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JUVENTUDE
Aventura inesquecível
COM DUAS EDIÇÕES E 100 MIL ACAMPANTES, 5º CAMPORI SUL-AMERICANO ENTRA PARA A HISTÓRIA DA IGREJA E REFORÇA O MINISTÉRIO QUE MAIS ENGAJA ADOLESCENTES
MATEUS TEIXEIRA
Em questão de minutos, quase 50 mil acampantes estavam lotando a arena do Parque do Peão, em Barretos (SP), a 370 km de São Paulo. Bandeiras de clubes tremulavam entre a multidão, sob o céu limpo de uma noite quente de verão. Logo depois, os desbravadores de oito países sul-americanos, com seu uniforme de gala, recitaram seus ideais e cantaram juntos a respeito de sua esperança.
Mais uma vez, o local nacionalmente conhecido por seus rodeios, seria palco de um mega-acampamento da igreja. Dessa vez, porém, a ousadia foi maior: realizar duas edições, que totalizaram cerca de 100 mil participantes, entre desbravadores e equipe de apoio.
E para as duas noites memoráveis de abertura do evento, não faltaram emoção, alta tecnologia audiovisual, fogos de artifício, louvor contagiante, batismos e o senso de que Deus estava conduzindo o programa e havia protegido os acampantes até ali.
Na abertura da primeira edição, autoridades marcaram presença. João Doria Júnior, governador de São Paulo, saudou a multidão e elogiou a iniciativa, enquanto que o presidente da República, Jair Bolsonaro, enviou uma carta de boas-vindas, que foi lida para os acampantes.
A MELHOR AVENTURA
Participar do clube e estar num campori é sempre uma aventura para os desbravadores. Mas isso é potencializado quando se trata do 5º Campori Sul-Americano. Cinco anos depois do último evento, os desbravadores voltaram ao Parque do Peão na cidade de Barretos, a 370 km de São Paulo. Dessa vez, uma novidade: O acampamento foi realizado em duas etapas: Alpha (8 a 13 de janeiro) e Ômega (15 a 20 de janeiro), reunindo assim 65 mil desbravadores a mais do que em 2014. A decisão inédita se justifica pelo crescimento significativo desse ministério: o número de desbravadores quase dobrou desde o último campori sul-americano.
“Creio que ficou bem claro na mente deles que ‘a melhor aventura’ é ser desbravador, o que significa se entregar a Jesus, ainda que os pais não apoiem ou eles enfrentem adversidades. Ficou claro para eles também que ‘a melhor aventura’ é ser um missionário. Eles ouviram histórias de missionários enviados pela igreja
para fundar clubes no Egito, Iraque e Mongólia. Espero que seja isso que eles desejem: viver as melhores aventuras com Jesus”, resumiu o pastor Udolcy Zukowski, líder do Ministério de Desbravadores e Aventureiros para a América do Sul.
DECISÕES
Todo o evento foi pensado para que os adolescentes tomassem decisões importantes. A cada devocional matutino ou noturno, dezenas de adolescentes eram batizados. As mensagens bíblicas foram dirigidas pelos líderes do Ministério Jovem e de Desbravadores de algumas Uniões brasileiras e pelos pastores Gary Blanchard e Andrés Peralta (representantes da sede mundial da igreja).
A chilena Isidora Uvalentina, de 15 anos, saiu de Concepción, no Sul do Chile, decidida a ser batizada no evento. “Estou no clube há cinco anos e ele me ajudou muito, pois quando eu era criança não ia com regularidade à igreja, porque me entediava facilmente. Se eu não tivesse ingressado no clube, talvez nunca teria voltado a frequentar a igreja”, enfatizou.
Sua irmã gêmea, Constaza Paulettela, também não se esquecerá do que vivenciou no campori. “O que me chamou a atenção foi que, embora todos fôssemos de países diferentes, estávamos unidos, uns ajudando os outros. Além disso, conheci pessoas que têm se colocado nas mãos de Deus e têm sido abençoadas por causa dessa decisão”, destacou.
