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INSTITUCIONAL
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DEVEMOS SER MOVIDOS POR MOTIVOS PUROS NÃO POR ALIANÇAS POLÍTICAS G. T. NG
Dentro de alguns meses estaremos em Indianápolis, na assembleia da Associação Geral. Ouço uma variedade de perguntas sobre o propósito de uma reunião como essa. É verdade que Deus aponta, mas a Comissão de Nomeações desaponta? Será que realmente existe a ambição honesta ou cobiça santa? Quando será a minha vez de servir a Deus em um cargo importante? O que é necessário para que eu seja eleito?
DEFINIÇÃO DE ELEIÇÃO Eu não consegui encontrar no dicionário uma definição mais apropriada para “eleição na igreja”, então criei uma. “A eleição na Igreja Adventista do Sétimo Dia é o processo corporativo em que as comissões devidamente constituídas pelo corpo de Cristo escolhem, em oração, os líderes para servir em cargos de confiança como mordomos para um período específico de serviço. Ao final desse período, os líderes eleitos renunciam aos seus cargos de mordomos e colocam-se à disposição para serem remanejados para outras opções de serviço que cumpram a missão da igreja e façam avançar o reino de Deus”.
COMPREENSÃO DO CARGO O cargo é o serviço em ação. No momento em que me assento nessa cadeira, sou servo dessa cadeira, desse cargo, por um período determinado. Mas, se eu achar que sou dono do cargo, meu comportamento certamente será outro.
Com essa mentalidade, nós possuímos o cargo, e o cargo nos possui. Somos definidos pela nossa função, e nossa autovalorização é embasada nela. As pessoas tendem a nos respeitar pelo nosso cargo, e não necessariamente por quem somos. E pior, quanto mais tempo ocupamos a mesma posição, mais nos encantamos com ela.
Se mudarmos nosso modo de pensar, as nossas funções ganharão uma nova luz. Nós somos servidores. Não somos definidos pelos nossos cargos, e aceitamos que nosso mandato seja limitado. Estamos prontos para ser transferidos, se essa for a vontade de Deus. E assim temos paz de espírito. Charles Bradford, expresidente da Divisão Norte-Americana, costumava dizer: “Se você não pode aceitar ser eleito para sair, não deve aceitar ser eleito para entrar.”
A Igreja Adventista do Sétimo Dia hoje precisa de líderes com “norte verdadeiro”, porque Jesus é o “Norte Verdadeiro”. Os líderes com “norte verdadeiro” se recusam a ser comprados ou vendidos. Sua integridade e seus princípios não estão à venda. Sua liderança e lealdade a Deus também não estão à venda. Como devemos votar numa eleição da igreja? De acordo com a consciência, não por alguma conveniência política. O trabalho deve ser feito de forma transparente e sem conspiração. Devemos ser movidos por motivos puros como indivíduos, não como parte de alianças políticas. Devemos ser servos fiéis e não eleitores para receber favores em outro mandato.
E, quando votamos, devemos ter o cuidado de avaliar as competências. Precisamos estar satisfeitos e recusar a cobiça, olhando para o Norte Verdadeiro, Jesus Cristo, que nos capacita a resistir à tentação de ser comprados ou vendidos. E, quando nosso período terminar, deixemos nosso cargo com gratidão, mantendo as palavras “Sou feliz com Jesus” na primeira linha de nossa mente. Esse deve ser o nosso compromisso como líderes desta igreja. ]
O EXCLUSIVISMO E O AR DE SUPERIORIDADE CONTRADIZEM O EVANGELHO, QUE É INCLUSIVO Mentalidade tribal
KELVIN ONONGHA
Aparentemente, o tribalismo está em ascensão em todo o mundo. Essa tendência afeta muitos aspectos da nossa vida, especialmente a nossa ética. Como é que vivemos em sociedades polarizadas? Em termos globais, Brexit na Grã-Bretanha, a polarização política nos Estados Unidos, a deslegitimação dos muçulmanos na Índia e o sentimento anti-imigrante em todo o cenário político europeu também parecem derivar do tribalismo.
