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ESTANTE

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EVENTOS

VISITA À CPB

No dia 13 de junho, a Heidelberg, líder mundial em equipamentos gráficos, reuniu um grupo de clientes de várias partes do Brasil, numa visita à CPB, em Tatuí (SP), para ver o funcionamento das máquinas in loco. “O nível tecnológico da CPB é muito alto e pude vislumbrar ali o futuro”, disse Rodrigo Bogamil Quirino, diretor da Gráfica Progresso, em Cam po Grande (MS). Matheus Ribeiro, gerente de projetos da Gráfica Santa Marta, de João Pessoa (PB), também elogiou a editora: “Fiquei encanta do com a moderna estrutura, organização e limpeza do parque gráfico da CPB e agradeço a gentileza com que fomos recebidos.”

DATA

22 DE AGOSTO será lembrado a partir deste ano como o Dia Internacional em Memória das Vítimas de Atos de Violência Baseados em Religião ou Crença. A data foi estabelecida neste ano pela ONU em resposta ao aumento do extremismo religioso e intolerância ao redor do mundo.

A MENSAGEM EM SINAIS

De 19 a 22 de junho foi realizado o 5 o Evangelibras, um programa de evangelismo on-line na Língua Bra sileira de Sinais. O tema deste ano foi o mesmo utilizado pela igreja na Semana Santa: Renascidos. Atualmente, a denominação disponibiliza seus principais materiais em Libras e o número de grupos cadastrados no site surdosadventistas.org.br já é de 164 em todo o Brasil.

HÁ 170 ANOS

Foi em julho de 1849, verão no hemisfério norte, que foram impressos os mil exemplares da primeira edição de The Present Truth (A Ver dade Presente), com oito páginas. O primeiro periódico adventista, e o mais longevo deles, mais do que a própria denominação (orga nizada em 1863), já teve vários nomes. Desde 1978, a revista oficial da igreja nos Estados Unidos é inti tulada Adventist Review (adventistreview.org).

OLHAR DIGITAL

PORTAL DO AUTOR

Para quem pensa em publicar um livro pela CPB, os manuscritos agora devem ser enviados através do site autor.cpb.com.br. Para submeter os originais, basta efetuar o cadastro na página. Por meio do site é possível acompanhar o andamento do pro cesso de análise do material.

DOCUMENTÁRIO SOBRE PATERNIDADE

Lançado em fevereiro num evento mundial sobre evangelização digital, o documentário Fathers (Pais) estará disponível em português, no Dia dos Pais, na plataforma feliz7play.com. Com 45 minutos, a produção conta como homens de seis culturas distin tas procuram educar seus filhos nos princípios cristãos.

GENTE

BODAS DE OURO (50 ANOS)

De Amaury e Cláudia da Silva, em cerimônia realizada na Igreja Cen tral de Bauru (SP), pelo pastor Edemilson Cardoso, na presença dos filhos e netos. Amaury foi col portor por 27 anos e ancião da igreja local por muito tempo.

BODAS DE AMETISTA (55 ANOS)

De Hélio Lehr e Denise Ferraz de Araújo Lehr, celebrada em maio, numa cerimônia familiar. O casal pastoral tem dois filhos, duas ne tas e uma bisneta. Todos os descendentes deles trabalham para a Igreja Adventista.

BODAS DE DIAMANTE (60 ANOS)

De Itamar e Ruth de Paiva, em ju lho. Ao longo de 52 anos de ministério, o casal tem trabalhado no território de cinco Divisões da Igre ja Adventista e em quatro continentes. Itamar serviu como pastor distrital, líder de departamentos, presidente de sedes administrati vas, além de ter sido professor e diretor de seminário teológico. Por sua vez, Ruth é educadora e lecionou em vários níveis de ensino, inclusive em programas de doutorado. Ela serve também como conselheira matrimonial.

TV CHEGA MAIS LONGE

Em parceria firmada com a Secretaria de Justiça de Rondônia, em julho, o sinal da rádio e TV Novo Tempo poderá ser sintonizado nos presídios do es tado. A ideia é que o conteúdo oferecido pela emissora adventista ajude na ressocialização dos detentos. Do outro lado do Oceano Atlântico, no dia 29 de junho, foi inaugurada a sede da TV Novo Tempo em Portugal. Inicialmente com dez funcionários, a emissora vai retransmitir parte da programação brasileira e investir na produção de conteúdo local.

MAIS UMA CONDECORAÇÃO

Barry C. Black, o 62 o capelão do Senado dos Estados Unidos, recebeu a Medalha de Canterbury, entregue aos mais destacados defensores da liberdade religiosa de todo o mundo. O pastor adventista foi homenageado na cerimônia anual da organiza ção Becket Fund, realizada em Nova York, em 23 de maio. Na função desde 2003, ele é conhecido por sua habilidade em assistir espiritualmente os legis ladores, seus familiares e assessores, num contexto de pluralismo religioso.

90 ANOS

O 90 o aniversário do pastor Wilson Sarli foi celebrado por sua família, amigos e líderes adventistas no dia 14 de julho, em Hortolândia (SP). Sarli foi distrital, evangelista, líder de jovens, presidente de Associações e diretor-geral da CPB em dois períodos (1977-1984 e 1995-2000). Aposentado desde 2003, autor de seis livros, foi também pioneiro na criação do Clube de Desbravadores no Brasil. Fotos histó ricas sobre a trajetória dele, músicas para matar a saudade e a leitura de um texto escrito pelo próprio homenageado fizeram parte da programação.

INTERNACIONAL

VOLUNTÁRIOS COMPROMETIDOS

A cada ano, cerca de 3,5 mil pessoas são batizadas nas Ilhas do Pacífico Sul por influência do trabalho do Volunteers in Action (VIA). O ministério de apoio já existe há 20 anos.

431 séries de pregação

levaram, ao longo de quatro meses, mais de duas mil pessoas ao batismo em Madagascar, na África. O projeto missionário e social contou com a ajuda do empresário ucraniano Vasyl Stoyka.

100 mil

folhetos religiosos foram entregues por 40 jovens em apenas um dia em Tóquio, no Japão. Desde 2011, dezenas de es tudantes participam desse evangelismo por meio da literatura, que tem resultado em estudos bíblicos.

A Nova Zelândia é um país muito secular, mas cremos que algumas pequenas coisas nas quais trabalhamos podem fazer a diferença. A corrupção é indiscutivelmente o maior obstáculo ao desenvolvimento econômico.

Jonathan Duffy, presidente da Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (ADRA), ao falar em maio sobre os quatro “Cs” que geram a atual onda de migração, numa conferência interdenominacional em Genebra, na Suíça. Os outros três fatores apontados por ele são concentração de renda, conflitos e

clima (mudança).

246 mil dólares foi o valor arrecadado pela federação de empreendedores adventistas da Europa, em abril, na França. A oferta ajudará 17 projetos missionários em todo o continente.

EVANGELISMO NA MONGÓLIA

Mil jovens (90% simpatizantes da igreja) participaram de um evento evangelístico histórico em Ulan Bator, na Mongólia. Sessenta deles foram batizados no início de maio.

Jeremy Dixon, proprietário do Revive Café (revive.co.nz), restaurante vegetariano localizado em Auckland. Ele distribui exemplares da revista Sinais dos Tempos, ensina receitas culinárias na igreja local e vende o snack saudável mais conhecido no país: o Frooze Balls.