Teve quem também aproveitou o campori para desenvolver novos hábitos. “Eu não costumava ler a Bíblia, mas ali eu fui incentivado a ler. Fiz isso à noite, quando meus colegas estavam dormindo. Ouvindo as pregações, me deu vontade de ser pastor”, contou Éliton Júnior, de 12 anos, que mora em Maringá (PR).
O nível de vibração e engajamento que esses adolescentes demonstram pelos símbolos e ideais do clube tem chamado a atenção e merece ser estudado. “O clube de desbravadores é uma das ferramentas mais eficientes que temos para apaixonar os garotos por Deus, pela igreja e pela liderança”, avaliou o pastor Erton Köhler, líder dos adventistas sul-americanos, e que já dirigiu esse ministério em vários níveis administrativos da denominação.
Ele acredita que a nomeação de líderes para cuidarem exclusivamente dos Ministérios de Desbravadores e Aventureiros nas Associações e Uniões da igreja seja uma tendência positiva, que deve reforçar o pastoreio das novas gerações. “O clube pode ajudar a preservar nossa igreja, mantendo-a viva e no foco, quando nós não mais estivermos aqui.” Segundo Erton, o clube de desbravadores pode ser visto como uma “extensão” da rede educacional adventista, servindo como uma frente evangelística mais acessível onde é difícil estabelecer escolas da igreja.
CRIACIONISMO SUSTENTÁVEL
E se a formação das novas gerações é uma das grandes contribuições do clube de desbravadores, o ensino de valores importantes, como a fé em Deus e a responsabilidade para com Sua criação não poderiam fal tar no campori. Dois espaços colaboraram para isso durante o acampamento. Quem passou pelo Creation Place, observou 26 representações de dinossauros e 42 fósseis completos e fragmentados entre réplicas e peças reais. Escavações de fósseis na areia e uma viagem pelos dias da criação do mundo, a partir da história dos dinossauros, também foram atrações desse estande.
Na área de cuidado com o meio ambiente, o espaço Campori Sustentável cumpriu um papel importante, idealizado pelo Núcleo de Tecnologia, Engenharia e Arquitetura do Unasp. Os desbravadores que passaram por ali aprenderam sobre energia limpa. Foi possível carregar os celulares em “árvores” fotovoltaicas, gerar energia por indução magnética pedalando em bicicletas e descobrir que a força da gravidade também pode acender lâmpadas. Na chamada Agência Banco Global, por sua vez, eles receberam informações sobre reciclagem do lixo e trocaram itens recicláveis por “camporitos”, a moeda do evento.
SELO E MUSEU
Se já não bastassem as supresas e fortes emoções que os desbravadores experimentaram ao longo de cinco dias de acampamento, algumas iniciativas procuraram tornar esse megaevento algo histórico. Uma delas foi o lançamento pelos Correios de oito selos comemorativos, um deles em referência ao 5º Campori Sul- -Americano e outro em relação aos 60 anos da fundação do primeiro clube no Brasil. A iniciativa junto à estatal foi dos irmãos e empresários Samuel de Paula e Priscila Silvana de Paula. Já foram produzidas duas séries com 18 mil selos.
Outra dupla empreendedora e apaixonada pelos desbravadores são os amigos Carlos Araújo e Nelson Pires. Carlos é administrador e Nelson empresário e ambos vivem em Curitiba (PR). Em 2014, depois de terem participado do 4º Campori Sul- -Americano, eles decidiram montar um acervo com objetos que estavam colecionando sobre a história dos desbravadores. Hoje eles tem 50 mil itens, mais de 7,5 mil trunfos de eventos, e expuseram 80% desse acervo em Barretos. Carlos e Dimas pretendem lançar um site do acervo no segundo semestre deste ano e inaugurar, em 2020, uma sede própria do museu na região Sul do Brasil.
