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PERSPECTIVA
PROJETO DE AMOR NEM TODO MUNDO ENXERGA MOTIVOS PARA CELEBRAR O DIA DAS MÃES, MAS É INEGÁVEL QUE ESSA DATA NOS FAZ PENSAR NO MILAGRE DA VIDA
CHANTAL J. KLINGBEIL
Em muitos lugares do mundo, as mães são homenageadas neste mês. Naturalmente, incentivar a celebração dessa data é um grande negócio para o comércio. As mamães são lembradas nas escolas, igrejas e até por políticos e artistas.
Porém, o Dia das Mães também pode ser uma data difícil para quem não conseguiu, por exemplo, realizar o grande sonho de ser mãe. Para algumas dessas mulheres, esse é o momento em que vem à memória um natimorto ou a fila da adoção. Outras mães podem se perguntar também o que fizeram de errado para não receberem flores nem presentes de gratidão, sendo que, nessa ocasião, são retratadas apenas famílias felizes se confraternizando. Por sua vez, muitos homens que trabalham duro podem se perguntar por que o Dia das Mães tem bem mais destaque do que o Dia dos Pais.
O fato é que não importa quem somos, se temos filhos ou não, o Dia das Mães toca nossas emoções porque nos convida a pensar em nossas origens e a nos questionar se somos amados e aceitos. Ainda que essas reflexões não despertem as melhores emoções em você, vale a pena pensar que, no fundo, toda vida é gerada pelo amor.
É verdade que alguns foram planejados e esperados, enquanto outros foram fruto de um acidente, de um ato irresponsável ou até mesmo de violência. Porém, alguém nos carregou dentro de si durante nove meses. Foi no corpo de uma mulher que fomos “tecidos” conforme o plano do Senhor (Sl 139:13). Dessa maneira, Deus, que é a fonte da vida e do amor (1Jo 4:8), criou mais um ser para ser amado individualmente por Ele (Is 44:2). O melhor de tudo isso é que não precisamos escolher nem trabalhar para que viéssemos à existência. Apenas escutamos os batimentos do coração de nossa mãe e então, quando inspiramos pela primeira vez, simplesmente nos abrimos à vida.
Em algum lugar, de alguma forma, cada um de nós viu o amor modelado nesse dom da vida. Apesar de tudo que pode ter conspirado contra, nós nascemos singulares como nossa impressão digital e destinados a um relacionamento especial com Aquele que sabe até quantos fios de cabelos temos (Mt 10:30).
Quando uma mulher leva uma nova vida dentro de si, participa da história de amor de Deus. As mães compartilham seu corpo, suprimento de sangue, hormônios, alimento e o ar que respiram com o novo projeto de amor de Deus.
E esse amor não é expresso ape nas com flores, cartões com palavras amáveis e presentes bonitos, mas com dores de parto, noites sem dormir, nariz congestionado, lágrimas e fraldas sujas. Não importa se somos mães ou apenas seus filhos adultos, o Dia das Mães deve ser um grande lembrete de que somos amados. ]
CHANTAL J. KLINGBEIL é diretora associada do Patrimônio Literário de Ellen G. White, em Silver Spring, Maryland (EUA)
Reino dividido
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JESUS FOI ABSURDAMENTE ACUSADO DE COOPERAR COM O DIABO. A DEFESA DELE TEM ALGO A NOS ENSINAR SOBRE A UNIDADE DA IGREJA
DANIEL WILDEMANN
Jesus estava sendo acusado de trabalhar em parceria com o diabo. Aquele que, após Seu batismo, resistiu ao ten tador no deserto e o repeliu com um decisivo “Retira-te, Satanás!” (Mt 4:10). Aquele que havia vindo “para destruir as obras do diabo” (1Jo 3:8) estava sendo incriminado como colaborador do “príncipe dos demônios”. Aquele que havia expulsado espíritos impuros (Mc 1:25) era agora acusado de estar endemoninhado.
INTEGRIDADE QUESTIONADA
Após Jesus curar “um endemoninhado que era cego e mudo”, a multidão que O observava
chegou a conclusões diferentes (Mt 12:22-30). Um grupo O chamou de o Messias prometido e o outro de espiritualista (v. 24).
Essa tentativa de difamar Jesus foi um ata que frontal à Sua integridade. Era como se Seus acusadores dissessem: “Você é realmente quem diz ser? Você não tem um objetivo oculto, ou pior, um segredo obscuro? Você não está agindo secretamente em nome de Satanás?”