EDITAIS

Convocação da 3 a Assembleia Geral Ordinária da União Noroeste Brasileira da Igreja Adventista do Sétimo Dia

Fica convocada a 3 a Assembleia Geral Ordinária da União Noroeste Brasileira da Igreja Adventista do Sétimo Dia, inscrita no CNPJ n o 11.200.726/0001- 94, para ser realizada nos dias 28 e 29 de outubro de 2019, tendo início às 19h do dia 28, no hotel Intercity Manaus, situado na rua Professor Marciano Armound, n o 544, bairro Adrianópolis, em Manaus (AM), para tratar dos seguintes assuntos de sua competência: (1) receber as novas Associações e Missões organizadas durante o quinquênio anterior; (2) apreciar e aprovar os relatórios do presidente, do secretário executivo, do tesoureiro/CFO, dos secretários dos departamentos e serviços e dos administradores das Missões e instituições da União; (3) eleger, para um mandato de cinco anos, os secretários dos departamentos e serviços, os membros da Comissão Diretiva da União; (4) eleger os administradores das Missões para um mandato de dois anos e seis meses; (5) elaborar planos para o melhor desenvolvimento da Obra, em harmonia com os regulamentos e as deliberações da Divisão; e (6) deliberar e aprovar outros assuntos propostos pela Comissão Diretiva.

Manaus (AM), 19 de junho de 2019 Gilmar Zahn, presidente Waldony Fiuza, secretário executivo

Convocação da 2 a Assembleia Ordinária da Missão Piauiense da Igreja Adventista do Sétimo Dia

Fica convocada a 2 a Assembleia Ordinária da Missão Piauiense da Igreja Adventista do Sétimo Dia, inscrita no CNPJ n o 01.104.932/0063-40, para ser realizada nos dias 23 e 24 de outubro de 2019, tendo início às 19h do dia 23, no Centro de Treinamento Padre Tony Batista, localizado na avenida Presidente Kennedy, n o 7.384, no bairro Socopo, em Teresina (PI), para tratar dos seguintes assuntos de sua competência: (1) receber as novas igrejas organizadas durante o quadriênio anterior; (2) apreciar e aprovar os relatórios do presidente, do secretário executivo, do tesoureiro/CFO e dos secretários dos departamentos e serviços; (3) eleger, para um mandato de quatro anos, os secretários dos departamentos e serviços e os membros da Comissão Diretiva da Missão; (4) aprovar planos para a automanutenção da Missão, os quais devem ser específicos e detalhados para alcançar o status de Associação; e (5) deliberar e aprovar outros assuntos propostos pela Comissão Diretiva.

Teresina (PI), 8 de julho de 2019 Onildo Lopes de Oliveira, presidente Emerson Nunes de Freitas, secretário executivo

Convocação da 2 a Assembleia Ordinária da Associação Cearense da Igreja Adventista do Sétimo Dia

Fica convocada a 2 a Assembleia Ordinária da Associação Cearense da Igreja Adventista do Sétimo Dia, inscrita no CNPJ n o 01.104.932/0014-61, para ser realizada nos dias 21 e 22 de outubro de 2019, tendo início às 19h do dia 21, no hotel Recanto Wirapuru, localizado na avenida Alberto Craveiro, n o 2222, no bairro Dias Macedo, em Fortaleza (CE), para tratar dos seguintes assuntos de sua competência: (1) receber as novas igrejas organizadas anteriormente à sua realização; (2) apreciar e aprovar os relatórios do presidente, do secretário executivo, do tesoureiro/CFO e dos secretários dos departamentos e serviços; (3) eleger, para um mandato de quatro anos, os administradores da Associação, os secretários dos departamentos e serviços e os membros da Comissão Diretiva da Associação; (4) aprovar alterações ou modificações no Ato Constitutivo e no Regulamento Interno, observadas as diretrizes fixadas no modelo votado pela Divisão; (5) elaborar planos para o melhor desenvolvimento da Obra, em harmonia com os regulamentos e as deliberações da União e da Divisão; e (6) deliberar e aprovar outros assuntos propostos pela Comissão Diretiva. Fortaleza (CE), 2 de julho de 2019 Nelson José da Silva Filho, presidente Otavio Barreto, secretário executivo

Convocação 5 a Assembleia Ordinária da Associação Pernambucana da Igreja Adventista do Sétimo Dia

Fica convocada a 5 a Assembleia Ordinária da Associação Pernambucana da Igreja Adventista do Sétimo Dia, inscrita no CNPJ n o 01.104.932.0009- 02, para ser realizada nos dias 28 e 29 de outubro de 2019, tendo início às 18h do dia 28, no Mar Hotel Conventions, localizado na rua Barão de Souza Leão, n o 451, bairro Boa Viagem, em Recife (PE), para tratar dos seguintes assuntos de sua competência: (1) receber as novas igrejas organizadas anteriormente à sua realização; (2) apreciar e aprovar os relatórios do presidente, do secretário executivo, do tesoureiro/CFO, dos secretários dos departamentos e serviços e direção dos Colégios Adventistas do Recife e do Arruda; (3) eleger, para um mandato de quatro anos, os administradores da Associação, os secretários dos departamentos e serviços e os membros da Comissão Diretiva da Associação; (4) aprovar alterações ou modificações no Ato Constitutivo e no Regulamento Interno, observadas as diretrizes fixadas no modelo sancionado pela Divisão; (5) elaborar planos para o melhor desenvolvimento da Obra, em harmonia com os regulamentos e as deliberações da União e da Divisão; e (6) deliberar e aprovar outros assuntos propostos pela Comissão Diretiva. Recife (PE), 27 de junho de 2019 Otimar dos Santos Gonçalves, presidente Paulo Fernando Gomes Correia, secretário executivo

Convocação da 6 a Assembleia Ordinária da Associação Bahia Sul da Igreja Adventista do Sétimo Dia

Fica convocada a 6 a Assembleia Ordinária da Associação Bahia Sul da Igreja Adventista do Sétimo Dia, inscrita no CNPJ n o 17.261.509/0004-33, para ser realizada nos dias 20 e 21 de outubro de 2019, tendo início às 8h30 do dia 20, na Igreja Adventista Central de Itabuna, localizada na avenida Duque de Caxias, n o 677, no centro, em Itabuna (BA), para tratar dos seguintes assuntos de sua competência: (1) receber as novas igrejas organizadas anteriormente à sua realização; (2) apreciar e aprovar os relatórios do presidente, do secretário executivo, do tesoureiro/CFO, dos secretários dos departamentos e serviços e dos administradores das instituições da Associação; (3) eleger, para um mandato de quatro anos, os administradores da Associação, os secretários dos departamentos e serviços e os membros da Comissão Diretiva da Associação; (4) aprovar alterações ou modificações no Ato Constitutivo e no Regulamento Interno, observadas as diretrizes fixadas no modelo sancionado pela Divisão; (5) elaborar planos para o melhor desenvolvimento da Obra, em harmonia com os regulamentos e as deliberações da União e da Divisão; e (6) deliberar e aprovar outros assuntos propostos pela Comissão Diretiva.

Itabuna (BA), 22 de março de 2018 Murilo de Sousa Andrade, presidente Jucimar Noya Leite, secretário executivo

Colaboradores: Ana Hack, Bárbara Oliveira Luz, Christiane Theiss, Daniel Fukuda, ED Dornelles Comunicação, Gnat Myeryenkov, KimiRoux James, Márcio Basso Gomes, Márcio Tonetti, Maritza Brunt, Mauren Fernandes, Nak Hyung Kim e Wendel Lima

OBrasil, infelizmente, ostenta o título inglório de campeão mundial da ansiedade, quadro mental percebido e estudado há muito tempo, mas que ganhou status de doença específica a partir do século 19. Segundo a OMS, quase 10% da população do nosso país convivem com o mal, que afeta 18,6 milhões de pessoas. Mas o problema não é só nosso. No mundo, os distúrbios de ansiedade atingem 264 milhões de pessoas, segundo relatório de 2017 da OMS, que apresenta dados bastante conservadores. As mulheres e os caucasianos são as maiores vítimas. Se já houve uma época em que a vida transcorria em tranquilidade, esse tempo ficou no passado. Hoje vivemos na era da ansiedade – uma nova ansiedade mais difícil de resolver e que também atinge os cristãos.

