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ENFIM

ENFIM

FATOS

NOVA PÓS-GRADUAÇÃO

A partir de fevereiro de 2020, a igreja oferecerá um curso com ênfase no dom profético de Ellen G. White e na história do adventismo. O objetivo é investir em professores e diretores de centros de pesquisa ao redor do mundo. Com duração de três anos, a pósgraduação será oferecida em quatro instituições de ensino superior: a Universidade Adventista da África (Quênia), o Instituto Internacional Adventista de Estudos Avançados (Filipinas), a Universidade Peruana Unión e o Colégio Superior Polonês de Teologia e Humanidades.

NOVO CONVÊNIO

Assinado no dia 11 de abril, o termo de colaboração entre a Secretaria Municipal de Promoção Social e Combate à Pobreza (Semps) de Salvador (BA) e a ADRA irá possibilitar a ampliação do atendi mento prestado pela agência humanitária adventista às pessoas em situação de rua. Com a parceria, a ADRA vai manter mais um abrigo (o terceiro) na capital baiana.

3,6%

foi o percentual de crescimento registrado pela igreja nas entradas de dízimos em nível mundial no ano passado.

ESTUDO BÍBLICO ILUSTRADO

Com o objetivo de incentivar as novas gerações a estudar as profecias do Apocalipse, a igreja no sul do Brasil produ ziu dois guias de estudo que trazem ilustrações no estilo de cartum e histórias em quadrinho, além de desafios práticos. O material foi elaborado, roteirizado e desenha do por líderes de Desbravadores e está sendo usado nos clubes por cerca de 100 mil adolescentes sul-americanos.

Mais de três quartos dos que deixam de frequentar a igreja estão abertos para se reconectarem, se a abordagem for feita da maneira certa. Muitos estão esperando por nós para alcançá-los e amá-los com o amor do pastor e do pai em Lucas 15.

David Trimm, diretor do departamento de Arquivos, Estatística e Pesquisa da sede mundial adventista, no Nurture and Retention Summit, congresso realizado na sede mundial da igreja, em Silver Spring, Maryland (EUA), em abril

67.951 organizações religiosas foram registradas no Brasil entre janeiro de 2010 a fevereiro de 2017. Em média, nasce uma a cada hora, de acordo com levantamento feito pelo jornal O Globo.

APOIO ÀS FAMÍLIAS DE AUTISTAS

A Organização Mundial da Saúde estima que 70 milhões de pessoas tenham autismo, sendo 2 milhões somente no Brasil. A experiência de ter um filho com o transtorno motivou Gissele Aguilar a oferecer ajuda e orientação a outras fa mílias. No Centro de Apoio para Familiares de Pessoas Autistas, ela e outros voluntários da Igreja Adventista do Jardim Lindoia, em Porto Alegre (RS), aten dem crianças e pais, além de promover campanhas de conscientização sobre o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

28% dos brasileiros consideram a fé religiosa mais importante do que a educação para mudar de vida, segundo pesquisa do Datafolha e da ONG Oxfan Brasil, que ouviu 2.086 pessoas.

6.388.903 foi o número de Bíblias distribuídas nos formatos impresso e digital pela Sociedade Bíblica do Brasil (SBB) em 2018.

É MELHOR EVITAR

Novo estudo publicado na revista Nutrients sugere que a ingestão de carnes vermelhas e processadas, mesmo em pequenas quantidades, pode aumentar o risco de mor te por todas as causas, especialmente doenças cardiovasculares. O estudo foi conduzido por nove pesquisadores da Universidade de Loma Linda, nos Estados Unidos.

A conversa foi amigável, informativa e reconheceu tanto o nosso patrimônio comum como nossas diferenças teológicas.

Nikolaus Satelmajer, organizador do encontro entre líderes da Igreja Adventista do Sétimo Dia e do Movimento Adventista da Reforma, em Silver Spring, Maryland (EUA), no início de dezembro

DATAS

25 DE MAIO

Pelo 12 o ano consecutivo, os adventistas sairão às ruas para distribuir o livro missio nário. Intitulada Esperança Para a Família, a versão em português da obra, escrita pelo casal Willie e Elaine Oliver, teve uma tiragem de mais de 15 milhões de exemplares.

29 DE MAIO

Será realizado no Espaço Nova Semente, na capital paulista, o Simpósio Internacional de Medicina do Estilo de Vida, realizado pela Associação de Médicos Adventistas (AMA) em parceria com o Instituto Assaly. O evento, voltado para profissionais da saúde, estudantes e demais interessa dos em promover a vida saudável, receberá palestrantes do Brasil, Estados Unidos e México. Para se inscrever, acesse: link.cpb. com.br/ec0ed8.

10 E 11 DE JUNHO

O 15 o Fórum de Ciências Bíblicas abordará o diálogo entre a Bíblia impressa e a digital, bem como os desafios para o engajamento bíblico na atualidade. Entre os palestrantes do evento, que será realizado pela Socie dade Bíblica do Brasil (SBB) em Barueri (SP), estão Bobby Gruenewald, fundador do mais acessado aplicativo da Bíblia do mundo, o YouVersion, e Jason Malec, da Sociedade Bíblica Americana.

GENTE

PRIMEIRO COLOCADO

Por dois anos consecuti vos, Clinton Rabadon conquistou o primeiro lugar no Exame de Licenciamento de Médicos das Filipinas. Ele foi o quinto adventista a obter essa classificação nos últimos 13 anos.

REPRESENTANTE DO BRASIL

No fim de agosto, Luan Louys Lopes Martins, de 14 anos, irá re presentar oficialmente o Brasil na Conferência Mundial de Jovens, que será no Nepal. O aluno do Co légio Adventista de São Francisco do Sul (SC) foi o único brasileiro selecionado para a vaga em um concurso que reuniu mais de 250 interessados.

OLHAR DIGITAL

SAÚDE PELO WHATSAPP BODAS DE OURO (50 ANOS)

Do pastor Dalmir Rodrigues dos Reis e Julieta Magalhães dos Reis, em cerimônia realizada em março na Igreja Central de Salvador (BA) pelo pastor Dalney Mekson Magalhães dos Reis, filho do casal. Eles têm três filhos e seis netos.

