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VIDA ADVENTISTA
Aula no museu
O PASTOR QUE DEU ESTUDOS BÍBLICOS NO MUSEU BRITÂNICO AO SERVIR COMO GUIA TURÍSTICO VOLUNTÁRIO DUSTIN SERNS
" O lá, estou liderando um tour gratuito pelas sete principais atrações do Museu Britânico. Vamos visitar 4 mil anos em 45 minutos. Estaremos começando em cinco minutos. Não aceitamos gorjetas.” Foi assim que fiquei em pé na escadaria de entrada de um dos museus mais importantes do mundo recrutando visitantes. “O que você está querendo com isso?”, todos me perguntavam. “Estou terminando meu mestrado e acabei de passar dois meses na Grécia e Turquia fazendo pesquisas arqueológicas. Como vou ficar uma semana aqui em Londres, antes de voltar para os Estados Unidos para terminar meus estudos, pensei que poderia compartilhar com vocês um pouco das minhas descobertas.” O que eles não imaginavam é que eu estava em uma viagem missionária, acompanhado por minha família e um amigo. Durante as manhãs, nossa pequena equipe distribuía milhares de folhetos sobre a Bíblia nas áreas turísticas da capital britânica. Em parceria com uma igreja local, à noite ministrávamos alguns estudos bíblicos na comunidade e, durante as tardes, eu liderava visitas guiadas pelo museu. Meu irmão era meu “assistente”, minha esposa atuava como fotógrafa e meu pai e um amigo “faziam o papel” de participantes da tour. Orávamos para que Deus usasse aquelas visitações para abrir o coração das pessoas à Sua Palavra.
O INTERESSE DOS TURISTAS
Nossos grupos variavam de oito a 45 pessoas. Por isso, em 12 visitas naquela semana, conduzimos mais de 400 pessoas por artefatos que os ajudaram a entender melhor sete civilizações que têm conexão com a profecia bíblica: (1) Egito, (2) Assíria, (3) Babilônia, (4) Pérsia, (5) Grécia, (6) Roma e (7) Europa. Meu objetivo era usar a história e a arqueologia para gradualmente validar a confiabilidade do texto bíblico (veja trechos do tour em youtube.com/ user/top7tours).
Para o Egito e Assíria, estabeleci conexões entre José e Ezequias. Nos artefatos da Babilônia, apresentei a grande estátua de Daniel 2. Durante todo o restante da visitação, vimos o texto bíblico se cumprindo artefato por artefato. No fim, eu mostrava como a profecia bíblica continua até o futuro, incentivando aqueles turistas a conferir a narrativa de Daniel 2 na Bíblia. Para um estudo mais aprofundado, também oferecemos cursos bíblicos gratuitos do ministério Amazing Facts.
Falamos para pessoas de muitos países, culturas e tradições religiosas diferentes. Alguns dos participantes vinham de países em que é ilegal falar abertamente sobre os assuntos que eu apresentava. Foi maravilhoso ver Deus abrindo a mente das pessoas e desafiando sua visão de mundo.
LIÇÕES DE EZEQUIAS
Quando meu grupo chegou aos relevos de Laquis, contei a história de como o rei assírio Senaqueribe avançou sobre 46 cidades de Judá
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e conquistou Laquis antes de chegar à capital Jerusalém. Os relevos mostram que Laquis foi devastada pelos assírios. Então, não faltavam mais obstáculos para que os 185 mil soldados de Senaqueribe cercassem e dominassem Jerusalém.
Eles enviaram cartas terríveis ameaçando os israelitas, sugerindo que se entregassem em vez de confiar em Deus (2Cr 32:1-23). O rei Ezequias ficou angustiado quando recebeu a carta. Ele a levou para o templo, abriu-a diante do Senhor e orou para que Deus protegesse a nação que Ele mesmo havia escolhido (2Rs 19).
Depois de resgatar a narrativa bíblica, eu mostrava aos participantes do tour o Prisma Taylor ou Prisma de Senaqueribe, pequeno monumento de argila que narra a versão de Senaqueribe dessa história. A inscrição descreve que ele conquistou 46 cidades de Israel e que prendeu o rei Ezequias em Jerusalém “como um pássaro na gaiola”. A pergunta que fica, porém, é: Por que ele parou e foi embora para Nínive?
Na manhã seguinte à oração de Ezequias, todos os 185 mil soldados de Senaqueribe foram encontrados mortos (2Rs 19:35). “Vocês podem decidir como eles morreram, mas posso afirmar que não foram mortos pelos soldados israelitas”, eu dizia aos turistas. Alguns ficaram chocados ao serem confrontados de modo inteligente com a historicidade do texto bíblico.