Agonia, coração acelerado, inquietação, irritabilidade, perda de concentração, insônia, tensão muscular e taquicardia, entre outras coisas, fazem parte dos sintomas das pessoas ansiosas. Quando acontece um ataque de pânico, que é uma crise de ansiedade intensificada, ocorrem, por exemplo, falta de ar, calafrios ou ondas de calor, dor ou desconforto torácico, instabilidade, suor frio, vertigem ou desmaio, náusea, tremores, tontura, sensação de irrealidade, despersonalização (sensação de estar distanciado de si mesmo), pensamentos catastróficos, medo de perder o controle ou enlouquecer e medo de morrer.

Neste mundo cheio de incertezas, ameaças e brutalidade, seria difícil não ter algum tipo de ansiedade. Vivendo em uma sociedade caótica, com aparelhos que bombardeiam nossa mente com más notícias, como não ficar ansioso? Isso é normal. Afinal, quem já não sentiu algum tipo de medo? O problema começa quando a ansiedade, criando um senso (in)tangível de vulnerabilidade, começa a controlar nossa vida em vez de ser controlada por nós.

AS RAÍZES DO PROBLEMA

Ansiedade é um estado psíquico desagradável desencadeado pelo medo imaginário do que pode ocorrer. Temor vago e desconfortável, é um sinal de alarme diante de uma situação percebida como perigosa. Medo, ansiedade e preocupação estão relacionados, mas não são sinônimos. “Medo é a resposta emocional a ameaça iminente real ou percebida, enquanto ansiedade é a antecipação de ameaça futura”, diferencia o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) (Artmed, 2014, p. 189). “Os ataques de pânico se destacam dentro dos transtornos de ansiedade como um tipo particular de resposta ao medo.” Se o medo é associado com uma ameaça clara e imediata, a ansiedade é mais subjetiva e ocorre mesmo sem um perigo real. Já a preocupação é um tipo A PRESCRIÇÃO DE JESUS mais leve de ansiedade. Entre os médicos, o distúrbio da prePARA A ANSIEDADE ocupação excessiva é conhecido ENVOLVE MUDANÇA NA como TAG (transtorno de ansiedade generalizada) e tem duração MANEIRA DE PENSAR A superior a seis meses. A ansiedade é um processo RESPEITO DE DEUS, DA cognitivo, isto é, ocorre dentro REALIDADE E DE NÓS da mente, como explicam Melisa Robichaud e Michel J. Dugas no MESMOS livro The Generalized Anxiety Disorder Workbook (New Harbinger, 2015, p. 5-7). Segundo eles, as preocupações começam tipicamente com perguntas do tipo “e se...” e envolvem especulações sempre negativas em relação ao futuro.

Por exemplo, você planeja levar o carro ao mecânico e fica imaginando situações hipotéticas e sofrendo por antecipação: “Talvez o freio esteja ruim. E se demorar para consertar? Isso vai me atrasar. Pior ainda, e se o motor estiver com problema? Pode ficar caro e não vou ter dinheiro para pagar. Posso tentar parcelar. Mas e se o mecânico não aceitar? Vou ter que ficar sem o carro por um período e isso vai prejudicar meu trabalho...” O mesmo tipo de raciocínio pode criar ansiedade no estudante que fica pensando a respeito do exame, no garoto que imagina como conquistar uma namorada, no desempregado que sai para uma entrevista de trabalho ou no profissional que é chamado à sala do chefe.

Segundo os doutores Robichaud e Dugas, professores de psicologia em universidades do Canadá, o ciclo de preocupação é desencadeado por situações novas, imprevisíveis e ambíguas. Quando enfrentamos coisas que nunca experimentamos, ou não sabemos o que pode acontecer, ou não está claro se ocorrerá algo positivo, negativo ou neutro, a ansiedade nos domina. Portanto, a ansiedade está ligada à incerteza. Quanto maior é o nível de incerteza, mais profundo é o grau de ansiedade.

Há dois caminhos para a ansiedade no cérebro: (1) o córtex, que desperta pensamentos e imagens sobre os possíveis riscos de algo e dispara a ansiedade, e (2) a amígdala, que cria memórias emocionais diante de situações de risco, desencadeia a resposta de ansiedade em menos de um décimo de segundo e cria poderosos efeitos físi cos no corpo. A amígdala (na verdade, são duas, localizadas no centro do cérebro, mas costumam ser referidas no singular) está envolvida em ambos os processos. Porém, a culpa da nossa ansiedade não é do cérebro, que apenas faz seu trabalho para manter as memórias dos perigos e tentar nos proteger. Assim, não duvide de sua mente, mas nem sempre acredite em seus exageros.

Embora não esteja associada a um gene específico, a ansiedade tem raízes em nosso DNA. O fato de ela predominar em membros da mesma família mostra que é herdada. “Estudos com gêmeos revelam que 20% a 40% dos riscos de ansiedade são atribuíveis à variação genética na população”, afirmam Jordan W. Smoller, Felecia E. Cerrato e Sarah L. Weatherall em seu capítulo no livro Anxiety Disorders (Oxford University Press, 2015, p. 61). Ao mesmo tempo, o distúrbio pode ser intensificado ou reduzido pelas interações com

O SENTIDO DA PALAVRA

A palavra “ansiedade” tem origem no latim anxietas, que está ligada a um estado de “angústia”, substantivo derivado do verbo angere (“apertar”, “estreitar”, “oprimir”). Há uma teoria de que a etimologia de “angústia” remonta ao vocábulo egípcio ankh, passando pelo grego angor. Por isso, o termo é parecido em algumas línguas modernas, como alemão (Angst), albanês (ankth), esloveno (anksioznot), holandês (angst) e sueco (ångest). O prefixo ang indica a opressão e o aperto que esse estado psicológico causa na pessoa. Assim, a angústia/ansiedade representa um estreitamento das perspectivas, uma diminuição dos horizontes, um constrangimento da vida.

No Novo Testamento, a palavra “ansiedade” (merimna), junto com o verbo correspondente “ser ansioso” ou “preocupar-se” (merimnaō), pode ter um sentido negativo e outro positivo. Somadas, as duas palavras ocorrem 25 vezes. Por exemplo, é bom se preocupar (memeristai) com o cônjuge (1Co 7:33-34) e ter “cuidado” (merimnōsin) uns pelos outros (1Co 12:25), interesse (merimnēsei) pelos outros (Fp 2:20) e preocupação (merimna) pela igreja (2Co 11:28). Mas não é bom ter ansiedade nem preocupação excessiva. Portanto, há uma preocupação legítima e uma ansiedade ilegítima.

De acordo com alguns lexicólogos, o substantivo merimna, que também pode ter o sentido de “distração”, é derivado do verbo merizo. Com 14 ocorrências no Novo Testamento, esse verbo significa “dividir”, no sentido de fraturar o ser da pessoa em partes e puxar em diferentes direções. Isso indica que os antigos já tinham a noção de que a ansiedade fragmenta nosso coração, desintegra nosso ser e atomiza nossa confiança.

o ambiente. Vários estudos mostram que perda ou separação dos pais, frieza ou superproteção deles e abuso sexual na infância aumentam o risco de ansiedade na idade adulta.