Do pastor Abgmar e Berenice Dourado, no dia 18 de feverei ro, em cerimônia realizada na Igreja Central de Caruaru (PE) pelo pastor Tiago Alves. O casal tem dois filhos e quatro netos.

Você agora pode receber gratuitamente dicas práticas e informações pelo celular que irão melhorar seu estilo de vida. O novo serviço oferecido pela igreja está disponível no seguinte endereço: querovidaesaude.com/whatsapp.

LANÇAMENTO DO NT PLAY

A nova plataforma de vídeos e áudios da Rede Novo Tempo foi lançada oficialmente no dia 30 de abril. No site (e posteriormente no aplicativo) as pessoas pode rão encontrar os conteúdos veiculados pela emissora de TV e rádio em um só lugar, além de conteúdos pro duzidos exclusivamente para o digital.

INTERNACIONAL

AJUDA AOS VENEZUELANOS

Como principal destino de quem foge da crise na Venezuela, a Colômbia recebe cerca de dez vezes mais venezuelanos que o Brasil. Por isso, desde setembro do ano passado a ADRA colombiana já direcionou cerca de 2,5 milhões de doláres para atender as famílias refugiadas. Todos os meses, cerca de 600 pessoas têm recebido assistência médica gratuita, medicamentos, kits básicos de higiene, utensílios de cozinha, lençóis e colchões.

600 famílias de funcionários do Aeroporto Internacional de Orlando, na Flórida (EUA), foram beneficiadas pela ação de um ministério de apoio da igreja que doou alimentos para trabalhadores que foram afetados por uma paralisação do governo dos Estados Unidos que durou 35 dias. 5.630 km é a distância de Moscou, na Rússia, até o novo centro de vida saudá vel inaugurado em Ulan-Ude, na Sibéria, em 3 de fevereiro. Além de uma loja de alimen tos naturais, o espaço oferece serviços como massagem terapêutica, seções de aconselhamento familiar e orientações sobre estilo de vida.

1.257.913 adventistas tinha a Divisão Norte-Americana em 31 de dezembro de 2018.

5.796 é o número de adventistas na Polônia. Apesar de ser um grupo tão pe queno em um país com 38,8 milhões de habitantes, a igreja é reconhecida pelo impacto positivo que exerce na sociedade. Recentemente, líderes adventistas foram convidados ao palácio presidencial para se encontrarem com o presidente polonês, Andrzej Duda.

Estamos estabelecendo objetivos claros para ajudar a estruturar a agenda federal.

Richard Hart, reitor da Universidade de Loma Linda (EUA) e membro do conselho administrativo da Associação Adventista de Políticas de Saúde, conjunto de cinco organizações de assistência médica, que abriu um novo escritório em Washington, DC.

Colaboradores: Briana Pastorino, Douglas Pessoa, Gustavo Cidral, Heron Santana, Libna Stevens, Ligia Pacheco, Luciana Garbelini, Márcio Tonetti, Marcos Paseggi, Paulo Ribeiro, Secretaria de Saúde do Estado do Paraná, Southern Asia-Pacific Division e Wendel Lima

Apregação sempre foi, é e será o ponto alto do culto, a intersecção entre o Céu e a Terra, o momento em que Deus toca mentes e transforma corações. O ministério ganha e transmite vida (ou morte) a partir do púlpito. No entanto, para quem transita por igrejas diversas, já está se tornando lugar-comum a reclamação de que existe uma crise na qualidade da pregação. Onde estão os grandes oradores da atualidade? Por que os nomes associados com a pregação poderosa estão no passado? Qual seria a solução para o suposto declínio do púlpito cristão e adventista?

Sem dúvida, a pregação é um fator essencial na conversão dos pecadores, no sucesso da igreja e na espiritualidade dos membros. As pessoas buscam sermões de qualidade. Entre os cristãos norte-americanos que raramente frequentam a igreja, 18% dizem que não vão porque não gostam do sermão, segundo pesquisa divulgada em agosto de 2018 pelo Pew Research Center. Em outro levantamento feito em 2016, o mesmo instituto constatou que um bom sermão influencia a decisão de quem está procurando uma igreja. Para 83% dos entrevistados, esse é o fator mais importante para a escolha, pesando mais do que o calor humano dos líderes (79%), o estilo do culto (74%) e a localização do templo (70%).

Além disso, no fim do tempo, a pregação tem que crescer tanto em quantidade quanto em qualidade e poder. Os anjos do Apocalipse (14:6-11; 18) que falam com voz poderosa são uma indicação nesse sentido. Nos séculos 18 e 19, quando ocorreu um grande reavivamento na América do Norte e surgiu o adventismo, houve uma explosão no número de pregadores. Segundo dados de Dawn Coleman, num capítulo que focaliza o sermão americano no período antes da guerra, incluído no livro A New History of the Sermon: The Nineteenth Century (Brill, 2010, p. 521), o total de pessoas oficialmente filiadas a igrejas nos Estados Unidos saltou de 17% da população em 1776 para 37% em 1860. Em grande parte, esse crescimento foi catalisado pela pregação, que incendiou a nova república. Coleman completa: “O número de pregadores aumentou de 1.800 em 1775 para 40 mil em 1845 – o que representou não somente um impressionante crescimento bruto, mas também a triplicação no número de pregadores per capita, indo de um pregador para cada 1.500 pessoas a um para cada 500.”

O sermão era uma força unificadora e transformadora. Além da quantidade, o mundo foi agitado por grandes pregadores dos dois lados do Atlântico, como Charles H. Spurgeon (1834-1892), Dwight L. Moody (1837-1899) e Charles Finney (1792-1875). Isso sem falar na geração anterior, como John Wesley (1703-1791), Jonathan Edwards (1703-1758) e George Whitefield (1714-1770). O resultado foi fenomenal.