Portanto, ele não está confinado aos povos primitivos nem a regiões específicas. Paradoxalmente, como a globalização dá origem à uniformidade cultural por meio da tecnologia e das mídias sociais, as forças subterrâneas do tribalismo tóxico geram polarização em vez de unidade. A escalada no fundamentalismo, refletida em opiniões políticas, retórica social e discurso religioso, muitas vezes resulta em divisões entre direita e esquerda, conservadores e liberais. Isso leva a uma quebra na comunicação e na colaboração – elementos essenciais para a harmonia social. Nós, seres humanos, temos uma tendência natural de nos associar mos a grupos, devido à nossa necessidade de ser e pertencer. Essas necessidades não são más. Formar uma comunidade de pessoas com objetivos, necessidades e desejos semelhantes é uma condição humana natural. No entanto, o tribalismo torna-se tóxico quando procura eliminar aqueles que têm visões, opiniões ou identidade divergentes. Ele prospera na premissa de que o outro seja o inimigo; é a responsável por ataques anti-semitas e anti-muçulmanos em locais de culto, causando a morte de adoradores inocentes nos Estados Unidos, Nova Zelândia, Israel e Afeganistão. Foi o que também provocou a morte de políticos com opiniões divergentes das dos seus oponentes. Essa situação é tão prevalecente nas mídias sociais que alguns acreditam que estamos na era do tribalismo. Infelizmente, até a Igreja Adventista do Sétimo Dia, com seus altos ideais morais e missão divina, não está imune a essa mentalidade tribal, como devem ilustrar os dois relatos a seguir.
Há não muito tempo, preguei em uma igreja de certo país em que as eleições governamentais recentes resultaram em discórdia e crise
Revista Adventista // Adventist World // Março 2020 Foto: Markus Spiske
em vários lares adventistas com casamentos interculturais. O impasse político que alimentava as tensões culturais entre duas grandes tribos afetava casais que compartilhavam fortes crenças comuns e uma herança cristã. De idêntico modo, um amigo me contou que, durante a assembleia da Associação Geral de 2015, em San Antonio, no Texas (EUA), ele pediu ajuda a alguém que se recusou a auxiliá-lo devido aos seus trajes africanos. E disse-lhe irritado: “Vocês votaram contra a ordenação de mulheres ao ministério.” A propósito, meu amigo nem foi delegado naquela assembleia.
UM CAMINHO A SEGUIR O tribalismo pode ser superado? Como os adventistas podem viver acima dele? Um ponto de partida é reconhecer que o tribalismo é o nosso padrão humano. Estudos indicam que ninguém nasce racista, tribalista ou fundamentalista através da socialização; é pela observação que as crianças aprendem comportamentos negativos em relação às pessoas com identidades diferentes. No início da vida, muitas vezes nos ensinam que aqueles que olham, falam e agem como nós são considerados pessoas, mas os que têm identidades diferentes são classificados de outra maneira. Em fases posteriores da vida, a sociedade ensina a desumanização dos que possuem identidades diferentes, atribuindo-lhes rótulos como “cães”, “baratas”, “ratos” ou “pestes”.
Infelizmente, a história da humanidade revela muitos momentos no passado em que o tribalismo não só foi tolerado, mas também foram desenvolvidas premissas cristãs para promover ideias muito aberrantes. Considere a escravidão nos Estados Unidos, a ideologia nazista de Hitler na Alemanha antes da Segunda Guerra Mundial e o apartheid na África do Sul. O problema é que a igreja cristã tem sido frequentemente cúmplice na racionalização e justificação do tribalismo. No entanto, Cristo ensinou princípios diametralmente opostos a qualquer concepção tribalista. As premissas essenciais desse problema (isto é, superioridade, identidade diferenciada e orgulho) são demolidas pelos Seus ensinamentos e exemplo.
O cerne dos ensinamentos de Cristo era o reino de Deus, um reino em que raça, origem, privilégio ou status não garantem a entrada. Jesus falou de um novo nascimento, possibilitado pelo Espírito Santo, como requisito para ingressar nele. E também ensinou que a etnia não qualifica automaticamente ninguém para o reino. Cristo pregou um evangelho de inclusão e não de exclusão; de paz e tolerância, não de guerra e intolerância, ao dizer: “Bem-aventurados os pacificadores” (Mt 5:9).