Não importa a origem, a ansiedade mina a confiança no sistema filosófico adotado e no valor próprio, limitando nosso potencial. Trata-se de um poder paralisante. Num estudo publicado no The International Journal for the Psychology of Religion em 2017 (v. 27, p. 26-34), Joshua A. Wilt e outros revelam que a ansiedade aumenta o conflito com as dúvidas religiosas e diminui a confiança da pessoa em sua capacidade para enfrentar as ameaças. “Assim, o mundo visto pela lente da ansiedade é um lugar inseguro, imprevisível e incontrolável.” Porém, segundo o estudo, os conflitos com a dúvida não levam necessariamente à ansie dade, pois, embora criem uma sensação de desconforto, podem resultar em uma fé mais madura. Seja como for, é difícil crer que a cosmovisão não afete o nível de ansiedade. Afinal, a dúvida sobre a sabedoria, o poder e o amor de Deus cria uma miríade de problemas, o que desestabiliza a fé e aumenta o medo.

COMO ROMPER O CICLO

Há várias terapias para a ansiedade, como a exposição ao ambiente real que causa o medo e até a simulação em ambientes virtuais 3D. Em alguns casos, especialmente quando há crises de pânico, o tratamento pode requerer o uso de tranquilizantes, combinados com antidepressivos, e a pessoa deve procurar ajuda médica especializada. Além de aliviar os sintomas da ansiedade, os antidepressivos “regulam” a ação dos neurotransmissores ligados ao humor, como a serotonina. Exercício e sono também são fundamentais.

Entretanto, esse não é o foco aqui. Estamos falando de ansiedade adquirida que se torna um hábito e precisa ser desaprendida. E o melhor ponto de partida para desconstruir o mecanismo da ansiedade é o ensino do próprio Cristo. Em Mateus 6, Jesus fez sete proposições fundamentais para mudar nossa maneira de pensar e ajudar a quebrar esse ciclo doentio. Se na primeira parte de Mateus 6 Cristo diz que não devemos seguir a hipocrisia dos hiper-religiosos, na segunda metade Ele insiste que não adotemos o materialismo dos secularizados. O Mestre vai à raiz do pensamento e do sentimento. Mudando a maneira de encarar Deus e a vida, mudamos as ideias dentro de nossa cabeça e os sentimentos dentro do nosso peito. Vamos aos sete princípios: 1. Princípio da valorização. A vida é mais importante do que o alimento e o corpo vale mais do que a roupa (v. 25). A premissa é do maior para o menor: se Deus nos deu o que é mais importante, vai dar também o que é menos importante. O alimento e a roupa não são fins em si mesmos; o corpo e a vida são. 2. Princípio da providência. Deus está no controle da natureza. Se Ele cuida dos passarinhos, então cuidará ainda mais de nós, pois valemos mais que eles (v. 26). O objetivo dessa comparação não é minimizar o valor das aves, mas maximizar o valor do ser humano, destacando a provisão divina. Não se preocupe só em obter, pois Deus Se ocupa em dar. 3. Princípio da eficácia. O futuro não está em nossas mãos e, portanto, a ansiedade é inútil. Ela não traz nenhum benefício, pois não muda as circunstâncias (v. 27). A ansiedade não ajuda a acrescentar um simples centímetro à altura nem uma hora à vida. 4. Princípio da durabilidade. Se as flores, que desaparecem rápido, recebem de Deus sua beleza, quanto mais nós, que somos destinados à eternidade (v. 28-30). A ansiedade é uma espécie de horizonte limitado; por isso, é preciso ver a vida por uma perspectiva mais ampla. 5. Princípio da espiritualidade. A ansiedade é uma marca do “mundo”, que se preocupa muito com as coisas terrenas (v. 31). Já o crente confia que nosso Pai celestial conhece tudo a nosso respeito e sabe o que precisamos (v. 32). As pessoas mundanas e as religiosas têm valores e preocupações diferentes: enquanto as primeiras colocam o foco no que passa, as outras pensam no que é eterno. 6. Princípio da prioridade. Quando damos o primeiro lugar ao reino e à justiça de Deus, o Criador provê o que precisamos (v. 33). O reino de Deus, anunciado no passado na qualidade de promessa, existe no presente na forma de graça e se manifestará no futuro no esplendor

da glória. Ele começa no coração e culmina no espaço de todo o globo. Se vivemos na esfera em que Deus domina, não precisamos buscar o con trole de tudo nem andar ansiosos pelas coisas. 7. Princípio da “presentificação”. Viva no agora e um momento de cada vez. “Viver no agora é aprender a lidar com o vazio de incertezas do futuro”, define o doutor Belisário Marques em sua coluna na Vida e Saúde de agosto (p. 43). Cada dia tem sua própria carga, e não vale a pena sobrecarregar o presente com coisas que pertencem ao futuro (Mt 6:34). Por isso, é fundamental subdividir as tarefas e compartimentalizar os desafios. Coloque o foco no hoje. Você nem sabe se vai estar vivo amanhã. Se o ontem já passou e o futuro ainda não chegou, o único momento que realmente está sob nossa influência é o presente. A ansiedade não resolve o desafio de amanhã, mas cria um problema para hoje.

Portanto, da perspectiva de Jesus, a ansiedade é inútil, prejudi cial e um sinal de incredulidade. No fundo, ela cresce dentro de nós quando a alimentamos com as conspirações do mundo, dúvidas a respeito do nosso valor e desconfiança do poder divino. Quando Deus ocupa todo o coração, não sobra espaço para a ansiedade – o que não significa que eventualmente o cristão não possa ficar ansioso.

MUDANÇA DE PENSAMENTO

Em síntese, a prescrição de Jesus envolve mudança na maneira de pensar a respeito de Deus, da realidade e de nós mesmos. Curiosamente, mesmo sem apelar para os ensinos da Bíblia, muitos psicólogos usam a mesma estratégia. Reconhecendo que o padrão de pensamento “viciado” em preocupação é uma parte importante do ciclo da ansiedade, eles procuram alterar o modo de pensar para eliminar o problema.

O tratamento mais comum é o modelo ABC (A + B = C), em que A representa um evento ou situação (em inglês, an event), B corresponde ao pensamento ou crença (belief) e C é a consequência (consequence), isto é, a emoção ou o comportamento. “Frequentemente, assumimos que as situações (A) determinam como nós sentimos (C). Contudo, de acordo com o modelo ABC, é a maneira de pensar sobre a situação (B) que influencia como sentimos e o que fazemos (C)”, explicam Gavin Andrews e os demais coautores do livro Treatment of Generalized Anxiety Disorder (Oxford University Press, 2016, p. 130). Ao mudar o pensamento, que realmente afeta nosso modo de sentir, mudamos a premissa do comportamento ansioso.

Para tornar o assunto mais claro, os autores mencionam um exemplo. Suponha que você marque um encontro com um amigo às 15h numa lanchonete. O relógio indica 15h20 e seu amigo ainda não chegou. Como você age? Opção 1: raciocina que o amigo possa ter se envolvido num acidente e, ansioso, tenta telefonar para ele. Opção 2: acha que o amigo não chegou porque não se importa com você e, deprimido, você vai para casa. Opção 3: conclui que o amigo provavelmente esteja atrasado por causa do trabalho ou do trânsito e, tranquilo, pede um suco e começa a folhear uma revista.

Assim, a maneira “enviesada” de pensar afeta o grau de ansiedade. É preciso questionar o pensamento, ver se a conclusão tem base factual,

evitar a mentalidade catastrofista, não personalizar os problemas (“é minha culpa”) e descartar a ideia de que o sentimento sempre corresponde à realidade (p. 132-134). Todos esses padrões de pensamento, entre outros, são prejudiciais. Em vez de cultivá-los, desafie-os e desenvolva padrões de pensamento mais realistas, úteis e produtivos.