Certa senhora inglesa chegou a me perguntar se eu realmente acreditava que a Bíblia é a Palavra de Deus. “Bem, é isso que a Bíblia afirma sobre si mesma”, eu disse. “Essa é uma afirmação ousada e singular, que pode ser uma grande mentira ou verdade. Porém, com base em todas as evidências que estudei, penso que é verdade.” Os artefatos diante dela a instigavam a pensar, quem sabe pela primeira vez, que poderia existir um Deus que Se comunica conosco de maneira clara e confiável.
ENFRENTANDO RESISTÊNCIA
Deus estava agindo por meio das visitações. No entanto, não demorou para que enfrentássemos resistência. Os funcionários do museu começaram a se incomodar com nossa presença. O próprio museu oferece tours gratuitos, com não mais de seis pessoas. Porém, os nossos grupos eram bem maiores do que isso e eu compartilhava abertamente com eles algumas ideias sobre a Bíblia que não são muito populares.
Dustin Serns (à dir.) serviu por uma semana como guia turístico voluntário no Museu Britânico, em Londres. Seu tour passava por sete artefatos que relacionam civilizações antigas ao texto bíblico
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A tensão aumentou e no meio da semana houve uma confrontação. Eu e mais 40 pessoas estávamos na frente da estátua de Afrodite, a deusa grega da sexualidade. Ali eu estava explicando que o templo dela em Corinto costumava abrigar de 300 a 1.000 prostitutas cultuais. Falava a eles também sobre um recém-chegado à cidade, chamado Paulo, que apresentou aos coríntios uma visão diferente e surpreendente sobre sexualidade. Quando comecei a ler 1 Coríntios 6, um funcionário do museu, visivilmente desconfortável, pediu que eu parasse minha fala, pois estava obstruindo o caminho dos visitantes.
Compreendi o que estava acon tecendo. Ele não tinha outro argumento para impedir minha pregação, a não ser que estávamos bloqueando o caminho. Nosso grupo realmente era muito grande para aquele espaço pequeno. Respondi que já estavámos saindo e convidei o grupo para ver a Pedra de Roseta.
Certa tarde, dois funcionários do museu participaram do nosso tour disfarçados de visitantes. Percebi que eles tinham rádios escondidos sob o paletó. No fim da apresentação, contudo, um dos guardas foi quem mais aplaudia nossa explicação, dizendo que aquela tinha sido uma das melhores apresentações que ele havia acompanhado sobre Bíblia e arqueologia. Alguns dias depois, dei a ele o livro missionário A Grande Esperança, de Ellen White.
Não tivemos mais nenhum problema no museu até o fim daquela semana. Deus garantiu que Sua Palavra fosse ouvida. Na verdade, Ele fala principalmente de pessoas, até mesmo por meio de um guia turístico voluntário, com aparência de adolescente como eu. Deus garantirá que Sua Palavra seja ouvida. Você permitirá que Ele fale por seu intermédio? ]
DUSTIN SERNS é pastor da Igreja de Port Orchard, em Washington (EUA)
O FUNERAL DE DONA AZALEIA
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A HISTÓRIA DA MULHER QUE NÃO TEVE FILHOS, MAS QUE ADOTOU 21 ÓRFÃOS PARA DEMONSTRAR A ELES O AMOR DO PAI CELESTIAL
Dona Azaleia era solteira e nunca se casou. Morava em cômodos minúsculos, mas cheios de amor, acima da sua lojinha. Seu estabelecimento comercial estocava coisas simples que as pessoas podiam querer comprar sem ter que andar longas distâncias até as grandes lojas. Sua casa era conhecida como um lugar seguro, e sempre repleta de uma atmosfera transformadora de acolhimento.
No dia do seu funeral, o pastor observava as pessoas chegando. Degraus de pedra levavam da rua às largas portas de madeira do templo; degraus antigos, lascados e gastos pelas décadas de uso. Duas diaconisas, com luvas brancas e macias, as únicas peças claras do uniforme de culto preto delas, levavam os
membros da igreja e convidados aos assentos vazios. Em pouco tempo, os bancos ficaram repletos de pessoas que foram amadas por dona Azaleia.
MÃE DE 21 FILHOS
A fileira da frente permanecia vazia, reservada para um grupo muito especial que foi conduzido aos seus lugares assim que a música começou a ser tocada. Alguns chegaram sozinhos, outros com amigos, muitos com crianças pequenas, cada um preenchendo um lugar de honra, o mais próximo possível do corpo sem vida de dona Azaleia.
Um coral talentoso cantou alguns hinos, os mesmos que Azaleia havia cantado em muitos cultos. A congregação se uniu ao coral, com vibratos elevados que traduziam a dor pela perda de uma boa amiga. O som da música se avolumou a uma altura que as paredes pareciam se expandir e o teto levantar de um modo que todo o Céu podia ouvir.
Após muito cântico, longas orações e mais músicas, o pastor, com sua beca especial, caminhou lentamente até o púlpito de madeira. Naquele momento, o templo estava em silêncio, como que preparado para ouvir uma notícia má.