O mais importante é que Jesus afirmou enfaticamente que o mundo conheceria o poder do evangelho e os cidadãos de Seu reino pela uni dade demonstrada na vida de Seus discípulos. Eles tinham origens, personalidades e filiações políticas diferentes. Mateus foi um publicano desprezado; Simão era um zelote. A despeito de suas convicções políticas e religiosas, Cristo, por meio de Sua vida e ministério, uniu “liberais” e “conservadores”, conduzindo-os da polarização à colaboração, à missão e ao serviço.
Numa época em que cristãos, inclusive adventistas, traçam linhas na areia, dividindo o mundo entre os que são “por nós” e os que são “contra nós”, num momento em que se erguem muros de separação, Jesus nos lembra que “quem não é contra nós está a nosso favor” (Mc 9:40). A IGREJA CRISTÃ TEM SIDO FREQUENTEMENTE CÚMPLICE NA RACIONALIZAÇÃO E JUSTIFICAÇÃO DO TRIBALISMO
O apóstolo Paulo lembrou aos crentes que no reino de Deus não há preferência por judeu ou grego, escravo ou livre, mestre ou servo. Paulo entendeu esse conceito quando Ananias o batizou; apesar de Saulo ter sido o terror da igreja primitiva, Ananias o tratou como “irmão Saulo” (At 9:17). O livro de Atos contém duas histórias poderosas que devemos guardar na mente. O Espírito Santo conduziu Ananias e Pedro (v. 10-17), que eram os líderes respeitados da igreja, e outros líderes que estavam em reunião (At 10; 11:1-18), a compreender que, diante da cruz, há um lugar para todos. O evangelho de Cristo vira de cabeça para baixo nossos instintos humanos natos e os valores da sociedade secular. Eliminar o tribalismo tóxico de nossa comunidade religiosa começa com a introspecção, ou seja, com o exame do nosso coração e o dom do arrependimento.
Em seguida, precisamos ajoelharnos em contrição diante do Senhor para pedir um novo coração e nova natureza que desfaçam as injustiças que involuntariamente provocamos. Precisamos embarcar em missões de demolição dos muros, pregar e praticar os princípios contraculturais de Cristo. Convidemos todos a deixar suas “tribos’ para participar da fraternidade universal de Cristo. Renunciemos ao nosso orgulho, exclusivismo, nossa superioridade e identidades tribais, e unamo-nos a essa comunidade escatológica, sem muros, com toda tribo, língua, nação e povo, em frente ao mar de vidro, para cantar louvores a Deus. Agora que o nosso mundo está se tornando cada vez mais escuro e polarizado é o momento de demonstrar com o que a eclesia de Cristo, a verdadeira comunidade, realmente se parece: sem paredes, sem classes e, portanto, de valor inestimável aos olhos de Deus. ]
KELVIN ONONGHA, PhD, é professor
Boas-novas no Velho Mundo
PARA SE ESTABELECER NA INGLATERRA, O ADVENTISMO PRECISOU SUPERAR A REJEIÇÃO E ADAPTAR O MÉTODO
Depois que a Igreja Adventista do Sétimo Dia estava firmemente estabelecida na América do Norte, a atenção dos primeiros líderes foi atraída para a necessidade de expandir e desenvolver o trabalho no exterior. Na década de 1870, John Nevins Andrews foi enviado a Basileia, Suíça, para implantar uma editora. Conhecendo os fortes laços que então existiam entre a Grã-Bretanha e os Estados Unidos, Andrews aproveitou uma escala na Inglaterra. Na época, embora não houvesse presença de adventistas do sétimo dia nessa região, já existia um grupo de guardadores do sábado. Andrews sabia que precisava ser feito um trabalho importante na divulgação da mensagem que pareceria estranha a muitas pessoas.
Por volta da metade da era vitoriana, entre 1851 e 1875, a Grã-Bretanha estava em meio a um ajuste social e político, à medida que a agricultura gradualmente cedia lugar ao industrialismo. Como se viu ao longo da história, o clima político e econômico de uma nação afeta o fervor religioso, e foi o que ocorreu na Grã-Bretanha, nação conhecida por estabelecer o ritmo da conduta religiosa e moral e por ser protagonista no envio de missionários a outras partes do mundo. Abaixo da superfície havia motivos para preocupação. E foi em meio a esse cenário religioso e socioeconômico que o adventismo entrou no país. RICHARD DALY
O INÍCIO DA OBRA A igreja nomeou o pastor ordenado John Norton Loughborough (1832-1924) como missionário de tempo integral na Inglaterra. Ele saiu de Nova York com a família, de navio, e chegou a Southampton em 30 de dezembro de 1878.