Em certas circunstâncias, há um risco real e o medo tem um motivo. Nesses casos, o melhor é evitar o perigo. Em muitas situações, porém, a ansiedade é totalmente infundada. Nesses casos, enfrentar o medo é a melhor estratégia. Com o tempo, a pessoa vai ficando “dessensibilizada” e a ansiedade diminui. Estudo com ratos também indica que é eficaz a habilidade de evitar ou controlar o “gatilho” que desencadeia a ameaça e a sensação de ansiedade.

Obviamente, ler um artigo ou livro sobre ansiedade não cura a pessoa. No entanto, a continuada prática de princípios científicos e espirituais testados pode ajudar a resolver o problema. Assim como a ansiedade não surge num instante, o tratamento também exige tempo.

Numa linda passagem sobre o cuidado divino, Ellen White enfatiza que devemos expor “continuamente” perante Deus nossos temores e tudo que nos causa ansiedade, pois nada que tira nossa paz é insignificante para Ele nem insolúvel e grande demais para Aquele que “sustém os mundos e rege o Universo” (Caminho a Cristo, p. 100). “Ao passo que a preocupação e a ansiedade não remediam um simples mal, podem produzir grande dano”, diz ela (O Lar Adventista, p. 431). Mas não temos que encarar sozinhos a vida, pois Deus está do nosso lado. Ele é a resposta definitiva para a ansiedade. ]

MARCOS DE BENEDICTO, pastor, jornalista e doutor em Ministério, é redator-chefe da Casa Publicadora Brasileira

O DNA DA CORAGEM

PERMANEÇA FIRME NOS PRINCÍPIOS DO REINO DE DEUS E ASSUMA UMA POSTURA CONTRACULTURAL

GERALD KLINGBEIL

Todos sabemos reconhecer um momento importante, quando o tempo e o destino são decididos. Um homem escolhido por Deus para liderar Seu povo para entrar na terra prometida estava diante de uma circunstância dessas, quando o coração acelera proporcionalmente à intensidade do medo. Josué estava inquieto. Depois de atravessarem miraculosamente o rio Jordão e entrarem na esperada Canaã, os israelitas acamparam em Gilgal, três quilômetros a nordeste de Jericó.

Depois de todos os homens daquela nova geração terem sido circuncidados, eles estavam quase prontos para conquistar o território que tinham diante de si. Pelo menos era o que pensavam. Josué deve ter se sentido menos seguro do que eles, pois estava fazendo um reconhecimento da área em torno de Jericó. Ele ainda não havia recebido do Senhor a ordem para marchar. Então, procurou descobrir os pontos fracos da cidade. Porém, não havia nenhum (Js 6:1-5).

De repente, seu pior pesadelo se tornou realidade. Um homem empunhando uma espada se levanta à sua frente, pronto para atacá-lo. Não havia tempo para sacar sua própria espada. Josué, então, decide confrontar o estranho: “Você é por nós ou por nossos inimigos?” (Js 5:13, NVI).

Essa é uma boa pergunta. Quando enfrentamos situações desafiadoras, precisamos saber quem está a nosso favor ou contra nós. É preciso observar criteriosamente, ouvir cuidadosamente e aguardar cautelosamente. “Nem uma coisa nem outra”, respondeu ele. “Venho na qualidade de comandante do exército do Senhor” (v. 14). Josué não precisava ouvir mais nada. Ele cai com o rosto em terra e adora. Ele reconhece que está diante de Deus.

DEUS PRECISA DE PESSOAS QUE DEMONSTREM CORAGEM SANTIFICADA NUMA ÉPOCA EM QUE SE OSCILA ENTRE A CONDUTA POLITICAMENTE CORRETA E OS DISCURSOS DE ÓDIO

POR NÓS OU CONTRA NÓS?

Às vezes, é fácil distinguir quem é a nosso favor ou contra nós. Outras vezes, não. Os problemas e as sitações podem ser complexos, como zonas cinzentas da vida, nas quais é difícil reconhecer claramente a linha divisória entre o certo e o errado. São nessas circuntâncias que devemos nos encontrar com o Comandante e prestar atenção às Suas ordens.

A primeira coisa que Josué teve que fazer naquele dia inesquecível foi tirar suas sandálias. O início da conversa não teve que ver com alguma conversa sobre sofisticadas estratégias militares. Nenhuma orientação específica sobre a batalha iminente. A ordem foi: “Tire as sandálias dos pés, pois o lugar em que você está é santo” (v. 15).

Aqui está algo que podemos aprender. Quando nos encontramos com nosso Criador, Salvador e Comandante, paramos tudo para adorá-Lo. Dessa maneira, é possível descansar Nele e aquietar o coração. É possível atentar para Sua Palavra, revelada nas Escrituras e comunicada por meio do Espírito Santo, a fim de entender os princípios de Sua vontade e discernir quando precisamos manter a coragem.

POR QUE NÓS?

“Por que nós, e por que agora?”, foi a pergunta relevante feita na Jerusalém do 6º século a.C. O mundo estava passando por uma mudança profunda e parecia que a cidade estava a caminho do desastre iminente. Daniel e seus três amigos haviam sido arrancados de sua família, casa e país. E todos aqueles adolescentes estavam a caminho da Babilônia. Eles haviam sido escolhidos para passar por um processo de reeducação e treinamento.

O novo rei da Babilônia, Nabucodonosor II, queria formar sua própria elite intelectual, que o auxiliasse no governo do reino. Os rapazes hebreus deviam estar muito desajeitados quando entraram pelo monumental portão de Isthar. Babiblônia era enorme comparada a Jerusalém. Aparentemente, tudo ali era maior e melhor. Eles foram calorosamente recebidos na escola de ciências ligada à corte. Seriam bem tratados e alimentados à mesa do rei.

Foi quando Daniel, Ananias, Misael e Aza rias tiveram que tomar uma decisão. Deveriam comer do cardápio rico e abundante do rei, dedicado aos deuses pagãos e correr o risco de se contaminarem, ou deviam se destacar como rapazes excêntricos que colocaram sua vida em risco? (Dn 1:3-10). O que você decide quando está diante de situações com sérias consequências?

Os quatro jovens hebreus começaram a orar, e abordaram seu supervisor com um pedido estranho: que os testasse por dez dias com uma dieta à base de vegetais (v. 12). Dez dias para esperar que Deus fizesse o improvável. E Ele fez, honrando a fidelidade dos garotos. Com isso, a fé daqueles jovens foi fortalecida e eles se prepararam para contextos em que a coragem seria ainda mais necessária.

FINAL FELIZ

Daniel 3 descreve um desses momentos. Nabucodonosor construiu uma estátua enorme, provavelmente inspirado na imagem que ele viu em seu sonho profético (Dn 2). A diferença é que a estátua erguida no campo de Dura era completamente coberta de ouro. Com isso, ele queria dizer que Babilônia nunca cairia, seu reino seria eterno.

Essa postura era uma rebelião aberta ao futuro que Deus havia revelado para ele, bem como um desafio para Ananias, Misael e Azarias, que haviam sido promovidos à liderança na província. Eles e quase todos os líderes do império foram ordenados a se ajoelharem e adorarem a estátua quando ouvissem o som de uma grande orquestra. Com cerca de 28 metros de altura e 2,8 de largura, a provocação contra Deus podia ser vista de muito longe.

A música soou e a multidão se prostrou, mas os três jovens foram na contramão, ficando em pé. A fúria tomou conta de Nabucodonosor (Dn 3:13). Ele se indignou com o fato de aqueles três escravos desafiarem um monarca poderoso. E foi realmente o que fizeram. Para eles, apenas Deus merecia ser adorado: “Eis que o nosso Deus, a quem nós servimos, é que nos pode livrar; ele nos livrará da fornalha de fogo ardente, e da tua mão, ó rei. E, se não, fica sabendo ó rei, que não serviremos a teus deuses nem adoraremos a estátua de ouro que levantaste (v. 16-18).