CAUSAS DO DECLÍNIO

Se a pregação realmente passa por uma crise, quais são as principais causas? Sem ser exaustivo nem apontar o dedo para ninguém, vou enumerar alguns fatores. Primeiro, nota-se uma superficialidade no conhecimento bíblico. Todavia, ninguém consegue pregar com excelência se não tiver base teológica sólida e familiaridade com a Bíblia. Para pregar bem, não basta inspiração momentânea. Alguns temem que a letra mate o espírito, mas o espírito também pode matar a letra. Sem o conteúdo, o pregador se torna um mensageiro sem mensagem. E não ter nada para dizer no púlpito, mais do que escândalo, é uma traição ao legado do evangelho.

Outro aspecto é a mudança no contexto cultural. Vivemos em uma época de ceticismo, entretenimento, consumismo, distração, superficialidade e cinismo. O império do imediato exige tudo para agora. A fragmentação é real em muitas esferas. Essas transformações acabam afetando muitos pregadores, que, buscando agradar o público, nutrem o desejo por popularidade fácil, transformam a plataforma num tablado e pregam a si mesmos. O púlpito se torna um grande cenário para selfies em que Cristo jamais aparece.

Em terceiro lugar, existe a pressão do pluralismo e do relativismo. O nível de incerteza aumenta a cada dia. Nesse contexto, o pregador pode ser tentado a não confiar totalmente na relevância da Bíblia. Passa também a relativizar os aspectos distintivos da teologia e dilui a mensagem. Com isso, ele não prega com convicção. Porém, em uma sociedade instável, a Palavra de Deus deve ser o fator de estabilidade. Para quem crê, Deus é a grande âncora existencial.

Há também a perda de autoridade, potencializada pela facilidade no “preparo” dos sermões. Muitas pregações são entediantes, irrelevantes e dispensáveis. A oferta de materiais na internet tornou-se uma bênção e uma maldição. O pregador que apenas recorta sermões e os apresenta como se fossem seus tem um problema ético. Mas há outra implicação: o corta-e-cola mina a sua autoridade, pois é o processo de preparo que ajuda a solidificar o conhecimento e a espiritualidade do pregador.

Por fim, vem a incoerência entre o discurso e a vida. Na sociedade, falta integridade, sobra hipocrisia. Pregador e audiência podem ser contaminados por esses vícios. O estilo de vida de muitos pregadores nem sempre transmite confiança. Quando o público percebe o orador como aproveitador, demagogo, egoísta, manipulador, oportunista ou simulador, temos um problema sério. Pior ainda é quando ele leva uma vida incompatível com a ética do evangelho, pois o descompasso entre pregação e vida é um desastre para a autoestima do pregador e o poder da pregação.

MUDANÇA DE PARADIGMA

Naturalmente, o próprio ato de preparar a mensagem e o estilo da pregação acabam influenciando o resultado. Em termos de técnica para elaborar e apresentar sermões, os estudiosos veem dois paradigmas principais, especialmente no cenário norte-americano, que tem uma forte tradição de grandes oradores: (1) o método dedutivo, começando com um livro clássico de John Broadus, On the Preparation and Deli very of Sermons (1870), e (2) o método indutivo, introduzido por Fred B. Craddock, com As One Without Authority (1971, 1979) e Overhearing the Gospel (1978). Se o método dedutivo é mais lógico, formal e direto, o método indutivo é mais aberto, intimista e indireto.

Enfatizando a “pregação narrativa”, a “nova homilética” de Craddock desbancou a “velha homilética” de Broadus e mudou os púlpitos na América, o que acabou refletindo em outras partes do mundo. Para Craddock, o ouvinte não deve ser um recipiente passivo, apenas absorvendo o conteúdo estruturado por uma figura autoritativa. Por isso, é importante o pregador recriar para o ouvinte o contexto e a experiência da mensagem, adaptando o estilo da pregação ao gênero do texto bíblico. Nessa perspectiva, a pregação envolve o ato de conduzir o ouvinte em uma viagem de descoberta. Na verdade, ambos os paradigmas PREGAR A MENSAGEM podem ser eficazes. Afinal, forma e CERTA, NO TOM CERTO, conteúdo caminham lado a lado. O estilo grandiloquente de pregar talvez COM O EFEITO CERTO, esteja morto, mas a pregação grandiosa não precisa estar. Há muitas É BÊNÇÃO CERTA maneiras legítimas de apresentar a mensagem: exposição, narrativa, história/biografia, analogia, recriação do mundo contemporâneo dentro da moldura do universo bíblico... A exposição, por exemplo, é um estudo criativo sobre uma seção ou tópico da Bíblia seguindo a moldura e a ênfase do texto. A narrativa leva o ouvinte a se identificar com os personagens e a desejar recriar sua própria história. O importante é apresentar a verdade bíblica com a visão bíblica, nos termos bíblicos, recriando os eventos bíblicos, a fim de iluminar o contexto atual e levar a uma transformação real. O objetivo é transportar a audiência do texto para o contexto, do evento para o advento, da inércia para a ação. O bom conteúdo, é claro, não pode faltar. Pregar é fazer teologia ao vivo.