Com quase três décadas de ministério, Loughborough era um pioneiro muito respeitado no meio-oeste dos Estados Unidos. Além de ser um dos primeiros a usar tendas nas campanhas evangelísticas, ele liderou o início do trabalho adventista na Califórnia, estabelecendo cinco novas congregações em três anos. Foi presidente da Associação de Michigan e tesoureiro da Associação Geral. Mas nenhuma desssa realizações o preparou para o trabalho que o aguardava na Inglaterra.
Loughborough pregou seu primeiro sermão na Inglaterra no Shirley Hall a convite de evangelistas independentes, seis dias após sua chegada. Estavam presentes mais de 150 pessoas. Ele alugou o mesmo salão durante as semanas seguintes e pregou por 15 noites. Loughborough estava ansioso, e dedicou todo o seu tempo e a
Revista Adventista // Adventist World // Março 2020 Foto: Ellen G. White Estate
sua energia nas reuniões públicas. Então decidiu copiar o modelo de evangelismo a que estava mais acostumado nos Estados Unidos, realizando as reuniões em tendas. MÉTODO NADA ORTODOXO Em abril de 1879, o principal esforço evangelístico de Loughborough foi uma abordagem nova e diferente para Southampton, e para muitas outras partes do país. Em seu diário, Loughborough relatou: “Com o início da primavera, compramos uma tenda com mais de 18 metros que foi montada no subúrbio de Southampton, onde começamos as reuniões no domingo, 18 de maio de 1879” (Rise and Progress of the Seventh-day Adventists [Battle Creek, MI: General Conference Assoc., 1892], p. 321).
A primeira reunião teve uma audiência de 600 pessoas. Embora durante os três meses de campanha evangelística o clima tenha sido desfavorável, a frequência foi relativamente boa. Quando o evangelismo chegou ao fim, o grupo de adventistas em Southampton era formado por aproximadamente 30 pessoas. Esses tinham sido membros de outras congregações cristãs ou eram novos conversos.
A força de trabalho era escassa, uma vez que a igreja contava apenas com um pastor ordenado e dois obreiros leigos. Mas eles continuaram trabalhando, e após um ano foi realizado o primeiro batismo. Loughborough registrou em seu diário: “Nosso primeiro batismo foi em Southampton, no dia 8 de fevereiro de 1880, quando imergimos seis pessoas que se decidiram. Até 2 de julho de 1881, 29 haviam sido batizadas” (p. 321). PROGRESSO LENTO E RECURSOS LIMITADOS Alguns podiam argumentar que os frutos do trabalho de Loughborough não foram tão imediatos. Embora a frequência às suas reuniões públicas fosse boa e muitos tenham aceitado a doutrina do sábado, as pessoas hesitavam em aprofundar-se mais no estudo e a comprometer-se unindo-se à igreja.
Loughborough confessou: “Enfrentamos dificuldades no estabelecimento do trabalho na Grã-Bretanha que não experimentamos na América. Disseram-nos constantemente que ‘as pessoas na Inglaterra devem ser abordadas de uma forma diferente da empregada nos Estados Unidos’” (p. 322). O número de batismos parecia baixo, se comparado ao número de horas de trabalho e a todo o esforço empregado. Naturalmente, Loughborough ficou desapontado com a falta de progresso, principalmente se comparado ao sucesso a que estava acostumado nos Estados Unidos. Mas, em seus relatórios, ele destacou as lições aprendidas e apresentou uma análise dos desafios que enfrentou. Um desses desa fios era a falta de interesse das pessoas das classes sociais mais elevadas de frequentar as reuniões na tenda. Com aparência de circo, bancos de madeira improvisados e falta de decoração, as tendas não eram lugar para a elite nem para a sociedade sofisticada. Loughborough admitiu em seu relatório que, para alcançar as classes média e alta, seria necessário alugar salões condignos. O desafio adicional era a despesa para alugar tais salões. Com um orçamento restrito e recursos limitados, Loughborough e sua pequena equipe tiveram que contar com a ajuda financeira da América do Norte. Os membros distribuíram amostras grátis da revista The Present Truth, e, depois de quatro edições, venderam assinaturas do periódico. O dinheiro ganho com as assinaturas foi usado para alugar salões, comprar equipamentos e produzir outras revistas e folhetos. SUPERANDO OS DESAFIOS Loughborough enfrentou muita rejeição, provavelmente por ser estrangeiro e ensinar doutrinas desconhecidas. Se os britânicos estivessem realmente interessados em religião, seria muito mais provável que apoiassem a respeitável e já estabelecida Igreja da Inglaterra do que se associarem a uma organização socialmente inferior e, como resultado, ainda correr o risco de perder prestígio e status.