Hoje, podemos ler essas palavras já sabendo o fim da história. Sabemos que a fornalha não matou os três jovens hebreus. De algum modo, esperar um final feliz faz parte da nossa cultura. Porém, final feliz não é somente quando há livramento da fornalha ou uma questão de vida ou morte. Somos chamados a assumir uma postura de fidelidade, autenticidade, veracidade e compromisso inabalável em todas as situações. A coragem inspirada pelos princípios de Deus nos leva a permanecer em pé.

A ATITUDE DE JESUS

Nós associamos fidelidade, veracidade, poder e graça ao ministério de Cristo, mas será que Ele também demonstrou coragem? A oração de Jesus no Getsêmani oferece uma possível resposta a essa pergunta crucial (Mt 26:39). Em face à dor e à separação iminentes, Jesus voluntariamente submeteu Sua vontade aos planos do Pai. Isso requer coragem e confiança.

Há outros momentos na vida de Cristo em que podemos ver Sua coragem em ação. Os princípios fundamentais do Seu reino incluem perdão, sofrimento e paciência – todos elementos que indicam a verdadeira coragem. Ele ensinou Seus seguidores a trilhar a “segunda milha” (Mt 5:41), a perdoar além da quantidade culturalmente aceita (Mt 18:21 e 22) e a amar seus inimigos (Mt 5:43-47). Segundo Ellen White, Ele tinha lágrimas na voz quando condenou a liderança judaica do Seu tempo (Mt 23:13-39). Embora nunca tenha vacilado diante da crítica implacável desses líderes, Seu coração ansiava pela transformação deles. Coragem piedosa faz isso.

Jesus também demonstrou coragem quando Se envolveu com estrangeiros e com gente considerada menos importante. Mulheres e criancinhas se sentiam à vontade na Sua presença. Ele tocava (e curava) leprosos (Mt 8:1-4) e visitava os odiados publicanos em suas casas (Lc 19:1-10). Ele exemplificava o cuidado especial de Deus pelos pobres, viúvas, órfãos e estran geiros. Quando contou uma história que ilustrava o reino de Deus, foi um samaritano, e não um sacerdote ou levita, que encarnou os princípios do que Ele ensinava (Lc 10:30-37).

Embora Jesus não procurasse um conflito ou incentivasse a controvérsia, Ele não tinha medo de colocar Seu “dedo na ferida”. Quando demonstrou oposição, fez isso com bondade e compaixão. Foi assim com o “jovem rico” (Mc 10:21). A má escolha daquele moço deve ter ferido Jesus, mas Ele continuou a amá-lo. Gostaria de saber o resto da história. Que escolhas será que o jovem rico fez depois da ressurreição de Cristo e do Pentecostes?

PRECISAMOS DISSO

Numa época em que se oscila entre a conduta politicamente correta e os discursos de ódio, Deus precisa de pessoas que demonstrem coragem em meio à perseguição, indiferença e irrelevância. Como Daniel e seus amigos, precisamos saber quando é o momento de assumir uma posição contracultural.

De acordo com o relato sobre o encontro de Josué com o Comandante celestial, essa coragem nos levará a adorar e a avançar em obediência – mesmo que as coisas não façam muito sentido. A coragem dele crescia à medida que se relacionava com Deus. Houve tam bém contratempos e desafios, momentos em que sua coragem estava tão fraca e gasta quanto as roupas esfarrapadas dos mentirosos gibeonitas (Js 9:4). Contudo, para Josué, não podia haver retrocesso. A não ser quando fosse necessário parar o relógio a fim de vencer uma batalha (Js 10:12-14).

Nem sempre é fácil praticar a coragem santificada, porque o que dizemos e fazemos nem sempre será bem recebido ou elogiado. Porém, se seguirmos nosso destemido Comandante, podemos descansar sob a convicação de que estamos fazendo a vontade de Deus. ]

GERALD A. KLINGBEIL é editor associado da Adventist World

HERÓIS PARA TODOS NÓS

BILL KNOTT

Contamos as histórias dos heróis da Bíblia com a melhor das intenções. Queremos lembrar uns aos outros, e especialmente as crianças, sobre a incomparável habilidade que Deus tem de mudar a história do mundo por meio do esforço e risco de uma pessoa dedicada.

Moisés subiu até o topo do Sinai como uma figura solitária envolta pela nuvem da presença de Deus. Davi, finalmente livre do peso da armadura de Saul, desceu o Vale de Elá para enfrentar o gigante que nenhum dos seus compatriotas teve coragem de desafiar. Daniel, sem temer as ameaças de retaliação, orou três vezes ao dia onde seus inimigos podiam vê-lo, e depois passou a noite com leões famintos. Maria aceitou heroicamente seu chamado para ser mãe do Messias, mesmo que isso lhe causasse mais dor do que qualquer outra mãe suportaria.

Contudo, percebam que as ações corajosas que hoje aplaudimos não eram apenas atos solitários e voltados para aqueles heróis. Cada um deles estava agindo para o bem de muitos, a começar pelo povo de Deus.

Mesmo em sua fraqueza, Moisés se tornou um tipo de Cristo como grande Sumo Sacerdote (Hb 4:14). Davi foi o campeão de um exército inteiro. A vitória dele foi de todo o Israel. Daniel orou confessando os pecados de seu povo e se incluindo como um transgressor (Dn 9:20). Ele foi o representante do povo de Deus e não apenas o herói solitário na cova dos leões. Por sua vez, Maria, ao aceitar trazer o Salvador ao mundo, reconheceu que sua decisão abençoaria as gerações que vieram antes dela e as que surgiriam depois dela (Lc 1:46-55).

A coragem para a qual Deus nos chama é fazer mais do que atos de bravura. É pensar, planejar e agir em favor do povo de Deus, enquanto esperamos nossa redenção final. Ao ler esta edição, ore para que você tenha mais consciência de que suas ações beneficiam o povo que aguarda o advento. Talvez você possa ser a pessoa de coragem de quem todos precisamos neste momento! ]

QUANDO VALE A PENA PAGAR O PREÇO

OS IRMÃOS JOHN E GABRIELLE WEIDNER TIVERAM DESTINOS DIFERENTES, MAS UMA ATITUDE EM COMUM: TESTEMUNHAR DE CRISTO EM MEIO AO HORROR DA SEGUNDA GUERRA MUNDIAL

WILONA KARIMABADI

Ahistória a seguir tem duas partes. A primeira tem um final feliz, enquanto a outra não. No entanto, elas apresentam um denominador comum: é preciso ter coragem em situações difíceis, até mesmo diante daquelas com consequências terríveis como a morte. É para isso que Deus nos chama. E, se esse for seu caso, saiba que Ele não o deixará sozinho.

UM HOMEM MARCADO

John Henry Weidner nasceu em uma família holandesa adventista, na Bélgica, em 1912. Seu pai era pastor e professor de grego e hebraico no que é agora a Salève Adventist University, na fronteira entre a França e a Suíça, próximo a Genebra. Quando criança, Weidner passou grande parte do tempo escalando as montanhas ao redor do seminário, conhecendo minuciosamente aquele campus pitoresco.

John Weidner recebendo a Medalha da Liberdade dos Estados Unidos, em 1946, na Holanda

Na época, mal sabia ele que estava adquirindo um conhecimento que seria muito importante para o trabalho que faria anos mais tarde. Após completar parte dos estudos ali, Weidner estudou Administração e Direito em Genebra e em Paris. Ele acabou entrando para a indústria têxtil, sendo bemsucedido na capital francesa e no interior do país.

Em junho de 1940, a população de Paris estava fugindo da cidade devido à aproximação do exército alemão. A União Franco-Belga da Igreja Adventista tinha sua sede na capital francesa, onde Gabrielle, a irmã mais nova de Weidner, trabalhava como secretária do presidente.