Mesmo recebendo público recorde, nem todos os desbravadores sul-americanos puderam estar em Barretos. Por isso, um time de cem comunicadores e técnicos trabalhou na cobertura do evento, o que incluiu registrar muita coisa por meio de vídeos, fotografias e reportagens (camporidsa.org). As transmissões ao vivo e as entrevistas realizadas num estúdio montado próximo à arena aproximaram internautas dos acampantes. A participação de youtubers adventistas no evento e a produção de uma websérie específica para o campori (disponível na plataforma feliz7play.com) também potencializaram a interação nas mídias sociais.
Quando e onde será o próximo campori sul-americano são perguntas que ainda não têm resposta. Os líderes estudem possibilidades e devem anunciar em breve mais informações. O que se sabe é que, se o crescimento do ministério continuar no ritmo dos últimos anos, talvez seja necessário pensar num acampamento com três edições; e que o melhor local até agora para um evento desse porte continua sendo o Parque do Peão, em Barretos (leia a seção Entenda, na p. 00). O jeito é aguardar a data e o local da próxima aventura. ]
MATEUS TEIXEIRA é estudante de Teologia e Jornalismo na Universidade Adventista del Plata, na Argentina
NÃO SE ESCONDA DE DEUS
LIBERTE-SE DAS ORAÇÕES VAZIAS E EXPERIMENTE UM RELACIONAMENTO REAL COM O CRIADOR
DIOGO CAVALCANTI
Deus não está preso às expectativas humanas. Embora Se apresente por meio de uma revelação encarnacional, falando nossa língua, por vezes Ele quebra protocolos humanos e até nos escandaliza. Pense nos profetas e seus atos simbólicos ultrajantes, em Isaías andando nu por três anos, em Oseias e a prostituta, em Maria, que foi vista como mãe solteira por alguns, entre eles o próprio José.
Talvez isso possa chocá-lo por um instante, mas o Rei do Universo não está nem um pouco preocupado com as normas da etiqueta, com a estética tão celebrada na mentalidade evangélica dos nossos dias, muito menos com uma piedade apenas aparente. Isso não significa que Deus seja grosseiro nem que não Se importe com nossos sentimentos. O ponto é que Ele sabe do que realmente precisamos e que, muitas vezes, escondemos nosso verdadeiro eu. Deus, então, quebra os protocolos humanos para mostrar a verdade e nos libertar dos nossos pecados e de nós mesmos.
Tenha em mente essa pequena introdução ao refletirmos um pouco sobre o tema da oração. Por vezes, nos escondemos Dele, mesmo quando oramos. Ocultamos nossa verdadeira face, obscurecemos nossa consciência e nossas palavras para que Ele não veja o que realmente vai dentro de nós. Como superar essa condição?
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LIGAÇÃO RESTAURADA
Pense em Davi, no período de um ano em que ocultou seus crimes (Sl 32:3, 4). Sua ética exagerada o fez condenar hipoteticamente à morte um homem que havia tomado uma cordeirinha de seu vizinho, indo muito além da punição prevista na lei mosaica (Êx 22:3). Por outro lado, na vida real Davi tinha não somente tomado uma “cordeirinha” do vizinho, mas sacrificado o próprio vizinho. Seu rigor como juiz parecia refletir uma compensação de suas falhas pessoais.
Durante o período em que escondeu seus crimes, Davi de alguma forma interrompeu sua comunicação com Deus. Ele, que era profeta (At 2:29, 30), não mais recebia mensagens do Senhor. Espiritualmente, passou um ano em branco. Não mais compunha salmos inspirados. Algo não corria bem. Ele, que havia sido chamado para acalmar o perturbado rei Saul, também tinha se tornado um rei perturbado. Implodiu sobre si mesmo e sofreu miseravelmente.
Por um ano conseguiu levar adiante essa situação. Mais tarde, reconheceu: “Compadece-Te de mim, SENHOR, […] os meus ossos se consomem” (Sl 31:9, 10). O quadro só mudou quando Deus tomou a iniciativa de quebrar a muleta na qual o filho de Jessé insistia em se apoiar. Natã levou o rei a se enxergar no espelho da moral divina, e então Davi finalmente se reconectou com Deus por meio da confissão e da oração (Sl 32:5; 51:3, 4).