Loughborough também enfrentou a oposição de outros membros do clero. Durante suas reuniões na tenda, ele teve que suportar a oposição e preocupação do clero local, que, tanto do púlpito como nas visitas de casa em casa, insistia com os paroquianos para que não aceitassem a guarda do sábado.
Apesar desses desafios, e de sua mão-de-obra escassa, Loughborough perseverou e venceu. Ele acreditava “que Deus estava testando a paciência deles e que, por meio Dele, todas as coisas eram possíveis” (Nigel Barham, “The Progress of the Seventh-day Adventist Church in Great Britain, 1878-1974” [tese de doutorado, Universidade de Michigan, 1976], p. 63). Graças à sua perseverança e compromisso destemido com a tarefa que tinha em mãos, o trabalho nas Ilhas Britânicas finalmente deslanchou. Loughborough lançou uma base firme para que outros missionários pudessem construir sobre ela. ] RICHARD DALY é pastor e diretor de comunicação da União Britânica, no Reino Unido JOHN LOUGHBOROUGH LANÇOU UMA BASE FIRME PARA QUE OUTROS MISSIONÁRIOS PUDESSEM CONSTRUIR SOBRE ELA
SEM BARREIRAS
BRENT BURDICK
Já se passaram mais de 30 anos desde a queda do Muro de Berlim. Um artigo publicado recentemente na revista U.S. News & World Report retratou bem as reações de duas mulheres que foram diretamente afetadas pelo evento. Angelika Bondick, hoje com 63 anos de idade, declarou que, na verdade, ela sente falta do muro. “Eu cresci com ele, e não o questionei”, ela afirmou. Dagmar Simdorn, 81, expressou uma reação diferente. “Ficamos ali de boca aberta com a mão à frente dela. A sensação era como se estivéssemos voando, realmente”, ela disse, chorando. “Sentimo-nos como que flutuando”, completou.
Já foram investidas somas incalculáveis de dinheiro nas grandes muralhas do mundo, sem mencionar as inúmeras vidas que foram sacrificadas à sombra delas. Atualmente, muitos desses muros servem apenas como atrações turísticas. Nos tempos bíblicos, os muros eram símbolo de força e proteção. Uma cidade sem muros era considerada fraca e vulnerável. Muros bem construídos eram imprescindíveis para manter o inimigo do lado de fora, mas também eram muito eficazes para manter o povo dentro. Os cidadãos podiam se tornar prisioneiros dentro de sua própria cidade, sem perceberem. Os livros de história estão cheios de relatos a respeito de pessoas presas dentro dos muros da sua própria cidade. Um dos cercos mais longos registrados aconteceu à cidade de Cândia, capital de Creta. No século 17, Veneza era uma grande potência no Mediterrâneo, mas seu poder entrou em declínio à medida que o Império
Otomano crescia em força. Alguns incidentes militares lamentáveis resultaram no cerco de Cândia. Ele começou em 1648, quando o abastecimento de água foi cortado e as vias marítimas foram interrompidas. Numerosas batalhas ocorreram ao longo dos anos, mas os moradores de Cândia se recusaram a desistir. Finalmente, 21 anos depois, em 1669, a cidade se rendeu e os residentes foram autorizados a sair com o que pudessem carregar.
O PROPÓSITO DA IGREJA NUNCA FOI SER FECHADA NEM SER O CLUBE DE UMA ELITE
BARREIRAS RELIGIOSAS Será possível, em nossos dias, ficarmos presos dentro de nossos próprios muros? Ao longo da história, muitos entre o povo de Deus levantaram barreiras construídas por mãos humanas, para se protegerem do inimigo. Esses muros não são físicos. São espirituais. Não são construídos com martelo e pregos ou tijolos e argamassa. São muros construídos com ideias, tradições, preconceitos e medos.