Contudo, surgiu a necessidade de mudar a sede da União para o sul da França, e Wedner ajudou na

transferência. Naquela época, ele trabalhava próximo a Lyon, e foi ali que se envolveu numa organização secreta de resistência, chamada Dutch-Paris. Essa organização era formada por mais de 300 “agentes” que dirigiam uma linha clandestina de fuga da Holanda, passando pela Bélgica e França, até a Suíça. Eles usaram duas rotas: por Collonges-sous-Salève, na fronteira franco-suíça, e fugindo por Andorra até a Espanha, passando por um caminho perigoso entre os Montes Pirineus. Essa organização secreta acabou ajudando 800 judeus, 100 aviadores aliados que haviam sido feridos e muitos outros a escapar da morte certa.

“Quando a guerra começou, eu pensei como um ser humano, me perguntando: como ajudar as pessoas? Concluí que eu podia ajudar. Se um judeu conseguisse chegar à Espanha ou à Suíça, estaria salvo. Esses países eram neutros. A grande dúvida era como chegar à Suíça saindo da Holanda. Os soldados de Hitler, da Gestapo, estavam em todos os lugares. As fronteiras estavam fechadas. E a fronteira entre a França e a Suíça era fortemente guardada, porque os nazistas sabiam que os judeus estavam tentando passar por ali. Mas eu conhecia desde meu tempo de infância a fronteira em Collonges-sousSalève”, relatou Weidner. Esse trecho foi resgistrado pela cientista política norte-americana Kristen Renwick Monroe num livro em que ela conta a história de cinco pessoas comuns que assumiram uma postura moral corajosa para salvar judeus do nazismo (The Hand of Compassion: Portraits of Moral Choice During the Holocaust, p. 102 e 103).

Obviamente, a tarefa de John Wedner era extremamente perigosa, e não demorou muito para que ele chamasse a atenção dos nazistas, chegando ao topo da lista dos mais procurados pela Gestapo. John foi preso e torturado em três ocasiões distintas. Talvez em uma delas ele tenha sido interrogado por Nikolaus “Klaus” Barbie, conhecido como o “açougueiro” de Lyon.

De modo impressionante, John sobreviveu a esses interrogatórios e à traição de uma colega de operação da Dutch-Paris, que entre gou informações de 150 membros da organização, após ser torturada. Vários deles foram enviados para campos de concentração e nunca mais foram vistos.

Depois do fim da guerra, ele trabalhou por um período para o governo holandês, ajudando a identificar colaboradores do regime nazista no país. Entretanto, na década de 1950, John decidiu recomeçar a vida nos Estados Unidos, onde conheceu a esposa, Naomi, uma fiel adventista.

Ele iniciou uma nova carreira profissional, abrindo uma rede bem-sucedida de lojas de alimentos saudáveis no sul da Califórnia, que ficou conhecida como Weidner Natura Foods. Ele foi ativo em sua comunidade e igreja local. Os esforços de Weidner no tempo da guerra não passaram despercebi dos, embora ele preferisse o silêncio sobre sua vida na Europa. Por causa de sua coragem, ele recebeu diversas condecorações dos governos dos Estados Unidos, do Reino Unido, da França, Bélgica, Holanda e Israel. Em 1993, quando o Museu em Memória do Holocausto foi inaugurado em Washington, capital norte-americana, ele foi uma das sete pessoas escolhidas para acender as velas dedicadas aos que resgataram judeus.

Certa vez, conforme registraram Carol Rittner e Sondra Myers, Weidner disse: “Durante a vida inteira, todos nós temos que fazer escolhas: pensar apenas em si mesmo e conseguir o que puder para si ou pensar nos outros, servir e ser útil para os necessitados. Creio ser muito importante desenvolver nosso cérebro e conhecimento. Contudo, é mais importante desenvolver nosso coração para que esteja sempre sensível ao sofrimento dos outros. Quanto a mim, sou apenas uma pessoa comum, apenas alguém que quer ajudar seu próximo. Esse é o anseio de Deus para mim: pensar nos outros, ser altruísta. Não sou ninguém excepcional. Se tenho um herói, ele é Deus, que me ajudou a cumprir minha missão, a fazer o que eu tenho que fazer” (The Courage to Care, p. 65). John faleceu em 1994, no sul da Califórnia (EUA).

FIEL ATÉ O FIM

Quando aquela agente entregou os nomes de 150 colaboradores da Dutch-Paris, uma daquelas pessoas tinha grande importância para John: sua irmã Gabrielle. Lembrada por aqueles que a conheceram como uma pessoa gentil, com

JOHN E GABRIELLE FORAM CRIADOS PARA SEGUIR O EXEMPLO DE JESUS, E ISSO INFLUENCIOU A CONTRIBUIÇÃO QUE DERAM PARA O MUNDO

lindos olhos e uma natureza doce, Gabrielle viveu e trabalhou em Paris durante a maior parte do tempo em que seu irmão estava enviando pessoas clandestinamente para a Suíça. Não se sabe por que ela entrou nessa organização de resistência ao nazismo; talvez tenha sido a proximidade com o irmão mais velho. O fato é que ela nunca o traiu.

No último sábado de fevereiro de 1944, a Gestapo prendeu Gabrielle no culto numa igreja adventista em Paris. Ela foi levada de volta para seu apartamento, no mesmo prédio que abrigava a sede da União e da Associação locais. Permitiram que ela reunisse rapidamente alguns itens pessoais antes de ser levada para a prisão Fresnes, na periferia da capital francesa. Ela permaneceu ali até agosto de 1944, a despeito de todo esforço realizado para libertá-la.

Em meados de agosto, os aliados estavam a apenas 60 km de Paris, mas, antes que libertassem a cidade, Gabrielle foi enviada para os campos de morte. Ela desembarcou em Ravensbrück, no norte da Alemanha, em 21 de agosto, quatro dias antes de os aliados chegarem a Paris.

De lá, Gabrielle e outros presos políticos foram transferidos para Torgau, um subcampo de Buchenwald, onde havia trabalho forçado. Em Torgau, as mulheres eram usadas na fabricação de bombas e granadas. A saúde de Gabrielle, que nunca foi das melhores, deteriorou rapidamente. Em outubro de 1944, ela foi enviada de volta para Ravensbrück e, na sequência, para o subcampo de Königsberg.

Os registros disponibilizados pelo Museu do Holocausto, nos Estados Unidos, confirmam que ela chegou a Königsberg em 29 de outubro. Esse era um campo destinado a um único propósito: o extermínio. As condições ali eram deploráveis. As mulheres dormiam em bancos de madeira, tendo como cobertor sacos cheios de papel. Quase não havia comida e elas enfrentavam o frio vestidas em farrapos. As prisioneiras que ficavam muito doentes eram enviadas para uma enfermaria, e foi ali que Gabrielle passou o restante dos seus dias.

Madeleine Billot era amiga de John Weidner. Ela também foi deportada para Ravensbrück, onde acabou conhecendo Gabrielle. Billot sobreviveu, e após a guerra pôde contar a John o testemunho de sua irmã no campo. “Gabrielle sempre deu um maravilhoso testemunho de sua fé em Deus. Ela estava na enfermaria de Königsberg e, mesmo ali, estava sempre animando as outras”, registrou Herbert Ford no livro Flee the Captor (Heview and Herald, 1996), páginas 352 e 353.