“Ela se foi”, começou o pastor. “Um câncer maligno finalmente a tirou de nós. No entanto, mesmo com a saúde física definhando, a luz do amor da dona Azaleia continuava brilhando. Todos vamos sentir saudades dela.”
“Todos nós conhecíamos muito bem a dona Azaleia”, continuou o pastor. “E cada um de nós a amava tanto quanto ela nos amava.” Na igreja ecoavam os “améns”, “aleluias” e gritos altos de “obrigado, Jesus.”
“Como todos sabemos, dona Azaleia sempre quis ter filhos, mas nunca realizou seu sonho.” A congregação mais uma vez irrompeu em afirmações e expressões de tristeza. Então o pastor levantou os braços para silenciar seu rebanho.
“No entanto”, ele sorriu, “a dona Azaleia não enterrou seu dom da maternidade, mas escolheu 21 de nós, 21 filhos sem mãe e pai, 21 filhos que moravam nos guetos de nossa cidade; 21 filhos que necessitavam de amor e que aprenderam que eram filhos de Deus, por que foram adotados como filhos da dona Azaleia.”
O pastor se dirigiu para a primeira fileira e cumprimentou os convidados especiais. Só depois de muito tempo a congregação se aquietou, após louvar a Deus, homenagear a dona Azaleia e cumprimentar todos os 21 filhos dela e uns aos outros. Quando finalmente reinou o silêncio, o pastor continuou.
RESGATADA DO LIXO
“Hoje, como parte mais importante deste culto de amor e adoração, todos os 21 filhos de dona Azaleia vieram para nos contar sobre sua mãe.” Cada um deles foi à frente para contar histórias que todos já conheciam. Nada de novo, pois dona Azaleia havia criado aqueles filhos na segurança daquela congregação.
Quando 20 dos filhos haviam testemunhado, o pastor deu sinal para o coral começar a cantar outra vez. Com becas douradas, os coristas cantaram como se o anjo Gabriel tivesse trazido uma legião de outros anjos para cantar com eles.
Quando a música terminou, Cindy se levantou. A caçula da dona Azaleia não tinha vindo sozinha. Ao seu lado estava uma garotinha, segurando firmemente a mão da mãe.
“Meu nome é Cindy, e sou a 21ª filha da dona Azaleia”, começou ela. “Dona Azaléia me encontrou à noite, atrás de uma caçamba de lixo. Eu estava encolhida em uma caixa de papelão grande, e fazia frio. Muito frio. Eu tinha acabado de dar à luz a uma menininha, sozinha, dentro daquela caixa de papelão. Estava apavorada, pois não sabia o que fazer em seguida. Eu precisava de um pouco de heroína e também de uns trapos limpos, água e fraldas, mas não tinha dinheiro. Eu estava juntando coragem para sair naquele frio e encontrar algum homem que talvez me pagasse o suficiente para comprar algumas fraldas.”
A igreja estava em absoluto silêncio, numa pausa estarrecedora como a que antecede uma grande tempestade que se aproxima de nossa casa. “A dona Azaleia me encontrou ali, bem ali. Ela devia saber, pois chegou com um cobertor limpo e um pouco de água quente.”
“Ela me chamou de filha e disse que eu devia ir com ela. Levou a mim e meu bebê pela rua e degraus acima até sua casa. Estava tudo limpo. Era a casa mais linda que eu já tinha visto. Ela encheu a banheira com água quente, deu banho em mim e no meu bebê, nos vestiu e nos deu o que comer. Durante todo o tempo ela cantava e nos tratava com tanto amor como se fôssemos gente de verdade, merecedoras de alguma coisa.”
Quase todos na igreja estavam chorando enquanto Cindy falava. Todos lembrando da sua própria história quando sentiram o amor intencional da dona Azaleia. “Levou bastante tempo”, Cindy finalmente continuou. “Dona Azaleia me ajudou a finalmente me libertar das drogas e trabalhou todos os dias comigo para que meu bebê crescesse e se tornasse uma garotinha feliz e saudável.”
“Ela me ajudou a estudar e cuidou da minha filha enquanto eu estava na escola. Ela conseguiu um emprego decente para mim aqui na cidade. E todos os dias ela me ensinou sobre Jesus, fazendo também com que eu me sentisse parte da família desta igreja.”
“Não, dona Azaleia não teve nenhum filho. Mas eu, a número 21, sou sua filha mais sortuda, pois, por meio do amor dela, conheci o de Jesus.” A igreja irrompeu em alegria. Todos levantaram as mãos em adoração, gritaram “aleluia” e cantaram “Graça Excelsa” (HASD, 208) tão alto como nunca tinham cantado antes.
“Dona Azaleia nunca teve filhos”, disse o pastor. “Porém, sua mansão celestial estará repleta dos filhos que ela adotou!”
“AMÉÉÉÉÉÉÉÉM!” ]
DICK DUERKSEN é pastor e mora em Portland, Oregon, nos Estados Unidos