Associar Jesus com Belzebu foi um duplo insulto. Segundo Manfred Lurker, “Belzebu” (do hebraico Ba’al Zebûb) pode ser traduzido por “senhor das moscas ou da lixeira”, isso é, aquele que reúne seus seguidores como moscas em torno de si. No Antigo Testamento, ele aparece como o deus filisteu de Ecrom (The Routledge Dictionary of Gods and Goddesses, Devils and Demons, 1987, p. 31).
Jesus viu naquele momento uma oportuni dade de compartilhar uma importante verdade sobre o reino de Deus: “Todo reino dividido contra si mesmo ficará deserto” (Mt 12:25-28). Ele afirmou algo surpreendente: tanto o Espírito de Deus quanto Satanás estão comprometidos com a própria missão, embora elas sejam diametralmente opostas. Enquanto o diabo procura dividir e derrotar, Deus trabalha para libertar e unir. E os seres humanos? Bem, eles podem escolher o lado em que se unirão.
O FERMENTO DOS FARISEUS
A Bíblia descreve uma lógica que procura dividir as pessoas em boas e más, certas e erradas. Para que isso ocorra, é preciso que alguém se coloque do lado “certo”. Esse é um jogo apre ciado pela natureza humana e, embora tenha variado ao longo do tempo, o espírito perma nece o mesmo. No alemão chamamos uma pessoa com essa atitude de rechthaber, ou seja, alguém que pensa e afirma estar sempre com a razão, o sabe-tudo. Os fariseus acrescentaram uma dimensão espiritual a essa postura, classificando de demônios aqueles que não estavam do lado deles.
Bem que Jesus advertiu os discípulos a respeito do “fermento dos fariseus” (Mc 8:15), porque esse “levedo” tóxico costuma resultar em hipocrisia. A razão? Simplesmente porque é uma mentalidade que pratica o que condena e, ao mesmo tempo, finge que não o faz. A palavra fariseu, do hebraico perushim, vem de poresh, que significa “separar-se”. O fariseu é, em essência, alguém que se distancia e se separa dos outros em nome da religião.
No entanto, por mais verdadeira que seja qualquer análise da mente farisaica, o resultado
espiritual mais importante é este: no íntimo, todos temos um fariseu dentro de nós cuidando dos seus próprios interesses.
O MILAGRE DE SER UM
A mentalidade perushim exclui em nome da religião, enquanto a de Jesus inclui em nome de Deus. O bom Pastor reúne Suas ovelhas de todos os lugares, com um objetivo em mente: juntar novamente o que nunca devia ter sido separado (Jo 10:16). Cristo trabalhou e orou pela unidade de Seu povo (Jo 17:20-24). O oposto também é verdade: aquele que com Ele não ajunta espalha (Mt 12:30).
Agora, precisamos admitir que essa “unidade completa” pela qual Jesus orava é um milagre espiritual que não pode ser alcançado por meio de nenhum “atalho” humano. A unidade é o resultado de um processo transformador, viabilizado pelo “elo perfeito” mencionado por Paulo (Cl 3:14). É uma atitude que busca união e compreensão.
O espírito de unidade inclui os seguintes elementos: (1) nós mesmos (cura interior); (2) nosso semelhante (cura dos relacionamentos); e (3) nosso inimigo (superar toda tentação que conspire contra a unidade). Evidentemente, a base de tudo é o perdão (Cl 3:13). Ele é um milagre tão grande quanto a criação do mundo pela palavra, a transformação de alguém e a ressurreição de mortos.
O profeta Ezequiel vislumbrou um vale cheio de ossos espalhados. Quando Deus lhe perguntou se poderia haver vida novamente naquele cemitério a céu aberto, o profeta não se atreveu a opinar (Ez 37:3). Provavelmente nós faríamos o mesmo.
Podem os “ossos secos” da doutrina e das diretrizes da igreja ganhar vida? As doutrinas e os ensinamentos eclesiásticos têm seu lugar, mas só podem cobrir os ossos com tendões, carne e pele. O fôlego de vida vem somente de Deus (v. 8 e 5).
Nós ainda acreditamos que a unidade possa ser restaurada? É uma questão de escolha: ser um pacificador em nome do Príncipe da Paz ou permitir que o fariseu que habita em mim cause ainda mais separação.
Faço minhas as palavras de Ezequiel: nossos ossos se secaram e nossa esperança se desvaneceu. Venha, Senhor, e sopre dentro desses mortos para que vivam (Ez 37:9 e 11). ]
DANIEL WILDEMANN é editor de livros na Advent-Verlag Lüneburg, editora da Igreja Adventista no norte da Alemanha