Independentemente do paradigma adotado, como enriquecer a pre gação? Aqui estão dez sugestões: 1. Direcione os holofotes para Deus. Pregação é uma arte e, como toda boa arte, o foco dela não deve estar na técnica nem no artista. Por isso, o aparato de recursos usados para construir o sermão deve permanecer oculto, assim como o conhecimento do pregador não deve ser o destaque. O foco é a teologia, não a habilidade; a mensagem, não o mensageiro; Cristo, não o ser humano. A pregação é eficaz porque procede de Deus, não porque o orador tem carisma. 2. Fundamente a pregação na Bíblia. Este foi o conselho do apóstolo Paulo a Timóteo: pregue a Palavra (2Tm 4:2). Deus fala, e o pregador retransmite as palavras divinas, vivendo de tudo o que procede da boca do Senhor (Dt 8:3). As Escrituras têm poder para salvação, o que não ocorre com notícias de jornal e historinhas adocicadas. Sermão não é comédia, entretenimento nem sessão de terapia. A Bíblia é o livro do Deus vivo e contém palavras de vida. Ela tem o poder de regenerar e transformar. Para pregar com propriedade, é preciso ter uma visão da teologia de todo o livro em que se encontra a passagem do sermão. Não basta ler a Palavra superficialmente; é necessário conhecê-la profundamente. Pregar a mensagem certa, no tom certo, com o efeito certo, é bênção certa. Na Bíblia, a preocupação não é primariamente com a retórica, mas com a verdade. 3. Adote a pregação cristocêntrica. Há muitas passagens indicando que Jesus era o foco da proclamação dos apóstolos e de outros líderes, até porque desejavam convencer o mundo de que Ele era o Messias (At 5:42; 8:35; 11:20; 17:18; Rm 16:25; 1 Co 1:23; 2:2; 2Co 1:19; 4:5; Gl 1:16; Fp 1:15). No Novo Testamento, o nome “Cristo” é mencionado cerca de 530 vezes e “Jesus” aproximadamente 917 vezes. Dos 260 capítulos dessa parte da Bíblia, Cristo aparece em 251 (96,5%). Jesus é também o centro do Antigo Testamento, a Bíblia usada pelo Salvador e os discípulos (Lc 24:13-27, 44-48; Jo 5:39). Portanto, é essencial tornar Jesus o elemento central da pregação, sem forçar o texto bíblico e sem esquecer a relação de Cristo com as outras pessoas da Divindade. Inserir um conceito artificialmente no texto seria uma fraude exegética. 4. Descubra e aperfeiçoe seu estilo. Há vários tipos de pregadores: o criativo, que tem um senso estético e valoriza a beleza e a originalidade; o pragmático, que prefere falar de coisas práticas e de seu funcionamento; o intelectual, que tem talento literário e gosta de burilar o sermão; o comunicador, que tem uma habilidade natural para transmitir conceitos; o evangelista, que se especializa em apelos e busca converter os ouvintes; o exortador, que tenta convencer o público a fazer mudanças; o motivador, que usa estratégias emocionais para propagar sonhos e levar à ação; o homilético, que prefere mensagens devocionais; o professor, que adota o estilo instrucional do ensino; o visionário, que apresenta grandes ideias para ampliar os horizontes. Um pregador quer que você aja, outro deseja que pense, outro quer que entenda, outro ainda deseja que sinta, e assim por diante. Não importa qual seja seu estilo, procure desenvolvê-lo. O mais importante é que você pratique, sinta-se confortável e se torne eficaz. 5. Considere o perfil do público. Todo bom orador leva em conta a maneira pela qual a audiência vive, pensa e se comporta. Isso é o que se chama pregar com inteligência cultural, estabelecendo pontes. Por exemplo, a pregação dos negros norte-americanos faz muito sucesso na tradição protestante e mesmo entre os adventistas. É algo diferente, um tipo de pregação que valoriza a dimensão social do evangelho e em

que o conteúdo define o estilo e a retórica. “A pregação negra norte-americana é uma realidade identificável”, escreveu Calvin B. Rock no artigo “Black SDA Preaching” na revista Ministry de setembro de 2000. “Sua energia e imagens a tornam uma proclamação singular do evangelho. É uma forma de arte nascida da fé, enraizada no amor, orientada pela esperança, moldada na provação, nutrida pela fé, mentoreada no sofrimento e autenticada pelo tempo.” Apesar de suas qualidades, alguns públicos podem achá-la exuberante demais. Evite os “ruídos” e busque se conectar com a audiência. 6. Use todas as avenidas para impactar o ouvinte. O evangelho é apreendido pelo intelecto e aceito no coração. A grande pregação envolve o aspecto cognitivo e o afetivo, cabeça e coração. Na medida do possível, ela precisa ser multissensorial. Por isso, o pregador tem que pensar nessas dimensões. Excesso de emoção ou emoção na hora imprópria pode ser prejudicial, mas a emoção em si não é ruim. Apenas monstros e mortos não têm emoção. É preciso equilibrar fatos e experiência, ter o que dizer e saber como dizer, para obter o maior efeito. Como escreveu Ellen White, “o alvo da pregação não é apenas apresentar informação nem meramente convencer o intelecto”, mas “alcançar o coração dos ouvintes” (Review and Herald, 22 de dezembro de 1904).

Floyd Bresee, meu ex-professor de homilética, ilustrou esse aspecto da seguinte maneira: “Como você pode conhecer melhor o Oceano Pacífico: estudando um mapa ou sentindo a areia da praia sob seus pés e o respingar do mar na sua face? Para realmente conhecer o oceano, você precisa de fatos e sentimentos. Como você pode conhecer melhor a Cristo: estudando a teologia que Ele ensinou ou experimentando a sensação de como Ele amou e tratou as pessoas? Para realmente conhecer a Cristo, você precisa de ambos” (Ministry, março de 1984, p. 8).

A retórica fazia parte da arquitetura do pensamento no mundo antigo, que empregava técnicas criativas para tornar os discursos e os escritos mais vivos, bonitos e convincentes. Três elementos integravam o arsenal de recursos retóricos: a confiabilidade do orador (ethos), o apelo à razão (logos) e o toque nas emoções (pathos). Ainda hoje, esses elementos têm sentido. O objetivo não era apenas criar efeito estético, mas persuasivo.

Como parte da retórica persuasiva, empregue ilustrações (do latim lux, “luz”) para iluminar na medida certa a mensagem, facilitar a compreensão, chamar a atenção e cativar o público. Se luz demais ofusca, luz de menos não clareia. As ilustrações e as metáforas servem para maximizar o efeito da verdade no interior. A boa pregação é uma epifania, uma revelação, o descortinar dos movimentos divinos. Para ser profunda, ela não precisa ser árida; pode combinar ensino e imagina ção, conteúdo sólido e criatividade. 7. Planeje suas pregações para relembrar o que precisa ser lembrado. A melhor maneira de programar as mensagens é idealizar séries para sábados, domingos e quartas. No sábado, pregue temas bíblicos mais expositivos; no domingo, apresente mensagens evangelísticas; na quarta, coloque assuntos devocionais e práticos. Isso permitirá que você saia do “mesmismo”, dê sequência aos assuntos e sistematize a apresentação do conteúdo. Leve em conta o calendário, a necessidade da igreja e o momento. Ao planejar o cardápio espiritual da sua congregação, é possível equilibrar várias temáticas e contemplar assuntos que costumam ser pouco explorados.

