão dentro em breve. Meu irmão gosta muito da escola e tenho certeza de que você também gostará. Agora vamos nos despedir. Nós nos divertimos muito, não é mesmo, Peter? Nesse momento o Sr. Denning entrou, — Está pronta, Isabel? Não fique triste, menino, nós ainda voltaremos a vêla. — Jura? — Juro. Peter sentou-se na cama e abraçou Isabel. — Genial! Depois da mamãe, você ê a pessoa mais boazinha que eu conheço. — Que bom, Peter. Pois então não direi adeus. — Foi isso o que tio Thomas disse para você. Engraçado que o nome de Thomas surgisse quando ela mais queria esquecêlo. . . Isabel pegou a mala e seguiu o Sr. Denning Thomas estava parado em frente à casa, encostado no seu Rolls-Royce, assobiando, Isabel ficou atônita, sem saber o que dizer. — Bom dia. Essa mala é toda a bagagem que você traz? — O Sr, Denning vai me levar até a estação. — Já que estou por aqui, ele não precisará tirar o carro da garagem.
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Thomas abriu a porta do carro e Isabel voltou-se para o Sr. Denning, pronta para interrogá-lo. Ele beijou-a rapidamente e de repente ela estava no carro, ao lado de Thomas, — Que belo dia. . . — comentou ele, seguindo pela estrada.de terra. — Com efeito — concordou Isabel, procurando controlar-se. Somente quando chegaram à estrada asfaltada ela voltou a falar. — Estamos indo na direção errada — observou. — Não estamos, não. — Por acaso está me levando para a casa de algum paciente? Telefonei para a agência e me disseram que no momento não existe ninguém. — Eu sei. Pedi à secretária que lhe dissesse isso. — Como? Eu preciso trabalhar! O senhor não pode fazer isso comigo! — Posso, sim, e voltaremos ao assunto mais tarde. — Não! Quero falar disso agora. — Já disse que fica para mais tarde, Isabel. — Bem, de qualquer maneira, não quero discutir com o senhor. — Isabel fechou os olhos e fingiu que iria dormir. Não conseguiu, é claro, pois sua cabeça estava povoada por idéias que não faziam o menor sentido. Desistiu e abriu os olhos. O carro agora percorria um trecho da estrada que ela conhecia muito bem, pois atravessavam a região onde situava-se a aldeia em que tinha sido criada. Ficou muito surpreendida quando Thomas diminuiu a marcha e seguiu por uma pequena estrada de terra. Uma placa indicava que a aldeia de Hinton Bassett, a sua aldeia, ficava a quatro quilômetros de distância, — Nós já moramos neste lugar! — Eu sei. A família que comprou a casa de sua mãe vendeu-a para mim há algumas semanas. Sua mãe se encontra lá e a babá está lhe fazendo companhia há uma semana. -E o senhor pretende morar lá? A Sra. denning disse que tinha conhecido a moça dos seus sonhos. . .
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— Pois acabo de dizer que sua mãe está morando lã e continuará a fazê-lo durante muitos anos! Gosto muito da minha futura sogra, mas não quero morar na casa dela, quando possuo duas residências que me agradam muito. — Sua sogra? — Eu que eu acabo de dizer, meu amor. — Está me pedindo em casamento? Agora atravessavam a aldeia e Thomas diminuiu a marcha do carro, parando finalmente perto do correio. Ele olhou à sua volta e a rua principal estava cheia de gente, pois era sábado. Muitas pessoas tinham parado para olhar o luxuoso automóvel. Não era todos os dias que surgia um Rolls-Royce na aldeia de Hinton Bassett! Thomas voltou-se para Isabel e sorriu. — Sei que este não é o momento nem o lugar apropriado para pedir alguém em casamento. As circunstâncias não são nada românticas, meu bem, e eu sei o quanto você é romântica. — Não nego. Não podemos prosseguir até encontrarmos um lugar calmo e retirado? Lá então você tornará a fazer o seu pedido. .. Thomas não disse nada. Apenas sorriu com tamanha ternura que Isabel teve a sensação de que se derretia por dentro. Ele parou o carro no alto de um morro, do qual avistava-se a bela casa que tinha sido dos pais de Isabel e que agora, graças à sua generosidade, voltava para a família.Thomas desceu do carro e abriu a porta para Isabel, tomando-a nos braços. — Farei o pedido pela segunda vez, mas há certas coisas que têm prioridade. Inclinou a cabeça e beijou-a, enchendo sua vida de felicidade.
FIM
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