Perceba que a oração está na essência da religião, entendida aqui por seu sentido original de religar. Outros verbos poderiam traduzir melhor esse sentido nos dias atuais, como “sintonizar” ou “conectar”. O sinal de Deus está por toda parte. Sua rede Wi-Fi da graça cobre todo o Universo. Ela pode ser ignorada por um longo tempo, mas nunca é tarde para a reconexão.
MONÓLOGO
Jesus contou a história de um homem que foi ao templo para orar. Exercitava, assim, uma das práticas mais importantes de sua religião. Porém, sua oração não o religava ao Criador. Era artificial. Sua prece tinha se transformado em um monólogo no qual “orava de si para si mesmo” (Lc 18:11).
O fariseu proclamava sua suposta justiça medida pelas ações externas que ele mesmo considerava serem o aspecto mais importante de sua religião. Mais uma vez, elementos exteriores de uma ética elevada são usados como muletas da experiência religiosa. “Seu espírito desvia-se de Deus para a humanidade. […] Dá-se por contente com uma religião que só se refere à vida exterior” (Ellen G. White, Parábolas de Jesus, p. 151).
Ele observava os outros com suas falhas e os acusava na própria oração (Lc 18:11). Quando teve a chance de se religar a Deus e ter a imagem divina restaurada em si, o fariseu terminou por refletir o caráter do acusador. Sua religião resvalava em um raciocínio circular: “Sou bom porque sou melhor do que os outros”; “sou melhor do que os outros; por isso, sou bom”.
Essa lógica quebradiça se esfarela diante da compreensão de que “todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças, como trapo da imundícia” (Is 64:6). O texto não afirma que nossas injustiças são imundas (o que seria mais lógico), mas as nossas justiças! Visitas aos doentes, trabalhos comunitários,
doações, estudos bíblicos ministrados, enfim, tudo o que há de melhor em nossas ações ainda carrega a mancha do pecado.
É como se alguém pedisse a uma pessoa recém-saída de um profundo poço de lama que escrevesse uma bela carta. Ela poderia ter a melhor caligrafia, mas a folha branca terminaria enlameada. Essa foi a carta que o fariseu escreveu para Deus e, sem a graça divina, ela não foi lida (Lc 18:14).
QUESTÕES CRUCIAIS
Podemos ligar as duas histórias acima a mais outra, que ainda vai acontecer: a dos fervorosos cristãos reprovados no fim dos tempos. Eles profetizam, expulsam demônios, realizam milagres, “fazem e acontecem”, mas Cristo, no fim de tudo, lhes dirá que não os conhece (Mt 7:22, 23). Por quê? Por causa da iniquidade e da completa desconexão embutida nela.
É muito fácil se iludir com um cristianismo sem Cristo. Podemos manter uma religião apenas de desempenho, de performance, tão comum no mundo gospel e midiático atual. Podemos ter toda a aparência, mas ainda assim faltar com a essência. Podemos ter todas as folhas, mas ainda assim estar sem frutos. Enquanto isso, a distância de Cristo pode ser tamanha que nem seja sentida. Para muitos, essa triste condição só será percebida tarde demais.
A verdadeira religião se manifesta em uma ligação viva com Deus, marcada, entre outras coisas, por orações em que você realmente se comunica com Ele, em que se faz entendido e correspondido. Trata-se de conhecer a Deus e se deixar ser conhecido e sondado por Ele (Sl 139:23). Isso envolve sua mente e seu espírito (1Co 14:15). Implica verdade (Jo 4:24), estudo da Palavra e resulta em amor ao próximo, intercessão e espírito de missão.
Questione-se no fundo de sua alma. Isso pode fazer a diferença para a eternidade: Conheço a Deus realmente? Em minhas orações, falo com Ele ou comigo mesmo? Minha vida reflete minha ligação com Ele? Afinal, eu O conheço? Ele me conhece? Abra seu coração para uma comunhão viva com Deus! ]
DIOGO CAVALCANTIé pastor, jornalista e coordenador editorial de livros na CPB