O apóstolo Paulo escreveu que a cruz uniu o que estava separado, não apenas no âmbito vertical, mas também no nível horizontal. Cristo derrubou a parede da separação que estava no meio, a inimizade, conforme lemos em Efésios 2:14. O que era esse “muro de inimizade”? Paulo deixou claro que ele representa o muro que separava judeus e gentios.
O Museu de Israel, em Jerusalém, expõe o fragmento de um artefato descoberto em 1936, perto do local do segundo templo. O achado arqueológico, que possivelmente tenha sido fabricado alguns anos antes do nascimento de Jesus, traz a seguinte inscrição: “Não é permitido a estrangeiros passar além da balaustrada e da praça da zona do templo. Se alguém for apanhado ali será responsável por sua própria morte que virá como consequência”.
O que deve ter passado pela mente de Jesus quando Ele Se deparou com aquela placa, sabendo que Sua morte, que viria a seguir, pagaria o preço da culpa tanto de judeus quanto de gentios?
Ellen White escreveu o seguinte sobre os judeus do tempo de Jesus: “O povo de Israel perdeu de vista seus altos privilégios como representantes de Deus. Esqueceram-se de Deus e deixaram de cumprir Sua santa missão. [...] As restrições por Deus impostas na sua associação com os idólatras como um meio de prevenir-lhes o conformismo com as práticas pagãs, eles as usaram para levantar um muro de separação entre si e as demais nações” (Atos dos Apóstolos, p. 14, 15).
LIÇÕES DA DEMOLIÇÃO Jesus estava demolindo aquele muro para garantir que ninguém ficasse sem acesso à Sua salvação. Paulo deixou isso bem claro: “Porque, por Ele, ambos temos acesso ao Pai em um Espírito” (Ef 2:18). Os muros fazem três coisas devastadoras:
1. Limitam a visão. Não se consegue ver muito facilmente por cima de um muro. Há um muro chamado “nunca foi feito dessa maneira” ou “não é assim que se faz”. Quando os muros limitam nossa visão, tendemos a dizer: “Se não consigo ver, não acredito”. As paredes também limitam a expressão. Há um muro que nos mantém presos às tradições e ao pensamento tradicional. Os muros podem limitar a criatividade e o crescimento. 2. Muros isolam. Eles tendem a manter as pessoas do lado de fora. Quando queremos ficar sozinhos, erguemos um muro. Mesmo entre uma multidão de pessoas, levantamos muros invisíveis para nos proteger. O problema é que esses muros nos isolam das mesmas pessoas de quem devemos nos aproximar. 3. Muros segregam. O isolamento mantém as pessoas do lado de fora, mas a segregação também mantém as pessoas dentro. O propósito da igreja nunca foi ser autossuficiente nem fechada. Nem o de ser o clube de uma elite de pessoas que raramente se aventuram a sair. A igreja deve ser a porta do Céu. Não devemos permitir que nada bloqueie a entrada para o reino de Deus.
Para o caso de haver alguma dúvida, Jesus disse: “Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas, por que fechais o reino dos Céus diante dos homens” (Mt 23:13). Jesus confirmou esse conceito em outra ocasião: “quem vem a Mim, de modo nenhum o lançarei fora” (Jo 6:37). Finalmente, lembremo-nos do que Deus disse: “Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida” (Ap 22:17). Qualquer coisa que restrinja “quem quer que seja” de chegar a Jesus é um muro que deve ser derrubado. Não ousemos construir um muro onde Jesus colocou uma porta aberta.
Veja o que Ellen White escreveu: “Durante Seu ministério terrestre, Cristo deu início à obra de derrubar o muro de separação entre judeus e gentios e apregoar a salvação a toda a humanidade. Embora fosse judeu, comunicava-Se livremente com os samaritanos, anulando costumes farisaicos dos judeus com respeito a esse desprezado povo. Dormia sob seu teto, comia em suas mesas e ensinava em suas ruas” (Atos dos Apóstolos, p. 19). Oremos para que Deus nos mostre os muros que precisam ser derrubados. Oremos para que, por meio da graça de Deus, tenhamos mais fé e poder para derrubar as barreiras “invisíveis” e, seguindo o exemplo de Jesus, sermos testemunhas eficientes. ]