As séries permitem resgatar mais facilmente os grandes temas bíblicos. Pregação não é apenas explicar, aplicar e motivar, mas relembrar.

COMO ESTRUTURAR O SERMÃO

O sermão não é apenas um instantâneo efêmero dos gestos e ênfases de um pregador; é um retrato de atitudes, ideias, pensamentos e sentimentos sobre Deus, a Bíblia, o corpo, a sociedade, o casamento, a vida, a morte, o Céu, a Terra, o presente, o futuro... Como parte de um sistema de comunicação, é o reflexo de um tempo. Assim, quando os intelectuais

do futuro olharem para os sermões de hoje, o que encontrarão?

Para ser eficaz, a pregação deve ser bem preparada.

Nesse sentido, Derek Morris sugere 12 passos no livro O Poder da Pregação Bíblica (CPB, 2016, p. 17-25): 1 Escolha uma passagem para pregar. Considere o impacto pessoal ao ler um texto bíblico, sua preocupação como líder espiritual, a necessidade social e a ocasião.

2 Estude a passagem escolhida e faça anotações. Leve em conta o contexto e pense nas palavras-chave. 3 Descubra a ideia exegética da passagem. Identifique a grande ideia do texto.

4 Formule a ideia central da pregação. Elabore uma frase simples e marcante que você deseja que seus ouvintes se lembrem e pratiquem na vida diária. 5 Estabeleça seu objetivo. Saiba por que você está pregando tal mensagem. 6 Escolha a forma do sermão. Expositivo, narrativo, tópico? 7 Reúna os materiais de apoio. Isso inclui fatos, citações, ilustrações. 8 Desenvolva a introdução. Ela deverá atrair a atenção dos ouvintes, se relacionar a uma necessidade deles e introduzir a parte principal do sermão. 9 Elabore a conclusão. Ela visa fazer um resumo da mensagem, a aplicação e o apelo. 10 Escreva o sermão. Use um estilo oral.

11 Internalize o sermão. Repasse-o como se estivesse caminhando por ele como um guia turístico, pensando na maneira de proferir a mensagem e até pronunciar as palavras. 12 Ouça a Deus, você mesmo e o público enquanto prega. Procure se libertar do texto e prestar atenção a essas “vozes”.

Para a “e-geração”, que desconhece e esquece o básico, isso é essencial. Lembrar é um mandamento bíblico frequente. Não por acaso, a palavra zakar (“lembrar”) é usada mais de 200 vezes no Antigo Testamento e mimnesko (“lembrar”) é empregada 74 vezes no Novo Testamento. “Se não tivermos memória ficaremos à deriva, porque a memória é o anco radouro ao qual estamos atrelados. A memória do passado interpreta o presente e mapeia o futuro”, sugere Jeffrey D. Arthurs em Preaching as Reminding (IVP Academic, 2017, p. 1). Ao relembrar, participamos da realidade bíblica e a atualizamos, fortalecendo nossa união com Deus. 8. Insira o ouvinte no contexto bíblico. “Cada perícope das Escrituras projeta um segmento do mundo canônico na frente do texto”, comenta Abraham Kuruvilla, especialista em pregação, num artigo publicado na revista Bibliotheca Sacra em 2016 (v. 173, p. 387-400). “Assim, cada sermão sobre uma perícope particular é o convite gracioso de Deus à humanidade para que viva em seu mundo ideal satisfazendo os requisitos do mundo ideal de Deus.” Por meio desse recurso, projeta-se um mundo além dos limites do texto, e o ouvinte tem uma visão da vida. Perícope é um trecho da Bíblia ou de um livro que forma uma unidade coerente e que pode ser destacado para análise ou estudo. O alvo da “pregação peri copal”, diz Kuruvilla, é que o ouvinte habite nesse universo da Palavra de O PÚLPITO NÃO DEVE Deus e seja moldado por seus valores. SE TORNAR UM GRANDE 9. Experimente o poder da pregação profética. Para Hyveth Williams, CENÁRIO PARA SELFIES professora de homilética na Universidade Andrews (EUA), a grande EM QUE CRISTO pregação busca a excelência na apreJAMAIS APARECE sentação de mensagens bíblicas e proféticas, dando uma visão alternativa da realidade. “O pregador deve confiantemente abrir o texto inspirado, interpretar e expor as Escrituras com tal autenticidade, paixão, autoridade e sensibilidade que a Palavra de Deus ganhe vida e o povo seja persuadido a obedecer a Deus”, ensina Hyveth. Isso significa que a pregação do século 21 deve ser “profética, enraizada na justiça e na misericórdia para mover a igreja adiante, bem como pastoral, fundamentada na caridade e na boa vontade para com todos” (Nothing But the Best [Xlibris, 2018, p. xxii). A pregação profética critica e energiza, denuncia e acaricia, mostra o caos e oferece esperança.

Nessa linha, resista à tentação de pregar política. Substitua a política pela escatologia. A escatologia bíblica e adventista é pregação “política” no mais alto sentido. Isso não significa escapismo. É a perspectiva do grande conflito e da justiça social, mas sem os efeitos colaterais de se abordar um tema polêmico e com grande potencial para causar malestar. Indo ao âmago do conflito cósmico, a mensagem de Cristo, Paulo e João transcende o nível político. Trata-se de resistência pacífica ao império do mal, usando as armas de Deus. 10. Internalize as verdades que você prega e comunique graça. Mer gulhe na graça e pregue com graça sobre o Deus da graça. O pregador deve ter uma atitude de confronto com o erro, mas de abertura para com o pecador. O público de Jesus se maravilhou pelas “palavras de graça que Lhe saíam dos lábios” (Lc 4:22). A admiração não tinha que ver com o poder de oratória, mas com a fonte e a essência da mensagem. Ele era “cheio de graça” (Jo 1:14). “O tema predileto de Cristo era o amor paterno e a abundante graça de Deus”, afirma Ellen G. White (Parábolas de Jesus, p. 40).