John, ao centro, perto da árvore plantada em sua homenagem na Avenida dos Justos entre as Nações, no museu Yad Vashem, em Jerusalém

A libertação era iminente em fevereiro de 1945. Porém, as mulheres que podiam se movimentar foram conduzidas pela SS numa marcha para a morte. As que estavam muito fracas, como Gabrielle, foram deixadas para morrer. Nos momentos finais da guerra, como fizeram em muitos campos de concetração, a SS incendiou os quartéis e as enfermarias. Milagrosamente, Gabrielle foi retirada das chamas no último momento. O campo foi libertado em 5 de fevereiro de 1945. Contudo, era muito tarde.

Alguns registros declaram que a morte de Gabrielle aconteceu em 15 de fevereiro; outros, no dia 6 de fevereiro (Gedenkbuch für die Opfer des Konzentrationslagers Ravensbrück 1939-1945 [Metropol, 2005], p. 655). A verdadeira causa da morte de Gabrielle nunca foi registrada. Após a guerra, John tentou encontrar o local do descanso final de sua irmã, mas nunca achou. Só o Senhor sabe onde Gabrielle Weidner aguarda a ressurreição.

As histórias dos irmãos Weidner tiveram desfechos dramaticamente diferentes. Ambos foram criados para seguir o exemplo de Jesus e isso claramente influenciou a contribuição que deram para o mundo e como se portaram diante de situações terríveis. A biografia deles ainda serve de inspiração para nós. A lição que

John Henry Weidner em seu uniforme militar

Gabrielle Weidner, irmã de John, que não teve o mesmo destino dele

fica é que podemos agir com coragem e caminhar de mãos dadas com nosso Salvador, sabendo que Aquele que nos chama nunca nos esquece. ]

WILONA KARIMABADI é editora assistente da revista Adventist World

TRADIÇÃO ORAL

AS HISTÓRIAS TRANSMITIDAS DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO TÊM AJUDADO A PRESERVAR A MEMÓRIA ADVENTISTA NA ÁFRICA

MICHAEL SOKUPA

Ointeresse pela história da Igreja Adventista do Sétimo Dia na África está crescendo no continente. A razão é que um dos traços das culturas tradicionais africanas tem sido contemplado como fonte histórica: o relato oral. Aliás, a contribuição da história oral para o adventismo foi um dos tópicos examinados numa conferência de historiadores adventistas em janeiro de 2018.

O QUE É HISTÓRIA ORAL?

Segundo a Oral History Association (Associação de História Oral), entidade estabelecida em 1966 e sediada no Tennessee (EUA), é o “campo de estudo e o método de reunir, preservar e interpretar as vozes e memórias de pessoas, comunidades e participantes de eventos passados” (oralhistory.org). Apesar de ser questionada, a abordagem da história oral tem sido utilizada por muitos pesquisadores do adventismo na África.

Nas comunidades africanas que têm a tradição oral como estilo de vida, a história é passada de uma geração para outra por meio de contos e poesias. Nos eventos familiares, é concedido tempo para que o historiador da família ou a pessoa mais idosa, muitas vezes a matriarca, reconte a história da família. Os poetas, por sua vez, espontaneamente começam a cantar uma música que também reconta a história do grupo e que serve de recurso para a preservação da tradição.

Fui testemunha de uma situação em que a matriarca corrigiu algumas vezes o contador de histórias que havia sido designado para resgatar o relato do início da igreja em certa

comunidade. A matriarca se levantou e acrescentou fatos, a fim de garantir que a transmissão da história fosse precisa. Essa avaliação constante da precisão é construída dentro do próprio sistema de tradição oral.

O VALOR DA ABORDAGEM

A mim incomodava, por exemplo, que os pesquisadores da história da igreja não soubessem precisar onde ficava o Hospital Adventista da Cidade do Cabo. Foi por isso que comecei a pesquisar nos arquivos nacionais, mas só consegui informações fragmentadas e insuficientes para definir o local. A única evidência que havia sobrado era uma estrada com o nome do hospital, em Kenilworth, África do Sul.

Certa manhã, Eric Webster, teólogo adventista aposentado, foi até meu escritório no Centro do Patrimônio Histórico e de Pesquisa Ellen G. White, no Helderberg College, na Cidade do Cabo. Webster me convidou para encontrar um homem que tinha a informação sobre a localização inicial do hospital. Arrumei meus gravadores e o material necessário para registrar a história. Porém, a única condição que o entrevistado estabeleceu era que seu depoimento não deveria ser gravado. Coloquei meu equipamento de lado e ouvi o homem contar sua história.

Donald Jeffes tinha vindo da Austrália com seus pais para a África do Sul. Ele conhecia bem a área. Caminhei com Jeffes para bem distante da estrada que recebia o nome do hospital. Ele nos mostrou as casas que eram usadas pelos médicos residentes e pelas enfermeiras.

Passamos pelas ruas e ele nos chamou a atenção para um padrão que não havíamos atentado: todas elas receberam nomes norte-americanos, evidência da presença do hospital naquela comunidade. Após visitar a localização inicial do hospital, voltamos à casa de Donald Jeffes, e ele permitiu que eu gravasse seu depoimento. Essa gravação está guardada no Centro do Patrimônio Histórico do Helderberg College. Essa experiência ilustra o valor da história oral, não apenas para as comunidades tradicionais, mas para complementar os registros históricos e fornecer contexto para eles.

Em outra ocasião, trabalhei com John Enang, então coordenador do departamento do Espírito de Profecia, e Félix Adetunji, diretor do Centro de Pesquisa Ellen G. White da Universidade Babcock, a fim de tentar identificar uma lista de locais históricos no território da Divisão

A HISTÓRIA ORAL ACRESCENTA VALOR A OUTRAS FONTES HISTÓRICAS. É UMA ABORDAGEM IMPORTANTE PARA ENSINAR AS NOVAS GERAÇÕES SOBRE AS RAÍZES DE NOSSA FÉ

Centro-Oeste Africana. Visitamos a Costa do Marfim, Gana, Nigéria, Senegal e muitos outros países daquela região.

Durante nossa visita ao norte da Nigéria, nos encontramos com pioneiros adventistas que preservavam artefatos e histórias não encontradas em nenhum livro. A Divisão CentroOeste Africana está comprometida em preservar sua história. Por exemplo, a Universidade Adventista da África, situada em Nairóbi, no Quênia, fundou um museu que serve como depositário da memória do adventismo em todo o continente.

A HISTÓRIA SINGULAR DA ÁFRICA

A África tem uma história a contar e, para tanto, as comunidades locais precisam ser ouvidas. As sedes africanas da Igreja Adventista estão atentando para isso, pois a geração atual de jovens adventistas não mais vive no tempo em que se contavam histórias ao redor da fogueira, na sala da família ou em cerimô nias. Essas ocasiões ofereciam para as crianças a oportunidade de compreender como Deus havia dirigido sua família e a igreja. Agora, porém, são os museus, locais históricos e centros de pesquisa que preservam essa memória da providência de Deus para com Sua igreja.

Há muitos anos, o Patrimônio Histórico Ellen G. White tem feito esse trabalho em parceria com o Ministério da Herança Adventista (adventistheritage.org). Foram recriados muitos dos locais históricos para que os visitantes possam experimentar, de modo tangível, o início da história dos adventistas.

Esse trabalho precisa ser fortalecido ao redor do mundo. Cada Divisão da Igreja Adventista deve ter um centro que preserve a história do adventismo em seu território. Atualmente, 25 centros desses funcionam como depositários da memória denominacional.

O fato é que, se não tivermos pessoas que contem suas histórias, perderemos as informações por trás de suas experiências e o valor que podem agregar à nossa história a partir de suas perspectivas. A história oral acrescenta valor a outras fontes históricas e é um método importante para ensinar as novas gerações sobre as raízes de nossa fé. ]

MICHAEL SOKUPA, doutor em Teologia, natural da África do Sul, é diretor associado do Patrimônio Literário de Ellen G. White, em Silver Spring (EUA)

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