Portanto, alimente sua própria espirituali dade na graça divina. Tenha uma vida intensa de oração e viva de maneira coerente. Não existe pregação poderosa sem vida de oração poderosa. O conhecimento e a espiritualidade resultam em autoridade, que é mais importante do que a eloquência. Afinal, o sermão não deixa de ser um testemunho sobre a caminhada que o pregador tem feito com Deus.

SUCESSO NO FRACASSO

Para os pregadores que tentam fazer tudo certo e, contudo, não percebem resultados espetaculares, há um consolo. Na parábola do semeador (Mt 13:1-9, 18-23), a semente cai em lugares hostis e o trabalho parece inútil. Há fatores que impedem a frutificação. O principal deles é a ação do diabo. Mas o problema não está na semente. Ela é boa. Afinal, Jesus é a Semente. Além disso, apesar dos obstáculos, uma parte produz muito: a produção pode ser 30, 60 ou até 100 por 1 (Mt 13:23). Plantar 1 e colher 100 é espetacular. O total representa 10.000%. Portanto, o “fracasso” pode não ser fracasso, mas êxito invisível.

Hyveth Williams conta, em Nothing But the Best (p. xii), que seu mergulho no excitante e desafiador “oceano da homilética” começou no verão de 1981, quando foi convidada para falar em uma série evangelística de uma pequena igreja. Havia cerca de 60 pessoas no auditório, incluindo alguns interessados. “Em retrospecto, da perspectiva de uma acadêmica e professora de homilética, meu sermão foi o pior que eu já tinha ouvido ou pregado”, ela relembra. “Mas 26 pessoas responderam ao meu apelo para que entregassem a vida ao Senhor, e várias pediram estudos a fim de se prepararem para o batismo.” Hyveth ainda guarda aquele sermão escrito à mão em ambos os lados de 17 páginas de papel amarelo como lembrança de que “a pregação não tem que ver somente com talento e habilidades, mas com a maneira pela qual Deus usa instrumentos inadequados para uma obra sobrenatural”.

Se você fizer o melhor em sua pregação, o restante é com Deus. Fracasso ou sucesso é um detalhe que ultrapassa nossa esfera de poder. Até porque toda semente tem um potencial invisível de vida implantado por Deus e somente a eternidade revelará os resultados de um sermão. A exposição do evangelho pode parecer “loucura para os que perecem”, mas para nós “é o poder de Deus” (1Co 1:18). Afinal, a pregação da Palavra revelada é a própria Palavra de Deus. ]

MARCOS DE BENEDICTO, pastor e jornalista, é doutor em Ministério pela Universidade Andrews (EUA)

O ambiente da igreja

“E u os tenho chamado amigos”, disse Jesus a Seus discípulos (Jo 15:15). Esse é um grande elogio. E o mesmo pode ser dito de nós quando nos unimos ao corpo de Cristo, a igreja. Não somos mais servos, somos amigos.

O ministério de Jesus exemplificou o que significa ser Seu amigo. Ele disse a Zaqueu: “Quero ficar em sua casa” (Lc 19:5). Ele pediu à mulher no poço de Jacó: “Dê-me um pouco de água” (Jo 4:7). Ele prometeu ao ladrão na cruz: “Você estará comigo no paraíso” (Lc 23:43).

Tendo em vista que somos amigos de Jesus, é nossa responsabilidade convidar outros para participar dessa amizade. Os amigos se importam uns com os outros, cuidam uns dos outros e acreditam no melhor que há no outro.

Nenhuma instituição humana oferece o companheirismo encontrado na igreja. Ao vivermos para Cristo, nossa amizade com Ele será refletida na qualidade dos nossos relacionamentos com os outros. Os próximos três artigos irão nos lembrar do grande privilégio e responsabilidade que é ser igreja.

Pássaros da neve

Assim como as aves que migram do norte para o sul em busca de calor, as pessoas buscam uma congregação acolhedora

A. Allan Martin

Passei a maior parte da minha infância na Flórida, estado norte-americano conhecido por ser ensolarado. Quando criança, ficava impressionado que, no auge do inverno, em janeiro, os visitantes andavam de bermuda e chinelo e até curtiam a praia, enquanto os moradores da Flórida estavam encapuzados e incomodados com os 10 °C. Alguns chamavam esses visitantes de “pássaros da neve”, pois, assim como algumas aves, eles “migravam” do frio intenso do norte para o sol e calor do sul do país.

A ideia de fugir do frio me faz pensar na espiritualidade das igrejas de hoje. As pesquisas têm documentado que a frieza dos relacionamentos é um dos principais fatores para a apostasia tanto de jovens como de pessoas de outras idades. Parece que todo mundo que tem sangue correndo nas veias prefere fugir do frio em direção ao calor.

No livro Growing Young (Baker, 2016), Kara Powell, Brad Griffin e Jake Mulder pesquisaram mais de 250 congregações que estavam atraindo jovens. Depois de terem entrevistado mais de 1,3 mil pes soas entre 15 e 29 anos, constataram que as novas gerações querem autenticidade e vínculo. Os autores ainda analisaram os termos utilizados pelos jovens adultos

para descrever as comunidades para as quais foram atraídos. Palavras como acolhimento, aceitação, pertencimento, autenticidade, hospitalidade e carinho foram recorrentes.

Numa entrevista que realizei com o professor Roger Dudley, meu amigo e mentor na Universidade Andrews (EUA), para a revista Ministry de janeiro de 2009, ele afirmou que havia vários fatores para a conservação dos jovens na igreja. Porém, entedia que o principal aspecto é o clima da congregação local. Na opinião dele, antes de pensar no adventismo como uma denominação global, os jovens experimentam a fé numa comunidade.

Concordo com ele. Quando penso no que fez que eu permanecesse apaixonado pela Igreja Adventista, não me ocorre primeiramente uma doutrina, prática cultural ou prédio, e sim alguém que personificou aconhego, que foi Jesus para mim. Ao lembrar de minha adolescência e juventude, posso enumerar várias pessoas que confiaram em mim. Gente que tornou difícil imaginar outro lugar para estar que não fosse a Igreja Adventista.

Como adulto, tenho vivido invernos intensos, como todo mundo, e por isso me identifico com os “pássaros da neve”. Procuro migrar para espaços espirituais em que as pessoas são gentis e a temperatura dos relacionamentos é convidativa. Da próxima vez que um “pássaro da neve” voar para sua congregação, que ele encontre na sua comunidade e em você o calor que procura. ]

A. ALLAN MARTIN, PhD, é pastor de jovens da Igreja de Arlington, no Texas (EUA)

AQUECENDO SUA CONGREGAÇÃO

Abaixo seguem algumas dicas para tornar sua igreja mais calorosa e acolhedora:

1. Apresente-se. Aproxime-se de algum desconhecido e seja intencional. Evite a frase: “Oi, você é novo aqui?” Prefira: “Oi, acho que

não conheço você. Meu nome é fulano.” Isso permitirá que você conheça novas pessoas na igreja, no trabalho ou na escola, sem o constrangimento de ouvir como resposta que o desconhecido já frequentava aquele local, mas não havia sido notado.

2. Partilhe refeições. Costumávamos convidar os visitantes para o almoço depois dos cultos do sábado, mas essa prática tem sido perdida com o tempo. O fato é que as refeições ainda são uma ótima forma de conhecer as pessoas.

3. Sirva lado a lado. O serviço comunitário, as causas humanitárias e a justiça social oferecem a todas as gerações a oportunidade de trabalhar juntas. Essas oportunidades também ajudam a iniciar e fortalecer amizades.

Para ler sobre mais dicas e orientações, acesse growingyoungadventists.com.

Plante, cultive e conserve

A nobre arte de cativar e incentivar membros novos e antigos

Marcos Torres

As igrejas adventistas locais têm uma bela mensagem centrada na Bíblia para apresentar. E, para fazer isso, costumam realizar ações na sua comunidade e séries de colheita a fim de incentivar decisões. Depois que os bastismos são celebrados, relatórios são enviados para a Associação local, o que gera alegria e comemoração.

Porém, essa não é a história completa. Em algumas partes do mundo, a taxa de apostasia nos primeiros anos pós-batismo passa dos 50%. A pergunta óbvia, em face das estatísticas alarmantes, é: O que podemos fazer para inverter essa tendência? Creio que o primeiro passo é orar, senão nossas ações serão ineficazes. Contudo, existem algumas atitudes que podem ser adotadas. 1. Seja proativo, não reativo. É difícil conter o êxodo de novos membros quando ele está ocorrendo, mas é possível aprender com as perdas para tentar evitar outras. Por isso, sente-se com a liderança da sua igreja e defina uma estratégia de conservação. Sugiro três métodos simples: (1) desenvolva amizade com o novo membro, de modo que ele desenvolva um núcleo de pelo menos três amigos da igreja; (2) ofereça um “próximo passo” para os recém-batizados,

algum estudo e acompanhamento posterior ao batismo, de modo que eles não sejam esquecidos; (3) o pastor e os anciãos precisam se responsabilizar pelo cuidado específico de novos membros. 2. Ouça e compreenda. Encontre-se com aqueles que parecem estar se afastando e não faça nada além de ouvi-los. Não pregue um sermão, não repreenda nem ameace com frases tipo “estamos vivendo no tempo do fim” ou “você vai se perder se continuar assim”. Se tiver que falar, faça isso para esclarecer algo, perguntar e incentivar. 3. Supra as necessidades deles. As pessoas abandonam a igreja por várias razões. Na maioria das vezes é por uma crise com a qual não conseguem lidar, porque se sentem envergonhadas ou devastadas. Às vezes, saem porque foram feridas ou não se sentiram envolvidas. E há aqueles que abandonam a igreja por questões doutrinárias. Seja como for, não defenda a igreja nem seus ensinos, mas procure curar essas pessoas. 4. Mantenha a conexão. Pode parecer que essas atitudes sejam muito passivas, diante do risco da perda da vida eterna. Porém, não se pode reverter anos de negligência espiritual sendo rude com as pessoas. Se falhamos como igreja no discipulado, não deveríamos nos espantar com o alto índice de apostasia. É verdade que, em alguns casos, será necessário mais firmeza, quando o nível de proximidade permite isso. No entanto, se tudo falhar, mantenha a amizade. Ainda que essa pessoa nunca mais volte para igreja, ela precisa saber que ali existem pessoas que se importam com ela. 5. Transforme o ambiente. É preciso encontrar o melhor ambiente para cada planta, a fim de que ela cresça. Por isso, se levarmos a sério o cuidado dos recém-conversos, criaremos um ambiente favorável ao desenvolvimento da fé. ]

MARCOS TORRES é pastor das Igrejas de Victoria Park e Joondalup, no oeste da Austrália

Qual é seu propósito?

Unir-se à igreja é apenas o começo

Jeffrey O. Brown

Amanchete do site da BBC, no inicio de fevereiro, chamou minha atenção. Afinal, ela dizia que um comerciante indiano de Mumbai, de 27 anos, estava processando os pais por terem trazido ele ao mundo, sem seu consentimento. Ele argumentava que a vida é sem sentido e que muitas crianças vêm ao mundo para sofrer.

O nascimento sem relacionamento é trágico, assim como o batismo sem discipulado. Para que isso não ocorra com você, permitame compartilhar algumas ideias de como desenvolver a própria fé após o batismo e como ajudar outros a fazer o mesmo. 1. Vida devocional. Procure passar uma hora com Jesus, todos os dias. Invista meia hora pela manhã, cinco minutos aqui e acolá ao longo do dia e o restante antes de dormir. Leia e ouça a Bíblia, os escritos de Ellen White ou a Lição da Escola do Sabatina. Mantenha um diário e um parceiro de oração. 2. Implemente um ministério. Participe de um ministério em funcionamento ou crie um novo. A Missão Metrô em Sandton, Joanesburgo, na África do Sul, tem a proposta de exercitar o discipulado ao longo dos sete dias e não somente no sétimo. Seus grupos de ação incluem atendimento aos homens e jovens, empoderamento das mulhres, estudo da Bíblia, oração, futebol e prática de hábitos saudáveis. Esses grupos pró-vida

proporcionam um lugar seguro para que os membros se conectem com a comunidade. 3. Mídia digital. Rachel Aitken, fundadora do ministério Discipulado Digital, na Austrália, acredita que é possível servir também por meio da web, oferecendo fóruns de apoio para pais e filhos, orientação sobre saúde, pedidos de oração e transmissão de aulas de culinária. O importante é estar atento às necessidades das pessoas. 4. Evangelismo na comunidade. Todo segundo sábado do mês, nossa igreja tem um culto mais curto e sai para a rua a fim de visitar asilos, doentes e servir refeições para desabrigados. 5. Integração à comunidade. Quando você foi batizado, não só se uniu a Cristo, mas também à família Dele. Nem sempre é fácil se aproximar de pessoas desconhecidas, mas é preciso intencionalidade. Por isso, que tal organizar um encontro em que as famílias possam falar sobre seus desafios e receber orientação? 6. Missões de curta duração. Participe de projetos mis sionários no seu país ou no exterior. Na universidade, participei num programa desses para estudantes por um ano em Gana, na África. Não existe nada igual!

7. Seja um mentor. Construa um legado ao levar alguém a segui-lo, incendiando essa pessoa para o discipulado. Percebi isso quando me aproximei do meu jovem tradutor numa visita que fiz à Tanzânia. Tenho turoriado ele a distância. 8. Oportunidades diárias. Ore por aqueles que você quer alcançar e por oportunidades de realizar diariamente atos de bondade.

Certa vez, encontraram um garotinho chorando porque tinha perdido o bilhete enviado por sua mãe para sua professora, explicando por que aquele menino não tinha certidão de nascimento. O garoto gritava: “Perdi minha justificativa para ter nascido.” Quando vivemos na prática o que significa ser discípulo, encontramos nosso propósito. Qual é o seu? ]

JEFFREY O. BROWN é secretário associado da Associação Ministerial da sede mundial adventista e editor associado da revista Ministry

CAMINHOS PARA O DISCIPULADO

Tara VinCross é pastora da Igreja de Azure Hills, no sul da Califórnia (EUA). Ela tem um doutorado em Ministério com ênfase em espiritualidade bíblica e discipulado pela Universidade Andrews. “Gosto de inspirar as pessoas a viver sua vocação e a usar seus dons para trazer outros para a vida mais abundante da qual Jesus falou”, diz Tara. Nesta breve entrevista, ela discute como orientar membros de todas as idades no caminho do discipulado.

Quais princípios são essenciais no processo do discipulado?

Procuro cultivar três elementos: saber, ser e fazer. Em resumo, as pessoas deveriam conhecer a Deus para praticar sua fé e servir ao propósito divino. Para tanto, é preciso contemplar os vários estilos de aprendizagem das pessoas.

Como é o processo que você utiliza?

Tem o formato de uma aula muito interativa, com en- contros semanais ao longo de três meses, com um grupo fechado e limitado de 12 a 16 pessoas. No início e fim

desse ciclo, realizamos um retiro de um dia inteiro. Não temos enfrentado muita resistência, pois os participantes acabam desenvolvendo um forte relacionamento. Dividi- mos o grupo em unidades menores de quatro pessoas, as quais passam mais tempo entre si, oram juntas e prestam contas mutuamente. Esses grupos funcionam bem também quando envolvemos os membros antigos, pois muitos são como o irmão mais velho da parábola do filho pródigo (Lc 15): nunca saíram da casa do Pai, mas

não conhecem o amor Dele.

Como se aplica isso numa igreja com 2,3 mil membros como a sua?

A Escola Sabatina é uma das melhores ferramentas para o discipulado. Tendo em vista que as pessoas já estão reunidas em pequenos grupos, nosso objetivo é aproveitar esse tempo para que sejam discipuladas, conhecidas e se conheçam.

Que conselho daria para aqueles que querem avançar no discipulado?

Primeiramente digo para os líderes que tudo na vida conspira contra o que é realmente importante. Mas vale a pena ser e fazer discípulos. E a segunda questão é que fomos concebidos para crescer em nossos relacionamen- tos, e isso ocorre de maneira mais significativa quando

o fazemos em grupos de oração, estudo e aplicação da Palavra.

A EXPANSÃO INVISÍVEL DO REINO

BILL KNOTT

Passei minha vida ouvindo sermões e pregando, mas até agora nunca ouvi uma mensagem, nem entre os meus ser- mões, sobre a parábola de Jesus a res- peito da semente que cresce secretamente (Mc 4:26-30). Creio que essa história tem sido subestimada pelos adventistas. Nenhum de nós ousaria dizer que ela não é importante; porém, ela não se encaixa tão bem em vários contextos como as parábo- las do Filho Pródigo, da Ovelha Perdida ou do Trigo e o Joio.

Talvez nossa negligência ou descon- forto em relação a essa história esteja no fato de que Cristo destacou alguns limites surpreendentes do papel dos discípulos no crescimento do reino. Estamos acos- tumados a discursos e ilustrações que enfatizam nossa responsabilidade. Por mais de 150 anos, verbos no imperativo têm impulsionado nossa denominação a um notável desenvolvimento ao redor do mundo. Aliás, para isso tomamos como base a comissão dada pelo próprio Jesus (Mt 28:18-20).

No entanto, para que não aceitemos crédito indevido pelo reino do qual Ele é tanto o Governante quanto o verdadeiro Construtor, Jesus contou essa parábola sobre esperar, maravilhar-se e observar o que Deus faz quando realizamos fiel- mente a menor parte. Podemos semear a semente na terra, mas não podemos fazê-la germinar. Podemos cultivar o solo e dar a água necessária à jovem planta, mas somos impotentes para fazê-la brotar, frutificar e amadurecer. A questão é que no reino de Deus há um mistério centralizado na obra invisível que o Espírito Santo rea- liza em milhões de corações e mentes.

Assim como o apóstolo Paulo e Ellen White assinalaram, somos “colaborado- res de Deus”. Devemos reconhecer que é a graça divina que produz convicção, conversão, transformação e maturação. Quando movidos por essa graça, somos impelidos a amar os perdidos, lançando sementes e orando por eles. E, quando o milagre da nova vida em Cristo brota em alguém a quem influenciamos, damos a Deus toda a glória. ]

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